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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM


ESTUDOS DA TRADUÇÃO

DANIELA ALMEIDA MOREIRA

UM ESTUDO INTRODUTÓRIO SOBRE O


DESENVOLVIMENTO DOS REPERTÓRIOS LÉXICOS DA
LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA A PARTIR DA
ELABORAÇÃO DA DEFINIÇÃO LEXICOGRÁFICA

FLORIANÓPOLIS
2015
1
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DANIELA ALMEIDA MOREIRA

UM ESTUDO INTRODUTÓRIO SOBRE O


DESENVOLVIMENTO DOS REPERTÓRIOS LÉXICOS DA
LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA A PARTIR DA
ELABORAÇÃO DA DEFINIÇÃO LEXICOGRÁFICA

Dissertação submetida ao Programa de Pós-


Graduação em Estudos da Tradução da
Universidade Federal de Santa Catarina para
a obtenção do Grau de Mestre em Tradução.

Orientador: Rodrigo Rosso Marques

Florianópolis
2015

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UM ESTUDO INTRODUTÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO
DOS REPERTÓRIOS LÉXICOS DA LÍNGUA DE SINAIS
BRASILEIRA, A PARTIR DA ELABORAÇÃO DA DEFINIÇÃO
LEXICOGRÁFICA

Daniela Almeida Moreira

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de


“Mestre em Estudos da Tradução”, e aprovada em sua forma final pelo
Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade
Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 04 de maio de 2015.

______________________
Prof. Andréia Guerini, Dra.
coordenadora do curso

Banca Examinadora:

_______________________________________
Rodrigo Rosso Marques, Dr.
Orientador e Presidente da banca UFSC/PGET

______________________________________________
Prof. Ronice Müller de Quadros, Dra. UFSC/PGET/PPGL

_____________________________________________
Prof. Tarcísio de Arantes Leite, Dr. UFSC/PGET/PPGL

________________________________
Prof. Karin Lilian Strobel, Dra. UFSC

5
6
Dedico essa dissertação ao Deus Triuno.
Ao Deus Pai, pelo favor imerecido da
Graça que atraiu meu olhar para a
cruz. A Jesus Cristo, primogênito entre
aqueles, que como eu, se tornaram filhos
por adoção. Ao Espírito Santo
consolador e orientador, sem o qual, eu
não teria chegado a conclusão dessa
pesquisa.

7
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AGRADECIMENTOS

Eliezer Batista, meu marido, pelo incentivo, companheirismo, amor e


amizade, indispensáveis para minha dedicação total a essa pesquisa.
Aos meus pais, Raquel e Paulo, por serem assim como vocês são.
Ao professor Rodrigo Rosso Marques, por aceitar acompanhar essa
pesquisa em andamento até a sua conclusão.
A professora Ronice Müller de Quadros, por aceitar o convite em ser
membro dessa banca, por tudo o que representa para os surdos e a língua
de sinais brasileira.
Ao professor Tarcisio de Arantes Leite, por aceitar o convite em ser
membro dessa banca e por sua preciosa contribuição na qualificação.
A professora Karin Lilian Strobel, por aceitar o convite em ser membro
dessa banca, por ter sido uma das primeiras professoras que contribuiu
com minha formação como intérprete da língua de sinais brasileira.
A Letícia Tobal e Tiago Coimbra Nogueira por realizarem a
interpretação em língua de sinais brasileira da defesa da dissertação.
Ao professor Werner Heidermann, pelas aulas lúdicas e densas sobre
tradução.
Ao professor Adilson Toledo, por compartilhar referencias
bibliográficas e nos surpreender com um processo avaliativo rigoroso.
Ao professor Josias Ricardo Hack, por sua vocação de educador,
pesquisador e mediador daqueles em processo de aprendizado.
Ao professor Aylton Barbiere Durão, pelas aulas de filosofia e por me
colocar em contato com o pensamento de Wittgenstein.
A professora Aline Pizzio, pelo empréstimo de uma das fontes
bibliográficas consultadas para essa pesquisa.
A Jociele Lampert de Oliveira professora, pesquisadora e artista, que
conduziu meu olhar para apreciação de um horizonte de cores e a
docência baseada no conceito de experiência proposto por John Dewey.
Aos servidores Fernando e Gustavo, da secretaria da PGET, sempre a
disposição para orientar e dar encaminhamentos necessários a pesquisa.
A Aden Rodrigues Pereira, pelas dicas de saúde, precioso sorriso e
palavras de incentivo carregadas do belo sotaque gaucho.
A Thais Collet, pela companhia na viagem a 30ª Bienal, um refresco
para a tensão pré-qualificação, que não se realizou na data prevista.

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A professora Janaí Abreu Pereira, por sua expertise por trás do largo
sorriso, com o qual, acolhe à todos.
Ao IFSC, através do professor Paulo, contactado para consulta sobre
campo de coleta de dados, que não chegou a ser realizada, mas foi
acolhida com carinho.
Ao Tiago Coimbra, amigo e intérprete da língua de sinais brasileira,
pelo seu dinamismo e otimismo, que contribuíram nos momentos
difíceis.
A Aline Miguel, por sua cumplicidade no "cultivo do nosso tomateiro",
que tem nutrido nossa preciosa amizade.
Ao Diego Barbosa, por sua mediação com a professora Vivian
Zerbinatti da F. Kikuichi, da Escola Dulce de Oliveira, que ofereceu
importante fonte bibliográfica para consulta da pesquisa.
Ao INES, através da Gildete Amorim, que ofereceu importante fonte
bibliográfica para consulta da pesquisa.
Ao Leonel Junior Pimentel, por seu incentivo no desenvolvimento do
trabalho da interpretação da língua de sinais brasileira e pela boa
companhia, em encontros regado a saborosos cafés em fins de tarde.
Ao sr. Amilton João Soares, pelo empréstimo de obra para consulta da
pesquisa.
Ao Nelson Pimenta, que concedeu entrevista não utilizada como dado
da pesquisa mas demonstrou disposição e colaboração com o estudo.
A Sandra Lucia Amorin, presidente da Associação de Surdos da Grande
Florianópolis - ASGF pela venda de sua obra.
A Flávia Brandão, pela resposta atenciosa ao e-mail referente a sua obra.
Ao Antônio Campus de Abreu, pela atenciosa resposta por e-mail sobre
seu livro.
A professora Sandra Patrícia Farias do Nascimento, pela conversa e tese
inspiradora para essa pesquisa.
A professora Cassia Geciauskas Sofiato, por sua tese inspiradora para
essa pesquisa.
Sandrinha, Lívia Gomes, professor Edson Franco Gomes do Sistema
Chaplim de Ensino, que reponderam prontamente o email e ofereceram
referência bibliográfica para consulta dessa pesquisa.
Ao Bafo, um amigo que se foi deixando muita saudade. A Linda, amiga
e companheira, que compartilha seu entusiasmo todos os dias.

10
Toda vez que vou a Toscana vejo a casa de Gina
repetida nas tantas casas quase iguais daquela
campagna. Grandes, bem grandes, dois andares,
escada externa. E a cor. Se eu tivesse que fazê-la na
paleta, sei bem que tintas misturaria. Mas misturar
palavras para alcançar uma cor é bem mais
complicado. Eu poderia dizer cor de telha, porem as
telhas são pobres em comparação, e o tempo as
escurece com mofo e musgos. Se disser cor de carne,
o sangue escorre manchando a imagem. Dizer
vermelho de veneza ou terra de siena seria pedante.
Então digo romã madura, cor muitas vezes lavada,
desbotada pelo tempo que coça as costas contra as
paredes. COLASSANTI, 2010. p. 64)

11
12
RESUMO

A presente pesquisa teve o objetivo de investigar e traçar uma trajetória


do desenvolvimento dos repertórios lexicográficos da língua de sinais
brasileira, tendo como foco de análise a elaboração da definição
lexicográfica apresentada nas obras. Para sua realização, a pesquisa
contou com a seleção de quatro fontes bibliográficas: Eugênio Oates
autor de "Linguagem das mãos", Harry W. Hoemann, Shirley A.
Hoemann e Eugênio Oates autores de "Linguagem de Sinais do Brasil"
com título em inglês "The Sing Language of Brazil", Fernando Cezar
Capovilla, Walkiria D. Raphael e Aline C. L. Mauricio autores do Novo
Deit-Libra Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de
Sinais Brasileira e a obra de Tanya Amara Felipe de Souza e Guilherme
Azambuja Lira autores do "Dicionário da Língua Brasileira de Sinais do
INES versão 2.0. Essas obras são consideradas representativas das fases
do desenvolvimento da lexicografia da língua de sinais brasileira. A
partir dessa escolha, se estabeleceu a metodologia de análise
comparativa das informações referentes as unidades lexicais com os
critérios metalexicográficos de elaboração da definição lexicográfica. Os
resultados desta análise mostraram um processo de construção
metodológica significativo do tratamento lexicográfico aplicado às
unidades dos repertórios léxicos da língua de sinais brasileira.

Palavras-chaves: lexicografia; repertório lexicográfico; definição


lexicográfica e língua de sinais brasileira

13
14
ABSTRACT

This study aimed to investigate and draw a trajectory of the


development of lexicographical repertoires of Brazilian Sign Language,
whose analysis focused on the development of lexical definition
presented in the works. For its realization, the survey included the
selection of four bibliographic sources: Eugene Oates author of
Linguagem das mãos (Language of the hands), Harry W. Hoemann,
Shirley A. Hoemann and Eugenio Oates they are authors of "A língua de
sinais do Brasil" (The Sing Language of Brazil), Fernando Cezar
Capovilla, Walkiria D. Raphael and Aline CL Mauricio they are authors
of the New Deitlibras Illustrated Trilingual Encyclopedic Dictionary of
Brazilian Sign Language, Tanya Amara Felipe de Souza and Guilherme
Azambuja Lira, they are authors of the "Dictionary of Brazilian Sign
Language Signs INES version 2.0. These bibliographic sources are
considered representative of the phases of development of the
lexicography of the Brazilian Sign Language. From the selection of
these works, it has been established benchmarking methodology of
information regarding the lexical units with meta-lexicographic
development criteria of lexical definition. The results of this analysis
showed a significant methodological construction process of the
lexicographical treatment applied to units of lexical repertoires of
Brazilian Sign Language.

Keywords: lexicography; lexicographical repertoire; lexicographic


definition and Brazilian Sign language.

15
16
SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO.................................................................... 19
1.1. Contextualização e justificativa....................................... 19
1.2. Proposta da pesquisa....................................................... 26
1.3. Contribuições da pesquisa .............................................. 30
1.4. Estrutura geral do trabalho de pesquisa .......................... 31
2.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................... 33
2.1. Lexicografia: disciplina, teoria e prática de fazer
dicionários.............................................................................. 33
2.2. Uma breve contextualização da crítica a existência de
uma teoria lexicográfica.......................................................... 44
2.3. As contribuições da tecnologia para a Lexicografia 50
2.4. Conceitos gerais sobre o dicionário e elaboração da
definição lexicográfica............................................................ 59
2.4.1. Aspectos gerais e estruturais dos dicionários................ 60
2.4.2. A elaboração da definição lexicográfica....................... 66
3.0 LEXICOGRAFIA DAS LÍNGUAS DE SINAIS............. 73
3.1. Algumas considerações sobre a língua de sinais no
Brasil do século XIX .............................................................. 74
3.2 Os estudos sobre a língua de sinais americana e a sua
lexicografia ............................................................................ 81
3.3. Pesquisas, documentação e lexicografia da língua de
sinais brasileira....................................................................... 96
3.3.1. Pesquisas de Lucinda Ferreira-Brito ............................ 99
3.3.2. Pesquisas de Fernando Cezar Capovilla ...................... 105
3.3.3. Pesquisas de Tanya Amara Felipe de Souza ................ 109
3.3.4. Pesquisas de Ronice Müller de Quadros...................... 112
3.3.5.Pesquisas de Evani de Carvalho Viotti, Leland
Emerson McCleary e Tarcísio Arantes Leite.......................... 115
4.0 METODOLOGIA DA PESQUISA.................................... 119
4.1. Seleções das fontes bibliográficas 120
4.2. Seleção das unidades léxicas para análise da definição
lexicográfica............................................................................ 121
4.3. Abordagem metodológica das fontes bibliográficas e
desenvolvimento da análise..................................................... 123
4.3.1. Obra "Linguagem das Mãos"....................................... 125

17
4.3.2. Obra "Linguagem de sinais dos sul do Brasil"........... 129
4.3.3. Obra Novo Deit-Libras - Dicionário Enciclopédico
Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira (Libras)
baseado em Linguística e Neurociências Cognitivas ........... 134
4.3.4. Obra Dicionário de Libras do INES........................... 144
5.0 ANÁLISE DA DEFINIÇÃO LEXICOGRÁFICA DAS
UNIDADES LÉXICAS REFERENTE AS CORES
APRESENTADAS NOS REPERTÓRIOS LÉXICOS 151
DA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA ....................
5.1. Unidades léxicas referentes às cores no repertório
lexicográfico de Oates (2010) ............................................. 151
5.2. Unidades léxicas referente às cores do repertório
lexicográfico de Hoemann, Hoemann e Oates (1981)......... 155
5.3. Unidades léxicas referente às cores do repertório
lexicográfico Capovilla, Raphael e Maurício (2012)........... 158
5.4. Unidades léxicas referente às cores do repertório
lexicográfico de Felipe-de-Souza e Lira (2005)................... 185
5.5 CONCLUSÕES DA ANÁLISE........................................ 205
5.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................ 209
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................ 198

18
1. INTRODUÇÃO

1.1 Justificativa e contextualização

Essa pesquisa é uma investigação de caráter bibliográfico dos


repertórios lexicográficos 1 da língua de sinais brasileira 2, com interesse
no desenvolvimento dessas obras, a partir, da elaboração da definição
lexicográfica.
As obras lexicográficas da língua de sinais brasileiras têm seu
histórico de desenvolvimento com transformações e avanços técnicos,
que propiciaram novas perspectivas para a lexicografia da língua. O
foco de análise dessa investigação é voltado para esse processo de
desenvolvimento dos repertórios lexicográficos, a partir da elaboração
da definição das unidades léxicas da língua de sinais brasileira.
O início dessa reflexão apresenta o percurso do aprendizado da
língua de sinais brasileira e a razão que conduziu ao interesse dessa
investigação. Também é feito destaque para a importância dos
repertórios lexicográficos nesse processo de aprendizado e a relevância
dessa bibliografia, como fonte de pesquisa sobre a lexicografia da
língua.
Meu aprendizado da língua de sinais brasileira se deu em 1999
quando conheci Sandro Alexandre Tavares, surdo natural do Paraná, que
morou em Florianópolis e ensinou a língua de sinais no período que
residiu na cidade.
No ano de 2000 participei da primeira capacitação oferecida pela

1
Faria-do-Nascimento (2009) em sua tese de doutorado utiliza a terminologia
repertório lexicográfico que apresentam a documentação da língua de sinais
brasileira. Repertório lexicográfico é a terminologia adotada para essa pesquisa.
2
O artigo 18 da lei no10.098/2000, a lei no 10.436/2002 e o decreto no
5626/2005 apresentam Língua Brasileira de Sinais - Libras. Ferreira-Brito
(1995/2010) no prefácio da obra esclarece o uso da sigla LSCB (língua de sinais
dos centros urbanos brasileiros) em seus estudos e informa que a Federação
Nacional de Educação dos Surdos - FENEIS em 1993 escolheu língua
brasileira de sinais com a sigla LIBRAS. Quadros (2002 . p. 8; 9) apresenta
língua brasileira de sinais com a sigla LIBRAS e Língua de Sinais Brasileira
com a sigla LSB, essa última, segue os padrões internacionais de denominação
das línguas de sinais. Faria-do-Nascimento (2009) apresenta em sua tese língua
de sinais brasileira adotada para essa pesquisa.
19
Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos - FENEIS 3
que foi realizada no município de São José, próximo da cidade de
Florianópolis, no estado de Santa Catarina. A formação foi oferecida
para educadores e comunidade, da antiga Escola Técnica atualmente
Instituto Federal de Santa Catarina - IF-SC, unidade de São José. Essa
formação contou com Rosani Suzin Santos, Karin Lilian Strobel,
Fabiano Souto Rosa, entre outros ministrantes desse curso introdutório
sobre a língua de sinais brasileira.
Em 2001 participei da formação com certificação para atuação
como intérprete da língua de sinais brasileira, oferecida pela FENEIS do
Rio Grande do Sul. A formação aconteceu no atual IF-SC, unidade de
São José e foi ministrado pelo intérprete Ricardo E. Sander.
Nos anos 90, a bibliografia sobre a língua de sinais brasileira ainda
era reduzida 4. As produções que apresentavam repertórios
lexicográficos eram as fontes acessíveis para consulta do vocabulário da
língua. O suporte em papel impresso era o formato mais utilizado na
produção e divulgação dessa bibliografia. A comunicação em rede, para
compartilhamento de arquivos e documentos em formato eletrônico
digital, ainda não eram acessíveis, como nos dias atuais.
A língua de sinais brasileira passou por um longo processo de
mobilização dos pesquisadores e educadores aliados aos surdos, na
reivindicação do reconhecimento 5 e promoção de leis para
regulamentação da língua.
Sem o reconhecimento do seu status como língua de sinais
brasileira, também não houve incentivo para o desenvolvimento de uma
forma de registro convencional, como a escrita, para a documentação do
repertório léxico da língua.

3
Os surdos juntamente com profissionais ligados à área da surdez fundaram a
Federação Nacional de Educação e Integração do Deficiente Auditivo -
FENEIDA no ano de 1977. O nome foi alterado para Federação Nacional de
Educação e Integração dos Surdos - FENEIS no ano de 1987. Disponível em:
http://www.feneis.org.br/page/historico.asp .
4
Para saber mais Quadros (2002. p. 19) apresenta um panorama da bibliografia
existente nos anos 90.
5
A língua de sinais brasileira foi reconhecida como meio legal de comunicação
e expressão através da lei n. 10.436 no ano de 2002. Essa lei foi regulamentada
pelo decreto n. 5.626 no ano de 2005.
20
A documentação da língua de sinais brasileira utilizou-se dos
recursos disponíveis para sua representação e elaboração dos repertórios
lexicográficos. A compilação do vocabulário e sua representação gráfica
utilizaram o desenho à mão livre das unidades léxicas, sendo feita a
ilustração da figura humana realizando um sinal, identificado por uma
palavra da língua portuguesa. Portanto, essas eram as informações mais
comuns de serem encontradas nas obras contendo o vocabulário da
língua, o desenho dos sinais identificados por palavras.
Ao longo da trajetória da produção dessas obras, passou a ser
utilizada a fotografia para a representação visual das unidades do
repretório léxico. A primeira obra que se tem conhecimento, a fazer uso
da fotografia com acréscimo da descrição em língua portuguesa dos
movimentos das mãos na realização do sinal, foi a obra de Padre
Eugênio Oates. Mais tarde, outros avanços tecnológicos foram decisivos
para a produção das obras contendo os repertórios lexicográficos da
língua de sinais brasileira.
Essa bibliografia era de difícil acesso para aquisição de seus
exemplares. Os cursos da língua de sinais promovidos pelas instituições
e surdos educadores, como já foi mencionado, eram os fóruns que
propiciavam o contato com essas produções. Com a dificuldade de
aquisição do material em momento oportuno, isso estimulou a prática da
cópia e encadernação no formato de apostilas. As reproduções passavam
a ser colecionadas pelos aprendizes, por vezes as reproduções
circulavam entre os interessados, que reproduziam a cópia da própria
cópia.
Algumas bibliografias eram mais populares do que outras.
Algumas produções locais circulavam em determinadas regiões do
Brasil. Essas produções locais costumavam apresentar unidades léxicas
mais utilizadas por uma determinada comunidade, de um estado
brasileiro. Essas obras eram ainda mais apreciadas pelos aprendizes
interessados em ampliar o vocabulário na língua de sinais brasileira.
Em seu tempo e contexto, essas obras supriram momentâneamente
a carência da literatura sobre o assunto e serviram como fonte de
consulta do repertório léxico. Essas obras também cumprindo um papel
didático no ensino e aprendizado da língua de sinais brasileira.
Realizei a prática da interpretação na língua de sinais brasileira até
o ano de 2008, quando a Universidade Federal de Santa Catarina -

21
UFSC ofereceu o primeiro curso superior, em uma universidade pública
e gratuita, para formação do bacharel em Letras LIBRAS.
A oportunidade de formação em nível superior, propiciou o
contato com a pesquisa acadêmica e introduziu os graduandos ao
universo dos Estudos da Tradução.
Em fase de conclusão da graduação, iniciei um planejamento de
continuidade dos estudos, para aprofundamento do conhecimento na
área da tradução. A escolha foi o mestrado pelo Programa de Pós-
Graduação em Estudos da Tradução da UFSC, em uma das linha de
pesquisa do programa: Lexicografia, tradução e ensino de línguas. A
Lexicografia despertou o interesse por ser uma área de conhecimento
não estudada com profundidade na graduação.
O projeto de pesquisa teve aprovação pelo Programa de Pós-
Graduação em Estudos da Tradução, na linha de pesquisa Lexicografia,
tradução e ensino de línguas. A proposta de pesquisa passou por
reencaminhamentos e redirecionamentos do estudo, que resultou na
investigação dos repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira.
Com a oportunidade de realizar o mestrado em Lexicografia,
percebi que alguns dos repertórios lexicográficos colecionados ao longo
do aprendizado da língua de sinais brasileira, poderiam servir como
fonte bibliográfica da pesquisa.
As leituras da área da Lexicografia ampliaram a compreensão
sobre o processo complexo de elaboração das obras, contendo os
repertórios lexicográficos das línguas e os critérios teóricos
metodológico do tratamento aplicado para as unidades léxicas desse
repertório. Voltei a reler os repertórios lexicográficos da língua de sinais
para apreciar as informações dessas obras.
Muitos dos repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira
foram fruto da iniciativa de pessoas interessadas na divulgação da
língua, aliados aos surdos, também dedicados a essa causa.
Os surdos se tornaram experientes na elaboração de suas próprias
produções e foram colaboradores dos projetos de outras publicações. A
documentação da língua de sinais brasileira utilizou o desenho como um
dos recursos disponível para o registro lexicográfico da língua. Um
trabalho dispendioso, com limitações impostas pelo suporte
bidimensional, cuja qualidade das informações lexicográficas, dependia
da habilidade técnica do desenhista, para efetuar a representação visual.
Sendo assim, é compreensível que os repertórios lexicográficos

22
produzidos a partir da técnica do desenho e não apresentassem
informações descritivas, exceto, através do uso da escrita da língua
portuguesa para fazer explicações dos sinais para o leitor.
Ha surdos 6 autores das ilustrações de alguns repertórios
lexicográficos da língua de sinais brasileira. Obras, cuja documentação e
representação das unidades dos repertórios léxico, foram produzidas a
partir do desenho à mão livre.
Um exemplo de produção como essa, é o trabalho realizado por
Karin Lilian Strobel 7. Ela é autora de um dos repertórios lexicográficos
da língua de sinais brasileira mais conhecidos no estado brasileiro do
Paraná. Strobel descreve o trabalho de documentação dos repertórios
lexicográfico elaborado manualmente por ela.

"Fui eu mesma quem fiz a apostila


"falando com as mãos", ilustrei e fiz
montagem na época que trabalhava em
secretaria de educação do Paraná.
Não lembro bem do ano... acho foi no ano
de 1998 a primeira edição de cinco mil
cópias e depois foram feitas a segunda
edição de 2 mil cópias e não lembro bem
se foram feitas a terceira edição... que
foram distribuída pelo estado do Paraná
gratuitamente.
Não copiei de nenhuma apostila os
desenhos. Fiz a mão livre (olhando
espelho as posições das mãos), você pode

6
Um exemplo é o sr. Edson Franco Gomes, autor de repertórios lexicográficos
da língua de sinais brasileira. Ele também é autor do Sistema Educacional
Chaplin, segundo as informações encontradas no website com informações
sobre a instituição. O sistema de ensino foi criado com o objetivo de ensino e
difusão da língua de sinais brasileira e encontra-se disponível em:
http://www.sistemachaplin.com.br/sistemachaplin/conteudo.php?catId=1.
7
Docente do Departamento de Artes e LIBRAS do Centro de Comunicação e
Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina, foi contatada no dia
05.09.2012 e sua resposta ao contato por email é apresentada na forma de
citação nessa e na página seguinte. Strobel explica em detalhes a elaboração do
título "Falando com as mãos. Aspectos linguísticos da LIBRAS" produzido pela
Secretaria de Estado da Educação; Superintendência de Educação;
Departamento de Educação Especial. Curitiba: SEED/SUED/DEE, 1998.
23
perceber que os primeiros desenhos são mais feios
e no final da apostila são mais bonitos. Fui
aperfeiçoando na técnica e durou dois anos esta
técnica.
Acho que não tem artigo que fale sobre minha
apostila, embora muitos instrutores e escolas
inclusivas ainda usam até hoje.
Por exemplo, eu coloquei meu filho surdo na
escola inclusiva da prefeitura de Floripa lá eu vi
os meus desenhos da apostila nomeando
"banheiro", 'secretaria' etc."

Outra obra que é exemplo de documentação da língua de sinais é


o livro "Aìgo: a arte de comunicar I - Língua de Sinais", de autoria de
Ahygo Azevedo de Oliveira e Mirlene Ferreira Macedo. Essa obra
utilizou o recurso do desenho à mão livre para representação das
unidades léxicas e para uma cena representando o significado do sinal.
Ahygo sobrinho de Dulce de Oliveira (ambos falecidos), a tia foi
responsável pela educação inicial de dois sobrinhos surdos. A professora
Dulce se tornou conhecida e procurada por outros surdos da cidade de
Uberaba em busca de educação através de suas aulas. A Escola para
surdos Dulce de Oliveira 8 foi criada em 1956, com o apoio dos
Rotarianos, a escola ganhou uma sede e uma associação foi criada em
homenagem a professora Dulce de Oliveira para a assistência dos surdos
de Uberaba, cidade com endereço atual da escola.
A obra de Ahygo e Mirlene apresenta um repertório lexicográfico,
com a representação das unidades léxicas feitas a partir do desenho à
mão livre. As ilustrações também são utilizadas para a representação de
cena que se propõe a ser o significado da unidade léxica. Ou seja, o
repertório lexicográfico utiliza a ilustração à mão livre, como a forma de
representação, tanto da unidade léxica, quanto do significado. O
repertório lexicográfico se divide em seções correspondentes aos
assuntos. As unidades léxicas constam em uma lista de palavras
numeradas, com abertura de cada seção do seu respectivo assunto. Cada
unidade léxica numerada é associada a uma cena que se propõe a ser o
significado, ambas as ilustrações feitas a partir do desenho à mão livre.

8
Histórico sobre a escola para Surdos Dulce de Oliveira encontra-se disponível
em http://escoladulce.org.br/historia.html . Acesso: 02.10.2014.
24
A descrição dessas obras foi feita para exemplificar o tipo de
informações e teor dos repertórios lexicográficos produzidos com o
objetivo de realizar a documentação da língua. É importante salientar
que essas iniciativas foram responsáveis pelo registro da língua de sinais
brasileira. Apenas mais tarde foi possível contar com recursos técnicos
da fotografia e multimídia para o registro e sua representação.
Atualmente a língua de sinais brasileira dispõe de obras com
amplo repertório lexicográfico, com variedade de informações referentes
as unidades léxicas. Graças ao avanço tecnológico, se tornou possível a
produção de obras lexicográficas no formato eletrônico digital
acessíveis via internet. Tanto as pesquisas lexicográficas, quanto o
desenvolvimento tecnológico, contribuíram para melhorar a qualidade
das informações dos repertórios léxicos dessa língua.
A partir da releitura de alguns dos repertórios lexicográficos da
língua de sinais brasileira, se observou que muitas das obras cumpriram
um papel didático importante, oferecendo apenas a representação do
sinal e sua correspondência em uma palavra da língua portuguesa. E
dessa forma colocaram os aprendizes em contato com o vocabulário da
língua. Mas também, apresentaram transformações e passaram a
oferecer outras informações, entre elas, a definição das unidades léxicas.
Até então, as produções não apresentavam definição lexicográfica, um
dado importante sobre o significado do sinal naquela língua. Sendo
assim, a definição lexicográfica foi escolhida como objeto de
investigação, do processo de sua elaboração e indicativos de
desenvolvimento dos repertórios léxicos da língua.
Essa pesquisa teve duas questões norteadoras. Como se
desenvolveu a elaboração da definição lexicográfica dos repertórios
léxicos da língua de sinais brasileira? Quais as informações que compõe
a definição lexicográfica e quais os critérios metodológicos para sua
elaboração?
Para responder essas perguntas, a pesquisa se dedicou em traçar
uma trajetória do desenvolvimento da produção dos repertórios
lexicográficos da língua a partir da seleção de quatro referencias
bibliográficas: Eugênio Oates autor de "Linguagem das mãos", Harry
W. Hoemann, Shirley A. Hoemann e Eugênio Oates autores de
"Linguagem de Sinais do Brasil" com título em inglês "The Sing
Language of Brazil", Fernando Cezar Capovilla, Walkiria D. Raphael e
Aline C. L. Mauricio autores do Novo Deit-Libra Dicionário

25
Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira e a
obra de Tanya Amara Felipe de Souza e Guilherme Azambuja Lira
autores do "Dicionário da Língua Brasileira de Sinais do INES versão
2.0. Essa foram as referências bibliográficas utilizadas como fonte para
a observação da evolução do tratamento das unidades léxicas, a partir da
elaboração da definição lexicográfica. Para isso, foi adotada a proposta
teórica metodológica de José Álvaro Porto Dapena (2002), que propõe a
construção da definição das unidades léxicas segundo princípios e
critérios metalexicográficos. A pesquisa realizou a análise comparativa
das informações referentes as unidades léxicas relativas as cores em
língua de sinais brasileira, mediante os critérios metalexicográficos. E
apresenta ponderações sobre os dados encontrados nas fontes
bibliográficas selecionadas para o estudo. O trabalho tem como
conclusão alguns apontamentos mais significativos do desenvolvimento
dos repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira a partir da
elaboração da definição lexicográfica.

1.2 A proposta da pesquisa

A proposta dessa pesquisa teve início com a revisão bibliográfica


das investigações já desenvolvidas sobre o assunto. Entre os estudos
encontrados, as observações se concentraram nas pesquisas que tiveram
os repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira como fonte de
dados, apresentados na sequência.
Sofiato realizou em 2005 uma pesquisa de mestrado com o título
"O desafio da representação pictórica da língua de sinais brasileira".
Nessa pesquisa, foram investigados alguns dos repertórios
lexicográficos da língua de sinais brasileira, tendo como foco de análise
a representação visual das unidades léxicas da língua. A análise apontou
as dificuldades de emprego da linguagem visual na representação da
língua de sinais e suas implicações para a compreensão das informações
lexicográficas dessas obras.
Sofiato desenvolveu sua tese de doutorado em 2011, com o título
“Desenho à litografia: a origem da língua brasileira de sinais". Foi
realizado um inventário sobre a origem da obra "Iconographia dos
signaes dos surdos-mudos" de autoria de Flausino José da Costa Gama.
A obra é considerada como o primeiro repertório lexicográfico para os
surdos brasileiros. O estudo investigou a origem da obra, o trabalho de

26
ilustração das unidades lexicais através da técnica litogravura e o
modelo lexicográfico que a obra instituiu para a língua de sinais
brasileira.
Faria-do-Nascimento realizou em 2009 sua tese de doutorado com
o título “Representações lexicais da língua de sinais brasileira: uma
proposta lexicográfica". A pesquisa apresentou um inventário dos
repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira e de outros
países. A partir do inventário, propôs um instrumento protótipo baseado
em pressupostos teóricos da Lexicografia e da Terminografia. Esse
modelo de elaboração foi indicado, tanto para materiais didáticos,
quanto para repertórios lexicográficos e terminográficos semasiológicos.
O modelo protótipo apresentou uma sistemática de ordenação
paramétrica, ou seja, a partir do parâmetro Movimento (M) (uma das
unidades mínimas que formam a unidade léxica das línguas de sinais) se
propôs a ordenação das entradas das obras e materiais de teor
terminológico lexicográfico.
Diniz realizou sua pesquisa de mestrado em 2010, com o título
"A história da Língua de Sinais Brasileira - Libras: um estudo descritivo
de mudanças fonológicas e lexicais. Essa pesquisa teve como fonte,
alguns dos repertórios lexicográficos significativos para a documentação
lexicográfica da língua de sinais brasileira. A investigação teve como
foco de análise, a variação e mudança na LIBRAS, a partir do
levantamento das unidade léxicas que permaneceram idênticas e outras
que apresentaram mudança fonológica e lexical.
Campello publicou em 2011 os resultados de um estudo realizado,
com o título "A constituição histórica da língua de sinais brasileira:
século XVIII a XXI". Esse estudo apresentou o processo histórico de
influência da língua de sinais francesa sobre a língua de sinais brasileira.
Se propôs a revisão documental da língua, a partir da obra de Flausino
da Gama e outros repertórios lexicográficos representativos da língua de
sinais brasileira. Tendo como foco de análise, as mudanças a nível
fonético-fonológico da língua de sinais francesa para a língua de sinais
brasileira.
Temoteo em 2012 apresentou sua tese de doutorado, com o título
"Lexicografia da Língua de Sinais Brasileira do Nordeste". Essa
pesquisa contou com alguns repertórios lexicográficos da língua de
sinais brasileira como fonte de análise. A proposta da pesquisa foi
documentar os repertórios léxicos, obtido a partir de uma amostragem

27
da população surda de nove estados brasileiros da região nordeste do
Brasil. A pesquisa teve o objetivo de ampliar o repertório lexicográfico
através da compilação das unidades léxicas mais utilizadas por surdos
nordestinos para a próxima edição do Novo Deit-Libra Dicionário
Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. A
pesquisa foi realizada sob orientação de Fernando Cezar Capovilla, o
próprio autor do Novo Deit-Libras, obra em coautoria com Walkiria D.
Raphael e Aline C. L.Mauricio.
A revisão bibliográfica dedicou atenção para localizar as
pesquisas que analisaram os repertórios lexicográficos da língua de
sinais brasileira, a fim de identificar o foco de interesse dessas
investigações. A elaboração da definição lexicográfica dos repertórios
léxico da língua de sinais brasileira pareceu ser tema tangenciado nas
investigações, mas ainda pouco explorado como objeto central das
pesquisas.
A pesquisa bibliográfica mostrou ser adequada ao interesse desse
estudo, dedicado a compreender o processo de desenvolvimento dos
repertórios léxicos da língua a partir da elaboração da definição
lexicográfica.
Para isso, foram selecionados repertórios lexicográficos
significativos para os propósitos investigativos. Foi feita a escolha de
quatro obras consideradas representativas do desenvolvimento dos
repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira.

• Eugênio Oates autor de "Linguagem das mãos" (1969/1990)


• Harry W. Hoemann, Shirley A. Hoemann e Eugênio Oates
autores de "Linguagem de Sinais do Brasil" (1983) com versão
em inglês "The Sing Language of Brazil" (1981).
• Fernando Cezar Capovilla, Walkiria D. Raphael e Aline C. L.
Mauricio autores do Novo Deit-Libra Dicionário Enciclopédico
Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira (2012).
• Tanya Amara Felipe de Souza e Guilherme Azambuja Lira
autores do "Dicionário da Língua Brasileira de Sinais doINES" 9
versão 2.0 (2005) também conhecido como Acesso Brasil.

9
Instituto imperial para surdos-mudos foi fundado em 1856. O nome da
instituição em 1957 mudou para Instituto Nacional de Educação dos Surdos -
INES.
28
Padre Eugênio Oates C. S S. R. foi da Ordem Redentorista da
Igreja Católica Romana. Sua obra é uma das referencias bibliográficas
mais conhecidas e importantes para a pesquisa lexicográfica da língua
de sinais brasileira. Oates realizou o trabalho de compilação dos
vocábulos da língua de sinais brasileira por várias regiões do Brasil e
publicou a obra em 1969.
A produção lexicográfica de Oates utilizou o recurso da fotografia
para a representação visual das unidades léxicas da língua de sinais
brasileira. O uso da fotografia para a documentação da língua de sinais
representou um avanço técnico, tanto para a elaboração dos repertórios
lexicográficos, quanto para a representação visual da língua. Essa obra é
representativa para o processo de desenvolvimento dos repertórios
lexicográficos da língua de sinais brasileira.
A obra “Linguagem de sinais do Brasil” de autoria do Dr. Harry
W. Hoemann, Shirley A. Hoemann e Padre Eugênio Oates C. S S. R. foi
uma produção que contou com o apoio da Organização Amigos
Luteranos dos Surdos, Mill Neck Foundation e Mil Neck Manor
financiadoras do livro. A obra foi idealizada por Naomi H. Warth,
coordenadora do ensino religioso e fundadora do Centro Educacional
para Deficientes Auditivos Escola Especial Concórdia, sediada até os
dias de hoje, na cidade de Porto Alegre. Essa é uma das instituições
mais tradicionais na educação de surdos na região sul do Brasil. A obra
foi resultado de uma pesquisa de documentação do repertório
lexicográfico da língua de sinais da região sul do Brasil.
Fernando Cezar Capovilla, Walkiria D. Raphael e Aline C. L.
Mauricio são autores do "Novo Deit-Libras Dicionário Enciclopédico
Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. Capovilla realizou
pesquisas sobre desenvolvimento da competência linguística dos surdos.
E também realizou um trabalho de ampla documentação do repertório
léxico da língua de sinais brasileira. Suas obras se tornaram referenciais
lexicográficos da língua de sinais brasileira.
O Deit-Libras é a obra mais recente de Capovilla, Raphael e
Maurício, onde apresentam amplo repertório léxico, com a proposta de
um novo paradigma para a lexicografia da língua de sinais. Essa obra
apresenta variado número de informações para cada unidade léxicas, tais
como: cada sinal ou unidade léxica da língua de sinais brasileira com
correspondência na língua inglesa e correspondência na língua
portuguesa. A digitalização no alfabeto manual da correspondência na

29
língua portuguesa. A definição lexicográfica da unidade do repertório
léxico da língua de sinais brasileira em língua portuguesa. Entre outros
dados que serão explorados e aprofundados na análise da obra.
Tanya Amara Felipe de Souza e Guilherme Azambuja Lira são
autores do "Dicionário da Língua Brasileira de Sinais do INES" 10 versão
2.0 (2005), também conhecido como "Acesso Brasil" ou "dicionário do
INES". A obra é fruto de um projeto que explorou novos suportes em
multimídia para a produção do repertório lexicográfico. A obra acessível
via internet, representou grande inovação para a lexicografia digital e
virtual da língua de sinais brasileira. Esse é um trabalho relevante de
grande contribuição, em termos tecnológicos para a lexicografia da
língua de sinais brasileira.
O desenvolvimento dos recursos tecnológicos representou
avanços para a lexicografia das línguas de sinais, principalmente para a
elaboração da definição lexicográfica. Graças ao desenvolvimento
tecnológico é possível a lexicografia contar com informações no
formato eletrônico digital de vídeo, imagem e texto em suportes de
multimídias, interface e ambientes virtuais.
Essas são as obras contendo os repertórios lexicográficos da
língua de sinais brasileira selecionados como fonte dessa pesquisa
bibliográfica. Esse é um estudo dedicado a investigação do
desenvolvimento dos repertórios léxicos, a partir da evolução da
elaboração da definição lexicográfica.

1.3 Contribuições da pesquisa

A pesquisa sobre o desenvolvimento dos repertórios lexicográficos


das línguas de sinais amplia o campo investigativo da Lexicografia,
habituado ao desenvolvimento do trabalho lexicográfico das línguas
orais. As línguas de sinais se apropriaram de diferentes recursos e
formas para realizarem a documentação e registro do seu repertório
léxico. O desenvolvimento tecnológico oportunizou o emprego de
ferramentas, que mostraram maior eficiencia para o trabalho
lexicográfico das línguas de sinais. O estudo do desenvolvimento dessas
obras pode contribuir com inovações e formas do fazer lexicográfico.

10
O Instituto imperial para surdos-mudos foi fundado em 1856, o nome da
instituição mudou para Instituto Nacional de Educação dos Surdos - INES em
1957.
30
Essa pesquisa apresenta um corpo teórico metodológico segundo
os princípios da Lexicografia. O aporte teórico tem como principais
autores Herbert Ernst Wiegand (1983) e José-Álvaro Porto Dapena
(2002), entre outros teóricos importantes Tarp (2012), Rundell (2012),
Escobar (2006), Biderman (1984), Nielsen (2011) etc. A pesquisa
apresenta o processo de consolidação da disciplina Lexicografia e a
construção de suas bases teóricas metodológicas para pontual as
diretrizes da Lexicografia para a tarefa lexicográfica.
A pesquisa de teor bibliográfico resgata o valor documental dos
repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira. A partir dessas
obras, propõe apresentar uma trajetória da lexicografia da língua de
sinais brasileira, com foco de análise voltado para a elaboração da
definição lexicográfica.
As contribuições desse estudo mostram que a língua de sinais
brasileira tem uma prática de documentação do repertório lexicográfico
que foi responsável por garantir o registro dessa língua. Essa
documentação contou com recursos de representação gráfica não
convencional as outras línguas que fizeram uso da escrita. E partir dessa
documentação, considera-se possível acompanhar uma evolução dos
repertórios lexicográficos e a construção das informações dessas obras.
Ressalta também que a investigação das línguas de sinais propõe novas
formas de produção lexicográfica, com soluções diferenciadas e
adequadas as necessidades dos repertórios léxicos da língua.

1.4 Estrutura geral do trabalho de pesquisa

Essa pesquisa tem um projeto de trabalho desenvolvido em cinco


capítulos. A parte introdutória apresenta a experiência de aprendizado
da língua de sinais brasileira e como surgiram os questionamentos que
conduziram a essa investigação. Fazemos algumas observações para a
importância dos repertórios lexicográficos, com papel didático e fonte
de estudo da língua. Enfatizamos o valor bibliográfico e documental
dos repertórios lexicográficos, através das obras, consideradas mais
representativa da trajetória lexicográfica da língua de sinais brasileira.
Apresentamos as justificativas da pesquisa de caráter bibliográfico, com
foco de interesse no processo de desenvolvimento dos repertórios
lexicográficos e evolução da definição lexicográfica. A conclusão dessa

31
parte apresenta a relevância da pesquisa para a língua de sinais e para o
campo da investigação lexicográfica.
O segundo capítulo inicia com a apresentação da disciplina
Lexicografia, seu domínio e objeto de investigação. O processo de
consolidação dos princípios teórico metodológicos e a reflexão sobre a
existência ou não existência de uma teoria lexicográfica. Apresentamos
brevemente os benefícios das tecnologias no auxilio do trabalho
lexicográfico. São pontuados aspectos gerais das obras lexicográficas e
tratamento aplicado as unidades do repertório léxico. Tendo como
conclusão as diretrizes da Lexicografia, de forma descritiva do trabalho
de elaboração da definição lexicográfica dos repertórios léxicos.
O terceiro capítulo apresenta um panorama do contexto de criação
da primeira escola para surdos no Brasil do século XIX e da língua de
sinais dos surdos brasileiros. As investigações sobre as línguas de sinais
e a lexicografia da língua de sinais americana. Alguns apontamentos
sobre as pesquisas brasileiras são importantes, por seus desdobramentos
para as obras lexicográficas. O desenvolvimento das tecnologias e suas
contribuições para a elaboração dos repertórios lexicográficos da língua
de sinais brasileira. O capítulo tem como conclusão, uma breve reflexão
sobre as perspectivas para os estudos das línguas de sinais.
O quarto capítulo apresenta a metodologia de pesquisa, que tem
como fonte bibliográfica quatro obras, que apresentam repertórios
lexicográficos da língua de sinais brasileira. Tendo como recorte
metodológico, a análise da definição lexicográfica de um conjunto de
unidades léxicas. A metodologia mostra seu desenvolvimento em três
etapas correspondentes: ao levantamento das fontes, a apresentação das
fontes bibliográficas e os critérios para a análise comparativa com a
definição lexicográfica do conjunto de unidades léxicas selecionadas
para o estudo.
O quinto capítulo se propõe a apresentação das fontes
bibliográfica, em seguida a análise da definição das unidades de cada
repertório lexicográfico. A análise comparativa foi feita a partir dos
critérios teórico metodológico de elaboração das definições
lexicográficas, apresentados no capitulo teórico e no capítulo
metodológico da pesquisa. São apresentadas as considerações finais, dos
pontos mais importantes da pesquisa, com apontamentos dos aspectos
mais significativos que mostraram os indicativos do desenvolvimento
dos repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira.

32
2 Fundamentação Teórica

As obras lexicográficas, para a sociedade em geral, podem


representar fontes de consulta do significado ou ortografia de palavras
de uma determinada língua. Para a Lexicografia, a disciplina dedicada a
investigação dos repertórios léxico, as obras lexicográficas representam
a sistematização e a apresentação dos repertórios léxicos no formato da
produção lexicográfica.
Wiegand (1984) classificou o trabalho lexicográfico em prático e
meta-lexicográfico. O trabalho prático tem relação com a produção das
obras e o trabalho meta-lexicográfico tem a ver com a escrita, sobre e
para, a tarefa lexicográfica. Wiegand (1984) investigou as obras
lexicográficas e identificou diferentes estruturas textuais, entre as quais,
considerou a definição lexicográfica um dos tipos textuais mais
importantes. Isso mostra, a importância dessa pesquisa se dedicar ao
estudo da elaboração da definição lexicográfica das unidades léxicas da
língua de sinais brasileira.
Esse capítulo apresenta as bases teóricas dessa pesquisa. A seção
2.2 trata sobre o processo de consolidação da disciplina Lexicografia e
suas vertentes investigativas teórica e prática, voltadas para as
especificidades e propósitos lexicográficos. A seção 2.3 apresenta
apontamentos de alguns autores e a crítica a existência da teoria
lexicográfica. A seção 2.4 apresenta a importância do desenvolvimento
tecnológico e a incorporação do computador como ferramenta auxiliar
do trabalho lexicográfico. A seção 2.5 apresenta alguns dos conceitos
gerais sobre a estrutura dos dicionários. Essa seção se subdivide em
2.5.1 onde são pontuados aspectos formais dos dicionários e 2.5.2 onde
trata no que consiste a elaboração da definição lexicográfica.

