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COROGRAFIA

PORTUGUEZ A

E DESCRIPÇAM

TOPOGRÁFICA

DO FAMOSO REYNO DE PORTUGAL, COM AS NO-


ticias das fundações das Cidades,Villas,ScLugarcs,que contem;
Varoés illuftres,Genealogias das Famílias nobres,fundações
de Conventos, Catálogos dos Bifpos, antiguidades,
maravilhas da natureza, edifícios, 8c outras
curio fas obfervaçoens.

TOMO PRIMEYRO,

Oferecido

A ELREY D PEDRO II
NOSSO SENHOR,
AUTHOR

O P. ANTONIO CARVALHO DA COST/


Clérigo do Habito de S. Pedro, Mathematico,natural de Lisboa.

LISBOA»

Na officina de VALENTIM DA COSTA DESLANDEí


Impreííor de Sua Magcftade,& áfua cuíla impreílo.
Com todas as listr^as neccfíanas. Anno M DCC. VL

wtr/dsk, Ciivaiho dt Miranda


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A MAGESTADE

DO SERENÍSSIMO REY

DOM PEDRO R

I ^ MOSSO SENHOR-

E a grande^ dos Trirtcipcrfe nan uniffe com a bene-

iolencia, receofos os humildes com aquellc rejpeito que


jmpre parece terror, naofe atreveríaÕ a invocar o feu,

lugujlonome , nem a taofublime esfera chegariao as.

fuas votes fMas como V. cfMagejlade, Senhor, entre as fobe-

ranas virtés,de qm fe adornarem como dominante a da clemên-

cia,juslaneite Ie alerta a minha indignidade a bufe alo por Trote-


ãor de hun livro, em pue de algum modo pareceria desleal,Je o nao
ojjerecejfe a V»^SSttag» porque comprehendendo esle a exacla dej~

cripçao dovijfo domínio de V^.zS^dag* em Europa, a quem com

mais rataipoàaotocdr efias individuaes noticias, fe nao ao fob e-


rano ó\dmvca, de quanto nefla obrafe inclue?
Sfamnoro, Smhor, que na dilatada compre henfao de V.

tSMag. iwfira now algum dos curiofos defcobrimentos, quefi£

■ com o traklk de matos annos nos mais antigos Archivos dejle


%eyno, comido a myor parte delle, &• examinando com os meus

olhos os domentos, tue tantas vetgs chegao, ou confufos, oufal-


fificados aoMvidos.

He HaSHag. senhor de tantas povoações, qne nao podia ef-

treitarfê a)ia ii fcripçaõ a hum fó volume, &■ iflo me obrigou a di-


§ ij vidir
yidir cfia Corografia em dous tomos ,parecendome\uíonad efque-
cer, quanto pude alcançar de noticias ate gora nuncjcferidas, ç>

rompendo antes pelo perigo de parecer dijjujo, í/o quwporme ao re-


paro de ficar diminuto, íowojy ^ difficil emprega fido na efperan-

ça dogrande patrocinio do Heroea quem a dedico,ódo verdadey-

r o amor dapatria,que me fefinter poli ar os eíludos kjlronomcos,


a que me inclinava com mayor fympatia o génio, & curiófidade,

fogeitandome às apertadas obrigaçoens de Hiftoriaá', &- trocan-


do pelos infalhveis computos daEi fera os duvido)os jumentos da

Hijloria.z5M.as tambehcesfera a deferipçao deToitgal, diga-o

a catholic a emprega do Senhor bRcy 'D. z5S/íanoely dilatado do-


mínio com que abraça as quatro partes do mundo; ú f obre tudo o
generojo Sol, fnappfi^L VfzlMag. foberanamcik a illumma.
ÍA Corografia hiflorica defte %eyno hc todo o apego de fie li-
vro'. nelleverà V.zSMag.o numero das Cidades fixfrtzmtamag-

nificência tem engrandecido com obrasfumptuofas, tn ajfegurado

Comfortificaçoens inexpugnáveis: as VMasque com mima benig-

nidade tem illuflrado com privilégios: os Lugares, fie tem erigi-


do em VMas, &■ a que tem ampliado os ternos: os curtos, a q tem

feito maisferteis a providencia, boa difribuiçdiá frutos: os

rios, a que para efic fimje tem detido as correntes, fmdo a mda-

groja attençao de V. zSAdag. ou retrocedeis, oumífas: os por-


tos, que como Empórios, recebem os tributos, q pagák íV.zfXfág.

tantos pakes fobjugados pelas triunfantes armas cPrtuguezas>

guarnecidos efies portos com bem municiada fortaleza, em quefe

regifido tantos navios, quefazçma esle d\em abundàite Mo mais


rico comercio: os Vajjalios,que obedecem a E.zLMbgem t ao gra-

de numero, que naofoy o menor trabalho pocer numerJlos, C7* to-


dos efies tão bem regidos pela Augufla direaao de VfiAíag. que

najua equidade vem obfervada fem rigor ajufiiça, igual com

ajufitça a clemência, prevenidos para agucracomtxcla difcipli-

na> & gomando da paçgcom fehcefegurança: veràV z5Mag. fi-

nalmente,
vdmente, nefie'livro os Templos, que compitfjima %eligiao tem
fundado.reedificado, O* enriquecido, eternos, &fegurosTadroes

do Cathdiço %lo,com q.ue V.zCMag. attende ao culto divino com

firmifjimafè bem empregada magnificência.

Tudo isto penhor,ver a F^zSMag.ou por melhor di^er, veria

neste livro , fe a capacidade do feu £Author corrcfpondefje d gran-

dc%a do alfumpto; mas como nao pey doei a trabalho, ejludo, ou dif -
pendio,para q efta CorografiaJahi/fe apurada,efpero que aospès de

V. éÁ/hg. ache,fenao aceitaçaõ, ao menos de/culpa do %lo, com

qke aeferevi, &• do defejo, com q qui^ra ampliala, vendo aumen-

tar contra os infiéis o Império de V.^VLag. que o Ceo queira dila-


tar com tad largos confins,&• perpetuar por tantosfeculos,que o que

he hoje Corografia,venha a fir (geografia TortuguetafDeos guar-


de a JÍ&lTeffoa èrV-z éMag. por tantos annos, que de-
/empenhem efies vaticínios, & ejles dejejos.

O P. Antonio Carvalho da Cofta.

* t. i j'\j Jli'Jm. x.riil*

U PRO-
!
»»" . ■' k
\

PROLOGO

Ste livro íahe a luz, depois de muitos annos de efperaí


doj&de defejado difteramosftenaõ fe equivocara a utili*
dadedaobra com a iníufficiencia do Author; emne*
nhum tempo pudéramos recear mais a ceníura dos cri-

tic os < ue noem


i n , » l que fe imprime, p°rqueo menor re*
paro baíU para deftrmr ao mayor artifice,fem advertirem que aqui
o eltilo he hum accidente,que não oífende a eííencia,pois fe não de-
vem bufcar neíh obra mais que asnoticias, ouíe nos he licito dizei-
lo affim, hOa anomia do Rebele Portugal, em q le veraõ min*
damente delineadas as partes interiores, de que fe cônoem efte gran*
dé corpo, ategora tao pouco examinadas dos AutKbF^T-mjrfocarao
elta materia, que nos não foy neceíTario menos eftudo para emendar
os erros de alguns, q parafupprir a falta de outros.
Rodrigo Mendes Silva na fba Poblacion General de Eípanha ie
moftrou mais antiquário que Geógrafo, dando melhores noticias das
antiguidades, que das fituações das Villas, naõ fazendo menção de
giande numero delias, nem das muitas particularidades, q nefta obra
ajuntamos. A efte íeguioa Geografia Bíaviana , & outros Eftran^ei-
ros, entre os quaes he o q melhor trata do hiftorico 8c da Corografia
deite Reyno Pedro de Aviti no feu Mundo,acrefoentado por Rocol*
Jes: das alturas o famofo P. Joaõ Bautifta Ricciolo da Companhia
de Jeíus, Baudrand na fua Geografia , 8c entre os Mappas tem o pri-
meiro lugar o de Sanfaõ. Mas todos eftes Authores, como foraõ eí-
trangeiros, eftão cheyos de muitos defcuidos,que naõ deftroem aTua
capacidade, porque eícreveraõ de hum paiz, que não viraõ,fiados em
relações, que coftumaõ fer fabuloías.
Pura as antiguidades tivemos melhor foccorro nos Authores da
Monaiquia Lufitana,no Illuftriflimo D. Rodrigo da Cunha,em Gaf-
pai Eftaço.em ^eorge Cardozo, Luiz Marinho de Azevedo, Andre
e Refende, Manoel Sevenm de Faria, & em todos os mais,que com
auto acerto forao curiofos indagadores dos monumentos Luíitanos:
mas hum dos noffos prmeipaes intentos foy naõ repetir do q os ou.

tros
Eros jà referirão,fenaõ ó eííencial pata o noiío contexto, allegândo-OS
em todas as partes, em que era precifo , & acfeíeentandolhé todas àS
noticias, que laboriofamente defcobrimos.
Das fundações dos Conventos , & dos outros edifícios públicos,
dizemos o que podemos alcançar , ainda que de algumas naõ achâ*
mos memorias. Os catálogos dos Arcebifpos, 8c Bifpos tiramos dos
Cartórios das Sès,& das Hiftorias Ecclefiafticas. As Genealogias das
familias illuftres tresladamos dos livros mais fidedignos, nao íe repa*
rando nas muitas illuftres, de ^ nao tratamos , porque ío o fazemos
dos que tem algum fenhorio nas Villas, Sc lugares,que defcrevemos,
para fe ver ao mefmo tempo a mudança do domínio, que ti verão , 8c
como a grandeza dos noííos Reys as repartio por tao beneméritos
Vaííallos, cujos deícendentes ao prefente as pofluem.
Com hum largo giro, que fizemos por todo efte Reyno, obiei*
vamos a arrumação de fuas povoaçoens , as diftancias entre humas,
& outras, as alturas das principaes , fétvindtfftõs muito a efte hm o
eftudo, que femprecultivamos das Mathematicas. Os olhos nos m*
formarão do eftado prefente de tudo o que fe deícreve: asethimolo*

pias dos nomes, as tradições dos fucceflos, os milagres que naõ eftaõ
approvados, & as maravilhas da natureza, que ieferimos, nem defen-
demos, nem condenamos, mas ingenuamente expomos ao juizo , 8c
credulidade dos Leitores, que piadoíamente devem perdoar todas as
omiííoens em taõ vafta materia , em que nos foy preciío-fiar de in-

formações, que nem fempre faÕ verdadeiras,& de que procurámos as


quenóS pareceraõ melhor intencionadas.

Ifto he o que podçmos dizer defta obra,que ãgõra fe não efta per-
feita , fe ve ao menos terminada , tendoa principiado muito grandes
Authores, entre os quaes fe confervão com grande magoa de fe naõ
continuarem poucos cadernos do Atlas Lufítano , que doutamente
efereviao muito illuftre no fangue , 8c no talento D. Antonio Alva-
rez da Cunha, & para que defta fua obra vieíkmos a perder tudo,
nem efta introducção tivemos a fortuna de ver. O Padre Joaõ dos
Reys da Companhia de Jeíus, Alemaõ,bom Mathematico,& infigne
na Perfpeétiva, & Pintura,delineou a Topografia de Portugal com
todo o acerto , & defejaramos poder unir eftas plantas com as nolTa.
deferipçoens, para que não ficàra qUe defejar aos curiofos , o que fa-
remos,podendo-o confeguir, íe efta obra for bem aceita, na fegunda
imprefiaõ,como também alguns Mappas com mais exacção ^ os que
fe tem impreífo.
v ^o devemos reílituição ao publico ein fazçr quanto eíleVeem
nos, para que íahiííeeftaóbra ícm defeito-; 8c. podemos dizer que
perdemos a íaude, o deícanço , & o cabedal no exceíTivo trabalho,
gr'andedeivelo , & muito difpendio , que tfàzem com figo jornadas,
exames, & treslados: mas tudo daremos por bem logrado, íe fe reco*
nhecei que o zelo , & não o interefle nos obrigou a tomar tão ardua
em preza. Efta eíperamos ver confeguida na íègunda Parte, que Te
legue, logeitando-nosa todas asceníuras,queos Leitores livremente
fazem,íem que valha contra o leu rigor nem a fiacei idade,nem a fub-
(luílao.
J
f r«. ■ ■ ' * í . ' \
tJCri ; \ 3CnT:temc
, • Valléè exab .

mof.bl l ..grrtfia omoc.b. ?rr>;.


:
ú msitfr
SEN-
SENTIMENTO SOBRE A TOPOGRAFIA
Portugueza, com que fahe a luz o muito Reverendo Padre
Antonio Carvalho da Cofta,

PELO DOUTOR GASPAR LETT AM DA FONSE€ 4


i
natural da Tdia de Lhornar^

NEfte volume Geógrafo,que menfurado aqui reconheço pe-


la compaçoía penna de V. M. f íe me naõ engano) veio

memorias, que o efquecimento lhe ufurpava:com aue nío r?°lu ã


f

no fe 305 golpes da efpada


Xt£S&° g0S da T ' ' ««
ll 1/ .j PJuma' 1ue 0 ccerniza. Sò fey que a V M
ruir eíla
ruína, a0fmay0raEEl?af0
ft o defenrertTpS 'p0rqUerea<
a memoria.
uella 0
Nai eftimação
deícobrio para
dos mafs Ima'
perios he o noíTo pouco mayor 4 efte volume , em cujo eftvlo m-ír"
os monres altiveza, deleitação os valles, coríenwza os Z f, /
mento as povoaçoens, & finalmente valentia os Hernpc vi "/■a"
â
omnipotência do Rey fupremo fe vem a recopilar LnT
nor esfera,defle modo a esfera dos Senhores Revs I,. r> 1M mC
f
Deos defende como lua, também na limitação que occup^qul^
clarar que era aflento de taõgloriofo Monarca comovi • T
arnente
o demolir» nas gravadas divifas do feu Eftendàrte •
taõ breve termo, fó V.M. podia medir muitas grandezas ^ Ti™
togai fejà pelo valor dos feus Campeões fe tLladou de Europa° a
Afnca, a Afia, a America, deíde agora todo o mnnrU f - n ^ #
porque em volumes virá a occupaf a r• dondez»tot
Portugal defendido à força das armas & ísTh 1 ,A e
g°« %
à razaõ das letras, os feuslmazeSt
Tuas efpadas; que na verdade as linhac c • * pinmas as

ssstóasssiSSS
Monarquia tao agradavel nefta ToPograpTa hJ-
por regalo,quepor obediência não venhaa^lr o foliol Zd"?3^
tofojugo? (abendo V. M. mais conciliar coZ narração "

y V;M 0 £az tao


• ' Pohtlco> q«e nefta ImpreíTaõ lhe enfina a
M ir pagar-*
- Wrlhe aos feus ivifita. Ainda corn os naturaes V. M. o deixa

íS^So * rodos fern a pejo


frr s abrindo efte livro-

topa cada qual o lugar, bndefoy nacido.


idade hi devorado, aqui rena ° a "giftrar
agradecido com os leytoies , p ' 3 • fe vè lo<*orecom«
efte volume para ap.plaudir hua acçaota > ^ exanplo feja
peníado ouvindo os crec.«os a ua ou^ ^ y ^ 0 Jcixa tao
toda a alma da hiftona, & ette tao i . refufcitaos feus He*
dócil, que paffa a ^^t^^cirTuisX^hfdis honras, mod
ròes antepaflados, ah. Ure meta nelteso c,ra ^ ^
trandolhos laureados do mereci c_e(fe tvaC a para a doutrina.
quãdo affitn ™ g™"eote g
n fto u lL
Ate ' H '^ ' d ^ ere tcírtra por coftume produzir junta-
aonoito .ey ,p artes & esforços,he tal efta eftampa, que

mentecomas u. n wPndo a Portugalde maravilhas ^eftà re-

ainda quando efta engrandecendo a . g


P
veftindo de prerogat.vas a feus ifiU«*poikr. efte Q lhe deve a
na natureza com o or.gtnaiComque^ y n£fta

Kvi^,d»

guarde a VM. Thomar,&c.

Gajpdr Ltytau dc& FOV[M&'

fuM .ÍTlll-rÍ2C
Oiii
Eft
EM LOUVOR DA TOPOGRAFIA PORTUGUEZA

idílio

DO DOUTOR GASPAR LE1TAM DA FONSECA*

EM elegante Mappa demarcada,


Confinando coma meíma eternidade)
Aqui commageftade
Torna à idade dourada
A noíTa Luíitania celebrada,
Recordando foberba por vangloria
Hum novo mundo jà em cada memoria.
Efta he a nova Heípanha,
Que do Colon tentou a induftria eftranha,
Eíla a íempreluzida
America florida,
Oh foberano engenho,
Que inda por paílatempo
Conquiftas a razão, vences o tempo!
Jà Portugal agora
He força na grandeza ter melhora,
Porque le eftà medido
Por tua penna, bem tenho entendido,
Que já nos Annaes ande
Elie muito crecido,
Pois por medida tem penna taõ grande.
Eterno efte tranfunto
Dando à pofteridade
Renacida a mayor antiguidade,
Em toda a redondeza
Vivirá, pois que agora por aífunto,
E mais por alta empreza,
Toma as coníervaçoens da eternidade,
Deixandode profundo
A Portugal, com taõ fútil grandeza,
Eterno, & Portugal eterno ao mundo.'

V ,s§ij Ao
AO LIVRO DA DESCRIPÇAM DE PORTUGAL QUE
coro louvável zelo , & alca erudição eícreve o Senhor

ANTONIO CARVALHO DA COSTA,

SONETO.
OS celebres Varoens da antiga idade
Em osíilveftres troncos vegetáveis
Efcritas as Hiftorias memoráveis
Encomendavaõ á pofteridade.
Mas hoje, por mayor celebridade.
Do Reyno Portuguez as admiráveis
Defcripçõés, neftas folhas veneráveis
Efcritas fe propoem à eternidade
Folhas íaõ de huma Planta peregrina,
Planta. fecunda, naõjilyeftre planta,
Racional, & naõ vegetativa:
Laminas cedaõ de efmeralda fina,
Pois Lufitaniaquer, que hiftoria tanta
Em folhas de Carvalho efcrita viva.
♦ ' o -

AO SENHOR ANTONIO CARVALHO DA COSTA,

SONETO.
SE fazemfer illuflre,& afamada
A Feliz felva Arabica abundante,
A planta que licor íua fragante,
E a Ave que entre as chamas he gerada.
A felva Luntana, celebrada
Será por vós, Carvalho, que elegante,
Planta Íbis pelo nome viridante,
Sois Ave pela penna remontada. t ;
, Suaftes com trabalho eftudioíô
Aroma, que em fragancias exalado
Enche çla Fama o Templo funtuofo:
E em zelo ardente Feniz abrazado,

Fazendo o patriôTgiiho gloriôío, '


VoíTo nome deixais eternizado. > ccun^:

„ Salvador Soares Cotrim»


LICEN-
LICENÇA S.

Do Santo Officio.

O Padre M.Fr. Joaõ de Saõ Domingos Qualificador do S. Offi-


cio veja os livros de que efta petição trata,& informe com feu
parecer. Lisboan.de Janeyrode 1701.

Carney»- Moniz. Fr.Gonçalo. Monteiro. 'Duarte.

LI os dous livros que contem a primeira Parte da Corografia


Portugueza,& Defcripç*aÕ"Topograficado Reyno de Portugal
compoftos pelo Padre Antonio Carvalho daCofta, Clérigo do ha*
bito de S. Pedro, & nelles naõ achey coufa alguma contra noíía S.Fè,
ou bons coftumes. S. Domingos de Lisboa 16. de Junho de 1701.
Fr. João de Sa» Domingos.
O Padre Doutor Fr. Jeronymo de SantiagoQualificadordo San*
to Officio veja os livros deque efta petição trata , & informe
çom feu parecer. Lisboai8.de Junho de 1701.

Carneiro. Moniz. Fr.Gonçalo. Haffe. Duarte.

ILLUSTRISSIMO SENHOR:
POr mandado de V. Illuftriífima li os dous tomos de q fe corn-
poem a primeira Parte daCorografia Portugueza,&Defcripçaõ
Topográfica do Reyno de Portugal, Author o Padre Antonio Car-
valho da Cofta .* naõ contem coufa alguma, que encontre noíía San-
ta Fè, ou bons coftumes; antes ledeve muito à nimia curiofidade de
fèu Author, pois fendo a materia de inveftigar, & apurar antiguida-
des taõ difficultofas,ellea facilitou com a viveza de feu engenho, &
as declarou, diftinguio, & individuou com a incaníavel porfia de feu
trabalho.Parecem-medigniífimos deque fedem ao prelo,para que fe
anime a continuar híía obra que cede em taõ grande credito de noíía
patria. V.Illuftriífima fará o que for fervido. Collegio da Eftreíla em
18.de Agoftode 1701.
O Doutor Fr, Jeronymo de Santiago.
Vlftasas informações,pode-fe imprimir a primeira Parte da Co-
1 rografia Portugueza, de que efta petição trata,& imprefla tors
fiara para fe conferir, & dar licença que corra, & íèm ella naõ corres
rà. Lisboa 19. de Agofto de 1701.
Carney o. Moniz, Fr. Gonçalo. Haffe. Monteiro. Duarte.
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TOMO PRIMEIRO

COROGRAFIA

PORTUGUEZA

INT ROT)UCC,AM.

Deferi pcaõCorografica doReyno de Portugal lie o aíTum-


pto delia obra. eííâ íituado na parte mais Occidental de Eu-
ropa,) & no melhor clima do mundo. A fua latitud, ou altu-
rafe eftendedeió.grãos,38.minutosatè 42.grãos ; &a
fualongitudhe de 9. grãos, 13. minutos até 13. grãos, & 12.
minutos. He hlim dos mais notáveis Reynos de Efpanha ,
^ tanto pela fertilidadedefeu terreno, quanto pelo valor -, oc
^ esforço de léus naturaes, que naõ íó vencerão, & expulfá-
raõ os Mouros das próprias terras , mas defcobríraõ mares
nunca de antes navegados, & vencendo grandes dificuldades, dilatàraõ feu do-
mínio na Africa,na Afia, & flíAmerica; & continuando com fua larga derrota,
defcobríraõ as vaftiífimas Regioens do Oriçnte, aonde arvorando o eftendarte
da Fé de ChriíIo,foraõinfinitas as gentes, que militàraõ debaixo delle, alcançan-
do muitos a palma do martyrio por meyo de tam gloriofas conquiíias.
Naõ paràraõ aqui os féus progreífos, innumeraveis foraõ as vitorias, que
confegu íraõ,eflupendas as façanhas,qfizeraõ,& inauditas as navegaçoens que
profeguíraõ; porque paífando duas vezes a Zona tórrida, que a imperícia dos
Antigos fazia mhabitavel, chegàraõ à China,8c Japaõ,em cujas dilatadas viagens
affirmáraõ haver Antípodas, que mui tos contradiziaõ;coufa tam certa, & evi-
4
dente aos fei entes nas Mathematicas.
Chamoufe efte Reyno antigamente Lufitania, de Lufo cõpmhciro deDio-
nyíio Bacho, & Lvíitania de Lvfias, que alguns affirmaõ fer o mefmo Lufo,& ou-
tros filho feu. Depois tomou o nome de Portugal dos rallos Celtas,q defembar-
candonas ribeiras do Douro, fundirão a Cidade do Porto, que chamaraÕ 'Par-
tus Galha, ou Porto Gallo, corrupto hoje em Portugal, cujo nome fe eftendeo
depois à Cidade de Braga, &fuas terras, a que os Geógrafos chamavaõ Bra-
charos ;& depois osReys de Leaõ, quando foraõ conquift ando aos Mouros va-
rias terras, lhepunhao o mefmo nome, até fe divulgar por jtodo o Reyno« ^
2 TOMO PRIMEIRO
Termina-ieeiIeReyno.pelapartc.doOi- ente com CaRelIaa velha , & pela
cio Norte com o Rey no de Galliza , St parte do de Leaõ. Pela parte doSuIfe
termina com a Província de Andaluzia, St mar Oceano , & pela do Occiclente
com o melmo mar Oceano, que o cinge dei de o rio Minho atè o Cabo de Saõ Vi-

jCCmk^0as^ecomPrid° pela cofta marítima, quefecontaõ do dito


"ábo de Sao Vicente ate a Villa de Caminha , St peia parte da terra noventa Sc
cinco, dei de a Villa de Caítro Marim atè a Cidade de Miranda : tem de largo pe-
la parte do Norte cincoenta legoasda Elia de Caminha até a Cidade deMiían-
da, Sc pela do Sul no Reyno do Algarve tem vinte St oito, que fe contaõ da Villa
de ^aitro Marim ate a de Sagres; com advertência , que todas eítas legoas fc
contaopor linha recia, St não por circular, porque então feri io mais , como fe
i e aa cncunierenciadoReyno,a qual he de 19^ legoas a rei peito das voltas
que o cercão-
... piyítk-íc efte Reyno em feis Províncias , quefaõade Entre Douro St
a ras os
il a , ^ Montes, a da Beira, a» do Alentejo, o Revno do Algarve, & a
da hítremadura. Começaremos primeiro pela deícri peão da Província de Eiitre
Douro& Minho, St logo a de Tras os Montes, as quaes comprehende eile Pri-
meiro 1 omo; & no fegundo tratargmos das Províncias da Beira, Alenteío, Algar-
ve, St Litre madurai ■

«ff»«£§» «f §0 «£■ «||o.: 4fo»of§».4 §p: offo-«ff»<*£ 3» .»<>

TRATADO I. :

Da Drovincia de Entre Douro &

Minho.
■#*> k
Omeça efta fértil Província defde a Cidade do Porto atè a Villa de
V alença do Minho, St feu deílr éio: tenjdeNorte a Sul 18. legoas
de comprido, St de Nafcente a Poente j z. de largo na mayor diíian-
cia , porque em muitas partes não tem mais de oito- Peia parte do
Norte a divide o no Minho, St o Reyno de Galliza por eípaço de' dez *
-Cgoas, St no reft ante a grande ferra de Geres : pela do Nafcente a divide o rio
Tamega, & a inacceííivel ferra do Maraõ: pela do Sul o rio Douro, St pelo Poen-
te ie termina com ornar. Chama-fe e fia Provinda de Entre Douro St Minho,
por citar íituada entre eftes dous riçs Minho, & Douro; dividindoa efte da Pro-
víncia da Beira, St aquelle do Reyno de Galliza 5 St da Provinda de Trás os Mo-
tes a fepara a já nomeada ferra do Maraõ. Divide fe em cinco Comarcas,a faber,
a de Guimaraens, a de Viana da Foz do Lima, a de Valença do Minho , a de Bar-
ceIlos^&; a do Porto, as quaes defereveremos em qinco Livros com o numero'
das Villas, St Lugares, quecontêm cada huma deitas Comarcas, começando pri-
meiro pela de Guimaraens, primeira Corte dos Reys de Portugal. ' -•

LI-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. $

L I V R O I.

Da Comarca de Guimaraens.

CAPITULO I.

Da topografia da folia de Guimaraens.

NO Arcebifpado de Braga ,tres legoas ao Nafcente defta Cidade , tem feu ^


affento a muito nobre, & leal Villa de Guimaraens, fundada pelos Gados
Celtas quinhentos annos antes da vinda de Chrifto, com tantos nomes , ôc ety-
mologiaSj quantasforaõasNaçoens,quc a occupàraõ- Algõs Authores lhe cha-
mão Araduça,que quer dizer, Cidade de letras: outros Leobriga , que lignifica
Cidade forte: outros Latitâ,Cidade efcondida, ou Laílis, pela Relíquia que tc
do leite da Virgem '- crhorn ncíTh. Alguns a nomeão Columbina, & muitos ae
chamão Cidade de Santa Maria, a refpeito da fagrada Imagem de Nona Senhora
da Oliveira. , 4 4l , , „ .
O feu primeiro fitio foy entre os dous rios Ave,& Avizella ao pe do mote Lati
to,c hoje vemos dividido em dous nomes,no de Santa Maria , & Monte largo
entre o Norte, & Nafcente, em hum lugar altifljmo, que fuppofto íaudavel para
a vida, era falto de aguas ; & no mais alto delle ie fundouhuma torre toda fecha-
da, cuja elevada altura fe manifefta a lugares muy remotos : tem a fua porta da
entraaa 2 f. palmos levantada da terra, &. ao entrar delia a maõ elquerda elcul-
pidasemhuma pedra as letras feguintes ,Via maris-, donde querem alguns Au-
thores, que deitas letras tomàra a Villa o nome, que teve muitos annos- ^
Era efta Villa de limitado circuito,porque não tinha de circumvnliaçao mais
que mil & cento & doze paííòs, cercada dehua muralha bruta pouco alta, & iem
ameyas fobre huma barbacã, que inda hoje exifte. Tem fua Igreja Parochial da
invocarão de Saõ Miguel, que fendo na dignidade a primaz do Arcebifpado cc
Braga, ficou muito diminuta na renda, ètmoftra na architect ura a fua muita an-
tiguidade : divide a Capella mer do corpo da Igreja hum arco de pedra, íobre que
encoílaõ dous Altares, hum de cada parte, o dapartedoEuangelhohe deNol-
fa Senhora da Graça, queheCapeUaannexa ao Morgado, queinflitUÍo Dom Mar-
tinho Paes, Chantre de Coimbra,que jazfepultadoaopè da mefina Capella , &
por não haver defcendencia defta familia, houve ElRey a adminiftraçao deLe
Morgado. He o outro Altar da parte da Epiftola, de Santa Margarida, por quem
efta Igre ja he hoje mais nomeada, que pelo feu orago Saõ Miguel: he admimítra-
do pelos feus Confrades, & fenhoras da terra, que tem tomado efta Santa por ad-
vogada em feus partos.
De todas as ruas defta Villa velha fó permanece a do Caftello, chamada an-
tigamente a rua de Santa Barbara, cujo nome ainda conferva a fua porta da mura-
lha, que eftá parao Norte; com que todo o mais deftricto eftá hoje repartido em
quintaesde particulares, em cuja cultura feachão muito-s alicerfes , veftigiosde
que fora bem occupado de cafas: nelle para a parte do Nafcente mandou o lenhor A
Dom AfFonfo,primeiro Duque de Bragança , fundar hum Palacio na mageitadc
lem
A íj
4 TOMO PRIMEIRO
fern fegundo,& o primeiro na Architeclura, feito em quadro com tam iníigne ar-
te, que deixa íufpenfo o difcurfo, & a villa embaraçada na repartição da iua fa-
brica : naõ chegou a aperfeiçoarfe de rodo, por fe acabar primeiro a vida de feu
fundador.
Aíliílirãoneíle Palacio alguns defcendentes do fenhor Dom Affonfo, de que
foy o ultimo o fenhor Dom Duarte Duque de Guimaraens, & nelle falleceo a fe-
nhora Dona Confiança de Noronha, fegunda mulher do Duque Dom Affonfo.
Junto da Igreja Parochial de Saõ Miguel exifleinda hoje hum Hofpital com
huma Capella do mefmo Arcanjo, para recolhimento de pobres neceíhtados , de
que faõ aaminiílradores os Abbades daquella igreja. Tem cada hum dospobres,
quçnelle;aíTiífe, certa efmolaem todas as fellas do anno , &navefporado Natal
hum carro de lenha para huma fogueira. Atèqui a defcripção da Villa velha de
Guimaraens.
Agora para tratar da nova Villa, he neceffario trazer a eíle lugar a Dom Her-
menegildo Mendes Conde de Tuy,& do Porto, Governador de toda a Província
de Entre Douro, & Minho, Mordomo mór da Cala Real em tempo delRey Dom
Affonfo o Terceiro de Leaõ, o qual teve fua habitação em huma quinta chamada
Sallas abaixo do monte Cordova, que hoje chamão Salanana Freguezia de Saõ
Miguel do Couto de SãõTyrfo- Eíle foy cafado cõ Dona Hermenezenda Arias,
& teve delia a Dom Gutierre Arias, Conde de Cella nova , & General das Armas
dos Reys de Leaõ, com quem tinha grande parentefco, o qual caiou com aCon-
deça Dona Aldara, de quem teve ao Bemaventurado Saô Rozendò, Bifpo de Du-
me, Mondonhedo, & Compoílella, como diz Yepesno quinto tomo de lua Chro-
nica. Foy também filho do Conde Dõ Hermenegildo Mendes, & de fua mull; er
a Condeça Dona Hermenezenda Arias, Dom Gonçalo Mendes , cafado com
Dona Therefa,que habitàraõ na dita quinta,& delles nafceo Dom Hermenegildo
Mendes, que cafou com Mumadona,tia, & collaça delRey Dom Ramiro o Segu-
do de LeaÕ, & foraõ grandes fenhores em Entre Douro, & Minho, principalme-
teem terras de Guimaraens: tiverão quatro filhos, Gonçalo, Diogo, Ramiro, &
Nuno, & duas filhas, a primeira Dona Arriana, & a fegunda Dona Oneca , que hc
a que ferve para o noífo intento.
F fiando Dom Hermenegildo para morrer, ordenou feu tell amento, & para
teílemunhas do que nelle difpunha, mandou chamar algumas peífoas nobres , &
diante delias por fua devoção ordenou , que a Condeça Mumadona fua mulher
pudeffe difpender a quinta parte de fua fazenda com pobres, peregrinos, viuvas,
orfaõs, ou Igrejas; ao que elladeufeuconfentimento , como diz Gafpar Ellaç o
no livro das Antiguidades de Portugal cap.i • num.4.
Morto Dom Hermenegildo,tratou logo Mumadona de fazer partilhas de
fuas fazendas entre fi, & feus filhos, & coube à parte de Dona Oneca a quinta de
Guimaraens, & a ella a quinta de Creixomil, & como eíla fenhora determinava
viver recolhida, & morrer fantamente,quiz fundar Convento, em que fe reco-
IhefTe; & porque a quinta de Guimaraens era íitio, & lugar accõmodado para elle,
fez contrato com fua filha Dona Oneca, & lhe deu a quinta de ( reixomií pela de
Guimaraens, de que era fenhora, como confia do contrato, que anda annexo ao
livro de Mumadona , que fe guarda no Archivo da Real Collegiada de Guima-
raens.
Feita a troca,& Mumadona de poífe da quinta de Guimaraens, impetrou li-
cençajde feu fobrinho,&collaçoElRey Dom Ramiro o Segundo de Leão , para
dar principio à fundação do feu Moílciro, o qual não fomente lha concedeo,mas
o dotou de trinta lugares,os mais delles entre os rios Ave,& Avizclla, & lhe deu
o feu
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. f
&
o leu Mofteiro de S.Joaô da Ponte, em 8- de junho do anno de Chrifto de 9» 7-
em 18-de Mayo de 951 .lhe fez outra doação da fua quinta de Mellares junto ao
rio Douro com feus cafaes, em que aílinou o mefmo Rev, & a Rainha D- Urraca
fua mulher,& feus filhos> como diz Eftaço no capitulo 1.11.2 i • das Antiguidades
de Portugal-

CAP. II.

t)a fundação do Mo feiro de Mumadona, & como d fua fombra fé


foy povoando eHa

TAnto cjiie Mumadona teve licença para dar principio ao feu Mofteiro , o
fundou à honra, & louvor do Salvador do mundo,& da Virgem Santa Ma-
ria fua May , &dos Santos Apoftolos , ao pè da Villa velha em diftancia de
feifcentos & vinte & cinco paffos : foy a Tua fundação dcReligíofos , & Freiras
de S- Bento, cuja Regra guardavãocom grande obfervancia, tendo as cííicinas, &
recolhimentos feparados,mas huma fó Igreja, & hum Abbade , que governava
tudo : nelle morreo a fua fundadora, que o deixou dotado de muitas rendas , &
peças de prata de muito valor, quatro finos, livros do Coro, camas , quanto ga-
do tinha, trintacavallos,eincoentamachos,feífentaegoas , & outrasriquezas,
como condado feu teftamento feito aos 26.de janeiro do anno de Chrifto de
pç 9. que anda junto ao dito livro.
Quando elRey Dom Fernando foy a cercar Coimbra , & lançar fóra òs
Mouros daquella Cidade, Dom Pedro, fendo Abbade defte Mofteiro, o acom-
panhou cõ muitos de feus Frades, & em quanto durou o fitio, que puzerão à
Cidade, com elleíe aquartelou em hum lugar perto delia , que depois por efte
refpeitofe chamou Cellas de Guimaraens, cujo nome inda hoje conferva. Sa-
bendo Mumadona que os Mouros nam ceffavaô em perfeguir aos Chr iftãos, &
continuamente andavão fazendo eiitradas por Galliza, invadindo fuas terras ,
fundou em huma penha forte no alto da Villa velha entre oNorte , & Nafcente
humCaftello para guarda,& dcfenfa do feu Mofteiro, a quem poz onome S- Ma-
mede , & lhe ficou fervindo de contramuralha pela parte do Norte a murálha
velha, ficando entre huma, & outra hum terreno cie vinte & cinco paffos de «lar-
go : pela parte do Sul nam tem contramuralha, por lhe ficar fervindo de defenfa ,
& guarda amefmaVilla-
Tem efte Caftello de terreno dentro da fua muralha de Nafcente a Poente fcf-
fenta & nove paffos, & de Norte a Sul trinta & feis, & 110 meyo delle lhe eftá fer-
vindo de penacho a torre da Villa velha, que fe a domina com a fua altura , ellas
com a valentia, & fortaleza da fua nova muralha a defaffuftão do rifcordâs bata-
rias, por fer a fua architedlura mais forte 5 porque as fortalezas , & Caftellos fe
reforção conforme o ufo das armas com que faõ combatidos , & a inventiva
dos Homens nunca fedefcuidou de obrar novos inftrumentos çle expugnação
com novas fortificações para a fua defenfa,por fer coufa no mundo tam ufada,co-
moo manifeftãoos Authoresdas Fortificaçoens , fobre que fe tem comporto
tantos volumes, & quanto mais antigos os tempos , então menos fortificados
vivião os povos.
E aífim como no tempo da antiga Guimaraens havia menos armas para pe-
A iij lejar,
6 TOMO PRIMEIRO
lejar , & combater , & poucos os ardis da guerra , neceífitava de mu-
ralhas menos fortes, com que bailava para fua fegurança aquellá torre alta,com
quefe armou, por fercoftume entre os Antigos, para fe defenderem de feus cõ-
trarios, fazerem cafàs fortes, ôc da fua altura fia vão a fua defenfa , &. delias ef-
tao muitas pelo mundo, principalmente na Provincia do Minho, aonde íaó pou-
cos os Concelhos, Coutos, & Honras , que não tenhãofua torre ; & como da
fundação da torre à do CafteUotinhãopaffados tantos tempos ,em 'que fe pele-
java com armas violentas , mandou fazer a CondeçaMumadona huma muralha
forte,coroada de ameyas,com tres torres altas fundadasnella , &íócom duas
portas, huma para o Norte, & outra para o Sul, ot cada huma delias guardada en-
tre dous baluartes terraplenados.
Tem efteCaftello dentro do feu circuito huma cadea para os prezos que
forem da Villa, ou do feu termo, & da parte do Norte humaCapella deSaõ Joaõ
Bautifta, aonde fe lhes diz Miffa todos os Domingos, & dias Santos , & da parte
do Poente hum Palacio, de que não ha hoje mais que as paredes , que foy morada
do Conde Dom Henrique,quando em Guimaraens affentou lua Corte. Em quan-
to efte Caftello foy aíliftido de feus primeiros Reys, elles mefmos eraõ Os feus
Alcaydes móresiaodepoisíeusfucccííòres oentregavão por homenagem,& pu-
nhão nelle Alcaydes para fua defenfa, que muitos annos o habitàrão , fazendo
fua morada no Palacio Real, que depois com a fua aufencia chegou a ver muv bre-
ve fua ruína- He hoje feu Alcayde mor o Conde da Caftanheira, fern a preemi-
nência dos gados de vento, porque eífa pertence ao Reguengo , que as Rainhas
tem nefta Villa, & lhes foy julgado por fentença. No terreno, que fica entre a
muralha,& contramuralhã defteÇaítello , eftáhuma cifterna toda por dentro
de pedra bem lavrada, &: de profunda altura- Efte he o Caftello , queaCondeça
Mumadona mandou fazer para guarda do feu Mofteiro, de que trata Eftaço no
cap. 5. num-2. ^
1 . ; _ t

C A P. III.

Das Doaçoens cçue fe fixeraõ a efe A/Iofetro.

TAnto que a Condeça Mumadona teve acabado o leu Mofteiro com fuas of-
ficinas, & toda a maiscommodidade,fe recolheo nelle com os feus Mon-
ges, & Monjas, entre as quaes foy também fua filha Dona Oneca, que perfeverou
pouco tempo naquella vida, por lhe parecer melhor a de cafada, a que pafíbu ; le-
vàraõcomíigoafagrada Imagem daVirgem Maria, & acollocàraõ nelle MofteL
ro, aonde a continuação de feus milagres fez tanta concurrencia de Catholicos,.
que de Reynos,& lugares muy remotos era vifitada de muitos, aílim gente po
pular, como Reys, ôtfenhores grandes: fazendolhe muitas doaçoens , & dadf
vas, para lhe enriquecerem feu Mofteiro, como foy elRey Dom Ramiro o Segun-
do, que lhe doou o que já diffemos : depois feu filho ElRey Dom Ordonho lhe
fez doaçaõ da quinta de Moreira, com muitos privilégios, & Dom Bermudo Se-
gundo, filho defte Dom Ordonho, vindo em romaria a cfte Mofteiro , lhe con-
firmou tudo quanto feu Pay lhe tinha dado; & ElRey Dom Affoníò o Quinto de
Leaõ vindo também a elle com a Rainha Geloirafuamãy,& eftando na Igreja de
Saõ Miguel das Caldas,lhe foraõ alli levadas pelos Frades todas as eferituras, &
privilégios, & elle os confirmou na era deCRrifto de 10x4.-
1
- - ElRey
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 7
EIRey Dom Fernando de Leaõ, quefoy oprimeiro de C ail ell a , & a Rainha
Dona Sancha fua mulher, vindo também de romaria a eíle Moíleiro, lhe confira
màraõ luas efcrituras,& privilégios , & de novo concederão ao Abbade Dom
Pedro, que o Vigario do Moíleiro tiveíTe jurifdicção no eivei, õt crime em toaa a
terra dentre Ave, & AviíTclla, & em toda a terra deS. Torcato- Foy iílo no an-
no do Senhor de 1049. Dona Fiamula, fobrinha da Condeça Mumadona, tilan-
do na fuá terra de Lalim muito enferma, fe mandou trazer a eíle Moíleiro, a(>n-
de melhorando de feus males, femeteo Freira, & fazendo feu teílamento , lhe
deixou as fuas Villas de Conde,&Faõ, como diz Eílaço no cap-11. num- 2-J-+-
& y- • • - .
Eílas Villas do Conde, & Faõ foraõ depois trocadas pelo Prior, & Conegos
da Real Collegiada de Guimaraens com as Freiras da mel ma \ illa de Conde, que
lhes deraõ por ellas a fua Igreja de Murça com í uas annexas , que fao treze Ví-
gairarias íimultaneas comos Priores, ík Cabido, que lhes rendem ( trazendoas
por Rendeiros) tres mil & quinhentos cruzados, emqueos Priores tem ameta-
de, & quando asmandaõ recolher por feus adminiílradores,lhes rendem mais-
Como os Religiofos, & Rcligiofas do Moíleiro da Condeça Mumadona vi-
viaõ tam recolhidos, &fantamente, foraõ motivo para que muitas peífoas lar-
gafTem o mundo, & fecuiflem aqutlle caminho virtuofo, como o fizcraÕ Pedro
Onecòjfc lua mulher Fafa,q dc con.nmm confentimento recolherão nelle, &
lhe fizeraõ doação de certas terras, como fevè dehum pergaminho, que fe guar-
da 110 Archivo da Real Collegiada de Guimaraens, que começa: Leixo meai erda-
des juxta Cretxomtl Frau ibus , &mulieribus S. Bierte in honras S. Marine , ej tia
dixit meus Abunculus, S. Mana apparuit in fuo tempore, &c. Pedro Gneco, & Fa-
fa,era 'B-CCCCXUU- a qual doaçaõ pela firma do pergaminho moílra fer feita
dous annos depois da fundação do Moíleiro 5 & eíle Creixomil, de que falia,
naõ era a quinta, em que a Condeça Mumadona o fundou, fenaõ hum lugar perto
delia que tem o mefmo nome,& eílá fituado na Freguezia de Saõ Vicente de Maf-
cotellos termo de Guimaraens.
Com a muita concurrtncia de Romeiros , & devotos, que vinhao viíitar a
fagrada Imagem da Virgem Santa Maria, fe ediffcàraõ junto do leu Moíleiro al-
gumas cafas, que aílim como podiaõ fer para recolhimento, & agafalho dos que
vinhaõ a viíitar eíla Senhora, também podiaõ fer para morada de alguns feus de-
votos 5 & como ellas foraõ fundadas contiguashumas com outras, lhepuzeram
o nome de Burgo, & a feus moradores o de Burguezes-
Eíle foy o primeiro fundamento da nova Villa de Guimaraens, & eíle o feu
principio, q foy muitos annos depois da Villa velha, como tenho moilrado pelos
Authores citados,& o reforça, &: verifica eíla verdade; q antes da V illa velha ex-
perimentar fuas ultimas ruínas, tinha jurifdiçaõ dividida da nova, ,& ambas eraõ
governadas por differentes Miniílros; tantoaífim, quemda hoje em humaPro-
ciífaõ, que coíluma fazer todos os annos a Camara ao Anjo Cuílodio na terceira
Dominga de Julho, que faheda Igreja Collegiada com o leu Cabido , & mais
Clérigos da ferventia delia, vaõ os Vereadores com fuas varas em corpo de Ca-
mara acompanhados de feu Procurador, Miíleres, & Efcrivaõ , &os Minifrros
de Juíliça, Corregedor, Provedor, & Juiz de fora, & entraõ na Villa velha, & na
fua Igreja de Saõ Miguel reza o Cabido certas oraçoens; & quando eíla Procil-
faõ fahe da Collegiada, leva o Juiz de fora hum pendaõ de cor vermelha, & nclle
hum painel do Santo Anjo, & chegando ao deítrito da Villa velha, o entrega ao
Vereador mais velho , em razão deílç naõ poder entrar com vara alçada aonde
naõ tinha jurifdiçaõ ; & de prefente fe éílá obfcrv ando eíle eílylo. .
A iiij He
8 . TOMO PRIMEIRO
He tradição antiga , que a caufa mayor que efta Villa velha teve paraíe
defpovoar, Sc feus moradores irem habitar a nova,fora o não ter fontes, (como
já diífemos) nem lugar viíinho donde pudeífem levar agua , por naõ tertm ou-
tra mais, que as de poços tam fundos,que para as tirarem do íeu centro,lhes cu-
ftava muito trabalho; Sc não ha motivo mayor para fe defpovoarem lugares, que
a falta delia, como a muitos tem fuccedido.

