SÃO PAULO, 2210

Imagine um mundo sem política, religião, e sem qualquer lei.

Imagine um mundo dominado pelo vazio e, ao mesmo tempo, pelo caos.

Hoje é dia 7 de setembro de setembro de 2147. São Paulo capital.

Uma chuva forte escorre do céu. Ouve-se, vindo de bem longe, um breve trovão e um estalado
químico na atmosfera, denunciando que está por vir uma tempestade radioativa.

O pouco que sobrou dos prédios, casas, e monumentos (pausa breve, respira) tudo está se corroendo
e, aos poucos, tornando-se ainda mais ruínas. Vários corpos, vitimados pelas bombas há vários
anos, foram submetidos a processos químicos diferenciados em virtude da radiação. O que era para
se tornar um cadáver comum, o que era pra simplesmente se decompor… estava ganhando uma
forma verde, flácida e bizarra.

Toda vida biológica foi afetada, senão extinta. Moscas, vespas, escorpiões, topeiras, cachorros, esse
foram uns dos alvos mais afetados. E por causa dos efeitos químicos gerados pela bomba, tornaram-
se desproporcionalmente maiores, totalmente agressivos e letais. Praticamente todas as espécies
tiveram sua linhagem modificada ou destruída.

As tecnologias pré-guerra foram, em sua maioria, danificadas. Mas muito dessa realidade
tecnológica do final do século XXI ainda se mantêm preservada em locais menos afetados pela
catástrofe. Até me é prazeroso relembrar dos nossos robôs pessoais que nos ajudavam nos afazeres
domésticos, da proteção das ruas garantida pelas torretas automáticas Mark V, e dos Policetrons que
patrulhavam a cidade inteira, dando a nós um ar de sossego e segurança, independente de onde
estivéssemos.

Embora o Brasil não fosse mais um só país, vivíamos em harmonia com a União Gaucha. A
repartição foi feita em 2105, em razão dos conflitos entre os liberais principalmente do sudeste e os
neocomunistas do sul brasileiro.

De qualquer forma, era o século XXI, a tecnologia deu fruto a milagres que ninguém esperava.
Tínhamos segurança, saúde e educação, tudo de qualidade. Tínhamos praticamente todas as coisas,
mas só nós da Comunidade Americana que tínhamos tudo.

No ano de 2133, os Estados Unidos eram os principais detentores do petróleo. Diversas fontes
petrolíferas foram encontrados no Alasca, e isso foi transformando a nação americana numa
potência ainda mais surreal, porque além de ser a pioneira tecnológica, bélica e industrial,
comandava a extração e exportação do ouro negro.
No ano a seguir, a Europa inteira começou a sofrer ataques da ASPA (Aliança Socialista dos Países
Asiáticos). Cidades foram saqueadas e destruídas. Diversos bens industriais, tecnológicos e até
mesmo agropecuários foram roubados. Mas os ataques tinham, por trás disso tudo, um único
propósito: assaltar e dominar as últimas reservas de petróleo da Europa.

Porém no final 2135, o inesperado ocorreu…

Unidades especiais da ACPA infiltraram nas reservas americanas do Alasca no final de novembro. O
Presidente Douglas Trump, após ser informado sobre a invasão, não teve piedade e contra-atacou a
sede da ACPA, localizanda em Beijing, na China, enviando tropas americanas em suas armaduras T-
50 para dar um fim na raiz do problema.

Enquanto 10 regimentos do exército americano se translocavam em direção à Ásia, já era tarde

demais pra reagir. Viram que, na verdade, o inferno não estava lá embaixo e sim lá e em cima:
toneladas de bombas nucleares estavam sendo lançadas por aviões Stealth-Bombers do exército da
ASPA. Explosões descomunais ilustraram o céu. Ou melhor, não existia mais céu.

Só existia um clarão imensurável tomando conta de toda a América.

Hoje é dia 7 de setembro de 2147. São Paulo capital…

NARRAÇÃO
HOJE É DIA 7 DE SETEMBRO DE 2147.

VOCÊS ESTÃO EM SÃO PAULO, CAPITAL.

EMBORA SEJAM 3HRS DA TARDE, AS NUVENS CARREGADAS PREENCHEM O CÉU.

COMEÇA A CHOVER.

INDEPENDENTE DE ONDE ESTEJA, VOCÊ OUVE AS GOTÍCULAS DE ÁGUA

COLIDINDO CONTRA OS TELHADOS, OS CARROS DESTRUÍDOS, OS CORPOS

PARCIALMENTE DESINTEGRADOS NA RUA. É DIFÍCIL ACREDITAR QUE ESSA

CIDADE ERA TÃO BONITA, VÍVIDA E ATRAENTE. E QUE NUM ESTALAR DE

DEDOS, A DESTRUIÇÃO CONSUMIU TUDO ISSO. AINDA ASSIM, SÃO PAULO

ESCONDE LUGARES E ACONTECIMENTOS DE QUE POUCOS TÊM NOÇÃO.

