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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social


Título II
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO Dos Direitos Fundamentais
ADOLESCENTE - ECA - LEI Nº 8069, Capítulo I
DE 13 DE JULHO DE 1990. Do Direito à Vida e à Saúde

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida


e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que
LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,
em condições dignas de existência.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 8º É assegurado à gestante, através do Sistema Único de
Título I Saúde, o atendimento pré e perinatal.   
Das Disposições Preliminares § 1º A gestante será encaminhada aos diferentes níveis de
atendimento, segundo critérios médicos específicos, obedecendo-
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e se aos princípios de regionalização e hierarquização do Sistema.
ao adolescente. § 2º A parturiente será atendida preferencialmente pelo mesmo
médico que a acompanhou na fase pré-natal.
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a § 3º Incumbe ao poder público propiciar apoio alimentar à
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela gestante e à nutriz que dele necessitem.
entre doze e dezoito anos de idade. § 4o  Incumbe ao poder público proporcionar assistência
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal,
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do
um anos de idade. estado puerperal.
§ 5o  A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos também prestada a gestantes ou mães que manifestem interesse
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção em entregar seus filhos para adoção.
integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive
aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade.
social, em condições de liberdade e de dignidade.
Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em
saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:
geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação,
prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe,
comunitária.
sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: administrativa competente;
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica
circunstâncias; de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de prestar orientação aos pais;
relevância pública; IV - fornecer declaração de nascimento onde constem
c) preferência na formulação e na execução das políticas necessariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento
sociais públicas; do neonato;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a
relacionadas com a proteção à infância e à juventude. permanência junto à mãe.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de Art. 11. É assegurado atendimento integral à saúde da criança
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde,
violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para
atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. promoção, proteção e recuperação da saúde.
§ 1º A criança e o adolescente portadores de deficiência
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os receberão atendimento especializado.
fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente àqueles
direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da que necessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos
criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação.

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Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão § 1o  Toda criança ou adolescente que estiver inserido em
proporcionar condições para a permanência em tempo integral de programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua
um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses, devendo a
adolescente. autoridade judiciária competente, com base em relatório elaborado
por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou
contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades
ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de previstas no art. 28 desta Lei.
outras providências legais. § 2o  A permanência da criança e do adolescente em programa
Parágrafo único.  As gestantes ou mães que manifestem de acolhimento institucional não se prolongará por mais de 2 (dois)
interesse em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior
encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude. interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.
§ 3o  A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas à sua família terá preferência em relação a qualquer outra
de assistência médica e odontológica para a prevenção das providência, caso em que será esta incluída em programas de
enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e orientação e auxílio, nos termos do parágrafo único do art. 23, dos
campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos. incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do
Parágrafo único. É obrigatória a vacinação das crianças nos art. 129 desta Lei.
casos recomendados pelas autoridades sanitárias.
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento,
Capítulo II ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade
ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a
de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso
sociais garantidos na Constituição e nas leis.
de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a
solução da divergência.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes
aspectos:
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse
comunitários, ressalvadas as restrições legais;
destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações
II - opinião e expressão;
judiciais.
III - crença e culto religioso;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não
discriminação; constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder
VI - participar da vida política, na forma da lei; familiar.
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. Parágrafo único. Não existindo outro motivo que por si só
autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente
integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, ser incluída em programas oficiais de auxílio.
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia,
dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que
violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. alude o art. 22.

Capítulo III Seção II


Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária Da Família Natural
Seção I
Disposições Gerais Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada
pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.
Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado Parágrafo único.  Entende-se por família extensa ou ampliada
e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da
substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a
ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e
entorpecentes. afetividade.

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Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá
reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio transferência da criança ou adolescente a terceiros ou a entidades
termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro governamentais ou não-governamentais, sem autorização judicial.
documento público, qualquer que seja a origem da filiação.
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira
nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar constitui medida excepcional, somente admissível na modalidade
descendentes. de adoção.
Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável
personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser
prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo,
exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição,
mediante termo nos autos.
observado o segredo de Justiça.

Seção III Subseção II


Da Família Substituta Da Guarda
Subseção I
Disposições Gerais Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material,
moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu
Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais.
guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica § 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo
da criança ou adolescente, nos termos desta Lei. ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de
§ 1o  Sempre que possível, a criança ou o adolescente será tutela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros.
previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado § 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos
seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre de tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou suprir
as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o
considerada. direito de representação para a prática de atos determinados.
§ 2o  Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição
necessário seu consentimento, colhido em audiência.  de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive
§ 3o  Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de
previdenciários.
parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de
evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida. § 4o  Salvo expressa e fundamentada determinação em
 § 4o  Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando a
ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento
existência de risco de abuso ou outra situação que justifique da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o
plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando- exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever de
se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação específica,
fraternais.  a pedido do interessado ou do Ministério Público.
§ 5o  A colocação da criança ou adolescente em família substituta        
será precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento Art. 34.  O poder público estimulará, por meio de assistência
posterior, realizados pela equipe interprofissional a serviço da jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a forma
Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio de guarda, de criança ou adolescente afastado do convívio familiar. 
dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de § 1o  A inclusão da criança ou adolescente em programas
garantia do direito à convivência familiar. (Incluído pela Lei nº de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento
12.010, de 2009)   Vigência institucional, observado, em qualquer caso, o caráter temporário e
 § 6o  Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou excepcional da medida, nos termos desta Lei. 
proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é ainda § 2o  Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal
obrigatório: 
cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá receber a
 I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e
criança ou adolescente mediante guarda, observado o disposto nos
cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas instituições,
desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais arts. 28 a 33 desta Lei.
reconhecidos por esta Lei e pela Constituição Federal; (Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo,
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público.
sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia; 
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão Subseção III
federal responsável pela política indigenista, no caso de crianças Da Tutela
e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe
interprofissional ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso. Art. 36.  A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa
de até 18 (dezoito) anos incompletos.
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia
pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a decretação da perda ou suspensão do poder familiar e implica
natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado. necessariamente o dever de guarda.

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Art. 37.  O tutor nomeado por testamento ou qualquer § 6o  A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após
documento autêntico, conforme previsto no parágrafo único do art. inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do
1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, procedimento, antes de prolatada a sentença.
deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura da sucessão,
ingressar com pedido destinado ao controle judicial do ato, Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais
observando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei.  vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos.
Parágrafo único.  Na apreciação do pedido, serão observados
os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, somente sendo Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e saldar
deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de última vontade, o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar o pupilo ou o
se restar comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e que curatelado.
não existe outra pessoa em melhores condições de assumi-la.
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do
Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art. 24. representante legal do adotando.
§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à criança
Subseção IV ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido
Da Adoção destituídos do poder familiar.
§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade,
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á será também necessário o seu consentimento.
segundo o disposto nesta Lei.
§ 1o  A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência
deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção com a criança ou adolescente, pelo prazo que a autoridade
da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso.
do parágrafo único do art. 25 desta Lei.  § 1o  O estágio de convivência poderá ser dispensado se o
§ 2o  É vedada a adoção por procuração. adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante
tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito constituição do vínculo
anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela § 2o  A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a
dos adotantes. dispensa da realização do estágio de convivência
§ 3o  Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cumprido no
os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o território nacional, será de, no mínimo, 30 (trinta) dias. 
de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos § 4o  O estágio de convivência será acompanhado pela equipe
matrimoniais. interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela
mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou execução da política de garantia do direito à convivência familiar,
concubino do adotante e os respectivos parentes. que apresentarão relatório minucioso acerca da conveniência do
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus deferimento da medida.
descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e
colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária. Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial,
que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se
Art. 42.  Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, fornecerá certidão.
independentemente do estado civil. § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais,
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando. bem como o nome de seus ascendentes.
§ 2o  Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes § 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o
sejam casados civilmente ou mantenham união estável, registro original do adotado.
comprovada a estabilidade da família. § 3o  A pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais no Cartório do Registro Civil do Município de sua residência. 
velho do que o adotando. § 4o  Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá
§ 4o  Os divorciados, os judicialmente separados e os ex- constar nas certidões do registro. 
companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que § 5o  A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e,
acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do
de convivência tenha sido iniciado na constância do período de prenome.
convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de § 6o  Caso a modificação de prenome seja requerida pelo
afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o disposto
justifiquem a excepcionalidade da concessão. nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. 
§ 5o  Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demonstrado § 7o  A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em
efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista no
compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei no 10.406, § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à data
de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. do óbito. 

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§ 8o  O processo relativo à adoção assim como outros a § 10.  A adoção internacional somente será deferida se, após
ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu consulta ao cadastro de pessoas ou casais habilitados à adoção,
armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida a mantido pela Justiça da Infância e da Juventude na comarca, bem
sua conservação para consulta a qualquer tempo. como aos cadastros estadual e nacional referidos no § 5o deste
        artigo, não for encontrado interessado com residência permanente
Art. 48.  O adotado tem direito de conhecer sua origem no Brasil. 
biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual § 11.  Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado
a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que possível e
18 (dezoito) anos. recomendável, será colocado sob guarda de família cadastrada em
Parágrafo único.  O acesso ao processo de adoção poderá ser programa de acolhimento familiar. 
§ 12.  A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa dos
também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu
postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério Público. 
pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica.
§ 13.  Somente poderá ser deferida adoção em favor de
candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente nos
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o pátrio poder termos desta Lei quando: 
poder familiar dos pais naturais. I - se tratar de pedido de adoção unilateral;
II - for formulada por parente com o qual a criança ou
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; 
foro regional, um registro de crianças e adolescentes em condições III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal
de serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção.   de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de
aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério Público. afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não ou qualquer das situações previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei.
satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das hipóteses § 14.  Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o candidato
previstas no art. 29. deverá comprovar, no curso do procedimento, que preenche os
§ 3o  A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um requisitos necessários à adoção, conforme previsto nesta Lei.
período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe        
técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente Art. 51.  Considera-se adoção internacional aquela na qual
a pessoa ou casal postulante é residente ou domiciliado fora do
com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política
Brasil, conforme previsto no Artigo 2 da Convenção de Haia,
municipal de garantia do direito à convivência familiar. 
de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à
§ 4o  Sempre que possível e recomendável, a preparação Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, aprovada pelo
referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com crianças Decreto Legislativo no 1, de 14 de janeiro de 1999, e promulgada
e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em pelo Decreto no 3.087, de 21 de junho de 1999. 
condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, § 1o  A adoção internacional de criança ou adolescente
supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando
da Juventude, com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa restar comprovado:
de acolhimento e pela execução da política municipal de garantia I - que a colocação em família substituta é a solução adequada
do direito à convivência familiar. ao caso concreto;
§ 5o  Serão criados e implementados cadastros estaduais II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação
e nacional de crianças e adolescentes em condições de serem da criança ou adolescente em família substituta brasileira, após
adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção. consulta aos cadastros mencionados no art. 50 desta Lei;
§ 6o  Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais III - que, em se tratando de adoção de adolescente,
residentes fora do País, que somente serão consultados na este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de
inexistência de postulantes nacionais habilitados nos cadastros desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida,
mencionados no § 5o deste artigo.  mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, observado
        o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. 
§ 2o  Os brasileiros residentes no exterior terão preferência
§ 7o  As autoridades estaduais e federais em matéria de adoção
aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança ou
terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a troca de
adolescente brasileiro. 
informações e a cooperação mútua, para melhoria do sistema.  § 3o  A adoção internacional pressupõe a intervenção das
        Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de adoção
§ 8o  A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48 internacional. 
(quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes em        
condições de serem adotados que não tiveram colocação familiar Art. 52.  A adoção internacional observará o procedimento
na comarca de origem, e das pessoas ou casais que tiveram previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes adaptações: 
deferida sua habilitação à adoção nos cadastros estadual e nacional I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança
referidos no § 5o deste artigo, sob pena de responsabilidade      ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de habilitação
§ 9o  Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção
manutenção e correta alimentação dos cadastros, com posterior internacional no país de acolhida, assim entendido aquele onde
comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira. está situada sua residência habitual; 

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II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e
que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá de reconhecida idoneidade moral, com comprovada formação ou
um relatório que contenha informações sobre a identidade, a experiência para atuar na área de adoção internacional, cadastradas
capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua pelo Departamento de Polícia Federal e aprovadas pela Autoridade
situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que Central Federal Brasileira, mediante publicação de portaria do
os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional;  órgão federal competente;
III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará III - estar submetidos à supervisão das autoridades competentes
o relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a do país onde estiverem sediados e no país de acolhida, inclusive
Autoridade Central Federal Brasileira;  quanto à sua composição, funcionamento e situação financeira;
IV - o relatório será instruído com toda a documentação IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a
necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por equipe cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem como
interprofissional habilitada e cópia autenticada da legislação relatório de acompanhamento das adoções internacionais efetuadas
pertinente, acompanhada da respectiva prova de vigência; no período, cuja cópia será encaminhada ao Departamento de
V - os documentos em língua estrangeira serão devidamente Polícia Federal; 
autenticados pela autoridade consular, observados os tratados
V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade
e convenções internacionais, e acompanhados da respectiva
Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal
tradução, por tradutor público juramentado; 
Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências e
relatório será mantido até a juntada de cópia autenticada do
solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do postulante
estrangeiro à adoção, já realizado no país de acolhida; registro civil, estabelecendo a cidadania do país de acolhida para
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade o adotado; 
Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira com VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os
a nacional, além do preenchimento por parte dos postulantes à adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira
medida dos requisitos objetivos e subjetivos necessários ao seu cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira e do
deferimento, tanto à luz do que dispõe esta Lei como da legislação certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam concedidos. 
do país de acolhida, será expedido laudo de habilitação à adoção § 5o  A não apresentação dos relatórios referidos no § 4o deste
internacional, que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano; artigo pelo organismo credenciado poderá acarretar a suspensão de
VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será seu credenciamento.
autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da § 6o  O credenciamento de organismo nacional ou estrangeiro
Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou encarregado de intermediar pedidos de adoção internacional terá
adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade Central validade de 2 (dois) anos.
Estadual.  § 7o  A renovação do credenciamento poderá ser concedida
§ 1o  Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, mediante requerimento protocolado na Autoridade Central
admite-se que os pedidos de habilitação à adoção internacional Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores ao término do
sejam intermediados por organismos credenciados. respectivo prazo de validade. 
§ 2o  Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira § 8o  Antes de transitada em julgado a decisão que concedeu
o credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros a adoção internacional, não será permitida a saída do adotando do
encarregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção território nacional. 
internacional, com posterior comunicação às Autoridades Centrais § 9o  Transitada em julgado a decisão, a autoridade judiciária
Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de imprensa e em sítio determinará a expedição de alvará com autorização de viagem, bem
próprio da internet.  como para obtenção de passaporte, constando, obrigatoriamente,
§ 3o  Somente será admissível o credenciamento de organismos as características da criança ou adolescente adotado, como idade,
que: 
cor, sexo, eventuais sinais ou traços peculiares, assim como foto
I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de
recente e a aposição da impressão digital do seu polegar direito,
Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade Central
instruindo o documento com cópia autenticada da decisão e
do país onde estiverem sediados e no país de acolhida do adotando
certidão de trânsito em julgado. 
para atuar em adoção internacional no Brasil; 
II - satisfizerem as condições de integridade moral, competência § 10.  A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a
profissional, experiência e responsabilidade exigidas pelos países qualquer momento, solicitar informações sobre a situação das
respectivos e pela Autoridade Central Federal Brasileira; crianças e adolescentes adotados.
III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação § 11.  A cobrança de valores por parte dos organismos
e experiência para atuar na área de adoção internacional  credenciados, que sejam considerados abusivos pela Autoridade
IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento Central Federal Brasileira e que não estejam devidamente
jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autoridade comprovados, é causa de seu descredenciamento. 
Central Federal Brasileira § 12.  Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem ser
§ 4o  Os organismos credenciados deverão ainda:  representados por mais de uma entidade credenciada para atuar na
I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e cooperação em adoção internacional. 
dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do país § 13.  A habilitação de postulante estrangeiro ou domiciliado
onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Autoridade fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano, podendo ser
Central Federal Brasileira;  renovada. 

Didatismo e Conhecimento 6
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
§ 14.  É vedado o contato direto de representantes de Capítulo IV
organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com dirigentes Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
de programas de acolhimento institucional ou familiar, assim como
com crianças e adolescentes em condições de serem adotados, sem Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação,
a devida autorização judicial.  visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o
§ 15.  A Autoridade Central Federal Brasileira poderá limitar exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-
ou suspender a concessão de novos credenciamentos sempre que se-lhes:
julgar necessário, mediante ato administrativo fundamentado.  I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola;
Art. 52-A.  É vedado, sob pena de responsabilidade e II - direito de ser respeitado por seus educadores;
descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer
organismos estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de às instâncias escolares superiores;
adoção internacional a organismos nacionais ou a pessoas físicas.  IV - direito de organização e participação em entidades
estudantis;
Parágrafo único.  Eventuais repasses somente poderão ser
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente e
residência.
estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de Direitos
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência
da Criança e do Adolescente.
do processo pedagógico, bem como participar da definição das
        propostas educacionais.
Art. 52-B.  A adoção por brasileiro residente no exterior em
país ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de adoção Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
tenha sido processado em conformidade com a legislação vigente I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para
no país de residência e atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
17 da referida Convenção, será automaticamente recepcionada II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao
com o reingresso no Brasil.  ensino médio;
§ 1o  Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea III - atendimento educacional especializado aos portadores de
“c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença ser deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.   IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a
§ 2o  O pretendente brasileiro residente no exterior em país seis anos de idade;
não ratificante da Convenção de Haia, uma vez reingressado no V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e
Brasil, deverá requerer a homologação da sentença estrangeira da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
pelo Superior Tribunal de Justiça. VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições
        do adolescente trabalhador;
Art. 52-C.  Nas adoções internacionais, quando o Brasil for VII - atendimento no ensino fundamental, através de
o país de acolhida, a decisão da autoridade competente do país programas suplementares de material didático-escolar, transporte,
de origem da criança ou do adolescente será conhecida pela alimentação e assistência à saúde.
Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público
habilitação dos pais adotivos, que comunicará o fato à Autoridade subjetivo.
Central Federal e determinará as providências necessárias à § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder
expedição do Certificado de Naturalização Provisório.  público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da
§ 1o  A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no
Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela decisão
ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais
se restar demonstrado que a adoção é manifestamente contrária à
ou responsável, pela freqüência à escola.
ordem pública ou não atende ao interesse superior da criança ou
do adolescente. 
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular
§ 2o  Na hipótese de não reconhecimento da adoção, prevista seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá imediatamente
requerer o que for de direito para resguardar os interesses da criança Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino
ou do adolescente, comunicando-se as providências à Autoridade fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
Central Estadual, que fará a comunicação à Autoridade Central I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
Federal Brasileira e à Autoridade Central do país de origem. II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar,
       esgotados os recursos escolares;
Art. 52-D.  Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o III - elevados níveis de repetência.
país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país de origem
porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, ou, ainda, na Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências
hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o adolescente ser e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo,
oriundo de país que não tenha aderido à Convenção referida, o metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças
processo de adoção seguirá as regras da adoção nacional. e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório.

Didatismo e Conhecimento 7
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho
culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da efetuado ou a participação na venda dos produtos de seu trabalho
criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da não desfigura o caráter educativo.
criação e o acesso às fontes de cultura.
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à
estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre
programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a outros:
infância e a juventude. I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.
Capítulo V
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho Título III
Da Prevenção
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze Capítulo I
anos de idade, salvo na condição de aprendiz. Disposições Gerais

Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou


Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada
violação dos direitos da criança e do adolescente.
por legislação especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei.
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a informação,
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico- cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e
profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em
de educação em vigor. desenvolvimento.

Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem
seguintes princípios: da prevenção especial outras decorrentes dos princípios por ela
I - garantia de acesso e freqüência obrigatória ao ensino adotados.
regular;
II - atividade compatível com o desenvolvimento do Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará
adolescente; em responsabilidade da pessoa física ou jurídica, nos termos desta
III - horário especial para o exercício das atividades. Lei.

Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurada Capítulo II


bolsa de aprendizagem. Da Prevenção Especial
Seção I
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e
assegurados os direitos trabalhistas e      previdenciários. Espetáculos

Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado Art. 74. O poder público, através do órgão competente,
trabalho protegido. regulará as diversões e espetáculos públicos, informando sobre a
natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e
Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime horários em que sua apresentação se mostre inadequada.
familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e
espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil
governamental ou não-governamental, é vedado trabalho:
acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e
a natureza do espetáculo e a faixa etária especificada no certificado
as cinco horas do dia seguinte;
de classificação.
II - perigoso, insalubre ou penoso;
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões
desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; e espetáculos públicos classificados como adequados à sua faixa
IV - realizado em horários e locais que não permitam a etária.
freqüência à escola. Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente
poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou
Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável.
educativo, sob responsabilidade de entidade governamental ou
não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão,
adolescente que dele participe condições de capacitação para o no horário recomendado para o público infanto juvenil, programas
exercício de atividade regular remunerada. com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas.
§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou
em que as exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua transmissão,
pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo. apresentação ou exibição.

Didatismo e Conhecimento 8
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários de 1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau,
empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas de programação comprovado documentalmente o parentesco;
em vídeo cuidarão para que não haja venda ou locação em 2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe
desacordo com a classificação atribuída pelo órgão competente. ou responsável.
Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão § 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou
exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a faixa responsável, conceder autorização válida por dois anos.
etária a que se destinam.
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização
Art. 78. As revistas e publicações contendo material é dispensável, se a criança ou adolescente:
impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão ser I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;
comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado
conteúdo. expressamente pelo outro através de documento com firma
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que reconhecida.
contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam protegidas
com embalagem opaca. Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma
criança ou adolescente nascido em território nacional poderá sair
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no
infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, exterior.
legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco,
armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais Parte Especial
da pessoa e da família. Título I
Da Política de Atendimento
Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explorem Capítulo I
comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por casas de jogos, Disposições Gerais
assim entendidas as que realizem apostas, ainda que eventualmente,
cuidarão para que não seja permitida a entrada e a permanência de Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do
crianças e adolescentes no local, afixando aviso para orientação adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações
do público. governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios.
Seção II
Dos Produtos e Serviços Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
I - políticas sociais básicas;
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de: II - políticas e programas de assistência social, em caráter
I - armas, munições e explosivos; supletivo, para aqueles que deles necessitem;
II - bebidas alcoólicas; III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico
III - produtos cujos componentes possam causar dependência e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração,
física ou psíquica ainda que por utilização indevida; abuso, crueldade e opressão;
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável,
seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar qualquer dano crianças e adolescentes desaparecidos;
físico em caso de utilização indevida; V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos
V - revistas e publicações a que alude o art. 78; direitos da criança e do adolescente.
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar
o período de afastamento do convívio familiar e a garantir o
Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou adolescente efetivo exercício do direito à convivência familiar de crianças e
em hotel, motel, pensão ou estabelecimento congênere, salvo se adolescentes; 
autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável. VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de
guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar
Seção III e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou
Da Autorização para Viajar de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com
deficiências e de grupos de irmãos.
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca
onde reside, desacompanhada dos pais ou responsável, sem Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
expressa autorização judicial. I - municipalização do atendimento;
§ 1º A autorização não será exigida quando: II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos
se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região e controladores das ações em todos os níveis, assegurada
metropolitana; a participação popular paritária por meio de organizações
b) a criança estiver acompanhada: representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;

Didatismo e Conhecimento 9
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
III - criação e manutenção de programas específicos, observada I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem
a descentralização político-administrativa; como às resoluções relativas à modalidade de atendimento
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do
vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do Adolescente, em todos os níveis; 
adolescente; II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido,
V - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e pela
Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, Justiça da Infância e da Juventude; (Incluído pela Lei nº 12.010,
preferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilização de 2009)   Vigência
do atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria de III - em se tratando de programas de acolhimento institucional
ato infracional; ou familiar, serão considerados os índices de sucesso na reintegração
VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério familiar ou de adaptação à família substituta, conforme o caso.
Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encarregados da execução
das políticas sociais básicas e de assistência social, para efeito de Art. 91. As entidades não-governamentais somente poderão
agilização do atendimento de crianças e de adolescentes inseridos funcionar depois de registradas no Conselho Municipal dos
em programas de acolhimento familiar ou institucional, com vista Direitos da Criança e do Adolescente, o qual comunicará o
na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução registro ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária da respectiva
se mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em família localidade.
substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta § 1o  Será negado o registro à entidade que:
Lei;  a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas de
VII - mobilização da opinião pública para a indispensável habitabilidade, higiene, salubridade e segurança;
participação dos diversos segmentos da sociedade. b) não apresente plano de trabalho compatível com os
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos princípios desta Lei;
conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do c) esteja irregularmente constituída;
adolescente é considerada de interesse público relevante e não será d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.
remunerada.
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e
deliberações relativas à modalidade de atendimento prestado
Capítulo II
expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente,
Das Entidades de Atendimento
em todos os níveis. 
Seção I
§ 2o  O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos,
Disposições Gerais
cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua
Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela
renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo.
manutenção das próprias unidades, assim como pelo planejamento
e execução de programas de proteção e socioeducativos destinados        
a crianças e adolescentes, em regime de:     (Vide) Art. 92.  As entidades que desenvolvam programas de
I - orientação e apoio sócio familiar; acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os seguintes
II - apoio socioeducativo em meio aberto; princípios
III - colocação familiar; I - preservação dos vínculos familiares e promoção da
IV - acolhimento institucional; reintegração familiar;
V - liberdade assistida; II - integração em família substituta, quando esgotados os
VI - semi-liberdade; recursos de manutenção na família natural ou extensa;
VII - internação. III - atendimento personalizado e em pequenos grupos;
§ 1o  As entidades governamentais e não governamentais IV - desenvolvimento de atividades em regime de coeducação;
deverão proceder à inscrição de seus programas, especificando V - não desmembramento de grupos de irmãos;
os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no VI - evitar, sempre que possível, a transferência para outras
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o entidades de crianças e adolescentes abrigados;
qual manterá registro das inscrições e de suas alterações, do que VII - participação na vida da comunidade local;
fará comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária.  VIII - preparação gradativa para o desligamento;
§ 2o  Os recursos destinados à implementação e manutenção IX - participação de pessoas da comunidade no processo
dos programas relacionados neste artigo serão previstos nas educativo.
dotações orçamentárias dos órgãos públicos encarregados das § 1o  O dirigente de entidade que desenvolve programa de
áreas de Educação, Saúde e Assistência Social, dentre outros, acolhimento institucional é equiparado ao guardião, para todos os
observando-se o princípio da prioridade absoluta à criança e ao efeitos de direito.
adolescente preconizado pelo caput do art. 227 da Constituição § 2o  Os dirigentes de entidades que desenvolvem
Federal e pelo caput e parágrafo único do art. 4o desta Lei.  programas de acolhimento familiar ou institucional remeterão à
§ 3o  Os programas em execução serão reavaliados pelo autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, relatório
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, circunstanciado acerca da situação de cada criança ou adolescente
no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se critérios para acolhido e sua família, para fins da reavaliação prevista no § 1o do
renovação da autorização de funcionamento: art. 19 desta Lei. 

Didatismo e Conhecimento 10
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
§ 3o  Os entes federados, por intermédio dos Poderes Executivo XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer;
e Judiciário, promoverão conjuntamente a permanente qualificação XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de
dos profissionais que atuam direta ou indiretamente em programas acordo com suas crenças;
de acolhimento institucional e destinados à colocação familiar de XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
crianças e adolescentes, incluindo membros do Poder Judiciário, XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo
Ministério Público e Conselho Tutelar.  máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade
§ 4o  Salvo determinação em contrário da autoridade judiciária competente;
competente, as entidades que desenvolvem programas de XV - informar, periodicamente, o adolescente internado sobre
acolhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio sua situação processual;
do Conselho Tutelar e dos órgãos de assistência social, estimularão XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos
o contato da criança ou adolescente com seus pais e parentes, em de adolescentes portadores de moléstias infecto-contagiosas;
cumprimento ao disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo. XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos
§ 5o  As entidades que desenvolvem programas de acolhimento adolescentes;
familiar ou institucional somente poderão receber recursos XVIII - manter programas destinados ao apoio e
públicos se comprovado o atendimento dos princípios, exigências acompanhamento de egressos;
e finalidades desta Lei.  XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício da
§ 6o  O descumprimento das disposições desta Lei pelo cidadania àqueles que não os tiverem;
dirigente de entidade que desenvolva programas de acolhimento XX - manter arquivo de anotações onde constem data e
familiar ou institucional é causa de sua destituição, sem prejuízo da circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus pais ou
apuração de sua responsabilidade administrativa, civil e criminal. responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acompanhamento
        da sua formação, relação de seus pertences e demais dados que
Art. 93.  As entidades que mantenham programa de possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento.
acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e de § 1o  Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes
urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação deste artigo às entidades que mantêm programas de acolhimento
da autoridade competente, fazendo comunicação do fato em até 24
institucional e familiar.
(vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da Juventude, sob pena
§ 2º No cumprimento das obrigações a que alude este artigo as
de responsabilidade. 
entidades utilizarão preferencialmente os recursos da comunidade.
Parágrafo único.  Recebida a comunicação, a autoridade
judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o
Seção II
apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias
Da Fiscalização das Entidades
para promover a imediata reintegração familiar da criança ou
do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível
Art. 95. As entidades governamentais e não-governamentais
ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de
acolhimento familiar, institucional ou a família substituta, referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo
observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Lei. Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares.

Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de contas serão
internação têm as seguintes obrigações, entre outras: apresentados ao estado ou ao município, conforme a origem das
I - observar os direitos e garantias de que são titulares os dotações orçamentárias.
adolescentes;
II - não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de atendimento
restrição na decisão de internação; que descumprirem obrigação constante do art. 94, sem prejuízo da
III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos:   
unidades e grupos reduzidos; I - às entidades governamentais:
IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e a) advertência;
dignidade ao adolescente; b) afastamento provisório de seus dirigentes;
V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
dos vínculos familiares; d) fechamento de unidade ou interdição de programa.
VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os II - às entidades não-governamentais:
casos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento dos a) advertência;
vínculos familiares; b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;
VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os objetos d) cassação do registro.
necessários à higiene pessoal; § 1o  Em caso de reiteradas infrações cometidas por entidades
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados de atendimento, que coloquem em risco os direitos assegurados
à faixa etária dos adolescentes atendidos; nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao Ministério Público
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos ou representado perante autoridade judiciária competente para
e farmacêuticos; as providências cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou
X - propiciar escolarização e profissionalização; dissolução da entidade.

Didatismo e Conhecimento 11
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
§ 2o  As pessoas jurídicas de direito público e as organizações VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser
não governamentais responderão pelos danos que seus agentes a necessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou o
causarem às crianças e aos adolescentes, caracterizado o adolescente se encontram no momento em que a decisão é tomada; 
descumprimento dos princípios norteadores das atividades de IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada
proteção específica. de modo que os pais assumam os seus deveres para com a criança
e o adolescente; 
Título II X - prevalência da família: na promoção de direitos e na
Das Medidas de Proteção proteção da criança e do adolescente deve ser dada prevalência às
Capítulo I medidas que os mantenham ou reintegrem na sua família natural
Disposições Gerais ou extensa ou, se isto não for possível, que promovam a sua
integração em família substituta
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente,
são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de
ameaçados ou violados: compreensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; forma como esta se processa; 
III - em razão de sua conduta. XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente,
em separado ou na companhia dos pais, de responsável ou de
Capítulo II pessoa por si indicada, bem como os seus pais ou responsável,
Das Medidas Específicas de Proteção têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da
medida de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser devidamente considerada pela autoridade judiciária competente,
aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
qualquer tempo.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art.
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as
necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao seguintes medidas:
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo
Parágrafo único.  São também princípios que regem a de responsabilidade;
aplicação das medidas:  II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
I - condição da criança e do adolescente como sujeitos III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento
de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos oficial de ensino fundamental;
previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à
Federal;  família, à criança e ao adolescente;
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação V - requisição de tratamento médico, psicológico ou
de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser voltada psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
à proteção integral e prioritária dos direitos de que crianças e VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
adolescentes são titulares;  orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
III - responsabilidade primária e solidária do poder público: VII - acolhimento institucional; 
a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;        
adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos IX - colocação em família substituta. 
casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade § 1o  O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são
primária e solidária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de
da municipalização do atendimento e da possibilidade da execução transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível,
de programas por entidades não governamentais; para colocação em família substituta, não implicando privação de
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a liberdade. 
intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e direitos § 2o  Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais
da criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das
devida a outros interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da
interesses presentes no caso concreto;  criança ou adolescente do convívio familiar é de competência
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a
e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse,
direito à imagem e reserva da sua vida privada;  de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla
competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja defesa.
conhecida;  § 3o  Crianças e adolescentes somente poderão ser
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida encaminhados às instituições que executam programas de
exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de
indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na
criança e do adolescente;  qual obrigatoriamente constará, dentre outros: 

Didatismo e Conhecimento 12
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como as
de seu responsável, se conhecidos;  providências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação
II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com em família substituta, em qualquer das modalidades previstas no
pontos de referência;  art. 28 desta Lei. 
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê- § 12.  Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o
los sob sua guarda;  Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente
familiar.  e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar sobre a
§ 4o  Imediatamente após o acolhimento da criança ou do implementação de políticas públicas que permitam reduzir o
adolescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento número de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar
institucional ou familiar elaborará um plano individual de e abreviar o período de permanência em programa de acolhimento.
atendimento, visando à reintegração familiar, ressalvada a
existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo
autoridade judiciária competente, caso em que também deverá serão acompanhadas da regularização do registro civil.
contemplar sua colocação em família substituta, observadas as § 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o assento
regras e princípios desta Lei.  de nascimento da criança ou adolescente será feito à vista dos
§ 5o  O plano individual será elaborado sob a responsabilidade elementos disponíveis, mediante requisição da autoridade
da equipe técnica do respectivo programa de atendimento e levará judiciária.
em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva § 2º Os registros e certidões necessários à regularização de
dos pais ou do responsável.  que trata este artigo são isentos de multas, custas e emolumentos,
§ 6o  Constarão do plano individual, dentre outros:  gozando de absoluta prioridade.
I - os resultados da avaliação interdisciplinar;  § 3o  Caso ainda não definida a paternidade, será  deflagrado
II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e  procedimento específico destinado à sua averiguação, conforme
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezembro de 1992. 
criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou responsável, § 4o  Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dispensável
com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por o ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo
expressa e fundamentada determinação judicial, as providências a Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do
suposto pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for
serem tomadas para sua colocação em família substituta, sob direta
encaminhada para adoção.
supervisão da autoridade judiciária. 
§ 7o  O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no
Título III
local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e,
Da Prática de Ato Infracional
como parte do processo de reintegração familiar, sempre que
Capítulo I
identificada a necessidade, a família de origem será incluída em
Disposições Gerais
programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social,
sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como
adolescente acolhido.  crime ou contravenção penal.
§ 8o  Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o
responsável pelo programa de acolhimento familiar ou institucional Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito
fará imediata comunicação à autoridade judiciária, que dará vista anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada
igual prazo.  a idade do adolescente à data do fato.
§ 9o  Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração
da criança ou do adolescente à família de origem, após seu Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança
encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, corresponderão as medidas previstas no art. 101.
apoio e promoção social, será enviado relatório fundamentado ao
Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das Capítulo II
providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos Dos Direitos Individuais
técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política
municipal de garantia do direito à convivência familiar, para a Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade
destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda.  senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e
§ 10.  Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo fundamentada da autoridade judiciária competente.
de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de destituição do Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos
poder familiar, salvo se entender necessária a realização de responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado acerca de
estudos complementares ou outras providências que entender seus direitos.
indispensáveis ao ajuizamento da demanda. 
§ 11.  A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde
foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à autoridade
sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por
familiar e institucional sob sua responsabilidade, com informações ele indicada.

Didatismo e Conhecimento 13
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II
responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata. a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficientes da
autoria e da materialidade da infração, ressalvada a hipótese de
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada remissão, nos termos do art. 127.
pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias. Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear- que houver prova da materialidade e indícios suficientes da autoria.
se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada
a necessidade imperiosa da medida. Seção II
Da Advertência
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será
submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais, de Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que
proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo será reduzida a termo e assinada.
dúvida fundada.
Seção III
Capítulo III Da Obrigação de Reparar o Dano
Das Garantias Processuais
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o
sem o devido processo legal. adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou,
por outra forma, compense o prejuízo da vítima.
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a
seguintes garantias: medida poderá ser substituída por outra adequada.
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato
infracional, mediante citação ou meio equivalente; Seção IV
II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se Da Prestação de Serviços à Comunidade
com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias
à sua defesa;
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na
III - defesa técnica por advogado;
realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados,
excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais,
na forma da lei;
escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
programas comunitários ou governamentais.
competente;
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável
em qualquer fase do procedimento. aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada
máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados
Capítulo IV ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a freqüência à escola
Das Medidas Socioeducativas ou à jornada normal de trabalho.
Seção I
Disposições Gerais Seção V
Da Liberdade Assistida
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade
competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que
I - advertência; se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar,
II - obrigação de reparar o dano; auxiliar e orientar o adolescente.
III - prestação de serviços à comunidade; § 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar
IV - liberdade assistida; o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa
V - inserção em regime de semi-liberdade; de atendimento.
VI - internação em estabelecimento educacional; § 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério
sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da Público e o defensor.
infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão
a prestação de trabalho forçado. da autoridade competente, a realização dos seguintes encargos,
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência entre outros:
mental receberão tratamento individual e especializado, em local I - promover socialmente o adolescente e sua família,
adequado às suas condições. fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em
programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social;
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do
100. adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;

Didatismo e Conhecimento 14
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade,
e de sua inserção no mercado de trabalho; entre outros, os seguintes:
IV - apresentar relatório do caso. I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do
Ministério Público;
Seção VI II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
Do Regime de Semi-liberdade III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que
Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado solicitada;
desde o início, ou como forma de transição para o meio V - ser tratado com respeito e dignidade;
aberto, possibilitada a realização de atividades externas, VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela
independentemente de autorização judicial. mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável;
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
na comunidade. IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio
§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, pessoal;
no que couber, as disposições relativas à internação. X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e
salubridade;
Seção VII XI - receber escolarização e profissionalização;
Da Internação XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e
sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à desde que assim o deseje;
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a local seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles
critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação porventura depositados em poder da entidade;
judicial em contrário. XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente
máximo a cada seis meses.
a visita, inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação
sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do
excederá a três anos.
adolescente.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o
adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semi-
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e
liberdade ou de liberdade assistida.
mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de contenção e segurança.
idade.
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de Capítulo V
autorização judicial, ouvido o Ministério Público. Da Remissão
§ 7o  A determinação judicial mencionada no § 1o poderá ser
revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária.” (NR) Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para
apuração de ato infracional, o representante do Ministério Público
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo,
quando: atendendo às circunstâncias e conseqüências do fato, ao contexto
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou
ameaça ou violência a pessoa; menor participação no ato infracional.
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves; Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão ou
anteriormente imposta. extinção do processo.
§ 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste
artigo não poderá ser superior a três meses. Art. 127. A remissão não implica necessariamente
§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade,
havendo outra medida adequada. nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir
eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade lei, exceto a colocação em regime de semi-liberdade e a internação.
exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado
ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá ser
compleição física e gravidade da infração. revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante pedido expresso
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive do adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério
provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas. Público.

Didatismo e Conhecimento 15
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Título IV Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro
Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável constituirá serviço público relevante, estabelecerá presunção de
idoneidade moral e assegurará prisão especial, em caso de crime
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: comum, até o julgamento definitivo.
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de
proteção à família; Capítulo II
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, Das Atribuições do Conselho
orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a
sua freqüência e aproveitamento escolar; VII;
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as
tratamento especializado; medidas previstas no art. 129, I a VII;
VII - advertência; III - promover a execução de suas decisões, podendo para
VIII - perda da guarda; tanto:
IX - destituição da tutela; a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação,
X - suspensão ou destituição do poder familiar. serviço social, previdência, trabalho e segurança;
Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de
incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 descumprimento injustificado de suas deliberações.
e 24. IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que
constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da
Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou criança ou adolescente;
abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua
judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento competência;
do agressor da moradia comum. VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade
Parágrafo único.  Da medida cautelar constará, ainda, a judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o
fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança ou o adolescente autor de ato infracional;
adolescente dependentes do agressor. VII - expedir notificações;
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança
Título V ou adolescente quando necessário;
Do Conselho Tutelar IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da
proposta orçamentária para planos e programas de atendimento
Capítulo I dos direitos da criança e do adolescente;
Disposições Gerais X - representar, em nome da pessoa e da família, contra
a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da
Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, Constituição Federal;
não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações
cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as
nesta Lei. possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto
à família natural. 
Art. 132. Em cada Município haverá, no mínimo, um Conselho Parágrafo único.  Se, no exercício de suas atribuições, o
Tutelar composto de cinco membros, escolhidos pela comunidade Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio
local para mandato de três anos, permitida uma recondução. familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público,
prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção
serão exigidos os seguintes requisitos: social da família.
I - reconhecida idoneidade moral;
II - idade superior a vinte e um anos; Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão
III - residir no município. ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha
legítimo interesse.
Art. 134. Lei municipal disporá sobre local, dia e horário de
funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive quanto a eventual Capítulo III
remuneração de seus membros. Da Competência
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal
previsão dos recursos necessários ao funcionamento do Conselho Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de competência
Tutelar. constante do art. 147.

Didatismo e Conhecimento 16
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Capítulo IV Capítulo II
Da Escolha dos Conselheiros Da Justiça da Infância e da Juventude
Seção I
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Conselho Disposições Gerais
Tutelar será estabelecido em lei municipal e realizado sob a
responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas
e do Adolescente, e a fiscalização do Ministério Público. especializadas e exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao
Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de
habitantes, dotá-las de infraestrutura e dispor sobre o atendimento,
Capítulo V
inclusive em plantões.
Dos Impedimentos
Seção II
Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido Do Juiz
e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora,
irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da
madrasta e enteado. Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na forma
Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro, da lei de organização judiciária local.
na forma deste artigo, em relação à autoridade judiciária e ao
representante do Ministério Público com atuação na Justiça da Art. 147. A competência será determinada:
Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
ou distrital. II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à
falta dos pais ou responsável.
Título VI § 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade
Do Acesso à Justiça do lugar da ação ou omissão, observadas as regras de conexão,
Capítulo I continência e prevenção.
Disposições Gerais § 2º A execução das medidas poderá ser delegada à autoridade
competente da residência dos pais ou responsável, ou do local
Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou adolescente.
§ 3º Em caso de infração cometida através de transmissão
à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário,
simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma comarca,
por qualquer de seus órgãos.
será competente, para aplicação da penalidade, a autoridade
§ 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela judiciária do local da sede estadual da emissora ou rede, tendo a
necessitarem, através de defensor público ou advogado nomeado. sentença eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras
§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância do respectivo estado.
e da Juventude são isentas de custas e emolumentos, ressalvada a
hipótese de litigância de má-fé. Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente
para:
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão representados e I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério
os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos assistidos Público, para apuração de ato infracional atribuído a adolescente,
por seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil ou aplicando as medidas cabíveis;
processual. II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador extinção do processo;
especial à criança ou adolescente, sempre que os interesses destes III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;
colidirem com os de seus pais ou responsável, ou quando carecer IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses
de representação ou assistência legal ainda que eventual. individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente,
observado o disposto no art. 209;
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em
entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis;
administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações
se atribua autoria de ato infracional.
contra norma de proteção à criança ou adolescente;
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar,
poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, aplicando as medidas cabíveis.
referência a nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente
inclusive, iniciais do nome e sobrenome. nas hipóteses do art. 98, é também competente a Justiça da Infância
e da Juventude para o fim de:
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
refere o artigo anterior somente será deferida pela autoridade b) conhecer de ações de destituição do pátrio poder poder
judiciária competente, se demonstrado o interesse e justificada a familiar, perda ou modificação da tutela ou guarda;
finalidade. c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;

Didatismo e Conhecimento 17
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou Parágrafo único.  É assegurada, sob pena de responsabilidade,
materna, em relação ao exercício do poder familiar; prioridade absoluta na tramitação dos processos e procedimentos
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando previstos nesta Lei, assim como na execução dos atos e diligências
faltarem os pais; judiciais a eles referentes.
f) designar curador especial em casos de apresentação de
queixa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais ou Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não corresponder a
extrajudiciais em que haja interesses de criança ou adolescente; procedimento previsto nesta ou em outra lei, a autoridade judiciária
g) conhecer de ações de alimentos; poderá investigar os fatos e ordenar de ofício as providências
h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento necessárias, ouvido o Ministério Público.
dos registros de nascimento e óbito. Parágrafo único.  O disposto neste artigo não se aplica para o
fim de afastamento da criança ou do adolescente de sua família de
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através origem e em outros procedimentos necessariamente contenciosos.
de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214.
desacompanhado dos pais ou responsável, em:
a) estádio, ginásio e campo desportivo; Seção II
b) bailes ou promoções dançantes; Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar
c) boate ou congêneres;
d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas; Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão. poder familiar terá início por provocação do Ministério Público ou
II - a participação de criança e adolescente em: de quem tenha legítimo interesse.
a) espetáculos públicos e seus ensaios;
b) certames de beleza. Art. 156. A petição inicial indicará:
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
judiciária levará em conta, dentre outros fatores: II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do
a) os princípios desta Lei; requerente e do requerido, dispensada a qualificação em se tratando
b) as peculiaridades locais;
de pedido formulado por representante do Ministério Público;
c) a existência de instalações adequadas;
III - a exposição sumária do fato e o pedido;
d) o tipo de freqüência habitual ao local;
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde logo,
e) a adequação do ambiente a eventual participação ou
o rol de testemunhas e documentos.
freqüência de crianças e adolescentes;
f) a natureza do espetáculo.
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo
judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão
deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as determinações
de caráter geral. do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julgamento
definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente confiado a
Seção III pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade.
Dos Serviços Auxiliares
Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez dias,
Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem produzidas e
proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de equipe oferecendo desde logo o rol de testemunhas e documentos.
interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da Parágrafo único. Deverão ser esgotados todos os meios para
Juventude. a citação pessoal.

Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de constituir
atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua família,
subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado dativo, ao qual
audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, incumbirá a apresentação de resposta, contando-se o prazo a partir
orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a da intimação do despacho de nomeação.
imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre
manifestação do ponto de vista técnico. Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária requisitará
de qualquer repartição ou órgão público a apresentação de
Capítulo III documento que interesse à causa, de ofício ou a requerimento das
Dos Procedimentos partes ou do Ministério Público.
Seção I
Disposições Gerais Art. 161. Não sendo contestado o pedido, a autoridade
judiciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por cinco
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam- dias, salvo quando este for o requerente, decidindo em igual prazo.
se subsidiariamente as normas gerais previstas na legislação § 1o  A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das
processual pertinente. partes ou do Ministério Público, determinará a realização de estudo

Didatismo e Conhecimento 18
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
social ou perícia por equipe interprofissional ou multidisciplinar, IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,
bem como a oitiva de testemunhas que comprovem a presença anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão;
de uma das causas de suspensão ou destituição do poder familiar V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
de 2002 - Código Civil, ou no art. 24 desta Lei.  Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão
§ 2o  Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas, também os requisitos específicos.
é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe profissional ou       
multidisciplinar referida no § 1o deste artigo, de representantes do Art. 166.  Se os pais forem falecidos, tiverem sido
órgão federal responsável pela política indigenista, observado o destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem aderido
disposto no § 6o do art. 28 desta Lei.  expressamente ao pedido de colocação em família substituta, este
§ 3o  Se o pedido importar em modificação de guarda, será poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada
obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança ou pelos próprios requerentes, dispensada a assistência de advogado. 
adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de § 1o  Na hipótese de concordância dos pais, esses serão ouvidos
compreensão sobre as implicações da medida.  pela autoridade judiciária e pelo representante do Ministério
§ 4o  É obrigatória a oitiva dos pais sempre que esses forem Público, tomando-se por termo as declarações. 
identificados e estiverem em local conhecido. § 2o  O consentimento dos titulares do poder familiar será
precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela equipe
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, em especial,
dará vista dos autos ao Ministério Público, por cinco dias, salvo no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da medida.        
quando este for o requerente, designando, desde logo, audiência § 3o  O consentimento dos titulares do poder familiar será
de instrução e julgamento. colhido pela autoridade judiciária competente em audiência,
§ 1º A requerimento de qualquer das partes, do Ministério presente o Ministério Público, garantida a livre manifestação de
Público, ou de ofício, a autoridade judiciária poderá determinar a vontade e esgotados os esforços para manutenção da criança ou do
realização de estudo social ou, se possível, de perícia por equipe adolescente na família natural ou extensa. 
interprofissional. § 4o  O consentimento prestado por escrito não terá validade se
§ 2º Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público,
não for ratificado na audiência a que se refere o § 3o deste artigo. 
serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmente o parecer
§ 5o  O consentimento é retratável até a data da publicação da
técnico, salvo quando apresentado por escrito, manifestando-se
sentença constitutiva da adoção. 
sucessivamente o requerente, o requerido e o Ministério Público,
§ 6o  O consentimento somente terá valor se for dado após o
pelo tempo de vinte minutos cada um, prorrogável por mais dez.
nascimento da criança.
A decisão será proferida na audiência, podendo a autoridade
§ 7o  A família substituta receberá a devida orientação por
judiciária, excepcionalmente, designar data para sua leitura no
intermédio de equipe técnica interprofissional a serviço do Poder
prazo máximo de cinco dias.
Judiciário, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis
       
Art. 163.  O prazo máximo para conclusão do procedimento pela execução da política municipal de garantia do direito à
será de 120 (cento e vinte) dias.         convivência familiar.
Parágrafo único.  A sentença que decretar a perda ou a
suspensão do poder familiar será averbada à margem do registro Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento
de nascimento da criança ou do adolescente. das partes ou do Ministério Público, determinará a realização de
estudo social ou, se possível, perícia por equipe interprofissional,
Seção III decidindo sobre a concessão de guarda provisória, bem como, no
Da Destituição da Tutela caso de adoção, sobre o estágio de convivência.
Parágrafo único.  Deferida a concessão da guarda provisória
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o procedimento ou do estágio de convivência, a criança ou o adolescente será
para a remoção de tutor previsto na lei processual civil e, no que entregue ao interessado, mediante termo de responsabilidade. 
couber, o disposto na seção anterior.
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial, e
Seção IV ouvida, sempre que possível, a criança ou o adolescente, dar-se-á
Da Colocação em Família Substituta vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de cinco dias,
decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de
colocação em família substituta: Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a
I - qualificação completa do requerente e de seu eventual perda ou a suspensão do pátrio poder poder familiar constituir
cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência deste; pressuposto lógico da medida principal de colocação em família
II - indicação de eventual parentesco do requerente e de substituta, será observado o procedimento contraditório previsto
seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente, nas Seções II e III deste Capítulo. 
especificando se tem ou não parente vivo; Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda poderá
III - qualificação completa da criança ou adolescente e de seus ser decretada nos mesmos autos do procedimento, observado o
pais, se conhecidos; disposto no art. 35.

Didatismo e Conhecimento 19
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Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial
disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. 47. encaminhará imediatamente ao representante do Ministério
Parágrafo único.  A colocação de criança ou adolescente sob Público cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência.
a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento familiar
será comunicada pela autoridade judiciária à entidade por este Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios
responsável no prazo máximo de 5 (cinco) dias.  de participação de adolescente na prática de ato infracional, a
autoridade policial encaminhará ao representante do Ministério
Seção V Público relatório das investigações e demais documentos.
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Adolescente
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato
Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem infracional não poderá ser conduzido ou transportado em
judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária. compartimento fechado de veículo policial, em condições
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.
infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade policial
competente. Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do
Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão,
para atendimento de adolescente e em se tratando de ato infracional boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados
praticado em co-autoria com maior, prevalecerá a atribuição da pelo cartório judicial e com informação sobre os antecedentes do
repartição especializada, que, após as providências necessárias adolescente, procederá imediata e informalmente à sua oitiva e, em
e conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas.
própria. Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o representante
do Ministério Público notificará os pais ou responsável para
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das
mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade
polícias civil e militar.
policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo único,
e 107, deverá:
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o
anterior, o representante do Ministério Público poderá:
adolescente;
I - promover o arquivamento dos autos;
II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
II - conceder a remissão;
III - requisitar os exames ou perícias necessários à
III - representar à autoridade judiciária para aplicação de
comprovação da materialidade e autoria da infração.
medida socioeducativa.
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a
lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de ocorrência
circunstanciada. Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou concedida
a remissão pelo representante do Ministério Público, mediante
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, termo fundamentado, que conterá o resumo dos fatos, os autos
o adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial, serão conclusos à autoridade judiciária para homologação.
sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação § 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade
ao representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo judiciária determinará, conforme o caso, o cumprimento da
impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela medida.
gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o § 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa
adolescente permanecer sob internação para garantia de sua dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho
segurança pessoal ou manutenção da ordem pública. fundamentado, e este oferecerá representação, designará outro
membro do Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial o arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade
encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do judiciária obrigada a homologar.
Ministério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou
boletim de ocorrência. Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade Ministério Público não promover o arquivamento ou conceder
policial encaminhará o adolescente à entidade de atendimento, a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária,
que fará a apresentação ao representante do Ministério Público no propondo a instauração de procedimento para aplicação da medida
prazo de vinte e quatro horas. socioeducativa que se afigurar a mais adequada.
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de § 1º A representação será oferecida por petição, que conterá
atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial. À o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional e,
falta de repartição policial especializada, o adolescente aguardará quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida
a apresentação em dependência separada da destinada a maiores, oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária.
não podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no § 2º A representação independe de prova pré-constituída da
parágrafo anterior. autoria e materialidade.

Didatismo e Conhecimento 20
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a conclusão do Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão do
procedimento, estando o adolescente internado provisoriamente, processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do procedimento,
será de quarenta e cinco dias. antes da sentença.

Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer
designará audiência de apresentação do adolescente, decidindo, medida, desde que reconheça na sentença:
desde logo, sobre a decretação ou manutenção da internação, I - estar provada a inexistência do fato;
observado o disposto no art. 108 e parágrafo. II - não haver prova da existência do fato;
§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão III - não constituir o fato ato infracional;
cientificados do teor da representação, e notificados a comparecer IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para o
à audiência, acompanhados de advogado. ato infracional.
§ 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o
autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente. adolescente internado, será imediatamente colocado em liberdade.
§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade
judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, determinando Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de
o sobrestamento do feito, até a efetiva apresentação. internação ou regime de semi-liberdade será feita:
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a sua I - ao adolescente e ao seu defensor;
apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais ou responsável. II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais ou
responsável, sem prejuízo do defensor.
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela autoridade § 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á
judiciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento prisional. unicamente na pessoa do defensor.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as características § 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deverá
definidas no art. 123, o adolescente deverá ser imediatamente este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença.
transferido para a localidade mais próxima.
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente Seção VI
aguardará sua remoção em repartição policial, desde que em Da Apuração de Irregularidades em Entidade de Atendimento
seção isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não
podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob pena de Art. 191. O procedimento de apuração de irregularidades em
responsabilidade. entidade governamental e não-governamental terá início mediante
portaria da autoridade judiciária ou representação do Ministério
Público ou do Conselho Tutelar, onde conste, necessariamente,
Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou
resumo dos fatos.
responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mesmos,
Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
podendo solicitar opinião de profissional qualificado.
judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar liminarmente o
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão,
afastamento provisório do dirigente da entidade, mediante decisão
ouvirá o representante do Ministério Público, proferindo decisão.
fundamentada.
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de
internação ou colocação em regime de semi-liberdade, a autoridade
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de
judiciária, verificando que o adolescente não possui advogado
dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar documentos e
constituído, nomeará defensor, designando, desde logo, audiência indicar as provas a produzir.
em continuação, podendo determinar a realização de diligências e
estudo do caso. Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo necessário,
§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo a autoridade judiciária designará audiência de instrução e
de três dias contado da audiência de apresentação, oferecerá defesa julgamento, intimando as partes.
prévia e rol de testemunhas. § 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas Público terão cinco dias para oferecer alegações finais, decidindo a
arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as autoridade judiciária em igual prazo.
diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional, § 2º Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo
será dada a palavra ao representante do Ministério Público e ao de dirigente de entidade governamental, a autoridade judiciária
defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada oficiará à autoridade administrativa imediatamente superior ao
um, prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, afastado, marcando prazo para a substituição.
que em seguida proferirá decisão. § 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade
judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregularidades
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo será extinto, sem
comparecer, injustificadamente à audiência de apresentação, julgamento de mérito.
a autoridade judiciária designará nova data, determinando sua § 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da
condução coercitiva. entidade ou programa de atendimento.

Didatismo e Conhecimento 21
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Seção VII Art. 197-B.  A autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta
Da Apuração de Infração Administrativa às Normas de e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério Público, que no
Proteção à Criança e ao Adolescente prazo de 5 (cinco) dias poderá: 
I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe
Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a que se
administrativa por infração às normas de proteção à criança e ao refere o art. 197-C desta Lei; 
adolescente terá início por representação do Ministério Público, II - requerer a designação de audiência para oitiva dos
ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elaborado por postulantes em juízo e testemunhas; 
servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por duas III - requerer a juntada de documentos complementares e a
testemunhas, se possível. realização de outras diligências que entender necessárias.
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, poderão
ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a natureza e as Art. 197-C.  Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe
circunstâncias da infração. interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que
a lavratura do auto, certificando-se, em caso contrário, dos motivos permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o
do retardamento. exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz
dos requisitos e princípios desta Lei. 
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apresentação § 1o  É obrigatória a participação dos postulantes em programa
de defesa, contado da data da intimação, que será feita: oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude preferencialmente
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado na com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política
presença do requerido; municipal de garantia do direito à convivência familiar, que inclua
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habilitado, preparação psicológica, orientação e estímulo à adoção inter-
que entregará cópia do auto ou da representação ao requerido, ou a racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades
seu representante legal, lavrando certidão; específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos. 
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for § 2o  Sempre que possível e recomendável, a etapa obrigatória
encontrado o requerido ou seu representante legal; da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá o contato com
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar ou
sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante legal. institucional em condições de serem adotados, a ser realizado sob
a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo legal, a da Infância e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis
autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministério Público, pelo programa de acolhimento familiar ou institucional e pela
por cinco dias, decidindo em igual prazo. execução da política municipal de garantia do direito à convivência
familiar.
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária
procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo necessário, Art. 197-D.  Certificada nos autos a conclusão da participação
designará audiência de instrução e julgamento. no programa referido no art. 197-C desta Lei, a autoridade
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, decidirá acerca
sucessivamente o Ministério Público e o procurador do requerido, das diligências requeridas pelo Ministério Público e determinará
pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais a juntada do estudo psicossocial, designando, conforme o caso,
dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá audiência de instrução e julgamento. 
sentença. Parágrafo único.  Caso não sejam requeridas diligências, ou
sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a
Seção VIII juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos autos ao
Da Habilitação de Pretendentes à Adoção Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo.

Art. 197-A.  Os postulantes à adoção, domiciliados no Brasil, Art. 197-E.  Deferida a habilitação, o postulante será
apresentarão petição inicial na qual conste:  inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a sua
I - qualificação completa;  convocação para a adoção feita de acordo com ordem cronológica
II - dados familiares;  de habilitação e conforme a disponibilidade de crianças ou
III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou adolescentes adotáveis. 
casamento, ou declaração relativa ao período de união estável;  § 1o  A ordem cronológica das habilitações somente poderá
IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas hipóteses
Pessoas Físicas;  previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando comprovado ser essa
V - comprovante de renda e domicílio;  a melhor solução no interesse do adotando. 
VI - atestados de sanidade física e mental;  § 2o  A recusa sistemática na adoção das crianças ou
VII - certidão de antecedentes criminais;  adolescentes indicados importará na reavaliação da habilitação
VIII - certidão negativa de distribuição cível.  concedida.

Didatismo e Conhecimento 22
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Capítulo IV Capítulo V
Dos Recursos Do Ministério Público

Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta Lei
Juventude fica adotado o sistema recursal do Código de Processo serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica.
Civil, aprovado pela Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e suas
alterações posteriores, com as seguintes adaptações:   Art. 201. Compete ao Ministério Público:
I - os recursos serão interpostos independentemente de I - conceder a remissão como forma de exclusão do processo;
preparo; II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às
II - em todos os recursos, salvo o de agravo de instrumento e infrações atribuídas a adolescentes;
de embargos de declaração, o prazo para interpor e para responder III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os
será sempre de dez dias; procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar,
III - os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem como
oficiar em todos os demais procedimentos da competência da
revisor;
Justiça da Infância e da Juventude;
VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interessados,
instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso de
a especialização e a inscrição de hipoteca legal e a prestação de
agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho fundamentado,
contas dos tutores, curadores e quaisquer administradores de bens
mantendo ou reformando a decisão, no prazo de cinco dias; de crianças e adolescentes nas hipóteses do art. 98;
VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a
remeterá os autos ou o instrumento à superior instância dentro proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos
de vinte e quatro horas, independentemente de novo pedido do à infância e à adolescência, inclusive os definidos no
recorrente; se a reformar, a remessa dos autos dependerá de pedido VI - instaurar procedimentos administrativos e, para instruí-
expresso da parte interessada ou do Ministério Público, no prazo los:
de cinco dias, contados da intimação. a) expedir notificações para colher depoimentos ou
esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado,
Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art. 149 requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia civil ou
caberá recurso de apelação. militar;
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de
Art. 199-A.  A sentença que deferir a adoção produz autoridades municipais, estaduais e federais, da administração
efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida direta ou indireta, bem como promover inspeções e diligências
exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção investigatórias;
internacional ou se houver perigo de dano irreparável ou de difícil c) requisitar informações e documentos a particulares e
reparação ao adotando. instituições privadas;
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências
Art. 199-B.  A sentença que destituir ambos ou qualquer dos investigatórias e determinar a instauração de inquérito policial,
genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que deverá ser para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção à
recebida apenas no efeito devolutivo. infância e à juventude;
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais
Art. 199-C.  Os recursos nos procedimentos de adoção assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas
e de destituição de poder familiar, em face da relevância das judiciais e extrajudiciais cabíveis;
questões, serão processados com prioridade absoluta, devendo IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas
corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos
ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que aguardem,
interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e ao
em qualquer situação, oportuna distribuição, e serão colocados
adolescente;
em mesa para julgamento sem revisão e com parecer urgente do
X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade por
Ministério Público. 
infrações cometidas contra as normas de proteção à infância e à
juventude, sem prejuízo da promoção da responsabilidade civil e
Art. 199-D.  O relator deverá colocar o processo em mesa para penal do infrator, quando cabível;
julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contado da sua XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de
conclusão.  atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de
Parágrafo único.  O Ministério Público será intimado da pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à
data do julgamento e poderá na sessão, se entender necessário, remoção de irregularidades porventura verificadas;
apresentar oralmente seu parecer.  XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos
serviços médicos, hospitalares, educacionais e de assistência social,
Art. 199-E.  O Ministério Público poderá requerer a instauração públicos ou privados, para o desempenho de suas atribuições.
de procedimento para apuração de responsabilidades se constatar o § 1º A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis
descumprimento das providências e do prazo previstos nos artigos previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas
anteriores.  hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e esta Lei.

Didatismo e Conhecimento 23
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem outras, Capítulo VII
desde que compatíveis com a finalidade do Ministério Público. Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercício Coletivos
de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se encontre
criança ou adolescente. Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de
§ 4º O representante do Ministério Público será responsável responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e
pelo uso indevido das informações e documentos que requisitar, ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular:
nas hipóteses legais de sigilo. I - do ensino obrigatório;
§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso VIII II - de atendimento educacional especializado aos portadores
deste artigo, poderá o representante do Ministério Público: de deficiência;
a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instaurando o III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero
competente procedimento, sob sua presidência; a seis anos de idade;
b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do
reclamada, em dia, local e horário previamente notificados ou educando;
acertados; V - de programas suplementares de oferta de material didático-
c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços escolar, transporte e assistência à saúde do educando do ensino
públicos e de relevância pública afetos à criança e ao adolescente, fundamental;
fixando prazo razoável para sua perfeita adequação. VI - de serviço de assistência social visando à proteção à
família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como ao
Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem;
parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em que terá VIII - de escolarização e profissionalização dos adolescentes
vista dos autos depois das partes, podendo juntar documentos e privados de liberdade.
requerer diligências, usando os recursos cabíveis. IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e
promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício do
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer direito à convivência familiar por crianças e adolescentes.
caso, será feita pessoalmente. X -  de programas de atendimento para a execução das medidas
socioeducativas e aplicação de medidas de proteção.
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta
§ 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da
a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a
proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou
requerimento de qualquer interessado.
coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegidos pela
Constituição e pela Lei.
Art. 205. As manifestações processuais do representante do
§ 2o A investigação do desaparecimento de crianças ou
Ministério Público deverão ser fundamentadas.
adolescentes será realizada imediatamente após notificação aos
órgãos competentes, que deverão comunicar o fato aos portos,
Capítulo VI
aeroportos, Polícia Rodoviária e companhias de transporte
Do Advogado
interestaduais e internacionais, fornecendo-lhes todos os dados
Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, necessários à identificação do desaparecido.
e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse na solução da lide
poderão intervir nos procedimentos de que trata esta Lei, através Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no
de advogado, o qual será intimado para todos os atos, pessoalmente foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo
ou por publicação oficial, respeitado o segredo de justiça. juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas
Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária integral e a competência da Justiça Federal e a competência originária dos
gratuita àqueles que dela necessitarem. tribunais superiores.

Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses coletivos
ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será     processado ou difusos, consideram-se legitimados concorrentemente:
sem defensor. I - o Ministério Público;
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e os
pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, constituir outro de territórios;
sua preferência. III - as associações legalmente constituídas há pelo menos
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento de um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa
nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear substituto, ainda dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dispensada a
que provisoriamente, ou para o só efeito do ato. autorização da assembléia, se houver prévia autorização estatutária.
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se tratar § 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios
de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido indicado por Públicos da União e dos estados na defesa dos interesses e direitos
ocasião de ato formal com a presença da autoridade judiciária. de que cuida esta Lei.

Didatismo e Conhecimento 24
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar ao réu os
associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado honorários advocatícios arbitrados na conformidade do § 4º do art.
poderá assumir a titularidade ativa. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo
Civil), quando reconhecer que a pretensão é manifestamente
Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar infundada.
dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a associação
às exigências legais, o qual terá eficácia de título executivo autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão
extrajudicial. solidariamente condenados ao décuplo das custas, sem prejuízo de
responsabilidade por perdas e danos.
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por
esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações pertinentes. Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá
§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as normas adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
do Código de Processo Civil.
quaisquer outras despesas.
§ 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública
ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público
público, que lesem direito líquido e certo previsto nesta Lei, caberá
deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe
ação mandamental, que se regerá pelas normas da lei do mandado
de segurança. informações sobre fatos que constituam objeto de ação civil, e
indicando-lhe os elementos de convicção.
Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e tribunais
da obrigação ou determinará providências que assegurem o tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura
resultado prático equivalente ao do adimplemento. de ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo providências cabíveis.
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citando Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá
o réu. requerer às autoridades competentes as certidões e informações
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na que julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo de quinze
sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido dias.
do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando
prazo razoável para o cumprimento do preceito. Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa,
da sentença favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que organismo público ou particular, certidões, informações, exames
se houver configurado o descumprimento. ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior
a dez dias úteis.
Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido § 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as
pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do diligências, se convencer da inexistência de fundamento para
respectivo município. a propositura da ação cível, promoverá o arquivamento dos
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito em autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o
julgado da decisão serão exigidas através de execução promovida fundamentadamente.
pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual § 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informação
iniciativa aos demais legitimados.
arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave,
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro
no prazo de três dias, ao Conselho Superior do Ministério Público.
ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta
§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção de
com correção monetária.
arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Ministério
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, público, poderão as associações legitimadas apresentar razões
para evitar dano irreparável à parte. escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito
ou anexados às peças de informação.
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser § 4º A promoção de arquivamento será submetida a exame e
condenação ao poder público, o juiz determinará a remessa de deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme
peças à autoridade competente, para apuração da responsabilidade dispuser o seu regimento.
civil e administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão. § 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção
de arquivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério
Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da Público para o ajuizamento da ação.
sentença condenatória sem que a associação autora lhe promova
a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as
iniciativa aos demais legitimados. disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.

Didatismo e Conhecimento 25
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Título VII Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta
Dos Crimes e Das Infrações Administrativas Lei em benefício de adolescente privado de liberdade:
Capítulo I Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Dos Crimes
Seção I Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária,
Disposições Gerais membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério
Público no exercício de função prevista nesta Lei:
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra Pena - detenção de seis meses a dois anos.
a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do
disposto na legislação penal. Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o
tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas de colocação em lar substituto:
da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao     processo, as Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
pertinentes ao Código de Processo Penal.
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública terceiro, mediante paga ou recompensa:
incondicionada Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou
Seção II efetiva a paga ou recompensa.
Dos Crimes em Espécie
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter registro das formalidades legais ou com o fito de obter lucro:
das atividades desenvolvidas, na forma e prazo referidos no Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça
responsável, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento,
ou fraude:
onde constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento do
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena
neonato:
correspondente à violência.
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Art. 240.  Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica,
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de envolvendo criança ou adolescente: 
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.  § 1o 
corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, bem Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage,
como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei: ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança ou
Pena - detenção de seis meses a dois anos. adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda
Parágrafo único. Se o crime é culposo: quem com esses contracena. 
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. § 2o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete
o crime: 
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de
procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato exercê-la; 
infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou
competente: de hospitalidade; ou 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. III – prevalecendo-se de relações de parentesco consanguíneo
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador,
apreensão sem observância das formalidades legais. preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro
título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. 
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação Art. 241.  Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro
à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
pessoa por ele indicada: envolvendo criança ou adolescente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, Art. 241-A.  Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento: distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por
meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo envolvendo criança ou adolescente: 
tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.  § 1o  Nas
Pena - detenção de seis meses a dois anos. mesmas penas incorre quem

Didatismo e Conhecimento 26
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar,
fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo;  de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição ou
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de explosivo:
computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.
deste artigo.
 § 2o  As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar
artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação do ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa
serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao causa, produtos cujos componentes possam causar dependência
conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo física ou psíquica, ainda que por utilização indevida:
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato
 Art. 241-B.  Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer não constitui crime mais grave.
meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha
cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar,
adolescente: de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de estampido ou
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. de artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam
 § 1o  A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização
pequena quantidade o material a que se refere o caput deste artigo. indevida:
 § 2o  Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
finalidade de comunicar às autoridades competentes a ocorrência
das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como
quando a comunicação for feita por: tais definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à
I – agente público no exercício de suas funções; exploração sexual:
 II – membro de entidade, legalmente constituída, que Pena - reclusão de quatro a dez anos, e multa.
inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o § 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o
processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança
neste parágrafo; ou adolescente às práticas referidas no caput deste artigo.
 III – representante legal e funcionários responsáveis de § 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.
computadores, até o recebimento do material relativo à notícia feita
à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário. Art. 244-B.  Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18
 § 3o  As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão manter (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o
sob sigilo o material ilícito referido. a praticá-la: 
  Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
Art. 241-C.  Simular a participação de criança ou adolescente § 1o  Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem
em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios
montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet. 
forma de representação visual: § 2o  As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.  de um terço no caso de a infração cometida ou induzida estar
Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas quem vende, incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990.
expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por
qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido Capítulo II
na forma do caput deste artigo. Das Infrações Administrativas

  Art. 241-D.  Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-
praticar ato libidinoso: escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação
 Parágrafo único.  Nas mesmas penas incorre quem: de maus-tratos contra criança ou adolescente:
 I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-
cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela se o dobro em caso de reincidência.
praticar ato libidinoso;
 II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade de
o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou atendimento o exercício dos direitos constantes nos incisos II, III,
sexualmente explícita. VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
  Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-
Art. 241-E.  Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a se o dobro em caso de reincidência.
expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende
qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização
sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou
genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente documento de procedimento policial, administrativo ou judicial
sexuais. relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional:

Didatismo e Conhecimento 27
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando- Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada
se o dobro em caso de reincidência. em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, a suspensão da programação da emissora por até dois dias.
fotografia de criança ou adolescente envolvido em ato infracional,
ou qualquer ilustração que lhe diga respeito ou se refira a atos que Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere
lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta classificado pelo órgão competente como inadequado às crianças
ou indiretamente. ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão do
de rádio ou televisão, além da pena prevista neste artigo, a
espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até quinze
autoridade judiciária poderá determinar a apreensão da publicação dias.
Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária de seu Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de
domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de regularizar a guarda, programação em vídeo, em desacordo com a classificação atribuída
adolescente trazido de outra comarca para a prestação de serviço pelo órgão competente:
doméstico, mesmo que autorizado pelos pais ou responsável: Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o
o dobro em caso de reincidência, independentemente das despesas fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
de retorno do adolescente, se for o caso.
Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres desta Lei:
inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicando-
se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de apreensão da
assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar:
revista ou publicação.
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-
se o dobro em caso de reincidência. Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou
o empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso
Art. 250.  Hospedar criança ou adolescente desacompanhado de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua
dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita desses ou da participação no espetáculo:
autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere: Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso
Pena – multa. de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o
§ 1º  Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do        
estabelecimento por até 15 (quinze) dias. Art. 258-A.  Deixar a autoridade competente de providenciar
§ 2º  Se comprovada a reincidência em período inferior a 30 a instalação e operacionalização dos cadastros previstos no art. 50
(trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente fechado e terá e no § 11 do art. 101 desta Lei: 
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três
sua licença cassada.
mil reais). 
Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas a autoridade que
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de adolescentes
meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e 85 desta em condições de serem adotadas, de pessoas ou casais habilitados
Lei: à adoção e de crianças e adolescentes em regime de acolhimento
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando- institucional ou familiar. 
se o dobro em caso de reincidência.
Art. 258-B.  Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediato
público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada encaminhamento à autoridade judiciária de caso de que tenha
do local de exibição, informação destacada sobre a natureza da conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho
diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no certificado para adoção
de classificação: Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três
mil reais). 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-
Parágrafo único.  Incorre na mesma pena o funcionário de
se o dobro em caso de reincidência. programa oficial ou comunitário destinado à garantia do direito à
convivência familiar que deixa de efetuar a comunicação referida
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer no caput deste artigo.
representações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade a
que não se recomendem: Disposições Finais e Transitórias
Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada
em caso de reincidência, aplicável, separadamente, à casa de Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da
espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publicidade. publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo sobre
a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da política de
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabelece o Título V do
em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificação: Livro II.

Didatismo e Conhecimento 28
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções em
promoverem a adaptação de seus órgãos e programas às diretrizes vigor.
e princípios estabelecidos nesta Lei. § 3o O pagamento da doação deve ser efetuado até a data de
vencimento da primeira quota ou quota única do imposto, obser-
Art. 260. Os contribuintes poderão deduzir do imposto devido, vadas instruções específicas da Secretaria da Receita Federal do
na declaração do Imposto sobre a Renda, o total das doações feitas Brasil.
aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente - nacional, § 4o O não pagamento da doação no prazo estabelecido no §
estaduais ou municipais - devidamente comprovadas, obedecidos 3o implica a glosa definitiva desta parcela de dedução, ficando a
os limites estabelecidos em Decreto do Presidente da República. pessoa física obrigada ao recolhimento da diferença de imposto
§ 1o-A.  Na definição das prioridades a serem atendidas com os devido apurado na Declaração de Ajuste Anual com os acréscimos
recursos captados pelos Fundos Nacional, Estaduais e Municipais legais previstos na legislação.
dos Direitos da Criança e do Adolescente, serão consideradas as § 5o A pessoa física poderá deduzir do imposto apurado na
disposições do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no respectivo ano-
dos Direitos de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar, -calendário, aos fundos controlados pelos Conselhos dos Direitos
bem como as regras e princípios relativos à garantia do direito à da Criança e do Adolescente municipais, distrital, estaduais e na-
convivência familiar previstos nesta Lei.  cional concomitantemente com a opção de que trata o caput, res-
§ 2º Os Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional dos peitado o limite previsto no inciso II do art. 260.”
Direitos da Criança e do Adolescente fixarão critérios de utilização,
através de planos de aplicação das doações subsidiadas e demais Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260 poderá
receitas, aplicando necessariamente percentual para incentivo ao ser deduzida:
acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente, I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurídicas
órfãos ou abandonado, na forma do disposto no art. 227, § 3º, VI, que apuram o imposto trimestralmente; e
da Constituição Federal. II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, para as
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmente.
Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará a comprovação Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro do pe-
das doações feitas aos fundos, nos termos deste artigo. ríodo a que se refere a apuração do imposto.”
§ 4º O Ministério Público determinará em cada comarca a
forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Municipal dos Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei podem
Direitos da Criança e do Adolescente, dos incentivos fiscais ser efetuadas em espécie ou em bens.
referidos neste artigo. Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie devem ser
§ 5o  A destinação de recursos provenientes dos fundos depositadas em conta específica, em instituição financeira pública,
mencionados neste artigo não desobriga os Entes Federados à vinculadas aos respectivos fundos de que trata o art. 260.”
previsão, no orçamento dos respectivos órgãos encarregados da
execução das políticas públicas de assistência social, educação Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração das
e saúde, dos recursos necessários à implementação das ações, contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacio-
serviços e programas de atendimento a crianças, adolescentes nal, estaduais, distrital e municipais devem emitir recibo em favor
e famílias, em respeito ao princípio da prioridade absoluta do doador, assinado por pessoa competente e pelo presidente do
estabelecido pelo caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo Conselho correspondente, especificando:
caput e parágrafo único do art. 4o desta Lei. I - número de ordem;
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e en-
Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendário de dereço do emitente;
2009, a pessoa física poderá optar pela doação de que trata o inciso III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do
II do caput do art. 260 diretamente em sua Declaração de Ajuste doador;
Anual. IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e
§ 1o A doação de que trata o caput poderá ser deduzida até os V - ano-calendário a que se refere a doação.
seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apurado na de- § 1o O comprovante de que trata o caput deste artigo pode
claração: ser emitido anualmente, desde que discrimine os valores doados
I - (VETADO); mês a mês.
II - (VETADO); § 2o No caso de doação em bens, o comprovante deve conter
III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012. a identificação dos bens, mediante descrição em campo próprio ou
§ 2o A dedução de que trata o caput: em relação anexa ao comprovante, informando também se houve
I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto avaliação, o nome, CPF ou CNPJ e endereço dos avaliadores.”
sobre a renda apurado na declaração de que trata o inciso II do
caput do art. 260; Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador deverá:
II - não se aplica à pessoa física que: I - comprovar a propriedade dos bens, mediante documenta-
a) utilizar o desconto simplificado; ção hábil;
b) apresentar declaração em formulário; ou II - baixar os bens doados na declaração de bens e direitos,
c) entregar a declaração fora do prazo; quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no caso de
III - só se aplica às doações em espécie; e pessoa jurídica; e

Didatismo e Conhecimento 29
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
III - considerar como valor dos bens doados: Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última decla- da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria da Receita Fe-
ração do imposto de renda, desde que não exceda o valor de mer- deral do Brasil, até 31 de outubro de cada ano, arquivo eletrônico
cado; contendo a relação atualizada dos Fundos dos Direitos da Criança
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. e do Adolescente nacional, distrital, estaduais e municipais, com
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não será a indicação dos respectivos números de inscrição no CNPJ e das
considerado na determinação do valor dos bens doados, exceto se contas bancárias específicas mantidas em instituições financeiras
o leilão for determinado por autoridade judiciária.” públicas, destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos Fun-
dos.”
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. 260-D
e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um prazo de 5 Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil expedirá
(cinco) anos para fins de comprovação da dedução perante a Re- as instruções necessárias à aplicação do disposto nos arts. 260 a
ceita Federal do Brasil.” 260-K.”

Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração das Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da
contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente na- criança e do adolescente, os registros, inscrições e alterações
cional, estaduais, distrital e municipais devem: a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei
I - manter conta bancária específica destinada exclusivamente serão efetuados perante a autoridade judiciária da comarca a que
a gerir os recursos do Fundo; pertencer a entidade.
II - manter controle das doações recebidas; e Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos estados
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal do e municípios, e os estados aos municípios, os recursos referentes
Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando os seguintes aos programas e atividades previstos nesta Lei, tão logo estejam
dados por doador: criados os conselhos dos direitos da criança e do adolescente nos
a) nome, CNPJ ou CPF; seus respectivos níveis.
b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie ou
em bens.” Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tutelares,
as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela autoridade
Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obrigações pre- judiciária.
vistas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do Brasil dará
conhecimento do fato ao Ministério Público.”
Art. 263. O Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações:
Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do Ado-
1) Art. 121 ............................................................
lescente nacional, estaduais, distrital e municipais divulgarão am-
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço,
plamente à comunidade:
se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão,
I - o calendário de suas reuniões;
arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à
II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de atendi-
vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge
mento à criança e ao adolescente;
III - os requisitos para a apresentação de projetos a serem be- para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena
neficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do é aumentada de um terço, se o crime é praticado contra pessoa
Adolescente nacional, estaduais, distrital ou municipais; menor de catorze anos.
IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-calendário 2) Art. 129 ...............................................................
e o valor dos recursos previstos para implementação das ações, § 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das
por projeto; hipóteses do art. 121, § 4º.
V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destinação, § 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
por projeto atendido, inclusive com cadastramento na base de da- 3) Art. 136.................................................................
dos do Sistema de Informações sobre a Infância e a Adolescência; § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado
e contra pessoa menor de catorze anos.
VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados com 4) Art. 213 ..................................................................
recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente na- Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos:
cional, estaduais, distrital e municipais.” Pena - reclusão de quatro a dez anos.
5) Art. 214...................................................................
Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada Co- Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos:
marca, a forma de fiscalização da aplicação dos incentivos fiscais Pena - reclusão de três a nove anos.»
referidos no art. 260 desta Lei.
Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos arts. Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro de
260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por ação judicial 1973, fica acrescido do seguinte item:
proposta pelo Ministério Público, que poderá atuar de ofício, a re- “Art. 102 ....................................................................
querimento ou representação de qualquer cidadão.” 6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. “

Didatismo e Conhecimento 30
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da União, da Experiência de Hawthorne
administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e
mantidas pelo poder público federal promoverão edição popular A Escola das Relações Humanas surgiu efetivamente com a
do texto integral deste Estatuto, que será posto à disposição das Experiência de Hawthorne, realizada numa fábrica no bairro que
escolas e das entidades de atendimento e de defesa dos direitos da dá nome à pesquisa, em Chicago, EUA. O médico e sociólogo
criança e do adolescente. australiano Elton Mayo, fez testes na linha de produção, na busca
por variáveis que influenciassem, positiva ou negativamente,
Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua a produção. O primeiro teste foi realizado para encontrar a
publicação. relação entre a intensidade da luz e a produtividade. Nesse teste,
Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão porém, foi encontrada uma variável difícil de ser isolada, o fator
ser promovidas atividades e campanhas de divulgação e psicológico dos trabalhadores. Por conta desse fator mudou-se o
esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei. foco da pesquisa, observando o comportamento dos trabalhadores
a cada pequena mudança (ex: lanches, intervalos, mudança
Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964, e 6.697, nos incentivos e nos horários de trabalho). As Experiências de
de 10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais Hawthorne geraram um novo paradigma para os administradores
disposições em contrário. mundiais. Suas conclusões mais importantes são:
- Integração social como determinante da produção, ou
seja, quanto maior sua integração social no grupo maior será sua
Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e 102º
vontade de produzir, ao contrário do que dizia a Escola Clássica,
da República.
que coloca fatores físicos como determinantes.
FERNANDO COLLOR
- Comportamento do empregado é baseado no comportamento
Bernardo Cabral
dos grupos e organizações informais, cada empregado não age
Carlos Chiarelli
isoladamente.
Antônio Magri - As necessidades psicológicas e sociais e a atenção para
Margarida Procópio novas formas de recompensa e sanções não materiais.
- O despertar para as relações humanas dentro das organizações.
- A ênfase nos aspectos emocionais e não-racionais do
NOÇÕES BÁSICAS SOBRE AS comportamento das pessoas.
RELAÇÕES HUMANAS. - A importância do conteúdo dos cargos e tarefas para as
pessoas, eram realizadas trocas de posição para evitar a monotonia,
mesmo que provocassem queda na produtividade aumentavam a
moral do grupo.
A Teoria das Relações Humanas, ou Escola das Relações Roethlisberger & Dickson
Humanas, é um conjunto de teorias administrativas que ganharam
força com a Grande Depressão criada na quebra da bolsa de Outros autores importantes para a Escola de Relações Humanas
valores de Nova Iorque, em 1929. Com a “Grande Crise” todas foram Roethlisberger e William Dickson por suas descrições das
as verdades até então aceitas são contestadas na busca da causa da primeiras experiências em sua obra Management and the worker
crise. As novas idéias trazidas pela Escola de Relações Humanas nos ano de 1939. Em seus experimentos nesta obra os autores
trazem uma nova perspectiva para a recuperação das empresas de observaram um grupo de homens que trabalhavam em uma “sala
acordo com as preocupações de seus dirigentes e começa a tratar de equipamentos de PABX” e fizeram as seguintes observações:
de forma mais complexa os seres humanos. - Um pequeno grupo de homens se desenvolveu
Essas teorias criaram novas perspectivas para a administração, espontaneamente líderes, com o consentimento do grupo.
visto que buscavam conhecer as atividades e sentimentos dos - Este grupo era indiferente a incentivos financeiros
trabalhadores e estudar a formação de grupos. Até então, o - Este grupo dava maior importância aos valores e costumes
trabalhador era tratado pela Teoria Clássica, e de uma forma muito que aos incentivos financeiros. Os membros do grupo eram
mecânica. Com os novos estudos, o foco mudou e, do Homo fortemente influenciados pelo código de comportamento do grupo
economicus o trabalhador passou a ser visto como “homo social”. independentemente das recompensas monetárias.
As três principais caraterísticas desses modelos são:
- O ser humano não pode ser reduzido a um ser cujo De acordo com os pesquisadores, os aspectos técnicos e
corportamento é simples e mecânico. humanos devem ser vistos como inter-relacionados, ou seja,
- O homem é, ao mesmo tempo, guiado pelo sistema social e além das necessidades físicas, os empregados também possuem
pelas demandas de ordem biológica. necessidades sociais. Ainda segundo os autores, na obra acima
- Todos os homens possuem necessidades de segurança, afeto, citada, eventos e objetos no ambiente de trabalho “não podem ser
aprovação social, prestígio, e auto realização. tratados como coisas em si mesmas. Em vez disso eles devem ser
A partir de então começa-se a pensar na participação dos interpretados como portadores de valores sociais”, ou seja, objetos
funcionários na tomada de decisão e na disponibilização das que não possuem nenhuma significância social podem em uma
informações acerca da empresa na qual eles trabalhavam. Foram organização tornar-se símbolo de status e adquirir valor social. Os
sendo compreendidos aspectos ligados à afetividade humana e autores concluiram que, quando as pessoas não são motivadas pela
perceberam-se os limites no controle burocrático por parte das lógica, os sentimentos sobre as coisas de valor social tornam-se de
organizações como forma de regulamentação social. grande importância no mundo organizacional.

Didatismo e Conhecimento 31
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Chester Barnard - A concessão ingênua e romântica do operário - as pessoas
que seguiram demonstraram que nem sempre isto ocorreu.
Em determinado momento nas teorias de relações há uma - A ênfase exagerada nos grupos informais colaborou
divisão. Surge a teoria de Recursos Humanos que o vê o ser rapidamente para que esta teoria fosse repensada.
humano como detentor de necessidades psicológicas complexas - O seu enfoque manipulativo e certamente demagogo não
e não como um ser passivo que pode ser estimulado e controlado deixou de ser descoberto e identificado pelos operários e seus
a partir de estimulos como as Relações Humanas descreviam até sindicatos.
então. O trabalho de Chester Barnard pode ser classificado entre
estas duas correntes. O autor desloca a análise da organização Ao receber tantas críticas, a teoria das relações humanas
formal para a informal. Segundo ele “as organizações informais precisou de uma reestruturação que deu origem à teoria
são necessárias ao funcionamento de uma organização formal, comportamental
como um meio de comunicação, coesão e proteção da integridade
individual”. Sua principal obra As funções do executivo retrata
as principais tensões entre o indivíduo e a organização e conclui PRINCÍPIOS ÉTICOS E FUNDAMENTOS
que os sistemas de treinamento, seleção, vigilância e recompensa PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS.
não são suficientes para garantir que os indivíduos cooperem com
a empresa corroborando para a idéia do caráter incerto da ação
humana. O autor afirma que seria necessário o desenvolvimento
de valores comuns e de uma ética que gerassem comprometimento A Educação sempre serviu para tornar os jovens mais
dos indivíduos com a organização. conhecedores de si mesmos. Educar é estimular os jovens a avaliar
com consciência os valores pelos quais a humanidade se rege e
Teóricos prestar-lhes a sua adesão, procurando crer neles e seguindo-os
o mais fielmente possível. O grande objetivo da educação é o
Além de Mayo, Roethlisberger, William Dickson e Chester desenvolvimento do jovem ao nível de todas as facetas da sua
Barnard outros teóricos ganharam destaque na Escola das Relações personalidade para conseguir seguir um caminho digno e construir
Humanas, como: uma vida com base no sonho de cada um. Por vezes, os jovens
Mary Parker Follet foi uma das precursoras ao analisar pensam que a educação é feita somente a nível escolar, o que,
os padrões de comportamento e a importância das relações inevitavelmente, conduz a um grave erro, porque a educação que
individuais. vamos adquirindo e transmitindo ao longo de gerações tem em
Barnard criou a Teoria da Cooperação, e foi um dos primeiros vista não só o desenvolvimento escolar mas também o pessoal, o
a ver o homem como um ser social, dentro do ambiente de trabalho social, o religioso, entre muitos outros que poderiam ser citados.
e analisar as organizações informais promovidas por eles. A missão de qualquer jovem em fase de aprendizagem, de
Críticas à teoria das relações humanas procura, de descoberta... é a de auto educar-se com base no que
está registado como verdadeiro (por exemplo, livros), mas nunca
As principais críticas a essa escola são: esquecendo o que está à sua volta, e as experiências do dia a dia,
tão ou mais importantes, e que devem ser integradas nesse processo
- Ela apresenta uma visão inadequada dos problemas de de autoeducação. A verdadeira liberdade, reta e responsável, que
relações industriais - em alguns aspectos a experiência de todos, direta ou indiretamente, buscamos só é atingida se os jovens
Hawthorne foi insegura e artificial e mesmo tendenciosa; alguns conseguirem assimilar a verdadeira educação na sua totalidade,
estudiosos acreditam que a origem esteja no fato de ser a teoria das não aprendendo apenas as partes que são do livre interesse de cada
relações humanas em produto da ética e do princípio democrático um. No entanto, esta liberdade também só é conseguida se o jovem
então existente nos Estados Unidos. viver em harmonia no seio familiar, porque também pertence aos
- Apesar de os Industriais tenderem a julgar sempre as pais um papel importante. Deles depende, em muito, a maneira
conclusões de Mayo verdadeiras, estes as consideravam de pensar e de encarar as realidades da vida por parte dos jovens
inaplicáveis, como citado por um “Tudo isto é muito interessante, que se encontram sob a sua tutela. Mesmo que não pareça, o
mas o que psicólogos e teóricos em geral parecem esquecer é que jovem procura, quase sempre, seguir o exemplo dos pais ou dos
tenho que obter lucro e produzir bens. O bem-estar é muito justo no familiares mais chegados.
devido lugar, mas é, no final das contas, um problema secundário A liberdade de cada um está intrinsecamente ligada ao
na indústria e não a sua função principal.». processo educativo adquirido por cada indivíduo. É de extrema
- Uma crítica feita pelos psicólogos é que as conclusões de importância que os pais e os educadores assumam uma atitude de
Mayo são óbvias, porém Mayo sem dúvida tem seu mérito por tirar compreensão e de diálogo perante os jovens. De contrário, eles
este conceito das ciências e aplicá-lo às práticas administrativas. tornar-se-ão insatisfeitos e revoltados com tudo o que os circunda,
- Oposição cerrada à teoria clássica - Tudo aquilo que esta por outras palavras, com a sua própria educação. Está certo que o
preconizava, a teoria das relações humanas negava. jovem aceite a educação que lhe é oferecida. A “missão” de educar,
- Limitação no campo experimental, sua principal crítica é a dentro ou fora de casa, é recíproca. Tanto vai depender do jovem
de natureza analítica. Suas pesquisas concentram-se em campos como das pessoas que o rodeiam e procuram apoiar. Mas a nossa
muito pequenos de variáveis e ao estudá-las não levar em conta sociedade, cada vez mais, se está a afastar do verdadeiro lema e
as demais. Isto levou com o tempo a um certo descrédito de sua objetivo da educação. Habitamos uma sociedade materialista onde
teoria. o dinheiro ocupa o lugar de destaque, e os pais, cedendo aos novos

Didatismo e Conhecimento 32
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
valores que se erguem, preocupam-se mais em proporcionar uma I - os princípios e as diretrizes que norteiam a educação
boa vida aos filhos do ponto de vista material, menosprezando, nacional;
assim, uma boa parte do carácter emocional que deve ser sempre II - os conteúdos mínimos da base nacional comum;
uma constante. III - a adequação da proposta pedagógica às especificidades
Os jovens, por seu lado, não compreendendo a posição dos institucionais e do perfil de sua demanda.
pais, sentem-se abandonados, acabando, muitas vezes por partilhar
os seus problemas com falsos amigos - droga, álcool, roubo... e Capítulo II
outros valores considerados vis na nossa sociedade, mas que são Da Organização dos Exames
verdades inegáveis. A educação está cada vez mais degradada.
Os jovens começam a desesperar pois não vêm soluções para os Art. 4°. O Sistema Estadual de Ensino manterá a gratuidade de
problemas que sentem desenrolar à volta. O passo decisivo tem de exames da EJA, ao menos uma vez por ano, observando-se:
partir desta geração, senão a que virá muito dificilmente irá reagir I - a idade mínima de 15 (quinze) anos completos para a
pois tudo estará praticamente perdido. A educação dos jovens e inscrição e realização de exames do ensino fundamental;
da sociedade não se faz somente nas escolas. Não nos podemos II - a idade mínima de 18 (dezoito) anos completos para a
esquecer disso! Será que não é melhor começar a apresentar inscrição e realização de exames do ensino médio;
soluções, a abrir portas, a criar fugas...? Depois, quando chegarem III - a base nacional comum para a sua elaboração.
ao fim do poço, as portas podem são se abrir e o colapso será §1º. São nulos os exames realizados por candidatos com idade
irreversível. abaixo dos limites estabelecidos no caput deste artigo.
§2º. O direito dos menores emancipados para os atos da vida
Processo N.º 1757/10 Protocolo N.º 10.599.469-9 civil não se aplica para a prestação de exames.
Deliberação N.º 05/10 Aprovada Em 03/12/10
Art. 5°. A fixação da época dos exames da EJA é de
Interessado: Sistema Estadual de Ensino Estado do Paraná competência da Secretaria de Estado da Educação.
§1°. A SEED encaminhará previamente ao Conselho Estadual
Assunto: Estabelece Normas para a Educação de Jovens e de Educação o projeto anual de realização de exames da EJA.
Adultos no Ensino Fundamental e Médio do Sistema de Ensino §2°. Os exames da EJA serão oferecidos, exclusivamente,
do Paraná. pela Secretaria de Estado da Educação, responsável também pela
Relator: Arnaldo Vicente expedição dos respectivos certificados.
§3°. A chamada para a inscrição nos exames da EJA será feita
O CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO do Estado por Edital Público.
do Paraná, usando das atribuições que lhe são conferidas por Lei,
tendo em vista a Resolução CNE/CEB n.º 3/2010, à Lei Federal n.º Capítulo III
9.394/96 e o Parecer n.º 1160/10 da Câmara de Educação Básica Da Organização E Funcionamento Dos Cursos
que a esta se incorpora. Da Educação De Jovens E Adultos

DELIBERA: Art. 6º. A organização do trabalho pedagógico será expressa


pelos estabelecimentos de ensino, no projeto político pedagógico
Capítulo I e no regimento escolar.
Das Disposições Gerais Art. 7°. Considera-se como idade para matrícula:
I - no ensino fundamental a idade mínima de 15 (quinze) anos
Art. 1°. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) destina-se completos;
àqueles que não tiveram acesso ao ensino fundamental e médio II – no ensino médio a idade mínima de 18 (dezoito) anos
na idade própria ou não tiveram a possibilidade de continuar esses completos.
estudos.
§1°. O Sistema Estadual de Ensino do Paraná deverá assegurar Art. 8°. A organização dos cursos da Educação de Jovens e
oportunidades educacionais apropriadas, prioritariamente aos Adultos, combinando momentos coletivos e individuais, observará
jovens e adultos que não puderam efetuar os estudos na idade a seguinte carga horária presencial:
regular. I - No Ensino Fundamental:
§2°. A iniciativa privada poderá ofertar cursos da EJA, desde a) de 1.200 (mil e duzentas horas) para a Fase I, compreendendo
que em conformidade com o Art. 7° e Art. 37 e respeitadas as do 1ª ao 5ª ano;
normas da Lei Federal 9.394/96 e as Normas do Sistema Estadual b) de 1.600 (mil e seiscentas horas) para a Fase II,
de Ensino. compreendendo do 6ª ao 9ª ano;
II - No Ensino Médio, a carga horária mínima de 1.200 (mil e
Art. 2°. A Educação de Jovens e Adultos, no Sistema Estadual duzentas horas).
de Ensino, será ofertada mediante cursos e exame da EJA na §1º A fixação do início e término dos cursos independe do
Educação Básica, organizados nos termos desta Deliberação. ano civil.
§2.º Os cursos da Educação de Jovens e Adultos podem
Art. 3º. Na organização dos cursos e exames da EJA, atender- ser organizados sob as formas presencial ou combinados com a
se-á obrigatoriamente: modalidade da educação a distância.