CAP. IV.

Do Foral que o Conde Dom Henrique deu à nova Hill a de


Guimaraens.

COnfervoufe o fanto Mofteiro de Mumadona com os feus F rades , & F rei-


ras até o tempo do Conde Dom Henrique, o qual quando tomou poífe de
Portugal (q lhe foydado em dote por elRey D- Affonfo o Sexto de Caftella cÕ
a Rainha Dona Therefa fua filha , pelo ajudar a lançar fóra os Mouros de Efpa-
nha) fez feu primeiro aílento na Villa velha, como fica dito, Sc já nefte t empo a-
chou a Villa nova principiada no feu Burgo, Sc lhe deu Foral com o nome de
Guimaraens, que eftá na Torre do lombo no livro 2. das coufas de Entre Dou-
ro, Sc Minho foi- 7o-ScdizoForal; NMoCavallario non habeat poufadam m El-
mar anes mfi per amor em Domini fut> & nullum fagionem non ft attjus intrarein ra-
fa deBurge per malavoluntate &c. quer dizer , que nenhum Cavalleiro tenha
oufada em Guimaraens fenão por vontade de feu dono, Sc nenhum Sagião (que
comefmoque Miniftrode juftiça , como diz Morales parte g- liv- 1. §. 35.)
feja oufado entrar emcafadeBurges contra fua vontade- Nefte Foral moflra o
Conde feparadaa Villa do Burgo, ou que o Burgo tinha o nome da Villa de Gui-
maraens ; porque fallando do Burgo, fempre lhe havia de dar o feu nome , Sc faí-
lando da Vília velha, fempre lhe havia chamar Guimaraens 5 mas o certo he que o
Burgo tomou onome da quinta, aonde eflava íituado o Moffeiro , Sc a quinta o
tomou da Villa de Guimaraens, a que efiava tão viíinha-
E bem fe moftra; porque Burgo teve principio depois da fundação do Mo-
ffeiro, Sc ja então havia Guimaraens, Sc no tempo do Conde Dom Henrique foy
continuando a fundação da nova Villa,como elle diz na doação feguinte: In 'Dei
nomine ego Comité V. Enrico titia pariter cum vxore mea Infanta D 'Terefa pla-
cuit nobis pro bona pace, & voluntate-, quod facimus cariam de bonos foros ad vos ho-
mines-, qui veniTtis populat e Vimaranes, & adillos, qui ibi habitare voluerint. Fife
Foral he o principio do que atraz fica feito menção, que vai tanto, como fe dif-
fera: Nenhum Cavalleiro poífaapofentarfe por força em cafade nenhum mora-
dor da minha V illa velha, Sc nenhum official de juftiça poífa entrar por força em
cafa de nenhum Burges, para que efte Burgo novamente introduzido não rendo
efta fogeição, poífa crefcer, Sc aumentarfe- Defta doação fe colhe , que a nova
Villa de Guimaraens foy continuando , Sc crefcendo no tempo do Conde Dom
Henrique depois de caiado com a Rainha Dona Therefa , os quaes para afaze-
rem mais honrada, Sc ir em aumento fua povoação, lhe concederão tam amplo
Foral-
Para reforçar a minha opinião de que efta nova Villa tomou o nome da an,-
tigua Guimaraens, me valho do que dizem comummente os Authores, que todas
as
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 9
as Cidades, Villas, & lugares tomarão o nome de feus primeiros habitadores,
como também ha muitos appellidos, que os primeiros que delles ufárão , os to-
màrãodas Cidades, Villas, &: lugares, donde erão moradores, &: defies ha mui-
tas famílias nefte Reyno, como faõ Chaves, Coimbrãs, Guimaraens, Mirandas,
&c. aífim também he veriiimel, que a quinta , em que fe fundou o Mofieiro de
Mumadona,fe chamafTe Guimaraens,pois eftava ao pê das muralhas defia Villa;
& o Burgo, que nella fe fez, mudaífe o nome, como mudou, & tomafle o da quin-
ta, porque o de Burgo o não fufientou, fenão atè o tempo delRey Dom Aífonfo o
Segundo de Portugal,& ainda nefie tempo não foy comum,porque em parte lhe
chamavão Guimaraens, & em parte Burguezes de Guimarães, como fevè de hua
compoíição antiga, que fe guarda no Archivo da Collegiada de Guimaraens, fei-
ta em tempo do dito Rey, entre partes o Arcebifpo de Braga, & feu Cabido , &
da outra parte o Prior, Conegos, & Porcionarios da Real Collegiada, por have-
rem de fcrizentas as Igrejàs do Burgo, & fora delle de pagarem certo cenfo à Sè
de Braga; & dizem as palavras delia: In EccleJijs autem ali) s extra Bur pi mm qui-
bus Cimarat enfis Ecelefia jus obimet patronatus; querem dizer: Nas outras Igre-
jas fóra do Burgo, nas quaes a Igreja de Guimaraens tem direito de Padroado; &
nefta mefma compofíção lhe chama Burguezes de Guimaraens, & continua: Pre-
tere a aã um fuit, ut ft Burgueufes Vimaranenfes m quajtione, quam dicunt fe habere
contra Ai chiepifcopum Br achare femptonpotuermt per jejuei per commes amicos con-
cur dare, Prior, & Ca >0 ri Vimaranenjes fine offen fa Archtepifcopi juventeos ; que
querem dizer; Alemdiftotratoufe , que fe os feutguezes de Guimaraens na du
vida, que dizem ter contra o Arcebifpo de Braga, não puderem per fi , 011 por
amigos communs concordarfe, o Prior, & Conegos de Guimaraens os ajudsm
femoffenfa do Arcebifpo. Foy feita efta compoíição em Benavente a *5. ae Ou-
tubro do anno doSeiihorde I2i6.&nellafe ve dizer em hua parte Guimaraés,
& em outra Burguezes de Guimarães, levando fempre a prepoíição de, que indica
hiiacoufa nafcidade outra ; & do tempo delRey D-Aífonfo o Segundo perdeo
eíla Villa o nome de Burgo, & até hoje conlervou fempre o de Guimaraens.
Quando o Conde DomHérique tomou poífe de Portugal, q foy pelos annos
do Senhor de 1090. logo mandou convocar de todas as Cidades, Villas , & lu-
gares, que lhe obedeciaõ, as peíToas mais nobres daquelies povos,para nella fazer
Cortes, em que affiftio o Arcebifpo de Braga Saõ Giraldo, que nellas aílinou, co-
mo confia das liçoens do Officio defie Santo, que a Igreja Bracharenfe canta aos
5. dias de Dezembro; &já então não affiftião Freiras no Mofieiro deMumadc-
na, fenão Frades, & Clérigos; porque fe a primitiva Igreja tinha tolerado que
houveífeMofieiros,emque moraíTem Frades, & Freiras, ainda que com fua dt-
vifaõ;comtudo S. Gregorio Papa confiderando os perigos, que podiaó fucceder
defia união, os prohibio, como diz Santo Antonino na 2 • parte de fuaHifioria
titulo 12.capitulo 3. §. 14.
Nãoefperàrão as Monjas do Mofieiro de Mumadona,para fe extinguirem
da cõpanhia dos feus Religiofos, outra admoeftação, como aepoisveyo do Papa
Pafcoal Segundo ao Bifpode SantiagoDiogo Gelmires,em q entre outras coulas
lhe diziaofeguinte: Aquilio de todo ponto he indecente, que em vofja terra, fegutt-
do fomos informados,mor em juntamente Monges,&Monjas,o qual deve procurar de ef-
torvar tua experiência-, para que os que aoprejente eflao juntos fejao feparados em mo-
radas muy diver fas, co for me ao juízo de pefíoas Religiofas,& para odiate fe nam ufe
de femelhante liberdade. Dado tm Later ano, amo do Senhor 1103. _ „
E como o Burgo no tempo da polfe do Conde Dom Henrique tinha já algu
principio, & na fua compoft ura dava mofiras de contin uar a grande povoação,
aflim
IO TOMO PRIMEI RO r'
aífim pelaconcurrencia de todos os Grandes de Portugal virem bufcar a Corre
do feu Principe, como pela continuação dos fieis devotos, que vinhão vifitar o
Moíteiro de Mumadona ; edificou no Burgo perto delle Cafa de Relação, Caía
dos Contos, & Torre do Tombo, aonde fe recolhião os papeis de confideraçao,
como froje ic faz 11a de Lisboa y para onde forao mudados os cjue licita eítav ao?
por mandado delRey Dom Manoel, por proviíaõ de 13. de Mayo de 1511. que
íe guarda no Cartorio da Camara.
Ainda hoje a Cafa da Camara,a das Audiências,& a dos Contos , que todas
eítaomjfticas, & contíguas,confervãoo feu antigo nome. Também fundou húa
caia de prifaõ, a que chamão Pertiga, que tem lemprc muitos delinquentes, &
he huma prifaõ, quefó em tres partes deite Reyno íe ufa delia,a faber neíta Villa,
na Cidade de Lisboa, & na de Évora, por fer huma das regalias mayores dos po-
vos, em que moítrão a fua muita antiguidade.

cap. y.

Como Portugal conferuou fempre o nome de Reyno.

ENgano foy de quem quiz affirmar que Portugal fora dado em dote ao Co-
de Dom Henrique com titulo de Condadoj porque repartindo ElRey Dom
Fernando o Magnc) feus Reynes entre ieus filhos, deuaomais velho , que foy
Dom Sancho, o Reyno de Caítella, St parte do de Leão atè o rio Ebro: a Dom A f-.
fonío, que foy o fegundo, deu o Reyno de Leão: & a Dom Garcia, que foy o ter-
ceiro, deu o Reyno de Portugal, & Galliza: a fua filha Dona Urraca fez fenhora
da Cidade de C,amora,com ametade do Infantado do Reyno de Leão : & a Dona
Elvira fez fenhora da outra ametade com a C idade de Toro.
E como foy coítume, que ficou por natureza aos Príncipes herdeiros cio Rey-
rocc Caítella ferem ambiciofos,&afpiraremaunir a fy todos os mais Reynos
de Ejpanha,ôt com anciofo animo trabalharão de adquirir o vinculo daLufíta-
nia para fua Coroa; aífim o affeftou neite tempo ElRey Dom Sancho , filho pri-
meiro delRey Dom Fernando o Magno , fahindo a conquiítar com violência as
terras, que feu pay tinha repartido com feus irmãos, & defpojando delias a feu
AíFonfo , o fez violentamente meter em huma Religião no anno de
Chrií .0 de 1071. no Moíleiro de Sahagum, apoderandofe do Revno de Leão &
Altunas, património, que feu Pay lhe tinha deixado.
Com feu irmão terceiro Dom Garcia rompeo Dom Sancho em cruéis guer-
ras, fazendo entradas no Reyno de Portugal com poderofo exercito, aonde" jun-
to a Coimbra o eítava efperando (em hum lugar , que chamão Agua de Mayas)
aque evalerofo^Capitão Dom Rodrigo Eorjàs, que o fez retirar desbaratado a
. an tarem 5 mas q muito, fe foy tam diígraçado, que fe encotrou com aouclle,c;ue
toy tronco de quem foy açoute de foberbos Caitelhanos ? & peço ao Lei tor me
de licença para fazer neíle lugar huma breve memoria de huma particularidade ,
que nao merece a deixemos ficar em filencio.
. _Entràrão neíle Reyno dous Revs Caitelhanos (além de outros, q aqui nos
nao lervem luas memorias.) com mão armada, para o fugeitarem por armas, &
azerem-fe delle Reysabfolutos , & ambos elles forão desbaratados por dous.
Capitaens dehuma mefma familia,tão zelofos deite Reyno, como quem eítava
prevendo a efeolha, que Deos tinha feito em feu defccndente ElRey Dom João o
- Quar-

DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. II
Quarto, por não haver defepârar de tal linhagem a Coroa de Portugal- Eni ra
neite Revoo, comotcmos dito, Dom Sancho com hum fcbcrbo exercito, & he
desbaratado por Dom Rodrigo Forjas em Aguade Mayas- i' az tiahi a 514.. an-
nos entrada com fimefmo intento EiReyDom João o Primeiro de Caítella,o qual
nos c ampos de Aljubarrota toy desbaratado , & vencido pelo invençivel Doiti
N uno* Alvarez Pereira, oitavo neto de Dom Rodrigo F orjàs-
E ambos çílesReys depois de vencidos, & desbaratados feguírão o cami-
nho de Santarém imas com diverfa fortuna, porque ElRey Domjoão o Primeiro
de Caílella,chegando àquella Villa, fugio logo para o feuReynoAonoflò ficou
Rey de Portugal, que foy Dom João o Primeiro; & ElRey Dom Sancho, de que
hiamos fallando, fizera o mefmo,fe não efperàrajpelo Cid Ruy Dias, que lhe a-
cudio; rr.as os Portuguezes confiantes lhe íeguirão o paífo, & comellè tiverão
fegunda batalha, na qual o prenderão, & fendo entregue a certos Portuguezes,
elíes o deixàrão fugir, o como,he liifpci tofo ; porque ie elles different que foy cõ
medo das bandeiras do Cid, qUe vinhão já apparecendo, he defeu1 pa, que le não
achou nunca cm boca de Portuguezes, por ler Nação,q nunca foube temer, &
nas occaíioês, em que ie achão com menos partido, efiqs acometem côm mayor
deliberação, & mais confiados; fc fó podem efizer, que forão com promeífas cõ-
quiliados, por fer coufa, -ue aexperiencia nos tem moilrado -.porque já o nofto
Príncipe dos Poeta. Luis de Camoens noCanto *4,- oitava 33.0 diffc aífim:
O tu Sa taru y 0 nobre Coriolano,
Catilina, & 1 ófoutros ds antigos,
6)ue contravoffas patrtas com profano
Coraçaõ, vospzefles inimigos:
Se lá no Reyno ejenro de Somam ,
Recebe fies grandiffim.s caftigos,
DizeUhe,que tatnbem dos Portuga* zes
Alguns tredores ouve algumas -vezes.
Tanto que ElRey Dom Sancho fe vio livre da prizão, fe foy ajuntar com o Cid, *c
pondo fua gente em ordem de peleja, voltàrão fobre os Portuguezes, que eftavão
cançados da primeira batalha, & lhe prenderão a feu Rey Dom Garcia, que leva-
do ao Gallello de Luna em Gãlliza, nelle morreo , & foy fepultado em Santo Iíi-
doro de Leão, & tem emfua fepulturahuma figura de meya talha com griihoens,
& cadeas,& hum letreiro, que mofira fer por treição a fua prizão 5 o qual tradu-
zido de Latim em Portuguez, diz aífim: Aqui defeança Dom Garcia Rey de for'
Jugal, & Gainza,flho do grande Rey Dom Fernando, o qual por engano de feu ir~
mão morreo na rizao na trade 112S que Hema fer a zi. de Abril do anno do Se-
nhor de topo. '
Não vio a prizão do feu ReyovalerofòDomRodrigoForjis , pòrquede-
pois de entregar prezo o Rey Caílelhano Dom Sancho nas mãos delRey Dõ Gar-
cia feu irmão, morreo à fua vifla; cuja morte foy o principio das dífgraças do
ícuRey : que o-valor de 11 a lingular, 5c efctarecida famiiia foy fempre como co-
luna, 5c muralha para feus Reys, & Reynos, como fe vio , 6c experimentou neíle
com o invicto braço do grande Dom Nuno Alvarez Pereira,progenitor dos fo-
beranos Duq ues de Bragança, Rev s de Portugal -
Não aquietou ElRey Dom Sáncho feu animo com fe appellidar Rey de Caf-
tella, Portugal, & Galliza; poVque quizmoílrar que as glorias, que alcãçou por
induílria, fabia adquirir por armas,&eílasmoveo contra fuas irmãs , que lhe
faltavão para vencer, 6c ver-fe fenhor abfoíuto de todos os Reynos , & Ellados
de feu Pay, & foy conquiftar às pobres irmans feus patrimónios, pondo cerco a
Dona
ii TOMO PRIMEIRO r
DoiiaUrraca,que eltava na Cidade de C,amora,com deliberação de lhe dar o fí m,
que deuafeu írnão Dom Garcia: mas enga oufe, porque quando fe confldcra-
va vencedor de huma mulher irmã íua,fe achou rendido , & poftrado aos pés
dehum treidor, que eflando elle apertando com ofitioapraça, para ver breve-
mente corfeguido o fim, que defejava, dentro delia fahio Bellido Dolfos , & o
matou à treição, havendo feisannos, que governava, & tendo vinte de idade,
apptllidardofe Rey de Csíklla, Leão, Portugal, & Galliza.
Não cuífou a Bellido Dolfos a deliberação tam barata, que por ella não fofle •,
atado aos pés de quatro ligeiros cavallos , que rigorofamente caítigados forão
verdugos do treidor, que a breves pafíòs o efquartejàrão, arraílandoo pela cã-
panha de C,an.ora,cm fatisfaçãode feu atrevimento j porque cofluma Deos não
dilatar o caftigo a treidores, como neíla occaíião o vemos, em que Dom Sancho
fendo treidor a feus irmãos,os defapoffoude feus patrimónios,dando valor, &
animo a Bellido Dolfos para o matar à treição , & fendo efle morto pelo modo
referido, não ficarão ambos fern call igo-
Com a morte delRey Dom Sancho favoreceo Deos a caufa de feu irmaõ fe-
gundo Dom Affonfo, que lahindo da Religião, em que cntràra por força, fe aco-
lheo ao amparo do Mouro Almenon Rey ae Toledo, aonde lhe chegou a nova do
que fuccedia naquelles Reynos, de que logo veyo tomar poffe, & fechamou Dom
Aflonfo o Sexto, ficando abfoluto ftnhor dot. Filados de feu pay , & como fe in-
titulava Rey de Callella, Navarra, Lead, Portugal, & Galliza , foy chamado Em-
perador 5 ainda que muitos querem, cue elleadquir fíecíle titulo por ganhar aos
Mouros a Imperial Cidade de 1 oledo j & por íér Principe muito liberal,(que por
iífo lhe chamàraõ o das maõs furadas) querem outros Efcntores que lhe defícm o
titulo de Emperador.
Foy efle Principe efcclí ido per Decs para tronco da illufire progenie dos
Reys da Chriífãndade: foy caiado r. titãs vezes, & entre as mulheres legitimas ,
que teve na opinião do noífo Chrcniíi a Brandaõ, na terceira parte da Monarchia
Luíitana,liv.8.cap. i 2. & 1foy huma delias Dona Ximena Nunes deGtifni^Ó,
appçllidofatal,quefempreoCto teve deftinadoparaRainhas de Portugal; nam
fó para mãy da primeira deílcReyno, que fe principiava Monarchia , mas de
prefente, em que moílra dar principio a hum império nos defeendentes de ou-
tra do mefmo tronco, Òtappellido, a fenh ora Dona LuizaFrancifca de Gufmaõ,
filha do excellentiílimo Dom Joaõ Manoel Peres de Quf^ao , oitavo Duque de
Medina Sidónia,mulher do Sereniflimo Rey Dom Joaõ o Quarto de Portugal. .
Muitos Authores quere q a Rainha Dona X imena Nunes de Gufmaõ naõ foíTc
legitima mulher delRey Dom Affonfo o Sexto de Cafteila , chamado o Empera-
dor i humdelles he Rodrigo Mendes Sylva, Chroqifta mòr de Phihppe oQuar-
to,no Catalogo Real de Ffpanha &Frey Bernardo de Britto nos Elogios dos
Reys de Portugal, dizendo, que muitos Authores aílimo efcrevèraõ; o que nam
importava que a noffa Rairl a fofle baílrrda,ou legitima •, porque hia pouco
riífo, quando muito depois delia tivemos outra, mulher delRey Dom Affonfo o
Terceiro, q foy filha baftarda delRey D. Aflonfo Decimo de Caílella, & naõ dei-
xou por iflo de fer mãy delRey Dom Diniz , que foy hum dos famofos Reys da
C hriftandade.
Mas examinando o ponto com toda a verdade, o Padre Frey Antonio Bran-
daõ na terceira parte,liv-8-cap.i2.& 13. de lua Hiftoria,diz,que fora fua mu-
lher legitima 5 & pata aílimpaffirmar , tem hum fundamento grande do Breve
do Papa Gregorio Septimo'", queelle repeteno capitulo 1 $• do lugar citado, que
diz eífas palavras: Vires rejume ilUciUmconmbium^uodfum uxorts tua con/àn-
DA COROGRAFIA PORTUGUE Z A. *1
■guinea im/H,penitusrefpue:qvalemo'mefmoqfediffe'ra-.AnirhaivosAtotalmen-
te vos apartay do matrimonio íllicito, quecelebraiies com a parenta de votTá
mulher. Cem que claramente confia deifa Bulla annullar o Papa o cafàmento
delRey Dom Affonfo o Sextocõ DonaXimena por califado parèntefcb, que
tinha com huma,&outra mulher do mefmo Rey ; porque naq uelle tempo era
tam difficliltofo aos Summos Pontífices diífimularem corn os Reys caiarem cõ
parentas., como paffarem difpenfas em taes matérias ; ótailim q'ue nullootfivt-
trinlbhio,tomada o primeiro Efcritor niffo motivo para dizer, que naô era le-*
giuim áínoífa Rainha Dona 1 herefa. • L ' ófi».",

• . • 1 ' ■ 'i-Tliji^lr. :
UVJ3
cap. Vi»1 is 1
11-jijp.'
rrto^Ishf "• l
Em que fe frofepte d legitimidade da nofsa Rainha Dona Dherefa ,
fe trata da ncjbreyt do Conde Dom Henrique feu marido.
ilfj [ ) j7». . » ><* /■>*} _ Í - V.rr ; .
MUitos fundamentos acho, que façaõ a. favor da legitimidade da nofla
Rainha: o primeiro he, ver que o Conde Dom Henrique feu marido de-
pois demorto feu fbgro EIRey Dom Affonfo o Sexto, fez oppoíiçaõ aos Rey-
nos de Caiiella,'& Leaõ, adquirindo por armas muitas terras em Qalliza , &
Leaõ,queperfcveràraõjio senhorio de Portugal depois de fua morte, do qual
diz o Conde Dom Pedro no feu livro das Famílias titulo y^que nprmra em
Aítargái eJftando de acordo com aVilladeLeaõ fehaverde entregar ^ fc oEin-
peradoii a naô ioccorreífe em quatro. mezes,como diz Branda© parte j • liv-' 8-
cap. 14. O fegundo. fundamento he.y ifer a nofla Rainha Dona Therefa fempre
nomeada por efligntulo, que náquelle tempo fó fc dava às filhas legitimas dos
Reyspelo contrario, que nem com o titulo de Donas fe appellidavaõ as que
:
eraõ baftardas>em que concorre toda a torr« nrè dos Aiwhóres-
O tçrccirofundamento he> que tendo EIRey Dom Affonfo o Sextò clè fua
terceira mulher Ma dama Confiança, tia do nolfo Conde. Dom Henrique, huma
filha chajrada DonaUrraca, &dcfua quarta mulher MadammBretã.outras #»
lhasjmma chamadaDona Saiicha, & out raDonaElvira, a nenhuma deRas deu
o Rtynode Portqgálifendo legitimas ; porquetie à primeira Dona Urraca por
mais velha,&-naoter:irmaõslhe pertencia ò Reyno ae.Caftella,bem podia feu
pay darode Porçygál,Sc Galli za aDonaiiichapua Dona Elvira fuas meyas ir-
mãs, & filhas também legitimas de feu pay & naô bufear a Dona Therefa fud
filha, a quem querem faz^tbaftarda, para lhos dar- Edadocafo q foífe baliar-
dãj,ScElRey feu pay,por feu affeiçoado lho quizefle dar por amor,& não de ju1-
í!;ça,asquc.er4ajegitimas,&:feus maridospor força de armas lho havião de
querer tirar, penrção poder fucçeder nelle fendo bafbaxda 5. o- que vemos que
não foyjuem n^HilIodãftlgunia que o manifefte; antes nos conda que o.Cam
d^ppiíj Henri que. feu marido fez guerra ao Reyno deCailctla, Sc ao, de Leaõ.
Com que he-foiiCAqnedigamos.de duas huma, ou qde a Rainha DonaThereíã
era legitima,ou que entre as filhas legitimas, Sc'baflardas dos Reys , naquelle
tempo, nenhuma differença havia- ,
Efç houvenquem diga contra a legitimidade da noíTa Rainfe Dona ffhe-
refa, que 1 u£ mãy Dona Ximeua Nunes de Gufmão fora caiada primeiro.com
I,-,, ,'v ' B Dom
«4 . TOMO PRIMEIRO
DomMoninho da Maya, de quem tivera a Dona Gontrode Moniz , mulher de
Dom Sueiro o Bom da Maya, & que não ficando viuva de outro Rey, ou Prin-
cipe, nSo havia EIRey Dom Affonfo o Sexto de caiar com tila; Te refponde,que
a Rainha Dona Mecia Lopesde Haro fendo viuva, fem í er dc Rey, nem Princi-
pe, cafára com EIRey Dom Sancho o Segundo de Portugal, & EIRey Dom F er~
nando com a Rainha Dcnaleonor Telles de Menezes , lendo mulher de joaõ
Lourenço da Cunha; porque cs appetites, & vontades dos Reys fe não podem
coarciar. .
Tenho moíirado com Authores,& razoens evidentes , como Portugal
fem pre confervou o nome de Reyno, & nao de Condado, como muitos Autno-
res querem que fofle dado em dote com eíte titulo ao Conde Dom Henrique j
como também a legitimidade de fua mulher aRainhaDonaTherela; agora di-
rey do Conde o que pude alcançar da nobreza dt feu fangue, como tronco illu-
flre dos Reys de Portugal.
Ha muitas opinioens fobre a caufa, que teve o Conde Dom Henrique para
com outros Principes,&mais gente fua aggregada virem a Corte delRey j >om
Affonfo o Sexto de Caíiclla. Di?em alguns, fora a do cafamento dcíieRey cõ
fua terceira mulher Madama Confiança, tia do noíTo Conde Dom Henrique, a
quem elle viera acompanhar. Outros dizem , vieraó ajudar ao dito Rey nas
g uerras, que trazia com os Mouros, ou na occaíiaõ cm que tomou a Cidade de
Toledo, que foy huma dascoufas mayores daquelles tempos; & eíia opiniam
he a mais certa, como confia de Juliano Acipreíle ^e Santa Juíia, que dtz, que
o Conde Dom Ravmundo, & o Conde Dom Henrique^arcntes, & depoi s gen-
ros do Emperador, vierao ao cerco de Toledo , & nellcfe achàraoprefei tes 5
pelo que podemos averiguar por mais certo, que o noílo Conde com ícus com-
panheiros vieraó ajudar ao Emperador DõAffonfo no dito cerco,porfercoufa
tam grande, quechegouo feu nome a terras muv remotas :&como eíla guerra
era tam fanta, por fer contra Mouros, muitos Príncipes Chriíiaõs fe queriam
achar prefentesnella. 4. .
DiíTehum AuthorldosnoíTos tempos em hum livro,que anda irr,preito,que
onoffo Conde era hum foldado da fortuna, que por ganhar nome, & fama , fe
fogeitàra ao rifco das guerras, & asbuícàra em l i panha, aonde naquelIe tem-
po as havia muy cruéis contra os Mouros. Naõíe enganou em lhe chamar fol-
dado, porque o foy tam grande, comoefclarecido Principe. Outros variaõ,
a/fim na fua progénie, como na patria, mas todos teftemunhaõ de í ua nobreza,
dizendo, que era de fangue Real de França, Inglaterra, Alemanha, Borgontia,&
Aragaõ;& todos dizem bem, porque de todas cíias itiuífres Caías teve o feu

- & A patria verdadeira do noíTo Conde foy Borgonha , porque foy filho de
Henrique Duque de Borgonha, & de fua mulher Elia de Semier , neto de Ro-
berto,& de fuafegunda mulher Mengrada de Samurque, que teve a inveíiidu-
ra dos Eftados de Borgonha: bifneto delRev Henriquede Frimça , & de fuá
mulher Anna :terceironeto de Roberto,& de fua mulher a Rainha Dona Con-
fiança a Candida Reys de França: quarto neto de Hugo Capeto Rey de Fian-
ça, & de fua mulher Dona Branca. Com que fuppoíio que o noíTo Conde te-
nha tanta parte do fangue Real de França - comtudo a fua principal patria foy
Borgonha, pois forão E fiados de feu pay, & avós.
Foy o nòffo Conde o filho poílhumodefeus pays, porque o primeiro, a
quempor direitopertenciãofeusEíiados,fe meteoMonge,& os largou a feu
t) A COROGRAFIA PO RT UG tÍE2 A. 15
fe'-Qdo irmaõ chamado Odo, cjuc foy fundador do infignc Mollciro de Cifter;
& o noffo Conde com fervoroío«zclo de fervir a Dcos na fanta guerra,que El-
Rey Dom Affònfo o Sexto fazia aos Mouros em Efpanha , o veyo ajudar com
ftus companheiros , St todos com entranhavcl detejo dc vcn«.er muni
gos da Fe de Chrifio, fc houveraõ tam valerofamente nefta guerra, que ElRey
com lua ajuda alcançou dos Mouros gloriofas vistorias ; & entre outras lhe
ajudàraõ a tomar Lisboa, que depomos Mouros recuperàraõ, cõ q ficou tam
temido, St podtrofo, que muitos dclles defemparàraõ as terras, que havia- mui-
tos anrios poffuhiaô; St outros, q da fúria de feu vi&oriofo braço íe viaõ livres,
fe metiaõ aebaixo de feu jugo.
Nam era o noíTo Conde Dpm Henrique entre os tres Príncipes compa-
nheiros o que tinha o menor lugar de nobreza, & es forço «nem no galardaõ de .
fuas obras ficou inferior a nenhum dçlles; porque fuppôilo que ao Conde Do
Raymaõ, filho de Guilhelmo fegundo Çonde de Borgonha, deíTe ElRey Dom
Affonfo o Sexto fua filha primeira Dona Urraca prima do noffo Conde,por íct
filha de Madama Confiança fua tia , irmã de feu pay, St terceira mulher do di-
to Rey : íeria, porque o parentefeo lhe impediífe o matrimonio com o noffo
Conde; St cafçffe também Dona Elvira Affonfo deGufmaõ fua filha primeira,
Sc de DonaXin .enàNunes de Gufmaõ fua fetima mulher, Sc irmã mais velíia da
noffa Rainha Dona Therefa, como Conde de Tolofa, St S. gU ; chamado 'tam-
bém Dom Ray n on, dandolhe em dote muita prata, Sc ouro, com que compri-
raõ o d .to Condado de Tolofa; nem pOiffffo o noffo Conde Dom Henrique fi-
cou menos aventajado com Dona Therefa afegtiridafilha de Dona Ximena Nu-
nes de Gufmaõ, porque lhedeucomella o Rey no de Portugal com as terras,
que nelle eraõ poffuidas de Chrifiaõs, como foifaõ as Cidades de Coimbra,Bra-
^a, Porto, Viíeii, Sc Lamego, com toda a mgis Comarca da Beira , Sc 1 ras os
Montes,Sc toda a mais terra, que efiá de Guimaraens ate [oCaftello de Lobei-
ra alem de Pontevedra em Galliza; concedendolhe também que toda a mais ter-
ra, que ellc em Efpaiihaconquifiaffe aos Mouros , de Coimbra ate o no Gua-
diana (que divide o Alentejo de Cafielia) a pudeffe fenhoreaf como fua j q qual
foy tam gloriofo património paraiai*defccdentes,q o tiveraõ por mayor, pois
delle uláraõ,Sc fe gloriàraõmais,que de toda a riqueza , Scnobrezado mun-
do ; ainda que à cufia de feu Tangue, Sc perigo de fuas vidas, como faò todas as
çoulãs grandes, que com honra fe alcançaõ.
E como a terra de Portugal mais que outra nenhuma efiava pôr mar, Sc ter-
ra fogeita ao impeto das armadas, Stexcrcitos dos infiéis, Sc fó o valor do noí-
fo Conde os podia rebati* lha entregou; Sc naõ fe enganou niffo; porque ellc,
Sc feus defeendentes a fouberaõ defender taóbem, que fizeraõ mais verdadeiro
o intento do vicloriofo Rey logro, do que elle o podia imaginar , quando lhe
fez o dote. . r
• Quando o noffo Conde veyo ajudar a ElRey Dom Affonfo o Sexto feu fo-
<*ro nas guerras, que trazia contra Mouros, já entaõ fe intitulava Conde; por-
que era cofiume nos Príncipes daCafa de Borgonha chamarem-fe Condes os
filhos fegunâos , afiim como fe ufa em algumas Calas de Alemanha intitu-
larem-fe Duques, como os de Bfviera , Sc Auftria , aonde naõ íb os filhos fe
dizem Duques, Sc Archiduques; mas as filhas buque2as, ScArchiduquezas-
Que elle já fe chamaffe Conde antes de feu cafamento, fe prova oe Juliano Aci-
• prefte de Toledo atráz referido,& de Manoel de Faria Sc Soufa na plana 4.S • no
Uvro f • ao Conde Dom Pedro por .efias palavras 1 2 por efias dosrazoms jun-
B ij taSj
16 TOMO PRIMEIRO
tiSyfe liam ou Conde deTcrtvgal Von Wenriqre honcode fusFeys , & vao por-
que elde Cafhlla le mm brafie ajjim U áaríe acpwllas tierras en dote ccn ju hija.
Ido mefmo prova Brandaõ na g- parte liv. & ,cap. 10. E fora coula indecente í
ElRev DomAfionfo o Sexto, quando dava em dote ao noíío Conde o Reyno
de Portugal com iua filha Dona Therefa, mudarllie o nome cie Rey no em Con-
dado, tirandolhe o de Rey no, que elle tinha havia muitos annos,como foy em
feu tempo, &. de feus irmãos Dom Sancho, & DomGarcia, & de leu pay EIRey
Domf ernando o Magno 5 & de tempo mais antigo conda ler a Cidade de Bra-
ga aíTento da Corte dos Rey s de Portugal. O Conde Dom Pedro chama a El-
Rey Dom Aífonfo o Catholico,Dom Aítonfode Braga , como conda de hum
privilegio conoedido à Sè de Braga em F evereiro do anno * de 909. E Argote
de Molina liv.2.cap.$y. da Nobreza de Andaluzia,diz que o nofíb Conde le-
vou emdoteoReynode Portugal, com que ficafemduvidaconfervar fempre
o nome de Reyno, & nam p titulo de Condado; & por ilíò a Rainha Dona The-
refa fempre foy nomeada por Rainha, ôc nunca por Condeça-
■ " '' * r H*

C A. P. VII.
• . . *

De como a filia de Guimaraens foy o primeiro afjento da Corte do,


noíp>o Cende Dom Henrique.

C|H Afado o Conde Dom Henrique com a Rainha Dona Therefa no arino de
Chridode 1090. como jà diflemõs, foraõ viver na anngâ Guimaraens ,
luoar que lhe foy dedinado por ElRev Dom Aftonfo feu fogro, que como na-
quella Villa tinha edado, lhe pareceo accommodada para o feu intento de con-
tinuar a guerra aos Mouros, para os lançar fóra dos lugares, que edavam po-
voando no Revno de Portugal, aonde com tanto zelo, oc fervorofo defejo dp
fervir a Deos (aífim que tevecõpoda fua cafa, & Corte) fez taes obras contra
os infiéis, que claramente modrou o illuifre fangue,de que defceiidia, & as vir-
tudes, de que era dotado, merecedoras de outro maycftr Império :, mas como
Principe esforçado começou logo a trabalhar pelo accrefcentar, aífim nascou-
fas temporaes, como nas Ècclefiadicas 5 & como Príncipe Catholico redaurou,
& edificou as fuas Igrejas Cathedraes, reftituindoas pelo direito podliminio
aos feus antigos Bifpados, que em tempo dos Godos trveraõ , como foraõ Bra-
ga, Coimbra^ Porto, Vifeu, & Lamego; dando com eda obra catholico princi-
pio aofenhorio de Portugal, cuja cabeça no efpirituai era a Cidade de Braga ,
& no temporal a de Coimbra, que por muito tempo foy Corte de feus antigos
Rcys* *
' Concluidas edas,& outras obras pias, que o noíTo Conde da fua Corte
de Guimaraens fazia no feu Reyno, dignas de fua peíToa, & naÕ fe dando por fa-
tisfeito com a continua guerra, que trazia'com os Mouros de Efpanha íeus vi-
íinhos, determinou de a irbufear ao Orient^ ajudando aos Príncipes Chri-
daõsnas fantas conquidas ultramarinas, & juntamente porvifitaros lugares
fagrados da fanta Cidade de Jerufalem; com que no anno, do- Senhor de 11 o
acompanhado de muita gente do feu Reyno,partio de Guimaraens em compa-
nhia de Ugo de Lufignano irmaõ de Dom Raymonfeu cunhado, & parente, òt
DA corografia PORTUGUEZA. i7
fe ajuntara© com outros muitos Príncipes,St Cavalleiros I' rancezes, & Ale-
maens, St com outra muita gente de diverfas partes , que com o mefmo íanto
intento queriaõ fervir aDeos naquelle caminno j os quaes chegando a Conitã-
tinop!a,aonde reynava otyrannoEmperaaor AleixoComeno,tiche foraõ bé re-
cebidos no que no exterior parecia, mas interiormente vendidos : porque a-
traveífando o exercito de Conílantinopla, St paíTando a Aíia menor, 1 c div ídi-
raõ os Príncipes Chriftaõs por coníelho daquelle tyranno Emperador , toman-
do cada hum feu caminho, aonde foraõ falteados pelos Turcos, que elle rogà-
ra, St induzira, que naõ permitiffem paffar tantas gentes à Afia, porque redun-
dava em grande dano de todos- ^
Neila treiçaÔ, que aquelle tyranno teceo âos Chriíla&s,foraõ delles pre-
zos, St mortos pelos Turcos mais de cjncoenta mil ; & os mais que ficaiaõ li-
vres, entre os quaes foy o noíTo Dom Henrique, fe recolhèraó com muito tra- .
balho em Tarfis, & dah'i a Cidade de Antiochia, St fendo nella melhor hofpeda-
dos que em Conilantinopla, paffáraõ avante , aonde o noffo Conde achou leu
cunhado Dom Raymon de Tolofa , & unidos ambos, tomàraõ Ivuma Cidade
marítima chamada Tortofa, quederaõpor conientimento de todos ao Conde
Dom Raymon, pelo muito que na conquiíla árriícàra lua peíToa, & v ida.
Em quanto Dom Raymon ficava compoudo a fua Cidade de Tortofa,par-
tioo noifo Conde Dom Henrique a vifitar a fanta Cidade de]erufalem, aonde-
fe occupoii em outras guerras, St aèlos de Catholica milícia 3 St depois de ter
vifitado os lugares fagrados daquellas Províncias, fe partio para o leu Reyno,
tra zendo condigo muitas relíquias,8t entre ellashú braço do Euangeliíla Saõ
Lucas, que lhe deu oEmperador AleixojComeno, quando tornou por Conjftã-
tinopla, que collocou na Sè de Braga, aonde fe venera com grande devoção.
Adoeceo o Conde Dom Henrique na Cidade de Aílorga em Galliza,St co-
nhecendo fer de morte, mandou aGuimaraens chamar feu filho Dom Affonfo
Henriques,St como verdadeiro pay lhe lembrou naquella ultima hora ás coufas,
que devia fazer para fervir a Deos, a quem entregou fua alma no anno de 1112.
havendo 21 • que gozava do feu Reyno, mandando enterrar feu corpo na Sè de
Braga,em huma Capella pequena,com toda a humildade , donde depois foy
tresladado para a C apella mér da ir.efma Sè por Dom Diogo de Soufa , lendo
Arcebifpo delia,em hum magnifico monumento,que da parte do Euangelho mã-
dou fabricar.
Nafceo ElRey Dom Affonfo Henriques nos Paços da Villa velha de Gui-
maraens pelos annosde 1094.. St na fua Igreja de Saõ Miguel foy bautizado
pelo Arcebifpo de Braga Saõ Giraldo na Pia, que fe tresladou para a Real Colle-
giada de Guimaraens, aonde por credito, St honra delia Villa fe venera , pois
mereceoa gloriadonafcimentodo primeiro Rey de Portugal , dos que nelle
conlfituíraõ fua defcendencia, ficando Reys abfolutos independentes , o que
naõ tiveraõos pafíados.
Trouxe efte Principe no feu nafeimento as pernas pegadas por detráz hua
na outra; aleijaõ que aos pays deu tanto fentimento, que por fua deformidade
o naõ queriaõ dar a criar a Dom-Egas Moniz muito feu valido, tendolho aííim
prometido antes de nafeer: mas movidos de feus rogos lhoentregàraõ, a quem
obomvaíTailo criou com tanto cuidado , como fenaotiveífe amenorlefaõ)
mas a Virgem N. Senhora, como fonte que he de mifericordias , apiedandofe
de quem cila fabia que na vida lhe havia de fazer grandes ferviços, St os haviaõ
de continuar depois de fua morte feus defeendentes de maneira, que naõ con-
B iij tentes

\
,8 TOMO PRIMEIRO
.tentes com fazerem reverenciar feu fanto nome em muitas partes deEfpanha,
aonde o contrario naquelle tempo fe fazia,naõ defcançariaõ ate que aos mais
remotos moradores das terras Onentaes o naõ fizeffem conhecido, & venera-
do, paffando neftas conquiftas tantos trabalhos,como admira a fama, & tefte-
munhaõ as Hiftorias: & afíim ouvindo as deprecaçoens , &piedofas lagrimas
dos pays do Principe menino, appareceo a Dom Egas Moniz.em fonhos, & llie
diffe, que folie ao lugar de Carquere junto à Cidade de Lamego , & que man-
dando ahi cavar, achariaõnellehuma igreja, que antigamente fora principiada
em feu nome com huma lua Imagem, & que confertando tudo, & fazendo nella
vigília, puzeffe o menino fobre o Altar, & que logo fararia. E o que mais he
para notar, dizem os Chroniftas , .que lhe encomendàra a Virgem Mãy de
Deos,quedahiem diante ocnaffecomo mefmo cuidado, que ate entaõ tivera;
porque feu amado Filho tinha determinado por elle, & leus deleendentes dc-
ruir muitos inimigos de feu nome. E como podia faltar poder a quem ifto di-
zia para o effeduar? Fazédo Egas Moniz o que em fonhos lhe fora mandado,
tudo fuccedeo melhor do que fe podia defejar 5 porque o Principe menino ficou
de todo i llefo fem deformidade alguma.
Por efte milagre, 8t pela grande devoção, que o Conde Dom Henrique te-
ve fempreà Virgem Senhora nofía, mandou naquelle lugar edificar hum Moí fei-
ro dedicado ao feu fant o nome, aonde depois eftiVeraõ os Conegos Regrantes
de Santo Agoftinho, & hoje eftaõ os Religiofos da Companhia de Jefus 5 & foy
efte milagre no anno do Senhor de 1099. anno aflinalado, em que os Príncipes
Chriftaõs do Occidenteganhàraõ aos Sarracenos a fanta Cidade dejeruialem,
& levantàraõ por Rey delia ao famofo Godofredo de Bulhão, Duque de Lotha-
ringia, parente muy^chegado do noífo Conde Dom Henrique, por fer o primei-
ro que na inveftidura da fanta Cidade íubio aos feus altos muros, & lançando
por terra (a pezar dos Mouros) as infirmas de feu falfo profeta , arvorou no
mais alto lugar o Real Eft endarte da jioífa redempçaõ.
Com a nova faude do noífo milagrofo Principe ficaraõ os pays tarn ale-
gres, como todos feus vaífaÚos animados com a prometo da Virgem Maria,que
por elle feveriaõ livres do iníquo jugo da gente Mauritana 5 & como a palavra
deft,a Senhora era eferitura viva, que feu amado Filho fazia aos Portuguezes ,
começou logo o nofso novo Principe nos mais tenros annos de fua idade a en-
trar na efcolade Marte,metendolhena maô o A, B,C, das Armas ElRey Dom
Affonfo o Septimo de Caftella pelos annos do Senhor de 112 8- quando perdeo
a batalha de Valdevez ainda em vicia eja Rainha fua may , & ficou a gente do
Principe vencedora, como diz Eftaco cap. 23. num. i . .
Ao depois no anno do Senhor de 11 ;o. fendo ja falecida a Rainha Dona
Therefa fua mãy, & eftando o Principe Dom Affonfo feu filho defapercebido,
o cercou na Villa deGuimaraensomefmoRey Dom Affonfo o Septimo, dan-
do por caufa que o Principe feu primo lhe naõ queria reconhecer vaífallagem ;
aoncle valeo a induftriade Dom Egas Moniz feu Ayo 5 com que depois por
naõ fatisfazer à promeífa,que ao Rev fez , para levantar o cerco, que tinha
pofto à Villa, fe partio de Guimaraens com fua mulher, & filhos veltidos de
linho com baraços ao pefcoço,& entrando em Toledo, fe foraõ aprefentar ao
Rey offerecendolhe a vida de tantos pela culpa de hum fó , que compadecido
daquelles efpeclaculõs, lhe louvou a acçaõ, & lhe perdoou o caftigo, como di-
zem Eft aço cap. 13. num* 8. & Duarte Galvão cap. 1
Continuou o Principe Dom Affonfo-Henriques a fua Corte em Guima-
raens.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 19
raens, aumentando o Mofteiro de Mumadona em lua Capella Real, como o ti-
nhaõ feito até aquelle tempo feus pays, aonde o concurío das peííòas , q ud a
ellevmhaó, foraõ acrefcentando o Burgo de GUimaraens '• & vendole já de 18.
annos, idade mais propria para divertimentos, que para trabalhos, cfferecendo
ao pezo das armas feus tenros,&. delicados hombros,fe partio de Guimaraens
com muitos de feus moradores a dilatar o fenhorio de Portugal, que naquelle
tempo naõ comprehendia mais que a Província de Ei itre Douro & Minho , &
Trás os Montes, com as terras de entre Douro , & Mondego , & algumas de
Galliza. E primeiro que fahiífe da dita V illa, ouvio Miffa na lua Collegiada no
Altar da Virgem Senhora noíla, no qual mandou pôr as fuas armas, & acabada
ella, as pedioà mefmaSenhora,dizendo: Senhora,comaquejlasarmas , que me
vos dais, as quaes eu hty por tomadas da vofíà mad, confio eu , & efper o em vofía
merce,& virtude gane ar nome de Rey & Reyno, em honra, & louvor de nofio Se»
nhor JefuChrifto vofío bento Filho» Eftaçocap.t^.n. í.
Com cilas efperanças fe partio de Guimarães o noffo Principe Dom Affon-
fo H enriques, & fez (eu primeiro affento em Coimbra , donde conquiftou aos
Mouros toda a terra, que vay deft a Cidade até a Villa de Cintra , & também o
Alentejo, & fogeitou o Algarve, & algumas terras de Andaluzia, as quaes de-
pois fe rcbellàraõ , por naõ fer o numero dos Portuguezes baftante pa-
ra as habitarem, & preftdiarem, como diz a Hiftoria dos Godos fallando del-
Rey Dom Aífonfo Henriques por eftas palavras : DilatavifDominus per eum
fines Lhrijtiariorum, & auxit términos fidelwm populorttm à flumme Mon deco,
qui difcurrit jnxta muros Colmbria,<ujque adfluviumde Alpivir, qui vaditper
Hijpalimcivitatem,&c. . » _
Se a Villa velha de Guimaraensficou chorando o fentimento da aufenciâ
do feu Principe Dom Affonfo Hcriques,naõ pádeceo ó fanto Mofteiro de Mu-
madona diminuição nas attençoes de feus devotos; porque affim como o Prin-
cipe hia defpojando do feu Reyno os infiéis^ficavaõ as terras livres para os Ca-
tholicos poderem fazer fua romagem femíifco à Virgem Santa Maria de Gui-
maraens. Com que fe no tempo da aíiiítécia do Principe naquella Villa era mui-
ta a fua concurrencia, muito mayor foy depois que lhe franqueou as eftradas ,
por cuja caufa crefceo o Burgo de tal maneira,q em poucos annos fe fez húa
grande povoaçaõ, por onde adquirio o nome de Villa ; & para dar conta de fua
grandeza, quero primeiro fazelloda antiga Imagem da Virgem Senhora noífa
collocada no fanto Mofteiro de Mumadona.