2.1 Lexicografia: disciplina, teoria e prática de fazer dicionários

Ao longo de sua história, a Lexicografia contou com definições


pouco esclarecidas sobre o que consistia o trabalho lexicográfico. A
prática lexicográfica foi atrelada a ideia simplista de coleta de palavras e
seus respectivos significados, reunidos em compêndios como
vocabulário de uma língua.

33
Espejo (1999. p. 416) 11 afirma que uma das definições mais
tradicionais associada a prática lexicográfica, é a ideia de arte e oficio de
fazer dicionários. No dicionário acadêmico da língua espanhola, a
Lexicografia foi apresentada como uma técnica da linguística orientada
por princípios teóricos com o objetivo de elaborar dicionários. O autor
considerou significativa a definição que substituiu a palavra arte por
técnica e atribui caráter mais científico a atividade lexicográfica. Em
outra definição, a Lexicografia é caracterizada como uma técnica
científica que estuda os princípios da preparação dos repertórios
lexicais. Outra definição chama a Lexicografia de disciplina que ensina
os métodos para escrever os dicionários. Essas definições de
Lexicografia indicaram pequenas mudanças que seriam determinantes
para a concepção da prática lexicográfica idealizada como arte e oficio
de fazer dicionários.
Bergenholtz e Gouws (2012. p. 32; 33; 35) em pesquisa de fontes
gerais, incluindo dicionários e busca na internet, identificaram
diferentes interpretações nas definições da prática lexicográfica. As
definições mais insatisfatórias simplificam a Lexicografia como prática
de compilação e estudo dos significados do vocabulário de uma língua.
As definições mais satisfatórias apresentam a Lexicografia como
disciplina acadêmica dedicada a compilação, escrita e edição de
dicionários. O Dictionary of Basic Terminology edição de 1998 de Igor
Burkhanov, apresenta a definição de Lexicografia como disciplina que
desenvolve estudo linguístico, a partir de princípios teóricos próprios
para a elaboração dos dicionários. Ressalta que por serem obras
referenciais, a elaboração dos dicionários requer ampla gama de
conhecimentos, que a Lexicografia busca em outras disciplinas
acadêmicas.
A partir das definições apresentadas pelos autores, é possível
perceber mudanças na interpretação do que consiste o trabalho
lexicográfico. A Lexicografia não era compreendida como disciplina,
constituída de investigação e seu status era de trabalho prático, resumido
a compilação de vocabulário. Os apontamentos de alguns autores a
seguir, mostram como se deu o processo de consolidação da disciplina
Lexicografia e sua situação no campo dos estudos linguísticos.

11
Definição de Lexicografia do Thessauro da Língua espanhola do Instituto
Caro y Cuervo da Colômbia. Documento digitalizado e disponibilizado pelo
Centro Virtual Cervantes.
34
Segundo Hwang (2009, p. 42) antes da metade do século XX, não
existiam trabalhos que apresentassem um ponto de vista crítico e teórico
sobre os dicionários. A atividade lexicográfica era desenvolvida por um
grupo restrito, em sua maioria religiosos e estudiosos das línguas, com
interesses na compilação dos repertórios léxicos. O objetivo maior do
trabalho não era a sistematização dos procedimentos e métodos
desenvolvidos na atividade lexicográfica. Essa falta de descrição
metodológica do trabalho lexicográfico colocou em dúvida a existência
dos procedimentos técnicos científicos dessa prática.
Kleparski e Odarczyk-Stachurska (2008. p. 86) afirmam que
atualmente a Lexicografia é constituída de componente teórico e
componente prático. A vertente teórica lexicográfica foi atribuída de
grande importância. Embora seja tardia em relação a produção dos
dicionários, ela foi determinante para o estabelecimento da pesquisa
sobre essas obras. Antes do século XX, os estudiosos da linguística
consideravam os dicionários pouco científicos para se tornarem objeto
de investigação acadêmica. Nesse período a investigação linguística não
compartilhava interesses comuns de pesquisa com a Lexicografia. Os
lexicógrafos e editores dos dicionários consideravam não haver
contribuição necessária dos linguistas para o processo de compilação
léxica. Em contrapartida, os linguistas justificavam que o trabalho
lexicográfico se resumia a atividade de manufatura, pouco interessante
para a pesquisa de teor acadêmico.
Kleparski e Odarczyk-Stachurska (2008. p. 88) consideram que
no século XIX, havia uma ideia de teoria e prática lexicográfica e certa
aproximação com a Linguística. A Linguística fazia distinção entre a
Lexicologia e a Lexicografia. A Lexicologia se inseria dentro do campo
da Linguística e se destinava ao estudo das palavras. A Lexicografia era
responsável pela compilação de vocabulário, fruto dos estudos da
Lexicologia. Um exemplo disso era a base teórica científica dos
dicionários históricos, que advinha das pesquisas realizadas pela
Lexicologia. Para a Lexicologia, os dicionários representavam a
realização prática dos princípios e métodos aplicados no estudo das
palavras. A partir do século XX, os estudiosos passam a produzir os
manuais da Lexicografia. Esses manuais apresentaram a descrição do
trabalho lexicográfico, ou seja, os componentes teóricos metodológico
para o tratamento das unidades léxicas previstos pela própria
Lexicografia.

35
Observa-se que o século XX, deu início ao processo de
consolidação do conhecimento lexicográfico com teor e caráter mais
científico. Os estudiosos da área através de suas pesquisas buscaram
mostrar um trabalho lexicográfico mais criterioso e consistente, em
termos de princípios na elaboração dos dicionários. Por todo o mundo,
pesquisadores propuseram a reflexão teórica metodológica do trabalho
lexicográfico. Um processo de teorização da tarefa, até então,
concentrada na prática e na dinâmica do fazer.
De acordo com Fernández (2003. p. 44; 45) o surgimento da
teoria lexicográfica, data entre as décadas de 60 e 70 do século XX. Seu
inicio se deu com a formação de escolas voltadas para a investigação
lexicográfica em muitos dos países europeus. A França foi precursora
das pesquisas sobre a história e metodologia da lexicografia com
trabalhos realizados por Robert-Léon Wagner, Bernard Quemada,
Georges Matoré. Outros autores da escola francesa, Jean Dubois, Claude
Dubois e Josette Rey-Debove, desenvolveram pesquisas lexicográficas
em interface com a Linguística e a Semiótica para produção de
dicionários. Na Alemanha, a investigação foi voltada para a história e a
teoria lexicográfica pesquisada por Walthe von Wartburg e seu discípulo
Kurt Baldinger. Seus seguidores foram Josette Rey-Debove e Franz
Josef Hausmann, com pesquisas sobre os dicionários de uso da língua
francesa. O alemão Herbert-Ernst Wiegand foi reconhecido por sua
grande contribuição para a investigação lexicográfica, a Meta-
lexicografia. Outros estudiosos importantes do grupo de pesquisa em
lexicografia hispânico-alemã são representados por Günther Haensch e
Reinhold Werner e suas pesquisas teórico prática. Estudos históricos e
descritivos foram desenvolvidos nos Estados Unidos que resultou na
Dictionary Society of North America, com publicações sobre a pesquisa
lexicográfica conhecida por todo o mundo.
Esse panorama da pesquisa lexicográfica tem o objetivo de
mostrar o processo de formação de grupos de pesquisadores que
produziram um corpo de conhecimento e formação das bases de
investigação lexicográfica. Os estudos lexicográficos tinham o propósito
do desenvolvimento da pesquisa, sobre e para os dicionários. Também
era necessária maior autonomia da Lexicografia situada no campo dos
estudos linguísticos. Essa corrente investigativa inspirou a criação de
outros núcleos de pesquisa e o tema conquistou o espaço acadêmico
para a investigação lexicográfica das diversas línguas.

36
De acordo com Hartmann (2008. p. 135; 136) a partir dos anos
80, com a ampliação das pesquisas lexicográficas, foi necessário a
formação de um fórum para reunir, tanto os estudos, quanto os
pesquisadores da área da Lexicografia. A ideia levou a criação da
EURALEX 12, uma associação de pesquisadores da Lexicografia. A
associação inspirou outros centros de pesquisas, institutos,
departamentos, grupos e laboratório dedicados a investigação
lexicográfica. Sugiram linhas de pesquisas acadêmicas no nível de
mestrado e doutorado para a formação do profissional lexicógrafo. O
programa de pós-graduação ERASMUS firmou consórcio entre as
universidades dos diversos países: Inglaterra, França, Holanda, Bélgica,
Finlândia, Dinamarca, Portugal e Grécia.
No Brasil, a formação dos grupos de pesquisas em Lexicografia,
foram fundamentais para o desenvolvimento das investigações e
produção de conhecimentos sobre os dicionários. A disciplina
Lexicografia ganhou espaço entre as linhas de pesquisa dos programas
de pós-graduação, atraiu pesquisadores, promoveu fóruns e eventos
científicos. Também deu origem ao primeiro grupo de trabalho nos
encontros nacionais dos pesquisadores das letras e linguística do Brasil.
De acordo com Barbosa (1995. p. 54), desde 1971, docente da
Universidade de São Paulo, Barbosa coordenou um grupo de pesquisa
com abordagem científica e tecnológica da Lexicografia. Foi
responsável pela introdução da Lexicografia nas aulas do curso
bacharelado em letras, no ano de 1972. E criou a linha de pesquisa em
Lexicologia e Lexicografia do programa de pós-graduação em
linguística da USP, no ano de 1975. O Brasil nas décadas de 70 e 80, já
contava com docentes pesquisadores de instituições do nível superior
que desenvolviam estudos na área da Lexicologia, Lexicografia e
Terminologia.

12
A European Association for Lexicography (EURALEX) foi criada em 1983
com o propósito de promover atividades acadêmicas e profissionais do campo
da Lexicografia. A associação promove conferências bienais LEXeter que
reúnem pesquisadores e produções de todas as partes relacionadas a área da
Lexicografia. Dispõe de um banco de dados com grande inúmero de artigos e
produções da área da Lexicografia para download gratuito pela internet. Em
1988 foi criado o Newsletter - International Journal of Lexicography, periódico
com matérias sobre pesquisas e eventos relacionados a área de Lexicografia.
37
Assim como, foi apresentado um panorama da pesquisa
lexicográfica europeia, consideramos importante destacar os nomes dos
pesquisadores que compuseram o cenário da pesquisa lexicográfica
brasileira. Barbosa (1995) apresenta os nomes de muitos dos
pesquisadores docentes e instituições de ensino superior com grupos de
investigações acadêmica nessa área.
Nos anos 70 devem ser citados docentes pesquisadores
importantes como Maria Tereza C. Biderman, Ieda Maria Alves da
Universidade do Estado de São Paulo. Erasmo D'Almeida Magalhães e
Cidmar T. Pais da Universidade de São Paulo. Celina Scheinowitz da
Universidade Federal da Bahia. Antônio Houaiss da Academia de
Letras. Nos anos 80 o número de docentes pesquisadores da
Lexicografia aumentou. John Robert Schmitz da Universidade de
Campinas. Maria do Socorro S. de Aragão da Universidade Federal da
Paraíba. Maria Vicentina de P. do A. Dick e Guiomar Fanganiello
Calçada da USP. Ulf Gregor Baranow e Enilde Leite de J. Faulstich da
Universidade de Brasília. Geraldo Mattos G. dos Santos da
Universidade Federal do Paraná. Nelly Medeiros de Carvalho da
Universidade Federal de Pernambuco. Maria da Graça Krieger da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Luis Álvaro S. Passeggi da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Maria Resende San-
Martin da Universidade de Taubaté. Maria Margarida de Andrade da
Universidade Mackenzie. A década de 90 acrescentou os pesquisadores
Alice Maria T. Saboia da Universidade Federal do Mato Grosso.
Antonieta Laface da UNESP. Jeny Silva Turazza da Universidade
Católica de São Paulo. (BARBOSA, 1995. p. 55)
Barbosa (1995. p. 55) faz a ressalva que os nomes dos
pesquisadores mencionados, são aqueles participantes do primeiro grupo
de trabalho criado, para reunir os estudiosos e produção de
conhecimento na área da Lexicografia. As pesquisas em Lexicologia,
Lexicografia e Terminologia continuaram se ampliando pelas
universidades de todo o país, com formações de núcleos investigativos.
Entre esses, estão pesquisadores importantes como: Heinrich Bunse e
Celso Luft da UFRGS. Rosário F. M. Guérios da UFPR. Francisco da
Silva Borba, Maria Helena de M. Neves, Daisi Malhadas, Clóvis B. de
Moraes todos da UNESP. Francisco Gomes de Matos da UFPE. Maria
Basílio da equipe do Dicionário Aurélio. Antônio José Sandman da
UFPR.

38
O estudo intenso na área da Lexicografia foi importante para a
criação do primeiro grupo de trabalho para reunir pesquisadores
brasileiros dedicados à investigação dos dicionários. O grupo de
trabalho se inseriu na discussão sobre as questões lexicográfica em um
fórum acadêmico da área de letras e Linguística. Esse espaço foi
significativo para a inserção da Lexicografia no cenário das pesquisas
científicas.
No ano de 1986, a professora Maria Aparecida Barbosa
juntamente com outros pesquisadores em Lexicografia de outras
instituições propôs a criação do GT em Lexicologia e Lexicografia da
ANPOLL 13. No III Encontro Nacional da ANPOLL, realizado no ano
de 1988 na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, o GT foi
renomeado como Lexicologia, Lexicografia e Terminologia pelo
professor visitante da USP Alain Quenette. Nos anos 90, se ampliaram
as pesquisas e os centros de estudos acadêmicos por muitos estados
brasileiros. Assim como, a realização de eventos científicos voltados
para a Lexicologia, Lexicografia e Terminologia. (BARBOSA, 1995. p.
54 - 55).
Podemos dizer que, a partir da segunda metade do século XX, em
muitos países, houve um movimento de organização dos pesquisadores
e grande produção de conhecimento em Lexicografia. Essa mobilização
impulsionou o processo de sistematização do trabalho e investigação
lexicográfica.
Herbert Ernst Wiegand foi um dos mais importantes estudiosos da
Lexicografia. Seus estudos contribuíram com a sistemática da pesquisa e
da produção lexicográfica. As pesquisas de Wiegand estabeleceram o
domínio do conhecimento da disciplina Lexicografia. Ele dividiu a
disciplina em duas vertentes de investigação, prática e teórica
metodológica, propôs teorias e definições que foram fundamentais para
a Lexicografia.
Wiegand (1983. p. 14; 15) definiu a Lexicografia como uma
disciplina da grande área dos estudos linguísticos que se dedica a
produção das obras referenciais das línguas. Essas obras, propriamente

13
No ano de 1984 os professores das áreas de letras e linguística se reuniram em
Brasília a fundaram a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Letras e Linguística a ANPOLL. A associação realiza encontros nacionais onde
reúne coordenadores dos Programas de Pós-Graduação em Grupos de Trabalho
- GTs para discutirem políticas e ações de pesquisas linguísticas.
39
os dicionários, se propõem a apresentarem as informações necessárias
em termos de expressões linguísticas. Para realizar suas atividades a
Lexicografia recorre aos pressupostos, métodos e teorias de várias
disciplinas acadêmicas, de acordo com o tipo de obra de referência que
tenha o objetivo de produzir. A Lexicografia conta com a teoria geral
chamada de Meta-lexicografia que consiste na apresentação sistemática
dos procedimentos e conhecimentos necessários para realização
adequada do trabalho e produção lexicográfica.
A Lexicografia que foi considerada como uma prática de
conhecimentos não sistematizados, passa a contar com aparato teórico
metodológico próprio e suficiente para mostrar um trabalho
lexicográfico baseado em princípios lexicográficos. As pesquisas
mostraram que a prática lexicográfica não se tratava de um trabalho
intuitivo e mecânico. Mas se constitui de aspectos investigativos que
formam um corpo de conhecimentos, passiveis de serem apresentados e
descritos como os princípios orientadores do trabalho e produção
lexicográfica.
Hwang (2009. p. 43) diz que a Meta-lexicografia supriu a carência
epistemológica da Lexicografia. A produção lexicográfica dinâmica, até
então, não contava com um referencial teórico que oferecesse métodos
descritivos para o trabalho. Além da sistematização teórica
metodológica, a prática teve ao seu dispor um aparelho metalinguístico,
que permitiu formular em que consiste o trabalho lexicográfico.
Para Kleparski e Odarczyk-Stachurska (2008. p. 92) a Meta-
lexicografia contribuiu para delimitar o domínio de conhecimento
lexicográfico e a aproximação entre os estudos linguístico e o trabalho
lexicográfico. Ao mesmo tempo, salientou que a Lexicografia não
deveria ser considerada como subdisciplina da Linguística Aplicada ou
submissa as premissas da Lexicologia. Uma vez que, a Linguística tem a
língua como objeto de investigação, enquanto a Lexicografia se dedica a
pesquisa dos dicionários e faz uso dos princípios da Linguística com
esse fim. A Lexicografia buscou ser reconhecida como prática de
elaboração de dicionários e ao mesmo tempo pesquisa para reflexão
teórica metodológica sobre como fazer as obras lexicográficas.
A vertente teórica metodológica da Lexicografia definiu os
dicionários como objeto de pesquisa lexicográfica. Até então os
dicionários eram vistos como fruto de uma atividade técnica e não
objeto de pesquisa dos conhecimentos envolvidos nessa produção. A

40
Meta-lexicografia mostrou que o trabalho lexicográfico estabelece uma
relação interdisciplinar com outras áreas do saber para a produção das
obras. A Lexicografia mostrou que compartilha interesse de pesquisa em
comum com outras disciplinas, cada qual, com seu modo organizador e
propósito específico de estudo. O estudo específico dos dicionários teve
o aprofundamento dos conhecimentos e desdobramento investigativo de
especialidades relativas as questões lexicográficas.
Wiegand (1983. p. 16; 17) definiu as especialidades da pesquisa
lexicográfica da seguinte forma. Subdividiu a Meta-lexicografia em
quatro sub-temas: a) a história da lexicografia; b) a teoria lexicográfica;
c) a pesquisa do uso dos dicionários e d) a crítica dos dicionários.
Destaca que a teoria lexicográfica tem uma abrangência de investigação
que se desdobra em quatro direções de estudos específicos: a) o
propósito dos dicionários, sua relação com a sociedade e a história da
lexicografia; b) a organização do trabalho lexicográfico; c) a compilação
e o processamento dos dados lexicográficos, tendo a incorporação do
computador como ferramenta assistente e d) a descrição lexicográfica da
língua, tendo em vista, a tipologia de dicionários e tipos textuais
lexicográficos.
A partir dos apontamentos feitos até aqui se observa que os
estudos lexicográficos desencadearam um processo de consolidação da
disciplina Lexicografia. Definiu-se o dicionário como objeto de
investigação lexicográfica, sobre o qual, se constituíram os princípios
teóricos metodológicos de elaboração dessas obras. Dividiu-se o
trabalho lexicográfico em duas formas: a parte teórica metodológica
com a descrição dos princípios e procedimentos norteadores da
elaboração dessas obras e a parte prática de planejamento do conteúdo,
coleta, compilação, escrita e organização das informações componentes
dos dicionários.
Wiegand (1984) propôs a teoria geral da descrição lexicográfica
que tem como extratos a teoria dos textos lexicográficos que pressupõe
que as obras lexicográficas são formadas por diferentes estruturas
textuais e a teoria da definição lexicográfica que pressupõe a descrição
relevante da unidade lexical, uma das estruturas textuais mais
importantes das obras lexicográficas.
A teoria da descrição lexicográfica parte do princípio que a
elaboração de uma definição lexicográfica deve utilizar a linguagem
natural como referência para o consulente de forma a identificar

41
expressões familiares no lugar de um enunciado com linguagem
tecnicamente rebuscada e distante do diálogo e comunicação natural do
cotidiano.

Quando o lexicógrafo explicar o significado de


um lema em um dicionário monolíngue para um
usuário em potencial desse dicionário, devem
pensar exatamente da mesma maneira que os
falantes da língua. O enunciado deve ser como
nos diálogos cotidianos com os significados de
cada parte em resposta as interrogações. O
trabalho do lexicógrafo deve dar conta de explicar
o significado de um lema. Os resultados deste
trabalho deve ter semelhança com as explicações
do significado possivelmente oferecidas por um
falante em diálogo cotidiano. Muito mais do que
definições cientificas concentrada em fatores
naturais e sociais comuns as definições e
expressões acadêmicas para termos técnicos.
(WIEGAND, 1983. p. 17. Tradução nossa 14)

Antes de apresentarmos em que consiste a teoria da descrição


lexicográfica é importante esclarecer alguns dos conceitos utilizados por
Wiegand na discussão dos pressupostos da teoria da definição
lexicográfica e da teoria dos textos lexicográficos.
Wiegand (1983. p. 22) apresenta o conceito de meaning-as-use
baseado na ideia que as pessoas não fazem separação entre a linguagem
e o mundo. Interessa à elas saberem a forma adequada de fazer uso das
palavras e qual a sua forma usual para a comunicação com outras
pessoas. A compreensão do conceito do mening-as-use é importante

14
(When lexicographers explain the meaning of a lemma-sign in a monolingual
dictionary to a potential user of the dictionary, they must on principle proceed
exactly the same way as speakers of the same language do in everyday
dialogues about the meanings of parts of utterances that have been questioned.
At all events, the activities of the lexicographer when explaining the meaning of
a lemma-sign, and in particular the results, of these activities, show a greater
similarity to the explanations of meaning given by speakers in everyday
dialogues than to the procedures and definitions of natural and social scientists
defining expressions belonging to academic and scientific usage and thereby
creating technical terms.)
42
como pressuposto tanto para a teoria da definição lexicográfica quanto
para a teoria dos textos lexicográficos.
Outro termo a ser esclarecido é definição lexicográfica. Esse
termo não é adotado por Wiegand, ele considera que o termo definição
lexicográfica se confunde com a entrada do dicionário, a representação
através do nome que sintetiza de forma abreviada o que vem a ser a
palavra entrada ou se confunde com o significado em forma de
expressão descritiva e explicativa do sentido da palavra entrada. Outra
distinção importante é que a palavra entrada e o significado formam o
conjunto de informações nomeado como artigo lexicográfico. O artigo
lexicográfico se constitui do texto de instrução linguística do usuário do
dicionário a procura de determinada palavra para saber como fazer seu
uso. (WIEGAND, 1983. p. 19; 20; 27)
No lugar de definição lexicográfica é utilizado o termo paráfrase
lexical, cujo conceito parece mais eficiente para dar conta da ideia de
declaração resumida sobre a utilização de uma palavra entrada do
dicionário. Em forma de um breve enunciado se explica como empregar
determinada palavra com um ou mais sentidos. O enunciado não se
concentra na redação das propriedades do signo linguísticos mas
discorre e estabelece relação entre as informações importantes da
palavra entrada com as informações familiares ao usuário e a forma de
que vai fazer uso. (WIEGAND, 1983. p. 22)
Outra concepção importante a ser entendida é o texto-usual e o
texto-não-usual. O texto-não-usual é aquele produzido no diálogo
natural e cotidiano e o texto-usual é aquele que compõe a paráfrase
lexical. O texto-usual é um enunciado com expressões orais e escritas
que pertencem a um determinado nível referencial e predicativo da
língua. O texto-não-usual é um enunciado flexível com expressões que
formulam perguntas e respostas a partir dos dados formulados no texto
usual. O texto usual é formado por dados, características e propriedades
dos elementos da linguagem utilizada para formular texto-não-usual na
comunicação diária. (WIEGAND, 1983. p. 24)
A teoria dos textos lexicográficos se baseia na ideia que as
informações lexicográficas são organizadas em forma de estruturas
textuais. As diferentes formas textuais apresentam a descrição
lexicográfica das entradas e seus significados para os usuários dos
dicionários. Os artigos lexicográficos contam com os dados oferecidos
pela paráfrase lexical uma dessas estruturas textuais. A paráfrase lexical

43
se apresenta na forma de texto-usual com expressões de referência para
se fazer uso da palavra entrada dos dicionários. (WIEGAND, 1983. p.
27)
A teoria da definição lexicográfica consiste da tarefa de elaborar
um conjunto de dados com explicações relevantes sobre uma palavra
entrada do dicionário. As informações da definição lexicográfica devem
conservar certa familiaridade para o consulente, que pode esperar
maiores esclarecimentos através de conteúdos extras oferecidos pelo
artigo lexicográfico. Nessa perspectiva a paráfrase lexical tem um
caráter contextual para o consulente e caráter descritivo explicativo para
o lexicógrafo. (WIEGAND, 1983. p. 21)
Wiegand (1983. p. 25) faz a ressalva que não há critérios ou
métodos determinantes para a descrição lexicográfica, a partir dessa ou
daquela informação, que deve ou não deve compor o predicado, o
enunciado ou a paráfrase lexical. A descrição lexicográfica envolve um
processo de escolha e decisão das informações, mas essa seleção deve
levar em conta as propriedades desses dados, prevendo o alto grau de
usabilidade e que essas informações na forma de texto usual sirvam de
referências para a comunicação em forma de texto-não-usual.
Os princípios teóricos meta-lexicográficos apresentados na teoria
da descrição lexicográfica norteiam essa reflexão sobre, quais as
diretivas importantes para o trabalho de elaboração do artigo
lexicográfico. A metodologia meta-lexicográfica contribuiu com
critérios das formas de tratamento das unidades léxicas e o conjunto de
informações estruturais relevantes na composição do artigo
lexicográfico. Os princípios teórico metodológicos meta-lexicográficos
são utilizados como fundamentos nessa pesquisa, assim como,
contaremos com as proposições de autores que basearam seus estudos
nos princípios meta-lexicográficos.

2.2 Uma breve contextualização da critica a existência de uma teoria


lexicográfica

A Meta-lexicografia como já foi apontada por alguns autores,


representou uma grande contribuição para a sistemática da Lexicografia.
No entanto, a existência de uma teoria lexicográfica foi questionada e a
seguir apresentamos o ponto de vista de alguns autores sobre esse
assunto.

44
Rundell (2012. p. 52) apresenta algumas ponderações sobre os
estudos meta-lexicográficos desenvolvidos por Wiegand. Destaca alguns
dos estudos sobre questões importantes, tais como: o domínio dos
falantes nativos sobre sua própria língua, o conhecimento geral de
mundo e a influência cultural no uso dos dicionários, as experiências
sobre a forma como as palavras são organizados no léxico mental do
falante de uma língua. No entanto, observa que muitos desses estudos
apresentam a tendência de compartimentar, catalogadas, hierarquizar as
informações distribuídas em numerosos diagramas extensos com seus
títulos e subtítulos sobre o assunto. Ha informações que são
demasiadamente analisadas a partir de dicionários utilizados como
fontes de dados, pouco indicados para soluções de problemas práticos da
comunicação imediata. Na opinião de Rundell, isso torna essas
discussões pouco representativas para constituir uma teoria para
embasamento da prática lexicográfica.
Rundell (2012. p. 53; 54) faz observações sobre a teoria da
definição lexicográfica apresentada por Wiegand na forma de diagrama.
A disposição das informações é hierarquizada, fracionadas em
categorias com sentidos catalogados segundo o modelo teórico de
definição lexicográfica. Uma breve descrição do diagrama da definição
lexicográfica de um componente entrada simples mostra as
características do modelo teórico. A definição indica ênfase e
problematização exaustiva do elemento entrada, dispõe de diferentes
sentidos, classe gramatical, definição e exemplo. Apresenta legendas,
abreviaturas, notações e codificação referentes aos elementos da
microestrutura em disposição hierárquica. A codificação indica a
sequencia da classe gramatical que segue o sentido correspondente a
entrada precedente a definição, exemplo e abonações.
Para Rundell (2012. p. 55) na atualidade um projeto de dicionário
conta com trabalho eficiente dos responsáveis pela editoração e banco
de dados que prevê as informações essenciais para as obras
lexicográficas. Primeiro é feita a identificação dos componentes das
entradas do dicionário, então, é feita a descrição desses componentes,
quais as informações, quando usá-las e os dados a serem incluídos ou
excluídos. As informações componentes da entrada são incorporadas
em um Document Type Definition que define a ordem interna da
entrada, os componentes obrigatórios e a sequência, um esquema mais

45
simplificado do modelo teórico de definição apresentado em forma de
diagrama por Wiegand.
Rundell (2012. p. 53; 54; 57) faz a ressalva que muitos dos
aspectos problemáticos da definição lexicográfica foram resolvidos
pelos lexicógrafos e editores dos dicionários modernos. A medida mais
simples foi adotar uma linguagem menos ambíguas para apresentar as
informações aos consulentes sem grande intervenção dos teóricos da
Lexicografia. A teoria lexicográfica seria mais eficaz dizendo ao
lexicógrafo como desenvolver a tarefa da definição lexicográfica.
Muitos outros aspectos são mais úteis para a tarefa da definição
lexicográfica tais como: para que servem, quais as informações
componentes ideais, quando as expressões são melhores substituições
das definições convencionais, qual o valor atribuído pelo consulente
para determinada definição. E as questões importantes para a
Lexicografia nas últimas décadas são: a) projeto de utilização adequada
de corpus linguísticos, b) aproximação da Lexicografia dos estudos de
processamento da linguagem natural, c) a natureza da palavra seus
sentidos e suas relações contextuais sintáticas d) as diferentes
abordagens de elaboração da definição, e) o tratamento das expressões e
f) o acesso automático de dados lexicais em corpora.
É válido ressaltar que uma concepção teórica precisa ser situada
em um dado momento e contexto de sua história. A Meta-lexicografia
fez parte do movimento de pesquisadores, em todo o mundo, que deram
início a reflexão teórica metodológica lexicográfica. Os estudiosos
teorizaram o processo de elaboração dos dicionários já constituído de
história e prática lexicográfica. A Meta-lexicografia, como o próprio
nome sugere, é a própria Lexicografia com autonomia para tratar das
questões pertinentes ao seu metiê. A perspectiva de teoria lexicográfica
é a ideia de um conjunto de conceitos e métodos capazes de prever
novos fenômenos. Ou seja, a Lexicografia desenvolveu formas técnicas
de fazer os dicionários em meio a um processo de transformação de
concepção, teor e princípios de elaboração existente e futuros.
O estudo teórico meta-lexicográfico teve o papel de organizar o
corpo de conhecimento e os métodos desenvolvidos para a elaboração
dos dicionários ao longo de sua história. Impulsionaram novas
investigações, abordagens e proposições teóricas conceituais para os
dicionários. Delimitou o campo de conhecimento da Lexicografia e
estabeleceu relação de interdisciplinaridade com outras áreas do saber,

46
reconhecidas como importante subsídio para a prática lexicográfica.
Dividiu a investigação lexicográfica em especialidades, de forma a
contribuir mais significativamente na produção dos dicionários.
O próprio Wiegand (1983. p. 25) como já mencionamos
anteriormente, ressalta que não há métodos com formulas para a
descrição lexicográfica. Há premissas na escolha das informações e
desenvolvimento da tarefa, que leve em conta a linguagem em estado
natural não afetada por um tecnicismo exagerado para os propósitos da
definição lexicográfica.
Podemos dizer que a teoria lexicográfica acima de tudo
desencadeou um processo de reflexão sobre a prática lexicográfica.
Desempenhou papel e função instrumental na qualidade de metodologia
descritiva sem o propósito de ser normativa ou prescritiva do trabalho
lexicográfico.
Outra coisa importante foi a Lexicografia ter se constituído como
área do saber com princípios teóricos e práticos próprios a prática
lexicográfica. Mas desenvolveu uma dinâmica de pesquisa e prática
lexicográfica em constante diálogo com outras disciplinas acadêmicas
com contribuições mutuas na construção teórica metodológica
transformadora dos dicionários.
De acordo com Tarp (2012. p. 322) o questionamento da teoria
lexicográfica tem relação com a ideia do que é ou não é científico. A
perspectiva que considera a ciência com o propósito de explicar os
fenômenos naturais, situa os fenômenos não científicos na esfera da arte
e do ofício. Na área da Lexicografia, a tradição anglo-saxão faz a
distinção entre o conhecimento científico e não científico que justifica a
inexistência de uma teoria lexicográfica, como veremos a seguir. Henri
Béjoint (2010: 381 apud. Tarp, 2012. p. 223) define a teoria como um
sistema de ideias que da conta de explicar os fenômenos científicos.
Portanto, uma ciência conta com as teorias, enquanto, um ofício não
carece de tais teorias. Existe teorias da linguagem mas a Lexicografia é
um ofício de elaboração dos dicionários. Embora essas obras tenham se
tornando mais científicas, não fizeram da Lexicografia uma ciência que
disponha de suas teorias.
Para Tarp (2012. p. 323) a perspectiva sobre o que é científico
tem outros pontos de vista diferentes da tradição acadêmica anglo-
saxão. Como esse ponto de vista que apresenta o conceito de ciência
extraído do Philosophisches Wörterbuch (Buhr e Klaus 1971. p. 1083;

47
1169) que define a ciência como um sistema de conhecimento com
propriedades de estabelecer relações de causas naturais, sociais e
filosóficas. A ciência é capaz de formular conceitos, categorias, leis,
teorias, hipóteses que constituem a base do domínio de conhecimento
humano que se constitui sua história, teorias e desenvolvimento técnico
com propósitos práticos. Este conceito de ciência reconcilia teoria e
prática que caracteriza o desenvolvimento de qualquer área de
conhecimento e atividade humana. Partindo desse ponto de vista, a
Lexicografia satisfaz as qualidades de área de conhecimento e
desenvolvimento de atividade humana. A Lexicografia tem seu próprio
objeto de investigação fruto de planejamento, design, produção e uso
prático. A prática lexicográfica se baseia em categorias de conceitos,
teorias e hipóteses, conta com a história da Lexicografia e dos
dicionários. Apresenta contribuições efetivas em termos de metodologia
para a prática lexicográfica e uso dos dicionários.
Podemos considerar que o conceito de científico em Lexicografia
se refere a produção de conhecimentos sobre como fazer dicionários. A
prática antes estigmatizada como intuitiva ou aleatória, apresenta uma
sistemática baseada na reflexão teórica metodológica da produção de
dicionários. A Lexicografia desenvolveu um processo de trabalho
peculiar com diretivas e critérios próprios. A Meta-lexicografia
apresentou de forma organizada os conteúdos das diretrizes do trabalho
lexicográfico. Mostrou as possíveis especialidades do estudo
lexicográfico para o desenvolvimento da pesquisa e reflexão crítica
sobre os dicionários. E propôs um programa descritivo dos conteúdos e
procedimentos da elaboração das informações componentes das obras
lexicográficas.
O próprio Wiegand (1983. p. 13) afirmou claramente que não
considerava a Lexicografia como uma ciência e julgava que ela nunca se
tornaria uma ciência. Os propósitos das atividades científicas são a
produção de teorias e esse não é o propósito das atividades
lexicográficas. A Lexicografia se dedica a tarefa metalexicográfica, que
consiste na escrita sobre e para o próprio trabalho que desenvolve.
Assim como Tarp (2012. p. 327) também afirma ser importante
admitir que a produção de dicionários não é uma ciência e também não
se propõe a ser uma teoria. É uma prática que desenvolveu um ofício
historicamente reconhecido por todas as sociedades. O desenvolvimento
dessa prática não exclui a investigação sobre os dicionários. O estudo

48
reflexivo sobre essas obras submetidos a observação, estudos empíricos
e teóricos. Que resulte na formulação de diretrizes e generalizações
sobre a origem, os modos de elaboração e as inovações dos recursos
utilizados no trabalho e produção lexicográfica. Importa que o estudo
dessa prática seja resultante das concepções capazes de instruir e
inspirar a produção das novas obras lexicográficas.
Revisitar o conceito de Meta-lexicografia parece desnecessário
diante do cenário lexicográfico atual, que inclusive, conta com novas
proposições teóricas metodológicas. Rundel (2012) faz ponderações
sobre novos paradigmas da teoria para a Lexicografia em contraposição
as contribuições e limitações da Meta-lexicografia. Kleparski e
Odarczyk-Stachuraska (2008) também apresentam outros modelos de
teoria para a Lexicografia. As outras teorias propostas para a
Lexicografia fogem ao escopo e propósito de pesquisa com o interesse
de compreender e mostrar a importância da Meta-lexicografia para os
estudos lexicográficos. Essa pesquisa não se propõe e nem considera
necessário a defesa da Meta-lexicografia, nosso objetivo é apresentar
algumas diretivas básicas mas essenciais para reflexão do trabalho
lexicográfico.
Essa pesquisa se propôs a situar o conceito de Meta-lexicografia
em um breve histórico e pontuar a importância dessa concepção teórica
metodológica para a prática lexicográfica. Procurou evidenciar que as
atuais questões relevantes para a Lexicografia são desdobramentos das
pesquisas meta-lexicográficas desenvolvida a partir de um processo de
reflexão da própria prática de fazer dicionários. Assim mostrar, que as
obras lexicográficas antes vistas como manufaturas passam a ser
encaradas como objeto de estudo mais criterioso e científico. Para isso, a
investigação lexicográfica se especializou e compartilhou interesses de
pesquisa em comum com outras disciplinas acadêmicas, problematizou
e explorou aspectos antes não estudados nos dicionários.
A breve contextualização sobre a pesquisa lexicográfica se propôs
a apresentar o processo de consolidação dessa disciplina acadêmica, a
delimitação do corpo de conhecimentos e a definição do seu objeto
estudo. A definição de suas duas vertentes investigativas teórica e
prática, constituintes da construção metodológica responsável pelas
diretivas e desenvolvimento do trabalho lexicográfico.
A continuidade dessa reflexão apresenta o desenvolvimento da
Lexicografia e as questões atuais para o trabalho e produção

49
lexicográfica. O avanço tecnológico teve forte influência sobre o
trabalho lexicográfico e a partir dos apontamentos de alguns autores
faremos algumas considerações sobre o processo de incorporação dos
recursos técnicos pela Lexicografia.

2.3 As contribuições da tecnologia para a Lexicografia

A Lexicografia contou com o desenvolvimento tecnológico que


ofereceu grande contribuição para a qualidade da pesquisa e obra
lexicográfica. O desenvolvimento da informática, principalmente dos
microcomputadores, foi determinante para o avanço do
desenvolvimento metodológico, em termos de recursos para o trabalho
lexicográfico. O desenvolvimento de processadores capazes de
armazenar grande volume de dados através dos hardwares e sistemas
operacionais com criação de programas, softwares e a revolucionária
interconexão da rede mundial de computadores a internet se tornaram
agentes transformadores da comunicação, da informação e da cultura em
todo o mundo.
De acordo com Escobar (2006. p. 2) a informática e as
tecnologias transformaram o panorama dos estudos filosóficos e
linguísticos. Um exemplo disso foi a criação da disciplina linguística
computacional que fez uso da inteligência artificial , ou seja, o emprego
do computador com simulação da capacidade humana em resolver
problemas para o estudo das questões linguísticas. Foi assim que
surgiram os estudos com técnicas de análise dados informatizados da
morfologia, fonologia e sintaxe das línguas. Os programas para
produção e edição de textos eletrônicos e os sistemas de tradução
automática.
Segundo Rundell (2012. p. 64) a lexicografia fazendo uso da
tecnologia se deu a partir da experiência de aliar a prática lexicográfica
com a técnica, a teoria da linguagem e a engenharia linguística. Essa
aliança contribuiu tanto para a pesquisa quanto para a elaboração dos
dicionários. A linguística computacional alavancou o desenvolvimento
do corpora e a construção de softwares foram utilizados, entre outros
propósitos, para automatização de dados lexicais em benefício do
trabalho lexicográfico.
Cabe antes de prosseguir essa reflexão, fazer esclarecimentos das
terminologias Linguística Computacional e Corpus linguísticos (no

50
plural chamado de corpora) mencionadas. Esses assuntos fogem ao
escopo e interesse dessa pesquisa que se propõe apenas apresentar as
definições a seguir. A Linguística Computacional é uma disciplina que
desenvolve sua investigação estabelecendo relações entre as áreas da
linguística e da informática para a construção de sistemas
informatizados capazes reproduzir informações relativas a língua
natural. (VIEIRA e STRUBE de LIMA, 2001 apud PACHECO, 2009.
p. 55) Um corpus linguístico tem base computacional e consiste das
coleções de textos das línguas produzidos em situações naturais de
forma que são organizados, sistematizados e colocados a disposição da
investigação dessas línguas (BIBER, 1995, p. 31; Hunston, 2002, p. 23
apud PACHECO, 2009. p. 49).
Voltamos a discussão sobre o desenvolvimento da Lexicografia e
das tecnologias. Observamos que os recursos técnicos foram
facilitadores do acesso a informação, a comunicação e a realização das
atividades humanas, inclusive, impulsionando o desenvolvimento da
pesquisa científica. A pesquisa lexicográfica foi beneficiada
principalmente no processo de automação de muitas de suas atividades.
Muitas das tarefas lexicográficas mais laboriosas passaram a ser
realizadas por sistemas operacionais programados com funcionamento
automático e independente da ação humana. Para a Lexicografia, a
informática colocou ao encargo da máquina muitas das tarefas manuais,
dispendiosas maximizando o tempo e eficiência do trabalho
lexicográfico.
Segundo Biderman (1984) o computador assumiu o trabalho
mecânico de compilação, classificação, ordenação, organização e
redação do grande volume de dados que compõe a obra lexicográfica. A
máquina passou a realizar as tarefas repetitivas com maior precisão
tornando a produção da obra lexicográfica mais completa e qualificada.
O lexicógrafo passou a se dedicar a pesquisa e seleção das informações
reunidas na forma dos textos a serem lançados e processados pelo
computador. O computador serve como ferramentas de controle das
informações, armazenamento dos dados, recuperação da informação
para comparação e análise da pesquisa e elaboração das obras
lexicográficas.
Escobar (2006. p. 9) pontua a influência da informática sobre
todas as etapas de execução do trabalho lexicográfico. A primeira etapa
do trabalho de documentação, redação e revisão. A segunda etapa de

51
reunir e selecionar os dados para compor a obra lexicográfica. A terceira
etapa final do desing propriamente a produção do dicionário nos
diferentes formatos: convencional impresso, digital, eletrônico, on-line,
entre outros sistemas especializados na forma de corpora. Para essas
etapas do trabalho, destaca duas grandes transformações da informática
que são: a base de dados informatizada e a ferramenta de produção e
edição de texto.
Escobar (2006. p. 5) explica que a Lexicografia passou a dispor de
ferramentas para realizar a tarefa da compilação, documentação das
formas das unidades léxicas com seus significados para compor os
dicionários de forma automatizada. A base de dados mais do que
apenas reunir informações sobre a língua significaram a constituição de
métodos de elaboração dos dicionários com as vantagens de reunirem
dados constantemente atualizados. Permitiu o recurso de comparação e
revisão do trabalho lexicográfico em execução. Ofereceu parâmetro de
uniformidade na estruturação dos artigos lexicográficos. E serviu de
referencial de fundamentação da pesquisa e produção dos dicionários.
Os apontamentos sobre o desenvolvimento da informática e a
capacidade dos computadores com dispositivos, programas e sistemas
para reproduzir e armazenar informações tem o objetivo de mostrar que
inicialmente a Lexicografia incorporou os recursos automatizados para
auxilio do trabalho prático. A base de dados tornou possível aos estudos
linguísticos, reunir e documentar conjuntos de informações diretamente
da fala de uma língua. Antes, os pesquisadores contavam com fontes
escritas para obter os dados de seus estudos, fruto do trabalho penoso,
por vezes impreciso e limitado acesso dessas informações. As
tecnologias inicialmente serviram como ferramenta de apoio da etapa
manual e metódica da tarefa lexicográfica.
Correia (2008. p. 5) considera que a capacidade gradativa de
armazenamento e gerenciamento de informação através do
desenvolvimento da base de dados resultou na criação do conceito de
corpus linguístico, uma das principais mudanças na produção
lexicográfica. Embora o conceito de corpus linguísticos seja usualmente
atrelado à informação computadorizada, esse conceito não é tão recente
e contemporâneo aos computadores. As pesquisas linguísticas sempre se
basearam em conjuntos de dados significativos em termos de número de
informação. Os dados se apresentavam na forma de textos, frases,
palavras e expressões, coletadas e documentadas com grande esforço do

52
pesquisador. Esses eram os recursos, fontes e banco de dados
disponíveis para o pesquisador lidar com as informações. O recurso
tecnológico tornou o corpus linguístico, no plural chamado de corpora,
mais eficiente e independente das escolhas do lexicógrafo que passa a
contar com o computador para a coleta das informações. O banco de
dados informatizado foi uma ferramenta determinante para a construção
dos corpora e revolucionou a análise de dados mais criteriosa.
Escobar (2006. p. 7; 8) aponta o programa de produção e edição
de texto como outra ferramenta indispensável que a informática colocou
a disposição da Lexicografia. Os processadores de textos podem ser
considerados como uma revolução do computador capaz de reproduzir a
escrita, organizar e armazenar dados, com a possibilidade de modificar,
adicionar e excluir informações no formato de texto. Essa ferramenta
contribuiu com a qualidade da análise, tratamento e controle das
informações componentes dos dicionários. Um exemplo da contribuição
dos programas de editoração de textos foi a conversão dos dicionários
impressos em dicionários digitais, que disponibilizou obras clássicas
reeditadas na versão eletrônica digital.
O desenvolvimento atual da pesquisa e da prática lexicográfica
dispensa informações que parecem básicas, mas tem o objetivo de
mostrar o processo de incorporação gradativa dessas ferramentas e
recursos elementares responsáveis pela transformação do fazer e do
produto final lexicográfico. Houve uma transição do emprego da
tecnologia auxiliar da prática lexicográfica para a concepção de
dicionários informatizados com alteração do formato tradicional
impresso para o formato eletrônico digital e on-line. Um processo que
instituiu um novo paradigma de pesquisa teórica metodológica e
produção dos dicionários.
Rundell (2012. p. 72; 73) contextualiza nos anos 90 o início da
lexicografia eletrônica e a utilização de meios digitais para o formato
das informações dos dicionários. Nesse período ocorre a passagem do
velha forma de comunicação da informação em por meio do papel
impresso para as novas multimídias e plataformas eletrônicas. Essas
transformações impulsionaram o repensar da prática lexicográfica tanto
a pesquisa quanto a prática e sistemática da produção dos dicionários. O
novo paradigma da produção lexicográfica produziu modelos de
dicionários livres das limitações do suporte físico. Os problemas da
versão impressa solucionados através das convenções de códigos e

