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O PROCESSO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO NO PRIMEIRO E SEGUNDO ANOS

DO ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS EM DUAS INSTITUIÇÕES


ESCOLARES: UMA PÚBLICA MUNICIPAL E UMA PARTICULAR∗

Janine CANDIDO∗∗
Rosiane PRUDÊNCIO ∗∗∗

RESUMO: Este artigo apresenta algumas reflexões sobre o processo de alfabetização no primeiro e segundo
anos do ensino fundamental de nove anos. Trata-se de pesquisa de campo que foi realizada em duas instituições
escolares: uma pública municipal do município de Sangão (SC) e uma particular do município de Tubarão (SC).
O registro foi realizado com entrevistas, observações e registro fotográfico. São objetivos da pesquisa: a)
investigar o processo de aquisição da escrita no início do ciclo alfabetizador e o confronto entre os chamados
métodos e teorias de alfabetização nas duas instituições; b) Conhecer os espaços destinados para a vivência da
infância destas crianças que iniciam sua vida escolar no Ensino Fundamental de nove anos. O referencial teórico
está baseado em autores como: Soares, Ferreiro, Teberosky, Mello, Brito, Freire, entre outros. A partir das
reflexões pode-se dizer que fica evidente a necessidade de pensar os espaços para a infância.

PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização (aprendizagem da escrita/métodos). Ciclo Alfabetizador. Ensino


Fundamental de nove Anos.

1 Introdução

Todos os profissionais da Educação que escolhem trabalhar na área da alfabetização e


se entregam totalmente a essa tarefa passam por um momento singular, a escolha do método,
da abordagem que vai subsidiá-lo na prática pedagógica sendo que este é um dos elementos
que diferencia o processo de alfabetização. Essa escolha é uma reflexão de diferentes
situações carregada de intenções, mesmo porque cada método traz em si uma carga de
ideologia que se adequa nas ideias e ideais de cada educador.
A escolha do método a ser trabalhado para que o processo de alfabetização consiga
obter o resultado ideal precisa estar intimamente ligado à cultura das crianças, pois estas,
antes mesmo de entrarem em contato com o ambiente alfabetizador, já estão inseridas em
ambiente letrado, sendo que a familiarização com os objetos escritos ocorrem desde o
nascimento, isso ocorre através da tecnologia, revistas, gibis, etc.
Soares diz que essa familiarização faz com que a criança “desde muito cedo inicia seu
processo de alfabetização – observa textos escritos à sua volta, e vai descobrindo o sistema de
escrita reconhecendo algumas letras, algumas palavras.” (Soares, 1998, p.17).
Com isso percebemos que não há ponto de partida para o desenvolvimento da
alfabetização e do letramento, pois a criança já está em um mundo no qual essas escritas
fazem parte do seu cotidiano. Sendo importante destacar que, de acordo com Soares, esse
aprendizado é “assistemático, casual e sem planejamento” (Soares, 1998, p.18).
Cabe à escola esquematizar esse processo facilitando e decodificando esse a
linguagem escrita a fim de aprimorar o conhecimento, trazendo para escola a realidade das
crianças de forma a proporcionar espaços que não roubem a essência da infância,


