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CONJUNTURA – Ajustes econômicos e


financiamento das políticas públicas:
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/Como-sair-da-crise-e-retomar-o-desenvolvimento-/7/37920

Como sair da crise e retomar o


desenvolvimento?
O princípio básico é que se deve financiar o desenvolvimento com
progressividade tributária, como, por exemplo, cobrando imposto
sobre lucros e dividendos

Pedro Paulo Zahluth Bastos*

(Palestra completa do professor Pedro Paulo Zahluth Bastos)

Como costuma ocorrer em momentos de crise econômica e defensiva política, políticos, intelectuais
e economistas à esquerda do centro veem encurtado seu horizonte de preocupação para o curto
prazo da administração da crise. A maior vitória ideológica da direita, nestas circunstâncias, é usar a
crise exatamente para moldar os termos do debate público e limitar o debate estratégico às opções
que lhe agradam. Ou seja, olhar à esquerda e enxergar um campo bem domesticado e incapaz de
pensar grande.

Exemplo disso é o fato de que a insistência, até o esgotamento, da aposta na retomada da


credibilidade junto aos mercados, com Joaquim Levy, já havia restringido tanto o governo Dilma
Rousseff a ponto de impedir que saísse dos termos da agenda nacional definidos pelo
neoliberalismo.

Em meio a uma crise que exigia a forte retomada contracíclica do investimento público, a vacilação e
a aceitação do diagnóstico de que o gasto público era, em geral, um problema, não deixava ao
governo e, em particular, a Nelson Barbosa senão a “alternativa” de propor mais do mesmo que já
propunha desde 2014, isto é, mais limitação do gasto público e mais corte de direitos sociais,
inclusive à previdência social. Não surpreende que a oposição usasse o discurso da austeridade
como pretexto absurdo de um impeachment ilegítimo, pois a ausência de uma narrativa oficial
alternativa era evidente a qualquer um que não estivesse imerso nos jogos de poder de curto prazo
em Brasília.
O resultado é que a preocupação excessiva com o ajuste fiscal – que só é possível com a retomada do
crescimento, e não o contrário – aprofundou a recessão, o próprio desajuste fiscal e a legitimação
pública de uma agenda estratégica regressiva, marcada pelo aprofundamento da desigualdade social
e o corte de direitos.

Já está na hora de voltar a pensar grande, igual ao tamanho da desigualdade social e dos desafios ao
desenvolvimento brasileiro.

Ajuste fiscal permanente: o feitiço contra o feiticeiro

Para isto, ajuda que o feitiço já se volta contra o feiticeiro. A estratégia política dos golpistas era
paralisar o legado institucional e programático construído a partir da Constituição de 1988 e
retomado no governo Lula, torcendo para que o povo o esquecesse até 2018 à medida que a
economia se recuperasse depois do impeachment.

A “fada da confiança”, contudo, não fez milagres e a economia até acelerou sua contração nos dois
trimestres depois do impeachment. Isto aumentou a nostalgia da população perante o legado do
lulismo. Como este legado envolvia direitos sociais materializados no gasto público, como o Minha
Casa, Minha Vida (MCMV) e o Bolsa-Família (BF), sua própria paralisia deliberada tem boa
responsabilidade pelo aprofundamento da recessão. Logo, sua retomada é o caminho óbvio para a
recuperação, com benefícios econômicos e políticos rápidos.

Por outro lado, ter usado a rigidez da meta fiscal anual como pretexto do impeachment e ter
anunciado seu cumprimento rígido como condição da credibilidade deixa o governo Temer, agora,
preso a seu feitiço. A emenda constitucional do Teto do Gasto só vai ter efeitos em 2018, pois a
rápida desinflação em 2017 ainda permite, em tese, o aumento do gasto público real em relação a
2016. No entanto, o baixo desempenho da arrecadação tributária já exige contingenciamento
bimestral do orçamento público como o anunciado no final de março: 42,1 bilhões em cortes, além
da reversão das desonerações da folha de pagamento salarial que foi vetada ao governo Dilma.
Mantida a meta de déficit de 2017 (R$ 139 bilhões), o contingenciamento anunciado já determina
uma queda do gasto público real em 2017, como se a emenda do teto já valesse.

