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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO VAMOS AGIR

03 05

PRIMEIRO PASSO SEGUNDO PASSO

06 12

CONSIDERAÇÕES
TERCEIRO PASSO
FINAIS
20 32

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APRESENTAÇÃO

Olá, prazer!

Meu nome é Tarcísio Paz e me sinto recompensado em poder


compartilhar experiências transformadoras com você.

Sou pai, neuropsicopedagogo e entusiasta do autismo, casado há


15 anos e apaixonado pela família.

Nos últimos 8 anos tenho me dedicado, durante as folgas, de


bombeiro militar à educação dos nossos filhos, em especial a do
primogênito diagnosticado c om autismo aos 2 anos de idade.

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Após o impacto do diagnóstico e em meio a crises e tribulações abri
mão de todo meu tempo extra para me dedicar a sua estimulação.
Deixei de lado tudo que fosse requerer minha atenção: televisão,
redes sociais, futebol com amigos, etc.... e mantive meu foco na
possível transformação do Isac. Eu havia decidido entrar numa
“caverna” e não sabia quando sairia.

Graças a Deus, no entanto, este período intenso passou e eu pude


sair da “caverna”. Meu filho foi transformado.

Hoje, compartilhamos com muitos pais que é possível sim


transformar suas crianças no espectro do autismo sem atirar para
todos os lados ou gastar rios de dinheiro. Cada criança é única.

Descubra a sua e transforme -a! Se quiser muito isso, esse e -book


é para você.

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VAMOS AGIR!

A capacidade do cérebro de
se adaptar a novos
estímulos e criar rotas
alternativas de
aprendizagem é chamada
de neuroplasticidade.

E falando nela, a pior coisa


que podemos fazer com
uma criança com TEA
(Transtorno do Espectro do Autismo) é deixa-la ociosa. Quem diz isso é a
neurociência.

Sempre que possível, estimule-a. Mas, de que forma? Boa pergunta. Meu
objetivo aqui é mostrar as melhores formas disponíveis para a família começar
agora. Isso inclui uma mistura de abordagens já consagradas. Considere a
individualidade do teu filho e adapte.

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DÊ O PRIMEIRO PASSO!

“Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja
toda a escada, apenas dê o primeiro passo.”

Martin Luther King

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1.1 – INTERAJA DE FORMA RESPONSIVA NO INÍCIO

A interação responsiva é aquela em que o adulto segue o interesse


da criança de forma flexível. A criança demonstra e o adulto
responde. Intervalos de pausa são importantes neste processo, para
você perceber onde está a motivação dela. O estilo responsivo tem
como estratégia responder aos sinais de comunicação da criança.
Naturalmente ela perceberá a função e o poder da comunicação.

Invista em interações divertidas que incentivem o desejo por mais e


mais, um exemplo: por que você vai estimulá -lo a falar “bola” ou
jogar a bola se ele está motivado a brincar com o trem? Neste caso,
brinque de trem. “Faça” um trem, imite o trem, explore o trem!

Quando Isac tinha uns três anos era apaixonado por tratores e
máquinas deste tipo. Então usamos alguns brinquedos des sa
categoria para estimulá-lo na aprendizagem. Foi certeiro!
Verbalizou as primeiras palavras, aprendeu conceitos importantes
como: cheio e vazio, alto e baixo, rápido e devagar, quantidade
numérica, etc... Apenas brincando de tratores. Por isso, vai uma
grande sacada para você: use as fixações da criança a teu favor.
Faça delas uma ponte, uma ótima conexão. Não veja o autismo
como inimigo. Caminhe do lado dele e conquiste -o!

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1.2 – RELACIONAMENTO É TUDO

Separe bons tempos de


relacionamento com essa
pessoa tão importante para
você. Nunca é tarde. Não
importa a idade dele (a).
Precisa ser tempo de
qualidade; Num lugar sem
distrações como televisão,
celular, tablet... com esses não dá.

O processo é mais importante do que o resultado. Por isso, numa


brincadeira, o engajamento entre vocês é o objetivo maior. Se a
criança conseguiu ou não vencer o desafio dessa brincadeira, isso
é o de menos.

Deixe-a liderar, aproveite seus interesses para ampliar as


oportunidades de interação e desafie ao mesmo tempo, ampliando
aos poucos o tempo de interação.

Seja um artista; persiga sua atenção e o contato ocular. Tudo que


for do interesse da criança coloque próximo ao teu rosto (rosto do
adulto) e exagere nas expressões fa ciais. Se faça uma pessoa
interessante para a criança. Para isso ocorrer de forma regular e
dinâmica é recomendável escolher um cômodo da casa para este
relacionamento divertido e prazeroso. Pode ser um quarto simples.

