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PORTUGUEZ A
E DESCRIPÇAM
TOPOGRÁFICA
TOMO PRIMEYRO,
Oferecido
A ELREY D PEDRO II
NOSSO SENHOR,
AUTHOR
LISBOA»
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A MAGESTADE
DO SERENÍSSIMO REY
DOM PEDRO R
I ^ MOSSO SENHOR-
rios, a que para efic fimje tem detido as correntes, fmdo a mda-
nalmente,
vdmente, nefie'livro os Templos, que compitfjima %eligiao tem
fundado.reedificado, O* enriquecido, eternos, &fegurosTadroes
dc%a do alfumpto; mas como nao pey doei a trabalho, ejludo, ou dif -
pendio,para q efta CorografiaJahi/fe apurada,efpero que aospès de
U PRO-
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PROLOGO
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Eros jà referirão,fenaõ ó eííencial pata o noiío contexto, allegândo-OS
em todas as partes, em que era precifo , & acfeíeentandolhé todas àS
noticias, que laboriofamente defcobrimos.
Das fundações dos Conventos , & dos outros edifícios públicos,
dizemos o que podemos alcançar , ainda que de algumas naõ achâ*
mos memorias. Os catálogos dos Arcebifpos, 8c Bifpos tiramos dos
Cartórios das Sès,& das Hiftorias Ecclefiafticas. As Genealogias das
familias illuftres tresladamos dos livros mais fidedignos, nao íe repa*
rando nas muitas illuftres, de ^ nao tratamos , porque ío o fazemos
dos que tem algum fenhorio nas Villas, Sc lugares,que defcrevemos,
para fe ver ao mefmo tempo a mudança do domínio, que ti verão , 8c
como a grandeza dos noííos Reys as repartio por tao beneméritos
Vaííallos, cujos deícendentes ao prefente as pofluem.
Com hum largo giro, que fizemos por todo efte Reyno, obiei*
vamos a arrumação de fuas povoaçoens , as diftancias entre humas,
& outras, as alturas das principaes , fétvindtfftõs muito a efte hm o
eftudo, que femprecultivamos das Mathematicas. Os olhos nos m*
formarão do eftado prefente de tudo o que fe deícreve: asethimolo*
pias dos nomes, as tradições dos fucceflos, os milagres que naõ eftaõ
approvados, & as maravilhas da natureza, que ieferimos, nem defen-
demos, nem condenamos, mas ingenuamente expomos ao juizo , 8c
credulidade dos Leitores, que piadoíamente devem perdoar todas as
omiííoens em taõ vafta materia , em que nos foy preciío-fiar de in-
Ifto he o que podçmos dizer defta obra,que ãgõra fe não efta per-
feita , fe ve ao menos terminada , tendoa principiado muito grandes
Authores, entre os quaes fe confervão com grande magoa de fe naõ
continuarem poucos cadernos do Atlas Lufítano , que doutamente
efereviao muito illuftre no fangue , 8c no talento D. Antonio Alva-
rez da Cunha, & para que defta fua obra vieíkmos a perder tudo,
nem efta introducção tivemos a fortuna de ver. O Padre Joaõ dos
Reys da Companhia de Jeíus, Alemaõ,bom Mathematico,& infigne
na Perfpeétiva, & Pintura,delineou a Topografia de Portugal com
todo o acerto , & defejaramos poder unir eftas plantas com as nolTa.
deferipçoens, para que não ficàra qUe defejar aos curiofos , o que fa-
remos,podendo-o confeguir, íe efta obra for bem aceita, na fegunda
imprefiaõ,como também alguns Mappas com mais exacção ^ os que
fe tem impreífo.
v ^o devemos reílituição ao publico ein fazçr quanto eíleVeem
nos, para que íahiííeeftaóbra ícm defeito-; 8c. podemos dizer que
perdemos a íaude, o deícanço , & o cabedal no exceíTivo trabalho,
gr'andedeivelo , & muito difpendio , que tfàzem com figo jornadas,
exames, & treslados: mas tudo daremos por bem logrado, íe fe reco*
nhecei que o zelo , & não o interefle nos obrigou a tomar tão ardua
em preza. Efta eíperamos ver confeguida na íègunda Parte, que Te
legue, logeitando-nosa todas asceníuras,queos Leitores livremente
fazem,íem que valha contra o leu rigor nem a fiacei idade,nem a fub-
(luílao.
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, • Valléè exab .
ssstóasssiSSS
Monarquia tao agradavel nefta ToPograpTa hJ-
por regalo,quepor obediência não venhaa^lr o foliol Zd"?3^
tofojugo? (abendo V. M. mais conciliar coZ narração "
Kvi^,d»
fuM .ÍTlll-rÍ2C
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EM LOUVOR DA TOPOGRAFIA PORTUGUEZA
idílio
V ,s§ij Ao
AO LIVRO DA DESCRIPÇAM DE PORTUGAL QUE
coro louvável zelo , & alca erudição eícreve o Senhor
SONETO.
OS celebres Varoens da antiga idade
Em osíilveftres troncos vegetáveis
Efcritas as Hiftorias memoráveis
Encomendavaõ á pofteridade.
Mas hoje, por mayor celebridade.
Do Reyno Portuguez as admiráveis
Defcripçõés, neftas folhas veneráveis
Efcritas fe propoem à eternidade
Folhas íaõ de huma Planta peregrina,
Planta. fecunda, naõjilyeftre planta,
Racional, & naõ vegetativa:
Laminas cedaõ de efmeralda fina,
Pois Lufitaniaquer, que hiftoria tanta
Em folhas de Carvalho efcrita viva.
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SONETO.
SE fazemfer illuflre,& afamada
A Feliz felva Arabica abundante,
A planta que licor íua fragante,
E a Ave que entre as chamas he gerada.
A felva Luntana, celebrada
Será por vós, Carvalho, que elegante,
Planta Íbis pelo nome viridante,
Sois Ave pela penna remontada. t ;
, Suaftes com trabalho eftudioíô
Aroma, que em fragancias exalado
Enche çla Fama o Templo funtuofo:
E em zelo ardente Feniz abrazado,
Do Santo Officio.
ILLUSTRISSIMO SENHOR:
POr mandado de V. Illuftriífima li os dous tomos de q fe corn-
poem a primeira Parte daCorografia Portugueza,&Defcripçaõ
Topográfica do Reyno de Portugal, Author o Padre Antonio Car-
valho da Cofta .* naõ contem coufa alguma, que encontre noíía San-
ta Fè, ou bons coftumes; antes ledeve muito à nimia curiofidade de
fèu Author, pois fendo a materia de inveftigar, & apurar antiguida-
des taõ difficultofas,ellea facilitou com a viveza de feu engenho, &
as declarou, diftinguio, & individuou com a incaníavel porfia de feu
trabalho.Parecem-medigniífimos deque fedem ao prelo,para que fe
anime a continuar híía obra que cede em taõ grande credito de noíía
patria. V.Illuftriífima fará o que for fervido. Collegio da Eftreíla em
18.de Agoftode 1701.
O Doutor Fr, Jeronymo de Santiago.
Vlftasas informações,pode-fe imprimir a primeira Parte da Co-
1 rografia Portugueza, de que efta petição trata,& imprefla tors
fiara para fe conferir, & dar licença que corra, & íèm ella naõ corres
rà. Lisboa 19. de Agofto de 1701.
Carney o. Moniz, Fr. Gonçalo. Haffe. Monteiro. Duarte.
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TOMO PRIMEIRO
COROGRAFIA
PORTUGUEZA
INT ROT)UCC,AM.
TRATADO I. :
Minho.
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Omeça efta fértil Província defde a Cidade do Porto atè a Villa de
V alença do Minho, St feu deílr éio: tenjdeNorte a Sul 18. legoas
de comprido, St de Nafcente a Poente j z. de largo na mayor diíian-
cia , porque em muitas partes não tem mais de oito- Peia parte do
Norte a divide o no Minho, St o Reyno de Galliza por eípaço de' dez *
-Cgoas, St no reft ante a grande ferra de Geres : pela do Nafcente a divide o rio
Tamega, & a inacceííivel ferra do Maraõ: pela do Sul o rio Douro, St pelo Poen-
te ie termina com ornar. Chama-fe e fia Provinda de Entre Douro St Minho,
por citar íituada entre eftes dous riçs Minho, & Douro; dividindoa efte da Pro-
víncia da Beira, St aquelle do Reyno de Galliza 5 St da Provinda de Trás os Mo-
tes a fepara a já nomeada ferra do Maraõ. Divide fe em cinco Comarcas,a faber,
a de Guimaraens, a de Viana da Foz do Lima, a de Valença do Minho , a de Bar-
ceIlos^&; a do Porto, as quaes defereveremos em qinco Livros com o numero'
das Villas, St Lugares, quecontêm cada huma deitas Comarcas, começando pri-
meiro pela de Guimaraens, primeira Corte dos Reys de Portugal. ' -•
LI-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. $
L I V R O I.
Da Comarca de Guimaraens.
CAPITULO I.
CAP. II.
TAnto cjiie Mumadona teve licença para dar principio ao feu Mofteiro , o
fundou à honra, & louvor do Salvador do mundo,& da Virgem Santa Ma-
ria fua May , &dos Santos Apoftolos , ao pè da Villa velha em diftancia de
feifcentos & vinte & cinco paffos : foy a Tua fundação dcReligíofos , & Freiras
de S- Bento, cuja Regra guardavãocom grande obfervancia, tendo as cííicinas, &
recolhimentos feparados,mas huma fó Igreja, & hum Abbade , que governava
tudo : nelle morreo a fua fundadora, que o deixou dotado de muitas rendas , &
peças de prata de muito valor, quatro finos, livros do Coro, camas , quanto ga-
do tinha, trintacavallos,eincoentamachos,feífentaegoas , & outrasriquezas,
como condado feu teftamento feito aos 26.de janeiro do anno de Chrifto de
pç 9. que anda junto ao dito livro.
Quando elRey Dom Fernando foy a cercar Coimbra , & lançar fóra òs
Mouros daquella Cidade, Dom Pedro, fendo Abbade defte Mofteiro, o acom-
panhou cõ muitos de feus Frades, & em quanto durou o fitio, que puzerão à
Cidade, com elleíe aquartelou em hum lugar perto delia , que depois por efte
refpeitofe chamou Cellas de Guimaraens, cujo nome inda hoje conferva. Sa-
bendo Mumadona que os Mouros nam ceffavaô em perfeguir aos Chr iftãos, &
continuamente andavão fazendo eiitradas por Galliza, invadindo fuas terras ,
fundou em huma penha forte no alto da Villa velha entre oNorte , & Nafcente
humCaftello para guarda,& dcfenfa do feu Mofteiro, a quem poz onome S- Ma-
mede , & lhe ficou fervindo de contramuralha pela parte do Norte a murálha
velha, ficando entre huma, & outra hum terreno cie vinte & cinco paffos de «lar-
go : pela parte do Sul nam tem contramuralha, por lhe ficar fervindo de defenfa ,
& guarda amefmaVilla-
Tem efte Caftello de terreno dentro da fua muralha de Nafcente a Poente fcf-
fenta & nove paffos, & de Norte a Sul trinta & feis, & 110 meyo delle lhe eftá fer-
vindo de penacho a torre da Villa velha, que fe a domina com a fua altura , ellas
com a valentia, & fortaleza da fua nova muralha a defaffuftão do rifcordâs bata-
rias, por fer a fua architedlura mais forte 5 porque as fortalezas , & Caftellos fe
reforção conforme o ufo das armas com que faõ combatidos , & a inventiva
dos Homens nunca fedefcuidou de obrar novos inftrumentos çle expugnação
com novas fortificações para a fua defenfa,por fer coufa no mundo tam ufada,co-
moo manifeftãoos Authoresdas Fortificaçoens , fobre que fe tem comporto
tantos volumes, & quanto mais antigos os tempos , então menos fortificados
vivião os povos.
E aífim como no tempo da antiga Guimaraens havia menos armas para pe-
A iij lejar,
6 TOMO PRIMEIRO
lejar , & combater , & poucos os ardis da guerra , neceífitava de mu-
ralhas menos fortes, com que bailava para fua fegurança aquellá torre alta,com
quefe armou, por fercoftume entre os Antigos, para fe defenderem de feus cõ-
trarios, fazerem cafàs fortes, ôc da fua altura fia vão a fua defenfa , &. delias ef-
tao muitas pelo mundo, principalmente na Provincia do Minho, aonde íaó pou-
cos os Concelhos, Coutos, & Honras , que não tenhãofua torre ; & como da
fundação da torre à do CafteUotinhãopaffados tantos tempos ,em 'que fe pele-
java com armas violentas , mandou fazer a CondeçaMumadona huma muralha
forte,coroada de ameyas,com tres torres altas fundadasnella , &íócom duas
portas, huma para o Norte, & outra para o Sul, ot cada huma delias guardada en-
tre dous baluartes terraplenados.
Tem efteCaftello dentro do feu circuito huma cadea para os prezos que
forem da Villa, ou do feu termo, & da parte do Norte humaCapella deSaõ Joaõ
Bautifta, aonde fe lhes diz Miffa todos os Domingos, & dias Santos , & da parte
do Poente hum Palacio, de que não ha hoje mais que as paredes , que foy morada
do Conde Dom Henrique,quando em Guimaraens affentou lua Corte. Em quan-
to efte Caftello foy aíliftido de feus primeiros Reys, elles mefmos eraõ Os feus
Alcaydes móresiaodepoisíeusfucccííòres oentregavão por homenagem,& pu-
nhão nelle Alcaydes para fua defenfa, que muitos annos o habitàrão , fazendo
fua morada no Palacio Real, que depois com a fua aufencia chegou a ver muv bre-
ve fua ruína- He hoje feu Alcayde mor o Conde da Caftanheira, fern a preemi-
nência dos gados de vento, porque eífa pertence ao Reguengo , que as Rainhas
tem nefta Villa, & lhes foy julgado por fentença. No terreno, que fica entre a
muralha,& contramuralhã defteÇaítello , eftáhuma cifterna toda por dentro
de pedra bem lavrada, &: de profunda altura- Efte he o Caftello , queaCondeça
Mumadona mandou fazer para guarda do feu Mofteiro, de que trata Eftaço no
cap. 5. num-2. ^
1 . ; _ t
C A P. III.
TAnto que a Condeça Mumadona teve acabado o leu Mofteiro com fuas of-
ficinas, & toda a maiscommodidade,fe recolheo nelle com os feus Mon-
ges, & Monjas, entre as quaes foy também fua filha Dona Oneca, que perfeverou
pouco tempo naquella vida, por lhe parecer melhor a de cafada, a que pafíbu ; le-
vàraõcomíigoafagrada Imagem daVirgem Maria, & acollocàraõ nelle MofteL
ro, aonde a continuação de feus milagres fez tanta concurrencia de Catholicos,.
que de Reynos,& lugares muy remotos era vifitada de muitos, aílim gente po
pular, como Reys, ôtfenhores grandes: fazendolhe muitas doaçoens , & dadf
vas, para lhe enriquecerem feu Mofteiro, como foy elRey Dom Ramiro o Segun-
do, que lhe doou o que já diffemos : depois feu filho ElRey Dom Ordonho lhe
fez doaçaõ da quinta de Moreira, com muitos privilégios, & Dom Bermudo Se-
gundo, filho defte Dom Ordonho, vindo em romaria a cfte Mofteiro , lhe con-
firmou tudo quanto feu Pay lhe tinha dado; & ElRey Dom Affoníò o Quinto de
Leaõ vindo também a elle com a Rainha Geloirafuamãy,& eftando na Igreja de
Saõ Miguel das Caldas,lhe foraõ alli levadas pelos Frades todas as eferituras, &
privilégios, & elle os confirmou na era deCRrifto de 10x4.-
1
- - ElRey
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 7
EIRey Dom Fernando de Leaõ, quefoy oprimeiro de C ail ell a , & a Rainha
Dona Sancha fua mulher, vindo também de romaria a eíle Moíleiro, lhe confira
màraõ luas efcrituras,& privilégios , & de novo concederão ao Abbade Dom
Pedro, que o Vigario do Moíleiro tiveíTe jurifdicção no eivei, õt crime em toaa a
terra dentre Ave, & AviíTclla, & em toda a terra deS. Torcato- Foy iílo no an-
no do Senhor de 1049. Dona Fiamula, fobrinha da Condeça Mumadona, tilan-
do na fuá terra de Lalim muito enferma, fe mandou trazer a eíle Moíleiro, a(>n-
de melhorando de feus males, femeteo Freira, & fazendo feu teílamento , lhe
deixou as fuas Villas de Conde,&Faõ, como diz Eílaço no cap-11. num- 2-J-+-
& y- • • - .
Eílas Villas do Conde, & Faõ foraõ depois trocadas pelo Prior, & Conegos
da Real Collegiada de Guimaraens com as Freiras da mel ma \ illa de Conde, que
lhes deraõ por ellas a fua Igreja de Murça com í uas annexas , que fao treze Ví-
gairarias íimultaneas comos Priores, ík Cabido, que lhes rendem ( trazendoas
por Rendeiros) tres mil & quinhentos cruzados, emqueos Priores tem ameta-
de, & quando asmandaõ recolher por feus adminiílradores,lhes rendem mais-
Como os Religiofos, & Rcligiofas do Moíleiro da Condeça Mumadona vi-
viaõ tam recolhidos, &fantamente, foraõ motivo para que muitas peífoas lar-
gafTem o mundo, & fecuiflem aqutlle caminho virtuofo, como o fizcraÕ Pedro
Onecòjfc lua mulher Fafa,q dc con.nmm confentimento recolherão nelle, &
lhe fizeraõ doação de certas terras, como fevè dehum pergaminho, que fe guar-
da 110 Archivo da Real Collegiada de Guimaraens, que começa: Leixo meai erda-
des juxta Cretxomtl Frau ibus , &mulieribus S. Bierte in honras S. Marine , ej tia
dixit meus Abunculus, S. Mana apparuit in fuo tempore, &c. Pedro Gneco, & Fa-
fa,era 'B-CCCCXUU- a qual doaçaõ pela firma do pergaminho moílra fer feita
dous annos depois da fundação do Moíleiro 5 & eíle Creixomil, de que falia,
naõ era a quinta, em que a Condeça Mumadona o fundou, fenaõ hum lugar perto
delia que tem o mefmo nome,& eílá fituado na Freguezia de Saõ Vicente de Maf-
cotellos termo de Guimaraens.
Com a muita concurrtncia de Romeiros , & devotos, que vinhao viíitar a
fagrada Imagem da Virgem Santa Maria, fe ediffcàraõ junto do leu Moíleiro al-
gumas cafas, que aílim como podiaõ fer para recolhimento, & agafalho dos que
vinhaõ a viíitar eíla Senhora, também podiaõ fer para morada de alguns feus de-
votos 5 & como ellas foraõ fundadas contiguashumas com outras, lhepuzeram
o nome de Burgo, & a feus moradores o de Burguezes-
Eíle foy o primeiro fundamento da nova Villa de Guimaraens, & eíle o feu
principio, q foy muitos annos depois da Villa velha, como tenho moilrado pelos
Authores citados,& o reforça, &: verifica eíla verdade; q antes da V illa velha ex-
perimentar fuas ultimas ruínas, tinha jurifdiçaõ dividida da nova, ,& ambas eraõ
governadas por differentes Miniílros; tantoaífim, quemda hoje em humaPro-
ciífaõ, que coíluma fazer todos os annos a Camara ao Anjo Cuílodio na terceira
Dominga de Julho, que faheda Igreja Collegiada com o leu Cabido , & mais
Clérigos da ferventia delia, vaõ os Vereadores com fuas varas em corpo de Ca-
mara acompanhados de feu Procurador, Miíleres, & Efcrivaõ , &os Minifrros
de Juíliça, Corregedor, Provedor, & Juiz de fora, & entraõ na Villa velha, & na
fua Igreja de Saõ Miguel reza o Cabido certas oraçoens; & quando eíla Procil-
faõ fahe da Collegiada, leva o Juiz de fora hum pendaõ de cor vermelha, & nclle
hum painel do Santo Anjo, & chegando ao deítrito da Villa velha, o entrega ao
Vereador mais velho , em razão deílç naõ poder entrar com vara alçada aonde
naõ tinha jurifdiçaõ ; & de prefente fe éílá obfcrv ando eíle eílylo. .
A iiij He
8 . TOMO PRIMEIRO
He tradição antiga , que a caufa mayor que efta Villa velha teve paraíe
defpovoar, Sc feus moradores irem habitar a nova,fora o não ter fontes, (como
já diífemos) nem lugar viíinho donde pudeífem levar agua , por naõ tertm ou-
tra mais, que as de poços tam fundos,que para as tirarem do íeu centro,lhes cu-
ftava muito trabalho; Sc não ha motivo mayor para fe defpovoarem lugares, que
a falta delia, como a muitos tem fuccedido.
CAP. IV.
cap. y.
ENgano foy de quem quiz affirmar que Portugal fora dado em dote ao Co-
de Dom Henrique com titulo de Condadoj porque repartindo ElRey Dom
Fernando o Magnc) feus Reynes entre ieus filhos, deuaomais velho , que foy
Dom Sancho, o Reyno de Caítella, St parte do de Leão atè o rio Ebro: a Dom A f-.
fonío, que foy o fegundo, deu o Reyno de Leão: & a Dom Garcia, que foy o ter-
ceiro, deu o Reyno de Portugal, & Galliza: a fua filha Dona Urraca fez fenhora
da Cidade de C,amora,com ametade do Infantado do Reyno de Leão : & a Dona
Elvira fez fenhora da outra ametade com a C idade de Toro.
E como foy coítume, que ficou por natureza aos Príncipes herdeiros cio Rey-
rocc Caítella ferem ambiciofos,&afpiraremaunir a fy todos os mais Reynos
de Ejpanha,ôt com anciofo animo trabalharão de adquirir o vinculo daLufíta-
nia para fua Coroa; aífim o affeftou neite tempo ElRey Dom Sancho , filho pri-
meiro delRey Dom Fernando o Magno , fahindo a conquiítar com violência as
terras, que feu pay tinha repartido com feus irmãos, & defpojando delias a feu
AíFonfo , o fez violentamente meter em huma Religião no anno de
Chrií .0 de 1071. no Moíleiro de Sahagum, apoderandofe do Revno de Leão &
Altunas, património, que feu Pay lhe tinha deixado.
Com feu irmão terceiro Dom Garcia rompeo Dom Sancho em cruéis guer-
ras, fazendo entradas no Reyno de Portugal com poderofo exercito, aonde" jun-
to a Coimbra o eítava efperando (em hum lugar , que chamão Agua de Mayas)
aque evalerofo^Capitão Dom Rodrigo Eorjàs, que o fez retirar desbaratado a
. an tarem 5 mas q muito, fe foy tam diígraçado, que fe encotrou com aouclle,c;ue
toy tronco de quem foy açoute de foberbos Caitelhanos ? & peço ao Lei tor me
de licença para fazer neíle lugar huma breve memoria de huma particularidade ,
que nao merece a deixemos ficar em filencio.
. _Entràrão neíle Reyno dous Revs Caitelhanos (além de outros, q aqui nos
nao lervem luas memorias.) com mão armada, para o fugeitarem por armas, &
azerem-fe delle Reysabfolutos , & ambos elles forão desbaratados por dous.
Capitaens dehuma mefma familia,tão zelofos deite Reyno, como quem eítava
prevendo a efeolha, que Deos tinha feito em feu defccndente ElRey Dom João o
- Quar-
■
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. II
Quarto, por não haver defepârar de tal linhagem a Coroa de Portugal- Eni ra
neite Revoo, comotcmos dito, Dom Sancho com hum fcbcrbo exercito, & he
desbaratado por Dom Rodrigo Forjas em Aguade Mayas- i' az tiahi a 514.. an-
nos entrada com fimefmo intento EiReyDom João o Primeiro de Caítella,o qual
nos c ampos de Aljubarrota toy desbaratado , & vencido pelo invençivel Doiti
N uno* Alvarez Pereira, oitavo neto de Dom Rodrigo F orjàs-
E ambos çílesReys depois de vencidos, & desbaratados feguírão o cami-
nho de Santarém imas com diverfa fortuna, porque ElRey Domjoão o Primeiro
de Caílella,chegando àquella Villa, fugio logo para o feuReynoAonoflò ficou
Rey de Portugal, que foy Dom João o Primeiro; & ElRey Dom Sancho, de que
hiamos fallando, fizera o mefmo,fe não efperàrajpelo Cid Ruy Dias, que lhe a-
cudio; rr.as os Portuguezes confiantes lhe íeguirão o paífo, & comellè tiverão
fegunda batalha, na qual o prenderão, & fendo entregue a certos Portuguezes,
elíes o deixàrão fugir, o como,he liifpci tofo ; porque ie elles different que foy cõ
medo das bandeiras do Cid, qUe vinhão já apparecendo, he defeu1 pa, que le não
achou nunca cm boca de Portuguezes, por ler Nação,q nunca foube temer, &
nas occaíioês, em que ie achão com menos partido, efiqs acometem côm mayor
deliberação, & mais confiados; fc fó podem efizer, que forão com promeífas cõ-
quiliados, por fer coufa, -ue aexperiencia nos tem moilrado -.porque já o nofto
Príncipe dos Poeta. Luis de Camoens noCanto *4,- oitava 33.0 diffc aífim:
O tu Sa taru y 0 nobre Coriolano,
Catilina, & 1 ófoutros ds antigos,
6)ue contravoffas patrtas com profano
Coraçaõ, vospzefles inimigos:
Se lá no Reyno ejenro de Somam ,
Recebe fies grandiffim.s caftigos,
DizeUhe,que tatnbem dos Portuga* zes
Alguns tredores ouve algumas -vezes.
Tanto que ElRey Dom Sancho fe vio livre da prizão, fe foy ajuntar com o Cid, *c
pondo fua gente em ordem de peleja, voltàrão fobre os Portuguezes, que eftavão
cançados da primeira batalha, & lhe prenderão a feu Rey Dom Garcia, que leva-
do ao Gallello de Luna em Gãlliza, nelle morreo , & foy fepultado em Santo Iíi-
doro de Leão, & tem emfua fepulturahuma figura de meya talha com griihoens,
& cadeas,& hum letreiro, que mofira fer por treição a fua prizão 5 o qual tradu-
zido de Latim em Portuguez, diz aífim: Aqui defeança Dom Garcia Rey de for'
Jugal, & Gainza,flho do grande Rey Dom Fernando, o qual por engano de feu ir~
mão morreo na rizao na trade 112S que Hema fer a zi. de Abril do anno do Se-
nhor de topo. '
Não vio a prizão do feu ReyovalerofòDomRodrigoForjis , pòrquede-
pois de entregar prezo o Rey Caílelhano Dom Sancho nas mãos delRey Dõ Gar-
cia feu irmão, morreo à fua vifla; cuja morte foy o principio das dífgraças do
ícuRey : que o-valor de 11 a lingular, 5c efctarecida famiiia foy fempre como co-
luna, 5c muralha para feus Reys, & Reynos, como fe vio , 6c experimentou neíle
com o invicto braço do grande Dom Nuno Alvarez Pereira,progenitor dos fo-
beranos Duq ues de Bragança, Rev s de Portugal -
Não aquietou ElRey Dom Sáncho feu animo com fe appellidar Rey de Caf-
tella, Portugal, & Galliza; poVque quizmoílrar que as glorias, que alcãçou por
induílria, fabia adquirir por armas,&eílasmoveo contra fuas irmãs , que lhe
faltavão para vencer, 6c ver-fe fenhor abfoíuto de todos os Reynos , & Ellados
de feu Pay, & foy conquiftar às pobres irmans feus patrimónios, pondo cerco a
Dona
ii TOMO PRIMEIRO r
DoiiaUrraca,que eltava na Cidade de C,amora,com deliberação de lhe dar o fí m,
que deuafeu írnão Dom Garcia: mas enga oufe, porque quando fe confldcra-
va vencedor de huma mulher irmã íua,fe achou rendido , & poftrado aos pés
dehum treidor, que eflando elle apertando com ofitioapraça, para ver breve-
mente corfeguido o fim, que defejava, dentro delia fahio Bellido Dolfos , & o
matou à treição, havendo feisannos, que governava, & tendo vinte de idade,
apptllidardofe Rey de Csíklla, Leão, Portugal, & Galliza.
Não cuífou a Bellido Dolfos a deliberação tam barata, que por ella não fofle •,
atado aos pés de quatro ligeiros cavallos , que rigorofamente caítigados forão
verdugos do treidor, que a breves pafíòs o efquartejàrão, arraílandoo pela cã-
panha de C,an.ora,cm fatisfaçãode feu atrevimento j porque cofluma Deos não
dilatar o caftigo a treidores, como neíla occaíião o vemos, em que Dom Sancho
fendo treidor a feus irmãos,os defapoffoude feus patrimónios,dando valor, &
animo a Bellido Dolfos para o matar à treição , & fendo efle morto pelo modo
referido, não ficarão ambos fern call igo-
Com a morte delRey Dom Sancho favoreceo Deos a caufa de feu irmaõ fe-
gundo Dom Affonfo, que lahindo da Religião, em que cntràra por força, fe aco-
lheo ao amparo do Mouro Almenon Rey ae Toledo, aonde lhe chegou a nova do
que fuccedia naquelles Reynos, de que logo veyo tomar poffe, & fechamou Dom
Aflonfo o Sexto, ficando abfoluto ftnhor dot. Filados de feu pay , & como fe in-
titulava Rey de Callella, Navarra, Lead, Portugal, & Galliza , foy chamado Em-
perador 5 ainda que muitos querem, cue elleadquir fíecíle titulo por ganhar aos
Mouros a Imperial Cidade de 1 oledo j & por íér Principe muito liberal,(que por
iífo lhe chamàraõ o das maõs furadas) querem outros Efcntores que lhe defícm o
titulo de Emperador.
Foy efle Principe efcclí ido per Decs para tronco da illufire progenie dos
Reys da Chriífãndade: foy caiado r. titãs vezes, & entre as mulheres legitimas ,
que teve na opinião do noífo Chrcniíi a Brandaõ, na terceira parte da Monarchia
Luíitana,liv.8.cap. i 2. & 1foy huma delias Dona Ximena Nunes deGtifni^Ó,
appçllidofatal,quefempreoCto teve deftinadoparaRainhas de Portugal; nam
fó para mãy da primeira deílcReyno, que fe principiava Monarchia , mas de
prefente, em que moílra dar principio a hum império nos defeendentes de ou-
tra do mefmo tronco, Òtappellido, a fenh ora Dona LuizaFrancifca de Gufmaõ,
filha do excellentiílimo Dom Joaõ Manoel Peres de Quf^ao , oitavo Duque de
Medina Sidónia,mulher do Sereniflimo Rey Dom Joaõ o Quarto de Portugal. .
Muitos Authores quere q a Rainha Dona X imena Nunes de Gufmaõ naõ foíTc
legitima mulher delRey Dom Affonfo o Sexto de Cafteila , chamado o Empera-
dor i humdelles he Rodrigo Mendes Sylva, Chroqifta mòr de Phihppe oQuar-
to,no Catalogo Real de Ffpanha &Frey Bernardo de Britto nos Elogios dos
Reys de Portugal, dizendo, que muitos Authores aílimo efcrevèraõ; o que nam
importava que a noffa Rairl a fofle baílrrda,ou legitima •, porque hia pouco
riífo, quando muito depois delia tivemos outra, mulher delRey Dom Affonfo o
Terceiro, q foy filha baftarda delRey D. Aflonfo Decimo de Caílella, & naõ dei-
xou por iflo de fer mãy delRey Dom Diniz , que foy hum dos famofos Reys da
C hriftandade.
Mas examinando o ponto com toda a verdade, o Padre Frey Antonio Bran-
daõ na terceira parte,liv-8-cap.i2.& 13. de lua Hiftoria,diz,que fora fua mu-
lher legitima 5 & pata aílimpaffirmar , tem hum fundamento grande do Breve
do Papa Gregorio Septimo'", queelle repeteno capitulo 1 $• do lugar citado, que
diz eífas palavras: Vires rejume ilUciUmconmbium^uodfum uxorts tua con/àn-
DA COROGRAFIA PORTUGUE Z A. *1
■guinea im/H,penitusrefpue:qvalemo'mefmoqfediffe'ra-.AnirhaivosAtotalmen-
te vos apartay do matrimonio íllicito, quecelebraiies com a parenta de votTá
mulher. Cem que claramente confia deifa Bulla annullar o Papa o cafàmento
delRey Dom Affonfo o Sextocõ DonaXimena por califado parèntefcb, que
tinha com huma,&outra mulher do mefmo Rey ; porque naq uelle tempo era
tam difficliltofo aos Summos Pontífices diífimularem corn os Reys caiarem cõ
parentas., como paffarem difpenfas em taes matérias ; ótailim q'ue nullootfivt-
trinlbhio,tomada o primeiro Efcritor niffo motivo para dizer, que naô era le-*
giuim áínoífa Rainha Dona 1 herefa. • L ' ófi».",
• . • 1 ' ■ 'i-Tliji^lr. :
UVJ3
cap. Vi»1 is 1
11-jijp.'
rrto^Ishf "• l
Em que fe frofepte d legitimidade da nofsa Rainha Dona Dherefa ,
fe trata da ncjbreyt do Conde Dom Henrique feu marido.
ilfj [ ) j7». . » ><* /■>*} _ Í - V.rr ; .
MUitos fundamentos acho, que façaõ a. favor da legitimidade da nofla
Rainha: o primeiro he, ver que o Conde Dom Henrique feu marido de-
pois demorto feu fbgro EIRey Dom Affonfo o Sexto, fez oppoíiçaõ aos Rey-
nos de Caiiella,'& Leaõ, adquirindo por armas muitas terras em Qalliza , &
Leaõ,queperfcveràraõjio senhorio de Portugal depois de fua morte, do qual
diz o Conde Dom Pedro no feu livro das Famílias titulo y^que nprmra em
Aítargái eJftando de acordo com aVilladeLeaõ fehaverde entregar ^ fc oEin-
peradoii a naô ioccorreífe em quatro. mezes,como diz Branda© parte j • liv-' 8-
cap. 14. O fegundo. fundamento he.y ifer a nofla Rainha Dona Therefa fempre
nomeada por efligntulo, que náquelle tempo fó fc dava às filhas legitimas dos
Reyspelo contrario, que nem com o titulo de Donas fe appellidavaõ as que
:
eraõ baftardas>em que concorre toda a torr« nrè dos Aiwhóres-
O tçrccirofundamento he> que tendo EIRey Dom Affonfo o Sextò clè fua
terceira mulher Ma dama Confiança, tia do nolfo Conde. Dom Henrique, huma
filha chajrada DonaUrraca, &dcfua quarta mulher MadammBretã.outras #»
lhasjmma chamadaDona Saiicha, & out raDonaElvira, a nenhuma deRas deu
o Rtynode Portqgálifendo legitimas ; porquetie à primeira Dona Urraca por
mais velha,&-naoter:irmaõslhe pertencia ò Reyno ae.Caftella,bem podia feu
pay darode Porçygál,Sc Galli za aDonaiiichapua Dona Elvira fuas meyas ir-
mãs, & filhas também legitimas de feu pay & naô bufear a Dona Therefa fud
filha, a quem querem faz^tbaftarda, para lhos dar- Edadocafo q foífe baliar-
dãj,ScElRey feu pay,por feu affeiçoado lho quizefle dar por amor,& não de ju1-
í!;ça,asquc.er4ajegitimas,&:feus maridospor força de armas lho havião de
querer tirar, penrção poder fucçeder nelle fendo bafbaxda 5. o- que vemos que
não foyjuem n^HilIodãftlgunia que o manifefte; antes nos conda que o.Cam
d^ppiíj Henri que. feu marido fez guerra ao Reyno deCailctla, Sc ao, de Leaõ.
Com que he-foiiCAqnedigamos.de duas huma, ou qde a Rainha DonaThereíã
era legitima,ou que entre as filhas legitimas, Sc'baflardas dos Reys , naquelle
tempo, nenhuma differença havia- ,
Efç houvenquem diga contra a legitimidade da noíTa Rainfe Dona ffhe-
refa, que 1 u£ mãy Dona Ximeua Nunes de Gufmão fora caiada primeiro.com
I,-,, ,'v ' B Dom
«4 . TOMO PRIMEIRO
DomMoninho da Maya, de quem tivera a Dona Gontrode Moniz , mulher de
Dom Sueiro o Bom da Maya, & que não ficando viuva de outro Rey, ou Prin-
cipe, nSo havia EIRey Dom Affonfo o Sexto de caiar com tila; Te refponde,que
a Rainha Dona Mecia Lopesde Haro fendo viuva, fem í er dc Rey, nem Princi-
pe, cafára com EIRey Dom Sancho o Segundo de Portugal, & EIRey Dom F er~
nando com a Rainha Dcnaleonor Telles de Menezes , lendo mulher de joaõ
Lourenço da Cunha; porque cs appetites, & vontades dos Reys fe não podem
coarciar. .
Tenho moíirado com Authores,& razoens evidentes , como Portugal
fem pre confervou o nome de Reyno, & nao de Condado, como muitos Autno-
res querem que fofle dado em dote com eíte titulo ao Conde Dom Henrique j
como também a legitimidade de fua mulher aRainhaDonaTherela; agora di-
rey do Conde o que pude alcançar da nobreza dt feu fangue, como tronco illu-
flre dos Reys de Portugal.
Ha muitas opinioens fobre a caufa, que teve o Conde Dom Henrique para
com outros Principes,&mais gente fua aggregada virem a Corte delRey j >om
Affonfo o Sexto de Caíiclla. Di?em alguns, fora a do cafamento dcíieRey cõ
fua terceira mulher Madama Confiança, tia do noíTo Conde Dom Henrique, a
quem elle viera acompanhar. Outros dizem , vieraó ajudar ao dito Rey nas
g uerras, que trazia com os Mouros, ou na occaíiaõ cm que tomou a Cidade de
Toledo, que foy huma dascoufas mayores daquelles tempos; & eíia opiniam
he a mais certa, como confia de Juliano Acipreíle ^e Santa Juíia, que dtz, que
o Conde Dom Ravmundo, & o Conde Dom Henrique^arcntes, & depoi s gen-
ros do Emperador, vierao ao cerco de Toledo , & nellcfe achàraoprefei tes 5
pelo que podemos averiguar por mais certo, que o noílo Conde com ícus com-
panheiros vieraó ajudar ao Emperador DõAffonfo no dito cerco,porfercoufa
tam grande, quechegouo feu nome a terras muv remotas :&como eíla guerra
era tam fanta, por fer contra Mouros, muitos Príncipes Chriíiaõs fe queriam
achar prefentesnella. 4. .
DiíTehum AuthorldosnoíTos tempos em hum livro,que anda irr,preito,que
onoffo Conde era hum foldado da fortuna, que por ganhar nome, & fama , fe
fogeitàra ao rifco das guerras, & asbuícàra em l i panha, aonde naquelIe tem-
po as havia muy cruéis contra os Mouros. Naõíe enganou em lhe chamar fol-
dado, porque o foy tam grande, comoefclarecido Principe. Outros variaõ,
a/fim na fua progénie, como na patria, mas todos teftemunhaõ de í ua nobreza,
dizendo, que era de fangue Real de França, Inglaterra, Alemanha, Borgontia,&
Aragaõ;& todos dizem bem, porque de todas cíias itiuífres Caías teve o feu
- & A patria verdadeira do noíTo Conde foy Borgonha , porque foy filho de
Henrique Duque de Borgonha, & de fua mulher Elia de Semier , neto de Ro-
berto,& de fuafegunda mulher Mengrada de Samurque, que teve a inveíiidu-
ra dos Eftados de Borgonha: bifneto delRev Henriquede Frimça , & de fuá
mulher Anna :terceironeto de Roberto,& de fua mulher a Rainha Dona Con-
fiança a Candida Reys de França: quarto neto de Hugo Capeto Rey de Fian-
ça, & de fua mulher Dona Branca. Com que fuppoíio que o noíTo Conde te-
nha tanta parte do fangue Real de França - comtudo a fua principal patria foy
Borgonha, pois forão E fiados de feu pay, & avós.
Foy o nòffo Conde o filho poílhumodefeus pays, porque o primeiro, a
quempor direitopertenciãofeusEíiados,fe meteoMonge,& os largou a feu
t) A COROGRAFIA PO RT UG tÍE2 A. 15
fe'-Qdo irmaõ chamado Odo, cjuc foy fundador do infignc Mollciro de Cifter;
& o noffo Conde com fervoroío«zclo de fervir a Dcos na fanta guerra,que El-
Rey Dom Affònfo o Sexto fazia aos Mouros em Efpanha , o veyo ajudar com
ftus companheiros , St todos com entranhavcl detejo dc vcn«.er muni
gos da Fe de Chrifio, fc houveraõ tam valerofamente nefta guerra, que ElRey
com lua ajuda alcançou dos Mouros gloriofas vistorias ; & entre outras lhe
ajudàraõ a tomar Lisboa, que depomos Mouros recuperàraõ, cõ q ficou tam
temido, St podtrofo, que muitos dclles defemparàraõ as terras, que havia- mui-
tos anrios poffuhiaô; St outros, q da fúria de feu vi&oriofo braço íe viaõ livres,
fe metiaõ aebaixo de feu jugo.
Nam era o noíTo Conde Dpm Henrique entre os tres Príncipes compa-
nheiros o que tinha o menor lugar de nobreza, & es forço «nem no galardaõ de .
fuas obras ficou inferior a nenhum dçlles; porque fuppôilo que ao Conde Do
Raymaõ, filho de Guilhelmo fegundo Çonde de Borgonha, deíTe ElRey Dom
Affonfo o Sexto fua filha primeira Dona Urraca prima do noffo Conde,por íct
filha de Madama Confiança fua tia , irmã de feu pay, St terceira mulher do di-
to Rey : íeria, porque o parentefeo lhe impediífe o matrimonio com o noffo
Conde; St cafçffe também Dona Elvira Affonfo deGufmaõ fua filha primeira,
Sc de DonaXin .enàNunes de Gufmaõ fua fetima mulher, Sc irmã mais velíia da
noffa Rainha Dona Therefa, como Conde de Tolofa, St S. gU ; chamado 'tam-
bém Dom Ray n on, dandolhe em dote muita prata, Sc ouro, com que compri-
raõ o d .to Condado de Tolofa; nem pOiffffo o noffo Conde Dom Henrique fi-
cou menos aventajado com Dona Therefa afegtiridafilha de Dona Ximena Nu-
nes de Gufmaõ, porque lhedeucomella o Rey no de Portugal com as terras,
que nelle eraõ poffuidas de Chrifiaõs, como foifaõ as Cidades de Coimbra,Bra-
^a, Porto, Viíeii, Sc Lamego, com toda a mgis Comarca da Beira , Sc 1 ras os
Montes,Sc toda a mais terra, que efiá de Guimaraens ate [oCaftello de Lobei-
ra alem de Pontevedra em Galliza; concedendolhe também que toda a mais ter-
ra, que ellc em Efpaiihaconquifiaffe aos Mouros , de Coimbra ate o no Gua-
diana (que divide o Alentejo de Cafielia) a pudeffe fenhoreaf como fua j q qual
foy tam gloriofo património paraiai*defccdentes,q o tiveraõ por mayor, pois
delle uláraõ,Sc fe gloriàraõmais,que de toda a riqueza , Scnobrezado mun-
do ; ainda que à cufia de feu Tangue, Sc perigo de fuas vidas, como faò todas as
çoulãs grandes, que com honra fe alcançaõ.
E como a terra de Portugal mais que outra nenhuma efiava pôr mar, Sc ter-
ra fogeita ao impeto das armadas, Stexcrcitos dos infiéis, Sc fó o valor do noí-
fo Conde os podia rebati* lha entregou; Sc naõ fe enganou niffo; porque ellc,
Sc feus defeendentes a fouberaõ defender taóbem, que fizeraõ mais verdadeiro
o intento do vicloriofo Rey logro, do que elle o podia imaginar , quando lhe
fez o dote. . r
• Quando o noffo Conde veyo ajudar a ElRey Dom Affonfo o Sexto feu fo-
<*ro nas guerras, que trazia contra Mouros, já entaõ fe intitulava Conde; por-
que era cofiume nos Príncipes daCafa de Borgonha chamarem-fe Condes os
filhos fegunâos , afiim como fe ufa em algumas Calas de Alemanha intitu-
larem-fe Duques, como os de Bfviera , Sc Auftria , aonde naõ íb os filhos fe
dizem Duques, Sc Archiduques; mas as filhas buque2as, ScArchiduquezas-
Que elle já fe chamaffe Conde antes de feu cafamento, fe prova oe Juliano Aci-
• prefte de Toledo atráz referido,& de Manoel de Faria Sc Soufa na plana 4.S • no
Uvro f • ao Conde Dom Pedro por .efias palavras 1 2 por efias dosrazoms jun-
B ij taSj
16 TOMO PRIMEIRO
tiSyfe liam ou Conde deTcrtvgal Von Wenriqre honcode fusFeys , & vao por-
que elde Cafhlla le mm brafie ajjim U áaríe acpwllas tierras en dote ccn ju hija.
Ido mefmo prova Brandaõ na g- parte liv. & ,cap. 10. E fora coula indecente í
ElRev DomAfionfo o Sexto, quando dava em dote ao noíío Conde o Reyno
de Portugal com iua filha Dona Therefa, mudarllie o nome cie Rey no em Con-
dado, tirandolhe o de Rey no, que elle tinha havia muitos annos,como foy em
feu tempo, &. de feus irmãos Dom Sancho, & DomGarcia, & de leu pay EIRey
Domf ernando o Magno 5 & de tempo mais antigo conda ler a Cidade de Bra-
ga aíTento da Corte dos Rey s de Portugal. O Conde Dom Pedro chama a El-
Rey Dom Aífonfo o Catholico,Dom Aítonfode Braga , como conda de hum
privilegio conoedido à Sè de Braga em F evereiro do anno * de 909. E Argote
de Molina liv.2.cap.$y. da Nobreza de Andaluzia,diz que o nofíb Conde le-
vou emdoteoReynode Portugal, com que ficafemduvidaconfervar fempre
o nome de Reyno, & nam p titulo de Condado; & por ilíò a Rainha Dona The-
refa fempre foy nomeada por Rainha, ôc nunca por Condeça-
■ " '' * r H*
C A. P. VII.
• . . *
C|H Afado o Conde Dom Henrique com a Rainha Dona Therefa no arino de
Chridode 1090. como jà diflemõs, foraõ viver na anngâ Guimaraens ,
luoar que lhe foy dedinado por ElRev Dom Aftonfo feu fogro, que como na-
quella Villa tinha edado, lhe pareceo accommodada para o feu intento de con-
tinuar a guerra aos Mouros, para os lançar fóra dos lugares, que edavam po-
voando no Revno de Portugal, aonde com tanto zelo, oc fervorofo defejo dp
fervir a Deos (aífim que tevecõpoda fua cafa, & Corte) fez taes obras contra
os infiéis, que claramente modrou o illuifre fangue,de que defceiidia, & as vir-
tudes, de que era dotado, merecedoras de outro maycftr Império :, mas como
Principe esforçado começou logo a trabalhar pelo accrefcentar, aífim nascou-
fas temporaes, como nas Ècclefiadicas 5 & como Príncipe Catholico redaurou,
& edificou as fuas Igrejas Cathedraes, reftituindoas pelo direito podliminio
aos feus antigos Bifpados, que em tempo dos Godos trveraõ , como foraõ Bra-
ga, Coimbra^ Porto, Vifeu, & Lamego; dando com eda obra catholico princi-
pio aofenhorio de Portugal, cuja cabeça no efpirituai era a Cidade de Braga ,
& no temporal a de Coimbra, que por muito tempo foy Corte de feus antigos
Rcys* *
' Concluidas edas,& outras obras pias, que o noíTo Conde da fua Corte
de Guimaraens fazia no feu Reyno, dignas de fua peíToa, & naÕ fe dando por fa-
tisfeito com a continua guerra, que trazia'com os Mouros de Efpanha íeus vi-
íinhos, determinou de a irbufear ao Orient^ ajudando aos Príncipes Chri-
daõsnas fantas conquidas ultramarinas, & juntamente porvifitaros lugares
fagrados da fanta Cidade de Jerufalem; com que no anno, do- Senhor de 11 o
acompanhado de muita gente do feu Reyno,partio de Guimaraens em compa-
nhia de Ugo de Lufignano irmaõ de Dom Raymonfeu cunhado, & parente, òt
DA corografia PORTUGUEZA. i7
fe ajuntara© com outros muitos Príncipes,St Cavalleiros I' rancezes, & Ale-
maens, St com outra muita gente de diverfas partes , que com o mefmo íanto
intento queriaõ fervir aDeos naquelle caminno j os quaes chegando a Conitã-
tinop!a,aonde reynava otyrannoEmperaaor AleixoComeno,tiche foraõ bé re-
cebidos no que no exterior parecia, mas interiormente vendidos : porque a-
traveífando o exercito de Conílantinopla, St paíTando a Aíia menor, 1 c div ídi-
raõ os Príncipes Chriftaõs por coníelho daquelle tyranno Emperador , toman-
do cada hum feu caminho, aonde foraõ falteados pelos Turcos, que elle rogà-
ra, St induzira, que naõ permitiffem paffar tantas gentes à Afia, porque redun-
dava em grande dano de todos- ^
Neila treiçaÔ, que aquelle tyranno teceo âos Chriíla&s,foraõ delles pre-
zos, St mortos pelos Turcos mais de cjncoenta mil ; & os mais que ficaiaõ li-
vres, entre os quaes foy o noíTo Dom Henrique, fe recolhèraó com muito tra- .
balho em Tarfis, & dah'i a Cidade de Antiochia, St fendo nella melhor hofpeda-
dos que em Conilantinopla, paffáraõ avante , aonde o noffo Conde achou leu
cunhado Dom Raymon de Tolofa , & unidos ambos, tomàraõ Ivuma Cidade
marítima chamada Tortofa, quederaõpor conientimento de todos ao Conde
Dom Raymon, pelo muito que na conquiíla árriícàra lua peíToa, & v ida.
Em quanto Dom Raymon ficava compoudo a fua Cidade de Tortofa,par-
tioo noifo Conde Dom Henrique a vifitar a fanta Cidade de]erufalem, aonde-
fe occupoii em outras guerras, St aèlos de Catholica milícia 3 St depois de ter
vifitado os lugares fagrados daquellas Províncias, fe partio para o leu Reyno,
tra zendo condigo muitas relíquias,8t entre ellashú braço do Euangeliíla Saõ
Lucas, que lhe deu oEmperador AleixojComeno, quando tornou por Conjftã-
tinopla, que collocou na Sè de Braga, aonde fe venera com grande devoção.
Adoeceo o Conde Dom Henrique na Cidade de Aílorga em Galliza,St co-
nhecendo fer de morte, mandou aGuimaraens chamar feu filho Dom Affonfo
Henriques,St como verdadeiro pay lhe lembrou naquella ultima hora ás coufas,
que devia fazer para fervir a Deos, a quem entregou fua alma no anno de 1112.
havendo 21 • que gozava do feu Reyno, mandando enterrar feu corpo na Sè de
Braga,em huma Capella pequena,com toda a humildade , donde depois foy
tresladado para a C apella mér da ir.efma Sè por Dom Diogo de Soufa , lendo
Arcebifpo delia,em hum magnifico monumento,que da parte do Euangelho mã-
dou fabricar.
Nafceo ElRey Dom Affonfo Henriques nos Paços da Villa velha de Gui-
maraens pelos annosde 1094.. St na fua Igreja de Saõ Miguel foy bautizado
pelo Arcebifpo de Braga Saõ Giraldo na Pia, que fe tresladou para a Real Colle-
giada de Guimaraens, aonde por credito, St honra delia Villa fe venera , pois
mereceoa gloriadonafcimentodo primeiro Rey de Portugal , dos que nelle
conlfituíraõ fua defcendencia, ficando Reys abfolutos independentes , o que
naõ tiveraõos pafíados.
Trouxe efte Principe no feu nafeimento as pernas pegadas por detráz hua
na outra; aleijaõ que aos pays deu tanto fentimento, que por fua deformidade
o naõ queriaõ dar a criar a Dom-Egas Moniz muito feu valido, tendolho aííim
prometido antes de nafeer: mas movidos de feus rogos lhoentregàraõ, a quem
obomvaíTailo criou com tanto cuidado , como fenaotiveífe amenorlefaõ)
mas a Virgem N. Senhora, como fonte que he de mifericordias , apiedandofe
de quem cila fabia que na vida lhe havia de fazer grandes ferviços, St os haviaõ
de continuar depois de fua morte feus defeendentes de maneira, que naõ con-
B iij tentes
\
,8 TOMO PRIMEIRO
.tentes com fazerem reverenciar feu fanto nome em muitas partes deEfpanha,
aonde o contrario naquelle tempo fe fazia,naõ defcançariaõ ate que aos mais
remotos moradores das terras Onentaes o naõ fizeffem conhecido, & venera-
do, paffando neftas conquiftas tantos trabalhos,como admira a fama, & tefte-
munhaõ as Hiftorias: & afíim ouvindo as deprecaçoens , &piedofas lagrimas
dos pays do Principe menino, appareceo a Dom Egas Moniz.em fonhos, & llie
diffe, que folie ao lugar de Carquere junto à Cidade de Lamego , & que man-
dando ahi cavar, achariaõnellehuma igreja, que antigamente fora principiada
em feu nome com huma lua Imagem, & que confertando tudo, & fazendo nella
vigília, puzeffe o menino fobre o Altar, & que logo fararia. E o que mais he
para notar, dizem os Chroniftas , .que lhe encomendàra a Virgem Mãy de
Deos,quedahiem diante ocnaffecomo mefmo cuidado, que ate entaõ tivera;
porque feu amado Filho tinha determinado por elle, & leus deleendentes dc-
ruir muitos inimigos de feu nome. E como podia faltar poder a quem ifto di-
zia para o effeduar? Fazédo Egas Moniz o que em fonhos lhe fora mandado,
tudo fuccedeo melhor do que fe podia defejar 5 porque o Principe menino ficou
de todo i llefo fem deformidade alguma.
Por efte milagre, 8t pela grande devoção, que o Conde Dom Henrique te-
ve fempreà Virgem Senhora nofía, mandou naquelle lugar edificar hum Moí fei-
ro dedicado ao feu fant o nome, aonde depois eftiVeraõ os Conegos Regrantes
de Santo Agoftinho, & hoje eftaõ os Religiofos da Companhia de Jefus 5 & foy
efte milagre no anno do Senhor de 1099. anno aflinalado, em que os Príncipes
Chriftaõs do Occidenteganhàraõ aos Sarracenos a fanta Cidade dejeruialem,
& levantàraõ por Rey delia ao famofo Godofredo de Bulhão, Duque de Lotha-
ringia, parente muy^chegado do noífo Conde Dom Henrique, por fer o primei-
ro que na inveftidura da fanta Cidade íubio aos feus altos muros, & lançando
por terra (a pezar dos Mouros) as infirmas de feu falfo profeta , arvorou no
mais alto lugar o Real Eft endarte da jioífa redempçaõ.
Com a nova faude do noífo milagrofo Principe ficaraõ os pays tarn ale-
gres, como todos feus vaífaÚos animados com a prometo da Virgem Maria,que
por elle feveriaõ livres do iníquo jugo da gente Mauritana 5 & como a palavra
deft,a Senhora era eferitura viva, que feu amado Filho fazia aos Portuguezes ,
começou logo o nofso novo Principe nos mais tenros annos de fua idade a en-
trar na efcolade Marte,metendolhena maô o A, B,C, das Armas ElRey Dom
Affonfo o Septimo de Caftella pelos annos do Senhor de 112 8- quando perdeo
a batalha de Valdevez ainda em vicia eja Rainha fua may , & ficou a gente do
Principe vencedora, como diz Eftaco cap. 23. num. i . .
Ao depois no anno do Senhor de 11 ;o. fendo ja falecida a Rainha Dona
Therefa fua mãy, & eftando o Principe Dom Affonfo feu filho defapercebido,
o cercou na Villa deGuimaraensomefmoRey Dom Affonfo o Septimo, dan-
do por caufa que o Principe feu primo lhe naõ queria reconhecer vaífallagem ;
aoncle valeo a induftriade Dom Egas Moniz feu Ayo 5 com que depois por
naõ fatisfazer à promeífa,que ao Rev fez , para levantar o cerco, que tinha
pofto à Villa, fe partio de Guimaraens com fua mulher, & filhos veltidos de
linho com baraços ao pefcoço,& entrando em Toledo, fe foraõ aprefentar ao
Rey offerecendolhe a vida de tantos pela culpa de hum fó , que compadecido
daquelles efpeclaculõs, lhe louvou a acçaõ, & lhe perdoou o caftigo, como di-
zem Eft aço cap. 13. num* 8. & Duarte Galvão cap. 1
Continuou o Principe Dom Affonfo-Henriques a fua Corte em Guima-
raens.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 19
raens, aumentando o Mofteiro de Mumadona em lua Capella Real, como o ti-
nhaõ feito até aquelle tempo feus pays, aonde o concurío das peííòas , q ud a
ellevmhaó, foraõ acrefcentando o Burgo de GUimaraens '• & vendole já de 18.
annos, idade mais propria para divertimentos, que para trabalhos, cfferecendo
ao pezo das armas feus tenros,&. delicados hombros,fe partio de Guimaraens
com muitos de feus moradores a dilatar o fenhorio de Portugal, que naquelle
tempo naõ comprehendia mais que a Província de Ei itre Douro & Minho , &
Trás os Montes, com as terras de entre Douro , & Mondego , & algumas de
Galliza. E primeiro que fahiífe da dita V illa, ouvio Miffa na lua Collegiada no
Altar da Virgem Senhora noíla, no qual mandou pôr as fuas armas, & acabada
ella, as pedioà mefmaSenhora,dizendo: Senhora,comaquejlasarmas , que me
vos dais, as quaes eu hty por tomadas da vofíà mad, confio eu , & efper o em vofía
merce,& virtude gane ar nome de Rey & Reyno, em honra, & louvor de nofio Se»
nhor JefuChrifto vofío bento Filho» Eftaçocap.t^.n. í.
Com cilas efperanças fe partio de Guimarães o noffo Principe Dom Affon-
fo H enriques, & fez (eu primeiro affento em Coimbra , donde conquiftou aos
Mouros toda a terra, que vay deft a Cidade até a Villa de Cintra , & também o
Alentejo, & fogeitou o Algarve, & algumas terras de Andaluzia, as quaes de-
pois fe rcbellàraõ , por naõ fer o numero dos Portuguezes baftante pa-
ra as habitarem, & preftdiarem, como diz a Hiftoria dos Godos fallando del-
Rey Dom Aífonfo Henriques por eftas palavras : DilatavifDominus per eum
fines Lhrijtiariorum, & auxit términos fidelwm populorttm à flumme Mon deco,
qui difcurrit jnxta muros Colmbria,<ujque adfluviumde Alpivir, qui vaditper
Hijpalimcivitatem,&c. . » _
Se a Villa velha de Guimaraensficou chorando o fentimento da aufenciâ
do feu Principe Dom Affonfo Hcriques,naõ pádeceo ó fanto Mofteiro de Mu-
madona diminuição nas attençoes de feus devotos; porque affim como o Prin-
cipe hia defpojando do feu Reyno os infiéis^ficavaõ as terras livres para os Ca-
tholicos poderem fazer fua romagem femíifco à Virgem Santa Maria de Gui-
maraens. Com que fe no tempo da aíiiítécia do Principe naquella Villa era mui-
ta a fua concurrencia, muito mayor foy depois que lhe franqueou as eftradas ,
por cuja caufa crefceo o Burgo de tal maneira,q em poucos annos fe fez húa
grande povoaçaõ, por onde adquirio o nome de Villa ; & para dar conta de fua
grandeza, quero primeiro fazelloda antiga Imagem da Virgem Senhora noífa
collocada no fanto Mofteiro de Mumadona.
CAP. VIIL
CAP. IX.
CAP. X.
\
3i TOMO PRIMEIRO
da S)lva,o qual Ourives tirou da cabeça os queixos de baixo,& engafloaàos em pra-
ta à fita cujla, os deu aos devottts, que a trazião, por lhe deixarem a demais cabeça, a
qual guardou em fua caja, aonde os doentes a hiao tocar, & recebiap (ande } & por
fua morte a mandou trazer para a Igreja de N. Senhora da Oliveira, aonde ao pre-
fente ejlá na JuaSãcriftia guarnecida de prata,& metida em híia cai* a de marfim
tem virtude para Jar ar os mordidos de caés danados, & para outras muitas enfer-
midades. E não diz mais a dita memoria, queeílá em poder do Conego Fernão
Machado em livro delias manu-eícrito-
Muito authoriza , & engrandece aeflaSancriftia hum retabolo de prata
dourado do Prefepio de N. Senhor Jeíu Chriílo, que ElRey Dom João o Primei-
ro deu de cfmola a N- Senhora , em gratificação da batalha , que venceonos
campos de Aljubarrota contra ElRey Doin João o Primeiro deCaflella, aqug
nella foy tomado com mais doze Anjos de prata da fua Capella Real,& outras
peças de fua recamara. Dos doze Anjos íe desfizerão onze em caíliçaes , cal-
deiras,hylope, turibulo,&naveta,& outras coufas para a lerventia deíla Igre-
ja, & o que ficou ferve de ir debaixo do palio naprocifíaõ do Anjo , que a ,
Camara faz na terceira Dominga de Julho. Todos eíles Anjos tinhão hum le-
treiro, que dizia : Eft a obra mandou fazer et noble fenhor Rey'Dom Henrique:!!*
todos erão do mefmo feitio dos vultos dourados, & efmaltedas imagens que
tem o retabolo, & tudo obrado com todo o primor da arte , o qual fe poem no
Altar mór em dia da feílado Nafcimento de N- Senhor Jefu Chriílo , & de
N. Senhora, & nelle aífiíle atè o dia oitavo d? Epiphania , em que fe-torna a re-
colher ao feu lugar, & delle não torna a fahir íenão em outro tal dia.
Diz Eílaço no capitulo 48. n. j. que eile retabolo fe fizera de prata, a que
fe pezou E lRey Dom Joaõ o Primeiro, &. deu de efmola a N. Senhora , no que
recebeo notável engano,que devia proceder de ver nelle efmaltadas as Armas
deílcRey, que os Conegosda Real Collegiada mandàrão nelle illuminar pa-
ra final, que ficaífe aos vindouros, que fora dadiva fua ; no que andàrãomal I
aconfelhados;porquafe nifíòmoilràrão amerce, que o Rev lh es fez, efcurecè-
rão a gloria, ccfn que foy alli trazido 5 & fé tile Author conferira o Anjo , de
que trata no mefmo capitulo num. 5. & diz fora tomado na mefma batalha, não
houvera de manifeílaraomundoofeu engano; & juntamente quando confefía
que era da Capella Real de Caílella 5 porque he certo que ElRey Dom João o
Primeiro de Caílella não havia de trazer em fua companhia os Anjos, que nella
fervião de ceriaes, fem trazer o retabolo, a que elles allumiavão.,
Com grandifiima devoção fe venerãono Santuário deíla Sancriília as
relíquias fantas, que nelle eílão encerradas, que faõ as feguintes: o fanto Le-
nho em hum relicário de prata dourado, o leite de N. Senhora em huma am-
bula de criílal,huma maífaroca da mefma Senhora,hum tomozello do pé de Saõ
Torcato,as relíquias de Saõ Sebaílião,de Celeílino,Donato,Theodora, De-
fiderio, Clemência, Benediéla Martyres. Também eílão nefta Collegiada os
oífos de S Pedro Martyr,q trouxe a cila de Roma Dom Pedro de Soufa, Prior
daditaIgreja,SumilherdaCortinadelReyDomPedrooSegundo , os quaes
eílão em hum tumulo rico de vidraças engaílado em prata.
Depois de Eílaço tèrefcrito o feu livro de varias Antiguidades de Portu-
gal,em q deu diílinéta conta das coufas de Guimaraens, & muito particularmé-
.te da fua Igreja Collegiada, & de feu thefouro,accrefcèrão nelle muitas joyas,
& peças de ineftimavel valor, com que os devotos de N. Senhora oquizerão
mais engrandecer, como faõ oito tocheiras de prata , que pezão duzentos &
»• qua-
✓
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 3$
quarenta 8c tres marcos, com as Armas de Luis Alvarez deTavor'a, Conde de
São }cão daPefqueira, primeiro Marquez de Tavora , que fervindodejuiz
muitos annos na Confraria defta Senhora, fe mandàrão fazer com o dinheiro
de íuas efmolas, 8c de outros particulares, com feispiviteiros grandes muito
bem obrados, que pezão doze marcos, 8c tres onças-
Dom João da Sylva 8cSalzedo, natural da Fregiiezia de São Cláudio,ter-
mo de Guimaraens, 8c foldado da fortuna , que^jor feu valor íubio afer Go-
vernad or do Porto de Santa Mana daquelle Reyno, mandou a eíla Senhora húa
cadea deourode excellentiffimo feitio,8chumaCruzdomefmo,toda cuber-
ta de efmeraldas, que fe avaliàrão em feifcentos mil reis 5 8c inftitu ío naquella
Collegiada huma MiíTa quotidiana com efmola de feifcentos reis, para o que
mandou dinheiro, que fedèífe a razão de juro , oufe empregalfe em bens de
raiz, que rendeííem a mefma quantia;nomeando porCapellão delia a hú Clé-
rigo feu parente, 8c por mortedelle ficaria a adminiílração delia correndo por
conta da Irmandade de N- Senhora, para eleger Capellão, que a diga pela efmo-
la coíTumada, 8c o ifiais red ante ficaííe para aumento da Irmandade-
Temeílethefourohum caliz grande dourado com íeis campainhas, 8c cõ
fua patena dourada, & tem à roda feus capiteis na maçã, o qual deu o Chantre
daquella Collegiada Fernando Alvarez: peza oito marcos menos huma onça
de prata» /
Outro caliz dourado, que ferve nas MiíTas da Terça, que deu de efmola
Antonio Martins Penteado, com fua patena dourada, & tem no pê quatro Se-
rafins : peza tres marcos, 8c duas onças de prata-
Outro caliz de prata dourado com feus efmaltes no pè , & íeis 11a maçã
do meyo, 8c hum efmaltenomeyo da patena, com a figura daSanrifíima Trin-
dade, que peza cinco marcos & meyo, & he tradição que com elle dizia MiíTa
S- Torcato.
Hum gomil com fuas carrancas, & boca dourada, que peza fete marcos 8c
meyo8c hum prato de agua às mãos chão, dourado pelas molduras , que peza
fete marcos, 8c duas onças de prata, que tudo deu deelinola a N-Senhora o Co-
negojeronymo Martins ;8c dons mais, que pezão quatro marcos-
Huma Cruz grande de prata branca, toda aberta, 8c bem lavrada,que deu
oConegoGonçaleanes, que peza fetenta& hum marcos & meyo-
Huma Cruz de prata dourada, com a prizão de Chriílo, que peza trinta 8c
feis marcos. Outra Cruz de prata,que peza treze marcos, 8c vinte & quatro oi-
tavas, a qual eílá continuamente no Altar mor, para as MiíTas que nelle fe di-
zem-
Huma Cruz pequena de prata dourada com criftal no meyo, debaixo do
qual eftá o Santo Lenho , 8c a afpa direita he. do que havia antigo naquella
Igreja, & a que atraveíTa,hedo que Dom Fr- Agoflinho dejefus Arcebifpo de
Braga deu àquella Igreja, 8c não ferve eftaCrjaz , fenão no feu dia at resde
Mayo, & na fexta feira da Paixão de Chriílo: não conda o feu pezo do inven-
tario-
Huma arca de prata mociííà com as Armas dos Cunhas , que deu o Dom
Prior daquella CollegiadaRuy daCunha, a qual tem dentro muitas reliquias,
de que fe não fabe os Santos de que faõ> 8c outras, que trouxe de Roma o Aci-
prefte Fernão Gonçalves: tem de pezo vinte 8c fete marcos, 8c duas onças , 8c
ferve nas pròciíToens-
Huma cuftodiadotornozellodobemaventuradoSaòTorcato,que deuo
Dom
34 TOMO PRIMEIRO
Dom Prior Dom Diogo Lobo da Sylveira, a qual peza feis marcos.
Hum Caliz antigo, de que ha tradição, dizia MiíTa com elle Saõ Torca-
to^ o qual peza cinco marcos & tres onças: ferve de Relíquia,&não de ufo.
Huma maífa do Porteiro do Cabido com quatro cadeas de prata, & hum
Relicário de prata com a Imagem deN. Senhora , que tudo peza dezoito mar-
cos, & duas onças.
Seis cafliçaes grandes de prata lavrados, & em cada hum a Imagem de N.
. Senhora, que pezão cento & vinte & tres marcos; & mais feis caíiiçacs lizos,
& grandes, que pezão dezafeis marcos, & duas onças , que tem as Armas dos
Tavoras: dousmais domefmo tamanho fem as Armas , que pezão quatro
marcos,& fete onças.
Dezoito caííiçaes pequenos, que pezão vinte & nove marcos : & oito
mais do mefmo tamanho,que pezão dez marcos, & feis onças : & feis mais do
mefmo tamanho, que pezão quatro marcos,& tres onças.
Huma coroa de prata, que peza tres marcos: huma eftante, & hum Euan-
gelho de S. João com as Armas dos Tavoras, que peza tudo dezafete marcos ,
& fete onças.
Humas galhetas grandes com feu prato, que pezão quatro marcos,& feis
onças :& outras pequenas com prato , que pezão tres marcos, & duas on-
ças.
Quatro cetros, que pezão cincoenta & tres marcos, & huma vara , que
peza tres marcos, & feis onças :& quatro varas mais, que faõ da charola de
N- Senhora, que pezão vinte & tres marcos, & quatro onças: & hum bordão,
que a rcefma Senhora leva na Prociífaõ da Vifitação de Santa Ifabel, que peza
hum marco, & duas onças.
Onze cálices pequenos, em que entrão cinco dourados , que todos fa5
do ufo da Igreja, que pezão todos com fuas patenas trinta & tres marcos.
Tem outras peças miúdas, de que fe não tirou pezo, por ferem de ouro ,
aljôfares, & efmaltes, como faõ humas gargantilhas, hum afogador, huma joya
com dezafete botoens efmaltados guarnecidos de aljôfar , & cada hum peza
mil &fetecentos&'oitentareis. E continua o inventario defta Igreja, dizen-
do:
Hum Agnus Dei, que trouxe de Roma o Aciprefte Fernao Gonçalves, en-
gaftacío em pao , que ferve no Altar mor depois da Pafcoa.
Huns corporaes lavrados com fio de ouro, que forão delRey de Caftella,
& tem a fua effigie, & a da Rainha com coroas,& as fuas Ar mas,que fe tomarão
com o retabolo na batalha dc Aljubarrota, & os deu ElRey Dõ Joam o Primei-
ro com o mefmo retabolo.
Huma imagem deN. Senhora com feu bento Filho no collo, ambos de pra-
ta dourada fobre huma penha fermofa dourada, & efmaltada , que tem as Ar-
mas dos Pereiras, que tudo pezít dezafeis marcos, & quatro onças.
Huma imagem de S. Sebaftião de prata , que tem huma Cruz de ouro pe-
gada no pècõreliquia de S- Lourenço,q deu de efmólaa efta Igreja o Doutor
Balthefar Vieira, a qual peza dezafete marcos, & tres onças menos duas oita-
vas.
Huma Cuítodia grande de excellente feitio de prata dourada, & bem la-
vrada, que deu o Conego Gonçaleanes., q peza vinte & cinco marcos & meyo,
& duas oitavas. Outra Cuftodia de prata dourada, que ferve aos enfermos,que
peza nove marcos.
Hum
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. , 35
Hum turibulo de prata, que deu ElRey Dom Manoel deefmola a N- Se-
nhora, que peza fete marcos, & tres onças : outro turibulo de prata de obra
Romana, que peza nove marcos- Huma naveta de prata,que peza quatro mar-
cos, & feis onças,que deu ElRey Dom Manoel.
Dous lampadários, hum, one deu ElRey Dom João o Primeiro, que peza
fet l ta & tres marcos, duas onças & rríeya Oitava, que eftáfempre allumiando
a N - Senhora: & outro, que deu o Conego Luis Mendes , que peza cincoenta
& hum marco & meyo,&duas oitavas. ^
Outro lampadaflo, que também allumea a N- Senliora por obngaçao do
Morgado, que inftituío Dom Jorge da Guerra, Bifpo de Angola, que hoje ad-
miniftra Manoel Velho do Couto , o qual peza feífenta & hum marco & tres
oitavas, & foy dado pelo'mefmo Bifpô.
CAP. XI.
*
*T*Enho dado conta das coufas exteriores da igreja Collegiada deN- Se-
nhora ; agora a darey de feus Altares, & Capella mor, f qual tem de cada
lado huma de abobeda de pedra cõ as Armas delRey Dom João o Primeiro rios
fechos delias,& ambas damefmatraça, & architedura comos corpos pára o
clauftro , afGm como o tem a mefma Capella mór, com portas de arco\para a
Igreja, "uardadas com grades de ferro, que fechão todo o arco, & amba s azu-
lejadas : a da parte da Epiftolahe do Santiflimo, que o Conego Gonçaleanes or-
nou à fuacuÍTadefacrario, retabolo, Altar,imagens, & grades, que neila ef-
tão, & aunexou a hum vinculo,quê inftituío dás fuas herdades de Segade, & o
deixou a feu fobrinho João AfFonfo dos Quintos. _
Encoftada à parede defta Capella para a parte do Sul eftá a Capella de San-
ta Catherina Martyr, que inftituío Jo5o Lopes da Ramada, & annexou ao í eu
Morgado. 'He hoje Altar de Santa Anna , que fabricão feus Confrades."' Ní
parede da Igreja para o Sulfe abrio hum nicho, em que fe recolheo a pia, aonde
foy bautizado ElRey Dom AffonfoHenriques,& eftá fechada com grades de
ferro, com letreiro, que diz: Neftapiafoy bautizado ElRey'Dom Affonfo IJe-
' ' naves pelo Jrcebifpo de Braça S Giraldo: &nofrizo do nicho outro, que diz :
Efla obra mandou fazer Dom D togo Lobo da Sylveira, indigno Pr.or desfa Igre-
ja) no atino do Senhor de 1664,.
Abaixo defte nicho na mefma parede eft á a Capella de N• Senhora da ConJ
ceiçáo annexa ao Morgado deNefpereira, que inftituío PedroCardo 1 o o Ve-
lho aonde tem feu jazigo: tem Altar privilegiado por Breve do Papa para Mif-
lás de corpo prefente ditas pelos Conègòs,& não por oiitro qualquer Sacer-
dote 5 fccha-1 e efta Capella com huma grade de ferro, & tem por remate hum
efeudo de ferro, & nelle illufninadas as Armas dos Cardofos: abaixo dexla eíta
a porta traveífa, que vay para o clauftro-
.A outra Capella, que eftá da parte do Euangelho da Capella mór , he da
$6 TOMO PRIMEIRO
mefma architetflura da do Santilíimo,& tem a image de N.Selihor crucificado:
foy dada pelo fenhor Dom Duarte da fereniflima Caía de Bragança ao Conego
daquella CollegiadaFrancifco de Mefquita, que annexou ahum Morgado , q
inífituío naquella Villa , a quem também annexou os feus terços Brites Men-
des de Carvalho, mulher do Doutor Fernão de Mefquitâ, com obrigaçam de
quatro MiíTas fomanarias t he toda fechada com grades de ferro , Sc
no remate delias em efcudodomefmo illuminadas as Armas dos Mefquitas.
Encoílado à parede deíla Capella junto à porta, que vay para a Sancriíl ia,
eíl á o Altar do El pinto Santo, quefabricão feus Confrades, de que faõ fempre
juizesos Mmiílros de Juíliça, que fervem naquella Villa. Abaixo da porta ,
que vay para a Sãcriília,no lado da parede da parte do Euangelho fe âbr io hum
arco de pedra para a Capella de Saõ Nicoláo Bifpo, que inílituírão os Eíl udàn-
tes daquella V ilia, Sc a fabricão por lua Confraria: he toda azulejada de abobe-
da de pedra apainelada cem o corpo fora das paredes ,&no frizo do arco hum
letreiro, que diz '..Ella Capella.mandàraô Jazer os Eíludantes deft a Cilia no anno
do Sei horde i66j. abaixo delia eftá a porta "traveíTa deft a Igreja, que vay para
o Norte , & tem a fua ferventiã para a Praça. A entrada da porta principal da
Igreja à mão efquerdâ, entre ella,& aporta da Capella dos Pinheiros da torre
dos finos, eílá a pia Bautifmal fechada com grades pintadas, Sc douradas.
A Capella mor, que antigamente tinha eíla Igreja, antes da que hoje tem,
fov fagrada por Dom João Bifpo de Coimbra, por mandado delRey Dom j oão
o Primeiro, com licença de Dom Martinho de Miranda Arcebifpo de Braga,
que eílá fepultado na Igreja de S- Chriílovão de Lisboa, a que eiteve prefente
Dom João Manrique Arcebifoo de Santiago, & Dom Rodrigo Bifpo de Ciudad
Rodrigo, Sc afiiftírão a eíla íolenidade o mcfmo Rey J & a Rainha fua mulher
Dona Filippa de Alencaíire, Sc feus filhos o Infante Dom Duarte, Dom Pedro,
Dom Henrique, Sc Dom Aífonfo-; & foy celebrada a 2 5. de janeiro do anno de
Chriílodc 14.00. Cuarda-fe a cartadcílafagraçãono Archivodo Cabido ,na
qualfevè affinado ]oão Bifpo de Coimbra.
Depois depaífar hum anno fcfagrou o'corpo da Igreja àos mefmos 23.
dias de janeiro por mandado do dito Rey Dom João o Primeiro , & de fua
mulher Dona F ííippa de Alencaíire. Sagrou-a o Bifpo -do Porto Dom João de
Azambuja, o qual foy Arcebifpo de Lisboa, & Cardeal da Sãta Igreja Romana,
com o titulo de São Pedro ad Vincula, & vindo para eíle Revno taleceo na V il-
ia de Burguez do Condado de Flandes em 13. de Janeiro do annO'deChriilo
de 141 f. & fofão tresladados feus oífos para o Coro de cima do Moíleiro do
Salvador de Lisboa de Reli giofas Dominicas, de que foy fundador.
A Igreja de S. Miguel, Parochia da Villa Velha,eraimmediata a© Papa; Sc
eílamcfma creaçao oblervou o Moíleiro de Santa Maria, fundação daConde-
ça Mumadona, aífim fendo de Monges, & Monjas, como depois que o Conde
Dom Henrique aífentou naquella Villa fua Corte, & a inílituío em fua Capella
Real, aprefentando nella Priores, & neíla poífc a confervou fempre (depois de
fua morte) a Rainha Dona Therefa fua mulher, Sc o Infante Dom Affonfo Hen-
riques feu filho antes, & depois que foy Rey , como também feu filho F.lRey
Dom Sancho: Sc em fuas vidas teve eíla Igreja a voz, Sc titulo de fua Capella
Real, como ainda tem, Sc com elle fempre foy venerada, fem reconhecerem em
alguma maneira por fuperiores aos Arcebifpos de Braga, por ferem immedia-
tas ao Papa, porque no tempo dos Monges, Sc Monjas os Abbades vifitavão a
fua Igreja, & depois que ellapaffou a Priores, & no tempo delRey Dõ Sancho
DA COROGRAEIA PORTUGUEZA. pi
4 efta Villa fe achava com mais a Igreja Parochial de Saõ Payo. Ficarão cites
ufando damefma jurifdtção, como Prelados ordinários dos Conegos ^ Por-
cionarios, & Clérigos, & dos feus freguezes. & fuas annexas, fazendo as vifi-.-
tas das ditas Igrejas , como Prelados ieus , iem fe entremearem nelias os
Arcebifpos de Braga, o que bem notoii o Arcebifpo SaõGiraldoS admirandoib
da juriíEçãodos Prelados defia Igreja fer independente da fuá : mas comtu-
do nada fez contraella. -Ertaço cap. z y.n 3. r. j' i »
O mefmo fez o Arcebifpo de Braga Dom Mauricio leu fucceffor , o qual
efiando de poffe do Arcebifpado pelos annos do Senhor de 1 u r & fendo muy
zelofo das jurifdiçoens, nunca oufou perturbar aos Pf iores de Guimaraens da
que ufavão na fua Igreja,&fuas annexas. A Dom Mauricio fuccedeo O Arce-;
bifpo D- Payo Medo no anno do Senhor 1118 - que faleceo no de 1 ify fem
obrar coufa alguma contra a jurifdição dos priores; & o mefmo fez Dom João
o Primeiro, q lhe fuccedeo no anno do Senhor de 1139.& morreo no de 1173.
o qualfoy Legado Apoftolico, como diz Mariana iiv- 10. cap. 14.. & contem-
porâneo delRev Dom Affonfo Henriques, que com elle aifinou a doação , que
cite Rey fez aos Religiofos de Santo Agoftinho do Morteiro de S. Torcato.
Se°uio-fe ao Arcebifpo Dom João o Primeiro o Beato Godinho no ánno
do Sei hor de 117 y- que morreo no de 11S8. a quemfe fe^uioDom Martinho
Segundo no anno 1188-& faleceo no de iziq.de quem fe faz menção em hua
doação, que ElRey Dom Sancho fez do cafal de Moucos na Freguezia de Saõ
Miguel de Creixomil termo de Guimaraens, a Gonçalo Pires , em que afíinou
eíieArcebifpo , que eílà no Tombo dos Reguengos, & no Livro dos Privilé-
gios de N. Senhora foi. s6. Por morte defte Arcebifpo Dom Martinho Segu-
do entrou no mefmo anno de 1219- Dom Pedro I erceiro, que íloreceo até o
de 11 z 7 • fem haver entre todos elles, & os Priores de Guimaraens diíTenfam,
nem controverfia alguma contra a confervação de fua jprifdição, q quando não
foífe nacido de fua boa condição, por fe contentarem com o fcu, feria por ref-
peito,ou medo de feus Revs, que tinhao fua Cortenaquella Villa.
Para ElRey bom Affonfo Henriques conquiftar melhor as terras da
Ertremadura, & Alentejo, que os Mouros occupavão, mudou a fua Corte pa-
ra a Cidade de Coimbra, lev ando comfigo aos Vimarinenfes, de quem muito
fe fiava ;& com a fua aufencia ficou a fua Igreja, & Capella Real de Guimarães
defemparada do feu favor, & os Arcebifpos de Braga com oufadia para a molef-
tarem,&conquiftarem por armas, para fe fazerem Prelados delia, como o fez
Dom Eftevaõ Soares da Sylva, q 14c fendo provido no A rcebiípado de Braga por
falecimento do Arcebifpo Dom Pedro o Quinto do nome , acometeo aquella
Igreja com muita gente, que o feguioj & o Prior, Conegos, & mais Clérigos fe
defenderão com armas, & houve de ambas as partes algumas mortes,& danos ,
nas fazendas. Reynavanefte tempo em Portugal Dom Affonfo o Segundo, &
era SummoPontificeInnocencioTerceiro,que interpondo fua authoridade,
cõmetteo a caufa a dous Arcediagos para a decidirem,que foy o Arcediago de
C,amora,& o de Artorga,os quaes fizerão entre ertas partes huma Cõcordata,
que confirmou o Papa Honorio, em quefcafíentouofeguinte: Que os Priores
fofiern Prelados ordinários da Igreja de Guimaraens, & tive fiem jurifdiçam nos
Beneficiados, & Clérigos delia, como a tem os Bifpos & fomente reconhecerem aos
Jrcebtipos de Braga como Metropolitanos-, masque nam pude fem os Priores co-
nhecer dos caf os que por direito merecerem depofiçam,ou [ufpenfao perpetua p & que
em tudo o maisjofiem os Priores como Bijpos fttffraganeos,tendo nos feus Conegos,<r
* W
J8 ./.S3W TOMO PRIMEIRO- o D Ail
'poròoiiarios aqttellajurifdiqad, qift q->duutr Bi(po tem m* pus, & maÇuA VioceÇe
atjval Concordat*foy celebrada no anno do Senhor de liió.&.to »fornada pela fan•
tá Se /JpoJttíUca. ; < j -.caBiii - ò . -O i- ■
<!Q r Eftandoatfi m correndo a Airifdiçãc >dcík Igrojaymapdou o Papa Gregorio
JX.sDO anno do Senhor dfcTi* ->• a João Rrfpo, Sc Carded Sabiifenfo, Legado à
Latcreya Efpsnfaáa tratar hegocios de muita importância , como diz joão de
Mariana na foa Hiftoria parte primeira liv.ti. c- ^.^.qtiaLDekgado veyo.a
Guifi.&racns ,ôcvifitou AporfStolicamcnteafua Collegíada, Prior, Dignidades ,
Beneficiados) & Clérigos delh,& entre outras coulas.de importância, que or?
denouna fuavífitMoy, mandar pòr authoridade ApodMica, qucos Conegos,
6cmaisBeneficiadosdaquella IgrejativeítemporfeitQrdinario àoPrior delia,
& lhe obedeceffem em tudo^onfirmando outra vez a Concordata referida, d a
qual faz menção na fua vifita, que fe conferva no Cartório da dita'Igrcja, & foy>
lançada na Torre do To mbo deík Rey no, por fer coufa notável; & a fiim o Prior
da quel la Igreja ficou confirmado por Prelado ordinário delia, & de feus Bene?
ficiados, & Clérigos , fendo Rey de Portugal Dom Sancho o Sçgtindo do no- I
me» ' -1'' ■
Logràrão cfla paz, & concórdia os Priores,& feu Cabido muitos annos,
reconhecendofemente aos Arctbifpos de Braga na juriídição Metropolitana
nos cafos de appellação como feus fuitiíaganecs 5 & íc alguma hora os Arcebif-
posvifitavão adita Igreja, eta, como Metropolitanos, quando vifitavão a lua
Província, & feus fuftragancos do Porro,iCoimbra ,• & Vifcu, depois de te-
rem viíitado todo o feu Avcebifpado. Correndo depois o tempo , alguns Ar?
cebifpos de Braga perttndcrão v ditar cila Igreja, não corno Metropolitanos,
fenão como Prelados ordinários, achando, que por eílar tam vifinha à Cidade
de Braga, desfazia na fua jurifdiçãonãofervifitada por ellcs;oque não pude-
rão acabar, por fer contra a pofíc immemor.al, privilegio, concordata, confir-
mação, &vifítaçãode mandado da Santa Sè Apoífolica, como fica dko.
Succedeo fer provido no Arccbifpado de Braga o fenhor Infante Dom
1
Henrique, (q depois foy Rey ckde Reyno) o qual cõ poder ileal entrou na Villa
de Guimaracns, & por força, a que le não pode refill ir, vifitou âquella Igreja : o
Prior, Dignidades, & mais Beneficiados refiíHraõ appellando, ôt aufentando-
fe da dita Villa; lua appellação foy devoluta à Sè Apoítolica , de que impetrà-
raõ referiptos para juizes, que conhecèraõ da caufa inhibindo , & citando as
5 1
Renunciou o fenhor Infante o Arccbifpqdo, em que tinha entrndó, 110 an-
uo de 15 2*. &nellerefidioatè ode 1540. & lhe fuccedeo Dom Diogo da Syl-
va ntíle anno de 1540. & no í 5-4.1- falecco,& fe lhe feguio o fenhor Dõ Duarte,
filhodelRey Dom Joaõ oTerceiro,no annode 1541. que faleceo no de 15-43-
a quem fuccedeo Dom Manoel de Soufa no mefmo anno de 1543. & nenhum
delles oufou vifitar a dita Igreja, aífim por não perturbarem a fua jurifdição,
como pela caufá de appellação correr no juizo Apoífohco.
Por falecimento de Dom Manoel de Soufa fuccedeo na Mitra Archiepif-
copal de Braga Dom Balthefar Limpo, pelos annos de tf o. que por fer muito
privado delRey,&mimofo do Cardeal Infante Dom Henrique,entrou cõ mão '
armada na Villa de Guimaraens. O Prior, Conegos, & Beneficiados fechàrão.
as pdrtas da fua Igreja,& porque nam podiaõ refiílir com armas cõtra tanto po-
der, como traziaoArcebifpo, lhe mandou quebrar as portas da Igreja , & do
Sacrário, & maisofficinas; ao,que acudio o Prior por Procurador com as ínhi-
, * bitorias
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. 39
bitorias paliadas, & novas appellaçoens, em que debaterão tanto tempo, que o
Cardeal Infante os ajuíiou,& portais apontamentos por elle aífinados > que
fe confervão no Cartório da dita ígreja,íe fez nova Concordata entre os Arce-
bifpos, Prior, Conegos, & mais Beneficiados daqueila Igreja, íía qual fe aífctou
o feguinte.
Que os Arcebifpos de Braga pudeífem peíToalmcnte, & não por peíToa al-
guma Vffitar nostempos determinados por direito a Igreja Matriz Collegiada
da dita Víilade Guimaraens, & quat ro Igrejas filiaes fuas no temporal, & efpi-
ritual,aífim, & da maneira q podem vifitar as Igrejas do feu Arcebilpado: & que
pudeífem dcfpachar as culpas dos Conegos, & Beneficiados da dita Igreja, que
11a vifita fe achaífem, quando ellas fe pudeífem defpachar fummariamcnte; por-
que então logo as remeterião ao Dom Prior, como Prelado ordinário, & juiz
dos ditos Conegos, & Beneficiados os quaes as determinarião conforme ao
direito, dando appellação,&aggravo para ante os ditos Arcebifpos , como
Metropolitanos 5 & fendo cafo que os ditos Arcebifpos não foíTem peífoalmen-
te vifitar aquella Villa nos tempos inílituidos por direito, não pudeífem man-
dar V ditadores a vifitar a dita Igreja Matriz, ne ao Prior, nem aos Conegos,
& jkneficiados delia no efpiritual, nem no temporal ; nem os taes Vilitadores
pudeífem contender em coufa alguma, que tocaífe âdita Igreja Matriz.
Ella Concordata foy celebrada em Lisboa no anno de isf?- aos 3. de
Julho: por ella ficàrão os Arcebifpos de Braga Vifítadores ordinários da Col-
legiada de Guimaraens, & dos Priores, & Beneficiados delia , quando vieífem
peífoalmente vifitala, & das quatro Igrejas filiaes 5 & os Priores ficãraõ perden-
do a vifitação ordinária das ditas Igrejas, que dantes tinhão, & a vifita de todos
os anitos, fem os Arcebifpos terem para iífo direito, nem poífe, que fe não con*
tradiífeífe.
Aífentou-fe mais neíla Concordata, que não fazendo os Arcebifpos pef-
foalmente a vifita nas ditas Igrejas nos tempos determinados por direito, â vi-
fita da dita Collegiada, aífim no temporal, como no efpiritual, ficaífe devoluta
ao Dom Prior, que vifitaífe a dita Igreja , aífim co'mo os Arcebifpos a podião
vifitar,fe peífoalmente a ella foífem.
Do relatado femoftra que os Arcebifpos de Braga não faõ Prelados ordi-
nários da Igreja de Guimaraens, mas fó podem vifitar pellbalmente como Vili-
tadores, & não como ordinários; &. quando elles o não fazem peíToalmente , a
vifita ordmaria he dos Priores daqueila Igreja, & não dos Arcebifpos , & íeus
Vditadores, que de nada podem conhecer, que toque à dita Igreja no temporal,
& efpiritual, que tudo pertence por direito , & não por cõmiílaõ alguma aos
Priores. Emais propriamente fc pode dizer que os Arcebifpos faõ Vifítado-
res dos Priores; porque quando elles vem peífoalmente vifitar , & acabão fua
vifita, mandão entregar aos Priores as culpas, que delia refultão,de feus fubdi-
tos, paraqueellesasfentenceem,&lhedemappellação,& aggravo ; pelo que
diífe num Prior ahum Arcebifpo •. VoíTa Senhoriahe meu Vifitador neíla Igre-
ja, & eu Prelado delia. He vprdade, que os Priores recebem o «itulo de fua cõ-
firmai, ão da mão dos Arcebifpos de Braga , & por eíie refpeito no que toca a
fuas peífoas não tem izençào, & os Arcebifpos conhecem de fuas caufas : mas
nem por ella depende a jurifdição dos Priores, nem fe deriva , nem participa
por mod o algum da jur iídição dos A rcebifpos, & todas lhe pertencem por di-
reito ao feu Priorado; do qual tanto que tomãcpoífe, logo ficão ordinários, &
fuff raganeos, como faõ os Bifpos do Porto,Coirtibra, Vifeu,& Miranda.
D ij Deíh
v
40 TOMO PRIMEIRO
Deíla maneira he que 09 Arcebifpos de Braga recebem as letras do leu Ar-
cebifpado , & provifaô dellc da mão dos Summos Pontífices ; &; tanto que
tornão poffe de feu Arcebifpado, uíaõ da jurifdição fecular, que eftà annexa a
elle, aflim da Cidade de Braga, como de doze Villas,& lugares, que faõ annexos
ao Arcebifpado: a qual jurifdição fecular nam depende, nem fe deriva da Santa
Sè Apoítolica direitamente, mas he Real; derivada comode fonte, da que tem
cs Rey s de Portugal, que lha concederão por íuas cartas 5 ót para elles, & para
feus Tribunàes vão as appellaçoens, que nos cafos cabem, &. nam para a Sànta
Sé Apoftolica. Iítomefmofemoítra claro nas jurifdiçoens annexas aos Eíta-
dos, & dignidades, que não dependem dos confirmadores,fenão do direito ra-
dicado neiles: do qualufaõoDeaõ, Chantre, Meílre-efcola, Aciprefle de Val-
devez, Arcediagos do Couto, de BarrofoJ de Bermòim, de Neiva, de Labruja,
& de Villanova cie Cerveira; os quaes todos faõ confirmados pelos Arcebifpos
de Braga, & faõ Vi fitadores ordinários das terras, povos , & Freguefías dos
deílri&os de luas Dignidades , fem ter dependência alguma a fua jurifdiçam
dos Arcebifpos de Braga: & o mefmo fe moíira nas Dignidades , & Cabido da
Villa de Valença do Minho, que faõ Vifitadores ordinários cte muitas Igrejas
do Arcebifpado de Braga.
De tudoo aflima apontado fe moíira , que o Priôrado de Guimaraens he
Beneficio Curado,como faõos Bifpados; porque feus Priores faõ Prelados or-
dinários, Cabeças, & Paíiores das Dignidades, Conegos, & Porcionarios da
dita Igreja: conhecem de íuas eonfiífoens no efpiritual, cenfuras, & culpas, &
delles depende o governo da Igreja, como cabeças delia : &os ditos Priores
faõ obrigados a refidir na fua Igreja, para conhecerem de fuãs ovelhas, de que
ftõ verdadeiros Paíiores, & Prelados ordinários com jurifdição efpiritual, &
contenciofa, com Tribunal de Vigário Geral, Efcrivaõ,Meirinho, & Miniltros
de juítiça.
Nam paràrão ainda aqui as inítancias dos Arcebifpos deBraga em querer
tirar de todo àCollegiada de Guimaraens a pouca jurildiçaõ , que lhe tinha fi-
cado da muita, que unhão ôs feus Priores ; porque entrando por Arccbifpo
Dom Affonfo F urtado de Mendoça no anno de 1619- mandou no de 16 2 i. o
feuBifpo de Annel cõmuitos Officiaes de juíliça Ecclefíaílica,para vifitar a-
quella Collegiada, & fuas Igre jas filiaes. Entrou o Bifpo , & mandou aífentar
fua Mefa de vifita ; foy o Cabido, & Camara a fazerlhe feus requerimentos ,
cada hum pela parte que lhe tocava, os Conegos pela jurifdição de fua Igreja,&
a Camara pela jurifdição Real. Não queria o Bifpo ceder da diligencia,que lhe
fora encomendada,& por meyo de eXcõmunhoens per tendi a atalhar os reque-
rimentos, de que huns, & outros áppeUando lhe levantàrão a mefa da vi fita, &
o Bifpo fe levantou, mas não defenganado; porque deíla Igreja fe foy à de Saõ
Sebaílião, huma das filiaes da Collegiada, aonde mandou per mefa, & acompa-
nhado de feus Officiaes, & de outra mais gente, que trazia em fua companhia,
quiz dar principio à fua vifita naquelle lugar , aonde a Camará foy continuar
com feus requerimentos, que de fua parte forão muitos , & da outra as cenfu-
ras, de que os Vereadores, & OfficiaeS da Camara appellàrão , & jâ com pala-
vras mal foantes lhe derrubarão as mefas por terra.
Quiz o Bifpo moífrar ao feu Prelado o quanto defejava fazerlhe ogoflo,
&profeguindo o feu intento, mandou levantar mefa na Igreja dasFreyras de
Santa Clara, & acompanhado d*e feus Officiaes, & gente, quiz continuar fua vi-
fita, ao que tornou a acudir a Camara, & povo , & fiem outros requerimentos
r • lhe
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 4t
lhe quebrarão a mefa, fobte que houvera de haver huma grande revolta , por-
que de huma, & outra par te houve armas; ficfuppoftoeitiveffem alguns natu-
res da mefma Villa, a quem o Arcebifpo tinha com promeíTas obrigados a fa-
vorecerem o feu intento, comtudo huns, & outros achàrao de melhor partido
fugirem para Braga. Refultou difto, que fendo o ArcebifpoDom Affonfo F ur-
tado de Mendoca promovido ao Arcebifpado cie Lisboa no anno de 1617- ft-
voreceo tanto aos Vereadores , que tam bem fouberam defender a u-
rifdição, & regalia de fua tetra, & a delRcy, queosfez fer /ereadores feis a ^
nos, louvandolhes muito por fuas cartas a íua acçao, & nos íeus particulares
lhes moftrou que a approvàra,nam lhe faltando em lhes fazer munas honras,
como cada hum delles experimentou em íeus requerimentos no tempo, em qt e
efte Arcebifpo governou efte Reyno. a .
Das duvidas,que houve fobre efta vilíta com a Camara , & o Arcebifpq,
procedeo o Decreto delRey Dom Filippe, de que o teor he o feguintc- E»E.-
Rey faço (aber a vos Licíciado ManoelMõtez Godinho Fr ovedor da to*ar ca da Villa
de GuLaraens, que tanto que efte vos for apre fintado, notifiqueis da minha fartep
Officiaes da Camara de fia Villa,que na forma do/agrado Concilio Tpepno^Co-
cordata feita com os Arcebiffos de Braga, deixem vi fitar ao Arceh/fo <Dom/fifort-
fo Furtado de Mendoça,do meu Confelho de bfiadojerft a peJSoaa Igreja deitada
de N Senhor a da Oliveira da dita Villa-,& f as mais Igrejas delta dnxcmvijitar ao
dito Arcebifpo ,oh porfi, ou por feus Vifit adores, Jem lheforem a ifjo ouvida, cu im-
pedimento ahum; por quanto o hey ajjim por/erviçode cDeos,& me*, pa, a que cefj
tentico ao dito Arcebifpo-, &eíteíe cumprira corno [efoje Carta feita em meu, nome
pZZlA/a, & ih A fr minha Cha
ZZiâfidasòfieCçoemlmconirario Manoel de Fana a ,roem MM a 6
de lunho de 1611 E eu Francxfco Pereira de Betancor afiz efcrevei Rhl.
Ao dcíáL ioto de Junho do anno de . 67 <• entrou por Arcebifpo de Bra-
ga Dom Vcnfíimo de Alencaftre,(que fov Cardeal da Santa Igreja Romana, Sc
WtdorGernl)
mRe/S^SdeN.SenhoramCapeUadeS.NtolaoBif^;&msrregm-
4* TOMO PRIMEIRO
tro àqueila Vilia para vifitar a fua Real Ccllegiada , & por em melhor ordem
luascoufascomauthoridade Apcílolica,&nellaelíeve,&viíítou peffoalmen-
te aquella Igreja, & decretou o modo,& ordem dos Officios divinos , & as dif- I<
tribuiçoens das Horas Canónicas , não cbftante que naquelle tempo erão os
Conegos Regulares, como fe entende dà Carta de fua vifitação, que fe guarda
no feu Archivo:& mais ordenou que os Priores puzeífem Curas naquella Igre-
ja,de que refultou pedirem elles ao Papa,que lhes conccdeífe a primeira Cone-
zia que vagaífe, para fe repartir por dous Curas daquella Igreja ; o que affim
lhes fov concedido, & os Curas poftos, &; aprefentados pelos Priores.
Ordenou mais efle Delegado, quefeaprefentaífe naquella Real Collegia-
da hum Mcíhre de Gramatica , & que para íflo fepediífe a Sua Santidade a pri-
meira Conezia que vagaífe, & em quanto a não houveífe, fe tiraífe de todas as
Prebendas huma porção de-certos cruzados para hum Leitor de Grãmatica;
deque refultou haver hoje naquella Real Collegiada a Conezia Magilhral, que
por não fe occupar a ler Theòlogia Moral,dá huma cerra porção aos Religiofos
de S* Domineos para a irem lerá Capella deS. Pedro, ficuada no clauítro da-
quella Real dollegiada 5 que he tarn antigo nefla Villa o eíludo dâ lingua Lati-
na, que precede em tempos às Efcolas de Lisboa> & Coimbra; o que íuccedeo
em tempo delRey Dom Sancho o Segundo.
CAP. XII.
* *
DorprrviUgics,iyençoens, & liberdades, que os Reysde Portugal con?
cedêraõ a Real Collegiada de Guimaraens.
• •
O Conde Dom Henrique, &feu filho ElRey Dom Affonfo Henriques nos
moílrao hoje a grande devoção, que tiverão. à Virgem S^j.ta Maria de
Guimaraens, no muito que honràraõ a fua Igreja, &feus Priores , Conegcs,
criados, & cafeiros, & todos os mais fervidores delia com muitos privilégios,
izençoens, & liberdades: o que confia de hum, que diz, que tódos os caleiros
de Santa Maria de Guimaraens,&os criados de feus Priores, & Conegos , &
todos os mais fervidores de fua Igreja foífem izentos, & livres de irem àguer-
ra*, & não pcífac a iífo fer obrigados, nem para ella pagar tributo algum , nem'
poífaõ fer conftrangidos para algum encargo contra fua vontade, como fe vê da
carta, que ElRey Dom Aftonfo o Segundo efcreveo a feu favor, cujo teor he o
feguinte- *
%ylffonfo per graça deDeos Rey dos Portugvez(s,a'todcs os do fetr Reyno , a
a ja noticia ejta corta chegar , faude. Sabei que tlRey Dom Affonfo de excelien«
ti/sim a memoria, meu avo^v.e [anta gloria haja , Joy Padroeiro da Igreja de ò anta
Alaria de Guimaraens, & amou muito effa Igreja, & ao Vrior, & Conegos delta, &
os amparou, & teve fempre debaixo de [ua mao com todas as coujas, que a dita Igre-
ja tmha em Jeu Reyno; & (emelkantemente eu fou Padroeiro feu, & amo muito e(ta
Igi eja, & ao Prior, & Conegos delia, & defejo muito de os amparar cm todas as fuás
coujas, que a ditd Igreja tem muitas vezes em meu Reyno. Felo que fabey que eu re-
cebo entre as coujas, que muito amo, & de minha protecção,a Igreja de Guimaraens,
& ao Prior, & Conegos della com feus homens, & comfuas ridas,& com quanto a
Igreja [,
DA COROGRAFIA PORT U G UE Z A. 43
hrcja de Guimaraens temem todo o men Rejno & ponho tal pnbtkf* a todo* ot
que lhe fizerem mal algum, que qu m lho fi zer, me pagar * quinhentos
a etíes.refará perfeitamente o dano,que Ih sfizer , cr demais d: [fo lenhavJop t
meu tmrmoo ■ para que elles pofiao melhor defende' a/t, cr as fitas canjas, dy-U. ^
ÍS®»»itó65^k«6í*Êgrt
11 Sboa aos 2 T. dias do mez de julho do annode 14.55.8 qual ElRey afimou , *
ma
tn\o^
de pergaminho,que fe guarda no Arehivo da Real CollegiacL - de
44 TOMO PRIMEIRO
tic fera parte do livro eílão todos em.humas taboas pintadas de vermelho, que
feguardão rio Cabido, & Caía da Camara , por onde comummente fecha mão
Privilegiados das taboas vermelhas. Guarda-fe eíta taboa na Camara , para
nella fe faber quaes, & quantos faõ, para que cites féjão izentos dos encargos,
a que,cs que não faõ privilegiados,eítão obrigados a fervir nella; & para"lhes
ferem inteiramente guardados feus privilégios, tem os Corregedores da Co- L*
, marca provifaõ de feus Confervadores.
Não paràrão aqui as vexaçoens, que fe fazião aos privilegiados de N-
Senhora, porque mandando ElRey Dcm Manoel fazer hum pedido por todo o
feu Reyr,o, elegerãonaquella Villa de Guimaraens para o lançamento delle as I'
peífeas, que melhor o pudeífem fazer , as quaes não izentàrão para o feu paga- |
mento aos privilegiados de N. Senhora; para o que foy neceífario ao Prior
Conegos de fua Ccllegiada fazerem certo requerimento, que lhe outorgou o
dito Rey Dom Maneei, concedendo ao Prior,Dignidades,& Cabido tudo o que §
lhe pedirão para confervação de feus privilegiados, cafeiros, criados, & dome-
íticos,ccnhrmandolhesfuasizençcens, & bberdadesccmncvacartade con- '
firmação, que fe guarda no Archivo daquella R eal Collegiada , com,o todas as
dos Rcys paífados, & dos que fe lhes feguírão,que fem duvida, nem reparo al-
gum lhas cutcrgàrão , & confirmarão atè o fent or Rey Dcm Pedro o Segun-
do , o oual no ar no de 1686. concedeo a Dom Pedro de Soufa , que naquelle
anno fe achava Prior daquella Real Collegiada, vários* privilégios para a fabri-
ca dos Paços da morada dos Priores.
O Palacio, em que morão os Priores daquella Real Collegiada, fica por de-
trííz da.Capella mór daquella Igreja entre o Norte , & Nacentc , & não
faõ tam pouco nobres,que nam ferviíTem de apofento a ElRey Domjoaõ o Pri-
meiro, quando tomou aquella Vilia a Ayres Gomes da Sy Iva , que a citava de-
1
fendendo por ElRey Domjoaõ o Primeiro de CaíUlla,(aquempordefgraçati-
nha cahido nas mãos.) A ferventia deite Palacio he pela rua de Santa Maria ,
aonde tem huma porta grande, que fecha hum patio, em que cítà huma cicada
de pedra, que he lerventia daquellas cafas: & por cita m.efma efeada , & pátio
tem os Priores a ferventia para o clauítroda lua Igreja, dor de paíTaõ para el-
la pela parte, qu.cvay jpara a Sancriflia; &ncsdias"em queos Priores querem [
aíliítirno Coro, faõ obrigados hum Prebendado , & hum meyo Prebendado a
ir bufcalo, & acompanhalo, naõ fendo dia de feita; porque nos dias folenes vaõ
huma Dignidade, hum Prebendado.
- CAP. XIII.
A Aonra
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 49
* M.L.ROFE.X*
Nefte lusrar fazia Deos muitos milagres por interceíTaõ de fua Mãy Santiííima,
pelos quaes fe verifica fer efta obra delle muito aceita; muitos eftãoem perga-
minhos, que fe guardão no Archivo defta Collegiada, eicritos por hum Tabe-
lião daqueUe tempo, que fe chamava Affonfo Peres, donde tirey o fegumte, por
fervir para eíte intento :& começaelie: Senhor Afonfo Peres Tabaltaõ navofia
Villa de Guimaraens Jaço faber a voffa merce, que na era de M.CCCLXXX. an-
vos, oito d,as de Setembro foy pofia a Cruz na Abafaria de Guimarães,& adnceu ht
Pero Efieves nojSo natural, filho que foy de E(levo Gracia, em outro tempo merca*
d'T d* Guimaraens, a qual Cruz Gonçalo E ff eves, irmão do dito Peio L ff eves,
diz que foy vontade de *Deos, que lhe deu a entender , que fofie a Normandia Ana-
frol, & que compra fie a dita Ctuz, & aduceffea efle lugar de Guimaraens e/U
a (fintada a? ar da Oliveira, a qual OU veira,quandoe(la Cruz apar delia affentar ao,
era feca, & dáquel dia a tres dias começou de reverdecer , & deitar ramos , & eu
Affonfo Teres Tabaliao e/lo e/crevi. E fte milagre tresladei fomente do livro,
aonde eftáo muitos eferitos, que fe guardáo no Archivo daquella Igreja , para
dizer que do dia dellefedeu a efta Senhorao titulo de Santa Mana da Olivei-
ra, que hoje conferva. n , C C í\
Pela certidão do Tabelião Affonfo Peres fe moftra,que quando fe fez eíte
Padrão, & fe poz nelle a Cruz,jâ neffe tempo cftava plantada a Oliveira, a qual
he tradição antiga,q viera paraefte lugar ae junto ao Moftcirode S.Torcato,
& que dofeuoleo fe allumiava a alampada defte Santo, & que do lugar , aonde
tfiava, ic arrancara, & fora tranfplantada nefte, em que eftava feca , quando
N. Senhor fez nella o milagre de a reverdecer, & lançar ramos 5 & por não ha-
ver tradição, que no lugar,aondeella fe plantou,fe plantaffe outra ; geralmente
fc tem por fé, que eftahe a mefma Oliveira milagroía , de queN-Senhora to
r n
E mou
5& ./ fOMO PRIMEIRO
mou o titulo. No tem podas guerras ultimas ie experimentava iflro melhor,
porqtie, ós Soldados de tòda a qualidade íe armavão com íems ramç>s, tendo por
te q eraó as fficthòres,& riiais defeníivas armas párãiui^vttht$,& 'aiitSa hoje efta
permanece,jbòrquc aquelles,quelc embarcão , para fazeren) fua viagem fem
perigo, oS levão em fua companhia, para que, como:a pdiiiba da Arca de Noé, í
ponhão os pés na.terra firme, que v.ãobuicar 5 & Como a experiência lhe tem :
moftrado os favores, que N". Senhora rém feito a muitos por meyo dos ra-
mos defta fua Oliveira, totlo> com grande devoção ,& confiança fe armão dei.
les. • t '
Tinha efte Padrão antigamente de pilar a pilar duma grade de pao, coque
fe fechava / & «aquelle tempo naò havia ferventia por dentro delle , co-
moho]eha. Tmhaaopédo Cruzeiro, que dentro <lelle fepozy h.ua pedra va-
zia" por dentro-,& fechada com huma cubeVtura de ferro com hkiín buraco, por
onde os devotos defta Senhora feoffertavão , & os Romeiros com fuasefmo-
las| as quaes eraõde repartiçab do Cabido, & rendiâõ tanttqquc-fendo a Igre-
ja de S. Pedro de Azurey dos Priores in fpíidum, trocàraõo rendimento del-
ia,"dantjpa ao Cabido pelo rendimeto daquella pedra,cujo contrato fe guarda no
feu Cartorio; & como fe acabou a devoção , fe acabou com ella o rendimento
da pedra,que ainda hoje eftá no meímo lugar.