Didatismo e Conhecimento 33
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
§3.º Para os cursos de Educação a Distância, a legislação Parágrafo Único: É de responsabilidade do Sistema Estadual
pertinente será o Decreto Federal n.º 5.622/05, de 19 de dezembro de Ensino fazer a chamada ampliada de estudantes para o Ensino
de 2005 e a Deliberação nº 01/07-CEE/PR. Fundamental em todas as modalidades, tal como se faz a chamada
das pessoas de faixa etária obrigatória do ensino.
Art. 9°. Os cursos da Educação de Jovens e Adultos deverão
observar: Art. 16. As Instituições de Ensino que ofertam a Educação de
I - Conteúdos da base nacional comum, distribuídos em Jovens e Adultos, são denominadas:
cada componente curricular correspondente à fase do ensino I - Centro de Educação Básica de Jovens e Adultos (CEBJA)
fundamental e nas áreas de conhecimento do ensino médio; – o estabelecimento de ensino que oferte exclusivamente o Ensino
II - A avaliação deverá ser por disciplina, processual Fundamental e Médio para aqueles que não tiveram acesso ou
e cumulativa, condizente com a abordagem e tratamento continuidade de estudos em idade própria;
metodológico específico da educação de jovens e adultos; II - Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos
III - A avaliação da aprendizagem será expressa por um (CIEBJA) – o estabelecimento de ensino que oferte cursos para
parecer final, individual, que apresente no mínimo 60% (sessenta jovens e adultos organizados de forma conjugada com o ensino de
por cento) de aproveitamento dos conteúdos desenvolvidos em línguas ou com a educação profissional.
cada disciplina e 75% (setenta e cinco por cento) de frequência. Parágrafo Único. A carga horária destinada à educação
Parágrafo Único: Nos cursos presenciais que organizam sua profissional ou ao ensino de línguas será acrescida à carga horária
oferta de forma individual e coletiva, na organização individual mínima.
deverão cumprir 100% de carga horária.
Art. 17. A comprovação de estudos realizados em Educação
Art. 10. Em caso de transferência de aluno, nos cursos da de Jovens e Adultos, cursos ou exames, permite o prosseguimento
Educação de Jovens e Adultos, observar-se-á: de estudos.
I - a idade mínima requerida para matrícula;
II - os conteúdos da base nacional comum registrados em Art. 18. Experimentos pedagógicos, inclusive sob a forma de
histórico escolar; projetos especiais, terão validade somente após aprovação deste
III - os procedimentos de adaptação, quando for o caso. Colegiado.

Art. 19. Os cursos da Educação de Jovens e Adultos que já


Art.11. Os conhecimentos adquiridos por meios informais,
estão autorizados deverão adequar-se, no prazo máximo de um
para aproveitamento em cursos da Educação de Jovens e Adultos,
ano, da publicação desta Deliberação.
serão aferidos por procedimentos de classificação definidos no
regimento escolar.
Art. 20. Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho
Estadual de Educação do Paraná.
Capítulo IV
Das Disposições Finais e Transitórias
Art. 21. Esta Deliberação entra em vigor na data de sua
publicação, ficando revogada a Deliberação n.º 06/05-CEE/PR e
Art. 12. Os cursos da Educação de Jovens e Adultos demais disposições em contrário.
autorizados e que culminam com a expedição de certificados
deverão ter a duração mínima de dois (02) anos e um (01) ano e Processo N.° 1757/10 Protocolo N.º 10.599.469-9
meio, respectivamente para o Ensino Fundamental e para o Ensino Parecer CEE/CEB N.º 1160/10 Aprovado em 02/12/10
Médio, independentemente da forma de organização curricular. Câmara de Educação Básica
Art.13. A autorização dos cursos da Educação de Jovens e Interessado: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO/
Adultos terá validade por dois (02) anos, contados a partir da data GS/CH
de publicação do ato autorizatório. Município: CURITIBA
Parágrafo Único: As instituições de ensino que optarem pela Assunto: Solicitação de alteração da Deliberação n.º 06/05-
oferta exclusiva da Fase I, deverão realizar processo de avaliação CEE/PR, em virtude da Resolução n.º 03, de 15 de junho de 2010,
do curso para solicitar renovação da autorização, que poderá ser do CNE/CEB.
aprovado por um período de até quatro (04) anos. Relator: ARNALDO VICENTE

Art. 14. Os procedimentos que tratam dos atos regulatórios I – RELATÓRIO


desta modalidade, (credenciamento, autorização, reconhecimento
e respectivas renovações) deverão se reportar às normas exaradas 1. Histórico
na Deliberação n.º 02/10-CEE/PR.
Pelo oficio n.º 3441/2010-GS/SEED, datado de 30 de agosto
Art.15. O Sistema Estadual de Ensino do Paraná deverá de 2010, às fls. 02, a Secretaria de Estado da Educação, encaminha
cumprir o estabelecido no Art. 2º da Resolução n.º 03/10 do CNE/ o protocolado em referência, considerando a Resolução CNE/
CEB e continuar implementando a política de construção da CEB n.º 03, de 15 de junho de 2010, que institui as Diretrizes
Agenda Territorial da Educação de Jovens e Adultos. Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos – EJA, nos

Didatismo e Conhecimento 34
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
aspectos relativos à duração dos cursos e idade mínima para Art. 6º Observado o disposto no artigo 4º, inciso VII, da Lei
ingresso nos cursos EJA; idade mínima e certificação nos exames nº 9.394/96, a idade mínima para matrícula em cursos de EJA de
da EJA e Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por meio da Ensino Médio e inscrição e realização de exames de conclusão de
Educação a Distância e solicita o pronunciamento deste Conselho EJA do Ensino Médio é 18 (dezoito) anos completos. Parágrafo
Estadual de Educação, quanto à implementação das referidas único. O direito dos menores emancipados para os atos da vida
alterações pelo Sistema Estadual de Ensino. civil não se aplica para o da prestação de exames supletivos.

2. No Mérito Art. 17. O processo de avaliação incidirá sobre:


I - a opinião dos alunos sobre seu próprio processo de
Trata-se de questionamento do GS/SEED quanto à aprendizagem;
implementação da Resolução n.º 3, do Conselho Nacional de II - a qualidade dos recursos materiais e didáticos disponíveis;
Educação, Câmara de Educação Básica, no que conflita com a III - formas de planejamento coletivo;
Deliberação n.º 06/05-CEE/PR. Para uma melhor compreensão IV - avaliação dos professores e funcionários sobre o processo
apresenta-se um quadro comparativo entre a Deliberação do CEE de trabalho;
e a Resolução do CNE: V - as formas de gestão;
Deliberação n.º 06/05-CEE/PR Resolução n.º 3 - CNE/CEB VI- relatório dos números de matrículas, evasão e concluintes.
não trata desse tema Art. 2º Para o melhor desenvolvimento da
EJA, cabe a institucionalização de um sistema educacional Art. 18. Após o processo de avaliação externa os
público de Educação Básica de jovens e adultos, como política estabelecimentos de ensino que não preencherem as condições
pública de Estado e não apenas de governo, assumindo a gestão de qualidade e/ou idoneidade, caberá suspensão ou a cassação da
democrática, contemplando a diversidade de sujeitos aprendizes, autorização, na forma da legislação vigente.
proporcionando a conjugação de políticas públicas setoriais e
fortalecendo sua vocação como instrumento para a educação ao Art. 7º Em consonância com o Título IV da Lei nº 9.394/96,
longo da vida. que estabelece a forma de organização da educação nacional, a
certificação decorrente dos exames de EJA deve ser competência
I - No ensino fundamental, a carga horária mínima de 2.400
dos sistemas de ensino.
(duas mil e quatrocentas) horas, sendo:
...
a) de 1.200 (mil e duzentas horas) para a Fase I, compreendendo
VI- realizar avaliação das aprendizagens dos estudantes
a 1ª a 4ª séries;
Educação de Jovens e Adultos, integrada às avaliações já existentes
b) de 1.200 (mil e duzentas horas) para a Fase II,
para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, capaz de oferecer
compreendendo a 5ª a 8ª séries;
dados e informações para subsidiar o estabelecimento de políticas
públicas nacionais compatíveis com a realidade, sem o objetivo
Art. 4º Quanto à duração dos cursos presenciais de
de certificar o desempenho de estudantes. No que diz respeito à
EJA, mantém-se a formulação do Parecer CNE/CEB nº avaliação não faz distinção entre EJA presencial e EaD
29/2006, acrescentando o total de horas a serem cumpridas,
independentemente da forma de organização curricular: Art. 9º, XII, será estabelecido, pelos sistemas de ensino,
I - para os anos iniciais do Ensino Fundamental, a duração processo de avaliação de EJA desenvolvida por meio da EAD, no
deve ficar a critério dos sistemas de ensino; qual:
II - para os anos finais do Ensino Fundamental, a duração a) a avaliação da aprendizagem dos estudantes seja contínua,
mínima deve ser de 1.600 (mil e seiscentas) horas; processual e abrangente, com auto avaliação e avaliação em grupo,
III - para o Ensino Médio, a duração mínima deve ser de 1.200 sempre presenciais;
(mil e duzentas) horas. b) haja avaliação periódica das instituições escolares como
exercício da gestão democrática e garantia do efetivo controle
Art. 7°. Considera-se como idade para matrícula: social de seus desempenhos;
I - nas séries iniciais do ensino fundamental, compreendidas c) seja desenvolvida avaliação rigorosa para a oferta de
como de 1ª a 4ª séries, a idade mínima de 15 (quinze) anos cursos, descredenciando práticas mercantilistas e instituições que
completos; não zelem pela qualidade de ensino;
II - nas séries finais do ensino fundamental e médio a idade
mínima de 18 (dezoito) anos completos. Cabe ainda considerar que a Resolução n°3 – CNE/CEB
ratifica o contido no Parecer CNE/CEB nº 29/2006, quando
Art. 5º Obedecidos o disposto no artigo 4º, incisos I e VII, da dispõe: ... os cursos oficiais e que culminam com a expedição
Lei nº 9.394/96 (LDB) e a regra da prioridade para o atendimento de certificados deverão ter a duração mínima de 2 anos e 1 ano
da escolarização obrigatória, será considerada idade mínima para e meio, respectivamente para o Ensino Fundamental e para o
os cursos de EJA e para a realização de exames de conclusão de Ensino Médio. Do ponto de vista pedagógico este tempo é o que
EJA do Ensino Fundamental a de 15 (quinze) anos completos. se considera como mínimo para que jovens e adultos iniciem e
I - fazer a chamada ampliada de estudantes para o Ensino concluam estudos correspondentes ao Ensino Fundamental ou ao
Fundamental em todas as modalidades, tal como se faz a chamada Ensino Médio, independentemente da forma de oferta (presencial
das pessoas de faixa etária obrigatória do ensino; Não considerou ou a distância) ou das características dos diversos projetos
a possibilidade de menores matricularem-se na EJA pedagógicos.

Didatismo e Conhecimento 35
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Assim sendo, entendemos que se faz necessário a adequação custo e benefício não norteará a decisão dos milhares de estudantes
da Deliberação n.º 06/05-CEE/PR à Resolução N.º 3 do CNE/CEB. que, por força da Deliberação n.º 06/05 do CEE/PR e da posição
político-pedagógica do atual Governo do Estado, frequentam o
II - VOTO DO RELATOR Ensino Regular noturno, a migrarem em massa para os locais que
ofertarem aligeiramento formativo.
Face ao exposto, este Relator propõe a adequação da 6) A iniciativa privada não ofertará EJA de modo gratuito,
Deliberação n.º 06/05-CEE/PR para o Sistema Estadual de Ensino portanto, é de se esperar que, como se assistiu no Paraná há
nos artigos que conflitam com a Resolução CNE/CEB n.º 3, de 15 anos atrás e como se assiste em outros Estados da Federação no
de junho de 2010. momento, amplia-se a possibilidade de que a busca por lucro fácil
leve à proliferação de instituições de ensino cujo compromisso
É o Parecer. maior esteja em matricular indiscriminadamente o público em
questão, sem contudo oferecer o mínimo de qualidade nos serviços
DECISÃO DA CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA prestados.
A Câmara de Educação Básica aprova, por unanimidade, o 7) Todo esforço demonstrado pelo atual Governo Estadual no
Voto do Relator. sentido de recuperar a função social da escola, ampliando espaços
Curitiba, 02 de dezembro de 2010. e tempos escolares e fomentando a oferta regular de ensino, se
Romeu Gomes de Miranda perderá em poucos dias, pois a migração do sistema regular para
Presidente do CEE a modalidade da EJA será ampla e irreversível. Ademais, tal fato
Maria Luiza Xavier Cordeiro resultará diretamente na redução de horas de trabalho a centenas
Presidente da CEB de professores e funcionários da Rede Pública de Ensino.
8) Dados da SEED/PR demonstram claramente o acerto da
DECLARAÇÃO DE VOTO posição expressa na Deliberação n.º 06/05 CEE/PR ao evidenciar
o crescimento das matrículas no Ensino Regular Noturno, pois
Voto favoravelmente à presente Deliberação, uma vez que desde a sua publicação foram abertas mais de 700 turmas com
o paragrafo 1º da Resolução n.º 03/10 do CNE/CEB obriga aos aproximadamente 36.300 alunos.
sistemas cumprirem o que determina a mesma. Ao estabelecer
em 15 anos completos a idade de ingresso à EJA para o Ensino Edmilson Lenardão
Fundamental (cursos e exames) e 18 anos para o ensino médio Conselheiro
o CNE mantem vivas as preocupações já elencadas por este
conselheiro por ocasião da discussão do processo n.º 439/08, neste
CEE/PR a seguir descritas: NORMAS BÁSICAS DE SEGURANÇA EM
1) A Educação Escolar, efetivada em estabelecimentos UNIDADES SOCIOEDUCATIVAS.
próprios, deve promover o ensino e a aprendizagem; não deve
se constituir em local em que ocorra apenas a aglutinação
inconsequente de adolescentes, jovens e adultos que, por conta da
situação social adversa, para lá são encaminhados pretendendo-se A partir do artigo 98 da Lei nº 8.069/90 (ECA) são estabelecidas
de modo “aparente” demonstrar que tais sujeitos estão socialmente medidas de proteção à criança e ao adolescente, quando estes
cobertos pela Educação Formal. tiverem direitos reconhecidos na Lei ameaçados ou violados, tais
2) A ausência temporal de políticas públicas mais eficientes no medidas escalonam os menores em três categorias: os carentes ou
tratamento de situações pontuais não deve servir como subterfúgio em situação irregular, os menores vítimas e aqueles que praticam
à medidas amplas que, ao invés de colaborar para a resolução das atos infracionais.
especificidades demandadas, amplia o número de pessoas que As medidas de proteção à criança e adolescente são genéricas
farão parte do grupo focal. e específicas.
3) São bastante conhecidas as consequências de políticas que As genéricas decorrem da ação ou omissão da sociedade ou do
privilegiam a EJA ao Ensino Regular: aligeiramento formativo Estado, da falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável, e da
e correspondente redução do tempo escolar; barateamento do conduta do menor, com a finalidade de protegê-lo.
processo educacional como principal motivação; ampliação As específicas estão previstas no art. 101, incisos I a VIII, e
de metodologias duvidosas decorrentes das características serão determinadas pela autoridade competente.
peculiares de jovens e adultos (por exemplo: infantilização do O primeiro caso previsto pelo art. 98 é daquelas crianças ou
processo didático com utilização de métodos e recursos de ensino adolescentes que têm seus direitos violados/ameaçados por ação
importados da Educação Infantil e Ensino Fundamental Regular). ou omissão da sociedade ou do Estado, tratando basicamente dos
4) Desvaloriza-se a educação escolar regular na medida em menores carentes.
que a EJA destinando-se à baixa faixa etária representa considerar Muitos desses menores que se tornam mendigos, no
o ensino regular como incapaz de atender seus objetivos, ou sentido exato da palavra, assim o são por falta de melhores
por outro lado, que este ensino destina-se apenas a parcela da condições materiais e até emocionais de seus pais. Estes menores
população que possua condições sociais privilegiadas do ponto de “abandonados” à própria sorte, problema que não é só deles, mas
vista econômico e cultural e a EJA aos demais setores sociais. de todas as nações, tornam-se “perigosos vadios”, encontrando
5) É ingenuidade acreditar que as regras gerais do sistema nas ruas todos os “ensinamentos” necessários para se tornarem
capitalista, notadamente a valorização da correlação positiva entre elementos negativos e marginalizados.

Didatismo e Conhecimento 36
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Antônio Chaves, em seu livro, mostra as estatísticas desastrosas por parte dos pais, a sua ausência, a rejeição do filho, são casos nos
destas afirmações: cerca de 20 milhões em todo o Brasil, 7 milhões quais se encontram em perigo a sua segurança, saúde e formação
só em São Paulo, o menor carente apresenta uma parcela de 17% moral.
da população. Só isso já seria mais do que suficiente para que o III. Matrícula e Frequência Obrigatória em Estabelecimento de
problema fosse encarado com maior seriedade e preocupação. Ensino Fundamental à a matrícula e frequência em estabelecimento
Ressalte-se, ainda, a enorme confusão que se faz entre menor fundamental caracterizam-se como medida de higiene social,
carente e menor delinquente, esclarecendo que tal fato contribui porque previne o analfabetismo e a marginalidade. Tal medida
ainda mais para a descriminação e estigmatizarão desses jovens. tem em vista o fato de que, muitos atribuem à má educação ou à
O mesmo autor se questiona a respeito do futuro das nações falência da escola, a crescente criminalidade, defendendo a tese
que não dão a devida importância aos problemas de suas crianças, de que a escola é um dos meios de socialização, e o seu fracasso
justamente o segmento da população responsável por esse futuro. responderá por muitos casos de delinquência.
E conclui profetizando que, se nada mudar, nossos filhos e netos De fato, a escola é o primeiro sistema oficial da sociedade com
vão pagar uma conta muita cara pela nossa omissão. o qual o menor toma contato; através dela fará o conceito positivo
O segundo caso previsto pelo referido artigo diz respeito aos ou negativo da sociedade. Entretanto, é também na escola que o
menores vítimas dos pais ou responsáveis, seja pela falta, omissão menor verifica pela primeira vez se é igual ou diferente dos outros
ou abuso. e, se essa diferença é natural ou criada pela estratificação social,
Como já foi dito anteriormente, muitas vezes os próprios pais gerando, daí, um complexo de inferioridade.
ou responsáveis também são vítimas, fazendo, por consequência, Sob esse prisma, a escola pode até vir a ser a fonte de um
de seus filhos, vítimas como eles. conflito cultural, causando um comportamento antissocial, reação
É notório o fato de que a maior parte da violência e dos à inferioridade. Dessa forma, a escola deve ter muito cuidado em
maus tratos contra crianças, são cometidos por aquelas famílias não acentuar esse tipo de diferença, mas tão-somente aquilo que
de menor condição social. Na maior parte das vezes, não há houver em comum.
estrutura familiar estabelecida e, quando há, é formada de pessoas IV. Programa Comunitário à o art. 101, incisos IV e VI, prevê
desequilibradas moral e emocionalmente, pois como já dizia dois tipos de programa comunitário: um de auxílio à família e ao
o mestre Tobias Barreto: “ A dor da fome é maior do que a dor menor e outro de tratamento a alcoólatras e toxicômanos.
moral”. Dessa forma, a criança se desenvolve em ambiente pouco Trata-se de instrumento eficaz da comunidade, através do
propício à honestidade e ao discernimento. qual se efetiva a participação ativa da sociedade com o Estado na
Utilizando a mesma linha de raciocínio, observamos que a execução da política social de proteção à infância e à adolescência.
última categoria abordada pelo artigo em tela, é a dos menores V. Tratamento Médico, Psicológico ou Psiquiátrico à
infratores. Ora, se o menor vive numa sociedade profundamente o tratamento tutelar, sob o enfoque médico, psicológico e
desumana e injusta, como exigir que ele não delinqua e tenha psiquiátrico, é específico das medidas socioeducativas, por se
comportamento louvável? Como já dizia Tobias Barreto... tratar de um tipo de internação provisória, visando à saúde do
Ninguém nasce menor infrator. Para se chegar à delinquência, menor. Na aplicação desta medida, o órgão responsável terá que se
passa-se pelo abandono e vai dos pequenos furtos até o latrocínio. certificar da eficácia e cumprimento da mesma e das condições do
É por essas e outras reflexões, que o Estatuto se propõe serviço a ser prestado, posto que se assim não o for, ter-se –ia um
a estabelecer medidas de proteção de caráter, essencialmente, retrocesso ao eufemismo do antigo Código de Menores: internação
pedagógico, levando em consideração a peculiaridade dos sujeitos- para fins meramente paliativos, sem finalidade nenhuma.
objetos das mesmas. VI. Orientação e Tratamento a Alcoólatras e Toxicômanos à
O art. 101 da Lei, determina que são medidas de proteção: no caso em tela, prefere-se o tratamento ambulatorial, pois está
I. Encaminhamento aos pais ou responsáveis à não se trata comprovada a nocividade da instituição psiquiátrica.
de mero documento burocrático, tendo em vista que as diretrizes O legislador teve essa preocupação porque está comprovada a
são traçadas por uma equipe interdisciplinar. Aconselha- correlação entre alcoolismo e criminalidade, encarando o mesmo
se dar preferência a essa medida, porque ela permite que o como uma enfermidade psíquica, tratando-se, portanto, de uma
menor permaneça em seu meio natural, junto à família e na patologia e, assim, devendo ser tratada como tal.
sociedade, desde que este não seja prejudicial à sua educação e O alcoólatra é uma pessoa dependente e, por isso, deve ser
desenvolvimento de sua personalidade. tratado como tal, necessitando de apoio psicológico e ambulatorial
A concessão da medida está condicionada ao estudo social do por um longo período.
caso, em que se verifique a preponderância de fatores positivos em O álcool ou a droga não é causa de criminalidade somente
prol da permanência do menor no lar, devendo-se atentar para a quando se está sob seus efeitos, mas a própria abstinência pode
ausência de situações perigosas, bem como a certeza de que os pais levar ao crime, tendo em vista as reações orgânico-fisiológicas que
são capazes de satisfazer as necessidades básicas do filho. acarreta. Ressalte-se, ainda, que num meio desequilibrado é muito
II. Orientação, Apoio e Acompanhamento Temporário à esta difícil se libertar do vício, provando-se, assim, a necessidade de
medida está implícita na primeira, o encaminhamento aos pais. verdadeiro apoio e tratamento.
Pode ocorrer tanto na família, como em estabelecimentos de VII/VIII . Abrigo em Entidade/Colocação em Família
educação ou aprendizagem profissional. Isto porque se sabe que Substituta à o abrigo é medida provisória e excepcional,
nem sempre a família, instituição primeira e mais importante na caracterizando-se como fase de transição ou preparação para a
formação da personalidade, está apta a oferecer condições a um sociedade (colocação em família substituta). Trata-se de medida
perfeito desenvolvimento educacional, moral e físico ao menor, inconveniente e contraindicada para a formação da personalidade
sendo que, situações de risco como a falta de investimento afetivo do menor. Entretanto, é um mal necessário e provisório, posto que

Didatismo e Conhecimento 37
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
na maioria das vezes, quando se determina a colocação do menor XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente,
em família substituta, é porque a família natural realmente não respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de
tinha condições de educar e manter o menor. Ressaltando que, o compreensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos
menor só deve ser internado em último caso. seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da
forma como esta se processa;
Capítulo II XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente,
Das Medidas Específicas de Proteção em separado ou na companhia dos pais, de responsável ou de
pessoa por si indicada, bem como os seus pais ou responsável,
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da
aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a medida de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião
qualquer tempo. devidamente considerada pela autoridade judiciária competente,
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. (LEI
necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao 12.010 DE 2009).
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art.
98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as
Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação
seguintes medidas:
das medidas: (LEI 12.010 DE 2009).
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo
I - condição da criança e do adolescente como sujeitos
de responsabilidade;
de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento
Federal; oficial de ensino fundamental;
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à
de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser voltada família, à criança e ao adolescente;
à proteção integral e prioritária dos direitos de que crianças e V - requisição de tratamento médico, psicológico ou
adolescentes são titulares; psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
III - responsabilidade primária e solidária do poder público: VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos VII - acolhimento institucional; (LEI 12.010 DE 2009).
casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (LEI
primária e solidária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo 12.010 DE 2009).
da municipalização do atendimento e da possibilidade da execução IX - colocação em família substituta. (LEI 12.010 DE 2009).
de programas por entidades não governamentais; § 1o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de
intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e direitos transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível,
da criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for para colocação em família substituta, não implicando privação de
devida a outros interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos liberdade. (LEI 12.010 DE 2009).
interesses presentes no caso concreto; § 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das
e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da
direito à imagem e reserva da sua vida privada; criança ou adolescente do convívio familiar é de competência
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a
competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse,
conhecida; de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais
ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida
defesa. (LEI 12.010 DE 2009).
exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja
§ 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser
indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da
encaminhados às instituições que executam programas de
criança e do adolescente;
acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária,
a necessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou o na qual obrigatoriamente constará, dentre outros: (LEI 12.010 DE
adolescente se encontram no momento em que a decisão é tomada; 2009).
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou
de modo que os pais assumam os seus deveres para com a criança de seu responsável, se conhecidos;
e o adolescente; II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na pontos de referência;
proteção da criança e do adolescente deve ser dada prevalência às III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-
medidas que os mantenham ou reintegrem na sua família natural los sob sua guarda;
ou extensa ou, se isto não for possível, que promovam a sua IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio
integração em família substituta; familiar.

Didatismo e Conhecimento 38
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
§ 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou do § 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o
adolescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
institucional ou familiar elaborará um plano individual de Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente
atendimento, visando à reintegração familiar, ressalvada a e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar sobre a
existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de implementação de políticas públicas que permitam reduzir o
autoridade judiciária competente, caso em que também deverá número de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar
contemplar sua colocação em família substituta, observadas as e abreviar o período de permanência em programa de acolhimento.
regras e princípios desta Lei. (LEI 12.010 DE 2009). (LEI 12.010 DE 2009).
§ 5o O plano individual será elaborado sob a responsabilidade Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo
da equipe técnica do respectivo programa de atendimento e levará serão acompanhadas da regularização do registro civil.
em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva § 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o assento
dos pais ou do responsável. (LEI 12.010 DE 2009). de nascimento da criança ou adolescente será feito à vista dos
§ 6o Constarão do plano individual, dentre outros: (LEI elementos disponíveis, mediante requisição da autoridade
12.010 DE 2009). judiciária.
I - os resultados da avaliação interdisciplinar; § 2º Os registros e certidões necessários à regularização de
II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e que trata este artigo são isentos de multas, custas e emolumentos,
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a gozando de absoluta prioridade.
criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou responsável, § 3o Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado
com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por procedimento específico destinado à sua averiguação, conforme
expressa e fundamentada determinação judicial, as providências a previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezembro de 1992. (LEI
serem tomadas para sua colocação em família substituta, sob direta 12.010 DE 2009).
supervisão da autoridade judiciária. § 4o Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dispensável
§ 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no o ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo
local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e, Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do
como parte do processo de reintegração familiar, sempre que suposto pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for
encaminhada para adoção. (LEI 12.010 DE 2009)
identificada a necessidade, a família de origem será incluída em
programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social,
No sistema penal vigente no Brasil faz-se uma distinção entre
sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o
crime e contravenção, esta qualificada como crime anão ou delito
adolescente acolhido. (LEI 12.010 DE 2009).
menos importante, de menor gravidade, a que se aplica uma pena
§ 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o
mais branda (multa ou prisão simples).
responsável pelo programa de acolhimento familiar ou institucional
Assim como o Código de Menores de 1979, o Estatuto abriga
fará imediata comunicação à autoridade judiciária, que dará vista
esta classificação dicotômica ao consignar que ato infracional é a
ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em
conduta descrita como crime ou contravenção.
igual prazo. (LEI 12.010 DE 2009). Na estreia do Código Penal de 1940 e da reforma de sua Parte
§ 9o Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração Geral de 1984, bem como da Carta Magna, estipula o ECA que
da criança ou do adolescente à família de origem, após seu são penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos
encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, às medidas nele previstas, agregando, em seguida, que deve ser
apoio e promoção social, será enviado relatório fundamentado ao considerada, para efeitos da lei, a idade do adolescente à data do
Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das fato.
providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos Separados os menores, consoante sua faixa etária em dois
técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política grupos, distingue o diploma tutelar, por igual, as medidas aplicáveis
municipal de garantia do direito à convivência familiar, para a à criança e ao adolescente pelo cometimento de ato infracional.
destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda. Convenciona o art. 105 que ao ato praticado por criança
(LEI 12.010 DE 2009). corresponderão as medidas de prevenção contidas no art. 101, a
§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo saber:
de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de destituição do I - encaminhamento dos pais ou responsável mediante termo
poder familiar, salvo se entender necessária a realização de de responsabilidade;
estudos complementares ou outras providências que entender II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
indispensáveis ao ajuizamento da demanda. (LEI 12.010 DE III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento
2009). oficial de ensino fundamental;
§ 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou IV - inclusão em programas comunitário ou oficial de auxílio
foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas à família, à criança e ao adolescente;
sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento V - requisição de tratamento médico, psicólogo ou psiquiátrico,
familiar e institucional sob sua responsabilidade, com informações em regime hospitalar ou ambulatorial;
pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como as VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
providências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
em família substituta, em qualquer das modalidades previstas no VII - abrigo em entidade;
art. 28 desta Lei. (LEI 12.010 DE 2009). VIII - colocação em família substituta.

Didatismo e Conhecimento 39
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Ao Conselho Tutelar, órgão municipal permanente, autônomo, III - defesa técnica por advogado;
não-jurisdicional, composto de cinco membros, escolhidos pela IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados,
comunidade, caberá atender as crianças autoras de ato infracional, na forma da lei;
aplicando as medidas do art. 101, incisos I a VII. Enquanto não V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
instalado o Conselho, porém, suas atribuições serão exercidas pela competente;
autoridade judiciária (o juiz da infância e da juventude ou o juiz VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável
que exerce essa função, na forma da Lei de Organização Judiciária em qualquer fase do procedimento.
local). O leque dessas garantias constitui, sem dúvida, um
Se o ato infracional tiver como autor um adolescente, a extraordinário avanço do Direito da Infância e da Juventude no
autoridade competente poderá administrar-lhe medidas que o sentido de oferecer ao adolescente a plena tutela jurisdicional do
legislador alcunhou de socioeducativas e que estão relacionadas no Estado.
art. 112, além de qualquer uma das medidas de proteção constantes Medidas Socioeducativas
dos incisos I a VI do art. 101. Endereçadas ao adolescente autor de ato infracional, as
Em consonância com o art. 5º, incisos LXI, da Constituição medidas socioeducativas visam, em primeiro plano, sua (re)
Federal, o Estatuto admite duas modalidades de apreensão legal integração familiar e comunitária, devendo ter em conta, em sua
quando preceitua que nenhum adolescente será privado de sua aplicação individualizada, a capacidade do jovem de cumpri-la,
liberdade a não ser em flagrante de ato infracional ou por ordem bem como as circunstâncias e a gravidade da infração.
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. O ECA as enumera em seu art. 112:
Considera-se, aliás, em flagrante delito, a teor do art. 302 do I - advertência;
Código de Processo Penal, quem: II - obrigação de reparar o dano;
I - está cometendo a infração penal; III - prestação de serviços à comunidade;
II - acaba de cometê-la; IV - liberdade assistida;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido V - inserção em regime de semiliberdade;
ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor VI - internação em estabelecimento educacional;
da infração; VII - qualquer uma das formas previstas no art. 101, I a VI.
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, Aplicáveis isolada ou cumulativamente, ditas medidas podem
objetos ou papéis, que façam presumir ser ele autor da infração.
ser substituídas a qualquer tempo pela autoridade competente se
Com o fim de protegê-lo em sua integridade física e moral
assim julgar necessário, com amparo em parecer técnico.
de arbitrariedades e constrangimentos que amiúde se verificam,
De cada uma trataremos a seguir, assinalando-se que as
prevê-se não apenas que o adolescente tem assegurado o acesso
medidas de proteção já foram objeto de referência e a imposição
à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo
das medidas constantes dos incisos II a VI pressupõe existir provas
informar-se-lhe sobre seus direitos (de ser assistido pela família
suficientes da autoria e da materialidade da infração, tirante a
ou por seu advogado; de permanecer calado), como também que
sua apreensão e o local onde se acha recolhido serão incontinenti hipótese da remissão, nos termos da lei.
comunicados à autoridade judiciária competente e à família do
apreendido ou à pessoa por ele indicada. Advertência
A lei recomenda, comparecendo qualquer dos pais ou Medida mais branda, recomendável a primários ou autores
responsável, a soltura imediata do adolescente, sob termo de atos infracionais leves e aplicada com a presença dos pais
de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao ou responsável (até mesmo porque a estes também se destina),
representante do MP no mesmo dia ou no primeiro dia útil imediato. a advertência, com acentuado matiz preventivo, consiste e
A liberação, no entanto, não deve ocorrer se o ato infracional for admoestação verbal, reduzida a termo e assinada.
grave e por sua repercussão social deva o adolescente permanecer
internado, seja para garantir sua segurança pessoal, seja para Obrigação de Reparar o Dano
manter a ordem pública. De conteúdo punitivo e pedagógico, a medida, substituível
Na hipótese de julgar-se necessária a internação provisória por outra adequada se manifestamente impossível, pode ser
(custódia cautelar), antes da sentença, esta se dará pelo prazo aplicada pela autoridade quando o ato infracional tiver reflexos
máximo de quarenta e cindo dias, mediante decisão que deverá patrimoniais. O adolescente poderá ser obrigado, se for o caso, a
ser fundamentada e apoiar-se em indícios suficientes de autoria restituir a coisa, promover o ressarcimento do dano ou, de outro
e materialidade, demonstrando o caráter imperioso da medida modo, compensar o prejuízo da vítima.
segregativa. Em registro tenha-se que a obrigação de reparar o dano
Com esteio no texto constitucional, onde se refere que inadmite, expressamente, como forma de compensação do prejuízo,
ninguém (expressão que compreende, inequivocamente, o menor o trabalho forçado, proibido igualmente pela Constituição Federal.
de 18 anos) será privado de sua liberdade sem o devido processo
legal, os estatutistas inscreveram a observância desta norma em Prestação de Serviços à Comunidade
relação ao adolescente, a quem se assegurou, entre outras, no art. Não contemplada pelo Código de 1979, mas constante na
111, as seguintes garantias: legislação penal como pena restritiva de direito, a prestação
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato de serviços é uma medida alternativa à internação e consiste na
infracional, mediante citação ou meio equivalente; realização de tarefas gratuitas, de interesse geral, por um período
II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se não superior a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais,
com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias escolas, outros estabelecimentos congêneres, bem assim em
à sua defesa; programas desenvolvidos pela comunidade ou pelo governo.

Didatismo e Conhecimento 40
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
As tarefas, atribuídas conforme as aptidões do adolescente hipóteses: ato infracional cometido mediante grave ameaça ou
(e com sua concordância, na opinião de alguns autores, pois, violência a pessoa; reiteração no cometimento de outras infrações
ao contrário, caracterizar-se-ia o trabalho forçado), devem ser graves; descumprimento reiterado e injustificável da medida
cumpridas com duração máxima de oito horas semanais, aos anteriormente imposta. Além do mais, alcançado o limite máximo
sábados, domingos e feriados, ou em dias úteis, de maneira a não de três anos, deverá o adolescente ser liberado, posto em regime de
afetar a freqüência à escola ou à jornada normal de trabalho. semiliberdade ou de liberdade assistida, sendo compulsória a sua
liberação aos 21 anos de idade;
Liberdade Assistida c. respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento
Forma aperfeiçoada da liberdade vigiada e tida unanimemente (ao Estado compete zelar pela sua integridade física e moral, para
como a mais importante, a mais eficaz de todas as medidas isso adotando medidas apropriadas de contenção e segurança).
socioeducativas, a liberdade assistida, prevista no Código de 1979 Permitida a realização de atividades externas, a internação
para o menor infrator e o menor com desvio de conduta, é adotada, deverá cumprir-se em entidade exclusiva para adolescentes
nos termos do ECA, sempre que se afigurar a mais conveniente (retirou-se a possibilidade anterior de sê-lo em unidades penais),
para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente que onde serão obrigatórias atividade pedagógicas, obedecer-se-á
haja cometido ato infracional. a rigorosa separação (com fundamento em três critérios: idade,
Sabidamente de caráter educativo e preventivo, sua aplicação compleição física e gravidade da infração) e se assegurarão ao
é sugerida a reincidentes, a habituais em atos delituosos, e deve adolescente privado de liberdade os direitos elencados no art. 124.
ser fixada pelo prazo máximo de seis meses, sujeita a sofrer
prorrogação ou ser revogada e substituída por outra medida. Apuração de ato infracional
Ao orientador, pessoa capacitada para acompanhar o caso e O Estatuto apenas prevê a forma de apuração do ato infracional
que pode ser indicada por entidade ou programa de atendimento, atribuído a adolescente; tratando-se de criança, a competência é
incumbe, apoiado e supervisionado pela autoridade competente, do Conselho Tutelar e, à falta deste, da autoridade judiciária, que
realizar encargos como o de promover socialmente o adolescente poderá, nos termos do art. 153, investigar os fatos e ordenar de
e sua família, supervisionar sua freqüência e aproveitamento ofício as providências necessárias, ouvido o Ministério Público.
escolar, diligenciar para profissionalizá-lo e inseri-lo no mercado
de trabalho, além de apresentar relatório do caso. Procedimento na Fase Policial
Eis o depoimento de Sotto Maior (1992) “...não temos dúvida
De acordo com a forma de apreensão do adolescente a quem
em afirmar que, do elenco das medidas socioeducativas, a que
se atribua autoria do ato infracional, estabelece a lei uma nítida
se mostra com as melhores condições de êxito é a da liberdade
distinção no procedimento a ser adotado:
assistida, porquanto se desenvolve direcionada a interferir na
a. se a apuração for decorrente de ordem judicial, este será,
realidade familiar e social do adolescente, tencionando resgatar,
desde logo, encaminhado à autoridade judiciária;
mediante apoio técnico, as suas potencialidades.”
b. se ocorrer em flagrante, será, desde logo, conduzido à
autoridade policial competente.
Regime de Semiliberdade
Na hipótese de existência de repartição policial especializada
Os adolescentes, a que se aplique a semiliberdade,
identificada, no plano dos adultos, com a prisão albergue, podem para atendimento de adolescentes, é mister anotar que,
exercer atividades externas durante o dia (trabalho e/ou freqüência diferentemente do Código de Menores, se o ato infracional
à escola), recolhendo-se no período noturno a uma entidade de houver sido praticado em co-autoria com maior, ambos serão
atendimento. encaminhados de início à unidade especializada e só depois,
O regime, que exige acompanhamento técnico, pode efetivar- tomadas as providências cabíveis, será o adulto encaminhado à
se de duas formas: a. desde o princípio; b. a título de progressão, repartição policial própria.
como forma de transição do internato para o meio aberto. O certo é que o adolescente não poderá ser levado com o maior
Fazendo uso, quando possível, de recursos comunitários, com a uma delegacia comum para, em seguida, ser transferido a uma
a oferta obrigatória de escolarização e profissionalização, a medida especializada. Como anuncia a lei, prevalecerá a atribuição desta.
que não tem prazo determinado, embora a lei autorize que se lhe Entretanto, inexistindo repartição especializada, o que é regra
apliquem, no que couber, as disposições concernentes à internação. em regiões interioranas, o adolescente será transportado a uma
delegacia comum, onde aguardará a apresentação em dependência
Internação separada daquela que se destina a maiores, não podendo, em
Tal como definida pelo Estatuto, a internação é uma medida qualquer hipótese, exceder o prazo de 24 horas.
privativa de liberdade. Aplicável pela autoridade judiciária em Em caso de flagrante, atenta-se para a dicotomia de
decisão fundamentada, assenta-se em três princípios básicos: procedimento:
a. brevidade (sem tempo determinado, sua manutenção é a. se o ato infracional for cometido mediante violência ou grave
reavaliada no máximo a cada seis meses e jamais excederá a três ameaça a pessoa (exemplos: roubo, estupro), a autoridade policial
anos); deverá: lavrar o auto de apreensão, ouvindo as testemunhas e o
b. excepcionalidade (de caráter residual), a internação só adolescente; apreender o produto e os instrumentos da infração;
será aplicada em última hipótese, ou seja, se forem inviáveis ou requisitar os exames de perícias necessárias à comprovação da
malograr as demais medidas, dela se podendo aduzir o que Michel materialidade e autoria da infração;
Foucault afirmou sobre as prisões: “é a detestável solução b. nas demais hipóteses, boletim de ocorrência circunstanciado
de que não se pode abrir mão.” Admite-se somente em três poderá substituir a lavratura do auto.

