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XVIII Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2009 – Vitória, ES 1

Ensino de Física a estudantes de Agronomia: contextualização nas


aulas práticas

Ana Lúcia Figueiredo de Souza Nogueira 1,2[analuf@nortecnet.com.br]

Adriana Gomes Dickman2 [adickman@pucminas.br]

1 Universidade Estadual de Montes Claros

2 Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Resumo

Apresentamos, neste trabalho, um método contextualizado de aulas de Física para


Agronomia que permite que o estudante construa seu conhecimento por meio da realização
de experimentos, conectando os conceitos básicos da Física com a construção e
funcionamento de modelos para dispositivos usados em Agronomia. Desta maneira, a sala
de aula oferece uma oportunidade única para sistematizar o conhecimento adquirido por
meio da participação em atividades programadas, tais como seminários e atividades
experimentais. A nova abordagem permite o estabelecimento de uma conexão entre Física
e Agronomia, contribuindo para a futura atividade profissional do estudante. Baseamos
nosso trabalh o no uso adaptado dos três “momentos pedagógicos” de Delizoicov e Angotti:
“problematização inicial, organização do conhecimento e aplicação do conhecimento”, que
repercutem numa opção didático-metodológica com a qual podemos estruturar o trabalho
docente. Como exemplo, nós relatamos um projeto desenvolvido pelos estudantes,
envolvendo a construção de um carneiro hidráulico, dispositivo frequentemente utilizado em
fazendas, para transportar água sem utilizar combustível ou eletricidade. Esse dispositivo
permite a discussão dos tópicos de hidrostática, relacionando o conceito de pressão, vazão,
e os teoremas de Pascal e Stevin. A abordagem de uma Física contextualizada propiciou
uma mudança drástica no comportamento dos alunos de Agronomia. Estes têm mostrado
um crescente interesse pela disciplina, compreendendo a importância desse conhecimento
científico na sua prática profissional. O conhecimento, que antes era visto como
"desnecessário", nas palavras dos próprios alunos, tornou-se algo mais interessante e
próximo da realidade, o que motivou os estudantes a estudar Física. Esse fato é atestado
pela seriedade e envolvimento manifestados durante a participação de trabalhos em grupo e
melhora no desempenho nas provas.

Palavras-chave : Ensino de Física, Ciências Agrárias, Ensino Superior,


Experimentação

Introdução

Questões relacionadas ao ensino e como ensinar vem conduzindo os


educadores a reflexões cada vez mais profundas sobre as finalidades da Educação,
e sobre seus valores e intenções. Com as inovações tecnológicas, aberturas
econômicas e quebra de barreiras, observa-se um grande incremento de idéias e
pensamentos, culminando em grande aporte de material humano e tecnológico em
todos os continentes. Em vista deste processo irreversível, todos os setores da
s ociedade devem se atualizar e acompanhar as tendências deste novo milênio.

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Nesse sentido, a comunidade começa a cobrar das instituições de Ensino,


profissionais no mercado de trabalho cujo perfil se adapte às novas tendências.

Concomitantemente a esse proc esso, encontramos dificuldades no ensino de


Física para Agronomia provocada principalmente por uma literatura escassa, na qual
se encontram poucos trabalhos relatando pesquisas feitas no assunto e nenhum
livro -texto de Física para Agronomia. Em geral, vemos que a Física é ensinada de
maneira com que os discentes não vejam sua importância para as Ciências
Agrárias, provocando uma desmotivação dos mesmos.

No presente trabalho descrevemos uma abordagem contextualizada utilizada


para a disciplina de Física oferecida aos estudantes do primeiro ano do curso de
Agronomia da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. O programa
é desenvolvido em um semestre com uma carga horária de cinco horas semanais,
totalizando 100 horas/aula.

As principais dificuldades que um docente encontra numa disciplina deste tipo


são a enorme abrangência dos tópicos e a reduzida carga horária da disciplina. Os
assuntos, no programa da disciplina, aparecem de forma fragmentada, dificultando
assim, que os conceitos envolvidos em cada unidade sejam inseridos em um
contexto mais amplo. Além disso, existe certa resistência dos estudantes aos
conteúdos de Física e de Matemática, vistas como disciplinas trabalhosas, nas quais
o estudante nem sempre consegue ver sua utilidade prática. Ensinar Física para
estudantes de Agronomia requer, então, adaptar conteúdo e métodos de ensino de
forma que o aluno/a desenvolva interesse e curiosidade ao relacionar este conteúdo
à sua prática específica na Agronomia.

