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tado que, por vezes, emerge relacionado à atividade fí- tificar a dinamicidade desse conceito, que possivel-
sica, através de mensagens veiculadas na forma de ima- mente traz elementos compartilhados num grupo,
gens ou palavras. mas também singulares a cada uma das pessoas que
nele se insere.
Mas o que podemos chamar de 'qualidade de
vida'? Conceituar esta expressão tão escorregadia seria,
certamente, trabalho para os filólogos. Como pesquisa-
dor que vem investigando as representações sociais 2. Saúde e Educação Física
sobre objetos que circulam em nosso quotidiano, e in- escolar: Tendências Teóricas em
fluenciam nossas práticas, resta a curiosidade de saber construção
como as pessoas representam a qualidade de vida.
Com o objetivo de discutir este tema no âmbi-
A qualidade de vida emerge sob uma subjetivi- to da Licenciatura em Educação Física, organizei algu-
dade que torna difícil a conceituação estrita do termo, mas idéias acerca da Educação Física escolar, da quali-
que se refere, sobretudo, à história pessoal de cada um dade de vida e da saúde; esta última, posicionada como
de nós; quero dizer, ao que valorizamos como aquilo aspecto central, em virtude de considera-la uma área
que é bom para que vivamos nosso dia a dia de forma de intersecção entre as duas primeiras, e presente como
positiva. um elemento chave nas representações sociais sobre a
Educação Física, e possivelmente a qualidade de vida.
Por isso, se torna relevante o estudo das representa-
ções sociais sobre a qualidade de vida daqueles com os Estudando o conceito e a construção teórica sobre a
quais iremos intervir. E preciso identificar qual o grau saúde e suas relações com a Educação Física, especifi-
de associação que as pessoas estabelecem entre a Edu- camente no campo escolar, identifiquei duas tendênci-
cação Física ou a atividade física e o que se tem chama- as, que considero centrais, e que nas últimas décadas
do qualidade de vida. Considerando que essas repre- representam duas formas específicas de se interpretar
sentações contribuem para alterar os comportamentos como a Educação Física, na escola, pode contribuir para
dos indivíduos, se desejamos que nossa intervenção seja que alunos possam beneficiar sua saúde (Devide, 2000).
bem sucedida, nós, professores/as, devemos oferecer
Diante da produção acadêmica existente, um ponto se
aquilo que certamente melhorará a qualidade de viver
dos nossos destinatários. mostra consensual: a Educação Física e a saúde possu-
em uma relação histórica (Faria Júnior, 1991a; Soares,
Isso pressupõe alterar o estilo de vida de pessoas, seja 1994; Carvalho, 1993;Anjos, 1997); mas o grau de rela-
através de uma atividade física orientada, no nosso cionamento se modifica conforme nos deparamos com
caso; ou de uma leitura, uma ida ao cinema, um bom as discussões propostas pelos intelectuais, que de um
cochilo após o almoço, um fim de semana na praia; lado buscam fortalecê-la e de outro atenuá-la.
enfim, um infinito de opções em que a Educação Físi-
ca surge, no mínimo, como mais uma contribuição, A 'Promoção da Saúde' (Health Promotion), amplia a
ao lado de outras áreas de intervenção como o Turis- relação da Educação Física com a saúde, interpretando
mo, a Sociologia, a Gerontologia, a Psicologia, as Ar- a última de forma crítica, reconhecendo seus diversos
tes, entre outras. fatores influenciadores, além da prática de exercícios
físicos (WHO, 1984; Fariajúnior 1991a, 1991b). Outra
A qualidade de vida tem dinâmica própria, por estar tendência, a Aptidão Física Relacionada à Saúde (Health
relacionada à cultura local, fazendo com que se deva Related Fitness), estabelece uma relação entre a Educa-
respeitar as singularidades de cada comunidade e in- ção Física e a saúde pela via da aptidão, priorizando
divíduo em si, evitando padrões conceituais. E pre- parâmetros fisiológicos (Corbin e Fox, 1986; Biddle,
ciso discutir o 'ter' qualidade de vida entre aqueles 1987;Nahas, 1989; Nahas e Corbin, 1992;Corbine
com os quais trabalhamos, para que possamos iden- Pangrazzi, 1993; Guedes e Guedes, 1993,1994).