53
abreviaturas e economias das frases para oferecer o máximo de
informação em espaço limitado, se tornaram coisa do passado.
Os termos, eletrônico e digital foram adicionados aos nomes dos
dicionários e se referem aos novos suportes utilizados na produção
dessas obras. Escobar (2006. p. 10) explica a diferença dessa
terminologia. O termo digital se refere ao sistema de codificação da
informação na forma magnética em contraposição a forma analógica
para se referir ao papel. O termo eletrônico se refere a superfície física
material de registro da informação. Portanto o uso do termo dicionário
eletrônico pode se referir ao formato do suporte utilizado para registro
da informação ou a natureza da codificação da informação.
Outro aspecto importante nesse processo de mudança do suporte
material dos dicionários foi a conversão dos dicionários impressos
existentes em digitalizados. Escobar (2006. p. 11) explica os tipos de
dicionários não impressos. O dicionário máquina, aquele que faz parte
de um sistema e realiza correção ou tradução automática no computador.
O dicionário digitalizado, aquele em versão impressa que foi convertido
em linguagem e suporte digital com suas informações armazenadas em
mídia ou no próprio computador. O dicionário digital criado nesse
formato com suporte CD-ROM e internet.
A mudança do suporte dos dicionários significou uma nova
concepção da obra lexicográfica que conservou algumas características
mas adotou nova linguagem com configurações e características
peculiares das suas informações.
Para Escobar (2006. p. 12; 13; 14) os dicionários digitais
conservaram as informações textuais semelhantes aos dicionários
impressos. No entanto, a disposição, acesso e recursos de busca das
informações se tornaram bem diferentes. As obras digitais se
caracterizam pela versatilidade e dinamismo comparadas as obras
impressas rígidas e estáticas. A forma de apresentação através das
interfaces, as formas de buscas, em categorias mais simplificadas e mais
avançadas, com capacidade de localizar diferentes tipos de dados. Os
elementos multimídia se destacam como recursos importantes dessas
obras. O hipertexto significou um grande avanço na dinâmica da
consulta, principalmente das remissões e referências cruzadas. Os
multimeios na forma de vídeo, imagem, texto e som enriqueceram e
interligaram as informações. E finalmente essas obras dispõem da

54
grande capacidade de atualização dos seus dados em constante
transformação.
Os dicionários digitais tiveram uma grande mudança no formato
e disposição das informações, a apresentação dos dados lexicográficos
passou a contar com os elementos multimeios adquirindo características
peculiaridade para os dicionários. A característica diferente e mais
evidente é a apresentação, organização e estruturação hipertextual das
informações lexicográficas. Para melhor entendimento das
características do novo modelo lexicográfico apresentamos o conceito
de hipertexto.
Segundo Lara-Filho (2003. p, 2-5) o termo hipertexto foi criado
por Theodor Nelson na década de 60. O hipertexto propõe uma solução
para as limitações do suporte em papel. O computador se mostrou
propício para organização e conexão de textos e imagens que operem de
forma semelhante ao pensamento não-linear. Nessa perspectiva foi
criado o termo hypertext que consiste da apresentação das informações
não sequenciais em diferentes formatos de texto, imagem, som entre
outros dados interligados. São inúmeras as possibilidade de percursos e
leituras de um documento, a partir do hipertexto. Um bom exemplo de
hipertexto é o sistema operativo da World Wide Web - WWW. O acesso
as informações, em nesse ambiente, seja texto, imagens e sons, tudo
interconectados que permitem ir de um documento a outro através das
ligações chamadas de links.
O hipertexto se tornou um dos conceitos principais da linguagem
digital e exerceu forte influência na dinâmica e funcionamento dos
dicionários. Nesse processo outros conceitos foram surgindo, se
estabelecendo e se tornando relevantes para a nova configuração
eletrônica digital dos dicionários.
De acordo com Storrer (2011. p.3), para entender o sistema dos
dicionários eletrônicos digitais, é importante conhecer alguns dos
artifícios do hipertexto, que explicam o mecanismo dessas obras. Um
elemento importante é o hiperdocumento constituído, a partir da base de
dados informatizada, que forma o conteúdo do hipertexto. Os hiperlinks
são considerados como uma rede de nós com interligação das
informações hipertextuais. A hipermídia é a capacidade de apresentação
dos dados em formatos gráficos, fotográficos, videográficos,
sonorizados e textualizados. A literatura por vezes usa a nomenclatura

55
multimídia no lugar de hipermídia, mas ambas, significam a capacidade
de combinação de meios também chamados de multimeios.
A partir das definições e conceitos de alguns elementos da
linguagem digital é possível maior compreensão sobre a forma de
organização, estruturação e funcionamento das obras lexicográficas.
Segundo Storrer (2011. p. 4) alguns dos aspectos mais
importantes dos dicionários digitais podem ser caracterizados por:
estrutura, formato da informação e interação do consulente. Os
dicionários impressos se caracterizam por sua estrutura sequencial, que
pressupõe responder o consulente e conduzi-lo a encontrar o item
específico, alvo de seu questionamento. Enquanto os dicionários
digitais, subvertem essa estrutura tradicional em estruturas não
sequenciais. A estrutura não sequencial propicia percursos flexíveis e
ainda prevê diferentes tipos de informações. São informações objetivas
que contêm dados de caráter essencial e informações subjetivas que
contêm dados adicionais ao interesse da consulta. Os multimeios foi o
grande diferencial em relação ao dicionário tradicional que contava com
a linguagem escrita e veio incorporar dispositivos de imagem, vídeo e
som ao corpo de informações. E finalmente, a interação do consulente
com as obras, estabeleceu um modelo padrão de buscas sendo
incorporados refletindo diretamente na configuração dos dicionários.
Um exemplo do efeito dessa interatividade, são as inovações na
interface, campos de pesquisa e categorias de buscas avançadas, caixas
de diálogo e a permissão da colaboração e intervenção dos usuárias
nessas obras lexicográficas. (STORRER, 2011. p. 5; 7; 8, 10)
A nova configuração dos dicionários eletrônicos digitais
propiciou outras possibilidades de organização e estruturação
lexicográfica, a partir do hipertexto, hipermídias e outras ferramentas
que se colocaram a disposição da Lexicografia. Mas algumas diferenças
entre o formato impresso e eletrônico digital dos dicionários, tiveram
implicações para a concepção do que são essas obras. A partir das
considerações de alguns autores procuramos mostrar os efeitos das
mudanças do produto e da concepção dessas obras.
Na sequencia, serão pontuadas algumas das transformações do
formato digital e suas implicações, do ponto de vista teórico,
metodológico e prático para a elaboração dessas obras.
Müller-Spitzer (2009. p. 3) utiliza a estrutura textual como base
para refletir questões teóricas e práticas sobre os dicionários eletrônicos

56
digitais. Um primeiro aspecto a ser apontado, é a dificuldade dos
dicionários eletrônicos digitais em apresentarem uma estrutura textual
concisa em comparação aos dicionários impressos. A razão dessa
dificuldade é a impossibilidade da visualização de todo o conjunto de
elementos componentes dessas obras. As implicações da não visualidade
são: a imprecisão das informações lexicográficas como um todo e a
indeterminação das informações referentes a macroestrutura e a
microestrutura. A importância da delimitação desses constituintes
textuais lexicográficos é mostrar um conjunto finito de elementos com
conteúdo tangível e determinado. Os dicionários eletrônicos e on-line
normalmente apresentam parcialmente os seus conteúdos pois sua
totalidade não convencionalmente palpável e delimitada como nas obras
impressas.
A nova configuração dos dicionários eletrônicos digitais oferece
mais recursos, informações e acesso inovador aos dados. Por outro lado,
não permite a noção de todo o conteúdo da obra a disposição para
consulta. É importante levar em conta, que essas obras estão sujeitas ao
funcionamento dos sistemas operacionais, com a vantagem da filtragem
da informação a disposição do consulente. No entanto, ao mesmo tempo
em que, os filtros colocam inúmeras possibilidades a disposição da
consulta, essas informações são resultado da seleção automática que
seguem padrão de programação. Sendo assim, os dicionários digitais
apresentaram avanço significativo para o trabalho lexicográfico, mas
ainda são significativas pesquisas para o desenvolvimento de
metodologias que também tragam soluções para algumas das
problemáticas pertinentes as obras nesse formato.
Para Nielsen (2011. p. 2; 3) os dicionários on-line tem
organização estrutural complexa, um reflexo dos novos meios de
veiculação dos dados lexicográficos. A começar pela macroestrutura,
que não segue a ordem em lista de palavras, assim como, na
macroestrutura tradicional dos dicionários impressos. A macroestrutura
desses dicionários dispõe de um sistema operacional responsável por
armazenar, compilar e processar seus dados. Esse conteúdo pode ser
localizado a partir da interface, através de campos de preenchimento, em
uma ordem aleatória, para seu acesso. A macroestrutura foi substituída
por um banco de dados, com dispositivo de saídas e entradas de
informações, acionadas em ordem pré-determinada pelo sistema
operacional, de acordo com as solicitações do usuário.

57
Nielsen (2011. p. 3; 8) trata algumas das implicações do formato
digital on-line para a definição lexicográfica. Muitos dos dicionários
tradicionais impressos contavam com definições lexicográficas gerais,
contendo explicações e conceitos abrangentes a partir de um referencial
amplo. Essas definições lexicográficas visavam sua aplicação a
qualquer proposta lexicográfica. Nos dicionários on-line se tornou mais
fácil as definições lexicográficas multiconceituais, a partir de conteúdo
mais diversificado em termos de especificidades da consulta. A
definição lexicográfica dessas obras se tornou apta para informar
conhecimentos gerais ou específicos sobre alguma coisa respondendo a
questão sobre "o que é como funciona e como se relaciona com outros
conceitos ou palavras". A noção de definição lexicográfica concentrada
em um conceito com um significado deu lugar a ideia de conceitos e
significados variados, possíveis de serem apresentados por essas obras
com configuração eletrônica digital on-line.
Os dicionário concebidos a partir de recursos e ferramentas
tecnológicas apresentaram avanços e transformações importantes em
termos de estrutura e qualidade de suas informações. As inovações
afetaram de maneira radical, as características físicas, a linguagem e a
configurações dessas obras. Mas essas transformações lançaram
desafios práticos e metodológicos para a Lexicografia. O
desenvolvimento de um processo de incorporação dos recursos técnicos
para auxilio da tarefa lexicográfica e posteriormente se tornou a forma
de concepção e produção lexicográfica. Contudo, independente do
formato, seja impresso ou eletrônico digital on-line, os dicionários
continuam sendo objeto de reflexão metodológica da elaboração das
informações constituintes dessas obras.
Os princípios meta-lexicográficos ainda parecem ser
fundamentais para o trabalho de produção dos dicionários. Tendo em
vista que, propõe a elaboração de informações lexicográficas a partir de
um processo de ponderação sobre o teor desses dados, independente do
formato da obra. Dessa forma, a Meta-lexicográfia continua oferecendo
diretrizes para a elaboração das informações constituintes dos
dicionários. Baseado nessa ideia, a seção seguinte desse capítulo,
apresenta uma visão geral sobre as estruturas principais das quais são
formados os dicionário e alguns dos seus componentes. E faz
apontamentos sobre a organização e forma de elaboração da definição

58
lexicográfica, segundo critérios meta-lexicográficos, o objeto de
interesse dessa investigação.
2.4 Conceitos gerais sobre o dicionário e a elaboração da definição
lexicográfica

Nessa seção apresentamos uma reflexão com os princípios


teóricos metodológicos de elaboração das informações lexicográficas.
Faremos a apresentação e explicação sobre o tratamento geral
dispensado as informações principais da obra, entre as quais, está a
definição lexicográfica. Dessa forma, será abordado qual o tratamento
aplicado aos elementos constituintes da macroestrutura e microestrutura,
antes de se fazer apontamentos específicos sobre a definição
lexicográfica.
Toda pesquisa faz um recorte metodológico, esse estudo se
concentra na investigação e análise da definição lexicográfica. No
entanto, uma abordagem do tratamento lexicográfico de outros
elementos constituintes dos dicionários pode contribuir com outras
investigações. Além disso, as estruturas do dicionário são formadas por
componentes interdependentes que exercem influência uns sobre os
outros no desenvolvimento do tratamento lexicográfico. Dessa forma,
foi feita uma breve explanação da organização das estruturas e
componentes principais dos dicionários e uma seção foi dedicada a
definição lexicográfica.
Para abordagem da tarefa lexicográfica, foi escolhido o Manual de
Técnica Lexicográfica de autoria de José Álvaro Porto Dapena. A
referência utilizada, serviu como um guia teórico metodológico e
descritivo sobre o tratamento lexicográfico aplicado aos componentes
da obra, com ênfase para os critérios na elaboração da definição das
unidades do repertório léxico.
Dapena (2002) trata sobre a elaboração do dicionário da língua
espanhola, sua obra foi escolhida pelo teor didático com que explica os
procedimentos realizados na tarefa lexicográfica. O manual é baseado na
teoria meta-lexicográfica que fundamenta essa pesquisa. Dapena (2002)
apresenta abordagem teórica e ao mesmo tempo prática da tarefa
lexicográfica. Nas ponderações do autor, são apresentados exemplos em
língua espanhola, que foram traduzidos de forma livre para a língua
portuguesa. Pois, essa pesquisa tem como foco as orientações para a
elaboração da definição lexicográfica, recorte metodológico para estudo
59
dos repertórios léxicos. Serão pontuados aspectos gerais das estruturas
principais dos dicionários, tendo como foco a definição lexicográfica
sua situação como elemento constituinte da obra.
Dapena (2002) apresenta proposições teóricas e práticas, que
aborda aspectos históricos, tipologia de dicionários própria a
lexicografia prática: com a planificação dos dicionários, compilação de
corpus lexicográfico e a lexicografia teórica metodológica que lhes são
próprias as estruturas dos dicionários: macroestrutura e microestrutura.
Dois capítulos da obra são dedicados a definição lexicográfica, um
capítulo é referente aos aspectos gerais e outro capítulo é referente a
implementação dos diferentes tipos de definição lexicográfica. Nessa
pesquisa o foco de interesse e recorte metodológico é para a elaboração
da definição lexicográfica, em que consiste e quais os critérios de
elaboração desse item lexicográfico. A partir dessa abordagem
metodológica, usaremos esses critérios para a análise comparativa das
informações dos repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira.

2.4.1 Aspectos gerais sobre a estrutura dos dicionários

Algumas considerações iniciais destacam aspectos e características


principais dos dicionário. Apresentamos uma ideia geral do que consiste
um dicionário, tendo como foco, as estruturas principais e sua forma de
organização na obra. Dessas estruturas principais, são destacados os
elementos constituintes, seu arranjo e disposição nessas obras. As
ponderações sobre as estruturas principais e organização nos dicionários
objetivam situar a definição lexicográfica, elemento constituinte foco de
análise desse estudo.
Para Dapena (2002. p. 35) o dicionário é uma obra de fins práticos
pedagógicos, que serve para atender as necessidades concretas de
esclarecer dúvidas sobre as palavras da língua, de maneira eficiente e
objetiva. Em termos gerais o dicionário poderia ser considerado como
uma descrição do léxico, através do estudo individual de cada artigo
lexicográfico. O dicionário dispõe de estruturas com organização global
e atomística do léxico da língua. Toda a estrutura é baseada na
metodologia de tratamento das entradas, todas ordenadas, prevendo o
fácil acesso das informações para consulta.
A ideia sobre as estruturas com organização global e atomística
ficam mais claras a partir da definição de macroestrutura e

60
microestrutura. Dapena (2002. p. 135) explica que todo dicionário é
constituído e organizado em torno dos dois eixos chamados de
macroestrutura e microestrutura. A macroestrutura é composta da
listagem das unidades léxicas que compõe a nomenclatura da obra e sua
disposição feita mediante o critério de ordenação. A microestrutura
corresponde ao conjunto dos artigos lexicográficos que oferecem
informações relativas a cada uma das unidades léxicas listadas na
nomenclatura.
A estrutura global é representada pela macroestrutura do
dicionário, ela sintetiza um corpo formado pelas unidades léxicas que
compõem a obra. A estrutura atomística concentra os dados específicos
e descritivos correspondentes a cada unidade particular.
Cabe esclarecer o sentido de alguns conceitos mencionados em
meio as ponderações sobre a macroestrutura e a microestrutura.
Segundo Dapena (2002. p. 136; 137) o termo entrada é próprio da
Lexicografia, e nesse contexto também pode ser chamado de lema, lexia
ou ainda lexema. O conceito de entrada é objeto, em torno do qual, se
concentra o artigo lexicográfico e se for comparada a categoria de
palavra é uma unidade léxica, assim como qualquer outra. A entrada é
elemento constituinte do artigo lexicográfico. A unidade léxica é
representada pela palavra que forma um conjunto chamado de
vocabulário, assim como, o léxico reúne todas as suas unidades ou todas
as palavras da língua. E finalmente o termo ordenação corresponde a
sequencia criteriosa das entradas do dicionário.
Todos esses termos são aplicados na preparação da
macroestrutura dos dicionários. Os procedimentos e critérios envolvidos
na escolha e distribuição das entradas, são os aspectos em torno dos
quais, se concentra a tarefa de organização da macroestrutura. A seleção
das entradas listadas a serem incluídas ou excluídas, é submetida a
parâmetros e quesitos, para os quais, são feitas algumas observações.
A estruturação da macroestrutura depende de dois parâmetros
classificados como extralinguístico e linguístico. Dapena (2002. p. 170;
171; 172) explica o parâmetro extralinguístico, como sendo aquele que
estabelece a função da obra, a partir de dois aspectos: o número de
entradas determinante do tamanho do dicionário e o público alvo a quem
se dirige e possa interessar. Os dados indicam o conjunto das palavras
priorizadas e o fator ideológico que decidiu a inclusão ou exclusão
dessas unidades léxicas. Um exemplo, são as palavras pejorativas,

61
embora muitas não apareçam nos dicionário, são frequentes e utilizadas,
nesse caso, o fator ideológico é decisivo para a inclusão ou exclusão
dessas palavras da lista das entradas.
Para Dapena (2002. p. 173; 174) o parâmetro linguístico, segue
alguns quesitos de inclusão e exclusão das entradas eleitas para o
dicionário. O quesito da frequência determina um método por estatística.
A compilação dos vocábulos de maior frequência de uso, se baseiam
nesse método e mostram através do maior uso da palavra uma forma de
comparação e seleção entre todas as outras. A decisão entre os
vocábulos, levam em conta a frequência da palavra na língua oral,
embora as vezes, não seja tão frequente na língua escrita. Ha vocábulos
mais frequentes em uma região do que em outras localidades, outro fator
de escolha das entradas. O quesito de correção linguística, implica na
escolha apenas de vocábulos legitimados e reconhecidos pela tradição
da língua. Nesse caso, os estrangeirismos passam pelo crivo da norma
com aprovação ou reprovação da incorporação do neologismo nos
dicionários. O quesito diferencial, se refere a análise dos vocábulos
dialetais das variantes da língua, outro fator de inclusão ou exclusão das
entradas, de forma padrão ou de forma excepcional.
A partir da conclusão da etapa de seleção das entradas, a tarefa
seguinte é a ordenação, responsável pelo arranjo ou disposição na
macroestrutura. A ordenação também pode ser chamada de lematização
ou encabeçamento das entradas dos artigos lexicográficos. O termo
lematização está relacionado ao termo lema, uma das formas já
indicadas de se denominar a entrada, portanto a ordenação dos lemas
pode ser chamada de lematização.
Dapena (2002. p.174; 175; 176) trata a tarefa da ordenação como
uma forma de estabelecer a sequencia criteriosa das entradas e
subentradas dos artigos lexicográficos. A entrada é o dado em destaque,
de abertura, principal do artigo lexicográfico, que também conta, com
subentradas que ocupam lugar no interior do artigo lexicográfico. As
subentradas seguem alguns critérios de ordem sucessiva e de prioridade.
Em primeiro lugar está o substantivo, na sua falta seu lugar é ocupado
pelo verbo, assim sucessivamente, o adjetivo, o pronome e o advérbio.
As entradas que encabeçam o enunciado do artigo, seguem algumas
regras. No caso dos substantivos, se elege a forma masculina singular
seguida da terminação feminina singular. Os adjetivos e pronomes,
também respeitam a mesma regra. Os verbos seguem regras da tradição

62
lexicográfica, que apresenta a forma infinitiva sem fazer distinção a
pessoa, tempo, modo ou número das outras formas de flexão.
Há alguns tipos diferentes de ordenação das entradas, que tornam
essa tarefa mais específica devido os procedimentos necessários em
relação a estruturação da macroestrutura.
Dapena (2002. p. 178; 180) classifica a ordenação das entradas
em alfabética, ideológica, etimológica e estadística, afirmando que esses
procedimentos, sempre têm propósitos práticos de tornar o conteúdo o
mais fácil possível para consulta. A ordenação alfabética é conhecida
como a mais comum, recorrente e fortemente associada aos dicionários.
Os outros tipos de ordenação são favorecidas pela sequência alfabética.
A ordenação ideológica segue a lógica semasiológica. A ordenação
semasiológica parte do assunto em direção a palavra, o assunto serve
para orientação da lista das entradas. A ordenação onomasiológica, parte
da sequencia alfabética da ortografia das palavras. A ordenação
estadística, segue a lógica da frequência de uso das entradas, é baseada
no critério de vocabulário usual ou culto. A ordenação etimológica se
concentra na raiz do étimo das entradas, agrupadas em famílias com a
mesma raiz. Quanto as subentradas seguem a ordem alfabética,
mediante a sequência de prioridades das classes a que pertencem.
Iniciaremos algumas observações gerais sobre a microestrutura
do dicionário, é nela que se concentra os dados mais descritivos
referentes as entradas dos artigos lexicográficos. A microestrutura é um
corpo de informações distribuídas entre os artigos lexicográficos que
sintetizam o conteúdo correspondente a unidade léxica.
Dapena (2002. p. 182) considera que os dicionários possuem
divisões, assim como, outras obras são divididas em partes introdutórias,
apresentações, capítulos e parágrafos. Os dicionários têm um conjunto
de artigos lexicográficos, com conexões entre eles, que seguem uma
ordem alfabética ou arranjo específico dos conteúdos referentes. Com as
devidas proporções relativas ao tipo de obra, suas características são
mais ou menos comuns umas as outras. A microestrutura reúne e
oferece várias informações voltadas para o significado da unidade
léxica, por meio das acepções e da definição lexicográfica, um dos seus
dados centrais.
A microestrutura é formada por núcleos de dados descritivos, que
são os artigos lexicográficos com as acepções e significado das entradas.

63
Começamos a tratar sobre a microestrutura, a partir de duas
características importantes do artigo lexicográfico.
Dapena (2002. p. 183) diz que o artigo lexicográfico tem parte
enunciativa e parte informativa. O dado enunciativo corresponde a
palavra que se declara ou se anuncia como entrada do artigo
lexicográfico. O dado informativo corresponde aos tópicos da
pronúncia, classificação, etimologia e significação. O artigo
lexicográfico sempre deve contar com esses dois tipos de dados.
Existem obras que consistem em lista de palavras, cujo dado enunciativo
satisfaz os propósitos específicos das unidades léxicas. No caso de
remissões, que consistem na correlação entre significado referenciado
nas entradas em diferentes pontos do dicionário, também predomina o
dado enunciativo. Além de fazer a distinção entre a entrada e o corpo do
artigo lexicográfico, evitando o equivoco comum entre esses dois
constituintes lexicográficos.
Dapena (2002. p. 184) ressalta que é comum a confusão entre o
que é entrada e o que é artigo lexicográfico, tratados erroneamente como
sinônimos. A entrada é uma unidade léxica, na condição de
representação com caráter abstrato e parte da nomenclatura. A
nomenclatura consiste no conjunto das entradas ou unidades léxicas,
essas são as menores unidades constituintes do léxico apresentado no
dicionário. E o artigo lexicográfico se constitui da parte enunciativa e da
parte informativa, na forma concreta da palavra-entrada e na forma dos
dados descritivos.
Dapena (2002. p. 191) delimita o plano da microestrutura a partir
de algumas características e aspectos pertinentes, a alguns dos
elementos constituintes. Faremos algumas ponderações sobre quais são
os componentes do artigo lexicográfico. A parte enunciativa
correspondente a entrada, dado central listado na macroestrutura e
elemento secundário na discussão sobre a microestrutura. Os dados
informativos são os que interessam para essa o artigo lexicográfico,
referentes: 1) pronuncia, 2) classificação, 3) etimologia e 4)
significação, resultado do tratamento lexicográfico.
Para Dapena (2002. p. 191; 192; 193) o tópico informativo inicial
referente a "pronúncia" é dado que apresenta a transcrição fonética da
palavra, através do alfabeto fonético internacional - IPA. Essa
informação é fundamental, no caso de línguas que a ortografia da
palavra é muito diferente da pronuncia. A transcrição da pronuncia

64
representa a norma, a palavra isolada do contexto da fala, em condições
ideais teria tal pronuncia que lhe seja mais comum. O dado referente a
"classificação" apresenta a categoria gramatical, a qual pertence ou
mais de uma contemplada como dado do artigo lexicográfico. O dado
"etimologia" apresenta a breve evolução do vocábulo, compromisso da
Lexicografia atua em oferece informação sobre a transformação da
palavra. O dado "significação" é a informação de maior importância
para os dicionários.Podem ser de caráter comuns ou especiais, ou seja,
significação comum pertencente ao domínio geral dos falantes e a
significação especial pertencente ao domínio de aquisição do vocábulo
em contexto específico ou variedade peculiar da língua.
Dapena (2002. p. 195; 196; 197) fala sobre a atividade de redação
do dicionário, que implica na difícil e fundamental tarefa de separação
das acepções, em conjunto com a elaboração das respectivas definições.
É importante dizer o que se entende por acepção. Existe a perspectiva
que a palavra dispõe do verdadeiro significado empregada no discurso,
em contraposição a esse pensamento, a palavra representada pelo signo
é parte de um sistema com relações e oposições entre as unidades
léxicas e seus paradigmas. Portanto, o seu significado é abstrato, ideal e
se manifesta segundo a norma, nas diversas variantes, chamadas pelos
linguistas de acepção. Essa perspectiva é a mais aceita pela lexicografia
tradicional.
De acordo com Dapena (2002. p. 209; 211; 225; 226; 227), a
determinação das acepções se baseia no significado mais comum com
possíveis variações para a mesma palavra. O procedimento geral de
determinação das acepções consiste em salientar seus diferentes
significados. O procedimento deve seguir o princípio da simplicidade,
número mínimo, coeso e suficiente para a palavra. Quanto o
procedimento de ordenação, obedece cinco critérios. O critério
cronológico, que parte daquelas julgadas mais antigas para as mais
modernas. O critério etimológico, que parte do exercício da construção
do processo de significações disponíveis referentes a palavra. O critério
lógico, que pressupõe relações de intersecção entre elas para sua
ordenação. O critério de frequência, que parte das mais utilizadas para
as menos utilizadas. O critério empírico, consiste na ordenação por
categorias considerando as variações das funções da palavra ao longo da
história da língua.

65
Apresentamos de forma muito geral as características das
estruturas principais dos dicionários, ou seja, a macroestrutura e a
microestrutura. Fizemos destaque para o objeto de maior atenção de
cada uma dessas estruturas e algumas noções do tratamento aplicado
para os seus elementos constituintes.
Na sequencia passaremos para a reflexão sobre a definição
lexicográfica. Apresentamos em mais detalhes os procedimentos de
tratamento dedicado para esse item, considerado específico e de maior
importância no artigo lexicográfico. As implicações do tratamento
aplicado ao seu conteúdo, são decisivos para a consistência das
informações satisfatórias, segundo os princípios meta-lexicográficos.

2.4.2 A elaboração da definição lexicográfica

A definição lexicográfica é assunto de principal importância para


a Lexicografia teórica que se propõe a estabelecer os métodos de sua
elaboração com qualidade satisfatória das suas informações. Se propõe a
realizar o tratamento lexicográfico por meios práticos e criteriosos dos
dados pertinentes a unidade léxica.
Dapena (2002) descreve as especificidades e os complicadores
que envolvem o tratamento da unidade léxica sintetizado na elaboração
da definição lexicográfica.

De todas as atividades do lexicógrafo a mais difícil, e


por vezes a mais comprometida é sem dúvida a
definição, a qual é o ponto que sempre tem
despertado maior interesse entre os estudiosos da
lexicografia teórica ou metalexicografia, se
constituindo na principal armadilha dentro da
redação lexicográfica e ao mesmo tempo, é o ponto
que concentra muitas das críticas dirigidas aos
dicionários monolíngues tradicionais. Na verdade
devemos reconhecer que as definições dos
dicionários são pouco levadas a sério, tanto por parte
dos usuários quanto por parte dos lexicógrafos. Os
usuários com demasiada frequência tem que
enfrentar as imprecisões, circularidades e pistas
perdidas. E os lexicógrafos para não se
comprometerem demasiadamente defendem
justificando o valor aproximado, vale dizer inexato,
das definições amparados nos objetivos práticos do

66
dicionário, como se o prático estivesse em desacordo
com o rigor científico. (DAPENA, 2002. p. 266;
267 15. Tradução nossa.)

A definição lexicográfica mostra ser um componente


lexicográfico com especificidades e particularidades, que exigem um
trabalho apurado e criterioso. Portanto, contar com um método e
princípios de elaboração desse item lexicográfico, parece ser o caminho
para a apresentação de informações consistentes.
No entanto, Dapena (2002. p. 267) ressalta que existe um
pensamento sobre a impossibilidade de se chegar a uma sistemática da
definição lexicográfica, com o controle das tentativas de aproximações
costumeiramente utilizadas. O contrário desse pensamento pessimista, é
pensar na definição baseada em princípios metalexicográficos, que
venham a romper com práticas ineficiente de elaboração dessas
informações.
É importante ter em mente que os princípios e critérios
apresentados, não se propõe a ser um modelo fechado que pressupõe um
ideal do que venha a ser correto ou incorreto. A definição lexicográfica
não deve se justificar apenas através de conteúdos aproximados mas o
teor das informações devem buscar atender os quesitos da descrição
eficiente de uma palavra. Dapena (2002. p. 268) salienta que importa
entender em que consiste a definição lexicográfica. Até que ponto as
explicações ou equivalências contidas no artigo lexicográfico, são
suficientes para apresentarem a definição da respectiva entrada. Cabe

15
De todas las actividades del lexicógrafo la más difícil, y a la vez más
comprometida es sin duda la definición, la cual pese a ser el punto que siempre
ha despertado mayor interés entre los estudiosos de la lexicografía teórica o
metalexicografia, constituyendo el principal escollo dentro de la redacción
lexicográfica y la mismo tiempo, el punto sobre que se han vienido cnetrando en
buena medida las crítica dirigida diccionario monolingüe tradicional. La verdad
es que, en general, debemos reconocer que las definiciones de los diccionarios
suelen tomarse poco en serio, tanto por parte de los usuarios, que con demasiada
frequencia tienen que enfrentarse a imprecisiones, circularidades y pistas
perdidas, como de los proprios lexicográfos , que, para no y lexicógrafos para
no cometerse demasiado, se defienden senalando el caráter meramente
aporoximativo, vale decir inexacto, de sus definiciones, característica que
justifican a vez amparándose en las metas exclusivamente práticas que busca el
diccionario, como so lo prático estuviera reñido con el rigor científico
67
saber, quais são os princípios básicos indispensáveis para a elaboração
adequada e eficiente.
Dapena (2002. p. 268) faz a ressalva, que a definição
lexicográfica, para qual, faz suas considerações são aquelas mais
comumente encontradas nos dicionários monolíngues. Os dicionários
bilíngues mais frequentemente apresentam equivalências para as
entradas. Com algumas exceções, a entrada requer a tradução por não
haver termo equivalente entre as duas línguas, nesse caso, a entrada
conta com informações características de definição.
Dapena (2002. p. 269; 270) inicia nomeando dois elementos da
definição lexicográfica. O elemento entrada, denominado como
"definido" ou "definiendum". O elemento expressão explicativa
correspondente a definição, denominada como "definidor" ou
"definiens". A expressão definidor usa a mesma língua do definido,
sendo valido dizer que, ocorre um fenômeno de metalinguagem, em que
se utiliza a própria linguagem como instrumento para tratar sobre ela
mesma. Essa metalinguagem se classifica de duas formas. A
metalinguagem de signo, que expressa algo sobre aquilo que a palavra-
entrada representa. A metalinguagem de conteúdo, é a expressão em
palavras com valores suficientes para explicarem um significado. Para
entender melhor a metalinguagem da definição lexicográfica pode ser
utilizado o caso das definições tachadas como inapropriada. Que
necessariamente não se trata da deficiência do significado formulado,
mas sua construção a partir de palavras com valores insuficientes para
explicação do definido a partir do definidor.
A elaboração da definição lexicográfica segue um conjunto de
parâmetros, com princípios de adequação do conteúdo e forma dos
dados escolhidos para compor o significado da palavra-entrada.
Traremos a descrição em detalhes desses critérios e quesitos que
fundamentam a construção desse item lexicográfico.
Dapena (2002. p. 271) aponta os requisitos para a elaboração da
definição lexicográfica, a partir de seis princípios referentes ao conteúdo
e a forma. Com caráter geral, são dois critérios: equivalência e
comutabilidade ou substituição, de caráter particular também são dois: a
identidade categorial ou funcional e um princípio subdividido em:
análise, transparência e autossuficiência.
Dapena (2002. p. 271) descreve o princípio de equivalência,
baseado na ideia do definidor contendo todos os dados necessários

68
referentes ao definido, representando a equivalência total, em termos de
extensão e compreensão dos seus dados. Um exemplo será dado para
mostrar o princípio de equivalência: no caso de "Homem" um animal
mamífero 16, este cumpre o critério da extensão, mas não atende o
critério de compreensão, pois não é somente o homem que é mamífero.
Outro exemplo 1 - Homem: animal racional, esse cumpre os dois
critérios, de forma objetiva diz que o homem é aquele dotado de
racionalidade 17. O princípio de equivalência consiste no definido e
definidor capaz de dizer a mesma coisa, cada um da sua forma. Seu
caráter geral serve como regra que orienta outros critérios em suas
devidas particularidades. Pois, cada critério específico exerce influência
mutua entre si e precisam ser considerados na elaboração da definição
lexicográfica.
Dapena (2002. p. 272; 273) descreve o critério de
comutabilidade, mais evidente quando a definição for formulada a partir
da metalinguagem de conteúdo. Ou seja, existe equivalência de sentido
entre o definidor e o definido, atendendo a regra da comutabilidade ou
substituição. Os três exemplos a seguir mostram a aplicação dos
critérios de comutabilidade ou substituição. Exemplo 1 - Enlouquecer:
tornar-se louco, exemplo 2 - Embaixada: residência do embaixador e
exemplo 3 - Marroquino: natural de Marrocos. 18 A equivalência entre
palavra-entrada e a expressão explicativa permite a substituição de uma
pela outra, preservando o sentido exato. Mas a definição formulada em
metalinguagem de signo não funciona da mesma maneira. A
equivalência entre o definido e o definidor, ocorre no plano da
representação da palavra, mas não ocorre no plano do sentido. Um
exemplo pode explicar mais claramente "Ser", o verbo que afirma o
atributo do sujeito 19. Não é possível a substituição do definido pelo
definidor ou, isso não implica em afirmar a definição como incorreta
mas observar a exceção em relação ao critério de comutabilidade.
Dapena (2002. p. 274; 275) indica o critério de identidade
funcional, que se cumpri em definições formulada a partir da
metalinguagem de conteúdo. A identidade funcional, tem a categoria

16
Tradução nossa de Hombre. Animal mamífero.
17
Tradução nossa de Hombre. Animal racional.
18
Tradução nossa de Enlouquecer.1 - Volverse loco. 2 - Embajada. Residencia
del embajador. 3 - Marroquuí. Natural de Marrocos.
19
Tradução nossa de Sea: verbo que indica el tema del atributo.
69
gramatical do definido como referência para o teor das informações
apresentada pelo definidor. Vejamos através dos exemplos, 1 - Sopeira
(substantivo): vasilha redonda para servir a sopa na mesa, exemplo 2 -
Feliz (adjetivo): que goza de felicidade 20. Nota-se o teor gramatical das
informações do definidor de acordo com a categoria gramatical do
definido. No caso de definições em metalinguagem de signo, não
seguem o mesmo funcionamento, como indicam o exemplo 1 - Escravo
(substantivo): pessoa submetida ao domínio de outra e carece de
liberdade. Nesse caso o definidor não traduz em síntese a categoria
gramatical de substantivo. Sendo assim, seguir os critérios de identidade
funcional entre outros, não exclui a possibilidade de exceções a regra.
Dapena (2002. p. 275; 276; 277) descreve o critério subdividido
em: análise, transparência e autossuficiência. Em termos de análise,
esse pressupõe o sentido autêntico das palavras para a representação do
definido por meio do conteúdo do definidor, sem desconsiderar que as
palavras devem ser conhecidas e de uso corrente. Ainda em termos de
análise, todas as palavras, além de autênticas, devem estar disponíveis
no dicionário, atendendo o quesito da autossuficiência. No que se refere
a transparência, está associado, tanto a análise quanto a autossuficiência,
pois requer a apresentação clara e simples da definição.
Concluímos esse capítulo com essa seção, que apresentou os
princípios de elaboração da definição lexicográfica, segundo critérios
meta-lexicográficos, propostos para aplicação do tratamento das
unidades de um repertório léxico. Faremos também um resumo desses
critérios e seu emprego como instrumento de análise dessa pesquisa.
Primeiro se estabeleceu a definição lexicográfica constituída de
dois elementos principais: o "definido" que é a representação na forma
de palavra-entrada dos verbetes e o "definidor" que é a expressão
explicativa da palavra-entrada representada. Esses dois itens são
apresentados através da metalinguagem, de signo e conteúdo. A
metalinguagem de signo é expressa na palavra-entrada. A
metalinguagem de conteúdo é expressa nas palavras com valores
suficientes para explicação do significado.
Em termos de princípios gerais são eles: equivalência,
comutabilidade, identidade categorial e um princípio subdividido em:
análise, transparência e autossuficiência. O principio de equivalência,
20
Tradução nossa de 1 - Sopera. (sustantivo). Vasija honda en que se sirve la
sopa en la mesa. 2- Feliz (adjectivo). Que tiene o goza felicidad.
70
consiste no definidor dispor de todos os dados suficientes e abrangentes
do definido, tanto em sua extensão, quanto em sua compreensão. O
princípio de comutabilidade estabelece que o teor da informação do
definidor e do definido, permite a substituição de um pelo outro,
garantindo o sentido equivalente entre os dois itens. Cumpre-se na
expressão em metalinguagem de conteúdo, exceto em metalinguagem de
signo. A razão, é que a metalinguagem de conteúdo é eficiente no plano
da significação, mas não opera da mesma forma no plano da
representação do definido e do definidor. O princípio de identidade
categorial, tem a categoria gramatical do definido como referência para
formulação do definidor. Cumpre-se na expressão em metalinguagem de
conteúdo, exceto em metalinguagem de signo. A razão, é que o
definidor é representado por uma expressão não sintética o bastante para
servir como representação da categoria gramatical do definido. E ha o
princípio subdividido em: análise, transparência e autossuficiência. Em
termos de análise, trata da formulação de um conteúdo, a partir de
palavras legítimas de uso corrente que representam o definido e
apresentam o definidor. Em termos de autossuficiência, trata se de todas
as palavras estarem acessíveis no dicionário. E a transparência, que
requer uma definição lexicográfica coesa, clara e eficaz na compreensão
do consulente.
A partir dos critérios de elaboração da definição lexicográfica, é
importante a observação que não se propõe um modelo correto e
incorreto ou uma receita para esse item do verbete. Mas a proposta é o
exercício atento de apreciação das informações satisfatórias para a
composição da definição lexicográfica. Pensar na construção desse item
de forma criteriosa, contando com as diretrizes meta-lexicográficas para
análise comparativa do conteúdo que deve constituir as informações
lexicográficas. Nessa pesquisa, esses critérios são utilizados como
diretivas do tratamento lexicográfico, observando as particularidades
das definições das unidades léxicas e o conjunto de informações
pertinentes e apropriadas.
Apresentamos o resumo dos critérios meta-lexicográficos que
são utilizados na análise das fontes bibliográficas, com foco na
elaboração da definição lexicográfica dessas obras. E no capítulo de
metodologia dessa pesquisa, podem ser observados os procedimentos de
obtenção dos dados a partir dos repertórios lexicográficos e o
desenvolvimento da análise comparativa da pesquisa que aplicou os

71
critérios meta-lexicográficos para ponderações sobre as informações
constituintes das definições lexicográficas encontradas nas obras
estudadas.

72
3.0 A lexicografia das línguas de sinais

As primeiras investigações sobre a língua de sinais e seus estudos


lexicográficos, foram desenvolvidas por Willian C. Stokoe na década de
60. Willian C. Stokoe, Dorothy C. Casterline e Carl G. Croneberg
produziram a obra A dictionary of American Sing Language on linguistc
Principles, considerado o primeiro dicionário da língua de sinais
americana publicado no ano de 1965. O trabalho de pesquisa de Stokoe
representou um marco inicial dos estudos linguísticos e lexicográficos
da língua de sinais americana, que inspirou outras investigações em
outros países.
No Brasil, existe uma obra de valor documental e histórico para a
lexicografia da língua de sinais brasileira que data o século XIX. Essa
obra tem o título Iconographia dos signaes dos surdos-mudos, de
autoria de Flausino José da Costa Gama, com data da publicação no ano
de 1875. Essa obra é considerada como a primeira obra contendo um
repertório lexicográfico, que mais tarde, seria incorporado à língua de
sinais dos surdos brasileiros.
A partir do século XX, as investigações sobre a língua de sinais
brasileira impulsionaram a documentação dos repertórios lexicográficos.
Foram desenvolvidas algumas formas de registros, entre outros recursos
utilizados para sua documentação. A lexicografia da língua de sinais
brasileira se fortaleceu com a formação de grupos de pesquisas em nível
de pós-graduação, que se se ampliaram e despertaram o interesse dos
pesquisadores na temática. O desenvolvimento tecnológico abriu
espaço para a reflexão sobre o paradigma lexicográfico e suas formas
de apresentação e representação, fundamentais para as línguas de sinais.
Esse capítulo apresenta aspectos históricos da lexicografia da
língua de sinais brasileira e o desenvolvimento das produções dos seus
repertórios lexicográficos. A seção 3.2 apresenta algumas ponderações,
a partir de algumas pesquisas que tratam sobre a criação da primeira
escola brasileira para surdos e a língua de sinais no século XIX. A seção
3.3 apresenta os estudos sobre a língua de sinais americana e sua
pesquisa lexicográfica, que direcionaram outro olhar para as línguas de
sinais em todos os países. A seção 3.4 trata sobre o desenvolvimento da
documentação e formas de registro da língua de sinais brasileira. E a
seção 3.5 apresenta a formação dos grupos de pesquisas e sua

73
importância para o fortalecimento da Lexicografia da língua de sinais
brasileira.

