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Poéticas do corpo

Imagens e representação.
Profa. Priscilla de Paula
Representações do corpo servem, em cada período ou cultura, para
transmitir uma ideologia específica e não apenas a imagem de corpos.

Amarna - Maat
Sanchi, Salabhanjika Templo Kandariya
Na Grécia tudo é diferente. O nu foi criado não apenas como gênero
artístico mas como filosofia. Matesco acredita que o pensamento do
corpo que surge na Grécia chega a ser metafísico, inaugurando assim o
pensamento sobre o corpo.
Nesse sentido, pode-se dizer que a concepção de corpo na cultura
ocidental está intimamente ligada à imagem e à representação.

Para os gregos o nu é uma conquista da civilização.


Mais forte que a religião estava
o hedonismo. Se a religião
não conseguiu unir a
Grécia, o Hedonismo sim.
Nenhum outro povo amou tanto
a si mesmo, cultuou o
corpo e a beleza, assim
como os prazeres
mundanos como os
gregos.
Vemos provas disso no
comportamento, nas leis,
na filosofia, no amor, nos
jogos e principalmente
nas Artes.
Toda civilização grega tem seu fundamento na relação harmônica
entre homem e natureza: “não existe nada na realidade que não se
defina ou tome forma (antes) na consciência humana.”


Hedonismo (do grego hēdonē que significa prazer) é uma teoria ou doutrina
filosófico-moral que afirma ser o prazer individual e imediato o supremo bem
da vida humana.

A idéia básica que está por trás do hedonismo é que todas as ações podem ser
medidas em relação ao prazer e a dor que produzem.



Apolo
O SEGREDO DA VIDA E DO PENSAMENTO GREGOS CONSISTIA EM SER O
HOMEM A MEDIDA PARA TODAS AS COISAS.

A partir daí compreendemos melhor a importância da


representação do corpo.
Período Clássico
Período Helenístico
Na Grécia temos a leitura da natureza a partir da matemática. E o corpo é
sempre enunciado da beleza e da forma, numa imagem totalizada pelo
equilíbrio.
Essa imagem vai se deslocar da natureza para a pólis: o corpo do cidadao era
um artifício a ser criado, controlado e aprimorado. “O corpo belo e nu não é
uma dádiva da natureza, ao contrário, é uma conquista da civilização.”

“Compreende-se pois que o nu artístico é relacionado a características morais,


tornando-se modelo de virtudes e qualidades subjetivas que marcam toda a
civilização ocidental.” O nu representa o corpo mas a idéia de HOMEM no
ocidente.
Racionalismo do
pensamento grego
– homem pensa,
faz e controla.
Adaptação da
natureza ao seu
pensamento e
vontade.
O corpo modelado
replicando a
perfeição da
natureza.
Também a
arquitetura
respeita essa
lógica. Réplica da
perfeição natural.
Corpo feminino na arte grega
Roma, Imperador Probo
Pintura romana
Roma - retrato
Idade Média
O Corpo, para o ocidente cristão, herdeiro do pensamento grego, era um jogo
semântico com sua sombra – alma, consciência, espírito – reforçando a
dicotomia instaurada por Platão e reafirmada posteriormente por Descartes.
Ainda hoje quando ouvimos corpo pensamos na caixa, não no todo, e com isso
diminuímos a complexidade do corpo propriamente.
Também a tradição judaico-
cristã influenciou na
representação do corpo no
ocidente.
•Criacionismo monoteísta e a
noção de encarnação em Cristo.

•Criacionismo supõe a criação do


homem por Deus à sua imagem e
semelhança. O homem passa a ser
uma imagem decaída do criador.
A fragilidade do corpo reforça a
noção de semelhança como
objeto perdido.