A reorganização da disciplina tem como objetivo geral estabelecer uma


relação entre a Física e a Agronomia para a prática profissional do Agrônomo. Dada
a limitação de tempo para um tratamento formal dos assuntos, optamos por uma
abordagem diferente, introduzindo os conceitos fundamentais e ilustrando-os com
demonstrações e exemplos, dando ênfase as aplicações relacionadas à Agronomia.
1
“De acordo com o “Proyecto IBERCIMA ” a ciência deve ser apresentada
como sendo aberta e em construção, privilegiando a busca de soluções de
problemas pelos alunos, considerando a evolução histórica dos conceitos
e deve estar relacionada com a realidade do aluno. “(PORTILHO, 2005,
p.2)

Em acordo com Portilho, apresentamos uma abordagem contextualizada nas


aulas de Física, permitindo que o aluno construa o conhecimento por meio de
experimentos, nos quais os conceitos básicos da Física são associados com a
construção e funcionamento de equipamentos utilizados nas Ciências Agrárias
(PORTILHO, 2005). Santini e Terrazzan discutem em seus trabalhos o ensino de
Física por meio do uso de equipamentos agrícolas de uma Escola Agrotécnica
(SANTINI, 2004; 2005). Neste estudo foram produzidos e implementados módulos

1 Recomendaciones para el diseño del curriculo de ciencias.


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didáticos baseados nos três momentos pedagógicos propostos por Delizoicov e


Angotti (DELIZOICOV, 1991).

O ensino de Física para Agronomia, portanto, passa a ser considerado como


uma tarefa de construção, exigindo certa dose de criatividade por parte do professor
de forma a estimular o interesse dos estudantes pela matéria, conscientizando-os da
importância dela na sua formação. Vários trabalhos apontam o aumento do interesse
dos alunos quando a Física é ensinada utilizando aplicações práticas e
contextualizadas no dia-a-dia da profissão escolhida. (OVANDO, 2006; SANTINI,
2004; 2005).

Perfil do curso de agronomia da UNIMONTES

O curso de Agronomia da UNIMONTES proposto e ora em execução,


contempla a formação de Engenheiros Agrônomos por meio de uma estrutura
curricular bem abrangente. As disciplinas oferecidas são agrupadas em ciclos que
se dividem em conhecimentos básicos e essenciais, conhecimentos profissionais
essenciais e conhecimentos profissionais específicos. As disciplinas são ministradas
por meio de aulas teóricas, práticas em laboratórios e trabalho de campo. Os
professores em conjunto com a Coordenação estão empenhados em propiciar ao
graduando um ensino de qualidade com todas as inovações tecnológicas possíveis.
As disciplinas assim organizadas permitem que o futuro Engenheiro
Agrônomo agregue informações e conhecimentos diversificados e ordenados
seqüencia lmente. Além da estrutura curricular, as atividades extracurriculares, quais
sejam: monitorias, iniciação científica, atividades de extensão e estágios,
complementam os estudos a fim de formar um profissional que satisfaça as
necessidades do mercado de tra balho atual, que se inove e modernize em tal
mercado, bem como saiba analisar os problemas organizacionais, de forma
gerencial, com capacidade e competência.
A formação do Engenheiro Agrônomo não pode ser entendida como
conclusiva e terminal, mas capacitadora da aprendizagem permanente que se fará
ao longo da vida profissional. Assim, o professor de Física deve, além de transmitir o
conhecimento da ciência Física, preparar seus alunos para atuar de modo
fundamentado, consciente e responsável diante das necessidades impostas pela
vida atual e profissional.
Estimula-se, portanto, a realização de atividades que incorporem
abordagens práticas e problematizadoras das ciências, contextualizadas na vivência
do estudante (FINKELSTEIN, 2005).

Contextualização e experimentação

De acordo com Lorenzetti e Delizoicov há uma forte tendência dos


professores de ciências em não se preocuparem em incluir uma discussão,
conectando os conhecimentos científicos adquiridos na escola com o mundo real
dos alunos (LORENZETTI, 2001).

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“Os alunos não são ensinados como fazer conexões críticas entre os
conhecimentos sistematizados pela escola com os assuntos de suas vidas.
Os educadores deveriam propiciar aos alunos a visão de que a ciência,
como as outras áreas, é parte de seu mundo e não um conteúdo separado,
dissociado de sua realidade.” (LORENZETTI, 2001, p.7)

Existe, portanto, a necessidade de um planejamento das atividades


escolares de maneira a possibilitar que os alunos relacionem os conceitos físicos
estudados aos fenômenos da natureza e aos processos tecnológicos relacionados.
Sugere-se, portanto, a experimentação no ensino como atividade complementar e
necessária à construção do saber, considerando que essa prática pode contribuir
para o aprendizado dos conceitos físicos abordados. Principalmente quando esta
aborda situações típicas encontradas no cotidiano, tornando os conceitos estudados
mais concretos e despertando a criatividade dos alunos, enriquecendo o processo
de ensino/aprendizagem (SANTOS, 2004; ARAÚJO, 2003). A experimentação é
uma ferramenta de ensino rica em enfoques que podem ser explorados em sala de
aula. Além de propiciar situações não esperadas que podem, por meio dos novos
desafios a serem resolvidos, ser uma oportunidade de construção do conhecimento
(ARAÚJO, 2003).