Didatismo e Conhecimento 41
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Não cabendo a liberação imediata, cuja possibilidade é socioeducativa que se afigurar a mais conveniente, será oferecida
examinada desde logo e sob pena de responsabilidade, a autoridade por petição, com breve resumo dos fatos e a classificação do ato
policial, evidenciada a gravidade do ato infracional (por grave infracional e, quando preciso, rol de testemunhas, podendo
se estende aquele ato punível pela lei penal com reclusão) e sua ser deduzida oralmente, em sessão diária (inovação do ECA),
repercussão social, indicativas da necessidade de o adolescente instalada pela autoridade judiciária. Nela o representante do MP
permanecer internado para garantia de sua segurança pessoal não deve especificar a medida a ser aplicada, uma vez que só na
ou manutenção de ordem pública, conduzi-lo-á, desde logo, ao continuidade do procedimento, depois da apresentação do laudo
representante do MP junto com a cópia do auto de apreensão ou da equipe interprofissional, é que se terá noção da medida que mais
boletim de ocorrência. se adequa ao adolescente.
Pode suceder, porém, que não seja possível a apresentação Estando o adolescente internado, será, então, imediatamente
imediata ao MP e, nesta circunstância, a autoridade policial posto em liberdade.
encaminhará o adolescente a entidade de atendimento (vedada sua Concluído a autoridade judiciária pela necessidade de
condução ou transporte em compartimento fechado de veículo internação ou regime de semiliberdade, a intimação da sentença
policial - os chamados “camburões” ou “tintureiros” -, em que aplicar uma dessas duas medidas será feita: ao adolescente e
condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à ao seu defensor; quando não for encontrado o adolescente, a seus
sua integridade física ou mental) e o dirigente desta, no prazo de pais ou responsável, sem prejuízo do defensor.
24 horas, fará a apresentação ao representante do MP. Concluindo, porém, pela aplicação de outra medida, a
Se, por outra parte, não houver entidade de atendimento, a intimação far-se-á unicamente na pessoa do defensor.
apresentação terá que ser feita pela autoridade policial, advertindo- Se a intimação recair na pessoa do adolescente, este deverá
se, consoante já realçado, que a eventual permanência do manifestar se quer recorrer ou não da sentença.
adolescente em delegacia comum deverá ser dependência separada Em tempo se noticie: o sistema recursal, nos procedimentos
da destinada a maiores. afetos à Justiça da Infância e da Juventude, é o do Código de
Cabendo a liberação, a autoridade policial encaminhará Processo Civil e suas alterações ulteriores, com as adaptações
imediatamente ao representante do MP cópia do auto de apreensão referidas pelo art. 198 do ECA.
ou boletim de ocorrência.
Por último, não tendo sido o adolescente flagranciado na O Sistema Informal
prática de ato infracional, a autoridade policial fará chegar às Nos últimos anos tem-se revigorado no país um movimento
mãos do representante do MP relatório das investigações e demais favorável à redução para 16 anos da idade-limite da responsabilidade
documentos penal, de que trata o art. 104 do ECA, sob a justificativa de que
nesta faixa etária se alcança a plena maturidade biopsicossocial
Procedimento do Ministério Público e que o rebaixamento, mercê de sua força intimidativa, serviria
O adolescente, liberado anteriormente ou mantido sob custódia, para conter os elevados índices da violência praticada por
nos termos da lei estatuária, será apresentado ao representante do adolescentes, maiormente nas áreas urbanas.
MP, a quem caberá, no mesmo dia, proceder imediatamente, sem Entendem alguns que um grande número de jovens delinquem
formalidades, à sua oitiva e, se possível, dos pais ou responsável, encorajados pela impunidade e que as garantias processuais
vítimas e testemunhas. recepcionadas pelo Estatuto os tornam praticamente inalcançáveis,
O MP, à vista do auto de apreensão, boletim de ocorrência deixando-os imunes às sanções nele previstas, o que contribui
ou relatório policial, devidamente autuado no cartório judicial e para a exacerbação da delinquência infanto-juvenil.
com informação sobre os antecedentes do adolescente, terá, como Verdade é que muitos policiais, mal orientados, fazem vista
dominis litis, as seguintes opções: a. promover o arquivamento grossa às ações delitivas desses jovens (quando não participam,
dos autos; b. conceder a remissão (a qual não prevalece para no outro extremo, de grupos de extermínio), com o beneplácito
efeito de antecedentes e pode incluir eventualmente a aplicação de um vasto segmento populacional que rechaça qualquer postura
de qualquer medida, excetuando-se a colocação em regime repressiva em relação a adolescentes infratores, a pretexto de
de semiliberdade e a internação); c. representar à autoridade sua condição de vítima da sociedade, como se a vitimização
judiciária para aplicação de medida socioeducativa. constituísse um aval permanente para a criminalidade.
Nas duas primeiras opções, que exigem fundamentação Por outro lado, a falta de meios, de equipamentos, a despeito
contendo o resumo dos fatos, os autos serão conclusos à da “destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
autoridade judiciária para homologação. Esta, evidentemente, relacionadas com a proteção à infância e à juventude” (ECA,
poderá ocorrer ou não. Se ocorrer, a autoridade judiciária art. 4º, parágrafo único, alínea a) torna inexequíveis numerosas
determinará o cumprimento da medida. Se não ocorrer, ou seja, se conquistas da nova lei.
houver discordância, fará remessa dos autos ao Procurador Geral
da Justiça, autoridade superior do Ministério Público, mediante Já foi dito que muitas cidades do país, sobretudo do interior,
despacho fundamentado, e este tomará uma das seguintes não possuem delegacias especializadas para atendimento
providências: oferecerá representação; designará outro membro do a adolescentes infratores. Esta, aliás, é uma realidade que
MP para apresentá-la; ou ratificará o arquivamento ou a remissão dificilmente mudará a curto ou médio prazo.
que só então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar. De igual modo inexistentes fora do âmbito das capitais,
Na terceira opção, a representação ministerial, que independe as unidades de internação costumam apresentar profundas
de prova pré-constituída da autoria e da materialidade e que deficiências e identificar-se, em certos aspectos, com os cárceres
proporá a instauração de procedimento para aplicação da medida dos adultos. Neles, via de regra, são visivelmente frágeis as

Didatismo e Conhecimento 42
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
medidas de contenção e segurança (oportunizando constantes A retrospectiva feita na Introdução mostrou-nos este gradual
evasões) e impróprias às condições de vida dos adolescentes que, desmembramento da legislação penal e a consolidação de uma
privados de liberdade, sem a separação prevista na lei (por critérios corrente humanista, que leva em conta a condição peculiar
de idade, compleição física e gravidade da infração), encaram do(a) menino(a) como pessoa em desenvolvimento e dá ênfase
certamente com desencanto os direitos relacionados no art. 124 às medidas que perseguem o fortalecimento de seus vínculos
do ECA (entre os quais o de ser tratado com respeito e dignidade; familiares e comunitários.
habitar alojamento em condições de higiene e salubridade; receber Nessa evolução histórica teve um papel de relevo o Código
escolaridade e profissionalização; realizar atividades culturais, de Menores de 1979, pelas mudanças que provocou no tratamento
esportivas e de lazer). do menor infrator, ao exigir, por exemplo, que se considerasse,
Incluída entre as medidas socioeducativas, a prestação de em sua aplicação, o contexto socioeconômico e cultural em que se
serviços à comunidade tem sido pouco imposta pelos juízes, encontrassem o menor e seus pais ou responsável, além do estudo
que apontam, entre as razões inibidoras, a insuficiência do apoio de cada caso, realizado por equipe de que participasse pessoal
comunitário e governamental. técnico, sempre que possível, assinalando, inclusive, a prevalência
Semelhantemente, a liberdade assistida, apesar de suas dos interesses do menor sobre qualquer outro bem ou interesse
virtudes, reconhecidas por todos, sequer se implantou em alguns juridicamente tutelado.
Foi feliz o Código, no disciplinamento das medidas aplicáveis
estados, enquanto em outros se acha em manifesta decadência ou
ao menor autor de infração penal, ao substituir a liberdade vigiada
foi desativada por falta de recursos.
prevista no Código Mello Mattos pela liberdade assistida e dispor
Por estes e outros fatores, a internação, com todas suas
que a internação somente seria determinada se fossem inviáveis ou
mazelas, tende a perder o caráter residual, empregando-se, ao
malograssem as demais medidas.
arrepio da lei, com uma constância de todo condenável. É absolutamente certo que uma análise detida da Lei 6.697 nos
A apuração do ato infracional atribuído a adolescente é levaria a concluir que, apesar de suas imperfeições, representou
prejudicada também pela falta de qualificação de um bom número esta, em sua época, um avanço notável no enfrentamento do
de profissionais que atuam neste campo, os quais geralmente se problema do “menor”.
revelam insuficientemente familiarizados com a lei (e isso se Não resta dúvida, porém, que o Estatuto da Criança e do
explica, em parte, pelo fato de muitas academias de polícia civil e Adolescente deu um passo importantíssimo ao definir uma nova
militar e cursos de direito, a nível de graduação e pós-graduação, política de atendimento, com a participação da comunidade, e
não incluírem em seus currículos a disciplina “Direito da Infância adotar a doutrina da proteção integral, advertindo para a percepção
e da Juventude”). das crianças e adolescentes como sujeito de direitos e objetos de
Ao despreparo mencionado se adiciona a carência de equipes prioridade absoluta.
interprofissionais (obstaculizante dos estudos de caso, suporte de Nas disposições sobre a prática do ato infracional, há que
definição das medidas socioeducativas), bem como, a escassez realçar o estabelecimento de medidas diferenciadas para crianças
de defensores públicos que incumbam de prestar-lhe assistência e adolescentes, assim como a garantia de que nenhum adolescente
jurídica. será privado de sua liberdade senão em flagrante ou por ordem
Os Conselhos Tutelares - entre cujas atribuições está a de escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, uma
atender as crianças e adolescentes, aplicando as medidas previstas equiparação aos adultos que se impunha na nova lei.
no art. 101, I a VII, assim como providenciar a medida estabelecida Acerca das medidas socioeducativas convém registrar
pela autoridade judiciária, entre as previstas no citado artigo, de repetidamente: a. a exigência de se considerar a capacidade
I a VI, para o adolescente autor de ato infracional - não foram do adolescente de cumpri-las, bem como as circunstâncias e a
instalados na maioria das comarcas do país, embora tenha a lei gravidade da infração; b. a proibição do trabalho forçado; c. a
entrado em vigor em 1990. pressuposição da existência de provas suficientes da autoria e da
De um certo modo, o desinteresse dos governantes (que materialidade da infração, ressalvada a hipótese da remissão; d.
efetivamente nunca priorizaram a infância e a juventude, numa a inclusão da medida de prestação de serviços à comunidade, por
política distorcida que resultou na marginalização de milhões período não excedente a seis meses.
Atento às mazelas da internação - um dos principais
de crianças e no consequente aumento da delinquência infanto-
desafios do Estatuto - o legislador sujeitou-a aos princípios da
juvenil), a apatia da comunidade (cúmplice em sua indiferença)
brevidade, excepcionalidade e respeito à condição de pessoa em
e o alheamento de promotores, juízes e advogados (muitos dos
desenvolvimento; estabeleceu a reavaliação de sua manutenção
quais amarrados a normas e princípios informadores do Código
no máximo a cada seis meses; fixou o período máximo de três
de Menores e refratários às mudanças estabelecidas pelo Estatuto), anos de internação, com liberação compulsória aos 21 anos de
concorrem fortemente para que se alargue o fosso entre o texto idade; e arrolou os direitos do adolescente privado de liberdade,
legal e a práxis. reafirmando o dever do Estado de zelar por sua integridade física
e mental.
Sumário Ante as normas reguladoras da apuração da infração penal,
Nascido do Direito Penal, o Direito da Infância e da Juventude é evidente o cuidado não apenas de impedir que a investigação
foi fruto de uma preocupação básica: a de substituir as penas, policial se torne traumatizante, mas também de assegurar, de
anteriormente cominadas aos menores, de natureza essencialmente conformidade com o art. 111, o pleno e formal conhecimento da
retributiva, por medidas profiláticas e pedagógicas, que tivessem atribuição do ato, a igualdade na relação processual e a defesa
como objetivo maior sua (re)inserção social. técnica por advogado.

Didatismo e Conhecimento 43
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Instrumento indispensável à função jurisdicional do Estado, § 2º Nas localidades onde não houver entidade de
o Ministério Público, por outro lado, fortaleceu-se sobremaneira atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial. À
no Estatuto, competindo-lhe promover e acompanhar os falta de repartição policial especializada, o adolescente aguardará
procedimentos relativos às infrações atribuídas a adolescentes e a apresentação em dependência separada da destinada a maiores,
conceder a remissão como forma de exclusão do processo. não podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no
A par dos pontos positivos, o ECA representa, contudo, parágrafo anterior.
alguns equívocos que devem ser corrigidos como, por exemplo, a Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial
ambiguidade de certos dispositivos e a adoção do sistema recursal encaminhará imediatamente ao representante do Ministério
do Código do Processo Civil para os procedimentos de natureza Público cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência.
penal. Por isso mesmo, não se pode desconhecer, com os olhos Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios
voltados inclusive para futuras alterações na lei, as reflexões de participação de adolescente na prática de ato infracional, a
críticas que têm sido feitas, com percuciência e objetividade, autoridade policial encaminhará ao representante do Ministério
por juristas de nomeada, o que permitirá os ajustes que se fazem Público relatório das investigações e demais documentos.
necessários. (Texto adaptado de César Barros Leal. Professor da Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato
Universidade Federal do Ceará). infracional não poderá ser conduzido ou transportado em
Confira as disposições do ECA: compartimento fechado de veículo policial, em condições
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua
Seção V integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Adolescente Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do
Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão,
Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados
judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária. pelo cartório judicial e com informação sobre os antecedentes do
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato adolescente, procederá imediata e informalmente à sua oitiva e, em
infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade policial sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas.
competente. Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o representante
Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada
do Ministério Público notificará os pais ou responsável para
para atendimento de adolescente e em se tratando de ato infracional
apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das
praticado em co-autoria com maior, prevalecerá a atribuição da
polícias civil e militar.
repartição especializada, que, após as providências necessárias
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo
e conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial
anterior, o representante do Ministério Público poderá:
própria.
I - promover o arquivamento dos autos;
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido
II - conceder a remissão;
mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade
III - representar à autoridade judiciária para aplicação de
policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo único,
e 107, deverá: medida socioeducativa.
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou concedida
adolescente; a remissão pelo representante do Ministério Público, mediante
II - apreender o produto e os instrumentos da infração; termo fundamentado, que conterá o resumo dos fatos, os autos
III - requisitar os exames ou perícias necessários à serão conclusos à autoridade judiciária para homologação.
comprovação da materialidade e autoria da infração. § 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a judiciária determinará, conforme o caso, o cumprimento da
lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de ocorrência medida.
circunstanciada. § 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho
o adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial, fundamentado, e este oferecerá representação, designará outro
sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação membro do Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará
ao representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo o arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade
impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela judiciária obrigada a homologar.
gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do
adolescente permanecer sob internação para garantia de sua Ministério Público não promover o arquivamento ou conceder
segurança pessoal ou manutenção da ordem pública. a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária,
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial propondo a instauração de procedimento para aplicação da medida
encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do socioeducativa que se afigurar a mais adequada.
Ministério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou § 1º A representação será oferecida por petição, que conterá
boletim de ocorrência. o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional e,
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida
policial encaminhará o adolescente à entidade de atendimento, oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária.
que fará a apresentação ao representante do Ministério Público no § 2º A representação independe de prova pré-constituída da
prazo de vinte e quatro horas. autoria e materialidade.

Didatismo e Conhecimento 44
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a conclusão do II - não haver prova da existência do fato;
procedimento, estando o adolescente internado provisoriamente, III - não constituir o fato ato infracional;
será de quarenta e cinco dias. IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para o
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária ato infracional.
designará audiência de apresentação do adolescente, decidindo, Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o
desde logo, sobre a decretação ou manutenção da internação, adolescente internado, será imediatamente colocado em liberdade.
observado o disposto no art. 108 e parágrafo. Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de
§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão internação ou regime de semiliberdade será feita:
cientificados do teor da representação, e notificados a comparecer I - ao adolescente e ao seu defensor;
à audiência, acompanhados de advogado. II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais ou
§ 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a responsável, sem prejuízo do defensor.
autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente. § 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á
§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade unicamente na pessoa do defensor.
judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, determinando § 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deverá
o sobrestamento do feito, até a efetiva apresentação. este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença. (Texto
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a sua adaptado de Prof. Rachid Silva).
apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais ou responsável.
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela autoridade
judiciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento prisional. NORMATIVAS INTERNACIONAIS PARA
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as características A PROTEÇÃO DE JOVENS PRIVADOS DE
definidas no art. 123, o adolescente deverá ser imediatamente LIBERDADE E PARA A ADMINISTRAÇÃO
transferido para a localidade mais próxima. DA JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente JUVENTUDE (ONU - UNICEF).
aguardará sua remoção em repartição policial, desde que em
seção isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não
podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob pena de
responsabilidade. Regras das Nações Unidas para Proteção de Jovens Privados
de Liberdade
Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou
responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mesmos,
A Assembléia Geral,
podendo solicitar opinião de profissional qualificado.
Tendo em consideração a Declaração Universal dos Direitos
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão,
Humanos, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, a
ouvirá o representante do Ministério Público, proferindo decisão.
Convenção contra a Tortura e outras Penas ou Tratamentos Cruéis,
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de
Desumanos ou Degradantes, a Convenção sobre os Direitos da
internação ou colocação em regime de semiliberdade, a autoridade
Criança assim como outros instrumentos internacionais relativos
judiciária, verificando que o adolescente não possui advogado à proteção dos direitos e ao bem-estar dos jovens.
constituído, nomeará defensor, designando, desde logo, audiência Tendo também em consideração as Regras Mínimas para o
em continuação, podendo determinar a realização de diligências e tratamento de Reclusos adotadas pelo Primeiro Congresso das
estudo do caso. Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos
§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo Delinquentes,
de três dias contado da audiência de apresentação, oferecerá defesa Tendo ainda em consideração o Conjunto de Princípios para a
prévia e rol de testemunhas. Proteção de Todas as Pessoas Sujeitas a Qualquer Forma de Deten-
ção ou Prisão, aprovado pela Assembléia Geral na sua Resolução
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas 43/173, de 9 de Dezembro de 1988, e anexa a esta última,
arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as Lembrando as Regras Mínimas das Nações Unidas para a
diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional, Administração da Justiça da Infância e da Juventude (Regras de
será dada a palavra ao representante do Ministério Público e ao Beijing).
defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada Lembrando igualmente a Resolução 21 do Sétimo Congresso
um, prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento
que em seguida proferirá decisão. dos Delinquentes, no qual o Congresso pedia o desenvolvimento
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não das Regras das Nações Unidas para a Proteção de Jovens Privados
comparecer, injustificadamente à audiência de apresentação, de Liberdade,
a autoridade judiciária designará nova data, determinando sua Lembrando ainda que o Conselho Econômico e Social, na
condução coercitiva. Resolução 1986/10, seção II, de 21 de Maio de 1986, pediu ao
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão do Secretário-Geral para relatar ao Comitê para a Prevenção do Crime
processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do procedimento, e a Luta Contra a Delinquência, na sua décima sessão, os progres-
antes da sentença. sos realizados em relação às Regras e pedia ao Oitavo Congresso
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento
medida, desde que reconheça na sentença: dos Delinquentes que considerasse as Regras propostas com vista
I - estar provada a inexistência do fato; à sua adoção,

Didatismo e Conhecimento 45
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Alarmada com as condições em que os jovens são privados da 11. Incita todos os organismos competentes do sistema das
sua liberdade em todo o mundo, Nações Unidas, em especial o Fundo das Nações Unidas para a In-
Consciente de que os jovens privados de liberdade são alta- fância, as comissões regionais e entidades especializadas, os insti-
mente vulneráveis aos maus tratos, vitimização e violação dos seus tutos das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamen-
direitos, to dos Delinquentes e todas as organizações intergovernamentais
Preocupada com o fato de muitos sistemas não diferenciarem e não-governamentais interessadas, a colaborarem com o Secretá-
adultos e jovens nos vários estágios da administração da justiça e rio-Geral e a tomarem as medidas necessárias para assegurar um
com o fato de os jovens serem assim detidos em prisões e outros esforço concertado e apoiado, dentro de seus respectivos campos
estabelecimentos com adultos, de competência técnica, para promoverem a aplicação das Regras;
12. Convida a subcomissão para a Prevenção da Discrimina-
1. Declara que a colocação de um jovem numa instituição ção e a Proteção das Minorias da Comissão dos Direitos do Ho-
deve ser sempre uma decisão do último recurso e pelo mínimo mem a considerar este novo instrumento internacional, tendo em
período de tempo necessário; vista promover a aplicação das suas disposições;
2. Reconhece que, dada a sua alta vulnerabilidade, os jovens 13. Pede ao Nono Congresso que examine os progressos efe-
privados de liberdade requerem uma atenção e proteção especiais
tuados na promoção e aplicação das Regras e das recomendações
e que os seus direitos e bem-estar devem ser garantidos durante e
contidas na presente resolução, num ponto distinto dos trabalhos,
depois do período em questão privados de liberdade;
relativos à justiça de adolescentes.
3. Nota com apreço o trabalho com apreço o trabalho valioso
do Secretariado das Nações Unidas e a colaboração que se estabe-
leceu na preparação do projeto das Regras das Nações Unidas para 68ª Sessão plenária
a Proteção de Jovens Privados de Liberdade entre o Secretariado 14 de Dezembro de 1990.
e os peritos, os práticos, as organizações intergovernamentais, o
conjunto de organizações não governamentais, em especial a Anis- ANEXO
tia Internacional, a Defesa Internacional das Crianças, e Rädda REGRAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA PROTEÇÃO DE
Barnen Internacional (Federação Sueca de Proteção da Juventude) JOVENS PRIVADOS DE LIBERDADE
e as instituições científicas preocupadas com os direitos das crian-
ças e a justiça de adolescentes; I - PERSPECTIVAS FUNDAMENTAIS
4. Adota as Regras das Nações Unidas para a Proteção de Jo-
vens Privados de Liberdade contida em anexo à presente resolu- 1. O sistema de justiça de crianças e adolescentes deve respei-
ção; tar os direitos e a segurança dos jovens e promover o seu bem-estar
5. Pede ao Comitê para a Prevenção do Crime e a Luta con- físico e mental. A prisão deverá constituir uma medida de último
tra a Delinquência que formule medidas para aplicação eficaz das recurso.
Regras, com a assistência dos institutos das Nações Unidas para a 2. Os adolescentes só devem ser privados de liberdade de
prevenção do Crime e Tratamento dos Delinquentes; acordo com os princípios e processos estabelecidos nestas Regras
6. Convida os Estados membros a adaptarem, quando neces- e nas Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da
sário, a sua legislação, práticas, políticas nacionais, em especial Justiça da Infância e da Juventude (Regras de Beijing). A privação
no que respeita à formação de todas as categorias de pessoal da de liberdade de um adolescente deve ser uma medida de último re-
justiça de adolescentes, ao espírito das Regras, e a levá-las ao co- curso e pelo período mínimo necessário e deve ser limitada a casos
nhecimento das autoridades a quem digam respeito e ao público excepcionais. A duração da sanção deve ser determinada por uma
em geral. autoridade judicial, sem excluir a possibilidade de uma libertação
7. Convida também os Estados membros a informarem o Se- antecipada.
cretário-Geral dos seus esforços para aplicarem as Regras no nível 3. As Regras têm como objetivo estabelecer um conjunto de
da sua legislação, política e prática e a relatarem regularmente ao
regras mínimas aceitáveis pelas Nações Unidas para a proteção
Comitê para a Prevenção do Crime e a Luta contra a Delinquência
dos jovens privados de liberdade sob qualquer forma, compatíveis
os resultados conseguidos na sua implementação;
com os direitos humanos e liberdades, tendo em vista combater os
8. Encarrega o Secretário-Geral e convida a os Estados mem-
bros a assegurarem a maior difusão possível no texto das Regras efeitos nocivos de qualquer tipo de detenção e promover a integra-
em todas as línguas oficiais das Nações Unidas; ção na sociedade.
9. Encarrega o Secretário-Geral de proceder a uma investiga- 4. As Regras devem ser aplicadas com imparcialidade, sem
ção comparativa, de promover a colaboração necessária e de traçar discriminação de qualquer espécie quanto à raça, cor, sexo, idade,
estratégias para lidar com as diferentes categorias de jovens de- língua, religião, nacionalidade, opiniões políticas ou outras, cren-
linquentes graves e reincidentes e de preparar, com essa base, um ças ou práticas culturais, situação econômica, nascimento ou situa-
relatório orientado para a formulação de políticas a apresentar ao ção familiar, origem étnica ou social e incapacidade. As crenças
Nono Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e religiosa, as práticas culturais e os conceitos morais dos jovens
o Tratamento dos Delinquentes; devem ser respeitados.
10. Encarrega o Secretário-Geral e pede veementemente aos 5. As Regras têm por fim servir como padrões de fácil refe-
Estados membros que forneçam os recursos necessários para as- rência e encorajar e guiar os profissionais envolvidos na gestão do
segurar uma bem sucedida aplicação i implementação das Regras, sistema da justiça juvenil.
em especial nas áreas do recrutamento, da formação profissional e 6. As Regras devem ser postas rapidamente à disposição do
permuta de todas as categorias de pessoal dos Serviços de Justiça pessoal da justiça de adolescentes na sua língua nacional. Os jo-
de adolescentes; vens que não são fluentes na língua falada pelo pessoal do esta-

Didatismo e Conhecimento 46
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
belecimento de detenção devem ter direito aos serviços gratuitos 15. As presentes Regras aplicam-se a todos os tipos e formas
de um intérprete, sempre que necessário, em especial durante os de instituições de detenção nas quais os adolescentes estão priva-
exames médicos e processos disciplinares. dos de liberdade. As partes I, II, IV e V das Regras aplicam-se a
7. Quando apropriado, os Estados devem incorporar as Regras todos os estabelecimentos e instituições em que os adolescentes
na sua legislação, ou modificá-la em conformidade, e prever recur- são detidos e a Parte III aplica-se especificamente aos adolescentes
sos eficazes em caso de não cumprimento, incluindo a indenização sob detenção ou que aguardem julgamento.
quando são infligidos maus tratos aos jovens. Os Estados devem 16. As Regras serão aplicadas no contexto das condições eco-
também supervisionar a aplicação das Regras. nômicas, sociais e culturais existentes em cada Estado membro.
8. As autoridades competentes devem procurar constantemen-
te aumentar a consciência do público quanto ao fato de os cuidados III - adolescentes SOB DETENÇÃO OU QUE AGUAR-
aos jovens detidos e a preparação do seu regresso à sociedade se- DAM JULGAMENTO
rem um serviço social de grande importância; com este fim devem
tomar medidas no sentido de proporcionarem contatos diretos en- 17. Os adolescentes que estão detidos preventivamente ou
tre os jovens e a comunidade local. que aguardam julgamento (não julgados) presumem-se inocentes
9. Nenhuma das disposições contidas nestas Regras deve e serão tratados como tal. A detenção antes do julgamento deve
ser interpretada como excluindo a aplicação das normas e instru- ser evitada, na medida do possível, e limitada a circunstâncias ex-
mentos pertinentes das Nações Unidas relativos aos direitos do cepcionais. Devem, por isso, ser feitos todos os esforços para se
homem, reconhecidos pela comunidade internacional, que sejam aplicarem medidas alternativas. No entanto, quando se recorrer à
mais favoráveis aos direitos, ao tratamento e à proteção das crian- detenção preventiva, os tribunais de adolescentes e os órgãos de
ças e de todos os jovens. investigação tratarão tais casos com a maior urgência, a fim de
10. No caso de a aplicação de certas Regras contidas nas Par- assegurar a mínima duração possível da detenção. Os detidos sem
tes II a V, inclusive, destas Regras apresentar algum conflito com julgamento devem estar separados dos adolescentes condenados.
as Regras contidas na Parte I, é a obrigação de aplicação destas 18. As condições em que um adolescente não julgado se en-
últimas que prevalece. contra detido devem estar de acordo com as regras abaixo estabe-
lecidas, sob reserva de disposições especiais, julgadas necessárias
e apropriadas em razão da presunção da inocência, da duração da
II - APLICAÇÃO DAS REGRAS
detenção e do estatuto legal e circunstâncias do adolescente. Estas
disposições devem incluir, mas não necessariamente restringir-se,
11. Para efeitos das Regras, são aplicáveis as seguintes definições:
ao seguinte:
a) Criança ou adolescente é qualquer pessoa que tenha me-
a) Os adolescentes devem ter direito aos serviços de um ad-
nos de 18 anos. A idade limite abaixo da qual não deve ser per-
vogado e podem requerer assistência judiciária gratuita, quando
mitido privar uma criança de liberdade deve ser fixada em lei;
essa assistência esteja disponível, e comunicar regularmente com
b) Privação de liberdade significa qualquer forma de detenção , de
os seus conselheiros legais. A privacidade e confidencialidade de
prisão ou a colocação de uma pessoa, por decisão de qualquer au-
tais comunicações deve ser assegurada;
toridade judicial, administrativa ou outra autoridade pública, num b) Sempre que possível, os adolescentes devem dispor de
estabelecimento público ou privado do qual essa pessoa não pode oportunidades de efetuar um trabalho remunerado, e de continuar a
sair por sua própria vontade. sua educação e formação profissional, mas não lhes deve ser exigi-
12. A privação da liberdade deve ser efetuada em condições do que o façam. O trabalho, os estudos ou a formação profissional
e circunstâncias que assegurem o respeito pelos direitos humanos não devem causar a continuação da detenção;
dos adolescentes. Os adolescentes detidos devem poder exercer c) Os adolescentes podem receber e guardar materiais para os
uma atividade útil e seguir programas que mantenham e reforcem seus tempos livres e recreio, na medida em que isso for compatível
a sua saúde e o respeito por si próprios, favorecendo o seu sentido com os interesses da administração da justiça.
de responsabilidade e encorajando-os a adotar atitudes e adquirir
conhecimentos que os auxiliarão no desenvolvimento do seu po- IV - A ADMINISTRAÇÃO DOS ESTABELECIMEN-
tencial como membros da sociedade. TOS DE adolescentes
13. Os adolescentes privados de liberdade não devem, por for-
ça do seu estatuto de detidos, ser privados dos direitos civis, eco- A. REGISTROS
nômicos, políticos, sociais ou culturais de que gozem por força da
lei nacional ou do direito internacional, e que sejam compatíveis 19. Todos os relatórios, incluindo os autos processuais, re-
com a privação de liberdade. gistros médicos e registros de processos disciplinares e outros
14. A proteção dos direitos individuais dos adolescentes, com documentos relativos à forma, conteúdo e por adolescentes do
especial relevância para a legalidade da execução das medidas de tratamento devem ser arquivados num processo individual e confi-
detenção, deve ser assegurada pela autoridade competente, en- dencial, que deve ser mantido atualizado, ser acessível unicamente
quanto os objetivos da integração social devem ser assegurados a pessoas autorizadas e ser classificado de tal modo que possa ser
mediante inspeções regulares e outros meios de controle levados a facilmente compreendido. Sempre que possível, os adolescentes
cabo, de acordo com as normas internacionais, leis e regulamentos devem ter o direito de contestar qualquer fato ou opinião contida
nacionais, por uma entidade devidamente constituída, autorizada no seu processo, de modo a permitir a retificação de declarações
a visitar os adolescentes e independente da administração do es- inadequadas, infundadas ou injustas. Com vista ao exercício deste
tabelecimento. direito, devem estabelecer-se procedimentos que autorizem uma

Didatismo e Conhecimento 47
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
terceira parte a ter acesso ao processo ou a consultá-lo quando re- admissão, deve ser enviado ao diretor, para fins de determinação
querido. Depois de sua libertação, os processos dos adolescentes da colocação mais apropriada do adolescente dentro do estabele-
serão selados e, em tempo apropriado, distribuídos. cimento e do tipo de tratamento e programa de formação requeri-
20. Nenhum adolescente deve ser admitido num estabeleci- dos. Quando é requerido um tratamento de reeducação especial, e
mento sem uma ordem de detenção válida emanada de uma auto- a duração de permanência no estabelecimento o permite, o pessoal
ridade judicial, administrativa ou outra autoridade pública. Os por especializado do estabelecimento deve preparar, por escrito, um
adolescentes desta decisão devem dar imediatamente entrada no plano de tratamento individualizado, especificando os objetivos do
registro. Nenhum adolescente deve ser detido em qualquer estabe- tratamento, a sua duração e os meios, etapas e prazos com que os
lecimento quando tal registro não exista. objetivos deverão ser prosseguidos.
28. A detenção de adolescentes só deve ter lugar em condições
B. ADMISSÃO, REGISTRO E TRANSFERÊNCIA que tenham em consideração as suas necessidades particulares, es-
tatuto e requisitos especiais, exigidos pela sua idade, personalida-
21. Em qualquer local em que se encontrem adolescentes deti- de, sexo e tipo de crime, assim como sua saúde física e mental, e
dos, deve ser mantido um registro completo e seguro das seguintes que assegurem a sua proteção contra influências perniciosas e si-
informações relativas a cada adolescente admitido:
tuações de risco. O principal critério de classificação das diferentes
a) Informação sobre a identidade do adolescente;
categorias de adolescentes privados de liberdade deve basear-se no
b) Os fatos e os motivos da detenção e a autoridade que a
tipo de tratamento que melhor se adapte às necessidades especiais
ordenou;
dos indivíduos a que dizem respeito, e à proteção da sua integrida-
c) O dia e hora da admissão, transferência ou libertação;
d) Por adolescentes dos problemas conhecidos de saúde física de física, mental e moral e do seu bem-estar.
ou mental, incluindo o abuso de droga e álcool. 29. Em todos os estabelecimentos de detenção os adolescentes
22. As informações relativas à admissão, lugar e detenção, devem estar separados dos adultos, a menos que sejam membros
transferência e libertação devem ser fornecidas sem demora aos da mesma família. Sob condições controladas, os adolescentes po-
pais e tutores ou ao parente mais próximo do adolescente. dem juntar-se com adultos, cuidadosamente selecionados, como
23.Tão depressa quanto possível após a admissão, devem ser parte de um programa especial que se tenha demonstrado ser bené-
elaborados relatórios contendo informações relevantes sobre a si- fico para os adolescentes a que diz respeito.
tuação pessoal e o caso de cada adolescente e submetidos à admi- 30. Devem ser criados estabelecimentos de detenção abertos
nistração. para os adolescentes. Os estabelecimentos abertos são aqueles em
24. Na admissão, deve ser dada a todos os adolescentes uma não existem ou em que existem um mínimo de medidas de segu-
cópia das regras que regem o estabelecimento de detenção e uma rança, A população desses estabelecimentos de detenção deve ser
descrição escrita dos seus direitos e obrigações numa linguagem tão pequena quanto possível. O número de adolescentes detidos
que ele possam perceber, assim como o endereço das autorida- em estabelecimentos fechados deve ser suficientemente pequeno
des competentes para receberem queixas e das entidades e orga- para permitir um tratamento individualizado. Os estabelecimentos
nizações públicas e privadas que fornecem assistência legal. Para de detenção para adolescentes devem ser descentralizados e de um
os adolescentes analfabetos e para os adolescentes que não com- tamanho que facilite o acesso e o contato entre os adolescentes e
preendam o idioma em que as informações são fornecidas, deverá as suas famílias. Devem ser criados estabelecimentos de detenção
assegurar-se a sua transmissão de modo a tornar possível a sua de pequena escala e integrados no ambiente social, econômico e
completa compreensão. cultural da comunidade.
25. Todos os adolescentes devem ser ajudados a compreender
os regulamentos que regem a organização interna do estabeleci- D. AMBIENTE FÍSICO E ALOJAMENTO
mento, os fins e a metodologia do tratamento dispensado, as regras
disciplinares, os meios autorizados de obtenção de informação e 31. Os adolescentes privados de liberdade têm direito a ins-
de elaboração de queixas, e todos e quaisquer pontos que sejam talações e serviços que preencham todos os requisitos de saúde e
necessários para conseguir a percepção completa dos seus direitos
dignidade humana.
e obrigações durante a detenção.
32. A concepção dos estabelecimentos de detenção de ado-
26. O transporte dos adolescentes processar-se-á a expensas
lescentes e o ambiente físico devem estar à altura do objetivo de
da administração, em transporte com ventilação e luz adequadas,
reabilitação ligado ao tratamento residencial, respeitando a neces-
em condições que não os submetam, de qualquer modo, a situa-
ções duras ou indignas. Os adolescentes não devem ser transferi- sidade de privacidade dos adolescentes, de estímulos sensoriais
dos arbitrariamente de um estabelecimento para outro. e oferecendo oportunidades de associação com outros jovens e a
participação em desportos, exercício físico e atividades de tempos
C. CLASSIFICAÇÃO E COLOCAÇÃO livres. A concepção e a estrutura dos estabelecimentos de detenção
de adolescentes deve ser de molde a minimizar o risco de incêndio
27. Logo que possível, após a sua admissão, casa adolescente e a assegurar a evacuação segura das instalações. Deve haver um
deve ser entrevistado e deve ser elaborado um relatório psicoló- sistema de alarme eficiente, em caso de fogo, assim como proces-
gico e social que identifique quaisquer fatores relevantes quanto sos formais e experimentados que permitam a segurança dos ado-
ao tipo de tratamento e programa de educação e de formação re- lescentes. As instalações de detenção não devem ser localizadas
queridos pelo adolescente. Este relatório, juntamente com o rela- em áreas onde existam conhecidos riscos para a saúde e outros
tório elaborado pelo médico que examinou o jovem depois de sua perigos.

Didatismo e Conhecimento 48
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
33. As acomodações para dormir devem ser normalmente 39. Os adolescentes acima da idade de escolaridade obrigató-
constituídos por dormitórios para pequenos grupos ou quartos ria que desejem continuar a sua educação devem ser autorizados
individuais, tendo em conta os padrões locais. Durante as goras e encorajados a fazê-lo e devem ser feitos todos os esforços para
de sono, deve haver uma vigilância regular e discreta de todas as lhes possibilitar o acesso aos programas educacionais apropriados.
áreas onde dormem os detidos, quartos individuais e dormitórios 40. Os diplomas ou certificados de educação concedidos aos
de grupo, a fim de assegurar a proteção de cada adolescente. Cada jovens durante a detenção não devem indicar que o jovem esteve
jovem deve receber, de acordo com os padrões locais ou nacionais, detido.
roupa de cama suficiente e individual, que deve estar limpa quando 41. Cada estabelecimento de detenção deve proporcionar o
é entregue, mantida em boa ordem e mudada com a freqüência acesso a uma biblioteca que deve estar adequadamente equipada
para assegurar a sua higiene. com livros, tanto instrutivos como recreativos e com publicações
34. As instalações sanitárias devem ser de um nível adequado periódicas adequadas aos adolescentes, devendo estes ser encora-
e estar localizados de forma a permitir que cada adolescente possa jados e ter possibilidades de fazerem uso completo dos serviços
satisfazer as suas necessidades físicas com privacidade e de um da biblioteca.
modo limpo e decente. 42. Todo o adolescente deve ter direito a receber formação
35.A posse de objetos pessoais é um elemento básico do di- profissional suscetível de o preparar para a vida ativa.
reito à privacidade e é essencial ao bem-estar psicológico do ado- 43. Nos limites compatíveis com uma seleção profissional
lescente, O direito dos adolescentes possuírem objetos pessoais e adequada com as exigências da administração e da disciplina da
disporem de lugares adequados para os guardar deve ser integral- instituição, os adolescentes devem poder escolher o tipo de traba-
mente reconhecido e respeitado. Os objetos pessoais que o jovem lho que desejam executar.
não quer ter consigo, ou que são confiscados, devem ser colocados 44. Todos os padrões nacionais e internacionais de proteção
em lugar seguro. Será feito um inventário desses bens que deve ser aplicáveis ao trabalho das crianças e dos jovens trabalhadores de-
assinado pelo adolescente. Devem ser tomada providências para vem aplicar-se aos adolescentes privados de liberdade.
os manter em boas condições. Todos esses artigos e dinheiro de- 45. Sempre que possível, deve dar-se aos adolescentes a opor-
vem ser restituídos ao adolescente quando esta é libertado, exceto tunidade de realizarem trabalho remunerado, se possível na co-
se esse adolescente for autorizado a gastar o dinheiro ou a enviar munidade local, como complemento da formação profissional que
esse dinheiro ou artigos para fora da instituição. Se um adolescente lhes é ministrada com o fim de lhes proporcionar a possibilidade
recebe, ou é encontrado na posse de qualquer medicamento, o mé- de encontrarem um trabalho conveniente quando regressam às
dico deve decidir-se sobre o uso que deve ser feito dele. suas comunidades. O tipo de trabalho deve ser de molde a fornecer
36. Na medida do possível, os adolescentes devem ter o direi- formação apropriada que beneficie os adolescentes após a liberta-
to a usar as suas próprias roupas. Os estabelecimentos devem asse- ção. A organização e métodos oferecidos nos estabelecimentos de
gurar que cada adolescente tenha roupa pessoal adequada ao clima detenção devem assemelhar-se, tanto quanto possível, aos traba-
e suficiente para manter em bom estado de saúde e que, de modo lhos similares na comunidade, de modo a preparar os adolescentes
algum, seja degradante ou humilhante. Os adolescentes que saiam para as condições de uma vida de trabalho normal.
do estabelecimento ou que, por qualquer razão sejam autorizados a 46. Todos os adolescentes que trabalham devem ter direito a
abandoná-lo, devem ser autorizados a usar as suas próprias roupas. uma remuneração eqüitativa. Os interesses dos adolescentes e da
37. Cada estabelecimento assegurará que todos os adolescen- sua formação profissional não devem estar subordinados a fins lu-
tes recebam alimentação convenientemente preparada e servida às crativos da instituição ou de terceiros. Parte dos ganhos do adoles-
horas normais das refeições e de qualidade e quantidade que sa- cente deve normalmente ser posta de lado, a fim de constituir um
tisfaça as normas dietéticas, de higiene e de saúde e, tanto quanto fundo de poupança a ser entregue ao adolescente quando da sua
possível, requisitos religiosos e culturais. Água potável deve estar libertação. O adolescente deve ter o direito de usar o remanescente
à disposição de todos os adolescentes em qualquer momento. desses ganhos na compra de artigos para seu uso pessoal ou para
indenizar a vítima prejudicada pelo seu crime ou para o enviar à fa-
E. EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL E mília ou outras pessoas que se encontram fora do estabelecimento.
TRABALHO
F. RECREIO
38. Qualquer adolescente em idade de escolaridade obrigató-
ria tem direito à educação adequada às suas necessidades e capa- 47. Todos os jovens devem ter direito diariamente a um pe-
cidades, com vista à preparação da sua reinserção na sociedade. ríodo de tempo adequado para exercício ao ar livre, quando o
Tal educação deve ser dada, sempre que possível, fora do estabe- tempo o permita durante o qual lhe devem ser normalmente pro-
lecimento de detenção em escolas da comunidade e, em qualquer porcionados atividades físicas e recreativas adequadas. Para estas
caso, deve ser ministrada por professores qualificados, no quadro atividades devem ser-lhes fornecidos espaços, instalações e equi-
de programas integrados no sistema educativo do país, de modo pamento adequados. Todos os jovens devem ter tempo adicional
a que os adolescentes possam prosseguir, sem dificuldade, os es- para atividades diárias de tempos livres, parte das quais devem ser
tudos após a sua libertação. A administração do estabelecimento dedicadas, se o jovem o desejar, ao desenvolvimento de aptidões
deve conceder uma especial atenção à educação dos adolescentes para artes e ofícios. O estabelecimento deve assegurar que cada
de origem estrangeira ou com especiais necessidades culturais ou adolescente esteja fisicamente apto para participar nos programas
étnicas. Os adolescentes que são analfabetos ou que têm dificulda- existentes de educação física. Deve ser proporcionada educação
des cognitivas ou de aprendizagem devem ter direito a uma edu- física e terapia corretiva, sob supervisão médica, aos adolescentes
cação especial. que delas necessitem.

Didatismo e Conhecimento 49
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
G. RELIGIÃO 54. Os estabelecimentos de detenção de adolescentes devem
adotar programas especializados de prevenção do abuso de dro-
48. Todos os adolescentes devem ser autorizados a satisfazer gas, bem como programas de reabilitação, a ser administrados por
as suas necessidades religiosas e de vida espiritual, em especial pessoal qualificado. Estes programas devem ser adaptados à idade,
assistindo aos serviços religiosos ou encontros organizados no es- sexo e outras características dos adolescentes a que dizem respeito;
tabelecimento ou contatando com os representantes do seu culto instalações e serviços de desintoxicação apetrechedos com pessoal
e tendo na sua posse dos livros e objetos de culto e de instrução qualificado devem ser postos à disposição dos adolescentes depen-
religiosa próprios da sua confissão. Se um estabelecimento de de- dentes de droga ou álcool.
tenção tiver um número suficiente de adolescentes de uma dada 55. Os medicamentos só devem ser administrados para tra-
religião, um ou mais representantes qualificados dessa religião de- tamentos médicos necessários e, quando possível, depois de ser
vem ser nomeados ou aprovados e ser-lhes concedida autorização obtido o consentimento esclarecido do adolescente em causa. Em
para prestar serviços religiosos regulares e fazer visitas pastorais especial, não devem ser administrados com vista a provocar ilicita-
particulares aos adolescentes, a pedido destes. Todos os jovens de- mente informações ou uma confissão, como castigo ou como meio
vem ter direito a receber visitas de um representante qualificado repressivo. Os adolescentes nunca devem ser cobaias no uso expe-
de qualquer religião da sua escolha, assim como o direito de não rimental de fármacos ou tratamentos. A administração de qualquer
participarem nos serviços religiosos e recusarem livremente a edu- fármaco deve sempre ser autorizada e efetuada por pessoal médico
qualificado.
cação, aconselhamento ou doutrinação religiosa.
I. NOTIFICAÇÃO DE DOENÇA, ACIDENTE OU
H. CUIDADOS MÉDICOS
MORTE
49. Todos os jovens deverão receber cuidados médicos ade- 56. A família ou tutor de um adolescente e qualquer outra
quados, tanto preventivos como terapêuticos, incluindo cuidados pessoa por si designada tem o direito de ser informada, quando o
de estomatologia, oftalmologia e de saúde mental, assim como requeira, do estado de saúde do adolescente, bem como no caso de
produtos farmacêuticos e dietas especiais, de acordo com a pres- se darem quaisquer mudanças importantes na saúde do adolescen-
crição médica. Todos estes cuidados médicos devem, sempre que te. O diretor do estabelecimento de detenção deve notificar ime-
possível, se proporcionado aos adolescentes detidos por meio das diatamente a família ou tutor do adolescente em causa, ou outra
instituições e serviços de saúde apropriados da comunidade na pessoa por este indicada, no caso de morte, doença que requeira a
qual o estabelecimento de detenção encontra-se situado, de modo transferência d adolescente par uma instalação médica exterior, ou
a prevenir a estigmatização do adolescente e a promover o respeito condição que requeira cuidados médicos dentro do estabelecimen-
próprio e a integração na comunidade. to de detenção por mais de 48 horas. Devem também notificar-se
50. Todos os jovens têm o direito de ser examinados por um autoridades consulares do Estado de que um adolescente estran-
médico imediatamente após sua admissão no estabelecimento de geiro é cidadão.
detenção, com o fim de se registrar qualquer prova de mais tratos 57. Em caso de morte de um adolescente durante o período de
anteriores e identificar qualquer problema físico ou mental que re- privação de liberdade, o parente mais próximo deve reter o direito
queira atenção médica. de inspecionar a certidão de óbito, ver o corpo e determinar o que
51. Os serviços médicos fornecidos aos adolescentes devem quer fazer do corpo. Após a morte de um adolescente detido, de-
procurar detectar e tratar qualquer doença física e mental ou outra, verá haver um inquérito independente às causas da morte, cujo re-
e o abuso de substâncias que possam constituir obstáculo à inser- latório deve ser posto à disposição do parente mais próximo. Este
ção do adolescente na sociedade. Todos os estabelecimentos de inquérito deve também ser realizado quando a morte do adolescen-
detenção de adolescentes deverão ter acesso imediato a meios e te ocorre dentro dos seis meses seguintes à data da sua libertação
equipamentos médicos apropriados ao número e necessidades dos do estabelecimento e existam razões para crer que a morte está
seus residentes e estar dotados de pessoal formado em cuidados relacionada com o período de detenção.
preventivos de saúde e em emergências médicas. Qualquer jovem 58. Um adolescente deve ser informado tão depressa quanto
possível da morte, doença ou acidente grave de qualquer membro
que esteja doente, que se queixe de doença ou demonstre sintomas
da sua família próxima e deve ser-lhe concedida a possibilidade de
de dificuldades físicas ou mentais, deve ser prontamente examina-
assistir ao funeral do falecido e de visitar um parente gravemente
do por um médico.
doente.
52. Qualquer médico que tenha razão para crer que a saúde
física ou mental de um jovem tem sido ou será perniciosamente J. CONTATOS COM O EXTERIOR
afetada pela detenção prolongada, por uma greve de fome ou qual-
quer condição da detenção, deve relatar este fato imediatamente ao 59. Devem ser fornecidos todos os meios para assegurar a
diretos do estabelecimento em causa e à autoridade independente comunicação adequada dos adolescentes com o mundo exterior,
responsável pela proteção do bem-estar dos adolescentes. o que constitui parte integrante do direito a um tratamento jun-
53. Um adolescente que sofre de doença mental deve ser to e humano e é essencial à preparação destes para a sua reinser-
tratado numa instituição especializada sob supervisão médica ção social. Os adolescentes devem ser autorizados a comunicar
independente. Devem ser feitas diligências, junto das instituições com as suas famílias, amigos e com membros ou representantes
apropriadas, para assegurar a continuação dos cuidados de saúde de organizações exteriores de renome, a sair das instalações de
mental depois da libertação. detenção para visitarem as suas casas e famílias e receberem au-

Didatismo e Conhecimento 50
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
torização especial para sair do estabelecimento de detenção por preparando-o para o regresso à comunidade e não deve ser impos-
razões imperiosas de caráter educativo, profissional ou outras. Se to como sanção disciplinar. Nenhum adolescente deve ser punido
o adolescente estiver a cumprir uma pena, o tempo passado fora do mais do que uma vez pela mesma infração disciplinar. Devem ser
estabelecimento deve ser contado como parte do período de pena. proibidas sanções coletivas.
60. Todos os adolescentes devem ter o direito de receber vi- 68. A legislação ou regulamentos adotados pela autoridade ad-
sitas regulares e frequentes de membros da sua família, em prin- ministrativa competente devem estabelecer normas referentes aos
cípio uma vez por semana e não menos do que uma vez por mês, seguintes aspectos, tendo em com as características, necessidades
em circunstâncias que respeitem a sua necessidade de privacidade, e direitos fundamentais dos adolescentes:
contato e comunicação sem restrição, com a família e o advogado a) Conduta que constitui uma infração disciplinar;
de defesa. b) Natureza e duração das sanções disciplinares que podem
61. Todos os adolescentes devem ter o direito de comunicar ser impostas;
por escrito ou por telefone, pelo menos duas vezes por semana, c) A autoridade competente para impor essas sanções;
com a pessoa da sua escolha, a menos que estejam legalmente d) A autoridade competente para apreciar os recursos;
proibidos de o fazer, e deve, se necessário, ser auxiliados a fim de 69. Os relatórios sobre a conduta irregular devem ser pron-
gozarem efetivamente este direito. Todos os adolescentes devem tamente apresentados à autoridade competente, que deve pronun-
ter direito a receber correspondência. ciar-se sobre ela sem atrasos injustificáveis. A autoridade compe-
62. Os adolescentes devem ter oportunidade de se manterem tente deve proceder a um exame exaustivo do caso.
regularmente informados das notícias, lendo jornais, revistas e 70. Nenhum jovem deve ser punido disciplinarmente, anão ser
outras publicações, por meio da rádio, programas de televisão e em estrita observância dos termos da lei e regulamentos em vigor.
filmes e por meio de visitas de representantes de qualquer clube ou Nenhum jovem deve ser punido sem ter sido informado da infra-
organização lícitas em que estejam interessados. ção que lhe é imputada, de um modo apropriado à sua compreen-
são e sem que lhe tenha sido dada a oportunidade de apresentar
K. LIMITAÇÃO À COAÇÃO FÍSICA E AO USO DA a sua defesa, incluindo o direito de recorrer para uma autoridade
FORÇA imparcial. Devem ser conservados registros completos de todos os
processos disciplinares.
63. O recurso a instrumentos de coação e à força para qualquer 71. Nenhum jovem deve ter a seu cargo funções disciplinares
fim deve ser proibido, exceto nas condições da regra 64. exceto no que se refere à supervisão de atividades sociais, educa-
64. Os instrumentos de coação e o uso da força só podem ser tivas ou desportivas específicas ou em programas de autogestão.
usados em casos excepcionais, quando o recurso a outros métodos
de controle se tiver revelado inoperante, e só nos termos explici- M. INSPEÇÃO E QUEIXAS
tamente autorizados e especificados na lei e regulamentos. Não
devem causar humilhação ou degradação e devem ser usados res- 72. Inspetores qualificados ou uma autoridade equivalente de-
tritivamente e a penas durante o período estritamente necessário. vidamente constituída, e não pertencente à administração da insta-
Por ordem do diretor da administração, estes instrumentos podem lação devem ter o poder de fazer inspeções regulares e proceder a
ser empregados para impedir o ovem de se ferir a si mesmo, ferir inspeções não anunciadas, por sua própria iniciativa, devendo go-
outros ou causar séria destruição de propriedade. em tais circuns- zar de garantias de independência total no exercício desta função.
tâncias, o diretor deve consultar imediatamente o médico e outro Os inspetores devem ter livre acesso a todas as pessoas emprega-
pessoal relevante e participar o caso à autoridade administrativa das ou que trabalham nos estabelecimentos onde se encontram ou
hierarquicamente superior. poderão encontrar-se adolescentes privados de liberdade, a todos
65. O porte e uso de armas pelo pessoal deve ser proibido em os adolescentes e a todos os registros dessas instalações.
qualquer estabelecimento onde estejam detidos adolescentes. 73. Médicos qualificados ligados à autoridade inspetora ou
o serviço público de saúde devem participar nas inspeções, ava-
L. PROCESSOS DISCIPLINARES liando o cumprimento das regras referentes ao ambiente físico,
higiene, acomodações, alimentação, exercício e serviços médicos,
66. Quaisquer medidas e processos disciplinares devem con- assim como qualquer outro aspecto ou condições da vida institu-
tribuir para a segurança e uma vida comunitária ordenada e ser cional que afetem a saúde física e mental dos adolescentes. Qual-
compatíveis com o respeito da inerente dignidade do adolescente quer adolescente deve ter o direito da falar, confidencialmente,
e com os objetivos fundamentais do tratamento institucional, ins- com qualquer inspetor.
pirando designadamente, um sentido de justiça, de respeito pelos 74. Depois de completada a inspeção, o inspetor deve apresen-
direitos básicos de cada pessoa. tar um relatório sobre os fatos. O relatório deve incluir uma avalia-
67. Serão estritamente proibidas todas as medidas disciplina- ção do cumprimento pelo estabelecimento das presentes regras e
res que se traduzam num tratamento cruel, desumano ou degra- das disposições relevantes da lei nacional, e conter recomendações
dante, tais como castigos corporais, colocação numa cela escura, relativas a quaisquer providências consideradas necessárias para
num calabouço ou em isolamento, ou qualquer outro castigo que assegurar o seu cumprimento. Quaisquer fatos descobertos pelo
possa comprometer a saúde física ou mental do adolescente em inspetor que pareçam indicar a ocorrência de uma violação das
causa. A redução de alimentação e a restrição da recusa de contato disposições legais relativas aos direitos dos adolescentes ou no
com os membros da família devem ser proibidas, seja quais forem funcionamento de um estabelecimento de detenção para adoles-
as razões. O trabalho deve ser sempre visto como um instrumento centes devem ser comunicados às autoridades competentes para a
educativo e um meio de promover o auto-respeito do adolescente investigação e acusação.