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2.1. A Promoção da Saúde comunidade. A saúde torna-se uma questão didático-
pedagógica. Isso significa que os conhecimentos trans-
E a partir de alguns pressupostos provenientes do
mitidos, formalmente na escola ou informalmente na
ideário da Promoção da Saúde, que gostaria de refletir
comunidade, tendem a fazer com que pessoas assumam
sobre como nós, professores/as de Educação Física,
atitudes que levem a uma melhor qualidade de vida,
devemos interpretar com cautela, o discurso e as ações
desenvolvendo sua auto-capacitação (Tones, 1986)6.
que assumimos quando utilizamos o termo qualidade
de vida' como um efeito da prática de atividade física A Educação Física tem a possibilidade de am-
orientada por nós. Dentre os diversos textos brasileiros pliar o alcance de seus conteúdos, se em alguns casos,
que se aproximam desta abordagem, considero o de buscar discutir aspectos relacionados à educação para
Fariajúnior (1991 a) o mais denso. A discussão feita a saúde, através da aquisição, por alunos, de estilos de
por este autor, se deu a partir de um documento vida ativos e hábitos saudáveis. Esse estilo de vida
produzi-do pela Organização Mundial extrapola a idéia de adesão à prática regular de exercí-
daSaúde(WHO, 19842). cios físicos; deve se referir à aquisição de hábitos que
otimizem o seu status de saúde e de sua comunidade,
A Promoção da Saúde, aborda quatro questões básicas pois "a participação da comunidade amplia a concep-
sobre a saúde: a sua multifatoriedade3, a ção de estilos de vida do nível individual para o coletivo,
desmedicalização4, a educação para a saúde e o seu e exige da educação física novas responsabilidades, pa-
caráter coletivo5, o que pode ser observado em seus pel e ações interativas" (Faria Júnior, 1991 a, p. 26).
cinco princípios, a saber: A Promoção da Saúde (1) deve
focalizar a população como um todo e não apenas os Uma Educação Física compromissada com a
grupos de risco; (2) a ação deve ser voltada para mui- melhoria da Qualidade de Vida deve levar os alunos a
tos fatores que influenciam a saúde; (3) deve envolver se exercitarem, a desenvolverem conhecimentos sobre
uma variedade de estratégias e agências - comunicação, a prática física, e sobretudo a se conscientizarem da sua
educação, legislação, desenvolvimento comunitário, importânciaebenefíciosparaavida, possibilitando iden-
entre outras; (4) requer a participação de toda a comu- tificarem os fatores que os impedem, por vezes, de pra-
nidade, envolvendo a aquisição - individual e coletiva - ticar exercícios regularmente e melhorarem sua quali-
de estilos de vida; (5) requer que profissionais da saú- dade de vida.
de tornem viável a Promoção da Saúde pela sua defesa
educação (WHO, 1984).
2.2. A Aptidão Física Relacionada a Saúde e a propos-
Esta proposta, já é conhecida e tem sido abor-
ta da Escada da Aptidão para Toda a Vida
dada por alguns pesquisadores na área de Educação
Física (Fariajúnior, 1991a, 1991b; Ferreira, 1993,2001; Outros intelectuais abordam a relação da Educação Fí-
Devide, 1996a, 1996b; Devide, Ferreira, 1997; Carvalho, sica com a saúde, basicamente através da aptidão físi-
2001), que interpretam este conjunto de idéias como ca7 , consubstanciados pelos benefícios fisiológicos dos
rico suporte para discussão do binômio exercício-saú- exercícios, provocados pela adoção de um estilo de vida
de. Mas acredito que seus pressupostos também po- ativo. Discorrerei basicamente sobre a proposta de
dem enriquecer a discussão entre a Educação Física e a Charles Corbin8, corroborada por autores nacionais,
Qualidade de Vida. como Markus Nahas (1989) e Dartagnan Guedes
(1993, 1994).
Dentre os quatro pontos básicos, quero sublinhar a 'edu-
cação para a saúde (Mota, 1992), que, primeiramente, Os estudos dos autores supracitados abordam
contribui para desmedicalizar a saúde, reconhecendo a questão da Educação Física com a saúde no espaço
que, além do médico, o trabalho conjunto dos diversos escolar sob as bases da Aptidão Física Relacionada à
profissionais deve ter como objetivo 'educar' as pesso- Saúde (Health Related Fitness) (Biddle, 1987). Esta cor-
as a adotar práticas que otimizem sua saúde e a de sua
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rente, propõe como mar e avaliar programas?
A partir do diálogo objetivo central da
entre estas tendências Por isto, há progressão em relação aos compromissos
Educação Física
e da intervenção da Educação Física e, no terceiro degrau, conhecimen-
escolar, a criação de
direta na escola, tos referentes à aptidão física e ao exercício devem
um estilo de vida
ser transmitidos ao aluno, que inicia a construção do
poderemos ampliar os ativo e permanente,
seu próprio esquema de exercícios, desenvolvendo
horizontes da a partir do
certa 'autonomia'9 em relação à figura do professor.