Tem a fobredita Oliveira ao pé hum pilar de pedra mageílofo, todo cer-
cado de aífentos a modo de efeadas,&eífá plantada no meyo da praça mayor,
que toda he ladrilhada dè pedra muv viiWa pela^aflift encia, que tem deN. Se-
nhora da Vitoria 110 feu Padrão, & alegre pelo ruído que as tres bicas de agua
do feu tanque fazem para divertimento de feu s moradores. He toda efta Pra-
ça cercada de cafas de alpendrada fabre colunas de pedra , fechada de entre o
Norte, & Nafcente com a RealColleginda,Scda parte de entre o Poente , ôt
Norte com as cafas da Camara, & Audiências,as quaes faõ coroadas de amevas,
St 110 alto de fuas paredes tem dous efeudos das Armas Reaes eurre duas esfe-
ras douradas, & pintadas, que fazem frente para a Oliveira, & Padrão.
CAP. XIV.
P Ara tratar das ruas, que tem efta Villa dentro de feus muras , farey de
fua Praça mayor hum tronco, donde nafeem os ramos, deque todas pro-
cedem- Sahè defta Praça para o Norte a rua de Santa'MarZa, de qubm proce-
de na mefma corrente árua dalnfefta, que tem o feu fim no dcftriéto da Villa
vãhá, & a fua fervenfia pela porta da Garrida, a que hojechamão de Santo An-
tonio- Daruáda Irtfefta fahe para oNaícentc a rua do Sabugal, que tem a fua
fe^vehtih pela^orta de Santa Cruz, eme aittiga mente fe chamava da Frieira.
Sah'e também da Praça mayor a rua dos Acoutados, q lhe derão efte no-
me, porque feus moradores não venvpaffar por ella outras peffoas: corre entre
ó ÍJòrte, & Poente, & acaba 11a rua dos Pafteleiros. Tem a Praça mayor por
baixo dos arfcôs da cafa da Câmara, Sc. Audiências a fervtíntia da Praça do pei-
5fe,que lhe fiéacntre o Norte, & Naieente: he Praça.pequena,&no meyo delia
u , eftá
DA COROGRAFIA PORTUCUEZA. ji
eíiá fituatla a Igreja de Santiago: he toda cercada de cafas, St hiura delias, que
fica contigua com a cafa das Audiências,he a que antigamente foy dos Contos..
Todas as mais cafas, de que elià cercada, faõ de elialagens, St tendas-
Delia Praça do peixe fahe para a parte de entre o Norte, Sc Nafcente a rua
dos Pafteleiros, que tem a fua fahida para a rua de Santa Maria, Sc para a parte
do Sul fahe a rua Efcura, que tem a fua fahida na rua dos Mercadores: St para o
Poente fahe outra rua, que chamão do Efpirito Santo, St antigamente da ju-
diaria, (por nella eliarem fechados os que então lhe derão o nome) a qual tem
alua ferventia para o terreiro da Mifericordia,St rua da Cadea.
Sahc da mefma Praça do peixe para a parte de entre o Norte , St Pôente a
rua dos Fornos, que lhe derão cite nome os que nella havia públicos. Na mef-
ma corrente continua a rua do Gado, que perde o nome na rua do Poço , que fe
vay encontrar no deliriéto da Vilk velha com a rua da Infeíia, fazendo a mef-
ma fahida pela porta de Santo Antonio-
Torno à Praça mayor, donde fahirey para a parte de entre o Sul, Sc Poente
pela rua dos Mercadores , atème encontrar com a rua Sapãteira, deixando
à mãodireira a rua Efcura, & feguindo a rua Sapateira, íàhirey pela porta de
S-Domingos.
Na rua Sapateira eílá o terreiro da Miferieordia, q fe fez de.cafas, Sc quin-
taes,quc feus moradores derão de efmola àquella fanta Cafa, & outras,que cõ
prou a fualrmãdadeihe todo cercado de caías nobres,& nelle da parte de entre
o Norte, & Nafcéte defembocão a rua do Efpirito Santo, & a da Cadea 5 Sc pela
parte de entre o Norte, Sc Poente principia a rua de Val de Donas , que tem a
fua fahida pela porta de N- Senhora da Graça, & antes delia fe communica com
a rua do G ado. fern eíia rua htia traveífa para a parte de entre o Norte,& Nafcé-
te*povoai la de cafas, a que chamão o terreiro do Meíire-efcola, por onde fe co-
munica com a rua dos Fornos-
Torno a bufcar o paíTeyo da Praça mayor, para fahir delia caminhando para
o Sul pela rua do Poíiigo a bufcar a porta da Senhora da Guia, muito conheci-
da pelo nome da porta do Campo da feira. Delia rua para a parte do Sul conti-
núa a rua nova do Muro, que le vay encontrar com a rua de Alcobaça,& ambas
fazem fua fahida pela portada torre velha. No meyo delia rua nova para o
Poente principia a rua de Donaés, que defemboca na rua dos Mercadores.
Delia mefma vil a nova vay h uma ferventia para hum Rocio , que chamão
do Forno,por eíiar nelle a cafa do forno publico,a q chamão da Villa, em que
faõ obrigados os que vendem a cozer nelle, Sc não em outros , quetenhão em
fuas cafas- He Rocio pequeno, mas todo povoado de cafas com ferventia para
outro, que chamão da tulha , aonde da parte do Norte defemboca também a
rua dos Mercadores, quando fe topa com a rua Sapateira. Communica-fe eíie
Rocio com a rua Sapateira por huma traveífa, que chamão do Anjo , Sc para
a parte do Sul defemboca nelle a rua da Ferraria.
Ha dentro delia Villa outro terreiro, que chamão de SaõPayo , aonde
eíià fituada a Igreja Parochial de feu nome com a porta principal para entre o
Sul, Sc Poente, Sc outra porta traveífa para o Sul ; a fua Capella môr he toda
azulejada, Sc por cima dourada, Sc pintada em painéis 5 divide-a do corpo da
Igreja hum arco de pedra dourado , Sc encoíiadoaelleda parte doEuangelho
hum Altar deN- Senhor crucificado com N- Senhora, Sc o Evangeliíia fagrado
ao pê da Cruz: corre a fabrica delle por conta de feus.Cõfrades; abaixo delle
cila húa Sancriíf ia com porta para a Igreja,Sc abaixo delia porta eíiá hum Altar
E ij das
51 . TOMO PRIMEIRO '
das Almas comfua Confraria muito rica,com dezMiífas quotidianas, & do .
primeiro dia de Novembro atè o ultimo Miífas geraes, &. rule hum Tfnciode
canto de crgão com MiíTaíolemne>&pregação. Quandotiia irmandade íahc
fora, vão feus Irmãos com veftias brancas , &murças verões debaixo ueleu
guião verde guarnecido de vermelho , & tem fua Sancriftia bem fabricada no
mefmo lado da parede abaixo do íeu Altar, & abaixo delia a pia bautilmal. Da
parte da Epiítola encoftado à parede do arco da Capella mor cila oAltatde N.
Senhora da Mifericordia com fua Confraria, & abaixo delle eilà a porta traveí-
fa, & no mefmo lado da parede o Altar de S. Bom Homem com lua Contraria ,
cujos Irmãos , quando fahem fora, vão com veftias brancas debaixo do íeu
guião damefmacor. . .
He eíte terreiro de São Payo grande,& bem povoado de vizinhos , lahe
delle para a parte do Norte huma rua, que defemboca no Rocio da bulha, que
ch amão da Ferraria, & do meyo delia atravelfa para a parte do Sul outra,que íe
ajunta com a rua nova do Muro, que chamão de Alcobaça, & ambas tem lua 1 a-
hida pela porta da torre velha. „ _,
Da ruade Alcobaça juntoàporta datorrevelha lahe para entre o Sul , &
Poente a rua do Anjo, que vay defembocar no terreiro de S. Payo topando nos
açougues daquella Villa,qeítão no mefmo terreiro encoílados aos muros para
a parte do Sul; & continuando cõ os açougues por detráz das cafas, que tapão
o terreiro, corre outra encoftada ao mefmo muro, que chamao a rua de Traz
dos açougues, que tem a fua fahida pelo poítigo de S.Payo.
Sahe deile terreiro de S. Payo para entre o Norte , & Poente outra rua,
que chamão de Traz da Mifericordia , que tem a fua fervenna pelo corredor,
que fica debaixo das fuas cafas do deíbacho, por onde fe. comunica cõ o feu ter-
reiro, & rua Sapateira. Também deite terreiro fahe outra rua, que chamão de
Arrochela, que defemboca na rua Sapateira , & ambas tem fua 1 ah ida pela por-
ta, & torre de S-Domingos. Tem o terreiro de S. Payo a fua fahida para fo-
ra dos muros por huma porta, que chamão de S- Payo , por eítar dei ronfé da-
quella Igreja, a que tamben chamão porta nova, por fe abrir depois da muralha
eítar feita. , . ' ,
Eítasíaõ as ruas, que eítão dentro dos muros deGuimaraens; he neceíía-
rio que refiramos òs muros, & torres, qtijp a cercão, dando a cada hum leu no-
me, para darmos noticia dos arrabaldes, nomeando as fuas ruas, & declarando
primeiro que quando eíta Villa íe murou , a antiga Guimaraens o eltava tam-
bém, como fica dito, & os muros delia, que eítavão para onde a nova tomou o
feu principio, fe árruinârão, & a pedra deiles fe deu aos F rades de Saõ Domin-
gos para fazerem o dormitorio do feu Convento, a que chamão o novo ; &: os
nòvos muros tomàrão feu principio na ruína dos velhos.
Uniraofe os novos muros com os velhos pela parte do Nafccnte em hum
torrilhao terraplenado na mefma altura deiles , & abaixo delle na muralha a
pòrta da Fr ieira, que hoje chamão de Santa Cruz, por eítar defronte delia hum
Cruzeiro com efeadas no pedeítal, que por eítar em fitio alto, efpaçofo, bc ale-
gre, nuncaeítádefoccupadode gente,que aellefevay recrear ; & deite torri-
lhao corre a muralha coroada de ameyas para a parte doSulemdiítãcia de 4.90.
pados a topar na torre, que chamão dos Cats , & da fua porta atêà dita torre
tapa eíta muralha acerca das Freiras de S-Clara, quetemefcáda para irem co-
lher acima delia o fruto das fuas parreiras.
No tempo, em aue fe fundou eíta torre dos Cats, eítava nella huma arca de
agua,
DA COROGRAFIA PORTOGUEZA. 53
agua, que hia por canos para o Convento de S. F rancifco 5 Sc por fer vontade
delRev D. loão o Primeiro íeil fundador, qnaquelle lugar ficaífe cila para me-
lhor dèfenfaõ da Villa 5 foy neceífario ao fazer delia, quequnto aos- feus alicef-
fes ficaíTe huma porta de arco por baixo da terra para a pãrte doVeiVdaVal, por
onde fe pudeífe ir alimpar a arca dá agua , a qual com afabrxa'-ite 'obra dan-
çou aos Frades; & vendo o Duque Dom Affonfo, & lua mulher aDuqueza Do-
na Confiança de Noronha afuàneccííidade, mandarão dent roda torre ajuntar
a meíma agua em húa arcade pedra finabem lavrada, coque a fcguràrão delor-
te, que nunca mais lhe faltou; St por ler obra magnifica de muita charidade,mã-
darão pòr na arca os efeudos de 1 uas Armas-
Deíla torre dos Caens contínúão 162. paífos de muralha dâ mefmá altura,St
forma da primeira,atè topar na torre da Senhora da Guia,q vulgarmete chamãô
do Campo da Feira. Tapa,Sc defende eira torre a porta da muralha , q chamão
do Poíligo > por onde té para fora delia a fua ferventia a rua do feu nome." Faz
cila torre frente ao Sul,Sc encoílada a ella na parte de dentro para o Poente eílá
huma Capella da mefma Senhora, que lhe deu o nome. Correm deíla torre do
Campo da F eira para a que chamão torre velha(que faz também frente ao Sul)
3 60. pa(Tos : he toda fechada fem.porta,Sc no alto delia junto às ameyas , de
que he coroada, tem hum nicho, que recolhe huma imagem de S- F rancifco, por
ellar defronte delia o feu Convento em diílaticia de 140. paífos.
Tem a torre velha diílancia de muralha atè a torre, que chamão da Alfan-
dega, fechada fem ferventia,(que também faz frente ao Sul) 34.0 paífos, Sc no
mevo deíla muralhâeílà aporta da torre velha, para onde tem a fua fahida para
fóra delia a rua nova do Muro, & a de Alcobaça; para cima deíla muralha tem
ferventia todas as cafas, que eílão encoíladas a ella da rua do Anjo. Encoíla-
das na frente deíla torre para o Sul eílãohuas cafas ,q tem logeasde tendas,
Sc na face da meíma torre para o Naícente eílão outras cafas, que fabrica , &
aluga a Camara aaquella Villa»
Do canto das paredes da frente deílas cafas continua para oNafcente hú
Rocio fechado cõ o muro, em que eílão encoítados os açougues, & as cafas da
rua do Anjo, & da parte do Sul c©m huma parede, Sc no meyo delia huma porta
fraude da ferventia deíleRoèio, Sc íòbre ella no alto da parede hum remate cõ
um efeudo das Armas Reaes pintadas, Sc douradas entre duas pirâmides de
pedra,Sc fobre a Coroa Real das Armas outra pirâmide, Sc todas douradas , Sc
pintadas. Encoílada a eíla parede corre huma alpendrada^que da outra parte
fe fuílenta em columnas de pedra, Sc debaixo delia eílão varias tendas.
Do canto deíla alpenarada atè o muro pela parte do Nafcente fecha eíle
Rocio outra parede com porta de ferventia delle. Tem eíle Rocio dentro de fi
huma rua de cafas terreiras, humas delias fão dadas pela Camara a peíToas, que
fe obrigão a venderem naquelle lugar toda a qualidade de peixe frefco,Sc feco :
outras a quem ncllas vende toda a caíla de pão em grão : Sc outras fervem de
recolher as fazendas, que vem de fóra a venderfeneíle lugar. Encoílado à pa-
rede deíla torre da parte de entre o Poente, Sc Norte eílá hum tanque de huma
fóbica de agua, aonde bebem as beílas.
Deíla torre da Alfandega continuando para a parte de çntre o Poente, Sc
Norte 2 oo' paífos de muro, fe encontra com a torre de S- Domingos , fendo o
feu proprio nome da Senhora da Piedade: ferve de defenfa , Sc guarda à porta
da muralha do feu mefmo nome, por onde tem ferventia para fóra dos muros as
peífoas , que vem da rua Sapateira,terreiro da Mifericordia , Sc rua dc Arro*
E iij che-
54 ; TOMO PRIMEIRO O;» \ ;
r
cheia- Dentro deft a torre ençoftadaaelLa para PrPoepfe ,&.çkf onte daporta
da muralha eítá a Capella deN- Senhora da P»e43.$fto>: & wvfo® torre a íua
porta dç fe^yentia parp-g Sul pela alegre Praça doTpural• JShfftamuralha , que
eorre da tQf;rje.da Alfandega para a de S- Domingos , íe aotio huma porta dç-
p<^sdelia£$fta?qchamãQ aporta npv^ôtvulgarmente o pofrigo de S- Payo,
pqnfçr fçrvçptia do terreiro^em que eítá fie nada a igreja Par^phial deite Sãto 5
ôc papa cjma ddta muralha.tem íerventia todas as calasda.rn<jda Arrochela. |
Da pprta de S-Domingos caminhando a buí car a porta de. Santapyzia
3^. paifos da muralha, a encontrão, fazendo frente para ebtte o Sul, &,Ppenr
te- Com a melma valentia de todas as outras defende elf a torre a porta da ler-
yçntia da muralha do feunome, por pnde tem iahida os moradores da rua de |
Val de Donas- O nome proprio deíla torre he de N- Senhora da Graça, por ci-
tar dentro delia encoíl adanp lua parede a 1 na Capella, aonde no ladrilho delia
eífá htrmburaço, donde fe rira terra para fe dar abebera peffoas , que em luas
doenças tem faffio , & nas melhoras tem a experiência mollrado a lua grande ]
virtude-Te eíta torre a íua porta para o Sul A deito te delia hu Cruzeiro de pet
dra com aífentos ao pè, & no alto da Cruz a imagem de N- Senhor crucificado.
Para cima da muralha que corre deíla torre para a que fica detráz de N- Senho-
ra da Piedade,tem íerventia todos os moradores da rua das Flores, & os da rua
deValde Donas,
Caminhando coita acima íahe a muralha da torre de N- Senhora da Graça
a bufear o Norte, aonde a eílão efperando os- muros da V illa velha , & tendo
andado feifeentos & doze paffos íe encerrarão no torrilhão baixo , & terraple-
nado, que chamão da Garrida, aonde antes de chegar a clle, lhe abrio a mura-
lha a porta de feu nome, que deixou peló de Santo Antonio , para dar fahida à
ruadalnfeíla, que junta com a do Poço , por ellapfíao a fazer romaria ao
Convento defte Santo, Sobre cila porta da parte de foraíe abrio hum nicho na
muralha, aonde fecollocou huma imagem de Santo Antonio- Para cima deíla
muralha tem as caías dos moradores da rua do Gado, & do Poço íerventia ? &
debaixo das fombras das pafreiras, que tem por cima delia, iógrão huma ale-
greviíla- •
Tenho referido o que toca aos fortes , & éxcellentes muros de pedra da
nova Villa, para o tempo em que fe fabricàrão, feitos por EIRey Dom Diniz, &
feufilho Dom Affonfoo Quarto, como fevè dos efeudosde fuas Armas, que
mandarão pôr pela parte de fóra delles fobre as portas daTua ferventia, & to-
dos forão feitos primeiro que as torres, porque eílas forao obradas por man-
dado delRey Dom João o Primeiro, como fe vè dos elcudos de fuas Armas,que
eífão encoífadas aos muros: faõ todas muy altas, bem obradas , & coroadas
de ameyas, como o f ao os muros.
CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZÀ, #
C A Pt XV.
; }
juy ; obi JUp' t;' .'iOq. "4*tf*.P ' :í'r>i'. «'.J> 'í->
Dos Arrabaldes de Gaimaracns , ©*' Igrejas que nelles
.eftao jituadas.
níniomtb gelar»>,*y ' 'òbna '■ . jp<ííBflp.: Tjíbíft.V ,'j^ ..tacj , :
j >■'.
1
Í" Ora dos muros deíf a Vília entre o Norte, & Naícente ficáo a rua , a que
'dat onome huma Capellu dainvocaçãrí.dó Salvador *o aonde cftá fituadp.
a auinta do Verdelho conTuas nobres caías , quepoíTuc Jeronymo de Matos
Feyo, Cavalleiro do Habltodethriltojfidalgo da Caía dei Rey , Scjuiz dds
feus Reguengos. A rua do Cano com o leu tanque mal provídode agua , que
topa na. 1'uave fonte da Douradinha.
Ficão para a rqefma parte mais enqoíiadaâ ao Naícente a rua nova de Al toa-
da, & na fua igualdade defeendo pàraaVillaa rua de Arcela, & a rua do Cano
de cima, a que antigamente chamavão das Gafas, que a divide da rua da Ar cela
a Capella de Santo Antonio,que inifituío Antonio Cardofo da Sylva, Thefou-
reiro mer de Valença- Na mefma igualdade defeendo para a Villa continua a
rua das Oliveiras-, primeiro lugar, em que os Padres de Santo Antonio íeaga-
falharão nefta Villa, vindo a fazer nella o feu Convento; J
O Burgo de Santa Cruz, que por ficar junto da Capella deíle nome , delia
tomou o feu, tem a fua ferventia para dentro da Villa pela porta da Frieira. A >
rua do Fato, que fica entre o Naícente, & o Sul tem a fua fahida para o Moftei-
ro de S. Marina da Coifa, & a ferventia para a V illa pela rua Carrapatofa, & de-
ita topa na rua da Pupaatè fahirao Campo da Feira. i
A rua dos Triages, que fica junto à torre dos Caes , & contigua a ella a
rtia das Hortas do Prior, &deífh a rua, que chamão do Poço das hortas. A rua
do Postello das hortas, que fica junto da torre, oc porta da Senhora da Guia.
ò Campo da Feira, para onde tem a fahida a torre , & porta de feu nome,
(que tem no principio huma Cruz de pedra, dourada , & pintada com a ima-
gem deN. Senhor crucificado) he campo grande, & alegre, & femprebem po-
voado, por fer a melhor fahida daquella Villa, & o atraveífa hum regato, a quem
no feu cicílrido emprcflou feu nome, para nelle fe chamar o rio do Campo da
Feira , que corre por baixo dehuma ponte terraplenada igual comomefmo
campo, que tem de largo trinta paifos, &eneoftados às fuas guardas de huma,
& outra parte aífentos de pedra : tem de comprido efta ponte cento & vinte
paífosatè topar em hum Cruzeiro de pedra com fuas cicadas , que eftá entre
ella, &: a Capella de N• Senhora da Confolação.
Eftá eíta Capella íituada em hum campo largo ( que he ametadedo que &
ca dito) bem povoado de arvores, a cuja íbmbra fe faz huma feira de beílas no
primeiro Domingo de Agoílo, que dura tres dias: eftãonelletres:ruàs , a fi-
ber, a das Pretaspara o Naícente, a da Barroca para o Sul, & a da Ramada para
entre o Sul, & Poente. Sahindo da torre, & Campo da Feira )] St caminhando
à mao direita para o Poente continua a rua de Tráz do muro, até topar com a
rua de S- Damafo, que perde o feu nome an hum campo largo , que chamão i
Carreira, ou Pelourinho. .
Quemfaheda porta da torre velha, fe acha alegre neífe campo ,-por em-
pregar aviftaemverdes prados, & arvoredos : ficão nelle encoftadas ao muro
da
■j6 TOMO PRIMEIRO . ;
tia porta da torre velha as cafas da rua, que chamão de Trás de Alfandega, to- •
das de alpendradas fobre columnas de pedra. Por baixo de fie campo para o Sul
eftá íituado o Burgo, que chamão rua dc Couros, que fe compoem de tres , a
dofeu nome, a rua de S- Francifco, & a dalém, que lhe chamão aílim, porque a
dividedas outras o regato, que corre do Campo da Feira, que largando aqui
o nome, que trazia de cmpreftimo, tpmou o de rua de Couros, por eftes lerem
confervados nelle pelos Sapateiros, aonde naquelle lugar tem íeus pcíàmes, &
nellepaífa efte regato por baixo de huma ponte de pedra com guardas de huma,
& outra parte,& já tam cheyo de aguas,que paffando por tres cafas de moinhos,
faz trabalhar em cada huma duas mós- Na lua mefma corrente fe ajunta o cã-
poda Carreira cõ o terreiro de S. Sebaftião , que eftá defronte da alpendrada
da Alfandega, òc contíguo com ella para a parte do Sul , aonde eftà íituada a
Igreja de S- Sebaftião, que lhe deu o nome , a qual he huma das cinco Paro-
chias da Villa. Tem eft a Igreja diante da fua porta principal huma alpendrada,
he toda azulejada, & a divide da Capella mórhum arco de pedra , que tem en.
coftado à íua parede da parte do Euangelho hum Altar dc S-jofenh, que fabri-
ca a fua Confraria, cujos Irmãos, quando fahem fora, levão veftias brancas, &
murças azues debaixo do feu guião azul, & branco-
' Abaixo defte Altar, no lado da parede da mefma parte do Euangelho tem
huma porta traveífa com ferventia para o terreiro da Alfandega , & fobre ella
em hum nicho da parede fe poz huma imagem de N. Senhora ,& defronte defta
porta nomeyo do terreiro entre a Igreja, & a Alfandega eftá huma Cruz de pe-
dra com a imagem de N- Senhor Jefu Chriflo crucificado, & da outra parte a de
N- Senhora. Logo junto à porta traveífa no mefmo lado da parede eftá o Altar
de N. Senhora do Soccorro, que fabricão feus Confrades •, fov inftituídopor
devoção de Antonio Paes do Amaral, Cavalleiro do habitode Chrifto. Enco-
ftadoao arco da Capella mór da parte da Epiftola eftá a Capella de Jefus, que
adminiflrão feus Confrades , os quaes quando fahem fóra , levão veftias
brancas debaixo do feu guião da mefma cor. Abaixo defte Altar no lado da pa-
rede da Igreja eftá huma porta da Sancriítia da Confraria do Santiflimo, & jun-
to a ella no mefmo lado da parede eftá o Altar de S- Filippe Nen, que fabricão
feus Confrades, & devotos.
Por baixo do terreiro de S. Sebaftião , & portas da mefma Igreja para a
parte do Sul eftá a rua do Guardai,& a q chamão deTrás de S.Sebaftião, q fe co-
munica com a rua Caldeiroa; & defronte da porta principal da dita Igreja cor-
rendo para entre Sul, & Poente, vay a rua aeTráz dos Oleiros a deíembocar
na rua nova das Oliveiras. Ccmmunicafe o terreiro de S- Sebaftião para a par-
te de entre o Poente & Norte com a Praça do Tourai , íituada ao pe da mura-
lha, que corre da torre da Alfandega para a de S. Domingos. He efta Praça cer-
cada de cafas de alpendrada fobre colunas de pedra, excepto as do Vendaval, &
da parte de entre o Norte, & Nalcente he cercada da dita muralha- O cuftofo,&
viftofo das feftas, que na'dita Praça fe tem feito,tem eftendido pelomundo feu
nome, & fama: os aífentos , & efeadas do pé da muralha fe occupão de tanta
gente nefta occafião, que a variedade das galas faz com que a vifta fique fem re-
foluçao para a efeolha das cores.
Nos dias de feus feftejos fe vè efta Praça guarnecida de muitas danças, &
clarins, que depois de a pâífearem, dão final para que a occupem ginetes , que
guiados da (jeftra mão formão com intricadas voltas inveftidas , & retiradas
tão fugitivas, que deixão as viftas confufas para fe poder julgar o cuftofo das
DA COROGRAFIA EORTUGUEZA. j?
galas, de quem os domava. Tem eftà Praça entre fi, & as cafas, que a cercão da
parte do Sul, hum chafariz de feis bicas,cuja agua vem do tanque daPraça ma-
yor, & lha envia por canos limpa, & clara : he chafariz grande de duas taças
muy viftofo, & aprazível,tem no alto por remate huma esfera de bronze dou-
rada, & ao pè delia em hum efcudo illuminadas, & douradíts as Armas Reaes >
&nas cofias defle efcudo outro com huma Águia negra coroada de ouro com
hum letreiro ao pè, que diz, /inneáe 15 88» he todo cercado de aíTentos,& ef-
cadas de pedra.
Entre efta Práça do Toural, & as cafas , que a cercão da parte de entre ò
Norte, & Poente, eftà hum Cruzeiro de pedra muito alto, & foberbo, lavrado
com todo o primor da arte fobre hum pedeftal , que aífenta em hum patim de
pedra, para onde fe fobe por cinco efcadas, & tem à roda do pedeftal por baixo>
aonde eftá firmada a hafte da Cruz,hum letreiro, que diz : ESÍa obra mandbu
fazem Iwz, & Irmandade de N Senhora do Rofario no anno de 1650.
He efta Praça do Toural hum tronco, de que procedem muitas ruas do
Arrabalde daquella Villa; porque junto dofeu chafariz para a parte do Ven-
daval fahe a rua das Lages, que junto com a ruadeTráz dos Oleiros, de que
já falíamos, ambas embocãonaruanova das Oliveiras , quevay parar em hum
Cruzeiro de pedra de vinte & cinco palmos de hafte tão delgada , que não tem
de groífura em roda mais que palmo &meyo, firmada em hum pedeftal, que af-
fenta fobre hum patim dè efcadas à roda; he efte Cruzeiro todo dourado , ôc
pintado, & na Cruz não tem imagem alguma. Aqui perde a rua nova das Oli-
veiras o feu nome,& delia fahe para a parte de entre o Poente , & Norte a rua
Traveífa, que divide a rua de S-Domingos da rua de Gatos.
Sahe também da rua nova das Oliveiras outra para o Vendaval, que cha-
mão a rua das Molianas, quevay parar no rio da Maaroa , para onde palia por
huma ponte fem guardas. Efte lugar da Madroa hc hum Rocio pequeno,& bem
Êovoaao de vifinhos ; eftá no meyodelle hum tanque de duas bicas , que por
em cheas de agua, fatisfazem a muita gente, que de longe a vem bufcar. He
tanque alto, & tem por remate huma Cruz entre duas pirâmides de pedra.
Sahe defte Rocio huma trhveífa, que vay bufcar o Sul, aonde topa com o
lugar de V illanova, a que vulgarmente chamão dos 1 intureiros , onde por ci-
ma de huma ponte de arco fem guardas faz feu caminho pela borda do rio âcima
ate toyjarnarui Caldeiroa-Sahindo do Rocio da Madroa cofta acima para a par-
te do Vendaval, que he a fahida daquella Villa para a Cidade do Porto ) fe en-
contra com as ruas da Cruz da pedra, & Montinho, que as divide huma da ou-
tra huma Cruz de pedra pintada. Defcendoda rua do Montinho para a parte
dentre o Poente, & Norte, fe topa com a rua de Trãz da Gaya, & defta fe conti-
nua a de Gay a,que fica huma nas cofias da outra no mefmo fítio.
Tornandoà Praça do Toural, fahe delia para a parte dentre o Vendaval, &
Poente a rua de S. Domingos, que continua atè fe ajuntar no mefmo curfo com
a rua de Gatos,que as divide huma da outra a ruaTraveffa com o Cruzeiro de
pedra pintado,firmado no feu pedeftal,q aífenta fobre hQ patim cercado de efca-
das de pedra, q correfpondc ao em que dá fim a rua nova das Oliveiras-Conti-
núa a made Gatos no mefmo curfo, que tomou a rua de S- Domingos, atè pa-
rar no Rocio de S. Lazaro , aonde no meyo delle eftá fituado hum Padrão de
abobeda 4c pedra, que recolhe a Capella dos Santos Reys Magos , & debaixo
da abobcda>áefte Padrão eftá huma Cruz de pedra mármore com a imagem de
Chrifto crucificado , com N. Senhora, & o Sagrado Euangelifta- He efta CaJ
58 ./• TOMO PRIMEIRO
pclla fabricada pelos Confrades, & devotos de N- Senhora da Aprefentação.
Dcftc Rocio para a parte dentre o Vendaval ,& Poente fe continua a eft rada, ,
cue vay daquella Vilia para a de Vília de Conde-
Divide o Rocio de S- Lazaro da rua da Gaya pela parte do Sul o rio da Ma-
droa.q naquelle lu|arlheofferece hua ponte de pedra para a lua comunicação,
& nelie mefmo deixando o nome de rio da Madroa , que lhe tinha pofto o Ro -
cio, por onde tinha paíTado,feappeilidou no de S- Lazaro 3.que confervou arê
dar volta por detráz da Capella dcfte Santo, & feu Hofpital , de que também
tomou o nome aquelle Rocio, em que eíhá fituada,&encontrandofe allicom o
prio de bom nome, fez cada hum delles naquelle lugar depoíko do nome , que
Strazia, & formando ambos hum corpo, fe appellidou Celinho, que regando os
dilatados, & ferteis campos da Porcarice, fe vay meter no rio Celho-
No mefmo lugar, donde a Praça do Toural deu principio à rua de S. Do-
mingos, o deu também para a parte de entre o Poente, & Norte a outra , que
chamão de Traz do Moíteiro. Tambem da celebrada Praça doToural fahe pa-
ra a mefma parte a rua da Fonte nova , que vay parar na rua de S. Luzia , a
quaieílá j unto à torre de feu nome, & continuando para o Poente topa no Ro-
cio da mefma Santa- Do principio defta rua de S. Luzia fahe huma travciTa
para a rua do Bimbal.
No Rocio de S- Luzia eftá fituada a Capella deita Santa , & junto a ella
bum tanque de huma fóbica. Delle continua para o Poente a rua, que chamão
da Calçada, que he a eílrada commua para a Cidade de Braga. Do mefmo Ro-
cio de iS- Luzia fahe outra rua para a parte do Norte , que chamão do Picoto-
AruadeSoalhaes fica entre hortas por detráz do Cõvcto de S-Francifco entre
a rua de S - Damafo, & a da Ramada.
Eflas faõ as P raças, Rocios, & ruas povoadas, que aquella Villa tem fo-
ra da circumvallação dos muros em feus arrabaldes. Agora para medir fua grã- j
deza, digo que a muralha, que cerca, & deíènde aílim a Villa velha, como a no-
va, tem cm todo o feu circuito tresmil & feifeentos & oitenta & cinco pálios
communs, com nove portas de ferventia repartidas por ella, & fete torres altas,
que afortificão,& fazem refpeitar,excepto doús torrilhoens terraplenados,
que não tem mais altura que a muralha, como tenhp manifeílado por feus no-
mes. Tem cila Villa dentro dos feus muros feifeentos & oitenta & tres vi li-
nhos,& em feus arrabaldes mil & duzentos & oitenta , que'fazem foma.de mil
& novecentos & feífenta Sc tres-
CAP. XVI.
Naquella fua apertada morada entregou a vida ao feu Creador; & quando
feus companheiros fe mudarão daquelle lugar parao Hofpital do Anjo, ficou
o í'eu corpo noOratorio de Villaverde,^ como eítava defemparado de guardas,
tratouoCabidodaquellaCoUegiadadeolevar com todo o fegredo para a lua
Igreja, &pondo por obra eíle feu intento, não foy poílivel que com todas as
forças bem applicadas podeflemmover a fepultura do Santo , como diz Gon-
Z
'^a NãoCfoyCo mgredo da tenção do furto tão guardado naquelle Cabido, q
nãochegaíle ànoticia dos Religiofos feus companheiros, para porem^m me-
lhor cautela a guarda daquelle feu milagrofo thefouro; com que a toda a prefla
o recolherão, levantãdo com muita facilidade o que os outros com muitas tor-
ças não puderão fazer, & comfigo o levàrão para o feu ultimo Convento, aon-
deo oleo, que manava de fua fepultura, deu laude a muitos enfermos.
Na rua de S. Damafo, que uca entre a torre velha , & terreiro dos Carva-
íwímvsemw
t0b
'o principalmotivodeftáfundaçaõ foraô humas Moças deboa vida , <jue
infpiradas do amor Divino quizpraõ gafíar fuaslegitimas, & bens virtuofa,
& recolhidamente em ferviço deDcosj parao que compraram dentro aos mu-
ros daqucllaVillahumascafasna ruade Val deDonas , & nellas deílituidas
dos bens do mundo começàram na agricultura dos do Ceo, em que he í cm fim
a permanência, & veftidas de hum fayal tofco, começaramxoma frequência da
confiífam de lançar a primeira pedra í undamental com o ãliceíTe de fuas virtu-
des,& cingidas como cordaõ deS- Franofco fizeraoafua primeira profiffam
* na Ordem Terceira, cm que o feu Commiffario no crifol do Coteffionario> toy
apurando o ouro de fuas coneienaas; & vendo que íeus efpiritos hiao ci efcen-
docom eíle primeiro leite da penitencia, lhes bufeou Mc tra,para que das por-
. tas a dentro com o feu exemplo fbífèmfeguindo o verdadeiro caminho dafal-
V
ERava no Recolhimento do Anjo das Terceiras de S. Francifco Catherina
das Chacras, que como filha efpiritual dp feu CommiíTario, conhecia do leu ta-
lento fufficienciá para encaminhar na vinhâ do Senhor aqueUas novas Agricub
toras, que entregandolhe as vontades à fua obediência, lhe derao o titulo de
Recente. Fundàraõ na mefma cafahú Oratorio da invocação de b.Ifabel , &
íe veRífao do feu traje, trazendo hum cilicio por camifa, aonde e Ri ver ao ate
quatro do mez de Abril de ió8*.dia aílinalado de Quarta feira ne Trevas, do
deíahiíãô emprociffaõ acompanhando com o Cabido , & mais Religiões ao
Santiílimo Sacramento, que foraõ recolher no feupovo Moífeiro do campo do
Callero, aonde pregou o leu Padre CommiíTario , encarregando a .guarda da-
quelle Divino Penhor aodefveloda lua penitente milícia , repamndolhe as
Horas Canónicas nas doxlia, & noite,para que no baluarte do leuCoro lejam
vigilantes fintinellas da fua obfervan'cia< f&ftd
7o TOMO 1> ROMEIRO % O O
Nerta união de virtudes ertão cm voluntária claufura guardando a Regrâ
deSMfabel doze Serafins humanos 7 í zendo cada quakaiuos extremos pelo
an.or de Deos, quemoftrão nos leus exceíTos ferem mais do Ceó , que do
mundo 5 Dadecendo nella a defconfolação de não terertj ate gora alcançado a
obrigatória claufura, que chegou cOmellas a tanto o defejo de ieverem encer*
radas por obrigação de Breve de Sua Santidade, que vendo, que por alheas di-
ligencias fe lhes dilatava odeípachoda lua pertenção , íãhio do leu Recolhi-
mento no anno de i6<)0« alua primeira Regente Catherina das Chagas 7 & ar-
mada de efpirito, & valor, fe poz a caminho em traje de Ermitlio. Chegou a Lib
boa, & na primeira embarcação, que lc lhe offcreceo, partio para Roma, aonde
erteve átè o anno de 1691. trabalhando por confeguir o feu negocio, a que não
pode darfim, para virlograr da companhia defuasvirtuofas Irmãs; & voltan-
do para Portugal, deixando em boa altura a fua pertenção, morreó junto aPã-
plona, Cidade Metropolitana do Reyno de Navarra , & da lua morre efcrevè-
íão ao Commiffario os Padres da Companhia de Jefu raras maravilhas. Ertá
crte Recolhimento com fua Igreja, & todas as mais otucinas neceíiarias excel-
lentemente acabado; porque quer Noffo Senhor que aflim como nelle por a-
quellas fuanjfervas he com toda a devoção louvado,feja em tudo perfeito.
Não longe derte Recolhimento para a parte do Sul menos de hum quarto
de légoa efíà íituada em lugar eminente a Ermida de S. Roque com a porta para
o Poente; òt em hum dilatado terreno de feu valle elVao muitas feplilturas, de
que foy á caufa huma grande perte,quc houveemGuimaráens no anno de 1507.
que durou dous annos ;& retirandofe a mayor parte da gente da Villa para al-
quelle lugar, forao tantos os mortos, que inda hoje fe ertão vendo as fepultu-
ras junto de huma galharda fonte, que chamãp dos Impedidos.
Ficou a Villade Guimaraens defpovoada de forte neita occafíão, que não
ficou dentro delia coufa vivente, porque cada qual bufcou retiro, onde pudef-
fem efcapar daquelle grande caliigo; que paraNofso Senhor o haver de apla- • I
car,lheoffereceo aquelle povo para fempre quatro dias de Ladainhas : o pri-
meiro a S. Migueldc Creixomil, fahindo o Cabido, Camara, & Povo em pro-
cifsaõ rezando a Ladainha , & chegando àquella Igreja, fe dizia huma Mifsa
cantada com preces, & acabada ella, fe tornavão em procifsaõ a recolher à mef-
maCollegiada. E como naquellestepos havia antiguidades ridículas , direy
huma, que algunsannosfe continuou neifa procifsaõ; hião hunsMoçosdiã-
te delia cantãdo, 8t deprecãdo:5l.-Mi^wí'/ ae (■ reixttnil damos ft, vas,&pn rexil,ca •
ftãnhinhas temolas nos, Deos ouvinos a nos, Santiago es que de thrift 0^ Apoftolo es,
Magdalena rogo a vós, que rogueis a Deos por rios- Derte cântico fe nao ufa já ho- j
je>nemcfta procifsãovay àquella Igreja, porque de muitos annos a efta parte
vay aoConvento de S. Domingos.
Hia efta procifsaõ no fegundo dia de Ladainhas à Capella dc Santo Andre,
que he huma Igreja, que fica por detràz da rua da Cruz para a parte do Sul,que
antigamente teve humHofpital,q fe extinguio,& cobraõ leus foros osCõfrades
de N. Senhora do O- Também fe mudou efia procifsaõ para o Morteiro de S.
Francifco, aonde hoje vay. No terceiro dia cortumayaõ ir ao Morteiro de S.
Torcato, donde mudàraõ para a Capella da Madre de Déos , & depois para a
do Salvador,&defta para o Convento de S. Clara, aonde agora vaõ. No quar-
to dia hiaõcõ erta procifsaõ ao Morteiro de S- íoaoda Ponte, donde a mudà-
raõ para a Capella de Santa Luzia; porque mudaõ os tempos ainda os mefmo3
votos, quefe prometem a Deos.
E já
bA COROGRAFIA PORTUGUESA. ?í
E já que tenho fallado nefte contagiofo mal, de que Deos nos livre,direy
nefte limar quantas vezes a Villa deGuimaraens experimentou o teu rigor:
a primeira foy no anno de 148 9. que fov antes da que tenho acima fallado, &
por refpeito delia fe ordenou hum rolo de cerei branca^ eomcjue o ( < bioo^Câ-
irara, & Povo ccrcàraõ em prociífaõ toda a V illa, 8c o der ao de oiferta ao Efpi-
rito Santo, 8c ficou de obrigaçaõ para íempre 5 com que todos os annosem
velpora defta fefta faz o Cabido com todas as mais Religioens , a que afíiite a
Camara, huma feftiva prociífaõ, & fahem do Convento de S. Domingos hum
anuo, 8c outro do de S. Francifco com o rolo de cera enlaçado de forte, que fica
hum retrato da torre dos finos de Noífa Senhora da Oliveira, aíTentado em
hum andor todo cuberto , & guarnecido de ramos, 8c flores de varias cores*
tudo de cera,cõ a pomba doEfpirito Santo,5c as Armas Reaes,& cõ ella entraõ
em procifsaõ dentro da Igreja Collegiada, aonde ofterecem o rolo , 8c toda a
mais cera ao Efpirito Santo, que feus Confrades reèolhem.
Neftaprocifsãofeobfervainda hoje huma antiguidade, que cònfiíte em
dar por conta delRey a Camara ao feu Procurador do Concelho certos alquei-
res de trigo, que elle manda cozer em paészmhos redondos , 8c enche quanti-
dade de alfaiates,cubertos,8c enramados de muitas flores,& os entrega a outras
tanta* mocas das mais bem parecidas da terra, que adornadas, Sc iuftrofàmen-
te veftidas os levão à cabeça diante da prociffão,& chegando ao padrão de Nv
Senhora da Vitoria,nelle eíiàadornãdo hum Altar, defronte do qual fe poem as
ditas moças; Sc em quanto o Cabido, Religioens , 8c Camara levão o rolo no
feu andor a oíferecer dentro da Igreja ao Efpirito Santo , hum dos Capellaens
ficano padrão benzendo o pão , Sc acabada a ceremonia lobem as moças com
elle à Camara com o Procurador, Alcayde, 8c Mifteres, 5c eftes da fua galaria,
que pára eito função tem bem alcatifada, o diftribuem ao povo , que naquella
occafião fe ajunta muito naquelle lugar da Praça mayor, Senos encontros das
porfias de qual mais apanhará, fazem aquella tarde alegre»
No anno do Senhor de 1575. houve nefta Villa tanta mortandade de gen-»
te, que defde o mez de Abril atè o de Agofto morrerão duas milpeíToas, 5c no
termo cinco mil ; 8c diz o Licenciado Manoel Barbofa , pay do grande Agoíh-
pho Barbofa,nos feus manu-eferitos que não havia nos adros das Igrejas luga-
res, aonde fe enterraífem os mortos; o que fuceedeo em feu tempo, 5c que pro-
cedera eík contagio da grande fome, que no anno antecedente houve , em que
morreo muita gente. _
A uíti ma pefte foy no anno de 15 9 < • que durou tres mezes , 8c nao tez
grande mortandade de gente, pela muyta cautela, que o povo teve na fua guar-
da ; porque tanto que os primeiros feridos delia morrerão com a prefteza, com
cue ella coíiuma matar, impedirão logo fuas cafas, puzerão guardas nas por-
tas da Villa, & feus moradores logo fe fahirão, cada hum para a parte donde ti-
nirão fu<* fazendas, & neilaseftavão com grande cautela, como quem defejava
efeaparà morte; &os que ficàrão na Villa com perfumes defenfivos, veftidos
de bocachim quafi todos fe defenderão ; 8c no ferviço da Vília de dentro pará
fora o não fazião fenáo peífoas conhecidas , 8c eftás, que andavaõ de dent r o
dos muros,naõ Cahiaõ tora delles, 8c os de fóra nam entravaõ para dent ro; pa-
ra o q ue fe elegèraõ por guardas as peffoas mais qualificadas,8c de reipeito,queí
nella havia- , à r
Padeceo efta Villa, 8c feu termo , 8c Comarca outro anno de tome 1 eme-
lhanteao.de 1694. quefoyode 1680. em que houve tanta fáta de pao, vinho*
n TOMO PRIMEIRO
& legumes, que foy caufa de muitos perderem a vida, principalmente as gentes
das montanhas; com que aspefsoas, quetinhaõoscelleirosde paõ , aprovei-
tandofe da miieria do anno para mell or valiadelle,o puzcraõ cm preço tam al-
to, que foy neceíTario taxarlho ElRey , para que a ambiçaõ daqueiles naõ fof-
fe eftorvo do remedio da miferia dos outros : mas podendo com aquelles mais o
interefsc, que as neceílitadas lagrimas, defpendiaõ o que tinhaõ occultamente,
por não e'ncorrerem nas penas da taxa, pelo mais alto preço, que podião ; &
porque os Miniftros tiverão noticia de que Havia peífoas, que occultavão pão,
mandandoo vender fóra dos limites do termo; puzerãofintinellas pelas eitra-
das, em que muy to foy tomado , & vendido por fua authoridade aos pobres
pelo preço da taxa.
Não feaproveitàrão todos da occafíão parafeguirem aquelle avarento ca-
minho ; porque movidos mais do amor de Deos, que do intereífe proprio , ti-
rando do que tinhão o neceíTario para fuíTento de fua família, trocàrão o de-
mais a lagrimas dos pobres, repartindoopor elles a pedaços, conforme a necef-
fídade, que fe lhes reprefentava. Pelos prados, & matos fe vião ranchos de po-
bres arrancando hervas agreftes, para com ellas poderem remediar as vidas,
que receavão perder no rigor da fome. Acodio NoíTo Senhor a remedialos cõ
o anno de 16b i. dandolhe tanta abundancia de todos os frutos, que antes de fe
chegarem a lograr,já com as fuas efperanças tinhão as lagrimas enxutas, alimé-
tando com a fartura efperada a neceflidade prefente.
Entre as fepulturas do Valie de S. Roque, de que atráz fiz menção ; fun-
dou hum devoto Ermitão huma pobre cafa terrea para feu agazalho,& nella por
lhe parecer feria muito agradavel a Deos eníinaràquelles Aldeães feusyifinhos
a doutrina Chriíiã, de que neceflitavão,lheoffereceo aquelle exercício, a qué
fogeitou a fua paciência pelo feu amor, & continuando nelle, fe eftendeo tanto
a fua noticia, que muitos da Villa, querendo dar boa criação a feus filhos , os
mandavão fogeitar à fua obediência; porque a lição do bom Medre fempre foy
proveitofa aos coftumes da vida.
Conhecendo o Padre Francifco Ferreira , Clérigo de bons coíhimcs, a
penitente, & exemplar vida deíTc Ermitão, deixou os defenfados da Villa,& pa-
ra melhor fervir a Deos, lhe foy fazer companhia naquelle retiro ; & como
não era defemparado de património, & bens, tudo applicou à honra, & ferviço
de Deos, fabricando moradas para melhor o fervirem; & ambos viv erão alguns
annos juntos tam unidos nas vontades, como femelhantes na penitente vida,
até que NoíTo Senhor foy fervido levar para fi a alma do bom Ermitão. Na fal-
ta fua foy fuflítuir o feulugar,& lograr amigavel companhia do P. Francifco
Ferreira outro Sacerdote chamado Leandro Correa, que fazendo entre fi am-
bos huma conforme união , vinculo fizerão de fuas vontades, que fendo húá
mefma, tudo fofle proprio, ficando iguaes na difpoíição para fundarem alli hua
Capella, que intitulàrãooBomJefus doCalvario, a que unirão juros», oc ren-
das,para que o adorno, com que a acabàrão,foífe fempre coníèrvado , & am-
parado das ruínas do tempo,& para quem na falta delles, & em todos os fecu-
los nos feus lugares fuccedefle, lhe nam faltaffe Milfa quotidiana , applicando
para tudo tam bom património, que não faõ poucos os fogeitos, que eíTe lugar
pertendem.
Cultivando huma pequenapartedaquelle valle junto à fua Capella, formà-
rãohum jardim bem curiofo, tam aprazível nas aguas, como deleitofo nas flo-
res ; aonde em frefeos bofques aflHTem devotas imagens, que fabricadas nas
> • offici-
DA COROGRAFIA PORTUGUESA.
ófficinasde feu Meftre Francifco Ferreira, ficàrão obradas da fua curioíidadè
com tal perfeição, como o amor, & vontade, com que as fervia, & naquelle ver-
gel a pouco cufto com viftofas fontesofferecemem criftalinas corrctes vários
divertimentos aos fentidos, & continuas lagrimas a huma imagem da peniten-
te Magdalena,que aos pésde Chriílo crucificado entre verdes murtas lhema-
nifefta pelos olhos o arrependimento de fuas culpas- Nam longe delia fe vê
o arrependido Saõ Pedro, que diftillando lagrimas de feus olhos , convida aos
peccadores, que o imitem nellas , moftrando emteftemUnhodefuadorhuma
letra, que diz: Jam non fum Tetrus, fed mifer fenex.
Retirado em hiima lapa, por não fazer publica fua penitencia, fe efconde
S- Jerony mo > & prendendo com hua maô a hú devoto Crucifixo, com lagrimas
penitentes manifeftaõ feus olhos o pezar de feus delitos , abrindo ao coraçam
no peito com huma dura pedra bocas, por onde publique o grande fentimento
de o haver offendido, fazendo línguas de feu fanêue, pelas quaes publica, como
o Profeta Rey: Tibi foli peccavt- Tem para guarda fegura efte vergel aprazível .
ao divino Paftor, que em cabana tecida de alecrins floridos , deitado em bem
me queres, & adormecido entre amores perfeitos , nos quer moftraí que até
dormindo hc perfeito para comnofco o íeu amor , como diz a letra: Ego dor-
mio, cor metim vigilai.
Efte monte de fantidade fe recolhe todo emhuma parede alta, & pela par-
te do Norte de Nafcente a Poente he a parede, que o cerca , dividida em Capel-
linhas,em que fe manifeftaõ os PatTos da Paixão de Chrifto do Horto até o Cal.
vario, coma ferventia por dentro da.cerca dos devotos Clérigos, com jauella»
fechadas com grades de ferro para o povo fazer fua oraçã© da parte de fóra.
Inftituírão por Padroeiro de fua Capella dò Bom Jefus do Calvário eftes
dous Sacerdotes a Dom Francifco de Soulia terceiro Conde do Prado , & pri-
meiro Marquez das Minas, no tempo que eftava para fazer embaixada a Roma,
para que elle pudeffe depois de fuas mortes , & de outro Padre companheiro,
que já ao tal tempo tinhão,aprefentar naquella Capella os Capellaens,que qui-
zeffe- Dahi a poucos tempos, que fe fez ít nomeação,mor reo o Padre Leandro ,
Correa, ficando a difpofição de feu companheiro mais livre para obrar o que a
fua virtude, & zelo do amor de Deos lhe ditava fem vangloria. Inftituío duas
obras de charidade, que cada huma delias não pôde deixar de ter para com N.
Senhor grandes merecimentos- Foy a primeira hum contrato, que fez comas
Religions de S- Clara, em que ellas fe obrigàrão a dar aos prezos das cadeas
huns tantos alqueires de pão cozido todas as fomanas , mandandoo repartir
porpeíToas,quepiedofamente o d.ftribuiífem por todos igualmente; Alegun-
da obra foy, que as mefmas Religiofas ferião obrigadas mandarem todos os
dias oito cantaros de agua aos mefmos prezos > que foyhum legado de grande
charidade, & piedade, procedido do feu grande eípirito-
Muito amou a charidade efte penitente Clérigo, & tanto defejava favore-
cer aos prezos, que dous dias na fomana fahia do feu retiro para a Villa, aonde
pelas ruas com huma alcofa nas mãos pedia em voz alta efmola pelo amor de
Deos para os prezos, & o que ajuntava lhes hia peíToalmerite repartir * & aífim
acabou a Vida cõ tantas circunftancias de Bemaventufado , que foy hum por-
tento de admiraçoens aos que lhe aflift irão na morte- Foy feu corpo depofíta-
do na fua Capella do Bom Jefils do Cal vario , aonde fe efpera que as virtudes
de fua vida exemplar obriguem a N- Senhor fazer por efte feu fervo muitos mb
lagres. ,
G - Deite
74 TOMO PRIMEIRO
Defta Capella do Bom jefus do Caivano fe fobe para a parte do Sul ao ul-
timo extremo da ferra de S. Catherina a huma Capella delia Santa Martyr,que
deu o nome âqíiella ferra , de cuja ennnete altura fe eftão vendo quebrar as
ondas do mar nas coftas da Cidade do Porto, & Villa do Cõde.He efta C apella
bem aífiftida de Romeiros no dia de fua Santa, & fabricada pelos Religiolos de
S- Marinha da Cofta, que aprefemão nella Ermitão*
A Capella de Santa Cruz fituada junto aporta da Frieira, que vulgarmen-
te chamão de Santa Cruz, com a fua porta principal para o Poente cuberta de
huma alpendrada fobre colunas dc pedra aopedabarbacã da Villa velht ,para
onde tem huma porta travelfa. Fov feita no anno de 16351.& hebem fabricada
pelos feus Confrades, a quem faõ concedidos grandes privilégios , & indul-
gências por Bulla de Sua Santidade no dia de fua fefta a 3. de Mayo ; tem de-
fronte de fua alpendrada hum Cruzeiro de pedra grande fundado cm hum pe-
deftal, que aífenta fobre hum patim de pedra com efcadas ao rçdor, que fervem
. de affento a muita gente,que vay efpairecer àquelle lugar, por fer alegre.
Defronte deita Villa para o Nafcente eftá íituado o Mofteiro de Sãta Ma-
rinha da Cofta de Frades Jeronymosao pè da ferra de S. Catherina, diftante da
Villa meyo quarto de legoa cofta ailima, por cujacaufa lhe chamão Mofteiro da
Cofta- He convento grande, em que aífiftem trinta & mais Religiofos ; tema
fua Igreja feita ao moderno com excellentes Capellas recolhidas nas paredes
das naves com todo o concerto ornadas, com hum arco, que divide o corpo da
Igreja da Capella mór^ com todo o primor obrado, & a Capella mor de abobe-
da de pedra apainelada muito digna dc reparo pelafua boa architedura : tema
porta principal para o PoCte eiffjhúa eminência,em q melhor mamíefta a fua ma-
geftade- Te Guimarães nefte Mofteiro hua alegre,&fermófa vift^principalme-
te depois do feu dormitorio novo, q fe obrou no anno dc t6?i cò toda a grade*
za,& nãohe menos agradavel,& aprazível aos olhos overdc>& irondofo arvo*
redo de fua coutada,q tudo'fe manifefta àquelle povo,fem que haja còufa, q lhe
firva de embaraço àvifta.
Foy efte Mofteiro inftituído, & dotado pela Rainha Dona Mafalda , &
dado por ella aos Concgos Regulares de Sãto Agoftinho, que o poífuírãa qua*
trocentos annos.: depois fe deu em Comenda ao Duque Dom Jaymes , que o
deuaos Religiofos de São Jeronymo por Breve do Papa Clemente VII. como
cofta da Chronica dos Conegos Regulares de S* Agoftinho. Cõcorreo na doa-
ção, q o Duque fez aos Religiofos, ElRey D. João o Terceiro, que nefte Mof-
teiro ordenou huma Univeríidade com Lentes de Humanidades , Artes, &
Theologia, aonde aprenderão eftas faculdades o Senhor Dom Antonio , filho
do Infante Dom Luis, & o fenhor Dom Duarte filho illegitimo do ditoRey D-
João o Terceiro, os quaes ajudavãoàs Miífas, & fervião no refei torio aos Reli-
giofos, de que procedeo chamarem-fe hoje os moços, que fervem na Sancriftia,
Moços fidalgos. O ultimo Prior, que teve efte Mofteiro de Conegos Regula- j
res, foy o Meftre João de Chaves, que foy Guardião do Mofteiro de S* Fran-
cifco de Guimaraens, donde foy para Bifpo de Vifeu. Ha nefte Convet^hum
caliz de prata dourado cõ humletrciroao pe,que dizo feguinte:^ /. AíCcAXò
Rex Sanei,& KepmeD. Ulcma.offkunt cahcemtflumbUia Marin* de'Cdfla.X
quehe á peça mais antiga,que tem.
Eftes faõ os Mofteiros, Igrejas, Capellas,& Ermidas, que os arrabaldes da
Villa de Guimaraens tem fituadosno feu deft rido. Agora daremos noticiados
Morgados, &Vinculos,que forãoinftituidos,&poífuem feus moradores-
O Mor-
DA COROGRAFIA P0RTUGUE2A. ft
O Morgado daPoufada, que inftituío Gonçalo Gonçalves Peixoto Cbne-
go na Sè de Braga, Abbadc deTolocs, Raçoeiro de S. Geris, & ConegodeGui-
maraens , Abbade de Unhão no anno do Senhor de j * 2 3 . tem fua Capella rio
C apitulo do Mofteiro de Pombeiro da Congregação de São Bento. Poífue ho-
je tile Morgado Manoel Peixoto de Carvalho feu parente : he cabeça delle a
quinta da Poufada, fita na freguefia de São Pedro de Azurev-
O Morgado, que inftituío Dom Bertholameu Bifpo da Guarda,da geração
dos V ieiras, com tres Capeílas, huma no Mofteiro de Vicira,outra no Mofteiro
de S. Torcato, & outra 11a Sè de Braga: he adminiftrador delle feu parente G&-
çalo Barbolã morador no Concelho da Ribeira de Sòãs.
O Morgado,que inftituío Dom Martim Paes Chantre da Sè de Coimbra,
còm fua Capella de N. Senhora da Graça, fituadaria Igreja de S.Miguel da Vil-
la velh a,aonde eft à íepultado; & por não haver defcendccia delia familia,tem a
adminiílração delle a Coroa Real. >
O Morgades que inílituío Gonçalo Lobo , & fuá mulher Doria Urraca
Paes, que eíião fepultados no Moíleiro de S. Gens de Monte longo; tem a ad-
miniílração delle os filhos, que ficàrão d&FruCluofo de Freitas , & ellá def-
truído,& muita parte delle.alheada. •
O Morgado, que inftitifío Dom Diogo Pinheiro ,Cõmmendador do Men
fteiro deCarvoeiro,& de S- Simão da junqueira, & do de Caílro de Avelans,
Prelado de Thomar, Dom Prior-de Guimaraens,& Bifpo do Funchal, çom fua
Capella na Torre dos finos da Real Collegiada de Guimaraens. Aggregòu-o aò
de léus pay s o poucor Pedro Eíleves, & Ifabel Pinheira, de que he hoje admi-
niftrador Luis Pinheiro de Lacerda, filho deRuy Pinheiro de Lacerda , mora-
dor na Villa de Barcellos.
O Morgado, que inftituío o Doutor Pedro Nunes de Caula,de que he ad-
miniftrador feu defcendente Francifco Lopes de Carvalho , Moço fidalgo de
Sua Mageftade, & Cavalleiro do Habito de Chrifto. He cabeça defte Morga
do a quinta chamada de Ruivães, que antigamente fe chamava de Nomães.
O Morgado dos Cavalleiros , que inftituío Eft evão Ferreira o Velho no
appellido .de Ferreira com Capella no Mofteiro deS. Simão da Junqueira , de
que he adminiftrador feu defcendente Manoel Ferreirâ d' Eça, fidalgo da Cafa
dclRey, & Cavalleiro do Habito de Chrifto. Foy o dito Mofteiro de S. Simão
da junqueira inftituído por Dom Payo Guterres da Cunha.
O Morgado de Reçozinhos, & Terrozo, que inftituío Martim Annes cã
Capella 110 Mofteiro de Mancellos , de que he também adminiftrador Manoel
Ferreira d'Eça. Foy efteMofteiro deManceilosinftituídoporMemGoriçal-
ves da Fonfeca, & fua mulher Dona Maria Pires de Tavares.
O Morgado, que inftituío Antonio Pereira da Sylva o Velho emRefoyos
de Lima com Capella no mefmo Mofteiro de Refoyos de Lima, que fundou D.
Mendo Aífonfo de Refoyos , fendo Conde naquelle lugar por mercê delRey
Dom Affonfo Henriques^ &elle,& feu pay Aífonfo deAncemondcso derão à
Ordem de Santo A goftinho de Conegos Regrãtes no anilo do Senhor de 1161.
& nelleeftão fepultados. He adminiftrador defte Morgado o mefmo Manoel
Ferrei ra d' Eça, que tem nobres caías na rua de S. Maria.
O Morgado dos Mefquitas,que inftituío Fernão de Mefquitâ o Velho, &
S^Conego Diogo de Mefquita, com Capella, que a efte Conego deu o Duque
e Bragança Dom Fernando na Real Collegiada de Guimaraens, de quehehoje
adminiftrador Francifcode Soufa da Sylva, Moço fidalgo da Cafa delRey, def-
G íj cen-
?<5 V TOMO PRIMEIRO t>
cendente de Fernão'de Mefquita o Velho.
O Morgado dos Figueiroas, que inftituío João de Figueiroa no Solar de
Outis com Capella de Nofía Senhora da Graça nas fuás caías da rua de S- Ma-
ria, que traz por prazo,& neilas vtve Simão Lobo Machado , fidalgo, da Cafa
deiRey; hc boje adminiflrador defte Morgado Lourenço de SI & Mello-
O Morgado, que inftituío Francifco Soares , fidalgo da Caiado Infante
Dom Fernando, na fua quinta de Gor^inhaés na freguefia de S. Miguel das Cal-
das, coutada, & honrada antigamente por ElRey Dom João o Primeiro, dé que
he hoje adminiftrador feu defcendente Pedro Vas Cirne de Soufa, fidalgo dá
CafadeSuaMageíhde.
O Vinculo, que fez Diogo Machado da quinta de Villa-pouca fita na fre-
guefia de S.Sebaffião ao pé da ferra de S.Catherina , & poriktràz da Capella
tícN. Senhora da Confolação no Campo da Feira emhuni lugar eminente, don-
de fazendo mais publica, & manifefta a niageftade de fuiS caías, nella inculca a
nobreza de íeusjpoífuidotfes, he mui oxcellente o fitio de íua Lgndação, &> tam
aprazível pelos íeus bofques,fõtes,prados,& jardins, q ferve de lifonja aos o*
lhos de todos, & de refpeito a fua nobre Capella de S. Antonio, a quem o inili-
tuídor dotou de tres Miífas fomanarias* He hoje adminiftrador, & pofíuidor
delle feu defcendente Francifco de Soufa da Sylva*, Moço fidalgo da Cafa dei-,
Rey.
O Morgado, que inftituío Antonio Machado de Almada, Commendador
de S. Martinho dos Chãos junto a Lamego,da Ordem dq Chrifto , & fcus ir-
mãos na quinta da Calva, & fuas annexas , de que he adminiftrador o mefmo
Francifcode Soufa da Sylva feudefcendente.
O Morgado, que inflituío o Doutor Gonçalo Dias de Carvalho 11a família
dos Carvalhos com Capella nò Capitulo do Mofteiro de São Francifco de Gui-
marães, de que he adminiflrador feu delcendete F ilippe de Soufa de Carvalho
fidalgo da Cafa delRey,Cavaileiro daOrde de Chrift o,& Alcaide rnór de Villa-
pouca de Aguiar 5 tem fuas cafas annexas ao Morgado na ruft de S.Maria.
Ó Morgado , que inflituío Gonçalo Annes, Conego da Real Collegiada
de N. Senhora da Oliveira, das fuas herdades de Segade, que annexou á Capel-
la do Sacramento da rnefma Collegiada , que poffue hoje o mefmo Filippe de
Soufa de Carvalho. ^ .
O Morgado de Ayrão junto a cuimaraens, que inflituío Fernão de Soufa
com Capella no Cap itulo do Mofteiro dcS- Domingos da rnefma Villa , deque
he hoje adminiftrador o Conde de Avintes.
O Morgado, que inftituío Simão de Mello do Confelho deiRey com Ca-
pella do Deícendimento da Cruz no Mofteiro de S. Francifco de Guimarães,
de que foy adminiflrador Dom Jorge Mafçarenhas,&até o anno de 1691- lua
filha Dona Jeronyma Freira no Mofteiro da Elperança em Lisboa & eftá hoje
de poífe delle Dom Fradique de Menezes , ác corre demanda com Francifco
Freire de Andrade & Soufafobrea fucceífaõ delle-
O Morgado dos Manoeis,&Vilhenas , que inftituío Dona Branca de Vi-
lhena Manoel com a Capella mór do Mofteiro de S. Domingos de Guimaraens,
de que hc hoje adminiftrador o Conde de Unhão.
j O Morgado dos Carvalhos, que Inftituío o Doutor Diogo Lopes de Car-
valho Defembargador do Paço, que por não cafar, deixou nomeado nelle a feu
fobrinho o Doutor Gafpar de Carvalho, Chançarel mór do Reyno , teftamen-
te:ro deiRey Dom João o Terce iro, que lhe mandou a macieira dè Evano, com
• • que
DA COROGRAftA PORTUGUEZA, n
que forrou as cafas dofeu Morgado,tão magcftofas, como nobres , com huma
torre de amey as íituada no terreiro da Mifericordia, que annexou à fua Capel-
la de S. Antonio no Mofteirode S. Francifco deGuimaraens. He hoje admini-
ftrador delle Gonçalo Lopes de Carvalho CaftroSt Camões , Moço fidalgo
daCafa delRey, Cavalleiro do Habito de Chrifto, fenhor dos Coutos de Aba-
dim, St Negrelos, aonde tem jurifdição no eivei ,& crime > & he também admi-
niftrador do Morgado dos Camoés emEvora.
O Morgado, que inftituío Dom Manoel AíFonfo da Guerra, Bifpo de Ca-
bo verde, de que he hoje adminiftrador Manoel Velho do Couto, por caiar cò
Briana da Guerra adminiftradora delle: não tem Capella, fenão obrigação de
allumiar huma alampada diante daimagem de N. Senhora da Oliveira: tem ca-
fas na rua dos Fornos.
O Morgado, que inftituío o Licenciado Antonio Jorge da Guerra, com
Capella de N- Senhora da Embaixada no Mofteiro de São Francifco de Guima-
raens. He hoje adminiftrador delle João Machado Fagundes morador na Ci-
dade de Braga: tem cafas na rua do Póftigo.
O Morgado, que inftituío Fernão Martins de Almeida na fua quintá do
Pinheiro, fita na freguefia do Salvador do Pinheiro , com Capella deNoííò Se-
nhor crucificado no Mofteiro de S. Francifco deGuimaraens, indo da Capella
mor para à fua Sancriftia,dequehe hoje adminiftrador delia Gonçalo Peixoto
da Sylva Macedo St Almeyda, fiçlalgo da Cafa delRey, Sc Cavalleiro do Habito
de Chrifto, Donatário das terras de Penafiel, St Soufa , por defeendente dos
fenhores da Calçada, A dais móres defteReyno; como também he adminiftra-
dor do Morgado dos Macedos de Alenquer,com a protecção do Mofteiro das
Freiras da mefma Villa, com lugares delle de propriedade; o qual também he
adminiftrador dos Morgados da Taipa em Lamego, do Morgado do Juizo jun-
to a Marialva,do de Folladaens,St Pereira junto a C idade deV ifeu,& do de Ca-
medes, & honra de Lamaçaes junto da mefma Cidade i tem fuas cafas na rua
efeura do Morgado do Pinheiro. • • #
O Morgado,que inftituío Francifca da Sylva cóm Capella dos Santos
Martyres de Marrocos no Mofteiro de S-Francifco de Guimaraèns, de que he
hoje feu adminiftrador Antonio de Soufa Monte Negro.
O Morgado, que inftituío Pedro Alvarez de Almada, Cavalleiro da Gor-
rotea de Inglaterra no anno de 1507. com Capella de Noífo Senhor crucifica-
do da par te do Euangelho no Convento de São Francifco de Guimaraèns, com
Miífa quotidiana,com fuas cafas,cóm torres no Rocio da Tulha, de que he ho-
je adminiftrador feu defeendente Miguel Leitão de Almada.
O Morgado, que inftituío Gil Lourenço de Miranda, Efcrivão da Purida-
de delRey Dom João o Primeiro, Alcayde mor de Miranda do Douro , de que
tomouo appellido, que ficou a feus defeendentes com cafa, & torre na rua das
Flores, que feus defeendentes deixàrão arruinar , & perder as honras, que o
mefmo Rey lhe tinha concedido; porque tinhão eftas cafas à fua porta duas co-
lunas de mármore prezas de huma parte à outra com huma cadea de ferro , cõ
privilegio, que toda a peííòa,que fugindo à juftiça por qualquer crime,exceptos
os das Mageftades divina, St humana, fe recolheífe dentro da dita cadea , ou fe
pegaíTe a ellâ, ficalfe acoutada, St não poderia fer preza ; Sc que todas as vezes
quehouvefie morte de Rey> fe lhe quebraífe hum efeudo à porta; Sc quando foí-
fe a açoutar , ou a padecer morte natural qualquer culpado , fe lhe não déífe
pregão à vifta dacafa; Sc todas as danças, que na prociífaõ do Corpo de Deos
G iij can-
f,i TOMO PRIMEIRO
cantaflem, & bailaíTem, o fizcíTcm à fua porta , ainda que por eUanáopaflafle »
dita prociffaó. Todas eítas honras, liberdades, & privilégios deixou perc cr
o detcuido de fetis defcendentes, & ainda a pedra da mefma cala vende ráo para
.-oHofpital novo da Mifericordia, tendo a mayor parte de masrçndas no ter-
mo daquella Villa. He hoje admimítrador deite Morgaao, que fe chama de S,
Miguel, feu defcendente João Pereira do Lago.
O Morgado , que mitituío Antonio Machado de Villasboas com Capella
na Collegiada de Bar cellos, de que he hoje feu adminiftrador Pedro Machado
de Miranda,fidalgo da Cafa de Sua Mageítade, côm cafas na rua de Domes.
O Morgado, que inítituío o Doutor Jorge do Valle Vieira, Arcediago fe
Fonte Arcada, nomeado Bilpo de Angola, que não quiz aceitar, com lua lepub
tura na Igreja Collegiada de Guimaraens com obrigação de Miífas noOratoi lo
da Camara. He hoje adminillrador delle Manoel Pereira de Azevedo Vieyra,
fidalgoda Cafa delRey, como também he adminiítrador do Morgado de Alva-
res: tem fua cafa na Praça mayor.
O Morgado de Sezirn, que inítituío Aífonfo Vafques Peixoto cm i"-dç
Dezembro de 1+51> comcafas nobres,& Capella unida a clias na lua quinta
de Sezim hum quarto delegoa junto a Guimaraens para o Poente : he hoje ad-
miniítrador delle feu defcendente Dionyfio do Amaral Freitas &Barbola, Ca-
valleiro do Habito de Chriíto: tem cafas na rua da Infcíta, aonde vive, cõ íer-
ventia para oterreiro das Freiras dcS-Clara. _
O Morgado , que inítituío Alvaro Gonçalves deFreitas com Capella de
S. Braz no cíauítro da Collegiada de Guimaraens , de que também he adminií-
trador o mefmo Dionyfio do Amaral Freitas £c Barbofa-
A Capella da Cafa nova no Concelho de Cabeceiras de Balto, Comarca de
Guimaraens, que inítituío Aífonfo deFreitas , de que também he adminiít ra-
dor o meímo Dionyfio do Amara! Freitas & Barbofa.
O Morgado, q inítituío o Doutor Gonçalo de Faria, que tnorreo Dcíerm
barmdor tib Porto fem geração , & deixou nomeado nclle a feu fobr inho João
de Faria deAndrade, Cavalleiro do Habito de Chriífo. H e hoje admimítra-
dor delle feu filho Bertholameu de Faria & Andrade, com cafas na rua nova do
í]UCV
OMoryado, que inftituio Gonçalo Pinto, cujos defcendentes vivem hoje
na índia , & correo muitos annos com a adminiftração delle a Irmandade da
Miíericordia defta Vília; tem fuas cafas nobres na rua de S- Maria- _
O Morgado, que inftituio o Doutor Ruy comes Gohas , que deixou no.
meado nelle a feu fobrinho o Doutor João de Guimaraens, Defembargador dos
Aacrravos em Lisboa, Deputado da Mefa da Coní ciência, Enviado a Suécia, 8c
Olanda, fidalgo da Cafa Real3 8c Commendador de Caparrofa, que por não ter
filhos de fua mulher Dona Maria dos Guimaraens, avmculou também feus bes,
que erao muitos.? ao iuefrno Morgado^ & Capella do nome de jefus com tribu-
na para as íuas cafas nobres na rua dos Fornos > em que vive feu parente Ma-
noel Peixoto dos Guimaraens^ fidalgo da Cafa delRey.? & Cavalleiro do Habito
de Chrifto,adminiftrador delle- ' • . .
O Morgado, que inftituio Manoel de Moura Coutinho,de que hoje he ad
miniftrador Nicolaode Arrechcla Lebrão 8c Almeida: tem cafas na rua Cab
deiroa,em que vive- _' -
O Morgado, que inftituio Bernardo do Amaral & Caftellobrancõ, fidalgo
da Cafa do Senhor Dom Duarte,filho delRey Dom Manoel, feu teftamenteiro,
com fua mulher Dona Paveia da Sylva a 27.de Janeiro de i6cd. Hehoje ad-
miniílrador delle feu defcendente Dom Antonio do Amaral 8c Cafíellobranco,
com cafas na rua dos Fornos, aonde vive nobremente.
O Morgado, que inftituio Thomas Pereira do Lago, Abbade do Salvador
de Real, Concelho de Villa meã, com Capella de N. Senhora da Conceição,com
tribuna para as fuas nobres, 8c mageftoias cafas na quinta do Barrozão fituada
IX) Concelho de Cabeceiras de Bafto, que nomeou em feu cunhado João Rabeb
lo Leite,fidalgo da Cafa delRey, 8cCavalleiro doHabito deChnfto. He hoje
adminiílrador delle Antonio Leite Pereira, fidalgo da Cafa de Sua Mageftade ,
8c Cavalleiro do Habito de Chrifto, defcendente de João Rabello Leite , com
cafas na rua de S. Luzia. i . ^
O Vinculo, que inftituio Domingos Pereira, Abbade dcLíturaosnoCo
celho
I
8o TOMO PRIMEIRO /
celho de Monte longo, que nomeou em feu Íobrinho Jofeph Pereira Leite, que
he hoje adminiftrador delle, Sc Abbade da mefma Igreja , com cafas na rua c.e
O Morgado, que inftituítão Pedro Víeira da Maya , & lua mulher ornes
Lopes de Carvalho, com Capella de U. Senhora noclauitro do Convento dtó
Francifco de Gu-imaraens , aonde tem nobres jazigos ;& por não rerenituhosi,
onomeàrao emleufobtmho Pedro Vieira da Maya, que hoje o poífue, coimei
fas, em que vive na rua dobado. .
O Morgado, que inftituío João do Valle Peixoto no termo de Guimarães,
que por não terem defceiíderaèS, nomeou nelle lua íóbrinha DohaViolãtc, niu-
' lher de Dom Luis de Noronha Monteiro mor do Duque de Bragança, & Ven-
dor dcfuá Cafa>8t depois Capitão da Guarda delRey Dom João o Quátro y^ne
por não lhe ficar defcendencia, ficou com adminiítraçãó deite Morgado'IJàwà
joanna de Lacerda, Freyra noMoíteiro de S-Clara de Guimaraens,que era uy
mã da í obre dita Dona Violante; & por morte deftaFreiratem hoje a adrnmd-
tracãddelle Francifco de Magalliaens de Sòuta, que vive em Villa Rcah • ••
J
Eftesfaõ os SolaresiCafeôt Morgados, que os Antigas moradores, da
Villadè ouhíí&raerts inftituirãonella, 3cem icu termo,em que lemoltra áltia
muita antiguidade, nobreza, 5c fidalguia, donde ífc communicou por todas as
mats CMadesyí* Villas ddrc-Reyno, quedclktiràrão o efmalte pdra illufrraí
rem o ouro de luas famílias.
"<Cf ' ) • ■ V ' - > A ' ' 1 4. J l . # r í *
úmmm-mrnmm
• CAP. XVIL
t- . >S \ y . . . . KIO^. CVIflZ 3>|
ASfim como o Sol do Oriente efpalha, & reparte pelo mundo feus rayos,cô
que o allumea : afíím ele a iliuftre Villa cm todos os feculos repamo por
ellefeus filhos, para que em todas as faculdadesf eí plandeceííem, & como Soes
apartaíTem delle as efcuridàdes, com que eftava manchado dos inimigos da e
de Chrifto,extirpando herefías com a fantidade , dando exemplo com a peni.
tencia, para que leu fan to cantinho feja continuado deBemaventuraaos , ex-
plicando com fuãs letras nas cadeiras das Univerfidades a [agrada Theologian
enfinahdo o verdadeiro camitiho da Fer&: nas Leys a redhdao da Jultiça, para
que feus Miniftros não faltem ao ferviço de Deos, & de feu Rey com a boa ad
íniniftração deUa. • ..... ~ ^ -
Foy o primeiro Santo natural defta V ília o Papa S. Damafo, como o can-
tão duas Igrejas Catherines em Portugal: he huma a Igreja de Braga Primaz
das Efpanhas, & outra a de Evòra; & aflim o dizem, & vemos nos Breviários d c
ambasi Na Igrejàde Evctfa ha hum livto antigo, que o faz deOuimaracns , a
qual allega o Doutor André de Rezende na Epiftola a Kebedo Conegode JTq-
ledo para elte propolito,ôc prefere-o a Onuphrio,qiiê ofazEgitanenfe ; & mais
he de notar, que eltedoutiíTimo Varão diz no lugar allegado, qucGuimâraens
antigamente fora Cidade, & diz por eftas-palavras i Ifitcr Vtjfella, & Avi cofr
° • fluentes
Sa TOMO PRIMEIRO
fluentes Vtmaranenfts eftcivitas Saneii Damaft Pontificis quondamPatria : quer
dizer: Entre as correntes do rio Viífella,& Aveeità a Cidade de Guimaraens,
patna antigamente do Santo Papa Damafo- Nefta opinião acho eu hum fun-
damento, que muito corrobora a minha^ aonde no principio delta obra tratey
da antiguidade de Guimaraens, dizendo a ue houve primeira^, & fegunda do
mefaio nome/com que aqui íe moítra queS. Damalo foy natural da primeira
Guimaraens, que teve o nome de Cidade, & não foy da fegunda ,* nem o podia
fcr.o que fe aíhrma das palavras, quondam tat na; donde fc infere que Guima-
raens teve duas povoaçoens. • .
Baítavão eftas tresopinioens para que os filhos de Guimaraens tivellem
cita ventura poriemduvida, quanto mais queGafpar Barreiros , Conego de
Évora nâfua Corografia, Titulo de Madrid , Vazeo, & Morales affirmão,que
S. Damafo fora natural de Guimaraens, & confirma todas eltâs opinions por
verdadeiras (quando.nellas houvera duvida) oPadreMeltre frey f ílippede
la Gandara no feu livro intitulado: Armas, y 1 riunfos de los lujos de Gahzia,
no capitulo 17. num- 3 -por eftas palavras: Pujo fu Corte él.^tnde 7). Ben tu
que en la muy noble Villa de Guimaraens, l anada de los AWgUos Araduça, clartjfi-
ma (fegun la mas fana opinion ) del gran Pontífice S. Damafo- Nefte Author
achamos que a mais provável opinião entre os Efpanhoes era , que efte Santo
foy natural de Guiitaraens, & da V illa velha 3 <kçomoelles opertendião para
fi querendo que foífc leu natural,he teftemunha contra producentcm-
• Dom Luis de Soufa eftando por Embaixador em Roma, donde veyo para
Arcebifpo de Braga, diife, indo de vifita a Guimaraens , por fua cunojidade
fora ver naqueila Curia o Catalogo dos Pontifices, & que nelle achara o noíTo
S. Damafo nomeado por natural de Guimaraens, & afíim fc manifeftaya no lu-
gar da fua fepultura, q também vira, & juntamente a d3 mãy, & de húa irmã def-
te Santo Pontífice. Hoje provão evidentemente efta opinião dous Authorés
Caftelhanos muito doutos, Dõ G^F1" lbanes Marquez de Mondecar nas Dif.
fertaciones Ecclcíiafticas,8cD.NicQlasna Biblioteca Hifpanica, que deu a luz
1
0 Cardeal Aguirre. '' . . _ .
Foy efte Santo hum dos mayores, que afliftirao na Cadeira Pontifical, con-
temporâneo de S. Jeronymo, & S. Ambroíio, & a elle 1 e deve , & a eiiesdous
Santos a inftituição do Breviário, & Horas Canónicas , como diz Marcello
Francolino no livro, que intitulou,doTempo das Horas Canónicas cap. 13. n.
1 f. aonde diz,que S. Damafo efereveo a S.Jeronymo,q lhe mandaffe o mododa
Pfalmodia dos Gregos, & q elle lhe mandou o Pfalterio dividido em fete dias
da fomana, para que cada hum dos dias tiveífe feunumerode Pfalmos ; & que
por efta ordem de mandado de Saõ Damafo fe cante agora os Pfalmos em
todas as Igrejas; para o que allega efte Author huma Epiftola de S. Damafo ci-
crita a S.]eronymo,que anda no primeiro tomo dos Concílios,&_do mefmo pa-
recer he Polidoro Virgilio liv-ó-cap. 2 .de Inventories rerum,& oThelouro
Sacerdotal parte tit. de OflicijsDivihis, cap. 5.
Não ha duvida, que o cantar Pfalmos, Hvmnos, & Cânticos na Igreja Gre-
ga, & Romana, hecoufa antiquiflima,encomendada por S. Paulo, & exercitada
pelos primeirosChriftãos Alexandrinos,feitos, & mftruidospor S. Marcos,
comoefcrevem Philo,Eufebio, & S. Jeronymo. Depois S. Ignacio terceiro
Bifpode Antiochia, que converfou comos Apoftolos,vio huma vilaode An-
jos, que louvando a Santiflima Trindade, cantavão alternadamente , & então
deu efta fórmadecãtar àfua Igreja,& delia foy para todas as do Oriente, do q
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 83
faõ Authorcs Socrates lib-6- cap. 8- Caífiodoro Hiftorin Tripart. lib-10. cap.
S>. &c. Nicephoro lib-13. cap-8- E diz Caífiodoro na fua Hiítoria lib- ç • cap. 8,.
que Floriano, & Diodoro Monges Anticchenosforão os primeiros que ac-
cõmodàrão aquelle modo de canto alternado de Sànto Ignacio aos Pfalmos de
David 5 & que da Igreja Antiochena, aonde iíto começou, feeítendeo por todo
o mundo. • ., . -
Santo Ambroíio na fua Igreja de Milão fòy o primeiro que no Occidente
in troduzio canto alternado, Hymnos, & Vigílias , como diz Paulinona íua
vida 5 Santo Agoftinho,que entãoeílavaem Milão, odiztambcmno livro 9-
cap.6.& 7. das luas Confiífoens.De forre que SãoDamafo introduzio as Horas
Canónicas; & o Papa Pelagio primeiro obrigou aos Sacerdotes adizellas cada
dia,como fentem Volater-liv. 2 2. in Pelag. Maurol. in Martyr. 27. Augufti,
iGenebrardo,& Pamelio. O Papa Urbano Segundo mãdou rezar o Cilicio de
Noifa Senhora no Cecílio de Claramente no anno de \o96. conforme S- Anto-
nino, Gcnebrardo,& outros , do qual officio foy inftituidor o Cardeal S. Pedro
Damião, ou o primeiro que o fez rezar no Mofteiro, em que vivia,como diz o
Cardeal B aromo. -
Governou eíie Santo Pontífice a Igreja Romana dezoito atinas, tres me-
zes, & oito dias, & mor reo aos 11 -dias de Dezebro no anno do Senhor de 3 8 f 1
tendo oitenta de idadç, imperando Theodofio o mais velho *. foyfepultaciOjun-
tamente com fua m'av,& hiima irmana Via Ardeatina no Templo que elle fun-
dou ; depois forãQtresladadfc fuas relíquias para o deS. Lourenço , que elle
também fez, aonde a Igreja celebra a feita do dia de í ua morte. Fez Notto Se-
nhor por elle muitos milagres, farando enfermos, lançando Demonios, & dan-
do vida a cegos. . _ . : _ _r
Muitos Varoens iníignes em virtude, & letras florecerao no Pontificado
deite Santo, como foy São jeronymo, que o ajudou nas cartas Ecclefiaílicas, &
xefpondia às confultas Synodaes do Oriente, & Occidente* Santo Ambroíio,
Santo A golfinho, Santo Hilário, São Baíilio., São Gregorio Nazianzeno , São
Petronio, SantoEufebioBifpo Vercelleuíe , São Martinho Btípo Turoneníe,
S. Amphilôquio Bifpo, S. OnuphriO, S. Ephrem Diácono, S. Eulogio Presbyte-
ro, S* Epifânio, S-Cvrillo BiípO de jerufalem, S. Hilarion, S. Macario, &. o Sa-
to Abbade Arfenio Diácono da Igreja Romana , que toy Medre dos filhos do
Emperador Thepdofio, mandado para eíie officio peio mefmo Papa S.Damafo,
como diz Nicephoro na fua Hiítoria Eccleíiaitica liv-i %• cap.23.
No tempo deite Santo Pontífice padecerão as onze mil Virgens o feu glo-
riofo marty rio pela Fé de Chriíto, & guarda da fuá virgindade na Cidade de
Coloniaem Alepianha às mãos da tyrannia dosHunnos a 21. de Outubro do
anno do Senhor de 383. como dizo Martyroiogio Romano, & o Cardeal Ba-
ronio. Finalmente por eftes Santos, & Santas Virgens foy o Pontificado de S.
Damalo gloriofo: & por eílefer o que mais fe aífinalava entre todos na lantida-
de, & delenfa da Fè, lhe chamou o fexto Concilio de Conftantinopla Diamante
da Fé, como diz Caífiodoro Hiítoria T ripart.liv-8.cap. io- & para cm tudo cite
feu feculo fer perfeito, com elle concorrerão quatro excelientes Emperadòres,
que forão joviniano, V alçntiniano, Graciâno, & Theodoíio.
É como erão admiradas no mundo fuas virtudes, & a todo elle fervia de et-
panto a fua fantídade,em muitas partes delle o pertendèrão para Patrão feu,
como foy aVilla de Madrid, a Cidade de Tarragona em Catalunha, & outras,
qup çQm fúteis opinioens o querião roubar a Guimaraens, aonde deíde o dia
84 TOMO PRIMEIRO
de feu gloriofo tráíito o venerao como Patrão, feílejando o feu dia de onze de
Dezembro com huma folemne prociífaõ, quefahe da Real Collegiada com o leu
Cabido,, a que affiíle a Camara , Miniítros , & povo , &vãoá fua Igreja,
& fe recolhem outra vez na mefma Collegiada, & naquelle território reza o Êc-
clcfiaílicoo feu Officio Divino com Oitavario,como he eílylo.
Nam fe pôde duvidar que o grande Rey Dom Affonfo HenrRjues foy na-
tural de Guimarães,& que da primeira hora de feunafcimetoatê o ultimo bo-
cejo de fua vida íe viraõ em todo o difcurfo delia obrasíinaes de fantidade,&
depois atèhoje húa vulgar opinião entre toda a Chriílandade de Santo ,& por
eífe tido, & conhecido,como 1'evè da Chronica dos Conegos Regrantes de San-
to Agoíiinho part- 2. liv- 9. cap- 31 • ufque ad finem , & da Terceira Parte da
Monarchia Luíitana.
Outro Varaò Santo natural deGuimaraens fíoreceo, & morreo na índia
fia Cafaprofeffa dos Padres da Companhia do Bom ]efus de Goa no anno de
164.5- chamado o Irmão Pedro de Bailo, Coadjutor temporal da mefmà Com-
panhia, como confta de fua vida efcrita pelo Padre Fernão de Qneiròs Religio-
fo da mefma Companhia, em que fe manifeíl ão fuas virtudes, & os muitos mi-
lagres, que Noífo Senhor obrou por ellas. Foy eíie V arão Santo filho de An-
tonio Machado Barbofa, & de fua mulher Fílippa de Moura Peixota , originá-
rios da Villa de Guimaraens, & moradores no Concelho de Cabeceiras de Baf-
to, Comarca da mefma Villa, em huma quinta nobre, & antiga, que chamaõ do
Sobrado, fita na freguefia de Santa Senhorinha, divididas huma da outra com
o feu pequeno rio, & ponte de madeira: he cafa nobre , & bem conhecida pela
antiga nobreza de feus poífuidores : nella nafceo o Jrmaõ Pedro de Bailo nó
anno de 1570. com taes íinaes de fantidadenos tenros annos de fua infância,
que por onde os outros Santos acabaõ o curfo dos favores celeíliaes na prefen-
tevida, começou elle tam favorecido com mimos , & regalos do Ceo, comô
perfeguido,& vexado do inferno; que he caufa porque em huma,& outra con-
íideraçãofe via perplexo o difcurfo de muitos, mas no noífo Irmaõ Pedro de
Bailo fempre per fever ou aconílancia.
Sendo ainda de tenra idade , quenaôfabia conhecer as mercês de Deos
por Angulares, fe enfayavanas villas do Ceo a defprezar as da terra ; & coníi-
derando que as vifoens, que Deos lhe moílrava, eraõ comuas , as publicava,
porlheparecer que todos viaõ,&ouviaõ o que Deos lhe moílrava,& dizia, co-
mo melhor fe pode ver da fua vida-
Nam he tençaõ minha querer roubar aos Francezes o honrado nafcimento
de S-Guálter, para o fazer natural de Guimaraens pelo feu tranfito: mas co-
mo elle foy compatriota de feus moradores tantos annos na vida , & ainda de-
pois de morto, nam quiz delles apartar feusoifos: motivos faõ que me defcul-
pao para*3 nomear por Santodaquella Villa , aonde a fua dilatada affiílencia
entre elles adquirio em feus coraçoens tanto amor, adoraçocns, & honras,que
em todos os feculos,& ainda neíle he nomeado por feu Santo; & affim honre-fe
muito embora França do feu nafcimento, que Guimaraens com a gloria do di-
vino Thefouro de feus oíTos,& cabellos logra as prerogativas de feu , & as
honras de fua companhia, que nos feilejos do cultó Divino, com que o veneraõ
feus naturaes, moflram os affeêlos de o fervirem, agradecidos aos continuados
favores de feus milagres.
Nam quizera que o Beato Fr. Lourenço Mendes tenha queixa de mim de
o não nomear por natural deGuimaraens; pois] para ir viver, & morrer na-
quella
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 8^
quellâ Villa, fahio da fua patria nos têrosannos de fua idade,& pedindo o habi-
to do Patriarca S» Domingos naquelle feuCoiívento , nelleviveotamfanta-
mente todd o mais reftante de fua vida, que porfuas virtudes fez Noffo Se-
nhor em feus moradores, & em outras muitas partes grandes milagres, como
já tenho referido ;& para honra daquella Villa, & Convento , aonde muitos
annos foy morador, petmittio Deos queneUe lhe cntregaffe fua alma, & alli
deixaíTe feusoffos para confolaçaõ de feus devotos, & teftcmunho verdadeiro
de a efcolher por patria fua, que como tal o honra, & venera» ^
Atègoranao tenhodadonoticiado milagrofo Sao Gonçalo, q Vulgatmetc
chamáo £ Amarante, fendo q fc naquelle Convento tem feu corpo fepultado,
o feu nafcimento foy junto a Guimaraens na ribeira de Viiella, huma legoa dl*
ft ante daquella Villa, para que o poíTamos com mais razao nomear delia , que
lhe deu o nafcimento, do que donde teve a íepultura. ... ,
Por tradicaõ antiga fe tem que efte Santo foy Religiofo da Ordem de S.
Domingos,& 5 antes de entrar nella fervira a hú Arcebifpo de Braga, q o pro-
veo na Abbadia da Igreja de S. Payo de Riba de Viffella, huma legoa deuuima-
raens, & que nafcèra em hum cafal, que chamao da Arnconha, fito na fregueíia
do Salvador de Tagilde , que parte com a de S» Payo. Dizem mais que foy a
Roma,& dahi a jer ufalem , deixando encarregado o Curado da fua Igreja a
hum lob»inho, & que tornando dahia quatorze annos, o dito fobrinho o nam
quizera recolher, & que vendofe desfavorecido, fe refolvera entrar em huma
Religião; & fendolhe revelado que foffe naquella, em que as Horas Canónicas
comecatfem, & acabafiem por Ave Maria, fe foy ao Convento de S. Domingos
deGuimaraens, aonde ackra que os Officios Divinos fe faziao na forma da
revelação, & que ahi recebera o habito, fendo Prior S. Frey Pedro Gonçalves
Tdll
E por fe não faber o tempo, em que S» Gonçalo foy Abbade, nem o nome do
ArcebiTpo, que o proveo no beneficio de S Payo, deu motivo aos Religiofos de
S. Bento, para affirmarem que foraFrade da fua Ordem,mandando o pintar cõ
o feu habito, & moverem demanda aos Frades de S- Domingos , dizend o que
tomàra o habitonoMofteirodeS- Maria do Pombeiro, que eira da caía, onde
nafceo,huma pequena legoa. E dizem mais , que naquelle Morteiro do i om-
beiro havia huma Kalenda, em que fè fazia commemoração do Santo , & que
fora Frade da fua Ordem , & que a dita Kalenda defapparecera depois que o
Morteiro de S. Gonçalo fora dado à Ordem de S. Domingos, que coita ler da-
do no anno de i y4.0. como refere o Padre Fr. Fernando de Caftíiho na Hiítorid
da Ordem de S« Domingos part, i.liv.». cap61 • • t. ,
Dizem mais, que S.Gonçalo não podia receber o.habito no Convento de
Guimaraens da mão de S. Frey Pedro Gonçalves Telmo ; porque quando efte
Convento fe fundou, havia muitos annos que era morto S. Frey Pedro Gon-
çalves, por falecer no de 1146. & fe fundar o Convento de S. Domingos no de
12 70. como acima fica dito- Trazem mais da ponte de Amarante ter as Annas
Rcaes fem caftellos , queElRey DomMonfoTerceiroaccrefcentou às ditas
Armas por caufa do Rey no do Algarve, queElRey Dõ Affonfo Oitavo de Caf-
telladeuemdote ao dito Rey Dom Affonfo o Terceiro com Dona Brites lua
filha ;& trazem mais outras coufasfobre a dita ponte fermais antiga que São
Gonçalo, referidas pelo Padre Frey Bernardo de Braga da fua Ordem, grande
inverti aador de antiguidades» Tambem dizem que fe S- Gonçalo fora da Or
dem de°S. Domingos, houverão os Frades do Convento de Guimaraens procu-
86 TOMO P R. I M E I, R. O >: ( • / (
rar de o levarem para elle, o que namfizerão, nem conftápertenderem,nem quç
o nomeaffem por Frade feu falvo depois que houver ao^p dito Conycnto de
Amarante. vir; i >. f tm.fb'; * , 1
A iftorefpondem os-FradesDominiços^que de tempo immemorial a efta
parte fempre S- Gonçalo foy -tido, St nomeado por Santo ck fua Ordem , aífim
nefta Comarca de Entre Douro & Minho, como na índia <, & em outras partes
daChriftandade, aonde dsnaturaesdeGuimaraens levarão fua imagem vefti-
da no habito de S. Domingos, & tem NoíTo Senhor por féus mereci meafots feito
grandes milagres -,St o Conego Cairafco. infigne Poeta na Ilha da GraÒ Çanaria
fez muitos poemas em louvor dcíle Santo. Pois que diremos do. milagre da po-
te, em que o Santo acudio no anno de 1400» veil ido no habito de S. Domingos,
a defviar hum grande madeiro, que eftava ãtraveflado nos olhaes da ponte, St a
tinha pofto em perigo de fe arrumar por caufa de huma glande enchente do rio
Tamega, St defviandoocôm o cajadmho, com que o pintão , fe tornou a reco-
lher no feu Convento?
Na Cidade de Lisboanà riia Nova eíiá humaErmida de N.Senhora da Oli-
veira, que mandàram fazer Pedro Eft eves, St fua mulher Clara Giraldes,ambos
naturaes de Guimaraens > St ahi eftão fepultados fobre o chafariz dos Cavai-
los , aífim chamado por dousdc bronze , que ahi eftavaõ, como diz Duarte
Nunes de Leaõ na Chronica delRey DomFernando foi. *05 • Efta Srmida fe
fundou por devoção da Igreja Collegiada de NoíTa Senhora da Oliveira de Gui-
maraens, St nella fe fez hum Altar a S. Gonçalo com o habito de S- Domingos \
fuccedeo cahir hum menino no cano real, que paffa pela dita Cidade j & por
fer em tempo de Inverno, foy levado éom-a força da agua ao mar, aonde vaõ dar
as aguas do dito cano, St là íãhio fem Ifefão alguma 3 8t perguntado como eíca-
pára, refpondeo, que o Fradinho, que eftà em Noífa Senhora da Oliveira , ò
guardàra, St tirara fóra do rio 3 St lendolhe moftraciona dita Ermida> diffe que
aquclle era. , -9
Para o tempo, em que efte Santo viveo, ha muitas conjecturas i que foy
poucos annos depois da fundaçam do dito Cõvento de Guimaraens, St que de-
via, ter feu pav alguma razaõ de parenteíco com o Meftre Pedro Juliano , que
elegeo o Cabido de Braga por feu Arcebifpo no principio do anno de 1172. &
que vagando a dita Igreja de S. Payo perto "da caía onde nafcèra, lha devia nú-
dar pedir, St facilmente o proveria nella, Sc lhe mandaria as letras , St depois
de faber que era feito Papa, determinaria de o ir viíitar , St haver delle outro
beneficio de mais importância , St quando láchegaffe o devia achar jà r
falecido; & com efte defgofto tendovifitadoos lugares fantos de Roma , fc
iriaajerufalem, St gaftanalá osquatorze annos, que efteve aufente da fua
Igreja,defde oanrio de 1277. atè o de 1290. em q tornou,St fov do fobririho
lançado fóra, St efcandalizado, St no dito anno de 1290. iria pedir o habito ao
Convento de S. Domingos de Guimaraens.
Naõ podedo S. Gonçalo aceitar o habito da maõ de S. F ríPedro Gonçalves,o
poderia aceitar de S.Frey Lourenço Mendez, ou de outro algum Religiofo; &
fe foy a Viterbo pelas novas que teve dè fer eleito Papa feu parente o Meftre
Pedro Juliao, gaftandopor lá osquatorze annos, devia tornar para a fua Igre-
ja no anno de 1290. em que fe podia andar na obra do Cõvento, que fe mu-
dou: St dahi iria para a dita Ermida de Amarante prègar à gétc daquella Co-
marca a palavra de Deos, como faziaõ os mais Fraaes, conforme a inftituiçaõ
da Ordem. -
Tinha-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 87
Tinha, fegundo ouVi, S. Gonçalo razaõde pafentcfco com os Motas,,que
o Conde Dom Pedrodiz morarem.no Concelho de Cerolico deBaflo , que
parte com o termo da Villa de Amarante, que forao os que fundaram o Mojlei-
ro de Gundar, que eflá meyalegoa alem de Amarante, de que ainda na Cidade
do Porto ha defeédentes ;& do dito Nobiliário cõílano titulo 60,dos de Gun-
dar, que Ruy Gomes da Mota foy filho de Dom MemGundar, Alcayde mor de
Cerolico de Balio,&deviaó tomar elle appeUido da Mota,de huma quinta cha-
mada da Mota,fita na fteguefia de S.Miguel de Fervença do dito Concelho de
Cerolico de Balio. E confia da geraçam dos Barbofas , que anda no.livro pe-
oueno das geraçoens às foi. 2. que Gonçalo Fernandes de Barbofa teve tres
filhos, & hum delles fe chamouFernaó Gonçalves Barbofa,& os dous tomarao
o apelidodosMotas,queforaóJoaódaMota,&AlvarodaMota : demodo
88 TOMO PRIMEIRO;
ta , & de Alda Nunes de Meireles filha de Joaò de Chacim Commçndador da
Ordem de Chrifto,& Senhor de Chacim. . T
Efte milagre da entrega , que fe fez defta arca aó Santo Frey Lourenço
Mendes , efíava pintado na parede do Moíleiro entre os Altares de Noíia Se-
nhora do Rofario,õc de Saõ Gonçalo; & devendo os Religiofos do dito Moítei-
roconfervar eíla memoria, &c nam confentir que fc apagaíTe , a fizeraõ cobrir
de cal ao tempo,que fe apincelouo Molleiro-
No lugar, aonde agora eílá o ret abolo de S. Frey Pedro Gonçalves., ei te-
ve fepultacío eíte Santo, & tinha no tumulo huns buracos,pelos quaes_tocavaõ
contas, & outras coufas de devoção, & íc cobrio o dito lugar com íe fazer alli
Altar, & retabolo, deixando por memoria pintado no banco do retabolo a ima-
gem do Santo deitada ao comprido, com eíte verfo, que diz afíim:
JHic fita Laurenú Mendes funt ofja tíeatu
Nam ferà razaõ que neftelugar deixede nomear a devota Ifabel de Saõ Pe-
dro, porque quem fov tam penitente na-vida, permiteDeos íeja bemaventura4
da na gloria. Foy eíla ferya do Senhor natural de Guimaraens , que luppoílo
filha áe pays humildes, foy muy nobre nas virtudes ; fora moradora na Praça
• do peixe, & tam amiga de fervir a Deos , que guiada do Divino Efpir ito fe re-
folveoá ir vifitaras EítaçoensfantasdeRoma,&os lugares fantos de Jerufa-
lem. Tanto que chegou a Roma, que fov no anno de 1599. áhi pedio o habito
da Venerável Ordem Terceira de Saõ Francifco,& veftida de hum tofeo burel
profe-Juio a jornada, que tinha deftinado, donde voltou à fua terra, trazendo
de ofterta a NoíTa Senhora da Oliveira hua riquifíima Cruz de pao de reliquias,
que fe venera no feu Santuário- Nameima Villa viveo ornais reftante de lua
vida, fazendofe muy conhecida por fuas grandes penitencias, & virtudes, em
qug fempre perfeverou, ate entregar íuaditofa alma nas mifericordiofas maos
do Senhor, jaz fepultada na,Igreja de NoíTa Senhora da Oliveira,& í c cor, fer V á
inda hoje fua fama com opinião de Santa, como cõfta daHiftoria Sei afica part»
i.liv.i.fol.iRj» . < , ■
Da Villa de Guimarães,podemos dizer,era natural,pelos muitos annos q neJla
viveo,ã fenhora 13. Cõitaça de Noronha, fegúdamulher do Senhor Dõ Affonlo
primeiro Duque de Bragãça, a qual fe entregou tanto ao ferviço de Deos, q naõ
1
faltado às obrigaçoensdefeuEftado,foube disfarçar com o mageítolo das
0 galas o penitete dos cilícios; & quando no mundo apparecia com as regalias de
Princcza, no Ceò fe habilitava para os prémios de virtuofa» Chegou o tempo,
em q em fua paciência foportou a morte de feu marido na fua Villa de Barcel-
los, donde acabadas de fazer as devidas honras funeraes,fe partio para a Villa
de Guimaraens, em que viveo muitos annos em religiofo recolhimento , de-
dicando todas as fahidas de fua çafa para o feu Convento de Saõ Francifco, de
que era Padroeira, & nelle aífiftia aos Officios Divinos, derramando muitas la-
grimas diante das imagens veneradas em feus Altares- Pedio aos feus Religio-
fos lhe lançaífem o habito da Ordem Terceira , emque profeíTou , fazendo
tanta eftimaçaõ delle, que o trazia publico, venerandoo com rigorofas penitc-
cias. _ .
Como efte habito lhe facilitava todos os affos de piedade , curava por
fuas maõs aos enfermos, & a mayor parte de fua fazenda gaftava em os Hofpi-
taes, & pobreza, a quem continuamente eftava foccorrendo com efmolas, com
que parecia mais o feu Palacio Hofpital de pobres, que cafa de Princeza; & para
disfarçar a virtude,cõ que curava a muitos pobres, lhes applicava lavatórios,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZÀ.
& cozimentosdebumaherva,quenafciano territoriocio íeuPalacio , a que
chamavaõ, &chamão indahoje herva daDuqueza Santa,cõ que quafi milagro-
famente faravaõ de muitas enfermidades quantidade de enfermos- • Aílim ricia
de merecimentos faleceono anno de i com vulgar opinião de Santa; foy
fepultado feu corpo na Capella mor de S. Francifco junto aos degraos do Altar
mor; tresladàrão depois os Frades a fepultura para o presbyterio da parte da
Epirtola, aonde eftà a fuaíigura em meyà talha com o habito, & cordão, & tou-
ca íoqueixadaamodode Beatas Terceiras,&naquella pedra fe vè ainda hu bu-
raco, pelo qual com contas, outras coufastocavaõ luas reiiquias; & comcf-
te meirno traje depois de morta appareceo a hum enfermo, que em íua doença a
invocou. Defía penitente Duqueza trata, além de muitos, a Hiítoria Seraíica
foi. 18o. aonde fe referem alguns milagres autenticados no anno de 14.88.
Salvador de Meira Peixoto foy hum Cavalleiro natural de Guimaraens, &
hum dos principaes defta Villa, cafado com Maria Nunes de Carvalho; tiverão
dous filhç>s,hum que morreonas índias de Caftella , para onde fe embarcou
por crimes de homicídio: & outro chamado Joaõ do Valie Peixoto,que morreo
Beneficiado de S-Gens, o qual por morte de feuspays ficou em companhia de
fete irmãs, vivendo todos juntos tam unidos em huma fraternal amizade, que
nam havia entre elles fenaõ huma vontade. Mortooirmaõ , ficàraõ as irmãs
obfervando a mefmâuniaõ, vivendo tam recolhida, &. honcílamente 3 que era
a fuacafa centro de virtudes, & reparo da pobreza,a porta fempre aberta para
a efmola, & charidade, &. as vontades de todas fempre liberaes , para que ne-
nhuma peífoa, que a ellas pediífe, foífe defconfolada ; & como viviaõ em hum
retiro junto ao Morteiro das Capuchas de Santa Ifabel,fahiaõda fua cafa to-
das as manhãs muitos peregrinos,que nas noites nella tinhaõ agafalho, & para
effe effeito tinhão recolhimentos com o melhor commodo , que a fua poflibili-
dade^odft 0jiabit() deTerceiras de S.Francifco; masfólfabel Pei-
xota a mais velha o trazia publico, como gala de leu mayor affeéio. De fua pe-
nitente vida dará boa informação o Padre Frey Francifco do Salvador, Cõmif-
fario dos Terceiros em Lisboa, porque foy feu Padre efpiritual muitos annos
naquella Vília, aonde teve a mefma occupação. Fov muy devota de Noífa Se-
nhora, &todos os Sabbados, fem que o ruim tempo lho impediífe , hiavifitar
defcalça a fua Capella do Monte, que fica diftantehuma grande legoa de fua ca-
ía : todos os dias corria as cafas. do Sacramento , fem faltar aos Ohicios Divi-
nos no Convento do feu Seráfico Patriarcha S- Francil co; & as mais das tardes
com o feubordão, a que chamava companheiro, hia vifitar o Bom Jefus do Cal-
vário. Neftes exercícios,fem faltar à difciplina,& jejum,viveo noventa annos,
& morreo no de 16 8 $ • cõ tal opinião de virtude,que diífe Frey Pedro da Cruz,
feu Padre efpiritual muitos annos,q para lhe dar aabfolvição nas fuas cõfiíioés,
era neceífarid recordar venialidades de outras, que tinha feito ; & comoerta
ferva de Deos entregou a alma ao feu Creador em companhia defteReligiofo,-
excellencias manifefta de fíia morte. . . .
Muitos fogeitos aífim homen s, como mulheres falecerão nefta Villa,que fc
fuas noticias vivem hoje fepultadas com elles, ha N-Senhor de permitir> que o
que obràrao na vida pelo feu amor, ha de fer merecimento para que algum dia
fejão manifeftas fuas virtudes, &fayão debaixo daquellas pedras finaes, que
publiquem a gloria, que eftao poifuindo em fua companhia.
H iij CAP.
9o
TOMO PRIMEIRO
CAP. XVIII.
m
♦
O Primeiro Varão, de q poífo dar noticia, foy Payo Galvão, filho único, &
herdeiro de Pedro Galvão, & de íua mulher Dona Maria Paes , o qual
tocado dos auxilios do Ceo, deixou a cafa de feus pays , & fe meteo Religiofo
noConvento de Santa Marina da Colla de Conegos Regrantes de Santo Agob
tinho pelos annos do Senhor de 1178. em que naquelle tempo era Pjrior delle
o Padre Dom Mendo 5 o qual vendo a viveza, engenho , & virtude do novo
Religiofo, o mandou para a Univerfidade de Paris a eftudar,c©mo era coí! ume
naquelle tempo nos Padres deíla Ordem, por terem naquella Univerfidade Me-
dres feus, que eníinavão as lagradas letras.
