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Direito da Criança e do Adolescente

Profª: Ana Mônica M. Ferreira

Aula 02

1. Disposições preliminares do ECA e exegese

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.

 Ao romper definitivamente com a doutrina da situação irregular, até então admitida pelo Código de
Menores (Lei 6.697, de 10.10.79), e estabelecer como diretriz básica e única no atendimento de crianças e
adolescentes a doutrina de proteção integral, o legislador pátrio agiu de forma coerente com o texto
constitucional de 1988 (art. 227) e documentos internacionais aprovados com amplo consenso entre as
nações.

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos,
e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas
entre dezoito e vinte e um anos de idade.

 A distinção entre "criança" e "adolescente", como etapas distintas da vida humana, tem importância
no Estatuto. Em geral, ambos gozam dos mesmos direitos fundamentais, reconhecendo-se sua condição
especial de pessoas em desenvolvimento, o que pode ser percebido principalmente no decorrer do Livro I.
O tratamento de suas situações difere, como é lógico, quando incorrem em atos de conduta descritos como
delitos ou contravenções pela lei penal (denominados atos infracionais pelo ECA). A criança infratora fica
sujeita is medidas de proteção previstas no art. 101, que implicam um tratamento através de sua própria
família ou na comunidade, sem que ocorra privação de liberdade. Por sua vez, o adolescente infrator pode
ser submetido a um tratamento mais rigoroso, como são as medidas sócio-educativas do art. 112, que
podem implicar privação de liberdade. Nesses casos, são asseguradas ao adolescente as garantias do
devido processo legal detalhadas no art. 111, observando, e no demais o procedimento dos arts. 171 e ss.

 O art. 2º, parágrafo único, do ECA foi derrogado pelo Código Civil 2002 na matéria típica do Direito
Civil tratada no Estatuto, matéria em relação à qual o ECA não se aplicará mais 'as pessoas entre 18 e 21
anos. Isto em face da fixação da maioridade civil no patamar de 18 anos, regra à qual o Estatuto deve se
ajustar, já que a maioridade civil aos 18 anos é harmônica com o sistema Constituição Federal ECA (v. a
cristalina conceituação do ECA, art. 2º, caput) e o ponto não diz com o sistema constitucional especial de
proteção aos direitos fundamentais de crianças e adolescentes. A derrogação, contudo, não é total:
continua perfeitamente possível a aplicação de medida sócio-educativa a pessoas que tenham entre 18 e
21 anos de idade, porque a matéria relativa ao ato infracional tem privilegiada natureza penal,
evidentemente especial em relação ao Código Civil.

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa


humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros
meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

 O art. 3º, onde começa o elenco dos direitos assegurados aos sujeitos indicados no art. 2º, aparece
de fato como uma solene declaração de princípios, análoga a outras, contidas em Cartas Constitucionais e
convenções internacionais (como o preâmbulo da Convenção Internacional dos Direitos da Criança,
adotada pela Assembléia-Geral das Nações Unidas em 89).

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à
juventude.

 Há uma relação direta entre o artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente e o artigo 227 da
Constituição Federal. Até certo ponto, o artigo do ECA é praticamente uma transcrição do dispositivo
constitucional, ao qual se adiciona a responsabilidade da comunidade e o direito ao esporte, e se esboça,
em seu parágrafo único, materializações para a garantia da prioridade absoluta.

 Enquanto a Proteção Integral é traçada especialmente no caput do artigo 4º, a prioridade absoluta é
a marca do seu parágrafo único. Há de se observar que a 'primazia', a 'precedência', a 'preferência' e a
'destinação privilegiada', arroladas como mecanismos de garantia à prioridade absoluta no referido
parágrafo, não consubstanciam um rol taxativo, mas sim enunciativo. Este parágrafo ambiciona apenas
estabelecer um panorama de como se deve atuar para atender à normativa da prioridade absoluta.