Didatismo e Conhecimento 51
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
75. Todos os adolescentes devem ter a oportunidade de fazer 83. Para assegurar os objetivos precedentes, devem designar-
pedidos ou queixas ao diretor da instalação da detenção ou ao seu -se funcionários profissionais, com remuneração adequada, de for-
representante. ma a atrair e reter os homens e mulheres mais indicados. O pes-
76. Todos os adolescentes devem ter o direito de apresentar soal dos estabelecimentos de adolescentes deve ser continuamente
um pedido ou queixa, não sujeito à censura quanto ao fundo, à encorajado a desempenhar os seus deveres e obrigações de um
administração central dos estabelecimentos para adolescentes, à modo humano, empenhado, profissional, justo e eficiente, a agir
autoridade judicial ou outras autoridades competentes, por meio sempre de forma a merecer e ganhar o respeito dos adolescentes e
dos canais autorizados e a ser informados sem demora da resposta. proporcionar-lhes um modelo de identificação e uma perspectiva
77. Devem ser feitos esforços para criar serviço independente positivas.
(ombudsman) para receber e investigar queixas feitas pelos ado- 84. A administração deve introduzir formas de organização
lescentes privados de liberdade e para auxiliar na execução de so- e gestão que facilitem as comunicações entre as diferentes cate-
luções equitativas. gorias de pessoal em cada estabelecimento, de modo a estimular
78. Todos os adolescentes devem ter o direito de, quando pos- a cooperação entre os vários serviços empenhados no tratamento
sível, pedir auxílio aos membros da sua família, juristas, grupos dos adolescentes, assim como entre o pessoal e a administração,
humanitários ou outros, para formular uma queixa. Deve ser dada com vista a assegurar que o pessoal que está diretamente em con-
assistência aos adolescentes analfabetos, caso precisem de utilizar tato com os adolescentes seja capaz de funcionar em condições
as serviços de organismos públicos ou privados e organizações que favoráveis ao eficiente cumprimento dos seus deveres.
fornecem aconselhamento legal ou que sejam competentes para 85. O pessoal deve receber uma formação que lhe permita de-
receber queixas. sempenhar as suas funções com eficácia, incluindo, em especial,
uma formação nos domínios da psicologia juvenil, da proteção ju-
N. REGRESSO À COMUNIDADE venil e dos padrões e normas internacionais sobre os direitos das
crianças, incluindo as presentes regras. O pessoal deve manter e
79. Todos os jovens devem beneficiar de medidas destinadas melhorar os seus conhecimentos e capacidade profissional, fre-
a auxiliá-los no seu regresso à sociedade, à vida familiar, à edu-
quentando cursos de formação permanente, que devem ser organi-
cação ou emprego, depois da libertação. Com este fim devem ser
zados com intervalos apropriados, ao longo de toda a sua carreira.
concebidos procedimentos, que incluem a libertação antecipada e
86. O diretor da instituição deve estar adequadamente quali-
a realização de estágios.
ficado para o seu trabalho, devendo possuir capacidade adminis-
80-. As autoridades competentes devem criar ou recorrer a
trativa, formação e experiência adequadas e desempenhar as sua
serviços para auxiliar os adolescentes a reintegrarem-se na socie-
funções a tempo inteiro.
dade e para diminuir os preconceitos contra eles. Estes serviços
87. No cumprimento das suas funções, o pessoal das institui-
devem assegurar, até ao limite possível, que os adolescentes dis-
ções de detenção deve respeitar e proteger a dignidade humana e
ponham de alojamento, emprego e vestuário adequado e de meios
os direitos humanos fundamentais de todos os adolescentes. Em
suficientes para se manterem depois da libertação, a fim de facilitar
uma reintegração bem sucedida. Os representantes de organismos especial:
que fornecem tais serviços devem ser consultados e ter acesso aos a) Nenhum membro do pessoal do estabelecimento de deten-
adolescentes enquanto se encontram detidos, com o fim de os au- ção pode, sob qualquer pretexto ou em quaisquer circunstâncias,
xiliar no seu regresso à comunidade. infringir ou tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer forma de
tratamento, castigo, correção ou disciplina cruel, desumana ou de-
V- PESSOAL gradante;
b) O pessoal do estabelecimento deve opor-se rigorosamente e
81. O pessoal deve ser qualificado e incluir um número sufi- combater qualquer ato de corrupção, denunciando-o, sem demora,
ciente de especialistas tais como educadores, técnicos de formação às autoridades competentes;
profissional, conselheiros, assistentes sociais, psiquiatras e psicó- c) O pessoal dos estabelecimento deve respeitar as presentes
logos. Este e outro pessoal especializado deve ter, normalmente, regras. Qualquer elemento do pessoal, que tiver razões para crer
um vínculo laboral de natureza permanente. Isto não deve excluir que ocorreu ou está em vias de ocorrer uma violação grave das
trabalhadores a tempo parcial ou voluntários, sempre que o apoio presentes regras, deve comunicar o fato às autoridades hierarqui-
e a formação que possam prestar seja adequado e benéfico. As ins- camente superiores ou aos órgãos investidos do poder de revisão
talações de detenção devem fazer uso de todas as possibilidades ou sanção;
e modalidades de assistência médica, educativa, moral, espiritual d) O pessoal do estabelecimento deve assegurar a completa
e outras que estejam disponíveis na comunidade e que sejam idô- proteção da saúde mental e física dos adolescentes, incluindo a
neas, em função das necessidades e problemas particulares dos proteção contra abusos e exploração físicos, sexuais e emocionais
adolescentes detidos. e deve tomar providências imediatas para assegurar cuidados mé-
82. A administração deve proceder à seleção e recrutamento dicos quando necessário;
cuidadosos de cada grau e tipo de pessoal, uma vez que a gestão e) O pessoal do estabelecimento deve respeitar o direito dos
correta dos estabelecimentos de detenção depende da sua integri- adolescentes à privacidade, e , em especial, deve preservar a con-
dade, humanidade, aptidão e capacidade profissional para lidar fidencialidade dos assuntos relativos aos adolescentes e suas fa-
com adolescentes, bem como da adequação pessoal para o traba- mílias, de que tenha tido conhecimento por meio do exercício das
lho. suas funções profissionais;

Didatismo e Conhecimento 52
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
f) O pessoal do estabelecimento deve procurar minimizar Artigo 2º
qualquer diferença entre a vida dentro e for da instituição de de- Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liber-
tenção que tenda a diminuir o respeito à dignidade do adolescente dades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer
como ser humano. espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou
de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento,
ou qualquer outra condição.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE Não será tampouco feita qualquer distinção fundada na con-
DIREITOS HUMANOS. dição política, jurídica ou internacional do país ou território a que
pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente,
sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra li-
mitação de soberania.
Declaração Universal dos Direitos Humanos
(Resolução nº 217 – Assembléia Geral da ONU) Artigo 3º
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pes-
Aprovada pela Res. nº 217, durante a 3ª Sessão Ordinária da soal.
Assembléia Geral da ONU, em Paris, França, em 10-12-1948.
Artigo 4º
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravi-
todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e dão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas for-
inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mas.
mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos Artigo 5º
humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou casti-
da humanidade e que o advento de um mundo em que os homens go cruel, desumano ou degradante.
gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de vive-
rem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais Artigo 6º
alta aspiração do homem comum, Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reco-
Considerando essencial que os direitos humanos sejam prote- nhecida como pessoa perante a lei.
gidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compe-
lido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,
Artigo 7º
Considerando essencial promover o desenvolvimento de rela-
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer dis-
ções amistosas entre as nações,
tinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram,
contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e
na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade
contra qualquer incitamento a tal discriminação.
e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens
e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e
melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, Artigo 8º
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a Toda pessoa tem direito a receber dos tribunais nacionais com-
promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito uni- petentes recurso efetivo para os atos que violem os direitos funda-
versal aos direitos humanos e liberdades fundamentais da pessoa e mentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.
a observância desses direitos e liberdades,
Considerando que uma compreensão comum desses direitos Artigo 9º
e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
desse compromisso,
A Assembléia Geral proclama: Artigo 10
A presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência
o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial,
com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qual-
tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do quer acusação criminal contra ela.
ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e
liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter na- Artigo 11
cional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua § 1º Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de
observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos pró- ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido pro-
prios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob vada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe te-
sua jurisdição. nham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
§ 2º Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omis-
Artigo 1º são que, no momento, não constituam delito perante o direito na-
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direi- cional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte
tos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato
umas às outras com espírito de fraternidade. delituoso.

Didatismo e Conhecimento 53
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Artigo 12 Artigo 21
Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na § 1º Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de
de sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livre-
à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei mente escolhidos.
contra tais interferências ou ataques. § 2º Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço públi-
co do seu país.
Artigo 13 § 3º A vontade do povo será a base da autoridade do governo;
§ 1º Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e resi- esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por
dência dentro das fronteiras de cada Estado. sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que
§ 2º Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclu- assegure a liberdade de voto.
sive o próprio, e a este regressar.
Artigo 22
Artigo 14 Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segu-
§ 1º Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de pro- rança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação
curar e de gozar asilo em outros países. internacional de acordo com a organização e recursos de cada Es-
§ 2º Este direito não pode ser invocado em caso de persegui- tado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis
ção legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.
atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.
Artigo 23
Artigo 15 § 1º Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de
§ 1º Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção
§ 2º Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionali- contra o desemprego.
dade, nem do direito de mudar de nacionalidade. § 2º Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual
remuneração por igual trabalho.
Artigo 16 § 3º Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração
§ 1º Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer res- justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família,
trição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se
matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. § 4º Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e a neles
§ 2º O casamento não será válido senão com o livre e pleno ingressar para a proteção de seus interesses.
consentimento dos nubentes.
§ 3º A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e Artigo 24
tem direito à proteção da sociedade e do Estado. Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação
razoável das horas de trabalho e a férias periódicas remuneradas.
Artigo 17
§ 1º Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em socieda- Artigo 25
de com outros. § 1º Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de
§ 2º Ninguém será arbitrariamente privado de sua proprieda- assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimen-
de. tação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego,
Artigo 18 doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciên- meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
cia e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião § 2º A maternidade e a infância têm direito a cuidados e as-
ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo sistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do
ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou cole- matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
tivamente, em público ou em particular.
Artigo 26
Artigo 19 § 1º Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gra-
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; tuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A ins-
este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e trução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional
de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quais- será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada
quer meios e independentemente de fronteiras. no mérito.
§ 2º A instrução será orientada no sentido do pleno desenvol-
Artigo 20 vimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito
§ 1º Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associa- pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instru-
ção pacíficas. ção promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas
§ 2º Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma asso- as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades
ciação. das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

Didatismo e Conhecimento 54
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
§ 3º Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de VISTO que a necessidade de tal proteção foi enunciada
instrução que será ministrada a seus filhos. na Declaração dos Direitos da Criança em Genebra, de 1924, e
reconhecida na Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos
Artigo 27 estatutos das agências especializadas e organizações internacionais
§ 1º Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida interessadas no bem-estar da criança,
cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progres- VISTO que a humanidade deve à criança o melhor de seus
so científico e de seus benefícios. esforços, 
§ 2º Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e ASSIM, A ASSEMBLÉIA GERAL PROCLAMA esta
materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou Declaração dos Direitos da Criança, visando que a criança tenha
artística da qual seja autor. uma infância feliz e possa gozar, em seu próprio benefício e no da
sociedade, os direitos e as liberdades aqui enunciados e apela a que
Artigo 28 os pais, os homens e as melhores em sua qualidade de indivíduos,
Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional e as organizações voluntárias, as autoridades locais e os Governos
em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declara- nacionais reconheçam este direitos e se empenhem pela sua
ção possam ser plenamente realizados. observância mediante medidas legislativas e de outra natureza,
progressivamente instituídas, de conformidade com os seguintes
Artigo 29 princípios: 
§ 1º Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que  
o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível. PRINCÍPIO 1º
§ 2º No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa  
estará sujeita apenas às limitações determinadas por lei, exclusiva- A criança gozará todos os direitos enunciados nesta Declaração.
mente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito Todas as crianças, absolutamente sem qualquer exceção, serão
dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigên- credoras destes direitos, sem distinção ou discriminação por
cias da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade motivo de de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou
democrática. de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento
§ 3º Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese algu- ou qualquer outra condição, quer sua ou de sua família.
ma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das   
Nações Unidas. PRINCÍPIO 2º
 
Artigo 30 A criança gozará proteção social e ser-lhe-ão proporcionadas
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser oportunidade e facilidades, por lei e por outros meios, a fim de
interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo lhe facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e
ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar social, de forma sadia e normal e em condições de liberdade e
qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e dignidade. Na instituição das leis visando este objetivo levar-se-ão
liberdades aqui estabelecidos. em conta sobretudo, os melhores interesses da criança.
 
PRINCÍPIO 3º
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS  
DIREITOS DAS CRIANÇAS (UNICEF). Desde o nascimento, toda criança terá direito a um nome e a
uma nacionalidade.
 
PRINCÍPIO 4º
Declaração Universal dos Direitos da Criança  
A criança gozará os benefícios da previdência social. Terá
Adotada pela Assembléia das Nações Unidas de 20 de direito a crescer e criar-se com saúde; para isto, tanto à criança
novembro de 1959 e ratificada pelo Brasil. como à mãe, serão proporcionados cuidados e proteção especiais,
inclusive adequados cuidados pré e pós-natais. A criança terá
PREÂMBULO direito a alimentação, recreação e assistência médica adequadas.
    
VISTO que os povos da Nações Unidas, na Carta, reafirmaram PRINCÍPIO 5º
sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no  
valor do ser humano, e resolveram promover o progresso social e À criança incapacitada física, mental ou socialmente serão
melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla,  proporcionados o tratamento, a educação e os cuidados especiais
VISTO que as Nações Unidas, na Declaração Universal dos exigidos pela sua condição peculiar.
Direitos Humanos, proclamaram que todo homem tem capacidade  
para gozar os direitos e as liberdades nela estabelecidos, sem PRINCÍPIO 6º
distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,  
religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua
social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição,  personalidade, a criança precisa de amor e compreensão. Criar-
VISTO que a criança, em decorrência de sua imaturidade se-á, sempre que possível, aos cuidados e sob a responsabilidade
física e mental, precisa de proteção e cuidados especiais, inclusive dos pais e, em qualquer hipótese, num ambiente de afeto e de
proteção legal apropriada, antes e depois do nascimento,  segurança moral e material, salvo circunstâncias excepcionais, a

Didatismo e Conhecimento 55
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
criança da tenra idade não será apartada da mãe. À sociedade e experiência cativada no exílio durante cinco anos, bem como nos
às autoridades públicas caberá a obrigação de propiciar cuidados mostra o papel conscientizado da educação numa ação libertadora
especiais às crianças sem família e aquelas que carecem de meios do próprio “medo da liberdade”. Para Paulo Freire vivemos numa
adequados de subsistência. É desejável a prestação de ajuda oficial sociedade dividida em classes, sendo que os privilégios de uns
e de outra natureza em prol da manutenção dos filhos de famílias impedem que a maioria usufrua dos bens produzidos e, coloca
numerosas. como um desses bens produzidos e necessários pata concretizar
  a vocação necessária do ser mais, a educação, da qual é excluída
PRINCÍPIO 7º grande parte da população do Terceiro Mundo. Refere-se então
  a dois tipos de pedagogia: a pedagogia dos opressores, onde a
A criança terá direito a receber educação, que será gratuita e educação existe como uma prática de dominação e a pedagogia do
compulsória pelo menos no grau primário.  oprimido que precisa ser realizada para que surja uma educação
Ser-lhe-á propiciada uma educação capaz de promover a sua com prática de liberdade.
cultura geral e capacitá-la a, em condições de iguais oportunidades, O movimento da liberdade deve surgir e partir dos próprios
desenvolver as suas aptidões, sua capacidade de emitir juízo e seu oprimidos, e a pedagogia decorrente serão gerados nos homens
senso de responsabilidade moral e social, e a tornar-se um membro e não para os homens; vê-se que não é suficiente que o oprimido
útil da sociedade. tenha consciência crítica da opressão, mas, que se disponha
Os melhores interesses da criança serão a diretriz a nortear os a transformar essa realidade, trata-se de um trabalho de
responsáveis pela sua educação e orientação; esta responsabilidade conscientização e politização. A violência dos opressores é gerada
cabe, em primeiro lugar, aos pais.
por uma ordem que se posiciona injustamente sendo resultado de
A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se,
um processo histórico de desumanização. Esta desumanização dá
visando os propósitos mesmos da sua educação; a sociedade e as
margem ao surgimento da luta pelo direito de cada ser humano,
autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste
direito. a luta pela liberdade trabalhista, e pela afirmação do homem
  enquanto indivíduo possuidor destes direitos.
PRINCÍPIO 8º Em relação à definição de oprimidos e opressores pode haver
  algumas contradições; o que torna os opressores desumanizados
A criança figurará, em quaisquer circunstâncias, entre os é sua violência, e essa violência faz com que os oprimidos
primeiros a receber proteção e socorro. tendam a reagir lutando contra quem os oprime contra quem os
  fez menos. Essa luta só adquire sentido quando o ser menos, ao
PRINCÍPIO 9º buscar sua humanização, não se reconhece opressor devolvendo
  a quem o oprimiu tal violência. A libertação se dá á medida
A criança gozará proteção contra quaisquer formas de que o oprimido reconquistou sua humanidade em ambos os
negligência, crueldade e exploração. Não será jamais objeto de papéis que possivelmente ocupa o do ser mais e o do ser menos.
tráfico, sob qualquer forma.  Toda a Pedagogia do Oprimido se apresenta como um texto
Não será permitido à criança empregar-se antes da idade problematizado, que explicita a própria teoria da educação do
mínima conveniente; de nenhuma forma será levada a ou ser- homem; essa teoria da educação se reflete em generosidade
lhe-á permitido empenhar-se em qualquer ocupação ou emprego verdadeira e humanista podendo alcançar o objetivo da libertação.
que lhe prejudique a saúde ou a educação ou que interfira em seu Só unindo teoria e prática essa libertação pedagógica será possível,
desenvolvimento físico, mental ou moral. além disto, quando os líderes de uma revolução estabelecem uma
  relação dialógica, ao contrário de tentar sobrepor-se aos oprimidos
PRINCÍPIO 10º querendo mantê-los como quase “coisas”, isso se dá efetivamente.
  A pedagogia que parte de interesses individuais, a pedagogia
A criança gozará proteção contra atos que possam “humanitarista”, que está repleta de opressores que se disfarçam de
suscitar discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra generosos, essa pedagogia promove e constrói a desumanização.
natureza. Criar-se-á num ambiente de compreensão, de tolerância, Quando os oprimidos se reconhecem como seus próprios
de amizade entre os povos, de paz e de fraternidade universal e em refazedores permanentes é porque foram capazes de alcançar na
plena consciência que seu esforço e aptidão devem ser postos a
prática o saber da realidade. Esta presença dos oprimidos na busca
serviço de seus semelhantes.
de sua libertação mesma é, assim como deve ser, um engajamento,
desta forma esta atitude se configura como mais que uma pseudo-
participação.
NOÇÕES BÁSICAS SOBRE A Paulo Freire também estabelece uma diferença crucial quando
PEDAGOGIA DO OPRIMIDO. trata de educação bancária e educação libertadora.A pedagogia
dominante é fundamentada em uma concepção bancária de
educação (predomina o discurso e a prática, na qual, quem é o
sujeito da educação é o educador, sendo os educandos como
Pedagogia do Oprimido
vasilhas a serem enchidas; o educador deposita “comunicados”,
que estes, recebem, memorizam e repetem), da qual deriva
Paulo Freire é caracterizado com um pensador que se
uma prática totalmente verbalista, dirigida para a transmissão e
comprometeu, além das idéias, com a própria vida, com a própria
avaliação de conhecimentos abstratos, numa relação vertical,
existência; na Pedagogia do Oprimido ele nos apresenta sua
o saber é dado, fornecido de cima pra baixo, e autoritária, pois

Didatismo e Conhecimento 56
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
manda quem sabe. Na educação bancária o educador é sempre o prática cotidiana, à adesão das massas populares. Esta adesão se dá
que sabe, enquanto os educandos serão os que não sabem. A rigidez ao mesmo tempo que as massas populares confiam em si mesmas
destas posições nega a educação e o conhecimento como processo e em suas lideranças revolucionárias, pois percebem a dedicação e
de busca; educador é o sujeito do processo enquanto o educando a verdadeira defesa da libertação dos homens. Para os opressores,
o mero objeto. Desta maneira o educando, em sua passividade, o que vale é ter cada vez mais, à custa, inclusive do ter menos ou
torna-se apenas um objeto receptor numa falsa pressuposição de do nada ter dos oprimidos. Ser para eles, é ter, e ter como classe
um mundo harmonioso, no qual não há contradições. que tem. O sadismo aparece como uma das características da
O método freireano não ensina a mera repetição de palavras, consciência opressora, na sua visão necrófila do mundo. Por isto é
mas, a despeito disto, coloca o educando numa posição de poder que seu amor é um amor as avessas um amor a morte e não a vida.
re-existenciar criticamente as palavras de seu mundo. É a palavra Na teoria dialógica as lideranças revolucionárias se sentem
que o homem constrói seu mundo e se diferencia dos animais. obrigadas a manter a união dos oprimidos entre si em virtude da
Aprender a escrever sua vida é o principal e mais exato sentido libertação; esta obrigação na prática é pó ponto fundamental.O
da alfabetização, aprender a escrever sua própria vida enquanto contrário do que ocorre com a elite opressora que mantém sua
autor e testemunha constituindo historicamente sua forma e sua unidade interna no intuito de fortalecer sua organização e poder
consciência se fazendo reflexivamente responsável pela história. e por isso importa sua separação das massas; para a liderança
Enquanto a educação bancária é vista como uma modalidade revolucionária deve haver unidade entre ela e as massas. A ação
em que o educador é o único detentor do conhecimento e o da unidade em virtude da libertação se contrapõe á vontade da
educando é vaso vazio a ser preenchido pela sabedoria do mestre, classe dominante e por este motivo é tão difícil para as lideranças
na educação libertadora, ao contrário, há interação entre educando revolucionária manter esta união; o ponto inicial para manter a
e educador onde o ensino e a aprendizagem partem ambos, de unidade é o desvelamento da realidade, a desmistificação do real,
ambos os lados. Quem ensina aprende e quem aprende ensina de modo que também é imprescindível uma forma de ação cultural
simultaneamente. Nesta educação problematizadora proposta por através da qual se possa conhecer o porquê e o como da “aderência”
Paulo Freire o conhecimento não é transferido do educador para à realidade que lhes dá um conhecimento falso dela e de si mesmo;
o educando, mas, a despeito disto, ocorre um compartilhamento também é necessário desfazer a ideologia e conhecer a verdadeira
de experiências onde se encontram as condições necessárias maneira que o mundo se apresenta, realizando, deste modo, uma
para a construção de seres críticos, no decorrer do diálogo com o adesão à verdadeira prática de transformação da realidade injusta.
educador, por sua vez, também ser crítico. É na tentativa da liderança manter um testemunho de que
Dentro da situação concreta de opressão e oprimidos, a auto- busca a libertação, que é uma tarefa comum entre um povo, que
desvalia é uma das características do oprimido, que resulta da se faz presente a teoria dialógica; e é este testemunho que, por sua
introjeção que fazem eles da visão que deles tem os opressores. vez, singelo e corajoso, exercita uma tarefa comum, a fim de evitar
De tanto ouvirem de si mesmos que são incapazes, indolentes, que o risco dos direcionamentos anti-dialógicos; este testemunho
não sabem nada, que não podem saber, acabam por se convencer é ainda uma das principais interpretações das características
de sua “incapacidade”. Quando isto efetivamente ocorre o mundo culturais e pedagógicas da revolução. Os homens humanizam-se,
do oprimido não é visto a partir de uma nova perspectiva que trabalhando juntos para fazer do mundo, sempre mais, a mediação
valoriza a verdade das palavras numa mediatização dos sujeitos de consciências que se coexistenciam em liberdade. Um método
conhecedores, que, por sua vez, não culminam em sua própria pedagógico de conscientização alcança as últimas fronteiras do
humanização. humano, e como o homem sempre se excede, o método também o
O diálogo não é um produto histórico, é a própria historicização, acompanha, é a educação como prática de liberdade. A luta do ser
é ele, pois, o movimento constitutivo da consciência que se menos pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação,
abrindo para a infinitude, vence intencionalmente as fronteiras pela afirmação do homem como pessoa, somente tem sentido
da finitude e, incessantemente, busca reencontrar-se além de si quando os oprimidos buscarem recuperar sua humanidade, não
mesmo. Expressar-se expressando o mundo, implica o comunicar- se sentem idealisticamente opressores, nem se tornam de fato,
se. Alfabetização não é um jogo de palavras, é a consciência opressores dos opressores, mas restauradores da humanidade em
reflexiva da cultura, a reconstrução critica do mundo humano, é ambos.
toda a pedagogia: aprender a ler é aprender a dizer sua palavra- A ação cultural, no entender de Paulo Freire, se põe ou a
ação. A teoria contrária, a anti-dialógica, se caracteriza nas elites serviço dos opressores, ou a serviço da libertação dos homens, de
dominadoras e essas classes têm interesse em dividir a sociedade forma consciente ou inconsciente. Quando se põe a serviço dos
entre eles e a ‘massa popular’, pois se não ocorrer tal divisão a opressores, na ação cultural não se encontra a possibilidade de seu
classe oprimida pode despertar em um sentimento de união que é caráter de ação induzida; quando se põe a serviço da libertação
indispensável à ação libertadora; já a teoria da ação dialógica se dos homens, a ação cultural se coloca em posição dialógica e se
caracteriza numa classe ocupada em revolucionar libertadoramente acha a condição para superar a indução. Segundo Paulo Freire
os métodos estabelecidos, nesta classe é possível encontrar os a libertação é um processo doloroso, pois depende do próprio
sujeitos que visam à transformação do mundo através da educação. individuo expulsar ou não o opressor de dentro de si. O homem
Vemos que na teoria anti-dialógica o sujeito domina o que nasce deste parto é um homem novo que só é viável na e
objeto, enquanto na teoria dialógica os sujeitos unidos e reunidos pela superação da contradição opressores-oprimidos, que é a
pronunciam o mundo. Enquanto na ação anti-dialógica a elite libertação de todos. A superação da contradição é o parto que traz
dominadora disfarça o mundo para dominá-lo de melhor forma ao mundo este homem novo, não o opressor, não mais o oprimido,
a ação dialógica visa desvelar o mundo; este desvelamento do mas homem libertando-se. Um dos problemas mais graves que se
mundo e do próprio indivíduo enquanto parte dele possibilita, na põem à libertação é que opressores e oprimidos precisam ganhar a

Didatismo e Conhecimento 57
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
consciência critica da opressão, na práxis desta busca. Através da A solidariedade nasce no testemunho que a liderança dá ao
práxis autêntica que, não sendo “blábláblá”, nem ativismo, mas povo, no encontro humilde, amoroso e corajoso. Nem todos têm a
ação e reflexão, e possível fazê-lo. Práxis é a reflexão e ação dos coragem deste encontro e nos enrijecemos no desencontro, no qual
homens sobre o mundo para transformá-lo, sem ela é impossível à transformamos os outros em puros objetos, e ao assim agirmos
superação da contradição opressor-oprimido. nos tornamos ‘necrófilos’, em lugar de ‘biófilos’, matamos a
Deste modo, se os indivíduos puderem se descobrir a partir de vida, em lugar de alimentarmos, em lugar de buscá-la, corremos
uma modalidade de ação cultural que problematize em si mesma dela. Manipulação é uma das características da teoria da ação
a ação de confronto com o mundo, isto significa, num primeiro anti-dialógica, é a manipulação das massas oprimidas. Através
momento, que se descubram como tal e reconheçam sua identidade da manipulação vão tentando conformar as massas populares e
com toda a significação profunda que tem esta descoberta. Não seus objetivos. Crianças deformadas num ambiente de desamor,
levar em conta a visão do mundo que o povo tem é um dos erros opressivo, frustradas na sua potência, se não conseguem na
que a liderança comete. No caso da liderança revolucionária, juventude, endereçar-se no sentido da rebelião autêntica, ou
o conhecimento desta visão do mundo lhe é indispensável se acomodam numa demissão total do seu querer, alienados a
para sua ação, enquanto síntese cultural. O que a ação cultural autoridades e aos mitos, poderão vir a assumir formas de ação
dialógica pretende é o não desaparecimento da dialeticidade destrutiva.
entre permanência e mudança, e a superação das contradições O trabalho de Paulo Freire pode ser visto não apenas
antagônicas de que resulte a libertação dos homens. como um método de alfabetização, mas como um processo
É como homens que os oprimidos têm que lutar e não de conscientização, por levar em conta a natureza política da
como «coisas», na relação de opressão em que estão que se educação. Para ele o objetivo da educação deveria ser a libertação
encontram destruídos. A luta por esta reconstrução começa do oprimido, que lhe daria meios de transformar a realidade social
no autoconhecimento dos homens destituídos. Um educador e sua volta mediante “conscientização” (conhecimento crítico do
humanista, revolucionário deve orientar-se no sentido da mundo).A eficácia e a validade de seu método fundamentam-se no
humanização de ambos. Do pensar autêntico e não no sentido de fato de partir da realidade do alfabetizando, do seu universo, do
doação, da entrega do saber, sua ação deve estar fundida da crença valor pragmático das coisas e fatos de sua vida cotidiana, de suas
nos homens. Isto tudo exige dele um companheiro dos educandos, situações existenciais.
em suas relações com estes. A educação como pratica de liberdade Obedece às normas metodológicas e linguísticas, mas vai
implica a negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado além delas, ao desafiar o homem ou a mulher que se alfabetizam a
do mundo, assim como também a negação do mundo como uma se apropriarem do código escrito com vistas a sua politização. Vale
realidade ausente. a pena ressaltar que apesar de os educadores e profissionais da
A prática problematizadora propõe ao homem sua situação
área educacional sofrerem diferentes tipos pressões, degradação
como situação problema, propõe a ele a sua situação como
salarial e até mesmo queda no prestigio social, ainda depende deles
incidência de seu ato cognoscente, através do qual será possível
a valorização, a qualidade e a excelência da educação.
a superação da percepção mágica ou ingênua que dela tenham.
O diálogo é também uma exigência existencial, e se ele é o
encontro em que solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos
endereçados ao mundo e ser transformado e humanizado, não A RELEVÂNCIA DA PRESENÇA, DO
pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no VÍNCULO E DO EXEMPLO COMO
outro, nem tampouco tornar-se simples troca de idéias a serem COMPONENTES DO PROCESSO
consumidas pelos permutantes. A auto-suficiência é incompatível EDUCATIVO.
com o diálogo. Homens que não tem humildade ou a perdem, não
podem aproximar-se do povo. Se alguém não é capaz de sentir-se e
souber-se tão homem quanto os outros, é que lhe falta ainda muito
que caminhar para chegar ao lugar do encontro com eles. Muitos dos estudos feitos sobre aprendizagem ignoraram
A confiança vai fazendo os sujeitos dialógicos cada vez mais as questões afetivas nos processos cognitivos do indivíduo ou
companheiros na pronuncia do mundo. Falar em democracia e trataram a afetividade como fazendo parte da socialização deste
silenciar o povo, falar em humanismo e negar os homens é uma (Sisto e Martinelli, 2006). Atualmente, existe grande interesse em
mentira. Para o educador educando, dialógico, problematizador, estudar o afeto e sua influência no processo de aprendizagem.
o conteúdo programático da educação não é uma doação ou Piaget em 1954 afirma que a afetividade não modifica a
uma imposição, mas devolução organizada, sistematizada e estrutura no funcionamento da inteligência, porém é a energia que
acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregar impulsiona a ação de aprender. “A ação, seja ela qual for, necessita
de forma desestruturada. A investigação da temática envolve de instrumentos fornecidos pela inteligência para alcançar um
investigação do próprio pensar. Pensar que não se dá fora dos objetivo, uma meta, mas é necessário o desejo, ou seja, algo que
homens, nem num homem só, nem no vazio, mas nos homens e mobiliza o sujeito em direção a este objetivo e isso corresponde à
entre os homens, e sempre referidos a realidade. No processo da afetividade”
descodificação cabe ao investigador, auxiliar, não apenas ouvir A afetividade não modifica a estrutura no funcionamento da
os indivíduos, mas desafiá-lo cada vez mais problematizando, de inteligência, porém, poderá acelerar ou retardar o desenvolvimento
um lado, a situação existencial codificada e de outro, as próprias dos indivíduos, podendo até interferir no funcionamento das
respostas que vão dando aqueles no decorrer do diálogo. estruturas da inteligência.

Didatismo e Conhecimento 58
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Wallon em sua teoria fez a distinção entre emoção e Ao ingressar na escola, a criança traz em sua bagagem estes
afetividade: afetividade é um conceito amplo, que inclui um conhecimentos que terão de ser levados em conta por quem ensina.
componente orgânico, corporal, motor, plástico (emoção), um Muitos dos valores socioculturais aprendidos no contexto familiar
componente cognitivo, representacional (sentimentos) e um podem entrar em conflito com os conhecimentos que a escola
componente expressivo (comunicação). pretende transmitir.
O professor que acredita no potencial de seu aluno, dispensa- Os conflitos que surgem desta interação se devem, em parte,
lhe maior atenção, demandando maior expectativa acadêmica. ao sistema educativo familiar e à visão que a família tem da escola
O professor que tem comportamento contrário poderá promover e o que pretende com a permanência das crianças neste ambiente.
em seu aluno, baixa expectativa, o que poderá influenciar Quando a família acredita que os valores e as normas do ambiente
negativamente seu auto conceito e auto-estima. escolar são superiores aos da família acabam por exigir que seus
filhos se submetam, sem mesmo questioná-las, fazendo com que
O professor como mediador do processo a educação seja àquela idealizadora que servirá como salvação,
em muitos casos, de uma situação econômica desfavorável.
Cabe ao professor um importante papel nas inter-relações Normalmente pais que agem dessa maneira, são aqueles que
escolares. As não tiveram oportunidade de freqüentar uma escola, por fatores
características individuais dos professores (autoritário, econômicos.
permissivo, organizado) e seus traços de personalidade são Existem ainda os pais que não acreditam na educação escolar
apontadas como responsáveis por maior ou menor eficiência como e tampouco na cultura postulada por esta e que tratam a educação
docentes, assim como a predisposição deste indivíduo para o com descaso e submetem seus filhos a ela apenas como obrigação
magistério. civil. Estes pais, quase sempre, são aqueles que conquistaram
O professor precisa estabelecer uma relação afetiva com os algum poder econômico graças a sua “esperteza” perante a vida,
alunos e que perceba que como indivíduo, seus alunos também como alguns comerciantes ou profissionais liberais.
têm algo a oferecer e que a aprendizagem se faz por intermédio Quando nos referimos ao modelo educativo familiar como
das interações que são estabelecidas. O professor oferece por parte do conflito que pode surgir no ambiente escolar, estamos
meio de suas atitudes, uma série de informações ao aluno que irão nos referindo às diversas emoções e sentimentos que podem surgir
contribuir na formação de seu auto conceito. na interação familiar. As crianças que trazem a agressividade ou
Para realizar as propostas do ensino, o professor deve a passividade ou ainda adquiriram um baixo auto conceito desta
conhecer bem as possibilidades de aprendizagens do aluno e suas relação pode tender a descarregá-las nos colegas ou professores,
características individuais, para que possa adequar a metodologia interferindo, portanto, em seu desenvolvimento de aprendizagem
de ensino ao aluno. O conhecimento será feito por intermédio ou de seus pares.
da interação e da comunicação, da observação constante de seus Os seres humanos diferem uns dos outros em vários aspectos
processos de aprendizagem e da reavaliação da proposta a cada
como a inteligência, as habilidades, os esquemas de conhecimento
nova fase do processo.
que empregam, as estratégias de aprendizagem, os interesses, as
O professor como mediador do processo deve ajudar ou
expectativas, as motivações e todos esses aspectos incidem sobre
facilitar os alunos a construir aprendizagens significativas e, para
os processos de ensino-aprendizagem de forma distinta e particular
tal, precisa atribuir um sentido pessoal à aprendizagem para que os
para cada aluno.
alunos compreendam não apenas o que têm de fazer, mas também
por que e para quê. A participação ativa dos alunos acontece
quando estes sentem que podem ter êxito em sua aprendizagem e Escola inclusiva como espaço de acolhimento, de aprendi-
para isso devem ser propostas atividades que eles sejam capazes zagem e de socialização
de resolver com as ajudas necessárias, e sejam encorajados pelo Na qualidade de espaço instituído pela esfera política e
esforço e não pelo resultado. mediatizado pelo Estado, pela família e a sociedade, a Escola por
Encontramos o professor que usa a motivação como integrar um amplo e complexo sistema social que não é neutro,
instrumento metodológica na relação de aprendizagem, entendendo pois se compõem de grupos diversos e por vezes divergentes, sofre
que esta se realiza na interação entre ele e o aluno, discordando da intervenção dessas esferas, não sendo também ela uma instituição
posição autoritária que antes designava esta função. neutra, isolada, uma vez que representa os interesses da sociedade
A participação psicopedagógica nesta relação é de, inicialmente, como construção histórica.
procurar conhecer o professor e sua preparação pedagógica, o A Escola é a instituição responsável pela passagem da vida
projeto político pedagógico da escola e os mecanismos que usam particular e familiar para o domínio público, tendo assim função
para alcançar o desenvolvimento ensinoaprendizagem, para que social reguladora e formativa para os alunos.
sua intervenção seja feita de modo consciente e compatível com os  A Escola é a instituição por intermédio da qual a criança se
envolvidos nesta relação. introduz no mundo público, e daí o papel do Estado em relação
a todas elas. À família cabe o dever de garantir à criança o que
A família e sua influência na escola é típico do domínio privado do lar, e ao Estado cabe garantir o
direito indispensável da criança à educação Escolar, pois é ela que
A família ou o meio familiar em que a criança está inserida faz a transição entre essas duas vidas.
é o seu primeiro ambiente de aprendizagem; é nesse contexto As causas fundamentais que têm promovido o aparecimen-
que a criança aprende as primeiras habilidades sociais, como to da inclusão são de dois tipos: por um lado, o reconhecimento
a comunicação entre seus semelhantes, assim como lhes são da educação como um direito, e, por outro, a consideração
transmitidos os valores sociais da cultura em que esta família se da diversidade como um valor educativo essencial para a
insere, e suas expectativas. transformação das Escolas.