Até o final do ano, não se pode descartar novos contingenciamentos, propostas de elevação de
alíquotas de impostos e a suprema humilhação: praticar pedaladas ou propor um aumento da meta
de déficit para além dos R$ 139 bilhões inscritos em lei. Ao mesmo tempo em que isto pode
constranger a recuperação da economia, desmoraliza os austeros e força da entrada do óbvio para
dentro do debate econômico.

O que é óbvio é que uma recuperação firme passa inevitavelmente por liberar o déficit público por
um tempo. O gasto público não pode cair acompanhando a arrecadação tributária, pois sua
contração determina queda das receitas privadas e até mesmo a falência de empresas privadas. Daí a
arrecadação tributária cai por causa da queda do gasto privado, e só o déficit público pode
interromper o círculo vicioso.

Se a economia se recuperar lentamente a despeito de novos contingenciamentos em 2017, a emenda


do teto do gasto público pode jogá-la de novo para baixo em 2018. A recuperação, portanto, exige
reverter a emenda constitucional do teto do gasto e criar um novo regime fiscal que desamarre o
investimento público e iniciativas anticíclicas, quando necessárias. Isso é condição indispensável
para a retomada do desenvolvimento e sua sustentação no tempo.

Em uma economia com volume enorme de recursos ociosos, as taxas de juros reais podem cair sem
risco para a inflação, barateando o financiamento da dívida pública. Como se sabe, são os juros da
dívida, e não os resultados primários, que determinam a aceleração do endividamento recente. A
queda dos juros também abre espaço para uma desvalorização cambial gradual, necessária para
conferir competitividade para alguns ramos industriais. A armadilha dos juros altos e do câmbio
baixo não foi desarmada desde 1992, mas é essencial que seja para sustentar um novo ciclo de
desenvolvimento com redistribuição de renda.

Renegociação e alongamento de dívidas

Como as empresas estão endividadas e com capacidade ociosa, a recuperação não vai partir do
investimento privado e da expansão do crédito. Logo, mecanismos de crédito precisam basicamente
renegociar e alongar o pagamento das dívidas. Um pool de bancos públicos deve ser mobilizado e
atrair bancos privados para avaliar e alongar dívidas conjuntamente (tecnicamente,
fazer empréstimos sindicalizados).

A renegociação das dívidas, sobretudo de empreiteiras e construtoras, é de alta prioridade,


porque sua falência implicará em novas quebras de fornecedores menores, aumento do desemprego
e desnacionalização. Isso passa por acelerar acordos de leniência e reverter o caráter anti-nacional
da Lava-Jato.

Como as famílias também estão endividadas, a ação conjunta dos bancos públicos também é
necessária para reduzir juros e facilitar renegociação de dívidas de consumidores. Além disso, é
fundamental alongar a vigência do seguro-desemprego, desde junho de 2015 limitado a quatro
ou cinco parcelas na primeira solicitação; mais quatro na segunda e mais três na terceira. O
desemprego de longo prazo, porém, já se instalou no país, e não podemos produzir mendigos ou
algo pior por falta de opção.

Enfim, a renegociação da dívida com estados e municípios é fundamental. É preciso garantir


gastos correntes e conclusão de obras paralisadas, barrando a imposição da emenda constitucional
do teto de gastos federais e sua imposição nos contratos com estados.

A retomada do legado paralisado

Como a maturação de novos projetos (e bandeiras) de longo prazo é lenta (por motivos de
engenharia técnica, financeira e ambiental), eles podem ser planejados enquanto são reativados
vários programas desativados com Temer, sobretudo oito:

1.Política de encomendas públicas com conteúdo tecnológico local, inclusive na Petrobrás;

2.Retomada de obras de grande impacto (transposição do São Francisco com projetos de irrigação,
conclusão das ferrovias) e em grandes cidades (principalmente mobilidade urbana);

3.Minha Casa, Minha Visa, vinculado com urbanização de favelas, ocupações e loteamentos ilegais, e
programa de substituição energética;

4.Apoio federal à atenção primária de saúde, UBSs, Farmácia-popular e Mais-médicos;

5.Expansão de Institutos Federais de Ensino e do Pronatec, depois campus universitários;

6.Elevação de salário mínimo;

7.Ampliação do Bolsa-Família e da linha de pobreza, inclusive com 13º salário;

8.Fortalecimento da agricultura familiar, com apoio à reforma agrária e formação de cooperativas.