Ensaio apresentado na modalidade de pôster no V SIMFOP, de 5 a 7 de junho de 2013, na Universidade do Sul
de Santa Catarina – UNISUL.
∗∗
Acadêmica do quinto semestre do Curso de Pedagogia da Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL.
∗∗∗
Acadêmica do quinto semestre do Curso de Pedagogia da Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL.
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principalmente agora que o Ensino Fundamental foi ampliado para nove anos, muitas vezes
até incluindo crianças de cinco anos, como ocorrido da escola particular analisada nesse
ensaio.
Considerando que o processo de alfabetização é um assunto muito complexo e, por
muitas vezes os estudos realizados a favor dele são pouco utilizados em sala de aula, tanto em
escolas públicas quanto em particulares, delimitamos como tema para essa pesquisa: O
processo inicial de alfabetização no primeiro e segundo anos do Ensino Fundamental de nove
anos em duas instituições escolares: uma pública municipal e uma particular. Nosso objetivo
central visa analisar o processo de aquisição da escrita no Ensino Fundamental de nove anos
no início do ciclo alfabetizador, bem como observar a vivência e espaço da infância no espaço
escolar, onde estão crianças que iniciam o Ensino Fundamental com seis anos. Para alcançar
esses objetivos foi realizado uma pesquisa de campo utilizando entrevistas, observações e
registros fotográficos.
Em termos de estrutura, este ensaio está assim organizado: na introdução, abrimos as
discussões sobre o tema abordado. Logo na sequência, passamos para a revisão de literatura
na qual explanamos os referenciais teóricos que dão sustentação para a discussão sobre o
processo de alfabetização. Em seguida, apresentamos e analisamos os dados da pesquisa
realizada em duas distintas instituições, sendo uma pública e a outra particular fazendo uma
comparação entre os dois modelos de instituição. Analisamos nas duas escolas as diferentes
realidades incluindo os métodos de alfabetização utilizados, que embora com algum avanço
ainda refletem uma postura tradicional. Por fim, nas considerações finais estão as reflexões
que fizemos a partir de uma perspectiva comparativa dos métodos utilizados ressaltando a
complexidade de discutirmos estes temas nas escolas, sejam elas de redes particulares ou
públicas.

2 Revisão de Literatura

O referencial teórico está fundamentado nos estudos de Emilia Ferreiro e Ana


Teberosky, com ênfase à análise das autoras sobre o processo de aquisição da linguagem
escrita em crianças na fase inicial de alfabetização, bem como o Método de Paulo Freire que
visa alfabetizar a partir do conhecimento do aluno.
Outras referências estão baseadas em pesquisadores na área da alfabetização, entre
eles estão: Soares, Mello, Brito, Brandão, entre outros. A partir dessas reflexões pode-se dizer
que fica evidente a necessidade de pensar sobre os espaços para a infância no ambiente
escolar.

2.1 O processo de alfabetização

As questões que envolvem o processo de alfabetização têm-se constituído por


pesquisas iniciantes e, por se tratar de discussões contemporâneas, buscam entender como a
criança está significando este processo e como na Educação Básica, representada por
professores e equipe administrativa, estes estão possibilitando espaços para que a criança se
aproprie desse universo de conhecimento alfabetizando-se.
Ao realizar as leituras em disciplinas que discutiam o processo de alfabetização
identificamos que no processo de leitura e escrita no Brasil, até os anos 60, predominavam o
discurso da “maturidade para a alfabetização”. Portanto, a aprendizagem da leitura e da escrita
resultaria de um “amadurecimento” de certas habilidades, de modo que “o ensino” estaria
condicionado a esse “desabrochar natural” que, possivelmente, deveria ocorrer por volta dos
seis ou sete anos. Acreditava-se, ainda, que a criança não teria qualquer interesse para ler e
escrever nessa fase. As tentativas de alfabetizá-la, antes disso, eram vistas como prejudiciais
2
ao seu desenvolvimento cognitivo, já que as crianças não estariam prontas para essa
aprendizagem.
As principais atividades escritas deveriam estar voltadas aos “pré-requisitos”, para a
aprendizagem da leitura e da escrita, “tais como o desenvolvimento de habilidades de
coordenação viso-motora, memória visual e auditiva, orientação espacial, articulação
adequada de palavras, certo grau de atenção e concentração [...]” (BRANDÃO; LEAL, p. 15,
2010).
No final da década de 1970, no Brasil, começam a ser divulgadas as ideias de Ferreiro
e Teberosky sobre o processo de alfabetização, ocorrendo assim um grande impacto na forma
como se considerava o processo de alfabetização. Portanto, as autoras Emilia Ferreiro e Ana
Teberosky desenvolvem, a partir do livro Psicogênese da linguagem escrita, estudos
relacionados sobre como ocorre o processo de apropriação da escrita pelas crianças através
das hipóteses estabelecidas pelas mesmas. Para isso elas estabelecem como alicerce teórico os
estudos de Piaget que estão respaldados na abordagem que entende o processo de
aprendizagem da leitura e da escrita como relacionado à abordagem cognitiva.
Ainda hoje no processo de ensino e aprendizagem das crianças encontramos alguns
impasses em relação às práticas pedagógicas utilizadas no processo inicial do ensino da leitura
e da escrita, ou seja, na alfabetização. Os meios para concretizar esse processo vêm sendo por
muitas vezes repetitivos e vazios, não levando em conta os conhecimentos e contextos
culturais das crianças. Corroborando com essa ideia, Mello (2005) destaca que as concepções
de inserção da criança ao mundo letrado dirigem as práticas de educação, principalmente, das
crianças entre três e seis anos no período que antecede a entrada da criança no Ensino
Fundamental. Percebe-se, então, uma concepção muito forte, muitas vezes sustentada pela
própria formação dos professores que trabalham com a educação infantil e/ou pelas
expectativas dos pais, que defendem a antecipação da escolarização, ou seja: quanto mais
cedo à criança for introduzida de modo sistemático nas práticas da escrita, melhor a criança
aprenderá e estará preparada para enfrentar o contexto da escrita no Ensino Fundamental.