 A conjugação da doutrina da Proteção Integral com o princípio da prioridade absoluta suscitou


algumas controvérsias com o advento do Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741 de 2003, cuja redação, inclusive,
muito se assemelha ao ECA. O artigo 3º do Estatuto do Idoso prevê que: Art. 3º - É obrigação da família, da
comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania,
à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitário. (negritamos). Parágrafo único. A
garantia de prioridade compreende: I atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos
públicos e privados prestadores de serviço à população (...) Ora, como equacionar então a prioridade
absoluta prevista no artigo 4º do ECA com a prioridade absoluta do artigo 3º do Estatuto do Idoso? Afinal, a
prioridade é de quem? Da criança e do adolescente ou do idoso? Sobre este assunto, a Constituição
Federal confere absoluta prioridade somente aos direitos das crianças e dos adolescentes (artigo 227). Ou
seja, a Constituição não faz qualquer menção expressa à prioridade absoluta aos direitos dos idosos (artigo
230). Como a prioridade absoluta dos idosos foi contemplada apenas em legislação infraconstitucional,
uma interpretação literal dos artigos 227 e 230 da Constituição fundada na concepção hierarquizada das
normas do ordenamento jurídico faz crer que prevalece a prioridade absoluta da criança e do adolescente
em relação a dos idosos. Por outro lado, uma interpretação sistemática dos dispositivos constitucionais
suscita outra visão. O princípio constitucional da dignidade humana, previsto no artigo 1º, inciso III do texto
constitucional, poderia ser clamado para proteção da prioridade absoluta do idoso em nível constitucional.
Controvérsias jurídicas à parte, o importante é termos em mente que o artigo 4º do ECA incorpora, com
muita propriedade, o princípio constitucional da prioridade absoluta à doutrina da proteção integral. É
possível concluir, neste sentido, que a proteção integral e a prioridade absoluta são, da mesma forma que
os direitos das crianças e dos adolescentes, indivisíveis e interdependentes dentro do ECA.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou
omissão, aos seus direitos fundamentais.

 Considerando que negligência é descuido, incúria, desleixo, estes agentes sociais são
negligenciados de várias formas, que passam pela família, pelas relações de trabalho, por vários níveis da
vida em sociedade e, no limite, pelo Estado. Qualquer tipo de ação que não atenda às suas necessidades
básicas de alimentação, moradia, educação, saúde, lazer constitui descuido, incúria e desleixo e é,
portanto, considerada negligência.

 A criança e o adolescente sofrem discriminação, ou seja, sofrem por atos de diferenciação que os
estigmatizam. Ao contrário do que se propala, que socialmente estariam guindados à categoria de cidadãos,
na prática, não são nada mais que cidadãos de segunda classe. Esta situação se agrava se pertencerem às
camadas mais pauperizadas da população - o que significa a grande maioria - e, mais ainda, se forem
negros.

 A exploração na família, no trabalho, que as crianças e adolescentes sofrem, está ligada à intenção
de deles tirar proveito. As vítimas em que se transformam está demonstrado em pesquisas que se fazem no
meio acadêmico, que tenham como objeto as relações familiares, relações de trabalho, criança e
adolescente em estado de carência, abandono, ou ainda aquelas que estudam maus-tratos e violência.
 Em relação à violência, entendida, em linhas gerais, como toda forma de constrangimento físico ou
moral, as crianças e adolescentes constituem o elo mais fraco do encadeamento das relações sociais.
Desde cedo, indefesas, são vítimas de várias formas de maus-tratos pela família, o que é comprovado por
vários trabalhos de investigação científica. Esta afirmação se reforça pelo elevado número de atendimentos
médicos de serviços públicos às crianças e adolescentes vitimizados por aqueles que, teoricamente,
deveriam ser os responsáveis pela sua formação, bem-estar, pela sua segurança afetiva.

Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as
exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e
do adolescente como pessoas em desenvolvimento.