Didatismo e Conhecimento 59
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
O que se espera de todos é a semelhança, o grupo, a padroni- Uma Escola inclusiva adota práticas baseadas na valorização
zação. A diversidade cultural constitui um problema para a con- da diversidade humana, no respeito pelas diferenças individuais,
vivência humana, pois, por meio dos “ideais” sociais, que são di- no desejo de acolher todas as pessoas, na convivência harmoniosa,
fundidos e assimilados por todos, são determinados os modelos, na participação ativa e central das famílias e da comunidade local
de acordo com os quais o sujeito deve agir. Temos consciência de em todas as etapas do processo de aprendizagem. E, finalmente,
que a sociedade possui uma visão de homem padronizada e classi- na crença de que, qualquer pessoa, por mais limitada que seja
fica as pessoas de acordo com essa visão. Elegemos um padrão de em sua funcionalidade acadêmica, social ou orgânica, tem uma
normalidade e nos esquecemos de que a sociedade se compõe de contribuição significativa a dar a si mesma, às demais pessoas e à
homens diversos, que ela se constitui na diversidade, assumindo sociedade como um todo.
de um outro modo as diferenças. Este deve ser um trabalho ne- Para uma Escola tornar-se inclusiva, ou seja, uma instituição
cessário, o de mudar a imagem que a sociedade tem das pessoas que, além de aberta para trabalhar com todos os alunos, incentiva
especiais e rever esta exigência de que todos devem ser iguais e a aprendizagem e a participação ativa de todos, faz-se necessário
seguirem padrões e normas para demonstrarem essa igualdade. um investimento sistemático, efetivo, envolvendo a comunidade
As diferenças entre alunos são vistas como um problema. Escolar como um todo.  Para isso efetuar-se de maneira satisfa-
tória, é ainda necessário que a Escola tenha estímulo e autonomia
Muitas pessoas acreditam que as diferenças dos alunos em
na elaboração de seu projeto pedagógico, que possa elaborar um
relação a ajustes educacionais são dificuldades que necessitam
currículo Escolar que reflita o meio social e cultural onde os alu-
ser trabalhadas, melhoradas ou os alunos precisam estar “prontos”
nos estão inseridos; que tenha a aprendizagem como eixo central
(homogeneizados) para se encaixarem em uma situação de
em suas atividades Escolares e que reconheça o enriquecimento
aprendizagem. Essa visão pode ser um grande inconveniente, advindo da diversidade.
prejudicando, assim, o processo de aprendizagem nas salas de aula A inclusão escolar é tolerância. As relações e os conflitos
que tentam promover valores e oportunidades de aprendizagem interpessoais do cotidiano escolar, com os sentimentos,
inclusivas para todos os alunos. pensamentos, posicionamentos e emoções, exigem de todos um
Para que a inclusão seja bem sucedida, as diferenças dos processo de aprendizagem para o enfrentamento adequado dos
alunos devem ser reconhecidas como um recurso positivo. As impasses da inclusão escolar na convivência com o outro que
diferenças entre os alunos devem ser reconhecidas e capitalizadas pode-se admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem
para fornecer oportunidades de aprendizagem para todos os alunos dos demais. A tolerância, os sentimentos, emoções e valores
da classe. podem induzir as pessoas a compreender melhor às causas e
A educação inclusiva é um meio privilegiado para alcançar conseqüências dos conflitos cotidianos, assim a educação trabalha
a inclusão social, algo que não deve ser alheio aos governos e as dimensões cognitiva e afetiva, além disso, prepara os alunos
estes devem dedicar os recursos econômicos necessários para para a vida cotidiana ao mesmo tempo.
estabelecê-la. Mais ainda, a inclusão não se refere somente ao Inclusão escolar é afirmar diferenças. Postas algumas idéias
terreno educativo, mas o verdadeiro significado de ser incluído. sobre diferenças, para os alunos a definição é clara e objetiva; é
Está implícita na inclusão social, a participação no mercado de o jeito de ser de cada um, Alguns de seus conceitos se sustentam
trabalho competitivo, sendo este o fim último da inclusão. em marginalização, preconceitos, estereótipos e estigma. Outros
A educação inclusiva não é tarefa somente da Escola, ela deve entendem que cada aluno como um ser único, individual e particular,
caminhar junto com a construção de uma sociedade inclusiva, pois é assegurar a diferença como valor, como item de admiração. Nas
a instituição Escolar precisa estar relacionada ao sistema social, proposições dos professores o diferente fica cada vez mais comum
político e econômico vigente na sociedade. A educação inclusiva no cotidiano da escola. Comum nas suas necessidades e diferente
implica na implementação de políticas públicas, na compreensão na sua individualidade.
da inclusão como processo que não se restringe à relação Diferença que impõem, no dia-a-dia, a presença do aluno com
professor-aluno, mas que seja concebido como um princípio de identidade, com história.
educação para todos e valorização das diferenças, que envolve
1. Educação Humanística e Educação Técnico-Profissio-
toda a comunidade Escolar.
nalizante
A principal razão para a inclusão não é que os alunos
previamente excluídos estarão necessariamente se tornando
Analisemos, por exemplo, de início, a questão da chamada
proficientes em socialização, história ou matemática, embora seja
educação humanística versus a chamada educação técnico-pro-
óbvio que nas turmas inclusivas há mais oportunidades para todos fissionalizante. Certamente nesta questão tem havido radicais de
crescerem e aprenderem. Ao contrário, a inclusão de todos os ambos os lados.
alunos ensina ao aluno portador de deficiências e a seus colegas De um lado há aqueles que enfatizam a conexão entre edu-
que todas as pessoas são membros igualmente valorizados da cação e conhecimento, concebendo a noção de conhecimento de
sociedade, e que vale a pena fazer tudo o que for possível para modo a incluir nela quase que tão somente os pontos de vista e
poder incluir todos na nossa sociedade. temas que, de certa maneira, sobreviveram o teste de durabilidade
A inclusão é percebida como um processo de ampliação da e que, portanto, se mostraram “perenes” -- há uma escola de teo-
circulação social que produz uma aproximação dos seus diversos ria educacional chamada “perenialismo” -- e de modo a excluir
protagonistas, convocando-os à construção cotidiana de uma da noção de conhecimento, e, consequentemente, de sua visão da
sociedade que ofereça oportunidades variadas a todos os seus educação, tudo aquilo que se refere mais diretamente ao preparo
cidadãos e possibilidades criativas a todas as suas diferenças. para o exercício de uma profissão técnica. Este preparo é conside-

Didatismo e Conhecimento 60
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
rado como mero treinamento ou adestramento em certas técnicas e 2. Educação e Democracia
habilidades e não deveria merecer o honroso privilégio de ser con-
siderada parte integrante do processo educacional, sendo batizado O que acabamos de dizer aplica-se, a nosso ver, mutatis mu-
com vários nomes diferentes, como “processo de qualificação de tandis, à relação entre educação e democracia. Em um contexto
mão-de-obra especializada”, “processo de formação de recursos sociocultural em que a democracia é um valor básico, e o exercí-
humanos para as áreas técnicas”, etc. cio da cidadania democrática é tido como algo valioso, o processo
Do outro lado há aqueles, frequentemente não menos radicais, educacional vai ser visto como (pelo menos em parte) preparação
que enfatizam a conexão entre educação e vida, concebendo a no- para o exercício da cidadania democrática, fato que levará, sem
dúvida, o sistema educacional a apresentar certas características
ção de vida de modo a realçar suas ligações com o trabalho, e a
que poderia não apresentar em outros contextos, onde diferentes
deixar de lado suas ligações com o lazer. Educar, afirmam, é pre-
fossem os valores. Naturalmente, a democracia, enquanto valor é
parar para a vida, para o exercício de uma profissão. Tudo o mais
plenamente compatível com outros valores, e um processo edu-
é “ornamento”, “adorno”, “perfumaria”, menos educação. Dentre cacional que prepara o indivíduo para o exercício da cidadania
os que assumem esta posição há os que enfatizam o trabalho como democrática pode também prepará-lo para o exercício de uma pro-
forma de auto realização individual, há os que procuram realçar fissão, para a apreciação das artes, para o gozo dos momentos de
o papel do trabalho como fator de desenvolvimento econômico, lazer, etc.
etc. Concordam, porém, em que o objetivo educacional básico é Voltamos a enfatizar, se não concordamos com os valores de
a preparação do indivíduo para a vida ativa do trabalho. (De certa uma determinada cultura, devemos criticar e combater esses valo-
maneira, as velhas discussões medievais acerca das vantagens e res, e não condenar o seu sistema educacional por incorporá-los.
desvantagens da vida contemplativa e da vida ativa se repetem, A questão difícil que pode ser colocada, entretanto, é como
com outras roupagens). mudar valores sem atuar na educação?
Não vamos tentar resolver essa controvérsia. Somente vamos
procurar situá-la dentro de nossa conceituação de educação. Ao 3. Educação e Sociedade
conceituar a educação, e ao explicitar aquela conceituação, obser-
vamos que os conteúdos (no sentido visto) que podem ser parte Isto nos traz ao nosso terceiro comentário, que está estreita-
integrante do processo educacional são conteúdos considerados mente ligado ao que acabamos de dizer, e que diz respeito ao que
valiosos dentro de um dado contexto sociocultural. Mencionamos, poderíamos chamar de relacionamento entre educação e socieda-
também, sem discutir o fato, que se considerarmos o termo “cultu- de. Observamos atrás que, se concebermos o termo “cultura” em
um sentido amplo, pode coexistir, dentro de uma mesma cultura,
ra” em um sentido amplo (como quando se fala em “cultura brasi-
valores conflitantes. A maior parte do mundo vive em sociedades
leira”), valores conflitantes podem coexistir dentro de uma mesma
de classes, e as várias classes sociais, frequentemente, têm valores
cultura. Imaginemos, agora, para efeito de argumentação, uma diferentes. Em uma sociedade pluralista, onde valores se chocam,
cultura cujos valores sejam bastante coerentes, na qual o trabalho, onde os conteúdos considerados valiosos por uns e por outros não
seja como forma de realização pessoal, seja como fator básico de se identificam, que foram deverá tomar o sistema educacional?
desenvolvimento econômico, seja o valor preponderante. Uma solução que se tem dado a este problema é o da cria-
Nesta cultura, a preparação para o trabalho, a formação pro- ção de vários subsistemas educacionais, cada um deles enfatizan-
fissional, será, quer nos parecer, o elemento predominante no pro- do certo conjunto de valores. Esta solução pareceria democrática,
cesso educacional, outros ingredientes que possam não parecer pois permitiria que cada qual escolhesse o subsistema em que iria
diretamente profissionalizantes só sendo permitidos, dentro do ingressar, ou para o qual enviaria seus filhos, dependendo de seus
processo educacional, na medida em que, mesmo de maneira in- próprios valores e daqueles que cada um dos subsistemas enfati-
direta, venham a contribuir para o bom desempenho profissional. zasse. Na prática sabemos que esta solução não tem sido muito
Estamos, sem dúvida, simplificando as coisas aqui, não fazendo democrática. Na verdade, os que propõem um sistema educacional
várias distinções básicas e deixando de lado os aspectos comple- único (a “escola única”) têm reivindicado, igualmente, a demo-
xos que envolvem processos educacionais concretos (e não imagi- craticidade de sua proposta e combatido a falta de democraticida-
nários), apenas para esclarecer alguns aspectos da questão e mos- de da solução que esboçamos, observando que esta solução leva,
trar a abrangência de nossa conceituação de educação. invariavelmente, à existência de um subsistema educacional para
Em um contexto socioeconômico como o que acabamos de os “nossos filhos” e de outro(s) subsistema(s) para “os filhos dos
outros”, visto que o acesso a um e a outro subsistema não é, por
imaginar, ninguém, mesmo que não concorde com a hierarquia de
razões predominantes econômicas, franqueado, de igual maneira,
valores predominante naquele contexto, pode condenar a educa-
a todos.
ção por ser estritamente profissionalizante: ela estará se ocupando
Outra solução, mais em moda no Brasil de hoje, preconiza a
dos conteúdos considerados valiosos naquele contexto. Se nossos existência de um sistema educacional único que gradativamente
valores não coincidem com os dessa cultura que imaginamos, de- se diferencia em subsistemas e que permite mobilidade horizontal
vemos criticar e combater os valores dessa cultura, e não condenar (entre os subsistemas) e vertical (entre os subsistemas de um nível
o seu sistema educacional por incorporá-los. Em uma cultura cujos e os de outro nível).
valores sejam diametricamente opostos aos da cultura que acaba- Não vamos entrar aqui nos méritos ou deméritos dessas so-
mos de imaginar, o processo educacional terá conteúdos basica- luções nem mencionar outras que têm sido propostas. Esta não é
mente diferentes no que diz respeito ao seu teor, mas ainda assim nossa intenção. Estamos simplesmente procurando ilustrar o fato
conteúdos considerados valiosos naquele contexto. de que dentro de uma mesma cultura pode haver valores conflitan-

Didatismo e Conhecimento 61
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
tes, fato este que faz com que o sistema educacional enfrente sérios cumprisse o objetivo de preparar para o trabalho e para uma pro-
problemas e dificuldades para levar em conta esta divergência e fissão, e, ao mesmo tempo, possibilitasse ao aluno assumir uma
conflitância de valores, e, consequentemente, de conteúdos consi- postura crítica diante do próprio tipo de educação que estava re-
derados valiosos e de concepções de quais devam ser os objetivos cebendo. O dilema educacional por excelência é, portanto, o do
educacionais específicos a serem promovidos. autoquestionamento da educação. É somente na medida em que a
educação leva o indivíduo a questionar sua própria educação que
4. Educação e a Chamada “Classe Dominante” está recebendo que ela está se desincumbindo de sua tarefa. Pro-
cessos que levam ao mero domínio e à mera aceitação de conteú-
Problema mais sério e grave é trazido à tona por aqueles que dos, mesmo daqueles unanimemente considerados valiosos, não
apontam ao fato de que sistemas e subsistemas educacionais são são educacionais por não levarem os indivíduos à compreensão
organizados e administrados por uma ínfima parcela da população, desses conteúdos, compreensão esta que inevitavelmente envolve
invariavelmente da chamada classe dominante, e refletem, em de- o seu questionamento.
corrência disso, os interesses e os valores dessa classe (que, por-
que dominante, está desejosa de manter o status quo, de perpetuar
7. Educação e o Desenvolvimento das Potencialidades do
seus privilégios, e que, conseqüentemente, vê a tarefa da educação
Indivíduo
como sendo, de um lado, preparar uma elite para vir a ser os fu-
turos “donos do poder”, e, de outro lado, preparar o restante da
população para se conformar com a condição de dominados) e não Salientamos um comentário, este acerca do ponto de vista,
daqueles a quem esses sistemas e sub-sistemas se destinam. Não bastante difundido, que conceitua a educação como o desenvol-
nos cabe aqui analisar esta questão, pois nosso propósito é mostrar vimento das potencialidades do indivíduo. A dificuldade básica
que mesmo esse ponto de vista acerca da educação se enquadra dessa conceituação diz respeito à noção de potencialidades. Em
dentro de nossa conceituação, pois nela, deliberadamente, não relação a qualquer indivíduo, quer nos parecer que seja impossí-
incluímos nenhuma indicação acerca de quem considera valiosos vel dizer, a priori, quais sejam as suas potencialidades. A noção
os conteúdos do processo educacional, apontando, inclusive, para de potencialidades, a nossa ver, quando aplicada a seres humanos,
o problema que surge em decorrência da coexistência de valores é uma daquelas noções que só têm sentido retrospectivamente.
conflitantes dentro de uma mesma cultura. Deixamos, portanto, es- Baseando-nos naquilo que um dando indivíduo se torna, podemos
paço para aqueles que conceituam a educação em termos do que afirmar que tinha potencialidade de tornar-se aquilo (pois doutra
ela é, bem como para aqueles que a conceituam em termos do que forma não se teria tornado). Só sabemos, portanto, quais as poten-
ela deve ser. cialidades de alguém a posteriori, depois que essas potencialidades
já foram “atualizadas”, isto é, depois de este alguém ter se tornado
5. A Educação que é e a que deve ser aquilo para que tivesse potencialidade.
Contudo, mesmo que fosse possível descobrir a priori quais
Cumpre-nos relembrar, porém, que incluímos, em nossa con- as potencialidades dos indivíduos, nada nos garante que todas as
ceituação de educação, a exigência de que o processo, para que suas potencialidades devessem, igualmente, ser desenvolvidas.
seja educacional, deva levar ao domínio e à compreensão de con- Pode ser que algumas potencialidades (como, possivelmente, a
teúdos considerados valiosos, e observamos que um processo que potencialidade para comportamento agressivo e destrutivo) não
leva ao domínio, sem compreensão, sem crítica, sem investigação devessem ser desenvolvidas. E ao decidirmos quais potencialida-
da razão de ser, de certos conteúdos, não pode ser visto como edu- des deveriam e quais não deveriam ser desenvolvidas cairíamos no
cacional. Este é um lembrete que qualifica o que dissemos no final domínio dos “conteúdos considerados valiosos”.
do parágrafo anterior, porque muito embora possamos falar em Portanto, essa difundida conceituação de educação caracteriza
educação em termos do que ela é, não devemos nos esquecer de o processo educacional como algo impossível (por não ser possível
que a educação como ela é frequentemente não é educação, mas,
identificar a priori quais as potencialidades de alguém), ou, então,
sim, como veremos, doutrinação.
cai dentro de nossa conceituação (se se admite a possibilidade de
identificar potencialidades a priori, cai-se na necessidade de dis-
6. O Grande Dilema da Educação
criminar entre as potencialidades que devem e as que não devem
A exigência de que um processo, para ser educacional, deva ser desenvolvidas, entre as potencialidades cujo desenvolvimento
levar ao domínio e compreensão de conteúdos considerados valio- é considerado valioso e aquelas cujo desenvolvimento não é assim
sos coloca o processo educacional diante daquilo que considera- visto).
mos sua maior dificuldade, e, por isso mesmo, seu maior desafio:
de que maneira podem indivíduos vir a adquirir domínio de certos 8. Educação e Doutrinação
conteúdos considerados valiosos e, ao mesmo tempo, adquirir su-
ficiente compreensão desses conteúdos de modo a assumir diante Há muita controvérsia, hoje em dia, em relação ao conceito de
deles uma postura crítica e aberta, que os leve a um exame crite- doutrinação. Não vamos, aqui, tentar solucionar todas as disputas
rioso desses conteúdos e das alternativas a eles, exame esse de que e divergências: vamos apenas nos situar dentro da controvérsia,
pode, inclusive, resultar sua rejeição? apresentando e defendendo um conceito de doutrinação e mostran-
Naquela cultura que imaginamos atrás, na qual o valor pre- do como o conceito de doutrinação se relaciona com os conceitos
ponderante era o trabalho, o desafio educacional maior seria o de de educação, ensino e aprendizagem.
encontrar uma maneira de promover a educação profissional que Antes, algumas considerações gerais.

Didatismo e Conhecimento 62
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
1. Considerações Gerais mencionado (crenças, etc.)? A resposta a esta questão deve ser,
Quando, na seção anterior, procuramos conceituar a educação, a nosso ver, enfaticamente negativa. Mas se este é o caso, o que
afirmamos que os conteúdos que podem ser objeto de educação realmente distingue a doutrinação da educação?
são (desde que considerados valiosos) os mais amplos possíveis, Em duas ocasiões, em nossa seção anterior, aludimos, de pas-
não restringindo, de maneira alguma, esses conteúdos à esfera in- sagem, à doutrinação. Pare melhor entendermos esse conceito,
telectual e cognitiva. relembramos aqui essas passagens: “Alguém que aceita normas
Quando falamos em doutrinação, porém, parece haver uma sociais e valores culturais sem examinar e compreender sua razão
grande limitação no tocante aos conteúdos que podem ser doutri- de ser, sem dúvida aprendeu um certo conteúdo (possivelmente até
nados, a saber: apenas crenças, ou pontos de vista, ou convicções, através do ensino), mas o fez sem compreensão: a aprendizagem,
ou ideologias, ou, talvez, teorias, podem ser doutrinados. Não pa- neste caso, foi não-educacional, e se a aprendizagem foi decorrên-
rece fazer o menor sentido afirmar que alguém foi doutrinado, a cia de um ensino que estava interessado apenas na aceitação das
menos que conteúdo dessa doutrinação seja alguma coisa do tipo normas e dos valores, e não na sua compreensão, o ensino também
que acabamos de mencionar. Parece absurdo dizer que alguém foi foi não-educacional (tendo sido, possivelmente, doutrinacional).
doutrinado a adotar uma atitude passiva diante da violência, por Na segunda passagem observamos: “... O ensino e aprendizagem
exemplo, ou a tomar banho diariamente, ou qualquer coisa desse de conteúdos que consistam de enunciados falsos, ou de enuncia-
tipo. Alguém pode ter sido condicionado a adotar uma atitude pas- dos que a melhor evidência disponível indique terem pouca pro-
siva diante da violência, ou a banhar-se diariamente, mas condi- babilidade de serem verdadeiros (e, consequentemente, grande
cionamento e doutrinação não é a mesma coisa. Condicionamento probabilidade de serem falsos), ou, talvez, de enunciados acerca
tem que haver com comportamento, atitudes, hábitos. dos quais a evidência, favorável ou contrária, seja inconclusiva,
Doutrinação tem que haver com crenças, pontos de vista, não devem ser parte integrante do processo educacional, pois quer
etc. Alguém pode, portanto, ser doutrinado na crença de que se nos parecer que em nossa cultura não seja considerado valioso
deva tomar uma atitude passiva diante da violência -- mas isto um conteúdo que consista de enunciados falsos, ou contrários à
já é outra coisa: estamos lidando, agora, com crenças e não com melhor evidência disponível, ou acerca dos quais a evidência seja
atitudes. (Não há, por exemplo, garantias de que quem acredite inconclusiva. “O ensino de conteúdos deste tipo parece bem mais
próximo da doutrinação do que da educação”.
que se deva tomar uma atitude passiva diante da violência venha
O que nos sugerem estas observações feitas atrás? A primeira
a assumir esta atitude quando confrontado com a violência: há
nos sugere que o tipo de aprendizagem associado com a doutri-
sempre a possibilidade de que haja incoerência entre o pensamento
nação, ou que resulta da doutrinação, é o da aprendizagem não
e comportamento de uma pessoa, e já os gregos nos alertavam
acompanhada por compreensão, da aprendizagem não significati-
acerca da «akrasia”, ou fraqueza da vontade).
va, meramente passiva -- o indivíduo, no caso, meramente aceita,
Parece haver pouca dúvida, portanto, de que os conteúdos que
sem examinar e compreender sua razão de serem, certos conteú-
podem ser doutrinados são sempre conteúdos intelectuais e cogni-
dos intelectuais e cognitivos (normas sociais e valores culturais).
tivos do tipo mencionado (crenças, etc.), excluindo-se da esfera da O que a segunda passagem nos sugere é que a intenção de quem
doutrinação mesmo conteúdos intelectuais e cognitivos de outros doutrina está muito mais voltada para a aceitação dos conteúdos
tipos (como, por exemplo, habilidades intelectuais). que ele está ensinando do que para um exame criterioso dos funda-
Uma segunda consideração geral que devemos fazer acerca mentos epistemológicos desses conteúdos, exame este indispensá-
do conceito de doutrinação é a de que, muito embora a educação vel para sua compreensão. Em outras palavras, quem doutrina está
possa ocorrer, como vimos, sem ensino, e mesmo de modo não muito mais interessado em que seus alunos simplesmente aceitam
intencional, a doutrinação é sempre intencional, ocorrendo sempre (acreditem em) certos pontos de vista do que em que eles venham
em situações de ensino. Vimos, também, que a educação tem um a examinar os fundamentos desses pontos de vista, e, consequente-
vínculo conceitual com a aprendizagem -- não faz sentido dizer mente, a compreendê-los, no sentido visto.
que houve educação se não houve nenhuma aprendizagem -- e que É aqui que aquilo que a segunda passagem nos sugere se liga
o ensino tem um vínculo conceitual com a intenção de produzir com o que a primeira nos sugeriu, a saber, que a aprendizagem
a aprendizagem. Desde que a doutrinação tem, a nosso ver, um que se associa com a doutrinação, diferentemente daquela que se
vínculo conceitual com o ensino, a doutrinação também tem um associa com a educação, é a aprendizagem não acompanhada por
vínculo conceitual com a intenção de produzir a aprendizagem. compreensão, e isto em função da intenção daquele que ensina de
Mas por que é que afirmamos que a doutrinação só pode ocor- que exatamente isto ocorra.
rer em situações de ensino? A resposta a esta pergunta nos parece 2. O Conceito de Doutrinação
óbvia e simples. Ao passo que faz bastante sentido dizer que al- Feitas essas colocações, estamos em condições de conceituar,
guém se educou, isto é, aprendeu certos conteúdos considerados mais precisamente, a doutrinação: doutrinação é o processo atra-
valiosos de maneira a realmente compreendê-los, não nos parece vés do qual uma pessoa ensina os outros certos conteúdos intelec-
fazer o menor sentido afirmar que alguém se doutrinou: sempre tuais e cognitivos (crenças, etc.), com a intenção de que esses con-
afirmamos que alguém foi doutrinado. teúdos sejam meramente aprendidos (isto é, aprendidos, mas não
Isto posto, devemos abordar a seguinte questão: tendo em vis- compreendidos), ou seja, com a intenção de que estes conteúdos
ta as conclusões alcançadas atrás, de que a educação pode ocor- sejam aceitos não obstante a evidência, sem um exame criterioso
rer, e frequentemente ocorre, através do ensino, será que o único de seus fundamentos epistemológicos, de sua razão de ser.
aspecto a distinguir a educação da doutrinação é que esta é um Baseando-nos nesta conceituação de doutrinação, podemos
caso específico daquela? Em outras palavras, será que a doutrina- agora procurar esclarecer alguns dos aspectos mais controvertidos
ção nada mais é do que a educação, quando esta ocorre através do desse conceito, bem como seu relacionamento com o conceito de
ensino e se ocupa de conteúdos intelectuais e cognitivos do tipo educação.

Didatismo e Conhecimento 63
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Vamos começar com a questão do relacionamento entre edu- e educação, embora seja de es esperar que aquele que ensina com a
cação e doutrinação. intenção de que seus alunos aprendam e compreendam os conteú-
A. Os Conteúdos como Critério de Doutrinação. dos ensinados e aquele que ensina coma intenção de que seus alu-
Desde que, como acabamos de observar, doutrinação tem que nos meramente aceitem os conteúdos ensinados venham a se valer
haver apenas com conteúdos intelectuais e cognitivos de certo tipo de métodos de ensino diferentes. O primeiro possivelmente utili-
(crenças, etc.), vamos comparar educação e doutrinação no que zará métodos que envolvam a livre discussão de ideias, a análise
dizem respeito a esses conteúdos, deixando fora de nossa análise séria de alternativas, e, principalmente, um exame crítico e rigoro-
outros conteúdos (habilidades intelectuais e cognitivas, atitudes, so dos fundamentos epistemológicos do conteúdo em questão; na
comportamentos, etc.) de que se ocupa a educação, mas que não verdade, poderíamos afirmar que ele se preocupará muito mais em
são objeto da doutrinação. Também deixaremos de lado, nessa fazer que seus alunos considerem a evidência e, à luz da evidência,
comparação, a educação informal (no segundo sentido visto) para tirem suas próprias conclusões, do que em fazer com que seus alu-
nos determos na educação que se realiza através do ensino, pois, nos simplesmente aceitem o conteúdo: seu intuito não é persuadir
como constatamos, a doutrinação se realiza somente através do seus alunos a aceitarem o conteúdo, mas levá-los a compreendê-lo,
ensino. e, em função dessa compreensão, aceitá-lo ou rejeitá-lo. O segun-
Tomemos, pois, como ponto de referência, certo conteúdo in- do, mesmo que se refira à evidência, aos fundamentos epistemoló-
telectual e cognitivo: digamos uma doutrina política, ou uma teo- gicos do conteúdo em pauta, subordinará a análise da evidência à
ria científica. Vamos supor, para efeito de argumentação, que este sua intenção de fazer com que os alunos aceitem o conteúdo; é de
conteúdo seja considerado valioso no contexto em que se realiza se esperar, portanto, que esta evidência, se não inteiramente supri-
seu ensino. Se este é o caso, o conteúdo em questão pode ser ensi- mida, seja distorcida, que evidência contrária não seja apresentada,
nado de maneira educacional bem como de maneira não educacio- ou, sendo apresentada, não seja analisada com justiça e isenção de
nal. Se a intenção de quem ensina é a de que os alunos aprendam ânimos e preconceitos.
e compreendam este conteúdo, o ensino estará sendo educacional. D. As Consequências como Critério de Doutrinação
Se a intenção é a de que os alunos meramente aprendam (i.e., acei- Também não é em função das consequências do ensino que
tem, acreditem em) o conteúdo em questão, o ensino está sendo podemos dizer se o ensino foi educacional ou doutrinacional,
não educacional, ou, segundo nossa conceituação, doutrinacional. como sugerem ainda outros, embora neste caso também seja de
B. A Intenção como Critério de Doutrinação esperar que as consequências do ensino educacional e do ensino
O que distingue a educação da doutrinação, portanto, é ba- doutrinacional sejam diferentes. Em condições normais, é de se
sicamente a intenção da pessoa que ensina, e é a intenção que se esperar que o ensino educacional resulte em aprendizagem acom-
torna o critério básico e fundamental que nos permite diferenciar panhada de compreensão, e que o ensino doutrinacional resulte na
entre um ensino educacional e um ensino doutrinacional. É ver- mera aceitação (sem compreensão) dos conteúdos ensinados. É de
dade que vimos que apenas certos conteúdos podem ser doutri- se esperar, consequentemente, que, em decorrência de um ensino
nados (conteúdos intelectuais e cognitivos de certo tipo, a saber, educacional, o aluno venha a ter uma mente mais aberta e flexível,
crenças, pontos de vista, etc.). Mas isto não quer dizer que mesmo que se preocupe com a análise e o exame da evidência, condicio-
estes conteúdos não possam ser ensinados de dois modos diferen- nando sua aceitação ou não dos conteúdos ensinados a este exame
tes, educacionalmente e doutrinacionalmente. Além disso, mesmo da evidência, como é de se esperar, também, que em decorrência
conteúdos considerados valioso podem ser doutrinados, como de um ensino doutrinacional, o aluno venha a ter uma mente mais
veremos, sendo, talvez, exatamente quando se trata de conteúdos fechada, uma atitude mais dogmática e menos crítica, um apego
considerados como altamente valiosos que há o maior risco de mais emocional do que evidenciar às suas convicções, pois lhe foi
doutrinação. Portanto, o conteúdo não é o critério básico e funda- ensinado preocupar-se mais com certas crenças, ou doutrinas, ou
mental que nos permite diferenciar entre educação e doutrinação. teorias, do que com a análise crítica, isenta de preconceitos, da evi-
O mesmo conteúdo poderá ser ensinado de um ou de outro modo, dência. É de se esperar que o aluno doutrinado acabe por assumir
educacionalmente ou doutrinacionalmente. a seguinte atitude: “É nisto que acredito: vamos ver agora se en-
Isto quer dizer que não há conteúdos que estejam inevitavel- contro alguma evidência para fundamentar minhas crenças”. Com
mente fadados a serem objeto de doutrinação, como sugerem al- esta atitude, é possível que suas razões para aceitar suas crenças
guns, embora alguns conteúdos sejam, talvez, mais preferidos por não passem de racionalizações.
doutrinadores a outros. Com esta tomada de posição nos contrapo- Não podemos nos esquecer, porém, de que tanto o ensino
mos àqueles que afirmam que em áreas coimo religião, moralidade, realizado de maneira educacional, quanto o realizado de maneira
e política não há como evitar a doutrinação e que em áreas como a doutrinacional, podem ser mal sucedidos, em cujo caso as conse-
física e a astronomia não faz sentido falar-se em doutrinação, pois quências que deles poderiam advir não seriam aquelas que, nor-
os que assim afirmam privilegiam o conteúdo como critério bási- malmente, se esperariam.
co e fundamental de diferenciação entre educação e doutrinação. Podemos concluir, pois, que, no nível das intenções, a edu-
Dada nossa conceituação de educação e doutrinação, tanto podem cação é um processo que tem por objetivo a abertura de mentes,
a religião, a moralidade e a política serem ensinadas de maneira a ampliação de horizontes, o incentivo à livre opção dos alunos,
educacional, como podem a física e a astronomia serem ensinadas após análise e exame críticos da evidência, dos fundamentos epis-
de modo doutrinacional, como bem mostram algumas pesquisas temológicos, enquanto a doutrinação é um processo que tem por
recentes na área da história e sociologia da ciência. objetivo a transmissão e mera aceitação de crenças, etc., o fecha-
C. Os Métodos como Critério de Doutrinação. mento de mentes, a redução de horizontes, a limitação de opções
Nem é tampouco o método de ensino, como sugerem outros, (frequentemente a uma só), o “desprivilegiamento” da evidência
o critério básico e fundamental de diferenciação entre doutrinação em favor da crença, a persuasão e não o incentivo ao livre exame.

Didatismo e Conhecimento 64
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Aquele que ensina de maneira educacional coloca-se na posi- tos nas áreas que ensinam. Como vimos atrás, o professor que en-
ção de quem, humildemente, está em incessante busca da verdade, sina conteúdos falsos como sendo verdadeiros, ou conteúdos que a
através do estudo e do exame da evidência. O que ensina de manei- melhor evidência disponível indique terem pouca probabilidade de
ra doutrinacional coloca-se na posição do orgulhoso possuidor da serem verdadeiros como sendo, de fato, verdadeiros, etc., estará,
verdade. Desde que, na busca da verdade, não se pode negligenciar muito provavelmente, doutrinando, a menos que esteja em condi-
nenhum aspecto da evidência que possa ser relevante, a educação ções tais que o acesso a esta evidência lhe seja totalmente impos-
é tolerante, pois mesmo as críticas e a evidência negativa -- diriam sível. Não importa que ele acredite que os conteúdos que ensina
mesmo, principalmente estas -- podem contribuir para que nos sejam verdadeiros. Esta é uma questão subjetiva. A questão impor-
aproximemos da verdade. Na medida, porém, em que a verdade já tante é a do relacionamento entre o conteúdo e a evidência, entre
é considerada uma possessão, não há mais porque buscá-la, porque os conteúdos e os seus fundamentos epistemológicos -- questão
tolerar pontos de vista alternativos e conflitantes, pois na medida esta que, apesar das controvérsias atuais na área da epistemologia
em que estes divergem da “verdade” só podem ser errôneos ou fal- e da filosofia da ciência, nos parece ser objetivas.
sos, e quem os propõe só pode ser ignorante ou mal-intencionado. D. A Doutrinação de Crianças Pequenas
Daí a conexão, já mostrada por muitos, entre a crença na posse da Em quarto lugar, devemos abordar, ainda que brevemente, a
verdade e a intolerância, mesmo a repressão, de pontos de vista complicada questão que se coloca em relação a crianças em tenra
divergentes, que ocorre quando há doutrinação. idade, que ainda não atingiram a chamada “idade da razão”. Será
Poderíamos mesmo dizer, fazendo paralelo a uma importante que, no que diz respeito a estas crianças, só nos resta à alternativa
corrente de filosofia de ciência e de filosofia política, que a educa- de doutrinação, visto não serem elas capazes, segundo se crê, de
ção se preocupa muito mais em dar ao indivíduo condições de não compreensão, no sentido visto, de exame de evidência, de opção
ser facilmente persuadido, de evitar o erro, a falsidade, e, assim, livre e consciente?
aproximar-se, cada vez mais, da verdade, enquanto a doutrinação Em relação a este problema devemos distinguir (pelo menos)
se preocupa muito mais com a persuasão, com a transmissão de dois aspectos. O primeiro é que exigir que crianças pequenas se
crenças que se supõem verdadeiras (ou, mesmo, em alguns casos comportem de determinada maneira, ou que adotem determinadas
piores de doutrinação, crenças em que o próprio doutrinador não atitudes, não é, segundo nossa caracterização, doutriná-las, porque
acredita, mas que, por algum motivo, deseja incutir em seus alu- os conteúdos aqui não são conteúdos intelectuais e cognitivos do
nos). tipo passível de doutrinação (crenças, etc.), mas comportamentos
3. Observações Específicas e atitudes. A doutrinação poderá ocorrer no momento em que se
Podemos fazer algumas observações específicas em relação procura fazer com que as crianças aceitem certas justificativas para
aos aspectos mais controversos do problema da doutrinação. o comportamento e as atitudes que lhes estão sendo exigidos. O
A. Doutrinação de Conteúdos Verdadeiros. segundo aspecto é que mesmo a crianças que ainda não atingiram a
Em primeiro lugar, o que acabamos de ver nos permite afirmar maturidade mental e intelectual necessária para compreender a ra-
que é inteiramente possível que haja doutrinação mesmo de con- zão de ser de certos comportamentos e atitudes que lhes são exigi-
teúdos verdadeiros. dos podem ser oferecidas as razões dessas exigências, as alternati-
B. Doutrinação de Conteúdos Valiosos. vas, etc., de maneira bastante aberta e flexível. Haverá doutrinação
Em segundo lugar, temos que admitir que possa haver dou- se a intenção for a de que as crianças aceitam estas justificativas
trinação mesmo quando os conteúdos são considerados valiosos e (ou qualquer outro conteúdo do tipo passível de doutrinação) pas-
todos aprovam o que está acontecendo. Na verdade, é em situações sivamente, sem discussão, a despeito de qualquer outro tipo de
assim que a doutrinação se torna mais fácil e mais provável, pois consideração, ou argumentação, ou evidência.
ninguém questiona o valor e a veracidade daquilo que está sendo E. Doutrinação e o Dilema da Educação
ensinado. É muito mais fácil doutrinar alguém na ideologia capita- Em quinto lugar, a possibilidade de doutrinação faz com que
lista nos Estados Unidos do que em um país radicalmente socialis- aqueles que se preocupa com a educação, de seus filhos ou de seus
ta, onde argumentos contra a ideologia capitalista provavelmente alunos, se confrontem com um sério dilema, semelhante ao gran-
serão muito mais abundantes e comuns; e vice-versa. de desafio a que fizemos menção no final da seção anterior. Este
C. Doutrinação Não Intencional? dilema, embora possa aparecer em qualquer área, aparece mais
Em terceiro lugar, devemos concluir que não há doutrinação frequentemente naquelas áreas em que a evidência parece ser mais
não intencional. A questão, porém, é mais complexa aqui. Des- inconcludente, mas em que, por ironia do destino, se encontram
de que, como vimos à intenção de alguém (que não nós mesmos) algumas das questões mais básicas e importantes com que tem que
só pode ser determinada pela análise de suas ações em um dado se defrontar o ser humano: a moralidade, a política, e a religião.
contexto, é possível atribuir a alguém a intenção de doutrinar mes- Por um lado, acreditamos (por exemplo) ser necessário apresen-
mo que esta pessoa não admita esta intenção. Também no caso de tar a nossos filhos e alunos o ponto de vista moral, o lado moral
alguém que não tem conhecimento de evidência contrária àquilo das coisas, para que venham a serem seres morais. Do outro lado,
que está ensinando, a situação é complexa. Podemos atribuir-lhe a acreditamos que temos de evitar a doutrinação, se queremos real-
intenção de doutrinar, se ele tem condições de obter acesso a esta mente educar nossos filhos e alunos, isto é, se queremos que sejam
evidência e não se preocupa em fazê-lo. Teríamos maiores reser- indivíduos livres para pensar e escolher, liberdade esta que é pré-
vas em atribuir-lhe esta intenção se não houvesse maneiras viáveis -condição para que eles venham a serem seres morais.
de ele obter acesso a esta evidência. Isto significa que professores É diante deste dilema que os educadores terão que procurar
de conteúdos intelectuais e cognitivos do tipo visto (crenças, etc.) as melhores maneiras de prosseguir, sabendo, de antemão, que
correm grande risco de doutrinarem (ao invés de educarem) se não a tarefa é dificílima e que muitos, antes deles, optaram, ou por
estiverem constantemente atualizados acerca dos desenvolvimen- não procurar oferecer nenhum ensino nessas áreas, ou, então, pela

Didatismo e Conhecimento 65
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
doutrinação como única alternativa viável. [E o exemplo?] É em educação e cultura, etc. Nossas respostas, reconhecidamente em
confronto com este dilema que muitos têm optado pela alternativa forma de esboço, são, na verdade, bastante pessoais. É possível e
da chamada «educação negativa», que não é nem educação nem provável que muitos discordem delas. Acreditamos, contudo, que
negativa, devendo, talvez, ser descrita como «não educação elas fazem sentido, é justificável, e nos ajudam a “colocar a cabeça
neutra», por paradoxal que esta expressão também pareça: em ordem” em relação a essas noções. Dada à importância que
afirmam que o ensino da moralidade, da política, e da religião não atribuímos ao conceito de doutrinação, resolvemos dedicar a este
deve ser ministrado até que a criança atinja maturidade suficiente conceito uma seção em separado, pois quer nos parecer que a aná-
para analisar a evidência e tirar suas próprias conclusões. Outros lise desse conceito nos ajuda a compreender melhor, por contraste,
têm se desesperado e concluído que a única alternativa, apesar dos o conceito de educação.
pesares, é doutrinar -- estes são os doutrinadores contra sua própria A muitos pode parecer que o tipo de investigação que carac-
vontade. Tanto os defensores da «educação negativa» como os que, terizamos neste trabalho, embora de alguma utilidade e de algum
contra a vontade, optam pela doutrinação, não veem uma terceira interesse, não seja de grande importância. Mais importante do que
alternativa, não veem uma solução realmente educacional para o a tarefa “clarificatória” que a filosofia pode desenvolver, diriam,
problema. Embora não afirmemos que esta solução seja fácil de é sua tarefa “normativa”, à qual ela não se deve furtar: a filosofia
alcançar, cremos que desenvolvimentos recentes, principalmente deve contribuir -- continuariam -- para que as grandes e pequenas
no campo da educação moral, têm nos indicado o caminho a seguir decisões que diariamente precisam ser tomadas na área da educa-
na direção de uma educação moral viável e digna do nome. Mas ção sejam tomadas de maneira a evidenciar sabedoria, e não ape-
ainda há muito por fazer nesta área. nas clareza de pensamento. À filosofia da educação competiria,
F. Porque a Doutrinação é Censurável e Indesejável. pois, segundo muitos, investigar a questão dos objetivos especí-
Em sexto e último lugar, gostaríamos de observar que, de tudo ficos da educação, propondo metas a serem atingidas e valores a
o que foi dito acerca da doutrinação, fica claro porque a doutrina- serem promovidos.
ção é indesejável e moralmente censurável. Quem doutrina não Concordamos, em grande parte, com o espírito dessas obser-
respeita a liberdade de pensamento e de escolha de seus alunos, vações. Achamos que clareza em nossos conceitos e acerca de nos-
procurando incutir crenças em suas mentes e não lhes dando con- sas pressuposições básicas não é tudo, não é condição suficiente
dições de analisar e examinar a evidência, decidindo, então, por si para a sabedoria de nossas decisões, dos alvos que propomos a nós
próprios; quem doutrina desrespeita os cânones de racionalidade e mesmos e aos outros, dos valores que adotamos e que desejamos
objetividade, tratando questões abertas como se fossem fechadas, que os outros também cultivem. Contudo, estamos certos de que
questões incertas como se fossem certas, enunciados falsos ou não esta clareza seja condição necessária para esta sabedoria. Embora
demonstrados como verdadeiros como se fossem verdades acima alguém possa ter clareza quanto às suas concepções, sem ser sábio,
de qualquer suspeita. É verdade que esta tomada de posição contra ninguém consegue ser sábio sem antes adquirir clareza acerca das
à doutrinação já implica, ao mesmo tempo, um comprometimen- convicções mantidas por ele próprio e por outros.
to com certos valores e ideais básicos, como o da liberdade de Quer nos parecer, portanto, que a tarefa do educador, e quiçá
pensamento e de escolha dos alunos (e de qualquer pessoa), o da do filósofo da educação, não termine com a análise e clarificação
racionalidade, etc. É importante que se reconheça isto para que não dos conceitos educacionais básicos e das pressuposições que sus-
se incorra no erro de pensar que a adoção desses valores e ideais tentam a atividade educacional. A tarefa clarificatória da filosofia é
não precisa ser defensável, e, mais que isto, defendida, através da apenas um preâmbulo à tarefa mais normativa de examinar, ques-
argumentação. Argumentos contra a adoção desses valores e ideais tionar, e propor objetivos e valores. O filósofo, porém, não detém
precisam ser cuidadosamente analisados para que, ao propor a tese o monopólio destas últimas questões. No que diz respeito aos ob-
da indesejabilidade e falta de apoio moral da doutrinação, não o jetivos e valores que devem nortear a vida, e, consequentemente,
façamos de modo a imitar os doutrinadores, isto é, tratando como o processo educacional, o filósofo, como qualquer outra pessoa,
fechada uma questão que é realmente aberta. Cremos não ser esta estará sempre buscando, procurando, pois na área de valores e ob-
a ocasião de fazer esta defesa dos valores e ideais da liberdade de jetivos de vida não há peritos e profissionais: cada um, em última
pensamento e escolha, nem da racionalidade. Mas isto não signifi- instância, tem que escolher os seus valores básicos e os objetivos
ca que estes valores e ideais não precisem ser defendidos. que deverão nortear sua vida. Não há como abrir mão dessa tarefa
Com estas observações concluímos esta seção sobre doutri- solicitando a um filósofo (ou a seja lá quem for) que faça isto por
nação. Cremos que a análise desse conceito, além de valiosa em nós, sem abrirmos mão de nossa autonomia, e, em última instân-
si mesma, nos ajuda a compreender melhor, por contraste, o que cia, de nós mesmos.
seja a educação. Uma análise mais completa deveria incluir um À filosofia da educação como aqui caracterizada deve,
exame das semelhanças e diferenças existentes entre doutrinação, portanto, seguir uma teoria da educação que tenha como principal
treinamento, condicionamento, lavagem cerebral, etc. Há impor- tarefa o exame dos princípios básicos, objetivos, valores, etc.,
tantes diferenças, bem como semelhanças, entre estes conceitos. que prevalecem em nossa cultura e que norteiam, atualmente, a
Isto, porém, precisará ficar para outro trabalho. educação em nosso país, a reflexão crítica sobre eles e sobre a
realidade social, econômica e cultural que envolve o processo
Observações Finais: Filosofia da Educação e Teoria Edu- educacional, e, se necessário for (e quase sempre o é), a proposta
cacional de novos princípios básicos, objetivos e valores para a nossa
cultura e para a nossa educação. À teoria da educação compete,
Cremos ter dado respostas a algumas das perguntas acerca do portanto, a tarefa normativa a que fizemos referência, e para se
relacionamento existente entre o conceito de educação e os concei- desincumbir desta tarefa a teoria da educação deve recorrer não
tos de ensino e aprendizagem, bem como entre educação e valores, só à filosofia da educação, mas também à sociologia da educação,

Didatismo e Conhecimento 66
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
à psicologia da educação, à economia da educação, à medicina difícil, o jovem protagonista é alguém especial, porque acredita
preventiva e social, etc. -- ou, para encurtar, a qualquer ramo do numa sociedade melhor e até sonha com um mundo perfeito. O
saber que possa contribuir alguma coisa, nunca se esquecendo de protagonismo juvenil pode e deve se tornar uma “corrente de
incluir na mistura uma boa dose de bom senso. energia”, porque a tendência é que esse movimento cresça e seja
Para muitos, o que acabamos de caracterizar como sendo a propagado. O jovem protagonista é aquele que molda o mundo a
tarefa da teoria da educação nada mais é do que a real tarefa da cada instante e cria ideias para melhorá-lo - seja na sua casa, na
filosofia da educação. Não temos o menor interesse em discutir comunidade, na escola, no trabalho - e sua atuação pode atingir
rótulos, pois a discussão seria meramente acadêmica. Quer nos pa- grandes proporções.
recer, porém, que a bem da clareza, seja recomendável e de bom Muitas vezes, o protagonista é discriminado pela sociedade,
alvitre estabelecer uma distinção entre a filosofia da educação e a enquanto deveria ser incentivado a continuar propagando esse
teoria educacional, pelas seguintes razões. pensamento. O comportamento mais esperado de um adolescente
(a) A filosofia da educação, como aqui caracterizada, é uma é de uma figura revoltada e incapaz de tomar atitudes coerentes.
atividade reflexiva de segunda ordem, que tem como objeto as re- Então, quando alguém tenta mostrar uma realidade diferente, é
flexões de primeira ordem feitas sobre os vários aspectos do pro- separado do grupo, sendo que deveria ser totalmente ao contrário.
cesso educacional; a teoria educacional é uma atividade reflexiva Cabe a todos valorizar as ações protagonistas, na tentativa de que
de primeira ordem, no nosso entender, que tem por objeto básico a com o tempo “não existam mais jovens protagonistas”, justamente
realidade educacional e não reflexões que tenham sido feitas sobre porque ser participante e solidário tornou-se algo normal. Ou seja,
esta realidade; estas reflexões servirão de subsídios ao teórico da o objetivo do protagonismo juvenil é que, com o tempo, exista
educação para que este elabore suas próprias conclusões, mas ele uma onda de cidadania que faça de todos cidadãos atuantes em
tem, basicamente, que “debruçar-se sobre a realidade educacio- nossa sociedade. Embora os últimos dados parciais do Censo
nal”, para entendê-la, explicá-la, criticá-la e propor sua reformu- 2000 do IBGE revelem um crescente aumento na expectativa de
lação. vida e uma diminuição na taxa de natalidade, o Brasil ainda é um
(b) Na medida em que a teoria educacional tem que se valer país adolescente. Em todo o território nacional são 32 milhões de
das contribuições das várias ciências que estudam a educação, ela garotos e garotas com idades de 10 a 19 anos, o que representa
extrapola os domínios da filosofia e, consequentemente, da filo- 20% da população brasileira.
sofia da educação. A filosofia da educação, como aqui concebida, Por um lado, constata-se que o governo federal, os 27 estados
deveria ser vista como observamos, como um prolegômenos, um e os 5 mil e 500 municípios - bem como a sociedade brasileira
preâmbulo à teoria educacional, cuja tarefa principal seria fornecer como um todo - ainda não sabem como lidar com esse contingente
ao teórico da educação os instrumentos conceituais básicos para a de adolescentes. Faltam políticas públicas para essa faixa etária,
sua teoria. seja no que se refere às áreas de saúde e educação, seja no que se
(c) A teoria educacional, embora possa (e talvez deva) ser refere aos caminhos para a participação dos jovens no mundo atual.
considerada científica, tem uma finalidade que vai além da mera Ainda é pequeno o acesso à educação secundária (apenas 33% dos
explicação e interpretação da realidade educacional: ela procura adolescentes de 15 a 19 anos frequentam o ensino secundário).
orientar e guiar a prática educacional. É por isso que a teoria da Existem ações isoladas, mas ainda não há políticas de atendimento
educação, além de estudar e examinar a realidade educacional tem integral aos adolescentes. Por outro lado, há no Brasil um crescente
a função de criticar esta realidade e de propor novas direções a movimento de projetos e programas de protagonismo juvenil, ou
seguir. A teoria da educação, para usar uma expressão que se tor- seja, projetos desenvolvidos não apenas para adolescentes, mas por
na comum, não tem como tarefa simplesmente constatar qual é a adolescentes. Eles participam na formulação dos objetivos e das
realidade educacional: ela vai além e contesta esta realidade, não atividades dos projetos. O País tem também uma mídia interessada
em função de um espírito puramente negativista, mas em função e atuante dirigida especialmente aos adolescentes. São programas
de uma proposta de realidade diferente. E esta proposta envolve, de televisão, suplementos de jornais e revistas que abordam temas
inevitavelmente, valores diferentes. Portanto, a teoria educacional, como família, drogas, DST/AIDS, moda, sexualidade, indústria de
em sua tarefa de orientar e guiar a prática educacional envolve, entretenimento, educação, que se utilizam das linguagens próprias
necessariamente, um ingrediente de valores. dos adolescentes.
O texto em questão, dentro de seus limites, procurou, entre Protagonismo juvenil é um termo novo para definir uma forma
outras coisas, apresentar os rudimentos de um preâmbulo à teoria de participação de adolescentes que os privilegia como atores
educacional, fazendo, no processo, um primeiro ensaio em direção sociais, como parte integrante e indispensável de projetos, nos
a uma demarcação entre filosofia da educação e teoria educacional. quais eles fazem parte de todo o processo de tomada de decisões,
sob a orientação direta ou indireta de adultos. O protagonismo
é definido pelo educador Antonio Carlos Gomes da Costa como
A CONCEPÇÃO DE PROTAGONISMO uma “participação autêntica”. Ou seja, o protagonismo pressupõe
JUVENIL. a criação de espaços e de mecanismos de escuta e participação.
Para isso, é preciso conceber os adolescentes como fontes e
não simplesmente como receptores ou porta-vozes daquilo que
os adultos dizem ou fazem com relação aos adolescentes. O
O que é ser um jovem protagonista? Numa fase de tantas Protagonismo Juvenil não consiste apenas em projetos ou ações
pressões e conflitos, também é possível se importar com a isoladas. O protagonismo é um processo, como explica o professor
sociedade, embora nem todos os jovens percebam o potencial que Antonio Carlos Gomes da Costa, uma conquista gradual e que,
têm em suas mãos. Justamente por estar enfrentando um período em tese, pode ser praticado por todos os jovens. As experiências