3.1 Algumas considerações sobre a língua de sinais no Brasil do


século XIX

Essa seção apresenta aspectos históricos, pontuados por alguns


autores que desenvolveram pesquisas sobre a língua de sinais brasileira
no século XIX. Rocha (1997; 2008) apresenta a trajetória da primeira
escola de surdos criada no Brasil, no período imperial, por Dom Pedro
II. A fundação dessa escola está diretamente ligada a história da língua
de sinais brasileira, tema abordado em pesquisas realizadas por
Campello (2009; 2011), Diniz (2010), Sofiato (2005; 2011), Sofiato e
Reily (2011). Apresentamos algumas ponderações sobre os aspectos
históricos abordados nas pesquisas sobre o assunto.
O Brasil, do início do século XIX, não contava com escolas que
atendiam crianças surdas. Na Europa já haviam inúmeros institutos
dedicados a instrução de alunos surdos. Na França havia o Instituto
Nacional de Surdos - Mudos de Paris, criado pelo religioso abade
Charles Michael de l' Épée. Foi quando o Brasil, em 1855, recebeu a
visita do surdo francês Eduard Huet, que veio cidade do Rio de Janeiro
com o objetivo de criar uma escola onde se tornaria professor dos surdos
brasileiros. (ROCHA, 1997. p. 4; 5).
Campello (2011. p. 10) informa que nesse período havia uma
tendência mundial de criação de escolas, com sistema de internato para
acolher e atender deficientes. Em nota, informa que nesse mesmo
período foi aceita a proposta de criação de uma escola para cegos, em
1854 quando foi fundado o Instituto Benjamin Constant.
Em 1856 Eduard Huet apresentou uma proposta de criação da
escola para Dom Pedro II, que apoiou a fundação do Imperial Instituto
de Surdos - Mudos na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1857. Eduard
Huet foi responsável pelo instituto de 1857 até 1861, foi indenizado com
pensão por sua iniciativa, indo embora do Brasil nesse ano. De 1861 até
1871 o instituto teve a nomeação de diferentes diretores. Em 1872 foi
designado Dr. Tobias Rabello Leite como diretor da escola, ele
permaneceu no cargo até 1896, o ano de sua morte. (ROCHA, 1997. p.
5; 6; 7)

74
Na gestão do instituto dirigido por Tobias Leite, foram
implementadas algumas mudanças no currículo de disciplinas, a criação
da função de professor repetidor e o enfoque no ensino profissional dos
alunos surdos. (ROCHA, 1997. p. 7) Uma ação importante de Tobias
Leite foi o apelo ao império para a realização de um recenseamento de
pessoas surdas no país. O objetivo era fazer o poder público constatar a
necessidade da criação de outros educandários, para surdos em outras
províncias. Os surdos de outras províncias eram encaminhados para
estudarem no instituto, sediado no Rio de Janeiro, a única escola
especializada para atender os alunos surdos naquela época. (ROCHA,
2008. p. 41)
O Imperial Instituto desde sua criação sob direção de Huet seguiu
a corrente da escola francesa criada por abade l'Eppé. Na gestão de
Tobias Rabello Leite, o instituto visava tornar os surdos cidadãos
capazes de realizarem algum ofício, para seu próprio sustento. Para
Tobias Leite o instituto sob sua direção não tinha o propósito de formar
homens de letras, mas tornar os surdos habilitados para utilizarem a
linguagem suficiente na interação social, assim, não estariam destinados
ao isolamento ocasionado pela surdez. A aptidão da linguagem podia ser
a competência da escrita e da vocalização. (ROCHA, 2008. p. 40; 41)
No ano de 1880, foi realizado na Itália um evento que ficou
conhecido como Congresso de Milão, onde se instituiu o método oral
que baniu a comunicação em língua de sinais na instrução dos surdos,
influenciando a educação dos surdos em todos os países. No Brasil, o
Imperial Instituto resistiu mantendo a instrução dos surdos baseada na
corrente francesa. Tobias Leite continuou defendendo a formação
profissional, o treinamento através da leitura dos lábios e escrita, sendo
o treinamento da linguagem articulada, dirigida para os surdos com
resíduo auditivo. (ROCHA, 2008. p. 45)
A partir de 1880, se configura nova perspectiva social nos países
europeus, a ideia de caridade assume segundo plano em relação ao
desenvolvimento econômico e social. Essas transformações tiveram
reflexo sobre a escolarização dos surdos. Na Alemanha e Inglaterra, o
enfoque da instrução dos surdos era torná-los capazes de exercerem
direitos e deveres. Na França e Itália, predominava o pensamento
religioso de exercício da caridade atraindo mais pessoas e fieis. Nos
Estados Unidos, havia uma preocupação em tornar as pessoas em
operários úteis e aptos para enriquecerem através do trabalho. Essas

75
tendências implicavam no tipo de formação e competência a serem
desenvolvidas pelos surdos. Dependendo da corrente de pensamento, a
instrução dos surdos seria mais voltada para o aprendizado da
vocalização, tornando-se apto para se comunicar oralmente com as
pessoas em geral. Ou a instrução seria voltada para o aprendizado dos
rudimentos da escrita, capazes de fazer a leitura dos lábios e preparados
para exercerem alguma profissão, tendo assim, seu sustento. (ROCHA,
1997. p. 10)
Sob a direção de Tobias Leite o instituto contou com iniciativas
que favoreceram a língua de sinais, uma dessas ações, foi o incentivo ao
aluno do instituto Flausino José da Costa Gama para publicar a
Iconographia dos signaes dos surdos-mudos no ano de 1875. O
incentivo da publicação da obra tinha o propósito de mostrar as
competências dos surdos formados pelo instituto e divulgar uma obra
advinda da escola, além de, "vulgarizar a comunicação preferida dos
surdos para expressarem seus sentimentos". (ROCHA, 2008. p. 41)
Essa obra se tornou conhecida como o primeiro dicionário da língua de
sinais dos surdos do Brasil.
Essa obra é representativa para a história da língua de sinais
brasileira, tendo em vista, a importância da criação do Imperial Instituto
de Surdos - Mudo de Ambos os Sexos, atualmente chamado de Instituto
Nacional de Educação de Surdos - INES, escola com sede na cidade do
Rio de Janeiro. A obra é um ponto de partida para a reflexão sobre as
formas de registro da língua de sinais brasileira, pois, é a primeira
referência impressa de repertório lexicográfica na história da produção
de dicionários da língua de sinais brasileira.
Flausino da Gama ingressou no instituto no ano de 1869 e logo
foi escolhido para ocupar a função de repetidor. Esse era um cargo
auxiliar do professor com o compromisso de acompanhar os outros
alunos surdos da instituição. A função de repetidor era uma prática
realizada pelos próprios alunos do instituto, que se destacavam em suas
competências e aptidões para assumir tais responsabilidades. A
atividade era repetir as lições do professor para os alunos, monitorar os
alunos no recreio reconduzidos de volta à sala de aula, acompanhar as
visitas recebidas na instituição, corrigir as lições dos alunos e substituir
o professor quando necessário. (ROCHA, 1997. p. 7)
Sofiato (2011. p. 59) realizou pesquisas sobre a obra de autoria
de Flausino da Gama e identificou que a obra é uma reprodução integral

76
do livro francês de autoria de Pierre Pélissier, com o título:
L’Enseigment Primaire dês Sourds-Muets Mis a La Portée de Tour Le
Monde Avec Une Inconographie des Signes do ano 1856. O trabalho de
reprodução utilizou a técnica da litogravura para impressão da obra. A
técnica litografia se tornou conhecida no Brasil a partir da segunda
metade do século XIX. As tipografias passaram a utilizar a técnica para
impressão e reprodução gráfica. Flausino da Gama realizou o trabalho
de impressão na Tipografia Universal de E. & H. Laemmerest, situada
na Rua dos inválidos, número 71, no Rio de Janeiro.
Rocha (1997. p. 8; 9) fala sobre a iniciativa de Tobias Rabello
Leite, no ano de 1871, de fazer a tradução do livro francês com o título
Methode pour enseigner aux surds-muets do autor J. J. Valade Gabel. A
tradução do livro foi publicada e teve 3 edições, com a terceira edição
mais completa. A edição inicial da obra traduzida foi distribuída para as
províncias de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Goiás, afim de,
alcançar os professores primários com alunos surdos.
É possível entender que a prática da tradução e reprodução das
obras francesas, sob aprovação de Tobias Rabello Leite, se justificasse
pela inexistência de material similar no Brasil. Tendo em vista que, as
reproduções tinham propósito nobre de melhorar a instrução e
comunicação dos surdos brasileiros, através do acesso a tais literaturas,
úteis para os professores e instituições com alunos surdos.
Segundo Sofiato e Reily (2011. p. 633; 635) a história sobre a
surdez no Brasil apresenta a Iconographia dos signaes dos surdos-
mudos, como primeiro dicionário da língua de sinais brasileira de
autoria de Flausino da Gama. A bibliografia sobre o assunto não suscita
questionamentos sobre a história, origem e sustenta uma visão um tanto
idealizada sobre a obra e seu autor. O Instituto Nacional de Educação
de Surdos - INES é apresentado como a primeira instituição a divulgar
a língua de sinais através dessa obra. Se afirma que Flausino da Gama
criou o repertório lexicográfico contido no livro. O repertório
lexicográfico da obra de Flausino da Gama é considerado como a
mistura da língua de sinais francesa com a língua de sinais brasileira.
Sofiato e Reily (2001) ressaltam a importância da precisão das
informações referente ao tema e a obra referente. A obra de Flausino da
Gama é a cópia idêntica da obra de Pierre Pélissier. Isso significa dizer
que, o INES divulgou uma reprodução de uma obra contendo a língua
de sinais francesa. Flausino da Gama não criou, mas reproduziu o

77
repertório lexicográfico integral da obra francesa. E como no Brasil não
existia material impresso semelhante a tal obra, essa foi reproduzida e se
tornou vocabulário da língua de sinais francesa incorporado pela língua
de sinais dos surdos brasileiros.
Não há dados e conhecimento sobre algum tipo de registro da
língua de sinais brasileira no século XIX, portanto, é provável que uma
das primeiras motivações para reprodução da obra fosse a carência de
materiais similares. Contudo, não se pode afirmar a inexistência de uma
língua de sinais entre os surdos brasileiros. É necessário levar em
consideração, que o isolamento dos surdos no convívio com a família,
na grande maioria falantes da língua oral, não favoreceu o contato com
seus pares. Mas se houvesse maior contato entre os surdos, isso talvez
colocaria o repertório léxico da língua de sinais em maior evidência, e
até registros tratando sobre a língua de sinais da época.
Portanto, é possível cogitar sobre a existência de uma língua de
sinais com um repertório léxico pouco compartilhado devido as raras
oportunidades dos surdos se expressarem através dos sinais. Com a
oportunidade dos surdos ingressarem no instituto, a escola se tornou
espaço propício para comunicação na língua de sinais. O contato entre
os surdos, consequentemente teria ampliando o repertório léxico da
língua de sinais com contribuição do contato com a língua de sinais
francesa. Mas todas essas ponderações são apenas reflexões, baseadas
em suposições com o objetivo de melhorar a compreensão sobre a
questão da língua de sinais no Brasil do século XIX. Mas não se tem
informações para qualquer afirmação.
Campelo (2011. p. 12; 13) também aponta o trabalho de Flausino
da Gama como uma cópia integral da obra francesa de Pierre Pélissier.
No entanto, chama a atenção para a influência da língua de sinais
francesa como base para a língua de sinais brasileira. Antes da fundação
de uma escola para surdos e antes da possibilidade de se tornarem
alunos do Imperial Instituto, já existiam surdos, público alvo da
instituição que tinha conhecimento da demanda eminente no Brasil.
Sendo assim, a criação da escola e a publicação da obra impressa
contendo a língua de sinais francesa, conferiu status e legitimidade a
língua de sinais utilizada pelos surdos do Brasil e foi propulsor da
divulgação dessa língua na sociedade brasileira.
Diniz (2010. p. 21) chama a atenção para o fato do primeiro
diretor do Imperial Instituto ser surdo e francês, portanto, E. Huet

78
possivelmente introduziu a língua de sinais francesa entre os surdos
alunos da instituição. Com a publicação da Iconographia dos Signaes
dos Surdos-Mudos, reprodução da obra francesa de Pierre Pélissier, o
vocabulário foi incorporado a língua de sinais utilizada pelos surdos do
Brasil. A comunidade escolar do atual INES, teve papel importante na
difusão do repertório lexical contido na obra. Os alunos do INES
vinham de outros estados brasileiros, estudavam no instituto no Rio de
Janeiro e regressavam para suas cidades de origem, e assim
compartilharam e ensinaram o vocabulário da língua de sinais aprendido
na escola.
Faremos agora algumas observações sobre a prática da
reprodução integral, ou seja, a prática da cópia das obras na tradição da
produção lexicográfica.
McConchie (2013. p. 107; 108) trata sobre a prática do plágio
conhecida na tradição de elaboração dos dicionários, mas não significa
que todos os antigos dicionários devam ser considerados cópias da
compilação lexicográfica de outras obras. Existem dois aspectos da
prática do plágio a serem julgadas e ponderadas. O primeiro aspecto é a
intenção mercenária, leviana, o roubo daquilo que pertence ao outro e o
lucro com a apropriação indevida. O segundo aspecto é a intenção
ardilosa e dissimulada em usar artifícios para não ser flagrado nas ações
e propósitos. Um julgamento muito objetivo entre as duas intenções,
parece mais justo, considerar que a dissimulação seja mais condenável
do que a apropriação indevida.
McConchie (2013. p. 108; 118) explica que o plágio se tornou
mais notório e entendido como crime no início do período moderno. A
palavra se tornou alvo de estudo da sua origem e conceito do latim. O
"Plagium" recebeu a definição de "homem-roubo" ou "homem-
sequestro", também, "plagarius" o "homem-ladrão" ou pessoa que
realiza a prática do rapto de crianças ou roubo de escravos de outra
pessoa. Em uma versão mais atual, o Dicionário Inglês Oxford conta
com a definição de "plágio" como "literary thief", traduzido para o
português ficaria "ladrão literário". A definição de "plágio" contribuiu
para o esclarecimento sobre o conceito e estabeleceu a prática como
ilegal e indevida. E se desenvolveram estudos para a identificação de
plágio nos dicionários, aqui denominada de plagiologia.
O breve destaque das ponderações feitas por McCochie (2013),
não tem o objetivo de aprofundamento no assunto ou nos métodos

79
utilizados para identificação de plágio em dicionários. O propósito é
mostrar que a questão do plágio é motivo de debate e de estudo na
tradição lexicográfica.
A obra Iconographia dos signaes dos surdos-mudos de Flausino
da Gama se tornou motivo de polêmica por apresentar a tradução do
repertório lexicográfico da língua de sinais francesa e por ser uma cópia
integral da obra de outro autor. Interessa dizer que a reprodução da obra
realizada por Flausino da Gama introduziu a lexicografia da língua de
sinais em discussões pertinentes a tradição lexicográfica. A obra com
valor documental e histórico foi reconhecida como o primeiro dicionário
da língua de sinais dos surdos do Brasil, até hoje desperta o interesse de
pesquisa sobre sua origem, assim como, a polêmica de ser uma
reprodução integral de uma obra francesa.
Cabe algumas considerações finais dessa seção, em relação a obra
ter sido reconhecida como o primeiro dicionário da língua de sinais no
Brasil do século XIX, assim como, seu apoio pelo Imperial Instituto. É
importante dizer que o propósito de Tobias Rabello Leite não se
concentrou propriamente na divulgação do repertório lexicográfico da
língua de sinais. Ao que parece, o objetivo do Imperial Instituto,
continuava sendo capacitar os surdos para a vocalização, a escrita, a
leitura dos lábios e a prática de algum oficiam. Podemos dizer então
que, o apoio a reprodução da obra realizada por Flausino da Gama, tinha
motivações didáticas e metodológicas para auxiliarem os professores e
instituições responsáveis pela instrução dos surdos.
Como já mencionamos, Tobias Rabello Leite apelou ao poder
público para que houvesse incentivo na criação de outros centros de
atendimento dos surdos localizados em outras províncias. A instituição
realizou a tradução de outra obra francesa, com teor metodológico, para
distribuir para vários estados brasileiros. Essas iniciativas demonstram a
preocupação do Imperial Instituto com a metodologia do ensino dos
surdos. Podemos ariscar em dizer que, haveria o interesse de instituir um
modelo de ensino em outras províncias. Mas não há dados para qualquer
afirmação do gênero, sendo possível apenas suposição sobre a questão.
Outro fator que pode ter influenciado o apoio na divulgação do
método de ensino do Imperial Instituto, é a função de repetidor ocupada
pelo autor da obra. Flausino da Gama foi preparado para instruir outros
surdos no modelo de formação voltado para a vocalização, escrita e
leitura dos lábios. Podemos cogitar que, o interesse na reprodução da

80
obra francesa, primeiro, seria o mérito da autoria e segundo, seria a
produção de um material útil para auxiliar no desenvolvimento das
competências previstas pela formação do instituto.
Flausino da Gama era surdo, possivelmente apreciava o
vocabulário em língua de sinais e na função de repetidor, pode ter sido o
maior responsável em fazer o vocabulário conhecido pelos estudantes da
instituição. Uma vez que, os exemplares da obra certamente tinham
destino estabelecido e o acesso ao conteúdo do material tinha que ser
através dos professores e repetidores. Também é importante levar em
conta que os alunos surdos do instituto possivelmente já eram
familiarizados com a língua de sinais francesa introduzida por E. Huet.
A obra apresentou um vocabulário sistematizado, que até então, os
surdos do instituto possivelmente não tivessem acesso em outros
materiais impressos do mesmo tipo.
Concluímos essa seção a partir dessas considerações sobre a
língua de sinais dos surdos brasileiros no Brasil do século XIX. Tendo
como referência a obra que se tornou conhecida como o primeiro
dicionário da língua de sinais brasileira. A próxima seção será dedicada
as pesquisas desenvolvidas por Willian Stokoe que, realizou estudos de
teor linguístico e lexicográfico, importantes para as línguas de sinais e
sua lexicografia até os dias de hoje.

3.2 Os estudos sobre as línguas de sinais americanas e a sua


Lexicografia

William C. Stokoe Jr. foi pesquisador americano que se tornou


conhecido como um dos mais importantes estudiosos que investigou a
língua de sinais americana e sua lexicografia. Os seus trabalhos de
pesquisa mais conhecidos e importantes são, um artigo publicado em
1960 com o título "Sign Language Structure: An Outline of the Visual
Communication Systems of the American Deaf" 21 e a obra de William
C. Stokoe Jr. com Dorothy C. Casterline e Carl G.Croneberg, publicada
em 1965, considerada o primeiro dicionário da língua de sinais

21
Estrutura da língua de sinais: um esboço do sistema de comunicação visual
dos surdos americanos (tradução nossa).
81
americana com o título "A dictionary of american sing language on
linguistic principles" 22.
O artigo de Stokoe (1960) apresenta um levantamento sobre a
história da língua de sinais a partir do século XVIII e XIX. Faremos
destaques de alguns dos apontamentos sobre os estudiosos da língua de
sinais francesa, para entender o caminho que conduziu a pesquisa
lexicográfica realizada por Stokoe.
O abade L'Eppé foi um religioso educador dos surdos em Paris.
Criou um método de ensino da escrita e da leitura para surdos. O
educador francês, foi o primeiro a observar a existência de um tipo de
comunicação natural entre os surdos e se dispôs a aprender,
incorporando os sinais a sua metodologia de ensino. O meio de
comunicação dos surdos recebeu o nome de "linguagem natural de
sinais" e a metodologia de ensino ganhou o nome de sistema de "sinais
metódicos". L'Epée é autor da obra "L’institution des sourds et muets,
par la voie des signes méthodiques de 1776, onde explica o método que
criou para o ensino dos surdos. (STOKOE, 1960/2005. p. 4; 5)
Roch-Ambroise Sicard, discípulo do abade l'Epée e seu sucessor
como educador de surdos o Institut Nationale des Sourds-Muets de
Paris. Algumas obras teriam recebido o nome do abade Charles-Michael
de l'Épée, entre elas, um dicionário da língua de sinais francesa
concluído pelo abade Roch-Ambroise Sicard. Essa obra em dois
volumes com o título Théorie des signes é do ano de 1808, cujo
conteúdo foi dividido em temas e traduzido nos “sinais metódicos”.
Sicard seria autor da obra "Signes des mots, considérés sous le rapport
de la syntaxe á l’usage des sourds-muets, também do ano de 1808,
voltado para o ensino do vocabulário do francês para os surdos.
(STOKOE, 1960/2005. p. 7)
Roch-Ambroise Auguste Bébian escreveu a obra com o título
Mimographie, ou essai d’écriture mimique propre á régulariser le
langage des sourds-muets no ano de 1825. A obra é a primeira tentativa
de criação de um sistema de escrita para a linguagem natural de sinais.
Bébian criou um sistema de símbolos com representação para as mãos e
partes do corpo, além de, alguns diacríticos com denotações de
expressões faciais tais como: interrogação, exclamação e reverência. O
sistema de símbolos de Bébian foi considerado muito numeroso por
22
Dicionário da língua de sinais americana sob princípios linguísticos (tradução
nossa).
82
Remi Valade. Em contrapartida, Valade escreveu a obra Études sur la
lexicologie et la grammaire du langage natural des signes no ano de
1854, onde propôs um dicionário de francês-sinais, com entradas em
francês e respectiva informações etimológicas gramaticais traduzidas na
linguagem natural dos sinais. O que significava que a palavra em
francês dispunha de um correspondente na linguagem natural dos sinais
e sua escrita. (STOKOE, 1960. p. 8)
Pierre Pelissier escreveu a obra L’enseignement primarire des
sourds-muets mis à la portée de tout le monde avec une iconogprahic
des signes no ano de 1856, propondo um manual da língua de sinais
francesa. Pélissier tinha uma proposta diferente das outras existentes.
Por ser surdo, instruído e educador de outros surdos, se diferenciava dos
outros autores franceses, que eram gramáticos e interessados na língua
de sinais. Pélissier não foi um teórico da língua de sinais francesa,
através de sua iconografia tinha o objetivo de tornar a língua de sinais
francesa aceita como natural e útil para o aprendizado dos surdos. O
manual da língua de sinais francesa, contem 400 desenhos, com
instruções dos movimentos das mãos, a partir, de uma sistemática de
setas, pontilhados e linhas. O esquema de orientação dos movimentos
das mãos para a realização das unidades lexicais da língua de sinais
francesa, foi significante para outros repertórios lexicográficos, que
seguiram o mesmo modelo e esquema de orientação. (STOKOE, 1960.
p. 9)
Autores americanos escreveram obras com teor de manual da
língua de sinais americana. Joseph Schuyler Long foi autor do título The
sign language: a manual of signs, being a descriptive vocabulary of
signs used by the deaf of the United States and Canada, Omaha do ano
1918. J. W. Michaels escreveu a obra com o título A handbook of the
sign language of the deaf do ano de 1923. O padre Daniel D. Higgins
escreveu a obra intitulada How to talk to the deaf do ano de 1923. Essas
obras têm em comum, a apresentação de um vocabulário da língua oral
com tradução em língua de sinais através de ilustrações e descrições
textuais que representam os sinais. (STOKOE, 1960. p. 9)
Outros estudos foram desenvolvidos, como o padre Bernard
Theodoor Marie Tervoort que realizou uma dissertação com o título
Structurelle analysé van visuell tealgebruik binnen een groep dove
kinderen na cidade de Amsterdam no ano de 1953. Tervoort investigou
a relação entre a linguagem espontânea e desenvolvimento psicológico-

83
linguístico, também analisou as implicações da percepção visual para o
desenvolvimento da fala interna e externa e as categorias gramaticais. A
Federação Mundial dos Surdos em 1959 explorou a ideia de língua
internacional e lançou um livreto contendo 322 sinais a partir de 339
fotografias indexadas em ordem alfabética na língua inglesa e francesa.
Essa obra foi lançada com o título Prémiere contribution pour le
dictionnaire international du langage des signes, terminologie de
conférence. E o Dr. Andres S. Lunde desenvolveu um estudo pioneiro
em sociolinguística sobre os surdos. Ele publicou o artigo The sociology
of the deaf, apresentado em 1956, no encontro da Sociedade Americana
de Sociologia. (STOKOE, 1960. p.10 -11)
Através do levantamento histórico realizado por Stokoe, é possível
perceber que a língua de sinais despertou a atenção dos estudiosos e
mostrou ser dotada de propriedades sistemáticas a serem investigadas. A
natureza da língua de sinais foi constatada pelas pesquisas e
possivelmente chamou a atenção de Stokoe para a necessidade de
estudos descritivos a partir da língua de sinais americana.
Stokoe mencionou que Roch-Ambroise Auguste Bébian, autor de
um sistema de representação de elementos constituintes da língua de
sinais francesa. Isso pode ter colocado em evidencia uma problemática
para a investigação descritiva das línguas de sinais, a falta de um
sistema de registro dessas línguas. Tendo em vista, que outras formas
de registro foram adotadas para representação gráfica nos manuais.
Pierre Pélissier, por exemplo, empregou a solução da ilustração dos
sinais que serviu de modelo para outros, entre eles, alguns autores
americanos.
Para essa pesquisa, importa destacar os aspectos relativos a
sistemática lexicográfica implementada pelos estudos de Stokoe. Não é
do escopo dessa pesquisa os princípios linguísticos relacionados a
descrição das línguas de sinais. Interessa a perspectiva que os estudos de
Stokoe representaram para a lexicografia das línguas de sinais.
Stokoe era linguista e ao pesquisar a língua de sinais, provou ser
uma língua com propriedades e natureza linguística já investigadas ao
longo de sua história por muitos outros estudiosos. No entanto, o que
tornava as línguas de sinais diferente das outras línguas, era sua forma
de apresentação visual, sem dispor de um tipo ou forma de registro
representativo. Enquanto as outras línguas se apresentavam na forma
oral e contavam com o registro através da sua escrita. Portanto, para

84
Stokoe, não havia dúvida sobre as propriedades linguísticas dessas
línguas mas faltava uma sistemática para a apresentação e representação
gráfica de descrição e investigação de seu conteúdo linguístico.
Para essa pesquisa, um ponto importante dos estudos de Stokoe é
a elaboração do dicionário da língua de sinais americana. Quando nos
referimos a forma de apresentação utilizada para a descrição das línguas
de sinais, trata-se da representação da língua de sinais a partir da técnica
do desenho, utilizada no manual de Pélissier e outros obras. A
investigação da língua de sinais realizada por Stokoe, dependeu de um
repertório lexicográfico e essa compilação também dependeu de uma
forma de representação e registro da língua. Portanto, as línguas de
sinais, assim como, as outras línguas deviam contar com um sistema de
escrita e compilação do repertório lexicográfica reunido em dicionários.
Stokoe criou um sistema de notação para reunir e investigar o repertório
léxico da língua de sinais e apresentou a descrição da língua de sinais
americana na forma de dicionário. Tanto o sistema de notação quanto a
obra lexicográfica, podem ter sido interpretadas como os instrumentos
mais apropriados e convencionais para a apresentação e representação
das línguas de sinais.
Faremos destaques para alguns aspectos da descrição da língua
de sinais americana apresentada no dicionário de Stokoe, Casterline e
Croneberg (1976), com ênfase para as informações referentes as
unidades do repertório léxico apresentado pela obra.
Para Stokoe a "palavra" seria o material primordial para a
descrição científica de uma língua. Assim como, para descrição da
língua de sinais, pois a compreensão do nível da palavra permite a
compreensão das estruturas e subestruturas dessa língua. (STOKOE;
CASTERLINE; CRONEBERG, 1976. p. 273). Ou seja, as línguas são
formadas por unidades léxicas, constituídas por unidades mínimas,
portanto, era importante a identificação e caracterização das unidades
léxicas da língua de sinais formadas a partir dessas unidades mínimas.
Stokoe (1960/2005. p. 21) identificou elementos constitutivos da
língua de sinais equivalentes as palavras da língua oral. Observou que
esses elementos eram formados por unidades menores, equivalentes aos
fonemas da fala. Tendo em vista que, a língua de sinais é articulada
pelas mãos e usa o canal visual para estabelecer a comunicação, as
unidades mínimas da língua de sinais receberam o nome de "quiremas"

85
compostos por três elementos: a configuração das mãos, a localização e
o movimento.
Stokoe (1960/2005. p. 17; 22) analisou o alfabeto manual como
parte da língua de sinais. O alfabeto manual é utilizado para a
representação das letras escritas da língua oral, sua função seria
telegráfica da mensagem, entre o território da escrita e o território da
língua de sinais. Conforme na figura 3.1.

Figura 3.1 (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG, 1976. p. xii)

O alfabeto manual foi comparado aos grafemas da escrita das línguas de


modalidade oral, sendo assim, poderia ser convenientemente utilizados,
para a representação gráfica dos "quiremas", elemento base para o
sistema de notação da língua de sinais americana.
Para Stokoe o alfabeto manual, representava os símbolos
alfabéticos e compartilhava semelhanças com as configurações das
mãos, um dos elementos mínimos que formavam as unidades léxicas da
língua de sinais. No sistema de notação recebeu o nome "designator"
com abreviação "Dez", as letras do alfabeto manual serviram como
86
forma de representação gráfica dos quiremas. (STOKOE;
CASTERLINE; CRONEBERG, 1965/1976. p. xxii).
As formas de notações, a partir do alfabeto manual, foram
nomeadas de "allochers" referentes ao formato das mãos na produção da
unidade lexical da língua de sinais americana. (STOKOE;
CASTERLINE; CRONEBERG, 1965. p. xxix).
Algumas informações sobre o sistema de notação são importantes
para a compreensão da representação gráfica dos componentes dos
verbetes do dicionário. Foi criada uma nomenclatura para os três
elementos constituintes do "quirema", uma unidade léxica da língua de
sinais americana. Os três elementos são nomeados como: "tabula"
correspondente a localização da mão com abreviatura "tab", a
configuração da mão nomeada como "designator" com abreviatura
"dez" e o movimento da mão nomeado como "signation" com
abreviatura "sig". (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG, 1976. p.
x; xi; xii)
O dicionário apresenta um conjunto de símbolos para cada um dos
três elementos constituinte das unidades léxicas. O conjunto de Tab é
formado por 12 símbolos, convenção para a localização das mãos no
espaço onde são realizados os sinais. O conjunto de Dez é formado por
19 símbolos, convenção das diferentes configurações das mãos
semelhantes ao formato das letras do alfabeto manual, também os
numerais manuais. E o conjunto de Sig formado por 24 símbolos,
convenção do movimento das mãos, conjunto subdividido em 5
categorias de direções desses movimentos. (STOKOE; CASTERLINE;
CRONEBERG,1976. p. x; xi; xii). Conforme nos mostram as figuras
3.2; 3.3 e 3.4 .

87
Figura 3.2 (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG,1976. p. x) 23.

23
Língua de sinais americana. Tab símbolos. 1. Zero, espaço neutro onde as
mãos movem, em contraste com todo espaço abaixo. 2. Face ou toda cabeça. 3.
Testa ou sobrancelhas, face superior. 4. Meio da face, na região dos olhos ou do
nariz. 5. Queixo, face baixa. 6. Bochecha, têmpora, orelha, lado da face. 7.
Pescoço. 8. Tronco, corpo dos ombros até quadril. 9. Braço parte superior. 10.
Cotovelo, antebraço (na parte traseira). 11. Punho, braço em posição de supino.
12. Punho, braço em posição pronated. (face baixa). (Tradução nossa).
88
Figura 3.3 (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG,1976. p. xi) 24.
24
Dez símbolos, alguns dos utilizados como tab. 13. Mão compactada,
primeiro; talvez parecida com 'a', 's', ou 't' do alfabeto manual. 14. Mão reta. 15.
Mão espalmada; dedos e polegar esticado parecido com '5' do numeral manual.
16. Mão curvada; talvez parecida com 'c' ou mais aberta. 17. Mão contraída;
parecida com 'e' ou mais parecida com garra. 18. Mão três anéis; das mãos
espalmadas, polegar e indicado tocando ou cruzando. 19. Indicador; parecido
com 'g' ou as vezes parecido com 'd; indicado apontado primeiro. 20. Indicador
e dedo do meio, lado a lado, estendido. 21. Dedo mínimo; estendido para a mão
compactada. 22. Parecida com 'G' exceto pelo polegar que toca a falange do
meio do segundo dedo; parecido com 'k' e 'p' do alfabeto manual. 23. Mão
angular; polegar, indicador em angulo reto, outros dedos casualmente curvados
89
Figura 3.4. (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG,1976. p. xii) 25.

para dentro da palma. 24. "galo"mão; polegar e primeiros dois dedos


estendidos, parecido com '3' do numeral manual. 25. Mão cônica; dedos
curvados e untos espremidos sobre o polegar; talvez parecida com 'o' do
alfabeto manual. 26. Mão repelindo; dedo do meio cruzado sobre o indicador,
parecido com 'r' do numeral manual. 27. mão de "vitoria"; indicador e dedo do
meio estendido e esticado a parte. 28. Três dedos da mão, polegar e dedo
mínimo tocam os outros estendidos esticados. 29. mão em gancho; indicador
curvado em gancho primeiro, ponta do polegar talvez toque a ponta dos dedos.
30. mão de chifre; polegar e dedo mínimo esticados primeiro, indicador e dedo
mínimo se estendem paralelamente. 31. (allocheric variante do Y); dedo do
meio curvado em direção mão espalmada, polegar talvez toque ponta do dedo.
(Tradução nossa)
25
Sig símbolos. 32. movimento para cima. 33. movimento para baixo. 34.
movimento para cima e para baixo (32-34 subgrupo ação vertical). 35.
movimento direção a direita. 36. movimento direção a esquerda. 37. movimento
lado a lado (35-37 subgrupo da ação em direção dos lados. 38. movimento
direção ao sinalizador. 39. movimento distante do sinalizador. 40. movimento
para frente a para trás (subgrupo do ação horizontal). 41. rotação supina (palma
90
Foi convencionada uma fórmula para a notação de um "quirema",
na seguinte ordem, em primeiro lugar a localização da mão Tab T, em
segundo lugar a configuração da mão Dez D e em terceiro lugar o
movimento da mão sig s. Essa fórmula ou convenção de escrita de um
sinal define que em determinado espaço Tab T distintos entre si, uma
configuração de mão Dez D distintas entre si, realiza uma ação de
movimento sig s, também distintos entre si, formam a partir dos três
elementos as diferentes unidades da língua de sinais americana.
Assim, o dicionário apresentou a convenção da fórmula do sistema
de notação dos sinais como indicado no número 1 da figura 3.5. Ha
outra fórmula que não segue um mesmo padrão para todos os sinais. Ha
fórmulas que resultam da combinação de movimentos, como indicado
no número 2 da figura 3.5. Por exemplo, o movimento do Dez para
cima, enquanto está em contato com o Tab indicado no número 3 da
figura 3.5. Outra fórmula indica a ação do sig na sequência de outra
ação, como indica o número 4 da figura 3.5. Outra fórmula se refere o
uso de ambas as mão do sinalizador indicadas por duplo Dez no número
5 da figura 3.5. E o duplo Dez também pode ser composto por múltiplos
sig, indicado no numero 6 da figura 3.5.

para cima). 42. rotação pronating (palma para baixo). 43. movimento giratório
(subgrupos ação rotatória). 44. ação curva. 45. ação aberta (final dez
configuração mostra assentir). 46. ação fechada (final dez configuração mostra
assentir). 47. ação menear os dedos. 48. ação circular. 49. ação convergente,
aproximação. 50. ação de contato de toque. 51. ação de ligação, apertar. 52.
ação de cruzar. 53. ação de interação. 54. ação divergente, separação. 55. ação
de intercambio. (49 - 55 subgrupo interação).
91
Figura 3.5 (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG,1976. p. viii; ix).

Quando os sinais são realizados com as duas mãos, ou seja, uma


mão fica em repouso ou se posiciona sobre a outra, nesse caso, a mão
que fica por abaixo recebe um traço sobre o Dez, como indica o número
7 da figura 3.6. Quando a mão permanecer mais alta, recebe um traço
abaixo do Dez, como indica o número 8 da figura 3.6. Uma linha
vertical no símbolo indica que as mãos estão lado a lado, próximas ou
tocando uma na outra, como indica o número 9 da figura 3.6. Quando
um símbolo está entre os dois Dez significa que uma mão é mantida
atrás da outra sem se tocarem, como indica o número 5 da figura 3.6.
Esses são apenas alguns exemplos de convenções do sistema de notação
da língua de sinais americana.

Figura 3.6 (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG,1976. p. xiii).

A obra organizada na forma de dicionário, apresentou um


conjunto de verbetes referentes as unidades do repertório lexicográfico
92
da língua de sinais americana a partir do sistema de símbolos indicados
nas figuras. Na sequencia veremos as figuras verbetes e a disposição
dessas informações.
A ordenação das entradas do dicionário são apresentadas a partir
da sequencia alfabética correspondente ao elemento Dez, que forma
cada unidades léxica da língua de sinais. Segundo Stokoe, Casterline e
Croneberg (1976. p. xxv) os "initial-dez são cunhado para traduzir uma
palavra em inglês". Assim como no caso dos sinais referentes às cores,
dias da semana em língua de sinais americana, são feitas as traduções
direta e essas são as informações que constituem os verbetes dessas
unidades léxicas. A ordenação dos sinais, é feita a partir do Dez, com
função de representar a primeira unidade mínima que forma o sinal.
Dessa forma, a ordenação das entradas do dicionário segue a lógica da
ordem alfabética, no caso da língua de sinais, é a ordem do Dez, que
representa as letras do alfabeto manual e ao mesmo tempo as unidades
mínimas iniciais que formam um sinal.
O dicionário apresenta conjuntos de sinais, com o mesmo
elemento Dez apresentado na forma de imagem, que introduz uma seção
contendo os verbetes dos sinais constituídos de tal elemento Dez. Foram
escolhidos os verbetes relativos as unidades léxicas correspondentes as
cores: "blue" (azul), "yellow" (amarelo) e "red" (vermelho) para
observação das informações dos verbetes. A partir das figuras a seguir,
mostramos a disposição e organização dos verbetes a partir do elemento
Dez. Conforme indicadas nas figuras 3.7; 3.8; 3.9; 3.10; 3.11 e 3.12.

Figura 3.7 (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG, 1976. p. 17)

93
Figura 3.8 (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG, 1976. p. 20) 26

Figura 3.9 (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG, 1976. p. 107)

Figura 3.10 (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG, 1976. p. 109) 27

Figura 3.11 (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG, 1965/1976. p. 146)

26
(Inicial dez, b-allocher) x azul. (Tradução nossa).
27
(inicial dez; uma adaptação direta do sinal francês do século 19 [Sicard] com
uso do mesmo tab e sig com 'j' para 'jaune' - amarelo em francês ) x N amarelo.
94
Figura 3.12 (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG, 1965/1976. p. 156) 28

Stokoe, Casterline e Croneberg (1976. p. xxv) justificaram que a


informação lexicográfica dos sinais referentes as cores, correspondem a
tradução direta entre um sinal da língua de sinais americana e a língua
inglesa. Portanto, o verbete dessas unidades lexicais apresenta a
equivalência entre as duas línguas através do sistema de glosa. A glosa é
um nome da língua oral dado como uma possível correspondência de
uma unidade da língua de sinais. Sendo assim, as informações dos
verbetes consistem na apresentação da equivalência entre as unidades
léxicas das duas línguas.
O verbete não apresenta o dado da definição da unidade lexical
da língua de sinais. Para a Lexicografia, como foi discutida no capítulo
teórico dessa pesquisa, a definição lexicográfica é uma das informações
mais importantes e criteriosas na composição dos verbetes dos
dicionários monolíngues. Os verbetes do dicionário Stokoe, Casterline e
Croneberg, apresentam informações de equivalência a partir do sistema
de notação da língua de sinais americana. Os verbetes apresentam
número mais expressivo de informações na língua inglesa, em
comparação ao número de informações na língua de sinais americana.
Stokoe, Casterline e Croneberg (1976. p. xxvii) justificam o teor
das informações lexicográficas do dicionário, tendo em vista que, a obra
tinha o objetivo de ser um dicionário bilíngue, portanto, o propósito era
atender o usuário interessado na tradução do inglês para a língua de
sinais americana e . Outra justificativa é que as línguas de sinais
coexistem com outras línguas orais. E o fato do surdo ser usuário da
língua de sinais americana não o coloca a parte da cultura e língua oral
americana. Sendo assim, a obra justifica a importância da língua inglesa
em comunhão com a língua de sinais americana apresentada no
dicionário.

28
(sig: dedo indicador esfrega lábio inferior, ou dedo furtivo se alinha próximo
dos lábios) x vermelho.
95
O propósito do dicionário em apresentar a equivalências entre as
unidades léxicas das duas línguas e sua coexistência colocou a língua de
sinais em posição de igualdade em relação à língua oral. O sistema de
notação garantiu a representação e descrição da língua de sinais
complementada pela escrita da língua de sinais oral. No entanto, o
dicionário mostra a relação de igualdade entre as duas línguas, também
mostra o forte apelo da escrita das línguas orais para a descrição das
línguas de sinais.
Contudo, é importante reconhecer que as investigações realizadas
por Stokoe se tornaram referências para as pesquisas lexicográficas da
língua de sinais. A partir da delimitação das unidades mínimas,
formadoras dos sinais, novos estudos foram desenvolvidos sobre os
elementos constituintes dessas línguas. A partir do desenvolvimento do
sistema de notação, outras possibilidades foram exploradas para
desenvolvimento de outras formas de representação e registro da língua
de sinais. E a partir do estudo lexicográfico da língua de sinais
americana outras pesquisas foram dedicadas ao desenvolvimento e
elaboração das obras lexicográficas das línguas de sinais.
Na próxima seção desse capítulo veremos as pesquisas relativas a
língua de sinais e a importância do foco desses estudos para a
lexicografia da língua de sinais brasileira.

3.3 Pesquisas, documentação e lexicografia da língua de sinais


brasileira

No Brasil a pesquisa sobre a lexicografia da língua de sinais


brasileira se constituiu a partir de diferentes tipos de investigações, com
propósitos específicos e contribuições variádas na elaboração de obras
lexicográficas. A partir dos anos 80 se ampliaram os grupos de
pesquisas nas instituições de ensino superior com programas de pós-
graduação, assim como, as linhas investigativas voltadas para a
Lexicografia.
A formação do Grupo de Trabalho em Lexicologia e Lexicografia
da ANPOLL proposto por Maria Aparecida Barbosa e outros
pesquisadores vinculados as instituições de ensino superior, foi
fundamental para impulsionar a formação de núcleos de estudos
acadêmicos em lexicografia por todos os estados brasileiros. Os grupos
de pesquisas atraíram pós-graduandos interessados no aprofundamento

96
dos estudos na área Lexicologia, Lexicografia e Terminologia.
(BARBOSA, 1995. p. 54; 55)
Nos anos 80, Enilde Leite de Jesus Faulstich docente do
Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas da
Universidade de Brasília (UnB) já se dedicava a pesquisa na área da
Lexicologia e foi responsável por encontros nacionais de professores e
pesquisadores em Lexicologia, Lexicografia e Terminologia
(BARBOSA, 1995. p. 56).
No ano de 1993 Faulstich criou o Grupo de Pesquisa Léxico e
Terminologia com produção e publicações relevantes do Centro de
Estudos Lexicais e Terminológicos 29 (Centro LEXTERM). Os estudos
envolvendo o centro de pesquisa têm o propósito de desenvolver a
invetigações avanças em Lexicologia, Lexicografia, Terminologia e
Políticas Linguísticas relacionadas ao léxico, história da Língua
Portuguesa e Língua de Sinais Brasileira.
A professora pesquisadora Faulstich desenvolveu e publicou
trabalhos sobre a língua de sinais brasileira e juntamente com a
pesquisadora Orlene Lúcia de S. Carvalho publicaram um livro sobre o
ensino da língua portuguesa para surdos. A obra apresenta diferentes
tópicos relacionados ao ensino de línguas, entre os quais, trata sobre as
obras referências da língua de sinais, os instrumentos linguísticos e
materiais didáticos especializados para surdos.
Pesquisadores como Faulstich impulsionaram a pesquisa sobre a
lexicografia da língua de sinais brasileira e contribuíram com princípios
teóricos metodológicos para elaboração dos repertórios lexicográficos.
Faulstich foi orientadora de dissertações e teses realizadas através do
programa de pró-graduação em Linguística da UnB.
A pesquisa de José Ednilson Gomes de Souza Júnior com o título
"Nomeação de Lugares na Língua de Sinais Brasileira. Uma perspectiva
de Toponímia”, realizou uma análise sobre o nome dos lugares em
Língua de Sinais Brasileira na perspectiva de um estudo em topônímia e
onomástica. O estudo de caráter inicial teve ênfase para o processo de
nomeação e atribuição de nomes aos lugares em língua de sinais
brasileira. A pesquisa se baseou em um corpus de informação composto
por nomes de cidades provenientes de 16 estados brasileiros.

29
Centro de Estudos Lexicais e Terminológicos (Centro LEXTERM).
Disponível em:http:// www.lexterm.unb/ .
97
Messias Ramos Costa realizou sua pesquisa de mestrado com o
título "ENCICLOLIBRAS: Uma proposta de modelo de Enciclopédia
Visual Bilíngue Juvenil - O corpo humano”. A dissertação apresentou
um modelo de Enciclopédia Visual Bilíngue Juvenil em língua de sinais,
voltada para a contruções lexicográfica e terminológica. O trabalho teve
como recorte metodológico um campo semântico com vocabulário
especializado relativo ao "corpo humano". O estudo se dedicou a
análise dos conceitos e significados, mediante os princípios das teorias
lexicais e terminológicas aplicadas para o vocabulário especializado na
língua de sinais brasileira.
Carolina Ferreira Pêgo realizou uma pesquisa no mestrado com o
título "Sinais Não-Manuais Gramaticais na LSB: delimitando traços
morfológicos e lexicais. Um estudo dos morfemas-boca". O estudo teve
como foco a morfologia da língua de sinais brasileira e o aspecto morfo-
lexical dos morfemas-boca. A pesquisa utilizou um recurso tecnológico
ELAN para análise visuo-espacial dos morfemas na línguas de sinais
brasileira.
A tese de doutorado de Gláucio de Castro Júnior tem o título
"Projeto Varlibras". A investigação teve como objeto de estudo a
variação linguística em língua de sinais brasileira. O estudo desenvolveu
procedimentos para a elaboração da pesquisa terminológica e bilíngue
do par Libras/Português. O Projeto Varlibras se propôs a realizar um
inventário lexical em Libras para contrução de um banco de dados do
Núcleo de Pesquisa em Variação Regional dos Sinais da Libras
(Varlibras).
Outras pesquisas pesquisas em lexicografia da língua de sinais
foram realizadas pelo programa de pós-graduação em Línguística da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Heloise Gripp Diniz
realizou uma dissertação de mestrado com o título “A história da Língua
de Sinais Brasileira (Libras): um estudo descritivo de mudanças
fonológicas e lexicais". A pesquisa investigou a história da evolução da
Libras e suas mudanças linguísticas a partir da descrição e análise
comparativa dos sinais e suas mudanças lexicais. Janine Soares de
Oliveira realizou sua tese de doutorados com o título "Análise descritiva
da estrutura querológica de unidades terminológica do glossário Letras-
Libras". A tese investigou a criação de neologismos na língua de sinais
em contexto acadêmico com o desenvolvimento do glossário para o
curso superior em Letras/Libras.

98
O estudo da lexicografia da língua de sinais brasileira tem uma
trajetória investigativa apresentada nessa seção a partir das pesquisas
de Lucinda Ferreira-Brito, Fernando Cezar Capovilla, Tanya Amara
Felipe, Ronice Müller de Quadros, Evani de Carvalho Viotti com
Leland Emerson McCleary e Tarcísio Arantes Leite, apontando suas
contribuições para a língua de sinais brasileira. Concluímos a reflexão
com algumas ponderações sobre o desenvolvimento tecnológico e suas
perspectivas lexicográficas para as línguas de sinais.
Os variados estudos propuseram a investigação sobre: a
transcrição de elementos constituintes e estruturais da língua, banco de
dados para compilação de corpus linguístico, produção de obras
lexicográficas como instrumento para o desenvolvimento da
competência linguística e o emprego tecnológico na lexicografia da
língua de sinais. Essas pesquisas com diferentes focos investigativos
tiveram desdobramentos lexicográficos significativos, a partir dos quais,
é possível traçar uma trajetória lexicográfica da língua de sinais
brasileira, como veremos a seguir.

3.3.1. Pesquisas de Lucinda Ferreira-Brito

Lucinda Ferreira-Brito realizou estudos importantes sobre as


línguas de sinais a partir do final da década de 70. A partir do ano de
1979, a pesquisadora realizou um estudo comparativo entre a Língua
dos Sinais Kaapor Brasileira - LSKB, utilizada pelos índios Urubu-
Kaapo do estado brasileiro do Maranhão e a Língua dos Sinais dos
Centros Urbanos Brasileiros - LSCB 30. (FERREIRA-BRITO, 1986. p.
17)
Ferreira-Brito conviveu com índios surdos Urubu-Kaapor da
floresta amazônica brasileira, durante um mês e documentou em filmes
a língua de sinais utilizada pela comunidade. Sua pesquisa foi inspirada
no artigo de Umiker-Sebeok publicado no ano de 1978 no livro Urubu
Sign Language de J. Kakumasu. Assim passou a investigar a língua de
sinais dos índios Urubu-Kaapor, desenvolvendo um estudo comparativo

30
FERREIRA-BRITO (2010) No prefácio faz um esclarecimento sobre
nomeação LSCB utilizadas em seus estudos que passa a seguir a nomeação
LIBRAS a partir da decisão da Federação Nacional de Educação dos Surdos em
1993.
99
com a língua de sinais dos surdos dos centros urbanos brasileiros.
(RAMOS, 2004. p. 5)
A obra de Ferreira-Brito com o título "Por uma gramática de
língua de sinais", publicada em 1995 é obra de grande importância por
apresentar a primeira gramática da língua de sinais brasileira. O livro
trata de aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos da língua de
sinais brasileira a partir de um sistema de transcrição da língua de sinais
brasileira. Ferreira-Brito foi pioneira em tratar a investigação da língua
de sinais brasileira como qualquer outra língua, fazendo distinção entre
as modalidades das línguas de sinais e das outras línguas.