 Interpretar e aplicar a lei são tarefas distintas, pois a aplicação pressupõe o conhecimento do
sentido e alcance da norma jurídica, portanto, prévia interpretação. Por esta razão a ciência do direito não
pode prescindir de métodos de interpretação da lei para sua justa e perfeita aplicação. Tendo isso em vista,
muitos legisladores tomam a precaução de inserir o método de interpretação no próprio texto legal, como
forma de orientar o juiz, aquele que precisa compreender o intuito da lei e o seu alcance antes de aplicá-la.
Este artifício está presente, por exemplo, no artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, que assim
dispõe: na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem
comum. O artigo 6º do ECA, por sua vez, é igualmente fruto deste recurso. Inspirado no mencionado artigo
5º da Lei de Introdução, prega que a interpretação do Estatuto leve em conta os fins sociais a que ela se
dirige e as exigências do bem comum. Não existe norma que não contenha uma finalidade social imediata.
Entende-se por fim social o objetivo de uma sociedade, a somatória de atos que constituíram a razão de
sua composição, abrangendo assim seus anseios, o equilíbrio de interesses, etc. Ademais, entende-se por
elementos do bem comum a liberdade, a paz, a justiça, a segurança, a utilidade social e a solidariedade.
Mas além dos fins sociais e das exigências do bem comum, o artigo 6º preconiza que na interpretação do
ECA também sejam considerados a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em
desenvolvimento e os direitos e deveres individuais e coletivos.

2. Direitos Fundamentais

2.1. Considerações Gerais

Os direitos fundamentais correspondem a uma temática bastante debatida na atualidade, não


apenas no universo jurídico, mas também em outros ramos da ciência, como na economia, política e
filosofia.
Bastante comum é o entendimento de que tais direitos são aqueles indispensáveis à dignidade
humana e que foram conquistados historicamente como tentativa de limitar a prática de atos arbitrários pelo
Estado. Vê-se, assim, quão nítida é a relação entre o reconhecimento e a concretização dos direitos
fundamentais pelo Estado e a dignidade de vida dos seus cidadãos.
Os direitos fundamentais podem ser conceituados em sentido amplo e estrito. Em sentido amplo
são equiparados aos direitos humanos e correspondem aos direitos indispensáveis à dignidade e liberdade
dos homens; em sentido estrito, são considerados fundamentais os direitos qualificados desta forma pelo
ordenamento jurídico de um dado Estado.
Hoje na doutrina constitucionalista contemporânea prepondera o entendimento de que os direitos
fundamentais são normas, afirmando-se, assim, a força normativa dos mesmos; bem como da própria
Constituição.
A Constituição de 1988 classifica os direitos fundamentais em cinco grupos: direitos individuais (art.
5º); direitos coletivos (art. 5º); direitos sociais (arts. 6º e 193 e ss.); direitos à nacionalidade (art. 12) e
direitos políticos (arts 14 a 17).
É sabido que os direitos fundamentais foram conquistados historicamente em etapas; inicialmente
os direitos de liberdade; posteriormente, com base no ideais socialistas, os direitos de igualdade e, ainda,
os direitos de fraternidade/solidariedade.
Apesar das etapas históricas de conquista de tais direitos, há de se mencionar que os direitos
fundamentais devem ser interpretados e compreendidos como um todo único, esse é, inclusive, o
entendimento da comunidade internacional a respeito desta temática.
Para fins didáticos, para compreensão da gradual conquista de direitos fundamentais pelos
homens, a doutrina opta por dividí-la em blocos históricos formados por direitos de características
semelhantes; a tais blocos, por sua vez, costuma-se atribuir as expressões “gerações” ou “dimensões“. O
termo “gerações“, bastante utilizado pela doutrina constitucional, recebe as críticas de Bonavides, para
quem o mesmo enseja a idéia de ruptura, de caducidade com relação as gerações antigas. Sugere o
referido autor, frente a isso, a utilização da expressão “dimensões” para designar as etapas históricas de
conquista gradual, cumulativa e progressiva de direitos fundamentais pelos homens. Assim, por mostrar-se
mais adequado o termo “dimensões”, será o mesmo aqui utilizado.
A doutrina nacional aponta em média três dimensões distintas de direitos fundamentais. Paulo
Bonavides expõe que as dimensões de direitos fundamentais acompanham gradual, cumulativa e
progressivamente os ideais revolucionários franceses da liberdade, igualdade e fraternidade A primeira
dimensão de direitos fundamentais, assim, corresponderia aos direitos de liberdade dos homens; a
segunda, por sua vez, aos direitos de igualdade e a terceira, por fim, aos direitos de fraternidade.
Alguns autores, como Kildare Carvalho ainda falam de uma quarta dimensão de direitos
fundamentais, há de se dizer que esta corresponde aos direitos típicos da globalização política; são eles:
direito ao pluralismo, direito à democracia e direito à informação. E, ainda de uma quinta dimensão de
direitos fundamentais, como direitos de compaixão e de amor por todas as formas de vida,
independentemente de sua beleza e do preenchimento de determinados padrões estéticos considerados
positivos.
Apesar da opinião do renomado autor, há de se ressaltar que a principal problemática dos direitos
fundamentais não se encontra em sua excessiva previsão/enumeração legal, mas sim em sua difícil
concretização no âmbito social. Após séculos de luta dos cidadãos, os direitos fundamentais ainda não
alcançaram um patamar satisfatório de concretização prática, especialmente nos países de terceiro mundo
como, por exemplo, o Brasil. A efetiva concretização dos direitos fundamentais, ou seja, a plena realização
destes no âmbito social, depende de ações incisivas e eficazes dos Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário.
Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade oriundos da Revolução Francesa, reconhecidos
no plano teórico, ainda restam pendentes de ampla concretização social em tais países.
Deve se mencionar, ainda, que a luta pelo reconhecimento de direitos fundamentais não cessa,
não atinge um ponto ótimo chegando ao fim; na medida em que a sociedade evolui, novos elementos são
encarados como essenciais e indispensáveis à dignidade humana, podendo ter seu reconhecimento
enquanto direitos fundamentais reclamado pelos cidadãos perante o Estado. Um elemento antes
desconhecido ou pouco difundido, com sua propagação e desenvolvimento, poderá ser reclamado como
direito fundamental pelos cidadãos; é o caso, por exemplo, do acesso à energia elétrica.