2.2. O ensino fundamental de nove anos

Com a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos de duração alicerçado na Lei
nº 11.274/2006, automaticamente as crianças de seis anos são obrigadas a estarem
matriculadas no primeiro ano e, consequentemente, precisam antecipar a maturidade da leitura
e escrita.
Na pesquisa realizada destacamos a criança que chega ao Ensino Fundamental com
cinco anos e irá completar seis anos apenas no final do ano, como ocorrido nas escolas
particulares. Pensando nessas crianças e sabendo da importância que é a infância para elas,
fica nítido a compreensão que visa estabelecer um meio de não perder essa essência. E para
que isso ocorra, de acordo com Britto, precisamos:

[...] construir as bases para que as crianças possam participar criticamente da cultura
escrita, conviver com essa organização do discurso escrito e experimentar de
diferentes formas os modos de pensar escrito. Antecipar o ensino das letras sem
trazer o debate da cultura escrita para o cotidiano é desrespeitar o tempo da infância
e sustentar uma educação tecnicista, em que predominam o mito da precocidade e o
mito da superespecialização, alimentados pela lógica da competitividade (1997,
p.17).

Precisamos dar ênfase à realidade da criança, mesmo por que a criança com essa idade
já tem base na escrita, pois a mesma vive em um ambiente completamente letrado (na sua
maioria). Ferreiro e Teberosky (1999, p.29), dizem que “É bem difícil imaginar que uma
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criança de quatro ou cinco anos, que cresce num ambiente urbano no qual vai reencontrar
textos escritos em qualquer lugar não faça nenhuma ideia a respeito da natureza desse objeto
cultural até ter seis anos e uma professora à sua frente”. As crianças, desde pequenas,
convivem com a família ou com outras pessoas que usam a escrita no seu dia a dia para
escrever bilhetes, e-mails, ler jornais, revistas, entre outros.
A Resolução Nº 7, de 14 de dezembro de 2010 que Fixa Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, traz em seu contexto a importância de
enfatizar a cultura, o conhecimento das crianças para então aplicar as disciplinas a ser
estudada, como é possível ver no Artigo 9 dessa Resolução, afirmando que:

O currículo do Ensino Fundamental é entendido, nesta Resolução, como constituído


pelas experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento,
permeadas pelas relações sociais, buscando articular vivências e saberes dos alunos
com os conhecimentos historicamente acumulados e contribuindo para construir as
identidades dos estudantes (BRASIL, 2010, p. 3).