O princípio central é reverter a marginalização social e, ao universalizar infraestrutura e serviços


públicos, canalizar o crescimento do mercado interno para indução e diversificação de
investimentos privados. Que novos projetos e bandeiras, no mesmo sentido, podem ser planejados?

1.O programa Saneamento para Todos deve ser transformado em prioridade nacional,
eventualmente convertido no programa Água para Todos para marcar a prioridade e articulá-lo ao
reaproveitamento;

2.Emprego Para Todos (e seguro-desemprego para todos que precisem);

3.Banda Larga para Todos: universalizar o acesso à internet e democratizar a produção de


conteúdo;

4.Luz do Sol Para Todos: universalizar Placas Solares e Usinas Eólicas, começando com
programa-piloto no Semiárido, depois em hospitais, escolas e universidades; a seguir estendendo
para favelas e loteamentos ilegais, substituindo “gatos”, de modo que ninguém perca, todos
ganhem.

Como financiar?

O princípio básico é que não é preciso cortar direitos para financiar o investimento público. A
rejeição das reformas golpistas (Previdência, Trabalhista, Teto do Gasto) deve ser feita lembrando o
tamanho da sonegação anual (R$ 500 bilhões), dívida ativa da União (R$ 1,8 trilhão), dívida ativa
de cobrança imediata (R$ 260 bilhões) e dívida com a Previdência Social (R$ 426 bilhões). No
entanto, fazer cumprir a lei tributária também exige cumprir a lei do teto do salário do
funcionalismo público, objeto de várias distorções que o corrompem.

Além de um força-tarefa para combate à sonegação e cobrança da dívida ativa, há três


Iniciativas tributárias e financeiras emergenciais que podem ser propostas:

1.CPMF de início com alíquota de 0,01% ou, se houver resistência, no limite até 0,001% (para atacar
a sonegação: quem dirá não?);

2.Acelerar liberação do FGTS para obras em saneamento, e reforçá-las com bancos públicos e, se
quiserem, privados, iniciando o Água Para Todos;

3.Usar parte das reservas cambiais para constituição de um Fundo Social de Desenvolvimento, e
outra parte como garantia para empréstimos de longo prazo junto ao Banco dos Brics, estimulando a
concorrência do BID e do Banco Mundial.

O princípio básico é que se deve financiar o desenvolvimento com progressividade


tributária. Conforme delineado no documento Austeridade e Retrocesso, cabe iniciar com a
cobrança imediata (no ano seguinte à aprovação legal) do imposto sobre lucros e dividendos
distribuídos das empresas para as pessoas físicas e, dois anos depois, fim da dedução de juros sobre
capital próprio.

É possível trocar o aumento da progressividade de impostos diretos (imposto de renda, herança,


rural, fortunas) e eliminação de isenções regressivas (contribuições sociais; saúde; subsídios
empresariais) por aumento da faixa de isenção do IR e unificação/redução de alíquota de impostos
em cascata.

Além disso, é possível recorrer à cooperação internacional. Por exemplo, por que não propor
um fundo ambiental internacional para apoiar o Luz do Sol Para Todos (Sunshine for All), com
programas-pilotos para placas solares e usinas eólicas no Semiárido do Brasil e na África? No Brasil,
o objetivo inicial seria apoiar a irrigação e a agricultura familiar no Semiárido, reduzir a Conta de
Desenvolvimento Energético e a conta de luz de repartições públicas, além de estimular um novo
ramo de atividade verde e tecnologicamente avançado.

Estas são algumas ideias que precisamos aprofundar para retomar a esperança no futuro e assegurar
o desenvolvimento de um Brasil para todos. Assim como devemos pensar grande nas finalidades, a
ação também deve priorizar a Grande Política, inspirando grandes massas. Não adianta se
autolimitar, evitando políticas que desagradem parcelas ideologizadas e radicais da classe média e
do empresariado; parte delas só será ganha politicamente com a retomada do crescimento, uma boa
parte nem com isso. A busca da unanimidade paralisa. Lutemos por um Brasil para todos, mas de
baixo para cima.