CAP. VIIL

Da mtlagroja Imagem de N. Senhora da Olheira da Filia


de Guimaraens.

HE opinião provável queoApoftolo Santiago erítrou nas Éfpanhas , &


como Sol defterrou delias as efeuridades da idolatria , &na Provinda
de Galhzaj & de Entre Douro & Minho entrou pelos annos de Chrifto 36. cõ-
fórme a conta de juliano,Dextro,& Faria tomo i. parte 3. cap. j. As Igrejas
Cathedraes Bracharenfe,Eborenfe,Granatenfe, Acitana , &Abulenfenaíua
Reza o confirmaõ com Santo líidoro, S- Bráulio, Lipomano, & a torrente dos
AuthoteSi Ex-
SO ' * TOMO PRIMEIRO
Expreffamente diz o farto Papa Califto Segundo, que vindo neífe anno
de 56. o ApaftoloSantiago aeflaProvíncia,ajuntara nove difcipulos, fendo
a mayor parte de Entre Douro & Minho, &: delles foraõ dous os mais celebra-
dos, & do Santo Apoftolo mais mimofos. Foy o primeiro o glorioío Sam Pe-
dro,a quem o íagrado Apoftolo refufcitou em Rates, para o fazer primeiro Bif-
po de Braga-Diz Santo Athanafio Bifpo de C,aragoça (quafi do tempo dos Apo-
ilolos:) Ego novt Sanãurn Peti um pnmtm Br achar enfim Epijcopum, quem an-
tiquum tr< pbetatn jujeitavit lacobus Zebedai film magifier meus, &c. & com
elle Sandoval no Catalogo dos Bifpos de Tuy foi. 11.
O fegundofoy o gloriofo Saõ Torcato, a quem reduzio emGuimaraens,
dandolhe a graça pelo Bautifmo,& o fez primeiro Bifpo de Citania,ou Guania,
(como muitos queremfoífechamada) Cidade antiga , fituada junto ao rio
Ave duaslegoas de Guimaraens 'para a parte do Norte 5 de quem o tempo nam
deixou de fua grãdeza, mais que huns breves veftigios de feus aliceíTes.
Saô Torcato, & feus companheiros, quando vieraõ de Roma , entràraõ
pela parte, que agora he o Reyno de Granada, por huma Cidade, que chamavaõ
Acci,&agoraGuadis. Ambroíio de Morales liv-9-cap. 15. o Breviário Bra-
charenfe/& o Doutor Beuter dizem, que Acci fe chama agora Guadis; &, omef-
mo diz o Officio de S. Segundo, approvadopelo Papa Clemente Oitavo no an-
no do Senhor de 1594. que traz Antonio de Ciança no fim daHiftoria deSaõ
Segundo*
Defta Cidade Acci,ou Guadis foy S-Torcato Bifpo, como teítifica o Me-
íireVazeo nas palavras ieguinta»: Sanffus-Torcatus Epifcopus Accitanus, vulgo
Guadis, in Rpgno Gt anatenfu Vazatus tom* 2 • anno Domini 44. & Ciança , Hi- •
fioria de S. Segundo liv.i-cap.i8.de que aquella Igreja Cathedral tem fua Re-
za, & Officio particular do Bemaventurado Santo, como primeiro Bifpo delia,
novamente ordenado, & confirmado pelo Papa Xiífo Quinto no anno do Se-
nhor de 15 90. E eítá tam indubitável tradiçaõ diífo na Cidade de Guadis,que
Dom Affonlo de Mofcofo Bifpo delia procurou haver para aquelia Igreja huma
preciofa relíquia deSaõ Torcato feu primeiro Bifpo, & com grande trabalho,
& contradiçoens a pode alcançar do Mofteiro de Cella Nova em Galliza ; de
que o louva encarecidamente Frey Athanafiode Loberano leu livro das Gran-
dezas deLeaõ cap.20
Morreo o gloriofo S. Torcato em Acci aos 1 y. dias do mez de Mayo, &
ahi fov fepultado feu corpo, aílim como o de feu companheiro Santo Eufrazio
na Cidade de Andujar, donde foy Bilpo,& outros por muy diverfos lugares,
como diz Eftaço cap. 34. num-1. E quando os Mouros entràraõ em Efpanha,
&queimàraõas imagens,& relíquias dos Santos, algunsChriftaõs devotos
tomàraõ as relíquias quepuderaõ,& fugindo com ellas, as enterravaõ , para
que da fúria dos Mouros ficaffem melhor efeondidas; atè que depois permitio
Deos, que por vários modos miraculofos appareceíTem, & fofsern collocadas
nas Igrejas, como foy o corpo de S.Eufrazio,q fe achou em Galliza no afpero
monte de Valdemao junto de Saõ Juliao de Samos Mofteiro de Saõ Bento, co-
mo diz Frey Antonio de Yepes na Chronica de S. Bento parte 3. anno de Chri-
flo 779.cap. 3. j- ~ r
O corpo do Bemaventurado S- Torcato, conforme a tradição, le achou
afaílado de Guimaraens huma legoa para o Nafcente em parte, que doCeo fe
viaõcahircomohumasEftrellas, de que admiradas as gentes, & indagando o
myÁerio, rompendo aqueUesafperos^ôc intricados matos , achàraõ aauelle
fanto
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. it
fanto corpo em huma cova, donde fahià hum admirável cheiro , indicio da-
quelle preciofo thefouro ; o qualaílim que foy defenterradocoma vcneraçam»
devida, deixou em feu lugar huma caudaloia fonte, que foy reme lio de mui-
tos enfermos, que com fe vinhaõbufcar luas aguas*
Naquelle fanto lugar fe levantou huma Ermida, em que eítá á imagem dc-
fie Santo, a que indahoje chamaõ S.aõTorcato o velho; de dentro de l uas pa-
redes ficou recolhida a lua milagrofa fonte com huma bica fora delias para co-
municara todos fua virtude- Neila Ermida eífeveocorpode Saõ Torcato atd
fe fazer o Moíleiro de fua ínvocaçam,o qual foy duplex de Frades, St Freiras
da Ordem de Saõ Bento, &. o fundou Dom Rodrigo Forjás , contemporâneo
dciRey Dom Fernando o Magno, chamado o Emperador , o qual fez doaçam
deíle Moíleiro ao da Condeça Dona Mumadona, concedendolhe , Sc a Ríílnha
fua mulher, quando a ellavieraõ pelos annos do Senhor de 104.9. privilegio,»
& jurifdição no eivei, & crime; aonde diz, que o homicidio, furto, St qualquer
calumnia, que acontecer na terra do Moíleiro da Condeça, Dijcurrant per ma-
ws Vicari) ipfms Ccenobtj, &in omnem ter ram SmtU Torquati fimúiter facianU
Eíleve o Moíleiro de Saõ T orcato annexo ao da Condeça Dona Mumado-
na,q já entaõ era da apreientaçaõ Real com titulo de Collegiada com Prior,Di-
gnidades", & Conegos, c nelle vivjaõ ainda.recolhidos, até o tempo dclRey D.
Afton[o Henriques,que delle o defmlbrou,ôc deu aos Frades de Santo Agoíli-
nho, como fe vè da doaçam fegpinte. hm ntme do Padre, & do Pilho, & do hf-
pirito Santo, ame*:> hjta he a Lai ta do couto, ou do tefiamento , que eu ^/Jffonfo
Riy dos Portvgutstes juntamente com meu filho ElRey "Dom Sancho , & minha fi-
lha a Rainha ponaTherefa por amor de Deos, & remifiaoâe meus peccados faço
a Igreja de Santa Maria, Cr de Soo 'Torcato, & de outros Santos, cujns, relíquias ef ■
taõnamefma Igreja,&avosE)om Pelayo Prior da mefma Igreja ; & aos maiS
brades vo[jos,a(JtmpreIentes, como futuros, que na dita Igreja bem viverem , &
perseverarem em fanta converfação. conforme a Regra de Santo /Igofhnho: do -.vos^
& concedovos,& por virtude da prefente efcrituravos confrmo a mefma Igreja co
as luas quintas adjacentes,&ç, Foyfeitaefta Carta do couto, ou do teílamento
em 6. das Kalendas de Mayo, era MCXI. que he a#ao-de.Abril do anno do Se-
nhor de 1 : 75. EuElRey Dom Aftoníbjuntamente com meus filhos,Stc.
. Ainda que ElRey Dom Affonfo Henriques deu novo titulo de Santa Ma-
ria ao Moíleiro de Saõ Torcato na doaçaõ aos Frades de Santo Agoílinho, cõ-
tudo o povo nam permittio fe lhe efqueceífe o de Saõ Torcato- , porque fen>
pre foy viíitado , St nomeado por elle; & os Romeiros, que vinhaõ a vifitar
feu fagrado corpo, ao feu nome faziaõ fua romagem. Ao depois pelo difeurfo
do tempo paffou eíle Moíleiro ao dominio de P ;ores feculareS , até
vir a dar no devoto, St pio Varaõ Joaõ de Barros, Corugo 11a Sé de Braga, que
porauthoridade do Papa X iílo Quarto o fez annexar à Collegiada deGuima-
raens no anno do Senhor de 14.7 v por doaçam confirmada pelo Arcebifpo dc
Braga Dom Luis, comojdiz Eílaço cap. $ f. n. 4..
Tem t ile Moíleiro de Saõ Torcato a fua fundaçam em hum lugar eminen-
te,afaíladb de Guimaraens huma pequena legoa para a parte do Norte: he Igre-
ja grande, teve feu clauílro, St nomeyo delle hum chafariz , St ao redor do
clauílrohuma alpendrada fobre colunas de pedra, encoílada da outra parte
às paredes dc feus dormitórios, que tudo eílà arruinado , permanecendo fó
huma pequena parte delles, que ferve de agafalho aos feus Vigários. Para eíle
Moíleiro fe tresladou o corpo de Saõ Torcato,aonde foy dcpoficado, veílido»
li TOMO PRIMEI ROO ")
de Pontifical, em hum monumento de pedra tofca, mas grande, & de ínageíh-
de, affentado fobre quatro-colúnas, cercado de grades de ferro, dentro de hua
Capella-, que eflá à entrada da porta principal.
Muito trabalhou tlRey Dõ Maneei, para que fe recolheffem às Igrejas das
Cidades) & Villas as Relíquias dos Santos, quenâs Aldeãs fe achavaõ , por lhe
parecer, que nellasfenao tidas commenos vcneraçam , que nos lugares gran-
des 3 & para que o corpo de Saõ Torcato foífe venerado, & afliítido com toda a
devoçam , mandou aos Conegos da Collegiada deG uimaraens o ccllocaííem
Kella, como conda de huma carta do dito Rey Dom Manoel, que fe guarda no
Archivo da mefma Collegiada.
• Tratou o Cabido com aCamara, & poyo de dar à cxecuçam a vontade
de teu Rev, & affentando dia com os Miruítros, para fe fazer a tresladaçam do
corpo de Saõ Torcato com toda a folemnidade , tiverão cita noticia os mora-
dores daquella F reguezia; & Couto, & os das mais circumviíinhas; & quando
o Cabido, Clérigos , Frades,&povocomfuas danças chegàrãopertodaquel-
leMoíieiro, acharão hum exercito de gaite armada para a defenla do feu in-
tento , & havendo vários requerimentos de humayk outra parte, fizerao os La- \
vradores íeus proteftos, alEm às j uftiças, con,o ao Cabido, & povo ,. & no fim
delles refolutamentc differão, que antes naqqelle lugar deixanão as vidas, do [
que confentir lhe tiraffemo feu Santo, porque eílava entre Catholicos,para lhe
fazerem toda a veneração. Come ,t_v,fto por todos a íua deliberada dctermi-
naçam, &. receando o perigo, em que aouelie-negocio efhva, fe recolherão pa-
ra a Villa 3 & os Lavradores defeonfiados deque tornariãoa querer confeguir
a tresladação do Santo, (achandoos deícuiaados ) muitos tenipos eíliveram
em fua guarda de dia,& de noite.
Ao depois dido, fendo Arcebifpode Braga Dom Frey Agoílinho de Jefus
pelosannos'de x 597. fahio hum dia daquella Cidade acompanhado demuiu
gente*, Achegando ao Moíieiro de Saõ Torcato, quiz abrir o feu fepulchro,
dizendo que era para examinar o fagrado corpo ; repicàrão os finos 1 eus fre-
guezes, acudirão todos, & muitos dás Freguezias vifinhas, todos armados co-
mo puderão, & chegando aonde eílava òArcebifpo com a íua gente , lhe fize-
rão vários requerimentos,'ate chegar aviiò ao povo de Guimaraens, que a to-
da a preíía lhe fizerão , & todos com a mefma foraõ a defender o feu Santo do
intento do Arcebifpo, que era de o collocar na Sè de Braga, como ao depois íe
foube. • ■
Em 22. de Junho de 171 j. foy o Doutor Ruy Gomez Golias , fendo
Meílre-efcola da Collegiada de Guimaraens, com outros Conegos ao .Moílei-
• rode Saõ Torcato, & juntamente com o Vigário, que então era daquella Igre-
ja, o Licenciado Jerony mo Coelho, abrirão todos o fepulchro, onde eftà de-
pofitado o fanto corpo, & com tochas acefas o examinarão , & virão muito
particularmente, fem acharem nelle corrupção alguma, fenão todo perfeito, &
luas fagradas yeíliduras intadlas fem offenfa dos tempos.
Neila occafião o Doutor Ruy Gomee Golias fe animou atirar efeondida-
mente daquelle fanto corpo hum tornozello de hum pè , & quando lho arran-
cou, fahio com fangue claro, como inda hoje tcm,&Ievãdo eíha fanta relíquia
para íua cafa, experimentou em íi tantas mifenas,& enfermidades , que pare-
cendolhefercaftigo do Santo, por não querer que huma coufa profana foífe
facrario daquella fagrada relíquia fahida de feu fanto corpo, a mandou collo-
car no Santuário da'Collegiada de Guimaraens, aonde fe venera em hum reli-
cário
DA COROGRAFIA PORTUCUF.Z A. 1}
cario erande de prata dourado merido entre duas vidraças , por cnue íc cita
vcndo aqutllefagrado oíTo manchado de vivo langue- ;
Sendo Thefoureiro mórda Collegiad^de cuimâraens Nicolao Dias de
Matos, revolvendo o Cartorio daquella Igreja, achou em hum pergaminho an-
tigo, que mal fe pôde ler, mas no que delle pode conjedturar , foy dizer que
10 Morteiro de Saõ Torcato eftaõ muitas relíquias efcondidas por varias par-
tes de fuas paredes 5 & mdo a examinar o que tinha lido com o Meítre-elcola
Domingos Pinto de Araujo, & o Çonego Miguel de Freitas da Ouiha , acha-
jaó as reliquias, que fe comem na certidaõ feguinte , <}ue íe guarda no Carto-
rio*
AnnodoNafcimentode north Senhor JefuChrifto de i68y- ãnnos aos
7. de Novembro no Morteiro de Saò Torcato, termo da Villa de Guimaraens,
adonde foraó vindôs os Reverédos Nicolao Dias de Matos Theíoureiro mor,
& Domingos Pinto de Araujo Meftre-efcola, & Miguel deFreitas daCunha,
Dignidades, & Conegos da infigne Collegiada da dita Villa,&bem aíiim o Pa-
dre Paulo Gomez, Protonotario Aportolico , &: eu o Padre Joâõ Fernandez
Luis,Notário Aportolico do Santo Officio , para eífeito de no dito Moí íc.io
bufearem os corpos fantos>&mais reliquias, que havia metidas nas paredes,
que por memorias anti gas havia tradiçam,&noticia,&ifto com licença do e-
nhor Arcebifpo Primaz Dom Luis de Soufa,Stc. & chegando ao dito Moí ei-
ró com o Meftre Joaõ da Corta, & Domingos .de Oliveira, & Franciíco Antu-
nes, ofliciaes de pedraria, o Reverendo Conego Miguel deFreitas,aífima de-
clarado . fe revert 10, & diíTe Mifía cantada ao Efpirito Santo, & acabada cila, to-
raõ os fobreditos ofíiciaes, & abríraõ o Altar mor, que eftava de pedraria , &
indo desfazendo em húa pedra, que no meyo acliàraõ, que tinha quatro paln.os
& mevo de comprido, & dous & mevo de largo, & de groffo hum palmo,& cous
dedos, pedra que jâ havia íervidoem outra obra, com molduras pelas cabeças,
no meyo da qual eftava hum buraco de palmo & dous dedos cm q uadi o por ca
da banda, com huma rapadura de pano, & ao redor abatumada cÕ breu ; & logo
o Padre Paulo Gomez atráz declarado meteo hum ferro de aííentar, & o abrio,
& aberta ella, achamos as reliquias,de que adiante le fará exprcífa, & dcclara-
damençaõ;& viftas por todos, & mais povo, que fe achou prelente, nos pu-
zemos de giolhos, & cantamos Te Deitm laudawus ;&dahi depois delle canta-
do, tomamos a lobredita pedra, & a puzemos fobre dous bancos com duas to-
chas accefasy& tornandofe a abrir,nclla achamos as reliquias íeguintes.
Primeiramente achàraõ-fe oito caixinhas depao tofeo , em que entrava
huma lavrada, & na primeira, que fe abrio, fe achou hum eferitó em papel, &
outro na mefma caixa, que ambos contem o feguinte •• Dedicata eft Ecclefia
ijia à domino Feitio Br achar er/Ji Archtepifcopo tti honor e Sanãt Salv atoris .San-
tia Marta, S. Michaelis,San£íi Petri Apojloli, SanRiJorcati amo ab Irkar nano-
ne Domini millefmo centeftmo trigefimo fecundo : & dentro eftavaõ huns fios
de feda, quemaldeclinavaõacor,&cõ huns pedacinhos , que moftravaõ fe-
rem oífinhos, & outros bocadinhos, que naõ declinavaõ o que eraõ; & abrindo-
» fe a fegunda, nella fe achouhú papel, que dizia o feguinte: Relíquia Santti Cof-
ma, & Damiani, & omefmo rotulo na mefma caixa, & abrindofe dentro acha-
mos embrulhado em huma feda preta atados osdous oflinhos dos ditos San-
tos ; & abrindofe o terceiro lavrado, fe achou hum eferito, que dizia o feguin-
te -.Relíquia de Eigno Domini, ô- Co fina,& Damiani Sanbli Tor cat i; & den-
tro neile eftavaõ tamfónientc huns pedacinhos de fedas de cores, quemoftra^
14 / \ TOMO! PRIMEIRO" - '
vaõfer de algumas veftiduras de cor verde, & amarela, humdentro do outro >
& outro bocadinho de feda em dobras atado com hum fio de retroz, que pare-
cia gemado, & outro bocado de pijeto, no qual oitava hum bocadinho, que pa-
recia de fita verde; & abrindofe o quarto, q tinira tres repar cimentos,çm hum
tinha hum eícrito, que naõ continha mais, que as palavras feguintes : Relíquia,
Saniti loannts, & outros,que fe naõ podem ler: & em outrò repartimento , que
tinha hum efcritinho,que diz: Relíquia Sãch lacobi Apoftolt: & dentro acha-
mofchpns bocadinhos de oífos miúdos com hum panofinho enrolado com hum
poi]to,em que moftrava efíarem embrulhados abrindoieo q uinto,fe achou
hum eferito, que dizia: Relíquia Sanih Telagij, & outros, que fe naõ puderam
ler, & dentro eftava hum pedacinho de fedá velha, & outros fios de íeda mais
efeura fenr mais outra couia; & vifto o fexto,tinha hu letreiro, q mal fe lia,por
fora na madeira, que dizia ao parecer, Saõ Maxencio, & dentro delle citava
,huma pequena de feda vermelha atada com hum fio branco. £ abrindofe o feptn
nlOjirelle eftava hum eferito, que dizia: thefunt Relíquia Saneia Maria Oir-
gihisdentro eftava hum pedaço de leda carmezina,& dentro delia outro mais
vermelho que parecia fer de lã: & no oitavo eftava hum eferito , que dizia:
Relíquia Saili Stepham martyris,& Sanita Enlalia Virgmis , & mar Oris , &
dentro.fe achàraõ dous oílinhos, hum mayor que outro, &huma migalha de
feda tecida com lã atada com hum fio de retroz vermelho ; & naõ continhaõ
mais as ditas caixas aflima declaradas, de que fiz efte termo por mandato , &
vifta de ditos, que afiiney, dia, mez, & anno, ut J»pra• João Fernandez Luis.
Hecfte Santo muito venerado doshabitadoresdaquelles montes, & jun-
tamente dos daquella Vilia de Guimaraens, efpccialmente no dia de fua fefta,&
delle fecontaõmuitos milagres. . : i
Repartioofagrado Apoftoloaos feusdifei pulos por diverfas partes acõ-
verter a Gentilidade, & depois de aílim o ter difpofto, felby a C,aragoça,abn>
de levantou aprimeira AraFfpanholaàfagrada imageín , que hoje de venera
com titulo de Noífa Senhora do Pilar, & tornando aBraga,colloccu outra em
certa gruta junto do Templo da DeofaIris,& em Guimaraens çftá , que hoje
veneramos com titulo da Senhorada01iveira,nofimulaçhro de GeresyManoel
déFaria & Soufa tom. 1. parte 3. cap. 1 .fazmençaõdelias duas primeiras ima-
gensr& da Senhora da Oliveira temos a tradiçaõ dos .antigos Beneficiados de-
lia Igreja, os Monges de S. Bento, primeiros Cappellaens da Senhora, noticias
juftificadas, &" Archivos antigos. Os Padres, Fr. Bernardo de Braga, Fr- Joaõ
do Apocaly pfe, & Fr- Gd de Saõ-Bento fazem mençaõ de hum epitáfio Gotico,
que eltava no Templo , que foy de Ceres: as palavras formaes de Fr. Bernar-
do faõ as feguintes. * * "
No Rocio, ou Praça de Guimaraens eftà hum Templo, que fov da Genti-
lidade, he de obra moy faica, magellofo, & antiquiífimo, & as noticias, que te-
nho, foy dedicado a Çeres: a efte deftruío Santiago vindo a efta terra, aonde
bautizoua Saõ Torcato, & lançando por terra aos falfos ídolos, collocou no
Altar a Virgem Senhora noífa, cuja imagem he hoje a Senhora da Oliveira; &
bem fe colhe, diz o Author, de hum letreiro, que vi, & fe achou no interior da
parede junto à torre, quando efta fe começou a arruinar pelos annos do Senhor
de 1559. Cahiohuma pedra, & porque fepartio , fe fez ajuntar,para fe lerem
as letras ,&diziaõ: In hoc fimulachro Cet eris collocavit lacobus filtuS Zebedai
Germanus loannis imaginem Sanita Maria 111S.C1S X- Era o letreiro Gotico,
& em breves, mas a fuftançia era efta; & tãbem fe achàraõ medalhas, por onde
cr,,- dpms
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. ij
algun.-, Efcritores tomàraõ motivo para dizerem que o Templo fora de Miner-
va ; Sc continua, dizendo, que no Cartorio do Cabido daquella Real Collegia-
da achara claras noticias, donde fe infere eifa verdade. Foyefta Igreja dedi-
cada a N. Senhora, Sc depois a dedicou o povo a Santiago, por elle fer o primei-
ro, quenella levantou Altar. Teve cita IgrejaRaçoeirOs,como confia dos plei-
tos, que com a Real Collegiada teve, que fe vê cios papeis, que fe guardaõ em
feu Cabido: nam fe acha noticia em que tempo fe defannexàraõ fó fey que a
dignidade de Meífre-efcola fe intitula Abbade de Santiago > & recolhe os fo-
ros, que a cila Igreja fepagaõ. A Imagem da Senhora fe coníervou até o anno
do Senhor de 4.17. em que entràraõ Alanos, Sc Suevos ejn Galliza,& outras na-
çoens barbaras , que queimàraô os corpos , & imagens dos Santos. O Ar-
cebifpo de Braga Pancracio mandou efeondererta , conforrtie huma memoria
confufa, que achei no Archivo Bracharenfe: o lugar, aonde foy depoíitada, foy
poucos paífos fora de Guimaraens em hum pequeno monte , que fe chamava
Latito. Atèqui íaõ palavras formaes do Author citado^
Elie monte ertà hoje dividido por dous nomes : monte de Santa Maria,
por fer thefouro daquella fagradâ Imagem de N. Senhora, quehe a parte mais
vifinha da fua Igreja,Sc a outra parte fe appeiiida monte Largo,derivado do pri-
meiro nome Latito: eílaõ hum, & outro contíguos , fervindo de coroa a cila
Villa, fituados entre o Norte,Sc Nafcente.
O Arcebifpo de Braga Pancracio, que foy fúcceíTor de Saõ Paterno , Sc
anteceíTor de Balconio, convocou alguns Bifpos, que andavaôaufentes de fuas
Igrejas, para fazer em Braga Concilio Provincial, em que fe ordenou, que cada
hum na fua Diocefe fizeffe occultar as fagradas Imagens em lugares , de que
entre huns, Sc outros ficaffe memoria, atè quando, ferenado o Ceo, tiveíTe me-
lhor fortifna a Chriftandade. E he de crer que pertencendo Guimaraens à
Diocefe Bracharenfe, o Arcebifpo Pancracio occultaffe ella fagrada Imagem ,
por fer tam prodigioía em todos os feculos. Os Padres > que affinàraõ no Cõ-
cilio, foraõ Gelafio de Agueda, Elipando de Coimbra, Pamerip de Idanha, Arif-
berto do Porto, Deus deditde Lugo, Potamio de Merida , Tiburciode Lame-
go, Agatio de Iria, Pedro de Numancia- Faria tomo 1. parte 3. cap. 10. Sc alii.
No Cartorio de Pombeiro, Murteiro de Saõ Bento, ertá hum pergaminho
Gõtieo , que leo o Padre Fr. Bernardo de Braga , fendo o primeiro Abbadc
triennal nelle, pelos annos de 1 ypo- que faz meiíçaõ de hum Monge, chamado
Martim Pires, que floreceo pelos annos de Chrirto de 1380.0 qual havia mui-
tos, queviviaenfermodefortequemais parecia tronco immovel , quecorpo
vivente: affim maltratado de feus males, íe fez levar à fonte dá faude, que he
a V irgem N. Senhora de Guimaraens, que ouvindolhe fuas deprecaçoens, o re-
rtituío à fua primeira faude, Sc em memoria defteprodigiofo milagre , fezef
crever nerte pergaminho as palavras feguintes : Aos xvt. de Setembro anu.
CCCLXXX. antes da peite tença me catar ao a Guimaraens, para ver a Santa Ala-
ria, &por talguiza me eudereitou o braço, & coube faude, que eftava ene olb eito,
é- com gr ao folga ajfiney com el, logo o Chantre, Conigos, & clegosj fifgo procifíao a
Santiago, donde me dtfgo, que vino S: Maria la antiga, que fizo Santiago, borao te-
ftemunhas Alartin 'Domingueso Alvim Martim Moreira, o Arcebifpo Dom Gonça-
lo Pet eira, & Affonfo Feres Tabalhao e[crivo efte milagre ,&c. O Padre Fr. Joaõ
do Apocaly pfe faz menção delle nos feus efcritos,que vioo Padre Frey Bento
de Santa Maria,Prégador na fua Religião Bcnedidlina-
O Padre Frey Gil de Saõ Bento, hum dos grandes Chronirtas, depois de
C ter
16 TOMO primeiro
ter dado à eílampa a fua Apologética} compoz hum Tomo, que intitulou , Co-
roa de Portugal, o qual nam chegou a imprimir, por lho atalhar a morte, efian-
do revolvendo o Cartorio do Morteiro de Santa Marina da Coíia da Ordem de
Saõ Jeronymo junto a Guimaraens, aonde eflá fepultado- Tratava elle Author
no capitulo primeiro do feu Tòmo,da Villa de Guimaraens, como patria do fe-
nhor Rey Dom Affonfo Henriques, de Saõ Damafo, St do Cardeal Albano Go-
vernador da Guerra facra, Theíòureiromórque tinha fido da Real Collegiada
deGuimaraens , St diz, que afagrada Imagem deN. Senhora da Oliveira fora
aquella antiga, que Santiago collocàra no templo de Ceres, & para iíTo allega os
fundament os referido#,& com o Licenciado jeronymo Coelho , Vigário que
foy de S. Torcato, bem conhecido pelas fuas obras poílhumas, que andaõ im-
preífas.
Permanecco efie Templo muitos fcculos,St fe não foy em todos com o no-
me de Ceres, foy em muitos com o de Santiago, ate que no anno do Senhor de
1607. experimentou de todo fuas ruínas,& na pequena Igreja de Santiago, que
fe reedificou no mefmo fitio, a que hoje chamao Praça do peixe, fe efculpio em
huma pedra fobre á porta principal eíle epitáfio :
Magna dotous quondam penitus fubmerfa ruim,
Dum jacetjtn brevms detiuo jurgit opus.
St como eílá patente aos olhos de todos, elles nos dão a melhor authoridade.
Deíie Templo foy tresladada a Imagem da Virgem N. Senhora para o Mo-
íleirode Mumiadona,queficãoemdiliancia hum do outro oitenta partos, o de
Ceres para a parte do Suduefte,St o de Mumadona para a do Norderte; com que
ficou adquirindo novo titulo, porque le atèaquelle tempo fe chamou Morteiro
do Salvador, depois que nelle entrou a fagrada Imagçm da Vxrge Senhora nof-
fa, ficou co'onome de Santa Maria, tomando nova forma, 8t novo ertylo, por-
que em quanto teve o primeiro, foy de Monges, St Monjas, ao depois de Clé-
rigos Beneficiados, mudado a Capella Real cõ o nome de Collegiada dosReys
dePortiigal,aquemelles devem efte titulo, St feusvaíTallos o íòcegr. de fuas
terras, St bens, que poffuem com a feguranCa, que do Reyno lhes deu.

CAP. IX.

Da Real Collegiada de Guimaraens, Qf dos Priores que teve


atè oprefente.

O Conde Dom Henrique lhe deu o primeiro principio da fua mu-


dança, extinguindolhe os Monges com que o achou , quando pelo feu
matrimoniocom a Rainha Dona Therefa na Villa de Guimaraens aíTentàraõ fua
Corte, &conrtituíonelle Clérigos, dandolhe principio de Collegiada com o
titulo de Capella Real, aprefentãdo em primeiro Prior delia ao feu F ifíco mor
Dom Pedro Amarello.
Depois defte Dom Pedro Amarello fuccedèrão alguns Priores nerta Real
Collegiada ç mas o defeuido de feus Conegos, em não fazerem delles memoria,
as deixou entregues ao efquecimento ate Dom Payo Domingues , o qual foy
Deaõ daSè de Évora, aprefentado por ElRey D.Diniz no anno do Senhor de
1334. Affonfo
DA CO RO GRAFIA PORTUGUEZA. 27
Affonfo Sueiro fuccedco a Dom Payo Domingues , &foy aprefentado
pelo dito Rey Dom Diniz no anno de 13 39*
Dom Henrique Coutinho fuccedeo a Affonfo Sueiro, reynando ElRey Dô
Affonfo Quarto-
Ruy Pays.
O Doutor Affonfo Vaz.
Miguel Vivas ,quc defle Priorado foy eleito Bifpo de Vileu.
Dom Diogo Alvarez, que deite Priorado foy eley to para Bifpo de Évora,
& dahi A rceb i fpo de Li sboa no anno de 1407 •
Affonfo Martins.
Gonçalo Telles em tempo delRey Dom Pedro.
Ruy da Cunha filho de Vafco Martins da Cunha , fenhor da terra de Lâ-
nhofo, que foy hum dos Embaixadores inviado ao Papa Eugen io Quarto com
Frey Joaõ Provincial do Carmo, Bifpo de Ceuta, & ultimamente da Guarda a
petição do Infante Dom Pedro, Regedor dos Reynos de Portugal, para defan-
nexar in perpetuum do Bifpadode Tuy toda a Comarca, que he de Valença do
Minho.
Dom Affonfo Gomez de Lemos em tempo delRey Dom Joaõ o Segundo no
anno do Senhor de 14.33.
Dom Fernando Coutinho.
Dom Diogo Pinheiro, que foy Commendatario doMoíteiro de Carvoei-
ro, & de SaõSimaõ da Junqueira da Ordem dos Conegos Regrantes de Santo
A golfinho do Arcebifpado de Bragado qual fez a claultra da dita Collegiada,
& a torre dos finos: deite Priorado foy promovido para Prelado de Thomar, &
daqui para primeiro Bifpo do Funchal na ilha da Madeira, confirmado pelo Pa-
pa Leaõ Decimo no anno de 1514.
Dom Sebaítiaõ Lopes. Dom Gomes Affonfo.
Dom Fulgencio, filho de Dom Jaimes quarto Duque de Bragança-
Dom Joaõ de Bragança, filho do Marquez de Ferreira , Arcediago de So-
bradello, premudado a Bifpo de Vifeu. *
Dom Alexandre, filho de Dom Joaõ o Primeiro do nome , & fexto Duque
de Bragança, & da fenhora Dona Catherina, neta delRey Dom Manoel, filha do
Infante Dom Duarte, irmaõ delRey Dom Joaõ o Terceiro, & da Infanta Dona
Ifabel, irmaõ do Duque Dom Theodofio ç foy promovido para Arcebifpo de
Évora, & Inquifídor Geral de Portugal.
Dom Pedro de Caítro,que foy promovido a Bifpo de Leiria, Prefidente
do Paço, Capellaõ Mor,& Inquifidor Geral, & Vifo-Rey de Portugal.
Dom Fernando Martins Mafcarenhas, Reytor da Univerfidade de Coim-
bra, Bifpo do Algarve, 6t Inquifidor Geral deite Reyno.
Dom Bernardo de Ataide filho do Conde de Caítrodairo.
Dom Antonio de Ataide,Doutor em Cânones pela Univerfidade de Coim-
bra, 5t nella Collegial do Collegio mayor de Saõ Pedro , Deputadb do Ordi-
nário, & na Inquifíçaõ de Lisboa, & em Caitella Bifpo.
Dom Joaõ Lobo de Faro, filho de Dom eítevaõ de Faro Conde de Faro , &
defuamulher Dona Guiomar deCaítro,porElRey Dom Joaõ o Quarto, fendo
Doutor em CarTones pela Univerfidade de Coimbra.
Dom Diogo Lobo da Sylveira, Meitre na fagrada Theologia pela Univer-
fidade de Coimbra, & nella Ccllegial do Collegio mayor de Saõ Pedro, & Si?-
milher de Cortina delRey DÕ Affonfo o Sexto,qoprovèo naqutlle Priorado.
C ij Dom
*8 TOMO PRIMEIRO
• Dom André Furtado de Mendoça, Reytor da Univeríidade de Coimbra,
6c depois Prior, foy promovido ao Bilpado deVifeu pelo Principe Dom Pe-
dro Regente do Rey no de Portugal. *
Dom Jofcph de Menezes, Reformador da Univeríidade de Coimbra , &
depois de Prior fòy promovido ao Biípado do Algarve,& cícíle ao de Lamego,&
daqui para Arcebilpo de Braga.
Dom Pedro deScUfa,filhodeDomFrancifcode Soufa primeiro Marquez
das Minas, Embaixador em Roma pelo Príncipe Dom Pedro, hoje Rey de Por-
tugal, o Segundo do nome.
Qoando o Principe DõAffonfo Henriques paffou com feu exercito ao
Alentejo, donde veyo feito Rey no anno do Senhor de 11?9- acabou de aper-
feiçoar neíia Igreja a forma de CoHegiada Real com o feu Prior , Dignidade s,
& Conegosytanto por honra de N. Senhora, a quem devia a Coroa de Rey,com
que vinha coroado, 6c na cabeça lha pueera feu amado , 6c bento Filho Chri.ilo
jefu na miiagrofa batalha cio Campo de Ourique , como por engrandecer eila
fua patria, a quem por tantas vias citava obrigado; o que bem fe deixa ver nas
muitas honras, que fez a cila Igreja, engrandecendoa com fe fazer Padroeiro
delia, donde todos os Reys feus defeendentes, 6< fucctffores aíhm fe confervà-
raõ fempre, 6c como taes aprefentaõ a mayor Dignidade delia, q he o Prior. E
deixou EIRey Dom Afionfo Henriques tam introduzida nos coraçoens dos
Reys feus defeendétes a devoção da Virgc Senhora noiíaneíla fua Igreja,que
até o prefente eflaõ continuando, & perfeverando nella •, porque fuppoilo os
modernos tenhap faltado nas Romagens, 6c vifitas, que o? antigos vinhão pef-
foalmente fazer a eíia Igreja,não fe defeuidão em a aumentar com honras, pri-
vilégios, 6c liberdades, ôc com muitas dadivas para feu aumento.

CAP. X.