Entrou nella o novo Religiofo Dom Payo Galvão em tam boa occafiao,
que lia naquella Univerfidade com grande fama Dom Lothario Conego Re-
grante de Santo Agoítínho do Moíleiro Lateranenfe de Roma, peífoa de muita
qualidade,l& authoridâde dos Condes de Cygnia em Italia, que daquella Uni-
verfidade foy chamado para Cardeal, donde em poucos annos foy Papa,cha-
mado Innocencio Terceiro , o qual era tam afteiçoado a Dom Payo Galvão,
que quando de Roma o mandàrão chamar,para lhe lançarem o Capelio de Car-
deal, o quiz levar em fua companhia ; mas como não tinira licença dfc feu Pre-
lado,nem acabados os feús efludos, fe efcufou,&nao aceitouoque tanto lhe
convinha. „ _ , .
Recebeo Dom Payo Galvão o grao de Meítre deTheologia na Univerfi-
dade de Paris , & querendo ir aRomavifítar feuMeílre o Cardeal Dom Lo-
thario, o não pode confeguir , por fer chamado para, o feu Moíleiro por carta
do feu Prelado. Chegado a elle , foy recebido de feusRelígiofos com grande
«ofto, & alegria de todos, & como nefte tempo a Igreja de Santa Maria de Gui-
maraens ainda era de Conegos de Santo Agoftinho, como diz Eflaço cap. 2 4.
de varias Antiguidades de Portugal, & nella Prior Pedro Amarelo 5 tanto que
fbube que o Meftre Dom PavoGalvao era chegado ao feu Moftciro da Coita,
lhe foy dar as boas vindas, & juntamente aofferecerlhe a dignidade de Meihrc-
efcola, que eftava vaga por morte de Dom Vafeo V ivar, que elle com licença dc
feu Prelado aceitou de boa vontade, & na clauílra daquella Real Collegiada leo
Theologia MoraH que para eftefim fe inftituío a dignidade de Meftre-efcola
nasCollegiadas,&Cathedraes.
Eftando neftaoccupação o Meftre-efcola Dom Payo Galvao, chegarao no-
vas a Portugal que era falecidoo Papa Callifto Terceiro , & que em feulugar
fora eleito a 8. de Janeiro do anno do Senhor de 1198. o Cardeal Dom Lo-
thario Meftre donoífo Dom Payo Galvão, que fe chamou Innocecio Terceiro;
& como nefte tempo reynava em Portugal Dom Sancho o Primeiro, elegeopara
lhe mandar dar obediência ao dito Dom Payo Galvão , por fer Varão perfeito
aílim em letras, conto em authoridade; occupação que elle muito eftimou, tan-
to
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. pi
to por fua regalia, como por ir bçijar o pè a feu Meftre na Cadeira Pontifical:
& dcfpedindofe por carta de todos os Prelados dos Mofteiros da fua Ordem ,
fe partio para Roma, aonde foy bem recebido do Pupa Innocencio Tercéiro,feu
Meftre,quecommuitabcnevolencia,&moftrasde aífeiçãoouyio fua embai-
xada, que lhe foy tão bem aceita , comofe colhe dacartaemrepoftaàdelRey
Dom Sancho,cuja copia relata Brandão na quarta parte da Monarc.Lufit-liv.12
cap. 2i- em que toma o Reyno de Portugal debaixo da protecção da Santa Sc
Apoftolica- .
Pela grande affeição que o Papa Innocencio Terceiro tinha ao noífoDom
Payo, não confentio que elle fe fahiífe de Roma , por lhe fer neceífaria a fàa cõ-
panhia, pelo conhecimento que tinha de fuas muitas letras, & prudência para o
bõ governo da Santa Igreja,& aíTimo fe'/ feu Vice-cancellario,& depois no anno
do Senhor de 1206. na quinta creação deCardcaeso fez Cardeal Diácono do
titulo de Santa Maria in Septifolio, como fe pôde ver emFrey AfFonfo Chacon
no livro dos Summós Pontifices, fallando do Papa Innocencio Terceiro; & de-
pois pelos annos de 1211.0 levantou à dignidade de Presbytero Cardeal de
Santa Cecilia, & no de 1115.0 fez Bii po Albanenfe.
Muito fentio o Cardeal Dom Payo a morte de feu Meíire o Papa Innocen-
cio III. por lhe parecer pararião cõ ella os feus accrefcentametos: mas como os
feus méritos erão tão grandes,nenhum Pontífice poderia fucceder, que fenão
aproveitaífe da fua doutrina, & prudência ; & aífim fuccedeo : porque juntos
os Cardeaes, elegerão em Summo Pontifice a Dõ Cencio, Conego Regrãte La-
teranenfe de nação Romana, aos 18. de Julho de n\6. o qual fechamou Ho-
norio III.& co efta eleição aliviou o nolfo Cardeal em parte o fentimc to da n íor-
tede feu Meftre Innocencio Terceiro, por fer o Papa novamente eleito tãbem
feu amigo particular 5 em tal maneira que o Padre São "Domingos o tomou por
valia,para que omefmoPapa lhe paTaTeaBulla da confirmação da Ordern aos
Pregadores, como aílim.o fez no primeiro anno de feu ?ontincado nella alli-
nou o noífo Cardeal Bifpo Albanenfe com mais dezaíete Cardeaes.
Huma das coufas principaes, que o novo Papa Honorio Terceiro inten-
tou fazer no principio ae feu governo, foy aconquifta da Terra Santa de Jeru-
falem,efcrevendo para iífoatodosos Reys,& Príncipes Chriftãos cartas, em
que os exortava para efta empreza,& para que delia trataífem com boa vonta-
de, paífou a Bulla da Santa Cruzada com notáveis graças, & indulgências para
todos os q ue neft a conquifta fe q uizeffem achar. De grande gofto foyparato-
dos os Príncipes Catholic.os efta refolução do Papa Honorio í erceiro; par-
que de todas as partes da Chriftandadefe ajuntou hum poderofo exercito por
mar,& terra,de que oSummo Pontifice fez General a João Breno,que eftava eley-
to Rey de jerufalem, por fei* na guerra muy experimentado Capitão , & para
efta empreza nomeou por feu Legado Apoftohco ao noífo Cardeal Dom Payo,
por conhecer neile hum defejo ardente de recuperar aquella fanta C idade. O
qnefta guerra fuccedeo fe pode vernaChronica dos Conegos Regrantes de S.
Ágoftinho 2• part.liv. ii-cap.2.
O Doutor Qafpar de Carvalho Chançarel môr do Reyno , do Confelho
delRev Dom João o Terceiro, & feu Embaixador aCaftella a tratar o cafamé-
to da Princeza Dona Maria fua filha comElRey Dom Filippe o Prudente, & tã-
bem teftamenteiro do dito Rey Dom João oTerceiro.
O Doutor Balthalar de Azeredo, Defembargador da Supplicação.
O Padre Frey Paulo do V alie da Ordem de São Bento > Meftre na fagrada
Theolo-
BBKRIRI
01 tomo primeiro
Theologia na Univeríidade dc Coimbra, aonde deixou itanta fama,como letra s
^3ra Fcr|^ade Mcfq^taíhamado o Velho^ que morou nas fuas cafas da rua da
Infcfta, com fua Capella de NoíTa Senhora da Graça , acompanhou com grande
difpendio de fua fazenda ao Duque de Bragança Dom Jaimes 11a tomada de Aza-
mor, em que moílrou no valor com que fe portou naquella empreza , no anno
de xç 11a illuflre nobreza de feu langue ; & como bom detenfordaFe de
Chrifto, tanto que chegou de Azamor, fe partio para a índia, aonde procedeo
com tanta valentia noexerciciodas armas;como omanifeftaa Chronica delRey
Don^Manodnocjitulo4^ ^filhodofobredltoFernaõ de Mefquita, acom-
dC 1
Nãoparàrão aquieftes Mefquitas deGuimaraens em publicarem feu no-
me nas acçoens referidas, porque ainda temos a Diogo de Mefquita , filno de
Fernaõ de Mefquita o Velho, que melhor que todos realçou, & eternizou leu
nome: efte paífou à índia, fendo Vifo-Rey Nuno da Cunha,, que o mandou por
Embaixador a hum Rey Mouro; & fendo cativo delRey de Cambava , por
não querer arrenegar, foy pofto na boca de huma peça de artilharia,para verem
fe com o medo da morte o fazia: mas elle conftante fempre na Fè de Jefu Chrif-
to,não fe lhe dava de perder por die a vida ; mas como foy fo para apurarem
fua conftancia, o puzerão a preço para o refgate , em que fe fez muito di pen-
dio: mas fahindo delle matou aElRey de Cãbaya, q era fervor de tres Reynos,
& por efte feito fe acrefcentàraõ às fuas Armas tres coroas, & hum altange,co
diz Diogo do Couto na Década 4. liv-^- cap-p.
Com igual valor continuou o ferviço delRey no mefmo Eftado da índia
feu filho Manoel de Mefquita, que pelo muito quenelle obrou, foy húmidos
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. 97
Capitaens de fama, que no feu tempo militavão; com que por feus grandes fer-
viços foy dei pachado com a fortaleza de Chaul; & não tinha menos opinião de
valor feu irmão Fernão de Mefquita no ferviço delRey Dom Sebaíhão , que o
occ upou muitas vezes em Armadas, & galês ; com que fó deita família dos
Mefquitas deu a Villa de cuimaraens muitos Varoens ílluítresnas armas.
Antonio Pereira da Sylva, fidalgo daCafadelRey , & Morgado rico com
cafas nobres na rua de Santa Maria , acompanhou a EIRey Bom Sebaíhão na
batalha de Alcacere, aonde foy cativo 5 & fendo refgatado, com o zelo de perfe-
guir aos inimigos da Fé de Chriíto, fe embarcou para a Índia , para fervir na-
quella guerra, que os Portuguezes fazião aos Turcos, aonde procedeo como
bom Cavalleiro. , . , r - s ~
No mefmo Eítado da índia íervio muitos annos com grande fatisfaçao
feu filho natural, Salvador Pereira da Sylva, que foy Meítre de Campo em Cei-
lão fendo General Dom jeronymo de Azevedo, & depois foy Capitão mor da
Armada, que foy ao cerco de Malaca, fendo Governador dã índia o Arcebifpo
de Goa Dom Aleixo de Menezes; & neítas occupaçoens fez tantos ferviços a
Deos, como quem no zelo de aumentar fua fanta F e trazia todo o feu cuidado.
Antonio Peixoto de Carvalho fendo moço fidalgo da Cafa delRey, & dei-
xando o feu Morgado da Poufadacom cafas na rua de Val de Donas, com zelo
daFè fe embarcou para a Índia, aonde fervio com tanta fatisfacão como a von-
tade, com que foy movido de fervir a Deos na guerra contra os infiéis , em que
acabou Vy^u^ qU€iargancJ0acafa, & Morgado da Poufada , de
que fez doação a feu irmão para fervir a Deos na guerra contra os Turcos, to.
mou o habito de S.João de Rodes, & nas guerras de Malta exercitou muy bem
o feu valor, para que fua fama ficaífe eternizada entre os Cavalleiros daquella
Ordem, de que foy Commendador.
João de Soufa Alcaforado moço fidalgo da Cafa delRey, deixando fua mu-
lher, & filhos, & o Morgado, & cafa de Villa Pouca, obrigado mais do amor de
Deos, que do da mulher, filhos, & fazenda, fe embarcou para a índia , levando
em fua companhia a feus filhos Manoel de Soufa da Sylva, &Francifco de Soufa
Alcaforado, que fervindolhe de exemplo o valor do pay, o tiveífepara perder a
vida na defenfa da honra de Deos, & na exaltação de feu nome, em que pay , &
filho tanto trabalhàrão,atè por elle entregarem a vida a feus inimigos, & as al-
mas à fua piedade, para que lhe déífe o premio da Gloria, acrefcentando com a
valentia ae fuas façanhas excellencias nas nobrezas de feus defcendentes.
Simão Rabelo de Valadares, que movido do proprio amor de fervir a Deos
nas guerras, que os Portuguezes faziaõ na India a feus inimigos, fe embarcou
para aquellas partes fem licença de feu pay João de Valadares, que vivia na rua
de Santa Maria; & fendo hum dos mais valentes foldados do feu tempo,como o
manifeflou ha efcala de Ceilão, aonde deixando os braços de dentro da mura-
lha, tornou a defcer o corpo morto ao peda efcada , por onde tinha lubido,
entregando a alma a feu Creador.
João Martins, Annadel mor dos Efpingardeiros na Villa de Guimaraens,
fendo fenhor do Morgado do Pinheiro, deixãdo mulher, & filhos, fretou húã
Naoàfua cuíla cõ gente,& armas, & metendofe nella cõfeu irmão Fernão Mar-
tins, feforãp oíferecer a ElRey Dom Affonfo o Quinto, para o acompanharem
na jornada, que fazia a Azamor,& chegando àquella praça obrarão com tanto
valor, & esforço no ferviço de Deos, & de feu Rey',contra os Mouros, que me-
I recerão
98 TOMO PRIMEIRO
recèrão lhes fizéíTem muito grandes merces, & honras, que fervirão de grande
luftre à fua nobreza, & credito a feus aefcendentes.
Sahio de fua cafa da rua de Santa Maria Pedro Coelho com armas, & cavai-
los para acompanhar feu Rey Dom Sebaftião na jornada de Africa S & ficando
cativo naquella batalha, fogeitou a fua paciência à efcravidão dc dous fenhores,
a que fov vendido 5 & experimentando os rigores daquelles infiéis Mauritanos,
a quem íervio com tantos exceífos de caftigos, que a não eft ar muito amparado
do amor dí Deos, & confiante na fua Fè, o podiao obrigar os tormentos, que
padeceo, a negala: mas elle, que antes queria morrer pelo feu amor em todo o
martyrio,quelhedeíTem, fofreo todo o caftigo, que de inflame a inftante lhe
faziãoj& como elle não pode disfarçar fua nobreza pelo modo, que intentou,
com muito trabalho, & difpendio de fua fazenda foy refgatado, para tomar o
Habito de Chrifto, em que foy profeífo , & conhecido por hum dos bons Sol-
dados, que daquellajnfeliz, & fempre chorada batalha efcapàrãocom vida.
Salvador da Cofta & Almada, hum dos authorizados Cavalleiros deGui-
maraens, St morador nã rua nova do Muro, para melhor illuftrar fua nobreza,
nome, & fama, fe embarcou para a índia, aonde fendo Cabo de tres fuftas , que
o Governador Máthias de Albuquerque mandou à Cofta de Ceilão, depois de
peleijarem muitas horas com os Turcos,forão de todo deftroçados,& mortos,
dando primeiro muita perda àquelles Barbaros.
Gregorio da Cofta do Valie, que tinha fua cafa na mefma rua nova do Mu-
ro, tio do referido Salvador da Cofta & Almada, foy Capitão da Cofta por El-
Rey Dom Manoel, & morreo na Indiá cóm grande valor , peleijando com Tur-
cos.
Gafpar Leite Pereira, que teve fua cafa na rua do Cano das gafas, defejan-
do ajudar feus naturaes nas guerras, que na índia fazião áos inimigos da Fe de
Chrifto, fe embarcou no anno de 1 559- &por feu valor foy provido no cargo
de Tanaydar, & Manorá nas terras de Baçaim 5 & depois por mandado delRey
Dom Sebaftião foy à Cofta de Guínè por Capitão do Navio S- Nicolao , em cu-
ja jornada faleceo com grande nome, & fama de bom Capitão.
Antonio Leite de Azevedo, fobfinho de Gafpar Leite Pereira, paífou à ín-
dia , aonde achando a grande fama de feu tio, o quiz imitar 5, procurando as oc-
cafioens de mayor rifeo, em que moftraíTe o amor, & zelo, cõ que fervia a Deos,
& a feu Rey naquella guerra de feus inimigosj & o bem, que nella obrou, o ma-
nifeftaavidado lrmaõ Pedro de Bafto liv-2.cap.T3. fol.i 79.
Nos tempos mais antigos vindo ElRey Dom Henrique II. de Caftella a
pôr cerco à Villa de Guimaraens,&afsentando feu exercito na Veiga das Fa-
vas *, foy Gonçalo Paes de Meira, que vivia na rua de Santa Barbara, cóm Mar-
tim Ferreira, & o fizeraõ fugir outra vez para Caftella com muito menos gente,
da que trouxe. Foy efte Gonçalo Paes de Meira filho de Payode Meira, Meiri-
nho mor de Entre Douro, & Minho no tempo delRey Dom Ajjfonfo :o Quarto
de Portugal, & foy fidalgo muito valerofo , como o moftfóuoefta oecaíiaõ da
Veiga das Favas-
Efte mefmoíGonçalo Paes de Meira,quando o dito Rey Dom Henrique II.
de Caftella tinha ido a cercar Guimaraens no anno do Senhor de n ? i. fe lan-
çou dentro com feus filhos,Eftevaõ Gonçalves de Meira , St Fernaõ Gonçalves
de Meira, com quarenta de cavallo, & fahindo a efearamuçár com o exercito
de Caftella, lhe matàraõ muita gente, & ElRey levantou o cerco , pelà nam po-
der tomar. •
Affonfo
DA COROGRAFIA PORTUGUESA.
Affonfo Lourenço de Carvalho, hum dos mais honrados Cavalleiros de
Guimaraens (eftandoefta Villa pela voz delReyDomJoaõ o Primeiro de Caf-
tella, & fendo feu Alcayde mór Ayres Gomez da Sylva, que tinha feito pleito >
& omenagemdelia ao mefmo Rey )huma madrugada a tomou por aííalto ElRey
Dom Joaõ o Primeiro de Portugal por traçado dito Affonfo Lourcço de Car-
valho, que fez abrir a porta do poftigo, dizendo ao porteiro, & guarda delia,
que queria meter por cila huma cuba em hum carro parafua cafa. Concedeolhe
o porteiro o que lhe pedio, & tanto que teve a licença , & confeguido a mayor
difíiculdade para o feu intento, deu parte a ElRey Dom Joaõ o Primeiro dePor-
tugal, que eftavacom o feu exercito na ponte, que hoje chamaõ do Sueiro, húa
legoa de Guimaraens junto à ponte de Servas , o qual com toda a preífa mar-
chou^ cõ trezentos de cavallo entrou pela dita porta, & recolhendofe os de
dentro da Villa ao Caftello, ElRey com os feus o começou de combater , & fi-
cou fenhor da Villa. . .
Manoel de Valadares Vieira foy dos primeiros Soldados filhos de G uima-
raens, que na Província de Entre Douro ôc Minho affentou praça , deixando o
intereífe de feu Morgado, de que era único herdeiro,*por naõ faltar ao ferviço
de feu Rey Dom Joaõ o Quarto na fua feliz Acclamaçaõ, & naquella Província
teve o primeiro pofto de Alferes de Infantaria, donde pafibu ao deCapitaõ,
&defte ao de Sargento mór de Infantaria, que largou por humTerçO de Vo-
lantes, donde foy a governar a praça de Montalegre na Provinda de Trás os
Montes , logrando fempre com grandes ferviços os créditos de bom Solda-
do.
Nam fofrendo obellicofoanlmo de André Pinto Barbofa lograr ociofoas
delicias de fua patria Guimaraens, bufeou as conquiftas do Reyno Ultramar, &
fe embarcou para o Brafil , aonde o Olandez empregava os tiros de fua ambi-
ção, & naquellas guerras íervio no pofto de Alferes de Infantaria com honrada
fatisfaçaõ ; & vindo para as guerras do Reyno fervio no pofto deCapitaõ de
Infantaria em Trás os Montes, de que paífou ao de Sargento mór pago, & defte
a Meftre de Campo com a occupaçaõ de Governador da praça de Miranda , &
ultimamente morreo em Lisboa, vindo de Provedor mór de Pernambuco.
Francifco de Meira Peixoto fervindoemduas Armadas,fe pozem terras
do Alentejo, aonde fervio com fatisfaçaõ 5 & avifinhandofe à fua patria , fervio
na Província de Trás os Montes , donde paífouà do Minho, occupando o po-
fto de Capitaõ de Infantaria.
Joaõ Leitede Oliveira deixando o exercício da Agricultura, a que ò con-
vidava o retiro da fua quintadePombeiro,fe foy adeftrar na milícia de Flan-
des, aonde pelo feu valor em breve tempo mereceo o pofto de Capitaõ de In-
fantaria, & pelo achar mal empregado em Reyno eftranho na Acclamaçam de
Portugal, fe paiTou a efte, aonde fervindo na Província do Alentejo de Sargen-
to mór de Infantaria , morreo no pofto de General da artilharia com grande
nome, & fama.
Sebaftiaõ Salgado de Faria goftando mais do paõde muniçaõ da frontei-
ra do Minho, que dos regalos da mefa de feu pay Jeronymo Salgado de Faria ,
fe foy de pouca idade oftcrecer àquelle exercício militar , aonde os tiros da s.
balas devendo diffuadillo de feu intento, o incitàraõ a mais valòr, qUe naõ pode
executar em Portugal pela terrível inquietação de feu animo 5 porque fazendo
hGa morte;em q a fua vida nam ficou fegura cõ a prefença das par tes,fe paífou a
Flandes, aonde militou com tam grande opinxaõ , quefoyhum dosCapitaens
X íí dc
IOO TOMO PRIMEIRO
de cavallo de couraças daquelle exercito do melhor nome.
Jeronymo de Figueiredo, que foy hum dos valerofos foldados, que no ex-
ercício militar luftràraõ nos exércitos da Província do Alentejo: morreo no
poíio de Tenente de Mefíre de Campo General, peleijando valerofamente cõ
os Caftelhanos.
Dionyíio da Ctmha fervindona Província do Aletejo no pofío de Alferes
de Infantaria, paliou à de Trás os Montes, aonde ocCupou o de Capitão , dc
que paffou ao de S argento mór de Vdantes, de que fe retirou a fua cala , tro-
cando o exercício militar pelo de Ecclefiaftico, em que vive em fua cafa na Víl-
ia de Guimaraen\ fua patria.
Pedro Coelho de Miranda, fendo herdeiro da cafa de feus pays, quiz her-
dar de feusavòs o exercício das armas, lendo Capitaõdos Privilegiados de
Ncíía Senhora da Oliveira da Villa de Guimaraens, como a elleslhcs faltava a
doutrina de Soldados para ^campanha, & o valor de feu Capitaõ era merece-
dor de pofíos, em quenellesíemanifefíafíe , foy provido pelos Generaes em
huma Companhia de Infantaria, quê eftava vaga no Terço do Mefíre de Cam-
po Manoel Nunes Leitaõ,tiovernador do forte de SaõFrancifco da Portela de
V éz, procedendo em huma, & outra occupaçaõ com grande valor.
Joaõ Rebello Leite,que no primeiro rebate,que os Gallegos deraÕ na fron-
teira do Minho, indo aelle na Companhia da Ordenança, de que feu pay joaõ
Rebello Leite era Capitaõ na feliz Acclamaçaõ , foy levado priíicneiro pelos
Gallegos com oito feridas ao Cafíello de Compofíella , donde fazendo numa
fugida valerofa depois dedezoitomezesde Orizaõ , foy aífentar praça à Pro-
víncia do Alentejo no feu exercito, cm que íervio com grande reputaçaõ , &
depois na Província do Minho, onde occupou vários pofíos até odtMefíre de
Campo,& com laftimofa defgraça morreo de veneno.
O mefmo fuccedeo a Joaõ Machado de Miranda, que largando os bens,em
que fuccedia, (que eraõ muitos ) fe foy exercitar na Província do Alentejo na
difciplina militar, & nclla manifefíou taõbemofeu valor,que em breves tem-
pos paífando pelos pofíos de Alferes de Infantaria , & Capitam, entrou no
de Capitaõ de cavallos dos de melhor opinião da quelle exercito , que
exercitou por tempo de anno &meyo, no fim do qual foy provido no pofío de
Medre de Campo de Infantaria, & indo a Santarém reformar o feu Terço,huma
mulata, de que le fervia, tendo certa defeonfiançâ delle,lhc preparou hum man-
jar, com que feu fenhor ficou cativo da morte, & ella na liberdade da vida.
Foy bem fentido joaõ Machado de Miranda naquelle exercito, porque as
fuas prendas, esforço, & fciencia militar era motivo, para que todos fentiílem
fua falta, & ainda o mefmo Reyno ,* porque prometia naquelles annosde mili-
tante grandes efperanças de hum grande Cabo da Milícia, porque fó efles daõ
nome ao Reyno, em que fervem, & o fazem temido de feus inimigos, & com el-
les pode mais para os render , & poftrar hum coraçaÕ traidor , & aleivofo,
do que lanças , & bailas contrarias ; & por eíte modo entregou a alma
a feu Creador o valerofo joaõ Machado de Miranda, deixando feu pay , & ir-
mans em continuas faudades , & a fua patria com o pezar de tam bom defen-
for.
Efíes faõ os fugeitos naturaes de Guimaraens, que em polios mayores nam
fómente ferviraõ a feus Reys, & Reyno, fenaõ ainda nos efíranhos , bufeando
conquifías, cm que íllufíraífem com o nome de'filhos de tal may , & como tem
aprerogativade conquifíadorss,nam houveCavalleiro naquella Villa (ainda
aquelles
DA COROGRAFIA PORTUGUEZÀ. *01
aquelles dc que mais neceílitava fua cafa de lhe aílíftir) que nam foíTc militar na
defenfa de feu Rey ; & fem fallar no plebeo, me dè licença o Ley tor para nomear
aqui osqoccupàraõ poífosde Capitacs de Volantes no exercito da Provinda
do Minho, fendo todos das principaespeíToasdaquella Villa, a faber, Fernão
Ferreira da Maya, Jofeph Peixoto de Soufa, Francifco de Macedo, Joaõ Barro-
fo de Azevedo, Jacinto Leite Pereira, André de Soula Homem, Jofeph Macha-
do Pinto, Manoel Velho do Couto , Diogo de Freitas Capitaõ de Infantaria,
Antonio Paes do Amaral, Cavalleiro do Habito de Chriífo , Ajudante da ca-
vallaria, Antonio de Andrade & Valle Ajudante de Infantaria, loaõ de Soufa Sc
Lima Alferes do Meftre de Campo de Infantaria, Pafcoal da Cofta Capitaõ de
Infantaria, Francifco Machado de Miranda Capitaõ de Infantaria, & Antonio
de Barros Capitaõ de Volantes.
Nam foraõ poucos os Fidalgos, Sc Cavalleiros de Çuimaraens , que fem
fogeitarem a fua liberdade aos aífentos de Soldados, obrigàraõ fuas vidas , Sc
difpendios de fuas fazendas ao ferviço de feu Reyno voluntariamente, & a obe-
diência à ordem dos Cabos, em cujos Terços com piques ferviaõ, St na cavál-
laria com a efpada na maõ; Sc pela fidelidade , amor, zelo, com que em todos os
fectilos os filhos, St naturaes deíla Villa fervíraõ a feus Reys,elles lho agradecè-
raô, St gratificàraõ com os privilégios, honras, liberdades, St ifençoens , que
pelos Reys paífados lhes foraõ concedidos,& pelos prefentes confirmados, co-
mo fe vé no feguinte Capitulo- n
CAP* XIX.
C 1
Prfvilegio da Rainha Dona Leonor, governando Dor morte delRey Dom
Fernando feu marido, em que manda que os Corregedores nam confintam ef-
tar nenhum fidalgo, nem poderofo em Camara, quando fe fizerem as eleiçoens,
nemjriõfintaõ haver fobornonellas, & condenem aos culpados, como lhes pare-
cer,anno 1411- ' ,
Privilegio dos Infançoens defta Villa confirmado por leatença da mayor
alçada, anno 1618-
Privilegio delRey Dom ]oaõ o Primeiro, em que manda que os moradores
da V illa de Cerolico de Bailo, & Monte Longo venhaõ velar, & guardar a efla
Villa,quando for tempo,&neceífario, 110 annode 1422. eftá confirmado por
ElRey Dom Joaõ o Terceiro anno de 1529- & ja dates defies Rey s o tinha co-
cedido ElRey Dom Diniz,& diífo ha fenrenças no cartorio, & aílim as juiticas
de Guimaraens os compelliraõ a iífo. *
Privilegio delRey Dom joaõ o Primeiro para que os moradores de Gui-
maraens poífaõ tirar todos os mantimentos da Cidade dol oito fcm levaram
carga, & aílim os poífaõ tirar por todo o feu Reyno, anno de 14 29.
Privilegio delRey Dom Joaõ o Primeiro paranefta Villa haver portagem,
como fempre houve, anno de 1438- eílá cõfirmado por ElRey Dom Joaõo III-
. annode 1520. .
Privilegio delRey Dom Joaõ o Primeiro para que os moradores de Gui-
maraens poífaõ mandar penhorar fe..s caiemos pelas rendas que lhes deverem,
fem mandado de Jufiiçâ,anno 1433*
Privilegio delRey Dom Fernando, em que manda, que os moradores de
Guimaraens poíTaõ trazer armas por todo o feu Reyno , todas as que quize-
rem, poífo que fejaõ defezas, & lhes naõ poffam fer tomadas, anno de 1421. _
Privilegio delRey Dom Joaõ o Primeiro, porque manda à Villa eleja Juiz
das Sizas, & aílim q fe naõ pague fiza entre os irmaõs herdeiros,anno de 1433.
Privilegio domefmo Rey Dom Joaõ porque manda fe naõ tom# para â guer-
ra aos lavradores do termo.deGuimaraens hum filho, oao tendo, outro , anno
de 143d. . , ,
Privilegio delRey Dom Affonfo o Quinto, em que manda , que todos os
moradores de Entre Douro, & Mimho venhao a ferir feus pezos, & medidas a
eífa Villa pelos Padroens delia , como fempre foy cuftume antigo , anno de
1
* Provi faõ delRey Dom Joaõ o Primeiro,em que manda que nenhum mora-
dor deíia Villa, nem feu termo feja Tutor fora delia, anno de 143 8-
Privilegio delRey Dom Affonfo Quinto,em que faz merce aos moradores
de Guimaraens, que jamais em tempo algum fe ja a dita Villa defannexada da
Coroa Real de feus Reynos, falvopara o feu filho Principe primogénito, & ou-
tra peffoa alguma naõ, por de grande exceliencia que íeja; & manda aos Reys
léus fucceífores, que fob pena de fuabençaõ o cumpraõ aílim , anno de 1462'
Eôá confirmado por ElRey Dom Filippe no annode iy8i.&já o eílava pelos
Reys feus anteçeífores- .
ConfirmaçaõdelRey Dom Joaõ o Terceiro, em que confirma o Privilegio
delRey Dom Fernando, porque monda que os moradores de Cerolico , & do
Con.
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. ro$
Concelho de Rocas, Vieira , Villaboa,&Guilhofrey> venhaõ velar, rondar, &
guardar efia Villa, quando forneceffario j&aífimfejaõ obrigados a pagar para
os concertos, & refazimentos dos muros, torres , & fortalezas delia , anno
de i 30.
Confirmação delRey Dom joaõ o Terceiro,em que confirma o Privilegio,
que a efta Villa concedeo EiRev Dom Pedro, porque manda que os cafeiros da
Ordem do Hofpital paguem as talhas, & mais coufas, que pagaõ os moradores
do termo da Villa, í em embargo de feu Privilegio, que tem, anno 1 f 30.
Confirmação delRey Dõ Joaõ o Terceiro,em que manda confirmar o Pri-
vilegio, que ElRey Dom Joaõ o Primeiro concedeo a efta Villa, de nam fer obri-
gada a dar ao Alcay dedo Caftello gente, nem ordenado para o guardar, fenam
que elle feja obrigado à fua cufta a guardar os prefos delle , como fempre foy
cuíiume,annode 1529.
Confirmação delRey Dom Joaõ o Terceiro, em que confirma o Privilegio,
que a eíla Villa concedeo ElRey Dom Diniz, que nam houveffe nella , nem em
feu termo relego, como de antes havia ,& ha por bem que nunca mais o haja,
anno de 1529-
Confirmação delRey Dom Joaõ o Terceiro, em que confirma o Privilegio,
que ElRey Dom Manoel concedeo a efta Villa, que haja no mez de Agofto nel-
la huma feira forra, & franca, que dure oito dias, começando aos onze do mef-
mo mez, como fempre foy, anno de 1 f 16.
Provifaõ delRey Dom Joaõ o Segundo,em que manda que os Mifteres nám
tenhaõ voto na Camara; fomente podem requerer pelo povo, por fer eíleoTeu
officio, anno de 1 491-
Tem efta Villa tres Provifoens delRey Dom Joaõ o Terceiro para os Al-
motaceis fervirem tres mezes, Sc levarem as almotaçarias cuftumadas, fem em-
bargo da Ordenaçaõ, concedidas nos annos de 15-22. ifz ;• ifd?»
Tem efta Camara Provifaõ delRey para eleger juizes efpadanos nas fre-
gueíías do termo delia paffandodelegoa , quando lhe parecer fer neeeífario>
fem embargo da Ordçnaçaõ, anno de 1563-
Provifaõ delRey Dom Joaõ o Primeiro,em que manda, que os Vereadores
da Villa de Barceliosvaõ varrer a praça, & açougues de Guimarâens todas as
vefperas das feftas da Camara daquella Villa, q vem a fer nas vefperas das fef-
tas da Natividade de N-Senhor, da fua gloriofa Reíurreiçaõ, do Efpirito Santo,
de Corpus Chrifti, de Saõ Joaõ Bautifta, da Vifitaçaõ de S. Ifabel, de S. Guál-
ter, de N- Senhora da Aífumpçaõ, Sc de S. Miguei o Anjo.
A caufa porque clRey Dom Joaõ o Primeiro deu à Villa de Barceiíos tam
aniquilado tributo, foy, que indo efte Rey a tomar a Cidade de Ceuta aos Mou^
ros , como tomou no anno do Senhor de 1414,# aos 21. dias do mez de
Agofto do dito anno, repirtioas eftancias da muralha da Cidade pelos mora-
dores das Cidades, & Víllas, que com elle foraõ, & o ajudarão nefta cmpreza,
para que cada hum defendeífe a que fe lhe entregava. OsMourosfe refizeram,
Sc tornando com grande força para recuperarem a Cidade, que tinhaõ perdida,
a inveftirãocom grande fúria, & alaridos àefcala, de que defanimados os de
Barcellos, Sc atemorizados feus ânimos, fugirão, Sc deixàrao de todo livre a ef-
tanciã, que fe lhes tinha encarregado para defenderem; vendo-a os de Guima-
raens de todo defemparada,fe dividirão em dous troços, hum com que a forão
occupar, & defender, & outro com que defenderão alua , que lhes eftava en-
tregue ; Sc com tanto valor o fizeraõ em huma, Sc outra eftancia, que fó delles,
aquelles
104 TOMO PRIMEIRO
aquelles inimigosfeforaomais'queixofcs- CaftigouElRey a fraqueza dos dc
Barcellos com lhes mandar, que fofíem varrer a praça, & açougues aos de Gui-
maraens,a quem gratificou com efla honra a valentia , comqueobràraõnade-
fenfadaquella Cidade, & em todas as mais occafioens, em que com ellefe acha-
rão.
Por efpaço de mais de fetenta annos cõtinuárão neíta fervidão os Vereado- ,
res da Villa de Barcellos nas Vefperas dasfeftas aífima dita -,da forte q lhes foy
mandado,com hum barrete vermelho na cabeça,huma banda ao hombro da mef-
má cor, a efpadaà cinta, & hum pé calçado, & outro defcalço , .& vaífoura de
°iefta,queeraõ obrigados a trazer, para fazerem efta limpeza; & acabada ella,
hiãoà Camara,&entregavão aos Vereadores o barrete, & banda, com que da-
vão fatisfação à fua fervidão; os quaes vendo fe algum faltava a ella, o conde-
navão em pena pecuniária, como lhe parecia, ou o aliviava a ca ufa de fua falta;
atè que não havendo quem quizeíTe ler Vereador naquella Villa, o Duque de
Bragança Dom Jaymes fez contrato com a Camara, & povo deGuimaraens de
lhe largar do termo da Villa de Barcellos , de que era íenhor, as freguefias de
Cunha, &Ruylhc, para continuarem naquella fervidão, & que as defannexava
daquelle feu termo, para que ellas fe uniífem, & annexaíTem ao de Guimaraens.
Foy por todos admitt ido feu requerimento por coufa jufta, &vir fazello pef-
jfoalmente, como fe vè no contrato, que de tudo fe fez, o qual fe guarda no Car-
tório da Camara de Guimaraens, pelo qual renunciàrão os Vereadores da Villa
de Barcellos efte tributo, que padecião,nos moradores das freguefias de Cu-
nha, òt Ruylhe , que ainda hoje eftão continuando nefta fervidão nomefmo
modo, que fica díto, & com as mefmas circunífancias.
Bem trabalhou o Doutor Gabriel Pereira de Caftro por aliviar defte tri-
buto as duas freguefias, Cunha, & Ruylhe, por ternellas certos cafeiros, que
confiados no feu poder, faltàrão à fervidão,a que por gyro eflavão obrigados}
forão cõdênados pelos Vereadores da Camara de Guimarães em leis mil reis ca-
da hujpuzerão a caufa em pleito,q correo atè a mayor alçada,aífiifindolhe íépre
efte Doutor, & não foy baftante o feu muito poder, para que allifenão íenten-
ciaífe, quepagaíTem os condenados a condenação, que lhes effava feita, & con-
tinuaífem a fua fervidão,com cuftas; como fe vè da mefmâ fentèça, quefe guar-
da no Cartorio da dita Camara de Guimaraens.
O primeiro padrão de medidas, que no Reyno de Portugal houve de pao,
foy na Villa de Guimaraens,o qual ainda hoje fe conferva na Igreja de S. Miguel
do Caftello; & nos foraes antigos diz, que nos paga tantas teigas anos , <5c a
noíTos herdeiros, ou mordomos pelo padrão de pedra, que eftà em S. Miguel,&
em todos os Privilégios, que depois dos deGuimaraens , que forão os pri-
meiros deíle Reyno outorgados a Lisboa, & a outras Cidades, & Villas , diz
nellesaífim,& pela maneira, que os temos concedido à noífa muy nobre , &
fempre leal Villa de Guimaraens.
• tsTu t íiCSeC/
CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA tój
CAP. XXI.
<•
Do numero das Freguejias, que tem o termo de Guimaràens,
,
T Em eíla Villa duas legoas & meya de termo para o Poente, atè o marco da
ferra de F alperra, para a parte de Barcellos duas, hua para a ponte de Ser-
vas, & duas pára a parte da Cidade do Porto, que fedividem na pote de Negrel-
los. O feu termo tem as Freguefias feguintes.
S. João da Ponte foy Moileiro duplex de Frades, & Frevras da Ordem de
Saõ Bento, deu-o EIRey Dom Ramiro o Segundo de Leão à Collegiada, quando
era Convento: he Vigairaria ,tem cento & dez viíinhos.
S. Eufemia, Abbadia da Mitrâ,tem feífenta viíinhos.
S• Eulalia de Fremontãos, Vígáiraria, que aprefentão os Priores da Colle-
giada de Guimaraens, tem noventa viíinhos. Neila Fregueíía em cafa de huma
viuva do Cafal de Valmelhorado eíliverSo efeondidos Dom Manoel, & Dom
Chriftovão, filhos do Senhor Dom Antonio, pertendente doReyno por morte
do Cardeal Rey Dom Henrique , & humConego de Guimaraens os levou a
Olanda. ,
S. Maria de Corvite, Vigairaria do Arcediagado deNeyva, tem quarenta
vifinhos.
S. João de Pencello, Abbadia do Padroado Real, que rende cento & cin-
coenta mil reis, tem quarenta & nove viíinhos ; foy do Priorado de Guima-
raens. v
S. Pero Fins de Gominhaens, Abbadia da Mitra, que rende cento & cin-
coenta mil reis • tem vinte viíinhos.
S.Torcato, Vigairaria da Collegiada de Guimaraens, que rende cento &
Vinte mil reis, tem duzentos viíinhos. Ametade deíla Fregueíia he Couto pri-
vilegiado de Noífa Senhora da Oliveira, com Juiz ordinário no Civel, aquém
vemefereverhum dosEfcrivaensdeGuimaraens,dondeheo crime.
S- Miguel de Gonce, Abbadia da Mitra, que rende cento & cincoenta mil
reis, tem cincoenta viíinhos. S- Tyrfode Prazins, Abbadia do Ordinário,que
rende duzentos mil reis, tem feten ta viíinhos.
S. Salvador de Souto Commenda de Chriílo, & Reytoria da Mitrá , que
rende duzentos mil reis, tem cento & trinta vifinhos. Foy Moileiro de Cóne-
gos Regrantes de Santo Agoílinho , que fundou Dom Payo Guterres da Cu-
nha : eílá em hum ameno valie, que fahe ao rio Ave , & he Templo magnifico
para aquelles tempos comas Armas dos Cunhas na Capella mór, & muitas fe-
pulturas nobres à porta principal da parte efquerda , huma com fuas Armas,
que dizem ferdo fundador, & outra de hum Commendador em huma Capella
do adro. Nelle eílá a Capella de Santa Margarida annexa ao Morgado deTa-
boa, que poífue Dom Pedro da Cunha.
Santa Maria do Souto, Abbadia do Padroado Real, que rende cento &
oitenta mil reis, tem feífenta vifinhos- Foy Moíleiro de Conegas de Sáto Ago-
ílinho, que fundou Dom Gomes de Maceyra pelos annos de i zoo- & tantos,
viílo acharfe feu filho Dom Lourenço Gomes Maceyra na conquiíla de Sevi-
lha no de 12 48 • SiCofme
JO6 TOMO PRIMEIRO
S. Coime, & Damião deGarfe, Commenda de Chrifto, & Reytoria do Or-
dinário, tem cento & doze vifinhos.
S-Martinho de Gondomar, Abbadia da Mitra , que rende cento & cin-
coenta mil reis, tem feíTenta viíinhos, & tres Ermidas.
Santa Marinha de Aroca , Vigairaria do Arcediagado de Fonte Arcada,,
tem vinte & cinco viíinhos, & huma Ermida de Santo Amaro , imagem miLa-
groía.
Santa Maria de Sobradello, Vigairaria do Arcediago de Sobradello , que
tem cadeira na Collegiada de Guimaraens, tem cem viíinhos.
Santa Criftina da Agrella, Vigairaria que aprefeta o Rey tor de Caftellãos,
de quem he annexa, tem quarenta viíinhos.
S.Julião de Sarafaó, Abbadia do Padroado Real, que rende trezentos &
cincoenta mil reis, & paga cincoenta de penfaõ à Capella Real, tem cento & dez
vifinhos.
S. Bartholomeu de Villa Cova, Abbadia do mefmo Padroado Real, andou
unida ao Arcediagado de Guimaraens, q inda conferva o titulo de V illa Cova,
tem quarenta viíinhos. .
S.João do de Caftellãos, Commenda de Chrifto, & Reytoria da Mitra ,
que rende cem mil reis, & para o Commendador com as annexas da Agrella, &c
Qucimadella duzentos mil reis, tem quarenta vifmhos. FovMofteiro fubdito
ao da Vacariça no tempo, quegovernavãoefteReyno por EIReyDom Aífonfo
o Sexto,o Conde Dom Ray mon de Borgonha com fua mulher Dona Urraca, fi-
lha mais velha defte Rey.
S. Pedro de Queimadella, Vigairaria,em que hoje reíide o Reytor de Caf-
tellãos, fendo annexa, &là o Vigário, tem noventá viíinhos.
S.Miguel do Monte, Vigairaria annexa à Abbadlia de S. Bartholomeu de
Villa Cova, tem oitenta viíinhos, & huma Ermida-
S. Vicente de Felguevras, vigairaria annexa à Commenda de S. Thomè
de Travaços, tem dezafeis viíinhos.
Santa Eulalia deGontim, Vigairaria annexa à Abbadia de S. Clemente de
Bafto, tem dezafeis vifinhos.
S. Vicente de Paços, Abbadiada Mitra, rende trezentos & cincoenta mil
reis, & tem cento & quinze viíinhos.
S.Pedro de Freitas, Vigairaria, que apreíentão asFreyras dosRemcdios
de Braga, tem feíTenta viíinhos. Foy Abbadia, que aprefentava a Cafade Bri
teiros. Aqui eftáo Paço de Freitas, que foy julgado folar defta tão nobre fa-
milia. 1 _
S. Thomé de Travaços, Reytoria da Mitra, & Commenda de Chrifto,tem
feíTenta viíinhos.
S. Maria de Ataes, Curado do Convcto da Cofta, que rende cem mil reis,
& para os Frades quatrocentos milreis, tem duzentos & dez vifinhos.
S. Lourenço de Gulats, Vigairaria do Mofteiro de S-Tirfo , por doação
dos Infantes Dom Martinho Sanches, & Dona Urraca fua irmã*, filhos illegi-
timos delRey Dom Sancho o Primeiro, no anno do Senhor de 1273. tem oiten-
ta & cinco viíinhos.
S. Romão de Mcijão frio, Abbadia do Padroado Real, rende duzentos mil
reis, têm fetenta&cinco viíinhos. Foy antigamente da Collegiada de Guima-
raens.
S- Cofmc de Lobeira, Curado da Collegiada de Guimaraens, tem feíTenta
viíi-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 107
vifinhos. Aqui, dizem, efteve efcondiao S-Torcato o Difcipulo de Santiago.
He o folar dos Lobeiras de Portugal, defcendentes de João Lobeira , fidalgo
muy authorizado, & como tal confirma com outros em muitas efcrituras, par-
ticularmete no foral daVilladeTerena dado no anno de izój.&nodeyt. na
licença, que ElRey deu a Dom João de Aboim para fundar Portel : era filho
natural de Pedro Soares de Alvim dos de Riba de Vizella, a cujo rogo o legi-
timou ElRey Dom Affonfo o Terceiro, devia fer para herdar muitos bens, que
defua mãy lhe podião vir,&ferfenhora principal deíie appellido , que pela
via paterna lhe nãotocavão. Tem por Armas em campo de ouro cinco flores
de liz em'afpa,&huma bordadura azul chea de lobos de ouro , timbre hum
Lobo comhuma flor de liz azul na eípadoa- Bem podião vir íeus antepaflados
dos Lobeiras de Galliza, que tem feu folar no Callello de Lobeira huma lcgoa
por cima de Pontevedra, de que falia Fr. Athanafio de Lobeira em fua hiiío-
ria,& povoando nefta Província darem o mefmo nome a eíla terra-
S. Romão de Aroés foy do Padroado dos Freitas, inílituido por Dom Go-
mez de Freitas no anno do Senhor de 1212- fendo Arcebifpo de Braga Dõ Svl-
veílre ; he hoje Abbadia do Padroado Real, rende quatrocentos mil reis, & tê
duzentos & vinte vifinhos.
Santa Chriítinade Aroês foy também do Padroado dos Freitas, inílituido
pelo mefmo Dom Gomez de Freitas no mcfrno anno, & no tempo do dito Arce-
bifpo Dom Svlveílre; he hoje Abbadia do Padroado Real, rende cento & cin-
coentamil reis, & tem feífenta &tres vifinhos.
S. Martinho de Candofo, Curado unido a hum Beneficio daCollegiada de
Valença, da qual fe intitula Abbade oBeneficiado. Aqui eílá huma Torre, que
chamão de Candofo, & he o íolar defta familia: tem noventa vifinhos.
S. Lourenço de Riba de Selho, Curado unido a efte Beneficio de Valença,
tem fetenta vifinhos.
S. Chriílovão de Riba de Selho, Vigayraria,tem feflenta vifinhos.
S.Jorge de Riba de Selho, Curado do Cabido de Braga , tem trinta & feis
vifinhos.
S. Miguel do Paraifo, (que antigamente fe chamou do Inferno, & lhe mu-
dou o nome o Arcebifpo de Braga Dom F r- Bartholomeu dos Mar tyres , ) he
Curado da Collegiada de Guimaraens, tem quarenta & feis vifinhos-
S. Pedro de Azurey, Curado da mefma Collegiada, tem cem vifinhos- Aqui
eftá huma Torre,folar dos Peixotos, que procedem de Gomez Peixoto o Ve -
lho, que fe entende ferfilhode Dom Egas Henriquez Portocarreiro.
S. Mamede de Aldao, Curado da mefma Collegiada de Guimaraens , tem
quinze vifinhos.
S. Vicente de Mafcutellos,Curado da mefma Collegiada , tem dezafeit
vifinhos, &. huma Ermida de Noífa Senhora do Monte.
S- Miguel de Creixomil, Curado do Chantre de Guimaraens, tem duzen-
tos & dez vifinhos , & huma Ermida de Noífa Senhora da Luz. Aqui eftá a
quinta da Porcariça , minto nomeada aflim por fua grandeza , & rendimento,
como pelos autos de fuas demandas, que andavão em juizo fobre hum jumento,
&osdefcarregavãoduas peífoas : he hoje poíTuida por Alexandre Palhares &
Brito Cavalleiro do Habito de Chriílo.
Santa Maria de Sylvares Vigairaria do Cabido de Guimaraens, tem feíTen-
ta vifinhos.
S.EÍlevão de Urguezes, Vigairaria da Collegiada de Guimaraens , tem
oitenta
108 TOMO PRIMEIRO
oitenta vifinhos. Aqui eílá a quinta do Paco, que antigamente foy habita-
da dos nobres Urguezes, que a eílaFreguezia deixarão por memoria ícu ap-
pellido, pelo não ficar de fua geração. .
S. Salvador do Pinheiro, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis , tem
quarenta & cinco vifinhos. Aqui cíiaaQninta, & Caía oo Pioneiro , cabeça
do Morgado dc Rabcllos^ & Almeidas^ de Gonçalo Peixoto da Syl va > Adail
mor, & íenhor da Calçada, & de Penafiel de Soufa.
S. Pedro de Polvoreira, Abbadia da Mitra , que rende duzentos & cin-
coentamil reis, temfetenta vifinhos.
Santa Eulalia de Nefpereira,V igairaria annexa ao Thcíourado da Coilegia-
da de Guimaraens, tem cincôenta vifinhos, & huma Ermida.
S- Pay o de Moreira dos Conegos, Vigairaria do Chantre de Guimaraens,
tem cincôenta vifinhos*
S.Martinho do Conde, aflim chamado, por fer fabrica do Conde D. Hen.
rique, que alii hia recrearfe, he Curado da mefma Collegiada, tem 2 6■ vifinhos,
& huma Ermida. .
5. André de Gandarella, Abbadia da Mitra, tem quinze vifinhos.
Santa Maria de Infias, Vigairaria das Freiras dos Remedios da Cidade de
Braga, tem feffenta vifinhos.
S. Miguei das Caldas, Abbadia, foy do Padroado Real, he agora aprelen-
taçãodo Prior de Santa Marinha de Lisboa com referva , rende quatrocentos
mil reis,& tem cento & quinze vifinhos. Neila Freguefia,em hum lameiro bai.
xo baldio eífão cinco olhos de agua, humas mais quentes que outras, &todas
muy medicinaes para grande quantidade de enfermos , que fe vem curar a ef-
tas Caldas, & dão o nome à Freguefia, a qual tem muita caça de coelhos no mo-
te, ôchebem provida de peixe do rio Vizella- T,
S. João de Guminhaés, que agora chamão das Caldas , he Abbadia do Pa-
droado Real, de que foy Abbade Dom Theotonio de Bragança, que depois a-
chamos Arcebifpo de Évora. Aqui eílá a quinta de Guminhaés, de que foy fe-
nhor Francifco Soares de Aragão, coutada, & honrada por ElRey Dom João o
Segundo com parte do rio Vizella, que deixàrão perder feus defeendentes em
não confirmarem fuas doaçoens defde o tempo delRey Dõ Henrique. He Mor-
gado que hoje poffue Pedro Vaz Sirne de Soufa, fidalgo da Cafa delRey. Tem
eíla Freguefia fetenta vifinhos, & he tradição commua que aqui eílivefle huma
antiga Cidade: faz delia menção o Padre Fr. João de Deos , Religioio de Saõ
Francifco, nos feus apontamentos.
S. CipriãodeTaboadello, Curado annexoà Igreja de S. Fauífino, tem de-
zoito vifinhos-
S. Fauílino de Vizella, Abbadia da Mitra, rende com a annexa duzentos
& cincoentamil reis,tem cincôenta vifinhos. AquieílaoPaçodeCarvalhaes,
de quehefenhor Manoel Barbofa Cabral Capitão mór de Geífaço, & he o fo-
lar deíla família , que tem por Armas o efeudo vermelho partido em pala no
primeiro Carvalho verde, no fegundo torre de prata fobrehum pé de agua,
timbre a torre com hum ramo de Carvalho em cima-
S.Thomè de Avação, Abbadia do Padroado Real , que rende duzentos
mil reis, tem quarenta vifinhos; he terra muito afperaaopê da ferra de S. Ca-
therina, com muita caça.
Santa Eulalia de Pentieires, Abbadia tenuc da Mitra,tem doze vifinhos,
S- Chrif-
DA COROGRAJIA PORTUGUEZA. 109
s. Chriítovão de Avaçáo, Vigairaria do Abbade dos Gémeos , tcmtreze
* /*
V1 m
Srnta Maria dos Gémeos, Abbadia da Mitra , que rende com a attnexa
duzentos St cincoenta mil reis, tem quarenta vuinhos- Aqui efta a^Qumtade
Calvos, que fendo dada por Honra aos deílâ família, lhe ficou por folar do ap
pellido de Calvos , que tem por Armas o campo efquartelado,no primeiro de
vermelho cinco fivellas de prata em afpa,no íegundo cinco vievras, ou conchas
de prata, &íòbre tudo nòmeyo hum eicudo de ouro com hum lobo de lua cor,
& por timbre o mefmo lobo pífrdo das Armas. ^
S. Lourenço de Calvos, Vigairaria, que aprefentao as Freiras dos Remé-
dios de Braga, tem trinta & cinco vifinhos.
S. MigueldeCerzedo, Abbadia doMofteiro de Pombeiro com referva,
rende duzentos & feffenta mil re is,tem tío-vifinhos.
S- Martinho de Farejà, Vigairaria infolidum dôs Priores de Guimaraens,
tem cincoenta vifinhos. . , .
Santa Maria de Matamá, Vigairaria doThefoureiro de Guimaraens , tem
trinta vifinhos. AquieftàaCafa,&QuintadaÇurugeira , de que he fenhor
Dom Manoel de Noronha, que ohe tambem dada Prelada no Porto, dcícende-
te da Cafa de Villa Real- j n-r •
Santa Maria de Villanova das Infantas, (nome que tomou de allifecria-
rem as irmãsdclReyDom
Guimaraens) AffonfoHenriques
he Vigairaria , quando
doMolleiro de Pombeiro, temtinhaofuaCorte
fetenra vifinhos.em
nh
° S. Cláudio de Barco, V igairaria do Arcediago de Olivença, ou Santa Chri-
rtina em Braga, tem quarenta viíinhos. ,
Santa Maria de Villanova de Sande, Abbadia da Mitra, que rende trezen-
tos mil reis com fabidos, & annexa, tem vinte& dousvifinhos. Dizem haver
fidoMoileirodeFrevras, dequefe moftrão indahoje veftigios»
S. João de Brito, Commenda de Chrifto, & Rey tona do Ordinário , tem
cento & trinta viíinhos. Foy Morteiro, que fundou Dom Soeyro de Brito, Ri-
co homem em tempo delRey Dom Affonfo o QuintO;ou, como dizem outros,
feu filho Arias de Brito, que fundou o Morteiro de Oliveira. Aqui he o iolar
dos Britos,de que defcendem muitos fidalgos, & nobres : a fua Cala ertá na
mefma Freguefia, aonde chamão o Paço da Carvalheira, que como não devia ter
Mor ° a do, paffou por cafamento aos Coutinhos , que agora a poffuem com al-
guma renda,que tem os do appellido deVillela. A varonxa particularmente
deftes Britos temos Vifcondes de Villa nova de Cerveira , de quem fe defan-
nexou o grande Morgado de Santo Eftevão de Beja da mefma família, por cafa-
mento de Dona-Magdalena de Borbon, Condeça dos Arcos, com o Conde Dô
Thomas de Noronha, por fer filha mais velha de Dom Luis de Lima Brito &
Nogueira, primeiro Conde dos Arcos, filho primogénito do Viíconde D- Lou-
renço de Lima Brito & Nogueira,& os Alcaydes móres de Beja , que por cafa-
mento entrou na Cafa dos Condes do Prado, Marquezes das Minas , os de Al-
deã Gallega, os da Porta da Cruz, os do Rio, os de Évora, & outros. Tem por
Armas em Campo vermelho nove lifonjas em tres palias, em cada huma hum
Leão de purpura, timbre hum Leão das Armas com lifonja de prata. Ertes fi-
dalgos,ou feus lucceffores devião fer fenhores do Couto de Brito alem do Dou-
ro,quando fe foy povoando,de quehojeoheo ConventodeGrijó-
S. Mamede de Vermil, Vigairaria annexa a S- João de Brito, que apreíen-
ta o Rey tor, tem vinte & cinco viíinhos. Ha aqui hum Morgado no Paço, que
dizem foy de Dona Branca Loba, que inda tem renda, a que chamão as Teygas,
nome,que antigamente davão aos noffos alqueires, ou razas de agora; he Cou-
ê S
° Santa Comba de Regilde, Abbadia da Mitra, que rende trezentos mil reis,
tem fetenta vifinhos. . _ , ,
Santa Maria de Villa fria, Abbadia do Padroado Real, que rende duzentos
mil reis, tem oitenta vifinhos.
S.joaõde Gondar, Abbadia do mefmo Padroado, que rende cento &cin-
coenta mil reis,tem cincoenta & feis vifinhos. ,
S. Miguei de Cunha, Abbadia que foy dos Cunhas, & a tirou EIRey Dom
Diniz a Dom Gomes Lourenço da Cunha, feu padrinho, em 8- de Setembro de
1285- por fentença de João Payo Conego de Braga , CommifTario do Primáz
Dom Tello, Juiz delegado, & não parando aqui o odio, que lhe tinha, a 4. de
Julho de 1185. mandou-o condenar, & executar nelle as penas, em que encor-
rèra,por humdefpacho,quefeu pay ELRey Dom Affonfo o Terceiro havia da-
do a favor das Frevras de Santa Anna de Coimbra, cuja Prioreza Dona Therefa
Dias, & mais Frey ras fe lhe havião queixado de aggravos, & perdas, que lhes
havia feito, & dado: he do Padroado Real, rende trezentos mil reis , &l tem
feífenta vifinhos. Aqui he o folar dos Cunhas , que teve principio em Dom
Guterre, natural de Gafcunha,Provincia de França ao pé dos montes Pirineos,
o qualveyoaefteReynocom o Conde Dom Henrique, fendo bom Cavalleiro,
velho, & de grande entendimento, de quem o dito Conde fiava a refoluçaõ de
feus mais diíficultofos confelhos ; pelo que lhe deu muitas herdades nefta Pro-
vinda, particularmente efta, & outras em terra de Guimaraens, & Braga , & o
Porto efe Varzim , hum quarto de legoa ao Norte de Vilia do Conde. Tem
por Armas em campo de ouro nove cunhas de azul de ferro firmadas , poftas
em tres palias, & por timbre hum meyo Grifo de ouro acunhadode azul, com
azas acunhadas de ouro, & por orla as cinco Quinas de Portugal em campo de
K. iij prata:
ii4 tomo Primeiro
prata: os efcudetes azuis, & as Quinas de prata todas lhe compoz ElRcy Dom
Affonfo Henriques -.osdeCaftella por novofucceíTo orlão o efcudo com 24.
bandeiras. j
S. Payo de Ruylhe, Abbadia, que aprefenta Fernão de Soufa , fenhor de
Gouvea do Tamega, rende cento St cincoenta mil reis , St tem vinte 6c feis vi*
íinhos»
C A P. XXI.
CAP. XXII.
Das Fontes, <# yúla de Gwmaraens tem dentro dos (eus muros,
0* tzoí /^w Arrabaldes.
TEm efla Villa dentro dos feus muros as fontes publicas feguintes: o tan-
que da praça mayor com tres bicas encoílado à torre dos finos da Real
Collegiada de NoíTa Senhora da Oliveira- O tanque da Mifericordia fituado i o
feupateo : o poço do Arco fituado na rua deíle nome : o poço da porta dc
Noífii Senhora da Graça, ou de Santa Luzia,, & o poço da praça do peixe.
Tem as Freiras de Santa Clara tres fontes,huma no clauflro,outra na lua
cerca, & outra na colinha- Manoel Ferreira d'Eça tem huma fonte de excellen-
~ te agua no quintal das fuas cafasdoarcodarua de Santa Maria , em que vive.
A fonte da coíinha do Hofpital da Cafa da Mifericordia, que a ella vêm por ca-
nos limpa, & boa para beber , &ferviço daquelleHoípital- A mayor parte das
cafas, que a Villa de Guimaraens tem de dentro dos feus muros , tem quintaes
com feu poço, & em alguns ha dous, &: tres-
Nos Arrabaldes darey principio na rua do Cano de baixo, aonde no fim
delia para entre o Norte, &Nafcente,em hum lugar ameno, & frefco das fom-
bras dos copados caíhanheiros fe efeonde a fonte da Douradinha firme , &
confiante nas aguas, que defper.de tão frefeas, & goíioías, que dandoas à flor
da terra, não quiz outro alinho, mais queagraça, que lhe dão brancas areas,
& com ifto tão foberana, que fó fe dá a goílar a quê lhe poem o gtolho no chão,
& abaixa a cabeça.
Na mefma rua defeendo para a Villa fe topa hum tanque de pedra la-,
vrada, que chamão o tanque do Cano de baixo , que por huma' carranca lança
huma bica de agua tão pouco firme, que no tempo do Verão, em que ha mayor
neceffidade delia, a fufpende, & lhe não larga o regiílo, fenão depois que ellas
faõ tantas, que já fe defeílimão.
AfontedaPipafituadanaeftrada, que vay para aBornaria de cima para a
parte do Norte por baixo da quinta do Verdelho, de que he poífuidor jerony-
mo de Matos Feyo- ■
A fonte das Maleitas fituada junto dp rio Herdeiro, & da fua ponte deS.
Luzia da parte dalém delle entre o Norte, &Nafcente : he hum tanque de pe-
dra lavrada coroado de ameyascomhumaíobica, &tam pouco afliíhido, que da
a entender que o nome, que tem, lhe deu a fua agua, por caufar tal achaque-
A fonte de Santa Luzia , que he hum tanque de pedra lavrada com huma
carranca de huma fóbica, & entre ella, & fuas pirâmides as Armas Reaes.
O chafariz do Toural,obra mageflofa de feis bicas , de que ja falíamos na
deferipção defta praça-
A fonte da Madroa, que he hum tanque de pedra com fuas pirâmides, &
duas carrancas,& he muy abundante de agua-
A fonte da Quinta de pedra lavrada,& em tudo galharda, porque em dir s
correntes frefea, & faudavel a fua agua fe comunica tam livre ao gofto de r >-
dos, que não ha quem fe aparte de tão doce regalo- 4
I\J a
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. up
No Burgo da rua de Couros eftá huma fonte de agua tão pezada, & falo-
bre, que fe não faz cafo delia.
Pela ponte da rua de Couros fe vay para a parte do Sul paia a fonte , que
chamão do Medre, que corre queixofa por entre verdes prados do pouco que
fe bufcão fuas aguas, tão bellas, & criítalinas, que pela fua bondade merece to-
da a eftimação.
Por detràz da rua , que fica para o Sul da parte dalém do rio de Couros,
eftá a fonte, que chamão do Buraco, & continuando efta rua dalém para o Sul,
fe topa na fonte do Amor junto das portas da Quinta de V illa Verde.
No fim do campo da Feira indo para o Sul, antes de chegar à Capella deN.
Senhora da Conceição eft ao humas efcadas,que defcem para o Nafcente além
do rio, que paífa por baixo delia para a fonte das Ameyas, que por fer de pedrâ
bem lavrada,& coroada delias, lhe puzerão eftenome : faõ luas aguas as mef-
mas no Verão, & no Inverno, & como o feu natural não he mudável , toda a
Villa gafta delia, por eftar continuamente aíliftida , & ter entre todas o melhor
lugar- .
Caminhando.pelocampo da Feira para o Nafccte,antes de chegar ao feu rio
. fe encontra com a fonte do Abbade ao pé das hortas, que chamão do Prior : he
frefca de Verão, & quente de inverno, porque aceita defte o que lhe dá , & ao
outro não nega o que lhe pede: mav aífim em hum tempo,como no outro femprc
faõ tantas as íuas aguas, que a liberal vontade com que as offerece pela fua bica
merecedora de fabrica mais viftofa, eftá convidando a aíHftencia dosCavallei-
ros daquelie povo,que alíiachão fitio aprazivel, & alegre para o feu regalo. ^
Entre a torre, que vulgarmente chamão do campo da Feira, & a dos Caés,
eftá hum tanque, a que chamão fonte nova, obrado ácufta de feus viíinhos,de
pedra lavrada, & bem viftofo, principalmente r o tempo do Inverno, em que as
aguas não cabem na boca da carranca de fua bica , porque concorrem nella em
muita quantidade.
Indo defte tanque ,ou fonte nova caminhando por entre o Sul , & Naf-
cente para a rua do Fato, fe acha a fonte , que daquelie lugar tomou o nome:
nafce do coração de hum rochedo, que fendo bruto lhe deu tal gofto , & bon-
dade, que fó fe culpa as fuas aguas deferem leves, muitas , & frias como a mef-
man
Atráz da Capella de Santa Cruz íàhindo da Villa pela fua porta da Frieira
fe efconde a fonte da Duqueza, que fazendo mais cafo da humildade , que da
authoridade do nome, fe poftra por terra, & arraftaudo por eila fua corrente ,
fica occulta de maneira, que fomente fé vè nella quemdepropofito abufca*
Afaftado da Villa de Guimaraens para o Sul fica a milagrofa fonte de Sam
Guálter, aonde efte Santo fundou a primeiracaíinha para o Convento: em tudo
hè efta fõte a principai,aflim pela virtudede fuas aguas,como pela quãtidade dei-
las, & pela mageftade, com que eftá obrada. He a primeira pela virtude de fuas
aguas, porque aífim oteftificão os muitos milagres, que N. Senhor tem obrado
com quem as bebe, para diverfas enfermidades, & por iffo he efta fonte bem aft
fiftida de dévotos do feu-Santo, huns a bébella, & Outròs a lavarem-fe com ella,
pela grandefé, que temem fua muita virtude. ■ !-
- He a primeira na,quantidade de fuas aguas, porque lançando por tres bi-
cas grande oopia delias, leva ventagemàs outras fontes; &he a primeira na
mageftade, com que eftá obrada, poroue he hum tanque de pedra obrado com
grande arte, may alto, & largo, para dar lugar a tres carrancas, aonde eftão fir-
madas
? J
.,0 TOMO PRIMEIRO
mortas fna<; bicas & entre ellas,&. as pirâmides do remate hum nicho grande
nomeyo do froiítifpicio,aondeeftá recolhida aimaêei? vidoílnoldusfef-
1 ar20 terreiro cercado todo de afiemos, que he coufabem viítolanos dias ícl
tivos de Verão, aonde muitos devotos de S. Guálter fe ajuntao commuficas,
danças, querendo cada hum manifeftar com ellas deS
n
° g°S^HiS^eftadfontefparSaaa parte do Nafcente pela fralda da í erra dc Sama
Catherina antes de chegar à Cruzdos Serodeos, eftá outra fonte, que cha-
mto^c Dom Duarte j por cima do Morteiro de Santa Maqnha da Corta de
Fredes leronymos, que loy Univerfidade, aonde affiftfao Lentes de Humatu-
dades, Filofofia, & Theologia, & nelle eftudavão o Infante Dom Duarte , filho
delRey Dom loão o Terceiro,& o Senhor Dom Antonio filho do Infante Dom
I uis & como o dito Infante Dom Duarte fchia recrear àquella fonte, delle to-
m0U
S6aXtsSt^ nome,que tem a ViUa de Guimaraens /
porque as particulares parece impoflivel ^enutre^fontes nati-
quinta, ou cafal no feu termo, que nao tenha duas, tres , &quatrolontes
V aS
' Atèciui a deferi peão Topográfica da muito nobre Villa de Guimaraens corn
todas as noticias, que frataremoTdos Conceíhos>
CAP. XXIII.
Do Concelho de Felgueiras.
^&ss£sssas^s.
,„ér'&Ouvidor. Tem feiraas primeiras fegundas fc.mdecadamcznoltu
DA COROGRAFIA l'ORTUGUEZA. 121
garde Margaride, Scconfta das Freguefiasicguintes.
Santa Eulalia de Margaride, Vigairaria dy iMofteiro de Pombeiro, que re ■
de com as primícias cem milreis, Sc para os Frades duzentos mil reis , tem cem
vifinhos-
S. Pedro de jugueíros, Curado dos mefmos Frades,rende fet e nta mil reis ;
Sc para o Mofteiro de Tibaês cabeça da Ordem duzentos 8c trinta mil reis, tem
cento & feíTentaviíinhos.
Santiago de Sandim , Abbadia do Mofteiro de Pombeiro com referva>
rende duzentos mil reis, temcincoenta vifinhos. Aqui ha huma Torre, de que
he fenhor de feus foros Gonçalo Lopes de Carvalho,fenhor dos Coutos de Ab-
ba dim, 8c Negrellos: he o folar dos fidalgos do appellido de Sandim, de que fa-
li irão os fenhores de Riba de V izella, como diz o Conde Dom Pedro. Nefta
Freguefia em hum bello valle efteveno tempo da primitiva Igreja a Cidade Em
frazia, de que foy Regulo Lenciano, cujos Paços eft ao aopè do monte Colum-
bino, que fuppofto cila pereeeo na invafaõ dos Mouros , de qiie fó ficarão me-
morias, Sc ha veftigios, permaneceo entre tantas tormentas efta regia Cala, Sc
fua grande Torre, para vir a ler não cova de coelhos, mas morada, & folar dos
fenhores defte appellido, a qual fe chama de Cirgude, que fobre fuaJ muita ren-
da, ricas terra , Sc dehciofas fontes, tem huma grande mata, em que anda boa
quantidade de galinhas bravas inellas he tradição viveo o Honrado Egas Mo-
niz, 8c que delle ficou a imagem de Chrifto crucificado , que alli ha na Capella >
tem quatro cravos, he grande de corpo, muito devota, 8c milagrofa , feftejale
com jubilto o primeiro Domingo de Agofto. Entrarão nella os fidalgos do ap-
pellido Teyxeira,em tempo delRey DomSebaftião , por cafamento de Mart ni
Teyxeira de Azevedo chefre dos Teyxeiras cõ Dona Maria Coelho de Mellò,
filha de Gonçalo Coelho da Sylva, fenhor delia, & de Felguey ras, 5c Vieira. Foy
efte Ma-timTeyxeira o mayor home de corpo,q ncfte ieculo fe vio em Europa,
8c de grandes forças-' Defte nafceo Gonçalo Teyxeira Coelho, pay de Mart im
Teyxeira Coelho, que hoje vive, todos fenhores defta cafa, inda que o folar he
na Teyxeira. Saofuas Armas em campo azul huma Cruz de ouro potente , va-
fia do campo, & por timbre meyo unicórnio de fua cor cõ o corno, & unhas dc
ouro.
Santiago de Pinheiro, Vigairaria do MofteirodeCaràmos, que rende ciu-
coenta mil reis, 8c para os Frades oitenta mil reis, tem trinta 8c cinco vifinhos.
S.ThomédeFriande, Vigairaria do Convento de Pombeiro , que rende
oitenta mil reis, Separa os Frade; cento & vinte mil reis , tem eincoenta viíi-
nhos.
S.Salvador de Moure, Vigairaria dos mefmos Frades, que rende fetenta
mil reis, Sc para o Convento de Tibaens, a que cftá applieada, cento Sc trinta ,
tem fetenta vifinhos-
S- Martinho de Caràmoshe Convento dos Conegos Regrantes de S. Ago-
ftinho, fundado pelo Conde Dom Nuno Mendes, Capitão General, Sc Gover-
nador das terras de Entre Douro Sc Minho, Sc Trás os Montes em tempo dei- -
Rey Dom Fernando o Magno, o qual fahindode Guimaraens, aonde refidia , a
expullar os Mouros das terras vifinhas, que elles andavão affolando, Sc rouban-
do, Sc encomrandofecomelles nos campos da Veiga, aonde agora eftá o Con-
vento, tiverão huma grade batalna, Sc vendo oCapitãoque os feusviravão as
coftas aos Mouros,chamou com grade fé pelo valerofo Soldado de Chrifto Saõ
Martinho,queofoccorrefTeemtão grande neccífidade. Não fe dilatou muito
' Lo Sart-
m tomo primeiro
o Santo no feu cavalIo branco , % que com aíua lança o nao Viífe o devoto Ca-
pitão ferir pelos Mouros, matandoos ; & animado com o íoccorro do Ceo,
chamou pelos feus, que fugindo , largavão ocampo , & lhes diífe : Cara ãos
Mouros , que S- Martinho he em noíía ajuda. Animados os Soldados Portu-
guezes fizerão outra vez rolho aos Mouros , &os desbaratarão, &; puzerão
em fugida,ficando com a vidoria- Em gratificação, & memoria do favor, que
S. Martinho fez ao dito Conde, elle lhe fundou no mefmo lugar da batalha húa
Igreja pelos annos de Chriího de i o68- a quem chamou S. Martinho de Cara
aosMouros, que depois os annos corrompèrão em S. Maninho deCaràmos.
No lugar de Pedrofo entre Braga, òt o rio Ave no anno de 1071* deu o nolio
Conde Dom Nuno Mendes batalha a ElRey Dom Garcia, terceiro filho do di-
to Rev Dom Fernando, a favor dos Portugueses, a quem tinha mal-tratado,
na qual ficou o dito Conde morto, & osfeus forão vencidos. Hcrdou-oíeu fi-
lho Dom Gonçalo Mendes , que efcapou da batalha , & andou aufente al-
guns tempos, atè haver feguro delRey: mas achou por melhor fazerfe Clérigo,
& edificou hum Moíieiro no mefmo lugar de Caràmos, junto da Igreja de Sam
Martinho,q feu pay fizera,& o acabou 110 anno de 1090. dotãdo-o de boa ren-
da, &nelleferecolheo com outros Sacerdotes naturaes de Braga , & Guima-
raens: com feis defies fe foy a Braga a dar conta ao Arcebifpo Dom Pedro, an-
teceífor de S. Giraldo,o qual por ter fido ConegoRegular de Santo Agoltinho,
os encaminhou a tomarem aquella Regra, & lhes foy lançar o habito aCarámos
aos 28. de A golfo, no qual dia celebra a Igreja a feílado feu gloriofo Patriar-
ca ; & os Religiofos elegerão por leu primeiro Prior ao mefmo Dom Gonçalo
Mendes, que os governou atê o anno de 1124. em queDeos o levou a 8. de
Janeiro. Succedeólhe logo hum de feus cõpanheiros o fanto Varão D.Frutuofó
Gõçalves,eleito canonican.éte,& confirmado pelo Arcebifpo Dõ Payo Mendes
em 18. de Janeiro do mefmó anno. ElRey Dom Affonfo Henriques fez Couto
a eífe Moíieiro, & a toda a Freguefia, & lhe deu o Padroado da Igreja de Con-
llantim em Villa Reab.pcreíle modo fe governou, atè que pelos annos de i 542.
reynando ElRey Dom João o Terceiro, o Cardeal Dom Hérique leu irmão mã-
dou para Adminiíhrador de fuas rendas , & daquelles Conegoc a Francifco de
Morim, Cavalleiro de fuaCafa, em quanto o não deu a Dom joão Pinto Reli-
giofo delle Convento , & fobrinho de Fr. Diogo de Murça Frade Jeronymo,
Reytor da Univcrfidade, 8c Commendatario de Refoyos de Bailo, em que o fo-
brinho lhe fuccedéra, donde o fez vir para Carâmos no anno de ifAf. dando-
Iheelle Priorado perpetuo, em que eileve doze annos, & renunciou o direito
que nelle tinha nas mãos do Papa Sixto Quinto, para que o uniíle ao Conven-
to de Santa Cruz de Coimbra; não teve logo effeito, mas confeguio feno anno
de 1594. pelo Papa Clemente Oitavo, íéndo já falecido Dom loãó Pinto a y.
dejunhode 1587. Tomarão dellepoífe osCruziosem doze deFevereiro dtí
15-95. & foy feu primeiro Prior triennal Dom João dab Neves. Neila forma
permanece com íete Religiofos: tem mais de tres mil cruzados de renda em
dízimos de annexas, & iabidos , de que pagão à Capella Real cento & cincoen-
ta mil reis, ao Collegio novo de Santa Cruz de Coimbra duzentos & cincoett-
ta, à Camara Apoílolica trinta & dous,&oito mil reis ao Seminário de Braga-
Confervãohuma relíquia de S. Martinho Bifpoíie Turon, que obra muitos mi-
lagres -.rprefentão Cura fecular, que tem cincoenta mil reis de renda com opê
de Altar. A'villa deíle Convento ,apoucadiílancía,entreoMeyodia,& Poen-
te, fé vem veíligios de fortificação antiga,que fe devia fazer para amparar eílas
terras
DA COROGRAFIA PÓRTUGUEZA, iij
terras das correrias dos Mouros- Tem cila Frcguefia noventa vifínhos.
S. Jorge da Varzea, Vigairariá do Convento d.é Pombeiro , rende ao todo
fetenta mil reis, St para os Frades cento St vinte mu reis, tem cem vifínhos.
S- Salvador de Villa Cova, dizem alguns, foy Mofteiro de Monjas de Sam
Bento 5 mas não temos noticia dè quando fe fundou, ou extinguio 5 pafiòu.à
Commenda de Chriíto, Sc he Revtoria da Mitra1,' que renderá conto St tincoen-
ta mil reis, Sc para o Commendador íetecentos Sc:dncoenta milreis, tem cen-
to & vinte vifinhos.
S- Cypriaõ deRefrónteira, Abbadiá da Mitra, fende duzentos Sc cincoeri-
ta mil reis, tem feíTcnta vifinhos. Daqui fe entende era D- Gdldorá Goídáres
de Refronteira,que jaz emBuftello, de que era Padroeira , St de quemDÓm
Gonçalo Mendez de Soufa teve a Dona Elvira, ou Marinha Gonçalves >>mulher
de Martim Pires de Aguiar, dos quaes nafceo Pedro Martins Alcoforado , Sc
por eíta viafaõos A lcoforados Padroeiros do Moíkiro de Buífello.
Santa Maria de Ayraes, Commenda de Chrifto, Sc Reytoria da Mitra, que
rende ao todo cem mil reis , Sc para o Commendador com fabidos trezen-
tos Sc oitenta mil reis, tem cento Sc vinte vifinhos. Deu-fe neítas ultimas guer-
ras à Lourenço de Morim Pereira , pelo muito que dilatou a entrega da pr açá
de Monção, que governava naquelle taõ bem defendido, Sc apertado fitio , que
os Gallegos nos puz^rão, Sc a logra hoje feu filho Dom Antonio de'Morim Pe.
reira, fidalgo da Cafa de Sua Mageftade- _ 1
S.Miguel de Varziella, Vigairaria do Mofteiro de Pombeiro , rende ao
todo noventa mil reis, Sc para o Convento de Tibaês , a quemeftá applicada,
duzentos mil reis, tem fefienta St quat-ro vizinhos.
Santa Maria de Pedrofo,Curadodo Convento de Santa Marinha da Coifa,
rende quarenta mil reis, Sc para os Frades fefienta mil reis , tem vinte Sc hum
vifinhos.
S.Veriífimo de Lagares, Commenda de Chrifto, Se Reytoria, que apreferr-
ta in folidum o Convento de Pombeiro, que rende ao todo oitenta mil reis, Sc
para o Commendador com fabidos duzentos Sc oitenta mil reis, tem oitenta
Sc feis vifinhos.
S- Pedro de Torrados foy Mofteiro, q fudou Ayres Gomes de Torrados,pa-'
drinhodelRey Dom Diniz, que foy da geraçaõ dos Cunhas , bifnetode Payo
Guterres da Cunha, que inftituío o Mofteiro do Souto : he hoje Commenda
de Chrifto, Sc Reytoria da Mitra, que rende ao todo cem mil reis, Sc para o Co-
mendador com a annex a duzentos Sc cincoenta mil reis , tem noventa vifí-
nhos.
S.Vicente de Soufa foy Mofteiro antigo, paíTou a Abbadiá fecuíar , que
aprefentavaoCondede Figueiró, rende com fabidos trezentos Sc cincoenta
mil reis, tem cincoenta vifínhos.
Santa Maria de Idaés,Abbadia da Mitra, rende coma anriexa de SantaMa-
rinha quatrocentos milreis, tem noventa vifinhos.
Santa Marinha de Ravinhade, Vigairaria annexa à Commenda de S.Pedro
de Torrado , rende ao todo quarenta mil reis , Sc para o Commendador no-
venta,tem trinta Sc dous vifinhos.
S. Martinho de Penacova, Vigairaria do Mofteiro dePombeiro, que ren-
de ao todo fefienta mil reis, Sc para o Convento de Tibaens , a quemeftá ap-
plicada, Sc Frades Dominicos de Mancelios, Sc Amarante, cento Sc cincoenta
mil rei s, tem fefient a vifinho s.
L ij Cout9
ji4 ; TOMO PRIMEIRO
Couto de cPombeiro.
. . ' i l • ' -i J J • "
y - f »ri' 1/ - 'f
SAnta Maria de Pombeiro he Moíieiro de Frades Bentos, íituado ao pè do
monte Columbino perto do rio Vizeila para a parte do Meyo dia , huma
. legoade Guimaraens,juntQ da eítrada, que vay defla Vilia para a de Amarante,
& para a Provincia de Trás os Montes. Teve duas fundaçoens, a primeira era
hum lugar perto do rio, a que mda hoje chamaõ o Sobrado , donde tomou o
nome o Moíkiro, que eilava ao pè de hum monte que chamaõ de Santa Cruz,
porter no feu cume huma Ermida do meímoOrago. De lua primeira fundaçaõ
naõha clareza, por fenaõ acharem no feu Cartorio papeis, que a declarem ; &
iç fe acha hum prazo cm pergaminho antiquiílimo , que o Dom Abbade dclle
Frey Hugo fez a Domingos Annes de Val-melhor das Bouças de PayoCapello
no anno do Senhor de j66- a que hoje chamaõ Val-melhoraao corrupto de Val-
de-melhor- Também fe acha hum Breve do Papa Leaõ IV. paffado a 9• de Fe-
vereiro do anno de Chriflo de 855» para certas demandas , que os
Rêligiofos delle traziaõ com os Ricos homens Padroeiros feus , por lhes nam
quererem pagar as comedorias, & penfoens coílumadas, & ainda nos annos re-
feridos exiítia na fua primeira fundaçaõ com o nome de Sapta Maria do Sobra-
do.
A fegunda fundaçaõ deíle Moíieiro fe fez pouco mais abaixo da primeira
em hum íitio baixo cercado de montes com pouca vifta, porque fó para a parte
deGuimaraenstem húa aberta mais eílendida,q lhe fezorio Vizeila coma fua
ribeira. Foyfeu fundador ElRey Dom Fernando o Magno pelos annos do Se-
nhor de 1041 • & foy a fegunda coufa de todas quantas fundou, Sc o deu a feu
fobrinho o Conde Dom Gomes de Cella nova, a quem o Conde Dom Pedro no
feu Nobiliário tit. 2 2 • faz caiado com Dona Sancha Gomes Echigas; mas o Pa-
dre Frey Fclippe de Laganderano feu livro dos Triumphos , & feitos herói-,
cos dos filhos deGalliza c. 12. n-8. diz q o Conde D. Nuno de Cella nova fo-
ra caiado com a Condeça Dona Velafquita, filha do Conde Adulfo , & que de-
pois de viuva fe metera Freyra- Eíle Conde Dom Nuno foy Conde do Porto,
& por morar em Cella nova fe chamou aílim3 foy da familia dos Soufas , & por
iflfo eftes foraõPadroeiros muitos annos deiíe Moíieiro,a quem o feu fundador
ElRey Dom Fernando o Magno poz. o nome de Santa Maria de Pombeiro : he
Cafa grande, em que muitas vezes houve Coliegio; antes que cntraífe em Ab-
bades da fua Congregação, andou muitos annos em Commendatarios da fami-
lia dos Mellos & Sampayos , & foy o ultimo delles Dom Antonio de Mello &
Sampayo pelos annos de 1 f 28. atè ode 1560.
Por morte do Commendatario Dom Antonio de Mello & Sampayo pedio
a Rainha Dona Catherina (que por falecimento de feu marido ElRey Dom Joaõ
o Terceiro governavaeíleReyno) ao Papa Paulo IV. o'Moíieiro dePombeira
para o reformar, & concedendolhoelle,foraõ tantas aspetiçoens, que fefize-
raõàditaRainha,qaobrigàraõatornalloapedir aS-Sâtidade para oSenhor D.
Antonio,filho do Infante Dom Luis, Duque de Beja; mas o Papa lembrandofc
que ella lho tinha pedido para o reformar , lhe refpondeo que já que o naõ re-
formava, o queria dar a hum feu Nepote, que foy S. Carlos Borromeu , o qual
poíTuindo-o pouco tempo , o renunciou com penfaõ de tres mil cruzados no
dito fenhor D- Antonio pelos annos de 1564. & por fua morte entràraõ os
Pre-
D A COROGRAFIA PORTUGUEZA. itj
Prelados da Reformação, fendo o Mofteiro governado primeiro por Priores,
& depois por Abbades; & o prime ronque foy eleito no anno de 1570* para o
governo deite Convento de Pombeiro debaixo da obediência de hum Cerai >
foy o Padre Frey jeronymode Guimaraens ; & çontinuàraÕ os Priores no go •
verno delle atè o anno de 1590. em que entrou por primeiro Abbade o Padre
Fr. Bernardo de Braga- _ . -
De todas as obras antigas, & fabrica deite Mofteiro fo permanece a Igre-
ja, que he grande, & fermofa ; tem huma grande imagem de N. Senhora 5 he muy
antiga, & foy tammiraculofanaquelles primitivos annos , que os grandes Ca-
pitaens, quando hiaõ para a guerra, fevinhaõ valer delia, & voltavaõ a darihe
os agradecimentos com os defpojos das vitorias, que ganhávaõ , & por elre
refpeito fe appellidou o Convento de Noífa Senhora. Sobre a porta principal
tem hum prande efpelho, que terá em circuito de noventa atè cem palmos , «Sc
por remate da parede tem hum Leaõ rompente. Defronte deita porta citava
hua Gallilé dc tresnaves muy alta,& fermofa,toda de abobeda,& eíquadria na
qual eítavaõ por ordem abertas todas as Armas da nobieza antiga de Pcitu-
gal: de modo que quando havia alguma duvida ibbre eíta materia, a Gallile de
Pombeiro, & armas, que uella eítavaõ, ferviaõ de juiz. Toda eíta fabrica com
as injurias do tempo veyo ao chaõ, & fe perdeo eita grandeza particular de Põ-
beiro. No anno de 1568. quando o Cardeal Dom Henrique íe mandou infor-
mar dos Morteiros de S. Bento, que havia, ainda fe faz menção deita Gallilè,mas
iá muy damnificada-
Todo o mais Mofteiro, ôtofficinas delle fe fizerao de novo do tempo da
Reformação atè o prefente: tem tres dormitórios em quadro , hum com as ja-
nellas para o Nafcente, outro para o Mey o dia, & o terceiro para o Poente com
cellas altas, & baixas. Da parte do Norte o fica amparando a Igreja. Aos la-
dos da porta principal delia fe fizeraõ duas torres, em que eítaõ os finos, &c re-
lógio,todas de cantaria muy bem lavradas com feus curucheos, «Sc remates,obra
muy perfeita. Tem huma clauítra muito grande, de columnas muy grofias, cõ
fermofa galariano andar de cima- Em hum lanço da melma clauítra eíta o re-
feitório , &cafa do Capitulo, tem mais huma Sancnftia nova, ornada com
exce llentes payneis, & bons ornamentos, & huma grancic cerca , toda mui ada
de pedras & cab que confia de vinha, pomares, hortas, campos , & terras de
paõ, pelo meyo da qual corre hum ribeiro de agua, que a faz muy fecunda.
Aprei então Dom Abbade deite Mofteiro Cura fecular, que tera de renda
ao todo íetenta mil reis, ¶ os Frades duzentos & cincoenta mil reis,
tem cento & vinte vifmhos,& refidemnefte Convento vinte & quatro Frades,
que fe fuftentaõ dos dizimos das Igrejas annexas,& fabido ■, que importaram
tres mil & quinhentos cruzados- Tem Couto no civcl , no crime he de Fel-
gueyras: o Dom Abbade ferve de Ouvidor, faz Juiz, Procurador, & Portei-
ro por eleição do Povo. . . " . . ,
He fenhor de Felgueyras Antonio Luis Pinto Coelho , cujavaronia he a
^Alvaro Vafqucs Guedes foy filho de Gpnçalò Vaz Guedes, fenhor de Mur-
ça: cafou com Dona AnnaIfabeldeMefquita,filha deFernaõde Mefquita,que
inftituío o Morgado da Sobreira 110 termo de Souzei, Sede fua mulher Joanna
de Lucena, de que teve, entre outros filhos, a . i
Gonçalo Vafques Guedes, que cafou com Dona Maria Pereira > filha de
Nuno Alvares Pinto , & de fua mulher Dona Maria Pereira de Sampayo , de
L ílj
126 TOMO PRIMEIRO
que teve., entre outros filhos, a
Francifco Vaz Pinto, que caíòu com Dona Maria de Valença, filha de Frã-
cifco de Valença, fidalgo Caílelhano, natural de C,amora, & defua mulher Ma-
ria de Burgos, de que teve, entre outros filhos,a
Gonçalo Pinto, que foy Alcayde mór de Bailo,ôtinílituío oMorgado de
Retaens de Bailo: cafou com Beatriz da Cunha, filha de jeronymo da Cunha,
& de fua mulher Dona Leonor Taveira, de que teve, entre outros filhos, a
Francifco Pinto da 'Cunha, que toy Alcayde mór de Cerolico de Bailo, &
Commendador de S. Salvador de Forges na Ordem de Chriílo: cafou com Do-
na Fràncilca de Noronha, filha herdeira de Ayres Gonçalves Coelho , fenhor
de Felgueyras, & Vieira, & delia antiga Caía, que deu EIRey Dom Joaõ o Pri-
meiro a Gonçalo Pires Coelho de juro , & o Couto de Canellas no anno de
1436. & de íua mulher Dona Maria de Noronha,filha de Francifco de Abreu, fe-
nhor de Regalados, de que teve,entre outros filhos, a
Antonio Pinto Coelho, que foy fenhor de Felgueyras , & outras terras,
cafou com Dona Francifca de Ataíde, filha de Dom Antonio de Almeyda, Com-
mendador de S. Martinho da Soalheira, & da Bempoíla na Ordem de Chriílo,&
de fua mulher Dona Magdalena de Ataíde, de que teve, entre outros filhos, de
que abaixo faremos mençaõ, a
Joaõ Pinto Coelho, que foy fenhor de Felgueyras , & das mais terras de
feus avôs, cafou com Dona Mariana Francifca Pereira da Sylva, filha única, &
herdeira de Fernaõ Pereira da Sylva,fenhor de Fermedo,õt Cabeceiras de Bailo,
& de fua mulher Dona Maria da Sylva, por cujo cafamento herdou a antiga Cafa
dos fenhores de Fermedo, que defccnde por varonía de Alvaro Pereira, tercei-
ro Marichal de Portugal no tempo delRey Dom |oaõ o Primeiro, & tronco da
Cafa da Feira: teve da dita fua mulher os filhos leguintes-
Antonio Luis Pinto Coelho, de quem logo fadaremos,Jofeph Pinto Coe-
lho, Gonçalo Pinto Coelho, Francifco Pinto Coelho, Lourenço Pinto Coelho,
que morreo menino, Dona Francifca Joanna de Ataíde , que cafou com Joaõ
Pinto Pereira feu tio, fenhor do Bom Jardim , & Dona Joanna Manoel de Vi-
lhena, Freira em S- Bento do Porto.
Antonio Luis Pinto Coelho he Senhor de Felgueyras, Vieira, Fermedo, &
outras terras: cafou com Dona Anna Maria de Noronha, filha de Luis de Soufa
de Menezes, Copeiro mór, & de fua mulher Dona Mariana de Noronha,filha de
Dom Sancho Manoel, primeiro Conde de Villa Flor, de que teve a Joaõ Pinto
Coelho, Fernaõ Pereira, que morreo menino, & a Dona Mariana : cafou fe-
gunda vez com Dona Mariana da Sylveira & Noronha,fua fegunda prima, filha
de Mar tim Teixeira Coelho, fenhor de Teixeira, & de fua mulher D. Anna Ma-
ria de Mefquita & Sylveira, de que tem duas filhas.
Antonio Pinto Coelho, que foy fenhor de Felgueyras, & cafado com Do-
na Francifca de Ataíde, teve filhos a Joaõ Pinto Coelho , de quem acima fize-
mos mençaõ, Francifco Pinto da Cunha, Jofeph Pinto Coelho , Dona Magdale-
na Joanna de Ataíde, que cafou com Fernaõ Pereira da Sylva , fenhor de Fer-
medo, fogro de feu irmaõ Joaõ Pinto Coelho, de que naõ teve fucceífaõ, & por
fua morte cafou fegunda vez com feu primo Antonio Luis Vaz Pinto Pereira:&
a Dona Mana Luiza Antónia de Portugal, que cafou com Manoel Guedes Pe-
reira, Commendador na Ordem de Chriílo, Alcayde mór de Condexa , & EL
crivaõ da Fazenda de Sua Mageílade, ( o qual era filho de Francifco Guedes
Pereira, Efcrivaõ da Fazenda de Sua Mageílade, & Alcayde mór de Condexa,
&de
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. tit
& de fua mulher Dona Maria de Azevedo) de que teve a Antonio Guedes Pe-
reyra, que he Commendador na Ordem de Chrifto, Alcayde mór de Condexa,
& Efcrivaõ da Fazenda de Sua Mageftade, a ]oaõ Guedes Pereira, Luis Guedes
Pereira, Jofeph Guedes Pereira, Manoel Guedes Pereira , Dona Franciíca Joa-
na de Ataíde, Dona Maria Therefa de Portugal, Dona Therefa Joanna de Por-
tugal, Dona Joanna Therefa de Portugal, &Dona Inez Antónia de Portugal,
todas Religiofas no Mofteiro de Santa Clara ac Lisboa.
CAP. XXIV.
Honra de zZMejnedo.
ESta Honra fe compoem de parte da Freguefia, & Couto deífe nome em Pe-
nafiel de Soufa com que parte, & com Unhaõ : faz o povo juiz, & o íenhor
.delia aprefenta Efcrivaõ, que ferve de tudo. He íenhor delia , & Conde de
Unhaõ Rodrigo Telles de Cartro & Menezes , cuja illuítre varonia he a íe-
guinte.
Gonçalo Gomes da Sylva foy Rico homem em Portugal, Alcayde mór de
Montemór o Velho, Embaixador a Roma, primeiro fenhor de Vagos, & Unhaõ,
Tentúgal, Geftaço, Sinde, Buarcos, & outras terras: cafou com Dona Leonor.
Gonçalves Coutinho,filha de Gonçalo Martins da Fonfeca Coutinho , íenhor
do Couto de Leomil, & de Dona Joanna Martins de Mello, & foy feu primeiro,
filho Joaõ Gomes da Sylva Rico homem, & legundo fenhor de V agos, Unhaõ,&
mais terras, Alferes mor, & Copeiro mór delRey Dom joaõ o Primeiro, & do
feuConfqlho, Alcayde mór de Montemor o Velho, & Embaixador a Cartella ;
cafou com Dona Margarida Coelho, filha de Egas Coelho , 'primeiro fenhor da
Villa de Montalvo, Mertre-fala delRey Dom Joaõ o Primeiro de Portugal, & de
Dona Mayor AffonfoPacheca, &foy feu primeiro filho Ayres Gomes cia Sylva,
quefoy terceiro fenhor de Vagos, & Unhaõ, & mais terras , Alcayde moi de
Montemór o Velho, & Regedor da Jurtiça, o qual cafou fegunda vez com Do-
na Brites de Menezes, filha de Dom Martinho de Menezes^ íegurjdo fenhor de
Cantanhede, & de Dona lhereía Vafques Coutinho ,, da qual teve a Joaõ da
Sylva, que foy quarto fenhor de V agos , & continua a lua linha até o prel ente
Conde de Aveiras, & a FernaÕ Telles de Menezes , que foy quarto fenhor de
Unhaõ, (em quemfefeparouertaCafa da de Vagos ) & fenhor de Meynedo,
Sepaés,& Ribeira de Soàs, Cornmendador de S- Salvador de Ourique na Or-
dem de Santiago , & Mordomo mór da Rainha Dona Leonor, mulher delRey
Dom Joaõ o Segundo: cafou com Dona Maria de Vilhena , que foy Camareira
mór da dita Rainha Dona Leonor , filha de Martim Aífonfo de Mello, Alcay-
de mór de O ivença, & Guarda mór dos Revs, Dom Duarte , & Dom Aífonfo o
Quinto, & de fua mulher Dona Margarida Coutinho de Vilhena , íenhora de
Ferreira de Aves, da qual teve, entre outros filhos, a ^ ®
Ruy Telles de Menezes, que foy quinto Senhor de Unhaõ, Mordomo mór
da Rainha Dona Maria,fegunda mulher delRey Dom Manoel, & depois Mor;
domo mór daEmperatriz Dona Ifabel, mulher do Emperador Carlos Quinto:
cafou çom Dona Guiomar de Noronha, filha deDomPedrode Noronha,^ Com-
mendadormór da Ordem de Santiago, Mordomo mor delRey Dom Joaõ o Se-
gundo, & fenhor do Cadaval, & de fua mulher Dona Catherina de Tavora, da
qual teve, entre outros filhos, a
Manoel Telles, que foy fexto fenhor de Unhaõ , & cafou çom Dona Mar-
garida
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA tip
garida de Vilhena, filha dc Dom Fernando de Caftro o Magro , Capitaõ da Ci-
dade de Évora, & de fua mulher Dona Maria de Vilhena,da qual teve,entre ou-
tros fiíhos, a
Fernâõ Telles, que foy feptimo fenhor de Unhaõ, & caiou com Dona Ma-
riana de Caftro, filha de Dom jeronymo de Noronha o Bacalhao, Capitaõ de Ba-
çaim, & de Dona Maria de Caftro, da qual teve a
Ruy Telles,que toy oitavo fenl.or de Unhaõ, & cafou com Dona Maria-
na da Sylveira,filha herdeira de Vafco da Sylveira, Commendador de Arguin,
& de Dona Ines de Noronha, da qual teve a
Fernaõ Telles de Menezes, que foy nono fenhor , & primeiro Conde de
Unhaõ por mercê delRey Dom Felippe o Terceiro, feita no anno de i £30. ca-
fou com DonaFrancifca de Caftro, Dama da Rainha Dona Ifabel de Borbon, fi-
lha de Dom Martim Affoníb de Caftro, Vífo-Rey da índia, & de Dona Marga-
rida de Tavora, de que teve a
Dom Rodrigo Telles de Caftro & Menezes, que foy decimo fenhor , &
fegundo Conde de Unhaõ: cafou com Dona J uliana Maria Maxima de Faro, fi-
lha herdeira de Dom Dim#, fegundo Conde de Faro , & de íua, mulher Dona
Magdalena de Alencaftre, de que naõ teve filhos : cafou fegundavez com fua
pr ima Dona Joanna de A lencaftre, filha de Dom Rodrigo de Alencaftre, Com-
mendador de Coruche, & de fua mulher Dona Ines de Noronha , da qual te-
ve a
Dom Fernaõ Telles de Menezes Caftro & Sylveira , que foy undécimo
fenhor, & terceiro Conde de Unhaõ: cafou com Dona Maria de Alencaftre, que
hoje he Marqueza de Unhaõ, & Aya dos Principes,filha de Dom Martinho Maf-
carenhas, Conde de Santa Cruz , & de fua mulher aCondeça Dona Juliana de
Alencaftre , da qual teve a Dom Rodrigo Telles Caftro Menezes & Sylveira,
que he duodecimo fenhor, & quarto Conde de Unhaõ , cafado com Dona Vi-
ttoria de Tavora, filha de Miguel Carlos de Tavora Conde de S. V icente, & da
CondeçaDona Maria Caietana fua mulher.
CAP. XXV.
Couto de dAíancellos.
\ , -
SAm Martinho de Mancellos com feu Couto, & jurifdição , que inrtituirant
Men Gonçalves da Fonfeca,&fua mulher Dona Maria Paes de Tavares no
anno do Senhor de 1120. & o deraõ aos Conegos Regulares de Santo Agofti-
nho, que o poifuíraõ atè o de 1 em que ElRey Dom Joaõ o Terceiro o deu
aos Religiofos de S- Gonçalo de Amarante da Ordem de S- Domingos por doa-
çaÕ, que confirmou o Papa Paulo Terceiro por Breve paíTado no anno de M4.2.
He Vigairaria fecular do Ordinário, rende cento & trinta mil reis , & para os
Frades com as annexasem Cerolico, cinco mil cruzados* Aífiftem nelle cinco
Religiofos com hum Vigário- Tem efta Fregueíia duzentos viíinhos.
Cou-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 131
Couto de Travança,
C0I
Frey Martinho da Efperança, que foy Frade de S. Franciíco.
Lu is Teyxeira da Sylveira, que foy Abbade da Villa de Cah 1 s.
Dona ]ofepha,&Dona Joanna Freiras de S-Clara de Amarante.
Tem efta Villa duzentos viíinhos, & rende ao fenhor delia trezentos mil
reis, com huma fingular prerogativa por Breve Apoftolico de eftar o Santillimo
Sacramento na Capella das cafa&do Donatário,& a aprefentaçao dos officios, &
Padroado da Igreja rendemaisde trezentos milreis ; vagou para aCoroa no
anno de 16 73 por morte do ultimo DonatanoErancifco da Sylveira, que mor-
reo fem filhos, & fez delia mercê, entre outras, EIRey Dom Pedro o Segundo a
Roque Monteiro Paim, cujavaronia he a feguinte.
Martim Affonfo Monteiro foy filho de Affonfo Monteiro, & netodeNuno
Martins Monteiro,bifneto de Martim Paes Monteiro, terceiro neto de Payo
Monteiro, quarto neto de E gas Monteiro, quinto neto de Ruy Monteiro, que
foy natural de Penaguião, & alem dos bens, que poffuio no dito Concelho, te-
ve o Padroado de Santa Ovaya de Andufe no Reynado delRey Dom Affonfo
•Henriques: teve o dito Martim Affonfo Monteiro de fua mulher a Fernão h
tins Monteiro, que viveo algum tempo na Cidade dò Porto, & nella foy erea-
dor no anno de 14.Ç4. & Juiz ordinário no de 14.70. foy criado da Cafa de
Bragança, feguindo as partes do Senhor Duque Dom Affonfo nas alteraçoens
delRey Dom Affonfo o Quinto com feu tio o Infante Dom Pedro, & depois co-
tinuou a mefma fidelidade com os Senhores Duques, Dom Fernando o Primei-
ro, & Dom Fernando o Segundo, & os apoí entou em Cedofeita, quando pa a-
a dita Cafa, &fizeraõ aufentar o Senhor Duque Dom Jaymes: calou na Cidade
de Évora com Ines de Pontes, filha de Salvador Antunes,& de Ifabel de Pontes,
da qual teve a Gonçalo Fernandes Monteiro , o qual teve a Diogo Fernandes
Monteiro, que foy 'Sargento mór no Terço de Dom Manoel de Caftellobranco
113
^ M^t^Fern^^es^^cm^eiK^que depois de fer Capitaò de hum dos Na-
vios defta Coroa, que foraô às Ilhas, fe retirou por caufa de hum crime para o
Couto de Palma, termo da VilladeMonforte : caiou na erade 1624.. na Villa
do Crato com Ifabel Fernandes, filha de Gil Annes de Abreu , c"jdo J0 ""
fante Dom Luis, & o primeiro Provedor da Mifencordia da dita Villa do Cra-
to, Ôt de fua mulher M aria Fernandes, da qual teve a r -
Pedro Fernandes Monteiro, que viveo na Villade Monforte, 5c cafou co
Brites LopcsFalcato,filhade Affonfo Lopes o Befteiros , natural da ViUa de
Veiros, & de fua mulher Guiomar Rodrigues Falcato, da qual teve a
Martim Fernandes Monteiro, que foy Efcudeiro da Cafa áaSephoraDo-
na Catherina Duqueza de Bragança, 6c Juiz dos Orfaos dadita V tila^Mon-
forte: cafou com Ifabel Vaz da Guerra, natural da meímaViUa,filha de Affonfo
Alvarez Manteigas, & de Anna F ernandes Pichim, naturaes da mefma Villa, da
411131
Doutor Pedro Fernandes Monteiro,o qual fendo ouvidor da Çáfa dean
Bra-
M g Ça>
134 TOMO PRIMEIRO
gança, fazia delletanta eíiimaçao o Senhor Rey Dom Joaõ o Quarto, que fioh,
delle o fegrcdo da Acclamaçaõ,& com o dito Rey paffou a Lisboa,aonde teve o
merecido valimento pelas fuas letras, & fiel fervíço da Cafa de Bragança : fuc-
ceífivamente continuou o mefmo valimento com o Principe Dom Theodoíio, a
Rainhn Dona Luiza, ElRev Dom Affonfo o Sexto , & ultimamente com ElRey
Dom Pedro o Segundo: foy do Confelho dos ditos Reys , & Defembargador
do Paço,& juiz da Inconfidência , qiíe exercitou toda a fua vida com valor,
conífancia, & fortuna, & fumma fidelidade, & foy hum dos Miniftros da Junta
do governo, que a Rainha Dona Luiza mílituío fobre todos os Tribunaes , &
para todos os negocios militares, & politicos, com o qual felizmente fe çonXe-
guio a expedição dos ditos negocios, & bom fucceffo dclles' s caiou oom Dona
Confiança Paim, natural da Villa de Veiros^filha de Roque Alvarez Franco,&
de Leonor Rodrigues Paim, (filha de pedrò Luis Paim , que fervio a Senhora
Dona Catherina,Duqueza de Bragança , com grande efiimaçaõ, & teve de
moradia cento & feífenta mil reis, numa das mayores daquelle tempo, & a lò~
grou até o da fua morte,depois de retirado por idade , & achaques paraa dita
Villa de Veiros, como coníia do Alvará,q fe paífou da dita mercê) da qual teve
a Martim Monteiro Paim, q he Clérigo de virtude, & letras, Defembargador
dos Aggravos, Deputado da Mefa da Confciencia, & Cõmilfario da Bulla dá
Cruzada,& Antonio Monteiro Paim tabem Clérigo,Deaõ da Se de Coimbra,&
do Concelho geral do Santo Officio em Lisboa, & a
Roque Monteiro Paim, que foy fucceífor da Cafa, & verdadeiro imitador
das virtudes de feu pay, & tem o mefmo trato, & a mefma confiança dos nego-
cios públicos, & particular da confervaçaõ, & efiado do Reyno: naõ feguio as
letras depois de as profeífar,& ferCollegial doCollesioReal dc Sàõ Paulo de
Coimbra, & de fer provido em huma Cadeira de Leys da dita Univeríídadc : he
do Confelho delRey, & feu Secretario, Juiz Prefidente da Junta da Inconfidên-
cia, fenhor da Villa, & Honra de Cahís por mercê delRey Dom Pedro o Segun-
do, pelos ferviçosde feu pay, Commendador de Santa Maria de Campanhaã na
Ordem de Chriíio, &. fenhor dos Concelhos de Refoyos, & Maya : cafou com
Dona Joanna Francifca de Menezes,filha de Lourenço de Mello & Sá,& de fua
mulher Dona Bernarda Michaelada Sylva,dequeteve a Pedro Fernandes Mo-
reira, lenhor da Cafa de Alva, que morreo folteiro, a Dona Leonor de Vilhena,
que faleceo de dezafeis annos eiiando defpofadacomD. Joaõ Diogo de Ataí-
de, filho legitimo dos Condes de Atouguia 5 a Dona Confiança Luiza Paim, q
hoje vivecafadacomodito Dom Joaõ Diogo de Ataíde, Sargento mór de Ba-
talha; a Do na Maria Antónia, & Dona Leonor, ambas folteiras.
CAP. XXVI.
da Villa de Canaveses.
VlíinI
Santa Maria de Sobre T amega, àquem defte rio , Abbadia que aprefentaô
os Admimrtradores do Hofpital, rende duzentos mil reis , tem noventa vifi-
Couto de Tuyar.
I • • . * ' . . rh ; , w« oi
CAP. XXVII. "
1 n\ > 3D OS lo:. 'V
T>o Concelho de (jouvea de ddjbaTaniega.
Couto de Taboado.
CAP. XXVIII.
TM ■ ff y
»
T)o Concelho de Çejlaço.
VlíÍn
s?í fidoro deSanche, Vigairaria das Freyras da Conceição de Braga , tem
trinta & cinco vifinhos. r x* n ■ j r?
Santa Maria de Jazentehedo Bifpado do Porto, foy Mofteiro de Freyras
antigamente, & nelle Abbadeça DonaConftança Martins Frazao, filha de Mar-
tini Frazão, a qual de Martim Gonçalves Leitão , terceiro Meftre da Ordem
de Chrifto, eleito no anno de 1327* &falecido no de 1335. teve a Dona Leo-
nor Martins, mulher de Gonçalo Paes de Meira. PaíTou a Abbadia fecular ,que
aprefentão os Bifpos do, Porto, rende duzentos & cincoenta nnl reis , tem qua-
torze vifinhos.
Honr&
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 14,
CAP. XXIX.
mm w
cap. xxx.
S. Jorge de Pedraça fica também alòm do rio Tamega, & he Curado do mef-
mo Mofteiro, tem vinte & nove vifinhos. ' ! d
CAP. XXXI.