Referencial teórico

A sala-de-aula constitui uma oportunidade privilegiada para a sistematização


do conhecimento que está sendo veiculado através de várias ações promovidas. É
necessário que o aprimoramento e ampliação do vocabulário científico dos
estudantes sejam adquiridos de forma contextualizada, na qual os alunos possam
identificar os significados que os conceitos científicos apresentam. O uso adaptado
dos três “momentos pedagógicos”, quais sejam, “problematização inicial,
organização do conhecimento e aplicação do conhecimento” (DELIZOICOV e
ANGOTTI, 1994) repercutem numa opção didático-metodológica com a qual
podemos estruturar o trabalho docente.
No primeiro momento pedagógico ou “na problematização inicial”, Delizoicov
sugere que sejam discutidas questões e/ou situações abordando fenômenos físicos
e aplicações tecnológicas com os alunos. O objetivo das discussões é, além da
motivação natural para a introdução de um conteúdo específico, favorecer a ligação
desse conteúdo com situações pre sentes no cotidiano dos alunos. Dessa maneira, a
problematização poderá ocorrer caso o aluno não tenha conhecimentos científicos
suficientes para explicar corretamente as situações apresentadas. Assim a
discussão despertará no aluno a necessidade de adquirir outros conhecimentos
(DELIZOICOV & ANGOTTI, 1994). Tais questões são chamadas de questões
problematizadoras.
No segundo momento, o conteúdo será organizado de maneira que “o
conhecimento necessário para a compreensão do tema e da problematização inicia l
será sistematicamente estudado, sob a orientação do professor.” (DELIZOICOV &
ANGOTTI,1994, p.55). Assim, apresenta-se a teoria e seus fundamentos
relacionados ao tema discutido na problematização inicial.
A “aplicação do conhecimento”:

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“Destina-se, sob retudo, a abordar sistematicamente o conhecimento que


vem sendo incorporado pelo aluno para analisar e interpretar tanto as
situações iniciais que determinaram o seu estudo, como outras situações
que não estejam diretamente ligadas ao motivo inicial, mas que são
explicadas pelo mesmo conhecimento” (DELIZOICOV & ANGOTTI, 1994,
p.55).

Com o primeiro momento pedagógico “problematização inicial” instigamos os


alunos a pensarem sobre como a Agronomia pode ser relacionada com a Física. O
professor apresenta dispositivos frequentemente utilizados na prática do agrônomo,
e provoca discussões sobre a Física relacionada a seu funcionamento. Neste
momento temos uma tempestade de idéias e tudo que é dito é guardado. A partir
dessa discussão teremos um diagnóstico da turma que indicará os conceitos
intuitivos dos alunos naquele momento, além de podermos introduzir a idéia inicial
de articulação da Física com a Agronomia.

Na “organização do conhecimento”, apresentamos a Física formalmente,


suas leis, conceitos básicos e equações. A discussão seria feita de modo que os
alunos sejam capazes de identificar fenômenos pertencentes aos diversos campos
conceituais da Física; aplicar as leis da Física na explicação e interpretação destes
fenômenos; resolver problemas e analisar gráficos; relacionar conceitos e unidades
de medida; reconhecer as interações fundamentais na Natureza; interpretar
fenômenos da Natureza usando a linguagem da Física e compreendê -los por meio
de modelos físicos explicativos.

No terceiro momento pedagógico, o conhecimento é aplicado quando


analisamos uma nova situação problema e chegamos a um resultado relevante.
Assim, solicitamos aos alunos que apliquem o conhecimento incorporado,
apresentando para a turma, na forma de seminário, trabalhos cujos temas
relacionem a Física com a Agronomia. Incentivamos que os alunos reproduzam
réplicas dos dispositivos discutidos, quando o tema permite, e tais demonstrações
são apresentadas junto aos seminários, incluindo uma discussão da Física
relacionada com a construção dos aparelhos.