Partiremos do pressuposto de que estas línguas


espaço-visuais são tão completas, complexas e
abstratas quanto às línguas orais auditivas como o
português, o francês, o inglês, etc. (FERREIRA-
BRITO, 2010. p. 35).

Ferreira-Brito, a partir de seus estudos estabeleceu terminologias e


convenções utilizadas para a representação da língua de sinais brasileira,
através de um sistema de transcrição que apresenta em sua obra.
Algumas dessas terminologias, tal como modalidade espaço-visual,
foram introduzidas por meio dos estudos sobre os constituintes e
estrutura da língua de sinais brasileira. O sistema de glosas também foi
utilizado na transcrição e análise do repertório lexicográfico da língua
de sinais brasileira.
Sobre o sistema de glosas, Hanson e Bellugi (1982. p. 623)
explicam em nota o seu uso e função nas pesquisas da língua de sinais.
As glosas se apresentam em caixa alta e servem para transcrição e
representação de uma unidade lexical da língua de sinais em forma de
texto. A escrita e a glosa têm funções diferentes. A glosa indica que não
há uma equivalente entre as línguas, portanto, no caso das línguas de
sinais são utilizadas identificações de um sinal através de um nome na
escrita da língua oral.
Ferreira-Brito fez o uso de glosa e explicou em nota a função
atribuída no sistema de descrição que propôs para a língua de sinais
brasileira. Essas informações são importantes, pois alguns dos
repertórios lexicográficos utilizam algumas dessas terminologias para
representação da língua de sinais brasileira.

100
As palavras em letras maiúsculas são utilizadas como forma de
representação escrita do conceito dos sinais, o sentido do sinal a partir
da glosa em língua portuguesa. A ortografia através da separação das
letras da palavra por meio do hífen, nesse caso, tem a função de indicar
a soletração no alfabeto manual. E a sigla dentro dos parênteses, tem a
função de informar a região brasileira onde é mais comumente utilizado
um sinal. As figuras 3.13 e 3.14 mostram algumas dessas convenções.
(FERREIRA-BRITO, 2010. p. 33)

Figura 3.13 (FERREIRA-BRITO, 2010. p. 2

Figura 3.14 (FERREIRA-BRITO, 2010. p. 40)

Ferreira-Brito e Remi Langevin propuseram um sistema de


descrição espacial da língua de sinais brasileira baseado em conceitos do
campo da Geometria, mais precisamente do campo da Topologia, cuja
linguagem geométrica espacial pareceu propícia para a língua de sinais
de modalidade espaço-visual. Levando em conta, que o enunciado da
língua de sinais tem sua projeção tridimensional, com um raio de
alcance das mãos para a produção do discurso. Como um cenário, cujas
mãos representam o objeto, enquanto o espaço que acomoda os
101
movimentos no plano da enunciação, toda a área em torno do corpo
onde se produz o discurso sinalizado. (FERREIRA-BRITO, 2010. p.
213)
O espaço de enunciação em língua de sinais foi projetado em
perspectiva tridimensional, dispondo de um conjunto de varáveis, eixos
horizontais, diagonais e verticais onde se realizam cada unidade léxica
da língua de sinais brasileira. Ferreira-Brito faz descrição dessas
coordenadas e eixos do espaço de enunciação da língua de sinais e
conforme a figura 3.15.

os três eixos correspondem aos três graus de


liberdade de um movimento no espaço à frente-
trás, à esquerda à direita e para cima para baixo. O
espaço de realização está então contido num
paralelepípedo projetado sobre os seguintes
segmentos: - 20 cm, + 80 cm, ao lado de wx; -
100 cm, + 100 cm, ao lado de wy; - 20 cm, + 100
cm, ao lado de wz. (FERREIRA-BRITO, 2010. p.
215)

Figura 3.15. (FERREIRA-BRITO, 2010. p. 215)

Stokoe fez uma classificação dos constituintes lexicais e


sublexicais das línguas de sinais, que serviu de referências para as
pesquisas de Klima, Bellugi e Ferreira-Brito. Baseado na classificação
de Stokoe foi utilizada a nomeação das unidades mínimas do sinal:
configuração de Mão (CM), Movimento (M) e Ponto de Articulação
(PA), com acréscimo de constituintes básicos, a "orientação de mão",
"movimentos da cabeça e corpo" denominados de "expressões não

102
manuais", convencionados como os parâmetros primários das unidades
mínimas da língua de sinais brasileira. Conforme mostra a figura 3.16.

Figura 3.16 (FERREIRA-BRITO, 2010. p. 24)

O primeiro parâmetro básico dos elementos constituintes dos sinais


é a configuração de mão, que se define por diferentes formatos para a
realização dos sinais. As diferentes configurações de mão que compõe
um conjunto próprio para cada língua de sinais. O segundo parâmetro é
o ponto de articulação que se define pela localização espacial, que pode
ser neutra, em alguma parte do corpo ou próxima a ele. E o terceiro
parâmetro, o movimento que se define pelos ritmos, lineares, curvos,
sinuosos, circulares, multi direcionados, levando em consideração, o
movimento interno dos dedos e punho. (FERREIRA-BRITO, 2010. p.
36; 37; 38)
Ferreira-Brito mostrou que o conjunto da configuração de mão é
amplo, próprio a cada língua de sinais e não se restringem as
configurações das letras do alfabeto manual. Sendo importante um
inventário e classificação das CM das língua de sinais. Apontou que as
CM(s) são elementos distintivos das unidades léxicas da língua de
sinais. (FERREIRA-BRITO, 2010. p. 36)
Ferreira-Brito e Langevin identificaram e classificaram um
conjunto de 46 CM(s) da língua de sinais brasileira. Diferente da
concepção de Stokoe, que cunhou essa unidade mínima a partir das
letras do alfabeto manual. A figura 3.17 na sequência mostra o conjunto
de CM(s) proposto por Ferreira-Brito e Langevin.

103
Figura 3.17 (FERREIRA-BRITO, 2010. p. 220)

É importante destacar outra concepção sobre o papel do alfabeto


manual da língua de sinais brasileira. Para Ferreira-Brito (2010. p. 22) o
alfabeto manual tem a função de realizar empréstimos linguísticos de
variados tipos. Através da datilologia ou soletração do alfabeto manual
também chamada de alfabeto digital, seria possível apresentar nomes
próprios ou palavras sem equivalentes na língua de sinais brasileira. O
alfabeto manual com a função de empréstimo linguístico se divide nas
categorias de empréstimo lexical, inicialização, domínio semântico e
apropriação de outras línguas de sinais.
Podemos perceber uma diferença na perspectiva de Stokoe e
Ferreira-Brito sobre o alfabeto manual. Stokoe considerou que o
alfabeto manual tinha a função telegráfica da mensagem escrita através
da língua de sinais. Enquanto na perspectiva de Ferreira-Brito, o
alfabeto manual seria a solução da língua de sinais para a apresentação
de palavras da língua oral. O alfabeto manual é conteúdo componente
dos repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira ocupando
função importante nessas obras.
Entre os diferentes tipos de empréstimo através do alfabeto
manual, no caso do empréstimo lexical corresponde a soletração com
ritmo característico incorporado como o próprio sinal. A exemplo disso,
os sinais para "cor" apresentado na forma de soletração em
104
contrapartida, o sinal "azul" tornou o movimento sinuoso da soletração
das letras "a", "z", "l" o próprio sinal. Outro exemplo, o sinal referente a
"branco", nesse caso a soletração da letra inicial da palavra com uma das
mãos em forma de letra "b" desliza do ombro em direção ao punho do
outro braço. No que se trata de empréstimo de outras línguas de sinais,
são apropriados sinais idênticos incorporados por outras línguas de
sinais. No caso do sinal para cor vermelho e laranja, são sinais identicos
da língua de sinais americana e francesa apropriados pela língua de
sinais brasileira. O empréstimo de domínio semântico, se refere a
apropriação de um conjunto de unidades léxicas relacionadas a um
assunto que são originais de outra língua de sinais 31. (FERREIRA-
BRITO, 2010. p. 22; 23)
A pesquisa de Ferreira-Brito (2010) é representativa para a língua
de sinais brasileira, por sua importância da investigação na descrição
dos elementos constituintes e através de seus estudos introduziu no
Brasil a nomenclatura utilizada nos repertórios lexicográficos até os dias
de hoje. As convenções terminológicas estabeleceram forma de
apresentação importantes para o trabalho de compilação lexicográfica.

3.3.2 Pesquisas de Fernando Cezar Capovilla

Outra pesquisa relevante para a lexicografia da língua de sinais


brasileira é a investigação realizada por Fernando Cezar Capovilla,
docente pesquisador da Universidade de São Paulo - USP e coordenador
dos estudos desenvolvidos pelo Laboratório de Neuropsicolinguística
Cognitiva Experimental - LANCE da USP.
Capovilla e sua equipe de pesquisadores criaram um programa
investigativo sobre o desenvolvimento cognitivo e linguístico dos surdos
brasileiros. Esse programa de pesquisa teve diferentes focos de interesse
entre eles: o mapeamento do léxico da língua de sinais, a construção de
instrumento normatizado para avaliação do desenvolvimento da
linguagem e competência linguística dos surdos, o desenvolvimento da
competência da leitura e escrita dos surdos, através dos dicionários,
enciclopédias e softwares (partindo do português para a língua de sinais
e vice-versa). A partir desses focos de interesses, os pesquisadores se

31
Ferreira-Brito afirma que em Recife, foi feita uma pesquisa realizada por E.
A. S. Siqueira que mostrou um conjunto de sinais básicos para 11 cores, apenas
o sinal referente a cor "amarelo" não se tratar de empréstimo linguístico.
105
inseriram no processo de inclusão dos alunos surdos nas escolas
regulares. Nesse contexto, se propôs a elaboração de currículo bilíngue
para escolas regulares, com alunos surdos e realizou pesquisa aplicada
de instrumentos de avaliação e desenvolvimento das competências
linguísticas desses estudantes surdos.
Capovilla, Raphael e Maurício (2012. p. 24) explicam como suas
pesquisas se inseriram e contribuíram com o processo de inclusão dos
surdos na sociedade brasileira. A partir de 1989, diante de um cenário
delicado da educação de surdos, foram desenvolvidas as pesquisas da
equipe do LANCE. Havia baixo índice de matrícula dos alunos surdos
nas escolas regulares, havia a falta de escolas bilíngues com professores
fluentes na língua de sinais e escolas despreparadas para a educação dos
surdos. Diante desse cenário, isso motivou às pesquisas visando
melhorar a educação dos surdos em todo o Brasil. A primeira
necessidade era documentar o léxico da língua de sinais brasileira, por
meio de dicionários e enciclopédias. Os dicionários e enciclopédias
serviriam como instrumentos normatizados que permitiriam "verter o
currículo escolar para a língua de sinais". Esses instrumentos em versão
informatizada seria ainda mais uteis, para a "indexação e busca
SematosÊmica 32 dos sinais, permitindo o emprego da Libras como
metalinguagem no ensino-aprendizagem da leitura e da escrita alfabética
em português".
As pesquisas de Capovilla no final dos anos 80 certamente
contribuíram para melhorar a qualidade da escolarização dos surdos e
colocaram em evidência a importância da língua de sinais brasileira e da
língua portuguesa no processo educacional dos surdos. A compilação de
repertório lexicográfico com o objetivo de criar instrumentos de ensino
aprendizado da língua portuguesa e da língua brasileira de sinais foram
relevantes para a lexicografia da língua de sinais brasileira. Essas obras
lexicográficas foram elaboradas no fim dos anos 90 e já contavam com a
área do design gráfico computacional para sua produção em versão
digital e impressa. Essas obras apresentaram um dos repertórios
lexicográfico mais significativo e representativo, em termos de número
de sinais, originários de diversas regiões brasileiras e com variado
número de informações lexicográficas.

32
Essa é a ortografia da palavra empregada pelos autores e que esse texto
manteve assim como é apresentada na obra.
106
O artigo com o título "Principais achados e implicações do maior
programa do mundo em avaliação do desenvolvimento de competências
linguísticas de surdos" (2008), apresenta com maior detalhes as frentes
de ação investigativa desenvolvidas pela equipe de pesquisadores do
LANCE, sob a coordenação de Fernando Cezar Capovilla.
O programa de pesquisa teve início em 1995 e foi desenvolvido a
partir de três linhas de investigação. O levantamento lexicográfico da
Libras em comunidades de surdos reunidos em associações, por todas as
regiões do Brasil. A pesquisa experimental aplicada em escolas da
Educação Infantil ao Ensino Superior, para mapear o desenvolvimento
das competências cognitivas e linguísticas de alunos surdos. Tendo em
vista, a interação entre características do aluno (grau de perda auditiva) e
a escola (método, idioma de abordagem e ensino-aprendizagem),
considerando ainda, escolas comuns e escolas especiais em que a língua
de instrução dos alunos surdos é a língua de sinais, através de
professores proficientes nessa língua e em companhia de colegas surdos.
A pesquisa experimental básica em laboratório, para descobrir como se
caracteriza o desenvolvimento da cognição e da linguagem de surdos,
relacionados as propriedades estruturais sublexicais nos níveis
morfêmico e quirêmico-grafêmico da Libras e do Português
(CAPOVILLA, 2008. p. 2).
As pesquisas de Capovilla resultaram em grande número de artigos
científicos sobre o desenvolvimento da linguagem dos surdos e a língua
de sinais brasileira. As publicações de obras lexicográficas se tornaram
referências de enciclopédias e dicionários da língua de sinais brasileira.
No ano de 1998 foi publicado o “Manual ilustrado de sinais e sistema de
comunicação em rede para surdos” de autorias e Fernando César
Capovilla, Walkíria Duarte Raphael e Elizeu Coutinho Macedo. Na
sequencia foram publicados o “Dicionário Enciclopédico Ilustrado
Trilíngue da Língua de sinais brasileira” de autoria de Capovilla e
Raphael lançado em 2000. A “Enciclopédia Ilustrada Trilíngue
da Língua Brasileira de Sinais”, também de autoria de Capovilla e
Raphael, lançada em dois volumes no ano de 2001.
O autor afirma que a enciclopédia é um material de aprendizagem
da Libras, para a elaboração de exercícios da conversação em Libras.
Sendo também, instrumento útil na conversão do currículo escolar para
Libras. A obra é uma literatura importante para o surdo, pois pressupõe
o conhecimento do português e da Libras, sendo assim, a obre justifica

107
que a consulta deve partir do conhecimento da palavra em português
para a localização dos sinais em Libras. A enciclopédia dispõe de versão
digital com sinais indexados por elementos quirêmicos e estrutura
sublexical. (CAPOVILLA, 2008. p. 5).
É possível dizer que a versão digital dos repertórios lexicográficos
da língua de sinais brasileira, introduziu a língua no cenário da
lexicografia informatizada. O repertório lexicográfico indexado,
permitindo a localização do sinal a partir do parâmetro da configuração
da mão, foi uma inovação do formato eletrônico digital. A obra
lexicográfica informatizada propiciou maior autonomia do consulente na
busca da informação e a ampliou as formas de apresentação
principalmente para as línguas de sinais.
Capovilla (2008. p.4) afirma que o seu dicionário é a primeira
documentação do léxico da LIBRAS. A obra visa seu público alvo, que
estima ser uma comunidade em torno de 6 milhões de surdos e
deficientes auditivos. Afirma que a obra foi um trabalho original de
colaboração produtiva entre a universidade pública gratuita USP e a
Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos - FENEIS.
Para o autor, seu dicionário é resultado do "rigor científico,
sensibilidade artística e representatividade linguística com um forte
senso de oportunidade histórica". Para ele a obra representa "de modo
original e decisivo os tremendos avanços de cidadania da comunidade
surda brasileira do início do século 21". Também aponta, que o
reconhecimento oficial da língua, tornou a LIBRAS um idioma
nacional, assim como, o Português. Dessa forma, permitiu o Dicionário
Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira ser
distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático em muitas
escolas por todo o território nacional.
Os trabalhos de compilação do repertório lexicográficos da língua
de sinais brasileira existem desde 1969, sabe-se que uma das primeiras
obras com esse teor é de autoria de Padre Eugênio Oates com o título
"Linguagem das Mãos". Essa e outras obras apresentaram um trabalho
de compilação lexicográfica, realizado mediante os recursos disponíveis
mas que foram responsáveis pela documentação da língua. Capovilla e
seus pesquisadores colaborares, também realizaram um trabalho de
compilação do repertório lexicográfico da língua de sinais muito
significativo, que recebeu seu reconhecimento, e teve o incentivo

108
governamental tornando-se atualmente uma das referenciais da língua
de sinais brasileira.
A obra mais recente de autoria de F. C. Capovilla, W. Raphael e
Aline Cristina L. Maurício foi lançada em 2009 com o título “Deit-
Libras - Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de
Sinais Brasileira baseado em Linguística e Neurociências Cognitivas. A
obra propõe um novo paradigma dicionarístico da língua de sinais, a
partir da questão da representação mental da língua de sinais, as
"metáforas gestuais e signos linguísticos, a serem apresentados nos
dicionários de línguas de sinais". A partir das pesquisas em
Neurolinguística Cognitiva os autores propõem um trabalho que
apresente a descrição do sinal, priorizando a forma e os níveis
SematosÊmico fino, MorfÊmico metafórico molar e MorfÊmico
metafórico molecular. (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012.
p. 22).
O Novo Deit-Libras utiliza terminologia com ortografia peculiares
e taxionomia própria à obra. É proposto um novo paradigma
dicionarístico, com valorização da forma dos sinais explorando o
significado representado pela unidade léxica da língua de sinais. A obra
de Capovilla, Raphael e Maurício é uma das fontes selecionadas por
essa pesquisa. Essa obra é abordada com mais detalhes, no capítulo
referente a metodologia e a análise dos repertórios lexicográficos da
língua de sinais brasileira.

3.3.3 Pesquisas de Tanya Amara Felipe-de-Souza

Os estudos realizados por Tanya Amara Felipe-de-Souza também


tiveram grande importância para a lexicografia da língua de sinais
brasileira. Felipe-de-Souza docente pesquisadora da Universidade de
Pernambuco, iniciou suas investigação em 1985 sobre o bilinguismo da
pessoa surda. Participou em 1989 do Grupo de Estudo da Linguagem,
Educação e Surdez com publicações também sobre bilinguismo da
pessoa surda. Em 1992, criou o Grupo de Pesquisa Libras e Cultura
Surda Brasileira na FENEIS do Rio de Janeiro e teve papel importante
na luta em prol dos direitos linguísticos dos surdos. (FELIPE-DE-
SOUZA, 2002)
O Brasil dos anos 90 passou por um processo de mobilização da
sociedade civil organizada para a reivindicação de medidas do Poder

109
Público, em prol do desenvolvimento e melhorais das condições de vida,
principalmente as camadas sociais menos favorecidas, entre elas as
pessoas chamadas de deficientes. A educação passou a ser vista como
solução para os problemas sociais e entendida como medida necessária
por parte do Poder Público na erradicação da exclusão para o
desenvolvimento social.
Em 1990, foi consagrado como o Ano Internacional da
Alfabetização, o Brasil participou da Conferência de Educação para
Todos, em Jomtien na Tailândia. A Conferência foi realizada pela
Organização das Nações Unidas, UNESCO, UNICEF, Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD e o Banco Mundial. A
pauta de discussão era as medidas necessárias para o desenvolvimento
da aprendizagem de todas as crianças, jovens e adultos pelo mundo. A
Conferência propôs a elaboração de um Plano Decenal de Educação
para Todos. O Brasil ficou entre os 9 países que apresentaram baixa
produtividade do sistema de ensino, por isso, o Ministério da Educação
e Desporto brasileiro, elaborou um plano nacional de metas entre 1994 à
2003. (WERTHEIN, 2000. p. 17)
O movimento de Educação para Todos, mobilizou os diversos
seguimentos da sociedade civil, entre eles a população de pessoas
surdas. O movimento sensibilizou o Poder Público a estabelecer um
acordo internacional para universalizar a educação básica para todos. No
Brasil, a Lei nº 9.394/96 de Diretrizes e Base da Educação Nacional -
LDBEN foi uma das medidas de equalizar a educação para todos, dentro
do planejamento governamental, que visou a educação como
instrumento de desenvolvimento da sociedade brasileira. (GOUVEIA,
NILSON e FERREIRA, 2009)
No ano de 1992, a professora Felipe-de-Souza em parceria com a
Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos - FENEIS 33,
desenvolveu pesquisas através do grupo Libras e Cultura surda
Brasileira. Nesse mesmo período, o MEC em convênio com a Secretaria

33
Se tem conhecimento da organização dos surdos em associação com a
primeira iniciativa em 1930 no Rio de Janeiro e no ano de 1954 em São Paulo.
Uma iniciativa de surdos e profissionais ligados à área da surdez resultou na
fundação da Federação Nacional de Educação e Integração do Deficiente
Auditivo - FENEIDA no ano de 1978. O nome foi alterado para Federação
Nacional de Educação e Integração dos Surdos - FENEIS no ano de 1987
(RAMOS, 2004, p. 2).
110
de Educação Especial do Ministério da Educação - SEESP, em parceria
com todas as Secretarias de Estado de Educação e algumas Secretarias
Municipais de Educação e Instituições de Ensino Superior lançou o
Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos financiou o curso
de formação e livro Libras em Contexto. (FELIPE-DE-SOUZA, 2002,
p. 23-24).
O projeto “Libras em Contexto” sob coordenação de pesquisa
realizada por Felipe-de-Souza, capacitou instrutores da LIBRAS na
cidade de Brasília e formou surdos multiplicadores em todo o Brasil.
Esse curso resultou na publicação do livro e caderno Libras em
Contexto, para o professor e o aluno, financiados pelo MEC. Esse
trabalho teve desdobramento em outro projeto chamado: “O Surdo e o
Mundo”, com a proposta de estudo da conversação entre surdos alunos
do INES de diferentes faixas etárias. As conversações por meio de chats,
organizados e monitorados em salas virtuais conectadas por uma rede de
computadores, foram objeto de pesquisa e análise. E a partir desse
estudo, surgiu a ideia de um vocabulário digital em libras, proposta de
Guilherme de Azambuja Lira repensada por Felie-de-Sousa como um
dicionário digital via internet. Esse trabalho de pesquisa se tonou uma
das obra lexicográficas da Libras mais conhecida como Dicionário do
INES. (FELIPE-DE-SOUZA, 2001; FELIPE-DE-SOUZA e LIRA,
2002).
O estudo foi realizado, a partir da análise da conversação de
alunos surdos em chats da rede interna de computadores da instituição.
A análise das conversas entre os alunos surdos conferiu a ferramenta do
chat, o potencial de comunicação dos surdos em língua portuguesa via
internet. E também resultou na ideia do projeto de elaboração de um
dicionário Português x LIBRAS digital disponível na internet. O projeto
contou com o apoio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE – MEC) e da Secretaria de Educação Especial
(SEESP) do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e teve a primeira
versão concluída em março de 2001. Com o incentivo governamental
foram produzidas e distribuídas gratuitamente 15.000 cópias do
dicionário digital em mídia CDs, para 27 Secretarias de Educação
Estaduais previstas pelo Programa Nacional de Apoio aos Surdos.
(FELIPE-DE-SOUZA, 2001. p. 9).
Felipe-de-Souza a partir de suas pesquisas sobre o bilinguismo
da pessoa surda contribuiu com investigações significativas para a

111
lexicografia da língua de sinais brasileira. A obra conhecida como
Dicionário de Libras do INES, inseriu um novo conceito de lexicografia.
Essa obra empregou a tecnologia de multimídia digital e explorou o
ambiente virtual da internet como suporte para o repertório
lexicográfico. O desenvolvimento das multimídia e da internet
representaram grandes avanços para as obras lexicográficas da língua de
sinais. Os diferentes formatos da informação em imagem, vídeos e texto,
além da interface digital virtual são algumas das inovações do
Dicionário de Libras do INES, uma das fontes bibliográficas
selecionadas para a análise dessa pesquisa.

3.3.4. Pesquisas de Ronice Müller de Quadros

Na sequencia faremos alguns apontamentos sobre estudos que


contribuíram com a lexicografia da língua de sinais brasileira a partir da
investigação de corpus linguísticos. O corpus linguístico não é tema
abordado por essa pesquisa, cujo recorte metodológico é voltado para a
trajetória da elaboração dos repertórios lexicográficos na forma de
dicionários. São feitas breves considerações sobre as pesquisas voltadas
para a construção do corpus linguístico da língua de sinais para mostrar
as novas perspectivas da lexicografia da língua brasileira de sinais.
Também é importante destacar a importância das tecnologias que
propiciaram novas formas de tratamento dos repertórios lexicográficos.
Ronice Muller de Quadros 34, filha de pais surdos, desenvolveu
pesquisas muito importantes para a língua de sinais brasileira.
Atualmente é docente pesquisadora da Universidade Federal de Santa
Catarina, sua trajetória iniciou na educação de surdos. Quadros, foi
professora de surdos no ensino fundamental da Escola Especial
Concórdia em Porto Alegre. Atuou e trabalhou na formação
de intérpretes de língua de sinais e na formação de professores para
surdos. Foi professora e coordenadora pedagógica da Escola Municipal
Helen Keller na cidade de Caxias do Sul. Dedicou-se a pesquisa sobre
os elementos constituintes estruturais da língua de sinais brasileira, com
publicações importantes sobre o assunto. E realiza ampla pesquisa sobre

34
A pesquisadora Ronice Müller de Quadros apresenta sua trajetória em página
da internet disponível em: http://www.ronice.cce.prof.ufsc.br . Acesso em:
14.02.2015.
112
a aquisição da língua de sinais por crianças surdas e filhos de pais
surdos.
Quadros foi responsável na criação do curso Letras Libras pela
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. O curso teve o
incentivo do MEC e outros órgãos governamentais financiadores para
oferecer a licenciatura em letras língua de sinais brasileira, no ano de
2006 e o bacharel em Letras língua de sinais brasileira, no ano de 2008.
O curso inicialmente foi oferecido na modalidade a distância e em 2009
também passou a ser oferecido na modalidade presencial na UFSC.
Para o curso Letras LIBRAS na modalidade a distância foi
elaborado um Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizado - AVEA com
inúmeras ferramentas para uso dos alunos do curso. Uma das
ferramentas produzidas foi o Glossário do Letras LIBRAS, que contou
com um repertório léxico relacionados a linguagem técnica da
linguística e termos acadêmicos em língua de sinais brasileira. Sob a
coordenação de Marianne Stumpf, o Glossário do Letras LIBRAS tem
acesso livre gratuito via internet para a consulta de termos científicos
acadêmicos em língua de sinais brasileira.
O Glossário do Letras Libras é um repertório lexicográfico de
linguagem especializada, que não é alvo dessa pesquisa, voltada para o
repertório lexicográfico em geral da língua de sinais brasileira. No
entanto, essa obra reflete a ampliação do repertório lexicográfico da
língua e a importância de sua documentação, contando com as
vantagens das tecnologias que redimensionaram e reformularam o fazer
lexicográfico.
A ampliação do repertório lexicográfico a partir da demanda por
terminologias específicas ao contexto acadêmico científico, é um
exemplo entre outras áreas de conhecimento conquistadas pela língua de
sinais brasileira. O espaço da mídia televisiva, literatura, cinema, teatro,
e outras áreas essenciais, no caso da saúde e a educação, são campos e
áreas do saber que fez surgir novas demandas para o repertório
léxicográfico da língua de sinais brasileira. Essas são apenas alguns dos
contextos que refletiram na ampliação do repertório lexicográfico da
língua de sinais, assim como, a elaboração das definições das novas
unidades terminologicas.
Quadros atualmente é coordenadora do Grupo de Pesquisa em
Aquisição da língua de sinais brasileira. O trabalho de coleta de dados
da língua de sinais teve início em 1994, sendo feito com crianças de

113
zero a quatro anos, em fase de aquisição da linguagem. As informações
são coletadas a partir do registro da sinalização espontânea das crianças,
sendo feitas filmagens para compor um banco de dados, um corpus da
língua de sinais em formato de vídeos. As pesquisas utilizam o software
ELAN 35 para transcrição do português escrito dos vídeos, contendo os
dados em libras a partir de uma padronização das glosas.
Quadros é pesquisadora responsável pelo Núcleo de Aquisição de
Língua de Sinais (NALS) 36. O NALS realiza a coleta de dados para a
formação de um corpus em mídias áudios-visuais da sinalização de
crianças em fase de aquisição da linguagem da língua brasileira de
sinais. O núcleo de pesquisa tem diferentes frentes investigativas e
projetos de pesquisa sobre a língua de sinais.
O projeto Corpus Libras 37 dedicado a construção de corpus da
língua de sinais brasileira a partir do "inventário de Libras", "sinais
acadêmicos" e "glossário do Letras Libras". O Corpus Libras conta com
uma equipe de pesquisadores composta por Ronice Müller de Quadros,
Tarcísio de Arantes Leite, Ana Regina Souza Campello, Roberto Dutra
Vargas, Markus J. Weininger, Heloise Gripp Diniz, Carolina Hessel,
Messias R. Costa, Nayara de A. Adriano, Ellen Formigosa, Marianne R.
Stumpf, Ramon D. Miranda, Fernanda de A. Machado, Saulo X. Souza,
Bianca S. Gomes, Carolina Pego, Dionísio Schmitt, Juliana T. Lohn e
Tom Min Alves. O projeto Corpus Libras desenvolve o método de
sistematização, documentação e recuperação de dados referentes a
língua de sinais brasileira.
O projeto ID Sinais - Identificador de Sinais 38 dedicado a
pesquisa de software para reunir, organizar e permitir a busca dos sinais
e/ou das glosas, a partir de dois parâmetros da Libras: configurações de
mãos e localização do sinal, também, do nome em português que
identifica o sinal. O ID Sinais tem como pesquisadores, Ronice Müller

35
Eudico Linguistic Annotator - ELAN software desenvolvido pelo Instituto de
Psicolinguística Max Planck da Holanda. Software utilizado na produção,
edição, visualização e busca de dados em vídeo e áudio para anotações e
transcrições. Disponível em: https://schoolforge.net/education-software-
download/elan-eudico-linguistic-annotator. Disponível em: 08.01.2015.
36
Núcleo de Aquisição de Língua de Sinais. Disponível em:
http://nals.cce.ufsc.br.Acesso em: 14/02/2015.
37
Corpus Libras disponível em: http://corpuslibras.ufsc.br/ Acesso em: 14.02.2015.
38
ID Sinais Disponível em: http://idsinais.libras.ufsc.br/ Acesso em: 14.02.2015
114
de Quadros, Janine Soares de Oliveira e colaboradores Paulo Roberto C.
dos Santos e Ramon D. Miranda.
As pesquisas desenvolvidas por Ronice Müller de Quadros foram
citadas como exemplo de desenvolvimento das investigações do corpus
da língua de sinais brasileira. Essas pesquisas redimensionaram o
trabalho de documentação da língua de sinais brasileira, por muito
tempo, concentrado na compilação dos repertórios lexicográficos,
também importante para a língua.
A partir desses estudos, nota-se a importância da formação do
corpus da língua de sinais, que impulsionou projetos baseados em
metodologias, sistematização e padronização fundamentais para o
trabalho lexicográfico. E com o avanço tecnológico, foram empregados
recursos para o desenvolvimento de softwares, programas, multimídia
com grandes contribuições para o tratamento e compilação da
informação lexicográfica.

3.3.5 Pesquisas de Evani de Carvalho Viotti, Leland Emerson


McCleary e Tarcísio Arantes Leite

Os docentes pesquisadores da USP, Evani de Carvalho Viotti e


Leland Emerson McCleary, também realizaram estudos sobre o
desenvolvimento de copus da língua de sinais. Os estudos surgiram a
partir do grupo de pesquisa "Estudos da Comunidade Surda: Formação
de Corpus de Língua de Sinais Brasileira", sob a coordenação de
McCleary no ano de 2003 e o projeto "Estudos da Comunidade Surda:
Formação de Corpus de Língua de Sinais Brasileira", sob a coordenação
de Viotti no ano de 2005. (VIOTTI e McCLEARY, 2007)
Em 2002 o estudo piloto realizado por McCleary, Viotti e Leite, a
partir de conversas semi espontâneas e narrativas em língua de sinais
brasileira, teve o objetivo de fazer a documentação dos dados em
gravações de vídeos e elaborar um sistema de notação dos sinais
utilizando as glosas. O emprego das glosas foi baseado no Dicionário
Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da língua de sinais brasileira de
Capovilla e Raphael (2001) e também foi utilizado o ELAN para a
transcrição e descrição em português do discurso em língua de sinais, a
fim de formar um banco de dados informatizados e padronizados.
(McCLEARY, VIOTTI e LEITE, 2010. p. 269)

115
McCleary e Viotti (2007. p. 2) apontam a importância da
construção do corpus da língua de sinais, uma vez que, as línguas de
sinais diferente das línguas orais, não contam com um sistema de escrita
amplamente aceito empregado para a transcrição e estudo da língua. A
falta de um sistema de transcrição, também implica na inexistência de
corpora, na forma de textos escritos convencionais no estudo de outras
línguas. A forma adotada para transcrição das línguas de sinais é o
sistema de glosas com palavra em letras maiúsculas que correspondem o
sinal manual.
A pesquisa de corpus da língua de sinais levanta uma questão
importante para o estudo das línguas em geral, a transcrição da língua
por meio de um sistema de escrita. A escrita se consolidou como a
forma mais sintética, simplificada e eficiente para o estudo das línguas
orais. O sistema foi adaptado para a transcrição das línguas de sinais. As
línguas de sinais com qualidades e características complexas de uma
língua visual-espacial, mostraram não se adequar completamente a
descrição a partir do sistema da escrita. (LEITE, McCLEARY e
VIOTTI, 2010; LEITE, 2013).
Leite (2013. p. 43; 44) trata sobre a escrita como uma tecnologia
de forte influência sobre os estudos das línguas. Em primeiro lugar,
aponta que a escrita exerce forte apelo sobre a sociedade, fazendo com
que, seja reconhecida como um sistema de representação mais completo
da língua oral. Em segundo lugar, ressalta que esse apelo da escrita já
foi superado pelos estudiosos, no entanto, ainda existe uma dependência
da escrita como instrumento de estudo das línguas. Isso se deve a sua
eficiência para: registro da língua isolada da dinâmica do contexto
natural, compilação sintética de dados para o estudo, tornando o
trabalho de análise simples e produtivo. Entretanto, o registro da língua
na "forma gráfica alfabética", restringe a captação da linguagem
articulada através do corpo. A projeção da língua no espaço
tridimensional, referente aos gestos e expressões da comunicação com o
corpo, é readequada com as devidas subtrações, à um "conjunto finito e
linear da representação no espaço bidimensional". As limitações da
representação escrita, para o estudo das línguas de sinais de modalidade
visuais espacial, mostraram a importância da reflexão sobre um
sistema consolidado como a tecnologia ideal para o estudo das línguas.
Leite (2013. p. 47, 48) destaca que as tecnologias trouxeram
grandes avanços para o estudo das línguas, principalmente a língua de

116
sinais. Os equipamentos, tais como: máquina fotográfica, câmera
filmadora, vídeocassete e televisão, permitiram estudos mais eficientes
das línguas de sinais. Esses recursos permitiram registros mais
significativos da sinalização, antes não percebidas, além de
esclarecerem "conclusões equivocadas impostas pela limitação da
escrita como único instrumento de análise dos linguistas". Sendo assim,
as tecnologias representaram a ampliação das possibilidades de registro
e análise das línguas. E a perspectiva é o aumento dos resultados dos
estudos, tornando necessário rever aspectos e sistemas consolidados. De
forma que, novas questões sejam colocadas na pauta sobre os estudos
das línguas, considerando o que as línguas de sinais podem dizer sobre o
assunto.
A reflexão sobre o emprego da tecnologia da escrita para o estudo
das línguas mostra que este sistema consolidado e reconhecido,
apresenta resultados parciais, embora sejam considerados pela sociedade
em geral, a representação exata e completa da língua. A língua de sinais
de modalidade visual-espacial evidencia as restrições e readequações
necessárias para a representação através da escrita. Portanto, o problema
das línguas de sinais não contarem com um sistema de descrição, parece
ter sido superado pela tecnologia atualmente disponível e mais
acessivel. Os recursos técnicos inserem uma nova perspectiva sobre as
investigações das línguas principalmente as língua de sinais.
Esse capítulo propôs traçar uma trajetória da lexicografia da língua
da sinais, fazendo destaque para o desenvolvimento da investigação
sobre o assunto e as perspectivas na elaboração dos repertórios
lexicográficos da língua.
Partimos da reflexão sobre os primeiros estudos de descrição da
língua de sinais organizado na forma de dicionário. As pesquisas
brasileiras dedicadas a descrição dos constituintes estruturais da língua
de sinais, estabeleceram convenções importante utilizadas na
representação das unidades dos repertórios lexicográficos. Houve
pesquisas resultantes na criação de instrumentos linguísticos, tais como:
dicionários e enciclopédias. Essas pesquisas tiveram o propósito voltado
para o desenvolvimento da competência linguística dos surdos. Foi
desenvolvido projeto de pesquisa lexicográfica que explorou a
informática, as midias digitais e a comunicação via internet. Foram
realizadas pesquisas voltadas para a construção de corpus da língua de

117
sinais brasileira, colocando em pauta a problemática da escrita, como
instrumento único e consolidado para o estudo das línguas.
O próximo capítulo apresenta a metodologia desenvolvida por essa
pesquisa para o estudo de observação do desenvolvimento dos
repertórios léxicos, a partir da elaboração da definição lexicográfica
apresentada nas fontes selecionadas para análise dessa investigação.

118
4.0 Metodologia da pesquisa

Essa pesquisa de teor bibliográfico investiga o desenvolvimento


dos repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira, tendo como
recorte metodológico, a análise da definição lexicográfica, segundo os
princípios metalexicográficos.
A pesquisa bibliográfica tem por princípio a observação de fontes
referenciais informativas que reúnem e sintetizam um conjunto amplo
de dados. A pesquisa documental se assemelha a pesquisa bibliográfica,
com diferenças para o tipo de fonte utilizada na investigação. A
pesquisa documental usa fontes registros de acontecimentos, fatos e
aspectos circunscritos em um espaço de tempo, essas fontes também são
chamadas de periódicos. Enquanto a pesquisa bibliográfica usa fontes
escritas em forma de obras dedicadas aos diversos assuntos. A pesquisa
bibliográfica oportuniza a elaboração de um inventário de teor histórico,
a partir dos dados bibliográficos sobre assuntos já pesquisados com
apresentação dos resultados na forma de livros. (GIL, 2002. p. 43).
Nessa pesquisa, as fontes bibliográficas são as obras que
apresentam o repertório lexicográfico da língua de sinais brasileira.
O repertório léxico se refere a compilação que reune um conjunto
de unidades lexicais de uma língua. Esses conjuntos de unidades lexicais
representam parcialmente o léxico da língua, que por ser dinâmica tem
vocábulário em constante transformação. O repertório lexicográfico
apresenta um registro das unidades lexicais empregadas com o propósito
de atenderem as demandas linguísticas em seu espaço e tempo.
Portanto, as obras com teor de repertório lexicográfico, se propõem a
apresentarem o registro da compilação de um conjunto de unidades
lexicais de uma língua.
Um dicionário também é uma compilação das unidades lexicais
de uma língua, mas essas são acompanhadas de suas respectivas
definições, no caso dos dicionário monolíngues. No caso dos dicionários
bilíngues as unidades lexicais aprensentam correpondências entre as
línguas da obra. Portanto, as obras com teor de dicionários, possuem
objetivos e propósitos de apresentarem a compilação do conjunto de
unidades do repertório lexicográfico e as respectivas informações
relativas as definições dessas unidades lexicais.
Essa pesquisa decidiu chamar todas as fontes bibliográficas de
repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira, considerando o

119
teor documental do registro das unidades lexicais como conteúdo
comum a todas essas obras.
Essas obras concentraram esforços na documentação da língua,
sendo precursoras dos estudos lexicográficos resultantes na publicação
dos dicionários. As fontes bibliográficas apresentam textos que apontam
os propósitos dessas publicações, a preocupação com a divulgação das
pesquisas realizadas e o objetivo de suprir a carência de literatura sobre
o assunto, além de conter o repertório léxico da língua. O interesse desse
estudo é compreender como se desenvolveram os repertórios
lexicográficos dessa língua, com foco de análise para a elaboração da
definição lexicográfica apresentadas nessa bibliografia.

4.1 Seleções das fontes bibliográficas

Para realização desse estudo foi feita a identificação das fontes


bibliográficas de interesse da pesquisa.
Como já foi apontada, a documentação da língua de sinais utilizou
vários recursos para a elaboração dos repertórios lexicográficos. Ao
longo do desenvolvimento dos estudos da língua de sinais foram
utilizados o desenho, fotografia e multimeios, esses foram
oportunizados graças ao avanço técnico da informática e da
comunicação em rede. A lexicografia da língua de sinais empregou
todos esses recursos para a representação e documentação lexicográfica.
Tendo isso em vista, foram escolhidas fontes bibliográficas
representativas desse processo de desenvolvimento das obras.
Os repertórios lexicográficos também podem ser estudados na
perspectiva de trajetória da lexicografia da língua de sinais brasileira.
Sendo assim, foram escolhidas fontes bibliográficas com indicativos das
fases desse processo de desenvolvimento: a fase da documentação das
línguas de sinais com propósitos didáticos e divulgação da língua; a fase
da compilação do repertório léxico com propósitos de elaboração de
obras lexicográficas; a fase que explorou as tecnologias e as vantagens
da comunicação em rede através da internet para a produção de
repertório lexicográfico digital virtual. Dessa forma, é possível traçar
uma trajetória dos repertórios lexicográficos, a partir de um recorte
metodológico concentrado na análise da definição lexicográfica para
observação da qualidade das informações dessas obras.

120
Portanto a seleção das fontes bibliográficas se baseou no critério
de representatividade para a trajetória lexicográfica e seus indicativos de
desenvolvimento. E o recorte metodológico concentrou a análise na
elaboração da definição lexicográfica de um conjunto de unidades
léxicas para observação da qualidade das informações dessas obras.

4.2 Seleção do conjunto de unidades léxicas para análise da


definição lexicográfica

A seleção das unidades léxicas para análise da definição


lexicográfica, partiu da consulta dos índices das fontes bibliográficas.
Nos índices dessas obras, foram identificados conjuntos de unidades
léxicas referente as "cores" que são comuns a todas elas.
O conjunto de unidades léxicas referente às "cores" formam um
grupo conciso, cuja definição lexicográfica envolve a elaboração de
informações relativas a fenômeno físico de refração da luz, fenômeno
óptico de percepção visual e fenômeno químico proveniente de mistura
de substâncias. Esse pareceu ser um conjunto de unidades léxicas que
exigem tratamento lexicográfico criterioso para elaboração das
definições.
Johann Wolfgand von Goethe apresentou em sua teoria das cores,
a definição da cor como fenômeno de caráter fisiológico, físico e
químico, com efeito sobre a percepção visual. Goethe (1840. p. xli)
define a cor como fenômeno fisiológico que ocorre mediante a presença
ou ausência da luz incidente sobre as coisas, atraindo a capacidade do
órgão da visão sensível ao efeito da cor. A cor pode ser chamada de cor
física, com efeito ótico provocado pela aparência, a cor fisiológica com
efeito ótico provocado pela sensação e a cor química com efeito ótico
provocado pela reação entre substâncias.
A partir dessa definição podemos perceber que o conceito de cor
está ligado aos sentidos da percepção humana, além das propriedades
para caracterização dos objetos. Portanto, a definição lexicográfica da
qualidade das cores implica em informações eficientes e suficientes para
descrever esse fenômeno e seus efeitos.
Goethe (1840. p. 300) faz uma observação sobre a ação de
descrever as qualidades de alguma coisa. A linguagem pode apenas ser
simbólica e figurativa, portanto o que é dito sobre alguma coisa é apenas
uma representação. Principalmente quando se trata de qualidades que se

121
apresentam imperfeitas à observação, se apresenta em potencial, mais do
que, propriamente a natureza do objeto. A natureza das qualidades está
em constante movimento. O objeto não está preso a sua representação,
mas existe uma necessidade de descrever e buscar fórmulas ainda que
figurativas de defini-lo.
Nessa perspectiva, a qualidade atribuída a determinada coisa é
uma representação da natureza do objeto. Essa representação pode ser
motivada pelas características, impressão ou concepção que provocaram
a percepção do espectador. Sendo assim, a definição lexicográfica pode
ser comparada a representação na forma descritiva, capaz de sintetizar
em que consiste alguma coisa.
Brangel (2011. p 193) realizou uma pesquisa sobre as definições
lexicográfica das cores nos dicionários de língua portuguesa brasileira.
O estudo identificou que as informações das definições lexicográficas
não são claras e possuem problemas relacionados a dificuldade com a
natureza do objeto a ser definido, a redação pouco criteriosa sem a
reflexão necessária sobre o tema e a reprodução das mesmas
informações lexicográficas de dicionários antigos em obras
contemporâneas.
A razão da dificuldade com a natureza da definição da cor,
segundo aponta Brangel (2011), é a mesma que Marina Colasanti
explica em sua autobiografia, no trecho a seguir.