_ - . r r .*t *' j l 1 * » ' '•» 1 Jti 1 * •» * ÍD í •
DEfte Concelho, & do de Cerolico parece que, fendo ainda my Ricos, teve
principio o chamarem-fe ambos terra de Bafto , de que deviaõ fer fe-
nhoresos defcendentcs de Dom Guedao Velho,filho deMemGornes Muçara-
be de Toledo, que paliou a efteReyno com o Conde Dom Henrique , & lhe
deuBarrofo,& Aguiar de Pena, termos vifinhos defte, de que feus fucceífores
fe appellidàraõ Barrofos, Aguiares, & Baftos: & também delle fe entende virem
os Mafcarenhas; &. dos Barrofos defeendem hoje em Caftella os Marquezes de
Malpica, & Povar. Dizem alguns que efte tronco de todos vinha dos Godos,
& que o folar dos Guedas he em Noruegia, aonde teve fua origem antes da vin-
da de Chrifto. Aqui he o dos Baftos, que tem as mefmas Armas do - Barrofos 2
em campo vermelho cinco Leoens de prata faxados de duas faxas de purpura
cada hum, huma pelo pefcoço, outra pela bárriga, empequetados dé Ouro, pof-
tos em afpa, timbre hum dos mefmoSjLeoens.
tjo TOMO PRIMEIRO :>
A eíle Concelho deu foral ElRey Dom Manoel em Lisboa a f • de Outu-
bro de if 14. Foy delle fenhor Dom Chriflovaõ de Moura , & hoje he
da Coroa he cabeça delle o lugar das Pereiras , tem dous juizes ordiná-
rios jtres Vereadores , bum Procurador por eleição do Povo triennal , a que
prefide o Corregedor de Gtiímaraens, cinco Tabeliaens , Elcrivaõ pordiflri-
buiçaõ nos Coutos, juiz dos Orfaos com feuEfcrivaõ, Diftnbuidor , Enque-
redor,& Contador, Meirinho, que ferve de Carcereiro , Efcrivaõ das Sizas
com ordenadono Almoxarifado deGuimaraens- Eíle fertilifiuix) valle fituado
entre duas montanhas fe dilata por efpaçode tres legoas,tendo em partes mais
de huma de largo; dá bem paõ, azeite,bom vinho de enforcado),! frutas, mel,
hervagens, muitos gados de todaaforte, muitacal>anha ,& caça ; tem Capitaõ
mor, & Sar get o mór de cinco Cõpanhias,& cõpoc-fe dasFregliefías feguintes-
Santa Senhorinha foy Moíteiro, que fundàraõ íeus parentes para feu re-
colhimento, & de outras Vreyras da Ordem de S- Bento, que com eíla Santa ia-
biraõ do feuMofieiro dei Vieira, donde eraõ moradoras tendo efla ferva de
Dtos noticias que a terrade Bailo eraaccommodada para nella fãzerem fua ha-
bitaçaõ, a foraõ fazer 11a Freguefia de Santiago da Faya junto de hum pequeno
rio, que naqueljaparagcmiechamao rio Bailo, que a poucos pálios fe mete no
Douro. Indo pois caminhando a Santa com as luas Religiofas a povoar o ftu
Moíleiro, chegáraõ a hum lugar, que.cbamaõ Carrazedo, & querendo todas
defeançar à fombra de hum grande, ôtírondofo carvalho , cujo tronco inda
hoje í'e moííra , & por ferverde pavdhaõ para reparo do Sol daquellas fantas
fervas de Deos, nam falta a devoção dos fieis Catholicos daquelles contornos
para o irem ver, & darem nove voltas ao redor delle, offerecendo com eíle mais
ruílico que fuperíliciofo culto a aque la Santa fuas oraçoens. E como a Santa,
&íuas Religiofas namtinhaõ rezado Vefporas, para que as rezaílem a feu tem-
po, con.o manda afuaRegra,ordenou.queasrezaíTcm alli , aonde tinhaõ de-
fronte huma fonte , cujas aguas íufpcndiaõ fuas correntes<jm huns grandes
charcos, que tinhaõ criado muita quantidade de rãs; & tanto que as Religio-
fas comcçàrao a rezar, deraõ ellas também principio à fua coiiumada , & im-
portun a diífonancia, que por fervi r de eíiorvo âsfervas de Deos , a Santa Se-
nhorinha as mandou calar: Òcforaõ dias tam pônfuaes em lhe obedecerem,quc
nam fófeaquietàraõ,&fufpendèraõ fuas vozes, mas nunca mais apparecèram
naquelle lugar. Neíle Moíteiro ^S^mta Senhorinha eíleveFIRev Dom San-
cho o Primeiro de Portugal huma novena, pedindo a eíla Santa alcançaífe por
feus merecimentos de N- Senhor faude para feu filho oPrincipeDom AfFonfo,
que eflava gravemente enfermo, &oomperigo demorte. Alcançoulhe a Santa
o que pedia; & durando ainda a iuanovena , lhe rrouxeraõ novas em como o
Principe eflav^ já melhorado, & livre' de perigo. Agradecido ElRey , fez hum
Couto à Igreja de Santa Senhorinha, o qual todo.correo , & andou a pè apon-
tando os l ugares, aonde fe haviaõ de meter os marcos , mandando por o pri-
meiro à'fua viílã junto do rio de Moles, quando entra em Bafio y & os outros
encomendou a". Dom Gonçalo Mendes, que naquelle tempo era fenhor da terra,
que com tóda a diligencia osmandaffe pòr nos lugares, que ficavaõaífinados •
o que tudocopflá de huma efcritura,que.fe guarda no Archivo de Braga. Ex-
tinguiofe eôé Couto, com que delle naõ ufa eíla 1 greja.
Nam foy-fo ElRey Dóm Sancho o Primeiro o que com taíita devoção hon-
rfett, & venerou efta Igreja^roas tainfaém ElRey Dpm Pedro aPrimeiro, o quaf
lhe ânnexou a Igreja de Salto em terra dt Barrofo com certas-dondiçoens, das
-dte •• [uM * quaes
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. ' iff
quaes huma era , quena dita Igreja de Santa Senhorinha ardeflfem fcmpre tres
alampadas, huma diante de Noffo Senhor Jefu Chrifto crucificado, outra dian-
te do fepulchro da Santa, & a terceira diante da fepultura de leu irmaõ S* Ger-
vafio: & declara o Rey na data daquellà mercê, que a Rainha Dona Ines de Caf-
tro fizera a Capella do melmo Saõ Gervaíio- O defcuido dos antigos nos dei-
xou fem luz parafâbermos quanto tempo duraíTe o Moíleiro de Santa Senhori-
nha a ilidido de fuas Rei igiofâs, & o tempo em que foy fundado , porque de
nada fc acha clareza verificada para fe poder allegar, & pôr em publico ; fó fe
acha que no tempo delRey Dom Affoniò Henriques eftavájà eíie Madeiro ex.
tinto, & a fua Igreja veyo depois a fer Abbadia, que aprefentavam os Pereiras,
fenhores da Quinta da Taypa, & hoje he do Padroado de Dom Gaftaõ Jofeph da
Camara Coutinho*
Santiago da fay a, Abbadia, que aprefenta còm referva o Prior do Crato,
a mayor Commenda, & Dignidade que tonne if e Reyno a Ordem de S. Joaõ de
Malta, rende duzentos mil reis,&tem fetenta vifinhos. Neila Freguefia eílá â
Quinta do Villar, que foy de Antonio de Lima de Noronha, Capitaõ mor def-
te Concelho, filho de Manoel de Lima de Abreu & Noronha, & neto de Franci fi-
co de Abreu, fenhor de Regalados*, hoje he de feus genros Bento Rabcllo Lôj
bo,& Balthafar Peneira da Sylva, da qual federão já ao dizimo mais de feifceiy
tos alqueires de calfanha.Chama-fe efta Parochia vulgarméte Santiago das Bi.
chas,potq emhu regato,cj por ella corre,ha muitas fanguexugas,& defide as pri-
meiras Vcfporas deiie Sãto âtè às fegudas cõcorre a elle em romaria muita gete
faa,& enferma de vários males, St hús mádaõ tirar eiles bichos pará os poré enl
^fi, outros metem as pernas na agua, ôt ãferrandofe nellas,lhes tiraõ quantidade
defangue, conique fe achaô melhor, & fe attribue a milagre do Santo, nam o
pegar dasfangueXugas, pois heíeu natural, mas o obrarê tanto bem repenti-
namente.
S. Martinho do Arco deÈagulhe , Vigairaria dos Frades Jeronymos de
Coimbra, tem cem vifinhos.
Santo André de ViliaNune, Vigairaria dos mefmos Frades, rem trinta Se-
leis vifinhos.
Sapta Marinha de Pedraça, Vigairaria dos mefmos Frades , terri fetenta
vifinhos* Aq ui he a poufada, aonde ha veftiaios de huma Torre, que o tempo,
& outras peífoasdesfizeraõ para fazerem caías. Neila viveo Vaicd Gonçalves
Barrofo, & fua mulher Dona Leonor de Alirim,que depois cafou com o Condef-
table Dom Nuno-Alvarez Pereira. Dizem fer folar dos Duques de Lerma , St
he erro de quem o faz em S* Miguel de Carvalho do Concelho de Cerolico de
Baífo. .
S. Joaõ de Cavês, Vigairaria do Convento de Pombeiro , tem fetenta vifi-
nhos- Neila Freguefia cítá fobré o rio Tartfega a ponte de Cavês , fundaçaõ dc
' Frey Lourenço Mendes , a qual divide eíia Província da de Trás os Montes,
junto delia tilava hum tumulo, St nclle fepultado o Mcíire, que a obràra , com
hum letreiro, que dizia : Efia he a ponte de Cavês, aqm jaz quem a fez. Ha
poucos annos a desfizeraõ pata outra abrà*
. S- Lourenço de Villar, Vigairaria annebeá dc Cavês, tem trinta & dous vi-
{inhòs*- ! • : 1 Lb ' i
S- Joaõ de Gundiacs, Vigairaria do Morteiro de Refoyos , tem trinta viu*
nhos* .
S* André deRio de Oura, Vigairaria do mefmo Malfeito, tem cento &Cim
eoenta & cinco vifinhos« S*
m s tomo primeiro; C ' <
s. Nicolao de Bafto, Commenda de Chrifto, & Reytoriaxla Mitra, que re-
de cem mil reis, & para o Commendador coma annexa ieguinte duzentos- &c
trinta milreis:temcentoôc dezviíinhos. Aqui eftáa illuitrc Cala da Taypa,<
folar dosPereiras Marramâques , que tam grandes homens íahiraõ delia para
todas as partes, Scconquiftas defte Reyno»
S. joaõ de Buços, Vigairaria ercda de S. Nicolao de Bailo, que apreíenta
o Rey tor, tem quarenta viíinhos.
Santa Maria de Aboim, Vigairaria do Abbade de Roças , que rende cin-
coentamil reis com ametade das oftcrras de NoíTa Senhora da Lagoa, ôt para o
Abbade fetenta mil reis, tem trinta & íeis viíinhos. Eftá efta tam devota,como
ahtiga imagem emhumfcrmofo Templo, que fe fundou de| efmolas no cume
de huma íerra, aonde quafi juntos partem efte Concelho com o de Guimaraens,
Monte-longo, & Cerolico de Bafto; tem hum largo terreiro cbm algumas arvo-
res, que o fazem aprazivel; entendefe que naquellas brenhas a deixaria algum
Chriftaõ, quaudo os Mouros entràraõemEfpanha , & depois a acharam huns
paftores, que nefta montanha apafcentavaõ o gado : a Imagem he de palmo &
meyo, morena , como faõ as mais daquelles tempos. Logo concorreo gente a
efta appariçaõ, de que naõ ha noticia do tempo cm que appareceo : fizeraôlhe
huma CapeUinha, aonde efteve muitos annos: mas das muitas efmolas, que de-
raõ innumeraveis romeiros,(que concorrem de varias partes, por feus infini-
tos milagres, defde cinco de Agofto até o ultimo fabbado do meímo mez, & o
mefmoconcuríode gente fe encontra do primeiro fabbado daQuareíma atè o
ultimo daquelle fanto tempo) fe fez efta grande Igreja, em que hoje eftá muito
bem ornada no meyo de hum ermo. __ •
Santa Maria de Varzea Cova, Vigairaria , aprefentação da dcOuteiro,
quefefegue '• rende com ametade das offertas de NoíTa Senhora da Lagoa cin-
eoentamil reis,& para os Frades Bentos , &Jeronymos de Coimbra fetenta
mil reis, tem quarenta viíinhos.
Santa Maria do Outeiro, Vigairaria dos mefmos Collegios, que rende oi-
tenta mil reis, & para os Frades cento & dez mil reis , tem fetenta & dous viíi-
nhos.
Santo André de Painzella, Vigairaria annexa de Santa Senhorinha , que
rende feffenta mil reis, & para o Morgado da Taypa cento & quarenta , tem
feffenta viíinhos.
S. Pedro de Alvite, Vigairaria do Mofteiro deRefoyos, que rende qua-
renta mil reis , & para os Frades cento & vinte mil reis , tem feffenta viíi-
nhos.
SA5 Miguel de Refoy os, Mofteiro de Frades Bentos, foy fundado por Her-
migio Fages em tempo dos Godos, & fe confervou em tempo dos Mouros,
por tributos, que os Frades lhes davão : eftá em lugar baixo de pouca vifta, &
tem defronte da porta principal da Igreja fermofa entrada com hum largo ter-
reiro muy comprido com padrão no meyo bem lavrado, 5c de hum lado olivei-
ras, & acipreftes poftos por ordem, & do outro alamos baftos, & altos,& mui-
tas aguas. Flouve aqui Monges de exemplar vida, & vivião alli feffenta & fete
Religiofos pelos annos de 1403. andou cm Abbades perpetuus até ode 1428.
•?ií cm
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 153
cm que começarão â entrar Abbades Commendatarios, &: foy o primeiro Dõ
Gonçalo Borges ? que com grande oílentação logrou aquelle lugar trinta &
quatro annos,"fio fim dos quaes lhe fuccedeo por renuncia lua feu fobrinhoDõ
Diogo Borges, que por morte do tio governou vinte & feis annos: renunciou
em outro feu fobrinho Dom Alvaro Borges, que faleceo no de 1496- tendo re-
nunciado em feu fobrinho Henrique Borges, que o teve trinta £c leis annos até
o de 1 f} 2. em que lhe fuccedeo o Doutor Francifca Borges, que faleceo no de
1537- não occupando cífe lugar mais de cinco annos j com que fe acabou o an-
dar nella familia no fim de cento & nove annos. Por morre do Doutor Francif-
co Borges entrou por Dom Abbade CommcndatariQj© Infante Dòm Duarte , fi-
lho natural delRey Dom Joaõ o Terceiro , que foy depois eleito emArcebiípo
de Braga; fuccedeo-lhe o Padre Frey Diogo de Murça-, Religiofo da Ordem de
S- Jeronymo, que governou a Cafa como Adminiílrador. perpetuo,& perfuadi-
dode alguns pedio ao Papa Paulo Terceiro extinguilfe eile Convento deRe-
foyos, & com as rendas delle fundaífem em Coimbra dous Collegios, hum de
S. Bento, outro de S. Jeronymo, & que do remanecente fe faria outro Collegio
de doze pobres; o que fe lhe concedèo pelos annos de 15-4.9. & chegando as Bui-
las a Coimbra, aonde elle era Reytor da Univerfidade por mercê do mefmo Rey
Dom joaõ o Terceiro, as mandou intimar aos Frades deRefoyos , os quaes
nam vindo nilfo, appellàraõ das Ccufuras. O mefmo Frey Diogo advertio a ra-
zão que tinhão , & pedio a Sua Santidade ficaíTe o Moíteiro empe com doze
Monges, & hum Prior, & fechamaífe Oratorio, & membro do Collegio de Saõ
Bento de Coimbra, ôc foífe reformado como os mais; o que tudo houve por beip
o Papa Paulo Quarto no anno de 15 f 5 • F aleceo neítc Molle iro o dito Padre
Frey Diogo no anno de 1570. & nelle fez muitas obras ; eftá fepultado na Ca-
pella mor da Igreja antiga: fuccedeo-lhe feu fobrinho Dom Joaõ PintoConego
Regrante de Santo Agoí!inho,nampor renuncia do tio, mas por Bulias,que lhe
alcançàraõ feus irmaõs em Roma; governou dez annos, & deixou o Moíteiro
por mandado delRey com certa penfaõ , que felhefatisfaria no Convento.de
Catámos da fuaOrdem^aondeferecolheo pelos annos de tf 70. em que entrou
a reforma ,& Abbades triennaes por Bulla do Papa S. Pio Quinto. Tinha eíte
Convento, nam ha muitos annos, muita renda , particularmente na Província
de Trás os Montes, aonde as repartia pelo meyo com os Duques de Bragança,
em razão que Vafco Gonçalves Barrofo primeiro marido de Dona Leonor de
Alvim, que depois cafou comoCondeítable Dom Nuno Alvarez Pereira, dei-
xou todos feus bens (que eraõ muitos osquepoíTuía) a efte Convento, aonde
fe fepultou, & os da mulher paífáraõ à Cafa de Bragança por cafarnento de Do-
na Brites Pereira, fua filha herdeira, & do Condeftable, com o primeiro Duque
O Infante Dom Aífonfo. Tinha grandes Quintas,-alheàraõ-fe numas t empra-
zàraõ-íè outras, & além do muito que lhe tiraõ nos fabidos, que importaõ tres
mil & quinhentos cruzados para Coimbra, fica com mais de tres mil cruzados
de renda com as Igrejas annexas,de que fuftenta trinta Frades. A Igreja he
bem ornada com muitas reliquias, aprefenta Cura fecular , que tem de renda
oitenta mil reis, & conda a Freguefia de quatrocentos vifinhos. Tem Couto
grande com Juiz no Civel, &Orfaõs, a quem o Dom Abbade dá juramento , &
palfa carta, & faz Almotacel, Mordomo, Coudel, jurados , & Quadrilheiros;
faõíeusos direitos Reaes,& penas delles,& o mefmo Prelado he Ouvidor para
quem feappella do Juiz: no Crime he o do Concelho,aquevay aíliftiro do Cou-
to : os mais Officiaes faõ os do termo, cõ que anda unida a Cõpanhia do Couto.
Couto
,54 TOMO PRIMEIRO
Couto de Abhadim.
SAÕ Jorge de Abbadim, Abbadia, que rende duzentos mil reis, a qual apre-
fenta Gonçalo Lopes de Carvalho, moço fidalgo da Cafa Real, & Cavallo*
rodo Habito de Chriílo, fenhor deíleCouto,& dodeNegrellos,emque apre-
fenta fomente Porteiro. Tem Juiz ordinário, &Orfaos , em cuja eleição an-
nual prefide o fenhor deíla terra: os mais Offictacs fao do Concelho. Tem Ga-
pitaõ à parte, & confia de cento & trinta vifinhos: ElRey Dom Manoel lhe deu
foral em Lisboa aos doze de Outubro de yri* Aquieíla huma Torre antiga
coroada de ameyas , que dizFreyFrancifco Brandao naMonarchiaLulitana,
part- 6- liv. 18- cap. í ?• fer o folar dos Badins.
CAP. XXXII.
raens; hum Meirinho, que ferve de Carcereiro, eleito cada anno peia Camara;
dousÀlmotaceis,Diflribuidor,Enqueredor,iSc Cõtador,tresEfcnvacs do Ju-
dicial, & Notas, & hum Efcrivão da Camara, & Almotaçaria , & outro das Si-
sas, que tanbemohede V illa-Boa da Roda com o mefmo Juiz de Regas;• todos
data delRev. Recolhe baílante pão, vinho, frutas, caílanha, mel , & tem mui
• tos gados,'criacão de egoas,caça,& pefca nos regatos de trutas, bogas, & ef-
calhos. Tem hum Capitão, & as duasFreguefias feguintes. _
S. Salvador de Roças, Abbadia, tem cento & feffenta viíinhos : foy Mof-
teiro de Frades Bentos, & no anno de 119 T fez João Paes doaçao delle a Dom
Martinho Arcebifpo de Braga, dahi paliou aos Abreus , fenhores de Regala-
dos , que hc da fua aprefentaçaõ , como ha poucos annos o fez João Pinto
Pereira,fidalgodaCafaReal,&moradorno Bom jardim da Cidade doPorto;
por fer deíla familia: rende eíla Igreja com a annexade Aboim em Cabeceiras
de Bailo mais de feifeentos mil reis. Aquieílà a Torre do Bayrro, que teve cár-
cere,de queerafenhoro ditoFernaõdeSoufadaBote ha: he morgado deGer-
vaíio de Pena de Miranda por herança dos Mirandas de Guimaraens. No lugar
da Lama eílá outra Torre mais moderna , que poffue Antonio Machado Coe-
lho ■ & na Aldeã de S. Pedro eílaò humasboas cafas, onde morou Diogo Alva-
rez Correa daqui natural, que foy Cabo de hum troço de gente na de Alcacere,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA.1
cm que peleijou com grande valor, tendo funs próprias tripas na maõ efquer-.
da.
Santa Maria dos Anjos, Abbadia da Mitra, que rende cem mil reis , tem
quarenta viíinhos. ' • t
C A P. XXXIII.
c
Do Concelho de VdlaFBoa da F^da.
CAP. XXXIV.
Do Concelho de Fieira.
Ça dC f
S °Ei?évaõ de Cantarlaés, Abbadia da Mitra, que rende duzentos mil reis,
tem noventa vi linhos- Aqui ha ruínas de hum Caftello, chamado o Caltro de
Villa-ver de, que hoje dizem de Villa-íeca,& com eftar em hum alto , por baixo
delle vayhumamina diftanciade mil paífos geométricos, pela qual oscavallos
vinhaõ beber ao Ave. i -i
Santa Maria do Pinheiro, Abbadia da Mitra, rende oitenta mil^ reis , tem
quarenta & dous viíinhos, fóra os Meeyros de Corte Garça, quevaõ hum anno
a S-loaõ, outro a efta Igreja. . , ...
1 ;
S. Payo de Villarchaõ', Abbadia da Mitra , rende noventa mil reis , tem
cincoenta viíinhos. Daquivay o carvaõ para Braga, que fazem nefta ferra da
Cabreira.
CAP. XXXV.
Honrâ de Cepaesi
Couto de Tèdraido.
0 , . 5, /»•;-•> *t 44, i,
CAP.
t> A COROGRAFIA PORTUGUE2A. ijp
CAP. XXXVI.
•' ' - . 1 Vjl >* • * .tJ « ' #-/■'. ' -V - «•
C A P. XXXVII.
Ir i* f h ^ ; |\Jg
Do Concelho de Lanhofo.
TRes legoas dê Guimaraens parao Norte, & duas de Braga tem feu aíTento
o Concelho de Lanhofo, de que he cabeça a Villa da Povoa, a quem deu
foral ElRey Dom Diniz, eftando em Coimbra, a *j» de Abril de 1192. dizem
ler povoaçam dos Ozorios, fenhores de Cabreira,&. Ribeira , porque nella vi-<
vcrãofeusdefcendentes, como diz o Conde Dom Pedro titul» 55* & Lavânha
foi z 3 2 • & também 0$ Fafez aqui devião ter muito, ou parte , pois fe appell ida
deita terra o Conde Dom Pedro Sarrazim de Lanhofo , cujo neto Fafez Luz,
diz Lavanlia, fer daqui fenhor: depois foram fenhores delle os Cunhas, <k hoje
he do Conde de Sabugal, Meirinho mór do Revno» Tem Juiz ordinário , tres
Vereadores, & Procurador do Concelho, feitos por pelouro de eleiçam triennal
dopovo a que prcíideo Ouvidor do Conde, ótlhes palia carta ; dous Almqta-
ceis, quatro Tabehaens, Efcrivaõ aaCamara, 6c Almotaçaria, juiz dos Orfaõs
com feu Efcrivaõ, Diftribuidor, Enqueredor, & Contador, Meirinho, que fer-
ve de Carcereiro» Todos eftes officios aprefenta o Conde, Sc lo oElcrivaõ das
Sizashedata delRey- Produz muitos, bellos frutos de paõ, vinho, azeite,
frutas temporans, Sc de pendura, linho, caftanha, Sc tem muitos gauos de toda
acaíta, caça,Sc pefca nos rios Cavado, Ave, Sc Pont ido- > em t res Companhias
com Capitaõ mór, Sc Sargento mór. Ha nefte Concelho íermoías, Sc piei umi-
das moças , tem feira franca todas as ultimas quartas feiras do mez , St pela
mayor parte delle hia o aquedutto, que os Romanos trouxcraõ do no Ave a
Braga» Confta dasFreguefíasfeguintes-
Santiago de Lanhofo, Commenda de Chrifto, Sc Rey tona, que aprefenta o
Commendador, rende cento St trinta mil reis , Sc para o Commendador com
fabidos trezentos mil reis , temfeíTcntaviíinhos» Aqui efta o inexpugnave
Caftello de Lanhofo, fundado em huma afpera , & eminente .penha,.com huma
cirande cifterna de agua, aonde efta huma Capella de S. maietano , St outra de
S-Payo, aonde vaõ no Veraõ em romaria nosSabbados à noite a mayor parte
das moças, mulheres, Sc homens daquelle contorno, Sc voltao no Domingo pela
manhaã para cafa. Dizem fer preíervati vo para todo o género de doença, parti-
cularmente de maleitas- ,
S- Martinho de Galegos,Vigairaria annexa ao- Arcediagado de t onte-Ar-
cada, tem trinta viíinhos- Aqui viveo o Conde Dom 1 afez Sarracim de La-
nhofo, bom, & Rico homem, que com muitos Cavalleiros leus vaifallos pelei-
jou, & morreo na de Aguade Mayas junto a Coimbra diante de íeu ReyDòm
rareia contra Dom Sancho feu irmão, Rey de Caftelia. luccedcolhe leu fi ho D.
Godinho Fafez, que fundou o Morteiro de Fonte-Arcada, como logo diremos,
Sc o de Mohia, deque alem dos Fafes, Sede outras famílias dcícendem os Go-
dinhos, Sc erte he feu folar-: tem por Armas o efeudo partido em palia , o pri-
meiro cfquaquetadodeouro,& vermelho, de duas peças em taxa : ortgundo
efquaquetado de ouro,Sc azul de outras duas peças em u:a - fazem ^
I<$st . \ a ' TJHíNtO p K4 M B IR O '
ambas as palias de vinte peças : timbre huma Hydra de ourodefete cabeças,
adomeyo mayçr que asoutras>& leu rtt^uarde^ armado de vermelho, & azas
eftèndiâas de azul. Outros trazem em campo de prata cinco Águias em aipa.
S. Miguel de Villela, Abbadia eia Mitra, rende duzentos mil reis , tem
feíTenta viíinhos. Aqui ha memoria, & ruínas de duas Torces, aonde chamão o
Paço de V ílleta, de que he fenhor, ( & de muitos fqros ,que alli fe pagão) Ma t-
theus Mendes de Carvalho. Efte Paço, & Torres íàõ o folar aos Villeias , de
que ha muita deícendencia neíle Rey no.
S. Martinho do Campo, Vigairar ia dos Coreiros de Braga , que rende ao
todo. quarenta mil reis para o Vigário, &. para os Coreiros' cento & quarenta
niihreis: temcincoenta viíinhos. Aqui eílá a Caiada Mota com ruínas de fuia
Torce no andar dacafa,que ke o folar deíla família , & não o Gallello da Mota
em Caílella,corr.o alguns erradamente diíferâo. Procedem os Motas de Fer-
não Mendes dc Gundar, filho cie Mcm de Gundar, Capitão do tem po do Conde
Dom Henrique. Tem por Armas em campo verde cinco,ilores de Liz de ou-
ro em afpa, & por timbre dous penachos verdes guarnecidos de ouro , & en-
tre os penachos humaf.or deLizde ouro: outros as efquartelão com Leoens
de prata coroados de ouro cm campo vermelho.
Si Salvador de Louredo foy Abbadia da CafadaMota,he hoje Vigairaria
do Cabido de Braga, que rende para os Conegos cem mil reis, & para o V igario
trinta mil reis item dezoito viíinhos. Por cima deíla Igreja cílão o monte de
S. Miguel, & o outeiro de Caílilhão,& outro chamado de Erandião, entre La-
nhofo, & o Couto de Pedralva, menos de quar o de legoa da antiga Cidade de
Çitania: tem ruínas de fortificaçoens,que infaUivelmentefizerão os Bracaren-
fes, para lhe apertarem mais o cerco , quando a puzerão em fítio , & a ganhà-
raõ-
S- Emiliaõ foy Abbadia da Cafa da Mota, & hoje he Vigairaria do Cabido
de Guimaraens, tem vinte viíinhos.
S. Miguel de Taídc, Reytoria do Moíleiro dos Remedios de Braga, rende
cem mil reis, & para as Freyras cento & fetenta mil reis, tem feíTenta viíinhos.
Daqui he tradição era Gileanes dc Ataíde, que teve o folar de Villela , de que
fica viíinho,& na verdade no Conde Dom Pedro achamos differpntes eíles dos
outros Ataídes. Neila Fregueíia eílá a Capella de S. Bento de Donim, imagem
milagroía, aonde ha feira nos feus dias duas vezes no anno-
S. Martinho de Travaços, Abbadia do Padroado Real com referva do Or-
dinário quando não renuncia, rende cento &: vinte mil reis, tem trinta &feis
viíinhos.
S. Payo de Brunhaés, Vigairaria da Mirra annexa à Commenda de Santia-
go de Guilhofrey,tcm trinta viíinhos.
S. Bertholameu da Elperança, Abbadia da Mitra,rende centoác vinte mil
reis, tem trinta & dous viíinhos.
S. Adrião de Soutello, Abbadia da Mitra, rende cem mil reis, tem vinte &
cinco viíinhos, que vivem em huma montanha, aonde ha muita caça,& gados.
S. Pedro de Cerzedello, Vigairaria das Freyras deVayraõ , que aprefen-
(taõ, quando não renuncia. He Couto no Civel com Juiz de eleição annual do
povo, hum Vereador, & Procurador, 2c vem a elle eferever hum Efcrivão dc
Vieira: no crime vay a Lanhofo, tem fetenta viíinhos.
Santiago de Oliveira, Abbadia da Mitra, rende cento & cincoenta mil reis ,
tem quarenta vifinhos- Neila Igreja eílá huma fermofa Capella de Santa Cruz
1
. feita
1
fulgado de Lagiofa.
r
• ;3 -
CAP. XXXVIII. •
1
A . •í V, ) A »'- '
Couto de Poufadella.
CAP. XXXIX.
c
Dq Couto de Vimieiro*
•t
ES te Couto, parece, foy fubditoà Cidade de Braga , da qual diíta huma íe-
goa para o Poente; porque o Ouvidor daquella Cidade lhes hia fazer Hua
audiência cada mez, pelo que lhe davaõ hum carro de pão- He delRey cõ Juiz
ordinário, que tambemohe dos Orfaõs, dous Vereadores, de que hum ferve
de Almotacel, hum Procurador por pelouro, eleição triennal do povo , a que
prefide o Corregedor do Porto, dotis Tabehaens do Judicial, & Notas, que ai
ternativamenteefcrevemnaCamara, Almotaçaria,&Orfáõs, Elcrivaõ das Si-
zas, & Mevrinho; todos data delRey. Recolhe baftante pão, muito vinho, ga-
do, caça, h pefcas no Delle. He da Provedoria de Guimaraens , & tem as Fre~
guefias feguintes. ■
Santa Anna de Vimieiro foy Convento antigo, de que fe acha noticia pelos
annos de 6 5 2. mas não fabemos de que Religião foífe : fuppoíio o Chroniíla
dos Eremitas dç Santo Agoftinho diz que foy feu; he certo q perfcverou mui-
tos annos com grande obfervància, até que no de 1127- aos 25 de Mayo o deu
a Rainha Dona Therefa a Dom Pedro Mauricio, oitavo Geral da Congregação
Cluniacenfe em França, vifitandoa huma vez que andou cmEfpanha,& defde
entaõ ficou Priorado de Cluni, donde lhe mandavaó Prior , que prefidia aos
Monges Bentos, que cá tinhaõ- Finalmente o ultimo Abbade perpetuo de Ti-
baens Dom Gonçalo o fez annexar a elle, & aífim eíteVe cincoenta annos , até
que por falecimento de Ruy de Pina, terceiro Commendatario de I ibaens , fi-
cou Vimieiro devoluto ao Ordinário, & o Arcebifpo, que então era o Santo Dõ
Frey Bertholameu dos Martyres trazendo os Padres da Companhia para Bra-
ga, o unio ao Collegio de S. Paulo, que alli tem. He Vigairaria, que aprefenta o
mefmoCollegio, rende quarenta mil reis, & para os Padres da Companhia du-
zentos mil reis, tem feífenta v;finhos.
S. Lourenço de Celeiros, Vigairaria annexa a huma Conezia de Braga, ren-
de quarenta mil reis, & para o Conego cento & trinta, tem feífenta vifinhos.
S- Salvador de Figueiredo, Vigairaria de outra Conezia de B raga , rende
trinta & cinco mil reis para o Vigario, & para o Conego cento & vinte, tem qua-
renta vifinhos.
Santa Maria d'Aveleda, Vigairaria annexa a hum Beneficio limplezde S.
Giraldo, rende trinta mil reis, & para o Beneficiado, que he do Ordinário , oi-
tenta mil reis, tem cincoenta vifinhos.
I CAP
TOMO PRIMEIRO
C AP. XL.
NO tempo, que Braga era Corte dos Reys Suevos, & reynava Theodomi-
ro, tendo por feu Capellaõ mor a S. Martinho, Bifpo de Dume, o inci-
tou o Santo a que fundaffe o Modeiro de í ihacs de Monges Bentos, tres quar-
tos de legoa da Cidade de Braga para o Poente ao pc da ferra de $. Gens, nome
■que tomou de huma Ermida antiga, que edá no alto delia, da invocação dede
banto Reprefentante, fam.ofo Martyr Romano , & entendemos fer edificada
quando aquella nação nos dominava : fundou ElRey o Convento no anno de
5 como conda de huma pedra que nelíe fe achou em noíTos tempos, recdifi-
candoíede novo, & o"dedicou a S. Martinho de Turon. Succedeo a Theodo-
miro na Monarquia dos Suevos ElRey Miro , que ornou elie Convento com
huma grande mata de arvores, que não perdião a folha, & para ede.effeito as
conduzio do Alentejo. Prefume-fe eraó lòbreiros, de que hoje he bem provida
toda aquell a ribeira, de huma, & outra parte do Cavado ; & que ede Modeiro
edivcífe em ler, &. com Frades ainda pelosannos de 1070. & tantos, conda de
huma doação, que de ametade delle íez à Sede f uy a Infanta Dona Urraca, filha
delRey Dom Affonfo o VI. chamando a ede Convento Palatino 3 & como por
tempos devia arruinarfe,o reedificou pelos annos de 1080. Dom PayoGuter-
res da Sylva, fendo Rico homem, & Adiantado nedc Reyno por El Rey Dom Af-
fonfo o VI. de Cadella, por cuja caufa entendemos vivia em Braga, centro deda
Província, & por detráz do monte de S. Gens fez huma quinta, a qucdeu o no-
me de Sylva má, donde hia aííidir à fabrica do Modeiro , & em forma o am-
pliou, que muitos o tiverão por fundador, &. nelle edá fepultado; & como com
0 fangue herdou o zelo do pay feu filho Dom Pedro Paes Efcacha, devia largar
ao Modeiro algumas terras, que alli tinha , de que lhe fizerão Couto oConde
Dom Henrique, & a Rainha Dona Thcrefa em 2 4- de Março de mo. dizendo,
que o fazião por amor de Deos, & de Pedro Paes, & Payo Paes, filhos de Dom
Payo Guterres da Sylva,que fempre nos fervio copi grande fatisfação; &em 2 6.
de Fevereiro de 1135- fendo ainda Infante o noífo Rey Dom Affonfo Henri-
ques, lhe coutou o lugar de Donim junto ao rio Ave entre Braga , & Guimá-
raens- •
Teve ede Modeiro defde o anno de 1086. dezafeis, ou dezafete Abbadds
perpétuos, fendo o primeiro Dom Payo, & o ultimo D. Gonçalo pelos annos de
1+89. em que entrou por Abbade Commendatario o Cardeal D. Jorge daCof-
ta,Arcebifpode Braga 3 acabàraõfe edes no ultimo Cõmcndatario Dom Bem
1 ardo da Cruz, Frade de S- Domingos, Bifpo de S- Thomé,& Efmoler mor del-
R< y Dom Joaõo Terceiro, que faleceodia cie Pafcoa de 1565". em que entrou
a rc forma de Abbades, & foy o primeiro por dez annos, por nomeaçaõ do Car-
deal Dom Henrique, o Padre Frey Pedro de Chaves , a-quemvieraõ as Bulias
Apcdolicasem 22. de Julhode j fdp.fendo-o entretanto o PadreFrey Plácido.
I oy Frey Pedro Dom Abbade de T ibac s, Reformador, & Geral d a Ordem, de
'T A „ . que
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. ió?
que fizcraõ Cabeça a efte Convento. No fim dos dez armos o tòriHÍrãô à ele-
ger por hú triénio,& foy o primeiro Abbade triennal;íuecedeo lhe Fr- Plácido
de Víllalobos, o qual mandou Frade.-. para o Brafil,quc íundàraõ lá aquella Pro-
víncia de Bentos. Efte he o principio deffe Couto, Sc deíle Convento, de cj ie
láõ íenhores os Frades, Sc o Geral Ouvidor, faz o povo com ciiç elciçaõ de tres
cm tres annos, por pelouro,de dou* Juizes ordinários do Cível, & Crime pata
cada anno; efcolhe o Geral hum, que também íerve nos Orfabs, dous Vereadò-
res, que de mais faõ Almotaceis, Meirinho^ que faz ô Geral, dous Tabeliaens
do Judicial, & Notas; a hum anda annexo o tios Orfaõs, & Camara-? & ao outro
o das Sizas, Diílribuidor, Enqueredor, Sc Contador: todos data delRey» He
terra fria, recolhe pouco paõ, vinho, muita fruta, algum azeite, caça, muitos
gados, & quantidade de lenha,&pefcas 110 Cavádò. Temhuma Companhia, &
o G eral he Capitaõ mor ; compoern-fe o termo das Fregueíias feguintes.
S. Martinho de Tibaés, Mofleiro, & Cabeça da Ordem de S< Bento cm Por-*
tugal,dequeheGeralo Abbadedeíla Cala , rende quatro mil Sc quinhentos
cruzados com fabidos, & annexas, aprefenta Cura fecular, temtri ita Sc cin-
co vifmhos. He fermofo Templo com maravilhofo retabolo, & o primeiro,que
na Provinda fe inventou , tem grandes , & apraziveis clauílros com
muitas fontes, aíTim nos corredores altos, como nos pateos baixos , dilatada
cerca com bons pomares, olivaes, & matas; ha nefte Convento huma reliquia
de S. Bento, ô^nelle eflaõ fepultados muitos Varoens de exemplar virtude.
NoíTa Senhora da Graça, que antigamente fe chamou a Igreja de Paadim,
Abbadia da Mitra, rende com a Poufa lua annexa em Barcellos duzentos «5c cin-
coenta mil reis, tem cento St vinte vifinhos.
Santa Maria de Mire, Curado do Convento de Tibaens, tem vínte & cin-
co vifinhos. Aqui teve ElRey Theodomiro hum Paço, Sc quinta de recreação,
que deu o nome à Freguefía.
S-Payo de Parada, Vigairaria annexa ahumaConezia de Braga , rende
trinta & cinco mil reis, Sc para o Conego oitenta mil reis, tem trinta vifinhos.
S- Payo da Ponte, Vigairaria annexa a outra Conezia, renderá feffenta mil
re*is, Sc para o Conego cento Sc dez mil reis, tem cincoenta vifinhos.
S. PedrodeMerlim,a quem o livro da Ordem de Chriílo chama Mcrim,
foy Moíleiro de Frades Bentos, Sc depois de extinguido, aprefentaçao de Ti-
baés, a quem inda conhece comcerto foro: paífou a Commenda de Chrifto , Sc
heReytoriada Mitra, rende cem mil reis, & para o Comendador mais de mil
cruzados: tem cento Sc dez vifinhos.
CAP. XLL'
CAP. XLII.
CAP. XLIII.
TRATADO II
cap. i.
3
Tem eíte Arccbifpado, con.o conda do Senfual,que cí+í: no Archivo da Sé,
mil & oitocentas & oitenta & cinco Freguefías em çinco Comarcas que com-
nrehende, corno faõ, a de Braga, a de Valença, a dc Chaves, a oe Villa Real, & a
daT orre de Moncorvo incitas Igrejas naõ entra ló a aprclentaçao cos Arce-
biluoSjfenaõ também o Padroado Real, & outros muitos Padroeiros- Sao lui-
fra-ancos deite A rcebifpado os Bifpos do Porto, Coimbra, Vizcu,& Miranda.
Tem hoieo fenhor Arctbiípo de renda cem mil cruzados; aprefenta ricas Ab-
badias Rey torias,Priorados,& Vigairarias,muitos Benefícios fímplices,Cone-
zias, Dignidades,Tercenarias,& Capellanías , &dà muitos officios, de que
adiante faremos mençaõ- , _ . ..... . .
Ha neíie Arccbifpado muitas Commendas das Ordens Militares, muitas,
& boas Abbadias de Padroados Ecclefiafhcos, &. Seculares, algumas de rendi-
mento de dous, & tres mil cruzados 5 tem n.ais de cento &. cincoenta Conven-
tos, & as rendas Ecckfiaíticas de todo o Arcebifpado rendem miais dc nnlhao
&: meyo.
S dos Penhores A rcebifpos, faõ Nóbrega, & Neiva , Soufa , & Ferreira,
^ Vermoim, &. Faria, Balio, Ordinana dc Valença, Chaves, V ília Real, òc
A
T r
° As doCabido faõ asfeguintes ; tres da diitribuiçaõ da Meia Capitular,
que faõ Lanhofo, & Vieira, Monte longo, Entre Homem, & Cavado , & Valle
HUm Provi for, que he também Defembargador , hum Vigário Geral, tã-
bemDefembargador, doze atè dezoito Deíembargadores , hum Juiz
dos Refiduos também Defembargador, outro dos Cafamcntos,tambcmDclem-
bar-
DA-COROGRAFIA PORTUGUEZA. 181
bargador, hum Chanceller defta Corte também Defembargador, hum Super-
intendenredaCafa do defpacho também Defembargador , hum Procurador
Geralda Mitra também ' 'efembargador, hum Promotor da Juftiça, hum Ef-
crivão da C amara Ecclefiaftica, outro da Comarca de Valença , que ferve neíla
Corte, dous Efcrivaens das Appellaçoens , hum Efcrivão dos Prazos da Mefa
Arcebifpal,i i. Efcrivaésde ante o Vigário Geral,hu Efcrivão dos feitos da Me-
fa Arcebifpal, hum Contador, hum Diftribuidor,hum Revedor das Contas no
Ecclefiaítico, &fecular, hum Porteiro da Relação , out ró de ante o Vigário
Geral, hum Efcrivão das Cartas de Excomunhão,outro das Cartas Citatorias,
outro das Fianças, & commutaçoens do degredo, outro dos Arrendamentos da
Mefa Arcebifpal,hum Meirinho Geral, hum Enqueredor da Comarca da Villa
de Valença, & feitos, que fetratãoneíla Cor te, dous Efcrivaens de ante o Juiz
dos Refiduos, hu Recebedor do Arcebifpado, fete Solicitadores, dous Portei-
ros dos Refiduos, hu Efcrivão do Regiíto geral, outro da Cafa do defpacho ,
hum Porteiro da Cafa do defpacho, hum Corredor das folhas , hum Efcrivão
dos Cafamentos, hum Efcrivão Apoftolico, hum Promotor dos Refiduos,tres
Enqueredores doEccleíiaí!ico,hum Efcrivaõ das Fianças de ante ojuizdos Ca-
famentos, hum Efcrivão do Seminário, & hum Aljubeiro.
HUm Alcaide mór de Braga, hum Alcaide menor de Braga , hum Alcaide
mór de Ervededo,hum Alcaide menor deErvedcdo , hum Ouvidor dc
Braga, hum Juiz de fóra de Braga, hum Meirinho do Secular , feis Tabeliaens
das Notas, & Judiei A de Braga, h um T abeliaõ gerai das Notas , dous T abe-
liaens das Execuçoens, & dous Diílr ibuidores , hum do Ouvidor , oujro do
Juiz de fóra, hum Promotor do fecular,dous Enqueredores, hum Contador ,
hum Revedor dos feitos feculares, hum Carcereiro fecular,hum Juiz dos Or-
faõs com dous Efcrivaens, hum Efcrivão da Almotaçaria, nove Porteiros de an-
te o Ouvidor, & Juiz de fóra, hum Efcrivaõ da Camara da Cidade , & dous
Porteiros dc ante o Juizdos Orfaõs.
Couto de ^Pedralva*
EMtre os termos de Braga, Guimarãéns, & Lanhoío eílá efte Còutó,de que
he fenhor o Areebifpo: deu-oElRey Dom Sancho o Segurído ao Areebif-
po Dom Sylveftre Godinho, íompondofe com ellé fobre exCelfos cometidos
contra as Igrejas; fez-ftí a eferit ura A contrato citando ElRey em Guimaraens
QJij tiú
TOMO PRIMEIRO
no anno de 1158. ferve de coutada dos Primazes com guardas, que a viguo.
Tem Juiz ordinário do Cível, & Crime, com dous Vereadores,& Procurador,
eleição trienal do povo,a q prefideo Ouvidor de Braga,hum Eícrivao dos Cou-
tos, que ferve em tudo,data do Arcebifpo, & Meirinho annual feito pela C ama-
ra, que ferve de Porteiro: recolhe pão, vinho, muita caça, gados,& lacticínios-
Confia efte Couto de Freguefia 6c meya, & faõ as feguintes- .
S- Salvador de Pe.dralva, Vigairaria annexa a S. Pedro I <eíte, tem oitenta
viíinhos- j „
Santa Maria de Sobrepofia, Abbadiada Mitra, que rende conto & cincocn-
ta mil reis, tem cincoenta viíinhos, de que trinta faõ defte Conto, & vinte do
JulgadodaLagiofa , deque daremos noticianofundoConcelho deLanholo:
mas no efpiritualfe unioaefiaafua Parochiade S- Thomô de Lagioía , hoje
extinguida.
Couto de Capareiros.
cincoenta viíinhos-
Couto de Arentim. ■
Couto de Cambeis.
ENtre as terras de Barcelíos tem feu aflento cíle Couto, de que he fenhor o
Cabido da Sé de Braga, que faz nelle juiz ordinário com dous Verea-
dores, StProcurador do Concelho por pelouro, &: eleição triennal do povo , a
que vem prefidir hum Conego, que o Cabido elege5 ferve também nos Orfaós,
& delleappèllão para o Cabido, que aprefenta Efcrivão , que o he também do
Judicial, & Notas. Tem Alcayde mór, que leva os quartos dos frutos das ter-
ras: conda de cento & oitenta viíinhos, com huma Parochia da invocação de
Santiago, Vigairaria que aprefenta o Fabriqueiro da Sê, que rende fefifenta mil
reis, & para o Cabido fetenta & cinco mil reis; he abundante de centeyo , mi-
lho, linho galego, frutas, &badantevinho-
Couto de Cabaço r.
"Trataoo IH
Da Comarca de Viana.
CAP. í.
SAnta Chriftina de Meadelle, foy do Padroado Real, & a trocou por outróâ
EIRev DomDmizno anno de iao8- com Dom João Fernandes de Soto-
mayor, Bifpó de Tuy : he Abbadia da Mitra, rende trezentos mil reis , tem
cento & trinta vifinhos. A qui eílà a cafa Solariega, torre,& quinta de Paredes,
que foy Couto antigamente,& delia fenhor Dom Pedro Hermegis de Paredes,
a quem herdou feu filho Martim Cabeça, pay de Dona Maria Martins, mulher
de Lourenço Pay as Guedas. Tem eítaFreguefia duas Capellas annexas, Noífâ
Senhora da Ajuda, & S. Amaro-
S- M iguel de Perre, Abbadia da Mitra, que rende mil cruzados, tem duzé->
tos &cincoenta vifinhos* Aqui cila a Torre de S. Gil1
S* Martinho do Outeiro foy Abbadia, & a deu hum Abbade às Frcyras de
S. Bento de Viana, que nefta Igreja aprefentão Vigário, tem cento & vinte vi-
finhos. . .
S- Martha, Commenda de Chriíto,& Rey tona da Mitra com Coadjutor,
tem duzentos & vinte vifinhos.
S- Martinho de Cerraleys,Vigairaria annexa ao Collegio de Saõ Bento de
Coimbra, tem oitenta vifinhos.
Santiago Mayor de Cardiellos, Abbadia da Mitra, tem noventa vifinhos»
Aquihahumâ fermofa, & alta torre, que foy do tempo dos Mouros ; não tem
fenhor particular, maa que alguns o querem fer. He tradição vivia nella hum
Regulo pouco Chriftão, chamado Florentim Barreto, familia nobre , & muy
efprayada nefta ribeira: efte fe fez tao ty ranno, que as vafTallas donzellas con-
tratadas para cafar,havião de vir eftar com elle os dias, que elle quizeffe, an-
tes q cilas feajuntaífemcomfeus maridos,os quaes, quldo elle mandava , as
vinhãobufcar,trazendolhedeoffertaquantidade de feijoens , a que era muy
affeiçoado: hiftoria que indahoje permanece com tanta paixão dos moradores,
que quando os Barqueiros do Limá navegão por alli, & lhes perguntão fe levá*
rão já os feijões ao Florétim,a mais aífavel repoíta que lhes-dão, he chamarlhes
nomes afrõtofos,&às vezes paífaõ de palavras a obras. Tem emhum monte a-
cima da Igreja huma Ermida de S.Sylveftre com Irmandades de muitas Fregue-
fias defies cõtornos confirmadas,vão alli quatro vezes no anno com clamores
por obrigação na Quarefma, Ladainhas de Mayo, & dia de Sãtiago Mayor, dão
muitas efmolas , & comem juntos homem , & mulher no fegundo dia das
Ladainhas: tudo he voto antigo por huma grande fome, que houve antigámê-
te: outras vezes lhe vão pedir Sol, ou chuva, & voltao remediados por inter-
R ceifa o
I94 TOMO PRIMEIRO
ccífaõ cio Santo. Mais acima Te moíirão ruínas de Caftello antigo chamado da
Aguieira, aonde eílá o facho» Todaeíla ribeira de huma, & outra parte tem
muitas femelhantes , de que infiro fervio algum tempo o rio de raya entre na-
çoens inimigas, que cada hum fe fortificava cia lua parte.
S- Joaõ Bautiíla de Nogueira, Abbadia da Cala de S. Cláudio, tem ictenta
vifinhos. . *
S. Cláudio, Vigairaria annexà ao Collegio de S. Bento de Coimbra , tem
vinte vifinhos. A qui ellá huma Cafa de Rochas Lobos, & tem veíligios de for-
tificação. .
S. Salvador da Torre foy Moíieiro de Frades Bentos , & fe entende ler
fundado por S. Martinho de Pume: confervoufe com o nome de^ S. Salvador
de Dume até a invafaõ dos Mouros, que o deílruíraõ,& levantàraõ nelle huma
To rre, de que hoje tem o appellido: efcalou- a hum Capitão Gallego, que iegú-
do alguns era Payo Bermudes Conde de Tuy, o qual o reedificou, & povoou
de Monges; mas tornandofe a arruinar, hCi Religiofo feu defeendete chamado
Frey Ordbnho com outros o renovàrão pelos annos de i o 68- & o fagrou Dom
Jorge Bifpode Tuy: aflimefteve annos, & achamos memoria de Monges nelle
até o de iyò8- governados como os mais por Commendatarios , hum delles
Dom Affonío da Rocha, que também o era do Moíieiro de S.Claudio com mui-
ta defcendencia. Foy o ultimo Dom Chriftovão de Almeyda, filho fegundo de
Dom joáo de Almeyda,fegundo Conde de Abrantes, & da Condeça Dona Ines
de Noronha, por cuja morte o unio o Arcebifpo Dom FreyBertholameu dos
Martyres ao Convento de S* Domingos de Viana. He Vigairaria fécula r, que
rede fcífenta mil reis,& para os fradesDominicos cem mil reis,aonde tem huma
grande quinta ■. temcincoenta vifinhos , & eílá neíla Igreja huma imagem de
N- Senhor do Corporal, feita de pedra mármore,que dizem foy achada no mar,
& obra muitos milagres. Em hum monte vifinho fe vêm ruínas de fortificação
antiga, mas naõ alcançamos a quem fervio. Tem terranaveiga , a que chamaõ
Andoa, & aha em outras do termo,com que fazem eyras, he tarn pegadiça, que
cobrindoas a geada, faõ quafi eternas,fem fe fazerem mais.
S. Martinho de Villamou, Vigairaria das Freyras de S. Bento de Viana cÕ
oitenta mil reis de renda para o Vigario, & para as Freyras com mais o dizimo
dos prazos, de que faõ direito fenhorio, duzentos mil reis. Tambem acima da
Igreja ha veíligios de fortificação antiga, que devia fervir de amparar aquella
fermofa veyga, & de prefidio de raya, que o rio faria: tem feífenta vifinhos-
Santa Èulalia de Lanhezes, Abbadia que aprefenta a Cafa de Paço da mef-
ma Freguefía, de que faõ fenhorcs o Doutor Gonçalo Mendes de Britto , Def-
embargador, Sc Superintendente do Tabaco em Lisboa, & feu irmaõ Francifco
de Abreu Pereira, Sargento mor da Comarca de Barcellos: a Cafa dos Rochas
de Menxedo, dizem, tem alternativa neíle Padroado , rende quatrocentos mil
reis, & tem cento ôefetenta vifinhos. Aquifefazboa telha,& haruinas defop-
tificaçaõ, aonde chamão o Calvindo *. teve grandes minas de cílanho, & fe vem
ainda as cavas abertas, em que fe acha efeumalho de material»
S.payo de Monxedo tem cem vifinhos, he Abbadia da Mitra , que rende
duzentos mil reis, & com a annexa do Ervacem trezentos mil reis : faõ ambas
unidas em fórma, que pode o Abbade refidir em qualquer delias, deixando Cu-
ra naquella* em quenaõ eíliver. Deífas duas Igrejas foy Abbade Dom Aífonfo
da Rocha, filho de outro do mefmo nome , Commendatario dos Moíleiros de
S. Salvador da Torre, & de S. Cláudio. Deixou íucceffaõ, de que vem muitos
defla
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. ipj
defta família, dos quaes he cabeça Francifco da Rocha Lobo, & a Cafa, A Mor»
gado da Portella. Ha neftaFreguefía muitas, & honradas quintas , & matas.,
que provem de lenha a Viana, & grande quantidade de cavas, que forão de mi-
neraes de eftanho, & cobfe»
S. Miguel de Villar de Morteda foy anneXa de S. Lourenço da Montaria,
hoje he Abbadia da Mitra, tem quarenta vifinhos» Aqui eftá hum monte que
chamaõ do Crafto,cõ veftigios de fortificação,que devia fer dos Romanos.
S. Lourenço da Montaria, Abbadia da Mitra, tem cento & quarenta vifí-
nhos, & huma Ermida de S. Mamede.
Santa Maria de Amonde, Abbadia do Mofteiro de S. Domingos de Viana,
com referva do Ordinário, tem fetenta vifiuhos, &hum monte, a que chamão
a Coroa, que foy fortificação antiga.
S. Pedro de Ancora, a quem por pequena Freguefia chamaô S. Pedrinho,
he Abbadia da Mitra, tem quatorze vifinhos.
Santa Maria de Ancora chamoufe antigámentede Villar de Ancorâ , por
hum Caftello, que teve de Mouros, de que fe vem veftigios: deu a quarta par-
te delia Theodomiro Rey Suevoà Sè de Tuy, a quem depois cõfirmàrão a quar-
ta parte a Rainha Dona Therefa, & ElRev Dom Affonfo Henriques em 3. de Se-
tembro de 112 ç. he Abbadia da Mitra, tem cento & cincoenta vifinhos»
Santa Chriftina da Fife, comenda de Chrifto , & Reytoria do ConVento
de S. Domingos de Viana com referva, tem duzentos & fetenta vifinhos: devia
fer antigamente do Padroado Real toda,ou parte ; porque Dom AffonfooTer-
ceiro deu ametade delle, & a Igreja de Santa Maria de Sá no termo de Ponte de
LimaàSèdeTuyno anno de 1262- pelo Padroado de Santa Mari a de Vinha da
Areoza. Temnacoftado marcamboas , em que fe toma muito peixe nas ma-
rés : faõ as camboas huns lagos, que fe fazem com paredes , & portas pára o
mar, abrem-fe quando a maré creíce, com que lhes entra a agua , & o peixe
quenellavé:cerraõ-fe em preamar,& em maré vafia fica nellas o peixe errffcco.
Perto da Igreja eftà hum monte não grande, mas com elevada fubida, em cujo
cume tem húa Ermida, & em roda veftigios de forte antigo. Mais defviado por
cima da eftrada, que vay de Viana para Caminha, ha outro mayor, & com gran-
des ruínas. Meyo quarto de legoa da Igreja para oNafcente eftá o Mofteiro
deS. João de Cabanas de Frades Bentos, fundado por S» Martinho de Dume
ao pè da ferra da Fife, donde fe tira a melhor pedra de cataria deftas parte9 , &
que pôde fazer competência para efte minifterio com as mais finas do mundo.
Foy Mofteiro rico, porque não fó dominava os frutos do mar,& terra da Fife,
& ribeira de Ancora, mas tres milhas, que hequafi huma legoa para o Nafcctc
por riba de Ancora, com que fuftentava fetenta & cinco Religiofos. Deftruí-
raõ-noes Mouros, & depois o reedificou hum Rico homem Gallego, chamado
Lopo Munhos, peta grade devoção que tinha ao fagrado Bautifta feu Padroei-
ro. A ífimeftava com Religiofos pelos annos de 1382. quando entrarão nelle
Cõmendatarios: paíTou a Comenda de Chrifto,de que os Frades Bentos o tirà-
rão por demanda, & concerto, pagando aos Cartuxos de Noffa Senhora do Val-
le no termo de Lisboa certa penfaõ, que os Reys lhes applicàrão» —
Santa Maria de Carreço, Comenda de Chrifto, & Reytoria da Mitra,tem
duzentos & oitenta vifinhos, com alguns portos pequenos, em que entrão bar-
cos no V erão, & fe pefca muita Variedade de peixe, & bom marifeo. Abaixo da
Igreja eftá humouteiro chamado Monte dor, nome que tomou do fentimento
que à fua vifta moftrou a Rainha Dona Urraca, mulher delRey Dom Ramiro
Ríij oSc-
j96 tomo primeiro
o Segundo de Leaõ (quando elle a levava para Galliza) da morte que dera a
Alboazar Albucadaõ, Rey Mouro de Gay a, com quem eftava amancebada,& de
cujo poder a tirarão, pelo que EIRey, & feus filhos a lançàráo ao mar dalli huma
legoa com huma pedra, ou ancora ao pefcoço na foz do rio, que tomou o no-
me de Ancora,deite fucceíTo. Neftas duas Freguefias, & na que fe fegue ha no-
táveis fearas de trigo, & milho, ajudadas do eíterco quelhelanção , &dearga-
ço tirado do mar. . ,
Santa Maria de Vinha de Areoza, cabeça do Arcipreftado de Vinha na Col-
Icgiada de Valença, tem duzentos & oitenta viíinhos.^ Foy antigamente Villa,
& Couto: deu-osElRey Dom Affonfo Henriques àSèdc Tuy , & a.feuBif-
po Dom Payono ultimo de Outubro de 11 $7. Depois 110 de 1262. deu EIRey
Dom Affonfo o 1 erceiro à Sè de Tuy por efte Padroado ametade do da Fife,&
o de Sá em Ponte de Lima : & vindofe para V alença os Conegòs, que deraõ
principio àquellaCollegiada,fclevantàrão com efta, St as mais rendas, que cá
tinhão: he Vigairaria dc barrete, que aprefenta o Prelado , a renda fe reparte
em terças com o Prelado, StConegos da Collegiada de Viana, réderá toda qui-
nhentos mil reis.
CAP. II.
Siij CAP
210 tomo primeiro
CAP. III.
Couto de Lugio.
x
_?v
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. zi5
s. Miguel de Sago,Vigairaria dos mefmos Padres da Companhia,tem cin-
coentavifinhos.
S. João de Longos Valles,ou Longovares, como ordinariamente lhe cha- -
mão, foy Convento aòs Conegos Regrantes de Santo Agoftinho, o qual fun-
dou ElRey DomAffonfo Henriques , & feu filho ElRey Dom Sancho o Pri-
meiro o dotou, & coutou no anno de' 119;. eftando na Cidade do Porto , &
diz lhe faz efta mercê pelo alTinalado ferviço , que lhe fizera Dom Pedro Pi-
res,Prior que então era daquelle Convento,em fundar â lua cufta a Torre, &
fortaleza de Melgaço. Permaneceo nefta forma, atè que entràrão nelle Com-
mendatarios,foy o ultimo o Infante Dom Duarte, Arcebifpo de Braga, filho
natural dclRey D.João oTerceiro,q faleceoa 11. deNovébro de 154^. Qut-
zerão reftituíllo aos Conegos de Santa Cruz , mas fomentado pelo Cardeal
Rey Dom Henrique , o Papa Julio Terceiro o annexou ao Collegio da Com-
panhia de Coimbra no anno de 15 yi - por renunciação , que fez em mão de
Sua Santidade o Prior Dom Manoel Godinho. Eftando ainda com Conegos ,
ouRaçoeiros quizerão tirar do Altar mórhuma Imagem do Bautifta, a"que
chamaõ da Gorra, por huma que tem na cabeça, como antigamente fe ufavane-
fte Rey no, & porem outra nova com muita perfeição. Tinhão os freguefes
tal dcvoçaõ ao Santo velho, pelos grandes milagres que obrava , que todos
fe levantàraõ,& nam quizeraõ confentir na troca ; pelo que lhes foy força-
do deixarem-no eftar nomefmo lugar, em que hoje fevè. Tem quatrocentos
& cincoenta vifinhos com hum Vigário, que tem cento & vinte mil reis de
renda, & o Coadjutor fetenta mil reis, & para o Collegio de Coimbra com o
Mofteiro de S. Fins, & fuas pertenças, rende mais de quatro mil cruzados.
Santa Maria a Bella, Vigairana dos mefmos Padres da Companhia, tem
cento ôc quarenta & tres Ermidas.
Santiago de Bai^fcp, Abbadia da Cafa de Bragança, que rende trezentos
mil reis, tem cento eoioventa vifinhos. Aqui eftàa Torre, & Morgado , dc
que he fcnhor Gonçalo Affonfo Pereira de Soutomayor, fidalgo da Cafa Real,
Alcayde mór de Caminha, Commendador de Azere na Ordem deChrifto, &
Meftre de Campo de Infantaria, defcendete por pay , & mãy da Cafa de Arau-
jo: inftituírão efte Morgado Alvaro Affonfo Soares com fua mulher Grima-
neza Pereira. Aonde o pequeno rio Motiro fe mete no Minho , & eft eve no
tempo das guerras hum forte , cuja pedra fe conduzio para a nova obra das
muralhas de Monção, eftá a ponte do Mouro, que divide efte Concelho do de
Valladares,& da parte do Poente pouco acima tem hum padrão , & na hafte
delle a imagem de Santiago. He tradição , que no tempo que os Mouros fe-
nhoreàrão efta terra, vindo alguns Chriftãosfobre hum Mouro para o mata-
rem, elle apertou as pernas ao cavallo chamando por Santiago,quefe olivraf-
xfe,fe faria Chriftão. Não havia ainda alli ponte, & com fero rio largo, appa-
recendo Santiago ao Cavalleiro, o faltou perfeitamente, com que o poz em fe-
guro,& o Mouro fe bautizou depois, ot em memoria do fucceffopuzerão efte
padrão. Dizem muitos, que aonde fe fundou a ponte, eftavãe infculpidas na
rocha as pègadas do cavallo,que os Pedreiros gaftarião pára affentara pedra,
ou eftarão debaixo delia»
S. Pedro de Morufe foy Mofteiro de Freyras de S. Bento fubditas aos
Bifpos de Tuy, como o era toda efta terra de Entre Lima, & Minho ; & pelos
annos de 14.18. fe acha fazerem nelle Abbadeça , &ou por pouca renda, ou
máo governo , fe poz em eftado , que no anno de 1461. fendo delle ultima
Abba-
zl6 TOMO PRIMEIRO
Abbadeça D- Guiomar Rodrigues., fe extinguio, & o fizerão. Igreja Parochial,
provendo nellaEíievão Rodrigues, Clérigo de Mifla. Depois paffou a C emen-
da nova da Ordem de Chrifto,& he Rey tor ia da Mitra : tem quinhentos vi li-
nhos., & quatro Ermidas* Aqui hahuma Torre, Quinta, & Couto com huma
Aldeã, que fe diz a Pica, chamados de Abreu.,Solar deft a illuíhre familia , que
já exi-ftia nefte fenhorio cm tempo que.ElRey Dom Aífonfo Henriques deu a
batalha de Valdevèz, em que fe achou Lourenço de Abreu, fenhor deífe Couto,
& Cafa, filho de Gonçalo Rodrigues de Abreu também fenhor delia , que fer-
vio ao Conde Dom Henrique, & inda hoje o Couto he por eífa via do Marquez
de Tenorio feu defeendente, por fer neto de Dona Maria de Abreu & Noro-
nha, Condeça deCrecente , & lhe paga cada morador hum alqueire de ceva-
da»
S. Miguel de Borçoça, Curado que aprefentão asFreyrasdeS. Bento de
Monção, tem trinta viíinhos»
S. André de Tayas, Curado das mefmasFreyras alternativo com oAbba-
de de Abcdim, he limitado em tudo, tem Beneficio fimples , que rende doze
mil reis, & trinta &dous viíinhos.
S. Salvador de Cambezes , Abbadia fimplcs, que aprefenta Bernardo de
Alpocm de Abreu, fidalgo da Cafa de Sua Mageílade, & fenhor de Poufada em
Penella-.rende duzentos&cincoentamil reis, tem Vigário do Ordinário , a
quem importa oitenta mil reis. Neila Freguefia, que tem cem vifinhos, eííá a
nobre Cafa doSopegal da familia de Pereiras , cujo fenhor Francifco Pereira
de Caílro, fendo caiado com Eulalia Taveira a fundàrão alli vifinha à fermo-
fa, & grande Capella deN-Senhora dos Milagres, nome que lhe agenciàrão os
infinitos que obra, fendo bufeada de muitos Romeiros de Portugal , &Galli-
za. Dêfcendem osfenhoresdefta Cafa de Aífonfo Pe^^àdo Lago , de quem
ella foy, fendo Veador da Fazenda deíia Província de^jD. Aífonfo o Quin-
to, & fidalgo de fua Cafa, cujos oíTos forão tresladados para o Moífeiro de São
Bento de Monção no anno de i foi - & alli defeanção, do qual vem os bons Pe-
reiras daquella ribeira,& de outras partes.
CAP. IV.
QUatro legoas abaixo de Monção, & duas acima de Caminha para a parte.
do Norte, junto do caudalofo Minho eífá fítuadaVilla-nova de Cervei-
ra, que fundou EIReyDom Diniz pelos annos de 1320. em hum lugar chama-
do antigamente Cervaria, donde tomou o nome, por acharem junto a elle hua
Cerva ,°que a Villa tem por Armas 3 & daqui prefumem alguns teve principio
o appellido de Cerveira, & na verdade parece que delleha dous Solares diífin-
dos, hum eíle,& outro naFreguefia de S.Payo de Poufada , termo de Braga.
He eíla Villa hum Caftello fechado, aonde chamão dentro da Villa , & a cin-
gem altos muros com oito torres ao redor delles, com tres plataformas,aonde
joga a artilharia,& fua barbacãa à roda dos muros. Dentro da Villa eífá a Igreja
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA* it?
da Mifericordia, o Paço do Concelho, Caden, & Armazéns delRey,aonde eítão
a polvora, bailas, & mais petrechos de guerra» Tem o Caítello huma porta,
& fobre ella huma Capella de Noífa Senhora da Ajuda com Contrariada gente
de guerra,de quehejuiz perpetuo oGOvernador deita praça. Sahindo Io«o
fóra do Caítello fe entra em hum largo terreiro, aonde eítá a Igreja Matriz da
invocação de S. Ciprião, Abbadiaquefoy do Padroado Real , & hoje a apre-
fentãoos Vifcondes, Alcaydesmóres delta Villa: leva o Abbade duas terças ,
que rendem cento &cincoenta mil reis; a ultima tefervou ElRey com Breve
Apoítolico applicada às fortificaçoens da praça, que a Camara da Villa arren-
da em nome de Sua Mageítade. Tem eíte terreiro dous alpédres, & junto dei*
lehuma galharda fonte de tres bicas , por onde lança tanta quantidade de a-
gua, que com ella pôde moer hum moinho, & he cercado de nobres cafas.
Sahe deite terreiro para o Vendaval a rua, que chamão da Igreja, no meyo
da qual eítá a praça do peixe, & no fim huma Ermida de S.Sebaítião : do mef-
mo terreiro para a parte do Norte fahe outra rua , que chamão do Arrabalde ,
no fim da qual eítá a Ermida de S'. Miguel, & juntodellaa fonte de Sol levado.
Cercão a eíte terreiro , & ruas huma muralha nova,queíe fez 110 tempo da
guerra, com feus baluartes, & foífoà roda delia, aonde tem fuas hortas a gen-
te de guerra, que eítà de guarnição deita praça* Fóra deita muralha nova fi-
ca a rua das Cortes, que tem huma Ermida de S. Roque, (que foy antigamen-
te Parochia da Villa) & no meyo delia eítão as feitorias, aonde fe cozia o pão
de munição para os Soldados.
Tem cita muralha, & praça quatro portas, huma para o Norte, que cha-
mão da Campanha com huma Capella de Santo Antonio de Lourido na entra-
da, defrõte aa qual eítá o forte de S»Francifco,quefe fez no tempo da guer-
ra fobre as ribeiras do Minho junto ao lugar de Azevedo , o qual tem feus
baluartes, & plataformas com fua artelharia ; & defronte deite forte para o
Nafcente em fitio alto eítá huma atalaya, que alcança com mofquetaria todo
o terreno atè a praça,& atè o forte. A fegunda porta fica para o Sul,(que he
a eítrada,que vay para as Villas de Caminha, & Viana) & lhe chamão a Porta
Nova; tem na entrada huma Capella de S* Gonçalo na beira do Minho cõ hum
ribeiro de baítante agua, que a cerca, com muitos arvoredos fombrios que fa*
zem o fitio alegre, & viítofo. A terceira porta fica ao Nafcente, & lire chamão
a porta detrás da Igreja , queheaquevayparaaruadasCortes» A quarta
porta olha para o Poente, & fe chama a Porta do Rio, que vay para o caes de-
ita Villa, & para o Rcyno de Galliza»
Tem eíta Villa com os feus Arrabaldes duzentos Sc cíncoenta viíínhos cõ
muita nobreza; goza de voto em Cortes com affento no banco dezafete: defde
feus princípios teve fempre dous Juizes, hum nobre, & outro plebeo , & per-
maneceóneíte governo atè o anno de iôzz.em q Felippe IV.deCaítelIa dominã-
do eíte Reyno,íhe poz Juiz de fóra; tem tres Vereadores, & hú Procurador do
Cõcelho por eleição do povo,remeté-fe a Lisboa as pautas,aonde fe efedlhe os q
hão de fervir; hG Efcrivão da Camara, Juiz dosOrfaõs com feu Efcrivão,Juiz
da Alfandega, Efcrivão, Juiz da Dizima,& Efcrivão: eítes dous aprefertta Bra-
gança: Efcrivão das Sizas, tres Efcrivaens do Judicial, & Notas, húCõtâdor,
Diítribuidor,&Enqueredor, Meirinho, todos data delRey,& Alcayde , que
aprefenta o Vifconde. Reparte-fe á gente do Concelho em quatro Cõpanhias
com hum Sargento mór lá Camara ferve de Capitão mór em aufenciã do Al-
T cáyde
ii8 TOMO PRIMEIRO
cayde mor, & tem efta praça de prefidio tres Companhias de Infantaria paga-
Tem efta Villa para o Nafcente tres Ermidas, NoíTa Senhora da Encarna-
ção, o Efpirito Santo, &S-Pedro dc Rates 5 & no alto de hum monte hum quar-
to de legoadift ante o Convento de S. Pay o dos Milagres, nome quefe lhepoz
pelos muitos que faz: he de Frades de São Francifco,da Obíervancia da Pro-
víncia de Portugal, o qual fundou Frey oonçalo Marinho. He fértil de fru-
tas, caftanha, feqão, hortaliças, pão, & vinho, baftantes gados de toda a forte,
excellente mel, muita caçâ,& o melhor linho quejia na Provinda , com mui-
ta pefca de lampreas, falmoens, laveis, mugens, tainhas, trutas, òt outros pei-
xes do mar, porfobira maré mais acima ; com que fica fendo belhífima terra
emfeus arredores- Antigamente efteve efta Villa fundada mais acima nas Va-
linhas, hum tiro de mofquete junto aonde eftá NoíTa Senhora de Lobelhe, dc
quefe moftrão inda hoje veftigios. O Teu termo tem as Freguefiasfeguni-
tes. . - 1
Santa Marinha de Loy vo,Vigairaria que ajprefentão as Freyras de S- Anna
da Villa de Viana, tem cemviíinhos- Foy antigamente Mofteiro de Monjas
de S. Bento, dizem que da invocação de Santa Anna , mas não alcançamos o
tempo de fua fundação, nem os nomes de feus Padroeiros. Por baixo defta
Igreja, aonde chamão oPedrofo, houve huma Torre antiga, que não ha mui-
tos annos fe desfez, para fazer humas calas, não alcançamos noticias de quem
foífe.
S. Pedro de Gondarem , nome que alguns dizem tomou de Gunderedo
Rey dos Normandos,quando veyo conquiftar Galliza,& parte defta Provincial,
& a occupou tres annos em tempo de Dom Ramiro o Terceiro ; antigamente
fe chamou a Igreja de Mangoeyro , por eítar em huma Aldeã, que tinha o tal
nome, mas mudandoa para outra, tomou delia o que tem. Jle Abbadia , ame-
tade Curado, que apreí então os fehhores da Caía deBertiandos por a família
dos Cerveyras, cujo Morgado poffue aqui Manoel Ferreira d'Eça, fenhor da
Cafa de Cavalleiros, por defeendénte de filho mais velho, rende trezentos mil
reis; a outra ametade he fimples,data do Ordinário, rende cento & vinte mil
reis: tem duzentos, & cincoenta vifinhos.
NoíTa Senhora do Reclamo de Lobelhe,ametade íimpíes , cabeça do Arce-
diagado de Cerveira, que até o tempo delRey Dom João o Primeiro era da Sé
de Tuy,aonde hoje té Cadeira,&: leconlerva efta íimples Dignidade fem ren-
da; a outra ametade foy antigamente Abbadia do Padroado Real , & ElRey
Dom João o Terceiro a deu aos Padres da Companhia doCollegio de Coim-
bra, que começarão a aprefentarnella Vigários no anno de 1600. tendo vagado
por morte do último Abbade João de Arão: tem feíTenta vifinhos.
S. João de Reboreda, Abbadia que aprefentá a Cafa do Carqueyjal,& ou-
tros, rende trezentos mil reis, tem cemviíinhos. Aqui eftá a Torre de Pena-
fiel, que dizem fer Solar da família dos Reboredas, a que o Conde Dom Pedro
chama Revreda, da qual foy fenhor Gonçalo Annes de Reboreda. Os Rebo-
redas tem por Armas em campo azul hum grifo de prata , outros huma
ferpe de ouro com duas azas, &dous pés em campo branco,& algús ufaõ das
Armas dos Berredos. O fitic,emque eftá a Torre, não he capaz de haver fi-
do fortificação entre Portugal, & Galliza, por fer defviado da ray a, que o rio
faz. *
S.João de Campos, Abbadia da Mitra , leva o Abbade ametade dos fru-
tos, rendelhe cento. & cincoeta mil reis;a outra ametade he Beneficio fimplcs
do
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. aio
do Ordinário, rende oitenta mil reis, tem oitenta vifinhos. Hânefta Frc«ue-
ila huma Igreja de Santa Luzia , aonde antigamente foy o Moíheiro de Santa
Maria de Valboa de Freyras de S.Bento. He t radição forão feus Padroeiros,
& fundadores os fenhores Sylvas, que alli vifinho tinhão feu Solar , & delle
foy Abbadeça D. Urraca Soares,filha de Sueiro Gonçalves de Barbudo,filho de
Gõçalo Pires de Belmir, qo era de MarcimPiresdeBelmir,Scefte o foy de Pe-
dro Soares de Belmir,& de fuam ulher D- Gontinha Paes da Sylva, filha de D5
Payo Guterre da Sylva,fenhor da Torre, & Solar da Sylva, Adiãtado neíte nof-
lò Reynopor ElRey O.Affonfo o Sexto de Leão, & de fua fegunda mulher D.
Urraca Rabaldes,cõqfe moftra q por efta defcendécia foy D. Urraca Abbade-
ça defte Mofteiro, q íe devia extinguir por pobreza das Religiofas. Aqui foy
oSolar do appellidode Valboa,de que tem havido grandes homes em Efpa-
nha, principalmente no Reyno de Callella, a quefe paífarião, & no defcobrime-
todefuas Índias fizerão muito; & não obíia dizerem forão Gallegos, para dei-
xarem de fer deíla Provincia, particularmente de Entre Lima, & Minho , por
antigamente fer toda de Galliza.
S. Payo de Villameaõ, Vigairaria do Cabido de Valença , tem'quarenta
vifinhos. Junto defta Parochiaeftá a Aldeã de Chamofinhos, que tem trinta &
cinco vifinhos, a qual fendo defte termo , & feus moradores annexosà Igreja
de Santa Maria da Sylva no de Valença, por eilarem diíhantes delia fizerão os
freguefes avença com os Frades de Oya em Galliza,Padroeiros daquella Tgreja,
de lhes darem oitenta alqueires de pão, & ferem Parochianos de Sam Pedro da
Torre,aonde pagão de dizimo vinte & hum.
S. Pantaleão de Cornez,ametade Ahbadia , foy dos Duques de Caminha,
hoje da Coroa; a outra ametade era fimples do Padroado Real, & a deu ElRey
Dom João o Terceiro aos Padres da Companhia do Collegio de Coimbra , que
apreíentão Cura: tem fetenta vifinhos.
S. Felis, a quem o vulgo erradamente chama S. Fins,& S. Perofins de Cã
demil, foy Abbadia dos Duques de Caminha, & hoje he da Coroa , rende tre-
zentos mil reis, tem cem vifinhos.
S. Miguel de Sapardos, Abbadia q aprefentavão os freguefes: eíle ultimo
Abbade Gafpar Pereira, que ha annos faleceo, adquirio delles o Padroado para
fy infolidum, & odeixouahumfeufobnnho , que deprefente pleiteacoin o
Tenente General Carlos Malheiro Pereira, & outros, fobre de quem ha de fer ;
tem cento & oitenta vifinhos.
Santa Chriftina de Menteftrido foy Abbadia do Padroado Real, trocou-a
ElRey Dom Diniz no anno de 1308. com D. João Fernandes de Sotomayor,
Bifpo de Tuy; agora he Vigairaria do Abbade de Cunha em Coura , de quem
he annetfa, rende ao Vigário feflenta mil reis, outro tanto ao Abbade com ame-
tade dos frutos, & a outra ametade he Beneficio fimples do Ordinário , tem
-cem vifinhos.
Santa Eulalia de Gundar, Vigairaria das Freiras de S. Bento de Viana,tem
quarenta vifinhos.
S, Salvador de Covas, Abbadia que aprefenta Dom Manoel de Azeve-
do & Ataíde, eftá nefte termo, fendo a mayor parte dos freguefes do de Cami-
nha,rede quinhetos mtl reis,ametade he do Abbade,alem dopè de Altar,& paf-
faes,& da outra fe fazé dous Preftimonios do Habito de Chriílo,q por Comen-
das aprefentavão os Duques de Caminha, cada hú importa cem mil reis,te du-
zentos, & trinta vifinhos. Neíia Freguefia eílá huma Torre antiga, que devia
Tij fer
no TOMO PRIMEIRO
ícr Honra; mas não achamos noticia ce que familia fofíe-
Couto de H\(ogueyra.
• C A P. V.
CAP. VI.
DA parte do Sul do rio Lima meya legoa da Villa dos Arcos, cujo termo
chega atè o Padraõ do meyo da Ponte, aonde chamaõ Val de Vèz, & íeis
legoas de V iana pela corrente do rio acima ao Nafcente,elf á aífentada a V illa da
Ponte da Barca, cabeça do Concelho,que algum tempo fe chamou 1 erra da No-
briga,peloCaílello que tem em hum alto monte. Havia aqui huma barca de
paíiagem primeiro que fe fizeífe a Ponte, & de ambas fe compoz depois o feu
nome: junto delia fe for So levantando algumas cafas, &apeífoaq mais a po-
voou, foy Maria Lopes da Coíla , que de dous matrimónios teve tanta def-
cendençia,que fendo de cento & dez annos conheceocéto& vinte filhos , ne-
tos, & bifrletos, de q cotava oitenta todos os dias, por viverem junto delia.
Foy a fua cafa a primeira de fobrado,que alli houve, & em que vivia fua filha
Ifabel Gonçalves da Cofia, quando ElRey Dõ Manoel veyoa Santiago de Gallir
za, &nella poufou, fazendolhe muitas mercês a feus filhos 5 & eíia lie a razão
porque os principaes deíla Villa faõ todos Coifas por fangue , & ufaõ de lie
appellido- Temeíla Villa duzentos & cincoenta vifinhos, Cafa de Mifericor-
dia,Hofpital,& eífasErmidas, S. Bertholameu, Santo Antonio, Santo Ama-
ro, &NoíTa Senhora da Conceição fobre.as portas da Ponte, & huma fonte de
cantaria de excellente agua,que corre por huma bica em grande tanque.
Afliílem ao feu governo civil hum Juiz ordinário, tres Vereadores, hum
Procurador do Concelho, Efcrivao da Camara, & Almotaçaria, Diílribuidor,
Enqueredor, & Contador, Juiz dos Orfaõs, & Efcrivao , todos datadelReyj
quatro Tabeliaens,& Alcayde, que ferve de Carcereiro, aprefenta oíenhor da
Villa, que nella tem nobres cafas feitas ao moderno. Tem Tribunal de Alfan-
dega com Juiz, Efcrivao, & Guardas, que fe trésladou do Concelho de Lindo-
;fo ray a fçca,aonde eílava. O termo dá bons frutosde milho, trigo, centeyo,
linho,
DA COROGRAFIA PORTUGUESA;
linho, feijão, caftanha, vinho de vinhas, & de enforcado, algum azeite, muitos
gados de toda a íorte, mel, cera, caça, pefcas no Lima de falmoens , lampreas,
relhos, trutas, bogas, efcalhos, falmonetes, favcis , 110 Vade faborofas trutas,
carvão nos montes para Ferreiros, & baftante truta para a terra , com abun-
dância de lenha, & feira franca aos 2-& zj.de cadamez. Tema Villa, & feu
termo cinco Companhias, de que he Capitão mor a Camara em aufencia do fe-
nhor da terra, com hum Sargento mór,& mais Oíficiaes- Daqui erão naturaes
Jeronymo Pimenta Defcmbargador do Paço , Dom João Pimenta fcU irmão,
Bifpo de Angra, o Poeta Diogo Bernardes Pimenta, & outro Diogo Bernardes
Pimenta, & Antonio Pimenta de Araujo, que em noífos tempos morrerão Def-
embargadores, com que derão grande luftre à familia de Pimentas, fe bem ne •
nhum deixou Morgado, que os conferve, como aos de Torres Novas- Com-
poem-fe efta Villa, & feu termo das Fregueíias feguintes-
S.João Bautifta, Abbadia da Villa, Igreja que nella fe fundou depois de
povoada na Fregueíia de S. Martinho de Paço Vedro, qtie era a Matriz, & ago-
ra lua annexa,foy do Padroado Real, donde paliou aos fenhores da Barca , de
quem he, rendem ambas duzentos & cincoentamil reis.
S.Martinho de Paço Vedrohe Igreja muy antiga, & fagrada , diz-fe hella
Miffa fem pedra de ara': tem relíquias de S. Martinho , devem fer do de Du-
me; eftão metidas em hum nicho fechado no Altar. Foy Matriz da Villa , de
quem agoraheannexa,& o Abbade aprefenta nella Cura: tem trinta & leis vifi-
nhos. Aqui eftá a Caía, & Torre de Magalhaens , de que he fenhor Dom Fa-
drique Antonio de Magalhaens & Menezes, fenhor de ft a V ília.
S, Romão de Nogueyra, Abbadia do Ordinário , rende cento & cihcOenta
mil reis. tem cincoenta vifinhos. Aqui eftá a Torre de Quintella, não alcancey
de que familiafolfe Solar,paflou aos Pereiras , & defíies dizem que por cafa-
mento de Dona Ines Rodrigues Pereira, filha de Ruí Vafques Pereira , fenhor
de Payva,&Baltar,& de fua mulher Dona Maria de Berredo , com Rodrigo
Annes de Araujo, fenhor das Cafas de Araujo, & Lobeos , dos quaes nafceo
Pedro Annes de Araujo, fenhor da mefma Torre , Cafado com Catherina Ro-
drigues Pereira <JoLago,filhadeRuí Gomes do Lago :herdou-os feu filho Xif-
to Gomes Pereira , que de fua mulher Inacia de Magalhaens teve a Catherina
Pereira de Magalhaens cafada com Belchior Cerqueira Novaes , de quem naf-
ceo o Licenciado Lucas comes Pereira, pay do Capitão Xiftó comes Pereira,
que morreo no fitio de Monção: he feu filho Lucas Gomes Pereira, Cavalleiro
do Habito de Chrifto,&: fenhor da dita Torre.
Santo Adrião deOleyros, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis, &
tem cincoenta & feis vifinhos.
S* Salvador de Bravaés, que antiguamente fe chamava de Barbas, foy Con-
tento de Conegos Regrantes de Santo Agoftinho, parece que com alguma fub-
ordinação ao de S. Martinho de Crafto ; porque fe acha que efta Freguefia foy
Couto de S. Martinho, fundado por Dom Vafco Nunes de Bravaés, Rico ho-
mem, & huma das principaes peífoas da Corte delRey Dom Affonfo o Sexto,do
qual ficou illuftre defcendencia. O Arcebifpo Dom Fernando da Guerra com
Breve do Papa Martinho Quinto o fez Abbadia fecular , paffou a Commenda
de Chrifto, que rende duzentos & cincoenta mil reis, & he Reytoria da Mitra:
tem noventa vifinhos»
. S. Miguel de Lauradas, Rey toriâ da Mitra, & Commenda de Chrifto, que
rende duzentos & vinte mil reis, tem oitenta vifinhos. Aqui eftá a Cafa do
Pa
^^6 . TOMO primeiro
Paço, que foy de Dom Rodrigo Taveira, Commendatario de Bravaés,& a deu
em dote a fua filha Dona Brites Taveira, para cafar com Lopo da Colha , pelo
que entrou neíta família, &z hoje na dos Aimeydas Leboroés.
S. Martinho de Crarto he Convento de Conegos Regrantes de Sãto Agof-
tinho,que fundou hum illuftre fidalgo fenhordo dito lugar do Craflo por°no-
me Dom Onerico Soeiro, que era muy devoto de S. Martinho Bifpo de Tours
deFrança, à fua honra edificou no feuSolar deCraítohuma Igreja pelos an-
nos de 11$6- como diz a Chronica dos Conegos Regrantes de Santo Agofti-
nho liv.6.cap.<?. Nelle aífifle hum Procurador : he hoje Vigairaria collada,
qusaprefentao os mefmos Frades: tem noventa vifinhos. Aqui eífá a Torre
de Caldas, que não fabemos de que família folfe Solar.
S. Miguel de Boy vaens, Abbadia do Ordinário, rende duzentos mil reis,
tem felfenta vifinhos. Aqui eílão as Chans do Ourai , aonde paftão muytas
egoas de criação, & gado de toda a forte, & fazendo os Reys mercê defte Con-
celho aos Penhores do appellidode Magalhaens,refervàrão eífes matos, & que
ficafiem Realengos.
S-João deGrovelIas, Curado que aprefentao asFreyras do Bom Jefus de
Évora, tem quarenta Stfeis vifinhos. Aqui em hu n monte fevem vertigios
degrandes cavas, chamaõlhe a Tina de Ouro, pelo muito que deífa notável mi-
na devião tirar os antigos.
^ S. Pedro de Codeceda, Curado do Morteiro de Rendufe , tem cincoenta
vifinhos. Foy Couto do mefrno Morteiro, & o tempo, que tudo garta, o aca-
bou.
Sarta Marinha de Pen? faies, Abba cia da Mitra, tem cincoenta vifinhos.
Santa Eulalia de Baloís, Abbadia da Mitra, tem trinta&nove vifinhos.
Santa Vaya de Ruy vos, Abbadia da Mitra, tem feíferta vifinhos. Aqui
ertá a,Cafa do Real, que nortra antiguidade, & nobreza : nella viveo Gd Cer-
queira, & fua mulher Margarida Martins Velho , dos quaes fby filho Fernão
Gil cerqueira, que cafou comi label Gonçalves da Corta: fuccedeolhes leu fi-
IhoFrancifco da Corta Tavcyrao Razodealcu ha,cue cafoucom AnnaNu-
ncs Bezerra, filha de Truillos de Araujo de Acevedo , & de fua mulher Jufta
de Amorim Cerqueira: herdou os fua filha I fabel de Araujo de A zevedo, mu-
lher de Gonçalo de Antas de Sá, filho de Joaõde Antas de Amorim , & de fua
mulher Ines Brandaõ; íuccedeolhes fua filha Mariana de Sá, mulher de Francif-
code Abreu Felgueira,filho de Belchior de Abreu,deq tem a Leonel de Abreu
Felgueira,Francifco de Abreu Felgueira,& filhas, q todos vivem nerta Cafa.
Santa Maria das Neves de Covas, Vigairaria annexa de S. Thomè de Va-
de,'tem fetenta vifinhos.
S. Pedro de Vade, Vigairaria annexa a Santa Azias , tem quarenta vifi.
nhos.
S. Mamede deGoido, ou Villa-Verde, Curado que aprefenta o Geral de
Santa Cruz de Coimbra, por ferannexo a Sac Martinho de < rarto , tem qua-
rentavifinhos. Aqui ertá a Torre, & Paço de Villa-Verde , & no alto de hum
monte fe conferva o nome de Dona Elvira, de quem dizem foy ertaCafa , que
a meu ver fez Dom João de Aboim na quinta' que lhe havia dado Dom Frey
Affonfo Pires Farinha, Prior do Crato,com confentimento do Cram Mertrede
Efpanha na Ordem de S. Joaõ de Malta, de quem ella era : fez-fe erta doacam
no anno dc 1260. & devia já ter nclla parte feu avo Dom Ourigo o Velho da
No-
D A COROGRAFIA PORTUGUEZA. . Í37
Nòbriga , fundador (como dizem alguns) do Morteiro de Saõ Martinho de
ÇraíloJ de quem feria eíie Padroado de Villa-'Verde, cjue lhe annexou , & de
fua filha Dona Elvira, mulher de Lourenço Médes de Guindar, que era tia defle
Dom João, ficou ao monte o nome de Dona Elvira ; porque eíta em tempo de
pefte fe recolheo alli com outras, que com ella vivião em fórma de Religião >
depois que viuvou. Entràrão nella os fenhores da Barca, de q ue fali io por 1 uc-
ceifaõ, em que permanece, feita Morgado, & por tal a poffue Francifco de Sou-
fa de Menezes, No monte da Danava 1'e tira a melhor pedra, que ha neflas par-
tes para edifícios.
S- Thomè de Vade, Abbadia q foy do Padroado Real, he hoje dos fenhçres
da Barca, & rende com a áunexa de Covas duzentos mil reis, tem feffeiita vi-
íinhos. Tem a Torre da Poufada, cm que viverão Fernão Velho de Araujo, fe-
nhor da Caía de Araujo, & fua mulher Anna N unes Bezerra, filha de Nuno Gõ-
çalves Bezerra,fidalgo' allego,feríhor da Cafade S. oil de Perre junto a Via-
na, & de fua mulher Iiãbel de Barros : depois venderão effa quinta feus filhos
aos fenhores da Barca, que hoje a logrãdx,
Santiago de São Priz, Abbadia que foy do Padroado Real, & com à mercy
do fenhorio da terra paífou aos fenhores da Barca * rende duzentos mil reis,
tem cem viíinhos. Aqui em hum altiífimo , & inexpugnável monte tllá o Caí-
rello da Nobriga,( hoje todo arruinado comos rayos que nelle cahiráo) que
muitos tempos deu o nome a efle Concelho, porque fe chamava T::rra da Nò-
briga, deque era cabeça,& conforms a opinião vulgar, he obra delRey Brigo,
bifneto de Tubal,o primeiro povoador de Efpanha depois do Diluv.o, a querp
fe àlludem todas as fabricas, & nomes, que acabão em Brigo, ou Briga : fe bem
que Briga na lingua antigaEfpanholá quer dizer povoação. Em tempo dos
•noííbs primeiros Reys foy Penhor dclle,& das terras vdinhas Dom Ourigo 0
Velho da Nobfiga, grande Capitaõ, que ganhou muitas terras aos Mouros, dy
quem por defeendentes feus paílòuo direito defte fenhorioaos Magalhacs, que
agora a poíTuem: alli fe fazia audiência,& havia cadeà,emquanto íe não fundou
aVilla da Barca, para onde fe mudou o foral- He eíle Caífello Solar dos No-
brigâs, família antiga, que tem por Armas em campo de ouftí quat.ro palias
de vermelho, timbre hum meyo Leão de ouro, com huma palma vermelha. Ou
tros fobre as palias aífentao hum Açor de preto,com bico, & unhas de ouro.
NoíTa Senhora de Santa Azias, Abbadia do Ordinário,rende com a annexa
de S.Pedrode Vade trezentos & cincoenta mil reis : tem cento & dez vift-
nhosi
Santo André de Gondomar foy do Padroado Real, & paífou aòsMaga-
lhaens com o fenhorio da Barca, rende cento & vinte mil reis, & tem cincoen-
ta viíinhos. Aqui ha hum fojo , em que matão lobos, por fer terra de fnon-
te#
. •«
S. João de Villachão, Vigairaria do Arcediago de Neiva , rende cem mil
reis, & trezentos mil reis para o Arcediago : tem cento & feífenta viíinhos.
S. Vicente de Germil, Curado annexo ao Convento de Muya , tem quart-
ta viíinhos. Ha neíla Fregueíia, & na.que fe feguebons nabos.
Si Sylveíire da Ermida , Curado annexo a S. Miguel de Entre ambos Q8
•Rios, tem trinta & feis viíinhos : he do Couto de Aboim-
Santiago dc Villachão, Vigairaria annexa a S- Miguel de Entre ambos qp
Rios/tem oitenta viíinhos*
\ S. Martinho de Birtello tomou onómedeÈretol.eum,ouBritonfa,.Cida-
de
138 TOMO PRIMEIRO
de antiga, íituada (coirociizem muitos) aonde he Cidadelhe : foy Abbadia
annexa do Moflciro de Ermello, que fe extinguio , & annexandcíe oCõvento
â Igreja do Valle no termo dos Arcos, que fora do Moífeiro, & fazendefe del-
ia Abbadia do Padroado Real, também aprefentava Cura , ou Vigário rtfta;
mascomoosfenhoresda Barca tmhão mercê dos Reys de todos os Padroa-
dos, cue lhes tocaífem neífe Concelho,& fempre forão poderolos j fendo A b-
bade do Valle Francifco da Abrunhofa ,o fenhor da Barca fe intr. duzlo a pre-
fentar nella Abbade,& foy o primeiro Antonio Tofcano de Lima , dizendo lhe
tocava por doação Real. E aflim permanece com fentença já no terceiro apre-
fentado: rende duzentos mil reis, tem cento ôc dez vifinhos. Aqui elfá a no-
bre Cafa de Britello, a que chamão Paço, por fempre fer de bens fidalgos.
S- Miguel de Entre ambos os Rios, A bbadia do Ordinário, rende com as
annexas de Santiago de Villachão,&c S.Svlveífre da F rmida,quinhctosmil reis,
tem cento & oitenta vifinhos, parte faõ do Couto de Aboim.
S. Lourenço de Tovedo, Abbadia da Mitra , que rende com a annexa de S.
Salvador quinhentos mil reis, tem noventa vifinhos. Tem-fe por fé, que todo
o que entra primeiro neíha Igreja dia de S. Lourenço, lhe tirão Santo qualquer
achaque que tenha, & aflim he venerado com romagem, & PrcciíTcens. A qui
eífá aTorredeTouvedo, Solar dos fidalgos dcífeappellido , ôtemoueviveo
Afionfo Mendes deTouvedo, a quem o Conde Dom Pedro, ou feu Copiador,
dizTavocdo,cafadocom Dona Joanna Rodrigues, filha de Ruí çon esdeGun-
dar,& de fua mulher Dona Mayor Affonfo, todos fidalgos muy íllufires- Não
fey fe por fangue, ou que caufa entrou nella Dona Leonor de Alvim, m ulher do
grande Condeíiable Dom Nuno Alvarez Pereira, & por cafamer.to de fua filha
unica Dona Brites Pereira, mulher do fenhor Dom Affonfo primeiro Duque
de Bragança, ficou naquellaC afa,que depois a emprazou com feus bens por
certoforo,&deprefenteapoffueGabriel da Coita Pereira.
S- Salvador deTouvedo, Vi gair ar ia annexa à Igreja deS. Lourenço , tem
cincoertta vifinhos.
NoíTa Senhora da Conceição de Villa-nova de Muya he Convento de
Conegòs Regrantes de Santo A golfinho , que fundou Dom Godinho Fa-
fez de Lanhofo , fundador do de Fonte Arcada, & Rico homem, que fervio a
EIRey Dom Affonfo o Sexto, & ao Conde Dom Henrique feu genro, que lhe
fez Couto no anno de 110$. governando-o logo em feu principio Ramiro
F afez, que devia fer feu filho, ou ir maõ, de que o Conde Dom Pedro nam dá no -
ticia. EIRey D. Affonfo Henriques lhe confirmou o Couto no anno de 114,1»
& declara a demarcaçaõ de feu delf r'.<Ro, que ainda hoje fe vem em muitas par-
tes: permaneceo annos, mas em tempo delRey Dom Joaõ o Primeiro , gover-
nando cite Convento Ruí Gonçalves de Mello, irmaõ de Rodrigo de Mello Ca-
mareiro deIRey,lhefez queixa de que Gd Afionfo de Magalhaens , fenhor d*
Barca, & terra da Nobrigaíhe devaçava a jurifdiçaõ,& aprefentava Juizes no
feu Couto. Defaggravou-o com paffar Carta contra Gd Affonfo em Lisboa a
11.de Janeiro de 1404. & pleiteando o Molfeiro, teve fentença contra eíle fi-
dalgo 5 mas o poder de feus fucceffores, &o mao viver dos raçoeiros do Con-
vento os debifitàraõ em forças, & reputaçaõ demodo,queprevaleceooentrar
nelle a Juítiça da Barca; & do Couto nam ha agora mais que os marcos, & no-
ticias, de que o foy. O ultimo Cõmendatario que teve , foy o Doutor Anto-
nio Martins, que faleceono anno de 1594- & entiàraõ nelle osConegos Re-
gfantes.cm 2 .de Fevereiro de ifc^.Foyièu primeiro Prior tricnralD- Agof-
_ tinho
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 23?
tinho de S. Domingos. Agora nam tem íenaõ hum Religiofo Prefidente com
outro companheiro Procurador: rede feifccntos mil reis comosdizimos , &
fabidos, que applicaõ ao novo Convento de Viana; poem Cura fecular, que te-
rá de renda fetenta mil reis, Sc tem eíla Freguefia duzentos & feílenta vifinhos-
He fenhor defta Villa Dom Fradique Antonio de Magalhaens St Menezes,
cuja Varoniahe afeguinte.
Dom Pedro de Menezes fenhor de Cantanhede foy cafado com Dona
Tnes de Zuniga, filha de Dom F radique de Zuniga, fenhor de Mirabel , & de fua
mulher D- Anna deCalfro,deque teve a Dom Antonio de Menezes , que lhe
fuccedeo na Cafa de Cantanhede, Sc aDomFradique de Menezes , com quem
continuamos.
Dom F radique de Menezes, filho do dito Dom Pedro de Menezes fenhor
de Cant anhede, cafou com Dona lfabel Henriques, filha de Fernaõ Nunes Bar-
reto^ fenhor dos Coutos de Freirís,St Penagate , Sc de fua mulher Dona Ma-
ria Henriques, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Aífonfo de Menezes, que foy Meífre-fala delRey Dom Joaõ o Quar-
to, Coronel dehumTer .o emLisboa,& Commendadorna Ordem de Chrdlo:
cafou corn Dona Joanna Manoel, filha de Conftantino de Magalhaens,fenhor da
Ponte da Barca,& de fua mulher Dona Ifabel de Aragaõ, deque teve entre ou-
tros filhos a DomFradique Antonio de Menezes,& a Dom Jofeph de Menezes,
que occupou todos os lugares Eccleíiafticos defteReyno ate fer Arcebifpo de
Braga, St foy infigne nas letras.
Dom Fradique Antonio de Magalhaens Sc Menezes foy por fua máy fe-
nhor da Ponte da Barca: cafou com Dona Jeronyma Maria de Sá, filha herdeira
de Fernão Nunes Barreto, fenhor dos Coutos de Freirís, Sc Penagate, Sc de fua
mulher Dona Joanna de Sá, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Aífonfo de Menezes, q ue he fenhor da Cafa de feus pays, & cafou cò
Dona Antónia de Borbon, filha de Dom Antonio de Almeida, Conde dc Avin-
tes, St da Condeça Dona Maria Vitoria de Borbon-
CAP. VII.
EStáefte Couto entre huns altos montes, que da parte do Norte o divide
oCaftellodaNobriga do termo da Barca , Seda do Sul as ferras de Gon-
, domar fobreBaldreu Concelho de Regalados. He delRey com Juiz ordinário
por eleição triennal do povo, St pelouro, dous Vereadores, Procurador do Cõ-
celho, Sc Meirinho, a que preíide o Corregedor de Viana, Efcrivaõ do Crime ,
Sc C amara,que andaõ juntos :oJuizdosOrfaõs,ScEfcrivaõ faõ osmefmos 4
na Barca. Compoem-fe além deifaFreguefia, de ramos de outras dos termos
da Barca, Sc Regalados ; terá ao todo quatrocentos homens com hum Capitaõ,
ScoCommendadorheCapitaõ mór; recolhe baft ante paõ de todo o genero,fei-
jão, bom vinho verde, caça, mel,Sc cera, gados,muitos paífos,criaçaõ de egoas,
Sc mulas, boas trutas no regato, inda que pequenas. Foy delle fenhor Dõ Joaõ
de
Mo ' ' TOMO PRIMEIRO * -*
de Aboim, Rico homem no tempo delRey Dom Affonío o Terceiro , a quem
acompanhou em França, & com elk veyo a eíle Rey no, aonde o fez feu Mprdo-
mo mcr; & nam foy menos eílimado de ficu filho ElRey Dom Diniz, de cujo Cõ-
felhofoy. Viveoem huma Torre, que alli ha junto da Aldeã do Outeiro , &
qual, dizem alguns, lhe deu Dom Martini Fagundes, Commendador de Leça ,
Tenente do Graõ Meílre, q entr o era dos cinco Reynos de Efpanha na Ordem
de S.Joaõ de Malta, Dcm Gonçalo Pires de Pereira, natural dcíla Provincial
fez eila Doaçaõ em 20. de Julho de 1270- por fer pertença deíla: & já no an-
no de 12<ío. Dom Frey Affonío Pires Farinha, Prior do Crato , com confenti-
menrodo Graõ Commendador de Efpanha Frey Faraudodc Barriaco, lhe ha-
via dado a de Vílla-Verde, de que já falíamos,no termo da Barca; mas a meu ver
deviaõ fer alguns quinhoens, que feus antepaífados deixariaõ àquella Ordem
Militar;pois por aqui viverão, & tiveraõ feus Solares,& neíte particularmen-
te viviaõ, que fempre foy Honra.
Era eíkDom Joaõde Aboim filho deDom Pedro Ouriguez daNobrgia,
& neto de Dom Ourigo o Velho da Nóbrega , tronco dcílas duas famílias da
Nobriga,& Aboins,& unidos por cafamentos com o melhor de Portugal , &
os mayores dos Reynos de Elpanha delledefcendé.Foy muito rico de bés,aííim
em Portugal, como em Caítella, &: fúdou neíle Reynoa Villa de Portel, a qué
deu foral cõ feu filho D- Pedro Annes de Portel, & poz feu appellido por nome
a Villa Boim, quando a edificou flerto de Elvas, & teve delia o lenhorio j & foy
tam amigo da Ordem de Malta , que lhefogeitou ao Moíleiro de Marmelal,
"(aonde eftá enterrado) as Igrejas da fua Villa de Portel. 1 odos eíhes fidalgos
amàraõ muito ella Ordem; delles ha illuílre dei cedência,como faõ os fenhores
da Barca, & os Cofias deíla Província por caíámcnto de Gonçalo Affonfo de
A boim com Maria Lopes da Coifa. Tem os Aboins por Armas o efcudo çf*
quartelado ;o primeiro enxequetado de ouro, & azul : nofegundotres palias
azuis em campo de ouro: timbre dous braços vellidos de azul , & nasmaõs
hum taboleiro deXadrês aleonado,enxequetado de ouro, & azul. Incluíofe
cíle appellido nos Soufas por cafamento de Dona Maria Pires, filha de Pedro
Annes, com o Infante Affonlo Diniz, filho delRey Dom Affonfo o Terceiro-
Alguns tem ainda o appellido de Aboim, mas nam o Solar, q eíle vendéraõ os
herdeiros em tempo delRey Dom Affonfo o Quinto a hum Fernaõ Martins,
criado do Arcebifpo de Braga, & por nam fer fidalgo pedio a ElRey lhe déífe
privilegio para poder ufar das Honras deffa quinta, & Cafa 5 o que lhe con-
cedeono anno de 14.4.5). porferviços que havia feito na guerra-Paffou depois
aos fidalgos Camaras do Porto, & defies entrou na Cafa dos fenhores de Ba-
ya® por cafamento de Fernaõ Martins deSoufa fenhor de Bayaõ,comDona
Maria de Ataíde, filha de Fernaõ Gonçalves da Camara, & de fua mulher D.
Brites Manoel, a quem herdou feu filho Chriífovaõ de Soufa Coutinho , fe-
nhor dcBayaõ,que hoje vive. E em Morgado eftá vinculada à Capella de S.
Miguel da Cidade do Porto.
Tem eíle Couto huma Igreja Parochial da invocaçaõ de NoíTa Senhora
da AÍTumpçaõ,Vigairaria annexa àCommenda deTavora na Ordem de Mal-
ta, tem trezentos & dezvifinhos; chamafe Moíleiro , &hetradiçaõ o foy de
Freyras primeiro qne entraífea fer Commenda, &c indahojeha hum rego por
onde vem agua, a que chamaõaCal das Freyras.
CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 241
CAP. VIII.
TRes legoas acima da Pente da Barca pela mcfma ribeira do Lima da parte
do Sul, entre as afperas ferras da Amarella , & Cabril contíguas com as
de Gerês na raya deíle Reyno,St do de Galliza,tem feu aífento o Concelho , St
Caílello de Lindofo, nome que lhe poz F lRey Dom Diniz , quando o vio tam
galante, depois de o mandar fazer: & parece teve tanto gcfloElRey defeobrar
ertcCaíIello , que fe dilatou dias em Soajó da outra parte do Lima fó por eíle
refpeito 5 St de certo pcllo vinha ver como crefcia a fabrica: St logo entregou a
Alcaydaria mórdclle a Payo Rodrigues de Araujo o C avalleiro , fenhor de
Araujo, Lobeos, Gendive, Ogos, Torno, Alcayde mór dos Caflellos de Santa
Cruz, Sande, St Milmanda, St muitas aprefentaçoens de officios, St beneficies
em Galliza, & em Portugal fenhor dos Coutos de Val de Poldros, Soutello, Sc
Ris Caldo, & o primeiro Alcayde mór de CaflroLeboreiro, Sc de Lindofo.
A eíie Concelho deu foral ElRey Dom Maijoel em Lisboa a y. de Outu-
bro de i yi4- St lhe concedeo grandes privilégios : tem trezentos vifinhos
com huma Igreja Parochial da invocação de S- Mamede, Abbadia do Padroado
Real, St ha pleito fobre fe he fímplez,ouderefidencia ; porque tem Vigário,
que aprefenta o Ordinário: rende ao Abbade trezentos mil reis, Sc ao Vigá-
rio cem mil reis. Tem huma Aldeã chamada Cidadelhe, que dizem foy anti-
gamente Cidade , que por boas conjeduras feria Bretolvaõ,pouco acima de
Britello, de que tomaria "o nome,Sc fe vem ainda hoje vcíligios de fortificação.
Eile Concelho he delRey, tem Juiz ordinário, que o he também dosOrfaõs,Sc
dous Vereadores, com Procurador por eleição triennal do povo, & pelouro;
confirma os o Corregedor de Viana, hum Efcrivaõ, que ferve em tudo , data
delRey, Alcayde, que aprefenta o Alcaydemór. Produz muito paõ, milho, St
centeyo, feijão, caftanha, algum linho, bom vinho, muitos gados, mel, cera,ca-
ça, muitos lobos,rapofas, martas, ginetas, touroens, javalis, corços, cabras
bravas, & pefcíde bogas, St trutas do rio Lima, St Cabril, que nelle fe mete,
muita lenha, St madeiras daquellas matas bravas, em que também fe achaõ fru-
tas montefinhas, pouco conhecidas da mais gente, muitos, St grandes nabos ,
bons caens rafeiros,a que chamaõ fabujos, muy animofos contra os lobos,
•St bichos 3 carvão de urze, de que foccorrem aos Ferreiros defies povos.
SsÈaSsoajiss «
X CAP
2^z TOMO PRIMEIRO
CAP. IX.
% " C A P. X.