____________

* Pedro Paulo Zahluth Bastos - Economista pela UNICAMP; Mestre em Ciência Política pela
UNICAMP; Doutor em Ciências Econômicas pela UNICAMP; Professor Doutor do Instituto de
Economia (IE) da UNICAMP; Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em História
Econômica (ABPHE).

Conjuntura
A restauração neoliberal sob o (des)governo Temer
por Pedro Rossi e Guilherme Mello* — publicado 04/04/2017 11h12
https://www.cartacapital.com.br/blogs/brasil-debate/a-restauracao-neoliberal-sob-o-des-governo-temer
Em um acordo frágil, as elites golpistas aceitaram o escárnio e a impunidade
em troca da implementação de uma agenda para desmontar o Estado

Para salvar os próprios pescoços, Temer e seus ministros levaram os trabalhadores ao cadafalso

[Este é o blog do Brasil Debate em CartaCapital. Aqui você acessa o site completo]
Uma associação de interesses levou ao golpe político que destitui Dilma Rousseff do poder. De um
lado, os integrantes da classe política inconformados com a resistência (ou incapacidade) da
presidenta eleita em atuar para “estancar a sangria” ou salvá-los da Operação Lava Jato. De outro,
os interesses em torno do projeto econômico neoliberal, fortalecidos pela crise econômica e por um
sentimento de insatisfação generalizado.
Michel Temer assume para atender a esses dois grupos de interesse: governa para “estancar a
sangria” e terceiriza a gestão econômica para os porta-vozes do novo projeto econômico. Assim,
em um acordo frágil, as elites golpistas aceitaram o escárnio e a impunidade em troca da
implementação de uma agenda para desmontar o Estado social e o Estado indutor do crescimento.
O desastre econômico e político em que se encontrava o Brasil em 2016 abriu espaço para o que
chamou de “doutrina do choque”, uma filosofia de poder que sustenta que a melhor oportunidade
para impor as ideias radicais é no período subsequente àquele de um grande choque social.

É exatamente o que acontece hoje no Brasil: no momento da maior retração da renda da história,
em pleno “Estado de calamidade institucional”, quando há claramente uma desarmonia entre os
poderes da República, ocorre a imposição de uma agenda neoliberal, de caráter radical, cujo
objetivo é transformar rapidamente os princípios e a natureza do Estado brasileiro e da
Constituição de 1988. Ao atuar em várias frentes, imprimindo urgência e celeridade às reformas, a
reação demora a se estabelecer e não é suficiente para sensibilizar uma classe política refém das
elites e preocupada em salvar a pele.
A primeira grande reforma, que traz consigo o DNA orientador do novo projeto, é a reforma do
regime fiscal, ou a PEC 55, que prevê a limitação constitucional dos gastos públicos por 20 anos,
fato internacionalmente inédito. Em sua essência, a PEC impossibilita ao Estado o cumprimento
das obrigações vigentes na Constituição Federal de 1988. É o fim do Estado garantidor de direitos,
uma vez que a proposta impõe uma diminuição do tamanho e do papel do Estado, impossibilitando
o funcionamento dos serviços públicos e da rede de proteção social.
Além disso, ao canalizar toda a sua ação para limitar o crescimento do gasto primário, o governo
deixa de atacar alguns dos principais sorvedouros de recursos públicos nos últimos anos: as
desonerações fiscais, a sonegação e o pagamento de juros nominais que respondeu por mais de
8% do PIB em 2015, aproximadamente o valor gasto com toda a Previdência. Ademais, o governo
se recusa a debater o injusto e ineficiente sistema tributário, que faz com que os pobres paguem a
maior parte da sua renda em impostos, enquanto os ricos sejam desonerados e tenham a
possibilidade de contribuir com menos de 30% de sua renda em tributos.
A segunda grande reforma estrutural apresentada por Temer é aquela da previdência, que propõe
um conjunto de mudanças draconianas nas regras do sistema, com destaque para o aumento do
mínimo de contribuição de 15 para 25 anos e dos 49 anos de trabalho para usufruir o benefício
pleno. Tal reforma é contraproducente ou hipócrita. Contraproducente, pois diante das novas
regras os contribuintes vão buscar driblar a previdência e se juntar aos 40% da força de trabalho
que não contribui, o que vai quebrar o sistema, em vez de “salvá-lo”.