2.2. Os Direitos Fundamentais previstos pelo ECA

O emprego da expressão “direitos fundamentais” significa que a criança (de 0 a 12 anos


incompletos) e o adolescente (de 12 a 18 anos) deixam de ser vistos como portadores de necessidades, de
carências, de vulnerabilidades, para serem reconhecidos como sujeitos de direitos exigíveis em lei. São os
direitos fundamentais previstos pelo Estatuto:

Direito à vida e à saúde: a proteção à vida e à saúde atribui às políticas sociais públicas a missão de
permitir o nascimento e o desenvolvimento sadio, harmonioso e digno. Tal proteção consiste na atribuição
de algumas garantias que antecedem mesmo o nascimento, assegurando à gestante o atendimento pré e
perinatal com fornecimento de alimentação e medicamentos, e outras garantias que são próprias da criança
e do adolescente.

Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade: o direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: ir, vir
e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; opinião e
expressão; crença e culto religioso; brincar, praticar esportes e divertir-se; participar da vida familiar e
comunitária sem discriminação; participar da vida política, na forma da lei; buscar refúgio, auxílio e
orientação. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança
e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias
e crenças, dos espaços e objetos pessoais. O direito à dignidade determina ser dever de todos mantê-los a
salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

Direito à convivência familiar e comunitária: crianças e adolescentes não devem ser separados dos pais
biológicos, ainda que a estes faltem ou sejam insuficientes os recursos materiais. Salvo a existência de
outra razão que justifique a adoção da medida de separação, a família sim é que deverá, obrigatoriamente,
ser encaminhada e incluída em programas oficiais de auxílio. Constitui ainda direito fundamental, quando
não for possível a convivência com a família natural, a colocação em família substituta, sob a modalidade de
guarda, tutela ou adoção.

Direito à educação, à cultura e ao lazer: consiste na garantia do atendimento em creche e pré-escola à


criança de zero a seis anos e o acesso ao ensino fundamental obrigatório, gratuito e igualitário, inclusive
para os que a ele não tiveram acesso na idade própria. Aos portadores de deficiência é garantido o
atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino.