Educação Física no desenvolvimento
O quarto degrau refere-se à auto-avaliação da apti-
ambiente escolar, com dos componentes
dão física. Os alunos são sujeitos a testes, estabele-
vistas a desestabilizar da aptidão física re-
cendo objetivos individuais, para avaliarem os com-
a representação lacionada à saúde e
ponentes da aptidão relacionada à saúde, interpretan-
social hegemônica e da transmissão de
do os seus resultados no planejamento de seu pro-
circulante da conhecimentos sobre
grama de exercícios.
disciplina dispensável, o exercício físico,
irrelevante, realizada visando a autonomia Quando se atinge o último degrau da EATV, pressupõe-
nas horas de lazer, em do aluno. se: o aluno é preparado para solucionar problemas e
que é desnecessário tomar decisões a respeito de sua prática de exercícios;
Sob tais recomen-
dedicar-se, uma vez já experimentou diversas atividades; pode escolher a(s)
dações, no início
que inexistem que aprecia e incorpora-la(s) em seu quotidiano, tendo
dadécadadel980,
conteúdos além da conhecimento suficiente para tornar-se um consumi-
Charles Corbin
prática desportiva. dor bem informado a respeito do exercício físico.
idealizou a'Escada
da Aptidão para O ponto mais importante enfatizado por esta proposta,
Toda a Vida' é a autonomia criada pelo aluno sobre o planejamento
(EATV), que de seu programa de exercício, exercitando-se ciente dos
descreve os seus benefícios para sua saúde. Assim, não basta desen-
objetivos da Educação Física no ambiente escolar. volver bons níveis de aptidão física relacionados com a
A proposta se desenvolve em fases, simbolizadas por saúde; propõe-se trabalhar aspectos cognitivos referen-
degraus, a serem transpostos no decorrer dos anos. tes à aptidão e aos exercícios, para que os alunos to-
mem atitudes a respeito da criação de estilos de vida
O primeiro degrau é representado pelas atividades
ativos e permanentes, com prazer e conscientes de seus
físicas e os exercícios. Tem como objetivo tornar os
benefícios.
alunos ativos nos primeiros anos escolares, despertan-
do o prazer pelo exercício. O segundo diz respeito à
aquisição de aptidão física, que só será desenvolvida 3. Reflexões sobre estas
caso o aluno seja fisicamente ativo. tendências:
Para se desenvolver estilos de vida ativos e permanen- Ambas as tendências acima buscam desenvolver um
tes, outros objetivos são incluídos na proposta. E estilo de vida ativo; e por diferentes enfoques, nos fa-
demarcada uma linha pontilhada entre o segundo e zem refletir sobre reorientações que a Educação Física
terceiro degraus, para sublinhar a atitude de profes- Escolar pode assumir na sua relação com a saúde e en-
sores que se satisfazem quando os seus alunos atin- quanto veículo de educação para a saúde (Devide,
gem níveis de aptidão satisfatórios. A questão que se 1996b).
formula é: os alunos, apesar de aptos fisicamente,
adotarão um estilo de vida ativo, uma vez que não Ambas trazem contribuições, mas também limitações.
conhecem os benefícios do exercício, e como progra- A Promoção da Saúde, representada no Brasil, basica-
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mente pela produção teórica de Faria Júnior (1991a, Física que se legitime no espaço escolar, pode se dar
1991 b), clarifica a relação tênue entre a Educação Física com o desenvolvimento de conteúdos relevantes para
e a saúde; no entanto, não apresenta uma intervenção o quotidiano dos alunos, construídos coletivamente na
prática de como se tratar e aplicar os seus pressupostos interação da sala de aula (Betti, 1995;Devide, 1999;
na escola; o que começa a surgir lentamente com o es- Devide; Rizzuti, 1999).
forço de outros autores (Oliveira, Devide, 2000; Ferreira,
Na busca de transformações nas representações sociais
2001) e pode ser observado, mesmo que de forma sutil,
dos alunos sobre a Educação Física, uma preocupação
em práticas pedagógicas de alguns profissionais que
central deve ser a ampliação da questão da sua relação
atuam no ambiente escolar.