Hipócrita, pois esconde seu verdadeiro objetivo: justamente, quebrar a Previdência social e ampliar
o espaço de atuação dos fundos privados de aposentadoria. Na verdade, os porta-vozes da
reforma escondem, por detrás das ginásticas contábeis, uma rejeição à própria existência de um
regime de previdência social de repartição, fundado em um pacto de solidariedade social, e uma
simpatia pelos sistemas privados de capitalização, fundados na lógica individualista. Se ao menos
isso fosse explicitado, não seriam hipócritas.

O ataque sobre os direitos dos trabalhadores não termina, porém, com a proposta de reforma
previdenciária. O governo planeja aprovar ainda em 2017 mudanças trabalhistas que reduzam ou
flexibilizem diversos direitos, avançando na terceirização e garantindo o protagonismo da
negociação direta entre empresários e trabalhadores. Em um momento recessivo como atual, com
elevadas taxas de desemprego, a conclusão óbvia é que tal reforma, se aprovada, tende a
precarizar ainda mais o mercado de trabalho brasileiro, ampliando o recuo do salário real, que foi
forte em 2016.

A orientação neoliberal do governo Temer aparece ainda na sua relação com os bancos públicos e
as estatais. No BNDES, a orientação é a de “enxugar”, reduzir o volume de empréstimos, extinguir
a TJLP, rever a exigência de conteúdo local e reduzir o enfoque setorial dos empréstimos.
Essa nova orientação resgata o papel subordinado do BNDES exercido no período neoliberal da
década de 1990, como financiador de poucas áreas, menor papel social e maior participação no
processo de privatizações. Não por acaso, o banco transformou a área de “Estruturação de
Projetos” em área de “Desestatização”, onde o superintendente remete diretamente à presidência
do banco. Com o BNDES reconfigurado, o Estado perde um poderoso instrumento de política
industrial e de reação anticíclica diante de crises como a de 2009, quando o BNDES teve um papel
importante na sustentação da produção industrial, das exportações e do investimento.

E por falar em desmonte do patrimônio público, a forma de enfrentamento da crise dos estados da
federação tem sido marcada pelas condicionalidades do governo federal exigidas na negociação
das dívidas, dentre elas as privatizações e o enxugamento da máquina pública. Assim, austeridade
e desmonte da máquina pública se combinam reforçando a contração da renda.

A mesma opção pelo “enxugamento” pode ser vista na nova gestão da Petrobras, comandada por
Pedro Parente. Ex-ministro de FHC, Parente ampliou o plano de desinvestimentos da estatal,
reduzindo em 25% a previsão de novos investimentos até 2021. Essa mudança de orientação
combina perfeitamente com as seguidas vendas de ativos e campos de petróleo por parte da
Petrobras, culminando na mudança do marco regulatório do Pré-sal, que tira o direito da Petrobras
de ser operadora única destes campos. Na prática, privatiza-se a empresa a conta gotas, com
venda de ativos, retirada de atividades e abertura de espaço para as grandes petroleiras
estrangeiras assumirem um espaço privilegiado no mercado de petróleo nacional.

A Petrobras sempre foi um instrumento de desenvolvimento, um sistema que vai do “poço ao


posto”, a começar pela exploração do petróleo bruto até a venda e comercialização de derivados e
outros combustíveis de gasolina. O controle dessas cadeias produtivas permite estimular a geração
de renda e emprego, agregar valor à produção, priorizar insumos locais, absorver choques de
preços externos, contribuir para soberania energética, gerar tecnologia etc. Contudo, ao abandonar
diversas áreas de atuação, como a petroquímica, os setores de biocombustíveis e fertilizantes, a
Petrobras caminha para se tornar uma mera exportador exportadora de óleo cru e importadora de
máquinas e equipamentos.

Portanto, a política econômica do governo Temer atua em dois planos. No primeiro, desmonta-se a
capacidade do Estado de promover as políticas sociais e fragiliza-se a posição dos trabalhadores.
Nessa direção, destacam-se o novo regime fiscal que compromete o gasto social, as reformas da
previdência e trabalhista. No segundo plano, desmonta-se a capacidade do Estado de induzir o
crescimento e de transformar a estrutura produtiva por meio do novo regime fiscal que limita o
gasto com investimento público, a privatização da gestão dos bancos públicos e da Petrobras.
Versão modificada de artigo publicado no Le Monde Diplomatique Brasil.
*Pedro Rossi é professor do Instituto de Economia da Unicamp, diretor do Centro de Estudos de
Conjuntura e Política Econômica da Unicamp e coordenador do Conselho Editorial do Brasil
Debate.