O Artigo 24 da mesma Resolução confirma o Artigo 9 expondo que “A necessária


integração dos conhecimentos escolares no currículo favorece a sua contextualização e
aproxima o processo educativo das experiências dos alunos” (BRASIL, 2010, p. 7).
Percebemos uma semelhança com as práticas curriculares da Educação Infantil, isso
ocorre porque existe de acordo com o Artigo 29:

A necessidade de assegurar aos alunos um percurso contínuo de aprendizagens torna


imperativa a articulação de todas as etapas da educação, especialmente do Ensino
Fundamental com a Educação Infantil, dos anos iniciais e dos anos finais no interior
do Ensino Fundamental, bem como do Ensino Fundamental com o Ensino Médio,
garantindo a qualidade da Educação Básica. § 1º O reconhecimento do que os alunos
já aprenderam antes da sua entrada no Ensino Fundamental e a recuperação do
caráter lúdico do ensino contribuirão para melhor qualificar a ação pedagógica junto
às crianças, sobretudo nos anos iniciais dessa etapa da escolarização. (BRASIL,
2010, p. 8).

Com base no que foi exposto, assim como na Educação Infantil, o início do Ensino
Fundamental deve ser caracterizado da mesma forma, pois as crianças não deixaram de ser
integrantes da infância ao passar para essa etapa. Com isso, podemos considerar então que
todas as Diretrizes da Educação Infantil, no que dizem respeito ao processo de aquisição da
escrita, servem também para o início do Ensino Fundamental, pois essas se prolongam. Esse
processo ocorre por se intensificar com a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos.
As escolas particulares de Santa Catarina baseiam-se no posicionamento adotado pelo
Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina (CEE/SC) em relação ao Ensino de 9
(nove) anos, alicerçada na Resolução Nº 7 de 14 de dezembro de 2010, que fixa Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. De acordo com essa
Diretriz, a idade de corte para matrícula dos alunos para o 1º ano é dia 31 de março estipulada
pela LDB – Lei nº 9.394/96, no art.24, inciso II, alínea “c”, que é a base legal também para o
SINEPE/SC. Porém, a Resolução Nº 227/2012, que “Altera o artigo 1º da Resolução
nº64/2010/CEE/SC, dando suporte para a integração das crianças menores de seis no Ensino
Fundamental reconhece a possibilidade de, excepcionalmente, matricular crianças que irão
completar 6 anos após a data estipulada pela LDB no primeiro ano do Ensino Fundamental e
que será avaliada a competência pedagógica junto a decisão conjunta dos pais e da escola.

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3 Apresentação e análise dos dados da pesquisa
3.1 Escola da rede municipal de Sangão

A escola conta com 3 salas de aula, 1 sala de informática, 1 sala de direção, 2


banheiros, 1 cozinha, 1 depósito e 1 área de refeitório. Não há parque.
Observamos o 1º ano com 15 alunos. Os móveis da sala não são adaptados ao tamanho
das crianças. As carteiras são mantidas em fila. Há um painel de aniversário. O alfabeto está
colocado acima do quadro para pesquisa das crianças. Também não há literatura infantil à
disposição das crianças, apenas livros didáticos.
Os materiais didáticos mais utilizados pela professora são o livro didático, xerox de
atividades de outras coleções de livros e panfletos de supermercados.
Na maioria das aulas a professora utiliza textos de cartilha.
A letra utilizada na escrita das crianças é a caixa alta. O processo de alfabetização se
dá através do método silábico e, segundo a professora, essa é a maneira que ela aprendeu a
ensinar e se sente mais segura nele.
Outros gêneros textuais também utilizados, como por exemplo, o poema e panfletos.
Quanto à metodologia, a professora utiliza o método silábico sintático-analítico.
Ela está participando do Curso do PNAIC – Pacto Nacional Pela Alfabetização na
Idade Certa, oferecido pela Secretaria de Educação Municipal. É um projeto do governo
federal.
Ela está se auto-avaliando e pensa em inovar sua maneira de trabalhar com a
alfabetização. A seguir algumas imagens encontradas na sala de aula:

Figura 1: Imagens da sala de aula, abril 2013.

Fonte: Arquivo das pesquisadoras.

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Figura 2: Imagens da sala de aula, abril 2013.

Fonte: Arquivo das pesquisadoras.

Figura 3: Imagens da sala de aula, abril 2013.

Fonte: Arquivo das pesquisadoras.