Btn que fe defereve a Igreja de A. Senhora da Oliveira,


Ermanecco eft a Igreja no rrefmc,eflado emque adeixou aCondeçaMu-
P, madona fua primeira fundadora até o tempo delRey Dom joaõ o Primei-
ro , que a mandou reedificar no anno de 14.19 • encomendando ao Mcít re af-
íimoviílofo da architeclura, como o mageílofo da grandeza , para que cor*
refpondelfe tudo à vontade grande, que tinna dea ennobrecer,6c engrandecer,
ôcporclle lhe defobedecer, pagou cõ a vida odefeuidodaobra, porque a fez
de tres naves, 6c nam tem de cõpndo da porta principal ate o arco, que divi-
de a Capella mór do corpo da Igreja, mais que quarenta 6c novepaífos , 6c a
Capella mór ficou muito limitada,*6taíTimoeíleveatè o anno de 1670.em que
o Principe Dom Pedro, hoje Rey de Portugal, a mandou fazer de novo toda de
abobeda de pedra apainelada, & no painel, que baliza o meyo delia , eílaõ ef-
culpidas as Armas Reaes. _
Muito trabalhàraõ o Meílre de pedraria, 6c os Conegos , para que cita
Capella aflim no comprimento, como na largura ficaffe mayor dt queeítà; mas
con,o por cabeceira paraa parte doNorte topou com hua alpendrada do clau.
firo daquella Igreja, 6c das ilhargas emduas Capellas de abobeda collateraes,
r*sp fe podia eflender, nem alargar mais fem rifco, .6c deformidade de todas;
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. >9
mas o que lhe faltou na grandeza, lhe fuprio na compolf ura A alegria, porque
as duas boas vidraças a fazem muito clara.
Na parede da fua cabeceira, aonde eftàencoftadoo Altar mor, fizerão hua
tribuna^ aonde eftá a fagrada Imagem deN- Senhora , ôepor dentro das pare-
des da Capella fizerão elcadas de pedra para fervent ia dei la; & para fe expor o
Santiífimo nas cccaíicens de fefta. Ao pè do Altar móréfiá hum patim para
ondefe fobe por degraos de pedra bem lavrados , & nelle junto do Altar da
parte do Euangelho eftá debaixo dehú arco o fitial dosPriores,& deírõtedelles
outro arco da parte da Epifbla •, aonde fe aflentáo os Miifa-cantantes; 6c a-
baixo do patim de hum,6c outro lado da Capella eítáo duas ordens de cadei-
ras,em q fe affentão os Conegos,quãdo naquelleCoro coftumão rezar as horas
Canónicas, 6c faõ todas de pao preto, 6cos encoftos das paredes embutidos de
pao amarellobem viítofas , 6c de cuflo , tudo procedido de huma grande ef-
mola, que o fenhor Rey D- Pedro o Segundo deu a efta Igreja no anno de 16 89»
Eftá fechada efta Capella com grades de ferro torneadas, pintadas, 6c doura-
das-
Tem efta Igreja de largo trinta paífos, 6c he toda azulejada, 6c nas partes,
aonde fe não pode aíTentar o azulejo, he pintada, 6c dourada : tem nas pare-
des de huma, 6c outra parte da nave do meyo painéis da vida de N- Senhora , 6c
por'toda ella vidraças muito claras com muitas imagens pintadas,6c douradas,
6c em todas ellas as Armas delRey Dom João o Primeiro, 6c da Rainha fua mu-
lher, que faõ as Reaes de Inglaterra- Tem o feu Coro de cimafobre a porta
principal da Igreja, 6c fobre ella hum bom efoelho de vidraças ; he a fervenr ia
defte Coro por huma efeada de pedra encoftada à fua párede da parte do Euan-
gelho, pela qual fe fervem também para a torre dos finos, que fica ao entrar da
porta principal da Igreja à mão efquerda , a qual tem cento 6c trinta
palmos de altura, cercada de amevas, com feu zimborio muito alto , 6c por re-
mate hum Alijo armado, moftrador dos ventos ,6c para oPoente hum campa-
nário de Relogiq , cuja fabrica corre por conta da Camara : tem feis finos de
bom tamanho, principalmente o de N- Senhora.
Efta torre não foy a primeira, que teve efta Igreja , porque eífa fe derru-
bou no anno de 1515. 6c deu principio a eft a nova o Doutor Pedro Elie ves Co-
gominho, Ouvidor das terras do Duque de Bragança , 6c fua mulher Iíabel Pi-
nheira ,de que procede os Pinheiros,6c forão t ronco illuftre das melhoresCafas
defte Reyno ; ôc 110 primeiro fundamento defta torre edificou hua Capella de
abobeda , 6c no meyo delia dous monumentos de pedra levantados com duas
efígies de meya talha, huma fua, 6c outra de fua mulher, 6c em cada huma o feu
nome, cercados eftesdous monumentos com huma grade de ferro alta, 6c nas
fuas cabeceiras para o Poente hum Altar cõ a Imagem de N-Senhor crucifica-
do, com a Santiflima Virgem fua Mãy,6c o fagrado Euangelifta ao pè da Cruz,
aonde fe diz Miífa todos os Domingos, 6c dias Santos, q 1 e ouve da rua, 6c das
cafas fronteiras por huma porta de arco fechada com grades de ferro, fobre
a qual eftá huma pedracomoefcudode fuas Armas.
Namderão eftes nomeados fim à torre, a quem derão o principio,porque
delia não fizerão mais que o primeiro terço , em que fundàrão a fua Capella,
que tem a ferventia pára a Igreja por baixo da eicada do Coro , porque os
dous terços últimos acabou feu filho o Doutor Diogo Pinheiro, Cõmeudata-
riodos Mofteirosde Carvoeiro, de S. Simão da Junqueira , 6c deCaftro de
Avelans, Prelado de Thomar, Dom Prior de Guimaraens, 6c ultimamete Bifpo
C iij do
5o \ TOMO PRIMEIRO
do Funchal , oqual jaz fepultado çm Thomar na Igreja, de Santa Maria
dos Olivaes. Sendo o Doutor Diogo Pinheiro Dom Prior de Guimaraens deu
o ultimo fim á efta torre, em que poz òseícudos das Armas, de que ufava , que
he hum pinheiro eom hum Leão ao pé, com chapeo,&cordoens , como he ufo
nos Eceleíiâíficos.
Aopédeíla torre par ao Poente eílá hum tanque de tres bicas, qiie cada
humadeUasoftereceáquelle povo liberalmente quantidade de agua excellen-
te: ferve de frontifpieio à bica do meyo a grade da porta da Capella , & a da
mão efquerda tem o feu frontispício de pedra fina muito bem lavrado , & no
meyo delle huma Imagem de petlra de N. Senhora encoílada â hua oliveira, que
faõ as Armas de Guimaraens: na terceira bica da mão direita tem o feu fron-
tispício pela mefma fórma, que tem a da mão efquerda, & no meyo delle hum
cfcudo das Armas de Portugal, pintadas, & douradas. Todas as pelfoas (não
fendonaturaes daquella Villa) íe enganão com a agua defte tanque , porque
cftáencoílado à torre por tal arte, que lhe parece fer nativa dentro nella, fen-
do que he trazida a elle por canos de diílânciade humalegoa: mas eftâ metida
por tal modo , que fe não dá a conhecer , fenão aquém particularmente fe
chega a elle, & a examina.
A entrada da porta principal daquella Igreja à mão direita da parte de fóra
eílà hum efcudo das Armas delRey Dom João o Primeiro, feu reedificador, il-
luminâdo,& dourado entre doús Anjos,& por timbre hu Serafim,fuílétando cõ
ás mãos a Coroa Real, & abaixo do efcudo huma pedra com o letreiro fegum-
te t Era de M.CCCCXXV annos 6• do mehde Mayo foy começada eíla obra por
mandado dei Rey <DomIoao dado pela graça de'Deosa elle Rey no de Fortugal:eJte
Rey 'Dom load houve batalha real com El key D om hão ae Cejlella nos campos de
Aljubarrota,&foy delia vencedor, & a honra da vttlo ia, que lhe deu Santa Mar ia %
mandou fazer eíla obra por loao Garcia Mejlre da pedraria.
Tem eíla Igreja duas portas traveíTas,huma paraoNorte, & outra para
ô Sul, & por detráz da fua Capella mór tem hum clauílro com. huma alpendra-
da,por onde os Conegos fazem fuas prociífoens ordinárias , & fe recolhem
à Igreja pelâ porta traveífadoSul: fuílentafe pela parte da Igreja fobre colu-
nas de pedra , & pela outra parte corre encoílada às paredes da cafa dos
Priores;& entre a igreja,& cila alpédrada eílà hu Rocio, aonde fe enterraõ os
pobres, que morrem nos Hofpitaes, aíiim da fanta Mifericordia , como do
Anjo.
Eílão em toda a redondeza deíla alpendrada as Capellas de N. Senhora
da Pombinha, de S. Roque, dos Santos Cófme, & Damião, & a Capella de Saõ
Pedro da Irmandade dos Clérigos daquella Villa, que fica por baixo dasca-
fas dos Priores, & tem a fua ferventiapof huma porta de arco nas paredes da
mefma cafa: a Capella de Saõ Luis annexá ao Morgado, que inífituío Manoel
deValladares,quetem junto delia hum monumento metido na parede levan-
tado, & cuberto cõ huma pedra, em que eílá efculpida em meya talha a efígie
de feu iníf ituidor, & tem no meyo hum efcudo de fuas Armas, & abaixo deíle
monumento eílá a porta daferventiada caía do Cabido , & Cartorio da
Igreja.
j unto da porta do Cabido eílá huma Capella de abôbeda, da invocação de
S- Braz, annexa ao Morgado, que inílituío Alvaro Gonçalves de Frei tas. Jun-
to a eíla Càpella,&encoílada à fua parede eílà hum Altar de S. André, aonde
Os Cónegos faõ obrigados a rezar as Speciofas de Gonçalo Romeu , que faõ
♦ - cin-
DA COROGRAFIÀ PORTUGUEZA. j|
eincoenta & oito, que começãode dia de Pafcoa da Refurreição, & acabao vef-
pora da S ant íílima Trindade ; & ju nto a eík Altaf edà huma porta > que fahe
dede clauftro para a rua doPodigo.
Dentro da Igreja no feu cruzeiro edao duas portas, huma para o Sul, que
he a ferventia da Sancriftiada Irmandade do jSantiflimo,& outra para o Norte,
que he a fahida para o claudro, & cafa dos Priores, & para hum corredor para
aSancriítiados Conegos, a qual he muito alegre, &beitt ornada, & a faz mais
viftofa huma Capella, que neila fe feznoànno de 1686.em que edáhuifiaima-
gem de pincel da Virgem Senhora noifa, que no tempo delRey Dom Diniz foy
levada à Igreja de Guinvaraens, a qualíe manifefta'huma vez no annóem dia de
P aícoa: entra o Cabido depois de ter rezado Noa na fua Sancridia cõ os mais
Clérigos daferventia do feuCoro, & em prociífaõ com Cruz levantada can-
tando a Antifona Regina Geli, &c. trazem a fanta Imagem à Igreja com grande
muíica, & repiques de finos, aonde lhe tem adornado hum Altar, & alli Vão oS
Capitulares por fua antiguidade fazerlhe reverencia, & depoi s vay o povo, que
por devoção antiga que tem, fe acha muito naquelle dia,&naquelle lugar edá
por toda a Oitava, & dia de Pafcoela depois de vefpora a recolhem na dita Ca.
pcllacom a mefma folemnidadc.
Da tradição defta fanta Imagem tratahum pergaminho pequeno , que fe
guarda no A rchivo da Real Collegiada , de q ue conda que hum Payo Domin -
gues Prior de Guimaraens, & Deão de Évora fora a Roma, & a trouxera de lá,
& a puzera neda Igreja, Òc mandara ao feu procurador no temporal, que a todo *
o Çonego, que dia de Pafcoa ante a Vcfperafoífe à Igreja com fobrepelliz deA
pois dc le tanger hum fino acantar Regina Cali , & a Salve Regina diante da
fanta Imagem, lhe deífem quatro foldos; & a todo o Sacerdote, que vieífe de fo-
ra, na melmaforma deífedous foldos;& a todoo Diácono,& Subdiacono hum
foldo; & a todo o Melachino feis dinheiros. Fov feita em 14. de Mayo do an-
no do Senhor de 12 9 5. Edaçocap. 40- n.4.
Também neda Capella da Sancridia fe venera com muita devoção huma
cabeça fanta, que o delcuidodos Antigos nos não deixou nomeado de quem
fofle; fómente fabemos que he muy vifitada de gente mordida de cães dana-
dos ; & a ella vem benzer pados para os gados; & não fe tem ouvido, que de
todas as peífoas, que a ella tem vindo, morrefle alguma daquelle mal. Quando
ElRey Dom joão o Primeiro foy mordido na quinta doCurbal da cadeila da-
nada, logo veyo a viíitar Santa Maria de Guimaraens, prometendolhe de fe pe-
zar a prata, &. darlha deefmola, fe o livrafle daquelle grande mal ; & pode fef
foífe lembrança de que naquella fua Igreja edava eda fanta cabeça , porque
delia não ha outra memoria fenão do inventario, que fe guarda no Arcnivo da
Real Collegiada,feito no anno de 15-27. que diz edaà palavras:^?# outra arca
de marfil chapeada de arame dourado, aonde ejlá a cabeça de hum Santo, que prefta
para mordeduras-de cacs danados-
Em huma memoria antiga efcritá pelo Conego Pedro de Mefquita^rebc-
dado na Real Collegiada de Guimaraens , fallando deda cabeça fanta diz
o feguinte: Houve hum homem virtuofo,qtte viveona freguefta de R'tllacdva jttrr-
toaLixa Concelho de Felgueiras da Comarca de GuimaPaes ,q floreceo pelos annos
do Senhor de 1480. por cujas oraçoens no(lo Senhor dava faude a homens , & ani-
mães mordidos de cais danados & depois que elle mOrreo, & foy enterrado, os de-
votos do lugar trouxer ao afua cabeça a Guimaraens a caja de hum Ourives chamat
do Pedro Alvarez, que foy avo do Conego Manoel daSylva,& de feu irmaS *Dtogo

\
3i TOMO PRIMEIRO
da S)lva,o qual Ourives tirou da cabeça os queixos de baixo,& engafloaàos em pra-
ta à fita cujla, os deu aos devottts, que a trazião, por lhe deixarem a demais cabeça, a
qual guardou em fua caja, aonde os doentes a hiao tocar, & recebiap (ande } & por
fua morte a mandou trazer para a Igreja de N. Senhora da Oliveira, aonde ao pre-
fente ejlá na JuaSãcriftia guarnecida de prata,& metida em híia cai* a de marfim
tem virtude para Jar ar os mordidos de caés danados, & para outras muitas enfer-
midades. E não diz mais a dita memoria, queeílá em poder do Conego Fernão
Machado em livro delias manu-eícrito-
Muito authoriza , & engrandece aeflaSancriftia hum retabolo de prata
dourado do Prefepio de N. Senhor Jeíu Chriílo, que ElRey Dom João o Primei-
ro deu de cfmola a N- Senhora , em gratificação da batalha , que venceonos
campos de Aljubarrota contra ElRey Doin João o Primeiro deCaflella, aqug
nella foy tomado com mais doze Anjos de prata da fua Capella Real,& outras
peças de fua recamara. Dos doze Anjos íe desfizerão onze em caíliçaes , cal-
deiras,hylope, turibulo,&naveta,& outras coufas para a lerventia deíla Igre-
ja, & o que ficou ferve de ir debaixo do palio naprocifíaõ do Anjo , que a ,
Camara faz na terceira Dominga de Julho. Todos eíles Anjos tinhão hum le-
treiro, que dizia : Eft a obra mandou fazer et noble fenhor Rey'Dom Henrique:!!*
todos erão do mefmo feitio dos vultos dourados, & efmaltedas imagens que
tem o retabolo, & tudo obrado com todo o primor da arte , o qual fe poem no
Altar mór em dia da feílado Nafcimento de N- Senhor Jefu Chriílo , & de
N. Senhora, & nelle aífiíle atè o dia oitavo d? Epiphania , em que fe-torna a re-
colher ao feu lugar, & delle não torna a fahir íenão em outro tal dia.
Diz Eílaço no capitulo 48. n. j. que eile retabolo fe fizera de prata, a que
fe pezou E lRey Dom Joaõ o Primeiro, &. deu de efmola a N. Senhora , no que
recebeo notável engano,que devia proceder de ver nelle efmaltadas as Armas
deílcRey, que os Conegosda Real Collegiada mandàrão nelle illuminar pa-
ra final, que ficaífe aos vindouros, que fora dadiva fua ; no que andàrãomal I
aconfelhados;porquafe nifíòmoilràrão amerce, que o Rev lh es fez, efcurecè-
rão a gloria, ccfn que foy alli trazido 5 & fé tile Author conferira o Anjo , de
que trata no mefmo capitulo num. 5. & diz fora tomado na mefma batalha, não
houvera de manifeílaraomundoofeu engano; & juntamente quando confefía
que era da Capella Real de Caílella 5 porque he certo que ElRey Dom João o
Primeiro de Caílella não havia de trazer em fua companhia os Anjos, que nella
fervião de ceriaes, fem trazer o retabolo, a que elles allumiavão.,
Com grandifiima devoção fe venerãono Santuário deíla Sancriília as
relíquias fantas, que nelle eílão encerradas, que faõ as feguintes: o fanto Le-
nho em hum relicário de prata dourado, o leite de N. Senhora em huma am-
bula de criílal,huma maífaroca da mefma Senhora,hum tomozello do pé de Saõ
Torcato,as relíquias de Saõ Sebaílião,de Celeílino,Donato,Theodora, De-
fiderio, Clemência, Benediéla Martyres. Também eílão nefta Collegiada os
oífos de S Pedro Martyr,q trouxe a cila de Roma Dom Pedro de Soufa, Prior
daditaIgreja,SumilherdaCortinadelReyDomPedrooSegundo , os quaes
eílão em hum tumulo rico de vidraças engaílado em prata.
Depois de Eílaço tèrefcrito o feu livro de varias Antiguidades de Portu-
gal,em q deu diílinéta conta das coufas de Guimaraens, & muito particularmé-
.te da fua Igreja Collegiada, & de feu thefouro,accrefcèrão nelle muitas joyas,
& peças de ineftimavel valor, com que os devotos de N. Senhora oquizerão
mais engrandecer, como faõ oito tocheiras de prata , que pezão duzentos &
»• qua-


DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 3$
quarenta 8c tres marcos, com as Armas de Luis Alvarez deTavor'a, Conde de
São }cão daPefqueira, primeiro Marquez de Tavora , que fervindodejuiz
muitos annos na Confraria defta Senhora, fe mandàrão fazer com o dinheiro
de íuas efmolas, 8c de outros particulares, com feispiviteiros grandes muito
bem obrados, que pezão doze marcos, 8c tres onças-
Dom João da Sylva 8cSalzedo, natural da Fregiiezia de São Cláudio,ter-
mo de Guimaraens, 8c foldado da fortuna , que^jor feu valor íubio afer Go-
vernad or do Porto de Santa Mana daquelle Reyno, mandou a eíla Senhora húa
cadea deourode excellentiffimo feitio,8chumaCruzdomefmo,toda cuber-
ta de efmeraldas, que fe avaliàrão em feifcentos mil reis 5 8c inftitu ío naquella
Collegiada huma MiíTa quotidiana com efmola de feifcentos reis, para o que
mandou dinheiro, que fedèífe a razão de juro , oufe empregalfe em bens de
raiz, que rendeííem a mefma quantia;nomeando porCapellão delia a hú Clé-
rigo feu parente, 8c por mortedelle ficaria a adminiílração delia correndo por
conta da Irmandade de N- Senhora, para eleger Capellão, que a diga pela efmo-
la coíTumada, 8c o ifiais red ante ficaííe para aumento da Irmandade-
Temeílethefourohum caliz grande dourado com íeis campainhas, 8c cõ
fua patena dourada, & tem à roda feus capiteis na maçã, o qual deu o Chantre
daquella Collegiada Fernando Alvarez: peza oito marcos menos huma onça
de prata» /
Outro caliz dourado, que ferve nas MiíTas da Terça, que deu de efmola
Antonio Martins Penteado, com fua patena dourada, & tem no pê quatro Se-
rafins : peza tres marcos, 8c duas onças de prata-
Outro caliz de prata dourado com feus efmaltes no pè , & íeis 11a maçã
do meyo, 8c hum efmaltenomeyo da patena, com a figura daSanrifíima Trin-
dade, que peza cinco marcos & meyo, & he tradição que com elle dizia MiíTa
S- Torcato.
Hum gomil com fuas carrancas, & boca dourada, que peza fete marcos 8c
meyo8c hum prato de agua às mãos chão, dourado pelas molduras , que peza
fete marcos, 8c duas onças de prata, que tudo deu deelinola a N-Senhora o Co-
negojeronymo Martins ;8c dons mais, que pezão quatro marcos-
Huma Cruz grande de prata branca, toda aberta, 8c bem lavrada,que deu
oConegoGonçaleanes, que peza fetenta& hum marcos & meyo-
Huma Cruz de prata dourada, com a prizão de Chriílo, que peza trinta 8c
feis marcos. Outra Cruz de prata,que peza treze marcos, 8c vinte & quatro oi-
tavas, a qual eílá continuamente no Altar mor, para as MiíTas que nelle fe di-
zem-
Huma Cruz pequena de prata dourada com criftal no meyo, debaixo do
qual eftá o Santo Lenho , 8c a afpa direita he. do que havia antigo naquella
Igreja, & a que atraveíTa,hedo que Dom Fr- Agoflinho dejefus Arcebifpo de
Braga deu àquella Igreja, 8c não ferve eftaCrjaz , fenão no feu dia at resde
Mayo, & na fexta feira da Paixão de Chriílo: não conda o feu pezo do inven-
tario-
Huma arca de prata mociííà com as Armas dos Cunhas , que deu o Dom
Prior daquella CollegiadaRuy daCunha, a qual tem dentro muitas reliquias,
de que fe não fabe os Santos de que faõ> 8c outras, que trouxe de Roma o Aci-
prefte Fernão Gonçalves: tem de pezo vinte 8c fete marcos, 8c duas onças , 8c
ferve nas pròciíToens-
Huma cuftodiadotornozellodobemaventuradoSaòTorcato,que deuo
Dom
34 TOMO PRIMEIRO
Dom Prior Dom Diogo Lobo da Sylveira, a qual peza feis marcos.
Hum Caliz antigo, de que ha tradição, dizia MiíTa com elle Saõ Torca-
to^ o qual peza cinco marcos & tres onças: ferve de Relíquia,&não de ufo.
Huma maífa do Porteiro do Cabido com quatro cadeas de prata, & hum
Relicário de prata com a Imagem deN. Senhora , que tudo peza dezoito mar-
cos, & duas onças.
Seis cafliçaes grandes de prata lavrados, & em cada hum a Imagem de N.
. Senhora, que pezão cento & vinte & tres marcos; & mais feis caíiiçacs lizos,
& grandes, que pezão dezafeis marcos, & duas onças , que tem as Armas dos
Tavoras: dousmais domefmo tamanho fem as Armas , que pezão quatro
marcos,& fete onças.
Dezoito caííiçaes pequenos, que pezão vinte & nove marcos : & oito
mais do mefmo tamanho,que pezão dez marcos, & feis onças : & feis mais do
mefmo tamanho, que pezão quatro marcos,& tres onças.
Huma coroa de prata, que peza tres marcos: huma eftante, & hum Euan-
gelho de S. João com as Armas dos Tavoras, que peza tudo dezafete marcos ,
& fete onças.
Humas galhetas grandes com feu prato, que pezão quatro marcos,& feis
onças :& outras pequenas com prato , que pezão tres marcos, & duas on-
ças.
Quatro cetros, que pezão cincoenta & tres marcos, & huma vara , que
peza tres marcos, & feis onças :& quatro varas mais, que faõ da charola de
N- Senhora, que pezão vinte & tres marcos, & quatro onças: & hum bordão,
que a rcefma Senhora leva na Prociífaõ da Vifitação de Santa Ifabel, que peza
hum marco, & duas onças.
Onze cálices pequenos, em que entrão cinco dourados , que todos fa5
do ufo da Igreja, que pezão todos com fuas patenas trinta & tres marcos.
Tem outras peças miúdas, de que fe não tirou pezo, por ferem de ouro ,
aljôfares, & efmaltes, como faõ humas gargantilhas, hum afogador, huma joya
com dezafete botoens efmaltados guarnecidos de aljôfar , & cada hum peza
mil &fetecentos&'oitentareis. E continua o inventario defta Igreja, dizen-
do:
Hum Agnus Dei, que trouxe de Roma o Aciprefte Fernao Gonçalves, en-
gaftacío em pao , que ferve no Altar mor depois da Pafcoa.
Huns corporaes lavrados com fio de ouro, que forão delRey de Caftella,
& tem a fua effigie, & a da Rainha com coroas,& as fuas Ar mas,que fe tomarão
com o retabolo na batalha dc Aljubarrota, & os deu ElRey Dõ Joam o Primei-
ro com o mefmo retabolo.
Huma imagem deN. Senhora com feu bento Filho no collo, ambos de pra-
ta dourada fobre huma penha fermofa dourada, & efmaltada , que tem as Ar-
mas dos Pereiras, que tudo pezít dezafeis marcos, & quatro onças.
Huma imagem de S. Sebaftião de prata , que tem huma Cruz de ouro pe-
gada no pècõreliquia de S- Lourenço,q deu de efmólaa efta Igreja o Doutor
Balthefar Vieira, a qual peza dezafete marcos, & tres onças menos duas oita-
vas.
Huma Cuítodia grande de excellente feitio de prata dourada, & bem la-
vrada, que deu o Conego Gonçaleanes., q peza vinte & cinco marcos & meyo,
& duas oitavas. Outra Cuftodia de prata dourada, que ferve aos enfermos,que
peza nove marcos.
Hum
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. , 35
Hum turibulo de prata, que deu ElRey Dom Manoel deefmola a N- Se-
nhora, que peza fete marcos, & tres onças : outro turibulo de prata de obra
Romana, que peza nove marcos- Huma naveta de prata,que peza quatro mar-
cos, & feis onças,que deu ElRey Dom Manoel.
Dous lampadários, hum, one deu ElRey Dom João o Primeiro, que peza
fet l ta & tres marcos, duas onças & rríeya Oitava, que eftáfempre allumiando
a N - Senhora: & outro, que deu o Conego Luis Mendes , que peza cincoenta
& hum marco & meyo,&duas oitavas. ^
Outro lampadaflo, que também allumea a N- Senliora por obngaçao do
Morgado, que inftituío Dom Jorge da Guerra, Bifpo de Angola, que hoje ad-
miniftra Manoel Velho do Couto , o qual peza feífenta & hum marco & tres
oitavas, & foy dado pelo'mefmo Bifpô.

CAP. XI.
*

Em que fe profegue a defcrtpçao da Igreja de N. Senhora da Olivei-


ra , Qffe moHra que efia Real Collegiadafoy femprè imwe-
* diatà aos Summos Pontífices.

*T*Enho dado conta das coufas exteriores da igreja Collegiada deN- Se-
nhora ; agora a darey de feus Altares, & Capella mor, f qual tem de cada
lado huma de abobeda de pedra cõ as Armas delRey Dom João o Primeiro rios
fechos delias,& ambas damefmatraça, & architedura comos corpos pára o
clauftro , afGm como o tem a mefma Capella mór, com portas de arco\para a
Igreja, "uardadas com grades de ferro, que fechão todo o arco, & amba s azu-
lejadas : a da parte da Epiftolahe do Santiflimo, que o Conego Gonçaleanes or-
nou à fuacuÍTadefacrario, retabolo, Altar,imagens, & grades, que neila ef-
tão, & aunexou a hum vinculo,quê inftituío dás fuas herdades de Segade, & o
deixou a feu fobrinho João AfFonfo dos Quintos. _
Encoftada à parede defta Capella para a parte do Sul eftá a Capella de San-
ta Catherina Martyr, que inftituío Jo5o Lopes da Ramada, & annexou ao í eu
Morgado. 'He hoje Altar de Santa Anna , que fabricão feus Confrades."' Ní
parede da Igreja para o Sulfe abrio hum nicho, em que fe recolheo a pia, aonde
foy bautizado ElRey Dom AffonfoHenriques,& eftá fechada com grades de
ferro, com letreiro, que diz: Neftapiafoy bautizado ElRey'Dom Affonfo IJe-
' ' naves pelo Jrcebifpo de Braça S Giraldo: &nofrizo do nicho outro, que diz :
Efla obra mandou fazer Dom D togo Lobo da Sylveira, indigno Pr.or desfa Igre-
ja) no atino do Senhor de 1664,.
Abaixo defte nicho na mefma parede eft á a Capella de N• Senhora da ConJ
ceiçáo annexa ao Morgado deNefpereira, que inftituío PedroCardo 1 o o Ve-
lho aonde tem feu jazigo: tem Altar privilegiado por Breve do Papa para Mif-
lás de corpo prefente ditas pelos Conègòs,& não por oiitro qualquer Sacer-
dote 5 fccha-1 e efta Capella com huma grade de ferro, & tem por remate hum
efeudo de ferro, & nelle illufninadas as Armas dos Cardofos: abaixo dexla eíta
a porta traveífa, que vay para o clauftro-
.A outra Capella, que eftá da parte do Euangelho da Capella mór , he da
$6 TOMO PRIMEIRO
mefma architetflura da do Santilíimo,& tem a image de N.Selihor crucificado:
foy dada pelo fenhor Dom Duarte da fereniflima Caía de Bragança ao Conego
daquella CollegiadaFrancifco de Mefquita, que annexou ahum Morgado , q
inífituío naquella Villa , a quem também annexou os feus terços Brites Men-
des de Carvalho, mulher do Doutor Fernão de Mefquitâ, com obrigaçam de
quatro MiíTas fomanarias t he toda fechada com grades de ferro , Sc
no remate delias em efcudodomefmo illuminadas as Armas dos Mefquitas.
Encoílado à parede deíla Capella junto à porta, que vay para a Sancriíl ia,
eíl á o Altar do El pinto Santo, quefabricão feus Confrades, de que faõ fempre
juizesos Mmiílros de Juíliça, que fervem naquella Villa. Abaixo da porta ,
que vay para a Sãcriília,no lado da parede da parte do Euangelho fe âbr io hum
arco de pedra para a Capella de Saõ Nicoláo Bifpo, que inílituírão os Eíl udàn-
tes daquella V ilia, Sc a fabricão por lua Confraria: he toda azulejada de abobe-
da de pedra apainelada cem o corpo fora das paredes ,&no frizo do arco hum
letreiro, que diz '..Ella Capella.mandàraô Jazer os Eíludantes deft a Cilia no anno
do Sei horde i66j. abaixo delia eftá a porta "traveíTa deft a Igreja, que vay para
o Norte , & tem a fua ferventiã para a Praça. A entrada da porta principal da
Igreja à mão efquerdâ, entre ella,& aporta da Capella dos Pinheiros da torre
dos finos, eílá a pia Bautifmal fechada com grades pintadas, Sc douradas.
A Capella mor, que antigamente tinha eíla Igreja, antes da que hoje tem,
fov fagrada por Dom João Bifpo de Coimbra, por mandado delRey Dom j oão
o Primeiro, com licença de Dom Martinho de Miranda Arcebifpo de Braga,
que eílá fepultado na Igreja de S- Chriílovão de Lisboa, a que eiteve prefente
Dom João Manrique Arcebifoo de Santiago, & Dom Rodrigo Bifpo de Ciudad
Rodrigo, Sc afiiftírão a eíla íolenidade o mcfmo Rey J & a Rainha fua mulher
Dona Filippa de Alencaíire, Sc feus filhos o Infante Dom Duarte, Dom Pedro,
Dom Henrique, Sc Dom Aífonfo-; & foy celebrada a 2 5. de janeiro do anno de
Chriílodc 14.00. Cuarda-fe a cartadcílafagraçãono Archivodo Cabido ,na
qualfevè affinado ]oão Bifpo de Coimbra.
Depois depaífar hum anno fcfagrou o'corpo da Igreja àos mefmos 23.
dias de janeiro por mandado do dito Rey Dom João o Primeiro , & de fua
mulher Dona F ííippa de Alencaíire. Sagrou-a o Bifpo -do Porto Dom João de
Azambuja, o qual foy Arcebifpo de Lisboa, & Cardeal da Sãta Igreja Romana,
com o titulo de São Pedro ad Vincula, & vindo para eíle Revno taleceo na V il-
ia de Burguez do Condado de Flandes em 13. de Janeiro do annO'deChriilo
de 141 f. & fofão tresladados feus oífos para o Coro de cima do Moíleiro do
Salvador de Lisboa de Reli giofas Dominicas, de que foy fundador.
A Igreja de S. Miguel, Parochia da Villa Velha,eraimmediata a© Papa; Sc
eílamcfma creaçao oblervou o Moíleiro de Santa Maria, fundação daConde-
ça Mumadona, aífim fendo de Monges, & Monjas, como depois que o Conde
Dom Henrique aífentou naquella Villa fua Corte, & a inílituío em fua Capella
Real, aprefentando nella Priores, & neíla poífc a confervou fempre (depois de
fua morte) a Rainha Dona Therefa fua mulher, Sc o Infante Dom Affonfo Hen-
riques feu filho antes, & depois que foy Rey , como também feu filho F.lRey
Dom Sancho: Sc em fuas vidas teve eíla Igreja a voz, Sc titulo de fua Capella
Real, como ainda tem, Sc com elle fempre foy venerada, fem reconhecerem em
alguma maneira por fuperiores aos Arcebifpos de Braga, por ferem immedia-
tas ao Papa, porque no tempo dos Monges, Sc Monjas os Abbades vifitavão a
fua Igreja, & depois que ellapaffou a Priores, & no tempo delRey Dõ Sancho
DA COROGRAEIA PORTUGUEZA. pi
4 efta Villa fe achava com mais a Igreja Parochial de Saõ Payo. Ficarão cites
ufando damefma jurifdtção, como Prelados ordinários dos Conegos ^ Por-
cionarios, & Clérigos, & dos feus freguezes. & fuas annexas, fazendo as vifi-.-
tas das ditas Igrejas , como Prelados ieus , iem fe entremearem nelias os
Arcebifpos de Braga, o que bem notoii o Arcebifpo SaõGiraldoS admirandoib
da juriíEçãodos Prelados defia Igreja fer independente da fuá : mas comtu-
do nada fez contraella. -Ertaço cap. z y.n 3. r. j' i »
O mefmo fez o Arcebifpo de Braga Dom Mauricio leu fucceffor , o qual
efiando de poffe do Arcebifpado pelos annos do Senhor de 1 u r & fendo muy
zelofo das jurifdiçoens, nunca oufou perturbar aos Pf iores de Guimaraens da
que ufavão na fua Igreja,&fuas annexas. A Dom Mauricio fuccedeo O Arce-;
bifpo D- Payo Medo no anno do Senhor 1118 - que faleceo no de 1 ify fem
obrar coufa alguma contra a jurifdição dos priores; & o mefmo fez Dom João
o Primeiro, q lhe fuccedeo no anno do Senhor de 1139.& morreo no de 1173.
o qualfoy Legado Apoftolico, como diz Mariana iiv- 10. cap. 14.. & contem-
porâneo delRev Dom Affonfo Henriques, que com elle aifinou a doação , que
cite Rey fez aos Religiofos de Santo Agoftinho do Morteiro de S. Torcato.
Se°uio-fe ao Arcebifpo Dom João o Primeiro o Beato Godinho no ánno
do Sei hor de 117 y- que morreo no de 11S8. a quemfe fe^uioDom Martinho
Segundo no anno 1188-& faleceo no de iziq.de quem fe faz menção em hua
doação, que ElRey Dom Sancho fez do cafal de Moucos na Freguezia de Saõ
Miguel de Creixomil termo de Guimaraens, a Gonçalo Pires , em que afíinou
eíieArcebifpo , que eílà no Tombo dos Reguengos, & no Livro dos Privilé-
gios de N. Senhora foi. s6. Por morte defte Arcebifpo Dom Martinho Segu-
do entrou no mefmo anno de 1219- Dom Pedro I erceiro, que íloreceo até o
de 11 z 7 • fem haver entre todos elles, & os Priores de Guimaraens diíTenfam,
nem controverfia alguma contra a confervação de fua jprifdição, q quando não
foífe nacido de fua boa condição, por fe contentarem com o fcu, feria por ref-
peito,ou medo de feus Revs, que tinhao fua Cortenaquella Villa.
Para ElRey bom Affonfo Henriques conquiftar melhor as terras da
Ertremadura, & Alentejo, que os Mouros occupavão, mudou a fua Corte pa-
ra a Cidade de Coimbra, lev ando comfigo aos Vimarinenfes, de quem muito
fe fiava ;& com a fua aufencia ficou a fua Igreja, & Capella Real de Guimarães
defemparada do feu favor, & os Arcebifpos de Braga com oufadia para a molef-
tarem,&conquiftarem por armas, para fe fazerem Prelados delia, como o fez
Dom Eftevaõ Soares da Sylva, q 14c fendo provido no A rcebiípado de Braga por
falecimento do Arcebifpo Dom Pedro o Quinto do nome , acometeo aquella
Igreja com muita gente, que o feguioj & o Prior, Conegos, & mais Clérigos fe
defenderão com armas, & houve de ambas as partes algumas mortes,& danos ,
nas fazendas. Reynavanefte tempo em Portugal Dom Affonfo o Segundo, &
era SummoPontificeInnocencioTerceiro,que interpondo fua authoridade,
cõmetteo a caufa a dous Arcediagos para a decidirem,que foy o Arcediago de
C,amora,& o de Artorga,os quaes fizerão entre ertas partes huma Cõcordata,
que confirmou o Papa Honorio, em quefcafíentouofeguinte: Que os Priores
fofiern Prelados ordinários da Igreja de Guimaraens, & tive fiem jurifdiçam nos
Beneficiados, & Clérigos delia, como a tem os Bifpos & fomente reconhecerem aos
Jrcebtipos de Braga como Metropolitanos-, masque nam pude fem os Priores co-
nhecer dos caf os que por direito merecerem depofiçam,ou [ufpenfao perpetua p & que
em tudo o maisjofiem os Priores como Bijpos fttffraganeos,tendo nos feus Conegos,<r

* W
J8 ./.S3W TOMO PRIMEIRO- o D Ail
'poròoiiarios aqttellajurifdiqad, qift q->duutr Bi(po tem m* pus, & maÇuA VioceÇe
atjval Concordat*foy celebrada no anno do Senhor de liió.&.to »fornada pela fan•
tá Se /JpoJttíUca. ; < j -.caBiii - ò . -O i- ■
<!Q r Eftandoatfi m correndo a Airifdiçãc >dcík Igrojaymapdou o Papa Gregorio
JX.sDO anno do Senhor dfcTi* ->• a João Rrfpo, Sc Carded Sabiifenfo, Legado à
Latcreya Efpsnfaáa tratar hegocios de muita importância , como diz joão de
Mariana na foa Hiftoria parte primeira liv.ti. c- ^.^.qtiaLDekgado veyo.a
Guifi.&racns ,ôcvifitou AporfStolicamcnteafua Collegíada, Prior, Dignidades ,
Beneficiados) & Clérigos delh,& entre outras coulas.de importância, que or?
denouna fuavífitMoy, mandar pòr authoridade ApodMica, qucos Conegos,
6cmaisBeneficiadosdaquella IgrejativeítemporfeitQrdinario àoPrior delia,
& lhe obedeceffem em tudo^onfirmando outra vez a Concordata referida, d a
qual faz menção na fua vifita, que fe conferva no Cartório da dita'Igrcja, & foy>
lançada na Torre do To mbo deík Rey no, por fer coufa notável; & a fiim o Prior
da quel la Igreja ficou confirmado por Prelado ordinário delia, & de feus Bene?
ficiados, & Clérigos , fendo Rey de Portugal Dom Sancho o Sçgtindo do no- I
me» ' -1'' ■
Logràrão cfla paz, & concórdia os Priores,& feu Cabido muitos annos,
reconhecendofemente aos Arctbifpos de Braga na juriídição Metropolitana
nos cafos de appellação como feus fuitiíaganecs 5 & íc alguma hora os Arcebif-
posvifitavão adita Igreja, eta, como Metropolitanos, quando vifitavão a lua
Província, & feus fuftragancos do Porro,iCoimbra ,• & Vifcu, depois de te-
rem viíitado todo o feu Avcebifpado. Correndo depois o tempo , alguns Ar?
cebifpos de Braga perttndcrão v ditar cila Igreja, não corno Metropolitanos,
fenão como Prelados ordinários, achando, que por eílar tam vifinha à Cidade
de Braga, desfazia na fua jurifdiçãonãofervifitada por ellcs;oque não pude-
rão acabar, por fer contra a pofíc immemor.al, privilegio, concordata, confir-
mação, &vifítaçãode mandado da Santa Sè Apoífolica, como fica dko.
Succedeo fer provido no Arccbifpado de Braga o fenhor Infante Dom
1
Henrique, (q depois foy Rey ckde Reyno) o qual cõ poder ileal entrou na Villa
de Guimaracns, & por força, a que le não pode refill ir, vifitou âquella Igreja : o
Prior, Dignidades, & mais Beneficiados refiíHraõ appellando, ôt aufentando-
fe da dita Villa; lua appellação foy devoluta à Sè Apoítolica , de que impetrà-
raõ referiptos para juizes, que conhecèraõ da caufa inhibindo , & citando as