Cuide para que não tenha competidore s com você, como os


aparelhos eletrônicos que eu citei.

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Então vá e busque o brilho nos seus olhos!

Uma estratégia que funcionou muito bem com o nosso filho foi
nomear as coisas que ele gostava somente quando apontava e
olhava para nós. Com estas práticas ele aprendeu a compartilhar o
interesse e, mais que isso, ter prazer em comunicar -se conosco.

1.3 – E POR FALAR EM PRAZER...

Todo o ser humano (crianças, jovens e adultos) se move em direção


ao prazer, ou seja, ao que é prazeroso e divertido. Por isso, se você
proporcionar experiências emocionais positivas para ele,
naturalmente, produzirá prazer e este gerará motivação para
interagir resultando em aprendizagem.

Este excelente processo de aprendizagem é confirmado pela


neurociência e desenvolve -se no sistema límbico, que consiste em
um grupo de estruturas
importantes para as
emoções, comportamentos
e aprendizagem, localizado
no centro do cérebro. É
também conhecido como o
cérebro emocional.

O sistema límbico se
conecta a todas as partes do cérebro (lo bos cerebrais) e, por causa
disso, recebe, transmite e grava os diversos estímulos que o
indivíduo capta no ambiente. Se esses estímulos forem

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emocionalmente relevantes, serão gravados no hipocampo (nobre
estrutura para aprendizagem) se não forem serão ign orados.
Portanto, vai aí uma outra grande dica: coloque emoção em tudo o
que você puder ensinar. Faça isso com entusiasmo. E qual seria
uma boa estratégia para isso? Vou te indicar a melhor: a ludicidade.
Opa, para que não é do ramo, posso simplificar mais : brincadeiras.

É brincando que a criança aceita as regras próprias da brincadeira


e assume papéis, executando, criativamente, tarefas que ainda não
está apta na realidade. Se você fizer isso, irá proporcionar a
flexibilidade e expansão do pensamento, a curiosidade pelo novo, a
criatividade e a expressividade. Nesse ambiente lúdico ela se sente
segura para desenvolver habilidades sociais e formar novas
conexões neuronais (não importa a idade). É o aprender brincando.

A prática responsiva e lúdica não pode rá ser utilizada todo o tempo,


pois é preciso também impor limites e lidar com os direitos e desejos
de outras pessoas, mas pode se usar muito em períodos do dia
preparados para o desenvolvimento da tua criança. À medida em
que ela for alcançando as habilidades necessárias que você poderá,
gradativamente, diminuir o estilo responsivo e aumentar o estilo de
abordagem diretivo , baseado nas regras, recompensas e enfoque
no comportamento.

Já que escrevi neste último tópico sobre o sistema límbico, antes


que eu me esqueça seguem algumas poderosas estratégias
cerebrais:

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Estímulos ameaçadores (medo): Bloqueiam a entrada de
informações e o estresse também bloqueia esse caminho no
cérebro. Evite-os.

A curiosidade e a novidade promovem a atenção. Busque -as.

A expectativa de prazer motiva a interação. Alimente-a.

As competições estimulam a linguagem e o desejo. Promova se


puder.

Obs. Sobre como evitar o primeiro item (estresse) vai uma dica
sempre importante: explique a rotina. Se a criança ou adulto com
TEA precisar, explique com apoio visual.

Existem muitas opções na internet de material ilustrado para rotina


diária como: higiene, se vestir, ir à escola, etc.

Independentemente da tua abordagem, se é responsiva ou diretiva,


se é relacional ou comportamental, use e abuse do apoio visual,
sempre que for necessário, pois a grande maioria dos indivíduos
neste espectro são pensadores visuais. Faça isso junto com a
instrução verbal, para que ele se acostume com a comunicação oral
e associe naturalmente depois.

“Eu vejo em fotografias, palavra é como minha segunda língua.


Quando alguém fala comigo, eu traduzo em imagens.”.

Temple Grandim, Autista e PH.D em criação de gado.

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SEGUNDO PASSO: inclusão de
verdade: seja um pouco detetive
O DSM, Manual
Diagnóstico e Estatístico
de transtornos mentais,
na sua versão mais atual
considera o autismo
como um vasto espectro
com muitas variações,
apesar de algumas linhas
gerais, e tudo indica que
ele está certo. Por isso, se você quiser de verdade a inclusão social
do teu filho, preste atenção nisso agora no que vou dizer:

Nunca generalize! Generalizar é excluir.