Detalhe de Mosaico,
Santa Sophia
Mão de Deus
Miguelangelo, detalhe
Capela Sistina
Apesar da forte tradição judaica
da irrepresentabilidade do corpo
de Deus, Jesus, como deus
encarnado, é um corpo possível. A
partir daí há uma crise pois as
imagens pagãs de antes eram
idólatras demais, além de
sensuais demais. A crise transferiu
para o corpo de Jesus tudo que
antes era idealizado no nu da
estuária grega. O único homem /
corpo que valia a pena ser
representado era aquele que Deus
encarnou.
É importante distinguir
entre a nudez e o nu, para
compreender como o
corpo se constitui numa
das principais poéticas da
história da arte.
“enquanto a nudez sugere
um estado de quem está
desprovido de vestes e o
correspondente embaraço
dessa situação, o nu não
projeta em nosso espírito
a imagem de um corpo
tolhido ou indefeso, mas
daquele equilibrado,
desabrochado e seguro de
si.”
A pintura tinha certas características que acabaram limitando o pintor românico: a
cor era padronizada: as figuras, estáticas e solenes, eram quase sempre
representadas de frente ou de perfil; não havia movimento e as imagens, sem
profundidade, pareciam condenadas aos limites das duas dimensões.
Mas a imagem de Cristo na
Idade média deve ser
entendida ainda como milagre
e santidade. É somente no
Renascimento que o termo
figura se associa à imagem do
corpo como algo visível,
isolável e descritível.
Na Idade média não havia representação do corpo individual, retratos, como
hoje entendemos. Somente no Renascimento “o homem descobre a
consciência de seu existir social.” O Eu torna-se sujeito. Há uma apreensão
física imediata entre modelo e imagem.
Real como aparência – identidade. Não é mais a fé que funda o real e sim a
experiência.
A arte renascentista já
nos mostra o corpo
dessacralizado,
convertido em coisa
humana. O corpo
torna-se representação
que busca a si mesma.
O corpo como espelho.

Van Eyck
Bodas de Arnolfini
Venus de Urbino - Ticiano
Com relação às representações feitas por artistas renascentistas de estudos
anatômicos. Somente a partir do século XVII que os estudos de anatomia foram
oficializados, dando inicio à noção moderna do cadáver e o corpo afirma-se
como um conceito autônomo, dissociado do homem. Inaugura-se também os
direitos de observação na medicina e corpo vira informação.
Da Vinci,
Desenhos
Da Vinci,
Desenhos
Andrea
Mantegna
Miguelangelo, detalhe
Capela Sistina
Miguelangelo, detalhe Capela Sistina
Miguelangelo, detalhe Capela Sistina
Outro gênero que merece destaque nas representações do corpo no século
XVII em diante é a pintura Vanitas.
A anatomia deu a receita e a bíblia o resto. Desprendimento dos bens
terrestres a fim de preparar o espírito para a vida eterna.
Vanitas lembra ao homem de sua finitude, fugacidade do tempo, e inutilidade
da matéria e dos bens e riquezas.
Leva-nos ao corpo penitente.
Caravaggio,
São Gerônimo
Caravaggio, São Gerônimo
Barroco, realismo nas representações.
Velazquez
Velazquez
O nu começa a acabar
quando começa a ruir
também uma visão de
mundo que supunha
uma essência universal
do homem.
“o nu se perde e resta
a imanência de um
corpo – seu ser
respostas e totalmente
exposto, sem
proteção.
Arte modernidade: Da
Bethsabée de
Rembrandt, passando
pela Maja desnuda de
Goya, à Olympia de
Manet, observa-se o
fim de uma tradição.

Rembrandt, Bethsabée
Goya, Maja vestida e Maja desnuda
Jules Lefebvre
O feminino em Olympia: sexualidade feminina no seu aspecto moderno.
Viril, ativa, agressiva.
A modernidade de Olympia está na combinação de um tema problemático e
modo de pintar desconcertante...

Olympia foi comparada a uma frase cujas palavras são inteligíveis porém a
gramática esta errada: “fui no cinema e vi que não tinha trago a mala.”
Courbet – a origem do mundo
Na Modernidade há uma constante presença do corpo fragmentado, como
representante da perda da totalidade. O homem agora é um fragmento
efemero, com finitude e transitoriedade.
No período das vanguardasm e 1 guerra mundial não é somente a paisagem ou
o espaço que é arrasada, mas todas as esperanças do projeto humanista.