Toda vez que eu vou à Toscana vejo a casa de


Gina repetida nas tantas casas quase iguais
daquela campagna. Grandes, bem grandes, dois
andares, escada externa. E a cor. Se eu tivesse que
fazê-la na paleta, sei bem que tintas misturariam.
Mas misturar palavras para alcançar uma cor é
bem mais complicado. Eu poderia dizer cor de
telha, porém as telhas são pobres em comparação,
e o tempo as escurece com mofo e musgos. Se
disser cor de carne, o sangue escorre manchando a
imagem. Dizer vermelho de veneza ou terra de
siena seria pedante. Então digo romã madura, cor
muitas vezes lavada, desbotada pelo tempo que
coça as costas contra as paredes. (COLASANTI,
2010. p. 64)

122
A natureza da cor parece difícil de se descrever em palavras, por
envolver a definição da percepção visual, que depende da incidência da
luz sobre as superfícies das coisas e torna difícil alcançar com precisão,
em que consiste a cor. Faremos algumas considerações sobre o
funcionamento da percepção visual humana e sua relação com a luz,
para melhor compreensão da cor como um fenômeno sinestésico.
A percepção visual da cor é possível graças a capacidade do olho
que dispõe de bastonetes e cones fotorreceptores, sendo possível captar
e enviar informações ao cérebro sobre as cores. Os bastonetes são
receptores sensíveis a menor incidência de luz, com graduação do preto
ao branco. Os cones fotorreceptores são sensíveis a maior incidência da
luz e amplo espectro das cores. O olho humano tem três tipos de cones
que respondem a três comprimentos de onda da luz. O comprimento
longo da onda de luz capta a cor amarelada, o segundo comprimento
médio da onda de luz capta a cor esverdeada e o terceiro cumprimento
curto da onda de luz capta a cor azulada. Os estímulos enviados ao
cérebro a partir da recepção visual dos três tipos de comprimento da
onda de luz permitem a percepção de todas as cores. Acontece que os
comprimentos da onda de luz estimulam mais ou menos os cones, ha
situações que um comprimento da onda de luz predomina em relação ao
outro comprimento da onda. A luz incide sobre a superfície, onde são
absorvidos alguns comprimentos da onda da luz, enquanto outros são
refletidos, isso que determina a cor do objeto. (SILVEIRA, 2011)
As considerações sobre a definição lexicográfica da cor, pode
levantar o questionamento da necessidade e possibilidade de abranger
todos esses aspectos relativos a cor. Não se espera que a definição
lexicográfica trate em detalhes todos esses aspectos. Mas é importante
chamar a atenção para o amplo repertório de informações disponível
para o tratamento lexicográfico dessas unidades léxicas. Os aspectos
pontuados sobre o tema, também justificam a escolha do conjunto de
unidades léxicas referente às cores, para a análise da definição
lexicográfica nas fontes bibliográficas dessa pesquisa. E estabelecem as
informações previstas para definição lexicográfica, no que se refere ao
fenômeno fisiológico e sua relação com a percepção visual que consiste
no reconhecimento das cores.

4.3 Abordagem metodológica das fontes bibliográficas e


desenvolvimento da análise

123
Estabelecemos uma abordagem metodológica dos repertórios
lexicográficos e análise da definição lexicográfica que se divide em dois
momentos.
O primeiro momento consiste da apresentação das informações
gerais de cada repertório lexicográfico, com ponderações para os
aspectos mais significativos, em termos de propósito da publicação,
forma de apresentação e indicativos de inovações técnicas para novas
perspectivas lexicográficas. Na sequencia, são pontuados observações
de caráter geral sobre a definição lexicográficas, em termos de
apresentação e tipos de informação referentes as unidades léxicas
oferecida pelo repertório lexicográfico.
O segundo momento corresponde a análise propriamente das
definições lexicográficas do conjunto de unidades referentes as cores em
língua de sinais brasileira. Será feita a análise comparativa das unidades
léxicas mediante os critérios meta-lexicográfico proposto por Dapena
(2002) e apresentados no capítulo teórico dessa pesquisa.
Segundo Dapena (2002) a definição lexicográfica é composta de
definido e definidor baseado nos seguintes princípios de elaboração.
Principio de equivalência: definidor deve conter todos os dados
necessários em extensão e explicação referente ao definido. Princípio
de comutabilidade estabelece equivalência de sentido entre definido e
definidor, sendo possível a substituição de um pelo outro. Obedecendo a
regra da metalinguagem de conteúdo, cuja formulação do definidor deve
ser eficiente para explicação do definido. Princípio de identidade
categorial que tem como referencia a categoria gramatical do definido,
para a formulação do definidor. Obedecendo a regra da metalinguagem
de conteúdo, cujo valor das palavras que formam o definidor são
eficiente para representar a categoria gramatical. Princípio subdividido
em: análise, autossuficiência e transparência. Análise corresponde ao
uso de palavras legítimas e frequentes na formulação do definidor.
Autossuficiência corresponde a coexistência de todas as palavras
utilizadas na formulação do definidor acessíveis no repertório
lexicográfico. E a transparência corresponde a apresentação simples e
clara da definição lexicográfica.
A análise propõe uma reflexão e não tem o objetivo de fazer
críticas aos repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira. A
perspectiva das considerações dirigidas a definição lexicográfica, visa

124
pontuar aspectos significativos e relevantes de qualidade das
informações apresentadas nas obras. Essa pesquisa reconhece a
importância de traçar uma trajetória do desenvolvimento lexicográfico
da língua de sinais brasileira a partir do estudo dessas obras.
A análise comparativa utilizou uma tabela para apresentação do
conjunto de unidades léxicas referente às cores em relação aos critérios
meta-lexicográficos. A apresentação consiste na sequencia da
representação das unidades léxicas, as informações referentes as a essas
unidades léxicas, os critérios metalexicográfico e os indicativos por um
"x", no caso do critério atendido e um traço “-” no caso do critério não
atendido. A seguir apresentamos na figura 4.1 o modelo da tabela
utilizada na análise comparativa.
(Nome do repertório lexicográfico da língua de sinais brasileira)
Definido definidor Critérios metalexicográficos Indicativos:
SIM (x)NÃO(-)
* Equivalência
* Comutabilidade
* Identidade categorial
- análise
- transparência
- autossuficiência

Figura 4.1 modelo da tabela utilizada na análise comparativa

A seção a seguir, inicia com o primeiro momento da abordagem


metodológica que apresenta observações gerais sobre os repertórios
lexicográficos e as informações referentes as unidades léxicas oferecidas
pelas obras.

4.3.1 Obra "Linguagem das Mãos"

Padre Eugênio Oates é autor da obra com o título “Linguagem das


Mãos" com publicação em 1969. Oates foi sacerdote da Ordem
Redentorista da Igreja Católica Romana e desenvolveu um trabalho
missionário na Amazônia brasileira nos anos 40. Oates conheceu e se
interessou pela língua de sinais brasileira a partir do ano de 1946.
Realizou um trabalho de compilação do repertório lexicográfico da
língua de sinais brasileira, por várias regiões do Brasil e publicou uma
das obras mais conhecidas sobre o tema, conforme a figura 4.2.

125
Figura 4.2 foto da capa da 19.a edição Linguagem das mãos (OATES, 2010).

A obra apresentou o propósito de melhorar a comunicação dos


surdos na sociedade, através, da língua de sinais, chamada na obra como
linguagem-mímica. O prefácio escrito por Oates (2010. p. 12) informa
que o objetivo principal do manual foi contribuir para o melhoramento
da "vida social, educacional, recreativa, econômica e religiosa" dos
surdos brasileiros.
A pesquisa de Oates pode ser considerada como o início da
documentação da língua de sinais brasileira. O texto de abertura da obra,
o autor Dr. Murillo R. Campello, explica que a ideia da obra surgiu da
sensibilidade de padre Oates em relação ao problema dos surdos. Ele
aprendeu a se comunicar e conheceu surdos de todas as partes do país,
considerando necessária a criação de uma obra que reunisse o código de
mímica· dos surdos brasileiros. (OATES, 2001. p. 7). O padre Vicente
de Paulo Penido Burnier escreveu um dos textos de apresentação da
obra, onde afirmou que Oates reuniu os sinais em todo o território
nacional e conviveu com os surdos para organizar um dicionário de
mímica. Diz ainda que Oates teria adicionado alguns gestos não
existentes na língua de sinais 39 dos surdos do Brasil. (OATES, 2010. p.

39
Sobre a prática de inserção de sinais de outras línguas de sinais, explica
Felipe-de-Souza (2011. p. 37) "Em muitas dessas comunidades há interferência
de grupos religiosos, representados por pessoas ouvintes com domínio da
LIBRAS ou de outra língua dos sinais estrangeira. A ocorrência deste último
caso tem favorecido uma utilização de "estrangeirismos", ou seja, uso de sinais
diferentes dos utilizados em outras comunidades brasileiras".
126
9) E no prefácio de sua obra Oates (2010, p. 12) diz que o seu objetivo
foi produzir uma obra com "um vocabulário funcional da mímica".
Oates (2010. p. 11) apresentou instruções e explicações
introdutórias sobre a estrutura e organização da língua. Isso torna essa
obra ainda mais importante, tanto pelo caráter documental, quanto
didático para a língua de sinais brasileira. Orientou o emprego adequado
das expressões, mais tarde chamadas de "sinais não-manuais". Fez a
ressalva que essas expressões teriam propriedades de mudança do
sentido, dependendo do ritmo da sua realização. Destacou a distinção do
movimento lento do dedo indicador em frente a boca, para expressar
"silêncio" e a mesma ação com movimento rápido, para expressar: "cale
a bouca!". Orientou sobre a direção do olhar, com função de expressão
do sentido e deu o exemplo da interrogação na língua de sinais
brasileira.
Os estudos sobre a organização e estruturação das línguas de sinais
identificaram as "expressões não-manuais" como um componente a ser
acrescentado aos parâmetros básico da composição do sinal. As
expressões não-manuais foram classificadas com função sintática e
lexical.
Segundo QUADROS E KARNOPP (2004, p. 60) as expressões
não-manuais, correspondem ao movimento da face, dos olhos, da cabeça
ou do tronco, são responsáveis por fazer a "marcação de construções
sintáticas e diferenciações de itens lexicais". As expressões não-manuais
com função sintática realizam a marcação das sentenças interrogativas
"sim" e "não", interrogativas, orações relativas, topicalizações,
concordância e foco. As expressões não-manuais com a função de
componente lexical realizam a marcação de referência pronominal,
partícula negativa, advérbio, grau ou aspecto.
Oates (2010. p. 12) orientou o uso do recurso da "soletração de
uma palavra" dizendo que se desenha a palavra no ar. Explicou que as
palavras soletradas devem ser seguidas de uma pausa curta. O
movimento da mão direita aberta em direção ao lado esquerdo, simula
quem "empurrar" a palavra soletrada para o lado, com o objetivo de
ocupar o espaço por outra palavra soletrada ou gesto realizado na
sequência.
A obra se constitui de ficha catalográfica, dois textos de
apresentação, prefácio, página com fotografia da mão com legenda
indicando o nome dos dedos e quadro em fotografia das letras do

127
alfabeto manual. A obra divide-se em quinze capítulos numerados por
algarismos romanos de I - XV. Cada capítulo corresponde a um assunto
com as unidades lexicais que compõe a nomenclatura da obra. Na parte
final, se apresentam índices com o título de cada capítulo contendo os
nomes correspondentes as unidades do repertório léxico da obra. Outro
índice consiste na listagem desses nomes em ordem alfabética. A
fotografia da mão com legendas e quadro das letras do alfabeto manual,
são informações referentes as unidades léxicas. Conforme ilustra as
figuras 4.3 e 4.4

Figura 4.3 (OATES, 2010. p. 13) Figura 4.4 (OATES, 2010. p. 14)

A obra de padre Oates apresenta um conjunto de 1268 unidades


lexicais da língua brasileira de sinais. É organizada por campos
semânticos, temas para cada um dos quinze capítulos e são eles: verbos,
substantivos/ adjetivos/ advérbios/ pronomes/ preposições/ conjunções,
cores, homem/família, alimentos /bebidas, animais, mundo /natureza,
religião, tempo, regiões do muno/ alguns países/nacionalidades, estados
brasileiros/ territórios federais/ capitais, vestuário/ acessórios, esportes/
jogos recreativos, antônimos, números cardinais e ordinais. Sendo os
dois primeiros capítulos, os mais extensos da obra.
Nessa obra, as informações referentes as unidades léxicas são as
seguintes: a representação a partir de fotografia em preto e branco, a
correspondência do sinal em glosa na língua portuguesa, a descrição da
realização do sinal: configuração, movimento, direção da palma,
localização das mãos e dos dedos nomeados como na legenda da
imagem 4.3. As informações referentes às unidades léxicas dessa obra
128
se concentram nos elementos da composição do sinal. O sinal com sua
correspondência em glosa tinha a função de nomear a unidade léxica da
língua de sinais brasileira. E as orientações descritivas do sinal tinham a
função de explicar como realizar aquele sinal. As informações referentes
as unidades léxica são da categoria de descrição dos elementos
constituintes dos sinais. Esse tipo de informação descritiva é utilizada
até hoje nas obras lexicográficas.
Essa obra mostra a preocupação com a documentação do
repertório léxico da língua, além de atender aos propósitos didáticos.
Nos dias atuais, são referências lexicográficas responsáveis pelo registro
documental da língua que tiveram papel fundamental na divulgação e
aprendizado da língua.

4.3.2 Obra "Linguagem de sinais do Brasil"

Outro repertório lexicográfico importante é a obra de Harry W.


Hoemann, Shirley A. Hoemann e Padre Eugênio Oates C. S S. R. com o
título “Linguagem de sinais do Brasil”, publicada em 1983. A obra é
fruto de uma pesquisa realizada no Brasil com versão em inglês e título
"The Sign Language of Brazil", publicada em 1981.
A produção contou com o apoio da Organização Amigos
Luteranos dos Surdos, Mill Neck Foundation e Mil Neck Manor
financiadoras do livro idealizado por Naomi H. Warth. Naomi foi
coordenadora do ensino religioso e fundadora do Centro Educacional
para Deficientes Auditivos Escola Especial Concórdia, sediada na
cidade de Porto Alegre. Essa é uma das instituições mais tradicionais na
educação de surdos na região sul do Brasil. Dr. Harry W. Hoemann,
professor de psicologia da Bowling Green University, foi contratado
como coordenador da pesquisa, Shirley A. Hoemann como diretora do
projeto e padre Eugênio Oates como autor experiente conhecedor da
língua de sinais brasileira. Como na ilustração da figura 4.5

129
Figura 4.5 foto da capa da obra Linguagem das Mãos (HOEMANN,
HOEMANN, OATES, 1981)

A obra é resultado de uma pesquisa importante realizada com


propósito de documentar o repertório lexicográfico da língua de sinais
da região sul do Brasil. A pesquisa considerou as diferenças dialetais da
língua de sinais brasileira e se concentrou na investigação do dialeto
utilizado pelos surdos do estado do Rio Grande do Sul. A publicação da
obra 40 teve o propósito de suprir a carência de um manual sobre a língua
de sinais da região sul do Brasil. (HOEMANN; OATES; HOEMANN,
1983, p. 131)
A documentação desse repertório léxico foi feita a partir da
filmagem de conversação e entrevistas de surdos, registradas em fita
videotapes. As conversas foram traduzidas em português e transcritas na
forma de glosas. A obra define a glosa, como um tipo de "registro
palavra por palavra dos sinais que a pessoa surda usou, enquanto se
comunicava na linguagem de sinais." O registro da conversa em língua
de sinais, na forma de glosa, teve o propósito de auxiliar os desenhistas
no trabalho de ilustração da representação das unidades léxicas e
também serviu para o estudo da estrutura das frases em língua de sinais.
Os autores fazem a ressalva sobre o uso das glosas, alertando que essas
informam parcialmente o conteúdo do enunciado em língua de sinais.

40
Aline Lemos Pizzio docente e pesquisadora da Universidade Federal de Santa
Catarina é irmã de Marcelo Silva Lemos, ex-aluno da Escola Concórdia.
Segundo ela, sua família recebeu exemplar do livro. Aline fez o empréstimo da
obra na versão em português para comparação da versão em inglês adquirida
para a análise dessa pesquisa.
130
Salientam que parte da mensagem é apresentada através das "expressões
faciais e linguagem corporal dos falantes". Embora as glosas sejam úteis
para estudos da organização espacial da língua de sinais, "não inclui
informações completas da estruturação espacial". (HOEMANN;
OATES; HOEMANN, 1983, p. 103)
A obra apresentou uma coleta de dados obtida a partir das
entrevistas de surdos, chamados de "modelos surdos". As entrevistas
registradas em videotapes foram traduzidas para a língua portuguesa e
essa transcrição foi disponibilizada no livro. O trecho a seguir trata
sobre essa etapa da pesquisa.

O léxico dos sinais à seguir, são provenientes de


fitas videotapes de modelos surdos produzidas em
Porto Alegre, Brasil. Nós reconhecemos que esse
sinais são regionais, um dos diferentes dialetos da
língua de sinais do Brasil. No entanto, nós
achamos que seria melhor para esse momento,
documentar um dialeto do que tentar ser justo e
documentar a língua de sinais de todo o Brasil. É
verdade que os seguintes sinais podem ser usados
com considerável segurança no Rio Grande do Sul
mas devem ser usados com cautela em outras
partes do Brasil (Tradução nossa. HOEMANN in
HOEMANN, HOEMANN, OATES, 1981,
p.115). 41

Esse repertório lexicográfico representa uma fase da


documentação preocupada com a variação regional da língua de sinais
brasileira, alvo de interesse da pesquisa que resultou na obra. As obras
lexicográficas da língua de sinais passaram a apresentar o dado referente
ao estado brasileiro, onde um sinal é utilizado com maior frequência.
Essa informação geralmente é subsequente a glosa, sendo indicada

41
"The following lexicon of sign was derived from the videotapes of deaf models
made in Porto Alegre, Brazil. We recognize that there are regional, dialect
differences in the Sign Language of Brazil. Nevertheless, we felt that it would be
better to document one dialect well than to try to do justice at this time to the
Sign Language od all of Brazil. Thus, the following signs can be used with
considerable confidence in Rio Grande do Sul, but they must be used with
caution in other parts of Brazil."
131
através da sigla do estado brasileiro entre parênteses, que se tornou uma
convenção lexicográfica.
A pesquisa utilizou como metodologia de captação de dados as
entrevistas registradas através da filmagem gravadas em videotapes.
Aqui podemos observar o início da pesquisa de corpus da língua de
sinais e o emprego da tecnologia para elaborações de repertório
lexicográfico. Outro dado importante é a previsão da divulgação dos
registros audiovisuais acompanhando a obra. Isso mostra a construção
de metodologia de pesquisa, o uso de recursos tecnológicos e a criação
de recursos audiovisuais com fins didáticos. Como podemos ver no
excerto da obra a seguir.

Incluímos tanto uma glosa como uma tradução de


boa parte dos materiais em Linguagem de Sinais
que temos em videotapes. Isso é o videotape que
esperamos distribuir como fonte de consulta
auxiliar para acompanhamento deste texto. Nós
incluímos a "glosa" e a tradução para dividir com
o leitor, nosso ponto de vista para o
desenvolvimento dessa obra e algumas fontes que
nós tivemos a disposição para o estudo da
Linguagem de Sinais do Brasil. (Tradução nossa.
HOEMANN, HOEMANN, OATES, 1981, p.
83 42).

Não tivemos acesso ao material audiovisual mencionado na obra,


é possível cogitar a existência desse material audiovisual complementar,
disponível no acervo da Instituição de Ensino Concórdia do estado do
Rio Grande do Sul. Mas não há informações para tal afirmação. Baseado
nas afirmações da obra pode considerar essa iniciativa precursora da
formação de corpus da língua de sinais brasileira e o início dos
multimeios na compilação do repertório lexicográfico da língua.

42
We have included both a gloss and a translation of a sizable portion of the
sing language materials that we have on videotape. This is the videotape that
we hope to disseminate as a resource to go with the text. We have included the
gloss and translation with this text so as to share with the reader our approach
to the development of this text and some of the resources we had at our disposal
for the study of Brazilian Sign Language.
132
A obra é dividida em cinco partes. A primeira parte contém textos
dos autores e colaboradores da pesquisas sobre a língua de sinais e
surdez. A segunda parte apresenta textos de instruções da educação
religiosa dos surdos. A terceira parte trata sobre a língua de sinais na
educação dos surdos. A quarta parte apresenta os dados de quatro
entrevistas registradas em videtapes e sua transcrição em glosas na
língua portuguesa e na língua inglesa. A quinta e última parte apresenta
um repertório lexicográfico composto por: quadro com o alfabeto
manual através do desenho das letras, conjunto de numerais manuais,
conjunto de 337 sinais e uma pequena biografia de cada autor e
colaboradores da pesquisa. Na figura 4.6 apresentamos o quadro com o
alfabeto manual.

Figura 4.6 (HOEMANN, HOEMANN, OATES, 1981, p. 117)

Essa obra resultou de uma pesquisa sobre a língua de sinais


brasileira para divulgação ao público em geral. Grande parte da obra é
ocupada por textos pertinentes a educação dos surdos, história das
línguas de sinais, surdez e a importância da comunicação. Ainda é
comum os repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira
apresentarem textos sobre aspectos gerais da surdez e da língua de
133
sinais. Existem obras que apresentam um dossiê técnico de
desenvolvimento da pesquisa e outros textos pertinentes a área.
Nessa obra, os textos sobre os variados assuntos ocupam grande
maior parte, sendo a última dedicada ao repertório lexicográfico. As
informações referentes as unidades léxicas são as seguintes: a
representação do sinal a partir do desenho com respectivas glosas na
língua portuguesa e na língua inglesa. As informações referentes as
unidades léxicas dessa obra se concentram na nomeação do sinal por
uma palavra na categoria de identificação do sinal por meio da glosa.
Como já foi mencionada, essa obra dispõe de versão em inglês e
português, essa pesquisa fez escolha da versão em inglês, considerada a
língua da pesquisa realizada por uma instituição dos Estados Unidos. Na
versão em inglês, os sinais dispõem das glosas em língua portuguesa
seguida da língua inglesa. A versão em português foi consultada e
apresenta glosas apenas na língua portuguesa.
Essa obra mostra o desenvolvimento do estudo da língua de sinais
brasileira que introduziu a metodologia de coleta de dados precursora
dos métodos para o estudo de corpus da língua de sinais brasileira. A
pesquisa fez o emprego da tecnologia para registro lexicográfico, com a
iniciativa de fazer uso dos registros audiovisuais como material
completar da obra. Essa obra apresentou inovações para a documentação
se tornando referencia bibliográfica importante para a língua de sinais
brasileira.

4.3.3 Novo Deit-Libras - Dicionário Enciclopédico Ilustrado


Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira (Libras) baseado em
Linguística e Neurociências Cognitivas

Fernando Cezar Capovilla, Walkiria Duarte Raphael e Aline


Cristina L. Maurício são autores da obra Novo Deit-Libras -
Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira
(Libras) baseado em Linguística e Neurociências Cognitivas" publicado
no ano de 2012. Conforme a figura 4.7.

134
Figura 4.7 foto da capa Novo Deit-Libras (CAPOVILLA; RAPHAEL;
MAURíCIO, 2012)

A obra propõe um novo paradigma dicionarístico da língua de


sinais através da representação mental da língua e a partir das metáforas
gestuais, os signos linguísticos a serem apresentados nos dicionários. O
Deit-Libras baseado em princípios da neurolinguística, explorou o
potencial criativo e a natureza linguística gestual dos sinais da língua de
sinais brasileira. A Libras possui estrutura MorfÊmica 43 ou FormIcular
nos níveis molecular e molar. A estrutura Morfêmica tem função de
codificar significados abstratos e capacidade de recombinar unidades
mínimas por meio do processo cerebral, processadas na região
perissilviana do hemisfério esquerdo do cérebro 44. Essa estrutura
também tem a função de tornar concreta a dimensão imagética
visoespacial do sinal, processado no hemisfério direito do cérebro. O
Deit-Libras adotou o Paradigma de Espaços Conceituais para a
compreensão da representação mental. Tal paradigma considera a
metáfora resultado do processamento da representação mental
semelhante ao processamento da capacidade sensorial e motora
executadas pelo cerebelo. Isso é a mais recente revelação e descoberta
que é no cerebelo concentra 75% dos neurônios do encéfalo, ao
contrario do que se pensava ser no córtex. Essa constatação da suporte

43
A obra apresenta terminologias com ortografia própria, essa pesquisa
apresenta a nomenclatura conforme se encontra na obra.
44
O Deit-Libras apresenta a língua de sinais a partir da perspectiva da
Neurolinguística apresentando conceitos que foge ao escopo dessa pesquisa que
se concentra nos aspectos formais lexicográficos do interesse desse estudo.
135
para o paradigma de Espaços Conceituais, explica o processamento das
metáforas assim como das línguas de sinais. (CAPOVILLA;
RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p. 21).
O Deit-Libras apresenta um quadro cronológico dos paradigmas
lexicográficos das línguas de sinais que se divide em três fases. A
primeira fase denomina-se "iconográfica", pois considerava a forma do
sinal motivado pelo seu significado. A segunda fase, recebeu o nome de
"stokeana" que descreveu as unidades fonológicas e suas combinações e
recombinações na formação dos quiremas. A terceira fase, surge a partir
das pesquisas em neurolinguística cognitiva para o trabalho de descrição
do sinal, priorizando a forma e os níveis SematosÊmico fino,
MorfÊmico metafórico molar e MorfÊmico metafórico molecular
(CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p. 23).
Na perspectiva do dicionário de Capovilla; Raphael e Maurício
(2012), a dicionarização proposta por Stokoe foi submissa a critérios
saussureanos de arbitrariedade entre o significante e significado. Os
sinais foram analisados de forma fragmentada em unidades
FonoLógicas nomeadas como QuirÊmas. A análise de Stokoe levou em
conta apenas o nível inferior do significado e descartou o nível mais
complexo MorfÊmico. A fragmentação stokeana foi motivada pelo
“esforço de síntese e reconstrução das partes (SematosEmas) que
formam unidades maiores de significado (MorfÊmas moleculares)”. A
pesquisa stokoeana teria imposto a arbitrariedade ao sinal, para
comprovar o processamento do sinal no hemisfério cerebral esquerdo e
descartou a forma do sinal motivada pelo significado processado pelo
hemisfério cerebral direito.

(...) os dicionários da era stokoeana passaram a


tratar os sinais como cadáveres composto apenas
de estrutura (anatomia). Mesmo no nível de
anatomia, a ênfase jazia na estrutura no nível mais
baixo de análise, limitada aos QuirEmas, sem
ascender ao nível dos MorfoÊmas, pois que
qualquer alusão ao significado, ainda que às suas
menores unidades, se arriscaria a ressuscitar o
espectro da motivação da forma (CAPOVILLA;
RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p. 18).

136
É citado McNeil (1972) que enumerou os primeiros dicionários
franceses da língua de sinais de autoria de l'Epée (1776), Sicard (1808),
Bébian (1825), Valade (1854), Pélissier (1856) e Flausino da Gama
(1875), como obras que "faziam alusão ao teor representacional
metafórico dos sinais". Ou seja, as unidades lexicais da língua de sinais
desses dicionários, apresentavam a descrição da forma, a partir da
origem do gesto e as propriedades físicas do objeto ou da ação
empregada sob esse objeto. O teor original e intuitivo dos dicionários da
língua de sinais se perdeu no primeiro dicionário feito pelos linguístas
Stokoe, Casterline e Croneberg em 1965. Esse dicionário eliminou a
natureza pantomímica dos sinais, que violava o princípio de
arbitrariedade entre significante e significado. Classificou a estrutura
sublexical dos sinais em unidades mínimas, para serem capazes de
recombinarem em outros sinais e sentenças e "satisfazer os critérios
saussurianos" (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p.40).
A publicação do Deit-Libras baseado em princípios da
neurociências cognitivas e linguística "entroniza o encéfalo todo,
incluindo os dois hemisférios e o cerebelo" como novo paradigma de
dicionário da língua de sinais. A obra realizou uma "análise
compreensiva da estrutura formal do sinal, como um todo, nos níveis
SematosÊmico e MorfÊmico". A análise do Deit-Libras "procurou
conciliar a elevada precisão linguística da descrição SematosÊmica
típica da fase stokeana" aos processos do hemisfério esquerdo,
considerando ainda os processos motivados pelo "apelo gestual do
significado como inspirador da forma" processados pelo hemisfério
direito. (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p.42)
O trabalho de pesquisa do Deit-Libras se propôs a uma nova
taxionomia, com conceitos e terminologias utilizados na nomeação dos
elementos e aspectos linguísticos da língua de sinais brasileira. A nova
terminologia tem como justificativa se distanciar-se das concepções e
pressupostos de Stokoe. A proposta da taxionomia é o esforço de
mostrar a análise da língua de sinais baseada a partir dos princípios da
neurolinguística cognitiva. (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO,
2012. p.74)
O Deit-Libras apresenta um Léxico de Libras documentado e
analisado no nível SematosÊmico e MorfÊmico Metafórico. Os
SematosÊmas ou SignumÍculos são as menores unidades sublexicais dos
sinais que permitem a distinção entre um sinal e outro. Os MorfÊmas

137
Metafóricos são as menores unidades sublexicais que codificam o
significado dos sinais, mas são baseados nos conceitos de metáfora e
representação mental. (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012.
p. 25).
Capovilla; Raphael e Maurício no trabalho de organização do
Léxico da língua de sinais brasileira, identificaram 1577 MorfEmas
Metafóricos, divididos em 982 Morfêmas moleculares e 595 MorfÊmas
molares com 14 classes semânticas adicionais. Os MorfÊmas molares
consistem em unidades maiores e menos recombinativas. São
caracterizados por seu significado imediatamente transparente para o
observador, são analógicos e aproximados da mímica, tem a função de
codificarem significados mais concretos. Como no exemplo dos sinais:
"macaco", "saltar de paraquedas", "pássaro", "jogar tênis", entre outros.
Os MorfÊmas moleculares consistem em unidades menores capazes de
múltiplas associações e combinações, tem a função de codificarem e
modularem significados complexos e abstratos. (CAPOVILLA;
RAPHAEL; MAURíCIO, 2012, p. 34)
O Deit-Libras propõe que a representação da língua de sinais
brasileira, se concentre na forma das unidades lexicais, segundo
pressupostos da neurolinguística sobre a construção do léxico mental
das línguas de sinais.

Percebemos que, ao postular heuristicamente os


MorfEmas como espírito dos sinais (i.e., como o
elemento formacional morfológico que subjaz aos
sinais que compartilham um mesmo significado),
estamos buscando o atributo formacional comum
a todos os sinais membros de um dado grupo de
sinais (i.e., de todos os sinais que compartilham o
mesmo significado). Inspirados na lógica
aristotélica, estamos operando numa concepção
clássica de formação de conceitos, ao procurar
descrever sumariamente todos os elementos de
cada uma das classes de significado (conceitos ou
MorfEmas) (CAPOVILLA; RAPHAEL;
MAURíCIO, 2012, p. 35).

O Deit-Libras é composto por dois volumes. O primeiro volume


tem 1408 páginas e o segundo volume tem 1360 páginas. A obra é
composta por ficha catalográfica, biografia resumida dos autores, lista
138
de nomes da equipe editorial, sumário, textos de apresentação e
introdução a obra.
Os textos de apresentação da obra correspondem as primeiras 200
páginas do primeiro volume, se dividem em cinco capítulos
introdutórios. O primeiro capítulo apresenta instruções de uso da obra.
Um segundo capítulo trata sobre paradigma neuropsicolinguístico de
refundamentação conceitual e metodológico da linguagem falada,
escrita voltada para a alfabetização de ouvintes, deficientes auditivos,
surdos e surdocegos. Um quadro com o alfabeto manual, numerais
manuais e quadro de configuração das mãos apresentadas pela obra. O
quarto capítulo trata sobre a leitura e escrita em SignWriting 45, a escrita
da articulação visível do português falado e a escrita visual da fala
através do SpeechWritting. O quinto capítulo trata sobre a compreensão
da fala em relação a leitura oro-facial organizada em fluxogramas com
informações AcusticoFonêmica e FaneroLaliÊmica.
Apresenta o repertório lexicográfico de 10.296 sinais da língua de
sinais brasileira. Um sub-repertório lexicográfico Inglês-Português
denominado de New English-Portuguese Thesaurus com 13.757
verbetes em inglês e respectivos 9021 verbetes em português.
Ao final apresenta um índice semântico dos sinais informando
página por página, dispõe de bibliografia com 2000 referências e
apêndices e a lei n. 10436/ 2000 e o Decreto n. 5626/2005.
Essa obra apresenta grande numero e variedade de informações
referentes as unidades léxicas do repertório lexicográfico da língua de
sinais brasileira. A descrição a seguir apresenta o teor de cada uma

45
SignWriting é um sistema de escrita para as línguas de sinais criado por
Valerie Sutton no ano de 1974. O sistema teve origem a partir de um esquema
de notação de paços e movimentos corporais de dança sistematizados por Sutton
profissional e pesquisadora do balé. A notação sistematizada por Sutton foi
apreciado por pesquisadores da língua de sinais da Dinamarca. A notação serviu
como princípio de representação espacial para a representação gráfica das
línguas de sinais. Assim informa Valerie Sutton na homepage que apresenta a
história e funcionamento do SingWriting. Disponível em:
http://www.signwriting.org. No Brasil em 1996, Marianne Stumpf atualmente
docente da UFSC, foi a primeira pesquisadora a investigar o sistema e
metodologia de ensino do SingWriting. É autora da "Tradução Parcial e
Adaptação do Inglês/ASL para Português LIBRAS do livro Lessons in
SignWriting" e do livro infantil “Uma menina chamada Kauana”.
139
dessas informações acompanhada de apontamentos dos próprios autores
sobre a importância e objetivo das informações lexicográficas.
1. Entradas em português apresentada no alfabeto manual. Isso
“permite ao surdo usar a mão como ferramenta metalinguística para
analisar (quebrar) uma palavra escrita em suas menores unidades”.
(CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p. 50). O alfabeto
manual utilizado como informações referente as unidades léxicas é
apresentado na figura 4.8

Figura 4.8 (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p. 163)

2. Imagem ou “ilustração do significado do sinal” se justificam pela


“univocidade propriedade relacionada a iconicidade da figura que evoca
em vários observadores o mesmo nome”. As ilustrações fazem parte de
um banco de dados de 8000 ilustrações testadas com alunos de todos os
níveis de ensino, que reconheceram 2.310 imagens com grau de
140
univocidade. (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p. 52)
Conforme mostra a figura 4.9

Figura 4.9 (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p. 55)


3. Desenho do sinal que corresponde a “ilustração da forma do sinal
mostra a sequência temporal de estágios que se compõe o sinal”. A
representação do sinal, a partir de design gráfico, tem como referencia
34 MorfÊmas correspondentes aos elementos gestuais, esses se repetem
nos sinais que formam um conjunto de sinais distintos, tendo em comum
tal Morfêma. (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p. 55)
4. SignWritting corresponde a escrita visual direta do sinal. A escrita dos
sinais é feita a partir do AlfaBeto SematosÊmico ou ABeCeDário
SignumIcular Internacional que permite a escrita de qualquer língua de
sinais. A escrita visual direta dos sinais é dispositivo para a sinalização
pela mente da criança surda. A criança ouvinte aprende a fazer a
decodificação alfabética, assim como, a criança surda aprende a fazer a
leitura do texto na escrita dos sinais, produzindo a sinalização interna
acompanhada da escrita. (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO,
2012. p. 57).
5. Os sinais contam com verbetes que correspondem a tradução da
Libras para o português e para o inglês. O Deit-Libras apresenta um
repertório léxico de 10.296 sinais, cada sinal dispõe de um a cinco
verbetes do português e um a doze verbetes em inglês. No total, são
aproximadamente 9.021 verbetes em português e 13.757 verbetes em
inglês. Através dos verbetes em inglês e português, é possível localizar
qualquer sinal da Libras, mesmo para aqueles que não conhecem o
português ou a Libras. O surdo brasileiro vai contar com o
conhecimento da Libras e poderá aprender a ler palavras escritas em
inglês, tornando-se conhecedor do universo da escrita na língua
estrangeira. (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p. 57).
6. Os sinais contam com informação entre parênteses, correspondente ao
"escopo de validade do sinal em termos do(s) estado(s) brasileiro(s) em
que ele é com certeza empregada”. Esse escopo reuniu sinais
provenientes do curso Letras Libras, dos seguintes estados brasileiros:
141
São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Distrito
Federal, Bahia, Ceará, Paraíba, Santa Catarina, Paraná, Pernambuco e
Rio Grande do Sul. Esse escopo dos sinais é importante para a
comunicação através da escolha dos itens lexicais adequados as
respectivas regiões brasileiras.(CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO,
2012. p. 59)
7. São oferecidas informações sobre classe gramatical, gênero e
exemplos da língua portuguesa. Essas informações gramaticais do
português tem o objetivo de propiciar que o surdo compreenda o
funcionamento do português e assim possa aprender a usar tais
palavras. (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p. 60)
8. Os sinais contam com a definição do significado, em que consiste tal
sinal. A representação em inglês e português são apontados como parte
da definição lexicográfica. A definição aparece em itálico com a
explicação na língua portuguesa em que consiste o sinal, conforme seu
significado na Libras. A definição do significado representado pelos
verbetes em português e em inglês, tem o propósito de ampliar o
conhecimento de mundo dos surdos, através da Libras, do português e
do inglês. (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p. 61)
9. Descrição sistemática detalhada da forma do sinal valoriza o nível de
composição SematosÊmica ou SignumIcular, ou seja, descreve a forma
de cada elemento constituinte do sinal. Essa descrição do sinal tem
função complementar a ilustração da forma do sinal. A descrição
concentra na composição do sinal e objetiva a sua reprodução eficaz,
sem ambiguidade e sem equívoco, seja para documentar ou reproduzir o
sinal. (CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURíCIO, 2012. p. 62; 63)
As unidades léxicas desse repertório lexicográfico dispõem de
número considerável e variado de informações, em termos de
representação, descrição e definição do sinal. A obra explora o recurso
da ilustração do significado, correspondência em SingWritting e na
língua estrangeira, além, da descrição dos parâmetros que compõe o
sinal. Em relação a definição, consiste da representação da forma do
sinal com dados em português e em inglês. As informação referentes as
unidades léxicas concentra-se em fazer a definição lexicográfica.
Os repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira no
formato impresso teve a desvantagem do suporte bidimensional que
impõe restrições para informações descritivas da língua. A língua de
sinais se apropriou de recursos, graças ao desenvolvimento tencológico,

142
que se mostraram ais eficientes e propiciaram o emprego das mídias,
multimeios, interfaces e ambientes virtuais no trabalho lexicográfico.
Apesar das limitações importas pelo suporte bidimensional, essa obra no
formato impresso redimensionou suas informações e apresentou um
dado novo da definição da unidades léxicas.
O Deit-Libras propõe um novo paradigma de dicionarização da
língua de sinais brasileira com valorização da forma do sinal no nível
MorfÊmico e a composição do sinal no nível SematosÊmico. A
taxionomia própria propõe fazer nova conceituação lexicográfica da
língua de sinais brasileira. A crítica as primeiras investigações e
lexicografia da língua de sinais americana propõem o distanciamento e a
quebra do paradigma lexicográfico apresentado por Stokoe, Casterline e
Croneberg (1965).
Novas propostas lexicográficas para a língua de sinais brasileira
são importantes no fortalecimento do campo de investigação e
constantes melhorias das informações lexicográficas. Mas é válido que
toda pesquisa seja situada no tempo e espaço do seu desenvolvimento
pois todas elas tem seu valor e contribuição para o campo de estudo. As
contribuições do trabalho de pesquisa de Willian Stokoe têm valor
inegável e constituem a trajetória lexicográfica com contribuição
fundamental para a descrição das línguas de sinais. Embora, qualquer
estudo não esteja isento à críticas e contraposição teórica, isso não anula
a relevância das investigações desenvolvidas ao longo do tempo.
Os estudos linguísticos, como foram apontados por Leite (2013),
por muito tempo contaram com a tecnologia da escrita para o estudo das
línguas. Os desenvolvimentos de recursos técnicos trouxeram vantagem
que evidenciaram as limitações da escrita, embora essa ainda seja
considerada a tecnologia mais eficaz nesses estudos. O estudo das
línguas de sinais se apropriou de ferramentas mais eficientes para a
investigação na descrição da língua, mas continua fazendo uso do
sistema de glosas, pois um recurso não anula o outro.
A investigação de Capovilla, Raphael e Maurício (2012) sobre a
língua de sinais brasileira desenvolvida em interface com a
neuropsicolinguística tem importante contribuição. A neurociência é
mais um benefício, fruto do desenvolvimento científico e tecnológico,
para os estudos das línguas de sinais. Graças a iniciativa de investigação
e criação do Deit-Libras, estão sendo exploradas novas formas de

143
elaboração de repertórios lexicográficos, que não anulam mas somam
aos estudos das língua de sinais.
Essa obra é uma das fontes bibliográficas selecionada para análise
dessa pesquisa.

4.3.4 Dicionário de Libras do INES

Outro repertório lexicográfico importante é a obra de Tanya


Amara Felipe-de-Souza e Guilherme de Azambuja Lira, autores do
Dicionário da Língua Brasileira de Sinais. O trabalho teve início com o
projeto Vocabulário da LIBRAS via internet, proposto por Guilherme
Lira e a pesquisa se desdobrou na proposta do dicionário digital da
LIBRAS lançado em 1997. Conforme a figura 4.10

Figura 4.10 foto da capa e contra-capa do Diconário de LIBRAS versão 2.0/2005


em mídia CD.

Felipe (2001(a). p. 34) explica que a ideia de criar um dicionário


da língua de sinais brasileira surgiu da necessidade de tornar as escolas e
a sociedade preparada, para a integração social dos surdos, através da
língua de sinais brasileira. O Instituto Nacional de Educação de Surdos
INES com experiência e tradição na educação dos surdos, foi a
instituição de ensino que ao longo dos anos, cumpriu o papel de divulgar
a língua de sinais brasileira, promover a integração das crianças e jovens
surdos e incentivou educadores, familiares e comunidade por meio de
cursos de LIBRAS oferecidos pela instituição. Nessa perspectiva o
INES desenvolveu estudos linguísticos, elaboração de materiais e criou

144
o dicionário digital com acesso livre via internet para divulgação da
língua de sinais brasileira.
O dicionário de LIBRAS do INES foi uma proposta de repertório
lexicográfico não convencional no formato digital virtual e mídia CD,
com expectativas e propósitos próprios para a obra. O dicionário
envolveu aparato técnico e conhecimentos, exigindo a formação de uma
equipe especializada no desenvolvimento do projeto de trabalho em
diferentes etapas. Segundo Felipe (2001 (a) p. 38) o projeto reuniu uma
equipe de especialistas em diferentes áreas, da linguística voltadas para
a LIBRAS, da lexicografia e da informática, também reuniu surdos com
domínio em LIBRAS e bom conhecimento da língua portuguesa, além
de experiência em pesquisa ou educação de surdos.
O corpo de especialistas foi formado por Guilherme Lira,
responsável pela organização da equipe, gerenciamento dos recursos,
prestação de contas, supervisão da informática e filmagem. Solange
Rocha, responsável pela seleção dos participantes da equipe,
gerenciamento dos materiais e infra-estrutura oferecida pelo INES.
Tanya Felipe, responsável pela metodologia da sistematização da
compilação, tratamento e apresentação dos dados e supervisão da equipe
dos surdos. Os surdos atuaram como pesquisadores e informantes da
pesquisa, responsáveis pela organização do banco de dados, filmagem e
tratamento das imagens. Uma equipe formada por Paulo André M.
Bulhões, Patrícia B. F. Gazale, Elaine M. L. Bulhões, Heloise Gripp
Diniz, Nelson Pimenta, Leandro Elis Rodrigues, Adriana Veiga, Ana
Regina Campello entre outros 46. Uma equipe responsável por assuntos
lexicográficos, na elaboração das acepções e exemplos em português.
Uma equipe responsável pela criação da plataforma e interface digital
do dicionário. Uma equipe responsável pelos vídeos, imagens e
organização do banco de dados. E uma equipe responsável pela
digitação dos dados da pesquisa e atualização da plataforma. (FELIPE-
DE-SOUZA, 2001 (a). p. 39)
O trabalho de compilação lexicográfica dessa obra envolveu um
levantamento dos itens lexicais a partir da consulta de 17 fontes

46
Alguns dos colaboradores da pesquisa são apresentados apenas pelo primeiro
nome cujo sobrenome foi corrigido ou localizado para serem indicados. Os
colaboradores: Elizabeth, Elaee, Aulio, Roberto, Liane e Vera são indicados
são exemplos de colaboradores que tiveram apenas os primeiro nomes
apresentados no artigo.
145
bibliográficas 47 já existentes, sendo essas fontes advindas de diferentes
regiões do país. Foi feita a compilação de repertório léxico de dados
correspondentes na língua portuguesa através de dicionários do
português. A pesquisa das palavras da língua portuguesa mostrou
existirem correspondências da língua de sinais não informadas pelas
fontes bibliográficas. Foram acrescentados os sinais faltantes na
nomenclatura do repertório léxico da obra. O repertório léxico
compilado formou um conjunto de 3.587 sinais, mas como a pesquisa
não supõe ser conclusiva, existe a possibilidade de novas inserções de
sinais na plataforma, mediante ampliação do repertório léxico.
(FELIPE-DE-SOUZA, 2001 (a). p. )
É importante colocar em evidência as fontes bibliográficas do
Dicionário Digital de LIBRAS indicadas em nota. Essas obras
representam as primeiras iniciativas de documentação dos repertórios
lexicográficas e fontes bibliográficas para uma obra em formato digital

47
FERREIRA, Delma B.Faville et all. Linguagem de Sinais As mãos também
falam. Rio de Janeiro: Oficinas de artes gráficas do INES. 1989
DUARTE, Antônio Mários S. Cominicando com as mãos. Associação dos
Surdos de Teófilo Otoni.
STROBEL, Karin Lilian. Falando com as mãos. Curitiba: Secretaria de estado
de Educação. 1998
OLIVEIRA, Ahygo Azevedo de e Macedo, Mirlene F. Aìgo: a arte de
comunicar I: Línguas de sinais. Uberlândia: Editora AMEDUCA. 1998
ABREU, Antônio Campos. Língua Brasileira de Sinais.Belo Horizonte:
FENEIS. 1998
CAPOVILLA, Fernando C.(org.) Manual ilustrado de sinais e sistema de
comunicação em rede para surdos.São Paulo: Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo, 1998.
RABELO, Annete Scotti. Português Sinalizado: Comunicação Total. Volume I
. Série Educação Especial. Goiânia: Ed. UCG, 1992.
GOMES, Edson Franco e Ferreira, João Bosco. Cartilha Paraense de Sinais.
Belém: Secretaria de estado de Educação, 1997
GOMES, Edson Franco. Língua Brasileira de Sinais - Curso Básico. Apostila
do Curso Chaplin. Distrito Federal.
HOEMANN, Harry W. e Oates, Eugênio. Linguagem de Sinais do Brasil. Porto
Alegre: Centro de Educacional para Deficientes Auditivos. 1983.
OATES, Eugênio. Linguagem das Mãos. Aparecida.: 2ª Edição. Editora
Santuário, 1983.
Sociedade Torre de Vigia de Bíblia e Tratados. linguagem de Sinais. São Paulo.
1992.
146
virtual. Isso mostra a importância do trabalho de compilação e
documentação do repertório léxico da língua. Quanto aos nomes dos
colaboradores do Dicionário Digital, esses foram protagonistas que
deixaram suas contribuições na trajetória lexicográfica da língua de
sinais brasileira.
Para Felipe (2001 (a). p. 40) uma diferença entre o Dicionário
Digital e os outros repertórios lexicográficos existentes, é que além de
apresentarem os sinais com correspondentes em português, também
apresenta exemplos de uso e acepções em português para serem
apreendidos a partir do contexto.
A equipe de surdos pesquisadores informantes, formularam frases
em LIBRAS exemplificando e contextualizando os sinais e as
respectivas palavras em português. Foi utilizado o sistema de transcrição
da LIBRAS em português, com adaptações e convenções adequadas as
línguas de modalidade gestual-visual representadas, através da escrita da
língua oral-auditiva.
Outro diferencial do Dicionário Digital seria o emprego da
tecnologia e multimeios para a representação das informações
lexicográficas conforme mostra os apontamentos a seguir.