Lutar pela verdadeira inclusão começa no respeito às necessidades


individuais de cada um. Qual é o problema em segurar um objeto
que conforta nos momentos de ansiedade; ou caminhar um
pouquinho; ou receber uma rápida massagem pra confortar o corpo?

Uns precisam de massagem, assim como outros precisam de óculos,


outros de cadeiras de rodas, outros de aparelho nos dentes... Por
esse caminho começa a inclusão. Lute por esse caminho.

Investigue o perfil deste indivíduo. Seja um detetive de tua criança


ou teu adolescente e detecte o seu perfil de aprendizagem. Por
quais vias ele aprende melhor? Quais adaptações são necessárias

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para aprender determinada habilidade? Descubra e faça esta
adaptação.

Adiante, escrevo sobre alguns perfis e como ajuda -los. Veja em qual
teu filho se encaixa e mãos à obra.

2.1 – PERFIL SENSORIAL

Cada criança difere uma da outra em relação ao seu padrão de


resposta a estímulos sensoriais e o organismo de cada uma
funciona de uma forma particular. A este padrão de resposta
podemos classificar como:

- Hiperresponsivo: este indivíduo responde muito aos estímulos,


pois é hipersensível às sensações como sons, texturas, odores e
movimentos. Podem ser muito intensos para ele, tipo: cheiros em
restaurantes, sons inesperados, ser tocado de forma incômoda,
cortar cabelo e etc.

- Estratégias: brincadeiras e atividades que ajudem tua criança a


dessensibilizar e regular a propriocepção. Exemplos: atividades de
carregar, de resistência, almofadas pesadas, brinquedos que
vibram, roupas pesadas, andar na areia e por aí vai... o negóc io é
diminuir a sensibilidade aos poucos, de forma prazerosa e sem
estresse. É aconselhável também narrar as atividades, para evitar
o imprevisível; atividades em dupla ao invés de grupo; regular o tom
de voz e dar preferência a lugares pequenos, pelo meno s no início.

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- Hiporesponsivo: este é menos sensível e percebe pouco os
estímulos. Às vezes não chora quando se machuca, não percebe
quando é tocado, quando precisa ir ao banheiro e tem preferência
por atividades sedentárias.

Geralmente, explora menos o ambiente e também se mostra mais


passivo e lento para a interação.

- Estratégias: ao contrário do anterior, neste você precisa “acordar”


o corpo. Isso pode ser feito com atividades de alerta: jogos com
movimentos e mudanças rápidas de posição e velocidade ,
brincadeiras de imitação, alternância da vez e ritmos musicais
diferentes. Espere pela criança e use antecipação.

- Buscador sensorial: esse perfil é conhecido por movimentar -se


constantemente, esbarrar ou tocar nas coisas e irritar -se quando
cessa o movimento. Ele precisa de mais estímulo sensorial do que
a população em geral e busca com frequência informações do
próprio corpo.

- Estratégias: Ofereça atividades de propriocepção: apertar, puxar,


empurrar e experiências diversificadas. Dê oportunidade a ele de
conhecer sua capacidade corporal. Parquinhos e circuitos são
ótimas opções. Começar e terminar jogos também é indicado.

Obs. Poderá haver uma oscilação entre os estados de hiper ou hipo.


Neste caso, avalie o estado momentâneo do teu filho e acomode -o
sensorialmente. Cinco exemplos:

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1. Se você estiver usando um balanço para estimular a interação
ou comunicação e a criança estiver muito ativada ou
hiperestimulada. Supomos que você queira acalmar um pouco a
situação, então deverá usar o balanço de form a inibitória, ou
seja, lento e ritmado.
Agora, se ela estiver com baixo nível de ativação para a demanda
e você quiser facilitar essa ativação, então o balanço deverá ser
com giros rápidos e irregulares.

Essa foi a dica do sistema vestibular. Outras dicas seguem


abaixo usando outros sistemas:

2. Sistema auditivo: música clássica e ritmos lentos para


inibir/músicas rápidas e batidas para ativar.

3. Sistema tátil: toque de pressão e calor para inibir / toque


suave e frio para ativar.

4. Sistema olfativo: aromas doces e suaves para inibir / odores


fortes e cítricos para ativar.

5. Sistema visual: luz fraca e cores neutras para inibir / luz


brilhante, pisca-pisca, cores vivas para ativar.

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Portanto, o uso desses recursos sensoriais dependerá se você
pretende inibir com estratégias de acomodação ou ativar sua
criança com o fim de despertar sua percepção.