Muybridge
Picasso

Les
demoiselle
d'avignon
Picasso
O Poeta
Marcel Duchamp
Nu descendo a escada
Rei e Rainha,
nenhuma forma
humana é sugerida.

Duchamp trocou os
objetos da natureza
morta do cubismo
por “afirmações
mecanicistas”
(Rosalind Krauss)
Marcel Duchamp
Nine Malic Molds/Neuf moules mâlic
1914-15. 64 x 102 cm. Oil, lead wire, lead foil on glass between two glass plates. Private
collection
A total
desconsideração pela
anatomia, a
sexualidade tratada
de forma mais crua e
o uso de uma
morfologia mais
primitiva na arte
mostram como o ideal
clássico se tornara
distante da estética
moderna.
Ernst Ludwig
Kirchner

Girl Under a Japanese Parasol, 1909


Oil on canvas
92.5 x 80.5 cm
Kunstsammlung Nordrhein-Westfalen,
Dusseldorf
Egon Schiele
Otto
Mueller
Zwei Mädchen im Grünen, c. 1920- 25.
Otto
Mueller
Liebespaar, 1921/1922
119x93,5cm, Privatbesitz
Constantin Brancusi
The Kiss, 1916.
Limestone, 23 x 13 1/4 x 10 inches. Philadelphia Museum of Art,
The Louise and Walter Arensberg Collection, 1950..
Escola de Paris
Na Modernidade
também começamos a
ver os aspectos internos
e psicológicos do corpo.

Edvard Munch
The Scream, 1893
Tempera and pastel on board
91 x 73.5 cm
Edvard Munch
Puberty, 1894-5
Oil on canvas
151.5 x 110 cm
Emil
Nolde
Auto-retrato
Oil on canvas
Hopper, A mulher no sol
Hopper, Quarto de Hotel
Las dos
Fridas. 1939
O sonho, 1940
O Surrealismo é diferente das demais estéticas do inicio do século XX pois
mostra umaplástica do desejo e não do corpo natural, ou um corpo erotizado,
fastasmático, mostrando toda a labilidade da imagem deste corpo.
Man Ray
Dada
Hans Arp
Miró
Miró
Dali,
Detalhe de Madona com o
menino
Magritte

Ligaçoes perigosas
1926
Magritte
Magritte
Magritte
1932 Frida Kahlo
My Birth. 1932. Frida Kahlo
Bonecas de Hans Bellmer – ambivalência entre o erótico e o terror.
As bonecas, como representações transgressivas do corpo feminino lidam não só
com a imagem do corpo mas do corpo como imagem.
Hans Bellmer
Hans Bellmer
Hans Bellmer
Marcel Duchamp
Etant donnés
Dados: 1 A queda d’água, 2 O gás de iluminação, 1946-66.
Conjunto multimedia: uma porta antiga de madeira, tijolos, veludo, medeira, couro esticado
sobre uma moldura de metal, galhos, alumínio, ferro, vidro, plexiglass, linóleo,
algodão, luz eletrica, lâmpada a gás, motor, etc. 242,5 x 124,5cm.
Subtexto erótico no trocadilho visual
sugerido pela Fonte:
Ao virar o objeto 90º é imediatamente
sugerida a forma virada de um útero.
Além das formas curvas do corpo
feminino.
2,70 x 1,70 m
A Noiva envia aos solteiros um fluido
elétrico por meio do letreiro de cima.
Despertados pela descarga, os moldes
se inflam e emitem um gás que “após
várias peripécias” passa pelos cones do
Tamis. Enquanto isso o carrinho recita
as monótonas litanias. O gás é
convertido em líquido ao ser filtrado
pelo Tamis, chega até as tesouras que
vão dispersá-lo com seu abrir e fechar.
Uma parte cai na região dos salpicos,
mas outra é disparada para cima e
perfura o vidro (zona do tiro de
canhão). Neste instante a Noiva se
desprende de suas vestes.
Fim do ato: a origem e o “fim” de todo
o movimento erótico mecânico esta na
Noiva (MOTOR-DESEJO)
“A Noiva está condenada a ser virgem. A
maquinaria erótica que põe em movimento é
inteiramente imaginária, tanto porque seus
machos não têm realidade própria, como
porque a realidade que ela conhece é auto-
reflexa: a projeção de seu Motor-Desejo.