Direito à profissionalização e proteção no trabalho: é proibido o trabalho infantil e aos adolescentes com
menos de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos. A aprendizagem consiste na
formação técnicoprofissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação educacional em vigor.
Ao jovem empregado ou aprendiz é vedado o trabalho noturno, insalubre, perigoso, penoso e prejudiciais à
formação e ao desenvolvimento físico, psíquico, moral e social, e em circunstâncias que não permitam a
freqüência à escola. O direito à profissionalização e à proteção no trabalho do adolescente deve observar o
respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento e a capacitação profissional adequada ao
mercado de trabalho.

2.3. Direito à Vida e à Saúde

Os artigos 7º a 14 traçam as regras gerais de garantia a vida e a saúde da criança e do


adolescente. Em havendo omissão do Estado na implementação desses direitos, é cabível a propositura de
Ação Civil Pública.

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de
políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em
condições dignas de existência.

 O direito à vida é pressuposto da personalidade e da constituição do sujeito de direitos. Neste


sentido, é impossível que o ser humano possa fruir de qualquer outro direito sem vida. A vida, por ter uma
dimensão orgânica, não pode se realizar sem a saúde, sem o completo bem-estar do ser humano em nível
físico e psicológico. Assim sendo, faz muito sentido que estes dois direito se encontrem interligados na lei.
Justifica-se deste modo a primazia deles em relação aos demais direitos fundamentais da criança e do
adolescente, pois a verdade é que sem eles nenhum outro direito tais como o direito à educação, ao esporte
e ao convívio familiar, por exemplo, poderia ser concretizado.

Art. 8º É assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento pré e perinatal.
§ 1º A gestante será encaminhada aos diferentes níveis de atendimento, segundo critérios médicos
específicos, obedecendo-se aos princípios de regionalização e hierarquização do Sistema.
§ 2º A parturiente será atendida preferencialmente pelo mesmo médico que a acompanhou na fase
pré-natal.
§ 3º Incumbe ao poder público propiciar apoio alimentar à gestante e à nutriz que dele necessitem.
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e a mãe, no período
pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as conseqüências do estado puerperal.
§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá também ser prestada a gestantes ou mães que
manifestem interesse em entregar seus filhos para a adoção.

 Uma leitura desatenta deste artigo nos leva a crer que a proteção lá contida se concentra
unicamente na gestante. Porém uma leitura mais minuciosa revela que o dispositivo legal assegura uma
dupla proteção da vida humana: ao garantir a proteção e o atendimento específico à gestante, acaba por
conseqüência protegendo o feto. Ao conferir esta proteção especial à gestante, a lei, automaticamente, cria
uma outra proteção ao embrião que se desenvolve, mas que ainda não nasceu, e conseqüentemente
protege todas as gerações futuras. Por esta concepção, mesmo antes do nascimento, a vida, ainda que
intra-uterina, já existe e deve ser preservada.

Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas ao


aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade.
 É direito subjetivo de toda criança receber o aleitamento materno e por via reflexa, deve-se
favorecer condições para que as mães tenham também garantido o direito de prestar a amamentação a
seus filhos, independentemente da condição em que se encontrem, uma vez que prepondera o interesse da
criança e seu direito à amamentação sobre qualquer outro interesse de ordem pública ou particular. Daí que
a amamentação deverá ser garantida também em se tratando de mulheres trabalhadoras, sem prejuízo de
suas atividades de trabalho e sobretudo de sua remuneração. São os artigos 389 e 396 da Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT) que dispõem sobre esta regra no âmbito dos direitos trabalhistas e das relações
de trabalho assegurando a amamentação até a criança completar seis meses. E, ainda por decorrência de
tratar-se de direito que assiste aos recém-nascidos e prepondera sobre qualquer outro interesse ainda que
de ordem pública, devemos recuperar a norma constitucional do artigo 5º, inciso L, que prevê que às
presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período
de amamentação.
 As medidas privativas de liberdade a que se refere o art. 9º do Eca incluem as penas de reclusão,
detenção e prisão simples, bem como a medida sócio-educativa de internação. E, em caso de proibição do
exercício desse direito, o remédio jurídico é o mandado de segurança.e não o habeas corpus, já que a
prisão por sentença condenatória não se fundamenta em ilegal restrição a liberdade de locomoção.

Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e


particulares, são obrigados a:
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de
dezoito anos;
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão
digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente;
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do
recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais;
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e
do desenvolvimento do neonato;
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe.

 O artigo 10 do ECA relaciona diversas condutas dos hospitais e demais estabelecimentos de


atenção à saúde visando assegurar os direitos da gestante e do recém-nascido. Em outras palavras, este
artigo impõe certos deveres aos entes que atendem a gestante de modo a garantir seus direitos e os do
recém-nascido. Todos, indiscriminadamente, visam assegurar que o princípio da proteção integral seja
observado desde o inicio da vida, ademais, a proteção estendida à gestante é condição necessária para
que o desenvolvimento da criança se dê de forma plena.
 A ausência dolosas ou culposa, do registro que alude o inciso I do art. 10 , pode configurar a figura
penal do art. 228 do ECA. A ausência do teste do pezinho para a detecção de doenças implica o delito do
art. 229 do ECA.

Art. 11. É assegurado atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do
Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção,
proteção e recuperação da saúde.
§ 1º A criança e o adolescente portadores de deficiência receberão atendimento especializado.
§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os medicamentos,
próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação.

 O artigo vem justamente ratificar as previsões constitucionais, assegurando o atendimento médico à


criança e ao adolescente, através do Sistema Único de Saúde (arts. 196,198, 203, IV da CF), e garantindo o
acesso universal e igualitário às ações para promoção, proteção e recuperação da saúde.

Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a


permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou
adolescente.

 O dispositivo aplica-se a hospitais tanto da rede pública quanto privada, se bem que o verdadeiro
destinatário desse direito é o usuário da rede pública já que, por tradição, a rede privada de saúde sempre
adotou políticas nesse sentido.
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente serão
obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras
providências legais.
Parágrafo único. As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para a
adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude.

 O Estatuto da Criança e do Adolescente inova em duas situações importantes: 1) considera maus-


tratos como problema de saúde, inserindo-os no capítulo "Do direito à vida e à saúde"; 2) comunica
obrigatoriamente o caso ao Conselho Tutelar, órgão eleito pela comunidade local e por ela respeitado, que
toma as iniciativas cabíveis, requisitando os serviços necessários para a suspeita ou confirmação de maus-
tratos.O problema não se torna, assim, de imediato, um fato policial, como acontece na maioria dos países
com legislação a respeito, e não surgem conseqüências irreversíveis pela rigidez de leis judiciárias que
cuidam do assunto. Tomam-se providências de acordo com as condições de saúde física e psicológica,
zelando, assim, melhor pelos direitos da criança.
 Os maus-tratos podem ser físicos, abusos sexuais, emocionais e intoxicações propositais, que
ocorrem na família, em instituições e na comunidade local.
 A não comunicação dos casos a que se refere esse artigo, quando detectados em hospitais, implica
infrações administrativas. As penas previstas estão no art. 245 do ECA. A comunicação deverá ser feita às
autoridades competentes (arts. 146, 147 e 262 do ECA).

Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para
a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de educação
sanitária para pais, educadores e alunos.
Parágrafo único. É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades
sanitárias.

 Esse direito está amplamente assegurado na Constituição Federal, no art. 200, I a IV. Garantia do
direito: Governo Federal, estadual e municipal. Remédio jurídico: ação civil pública, mandado de segurança
(art.5°, LXIX, da CF), mandado de segurança coletivo (art.5° LXX, da CF). Legitimidade pra propositura das
ações: art.201, V, IX e XI, e § 1°, e 210, I, II e III, do ECA e 5°, LXX, da CF.

OBSERVAÇÕES:
As partes grifadas são alterações trazidas com a Lei nº 12.010, de 29 de julho de 2009 .

REFERÊNCIAS

CURY, Munir (org.). Estatuto da Criança e do Adolescente – Comentários Jurídicos e Sociais. Editora
Malheiros. 9ª Edição. São Paulo, 2008.

DEL CAMPO, Eduardo Roberto Alcântara. Estatuto da Criança e do Adolescente. Editora Atlas. 4ª
Edição. São Paulo, 2009.

ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência. Editora Atlas.
10ª Edição. São Paulo, 2009.

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