Guilherme Mello é professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de


Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp

22/03/2017 11:07 – Copyleft


http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/Austericidio-e-outras-maldades/7/37880

Austericídio e outras maldades


Não tendo sido eleito para o imenso estrago que está promovendo, o governo
parece preocupados apenas em cumprir à risca o mandato recebido do
financismo.

Paulo Kliass *

Apesar de todas as denúncias e polêmicas envolvendo a Operação Carne Fraca da Polícia


Federal dominando o noticiário, a turma do comando econômico na Esplanada parece não
perder de vista o seu foco principal. Insistem, persistem e não desistem de forma obstinada
em continuar praticando todo o tipo de maldades contra a nossa população e procuram se
aperfeiçoar na prática de um tipo vil de liquidacionismo entreguista.

Ao que tudo indica, não bastaram os mais de dois anos seguidos de política econômica
ortodoxa e profundamente inspirada do anacronismo criminoso do neoliberalismo. Afinal,
o intento dos (ir)responsáveis pela economia foi plenamente atingido. O nosso PIB caiu
3,8% em 2015 e mais 3,6% no ano passado. Com o discurso falacioso a respeito da
necessidade de se combater o risco da inflação e o déficit público estrutural e incontrolável,
optaram pelo caminho mais fácil dos manuais de macroeconomia de quinta categoria. Ora,
se há um descompasso entre procura e oferta, o caminho é cortar a demanda.

A perversidade de tal alquimia deliberada nos proporcionou o ingresso na mais profunda


recessão de nossa História. A combinação explosiva de juros elevados com corte nas
despesas públicas de natureza social jogou o Brasil no atual quadro desolador, típico de um
pesadelo que se recusa a terminar. Tem-se a impressão de que o tempo histórico caminha
para trás. Durante esse biênio de regressão econômica e social o governo assegurou a
entrega de exatos R$ 909 bilhões do orçamento federal às instituições financeiras. Afinal, o
rigor da austeridade fiscal também é seletivo. As despesas financeiras ficam de fora da
contabilidade de quem reza pela cartilha do superávit primário. Assim, quase R$ 1 trilhão
foi pelo ralo do parasitismo financista, ao passo que as rubricas associadas a gastos com
saúde, previdência, assistência, educação e outros foram draconianamente reduzidas.

Desmonte e cortes.

As informações sobre o desemprego seguem alarmantes, superando os 12% da população


em condições de trabalhar, de acordo com a metodologia oficial do próprio IBGE. Assim
temos mais de 13 milhões de indivíduos desempregados, sem contar as dificuldades todas
da subnotificação, dos que se cansaram de buscar postos de trabalho e dos que são
obrigados a se contentar com eventuais ganhos precários na informalidade. Com certeza
não será por mera coincidência que a divulgação recente do Índice de Desenvolvimento
Humano da ONU atestou o imobilismo da posição brasileira em 2015, quando deixou de
exibir melhorias em sequência, como fazia até então.

Não bastasse esse caos dramático na área social, o governo exibe sorrisos de boca a boca
para comemorar a continuidade da privatização do patrimônio público. Sim, pois o discurso
do “fora Estado” é absolutamente coerente com a perspectiva do ajuste ortodoxo. Partindo
da suposição de que a ação estatal é ineficiente por sua própria natureza, a equipe de Temer
colocou em leilão mais 4 aeroportos sob controle da Infraero. Em sintonia com o que havia
sido implementado por Dilma anos antes, a atual administração nem enrubesce as faces por
se regozijar com o ingresso de míseros R$ 1,5 bilhão aos cofres do Tesouro Nacional em
troca da outorga da exploração comercial dos complexos aeroportuários de Porto Alegre,
Florianópolis, Fortaleza e Salvador.

A ausência de participantes brasileiros dentre os consórcios que disputaram os leilões


chegou mesmo a ser considerada como fator positivo, pois assegurou que todos os
vencedores fossem grupos constituídos por empresas estrangeiras. O valor que foi pago pelo
direito de explorar comercialmente os empreendimentos até o longínquo 2047 equivale tão
somente ao total de despesas com juros correspondentes a um único dia útil no mês de
janeiro do presente ano.