Didatismo e Conhecimento 67
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
de participação de adolescentes espalhadas pelo País mostram que os adolescentes são protagonistas? Como a escola pode estimular
o protagonismo se reflete na vida dos jovens adultos de maneira esse diálogo entre pais e adolescentes? Que espaço os adolescentes
positiva. têm na escola para conversar sobre família?
Todos nós deveríamos estar conscientes de que absolutamente
todas as situações de risco pessoal e social que ocorrem com os A Escola: O debate abordará, principalmente, o papel do
adolescentes acontecem quando a família e a escola falham em sua jovem protagonista para melhorar a sua escola. Na pesquisa “A
missão de acolher, educar e cuidar da integridade física, psicológica Voz das Crianças”, somente 8% das crianças e dos adolescentes
e moral dos adolescentes que estão sob sua responsabilidade. entrevistados disseram ir à escola por prazer, quando cada vez mais
Por isso, é necessário que os adultos sejam capazes de ouvir os se sabe que a alegria e o entusiasmo são condições facilitadoras
adolescentes, garotos e garotas comuns que, apesar das enormes da aprendizagem. Que papel os adolescentes podem desempenhar
dificuldades vividas no País, continuam vinculados a suas famílias para que a escola seja um local agradável e um espaço de ensino
e comunidades e frequentando a escola. Esse apoio dos adultos é e aprendizagem? Como é possível incentivar a participação dos
fundamental. Nas escolas, por exemplo, a presença de um ou mais adolescentes em atividades extra-curriculares? E, ainda, mais da
professores junto aos grêmios estudantis ou a outras atividades metade das crianças e adolescentes entrevistados pela pesquisa
culturais, esportivas, artísticas e de exercício de cidadania se queixa da direção da escola, de autoritarismo e de excessiva
desenvolvidas pelos jovens têm sido, de modo geral, um incentivo centralização na tomada de decisões. Como a atuação participativa
para que tais atividades tenham um maior aprofundamento e, dos adolescentes pode contribuir para uma escola melhor, mais
também, uma continuidade. Porém, muitas vezes, a escola não democrática, na qual a aprendizagem se realiza em todos os
consegue proporcionar espaço para os adolescentes por uma série espaços e não só na sala de aula? Como o jovem protagonista pode
de motivos, entre eles a falta de tempo, de espaço, os conflitos ajudar a trazer a comunidade para dentro da escola e levar a escola
com a organização da escola, levando os jovens a se sentirem para a comunidade?
desestimulados em suas tentativas de participação. É importante
compreender, no entanto, que as lideranças que surgem nessas Felicidade: A felicidade - enquanto projeto de vida, sonho -
organizações de adolescentes e jovens podem ser extremamente apesar de ser um tema “subjetivo”, é o tema deste debate sobre
positivas para a escola como um todo. adolescência, autoestima, autocuidado, educação para valores
Importante ainda é lembrar que há falsos tipos de participação, e protagonismo juvenil. A pesquisa do UNICEF - “A Voz das
que estão longe de ser ações de protagonismo (jovens manipulados Crianças” - aponta que os adolescentes se sentem infelizes quando
por adultos, jovens «de fachada», que participam de eventos ou estão longe de seus pais, ou desatendidos em suas necessidades
atividades como «enfeites»). O desafio, então, dos adultos, é o de básicas de habitação, alimento, amor e proteção ou, ainda, quando
apoiar os jovens, ajudá-los a iniciar e manter suas atividades, mas são vítimas de maus-tratos, desrespeito, negligência, exploração,
sem assumir a tarefa de tomar todas as decisões e iniciativas. opressão e abusos de diferentes tipos. A autoestima, por exemplo,
pode estar profundamente relacionada com esses problemas.
A Família: Por ser o primeiro programa da série, o No caso do Brasil, por exemplo, adolescentes são vítimas de
debate será introduzido com a apresentação dos conceitos de preconceitos por sua origem social e/ou étnica. Alguns projetos
protagonismo juvenil: o que é, quando surgiu, quais são suas de protagonismo juvenil trabalham muito com o resgate da cultura
principais características, o que ele traz de novo na participação desses adolescentes e com sua valorização como pessoas, sujeitos
de adolescentes, porque é diferente dos movimentos estudantis, de direito, portadores de uma rica tradição histórico-cultural.
por exemplo, dos anos 60 e 70. Para ajudar a ilustrar algumas Alguns desses projetos de destaque têm sede na Bahia: o projeto
dessas definições e o impacto do protagonismo juvenil nas Axé, o CRIA, o Bagunçaço têm forte componente cultural em seu
relações sociais dos adolescentes brasileiros, o primeiro debate trabalho com adolescentes.
vai se concentrar, ainda, no impacto do protagonismo juvenil nas Especialistas têm reforçado ainda a importância da
relações familiares dos adolescentes, apresentando o rompimento autoestima e do autocuidado nos esforços de prevenção da
infância e adolescência (a família como referência central na vida gravidez na adolescência e do HIV/AIDS. O debate enfoca como
das crianças e a ampliação das relações sociais na adolescência). o protagonismo juvenil é capaz de despertar outras formas de os
Como se alteram as relações familiares a partir do exercício jovens se verem como potenciais agentes de mudanças sociais,
protagonista do jovem? Como eles podem ajudar suas famílias? gente capaz de se transformar e de transformar suas famílias e
O que muda em seus comportamentos em suas famílias? Como se comunidades. Tema importante como sociedade, família e escola
exerce protagonismo dentro de casa? Que espaço os adolescentes podem estimular os adolescentes protagonistas dentro de uma
têm para falar e serem ouvidos em suas casas? proposta de educação para valores, ou seja, uma educação que
Na pesquisa “A Voz das Crianças”, realizada pelo UNICEF vai além da aprendizagem de competências técnicas, mas que se
na América Latina e Caribe, mais da metade das crianças e preocupa com a formação de cidadãos solidários, participativos,
adolescentes entrevistados (o que representa mais de 50 milhões empenhados em aprender e ensinar para a construção de um país
de crianças e adolescentes de nove a 18 anos) dizem que não são mais justo e mais democrático.
ouvidos nem em suas casas nem em suas escolas. A Convenção
sobre os Direitos da Criança garante, em seu artigo 12, que Segurança: Segundo a pesquisa “A Voz das Crianças”, 43%
“crianças e adolescentes têm direito a expressar sua opinião sobre das crianças e dos adolescentes da América Latina se sentem
assuntos que lhes dizem respeito e que essa opinião seja levada inseguros no lugar onde vivem. O problema da violência e das
em consideração pelos adultos”. Escutar os adolescentes é uma drogas é um problema grave e urgente, dentro e fora das escolas.
forma de respeitá-los. Como as famílias lidam com isso quando O debate se dará em torno da pergunta: como o protagonismo

Didatismo e Conhecimento 68
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
juvenil pode ajudar a combater a violência e o abuso de drogas (BRASIL, 2007). Mas para se tornar cidadão é preciso mais do
entre os jovens? Perceber o espaço onde se vive como ameaçador que isso, é preciso se sentir com direitos, um efetivo sujeito de
tem um impacto muito negativo na vida desses jovens em sua direitos, um protagonista. O texto legal do Estatuto da Criança e do
visão do mundo, da vida, da sociedade e da cidadania. O medo Adolescente (BRASIL, 2000) não utiliza a expressão protagonismo
tende a produzir ressentimento, ódio e violência, por um lado, juvenil, mas a concepção de sujeitos de direitos nele presente
passividade e covardia, por outro, debilitando consideravelmente se aproxima deste, na medida em que garante, às crianças e aos
a personalidade para o enfrentamento de conflitos e dificuldades jovens, a possibilidade de usufruto de todos os direitos inerentes à
próprias da convivência social. Como enfrentar todos esses pessoa humana, em condições de liberdade e dignidade.
problemas com a participação dos jovens em suas comunidades? Em um breve olhar, o ECA afirma a plena capacidade jurídica
Qual o papel da escola para promover atitudes positivas e ajudar os e a perfeita correspondência entre a situação legal da criança e do
adolescentes a encontrar outras formas de participação diferentes adolescente e a situação legal do adulto, com relação aos direitos
das tradicionais (grêmios, movimentos estudantis)? fundamentais, independentemente das diferenças decorrentes
da faixa etária. Mas, na verdade, ela embute uma contradição
Comunicação e Informação: Ter informação hoje é um básica, principalmente com relação à adolescência, em função
indicador social, como a mortalidade infantil é um indicador da confluência de atribuição de direitos, com destaque para a
de saúde e a taxa de matrícula é um indicador de educação. O liberdade e a igualdade, e a atribuição de proteção especial. A
protagonismo juvenil tem se revelado um importante instrumento proteção pressupõe um ser humano que tem necessidade de outro
de circulação de informação entre os jovens. Além disso, há ser humano, ou seja, uma desigualdade e uma redução real da
projetos específicos que trabalham com protagonismo juvenil e liberdade do ser humano protegido. Neste contexto, por um lado o
produção de informação e de comunicação. Como funcionam esses Estatuto atribui formalmente a crianças e adolescentes a categoria
projetos? Como eles ajudam os adolescentes a desconstruir certos de cidadãos, com interesses específicos e diferentes do adulto, a
mitos em torno da comunicação de massa e como os adolescentes serem levados em conta na elaboração e execução de políticas
passam a vê-los de maneira mais crítica? Alguns desses projetos públicas. Mas, por outro, limita a liberdade do jovem e contradiz
participam de uma das mais ativas redes de debate e troca de ideias a concepção de protagonismo juvenil, na medida em que define
sobre Comunicação e Educação no País, a Reducom (Rede de um sujeito titular de direitos, sem capacidade plena para exercê-
Educação e Comunicação), uma rede informal com 20 instituições los, gerando uma dicotomia entre competência “de direito” e
de todo o País com ações centradas no protagonismo juvenil e no competência “de fato”.
uso dos recursos da comunicação no processo educacional. Assim, a especificidade da condição infantil e juvenil, matriz de
Como os adolescentes que participam desse projeto vêem definição dos direitos a serem garantidos para um desenvolvimento
os meios de comunicação de massa, tantas vezes criticados saudável, acaba se tornando limitante para a universalização
por veicular mensagens de consumo e violência? Como a destes direitos e para o exercício pleno da cidadania, levando o
informação circula entre esses jovens e como se dá a comunicação jovem a viver uma “cidadania regulada” (SANTOS, 1999). A Lei
interpessoal entre eles? Vale a pena desenvolver veículos voltados de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996)
especificamente para os adolescentes dentro de uma proposta representa um importante avanço na política educacional para a
educativa? Que lições esses projetos podem apresentar a outros juventude, por alçar o ensino médio ao patamar de direito a ser
adolescentes e a seus educadores? Como a escola pode replicar garantido pelo Estado, e situar o jovem como sujeito produtor de
esses exemplos, com seus recursos, e estimular o debate entre os conhecimento e participante do mundo do trabalho, favorecendo o
adolescentes sobre meios de comunicação de massa? seu desenvolvimento como cidadão.
Pautando a organização curricular do ensino médio no
Protagonismo juvenil e a concepção de sujeitos de direitos. significado do trabalho no contexto da globalização e no sujeito
ativo, que se apropria dos conhecimentos para se aprimorar, como
Emergindo no cenário político e econômico do final da década tal, no mundo do trabalho e na prática social, a LDB (BRASIL,
de 1980, a expressão protagonismo juvenil tem sido identificada 1996) propõe um processo de aprendizagem permanente,
à concepção de empoderamento e participação democrática da centralizado na construção da cidadania. E operacionalizado por
juventude, associando-se à noção de sujeito de direitos, presente meio de um currículo voltado para a capacitação para a vida em
nas diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, sociedade, a atividade produtiva e a experiência subjetiva, visando
2000), da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL,1996), à integração dos jovens no tríplice universo das relações políticas,
e do Estatuto da Juventude (2007). A própria origem etimológica do trabalho e da simbolização subjetiva.
da palavra, derivada do grego protagnistés,que se refere ao ator Esse currículo, referenciado nos quatro eixos estruturais da
principal no teatro grego ou o que ocupa papel central em um educação propostos pela UNESCO - aprender a conhecer, aprender
acontecimento (FERRETTI et alli, 2004), afirma o protagonismo a fazer, aprender a viver e aprender a ser -, é regulamentado e
como tema fundante de uma perspectiva com relação à juventude, organizado nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio
que remete ao fortalecimento da participação do jovem no processo (BRASIL, 2000). No texto das Diretrizes, a expressão protagonismo
de transformação política e social, abrindo espaço para o resgate aparece explicitada em três artigos (3º, 7º e 10) e subentendida
de sua condição de sujeito de direitos e cidadão. em vários outros, definindo os mecanismos de participação da
O pleno exercício da cidadania começa na garantia legal comunidade, o exercício da autonomia, a responsabilidade, a
dos direitos civis, políticos e sociais, prevista na Constituição de participação do jovem, e o exercício pleno da cidadania, elementos
1988 (BRASIL, 1988) e nas legislações dela decorrentes - ECA que se alinham à prática do protagonismo juvenil. Entretanto, este
(BRASIL, 2000), LDB (BRASIL, 1996) e Estatuto da Juventude protagonismo é associado a diversas posturas, ações e atores, sem

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
deixar claro o referencial metodológico, ou seja, as estratégias e Deslocando o centro da condição juvenil da sexualidade e
condições para sua operacionalização, o que impede que saia da enfatizando as mudanças de interesses, a transformação da forma
teorização e se torne realidade no interior da dinâmica pedagógica, de pensar, perceber, compreender e agir do jovem e a formação
abrindo espaço para o “protagonismo regulado”, obediente às da autoconsciência, impulsionadas pelo desenvolvimento
orientações e objetivos definidos pelos adultos. das funções psicológicas superiores, que ocorre nas e pelas
O Estatuto da Juventude (BRASIL, 2007), em trâmite na relações sociais, Vygotsky (1984) abre novos horizontes para
Câmara dos Deputados, define os direitos básicos da população o entendimento da juventude. E fornece um arcabouço teórico
entre 15 e 19 anos e garante a participação dos jovens na formulação privilegiado para a definição de uma metodologia que promova
e avaliação das políticas públicas voltadas para a juventude, por a reflexão e a autoconsciência do jovem, no sentido de fortalecer
meio de representações escolares e de garantia de espaço nos seu protagonismo e sua participação na construção da história
Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional da Juventude. No pessoal e coletiva, mutuamente determinadas. Possibilitando
Parágrafo 10 conceitua o protagonismo juvenil, tendo como base a o desvelamento do paradoxo vivido pela juventude no contexto
concepção de sujeitos de direitos, mas de forma bastante confusa, atual, esta teoria resgata o duplo sentido da especificidade juvenil -
colocando no mesmo nível, pressupostos (concepção de jovem), a singularidade em relação a outras fases da vida e a diversidade de
ação (participação, interlocução), posturas (posicionamento) e contornos da sua condição. E fortalece a concepção de juventude
atitudes (estímulo à participação), o que o torna pouco objetivo como categoria social, construída historicamente, a partir das
e operacional. Além disso, não inclui a participação o jovem na necessidades colocadas pelo desemprego estrutural da sociedade
definição das políticas de saúde, que enfatizam aspectos como capitalista e pela maior exigência de formação da sociedade
sexualidade, prevenção e controle do HIV, uso de drogas. Outra tecnológica, que conformam sentimentos, comportamentos,
falha é que, ao incluir o jovem como pessoa ativa, livre e responsável sentidos e subjetividades. A compreensão da juventude como fato
no conceito de protagonismo, pode fortalecer os argumentos dos histórico, social e psicológico representa uma contribuição ímpar
movimentos que defendem o rebaixamento da idade penal, pois se da psicologia social para a constituição de uma nova configuração
um jovem entre 15 e 19 anos é uma pessoa responsável, poderá ser social, que revele o sujeito perdido nas características massificadas
criminalizado judicialmente por atos contrários às leis. e generalizadas do fenômeno juventude.
A análise das leis aqui expostas revela a complexidade
da conceituação e da concretização do protagonismo juvenil, O resgate da dimensão social da educação.
apontando a necessidade do aprofundamento de estudos e
pesquisas, de forma a impedir que a imprecisão conceitual seja
Entender que a categoria juventude se constrói nas e pelas
utilizada para embasar posturas conservadoras com relação à
relações sociais contribui para resgatar a dimensão social da
juventude, ao invés de promover sua autonomia e emancipação.
educação, seu caráter de instrumento mediador de conhecimentos
historicamente acumulados pelo homem, e mediado pela
Embasamento teórico: a Psicologia Sócio-Histórica
construção de sentidos e de novas relações no e com o mundo.
Esta concepção se ancora em Charlot (2000), para quem a relação
Enquanto processo histórico, contextualizado, e extremamente
complexo, o exercício da cidadania não ocorre de forma mágica, com o saber é uma relação social de um sujeito com o mundo,
espontânea, natural, em função apenas de uma determinada com ele mesmo e com os outros, uma relação permeada por
faixa etária ou etapa de desenvolvimento. Para que o jovem se sistemas simbólicos, notadamente pela linguagem, que implica
torne cidadão, é necessária uma ação educativa que lhe permita em uma atividade do jovem sobre o mundo, apoderando-se dele
transcender o papel de mero ator social, aprendendo a ler o mundo materialmente, moldando-o e transformando-o.
de forma crítica e atuar sobre ele de forma transformadora. Para Integrando saber e aprender, Charlot (2001) analisa o processo
se constituir como práxis político-pedagógica privilegiada de de aprendizagem a partir da dimensão antropológica, para a qual
formação para a cidadania, esta proposta de protagonismo juvenil aprender é inserir-se em um mundo humano, e da dimensão
se alicerça no referencial teórico da Psicologia Sócio-Histórica, didática, em que aprender é ser confrontado com objetos de
especialmente em Vigotski (1896-1934). Resgatando a origem saber específicos. Assim, aprender é apropriar-se de enunciados,
social, histórica e cultural dos fenômenos psicológicos e do transmitidos pelas palavras, e dominar determinadas formas de se
processo de constituição da subjetividade, Vigotski (1998) enfatiza relacionar com os outros e consigo, com seus sentimentos. Pela
o caráter sóciohistórico do homem, cuja natureza é determinada aprendizagem, o jovem se torna capaz de atribuir sentido às suas
pela cultura e pelas relações sociais, mediadas por sistemas vivências, de se humanizar, se socializar, se tornar um sujeito
simbólicos. singular e, ao mesmo tempo, agir no mundo, modificando-o.
Rompendo com o processo histórico de naturalização da Outro aspecto enfatizado por Charlot (2001) é a importância da
adolescência, Vygotsky (1984) analisa o desenvolvimento do afetividade na educação, o resgate do saber como prazer, como
adolescente como um processo de complexa síntese da evolução reforço à autoestima do jovem, fundamental para o fortalecimento
natural, biológica, orgânica com a formação sóciocultural. Para ele, da confiança e da segurança de se expressar e agir no mundo.
nesse período, as funções psicológicas superiores, impulsionadas Ressaltando que a aprendizagem só ocorre quando o que é
pelos interesses, de natureza histórico-cultural, estabelecem novas aprendido tem algum sentido para o jovem, ele rebate categorias
e complexas combinações e sínteses, modificando estruturalmente consideradas estanques, como a motivação, e propõe em seu
o pensamento, a atenção, a memória, a percepção e a vontade. O lugar a mobilização, que implica em fazer uso de si, para si, o que
processo culmina com o desenvolvimento da autoconsciência do movimenta a atividade intelectual e dá sentido aos saberes. Numa
adolescente, que é a consciência social internalizada, formada a perspectiva interativa, se contrapõe à ideia de “influência”, que
partir da reflexão e da internalização das relações interpessoais. coloca de um lado o indivíduo como ser inacabado, incompleto,

Didatismo e Conhecimento 70
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
e de outro, o mundo preexistente, estruturado, afirmando que a A práxis social é outro princípio educativo, respaldado na
“influência” é uma relação, uma vez que o ser humano sempre concepção de que, por meio do trabalho e da ação, o homem
está em relação com o meio e não situado em um ambiente. A constrói a cultura e as formas de relação humana. Sendo uma
superação da idéia de “influência” é fundamental para a construção atividade material consciente e objetiva, com o fim último
de uma proposta pedagógica de protagonismo juvenil que se da transformação real do mundo exterior, conforme Vasquez
contraponha à perspectiva de desenvolvimento do “potencial” do (2007), a práxis social fortalece a função formadora da educação,
jovem, predominante no modelo dos 4 pilares – aprender a ser, enfatizando a apreensão, compreensão e apropriação de saberes, e
aprender a conviver, aprender a aprender e aprender a fazer -, onde o desvelamento das relações entre educação e condições materiais
a força do ambiente surge como impulsionadora de algo que está de vida, entre formação humana e cultura e entre educação e
adormecido em todos os jovens, aguardando apenas um “start” história. Outro princípio a considerar é a participação e a atuação
para despertar. na sociedade como resultado de um processo de desenvolvimento
Charlot (2001) analisa ainda que a escola deve levar em conta da consciência crítica, da leitura contextualizada da realidade,
a cultura da comunidade, mas deve também ampliar o mundo do desvelamento dos determinantes sócio-históricoculturais das
do jovem para além desta cultura, levando-o a buscar outras condições individuais, da relação entre condições objetivas e
possibilidades e construir projetos fora da comunidade. Assim, subjetivas de vida, da construção de novas relações sociais e da
para que o jovem desenvolva uma cultura de resistência, de luta, atuação comprometida com a transformação social.
de mudança, é preciso que a escola lhe permita compreender que a Um novo princípio é a ênfase na historicidade, na dimensão
vida é diferente em outras classes sociais e em outros lugares, que social do processo pedagógico e no papel formador da
foi diferente no passado e que pode ser diferente amanhã. Resgatar experiência, reforçando as ações educativas como instrumentos de
a dimensão social da educação envolve um processo permanente de fortalecimento cultural e político, que colaboram para a construção
reflexão dos profissionais sobre seus atos políticos e pedagógicos, de subjetividades e para a organização coletiva em torno de direitos.
pois significa reconhecer que aprender não é um processo natural, A estes princípios gerais, somam-se estratégias e ações educativas,
potencialmente possível a todos, e sim uma relação de respeito e que materializam a proposição de uma metodologia de práxis
fortalecimento do sujeito, na qual a coletividade se transforma em sócio-histórica de promoção e fortalecimento do protagonismo
espaço de descoberta e de vivência da alteridade. juvenil. Com base na contribuição da Pedagogia Política de
Direitos do MNMMR (1995), destacamos a formação política,
O protagonismo juvenil como metodologia político- a organização coletiva, a autonomia e a participação ativa de
crianças e adolescentes em todos os níveis do processo educativo. A
pedagógica.
cogestão política dos espaços de decisão e a organização de eventos
coletivos também devem compor as estratégias pedagógicas, pois a
A construção de uma proposta pedagógica, que consolide
possibilidade de exercer responsabilidade e se comprometer com a
o protagonismo juvenil como práxis sócio histórica, se ancora
concretização de ideias provocam a transformação de significados
em princípios básicos, norteadores de uma metodologia que
sociais e sentidos subjetivos.
possibilite ao jovem um reposicionamento objetivo e subjetivo,
Outra estratégia central é a relação de reciprocidade, respeito
ressignificando a juventude como categoria social. O primeiro
e aceitação mútua que deve predominar entre educador e jovem,
princípio é a concepção de homem como ser histórico, que constitui
construída com base em uma presença ativa e atenta, contribuição
sua subjetividade a partir das determinações econômicas, políticas, da Pedagogia da Presença de Antonio Carlos Gomes da Costa
sociais e culturais da sociedade onde vive, produto e produtor do (1991). Esta forma de interação exerce uma ação conscientizadora
mundo, que, ao engendrá-lo, engendra em si mesmo sua própria sobre o jovem, na medida em que rompe com a assimetria de
transformação. Internalizando os significados apreendidos nas e poder predominante, sem que se perca a autoridade conquistada
pelas relações sociais, e transformando-os em sentidos subjetivos, pelo domínio do conhecimento e pela experiência de vida.
a partir da síntese com seus conhecimentos, suas experiências e Numa relação de troca, onde cada um afirma sua alteridade,
emoções, o homem incorpora o social a seu patrimônio interno, aproximando seus objetivos, o educador se torna instrumento
constituindo sua subjetividade e conformando a representação de mediação do desenvolvimento da consciência crítica e do
que faz de si mesmo e do mundo, sua leitura da realidade, seus processo de transformação das relações sociais. Integrando ação
interesses, suas vivências psíquicas, sua forma de se relacionar e reflexão, o educador, com sua presença ativa, leva o jovem a
com as pessoas, de se colocar e agir na sociedade. refletir, compreender, significar, projetar e transformar o mundo,
Outro princípio é a concepção de jovem como sujeito sócio- transformando, ao mesmo tempo, a si mesmo.
histórico-cultural do processo de aprendizagem, agente ativo Outra contribuição importante é a ênfase no coletivo da
da construção/transformação da sua própria história, da história Pedagogia de Makarenko (LUEDEMANN, 2002). Sendo uma
coletiva e da constituição de sua subjetividade, a demandar ação coletiva, a proposta pedagógica do protagonismo juvenil se
relações pautadas na ética e no respeito à sua dignidade e à sua concretiza a partir do coletivo, resgatando o social presente no
autonomia. Um terceiro princípio é o resgate do educador como indivíduo e o indivíduo presente no social, por meio do respeito
principal elemento de mediação do processo político-pedagógico às especificidades dos sujeitos particulares, consideradas a partir
de emancipação do jovem e de mudança de sua forma de inserção na das determinações históricas, sociais, culturais e psicológicas.
sociedade. Possibilitando o acesso ao conhecimento historicamente A estratégia educativa problematizadora e conscientizadora,
construído e ampliando o horizonte de interesses, o educador se contribuição da Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire (1996),
torna agente mediador da formação e do desenvolvimento das aliada à presença ativa do educador e à relação dialógica, ganha
funções psicológicas superiores. destaque no processo de desenvolvimento da consciência crítica

Didatismo e Conhecimento 71
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
e da autonomia do jovem, potencializando o protagonismo FERRETTI, Celso J.; ZIBAS, Dagmar M. L.; TARTUCE,
juvenil. A partir de um método ativo, dialógico e participante, a Gisela Lobo B. P. Protagonismo Juvenil na Literatura Especializada
problematização possibilita ao jovem compreender a realidade, e na Reforma do Ensino Médio. Cadernos de Pesquisa, São Paulo,
desvelando os nexos que o mantém na condição de subalternidade, v. 34, n.122, p. 411-423, maio/ago. 2004.
e o fortalece para fazer escolhas e agir no sentido de transformar LUEDEMANN, Cecília da Silveira. Anton Makarenko vida e
esta realidade. A proposta pedagógica norteada pelos princípios e obra – a pedagogia na revolução. São Paulo: Expressão Popular,
pelas estratégias acima analisadas, caracteriza-se como uma prática 2002.
educativa, psicológica e social que, ao se constituir como práxis MNMMR. MOVIMENTO NACIONAL DE MENINOS E
sócio histórica, abre possibilidades de transformação de relações MENINAS DE RUA. 10 anos do Movimento Nacional de Meninos
e Meninas de Rua – 1985/1995. Brasília, DF, outubro/1995.
sociais, sentidos pessoais, subjetividades, e, dialeticamente,
SANTOS, Benedito Rodrigues dos. A cidadania “regulada”
significados sociais, cultura e história coletiva. de crianças e adolescentes. Estudos. Goiânia, v. 26, n. 1, jan./marc.
O protagonismo juvenil, enquanto práxis social, alicerçada 1999. p. 07-32.
na psicologia sócio histórica, resgata a historicidade e a VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da práxis. Buenos
dimensão social da juventude, abrindo possibilidades concretas Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales/CLACSO;
de ressignificação e de constituição de subjetividades. São Paulo: Expressão Popular, Brasil, 2007.
Potencializando o empoderamento do jovem, favorece a VIGOSTKI, Lev Semenovich. A formação social da mente: o
transformação das relações do adolescente com a sociedade e a desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Tradução
superação de estereótipos e preconceitos, desnudando a alteridade por José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto, Solange
presente nas diferentes juventudes, e possibilitando a construção Castro Afeche. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. (Psicologia
de singularidades na coletividade. A partir desta concepção, e Pedagogia).
investir no protagonismo juvenil significa romper com a relação VYGOTSKY, Lev Semenovich. Obras Escogidas - Tomo IV –
juventude-violência-alienação, presente no imaginário social, Psicologia Infantil. Moscou: Editorial Pedagógica, 1984.
e resgatar o jovem como sujeito ativo de sua história, capaz de
pensar e intervir de forma autônoma e criativa sobre os problemas
LEI Nº 12.594, DE 18 DE JANEIRO DE
de sua realidade, e colaborar com o processo de construção do
2012 - INSTITUI O SISTEMA NACIONAL
projeto de desenvolvimento social.
DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO
Texto adaptado de Prof. Dra. Maria Izabel Calil Stamato. (SINASE) E REGULAMENTA A EXECUÇÃO
DAS MEDIDAS DESTINADAS A
Referências ADOLESCENTE QUE PRATIQUE ATO
INFRACIONAL.
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei No.
27 de 2007: Dispõe sobre o Estatuto da juventude e dá outras
providências. Brasília: 2007. Disponível em
http://www.juventude.fortaleza.ce.gov.br/images/stories/ LEI Nº 12.594, DE 18 DE JANEIRO DE 2012.
estatuto_da_juventude.pdf
Institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
Acesso em: 20 julho 2008.
(Sinase), regulamenta a execução das medidas socioeducativas
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei
destinadas a adolescente que pratique ato infracional; e altera
8069/1989. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria de Estado as Leis nos 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança
dos Direitos Humanos, 2000a. e do Adolescente); 7.560, de 19 de dezembro de 1986, 7.998, de
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parâmetros 11 de janeiro de 1990, 5.537, de 21 de novembro de 1968, 8.315,
Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: 2000b. de 23 de dezembro de 1991, 8.706, de 14 de setembro de 1993,
Disponível em www.mec.gov.br . Acesso em 18 julho 2008. os Decretos-Leis nos 4.048, de 22 de janeiro de 1942, 8.621, de
BRASIL. Ministério da Educação. Lei No. 9.394, de 20 de 10 de janeiro de 1946, e a Consolidação das Leis do Trabalho
dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de
nacional. Brasília: 1996. Disponível em 1943.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm Acesso
em 20 jan. 2008. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1. Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 
ed. Brasília: Horizonte Editora, 1988.
TÍTULO I
CHARLOT, Bernard. Os Jovens e o Saber: Perspectivas
DO SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO
Mundiais. Porto Alegre: Artmed, 2001. SOCIOEDUCATIVO (Sinase)
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos CAPÍTULO I
para uma teoria. Tradução de Bruno Magne. Porto Alegre: Artes DISPOSIÇÕES GERAIS
Médicas, 2000.
COSTA, Antonio Carlos Gomes da. Por uma Pedagogia da Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Atendimento
Presença. Brasília: Ministério da Ação Social: Centro Brasileiro Socioeducativo (Sinase) e regulamenta a execução das medidas
para a Infância e Adolescência, 1991. destinadas a adolescente que pratique ato infracional.

Didatismo e Conhecimento 72
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
§ 1º Entende-se por Sinase o conjunto ordenado de VIII - financiar, com os demais entes federados, a execução de
princípios, regras e critérios que envolvem a execução de medidas programas e serviços do Sinase; e
socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão, os sistemas IX - garantir a publicidade de informações sobre repasses
estaduais, distrital e municipais, bem como todos os planos, de recursos aos gestores estaduais, distrital e municipais, para
políticas e programas específicos de atendimento a adolescente em financiamento de programas de atendimento socioeducativo.
conflito com a lei. § 1º São vedados à União o desenvolvimento e a oferta de
§ 2º Entendem-se por medidas socioeducativas as previstas programas próprios de atendimento.
no art. 112 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da § 2º Ao Conselho Nacional dos Direitos da Criança e
Criança e do Adolescente), as quais têm por objetivos: do Adolescente (Conanda) competem as funções normativa,
I - a responsabilização do adolescente quanto às consequências deliberativa, de avaliação e de fiscalização do Sinase, nos termos
lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua previstos na Lei no 8.242, de 12 de outubro de 1991, que cria o
reparação; referido Conselho.
II - a integração social do adolescente e a garantia de seus § 3º O Plano de que trata o inciso II do caput deste artigo será
direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu submetido à deliberação do Conanda.
plano individual de atendimento; e § 4º À Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
III - a desaprovação da conduta infracional, efetivando as República (SDH/PR) competem as funções executiva e de gestão
disposições da sentença como parâmetro máximo de privação de do Sinase.
liberdade ou restrição de direitos, observados os limites previstos
em lei. Art. 4º Compete aos Estados:
§ 3º Entendem-se por programa de atendimento a organização I - formular, instituir, coordenar e manter Sistema Estadual
e o funcionamento, por unidade, das condições necessárias para o de Atendimento Socioeducativo, respeitadas as diretrizes fixadas
cumprimento das medidas socioeducativas. pela União;
§ 4º Entende-se por unidade a base física necessária para a II - elaborar o Plano Estadual de Atendimento Socioeducativo
organização e o funcionamento de programa de atendimento. em conformidade com o Plano Nacional;
§ 5º Entendem-se por entidade de atendimento a pessoa III - criar, desenvolver e manter programas para a execução
jurídica de direito público ou privado que instala e mantém das medidas socioeducativas de semiliberdade e internação;
a unidade e os recursos humanos e materiais necessários ao IV - editar normas complementares para a organização e
desenvolvimento de programas de atendimento. funcionamento do seu sistema de atendimento e dos sistemas
municipais;
Art. 2º O Sinase será coordenado pela União e integrado V - estabelecer com os Municípios formas de colaboração
pelos sistemas estaduais, distrital e municipais responsáveis pela para o atendimento socioeducativo em meio aberto;
implementação dos seus respectivos programas de atendimento VI - prestar assessoria técnica e suplementação financeira aos
a adolescente ao qual seja aplicada medida socioeducativa, com Municípios para a oferta regular de programas de meio aberto;
liberdade de organização e funcionamento, respeitados os termos VII - garantir o pleno funcionamento do plantão
desta Lei. interinstitucional, nos termos previstos no inciso V do art. 88 da
Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
CAPÍTULO II Adolescente);
DAS COMPETÊNCIAS VIII - garantir defesa técnica do adolescente a quem se atribua
prática de ato infracional;
Art. 3º Compete à União: IX - cadastrar-se no Sistema Nacional de Informações sobre
I - formular e coordenar a execução da política nacional de o Atendimento Socioeducativo e fornecer regularmente os dados
atendimento socioeducativo; necessários ao povoamento e à atualização do Sistema; e
II - elaborar o Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo, X - cofinanciar, com os demais entes federados, a execução
em parceria com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; de programas e ações destinados ao atendimento inicial de
III - prestar assistência técnica e suplementação financeira adolescente apreendido para apuração de ato infracional, bem
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o como aqueles destinados a adolescente a quem foi aplicada medida
desenvolvimento de seus sistemas; socioeducativa privativa de liberdade.
IV - instituir e manter o Sistema Nacional de Informações § 1º Ao Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do
sobre o Atendimento Socioeducativo, seu funcionamento, Adolescente competem as funções deliberativas e de controle do
entidades, programas, incluindo dados relativos a financiamento Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo, nos termos
e população atendida; previstos no inciso II do art. 88 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de
V - contribuir para a qualificação e ação em rede dos Sistemas 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), bem como outras
de Atendimento Socioeducativo; definidas na legislação estadual ou distrital.
VI - estabelecer diretrizes sobre a organização e funcionamento § 2º O Plano de que trata o inciso II do caput deste artigo
das unidades e programas de atendimento e as normas de referência será submetido à deliberação do Conselho Estadual dos Direitos
destinadas ao cumprimento das medidas socioeducativas de da Criança e do Adolescente.
internação e semiliberdade; § 3º Competem ao órgão a ser designado no Plano de que trata
VII - instituir e manter processo de avaliação dos Sistemas de o inciso II do caput deste artigo as funções executiva e de gestão
Atendimento Socioeducativo, seus planos, entidades e programas; do Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo.

Didatismo e Conhecimento 73
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Art. 5º Compete aos Municípios: Art. 8º Os Planos de Atendimento Socioeducativo deverão,
I - formular, instituir, coordenar e manter o Sistema Municipal obrigatoriamente, prever ações articuladas nas áreas de educação,
de Atendimento Socioeducativo, respeitadas as diretrizes fixadas saúde, assistência social, cultura, capacitação para o trabalho e
pela União e pelo respectivo Estado; esporte, para os adolescentes atendidos, em conformidade com
II - elaborar o Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo, os princípios elencados na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
em conformidade com o Plano Nacional e o respectivo Plano (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Estadual; Parágrafo único. Os Poderes Legislativos federal, estaduais,
III - criar e manter programas de atendimento para a execução distrital e municipais, por meio de suas comissões temáticas
das medidas socioeducativas em meio aberto; pertinentes, acompanharão a execução dos Planos de Atendimento
IV - editar normas complementares para a organização e Socioeducativo dos respectivos entes federados.
funcionamento dos programas do seu Sistema de Atendimento
Socioeducativo; CAPÍTULO IV
V - cadastrar-se no Sistema Nacional de Informações sobre DOS PROGRAMAS DE ATENDIMENTO
o Atendimento Socioeducativo e fornecer regularmente os dados Seção I
necessários ao povoamento e à atualização do Sistema; e Disposições Gerais
VI - cofinanciar, conjuntamente com os demais entes federados,
a execução de programas e ações destinados ao atendimento inicial Art. 9º Os Estados e o Distrito Federal inscreverão seus
de adolescente apreendido para apuração de ato infracional, bem programas de atendimento e alterações no Conselho Estadual ou
como aqueles destinados a adolescente a quem foi aplicada medida Distrital dos Direitos da Criança e do Adolescente, conforme o
socioeducativa em meio aberto. caso.
§ 1º Para garantir a oferta de programa de atendimento
socioeducativo de meio aberto, os Municípios podem instituir Art. 10. Os Municípios inscreverão seus programas e
os consórcios dos quais trata a Lei no 11.107, de 6 de abril de alterações, bem como as entidades de atendimento executoras, no
2005, que dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
públicos e dá outras providências, ou qualquer outro instrumento
Art. 11. Além da especificação do regime, são requisitos
jurídico adequado, como forma de compartilhar responsabilidades.
obrigatórios para a inscrição de programa de atendimento:
§ 2º Ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
I - a exposição das linhas gerais dos métodos e técnicas
Adolescente competem as funções deliberativas e de controle do
pedagógicas, com a especificação das atividades de natureza
Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo, nos termos
coletiva;
previstos no inciso II do art. 88 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de
II - a indicação da estrutura material, dos recursos humanos e
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), bem como outras
das estratégias de segurança compatíveis com as necessidades da
definidas na legislação municipal.
respectiva unidade;
§ 3º O Plano de que trata o inciso II do caput deste artigo será
III - regimento interno que regule o funcionamento da
submetido à deliberação do Conselho Municipal dos Direitos da entidade, no qual deverá constar, no mínimo:
Criança e do Adolescente. a) o detalhamento das atribuições e responsabilidades do
§ 4º Competem ao órgão a ser designado no Plano de que trata dirigente, de seus prepostos, dos membros da equipe técnica e dos
o inciso II do caput deste artigo as funções executiva e de gestão demais educadores;
do Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo. b) a previsão das condições do exercício da disciplina e
concessão de benefícios e o respectivo procedimento de aplicação;
Art. 6º Ao Distrito Federal cabem, cumulativamente, as e
competências dos Estados e dos Municípios. c) a previsão da concessão de benefícios extraordinários e
enaltecimento, tendo em vista tornar público o reconhecimento ao
CAPÍTULO III adolescente pelo esforço realizado na consecução dos objetivos do
DOS PLANOS DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO plano individual;
IV - a política de formação dos recursos humanos;
Art. 7º O Plano de que trata o inciso II do art. 3o desta Lei V - a previsão das ações de acompanhamento do adolescente
deverá incluir um diagnóstico da situação do Sinase, as diretrizes, após o cumprimento de medida socioeducativa;
os objetivos, as metas, as prioridades e as formas de financiamento VI - a indicação da equipe técnica, cuja quantidade e formação
e gestão das ações de atendimento para os 10 (dez) anos seguintes, devem estar em conformidade com as normas de referência
em sintonia com os princípios elencados na Lei nº 8.069, de 13 de do sistema e dos conselhos profissionais e com o atendimento
julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). socioeducativo a ser realizado; e
§ 1º As normas nacionais de referência para o atendimento VII - a adesão ao Sistema de Informações sobre o Atendimento
socioeducativo devem constituir anexo ao Plano de que trata o Socioeducativo, bem como sua operação efetiva.
inciso II do art. 3o desta Lei. Parágrafo único. O não cumprimento do previsto neste artigo
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, sujeita as entidades de atendimento, os órgãos gestores, seus
com base no Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo, dirigentes ou prepostos à aplicação das medidas previstas no art.
elaborar seus planos decenais correspondentes, em até 360 97 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e
(trezentos e sessenta) dias a partir da aprovação do Plano Nacional. do Adolescente).

Didatismo e Conhecimento 74
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Art. 12. A composição da equipe técnica do programa de IV - a definição das estratégias para a gestão de conflitos,
atendimento deverá ser interdisciplinar, compreendendo, no vedada a previsão de isolamento cautelar, exceto nos casos
mínimo, profissionais das áreas de saúde, educação e assistência previstos no § 2o do art. 49 desta Lei; e
social, de acordo com as normas de referência. V - a previsão de regime disciplinar nos termos do art. 72
§ 1º Outros profissionais podem ser acrescentados às equipes desta Lei.
para atender necessidades específicas do programa.
§ 2º Regimento interno deve discriminar as atribuições de Art. 16. A estrutura física da unidade deverá ser compatível
cada profissional, sendo proibida a sobreposição dessas atribuições com as normas de referência do Sinase.
na entidade de atendimento. § 1º É vedada a edificação de unidades socioeducacionais em
§ 3º O não cumprimento do previsto neste artigo sujeita as espaços contíguos, anexos, ou de qualquer outra forma integrados
entidades de atendimento, seus dirigentes ou prepostos à aplicação a estabelecimentos penais.
das medidas previstas no art. 97 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de § 2º A direção da unidade adotará, em caráter excepcional,
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). medidas para proteção do interno em casos de risco à sua
integridade física, à sua vida, ou à de outrem, comunicando, de
Seção II
imediato, seu defensor e o Ministério Público.
Dos Programas de Meio Aberto
Art. 17. Para o exercício da função de dirigente de programa
Art. 13. Compete à direção do programa de prestação de
serviços à comunidade ou de liberdade assistida: de atendimento em regime de semiliberdade ou de internação,
I - selecionar e credenciar orientadores, designando-os, caso a além dos requisitos específicos previstos no respectivo programa
caso, para acompanhar e avaliar o cumprimento da medida; de atendimento, é necessário:
II - receber o adolescente e seus pais ou responsável e orientá- I - formação de nível superior compatível com a natureza da
los sobre a finalidade da medida e a organização e funcionamento função;
do programa; II - comprovada experiência no trabalho com adolescentes de,
III - encaminhar o adolescente para o orientador credenciado; no mínimo, 2 (dois) anos; e
IV - supervisionar o desenvolvimento da medida; e III - reputação ilibada.
V - avaliar, com o orientador, a evolução do cumprimento
da medida e, se necessário, propor à autoridade judiciária sua CAPÍTULO V
substituição, suspensão ou extinção. DA AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DA GESTÃO DO
Parágrafo único. O rol de orientadores credenciados deverá ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO
ser comunicado, semestralmente, à autoridade judiciária e ao
Ministério Público. Art. 18. A União, em articulação com os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, realizará avaliações periódicas da
Art. 14. Incumbe ainda à direção do programa de implementação dos Planos de Atendimento Socioeducativo em
medida de prestação de serviços à comunidade selecionar intervalos não superiores a 3 (três) anos.
e credenciar entidades assistenciais, hospitais, escolas ou § 1º O objetivo da avaliação é verificar o cumprimento das
outros estabelecimentos congêneres, bem como os programas metas estabelecidas e elaborar recomendações aos gestores e
comunitários ou governamentais, de acordo com o perfil do operadores dos Sistemas.
socioeducando e o ambiente no qual a medida será cumprida. § 2º O processo de avaliação deverá contar com a participação
Parágrafo único. Se o Ministério Público impugnar de representantes do Poder Judiciário, do Ministério Público, da
o credenciamento, ou a autoridade judiciária considerá-lo Defensoria Pública e dos Conselhos Tutelares, na forma a ser
inadequado, instaurará incidente de impugnação, com a aplicação definida em regulamento.
subsidiária do procedimento de apuração de irregularidade em
§ 3º A primeira avaliação do Plano Nacional de Atendimento
entidade de atendimento regulamentado na Lei no 8.069, de 13
Socioeducativo realizar-se-á no terceiro ano de vigência desta Lei,
de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), devendo
cabendo ao Poder Legislativo federal acompanhar o trabalho por
citar o dirigente do programa e a direção da entidade ou órgão
meio de suas comissões temáticas pertinentes.
credenciado.

Seção III Art. 19. É instituído o Sistema Nacional de Avaliação e


Dos Programas de Privação da Liberdade Acompanhamento do Atendimento Socioeducativo, com os
seguintes objetivos:
Art. 15. São requisitos específicos para a inscrição de I - contribuir para a organização da rede de atendimento
programas de regime de semiliberdade ou internação: socioeducativo;
I - a comprovação da existência de estabelecimento II - assegurar conhecimento rigoroso sobre as ações do
educacional com instalações adequadas e em conformidade com atendimento socioeducativo e seus resultados;
as normas de referência; III - promover a melhora da qualidade da gestão e do
II - a previsão do processo e dos requisitos para a escolha do atendimento socioeducativo; e
dirigente; IV - disponibilizar informações sobre o atendimento
III - a apresentação das atividades de natureza coletiva; socioeducativo.