5 1
Renunciou o fenhor Infante o Arccbifpqdo, em que tinha entrndó, 110 an-
uo de 15 2*. &nellerefidioatè ode 1540. & lhe fuccedeo Dom Diogo da Syl-
va ntíle anno de 1540. & no í 5-4.1- falecco,& fe lhe feguio o fenhor Dõ Duarte,
filhodelRey Dom Joaõ oTerceiro,no annode 1541. que faleceo no de 15-43-
a quem fuccedeo Dom Manoel de Soufa no mefmo anno de 1543. & nenhum
delles oufou vifitar a dita Igreja, aífim por não perturbarem a fua jurifdição,
como pela caufá de appellação correr no juizo Apoífohco.
Por falecimento de Dom Manoel de Soufa fuccedeo na Mitra Archiepif-
copal de Braga Dom Balthefar Limpo, pelos annos de tf o. que por fer muito
privado delRey,&mimofo do Cardeal Infante Dom Henrique,entrou cõ mão '
armada na Villa de Guimaraens. O Prior, Conegos, & Beneficiados fechàrão.
as pdrtas da fua Igreja,& porque nam podiaõ refiílir com armas cõtra tanto po-
der, como traziaoArcebifpo, lhe mandou quebrar as portas da Igreja , & do
Sacrário, & maisofficinas; ao,que acudio o Prior por Procurador com as ínhi-
, * bitorias
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. 39
bitorias paliadas, & novas appellaçoens, em que debaterão tanto tempo, que o
Cardeal Infante os ajuíiou,& portais apontamentos por elle aífinados > que
fe confervão no Cartório da dita ígreja,íe fez nova Concordata entre os Arce-
bifpos, Prior, Conegos, & mais Beneficiados daqueila Igreja, íía qual fe aífctou
o feguinte.
Que os Arcebifpos de Braga pudeífem peíToalmcnte, & não por peíToa al-
guma Vffitar nostempos determinados por direito a Igreja Matriz Collegiada
da dita Víilade Guimaraens, & quat ro Igrejas filiaes fuas no temporal, & efpi-
ritual,aífim, & da maneira q podem vifitar as Igrejas do feu Arcebilpado: & que
pudeífem dcfpachar as culpas dos Conegos, & Beneficiados da dita Igreja, que
11a vifita fe achaífem, quando ellas fe pudeífem defpachar fummariamcnte; por-
que então logo as remeterião ao Dom Prior, como Prelado ordinário, & juiz
dos ditos Conegos, & Beneficiados os quaes as determinarião conforme ao
direito, dando appellação,&aggravo para ante os ditos Arcebifpos , como
Metropolitanos 5 & fendo cafo que os ditos Arcebifpos não foíTem peífoalmen-
te vifitar aquella Villa nos tempos inílituidos por direito, não pudeífem man-
dar V ditadores a vifitar a dita Igreja Matriz, ne ao Prior, nem aos Conegos,
& jkneficiados delia no efpiritual, nem no temporal ; nem os taes Vilitadores
pudeífem contender em coufa alguma, que tocaífe âdita Igreja Matriz.
Ella Concordata foy celebrada em Lisboa no anno de isf?- aos 3. de
Julho: por ella ficàrão os Arcebifpos de Braga Vifítadores ordinários da Col-
legiada de Guimaraens, & dos Priores, & Beneficiados delia , quando vieífem
peífoalmente vifitala, & das quatro Igrejas filiaes 5 & os Priores ficãraõ perden-
do a vifitação ordinária das ditas Igrejas, que dantes tinhão, & a vifita de todos
os anitos, fem os Arcebifpos terem para iífo direito, nem poífe, que fe não con*
tradiífeífe.
Aífentou-fe mais neíla Concordata, que não fazendo os Arcebifpos pef-
foalmente a vifita nas ditas Igrejas nos tempos determinados por direito, â vi-
fita da dita Collegiada, aífim no temporal, como no efpiritual, ficaífe devoluta
ao Dom Prior, que vifitaífe a dita Igreja , aífim co'mo os Arcebifpos a podião
vifitar,fe peífoalmente a ella foífem.
Do relatado femoftra que os Arcebifpos de Braga não faõ Prelados ordi-
nários da Igreja de Guimaraens, mas fó podem vifitar pellbalmente como Vili-
tadores, & não como ordinários; &. quando elles o não fazem peíToalmente , a
vifita ordmaria he dos Priores daqueila Igreja, & não dos Arcebifpos , & íeus
Vditadores, que de nada podem conhecer, que toque à dita Igreja no temporal,
& efpiritual, que tudo pertence por direito , & não por cõmiílaõ alguma aos
Priores. Emais propriamente fc pode dizer que os Arcebifpos faõ Vifítado-
res dos Priores; porque quando elles vem peífoalmente vifitar , & acabão fua
vifita, mandão entregar aos Priores as culpas, que delia refultão,de feus fubdi-
tos, paraqueellesasfentenceem,&lhedemappellação,& aggravo ; pelo que
diífe num Prior ahum Arcebifpo •. VoíTa Senhoriahe meu Vifitador neíla Igre-
ja, & eu Prelado delia. He vprdade, que os Priores recebem o «itulo de fua cõ-
firmai, ão da mão dos Arcebifpos de Braga , & por eíie refpeito no que toca a
fuas peífoas não tem izençào, & os Arcebifpos conhecem de fuas caufas : mas
nem por ella depende a jurifdição dos Priores, nem fe deriva , nem participa
por mod o algum da jur iídição dos A rcebifpos, & todas lhe pertencem por di-
reito ao feu Priorado; do qual tanto que tomãcpoífe, logo ficão ordinários, &
fuff raganeos, como faõ os Bifpos do Porto,Coirtibra, Vifeu,& Miranda.
D ij Deíh
v
40 TOMO PRIMEIRO
Deíla maneira he que 09 Arcebifpos de Braga recebem as letras do leu Ar-
cebifpado , & provifaô dellc da mão dos Summos Pontífices ; &; tanto que
tornão poffe de feu Arcebifpado, uíaõ da jurifdição fecular, que eftà annexa a
elle, aflim da Cidade de Braga, como de doze Villas,& lugares, que faõ annexos
ao Arcebifpado: a qual jurifdição fecular nam depende, nem fe deriva da Santa
Sè Apoítolica direitamente, mas he Real; derivada comode fonte, da que tem
cs Rey s de Portugal, que lha concederão por íuas cartas 5 ót para elles, & para
feus Tribunàes vão as appellaçoens, que nos cafos cabem, &. nam para a Sànta
Sé Apoftolica. Iítomefmofemoítra claro nas jurifdiçoens annexas aos Eíta-
dos, & dignidades, que não dependem dos confirmadores,fenão do direito ra-
dicado neiles: do qualufaõoDeaõ, Chantre, Meílre-efcola, Aciprefle de Val-
devez, Arcediagos do Couto, de BarrofoJ de Bermòim, de Neiva, de Labruja,
& de Villanova cie Cerveira; os quaes todos faõ confirmados pelos Arcebifpos
de Braga, & faõ Vi fitadores ordinários das terras, povos , & Freguefías dos
deílri&os de luas Dignidades , fem ter dependência alguma a fua jurifdiçam
dos Arcebifpos de Braga: & o mefmo fe moíira nas Dignidades , & Cabido da
Villa de Valença do Minho, que faõ Vifitadores ordinários cte muitas Igrejas
do Arcebifpado de Braga.
De tudoo aflima apontado fe moíira , que o Priôrado de Guimaraens he
Beneficio Curado,como faõos Bifpados; porque feus Priores faõ Prelados or-
dinários, Cabeças, & Paíiores das Dignidades, Conegos, & Porcionarios da
dita Igreja: conhecem de íuas eonfiífoens no efpiritual, cenfuras, & culpas, &
delles depende o governo da Igreja, como cabeças delia : &os ditos Priores
faõ obrigados a refidir na fua Igreja, para conhecerem de fuãs ovelhas, de que
ftõ verdadeiros Paíiores, & Prelados ordinários com jurifdição efpiritual, &
contenciofa, com Tribunal de Vigário Geral, Efcrivaõ,Meirinho, & Miniltros
de juítiça.
Nam paràrão ainda aqui as inítancias dos Arcebifpos deBraga em querer
tirar de todo àCollegiada de Guimaraens a pouca jurildiçaõ , que lhe tinha fi-
cado da muita, que unhão ôs feus Priores ; porque entrando por Arccbifpo
Dom Affonfo F urtado de Mendoça no anno de 1619- mandou no de 16 2 i. o
feuBifpo de Annel cõmuitos Officiaes de juíliça Ecclefíaílica,para vifitar a-
quella Collegiada, & fuas Igre jas filiaes. Entrou o Bifpo , & mandou aífentar
fua Mefa de vifita ; foy o Cabido, & Camara a fazerlhe feus requerimentos ,
cada hum pela parte que lhe tocava, os Conegos pela jurifdição de fua Igreja,&
a Camara pela jurifdição Real. Não queria o Bifpo ceder da diligencia,que lhe
fora encomendada,& por meyo de eXcõmunhoens per tendi a atalhar os reque-
rimentos, de que huns, & outros áppeUando lhe levantàrão a mefa da vi fita, &
o Bifpo fe levantou, mas não defenganado; porque deíla Igreja fe foy à de Saõ
Sebaílião, huma das filiaes da Collegiada, aonde mandou per mefa, & acompa-
nhado de feus Officiaes, & de outra mais gente, que trazia em fua companhia,
quiz dar principio à fua vifita naquelle lugar , aonde a Camará foy continuar
com feus requerimentos, que de fua parte forão muitos , & da outra as cenfu-
ras, de que os Vereadores, & OfficiaeS da Camara appellàrão , & jâ com pala-
vras mal foantes lhe derrubarão as mefas por terra.
Quiz o Bifpo moífrar ao feu Prelado o quanto defejava fazerlhe ogoflo,
&profeguindo o feu intento, mandou levantar mefa na Igreja dasFreyras de
Santa Clara, & acompanhado d*e feus Officiaes, & gente, quiz continuar fua vi-
fita, ao que tornou a acudir a Camara, & povo , & fiem outros requerimentos
r • lhe
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 4t
lhe quebrarão a mefa, fobte que houvera de haver huma grande revolta , por-
que de huma, & outra par te houve armas; ficfuppoftoeitiveffem alguns natu-
res da mefma Villa, a quem o Arcebifpo tinha com promeíTas obrigados a fa-
vorecerem o feu intento, comtudo huns, & outros achàrao de melhor partido
fugirem para Braga. Refultou difto, que fendo o ArcebifpoDom Affonfo F ur-
tado de Mendoca promovido ao Arcebifpado cie Lisboa no anno de 1617- ft-
voreceo tanto aos Vereadores , que tam bem fouberam defender a u-
rifdição, & regalia de fua tetra, & a delRcy, queosfez fer /ereadores feis a ^
nos, louvandolhes muito por fuas cartas a íua acçao, & nos íeus particulares
lhes moftrou que a approvàra,nam lhe faltando em lhes fazer munas honras,
como cada hum delles experimentou em íeus requerimentos no tempo, em qt e
efte Arcebifpo governou efte Reyno. a .
Das duvidas,que houve fobre efta vilíta com a Camara , & o Arcebifpq,
procedeo o Decreto delRey Dom Filippe, de que o teor he o feguintc- E»E.-
Rey faço (aber a vos Licíciado ManoelMõtez Godinho Fr ovedor da to*ar ca da Villa
de GuLaraens, que tanto que efte vos for apre fintado, notifiqueis da minha fartep
Officiaes da Camara de fia Villa,que na forma do/agrado Concilio Tpepno^Co-
cordata feita com os Arcebiffos de Braga, deixem vi fitar ao Arceh/fo <Dom/fifort-
fo Furtado de Mendoça,do meu Confelho de bfiadojerft a peJSoaa Igreja deitada
de N Senhor a da Oliveira da dita Villa-,& f as mais Igrejas delta dnxcmvijitar ao
dito Arcebifpo ,oh porfi, ou por feus Vifit adores, Jem lheforem a ifjo ouvida, cu im-
pedimento ahum; por quanto o hey ajjim por/erviçode cDeos,& me*, pa, a que cefj

tentico ao dito Arcebifpo-, &eíteíe cumprira corno [efoje Carta feita em meu, nome
pZZlA/a, & ih A fr minha Cha
ZZiâfidasòfieCçoemlmconirario Manoel de Fana a ,roem MM a 6
de lunho de 1611 E eu Francxfco Pereira de Betancor afiz efcrevei Rhl.
Ao dcíáL ioto de Junho do anno de . 67 <• entrou por Arcebifpo de Bra-
ga Dom Vcnfíimo de Alencaftre,(que fov Cardeal da Santa Igreja Romana, Sc
WtdorGernl)
mRe/S^SdeN.SenhoramCapeUadeS.NtolaoBif^;&msrregm-

fias de S. Payo,& S. Sebaftião fe puzerão outras n]fab.P/raL^ da


continuando a viíita delias no mefmotcpo, emq elle \i ita a « &
Collegiada, & eflando emmeya vifita fingiohumaaufencia aOdadedeB &a,
deixando por ordem aos feus Vifitadores foífem continuan -jufercia
tas ; ooue fez mai s )*ira experimentar fe o povo confentia queemfua aufetxia
elles fkaíTem vifítando, 'do que obrigado de negocio particular- Maspomo
quelle povo he tam attento à regalia da fua terra, tanto que o Arcebifpo ícpoz
fora daquella Villa,no mefmo inftante mandou a Camara
dores* que tinha deixado, que paraffem com fua viíit ,<q de huma í
gar. Sobre afli mo fazerem, ou ião,.houve vários
outra parte, em que prevalecerão os do povo,que ju Quieto lhes fazia temer
algum tumulto; com que pararão com a vifita , ate o leu rcL

^ Depois do Cardeal Sabinenfe Dom João a juftar a Concordatacomos Ar-


cebifpos de Braga, & os Priores de Cuunaracns, como atrnz diífcmos, toy o ^
/

4* TOMO PRIMEIRO
tro àqueila Vilia para vifitar a fua Real Ccllegiada , & por em melhor ordem
luascoufascomauthoridade Apcílolica,&nellaelíeve,&viíítou peffoalmen-
te aquella Igreja, & decretou o modo,& ordem dos Officios divinos , & as dif- I<
tribuiçoens das Horas Canónicas , não cbftante que naquelle tempo erão os
Conegos Regulares, como fe entende dà Carta de fua vifitação, que fe guarda
no feu Archivo:& mais ordenou que os Priores puzeífem Curas naquella Igre-
ja,de que refultou pedirem elles ao Papa,que lhes conccdeífe a primeira Cone-
zia que vagaífe, para fe repartir por dous Curas daquella Igreja ; o que affim
lhes fov concedido, & os Curas poftos, &; aprefentados pelos Priores.
Ordenou mais efle Delegado, quefeaprefentaífe naquella Real Collegia-
da hum Mcíhre de Gramatica , & que para íflo fepediífe a Sua Santidade a pri-
meira Conezia que vagaífe, & em quanto a não houveífe, fe tiraífe de todas as
Prebendas huma porção de-certos cruzados para hum Leitor de Grãmatica;
deque refultou haver hoje naquella Real Collegiada a Conezia Magilhral, que
por não fe occupar a ler Theòlogia Moral,dá huma cerra porção aos Religiofos
de S* Domineos para a irem lerá Capella deS. Pedro, ficuada no clauítro da-
quella Real dollegiada 5 que he tarn antigo nefla Villa o eíludo dâ lingua Lati-
na, que precede em tempos às Efcolas de Lisboa> & Coimbra; o que íuccedeo
em tempo delRey Dom Sancho o Segundo.

CAP. XII.
* *
DorprrviUgics,iyençoens, & liberdades, que os Reysde Portugal con?
cedêraõ a Real Collegiada de Guimaraens.
• •
O Conde Dom Henrique, &feu filho ElRey Dom Affonfo Henriques nos
moílrao hoje a grande devoção, que tiverão. à Virgem S^j.ta Maria de
Guimaraens, no muito que honràraõ a fua Igreja, &feus Priores , Conegcs,
criados, & cafeiros, & todos os mais fervidores delia com muitos privilégios,
izençoens, & liberdades: o que confia de hum, que diz, que tódos os caleiros
de Santa Maria de Guimaraens,&os criados de feus Priores, & Conegos , &
todos os mais fervidores de fua Igreja foífem izentos, & livres de irem àguer-
ra*, & não pcífac a iífo fer obrigados, nem para ella pagar tributo algum , nem'
poífaõ fer conftrangidos para algum encargo contra fua vontade, como fe vê da
carta, que ElRey Dom Aftonfo o Segundo efcreveo a feu favor, cujo teor he o
feguinte- *
%ylffonfo per graça deDeos Rey dos Portugvez(s,a'todcs os do fetr Reyno , a
a ja noticia ejta corta chegar , faude. Sabei que tlRey Dom Affonfo de excelien«
ti/sim a memoria, meu avo^v.e [anta gloria haja , Joy Padroeiro da Igreja de ò anta
Alaria de Guimaraens, & amou muito effa Igreja, & ao Vrior, & Conegos delta, &
os amparou, & teve fempre debaixo de [ua mao com todas as coujas, que a dita Igre-
ja tmha em Jeu Reyno; & (emelkantemente eu fou Padroeiro feu, & amo muito e(ta
Igi eja, & ao Prior, & Conegos delia, & defejo muito de os amparar cm todas as fuás
coujas, que a ditd Igreja tem muitas vezes em meu Reyno. Felo que fabey que eu re-
cebo entre as coujas, que muito amo, & de minha protecção,a Igreja de Guimaraens,
& ao Prior, & Conegos della com feus homens, & comfuas ridas,& com quanto a
Igreja [,
DA COROGRAFIA PORT U G UE Z A. 43
hrcja de Guimaraens temem todo o men Rejno & ponho tal pnbtkf* a todo* ot
que lhe fizerem mal algum, que qu m lho fi zer, me pagar * quinhentos
a etíes.refará perfeitamente o dano,que Ih sfizer , cr demais d: [fo lenhavJop t
meu tmrmoo ■ para que elles pofiao melhor defende' a/t, cr as fitas canjas, dy-U. ^

6. de Setembro do atino do Senhor de 1217. _ r


Nam forão baftantes os ameaços, com queEIRey Dom Affonfo o oMm-
do quiz impeaitamole«ia,qucfeusMm1ftros&aao^c«prwJeg«to, pra-
ieiros de N-por
ço,deque Senhora, para os deixarem de moleilar,
feus privilégios,elk,&feu & obrigar a fazer o lcm.
pay,&avoostmhaoizemaà), co-

mo fe vio, quando EiRcy Don. João o Primeiro t.nha ae firoaQ«^<*Tu£


cm que os feus Miniftros de Guimaraens obrigarão aos.aforosdcH Sc _cr
ralcv.iffem cm carros mantimentos acucllc arrayal > ',
elles eráo dos feus-privileg.ados,n«o quiz aceitare«"
antes pagandolhes o feu trabalhosos torrou a n.ai ai , ■ • |* '
veyo o díto Rev dar graças à Ser hera,& à porta principal<da ma Igreja dilie em
voz alta o feguinte: Ser, hora , (fies meus O/jiciaes, & fie He Concelho nam
rando ave -vos fois aqttella, que combateis, defendeis, velais, cr t old eats, namceJam
de quebrantar os privilégios, izençcens, & liberdades, qutee«
dos demos a eãavoffa hreja, fazendofervir aos privilegiados delia no qtteb.es apraz,
porem eu vos prometo*que fe elles daquiem diante outra talvos fizerem,que eu enfiar-

Villa obri°àraoaos cafeirosde N,Senhora,que o paguem,quebrantandolhes


mrâiffoa ízenção de feus privilégios , de que o Cabido fe deu por muito ag-
ravado' & fe queixou a EIRèy:o qual querendo faber
^uantoscaíaes,cafeiros,lavradores,domeílicos^, miudamente quaes , &
Sclervidorestuiha^^idk

larria Prior £c Cabido, cõmeteo por feu Álvara ao Doutor I eroLltcves co


gominhOj Cavalleiro, * Ouvidor das terras do Duque de tog^a , & a^~
Goncalves Efcriváo, que de tudo ízeflem inteira inquirição, que affim ocurm
pr^o muitodeclaradaméte;a qualElReyÍCTténaoucomosMmillros de^^
Fazenda ,& o pronunciou cm fua Center,ça: gm a dita ler r,a fora, fempre fiar-
dados feus privilégios,& fieus ca feires izentes de lodos os pedidos,& enr/r&or(cxcf*°
onzecafaes) que por nam ferem libertados, eílavaoem partede[povoados, ffisJf
ThZfiaZpor frr aífin razao^fazer qffimeímoUadit*»£
bemlenturadaN. SenhoraSanto Maria, onze
privilegiados,com, o, outro,. Eajfim queria,& m
vradofes, domejlicos,&-ferviam,contei,dos
pio, concedido, tom todas a, Zr
o,mmo»trdatStmd>9Í0emfettmUrMtt.àt«ct>*eda*«ltyjM^tf**lt'

ÍS®»»itó65^k«6í*Êgrt
11 Sboa aos 2 T. dias do mez de julho do annode 14.55.8 qual ElRey afimou , *

ma
tn\o^
de pergaminho,que fe guarda no Arehivo da Real CollegiacL - de
44 TOMO PRIMEIRO
tic fera parte do livro eílão todos em.humas taboas pintadas de vermelho, que
feguardão rio Cabido, & Caía da Camara , por onde comummente fecha mão
Privilegiados das taboas vermelhas. Guarda-fe eíta taboa na Camara , para
nella fe faber quaes, & quantos faõ, para que cites féjão izentos dos encargos,
a que,cs que não faõ privilegiados,eítão obrigados a fervir nella; & para"lhes
ferem inteiramente guardados feus privilégios, tem os Corregedores da Co- L*
, marca provifaõ de feus Confervadores.
Não paràrão aqui as vexaçoens, que fe fazião aos privilegiados de N-
Senhora, porque mandando ElRey Dcm Manoel fazer hum pedido por todo o
feu Reyr,o, elegerãonaquella Villa de Guimaraens para o lançamento delle as I'
peífeas, que melhor o pudeífem fazer , as quaes não izentàrão para o feu paga- |
mento aos privilegiados de N. Senhora; para o que foy neceífario ao Prior
Conegos de fua Ccllegiada fazerem certo requerimento, que lhe outorgou o
dito Rey Dom Maneei, concedendo ao Prior,Dignidades,& Cabido tudo o que §
lhe pedirão para confervação de feus privilegiados, cafeiros, criados, & dome-
íticos,ccnhrmandolhesfuasizençcens, & bberdadesccmncvacartade con- '
firmação, que fe guarda no Archivo daquella R eal Collegiada , com,o todas as
dos Rcys paífados, & dos que fe lhes feguírão,que fem duvida, nem reparo al-
gum lhas cutcrgàrão , & confirmarão atè o fent or Rey Dcm Pedro o Segun-
do , o oual no ar no de 1686. concedeo a Dom Pedro de Soufa , que naquelle
anno fe achava Prior daquella Real Collegiada, vários* privilégios para a fabri-
ca dos Paços da morada dos Priores.
O Palacio, em que morão os Priores daquella Real Collegiada, fica por de-
trííz da.Capella mór daquella Igreja entre o Norte , & Nacentc , & não
faõ tam pouco nobres,que nam ferviíTem de apofento a ElRey Domjoaõ o Pri-
meiro, quando tomou aquella Vilia a Ayres Gomes da Sy Iva , que a citava de-
1
fendendo por ElRey Domjoaõ o Primeiro de CaíUlla,(aquempordefgraçati-
nha cahido nas mãos.) A ferventia deite Palacio he pela rua de Santa Maria ,
aonde tem huma porta grande, que fecha hum patio, em que cítà huma cicada
de pedra, que he lerventia daquellas cafas: & por cita m.efma efeada , & pátio
tem os Priores a ferventia para o clauítroda lua Igreja, dor de paíTaõ para el-
la pela parte, qu.cvay jpara a Sancriflia; &ncsdias"em queos Priores querem [
aíliítirno Coro, faõ obrigados hum Prebendado , & hum meyo Prebendado a
ir bufcalo, & acompanhalo, naõ fendo dia de feita; porque nos dias folenes vaõ
huma Dignidade, hum Prebendado.

- CAP. XIII.

Das Igrejas que aprefentaõ os Priores da Collegiada de Gumaraensy


& das que aprejentau as fuas Dignidades, 0" de Juas rendas.

ANtigamente tinhaõ os Priores deíta Real Collegiada muitas Igrejas, que


por íi in folidum aprefentavaõ , -como foraõ Saõ' Martinho de Moreira de
Rey, que hoje he Commcnda de Chriíto, Sac Eerthokn.eu de Villacova , Saõ
Joaõ de Sarafaõ, Santa Maria de Souto,S cõ Jcaõ de Pencello, Seõjcaõ de Gon-
dar, Saõ João das Caldas, Santa Maria de Villafria, Saõ Thcir.è cc Avaçam,
Sag
DO COROGRAFIA PORTUGUEZA: 45
Sap Romão de Meifao frio, & tqdas ellas a que mais longe ficava afaíl ado dâ
dica Collegiada. era huma legoa: as quaes DomGQmes Aífonfo , feudo Prioí
deita Collegiada, defannexou daquelle Beneficio , &fez doação delias à In-
fanta Dona Iiabcl aos i 2. dias de julho de 155?* com Breve de Sua Santidade,
que fe guarda no Archivo deíla Collegiada, & toda s eítão encorpòrádas nò pa-
trimónio da Coroa Real. Com que ficoueile Priorado muito diminuto na rc-
da, & feus Priores com menos que dar.
Não rende hoje eíle Priorado mais que cinco mil & quinhentos cruzados,
Scfe alguns annós excede feífé rendimento, he porque os frutos eítão cm alto
preço; & não lhe fkàrão de fua aprefentação infolidummak que o Thefoura-
do mór fora dos mezes da referva ficando por renunciar , & as duas meyas
Prebendas dos feus Curas, a Vigairaria de Santa Eulalia de Fremontoens , &
de S.Martinho de Fareja. ' .
Aprefentavão os Priores deita Real Collegiada fimultâneâmente com o
feu Cabido todos os Canonicatos fôra dos mezes da referva, & a Igreja de San-
to Andre de Murça com treze annexas, a Abbadia de S- Miguel, que foy Ma-
triz da Villa velha-, que hojechamãoS. Miguel do Caíieilo, a Igreja deSaõSe-
baft ião, & a de S- Payò, que ambas faõ Vigairarias da Villa,& a de S- Vicente de
MafcotcHos, todas viíitadaspelos Priores.
He a primeira Dignidade deita Real Collegiada (excepto o Prior) o Cha-
trado, que prefide no Coro, não affiíl indo nelle os Priores: tem da fua aprefeik
tação a Vigairaria de Saõ Payo de Moreira dos Conegos , & S. Miguel de Crei-
xomil; temo feu rendi mento conforme o valor dos frutos , mas hum anno por
outro paífa de feifeentos mil reis.
O Thefoureiromor te duasVigairarias annexas, S.Fulalia de Nefpercira,&
• Santa Maria deMatamá,com que paífa o feu rendimento de quatrocentos &
cincoenta mil reis cada anno conforme o valor dos frutos*
O Arcediago de Villacova, que antigamente tinha duas Prebendas, & hoje
huma, rende hum anno por outro duzentos & vinte mil reis*
O Arcediago de Sobradello,Beneficio fimplez , que rende trezentos mil
reis,tem o Cabido alternativa com a Coroa Real na fua apreíentação- •
O Meítrc-efcola tem duas Prebendas, & annexe a Igreja de Santiago/lon-
defe chama Abbade,® tem de renda hum anno por outro quatrocentos & fef-
fenta mil reis.
O Acipreíle tem duas Prebédas, & de renda quatrocentos & qua.-enta mil
reis.
Não rendião as Prebendas defb Real Collegiada nosféus princípios mais
quetres mil reis, hoje rendem conforme o valor dos frutos ; com que muitos
annoschegão a duzentos & trinta mil reis. Atèotempo, em que fe defanne-
xou a Prebenda do Arcediago, erão quatorze Prebendas , & agora faõ quinze
com oito meyas Prebendas, em que enrrão as duas dos Curas deíla Igreja,que
fuppoílo faõ de mais rendimento que as outras, em razão das offtrtas , faõ de
mayor trabalho com o exercício dos Sacramentos-
Aprefcntão os Conegos deíla Real Collegiada infolidum , concorrendô
os Priores com o feu voto para iífo, a Igreja de Santo Andre deTolaens cõ fiias
annexas, que antigamente foy Moíleiro cia Religião ^ Santo Agoflinho, por
doação da Rainha Dona Mafaída mulher delRey Dom Aífonfo Henriques , o
qual Moíleiro foy fundado por Dom Rodrigo Forjas no anno do Senhor de
8S7.5c fendo ultimo Commendatario delle o devoto de N. Senhora, João de
. , Barros,
4<s : TOMO PRIMEIRO
Barros, Conego da Sède Braga , fez delle doação à Igreja de Santa Maria de
Guimaraensno anno do Scrjhor de i+ v fendo Summo Pontífice o Santo Pa-
dre Xiíto Quarto* que paífou as Bulias defuaanhexação; & fendo Arcebifpo
de Braga Dom Luis o primeiro do nome, que entrou naquelle Arcebiípado pe-
los annos do Senhor de 146 7■ & faleceo no de 14^0- o qual confirmou a doa-
ção feita deita Igreja à Real Collegiada, como delia fevè.
O Moíteiro de S. Gens de Monte Longo com os feus tres Beneficies fim-
pliçes, que rende cada hum cem mil reis, que foy também initituído pelo dito
Dom Rodrigo For jàs,& dado pelaRamha Dona Mafalda aos Religiofos de S.
A golfinho 5 & fendo também delle Commendatario João de Barros, com a mef-
ma doação,& Bulla o annexou àquella Collegiada; & o mefmo fez ao de S .Tor-
cato, de que tenho já tratado.
Toda a terra deite Moíteiro de Saõ Torcato, que fe divide por marcos, he
priv ilegiada, & couto deita Real Collegiada , em que o feu Cabido aprefenta
Ouvidor, que conhece do eivei,& crime por doação do Conde Dom Henrique,
confirmada por feu filho ElRey Dom Atfonfo Henriques no anno do Senhor
de 10451. que fe guarda no Archivo de leu Cabido.
Aprefentão mais o Moíleiro de'ST. jonõ da Ponte, qtle foy antigamente da
Congregação de S- Bento,& foy dado ao íánto Molteiro da Condeça Mumadc-
napor feu fobrinho,&collaço ElRey Dom Ramiro o Segundo de Leão em 8.
de Junho do anno do Senhor de 9 2 7. como delia coníta, que fe guarda no mef-
mo Archivo: Santo Eítevão de Urgefes, S. Pedro de Azurey, que antigamente
fora aprefentação dos Priores, & a trocàrão com o Cabido pela pedra das ef-
molas do Padrão: Saõ Mamede de Aldão, S- Martinho de Candofo , S- Marti-
nho de Çonde, S. Miguel do Paraifo, Santa Maria de Sylvares, & S; Julião.
Para ferventia deita Real Collegiada aprefentão os Priores feis Clérigos,
a que chamão Capinhas, que rezão no Coro as Horas Canónicas com os mef-
mos Conegos, com íobrepelizes, & murças como elles ; mas com differença ,
que eítas as trazem desforradas, & os Conegos , &meyos Conegos forradas
de vermelho. Servem eítes Capinhas também de dizerem as Epiftolas,& Euan-
gelhos,& algumas Miífas cantadas de defuntos da obrigaçam daquella Igreja
fem Diácono, & Subdiacono ; porque as da Terça íaõ ditas conforme a folem-
nidade do dia, Sc eítaõ por*repartiçaõ pelas Dignidades % & Conegos por feu
oyro; deforte que quandohuma Dignidade diz Miífada feita , diz hum Pre-
bendado oEuangelho, & o meyo Prebendado a Epiftola: & quando hum Conc-
ho diz Miífa, hum meyoConego diz o Evangelho , &o Capinha a Epiftola.
Coítumava antigamente o Cabido deita Igreja acompanhar com Cruz
levantada os defuntos feus ffeguezes, & todos os mais que faleciaõ nas fuas
fregueziasannexas ;&por terem niíto muito trabalho,& pouca authoridade,
inífituírão huma Communidade de quarenta & feis Clérigos , dos quaes aos
feis chamão Títulos, que coítumão levar as capas de Afperges , & cetros nas
prociifoens. Chamão a eíta Communidade a Coraria, & elegem entre íi hu, a
que chamão Prioíte, a quem obedecem, os quaes debaixo de fua Cruz com fo-
brepelizes vão acompanhar os defuntos, fazendo o officio de Parochos, como
os Conegos coítumavão fazer, para o que lhes largàrão todos os beneces , que
tinhão por coítume lev^f pelos taes acompanhamétos, & lhes encarregarão to-
dos os legados de MiíTa s, & Officios, que o mefmo Cabido era obrigado a fatif-
fazer,& os mais que de novo fe fizeffem.
Nenhuma Irmandade, ou Confraria pode naquella Villa, ou arrabalde ler
van;
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 4?
vantar Cruz, fenao efta Communidade, alftm para enterros , como para outra
qualquer função; nem a Irmandade da Mifencordia pode fahir comaíua tu-
ba a enterrar aMm defunto , ainda que fejainrâo feu,fem ler acompanhado
por cltaCorr munidade, como Parocho de toda a Villa, excepto aospobres do
Hofpital,a quem acompanha o Capellão mor daquella fanta Caía debaixo de
íua bardeira. Tem efta Corsmumdade de efmola em cada acompanhamento >
que faz dentro dos murosda Villa,ou junto a eUes,feifcentosreis ; porque
fendo de frais longe, fica a efmola a arbítrio do íeuPnofte } & fendo cafo que
notai acompanhamento vá outra I rmandade, de que o deiunto nao íeja irmão,
leva cita Coraria dez todoens de efmola. . , .
E fuccedendo morrer alguma peffoa, que nam feja freguez das cinco fre-
•guezias do deftri&o deda Villa, (como fàõ as duas da Collegwda, Sao Miguei
do Cadello, Saô Payô, Saõ Sebadiaô) & fe vàfepultar feu corpo a algum Ma-
deiro, Igreja, ou Capella , fituados no dedricdo de alguma dedasíreguezias
nomeadâinampóde entrar no dedrido de qualquer delias,debaixo fo da Cruz •
da Parodia, de que era freguez, fem que venha acompanhado da Communida-
de da Coraria. E como em algumas freguezias do termo.de Guimaraens entra
o feu deftrifto nos arrabaldes delia, aonde cem freguezes , como 1 ao,S. Man-
rha d? Coda, Santo Edevão, Sao Miguel de Cre:xomii,&: S- Pedro de Azurey,
uuando delles morre algum, vaõ os feus Parochos bufear feus c§o», & os le-
vaó debaixo de fua Cruz a enterrar à fua Parochia: & lendo calo , que algum
delles deixe por obrigaçaõafeus herdeiros , que lhe fepultem feu corpo cm
al< uma Igreja, ou Modeiroda Vida, nedes termos A acompanha a Coraria, &
dekaixo de fua Cruzlhe affifteo feu Parocho, fem a Cruz da Parochia, de que
era freguez: mas os Officios, & mais ufos , Ôccodumeslhe fazoParocho da
fUa
^m nenhum Convento, Parochia, ou Capella, fituados no deftri&o das
ditas cinco frcgucziasdaVilJ.a.^fc podem fazer Officios de dv.eíintos íern aífi-
ftcncia da Coraria , & lhe pagaõ conforme á difpoíiçam dos Officios >porque
tem dos de nove liçoens cantados de canto deorgãodous mil reis , & dos de
canto chaô dez todoens, & fendo de hum Nocturno feis ; & fuccedendo, que
em algum dos ditos Medeiros, Igrejas, ou Capella* fe faça por oevoçaõ qual-
ouer prociífaÒde fedeio, ou funeral, como coduma fazer todos os annos a
Irmandade da Santa Mifericordia em dia de Todos os Sãtos,naõ pode qualquer
delias fer acompanhada de alguma Communidade, Confraria, ou Irmandade,
fem que a edas aílida a Coraria, indo as taes prociflòcns debaixo de fua Cruz.
He eda Communidade muito rica pelos legados, que lhe ocixarao ; cc os
Priofles delia tem obrigaçam de ir todas as manhãs à Capella de S- Pedro, que
edà no claudro daquella Igreja, (antes que os feus Conegos entrem no Coro )
a repartir por todos os Padres a MiíTa,que cada hum delles ha de dizer naquel-
la manha. . > • ., « j ^
Tem eda Real Collegiada defronte da fua porta principal hum Padrao,
& entre die, & a porta diítancia de dezafete pálios eftá num pátio dç paíleyo,
& de rccreacaô^adrilhado com afiemos encodados à torre dos finos, Scà pare-
de da Igreja,ábndecontinuamentefe acha converfaçaô , principalmente nas
manhãs , por fer hora , em que todo aquellè povo tem devoç am de ir \ di-
tar a N. Senhora, & ouvir Miífa na fua Igreja, pela grande fe, que tem no íeu
patrocinio para todas as fuas necefíiáades. Foy feito cite Padraõ em tempo
delReyDoro Affonfo o Quarto,de abobeda de pedra em quatro arcos tunda-
48 ' TOMO PRIMEIRO
dos fobre Quatro pedeítaes, & faõ de moldaras muito bem lavrados , & cada
hum delles no alto tem huma ponta de diamante,que ficaõ mais altas que o te-
clo de abobeda ; & no pano da parede de cada hum deites A*cos eítá hum ef-
cudo das Armas do dito Rey. Eítá encoítado ao arco , que fica defronte
da porta da Igreja,hum Altar com a imagem da Virgem N. Senhora com ò titu-
lo daVitorfa,pela que deu a EIRey Dom Joaõ o Primeiro nos campos de Alju-
barrota. Tem eíte Altar o feu fundamento no alto fobre os mefmos pede d a es,
em que fe fundou a abobeda, com que fica por baixo lugar, & ferventia para fe
poder andar livremente, comofe anda, & fe ferve por baixo de todos.
Aopè do Altar deita Senhora da Vitoriateitàefculpidaemmeyatalhana
madeira a effigie do Licenciado Pedro de Lobaõ, o qual lendo Advogado na-
quell a Vília, tomou por empreza querer derogar os privilégios, izençoens, &'
liberdades dos cafeiros, & fervidores de N- Senhora, &feus Priores , & Có-
negos, & o fazia com tanta inítancia, & paixaõ, queeítando huma manhã con-
♦ verfando junto deite Padraõ com o Abbade de Freitas, & Lui»Gonçalves,am-
bos Conegos daquella Collegiada , elles o reprehendèraõ diante de outras
mais peíToas da perfeguicaõ, que fazia aos taes privilegiados, & que íé naquel-
lenegocio continuava, fcguardaífe da ira de Deos. Aoq ellerefpondeo, que
nam eraoDiabo tam feyo, como o pintavaõ, que em quantoviveí!e(fem embar-
go do q lhe (JÉ^aõ)naõ havia de abnrmaõdiífcgaqual palavra elle naõ tinha a-
cabado de pronunciar,quando repentinamente cahio quaíimortocm terra cõ
a lingua fóra da boca, mordendoa, & com a falia de todo perdida, & roíto tam
disforme, que mais paredía fantafma,quehomem,& aífim foy levado afuacafa,
aonde logo efpirou.
Foy eíte cadaver levado afepultar ao Moiteiro de S. Francifco, donde fe
feguio outro fucceífo naõ menos maravilhofo; porque morrendo fua mulher
depois delle 33. annos,fe mandou enterrar no mefmo jazigo , o qual fendo
aberto para eííe effeito,íe achou nelle o corpo de lçu marido todo inteiro,fóme-
te com o gorgomillo gaitado, & as mortalhas. Foy aílim tirado da cova, & po-
ílo à viíta de todo o povo encoftado à parede da Igreja , até ir o corpo de fua
mulher para fe recolher na fepultura, aonde foy outra vez fepultado com ella ;
& para exemplo, que moítrafle ao mundo o muito que N. Senhora quer , lhe
fejãohonrados íeus privilegiados, &confervados feus privilégios, fe mandou
ncíte lugar tão publico retratar neíte miferavel eitado a eíte feu pcríeguidor,&
eferever em pergaminho eíte prodigiofo fucceíTo,para ficar em memoria no Ar-
chivo deita Collegiada.
Dentrodeíte Padrão eítá hum Cruzeiro de pedra dourado, & pintado cõ
a imagem do Senhor crucificado, & a de N. Senhora, & S. João ao pè da Cruz,
& junto à imagem de N-. Senhora eítá outra de S. Damaf© , Sr junto ao fagrado
Euangeliíta a imagem de S.Torcato. Da outra parte da Cruz virada parao Al-
tar de N. Senhora da Vitoria, fe vè huma imagem de N. Sephora do Rofario,&
ao pè delia à mão efquerda deita Senhora, outra de S. Filippe Apoítolo , & da
outra par# à mão direita a imagem de S- Guálter. Tem elta Cruz fagrada hum
pedeítal de efeadas, aonde a gente daquelle povo fe affenta, & converfa.
Na haítia da Cruz da parte donde eítá a imagem do Senhor Crucificado,&
abaixo das imagens, que eítãoáo feu pè,fevé o ftguinte letreiro efculpido em
huma lamina de bronze.

A Aonra
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 49

A Aonra * d*Deus*& d *Sca

* Maria * & por * efta * Villa *

mais* onrada * Seer * & o poboo *

fez * fazer * efta * obra * Pero Ste-

ves * de Guimaraens * mercador *

morador * em Lisboa * filho d .* Ef-

tevao * Geia * & de Mta * Pèz * na

* E * M * CCC * LXXX * annos-

* VIII * dias * d * Setembro

* M.L.ROFE.X*

Nefte lusrar fazia Deos muitos milagres por interceíTaõ de fua Mãy Santiííima,
pelos quaes fe verifica fer efta obra delle muito aceita; muitos eftãoem perga-
minhos, que fe guardão no Archivo defta Collegiada, eicritos por hum Tabe-
lião daqueUe tempo, que fe chamava Affonfo Peres, donde tirey o fegumte, por
fervir para eíte intento :& começaelie: Senhor Afonfo Peres Tabaltaõ navofia
Villa de Guimaraens Jaço faber a voffa merce, que na era de M.CCCLXXX. an-
vos, oito d,as de Setembro foy pofia a Cruz na Abafaria de Guimarães,& adnceu ht
Pero Efieves nojSo natural, filho que foy de E(levo Gracia, em outro tempo merca*
d'T d* Guimaraens, a qual Cruz Gonçalo E ff eves, irmão do dito Peio L ff eves,
diz que foy vontade de *Deos, que lhe deu a entender , que fofie a Normandia Ana-
frol, & que compra fie a dita Ctuz, & aduceffea efle lugar de Guimaraens e/U
a (fintada a? ar da Oliveira, a qual OU veira,quandoe(la Cruz apar delia affentar ao,
era feca, & dáquel dia a tres dias começou de reverdecer , & deitar ramos , & eu
Affonfo Teres Tabaliao e/lo e/crevi. E fte milagre tresladei fomente do livro,
aonde eftáo muitos eferitos, que fe guardáo no Archivo daquella Igreja , para
dizer que do dia dellefedeu a efta Senhorao titulo de Santa Mana da Olivei-
ra, que hoje conferva. n , C C í\
Pela certidão do Tabelião Affonfo Peres fe moftra,que quando fe fez eíte
Padrão, & fe poz nelle a Cruz,jâ neffe tempo cftava plantada a Oliveira, a qual
he tradição antiga,q viera paraefte lugar ae junto ao Moftcirode S.Torcato,
& que dofeuoleo fe allumiava a alampada defte Santo, & que do lugar , aonde
tfiava, ic arrancara, & fora tranfplantada nefte, em que eftava feca , quando
N. Senhor fez nella o milagre de a reverdecer, & lançar ramos 5 & por não ha-
ver tradição, que no lugar,aondeella fe plantou,fe plantaffe outra ; geralmente
fc tem por fé, que eftahe a mefma Oliveira milagroía , de queN-Senhora to
r n
E mou
5& ./ fOMO PRIMEIRO
mou o titulo. No tem podas guerras ultimas ie experimentava iflro melhor,
porqtie, ós Soldados de tòda a qualidade íe armavão com íems ramç>s, tendo por
te q eraó as fficthòres,& riiais defeníivas armas párãiui^vttht$,& 'aiitSa hoje efta
permanece,jbòrquc aquelles,quelc embarcão , para fazeren) fua viagem fem
perigo, oS levão em fua companhia, para que, como:a pdiiiba da Arca de Noé, í
ponhão os pés na.terra firme, que v.ãobuicar 5 & Como a experiência lhe tem :
moftrado os favores, que N". Senhora rém feito a muitos por meyo dos ra-
mos defta fua Oliveira, totlo> com grande devoção ,& confiança fe armão dei.
les. • t '
Tinha efte Padrão antigamente de pilar a pilar duma grade de pao, coque
fe fechava / & «aquelle tempo naò havia ferventia por dentro delle , co-
moho]eha. Tmhaaopédo Cruzeiro, que dentro <lelle fepozy h.ua pedra va-
zia" por dentro-,& fechada com huma cubeVtura de ferro com hkiín buraco, por
onde os devotos defta Senhora feoffertavão , & os Romeiros com fuasefmo-
las| as quaes eraõde repartiçab do Cabido, & rendiâõ tanttqquc-fendo a Igre-
ja de S. Pedro de Azurey dos Priores in fpíidum, trocàraõo rendimento del-
ia,"dantjpa ao Cabido pelo rendimeto daquella pedra,cujo contrato fe guarda no
feu Cartorio; & como fe acabou a devoção , fe acabou com ella o rendimento
da pedra,que ainda hoje eftá no meímo lugar.
Tem a fobredita Oliveira ao pé hum pilar de pedra mageílofo, todo cer-
cado de aífentos a modo de efeadas,&eífá plantada no meyo da praça mayor,
que toda he ladrilhada dè pedra muv viiWa pela^aflift encia, que tem deN. Se-
nhora da Vitoria 110 feu Padrão, & alegre pelo ruído que as tres bicas de agua
do feu tanque fazem para divertimento de feu s moradores. He toda efta Pra-
ça cercada de cafas de alpendrada fabre colunas de pedra , fechada de entre o
Norte, & Nafcente com a RealColleginda,Scda parte de entre o Poente , ôt
Norte com as cafas da Camara, & Audiências,as quaes faõ coroadas de amevas,
St 110 alto de fuas paredes tem dous efeudos das Armas Reaes eurre duas esfe-
ras douradas, & pintadas, que fazem frente para a Oliveira, & Padrão.

CAP. XIV.

Das 1lua'Sy Praças& Rocios da Vitta de Gtúmaraens.