7
T)o Couto de Sabaris
CAP. XI.
Da Filia do Fr ado.
HUma legoa da Cidade de Braga entre o Norte, & Poente perto do rio
Cavado em fítio plano, junto"do regato, que vem de Moure } & aqui
pouco abaixo fe mete no dito rio, tem feuaffento a Villa de Prado, fundação
delRey Dóm Affonfo o Terceiro, que lhe deu foral no ânno dc 12 So. he terra
pouco fadia, por haver muitas cezosns , caufadas das névoas do rio , & de
roins aguas,recolhe pouco paõ,centeyo, milho miúdo, vinho de enforcado >
caftanha, algum azeite,baítanre lenha, boa caça, gado, & algumas pefeas de
lampreas, trutas, bogas, efealhos, falmoens, & eirós:tem bom barro , de que
fazem telha, & louça ordinária, que vaõ vender por toda a Província ,& obraõ
carros de fobreiros, por terem muita quantidade deitas arvores. Tem cemvi-
íinhos, poucos nobres, com huma Parochia da invocação de Santa Maria détro
da Villa, & primeiro o tinha fido Santiago deFrancellos , hoje Capella parti-
cular, he Commenda de Chrifto, & Reytoria da Mitra : tem cento & oitenta
vifínhos com os da Villa.
Governafe eíta Villa por dous Juizes ordinários, tres Vereadores, & Pro-
curador do Concelho por eleição tricnnal do povo, prefidindolhes o Ouvidor
do Conde, a quem remete cada anno as pautas dos Juizes nomeados nellas, pa-
ra queefeolha os dous, que hão de fervir nelle,hum Meirinho também de elei-
ção, que ferve de Carcereiro, Efcrivão da Camara, outro da Almotaçaria,qua-
tro Tabeliaens, Meirinho do Ouvidor proprietário, Juiz dos Orfáos com feu
Efcrivão, tudo da aprefentação do Conde, & fóSua Mageítade provê o officio
de Efcrivão das Sizas. Tem Capitão mór, & Sargento mór, com quatro Com-
panhias da Ordenança, fóra a do Couto de Manhéte. Todas as quintas feiras
dc
a48 TOMO PRIMEIRO p
de quinze em quinze dias tem feira. Defla terra, querem alguns fcffe natural
João das Regras , Chanceller mór do Reyno em tempo delRey Dom João o
Primeiro, & tronco da Cafa de Cafcaes, o qual reduzio a livros a Ordenação,
que depois poz em melhor fórma o grande Pedro Barbofa , natural dc Cami-
nha, por mandado de Felippe Terceiro. O feu termo tem as Freguefias feguiiv
tCS
Santa Eulalia de Cabanellas, Abbadia que foy do Padroado Real, & paf-
fou ao Conde fenhor da V ília, rende feiicentos mil reis com as annexas feguirv-
tes, tem oitenta & nove vifinhos. • \ o. ' | : V'
S. Gensde Macrome, V igairaria que aprefentao Abbade deCabanellasí,
tem quarenta vifinhos. . - -h, \
Santa Marinha de Olleiros, Vigairaria q aprefenta o mefmo Abbade, tem
cincoenta vifinhos.
S. Romão, Abbadia da Mitra, tem noventa vifinhos-
Santa Eulalia de Oliveira,ou Ulveira, Vigairaria do Convento deTibaês,
tem oitenta vifinhos. Aqui foy o Solar dos do appellido de Olveira, diverfo do
de Oliveira- - - '
S. Martinho de Gallegos, Vigairaria da Mitra, que rende fetenta mil reis,
& para o Hofpitalde S. Marcos de Braga os dizimos, que importão noventa
mil reis. Aqui ha ruínas de huma cafa antiga, que chamavão de Campos , em
que viverão fidalgos deíle appellido: tem fetenta vifinhos.
S. Veriflimo, Abbadia da Mitra, tem fetenta & dous viíinhos : o Abbade
deíia Igreja he obrigado dar de foro cada anno hum jantar ao Dom Abbade de
Manhente,decujo Couto he parte deílaFreguefia.
Santa Maria de Gallegos, Abbadia da Cafa de Azevedo, rende com a an-
nexa do Salvador de QuirázemBarcellos quatrocentos mil reis, tem oitenta
vifinhos-
S. Miguel de Roriz,Curado do Convento de Villar de Frades, tem cento &
rrinta vifinhos. i-
Santa Maria da Igreja nova, Abbadia da Mitra, tem fetenta viíinhos.
S. Salvador de Parada, Abbadia da Mitra, que rende trezentos mil reis , té
noventa vifinhos.
Santiago de Ataés, Vigairaria annexa a huma Conezia de Braga, tem oi-
tenta vifinhos. Aqui eftá a Cafa, & Torre de Outeiro de Poldros/ Solar anti-
go,q poíTuem ha muitos annos os Sequeiras,Soares de Aibergaria/enhores de
Prado, & por efta mefma aefcendencia a logra hoje , & feus foros Luis Gon-
çalves Coutinho da Camara.
S. Mamede de Eícaris, Abbadia da Mitra, ametade eftá nefte Concelho,8c
a outra no da Portella das Cabras : tem trinta vifinhos.
Fov efta Villa do Prado de vários fenhores , hum dos quaes iorao òs Se- "
queiras, Soares, que também fe chamavão de Albergaria , & Mellos,fenhores
da Torre, & Solar de Outeiro, que nefta Villa fe confervão em feu fãngue , o
primeiro dos quaes foy F ernão Soares de Albergaria , filho de Fernão Gonçal-
ves de Santar, criado delRey Dom Joio o Primeiro, que lhe deu Santar , Bar-
reiro, Canas de Sabugofa, & Senhorim, & de fua mulher Catherina Soares, filha
de Diogo Soares de Albergaria, fenhor do Morgado de S. Matthcus de Lisboa,
que perderão, por fe paífar aCaftella. Ho je he fenhor, & Conde do Prado L")õ
João de Soufa,cuja illuflre varoniahe a feguinte.
EIRey Dom Aftonfo o Terceiro de Portugal houve illegitimo a Dom
Mar-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA, MP
Martim Affonfo chamado o Chichorro, que cafou com Doti a Ines Lourenço
de Soufa, filha de Lourenço Soares de Valladares, & de D- Maria Mendes tie
Soufa, que era filha de Dom Men Gracia de Soufa , & de DonaTherefa Annes
de Lima, &defcendente por varonia do Conde Dom Mendo de Soufa , & de
Dom Sueiro Belfeguer, atè o qual contava dez illuftriífimos Avós. Teve efté
Dom Martim Affonfo Chichorro da dita fua mulher, entre outros filhos,a
Dom Martim Affonfo de Soufa Chichorro , que teve baíhirdo em Dona
Aldonça Annes de Briteiros, filha de João Fernandes de Briteiros,& de Dona
Guiomar Gil, a
Martim Affonfo de Soufa Chichorro , que teve de Dona Aldonça Rodri-
gues de Sá, filha de Rodrigo Annes de Sá, a
Martim Affonfo de Soufa, que caiou com Violante Lopes de Tavora, filha
de Pedro Lourenço de Tavora, de que teve, entre outros filhos, a
Ruí de Soufa, que foy Veador da Rainha Dona Ifabel, mulher delRey Dõ
Affonfo o Quinto, Almotacel mór delRey Dom João o Segundo, Alcayde mór
de Almeyda, fenhor de Sagres, & de Beringel, muito valente Cavalheiro,& va-
lido dos ditos Reys , & Embaixador delRey Dom João o Segundoa Caf-
tella, Inglaterra,& Féz: cafou fegunda vez com DonaBranca de Vilhena, filha
de Martim Affonfo de Mello, Guarda mór delRey Dom Duarte , fenhor de
Ferreira de Aves, & outros lugares, & Alcayde mór de Olivença , & de fua
mulher Dona Margarida de Vilhena, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Pedro efe Soufa, que foy fenhor de Beringel, Alcayde mór de Beja >
& de Alcácer, Capitão morde Azamor, ôclhe deuElRey Dom João o Tercei*
ro o fenhorio deita Villa com titulo de Conde do Prado por grandes fervi-
ços que lhe havia feito em Africa , & por outras muitas partes, de que foy
dotado: cafou com Dona Mecia Henriques, filha de Fernando da Sylveira, fe-
nhor de Sarzedas, & SovereiraFermofa,&Coudelmór do Reyno , da qual
teve a
Dom Francifco de Soufa, que morreo em vida de feU pay , & foy caiado
com Dona Maria de Noronha, filha de Diogo Lopes Lobo, Barão de Alvito, de
que teve a
Dom Pedro de Soufa, que foy fenhor da Cafa de feus pays , & fegundo
Conde do Prado: cafou com Dona Violante Henriques, filha de Simão Freyre
de Andrade, fenhor de Bobadella,& de fua mulher Dona Leonor Henriques>
de que teve, entre outros filhos, a
'Dom Francifco de Soufa, que foy Governador do Brafil, & Alcayde mór
de Beja : cafou com Dona Leonor de Menezes , filha de Dom Rodrigo de Caf-
tro*e Hombrinhos, Alcayde mór, & Commendador de Cea, & Capitão de Ca-
firfi, aonde cílava, quando a derrubarão, & largàrão aos Mouros, da qual te-
ve, entre outros filhos, a
Dom Antonio de Soufa, que ferviortefte Reyno, & no Brafil, & vindo para
Lisboa,lhe derão a Commendade S. Martha de Viana na Ordem de Chrifto i
cafou com Dona Maria de Menezes, filha de Dom João Tello de Menezes, CÔ-
mendador de S. Martinho de Sande da mefma Ordem, & de fua mulher D Ca-
therina de Menezes, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Francifco de Soufa , que foy terceiro Conde do Prado por mercê
delRey Dom João o Quarto, & fenhor de Beringel, Alcayde mòrdeBeja, Prefi-
dente do Confelho Ultramarino, dos Confelhos de Eílado, & Guerra, Meftre
de Campodehu Terço, Governador das Armas das Provindas de Entre Dou-
,5o tomo primeiro
i-o°& Minho, 8r Alentejo,Eílribeiro n.cr delRey DomJoão o Quarto , pri-
meiro Marquez das Mmas por mercê delRey Dom Pedro o Segundo & feu
Embaixador de obediência ao Papa Clemente Nono : caiou fcgunda ve z com
Dona Eufrazia de Vilhena, filha de Dom Fernando Mafcarenhas , primeiro
Conde da Torre, & de fua mulher Dona Maria de Noronha,da qual teve,entre
CUU
Dom Antonio Luis de Soufa, que hc quarto Conde do Prado > ^ %mdo
Marquez das Minas,fcnhor de Beringel, & noEftado doBrafil das \ lhas de
Guvari,& de NoíTa Senhora daEfcada,&Alcayde mor de Beja, foy Capitao de
Cavallos, Meftre de Campo de hum Terço, Sargento mor de Ba«ma , Medre
de CamDO General, Governador das Armas cm Entre Douio & Mmt.o, Gover
na^CapitãoGeneral
Macdalena de Noronha, filha de Dom Alvaro Manoel, íenhor da Villa de Ata
laya&,&dé Tua mulher Dona Ines de Lima,de que teve a Dom F rancifco de soj!j
fa o uefov quinto Conde do Prado, & morreo fcm fucceffao vindo do BraíL
com feu pay, Sc lhe fuccedeo fcu irmaõ Dom Joa° de Soeria^ que
de do Prado, o qual cafou com Madama Francifca deNeufuille , filha dos Du-
ques de ViUe Roy, Marquezes de Almcourt, da qual tem a Dom Antonio Luis
de Soufa, & a D. Maria de Nufuille de Coce-
CAP. XII.
CAP. XIII.
\ T
CAP. XIV.
rCfc
' S.Martinho de Carrazedo, Abbadia que aprefenta o Marquez de Mon-
tebello, tem fefíenta &feis vifinhos, & huma Ermida deS- Sebaíhao , que he
meeyra à Igreja de S- Miguel de Fifcah . ,
S. Thomè de Perozello, Abbadia da Mitra dC Braga, tem oitenta vifinhos,
& duas Ermidas, S. Miguel o Anjo, & Noífa Senhora da Salvaçao.
Santa Maria de Ferreiros, Abbadia da Mitra, tem noventa & íeis vifinhos,
ôt duasErmidas, Santa Luzia, & Santa Catherina.
S. Salvador de Amares, Abbadia da Mitra, tem fefíenta & nove vifinhos.
S- Pedro de Figueiredo, Abbadia da Mitra, tem feífenta óttres vifinhos,&
quatro Ermidas, S. Sebaíiião, NoíTa Senhora da Conceição, Santo Aleixo, & S.
Veriílimo. „ ■
S. Salvador deDornellas, Abbadia da Mitra, temfetentaòc íete vifinhos.
Santa Maria de Coayres, Abbadia da Mitra,tem cento & quatro vifinhos,
& duas Ermidas, S.Bento,&S. Vicente.
S. Payo de Be-fteiros, Abbadia da Mitra, tem cincoenta & íeis vifinhos, õc
huma
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 253
huma Ermida de Santo Antonio.
S. Pedro da Portella, Abbadiada Mitra, temcincoenta & tres viíinhos, &
huma Ermida de S- Martha.
S. Lourenço de Paranhos, Vigairaria que aprefcnta o Reytor de S.João de
Coucieiro termo da Villa de Regalados, tem trinta & nove viíinhos.
S. Payo de Sequeiros, Abbadia da Mitra, tem trinta Sc nove viíinhos , &
huma Ermida de S. Sebaftião.
Santiago de Caldelias, Revtoria da Mitra , & Commenda da Ordem tie
Chriflo, tem oitenta & fete viíinhos, &eftas Ermidas, S. Scb^ítuo, a Senhora
da Mifericordia, S. Ouvidio, Sc S. Peroíins.
Santa Maria daTorre, Vigairaria que aprefenta o Reytor de São João de
Coucieiro, tem fetenta& cinco viíinhos, & numa Ermida de Santo Amaro , a
uai tem fua fabrica, que lhe deu o Marquee de Montcbello , Felix Machado
aSylva , com obrigação dehumaMiíTa cada anno cm dia de S. Felix.
S' Miguel de Fifcal, Abbadia da Mitra, tem cento Sc hum viíinhos, & húa
Ermida de NoíTa Senhora da Guia.
As Igrejas Parochiaes do Couto de Rendufefaõ asfeguintes.
S. Vicente do Bico, Abbadia da Mitra, tem quarenta & hum viíinhos.
A Santiífima Trindade da Capella, Vigairaria que aprefentão os Religio-
fos do Morteiro de Santo André de Rendufe, da Ordem de S. Bento, tem cen-
to & quatorze viíinhos, Sc ertas Ermidas, N oíTa Senhora das Neves , São Se-
bartião, & S. Bráz. Nefta Fregueíia eftá fituado o dito Morteiro de S. A ndrè
, de Rendufe, dirtãte da Cidade de Braga quafi duas legoas para a parte do Nor-
te, o qual fundou Dom Egas Paes de Penagate , hum dos principaes fidalgos,
que florecèrão, & acompanhárão a Corte do noífo Conde Dom Henrique, fo-
gro do feu Alferes mór Dom Fafez Luz: foy Morteiro grande , Sc ainda hoje
he dos principaes da Religião: tinha muitos campos, que fe beneficiavão por
ordem da Cafa, Sc feis quintas, ou granjas de grande confidcração, com quatro
Coutos,q lhederão os Reys antigos, a faber, o Couto de Rendufe, o deXava-
ríz junto à Villa de Regalados,o de.Paredes Secas no Cõcelho de Bouro,de que
era fenhor Dom Egas Paes, & o de Codeceda em terra de Anobrega.
S. Martinho de Lago , Vigairaria que aprefentão os Religiofos do dito
Morteiro de Rendufe, tem fetenta& cinco viíinhos, Sc huma Ermida de Santa
Martha.
S. Pedro de Barreiros, Vigairaria da aprefentação dos Religiofos do mef-
mo Morteiro de Rendufe, tem felfenta Sc tres viíinhos, Sc huma Ermida de Nof-
fa Senhora das Anguftias.
He fenhor defte Concelho Dom Antonio Felix Machado daSylva & Cart
tro, cuja varonia, & afcendenciahe a feguinte.
Da illuflre Cáfa dos Caftros de Fornellos, de cujos princípios damos no-
ticia em outras varonias, era neto Alvaro Fernandes de Caftro, que foy o pri-
. meiro que paíTou a Portugal, aonde cafou com Dona Ines de Vailadares, Penho-
rada quinta de Mantellaens,& de illuftre fangue,& teve delia a
Gil Alvarez de Caftro, que foy fenhor da Torre de Mantellaens , Sc da
terras de Coura; cafou com Dona Leonor Rodrigues Fajardo,filha de D.Vafa
Rodrigues , & de Guiomar Rodrigues de Mogueimes Fajardo , que era da fa-
mília dos Araujos, da qual teve, entre outros filhos, a
Pedro Alvarez de Caftro, que foy fenhor do Solar de Soeiro , & cafou cõ
Dona Mayor Rodrigues de Araujo Pereira , filha de Alvaro Rodrigues de
Y Araujo,
M4 tomo primeiro
Araujo, St de fua mulher D« Leonor Pereira de Barbudo , da qual teve, entre
outros filhos, a - .
João de Araujo StCaifro , que fe chamou de Araujo pelo Morgado de
fua mãy, St foy fenhor delias duas Cafas, St de outras terras : calou com Dona
Mayor de Soufa, filha de Antonio Vaz de Araujo, fenhor de Tor a,St de fua mu-
lher D. Violante de Soufa, da qual teve, entre outros filhos, a
Diogo de Araujo de Soufa StCaílro, que foy fenhor de Tora , St outras
terras: cafou com Dona lfabel Lobato de Zunhiga, filha de Antonio Fernandes
de Zunhiga, Cavaleiro de Galliza, & defeendente da Cafa de Sotomayor,St dê
fuamulher Dona Joanna Lobato, da qual teve, entre outros filhos, a
Manoel de Araujo de Soufa St Callro, que foy fenhor de muitas terras, de
que teveas jurifdiçoens,porcafarcom Dona Margarida Machado da Sylva , &
V afconeellos, que era filha de Francifco Machado da Sylva, fenhor de muitas
terras, St Commendador de S- Mana de Souzcl na Ordem de Aviz , St de fua
mulher Dona Maria da Svlva-, St como delia familia dos? Machados tomarão
eíles fidalgos o anpellido (porque ainda que a varoniafeja dos Caílros,o dito
Manoel de Araujo de Soufa St Caílroera filho fegundo, St fua mulher herdeira
da Cafa dós Machados, que defde o tempo delRey Dom Sancho o Primeiro de
Portugal atè ella confervou fempre a fua varoma) feria razãorefcnlla, fenão
fora contra o methodo que feguimos,Stfe não houvera livro delia mater .a
doutamente eferito por Felix Machado da Sylva Marquez de Montebello.
Do dito Manoel de Araujo de Soufa St Caílro , St de fua mulher D. Mar-
garida Machado da Sylva St V afconeellos foy filho Fel ix Machado da Sylva , q
foy o primeiro Marquez de Montebello em Italia, St fenhor das terras de fu-
tre Homem,&Cavado, St da Villa de Amares > comoutras muitas terras cm
EntreDouro, St Minho, & Commendador de S- joio do Coucieiro na Oídem
de Chriílo, o qual contava muitos illuílres Avôs por varonia , St pelos Ma-
chados era decimo-fexto neto delRey Dom Ramiro o Terceiro de Leão : foy
Cavalheiro de muito valor, St entendimento, como coníla dos feus elcritos: ca-
fou com Dona Violante dc Horofco St Lodçpa , filha de Dom Rodrigo de Ho-
rófeo Lodron St Ribeira, Marquez de Mortara com outros títulos, St lugares,
St de fua mulher Dona Vitoria de Porcia,da Cafa dos Condes de Porcia em Ale-
manha, da qual teve, entre outros filhos, que morrerão meninos, a
Dom Antonio Felix Machado da Sylva St Caftro, que he fegundo Marquez
de Montebello, St Conde de Amares em Portugal, por mercê de Fehppe Quar-
to, por ter fervido de Moço fidalgo à Rainha Dona Mariana-de Auftna lua mu-
lher, do Confelho delRey Dom Pedro o Segundo , fenhor das terras de Entre
Homem, St Cavado, das Cafas de Caílro, Vafconcellos, St Barroto, & dos So-
lares delias, Alcavde mór de Mourão,Commendador, St Alcayde mor das Co-
mendas, St Villas do Cafal, St Seixo da Ordem de Aviz ; tem fervido a ElRey
com fatisfação, St foy Governador em Pernambuco: cafou com Dona Luiza dc
Mendoça, filha herdeira de Manoel de Soufa da Sylva,que íervio deApoícnta-
dor mór, St foy Commendador de varias Commendas , St de fua mulher Dona
Joanna de Mendoça, da qual tem a Felix Machado da Sylva, herdeiro deíla Ca-
fa, a Dona Joanna Maria de Mendoça, St a Manoel de Soufa da Sylva-
o
CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. ijj
CAP. XV.
Do Concelho de Douro.
Couto de Souto.
CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 157
CAP. XVI.
CoutoConvento de Botiro. o j c
-7 CAP. XVII.
ÍX,
Do Concelho de Soajo.
CAP. XVIII.
CAP,
tomo primeiro
CAP. XIX.
Do Couto de S. Fins.
T Res lcgoas da Villa dos Arcos entre o Norte, & Poente, na raya de Ga-
liza, a quem divide o rio Minho, tem feu affentoo Couto de Fins,que
antigamente foy unido com Coura atèotempodelRey Dom Sebaíiião. Tem
Juiz'ordinario, dous Vereadores, & Procurador do Concelho, eleição trien-
nal do povo,aquepreíidc o Corregedor por ElRey. de quem he o Couto , &
Almotaceis, q faz a Camara^ Recolhe pão, vinho, muito mel, cera,caça, gados,
e°oas, veados, & boas pefcas no Minho. Neíte Couto tiverão os Frades Bé-
tos hum Convento chamado de S. Fins das Freitas, pelas que fazem ao Sol as
repetidasdivifoens dehuns altos montes , & eílava ja t andado pelos annos
do Senhor de 566* Dizem foy S.RGzendoAbbade deite Moiteiro, cuja virtu-
de tranfplantou no de Cella nova,que fundou. Floreciacom grande Religião
no anno de 1023.& logo emfua fundação entendemos foy fenhor deite Cou-
to , ou ao menos no anno de 1 i72.emqueElRey Dom Affonfo Henriques
lho deu, & demarcou, no qual não tinhaõ outra juítiça mais que o Mordomo,
&asqueítoens decidiáo os Abbades verbalmente; & ou foffe então todo hum
com Coura, ou logo dividido, accõmodaraõfe os moradores com as juítiças de
Coura,em que de quinze em quinze dias lhes vieffem fazer audiência-^ Entra-
rão neíte MoíteiroCommendatarios,&pondofe emeítado , que já não tinha
mais de tres,ou quatro Monges pelos annos de if+f-em que trazendo a e'-
te ReynoElRey Dom João o Terceiro os Padres da Companhia , para have-
rem de fundar na Univeríidade de Coimbra hum Real Collegio, em que cníi-
naíTem artes,entre as mais rendas que lhe applicou, foy cite Morteiro com
fuas Igrejas, & Coutos, que tudo era do Padroado Real, & ainda alli ha huma
cafa, a que chamãoaTorre,em que os Reys antigos mandavão prender algua
peífoa orande. Para cita doação concorreo o Summo Pontífice Paulo Ter-
ceiro com Bulias Apoítolicas, pelas quaes tomàrão poTe os ditos Padres no
anno de 1 y+8. faõ fenhores univerfaes de todas as Parochias , & terras do
Couto, excepto algumas, que nos tempos paífados dos Monges fe alienarao:
coafervaõ o dito Mordomo, ou Porteiro , & faô reconhecidos cada annope-
loínontados,& baldios com o primeiro veado, corço , ou javali, que nelles
mataõ, & com o primeiro peixe, falmaõ, folho , ou truta mariica,que no Mi-
nho pefcaõ naquelle deítridto, fóra o quarto de todo, & o de Lapella em Mon-
ção. Tem privilégios para no Couto naõ morar homem poderolo.o que jaie
naõ obferva, & que os moradores delle naõ feráõ obrigados irem à guerra, por
quãto he feu encargo guardarem no Minho o Váo de Carrexil no meímo ter-
mo. Impor taõ os labidos, que fe pagaõ a eíte Moíteiro, trezentos & vinte mil
reis, & os dizimos das Igrejas do Couto quatrocentos mil reis , tora as que
eítaõ em outros Concelhos, que ao todo ferá hum Conto. Tudo vay para o
Collegio de Coimbra, deixando fó côngrua para hum Superior, & dous , ou
tresjRcligiofos, que ordinariamente aqui ailiítem. Chamafe $• Fins por huma
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 265
Ermida em que eftava S. Felix Martyr deGirona,pouco acima do Mofteiro, a
que chamaõ St Fins o Velho: alii tem íua fanta cabeça, que preferva de rayvar
aos mordidos de caens danados., quando a bufcaò para remedio,5i reliquias dc
S. Rozendo, & outras, que fe naõ fabem de que Santos fejaõ.
As Igrejas defte Couto faõ o Mofteiro de S. Fins, S. Chriftovaõ deGon-
domil, aondeeftáhumaTorre com fór:>s fabidos annexosà.Caía de Agra, que
dos Abreus, fenhores de Regalados, fe defannexou por íucceíTaõ, St pela mef-
ma fe unio àdeSoutomayor, Condes deCrecente, Marquezes deTcnorioem
Galliza: naõ alcançamos que Solar foífe, mas que feria dos fenhores do Couto,
St que entrandoem tudo os Vifcondes, dariaõ efta Torre em cafamento com
filha fua aos Senhores de Regalados, aonde cafàraõ algumas. Santiago de Boy-
vaõ, em cujo deftridlo eftaõ ruínas de hum Caftello, a que com difficuldade fe
fobe; huns lhe chamaõ da Forna, outros a Penha da Rainha, & os mais o Caf-
tellodeFrayaõ , aonde as jufliças de Coura fe ajuntavaõ a fazer audiência à
gente daquelle Concelho, St defte Cpúto,antes que de todo fe apartaífem hum
do outro. S-Mamede, St S. Marinha de Verdoejo , que algum tempo fe cha-
mou S. Martinho. Emeftas cinco Parochias aprefenta o Coilegio de Coimbra
Curas annuaes, &rcderá a cada hú mais de quarenta mil reisjem todas ha qua-
trocentos & vinte homens, que antigamente fe dividiaõ çm duas Cõpanhias,
que provia o Mofteiro, hoje faz a Camara Capitaõ, andão em huma de famo-
fos foldados,como neftas ultimas guerras com Caftella o moftràraõ , fendo
pcu Capitaõ Gafpar de S. Miguel da Gama- Eftaõ no deftridto defte Couto no
meyo do rio Minho duas ilhas, a do V erdoejo, & a de Lagos de Rey , em as
quaes pafta muito gado, St fe colite algum paõ.
CAP. XX.
D£
S- Payo de Azoes, Abbadia dos fenhores do Concelho , rende duzentos
mil reis, tem fetenta vifinhos- Acuieftáomuy nomeado monte de Francos,
conhecido pela excefliva quantidade de coelhos que cria- Ha também hua Al
dea do Monte, a que chamaõ Sobradello, que hum anno fao foeguezes defta Pa-
rochia, outro da de duas Igrejas- Ha mais hum monte, que chamao o Redouço,
nome que devia tomar de Reducfo, porque moftra veftigios, de que o toy.
Santa Marinha de Annães, Vigairaria annexa a huma c_,onezia de Bra ,1
renderá ao todo cem mil reis, & para o Conego, que a aprefenta s, duzcntOs&
fetenta mil reis: tem cento Sc vinte Sc cinco vifinhos, de que as duas partes
da Portella das Cabras- _ . _ , ,
S- Salvador de Fojo, Vigairaria do Reytor de cabaços, de quem he anne. a,
tem cincoenta vifinhos. , _ „
Dasquefe feguem tem parte aVilladeBarccllos. <- ^ ^
DA COR OG R API A PORTUGUEZA. i6f
S* Lourenço do MutOj Abnfldia da Mutríj rende céco & cinco.ilea mil íeis.
tem vinte & cinco Viiiiihos.
S. Diaes, cujo orago he S.Mamede, Abòadiada Mitra,que rende cento & •
oitenta mil reis, tem trinta viíinhos. _ ,
S. Martinho de Fruftellas , Vigairaria annexa à Gommenda de CaLvelio,
tem fetenta viíinhos. . . . ;
Santa Eulaiia de Gay far, Vigairaria do Cabido de Braga, tem vinte & cm-
co viíinhos.
CAP. XXI.
- \■ ^ *
c
T>o Concelho de Souto de Rehordaos*
CAP. XXII.
CAP. XXIII.
POr baixo do Concelho de Santo EfteVão da Facha, cem quem parte , fica
o deGerázdoLima, de que foy fcnhor Lopo Gomes de Lira, por mercê
dciRey Dom Fernando. ElReyDomjoaõ o Primeiro o deu depois a Ruí Me-
des de Vafconcellos,Sc ultimamente a Fernão Annes de Lima, fidalgo de Ga-
liza, que deixou fua cafa, por fe paíTar a feu fcrviço no fit io de Tuy, St perma-
nece nos Vifcondes feus defcendentes. Nasdoaçoens antigas íe mandava,que
entrando aqui os íênhoresdeftc Concelho, feria ao modo de Bifcaya como pé
direito defcalço- Tem Juiz ordinário, Vereadores, & Procurador do Conce-
lho, eleição triennal do povo, a que prefide o Corregedor de Víana- Recolhe
paõ, vinho, legumes, hortaliças, frutas, St caça com gados, .Sc pefGas no Lima.
Tem as Freguefias feguintes, de que fe faz huma Companhia.
Santa Maria, Vigairaria da Mitra, rende ao todo cem mil reis , & para o
Arcebifpo duzentos St cincoenta mil reis, tem cento St dez vifinhos. He tra-
dição fer Convento da Ordem de S- Bento, de que fe moftrão veftigios. Aqui
eíU humaTorre,aondechamãooPaço,dizem foy dos fenhores deite Conce-
• lho, paliou aos Bezerras, que a poíTuem em Morgado.
Santa Marinha de Moreira, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis ,
tem quarenta vifinhos.
Santa Leocadia, Abbadia da Mitra, rende quatrocentos mil reis, tem cen-
to St cincoenta vifinhos.
S. Pedro de Deaõ, Abbadia do Padroado Real, rende trezentos ml reis,
tem cento Sc vinte Vifinhos. He tradição fundarfe em tempo dc S. Pedro de
Rates, primeiro Arcebifpo de Braga, Seque depois foy Convento grande , de
quefe achàrãono anno de 1676. algumas pedras mármores com rendas , &
outras delicadezas debuxadas,fazendo o Abbade o Licenciado Jofeph Mimo-
fo Pachecohumasboas cafas de refídencia, St grande ferviço aDeos naquelles
tempos em tirar hunsbeítiaes abufos,que allihavia, St quafi em todo o Con-
celho.
A qui efteve huma Torre, que foy Solar da familia dos Coutos > que tem
por Armas em campo de prata huma Serpe verde picando em huma perna corre-
io fangue : o primeiro deita familia, de que temos noticia, foy Ruí Gon-
çalves do Couto, Cavalleiro de Parmazaõ no anno de 1281. como confia da
Monarquia Lufitana y-part. foi. 77-Sc lhe fuccedeo o pediré-lhe carta de Ca-
valleiro para poder trazer armas; elle refpondeo,que na fua terra fó os Cléri-
gos pedião carta de Ordens. Deite forão defcendentes Ruí do Couto, St Aí.
varo do Couto, fidalgos poderofos, como confia das inquiriçoens delRey Dô
Z íij Di-
i7o TOMO PRIMEIRO
Diniz na Torre do Tombo liv. j- foi. >4.» no anno de 1514- & o traz a 5-part,
da Monarquia Ltfitana fol.co.
Do dito Joaõ Gonçalves do Couto foy defeendente A Ivaro do Couto,Ca-
pitaõ de maiyoc guerra 110 tempo dclRey Dom Manoel no anno de 1516. na
Armada que íoy levar a Infanta a Saboya, como diz LamiaõdeGoes : era C a-
valleiro fidalgo', St foy fervir a Africa comendo com criados, Sccavalios à fua
cuifa, Sc indofe pòr fido ao Gallello de Benamar para dar animo â gente, arri-
mou huma lança ao dito Gallello, & fubio por ella a brigar com os Mouros, St
como nam foy foccorrido, o tornáraõ a botar fóra ; Sc por ella acçaõ lh e deu
EIRey Domjoaõ oTerceiro no anno de 1336. como conlla da Torre do Tom-
bo, outras Armas, que faò em campo vermelho humCaílello de prata fobre on-
das, huma azul, outra de prata, Sc por timbre o Caítello coin huma bandeiri-
nha em cima: teve filhos, João Gonçalves do Couto, Sc Gaípar do Couto.
Joaõ Gonçalves do Couto foyCavalleiro fidalgo , cafado com Brites de
Barbofa,deque teve a Luis Gonçalves do Couto, & a Diogo do Co ato bailar-
do, do qual foy neto Cofmedo Couto Barbofa, fidalgo da Cala Real, Sc Comciv
dador da Commenda de S.Pedro de Nogueira naOrdcm deChriílo, Sc Almt--
rante General quatro vezes no tempo dos Reys Dom Fehppc, Sc Dom Joaô o
Quarto.
Luis Gonçalves do Couto foyCavalleiro fidalgo, caiba com Anna Ro-
drigues, filha do Capitaõ Joaõ Rodrigues, Coronel em Africa , como diz Da-
miaõ de Goes anno de 1514- & de Maria da Colla fua mulher, de que teve a
Jorge Gonçalves do Couto da Colla, Cavallciro fidalgo , que calou com
Ifabel 1 rança, filha de Affonfo do Couto, Morador da Cafa dclRey, Sc de fua
mulher Ifabel Franca, que era filha de Gonçalo Franco, Efcudeiro, Sc Cavai-
leiro, defeendem de Italia de Dom Rubertone la Corna, Sc o dito Affonfo do
Couto, filho de Gafpar do Couto,Morador da Cafa Real, Sc criado do Infante
Dom Luis, cafado com Ifabel Serrão de Calvos, filha de VafcoSerraõ de Cal- ^
vos, como diz o Chãtre de Évora Manoel de Severim; Sc deíle Affonfo do Cou-'
to foy filho Diogo do Couto, que continuou as Décadas de joaõ de Barros. Te-
1
ve o dito Jorge Gonçalves do Couto da Colla a Antonio do Couto Franço, Sc
a; Cona Maria do Couto, qítecafou cm Caflella, de que não ha noticia.
Antonio do Couto Franço foy fidalgo da Cafa Real, Cavalleiro do Habito
dc Chriílo, Sc Secretario da Cafa de Bragança : cafou fegunda vez com Dona
Ifabel de Carvalhaes Pita, filha de Bento de Carvalhaes Machado, Cavalleiro fi-
dalgo, Sc de fua mulher Elena de Barbofa ; Sc o dito Bento de Carvalhaes filho
de Salvador Velofo Machado, fenhor de Pedralva, & Outeiro, cafado com Do-
na Ifabel de Carvalhaes, filha de Dom Gonçalo de Carvalhaes, V êdor da Infan-
ta Dona Confiança, que veyo com ella de Cailclla ; Sc Elena de Barbofa era fi-
lha de Balthefar Pires da Cofia, que aprefentava fete Igrejas , quarto neto do
grande Rodrigo Affonfo da Jolla , que deu o nome de feu appellidoaodito
Morgado;ôc Balthefar Pires era cafado côCatherina Fernandes efe Barbofa, fi-
lha de Gonçalo Fernandes de Barbofa, Sc de Dona Brites Correa , filha de Fer-
naõ Affonfo Correa, fenhor de Farellanins, Sc de Dona Leonor Annes, Sc Gon-
çalo Fernandes de Barbofa era filho de Fernaõ de Barbofa , fenhor da Cafa de
Aborim,Sc FronteirodosReys,cafadq com Leonor Annes ; Sc o dito Fer-
naõ de Barbofa, filho de Fernaõ Gonçalves de Barbofa, fenhor de muitos her-
damentos, neto dc Gonçalo Fernandes de Barbofa, que" foy Rico homem , o
qual era filho de Dom Fernaõ Pires de Barbofa, Rico homem de Pendão , Sc
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 2?i
Caldeira del Rey Dom Diniz, & aífinava com o dito Rey, Alcayde mór de Lei-
ria, defeen dentes delRey Dom Ramiro o Primeiro de Leaõ. Teve o dito An-
tonio do Couto Franco de fua fegunda mulher Dona ilabel de Carvalhaes a'
Luis do Couto, & a Dona Ignacia Maria do Couto , Reíigiofa no Moiieiro do
Sacramento de Lisboa.
Luis do Couto he fidalgo da Cala de Sua. Mageíladc, Cavalleiro do Habi-
tode Chriílo, muito feiente nas humanidades, & em todasas linguas : cafou
com Dona Paula Jofepha de Caílellooranco, filha de Manoel da Cunha Soares,
Moço fidalgo, & Cavalleiro do habito, fenhor do Morgado do Zambujal, & de
Dona Mariana da Cunha de Cailellobranco , herdeira do Morgado, que inídi-
tuío Diogo da Cunha de Caílellobranco, fidalgo da Cafa delRey , & do feu
Confelho, Cavalleiro do Habito de Chriílo, & Defembargador do Paço, o qual
foycafado com Dona Luiza Pereira, filha de Manoel Ferráz , Cavalleiro fidal-
go, que era filho de Pero Ferráz Barreto dos do Porto, & de líábel de F iguci-
redo; & o dito Manoel Ferráz foy calado com Dona Ifabel Ferreira de Sam-
payo, filha de Chriílovaõ Lopes de Matos & Rodovalho , fidalgo, & Capitaõ
mór da Armada, que hia para a Colla da Mina , cafado com Dona Genebra Nu-
nes Ferreira,filha de Pedro Ferreira de Sampayo dos da Caía de Villa Flor. E
o dito Manoel da Cunha Soares era filho de Joaõ Soares, Moço fidalgo , & de
Dona Luiza da Cunha, deícendentes dos Sardinhas de Setuval, cuja família he
chefre das de Portugal,como coníta por hum brazaõ delRey Dom Manoel
anno i<í 21> o dito Joaõ Soares era filho de Manoel Alvarez de Torneio,
Moço^fidalgo, & Cavalleiro do Habito de Chriílo, defeendente do Infante D.
Fernando; Francifco Lopes, Elcrivaõ da Puridade , como conlla da Chronica
delRey Dom Manoeljôc o dito Manoel Alvarez de Torneio foy cafado com D.
Paula Soares de Albergaria, filha de Pedro Soares, Morador da Cafa delRey, &
porhuminílrumento deElReyDom AíFonfo anno de 1439. coníla fer paren-
te do Conde de Arrayolos, na q uai declara fer fidalgo de boa linhagem,& tinha
quatro mil reis de moradia. Teve o dito Luis do Couto de fua mulher Dona
Paula Jofepha de Caílellobraco,entre outros filhos,a Antonio do Couto de Caf-
tellobranco de Barbofa, fidalgo da Cafa de Sua Mageílade , Cavalleiro do Ha-
bito de Chriílo, & Capitaõ de Mar, & Guerra da Armada Real, fenhor do M or
gado da Caridade em a Villa deOurem,o qualunio as Armas dos Coutos com
as dos Barbofas por obrigaçaõ do Morgado.
TR A-
tomo primeiro
77*
TRATADO IV
Da Comarca de Valença.
C A P. I.
Dadefcnpçàõ clejld
ção, como tudo coníta de varias certidoens autenticas, que eu vi. Ainda ha
alguns homens hõrados, que íe appellidao alíim. Piuma Aldeã , quechamao
Gondim, teve Torre, 5c Cafa, chamada o Paço dc Gondim, de cuja pedra lavra- -
da fe fez huma preza de regar campos, &huns aífentos, para que íe veja -, em
que parão muitas vezes grandes Paços. Eftecra Solar dosGondins, cujos
defcendentes dizem, lhe.deu principio, & nome hum fidalgo Frãcez, que veyo
para efta terra ajudar a conquifta, que hiamos fazendo aos Mouros , o qual
era da Cafa de Contim naquelle Reyno, em q tc havido grandes Principes. Tem
os Gõdms por Armas em capo de prata tres Leoés rõpétes de vermelho em ra-
quete,armados de preto,timbre hú Leão.O LiceciadoManoelde Araujode Ca-
ftro no feu livro manu-efcrito traz os Leoeiís azuis armados de vermelho. O
primeiro, de que achamos noticia, he Garcia de Gondim , pelo que alguns fe
appellidao Garcias, & Gondins 5 ha muitos, em que entráo alguns com foro de
fidalgos, & nobres em Viana, Ponte de Lima, Abrantes, Santarém, & por cafa-
mento abrangem a mais partes. Ha também aqui huma Cafa nobre, a que cha-
mão o Fojo, em que fempre viverão Cavalleiros hõrados da familia de Caldas,
6c por defcendente feu a poffue Bento de Lima, Cavalleiro da Ordem de Chrif-
to,& Sargento mor de Guimaraens.fTem efta Freguefia em feu delindo as Er-
midas feguintes, Santa Anna, de que he adminiftrador Bento de Lima Lobo,
Noífa Senhora da Ajuda, que adminiftra Alvaro da Rocha de Suufa,Santo An-
tonio, de que he adminiftrador o Capitão Eftrangeiro Jorge de Lima dc Creta,
Noífa Senhora do Amparo , de que he adminiftrador João Pereira Barbofa de
Coura, S.João, que he do Padre Antonio Rodrigues, S. Bento da Lagoa anti-
ga, que eftá na Gandera, que vay paraS. Miguel de Fontouro, & S. Sylveftre
no alto do monte', & hum Convento de Capuchos da Província de Santo Anto-
nio da Invocação de Noífa Senhora do Mofteiro, fituado em hum monte da
parte do Nafcente com grandes arvoredos em fua cerca , dentro da qual ha
huma fonte nativa com feus aífentos de pedra á roda, 6c hum chafariz cõ huma
Hidra botando agua por muitas bocas. Fundarão efte Convento pelos annos
de i *91. Frey Diogo das Afturias,6c Frey Pedro Marinho, Varoens de grande
efpirito, filhos da Provinda de Santiago: he feu Padroeiro Sua Mageftade pda
Cafa de Villa Real. .
S. Miguel de Fontouro, Abbadia da Cafa de Aborim,5cde outras , parti-
cularmente dos defcendentes de Gabriel Pereira de Caftrq, rende duzentos .Sc
quarenta mil reis, tem duzentos 6c cincoenta vifinhos,6c eftas Erm.das, Santo
Antonio, de que he adminiftrador Domingos Ferreira Santar em , o Arcanjo
S- Gabriel, que eftá no montinho, com fua deveza, S-Francifco , de que he ad-
miniftrador Braz Antunes, Noífa Senhora do Populo, de que hc adminiftra-
dor Francifco Pereira de Torres novas, & Noífa Senhora da Guia , de que he
adminiftrador Francifco Barbofa Brandão.
S. Julião da Sylva he Abbadia do Arcebifpo, rende cento & vinte mil reis,
6c da ametade dos frutos fe faz hum Beneficio fimples, data do Summo Pontí-
fice, & Ordinário, rende feflenta mil reis : deu ametade defte Padroado em
troca de outros EIRey Dom Diniz ao Bifpo de Tuy Dom João Fernandes de
Sotomayor no anno de 1 *08 • tem cento & feífenta viíjnhos, 6c eftas Ermidas, o
Efpirito Santo junto â Igreja Matriz, de que he adminiftrador o Capitão mór
Gonçalo Teixeira Coelho, Noífa Senhora da Piedade no Lugar do Razo, de que
he adminiftrador Jofeph de Abreu Sotomayor, 6c S- Sebaftião, que eftá no mon-
te na eftrada, que Yay para Sapardos. Aqui eftâ a Torre da Sylva , cabeça, &
Aa So-
TOMO PRIMEIRO
Solar defla Real família, que tem por Armado* campo de prata hum Leão de
nurputa armado de azul, timbre o Leão.
Santa Maria da Sylva, Abbadia que aprefentao com referva ordinária os
Frades de Oya,Convento grande da Ordem de S. Bernardo noReyno de Galli"
za,rende cento & vinte mil reis, tem feífenta & oito vifinhos,& h uma Ermida
de Noifa Senhora da Conceição, de que he administrador calpar Mendes Cal-
daS
S. Pedro da Torre, foy antigamente Villa com termo, & dcfte modo fe
confervava a tres de Setembro de 1125- em que a Rainha DonaTherefa, &E1-
Rey Dom Affonfo Henriquez a derao a Dom Affonfo Bilpo de Tuy , òc aquella
IíireiaJareandolhc todo o direito Real, que nella unhão , & que nenhum ho-
mem de qualquer calidade que foíTe,pudeffe entrar em feus termos. Heagoia
repartido efte Beneficio em dous, hum Abbadia curada , que rende cento &
cincoenta mil reis, data de Sua Mageftade pela Cafa de Villa Real, outro fim-
pies, que rende cem mil reis,aprcíentação do Papa, & Ck iunno • tem cent
& dous vifinhos, & huma Ermida de S. Sebiftião, que efta na cifrada junto ao
Cl
Salvador de Arão, Abbadia de Sua Mageftade pela Cala de Villa Real>
rende cento & cincoenta mil reis ,tem oitenta vifinhos.
CAP. II.
gCnb
A fecunda fortificação he moderna, feita de pedra de alvenaria, toda cer-
cada ao redor comfuacava pela parte défóra, Sc além da cava tem contra-ef-
carpa; dctro defta fortificação eftá a mayor parte do povo, & o Convento de
Santo Antonio de Frades Capuchos, que fundouo Marquez de Villa Real Do
Miguel de Noronha, pelos annos de 1618- em querefidem dezoito ^ades,
eftá também a praça,q he muito plana, fcefpaçofa , com hum grande chafariz
no mevo delia com feis bicas,& defronte delia a Igreja da Mifencordia,que fe
prSiou no anno de 1 .. & neftes fe fórma com renda capaz paraoHof-
pital ordinário, além de outro, quehadelRey , &fc fez no tempo da guerra-
i8o TOMO PRIMEIRO
para os Soldados-Tem huma devota Imagem de Chrifto crucificado,que veyo
de Flandes no anno de 15 7+. & tanta he a te, que nella tem os moradores, q
em occaíioens de grandes Invernos,ouiccas alevao em prociífao peias ruas,
pedindo a Deos melhor tempo, & logo o Senhor lho concede. Tem efta íegun-
da fortificação fcisportas,a primeiracharfiada a portanova , aicgunda de S>
Antonio, a terceira da Corredoura, a quarta huma porta lalía , quevay para
ArgadeCoura para hum revellim,que eftá fóra da fortificação ; a quinta a
porta do caes, &. a fexta a do açougue. .
A terceira fortificação he mais antiga que a fegunda , feita pelo mefmo
modo com fua cava fcmente, &dctro delia ha íó huma rua comprida,que cha -
mío da Mifericordia, em que vivem os homens do mar , hum Mofteiro de
Freyras Franciícanas, cuja Padroeira he Noífa Senhora da Milericoroia , o
qual fundou Dom André de Noronha, Biípo de Portalegre pelos annos de
156.. Tem no Coro huma Imagem de Noífa Senhora tia Conceição muito
milagrofa, aífim pelo que obra, como por fer defeuberta prodigiofamente no
areai do Cabedello em hú caixão de madeira enterrado na arca,Se por alli perto,
diZt,foy achada pelo mefn.o medo a Image de S-Sebaílião,q eftá tora |t!a \ il-
ia, tão milagrola, 5 havido pcfte no termo,nunca na Villa entrou , pelo que
os moradores a venerão muito. Tem efta terceira fortificação, que he a ex-
terior, huma fó porta, que chamão de Viana, & hum poftigo quevay para o
rio Minho.
Tem efta Villa quatrocentos & cincoenta vifinhos com nobreza, &eftas
Ermidas, Noífa Senhora da Piedade, S. João,S. Sebaftião,& Noífa Senhora de
Guadalupe da pafte de fora junto às fortificaçoens, doutra de Noífa Senho-
ra da Graça. Tem muitas cafas boas cõ terreiros para feftas, muitos poços,&
da parte de fóra das fortificaçoens tem perto a fonte da Villa , a fonte de
Paicoal Rodrigues, a da Urraca, a de Scnande,& adaCavana. He bem pro-
vida de pão^,milho,centeyo,cevada,feijão,linho Gabçgo, Mourifco, & ca-
namo,frutas,hortaliças,algum vinho,gados,muita caça,oiuito,& bõ mel,&
cera- Depefca excede a todos os mais povos deftas partes , & do melhoí
peixe do Revnò, pefeandofe nãofó 110 mar o que elle dá , mas no rio corvi-
ras , folhos,falmocns,lampreas, faveis,trutas,muges, tainhas, iingoados,
azevias, negros, folhas, que poftas de fumo, fad admiráveis, bogas, , & eíca-
lhos tão itleclos no fabor, que daqui fe mandão para toda a parte , em que
faõ muy efftmadosj tcrnpouca.'lcriha>& ballantc criaçao de gados bcílas ^
com feira franca o primeiro dia de cada mez. Tem dado grandes Muficos
paraReligioens,& Capellas Reaes de Portugal,&CaftelIa,Cafa de Bragan-
ça, & Sè de Braga. O Sercmílimo Rey Dó João o Quarto, que eftimou mui-,
to efta Arte, mandou imprimir à fua cufta fóra doRtyno os livros, que dei-
la compoz João Soares Rabello,o maismfígne CompoíitordeSolfa , daqui
natural, que ncfte feculo teve Europa. Nas letras deu q grande Pedro Bar-
bofa, famofo Jurifconfulto, que reformou as Ordpnaçoens do Reyno ; o faze^
rem-no alguns de Viana , he porque fendo aqui nafctdo, aonde feu pay era
morador,recebendo efte certo aggravodos criado-; dos Marquèzes de Villa
Real,íe foy com'fua família para Viana, levando já efte fiUho,quc láfe criou.
E neftas ultimas (guerras teve muitos Cabos delia, Cap taens deCavallos, &
Infantaria, & Meítres de Campo, não fó nefta Província, & Reyno , mas em
fiias Conquiftas.
Affiftem ao feu governo civil hum Juiz de fora, três, V ereadores, Pro-
cu-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA! 281
curador do Concelho, todos de eleiç ao triennal do povo, a que prefide o Ou-
vidor, vão as pautas a Sua Mageítade pelo Tribunal da Cafa de Bragança , a
quem eítá unida, & láefcolhe dos nomeados os que hão de fervir cada anno/
quatro Tabeliães do Judicial, & Notas, Meirinho, Diítribuidor, Enqueredor,
& Contador andãó juntos, Juiz dos Orfaôs com feu Efcrivão, Juiz dos Direi-
tos Reaes, a quem toca tomar, & dar conta de tres em tres annos a Sua Magef.
tade do rendimento da dizima do pelcado, com feu Efcrivão , outro do Cou-
to, que efereve em hú livro os homiziados,que aqui fe vem acoutar,& lhes paf-
fa cartas, & certidoens, todos data delRey, Juiz da Alfandega, Efcrivão,& Al-
moxarife, Efcrivão, & Recebedor dos tres por cento,Efcrivão das Sizas anne-
xo ao da Alfandega, faõ da Coroa, Alcayde que ferve de Carcereiro, aprefen-
tação triennal do Alcayde mór. A gente deita Villa, & feu termo fe compoem
de quatro Companhias,que todas paíTaõ de mil & feifeentos homens, & tem
mais de guarnição quatro Companhias de Infantaria paga. No Cabedello tê
Sua Mageítade huma mata de iovereiros, & outras lenhas, chamada Camari-
do, em que traz muita caça de coelhos, diito trarão os Alcay des móres. No
principio que Portugal começou a fer Reyno feparado dos mais de Efpanha,
era mais dilatado o termo deita Villa , de que íe tirou todo o que fe deu a
Villa-nova de Cerveira, quando de novo fe fundou, hoje tem as Fregucíias fe-
guintes. . . .
N. Senhora da Encarnação deVillarelho , Vigairaria annexa à Reytoria
da Villa, que aprefenta o Reytor, rende cincoenta mil reis, & os dizimos faõ
dos Preítimonios,temfetenta vifinhos.
Santiago de Creítello, Abbadia que foy da Cafa de Villa Real , & hoje he
da Cafa do Infantado, rende novênta mil reis , tem cincoenta & feis vifi-
nhos.
S-Payo de Molledo, Reytoria da mefma aprefentação , rende cem" mil
reis: dos dizimos fe fazem dous Preítimonios da Ordem de Chriíto , cada
hum de noventa mil reis :tem cento & quarenta viíinhos. Neila Fregueíh
junto do mareítá huma Capella de Santo Ifidoro,he Igreja tão pequena, co-
mo antiga, toda de abobeda, ôc o que a faz muito celebre he huma Irmanda-
de, que nella ha, em que andão unidas por voto quatorze Fregueiias deite
termo, & do de Viana,confirmada pelos Summos Pontífices, Clemente, & Ur-
bano Oitavos, concedendolhe ambos muitos privilégios , & indulgências :
feu principio não fe fabe,nemacaufa •, prefume-fe que algum grande aperto
de fome, ou peite os incitou a tomarem por Padroeiro eíte Santo, & Ihcfize-
rão voto por fy, &feus defeendentes a lhe guardarem o dia, & fazerem do-
ze prociífoens a differentes Igrejas deite Concelho , a que faõ obrigados
irem com fuas Cruzes todos os Parochos, & Clérigos nellas moradores , &
hum homem de cada cafa, & he condenado o que falta : em todas tem MiíTa
cantada,huma fe faz em fete de Julho,vão pela Villa, vem a Camara efpera-
los ao Moitciro das Freyras, donde os acompanha ate a Igreja Matriz , em
que o Reytor por obrigação lhes tem expoíto o Santiflimo, alli canta huma
oração o Mordomo da Confraria, a que chamão Arcipreíte ,& acabada ,fahé
todos como entràrão até ovao, aonde fe embarcãopara S. Bento de Seixas,
& os Ofíiciaes da Camara fe tornão do rio para fuas cafas.
Santa Maria deGontinhaés, Abbadia do Ordinário com alternativa de
Sua Mageítade, em quê entrou pela Cafa de Villa Real, de quem era , rende
trezentos & cincoenta milreis, tem duzentos vilinhos- Aqui fe divide eíte
Aa iij Con-
*8* TOMO PRIMEIRO
Concelho do de Viana pelo pequeno rio de Ancora,nome que tcir.cu de hua>
com que alli lançou ao mar LIRcy Dom Ramiro o Secundo a lua mulher a Ra ir
nha Dona Urraca, que também por dcfgraças fe fazem conhecidos muy peque-
nos lugares.
S. Maria de Riba de Ancora, Vigairaria, rende cem mil reis, ôc os dízimos
cento & fetenta mil reis de hum Preltimonio da Ordem de Chriíto , tudo foy
da Caía de Villa Real, agora he de Sua Magcitade , tem cento ôc ftifenta vdh
nhos.
S. Salvador de Gundar, Vigairaria do Morteiro dc Tibaés, de que fe unio
ao Collegio de S. Bento de Coimbra, rende cincoenta mil reis , ôc para os Fra-
des oitenta mil reis: tem fetenta ôc cinco vifinhos-
5. Eulalia de Orbacem, Curado annexo à Abbadia de Menxedo em Viana,
rende quarenta mil reis , ôc para o Abbade cento ôc quarenta mil reis ; tem
ççutoôc vinte viíinhos. a
S. João Bautirta de Arga ertá da parte do Poente da grande ferra de Arga,
que divide os termos de Viana, Ponte de Lima, Coura, ôc Caminha, ôc be me-
dida no monte ertá cila Igreja de S-João de Arga,nome q tomou da mefma ferra,
ou de hum ribeiro aílim chamado- Aqui entre as denfas matas, ôc elcuras bre-
nhas fundàrão os Monges Bentos hum Morteiro , em que fe recolherão do
mundo; o tempo certo, em que teve principio, não fe fabe ; alguns entendem
que no reynaao de Sifebuto,em que tanto fe ampliou a té Catholica, outros
que foy fundação de S- Frutuofo Arcebifpo de Braga- Podemos conjecturar,
que fe acabou no anno dc 661- porquanto erta era íeachou eferita em hum»
padieira da porta da Igreja, ou de outra officina deile Morteiro, que vem a fer
o anno de Chnito 62 que por cita montanha viveífc muitos Monges fantos
divididos, fazendo vida penitente, ôc que por alli eílão fepultados, não ha du-
vida, de que o Vulgo tomou chamarlhe íagrada- Todos os amios em 6- de
Mayo, particular dia, em que os Catholicos feítejão a S- João Euangeliíta de
Ante portam Latinam, vem a eíte Morteiro muita gente de romagem , ôc a
mais he do termo dos Arcos. Perto da Igreja ertá hum Monge enterrado, do
qual dizem , que todos osanimaes que paífavão por cima de fua fepultura,
quebravão as pernas; o que vendo o fanto Arcebifpo Dom Frey Bertholameu
dos Martyres,viíitando eftaFregueíia , lha mandou cobrir com huma meya
Lua de pedra, como inda tem, para que nada paíTaífe por cila- Confervafe cÕ
Abbade, ôc Monges pelos annos de 134.6. ôc fuppoíto veyo nas Bulias da re-
forma do Papa Sixto Quinto, nunca a Religião tomou poífe delle. Entrarão
em feu Padroado os Marquezes de Villa Real,fizeraõ-no Reytoria, refide em
Filgueyras o Parocho,ôc lá vão os freguezes, onde faremos computo dos dí-
zimos, cuja repartição tem defta a origem, com o que lhe entra da de Covas:
tudo foy data fua, ôc agora he de Sua Mageftade. Aqui ha muitas egoas dc
criação, gados de toda acarta, caças, ôeveaçots de lobos , ôc outros bichos.
De tempo antiquilfimo cortumão muitos homens do termo dos Arcos, parti-
cularmente os do monte,trazerem feus gados grandes a paftar a cfte, que hc
mais quente, ôc algum por inftinto natural vay,ôc vem naquellas conjunçoens,
fem que o levem, ou tragão: pagão dc foro aos Alcaydes mores hum vintém de
cada cabeça-
Na mefma ferra eftáhuma Capella de hum Santo, a quem o vulgo chama
Santo Aginha, quer dizer, Santo depreífa > conforme a noífa lingua antiga,
que inda fe conferva em rufticQS, Ôc a caufa he a fegumte- Vivia-nefte ermo
hum
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA» 183
hum grande ladrão, que encontrandofecom hum pobre Religiofo , de quem
quiz tirar o dinheiro, que não tinha, apertou tanto çom elie,que fe lho não dar
Va, o havia de matar, como fucçedco a outro chamado Tito na Cidade de Cant-
dia, aonde S. Jeronymo lhe appareceoem forma dç Mercador por alguma , de-
voção, que lhe tinha no meyode feus latrocínios , para o reduzir ao caminho
da falvação. Pofto o Frade de joelhos, eftando o ladrão com aefpada nua,, ef-
cufavaíe cõ a impofíibilidadedo logro, mas como cõtra eftacafta de gente net
nhuma juftificada razão baile, fem que lelhe iatisfaça feu íntereffe , refolveo.»
fe em matallo- Pediolhe o Religiofo que primeiro o ouviífe a outro propofito*
no que elle veyo; que como Deos tinha decretado,que pelos meyos que fe per-
dia, fefalvaíle, lhe diífe : Irmão,que tiras das cwtit/uadjadigas ,que tens dos ^ri-
des deJcomado$,q padeces,&da má vidaquepaffas neste mu>idothumas ve^es com tif*
co, de que te matem os que roubas, outras não dormindo em lugar certo porque te não
prendão i outras não acendendo lume , porque te não prefwtao, & raras vezes
Undo com que te (nitentes, ò" nada com que te cubras, pois te (ftou vendo quafi nu *
& ultimamente hum certo inferna,para tua alma ganhado tanto à cufta de teu cor'
po: repara bem nu cj te diga, 7 quanto vay de fugir a gente,para tratar com feras,
como de perderes a vifia de Deos, & ganhares a do Diabo ; poem emenda em tua
Vida, que Deos com huma boa morte te dará a.Gl >rta.Q ladrão, que ja vivia defeí-
nerado de falvarfe, lhe refpondeo o quanto eílava, havia muito, defviado deft
fe caminho, que lhe inculcava , & impoflibilitado para Deos lhe perdoar os
grandes peccados, que tinha feito, em matar huns , & roubar a todos os que
podia , mais por malevolencia de feu animo , que por falta de conhecimc-
t,o de feu erro- Tornou o Padre a inftar contra efta obifinaçaõ, & a declarar»
lhe, que fe Deos rigorofamente caíltga, também benignamente pfrdoa. Efup..
pofto de juftiça nam pode falvar algum,fem que primeiro reftitua ao proximo o
que deve, de poder abfoluto pôde tudo ainda coftuma, quando ao peniten»
te falta com quefatisfaça , tomar por fua conta eftas reftituiçoens em muitas
felicidades, queda àquelles,a quem fedesMaõ fazer, & que para fsguir efte ata-
lho,o melhor caminho era confcífarfe de todos feus peccados com húa dor mui»
to grande de os haver cometido, nam pelo que merecem de caftigo , mas pelo
mal,que havia feito, &offenfas, que contra hum tam bom Deos cometera, que
antes defejaífe morrer mil vezes, que encontrar huma íua divina vontade : &
fogeitandofe a fatisfazer a penitencia que lhe deífem , indubitavelmente teria
remedio tanto mal- Já entaõ feito huma Magdalena arrependida comos olhos
cheyos de íagrimas,poftrado por terra pede aoFradeoconfe(Te,oque fez com
tanta contrição do penitente , que julgou fer baftante para abfolvello aceitar
çile que no mefmo monte, em que tantos dãnos tinha íeito, continuaífe algum
tempo a foccorrer os paífageiros, que por alli foífem. Poucos dias eraõ paífa-
dos, quando a hum Lavrador, que baixava mato, fe lhe entornou o carro , em
que o trazia, & eftando na fadiga de levantallo, veyo ajudallo a iífo; mas o vil-
laõ, queo conheceo, defeonfiando de feus favores ,' pornamfaber de fua nova
mudança de vida, deu-lhe com huma enxada na cabeça , de que cahio morto no
mefmo lugar,em que o deixou- Paliados alguns dias,fendo já muy públicos na
Corte feus exçeífivos dãnos, & chegando ordem dclRey com grandes promef-
fasaquçmlhoprendeíre,oumataíTc , fahioo viilaõ dizendo que elle o tinha
morto, foy moftraradonde , naõ lhe parecendo que em tantos tempos depois
da morte achafl> de feu corpo outro teftemunho mais que alguns offos, que as
feras lhe deixàífem j mas como Deos line tinha perdoado por fua grande contri-
ção,
I84 TOMO PRIMEIRO
çaõ, & penitencia, a que fe lògeitàra pelo mandamento da Igreja, em fe confef-
far bem, & verdadeiramente, o prefervouaffim de nada lhe tocar, como de cor-
rupção, em forma, que além da alvura extraordinária de feu corpo, dava fuavif-
fimo cheiro, & tal, que fe eftendia alarga diftancia, & obrou Deos por elle al-
guns milagres à viíla de todos os que fe achavaõ prefentes ; & como então o
povo era o que por acclamaçaõcanonizava os Santos, lhe chamàraõ Santo Agi-
nha,ou Azinha. fcftahe atradiçaõ vulgar,que,a meu ver,nam tem duvida em
feu fundamento, inda que alguns querem que a Padroeira defta Igreja foffe S.
Eugenia Romana,Virgem, & Martyr, que por nam cafar com o Conful Aquilio,
fugio de cafa, & muitos tempos foy Religiofo no deferto de Alexandria, aonde
feu pay era Prefeito pelo Império, &veyo a padecer em Roma por mandado dc
Nicetio Prefeito do Emperador Galieno. Ainda nifto acho myfterio ; porque
Santa Eugenia fendo mulher le veftioem trage de homem, para fer,como foy,
Religiofo: & efte Santo íe he o ladraõ, fendo homem com o nome , que lhe de-
raõ dc Santo A ginha, nos poem cm duvida fe he Santa Eugenia. O que fey he,
que a Igreja, que foy Parochia, eftá por terra fem veneração alguma , fó fe con-
ferva íuima Ermida , & os freguezes fe dividirão para a de S- joaõ de F ilguei-
ras,& para a de Covas, & nam fe acha fepultura , nem noticia aonde eíle Santo
efteja fepultado, viíitaò-na com clamores, ôc lci/aõ dalli terra para os doentes
de maleitas, que com ella faraõ. *
Santa Maria de F ilgueiras he a Parochia, a que fe reduzirão os freguezes
de Santo Aginha, Vigairaria que rende cincocnta mil reis , & os dizimosfaõ
ametade do Abbade de Covas , & da outra fe fizeraõ dous Preftimonios da Or-
dem de Chrifto, data delRey pela Cafa de Villa Real: tem trinta vifinhos, vem a
S. Joaõ de Arga todos,alguns dias do anno, por fer a Matriz antiga.
Santa Maria de Arga, Curado do Abbade de Covas , rendelhe quarenta
mil reis, & os dizimos faõ do Abbade, & dos dous Preftimonios acima:tem cm-
coentavifmhos.
Santo Antaõ de Arga de Riba, Vigairaria das Freyras de Sãta Anna de Via-
na com oito mil reis, ao todo quarenta, & para as Freiras cincoenta mil reis : té
trinta & feis vifinhos.
Santiago de Sopo, Abbadia.que rende duzentos & oitenta mil reis,he da-
ta delRey pela Cafa de Caminha: tem cento & noventa viftnhos, quaíi to dos Pe-
dreiros, que vaõ pela mayor parte de Efpanha a fazer obras , de que trazem
muito dinheiro.
Santa Eulaliade Villar de Mouros ^que foy antigamente Couto , he Vi-
gairaria que aprefenta o Chantre de Braga, rende cento & vinte mil reis , & os
dizimos mais de trezentos mil reis, ametade vay para a Mefa Arcebifpal, & a
outra paraosCapellaens de S. Pedro de Rates na mefmaSè. Deraõ efte Padro a-
do, & Couto, que entaõ tinha, a Dom AffonfoBifpo de Tuy , & àquella Sè a
Rainha Dona Therefa,& El Rey Dom Affonfo Henriques em tres de Setembro
da era de 116 que vem a fWo anno do Senhor 112 y. ElRey Dom Gar ci a ti-
nha dado efte Couto à mefmaSè, & a feu Bifpo Dom Jorge no anno de 1071.
por fua alma, & dos Reys Dom Fernando, & Dona Sancha feus pays : tem du-
zentos,& trintavifinhos,&hurna Torre antiga, aque fe naõ fabe a caufa dc
fua fundaçaõ; mas todos affirmaõ que nefta Freguei!a viverão Mouros, quando
ganháraõ Efpanha,& que na 1 orre morava o fenhor delles. Tãbem no rio Cou-
ra, que por aqui paffa, ha huma boa ponte , que difta [de Caminha huma legoa,
aonde fe mete no Minho.
Saõ
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. i8j
S. Martinho deLanhellas , Vigairaria que aprçfenta o Rcvtorde Seixas,
rend e-lhe oitenta mil reis, Sc dízimos fe aj ui itaõ com os da Matriz para oX ô-
mendador :tem cento Sc dez vifinhos- junto aorio cita a Cafa, & Torre deLa- „
nhelias com íuas ameyas a modo de fortificação ,. a mais perfeita ,Scmageítcla
quinta de regalo queem Portugal vi, 6c com renda que a conferva : dizem toy
dos Abreus, fenhores da Cafa de Abreu,que na verdade íòraõlenh ores das me-
lhores quintas, que na ribeira do Minho liavia , he agora dcjacome Soares de
Viana.
S- Pedro de Seixas he Commenda de Chriílo, Sc Rey toria da Mitra , rende
cem mil reis, Sc para o Commendador com a annexa de Lanhellas trezentos £c
cincoenta mil reis: tem duzentos v/íinhos. N eíla Freguefia ha huma fermofa
Capella de S. Bento, a qual he grande de tres naves com arcos poítosemcolum-
nas, tres portas, Sc duas Sancriítias, he muito antiga , Sc tem huma Imagem do
Santo feita de vulto, que continuamente eítá fazendo infinitos milagres, ccmo
publicão os muitos Romeyros,que frequentemente o Vifitaõ,aííim deite Reyno,
como do de 3alliza, efpecíalmente nos Sabbadps de Agofto 3 fempre tem as
portas abertas de dia, Sc de noite, por fe entender que aflím o quer o Santo , p
que fe alcançou, de que fechandolhas huma tarde, ao outro dia as achàraõ na ri-
beira do Minho, que diita tiro de arcabuz , Sc por cita tradiçaõ fe nam fechar
mais, nemos Prelados mandàraÕ o contrario- Em 21 • de Março, & 11 - de ju-
lho, dias em que a Igreja celebra as icftas deite Santo, tem feira franca,que du-
rava oito dias com privilégios dos Reys deite Reyno, para nenhum homiziado,
que a cila venha, pofia fer prezo; nam dura hoje mais de dous dias , na qual íç
achao muitos Mercadores de varias partes-
Santa Marinha de Argélia, Abbadia do Ordinário dc ametade dos dízimos,
com que rende cento & vinte mil reis, & a outra cem mil reis, lev aõ-na os Fra-
des de S. Domingos de Vianna, a quem a deu o fauto Arcebifpo Dom Frey Ber-
tholameu dos Martyres, quando fundou eite Convejito, tem cento & cincoen-
ta Scfeis vifinhos.
Santa Eulalia de Venade , Abbadia de Sua Mageftade pela Cafa de Villa
Real, rende cento & quarenta mil reis, tem cento & vinte vifinhos-
S. Miguel de Azevedo, Curado do Collegio de S- Bento de Coimbra, que
fie defannexou doMofteiro de Tibaens,rende aoCura vinte mil reis,Sc quarenta
mil reis para os Frades: tem trinta Sc cinco vifiuho^ Efta Igreja ,Scaquefe fe,-
gne,eraõ ambas huma,ScentaõaParochiaemS-Pedrode Varaes, que inda hoje
fe vè náferra, Sc toy Mofteiro da Ordem de S- Bento , Sc feu Çommendacano
F.emaõ Velho, queem hum prazo,que fez a Lucrécia Lobo, fe intitula Abbade
Revtor,comoconfta do original, que vi em Viana em maõ de Afienfo Pereira
da Sy Iva, fenhor defre prazo-
S- Sebaftiaõ Villa, outra pequena Freguefia do termo, Curado dos mefmos
Religiofos, que rende trinta mil reis, Sc para ffe Frades ferenta mil reis , tem
cincoenta vifinhos. n ; u
p
1
• - - mm
CAP*
TOMO PRIMEIRO
•>
CAP. III.
C" *
Da Villa de Valladares.
Uatro legoas da Villa de Valença para o Norte , & lcgoa & meyada de
\ I Monçaõ para o Nafcente, feguindo a mefma ribeira do Minho, aígú tan-
tod£fviadodelle,eftá a Villa de V alladares, a quem deu foral EIRey Dom Af-
fònfo o Terceiro: tem feflenta vifmhos com muita nobreza, Cafa de Mifericor-
dia deboa arquitectura feita ao moderno, & Hofpital. Chamavafe Condado,
mas nunca teve titulo de Conde. Della foy fcnhor Dom Sueyro Arias de Val-
ladares, que afíim feappellidou da terra que dominava nefte Rey no, depois que
vcvo do de G alliza,donde era naturaljíeus paysforaõ Dom Arias Nur es,& Do-
na Examea Nunes. Teve muita fucceflaõ, que occupou grandes lugares : entre
eftes Dom Rodrigo Paes de Valladares doConfelho delRey Dõ Sancho o Pri-
meiro, feu Mordomo mór, & * lcay de mór de Coimbra , que com fua fegun-
da mulher Dona Tareja Gil foraõ pays de Gil Rodrigues,que o Conde Dom Pe-
dro diz foy morto por Pedro Soares Galhinato. L Duarte Nunes, que enten-
demos achou melhor certeza, affirma que eftehe aquelle grande Magico, que
arrependido do padtoque tinha feito com o Demonio , confirmado com elcrito
de feu fangue, entrou na Ordem de S. Domingos, & fez vida tam penitente, que
por interceffaõ daVirgem NoíTa Senhora lho reftituío,& he S Frey Gil tam ce-
lebrado nefte Reyno por fuas Nigromancias no feculo, & milagres na Religião,
cuio corpo fe venera em Santarém no Convento dos Frades da fua Ordem, ccm
feita, & romagem notável em 14.. de Mayo. Sempre cafáraò bem eftes fidal-
gos, & delles procedem os melhores do Reyno. Inda hoje fe confervaõ alguns cõ
Morgados defte appellido, particularmente no Porto, &Guimaraens. Também
foy bifneto de Dom Sueyro Arias de Valladares Dom Lourenço Soares de V alla-
dares, Tenente da ribeira do Minho, que era entaõo mefmo que Governador
das Armas. Asdeftafamiliafaôoefcudoefquartelado nopnmeyrode azul hu
Leaõde prata,armado de vermelho,o fegundo empequetado de vermelho , &
prata de íeis peças em faxa, timbre o mefmo Leaõ das Armas empequetado de
vermelho na carranca. Entràraõ nefte fenhorio os Abreus , & o primeiro de
que achamos noticia,he VafcoGomes de Abreu, fenhor da Cafa, Tprre, & Cou-
to de Abreu em Morufe termo de Monçaõ, Alcayde mór de Lapella, Melgaço,
& Caftro Leboreiro, o que devia fer em tempo dos Rey s Dom Pedro, & Dom
Fernando,&o perderia no delR# Dom Jóaõo Primeiro,por felhe cppor em
Melgaço, quando lho conquiítou, por fer primo fegundo de Dona Aldonça de
Vafconcellos, mãy da Rainha Dona Leonor Telles, que o era tia Rainha de Cal-
tella, herdeira do noffo Reyno- A ntes, ou depois foy fenhor delta V ilia F erna-
cfc> Aífonfo Correa,fenhor de Farelaés:paífou aos Marquezes de Vilia Real, que
a perderão na feliz acclamaçaõdo fenhor Rey Dom Joaõ o Quarto, & hoje he
Cafa do Infantado- Tem dous juizes ordinários, tres Vereadores , & Procu-
rador do Concelho, eleição triennal do povo, & pelouro, a que preíjde o Ouvi-
dor de Valença, Efcrivaõ da Camara, & Almotaçaria, quatro Tabeliaens , Mei-
rinho,
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. iê?
rinho, Juiz dos Orfaõs com feu Elcnvaõ, Diftribuidcr,Enqueredor , & Con-
tador, tudo data delRey, Efcrivaõ das >izas, Cápitaõ mór, Sargento mór , & 1
Monteiro mór, & quatro Companhias da Ordenança. Dá muito pao de toda a *•
cafta, feijão, linho, caftanha,baftante vinho, boas frutas, & hortaliças, caça,
criaçaõ de egoas,& gados,lãs as melhores da Provinda, de q fe fazc boas man-
tas, muito mel,&peícas no Minho de todo o peixe quecoftumadar, & muitas
trutas no pequeno rio Mouro. Compoem-fe o termo das Freguefias feguin-
tes.
Santa Eulalia de Sá he Igreja Matriz, Abbadia de Sua Mageftade pela Cá-
fa de Villa Real, rende cem mil reis, tem feífcnca vifmhos. Alguns cuidaram
ferem daqui os Sàs.
S. Joaõ de Sá, Vigairaria ad nutum do Arciprefte de Viana, rende quarentá
mil reis, & para o Arciprefte fçtenta mil reis : tem noventa & leis vifinhos.
Aqui eftá huma quinta honrada, que repart íraõ Lavradores entre íi. Tem cáfá
grande com efcudo de Armas: era Solar da família dos Caos , dos quaes foy
Diogo Caõ, que defcubrio Angola, &. o Congo no anno de 148 f • Era Cavallei-
ro da Cafa do Infante Dom Henrique sEl.Rey Dom Joaõ o Segundo lhe deu por
Armas em campo verde duas colunas de prata fobre dous penhafcos, 8c no re-
mate de cada huma, huma Cruzíingella de azul larga nas pontas a modo das
dos Templários, timbre as colunas em alpa atadas com torfal verde em memo-
ria de dous padroens, que levantou na boca do rio Zayre,i ou Mameongo mil &
feiscentas legoas de Lisboa, & fete grãos ao Sul, & no Cabo do padraõ duzen-
tas legoas alem do Reyno do Congo. Tevefilho Pedro Cam , que foy Alferes
da bande ira Real do primeiro Vifo-Rey da Índia Dom Franciíco de Mmeydà
quando aellapaffou nc anno de 1505- Daqui entendemos paliaram a Villa
Real comos Marquezes, aonde fe confervaõ nobres,&principães»
S. Miguel de Meífegavs, Vigairaria collad a com titulo de Rey toria , tern
ao todo fetenta & cinco mií reis de renda, 8c dos dízimos fe fez Preftimonio da.
Ordem de Chrifto com o Habito,que rende cem mil reis, tudo data de Sua Ma-
gelt ade pela Cafa de Villa Real: tem feífcnta vifinhos.
S< Salvador de Mouro Juzaõ, a que vulgarmente chamaõ de Seivaês , he
Reytoria, q rende ao todo oitenta m l reis, os dizimos cõ alguns foros faõ Pref-
timonio da Ordem de Chriflo, que rende duzentos mil reis , tudo data dclRey
pela mefma Cafa de Villa Real: tem cento & felfenta vifinhos.
S.Julião de Badim,V igairaria ad motum,q aprefenta ó Rey tor de Seivaês ,de
quem he annexa, rende doze mil reis, ao todo quarenta mil reis, 8cpará o Com-
ínendador cincoetamil reis, tem cem vifinhos. Nefta Freguefia,oiide chamãoi
O Couto de Villaboa (porque o foy antigamente, 8t delle fenhor , 8c dos direi-
tos Reaes Diogo comes de Abreu, filho de Vafeo Gomes , por mercê delRey
Dom Fernando) ha huma Torre, que por defcendencia de Abreus com os di-
reitos Reaes anda nos Marquezes de Tenorio em Qalliza. Ha mais outra cafd
com ruínas de Torre, em que vivem Lavradores defeendentes dos antigos fe-
nhorcs delia, que vulgarmentefe diz ferem doappellido deVillarinho,& aqui
feu Solar > fem embargo que O Doutor João Salgado de Araujo no Nobiliária
manu-eferito diz fer noReyno de Galliza. Todos fe conformão com que elles,
& os Abreus defeendem de hum Cavalleiroprincipal,chamado Arção ae Cotos>
& que por eft a razão tomàrão os Abreus por Armas os Cotos , ou azas de An-
jos por alluzão a feu nome; 8c que os Villarinhos vem de hum filho baftardo dos
primaros fenhores dá Cáfa de Abreii, que indo com feu pay , & oútr os clous
V
Couto de aderne.
Couto de Feaes.
TRA-
ipí TOMO PRIMEIRO
TRATADO V
CAP. I.
cap. 11.
mZ
' O fecundo Conde de Barcellos foy Dom Martim Gil de Soufa , Alferes
mór delRey D. Diniz, queeftá fepultado no Moíleiro de kS. Tyrfo co ^J
DA COROGRAFIA P OR TU G V E Z A. tpp
Iher Dona Violante Sanches , filha do primeiro Conde Dom Joaõ Affonfo de
Menezes.
O terceiío Conde foy Dom Pedro,filho baílardo delRey Dom Diniz,8c feu*
Alferes mór: câfou a primeira vez com Dona Branca Pires, filha de Dom Pedro
Annes de Portel, 8c de Dona Coílança Mendes de Soufa: a fegunda Vez com Do-
na Maria Ximenes Coronel, Dama da Rainha S- Ifabel. Naõ teve filhos ; eifâ
fepultado no Convento de S> Joaõ de F aroucá de Frades Bernardos.
O quarto Conde foy Dom Martim Affonfo, cafado com Dona Elvira Qaí-
cia, filha de Dom Garcia Fernandes de Villamayor. »
O quinto Conde foy Dom joaõ AffoníòTello de Menezes , Alferes mór
delRey Dom Pedro, 8c Mordomo mór delRey Dom F ernando, 6c Conde de Ou-
rem-
O feXto Conde foy Dom Affonfo Tello, filho do fobredito Dom Joaõ Af-
fonfo Tello de Menezes : delíe não ficou geraçaõ-
O fetimo Conde foy Dom Joaõ Affonfo Tello de Menezes, irmaõ da Rai-
nha Dona Leonor, a quem ElRey Dom Fernando feu cunhado fez Almirante de
Portugal,& Alcayde mòr de Lisboa.
O oitavo Conde foy o Condeílable Dom Nuno Alvarez Pereira por merj
cè delRey Dom Joaõ o Primeiro aos oito de Outubro de 1285* * 0 qual o deu
em dote a feu genro Dom Affonfo, primeiro Duque de Bragança , que foy o
nono Conde de Barcellos de cOnfentimcntodo Condeftable feufogro , a quem
ElRev tinha prometido de naõ fazer outro Conde em fua vida. Depois fe conti-
nuou efle titulo nos Duques de Bragança ãtè o tempo delRey Dom Sebaíliaõ,
queo levantou a Ducado nos primogénitos da mefina Cafa , 8c foyoprimeiro
Duque de Barcellos Dom Joaõ, filho de Dom Theodofio o primeiro do nome»
He efta Villa cabeça de Comarca das terras que o Ducado tem nefta Provin-
da, 8c junto a Coimbra; governafe por Ouvidor com cento 8c quatro mil reis ao
todo 300. Juiz de fôra com duzentos mil reis, tres Vereadores, 8c hum Pro*
curador do Concelho, & hum Thefoureiro- Toda a Camara he oCapitaõmór
da Villa, & feu termo por mercê delRey Dom Joaõ o Quarto nos últimos àn-
nos de fua vida, que ate entaõ eraõ particulares : tem tres Efcrivãens da Cor-
reição, hum Meirinho da Correição, Enqueredor, Diffnbuidor , & Contador,
hum Porteiro, & Caminheiro da Correição, hum Sargento mór da Villa , 8c fua
Comarca. No Juizo geral tem Efcrivaõ da Camâra, dez Tabeliães do Judicial,
& Noras, & cinco Enqueredores do Geral, Diftribuidor , 8c Efcrivaõ da Almo*
taçaria, que andaõ unidos, hú Contador do Geral, hú Relogeiro do Concelho,
dous Alcaydes pequenos,q apreféta o Alcayde mór,hú Porteiro dasExecuçoés,
8c outro da Camara,dous Almotaceis,q faz a Camara, 8c hú Efcrivaõ. Nomeâ a
Camara hú officio, a q chamaõ F iel,q ferve de apõtar os preços de paõ, 8c vinho
por todo o anno,8c fe fazem as liquidações pelas certidoens q paffa,tiradas do li-
vro, em q vay efcreVedo, dandolhe por cada húa dous vinténs. Tem dous Jui-
zes dos Orfaõs, cuja jurifdiçaõ divide o rio Cavado, com dous Efcrivãehs, 8c
dous Porteiros, dous Efcrivaés das Sizas por ElRey, ihiím Almoxarife, 8c Juiz
dos direitos Reaes, hum Efcrivaõ do Almoxarifado, hum Solicitador dos feitos
do Effado de Bragança, hum Procurador do mefmoEftado , hum Porteiro do
Almoxarifado, 8c outro dos Reguengos delle. Rende o Almoxarifado defta
Villa vinte 8c cinco mil cruzados livres para a Cafa de Bragança.
CAP.
30O TOMO PRIMEIRO
CA P. III.
feJSSffiSgggS Ut-A'VSOS.
v
lot TOMO PRIMEIRO
annexa á Commenda, & aprefentação do Rey tor, rende vinte mil reis, & qua
renta mil reis para o Commendador item quarenta & quatro viíinhos.
S. Pedro de Alvite, V igairaria annexa â mefma Commenda , rende qua-
renta mil reis, & feíTenta mil reis para o Commendador : tem quarenta vifi-
nhos.
Santa Maria de Lijo, Vigairaria do ArcediagadO de Santa Chriftina, rende /
feffenta mil reis, & cem mil reis para o Arcediago : tem noventa & cinco viíi-
nhos. .
Santa Leocadia de Tamel, Vigairaria dasFreiras de SaôBento de Viana,
rende feíTenta mil reis, &. cem mil reis para as Freiras. Deu-lha o Abbade Jorge
de Miranda Henriques,por lhe tomarem quatro filhas , & dous lugares perpé-
tuos, de que já naõ ha memoria: tem fetenta & íeis viíinhos.
Santiago de CarapeíTos, Abbadia da Mitra , rende trezentos Stcincoenta
mil reis, tem cento & cinco viíinhos. A qui eftá a antiga Cafa, & Quinta de Ca-
rapeíTos (de que trata o Conde Dom Pedro Tit* j 5 • foi. 15*4.) que hoje fe cha-
ma da Madureira, com muitas fazendas, matas, montes, ôciabidos. Della foy
fenhor Joaõ CarapeíTos, caiado com Dona Maria Martins Carvalho, dos Carva-
lhos da terra de Bailo, & depois o Infante Dom Pedro, Conde de Barcellos, que
a deu a feu vaíTallo Pedro Coelho, aquelle Meirinho mór, grande valido , & do
Confelho delRey Dom Affonfo o Quarto, aquém feu filho EIRey Dom Pedro
mandou tirar o coração, eít ando vivo, por fe achar na mor te de Dona Ines de
Caílro; & confifcandolha com mais bens, comprou-a o Arcebifpo Dom Gon- b-
çalo Pereira, & fez delia prazo, em que por compra entrârão os Figueiredos
de Chaves, que hoje a poíTuem: logo moílra nobreza-
Santa Marinha da Alheira, Abbadia da Cafa de Bragança, rende com a an-
nexa de Nogueyra em Villa-nova de Cerveira, mil cruzados: tem cento & qua-
renta & três vifinhos, & tres Ermidas.
Santo Antaõ do Ginzo, Vigairaria do Prior de Barcellos, rende trinta mil
reis, & para a fabrica,& Prior feíTenta mil reis: tem quarenta vifinhoo
> S. Lourenço de Dorraís, & Dor Iaé s, como vulgarmente lhe chamaõ , he
Vigairaria annexa a S- Perofins, rende trinta & cinco mil reis , & feíTenta mil
reis para o Abbade: tem feíTenta vifinhos.
S-Martinho de Mondim, Abbadia do Ordinário, rende cento Sccincoenta
mil reis: tem cincoenta vifinhos.
Santiago de CoíTourado, a que antigamete chamavaõ Courado , he Com-
menda de Chriíto, & Reytoria da Mitra com quarenta mil reis, ao todo cem mil
reis, & para o Commendador com fabidos trezentos & vinte mil reis: tem cen-
to & oitenta & cinco vifinhos. Aqui fe achou huma boa mina de prata ,que fe
fechou por ordem do Serenillimo Rey Dom Joaõ o Quarto.
Santa Lucrécia de Aguiar, que dá o nome a todo o Julgado, & que antiga-
mente teve hum Caílello no alto do monte, que por diíferençade outros tres
fe chamou de Aguiar de Neiva, he Abbadia da Caía de Abcrim,rende duzentos
mil reis, tem fetenta vifinhos
Santa Maria de Quintiaens , Vigairaria do Convento de Carvoeiro, ren-
de fetenta mil reis, & paraos Monges d uzentos& vinte mil reis: tem cento &
vinte vifinhos. Aqui eífá a Cafa, & Terre de Aborim , em que antigamente vi-
veo Lourenço Fernandes de Aborim, & ou por fucceíTaõ de cafamento, ou por
compra entràraõnella os Barbofas, que confervaõavaronia , & chefre deite
appellido.
Saõ
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 303
Saõ Martinho de Aborim, V igairaria annexa do Convento de Carvoeiro,
rende cincoenta mil reis, 6c cento 6c vinte mil reis para osFrades : temfetenta
viíinhos;
Santiago de Aldrcu, Vigairaria doMofteirodePalme, rende feíTenta mil
reis, ôi para os Frades centooccincoentamil reis: tem noventa 6c quatro vifi-
nhos.
Santa Marinha de Frojaes, Vigairaria do mefmO Convento, rende oitenta
mil reis , 6c para os Frades duzentos mil reis ; tem cento 6c fetenta viíí-
nhos.
Santo Andre de Palme he Mofteiro de Frades Bentos fundado ao pê da
ferra deTamel,6ctomóu onomedehuma boi planície;, que lhe fica ao Poente
entreosdous rios Cavadp,6cNeyva,6tnaõentre efte, 6co Lima , como diz
Frey Leaõ de Santo Thomas na Bened.t. Lufic. to n. i- p. 2. tr. 1. Erâ eíle fí-
tio quinta de hum fidalgo chamado Lovezendo, filho de Sazi, nomes, ou appel-
lidos, que naquelles tempos feufavaõ;edificou-o o filho rio anno de 1028- fa-
zendolhe ampla doaçaõ de rendas, com que fe fuftentaíTm os Religiofos , que
nellemeteo: aífim fe confervou até quenelle entràraõ Commendatarios , de
que foy o ultimo Dom Joaõ de Portugal Bifpo da Guarda,que daqui levava ca-
da anno quinhentos 6c tantos mil reis, como fe vè da informação , que s? fanto
ArcebifpoDomFrey Bertholameu dos Martyres deu no anno de if68. por
ordem do Cardeal Rey Dom Henrique,6c nefta reforma fe tornou aos Monges,
q nelle.metéraõ primeiro Prior no anno de 15 7 5. 6c no de 15-88- tomàraõ titu-
lo de s bbade por falecimeto defte ultimo Cõmendatarioihe Igreja pequena,mas
bem concertada; tem annexas as de S- Bertholameu do Mar, Santa Marinha de
Frojaes, Santo André deTeyvaés,6c Santiago de Aldreu, de dízimos, 6c fabi-
dos rende perto de tres mil cruzados, com que fuftenta doze Frades , 6c paga
muito para a Congregação, a que eftá penfionado. Tem Cura, a quem chamão
Vigário, rendelhe quarenta mil reis, tem cento & q uarenta 6c fete vifinhos.
S• Payo de Antas , Vigairaria do Molle iro d.- S. Romão de Neyva de Frá
desBctos, rende fetenta mil reis,6cparaos Religiofos cento 5c trinta mil reis
tem cento 6c trinta 6c tres vifinhos.
Couto de Fragofo*
te con. J^toe.ondc/»^
çsF^SSfc*jS=5msx
cinco vicy ras c ^ azul comhuma vieyrana cabeça, pj^icenciaoo
saw
«kpoi. de haver morto aquc kbarbato^de
lul
riz,ou ^^f ^"e/l ^ores Ae ■ hehoie Morgado dos Ferreiras , &o pn-
?
mandofeMarizes f M ferreira, filho fegundo de Ayres
mUlhe
«^vSoCBaaÁo foyMofte.ro de Conegos Regrantes de SátoAgo-
' f Si
edificação de ^^^^ ^"^^gg^^Q^^^is^atèqueuítimameme^ft^extin-
que faleceo: correo luas torturas cu u Rcitoria do Ordinário com qua-
guio,& paffou^Xc±tr" kremati^como de Vfflar deFraL,
Filia de Ejpotçnde.
HUm quarto de legoa acima da foz do Cavado da parte do Norte, & não
tres ao Poente de Barcellos, como diz Jorge Cardofono Agiologio Lufi-
om. i-fol- 219. cftáfituada a Villa de Eípozende, titulo que logra ha cen-
Í«&íantos annosiíua fundação moderna, porque alguma gente veyo dc:S. Mt-
ot.pl das Marinhas alli poVoar, para dar mais calor anavegaçao, &peka. T m
■ f ^ Vereadores, &. Procurador do Coftcelho, eleição triennal dopo-
5U!ZC Innm a cue nrefideo Ouvidor de Barcellos,por ler efla Villa dos Du-
V
°r^fteBr^ança-^ousTabcUa£s!EfcrivaõdosOrfaôs ,2c Efcrivao daCama-
tudodatados Duques;JuiZ da Alfattfga , & Efcnvao fao
dcÍRey. Teve eftlvillapleitocom.Faó fobre os direitosda barra,venceo Fao
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. $oy
por mais antigo, & fuppofto o rio he debaftante quantidade de agua pelas mui-
tas areas, Sc má entrada que no mar tem, não he muy capaz de grandes embar-
caçoens, pelo que ufaõ de muitas caravellas- Tem Hoípital, 5c Cafa deMife-
ricordia não muy rendofos. Neila eftá a Capella dos Mareantes com hua Ima-
gem de Chrifto crucificado com grande veneração , aílim pelos muitos mila-
gres que obra, como por fua reípeftiva prefença. Boa Igreja Parochial, q ue he
a primeira das do termo; dous Capitaens, de que o Ouvidor de Barcellos he Ca*
pitão mór; duas feiras pequenas, huma em Junho, outra em Dezembro, muita
pefca, pouca caça, Sc gados, baft an te pão, Sc cevada branca, pouco, Sc roim vi-
nho, muito alho, & cebola. He da Provedoria de Viana , & tem as Freguefias
feguintes.
Santa Maria dos Anjos, Vigairaria da Villa , que aprefenta o Ordinário,
com dez mil reis, ao todo duzentos mil reis , St para os Conegos de Braga cen-
to Sc cincoenta mil reis- O povo a fabrica, porque foy eredh de S. Miguel das
Marinhas, tem trezentos vifinhos com cem, de queconfta a Villa.
S. Miguel das Marinhas, Vigairaria do Ordinário com dez mil reis,ao todo
duzentos mil reis, Sc para o Cabido de Braga trezentos mil reis; tem duzentos
Sc cincoenta vifinhos.
S. Bertholameu do Mar foy Mofteiro de Monges Berttos , Sc ha annos fe
fez Vigairaria do Convento de Palme damefma Ordem, rende oito mil reis, ao
todo fetenta mil reis, com as offertas da grande, St antiga romagem que tem de
toda efta Provincia, particularmente dos Arcos, Barca,Ponte de Lima,St Cou-
ra, em o dia do Santo 24* deAgofto. Tem grande feira,que dura tres dias, re-
de aos Frades cento St vinte mil reis, tem cincoenta Sc dous vifinhos.
S- João de Villa Chã ,# Abbadia da Cafa de Bragança, rende trezetos mil
reis, tem cento Sc dez vifinhos.
Santa Eulalia de Pal meira he Commenda de Chrifto, ScVigairaria do Ordi-
nário, rende dezaíeis mil reis, ao todo cem mil reis , Sc para o Commendador
cento Sc trinta mil reis: tem cento Sc quarenta vifinhos. Foy antigamente Cou-
to das Freiras de Villa do Conde, que aqui tinhão bons maninhos , Sc cafa 11a
Barca do Lago, de que fizerão prazo, que poffuem os Gajos de Villa do Conde,
fidalgos honrados, & por iíTofaõ Penhores dos Maninhos.
S. Cláudio de Curvos, Vigairaria do Thefoureiro mor de Barcellos, q rede
ao todo cincoenta mil reis, Sc para o Thefoureiro cem mil reis; tem oitenta vifi-
nhos.
S- Miguel de Gemezes he Abbadia alternativa do Ordinário, Rey tor do
Banho, Sc do Convento de Villar de Frades, rende duzentos Sc trinta mil reis,
tem cem vifinhos. A qui he a Barca do Lago, onde fe paffa de graça , falvo aos
carros, pelo que pagão as Freguefias dos contornos, cada morador hUm molho
de trigo, our rode centeyo para os barqueiros, que poem nella os Juizes da Cõ-
fraria de Nofla Senhora, que allieftá em boa Capella, Sc he muy vifitada de ro-
magens em 2 f. de Março, fegunda Oitava da Pafcoa, primeiro Domingo de No-
vembro, Sc outros dias do anno, com muitas offertas, que dão os devotos para
repartir a pobres. Entendefe fer tudo doação antiga , Sc voto a efta mila-
grofa Imagem, aonde também ha huma Irmandade de Clérigos.
S. Martinho de Gandara, Vigairaria do Cabido de Braga com dez mil reis,
ao todo q uarenta mil reis, Sc para os Conegos cento Sc feífenta mil reis: tem no-
venta vifinhos. Aqui fe acaba o termo de Efpozende^, St ode Barcellos entre o
Cavado, Sc Neiva no Julgado de A guiar; onue fe fegue he o de Ney va.
Ce iij CoíV
3oó TOMO PRIMEIRO
Continuafe o termo de Barcellos no julgado de Neyva na tetra, que cdá
entre efte pequeno rio, ôc o celebrado Lima.Toma o nome do Caftello deA guiar
de Neyva, & não de outro inexpugnável podo em hum penhafcô fobre o mar,6c
perto do rio,, que nelle fe mete com tam limitada boca por entre rochas, que mal
pode entrar barco, mas muitas lamprcas, relhos, trutas, bogas, & efcalhos, 6c
militas azenhas de moer pão. Fica legoa & meya de Viana para o Sul , & foy
fundação dos Gregosmuito antes da vinda de Chrifto com nome de Nevis,
hoje Neyva ; permaneceo até o tempo delRey Dom joão o Primeiro, porque ga-
nhada então fe aífolou; foy cabeça dt Condado , mercê queElRey Dom Fer-
nando fez a Dõ Gonçalo Tello de Menezes i depois fe incorporou comBarcel-
los na Cafa de Bragança, onde fe conferva com titulo de Condado, 6c na Sê de
Bragao ArcediagadodeNeyva,deque he aqui cabeça, Santa Maria de Neyva,
Vigairariaque rende feífentá mil reis ; os dízimos vão em Braga como Árce-
diagado: tcmícíTenta vifinhos. Também entendemos que aqui teve principio
o appellido de Ney vas, de que fe appelíidão algumas peífoas nobres,& ferem os
me imos que Neyres, como fe efcreve no Conde Dom Pedro, o que devia fer er-
rodo tradudlorj&o primeiro de que achamos noticia he João Eftevcs deNey-
re, cafado com Dona Urraca Fernandes , filha de Fernão Reymão de Canhe do,
&defua mulher Dona Alda Martins Botelho, de que teve muitos filhos , 6c fó
hum, que foy ornais velho, Gonçalo Annes de Neyre,feguio efte appellido, que
em Galliza 1'e dizem Riba de N eyra, êc he differente dos noffos Neyvas. Tem
bons carneiros, gados, caça de lebres, & rolas, pelcas, em que entrão lagoftas,
6c navalhciras, trigo, cevada, milho, centeyo, 6c vinho.
Santiago de Neyva, que depois feappelíidou do Caftello , nome que to-
mou, por eft ar ao pê do da Neyva, onde havia V dia em tempo delRe y Dõ João
o Primeiro. Foy de Dom João deSoalhaês quando era Bifpo de Lisboa , & a
trocou com o Prirgaz Dom Martinho pela Igreja de Sãta Cruz de IÍ<ba Douro,
quãdo era fubdita à de Soalhaens, ambas faõ aprefentação dos VifcOndes: con-
firmou efte contrato EIRey Dom Diniz nó anno de 1307. he Abbadia do Ordi-
nário, rende hum conto de reis, tem duzentos vifinhos.
Santiago de Ai Jiâ.he Abbadia da Cafa de Bragança, antigamente era a Pa-
rochia MatrizNoíTa Senhora das Areas, mas creícêrãoeftas tanto , que a Frc-
guèfia, 6c Igreja fe fumergiraõ com el!as,6c muitas marinhas de fal,que aq ui ha-
via, onde chamavão Darque mayor: mudàtão então a Paíòchia, que hoje he Ca-
pella, para junto do Lima defronte de Viana, aonde vem muitos clamores cada
anno de Freguefiasdiftantes por voto dos antepâífadõs; 6c aqui tomão os Ab-
bades poífe, mas nem hum palmo de terra tem efta Freguefiã, peloque fe mudà-
rão para Anha fua annexa,aondedefdeaquelles tempos tem Vigário, que apre-
fenta o Abbade com dezafeis mil reis, ao tódo feteuta ífiil reis, 6c para o Abba-'
decomaannexade Parque feifcentos mil réis, & antes que a eobrifferh as areas
rendia hum conto de reis: tem trezentos vifinhos.
Santo André de Darque, Vigairaria que aprefentao Abbadedé Anha, reni
de ao todo feífentá mil reis,& para o Abbade cento 6c oitéta mil reis: tem cento
& vinte vifinhos, muita hortaliça, os primeiros melões da Província , grande
quantidade de pepinos, q.ue abaftão Viana, & outras partes, ôc muito alho , ôc
cebola. Eftabeyra mar provê deftes dous generos, 6c de moftardanão ío a ma-
yor parte de Portugal, 6c fuas Conquiftas , mas a muitos Reynos eftfangetros.
Junto do rio Lima eftá hum Paço antigo já ermo , qiie domínaõ os Duques de
Bragança, ôc ainda nefte eftado o zcj^/a tanto o fenhof Rey Dõ João o Quarto,
que
DA COROGRAFIA PORTUGUÈZA; p?
que indolhe pedir a pedra os Carmelitas Deícalços para a fabrica do Convento
que faz ião em Viana, lhe perguntou que valeria; & refpondendolhe que qua-
renta mil reis, lhes mandou dar oitenta mil reis, não querendo tirar a memoria
daquelas ruínas- He tradição que aqui foy o Caílello , & Solar dos Macieis,
fidalgos Francezes , que paliarão a tilas partes a ajudar noífos antepaíTados a
lançar os Mouros fóra delias terras,& que peíla fizerão a (Tento, & fortificação,
dequeerãofenhores. Em Viana quali todos o laõ , & aífim alguns nobres tem
elle appellido: faõ fuas Armas hum efcudopartido de alto a baixo, no primei ro
em campo de prata huma meya Águia vermelha, com bico, & ui^ias de ouro, &
no outro meyo também de prata duas flores de Liz azuis, timbre huma das flo-
res de Liz azul Acompanhada com huns ramos verdes de macieira , & nelles
humas maçãs de prata- Junto delia Cafa fe fez huma eílaca, que atravefla o rio
no tempo da pefca das lamprcas, & nelle armão redes , com que tomão muitas
para os Duques, fenhores delia pefqucira-
S- Nicoíao de Mazarefes he Abbadia que antigámente foy do Moíleiro de
Ante-Altar em Galliza de Monges Bentos; affim elle Padroado, & Couto, como
o de Paradella, & S- João da Ribeira em Ponte de Lima, comprou Diogo Pereira,
que alguns dizem foy Alcaydemór de Villa-nova de Cerveira , & pela mefma
viahefenhor de ambos, & de fua grande Cafa, que aqui tem, feu defcendente
Gafpar Pereira, Cavalleiro da Ordem de Chriílo, òc fidalgo da Cafa de Sua Ma -
geílade, que leva os quartos de todos os frutos; rende a Abbadia quatrocentos
mil reis, tem duzentos,& feflenta & quatro vifinhos.
S- Miguei de Villa Franca he Commenda de Chriílo, & Reitoria da Mi.
tra, que rende ao todo cem milreis,¶oCommendador com fabidos qua.
trocentos mil reis: te cento & noventa vifinhos,& tres Ermidas- Dizem fe cha-
mou aífim .por fer alguma hora povoada por Francezes-
S- Pedro de Soportella, Abbadia da Mitra, rende trezentos milreis , tem
cento & oitenta vifinhos.
' S- Romão deNeyvahe Moíleiro deFrades Bentos, que fundou com grã-
des doaçoens Dom Payo Soares, a quem o Conde Dom Pedro chama Jpayo Paes
Caminhão, o qual era fetihor delias terras, em que fez elle pequeno Convento
noannode t ioo- porque ainda quefobre aporta da igreja diz:Era M^LXXy
itóepta fuit hic opera, que quer dizer: Xa ara de 1173 que he amo de Chritto
de. 11 tf.fe começou efta obra 5 naõ fe entende pelo Convento , fenão a portada^
A alguns pareçe felhe deu elle nome,& devia principiarfe por-S-Romão Abbade
da Ordem de S- Bento, que de França veyo a plantar fua forma de vida no anno
de 54.0. As grandes efmolas,quefe lhe fizerão,juntas com o Reguengo que El-
Rey Dom Affonfo Henriques lhe deu em Setembro de 1133. o engroífárão de
rendas, que os Monges antigos repartião com os peregrinos , & paflageiros-
Entrarão nelle Commenda t ar ios; o ultimo, dizem, que ornar àrão os parentes,
porque nãoquizrenunciar em hum fobrinho. No mefmo tempo houve a refor-
ma geral, em qucfedeu aos Mondes com pcnfaõ da terça parte, que o Papa Pio
Quartolhe poza Dom Alvaro deCaílro, Embaixador àquella Curia por El-
ReV Dom Sebaílião, de cujo Confelho era: que o gailar a mocidade fervindo ná
índia, aonde foy doas vezes com feu pay oGrandeDom João de Caílro,nãolhe
tirou o preílimo de o occuparem neíta, & nas embaixadas de França, Caílella,
& Saboya: que entre o eílrondo das armas tãbem fe aprende a politica das Cor-
tes, & mui tas vezes faz mais nellas hum valcrofo Soldado , que hum politico
Cortezão- Acõmodou-o brevemente de Commenda o Cardeal Rey Dom Hen-
C • ' rique,
^o8 TOMO PRIMEIRO
rique, com que o Convento ficou livre, & no primeiro Capitulo da Ordem, que
fe celebrou no anno de i 570-teve logo Abbade triennal, q foy Freyjoão de Ta-
vila. fi.no anno de jy^-devião applicarlhe as rendas a outra parte, porque
lhe puzerão Prefidentes, que duràrão doze annos 5 mas no de 1 60 5. tôrnàrão
a por-lhe Abbade. Eftá ávifta dos dous Morteiros de Palme, & Carvoeiro cõ
poucadiftanciadehunspara os outros. TemCura,aquém rendequarenta mil
reis, & para oito Religiofos que conferva, & gaftos da Congregação , & ou-
tras penloens, que paga, com as anntxas de S< Payo de Antas , Villa fria, &
Souto de Rebordaõs, tem mais de tres mil cruzados de renda : tem oitenta vi-
u ^0^ .
S-Martinho de Villa fria, Vigairaria do Moíleiro de S.Roftiao,q rende ao
todo quarenta mil reis, & para os Monges noventa mil reis , tem oitenta vifi-
nhos. Aqui eftá a quinta do Paço, que anda na família dos Alpoés, a de Sa-
bariz, que foy dos mefmos , da qual fe amparou o fenhor Dom Antonio antes
que fe embarcaífe para França.
S- Mamede de Deuchriííe, Vigairaria dos Conegos de Barcellos, rende ao
Vigár io cem mil reis, & duzentos ôefeífenta mil reis para os Conegos : tem fe-
tentavifinhos- ,
Santa Eulalia de Villa de Punhe, Vigairaria do Convento deTibaens, que
rende ao todo feífenta mil reis, & para os Frades cento & vinte mil reis , tem
cento & quinze vifinhos-
S Miguel de AlvaraensheCommenda deChriíto,&Reytoria da Mitra,
que rende ao todo cento & emeoenta mil reis, & para o Commendador com fa-
bidos, & annexas de S- Juliãode Freixo, & Ardegãomaisdefeifcétosmil reis:
tem duzentos & cinco vifinhos- Aqui ha ruínas de huma Torre chamada Syl-
veira; eftá em poder de Lavradores. Prefumo que nella viveo Dom Egas Lou-
renço, que chamàrão Dom Alvarats por cafar com mulher fenhora defte Solar,
como diz o Conde Dom Pedro tit. 46.fol.325. & ferião os fundadores defta
Commenda, & efle oSolardosSylveiras , air.da que o dos Condes de Sortelha
dizem fero-Morgado da Sylveira no Alentejo, & trazem por Armas em campo
de prata tres faxascarmczins, & quatro mcyasLuasdc prata prezas pelas põ-
tas cm campo azul, timbre hum Drago azul com huma das quadernas na eípa-
doa,ou meyoUífo de prata armado de vermelho fahindo de huma capella de
fvlvas, & por orla no efeudo hua fylva verde.
Noíla Senhora de MujaCs he Abbadia da Cafa de Bragança , que rende
duzentos mil reis, tem noventa & dous vifinhos.
S. Salvador de Portella S ufana, Vigairaria do Convento de Carvoeiro,que
rende ao todo quarenta mil reis , & para os Frades oitenta mil reis : tem
fetenta vifinhos.