Metodologia

Como objetivos gerais da disciplina procuramos estabelecer uma relação


entre a Física e a Agronomia para a prática profissional do agrônomo. O tempo
escasso limita o tratamento formal dado aos assuntos, impedindo, por exemplo,
aulas dedicadas à dedução de fórmulas. Assim, optamos por uma abordagem
diferente, introduzindo os conceitos fundamentais e ilustrando-os com
demonstrações e exemplos, como será mostrado adiante, dando ênfase às
aplicações relacionadas à Agronomia.

Estimulamos uma atitude crítica, um questionamento reflexivo em relação


aos resultados numéricos obtidos de seus cálculos e estimativas. Propomos a
realização de seminários em grupo durante toda a disciplina com o objetivo de

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facilitar a construção e consolidação dos conceitos, assim como vivenciar a Física de


forma mais concreta, interessante e próxima do cotidiano. Desta maneira o
conhecimento adquirido torna o cidadão mais atento para a Ciência e seus
problemas, de modo que ele e seus representantes possam tomar decisões mais
bem informadas.

“O cidadão é capacitado a tornar -se mais informado sobre a ciência e as


questões relacionadas a ela, tanto que ele e seus representantes possam
trazer seu senso comum para apreciá -lo e, desta forma, participar mais
intensamente no processo democrático de uma sociedade crescentemente
tecnológica”. (SHEN, 1975, p.266)

A ementa da disciplina compreende Mecânica, Termodinâmica, Óptica,


Eletromagnetismo e Física Moderna. A disciplina tem carga horária de 100h/a,
dividida em 3h/a teóricas e 2h/a práticas por semana. Não utilizamos formalmente
esta divisão, pois as práticas se fundem à teoria, uma vez que consideramos como
prática todas as atividades relacionadas com aplicação da Física na Agronomia, tais
como: seminários, resoluções de problemas ou pesquisas feitas pelos alunos sobre
temas associados à Agronomia. A turma é dividida em grupos de quatro a cinco
alunos. Cada grupo fica responsável pela pesquisa, construção e exploração de um
tema que deverá ser apresentado aos demais na forma de seminário.

Por exemplo, após abordar um determinado conteúdo ilustramos os


conceitos discutidos com um seminário sobre um dispositivo que envolva tais
conceitos. Nesse processo, fazemos um levantamento de como o dispositivo pode
se encaixar no tema exposto. Em um segundo momento sugerimos que os alunos
pesquisem seu funcionamento, se possível construam uma réplica com materiais
recicláveis, para finalmente compreender seu funcionamento e dimensionar seu uso.

Dentre os temas explorados pelos alunos na disciplina podemos citar:


carneiro hidráulico - dispositivo para a elevação de água, bastante utilizado no
abastecimento de água no meio rural; a erosão do solo – estudo do impacto das
gotas de água no solo envolvendo colisão de partículas; e irrigação -
dimensionamento e estudo do tipo de aspersores utilizados, de acordo com as
várias finalidades possíveis.

Carneiro hidráulico: Exemplo de uma abordagem temática

Um exemplo da abordagem contextualizada é o Carneiro Hidráulico ou


Aríete Hidráulico, envolvendo o conteúdo de hidrostática (mecânica), relacionando o
conceito de pressão, os teoremas de Pascal e Stevin.

Tal equipamento, inventado em 1796, pelos irmãos Mongolfier na França, é


uma máquina muito simples e de grande utilidade para elevação de água nas
propriedades rurais. A queda, ou diferença de nível é, em geral, produzida
artificialmente por meio de pequenas barragens. O carneiro, uma vez instalado,
trabalha noite e dia, não necessitando de eletricidade ou combustível para funcionar,
pois utiliza como energia a própria queda de água, elevando automaticamente parte
desta.

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O seu funcionamento consiste em um fluxo de água que desce pelo tubo de


alimentação e escapa pela válvula de escape, até que a velocidade crescente do
escoamento do líquido seja capaz de erguer esta válvula, fechando-a bruscamente.
Ver esquema da Figura 1.

Figura 1: Esquema funcional de um carneiro hidráulico.