Liquidacionismo entreguista.

Esse é o mesmo raciocínio que está na base da decisão de Temer por encaminhar ao
Congresso Nacional uma Medida Provisória autorizando a venda de terras de forma
ilimitada para estrangeiros. Esse receituário também fundamenta a decisão de promover a
entrega da exploração das reservas do Pré Sal para as multinacionais do setor petrolífero,
bem como a estratégia do atual presidente da Petrobrás de promover a privatização da
estatal por lotes.

E agora representantes do Ministério da Fazenda continuam batendo na tecla da


necessidade do ajuste fiscal. Não bastou o atropelo para aprovar a chamada PEC do Fim do
Mundo no Congresso Nacional no final do ano passado. Como todos nos lembramos, de
acordo com a medida passam a ser congelados os gastos de natureza social orçamentários
por duas longas décadas a partir desse ano. Empunhando sua espada em uma verdadeira
cruzada contra o gasto público, a equipe econômica lança agora um novo ataque contra o
pouco que ainda resta de espaço para política pública de bem estar social em nosso País.

Para além da Reforma da Previdência e da Reforma Trabalhista, a equipe da Fazenda clama


por maiores gastos no Orçamento para um ano que mal começou e já vai rastejando em
direção ao final. Tendo em vista a realidade provocada pela própria recessão encomendada
e almejada pelo governo, o fato é que a estimativa de receitas feita no ano passado não está
sendo confirmada. Parece óbvio. Afinal, a recessão diminui o ritmo da atividade econômica
de forma generalizada, provocando de forma óbvia a queda na arrecadação tributária.
Novos cortes ou mais impostos.

No entanto, não satisfeito com o estrago geral proporcionado, um alto dirigente do


Ministério da Fazenda confirma à imprensa em 21 de março que "o governo vai fazer o que
sempre prometeu fazer: cortar despesas". Pelo menos ele não escondeu sua franqueza: a
única coisa que a equipe de Temer consegue propor face à gravidade da crise são cortes. E
mais cortes. E mais cortes. Na dúvida, o tecnocrata ainda cometeu outro sincericídio: pegou
carona em declarações anteriores do chefe Meirelles e saiu-se com um verdadeiro assombro
para os patos da Avenida Paulista. Admitiu a possibilidade de elevar os impostos - ó
imperdoável heresia! - caso a meta da Receita Federal não seja compatível ou haja alguma
dificuldade em continuar a saga de passar a faca nos programas sociais.

O atual quadro da conjuntura é ainda mais dramático se levarmos em conta a inexistência


de espaço para uma rota alternativa no interior do próprio governo Temer. Em razão de não
terem sido eleitos para o imenso estrago que estão promovendo, seus integrantes parecem
preocupados apenas em cumprir à risca o mandato recebido do financismo com a tarefa de
concluir o desmonte do Estado brasileiro. E, além disso, destruir o mais rápido possível as
paredes de contenção de direitos sociais ainda presentes em nossa Constituição e em nossa
legislação.

Assim, a longa espera até 2018 pode ser mais do que agonizante. Ela será perigosamente
fatal.

* Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em


Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.

08/03/2017 15:14 – Copyleft


http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/Uma-agenda-para-destruir-um-Pais/7/37836

Uma agenda para destruir um País


Mesmo com um movimento mundial que demonstra que o ajuste
fiscal só aprofunda a crise econômica, Meirelles propõe tal ajuste
para a retomada do crescimento

Esther Dweck

O governo Temer tem se aproveitado de diversas medidas dos governos Lula e


Dilma. A transposição do Rio São Francisco é talvez o exemplo mais
emblemático. Outro exemplo é o “Conselhão”, criado por Lula em 2003, para
dialogar com a Sociedade Brasileira, com academia, trabalhadores e empresários,
foi reconfigurado pelo governo Temer.

Ontem, houve uma apresentação do Ministro Meirelles para o “Conselhão”. A


apresentação poderia se chamar como destruir um projeto de desenvolvimento
inclusivo, mas segundo ele é a pauta para retomada do crescimento. Os pontos
apresentados por ele deixariam os ideólogos do Consenso de Washington com
inveja: como não pensaram em tanta maldade junta.