Santa Maria de Carvoeiro, Convento antigo de Religiofos Bentos, tomou
o nome de huma grande Cidade que houve no alto de hum monte , que lhe fica
por cima, de que fe vem veíligios.Chamavafe Carbona pelo carvão, que alli fe '
fazia, agora Caramona,& o Convento Carvoeiro. Deftruíofe na invafaó dos
Mouros, &eftando ermo, &defpovoada efta terra, EIRey, que fe entende fer
Dom AíFonfo o Magno, a deu a hum fidalgo, que a povoaífe com fimples Colo-
nos. Elie fundou, ou reedificou o Moíleiro, ainda que alguns o attribuem a
Dom Payo Guterres, fendo q ue 1'e foy, feria em outra occafião, que fobrevieffe
fecunda ruína- Deu ao Moíleiro o Couto, que tem,de mero, & mifto império;
porque
r
o Dom Abbade he Juiz, & Ouvidor, fem Efcrivão , determina verbal-
1 mente
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. 309
mente os pleitos entre os moradores, fem appellação, nem ãggravo nomeá
Porteiro, 6c Achegado, que penhorão pelas dividas que ao Moíteiro fe devem*
Scmanda porem pregão, 5c remata; ainda por crime não vão querelar a BarceP.
los (que he a quem toca) fem licença do Abbade. tudo, quanto poffuem de
bens de raiz, he do Convento íimples Colonia, nem alguma tomada de monte he
fua, 6c quando aquerem doar,outíefpaíTarâoutro, a largaonas maós do Ab-
badc, para queda fua a dem a quem querem, nem lhe entra alli outra J uítiça; 6c
também he deite Couto a Freguefia de S- Lourenço de Dorlaés , em que as fa-
zendas faõ do mefmo Convento- Tem boas cellas feitas ao moderno ; a Tgrejá
he couía antiga, & tem algumas fepulturas de fidalgos, que nellas fe enterràrao,
como faõ Nuno íiares Velho, o que comprou o quarto do Moitei.ro dc Varzea,
5c a quem o Conde Dom Pedro chama o Poítrimeiro, em differença do primei-
ro, que foy feu avô. E eíte neto he o que por querer moítrar #a feu filho Pedro
Veino, que Simão Nunes Curutello , com quem andava brigando em defafio,
trazia hum olho defcuberto por ondeobufcaífecom a efpada, carregou tanto
no feu, que o lançou fóra. Dom Gomes Pires de Maceyra, que fez o Moíteiro
de Santa Maria de Souto em Guimaraens, calado com a irmaã de Dom Sarrazi-
noOzores, que também aqui eitá fepultado , dequemFrey Bernardo de Brito
diz fer filho de Dom Ozono Vellofo, Conde deCabreyra , neto delRey Dom
Ramiro o Segundo. O que mais authonzâ eíte Convento, he eítar nelle fepul-
tado em monumento alto junto da Sancriitia com hum arco por cima o fanto
Dom Pedro Aífonfo,Dom Abbade deite Moíteiro. Entràrão nelle Commenda^
tarios, de que foy o ultimo Pedro da Gran , que 11a Igreja de Santiago de Bra-
ga fez a Capella das Chagas; faleceo no anno de 1602 • em que foy eleito pri-
meiro Abbade triennal depois da reforma Fr. Prudecio de S< Thomè: 6c jâ an-
nos antes a mefa Conventual era governada por Priores Monachaes. Tem no-
ve Religiofos, 5c Cura fecular com quarenta mil reis de renda , ôtparâ»os Fras
de^ com as annexas deQuintaes, Portella Suzana, S. Martinho de Aborim, fa-
b;dos,5c proprios mais de tresmil cruzados, de que pagão para outras Cafas,
alem de tres Igrejas de fua aprefentação com alternativa, em que entrão Navió,
& Santa Maria de Trebofa: tem cento ôcfeífentaòc dousvifmhos. Neíta Fre-
guefiahe OiSolardo appellido de Carvoeiro, que tem por Armas em campo de
prata doze fobreyros de verde, cada quatro em faxa com tres palias de verme-
lho, que os ãpartão, timbre huma afpa do mefmo carregada de fete bolotas de
ouro, 5c deites deve fer aquelle Carvoeiro de Évora, de que falia o Conde Dom
Pedro.
Santiago de Poyares, Vigairaria do Meftre-efcolado de Braga, de quem he
annexa, tem vinte mil reis de ordenado, ao todo cem mil reis, 5c para o Meftre-
efcola trezentos 5c cincoenta mil reis: tem cento 5c cincoenta vifinhos.
S. Martinho de Balugaés, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis, te
noventa vifinhos.
. S. Salvador de Navio, Abbadia do Moíteiro de Carvoevro, rende cento 5c
cincoenta mil reis, tem trinta 5c cinco vifinhos.
S. Julião de Freyxo, VigayrariaqueaprefentaoReytor çkAlvaraens , dç
quem he annexa, tem dez mil reis, ao todo feífenta mil reis, 5c para o Commé-
dador cento 5c cincoenta mil reis: terricento5c quarenta vifinhos. Aqui eitá o
antigo Çaítello de_Çurutcllo com torre, 6c muralhas, do qual forão fenhores fi-
dalgos grandes daquelles tempos, que fe appellidavãoCurutellos. Em hum al-
to monte, que lhe ferve de padraíto,eitá huma fer mofa Capella muito antigá,
mas
,I0 TOMO PRIMEIRO ^
m. ft-hrm ohrada,cuio Padroeiro he S- Chriftovão , ch amado aqu
rSS«LpaoTSos1Saz,a , caufa de antes do anno de ,6+0. w
q .1 n(irrL>m romaria tanta gente, particularmente de Galliza, que vou
*è£^SS^ÍS2?fc«Sd^deRSa«»s. Poreft.-ul^&pur»» do-
t an"& quarto neto de Noe, ou dos netos deOffir , que a ella vierão- Alguns
n.iÊrem felhe deduziffe de Nuno dc FariaTTiumyirodos Romanos, ou deJFji
ra natural defta Província, Virgem fanta,&Monja de S. Bento >que em tempo
dos rodos alcançou o reynado de feis Príncipes que fuccederao deíde Sca*
buto a Flávio Chindafvindo, ou de outra Fareyra,de que fe acha memoria no
Mofteiro de S- Simão da junqueira, a quem fez hunu efcritura na e a '3 P
qUeV
Meylk«oâac1mld6a7barra do rio Cavado da parte do Sul em fitio areofo
f{\(* fundado o luaar de Fão, que antigamente, antes que as areas o perfeguif
fem unto!fov^povo mavor, & muy conhecido pelo nome de Aguas Ce:enas, de-
rivado do rio Celano, out ciando, fundado a meu ver pelos Celtas ,como di-
oo adiante & aqui fe celebrou aquellefamofo ConciUocQQtraosPrifcilianos,
em que prefidio S. Toribio, ou por feu talento , ou por achaque do noíTo Pri-
maz Balconio, que depois o confirmou, &tãbem porobfequiolhc daria aquelle
limar nelle, por fer daqui natural ; objecções com que alguns querem divert
fernefte lu°ar, para o levarem a Qalliza, & outros a Barcellos- E de era ° P°"°
/ re havemos de dar credito a tam certas hiílorias) era que le carregava o de
rodefteOffir as frotas daquelle fabio Rey, & depois o foy das Armadas , com
cue os Romanos conduzirão gente para conquillar Braga, & as terras a ella o-
oeitas que erão muitas, fendo eíla huma das cinco vias Romanas, que para a-
quella AuguftaCidade havia- Tem Juiz pedaneo,& homenshonrados, coque
fe governa, feitos por eleição annual do povo, a que vem prefidir a Camara
BarceUos, de quem he fogeito- O Juiz, & adjuntos fazem Almotaceis: tem E -
DA COROGRAFIA PORTUGUESA; pt
cri vão das Sizas, 6c Impofição, data da Cafa de Bragança 3 que leva dé cinco
peixes hum> coufaque ordinariamente paffa defetecentos mil reis,porfer aqui
amais notável pefearia da Província. Tem os mayores barcos de pefear de -
quanto Te conhecem, tam veleiros , ôc ajudados dos remos pelos muitos ho-
mens, que levao, que fe nàõ lembra que inimigos tomaíTem algum. Outra meyá
íegoa da barra defronte defte lugar não muy defviado da ccíia eílão os famo-
fos cavállõs deFaõ celebrados dos Mareantes, cujas noticias dão os Mapas 3
6t Cartas de marear Taõhuns penhafcos,que correm de Norte a Sul perto de
hum quarto de legoa,baílantemente metidos ao mar, com que entre elles, & a ■
terra bordejão navios ;fó huma barra tem capaz de fe entrar neíferefayo , mas
he de modo, que fiunca inimigos fe atreverão a entralla, inda vindo acofíando
àlgumá embarcaçaõ, que a elle fe acolheíTc- Nelles fe acha no baixa - mar muito
marifeo: defde Janeiro até dia de Pafccàhà eílacadanorio,em que fearma de
noite com redes, 6c nellas fe pefeão falmoens, íris, faveis, lampreas, trutas, ôc
relhos. A terra dá trigo, milho, linho, 6c bons alhos, fó de lenha padece gran-
de falta: antigamente teve marinhas de fal, cujos dizimos no anno de 1 i8-deu
ElRevDom Affonfo Henrique--aos Monges de NoíTa Senhora da Abbadia. No,
lugar ha Cafa da Mifericordia,Hofpital,6chumaParochiada invocação de Saô
Payo, Reitoria da Cafa de Bragança,de quarenta mil reis, ao todo duzentos mil
reis com as offertas do Santo Chrifto, 6c os dizimos importão mil cruzados;
erão antigamente do ChantradodeBarccllos,hoje he fóafextaparte,6c as cin-
co leva 0 QeãodeVillá Viçofa,aquemfeapplicàrão: tem trezentos vifinhos>
quali todos pefeadores. Na entrada do lugar para o Nafcente eflá a Capella de
NoíTo Senhor com a Cruz às cofias, que alem dos muitos milagres , que obra,
em quem a invoca, mete refpeito, 6c devoção. Hetamjantiga, que não fe averi-
gua donde veyo: huns dizem que de Inglaterra , outros que fe fez em Viana;
Vifítaõ-iiaaquelles contornos com prociífoens,ôc clamores em muitos dias do
anno, particularmente no de S. Frey Pedro Gonçalves, & no da V iíitação de S;
Ifabel. Daqui erão aquelias duas neceífitadàs mulheres, de que huma cega, 6c
outra furda forão ao fepulchro de S. Pedro de Rates a cobrar vifta, 6c ouvir-
S. Salvador de Fonte boa, chá mou-fe em feu principio Fonte mar,por eíla-
remàvifla,6cdepois Fonte má da roimaguideíuafonte, a qual pelo tempo
adiante fe foy melhorando, 6c fe chama hoje Fonte boa. He Abbadia do Ordi-
nário, teve em feu principio duas annexas, NoíTa Senhora da Graça , que eftâ
unida à Matriz, 6c fó conferva a que fe fegue, com que rende dous mil cruza-
dos ; tem cem vifinhos. Pouco acima da Barca de Lago eftão ruínas de Caílello,
aque chamão Craílo, que fe prefume fer de Romanos. Chega ao rio, aonde cha-
mão o Poço da batalha, por huma que alli tiverão Chriflãos com Mouros: eftes
hiaõ retirandofe,6c os noífos os forao carregando em forma, que já muy diftan-
tes,donde principiàrão o choque,os âcabàraõdevehcer por onde corre hum
pequeno rio, que fe mefe no Cavado, cujas aguas créfcèraõ, 6c fe tingirão cõ
o fangue dos mortos, 6c por iífo lhe ficou o nome de Rio tinto.
S-João de Barqueiros, VigairariaannexaaFonteboa, rende ao todo qua-
renta mil reis, tem quarenta vifinhos.
Santa Maria da Eftella, que algum tempo fe chamou Villa Menendi, he Vir
gairaria do Convento de Tibaens, que rende ao todo feífenta mil reis, ôc para os
Frades duzentos 6c trinta mil reis: tem feífenta 6c tres vifinhos; Foy eftá\ter-
ra do Conde Dom Mem Paes Bufinho^tronco dos Azevedos, 6c fenhór de Villá
do Conde, o qual com feu filho Hermenegildo Mendes venderão eíla herdade a
Dòml
TOMO PRIMEIRO
?:om Mendo terceiro Abbade de Tibaens 'dSÍ
lhes deu, moeda daquclle tempo, que1 Jí^tou a Qom Ordenho quarto Abba-
' ** °Ab--
sa^rÉâSSBsi
SB==fe-
SaBBgegfêgfflg
& Solar defte nobre appeHido,de quenao foWcendea ^^
& muita defta Província, mas Ca^b §r delRevDom Affonfo Henri-
ísssgsassStí=a.í.7ss
nhCS
S. Chriftovão de Riomao foy Convento de Conegos Regrantes de Santo
Accftinho, & o achamos jà fundado no anno de 1122. mas não fabemos por
quem. Teve fempre Prelado, & Clérigos raçoeiros, que rezavão em Coro as
Horas Canónicas atèoannode 1418. em que o Arcebifpo Dom Fernando da
Guerra o unio ao de S. Simão da junqueira feu vifinho, & da mefma Ordem por
Breve do Papa Martinho Quint o , comobrigaçamdeque femprenefte de Saõ
Ch rido vão refidiífcm dous Frades, 0 que já fe não obferva. Tem fó V ígarto
fecular, que aprefenta o Mofteiro de S. Simão, rende ao todo cem mil reis, & pa-
ra os Frades duzentos mil reis: tem cento & dez vifinhos. Aqui eitá a quinta
da V arze, coufa antiga, que anda unida à de Cavalleiros.
S. Mi-melde Arcos, Vigairaria que aprefenta o Meflre-efcola de Barcel-
los,a quem rende cento &vmté mil reis, & para o Vigário cincoenta mil reis:
tem fetentaSt dous vifinhos. , ,
S- Miguel deChorentehe Commenda de Chrifto, & Reitoria do Ordiná-
rio, que rende ao todo cem mil reis, & para o Commendador trezentos & cin-
coenta mil reis com as annexas de Santa Marinha de Paradella,& a que ie fegue:
tem cem vifinhos- . . _ .
Santo Adrião de Macieira , Vigairaria que aprefenta o Reyror de Cho-
rente com dez mil reis , ao todo feflentamil reis, tem noventa & tres vifi-
nhOS
*Santa Jufta de Negreiros, Abbadia da Mura , rende cento & vinte mil
reis, tem fefienta vifinhosT
S. Fins de Gondefellos, Abbadia da Mitra , que rende com a annexa ex-
tiníla duzentos & cincoenta mil reis, tem cem vifinhos.
S. Braz de Chavão, Commenda de S-joão de Malta, & Vigairaria do Com-
mendador,rende oitenta mil reis, & para o Commendador com a Capella anne-
xa de Santa Martha em Barccllos, & fabidos perto de dous mil cruzados : tem
cento & cinco vifinhos. .
S. Salvador de Minhotâés he Commenda de Chrifto, & Reitoria da Mitra
com quarenta mil reis, ao todo íetenta mil reis, &. para o Commendador, com a
annexa feguinte,duzentos & cincoenta mil reis : tem cincoenta & iete vifi-
nhos. .
S. Mattheus de Grimancellos , Vigairaria que aprefenta o Reytor de
Minhotâés com dez nul reis, ao todo cincoenta mil reis : tem cincoenta & feis
vifinhos. . .
Santa Maria deNinedáquem,heCommcnda de Chrifto , & Reitoria da Mi-
tra, que rer.de ao todo cem mil reis,& para o Commendador duzentos mil reis:
tem cem vifinhos.
S. Miguel daQirreira, Vigairaria dosCoreiros de Braga , que rende ao
todo
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA; 315-
todo fetenta mil reis, 5c pará os Corèiros cento & vinte mil reis: tem cem vizi-
nhos.
S. Romão de Fonte coberta he Commenda de Chrifto,& Reitoria dá Mitra,,
que rende ao todo feíTenta mil reis , & para o Commendador com a annexa íe-
guinte duzentos & cincoenta mil reis: tem trinta & cinco viíinhos;
S- João Bautifta de Syl veiros, Vigairaria que aprefenta o Reitor de Fonte
coberta, de quem he annexa, & nella refide, & o Vigário na Matriz , tem oito
mil reis, ao todo oitentamil reis :& confia de fetenta viíinhos. Aqui eftà a
Cafa de Villa meã de fidalgos honrados do appellido de Correas, deícendentcs
dos Fralaes, que delia forão fenhores.
Santa Cecilia de Viljaça, Abbadia que aprefenta Fernão de Souía, fenhor
de GouveadoTamega, tem cincoenta viíinhos.
S. Bertholameu de Tadim, Abbadia do Ordinário , rende duzentos mil
reis, tem fetenta viíinhos.
Santa Maria de Siqueyra, Abbadia do Ordinário , rende quinhentos mil
reis, tem cento & vinte viíinhos.
S; Miguei de Cabreiros, Vigairaria do CabidojJe Braga, rende cincoenta
mil reis , & para os Conegos oitenta mil reis : tem fetenta & quatro viíi-
nhos.
Santiago de Sequiade, Abbadia da Mitra j que íe compoem de tres igre-
jas, qual he eífa, tem feíTenta & fete viíinhos.
S. Pedro de Sá, aonde vay o Abbade de Sequiade dizer MiíTa hum Domin-
go, outro vem os FregueZes a Santiago, rende com a annexa feguinte duzen-
tos & vinte mil reis, tem quarenta viíinhos.
Santa Comba de Curujaes he Curado do Abbade de Sequiade cõ feis mil
reis, ao fodo vinte & cinco mil reis: tem vinte Ôt feis viíinhos*
S* ^ay° de Midoes, Vigairarjados Loyos do Porto, que rende ão todo fe-
tenta mil reis, & para os Frades cento & cincoenta mil reis, tem fetenta & feis
viíinhos»
S. Pedro de Oliveira, Vigairaria da Mitra, rende feíTenta mil reis , & parâ
o Arcebifpo oitenta mil reis: tem cincoenta & cinco viíinhos.
Santo Eílevão de Baíluço, Vigairaria da Collegiadade Valença, páraqaiem
rende trinta mil reis, & para o Vigario vinte & cinco mil reis ; tem trinta &
dous viíinhos»
Santa ChrifHna da Poufa, Vigairaria annexa à Abbadia da Graça.em Ti-
baes, rende o mefmo que a de Baftuço, tem oitenta & dous viíinhos.
S. João de Gamil foy Abbadia fecular 5 fendo delia Abbade Eftevão Ferrei-
ra, filho da Cafa.de Cavalleiros, a deu às*Freiras de S. Francifcode Val de Pe-
reiras, por lhe aceitarem humas filhas que tinha. He Vigairaria defte Mofteiro
com oito mil reis, ao todo feíTenta mil reis, & para as Freiras cento & vinte mil
reis: tem quarenta & fete viíinhos.
Saiita Eugenia, VigamariadosLoyos do Porto com oito mil reis, ao todo
íeífenta mil reis, & para os Frades cento & trinta mil reis : tem fetenta vifí-
nhos. Dizem foy antigamente Couto de Guimaraens, & por caffigo,& privi-
légios que tinhão, erão os moradores obrigados a irlhe varrer as ruas ; mas
fendo muy prejudicial a Barcellos haver aqui eíie Couto tarn feu viíinho , cm
que íe recolhião feus criminofos, donde fahião a rouballos, lhes derão em troca
as duas Fregueíias dsjCunha, &: Ruylhecom a mefma obrigação.
Santa Mana de M^tim heTxmeíicio fimples^kSuaJantidade , aprefenta
Dd ij Vi-
TOMO PRIMEIRO
V igario com oito mil reis, ao todo feíTenta mil reis j & para o Beneficiado cent o
& quarenta milreis: tem cento & feis viíinhos.
S • Julião de Paços, Abbadia da Mitra, rende cento & feíTenta mil reis, tem
noventa & feis vifmhos •
SAõ Salvador de Villar de Frades foy Mofteiro de Monges Bentos, que fun-
dou S: Martinho de Dume, & padecendo a mefma ruína que os mais na in-
vafaõ dos Mouros, citava todo por terra, quando pelos annos de i ioo- o re-
edificou Dom Godinho Viegas- Teve V aroens muy lautos,& entre elles aquel-
le Tanto Abbade, que dormio a quantidade de annos, que muitos con tão 5 mas
crefcendo a malignidade humana, & atenuandofe a devoção, fe depravou nclle
tanto aboa Regra de S-Bento , que com a falta da virtude fe acabárão nelle os
Religiofos: aflimeftavano anno de 1+25. em que o Medre João , depois Bif-
po de Lamego, & Vizeu,natural de Lisboa, & famofo Medico delRey Dõ João
o Primeiro, Affonfo Nogueyra, filho de Aíloníb Annes Nogueira , Alcayde
mór de Lisboa, depois Bifpo de Coimbra, & Lisboa, Sc Martim Lourenço gra-
de Predador, dando de mão ao mundo tratavão de fe apartar do trafego fecu-
lar,&de occuparfe na cultura de fuás almas; cuja noticia chegando a Dom Vaf-
co,fegundo Biipo do Porto,os chamou para aquella Cidade , em que lhes deu
para fua morada a Igreja de Santa Maria de Campanhã ; mas fendo promovido
para oBifpado de Évora, & experimentando menos favor no que lhe fuccedco,
& arãde no ArcebifpoDom Fernando da Guerra, que para aqui os couduzio,
lhe aceitàrão a doação que do Convento lhes fez com mais doze Igrejas , em
que entrava o Mofteiro de S. Bento daVarzea,concedendolhes alguns privi-
legiôsõrdínèíos, quaes íaõ os de prover os Vigários, & Curas de luas Igrejas
femapprovação do Prelado, pondolhefó de obrigação , que o Rey tor , quando
pela c5ommunidade foífe eleyto, antes de exercitar efta dignidade, viria a Bra-
oa tomar a confirmação do Arcebifpo, a quem pagaria hum real de prata, co-
mo inda hoje feobferva. Tomarão por Padroeiro a S- JoãoEvangelifta,& ha-
bito, mur ça, & barrete azul; Conegos feculares^jm a mefma Regra, que a dos
de S.Jorge de Alga, que podem fahir,&fazerem-fe Clérigos , porquenão pro-
feffaõ Rdigião perpetua. Eftefoyo primeiro Convento que efta Religião te-
ve, & fov cabeça de toda a Ordem, atè que a Rainha Dona Ifabel , mulher del-
Rey Dom Affonfo o Quinto lhes deu o Oratorio de. S; Bento de Xabregas em
Lisboa (aonde feu pay o infante Dom Pedro governando efte Reyno na menor-
idade de feu fobrinho, & genro, o dito Rey Dom Affonfo o Quinto lhes tinha
dado o Hofpital de Santõ Eloy por Bulla do Papa vl ugenio Quarto, de que 1 hes
vierão a chamar Loyos) poraffeição que tinha a S. João Evangel ida, &ao bõ
viver defies filhos, fez que em Lisboa foffe a cabeça delia Congregação , que
tem dado muitos Varoens de exemplar vida. Aílim dedizimos,comode fabi-
dos, & proprios tem doze mil cruzados de renda, com que fuílenta feíTenta Re-
ligiofos ;hefermofo Templo, por haver aqui a melhor pedra deft a Província,&
nclle "randes relíquias, como he hum retalhodomanto de Noffa Senhora , que
he depano azul, outra do Santo Lenho, & muitas de Santos , hum lingular or-
gão com charamellas, que nem todos os Organiftasjabem tanger; tem boa cer-
ca com dilatada mata, regaladas fontes, hortas, & pomares; o celebrado poço
do
«r
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 317
do Lago no rio Cavado alii vifinho, em que morrem muitos falmoens ,trutas,
relhos, efealhos, bogas, & lampreas. A Fregueíia he Couto feu, compoemfe de
quatro, a do Moileiro, & de S. foão de Areas , & a*de Santa MariaMagdalcna,
cuja renda faõ feífenta mil reis, applicada aos Romeiros de Santiago, que fe ex-
tinguirão, & vem aqui os freguezes, & a feguinte.
Santiago de Encourados, Curado do Mofteirocom oito mil reis, ao tedo
quarenta mil reis,&todas temduzentos vifinhos. Aqui he o Solar dosfidal-
gos do appellidode Encourados, de que falia o Conde Dom Pedro: & fuppof-
to faz dilferentes a Fernão Sylvcíire de Encourados de Dom Sueiro Mendes de
Encourados, erãodeíla Gafa ambos.
S- Pedro de Adacs, Curado domefmo Moíieiro , que rende ao todo cin-
coenta mil reis,¶os Fredes cento & trinta mil reis , tem cento & vinte
vifinhos.
S. Jorge de Ayró, Curado do mefmo Convento, que rende ao todo oiten-
ta mil reis, & para os Frades com a união de S. Bento da Varzea,&feus fabidos
duzentos & cincoenta mil reis: tem cem vifinhos, em que entraõ os da Fregue-
fia feguinte.
S-Bento da Varzea foy Moíieiro antigo de Monges Bentos, fundado por
S- Martinho de Dume, & o aífolàrão os Mouros,como aos mais, & o reedificou
de novo pelos annos de mil & tantos Dom Suevro Guedes da V arzea ( aflim
chamado, por viver nefte lugar) neto de Dom Arnaldo de Bayão,& he para fa-
zer reparo em que os mais dos bemfeitores dos Conventos erão defcendente9
defte fidalgo, a que podemos- attribuir confervarfe tanta defcendencia fua com
muita fidalguia, & nobreza: feu bifneto Nuno Soares Velho o Poíiimeyro com-
prou hum quarto delle aos mais herdeiros, & inda o habitavão eífes Religio-
1'os pelos annos de 1 3 30. extinguio-fepor falta de Monges, & paffou a Abba-
dia fecular,que poífuía,& renunciouae.Mofteirode Villar , em que entrou
Religiofo,& acabou fãtaméte Vafco Rodrigues, Chantre de Braga, confirmando
a união o Arcebifpo DomFernandcTda Guerra. Os Frades depois o extingui-
rão de Parochia unindo os freguezes a S.Jorge. Permanece a Igreja como Ca-
pella com a devota Imagem de 5. Bento, que pelos muitos milagres que obra, he
vifitada em muitos dias do anno, particularmente nos feus de 21.de Março, &
11. de Julho, & em ambos ha feira franca ;& tanta he a devoção que lhe tem,
que os Romeiros lhe hião rafpando os pès,& habito para relíquias, a que acu-
dirão com o cercarem com gradinhas de ferro. Alguns querem que efte Mof-
teiro fofie duples, ou ao menos que de Monges paiTaíTe a Monjas da mefma Or-
dem, & que entre ellas houve duas, & huma Abbadeça Santa-, St que eila eíiá no
adro, de que levão terra para mezinhas, em que obra milagres ; em roda delia
eílão as duas Freiras, mas, anenhuma fe fabe o nome. Tem efta Freguefia o no-
me de Ayró de hum grande monte, que nella começa , & fe eftende por outras
Parochias, todo muy regado de fontes de bella agua , com quehefertil depa-
ft os, & arvores, em que fe dá o melhor vinho de enforcado,que defte genero ha.
Nelle cftão veftigios de muitas fortificaçoens com titulo de Torre velha , «Sc
CaftelIos:hum he o de Penafiel, que dá nome a hum defies dous julgados,& com
titulo de Condado anda encorporado na Cafa de Bragança , do qualfoyfe-
nhor Mendo Nunes de Penafiel, Rico homem, & hum dos que aífinàrão nos fo-
raes,que aRainhaDonaTherefa,&o Conde Dom Henriquederão avariasteç-
ras, & na doação,que a dita Rainha, & feu filho o Infante Dom Affonfo Henri-
ques,noífoprimeiro Rey, fizerão no anno de 1110. doCaftello de Goes por ci-
Dd iij ma
8 TOMO PRIMEIRO
m dc Coimbra a Dom Anito da Efeda, que fe conferva em feus dcfcendcn-
rcs Condes de Fieuciró: confirma Hcrmieio Moniz,fenhor deite Callello, do
qui fez doação EIRey Dom Affonfo Hénques ao ArcebilpoDom Payo Mendc?
no anuo de 1.8- Eaopèdomonte para o Poente efta o Paço de Vil asboas co
fua quinta A Caía,Solar defta família, vem-fe ruínas de Torre, ou Çattedo., cm
que vivião os fidalgos antigos fenhores delle , & que antes do principio defc
Reyno ganharão cous Caftellos aos Mouros, comofoy ode Penafiel, de que
tomarão por Armas huma Torre no meyo de dous homens armados, cada hutn
com fua lança na mão, das quaes ularaõ ate o tempo delRey Dom Pedro,em que
DAo Femandesde V illasboas, fenhor delia Caft , por nto haver guerra no
ReynO, fe foy à de Granada lervir a EIRey Dom Pedro deCaitella ,o qual tendo
defitiohum Gaftdlo,deráo a DiogQ Fernandes em Domingo de Ramos huma
palma benta, & tomando, diffc: "]* <> aoJpojto o Santiago que amanhimor.
to, ou vivo a vorey na mais alta torre âaquelle Caftdlo: ôedandoie oaffalto no dia
feguinte, foyacaufa de fe ganhará por a palma aonde havia dito , levandoa a
todos, pelo que todos o trouxeraõ nas palmas 3 & aflim por eíle , como por
outros randesferviços, que fez áquelle Rey, o honrou muito , & lhe deu as
Armas,de que ufaõfeusdelcendentes,queíaooefcudo efquartelado; no pri-
meiro em capo vermelho húa Torre,ouCailello de prata de tres Torres co por-
tas,lavrado de preto cõhúa palma verde entre as ameyas da Torre do meyo: no
fegundo em campo azul hum Drago de prata volante, armado de vermelho co
o rabo retorcido, & o ramo de palma na boca, & aílim os contrários. Conferva-
feeíla Caía por varonia nos fenltores queapoífueni , que ao Ignacio de San,-
payo & feus irmãos o Doutor Antonio de Víilasooa s & Sampayo, I rovedor
que foy de Coimbra, hoje Dciembargador do Porto, Auihor^JiVra^ que k
intitula,Nobiliarquia Portugueza; & João de Carvalfío de Calldbranco , Juiz
dos direitos Reaes de Barcellos. Tem GpidLa^ReT^
deVillar de Frades,õenefta quinta logo a entrada do portal o mayor cedro,que
no Reyno vi, onde eftas arvores faõ modernas.Os efue vem de Pedro d&Villas-
boas trazem por Armas em campo verde hum Dragão preto volante com a cau-
da levantada, & lingua de prata. He tradição que nefte Raço viveo Gonçalo
r il de Ayró, a quem o Conde Dom Pcdro diz^acàraõjtaJ^j^e eu cuido
fcr a ferra da Corveã ; foy cafado com Dona Urraca Annes , filha de João Lou-
renço da Maceyra, de q ue teve a Dona Urraca Gd, mulher de Dom Sueyro Men-
des deEncourados, & D- Mór,ou Mana Gd, mjdhcrde Martim Soares Pache-
co fem geração; mas olivro antigo lhedamaishum filho , chamado Affonfo
Gil-de que alguns entendem deícenderem osVillasboas , íenhores defta Ca-
1*1 Res Iegoas de Braga, & huma grande do rio Ave na ertrada do Porto vi-
veohum Vendeyro,a que chamavãoFameliaõ , & como crte foy o pri-
meiro que aqui fundou cala, & junto delia fe augmentouopovo em fórma,que
felhe deu titulo de Villa-nova, & de Familiaõ pelo principiador, a que o tem-
po corrompeo em Famelicaõ: cafou eífe com huma criada dos Condes deBar-
cellos chamada a Mota, a qual plantou allihum carvalho, aonde inda hoje por
effa caufa chamaoo Carvalho da Mota. O fitio, com fer baixo,nam tem fonte,
fe bem fe fatisfaz de hum pequeno rio , que inifturado com o de Santiago de
Antas, fe vaõ meter no Ave pouco acima da ponte de Lagoncinha- Tem feira
franca de quinze em quinze dias à quarta feira, & em dia de S. Miguel de Sete-
bro, outra de bertas, & gados: habitaõ-na cem viíinhos. Em feu principio teve
juiz ordinário, agorahepedaneo; julga fem appellaçam até hum cruzado; faz-
fe por pelouro, & eleiçam triennal do povo , a que vem prefidir o Ouvidor de
Barcellos, hum Almotacel,& Elcrivaõ fem notas , Meirinho, que também he
Porteiro, ambos data dos Duques, os quaes tem aqui hum Paço, a que chamaõ
Foral, com huma quinta emprazada a Domingos Thomè da Fonfeca; & dentro
da caía eftá huma coluna dedicada ao Emperador Elio Adriano. Tem húa 1 gre-
ja Parochial da ínvocaçamdeS- Maria, que he Abbadia da Mitra , & rende du-
zentos mil reis.
Santiago de Antas foy Moíleiro de Templários, he fagrado, partou a Ab-
badia fecular de Padroeiros leigos da família de Mayas; hoje he dos Condes de
Penaguião,Marquezes de Fontes,rende cõ a annexa feguinte hu Conto de reis:
tem dous Benefícios íimples de quarenta mil reis cada hum , data, & collaçam
do Abbade: tem cento & leis vifinhos.
S- Miguel de Gimunde foy Padroado do fenhor da quinta de Joaõ Aífonfo
de Sá, tronco defta illuftre família; depois fe unio à de Santiago de Antas , de
que he Vigairar ia annexa com doze mil reis , ao todo vinte & cinco mil reis:
tem doze viíinhos. Aqui ha huma quinta antiga com Torre , que poífue agora
Antonio Pinheiro Touro.
Santiago de Gaviaõ, Abbadia do Ordinário , rende'duzentos & trinta
mil
t'
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 315:
mil reis , tem noventa viíinhos.
Santiago da Cruz, Abbadia da Cafa de Bragança , rende cento St oitenta
mil reis, te oitenta viíinhos. Aqui eftá a Quinta, St Morgado de P indel la, q ha
annosanda na família de Pinheiros defcéndétesde Branca Pinheiro , Sc de fcu
marido o Doutor Diogo Affõfo de Carvalho; St por efta via por hú laftimofo ho-
micídio que fe fez em Jofeph Pinheiro, entrou agora nelle Dona Ifabel de Soufa
de Lima Figueyra, mulher de Manoel de Vafcc cellos de Soufa, fenhores da Ca-
fa de Linhares em Regalados.
Santiago de Mouquim foy Abbadia fecular,que teve o Abbade Diogo Pi-
nheiro, filho natural de Alvaro Pinheiro Lobo, fenhor das Cafas, St Morgados
dos Pinheiros em Barcellos, St a deu ao Mofteiro de Val de Pereyros , por lhe
aceitarem por Freyrashumasfuas filhas, entre ellasFrancifca Pinheiro, de que
defcendcm fidalgos honrados. He Vigairaria defte Convento , que rende ao
todo cincoenta mil reis,6t para as F reyras cem mil reis : tem feífcnta Sc dous
vifinhos. Aqui haduas quintas antigas, & de nome, a da Juncofa comhua Tor-
re, foy da familia de Prado, Sc hoje anda repartida: & a da Cofta , ramo dos Pi-
nheiros de Barcellos, poffue Dona Luiza Pinheiro, mulher do Capitaõ Antonio
Arrays, que com ella cafou em Villa do Conde.
Santa Lucrécia da Ponte do Louro he Abbadia , que algum tempo foy do
Mofteiro de Oliveira de Conegos Regrantes, cujo Prior àinftancia delRey Dó
Joaõ o Segundo a deu a Diogo Pinheiro Lobo, de que acima falíamos. Hoje he
do Ordinário, rende trezentos mil reis, tem cento & cincoenta St dous viíinhos,
St huma Ermida de S. Frey Pedro Gonçalves Telmo, a q chamaó Santo do Mon-
te ; fefteja-feà fegunda feira da Pafooela, a que concorrem muitos clamores das
F regueíias viíinhas.
S. Salvador de Lemenhe, Vigairariada Mitra com feis mil reis, ao todo fef-
fenta mil reis, Sc para o Arcebifpo noventa mil reis : tem feífcnta St dous viíi-
nhos, Sc huma Capella de NoíTa Senhora de Agua levada, Imagem milagrofa, Sc
advogada dos Mareantes com romagem em todo o anno , particularmente no
dia de fua Annunciaçam, em que a feftejam.
S. Miguelde Jefufrey foy annexa de Lemenhe, he Vigairaria do Arcebif-
po, a quem rende oitenta mil reis: tem o Vigário fete mil reis de ordenado , ao
todo trinta mil reis: tê quarêta Sc cinco viíinhos. Aqui ha húa Cafa antiga q cha-
maó o Paço, nam defcobrimos de que familia foy, foque a poífuemhoje os Ere-
mitas de S. A golfinho do Convento do Populo de Braga.
S. Miguel de Guizande, V íaairaria que aprefenta o Rey tor de Lomar em
Braga, de quem he annexa, tem doze mil reis , ao todo vinte St cinco mil reis,
outro tanto para o Commendador: tem trinta St fete viíinhos. Aqui eftá o al-
to monte de S.Mamede com veftigios defortificaçam , Sc feria notável ; mas
quando fe valèraô de feu preftimo, nam fabemos.
Santa Marinha da Portella , Vigairaria que aprefenta o ds Ferreiros em
Braga com oito mil reis, ao todo quarenta mil reis, St para os Padres da Com-
panhia daquella Cidade feífentamil reis: tem feífentavifinhos.
Santa Marinha do Valle de Outeiro he Vigairaria femelhante com oito
mil reis, ao todo cincoenta mil reis, Sc para os Padres cem mil reis: tem cem vi-
íinhos.
Santa Maria de Telhado he Abbadia da Mitra, a que fe unio a Parochia de
Aziveyro, hoje extinêfa, rende trezentos mil reis , tem fetenta Sc dous viíi-
nhos-
Ee Saõ
3t6 TOMO PRIMEIRO
Sao Salvador dc Joanne foy Mofteiro de Templarios ,hoje he C ommenda
de Chrifto, & Reitoria da Mitra com quarenta mil reis , ao todo cento & cin-
coenta mil reis, & para o Commendador quatrocentos mil reis : tem cento &
oitenta viíinhos. Aqui emhuma alta ferra, chamada daCorvcan, eftaò muitas
ruínas de hum Caftello, donde fe dominava grande quantidade de terras, fervi-
ria no tempo dos Mouros. .
S- Martinho do Valle, Vigairariada Mcfa Arcebifpal , rende ao Vigário
cem mil reis, ix. parao Arcebifpo cento & quarenta mil reis : tem cincoenta vi-
íinhos. ..
S- Martinho de Poufada de Saramagos, Vigairaria do Mofteiro de Olivei-
ra com dez mil reis, ao todo trinta mil reis, & para os-Frades cincocta mil reis;
tem vinte & cinco viíinhos- ... . , ..
Santa Maria de Vermoim , Vigairaria domefmo Mofteiro com doze mil
reis, aotodofctenta mil reis, & para os Rcligiofos cemo Sc cincoenta mil reis:
tem cento & dez viíinhos.
S. Colmade foy Mofteiro,nam fabemos de que Ordem, nefn fe foy de Fra-
despoli Freyras 5 paiTou a Abbadia fccular do Ordinário ^ rende letecentos mil
reis, tem duzentos & cincoenta viíinhos.
S. Mattheusde Oliveira, Vigairaria da Mitra, rende cincoenta mil reis ,St
para o Arcebifpo fetenta mil reis: tem quarenta viíinhos.
S. Salvador de Arenofo, A mofo , ou Arnofinho, foy Mofteiro de Frades
Bentos, que fundou S- Frutuofo noanno de 636- ou 42- extinguio-fe, como
outros, ôtaílim eft eve arèoannòde 1495- em que o Arcebifpo Dom Jorge da
Cofta o uni o ao do Pombeiro; o como depois fe lhetirou nam alcançamos, ló de
aue paífou aos Frades Jeronymos do Real Convento de Bellcm , os quaes del-
ie, St de grandes fazendas, que alli tinhaõ, fizeraò prazo ao Doutor Miguel Pi-
nheiro F igueira, Conego de Braga; St por parentefco que com elie tinha,& com
Jofeph Pinheiro Dona Ilabel de Soufa de Lima Figueira , mulher de Manoel de
Vafconcellos de Soufa, entrou nelle, & aprefenta a Igreja , que he Abbadia fe-
cular, rende feífentamil reis 5 tem quatorze viíinhos-
Santa Maria de Arnofo, Abbadia da Mitra , rende cento St feífenta mil
reis, tem noventa viíinhos. . ...
Santa Eulalia de Arnozinho,Vigairaria doDeaõ de Braga cõ oito mil reis,
ao todo vinte & cinco mil reis: tem feífentaStdous viíinhos.
Santiago de Piícos, Abbadia da Mitra, rende com a de Moimenta , que lhe
eftá unida, & a annexa íeguinte,trezentos mil reis, tem fetenta viíinhos. Aqui
viveo, St foy fenhor Dom Gomes Paes de Pifcos, irmaõ doMeftreDom Gal-
dim Paes, filhos de Dom Payo Ramires,St de fua fegunda mulher Dona Gontro-
de Soares dos Correas de Fralats,& deixou grade defcendccia, particulàrméte
de Cunhas-
S. Mamede deCizuras, Vigairaria annexa a Santiago de Pifcos com oito
mil reis, ao todo trinta mil reis, tem feífenta vifmhos.
S.Salvador de Tabofa, fe foy &fofteiro;certamente nam alcançamos , mas
parece que aflim o devemos entender das palavras do Conde Dó Pedro tit- 56.
foi. 323* quando diz: eD, Ayr as Carpinteiro foy cajado cotn Meana deSeiheris, &
de Tavoojõ,cjut fez o Mofteiro de Leomar ,'Tavn»fo. qve foy feitura de Leomar , &
Taaroeira de Tavoofo. Leomar he a Commenda de Lomar enftBraga,St Tavoofo,
hoje Tabofa; St que foífe, ou nam Convento, fempre efta fenhora era a Padroei-
ra úhe Vigairaria annexa ao Chantrado de Braga com oito mil reis , ao todo
qua?
da corografia poRTUGUEZA. 317
quarenta mil reis, & para o Chantre cem mil reis : tem fetenta Sc cinco viíi-
nhos-
S. Juliao do Calendário de Vermoim, Abbadia da Mitra > que rende cento-
Sc oitenta mil reis, tem oitenta Sc feis vifmhos.
S. Salvador da Lagoa, Abbadia da Mitra, que rende cem mil reis, tem ciir
coenta vifmhos.
S- Svlveífre de Requiaõ, corrupto de Rcquies , que em Latim quer dizer
defcanço, pelo aprazível íitio em que eftá , foy Moíieiro antigo deTempla-
rios, Sc depois de Conegos Regrantes de Santo A goílinho ; extinguio-fe por
falta de obTervancia na boa regra de viver, & 110 anno de 14.18. o ArcebifpoD-
Fernando da Guerra porBullado Papa Martinho Quinto o fez Igreja fecular
com Prior. Em tempo delRey Dom Sebaftiaõ paflfou a Commenda de Ghriíio,
tem Reytor do Ordinário com quarenta mil reis , ao todo cento Sc vinte mil
reis,& para o Commendador com dizimos,St fabidos feifcentos mil reis : tem
duzentos Sc quarenta & cinco viíinhos. Ha aqui huma Ermida de Nofta Senho-
rade Pedra Leitar, aonde da parte de fóraeílá hum penedo com huma verruga
a modo de peito de mulher, aonde vaõ mamar as que lhes falta leite para cria-
rem os filhos. Devia NoíTa Senhora querer cõmunicarlhe aquelia virtude, que
com feufagrado leite deu à terra da Capella, que hoje fe venera junto a Jerufa-
lem, aonde o Anjo appareceo aos Paftores a noite do Nafcimento , Sc em que
cila derramou depois aquelle inextimavel licor , a cuja terra chamaõ v ulgar-
mente Leite de Noífa Senhora, Sc abebem desfeita emagua,Chriífãs, Mouras,
Turcas, Sc animaes, com quemilagrofamente lhes crefce o leite, para criarem os
filhos. Neila Freguefía eftá o Paço de Ninaes, a que, dizem, chamàraô antiga-
mente Novaes; he tradiçaõ que delle, Sc dos foros que lhe pagaõ, fora5 fenho-
res Affonfo Fernandes de Novaes, que viveo pelos annos de 1 opa. em tempo
delRey Dom Affonfo o Sexto: era natural de Galliza , Sc fenhor do Caftello de
Novaes em terra de Quiroga, Sc prefumem alguns que entre nós deu principio
a dous Solares de Novaes, ambos aqui viíinhos: paífou a eíle Reyno com o Con -
de Dom Henrique, Sc fez aqui íeu aífento, a quem fuccedeo feu filho Fernando
Affonfo de Novaes, Sc a eftefeu filho Vafco Fernandes de Novaes,que fe achou
na conquiíf a de Lisboa com ElRey Dom Affonfo Henriques ; herdou-o feu fi-
lho Fernaó Vafques de Novaes , q fervio aosReysDom Sancho o Primeiro,
Sc Dom Affonfo o Segundo ;fuccedeolhe Martina Fernandes de,Novaes feu fi-
lho, hum dos que ganhàraõ Sevilha,no qual o Conde Dom Pedro começa os Pi-
menteis, quetempor Armas em campoverdecinco vieiras de prata , Schuma
bordadura domefmochea de Cruzes vermelhas , timbre meyo Touro verme-
lho com pontas, Sc unhas de prata,Sc na teft a huma vieira das A rmas. Os Con-
des de Benavente trazem o efcudo em quartéis, no primeiro, Sc ultimo tres fa-
xas de fangue em campo de ouro, Sc nos outros as vieiras , Sc depois lhe ácref-
centàraõ huma orla das Armas Reaes de Caífella, Sc Lea5: Sc he erro de Bran-
dão confundir eite Solar de Ninaes, que o he dos Pimenteis, com o de Nomaes,
ou Novaes, que ficaô vifmhos, quando nam foífem ambos feus Solares , como
já diífemos. Aquellas cochas fe entéde tomáraó por fere os Pimêteis defcédente9
de Cayo Carpo, Sc de Claudia Loba, Régulos da Maya , a quem milagrofamente
bufcàraõ os Difcipulos de Santiago em fua vinda a Efpanha. Delles paífou eíle
Solar aos Vafconcellos por fegundo cafamento de Dona Leonor Rodrigues, fi-
lha de Joaõ Rodrigues Pimentel, Sc de fua mulher Dona Eíievainha GonÇalves
Pereira, com Gonçalo Mendes de Vafconcellos fem geraçaõ , Sc p'ermanecco
Ec ij annos
3*8 TOMO PRIMEIRO
annos nos antepaíTados dos Condes de Caitello melhor , mas eomo naõ era
Morgado, teve muita variedade ; porque o Arcebifpo Dom Diogo de Sou ia
.quiz ajuntar eftes bens por herança, & compra; hoje eftá repartido em quatro
fenhorios,humdos Azevedos,fenhoresdeS. JoaòdeRey,St terras de Bouro,
cs herdeiros de Gabriel Pereira de Caftro, os Padres da Companhia, & a MTe-
ncordia do Porto. Tem huma Capella de Santa Luzia , a que asFregue-
íías viíinhas vem por voto antigo com clamores nas Ladainhas de Mayo. Fi-
nalmente aqui he o Solar dosPimenteis , Tem embargo do Doutor Antonio de
Villasboas Sc Sampayo o fazer em GaIliz.a,por delia terem vindo os antepaíTa-
dos, mas cá tiveraó principio o apptllidarem-fc Pimenteis.
Santa Maria de Abbadede Vcrmuim he Abbadiada Mitra, rendejoitenta
mil reis, tem treze viíinhos- Nefta Igreja eftaó duas fepulturas, em huma João
Efteves irmão do Doutor Pedro Efteves Godinho, & na outra fua mulher, nam
devião ter filhos,porque deixarão Teus bens vinculados ao Morgado de Pouve,
com encargo de quatro MiíTas ditas ncfta Igreja, duas rezadas , St duas canta-
das, Sc que humafeja por fua ama»
S-PayodeSeyde, Vigairaria annexa àCommendade Ronfe com dozemil
reis, ao todo vinte mil reis, Separa o Commendador trinta mil reisitem quaren-
ta St fete viíinhos-Aqui eftá a quinta do Paço,cabeça doMorgado de Pouve,obra
do Doutor Pedro Efteves Cogominho,Ouvidor,Sc Defembargador de todas as
terras do primeiro Duque Dom Affoniò, cafado com Ifabel Pinheiro , filha de
Martim Gomes Lobo, & de fua mulher Mayor Efteves Pinheiro , St por feus
deícendetesfe chamarem Pinheiros fazem muitos aqui oSolar,fendooemBar-
cellos, como já diíTemos.
S> Miguel de Seyde, Curado annual annexo âo Salvador de Bentc, tem de
ordenado leis mil reis, aotodoquinze mil reis, Separa o Abbade vinte mil reis:
tem vinte Se feis vifuihos. Fazem aqui telha-
S. Salvador deRuy vaés, Abbadia dos Vifcondes de Villa-nova de Cervei-
ra pela Cafa de Mafra , rende duzentos Se cincocnta mil reis , tem cento Sc
doze viíinhos,Se tres Cafas honradas com Morgados, Se lu&uofas de Cafeiros,
que todas entendemos ferem procedidas de huma , qual he o Paço deNomays
com fua Torre , Se que antigamente foy Honra, Se dcfde entam atègora fem-
preo habitàrão fidalgos honrados. O primeiro , de que temos noticia , he
Dom Ruí Nunes, ou Martim das Aftunas, quefe achou na tomada de Sevilha
no anno de 1248- Parece que efte fidalgo paífou de Galiza para aqui, onde ca-
foucom Dona Elvira Gonçalves, ou Rodrigues dePalmeyra, filha de Gonçalo
Rodrigues de Palmeyra feuviíinho, tronco dos Pereiras, Se de fua mulher D-
Trolhe Affõío,de que teve a D Gõçalo Rodrigues de Nomays,PedroRodrigues
de Palmeyra, que morreo de amor es por a mulher de hum feu tio , Dom Marti-
nho Rodrigues, Bifpo do Porto, Se filhas. Dõ Gonçalo Rodrigues de Nornava
cafou com Sancha Martim, filha de Martim Fernandes de Riba deVizella , de
que teve a Dom Martim Gonçalves deNcmays , queconheceo por irmão ma^
terno a Vafco Martins Pimentel, cõ condição, que nunca ella,ouíeus defeendé-
tes pudefle ter quinhão noCouto de Palmeira-.cafou cõ D.Mór Soares,filha deD.
Suevro Dias Gallego,de q teve a Gonçalo Martins deNomays,Ruí Martins,D.
Mór Martins, Abbadeça de Arouca, Sc Dona Elvira Martins, mulher de Dom
Pedro Mendes Gandarey. Gonçalo Martins de Nomays fervio em Italia com
Dom Henrique Infante de Caftella, dc quem era Alferes, Sc omatàrão em hua
de duas batalhas , nam fabemos de certo fefoy na em .que Carlos Conde de
í j; " ' Anjou
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA.' 329
Anjou, filho de Luiz Oitavo Rey de França venceo , & matou a Manfredo Rey
de Nápoles no anno de 1266. ou naemqueomeímoCarlos venceo no anno de
12<>8. a Conradino legitimo fucceíTor dos Revnosde Nápoles, Sc Cecilia, neta
do Emperador Federico, na qual foy prezo o Infante Dom Henrique, Sc nam na
primeira, como diz o Conde Dom Pedro. Ruy Martins de Novaes cafou com
DonaBrites Annes, filha de Joaõ Pires Redondo , & deDonaGontinha Soares
deMello, de que teve a Dona Joanna Rodrigues, mulher de Martim Vafques da
Cunha, Dona Maria Rodrigues, mulher de Martim Affonfo de Rezende,& Do-
na Urraca Rodrigues, com que fe acabou eda varonia. Logra eda Cafa em Mor-
gado Francifco Lopes'de Carvalho, Cavalleiro da Ordem de Chrido, Sc fidalgo
da Cafa de Sua Magedade. Ha aqui também outra Torre , & Caía antiga , de
quehefenhoro Medre de Campo Mattheus Mendes de Carvalho, na qual vi-
verão alguns fenhores do appellido de Novaes- Na Aldeã de Rebordello , que
antigamente fe chamou Reboredo, eíbà a do Medre de Campo Manoel Correa
de Lacerda, fenhor de Fralaés, Sc dentro do pateo tem hum grande carvalho,que
o cobre todo, a mais fermofa arvore para o intento de quantas tenho vido.
S. Salvador de Delaês, Abbadia da Mitra,rende cento Sc cincoenta mil reis,
tem cincoenta viíinhos. Edeve eda Igreja no alto de S. Miguel do Monte,& he
tradição que nos tempos paífados fora Cidade ( ao menos devia ter fortifica-
ção, pelo que modraõ os vedigios, )& que fora Modeirode Freyras. Aqui he
o Solar dos Novaes de Portugal defeendentes de Dom Pedro de Novaes o Ve-
lho, fidalgo Gallego,que fe achouna Conquida de Sevilha, & vivia em Riba de
Teya, era pobre, foyfeà fronteira para por feusferviços melhorar de fortuna,
entrou com outros em terra de Mouros, que o cativàraô , onde edeve muitos
annos, por não ter com que refgatarfe- Compadecidos de fua miferia huns AI-
faqueques, pagárão porelle o em que foy cortado , obrigandofelhe a em certo
tempo lhes íatisfazer ,ou tornar ao cativeiro; veyo a ElRey Dom Affonfo, Sc
pediolhe, Sc à Rainha lhe deífem cartas para que nos Reynos de Efpanha o favo-
receífem todos em geral,& muitos em particular; ajuntou confideravel cabedal,
com que pagou o que devia, 8c o redo empregou em pão , que hia trocando de
huns annos para outros, ^tè que chegouhum de grande caredia, em que o ven-
deotaõbem,queficourico,&fovRicohomem;vindoparaedeReyno , o fez
nelle Alcayde mor de Villa-novade Cerveira ElRey Dom Sancho o Segundo.
Teve de fua mulher a Payo Novaes o Velho cafâdo com Dona Mór Soares, filha
de Dom Sueyro Nunes o Velho, Sede Dona Tareja Annes de Penella, deque te-
ve a Affonfo Novaes, Pedro de Novaes, Sc Dona Maria Paes , que todos deixà-
rão illudre defcendencia. Affonfo Novaes cafou com Dona T areja Rodrigues
de Meyra, filha de Rodrigo Affonfo de Meyra, fenhor do Solar deMeyra , que
edá no Reyno de Galliza, não no Convento de Meyra da Ordem de Saõ Bento
junto a Cadro de Rey, aonde o Minho nafee, como diz Dom Jofeph Pelhier na
fuá Deferipeaõ, Sc os que o feguem; mas perto donde fe mete no mar, Sc da Vil-
la de Bayona, Bifpado de Tuy, de que he fenhor Dom Luiz Sarmento deValla-
dares, Marquez de Valladares, Sc Vifconde de Meyra: tiveraõ filho mais velho
a Ruy Novaes, o qual de fua mulher Dona Maria Fernandes Torrichaõ , filha
de F ernaõ Gonçalves Farroupim, ou Torrichão, Sc de Dona Sancha Rodrigues
fua mulher, houve filho fegundo a Payo de Meyra , que cafou com Dona Leo-
nor Rodrigues, filha de Rodrigo Annes de Vafconcellos, Sc de Dona Mecia R» -
drieuesde Penella. Continuoufe ede appellido emfeu filho fegundo Gonçalo
Paes de Meyra cafado com Dona Leonor Martins, filha de Dom Martim Gon-
■..... Ee iij çalves
«O TOMO PRIMEIRO
calves Leitão, Meítre de Chriíto, & de Dona Confiança, ou Guiomar Martins
Frajaõ, Abbadeça de Jazente, dos quaes defcenderaõ muitos fidalgos , 3cho]e
grande ncbreza, de que a mayor parte vive em Guimaraens- Tem os Novaes
por Armas em campo azul cinco novellos de prata em afpa , timbre numa ai pa
azul com dous novellos das Armas nas pontas mais altas. Os Meyras em Cam-
po vermelho huma Cruz de ouro florida vazia do campo , timbre hum Libreo
preto com aboca aberta. Asn.efmastcmosMeyrelles.
S. Simaô de Novaes, dizem ferfundaçaõ dos fidalgos deite a ppellido , &
que delles o tomou eíia Fre .-uefia. He Vigairaria das 1 reyras de Villa do
Conde com oito mil reis, ao todo trinta mil reis, 6c para as Freyras oitenta mil
reis: tem vinte & oito vifinhos, 6c grande romagem no dia do mtfmo Santo.
Santa Maria de Oliveyra he Molieiro de Conegos Regrãtes de Santo Agof-
tinho, fundado no anno de 1052. por Arias de Brito, que fe entende fer avô de
DomSueyro,ouSefnandoOcriz,a quem o Conde Dom Pedro faz, feu funda-
dor na5 fendo mais que bem feitor, que o augmentou muito ; fez-lhe Arias dc
Brito grandes doacoens de herdades, que diz ter na Villa de Oliveyra , Carre,
zedo, & Subilhacs, 6c humas pefqueyras no Ave , 6c meteo-lhe Clérigos com
peffoa que os governava, chamada Dom Antaõ- Tem boa Igreja , & fagrada;
fov delíe Prior, ou Commendatario Dom Fernaó Annes Coelho, que alli cita
fepulcado com opinião de Santo; era irmaõ de Pedro Annes Coelho , que com
fua mulher Dona Margarida Efteves de Teyxeira fizeraõ doaçaõ a cite Moítci-
ro de tres cafaes em terra de Vievra,com obrigaçaõ de MiíTa quotidiana, 6c hua
alapada fêpre aceza diante deita Imagem de N- Senhora. Foy feu ultimo Prior
perpetuo, ou Cõmendatario Chriítovaó da Coita Brandaõ, quefaleceo em 17-
de Mayo dc 1599- em que entràraõ osCruzios por Bulla do Papa Clemente
Oitavo 6c por feu primeiro Prior triennal Dom Bernardo da Piedade; tem tres
mil cruzados de renda cm Benefícios, 6c fóros, com q.uefuítenta dousRehgio-
fos hum com titulo de Prefidente, outro de Procurador, 6c o mais eíta appli-
cado in perpetuum ao Real Convento de S- Vicentede fora de Lisboa ; apre-
fentaõ Vicario fecularcomosdizimos de tres A Ideas, que rendem ao todo cem
mil reis, tem annexas as Igrejas de S- Martinho dos Leitões, 6c Santiago de Fi
gueiredo: tem eíta Freguefia cento, & quinze vifinhos.
S. Pedro do Bayrro, ^bbadia do Ordinário, rende duzentos 6c cincoenta
mil reis,de que a mayor parte faÕfabidos:.tem cincoenta vifinhos.
Honra de Fralaes*
CAP. IV.
HUma Icgoa de Barcellos para o Sul, & fete dc Ponte de Lima tem feu af-
fento a Villa de Rates, povoaçaõ antiga, muy principal, inda que agora
pequena. Foy deítruída varias vezes pelos Gallegos tendo guerras comnof-
co. Querem alguns que alli chegaífem do mar asembarcaçoens naquelles tem-
pos das frotas Offirinas, ao menos as pequenas, quenavegavaõpor hum eítey-
ro, de que fe vem vertigios vindo daPulha,Seque eflc nome tomou dos navios,
que ifíò quer dizer em Latim Rales- O que a fez nomeada no mundo, foy o
martyrio de S. Pedro de Rates, primeiro Arcebifpo de Braga, St o primeiro que
tiveraõ as Efpanhas,St por iífo faõ os deita Sè Primazes de todas. He certo que
aqui houve logo muitos Chriflaõs com Templo na primitiva Igreja ; Sc aífim
como nós chamamos aos Hereges Albigenfes do nome da terra, em que feu erro
teve principio, chamàraõ os Gentios Ratinhos aos Catholicos deita Província
pela morte, que em Rates fe deu a S. Pedro Patriarcha, ou Aportoloderta Chri-
ltandade. Outros querem federivaífe dos fecundos partos das mulheres defla
Província, de que fe té em tam breves annos povoado quaíi todas as mais Pro-
víncias do Reyno, St muitos lugares em Africa, Angola, Sofala , Sc outros na
Afia,índia, & America. Governafe por Juiz ordinário , quetambem ohe dos
Orfaõs, dous Vereadores, Sc Procurador do Concelho, feitos por pelouro,elei-
ção triennal do povo, a que prefide o Ouvidor de Barcellos, de quem he fogei-
ta. VemefcreverlhehumEfcrivaõde Barcellos por diflribuiçaõ, ferve em tudo
como na Almotaçaria. Nam he terra rica, dá muito paõ, porque até os montes
o daõ bom, pouco vinho, muitos gados, Stbeftas decriaçaõ, mel, caça meuda,
veaçoens de rapofas, òt outros bichos pequenos. Tem huma Parochia [da invo-
cação de S. Pedro, que já era Igreja Parochial, quando eíte Santo vivia, porque
nella o matàraõ ostyrannos,Sefobre elle a arrazàraó. Tornáraõlogo alevan-
tallaos devotos, St depofitando nella ofagradocorpo, foy muy venerado dos
Catholicos. PaíTou a Morteiro de Monges Bentos, St crè-fe fer o primeiro que
em Efpanha tiveraõ, de que era Abbade o Santo Eftevaõ , que no anno de 590.
reynando Recaredo, fe achou no grande Concilio nacional, que dizem fer o ter-
reiro, Sc no de 676- era Abbade delle huMonge chamado Pedro. Devia arruí-
narfe com a invafaõ dosMouros; pois o Conde Dom Henrique,Sc a Rainha Do-
na Therez a levantàraõ dos fundamentos , por eftar deítruída havia muitos
tempos;Sc delle fizeraõ doaçaõ em Coimbra no mez de Março no anno de 1100.
ao Prior do Morteiro de Santa Maria de Caride de Monges Cluniacenfes na Pro-
vinda de Aquitania, naõ longe da Cidade de Altifiodoro, hoje Auxerre 5 outros
affirmaõvieraõ de lá Religiofos para elle- Mas a mim me parece quecomeriaõ a
renda, Sc lhe aprefentavaõ Cura; porque no anno de 1113. Gonçalo Annes,que
devia fer Vifitador geral pelo Metropolitano, deixou huma verba na vifita ,em
que
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 337
que mandava â Jorge da Povoa, Cura do Moíteiro, que enterraíTe huma caixi-
nha de relíquias, porque abrindoa,defconfioudeque oeraõ. A Chronica dos
Conegos Regrantes quer que nó anno de n 5 2- a Rainha Dona Mafalda mandaf?
fe levantar da terra, & meter em tumulo na parede o corpo de S-Pedro , & lhe
poz Conegos Reerãtes com Prior, que trouxe de Santa Cruz de Coimbra > &
lhes fez aquelle Couto. Tudo poderia fer, & com o tempo fe extinguiria, fe bé
naõ querem muitos que taes Conegos o occupaíTem nunca- O qpe he certo, &
confiado Archivo da Sé de Braga,he, que em 13. de Agofiode 1315-. tinha Re-
ligiofos com Prior, os quaes negavaõ a obediência, & naõ queriaõ fer viíitados
pelo Primaz Dom Joaõ Martins de Soalhaés , fundados em alguns privilégios'
Apoftolicos: mas fazendo o Arcebifpo queixa a El Rey Dom Diniz, & achando
que os Arcebifpòs tinhaõ efia polfe, o mandou confervar nella, & que fuas Juf-
f iças o favoreceífem contra òs Frades. Em hum nicho occulto efiá a Rainha
Dona Therefa com cetro na maõ, & naõ he a Rainha Dona Mafalda, como algús
cuidàraõ- Depois fe fez Priorado fecular, entendemos do Padroado Real, que
teve Joaõ de Soufa, filho de Pedro de Soufa de Ccabra , & de fua mulher Maria
Pinheiro, que de Clemência Rodrigues houve a Thomê de Soufa, primeiro Go-
vernador do Braíil,( que até alli fe governava por Capitanias ) & Veador del-
Rey Dom Sebafiiaõ,& primeiro Commendador defia Igteja , que entrou a fer
Commenda da Ordem de Chrifio em tempo delRey Dom Manoel por Bulla do
Papa Leaõ Decimo, folicitada pelo Cardeal Dom Jorge da Coifa- Foy mais fi-
lha deftc Prior Dona Elena de Tavora, mulher do Licenciado Henrique Perei-
ra, & ambos pays do Doutor Pedro de Soufa, Commendatario de Padernc , de
q ue ha nobre defcendenciarna ribeira do Minho, & em outras partes. Confer-
va- fe em Commenda com Reytor do Ordinário fem ordenado: leva por elle San-
joaneyra, ao todo renderlheha cento & quarenta mil reis, St para o Commenda-
dor trezentos &cincoenta mil reis. Em memoria do Priorado, que foy , con-
ferva hum Beneficio fimples, que rende cincoenta mil reis, fervindo-o, data do
Arcebifpo. Tem àroda do adro muitas fepulturas antigas , deviaõ fer de pef-
foas grades, que nellas fe fepultavaõ; porque nam vinha de perto a pedra para
ellas- Namefma Igreja eftaõos fantos Ermitaens Felis,&feufobrinho , & ef-
teveS-Pedro de Rates, até que o mudou para Braga o Arcebifpo Dom Fr. Bal-
thefar Limpo 5 fó ficàraõ relíquias fuas, que faõ hum dente, parte de oífos,& de
hum dedo em húacuftodia de prata com vidraça ,& òutro relicário com mais;
faõ procuradas por muitos devotos, em queobraó infinitos milagres, quotidia-
namente em mulheres de parto. Tem cento & cincoenta vifinhos , que faõ 09
que ha na Villa-
CAP. V.
Da Filia de zSAdelgaçOé
CAP. VI.
DUas legoas & meya de Melgaço entre o Nafcente, & mcyo dia eftá a Vil-
la de Caftro Laboreiro , a que vulgarmente chamaõ Caftro. \ He terra
montuofa, & frigidilfima deneves,feus ordinários frutos faõ centeyo,Sc pouco
milho miúdo, muitos gados de toda a cafia , as mayores ovelhas Gallegas , &
Ff ij que
34° TOMO PRIMEIRO
que cão o melhor burel de todo o Portugal ^ & aífim os melhores lacticínios
produzidos dos ferteis paíios de hervagcns,que aquelles motes tem no Verão, \-
a caça de coelhos, lebres, perdizes, javalis, corças, & veação de lobos, rapofas,
martaSptouroens, ginetas, & outros bichos he infinita, & em hum pequeno re-
gato grande quãtidade de trutas. Não tem out ras arvores, fenão poucos , &
pequenos carvalhos, baftantes nabos,mcnos couves Gallegas,frias,& delgadas
aguas. Temos moradores grades privilégios,qlhescõçedèrãoos noffosReys
cm remuneração dos grandes ferviços,que lhes fizerão nos tempos das guerras
deites Reynos. G°vernafe por Camara de dous Juizes ordinario^que também
fervem nos Orfaõs, dous V ereadores, &: Procurador do Cõcelho, eleição trien-
nal do povo,& pelouro,a q prende o Ouvidor de Barcellos,& dous Tabeliaes,q
fervem em tudo. Tem em rocha viva hum inexpugnável Caftello, que huns di-
zem fer obra dos Mouros; outros, que levantandofe em Galiza hum Conde
chamado Vitiza, Utiza, ou Guicia contra ElRey Dom Affonfo o Magno ter.
ceiro em numero, mandou conquiítallo por Hermenegildo, Conde das Cidades
do Porto,&Tuy íeu parente,& Mordomo,o qual ovenceo, & lho trouxe pre-
zo ; pelo que ElRey lhe deu as terras do treydor, & entre ellas a Villa de Lima,
aonde depois feu neto S-Rofendo fundou o Moíteiro de Cella-nova : & eftc
monte Laboreiro, em quefeubifnetoDom Sancho Nunes de Barbofa, cunhado
delRey Dom Affonfo Henriques, fundou efte Caftello, que feaílim foy , feria
emoppofição das guerras, que com o Reyno de Leaõ tivemos;mas pelos nomes
de Caítro, & Laboreiro,que derivados do Latim querem dizer jCaftello trabalho-
/<?, ou que eftá em terra trabalhofa, como eft a o he pára o trato humano ,me pa-
rece fer do tempo dos Romanos; & que fejamais antigo que ElRey Dom Affõ-
fo Henriq ues naõ ha duvida, pois elle o conquiíiou com hum duro cerco, co mo
fe vè de huma doação do Couto de Paderne, que deixamos dito naquelle M o-
fteiro: por onde o atribuir fe eft a fabrica a ElRey Dom Diniz, feria mais reedi-
ficação, que edifício. Confia de huma Torre, que pouco antes que os payfanos
o entregaffem aos Gallegos, voou com o incêndio, que hum rayo caufou, donde
no armazém da polvora, que fempre o Ceo ameaça as ultimas ruínas com fínaes
antecedentes à noffa prevenção , & tem huma muralha tofca com duas portas,
húaparao Poente,pela qual mal fe pôde ir a Cavallo,& outra para o Norte,por
onde mal pôde huma peffoa ir a pè; vinte homens baftão para o defenderem de
grandes exércitos,mas he quafi incapaz de habitarfe. Tiro de arcabuz para o
Norte eftá a Villa em fitio plano, que terá feffenta vifínhos, da qual he fenhor o
Duque de Bragança, que dá os officios; tem o termo huma Freguefia, que he a
feguinte.
Santa Maria de Craflo, fermofa Igreja, foy Vigairaria annexa à Matriz de
Ponte de Lima, paffou a Abbadia dos Bifpos de Tuy, quando o eraõ também de-
itas terras, trocou-a por outras o Bifpo Dom Joaõ Fernandes de Sotomayor cõ
ElRey Dom Diniz no anno de i $o 8 • & hoje he Commenda da Ordem de Chrif-
to,&Reitoria com quarentamilreis,ao todo cento &vintemil reis , &orde-
nado para Coadjutor,& para a Comenda duzentos & cincoenta mil reis, tudo
datados Duques: tem duzentos & vinte vifínhos, de que fefórma huma Com-
panhia muy alentada. Entre mais Ermidas que tem, ha huma de Noffa Senho-
ra de Anamaõ, Imagem milagrofa, que eftá em hum valle junto daraya , meti-
da em huns grandes penhafeos,onde toy achada no buraco, q a natureza obrou
cm hum monftruofo penedo; dizem a trouxeraõ por vezes à Igreja, mas que ou- '
íras tantas fe tornou, caufa de alii lhe fazerem Ermida. Na chaa tam dilatada,
> que
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 341
que terá cinco, ou féis legoas de circunferencia,nafce o pequeno rio,cm que fc
criaõ as trutas, no qual ha huma pequena ponte que chamaõ Pedrinha , fabrica
de Mouros. Quando himos do Porto dos A íhos, ou Cavalleiros, paífamos ou-
tro limitado ribeiro, pelo qual foy a pè o fanto Arcebifpo Dom Prey Berthola*
meu dos Martyres a vifitaraquella Igreja ; tem virtude eíf a agua para curar a
bocalixofa âs crianças, & outras enfermidades: entaó dilfe que tarde tornaria
alli outro ArcebifpOi aífim foy; porque fuppoíPo o intentou Dom Sebaftiaõ de
Matos & Noronha,nam o confeguio, &fó emnoífos tempos o fez oEminen-
tiílimo Cardeal Dom Veriífimo de Lancaft ro,noíTo Inquifidor Geral,quando era
Arcebifpo de Braga. Para prova da frieldade da terra baile, que o vinho fe cõ-
gela no Inverno de modo, que para a MiíTa he neceíTario aquétallo, do q fe tivera
noticia nam fe admirara o Argonès Vitrian nas notas a Felippe de Comines,
tom. 1. capit. 4.2. de o cortarem com efeoupro , & martello junto a Liejano
exercito de Carlos o Bravo Duque de Borgonha no anno de r +<58. porque co-
mo Aragaõ he terra quente, pareciaihe que todo o mundo aílim devia fer«
CAP. VII.
HUma legoa acima de Ponte de Lima ao Nafcéte, & defviado do rio meya
ao Sul, eílào Couto de Gondufe,de que faó fenhores os Duques de Bra-
gança; defee do alto monte da Balhofa , & Armada para a parte do Norte com
belliífimas terras de paõ de toda a caíla, aflirn nos campos, como nos montes, &
vinho,muytashervagens,caça meuda,javalis,& muita veaçaõ, particularmé-
te de rapofas. Tem hum regato, em cujas aguas nunca ha névoa, nem vive peixe
algum, &fe lholançaõ,logo morre , atè quenelle entra hum pequeno ribeiro,
que fahe da Freguefia de Burral, & tanto neífe , comodalli para baixo fe acha
peixe; fegredo notável, que atègora ninguém alcançou : tem muitas egoas de
criaçaõ, gados ordinários, & alguns touros tarn bra vos,que fe os levaô ao cor-
ro, ou nam fazem nada de pafmados de fc verem entre gente, ou de braveza ca-
hemmortos. Governafepor Camara dejuizordinario, que também ferve nos
Orfaõs, & lhe rende cinco mil reis,"hum Vereador, outro Procurador do Con-
celho, eleição tricnnal do povo por pelouro, a que prefide o Ouvidor de Bar-
cellos. Meirinho, que também he Porteiro, dous Tabeliaens , a hum pertence
os Orfaõs; ambos data da Cafa de Bragança. Tem cento & quinze vifmhos, cõ
huma Igreja Parochial da invocação de S. Miguel, Abbadiado Ordinário, ren-
de duzentos & vinte mil reis- No mais alto aa montanha tem huma antiga Er-
mida de S« Lourenço, a quem feílejaó em feu dia, moílra em feu circuito veili-
gios de Caílello , mas náo defcobrimos em que tempo ferviria. Ha também
ruínas do Paço , & Cafa de Sequeiros , & aílim fe chama a Aldeã : he Solar
deíla nobre familia, não cm Entre Homem, 2c Cavado , como alguns dizem;
feus defeendentes dizem deduzirfe do Conde Dom FafezSarrazim de Lanho-
fo, que morreo na batalha, que o noífo Rey Dom Garcia deu a feu irmão ElRey
Dom Sancho de Caílella por feu neto Dom Fafez Luz Rico homem, & Alferes
Ffiij rr.ór
34i TOMO PRIMEIRO
rr.ór do Conde Dom Henrique, do qual foy filho fegundo Dom Egas Fafez de
Lanhofo, a quem ElRcy Dom Affonfo Henriquez deu efte Solar com feus fe-
nhorios, que deviãofer entre outros cif e Couto , de que tomarão o appellido
de Sequeiros, que fe continuou de pays a filhos (como dizem alguns Authores)
até o tempo delRey Dom Fernando., em que João de Sequeiros matou huma pef-
íòa grande por amor de huma fua irmaã, & fe paffou a Galliza- Neíle Reyno fe
ufa pouco deite appellido,, alguns aífim fe chamão neíta Freguelia : confervafe
com boa nobreza na Villa dos Arcos noCapitão Pedro de Sequeiros de Abreu,
«jue nas guerras da felice Acciamação do fenhor Rey Dom João o Quarto foy
hum dos melhores Soldados , & cm feu filho Antonio de Sequeiros de Abreu
Sargento mór de Infantaria, & Cavalleiro da Ordem de Chriíto, que imitando
a feu pay, fendo filho único, fervio fempre com grande valor. U faõ por A rmas
as mefmasdos Siqueiras,fcndoameuver tam differentes eítasduas gerações
em feus princípios ; porque oe Sequeiros Portuguezes defcendem do Conde
DomFatez,& osSiqueiras,deDom Anião de Eítrada, fidalgo Aíturiano , a
quemo Conde Dom Henrique deu o fenhoriode Goes ; indaqueo Conde D6
Pedro no Tit. 42. os inclue nos Coronéis: fe bem que a Honra de Siqueira, de
que a alguns parece foy fenhor Dom Aniaõ de Eltrada, fica muitas legoas diífa-
te do Solar de Sequeiros; as Armas de huns, & outros [faõ em campo azul cin-
co vieiras de ouro em afpa eítendidas em preto, & por timbre cinco penachos
do primeiro com huma vieira no meyo, o que não bafta para parecer tem ambos
o mefmo principioj porque muitas famílias tem as conchas, outros Cruzes, &
talvez poro proprio fuccelfo de huma batalha , fendo muydiítantes nosnafci-
mentos. Ha mais entre eítaFreguefia,&a do Burral em fitio alto, & magnifi-
co o Paço de Jozim,Cafa antiga aa família dos Antas , procedida do Solar de
Antas em Coura, como jâ lá diíTemos, inda que nam falta quem aqui o queira
fazer, &na terra da Feira 5 ha muitos annos a pofíiiem nobres Cavalleiros, que
fe appellidavão Antas atè Gõçalo de Antas, pay de Suzana de Brito, mulher dc
Agoíiinho de Araujo Franco, dos quaes ha quatro filhos, & huma filha.
BmèmmmmrimmimmmmmmZimmmmMíãmMrámmm
CAP. VIII.
CAP. IX.
CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 347
C A P. X
CAP. XL
CA P*
34* TOMO PRIMEIRO
. CAP. XII.
Da Villa do Conde.
TRATADO VI
C A P. I.
C A P. II
mm
CAP. III.
DEfrõte daCidade doPorto,o rio Douro de por meyo,em lugar algú tãto al -
to eitá fundada Villa-nova,affim chamada por diftinçaõ da Villa velha
de G^ya, que lhe fica perto, & da mefma banda, & ambas eífão naProvincia da
Beira. ElRey Dom Affonfo o Terceiro de Portugal a mandou povoar pelos an-
nos de 1277. o que foycaufa demayores duvidas entre o mefmoRey, &oBif-
po do Porto Dom Vicente acerca dos direitos, que o dito Rey queria nam pa-
gaífem aos Bifpos do Porto , querendo que no lugar de Gaya defcarregaflem
todos os navios, & barcas, que vieíTem ao Porto, & alli lhe pagaffe m os direi-
tos, que devião, ficando os Bifpos privados dos que lhes pertencião , & erão
de fua Igreja, por fe lhes tirar a defembarcaçam,& defcarga dos navios em a fua
Cidade.
ElRey Dom Diniz ampliou eíla Villa,& lhe deu foral pelos annos de 1288.
tem quinhentos & oitenta vifinhos com grande trato de Mercadores, peífoas
mayo-
.
CAP. IV.
9
• Do Concelho de advintes»
Dom Lopo de Almevda, que foy fenhor do Sardoal, Alcayde mór de Abrã-
tes, Punhete, & Maçaõ, Veador da Fazenda delRey Dom Affonfo o Quinto,
que o fez Conde de Abrantes: cafou com Dona Beatriz da Sylva , Camareira
mór da Rainha Dona Joanna, filha de Pedro Gonçalves Malafaya , V eador da
F azenda delRey Dom Joaõ o Primeiro, & feu Embaixador a Caftella, & de fua
mulher Ifabel Gomes da Sylva, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Diogo Fernandes de Almeyda, (irmaõ do famofo V ifo-Rey^ da índia
Dom Francifco de Almeyda) que foy Prior do Crato , Monteiro mór delRey
Dom Joaõ o Segundo , & Alcayde mór de Torres Novas : houve em Ines
Vafqucs, natural da Certaã, entre outros filhos, a
Dom Lopo de Almeyda, que foy Capitão de Sofala , & cafóu com Dona
Antónia Henriques, filha de Dom João Pereira, Commendador do Pinheiro, &
de fua mulher Dona Felippa Henriques, de que teve, entre outros filhos, a
' Dom Antonio de Almeyda, que foy Capitão mor do mar da índia, & Vea-
dor da Rainha Dona Catherina; cafoufegunda vez com Dona Beatriz da Syl-
va, filha de Francifco Correa, fenhor de Bellas, & de fua mulher Dona Anna de
Mendoça, de que teve, entre outros filhos,a
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA.' 379
Dom Luiz de Almeida,que foy fenhor da Cafade fcus pays,& teve huma
Commenda na Ordem de Chrifto, cafou com Dona Maria de Portugal, filha de
Dom Henrique de Portugal, & de fua mulher Dona Maria de Ataíde, de que te- "
ve, entre outros filhos, a
Dom Antonio de Almeyda, que foy Commcndador de S. Martinho da Soa-
lheira, & da Bempofta na Ordem de Chrifto : cafou com Dona Magdalena de
Ataíde, filha de Dom Manoel Mafcarenhas, Capit ao de Mazagão, & de fua mu-
lher Dona Francifca de Ataíde, de quem teve,entre outros filhos, a
Dom Luiz de Almeyda, que fervio com boa opinião, foy Meftre de Cam-
po de hum dos Terços de guarnição da Armada Real , que no anno de 1047.
paífou ao Brafil, fendo General Antonio Telles, Cõde de Villa Pouca, Governa-
dor do Rio de Janeiro, & do Algarve,& primeiro Conde de Avintes por mercê
delRey Dom Affonfo o Sexto: cafou com Dona Ifabel de Caftro, filha de Dom
João de Almeyda o Sabio, & de fua mulher Dona jeronyma de Caftro, de que
teve a Dom Antonio de Almeyda, que he fegundo Conde de Avintes; a Frey
João de Almeyda, Religiofo de S- Bernardo , & nella foy muitas vezes Abba-
de; a Dom Miguel de Almeyda, q&e governando feu pay a praça de Tanger, foy
Capitão de Infantaria nella, & depois com o mefrno pofto paífou ao Rey no do
Algarve, Scpaífando no anno de 1669. a fervir na índia, foy Capitão de Mar,
& Guerra, General da Armada do Norte, Governadbi) de Damão, & de Moçam-
bique, & ultimamête morreo cftãdo governãdo o Eftado da índia, aonde cafou
cõ D. Paula Corte-real,filha de Manoel Corte-real de Sampayo , & de D. Fran-
cifca da Cunha, de que teve a Dom Antonio de Almeyda, que morreo fem gera-
ção, & a Dona Maria Rofa de Portugal, que hoje he caiada com Dom Lourenço
de Almeyda feu primo coirmão, como ao diante diremos : teve mais o dito
Conde Dom Luiz de Almeyda a Frey Francifco de Almeyda , Religiofo dos
Eremitas de Santo Agoftinho, & Meli rena fua Ordem, a Dom Jofeph de Al-
meyda, que morreo eftudaodo em Coimbra , a Dona Magdalena Francifca de
Ataíde, Religiofa no Mofteiro de Santa Clara de Santarém, & a Dona Jeronyma
de Caftro, Dama do Paço da Rainha DonaLuiza,a qual morreo folteira.
Dom Antonio de Almeyda, filho do primeiro Cõde Dom Luiz de Almey-
da, he feguftdo Conde de Avintes, &occupou no Alentejo vários poftos, & fe
achou no fegundo íitio. de Elvas pofto por Dom Luiz de Haro, procedendo com
muito valor: foy Governador do Algarve , & ao preiente he Govern ador das
Armas da Provinda de Trás os Montes : cafou com Dona Maria Antónia de
Bórbon, filha deD.Thomás de Noronha,Cõde dos Arcos, õc de Magdalena de
Borbon, de q té a D. Luiz de Almeyda, de que abaixo fadaremos, a D. Thomas
de Almeyda, Deputado do S.Officio, & Defébargador da Cafa da Supplicação,
a D. Lourêço de Almeyda,^ no anno de 169 7. paífou â índia cõ o pofto de Ca-
pitão de Infantaria , aonde foy Capitão de Mar & Guerra , & de prefente
foy no focorro a Mombaça com o pofto de Fifcal da Armada : cafou com fua
prima coirmaã Dona Maria Rofade Portugal, filha de feu tio Dom Miguel de
Almeyda, de quem já fizemos menção, da qual teve a Dom Antonio de Almey-
da item mais efte fegundo Conde de Avintes os filhos feguintes: Dom Joaõ de
Almeyda,que he Eftudante, Dona Magdalena de Borbon, que cafou com Dom
Jorge Henriques Pereire, fenhor das Alcáçovas, Dona Ifabel de Borbon , que
cafou com Pedro de Mello de Caftro,filho do primeiro Conde das Galveas, Do-
na Antónia de Borbon, que cafou com Dom Affonfo de Menezes, fenhor da Po-
te da Barca, Dona Therefa de Borbon, que cafou com Dom Alvaro da Sylveira,
Dona
36O TOMO PRIMEIRO
Dona Jeronyma de Bordon, quecafou com Francifco jofeph de Sampayo &
Mello, fenhor de Villaflor^ôc a Dona Catherina de Borbon, & a Dona Bernar-
da de Borbon folteiras.
D. Luiz de Almeyda,filhodcfte fegúdo Cõde D-Antonio de Almeyda,he ter-
ceiro Conde de Avintes emvidadefeu pay, foyCapitaõ de Inf ataria do Terço
de guarnição de Elvas,Medre de Cãpo,& Governador da praça de Almeyda, & de
preíete he Medre de Capo doTerçodeguarniçaõ da Torre de S- G&acafou cõ
lua prima coirmaã D. Joanna de Lima, filha de D- Joaõ Fernandes de Lima, Vif-
conde de Villa-nova de Cerveira,& de fua mulher Dona Vitoria de Borbon.
C A P, V.
Do Concelho da z^faya»
EStá eíle Concelho na Comarca, & terra da Maya, que a dim fe chamou anti-
gamente toda a terra de entre Douro, & Lima; hojefótem cite nome a de
entret}ouro,& Ave,à qual os Latinos chamàrão Palancia. EIRey Dom Manoel
lhe deu foral em Évora aos 15. de Dezembro de 1f19» Hefenhor dos direitos
Reaes deite Concelho Roque Monteiro Paim : tem as Fregueiias feguin-
tes- . ..
S. Salvador de Ramalde, Vigairaria da Mitra, rende cento & cincoenta mil
reis, & para as Freiras de S. Clara do Porto, q comem a renda, q uatrocentos &
cincoenta mil reis: tem cento ôtquarent a vifinhos, &; huma Ermida de Saõ Ro-
TÍO C$»
CAP.
TOMO PRIMEIRO
CAP. VI.
DUas legoas da Cidade do Porto entre o Nafcentey & Norte tem leu af-
fento efte Concelho, de que forão fenhores os Pereiras Condes da Fei-
ra, & o vendeo Dom Manoel Pereira com licença delRey Dom João o Terceiro,
por fer Reguengo, no anno de 1 y $ 9- a Manoel Cirne da Sylva, Feitor em Flan-
des, lugar em que naquelle tempo Qccupavão os noffos Reys grandes peffoas,
pela fumma quantidade de drogas , que da noíTa índia Oriental lá mandavão
vender, & lho confirmou de juro, & herdade para fy,&feus defcendentes. He
hoje de Roque Monteiro Paim por compra a ElRey Dom Pedro o Segundo, &
extinção dos Cirnes: tem juiz, que conhece de luas rendas, & ,direitos Reaes,
do qual fe aggrava fomente para o Juiz da Coroa; tresTabeliaens do Judicial,
& Notas com cem mil reis de renda cada hum, data do fenhor da terra,Efcrivão
da Camara, outro dos Orfaõs, Diftnbuidor, Enqueredor, & Contador , hum
Ouvidor feito pelo povo, dalhe a Camara do Porto juramento, nam julga mais
de quatrocentos reis, & nas Sizas toda a quantia- Hum Porteiro , os Ofliciaes
da Vara faõ os do Porto. Conda das Freguefias feguintes-
S. Pedro de Agrella, Curado annexe a $. Julião de Agua longa, tem fetenta
vifinhos. Aqui he a cabeça deite Concelho , & eftá a Cafa dos fenhores dei-
le.
S. Salvador de Penamayor, Commend a de Chriífo, & Reytoria da Mitra >
que rende ao todo cento & cincoenta mil reis , ¶ o Commendador com a
annexa de Meixomil quatrocentos mil reis:tem cento & cincoenta vifinhos.
S- Julião de Agua longa, Commenda de Chrifto, & Reitoria da Mitra,que
rende aotodocemmil reis, & para o Comendador, cõ a annexa que relatamos,
duzentos mil reis:tem feífenta & quatro vifinhos.
Santa Maria de Reguenga, Abbadia do Padroado Real,rende duzentos mil
reis, tem cento & quarenta vifinhos.
Santa Eulalia de Lamellas, Abbadia que aprefenta o Moíteiro de S- Thirfo
com referva, & o Abbade de Refoyos, rende duzentos mil reis ; tem novent a
vifinhos. ,
S. Payo de Guimarey, Abbadia que aprefentao osBrandoens da Cala que
tem nefta Fregucfia, rende cento & vinte mil reis, tem feífenta vifinhos. Aqui
ha huma Cafa de fidalgos delia familia, & a famofa,que fez o Balio Braz Bran-
dão.
Santiagoda Carreira, Curado annexo de Refoyos, com quem fe arrenda,
tem feífenta &. dous vifinhos.
S.Chriftovão de Refoyos fie Igreja fagrada, & Abbadia que aprefentao os
Brandoens: diz o Catalogo dos Bifpos do Porto, que foy Convento de Fra-
des de Santo Agoftinho, naõ fey fe ferá implicação com o de Refoyos de Lima-
Tem annexa a Igreja de Santiago da Carreira, & rende com os dízimos de am-
bas,& foros fabidos mais de feilcentos mil reis: tem duzentos vifinhos.
Honra
DA COROGRAFIA F O R T U G U È £ A.
NO meyo derte termo cftà erta antiga Honra, que confia derta Ff eguefia,
Sc das de S. Mamede de Villar da Soroya, Sc S- Pedro da Reygada , com
preeminência do Juiz fazer eleição dos que fe hão de feguir de tres em tres an-
nos por pelouro com hum Efcrivão dos tres do Concelho , toma os votos dd
povo, Sc com elles faz também doús Vereadores, hum Almotaeel, Sc Porteiro j
à todos dá o Efcrivão juramento, poem porturâs,julgão no eivei, & crime, cb-
firma-os o Corregedor do Porto, que lhe toma contas, quando vem ao Conce-
lho em correição; porque não faõ obrigados a íahirem fóra a coufa alguma: tê
Cadea, St Pelourinho, Sc tres dias feira franca,que começa no primeiro de Feve-
reiro- Defta Honra forão fenhores os Alcoforados,millicos, ha annos,com os
Soufas, cujas Armas, Sc defcendencia apontaremos na b regueíia de S- Salvador
de Lordelto , da renda, Sc Torre, que aqui tem, chamada ponefta razão dos Al-
coforadoi, fa i lenhores os defcendentes dos paífados- Os direitos Reaes logra
Vafco de Azevedo Coutinho, fenhor de S- João de Rey, Sc Terra de Bouro-
S. Martinho de Frazão, Comenda de ChriftoySc Reitoria da Mitra > quô
fende ao todo cento Sc vinte mil reis, Sc para o Commendador com a annex a fe-
guinte quinhentos mil reis, tem cento Sc oitenta Sc feis vifinhos- He leu Com-
mendador o Conde da Ericeira.
S- Mamede de Villar da Soroya, Curado que aprefenta o Reytor dc Frazão,
de quem he annexa, tem feíTenta vifinhos.
S- Salvador de Moijte Cordova foy xMofteiro de Frades Bentos , que fun-
dou o pay de S- Rozendo Guterre Arias, Conde de Arminio, que viveo pelos
annos de 9 o 7. en» que S. Rozendo nafceo aqui perto , aonde parece era fua vi-
venda na Villa de Salas, que deftruío o tempo, Sc eíle fitio cahe agora na Ff egue-
fia feguinte,que defta íe erigio-Foyeftc Morteiro fogeito muitos annos depois,)
St Priorado do de Cella nova em Galliza, que punha alli hum Frade , Sc o Con.
Ventocomia a renda, quede cá lhe hia por confentimento dosBifpos do Porto,•
querendo o que S- Rozendo quiz, que vtveffemfeus Religiofos nelle : ríamfa-
bemos o tempo em que fe variou erta Ordem, mas que poUcos annos ha fe mu-
dou erta Igreja paraoutra parte da Fregueíia , em que ficou acomodando me-
lhor os freguezes, que faõ trezentos Sc quarenta vifinhos : heCommeilda dc
Chrifto, Sc Rey toria da Mitra, q ue rende ao todo cento Sc cincoenta mil reis> Sc
para o Commendador com a annexa feguinte quinhentos mil reis.
S- Miguel do Couto, Curado annexode S- Salvador de Monte Cordova >
Com quem fe arrenda,foy feita pelos pays de S-Rozendo, por Deos lhes dar crt e
filho, que nella*foy fervido febautizafle ;hum dos Altares do Cruzeiro eflá fun-
dado fobre a pia em que o Santo recebeo erte Sacramento, da qual fe conta , que
querendo trazellapara S- Thirfo hum Dom Abbade, levando para iífo muitos
homens, Sc boys, nunca a puderão mover , Sc voltando para leu lugar,humas
fracas vacas a levàrão. Tem o Cura feíTenta mil reis de renda, Sc o aprefenta o
Reytor de S- Salvador dc Monte Cordova: tem trinta Sc feis vifinhos.
Sãta Chrirtina do' Couto, Vigairaria que aprefenta o Dom Abbade die S«
Thirfo, rende ao todo cincoenta mil reis, Separa os Frades cento Sc trinta mil
reis; tem oitenta vifinhos.
370 TOMO PRIMEIRO
Sao trais de fie Conceito no Jriebijyado de Braga as Fregwfias [cguintes.
Santiago de Rebordaõs , Abbadia que aprcfentã o Morteiro de S. .Thirfo
com referva, deurtha Gil Martins, filho de Martim Fernandes de Sá no anno de
1226. rende quatrocentos mil reis, tem noventa vifinhos.
Santa Maria de Burgaés>fituada em humbellovalle do rio Ave, heAbba-
diada Mitra, que rende quinhentos & cincoenta mil reis, tem oitenta &. leis vi-
finhos. 1
S.ThomèdeNegrelios , Vigairaria dos Padres da Companhia de Braga,
por fer annex a de S-Pedro de Roriz, de que lògo fartaremos, rende ao todo oi-
tenta mil reis , & para os Padres quatrocentos mil reis : tem fetenta vifi-
rhos. ♦ .
S. Pedro*de Roriz, Morteiro antigo de Conegos Regrantes, paffou a Com-
mendatarios , &ertá fepultado hum na Capella mor com letreiro que diz cha-
marfe Joaõ Fernandes Farto; teve a mefma dignidade no de Villarinho alli per.
to defte, & deixou muita defcendencia. Ultimamente o derão os noífos Reys
aos Padres da Companhia em quanto duraífem as çbras do Coliegio de Bra-
ga- < '
O Morteiro Duples de S.Thirfo,fituadono mefmo Concelho de Refoyos,
& Bifpado dó Porto, cujo Bifpo Dcm Rodrigo da Cunha chama da Magdalena ,
fundado junto do rio Ave,que lhe banha a cerca, parece haver fido hú Téplo da
Gentilidade, por hum fcpulehro que nelle fe achou com letras,que dizião:^«í
jaz Sjl var.o L apitão de huma legião Romana. A mais antiga noticia que delie def-
cobrimos he,dcqueertava ja fundado na era de 8 8-que vem a fer o anno de
Chrirtode 770. & que tinha por Padroeiro a S.Nicolao. Geralrogte entendem
todos fer obra do Arcebifpo Primaz S. Frutuofo, ou de S. Martinho Bifpo de
Dume, que o edificàrão para a fua Religião de S. Bento, de que erao Monges.
Erte Morteiro devia perecer na invafaõ dos Mouros, & rertaui^tndofe erta Pro-
víncia, o Infante Dom Alboozar Ramires, filho delRey Dom Ramiro o Segun-
do de Leaõ, com fua mulher a Infanta Dona Elena Godins o reedificàrão, & do-
tàraõ em fórma pelos annos de 9 2 7. que todos os fazem feus fundadores,devo-
ção continuada nos deícendentes,que nelle fe lepultàrão,por lerem fenhores da
mayor parte derta Provinda, emquevivião,entreosquaes he hum Sueiro.Men-
des da Maya, cuja fepultura diz falecer em 2 7. de Junho de 1176. q fe he era de
Cefar,vemaferanno deChrirto 1 u 8-«Sc he erro de quem o faz morto mais ce-
do, ou fepultado no Convento de Moreira. Aqui jaz também feu filho primo-
génito Dom Payo Soares Çapata, de que diz o epitáfio morrer primeiro que o
pay no anno do Senhor de 112 7. cujos defcédentes paliado aCaftella,& Aragão,
derão lá principio a grandes Cafas doappellido de Çapatas. Em tepo delRey
D- Pedro o Quarto de Aragão já lá eraõ poderofos , como diz Zurita. Em
Cartelladcu EIRey Dom Felippe o Prudente o titulo de Conde'de Barajas no
anno de 1562. a Dom Franciíco Çapata deCifneros, fua Cafa Solar fe conferva
em Madrid. 1 em por Armas em campo vermelho cinco Çapatas de preto com
manchas de ouro, & huma orla de ouro com oito efcudos'de ouro , cada hum
com fua banda de prata do canto direito alto para a volta efquerda. Muitos
Reys, Príncipes, & fenhores dotàrão também erte Morteiro , hum dos quaes
foy Dom Martim Gilde Soufa,Condede Barcellos, Alferes mor delRey Dom
Diniz, & Mordomo mor delRey Dom Affonlo o Quarto, feu filho, fendo Prin-
cipe, & a Condeça Dona Violante Sanches fua mulher , & ambos ertaófepulta-
dos na Capella mor da parte direita com letreiro, que lhe poz Dom Miguel da
da corografia Portuguesa; vt
Sylva B:fpo de Vizeu, fendo Cõmendatario deite Convento no anno de i fio
mandandoihe fazer fepultura. Tem treze mil cruzados de tenda em dízimos,
annexas, & íabidos, com que fuftenta quarenta ôtfeis Religiofos , além do que
oa para os de S. Bento de Lisboa, Santarém, & outros. Deixou o nome de S»
Nicolao, & tomou ode S. f hirfo famofo Martyr Toledano , ou fegundo ou-
tros, B .fpo de Meinedo junto a Arrifana de Soufa , por hum braço deite fanto
lrelado, que para alli trouxerão de Meinedo. Aqui obra S» Bento por huma fua
imagem muitos milagres, pelo que he viíitado de muita gente, particularmente
nos íeus dons dias do anno, em que ha feira franca, & às quartas feiras de 1 f.
em if. dias, huma no lugar de Cidnay,outra eih 8. de Setembro,que dura dous
dias, & outra de boys, & beítas, os primeiros fabbados de cada mez. Tem re-
liquta.i de S. Bento, S. Plácido, & de vanos Santos. Teve muitos Coutos, de
doze achamos noticia, o do Convento , que lhe deu Dom Sueiro Mendes da
Maya em ij. de Março de 1094.. nameímafórma que lho havià dado o Conde
Dom Henrique no anno -antecedente: teve mais o de S. João da Foz, Villa-nová
dos Infantes, o de Qulaes, o de Sylvares, o de Soutello, o de Ayrão, o de STayo
de Guimarey,o dc Sãtiago de Guimarey,os do Ey xo, & Requeixo cõ o Condado
de Avintes; cõferva fóméte o do Moíteiro,& S.João daFóz,em q faz Juizes or-
dinários do eivei,Procurador, Almotaceis,& Meirinho,& fica o D. Abbade fedo
Ouvidor, paraque appellão as partes, & paifa às Juítiças cartas de Ouvir: os Ef-
crivaens deite Couto faõ os do Concelho de Refoyos , & aílimos da Camara,
Orfaõs, Diitribuidor,& Enqueredor. Logo que o reedificàrão aquelles Prin^
cipes para a Ordem de S. Bento, fe entende o povoarão de Monges, & Monjas j
& humas de quefe faz lembrança, faõ Dona Mayor Mendez, fua terceira neta,
fenhora de Burgacs, filha de Dom Mem Gonçalves d%Maya feu bifneto: Dona
Aldara Vafques, bifneta do Conde Dom gomes deSobrado , ScDonaUrtacá
Hermigis neta de Dom Mem Moniz de Riba do Douro. Se aífim permanecètão
muitos feculos,nãodefcubrimos,nemo anno,emque nelleentràraõCommén-
datarios , fó de que fe reformou para Religiofos por ordem da Princefa Dona
Joanna, mãy delRey Dom Sebaítião,poraí!ímo querer a Rainha Dona Cathcri-
na fua avô: foy o Reformador aquelle Religiofo Caítelhano, & da mefma Or-
dem Frey Pedro de Chaves, a quem o nofío Cardeal Rèy Dom Henrique entre-
gou as Bulias a 12. de Julho de 15-69. & 110 anno feguinte eítava reformado, &
foy o primeiro que deita Ordem fe reformou. Tem fermofa Cafa, bons claiíf-
tros com perfeitas fontes nelles , & no corredor do Dormitório outra muito
regia: huma grande levada de agua, que tirada do Leça perto de feu nafeimert-
to no monte Cordova, traz fuâ corrente de huma legõa,eomque fe regão mui-
tas terras, & moem moinhos. Temmaisbons pomares, olivaes, matas, & pra-
dos. A Igreja he fumptuofa, & nella continuamente feis alampadas s o Dom
Abbade apreíènta vinte & cinco Igrejas nos mezes de referva com diverfos Pa-
droeiros, & neíta aprefenta Vigário , que adminiítra os Sacramentos aos fre-
guezes: tem duzentos viíínhos, & eítas Ermidas, N. Senhora da Piedade, N.Se-
nhora da Varciela, S. Bertholameu,
Torna a entrar o termo 4a Cidade do Porto.
. $• Vicente de Alfena, Rey toria do Ordinário , que rende ao todo cento &
trinta mil reis,& para o Collegio dos Frades do Carmo de Coimbra duzêtos &:
cincoenta mil reis: chamafe Villa de Alfena, he arruada, & tem pelourinho, di-
zem o foy antigamente, & que tomou eíte nome de hua batalha, que alli demos
aôs Mouros, em que entrarão fete Condes, que emíingoa Arabiga Alfena quer
dL
37» TOMO PRIMEIRO
dizer batalha. Aquiha hum Hofpital de Lazaros, em que fuftentam quatro , &
a cada hum fcdà cada fomanatres quartas de paõ , & em cada huma de quatro
feftas do anno fe lhes dá hum alqueire de trigo, & hum almude de vinho a cada
hum de mais, & mais da ordinária, & hum carro de lenha,&: campo para hortas-
He adminiftrador derte Hofpital João Pinto Coelho , fenhor de Felgueyras,
V ieyra, & Fermedo, & lhe toma conta o Corregedor da Comarca, como Prove-
dor delia: tem cento &. feífenta vifinhos.
S- Lourenço de Afmes, Abbadia do Morteiro de Saõ Thirfo com referva*
rende trezentos &cincoenta mil reis, tem cento & vinte vifinhos.
S-Pedro Fins, Curado dasFreyras de S-BentodoPorto , rende aoCura
cincoenta mil reis, & cento & quarenta mil reis para as Freyras : tem oitenta &
quatro vifinhos. Aqui ertá o monte de S. Miguei com veftigios de fortificação
antiga, que dizem foy dos Mouros.
Santa Maria de Aguas fantas, Commenda de Malta , fundada pela Rainha
Dona Mafalda,chama-fe Morteiro,& dizem o foy, não dos Templários , como
alguns querem, mas dos Cavalleiros do SantoSepulchro, a que aílirtião } muy
parecidos em tudo aos fobreditos. Depois viverão nefte Morteiro , que era
Duples, Conegos, & Conegas Regrantes,& fe acha fua memoria pelos annos de
1130. & ainda no de 12 83. perfeverava com Conegos, & Prior , reynando El-
Rey Dom Diniz. Como paffou outra vez a Commenda de Malta não fabemos ,
nem temos noticia de que houveífe outro em Portugal da Ordem do Santo Se-
pulchro, fenão efte nefta Provinda. Tem Vigário com cento & vinte mil reis
de renda; he Collegiada com quatro Beneficiados fimples , tem de renda cada
hum cem mil reis, & tudo aprefenta o Commendador , quando vaga com refer-
va, ao qual importa a Cojpmenda em dízimos,& fabidos feifcentos mil reis, 5c
110 efpirituai he Prelado. Tem ertaFreguefia trezentos & trinta vifinhos , &
huma Ermida de Noffa Senhora de Guadalupe, Imagem milagrofa, &de muita
romagem. Aqui foy a Cafa folareja dos Mayas, em que viveo o Infante Alboa-
zar feu afcendente, para daqui poder melhor profeguir a guerra cõtra os Mou-
ros.
Santiago de Milheiros, Abbadia do Padroado Real, que rende duzentos
mil reis, tem cincoenta Vifinhos.
S.Veriífimo de Paranhos , Vigairaria que rende cento & feífenta mil reis,
& quinhentos mil reis para o Cabido da Sè do Porto, a quem he unida in perpe-
tuum, & a aprefenta: tem cento & cincoenta vifinhos.
S. Miguel de Nevogilde, Abbadia da Mitra, rende oitenta mil reis , tem
vinte & cinco vifinhos.
S. Martinho de Cedofeita he Collegiada Real, & das melhores do Reyno,
fundada por Reciario noífo Rey Suevo, que reynou pelos annos de 4,4,6- &foy
o primeiro Rey Catholico que houve no mundo -.levantou erte Templo à honra
de S. Martinho Papa, & mandando a França à Cidade de Tours bufcar huma re-
líquia derte Santo (que alli ertá) para pôr na nova fabrica ; ainda que os m en-
fageiros forão com toda a prefla, muito mais cedo fe fez a Igreja, & por tanto
lhe puzerão o nome de Cedofeita. Depois, fegundo fe entende , foy de Cone-
gos Regrantes de Santo Agoftinho com Prior, como fevê nafegunda parte do
Catalogo dos Bífpos do Porto na vida do Bifpo Dom Hugo, & aflim perfeverou
atèoannode 1191.em quecra Bifpo Dom Martinho. No anno de 1280. o
achamos com Abbade, & que tinha erta Igreja Couto ; porque ElReyDom Di-
niz lho confirmou em Braga em 7. de Julho ; & que as Jurtiças Reaes lhe nam
' DA COROGRAFIA PORTUGUESA, ifi
impediffem tirarfe fal nas marinhas de Maçarellos. PaíTou a Priorado fccular
cm que permanece com renda dedous mil cruzados, & em noíTos temoos fnhin
D A on
Pedm^ ÍT Regente,
1 edro noffo R agora°^
Rey ^ ^oSexto
fegundo , & do
do nome, Seren./Timo
o venerável pTc^e
Dom Da
Nicolao
Monteiro , que depois faleceoBifpo do Portò com opinião de ajuftada vida.
1S
STvf^
reis, r' 1a
M Jtre-efcola, klc0mrenda
Abbadede de cento
Nogueyra, em que aprefenta &cincocnta
Cura, mil
que confir-
ma o Ordinário, com duzentos & trinta mil reis , TJaefoureiro com cento &
ciricocnta.mil reis, oito Conegos a oitenta mil reis , & tresmeyos Conexos i
quarenta mil reis, todos da aprefentação do Prior alternativamente com o Papa,
que também o prove.. Aprcfentão o Prior, ScOonegos o Priorado de S. Mar-
tinho de Salrcu com alternativa do Convento de Lonão , aAbbadia de Saõ
João de Canellas na terra da feira, & a Reytoria de STCofme de Gondomar: o
Prior aprefenta, & colla os Curas de Cedofeita, & a annexa de Maçarellos em
que he Prelado, eflando tam perto do Porto , como Santa Cruz em Coimbra.
Ha aqui grande romagem no dia de S- João Bautifta com novena antecedente:
tem relíquias deite Santo metidas em huma cabeça , & todos os terceiros Do*
mingos dos mezes concorre muita gente aos E vangelhos de S. Joaõ Evanseliffcu
Tem mais huma cuítodia de diverfas relíquias , & entre ellas algumas das
roupas de No-Ta Senhora. Tem eíta Freguefia duzentos & noventa viíinhos.
t ~ Santa Maria da Boa Viagem de Maçarellos,arrabalde do Porto,he Curado
de Cedofeita, de quem he annexa, & com ellafe arrenda. Aquieítá outra Igre-
jaque chamão o Corpo Santo, mas ambas faõ de hum Curado, tem duzentos &
o. tenta & quatro viíinhos.
CAP. VIL
A Eíte Concelho deu foral El Rey Dom Manoel em Lisboa aos 2 y. de No-
vembro de 151 f tem Ouvidor pedaneo feito pela Camara do Porto cõ
votos do Concelho, tres Tabeliaens do Civel, & Notas por El Rey, rende cadá
li
l74 tomo primeiro
em 20.de Mayo de 1141. El Key Dom Affonfo o Quarto lho confirmou por
fentença,dizendo>que a Abbadeffa dcffe juramento ao Juiz para ouvir feitos
eiveis, &as appellaçoens foffempara a mefma Abbadeffa;, de quem fopudeffe ir
por aggravo a El Rey: aflim fe conferva hoje, elegendoo o povo cada anno, & ler-
ve também de Grfaõs, com que lhe rende oito mil reis à Abbadeffa de S- bento
do Porto, a quem efte fe unio,a qual lhe dá juramento, & a vara ,& apreíenta Eí-
crivão, Meirinho, que ferve de Porteiro, & Almotacel* Outros dizem que ci-
tas Monjas foraõConegas Regrantes, & que primeiro eftiveraô noConvento
Duples de Moreira, donde fe paffàraõ para efle , & nelle confervàrao o antigo
habito de Conegasatè o anno de 1 3 5 • em que fe mudàraõ para o novo Moitei-
roda Ave Maria de S. Bento do Porto, aonde ficàraó Bentas, lendo ultima Ab-
badeffa de Rio tinto Dor^Ines Borges, levando do Convento de Moreira, qua-
do fe dividirão dos Conegos, mais de hum conto de renda, em que entra a quin-
ta da Retorta junto de Azurara, & os cafaes, & Igreja q tem na terra da Maya,
& fe entede foraó de D- Sueiro Mendes da Maya, que fez grandes doaçoes ao di-
to Convento de Moreira no anno de 1085". Muito oppoítasfaõ eiras duas opi-
nioensdeFrcvLeaõdeSantoThomás , & de Dom Nicolao deS- Mana, Ghro-
niílas de fuas Religioens, fe a minha coníideraçaõ valera , differa eu, que Rio
tinto logo foy fundaçaõ de Freyras Bentas , & que depois dividir.doie dos Co-
negos as Concgas de Moreira, fe iriaõ alli recolher com eítas vifmhas, conier-
vando cada huma feu habito, & adminiflrando feus bens, como poucos annos
ha vimos no Seminário de Braga, aonde, depois que os Gallegos neítas guerras
paffadas nosganhàraõ Monçaõno anno de 16^9. eíliverao juntas ( mas nam
unidas) as Freyras dos dousMoíieiros,deS. Bento, & S Franciíco, ate o an-
node id68- emque feajuífàraõ aspazes , & cada Religiofa tornou parai eu
Convento. He eíla Igreja Vigairaria que aprefentaa Abbadeffa de S-Bento do
Porto , a quem daõ em lugar dedezafetemil reisosdizimos da Aldeã de Ba-
guim do Monte, que com a cultura creceo tanto, que rende ao todo trezentos
mil reis, & para as F reyras com fabidos tres mil cruzados. Tem duzentos &
quarenta & feis vifinhos, & ha neíla F reguefia minas de talco fino , que' eleva
para muitas partes, com que muitos tem enriquecido item muito mel, lacticí-
nios, boas frutas, muito vinho verde, & caça- ....
S.Pedro da Cova, Abbadia da Mitra, rende cento & oitenta mil reis,tem
fetenta vifinhos. . _v ,
S- Mamede de Val longo,Vigairaria do Moíteiro das Freiras de S.Bento do
Porto,q rede ao todo céto & vinte m'ilreis,& para as Religiofas cõ íabidos tre-
zentos mil reis: he povo grande arruado habitado de muitas padeiras , que
fuftentaõ o Porto de paõ, que ellas lá levaõ a vender, & de muitos almocreves,
que vive de conduzir de muitas legoas o trigo para fuas mulheres cozerem:
tem duzentos & noventa vifinhos, ôteftas Ermidas, Noffa Senhora das Chans,
que foy de muita romagem. Santa Juíla,S. Bertholameu, & Santo Antaõ- Aqui
eílaõos veftigios das minas antigas com muitos fojos inda abertos, de que he
tradiçaõ tiràraõ os Romanos grande quantidade de ouro,& prata,&: que condc-
navaõ os culpados para trabalhar nellas. Nas penhas defta ferra fe achaõ muitos
criílaes, alguns baítantemente finos. No mais alto da montanha eíla hum po-
ço altiífimo,que de Inverno fe feca, & de V eraõ tem tanta agua bemfria , que
com ella fe regaõ muitos milhos.