com a saúde, a partir da produção científica já existente
Quanto à Aptidão Física Relacionada à Saúde, alguns e da interação entre profissionais atuantes e compro-
estudos têm se esforçado para sistematizar a proposta. metidos, o que favorece a Educação Física como veícu-
Dentre a produção encontrada no Brasil, dois artigos lo potencial de educação para a saúde, visando a cria-
de Dartagnan Guedes e Joana Guedes (1993, 1994) fo- ção de estilos de vida ativos e permanentes, contribu-
ram os que melhor sistematizaram, com clareza, a pro- indo para uma melhor qualidade de vida de alunos, con-
posta da EATV. Os autores buscam dar suporte e suges- sumidores críticos dos elementos da cultura corporal.
tões de conteúdo para a implementação de programas
de Educação Física escolar direcionados à promoção
da saúde, focados na segunda tendência apresentada. 4. Pressupostos que contribuem
As críticas feitas à proposta de criação de um estilo de
para a discussão no âmbito da
vida ativo pela Aptidão Física Relacionada à Saúde, são: o
qualidade de vida
reducionismo da saúde ao seu aspecto biológico; a
Apesar da dificuldade de consenso sobre o que seja qua-
individualização do problema centrado no aluno, que
lidade de vida, o termo relaciona-se ao estilo de vida de
se torna responsável pelo desenvolvimento de sua ap-
pessoas que priorizam e buscam suprir diferentes ne-
tidão e melhoria de sua saúde, contribuindo para o pro-
cessidades que contribuem para a conquista ou manu-
cesso de culpabilização da vítima10; o etapismo, inerente
tenção de uma forma melhor de se viver. Nesse contex-
aos conteúdos, dificultando o entendimento sobre o
to, a Educação Física é considerada um meio para o seu
binômio exercício-saúde de forma ampliada, conside-
aprimoramento; o que pode ser feito através de mu-
rando-se outros aspectos além do exercício; e a repro-.
danças nesse estilo de vida, tornando-os mais
dução da relação causai que se construiu na história,
saudáveis, ativos e permanentes.
sobre a prática de exercício e a conseqüente melhoria
da saúde (Devide, 1996a; Ferreira, 2001). O objetivo presente nas tendências apresentadas, de
se desenvolver estilos de vida ativos e permanentes;
E importante se propor uma abordagem, que estabele-
além da discussão sobre o traço multifatorial do con-
ça a tensão entre estas tendências, relacionando a saú-
ceito de saúde; a estratégia de educação para a saúde; e
de, concebida de forma multifatorial; com a Educação
a dinamicidade do entendimento do que possa ser con-
Física, enquanto veículo de educação para a saúde. A
siderada qualidade de vida; traz novos elementos para
partir do diálogo entre estas tendências e da interven-
aqueles profissionais que atuam com a Educação Física
ção direta na escola, poderemos ampliar os horizontes
escolar.
da Educação Física no ambiente escolar, com vistas a
desestabilizar a representação social hegemônica e O professor deve contextualizar os conteúdos da disci-
circulante da disciplina dispensável, irrelevante, reali- plina à realidade de seus alunos, no sentido de torná-
zada nas horas de lazer, em que é desnecessário dedi- los críticos frente às suas condições de vida. Ao discutir
car-se, uma vez que inexistem conteúdos além da práti- com eles os diversos fatores, além dos exercícios físi-
ca desportiva. O início da construção de uma Educação cos, que influenciam na sua qualidade de vida (a falta
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de espaços públi- Faz-se necessário ampliar as representações sociais que
Ao discutir com eles cos para a prática professores de Educação Física têm a respeito da Edu-
os diversos fatores, de exercícios, a di- cação Física, da saúde e da sua relação com a profissão,
além dos exercícios ficuldade de acesso pois fundamentam seu trabalho profissional e têm con-
físicos, que ao lazer, as más tribuído para perpetuar a noção de causalidade entre o
influenciam na sua condições de traba- exercício e a saúde, e também entre um estilo de vida
qualidade de vida (a lho, transporte, ativo e uma boa qualidade de vida. Em estudo com
falta de espaços educação etc), con- formandos em Educação Física, os dados obtidos per-
públicos para a tribuirá para a mitiram afirmar que uma grande parcela dos futuros
prática de exercícios, desmitificação da profissionais admite uma relação causai entre o exercí-
a dificuldade de relação equivocada cio e a saúde; desconsideram ou não aprofundam a re-
acesso ao lazer, as que vem se repro- lação dos fatores sociais, políticos e econômicos que
más condições de duzindo entre este influenciam no 'status' de saúde; e limitam-se a relacio-
trabalho, transporte, neologismo e o nar a Educação Física com a saúde pela via da aptidão
exercício físico, am- física (Devide, Ferreira, 1997).