O neoliberalismo começou em 1973, com um golpe de Estado no Chile. No Brasil,


ele entrou por via eleitoral e, justamente por isso, foi mais tímido do que em
outros países. A memória do regime militar e toda a agenda defendida na
Constituição Cidadã ainda estavam muito frescos durante os Governos Collor e
FHC para que fossem destruídos os pilares básicos da Constituição. Não faltaram
tentativas, mas os instrumentos não foram destruídos.

Com a vitória de um projeto inclusivo nas urnas, em 2002, os instrumentos foram


utilizados para promover, pela primeira vez na história do Brasil, um projeto de
crescimento inclusivo. Podem existir várias críticas e muitos podem achar que
faltou aprofundar em algumas áreas chave. Mas é difícil não reconhecer todos os
avanços dos 13 anos que terminaram com mais um golpe.

Ontem, foi apresentada a destruição desses mecanismos pelo Sr. Meirelles.

Em primeiro lugar, ele propõe o ajuste fiscal permanente como condição


necessária para retomada do crescimento, tendo como os elementos centrais dois
pontos. A EC95/2016 (teto declinante dos gastos), que promoveu uma redução
dos mínimos constitucionais de saúde e educação e irá impor diversos cortes nas
despesas sociais. E o segundo ponto é a Reforma da previdência, uma reforma
que irá excluir diversos brasileiros do sistema e que destrói o sistema como o
pilar de distribuição de renda e da proteção social no Brasil.

Eu não sei em que mundo eles vivem, mas há um movimento mundial para
demonstrar que ajuste fiscal só aprofunda a crise econômica.

Na apresentação, ele chegou a afirmar que o crescimento está sendo retomado.


Eu não sei em qual País, porque os últimos números divulgados pelo IBGE
mostram que, na margem, nos últimos dois trimestres de 2016, a economia voltou
a piorar. O carryover para o crescimento de 2017, que é o crescimento
da economia se esta ficar onde está, é de -1,1%. Ou seja, se nada acontecer,
teríamos uma terceira queda do PIB. Algo visto apenas em países com grandes
catástrofes.

Depois, ele apresentou a tal Agenda de Produtividade e Crescimento no Longo


Prazo. O início é uma agenda de desburocratização, sem impactos concretos e
com alguma penalidade aos consumidores. O mais interessante é que apresentou
reformas relacionadas ao crédito, sem fazer o básico, que era aumentar o crédito
dos bancos públicos. O BNDES tem acumulado caixa ao invés de contribuir para
retomada do crescimento. Os números são de mais de R$100 bilhões em caixa,
fora a devolução antecipada de R$ 100 bilhões ao Tesouro.
Em seguida, vem o receituário de abertura comercial, com destaque para a
liberação da venda terra para estrangeiros. Consolidam assim a agenda
entreguista imposta desde maio de 2016.

Mas a cereja do bolo é o slide onde apresenta as “Várias Reformas


Liberalizantes”, como se as anteriores não fossem ingredientes típicos das
agendas mais fundamentalistas do liberalismo econômico.

Os pontos principais dessas reformas liberalizantes são três. O primeiro é a


destruição da legislação trabalhista, com terceirização geral e irrestrita, a
prevalência do negociado versus o legislado e a flexibilização da jornada. O mais
interessante é que o Brasil tinha, em 2014, a menor taxa de desemprego da
história, sem que tivessem sido necessárias quaisquer dessas mudanças.

As outras duas medidas demonstram a falta total de compromisso com o


desenvolvimento do País. A proposta é a reversão de medidas essenciais para
garantir que recursos públicos ou recursos naturais do País sejam utilizados para
gerar desenvolvimento tecnológico e emprego industrial no Brasil. Fim da
margem de preferência nas compras governamentais e a “reforma” do conteúdo
nacional do setor de Óleo e Gás, com a proposta de “horizontalização” e
globalização dos requisitos de conteúdo nacional, que na prática elimina a
exigência.

Mesmo que por uma questão estatística e pelos atuais estabilizadores automáticos
a economia pare de cair e até encontre um crescimento positivo, se todas as
propostas forem efetivamente implementadas, será o fim de um modelo de
crescimento inclusivo e para todos.

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