2.2 – PERFIL METABÓLICO

Metabolismo significa toda reação bioquímica que ocorre no interior


do corpo. Todos os seres humanos possuem metabolismos
diferentes uns dos outros, incluindo os portadores de TEA. Por isso,
Papai e Mamãe, investiguem o perfil do seu filho (a).

Muitas famílias gastam uma fortuna com tratamentos médicos das


mais variadas especialidades sem investigar as reais necessidades
individuais dos filhos. Seguem a velha história do “fulano tomou o
remédio tal e melhorou ou ciclano está tomando o suplemento x e
está evoluindo” ... não vá por aí. Examine teu filho, mas, como?

Faça exames específicos, dietas rotatórias para testar alimentos


diversos, substâncias que promovam a saúde geral, padrão de sono,
etc. Teste sempre!

O nosso tratamento médico escolhido foi o biom édico. Mas isso não
quer dizer que os outros não serão úteis para determinados casos.
Eu optei por não medicar meu filho com neurolépticos antes da
idade adulta e, se possível, nunca usar. Porém a palavra ‘nunca’
deverá ser utilizada com o ‘se possível’.

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Por exemplo, a dieta livre de glúten e caseína que milhares de
famílias sofrem para
manter deixou de ser “a
dieta do autismo” para ser
agora umas das dietas do
autismo. Isso por causa
da individualidade do
tratamento que, a própria
neurociência testifica
com seus estudos atuais
e também corroboram os geneticistas. Logo, as dietas são
individuais.

Em nossa experiência com dietas e suplementos percebi que muitos


recursos, esforço e tempo foram gastos em coisas que não foram
individualizadas e que poderiam s er direcionados para áreas de
maior necessidade.

Quando fizemos o teste IGG com ele (exame de sensibilidade


alimentar) descobrimos uma pequena sensibilidade à carne bovina
e à gema de ovo. E era justamente quando fazíamos churrasco e o
Isac comia muita carne que percebíamos uma maior agitação.

Nessa época fazíamos a dieta restritiva de glúten e caseína e o


exame não apontou nenhuma sensibilidade para estas duas
proteínas. Então, começamos a testar alguns alimentos (sem
exagero) com leite e trigo e ele nã o demonstrou mudanças ou
retrocessos, tanto a curto prazo quanto a longo.

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Hoje, ele come de tudo, claro, com moderação e procuramos variar
bastante sua alimentação com muitas verduras, legumes
carboidratos e proteínas diversas; com persistência conseguimos.

Por isso, individualize a necessidade metabólica da criança e


restrinja ou suplemente o que realmente precisa. Não atire para
todos os lados. Teste!

Apesar da individualidade metabólica de cada um, segue adiante


algumas necessidades muito comuns na população com TEA, por
isso, investigue-as.

Baixa produção de serotonina no c érebro (humor e


ansiedade)
Recomendável: 5HTP – principal precursor da serotonina

Acúmulo de glutamato monossódico sobre os neurônios


Recomendável: GABA – neurotransmissor inibidor

Amônia no sangue
Recomendável: arginina, benzoato de sódio e lactulose .

Sono irregular (dormir bem é fundamental para a


aprendizagem)
Recomendável: melatonina

Desafios muito comuns também podem ser: a concentração,


cognição, digestão e alergias. A função intestinal deve receber

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atenção especial. Uma criança com problemas intestinais não irá
render bem nas estimulações e terapias educacionais.

Suplementos alimentares e probióticos podem ajudar na saúde geral


da criança, na cognição e na questão gastrointestinal. Devemos
atentar bastante para essas vitaminas, minerais, antioxidantes,
aminoácidos e ácido graxos.

Vitamina D3 (luz solar, óleo de fígado de bacalhau), vitaminas B6,


B12, C, ômega 3, Acetilcolina, Magnésio, Selênio, Zinco, Glutatione,
Carnitina e Taurina.

Através de uma alimentação variada e alguns suplementos,


podemos obtê-los. Alimentos como o óleo do fígado de bacalhau, as
nozes, os ovos e as folhas verdes escuras são bem recomendadas
para a aprendizagem e saúde geral.

Na dieta do meu filho procuro sempre evitar o gl utamato


monossódico. Trata-se de um realçador de sabor presente em
muitos alimentos industrializados e nos temperos artificiais; no
cérebro atua como neurotransmissor excitatório e o seu excesso é
altamente neurotóxico. Algumas pesquisas recentes mostraram que
pessoas com autismo possuem maior tendência em acumular
glutamato nos neurônios, aconselho fortemente a evitá -lo.

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TERCEIRO PASSO - Dicas para o dia a
dia: Treino = sucesso

“Sempre que encontro uma criança com autismo e fez algum


progresso, sei que alguém lutou bravamente por ela... sei que houve
alguém por trás dessa criança que acreditou nela”.