Figura 4: Imagens da sala de aula, abril 2013.

Fonte: Arquivo das pesquisadoras.

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Podemos perceber na escola da rede municipal de Sangão, que há muitas marcas da
pedagogia tradicional, como: alfabeto sobre o quadro, que vai sendo completado conforme e
professora vai trabalhando as letras. Não há valorização da infância no ambiente sala de aula e
escola, nem muito incentivo à leitura, pois não há livros à disposição dos alunos e também
não são trabalhados os diferentes gêneros textuais. A criança precisa ter contato com vários
tipos de textos antes mesmo de saber lê-los. Se viver num ambiente com estes recursos, não
terá dificuldades na leitura e escrita. As crianças precisam de atividades diversificadas,
leituras de diversos tipos de textos, pois o aluno que lê muito, escreve bem. E ainda a escola
precisa ter uma olhar sensível e perceber que a criança está ingressando no ensino
fundamental cada vez mais cedo e é necessário que esta infância seja respeitada, ou seja: a
escola precisa se adaptar à criança e não a criança se adaptar à escola.

3.2 Escola da rede privada do município de tubarão

Para iniciar o processo de alfabetização a escola se organiza com planejamento


trimestral com todos os primeiros anos, contendo neles todas as atividades a serem
exploradas. Essas atividades, em sua maioria, são cópias com intuito de trabalhar a letra a ser
estudada contida no livro didático que é também muito utilizado pela instituição.
A turma que foi observada possui vinte alunos que estão com cinco anos sendo que a
grande maioria completará seis anos até o mês de setembro deste ano. É importante ressaltar
que essa turma é a mais jovem do 1º ano. Isso ocorre devido a Resolução Nº 227/2012, que
“Altera o artigo 1º da Resolução nº 64/2010/CEE/SC, dando suporte para o trabalho com as
crianças de seis e que agora chegam no Ensino Fundamental.
Essas crianças mesmo estando “adiantadas” no ensino fundamental conseguem
conciliar a precocidade na alfabetização bem como as vivências da infância. Essa
miscigenação é proporcionada pela escola, oportunizando a elas através de idas ao parque, ao
gramado e vivências em sala de aula momentos ricos da infância, sendo que ao mesmo tempo
esta trabalha o processo de alfabetização, a gramática, matemática, ciências, história entre
outros.
A professora valoriza bastante o conhecimento (cultura dos alunos como visto na
Figura 1), na aprendizagem da linguagem escrita e leitura, porém o uso do livro didático e as
atividades elaboradas tendem a reter os conhecimentos já adquiridos dos alunos, pois focam
em uma única letra como é possível observar na Figura 3, mais de vinte atividades utilizando
quase sempre as mesmas palavras com a inicial “B”.

Figura 1: construção da centopeia alfabética utilizando a escrita do aluno e seus


conhecimentos de escrita para cada letra. Abril 2013

Fonte: Arquivo das pesquisadoras.

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Figura 2: livro didático utilizado em sala de aula. Abril 2013

Fonte: Arquivo das pesquisadoras.

Figura 3: atividades em sala de aula. Abril 2013


Fonte: Arquivo das pesquisadoras.

Esse método de alfabetização traz na sua essência características fortes de uma escola
tradicional, onde a aprendizagem ortográfica está alinhavada com a ordem do alfabeto,
provocando assim uma alienação nas possibilidades de aprendizagem por parte do
alfabetizador ou da instituição, sendo que o conhecimento do aluno está muito mais avançado
do que lhe é ofertado.
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Embora essa instituição seja particular e possua em sua trajetória méritos pelo o
ensino, a sua atuação é muito parecida com a de uma instituição pública, como é possível
notar no item abaixo.