S. Martinho do Campo, Abbadia do Convento de V illela com referva, ren-
de duzentos mil reis, tem cento & cincoenta & dous vifinhos.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA, 375-
Santo André de Sobrado, Abbadia da aprefentaçaõ dos Baldayàs do Por-
to, familia antiga, & nobre, rende quinhentos mil reis, tem cento & trinta 6c
quatro viíinhos.
S. Miguel dc Gandara, Abbadia que aprefenta o Balio, rende duzentos &
cincoenta mil reis, tem cento, & quarenta viíinhos*
Santa Marinha de Eftromil, Abbadia quefoyda familia dos Ferrazes do
Porto, ét paliou por cafamento aos Nunes Barretos, em que anda 5 he feu Pa-
droeiro infolidumDomFradiquede Magalhaens 6c Menezes ,fenhor da Villa
da Barca,por fer genro, ôc herdeiro deí ernaõ Nunes Barreto Morgado de Frei-
riz: rende cem mil reis, tem quarenta 6c tres viíinhos*
Santa Eulalia de Vandoma chamaõlhe Morteiro, porque fegundo alguns o
foy de Bentos, inda que Dom Ntcolao de Santa Maria na fua Chronica do9 Có-
negos Regrantes o faz da fua Ordem ; mas o certo he haver íido dos Premof-
tratenfes em França, 6c nelieos achamos até o anno de 1 y 16- Foy fundado
por Dom Moninho Viegas o Gafco,6c feus filhos, 6c feu irmão o Bifpo Saõ Sif-
naudo, St Dom Nonego, Bifpo de Vandomà em F rança , donde o foy primeiro
que vieíTe para o Porto: tiveraõefteappelliclo,ôcodéraõa muitas terras junto
da fó z do Soufa, que inda conferva o nome de Gafconha , por irem a Gafcunha,
Província de França, bufear gente, que trouxerão por mar ao Douro, com que
ganhàraõ a Cidade do Porto aos Mouros, 6c muitas terras acima daquelle rio }
6c como o Bifpo Dom Nonego o tinha fido de Vaudoma , quereria fe puzeífe
aquellenome a efte Morteiro, 6c àquelle grande monte, em que íe vem ruinas de
fortificação, que fervia ao exercito de fegurarfe das.correnas dos Árabes , ou
repentinas affaltadas, quando os Conqniííadoresfe tiveíTem divertido a outra
parte, a que era força fahilfem , deixando alli com fuas famílias huma guarni-
ção ordinária. He Abbadia do Padroado Real, rendelhe huma parte dos dízi-
mos coin o que lhe toca das duas annexas, S. Miguel dcChriftellos , 6c Santa
Eulalia de Paifos, duzentos 6c cincoentamil reis, Óc para os Padres da Compa-
nhia do Collegio de 5. Lourenço do Porto, a quem fe derão as outras duas par-
tes dos dízimos, 6c fabidos, quinhentos mil reis, dequepagaõa cada hum dos
dous Curas das annexas, que aprefenta o Abbade, dezoito mil reis: tem feten-
taéc.oito viíinhos.
S. Miguel de Rebordoza, Abbadia da Cafa de Pertaguiaõ, que rende qui-
nhentos mil reis, tem duzentos 6c vinte 6t feis vifinhos-
S. Salvador de Lordello, foy Morteiro de Gonegos Regrantes , 6c ainda
os tinha no anno de 14,78- He Abbadia fecular dos Bifpos do Porto infolidum,
rende íeifeentos mil reis, tem duzentos & trinta & feis vifinhos. Aqui ertá a
Torre, & Solar dos Alcoforados, de quehefenhor Peflro Vaz Cirne de Soufa-
Tem efte appellido por Armas o campo enxequetado de prata, 6c azul > de fete
jecas em faxa, timbre huma Águia de azul volante, armacia, ôc enxequetada da
)anda direita ametade da prata. Defcendem de Pedro Martins Alcoforado, fi-
ho de Martim Pires de Aguiar, ôc de fua mulher Dona Elvira Gonçalves , ôc ne-
to (naõ filho, como diz Frey FrancifcoBrandaõ na Monarquia Lufit.p. 7. liv.
16- cap-17.) de Dom Gonçalo Mendes de Soufa, 6c de fua amiga Dona Goldo-
ra Goldares de Refronteyra, por onde faõ Padroeiros de Boftello , 6c tiveraõ
muitas Honras nefta Província, em que ha muitos fidalgos defte appellido mif-
tico com Soufas, 6c delles defcendem os mayores do Rey no , particularmente
por varonia as Cafas da Sylvaem Barcellos, 6c a de Villa Pouca em Guimarães,
de q ue he fenhor Francifco de Soufa da Sy Iva.
3 76 TOMO PRIMEIRO
s. Eftevão de Villela , Mofteiro de Conegos Regrantes de Santo Agofti-
nho, que fundou Dom Payo Gutçrres, que com feu pay Dom Goterrc veyo de
Gafcurha em companhia do Conde Dom Henrique, que lhe deu muitas terras
nefta Província, aonde foraõ troncos da illuftre i amilia dos Cunhas- IN am lhe
fabemos o anno de fua fundaçam, mas já eftava feito no de 1118* &havia nelle
Raçoeiros com Prior chamado Affonfo Paes- Muitas peífoa nobreslhe iizeram
depois grandes doaçoens ;paffoua Commendatarios, que lhe alheàraõ n.uito,
& toy o ultimo que teve Antonio Brandaõ, irmaõ de joaõ Brandaõ do Porto, fi-
dalgo honrado, de que vem os fenhores da C afa de Corevxas • Fez no Morteiro
obras de cufto, & muitas fe teftificaõ com fuas Armas, que nellas le vem : tale-
ceono anno de 1590. em quefe Unio à Congregação dos Conegos cie -Santa
Cruz de Coimbra, & no de 1595- entrou nelle por primeiro Prior triennal o Pa-
dre om Gafpardos Reys- No de 1612- fe unio in perpetuum ao Convento
da Serra do Porto: de prefente tem dous Religioíos, fetvindo hum de Piefiden-
te, & outro de Procurador: confervaõhuma relíquia do Proto- Martyr Santo
Eftevaõ em huma maõ de prata com muita romagem em feu dia. Teve Couto,
que já nam tem ; rende ccm paíTaes,- anntxa, & labidos dous mil cruzados para
o Mofteiro da Serra do Porto, cujo Prior poem Cura fecular, que terá de renda
trinta & cinco mil reis item cento & quarenta & cinco vifínhos. _
Santa Maria de Duas Igrejas, Abbadia que aprefenta o Mofteiro de V ide-
la com referva, rende trezentos mil reis, tem oitenta vilinhos.
S. M iguel de Chriftellos , Curado anriexo a Santa Eulalia de Vandoma ,
que terá de renda cincoenta mil reis, com dezoito que lhe daó de ordinária.
tem cincoenta vifínhos.
S. Pedro da Arreygada, Curado annexo ao Mofteiro de Villela , & com
elie fe arrenda, daò ao Cura dez mil reis, & ao todo trinta mil reis: tem quareta
& fete vifínhos. ....
Santia, o de Modellos, Curado do Mofteiro de Ferreyra com oito mil reis,
ao todo vinte mil reis , & para hum beneficio fímples do Mofteiro íefftnta mil
reis: tem fefíenta & quatro vifínhos.
S. Salvador de Meixomil, Curado anr.exo à Commenda de Penamayor,que
aprefenta o Rey tor: tem cento & dezafeis vifínhos.
Santa Eulalia de Paífos, Curado annexo de Vandoma, tem cento & quinze
vifínhos. > . .
S. Salvador de Freamunde, Preftimonio da Ordem de Chrifto, que roy ha
poucos annos Abbadia, tem Rey tor com quarenta mil reis de renda , ao todo
cem mil reis, & para o Commendador duzentos mil réis; he Couto , & Honra
cò Sobrofa, cada húacõjuiz ordinário, & dos Orfâõs, eleito pelo povo por pe-
louro, confirmado pelos Màrquezes de Villa Real, fenhores delia , que davaõ
todos os ofícios, &: Commenda,& aprefentavaõ Reytor; dous Vereadores,Pro-
curador, & Almotacel,Efcr Iva *>,& out rodo PubliéO , & Camara; fazem elles
Juizes ambos audiências alternativamente, & entrao no domínio deita Honra
cafeiros defóra,que gozão privilegio de moradores : tem cento & cincoenta
vifínhos, & eftá cercada do Julgado de A uiar. Preftimonio chamamos ahúas
rendasde Igrejas, que com o habito de Chrifto davaõ os Marquezes de Villa
Real,Duques de Caminha, a quem lhes pareaa,& lograõ titulo de Commendas,
&os queapofíuem tem asmeírnaspreeminencias queoscídRey ; que os Pr in:
cipes que poífuíraõ efta Real Cafa, nam quizeraõ degenerar do fangue que her
dàraõ das Mageítades de quem defeendem.
DA COROGRAFIA PÕRTUGUE2A; 37;
S. Salvador de Figueiras, Abbadia que aprefenta o Balio, rende duzentos
& cincoenta mil reis, tem cem vifinhos.
Couto de Ferreira.
Feetria de Louredo.
Ho?ira de 2>altar.
CAP. VIII.
HUmalegoa do Porto pelo Douro acima cfíá íítuado eíie Concelho, de que
he Donatário o Marquez de Fontes, Conde de Penaguião : ElRev Dom
Sancho oPrimeiro eílando em Santarém 110 mee de Março de 125 6. lhe deu
foral, que depois reformou FlRey Dom Manoel em' Lisboa aos 19. de Junho de
15" 1 f. Eíie Couto deuElRey Dom Sancho o primeiro à Sê do Porto, 5c o con-
firmou a feu Bifpo Dom Martinho ElRey Dom Affonfo o Segundo eíiando em
Santarém em Março de i2iS.&aqui elieve aquelía Honra de Sueiro Rey mo-
do, de que ElRey Dom Affonfo o 1 erceiro mandou tomar conhecimento , 5c
achou que naõ era honrada por couto, padrões, carta, ou pendão, fenão por ra-
zao da peffòa deíie fidalgo. Era eíia Honra Solar dosReymondos , que tem
por Armas o efcudoefquartelado, o primeiro cm campo azul com huma flor de
Liz de prata, 5c o fegundo em campo de prata com hum Pinheiro verde , a que
corre fponde os cõtrarios, timbre o peixe Reimaõ de ouro com hú ramo de pi-
nheiro atraveffado na boca, Aqui eíiá hum alto penhafco, a que chamaõ o Craf-
to, que foy fortificação inexpugnável de Mouros., de que os lançou fora o In-
fante Dom AlboazarRamires; permitcDeos que neíie íitio,em que tantas ve-
zes devia fer por elles offendido , feja hoje muitas mais venerado pelos Chrif-
taõs com grande romagem a huma Ermida que nelleeíiá. Coníla eíie limitado
Concelho das Fregueíías de Rio tinto, Campanhaã, & S. Pedro da Cova,de qtlê
ja falíamos, 5c deíia, que logo defcrevcremo-,. Todo tem tres juizes, a quedo-
mína o Ouvidor deíiaFregueíia, 5c lhes vem efcrever hum Efcrivão do Porto,
Os mats officios importão pouco,'
S. Cofme de Gondomar, que daonome ao dito Concetto, foy a primeira
Igreja que a eíte Santo natural de Egea, Cidade de Arabia, fededicòu emEfpa-
nha; he Çommenda de Chriílo,ôc Reitoria que aprefenta Cedofeita com refer-
va, rende ao todo cento 5c cincoenta mil reis, 5c para o Comendador feifcentos
mil reis: temtrezentos 5c trinta & quatro viíinhos. Houve aqui huma notável
mina de talco fino, que fe extinguio eíles annos páííutio,.
sua
wmw
CAP,
382 TOMO PRIMEIRO
CAP. IX.
Do Concelho de Loufyda.
C A P. X.
Honra de Tdarbojd*
fíonrty
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA; jS?
SAõ Salvador de Gallegos he Abbadia da Mitra, que rende duzentos & vin-
te mil reis, tem cento & doze viíinhos, & duas Ermidas, huma de Santia-
go j outra de NoíTaSenhora» Aqui eífá a Honra de Gallegos , que hc
Beerria fogeita à de Louredo no Concelho de Aguiar de Soufa»
S bo
* 5 Tlih> clue antigamente fe chamava de Caifaz, he Curado
annexo de S. Eitevaõ de Oldraõs, cujo Reytor o aprefenta , tem cincoenta Sc
quatro vilinhos.
Santo Eftevaõ de Oldrãos foy Abbadia daCafada Calcada , paíTou a Co-
menda de Chriíto,& he Reytoria da Mitra , que renderá ao todo cento & cin-
coenta mil reis, & trezentos mil reis para o Commendador» Aqui elk a Caía
da Calçada, quepoflue Gonçalo Peixoto da Sylva,fenhordos direitos Reaes de-
ite Concelho, & das armas que ferem: tem feffenta& feis viíinhos.
Santiago de Valpedre, Abbadia do Mofteiro de Paço de Soufa com refer-
va, rende trezentos mil reis, tem cento & doze viíinhos , & huma Ermida de
N» Senhora da AíTumpçaõ.
S. Miguel de Paredes, Abbadia da Mitra , rende cento & cincoenta mil
reis, tem quarenta & fete viíinhos.
_ S» Salvador de Gandra, he Curado dos ConegoS de S» Joaõ Evangeliíla do
Porto, fica meya legoa ao Norte do Burgo de Entre ambos os rios. Fundou
cita Igreja a Rainha Dona Mafalda , filha delRey Dom Sancho o Primeiro em
1 ortugal, & mulher de Dom Henrique o Primeiro de Caltella , de que por pa-
rente fe apartou. Chamafe vulgarmente a Cabeça fanta, por huma que tem, fem
labcrmos de q Santo,ou Santa feja, & pelos muitos milagres que obra, fe-Guar-
da no Altar collateral da mão direita em hú facrario cuberta cõ hum encaixe Sc
cmtasde prata, que a feguraõ, mas bem fe vè. Os Padres Loyos, a quem unio.
erra Igfeja o Papa Leaõ X. no anno d 2 1 y 1 p. a quizeraá levar para o Porto
mas o povo fe inquietou de forte, que fó parte lhe confentio. Rende ao Cura
com as offertas de todo o anno, que faõ muitas , particularmente aos z±. de
Mayo, duzentos mil reis, & para os Frades trezentos mil reis. ElRey D» Joaõ
o Terceiro mandou paíTar de graça os Romeyros, que a ella vem , na barra de
Entre ambos os Rios, em que os Reys tem a terça» Tem ella Frenueíia cento
0
& trinta viíinhos.
&lhoje^J^õdeVillaCovadeVezdeViz
da Mitra, rende duzentos & cincoentafoy
milAbbadia
reis, temdafetènta
Cafa da Calçada,
& dous viíi-
nhos,& huma Ermida de N» Senhora do Rofario.
S Gens de Boelhe, Abbadia do Mofteiro de Villa boa doBifpo com refer-
va, rende duzentos mil reis, tem noventa & dous viíinhos.
S. Miguel de Pacinhos , Curado annexo a Rio de Moinhos, com quem fc
arrenda, tem trinta & dous viíinhos.
S» Martinho de Rio de Moinhos foy Abbadia, & hoje he Vigairaria , que
rende ao todo cento, & vinte mil reis :ós frutos, que paífaõcõ a annexa acima
de trezentos mu reis,comem os Leites Pereiras do Porto , como Adminiíira-
dores da Capella dos Reys no Convento de S» Francifco daquella Cidade, com
obrigação de cafarem algumas orfans ; tem cento & fetenta Sc dous viíi-
nhos .
KKiij S.
0 TOMO PRIMEIRO
S- Vicente do Pinheiro de Vandoma, Abbadia que aprefenta GonçaloPci-
. to da Sylva, fenhor da Cafa da Calçada, rende mais de mil cruzados , tem c£-
to & trinta & cinco vifinhos. Neila f reguefia em hum monte perto da Aldeã
/ 0uteiro tias Velhasviviaõ exemplarmente humas Beatas , de cujas cellas
térreas, 6c cerca fe vem ruínas, 6c poucos annos lia fe deixou de dizer alii M iffa
„. cacellade S- Eyria, que ellas tinhaõ*
í Payo da Portella, Abbadia de Manoel Ferreira d'Eca , Morgadodc Ca-
valkiros rende cento 6c cincoentamil reis, tem fetenta vifinhos, com huma Er-
mida de S. Sebaíliaõ, 6c outra de Santo AntaÔ- Aqui neíta Freguefia no lugar
da Torre eitàhuma arrumada , que he defies fidalgos Padroeiros da lgre-
d CU
' símiiodc°Fonte Arcada,Commenda de Chriflo, com Rcytor com o habi-
i w J? j. nnct-pm de renda cento 6cfefienta mil reis, 6c para
SAõ Miguel de Entre ambos os Rios, Abbadia da Mitra, que rende cento &
vinte mil reis, tem trinta vifinhos , 6c huiUa Ermida de Nofia Senhora da
Saúde. Parece que antigamente foy Vilia, a qual era da Mitra de Coimbra ,cu]o
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA' J0,
Penafiel 1 Iurament0aAbbadcíTa
f , & nelleferve defilcnvaõhim dps tfc
Villa de zSMelres,
A illuftre Caía de Cantanhede, chefe dos Menezes,tem huma tam antiga va-
ronia, que depois de mil annos fe acha ingénua ; & ainda que os Nobiliários i
começao a contar de Dom Tello Peres de Menezes , lhe daremos principio mak
certo, & muito mais antigo.» ^
Senior Tello foy grande Senhor em Afturias, & Rico homem1, & como tA
confirma muitos privilégios pelos annos de 738. reynando D.Favila • tcvl
por filho a '
Tello Telíes, que viveo noreynado dos Reys Dom Silo, & Aurelio • confir-
mou efen tura s a Santa Maria de V alpuefta no Reyno de Leaõ , & a outras mais •
no anno de 770. Tevefilhoa «"«uiais
Tel Telles de celebrada memoria, Rico homem dos Reys de Lea5 Dom A l
fonfo o Caito,& DomBermudo,&foy feufilho legitimooíeguinte.
, Suer Telles, a quem outros chamaõ Sueyro Peres Telles , foy Mordomo
mor delRey Dom Ramiro o Primeiro , & confirmou privilégios à Igreia de No-
gueyra na ribeira do Minho: cafou nobremente, & teve filho a
» T Gofer, que foy Rico homem, & fenhor de bons vaíTallos em Galliza,
& Leão, Mordomo mor, & Veador da Fazenda do Infante Dom Alboazar • ca-
fou altamente, & teve filho a
Gonçalo Telles , que foy Rico homem dos Reys de Oviedo, & Leaõ Dom
Ramiro o Terceiro, & DomBermudo o Segundo, & grande amigo dos Condes
de Caftella 5 povoou a Cidade de Ofma, de que foy Governador , & cafou alta-
mente, de que teve, entre outros filhos, a
Tello Gonçalves, que foy Rico homem delRey Dom Bermudo o Segundo,
391 TOMO PRIMEIRO
&. Governador de O ima: cafou altamente, & teve filho a
Diac Telles, que foy Rico homem dos Rey s de Leaõ Dom Affonfoo Quin-
to, & Dom Bermudo o Terceiro : cafou nobremente, & teve filho a
1 ello Dias, ciue floreceo no tempo delRey Dom Sancho o primeiro de Caf-
tella, & no dos Condes defte Reyno pelos annos de 1150. cafou muy nobremê-
Fernaõ Telles, que foy Rico homem delRey Dom F ernando o Primeiro dc
Caftella, & Leaõ, & confirmou privilégios no anno de 118 5. cafou altamente,
Sttevefilhoa , '
Tello Fernandes, que foy Rico homem delRey Dom F ernando , & confir-
mou muitos privilégios da Rainha Dona Urracaexilou altamente , & teve, en-
tre outros filhos, a
Com Affonfo Telles de Monte alegre, q floreceo no reynado delRey Dom
Affonfo o Sexto, & foy Rico homem com muitos poftos na guerra, íenhor da
terra de Campos, & Sahagum, cafou, & teve filho a
Don;Pedro Bernardo de S- Fagundo , que foy fenhor aas terras de feus
pays, de Malagaõ,& outras muitas terras : cafou com Dona Maria Soares da
Maya , filha de Dom Mem G onçalves da M ay a, & de fua mulher Dona Leon-
guida Soares, chamada a Tainha, q foraõ pays do Lidador, de q teve, entre ou-
tros filhos, a
Dom Tel Peres de Menezes, que foy fenhor ao Caítcllo de Malagao , que
trocou com ElRey Dom Affonfo o Oitavo deCaftella pelas Villas de Menezes,
Villa-nova, S.Romaõ,& outras muitas terras: foy Principe de grar^es ferviços,
& como neto delRey D-Ordonho foy hú dos mayores fenhores de Ffpanha : ca-
fou com Dona Urraca Garcia DeorcaSorcde,filha de Monçorre, fidalgo Gal-
lego de illuftre familia, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Affonfo Telles de Menezes, que foy fenhor das terras de feu pay, &
de outras muitas,entre as quaes era Valhadolid: foy povoador de Albuquerque,
porcafarfegundavezcom Dona Therefa Sanches, filha delRey Dom Sancho o
primeiro d^Portugal, & de Dona Maria Paes Ribeira, fidalga illuftre, de quem
teve, entre outros filhos,a
Dom Joaõ Affonfo Tello de Menezes, que foy fenhor dc Albuquerque, Al-
feres mór, & Rico homem de feu primo ElRey D- Affonfo o Terceiro de Portu-
gal : cafou com Dona Leonor Gonçalves Giron , filha de Do n Gonçalo Rodri-
gues Giron,JSc de fua fegunda mulher Dona Marqueza , de que teve, entre ou-
trosfilhos,a
Dom Gonçalo Annes de Menezes, a quem chamàrao o Rapozo , por ular
de muitos ardis na guerra ; foy Rico homem delRey Dom Sancho o Bravo dc
Caftella,& de Dom Affonfo o Sabio: cafou com Dona Urraca Fernandes de Li-
ma, filha de Fernando Annes de Lima , & de íua mulher Dona 1 iiereía Annes,
de quem teve, entre outros filhos, a
Dom Affonfo Telles de Menezes, que paffou a Portugal em tempo delRey
Dom Affonfo o Quarto , pelo querer matar ElRey Dom Pedro o Primeiro de
Caftclla 5 foy Mordomo mór dodito Rey Dom Affonfo o Quarto, & Conde de
Ou rem :cafou com Dona Bennguella de Valladares, filha ae Lourenço Soares
de Valladares, grande fenhor em Entre Douro, & Minho , & de fua mulher Do-
na Sancha Nunes de Chacim,de que teve, entre outros filhos, a
Dom Martim Affonfo Tello de Menezes, que paffou aCaftella por Mordo-
mo mór da Rainha Dona Ma ria, fiiha delRey Dom Affonfo o Quarto,& mulher
dei-
DA COROGRAFIA PORTUGUESA, |<?j
delReyDom Affonfo o Undécimo deCaftella : matou o injuííamenteÉlRey
Dom Pedro o Cruel de Caíklla; cafou com Dona Aldonça de Vafconcellos , fi-
lha de Joanne Mendes de Vafconccllos, Rico homem delRcy Dom Diniz , & dê
fua mulher Dona Aldonça Affonfo Alcoforado, de que teve, entre outros , a
Dona Leonor Telles de Menezes, que foy Rainha de Portugal, mulher delRey
Dom Peruando, 6c a
Dom GonçaloTello de Menezes, que foy Conde de Neyvá, & Faria, por
mercê delReyDom Fernando feu cunhado, Alcây de mor de Coimbra, fenhor
de V iila-viçofa, Abrantes, Almada, Cintra, Torres Vedras, Alenquer, Atou-
guia, O vidos, Unhos,6c Cantanhede, com outras muy tas terras , & Regue»
gos: cafou com Dona Maria de Albuquerque, filha de Dom Joaõ Affonfo de Al-
buquerque, chamado do Ataúde, fenhor de Medelim, Albuquerque , 6c outras
muitas terras, que era filho do Infante Dom Affonfo Sanches , filho delRcy Dõ
Diniz de Portugal, 6c de fua mulher Dona Tareja de Menezes, fenhora herdei-
ra deft a illuífre Caía, & houve o dito Dom Joaõ Affonfo de Albuquerque eíla
fua filha emMaria Rodrigues Barba,mulher fidalga;tevedeíla D-MariajdeAlbu-
querque o dito D.Gonçalo Tello de Menezes feu marido,entre outros filhos, á
Dom Martinho de Menezes, que foy fegundo Conde deNeyva, fenhor de
Cantaahede, 6c outras terras: caiou com Dona Therefa Coutinho, filha de Vaf
co Fernandes Coutinho, primeiro fenhor do Couto de Leomil , 6c Meyrinho*
mór deite Reyno, 6c de fua mulher Brites Gonçalves de Moura , de que teve ,
entre outros filhos, a
Dom Fernando de Menezes, que foy fenhor da Cafa de Cantanhede, Mor-
domo mór da Rainha Dona Ifabel, mulher delRey Dom Affonfo o Qrnnto : ca-
fou com Dona Brites Freyre de Andrade, filha de Ruí S;reyre de Andrade, Co-
mendador de Palmella, 6c da Arruda,& de fua mulher Maria Fernandes de Mey-
ra, de que teve, entre outros filhos, a Dom joaõ de Menezes, 6c a Dom Fernan-
do de Menezes o Reyxo,de quem defeendem os Candes da Ericeira, como em
feu lugar diremos.
Dom Joaõ de Menezes, filho do dito Dom Fernando de Menezes, & de D*
Brites Freyre de Andrade fua mulher, foy fenhor dc Cantanhede, 6c cafou com
Dona Leonor da Sylva, filha de Ayres Gomes da Syiva, fenhor de Vagos , &
Regedor da Juítiça, & de fua mulher D. Leonor de Miranda, de quem te ve , en-
tre outros fi Ih os, a
Dom Pedro de Menezes , que foy primeiro Conde de Cantanhede por
mercê delRey Dom Affonfo o Quinto, fenhor de muitas Villas , & de grande
valor: cafou com Dona Leonor de Caítro, filha de Dom Alvaro de Caítro, pri-
meiro Conde de Monfanto, 6c de fua mulher Dona Ifabel da Cunha , de quem
teve, entre outros filhos, a •
Dom Jorge de Menezes, que foy fenhor da Cafa de feu pay , 6c cafou com
Dona Leonor Manoel, filha de Dom joaõ Sotomayor, fenhor deAlconchel , 6c
de fua mulher Dona Joanna Manoel, de quem teve, entre outros filhos, a
Dom Joaõ de Menezes, que foy fenhor de Cantanhede, 6c cafou com Dona
Margarida da Sylva, filha de Dom Antonio de Noronha , primeiro Conote
Linhares, & de fua mulher a Condeça Dona Joanna da Sylva, de quem teve já,-
tro outros filhos, a
Dom Pedro dc Menezes, que foy fenhor da Cafa de feu pay, 6c cafou fegú-
da vez com Dona Ines de Zunhiga, filha de Dom Fadrique de Zunhiga, fenhor
de Mirabel, & de fua mulher Dona Anna de Caftro, de que teve , entre outros
filhos, a E)°m
394 TOMO PRIMEIRO
Dom Antonio de Menezes, que morreo cm vida de feu pay, & caiou com
Dona Ines de Avila & Zunhiga, filha de Dom Luiz de Avila,fegundo Marquez
tie Mirabel, Commendador mór de Alcantara , & Gentil homem da Camara do
Emperador Carlos Quinto, & de fua mulher Dona Maria de Zunhiga, de quem
tete, entre outros filhos, a
Dom Pedro de M enezes, que foy fegundo Conde de Cantanhede por# mer-
cê délRey Dom Felippe o Terceiro , & cafou com Dona Coftança de Gulmaõ
Coutinho, filha de Dom Rodrigo Gonçalves da Camara, primeiro Conde de .
Villa Franca, & de fua mulher Dona Joanna de Blaveft, de qucmteve,entre ou
tros filhos, a
Dom Antonio Luiz de Menezes, que foy terceiro Conde de Cantanhede,
& primeiro Marquez de Marialva por mercê delRey Dom Affonfo o Sexto, do
Confelho deEftadodelReyDom Joaõo Quarto, Veador da Fazenda , Gover-
nador das Armas de Cafcaes, & Alentejo, CapitaÔ General junto a PeíToa , &
hum dos grandes Heroes do noíTo feculo ; cafou com Dona Catherina Couti-
nho, filha herdeira de Dom M anoel Coutinho, & de fua mulher Dona Guiomar
da Sylva, de quem teve, entre outrós filhos, a
Dom Pedro de Menezes, que he quarto Conde de Cantanhede, & fegundo
Marquez de Marialva, & Marichal do Rey no,Gentil homem da Camara delRey
Dom Pedro o Segundo, fenhor de Cantanhede, & de outras muitas terras, Co-
mendador de Santa Maria de Almenda na Ordem de Chrifto , & da Commenda
de Santa Maria de Serpa na Ordem de A viz , fenhor do Morgado de Medello,
Preíldente da Junta do Comercio, & Cavalheiro muy generofo, & de grande en-
tendimento: cafou com Dona Catherina Coutinho, filha de feu tio , irmaõ de
' feu pay Dom Rodrigo de Menezes,& de fua irmaã Dona Guiomar de Menezes,
dc quem tem a Dona Joaquina de Menezes, única em tudo, & atègora herdeira
de tam illuftre Cafa.
Efte Dom Rodrigo de Menezes, que cafou cô fua fobrinha Dona Guiomar
de M enezes, foy Dei embargador do Paço delRey Dom Joa5 o Quarto, Gover-
nador do Porto, Regedor da CaiadaSupplicaçaõ , Preíidente do Defembargo
do Paço, do Confelho de Eftado , Gentil-homé da Camara delRey Dom Pedro,
fendo Principe Regente, & feu Eftribeiro mór: teve de fua mulher , entre ou-
tros filhos, a 1 t _
DomJofeph de Menezes, quçhe Conde de Viana por mercê delRey Dom
Pedro o Segundo,Comendador deN.Senhora do Loreto,na Orde de Aviz,& de
outras Commçndasna Ordem de Chrifto , fenhor dos Reguengos da Villa
de Almada, Gentil-homem da Camara dodito Rey, & feu Eftribeiro mór; cafou
com. Dona Maria de Alencaftre, filha do fegundo Conde de Sarzedas D- Luiz
da Sylveira/Bt da Condeça Dona Mariana de Alencaftre & Sylva. He também
do defpacho delRey, & do feu Confelho de Eftado, & nos feus poucos annos fç
faz digno das mayores òftimaçoens.
Teve também o Marquez Dom Antonio Luiz de Menezes daMarqueza
fua mulher a Dom Manoel Coutinho, Conde do Redondo por mercê delRey
D~m Pedro o Segundo, que depois de vários poftos militares atè o de Tenen-
te General da Cavallaria de Alentejo, morreo fem cafar,& fe malogràraõ as gra-
des tfperanças que delle tinha o noífo Reyno.
! Coute
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA; 39S
Couto de z5\4einedo'
CAP. XI.
Cout»
TOMO PRIMEIRO
CAP.
DA COROGRAFIA P ORTUGUÊZAi Jp,
*" w'' < ■' ■^ vD >-J- ! .> l'"j "»Oí i
:1
cap. xii. f
l Itiivoir Í130
?
Do Concelho deDem-viver,
Couto de "Pendorada.
CAP. XIII.
Do Concelho de Dajtô.
í
DA COROGRAFIA PORTUGUESA* 40*
he aq ai Prelado: rende quatrocentos mil reis, tem cento & vinte vifinhos.Efta
Igreja era do Arcebifpo de Braga D.Martinho, trocou-a co D. Joaõ deSoalhaés
Bifpo deLisboa,antes q lhefuccedeíTe 11aprimazia,pela deSãtiago deNeivaJ
agora chamamos do Caftello, no termo de Barcellos; o que confirmou ElRey D*
Diniz no anno de 1307. Sc defde entam he fubditadeSoalhaes, St ambas àpre^
fentaçam daquelleMorgado, quepoííuemos Vifcondes* Aqui eftáhumaquin-
ta honrada, que tinha privilegio , por nella ter vivido Dom Jeanne Reimaõ,
Francezilluftre, cujos defeendentes faõCirnes Reymocns.
Santiago de Mefquinhata, Curado de Soalhaés, de quem he annexa, Scxom
cila fe arrenda, tem fetentaviíinhos.
S. Joaõ do Grillo, Abbadia da Mitra, rende dento 8t oitenta mil reis', tem
feífenta Sc oito vifinhos.
Santa Maria de Gove, Curado do Mofteiro de Anfede, rende ao Cilra cem
mil reis, Separa os Frades mil cruzados: tem cento Se feífenta Se cinco vifinhos*
Aqui eítá em huma Ermida antiga NoíTa Senhora das Maleitas , he Imagem mi-
lagrofa, Sc muy venerada com romagens, particularméte dos que tem (maleitas,
que nam faltam neíte Concelho, por comunicação do Douro.
S. Joaõ de Ovil, Reitoria que aprefenta a Cafa de Bayaõ, rende ao Reytor
cento 8c trinta mil reis; os dizimos faõ de hum Beneficio íimples, que a] mefma
Cafa aprefenta; importam com os da annexa de Toloens trezentos mil reis,tem
cento Se feífenta Se dous vifinhos.
S. Bertholameu de Campello he Vigairaria doMoíteirodeAnfedecom ti-»
tulo de Abbade, 8c Arcediago de Campello, a quem rende cento Sc feífenta mil
íeis, Se para os Frades quinhentos mil reis :tem duzentos Se trinta Se feis vifi-
nhos-
Santa Comba de Toloês, Curado annexa a Ovil, com quem fe arrenda, té
vinte 8c quatro vifinhos.
S. Payo dos Loi vos do Monte, Curado annexo de S- Joaõ de Geftaço, tem
cincoenta 8c dous vifinhos.
S-fauftino de Veariz, Abbadia da Mitra,rende cem mil feisi, tem feíferlta
& fete vifinhos. Aqui eftava aquella quinta de Gõçalo Moniz, que elle,femque
o foífe, quiz fazer Honra em tempo delRey Dom AíFonfo o Terceiro , a cujo
Porteiro impedio entrar nella, dizendolhe,que fe o intentaífe, lhe cortaria hum
pé.
S. Joaõ do Campo de Geftaço he Igreja fagrada , Sé Abbadia do Conde de
Uiihaõ, rende com aannexa de Loivos feifcentOs mil reis , dequeos Condes
levaõos qumdenios porBrevedos Summos Pontifices :tem duzentos Se cin-
coenta vifinhos.
S. Pedro da Teixeira, Abbadia do mefmo Conde, Se com a annexa de Villa
Juzaõ he quafí da mefmà renda,tem cento 8c oitenta Sc cinco vifinhos*
Santa Maria de Frende, Abbadia da Mitra , rende cento Sc cincoenta mil
reis, tem fetenta Sc quatro vifinhos.
Santa Maria Magdalena de Loivos, Abbadia que aprefentám os fidalgos
do appellido de Tavora, fenhores da Cafa de Macieira na terra da Feira, rende
cento Sc cincoenta mil reis, tem cincoenta Sc cinco vifinhos.
S. Miguel de Frezouras, Vigairaria annexa à Commenda de Villa CoVá da
Ordem dê Chrifto, junto a Lixa, rende aoCura vinte Sc cinco mil reis,Sc para o
Commendador cento Sc cincoenta mil reis: tem noventa Vifínhôs.
Santa Marinha do Zezere, Abbadia do Mofteiro de Travanca cora refef-
. va,
406 TOMO PRIMEIRO
va, levam as duas partes da renda os Padres da Companhia de Évora, que im -
porta duzentos & fetenta mil reis, & ao Abbade trezentos mil reis; tem duzé-
tos,St oitenta viíinhos.
5» Thomè de Cubellas, Abbadia do Vifconde, & Conde de Figueiró, rende
trezentos mil reis, tem cento & vinte & dous viíinhos.
Santiago de Valladares, Abbadia das Caías de Bayaõ , & Marquez de Ar-
ronches , rende quatrocentos &cincoenta mil reis , tem cento & vinte viíi-
nhos. • -
Santa Leocadia de Bayaõ he Abbadia do Marquez de A r ranches y & nam
annexa do Morteiro de Aníede , como diz Brandão Monarch. Luíit. part. 3.
liv.p. cap.4. Sc devia íer do Padroado Real ; porqua a Rainha DonaTherezaa
dotou a Froyla EfpaíTo no anno de 1112- rende trezentos & vinte mil reis,tem
cento & trinta &.íete viíinhos.
;or^v , , - ■ - . -
Couto de <tAnfede.
CAP. XIV.
EStá efte Concelho em hum monte, huma Iegoa do Tamega para o Sul, &
lhe deu foral em Lisboa EIRey Dom Manoel aos 17. de Julho de i^i^. tc
quinhentos & quinze vifinhos com huma Parochia da invocaçam de São Marti-
nho, Abbadia dos Vifcondes de Villa-nova de Cerveira , & entendemos o po-
voou, & foy fenhor delic hum fidalgo do appellido de Soalhaens , que viveo no
, - Fa-,
4oS TOMO PRIMEIRO
Paco de Villa pouca da mefma Frcguefia, em quem o Conde Dom Pedro começa
cila família; alli achamos já o Moíteiro Duples de Frades, 6c Freyras da Ordem
de S- Bento com titulo de S. Martinho no anno de 86$ • fundado, Sc bem dotado
por Sancho Ortiz,ou Ortiga; aílim permaneceo annos; porque no de 1029. no
ultimo de Dezembro, reynando Dom Fernando o Magno, íe lhe foram queixar
ps Monges deite Convento de Garcia Moniz, que entendemos fer o Gafco, por
lftes ter tomado algumas terras; Sc he erro de quem diz foy dc Templarios: ex-
tipguiofe,namfabemos como; masque veyo a fer Abbadiafecular,aprefenta-
da pelos Bifpos do Porto, a quem deu eite Padroado EIRey Dom Sancho o Se-
gundo pelos annos de 124,5-. depois de o haver tirado a Dom Gonçalo Viegas
cie Portocarreiro, de cuja família era. Palfóu aos Bifpos de Lisboa, por huma
troca, Sc ultimamente dos fenhores deíle Concelho, o que nos parece íer em té-
po de Dom Joaõ Martins de Soalhaens , que por fer dos de Portocarreirolho
reftituíram, fendo muito vali do delRey Dom Diniz , Sc nam como Bifpo de
Lisboa, ainda que o era entam, Sc veyo a fer Arcebifpo dc Braga, cujos oífos ef-
taõnaquelIaSè na parede da Capella do Cruzeiro da parte efquerda cõ letrei.
ro, cueo declara. Inílituío o Morgado da dita Cafa em 13. de Mayo de 1304.*
cujo filho foy Vafco Annes de Soalfiaés, fenhor do mefmo Concelho, que de fúa
fegunda mulher Dona Leonor Rodrigues Ribeiro Tavares teve a Ruí Vafques
Ribeiro , "que os herdou, o qual de fuafegur/i». mulher Dona Margarida Gon-
çalves de Briteiros, houve a Dona Thereza Ribeiro, fenhora deíle Concelho,Sc
Padroado, quarta mulher de Gonçalo Mendes de Vafconcellos, fenhor da Lou-
zaã, Sc foram pays de Joanne Mendes de Vafconcellos, fenhor deíle Cõcelho, Sc
. de Penelia juntoa Coimbra, do qual nafceo filha mais velha , Sc herdeira deite
Çafa Dona Maria de Vafconcellos,fegunda mulher de Dom AfFonfo de Cafcaes,
filho do Infante Dom Joaõ, Sc neto dos Rey s Dom Pedro, Sc Dona Ines de Caf-
tro. Deites foy filho herdeiro DonvFernando de Vafconcellos , quecáfando
com Dona Ifabel dc Menezes,filha de Dom Pedro de Menezes,Conde de Viana,
Scdeíua terceira mulher Dona Brites Coutinho, juntou àfua Cafa as Villas de
Mafra, Sc Enxara dos Cavalleiros, Sc Concelho de Aregos, em que lhes fucce-
deofeu filho Dom Aífonfo de Vafconcellos Sc Menezes , primeiro Conde de
Penelia, do qual nafceo o Conde Dom Joaõ de Vafconcellos Sc Menezes , Vea-
dor da Fazenda, de quem foy filho Dom AfFonfo de Vafconcellos Sc Menezes,
fenhor da Cafa. Deíle foy filho , Sc herdeiro dos bens da Coroa Dom Joaõ dc
Vafcõcellos Sc Menezes, de quem nafceo D- AfFonfo de Vafconcellos: Sc Mene-
zes, cujo filho herdeiro foy Dom Joaõ Luiz de Vafconcellos Sc Menezes, Ca-
pitaõ General de Mazagaõ, aonde morreo , que caiando com Dpna Maria de
Noronha, filha única herdeira de Ferrtaõ Alvarez Cabral, teve filha única , Sc
herdeira Dona Joanna de Vafconcellos Menezes Sc Noronha, mulher de Ruí de
Mattos de Noronha, Conde de Armamar, fem geração, Sc depois fegunda vez
cafada com Dom Diogo de Lima Brito Sc Noronha , fetimoVifeonde de Villa-
nova de Cerveira, em cujo tempo tiràram por demanda muito deite Cafa, Sc da
de Mafra, Sc Enxara, em que entra o Padroado deíla Igreja , que rende com a
annexa de Mefquinhata mais de hum conto, o Abbade fe intitula Prelado ; por-
queohedaFregueíiade SantaCruz. A Igreja he fagrada, como fe relata em hu
letreiro da cofia do lado efquerdo com torre à parte, que ferve para finos, Sc al-
jube. Na Capella mor da mefma banda eííá huma fepultura dos antigos Pa.
droeiros. Hoje he fenhor defia Cafa Dom Joaõ Fernandes de Lima Sc Vafcon-
çelíos oitavo Vifçonde^fiiho dos referidos- O povo faz Juiz ordinário , que
. ' tam-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA; íoã
também he dos Orfaõs,Vereadores, Procura dor,5c Meirinho,que ferve <Je Por-
reiro, confirma-os o Corregedor do Porto; EIRey aprefenta os dous E fcrivaeSi
que fervem também na Camara,5c Orfaõs- Ha nefta Freguefia huma Torre-que ' "
chamaõ de Cadimes,de que faó fenhoies os Vifcondes, Sc alli cobram abuma
renda, que tem> & aqui he O bolar antigo dos fenhores dcfte Concelho , Morgâ-
t dos, Sc Padroeiros da Igreja. Dá todos os frutos, 5t feda, muitos «ados, Sela
<fticinios,os mayores carneiros defta Pròvincia com rabos muy cõpndos, muy~
to mel, azeite, caça, St pefeas nós regatos. Tem hum Capitao da gente da Fre-
gueíia, St Concelho. Teve mais filhos o Arcebifpo Dõ joaõ Martins Soalhaés,
como diz o Conde Dom Pedro , St o dá a entender o Primáz Dom Rodrigo da
Cunha, dos quaes ha as grandes defcendencias, que os cunofos podem ver rios
Nobiliários manu-efcritos.
• •
C A P. XV.
Mm CAP.
TOMO PRIMEIRO .
■g®gaasaiiis®®3:®s®®i5S®s5SSiS
*
CAP. XVI.
d. Mitra de «-=nde
cruzados,, tem cincocnta vifinhos, & eftas Ermidas , NoíTa Senhora da Urea,
NoíTa Senhora daEfperança, Santa Barbora, Santa Anna no lugai da \ eiga , .
Pavo no lugar deBritello: he efta U regucfia abundante de todos os frutos com
huma fonte cm cada lugar,& fica entre dous rios,hum da parte do Norte , que
chamáo o Sordo,& pada pelo lugar de Relvas,ôc outro da parte do Sul,que cha-
mioda Veiga,fendoquejâhumHiftoriadorlhe deu onome de rio de Arca-
delMomando-o de hum lugar mais acima , & ambos entram cm o rio Cor-
g
°' Santo Adrião de Cever, Abbadia que aprefenta o Marquez de Fontes, que
rende quinhentos mil reis, tem cento & trinta & leis v Tmhos,&dftó Ermida^
S Martinho, Santa Margarida, NoíTa Senhora da Conceição, NoíTa Senhora do
iyptSnto Antonio^. FranciTco,&S- Paulo :] tem fete lugares com nove
font es; os frutosfaõ muy faborofos, porem de pouca d ura, por íer o clima mui
to ftu|nt^. . dc LobrigOS^Curado annexo à Abbadia de S.João de Lobrigos,
tem cem vifinhos, & eftas Ermidas, Santa Martha (em cuj® lugar efta o Tribu-
nal do Concelho, com fua cadea, fendo efte o íuperior de todos ) Santa Com
ba, NoíTa Senhora da Guia nas Leyras,& NoíTa Senhora da Piedade em Lore -
tlm
* S-JoãodeLobrigos , Abbadia do Padroado do Marquez de Arronches,
que rende tres mil & quinhentos cruzados, tem duzentos viíinhos, & eftas Er-
midas, o Efpirito Santo, S.(Lourcnço, S. Pedro, Santo Antonio, S- Gonçalo, k
N. Senhora da Graça: os frutos principaes fiaõ vinho , & azeite combalia
frutas,& cinco fontes. •
S-Fauftinoda Regoa tem quatrocentos vifinhos,& eftas Ermidas , ofcipi-
• rito Santo, Santo Antonio, & Afceufaõ em Godim : rende tres mil Cruzados,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 4it
& trezentos mil reis defta renda faõ duas partes do Bifpo do Porto,& huma do
Arcediago daRegoa, que aprefentahú Cura nefta Igreja : os frutos faéirinho,,
& azeite, com poucas fontes, & a rega o Douro pela parte do Sul.
S. Miguel deFontellas, Abbadia do Bifpo do Porto , que rende dous mit
cruzados, tem trezentos vifinhos, & eftas Ermidas, o Efpirito S. & S. Pauloios
frutos faõ vinho, &. azeite: tem muitas fontes de boa agua , & a rega o Dou ro
pela parte do Sul-
Santa Maria de Oliveira, Abbadia do Bifpo do Porto, que rende trezentos
mil reis, tem cem vifinhos, & duas Ermidas, noífa Senhora da Efperança , & N.
Senhora do Quintam; parte com o Douro pela parte dõ Sub & tem poucas fõ-
tcs.
Santa Maria de Sydiellos rende mil cruzados para asFreyras de Monchi-
quejda Cidade do Porto, as quaes aprefentam hum Cura annual : tem trezen-
tos & fetenta vifinhos, & eftas Ermidas, o Efpirito Santo, S. João, & S. Sebaf-
tião; recolhe baftante pão, frutas, & caftanha, & he terra fádia, com muitas fõ.
tes de boa agua.
S. Pedro do Loureyro, Abbadia que aprefentam os fenhores de Murça,que
rende feifcentos mil reis, tem trezentos vifinhos, & eftas Ermidas , NofTa Se-
nhora da Vida, S. Sebaftião, &S. Gonçalo : os frutos faõ vinho, & caftanha ,
com muitas fontes de excellente agua, Sc boa vifta fobre o Douro.
Santa Comba de Moura Morta, Vigairaria que aprefcnta o Cofnmendador
defta Commenda,que he de Malta, rende fetecentos mil reis,mas tem a mais da
renda fóra da Freguefía, a qual tem fetçnta vifinhos, com muitas fontes de boa
agua: os frutos faõ pão, caftanha, & frutas.
S. Salvador de Medroés, Abbadia do Padroado do fenhor de Murça , que
rende duzentos mil reis, tem duzentos vifinhos, Sc eftas Ermidas, Noífa Senho-
ra do Monte, NoíTa Senhora dos Remedios,& a Igreja de S.Pedro, aonde os
Clérigos do Concelho tem a fua Irmandade, que he fua propria: he terra frefca,
produz vinho, frutas, Sc caftanha, 3c tem muitas fontes efe boa a«ua.
Santo André de Medim tem oitenta vifinhos com hum Vigário confirma-
do, queaprefenta o Bifpo do Porto; rende quatrocentos mil reis para os Frades
de S. Domingos de Anlede, St tem eftas Ermidas, S. Sebaftião, Santo Antonio,
Santa Anna a da Portella,& Noífa Senhora da Aprefentacão: produz vinho, Sc
azeite, & tem poucas fontes.
Santiago de Fontes, Vigairaria confirmada, que aprefenta oCommenda-
dor da Ordem de Malta, rende tres mil cruzados, tem trezentos vifinhos , Sc
eftas Ermidas,S- Sebaftião, NoíTa Senhora do Vizo , o Efpirito Santo em Ta-
boadello, S.Pedro, Sc S. Maria Magdalena.
S. Sebaftião de Fornellos, Curado annual queaprefenta oCommendador
de SantiagodeFontes, aonde vay metida a renda, por fer fua annexa : tem oi-
tenta vifinhos, St huma fonte; he terra fádia, recolhe pão, vinho, azeite ^caf-
tanha.
A efte Concelho de Penaguião deu foral ElRey Dom Manoel em Évora
aos i y. de Dezembro de 1519. Sc à Honra de Fontes , de que he fenhor o Mar-
quez Dom Rodrigo Pedro Annes de Sá Almeyda Sc Menezes , cuja illuftre va-
. ronia he a feguinte.
Sendo efta família tam antiga , nam dá noticia ;delia o Conde Dom Pe-
dro, havendo em feu tempo fidalgos defte appellido; com razão diz o Mar-
quez de Montebello , que fe podião queixar do Conde Dom Pedro os do
Mm ij appelli-
412 TOMO PRIMEIRO
appellidode Sá,pois failãdo em D-Therefaccçalves de Sá,qcaiou com Rui Go-
ne s de Telha, repetindo em outras partes elle appellido ,fe nam lembrou de
faliar neíla familia, que tem por Armas o campo enxequetado de prata, Sc azul
de feis peças em faxa : timbre meyo bufo de lua cor enxequetado de prata com
huma areola de pratanasventas- . ,
Os Sás, conforme dizFrey Francifco Brandao na quinta parte da Monar-
chia Lufitana liv. 17. cap. 20. procedem de João Affonfo de Sá, que toy vaílallo
delRey Dom Affonfo o Qu arto, ainda que dá noticia mais antiga em Gonçalo de
Sá, primeiro povoador daVilla de Mello , & queentendia que era natural da
Fregueíia de Santa Maria de Sá no Julgado de Cea , que por fer tres legoas da
Villa de Mello, fedifpuzera a povoar aquella Villa; também da noticia de Mem
de Sá, & de Gil Martins de Sâ, hum em tempodelRey Dom Diniz, & outro em
tempo delRey Dom Affonfo o Quarto, & que lhe parecia que dcftc Mçm de ba,
como deíie Gil Martins de Sá, defcendia aílluftre Caía de Penaguião.
João Affonfo de Sá, em quem dão principio os Nobiliários a cita família,
foy fenhor da quinta de Sá no termo de Quimaraens ; foy filho de Payo Rodri-
gues de Sá, que no Concelho de Lafoens tinha muita fazenda , & neto de Ro-
drioo Annes de Sá, & de fua mulher Dona MeciaRodrigues do Avelar: foy cite
João Affonfo de Sà caiado com Dona Therela Rodrigues deBerredo , & tive-
" ^J a Rodrigo Annes de Sá, que foy Alcayde mor do Caíiello de Gaya junto da
Cidade do Porto, que lhe deu ElRey Dom Pedro, & fenhor da renda de Gaya,&
Villa nova junto a Gaya, que lhe deu ElR^ey Dom Fernando, como diz F1 • r 1 an-
cifco Brandão, & que havia de fervir com certas lanças, como naqucllc tempo ie
coíiumava: foy Embaixador delRey Dom Pedro ao Papa Gregorio Undécimo,
& lácafoucom Cecilia Colona, filha de D.ogo Colona, que foy duas vezes Se-
nador de Roma, & de huma fenhora illuftre, que tinha muitas terras em Sicilia ,
Neta de Pedro Colona Senador de Roma: bifneta de Jacobo Colona, commum-
mente chamado Jacomo Sarra, & de outros Sarra Colona, Senador ck Roma, ir-
mão do «randeEíievão Celena Senador de Roma, & fenhor de Palettma , que
tjorfeuserandes feitos mereceo o nome de Magno, & Pay da Patria, & ambos
coroarão ao Emperador Ludovico Bavaro na Igreja de S- Pedro , & por iffo pu-
zerão huma coroa de ouro fobre a coluna de prata , míignia da Cafa de Colona
defde Cavo Mario: terceira neta de João Colona, Senador de Roma, lenhor de
ralicano, Sede Colona , tronco immediato das tres Cafas pnncipaes deita fa-
milia em Roma, que fao os Príncipes de Carbonãno, os Condefiables de Napo-
ks fenhores de Ginezano, & os Duques de Zagarola, como diz Dom Tiviíco
de Nafao na fua Pericope Genealógica» E por abreviar foy aíenhora Cecília Co-
lona vigefima-tercia neta do grande Cayo Mario, efplqndor da milícia Romana,
íete vezes Conful de Roma, a quem com leu valor , & induíiria adquirio gran-
des vitorias, & dilatados dominios , pelos quaes lhe concedeo o Senado cinco
vezes triunfo em feu Capitólio, aonde hoje feconfervão em mármores feus tro-
feos, como diz Apiano no livro primeiro das G uerras civis dos Romanos- Te-
ve die Rodrigo Annes de Sá de fua mulher Cecilia Colona a João Rodrigues de
Sá o dos Galês, pelo combate, que com cilas teve cõ a Armada de l. aíiella, vin-
do do Porto a foccorrer Lisboa,íitiada por E1R ey Dom JoaÕ o Primeiro de Ca-
íiella; a Confiança Rodrigues de Sá, que conforme alguns, cafou com Joao Go-
- çalves o Zarco,o criado do Infante Dom Henrique , &. dcícubndor da Ilha da
Madeira, & a Aldonça Rodrigues de Sà, Abbadeça do Rio tinto.
DA COROGRAFIA P0RTUGUE2A. 4r3
Joaó Rodrigues de Sá o das Galés foy Camareiro mór dei Rey Dom Joaõ
o Primeiro, Aicayde mór da Cidade do Porto, fenhor de Cever, St Matofinhos>
& de toda a Cafa de feu pay 3 cafou com Dona lfabel Rodrigues Pacheco, filha de
Diogo Lopes Pacheco, íénhor de Ferreira de Aves, & de Penella , Sc teve a Fer-
não de Sá, Sc a Gonçalo de Sá.
Fernão de Sá foy fenhor das terras de feu pay, Sc Camareiro rhór dos Reys
Dom Duarte, Sc Dom Affonfo o Quinto, de cuja parte morreo na batalha de Al.
farrobeira; cafou com Dona Felippa da Cunha, filha de Gil Vaz da Cunha j fe-
nhor de Bailo, Sc Monte longo, St teve a Joaõ Rodrigues de Sá,a Gil Vaz da Cu-
nha, a Diogo da Cunha, St a Dona lfabel da Cunha, que cafou com Luiz de Bri-
to, fenhor do Morgadode Santo Eílevaõ de Beja, & de S. Lourenço de Lisboa 3
& a Dona Maria da Cunha, que cafou com Luiz Freyre de Andrade , fenhor de
Bobadella.
Joaõ Rodrigues de Sâ foy fenhor das terras de feu pay, Aicayde mór , &
Veador da Fazenda do Porto, & Fronteiro de Entre Douro, & Minho : cafou
tres vezes, & da primeira, que foy Dona Catherina de Menezes, filha de Luiz
de Aze vedo, Veador da Fazenda delRey Dom Affonfo o Quinto, teve,entre ou-
trosJfilhos,a
Henrique de Sá & Menezes (chamado de Menezes por hum Morgado,que
lhe deixou fua avô materna D. Aldonça de Menezes , filha de Dom Pedro de
Menezes, Conde de Viana) foy fenhor da Cafa de feu pây , & cafou com Dona
Beatriz de Menezes, filha de Dom joaõ de Menezes, íenhor de Cantanhede > Sc
de Leonor da Sylva, de que teve, entre outros filhos, â
Joaõ Rodrigues de Sá, chamado o Velho t porque viveo cetlto Sc 'quinze
annos, o qual foy grande Poeta, & Orador, & Embaixador aoEmperâdòr Car-
los Quinto fobre o cafamento da Princeza Dona Joanna, filha delRey Dõ Joa5
o Terceiro :càfou com Dona Camilla de Noronha, filha de Dom Martinho de
Caftellobranco, primeiro Conde de Villa-nova de Portimão , da qual teve a
Dom Francifco de Sá^Gonde de Matoíinhos, que por falecer fem filhos, lhe fuc-
cedeonaCafa íeu fobrinho Joaõ Rodrigues de Sá,filhode feu irmaõ Sebuftiaõ
de Sá, que paffou à índia, aonde fervio com grande opinião, & foy CapitaÕdc
Sofala; morreo na batalha de Alcácer foy cafado com Dona Luiza Henriques,
filha de Dom Francifco Pereira, Commendador do Pinheiro, Sc de fuafegunda
mulher Dona Joanna de Tavora, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Joaõ Rodrigues de Sá, que foy o primeiro Conde de Penaguião por
mercê delRey Dom Felippe o Terceiro, Aicayde mór,ScCap:taÕ mór do Por-
to, St Camareiro mór de F elippe o Segundo: cafou Com Dona lfabel de Mendo-
ça, filha de Dom Joaõ dc Almeyda, fenhor do Sardoal, Sc Aicayde mór de Abrã-
tes, Sc teve, entre outros filhos, a
Dom Francifco de Sà Sc Menezes, que foy fegundo Conde de Penaguiaõ,
St Camareiro mór de Felipe o Quarto, officio que largou a feu filho Joaõ Rodri-
gues de Sá: cafou com Dona Joanna de Cartro, filha de joaõ Gonçalves de Ataí-
de, quinto Conde de Atouguia, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Joaõ Rodriguez de Sá Sc Menezes, que foy terceiro Conde de Pena-
guiaõ, Camareiro mór delRey Dom Joaó o.Quarto, do feu Confelho de Eftado,
& Embaixador a Inglaterra: foy peífoa de grande fuppofiçaó, Sc cafou com Do-
na Luiza Maria de Faro, filha de Dom Luiz de Ataíde , fextoConde de Atou.
guia, & de Dona Felippa de Vilhena, da qual teve, entre outros filhos, a
Dora Francifco de Sá Sc Menezes, que foy quarto Conde de Penaguiaõ, &
Mm iij pri-
<414 TOMO PR I MElRO
primeiro Marquez de Fontes por mercê delRey DomAífonfo o Sexto, de que
fioy Camareiro mór: cafou com Dona Joanna de Alcncaftre, viuva de Dcm Ro-
drigo Telles deCaftro & Menezes, iegundo Conde de Unhão , que era filha
dei) om Rodrigo de Alcncaftre, Commendador de C oruche, & de Dona Ines de
Noronha,de q teve a Dõ joaõ Rodrigues de Sá & Menezes , que foy fegundo
Marquez de Fontes, & morreo de deaafeis annos, 3c lhe íuccedco feu irmaõ D.
Rodrigo Pedro Annes de Sá Almeyda & Menezes, que he terceiro Marquez de
Fontes, &fexto Conde de Penaguião, CavaUieiro de muitas prendas , & muy
feiente nas Mathematicas: foy cafado com Dona Ifabel de Lorena, filha única
de Dom Nuno Alvares Pereyra, primeiro Duque do Cadaval, & de fua fegunda
mulher Dona Maria Henriqueta de Lorena, filha do Principe de Arcurt em Fra-
ça, da qual tem aDom Joachim Francifco Rodrigues de Sá Almeyda & Mene-
zes, que he fetimo Conde de Penaguiaõ, a Dona Anna Maria de Lorena, & a D.
Maria Luiza Sofia Palatina.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZa; 4tj-
LIVRO SEGVNDO
TRATADO f
Corre cdo r
f/amftaTasvm«° S cfta
ie ajulíao as vinte & fete, de que fe compoem 'P= CorreipS,
Comarca, comas quaes
& Provedoria , em
^odas as quaes entra o Provedor a exercitar feu officio. ~ AlTiíFe
DA COROGRAFIA PORTUGUESA, 4t?
. . . ... CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA* 415,
CAP. I.
tU1 a
' Houve nefta Villa alguns Varoens infignes em virtude, que fuppofto que
a Igreia não tem canonizado fuas obras, forão ellas de qualidade,que a pia devo-
çaõ fe'lhes não rende culto,tributa grande veneração ^as memç^.
O Venerável Padre João Cardim nafceono annode if 86-nefta Villa cm
humascafaá (fegundo a tradição )íituadas na praça delia , quede prefentefao
de Francifco Botelho de Moraes: fov filho do Doutor Jor|e Cardim Froes,DcT
cmbaraador dos Aggravos na Cafada Supphcaçao, ôc de íua mulher Dona Ca-
therina de Andíade, que fendo Provedor defta Comarca, logrou a felicidade dc
lhe nafeer hum filho de tam rara virtude, pois crefcendo cila neUe comos annos,
fendo em Coimbra oppofitor a huma beca do Collegio de S. Paulo, dei prezando
4ii T O M O P RI M E I RO
aomundo, fc retirou ao íagrado da Religião dos Padres da Companhia, aonde
tomando o habito, em tres annos & meyo, quenellaviveo,namió deu pontual
íatisração às obrigaçoens delle, mas com as fuas obras muito que imitar a feus
contemporâneos, dando raros exemplos de virtude. Com cila grande opinião
faleceo em Braga , de trinta annos de idade , emi8.de Fevereiro dc 161 f.
por íua morte nam fe lhe achou coufa,que poffuiffe , mais que hum regiílo dc
papel, diante do qual orava, & no gibão cm hum caixilho, o fanto Lenho, & a
forma da profiífaõ, que fizera depois do noviciado, efcrita com íeu proprio lan-
gue,a qual le guarda em reheario de prata entreas muitas rcliquias, que enri-
quecem a Capella da Conceição do Moíteiro de Jefusdc Viana do Alehtejo-.pelâ
qual reliquia tem Dcos obrado muitas maravilhas, autenticadas por inilrume-
to, que tirou Dom Gabriel Bifpo de Fêz.
' O Eremita Jordaõ do Efpirito Santo , natural do lugar dc Ovelha na Pro •
vmcia do Minho, peregrinando algumas terras veyo a eíla Villa , aonde com-
prando hum íitio no termo delia, meya legoa dc diftancia , fundou aErmidadc
NoíTa Senhora da Teixeira, fitio agradavel, que accõmodou com caías, vinha,&
horta, aonde viveo alguns annos com todo o recolhimento, & virtude; movi-
do depois de fuperior impulfo, paliou a Roma, & viíitados os fagrados lugares,
voltou para a íua Ermida, aonde rtíiílindo aos vícios ate amorte , paliou a co-
roaric pelas fuas virtudes, como piamente feprefume 5 refpeitandofe as fuas
cinzas, que eítaõ depoíitadasna mefma Ermida,aondefoy enterrado de icelhos'
raleceo pelos annos dc idio. '
0
Venerável Padre Pedro de Mefquita Carneiro,natural deíha Villa, filho
de Pedro Carneiro Varejaõ,& de fua mulher Cuíiodia de Mefquita,da principal
get e dclla,fe criou em cafa do BifpoInquiíidor gerai D-Pedro de Caíhilho,& por
moi te deixe Pi ciado paífando a do Duque de Aveiro Dom Alvaro > em ambas
toy eínmado por íuas prendas: pela cõmunicaçam, que teve com os Religiofòs
da lerra da Arrabida, efpecialmente com o Padre 1-rey Francifco dos Reys , fe
inflamou t an to no amor de Deos, que repartindo muita fazenda com os pobres
& profeíTando a Terceira Regra da Penitencia, levantouhuma cafa na dita fer-
ra, em que fe recolheo o primeiro de Novembro de 163 9. & vivendo neíie reti-
ro como verdadeiro Anacoreta, com aífiíhencia fomente dc hum rapaz, que o
fervia, pobre no veílido, penitente 110s excrcicios, abíhinente nos manjares li-
beral com os pobres, fervorofo, & continuo na oração , depois de fundar o
Hofpital de Azeitaõ, que mandou erigir no anno de 164.5-. o qual dotou de al-
guma renda, & continuando neíhes fantos exercícios, pelo meyo da morte paf-
fou a lograr a melhor vida em 24. de Março de 1649. ' .
O Eremita Gafpar da Piedade foy natural deíha Comarca, filho de nobres
pays, partio a Roma a ganhar ojubilcodoannofanto, & havida licença do Pa-
pa Clemente Oitavo, paífou a vifitar os lugares fantos de Jerufalem , & levan-
tandofe na viagem huma grande tempeíiade, a ferenou oCeo por meyo do Ve-
nerável Eremita, porque dandofelhe hum relicário por hum Cavalheiro de Ve
neza (que hia na mefma embarcaçam ) para que o lançaífenas ondas , tile o fez
com tanta fe, que logo ceifou de todo a tormenta: vifitados os fagrados lufares
com grande devoçam, & enriquecido de tantas relíquias , voltou a Roma^, &
achando no mefmo Pontífice toda a affabibdade paternal, lhe accrefcentou o feu
theiouro com mais relíquias 5 com todas fe recolheo a hum fitio juro ao rio Dou-
ro no termo da Villa de S- Joaõ da Pefqueira, & nelle fundou a Ermida do Salva-
dor do Mundo, que adornou de devotas Imagens, &enriqueceo com as famas
reli-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 41$
relíquias: ahi viveo muitos annos com notável opinião de virtude , que confer»
vou até os 9 5-. de idade, em que foy receber o premio , a que tanto afpirou>no
anno de 1615.
O Irmaõ Francifco de Jefus foy natural do lugar da Vella, termo da Cida-
de da Guarda, filho de Antaõ Femandes, & de Maria de Proença, gente honra-
da, que o criàraõ atè nove annos de idade, em que foy a eftudar à mefma Cida-
de, aonde fervioa André de Arau jo :)eaõ delia, por cuja morte, fendo de deza-
fete annos, paífou a Roma, & clahi veyo a Caftella , aonde recebeo o habito dos
Eremitas de S« Paulo na ferra de Cordova nos defertos de Albava : depois de
tres annos de aífiftencia voltou a efle Reyno, efteve na Guarda, ôc tornou a Caf*
tella, aonde afíiftio alguns annos na Comarcade Ciudad Rodrigo nas Batoecas;
dahi (dizem que com defejo de martyrio) veftio o habito Francifcàno em orde
ásmiífoens de Africa,& porque eftas ceifaram, do noviciado voltou aos defer-
tos de Cordova, donde paífado algú tempo,com o mefmo impulfo fe embarcou
para a nova Efpanha, mas arribado a náo,tornou paraofeu ermo, em q por caufa
deachaques,havidocõfelhode Medicos, pafibu a eífe Reyno, & afliftio em húa
Ermida.do termo de Villa Flor no Alctejo, depois fe mudou para outra no lu-
ga r de Ca.fede júto a Caftellobraco do Tejo; de ambas o expulfou a ambiçam de
aigus vifinhos,atè qveyo a parar em húa afperiífima ferra junto ao lugar da Ca-
beça boa deftetermo,aonderefidioquatorze annos; tãbemdahio lançàram as
fem-razoes dos rufticos vifinhos para a ferra, & mõte Roboredo juta a eira Vil-
ia,aonde habitou húa limitada choca'cinco annos,fepre tido por bõ, Varaõ;cont i-
nuou 110 retiro abftinente, zelofo da honra de Deos , defprezador do mundo,
cafto,humiIcfe, caritativo, paciente,& finalmente nos olhos de todos julgado
por Juftoifalcceo a 15. de Outubro de i66y.
O Venerável Padre Amaro Vaz foy natural defta Villa , filho legitimo de
Antonio Vaz, & de fuamulher Ines Gomes : tomou o habito na Religião dos
Padres da Companhia, donde paífou ao Eftado do Brafil, vivendo fempre com
boa opinião , & afliftindo no Convento que a mefma Religião tinha no Mara-
nhaõ, entraram os Olande^es a deftruillo , & intentando roubar o Senhor do
façrario,ofervodeDeos acudio diligente a confumillo, do que indignados os
hereges, o matàrão>partindolhe a cabeça junto ao Altar, pela qual razaõ fe ve-
nera por Martyr; paífou o referido pelos annos de 1640. pouco mais , ou mei
nos.
O Veneravel Padre Frêy Jeronymo foy natural defta Villa , filho legit imo
de#Chriftovaõ de Gouvea, & de fua mulher Anna Botelha; tomou o habito dos
Capuchos de Santo Antonio, &c viveo na Religião muitos annos,exercitandofe
em obras de virtude com opinião de Varaõ perfeito; depois q deícaçou em o Se-
nhor, paífado s alguns annos, fe achou feu corpo inteiro 110 Convento da Car-
nota, aonde tinha fido fepultado, & íe venera com refpeito fua memoria : fale-
ceo pelos annos de 164.5.
He efta Villa algum tanto deftemperada no calor do Veraõ, & frieldade do
Inverno, mas ou efta pouca temperança, ou abrigo, que tem no monte Robore-
do,dos ares do Sul,a fazem tam izenta dos contágios, que nam ha memoria, ne
tradiçam que nella houveífe pefte, fendo que muitas vezes a houve no termo,5c
Comarca.
Quatro fontes publicas de frefeas,& falutiferas aguasdaõbaftante provi-
mento à Villa,demais de algumas particulares, & muitos poços: fora delia, em
feu limite tem outras muitas de excellente agua, que chegaõ a numero de cento
Nn ij &
4*4 TOMO PRIM$ IRO
& cincoenta: no alto da praça tem hum chafariz, a que naturalmente vem cahir
humcopiófo cano de agua, cujo manãcial brota quafi na immintíncia do monte
-Roboredo, que ha muitos annos corre defencammhada, por c ft ar cm deftruidos
os aquedueftos.
A fabrica do fabaõmolle, que nefta Villa fe obra, dá provi menta a muitos
lugares deft a Província, à Cidade do Porto, à Província do Minho , & Cidade
de Lamego; rende para Sua Magéftade, como património do Infantado , que
femprelogroui ainda antes de governar oRcyno.
O armazém da fey tor ia do linha canhamo, que eft ánefta Villa, he demui-
ta importância para o aprefto das Armadas: o linho, quenelle fe recolhe, & be-
neficia, he produzido nos ferteis campos da Vellariça, & outras terras adjacen-
tes, cuja bondade, & fortaleza tem calificado a expencncia :• tem coníignados
no Almoxarifado defta Villa fete mil & quinhentos cruzados, applicados para
efta fabrica cada anno; em alguns de fértil novidade fe tem recolhido, & com-
prado dezafeis mil pedras de linho,de mais de dez arráteis cada pedra, a preço
detrestoftoens :nofeu principio le governou efta feitoria por hum Contrata-
dor, que juntamente era feitor; encarregou fe logo a adminiftraçam ao Juiz de
fora; paííou depois a hum fó feitor, havendo hum Superintendente de todas as
tres feitorias do Reyno, atè que no anno de idyd-fe fez Regimento , Òt afícn-
tou Tribunal com Superintendente , Feitor , Efcrivaõ , Meirinho , &
dous Fieis, refidentes nefta Villa, que tem jurifdiçaõ nefta Comarca, & na de
Pinhel: pafiou ultimamente a contrato, em que eftà feito arrendamento por
feis annos, que correm:o armazém he edifício capaz de accõmodar muitas mil
pedras de linho.
Alèmdos Miniftros de Juftiça, Fazenda, &Querra, que já nomeamos, af-
íiftem ao governo civil defta Villa o Senado da Camara , & hum Juiz dos
Orfaôs com feus Ofhciaes. Ao governo militar hum Capitaô mór,& hum Sar-
gento mór da Villa, ê* termo por eleiçam dos homens da governança , & cinco
CapitaenscomfeUsOfficiaesdecincocompanhiasdaOrdcnançív, que fe corn-
poem huma da Villa, & quatro dos lugares do termo, mais huma Companhia de
Auxiliares.
Ao prefente ha nefta Villa atè cincoenta cafas de peíToas nobres, cujos ap-
pellidos íaõ, Azevedo, Aragaõ, Aroza, Amaral, Almeyda, Araujo, Botelho,
Barreto, Bora es, Coelho, Caftro, Cabral, Carneiro, Correa, Carvalho, Coura-
ça, Efcovar, Fonfeca, Falcaõ, Gouvea, Gamboa, Ledefma, Lobaõ, Lobo,Madu-
reira, Moraes, Machado, Magalhaens, Mello, Mendoça, Mefquita, Meirelle^,
Monteiro, Moreira, Mota, Ozorio, Pereyra, Pimentel, Pinto, Ribeiro, Sá, Sa-
raiva, Sampayo, Sil, Soufa, Teixeira, Torres, Vafconcellos.
A nobreza defta Villa femprefoy amiga de honra, briola,& authorizada,
inclinada aos nobres exercícios de montarias de javalis, corças, & maís caças,&
decavallaria,emqhouvehomésconfúmadosnos tépos antigos, & modernos,
como também em doutrinar os porros Andaluzes, de que chegou a haver nefta
Villa grande numero decavallosbem doutrinados : nas guerras procederam
com valor; os que feguíram as letras, fe aventejàramnasíciencias; osquepo-
voaram as Religioens,foram Angulares na virtude; os que fahiraõ a ver terras
eftranhas, femprenellas fe fizeram bom lugar, que parece que a influencia dos
Aftros,-que dominaõ efte paiz, para tudo infunde em feus habitadores genero-
fos, & accõmodados génios.
He tradiçam bem fundada, que foy natural defta Vilia a mãy do fenhor D.
An-
DA COROGRAFIA PORTUGUESA: 417
Antonio, I nfante, que feis mezes fe vio coroado Rey de Portugal f ainda de
prcfente apontão as cafas em quenafceo , & fe conhecem peíToàs, que lhe íaõ
conjuntas em fangue.
Hum dosprincipaes frutos defla Villa he o azeite, ha tres , ou quatro att-
nos importou o dizimo, fómente no limite, & ca co da Villa,quatrocentos al-
mudes: de dez , ou quinze annos a efla parte fe tem plantado tantasjolivciras
novas, como havia velhas 5 gaílafena fabrica do fabao mais de mil & quinhentos
cantaros 5 o reílante tem faca para o Porto, Minho, Chaves, Bragança , Miran-
da, Galliza, & algum para Cáflella.
Recolhefe de trigo, centeyo,& cevada o neceífario para o gaílo da Villa,
além de muito pão cozido, que em cargas vem a vender do termo do Mogadou-
ro ; alguns annos fobeja, & fe vende para fora , ou para provimento das terras
confinantes, ou fe embarca no rio Douro no porto de Foz Tua.
De vinho tem falta, porque as vinhas nam correfpondem com a quanti-
dade, que devem à defpeza, que na fabrica delias fe confome, & ainda eífe pou-
co que fe recolhe, fe faz azedç pela Pafcoa, ou S. João , com que fe defeuidão
os moradores em o multiplicar; provè-fc do termo de Bragança, & Murça, & de
outras partes da Província.
De frutas de todo o generotembaflante provimento, & todas com parti-
cular goílo:faõefl imados, & conhecidos no Reyno os meloens da Vellariça
Íior fua bondade, &muy celebradas as atêqui peras : também he abundante de
egumes, & hortaliças, caças groífas de todo o genero, peixes dos rios Douro,
Sabor,ôcribeiraVellartça:camesdevaca,&carneiro,dequetodos os dias fe .
acha por obrigação abaílado o açougue.
Recolhefe nos cãpos da Vellariça muito linho canhamo,de que já falíamos,
que todo fe conduz ao armazém Real; he grande a fertilidade defies campos,
originada das inunckçoens que'faz o Douro, que quando muito crefcido, nam
confenteasaguasdoSabor,& Vellariça,& reprezadascilas, eílão renovando
as terras com o nateiro novo quelhecfeixão ; achaõfeaoprefente deílroçados
com os eílragos, que nellas executa a Vellariça com as mudanças que faz de fua
corrente, que ha poucos annos fe intentou encanar; obra utilifTima, fe fe con-
feguíra. De gados de todo o genero logra eíla Villa huma mediania»
Dos tres rios viíinhos a ella, o Douro (• que muitos querem tenha o primei-
ro lugar entre os de Portugal) temfeunafcimento emOrbião,parte do monte
Idubeda, junto ao fitio que occupou (como alguns dizem ) afamofa Cidade de
Numancia,duaslegoas acima de Soria em Caflella a Velha, & já allitem ponte,
que chamãode Garay;tem outra pertoda Cidade de Touro,& outra junto da
Cidade de Çamora: entra neíle Reyno (aonde já nam confente ponte) contíguo
da Cidade de Miranda, & dilatandofea corrente de fuas copiofas aguas cento
& vinte legoas,fepultafe no mar Oceano em S. João da Foz,huma legoa abaixo
da Cidade do Porto.
O rio Sabor nafee na raya de Galliza por cima do lugar deRabal , termo
da Cidade de Brag-ança,duaslegoas acima delia , & difcorrendo junto da mef.
ma Cidade, & pelo lugar de Izeda do mefmo termo,entra neíla Comarca pelos
confins da Villa de Craflo Vicente, & defagua no Douro,huma legoa defla Vil-
la, correndo primeiro dezafeis legoas :hecopiofo de aguas, a cuja paífagem faõ
neceífarias barcas em alguns portos; tem junto a eíla Villa huma fermofa pon-
te de cantaria de perfeita architedlura,& outra no limite da Vilia de Craflo Vf*
cente, outra em Izeda, outra em a Vilia do Outeiro, & outra em Bragança.
Nniij A
416 J TOMO PRIMEIRO
A ribeira Vellariça tem principio na ferra de Monte Mel por cima do lu-
gar da Burga., termo da Cidace deBragança, St difcorrendo por hum dilatado,
<& fértil valle por efpaço de feislegoas , levem encorporar com o rio Sabor
-fiiçya legca acima do Douro ;St he de nofar que a fegunda fonte de feu nafcimé-
to he tini copicfa, que logo a tiro de piíiola moem quatro moinhos com fuas
aguas.
A cabamos a noticia defta Villa como reparo., que alguns fazem de que ef-
tejaíttuada igualmente emdiftancia de trezelegoas de fete povoacoés nobres,
a fabcr, da Cidade da Gtíarda, Cidade de Lamego, Villa Real, V illa de Chaves ,
Cidade de Bragança, Cidade de Miranda, St Ciudad Rodrigo no Reyno de Ca-
liella.
Lugares defte termo, que pertencem í Commenda da Villa.
Mendel, Freguçíia defta Villa, como já diíTerhos, tem fete vifmhos , St mui-
tas fontes, por fer lugar abundante de aguas , que já vaó inclufas no numero
das da Villa, por ferem de feu limite; recolhe baftatite pão, & algumas frutas.
Cabeça boa tem noventa viíinhos,Igreja Parochial da aprefentação do Rey-
tor da Villa, mais duas Ermidas, Sc quatro fontes; recolhe moderado pão, pou-
co vinho, & azeite.
Cabeça de Mouro tem felTentavilinhos, Igreja Parochial da mefma apre-
fentacam, mais tres Ermidas, St nove fontes; recolhe centcyo, pouco azeite,
& vinho.
Nam parece fora do intento referir a tradição, que entre fy tem os mora-
dores defte lugar da origem de feu nome; dizem elles q no tempo dos Árabes,
quando dominavãoeftas terras,achahdofe hum Chriftão com hum Mouro jú-
to à principal fonte, que eftá no alto defte lugar,Sc convidandofe hum ao outro
a beber nella, duvidou o Chriftão fazello, por haver muitas víboras naquelles
contornos, Sc temer ou que omordeffem , ou que ficaífe-avenenada delias a
agua: o Mouro lho facilitou, dizendo tinha encantados eftes bichos venenofos
em todas as terras, quedaquelle íitio (quehclevanrado , ôcimmincnte) lhe e£
tavão à vifta;porque feja verdadeira, ou nam efta tradição , a experiência mof-
tra, que havendo grande quantidade de víboras naquelles contornos , Sc nos
que daquella imminencia fe comprehcndem com os olhos, não ha noticia que até
o prefente offendeífem a peffoa alguma»
Orta tem cento Sc quatro viíinhos, Igreja Parochial da mefma aprefenta-
ção, mais huma Ermida, Sc fete fontes de ruins aguas: abunda de pão, Sc azeite,
deque alguns annòs recolhe oitocentos almudcs; tem pouco vinho , Sc alguns
gados: he lugar quente, Sc enfermo.
Eftes tres lugares proximos acima cultivão os campos da Vellariça, de q
muito fe a judão para fuftentarfe.
, Eftebaestemcincoenta viíinhos,IgrejaParochialda mefma aprefentação,
mais tres Ermidas, Sc treze fontes; he terrá pobre, recolhe centeyo , Sc algum
trigo: huma dasErmidas da invocação de S.Mamede,fica em alguma diftancia
do lugar, aonde fe vem ainda veftigios de que junto a ella foy povoação, Sc diz
a tradição que de Mouros.
Povoa,Fregueíia dos Eftebaes,tem vinte Sc cinco viíinhos, huma Ermida,
Sc cinco fontes : he também terra pobre, recolhe centeyo, Sc algum trigo.
_ Larinho tem cento Sc dezoito vi íinhos, Igreja Paroch ial da mefma aprefen-
. tação,mais quatro Ermidas,Sc oito fontes: abunda de centeyo , pouco vinho,
Sc n.enos azeite, bons paílos". ajudaõfe nefte lugar de fabricar louça de barro,
d£ que dão provimento à Comarca.
Fel-
D A ~ CO RO GR ATI A PORTUGtJ EZA* 41?
Felgueiras temfetenta vifinhos, Igreja Parochial da mcfma aprefentacam,
mais duas Ermidas, & feis fontes; recolhe pão, pouco vinho, caíianha , & • al-
gumas frutas, tem muitos moinhos de trigo, 6c centeyo , de que fe provém oá
contornos, 6c fcajudão afuftentaros moradores do lugar; tem minas de ferro,
que neile fe obra em padas; hegroíTeiro, 6c não'ferve mais que para concerto
dos inlirumentos, com que fe cultiva a terra. Nos montes conjuntos aefte lu-
gar fe crião porcos montezes.
Açoreira tem oitenta viíinhos , Igreja Parochial da mefma áprefehtàçam,
mais tres Ermidas, 6c nove fontes: recolhe pão, vinho, 6c azeite, gados, frutas,
6c algumas de efpinho , he lugar pouco fádio,por não ter Norte livre.
Campo de Almacay, Fregueíia de Açoreira, tem fete viíinhos, humaEriiii-
da, & nenhuma'fonte ; fervem-le das aguas do Douro, a que fica] conjunto ; he
terra quente, 6c enferma.
Lugares que pertencem a, Abbadia da Villa de Moz•
Felgar tem duzentos Sc vinte viíinhos, Igreja Parochial, aprefehtaçaõ do
Abbadeda Villa de Mòz, mais quatro Ermidas, 6c vinte 6c duas fontes abun-
dantes de água para regar: he lugar frefco, ôc levantado, recolhe paõ, algum vi-
nho, 6c azeite, caftanha, 6c nozes; produzem-feneíte lugar quantidade decebo-»
las compridas,doces, 5c faborofas, de que fefaz eíHmaçam, 6c fe mandão por re-
galo ainda para a Corte; a femente em outras terras degenera. A efle lugar do-
mina para a banda do Sul] hum monte de figura ovada , que chamão Cabeço
da Mila, aonde fe vé hum buraco, 6c concavidade, que dizem haver fido obra de
Mouros.
Souto da Velha tem fetenta viíinhos, Igreja Parochial da mefma aprefen-
tação, mais húa Ermida, 6c quatro fontes. he terra frefca, & pobre, recolhe al-
gum pão, pouco vinho, poucas frutas, 6c algumas caftanhas, tem minas de fer-
ro groífeiro. «
Ahbadia de Vrros*
Abbadia de Teredo.
Abbadia dez5\4açores.
C A. P. II.
Cinco Iegoas ao Sueífe da Torre de Moncorvo, & huma do rio Touro (que
já alli ferve de divifaõ aos Reynes de Portugal, & Caftella) tem feu aífen-
to I reixo de Efpada cinta, Villa da Coroa, & do A rcebifpado de Braga. He a
principal defta Comarca , & no tempo delRey Dom Sancho o Segundo reíiftio
valerofamente ao Infante Dom Affonlò, filho delRey Dom Fernando o Santo de
Caf-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZÀ- 419
Caftella,que entrou armado nefteReyno por aquellaVilla; antes do referido.#
reynando Dom Aífonfo o Segundo pay do dito Dom Sancho , nasdomcft.cas
guerras que teve com fuasàrmais, padeceo efta Villa com outras deita Pro-
vincial & Reyno grandestrabalhos na entrada., queos Leonezes fizerao por el-
la ã favor daslnferítas. :ocq, «. /■'À
Tem por Armas hum Freixo, & delle pendente huma Efpada , & bem podo
ferque feja em memoria de alguma vicfloria iníigne, que feus moradores alcan-
çdrião i depois da qual feu Ca picão entregue ao defcançò, arrimou, & fuípend eo
as armas- ODourar João de Barros nas Anti' uidades de Entre Douro, & Mi-
nho faz menção de hum fidalgo do apeilido Feiião, pfimo de S. Rozendo, attru
buindolhe a fundação deita V ilia; & porque efte fiaalgo trazia por Armashús
freixos, & huma efpada no meyO, ficàrãoo fre.xo,&4 efpada por nome > Sc ar-
mas à Villa, à qual ElRey DbmManoel deu foral.
Seus naturaes tem por tradição que hum Rey, ou Capitão chamado Efpa*
dacinta,cançadodehumabatalha,chegaíido a efta A ília, feaíFentàranaselcaJ
das, que rodeão. hum grande fira xo,qubaindafc conferva ahlwfl lado da Igreja
Matriz, & pendurando ãefpada nefía arvore, lhe dera o nome , & a infignia.
Tem voto, & aífento em Cortes no banco decimo : feus viíinhosr chegão ao mV
mero dc trezentos&fetenta cm huma fó t-reguefia com' boa greja (que dizem
fer fundação delRey Dom Dinii) de cantaria lavrada i & abobeda do mcfmo; he
Collegiada com obrigação de Coro, & três Beneficiados , entre os quaes hum
hc juntamente Thcioureiro com a s primícias infolidum , os mais tem igual
partilha: a theíòuraria com o beneficio annçxo a cila, & mais outro faõ do Pa-
droado Real, o outro terceiro Beneficio he aprefentação do Pont ifice : para ad-
miniftração dos Sacramentos tem hum Vigario act nutum com certoeftipendio,
aprefentação da Mitra Primaz; dos dizimos da illa, Sc termo tem a Coroa a
terça parte , que anda junríícom a adrniniftraçãodap terças dos Concelhos:
alem da Igreja jem dez Ermidas, Sc doze Vantes de poucas , & muito ruins
aguas, & alguns poços particulares da nxfrna cai. (ladç. .3.
Na Ermida de Noífa Senhora do V-illar pouco afaíiada da Villa de fete, ou
oifo<atinos a efta parte, fe recolherão os Clcrigos>qiie vivem debaixo da Regra,
&fnftitutodeS. FelippeNeri, com vida efp;ritual,&: bom exemplo; além das
caías, que ja acompannavão a Ermida, tem dies obrado alguma coufa s que ac-
creíccutàrão a ellas.
Dos frutos defta Villa o principal he azeite, deque recolhem gfánde qua-
lidade^ algunsannosferteiS chet'a a tresmil almudcs; também recolhe pão,
algum vinho, poucas frutas, Sc muito gado- He pouco lavada do Norte, & por
iífo não muito fádia, de clima deftemperado, aflim de Verão, como de Inverno.
Tcmhons edifidiosdecafas,comaccõmodados fotãos, bons quintaes, Sc nos
mais delies poços.
\ Nefta Villa ha contrato de feda, & delia feobrão pannos de peneira s , ta-
fetá, fitas, buratospara mantos, meyas de feda, Sc outras drogas , que fe efpa-
lhão pelo ReynoNTem Alfandega comjutz>Efcrivão delia , ác outro dos Por-
tos íecos, Feitor, Meirinho,1 Guarda, Sc mais Ofiiciacs.
Aíliftem ao feu Governo civil hum Ju-.z de fora, em que jâ falíamos, Verea-
dores, com feus Officiaes, &atègora tinha Jui z dos OrfaÕs com feus Òfficiass,
mas de prefente jeftá vago, Sc ferve de tudo.o j ui z defora.
Ao militar afíifte na Villa hum Capitão mor, Sc hum Sargento mór, eleitos
a votos dos homens da governança, a que obedecem quatro Capitaensde
( quaf.
43° TOMO PRIMEIRO
quatro Companhias da Ordenança da V illa, & termo. v
TemhumCaílellodecantarialavrada(fundaçãodeíR-ey4ionw©ink:') de
bãftance fabrica com tres foberbas torres, a cujo governo aífift io no tempo da
guerrahumCapitãopagocomhumaCompanhia-de guarnição 3 que era junta-
mente Capitão mor da Villa; depois da paz , fuppoito aflifte o Capitão no Caf
tello com onome de Governador, não tem Companhia de guarniçaõ , como de
antes havia. •
r Ainda que efta Villa he da Coroa , tem nella FrancifcodeSampavo de
Mello & Caftro, fenhor da Cafa de Villa Flor,os foros,& direitos Reaes,de que
lhe paga cada morador delia, &feu termo dous aLqueires & meya quarta de ce-
vada, &feis reis, que tudo monta cada anno feífenta mil reis.
Dasfamilias nobres,que authorizão efta Villa,faõos appellidos, cõ que
de prefente fe dcnominão, Pinto, Peftana, Varejão, Travínca, 'Pereira , Bel er-
ma, Meireles, Coelho, Gamboa, Zuzarte, Sá, Sotomayor, Pacheco, Ret o, Ma-
chado, R amires,.Carvalho, Miranda, Borges, Lemos, Monteiro, Eft-eves, Bri-
to, Freire, Andrade, Fonfeca, Crafto, Amarai, Carvalhaes,Carrafco, Barretos.
Os Varoensinlignesem virtude, que loção a efta Villa, de que temos no-
ticia, faõ os feguintes.
. O Padre Meftre Gõçalo de Medeiros, Religiofo da Companhia de Jefus, o
primeiro que em Portugal nella tomou o habito : já no feculo era Varão exem-
plar, virtuoío, & penitente , que fendo certo dia tentado emdefçonfianças de
iuaíaIvação,mereceoapparecerlhe hum Anjo , que duas vezes o certificou de
que fe nam perderia; com tam feguras prendas veftio o habito de Santo Ignacio,
em que viveo alguns annos,gaftados com grande perfeição em fantos , & de-
votos exercícios, dando cada dia feis horas ao da oração mental, & fazendo no
confcííionario muitos ferviços a Deos: já proximo aos últimos inftantes dã vi-
da, fez notáveis a cios da proteftação da Fé, & conformidade com a divina von-
tade com quepoz termoà fuávida, deixando aos Reys Dom Joaõ o Terceiro,
& Dona Catherina grandefentimento, pelo amor quetinhão a fuas raras virtu-
des : faleceo em Lisboa a 4. de Abril de 1 f f2 •
O Venerável Padre Joaõ Francifco de Varejaõfoy natural defta Villa , &
de nobres pays; deixando as vaidades do feculo, fe acolheo aoamparade Santo
Ignacio, veftindofeu habito na Companhia de Jefus : ainda mancebo paliou ao
Japão em huma das prodigiofas miífoens, que coftumão fazer eftes Rcligiofos a
tam remotas terras, ahi padeceo martyriopela confiffaõ da Fè u feu ret rateiem
hum painel fe guarda cõ grande veneraçaõ na Igreja da Mifericordia defta Villa,
diante do qual arde hum lampadario.
Lugares do termo defta Filia.
ligares tem duzentos &cincoenta vifinhos, Abbadia da Mitra Primáz, 3
rende feífenta mil reis; de mais da Igreja Parochial tem fete Ermidas , & cinco
fontes: recolhe muito pão, pouco vinho, & azeite, alguns figos , & amêndoas,
muita caça meuda,& porcos montezes, muito mel, & cera , muitos gados de
ovelhas, & cabras: he lugar temperado-
Poyares tem duzentos viíinhos, Igreja Parochial da aprefentaçaõ dos Be-
neficiados da Villa,mais fete Ermidas,& quinze fontes: tem os mefmos frutos,
& calidades do lugar de ligares; & nas vifinhanças do Douro frutas de efpinho- •
No limite defte lugar perto domefmo rio Douro eftá a Ermida de Noífa Senho-
ra de Alva, & junto a ella hum arruinado Caftello com fuas muralhas , aonde
antigamente efteve fundada a Villa de Alva, que por fe entregar , ou com trei-
p ' caõ,
DA ^COROGRAFIA PORTUGUEZÁ>\ 4St
ca2!, ou com pouca refuicncia ao referido Infante Dom Affonfo , filho delRey
Dom Fernando o Santo de Caftella, foy caíligadapor ElRey Dom Sancho o Se-
gundo deite Rey no, privandoa dos privilégios de Vilia , dandoa por Aldeã do
termo a Freixo, pela fidelidade, com que na mefma occ^íiaõ fe houveraõ os de
Freixo; com condição que nam deixaffem habitar nella nenhuma das peífoas q
a entregáraõ ao dito Infante Dom Affonfo, como coníta da Quarta Parte da Mo-
narquia Luíitana liv. 14. cap. i6> & ou por efta caufa,ou poroutras,de todo fe
defpovoou,& arruinou, ficando fomente abarca, que ainda navega no rio com
o nome de barca de Alva, & a referida Ermida de Santa Maria., que tem annexo
hum beneficio fímples do Padroado R cal.
Fornos tem cento & dez vifinhos,Igreja-Parochial da mefma aprefentaçaõ,
mais opatro Ermidas, & nove fontes com abundancia de agua de rega ; he terra
temperada, recolhe muito paõ, pouco vinho, & aceite, & minta caítanha. Junto
a eíte lugar fevè a Ermida de NbíTa Senhora da Tcrena , adornada com decên-
cia, &. frequentada de Romeiros; tem rendimentos proprios, & efmolas confi-
deraveis.
Mafouco tem feífenta vi linhos, Igreja Parochial da mefma aprefentacàm,
mais duas Ermidas, & oito fo rtes ; he terra temperada com as mefmas caíida-
des, & frutos do lugar de Fornos, & muitas aguas de rega ; recolhe muito
mel, & cera, & muitas cebolas; & hortaliças. Huma das fontes, que chamãodo
Xido, junto da Igreja Matriz defle lugar, coft uma começar a lançar fuas aguas
no mez de Março, & fe o anuo ha de fer fértil de pão, lança muito pouca, & fe ha
defer eíheril, lança mais agua no tempo do Eftio , quenosmezes anteceden-
tes.
—. * CAP. 111/
lhe pertencem.
HE fua cabcçaamefma Villa, que por privilegio particular nam paga fiza;
rende a Abbadia, que he do Padroado Real, oitocentos mil reis , & paga
penfaõá Capella Real. . ,
Temei ta limitada Villa quatorze vifinhos, & doze fontes , & demais da
Igreja MatrizhumaErmida da invocação de NoíTa Senhora do Prado, que toy
antigamente de muita romagem, pelos muito milagres que fazia»
Mairos tem cem vifinhos, Igreja Parochial da aprefentação do Abbade da
Villa, mais duas Ermidas,& vinte fontes.
Curral de Vacas tem cincoenta& cinco vifinhos, Igreja Parochial da meí-
ma aprefentação, mais huma Ermida, & doze fontes.
Aguas frias tem cincoenta vifinhos , Igreja Parochial damefma aprefenta-
ção, mais duas Ermidas, & vinte fontes.
Açoreira tem trinta vifinhós, huma Ermida, & oito fontes.
Avelellas tem cincoenta vifinhos, duas Ermidas,& vinte fontes.
Sobreira tem vinte & cinco vifinhos, huma Ermida,& dez fontes.
Cafas tem cincoenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçam,ne-
nhuma Ermida, & dez fontes.
Nogueirinhos tem fete vifinhos, huma Ermida, & dez fontes.
Abba*
DA COROGRAFIA PORTUGUÊZA.
Commend a de Oucidres, & Lugares, que nejle termo lhe toe ao.
CAP.
DA COROGRAFIA PQRTUGUEZA. 435
~ 'N
CAP. IV.
Da Villa de Anciães.
% % j
lhe tocao.
Oo iij tuga-
4j8 TOMO PRIMEIRO
Julgado de Linhares.
ARnaltemvinte & oito vifínhos duas Ermidas & vinte & quatro fontes.
Campellostem 57. vifínhos, huma Ermida, & nove fontes.
Parambos tem oitenta vifínhos, Igreja Parochial da aprefentaçam do Rey-
ter de Linhares, mais huma Ermida, & vinte fontes.
Mifquel tem vinte&tres vifínhos, huma Ermida, & trinta fontes , huma
das quaes chamada a Fonte Bieita, dizem , tem virtude para os achaques dos
meninos que nella lavâo.
Caílanheiro tem quarenta vifínhos, Igreja Parochial da mefma aprefenta-
ção, mais huma Ermida, & nove fontes: terra quente, & de muito azeite.
Tralharis tem trinta&feis vifínhos, huma Ermida , & quarenta & duas
fontes: terra quente, & abundante de azeite.
Fiolhal,& Foz Tua tem dezafete vifínhos, tres Ermidas,& dez fontes: ter.
ra quente, & de muito azeite. .
Riba longa temquarenta vifínhos, Igreja Parochial, huma Ermida, & feis
fontes: terra quente, & abundante de azeite.
CAP. V.
CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUESA:
CAP. VI*
TRes Iegoas da Torre de Moncorvo para o Poente tem feu fítio Villarinhò
da Caflanheira, Villa da Coroa, & do Arcebifpado de Braga. ElRey Dô
Pedro o Primeiro lhe deu foral, & a fez V il!a : no alto delia fe vè ainda hum
arruinado Caftello. He terra fria, & montuofa, recolhe muito azeite em huns
valles junto do rio Douro,aquechamão Lobafim, humalegoa diílante da Vil-
la, o reftante delia, & feu termo produz baíbante pão, & vmho, algum fuma.gre,
muita caftanha, medianos gados, & caças meudas : tem criação de bichos de
feda-
Aíliftem ao feu governo civil dous Juizes ordinários, Vereadores, & Juiz
dos Orfaõscom feusOffíciaes- Ao militar hum Capitão mór, & hum Sargen-
to mór eleitos a voto dos homens da governança , a quemobedeceni tres Capi-
taens de tres Companhias da Ordenança da V illa, & termo-
Tem famílias nobres de appellidos, Almeyda, Crafto, Pinto, Pereira,Ten-
reiro, Mello, Magalhaens, Vieira, Tavares,Botelho, Abreu, Mefquita-
He cabeça de hua Abbadia de op ão do Cabido, & mais Ecclefiafticos,que
aíliílemno Coro da SèdeBra a , rende para o Abbade cento & cincoentamil
reis :os mais dízimos he renda doinefmo Cabido, que vai feifcentos & quaren-
ta mil reis cada anno. Tem duzentos vifinhos, & demais da Igreja Matriz tem
fete Ermidas, & triata & tres fontes-
CAP. VII.
CAP* VIII.
Da Ftila de Fildafnet.
mmsm
CAP. IX.
»
Da V illa de Sefylfe,
%
Tto legoas da Torre de Moncorvo para aparte do Norte eítâ fundada a
Villa de Sezulfe,a qual he da Coroa,& do Bifpado de Miranda- O feu eli-
mahe temperado, recolhe muito pão,baítante azeite, vinho,gado, 6c caça.
> Afliílem
44* TOMO PRIMEIRO
Affiftem aofeu governo civilhum Juiz ordinário, que ohe,tãbemd os Ór-
fãos, hum Vereador, hum procurador do Concelho, & hum fó Efcrivão , que
lêrve todos os officios. Ao governo militar hum Capitão de huma Companhia
da Ordenança, que fe compoem dos moradores defta V illa ,& dos da V illa de Pi-
nho vtllo , fubordinado ao Capitão mór da Villa de Cortiços.
Tem Igreja Parochial confirmada da aprefentação do Bifpo de Miranda , a
quem pertencem todos os dizimos. Tem algumas familias nobres de appelli-
dos, Pinto, N unes, Pereira, Craflo.
Tem quarenta vifihhos, duas fontes, &; demais da Igreja Parochial tres Er-
midas, huma delias da invocação de Noífa Senhora das F lores, que eftá reduzi-
da a Convento de Clérigos da Congregação , intitulada dos Padres do Calvá-
rio, a que deu principio ha poucos annos o Doutor Jeronymo Ribeiro, C hantre
da Sê de Coimbra,& refidem nelle dez Religiofos. Não tem efta Villa lugar al-
gum de feu termo. . s
CAP. X.
CAP. XL
c
& Da VilU de 3\(uzç!!oy:
• •
NOve Iegoas da Torre de Moncorvo para o Norte no Bifpado de Miranda
eftá fundada a Villa deNuzellós,a qualheda Sereniffima Cafade Bragã-
ça, em que fomente entra o Provedor defta Comarca a exercitar a jurifdiçam,
quelhetoca,&nomaishefogeita ao Ouvidor da Cidade de Bragança, que nel-
la entra em Correição; he terra quente, recolhe baftante paó, & vinho , algum
azeite, gado, & caça.
Aífiftem
DA COROGRAFIA PO RT U G Ú Ê Z A- 44$
Affiílem ao feu governo civil dous Juizes ordinários, que juntamente íer-
Vem de Juizes dos Orfaõs, hum Vereador, hum Procurador do Concelho , ôc
hum Efcrivaõ, que ferve todos os officios. Quant o ao militar, faõ os Officiaes
de Guerra fubordinados ao Sargento mór da Comarca de Bragança-
Temefta Villa dezafete vifinhos, Igreja Parochial dedicáda a NoíTa Senho-
ra da Affumpção, Abbadia do Padroado da Cafa de Bragança , que rende com
asmas annexas trezentos &cincoenta mil reis. Tem mais huma Ermida , &
huma fonte.
Lugares de feu termo.
Villarinho de Agrochão , aonde vivem os Abbades, tem 62- vifinhos,
Igreja Parochial da Invocação de S« Antão , que aprefenta o Abbade da Villa >
mais huma Ermida, & feis fintes: he lugar frefeo, & fádio, recolhe bom pão j
algum azeite, muito vinho,ot dos melhores da Comarca, baífantes gados , al-
guma caífanha,& muita caça.
Arcas tê quarenta & feis vifinhos,igreja Parochial da invocação de Sãta Ca-
therina da aprefentaçaõ do mefmo Abbade,mais duas Ermidas,& quatro fontes:
he terra temperada, recolhe muito vinho, & bom, baflante paç>, & azeite, gado,
& caça. Tem algumas famílias nobres de appellidos, Moraes,Sà, Borges,Viljie-
gas.
Villarinhodo Monte tem trinta & oito vifinhos, Igreja Parochial dedica-
da a S. Sebaftião, que áprefenta o mefmo Abbade, mais huipa Ermida, & duas
fontes: he lugar temperado, produz bem paõ, algum vinho, azeite, caítanha ,
gado, & pouca ca^ â- ♦
CAP. XII.
de z5\dalta*
B Areei he também do çermo defta Villa, tem qiiaréta & dous viíinhos, com
huma Igreja Parochial da invocaçaõ de S-Cyriaco, da aprefentaçam do Co-
mendador da Villa de Freixiel, mais huma Ermida, Sc huma fonte : os dízimos
deite lugar pertencem à Commenda das Villas de Freixiel, ôcAbreiro da Reli-
gião de S. Joaõ do Hofpital da Ilha de Malta , que ;faõ ramo da Commenda de
Poy ares, de que he Commendador Antonio dc Soufa Correa Montenegro*
* Pp ÇAP*
44 6 . TOMO PR I ME I Ra
C A P. XIII.
Da VIlla de FrejxteL
CAP. XIV.
HC
^Navaího^te^iítriníIvifiS^gtejaParochial da mefma aorefentaçaó, dedi^
cada a NoíTa Senhora da Purificação, mais huma Ermida, & duas fontes.
Ametadc do lugar de S. Braz da Sobreira, co treze vifinhos , 8c hua fonte*
Ppijj CAP«
TOMO PRIMEIRO
CAP. XV.
Da Villa de zZAdirandella.
Luga-
45Ti TOMO PRIMEIRO
M Ourei tem tres vifinhos, huma Ermida, & duas fontes: recolhe azeite,
& muito trigo. He tradição que eftelugar, ou quinta fora antigamente
povoação dos Mouros.
V al de Madeiro tem feis vifinhos, hiíma Ermida, & duas fontes : recolhe
osmefmos frutos.
Frexedinha tem quatro vifinhos, huma Ermida, & tres fontes: recolhe mo-
derado azeite, & pouco pão.
Choupim tem dous vifinhos, huma Ermida, & duas fontes : recolhe pou-
co pão, & tem muita caça.
S- Salvado tem oitenta vifinhos, Tgreja Parochial da aprefentação doRey-
tor da Villa,mais húa Ermida,& fete fontes:recolhe baílãte azeite,&. pouco pão.
Freixeda, nome de huma das Commendas da Villa , tem oitenta vifinhos,
Igreja Parochial da mefma aprefentação, mais huma Ermida, St dezafete fontes;
huma delias, que tem feu naíeimentono alto do monte do Concelho, he de agua
tam fria, que metendo dentro delia hum quarto de carneiro , lhe gaíla a carne
emefpaçode meyahora,deixandolhefó os oíTos,como já fe experimentou: re-
colhe pão, vinho, & azeite. junto a eíle lugar fevè hum monte , que ch a mão
Cabeço Figueiró, que tem certos buracos, & concavidades, que dizem os na-
turaes, forãonos tempos antigos minas de prata, & ainda perto de hum ribei-
ro fe vcm as ruínas de hum cafarão, aonde dizem, fe apurava, Sc fundia eílc me-
tal. Tambem junto a eíle lugar eilão veíligios de muralhas de duas povoaçoés,
que forão dos Mouros, huma delias chamada Val de Mouro , Sc outra o Mu-
rado.
Villa Verde, nome de huma das Commendasda Villa, tem cincoenta vifi-
nhos, Igreja Parochial da mefma aprefentação, mais huma Ermida , St oito fon-
tes : recolhe os mefmos frutos,que a Freixeda. Também junto a eíle lugar hou-
ve antigamente minas de prata, Sc perto delle he tradição haver também huma
povoaçaõ de Mouros, St ainda fe vem os veíligios.
Cedacs, nome de huma das Commendas da Villa, tem cem vifinhos / Igreja
Parochial da mefma aprefentação, mais quatro Ermidas, & fete fontes : reco-
lhe muito pão, vinho, St azeite.
Val de Lobo tem vinte Sc feis vifinhos , Igreja Parochial da mefma apre-
fentação, nenhuma Ermida, St feis fontes; recolhe muito pão.
Villaverdinho tem quatorze vifinhos, huma Ermida, & quatro fontes : re-
colhe muito pão.
Val de Telhas, nome de huma das Commendas da Villa, tem noventa vifi-
nhos, Igreja Parochial da mefma aprefentação, mais tres Ermidas.Sc dez fontes:
recolhe muito paõ, vinho, St azeite.
Val de Sardaõ tem oito vifinhos, huma Ermida, & quatro fontes.
Val de Salgueiro tem quarenta & oito vifinhos, duas Ermidas , & quatro
fontes : recolhe muito paõ, 8t vinho.
Barca tem oito vifinhos, huma Ermida, Sc cinco fontes : recolhe pouco
paõ, & vinho. Junto a eíla quinta corre o rio Mete,aonde tem ponte de canta-
ria de cinco arcos.
Chellas
DA'COROGRAFIA PO RTUGUF. 7. A. 45J
Chellas tem quarenta vifinhos]Igreja Parochial da mefma aprefentaçam ,
mais huma Ermida, St nenhuma fonte: í ervem-fe das aguas dos nos , recolhe
pouco paõ, vinho, Sc azeite. Efte lugar eftá ficuado em húa imminencia em for-
ma de penmfula entre os dous rios , Mente, ScTuella, que aqui fe ajuntão-
A Lia tem cincoenta vifinhos , Sc demais da Tgrcja Parochial tem tres Fir
midas, Sc oito fontes: recolhe muito paõ, Sc vinho : he cabeça de huma
Commenda da Ordem de Chrifto do Padroado Real, de que foy Commendador"
Joa&
454 TOMO PRIMEIRO
Joaõ Fernandes Vieira., aííiíknte noEftado do Brafil , & hum dosprincipaes
inílrumentos da fua reftauraçaõ: rende cada anno trinta mil reis : he Reyto-
ria do mefmo Padroado Real, que renderá oitenta mil reis.
Chorenfe tem quatro vifinhos,huma Ermida A quatro fontes.
Carrapatinha tem dez vifinhos, huma Ermida, & duas fontes.
Mograõ tem dezafeis vifinhos, huma Ermida, & cinco fontes.
Brinco tem quarenta vifinhos, Igreja Parochial da aprefentaçao do Rey tor
do lugar de Aila, mais duas Ermidas, & cinco fontes: recolhe muitcApaõ, pou-
co vinho, & azeite.
Alvites tem fetenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentação,mais
tres Ermidas, & feis fontes: recolhe muito p aõ, vinho, & azeite.
Valdc Lagoa tem trinta õedous vifinhos, duas Ermidas , & quatro fon-
tcs.
Açorcira tem dous vifinhos, huma Ermida, & tres fontes.
Lama de Cavallo tem vinte vifinhos, huma Ermida, & tres fontes.
Avantos tem quarenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentação,
mais huma Ermida, 5c oito fontes: recolhe muito paõ, vinho,& azeite.
mas de Orelhão.
Lvga»
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 455
Lugares que nejle termo toe ao a V igair aria de <Abambr es." ■'
ABambres tem noventa viíinhos , & demais da Igreja Parochial tem huma
Ermida, &cinco fontes: he Vigairariada apre tentação do Bifpo de Mi-
randa^ quem pertencem os dizimos deite lugar, & dos mais de fua Freguefia:
recolhe muito paõ, Sc azeite, Sc menos vinho ; corre junto a eíte lugar c rio
L L
V al de Juncal tem vinte Sc quatro vifinhos, huma Ermida, Sc tres fontes.