Kristine Barnett , mãe de Jacob Barnett, gênio da física


diagnosticado com autismo aos 2 anos de idade por especialistas
que diziam a ela que o filho não aprenderia a ler nem amarrar os
sapatos.

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Trataremos agora de assuntos e habilidades que desafiam
diariamente as famílias envolvidas com o transtorno e também
valiosas estratégias que facilitam o sucesso na aprendizagem das
pessoas com TEA. Para que esta aprendizagem ocorra, precisamos
entender como é a forma de processamento de informações da
grande maioria de indivíduos neste espectro. Isso significa entender
o “Bottom-up Thinking”: traduzindo “Pensamento de baixo para
cima”.

De acordo com a renomada autista Dr.ª Temple Grandim e as muitas


evidências que confirmam, o indivíduo com TEA é pensador
“Bottom-up”, ou seja, sua forma de pensar ou compreender o mundo
acontece de baixo para cima, do específico para o geral. Por outro
lado, as pessoas “neurotípicas” são consideradas pensadores “Top
Down” (de cima para baixo), pois aprendem do geral para o
específico. Vamos exemplificar com uma habilidade importante que
desafia muitas famíl ias em todo o mundo, que é atravessar a rua.

- TRAVESSIA DE RUA: Todos nós “neurotípicos” e como


pensadores “Top Down” aprendemos com nossos pais que em todas
as ruas devemos olhar para os dois lados para atravessar, não é
isso? Pois bem, esse “todas as r uas” é o conceito “Top” ou geral,
nós aprendemos, primeiro, o geral, pois somos capazes de assimilá -
lo sem precisar vê-lo. Então, quando chegamos a uma determinada
rua específica (que é o conceito “Down”) praticaremos o que
aprendemos na instrução geral, o “Top”. Por isso, somos “Top
Down”. Nós generalizamos primeiro, depois aplicamos o conceito
geral em cada rua específica. Fazemos isso em tudo.

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As pessoas do espectro autista, geralmente, aprendem do
específico para o geral. São pensadores “Bottom -up” (baixo para
cima), portanto para aprenderem a atravessar a rua precisam ser
treinados em muitas ruas. Você irá atravessar várias ruas com ele,
dizendo e mostrando “olhe para os dois lados, observe o sinal...
então atravesse.”.

Com isso, ele vai generalizar e sta habilidade após treinar em várias
ruas específicas. O jeito de aprender e o tempo de aprendizagem
irão variar de pessoa para pessoa, porém, use sempre que possível
o princípio “Bottom-up”, de baixo para cima, do específico para o
geral. É só treinar!

- DESFRALDAM ENTO: Nesta habilidade tão importante para a


criança, você pode e deve usar o princípio “Bottom -up”, para sair da
fralda treinar também é essencial. Em casa, leve a criança a cada
15 minutos ao banheiro
vestindo roupas fáceis de tirar e
sem fralda, se fizer na roupa,
não zangue com ela. Leve-a
imediatamente, ao vaso
sanitário como se estivesse
fazendo, isso fará ela associar
o xixi e o cocô ao vaso. É bingo!
O sucesso dependerá, em muitos casos, do treino. Em todos lugares
que a criança estiver, mostre o banheiro e ensine a sinalizar ou falar
caso queira ir. Esta comunicação é possível a verbais e não verbais.

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- TOM AR BANHO: Você poderá dar banho no teu filho quantas
vezes forem necessárias para que ele aprenda a tomar sozinho.
Faça isso seguind o sempre a mesma sequência e de forma divertida
pelo menos no início da primeira infância (0 a 6 anos). Quando ele
tiver mais crescido, você irá retirar aos poucos o apoio, podendo
utilizar uma sequencia visual em cartões colados na parede do
banheiro. Sempre encorajando a sua iniciativa própria e lembrando -
o da sequência.

Quando já tiver tomando banho sozinho e independente, não se


assuste com o tempo, a maioria das crianças e adolescentes
demoram no chuveiro, 73% incluindo neurotípicas. Lavam a parede
e o box, brincam com espuma, testam a água, etc. Até
amadurecerem mais um pouco, vamos precisar lembra -los das
funções e sequências do banho verbalmente. É normal.