educação etc),
pliando a relação
contribuirá para a
de compromisso Enquanto educador, o profissional da área deve estar
desmitificação da
da Educação Física ciente das implicações de uma concepção equivocada
relação equivocada
como veículo de frente ao relacionamento da Educação Física com a saú-
que vem se
educação para a de e a qualidade de vida. O professor de Educação Físi-
reproduzindo entre
saúde. ca deve estar atualizado ao conceito multifatorial da saú-
este neologismo e o
de e à dinamicidade do que pode ser interpretado por
exercício físico, Também é preciso
qualidade de vida, para que, munido de instrumentação
ampliando a relação considerar que a
teórica consistente, tenha condições de discutir e am-
de compromisso da postura da
pliar a relação de compromisso da Educação
Educação Física exercitação perma-
Física para além da
como veículo de nente depende, O professor de
esfera da aptidão
educação para a além das capacida- Educação Física deve
física.
saúde. des volitiva e edu- estar atualizado ao
cacional dos alunos e Reconhecer, pri- conceito multifatorial
da competência do professor de Educação Física, das meiramente, que da saúde e à
condições políticas, sociais e econômicas (PEREIRA, nosso papel é parcial dinamicidade do que
1988; Palma, 2001). Como disciplina escolar, aEduca- neste processo, que pode ser interpretado
ção Física "(...) não deve abandonar sua preocupação está relacionado aos por qualidade de vida,
em subsidiar e encorajar as pessoas a adotarem estilos múltiplos aspectos para que, munido de
de vida ativa. Porém, esse seu papel estará limitado se da vida em instrumentação teórica
ela não for capaz de promover o exame crítico dos sociedade, torna-se o consistente, tenha
determinantes sociais, econômicos, políticos e ponto de partida condições de discutir e
ambientais diretamente relacionados aos seus conteú- para uma ampliar a relação de
dos". (Ferreira,2001,p. 49-50). intervenção bem
compromisso da
sucedida. A partir
Educação Física para
A prática de exercícios físicos, portanto, não pode ser dessa reorientação
além da esfera da
encarada como a solução para todos os problemas de paradigmática, em
aptidão física.
saúde ou para a garantia de uma melhor qualidade de que a Educação Fí-
vida das pessoas.
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sica assume a tarefa de desenvolver estilos de vida ativos, NAHAS.M-.CORBIN.C. Aptidão física e saúde nos
permanentes e conscientes, a Educação Física Escolar programas de educação física: desenvolvimentos recentes e
poderá legitimar o seu papel em relação à saúde e à tendências internacionais. Revista Brasileira de Ciência e
promoção da qualidade de vida de forma satisfatória. Movimento. São Caetano do Sul. V. 6, n. 2, p. 47-58, 1992.
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Parte do pressuposto que a transmissão de
conhecimentos à comunidade contribui para que tenha
responsabilidade sobre sua saúde, explicitando seus
problemas, reivindicando e sugerindo soluções
6
O O Modelo de Auto-Capacitação na educação para a
saúde consiste em transmitir o conhecimento necessário
para uma tomada de decisão da comunidade. Incorpora
a idéia de que a mudança democrática só pode ocorrer
pela capacitação de indivíduos para modificar o seu meio;
mas há dúvidas se a aquisição de conhecimentos pode
garantir mudanças por parte da comunidade.
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A aptidão física é classificada a partir de seus
componentes. A aptidão relacionada às habilidades
compreende qualidades como coordenação, equilíbrio,
velocidade, tempo de reação e agilidade, que aprendidas,
tornam-se permanentes, pois são altamente
determinadas por fatores genéticos. A aptidão
relacionada à saúde compreende qualidades como
resistência cardiorespiratória e muscular, força,
composição corporal e flexibilidade, mantidas com a
adoção de um estilo de vida ativo, embora também
sofram determinações genéticas em algum grau (Corbin,
Fox,Whitehead,1987).
8
Esta proposta é discutida em alguns artigos deste autor
com colaboradores (Corbin e Fox, 1986; Nahas e Corbin,
1992; Corbine Pangrazzi, 1993).
9
Esta autonomia é relativa e se refere aos conhecimentos
básicos a respeito dos benefícios da prática física, da
fisiologia, biomecânica, da nutrição, da história, que
capacitam os alunos a 'consumir' o exercício e todos os
produtos atrelados à prática física de forma crítica,
recusando assumir práticas enganosas, e valorizando os
profissionais com formação na área.
10
O processo de 'culpabilização da vítima' consiste em
depositar no cidadão, a responsabilidade por sua saúde
individual, ignorando os múltiplos fatores que atuam
sobre sua saúde e dos quais ele não possui controle.
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