Um corte repentino do fluxo de água produz o que denominamos golpe de


aríete. A pressão elevada no momento, força e abre a válvula de recalque que dá
passagem à água para a campânula. Em conseqüência, o ar existente na câmara é
comprimido na parte superior da campânula, oferecendo uma resistência crescente
à entrada da água até o ponto de cessar, no fechamento da válvula de recalque. Ao
processo segue-se uma onda rápida de pressão negativa devido ao efeito de
compressibilidade da água e da elasticidade da tubulação que atua na válvula de
escape, fazendo-a abrir e dando seqüência a novo ciclo. Com a sucessão de ciclos,
a água que penetra na campânula vai subindo no tubo de elevação. Quando a
pressão na campânula for igual à soma da pressão de recalque e a perda por atrito
no tubo da elevação, a água fluirá no reservatório superior. O rendimento (R) do
carneiro hidráulico depende da vazão elevada (q), medida em litros/min, da vazão
recebida (Q), medida em litros/min, e das alturas da queda de água (h) e da
elevação da água (H), e pode ser calculado pela expressão:

qH
R = Qh (equação 1)

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Assim, vemos que a água penetra intermitentemente, em cada golpe de


aríete, na câmara de ar e é elevada de forma contínua, embora oscilante, até o
reservatório superior, graças à força elástica do ar da campânula que funciona como
um amortecedor. A escolha do tam anho do carneiro deve ser feita de acordo com o
volume de água disponível. A capacidade de elevação pode ser calculada, porém
não se obterá resultado satisfatório com uma queda inferior a um metro.

Os alunos, portanto, devem construir um exemplar do carneiro hidráulico, a


partir de uma situação hipotética: “Deseja-se instalar um carneiro em uma fazenda
cuja finalidade é abastecer duas moradias, sendo o desnível do tubo de alimentação
de seis metros e de quarenta e seis metros a altura de recalque (elevação)”. A partir
da proporção entre queda e elevação, aproximadamente 1:8, os alunos têm que
estimar o rendimento – esses dados podem ser encontrados em tabelas que utilizam
uma fórmula teórica para o cálculo da porcentagem de água aproveitada. Esses
dados são utilizados para encontrar o volume de água que pode ser elevada,
conhecendo o volume de água de alimentação disponível.

Na apresentação da montagem do trabalho experimental desenvolvido, os


alunos discutem os cálculos feitos no dimensionamento do dispositivo, dadas as
condições supostas e explicam o seu funcionamento indicando a física envolvida no
processo. A montagem foi feita utilizando garrafas PET e material de baixo custo.

Com este exemplo, a Física é consagrada dentro do curso de Agronomia.


Com uma linguagem clara e objetiva explica-se o funcionamento e a necessidade do
conhecimento físico para compreender este aparelho. Como extensão dessa
aplicação, podemos compreender que a Física estará presente na maioria dos
fenômenos que analisarmos, desde o ato de cavar a terra para o plantio, como para
irrigar, construir, drenar e mecanizar. Tudo isso exige um conhecimento das leis e
princípios da Física, que regem processos básicos e tecnológicos em prol do
desenvolvimento.

Discussão

A abordagem de uma Física contextualizada propiciou uma mudança


drástica no comportamento dos alunos de Agronomia. Estes têm mostrado um
crescente interesse pela disciplina, compreendendo a importância desse
conhecimento científico na sua prática profissional. O conhecimento, que antes era
visto como "desnecessário", nas palavras dos próprios alunos, tornou-se algo mais
interessante e próximo da realidade, o que motivou os estudantes a estudar Física.

Esse fato é atestado pela seriedade e envolvimento manifestados durante a


participação de trabalhos em grupo e melhora no desempenho nas provas. Segundo
dados de desempenho dos alunos na disciplina, o índice de alunos reprovados na
disciplina, antes da abordagem contextualizada era em torno de 12%, com 17% dos
alunos necessitando das notas do exame especial para ser aprovado. Após a
abordagem contextualizada apenas 1,5% dos alunos foram reprovados, com 1,3%
necessitando do exame especial para aprovação. Vale ressaltar que o método de

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avaliação não foi alterado, indicando assim, uma mudança real na postura dos
alunos.

Os recursos disponíveis para uma mobilização ao abordar uma situação


complexa são: conteúdos específicos, linguagens e valores culturais. Sendo assim,
a adaptação aqui apresentada procura mostrar a Física de uma maneira tal que,
desde o início, sejam claras sua relevância prática e sua universalidade, para que a
competência seja alcançada.

A proposta é tornar significativo esse aprendizado científico, pois a Física


pode ser vista como um instrumento para a compreensão do mundo em que
vivemos. Acredita-se que, partir sempre que possível de elementos vivenciais e
mesmo cotidianos, os princípios gerais da Física serão formulados com uma
consistência garantida pela percepção de sua utilidade e de sua universalidade
(GREF, 1998).

Referências bibliográficas

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GREF (Grupo de Reelaboração do Ensino de Física). Leituras de Física. São


Paulo: USP, 1998.

DELIZOICOV, D. e ANGOTTI, J.A. Metodologia do Ensino de Ciências. São


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LORENZETTI, L. e DELIZOICOV, D. Alfabetização científica no contexto das


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Sites Consultados

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