- SE VESTIR: Diariamente, vista a roupa na tua criança de maneira


lógica. Por exemplo: cueca ou calcinha, short e camisa. Quando ela
já se acostumar você poderá retirar o teu apoio de trás para frente.
Como assim? Você veste quase tudo e vai deixando de fazer a
última ação. Na medida que a criança for completando você deixa
de fazer a penúltima, depois antepenúltima e assim por diante.
Poderá também fracionar o apoio em situações mais complexas, por
exemplo: quando vestir a blusa o adulto coloca somente a cabeça e
os braços e deixa a criança abaixar até o fim... Depois coloca só a
cabeça e deixa a criança enfiar os braços. Usando o short ou a
calça, o adulto coloca até a canela e deixa a criança puxar para
cima. Faça com que ela complete as ações até chegar no “início”,

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ou seja, começar por ela mesma. Não esqueça de comemorar e
celebrar todo o esforço e conquista. O entusiasmo é o melhor
combustível.

- COMUNICAÇÃO VERBAL: um dos maiores desafios que nós pais


e familiares desejamos ansiosamente vencer é a questão da fala.
Devemos controlar essa ansiedade, para não atrapalhar ao invés de
ajudar na intenção de fala de nossas crianças.

A fonoterapia tem contribuído bastante e a cada ano alguns


profissionais da área tem buscado cada vez mais se aprofundar no
TEA. Agora, preste atenção nisso: pouco vai adiantar se quem
passa mais tempo com a criança não f izer o dever de casa. Então
vamos falar de alguns desses deveres!

- ENSINE A CRINÇA A PEDIR: O início da fala ou o “gatilho” da fala


é o mando. O mando é o primeiro operante verbal do ser humano e
significa pedir algo. Os bebês começam a falar através dos seus
desejos por algo, sempre começam pelo mando.

Por isso, devemos começar estimulando a fala através dos desejos


da criança; aproveite as oportunidades do dia a dia em que a criança
te mostra os desejos dela e ensine -a como pedir de forma simples.

Recompense a cada esforço e intenção de fala e dê aquilo que ela


“pediu”. Faça isso com alegria e empolgação, pois o segredo é: a
criança descobrir que a comunicação tem poder, e se a
comunicação for verbal será mais fácil atender seus desejos.

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- USE UM INTERLOCUTOR: essa técnica é muito boa e consiste em
utilizar uma terceira pessoa no meio da conversa entre você e a
criança. Aquilo que a criança precisa te dizer será “soprado” nos
ouvidos dela por uma outra pessoa. Isso ajuda muito também na
aprendizagem do uso na primeira pessoa, pois muitas crianças
tendem a falar somente na terceira pessoa dos verbos e dos
pronomes.

Exemplo: “Eu quero o boneco” ao invés de “ele quer...” quando fala


de si próprio.

O interlocutor pode ser qualquer outra pessoa da família o u amigos


que se dispõem a ajudar. É útil também para o ensino de como
responder corretamente, tipo: “Pedro, você prefere o Mário ou o
Luigi?” A outra pessoa se posiciona atrás dele e sopra nos ouvidos
“Eu prefiro o Mário”. (conforme o gosto dele) e, então ele
responderá a você de acordo com a dica, pois esta será sempre fiel
à preferência dele. Para isso, é imprescindível que este treino seja
feito por quem conhece bem a criança e suas preferências.

Essa estratégia deve ser usada diariamente e em ambiente natural,


ou seja, também pode ser praticada na rotina da criança e com
pessoas atentas aos sinais comunicativos da mesma.

Na medida em que as habilidades de comunicação do teu filho forem


aumentando, você vai retirando as dicas do interlocutor e
aumentando o repertório de vocabulário. Todas as palavras e
expressões novas receberão dicas, quando forem assimiladas e
dominadas não precisarão mais.

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- QUANDO IR PAR A ESCOLA? É uma verdadeira agonia para
muitos pais o momento que se deparam com a dura realidade
escolar, principalmente, no que se refere ao amparo sensorial e
inclusivo. Em pleno século 21, as escolas ainda funcionam para
reproduzir o modelo
industrial de duzentos anos
atrás e não percebem que as
diferenças individuais são as
grandes responsáveis p elos
grandes talentos.

É nesse contexto de
escolarização uniforme que
introduziremos nossos filhos, então fica uma pergunta: é razoável
colocarmos eles lá sem preparar este caminho? Sem treiná -los para
os bombardeios visuais, auditivos, táteis e situações imprevisíveis?
É óbvio que não.

No Brasil, quando se tem uma suspeita ou diagnóstico de autismo,


a primeira opção de estímulo precoce que vem a mente é a escola.
Frases como:

“Leva pra lá que ele vai se soltar” ou “Bota na escola que a fala
solta”, são muito comuns por aqui.

Em países como Estados Unidos e Canadá faz -se o contrário.


