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Resumo
O presente artigo tem como proposta conceber uma narrativa de experiência sobre a
aplicação do subprojeto da área de História, cuja temática é “A moda como
representação da identidade negra”, que faz parte do projeto principal desenvolvido
na Universidade de Pernambuco, Campus Petrolina. O Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação a Docência, o PIBID, promove reflexões sobre a diversidade,
seja ela cultural, de gênero e racial, vivenciadas diariamente por nós enquanto
cidadãos. Tendo a problemática acerca das questões raciais e, do empoderamento
dos jovens negros que vem sendo pauta de grandes debates, discutiremos a cultura
afro, também numa perspectiva das práticas docentes, e as suas contribuições. Os
debates e atividades propostas em sala tem como objetivo desmistificar a ideologia
higienizada e, qualificar os alunos sobre posicionamentos teóricos que proporcionam
caminhos desagradáveis na convivência com pessoas de diferentes formas, cores,
religiões e sexualidade.
Introdução
O silêncio dos que, erroneamente, são intitulados como minorias, perpetua nas
esferas educacionais e, resulta em um discurso único do qual nós, futuros
professores, devemos fugir. Um dos primeiros caminhos a serem trilhados nessa
direção poderá ser o da inserção, nos cursos de formação de professores e nos
processos de formação em serviço, de disciplinas, debates e discussões que
privilegiem a relação entre cultura e educação, numa perspectiva antropológica
(GOMES, 2003).
Embora, assegurado pela lei 10.639/031, a qual torna obrigatório o ensino da história
e cultura afro-brasileira e africana, este, apresenta grande falha nos quesitos de
aplicabilidade e contextualização, pois o ensino no Brasil tende a ser caracterizado
como espaço onde ocorrem regulações ditas simbólicas, permeadas por controles
sociais, reprises de valores e, até mesmo engessamento diante do mundo natural e
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A Lei, embora muito conhecida pela sua instauração no ano de 2003, foi alterada e reforçada para a Lei
11.645/08, cinco anos depois.
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SEMINID/UPE/2017 Recife 23 e 24 de novembro de 2017.
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Tais estudos podem colaborar com outros meios, de atitudes preconceituosas, eles
precisam e devem estar presentes no processo de formação docente. No entanto, é
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Segundo Pinto (2009) é importante estar alerta para o fato de que apenas formar e
conscientizar o professor não é suficiente, pois, [...] embora muitos deles tenham
consciência da necessidade de enfrentar as questões que dizem respeito à
diversidade e até venham tomando iniciativas nesse sentido, também ficou claro que
pouco pode ser feito se o projeto pedagógico da escola não incorporar essa
perspectiva. O engajamento da escola com a causa é importante para dar aos
professores o apoio necessário para continuar atendendo a essas questões, para
isso é preciso que a escola tome posicionamento e permita aos professores,
condições de trabalho primordiais.
A formação escolar ensina pouco, quase nada, com relação a nossa diversidade
cultural. A educação no Brasil, de acordo com Shigunov Neto e Maciel (2008)
instaurou-se com o intuito de “catequização” daqueles que iam contra ou não tinham
conhecimento do cristianismo. Passamos assim, a herdar destes primeiros
professores o discurso da fé única, reflexos do olhar colonizador; tendo como único
ponto o conhecimento único, que estrategicamente reformulou-se e normatizou-se,
perpetuando os pensamentos hegemônicos até os dias atuais.
No Brasil, o racismo possui outras singularidades, pois se funda não na origem, mas
na marca – cor da pele, tipo de cabelo, traços fisionômicos. Embora não haja leis
segregacionistas, os espaços sociais de negros e não-negros são bastante
definidos. No entanto, em sua dimensão, o país é contemplado pela variedade de
credos, crenças, cores, sabores e culturas. Nas instituições, o que vemos é a
transmissão, a disseminação e a difusão da cultura considerada hegemônica, e não
nacionais. O perigo desta perpetuação está explicitamente ligado a:
com a série “Cara gente Branca”2 nas intervenções do PIBID em sala de aula, que,
além da obra sugerida inicialmente na proposta geral do programa, “Grande sertão:
Veredas”3, instigou-nos a pensar a partir do viés e vivência do jovem negro da
atualidade nas instituições de ensino e, de como a educação brasileira ainda
encontra-se despreparada para lidar com as singularidades:
Tornou-se pauta os aspectos relacionados aos jovens negros, por conta de todo
histórico de enfrentamento e luta por parte dos mesmos. Tratando especificamente
da área educacional, apesar da retomada de direitos, a população negra ainda é a
que possui maior evasão na educação básica:
2
“Dear White people” ou “Cara gente branca” trata-se de uma série de televisão satírica americana baseada no
filme de mesmo nome, cujo diretor é Justin Simien. Exibida na Netfliz em 2017..
3
É um dos mais importantes livros da literatura brasileira, de João Guimarães Rosa, escrito em 1956.
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Através das análises dos estereótipos criados pelos alunos, houve aplicabilidade de
atividades relacionadas à sexualidade e gênero, correlacionamos com a análise da
obra “Grande sertão: Veredas”, em versão de quadrinhos. Esse romance de 1956
retrata a história de um amor que aconteceu de maneira diferente das comumente
escritas, um cangaceiro que se apaixona por seu amigo, que na verdade é uma
mulher travestida de homem, que buscava lutar com os demais. Foi utilizando a obra
que desconstruímos as figuras narradas por Guimarães Rosa. Para descontruir os
estereótipos e refletirmos acerca da temática, recortes da obra foram utilizados e,
inquietações foram levantadas.
A obra Grande Sertão: Veredas, que teve sua primeira edição publicada em 1956
por João Guimarães Rosa, retrata a história do personagem-narrador Riobaldo,
onde ele narra e protagoniza sua trajetória quando era jagunço (uma espécie de
capanga) e conhecera Reginaldo, personagens esses que mantinham um nível de
camaradagem. Em determinado momento da história, Riobaldo se apaixona por seu
então amigo, mas que na verdade se tratava de Diadorim, uma mulher travestida de
homem para poder lutar ao lado daqueles que eram os únicos que podiam. O
estranho romance se passa no Sertão de Minas Gerais, onde o autor teria
trabalhado como médico em anos anteriores. Os personagens na história possuem
características bem particulares, em relação a sua vestimenta e comportamento,
além dessas, as questões de expressão de gênero, sexualidade, identidade e
representatividade estão implícitas na obra de Rosa.
Os debates e as atividades contribuíram não só para o saber dos alunos, mas para a
experiência profissional dos bolsistas, pois através da vivencia das práticas em sala
de aula foi possível descontruir conceitos enraizados no senso comum, que são
naturalizados. Foram tratadas problemáticas acerca dos estereótipos criados pela
sociedade, tendo em foco os danos que os mesmos causam na população negra,
abordagens sobre violência contra a mulher, a sexualização e dominação do corpo
LIMA, Maria Nazaré Mota de. Relações étnico-raciais na escola: o papel das
linguagens. Salvador: EDUNEB, 2015.
PATRÍCIO, Daniela Silva. Educação e gênero: uma discussão para além da inclusão
igualitária. Disponível em:
<http://www.simposioestadopoliticas.ufu.br/imagens/anais/pdf/CC06.pdf> acessado
em:10 de Setembro de 2017.