Todos os sinais pesquisados estavam desenhados


ou fotografados em livros ou apostilas, que não
permitem visualizar o movimento e a orientação,
por isso a introdução de recursos gráficos. Esse
dicionário, portanto, oferece a possibilidade de se
ver o sinal sendo realizado a partir de todos os
parâmetros que o compõem, ou,seja: configuração
de mão(s), orientação/direcionalidade, ponto de
articulação e movimento. (FELIPE-DE-SOUZA.
2001 (a). p. 41)

Outra diferença dessa obra que representou significativamente o


desenvolvimento e avanço técnico dos repertórios lexicográficos da
língua de sinais brasileira foi marcado por três fatores: o formato em
vídeo da informação lexicográfica, o arranjos dessas informações na
interface digital e o sistema de busca adequado a modalidade visual
espacial das línguas de sinais. A figura 4.11 mostra os campos das
informações lexicográficas e a estrutura com sistema de busca do
repertório lexicográfico.

147
Figura 4.11 Imagem da interface do Dicionário de LIBRAS (FELIPE-DE-SOUZA e
LIRA, 2005)

As informações referentes as unidades léxicas do repertório


lexicográfico são apresentadas na interface organizada por campos
correspondentes: a ferramenta de busca por ordem alfabética das
palavras em português, assunto relativo ao sinal, configuração de mão.
As informações são apresentadas nos campos identificados por:
assunto, palavra, acepção, vídeo (representação do sinal), exemplo em
português, exemplo em LIBRAS, classe gramatical (correspondência em
português), origem (região com maior frequência de uso do sinal) e
configuração da mão. A figura 4.1 mostra a disposição dos campos e
suas respectivas informações.

Figura 4.12 Imagem da interface do Dicionário Digital da LIBRAS (FELIPE-DE-


SOUZA e LIRA, 2005)

148
As informações referentes as unidades léxicas dessa obra,
apresentam-se na categoria de síntese da descrição, nomeação por glosa
e inovações a partir das ferramentas tecnológicas. Uma das inovações
muito importante é a informação em vídeo, recursos eficientes para a
representação da língua, como explica a autora.

A filmagem do sinal tem a vantagem de mostrá-lo


em sua realização, não havendo necessidade da
utilização de recursos gráficos que muitas vezes,
apesar dos esforços, não dão conta de sua
realização em todos os seus parâmetros. (FELIPE-
DE-SOUZA, 2001. p. 42)

Outra inovação é a ferramenta de busca a partir da configuração


de mão 48, recurso que anuncia a possibilidade da ordenação das entradas
dos dicionários das línguas de sinais a partir do parâmetro básico das
unidades léxicas da língua de sinais. Conforme na figura 4.13

Figura 4.13 Imagem do quadro das CM(s) utilizado no sistema de busca do


Dicionário Digital da LIBRAS (FELIPE-DE-SOUZA e LIRA, 2005)

Essa fonte bibliográfica apresentou inúmeros avanços técnicos


com inovações no tratamento das unidades do repertório léxico, com
ponderações mais detalhadas na análise da obra.

48
As configurações de mão apresentadas nessa obra são baseadas nos estudos
de Ferreira-Brito e Felipe-de-Souza.
149
Concluímos o primeiro momento da abordagem metodológica da
pesquisa que propôs apresentar informações gerais sobre os repertório
lexicográficos escolhidos para análise da elaboração da definição
lexicográfica.
A partir das observações iniciais, essas obras evidenciam serem
representativas da lexicografia da língua de sinais brasileira. Quanto as
informações referentes as unidades léxicas concentram dados nas
categorias de: "descrição", "nomeação por glosa", "definição" e "síntese
dessas informações com inovações técnicas". A evolução da elaboração
da definição lexicográfica mostrou o desenvolvimento de metodologias
do tratamento lexicográfico e consequentemente a melhora da qualidade
dessas obras.
O segundo momento da abordagem metodológica apresenta a
análise das definições lexicográficas referente as cores na língua de
sinais brasileira, assunto do próximo capítulo dessa pesquisa.

150
5. Análise da definição lexicográfica das unidades léxicas referente
às cores apresentadas nos repertórios léxicos da língua de sinais
brasileira

Esse capítulo apresenta a análise da definição lexicográfica das


unidades léxicas referente as cores em língua de sinais brasileira. Cada
conjunto forma pelas unidades léxicas referente as cores, são
apresentados acompanhados de ponderações sobre o teor das suas
informações. Fazendo uso da tabela, as informações são comparadas aos
critérios metalexicográficos. A conclusão da análise faz apontamentos
dos aspectos mais importantes encontrados nas definições lexicográficas
e sobre os indicativos do desenvolvimento dos repertórios léxicos da
língua de sinais brasileira apresentados nessas obras.

5.1 Unidades léxicas referente as cores no repertório lexicográfico


de Oates (2010)

A obra de Oates (2010. p. 163 - 167) apresenta o capítulo III,


cujo conteúdo, é um conjunto de 13 unidades léxicas referentes as cores
em língua de sinais brasileira.
Como já foi mencionado nas observações gerais, as informações
referente as unidades léxicas dessa obra consistem da: representação da
unidade léxica, por meio de fotografia em preto e branco,
correspondência do sinal em glosa na língua portuguesa e descrição da
forma de realização do sinal. O conjunto das unidades léxicas segue a
seguinte sequência: "amarelo", "azul", "branco", "cinzento", "cor de
rosa", "cores", "lilás", "marrom", "moreno", "preto", "roxo", "verde" e
"vermelho".
Uma consideração inicial sobre as informações referentes as
unidades léxicas, é a concentração dos dados referente ao sinal. A etapa
de observação geral dessa obra, identificou que as informações
referentes as unidades léxicas são concentradas em torno dos elementos
compositivos do sinal, ou seja, as informações tem caráter descritivo da
forma do sinal. Para a análise, isso implica que a obra não apresenta
todas as informações que favoreçam um estudo comparativo, a partir
dos critérios da elaboração da definição segundo princípios
metalexicográficos.
Outra consideração, é que todos os verbetes apresentam a descrição

151
da forma do sinal, portanto, o mesmo tipo de tratamento é aplicado para
todas as unidades léxicas do conjunto de cores. Para a análise, isso
implica na repetição dos dados, sem acrescentarem aspectos relevantes a
serem pontuados.
Com as devidas ressalvas, a ponderação sobre essa obra se
concentrara no que ela representa para os repertórios da língua de sinais
brasileira. Inserimos as informações na tabela 5.1 para início da análise
comparativa.
Linguagem das mãos (OATES, 2010)
Critérios Indicativos:
Definido Definidor SIM(x)NÃO(-)
metalexicográficos
Equivalência -
Comutabilidade -
Identidade categorial
Análise/ transparência/ -
autossuficiência -
-

152
Tabela 5.1 Verbetes das unidades léxicas referente as cores em língua de sinais
brasileira da obra de Oates (2010. p. 163 - 167)

Como já foi tratado no capítulo teórico dessa pesquisa, Dapena


(2002. p. 269) diz que a definição lexicográfica consiste de dois
elementos, o definido que é a apresentação da unidade léxica e o
153
definidor que apresenta a informação explicativa sobre as unidades
léxicas. Observamos que a obra de Oates (2010) dispõe das seguintes
informações: a representação das unidades léxicas a partir da fotografia,
sua correspondência em glosa da língua portuguesa e a descrição da
forma do sinal. Tais informações se caracterizam como definido, cujo
teor se propõe a representar, nomear e descrever as unidades desse
repertório lexicográfico.
Nesse caso a análise comparativa dessas informações com os
critérios metalexicográficos, leva em conta que, o propósito desses
dados lexicográficos, interessados em explicar os parâmetros de
configuração, movimento, localização, direção da mão e dedos, sendo
importante explicar os elementos compositivos dos sinais e sua
correspondência na língua portuguesa através do emprego das glosas. A
seu tempo essa obra apresentou trabalho lexicográfico relevante e
continua sendo uma referência para a compreensão do processo de
desenvolvimento da lexicografia da língua de sinais brasileira.
Em relação a importância das glosas, observamos que algumas
unidades léxicas receberam nomeação peculiar e informações extras
comparadas aos dados dos outros verbetes. A glosa para "CINZENTO"
e "MORENO" são peculiares para a nomeação de cores. Já a glosa
"VERMELHO" conta com informações extras, os sinônimos "encarnado
e escarlate" e a glosa para "PRETO" também dispõe do sinônimo
"negro", informações adicionais para essas unidades léxicas. Essas
informações mostram dados lexicográficos concentrados em torno do
elemento "definido". Portanto essa obra, em termos de critério meta-
lexicográfico, apresenta informações que consistem no "definido" das
unidades do repertório lexicográfico da língua de sinais brasileira.
Como já foi apontado, é importante situar as pesquisa em seu
tempo e contexto de desenvolvimento para evitar conclusões
equivocadas em relação ao valor dos estudos. Assim também, é válido
situar os repertórios lexicográficos das línguas de sinais em seu tempo e
contexto de produção. Essa obra apresenta informações na categoria de
descrição da forma dos sinais e seus elementos compositivos e dessa
forma representa uma fase específica da documentação da língua de
sinais e do processo de desenvolvimento dos repertórios lexicográficos
dessa língua.

154
5.2. Unidades léxicas referente as cores do repertório lexicográfico
de Hoemann, Hoemann e Oates (1981)

A obra de Hoemann, Hoemann e Oates (1981) apresenta um


conjunto de 7 unidades léxicas referente às cores em língua de sinais
brasileira. O repertório lexicográfico segue a ordem alfabética da língua
portuguesa, em que se apresentam as glosas dos respectivos sinais.
Na etapa das observações gerais, essa obra mostrou ser precursora
da metodologia de compilação lexicográfica a partir do registro dos
dados em filmagens, utilizadas para elaboração da representação dos
sinais por meio do desenho e sua identificação em palavras da língua
portuguesa e da língua inglesa. O desenho e a glosa são os recursos mais
tradicionais e comumente empregados na lexicografia da língua de
sinais brasileira. O conjunto de unidades léxicas referente as cores são
apresentadas na seguinte ordem: "amarelo", "azul", "branco", "laranja",
"preto", "verde" e "vermelho".
A análise das informações referentes às unidades léxicas se
concentra na representação do sinal através do desenho e sua
correspondência na glosa. Mas antes, são feitas algumas considerações
sobre o emprego e função da glosa para os repertórios lexicográficos da
língua de sinais brasileira.
McCleary e Viotti (2007. p. 5) recomendam que o emprego das
glosas, no caso de transcrição de sentenças em língua de sinais, observe
a importância do vínculo entre o nome ou glosa e a descrição da forma
do sinal. A prática da glosa por vezes ignora a necessidade da descrição
da forma do sinal, por julgar ser do conhecimento a maneira como se
realiza um sinal. O que pode ser considerado um equivoco, sendo um
bom exemplo, as variações regionais dos sinais, atribuídas de glosas,
cuja forma do sinal, pode apresentar consideráveis diferenças na sua
realização. Outra observação sobre o emprego da glosa é a prática de
atrelar o sinal a um nome, ocasionando a tradução daquele sinal baseado
"no sentido dominante" atrelado a um contexto específico que não seja
transcrito. A tradução por vezes não parece apropriada, mas existe forte
apelo na associação da glosa a um determinado sinal.
Sendo assim, a glosa pode ser considerada como uma
representação do sinal, útil para a transcrição, com a ressalva que seu
emprego deve observar a aproximação de correspondência sem ser
atrelada a um nome, variável mediante o contexto de realização do sinal.

155
Isso mostra que a identificação do sinal por meio da glosa, não é
insuficiente como informação lexicográfica, tendo em vista que o sinal
pode ser interpretado e atrelado a glosa de forma muito simplista. A
glosa serve como instrumento de identificação do sinal que possui
propriedades em si que não são atribuídas por um nome, mas precisam
ser invetigadas como uma unidade lexical das línguas de sinais. Na
atualidade, os repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira
ampliaram os dados relativos às unidades léxicas e maior número de
informações ofereceidas pelas obras.
A seguir são inseridos na tabela 5.2 as informações referentes as
unidades léxicas e as respectivas ponderações sobre essa obra.
The Sing Language of Brazil (Hoemann, Hoemann, Oates, 1981)
Definido Definidor Critérios Indicativos:
SIM (x)NÃO (-)
metalexicográficos
Equivalência -
Comutabilidade -
Identidade categorial
-
Análise/
transparência/ -
autossuficiência -

Tabela 5.2 Verbetes das unidades léxicas referente as cores em língua de sinais brasileira
da obra de Hoemann, Hoemann e Oates (1981. p. 123; 127; 130; 150; 165 e 175)
156
Em relação ao conjunto de unidades léxicas não há verbete para o
sinal referente a "cor" ou "cores". O verbete para cor "preto" atribui a
mesma glosa para sinal correspondente a pessoa de pele negra e o
verbete para cor "laranja", atribuem a mesma glosa para o sinal
correspondente a "sábado" sem a informação que um mesmo sinal com
a mesma glosa representa a fruta cítrica, o dia da semana e a cor.
Quanto ao teor das informações referentes as unidades léxicas, essas se
concentram em torno da representação do sinal, por meio do desenho e
sua identificação por meio da glosa.
Em primeiro plano é apresentada a representação do sinal através
do desenho, a técnica tradicionalmente empregada para a representação
do repertório léxico da língua de sinais brasileira. Como a própria obra
afirmou, que foram feitos registros das conversas em língua de sinais
com a transcrição em glosas para auxiliarem os desenhistas responsáveis
pelas ilustrações do repertório léxico da obra. (HOEMANN,
HOEMANN e OATES, 1983. p. 103) Essa técnica utilizada para a
representação da língua de sinais, foi incorporada e readequada pela área
do design gráfico, uma das grandes contribuições da informática.
Com o desenvolvimento da tecnologia o recurso do desenho
passou a ser executado através do computador, capaz de produzir
ilustrações com padrões muito mais apurados das imagens. No caso da
língua de sinais, o design gráfico contribuiu com o padrão e qualidade
das informações. Permitiu o acréscimo dos sinais não manuais,
constituídos das expressões faciais, direções do olhar e do corpo do
sinalizante. Mas as primeiras iniciativas de representação da língua de
sinais a partir do desenho que foram responsáveis pela documentação do
repertório léxico da língua.
Uma observação importante a ser feita, se refere a convenção da
glosa em caixa alta apresenta nessa obra em letras minúsculas. As glosas
foram empregadas com o propósito de identificação das unidades
léxicas da língua de sinais, as palavras em língua portuguesa e língua
inglesa. Para McCleary e Viotti (2007) é recomendável que os sinais
nomeados por glosas contem também com a descrição da forma do
sinal, observando que o sinal não esteja preso a um nome.
Concluímos a análise dessa obra, a partir das observações sobre as
informações referentes ao conjunto de unidades léxicas, considerando
que seu objetivo era a representação das unidades léxicas através do
desenho e a identificação dos sinais por meio das glosas na língua

157
portuguesa e na língua inglesa. Constatamos que a representação dos
sinais por meio do desenho e sua identificação por meio da glosa apesar
de limitados foram importantes para os repertórios lexicográficos. E que
a representação através do desenho foi readequado para serem
executados pelos computadores. Demonstrando que essa obra é uma das
iniciativas da documentação da língua de sinais brasileira que
garantiram o registro lexicográfico da língua e melhorado com o
desenvolvimento da tecnologia.

5.3 Unidades léxicas referente as cores do repertório lexicográfico


Capovilla, Raphael e Maurício (2012)

A obra de Capovilla, Raphael e Maurício (2012. p. 832 - 839)


apresenta um conjunto de 34 unidades léxicas referentes as cores em
língua de sinais brasileira. As unidades formam um conjunto de verbetes
com a palavra "cor" seguida dos nomes, em alguns casos, os nomes são
numerados, indicando mais de um sinal. O conjunto reúne os verbetes
na respectiva ordem: "cor (1); "cor (2); "cor alaranjada"; "cor amarela";
"cor azul"; "cor bege(1)"; "cor bege (2)"; "cor bege (3)"; "cor berrante";
"cor branca (1)"; "cor branca (2)"; " cor cinza"; "cor coral"; "cor
dourada"; "cor lilás (1)"; "cor lilás (2)"; "cor marrom (1)"; "cor marrom
(2)"; "cor marrom (3)"; "cor prateada"; "cor preta"; "cor rosa"(1)"; "cor
rosa (2)"; "cor rosa (3)"; "cor rosa (4)"; "cor roxa"; "cor salmão"; "cor
verde (1)"; "cor verde (2)"; "cor verde claro"; "cor verde escuro"; "cor
vermelha"; "cor violeta (1)" e "cor violeta (2)".
As observações gerais sobre essa obra, identificaram que as
informações referentes as unidades léxicas são variadas, em termos de
representação, descrição e definição do sinal. Em termos de
representação dispõe da ilustração do significado do sinal, a ilustração
da forma do sinal, a ilustração do sinal em SingWritting, o nome do sinal
no alfabeto manual, o nome do sinal em português seguido da região
onde é mais frequentemente tal sinal e o nome em inglês. Em termos de
descrição do sinal dispõe dos parâmetros que compõe o sinal, as
orientações de realização e a forma visual espacial. Em termos de
definição lexicográfica apresenta: em que consiste a unidade léxica sua
classe gramatical, gênero e exemplos em língua portuguesa baseado na
língua de sinais brasileira. A partir das observações feitas sobre as

158
informações das unidades léxicas referente as cores, podemos dizer que
se concentram na categoria de definição lexicográfica.
Essa obra apresenta um amplo conjunto de verbetes com
considerável número de informações para a análise comparativa com os
critérios metalexicográficos. As informações da definição apresentam
tratamento específico da cada unidade léxica das diferentes cores. No
entanto, alguns verbetes, no caso de mais de um sinal, a definição da cor
(1) que serve de referência para as definições dos outros verbetes.
Portanto, foi escolhido o verbete utilizado como referência para os
subsequentes, considerando informações suficientes a serem analisadas.
Na tabela 5.3 são inseridas as informações referentes as cores e são
feitas algumas considerações para cada verbete assim por diante todos
são analisados e comparados aos critérios metalexicográficos.

Novo Deit-Libras - Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira


(Libras) baseado em Linguística e Neurociências Cognitivas de Capovilla, Raphael e Maurício
(2012)

159
Definido Definidor Critérios Indicativos:
metalexicográficos SIM(x)NÃO(-)
Substantivo feminino (s. f.). Equivalência x
Impressão variável sobre o Comutabilidade x
aspecto das coisas Identidade categorial x
que é consequente da Análise/
percepção que a luz refletida x
transparência/
pelos corpos produz no olho. autossuficiência x
Suas três principais -
características são a
saturação, a matiz e o brilho.

As informações referentes a cor podem ser divididas em duas


partes. Nessa primeira parte, as informações são comparadas aos
critérios de análise da definição lexicográfica. As informações tratam
sobre a impressão e sensação visual esclarecendo o fenômeno da cor a
partir de dados eficientes na explicação do que vem a ser a cor. O
critério de equivalência se cumpre entre o definido e o definidor.
Também atende o critério de comutabilidade, sendo possível a
substituição da explicação pela própria cor ou, obedecendo a
metalinguagem de conteúdo através da formulação do definidor fazendo
uso das palavras adequada e com sentido do definido. O critério de
identidade categorial se cumpre expressão do definido corresponde a
categoria de substantivo feminino, respeitando a metalinguagem de
conteúdo através das palavras com valores apropriados a categoria
gramatical do definido. O critério subdividido em análise, transparência
e autossuficiência, observou-se que a definição lexicográfica empregou
palavras legítimas, frequentes de forma simples e eficaz, no entanto, não
atende o critério de autossuficiência pois não são todas as palavras parte
da nomenclatura da obra disponíveis para consulta dos seus respectivos
sinais e definições.
A segunda parte do verbete, apresenta informações que
caracterizam a cor a partir de três aspectos principais: a saturação, a
matiz e o brilho. Esses dados podem ser considerados como informações
extras importantes para composição da definição lexicográfica. No
entanto, não foi feita a análise comparativa dessas informações devido a
redação fragmentada atribuírem característica adicionais da definição da
cor na primeira parte do verbete.

160
Definido Definidor Critérios Indicativos:
metalexicográficos Sim (x)Não (-)
Substantivo feminino (s. Equivalência X
f.) A coloração amarela, Comutabilidade X
que é a cor da luz do Sol. Identidade categorial
A cor da gema do ovo. A Análise/ X
cor do ouro. A cor do transparência/ X
losango da bandeira autossuficiência X
brasileira. x

O verbete referente da cor amarela recebeu algumas observações


específicas sobre o teor das informações da definição lexicográfica e dos
exemplos em português baseado na língua de sinais brasileira. A
definição lexicográfica apresenta as informações de maneira
comparativa da cor amarela e a coloração de outros objetos. No entanto,
a comparação da cor amarela com a luz do sol e a cor do ouro parecem
não ser muito precisa. Em termos de critério de equivalência, existe
correspondência entre o definido e o definidor na forma da expressão
explicativa. O critério de comutabilidade se cumpre com a substituição
do definido pelo definidor ou vice versa, sem fugir a regra da
metalinguagem de conteúdo, cujas palavras na formulação do definidor
são adequadas para explicação da cor amarela. O critério de identidade
categorial se cumpre através do definidor com expressão abrangente o
suficiente para representação da categoria de substantivo feminino, sem
fugir a regra da metalinguagem de conteúdo, cuja formulação do
definidor é a partir de palavras eficientes para representação da categoria
de substantivo. O critério subdividido em análise, transparência e
autossuficiência, se cumprem na definição lexicográfica formulada a
partir de palavras legítimas, de uso frequentes apresentadas de maneira
161
clara e eficiente com sua maioria disponíveis na obra para consulta dos
sinais e respectivas definições.
Cabe uma observação referente a informação da categoria dos
exemplos: Ex.: No espectro solar, a cor amarela está entre a cor verde
e a cor alaranjada. Ex.: Brincando com a aquarela, descobri que se
misturarmos a tinta de cor amarela com a tinta de cor azul obterá a
tinta de cor verde; e se misturarmos a tinta de cor vermelha obterá a
tinta de cor alaranjada. A análise dessas informações mostrou teor mais
apropriado para a definição lexicográfica. A formação das cores, a partir
do espectro da luz contribuiria com a qualidade da definição
lexicográfica da cor amarela. A explicação da diferença entre as cores
primárias e cores secundária são dados relevantes. É importante um
padrão das informações que compõe a definição lexicográfica, com a
função de explicar em que consiste a unidade léxica. E o exemplo, com
a função de indicar o uso da unidade léxica na construção de uma
expressão na língua.

Definido Definidor Critérios Indicativos:


metalexicográficos Sim (x) Não(-)
Equivalência x
Substantivo feminino (s. f.) Comutabilidade x
A coloração azul é cada uma Identidade categorial
x
das gradações dessa cor. Análise/
Cor do céu sem nuvens e transparência/autoss x
com o sol alto. uficiência x
x

A análise do verbete referente a cor azul, também fez algumas


considerações específicas sobre o teor das informações da definição
lexicográfica. As informações são apresentadas em forma de
comparação com a coloração dos objetos. O critério de equivalência se
162
cumpre através da correspondência eficiente entre o definido e o
definidor. O critério de comutabilidade é atendida sendo possível
substituição do definido pelo definidor, atendendo o quesito da
metalinguagem de conteúdo, que usou palavras apropriadas para
explicarem o que é a cor azul. O critério de identidade categorial,
também se cumpriu, através do definidor eficaz em representar a
categoria de substantivo, obedecendo a regra da metalinguagem de
conteúdo, cujas as palavras utilizadas na formulação do definidor são
suficientes na representação da categoria de substantivo. O critério com
subdivisões em análise, transparência e autossuficiência, é atendido na
qualidade das palavras apropriadas, comuns, aplicadas com clareza e
sendo todas partes da nomenclatura disponível para consulta na obra.
Nesse verbete os exemplos mostram o teor de suas informações
mais significativas para a composição da definição lexicográfica. O
verbete apresenta o seguinte exemplo: Ex.: No espectro solar, a cor azul
é a primitiva que se situa entre a cor verde e o a cor anil. A análise da
qualidade dessa informação identificou a relevância dos dados sobre a
formação da cor azul no espectro das cores. A posição entre a cor verde
e a cor chamada de anil introduz o assunto das cores primárias e
secundárias relevantes para a definição lexicográfica.

Definido Definidor Critérios Indicativos:


Sim (x) Não(-)
metalexicográficos
Equivalência X
Substantivo feminino Comutabilidade X
(s.f.) A cor da laranja Identidade categorial
X
madura. Análise/
transparência/ X
autossuficiência X
X

163
Esse verbete apresenta a definição lexicográfica a partir da
referência da coloração da fruta cítrica. A análise do critério de
equivalência considerou haver correspondência pertinente entre o
definido e o definidor. O critério de comutabilidade também é
verdadeiro, sendo possível a substituição do definido pelo definidor ou
vice versa, além de respeitar a regra da metalinguagem de conteúdo,
cuja formulação do definidor usou palavras eficazes na explicação do
definido. Com relação ao critério de identidade categorial, o definidor
sintetiza os dados representativos da categoria gramatical, além de
obedecer a regra da metalinguagem de conteúdo através das palavras
adequadas a representação da classe do substantivo. O critério de
análise, transparência e autossuficiência, são atendidas, quanto ao uso
das palavras legítimas, do uso corrente, simples, esclarecedoras e
acessíveis na própria obra.
O verbete conta com um exemplo que chamou a atenção o teor dos
seus dados. A cor alaranjada é associada a um movimento cultural que
repercutiu em todas as sociedades. O verbete tem o seguinte exemplo:
Ex.: A cor alaranjada era muito popular no movimento psicodélico dos
anos 1960 e 1970, ao lado da cor roxa.. A análise considerou essas
informações adicionais sem as propriedades para compor a definição
lexicográfica. No entanto são informações interessantes mas para a
definição seria mais útil a formação das cores secundárias, entre as quais
está a cor laranja, nomeada pelo verbete como alaranjada.

164
Definido Definidor Critérios Indicativos:
metalexicográficos Sim (x) Não(-)
X
Substantivo feminino Equivalência X
(s.f.) Cor amarelada, Comutabilidade
como a casca da avelã e a Identidade categorial X
areia da praia. De cor Análise/ X
amarelada como a da lã transparência/
X
em seu estado natural. autossuficiência
X

O verbete da cor bege, também apresenta informações a partir da


comparação com a coloração natural da matéria das coisas. É relevante
destacar que a definição lexicográfica não associa a cor ao tom da pele.
Esse é um equivoco comum no ramo comercial de materiais de pintura
nomeiam essa cor como "cor de pele". Quanto ao critério de
equivalência, se estabelece correspondência eficiente entre o definido e
o definidor, embora a redação da definição em duas frases tenha
fragmentado a informação, para o teste pelo critério de equivalência de
forma mais adequada. O critério de comutabilidade, nesse caso, foi
prejudicado por essa fragmentação da informação, contudo é suficiente
para a substituição entre definido e definidor. E atende o quesito da
metalinguagem de conteúdo, cujas palavras utilizadas para formar o
definidor são eficientes em sua explicação. O critério de identidade
165
categorial, também sofreu com a fragmentação da informação, mas seu
teor é suficiente na representação da categoria de substantivo, seguindo
a regra da metalinguagem de conteúdo, com palavras de valores
adequados a categoria do substantivo. Nos quesitos de análise,
transparência e autossuficiência, as informações são apresentadas
através de palavras legitimas usuais que compõe expressões
elucidativas, simples e acessíveis para consulta na própria obra.

Definido Definidor Critérios Indicativos:


metalexicográficos Sim (x) Não (-)
Substantivo feminino Equivalência X
(s. f.). A cor branca, resultante Comutabilidade X
da junção de todos os Identidade categorial
espectros da luz solar, tal Análise/ X
como existe na luz na transparência/ X
decomposta. A cor do leite, da autossuficiência
X
neve, da cal ou da pétala de
margarida, que é alva, cândida, -
clara.

As informações referentes a cor branca se dividem em duas


partes, uma parte apresenta dados de definição e a outra parte dados de
comparação. Foi considerada a relevância dos dados da primeira parte
da definição, sendo estes escolhidos para serem analisados. A primeira

166
parte conta com informações sobre as propriedades da luz e sua refração
com efeito da percepção das cores. O critério de equivalência se
estabelece através da correspondência entre o definido e o definidor. O
critério de comutabilidade, também é atendido, sendo viável a
substituição entre o definido pelo definidor, sob a regra da
metalinguagem de conteúdo, as palavras que expressam o definidor são
suficientes para explicarem a cor branca. Em relação ao critério de
identidade categorial, o definidor representa de forma adequada a
categoria de substantivo, obedecendo ao quesito da metalinguagem de
conteúdo, através das palavras apropriadas constituintes do definidor
que representam a classe gramatical do definido. O critério subdividido
em análise, transparência e autossuficiência, se cumprem a partir de
palavras próprias, usuais, simples e claras. No entanto, a
autossuficiência, não é atendida, pois não são todas as palavras que
constam na nomenclatura da obra para consulta dos sinais e suas
respectivas definições.

167
Definido Definidor Critérios Indicativos:
SIM (x)NÃO (-)
metalexicográficos
Substantivo Equivalência -
feminino (s. f.). Comutabilidade -
Cor muito viva, Identidade categorial X
que dá muito na Análise/ X
vista e chama transparência/
X
muito a atenção. autossuficiência
X

O verbete da cor "berrante" e da "cor coral" mostra a variedade de


unidades léxicas relativa as cores oferecidas por esse repertório
lexicográfico. O termo "berrante" ou "coral" não são propriamente
nomes ou qualidade das cores. Notou-se que o verbete, oferece
informações com propósito de descrever, mais do que propriamente de
definir a cor. Para a análise, o critério de equivalência, não se cumpre
entre o definido e o definidor. Considerou-se, que a ideia de "cor muito
viva" poderia se entendida como "cor pura", também cor vibrante aos
olhos, portanto, a definição necessariamente não seria eficiente para
evocar diretamente o nome "berrante". O critério de comutabilidade,
nesse caso, também não é inviável a substituição entre o definido e o
definidor, devido a ambiguidade já apontada na definição. O critério de
identidade categorial é possível de ser formulados a partir das palavras e
da regra da metalinguagem de conteúdo, suficientes na caracterização do
substantivo. Por último, atende o critério subdividido em análise,
transparência e autossuficiência, pois apresenta a definição formulada a
partir de palavras legitimas, habituais, de maneira clara, simples, além
de, todas estarem a disposição na obra para a consulta dos sinais e seus
significados.

168
Definido Definidor Critérios Indicativos:
metalexicográficos SIM (x) NÃO(-)
Substantivo feminino Equivalência X
(s.f.). A cor formada Comutabilidade X
da mistura de tintas de Identidade
X
cor preta e branca. A categorial
cor das cinzas de uma Análise/ X
fogueira apagada. transparência/ X
autossuficiência X

O verbete da cor cinza também tem informações divididas em duas


partes, a primeira parte se propõe a fazer a definição e a segunda parte
se propõe a fazer a comparação. As informações comparativas são
comuns a outras definições lexicográficas, nesse verbete, foi priorizada
a primeira parte da definição, cujas informações pareceram mais
relevantes para a análise. A primeira parte apresenta informações sobre
a mistura de tintas que produz a cor cinza, enquanto a segunda parte faz
a comparação entre a cor e a coloração material das cinzas. Em termos
de critério de equivalência, existe correspondência clara entre o definido
e definidor. O critério de comutabilidade se cumpre na substituição
entre o definido pelo definidor, obedecendo a regra da metalinguagem
de conteúdo, formado a partir das palavras capazes de explicarem. O
critério de identidade categorial é verdadeiro na expressão que constitui
o definidor suficiente para representar a categoria de substantivo,
seguindo a regra da metalinguagem de conteúdo, com palavras
apropriadas para representar a categoria de substantivo. Nos quesitos de
análise, transparência e autossuficiência, foram utilizadas palavras
regulares, recorrentes, fáceis, claras, sendo todas elas encontradas na
nomenclatura da obra.

169
Definido Definidor Critérios Indicativos:
metalexicográficos SIM (x)NÃO(-)
Equivalência X
Substantivo feminino. Comutabilidade X
(s.f.) Cor do ouro. A cor Identidade X
e brilho do ouro. categorial X
Análise/
X
Transparência/
autossuficiência X

O verbete referente a cor dourada e a cor prata apresentam


informações apropriadas a partir do efeito do brilho e do reflexo desses
materiais são características que conferem significado apropriado para a
definição lexicográfica. O critério de equivalência se satisfaz pela
correspondência da caracterização feita pelo definidor referente ao
definido. O critério de comutabilidade, também se satisfaz, pela
substituição do definido pelo definidor e vice versa e ainda obedece a
metalinguagem de conteúdo, que fez uso de palavras próprias para essa
explicação. O critério de identidade categorial se cumpre através da
expressão do definidor eficaz na representação da classe gramatical do
definido, obedecendo a regra da metalinguagem de conteúdo, cujas
palavras usadas para formular o definido são apropriadas para
representação da categoria de substantivo. O critério de análise,
transparência e autossuficiência se efetuam a partir da definição
constituída de palavras válidas, recorrentes, esclarecedoras, simples,
sendo todas elas encontradas e disponíveis na obra para consulta.

170
Definido Definidor Critérios Indicativos:
metalexicográficos Sim (x)Não(-)
Substantivo feminino (s.f.) Equivalência X
A cor castanho que resulta Comutabilidade X
da mistura das tintas Identidade X
vermelha, preta e amarela. categorial X
A cor da terra, do café e Análise/
X
do chocolate. transparência/
autossuficiência X

As informações referentes a cor marrom se dividem em duas


partes. Uma parte tem teor próprio de definição que esclarece sobre a
mistura das tintas de cores diferentes. A outra parte usa a comparação da

171
cor com a coloração de outras coisas. As informações comparativas,
comuns as definições de outros verbetes, pareceram ser os dados mais
relevantes para serem escolhidos e analisados. O critério de equivalência
se efetua com a correspondência entre o definido e o definidor. O
critério de comutabilidade se efetua com a possibilidade de substituição
do definido pelo seu definidor ou vice versa, sem fugir a regra da
metalinguagem de conteúdo, que usou palavras apropriadas na
constituição do definidor suficiente para explicação da cor. O critério de
identidade categorial, também se cumpre, através do definidor cuja
expressão representa a categoria de substantivo, obedecendo a
metalinguagem de conteúdo, cujas palavras da expressão do definidor
são suficientes na representação do substantivo. O critério subdivido em
análise, transparência e autossuficiência, se efetuam, considerando as
palavras legítimas, recorrentes, comuns e esclarecedoras, sendo todas
elas disponíveis na obra para consulta dos sinais e suas definições.

Definido Definidor Critérios Indicativos:


metalexicográficos SIM(x)NÃO(-)
Substantivo feminino (s.f.). -
A cor preta. Ex.: A cor preta Equivalência -
não é propriamente uma cor Comutabilidade
mas, sim, a ausência de cor. -
Identidade categorial
Ex.: Cada tinta absorve Análise/ -
todas as cores, exceto a que
Transparência/ -
reflete e, à medida que as
autossuficiência -
tintas se combinam, menos
luz é refletida. A cor preta
corresponde à ausência de
luz, já que resulta da
combinação entre todas as
tintas.

A análise do verbete referente a cor preta, fez algumas observações


sobre o teor das informações da definição lexicográfica em comparação
172
aos exemplos de uso em língua portuguesa baseado na língua de sinais
brasileira. A definição lexicográfica consiste da expressão: A cor preta.
Enquanto as informações referentes aos exemplos mostraram dados com
teor mais adequado a definição da cor. Essas informações tratam sobre o
efeito da incidência e ausência da luz, as propriedades do fenômeno da
cor, introduzindo a ideia de cor luz e cor pigmento, que o verbete indica
como "tinta". Essas informações pareceram mais relevantes para a
composição da definição lexicográfica, do que dos exemplos de uso em
língua portuguesa baseado na língua de sinais brasileira.
O critério de equivalência, não se satisfaz, devido a extensão e
fragmento das informações, tornando inviável a correspondência
objetiva entre o definido e o definidor. O critério de comutabilidade, não
é atendido, devido a impossibilidade de substituição do definido pelo
definidor. O critério de identidade categorial, não se efetua, porque as
expressões não são sintéticas o bastante para representarem a categoria
de substantivo. O critério subdividido em análise, transparência e
autossuficiência também não são atendidas em seus quesitos. Em termos
de análise as palavras da definição são legítimas, são simples, mas a
redação da definição não é clara, embora todas as palavras possam ser
encontradas na nomenclatura da obra. Podemos observar o problema da
redação através desse exemplo: "a tinta absorve todas as cores, exceto a
que reflete e, à medida que as tintas se combinam menos luz é
refletida". As informações são interessantes, mas o texto ficou confuso.
A cor como fenômeno fisiológico foi brevemente apresentada, no
capítulo dessa pesquisa com seção pertinente ao assunto, tratamos
brevemente sobre a percepção visual e funcionamento dos bastonetes
que tornam os olhos sensíveis as graduações do preto ao branco e os
cones sensíveis a maior incidência de luz capazes de identificarem as
graduações em cores. No caso, da mistura de tintas, se trata da cor
pigmento com efeito químico e ao mesmo tempo fisiológico, uma vez
que se depende da capacidade visual para percepção das cores ou sua
ausência. No caso da cor preta, ela representa a ausência de luz, e a cor
branca representa a incidência da luz, dessa forma, quanto maior a
quantidade da cor preta é menor a percepção das cores, pois essas, são
afetadas pela cor preta que representa a ausência da luz. O verbete da
cor preta, confirmou a afirmação de Brangel (2011. p.193) sobre o grau
de dificuldade que a natureza da cor impõe sobre a definição
lexicográfica e a redação do verbete.

173
174
Definido Definidor Critérios Indicativos:
metalexicográficos SIM(x) NÃO (-)
Substantivo Equivalência X
feminino (s.f.) Cor Comutabilidade X
que possui a matiz Identidade categorial
intermediária entre Análise/ X
vermelho e branco. transparência/ X
Cor-de-rosa. autossuficiência
X
X

O verbete da cor rosa apresenta as informações da definição


lexicográfica dividas em duas partes, a primeira parte explica a cor a
partir da mistura de cores e a segunda parte faz a comparação da cor
com a coloração natural da rosa. O critério de equivalência se efetua,
com a correspondência entre o definido e seu definidor. O critério de
comutabilidade, também se efetua na substituição do definido pelo
definidor ou , sem fugir a regra da metalinguagem de conteúdo, como
definidor formulado por meio de palavras adequadas para a explicação
da cor. O critério de identidade categorial se satisfaz através do
definidor cuja expressão representa a categoria de substantivo,
obedecendo a regra da metalinguagem de conteúdo em que as palavras
são próprias para representação da categoria de substantivo. E os
critérios de análise, transparência e autossuficiência, se cumprem
através das palavras legítimas, frequentes, simples, claras e acessíveis
para consulta na própria obra.

175
Definido Definidor Critérios Indicativos:
metalexicográficos Sim (x) Não (-)
Substantivo feminino. (s.f.) Equivalência X
A cor da carne do salmão. Comutabilidade X
Identidade categorial
Análise/ X
transparência/ X
autossuficiência
X
X

O verbete da cor salmão tem como referência a coloração natural


da carne do peixe, as informações são de teor comparativo comum a
definição apresentada em outros verbetes. O critério de equivalência se
cumpre com a correspondência entre o definido e seu definidor. O
critério de comutabilidade, se efetua, sendo viável a substituição do
definido pelo definidor ou vice versa, obedecendo a regra da
metalinguagem de conteúdo, que empregou palavras eficazes na
explicação do que consiste a cor. O critério de identidade categorial se
satisfaz, através da expressão do definidor que representa a categoria de
substantivo, atendendo a metalinguagem de conteúdo, cujas palavras
que formulam o definidor representam a classe gramatical do definido.
E nos quesitos de análise, transparência e autossuficiência, todos se
cumprem, através das palavras válidas, de uso corrente, apresentadas de
maneira simples, claras, sendo todas elas disponíveis para consulta dos
sinais e suas definições na obra.

176
177
Definido Definidor Critérios Indicativos:
metalexicográficos SIM (x)NÃO(-)
Equivalência X
Substantivo feminino (s.f.) Comutabilidade X
Coloração entre rubro e Identidade categorial
X
violáceo. A cor ametista, a Análise/
transparência/ X
cor púrpura, a cor roxa.
autossuficiência X
-

Os cinco verbetes são analisados a partir da cor violeta, referência


para a definição lexicográfica de todas as outras cores. As informações
relativas à cor violeta apresentam definição com caráter de sinônimo. A
cor violeta, assim como, a cor roxa, compartilham coloração
semelhantes. O critério de equivalência é válido, com correspondência
entre o definido e o definidor. O critério de comutabilidade, também é
válido no caso de teste de substituição do definido pelo definidor ou
vice versa, cumprindo com a metalinguagem de conteúdo, cujas
palavras utilizadas para explicação foram eficientes. O critério de
identidade categorial é válido, pois o definidor é eficaz para representar
a categoria de substantivo e obedece a regra da metalinguagem de
conteúdo, pois a formulação do definidor representa a categoria de
substantivo. A subdivisão em critério de análise e transparência também
é validada, através das palavras legítimas, habituais, apresentadas de
maneira simples e clara. No entanto, não satisfaz o critério de
autossuficiência, já que algumas dessas palavras tais como: rubro,
ametista, flor de lilás, violáceo e púrpuro não estão disponíveis para
consulta dos sinais e suas definições na mesma obra.

178
Definido Definidor Critérios Indicativos:
metalexicográficos SIM(x)NÃO(-)
Substantivo feminino Equivalência X
(s.f.) A coloração que se Comutabilidade X
obtêm misturando as Identidade categorial
tintas de cor azul e -
Análise/
amarela, e que na transparência/ X
vegetação é produzida
autossuficiência X
pela clorofila. A cor das
folhas, da grama e das -
ervas viçosas.

179
Os quatro verbetes relativos a cor verde são analisados a partir do
primeiro que serve de referência para a definição lexicográfica dos
outros. O verbete da cor verde apresenta informações divididas em duas
partes. A primeira parte explorou aspectos das cores secundárias, entre
as quais está a cor verde e a ação da substância clorofila nos vegetais. A
segunda parte, usou a comparação da cor verde com a coloração dos
diferentes tipos de vegetação. As informações são relevantes para
explicação do que consiste a cor verde, no entanto, a divisão em duas
partes fragmenta a definição lexicográfica e veremos a seguir suas
implicações para os critério em análise.
O critério de equivalência, se satisfaz através do definidor mas ha
ressalva devido a extensão e fragmentação das informações. As
informações são pontuais para a correspondência entre o definido e o
definidor, a objeção é que os dados deveriam ser mais concisos. O
critério de comutabilidade, se cumpre, sendo possível a substituição do
definido pelo definidor, exceto pela extensão e fragmentação dos dados.
O critério de identidade categorial, não se efetua, porque a expressão do
definidor não é sintética o bastante para caracterizar e representar a
classe gramatical do definido. No quesito da análise e transparência, a
definição se apresenta com palavras regulares, recorrentes formuladas
com simplicidade e clareza de compreensão, mas o critério de
autossuficiência, não é atendido, pois as palavras: vegetação, clorofila e
ervas viçosas não se encontram na obra para consulta.

180
Definido Definidor Critérios Indicativos:
metalexicográficos SIM(X)NÃO(-)
Substantivo feminino Equivalência X
(s.f.) A cor rubra do Comutabilidade X
sangue. A coloração Identidade X
vermelha. categorial X
Análise/
X
transparência/
autossuficiência -

O verbete da cor vermelha apresenta informações comparativas da


cor com a coloração do sangue. E dispõe dos seguintes exemplos: Ex.: A
maça, o tomate, e o morango, quando maduros, têm cor vermelha. Essa
informação pareceu reforçar a comparação da cor com a coloração
natural das variadas coisas. Sendo assim, a definição da cor vermelha é
breve e contou com informações objetivas.
O critério de equivalência se efetua na correspondência entre o
definido e o definidor. O critério de comutabilidade, se cumpriu,
permitindo a substituição do definido pelo seu definidor ou, obedecendo
a metalinguagem de conteúdo, que exige o uso de palavras eficazes para
a explicação do definido. O critério de identidade categorial é válido,
pois o definidor apresenta expressão capaz de representar a categoria de
substantivo, além de obedecer a regra da metalinguagem de conteúdo,
formulada a partir de palavras adequadas para a categoria de
substantivo. O critério que se subdivide em análise, transparência é
válido através das palavras legítimas, usuais, simples e elucidativas, mas
o critério de autossuficiência não se satisfaz, porque a palavra rubra não
está disponível na obra para consulta do sinal e sua definição.
Concluímos a análise dessa obra com algumas ponderações sobre
o teor e qualidade das informações apresentadas nas definições
lexicográficas desse repertório léxico da língua de sinais brasileira.
Essa obra, assim como as outras fontes bibliográficas dessa
pesquisa, foi chamada de repertório lexicográfico, no entanto ela se
apresenta como um dicionário trilíngue. Como foi apresentado na
metodologia dessa pesquisa, o repertório lexicográfico é resultado da
compilação do conjunto de unidades lexicais de uma língua, enquanto o
dicionário é resultado de compilação, mas também oferece definições
das unidades lexicais. No caso dos dicionários bilíngues, os verbetes
podem apenas oferecer as correspondências entre as unidades lexicais de
uma e de outra língua.

