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Aprender e educar num mundo

digital
05 ABRIL 2018

O maior desafio das universidades hoje é educar as novas gerações para as


incertezas: antecipar o futuro, e não apenas relatar o passado, para garantir que
graduados terão capacidade de resposta e adaptação às mudanças globais que
caracterizam nosso tempo. Temos de formar jovens para viverem e trabalharem
num mundo que não podemos antever com clareza, onde muitas das profissões
que conhecemos terão perdido seu papel e as tecnologias disponíveis serão
muito diferentes das atuais. Como preparar os jovens para esse futuro?
Acreditamos que o caminho passe por mudanças profundas no ensino e no
aprendizado. Esse tema estará em debate no 4.º Encontro Internacional de
Reitores Universia, em maio, na octocentenária Universidade de Salamanca, na
Espanha. Com comitiva de uma centena de reitores brasileiros, entre outros
tantos de todo o mundo, será uma oportunidade única para juntos fortalecermos
a integração de nossas universidades à revolução digital.
De nossa parte, propomos fugir das especificidades curriculares, dos detalhes
exaustivos, e dar mais peso a pensar sobre o futuro do que à tentativa de
transmitir às novas gerações tudo o que foi acumulado no passado.
Educação implica mudança de comportamento, fortalecimento da independência
de pensamento e da capacidade de argumentação, de comunicação e de
tomada de decisões. Um currículo que pretenda educar para o futuro, num
mundo que não podemos ainda desvendar, deve privilegiar o respeito aos
direitos de todos, a capacidade de trabalhar em grupos multidisciplinares, de
liderar e de aceitar a liderança de outrem, a referência permanente aos valores
éticos e o respeito à vida e ao ambiente.
Nesse currículo ideal, o método e a abordagem têm primazia sobre o conteúdo,
pois são os instrumentos comportamentais que asseguram o sucesso em
qualquer situação. As universidades precisam oferecer ambientes de ensino em
que os estudantes se preparem para a contínua atualização tecnológica.
A revolução digital é uma mudança irreversível do mundo, que afeta a vida de
todos, e chega ao entorno das universidades, embora ainda não tenha sido
adequadamente absorvida por elas. É surpreendente que toda a comunidade
acadêmica (professores, estudantes e técnicos), que gera e participa da
revolução tecnológica e digital no dia a dia, no uso intensivo de smartphones,
tablets, plataformas digitais, internet, streaming e televisão digital, por exemplo,
continue ao mesmo tempo resistindo a incorporar essas mudanças na vida
acadêmica.
Não é exagero descrever o ambiente universitário como composto por
estudantes da era digital e professores analógicos (no que diz respeito ao
ensino-aprendizagem). Esse ambiente terá de mudar e as universidades que
resistirem se tornarão obsoletas. A tecnologia com sentido estratégico serve
como ferramenta para definir linhas de atuação internas (metodologia e didática
de aprendizagem, recursos humanos, planejamento e gestão) e externas
(alianças com empresas e órgãos de governo, trabalhos em rede, consórcios
tecnológicos, criação de clusters produtivos). A conectividade contínua está
levando a uma reconfiguração das relações sociais, em todos os níveis, e a
educação faz parte desse pacote.
Para que a revolução digital chegue às universidades brasileiras é necessário,
primeiramente, investimento em infraestrutura. Não é possível sequer planejar
ensino em ambiente em que o estudante não tenha acesso a máquinas, não
disponha de conectividade de elevada qualidade ou não encontre técnicos
competentes para manterem a qualidade do acesso digital e assegurarem o uso
adequado das ferramentas técnicas.
A forma de transmitir o conteúdo nesse novo ambiente digital tem de ser muito
diferente da transmissão de conteúdo em sala de aula. A utilização ingênua do
formato clássico apenas transposto para formato digital não funciona: por
exemplo, gravar aulas clássicas de 50 minutos. Dentro de cada tópico é
necessário escolher os aspectos que sejam mais apropriados à abordagem
digital e dar-lhe formato adequado.
No entanto, a capacitação docente específica continuará sendo o maior entrave
ao ensino no ambiente digital. Não se trata apenas de “adaptar” o formato
clássico para o formato digital, mas de escolher o conteúdo que permita
“conversar” com os jovens, e não apenas “falar” para os jovens, que não aderem
a uma plataforma digital quando seu papel é apenas passivo, como, por
exemplo, somente ler longos textos.
A liderança e a governança das universidades são fortemente afetadas pelo
formato do ensino. A mudança do ensino tradicional para o ambiente digital
produzirá impactos na distribuição de poder e na condução da vida acadêmica,
a começar pela organização do currículo, dos módulos didáticos, e pela maior
necessidade de integração e de flexibilidade curricular.
Mais significativas serão as alterações no uso do espaço físico, que já
começaram nas bibliotecas, as quais estão deixando de ser depósitos de livros
e periódicos para se transformarem em espaços para trabalhos colaborativos,
em rede, e uso massivo de recursos digitais. Aqui tocamos numa das áreas mais
sensíveis e cuja mudança trará maior impacto na vida da universidade: o domínio
de docentes e departamentos sobre os pequenos espaços e divisões se tornará
obsoleto com o trabalho em rede.
Os benefícios da revolução digital sobre a burocracia e a administração serão
imensos, trazendo economia de tempo e de pessoal, eficiência e rapidez nos
processos e eliminação de redundâncias. Ganham as instituições de ensino,
mas também a sociedade, que será servida por profissionais preparados para a
nova configuração tecnológica global.
Fonte: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,aprender-e-educar-num-
mundo-digital,70002248006

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