Didatismo e Conhecimento 75
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
§ 1º A avaliação abrangerá, no mínimo, a gestão, as entidades Art. 23. A avaliação das entidades terá por objetivo identificar
de atendimento, os programas e os resultados da execução das o perfil e o impacto de sua atuação, por meio de suas atividades,
medidas socioeducativas. programas e projetos, considerando as diferentes dimensões
§ 2º Ao final da avaliação, será elaborado relatório contendo institucionais e, entre elas, obrigatoriamente, as seguintes:
histórico e diagnóstico da situação, as recomendações e os prazos I - o plano de desenvolvimento institucional;
para que essas sejam cumpridas, além de outros elementos a serem II - a responsabilidade social, considerada especialmente
definidos em regulamento. sua contribuição para a inclusão social e o desenvolvimento
§ 3º O relatório da avaliação deverá ser encaminhado aos socioeconômico do adolescente e de sua família;
respectivos Conselhos de Direitos, Conselhos Tutelares e ao III - a comunicação e o intercâmbio com a sociedade;
Ministério Público. IV - as políticas de pessoal quanto à qualificação,
§ 4º Os gestores e entidades têm o dever de colaborar com o aperfeiçoamento, desenvolvimento profissional e condições de
processo de avaliação, facilitando o acesso às suas instalações, à trabalho;
documentação e a todos os elementos necessários ao seu efetivo V - a adequação da infraestrutura física às normas de
cumprimento. referência;
§ 5º O acompanhamento tem por objetivo verificar o VI - o planejamento e a auto avaliação quanto aos processos,
cumprimento das metas dos Planos de Atendimento Socioeducativo. resultados, eficiência e eficácia do projeto pedagógico e da
proposta socioeducativa;
Art. 20. O Sistema Nacional de Avaliação e Acompanhamento VII - as políticas de atendimento para os adolescentes e suas
da Gestão do Atendimento Socioeducativo assegurará, na famílias;
metodologia a ser empregada: VIII - a atenção integral à saúde dos adolescentes em
I - a realização da auto avaliação dos gestores e das instituições conformidade com as diretrizes do art. 60 desta Lei; e
de atendimento; IX - a sustentabilidade financeira.
II - a avaliação institucional externa, contemplando a análise
global e integrada das instalações físicas, relações institucionais, Art. 24. A avaliação dos programas terá por objetivo verificar,
compromisso social, atividades e finalidades das instituições de no mínimo, o atendimento ao que determinam os arts. 94, 100,
atendimento e seus programas; 117, 119, 120, 123 e 124 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990
III - o respeito à identidade e à diversidade de entidades e (Estatuto da Criança e do Adolescente).
programas;
IV - a participação do corpo de funcionários das entidades Art. 25. A avaliação dos resultados da execução de medida
de atendimento e dos Conselhos Tutelares da área de atuação da socioeducativa terá por objetivo, no mínimo:
entidade avaliada; e I - verificar a situação do adolescente após cumprimento
V - o caráter público de todos os procedimentos, dados e da medida socioeducativa, tomando por base suas perspectivas
resultados dos processos avaliativos. educacionais, sociais, profissionais e familiares; e
II - verificar reincidência de prática de ato infracional.
Art. 21. A avaliação será coordenada por uma comissão
permanente e realizada por comissões temporárias, essas Art. 26. Os resultados da avaliação serão utilizados para:
compostas, no mínimo, por 3 (três) especialistas com reconhecida I - planejamento de metas e eleição de prioridades do Sistema
atuação na área temática e definidas na forma do regulamento. de Atendimento Socioeducativo e seu financiamento;
Parágrafo único. É vedado à comissão permanente designar II - reestruturação e/ou ampliação da rede de atendimento
avaliadores: socioeducativo, de acordo com as necessidades diagnosticadas;
I - que sejam titulares ou servidores dos órgãos gestores III - adequação dos objetivos e da natureza do atendimento
avaliados ou funcionários das entidades avaliadas; socioeducativo prestado pelas entidades avaliadas;
II - que tenham relação de parentesco até o 3o grau com titulares IV - celebração de instrumentos de cooperação com vistas à
ou servidores dos órgãos gestores avaliados e/ou funcionários das correção de problemas diagnosticados na avaliação;
entidades avaliadas; e V - reforço de financiamento para fortalecer a rede de
III - que estejam respondendo a processos criminais. atendimento socioeducativo;
VI - melhorar e ampliar a capacitação dos operadores do
Art. 22. A avaliação da gestão terá por objetivo: Sistema de Atendimento Socioeducativo; e
I - verificar se o planejamento orçamentário e sua execução se VII - os efeitos do art. 95 da Lei no 8.069, de 13 de julho de
processam de forma compatível com as necessidades do respectivo 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Sistema de Atendimento Socioeducativo; Parágrafo único. As recomendações originadas da avaliação
II - verificar a manutenção do fluxo financeiro, considerando deverão indicar prazo para seu cumprimento por parte das
as necessidades operacionais do atendimento socioeducativo, as entidades de atendimento e dos gestores avaliados, ao fim do qual
normas de referência e as condições previstas nos instrumentos estarão sujeitos às medidas previstas no art. 28 desta Lei.
jurídicos celebrados entre os órgãos gestores e as entidades de
atendimento; Art. 27. As informações produzidas a partir do Sistema
III - verificar a implementação de todos os demais Nacional de Informações sobre Atendimento Socioeducativo serão
compromissos assumidos por ocasião da celebração dos utilizadas para subsidiar a avaliação, o acompanhamento, a gestão
instrumentos jurídicos relativos ao atendimento socioeducativo; e e o financiamento dos Sistemas Nacional, Distrital, Estaduais e
IV - a articulação interinstitucional e intersetorial das políticas. Municipais de Atendimento Socioeducativo.

Didatismo e Conhecimento 76
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
CAPÍTULO VI Art. 32. A Lei no 7.560, de 19 de dezembro de 1986, passa a
DA RESPONSABILIZAÇÃO DOS GESTORES, vigorar com as seguintes alterações:
OPERADORES E ENTIDADES DE ATENDIMENTO “Art. 5º Os recursos do Funad serão destinados:
.............................................................................................
Art. 28. No caso do desrespeito, mesmo que parcial, ou do X - às entidades governamentais e não governamentais
não cumprimento integral às diretrizes e determinações desta Lei, integrantes do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
em todas as esferas, são sujeitos: (Sinase).
I - gestores, operadores e seus prepostos e entidades ...................................................................................” (NR)
governamentais às medidas previstas no inciso I e no § 1o do art. “Art. 5º-A. A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas
97 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e (Senad), órgão gestor do Fundo Nacional Antidrogas (Funad),
do Adolescente); e poderá financiar projetos das entidades do Sinase desde que:
II - entidades não governamentais, seus gestores, operadores I - o ente federado de vinculação da entidade que solicita o
e prepostos às medidas previstas no inciso II e no § 1o do art. 97 recurso possua o respectivo Plano de Atendimento Socioeducativo
da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do aprovado;
Adolescente). II - as entidades governamentais e não governamentais
Parágrafo único. A aplicação das medidas previstas neste integrantes do Sinase que solicitem recursos tenham participado
artigo dar-se-á a partir da análise de relatório circunstanciado da avaliação nacional do atendimento socioeducativo;
elaborado após as avaliações, sem prejuízo do que determinam III - o projeto apresentado esteja de acordo com os pressupostos
os arts. 191 a 197, 225 a 227, 230 a236, 243 e 245 a 247 da da Política Nacional sobre Drogas e legislação específica.”
Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente). Art. 33. A Lei no 7.998, de 11 de janeiro de 1990, passa a
vigorar acrescida do seguinte art. 19-A:
Art. 29. Àqueles que, mesmo não sendo agentes públicos, “Art. 19-A. O Codefat poderá priorizar projetos das entidades
induzam ou concorram, sob qualquer forma, direta ou indireta, integrantes do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
para o não cumprimento desta Lei, aplicam-se, no que couber, as (Sinase) desde que:
penalidades dispostas na Lei no8.429, de 2 de junho de 1992, que I - o ente federado de vinculação da entidade que solicita o
dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos recurso possua o respectivo Plano de Atendimento Socioeducativo
de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego aprovado;
ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional II - as entidades governamentais e não governamentais
e dá outras providências (Lei de Improbidade Administrativa). integrantes do Sinase que solicitem recursos tenham se submetido
à avaliação nacional do atendimento socioeducativo.”
CAPÍTULO VII
DO FINANCIAMENTO E DAS PRIORIDADES Art. 34. O art. 2o da Lei no 5.537, de 21 de novembro de
1968, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3o:
Art. 30. O Sinase será cofinanciado com recursos dos “Art. 2º .......................................................................
orçamentos fiscal e da seguridade social, além de outras fontes. .............................................................................................
§ 1º (VETADO). § 3º O fundo de que trata o art. 1o poderá financiar, na forma
§ 2º Os entes federados que tenham instituído seus sistemas de das resoluções de seu conselho deliberativo, programas e projetos
atendimento socioeducativo terão acesso aos recursos na forma de de educação básica relativos ao Sistema Nacional de Atendimento
transferência adotada pelos órgãos integrantes do Sinase. Socioeducativo (Sinase) desde que:
§ 3º Os entes federados beneficiados com recursos dos I - o ente federado que solicitar o recurso possua o respectivo
orçamentos dos órgãos responsáveis pelas políticas integrantes Plano de Atendimento Socioeducativo aprovado;
do Sinase, ou de outras fontes, estão sujeitos às normas e II - as entidades de atendimento vinculadas ao ente federado
procedimentos de monitoramento estabelecidos pelas instâncias que solicitar o recurso tenham se submetido à avaliação nacional
dos órgãos das políticas setoriais envolvidas, sem prejuízo do do atendimento socioeducativo; e
disposto nos incisos IX e X do art. 4o, nos incisos V e VI do art. 5o III - o ente federado tenha assinado o Plano de Metas
e no art. 6o desta Lei. Compromisso Todos pela Educação e elaborado o respectivo
Plano de Ações Articuladas (PAR).” (NR)
Art. 31. Os Conselhos de Direitos, nas 3 (três) esferas de
governo, definirão, anualmente, o percentual de recursos dos TÍTULO II
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente a serem aplicados DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
no financiamento das ações previstas nesta Lei, em especial para CAPÍTULO I
capacitação, sistemas de informação e de avaliação. DISPOSIÇÕES GERAIS
Parágrafo único. Os entes federados beneficiados com
recursos do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente para Art. 35. A execução das medidas socioeducativas reger-se-á
ações de atendimento socioeducativo prestarão informações sobre pelos seguintes princípios:
o desempenho dessas ações por meio do Sistema de Informações I - legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento
sobre Atendimento Socioeducativo. mais gravoso do que o conferido ao adulto;

Didatismo e Conhecimento 77
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
II - excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição Art. 40. Autuadas as peças, a autoridade judiciária
de medidas, favorecendo-se meios de autocomposição de conflitos; encaminhará, imediatamente, cópia integral do expediente ao órgão
III - prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas gestor do atendimento socioeducativo, solicitando designação do
e, sempre que possível, atendam às necessidades das vítimas; programa ou da unidade de cumprimento da medida.
IV - proporcionalidade em relação à ofensa cometida;
V - brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em Art. 41. A autoridade judiciária dará vistas da proposta de
especial o respeito ao que dispõe o art. 122 da Lei no 8.069, de 13 plano individual de que trata o art. 53 desta Lei ao defensor e ao
de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); Ministério Público pelo prazo sucessivo de 3 (três) dias, contados
VI - individualização, considerando-se a idade, capacidades e do recebimento da proposta encaminhada pela direção do programa
circunstâncias pessoais do adolescente; de atendimento.
VII - mínima intervenção, restrita ao necessário para a § 1º O defensor e o Ministério Público poderão requerer, e
realização dos objetivos da medida; o Juiz da Execução poderá determinar, de ofício, a realização de
VIII - não discriminação do adolescente, notadamente em qualquer avaliação ou perícia que entenderem necessárias para
razão de etnia, gênero, nacionalidade, classe social, orientação complementação do plano individual.
religiosa, política ou sexual, ou associação ou pertencimento a § 2º A impugnação ou complementação do plano individual,
qualquer minoria ou status; e requerida pelo defensor ou pelo Ministério Público, deverá ser
IX - fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários no fundamentada, podendo a autoridade judiciária indeferi-la, se
processo socioeducativo. entender insuficiente a motivação.
§ 3º Admitida a impugnação, ou se entender que o plano é
CAPÍTULO II inadequado, a autoridade judiciária designará, se necessário,
DOS PROCEDIMENTOS audiência da qual cientificará o defensor, o Ministério Público, a
direção do programa de atendimento, o adolescente e seus pais ou
Art. 36. A competência para jurisdicionar a execução das responsável.
medidas socioeducativas segue o determinado pelo art. 146 da § 4º A impugnação não suspenderá a execução do plano
Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do individual, salvo determinação judicial em contrário.
Adolescente). § 5º Findo o prazo sem impugnação, considerar-se-á o plano
individual homologado.
Art. 37. A defesa e o Ministério Público intervirão, sob pena
de nulidade, no procedimento judicial de execução de medida Art. 42. As medidas socioeducativas de liberdade assistida,
socioeducativa, asseguradas aos seus membros as prerrogativas de semiliberdade e de internação deverão ser reavaliadas no
previstas na Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da máximo a cada 6 (seis) meses, podendo a autoridade judiciária,
Criança e do Adolescente), podendo requerer as providências se necessário, designar audiência, no prazo máximo de 10 (dez)
necessárias para adequar a execução aos ditames legais e dias, cientificando o defensor, o Ministério Público, a direção do
regulamentares. programa de atendimento, o adolescente e seus pais ou responsável.
§ 1º A audiência será instruída com o relatório da equipe
Art. 38. As medidas de proteção, de advertência e de reparação técnica do programa de atendimento sobre a evolução do plano de
do dano, quando aplicadas de forma isolada, serão executadas que trata o art. 52 desta Lei e com qualquer outro parecer técnico
nos próprios autos do processo de conhecimento, respeitado o requerido pelas partes e deferido pela autoridade judiciária.
disposto nos arts. 143 e 144 da Lei no 8.069, de 13 de julho de § 2º A gravidade do ato infracional, os antecedentes e o tempo
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). de duração da medida não são fatores que, por si, justifiquem a não
substituição da medida por outra menos grave.
Art. 39. Para aplicação das medidas socioeducativas § 3º Considera-se mais grave a internação, em relação a todas
de prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, as demais medidas, e mais grave a semiliberdade, em relação às
semiliberdade ou internação, será constituído processo de execução medidas de meio aberto.
para cada adolescente, respeitado o disposto nos arts. 143 e 144 da
Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Art. 43. A reavaliação da manutenção, da substituição ou da
Adolescente), e com autuação das seguintes peças: suspensão das medidas de meio aberto ou de privação da liberdade
I - documentos de caráter pessoal do adolescente existentes e do respectivo plano individual pode ser solicitada a qualquer
no processo de conhecimento, especialmente os que comprovem tempo, a pedido da direção do programa de atendimento, do
sua idade; e defensor, do Ministério Público, do adolescente, de seus pais ou
II - as indicadas pela autoridade judiciária, sempre que houver responsável.
necessidade e, obrigatoriamente: § 1º Justifica o pedido de reavaliação, entre outros motivos:
a) cópia da representação; I - o desempenho adequado do adolescente com base no seu
b) cópia da certidão de antecedentes; plano de atendimento individual, antes do prazo da reavaliação
c) cópia da sentença ou acórdão; e obrigatória;
d) cópia de estudos técnicos realizados durante a fase de II - a inadaptação do adolescente ao programa e o reiterado
conhecimento. descumprimento das atividades do plano individual; e
Parágrafo único. Procedimento idêntico será observado na III - a necessidade de modificação das atividades do plano
hipótese de medida aplicada em sede de remissão, como forma de individual que importem em maior restrição da liberdade do
suspensão do processo. adolescente.

Didatismo e Conhecimento 78
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
§ 2º A autoridade judiciária poderá indeferir o pedido, de Art. 48. O defensor, o Ministério Público, o adolescente e seus
pronto, se entender insuficiente a motivação. pais ou responsável poderão postular revisão judicial de qualquer
§ 3º Admitido o processamento do pedido, a autoridade sanção disciplinar aplicada, podendo a autoridade judiciária
judiciária, se necessário, designará audiência, observando o suspender a execução da sanção até decisão final do incidente.
princípio do § 1o do art. 42 desta Lei.
§ 4º A substituição por medida mais gravosa somente ocorrerá § 1º Postulada a revisão após ouvida a autoridade colegiada
em situações excepcionais, após o devido processo legal, inclusive que aplicou a sanção e havendo provas a produzir em audiência,
na hipótese do inciso III do art. 122 da Lei no 8.069, de 13 de julho procederá o magistrado na forma do § 1º do art. 42 desta Lei.
de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), e deve ser: § 2º É vedada a aplicação de sanção disciplinar de isolamento
I - fundamentada em parecer técnico; a adolescente interno, exceto seja essa imprescindível para garantia
II - precedida de prévia audiência, e nos termos do § 1o do art. da segurança de outros internos ou do próprio adolescente a quem
42 desta Lei. seja imposta a sanção, sendo necessária ainda comunicação ao
defensor, ao Ministério Público e à autoridade judiciária em até 24
Art. 44. Na hipótese de substituição da medida ou modificação (vinte e quatro) horas.
das atividades do plano individual, a autoridade judiciária remeterá
o inteiro teor da decisão à direção do programa de atendimento,
CAPÍTULO III
assim como as peças que entender relevantes à nova situação
DOS DIREITOS INDIVIDUAIS
jurídica do adolescente.
Parágrafo único. No caso de a substituição da medida importar
em vinculação do adolescente a outro programa de atendimento, o Art. 49. São direitos do adolescente submetido ao cumprimento
plano individual e o histórico do cumprimento da medida deverão de medida socioeducativa, sem prejuízo de outros previstos em lei:
acompanhar a transferência. I - ser acompanhado por seus pais ou responsável e por seu
defensor, em qualquer fase do procedimento administrativo ou
Art. 45. Se, no transcurso da execução, sobrevier sentença judicial;
de aplicação de nova medida, a autoridade judiciária procederá II - ser incluído em programa de meio aberto quando inexistir
à unificação, ouvidos, previamente, o Ministério Público e o vaga para o cumprimento de medida de privação da liberdade,
defensor, no prazo de 3 (três) dias sucessivos, decidindo-se em exceto nos casos de ato infracional cometido mediante grave
igual prazo. ameaça ou violência à pessoa, quando o adolescente deverá ser
§ 1º É vedado à autoridade judiciária determinar reinício de internado em Unidade mais próxima de seu local de residência;
cumprimento de medida socioeducativa, ou deixar de considerar III - ser respeitado em sua personalidade, intimidade, liberdade
os prazos máximos, e de liberação compulsória previstos na de pensamento e religião e em todos os direitos não expressamente
Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do limitados na sentença;
Adolescente), excetuada a hipótese de medida aplicada por ato IV - peticionar, por escrito ou verbalmente, diretamente a
infracional praticado durante a execução. qualquer autoridade ou órgão público, devendo, obrigatoriamente,
§ 2º É vedado à autoridade judiciária aplicar nova medida ser respondido em até 15 (quinze) dias;
de internação, por atos infracionais praticados anteriormente, V - ser informado, inclusive por escrito, das normas de
a adolescente que já tenha concluído cumprimento de medida organização e funcionamento do programa de atendimento e
socioeducativa dessa natureza, ou que tenha sido transferido para também das previsões de natureza disciplinar;
cumprimento de medida menos rigorosa, sendo tais atos absorvidos VI - receber, sempre que solicitar, informações sobre a
por aqueles aos quais se impôs a medida socioeducativa extrema. evolução de seu plano individual, participando, obrigatoriamente,
de sua elaboração e, se for o caso, reavaliação;
Art. 46. A medida socioeducativa será declarada extinta: VII - receber assistência integral à sua saúde, conforme o
I - pela morte do adolescente;
disposto no art. 60 desta Lei; e
II - pela realização de sua finalidade;
VIII - ter atendimento garantido em creche e pré-escola aos
III - pela aplicação de pena privativa de liberdade, a ser
filhos de 0 (zero) a 5 (cinco) anos.
cumprida em regime fechado ou semiaberto, em execução
provisória ou definitiva; § 1º As garantias processuais destinadas a adolescente autor
IV - pela condição de doença grave, que torne o adolescente de ato infracional previstas na Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990
incapaz de submeter-se ao cumprimento da medida; e (Estatuto da Criança e do Adolescente), aplicam-se integralmente
V - nas demais hipóteses previstas em lei. na execução das medidas socioeducativas, inclusive no âmbito
§ 1º No caso de o maior de 18 (dezoito) anos, em cumprimento administrativo.
de medida socioeducativa, responder a processo-crime, caberá à § 2º A oferta irregular de programas de atendimento
autoridade judiciária decidir sobre eventual extinção da execução, socioeducativo em meio aberto não poderá ser invocada como
cientificando da decisão o juízo criminal competente. motivo para aplicação ou manutenção de medida de privação da
§ 2º Em qualquer caso, o tempo de prisão cautelar não liberdade.
convertida em pena privativa de liberdade deve ser descontado do
prazo de cumprimento da medida socioeducativa. Art. 50. Sem prejuízo do disposto no § 1o do art. 121 da
Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Art. 47. O mandado de busca e apreensão do adolescente terá Adolescente), a direção do programa de execução de medida
vigência máxima de 6 (seis) meses, a contar da data da expedição, de privação da liberdade poderá autorizar a saída, monitorada,
podendo, se necessário, ser renovado, fundamentadamente. do adolescente nos casos de tratamento médico, doença grave

Didatismo e Conhecimento 79
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
ou falecimento, devidamente comprovados, de pai, mãe, filho, § 1º O acesso aos documentos de que trata o caput deverá
cônjuge, companheiro ou irmão, com imediata comunicação ao ser realizado por funcionário da entidade de atendimento,
juízo competente. devidamente credenciado para tal atividade, ou por membro da
direção, em conformidade com as normas a serem definidas pelo
Art. 51. A decisão judicial relativa à execução de medida Poder Judiciário, de forma a preservar o que determinam os arts.
socioeducativa será proferida após manifestação do defensor e do 143 e 144 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
Ministério Público. Criança e do Adolescente).
§ 2º A direção poderá requisitar, ainda:
CAPÍTULO IV I - ao estabelecimento de ensino, o histórico escolar do
DO PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO (PIA) adolescente e as anotações sobre o seu aproveitamento;
II - os dados sobre o resultado de medida anteriormente
Art. 52. O cumprimento das medidas socioeducativas, em aplicada e cumprida em outro programa de atendimento; e
regime de prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, III - os resultados de acompanhamento especializado anterior.
semiliberdade ou internação, dependerá de Plano Individual de
Atendimento (PIA), instrumento de previsão, registro e gestão das Art. 58. Por ocasião da reavaliação da medida, é obrigatória a
atividades a serem desenvolvidas com o adolescente.
apresentação pela direção do programa de atendimento de relatório
Parágrafo único. O PIA deverá contemplar a participação
da equipe técnica sobre a evolução do adolescente no cumprimento
dos pais ou responsáveis, os quais têm o dever de contribuir com
do plano individual.
o processo ressocializador do adolescente, sendo esses passíveis
de responsabilização administrativa, nos termos do art. 249 da
Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Art. 59. O acesso ao plano individual será restrito aos
Adolescente), civil e criminal. servidores do respectivo programa de atendimento, ao adolescente
e a seus pais ou responsável, ao Ministério Público e ao defensor,
Art. 53. O PIA será elaborado sob a responsabilidade da exceto expressa autorização judicial.
equipe técnica do respectivo programa de atendimento, com a
participação efetiva do adolescente e de sua família, representada CAPÍTULO V
por seus pais ou responsável. DA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DE ADOLESCENTE
EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA
Art. 54. Constarão do plano individual, no mínimo: Seção I
I - os resultados da avaliação interdisciplinar; Disposições Gerais
II - os objetivos declarados pelo adolescente;
III - a previsão de suas atividades de integração social e/ou Art. 60. A atenção integral à saúde do adolescente no Sistema
capacitação profissional; de Atendimento Socioeducativo seguirá as seguintes diretrizes:
IV - atividades de integração e apoio à família; I - previsão, nos planos de atendimento socioeducativo, em
V - formas de participação da família para efetivo cumprimento todas as esferas, da implantação de ações de promoção da saúde,
do plano individual; e com o objetivo de integrar as ações socioeducativas, estimulando a
VI - as medidas específicas de atenção à sua saúde. autonomia, a melhoria das relações interpessoais e o fortalecimento
de redes de apoio aos adolescentes e suas famílias;
Art. 55. Para o cumprimento das medidas de semiliberdade II - inclusão de ações e serviços para a promoção, proteção,
ou de internação, o plano individual conterá, ainda: prevenção de agravos e doenças e recuperação da saúde;
I - a designação do programa de atendimento mais adequado III - cuidados especiais em saúde mental, incluindo os
para o cumprimento da medida; relacionados ao uso de álcool e outras substâncias psicoativas, e
II - a definição das atividades internas e externas, individuais atenção aos adolescentes com deficiências;
ou coletivas, das quais o adolescente poderá participar; e
IV - disponibilização de ações de atenção à saúde sexual e
III - a fixação das metas para o alcance de desenvolvimento de
reprodutiva e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis;
atividades externas.
V - garantia de acesso a todos os níveis de atenção à saúde, por
Parágrafo único. O PIA será elaborado no prazo de até 45
(quarenta e cinco) dias da data do ingresso do adolescente no meio de referência e contrarreferência, de acordo com as normas
programa de atendimento. do Sistema Único de Saúde (SUS);
VI - capacitação das equipes de saúde e dos profissionais
Art. 56. Para o cumprimento das medidas de prestação de das entidades de atendimento, bem como daqueles que atuam nas
serviços à comunidade e de liberdade assistida, o PIA será elaborado unidades de saúde de referência voltadas às especificidades de
no prazo de até 15 (quinze) dias do ingresso do adolescente no saúde dessa população e de suas famílias;
programa de atendimento. VII - inclusão, nos Sistemas de Informação de Saúde do
SUS, bem como no Sistema de Informações sobre Atendimento
Art. 57. Para a elaboração do PIA, a direção do respectivo Socioeducativo, de dados e indicadores de saúde da população de
programa de atendimento, pessoalmente ou por meio de membro adolescentes em atendimento socioeducativo; e
da equipe técnica, terá acesso aos autos do procedimento de VIII - estruturação das unidades de internação conforme as
apuração do ato infracional e aos dos procedimentos de apuração normas de referência do SUS e do Sinase, visando ao atendimento
de outros atos infracionais atribuídos ao mesmo adolescente. das necessidades de Atenção Básica.

Didatismo e Conhecimento 80
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Art. 61. As entidades que ofereçam programas de atendimento CAPÍTULO VI
socioeducativo em meio aberto e de semiliberdade deverão prestar DAS VISITAS A ADOLESCENTE EM CUMPRIMENTO DE
orientações aos socioeducandos sobre o acesso aos serviços e às MEDIDA DE
unidades do SUS. INTERNAÇÃO

Art. 62. As entidades que ofereçam programas de privação de Art. 67. A visita do cônjuge, companheiro, pais ou
liberdade deverão contar com uma equipe mínima de profissionais responsáveis, parentes e amigos a adolescente a quem foi aplicada
de saúde cuja composição esteja em conformidade com as normas medida socioeducativa de internação observará dias e horários
de referência do SUS. próprios definidos pela direção do programa de atendimento.

Art. 63. (VETADO). Art. 68. É assegurado ao adolescente casado ou que viva,
§ 1º O filho de adolescente nascido nos estabelecimentos comprovadamente, em união estável o direito à visita íntima.
referidos no caput deste artigo não terá tal informação lançada em Parágrafo único. O visitante será identificado e registrado pela
seu registro de nascimento. direção do programa de atendimento, que emitirá documento de
§ 2º Serão asseguradas as condições necessárias para que a identificação, pessoal e intransferível, específico para a realização
adolescente submetida à execução de medida socioeducativa de da visita íntima.
privação de liberdade permaneça com o seu filho durante o período
de amamentação. Art. 69. É garantido aos adolescentes em cumprimento de
medida socioeducativa de internação o direito de receber visita dos
Seção II filhos, independentemente da idade desses.
Do Atendimento a Adolescente com Transtorno Mental e com
Dependência de Álcool e de Substância Psicoativa Art. 70. O regulamento interno estabelecerá as hipóteses de
proibição da entrada de objetos na unidade de internação, vedando
Art 64. O adolescente em cumprimento de medida o acesso aos seus portadores.
socioeducativa que apresente indícios de transtorno mental, de
deficiência mental, ou associadas, deverá ser avaliado por equipe CAPÍTULO VII
técnica multidisciplinar e Multi-setorial. DOS REGIMES DISCIPLINARES
§ 1º As competências, a composição e a atuação da equipe
técnica de que trata o caput deverão seguir, conjuntamente, as Art. 71. Todas as entidades de atendimento socioeducativo
normas de referência do SUS e do Sinase, na forma do regulamento. deverão, em seus respectivos regimentos, realizar a previsão de
§ 2º A avaliação de que trata o caput subsidiará a elaboração regime disciplinar que obedeça aos seguintes princípios:
e execução da terapêutica a ser adotada, a qual será incluída no I - tipificação explícita das infrações como leves, médias e
PIA do adolescente, prevendo, se necessário, ações voltadas para graves e determinação das correspondentes sanções;
a família. II - exigência da instauração formal de processo disciplinar
§ 3º As informações produzidas na avaliação de que trata o para a aplicação de qualquer sanção, garantidos a ampla defesa e
caput são consideradas sigilosas. o contraditório;
§ 4º Excepcionalmente, o juiz poderá suspender a execução da III - obrigatoriedade de audiência do socioeducando nos casos
medida socioeducativa, ouvidos o defensor e o Ministério Público, em que seja necessária a instauração de processo disciplinar;
com vistas a incluir o adolescente em programa de atenção integral IV - sanção de duração determinada;
à saúde mental que melhor atenda aos objetivos terapêuticos V - enumeração das causas ou circunstâncias que eximam,
estabelecidos para o seu caso específico. atenuem ou agravem a sanção a ser imposta ao socioeducando,
§ 5º Suspensa a execução da medida socioeducativa, o juiz bem como os requisitos para a extinção dessa;
designará o responsável por acompanhar e informar sobre a VI - enumeração explícita das garantias de defesa;
evolução do atendimento ao adolescente. VII - garantia de solicitação e rito de apreciação dos recursos
§ 6º A suspensão da execução da medida socioeducativa será cabíveis; e
avaliada, no mínimo, a cada 6 (seis) meses. VIII - apuração da falta disciplinar por comissão composta por,
§ 7º O tratamento a que se submeterá o adolescente deverá no mínimo, 3 (três) integrantes, sendo 1 (um), obrigatoriamente,
observar o previsto na Lei no 10.216, de 6 de abril de 2001, que oriundo da equipe técnica.
dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde Art. 72. O regime disciplinar é independente da
mental. responsabilidade civil ou penal que advenha do ato cometido.
§ 8º (VETADO).
Art. 73. Nenhum socioeducando poderá desempenhar função
Art. 65. Enquanto não cessada a jurisdição da Infância e ou tarefa de apuração disciplinar ou aplicação de sanção nas
Juventude, a autoridade judiciária, nas hipóteses tratadas no art. 64, entidades de atendimento socioeducativo.
poderá remeter cópia dos autos ao Ministério Público para eventual
propositura de interdição e outras providências pertinentes. Art. 74. Não será aplicada sanção disciplinar sem expressa
e anterior previsão legal ou regulamentar e o devido processo
Art. 66. (VETADO). administrativo.

Didatismo e Conhecimento 81
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Art. 75. Não será aplicada sanção disciplinar ao socioeducando TÍTULO III
que tenha praticado a falta: DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
I - por coação irresistível ou por motivo de força maior;
II - em legítima defesa, própria ou de outrem. Art. 81. As entidades que mantenham programas de
atendimento têm o prazo de até 6 (seis) meses após a publicação
CAPÍTULO VIII desta Lei para encaminhar ao respectivo Conselho Estadual ou
DA CAPACITAÇÃO PARA O TRABALHO Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente proposta de
adequação da sua inscrição, sob pena de interdição.
Art. 76. O art. 2o do Decreto-Lei no 4.048, de 22 de janeiro de
1942, passa a vigorar acrescido do seguinte § 1º, renumerando-se o Art. 82. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do
atual parágrafo único para § 2º: Adolescente, em todos os níveis federados, com os órgãos
“Art. 2º ......................................................................... responsáveis pelo sistema de educação pública e as entidades de
§ 1º As escolas do Senai poderão ofertar vagas aos usuários atendimento, deverão, no prazo de 1 (um) ano a partir da publicação
do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) desta Lei, garantir a inserção de adolescentes em cumprimento de
nas condições a serem dispostas em instrumentos de cooperação medida socioeducativa na rede pública de educação, em qualquer
celebrados entre os operadores do Senai e os gestores dos Sistemas fase do período letivo, contemplando as diversas faixas etárias e
de Atendimento Socioeducativo locais. níveis de instrução.
§ 2º ...................................................................... ” (NR)
Art. 83. Os programas de atendimento socioeducativo sob
Art. 77. O art. 3o do Decreto-Lei no 8.621, de 10 de janeiro de a responsabilidade do Poder Judiciário serão, obrigatoriamente,
1946, passa a vigorar acrescido do seguinte § 1o, renumerando-se transferidos ao Poder Executivo no prazo máximo de 1 (um) ano a
o atual parágrafo único para § 2º: partir da publicação desta Lei e de acordo com a política de oferta
“Art. 3º ......................................................................... dos programas aqui definidos.
§ 1º As escolas do Senac poderão ofertar vagas aos usuários
do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) Art. 84. Os programas de internação e semiliberdade sob
nas condições a serem dispostas em instrumentos de cooperação a responsabilidade dos Municípios serão, obrigatoriamente,
celebrados entre os operadores do Senac e os gestores dos Sistemas transferidos para o Poder Executivo do respectivo Estado no prazo
de Atendimento Socioeducativo locais.
máximo de 1 (um) ano a partir da publicação desta Lei e de acordo
§ 2º. ..................................................................... ” (NR)
com a política de oferta dos programas aqui definidos.
Art. 78. O art. 1º da Lei no 8.315, de 23 de dezembro de 1991,
Art. 85. A não transferência de programas de atendimento
passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:
para os devidos entes responsáveis, no prazo determinado nesta
“Art. 1º .........................................................................
Lei, importará na interdição do programa e caracterizará ato de
Parágrafo único. Os programas de formação profissional rural
improbidade administrativa do agente responsável, vedada,
do Senar poderão ofertar vagas aos usuários do Sistema Nacional
de Atendimento Socioeducativo (Sinase) nas condições a serem ademais, ao Poder Judiciário e ao Poder Executivo municipal,
dispostas em instrumentos de cooperação celebrados entre os ao final do referido prazo, a realização de despesas para a sua
operadores do Senar e os gestores dos Sistemas de Atendimento manutenção.
Socioeducativo locais.” (NR)
Art. 86. Os arts. 90, 97, 121, 122, 198 e 208 da Lei no 8.069,
Art. 79. O art. 3º da Lei no 8.706, de 14 de setembro de 1993, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente),
passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único: passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 3º ......................................................................... “Art. 90. ......................................................................
Parágrafo único. Os programas de formação profissional do .............................................................................................
Senat poderão ofertar vagas aos usuários do Sistema Nacional V - prestação de serviços à comunidade;
de Atendimento Socioeducativo (Sinase) nas condições a serem VI - liberdade assistida;
dispostas em instrumentos de cooperação celebrados entre os VII - semiliberdade; e
operadores do Senat e os gestores dos Sistemas de Atendimento VIII - internação.
Socioeducativo locais.” (NR) ....................................................................................” (NR)
“Art. 97. (VETADO)”
Art. 80. O art. 429 do Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de “Art. 121. .................................…………………............
1943, passa a vigorar acrescido do seguinte § 2o: .............................................................................................
“Art. 429. ..................................................................... § 7º A determinação judicial mencionada no § 1º poderá ser
............................................................................................. revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária.” (NR)
§ 2º estabelecimentos de que trata o caput ofertarão vagas “Art. 122. .....................................................................
de aprendizes a adolescentes usuários do Sistema Nacional de .............................................................................................
Atendimento Socioeducativo (Sinase) nas condições a serem § 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste
dispostas em instrumentos de cooperação celebrados entre os artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo ser
estabelecimentos e os gestores dos Sistemas de Atendimento decretada judicialmente após o devido processo legal.
Socioeducativo locais.” (NR) ...................................................................................” (NR)

Didatismo e Conhecimento 82
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
“Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância § 3º O pagamento da doação deve ser efetuado até a data
e da Juventude, inclusive os relativos à execução das medidas de vencimento da primeira quota ou quota única do imposto,
socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei no 5.869, observadas instruções específicas da Secretaria da Receita Federal
de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), com as do Brasil.
seguintes adaptações: § 4º O não pagamento da doação no prazo estabelecido no §
............................................................................................. 3o implica a glosa definitiva desta parcela de dedução, ficando a
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração, pessoa física obrigada ao recolhimento da diferença de imposto
o prazo para o Ministério Público e para a defesa será sempre de devido apurado na Declaração de Ajuste Anual com os acréscimos
10 (dez) dias; legais previstos na legislação.
...................................................................................” (NR) § 5º A pessoa física poderá deduzir do imposto apurado na
“Art. 208. ..................................................................... Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no respectivo ano-
............................................................................................. calendário, aos fundos controlados pelos Conselhos dos Direitos
X - de programas de atendimento para a execução das medidas da Criança e do Adolescente municipais, distrital, estaduais e
socioeducativas e aplicação de medidas de proteção. nacional concomitantemente com a opção de que trata o caput,
...................................................................................” (NR) respeitado o limite previsto no inciso II do art. 260.”
“Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260
Art. 87. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto poderá ser deduzida:
da Criança e do Adolescente), passa a vigorar com as seguintes I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurídicas
alterações: que apuram o imposto trimestralmente; e
“Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, para as
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital, pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmente.
estaduais ou municipais, devidamente comprovadas, sendo essas Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro do
integralmente deduzidas do imposto de renda, obedecidos os período a que se refere a apuração do imposto.”
seguintes limites: “Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido apurado podem ser efetuadas em espécie ou em bens.
pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real; e Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie devem ser
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado depositadas em conta específica, em instituição financeira pública,
pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, observado o vinculadas aos respectivos fundos de que trata o art. 260.”
disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de dezembro de 1997. “Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração
............................................................................................. das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente
§ 5o Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no 9.249, nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir recibo em
de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata o inciso I do favor do doador, assinado por pessoa competente e pelo presidente
caput: do Conselho correspondente, especificando:
I - será considerada isoladamente, não se submetendo a limite I - número de ordem;
em conjunto com outras deduções do imposto; e II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e
II - não poderá ser computada como despesa operacional na endereço do emitente;
apuração do lucro real.” (NR) III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do
“Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendário doador;
de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação de que trata o IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e
inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua Declaração de V - ano-calendário a que se refere a doação.
Ajuste Anual. § 1º O comprovante de que trata o caput deste artigo pode ser
§ 1º A doação de que trata o caput poderá ser deduzida até emitido anualmente, desde que discrimine os valores doados mês
os seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apurado na a mês.
declaração: § 2º No caso de doação em bens, o comprovante deve conter
I - (VETADO); a identificação dos bens, mediante descrição em campo próprio ou
II - (VETADO); em relação anexa ao comprovante, informando também se houve
III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012. avaliação, o nome, CPF ou CNPJ e endereço dos avaliadores.”
§ 2º A dedução de que trata o caput: “Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador deverá:
I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto I - comprovar a propriedade dos bens, mediante documentação
sobre a renda apurado na declaração de que trata o inciso II do hábil;
caput do art. 260; II - baixar os bens doados na declaração de bens e direitos,
II - não se aplica à pessoa física que: quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no caso de
a) utilizar o desconto simplificado; pessoa jurídica; e
b) apresentar declaração em formulário; ou III - considerar como valor dos bens doados:
c) entregar a declaração fora do prazo; a) para as pessoas físicas, o valor constante da última
III - só se aplica às doações em espécie; e declaração do imposto de renda, desde que não exceda o valor de
IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções em mercado;
vigor. b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens.

Didatismo e Conhecimento 83
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não será Art. 88. O parágrafo único do art. 3o da Lei no 12.213, de 20
considerado na determinação do valor dos bens doados, exceto se de janeiro de 2010, passa a vigorar com a seguinte redação:
o leilão for determinado por autoridade judiciária.” “Art. 3o ..........................................................................
“Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. 260- Parágrafo único. A dedução a que se refere o caput deste
D e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um prazo artigo não poderá ultrapassar 1% (um por cento) do imposto
de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da dedução perante a devido.” (NR)
Receita Federal do Brasil.”
“Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração Art. 89. (VETADO).
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente
nacional, estaduais, distrital e municipais devem: Art. 90. Esta Lei entra em vigor após decorridos 90 (noventa)
I - manter conta bancária específica destinada exclusivamente dias de sua publicação oficial.
a gerir os recursos do Fundo;
II - manter controle das doações recebidas; e Brasília, 18 de janeiro de 2012; 191o da Independência e 124o
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal do da República.
Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando os seguintes
dados por doador: DILMA ROUSSEFF
a) nome, CNPJ ou CPF; José Eduardo Cardozo
b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie ou Guido Mantega
em bens.” Alexandre Rocha Santos Padilha
“Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obrigações Miriam Belchior
previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do Brasil Maria do Rosário Nunes
dará conhecimento do fato ao Ministério Público.”
“Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do
Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais divulgarão RESOLUÇÃO Nº 119/2006 E ANEXOS
amplamente à comunidade: DO CONANDA (CONSELHO NACIONAL
I - o calendário de suas reuniões; DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO
II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de ADOLESCENTE - SECRETARIA ESPECIAL
atendimento à criança e ao adolescente; DOS DIREITOS HUMANOS) QUE DISPÕE
III - os requisitos para a apresentação de projetos a serem SOBRE O SISTEMA NACIONAL DE
beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO.
do Adolescente nacional, estaduais, distrital ou municipais;
IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-calendário
e o valor dos recursos previstos para implementação das ações,
por projeto; CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E
V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destinação, por DO ADOLESCENTE - CONANDA
projeto atendido, inclusive com cadastramento na base de dados
do Sistema de Informações sobre a Infância e a Adolescência; e RESOLUÇÃO N.º 119, DE 11 DE DEZEMBRO DE 2006
VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados com
recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente Dispõe sobre o Sistema Nacional de Atendimento
nacional, estaduais, distrital e municipais.” Socioeducativo e dá outras providências.
“Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada
Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incentivos O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DOS
fiscais referidos no art. 260 desta Lei. DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – CONANDA,
Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos arts. no uso das atribuições legais estabelecidas na Lei n.º 8.242, de
260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por ação judicial 12 de outubro de 1991 e no Decreto n° 5.089 de 20 de maio de
proposta pelo Ministério Público, que poderá atuar de ofício, a 2004, em cumprimento ao que estabelecem o artigo 227 caput
requerimento ou representação de qualquer cidadão.” e § 7° da Constituição Federal e os artigos 88, incisos II e III,
“Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência 90, parágrafo único, 91, 139, 260, §2° e 261, parágrafo único,
da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria da Receita do Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei Federal n° 8.069 /
Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano, arquivo eletrônico 90, e a deliberação do Conanda, na Assembléia Ordinária n° 140,
contendo a relação atualizada dos Fundos dos Direitos da Criança realizada no dia 07 e 08 de junho de 2006, resolve:
e do Adolescente nacional, distrital, estaduais e municipais, com
a indicação dos respectivos números de inscrição no CNPJ e das Artigo 1° - Aprovar o Sistema de Atendimento Sócio
contas bancárias específicas mantidas em instituições financeiras Educativo – Sinase.
públicas, destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos
Fundos.” Artigo 2° - O Sinase constitui-se de uma política pública
“Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil destinada à inclusão do adolescente em conflito com a lei que
expedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto nos arts. se correlaciona e demanda iniciativas dos diferentes campos das
260 a 260-K.” políticas públicas e sociais.

Didatismo e Conhecimento 84
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social
Artigo 3° - O Sinase é um conjunto ordenado de princípios, (A) é medida aplicável como forma de evitar a adoção
regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro internacional.
e administrativo, que envolve desde o processo de apuração de ato (B) é medida provisória e excepcional que não implica
infracional até a execução de medidas socioeducativas. privação de liberdade.
(C) tem prazo máximo de duração de três anos, ao fim do
Artigo 4° - O Sinase inclui os sistemas nacional, estaduais, qual o acolhido pode ser encaminhado para liberdade assistida ou
distrital e municipais, bem como todas as políticas, planos e semiliberdade.
programas específicos de atenção ao adolescente em conflito com (D) deve observar rigorosa separação dos acolhidos por
a lei. critérios de gênero, idade e motivo de acolhimento.
(E) é o serviço de recepção, triagem e encaminhamento das
Artigo 5° - O Sinase encontra-se protocolado na Secretaria situações de violação de direito da criança e do adolescente.
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
/ Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do GABARITO:
Adolescente – Processo N° 0000.001308 / 2006-36, folhas 01 a
122, e a sua versão completa está disponível no site www.planalto. 1 D
gov.br/sedh/conanda.
2 E
Artigo 6° - Esta Resolução entra em vigor na data de sua 3 B
publicação.

José Fernando da Silva ANOTAÇÕES


Presidente

QUESTÕES ——————————————————————————
——————————————————————————
01. (Analista Judiciário – Comissário Inf./Juv. e Idoso– TJ/
RJ -2012 – FCC). Segundo o que prevê o Estatuto da Criança e do ——————————————————————————
Adolescente há necessidade de autorização judicial para viajar se:
(A) a criança estiver acompanhada de um tio e se o destino da ——————————————————————————
viagem for outro estado da federação. ——————————————————————————
(B) o adolescente viajar de avião e estiver desacompanhado
de adulto autorizado pelos pais. ——————————————————————————
(C) uma criança de até dois anos de idade viajar para outro ——————————————————————————
município e não estiver na companhia do pai e da mãe.
(D) o adolescente viajar na companhia da mãe para outro país ——————————————————————————
sem que o pai tenha fornecido autorização por escrito. ——————————————————————————
(E) a criança estiver na companhia do pai, mas quem detém
sua guarda judicial é a mãe e ela não forneceu autorização escrita ——————————————————————————
para a viagem.
——————————————————————————
02. (Analista Judiciário – Comissário Inf./Juv. e Idoso– ——————————————————————————
TJ/RJ -2012 – FCC) De acordo com o Estatuto da Criança e do
——————————————————————————
Adolescente cabe:
(A) ao Conselho Tutelar designar curador especial para atuar ——————————————————————————
em favor de criança e adolescente em procedimentos extrajudiciais.
(B) ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do ——————————————————————————
Adolescente disciplinar a entrada de criança ou adolescente, ——————————————————————————
desacompanhado dos pais ou responsável, em estádio, ginásio e
campo desportivo. ——————————————————————————
(C) ao Ministério Público autorizar, mediante alvará, a ——————————————————————————
participação de crianças e adolescentes em espetáculos públicos.
(D) à Defensoria Pública promover representações para ——————————————————————————
apuração de ato infracional atribuído a criança e adolescente. ——————————————————————————
(E) ao Judiciário aplicar penalidade administrativa nos casos
de infrações às normas de proteção à criança e ao adolescente. ——————————————————————————
——————————————————————————
03. (Analista Judiciário – Comissário Inf./Juv. e Idoso–
TJ/RJ -2012 – FCC O acolhimento institucional, segundo dispõe ——————————————————————————
o Estatuto da Criança e do Adolescente,

Didatismo e Conhecimento 85
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS/Educador Social

ANOTAÇÕES

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