P Ara tratar das ruas, que tem efta Villa dentro de feus muras , farey de
fua Praça mayor hum tronco, donde nafeem os ramos, deque todas pro-
cedem- Sahè defta Praça para o Norte a rua de Santa'MarZa, de qubm proce-
de na mefma corrente árua dalnfefta, que tem o feu fim no dcftriéto da Villa
vãhá, & a fua fervenfia pela porta da Garrida, a que hojechamão de Santo An-
tonio- Daruáda Irtfefta fahe para oNaícentc a rua do Sabugal, que tem a fua
fe^vehtih pela^orta de Santa Cruz, eme aittiga mente fe chamava da Frieira.
Sah'e também da Praça mayor a rua dos Acoutados, q lhe derão efte no-
me, porque feus moradores não venvpaffar por ella outras peffoas: corre entre
ó ÍJòrte, & Poente, & acaba 11a rua dos Pafteleiros. Tem a Praça mayor por
baixo dos arfcôs da cafa da Câmara, Sc. Audiências a fervtíntia da Praça do pei-
5fe,que lhe fiéacntre o Norte, & Naieente: he Praça.pequena,&no meyo delia
u , eftá
DA COROGRAFIA PORTUCUEZA. ji
eíiá fituatla a Igreja de Santiago: he toda cercada de cafas, St hiura delias, que
fica contigua com a cafa das Audiências,he a que antigamente foy dos Contos..
Todas as mais cafas, de que elià cercada, faõ de elialagens, St tendas-
Delia Praça do peixe fahe para a parte de entre o Norte, Sc Nafcente a rua
dos Pafteleiros, que tem a fua fahida para a rua de Santa Maria, Sc para a parte
do Sul fahe a rua Efcura, que tem a fua fahida na rua dos Mercadores: St para o
Poente fahe outra rua, que chamão do Efpirito Santo, St antigamente da ju-
diaria, (por nella eliarem fechados os que então lhe derão o nome) a qual tem
alua ferventia para o terreiro da Mifericordia,St rua da Cadea.
Sahc da mefma Praça do peixe para a parte de entre o Norte , St Pôente a
rua dos Fornos, que lhe derão cite nome os que nella havia públicos. Na mef-
ma corrente continua a rua do Gado, que perde o nome na rua do Poço , que fe
vay encontrar no deliriéto da Vilk velha com a rua da Infeíia, fazendo a mef-
ma fahida pela porta de Santo Antonio-
Torno à Praça mayor, donde fahirey para a parte de entre o Sul, Sc Poente
pela rua dos Mercadores , atème encontrar com a rua Sapãteira, deixando
à mãodireira a rua Efcura, & feguindo a rua Sapateira, íàhirey pela porta de
S-Domingos.
Na rua Sapateira eílá o terreiro da Miferieordia, q fe fez de.cafas, Sc quin-
taes,quc feus moradores derão de efmola àquella fanta Cafa, & outras,que cõ
prou a fualrmãdadeihe todo cercado de caías nobres,& nelle da parte de entre
o Norte, & Nafcéte defembocão a rua do Efpirito Santo, & a da Cadea 5 Sc pela
parte de entre o Norte, Sc Poente principia a rua de Val de Donas , que tem a
fua fahida pela porta de N- Senhora da Graça, & antes delia fe communica com
a rua do G ado. fern eíia rua htia traveífa para a parte de entre o Norte,& Nafcé-
te*povoai la de cafas, a que chamão o terreiro do Meíire-efcola, por onde fe co-
munica com a rua dos Fornos-
Torno a bufcar o paíTeyo da Praça mayor, para fahir delia caminhando para
o Sul pela rua do Poíiigo a bufcar a porta da Senhora da Guia, muito conheci-
da pelo nome da porta do Campo da feira. Delia rua para a parte do Sul conti-
núa a rua nova do Muro, que le vay encontrar com a rua de Alcobaça,& ambas
fazem fua fahida pela portada torre velha. No meyo delia rua nova para o
Poente principia a rua de Donaés, que defemboca na rua dos Mercadores.
Delia mefma vil a nova vay h uma ferventia para hum Rocio , que chamão
do Forno,por eíiar nelle a cafa do forno publico,a q chamão da Villa, em que
faõ obrigados os que vendem a cozer nelle, Sc não em outros , quetenhão em
fuas cafas- He Rocio pequeno, mas todo povoado de cafas com ferventia para
outro, que chamão da tulha , aonde da parte do Norte defemboca também a
rua dos Mercadores, quando fe topa com a rua Sapateira. Communica-fe eíie
Rocio com a rua Sapateira por huma traveífa, que chamão do Anjo , Sc para
a parte do Sul defemboca nelle a rua da Ferraria.
Ha dentro delia Villa outro terreiro, que chamão de SaõPayo , aonde
eíià fituada a Igreja Parochial de feu nome com a porta principal para entre o
Sul, Sc Poente, Sc outra porta traveífa para o Sul ; a fua Capella môr he toda
azulejada, Sc por cima dourada, Sc pintada em painéis 5 divide-a do corpo da
Igreja hum arco de pedra dourado , Sc encoíiadoaelleda parte doEuangelho
hum Altar deN- Senhor crucificado com N- Senhora, Sc o Evangeliíia fagrado
ao pê da Cruz: corre a fabrica delle por conta de feus.Cõfrades; abaixo delle
cila húa Sancriíf ia com porta para a Igreja,Sc abaixo delia porta eíiá hum Altar
E ij das
51 . TOMO PRIMEIRO '
das Almas comfua Confraria muito rica,com dezMiífas quotidianas, & do .
primeiro dia de Novembro atè o ultimo Miífas geraes, &. rule hum Tfnciode
canto de crgão com MiíTaíolemne>&pregação. Quandotiia irmandade íahc
fora, vão feus Irmãos com veftias brancas , &murças verões debaixo ueleu
guião verde guarnecido de vermelho , & tem fua Sancriftia bem fabricada no
mefmo lado da parede abaixo do íeu Altar, & abaixo delia a pia bautilmal. Da
parte da Epiítola encoftado à parede do arco da Capella mor cila oAltatde N.
Senhora da Mifericordia com fua Confraria, & abaixo delle eilà a porta traveí-
fa, & no mefmo lado da parede o Altar de S. Bom Homem com lua Contraria ,
cujos Irmãos , quando fahem fora, vão com veftias brancas debaixo do íeu
guião damefmacor. . .
He eíte terreiro de São Payo grande,& bem povoado de vizinhos , lahe
delle para a parte do Norte huma rua, que defemboca no Rocio da bulha, que
ch amão da Ferraria, & do meyo delia atravelfa para a parte do Sul outra,que íe
ajunta com a rua nova do Muro, que chamão de Alcobaça, & ambas tem lua 1 a-
hida pela porta da torre velha. „ _,
Da ruade Alcobaça juntoàporta datorrevelha lahe para entre o Sul , &
Poente a rua do Anjo, que vay defembocar no terreiro de S. Payo topando nos
açougues daquella Villa,qeítão no mefmo terreiro encoílados aos muros para
a parte do Sul; & continuando cõ os açougues por detráz das cafas, que tapão
o terreiro, corre outra encoftada ao mefmo muro, que chamao a rua de Traz
dos açougues, que tem a fua fahida pelo poítigo de S.Payo.
Sahe deile terreiro de S. Payo para entre o Norte , & Poente outra rua,
que chamão de Traz da Mifericordia , que tem a fua fervenna pelo corredor,
que fica debaixo das fuas cafas do deíbacho, por onde fe. comunica cõ o feu ter-
reiro, & rua Sapateira. Também deite terreiro fahe outra rua, que chamão de
Arrochela, que defemboca na rua Sapateira , & ambas tem fua 1 ah ida pela por-
ta, & torre de S-Domingos. Tem o terreiro de S. Payo a fua fahida para fo-
ra dos muros por huma porta, que chamão de S- Payo , por eítar dei ronfé da-
quella Igreja, a que tamben chamão porta nova, por fe abrir depois da muralha
eítar feita. , . ' ,
Eítasíaõ as ruas, que eítão dentro dos muros deGuimaraens; he neceíía-
rio que refiramos òs muros, & torres, qtijp a cercão, dando a cada hum leu no-
me, para darmos noticia dos arrabaldes, nomeando as fuas ruas, & declarando
primeiro que quando eíta Villa íe murou , a antiga Guimaraens o eltava tam-
bém, como fica dito, & os muros delia, que eítavão para onde a nova tomou o
feu principio, fe árruinârão, & a pedra deiles fe deu aos F rades de Saõ Domin-
gos para fazerem o dormitorio do feu Convento, a que chamão o novo ; &: os
nòvos muros tomàrão feu principio na ruína dos velhos.
Uniraofe os novos muros com os velhos pela parte do Nafccnte em hum
torrilhao terraplenado na mefma altura deiles , & abaixo delle na muralha a
pòrta da Fr ieira, que hoje chamão de Santa Cruz, por eítar defronte delia hum
Cruzeiro com efeadas no pedeítal, que por eítar em fitio alto, efpaçofo, bc ale-
gre, nuncaeítádefoccupadode gente,que aellefevay recrear ; & deite torri-
lhao corre a muralha coroada de ameyas para a parte doSulemdiítãcia de 4.90.
pados a topar na torre, que chamão dos Cats , & da fua porta atêà dita torre
tapa eíta muralha acerca das Freiras de S-Clara, quetemefcáda para irem co-
lher acima delia o fruto das fuas parreiras.
No tempo, em aue fe fundou eíta torre dos Cats, eítava nella huma arca de
agua,
DA COROGRAFIA PORTOGUEZA. 53
agua, que hia por canos para o Convento de S. F rancifco 5 Sc por fer vontade
delRev D. loão o Primeiro íeil fundador, qnaquelle lugar ficaífe cila para me-
lhor dèfenfaõ da Villa 5 foy neceífario ao fazer delia, quequnto aos- feus alicef-
fes ficaíTe huma porta de arco por baixo da terra para a pãrte doVeiVdaVal, por
onde fe pudeífe ir alimpar a arca dá agua , a qual com afabrxa'-ite 'obra dan-
çou aos Frades; & vendo o Duque Dom Affonfo, & lua mulher aDuqueza Do-
na Confiança de Noronha afuàneccííidade, mandarão dent roda torre ajuntar
a meíma agua em húa arcade pedra finabem lavrada, coque a fcguràrão delor-
te, que nunca mais lhe faltou; St por ler obra magnifica de muita charidade,mã-
darão pòr na arca os efeudos de 1 uas Armas-
Deíla torre dos Caens contínúão 162. paífos de muralha dâ mefmá altura,St
forma da primeira,atè topar na torre da Senhora da Guia,q vulgarmete chamãô
do Campo da Feira. Tapa,Sc defende eira torre a porta da muralha , q chamão
do Poíligo > por onde té para fora delia a fua ferventia a rua do feu nome." Faz
cila torre frente ao Sul,Sc encoílada a ella na parte de dentro para o Poente eílá
huma Capella da mefma Senhora, que lhe deu o nome. Correm deíla torre do
Campo da F eira para a que chamão torre velha(que faz também frente ao Sul)
3 60. pa(Tos : he toda fechada fem.porta,Sc no alto delia junto às ameyas , de
que he coroada, tem hum nicho, que recolhe huma imagem de S- F rancifco, por
ellar defronte delia o feu Convento em diílaticia de 140. paífos.
Tem a torre velha diílancia de muralha atè a torre, que chamão da Alfan-
dega, fechada fem ferventia,(que também faz frente ao Sul) 34.0 paífos, Sc no
mevo deíla muralhâeílà aporta da torre velha, para onde tem a fua fahida para
fóra delia a rua nova do Muro, & a de Alcobaça; para cima deíla muralha tem
ferventia todas as cafas, que eílão encoíladas a ella da rua do Anjo. Encoíla-
das na frente deíla torre para o Sul eílãohuas cafas ,q tem logeasde tendas,
Sc na face da meíma torre para o Naícente eílão outras cafas, que fabrica , &
aluga a Camara aaquella Villa»
Do canto das paredes da frente deílas cafas continua para oNafcente hú
Rocio fechado cõ o muro, em que eílão encoítados os açougues, & as cafas da
rua do Anjo, & da parte do Sul c©m huma parede, Sc no meyo delia huma porta
fraude da ferventia deíleRoèio, Sc íòbre ella no alto da parede hum remate cõ
um efeudo das Armas Reaes pintadas, Sc douradas entre duas pirâmides de
pedra,Sc fobre a Coroa Real das Armas outra pirâmide, Sc todas douradas , Sc
pintadas. Encoílada a eíla parede corre huma alpendrada^que da outra parte
fe fuílenta em columnas de pedra, Sc debaixo delia eílão varias tendas.
Do canto deíla alpenarada atè o muro pela parte do Nafcente fecha eíle
Rocio outra parede com porta de ferventia delle. Tem eíle Rocio dentro de fi
huma rua de cafas terreiras, humas delias fão dadas pela Camara a peíToas, que
fe obrigão a venderem naquelle lugar toda a qualidade de peixe frefco,Sc feco :
outras a quem ncllas vende toda a caíla de pão em grão : Sc outras fervem de
recolher as fazendas, que vem de fóra a venderfeneíle lugar. Encoílado à pa-
rede deíla torre da parte de entre o Poente, Sc Norte eílá hum tanque de huma
fóbica de agua, aonde bebem as beílas.
Deíla torre da Alfandega continuando para a parte de çntre o Poente, Sc
Norte 2 oo' paífos de muro, fe encontra com a torre de S- Domingos , fendo o
feu proprio nome da Senhora da Piedade: ferve de defenfa , Sc guarda à porta
da muralha do feu mefmo nome, por onde tem ferventia para fóra dos muros as
peífoas , que vem da rua Sapateira,terreiro da Mifericordia , Sc rua dc Arro*
E iij che-
54 ; TOMO PRIMEIRO O;» \ ;
r
cheia- Dentro deft a torre ençoftadaaelLa para PrPoepfe ,&.çkf onte daporta
da muralha eítá a Capella deN- Senhora da P»e43.$fto>: & wvfo® torre a íua
porta dç fe^yentia parp-g Sul pela alegre Praça doTpural• JShfftamuralha , que
eorre da tQf;rje.da Alfandega para a de S- Domingos , íe aotio huma porta dç-
p<^sdelia£$fta?qchamãQ aporta npv^ôtvulgarmente o pofrigo de S- Payo,
pqnfçr fçrvçptia do terreiro^em que eítá fie nada a igreja Par^phial deite Sãto 5
ôc papa cjma ddta muralha.tem íerventia todas as calasda.rn<jda Arrochela. |
Da pprta de S-Domingos caminhando a buí car a porta de. Santapyzia
3^. paifos da muralha, a encontrão, fazendo frente para ebtte o Sul, &,Ppenr
te- Com a melma valentia de todas as outras defende elf a torre a porta da ler-
yçntia da muralha do feunome, por pnde tem iahida os moradores da rua de |
Val de Donas- O nome proprio deíla torre he de N- Senhora da Graça, por ci-
tar dentro delia encoíl adanp lua parede a 1 na Capella, aonde no ladrilho delia
eífá htrmburaço, donde fe rira terra para fe dar abebera peffoas , que em luas
doenças tem faffio , & nas melhoras tem a experiência mollrado a lua grande ]
virtude-Te eíta torre a íua porta para o Sul A deito te delia hu Cruzeiro de pet
dra com aífentos ao pè, & no alto da Cruz a imagem de N- Senhor crucificado.
Para cima da muralha que corre deíla torre para a que fica detráz de N- Senho-
ra da Piedade,tem íerventia todos os moradores da rua das Flores, & os da rua
deValde Donas,
Caminhando coita acima íahe a muralha da torre de N- Senhora da Graça
a bufear o Norte, aonde a eílão efperando os- muros da V illa velha , & tendo
andado feifeentos & doze paffos íe encerrarão no torrilhão baixo , & terraple-
nado, que chamão da Garrida, aonde antes de chegar a clle, lhe abrio a mura-
lha a porta de feu nome, que deixou peló de Santo Antonio , para dar fahida à
ruadalnfeíla, que junta com a do Poço , por ellapfíao a fazer romaria ao
Convento defte Santo, Sobre cila porta da parte de foraíe abrio hum nicho na
muralha, aonde fecollocou huma imagem de Santo Antonio- Para cima deíla
muralha tem as caías dos moradores da rua do Gado, & do Poço íerventia ? &
debaixo das fombras das pafreiras, que tem por cima delia, iógrão huma ale-
greviíla- •
Tenho referido o que toca aos fortes , & éxcellentes muros de pedra da
nova Villa, para o tempo em que fe fabricàrão, feitos por EIRey Dom Diniz, &
feufilho Dom Affonfoo Quarto, como fevè dos efeudosde fuas Armas, que
mandarão pôr pela parte de fóra delles fobre as portas daTua ferventia, & to-
dos forão feitos primeiro que as torres, porque eílas forao obradas por man-
dado delRey Dom João o Primeiro, como fe vè dos elcudos de fuas Armas,que
eífão encoífadas aos muros: faõ todas muy altas, bem obradas , & coroadas
de ameyas, como o f ao os muros.

CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZÀ, #

C A Pt XV.
; }
juy ; obi JUp' t;' .'iOq. "4*tf*.P ' :í'r>i'. «'.J> 'í->
Dos Arrabaldes de Gaimaracns , ©*' Igrejas que nelles
.eftao jituadas.
níniomtb gelar»>,*y ' 'òbna '■ . jp<ííBflp.: Tjíbíft.V ,'j^ ..tacj , :
j >■'.
1
Í" Ora dos muros deíf a Vília entre o Norte, & Naícente ficáo a rua , a que
'dat onome huma Capellu dainvocaçãrí.dó Salvador *o aonde cftá fituadp.
a auinta do Verdelho conTuas nobres caías , quepoíTuc Jeronymo de Matos
Feyo, Cavalleiro do Habltodethriltojfidalgo da Caía dei Rey , Scjuiz dds
feus Reguengos. A rua do Cano com o leu tanque mal provídode agua , que
topa na. 1'uave fonte da Douradinha.
Ficão para a rqefma parte mais enqoíiadaâ ao Naícente a rua nova de Al toa-
da, & na fua igualdade defeendo pàraaVillaa rua de Arcela, & a rua do Cano
de cima, a que antigamente chamavão das Gafas, que a divide da rua da Ar cela
a Capella de Santo Antonio,que inifituío Antonio Cardofo da Sylva, Thefou-
reiro mer de Valença- Na mefma igualdade defeendo para a Villa continua a
rua das Oliveiras-, primeiro lugar, em que os Padres de Santo Antonio íeaga-
falharão nefta Villa, vindo a fazer nella o feu Convento; J
O Burgo de Santa Cruz, que por ficar junto da Capella deíle nome , delia
tomou o feu, tem a fua ferventia para dentro da Villa pela porta da Frieira. A >
rua do Fato, que fica entre o Naícente, & o Sul tem a fua fahida para o Moftei-
ro de S. Marina da Coifa, & a ferventia para a V illa pela rua Carrapatofa, & de-
ita topa na rua da Pupaatè fahirao Campo da Feira. i
A rua dos Triages, que fica junto à torre dos Caes , & contigua a ella a
rtia das Hortas do Prior, &deífh a rua, que chamão do Poço das hortas. A rua
do Postello das hortas, que fica junto da torre, oc porta da Senhora da Guia.
ò Campo da Feira, para onde tem a fahida a torre , & porta de feu nome,
(que tem no principio huma Cruz de pedra, dourada , & pintada com a ima-
gem deN. Senhor crucificado) he campo grande, & alegre, & femprebem po-
voado, por fer a melhor fahida daquella Villa, & o atraveífa hum regato, a quem
no feu cicílrido emprcflou feu nome, para nelle fe chamar o rio do Campo da
Feira , que corre por baixo dehuma ponte terraplenada igual comomefmo
campo, que tem de largo trinta paifos, &eneoftados às fuas guardas de huma,
& outra parte aífentos de pedra : tem de comprido efta ponte cento & vinte
paífosatè topar em hum Cruzeiro de pedra com fuas cicadas , que eftá entre
ella, &: a Capella de N• Senhora da Confolação.
Eftá eíta Capella íituada em hum campo largo ( que he ametadedo que &
ca dito) bem povoado de arvores, a cuja íbmbra fe faz huma feira de beílas no
primeiro Domingo de Agoílo, que dura tres dias: eftãonelletres:ruàs , a fi-
ber, a das Pretaspara o Naícente, a da Barroca para o Sul, & a da Ramada para
entre o Sul, & Poente. Sahindo da torre, & Campo da Feira )] St caminhando
à mao direita para o Poente continua a rua de Tráz do muro, até topar com a
rua de S- Damafo, que perde o feu nome an hum campo largo , que chamão i
Carreira, ou Pelourinho. .
Quemfaheda porta da torre velha, fe acha alegre neífe campo ,-por em-
pregar aviftaemverdes prados, & arvoredos : ficão nelle encoftadas ao muro
da
■j6 TOMO PRIMEIRO . ;
tia porta da torre velha as cafas da rua, que chamão de Trás de Alfandega, to- •
das de alpendradas fobre columnas de pedra. Por baixo de fie campo para o Sul
eftá íituado o Burgo, que chamão rua dc Couros, que fe compoem de tres , a
dofeu nome, a rua de S- Francifco, & a dalém, que lhe chamão aílim, porque a
dividedas outras o regato, que corre do Campo da Feira, que largando aqui
o nome, que trazia de cmpreftimo, tpmou o de rua de Couros, por eftes lerem
confervados nelle pelos Sapateiros, aonde naquelle lugar tem íeus pcíàmes, &
nellepaífa efte regato por baixo de huma ponte de pedra com guardas de huma,
& outra parte,& já tam cheyo de aguas,que paffando por tres cafas de moinhos,
faz trabalhar em cada huma duas mós- Na lua mefma corrente fe ajunta o cã-
poda Carreira cõ o terreiro de S. Sebaftião , que eftá defronte da alpendrada
da Alfandega, òc contíguo com ella para a parte do Sul , aonde eftà íituada a
Igreja de S- Sebaftião, que lhe deu o nome , a qual he huma das cinco Paro-
chias da Villa. Tem eft a Igreja diante da fua porta principal huma alpendrada,
he toda azulejada, & a divide da Capella mórhum arco de pedra , que tem en.
coftado à íua parede da parte do Euangelho hum Altar dc S-jofenh, que fabri-
ca a fua Confraria, cujos Irmãos, quando fahem fora, levão veftias brancas, &
murças azues debaixo do feu guião azul, & branco-
' Abaixo defte Altar, no lado da parede da mefma parte do Euangelho tem
huma porta traveífa com ferventia para o terreiro da Alfandega , & fobre ella
em hum nicho da parede fe poz huma imagem de N. Senhora ,& defronte defta
porta nomeyo do terreiro entre a Igreja, & a Alfandega eftá huma Cruz de pe-
dra com a imagem de N- Senhor Jefu Chriflo crucificado, & da outra parte a de
N- Senhora. Logo junto à porta traveífa no mefmo lado da parede eftá o Altar
de N. Senhora do Soccorro, que fabricão feus Confrades •, fov inftituídopor
devoção de Antonio Paes do Amaral, Cavalleiro do habitode Chrifto. Enco-
ftadoao arco da Capella mór da parte da Epiftola eftá a Capella de Jefus, que
adminiflrão feus Confrades , os quaes quando fahem fóra , levão veftias
brancas debaixo do feu guião da mefma cor. Abaixo defte Altar no lado da pa-
rede da Igreja eftá huma porta da Sancriítia da Confraria do Santiflimo, & jun-
to a ella no mefmo lado da parede eftá o Altar de S- Filippe Nen, que fabricão
feus Confrades, & devotos.
Por baixo do terreiro de S. Sebaftião , & portas da mefma Igreja para a
parte do Sul eftá a rua do Guardai,& a q chamão deTrás de S.Sebaftião, q fe co-
munica com a rua Caldeiroa; & defronte da porta principal da dita Igreja cor-
rendo para entre Sul, & Poente, vay a rua aeTráz dos Oleiros a deíembocar
na rua nova das Oliveiras. Ccmmunicafe o terreiro de S- Sebaftião para a par-
te de entre o Poente & Norte com a Praça do Tourai , íituada ao pe da mura-
lha, que corre da torre da Alfandega para a de S. Domingos. He efta Praça cer-
cada de cafas de alpendrada fobre colunas de pedra, excepto as do Vendaval, &
da parte de entre o Norte, & Nalcente he cercada da dita muralha- O cuftofo,&
viftofo das feftas, que na'dita Praça fe tem feito,tem eftendido pelomundo feu
nome, & fama: os aífentos , & efeadas do pé da muralha fe occupão de tanta
gente nefta occafião, que a variedade das galas faz com que a vifta fique fem re-
foluçao para a efeolha das cores.
Nos dias de feus feftejos fe vè efta Praça guarnecida de muitas danças, &
clarins, que depois de a pâífearem, dão final para que a occupem ginetes , que
guiados da (jeftra mão formão com intricadas voltas inveftidas , & retiradas
tão fugitivas, que deixão as viftas confufas para fe poder julgar o cuftofo das
DA COROGRAFIA EORTUGUEZA. j?
galas, de quem os domava. Tem eftà Praça entre fi, & as cafas, que a cercão da
parte do Sul, hum chafariz de feis bicas,cuja agua vem do tanque daPraça ma-
yor, & lha envia por canos limpa, & clara : he chafariz grande de duas taças
muy viftofo, & aprazível,tem no alto por remate huma esfera de bronze dou-
rada, & ao pè delia em hum efcudo illuminadas, & douradíts as Armas Reaes >
&nas cofias defle efcudo outro com huma Águia negra coroada de ouro com
hum letreiro ao pè, que diz, /inneáe 15 88» he todo cercado de aíTentos,& ef-
cadas de pedra.
Entre efta Práça do Toural, & as cafas , que a cercão da parte de entre ò
Norte, & Poente, eftà hum Cruzeiro de pedra muito alto, & foberbo, lavrado
com todo o primor da arte fobre hum pedeftal , que aífenta em hum patim de
pedra, para onde fe fobe por cinco efcadas, & tem à roda do pedeftal por baixo>
aonde eftá firmada a hafte da Cruz,hum letreiro, que diz : ESÍa obra mandbu
fazem Iwz, & Irmandade de N Senhora do Rofario no anno de 1650.
He efta Praça do Toural hum tronco, de que procedem muitas ruas do
Arrabalde daquella Villa; porque junto dofeu chafariz para a parte do Ven-
daval fahe a rua das Lages, que junto com a ruadeTráz dos Oleiros, de que
já falíamos, ambas embocãonaruanova das Oliveiras , quevay parar em hum
Cruzeiro de pedra de vinte & cinco palmos de hafte tão delgada , que não tem
de groífura em roda mais que palmo &meyo, firmada em hum pedeftal, que af-
fenta fobre hum patim dè efcadas à roda; he efte Cruzeiro todo dourado , ôc
pintado, & na Cruz não tem imagem alguma. Aqui perde a rua nova das Oli-
veiras o feu nome,& delia fahe para a parte de entre o Poente , & Norte a rua
Traveífa, que divide a rua de S-Domingos da rua de Gatos.
Sahe também da rua nova das Oliveiras outra para o Vendaval, que cha-
mão a rua das Molianas, quevay parar no rio da Maaroa , para onde palia por
huma ponte fem guardas. Efte lugar da Madroa hc hum Rocio pequeno,& bem
Êovoaao de vifinhos ; eftá no meyodelle hum tanque de duas bicas , que por
em cheas de agua, fatisfazem a muita gente, que de longe a vem bufcar. He
tanque alto, & tem por remate huma Cruz entre duas pirâmides de pedra.
Sahe defte Rocio huma trhveífa, que vay bufcar o Sul, aonde topa com o
lugar de V illanova, a que vulgarmente chamão dos 1 intureiros , onde por ci-
ma de huma ponte de arco fem guardas faz feu caminho pela borda do rio âcima
ate toyjarnarui Caldeiroa-Sahindo do Rocio da Madroa cofta acima para a par-
te do Vendaval, que he a fahida daquella Villa para a Cidade do Porto ) fe en-
contra com as ruas da Cruz da pedra, & Montinho, que as divide huma da ou-
tra huma Cruz de pedra pintada. Defcendoda rua do Montinho para a parte
dentre o Poente, & Norte, fe topa com a rua de Trãz da Gaya, & defta fe conti-
nua a de Gay a,que fica huma nas cofias da outra no mefmo fítio.
Tornandoà Praça do Toural, fahe delia para a parte dentre o Vendaval, &
Poente a rua de S. Domingos, que continua atè fe ajuntar no mefmo curfo com
a rua de Gatos,que as divide huma da outra a ruaTraveffa com o Cruzeiro de
pedra pintado,firmado no feu pedeftal,q aífenta fobre hQ patim cercado de efca-
das de pedra, q correfpondc ao em que dá fim a rua nova das Oliveiras-Conti-
núa a made Gatos no mefmo curfo, que tomou a rua de S- Domingos, atè pa-
rar no Rocio de S. Lazaro , aonde no meyo delle eftá fituado hum Padrão de
abobeda 4c pedra, que recolhe a Capella dos Santos Reys Magos , & debaixo
da abobcda>áefte Padrão eftá huma Cruz de pedra mármore com a imagem de
Chrifto crucificado , com N. Senhora, & o Sagrado Euangelifta- He efta CaJ
58 ./• TOMO PRIMEIRO
pclla fabricada pelos Confrades, & devotos de N- Senhora da Aprefentação.
Dcftc Rocio para a parte dentre o Vendaval ,& Poente fe continua a eft rada, ,
cue vay daquella Vilia para a de Vília de Conde-
Divide o Rocio de S- Lazaro da rua da Gaya pela parte do Sul o rio da Ma-
droa.q naquelle lu|arlheofferece hua ponte de pedra para a lua comunicação,
& nelie mefmo deixando o nome de rio da Madroa , que lhe tinha pofto o Ro -
cio, por onde tinha paíTado,feappeilidou no de S- Lazaro 3.que confervou arê
dar volta por detráz da Capella dcfte Santo, & feu Hofpital , de que também
tomou o nome aquelle Rocio, em que eíhá fituada,&encontrandofe allicom o
prio de bom nome, fez cada hum delles naquelle lugar depoíko do nome , que
Strazia, & formando ambos hum corpo, fe appellidou Celinho, que regando os
dilatados, & ferteis campos da Porcarice, fe vay meter no rio Celho-
No mefmo lugar, donde a Praça do Toural deu principio à rua de S. Do-
mingos, o deu também para a parte de entre o Poente, & Norte a outra , que
chamão de Traz do Moíteiro. Tambem da celebrada Praça doToural fahe pa-
ra a mefma parte a rua da Fonte nova , que vay parar na rua de S. Luzia , a
quaieílá j unto à torre de feu nome, & continuando para o Poente topa no Ro-
cio da mefma Santa- Do principio defta rua de S. Luzia fahe huma travciTa
para a rua do Bimbal.
No Rocio de S- Luzia eftá fituada a Capella deita Santa , & junto a ella
bum tanque de huma fóbica. Delle continua para o Poente a rua, que chamão
da Calçada, que he a eílrada commua para a Cidade de Braga. Do mefmo Ro-
cio de iS- Luzia fahe outra rua para a parte do Norte , que chamão do Picoto-
AruadeSoalhaes fica entre hortas por detráz do Cõvcto de S-Francifco entre
a rua de S - Damafo, & a da Ramada.
Eflas faõ as P raças, Rocios, & ruas povoadas, que aquella Villa tem fo-
ra da circumvallação dos muros em feus arrabaldes. Agora para medir fua grã- j
deza, digo que a muralha, que cerca, & deíènde aílim a Villa velha, como a no-
va, tem cm todo o feu circuito tresmil & feifeentos & oitenta & cinco pálios
communs, com nove portas de ferventia repartidas por ella, & fete torres altas,
que afortificão,& fazem refpeitar,excepto doús torrilhoens terraplenados,
que não tem mais altura que a muralha, como tenhp manifeílado por feus no-
mes. Tem cila Villa dentro dos feus muros feifeentos & oitenta & tres vi li-
nhos,& em feus arrabaldes mil & duzentos & oitenta , que'fazem foma.de mil
& novecentos & feífenta Sc tres-

CAP. XVI.

Dos Mofleirosy Igrejas, Hof-pitaes,& Capellas, que tem a Villa de


Guimaraens dentro dos feus muros, nos arrabaldes.

HE a primeira a Igreja de S. Miguel do Caftello, Parochia da Villa velha,


em que muitas vezes tenho fall ado, mas còmo foy a primaz de todas as
do Arcebifpado dè Braga, he obrigação lhe demos em tudo o primeiro lugar,
como fe deve.tambem ao feu Hofpital do Anjo, que como he tão antigo,fe lhe
não acha fundação.
ACa-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 59
A Capella dcN- Senhora da Boa Hora, que inftituírão osConegos Anto-
nio Dias Pimenta, & feu irmão j crony mo da Cofta Pimenta nas fuas caías, em
que vivem no fim da ruadalnfefta.
Na mefma rua fedeu principio no anno de 1685- ao Convento de SI he-,
refa, q hojefevè acabado com toda a perfeição,& grandeza, aífiftirio de Reco-
lhidas, por não terem ainda a confirmação de Religiofas ; eftáenv tanto fegre-
do o feu fundador, que fazendofe grandes diligencias , fenão pode alcançar.
Foy lançada a primeira pedra aos 26. de Março de i68y & em 8. de Abril de
168 5. fedíffe na Capella a primeira Miffa : aos 13.de Marco de 1687. toma-
rão o habito com licença do Padre Provincial dosCarraelitas Fr. Pedro da Pu-
rificação, fendo Arccbifpo de Braga Dom Luis de Soufa.
A Capella de N. Senhora da Graça, que he Morgado dos Figueiroas, que
iníhtuío joão de Figueiroa no íoftr de Outis, que hoje poífue com o dos Mef-
quitas Pantalcão de Sá, & M*ello, com tribuna para fuas cafas fituadas na rua
da Infefta. . , - .
No principio defta rua, &fim da de Santa Mana fe ve hum terreiro lar-
go com hum Cruzeiro de pedra do Mofteiro de S- Clara, aonde afliftem hoje
feífenta & duas Religiofas, cuja Igreja he grande, & toda azulejada , forrada
de- madeira, & apamelada; divide a Capella mór hum arco de pedra , que tem
por remate huma imagem de Noffo Senhor crucificado com N. Senhora, &. o fa-
dado Evnnaelifta, todo dourado, & pintado, & encoftado à parede defte arco
da parte doEuangelhohum Altar de N- Senhora da Conceição, & da parte da
Epiftola outro de\S- joão Bautifta, ambos fabricados com toda a perfeição por
fuas devotas Religiofas* Tem a porta da fua Igreja para a parte do Sul , & 110
frontifpicio delia metido em hum nicho a imagem de S. Clara, com hum letrei-
ro, que diz, Anr.oáe 1561-
Foy fundado eftc Mofteiro por Balthafar de Andrade , Mefire-efcola da
Collegiada de Guimaraens, que lhe lançou a primeira pedra dia de S. Miguel do
anno do Senhor de 15 tP' com o Cabido da me', ma Collegiada,& Religiocns da-
quella Villa; & em dia de S. Clara anno de 1^61. entràrão nelíe fuas Rcligio-
fas,quevierãodo Mofteiro de S- Clara de Amarante, as quaes erão filhasdo
dito Balthafar de Andrade.
Defronteda portatravefla , que ficaparaaparte doNorteda Igreja da
Real Collegiada, 110 principio da rua de S. Maria elta fituada a Capella de San-
to Ffíevãotquehe da Coroa, de que he hoje admmiftrador o Padre Paulo Go-
mes Protonotario Apoftolico-
A Albergaria de S-Miguel eíhà fituada na rua Sapateira , que tem íua Ca-
pella da invocação do mefmo Anjo com cafas de Recolhimento de pobres ad-
mitidos pelos Sapateiros daquella Villa, quefaõ os Adminiftradores delia, cõ
Confraria de Juiz,& Officiaes, que admirem as petiçoens, precedendo infor-
mação de pobreza dos quenelle íe recolhem 5 & todo o pobre, que nelle falece,
he levado pelo Cabido a fepultar no clauftro da fua Collegiada fem interefic
algum dõ Hofpital, por contrato que os Conegos fizerão comosfeus Admini-
ftradoresnoannode 1459* t .
Na mefma rua Sapateira abaixo defta Albergaria efta fituada a Igreja da
Mifericordia com fuas cafas de defpacho. T em o leu frontifpicio mageftofo de
obra Romana, & no alto dclle huma tribuna fundada em colunas de pedra, aon-
de eft á huma imagem de N. Senhora encoftada a hum efpelho de vidraças, que
xU luz ao feu Coro^ que eftá fobre a porta principal,que fica entre o Poente, &
Nor-
6o TOMO PRIMEIRO
Norte,,& fe fobe do feu terreiro (querem defronte) para ellapor humas eiça-
das muito largas, & bem lançadas- He Templo grande , & alegre, & o divide
hum muito levantado; & largo arco de pedra dourado; &. pintado da lua Capel-
la n.ór, para onde fe fobe do corpo da Igreja por duas cfcatias de pedra ; huma
da parte da Epiítola, & outra do Euangelho, fechadas com grade de pao preto
bronzeada, que mandou fazer Dom Joíeph de Menezes; fendo Dom Prior da
Real Collegiada, & Provedor deita Santa Cafa.
A Capella mór deita Igreja he cubertadeabobedade pedra apainelada com
feu retabob; que cobre toda a largura da parede com a fua grandeza , em que
fe formão tres Altares :no do meyo eítà o Sacrario: no da parte da Epiítola N-
Senhora da Mifericordia: & no da parte do Euangelho S- Eloy - Abaixo do arcO;
que divide o corpo da Igreja da Capella mor;no lado da parede da parte do
Euangelho fe abriohuma Capella em arcodfc^edra da invocação de S- Bento,
que mandou fazer o Doutor João Carneiro de Mofaes, que a dotoU; & fabricão
feusdefcendentes- Do outrò lado da Epiítola abaixo do mefmo arco fe abrio
outra Capella defronte da primeira da invocação de N- Senhora da Paz, a qual
mandàrão fazer Francifco Jorge Mendez, & lua mulher Maria Thomas > & a
dotarão de muitos bens com duas MifTas quotidianas-Junto a eita Capella eít a
huma porta traveífadeita Igreja, que defce para hum pátio de lerventia dc to-
das as officinas da Cafa-
Temascafas do defpachoâ fua galaria degrades de ferro para o feu ter-
reiro, manifeítando cm fua grandeza a muita char idade , quefe tem introdu-
zido na devoção de feus Irmãos, para que a cuíta de fuás fazendas não faltem
ao magnifico de fua Igreja, ao aceyd do nobre, & mageitofo de fua» calas, & a
todo o provimento do feu Hofpital. Alem de outros muitos Capellaens, a que
eítãc encarregadas as Miíías dos legados deita Cafa, tem quatorze , que faõ
obrigados a rezar no Coro as Horas Canónicas, & hum, que tem apoíentadoria
no mefmo Hofpital, a cuja piedade eítà recomendado não falecer nelle enfermo
algum fem todos os Sacramentos- . •
Eítava antigamente eita Santa Irmandade da Mifericordia fituada noclau-
ítroda Collegiada dc N- Senhora da Oliveira na Capella de S- Braz , que inda
hoje tem o nome de Mifericordia velha, & foy o primeiro fundador da Igreja
aonde de prefente afliíte, Pedro de Oliveira, Cavalleiro do habito de Santiago
lio anno de 1 < 8< - que foy natural daquella Villa, & delia foy também natural o
Doutor Paulo de Mefquita Sobrinho, que inítituío os primeiros Capellaes do
Coro, fendo Defembargador, & Juiz dos Cafamentos na Cidade de Braga-
A Capella de N- Senhora dasMerces com Recolhimentp de oitenta Ter-
ceiras veítidas no habito de Religiofas da Santi ílima Trindade", que inítituío na
rua do Gado o Doutor Paulo de Mefquita Sobrinho, aceitas pela Irmandade! da
Mifericordia,com obrigação de lhes darem para feu fuítento certa porção de di-
nheiro todos os dias por conta dos bens, que deixou à mefma Irmandade.
A Capella do nome de Jefus,que inítituíonaruadosFornosoDefembar-
aador João de Guimaraens, Enviado a Suécia, &01anda, com tribuna para el-,
lanascafasdefcu Morgado, que hoje poífue Manoel Peixoto dos Guimaraens
feu Pq • taj s payo fituãdo no terreiro deite Santo com a fua Capella dc