PLOT:
HÁ ANOS, EXISTE UM RUMOR AMARGO QUE VEM ECOANDO PELA CIDADE. AS

PESSOAS ESTÃO COMEÇANDO A INDAGAR A EXISTÊNCIA DE UMA

ORGANIZAÇÃO SECRETA QUE VEM FAZENDO, SEGUNDO RELATOS,

EXPERIÊNCIAS EM HUMANOS DESDE A ERA PRÉ-GUERRA. DIZEM QUE O

CABEÇA DESSA ORGANIZAÇÃO SE CHAMA GIACOMO LAZARINI, UM EX

PROFESSOR DE ENGENHARIA GENÉTICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO.

OCASIONALMENTE, CORPOS DESCARTADOS VEM APARECENDO COM

FREQUÊNCIA NA FRENTE DO INSTITUTO DE TECNOLOGIA AVANÇADA DE SÃO

PAULO (O ITASP). É CLARO, CURIOSOS E CERTOS CAÇADORES DE RECOMPENSA

INVESTIGARAM A REGIÃO, MAS NUNCA ENCONTRARAM NADA DE RELEVANTE.

UM DOS MAIORES MEDOS DO POVO DE SÃO PAULO É PERDER UM ENTE

QUERIDO, UM AMIGO, UM AMOR. MAS PIOR QUE É ISSO, É TÊ-LO RAPTADO E

TROCADO POR UM ANDROIDE.

E SOBRE OS ANDROIDES. NINGUÉM SABE COMO ELES AINDA ESTÃO SENDO

PRODUZIDOS. MAS SABEM QUE ELES SÃO UM PERIGO EMINENTE. E EM RAZÃO

DISSO, UM LEVANTE COMPOSTO POR SOLDADOS SOBREVIVENTES

ESTABELECEU UMA NOVA SOCIEDADE QUE, HOJE, É RESPONSÁVEL PELA

PROTEÇÃO DE DIVERSOS PONTOS IMPORTANTES E DE COMUNIDADES DE SÃO

PAULO. ESSA SOCIEDADE SE CHAMA “A IRMANDADE DE FERRO”.

SABEMOS QUE NÃO É NADA FÁCIL RECOMEÇAR DO ZERO. MAS OS HUMANOS

LUTAM BRAVAMENTE HOJE PARA TER O AMANHÃ. LUTAM COMO SE TODO DIA

FOSSO O ÚLTIMO. LUTAM PARA QUE A HISTÓRIA DO PAÍS NÃO SEJA MAIS UMA

VEZ ESCRITA COM SANGUE.

INTRODUÇÃO PERSONAGENS.

- TOCA MÚSICA SUSPENSE -

DIZ A LENDA APOCALÍPTICA QUE UM INDIVÍDUO PERCORRE AS VIELAS DE SÃO

PAULO DERRAMANDO SANGUE. ASHURÁ É COMO O CHAMAM. POR ONDE PASSA,

DEIXA ESCALPOS DE CARNIÇAIS JOGADOS PELA RUA. NÃO IMPORTA SE É UM

CARNIÇAL HOSTIL OU UM PROBO. PARA ASHURÁ, QUALQUER UM DELES DEVE

MORRER.

ESSA SUA ALCUNHA SURGIU EM VIRTUDE DA MÁSCARA QUE DIZEM QUE ELE

USA. UMA MÁSCARA DEMONÍACA COM TRAÇOS ASIÁTICOS. ASHURÁ É UM

DEMÔNIO, É UM DEUS DA GUERRA, E DO COMBATE.

PELAS COMUNIDADES DE SÃO PAULO, TEME-SE O NOME DELE, POIS ACHAM

QUE ELE DERRUBA QUALQUER UM A SUA FRENTE. MAS NÃO É ASSIM, NÃO

MAIS.

ASHURÁ CARREGA DENTRO DO SEU PEITO UM ÓDIO CONTRA SOMENTE OS

CARNIÇAIS, QUE DERROTARAM O SEU ESQUADRÃO E OS TORTURAM ATÉ A

MORTE. ELE FOI ÚNICO QUE SE LIVROU DAS GARRAS FUNESTAS DOS
DEFORMADOS. E DESDE ENTÃO, VIVE PARA ESTABELECER SUA VINGANÇA:

MATAR OS CARNIÇAIS ATÉ QUE NÃO SOBRE NENHUM.

ANDANDO LENTAMENTE PELA COBERTURA OFERECIDA POR UM PRÉDIO, UM

HOMEM ALTO, LOIRO E DE OLHOS CLAROS