Primeiro, você prepara a criança sensorialmente, depois matricula
em uma escola, sacou a difere nça? Isso é fundamental para a
adaptação dela ao espaço escolar. Antes, acomodação sensorial

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através de muitas brincadeiras objetivas, desafiando e alargando
seus limites, depois sim, ela estará apta a superar os desafios do
ambiente de ensino. Mesmo que e sta preparação leve um ano ou
dois, vale muito a pena.

- ALFABETIZAÇÃO: dos dois aos cinco anos de idade, brincávamos


muito com o Isac de forma intensa. Neste ambiente lúdico, de vez
em quando, colocávamos letras do alfabeto e números de maneira
divertida e sem compromisso, porém, com estratégia didática.
Nestas brincadeiras, percebíamos qual era o estilo de aprendizagem
que ele apresentava e aí explorávamos mais este. No caso dele, o
método silábico foi o mais indicado, pois demonstrava facilidade em
formar sílabas nas interações com jogos e letras divertidas. Com 4
anos ele aprendeu a ler. Foi gratificante!

Além do silábico, outro método alfabetizador que tem mostrado


eficácia com crianças com TEA é o método fônico. Este é conhecido
pela ênfase nos sons d e cada letra (fonemas) e observação do
formato da boca (articulema).

Memorização de palavras é também uma opção metodológica


interessante para algumas crianças e adolescentes deste espectro,
pois muitos deles possuem memória visual fantástica e podem tira r
muito proveito disso.

O importante é focar em duas coisas quando o assunto é alfabetizar


nossas crianças: identificar o estilo de aprendizagem de cada um
para definir qual método e aplic á-lo com ludicidade.

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HISTÓRIAS SOCIAIS: Ajude a aprender

As histórias sociais são


descrições simples com
a finalidade de ajudar os
nossos anjos a
aprenderem
determinadas situações
que em ocasiões
espontâneas
apresentam mais
dificuldades na compreensão e, consequentemente, no
comportamento diante delas.

Essas histórias informam à criança de maneira precisa o que ela irá


vivenciar e como ter sucesso nessas experiências. Você pode
montá-la de acordo com os objetivos de maior necessidade e com
personagens que ela fará associação com si própria.

Aqui em casa montamos algumas histórias que falam diretamente


da vida dele, com fotos e fatos da sua vida real. Não deu certo, eram
muito impactantes para ele e passou a ter aversão a estes livrinhos.
Por outro lado, os livrinhos que montamos com figuras extraídas da
internet, com nomes fictícios, pessoas semelhantes e situações
iguais foram de grande proveito para sua aprendizagem. Uma
dessas histórias foi a de dois irmãos que precisavam brincar mais e
brigar menos. Pois se amavam muito. Criamos nomes parecidos,
gostos parecidos, tipos físicos similares e contamos uma pequena
história de sucesso e muito carinho entre eles. Foi show! A

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cumplicidade entre os dois aumentou e o Isac aprendeu bastante a
respeitar o gosto do irmão caçula, o Gabriel.

As histórias sociais podem ser f eitas em formato de um simples livro


com poucas páginas e bem ilustrado ou em formato digital para
tablets e smartphones. O importante é que seja amigável, positivo
e recompensador à criança, para que ela se identifique com a
história e reproduza na realid ade.

ESPORTES E JOGOS:

Os esportes são ótimas práticas para a tão importante acomodação


sensorial de nossos filhos. E vão além disso, proporcionam
interações sociais estruturadas, haja vista que crianças no espectro
do autismo se beneficiam demais em ati vidades estruturadas. Elas
oferecem objetivos e regras claras. Tudo o que eles se baseiam
para o convívio social. Por isso, examine o esporte favorito de teu
filho e procure pessoas legais que possam ensiná -lo e jogar
divertidamente, mesmo que seja por um tempo que ele consegue. O
importante é a interação e não o resultado da partida. Lembre -se
disso!

No nosso caso aqui, não houve interesse da parte dele por nenhum
esporte coletivo, pelo menos até o momento, então insistimos na
natação. Desde os 4 anos ele pratica esta atividade em turmas
regulares e com professores que valorizam tanto a técnica quanto a
interação. No final da aula sempre tem uma brincadeira objetiva ou

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algum jogo dentro d’agua como um pega -pega, polo aquático e
outros.

Escolhi a natação, p orque, além da sobrevivência, ela promove o


desenvolvimento motor, a postura e a consciência corporal. Dos
esportes coletivos, o basquete tem se mostrado o mais efetivo em
engajamento para os nossos anjos .

Depois de alguns anos de insistência, o mais baca na não é vê-lo


somente atravessar uma piscina de 50 metros, mas contemplar sua
diversão com os colegas, ao final de cada aula.