N- Senhora, de que faõ adminiítradores os Padres da Coraria, que cobrão feus


foros, & recolhem nelle com informação de fua pobreza aos neceílitados.
A Capella do Anjo com o feu Recolhimento de Beatas de S-Francifco ad-
» * mitidas
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 61
mitidas pclo Commiffario dos Terceiros do feu Convento,que cftá .fituada na
r ua do An jo, de quem tomou o nome-
A Igreja de Santiagoda Praça do Peixe, annexa com léus foros ao Meltre-
efcoladoda Real CoUegiada de N- Senhora da Oliveira com que dou fim aos
Morteiros, Igrejas,Hofpitaes, Sc Capellas , que aquella Villa tem dentro de
feus muros. „ . , , .r ,
Aílim como os arrabaldes faõmayores, Sc mais povoados de vifinhos que
a mefma Villa dentro de feus muros; o faÕ também mais illuftrados de Mortei-
ros, Igrejas, Sc Capellas, em que darey principio na de N. Senhora da Madre de
Deos, fituada na Freguefia de S. Pedro de Azurey,com alpendrada, que reco-
lhe a ília porta, que tem para o Norte ao pè do monte largo na eftrada, que vay
nara S- Torcato. Adminiftraefta Capella F ilippe de Soufade Carvalho, fidal-
go da Cafa Real, CavaUeiro da Ordem de Chrifto,Sc Alcayde mor de Víllapou-
ca de A guiar, por fer annexa ao íeu Morgado- ,
V indo derta Capella para a Villa velha pela rua do Cano fe topa na rua do
Salvador em huma Capella, que lhe deu o nome , fituada em hum largo terrei-
ro debaixo de frefcas fombras de carvalhos , aonde continuamente fe achao
devotos feus : tem a porta principal cuberta com huma alpendrada iobre co-
lunas de pedra, fazendo frente para entre o Vendaval, Sc Poente, Sc correfpon-
dencia à porta da Villa velha, que chamão de S- Barbara- He efta Capella fabri-
cada pelo Cabido derta Villa. * j
S ah indo derta Capella do Salvador, cercando a Villa pela parte de entre o
Norte, Sc Poente, fe topa com o Convento de Capuchos da Província de Santo
Antonio em hum fitio alegre,q fe pouco abundante de agua para as l uas hortas,
tem a de huma cifterna para as officinas, Sc a de huma fonte excellence para o leu
regalo. Fúndoufe com efmolas dos devotos do feu Santo no anno de \ 664.. em
que lançou a primeira pedra Dom Diogo Lobo da Sylveira , l endo Prior da
Real Collegiada de Guimaraens, acompanhado do feu Cabido , Sc mais keli-
oioens da Villa item a fua porta principal para o Sul, fazendo frente a porta da
muralha da'Vilia, a que antigamente chamavão a Garrida , Sc agora em razao
derte Morteiro lhe chamão de Santo Antonio: aífirtemnelle quinze Religiolos,
Sc he tão falutifero, que he nomeado entre elles por cafa da Saúde-
A Capella de N. Senhora da Conceição com a porta principal para o Ven-
daval cubcrta com huma alpendrada, Sc duas traveílãs , huma para entre o Sul,
Sc Nafcente, Sc outra para entre o Poente, Sc Norte : he Capella grande co San-
crirtia, Sc lhe divide a Capella mór do corpo da Igreja hum arco de pedra, Sc en-
cortado a elle da parte do Euangelho hum Altar de N- Senhor crucificado, Sc da
parte da Epiftola outro de S. Caietano : eftà bem fabricada pelos devotos de
N. Senliora, Sc derte Santo: tem Miffa foléne com canto de orgao todos os íab-
bados por devoção devotos derta Senhora , quenerta fua Igreja íe achao
continuamente de romaria, Sc oração -.corre a limpeza , Sc concerto por conta
do feu Ermitão,que vive junto a ella, em huma cafa , que os mefmos devotos
lhe mandarão fazer. He éfta Capella da Real Collegiada, obrigado o feu Cabi-
do à fabrica delia: eftà fituada na freguezia de S.Pedro de Azurey junto da el-
trada, cue fahe daquella Villa para a Cidade de Braga pela rua da Calçada.
A Capella de S. Luzia fit uada no meyo de hum terreiro com a porta prin-
cipal cuberta de alpendrada para a parte dentre o Nafcente, Sc Norte , Sc duas
portas traveffas, huma parao Vendaval,. Sc outra para entre o Poente,Sc Norte:
he bem aífiftida de Romeiros, principalmente no feu dia : he da Collegiada de
F N.
6i TOMO PRIMEIRO
N. Senhora da Oliveira, & o feu Cabido obrigado à fabrica delia. ,
 Capella de N. Senhora da Luz,fituada nolugar do Miradouro da fregue-
fía de S. Miguel deCreixomil junto da eílrada, que fahe daquella V ilia para a
da Villa de Conde; com a porta principal para entre o Vendaval; & Poente,cu-
berta de alpendrada fobre colunas de pedra; he também da Real Collcgiada; cu-
ja fabrica corre por conta de feus Confrades.
A Capella de S-Lazaro com o leu Hofpital, em que ferecolhião antigamc-
te huns enfermos, que chamavão Gafos, ou mal de S- Lazaro , doença, que fe
extinguio pelas razoens, que os Authores de Hiítorias naturaes curiofamente
apontão. Tinha a Camara daquella Villa antigamente a adminiílração , & fa-
brica deíla Capella, & feu Holpital, & recolhia feus foros, que faõ muitos , &
forao hoje mais, fe naquelle tempo não tiverão defeaminhos, para andarem a-
gorafonegados; & como no Hofpital da Santa Mifericordiafe curão todas as
enfermidades,impetrou a fua Irmandade no anno de 1671. huma Provifaõ del-
Rev, em que lhe deu a adminiílração delia Igreja,& feu Hofpital, & elegem Ca-
peílão para naquella Capella dizer Miífa todos os Domingos, & dias fantos por
obrigação ; & no Holpital, em que fe curavão os enfermos, fe recolhem hoje
pobres neceííitados.
Na rua Traveífafe fundou o Convento de S. Rofa de Religiofas de S. Do-
mingos no anno de 1680. comefmolas,queporfua induflria ajuntou o Padre
Frey Sebaílião, fendo Pridir no mefmo anno do Convento de São Domingos de
Viana, concorrendo para iífo algumas peífoas da Villa de Guimaraens, que que-
rião recolher fuas filhas a pouco cuílode fua fazenda, aonde viveífem em clau-
fura honeíla, & religiofamente- Ne lie lugar eífava antigamente huma Alber-
garia de pobres paffageiros com huma Capella de S. Roque , que ferve hoje de
Igreja ao novo Moíleiro. Junto a eíle Moíleiro fe comprárao humascafas para
recolhimento dos paffageiros, a que com authoridadedajuíliça le aggregàrão
os foros, que aquella Albergaria çinha para fua fabrica.
Na entrada da rua de S. Domingos foy a ultima fundação, que teve o Cõ-
Vcnto, que lhe deu o nome; porque o primeiro íitio,em que feus fundadores fe
recolh èrão neíla Villa, foy na dita Albergaria de S. Roque , aonde chegàrão à
petição dos povos daquella Villa em 12. de Dezembro do anno do Senhor de
1270. reynando em PortugalElRey Dom Affonfoo Terceiro , & ajuntandofe
todos os do Confelho com os Religiofos fundadores ( que forao Frey Alvaro
Prior do Convento de S. Domingos da Cidade do Porto, Fr. Eílevão Mendes>
& Fr. Diogo de Frandes) na Igreja de Santiago da Praça do Peixe, alli lhe deu
licença a Villa para edificarem o Convento , & o fundàrão aonde agora eílà a
torre da Senhora da Piedade; para o que concorrerão muitos particulares,dan-
do de efmola para a fua fundação campos, cafas, & quintaes.
Exiílio eíle Convéto naquella fua fundação iy j. annos>porq no do Senhor
de 1323. fe mandou derrubar por ElRey, D. Diniz, quando feufilho D. Affonfo
fe levantou contra elle, querendo tomar eíla Villa de Guimaraens , que feus
moradores com o Capitão mor Mem Rodriguez de Vafconcellos defendèrão
com grande valor- Para a fegúda fundação no lugar,aonde hoje eílá eíle Moílei-
ro, concorreo o Arcebifpo de Braga Dom Lourenço com grandes efmolas,das
quaes fe fez o Moíleiro,Coro,& Sãcriília defde o anno de 13 7 y-atè ode 1397.
Nas vidraças do efpelho,q eílá fobre o arco da fuaCapella mór,fe cõfervão ainda
as Armas, de que ufava eíle Arcebifpoyque naquelle lugar as mandou por illu-
minadas. Também concorreo para a fundação deíle Convento Dona Maria
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 63
de Berredo, mulher de RuyVaz Pereira, como o manifefta hum letreiro , que
eftá na Capella de S. Pedro Martyr ao entrar para a Sancrtftia, que he dosPerci-
ras Marramaques» . ó ,
He a fua Igre ja detres naves repartidas com arcos de pedra fundados em
firmes pedeftaes,com a porta principal para entre ò Vendavàl, & Poente. Tem
a fua Capella mór toda azulejada de abobeda de pedra dourada, & pintada,jcò*
mo o arco que a divide do corpo da Igreja, & fechada de cuftofas grades de pao
pretQ bronzeadas. Foy inftituída por Dona Branca de Vílhena, filha do Con-
de Dom Henrique Manoel, & de fua mulher a Condeça Dona Brites de Soufa,
& a dotou de quatorze mil, & quatrocentos reis por obrigação de Miffa quo-
tidiana., de que he hoje adminiftrador o Conde de Unirão,que nos lados defuas
paredes tem authorizadas fepulturas. •
Eftá efta Capella'no meyo de duas também de ábobeda de pedra com ar-
cos, que as dividem do corpo da Igreja: a da parte da Epiftola he deN. Sénho-
ra d as Neves, & por outro nome de NoíTa Senhora a Fermofaj foy inftituída
por Gonçalo Affonfo do Cem, que a dorou de fazendas, que o Convento ooííiie
por obrigação de feíTentaMiffas,& nella jaz fepultado; paíTou ã admimftração
a Nieolao de Faria, & eftá hoje no Almotacel mór. Abaixo deft a Capella enco-
ftadonoladoda Igrejaparaaparte doSui eftá o.Altar de S. Frey Pedro Gon-
çalves, que fabricãoitus Confrades j fica no Cruzeiro da Igreja defronte do
deN-Senhora do Rofario. •
A Capella deN. Senhora do Amparo, que efta no mehno lado da parede
para a parte do Sul,foy inftituída por Joanna Luis, mulher de Sebaftião Gon-
calves mercador, & a dotou dehuma fazenda, que o Convento poífue por obri-
gação de feis Miífas : he hoje adminiftrador delia T orca to de Andrade & Al-
mada, m.orador na Villa de Barcelíos.
A Capella deN- Senhora do Defterro,&por outro nome de S. Jofeph, que
fica do melmo lado da parede abaixo da porta traveíta defta Igreja, que vay para
o Sul, fõy inftituída por Iíabel Coelha de Morgade, que a dotou de três xVI ifas
cada fomâna: he hoje adminiftrador delia João Leite Pereira»
A Capella de S-1 homàs, que fica encoftada à parede dó arco da Capella mór,
entre cila, & a deN. Senhora das Neves, em que eftá hum tumulo com os oitos
do Beato Lourenço Mendes, fov inftituída pelo Licenciado Manoel Barbofa ,
que a dotou de quinze medidas de trigo por obrigação de feis Miífas cantadas :
he adminiftrador delia JerOny mo Vieira de Caftro Morgado de Aldao, como o
he também da Capella.de S- Luóas , que eftá fit nada na igreja de S. Thomè de
Lisboa, que inftituíoOzenda Annes Leonardes, mulher que foy de Payo Sal-
vadores, 11a era do Senhor de 13 4.0. & a annexou ao leu Morgado dos Vieiras >
que anda annexo ao dos Pintos , inftituído por Alvaro Pinto, & fua mulher v
Dona Catherina de Faria no anno de ifto» que tem fua Capella no Convento
de S.Doningos da Cidade do Porto, de S. Catherina Martyr ; & he tâmbem fe«
nhor do Morgado, que ififtituiona mcfmâ Cidade Catherina Carneira, &. feu
marido Diogo Garcez fem Cajpella.
A Capella de S- Pedro MTartyr toda de abobeda de pedra, que efta da par-
te do Euangelho da Capella mqr com arco de pedra, que a divide do corpo, da
Igreja , & defta fe entra por ella para a Sancriftia. Foy inftituída por Dona
Mana de Berredo, mulher que foy de Ruy Vaz Pereira, que nella jazem ambos
fepultados. Foy dotada em dez mil & tantos reis por obrigação de cem Mif-
fas: he adminiftrador defta Capella D. Gaftão Coutinho, fenhor de Regalados.
F ij A
64 / \ TOMO P/RiLMEIfU>K.O ACI
A Capella de N. Senhora doRofano, qinélefiá da fíar&adc) Luangelho én ,
coitada à parede do Cruzeiro, he^fabricadapela fua IxmartEáde^ cUjos Irmãos-
quando fahemfóra , levão veítias brancas debaixo do feu guião da-.mefnaa
COr. 'T . --7-F-, ; • ~ -
; j A Capella de S. Catherina Martyr, & S. Gonçalo, quõiCÍtá encofiada àpa-
rédedameíina parte dade Uíi-SpnhoradoRofario ? ôc aifinbrda porta trayeífa,
que vay para o clauítro, hc faiíiicada pelos Confrades deliía;Santa,& Sai to»
A CapelladeS- Catherimde ScnayquefabricãofeusConfrades. Tciçcíta
Safara feito muitos milagresjieík Convento > com que hebcirnaíliitidade Ro-
meiros, principalmente no primeiroJDofningo de Mayo, emque fe fefteja.
A Capella de S. Jacintoyagora de N. Serlhora do Terçp , admmiítrada por
f
feuslrmaos. . "
. l A Capella -do Capitulo, que inítituío f ernao de Soufa , & a dotou com
tresmilreis, que fe pagão do Morgado de Ayrão- He hoje adminiitrador deita
Capella, & do dito Morgado o Conde de Avintes. •
n-: Tem o Santuário da Sancriítia deite Convento muita s relíquias de San-
tos, &humamilagrofa do Santo Lenho eftvhnm relicário de prata, & todas ci-
las vierao a eíte Convento miraculofament<í£porque fendo Lrey Lourenço Me*
desReligiofo delle,aondeenwfou fendo jáde mayor idade, trabalhou muito,
& fez grandes ferviçòs a Deos com lua pregação, & em lua vida iezNoílo Se-
nhor por elle grandes milagres. Com efmolas, que eíte lanto Religiolb ajun-
tou pelos fieis thriítãos, fez aponte de Caves no rio Tamega, aonde fe divi-
dem a Província do Minho,& a de Trázos Montes. Quando os Officiaes anda-
vão trabalhando ndíta ponte, c-ahio Hum delia abaixo , &.-dando em humas pe-
dras, ficou logo morto; laítim^dos os companheiros, & fentindo com gritos,
& lagrimas fua defgraça,a elles acudio o fantbReligiofo,& chegandofe ao cor-
po defunfo,&tocandolhe com hum bordão, que levava, togo refuícifou, & le
levantou com vida* Admirados todos delta maravilha, ôt. milagre tão patente
a feus olhos, dalli por diante o ficarão venerando por Santo.
Enão foyfó nefte milagreaemqueosfeus Pedreiros examinirão o mui-
to que eíte Santaera favorecido dc Deos; porque quando não tinhão peixe, fe
hião laltimar ao Santo Religiofo,o qual metendo o bordão nono, fe ajunta*
yão tantos, que fatisfaziao a lua neceííidade ; & quando lhès faltava pão ,' lhe
faziãoíuas deprecaçoes, & fem verem donde lhes vinha,o Santo os remediava;
& o mefmo fazia na falta de vinho, azeite-, ^vinagre; porque faltandolhes al-
guma coufa deitas, eítavaoduas fontes da bandâ dalém da ponte na demarca-
ção de Tráz os Montes, que cadahuma delias lançava,pata iatisfação dos feus
Pedreiros, o que pelo Santo Religiofo lhes era mandadò.'- Exiftem ainda hoje
eftas fontes no mefmo lugar, & com a fédemilagrofaspor cita tradição*
c 1 PrègándohumaQuarefmaefte SantoReligiofo na Villa de Chaves, & ef-
tando na fua veiga hum dia em oração, chegou hum homem à fuaprefença, que
fefa companheiro, que delle eftava afíftado vio, & em hum inftante não vio ho-
mem algum, nem logar, aonde fe pudeífe efeonder, por não fer poífivel que por
dia. palfe coufa,que não feja vifta de todas as partes, por fér delcuberta,& plai-
na ? &efpantandofe difto o companheiro,fe íoy« ao lugar, aonde éírav a Fr.Lou-
renço Mendes, & lhe perguntou que homem era aquefleque eftivera fallando
corn elle, & por ondeie fora, porque da viíta lhe defapparccèra* O Santp Reli-
giòfo lherefpondeo, & diffe: Irmão, muitas graças podes dar a Deos , que te
tfliumioudofeu lume; efle homem, que viítes, pareceme que. he Anjo feu ; elle
4. ' me
DA COROGRAFIA PORTUGUEZÁ. 65
me deu eífã arca, que aqui eífá, & me diffequenellaeftavão muitas relíquias de
muitos Santos; & porque os inimigos da Fe tomàrão hum lugar, em que efta-
vão muitas de tempo antigo, & para que os infiéis as não dei acataffem, as man-
dou Deos efpalhar por muitas partes do Mundo, & dar aosfeusfervos, que as
guardafíem,&honr^ífem5 &mediíTe queprazia aDeosque eifa arca me foíTe
dada, para que a puzeífe em o Cõvento de S. Domingos de Guimaraens. Derão
os dou* fervos de Deos muitas graças aN. Senhor,& poflos ambos a caminho,
forão fazer entrega da arca ao Convento, aonde forão mandados, &n"elle com
grade veneração forão recolhidos na fua Sancriftia; & porq muitos Sancriífães
davao daqueilas fantas relíquias a quem lhes parecia , 'divertindo muitas del-
lasdacmelle lu£ ar-.procurou Fr. Pedro de Freitas prata,&ouro , & toda a
defpeza para federem em humas taboas, aonde eífiveíiem bem feguras; & por-
que nellas não couberão todas,Cearão as demais na mefma arca com muitas re-
liqi ias das Onze mil Virgens, que trouxe de Bolonha o Doutor Frev Affonfo
do Rego, com mais difcís bocetas de chumbo com oleo de S- Nicolao , & de S.
Catherina. r,
Morreo o Santo Religiofo Frey Lourenço Mendes no Convento de Guima-
raens, & nelle foy fepultado,& depois feusoífos forão metidos na parede en-
tre o Altar de N, Sen hora do Rofario,&o de S- Catherina Martyr pelo Padre
Frev joão de Braga no anno de 14.1 j.&naquelle lugar fez N. Senhor por elle
mui tos milagres. Daqui os mandou tirar o Licenciado Manoel Barbofa , pay
do infigne Agoífinho Éarbofa,& collocou na Capella de Santo Thomás, aonde
eílão venerados em hum tumulo de pedra, como fica dito.
No fim do terreiro daCarreira,ou Pelourinho, caminhando para o Naf-
cente fe topa cõ hum Calvário de tres Cruzes fobre arcos de pedra , que di-
vide tile terreiro de outro, que chamão dos Carvalhos de S- F rancifco , que
fendo adro daquelle Convento, lhe derão eífe nome, por eífar à fombra deíias
arvores: por baixo delias fe paffa para a rua de Soalhais, & para o dito Conven-
to de S. F rancifco.
Teve eífe Convento duas fundaçoens primeiro que tomaffe a ultima no fí-*
tio, em que hoje eífá: foy a primeira em Víllaverde no deiTridLo da freguezia
de Santo Elf evão de Urguezes, lugar que agora chamão a Fonte fanta , & alli
lhe deu principio o mefmo S. Francifco paflfandoem romaria por aqueila Villa
para Santiago de Galhzacon\o feu difeipulo S- Guálter , ao qual deixou nella
com outro companheiro,reynando em Portugal Dom Affonfo o Segundo, que
naquella Villa os mandou refidir pelos annos do Senhor de 1114. como fe vè
da Chronica de S. Francifco parte 1 liv. 6. cap. 30. & naquelle lugar perma-
neceo o dito Convento em pequena cafa por efpaço de 80. annos.
A fegunda fundação deífe Convento foy dentro da Villa de Guimaraens
junto à torre velha, em hum Fiofpital, que chamão do Anjo, fituado na rua de
feunome,que he hoje Recolhimento de Beatas da Ordem de S-Francifco, don-
de o mandou derrubar ElRey Dom Diniz pelos annos do Senhor de 1 2< o. em
razão do dãno,que delle fizerãoàs fuas gentes no'cerco que naquella V illa poz
o Infante Dom Affonfo feu filho nas differenças que teve com elle ; & querem
dofe tratar da fua ultima fundação no lugar, em que hoje eífà, lhe forão poflos
embargos pelo Cabido da Collegiada de Guimaraens , que fe guardão em feu
Arch Ivo- Mas fem embargo do impedimento continuou a dita fundação,a que
lançou a primeira pedra o Arcebifpo de Braga Dom Frey Tello,Religiofo deíla
Ordem,com muita folênidadeno anno do Senhor de 1290-& deu muita parte
F iij do
66 TOMO PRIMEIRO
do dinheiro, que fe gaitou na obra, como diz Gonzaga no feu livro da Religião
Seraíica foi. *73.
Eftá eito Convento abaixo da torre velha para a parte do Sul, & tem a por.
ta principal para entre o Vendaval, & Poente : junto delia fica a Capella dos
Terceiros de S. Francifco,com porta parao terreiro dos Carvalhos, & outra
traveffaparahuma alpendrada, que divide eito Capella da Igreja de São Fran-
cifco. •
1
Tem eito Igreja de S. Francifco a fua Capella mór toda dc abobeda de pe-
dra, &eíluque, de que faõ Padroeiros os Duques de Bragança : he Capella gra-
de, & mageítofa com hum arco de pedra muito largo, & alto , que a divide do
corpo da Igreja; tem das ilhargas duas Capellas de abobeda de pedra , ambas
de N. Senhor crucificado, com arcos de pedra, que os divide do corpo da Igre-
ja; a da parte da Epiítola tem porta por onde fe fervem os Religiofos para a fua
5ancr;ftia. Metida na parede do lado da Igreja da parte da Epiitola eito a Ca*
pella dos Santos Marty res de Marrocos, que inftituío Francií ca da Svlva , de
que he hoje adminiftrador Antonio Correa Soufa Montenegro.
A Capella de N- Senhora do O, que eito no mefmo lado da parede da parte
da Epiitola, de que faõ adminiftradores feus Confrades , & recolhem feus fo-
ros. Abaixo deito Capella eftá a de N. Senhora da Embaixada annexa ao Mor-
gado, que inftituío o Licenciado Antonio Jorge da Guerra. A Capella de São
F rancifco, &. São João Bautift a, que fabricão feus Confrades. A Capella de S.
Anaftaiia, que inftituío Filippe Ribeiro , de que he hoje adminiftrador Pero
Coelho de Miranda»
A Capella de jefus, que eftá junto da Capella mór da parte do Euangelho,
que inftituío Pedro Alvarez de Almada, & annexouco feu Morgado. Metida
na parede do lado da Igreja da parte do Euangelho eftà a Capella do Defcendi-
mento, que inftituío Simão de Mello do Confelho delRey. Na mefma parede
da Igreja da parte do Euangelho fe abrio hum arco de pedra, aonde fe fundou a
Capella de Santo Antonio, que mandou fazer o Doutor Diogo Lopes de Car-
valho, & a annexou ao feu Morgado.
A Capella de S. Guálter, que fica abaixo da de Santo Antonio, encoftada
à parede da Igreja, que antigamente era hum tumulo de abobeda de pedra dou-
rado,& pintado fobre colunas de nedra, &debaixo da abobeda outro tumulo
pequeno também de pedra douraaa em que eftãoos oitos deito Santo , ôt por
fóra delle hum letreiro, que diz : Gualteri te^it hoc venerabilis o fia fepulchnm.
Parecendo aos devotos, & Confrades de São Guálter que eíte Altar,que
os antigoslhefundàrãoparaveneraçãodefeu corpo, nãoeftava com a magef-
tade, com que a fua devoção o defejava ter, omanaàrão defmanchar, & no feu
lugar aífentàrão outro de madeira; cjue fe a obra correfpondèra ao cufto, ficàra
fatisfeita a vontade,com queparaelle difpenderãofuasefmolas , &com me-
nos nota a fua fabrica fogeitaà brevidade que promete de fua ruína apouca fir-
meza de fua fundação.
A Capella das Chagas de Chrifto, que adminiftraa fua Cõfraria,que cha-
mão do Cordão, cujos Confrades,quando fahem fóra, levão veftias brancas,
&murças pardas debaixo do feu guião da mefma cor. Encoftada à parede do
arco da Capella mór, que a divide d&de jefus, da parte do Euangelho eftá a Ca-
pella de N. Senhora da Conceição,que adminiftrão feus Confrades, os quaes,
quando íahem fóra, levão veftias brancas, & guião da mefma cor. Fov inftituí-
da no anno de 16 7 8. & em quantò a não havia , corria a fabrica deita Capella
pelos devotos de N. Senhora. So-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. <57
Sobre a potta defte Convento eftào Coro de feus Religiofos fufientado
em hum arco de pedra, que por muito comprido, & delgado , toda a peffoa faz
reparo nelle, & o julga por gravilha. Debaixo delle ]unto a porta principal cm
cadaparededos lados da Igreja eltáhuma porta traveffa : huma que fahe para
entre o Poente, & Norte: & outra para o clauftro do Convento , que he todo
cercado de varandas fobrecolúnas de pedra , fcnomeyo delle hum chafariz
bem provido de agua, que lhe vem por canos da torre dos Cacs.
Kftáo no clauftro defteConvento para a parte_ do Sul duas CapeUas de-
baixodo dormitorio dos Religiofos. A primeira, q hedofeuCapitulo, ínftl-
tuío Gonçalo Dias de Carvalho, & a annexou ao feu Morgado. A legunda he de
N. Senhora, que inftituírão,Coindousareos de pedra para o clauftro , Pedro
y ievra da Maya, & fua mulher Brites Lopes de Carvalho. , , ,.
' Affiftem nefte Convento muitos Religiofos, por fer Cafa grande,» de No
viços; St por muitas vezes tem lido Çollegio- He tradição entre ox^eus Fra-
des, quenelle jaz fepul tado o corpo de S. Rodrigo: mas o feu defcu.donao dei-
xou memoriadolugar aondeefteja,&fenaquel!e tempofebalizou, fe perdeo
efta lembrança, & cbm ella para elles huma grande gloria; porq ue a mayor das
Religioens he a que lhe dão os feus Santos, & ainda para os povos, aonde aflil-
tem,i econfolaçio, regalia, & utilidade.
Fallando Gonzaga defte Santo Rodrigo no livro v cap. ?. da origem da
Religião Francifcana , diz que o coroo defte Santo eltava fepultado na Real
Colilmadadc Guimaraens , aonde lhe affinou lugar , que fazendofe ne -
le expíriencia pelo Arcebifpo de Braga Dom Frey Agoftmho de Jefus , nel-
le fe não achou mais que huma caveira fem letreiro , nem titulo para fepouer
conhecer, do que muitos tomàrão motivo para dizerem que a cabeça lanta, que
fe venera no slntuario daquella Coilegiada, he de S. Rodrigo; & nao vc]o caufa
para que fendo efte fanto Religiofo Francilcano , & morrendo nefte feu Con-
vento, levaffem feu corpo a fepultar a Igreja alhea , quandojanaquelle tempo
tinháo nelle o corpo de S. Guálter, de cuja vida direyo que pudealcançar.
Foy S. Guálter Francez de nação, & entrou em Guimaraens, aonde no lu-
gar, que tenho apontado, fez huma limitada morada para íí, & feus companhei-
ros , mas delle pouco habitada , porque o feu exercício era andar cu-
rando enfermos pelos Hoípitaes , extirpando viciqs , plantando virtudes,
& reformando coftumes,fazendo neftafua occupaçao em vida tantos mi-
lagres, como fez na morte. _ 1

Naquella fua apertada morada entregou a vida ao feu Creador; & quando
feus companheiros fe mudarão daquelle lugar parao Hofpital do Anjo, ficou
o í'eu corpo noOratorio de Villaverde,^ como eítava defemparado de guardas,
tratouoCabidodaquellaCoUegiadadeolevar com todo o fegredo para a lua
Igreja, &pondo por obra eíle feu intento, não foy poílivel que com todas as
forças bem applicadas podeflemmover a fepultura do Santo , como diz Gon-

Z
'^a NãoCfoyCo mgredo da tenção do furto tão guardado naquelle Cabido, q
nãochegaíle ànoticia dos Religiofos feus companheiros, para porem^m me-
lhor cautela a guarda daquelle feu milagrofo thefouro; com que a toda a prefla
o recolherão, levantãdo com muita facilidade o que os outros com muitas tor-
ças não puderão fazer, & comfigo o levàrão para o feu ultimo Convento, aon-
deo oleo, que manava de fua fepultura, deu laude a muitos enfermos.
Na rua de S. Damafo, que uca entre a torre velha , & terreiro dos Carva-
íwímvsemw

6% ' TOMO PRIMEIRO


lhos de São Fráncifco, eítá fituada a Capella deite Santo Pontífice, a qual he
■de obra Moyfajca,otnafua mageítade, & grandeza era mais capaz para Igreja
de hum Real Convento, que para Capella de Hofpital : tem a l ua porta princi-
pal para entre o Norte.» & Poente, & fiobre ella hum excellente Coro de el tuque
muy alegre,& viítofo. T odo o corpo da Igrejahe deabobeda de eltuque,que a
divide da Capella mór hum excellente arco de pedra , & toda ella apainelada
em abobeda de pedra de muy viltofas molduras. Não fe acabou cita Igreja de
aperfeiçoar no leu adorno, & foy tão mal fabricada, que olhandofe para oma-
geítofo da obra, juntamente fe vè o perigo de fua ruína, que da porta principal
atèo fim da Capella mór abrirão as paredes, & abobedas de tal maneira, quele
naô entra naquella igreja fem muito rifeo.
He o Hofpital de S- Damafobemafliítidodetodoo neceífario para reme-
díó da faude de feus enfermos, que nelle fe curão com toda a limpeza,, que co-
tfiofoy inítituídopara Clérigos,paífageiros,& neceílitados, razão era que folfe
differente dos comuns. Foy fundado com a fua Igreja no anno de 164.1. por
Lucas Rabeilo Abbadede Santa Comba de Regilde, que o dotou de muitos
bens & juros, nomeando para a fua adminiítração a Irmandade do Cordão, cu-
jos Irmãos faõ obrigados cafarem todos os annos húa Orfã na freguezia, don-
de o inítituidor fora Abbade, & repartirem pelos pobres delia em hum certo
dia do mez de Dezembro quantidade de medidas de pão , tudo â conta da fa-
zenda, que lh e d e i atou.
A ^Capella de N. Senhora da Confolação , que inítituío Duarte Sodré no
Cãpo da Feira à fombra de feus copados carvalhos da banda dálem da ponte pa-
ra a parte do Sul: não he grande a Capella em fi, mas tem húa alpendrada mui-
to grande com aífentos de pedra, q ue a faz parecer. Della coítuma fahir a pro-
ciífaõdos Palfos,que a fua Irmandade da Confolação faz à fua culta na quarta
Dominga da Quarefma; & a ella coítumavão também os Conegos da Real Col-
legiada ir em prociífaõ na Dominga in Palmis a benzer os ramos ; & todas as
fextas feiras cia Quarefma de tarde ha pregação nella, em que le maniíeítão ao
povo os fete Paífos de Noífo Senhor jefu Chrilto.
Venera fe neíta Capella com grande devoção huma imagem de Noífo Se-
nhor Jefu Chrilto muy devota: delia fe conta por tradição , que fendo Juiz
da Irmandade da Confolação , Manoel da Cunha Maranhas,natural daquella
Vília, citando em certa terra fora deite Rcyno, St nella vendo huma devota ima-
gem de Noífo Senhor, & querendo mandar fazer outra femelhante para eíta Ir-
mandade,chamounãofómenteosOfficiaes efeul tores da terra, mas ainda ou-
rros dediveríàspartes,&dando a todos a informação, q na fua idea trazia re-
prefentado.da fanta imagem, que tinha viíto,lhe forão feitas muitas com toda a
perfeição 3 mas querendoas accõmodarno fanto corpo, todas ficavão nelle def-
proporcionadas, St o devoto Juiz com notável defconfolação : comquefucce-
deo , que eítando,em fua cafa recolhido a horas de Ave Marias, forão a ella dous
homens, & lhe diíferão que elles erão Oificiaesdaquelle miniíterio, St que lhes
diífeífe o modo, com que queria foífe feito aquelle fanto Roíto, porque elles o
fariãode maneira, queficaífe muito a feucontento, & quando afiim não foíTe,
não querião lucro do feu trabalho.
Informados os dous homens do devoto Juiz para darem à execução a o-
bra, a que fe offerecèraõ; fe defpedíraõ delle ; & tornando dahi a poucos tem-
pos a cafa do mefmo Juiz de noite, lhe entregàram o miraculofo Roíto embru-
lhado emhum veo, & lhe diíferam que ao outro dia-tornariaõ a bufear a fatis-
façaón
da corografia PORTUGUEZÁ. 69
facão. Dfcfembrulhou odèvotooDivino Rofto,quc vinha já elic«rmdo,& tao
fermoíb, que lhe pareceo fer o mefmo que na fua idea trazia reprclcntado. No
ila confuíaõ de diícurfos efperouo.oia . & fthicá maiiifellaraosniais Irmãos
aquella maravilha, kpornão tornarema apparçcermais os (eus Artífices , fi-
cou confirmada pormiraculoía. Publicouíepelo:pgvoofuccfiíTOí& anila do
. /- ■ Hr-màvao no ianto coroo ene Rol to milaero
quehcoutRO umao,ovccmipuiivi„ >
trc hum, & outro 5 & nam ha peffoa, que vendo aquella lama imagem naofique
admirada de fua devoç£o< Oveo,cm que vinha guardo çíkíanto Rodo, fe
rccolheo em hum cofre oom grande veneraçani, no qual leve hunia notável par-
ticularidade, porque feeftà palpando, & vendo, & nenhuma peffoa pode diffe-
rencar fehe de lã , oudcRda , fendo de furtacores, ahouado , roxo, azul,
& branco, & fendo de muitas, ninguém pôde. averiguar lua qualidade. „
Pôr cima do Campo daFeira para o Vendaval eftáo campo, ^ue chamai)
dó Gallego, & hoje fundamentalmente fe pode chamar Rolai de Santa Ilabel^
por nelle fe fundar o Moôejro das fuasReligioías no anqode 1681 com efinp=
las, que para iffo ajuntou o Padre Frey Francilco do Salvador , Commiffario
naq^lle tempo dos Terceiros de S.Francifco de Gunnaraens , fcehgioío de
tanta virtude, & efpirito , como fe eftá coiiliecendo em Lisboa nefte amo de
K 97 • no Convento de fua Religião com a mefma occupaçao de CommiíTano ,
nomeado para efte lugar antes que entregaffe a alma ao í eu Creador o Padre Fr.
Domingos da Cruz, que ainda em vivo fez N- Senhor porfuas virtudes mui-

t0b
'o principalmotivodeftáfundaçaõ foraô humas Moças deboa vida , <jue
infpiradas do amor Divino quizpraõ gafíar fuaslegitimas, & bens virtuofa,
& recolhidamente em ferviço deDcosj parao que compraram dentro aos mu-
ros daqucllaVillahumascafasna ruade Val deDonas , & nellas deílituidas
dos bens do mundo começàram na agricultura dos do Ceo, em que he í cm fim
a permanência, & veftidas de hum fayal tofco, começaramxoma frequência da
confiífam de lançar a primeira pedra í undamental com o ãliceíTe de fuas virtu-
des,& cingidas como cordaõ deS- Franofco fizeraoafua primeira profiffam
* na Ordem Terceira, cm que o feu Commiffario no crifol do Coteffionario> toy
apurando o ouro de fuas coneienaas; & vendo que íeus efpiritos hiao ci efcen-
docom eíle primeiro leite da penitencia, lhes bufeou Mc tra,para que das por-
. tas a dentro com o feu exemplo fbífèmfeguindo o verdadeiro caminho dafal-