3.3 Comparação entre os dois modelos de instituição

Analisamos nesses dois modelos de escolas, apesar da diferente realidade social entre
as duas, que as crianças ainda são vistas como “alunos”, e os velhos métodos impregnados na
cultura da educação brasileira vem à tona, “hora de brincar é totalmente diferente de hora de
aprender”.
É importante ressaltar que uma vez que a escola e/ou rede assuma o Ciclo da
Alfabetização, deve-se destacar que a sala de aula se caracteriza como ambiente
privilegiadamente alfabetizador, principalmente com o ingresso das crianças cada vez mais
cedo no primeiro ano do Ensino Fundamental. Sendo assim, a sala de aula do Ciclo de
Alfabetização deve comportar livros diversos em quantidade e qualidade para a exploração da
literatura como uma atividade permanente, bem como, um ambiente acolhedor e estimulador
para o desenvolvimento do gosto pela leitura de uma forma agradável, natural e prazerosa.
Por outro lado, vimos os malefícios proporcionados às crianças a partir de métodos
tradicionais, retrocedendo os conhecimentos das crianças com a utilização de atividades de
reprodução. Ao observar as crianças e seus trabalhos percebemos que elas já possuem um
conhecimento bem amplo em relação ao alfabeto e escrevem utilizando variadas letras, no
entanto, ao invés de aproveitar esse conhecimento, é trabalhado durante, aproximadamente,
um mês a letra “B” e algumas palavras repetidas, como: bule, bico, boca.

Considerações finais

Ao longo das décadas, houve uma mudança na forma de pensar a educação, que
passou a ser vista na perspectiva de como o aluno aprende e não como o professor ensina.
São muitas as formas de alfabetizar e cada uma delas destaca um aspecto no
aprendizado. Desde o método fônico, adotado na maioria dos países do mundo, que faz
associação entre as letras e sons, passando pelo método da linguagem total, que não utiliza
cartilhas, e o alfabético, que trabalha com o soletramento, todos contribuem, de uma forma ou
de outra, para o processo de alfabetização.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais defendem a linha construtivista como método
de alfabetização. Surgida na década de 80, a partir de estudiosas da área como Ana
Teberowsky e Emília Ferreiro, esta linha defende que a escola deve valorizar o
conhecimento que a criança tem antes de ingressar na instituição escolar. A sua ênfase é
na leitura e na língua escrita. Os construtivistas são contra a elaboração de um material único
para ser aplicado a todas as crianças como as cartilhas, e rejeitam a prioridade do processo
fônico. Por este método, as escolas, durante o processo de alfabetização, devem utilizar textos
que estejam próximos do universo da criança.
Portanto, ainda que se reconheça que métodos tradicionais limitam e atrasam as
descobertas das crianças no mundo da alfabetização, vimos que é bastante complexo
discutirmos estes temas, pois ainda é bastante utilizado nas escolas atuais sejam elas de redes
particulares ou públicas. Descobre-se que é difícil desassociar destes métodos, porém não
estamos aqui para definir qual é o melhor método, mas sim para refletirmos até que ponto ele
contribui ou atrapalha o desenvolvimento da criança no início do ciclo de alfabetização.
Percebemos também que nos dois ambientes, (ainda que na escola particular haja uma
estrutura mais planejada para a criança, tendo mais cuidado com a diferença de idade dos
demais anos do ensino fundamental com relação aos espaços externos e de sala de aula), a
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valorização da vivência de infância da criança ainda é muito pequena, moldam um modelo
diferente, porém, na prática acabam caindo no convencional modelo tradicional.

Referências

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Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.
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Educação Infantil: discutindo práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autentica Editora, 2010.
COLLELO, Silvia Mattos Gasparian. Escrita e Pedagogia da alfabetização. In: Alfabetizaçào
em questão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
FARIA, Dóris Santos. Método Silábico: do passado à atualidade. In: ALFABETIZAÇÃO:
práticas e reflexões - subsídios para oalfabetizador. Brasilia: Editora Universidade de Brasilia,
2003.
FERREIRO, Emília. A representação da Linguagem e o Processo de Alfabetização (Tradução
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FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Traduzido por:
Diana Myriam Lichtenstein; Liana Di Marco; Mário Corso. Porto Alegre: Artes Médicas,
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Linguagens infantis: outras formas de leitura. Campinas: Autores Associados, 2005.
SOARES, Magda B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

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