Os jogos de tabuleiro são ótimos instrumentos para trabalhar


importantes fundamentos como:

- Respeitar a vez do outro;

- Foco;

- Atenção compartilhada,

- Vocabulário; e

- Planejamento.

À medida em que a criança for aumentando sua linguagem


receptiva, estes jogos podem ser inseridos não só apenas como
lazer, mas como ferramentas que ajudam a desenvolver o raciocínio
abstrato. É nisso que eu quero chegar.

Quando nós jogamos com outra ou outras pessoas, somos levados


a todo o momento a nos colocarmos no lugar delas, pensar no que
elas pensam, prever seus comportamentos. Isso é teoria da mente,

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o cerne da questão do autismo. Quanto m ais uma pessoa com TEA
pratica jogos com outras, interagindo, planejando estratégias e
alternando a vez, mas ela será capacitada a pensar “fora da caixa”,
e quer saber de uma coisa? Eles podem!

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Independentemente da idade, do sexo e do “grau” de autismo que


nossos filhos possuam devemos estimulá -los o máximo que
pudermos. Se não tivermos tempo, devemos fazer o tempo, isso é
questão de prioridade. Lembro -me que durante os primeiros anos
de estimulação em Isac deixávamos de almoçar e jantar para
engolirmos a comida. Não conseguíamos fazer nada se víssemos o
nosso menino no cantinho e isolado de nosso mundo. Tínhamos que
trazê-lo constantemente. Naquela época, não tínhamos tanta
informação disponível como temos hoje e nesses últimos dois anos

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com grupos de pais e profissionais nos aplicativos de smartphones,
redes sociais, etc... Toda a informação que acessávamos era quase
sempre de madrugada, pois durante o dia ficávamos focados em
praticar com ele tudo que aprendíamos. O que eu quero dizer com
isso? Resumindo, faça o teu melhor. Não importa a tua escolaridade
ou tua renda. É claro que o dinheiro ajuda muito, mas não será ele
que fará o teu filho desenvolver ou sair do espectro.

Conheci muitas crianças de pais ricos que evoluíram muito pouco,


pois estes pais pagavam tudo, mas não tinham relacionamento
intenso com seus filhos. Conheci também muitas crianças que
deram grandes saltos no desenvolvimento, cujos pais não podiam
pagar muitas horas de terapias sema nais, contudo, engajavam
arduamente com seus pequenos. Faça isso! Aplique o que você
aprender com os profissionais e com tuas pesquisas. Filtre o que te
servir sem essa de atirar para todos os lados. Retenha o que é bom.
Escolha e persiga as prioridades do teu filho. Se você acha que o
Detox ou a quelação são fundamentais para a comunicação dele,
então, faça com todas as tuas forças. Mas, não deixe de estimular
intensamente o comunicar dele. Se acreditas também que a dieta
irá ajudá-lo na regulação sensorial, então vá fundo! Todavia,
proporcione a ele experiências e atividades que promovam,
diariamente, acomodação sensorial.

Após alguns anos de intenso trabalho com nosso, o levamos de volta


a uma consulta de revisão com um médico de Campos - RJ,
renomado e conhecido como Dr. Marcelo. O mesmo, ao observar
Isac perguntando as coisas sobre os aparelhos do consultório disse

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o seguinte: “Não posso admitir um diagnóstico de autismo de jeito
nenhum para o teu filho”. E eu tentava falar -lhe sobre algumas
características que o colocavam no espectro, mas o médico não
aceitava e de forma muito gentil e carinhosa nos falava sobre os
marcos do desenvolvimento do nosso filho em contraste com o
diagnóstico inicial. Antes de nos despedir, tivemos a oportunidade
de conta-lo sobre o constante trabalho de estimulação que fizemos
e também sobre o diagnóstico de autismo clássico que Isac recebeu
na primeira infância devido as suas características clássicas
iniciais.

Enfim, hoje pouco me importa se aos 10 anos de idade ele seja


considerado um fora do espectro, um asperger ou clássico. Pouco
me importa mesmo, o que me alegra muito é vê -lo cada vez mais
comunicativo, sociável e inspirador. Está cursando o 5º ano regular
sem apoio até o momento, praticando natação e fazendo aulas
particulares de eletrônica, a sua paixão.

Meu sincero desejo a você, caro leitor, pai, mãe ou cuidador: que a
tua criança seja também um instrumento de inspiração para muitas
famílias.

É possível, sim, transformar nossos filhos. Chegamos muito perto


do impossível quando fazemos com amor o que é possível.

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