No mito de Duchamp falta o herói que rompe


a barreira da gravidade e liberta a Noiva de
sua virgindade.

O Grande vidro não mostra o desejo masculino


e sim a projeção do desejo da Noiva.
Duchamp transforma o ato erótico num grotesco
mecanismo onde o desejo vira a combustão de
um motor, o sêmen com pólvora, etc.
Essa pintura mostra simultaneamente a
ausência do significado e da necessidade de
significar. Nisso reside o significado desta
obra.

Uma das idéias de Duchamp consiste em crer


que o espectador faz o quadro.

Artista nunca tem cs exata do que poe na


obra.
Espectador refina a obra.

“entre o que o artista quis fazer e o que o


observador acredita ver, há uma realidade
que é a obra.”
Duchamp faz uma arte difícil, que obriga o
observador a colocar em movimento uma serie de
signos ali presentes. o observador tem que virar
poeta...
A célebre e última obra

de Duchamp, Etant
Donnés exposta
permanentemente a
partir de 1969 no Museu
de Arte de Filadélfia.
Duchamp mentiu. Não estava
parado. Trabalhava em
segredo.
A Conjugação foi realizada com
a ajuda de Teeny sua mulher de
1946 a 1966 aproximadamente.
Em 1969, após sua morte a obra
foi desmontada e levada ao
museu da Filadélfia. O guia
para montagem foi o caderno
com instruções precisas,
diagramas e mais de 100 fotos.
Vê-la é escutar anota final do
Grande Vidro. É ver a noiva nua.

No Vidro imaginamos a noiva a


desnudar-se, na conjugação
vemos o momento do êxtase.

“A máquina do Grande Vidro é a


representação de um enigma; o nu
de Etant Donnés é o enigma em
pessoa, sua encarnação.” (PAZ)
No Vidro o Gás é dos solteiros, que
pelos tubos capilares passam para o
Tamis que os filtra e os transforma em
líquido explosivo (semên).
Imediatamente cortado pelas tesouras,
sublimado pelas testemunhas oculistas,
uma parte para região dos respingos e
outra para os domínios da Noiva.

Aqui o gás é invisível.


Aqui o gás aparece.

E somem os solteiros.

A conjugação confirma o
caráter imaginário do
desejo da Noiva.

Os solteiros não existem.


No Vidro a cascata não está com a
Noiva.

Mas serve de alimento ao moinho


d’água.

Na Caixa Verde Duchamp escreve: “


Uma espécie de repuxo d’água vem de
longe, em semi-círculos, em cima dos
moldes machos.”

A cascata serve à imaginação da


Noiva. É parte do mecanismo de
sedução.
Testemunhas oculistas x observador

O olhar transpassa as passagens obstruídas (cols alites).

Testemunhas oculistas destilam o líquido e levam-no até os domínios da


Noiva.
O buraco nos leva ao domínio da Noiva.
Em ambos os casos: ver através de algo.
Em ambos os casos olhamo-nos olhar

Duchamp faz girar o eixo e transforma a relação entre sujeito e objeto: no Vidro e
na Conjugação nós nos vemos vendo.
Nos vemos através do vidro e detrás da porta o objeto erótico.
A Noiva se vê nua em nosso olhar.

“a virgem se desnuda no olhar de quem a olha.”


Duchamp disse várias vezes que a
Noiva é uma aparição. “Um estado
instantâneo de repouso”.
A aparição da Noiva exige o olhar
alheio.

Duchamp inaugura o discurso


contempor6aneo na arte.

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