181
No caso da obra em análise, observa-se em cada um dos verbetes
que são compostos por informações em língua de sinais brasileira,
língua portuguesa e língua inglesa. Sendo mais comum aos dicionários
bilíngues ou com mais de duas línguas, apresentarem verbetes em uma
língua com direção das entradas na forma de correspondência em outra
língua e para tantas forem as línguas do dicionário.
A obra analisada tem as entradas dos verbetes em língua
portuguesa com correspondência em língua de sinais brasileira e língua
inglesa, além da definição lexicográfica em língua portuguesa. A própria
obra justifica que as informações em língua portuguesa são baseadas na
língua de sinais brasileira e têm o propósito de ampliar o conhecimento
de mundo dos surdos através da língua portuguesa e da língua inglesa.
A obra oferece a definição lexicográfica que foi considerada como
informação adicional, já que se trata de um dicionário trilíngue. No
entanto, é importante fazer observações pontuais sobre a importância de
elaboração de repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira,
cuja direção das entradas de uma língua para a outra sejam melhor
esclarecidas e estabelecidas. Embora as definições lexicográficas sejam
informações adicionais se torna problemática a análise das informações
referentes as unidades lexicais da língua de sinais brasileira a partir da
língua portuguesa. Na análise comparativa das definições lexicográficas
mediante os critérios meta-lexicográficos podemos fazer as seguintes
pontuações.
Nos verbetes analisados observamos que as definições
lexicográficas são compostas pelos dois elementos principais, o definido
e o definidor. No entanto, o definido tem sua representação por meio do
desenho gráfico e o definidor está na forma de expressão explicativa em
língua portuguesa. Podemos perceber que não fica claro se a definição
lexicográfica tem como alvo a entrada em língua portuguesa ou a
unidade lexical da língua de sinais representada na forma visual e
espacial. Sendo assim, a análise dos critérios meta-lexicográficos na
elaboração da definição das unidades lexicais da língua de sinais
brasileira fica sujeita as equivalências na língua portuguesa. A forma
adequada para analisar essas informações dependeria da apresentação
em língua de sinais brasileira. Portanto, a análise foi feita a partir de
adequações das informações sem desconsiderar que estão em língua
portuguesa.

182
O critério de equivalência apresentou correspondência entre
definido e definidor na maioria dos verbetes. Considerando que o sinal
representado na forma visual e espacial tem uma correspondência
aproximada com a expressão explicativa em língua portuguesa. Essa
seria a forma de afirmar que se cumpre o critério de equivalência na
maioria dos verbetes.
O critério de comutabilidade, que permite a substituição do
definido pelo definidor se cumpriu, além de respeitar a metalinguagem
de conteúdo com teor apropriado para a explicação do definido. Essa
afirmações é possível se considerarmos que a unidade lexical da língua
de sinais pode ser explicada através de uma expressão na língua
portuguesa. Essa seria a forma de atender o critério de comutabilidade
entre o definido e o definidor.
O critério de identidade categorial, referente a eficiência do
definidor em representar a classe gramatical do definido não se efetutou
na maioria dos verbetes. Isso mostra a dificuldade em estabelecer
equivalências entre as unidades lexicais da língua de sinais e da língua
portuguesa. Também mostra que a expressão em língua portuguesa não
da conta de representar a classe gramatical, pois essa tem sua forma
própria para a classificação de palavras e não para a classificação das
unidades de uma língua de sinais.
Finalmente, os critérios subdivididos em análise, transparência e
autossuficiência. Para validar o critério de análise e transparência é
necessário levar em conta o emprego de palavras legítimas, recorrentes,
simples, claras na expresão em língua portuguesa exigidas para a
elaboração do definidor, sem desconsiderar que essas palavras podem
explicar o definido representado na forma visual e espacial. Mas o
critério de autossuficiência não pode ser validado na maioria dos
verbetes. Esse critério de autossuficiência exige que todas as palavras da
expressão do definidor sejam acessíveis para consulta no dicionário,
mas essa obra seria da língua de sinais, sendo essa a causa da ausência
de muitas das palavras utilizadas na elaboração do verbete, portanto não
foram previstas de compor o repertório lexicográfico.
A análise das informações relativas as unidades desse repertório
lexical mostraram limitações devido a elaboração das definições
lexicográficas a partir da língua portuguesa. Mas não se pode ignorar
que a definição lexicográfica foi uma informação adicional significativa
e representou uma melhoria na qualidade do tratamento lexicográfico

183
empregado nessa obra. Sendo assim, a definição lexicográfica foi
elaborada a partir da comparação, sinônimos e descrição fazendo uso da
língua portuguesa. Mas também seguiu a tradição da descrição da forma
espacial do sinal com nomeação em língua portuguesa, muito comum na
elaboração dos repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira.
A análise fez alguns apontamentos sobre a importância e
necessidade de padronização do teor dos dados constituintes da
definição lexicográfica de cada verbete. Observou-se que alguns dados
utilizados na composição da definição lexicográfica de alguns verbetes,
se tornavam elementos na composição dos exemplos em outros
verbetes. A elaboração dos verbetes ora fez uso da informação com
função de definição para explicar em que consiste tal unidade lexical e
ora com a função de exemplificação para explicar o uso de tal unidade
lexical. Sobre o tipo de informação padrão, no caso dos dados referentes
as cores primárias e secundárias. Mediante a qualidade dessas
informações poderiam ser destinadas para compor a definição
lexicográfica, seguindo um padrão para todos os outros verbetes. A
padronização do teor da informação com função na composição do
verbete orienta a redação da definição lexicográfica, uma vez que essa
se apresenta na língua portuguesa e precisa ser elaborada a partir do
emprego de palavras apropiadas para a constituição dos verbetes.
A análise das definições lexicográficas desse repertório
lexicográfico a partir dos critérios meta-lexicográfico mostrou o
desenvolvimento de um processo de construção metodológica do
tratamento lexicográfico dessa obra.
O tratamento lexicográfico se refere ao tipo das informações que a
obra se propôs a apresentar. Os verbetes são elaborados com ampla
variedade de informações com o objetivo de oferecer o maior número de
explicações em que consiste uma unidade léxica da língua de sinais
brasileira. O tratamento lexicográfico da obra usa a língua portuguesa
com a justificativa de ampliar o conhecimento de mundo dos surdos a
partir de outras línguas. Observamos que os autores consideraram o
dicionário uma obra com potencial ampliação do repertório linguístico,
mas também o potencial de ampliação do repertório de conhecimento de
mundo.
Observamos informações adicionais, tal como a definição
lexicográfica entre outros elementos constitutivos na composição dos
verbetes. No entanto, essas informações se apresentam em língua

184
portuguesa acarretando ambiguidade se o alvo da definição é a entrada
do verbete em língua portuguesa ou a unidades da língua de sinais
representada de forma visual e espacial. Mas se a definição em língua
portuguesa é um problema, cabe retomar a questão do emprego da glosa
nos estudos das línguas de sinais.
A glosa é utilizada para a identificação de um sinal através de uma
palavra, com a ressalva que esse sinal não seja atrelado ao nome
recebido. Uma vez que, um sinal tem propriedades linguísticas inerentes
a ele e essas são o alvo da investigação. Sendo assim, o emprego da
língua portuguesa no tratamento lexicográfico da língua de sinais pode
ser entendido como instrumento estratégico de representação das
unidades da língua de sinais brasileira, mas o alvo da investigação são as
propriedades linguísticas dessas unidades lexiais compiladas nessa obra.
A análise comparativa mediante os critérios meta-lexicográficos
mostrou um processo gradativo e evolutivo do tratamento do repertório
léxico a partir da elaboração da definição lexicográfica. O
desenvolvimento desse processo gradativo tem grande relevância para o
tratamento das unidades léxicas contribuindo para a qualidade dos
repertórios léxicos da língua. Sendo assim, concluímos que esse
repertório lexicográfico apresenta um processo de construção
metodológica do tratamento lexicográfico com qualidade e perspectivas
significativas para essas obras da língua de sinais brasileira.

5.4 Unidades léxicas referente às cores do repertório lexicográfico


de Felipe-de-Souza e Lira (2005)

A seguir apresentamos a análise das informações referentes as


unidades do repertório léxico do dicionário digital da língua de sinais
brasileira, obra de Felipe-de-Souza e Lira (2005).
Nas observações gerais sobre essa obra, foram identificadas as
informações organizadas em campos de categorias de dados, disposta na
interface digital, com acesso por meio de recursos diversos de busca. Os
campos de categorias de dados são distribuídos em: assunto, palavra,
acepção, vídeo (representação do sinal), exemplo em português,
exemplo em LIBRAS, classe gramatical (correspondência em
português), origem (região com maior frequência de uso do sinal) e
parâmetro básico da configuração da mão. O acesso aos dados conta
com ferramentas de busca por: ordem alfabética dos nomes dos sinais

185
em português, assunto associado ao sinal e parâmetro da configuração
de mão do sinal.
Essa obra por não ser um dicionário monolíngue não se propõe a
apresentar o item da definição lexicográfica, no entanto, observamos
que o item da acepção em muitos dos verbetes, apresentam informações
com teor de explicação do que consiste a unidade léxica correspondente
ao verbete.
No capítulo teórico dessa pesquisa, a breve apresentação dos
aspectos gerais e estruturais das obras lexicográficas, foi abordada em
que consiste a acepção de uma unidade léxica. Segundo Dapena (2002.
p. 211) as acepções consistem das variações dos significados mais
comuns a uma mesma palavra. A determinação das acepções para a
composição dos verbetes tem o propósito de indicar a existência dos
diferentes significados pertinente aquela unidade léxica.
A análise dos dados das acepções dos verbetes dessa obra
identificou que essas informações apresentam o teor mais apropriado
para as definições lexicográficas. Temos em vista, a importância dessa
obra e o teor das informações analisadas, os dados que ocupam o campo
das acepções foram comparados com os critérios meta-lexicográficos.
Os verbetes referente às cores podem ser localizados a partir da
ferramenta de busca por diferentes assuntos, entre os quais, se encontra
COR/FORMAS. As unidades referentes às cores formam um conjunto
de 23 verbetes na respectiva ordem: "ALARANJADO", "AMARELO",
"AZUL", "BEGE", "BRANCO 1", "CINZA 1", "COLORIDO", "COR",
"DOURADO", "LILÁS", "LOURO", "MARROM", "NEGRO",
"PRETO 1", "PRETO 2", "ROSA", "ROXO 1", "ROXO 2", "RUIVO",
"VERDE", "VERMELHÃO", "VERMELHO" e "VIOLETA".
Cabe explicar que alguns dos verbetes foram excluídos da análise.
Encontramos um problema técnico no vídeo do verbete referente as
cores "LILÁS" e "VERMELHÃO". Esses verbetes reproduzem o vídeo
da unidade léxica correspondente a "TRABALHAR". Os verbetes
referentes a cor "LOURO", "NEGRO" e "RUIVO" apresentam o teor de
informação relativos as características de biótipo físico das pessoas, não
sendo os dados oferecidos do interesse dessa pesquisa. Nesse caso, os
cinco dos verbetes foram excluídos da análise devidos o problema
técnico e teor lexicográfico, permanecendo apenas 18 verbetes
selecionados para a análise.

186
Outra observação importante se refere aos verbetes para diferentes
sinais relativos a mesma cor. As informações de um verbete servem
como referência para outro que repetem os dados, exceto o vídeo que
mostra a representação diferente de cada unidade léxica. A análise se
concentrou nas informações descritivas da unidade léxica, nesse caso
considerou relevantes as informações do verbete referência para os
outros.
Na tabela inserimos as informações dos verbetes para a análise
comparativa com os critérios metalexicográficos acompanhados das
respectivas considerações sobre os dados.

Dicionário de LIBRAS de Felipe-de-Souza e Lira (2005)

Definido

Critérios Indicativos:
metalexicográficos SIM(x)NÃO(-)

Definidor Equivalência x
Comutabilidade x
Cor derivada da mistura do Identidade categorial -
amarelo com o vermelho. Análise/ x
transparência/
x
autossuficiência
-

A elaboração das informações teve como referência, a formação das


cores secundárias, entre elas a cor nomeada de alaranjada, nesse verbete.
A análise do critério de equivalência considerou a correspondência entre
o definido e o definidor. O critério de comutabilidade é válido, sendo
187
possível a substituição do definido pelo definidor ou vice versa,
obedecendo a metalinguagem de conteúdo, a partir de palavras
apropriadas para explicação do definido. O critério de identidade
categorial, não se satisfaz, pois o definidor não caracteriza ou representa
classe gramatical do adjetivo. Nesse caso, a expressão do definido
deveria ser formulada a partir de palavras que indicassem a qualidade do
definido. O critério de análise e transparência é atendido, graças ao
emprego de palavras legítimas, usuais, simples, esclarecedoras, no
entanto, o critério de autossuficiência não é atendido, pois a palavra
"derivada" não se encontra disponível na obra para consulta de
significado e definição.

Definido

Critérios Indicativos:
metalexicográficos SIM(x)NÃO(-)

Definidor Equivalência x
Comutabilidade x
Da cor do ouro; da cor da gema do Identidade categorial -
ovo; uma das cores chamadas básicas, Análise/
pois sua mistura pode dar origem a x
transparência/
muitas outras. autossuficiência x
-

A informação sobre a cor amarela tem como referência a


comparação com a coloração natural da matéria das coisas, também
tratam das cores primárias, entre as quais, está o amarelo. Em termos de
critério de equivalência, se cumpre, na correspondência entre o definido
e o definidor. O critério de comutabilidade, também é verdadeiro, sendo
188
possível a substituição do definido pelo definidor ou vice versa,
atendendo a regra da metalinguagem de conteúdo, cujas palavras do
definidor são suficientes para explicarem a cor amarela. Já o critério de
identidade categorial, não se satisfaz, pois a expressão do definidor não
caracteriza ou representa o adjetivo. O critério subdividido em análise
transparência se cumpre a partir do emprego de palavras legítimas,
regulares, simples, claras, no entanto, a autossuficiência, não é válido
pela ausência das palavras "básica" e "origem" que estão indisponíveis
para consulta na obra.

Definido

Critérios metalexicográficos Indicativos:


SIM(x)NÃO(-)

Definidor Equivalência x
Comutabilidade x
Da cor do anil ou do céu sem nuvens; uma Identidade categorial x
das três cores básicas, cuja mistura dá origem Análise/
a outras cores. x
transparência/
autossuficiência x
-

As informações referentes a cor azul tem como referencia a


comparação com a coloração das coisas e também abordam as cores
primárias, entre as quais, está a cor azul. O critério de equivalência se
estabelece, através da correspondência entre o definido e seu definidor.
189
O critério de comutabilidade, se efetua, sendo possível a substituição do
definido pelo seu definidor ou vice versa, obedecendo a metalinguagem
de conteúdo, cujas palavras que constituem o definidor são eficazes para
explicarem em que consiste a cor azul. O critério de identidade
categorial, nesse caso é válido, e a expressão do definidor representa a
classe gramatical do definido. Também obedece a metalinguagem de
conteúdo, formulada através de palavras que representam a categoria de
substantivo. O critério de análise e transparência é atendido, através das
palavras legítimas, recorrentes, simples, claras, mas o critério de
autossuficiência, não se cumpre devido a falta de algumas das palavras
que fazem parte da nomenclatura da obra e, portanto não encontram-se
disponíveis para consulta.

Definido

Indicativos:
Critérios metalexicográficos SIM(x)NÃO(-)

Definidor Equivalência x
Comutabilidade x
Cor próxima do amarelo; resultante Identidade categorial -
da mistura do amarelo com o Análise/
branco. x
transparência/
autossuficiência x
-

As informações referentes a cor bege fazem a aproximação da cor


com uma tonalidade para explicar a característica da cor. É válido
salientar que a cor bege não foi associada ao tom de pele, equívoco
190
comum no ramo comercial que nomeia a cor como "cor de pele". O
critério de equivalência, é válido, estabelece correspondência entre o
definido e o definidor. O critério de comutabilidade, também é válido,
sendo possível a substituição do definido pelo definidor ou, atende o
quesito da metalinguagem de conteúdo, a partir de palavras constituintes
do definidor eficientes para explicação do definido. O critério de
identidade categorial, não se cumpre, pois a expressão do definidor não
caracteriza o adjetivo. Nos quesitos de análise e transparência, essas
informações usam palavras apropriadas, de uso corrente, simples, claras
mas a autossuficiência, não se cumpre devido a ausência de algumas as
palavras para consulta na própria obra.

Definido

Critérios metalexicográficos Indicativos:


SIM(x)NÃO(-)

Definidor Equivalência x
Comutabilidade x
Da cor da neve, do cal, do leite. Identidade categorial -
Análise/
x
transparência/
autossuficiência x
-

As informações referentes a cor branca usam a comparação da cor


com a coloração natural da matéria de algumas coisas. O critério de
equivalência se efetua através da relação de correspondência entre o

191
definido e seu definidor. O critério de comutabilidade, também se
efetua, com a possibilidade de substituição do definido pelo definidor
ou, atendendo a regra da metalinguagem de conteúdo, por meio das
palavras eficientes em dar conta da explicação do definido. O critério de
identidade categorial, não é verdadeiro, pois a expressão do definido não
caracteriza ou representa a categoria do adjetivo. O critério subdividido
em análise e transparência se cumpre a partir do emprego de palavras
legítimas, frequentes, apresentadas de forma simples e eficiente, no
entanto, a autossuficiência, não é válida, por não serem todas as palavras
encontradas para consulta na obra.

Definido

Critérios metalexicográficos Indicativos:


SIM(x)NÃO(-)

Definidor Equivalência x
Comutabilidade x
Cor de chumbo; cinzento; resultado Identidade categorial -
da mistura das cores preto e branco. Análise/
x
transparência/
autossuficiência x
-

O verbete da cor cinza apresenta informações que se baseiam na


comparação da cor com a coloração do mineral e na mistura de cores.
Em termos de critério de equivalência, existe relação de
correspondência entre o definido e seu definidor. O critério de
192
comutabilidade é verdadeiro, por ser viável a substituição do definido
pelo seu definidor ou, obedece a metalinguagem de conteúdo, cuja
formulação da expressão do definidor é feita a partir de palavras
eficazes na explicação da cor. O critério de identidade categorial, não se
faz verdadeiro, pela mesma razão apresentada nos outros verbetes, cujas
palavras não representarem a categoria gramatical do definido. Nos
quesitos de análise e transparência, atendem esses critérios, a partir das
informações que fazem uso de palavras legítimas, recorrentes, simples,
claras, mas não atende o critério de autossuficiência, por não serem
todas as palavras encontradas na nomenclatura da obra para sua
consulta.

Definido

Critérios Indicativos:
metalexicográficos SIM(x)NÃO(-)

Definidor Equivalência x
Comutabilidade x
Impressão visual variável, segundo o reflexo Identidade categorial x
dos raios de luz nos corpos; efeito decorrente da Análise/
percepção do aspecto dos corpos pelos órgãos x
transparência/
da visão, de acordo com as radiações luminosas autossuficiência x
que recebem. -

O verbete de cor, foi priorizado em relação ao verbete referente a


"COLORIDO", tendo em vista, a relevância das informações para a
análise. Os dados referentes a "COR", se baseiam na impressão sensorial
193
visual sob o efeito da luminosidade e a percepção da incidência da luz
sobre os objetos produzindo sua cor. O critério de equivalência, é
válido, a partir da correspondência eficaz entre o definido e o definidor.
O critério de comutabilidade, também é válido, sendo possível a
substituição do definido pelo definidor ou, atendendo a metalinguagem
de conteúdo, através das palavras eficientes na explicação em que
consiste a cor. O critério de identidade categorial se cumpre através do
definido eficiente para representar a categoria de substantivo,
obedecendo a metalinguagem de conteúdo, com palavras apropriadas
para a representação da categoria de substantivo. A subdivisão em
critério de análise e transparência, também é válida, através de palavras
legítimas, habituais, formulada de maneira simplificada e clara, mas a
autossuficiência, não é verdadeira, devido a falta de algumas das
palavras indisponíveis para consulta na própria obra.

Definido

Indicativos:
SIM(x)NÃO(-)

Definidor Critérios
metalexicográficos
x
Da cor de ouro; brilhante como o ouro; Equivalência
Comutabilidade x
enfeitado ou coberto de ouro.
Identidade categorial x
Análise/ x
transparência/
autossuficiência x
x

194
As informações referentes a cor dourado tem como referência o
efeito luminoso do brilho do material comparada ao metal nobre que é o
ouro. O critério de equivalência se satisfaz, pela correspondência entre o
definido e o definidor. O critério de comutabilidade, se efetua, sendo
viável a substituição do definido pelo definidor ou vice versa,
cumprindo a metalinguagem de conteúdo, através de palavras com valor
suficientes na explicação do definido. O critério de identidade
categorial, não é atendido, pois a expressão do definido não representa a
classe do adjetivo. O critério de análise, transparência e autossuficiência
são atendidos, no que se refere as palavras válidas, recorrentes, simples,
elucidativas, sendo todas disponíveis para consultas na obra.

Definido

Indicativos:
Critérios SIM(x)NÃO(-)
metalexicográficos

Definidor x
Equivalência x
Comutabilidade
Identidade categorial x
Castanho. Resultado da mistura do
Análise/ x
verde com o vermelho.
transparência/ x
autossuficiência
x

As informações referentes a cor estabelecem sinônimo da cor


marrom, mencionada como sendo resultado da mistura de duas cores. A
redação faz a separação das informações dividida entre o sinônimo e a
195
explicação sobre a mistura das cores. O critério de equivalência é válido
pela correspondência entre o definido e o definidor. O critério de
comutabilidade, também é válido, com possibilidade da substituição do
definido pelo definidor ou vice versa, cumprindo a regra da
metalinguagem de conteúdo, que fez uso de palavras eficazes na
explicação do que consiste essa cor. O critério de identidade categorial,
nesse caso, se cumpre, pois a expressão do definidor da conta de
representar a categoria de adjetivo e substantivo obedece a
metalinguagem de conteúdo, cujas palavras são pertinentes para a
representação da classe gramatical do definido. A subdivisão em
critérios de análise e transparência, são válidos, é utilizada palavras
legítimas, usuais, de maneira simples, esclarecedora, exceto a
autossuficiência, que não é verdadeiro, por não apresentar a palavra
castanha na nomenclatura da obra para consulta.

Definido

Critérios metalexicográficos Indicativos:


SIM(x)NÃO(-)

Definidor Equivalência -
Comutabilidade -
Identidade categorial -
A cor mais escura entre todas que Análise/
-
existem; negro. transparência/
autossuficiência -
x

196
As informações referentes à cor PRETO 1 são as mesmas
apresentadas em cor PRETO 2, portanto, os dados do primeiro verbete
que serve de referência para o outro foram escolhido para a análise. As
informações classificam e distinguem a cor preta de todas as outras e
complementa com um sinônimo. Os dados são resumidos para
explicação do que consiste essa cor. Para a análise, o critério de
equivalência, não se satisfaz plenamente, devido à objetividade das
informações, de outra forma a correspondência seria eficaz entre o
definido e o definidor. O critério de comutabilidade, também não é
atendido de maneira adequada, sendo possível a substituição do definido
pelo definidor, no entanto, a metalinguagem de conteúdo conta com
palavras de valor insuficiente para explicação do definido. O critério de
identidade categorial, não é verdadeiro, pela mesma razão apresentada
para os outros verbetes, cujas palavras do definidor não representam a
categoria de adjetivo. O critério que se subdivide em análise e
transparência, não é atendido, pois embora tenham sido utilizadas
palavras legítimas, são demasiadamente simples e não é o bastante para
esclarecimento sobre a cor preto. Em relação à autossuficiência, por ter
sido utilizado número reduzido de palavras na elaboração do definidor,
todas elas podem ser encontradas na nomenclatura da obra.

197
Definido

Indicativos:
Critérios
metalexicográficos SIM(x)NÃO(-)

Definidor x
Equivalência
Comutabilidade
x
Da cor da rosa comum; resultado da Identidade categorial -
mistura do vermelho com o branco. Análise/
transparência/
x
autossuficiência x
x

As informações referentes à cor rosa se baseiam na comparação


com a coloração natural da rosa e na mistura de cores que produzem
essa tonalidade. O critério de equivalência se estabelece a partir da
correspondência entre o definido e o definidor. O critério de
comutabilidade é atendido e permiti a substituição do definido pelo
definidor ou, cumprindo com a regra da metalinguagem de conteúdo,
através de palavras eficazes na explicação da cor. O critério de
identidade categorial, não é válido, devido às palavras que formulam o
definidor não representarem a classe gramatical do definido. A
subdivisão em critérios de análise, transparência e autossuficiência, se
cumprem, a partir de palavras legítimas, regulares, simples, claras e
acessíveis para consulta na própria obra.

198
Definido

Indicativos:
SIM(x)NÃO(-)

Definidor Critérios
metalexicográficos
x
De cor entre o rubro e o violáceo; da cor da Equivalência x
violeta. Comutabilidade -
Identidade categorial
Análise/ x
transparência/ x
autossuficiência
-

São dois os verbetes para a cor ROXA, ambos contam com as


mesmas informações, sendo assim, o primeiro verbete é referência para
o outro e foi escolhido para a análise. As informações referentes a essa
cor se baseiam na comparação e aproximação com a tonalidade de
outras três cores. O critério de equivalência se estabelece por meio da
correspondência entre o definido e seu definidor. O critério de
comutabilidade, é verdadeiro, sendo possível a substituição do definido
pelo definidor ou vice versa, obedecendo a metalinguagem de conteúdo,
que se constitui de palavras eficazes para a explicação do que consiste
essa cor. O critério de identidade categorial, não é válido, assim como
em outros verbetes, não é eficiente para representar a categoria
gramatical de adjetivo. Em relação aos critérios de análise e
transparência, são validados, a partir das palavras que são legítimas,
correntes, apresentadas de forma simples, clara, mas o critério de
autossuficiência, não se efetua, pois as palavras “rubras” e violáceas”
não se encontram disponível na obra para consulta.

199
Definido

Indicativos:
Critérios SIM(x)NÃO(-)
metalexicográficos

Definidor x
Equivalência x
Resultado da mistura das cores azul e Comutabilidade
-
amarelo; cor mais comum nas árvores, Identidade categorial
folhagens e ervas, em geral. Análise/ x
transparência/ x
autossuficiência -

As informações relativas a cor verde tem como referencia a


formação das cores secundárias, entre elas a cor verde, também a
comparação com a coloração da vegetação. Em termos de critério de
equivalência, se satisfazer, com a correspondência entre o definido e o
definidor. O critério de comutabilidade, também se cumpre, sendo
possível a substituição do definido pelo definidor ou, obedecendo a
metalinguagem de conteúdo, através de palavras suficientes para
explicação do definido. Em relação ao critério de identidade categorial,
esse não se efetua devido os dados do definidor ser suficientes para
caracterizarem a categoria gramatical do definido. Nos quesitos de
análise e transparência, se cumprem das palavras regulares, usuais,
estruturadas de forma com simples e clara, no entanto, não se satisfaz o
critério de autossuficiência, por não serem encontradas na obra as
palavras: folhagens e ervas para consulta de suas definições.
200
Definido

Indicativos:
Critérios SIM(x)NÃO(-)
metalexicográficos

Definidor Equivalência x
Comutabilidade x
Uma das cores básicas; rubro; da cor do Identidade categorial
-
sangue. Análise/
transparência/ x
autossuficiência x
-

As informações relativas à cor VERMELHA têm como referencia


as cores primárias, que o verbete denomina de cores básicas, também
faz a comparação com a coloração do sangue. No que se refere ao
critério de equivalência, esse se satisfaz, com a correspondência entre o
definido e o definidor. O critério de comutabilidade, também se cumpre,
sendo possível a substituição do definido pelo definidor ou vice versa,
obedecendo a metalinguagem de conteúdo, que faz uso de palavras
eficientes para explicarem a cor. No caso do critério de identidade
categorial, não é verdadeiro, assim como em outros verbetes, a
formulação do definidor não da conta de representar a categoria de
adjetivo. O critério subdividido em análise e transparência é válido, de
acordo com a formulação do definidor através de palavras regulares,
habituais, simples e claras, mas o critério de autossuficiência não é

201
atendido, pois a palavra ¨rubro¨ não se encontra para consulta de sua
definição na obra.

Definido

Indicativos:
Critérios
metalexicográficos SIM(x)NÃO(-)

Definidor -
Equivalência -
Comutabilidade
Identidade categorial -
Flor de cor roxa.
Análise/ -
transparência/ -
autossuficiência
-

As informações relativas a cor VIOLETA, apresentam dados que


caracterizam um planta cuja flor recebe esse nome. As informações não
são referentes a cor. A análise do verbete foi feita por compor o
conjunto relativo a COR/FORMA. O critério de equivalência, não se
estabelece, pois não ha correspondência entre o definido e seu definidor.
O critério de comutabilidade, também não se estabelece, sendo inviável
a substituição do definido pelo definidor ou vice versa. O critério de
identidade categorial, não se cumpre, pois a expressão do definidor não
se mostra apropriada para representar a classe gramatical. Em termos de
critério de análise, transparência e autossuficiência, a expressão do
definidor contou com palavras legítimas, habituais, simples, clara,
202
disponíveis na obra, mas não existe correspondência entre o definido e
seu definidor.
A conclusão da análise dessa obra apresenta algumas
considerações finais sobre o teor das informações referentes ao conjunto
de unidades léxicas relativa às cores.
Essa e outras fontes bibliográficas dessa pesquisa, foi chamada
de repertório lexicográfico mas essa obra se apresenta como dicionário
bilíngue da língua de sinais brasileira. Como foi apresentado na
metodologia dessa pesquisa, o dicionário é resultado da compilação das
unidades lexicais acompanhadas das definições lexicográficas. Os
dicionários bilíngues apresentam verbetes com correspondências entre
as unidades lexicais de uma língua e outra. Esse repertório lexicográfico
oferece informações em língua de sinais brasileira e língua portuguesa.
Como já foi mencionado o dicionário bilíngue tem como
característica principal a direção das entradas dos verbetes de uma
língua para a outra, quantas forem as línguas do dicionário. A obra
analisada tem as entradas dos verbetes em língua portuguesa com
correspondência em língua de sinais brasileira. Cabe a observação sobre
a importância da elaboração dos repertórios lexicográficos da língua de
sinais brasileira prever soluções sobre a direção das entradas dos
verbetes e as obras léxicográficas no formato digital mostram ser
propícias para isso. Os dicionários no formato digital fazem emprego do
vídeo para representação das unidades lexicais da língua de sinais
brasileira e contam com sistema avançado de busca na localização das
informações o que mostra ser um tipo de direção alternado das unidades
do repertório lexicográfico nesse formato.
A seguir apresentamos algumas ponderações a partir da análise
dos verbetes dessa obra. Os verbetes contam com a representação dos
sinais na forma de vídeo e embora o foco da análise tenha sido a
definição lexicográfica, cabe salientar a relevância do recurso do vídeo
para o desenvolvimento dos repertórios lexicográficos da língua de
sinais brasileira. Nessa obra, o vídeo foi utilizado para a representação
dos sinais, mas seu emprego seria eficiente principalmente para
elaboração das definições lexicográficas. O vídeo é um recurso
explorado nessa obra de forma significativa, podendo ser apontado
como um indicativo de desenvolvimento dos repertórios lexicográficos
da língua de sinais brasileira.

203
Quanto as informações referentes às unidades léxicas a primeira
observação trata o conteúdo do campo das "acepções", com dados
compatíveis e apropriados a definição das unidades léxicas. Sendo
assim, parece indicado a reestruturação da interface com a inserção de
um novo campo para a definição lexicográfica, já que a obra dispõe
dessas informações. Assim como seria recomendável a elaboração de
acepções com conteúdos pertinentes e apropriados para ocupar o campo
já existente na interface. A criação de um novo campo de dados
lexicográficos, reelaboração e alocação das novas informações em
categorias correspondentes, parecem uma solução a ser empregada nessa
obra de acordo com a análise dessa pesquisa.
Os repertórios lexicográficos digital são obras com a vantagem da
reatualização dos seus dados, o formato digital é propício para
constantes ajustes do conteúdo lexicográfico. E na sua apresentação, se
afirma que o repertório lexicográfico não é considerado como obra
concluída, portanto, aberto para inserção de novas unidades para compor
seu conteúdo. Portanto, a readequação e reacomodação das informações
em campos existentes e novos campos de dados correspondentes já está
prevista pela própria obra aberta as contribuições que venha oferecer
melhorias.
Seguimos com algumas pontuações da análise a partir dos
critérios meta-lexicográficos e as observações sobre as informações dos
verbetes. Identificamos dois elementos principais, o definido que é a
unidade lexical da língua de sinais no formato de vídeo e o definidor na
forma de expressão explicativa em língua portuguesa. Nessa obra
também apontamos a problemática do uso da língua portuguesa para
apresentação da unidade lexical da língua de sinais. A análise a partir
dos critérios meta-lexicográficos teve que contar com os dados na língua
portuguesa como correspondência da unidade lexical da língua de sinais
brasileira. Nessa obra é importante enfatizar a possibilidade de
elaboração do verbete em língua de sinais utilizando do vídeo, sendo
esse o formato para a análise das informações lexicográficas. Para
realização da análise dessa obra também foram feitas adequações
desconsiderando os dados oferecidos pela fonte bibliográfica.
O critério de equivalência podemos dizer que estabelece
correspondência entre definido e definidor na maioria dos verbetes.
Considerando que o sinal representado na forma de vídeo também pode
ser representado pela expressão explicativa em língua portuguesa.

204
O critério de comutabilidade, que pressupõe a possível
substituição do definido pelo definidor ou vice versa, além de respeitar a
metalinguagem de conteúdo com teor apropriado para a explicação do
definido, se cumpriu na maioria dos verbetes, se levarmos em
consideração que a expressão em língua portuguesa do definidor tem
teor explicativo e representativo do definido.
No caso do critério de identidade categorial que pressupõe a
eficiência do definidor em representar a classe gramatical do dedinido,
esse critério não se efetuou na maioria dos verbetes. A razão é
dificuldade em estabelecer equivalências das unidades lexicais da língua
de sinais a partir da língua portuguesa e a mesma classificação
gramatical utilizada para as palavras ser empregada para classificação
das unidades da língua de sinais brasileira.
Em relação aos critérios subdivididos em análise, transparência e
autossuficiência, observamos que os critérios de análise e transparência,
assim como os outros critérios analisados, é necessário aceitar o
emprego das palavras como legítimas, recorrentes, simples, claras na
elaboração da expressão em língua portuguesa representativa do
definidor no formato de vídeo. No entanto, o critério de autossuficiência
não se cumpriu na maioria dos verbetes, esse critério pressupõe que
todas as palavras da expressão explicativa do definidor sejam
encontradas para consulta no dicionário. O fato de o dicionário ser da
língua de sinais, muitas das palavras utilizadas na redação do verbete
não são prevista de compor o repertório do dicionário, portanto esse
critério não foi atendido na maioria dos verbetes analisados nesse
repertório lexicográfico.
A análise das informações relativas as unidades desse repertório
léxico mostrou que a língua portuguesa influência na eficiência da
representação e explicação das unidades lexicais da língua de sinais
brasileira. Essa obra conta com o recurso de vídeo eficiente para
representação e explicação das unidades lexicais da língua de sinais,
sendo assim, a partir de ajustes na atualiação da obra se pode explorar o
vídeo para apresentação do maior número de informações possíveis nos
verbetes.
É importante enfatizar que o tratamento lexicográfico empregado
nessa obra implementou a tecnologia como recurso inovador para
elaboração de repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira.
Mesmo assim, o tratamento lexicográfico que aplicou a comparação,

205
sinônimos e descrição faz uso da língua portuguesa como é comum a
elaboração dos repertórios lexicográficos da língua de sinais brasileira.
Outra observação, se refere a consistência das informações
relativas as unidades léxicas analisadas. A redação demonstrou pouco
rigor na elaboração das expressões explicativas, com dados breves e
resumido sobre cada uma das cores. As informações dos verbetes
referentes as unidades léxicas são objetivas e concisas mas expressão do
definidor deve ser formulada a partir de palavras com valores suficientes
para dar conta da apresentação de uma explicação consistente e clara.
Sendo assim, a revisão da redação e teor das informações referentes as
unidades léxicas seria importante para a qualidade lexicográfica da obra.
Sobre essa obra, podemos dizer que apresenta um processo de
construção do trabalho lexicográfico, que mesmo não atendendo a todos
os critérios da análise, mostrou as vantagens que o avanço técnico
propiciou para a lexicografia da língua de sinais brasileira. O emprego
do vídeo para a representação das unidades do repertório léxico é forte
indicativo de desenvolvimento com melhora significativa na qualidade
do conteúdo dessas obras.
A obra mostrou a necessidade de alguns reajustes da interface,
reelaboração e reorganização das informações em campos de dados,
alguns existentes e outros a serem criados. Graças às possibilidades de
atualização do conteúdo lexicográfico, comum ao formato digital,
algumas soluções técnicas seriam suficientes para garantirem a
qualidade das informações da obra. Sendo assim, um plano de
reelaboração de alguns dos dados lexicográficos, a reformulação da
interface e dos seus campos, contando com o emprego do vídeo para
apresentação de outras informações referentes as unidades léxicas, são
algumas observações da análise, visando contribuir com conteúdo dessa
obra.
A análise dessa obra mostrou através da elaboração das
informações referentes as unidades léxicas, um processo em construção
do repertório lexicográfico, com indicativo de desenvolvimento, graças
ao emprego das tecnologias e possibilidades de atualização próprios ao
formato digital, todas essas vantagens para avanço da lexicografia da
língua de sinais brasileira.

206
5.5 Conclusões da análise

Em síntese, as inovações na metodologia de elaboração dos


repertórios lexicográficos, foram significativas para a lexicografia,
principalmente para indicar a evolução do tratamento das unidades
léxicas apresentadas nessas obras.
Como foi apontado por Dapena (2002), a definição lexicográfica é
assunto de grande importância para a metalexicografia, sendo um dos
itens mais difíceis para a elaboração da obra lexicográfica. A dificuldade
começa com a redação e segue com a formulação do que consiste em
definir uma unidade lexical. As obras são alvo de criticas em relação as
definições lexicográficas, não pela qualidade das informações mas por
apresentarem valor inexato ou por apenas se aproximar sem muita
clareza dos dados, mostrando pouco rigor científico na construção desse
item lexicográfico.
Sobre o teor e qualidade das informações referentes as unidades
lexicais da lígua de sinais brasileira a análise propiciou algumas
observações relevantes para essas obras.
A análise das informações referentes ao conjunto de unidades
lexicais da obra de Oates (2010) e Hoemann, Hoemann e Oates (1981)
concluiu que essas obras tinham propósitos voltados para documentação
do repertório lexical da língua e cumpriram com sua meta. Foi feito uso
da representação das unidades lexicais da língua por meio do desenho,
identificação por glosas e descrição espacial dos sinais. E dessa forma,
as obras cumpriram o papel didático e de registro da língua, além dos
métodos aplicados nessas produções, ainda serem empregados na
lexicografia da língua de sinais até os dias de hoje. Os métodos
readequados a realidade tecnológica, mostram o valor do trabalho
lexicográfico apresentado por essa bibliografia. Além da
representatividade dessas fontes bibliográficasna constituição da
trajetória da prática e metodológica empregada na lexicografia da língua
de sinais brasileira.
A análise das definições lexicográficas da obra de Capovilla,
Raphael e Maurício (2012) concluiu que o teor variado das informações
concentrou esforços na apresentação do maior número de opções de
explicação das unidades lexicais da língua de sinais brasileira. As
informações são apresentadas em língua portuguesa, considerando o
propósito da obra de ampliar o conhecimento de mundo dos surdos a

207
partir de outras línguas. A análise comparativa concluiu que um fator de
forte inflência na qualidade dos dados constituintes dos verbetes é a
apresentação das informações em língua portuguesa para explicação das
unidades lexicais da língua de sinais brasileira. A análise mediante
algunas ponderações e adequações, concluiu que muitos dos critérios
metalexicográficos são atendidos pelos verbetes com as devidas
ressalvas e apontamentos a respectiva obra. Para a análise a relevância
desse repertório lexicográfico está principalmente na evolução do
tratamento das unidades lexicais da língua de sinais brasileira
apresentado e discutido nas observações sobre a obra.
A análise das informações da obra de Felipe-de-Souza e Lira
(2005), mostraram um processo de construção da elaboração do
tratamento das unidades desse repertório lexigráfico. Grande parte das
informações lexicográficas são apresentadas em língua portuguesa, mas
a obra conta com o avanço da representação das unidades lexicais da
língua de sinais no formato de vídeo. A obra dispõe de uma interface
digital acesso via internet com recursos de busca e locações das
informações lexicográficas inovadoras. Esse repertório lexicográfico
representou novas perspectivas de inserção da língua de sinais brasileira
no cenário tecnológico. A obra evidencia a construção da pesquisa da
lexicografia digital da língua de sinais ampliando o objeto de
investigação da própria área da Lexicografia.
Essas obras analisadas como fontes bibliográficas contendo o
repertório lexicográfico da língua de sinais brasileira têm grande
potencial para continuidade das pesquisas propositivas sobre a direção
das linguas envolvidas nas obras. A direção da língua de sinais brasileira
para a língua portuguesa e vice versa é questão pertinente para
investigação da lexicografia das línguas de sinais. Ainda que as
informações na língua portuguesa e em outras línguas propiciem
conhecimento de mundo é válido ressaltar a necessidade de concentrar
esforços na elaboração dos repertórios lexicográficos que apresentem
proposta sobre a direção das entradas dos verbetes dessas obras.
O estudo com recorte metodológico da análise voltada para a
definição lexicográfica permitiu a observação do processo de construção
metodológica da elaboração dessas obras. Permitiram a identificação do
desenvolvimento gradativo do tratamento lexicográfico aplicado às
unidades desses repertórios léxicos. O tratamento lexicográfico se refere
as informações adicionais e emprego de recursos tecnológicos eficientes

208
para representação e apresentação das unidades lexicais da língua de
sinais brasileira nessa obras. Alguns apontamentos específicos para cada
uma das obras mostraram o resultado significativo da análise sobre as
informações relativas as unidades lexicais.
A conclusão das observações sobre os repertórios lexicográficos
é que a lexicografia da língua de sinais brasileira segue o
desenvolvimento metodológico com apropriação da tecnologia e
apresentação de propostas de tratamento lexicográfico concentrando
esforços na qualidade as informações oferecidas pelas obras.

5.6 Considerações finais

Essa pesquisa realizou um estudo sobre o desenvolvimento dos


repertórios lexicográficos, com foco no processo de elaboração da
definição lexicográfica, de um conjunto de unidades léxicas da língua de
sinais brasileira, apresentados nas fontes bibliográficas dessa
investigação.
A pesquisa constatou que a trajetória lexicográfica da língua de
sinais brasileira se constituiu do trabalho de compilação do repertório
lexical, a partir do recurso do desenho. Desde o século XIX, a obra de
Flausino da Gama, reconhecida como o primeiro repertório
lexicográfico da língua de sinais brasileira, foi também a primeira que
utilizou o desenho para representação e impressão gráfica da obra.
O trabalho de compilação lexicográfica da língua de sinais
brasileira se apropriou gradativamente das inovações tecnológicas, para
a realização da documentação, mais eficiente e qualificada a modalidade
visual espacial das línguas de sinais. A documentação prosseguiu
fazendo uso das ferramentas disponíveis, em processo de construção de
propostas metodológica do tratamento dos repertórios lexicográficos da
língua de sinais brasileira.
Entre os repertórios lexicográficos disponíveis como fonte de
pesquisa, foram escolhidos quatro obras representativas das fases do
desenvolvimento da lexicografia da língua de sinais brasileira.
A observação geral dos repertórios lexicográficos, identificou que
a obra de Oates (2010), apresentou informações referentes as unidades
lexicais concentradas no propósito da descrição espacial e nomeação dos
sinais. A obra de Hoemann, Hoemann e Oates (1981), introduziu a
metodologia de coleta de dados (mais tarde utilizada de forma

209
semelhante nas pesquisas de corpus da língua de sinais brasileira), fez o
emprego do sistema de glosas, com o propósito de identificação das
unidades do repertório léxico que se propôs a apresentar. A obra de
Capovilla, Raphael e Mauríciao (2012), baseada nas pesquisas em
neurolinguística, explorou o aparato tecnológico e suas possibilidades de
realização de ampla compilação lexicográfica da língua de sinais
brasileira. A obra fez uso dos métodos já utilizados, tais como: a
representação dos sinais readequada a partir do design gráfico, com
descrição espacial dos sinais e nomeação por meio das glosas. Mas
implementou um tratamento lexicográfico especializado, a partir de
variadas informações referentes as unidades léxicas, tais como: a
definição lexicográfica em língua portuguesa baseada na língua de sinais
brasileira. A obra de Felipe-de-Souza e Lira (2005) introduziu a língua
de sinais brasileira no cenário da lexicografia no formato digital virtual.
Explorou a criação de interface digital com informação no formato de
vídeo, recursos avançados de busca e organização dos dados
informatizados, com livre acesso viam internet.
Essa pesquisa de teor bibliográfico teve como recorte
metodológico o estudo do desenvolvimento dos repertórios léxicos a
partir da análise da elaboração da definição lexicográfica. Outros
aspectos das informações pertinentes aos verbetes não abordados são
temas impotencial para investigações futuras sobre os repertórios
lexicográficos da língua de sinais brasileira.
Um estudo específico, poderia se concentrar na evolução da
representação das unidades léxicas, a partir dos recursos técnicos, tais
como: desenho, fotografia e vídeo. Tendo como foco, a evolução do
emprego desses recursos na construção do verbete e das informações
lexicográficas em língua de sinais brasileira. Outro aspecto com grande
potencial investigativo trata-se da representação das informações
lexicográficas, a partir das ilustrações e imagens, tendo como foco, as
possibilidades da construção de um tipo de verbete figurativo para os
repertórios léxicos da língua. Em termos de estrutura formal dos
verbetes, um estudo de grande relevância, poderia ser dedicado as
categorias das informações constituintes, tais como: acepções, exemplos
e a própria definição lexicográfica, que cabe, a continuidade de seu
estudo. Outros estudos de caráter propositivos poderiam ser
desenvolvidos em pesquisas de doutorado, cujo tempo de elaboração e

210
aprofundamento no objeto de investigação, são propícios para a
realização de um trabalho desse porte e teor lexicográfico.
Essa pesquisa sobre os repertórios lexicográficos se propôs a
oferecer uma contribuição, traçando uma trajetória da lexicografia da
língua. A investigação buscou apresentar fases do processo de
desenvolvimento lexicográfico, apontando os indicativos dos avanços
técnicos e metodológicos das obras. Desse modo, o estudo mostrou a
qualidade das informações dos repertórios lexicográficos, a fim de
despertar o interesse e continuidade de outras pesquisas relevantes para
a língua de sinais brasileira.

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