Val de Martinho tem trinta Sc dous vifinhos, huma Ermida, Sc tres fontes-
Cotas temíeis viíinhos, huma Ermida, Sc tres fontes: recolhe pouco pao,
& azeite: junto a eíte lugar corre o rio Tuella. . ■
Quintas tem dezafeis viíinhos, Igreja Parochial da apréfentação do Bifpo
de Miranda, a quem tocao os dízimos,ma is huma Ermida, Sc tres fontes. reco*
lhe poucppaõ, Sc azeite; coiyre junto a eíte lugar o no l ucila-
YAl dcPradinhos tem vinte viíinhos, huma Ermida, & feis fontes de fref*
cas, delgadas, Sc criílalinas agoas; he da Freguefia da Vília de Sezulfe de-
ita Comarca, Sc pertencem os dizimos ao Bifpo de Miranda*
Car vas tem quatro viftnhos, huma Ermida,Sc tres fontes.
*■" / jBS * jpt * ■
í'ij • f% :Vc-A. • i* i
Lugar da Freguefia de Valçouvinhas termo da Villa
CAP.
TOMO PRIMEIRO
CAP. XVI.
Lugi-
DA COROGRAFIA P O RT U GUE ZAi 4 yz
»
Commen.
Sií • —nBT'-g •*?'
DA COROGRAFIA PORTUGtJÈZA. 4^
♦
/ ■»
Commcnda de aJdcganha, &• lugares que nefte ter mo lhe tocáo.
Qgi) CAP<
46o TOMO PRIMEIRO
+
CAP. XVII.
f y C
° FdguèSs temdcz vifinhos, huma Ermida, & cinco fontes : recolhe at
guma caftanha, & tem criação de bichos de feda» 1
ValD^reiro tem cincoenta 8c oito vifinhos, Igreja Parochial da aprefenta-
cãodo Abbade de Agrobom, mais duas Ermidas, &feis fontes; recolhe muito
azeite, & figos, tem enaçãode bichos de feda,terra muito quente, & enferma,
& de ruins aguas, lugar rico»
VI liar chão tem oitenta & dous vifinhos , Igreja Parochial da aprefentaçaõ
do Abbade da Villa de Alfandega da Fé, mais duas Ermidas , & quatro
fontes; recolhe muito azeite, lugar rico.
Q^iij CAP.
4^2, TOMO PRJMEIRO
CAP. XVIII.
Pedro Guedes de Miranda Henriques foy herdeiro das Cafas de feu pay,
Sc may, fenhor das Villas de Murça, Agua revez,& Torre de Dona Chama, Ef-
tribeiro mor delRey Dom joaó o Quarto, cc Commendador de Cabeça de \ ide,
Sc Alter Pedrofo: cafou com Dona Maria Jofepha de Mendoça , fill >3. de i edro
de Mendoça Furtado, Alcáydemór de Mourão, fenhor da Serageira , Guarda
mor da Peifoa delRey Dom Joa5 o Quarto , Sc hum dos principaes fidalgo.-, de
fua Acclamação: & delles foy filho o íeguinte.
Luiz Guedes de Miranda Sc Lima, fenhor das Villas de Murça., Agua r c-
vez,ScTorrede Dona Chama,Commendador deCabsça de Vide,Sc Alie. í c-
drofo, o qual cafou com Dona Maria Jofepha de Mendoça & Ataíde , filha oe
Nuno de Mendoça,fegundo Conde de Val dos Reys, Sc de fua mulher Dona
Luzia de Caftro,de quem tem a João Guedes de Miranda.
P. XIX.
CAP. XX.
%
NOvc legoas ao Noroeíleda Torre de Moncorvo no Bifpado de Miranda
té feu aíTento efta Villa,de q he fenhor de juro,& herdade Luiz Guedes dc
Miranda & Lima, que tem os direitos Reaes , & lhe pagão em certos lugares
trinta & feis reis cada morador, &a&portagens: aprefenta todos os officios de
Juíliça, & fó entra ncífa Villa em Correição o Corregedor defta Comarca. El-
R cy Dom Diniz lhe deu foral.
' E ftá fituada cm huma campina algum tanto levantada junto da Villa, & em
huma
1
/
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA- tfr
huma imminenciafe vê huma torre quafi arruinada com veftigios de muralha
ao redor, que dizem os naturaes haver íido antigamente ahi V ilia , & que nella
morava huma fenhora chamada Dona Chamoa, de quem tomou o nome, & ainda
nos foraes antigos fe chama a Villa de Dona Chamoa , & pode ferfoffe cita fe-
nhora da Caía do Donatário defla villa, pois o Conde Dom Pedro r.ofeu Nobi-
liário titulo 3o. aonde trata da Genealogia de Dom Gomez Mendes Gedeão
(de quem diffemos procedem os fidalgos de appellidos Guedes) diz, foy caia-
do com Dona Chamòa Mendes, & no mefmo titulo faz menção de outra Doná
Chamòa caiada com Dom Pedro Gomes Barrofo , & de outros do mefmo no-
me. .
He terrà temperada, recolhe muito centeyo, pouco azeite , moderado vi-
nho, alguns gados, & medianas caças; terra falta de agua, ôç pouco fádia.
T cni a Villa, & termo famílias nobres de appellidos Moraes, Coelho, Lo-
bam, Soufa, Sâ, Vaz, Teixeira, Araujo, Loureiro, Meíquita, Faria, Borges ,
Andrade, Rofa, Botelho,Machado, & F erreira.
Affiílem a feu governo civil dous Juizes ordinários, V ereadores, Juiz dos
Orfaõs com feus Officiacs, & dous Tabeliaens. .
Quanto ao militar hum Capitão mór, & hum Sargento mór, eleitos a votos
dos homens da governança, a quem obedecem quatro Capitaens de quatro Cõ-
panhias da Ordenança da Villa, & termo.
Neila Villa fe vè também huma pedra do feitio de hum Uífo , cuja fignifi-
cação já referimos na Villa de Murça.
Õs dizimos,& frutos Ecclefíafticos defta Villa , & lugares de feu termo
pertencem ao Abbade de Guide, lugar deíle termo, & ao Commendador do lu-
gar de Aila, termo de Mirandella,6t em parte de alguns lugares em certa fórma
entra o Comendador da Villa de Algozo do Bifpado, & Comarca de Miranda,
da Religião de S. João do Hofpital de Jerufalem.
a Ip'i?p"yir4».11^ br pnnpy.i.a: da aprefentação do dito Abbade deGui-
de.
Tem efta Villa fetenta&feisvifinhos , & demais da Igreja Parochial tem
dua s Ermidas, & duas fontes.
|
Lugares de feu terno com as me]mas calidades, &• frutos da
GUide tem quarenta & cinco viíinhos , cabeça de huma Abbadia da apre-
fentação do Bifpo de Miranda, que rende feifeentos mil reis , & demais
da Igreja Matriz tem huma Ermida, & duas fontes: terra quente, muito enfer-
ma, fundada nas margens do rioTuella, que nafee em Galliza, & junto com ou-
tros rios paífa pela Villa de Mirandella, como ahi diffemos ; nefte lugar hc rio
mediano com o nomedeTuella.
Também feavifinha a eftepovo huma ribeira,q chamão dos Villar es , de
poucas aguas, que junto a cílc lugar deiagua no rio Tuella.
Ferradoza tem vinte & cinco vifijihos, huma Ermida, & humâ fonte.
Regadeiro tem oito vifinhos, Igreja Parochial da aprefentação do Abbade
de Guide, nenhuma Ermida, & duas fontes.
Val
^68 TOMO PRIMEIRO
Val de prados tem vinte Sc cinco viíinhos , Igreja Parochial da mefma
aprefentação, nenhuma Ermida, 8c huma fonte.
S Pedro Velho tem oitenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefen-
tação, mais duas Ermidas, 8c feis fontes.
Fradizella tem feífenta & quatro vifinhos,Igreja Parochial da mefma apre-
Tentação, mais huma Ermida, 8c treS fontes.
Valgouvinhastem trinta 8c cinco vifinhos , Igreja Parochial da mefma
aprefentaçãq, mais tres Ermidas, 8c duas fontes.
Villardouro tem vinte Sc cinco vifinhos, huma Ermida,& duas fontes.
. Ervedeira tem quatro vifinhos,huma Ermida, & huma fonte.
Argana tem treze vifinhos, huma Ermida, 8c huma fonte.
Lama longa tem trinta & nove vifinhos , Igreja Parochial da meímâ apre-
fentação, mais huma Ermida,8cduas fontes.
Gandariças tem cinco vifinhos, huma Ermida, 8c huma fonte-
Valmayor tem dezafeis vifinhos, huma Ermida, & huma fonte.
Ribeirinha tem vinte vifinhos, huma Ermida, & huma fonte-
V illa-nova tem vinte 8c fete vifinhos, huma Ermida>& duas fontes.
Fornos tem vinte Sc fete vifinhos , Igreja Parochial da mefma aprefenta-
ção, nenhuma Ermida, & tres fontes.
Mofteiró tem feis vifinhos, huma Ermida, Sc duas fontes, Sc o rio Tuelía,
de que bebem-
* Coiços tem dezoito vifinhos, huma Ermida, Sc huma fonte.
" de Aila.
CAP. XXI.
♦
T)a Fília de <iAgua reve%.
XXII.
■ de Mellode
nio /??£> ^ az de.Sampayo,terceiro
Sampayo acima,fuccedeo nado nome,
Cafa & filho
de Villa primeiro
Flor defle
por morte deAnto-
leu tio Manoel de Sampayo,ôcfby'kx to fenhor defta Cafa, 6c das mais Villas de
leu eirado; & por não ter filho,, fucçedeo nella, 6c foy feu herdeiro feu irmão
P ranciíco de Mello de Sampayo, que hc-ofçguir.te.
^ TráPOTco deMelloac Sampayo,irmãodefte Fernao Vair de Sampayo pro-
ximo acima, & filho quarto de Antonio de Mello de Sampayo, 6c de fua mulher
Dona Maria de Noronha acima nomeados, luccedeo nefta Cafa a feu irmaõ mais
velho, 6c foy fetimofenhor de Villa Flor, Ôc das mais Villas de feu eftado • cafou
com Dona Antónia da Sylva, que foy fua primeira mulher , filha de Febo Mo-
niz, 6c delles, entre outros, foy filhooféguinte-
Manoel de S ampayo, filho, 6c herdeiro defte, foy oitavo fenhor daCafade
Villa Flor, 6ç das mais Villas de feu eftado , 6c Commendador da Ordem de
Chrifto: cafou com Dona Felippa de Caftro, filha de Chriftovaõluzarte :6c del-
les, entre outros, foy filho o fc -uinte.
anc co
vil
Villa^
Flor ^ Sampayo,
, 6c das filhode
mais Villas primeiro defte
ku eftado, , foy nono
F romeiro fenhor
emlrás da Cafa de
os Montes,&
G< vernador das Armas da mefma Provincia: cãfou com Dona Luiza Moniz fi-
lha dc F ebo Moniz , & por cila herdou a Capella de Noffa Senhora da Piedade
mo uc
I hcRíe^uint Císboa, & o Morgado a ella annexo: & delles foy fi-
Manoel de SfflnpayodeMello&CaflrOjlilhoprimeiro , & herdeiro defte,
he decimo fenhor da CafaáefViila Flor, & das mais Villas de feu citado : cafou
C na mnna L zii
iGufa, 6c dellesTfoy% « >* Tavora, filha de Joaõ de *ldanha dc
filho Júnico o feguinte.
Çaftro, he undecimó fenhor da Cafa de
V lor, 6c das mais A illas de leu eftado: cafou com Dona jeronyma de Bor-
bon,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZ A. 471
bon,filha de Dom Antonio de Almcyda, fegundo Conde de Avintes, Sc de fua
mulhe r Dona Maria Antónia de Borbon-
m&aim
CAP. XXIII.
Convento de Bouro.
S Anta Comba he cabeça de huma Abbadia de fete Igrejas ficas no termo de-
lia Villa, & da Villa de Alfandega da Fê, (como já ahi dilfemos) cujos dí-
zimos pertencem aos Religíofos deS. Bernardo do Real Convento do'Bouro na
Província do Minho, que rende fetecentos & cincoenta mil reis cada anno ;
conílaõ os frutos delias de muito azeite, baílante paõ, algum vinho, Sc linhos:
eíle lugar he Vigayraria confirmada da aprefentaçao do Dom Abbade do mef-
mo Convento, tem cento Sc doze vifinhos , St demais da Igreja Parochial tem
quatro Ermidas, Sc quatro fontes: recolhe muito azeite.
Bcrnlhevay Femfeffcmãviíinhos,Igreja Parochial dame ma aprefentaçao.,
mais tres Ermidas, & oito fontes: he lugar frefeo, òc abundante de aguas.
Trindade tem oito vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçao , ne-
nhuma Ermida,& huma fonte; a Igreja he fumptuofa,dizem fora dos Templá-
rios -.ametadedeíle lugar quanto à jurifdiçaõfecular he termo da Villa deMi-
randella- . \
Val bom tem trinta vifinhos, huma Ermida, & duas fontes : recolhe muito
azeite.
Macedo tem vinte vifinhos, duas Ermidas, & duas fontes, & hum ribeiro,
que rega todo o lugar; junto a elle eíiá huma ferra toda cavada, St furada, & he
tradição, que antigamente houve ahi minas, naõfefabe de que metal, & fe pre-
fume ferem as que prohibe a Ordenação em Trás os Montes.
aAbbadia de VA freebofo. - •
VAI frechofo tem cincocta vifinhos, Igreja Parochial, & Abbadia da apre-
fentaçao da Mitra Primaz, que rende cem mil reis, mais huma Ermida, &
tres fontes; recolhe paõ, vinho, Sc azeite-
• Lugar
DA COROGRAFIA PORTUGÚE2A. 473
*1 T Ide tem vinte & cinco vífinhos, Igreja Parochial da aprefentaçãó do Rey-
V tor da Villa da Torre de Moncorvo , cujos dízimos pertencem àCom-
menda delia; mais huma Ermida, & huma fonte: recolhe pão, & azeite, & pou-
co vinho»
CAP. XXIV.
Da Filia de Cbacim.
Verão, & abundante de boas aguaS, que correm pela Villa, & feus campos a re-
oar os frutos, & entrão em todas as cafas da V illa, excepto huma, ou duas.
* Tem loaeas, & tendas de Mercadores, & fe contrata em feda, & courámas,
i. 474 TOMO PRIMEIRO
que tudo a faz rica. Recolhe pão, vinho, azeite, linho gall ego, alguns gados ,&
Vi caças meudas, poucas frutas• pudera haver muitas,em razão de bons chaõs,fif-
tios accõmodados para ellas, capazes de fe regarem. •
Corre por feu limite o rio Azibo de medianas aguas , que tem feu princi-
pio junto ao lugar de Podenfe, termo de B ragança, & correndo fete legoas, def-
agua no rio Sabor por cima da Pontè do lugar de Romondes nos confins da V il-
ia de Craífo Vicente.
Aíliftem a feu governo civil dous Juizes ordinários, que o faõ também dos
Orfaõs , Vereadores com feus OiEciaes fubordinados ao Ouvidor de Villa
Flor.
Quanto ao militar, hum Capitão mór, eleito a voto dos homens da gover-
nança, a quem obedece hum Capitão de huma Companhia da Ordenança d a Vil-
la, & termo.
Tem familiasnobres de appellidos Pacheco, Fonfeca, Tavares, Arruda,
Sá, Craílo, Tello, Moraes, Mefquita,Filino, Ferreira.
He cabeça de huma Abbadia da apfefentação do Donatário defta Villa,
que rende quinhentos mil reis, & lhe pertencem os dízimos delia , & dos luga-
res de feu termo.
Tem cento &fefTenta& nove viíinhos, & demais da Tgreja Parochial tem
cinco Ermidas, & trinta & cinto fontes, além da grande copia de aguas,que bai-
xão da ferra, com que fe regão todos os campos, como temos dito.
Huma das referidas Ermidas da invocação de MoíTa Senhora deBalfamão
junto ao rio Azibo, dizem haver íido mefquita de Mouros, & diífo ha veftigios
em algumas ruínas junto a ella, aonde fe vè hum poço, 5c concavidade, que di-
zem temcommunicação como mefmorio 5 neítaErmida ha huma Confraria
geral de cem Clérigos 3 he frequentada de Romeiros, tem Ermitão apresentado
pela Camara.
frutos da Filia.
OLgas he huma quinta da Freguefia da ViUa, tem cinco vifuihos, huma Er-
mida, & huma fonte.
Olmos tem emeoenta & cinco viíinhos , Igreja Parochial da aprefentação
do Abbade da Vília, mais tres Ermidas, & quinze fontes, huma delias, que cha-
mão do Gogo no efcarlido tem aguas medicinaes , que fazem fio como clara
de ovo, & nella fe lavão alguns enfermos , que experimentaõ melhora em feus
açhaques.
CAP.
DA COROG.RAFIA PORTUGUEZA* 475:
' ♦
CAP. XXV.
QUatro le°oas da Torre de Moncorvo para o Norte tem feu aifento Villas-
boas do Arcebifpado de Braga,Villa defta Comarca,de que he Donatano
_ _ herdade o fenhor da Cafa de Villa Flor ,q nellaaprefenta os officios
de Tabelião , & tem a terça parte dos dízimos Ecclefiafticos por antiquiílima
coftume; entra nella o Corregedor defta Comarca fomente por Correição.
He de clima temperado, recolhe baftante pao, vinho, 8c azeite, poucas ru-
tas, alguns gados, Sc medianas caças. ElRey Dom Affonfo o Quarto lhe deu
£ |
013
Afliftemafeu governo civil dous Juizes ordinários , Vereadores com
feus Oíficiaes fubordhiados ao Ouvidor de Villa Flor. , O Juiz dos Orfaõ s de
Villa Flor o he também de Víllasboas. ,
Quanto ao militar tem hum Capitão dehumaCopanhia da Ordenança da
Villa, & termofubordinado ao Capitão mor de Villa Flor.
Tem famiiias nobres de appellidos Villasboas, Macedo, 8c Borges.
He a Igreja Matriz Vigayraria adnutumdaapreientaçao do Reytor de V -
randella, 8c os dizimos pertence hum terço ao Uluftriílimo ArcebTpo Prim<*z>
outro ao fenhor defta Villa, como já diffemos; outro a hum dos Comnrendado-
res da Villyje Mi randella, que o vulgo chamaa Com atenda dos nove ladroes,
COIT1
Tem efta Villa cento 8c quarenta 8c cinco viíinhos, 8c demais da Igreja Pa-
rochial tem cinco Ermidas , quatro fontes, & dous tanques t huma das Ermi-
das da invocação deNoffa Senhora da Affumpçao fica pouco dift ate da V-illa ^co-
roando a imminència de hum monte, 8c de quatro, ou cinco annosacíta parte
tem obrado muitos milagres nos Romeiros, que com pia devoção em numeroto
concurfo frequentão aquella devota Cafa.
mlda
^a"^^g Azenhas tem trinta viíitíhos , 8c demais da Igreja Paro-
chial tem duas Ermidas, 8c tres fontes, 8c huma delias tam caudelofa, que todo
o anuo corre delia hum 4go de agua por erte lugar: a Igreja heVigairaria con-
firmada da aprefentação do Reytor do lugar dos Valles termo> daVilla de Cha-
ves, cujos dizimos feriai tem pela terça do ArcebifpaPnmáz , &PelamCe^a
4 76 TOMO PRIMEIRO
merrda do mefmqjugar dos Valles , de que he Commendador Duarte ^Teixeira
Chaves da mefma V ília: eftâ o lugar fundado nas margens do rio Tua , terra
baixa, calmofa, & enferma.
CAP. XXVI.
1 Da Filia de Frechas.
CAP. XXVII.
Da Filia de zFWós.
C A P. XXVIII.
La Villa de Sampayo.
LOdoes, terra quente, & pouco fádia, tem feífenta vifínhos , Igreja Paro-
chial da aprefentação do Abbade de Villa Flor, a quem pertencem os dí-
zimos, mais huma Ermida: recolhe os mefmo frutos,que a Villa , & tem duas
fontes de ruins aguas.
TRA:
, r. ,T«..
■ y
TRATADO li-
/ CAP. I.
O
DA COROGRAFIA PORTU GUEZA. 48*
& o do Lampacas, & tem trezentos & vinte & quatro lugares* A Yigaira ria
de Aro tem dez Abbâdias, & quatro Commendas, huma de Malta , <1 ties da
Ordem de Chrifto * temfeffenta & oito Parochias. A Vigairana de Bragança
?/mcmfo"&hTaParochiaS. O Aciprríladodc Monforte tc quarc.uaft
huma O Acipreftado de Miranddla tem quarenta & oito. O Acipreftado de
Lampacis tc trinta & feis , com que todo efte Bifpado tem trezentas & quator-
zcT|rejas Patochiacs. Os Bifpos,quetemhav>doate oprefcnte , faoos fe-
ÊUln
Dom Toribio Lopes, Efmoler da Rainha Dona Catherina, Varão de mui-
tas letras, & conhecida virtude. _ „
Dom Rodrigo dc Carvalho, ou Dom Rui Lopes de Carvalho.
Dom Julião de Alva, Confeffor da mefma Rainha, que fora Bifpo de Porta-
' ^ Dom Antonio Pinheiro, que depois foy Bifpo de: Leiria.
, Deão da Capella
13
riom Tnãn da rama, irmão do quarto Conde da Vidigueira* _. .
Dom Frey Francifco Pereira, ReUgiofo dos Eremitas deSato Agoftinho,
irmão de Pedro Alvarez Pereira, Secretario, & do Cr°nfc^^ ^' àt -
Dom Frey João de ValLadares, Religiofo da mefma Ordem , que depois
f0> B
Dom Jorge de Mello, que depois foy Bifpo de Coimbra.
tCS B
Do°mFrAcyiAntoniode Santa Maria, Frade: Capucho da Província de San-
to Antonio,natural da Villa de Britiande,que fora BilpoCortczao,& Deão da
CaPC
D Manoel de Moura Manoel, que antes fora Inquifidor em Coimbra, do
C
°nDom Jo^o F^i^oToUv^raoque foy drAngoh, depois Arcebifpo
d 1 Ba
' osí^gMls,B&^uefi^quê-tem a Cidade de Mirada no feuj termo,
í
^° a Cercio^ Abbadia da Mitra, que rende quinhentos mil reis*
Villachaã da Barciofa, Abbadia do Padroado Real, que rende quatrocentos
*1
Freixiofaheannexa à Abbadia de Villachaã da Barciofa. _
Sendim, Abbadia alternativa, que aprefentaõ o Bifpo, & Malta, rende tre.
zentos mil reis-
Picote he annexa a Abbadia de Sendim-
4^ TOMO PRIMEIRO
Duas Igrejas, Abbadia da Mitra.
Palaçoulo, Reytoria do Bifpo, &. Commenda de Chrííio-
Pradogatão he annexa à Reytoria de Palaçoulo.
Aguas vivas he também annexa à Reytoria de Palaçoulo.
Malhadas, Curado que aprelenta o Cabido.
Villar feco, Abbadia da Mitra.
Genizio, Abbadia da Mitra, que rende duzentos mil reis.
CaíTarelhos, Abbadia da Mitra, que rende quinhentos mil reis.
Eípeciofa he annexa à Abbadia de Genizio.
S. Martinho, Abbadia do Bifpo, que rende cento & cincoenta mil reis.
Avellanofo, Abbadia do Padroado Real, que rende duzentos mil reis.
Ilanes, Reytoria da Mitra.
Conítantim, Vigairaria da Mitra.'
Sicouro, Abbadia do Padroado Real , que rende duzentos & cincoenta
mil reis.
Aldeã nova, Commenda de Chriíto,he annexa àReytoria de Ifanes.
Paradella he annexa à Abbadia de Genizio.
Povoa, Curado que aprefenta o Cabbido.
Fonte de Aldeã he annexa à Abbadia de Villachaãda Barciofa.
Angueira he annexa á Reytoria de Palaçoulo, & tem a Commenda de Saõ
Cipriano de Angueira da Ordem de Chriílo, de que he Commendador o Cõde
da Ericeira, rende quinhentos & quarenta mil reis.
CAP. III.
v
486 TOMO PRIMEIRO
S. Sebaílião do Pinheiro novo , Curado que aprefentaoReytordeSanta-
lha, tem cmcoenta viíinhos, muita lenha, centeyo, & manteigas.
Santiago do Pinheiro velho, Curado da mefma aprefentação, tem fetenta &
feis viíinhos com o lugar de Seixas, que temhuma Capella de S. Clemente: reco-
lhe muito centeyo , lenha , & algumas manteigas ; <k as aguas laõ muito
frias.
A Cathedra de S. Pedro da Quadra he annexaàReytoria de NuzedoTref-
paíTante ; tem ciucoenta viíinhos, com muita lenha, centcyo, cabras , & mantei-
gas.
Santa Cecilia do lugar dos Caiares , Curado annexoà Reytoria deSanta-
lha,temcincoenta viíinhos: eílá junto da ribeira dos Gallegos , aonde ie pef-
cão muitas trutas; produz centeyo, & vinhos verdes. As Carvalhas he huma
Aldeã de oito viíinhos comhumaErmida de Santa Marti »a , vão àMiííaà Fre-
gueíia de S- Pedro de Montou'to, que he termo de Bragança , aonde vão tam-
bém os do lugar de Candedo, que tem vinte & cinco viíinhos com huma Ermi-
da de S. Jorge: tem eíle lugar huma fonte de agua tam fria, que metendolhe den-
tro hum quarto de carneiro, o come todo, fem lhe deixar mais queosoííòs , &
delia bebem os moradores", (em lhe fazer dano. Tem efles dous lugares muita
criação de gados, manteigas, & produzem muito centeyo-
Foyeíla Villa no tempo das ultimas guerras comCaílella íltiada por Dom
Balthefar Panto ja com mil & quatrocentos homens , & a defenderão valeroiã-
mente feus naturaes, deílruindo fó os Caftelhanos alguns lugares, queimando
os Arrabaldes, & as portas da mefma V illa, de que he íenhor o Conde de Atou-
guia- He Governador defta praça Eíle vão cie Mariz Sarmento , que no leu íitio
íe defendeo com grande valor.
'
C A P. . IV.
C A P. V.
1
•
CAP. VI.
Da ifill a de Vimiofo.
CAP,
DA CORO GR AT IA PORTUGCE2A. 48?
GAP. VII"
Da Villa de aJqnhofo*
/is •
CAP. VIII.
' Primeiro neto de Dona Antónia da Cunha de Menezes , mãy da dita fua
mãy.
Segundo neto de Nuno da Cunha, Sc de fua mulher Dona Felippa de Me-
nezes Coutinho, que foy filha de Antonio Queimacio Fello de Menezes , Sc de
fua fegunda mulher Dona Luiza deTavora Coutinho. E efte Antonio Quei-
mado Tello de Menezes foy filho de Dom Francifco de Menezes , o qual Toy
filho
ao* TOMO PRIMEIRO
filho de TriíTao Gomes da Mina, Commendador de SantoEufebionaOrde de
Chril>o,page da lança delRey D-João o 11.8c de fua mulher D.Felippa deMene-
zes,filha de D.Jcaõ Tello de Menezes A neta de D.Fernando de Meneze^Co-
medador da Orde de Chrifto ,8c a dita D- Luiza de Tavora Coutinho foy filha de
Fernão Ortiz de Vilhegas,neta de Inigo Ortiz de V ilhegas,Sc d'
Maria de Tavora,filha de João Telles de Tavora, Mordomo do Infante D.Fer.
nando, que foy filho fegundo de Lourenço Pires de Tavora, fenhor do Mofa-
do de Caparica, 8c de fua mulher Dona Maria Telles, filha de D- Gonçalo Cou-
tinho^^un^^ondc de Mar^ ^ Cunh3j & ^ fua mulher Dona Jufta Pinta, fi-
1Ha
^aTtonetodeMattheus da Cunha, Cavalleiro da Ordem de Omito , &
de fua mulher Dona Maria Soares,filha do Doutor Pedro Barbofa ,L)eicmbar-
gador da Cafa da Supplicação, Ouvidor Geral que foy na índia , &.de luamu-
lher Dona Brites Lopes, que foy irmaã do Doutor Sebafliao barbola, Deíem-
ò
Quinto neto do Doutor Antonio de Macedo, Defembargador , 8c Chan-
celler mor da Cafa da Supplicação, 8c de fua mulher Dona Micia da Cunha,que
foy filha de loão Gomes da Cunha,fenhor de Taboa, 8c de fua mulher D- C eci-
liade Andrade, Dama da Rainha Dona Leonor, 8c neta do Commendador mor
ROj 1
w neto^de Joaõ de Macedo da Ponte da Barca , & de fua mulher Dona
Francifca de Caíiro, que foy filha de Diogo Borges de Caítro.
Sétimo neto de Pedro de Barros, 8c de fua mulher Beatriz de Magalhaes-
Oitavo neto de Gonçalo de Magalhacs. .
Nono neto de Fernão de Magalhacs o Velho, que foy fenhorde Belteíros.
Toda eífa tam antiga, &• illuftre afcendencia por todos os quatro coitados
do dito Dom Manoel Pereira Coutinho achey referida por letra, & final do Dou-
tor Simão Cardofo Pereira, Familiar do Santo Officio, 8c Procurador fifeai do
deftrido da Inquifição deita Corte, cuja letra eu conheço , alemde eítar reco-
nhecida em publica forma pcloTabeliaó Manoel Rodrigues, 8c por Rui da Cof-
ia de Almeyda, que foy Elcrivaõ do dito Fifeo ; onde fazia menção de vanos
documentos authenticos, entre os quaes, alèmdehumai certidão do fenhor D.
Fernão Martins Mafcarenhas, Bifpo Inquifidor Geral deite Reyno, paífadaem
a 2. deDezembro de 1624- vi outra do Eminentiffimo Senhor Dom Veriíh-
mode Alencaítre, Inquifidor Geral, cuja letra conheço, 8c reconhece também o
Tabeliaõ Domingos de Barros, que me parecco digna de í e ver , 8c hc em tor-
maes palavras afeguinte.
Efta atteftacão tam cabal, & por todas as partes fidedigna, me fez deícré-
ver efta tam antiga afcendcnck ; mas pois fe acha com defcendencia o dito D*
Manoel Pereira Continho,não he razão que efta fe queixe de que eu paífe em
filéneio o que he muy digno de fe publicar. . r j c t
Dom Manoel Pereira Coutinho foy calado co Dona Mana Terefa da Syl-
va ôc Tavora,irmaã inteira de Ruí daSylva de Tavora, (quehoje vive no Al-
garve, Meftre de Campo do Terço daquelle Reyno , Alcayde mor de Sylves,
que anda na fua afcendencià, & Provedor das Almadravas) de que teve a Dom
Francifco Jofeph Coutinho,que he o fucceffor dos Morgados, &Cafade feu
pay; a Dom Pedro da Sylva Coutinho, que hoje he Capitaõ de CavaUos de hua
das Companhias do partido defta Corte, cujo poftolhe deu ElRey Dom Pedro
o Secundo por feus finalados ferviços , o qual eftando em Santarém odefpa-
choupor Real Decreto feu em Novembro de *704.. a Rui da Sylva de Tavora,
Ayres Antónia da Sylva & 1 avora, a Madre Cathenna da Soledade , & Joanna
dírloria Relisiofas profeíTasno Mofteiro da Efperança de Lisboa , & Anna
dos Serafins, Margarida dos Martyres, & Ines da Gloria, recolhidas no mefmo
Mofteiro "que por falta de idade inda não faõprofeíTas.
Todos eftes filhos, & filhas pela parte paterna da dita fua may D. Maria
TerC
prfmeíros newsdePedro da Sylva, Câvalleiro da Ordem de Chrifto, Al-
cayde mor de Sylves ,& Governador de S.Thomè,( que era irmaó do Reveren-
do Padre MeftreFrey Ayres da Sylva, que depois de vários lugares, que teve
na Religião do Carmo, foy Provincial nefta Província de Portugal,) & de fuâ
mulher DTcStnu inn ihiStiiora. . . c , ,
Segundos netospelapartedoditofeuavo Pedro da Sylva,de Rui dâ Syl-
va, Alcayde morde Sylves, Vead&r da Fazenda de Felippe Quarto, Mordomo
mór & do Confelho de Eftado, & de D. Cathenna Bautifta de Lubciro, filha
de Nuno de Bafto, & de fua mulher Maria Amada , os quaes tiverãõ outras fi-
lhas; huma chamada Maria de Lubeiro, mulher do Provedor de Caftellobran-
co de que houve defcendencia; Sc outra que cgfou com Luiz Sylveft re, que ta-
bem deixârão defeendentes, todos Cavalleiros das Ordens de Chrifto, & Aviz,
&Religiofos de varias Religioens. 4 . i
CAP. IX.
TRATADO IIP
CAP. I»
rC
PU Tem efta Cidade muitas cafas de homens nobres , cujos appellidos faõ,
Abreus, Antas, Cunhas, Cabraes, Caftros, Almeydas, Moraes, Pereiras , Ma-
lheiros, Sarmentos, Machados, Figueiredos, Ferreiras, Pontes, Vetgas , Pi-
menteis, Pereftrellos, Marizes, Soares, Teixeiras, Madureiras, Colmieiros.
O povo fe divide em Cidade,& Villa,neflaeílao Caftello, obra antiga,mas ad-
mirável, todo murado com fua artelharia : tem dentro em fy a Igreja de Santa
Maria com quatro lconimos,& hum Prior, que aprefenta o Bifpo : rendera o
Priorado cento & trinta mil reis, & as Icênomias quarenta: defta Parochia faõ
freauezes ametade da Cidade; eíta dentro da Villa huma Ermida de Santiago,
que he Commenda da Ordem de Chrifto, & renderá duzentos mil reis. Tem
^ Tt ij 1M19
45>6 tomo primeiro
mais a Cidade outra Igreja Parochial, dedicada a S. João Baiitiíta, Abbadia da
aprefentação do Bifpo, que renderá duzentos mil reis, & terá ametade dos mo-
radores, que por todos faõ quinhentos viíinhos.
Tem hum Convento de S.Francifco da Regular Obfervancia, que dizem
fer fundação do mefmo Santo, que com fua prefença honrou peíToalmente eíta
Cidade, & nas condiçoens que ajuítou com os Vereadores delia para a erecção
deite Convento, dizem, que com fua propria mão aífinou o Santo, & que feu fi-
nal fe guarda com veneração no Archivo da Camara da dita* Cidade. Tem mais
os Conventos feguintes.
O Coll egio de Jefus dos Padres da Companhia, que fundarão os Cidadaõs,
& mais nobres deita Cidade,& o derão aos ditosPadres da Çõpanhia, que tomà-
rão poíTe dclle pelos annos de i f 61. com licença do Bifpo de Miranda Dom An-
tonio Pinheiro: tem humaclaífe deefcola,duas de Latim, & outra deTheolo-
gia Moral-
O Moíteiro de N. Senhora da AíTumpção de Religiofas de S. Clara , que
fundou a fenhora D- Catherina, de que he Padroeira a Camara de Bragança, cõ
privilegio de não darem mais quemeyo dote as filhas dos Cidadaõs , para as
quaes tem quarenta & cinco lugares deputados, ôc nelles nenhuma entra fem li-
cença da Camara.
O Mõíteiro de Santa Efcolaítica de Religiofas de S. Bento , que fundou
T
uma Dora viuva por nome Maria Teixeira, moradora neíia Cidade, que o do-
, > V todos feus bens,& tendo Bulias de Sua Santidade mandou pedir ao Mof-
iro de S. Bento de Vayrão Religiofas, que lhe pudeffem dar principio, reger,
^governar as que nelledenovo entraííem.
A Igreja da Mifericordia com nove Capèllaens, hum bom Hofpital: a Igre-
ja de S. Vicente com dous Beneficiados, aonde eítà huma devota, & milagrofa
Imagem de N- Senhor crucificado: a Ermida de Santiago ; & fóra dos muros
tem eítas Ermidas, Nofla Senhora do Loreto fobre o rio, S- Scbaítião,S. Laza-
ro, Santa Apollonia da outra banda do rio, S. Bertholameu junto das Vinhas, &
mais adiante o Santo Chriíto de Cabeça boa, Imagem milagrofa , & muy fre-
quentada de devotos Romeiros.
Ha neíta Cidade tres Praças, huma dentro dos muros do Caítello, aonde
eítá o pelourinho, & cafa da Camara, ôt duas mais fora das muralhas com hum
fermoíò terreiro em que fe fazem grandiof^feítas de cavallo, por haver neíta
terra muita nobreza, & graudes Gavalleirosthe abundante de pão, & vinho, &
nella fe fabricão veludos, damafeos, pinhoelas, gorgoroens, & teve huma cafa
por conta de Sua Mageítacfe, em que fe obra vão excellentes veludos lavrados.
Logrou eíta Cidade, & feu termo grandes privilégios de Couto, de que fe am-
paravão grande numero de criminofos , que agora foy fervido Sua Mageítade
revogar.
Affiítem ao feu governo civil hum Ouvidor, que entra em Correição em to-
das as Villas , que a grande Cafa de Bragança tem neíta Provinda; hum Juiz
de fóra, que exercita íuajurifdição fomente neíta Cidade, & feu termo ; tres
Vereadores, hum Procurador, hum Thefoureiro da Camara,hum Efcrivão da
Correição, hum Chanceller, hum Efcrivão da Chancellaria, hum Meirinho da
Correição,os officios de Contador, Enqueredor , & Diítribuidor da Correi-
ção, dous Porteiros da Correição, huffi Fiel das appellaçoens da Correição, hú
Efcrivão da Camara,oito Tabeliaens do Judicial, & Notas , hum Diítribuidor,
Contador, & Enqueredor, que andão unidos , dous Enqueredores do Geral,
que
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 49?
queandãofcparados,dous Meirinhos, hum Eferivão da Almotaçaria , dous
Porteiros da Camara, hum Juiz dos Oriaos com quatro Eícnvaens ,osofficuos
de Partidos dos Orfaôs, & Avaliador do Concelho, que andão unidos, quatro
Porteiros dos Orfaôs, hum Almoxarife, & Juiz dos direitos Reaes , hum Ef-
erivão do Almoxarifado, & outro das Sacas, hum Prccurador'do Eífado da Ca-
fa de Bragança, & hum Porteiro do Almoxarifado.
CAP. II.
\
M tempo dos Godos, & dos Rey s de Leão teve fempre efta Cidade Cori-
E des, & lenhores principaes, que a governàraõ. ElRey Dom Affonfo o Ter.
cc^oàe Leão fez Conde delia a Dom Pelayo, illuftre Cavalleiro j depois pelo
tempo adiantepadeceo vários infortúnios,atè le arruinar de todo, & a reedifi-
cou no anno de 1130. DomFernaõ Mendes,grande fenhor em Trás bs Montes,
cunhadodelRévDom Affonfo Henriques;5c no anno de,1187. a mandou po-
voar de novo EÍRey Dom Sancho o Primeiro de Portugal, com grandes foros,
& privilégios,&defte tempo andou fempre na Coroa , atè queElRey Dom Fer-
nando a efeu a Joaõ Affonfo Pimentel com â Vílla de Outeiro em dote com Dona
Joanna Telles fua cunhada, iixnaãbaflardada Rainha Dona Leonor r êc Cõmen-
dadeira, que tinha fido do Cõvento de Santos da Ordem de Santiago»
Paffado o dito Joaõ Affonfo Pimentel a Caftella, & feguindo a parcialidade
delRey Dom J^-ir 1 Primrirn perdeoaqueilas terras, em cuja fatisfaçaõ lhe deu
ElRev Dom Henrique o Terceiro de Caflella a Villa de Benavente com titulo de
'Condado, 5c delle procederão porvaronia osfenhores defta Cafa com titulo de
«randeza , ôc deprefente a logra Dom Francifco Antonio Cafimiro Pimentel
Vicúl de Qumhones Herrera & Benavides, Conde duodecimo de Benavente, &
Conde decimo de Luna, Conde decimo-quarto de Mayorga, Marquez quarto
de Javalquinto, & de Villa Real, Gentil-homem da Camara delRey com exerci-
cio, Alcayde perpetuo de Soria,5c Capitaõ dehuma das Companhias das guar-
dasde Caftella 5 procedem também delle por varoniabs Marquezes de Ta vara,
os de Villar, & os de Viana, ôc em Portugal oultimotonde da Feira.
ElRey de Portugal, como Duque, ôc fenhor de Bragança,paga todos os an-
nos ao dito Conde de Benavente dous açores de Irlanda, que reduzidos a di-
nheiro , faõ vinte & quatro mil reis,muito bem pagos no cabeçaõ das íizas da
Comarca de Miranda, & ainda hoje os ditos Condes tem as fuasArmas noCaf-
tello. " . ...
Foy também fenhor de Bragança Dom Fernando, filho illegitimo do Infan-
te Dom Joaõ, 5c neto delRey Dom Pedro, cafado com Dona Leonor Coutinho*
filha de Vafco Fernandes Coutinho, fenhor do Couto de Leomil: fuccedeo-lhe
no fenhorio defta Cidade feu filho Dom Duarte ; porém morrendo fem fuccef-
faõ, o Infante Dom Pedro,filho delRey E)om Joaõ o Primeiro , governando a
Rey.no na infancia delRey Dom Affonfo o Quinto, feu fobrinho,a deu com ti-
tuío de Ducado a feu meyoirmaõ o íenhor Dom Affonfo, Conde de Barcellos,
Ttiij &
45>S TOMO PRIMEIRO
& foy o primeiro Duque de Bfagança.
, Caiou o dito Dom Affonfo, filho natural delRey Dom Joaõ o Primeiro de
Portugal,com Dona Brites Pereira, filha única, & herdeira do Grande Condef-
table Dom Nuno Alvarez Pereira , & defua mulher Dona Leonor de Alv im,
Condes de Arrayólos, Ourem, & de Barcellos , & fenhores de outras muitas
Villas: &delles, entre outros, foy filho ofeguinte.
Dom Fernando primeiro do nome , &c filho iegundo do primeiro Duque
Dom Affonfo, foy herdeiro da Cafa de feu pay, & Duque iegundo de Bragança,
& Penhor das muitas terras de feu Filado : cafou com Dona 1 oanna de Caílro,
Penhora do Cadaval, filha, & herdeira de Dom Jpaõ de Ca firo, fenhor do Cada-
val, & do Peral, & de outras terras; & deíle matrimonio, entre outros, foy fi-
ho o feguinte.
Dom Fernandofegundo do nome, & filho primogenitodo fegundo Duque
lacima, foy terceiro Duque de Bragança, & lenhor das mais terras de leu Fila-
do: cafou com Dona Ifabel de Portugal, filha do Infante Dom Fernando, Duque
de Vizeu, Meílrc das Ordens de Chriílo, & Santiago; & dcfle matrimonio, que
foy o Iegundo, teve, entre outros filhos, o feguinte-
Dom Jaimes, filho primogénito do terceiro Duque acima, foy herdeiro da
Cafa de feu pay, & quarto Duque de Bragança:cafou com D.Leonor de Gufmaõ
fua primeira mulher, filha de D. Joaõ de Gufmaó, terceiro Duque de Medina
Sidónia,Marquez de Caçaça, & Condede Nicbla;& deíle matrimonio foy fillio,
entre outros, o feguinte.
Dom Theodoíio primeiro do nome , filho primogénito do quarto Duque
ácima,foy herdeiro da Cafa de feu pay*,£t Duque quinto de Bragança : cafou a
primeira vez com Dona Joanna de Alencaílre,filhatíe Dom Diniz de Portugal,
que por fua mulher foy terceiro Conde de Lemos: & deíle matrimonio toy fi-
lho único o feguinte.
Dom Joao^íilho primogenitodo quintaDuque acima ^ foy herdeiro da
Cafa de feu pay, & Duque fexto de Bragança,o primeiro deíle nome*: cafou com
a fenhora Dona Catherina, filha do Infante Dom Duarte,Duque de Guimarães,
& Cofideílablc de Portugal; & delles, entre outros, foy filho o feguinte.
Dom Theodofio o feguddo do nome, & filho primogénito do fêxto Duq ue
acima, foy fucceífor da Cafa de feu pay, & fetimo Duque de Bragança : cafou
com Dona Anna dé Velafco, filha de Dom Fernando de Velafco, fexto Conde
de Haro,fegundo Duque de Çrias,& fexto Condeílable deCaílellado feu ap-
pellido, Governador de Mjlaõ, Prêfidente do Cònfelho de Italia,dos Confelhos
de Eílado, & Guerra dclRty Dom Feiippe o Tercei.ro : & deíle matrimonio,
entre outros, foy filho o feguinte.
Dom Joaõ fegundo do nome, filho primogénito do fetimo Duque acima,
foy herdeiro da Cafa de feu pay , & oitavo Duque de Bragança : no anno de
1640. foy acclamado Rey de Portugal, & entre elles o quarto do nome ; cafou
com a Sereniífima Dona Luiza Maria Francifca Jofepha Margarida Jacinta Ma-
noela de Gufmaõ, filha de Dom Manoel Domingos Francifco de Paula Peres de
Gufmaõ el Bueno, oitavo Duque de Medina Sidónia, quinto Marquez de Caça-
ça, & nono Conde de Niebla, Cavalleiro de Tuzaõ: &. deíle matrimonio, entre
outros, foy filhoo feguinte.
O Grande , & Pacifico Dom Pedro o Segundo no nome entre os Reys de
Portugal, filho terceiro do Gloriofo Rey Dom Joaõ o Quarto acima nomeado:
cafou a primeira vez com a Sereniífima Princeza, & R ainha D- Maria Francifea
" DA COROGRAFIA PO RT UGUEZA. 499
Ifabel de Saboya , filha de Carlos Amadeu Manoel de Saboya, Duque fexto de
Nemours, Aumale, & cenevocs, Marquez dc S Sorlim, Conde dt Gilors &.
defte matrimonio foy filha uniíaaPrinceza Dona Ifabel Luiza Jofepha , que
110ir
CafouSunda vez com a Sereniífima Rainha Maria Sofia Ifabel de Baviera
Neoburg, Prfnceza Condeca Palatina do Rin, Duqueza de Baviera, Neoburg,
Julier ai Cleves,& Mons,Condeça Vvaldens,fenhora deRevensthein,& MarfC,
filha de Felippe Vvilhelmo, Conde Palatino do Rin, Duque de Baviera, & Co-
de de Vvaldens, fenhor de Revenílhin,& MarK,Principe do lacro Romano Im-
pério ; & deíle matrimonio teve oPrincipe D-JoaÕ, que moçreo menino,o Prín-
cipe D.Joaõ,& os fenhores Infantes, D- Francifco,D. Antonio, D. Manoel,as
fenhoras Infantas D. Thereía,8c D-Francifca. •
CAP. Ill- •
r-p Em o termo deíla Cidade cento & cincoenta & tres lugares, que fe divi-
JL dem pelas Freguefias feguintes. * ' •
íTantob flevaõ de F refulfe, Abbadia dos Bifpos de Miranda , tem fetenta
vifinhos. „ , t -cr
S. yuTniCT jlilmilia uaiin fim aprefcntacão, tem o lugar de Moireita com
cincoenta vifinhos, & o de Ozeii£e com trinta & hum.
N. Senhora da Aífumpçaõde Dine annexaaReytoria deParamio , temo
lugar de Dine com quarenta vifinhos-
S.Pedro de Montouto, Abbadia dos Bifpos de Miranda, tem trinta & cm-
covifinhos. /- o j
S. Pedro de Moymenta, Abbadia damefma aprefentaçao, tem cento,&do-
zevifinhos.
Noífa Senhora da Aífumpçaõ, Abbadia da Cafa de Bragança , que ,rend e
trezentos mil reis, tem Gondezende com trinta vifinhos, Oleiros da Urea cõ
trinta 8tdous,8cPortella com trinta &,feis. '
S. Joaõ Bautifta, Reytoria da Cafa de Bragança, & Commenda de Chrilto,
temParamio comfeflenta &nove vifinhos, Maçans com trinta, & Fontes Traf-
baceiro com cincoenta & quatro. .
S- Jufto de Donay, Curado annexoà Reytoria de Carragoza, tem cincoen-
ta vifinhos. t . .
S- Martinho de Sueira, Reytoria dos Bifpos de Miranda, tem cento & vin-
te vifinhos.
Santo Eílevaõ de Efpinhozela, Abbadia da Cafa dc Bragança , que rende
trezentos mil reis, temleífentavifi lhos. ^ ■
S- Pedro de-Soutolb, Curado annexoà Reytoria de Carragoza, tem feten-
ta vifinhos: chamafe efte lugar Soutello da G^moeda.
Sao
pó TOMO PRIMEIRO
S' Cypriaõ de Villariahode Cova de Lua tem feffènta viíinhos, 6c he anne-
xa à Abbadia de Efpinhozella.
Santa Co; nb de Cova de Lua,, annexa à mefma Abbadia de Efpinhozela ,
temtrintáviíinhos.
N. Senhora da AíTumpçaõ de Carragoza, Reytoria da Cafa de Bragãça,tem
feffenta viíinhos.
S. Thomè de Terrozo, Abbadia que aprefentaõos Bifpos de Miranda,tem
cincoenta viíinhos*
Santiago de Lagomar tem vinte & quatro viíinhos, & o lugar de Savaris cõ
doze.
S.Joaó Bautifta de Craftellos he annexa à Reytoria de Villa-verde , tem
quarenta & cinco viíinhos.
.S. Berthclameu de Negredahe annexa à'Abbadia de S. GensdeSclías , té
vinte & oito viíinhos. '
S. Pedro de Conlellas, Reytoria do Bifpo de Miranda , & Commenda de
Chriíto, tem cincoenta viíinhos.
S. Cypriano he annexa à Reytoria de S. André de Ouzilhaõ, tem Nunes, &
Romaris com quarenta viíinhos.
Santo André de Ouzilliaõ, Reytoria da aprefentaçaõ do Cabido de Miran-
da, tem fetenta viíinhos: he Ccmmenda de Chrifto.
N. Senhora da AíTumpçaõ deCidoens he annexa á Abbadia de Villar de
Peregrinos, tem vinte & dous viíinhos.
Santa Barbora de Brito he annexa à Abbadia de S. Pedro de Penas juntas,
tem vinte & cinco viíinhos»
N.SenhoradaTrindadedeOzoyohe annexaà Abbadia de Sa5 Mamede de
Alimonde,tem feíTenta viíinhos.
S. Jorge de Saõ Cibraõ he annexa à Abbadia de Sendas, tem trinta~& cin-
co viíinhos^
Nolfa Senhora da AíTumpçaõ de Ferreira he annexa à Reitoria de S. Pedro
de Macedo dos,Cavalleiros, tem cincoenta viíinhos com o lugar de Comunhas.
S. Lourenço de Mucos he annexa à mefma Reytoria de S. Pedro dos Ca-
valleiros, tem quarenta viíinhos. ,
S. Miguel de VillaboadeOuzilhaS he annexa à Reytoria de S.Martinho
de Soeira, tem noventa viíinhos*
S. Gens de Sellas, Abbadia da aprefentaçaõ do Cabido de Miranda,que ré-
derà trezentos mil reis, tem quarenta viíinhos.
S. Mamede de Alimonde, Abbadia da Cafa de Bragança, que rende trezé-
tos mil reis, tem fetenta vifinhos. •
S. Martinho de'Martim, Abbadia da aprefentaçaõ do Bifpo, que renderá
trezentos mil reis, tem vinte & cinco viíinhos.
NoíTa Senhora de Melhe he annexa à A bbadiade NoíTa Senhora da AíTump-
çaõ da Villa de Rebordaõs, tem vinte viíinhos.
S.Jufto de Villar de Peregrinos, Abbadia da apreíentaçaõ do Bifpo , que
rende duzentos mil reis, tem quarenta viíinhos , & o lugar de Saõ Cibrainho
com dez. • *■ .
Santa Ifabel de Boufendehe annexa àReytoria deS. Pedro de Macedo dos
Cavalleiros, tem trinta viíinhos.
S. Miguel de Soutello de Pena Mourifca, Prebend4^& Curado do Cabido
de Miranda, tem vinte viíinhos.
Santa
DA COROGRAFIA POR'TUGUEZA: 5ot
Santa Olaya de Edrofa he annexa à Reytoria de Santo AndrèdeOuzilhaõ,
tem cincoenta vifinhos. _
Santa Cecilia de Carrazedo he annexa à Abbadia de S. Mamede de Alimõ-
de, tem quarenta vifinhos.
S.Miguel deEfpadanedo&VallongoheannexaàReytoria dcS-Pedro de
Macedo dos Cavalleiros, tem vinte viíinhos-
NoíTa Senhora do O de Refoyos he annexa à Abbadia dc Saõ Mamede de
Ali monde, tem vinte & dous vifinhos-
Santa Marinha de Edrofo, Abbadia da apreíentaçaõ doBifpo , que rende
cem mil reis, tem quarenta vifinhos.
S. T homè de Mós de Sellas he annexa à Abbadia de S. Gens dc S ellas, tem
vinte & dous vifinhos.
S. Pedro de Penas juntas, Eiras mayores, tem quarenta vifinhos: he Abba-
dia da Cafa de Bragança, que rende com as annexas trezentos mil reis.
S. Mamede de Agrochaõ he annexa à Abbadia dePenas juntas, tem cento
& cinco vifinhos.
S. Lourenço de Frãça he annexa à Reytoria de S.Bertholameu de Rabal,té
cincoenta vifinhos.
S. Romaõ de Baçal he annexa à Parochia de Santa Maria da Cidade de Bra-
gança : tem feffenta vifinhos-
S. Sebaftiaõ de Val de Lamas, Reytoria da apreíentaçaõ do Bifpo, & Com-
menda de Chrifto, tem dezoito vifinhos.
SantaCruz de Portello, & Montezinho tem trinta & quatro vifinhos : he
annexa à Reytoria de N.Senhora da AíTumpçaõ de Carragoza.
S- Jorge de Villa-nova he annexa à Reytoria de Caftro de Avellas Padroa-
do do Cabido, de quem faõ os dizimos: tem dezafeis vifinhos.
S. Cypriaõ de Avelleda he annexa à Abbadia de S. André de Meixedo,tem
feíTenta viluihdl». m*. jl ,»
S. Miguel de Varge he também annexa a mefma Abbadia de Meixedo, tem
quarenta vifinhos.
Santo André dc Meixedo, Abbadia da Cafa de Bragança,que rende com as
fuas annexas oitocentos mil reis: tem o lugar de Meixedo com feíTenta & qua-
tro vifinhos, & Oleirinhos com quatorze.
S. Bertholameu de Rabal,Reytoria da Cafa dc Bragança . tem feíTenta vifi-
nhos :efta Reytoria eftá dividida em quatro Commendas, a quechamaõ quar-
tos^ renderá cada hum cincoenta mil reis, dos quaes pagaõ os Commenda-
dores quarenta & dous ao Rey tor: tem mais a Commenda de Villa Meam por
annexa, que rende cento & trinta mil reis,& a Commenda de Gradamil , que
renderá cincoenta. /
NoíTa Senhora dá Aflupçaõ de Sacoya(s he annexa á Abbadia de Meixedo, te
cincoentavifinhos. \
S- Payode Nogueira he annexa àReytoria de Crafto de Avellans, tem fe-
tenta & feis vifinhos.
S. Pedro de Sam Pedro he annexa à Reytoria dc S. Gens de Parada, tem fe-
tenta vifinhos.
NoíTa Senhora da AíTumpçaõ de Samil he annexa à Igreja Parochial de San-
ta Maria da Cidade de Bragança: tem o lugar de Samil com cincoenta vifinhos,
& o de Cabcçaboa com doze.
' S.
5ot TOMO PRIMEIRO
S. Cláudio de Fermil tem cincoenta &dous vifinhos.
S. Martinho de Alfayaó, Abbadia do Cabido., que renderá cento & cincoe-
ta mil reis: tem fêífenta & féis viíinhos.
Santa Maria Magdalena de Grijó de Parada he annexa à Reytoria de S-Gens
de Parada: tem fcífenta viíinhos»
S. Vicente de Freixedello, Abbadia da Caía de Bragança, que rende cem
mil reis, tem trinta & cinco viíinhos.
S. N icolao de Pinella he annexa à Abbadia de S. Pedro de Carças, tejn cin.
coenta & quatro viíinhos;
S-Lourenço de Paredes he annexa à Rey toria de S. Gens deParada : tem
trinta viíinhós.
S. Mattheus de Sarzeaa he annexa à Rey toria de Caftro de Aveilans : tem
vinte & oito viíinhos.
S. Gens de Parada, Rey toria da Caía de Bragança, que tem fete Commen;
das,aquechamão oitavos, que rendem huns por outros a oitenta mil reis ca-
da hum, & cem para o Rey tor: tem efta F reguefia noventa & íeis viíinhos.
S. Lourenço de Fontes Barrozas he annexa á Rey toria de S. Pedro de Cõ-
lellas : tem cincoenta viíinhos.
S. Bento Rey toria do Cabido , tem Caítrode Aveilans com quinze viíi-
nhos, & Grandeas com trinta.
S.Vicente de Valverde he annexa ;à Abbadia de Santa Maria da Villa de
Rebordaõs: tem vinte & cinco viíinhos.
S. Pedro de Babe tem oitenta & cinco vifinhos ;he Reytoria da Cafade Bra-
gança, que com as fuas annexas tem duas Commendas, que renderam cada húa
cento & cincoenta mil reis, de que fe pagão ao Rey tor quarenta & dous.
Santa Olaya de Villa Meam he annexa à Rey toria de Saõ Bertholameu de
Raoal; tem quarenta viíinhos. Eftánotermo defla Cidade o lugar da Refega
coní doze viíinhos, que vão ouvir MiíTaàFregueíIa de Veigas , termo da Villa
do Outeiro. 'r
S. Miguel de Palacios, Curado que apreíenta o Cabido, tem vinte & cinco
vifinhos. -
S- Bertholameu, Reytoria do Bifpo, & Commenda de Chrifto , tem eíks
lugares, S-Julião com feífenta&feis vifinhos, & Carãvella com vinte-
Noífa Senhora da Aífumpção de Gimonde he annexa à Reytoria de S. Pe-
dro de Babe : tem quarenta vifinhos.
Noífa Senhora da Aífumpção de Labeados he também annexa àReytoria dc
S. Pedro de Babe : tem trinta viíinhos.
Noífa Senhora da Aífumpção de Deylão he annexa à Reytoria de Sac? Ber-
tholameu de Rabal: tem trinta viíinhos. Villar, & Val de Prados tem vinte &
cinco v iíinhos, que vão à Miífa ao lugar de Milhão, termo da Villa do Outeiro.
£ão Lourenço da Petifqueira he annexa à Reytoria de S. Bertholameu de
Rabal: tem vinte vifinhos.
S. João Bautifta de Riodonor he também annexa à mefma Reytoria de Ra-
bal-.tem quinze vifinhos, porque ametâde do lugar de Riodonor he de Portu-
gal, & a outra ametade de Caftella.
S. Vicente de Gradamil he também annexa á Reytoria de Rabal: tem deza-
feis vifinhos.
S. Miguel de Fcrmontaõs he annexa à Reytoria de Salças ; tem quarenta vi.
íinhos.
S.
D A COROGRAFIA PORTUGUEZA.' 505
S. Miguel de Lançãohe annexa àRevtoria deS. Mamedede Sortestem
trinta &cinco vifinhos; Villa boa de Arutc, lugar de fete viíinhos , & Arufe de
doze vão à Miffa à Villa dc Rebordainhos Contorça de Miranda.
S Julio de Calvelhe , Curado annexoà Reytoria dc Izeda, temoitenta
Vlflnl
6. MigueldePaçodeSortestcmquarentavifinhos : heanrtexa à Reytoria
dCS
' sí Mitue?Cuiado,temo lugar de Paradinha a nova com cincoenta vifi-
si Nicolao de Salças, Reytoria-do Biípo, que rende cincocta mil reis ,tcm
oluvar de Salças com cincoenta viíinhos, & Moredo com quarenta & íeis- La-
toens lugar dõ termo de Bragança tem doze vilinbos, que vao a Mula a Sezul-
fe<
^nroEft«5ode'Vfflatoad^Carjashe annexa âAbbadlade S. Pedro de
Carí
si Pedriidc Carças^Abbadia da Cafa de Bragança, que rende com as fuas
annexas trezentos mil reis livres para o Abbade, tem quinze vili nhos.
Santiago de Coelhozo he he annexa à Reytoria de S. cens deparada : tem
& C1
M^çde d^Sor ces, ReyToria do Brf^>o dc Miranda ,' tem feffenta viíi-
nh
°S.BertholameudeViduedohe annexaà Reytoria de Sortes: tem cinçoen-
• /* 1
SanuMaria.de Valbemfeito, Abbàdia da Cafa de Bragança , querenácrá
cem mil reis livres para o Abbadç, tem cento & vinte viíinhos: ^ „
S. Pedro de Macedo dós Cavalleiros,Reytoria da Cafade Bragança, q co
as fuas annexas renderá oitocentos mil reis para o Commendador, deque paga
quarenta & dons ao Reytor item Macedodos Cavàlle-roscom leffenta vifinhos,
Travanca com cincoenta , Mugueirinha comvinte&leis,&Gradiílimo com
qUarC
N.SenhoradaPuvif.caç"ao,AbbadiadoBifpod=Mitand?,quC rende qui-
nhentos mil reis,.tem o lugar de Podence com cento Sc doze viíinhos, Sc o Azh
veiro com qtiatorze- - ** j
' S. Vicente de Vinhas, Abbadia que aprefenta o Marquez de Tavora , que
rende dous mil & quinhentos cruzados; tem noventa viíinhos.
S. Sebaftiãode Limãos té fetenta viíinhos;. he annexa a ABbadia de Viftha^
504 TOMO PRIMEIRO
Si Vicente de B agueixe, annexa também à Abbadia de Vinhas,tem feffen-
ta viíinhos-
N. Senhora da AíTumpçãodeCaílro Roupal, annexa á mefma Abbadia de
Vinhas, tem quarenta viíinhos.
Santa Cruz de Galhos, annexa à mefma Abbadia de Vinhas,tem cincoé-
ta & oito viíinhos. •
S. Giraldo de Banrezes, annexa à mefma Abbadia de Vinhas , tem vinte
viíinhos.
S. Sylveftre de Freixeda he annexa à Rey toria deSalças: tem trinta & cin-
co viíinhos. O lugar de Fernande tem vinte & fete vifinhos, que vaõ à Miffa à
Villa de V al de Nogueira deíl a Comarca.
S. Giraldo de Carrapatas tem cincoenta vifinhos: he Curado da aprefenta-
ção do Bifpo.
Santo André de Moraes, Reytoria do Bifpo, &Commenda de Chriflo, té
o lugar de Moraes com cento & feíTentaviíinhos,& o de Sobreda com quatorze.
S. Bertholameu de Paredinha dos Befteiros tem vinte & cinco vifinhos : he
annexa à Reytoria de Santo Andre de Moraes.
S.Martinho da Lagoa annexa à mefma Reytoria de S. Andre de Moraes,
tem cento & quarenta vifinhos.
Santa Comba de Roças tem cincoenta viíinhos.
S. Miguel de Talhas he annexa à Abbadia de S- Pedro de Carças , tem no-
venta viíinhos.
N. Senhora da AíTumpção de Serapicos, annexa também à Abbadia de Saô
Pedro de Carças, tem fetenta viíinhos.
N. Senhora dá AíTumpção de Caftellãos tem cem viíinhos : he annexa à
Reytoria de S- Pedro de Macedo dos Cavalleiros. „ *
Santa Eufemia de Vergada tem vinte & cinco viíinhos : he annexa à Abba-
dia efesendasT
N. Senhora das Candeas de Macedo do Mato, Abbadia do Bifpo, que ren-
de fetenta mil reis jtem quarenta & feis viíinhos.
S- Pedro de Sendas, Abbadia do Bifpo, que rende quatrocentos mil reis,
tem trinta &. cinco vifinhos.
NoíTa Senhora da AíTumpção de Lamas de Podence, Reytoria do Bifpo, té
fetenta & feis viíinhos.
Santiago de Crujas tem fetenta viíinhos 5 he annexa à Reytoria de Lamas.
N-Senhora da AíTumpção de Izeda , Reytoria do Bifpo , tem cento &
feífqnta viíinhos.
S-Vicente de Val da Porca tem oitenta vifinhos: he annexa à Abbadia de
Salcellas.
Santa Martha de Bornes, Reytoria do Bifpo, & Commenda de ChriíTo,tem
cento & fetenta vifinhos.
N. Senhora daCõccição de Burga tem qyarenta vifinhos :he annexa à Rey-
toria de S. Martha de Bornes-
Santa Maria de Quintella de Lampaças, Abbadia da Cafa de Bragança>que
rede cõ as fuas annexas duzétos & cincoenta mil reis livres para o Abbade, tem
olugar de Quintella com cento & doze vifinhos, & ode Veigas eom vinte &
cinco.
S. Miguel de Baldres he annexa à Abbadia de Santa Maria de Quintella: té
trinta & cinco vifinhos. O lugar de Arrifana tem quinze vifinhos , que vão à
'iíTa
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. pf
Miffa à Villa de Valde Prados defta Oomarcâ*
S. Nicolao da Amendoeira, Curado do Biípo, tem feffenta vifinhos.
CAP. IV.
A' Villa de Val de Nogueira deu foral no anno de 125)6- EÍRey Dom Af-
fonfo o Terceiro, que depois reformou ElRey Dom Manoel : tem trin-
ta vifmhos com huma Igreja Parochial, Orago N. Senhora da Affumpção. He
da Provedoria de Miranda.
A Villa de ViUa Franca tem citicoetltavifinhosçom huma Igreja Parochial
da invocação de S. Bento, annexa à Abbadia de S.Maria deQuintelía no termo
de Bragança. He também da Provedoria de Miranda-
A Villa de Vai de Prados tem noventa vifinhos com huma Igreja Parochial
da invocação de S.Jeronymo , annexa á Reytoria de S. Pedro de Macedo dos
Cavalleiros no termo de Bragança j he da Provedoria de Miranda.
A Villa de Rebordãos tem cem vifinhos com Igreja Parochial, Orago Noí-
fa Senhora da Affumpção, Abbadia da Cafa de Bragança,que com fuas annexas
renderá quinhentos mil reis livres paraoAbbade: ElRey Dom Diniz lhe deu
foral. O feu termo tem o lugar de Mós de Rebordãos com cincoenta vifinhos,
Igreja,Parochial da invocação deS. Pedro, Abbadia annexa a da Villa: tem mais
huma SfiiihrP >Tmagcm.muy devota, & de muitos mila-
gres. He da Provedoria dê Miranda. . _ , . , , .
A Villa deGuftei tem quarenta vifinhos com huma Igreja Parochial da in-
vocação de S. Cláudio, annexa áReytoria de S. Bento deCrafto de Avellãs no
termo de Bragança. Tem eft a Villa no feu termo o lugar da Caftiriheira cõ 24.
vifinhos :he da Provedoria de Miranda.
A Villa de Ervedoza tem cens vifinhos com huma Igreja Parochial da in-
vocação de S. Martinho, annexaá A bbadia de S. Pedro de Penas juntas : tem
eft a Villa no feu termo Pegolago, &Soutella com doze vifinhos , & Falgueiras
comnove,quevãoá Igreja de S. Pedro dePenasjuntas termo de Bragança 5 hc
da Provedoria de Miranda. | [.
A Villa do Outeiro fica feis legoas ao Noroefte de Miranda, & tres de Bra-
gança para o Sul: eftá íituada na planície de hum outeiro, donde tomou o nome ,
com feu Caftello: he abundante de pão, & vinho; tem oitenta vifinhos com húa
Igreja Parochial dedicada a N« Senhora da Affumpção. He feu Alcayde mor o
Doutor Antonio de Freitas Branco , do Confelho de S*Mâgeílade,& dodefua
Fazéda, Comendador de S.Mamede do Trovifcofo,Juiz geral das Coutadas do
Reyno,Chanceller da Cáfa de Bragança,& Miniftro da junta da dita Cafa, & da
Cafa da Infantado,& Adminiftrador da Cafa de Aveiro.;O feu termtftem asFre-
:
gueílas feguintes. ' •
Santa Olaya tem Pinello com fetenta vifinhos, & Val de Pena cotfi t re s«
S. Thomè de Quintanilha tem trinta vifinhos.
S. Cruz de Carção tem cento & cincoenta vifinhos.
Uu b*
yo6 TOMO PRIMEIRO
S. Lourenço de Milhão tem cincoenta vifínhos.
S.Vicente de Paço do Outeiro tem feffenta vifínhos.
S- Frutuofode Argozello tem cento 8c cincoenta vifínhos*
S. Miguel de Paradinha tem quarenta vifínhos.
N- Senhora da Affumpcão de Rio frio tem fetenta vifínhos.
S- Julião de Santulhão tem cento 8c cincoenta vifínhos.
S. Vicente de Vcigas tem vinte vifínhos. Pertencem aos dízimos defies
lugares ao Cabido de Miranda, que nelies aprefentão Curas.
Aífiílem ao governo civil deíla Villa, que he da Provedoria de Miranda,
hum Juiz de fora, Vereadores, 8c Juiz dos Orfaõscom feus Officiaes,8c tem al-
gumas cafas nobres deappellidos, Rochas, Machados, Moraes, Fragofos.
CAP. V.
Da Filia de Chaves.
]
° L°^ntaM?rk,íCurado da aprefentação do Rey tor de Bobadella, tem Soutcl-
lo de baixo com fetenta & oito vifinhos, & Noval com trinta & feis , huma Er-
mida do Efpãrito Santo, & quatro fontes. ^ .. Santo
5o8 TOMO PRIMEIRO
Santo André,Curado da aprefentação do mefmo Reytor de Bobadella,tem
Ar daõs com oitenta vifinhos, òc huma Ermida de N. SenhoràdoRofario.
.* Santo Antonio, Curado da meíma aprefentação,tem Sounfinho com íeilen-
W V1
, Santo Maria tem Calvão com cento Sc nove vifinhos , Cear a velha com íe-
tetitaSc feis,Caílellaõscomdezoito, Agrellatem vinte, que vão ao Couto dc
Ervededb dos Arcebifpos de Braga. .
Santa Maria de Villelafeca, Curado da Mitra, tem cincoenta vifinhos , òc
huma Ermida de N. Senhora.
Santiago, Abbadia da Mitra, tem Villarelho, St Cambedo com cincoenta
vifinhos, & Villarinho do Extremo com dezafeis , Sc huma Ermida de N- Se-.
nhoradoRofario. ' ,
Santa Comba de Villameam, Curado da Mitra, tem quarenta vifinhos , ôc
huma Ermida de S.Anna. .
S. Miguel, Curado da Mitra, tem Outeiro feco com oitenta vifinhos , 3c
huma Ermida de N- Senhora do Roíario,St o lugar de S- Cruz com dez, St hua
Ermida de S.Anna. _ . .
Santa Maria de Lahiadarcos tem cincoenta vifinhos: he annexa ao Priorado
da Villa de Chaves. . ,
S. Martha de Villa Frade tem trinta vifinhos, Sc huma Ermida de N. Senho-
ra : he também annexa ao mefmo Priorado-
Santo Eílevão, Vigairaria da Mitra, tem eftes lugares, Santo E ftevão c5
cincoenta vifinhos, Fayoens com cento & dez, & Villaverde do Extremo com
quarenta: faõ annexas a eífa Freguefia tres Ermidas, N. Senhora do Roí ario, S.
Mattheus, & Santiago. _
S.Maria, Curado da aprefentação do^Vigario de S-Eftevão , tcmorogãf
de S. Lourenço com trinta vitf hTi&s.,'^Pira^ com dez. . .
S. Salvador, Vigairaria da aprefentação da Caía dc Bragança, tem O Elpiri-
to Santo de V illár de Nantes com oiteta vifinhos, Nantes com cincoenta St íeis,
& Outeiro João com trinta,& huma Ermida de Santiago.
N.Senhora doO,Curado annexoàVigairaria cfeS-Salvador , tem Sa-
mayoens com quarenta & cinco vifinhos , 5c huma Ermida deN. Senhorado
Rofario, 5c Izei com vinte 5c cinco-
Santa Maria, Curado annexo à Reytoria de S- Miguel de Nogueira , tem
Sella, 5c Sampayo com doze vifinhos, 5c huma Ermida, 5c Trefmundes, 5c Bru-
nheiro com vinte- "
S.Julião de Monte negro, Reytoria, 6c Commenda deChriito, tem eites
lugares, S. Geão com vinteôc cinco vifinhos, Morteiro de baixo com quinze,
& Limaos com oito.
Santa Maria de Paradeiía, Curado annexoà Reytoria de S. Miguel de No-
gueira, tem Paradella, ôc»Pardelhas com tripta vifinhos, Ôc Maços com vinte.
S- Miguel, Reytoria da Mitra, & Commenda de Chriílo, (de que he Com-
mendador Dom Pedro da Cunha) tem eftes lugares , Nogueira com dezoito
vifinhos, Capelludoscom vinte, Sandanil com quatorze , Santa Marinha com
dez, a Moinha velha com nove, Sobrado de Nogileira com feis , Santiago do
Monte com vinte 5c dous, Alanhofa com vinte, & Gundar com dez.
S. Vicente de Vilharandello tem cento & cincoenta 6c dous vifinhos , 5c
huma Ermida :he Vigairaria de Malta da Commenda de Saõ Joaotde Corvei-
ra
* S.
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. J09
S. loão, Vieairaria de Malta da mefma Commenda, tem eíles lugares , Er-
voes com cincoenta vifinhos, Lamas com dezafeis , Alpande com vinte & cin-
co, Valongo com oito, Villardouro com feis, Alfonge com doze, Sendofelhe co
dez, 8c Sá com cincoenta & cinco, & huma Ermida de anta Luzia.
S. Maria de Vaçal, Curado da aprefentaçao do Cabido ,de Braga, tem Vaçal
com cincoenta vifinhos, Sc Monçalvarga com quarenta.
S. Pedro de Frioés, Vigairaria da aprefentaçao da Cafa de Bragança , que
rende duzentos mil reis; tem eftes lugares, Fnoens com íeis vifinhos-, Villari-
nho com vinte & dons, Frugende com dezanove, QumteUa com cmçoenta , S.
Domingos com feis, Ladairo com dez, Selleirosicom cincoenta, Villarandaboa
com doze, Paranhos com dezoito, & Moíteiro de cima com vinrfc & íeis : os
dizimos deftaFreguefíafaò do Prior de Chaves. .
S. Mamede, Curado annexo à Reytoria de S. Nicolao de Carrazedos, tem
Argeris com oitenta vifinhos, Ribas com vinte & cinco , Pereiro de Santiago
com vinte, Alvarenta com quinze, Midoens com dez , 8cValdefpinhocomoi-
NoíTa Senhora das Neves da Veiga de Lila tem trinta Sc dous vifinhos: hc
annexa á Reytoria de S. Pedro dos Valles.,
S. PcdrodosVSTtesyRcy toria da aprefentaçao da Cafa de Bragança , que
com as fuas annexas rende ao Reytor duzentos mil reis,tem quarenta vifinhos,
& huma Commenda que aprefenta a Cafa de Bragança, que rendera t rezen t o s
ml11
Notta Senhora do O,he annexa à Reytoria de S. Pedro dos Valies : tem ef-
tes lugares, Canavezes com quarenta vifinhos, Cadoufo com vinte , Deimâos
com trinta, Sc Emeres com oito. *
S. Nicolao dos Valles, Reytoria da Mitra , Sc Commenda ae Chrifro ( dc
que he CommcndadorFrancifco Teixeira Chaves) tem Vallos.co vinte Sc dous
vifinhos, Sc Zebres com dezafeis. , ,
Santo. Andre tem Jou com feffenta 8c cinco vifinhos, Toubres com dezoi-
to, Valdigua com oito, Cima da V ilia com quarenta Sc cinco : he annexa a Rey-
toria de S. Pedro dos Valles. „ , . ,
S. Miguel, Curado annexo à Reytoria de S. Nicolao de Carrazedo , tem
Curros com vinte 8c cinco vifinhos, Val do Campo com doze, Sc Cabanas com
C0 r
' Sant^Maria dos PolTaquos Vigairaria do mefmo Cabido , tem PoíTa-
quoscom cem viíinhos, ScCachaõ com vinte.
•CAP. VI.
T>d VilUde^Mpnteaíezre. ^
,l! 0b
's. Pedro de Tourem, Abbadia da Cafa de Bragança, que rende trezentos
mil reis, tem noventa vilinhos. Neila Fregueíia eila o Caftello da Piconha.
S. Pedro de Donoens tem feffenta vifinhos: hc annexa à Reytoria de Santa
Maria de Montealegre. # x „ , . _ , ,
Santiago de Mourilhe tem feffentavifinhos , & o lugar de Sabuzedo com
cincoenta: he também annexa à Keytoria de Montealegre.
S Mamede de Cambezes, Abbadia da Cafa de Bragança, que rende duzen-
tos mil reis, tem o lugar de Cambezes com feffenta vifinhos, & o de Frades com
trinta&cinco. . . , x
Santo André de Cezelhe he annexa à Reytoria de Santa Mana dc Monte-
alegre, tem Cezelhe cora cincoenta vifinhos , & Travaços com quarenta & cin-
co
Santa Maria de Covellaens tem cincoenta vilinhos , he annexa à Reytoria
de Santa Maria de Veade- .
Santiago de Paredes do Rio tem cincoenta vilinhos , he também annexa a
Reytoria de Santa Maria de Veade.
Santa Maria de Pitoens tem cem vilinhos.
S. Thomè de Parada do Gerês, Abbadia da Cafa de Bragança , que rende
duzentos mil reis, tem Parada do Gerês com trinta vifinhos, Outeiro com vin-
te & oito, Sirvozello com doze, & Sella com oito.
S.Lourenço de Cabril, Abbadia da Cafa de Bragança , que rende trezen-
tos mil reis, tem Cabril com quinze vifinhos, Lapella, & Azebedo com doze,
Zertellocom dez, & Cheio com nove.
S. V icente de Contim he annexa à Abbadia de Santa Marinha : tem Con-
tim com vinte vifinhos, & S. Pedro do Rio com trinta & feis.
S- Miguel de Villaça tem vinte vifinhos , & lhe pertencem ametade dos vi-
finhos do lugar de S. Pedro do Rio: he Curado que aprefenta o Abbade de San-
ta Marinha. . . . . , , _ .
Santo André de Fiaens do Rio tem trinta vifinhos , & o lugar de Loivos
com doze: he annexa à Reytoria de S. Maria de Veade.
S- João de Ponteira, he também annexa à Reytoria de Santa Maria de Vea-
de : tem Ponteira com quinze vifinhos, & Paradella com vinte & feis.
S. Pedro de Covello do Gerês, Abbadia da Cafa de Bragança, que rende li-
vres da penfaõ para o Abbade cem mil reis, tem Covello com trinta & feis vifi-
nhos, & Seftafreita,& Penedas com quinze.
Santa Marinha, Abbadia da Cafa de Bragança, que com as fuas annexas re-
de quatrocentos mil reis, tem Ferral, & Viveiro com cincoenta vifinhosr,Saco-
felo com vinte & feis, Nogueirò comdczoito, Villa-nova, & Sidròs com trinta
&feis. . , , _ „
S. Martinho de Reigozo he annexa à Abbadia de S- Pedro de Covello item
Reigozo com trinta vifinhos, Curraens com trinta & dous , & Ladrugaens cõ
cincoenta. . .
S. Pedro de Poldras, & Sanfins, Abbadia da Mitra ,tem dezafeis vilinhos,
& olugarde PayoAffonfo com fete, & ode Ormeche com vinte.
Santa Maria Magdalena da Villa da Ponte he annexa à Abbadia dc S. Ma-,
rinha: tem V ilia da Ponte com trinta vifinhos, & Buftello com vinte.
Santia <o'.de Frividellas he annexa à Reytoria de Santa Marinha dc V eadc:
° rrm
wwv
dc, tem S. Vicente, ScTorgutda com quarenta vifinhos, Medeiros com ic ent a
&óito,'Peirezes com vim?, Gralhes com trinta, Fwidas com trinta, Trava-
ços da Chaá com vinte St oito, Penedones com cincoenta , StCaftinheira coi
qUare
Santa Maria MaaJalena de Negroens , Curado annexe à Igreja de S. Vi-
cente da Chaá, tem Ncgroens com cincoenta viflnhos, Villar mho com trinta,&
Lamachao com quinze.~ ^ mmK0 à
COm
SíHirfl rhriftina de Servos, Abbadia da Cafa de Bragança, que renderá feis-
centos mi! rei" teni Servos com felfenta vifinhos, Cortiços com trmta Scoito,
Villarinhode Arcoscõdoze,& Arcos com cincoenta. ? ~
Nofia Seuhorada Alfumpçáo de Serraqumhos he annexa a Aboadui de S.
Chriftina dc Servos, temSerraquinhoscom quarenta vifinhos , Sepeda com
mnm, Zebral com trinta St quatro, Antigo de Zebral com quarenta, & Pedrat-
K>
TSCuTdc4Bobadella,ReytoriadaMitra,&CommendadeChrifto-,tem
S<U
^m^Mark de Curros, tem Curros com doze vifinhos,Morteiro cõ quin-
» ze, Friaens de Tamega com quarenta, & Antigo de Curros com vmte.
S. Salvador de Canedo, Rey toria da Mitra, tem Canedo com emeoenta &
• feis vifinhos, Veral comvmte, Seiros com trinta, Penalonga comcmcoenta |«
Alijó com doze. Viella,&Melhe tem vinte & feis vifinhos, que vaoa Ribeira
de Pena fóra da Comarca. . - Santa
5i4 TOMO PRIMEIRO
Santa Maria de'Covas, Abbadia daCaía de Bragança, que renderá feiícen-
tos mil reislivres par,a o Abbade, tem Covas com cento & doze vifinhos,Vivei-
ro com cincoenta òt feis, Campos com quarenta , Agrellos com vinte , Bufto
frio com trinta, Cafalde Guimera tem três vifinhos, que vão ao Couto deQr-
nelías fóra da Comarca. | - -V I
Noffa Senhora da Natividade de Meixide, Curado annexo à Reytoria de S.
Miguel de Bobadella, tem quarenta vifinhos. .
Santa Maria Magdalena das Alturas he annexa à Abbadia de Sánta Maria
de Covas :tem Alturas com cincoenta 3t dous vifinhos, Atilho com cincoenta,
Villarinhofeco com trinta, & Telhado com vinte&dous-
Santiago de Cerdedo, Abbadia da Cafa de Bragança, tem Cerdedo com
vinte vifinhos, Cóimbrò com quinze, Venda da Serra com quatro, Covello do
Monte com tres, & Britello com dous.
Santa Maria de Salto, Reytoria, tem Salto com vinte vifinhos, Pereira cõ
doze, Serdeira com feis, Reboreda com vinte, Povoa com quatorze, Bagulhão
com doze, Corva com dezafete, Ameal com oito, Amear com treze, Pomar da
Rainha com cinco, Paredes de Salto com íeis, õt, Taboadella com íeis»
S. Simão do Codeçozo do Arco he annexa à Abbadia de S. Marinha : tem
vinte & feis vifinhos com eftes lugares, Sangunhedo, Venda nova, V illarinho
do A rco, & Codeçozo do Arco.
'
CAP. VII.
tra-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA* 51^
TRATADO IV
c
Da Cowarca, &" Ouvidoria de Villa R^al-
CAP. I.
nu ..
IUATRO legoas de Lamego para a parte do Norte em hum vil-
tofo & alegre plano tem feu affento cfta nobre Villa, a mayor, &
1 melhor povoação da Provincia de Tra s os Montes , aonde a la
i íituada para a parte do Occidente, por onde confina com a Pro-
í vincia de Entre Douro, & Minho, da qual a dividem as ferras, &
-J montes,que chamaodo Mar^O» Alguns dizem, ( & parecenao
fer fórade razão) que jímtos fe°chama 'o
Aíleo, & cajado, que fe guardou , paracom ellefe dar pofie em lugar de bait ao
5i 6 TOMO PRIMEIRO
aos Governadores daquella praça : &a Villa de Villa Real o tomou porinfig-
nia de Armas dentro de huma coroa de Louro em memoria de tam grandeCa-
valleiro, fenhor deíla Villa, que tam dignamente mereceo coroarfe com a coroa
de Louro por fuas grandes façanhas.
Divideíe eífa V illa em duas Parochias , huma da invocação de S. Diony-
íío , & outra dedicada a S. Pedro, ambas com feu Vigário A dous Coadjutores,
que aprefenta o Geral dos Frades jeronymos doCõvento de Bcllem.j 1 em Caia
de Mifericordia, Hofpital, onze Capellas, ou Ermidas limpa , &curiofamente
adornadas; o Convento de S- Domingos , que fe fundou pelos aruios de 15 2 4"
com efmolas do povo, & depois o accrefcentàrão com grandes doaçoes os Mar-
quezes de Villa Real ; o Convento de S Francifco de Capuchos Antoninos',
que fundarão pelos annos de 1573. os Marquezes de Villa Real, & humMoí-
teiro de Frevras da Ordem de Santa Ciara. I em huma grandiofa praça cõ bom
chafariz, & huma pirâmide altiífima de huma fo pedra , que fe remata em huma
Cruz, óònde a gente nobre fempre coíl umou celebrar luas feílas. He bem pro-
vida, & abaílada de Mercadores, & officiaes mecânicos, &; de boas aguas , de
que tem nove fontes perenes, mais de íctfenta em quintas particulares : tem
grande colheita de muitos, & bons vinhos, qufc embarcados pelo rio Doiiro(que
lhe fica duas legoas diílante para o Sul ) fe conduzem à Cidade do Porto,
& dahi a partes ultramarinas, com grandes intereífes, & utilidades dos mora-
dores.
A/Iiílem ao feu governo civil hum Ouvidor, que entra por correição em to-
das as Villas, que o Marquezado tem neíla Provinda, & na da Beira 5 & hum
juiz de fora, ambos dcfpachados pela junta da Caía de Bragança , que também
adminiílra cíle Marquezado ; hum Vigário Geral pofto pelo Arcebifpoce
Braga, cõ certa juriídiçao coarílada, que exercita neilaVilli,2c emoutTSS*Vi-
finhas a elfe. Entra'nefía WT*o Provedor da Comarca de
Lamego a exercitar fua jurifdiçâo.
No tempo das guerras paffadas fahirao defla V il.a, & feu termo íeis i.lef-
tres de Campo, hum Governador dá Comarca, quatro Capitaens de Cavallos ,
feis de Infantaria,& muitos, & valetofos Soldados: & nos noífos tempos teve
tres Lentes na Univerfidade de Coimbra, & hum Doutor, que efereveo a ma-
teria de Ttftammis. Dizem feus moradores, que houve alguns Santos natu-
raes deíla Villa, & dous, ou tres Bifpos, & cinco Martyres , mas não me ex-
preífárão os nomes de algum delles.
Tem eíla Villa viílofas, & alegres fahidas para todas as partes, com duas
torres, a da Quintella, & a de Agores, na qual, dizem, fe achou hum thefouro ,
que fora delRey Dom Pedro. He fértil de pão, frutas, hortaliças, gado, caça,.
& peixe, & tem muitos foutos- ElRey Dom Diniz fez logo nò principio doa-
çaõ delia à Rainha S- Ifabel, & foy tãbem fenhora delia a Rainha D- Brites , mu-
lher delRey Dom Affonfo o Quarto 5 annos adiante a deu ElRey Dom Fernan-.
do à Rainha Dona Leonor. Depois foraõ fenhorcs delia Villa osCavalleiros do
appellido íiluílre de Porto Carreiro, como o foy joaõ Rodrigues Porto Car-
reiro, do qual foy filha a leguinte.
Dona Mayor de Villalobos Porto Carreiro, a qual foy herdeira da cafa de
feu pay, & fenhora de Villa Real, caiou com Joaõ AFoníb Tello de-Menezes,pri-
meiro Conde de Viana, & fenhor de Alvito, & Villa-nova , dos quaes foy .filho
ofemnnte. - V
Dom Pedro de Menezes,filho defies aci ma, foy fegundo Conde de V íana,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 517
& primeiro de Villa Real A o primeiro Capitão de Ceuta, que governou vime
&5ous annos, obrando grandes proezas: & andando com leu pay em Caft clla,
fovlácondeáe A) Ion A também de Agudaricafou a primeira vez com Dona
Margarida de Miranda, & delles foy filha A herdeira a fegu mte.
ê
Dona Brites de Menezes foy (ilha primeira, & (herdeira, do Conde D. Pe-
drode Menezes acima, fov fenhora de Villa Real, cafou com Dom Fernando de
Noronha, filho terceiro de Dom Affonfo Henriquez de Callella , Conde de
ruibn & Noronha A de fua mulher Dona 1 fabel de Portugal , filha bafiarda
delRey Dom Fernando de Portugal; o qual Conde Dom Artonfo Hcriqiiez dc
CaMa foy filhobaftardo delRey Dom Henrique o Segundo de Cailella .cha-
mado oNobrc. F. o dito Dom Fcrnãdo deNoronha por fua mulher a dita Dom
Brites de Menezes foy fegundoConde de Villa Real,& Capitao de Ceuta . c
Camareiro mór delRey DomDuarte: & delle, entre outros, foy filho o feguin-
hC d
DSom Manoel tie Menezes, filho fegundo do terceiro Marquez acima, fuc-
cedeo nefta Cafa por morte de feu primeiro irmão, fem filhos : & toy quinto
Mníoue" Scorimeiro Duque de Villa Real , & fenhor das mais terras de feu
Eftado: cafou com Dona Maria da Sylva, filha de Dom Alvaro Coutinho, Co m-
mendador de Aimourol, & delles, entre outros, forao Idhoscy fegumtes. Dom
Miouel de Menezes, que foy fexto Marquez , & fegundo Duque cie Vi Ha Real,
ou de Caminha, & por não deixar filhos legítimos, lhefuccedeo neita Caía leu
Tar
°DomiMlgSd dfeMÍMz°es'ffiího único varão dofaimo
fucccdeo na Cafa de feu pay, & foy oitavo Marquez de V ília Real, & huquc de
1
Caminha; Stfuppoftocafou tres vezes,nao teve geraçaoi&cllçA feu pay iwir
rèrão por fentençaa a,. de Mayo de ití+r- & foyconfifcada <-^C;laparaa
Coroa, & ElRey Dom Joaõ o Quarto a deu a feu filho o Sereniílímo Dom ,
nefíe tempo Infante de Portugal. p.;
jj8 TOMO PRIMEIRO
Ficou Dona Maria de Noronha irmaã inteira de Dom Miguel de Noronha
Duque de Caminha, que caiou a primeira vez com feutio Dom Miguel de Me-
nezes fegundo Duque de Villa Real, de que não teve filhos , Sc cafou fegunda
vez com Dom Rodrigo Porto Carrero, Conde de Medelhim,Grãde de Efpanha ,
de que ha defcendentcs em Cafbclla^ que fe intituião Matquczes de V Illa Real.
He hoje Alcayde mór delia Villa Garcia de Mello , Monteiro, mor do Rey-
no,cuja illuílre varonia he a fcguinte.
Martim Affonfo de Mello foy filho de Vafco Martins de Mello, fenhor de
Povos, Sc da Caífanheira, Sc de outras terras, queeradeícendente por varonia
de DomReymaõFormaens, que dize;n muitos ler defeendente de JulioCefar,
St dos antigos Metelos, St até eite Dom RevmSo , St fua mulher Dona Dordia
Goutinha contava oito avós. Foy eite Martim Affonfo fenhor de Barbacena,&
A lcayde mór de Évora, Sc de outras terras :cafou com Dona Briolanja deSou-
la, filha de Martim Affonfo de Soufa o Velho,Sc de Dona Maria de Briteircs,dos
quaes foy filho, entre outros, o feguinte.
joaõ de Mello fcy Alcayde mór de Serpa , Sc Copeiro mór delRey Dom
Affonfo o Quinto: cafou com Dona Ifabel da Sylveira, filha de Nuno Martins
da Sylveira o Velho, Rico homem, Sc Coudel mór, St Efcrivaõ da Puridade del-
Rey Dom Duarte, Sc de fua mulher Dona Leonor Gonçalves de Abreu, de que
t eve, entre outros filhos, o feguinte.
Gracia de Mello foy Alcayde mor de Serpa, St Commendador de Langroi-
va na Ordem de Chriíto: cafou com Dona Felippa Pereira da Syiva , filha de
Henrique Pereira da Sylva, Commendador mór de Santiago, & de fua mulher-
Dona Ifabel Pereira, de que teve, entre outros filhos, o feguinte-
Jorge de Mello foy Commendador do Pinheiro, Porteiro mór , Sc Mon-
teiro mór dos Rey s Dom Manoel, Sc Dom joaõ o Terceiro : cafou coin Dona
Margarida de Mendoça, filha de Diogo de Mendoça, Alcayde mór de Moufao,
& de fua mulher Dona Bear ri z So?ifPs7t!e revê, entrè'õucros filhos, o fe-
guinte-
Manoel de Mello foy Monteiro mór delRev Dom Joaõ o Terceiro , & de
tresReys mais, Embaixador a Caftella, Sc Miniítro dc grande eftimaçaõ : cafou
com Dona Guiomar Henriques,filha de Pedro da Cunha, fenhor de Geil aço, Sc
Penajoas, Sc de fua mulher Dona Maria Henriques, de quem ceve, entre outros
filhos, o feguinte.
Francifcode^lello herdou a cafa, Sc officio de feus pays , Sc foy hum doS
cinco acclamadoresdelRey Dom Joaõ o Quarto, Sc feu Embaixador a França,
General da Cavallaria do Alentejo, & Governador do Algarve , Cavalheiro de
muito valor, Sc lealdade: cafon com Dona Luiza de Mendoça,-filha de Pero de
Mendoça, Commendador de Mouraó, Sc Capitaõ de Chaul, Sc de fua mulher D.
Mariana de Mello, de quem foy filho, entre outros, o feguinte.
Gracia de Mello, Commendador de Santiago daFeiteira , de Santiago de
Santarém, de S. Miguel do Pinheiro de Azere , de N- Senhora dos Altos Ceos
da Louza, Sc de S. Miguel de Infames na Ordem de Chriilo , Monteiro mór
delRey Dom Pedro o Segundo, Prefídente do Senado de Lisboa, da Mefa da
Coníciencia, Sc do Defembargodo Paçó, Miniílro muy reóto, Sc digno de ou-
tros mayores titulos: cafou com Dona Ifabel de Caílro, filha de Dom Francif-
co Mafcarenhas, nomeado Vifo-Rey da índia, Sc do Conlelho de Eífado , Sc de
fua mulher Dona Margarida de V ilhena, dc que teve, entre outros filhos, o fe-
guinte. . . • n -
. Fran-
DA COROGRAFIA PoRTUGUEZA. yip
Francifco de Mello Monteiro mór,& fenhor da Cafa de feus pays ,foy cafa- /
tío a nrimeira.vez cô D- Mariana Jofepha deCaftellobranco,filha de Manoel t cl-
les da Svlva, Marquez de Alegrete, &. de fua mulher Dona Luiza Coutinho , &
deftecaYametito naõ houve geraçaó- Hecafadofegundavezcom D- Catherina
de Noronha,- filha dos fegundos Condes de V ília Verde.
(
I c A P. n.
Hl? o termo defta Villa muy dilatado, & tem duzentosjugares, que fe di-
videm pelas Freguefiaâfeguintes. •
A S. Pedro de Abbaífas, Vigairaria da Mitra, tem cento & cincoC ta Viíinhoá
com quatro fontes; nefta Fregaefia efta fituado o Morgado deAboauas cõ fua
quinta, & boas cafas.
S. Pedro de Nogueira, Vigairaria da Mitra, tem cento &. trinta vifinhos. ^
Santiago de Andra.ens, Reytoria que apreíenta a Cafa de Bragança, & Co-
menda de Chrifto, tem cento & quarenta vifinhos : eftá efte lugar nas margens
do rio Alpedrinha,& o mandou povoar ElRey Dom Sancho o Primeiro de Por-
tugal pelos annosde 1202-hefertií de frutas, caftanha, gado, & caça- 4
Santa Maria Magdalena de Conftantim , Vigairaria do Cabido de Guima-
raens, tem cem vifinhos, duas Ermidas, & tres fontes. Foy fundado efte lugar
pelo CònarPw*» Urnijimifi ,fllT !»***>'***»» os < arados %-os deGuima-
raens: eftá fituado em huma planície junto de hum arróyo, & he abundante dc
- paõ, caftanha, & caça. Na Igreja Parochial defte lugar eftà fepultado o corpo
de S. Frutuofo, que dizem fer natural delle, & alguns confiderão fer o melmo
Santo, que foy Arcebifpo de Braga, do proprio nome : fuas relíquias iáõ v ifita-
das de muitos devotos, que experimentaô o patrocinio do Santo em luas lup-
plicas, & fc lhes dá a beijar a fua cabeça , que fe guarda com grande decencia
cm hum facrario, & vulgarmente íe chama a Cabeça fanta de Conftantim , ix
:
com o contado defta relíquia experimentaô muitos enfermos remédio em feus
achaques, particularmente as peílbas mordidas deanimaes danados, fendo effi-
• caz antidoto contra o venenõfo de tam pernicioía enfermidade*
S. Chriftovaõ de Parada de Cunhos, Rey toria da Cafa do Infantado , tem
noventa vifinhos, & huma Ermida.
. S. Martinho de Mattheus, Vigairaria da Mitra, tem fetenta vifinhos.
S. Joa5 de Royos, Vigairaria da Mitra, tem trinta vifinhos , hc lugar dc
muitas aguas.
Santiago de Folhadella, Vigairaria da Mitra , tem cento & emeoenta viíi-
nhos.
Santo Andre de Campeam, Abbadiada Mitra, que rende mais de quatro-
trocentos mil reis, tem duzentos vifinhos.
Santo Antonio de Alvaílois do Corgo, Vigairaria da Mitra, tem cincoenta
vifinhos.
S. Salvador deTrogueda,Reytoria que aprefenta5 os Frades do Conven-
Xx íj to
~lo tomo primeiro
to dc Bcllcm j tem cento 6c oitenta vi íinhos.
• Santa Mariade Adoufe, Abbadiada Mitra, qué.rtínde quatrocentos mil
- reis item cento & cinctícnta & dous vifinhos.
Santa Comba da»' rmida tem noventa vifinhos, Vigaíraria da Mitra.
S. Martinho de Villarinho de Samardão tem cem viílnhos , & he annexa a
A
bb'^stnhoradafNeves de Freirias, Vigaíraria de Malta, que aprefenta o
BaIÍ
°Santa Marinha de Villamarim,Vigairaria dos Frades de Bellem,tem cento
& trinta & cinco viíinhos. . ,
S.Pedro deValde Npgueiras,'Rey toriadaMitra,&Commenda dcChrii-
to, tem cento & dpze vifinhos. •. v
Santiago de Mondroms, Reytoria dos Frades de Bebem, tem noventa òc
CinC
°Santígo de Viílacova,Reytoria que 'aprefentaõ os Frades de Bellem,tcm
cincoentaSt quatro viíinhos.
S. Miguel de Pena, Vigaíraria da mefma aprefentaçam , tem cento & coze
Vlfo
Santa Mariade Borbella, Abbadiada Mitra, que rende quatrocentos mil
reis, tem cento & quarenta viíinhos- j • j
S- Salvador de Mouçòs, Reytoria da Cafa do Infantado, que rende mais de
trezentos mil reis j tem cento & oitenta viíinhos.
S. Miguel de Povares, Vigaíraria de Malta, que rende trezentos mil reis,
tem cento ôcfeíTenta viíinhos. • . . , ,
S-Thomè do Caftello , Vigaíraria annexa à Reytoria de S. Salvadoi de
Mouçòs, tem cento & oitentajofinhos. •*-*., , ir duzentos mil
S. Martinho de Anta,Reytoria d5 Mitra, que rétlde W»s dc duzentos mu
íeis, tem cento & vinte viíinhos.
S. Lourenco, Vigaíraria da Mitra, tem cem vifinhos. .
S. Joaõ de Lamares tem noventa & feis vifinhos, & he annexa a Vigairaria
V líIn
Santa Comba de Soutomayor, Vigairaria da Mitra, temoitenta vifinhos.
Santa Maria de Cotas, Vigaíraria annexa à Vigaíraria da Villa de Favayos,
tem trinta & oito vifinhos: pertence a eíla Freguefiao lugar da Povoa, que he
termo da Villa de Favayos, o qual tem quarenta vifinhos com huma Ermida de
i4
DA COROGRAFIA PO RTUGUEZA. pi
íituada em hlima ferra para oNaícente. . _ ...
S. Romaõ deVillarinho, Vigairaría queaprefentao:os Conegos de S. João
Euangeliftado Convento da Cidade do Porto, tem oitenta & cinco vifinhos.
S. Pedro de Seleiros, cujos dizimos faõ dos mefmos Conegos do dito Cõ-
vento do Porto, tem cento & doze vifinhos, & nefta Freguefíaafliík fempre hu
Reiigiofo. o
S. Joaõ de Covas, Reytoria da Cafa do Infantado , tem cento & vinte St
cincq vifinhos. . . . ^ _
S. Salvador de Sabroza, Vigairaría annexa a Reytoria de Pálios , tem cem
CAP. III.
CAP. IV.
Lordello.
F Tea efta Villa meyalegoadirtante de Villa Real para o Poente: EIRey Dom
Minoel lhe deu foral por inquiriçoens em Évora a 12. de Noyemb«r-ae
o remduzenrosviiinhoseomhnmTParrj'chta,OragoSantn Maria, cohum
VigariíSue^adminirtra os Sacramentos. He do Marquez de Tavora, que
nella aprefenta as Juftiças. Aqui fc faz muita louça, de que íc prove toda efta
Comarca.
Honra de Çallegos.
HE efta Villa do Marquezde Tavora , & feut moradores lhe pagão cada
a nno de foro feis alqueires de centeyo, fins almudes de vinho>, & oitenta
reis em dinheiro : diftahumalegoade Villa RcalparaoNafcente. ElIUvDopi
Manoel lhe deu foral em Évora a 12-de Novembro de 1519-te quinze vifi nhos,
qtre&ozlio de grandes privilégios, que lhe conccdeq EIRey Dom Diniz, agaza- ■
ÍLndolehuma noite ncfte lugar, aonde mandou fazer hum arco,que chamao a
Memoria, o qual inda hoje exifte.
d/flijò.
EStá efta Villa fituada na planicie dc hum outeiro, quatro Iegoas diftantede
Villa Real para oNafcente: ElRey Dom Sancho o Segundo a mandou po-
voar pelos annos de i22f.&lhedeuforalElReyDom Diniz. Temhuma Igreja
Parochial da invocação de Santa Maria Mayor, Reytoria do Padroado que
r ende mais de duzentos mil reis, & huma Ermida de S. Gonçalo: tem duzentos
& noventa vifinhos com famílias nobres do appellido Moutinhos, Soutos, 1 ei
xciras^
COROGRAFIA PORTUGUEZA. «,
. v"„ Ur abundãtc de pão, ccnteyo, milho, vinho, frutas, câfta-
xcuras, ôc DorieaV ite. tem duas fontes, huma delias de excellent e agua.
nha, & recc i e . ~ ^' z de Tavora,que nella aprefentâ as Juítiças. O
Hefenhordefta VilUo^u^ i ^ ^ que f^dividem pelos lugares
Fctvayos.
a
T-T - Hjí» Affónrote«andó
í^^t^mdazcnLO'ivin[ihos íhc dlífS cS
c^hiAaP^^ia,Or^oS dc SV í«gud de
Dionyfio^V^n^uia
derenuncia,8c eftasEmi^,NoBabemo«oa ™
CAP. V.
ca antiga com Alcayde mor^a quanren y^a & Couto quatrocentos vifinhos
com
P4 TOMO PRIMEIRO
Dormitas.
"Provezende.
H Uma legoa do rio Douro, & tres de Villa Real para a parte do Sul tem
feu aífento a Villa de Provezende, que he Couto, de que faõ fenhores os
Arcebifpos de Braga, & nella entra em Correição o feu Ouvidor ; tem q uatroce-
tos & cincoenta vifinhos com huma Parochia da invocação de Santa Maria, Rey-
toriada Camara dos Arcebifpos.. He abundante de pão, bom vinho,azeite,boas
frutas, gado,&caça: tem huma Ermida de S. Sebaftião, outra de Santa Mari-
nha da Sobreira, & no termo hum lugar, que chamão Cafal de Loy vos , ccm fua
Igreja Parochial da invocação de Saõ Bertholameu annexa à Abbadia de Goy-
vaens, Villa, & Còuto, de que faõ fenhores os Arcebifpos de Braga, aonde en-
tra cm Còrreição o feu Ouvidor, & lhe deu foral ElRey Dom AÍíonfo o Ter-
ceiro de Portugal.
i N-
INDEX
LIVRO PRIMEIRO.
INtroducçaõ, pag. i.
zTVhnho.
,
v
5l6 INDEX. ^
Cap. XVI- Dos Mofteiros, Igrejas, Hofpitaes, & Capellas ] que tem a Villa de
Guimaraens dentro dos feus muros,&nos Arrabaldes, p. 58*
Cap. XVII- Dos Varoens illullrcs em virtude, fantidade, & letras, que foraõ
naturaes cie Guimaraens, p. 81.
Cap. XVIII- De outros fogeitos naturaes da Villa de Guimaraens, que illuf-
tráraõ eile Reyno, & outras partes do mundo, p. 90.
Cap. XIX- Dos Privilégios, Honras, Òt Izcnçoens, que os Reys de Portugal
concederão aos moradores da Villa de Guimaraens, p. 101.
Cap. XX. Do numero das Fregueíias, que tem o termo de Guimaraens, p. ioç.
Cap.XXI. DcsRios, & Fontes que eííaõ junto da Villa de Guimaraens, p. 114.
Cap. XXII- Das Fontes que a Villa de Guimaraens tem dentro dos feus mu-
ros ,. & nos feus Arrabaldes, p. 118.
Cap. XXlll- Do Concelho de Felgueiras, p. 120.
Couto de Pombeiro, p-124.
Cap- XXIV. Do Concelho ueUnhaõ, p. 127.
Honra de Mey nedo, p. 128.
Cap- XXV. Do Concelho de Santa Cruz deRibaTamega ,p. 129.
Couto de Mancellos, p. 150.
Couto de Travanca , p. 131.
Honra de Villa-Cahis, p. 152.
Cap. XXVI. Da Villa de Canavezes, p. 134.
Couto de Tuas, p. 134»
Cap.XXVlI. DoConcclho deGouveade RibaTamega, p. 1 36.
Conto deTaboado, p. 138.
Cap. XXVIII. Do Concelho de Geftaço, p. 139.
Honra de Ovelha, que pertende fer beetria ,p. 143.
Cap- XXIX- Da Villa de Amarante, lbid.
Cap. XXX. Do Concelho de Cerolico de Bailo, p. 144.
Cap. XXXI. Do Concelho de Cabeceira de Bailo, p. 149.
Couto de Refoyos de Bailo, p. 152.
Couto de Abbadim, p. 154.
Cap. XXXII. Do Concelho de Roças. Ibid.
Cap. XXXIII. Do Concelho de Villa-Boa da Roda, p. 154.
Cap. XXXIV. Do Concelho de Vieira. Ibid.
Cap. XXXV- DoConcclho de Monte Longo, p. 156.
Honra de Cepacs, p. 157.
Couto deMoreyra de Rey, p. 158-
Couto de Pédraido. lbid.
Cap. XXXVI. Do Concelho da Ribeira deSoás, p. 159.
Couto dcParada de Bouro, p. 160.
Cap. XXXVII. Do Concelho de Lanhofo, p. 161.
Couto de Fonte-Arcada, p. 163.
Julgado de Lagiofa, p. 16Ç.
Cap. XXXVIII. Do Concelho de S. Joaõ de Rey. Ibid*
Couto de Poufadella, p. 166.
Cap. XXXIX- Do Couto de Vimieiro, p. 167.
Cap. XL. Do Couto de Tibacs, p. i<S8«
Cap. X LI. Dos Concelhos de Mondim, Atey, Serva, & Hermello j p. 169*
Cap. XL1I- Do Concelho da Ribeira de Pena, p. 170.
INDEX.
Cap. XLIII. Da Villa , & Concelho de Aguiar , p. 171.
C
Tratado fegundo da Comarca, &• Ouvidoria de 2
D s
f!E' ° Coutos dcFrciriz, Azcvedo.&Manhenfe, p. iro.
Sn v Lr 1fcCemens.cm Villar de Areas, p.2,1.
rlwnr ií., ® Homem
Cap. XV. Do Concelho de Bouro, p. 2 íe. ,&Cavado, p. 151.
Couto de Souto, p. 25 6.
Cap. XVI. Do Concelho de Santa Martha de Bouro, p. 2çr.
Couto, & Convento de Bouro, p. 2<8.
Cap. XVII. Do Concelho de Soaio , p. 2< o.
Cap. XVIII. Do Concelho de Coura, p.261.
Cap. XIX. Do Couto deS. Fins, p. 254.
C
rT??'
Couto de R° °Jnccl&
Queijada,
ho dc AIba
0 Boylhofa,
T) "garia de Penella, p. 26<.
p. 267.
aÍu1 í-' Dj V da dc
* , Monforte de Rb Livre,p. 421.
lu aresde
g ícu termo, que lhe pertencem, p. 422.
a k u ía jC ^ant.a" Va'ha, & lugares, que nefte termo lhe pertencem. Ibid.
a LLjía j £omm> & Lugares que lhe tocaõ nefte termo, p. 43 2.
Abbadia de Bouçacs ,& lugares que-nefte termo lhe pertencem. Ibid.
Commenda de S- Joaõ da Caftanheira, & lugares, que nefte termo lhe tocaõ.
Commenda de Oucidres, & lugares que nefte termo lhe tocaõ, p. 424.
F
Cap. IV. Da Villa de Anciaens, p. 43 y. ***
; ommenda deS. Salvador, & lugares que nefte termo lhe tocaõ, p. 416.
on.mendade S.Joaõ, & lugares que nefte termo lhe pertencem, p. 427. ' ,
tCrm
n ha res *43 8 ° Pcrtenccm a Commenda da Villa, oujulgado de Li-
Cap. V. Da Villa, ou julgado de Linhares. Ibid.
Cap. VI. Da Villa de VillarinhodaCaftanheira,p. 439.
Se-
• v- rfST»
J*
\
534 index:
Senhores de Murça de Panoya, Guedes Mirandas & Lima, p. 4,62
Senhores de Vilia Flor, Sampayos Mellos & Caftros p-^óp. *
I '
1 LAUS DEO,
' ^ JV