V
ERava no Recolhimento do Anjo das Terceiras de S. Francifco Catherina
das Chacras, que como filha efpiritual dp feu CommiíTario, conhecia do leu ta-
lento fufficienciá para encaminhar na vinhâ do Senhor aqueUas novas Agricub
toras, que entregandolhe as vontades à fua obediência, lhe derao o titulo de
Recente. Fundàraõ na mefma cafahú Oratorio da invocação de b.Ifabel , &
íe veRífao do feu traje, trazendo hum cilicio por camifa, aonde e Ri ver ao ate
quatro do mez de Abril de ió8*.dia aílinalado de Quarta feira ne Trevas, do
deíahiíãô emprociffaõ acompanhando com o Cabido , & mais Religiões ao
Santiílimo Sacramento, que foraõ recolher no feupovo Moífeiro do campo do
Callero, aonde pregou o leu Padre CommiíTario , encarregando a .guarda da-
quelle Divino Penhor aodefveloda lua penitente milícia , repamndolhe as
Horas Canónicas nas doxlia, & noite,para que no baluarte do leuCoro lejam
vigilantes fintinellas da fua obfervan'cia< f&ftd
7o TOMO 1> ROMEIRO % O O
Nerta união de virtudes ertão cm voluntária claufura guardando a Regrâ
deSMfabel doze Serafins humanos 7 í zendo cada quakaiuos extremos pelo
an.or de Deos, quemoftrão nos leus exceíTos ferem mais do Ceó , que do
mundo 5 Dadecendo nella a defconfolação de não terertj ate gora alcançado a
obrigatória claufura, que chegou cOmellas a tanto o defejo de ieverem encer*
radas por obrigação de Breve de Sua Santidade, que vendo, que por alheas di-
ligencias fe lhes dilatava odeípachoda lua pertenção , íãhio do leu Recolhi-
mento no anno de i6<)0« alua primeira Regente Catherina das Chagas 7 & ar-
mada de efpirito, & valor, fe poz a caminho em traje de Ermitlio. Chegou a Lib
boa, & na primeira embarcação, que lc lhe offcreceo, partio para Roma, aonde
erteve átè o anno de 1691. trabalhando por confeguir o feu negocio, a que não
pode darfim, para virlograr da companhia defuasvirtuofas Irmãs; & voltan-
do para Portugal, deixando em boa altura a fua pertenção, morreó junto aPã-
plona, Cidade Metropolitana do Reyno de Navarra , & da lua morre efcrevè-
íão ao Commiffario os Padres da Companhia de Jefu raras maravilhas. Ertá
crte Recolhimento com fua Igreja, & todas as mais otucinas neceíiarias excel-
lentemente acabado; porque quer Noffo Senhor que aflim como nelle por a-
quellas fuanjfervas he com toda a devoção louvado,feja em tudo perfeito.
Não longe derte Recolhimento para a parte do Sul menos de hum quarto
de légoa efíà íituada em lugar eminente a Ermida de S. Roque com a porta para
o Poente; òt em hum dilatado terreno de feu valle elVao muitas feplilturas, de
que foy á caufa huma grande perte,quc houveemGuimaráens no anno de 1507.
que durou dous annos ;& retirandofe a mayor parte da gente da Villa para al-
quelle lugar, forao tantos os mortos, que inda hoje fe ertão vendo as fepultu-
ras junto de huma galharda fonte, que chamãp dos Impedidos.
Ficou a Villade Guimaraens defpovoada de forte neita occafíão, que não
ficou dentro delia coufa vivente, porque cada qual bufcou retiro, onde pudef-
fem efcapar daquelle grande caliigo; que paraNofso Senhor o haver de apla- • I
car,lheoffereceo aquelle povo para fempre quatro dias de Ladainhas : o pri-
meiro a S. Migueldc Creixomil, fahindo o Cabido, Camara, & Povo em pro-
cifsaõ rezando a Ladainha , & chegando àquella Igreja, fe dizia huma Mifsa
cantada com preces, & acabada ella, fe tornavão em procifsaõ a recolher à mef-
maCollegiada. E como naquellestepos havia antiguidades ridículas , direy
huma, que algunsannosfe continuou neifa procifsaõ; hião hunsMoçosdiã-
te delia cantãdo, 8t deprecãdo:5l.-Mi^wí'/ ae (■ reixttnil damos ft, vas,&pn rexil,ca •
ftãnhinhas temolas nos, Deos ouvinos a nos, Santiago es que de thrift 0^ Apoftolo es,
Magdalena rogo a vós, que rogueis a Deos por rios- Derte cântico fe nao ufa já ho- j
je>nemcfta procifsãovay àquella Igreja, porque de muitos annos a efta parte
vay aoConvento de S. Domingos.
Hia efta procifsaõ no fegundo dia de Ladainhas à Capella dc Santo Andre,
que he huma Igreja, que fica por detràz da rua da Cruz para a parte do Sul,que
antigamente teve humHofpital,q fe extinguio,& cobraõ leus foros osCõfrades
de N. Senhora do O- Também fe mudou efia procifsaõ para o Morteiro de S.
Francifco, aonde hoje vay. No terceiro dia cortumayaõ ir ao Morteiro de S.
Torcato, donde mudàraõ para a Capella da Madre de Déos , & depois para a
do Salvador,&defta para o Convento de S. Clara, aonde agora vaõ. No quar-
to dia hiaõcõ erta procifsaõ ao Morteiro de S- íoaoda Ponte, donde a mudà-
raõ para a Capella de Santa Luzia; porque mudaõ os tempos ainda os mefmo3
votos, quefe prometem a Deos.
E já
bA COROGRAFIA PORTUGUESA. ?í
E já que tenho fallado nefte contagiofo mal, de que Deos nos livre,direy
nefte limar quantas vezes a Villa deGuimaraens experimentou o teu rigor:
a primeira foy no anno de 148 9. que fov antes da que tenho acima fallado, &
por refpeito delia fe ordenou hum rolo de cerei branca^ eomcjue o ( < bioo^Câ-
irara, & Povo ccrcàraõ em prociífaõ toda a V illa, 8c o der ao de oiferta ao Efpi-
rito Santo, 8c ficou de obrigaçaõ para íempre 5 com que todos os annosem
velpora defta fefta faz o Cabido com todas as mais Religioens , a que afíiite a
Camara, huma feftiva prociífaõ, & fahem do Convento de S. Domingos hum
anuo, 8c outro do de S. Francifco com o rolo de cera enlaçado de forte, que fica
hum retrato da torre dos finos de Noífa Senhora da Oliveira, aíTentado em
hum andor todo cuberto , & guarnecido de ramos, 8c flores de varias cores*
tudo de cera,cõ a pomba doEfpirito Santo,5c as Armas Reaes,& cõ ella entraõ
em procifsaõ dentro da Igreja Collegiada, aonde ofterecem o rolo , 8c toda a
mais cera ao Efpirito Santo, que feus Confrades reèolhem.
Neftaprocifsãofeobfervainda hoje huma antiguidade, que cònfiíte em
dar por conta delRey a Camara ao feu Procurador do Concelho certos alquei-
res de trigo, que elle manda cozer em paészmhos redondos , 8c enche quanti-
dade de alfaiates,cubertos,8c enramados de muitas flores,& os entrega a outras
tanta* mocas das mais bem parecidas da terra, que adornadas, Sc iuftrofàmen-
te veftidas os levão à cabeça diante da prociffão,& chegando ao padrão de Nv
Senhora da Vitoria,nelle eíiàadornãdo hum Altar, defronte do qual fe poem as
ditas moças; Sc em quanto o Cabido, Religioens , 8c Camara levão o rolo no
feu andor a oíferecer dentro da Igreja ao Efpirito Santo , hum dos Capellaens
ficano padrão benzendo o pão , Sc acabada a ceremonia lobem as moças com
elle à Camara com o Procurador, Alcayde, 8c Mifteres, 5c eftes da fua galaria,
que pára eito função tem bem alcatifada, o diftribuem ao povo , que naquella
occafião fe ajunta muito naquelle lugar da Praça mayor, Senos encontros das
porfias de qual mais apanhará, fazem aquella tarde alegre»
No anno do Senhor de 1575. houve nefta Villa tanta mortandade de gen-»
te, que defde o mez de Abril atè o de Agofto morrerão duas milpeíToas, 5c no
termo cinco mil ; 8c diz o Licenciado Manoel Barbofa , pay do grande Agoíh-
pho Barbofa,nos feus manu-eferitos que não havia nos adros das Igrejas luga-
res, aonde fe enterraífem os mortos; o que fuceedeo em feu tempo, 5c que pro-
cedera eík contagio da grande fome, que no anno antecedente houve , em que
morreo muita gente. _
A uíti ma pefte foy no anno de 15 9 < • que durou tres mezes , 8c nao tez
grande mortandade de gente, pela muyta cautela, que o povo teve na fua guar-
da ; porque tanto que os primeiros feridos delia morrerão com a prefteza, com
cue ella coíiuma matar, impedirão logo fuas cafas, puzerão guardas nas por-
tas da Villa, & feus moradores logo fe fahirão, cada hum para a parte donde ti-
nirão fu<* fazendas, & neilaseftavão com grande cautela, como quem defejava
efeaparà morte; &os que ficàrão na Villa com perfumes defenfivos, veftidos
de bocachim quafi todos fe defenderão ; 8c no ferviço da Vília de dentro pará
fora o não fazião fenáo peífoas conhecidas , 8c eftás, que andavaõ de dent r o
dos muros,naõ Cahiaõ tora delles, 8c os de fóra nam entravaõ para dent ro; pa-
ra o q ue fe elegèraõ por guardas as peffoas mais qualificadas,8c de reipeito,queí
nella havia- , à r
Padeceo efta Villa, 8c feu termo , 8c Comarca outro anno de tome 1 eme-
lhanteao.de 1694. quefoyode 1680. em que houve tanta fáta de pao, vinho*
n TOMO PRIMEIRO
& legumes, que foy caufa de muitos perderem a vida, principalmente as gentes
das montanhas; com que aspefsoas, quetinhaõoscelleirosde paõ , aprovei-
tandofe da miieria do anno para mell or valiadelle,o puzcraõ cm preço tam al-
to, que foy neceíTario taxarlho ElRey , para que a ambiçaõ daqueiles naõ fof-
fe eftorvo do remedio da miferia dos outros : mas podendo com aquelles mais o
interefsc, que as neceílitadas lagrimas, defpendiaõ o que tinhaõ occultamente,
por não e'ncorrerem nas penas da taxa, pelo mais alto preço, que podião ; &
porque os Miniftros tiverão noticia de que Havia peífoas, que occultavão pão,
mandandoo vender fóra dos limites do termo; puzerãofintinellas pelas eitra-
das, em que muy to foy tomado , & vendido por fua authoridade aos pobres
pelo preço da taxa.
Não feaproveitàrão todos da occafíão parafeguirem aquelle avarento ca-
minho ; porque movidos mais do amor de Deos, que do intereífe proprio , ti-
rando do que tinhão o neceíTario para fuíTento de fua família, trocàrão o de-
mais a lagrimas dos pobres, repartindoopor elles a pedaços, conforme a necef-
fídade, que fe lhes reprefentava. Pelos prados, & matos fe vião ranchos de po-
bres arrancando hervas agreftes, para com ellas poderem remediar as vidas,
que receavão perder no rigor da fome. Acodio NoíTo Senhor a remedialos cõ
o anno de 16b i. dandolhe tanta abundancia de todos os frutos, que antes de fe
chegarem a lograr,já com as fuas efperanças tinhão as lagrimas enxutas, alimé-
tando com a fartura efperada a neceflidade prefente.
Entre as fepulturas do Valie de S. Roque, de que atráz fiz menção ; fun-
dou hum devoto Ermitão huma pobre cafa terrea para feu agazalho,& nella por
lhe parecer feria muito agradavel a Deos eníinaràquelles Aldeães feusyifinhos
a doutrina Chriíiã, de que neceflitavão,lheoffereceo aquelle exercício, a qué
fogeitou a fua paciência pelo feu amor, & continuando nelle, fe eftendeo tanto
a fua noticia, que muitos da Villa, querendo dar boa criação a feus filhos , os
mandavão fogeitar à fua obediência; porque a lição do bom Medre fempre foy
proveitofa aos coftumes da vida.
Conhecendo o Padre Francifco Ferreira , Clérigo de bons coíhimcs, a
penitente, & exemplar vida deíTc Ermitão, deixou os defenfados da Villa,& pa-
ra melhor fervir a Deos, lhe foy fazer companhia naquelle retiro ; & como
não era defemparado de património, & bens, tudo applicou à honra, & ferviço
de Deos, fabricando moradas para melhor o fervirem; & ambos viv erão alguns
annos juntos tam unidos nas vontades, como femelhantes na penitente vida,
até que NoíTo Senhor foy fervido levar para fi a alma do bom Ermitão. Na fal-
ta fua foy fuflítuir o feulugar,& lograr amigavel companhia do P. Francifco
Ferreira outro Sacerdote chamado Leandro Correa, que fazendo entre fi am-
bos huma conforme união , vinculo fizerão de fuas vontades, que fendo húá
mefma, tudo fofle proprio, ficando iguaes na difpoíição para fundarem alli hua
Capella, que intitulàrãooBomJefus doCalvario, a que unirão juros», oc ren-
das,para que o adorno, com que a acabàrão,foífe fempre coníèrvado , & am-
parado das ruínas do tempo,& para quem na falta delles, & em todos os fecu-
los nos feus lugares fuccedefle, lhe nam faltaffe Milfa quotidiana , applicando
para tudo tam bom património, que não faõ poucos os fogeitos, que eíTe lugar
pertendem.
Cultivando huma pequenapartedaquelle valle junto à fua Capella, formà-
rãohum jardim bem curiofo, tam aprazível nas aguas, como deleitofo nas flo-
res ; aonde em frefeos bofques aflHTem devotas imagens, que fabricadas nas
> • offici-
DA COROGRAFIA PORTUGUESA.
ófficinasde feu Meftre Francifco Ferreira, ficàrão obradas da fua curioíidadè
com tal perfeição, como o amor, & vontade, com que as fervia, & naquelle ver-
gel a pouco cufto com viftofas fontesofferecemem criftalinas corrctes vários
divertimentos aos fentidos, & continuas lagrimas a huma imagem da peniten-
te Magdalena,que aos pésde Chriílo crucificado entre verdes murtas lhema-
nifefta pelos olhos o arrependimento de fuas culpas- Nam longe delia fe vê
o arrependido Saõ Pedro, que diftillando lagrimas de feus olhos , convida aos
peccadores, que o imitem nellas , moftrando emteftemUnhodefuadorhuma
letra, que diz: Jam non fum Tetrus, fed mifer fenex.
Retirado em hiima lapa, por não fazer publica fua penitencia, fe efconde
S- Jerony mo > & prendendo com hua maô a hú devoto Crucifixo, com lagrimas
penitentes manifeftaõ feus olhos o pezar de feus delitos , abrindo ao coraçam
no peito com huma dura pedra bocas, por onde publique o grande fentimento
de o haver offendido, fazendo línguas de feu fanêue, pelas quaes publica, como
o Profeta Rey: Tibi foli peccavt- Tem para guarda fegura efte vergel aprazível .
ao divino Paftor, que em cabana tecida de alecrins floridos , deitado em bem
me queres, & adormecido entre amores perfeitos , nos quer moftraí que até
dormindo hc perfeito para comnofco o íeu amor , como diz a letra: Ego dor-
mio, cor metim vigilai.
Efte monte de fantidade fe recolhe todo emhuma parede alta, & pela par-
te do Norte de Nafcente a Poente he a parede, que o cerca , dividida em Capel-
linhas,em que fe manifeftaõ os PatTos da Paixão de Chrifto do Horto até o Cal.
vario, coma ferventia por dentro da.cerca dos devotos Clérigos, com jauella»
fechadas com grades de ferro para o povo fazer fua oraçã© da parte de fóra.
Inftituírão por Padroeiro de fua Capella dò Bom Jefus do Calvário eftes
dous Sacerdotes a Dom Francifco de Soulia terceiro Conde do Prado , & pri-
meiro Marquez das Minas, no tempo que eftava para fazer embaixada a Roma,
para que elle pudeffe depois de fuas mortes , & de outro Padre companheiro,
que já ao tal tempo tinhão,aprefentar naquella Capella os Capellaens,que qui-
zeffe- Dahi a poucos tempos, que fe fez ít nomeação,mor reo o Padre Leandro ,
Correa, ficando a difpofição de feu companheiro mais livre para obrar o que a
fua virtude, & zelo do amor de Deos lhe ditava fem vangloria. Inftituío duas
obras de charidade, que cada huma delias não pôde deixar de ter para com N.
Senhor grandes merecimentos- Foy a primeira hum contrato, que fez comas
Religions de S- Clara, em que ellas fe obrigàrão a dar aos prezos das cadeas
huns tantos alqueires de pão cozido todas as fomanas , mandandoo repartir
porpeíToas,quepiedofamente o d.ftribuiífem por todos igualmente; Alegun-
da obra foy, que as mefmas Religiofas ferião obrigadas mandarem todos os
dias oito cantaros de agua aos mefmos prezos > que foyhum legado de grande
charidade, & piedade, procedido do feu grande eípirito-
Muito amou a charidade efte penitente Clérigo, & tanto defejava favore-
cer aos prezos, que dous dias na fomana fahia do feu retiro para a Villa, aonde
pelas ruas com huma alcofa nas mãos pedia em voz alta efmola pelo amor de
Deos para os prezos, & o que ajuntava lhes hia peíToalmerite repartir * & aífim
acabou a Vida cõ tantas circunftancias de Bemaventufado , que foy hum por-
tento de admiraçoens aos que lhe aflift irão na morte- Foy feu corpo depofíta-
do na fua Capella do Bom Jefils do Cal vario , aonde fe efpera que as virtudes
de fua vida exemplar obriguem a N- Senhor fazer por efte feu fervo muitos mb
lagres. ,
G - Deite
74 TOMO PRIMEIRO
Defta Capella do Bom jefus do Caivano fe fobe para a parte do Sul ao ul-
timo extremo da ferra de S. Catherina a huma Capella delia Santa Martyr,que
deu o nome âqíiella ferra , de cuja ennnete altura fe eftão vendo quebrar as
ondas do mar nas coftas da Cidade do Porto, & Villa do Cõde.He efta C apella
bem aífiftida de Romeiros no dia de fua Santa, & fabricada pelos Religiolos de
S- Marinha da Cofta, que aprefemão nella Ermitão*
A Capella de Santa Cruz fituada junto aporta da Frieira, que vulgarmen-
te chamão de Santa Cruz, com a fua porta principal para o Poente cuberta de
huma alpendrada fobre colunas dc pedra aopedabarbacã da Villa velht ,para
onde tem huma porta travelfa. Fov feita no anno de 16351.& hebem fabricada
pelos feus Confrades, a quem faõ concedidos grandes privilégios , & indul-
gências por Bulla de Sua Santidade no dia de fua fefta a 3. de Mayo ; tem de-
fronte de fua alpendrada hum Cruzeiro de pedra grande fundado cm hum pe-
deftal, que aífenta fobre hum patim de pedra com efcadas ao rçdor, que fervem
. de affento a muita gente,que vay efpairecer àquelle lugar, por fer alegre.
Defronte deita Villa para o Nafcente eftá íituado o Mofteiro de Sãta Ma-
rinha da Cofta de Frades Jeronymosao pè da ferra de S. Catherina, diftante da
Villa meyo quarto de legoa cofta ailima, por cujacaufa lhe chamão Mofteiro da
Cofta- He convento grande, em que aífiftem trinta & mais Religiofos ; tema
fua Igreja feita ao moderno com excellentes Capellas recolhidas nas paredes
das naves com todo o concerto ornadas, com hum arco, que divide o corpo da
Igreja da Capella mór^ com todo o primor obrado, & a Capella mor de abobe-
da de pedra apainelada muito digna dc reparo pelafua boa architedura : tema
porta principal para o PoCte eiffjhúa eminência,em q melhor mamíefta a fua ma-
geftade- Te Guimarães nefte Mofteiro hua alegre,&fermófa vift^principalme-
te depois do feu dormitorio novo, q fe obrou no anno dc t6?i cò toda a grade*
za,& nãohe menos agradavel,& aprazível aos olhos overdc>& irondofo arvo*
redo de fua coutada,q tudo'fe manifefta àquelle povo,fem que haja còufa, q lhe
firva de embaraço àvifta.
Foy efte Mofteiro inftituído, & dotado pela Rainha Dona Mafalda , &
dado por ella aos Concgos Regulares de Sãto Agoftinho, que o poífuírãa qua*
trocentos annos.: depois fe deu em Comenda ao Duque Dom Jaymes , que o
deuaos Religiofos de São Jeronymo por Breve do Papa Clemente VII. como
cofta da Chronica dos Conegos Regulares de S* Agoftinho. Cõcorreo na doa-
ção, q o Duque fez aos Religiofos, ElRey D. João o Terceiro, que nefte Mof-
teiro ordenou huma Univeríidade com Lentes de Humanidades , Artes, &
Theologia, aonde aprenderão eftas faculdades o Senhor Dom Antonio , filho
do Infante Dom Luis, & o fenhor Dom Duarte filho illegitimo do ditoRey D-
João o Terceiro, os quaes ajudavãoàs Miífas, & fervião no refei torio aos Reli-
giofos, de que procedeo chamarem-fe hoje os moços, que fervem na Sancriftia,
Moços fidalgos. O ultimo Prior, que teve efte Mofteiro de Conegos Regula- j
res, foy o Meftre João de Chaves, que foy Guardião do Mofteiro de S* Fran-
cifco de Guimaraens, donde foy para Bifpo de Vifeu. Ha nefte Convet^hum
caliz de prata dourado cõ humletrciroao pe,que dizo feguinte:^ /. AíCcAXò
Rex Sanei,& KepmeD. Ulcma.offkunt cahcemtflumbUia Marin* de'Cdfla.X
quehe á peça mais antiga,que tem.
Eftes faõ os Mofteiros, Igrejas, Capellas,& Ermidas, que os arrabaldes da
Villa de Guimaraens tem fituadosno feu deft rido. Agora daremos noticiados
Morgados, &Vinculos,que forãoinftituidos,&poífuem feus moradores-
O Mor-
DA COROGRAFIA P0RTUGUE2A. ft
O Morgado daPoufada, que inftituío Gonçalo Gonçalves Peixoto Cbne-
go na Sè de Braga, Abbadc deTolocs, Raçoeiro de S. Geris, & ConegodeGui-
maraens , Abbade de Unhão no anno do Senhor de j * 2 3 . tem fua Capella rio
C apitulo do Mofteiro de Pombeiro da Congregação de São Bento. Poífue ho-
je tile Morgado Manoel Peixoto de Carvalho feu parente : he cabeça delle a
quinta da Poufada, fita na freguefia de São Pedro de Azurev-
O Morgado, que inftituío Dom Bertholameu Bifpo da Guarda,da geração
dos V ieiras, com tres Capeílas, huma no Mofteiro de Vicira,outra no Mofteiro
de S. Torcato, & outra 11a Sè de Braga: he adminiftrador delle feu parente G&-
çalo Barbolã morador no Concelho da Ribeira de Sòãs.
O Morgado,que inftituío Dom Martim Paes Chantre da Sè de Coimbra,
còm fua Capella de N. Senhora da Graça, fituadaria Igreja de S.Miguel da Vil-
la velh a,aonde eft à íepultado; & por não haver defcendccia delia familia,tem a
adminiílração delle a Coroa Real. >
O Morgades que inílituío Gonçalo Lobo , & fuá mulher Doria Urraca
Paes, que eíião fepultados no Moíleiro de S. Gens de Monte longo; tem a ad-
miniílração delle os filhos, que ficàrão d&FruCluofo de Freitas , & ellá def-
truído,& muita parte delle.alheada. •
O Morgado, que inftitifío Dom Diogo Pinheiro ,Cõmmendador do Men
fteiro deCarvoeiro,& de S- Simão da junqueira, & do de Caílro de Avelans,
Prelado de Thomar, Dom Prior-de Guimaraens,& Bifpo do Funchal, çom fua
Capella na Torre dos finos da Real Collegiada de Guimaraens. Aggregòu-o aò
de léus pay s o poucor Pedro Eíleves, & Ifabel Pinheira, de que he hoje admi-
niftrador Luis Pinheiro de Lacerda, filho deRuy Pinheiro de Lacerda , mora-
dor na Villa de Barcellos.
O Morgado, que inftituío o Doutor Pedro Nunes de Caula,de que he ad-
miniftrador feu defcendente Francifco Lopes de Carvalho , Moço fidalgo de
Sua Mageftade, & Cavalleiro do Habito de Chrifto. He cabeça defte Morga
do a quinta chamada de Ruivães, que antigamente fe chamava de Nomães.
O Morgado dos Cavalleiros , que inftituío Eft evão Ferreira o Velho no
appellido .de Ferreira com Capella no Mofteiro deS. Simão da Junqueira , de
que he adminiftrador feu defcendente Manoel Ferreirâ d' Eça, fidalgo da Cafa
dclRey, & Cavalleiro do Habito de Chrifto. Foy o dito Mofteiro de S. Simão
da junqueira inftituído por Dom Payo Guterres da Cunha.
O Morgado de Reçozinhos, & Terrozo, que inftituío Martim Annes cã
Capella 110 Mofteiro de Mancellos , de que he também adminiftrador Manoel
Ferreira d'Eça. Foy efteMofteiro deManceilosinftituídoporMemGoriçal-
ves da Fonfeca, & fua mulher Dona Maria Pires de Tavares.
O Morgado, que inftituío Antonio Pereira da Sylva o Velho emRefoyos
de Lima com Capella no mefmo Mofteiro de Refoyos de Lima, que fundou D.
Mendo Aífonfo de Refoyos , fendo Conde naquelle lugar por mercê delRey
Dom Affonfo Henriques^ &elle,& feu pay Aífonfo deAncemondcso derão à
Ordem de Santo A goftinho de Conegos Regrãtes no anilo do Senhor de 1161.
& nelleeftão fepultados. He adminiftrador defte Morgado o mefmo Manoel
Ferrei ra d' Eça, que tem nobres caías na rua de S. Maria.
O Morgado dos Mefquitas,que inftituío Fernão de Mefquitâ o Velho, &
S^Conego Diogo de Mefquita, com Capella, que a efte Conego deu o Duque
e Bragança Dom Fernando na Real Collegiada de Guimaraens, de quehehoje
adminiftrador Francifcode Soufa da Sylva, Moço fidalgo da Cafa delRey, def-
G íj cen-
?<5 V TOMO PRIMEIRO t>
cendente de Fernão'de Mefquita o Velho.
O Morgado dos Figueiroas, que inftituío João de Figueiroa no Solar de
Outis com Capella de Nofía Senhora da Graça nas fuás caías da rua de S- Ma-
ria, que traz por prazo,& neilas vtve Simão Lobo Machado , fidalgo, da Cafa
deiRey; hc boje adminiflrador defte Morgado Lourenço de SI & Mello-
O Morgado, que inftituío Francifco Soares , fidalgo da Caiado Infante
Dom Fernando, na fua quinta de Gor^inhaés na freguefia de S. Miguel das Cal-
das, coutada, & honrada antigamente por ElRey Dom João o Primeiro, dé que
he hoje adminiftrador feu defcendente Pedro Vas Cirne de Soufa, fidalgo dá
CafadeSuaMageíhde.
O Vinculo, que fez Diogo Machado da quinta de Villa-pouca fita na fre-
guefia de S.Sebaffião ao pé da ferra de S.Catherina , & poriktràz da Capella
tícN. Senhora da Confolação no Campo da Feira emhuni lugar eminente, don-
de fazendo mais publica, & manifefta a niageftade de fuiS caías, nella inculca a
nobreza de íeusjpoífuidotfes, he mui oxcellente o fitio de íua Lgndação, &> tam
aprazível pelos íeus bofques,fõtes,prados,& jardins, q ferve de lifonja aos o*
lhos de todos, & de refpeito a fua nobre Capella de S. Antonio, a quem o inili-
tuídor dotou de tres Miífas fomanarias* He hoje adminiftrador, & pofíuidor
delle feu defcendente Francifco de Soufa da Sylva*, Moço fidalgo da Cafa dei-,
Rey.
O Morgado, que inftituío Antonio Machado de Almada, Commendador
de S. Martinho dos Chãos junto a Lamego,da Ordem dq Chrifto , & fcus ir-
mãos na quinta da Calva, & fuas annexas , de que he adminiftrador o mefmo
Francifcode Soufa da Sylva feudefcendente.
O Morgado, que inflituío o Doutor Gonçalo Dias de Carvalho 11a família
dos Carvalhos com Capella nò Capitulo do Mofteiro de São Francifco de Gui-
marães, de que he adminiflrador feu delcendete F ilippe de Soufa de Carvalho
fidalgo da Cafa delRey,Cavaileiro daOrde de Chrift o,& Alcaide rnór de Villa-
pouca de Aguiar 5 tem fuas cafas annexas ao Morgado na ruft de S.Maria.
Ó Morgado , que inflituío Gonçalo Annes, Conego da Real Collegiada
de N. Senhora da Oliveira, das fuas herdades de Segade, que annexou á Capel-
la do Sacramento da rnefma Collegiada , que poffue hoje o mefmo Filippe de
Soufa de Carvalho. ^ .
O Morgado de Ayrão junto a cuimaraens, que inflituío Fernão de Soufa
com Capella no Cap itulo do Mofteiro dcS- Domingos da rnefma Villa , deque
he hoje adminiftrador o Conde de Avintes.
O Morgado, que inftituío Simão de Mello do Confelho deiRey com Ca-
pella do Deícendimento da Cruz no Mofteiro de S. Francifco de Guimarães,
de que foy adminiflrador Dom Jorge Mafçarenhas,&até o anno de 1691- lua
filha Dona Jeronyma Freira no Mofteiro da Elperança em Lisboa & eftá hoje
de poífe delle Dom Fradique de Menezes , ác corre demanda com Francifco
Freire de Andrade & Soufafobrea fucceífaõ delle-
O Morgado dos Manoeis,&Vilhenas , que inftituío Dona Branca de Vi-
lhena Manoel com a Capella mór do Mofteiro de S. Domingos de Guimaraens,
de que hc hoje adminiftrador o Conde de Unhão.
j O Morgado dos Carvalhos, que Inftituío o Doutor Diogo Lopes de Car-
valho Defembargador do Paço, que por não cafar, deixou nomeado nelle a feu
fobrinho o Doutor Gafpar de Carvalho, Chançarel mór do Reyno , teftamen-
te:ro deiRey Dom João o Terce iro, que lhe mandou a macieira dè Evano, com
• • que
DA COROGRAftA PORTUGUEZA, n
que forrou as cafas dofeu Morgado,tão magcftofas, como nobres , com huma
torre de amey as íituada no terreiro da Mifericordia, que annexou à fua Capel-
la de S. Antonio no Mofteirode S. Francifco deGuimaraens. He hoje admini-
ftrador delle Gonçalo Lopes de Carvalho CaftroSt Camões , Moço fidalgo
daCafa delRey, Cavalleiro do Habito de Chrifto, fenhor dos Coutos de Aba-
dim, St Negrelos, aonde tem jurifdição no eivei ,& crime > & he também admi-
niftrador do Morgado dos Camoés emEvora.
O Morgado, que inftituío Dom Manoel AíFonfo da Guerra, Bifpo de Ca-
bo verde, de que he hoje adminiftrador Manoel Velho do Couto, por caiar cò
Briana da Guerra adminiftradora delle: não tem Capella, fenão obrigação de
allumiar huma alampada diante daimagem de N. Senhora da Oliveira: tem ca-
fas na rua dos Fornos.
O Morgado, que inftituío o Licenciado Antonio Jorge da Guerra, com
Capella de N- Senhora da Embaixada no Mofteiro de São Francifco de Guima-
raens. He hoje adminiftrador delle João Machado Fagundes morador na Ci-
dade de Braga: tem cafas na rua do Póftigo.
O Morgado, que inftituío Fernão Martins de Almeida na fua quintá do
Pinheiro, fita na freguefia do Salvador do Pinheiro , com Capella deNoííò Se-
nhor crucificado no Mofteiro de S. Francifco deGuimaraens, indo da Capella
mor para à fua Sancriftia,dequehe hoje adminiftrador delia Gonçalo Peixoto
da Sylva Macedo St Almeyda, fiçlalgo da Cafa delRey, Sc Cavalleiro do Habito
de Chrifto, Donatário das terras de Penafiel, St Soufa , por defeendente dos
fenhores da Calçada, A dais móres defteReyno; como também he adminiftra-
dor do Morgado dos Macedos de Alenquer,com a protecção do Mofteiro das
Freiras da mefma Villa, com lugares delle de propriedade; o qual também he
adminiftrador dos Morgados da Taipa em Lamego, do Morgado do Juizo jun-
to a Marialva,do de Folladaens,St Pereira junto a C idade deV ifeu,& do de Ca-
medes, & honra de Lamaçaes junto da mefma Cidade i tem fuas cafas na rua
efeura do Morgado do Pinheiro. • • #
O Morgado,que inftituío Francifca da Sylva cóm Capella dos Santos
Martyres de Marrocos no Mofteiro de S-Francifco de Guimaraèns, de que he
hoje feu adminiftrador Antonio de Soufa Monte Negro.
O Morgado, que inftituío Pedro Alvarez de Almada, Cavalleiro da Gor-
rotea de Inglaterra no anno de 1507. com Capella de Noífo Senhor crucifica-
do da par te do Euangelho no Convento de São Francifco de Guimaraèns, com
Miífa quotidiana,com fuas cafas,cóm torres no Rocio da Tulha, de que he ho-
je adminiftrador feu defeendente Miguel Leitão de Almada.
O Morgado, que inftituío Gil Lourenço de Miranda, Efcrivão da Purida-
de delRey Dom João o Primeiro, Alcayde mor de Miranda do Douro , de que
tomouo appellido, que ficou a feus defeendentes com cafa, & torre na rua das
Flores, que feus defeendentes deixàrão arruinar , & perder as honras, que o
mefmo Rey lhe tinha concedido; porque tinhão eftas cafas à fua porta duas co-
lunas de mármore prezas de huma parte à outra com huma cadea de ferro , cõ
privilegio, que toda a peííòa,que fugindo à juftiça por qualquer crime,exceptos
os das Mageftades divina, St humana, fe recolheífe dentro da dita cadea , ou fe
pegaíTe a ellâ, ficalfe acoutada, St não poderia fer preza ; Sc que todas as vezes
quehouvefie morte de Rey> fe lhe quebraífe hum efeudo à porta; Sc quando foí-
fe a açoutar , ou a padecer morte natural qualquer culpado , fe lhe não déífe
pregão à vifta dacafa; Sc todas as danças, que na prociífaõ do Corpo de Deos
G iij can-
f,i TOMO PRIMEIRO
cantaflem, & bailaíTem, o fizcíTcm à fua porta , ainda que por eUanáopaflafle »
dita prociffaó. Todas eítas honras, liberdades, & privilégios deixou perc cr
o detcuido de fetis defcendentes, & ainda a pedra da mefma cala vende ráo para
.-oHofpital novo da Mifericordia, tendo a mayor parte de masrçndas no ter-
mo daquella Villa. He hoje admimítrador deite Morgaao, que fe chama de S,
Miguel, feu defcendente João Pereira do Lago.
O Morgado , que mitituío Antonio Machado de Villasboas com Capella
na Collegiada de Bar cellos, de que he hoje feu adminiftrador Pedro Machado
de Miranda,fidalgo da Cafa de Sua Mageítade, côm cafas na rua de Domes.
O Morgado, que inítituío o Doutor Jorge do Valle Vieira, Arcediago fe
Fonte Arcada, nomeado Bilpo de Angola, que não quiz aceitar, com lua lepub
tura na Igreja Collegiada de Guimaraens com obrigação de Miífas noOratoi lo
da Camara. He hoje adminillrador delle Manoel Pereira de Azevedo Vieyra,
fidalgoda Cafa delRey, como também he adminiítrador do Morgado de Alva-
res: tem fua cafa na Praça mayor.
O Morgado de Sezirn, que inítituío Aífonfo Vafques Peixoto cm i"-dç
Dezembro de 1+51> comcafas nobres,& Capella unida a clias na lua quinta
de Sezim hum quarto delegoa junto a Guimaraens para o Poente : he hoje ad-
miniítrador delle feu defcendente Dionyfio do Amaral Freitas &Barbola, Ca-
valleiro do Habito de Chriíto: tem cafas na rua da Infcíta, aonde vive, cõ íer-
ventia para oterreiro das Freiras dcS-Clara. _
O Morgado , que inítituío Alvaro Gonçalves deFreitas com Capella de
S. Braz no cíauítro da Collegiada de Guimaraens , de que também he adminií-
trador o mefmo Dionyfio do Amaral Freitas £c Barbofa-
A Capella da Cafa nova no Concelho de Cabeceiras de Balto, Comarca de
Guimaraens, que inítituío Aífonfo deFreitas , de que também he adminiít ra-
dor o meímo Dionyfio do Amara! Freitas & Barbofa.
O Morgado, q inítituío o Doutor Gonçalo de Faria, que tnorreo Dcíerm
barmdor tib Porto fem geração , & deixou nomeado nclle a feu fobr inho João
de Faria deAndrade, Cavalleiro do Habito de Chriífo. H e hoje admimítra-
dor delle feu filho Bertholameu de Faria & Andrade, com cafas na rua nova do

O Morgado, que inítituío João Lopes da Ramada com Capella de S. Ca-


therina Martvr na Real Collegiada de Gdim^taens, que he hoje de S. Anna. São
adminiítradores delle Diogo Lopes de Carvalho, & feu irmão Manoel Peixoto
da Rocha, moradores em Villaviçofa '• tem cafas na rua dos Palteleiros. , que

^ O Morgado, que inítituío Salvador Lopes da Rocha, de que hoje he ad-


miniítrador FernãoRabellode Mefquita como dos Coitas doCõcelho deLa-
uhofo: tem fua caia na rua das Oliveiras, aonde vive. r

O MorgadodeNefpereira, quehe dos Cardofos , que inítituío Pedro


Cardofo do Amaral na fua quinta da Nefpereira fita na freguefia deite nome,
com Capella de N- Senhora da Conceição na Collegiada de Guimaraens : tem
cafas nobres na mefma quinta,aonde vive feu parente Antonio Cardofo tie Me-
nezes adminiítrador delle.
O Morgado, que inítituío Duarte Sodre com Capella de N- Senhora da
Confolação no Campo da Feira, de quehe adminiítrador leu parente Coime de
Sá Peixoto,Commendador da Ordem de Chriíto da Commenda de Santiago
de Montalegre: tem fuas cafas nobres na rua Caldeiroa.
O Mor-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 79
O Morgado, que inftituio Manoel de Valladares com Capella de S- Luis
no Clauftro da CoUegiada de Guimaraens, aonde tem feu jazigo , 8c cafas oa
rua dos Fornos, em que vive nobremente feu defcendente Antonio de Vallada-,
res & Vafconcellos adminiíirador delle.
O Vinculo, que inílituio Pedro Lagarto, 8c fua mulher Margarida Affon-
fo de Freitas, que por não terem filhos , o nomearão em feu fobrmhoRuy de
F reitas de Caftro,cõ jazigo nobre detráz da Capella de N-Senhora do O no
Convento de S. Franciíco. He hoje adminiíirador delle Bernardo de Freitas
de S. Payo defcendente de Ruy de Frey tas de Caítro : tem í ua caia no Campo
daFeira,aondevive. • . L , .
O Morgado, que inftituio Antonio de V alladares Abbade de Rio mao aim
Capella de N. Senhorada Conceição annexa à mefma Igreja, de que he admini-
íirador feu parente João de Azeredo 8c faria , com cafas na rua de Santa Ma-
fiâ*
' o vinculo, que inftituio Antonio Dias Pimentá, & fua mulher Maria Pei-
xota com Capella deN. Senhora daPorciuncula noCcnvento de S.Francifco
de Guimaraens, que por não teremfilhos, deixarão nomeado nelle a feufobri-
nho Simão Dias Pimenta. He hoje adminiíirador delle jolcph da CoftaPimé-
ta, defcendente de Sin.ão Dias Pimenta: tem fuas cafasna rua de S> Maria, em

í]UCV
OMoryado, que inftituio Gonçalo Pinto, cujos defcendentes vivem hoje
na índia , & correo muitos annos com a adminiftração delle a Irmandade da
Miíericordia defta Vília; tem fuas cafas nobres na rua de S- Maria- _
O Morgado, que inftituio o Doutor Ruy comes Gohas , que deixou no.
meado nelle a feu fobrinho o Doutor João de Guimaraens, Defembargador dos
Aacrravos em Lisboa, Deputado da Mefa da Coní ciência, Enviado a Suécia, 8c
Olanda, fidalgo da Cafa Real3 8c Commendador de Caparrofa, que por não ter
filhos de fua mulher Dona Maria dos Guimaraens, avmculou também feus bes,
que erao muitos.? ao iuefrno Morgado^ & Capella do nome de jefus com tribu-
na para as íuas cafas nobres na rua dos Fornos > em que vive feu parente Ma-
noel Peixoto dos Guimaraens^ fidalgo da Cafa delRey.? & Cavalleiro do Habito
de Chrifto,adminiftrador delle- ' • . .
O Morgado, que inftituio Manoel de Moura Coutinho,de que hoje he ad
miniftrador Nicolaode Arrechcla Lebrão 8c Almeida: tem cafas na rua Cab
deiroa,em que vive- _' -
O Morgado, que inftituio Bernardo do Amaral & Caftellobrancõ, fidalgo
da Cafa do Senhor Dom Duarte,filho delRey Dom Manoel, feu teftamenteiro,
com fua mulher Dona Paveia da Sylva a 27.de Janeiro de i6cd. Hehoje ad-
miniílrador delle feu defcendente Dom Antonio do Amaral 8c Cafíellobranco,
com cafas na rua dos Fornos, aonde vive nobremente.
O Morgado, que inftituio Thomas Pereira do Lago, Abbade do Salvador
de Real, Concelho de Villa meã, com Capella de N. Senhora da Conceição,com
tribuna para as fuas nobres, 8c mageftoias cafas na quinta do Barrozão fituada
IX) Concelho de Cabeceiras de Bafto, que nomeou em feu cunhado João Rabeb
lo Leite,fidalgo da Cafa delRey, 8cCavalleiro doHabito deChnfto. He hoje
adminiílrador delle Antonio Leite Pereira, fidalgo da Cafa de Sua Mageftade ,
8c Cavalleiro do Habito de Chrifto, defcendente de João Rabello Leite , com
cafas na rua de S. Luzia. i . ^
O Vinculo, que inftituio Domingos Pereira, Abbade dcLíturaosnoCo
celho

I
8o TOMO PRIMEIRO /
celho de Monte longo, que nomeou em feu Íobrinho Jofeph Pereira Leite, que
he hoje adminiftrador delle, Sc Abbade da mefma Igreja , com cafas na rua c.e

O V incu!o,q inftituíoAntonio de Caftro de F reitas,St fua mulherMargarida


Alvarez de Novaes, de que he hoje adminiftrador F ranciíco Lopes de Carva-
lho^ Cavalleiro do Habito de Chrifto, Sc fidalgo da Cafa delRey.
O Vinculo, que inftituío Gafpar de F reitas, Abbade de Revelhe no Con-
celho de Monte longo, de que he hoje adminiftrador feu parente Lourenço dos
Guimaraens Peixoto, que vive no Concelho de Felgueiras.
O Morgado, que inftituío o Abbade Gafpar de S. Payo Coelho, & leu ir-
mão João Coelho Leite, Prior q foy da Igreja de Muge, Sc fua irmã Ifabfel Coe-
lha de Morgade, com Capella de N-' Senhora do Defterro no Convento tie São
Domingos de Guimaraens: he hoje adminiftrador delle feu íobrinho João Lei-
tie Pereira.
O Morgado de Aldão, que inftituío o famofo Jurifconfulto Manoel Bar-
bofa, com Capella de S.Thomàs, para onde tresladou os oflfos do Beato Frey
Lourenço Mendes,de que he hoje adminiftrador Jerony mo fieyra cie Caftro,
como também o he da Capella de S. Lucas , íituada na Igreja de São Thomé de
Lisboa, que inftituío na familia dos Vieiras Ofenda Annes Leonardes, mulher
•que foy de Payp Salvadores,no anno do Senhor de 13 4C* hlc também adminif-
trador do Morgado dos Pintos, que inftituío Alvaro Pinto, St fua mulher Do-
na Catherina de Faria no anno dei fio* com Capella de S-Catherina Martyr no
Convento de S. Domingos da Cidade do Porto. Também adminiftra o Mor-
gado, que inftituío Diogo Garces, & lua mulher Catherina Carneira; vive na
fua quinta deAldãonafregueíiade S- Mamede de Aldão,aonde tem luas ca-
fas nobres, Sc antigas, nas quaes fe achouhua pedra lavrada do tempo dos Ro-
manos com humas letras, que dizem*. Dedicavit Titús Flavins (Jaudianus Ar*-
chelaus leg. Aug.
O Vinculo, que inftituío Joanna Luis , por não lhe ficarem filhos de íeu
marido Sebaftião Gonçalves, que adquirio muitos ben5 pela mercancia , com
Capella de N. Senhora do Amparo , de que he hoje adminiftrador Torcato de
AndradeSt Almada, que vive na Villa de BarceUos. -V $
O Morgado, que inftituío Bras de\eiva Prego,fidalgo Gallego, que viveo
em Guimaraens, com Capella de N-Senhora da Conceição no Mofteiro de San-
ta Clara da mefma Villa, aonde tinha feu tumulo metido na parede, em que eft a-
vão os oífos do feu inftituidor ; St fazendo feus defeenden te s huma C apella
na fua quinta da Mota humalegoa de Guimaraés para a parte do Norte de que
erãofenhores,tresladàrão os oífos daquelle tumulo para ella, St as Freiras ma*
dàrão tapar o lugar do tumulo, Sc felevantàrãocomaCapel!a,a que tinhãoan-
nexadocento St oitentamil reis de juro , quefe lhe Pagão na Cidade dc Fuy
em Galliza, além de outras mais fazendas, que hoje adminiftra João Coelho de
Vafconcellos, fenhor da quinta da Mota, que vive em Guimarães na rua da Car-
rapatofa-
O Morgado, que inftituío o Doutor Jorge Vieira, Defembargador da Re-
lação de Braga em tempo do Arcebifpo Dom Agoftinho dejefus , queopro-
veo na Igreja de S-Payo de Riba deViífela,na fua quinta deBriteiros, fita na
freguefia do Salvador de Briteiros termo de Guimaraens, a que annexou o. fe-
nhorio do Couto de Pedraydo, que depois deixàrão perder os adminiftradores
com mais rendas no mefmo, que polTuem com outras na Cidade de Brága , que
tudo'
DA COR O CR AFIA PORTUGUEZA. 81
tudo nomeou em feu irmão Francifco Vieira de Andrade , q uelTojepoffUfi íefa
defcendcnte Pedro Ribeiro de Vafconcellos,que mora na mefma quinta delin-
teiros em cafas nobres. - ' o r '

O Morgado, que inftituítão Pedro Víeira da Maya , & lua mulher ornes
Lopes de Carvalho, com Capella de U. Senhora noclauitro do Convento dtó
Francifco de Gu-imaraens , aonde tem nobres jazigos ;& por não rerenituhosi,
onomeàrao emleufobtmho Pedro Vieira da Maya, que hoje o poífue, coimei
fas, em que vive na rua dobado. .
O Morgado, que inftituío João do Valle Peixoto no termo de Guimarães,
que por não terem defceiíderaèS, nomeou nelle lua íóbrinha DohaViolãtc, niu-
' lher de Dom Luis de Noronha Monteiro mor do Duque de Bragança, & Ven-
dor dcfuá Cafa>8t depois Capitão da Guarda delRey Dom João o Quátro y^ne
por não lhe ficar defcendencia, ficou com adminiítraçãó deite Morgado'IJàwà
joanna de Lacerda, Freyra noMoíteiro de S-Clara de Guimaraens,que era uy
mã da í obre dita Dona Violante; & por morte deftaFreiratem hoje a adrnmd-
tracãddelle Francifco de Magalliaens de Sòuta, que vive em Villa Rcah • ••
J
Eftesfaõ os SolaresiCafeôt Morgados, que os Antigas moradores, da
Villadè ouhíí&raerts inftituirãonella, 3cem icu termo,em que lemoltra áltia
muita antiguidade, nobreza, 5c fidalguia, donde ífc communicou por todas as
mats CMadesyí* Villas ddrc-Reyno, quedclktiràrão o efmalte pdra illufrraí
rem o ouro de luas famílias.
"<Cf ' ) • ■ V ' - > A ' ' 1 4. J l . # r í *

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• CAP. XVIL
t- . >S \ y . . . . KIO^. CVIflZ 3>|

Dos Varoens illttBres ém virtude, Jantidáde, Qf letras t que fó) io


naturaes de GuimãraenSi ■

ASfim como o Sol do Oriente efpalha, & reparte pelo mundo feus rayos,cô
que o allumea : afíím ele a iliuftre Villa cm todos os feculos repamo por
ellefeus filhos, para que em todas as faculdadesf eí plandeceííem, & como Soes
apartaíTem delle as efcuridàdes, com que eftava manchado dos inimigos da e
de Chrifto,extirpando herefías com a fantidade , dando exemplo com a peni.
tencia, para que leu fan to cantinho feja continuado deBemaventuraaos , ex-
plicando com fuãs letras nas cadeiras das Univerfidades a [agrada Theologian
enfinahdo o verdadeiro camitiho da Fer&: nas Leys a redhdao da Jultiça, para
que feus Miniftros não faltem ao ferviço de Deos, & de feu Rey com a boa ad
íniniftração deUa. • ..... ~ ^ -
Foy o primeiro Santo natural defta V ília o Papa S. Damafo, como o can-
tão duas Igrejas Catherines em Portugal: he huma a Igreja de Braga Primaz
das Efpanhas, & outra a de Evòra; & aflim o dizem, & vemos nos Breviários d c
ambasi Na Igrejàde Evctfa ha hum livto antigo, que o faz deOuimaracns , a
qual allega o Doutor André de Rezende na Epiftola a Kebedo Conegode JTq-
ledo para elte propolito,ôc prefere-o a Onuphrio,qiiê ofazEgitanenfe ; & mais
he de notar, que eltedoutiíTimo Varão diz no lugar allegado, qucGuimâraens
antigamente fora Cidade, & diz por eftas-palavras i Ifitcr Vtjfella, & Avi cofr
° • fluentes
Sa TOMO PRIMEIRO
fluentes Vtmaranenfts eftcivitas Saneii Damaft Pontificis quondamPatria : quer
dizer: Entre as correntes do rio Viífella,& Aveeità a Cidade de Guimaraens,
patna antigamente do Santo Papa Damafo- Nefta opinião acho eu hum fun-
damento, que muito corrobora a minha^ aonde no principio delta obra tratey
da antiguidade de Guimaraens, dizendo a ue houve primeira^, & fegunda do
mefaio nome/com que aqui íe moítra queS. Damalo foy natural da primeira
Guimaraens, que teve o nome de Cidade, & não foy da fegunda ,* nem o podia
fcr.o que fe aíhrma das palavras, quondam tat na; donde fc infere que Guima-
raens teve duas povoaçoens. • .
Baítavão eftas tresopinioens para que os filhos de Guimaraens tivellem
cita ventura poriemduvida, quanto mais queGafpar Barreiros , Conego de
Évora nâfua Corografia, Titulo de Madrid , Vazeo, & Morales affirmão,que
S. Damafo fora natural de Guimaraens, & confirma todas eltâs opinions por
verdadeiras (quando.nellas houvera duvida) oPadreMeltre frey f ílippede
la Gandara no feu livro intitulado: Armas, y 1 riunfos de los lujos de Gahzia,
no capitulo 17. num- 3 -por eftas palavras: Pujo fu Corte él.^tnde 7). Ben tu
que en la muy noble Villa de Guimaraens, l anada de los AWgUos Araduça, clartjfi-
ma (fegun la mas fana opinion ) del gran Pontífice S. Damafo- Nefte Author
achamos que a mais provável opinião entre os Efpanhoes era , que efte Santo
foy natural de Guiitaraens, & da V illa velha 3 <kçomoelles opertendião para
fi querendo que foífc leu natural,he teftemunha contra producentcm-
• Dom Luis de Soufa eftando por Embaixador em Roma, donde veyo para
Arcebifpo de Braga, diife, indo de vifita a Guimaraens , por fua cunojidade
fora ver naqueila Curia o Catalogo dos Pontifices, & que nelle achara o noíTo
S. Damafo nomeado por natural de Guimaraens, & afíim fc manifeftaya no lu-
gar da fua fepultura, q também vira, & juntamente a d3 mãy, & de húa irmã def-
te Santo Pontífice. Hoje provão evidentemente efta opinião dous Authorés
Caftelhanos muito doutos, Dõ G^F1" lbanes Marquez de Mondecar nas Dif.
fertaciones Ecclcíiafticas,8cD.NicQlasna Biblioteca Hifpanica, que deu a luz
1
0 Cardeal Aguirre. '' . . _ .
Foy efte Santo hum dos mayores, que afliftirao na Cadeira Pontifical, con-
temporâneo de S. Jeronymo, & S. Ambroíio, & a elle 1 e deve , & a eiiesdous
Santos a inftituição do Breviário, & Horas Canónicas , como diz Marcello
Francolino no livro, que intitulou,doTempo das Horas Canónicas cap. 13. n.
1 f. aonde diz,que S. Damafo efereveo a S.Jeronymo,q lhe mandaffe o mododa
Pfalmodia dos Gregos, & q elle lhe mandou o Pfalterio dividido em fete dias
da fomana, para que cada hum dos dias tiveífe feunumerode Pfalmos ; & que
por efta ordem de mandado de Saõ Damafo fe cante agora os Pfalmos em
todas as Igrejas; para o que allega efte Author huma Epiftola de S. Damafo ci-
crita a S.]eronymo,que anda no primeiro tomo dos Concílios,&_do mefmo pa-
recer he Polidoro Virgilio liv-ó-cap. 2 .de Inventories rerum,& oThelouro
Sacerdotal parte tit. de OflicijsDivihis, cap. 5.
Não ha duvida, que o cantar Pfalmos, Hvmnos, & Cânticos na Igreja Gre-
ga, & Romana, hecoufa antiquiflima,encomendada por S. Paulo, & exercitada
pelos primeirosChriftãos Alexandrinos,feitos, & mftruidospor S. Marcos,
comoefcrevem Philo,Eufebio, & S. Jeronymo. Depois S. Ignacio terceiro
Bifpode Antiochia, que converfou comos Apoftolos,vio huma vilaode An-
jos, que louvando a Santiflima Trindade, cantavão alternadamente , & então
deu efta fórmadecãtar àfua Igreja,& delia foy para todas as do Oriente, do q
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 83
faõ Authorcs Socrates lib-6- cap. 8- Caífiodoro Hiftorin Tripart. lib-10. cap.
S>. &c. Nicephoro lib-13. cap-8- E diz Caífiodoro na fua Hiítoria lib- ç • cap. 8,.
que Floriano, & Diodoro Monges Anticchenosforão os primeiros que ac-
cõmodàrão aquelle modo de canto alternado de Sànto Ignacio aos Pfalmos de
David 5 & que da Igreja Antiochena, aonde iíto começou, feeítendeo por todo
o mundo. • ., . -
Santo Ambroíio na fua Igreja de Milão fòy o primeiro que no Occidente
in troduzio canto alternado, Hymnos, & Vigílias , como diz Paulinona íua
vida 5 Santo Agoftinho,que entãoeílavaem Milão, odiztambcmno livro 9-
cap.6.& 7. das luas Confiífoens.De forre que SãoDamafo introduzio as Horas
Canónicas; & o Papa Pelagio primeiro obrigou aos Sacerdotes adizellas cada
dia,como fentem Volater-liv. 2 2. in Pelag. Maurol. in Martyr. 27. Augufti,
iGenebrardo,& Pamelio. O Papa Urbano Segundo mãdou rezar o Cilicio de
Noifa Senhora no Cecílio de Claramente no anno de \o96. conforme S- Anto-
nino, Gcnebrardo,& outros , do qual officio foy inftituidor o Cardeal S. Pedro
Damião, ou o primeiro que o fez rezar no Mofteiro, em que vivia,como diz o
Cardeal B aromo. -
Governou eíie Santo Pontífice a Igreja Romana dezoito atinas, tres me-
zes, & oito dias, & mor reo aos 11 -dias de Dezebro no anno do Senhor de 3 8 f 1
tendo oitenta de idadç, imperando Theodofio o mais velho *. foyfepultaciOjun-
tamente com fua m'av,& hiima irmana Via Ardeatina no Templo que elle fun-
dou ; depois forãQtresladadfc fuas relíquias para o deS. Lourenço , que elle
também fez, aonde a Igreja celebra a feita do dia de í ua morte. Fez Notto Se-
nhor por elle muitos milagres, farando enfermos, lançando Demonios, & dan-
do vida a cegos. . _ . : _ _r
Muitos Varoens iníignes em virtude, & letras florecerao no Pontificado
deite Santo, como foy São jeronymo, que o ajudou nas cartas Ecclefiaílicas, &
xefpondia às confultas Synodaes do Oriente, & Occidente* Santo Ambroíio,
Santo A golfinho, Santo Hilário, São Baíilio., São Gregorio Nazianzeno , São
Petronio, SantoEufebioBifpo Vercelleuíe , São Martinho Btípo Turoneníe,
S. Amphilôquio Bifpo, S. OnuphriO, S. Ephrem Diácono, S. Eulogio Presbyte-
ro, S* Epifânio, S-Cvrillo BiípO de jerufalem, S. Hilarion, S. Macario, &. o Sa-
to Abbade Arfenio Diácono da Igreja Romana , que toy Medre dos filhos do
Emperador Thepdofio, mandado para eíie officio peio mefmo Papa S.Damafo,
como diz Nicephoro na fua Hiítoria Eccleíiaitica liv-i %• cap.23.
No tempo deite Santo Pontífice padecerão as onze mil Virgens o feu glo-
riofo marty rio pela Fé de Chriíto, & guarda da fuá virgindade na Cidade de
Coloniaem Alepianha às mãos da tyrannia dosHunnos a 21. de Outubro do
anno do Senhor de 383. como dizo Martyroiogio Romano, & o Cardeal Ba-
ronio. Finalmente por eftes Santos, & Santas Virgens foy o Pontificado de S.
Damalo gloriofo: & por eílefer o que mais fe aífinalava entre todos na lantida-
de, & delenfa da Fè, lhe chamou o fexto Concilio de Conftantinopla Diamante
da Fé, como diz Caífiodoro Hiítoria T ripart.liv-8.cap. io- & para cm tudo cite
feu feculo fer perfeito, com elle concorrerão quatro excelientes Emperadòres,
que forão joviniano, V alçntiniano, Graciâno, & Theodoíio.
É como erão admiradas no mundo fuas virtudes, & a todo elle fervia de et-
panto a fua fantídade,em muitas partes delle o pertendèrão para Patrão feu,
como foy aVilla de Madrid, a Cidade de Tarragona em Catalunha, & outras,
qup çQm fúteis opinioens o querião roubar a Guimaraens, aonde deíde o dia
84 TOMO PRIMEIRO
de feu gloriofo tráíito o venerao como Patrão, feílejando o feu dia de onze de
Dezembro com huma folemne prociífaõ, quefahe da Real Collegiada com o leu
Cabido,, a que affiíle a Camara , Miniítros , & povo , &vãoá fua Igreja,
& fe recolhem outra vez na mefma Collegiada, & naquelle território reza o Êc-
clcfiaílicoo feu Officio Divino com Oitavario,como he eílylo.
Nam fe pôde duvidar que o grande Rey Dom Affonfo HenrRjues foy na-
tural de Guimarães,& que da primeira hora de feunafcimetoatê o ultimo bo-
cejo de fua vida íe viraõ em todo o difcurfo delia obrasíinaes de fantidade,&
depois atèhoje húa vulgar opinião entre toda a Chriílandade de Santo ,& por
eífe tido, & conhecido,como 1'evè da Chronica dos Conegos Regrantes de San-
to Agoíiinho part- 2. liv- 9. cap- 31 • ufque ad finem , & da Terceira Parte da
Monarchia Luíitana.
Outro Varaò Santo natural deGuimaraens fíoreceo, & morreo na índia
fia Cafaprofeffa dos Padres da Companhia do Bom ]efus de Goa no anno de
164.5- chamado o Irmão Pedro de Bailo, Coadjutor temporal da mefmà Com-
panhia, como confta de fua vida efcrita pelo Padre Fernão de Qneiròs Religio-
fo da mefma Companhia, em que fe manifeíl ão fuas virtudes, & os muitos mi-
lagres, que Noífo Senhor obrou por ellas. Foy eíie V arão Santo filho de An-
tonio Machado Barbofa, & de fua mulher Fílippa de Moura Peixota , originá-
rios da Villa de Guimaraens, & moradores no Concelho de Cabeceiras de Baf-
to, Comarca da mefma Villa, em huma quinta nobre, & antiga, que chamaõ do
Sobrado, fita na freguefia de Santa Senhorinha, divididas huma da outra com
o feu pequeno rio, & ponte de madeira: he cafa nobre , & bem conhecida pela
antiga nobreza de feus poífuidores : nella nafceo o Jrmaõ Pedro de Bailo nó
anno de 1570. com taes íinaes de fantidadenos tenros annos de fua infância,
que por onde os outros Santos acabaõ o curfo dos favores celeíliaes na prefen-
tevida, começou elle tam favorecido com mimos , & regalos do Ceo, comô
perfeguido,& vexado do inferno; que he caufa porque em huma,& outra con-
íideraçãofe via perplexo o difcurfo de muitos, mas no noífo Irmaõ Pedro de
Bailo fempre per fever ou aconílancia.
Sendo ainda de tenra idade , quenaôfabia conhecer as mercês de Deos
por Angulares, fe enfayavanas villas do Ceo a defprezar as da terra ; & coníi-
derando que as vifoens, que Deos lhe moílrava, eraõ comuas , as publicava,
porlheparecer que todos viaõ,&ouviaõ o que Deos lhe moílrava,& dizia, co-
mo melhor fe pode ver da fua vida-
Nam he tençaõ minha querer roubar aos Francezes o honrado nafcimento
de S-Guálter, para o fazer natural de Guimaraens pelo feu tranfito: mas co-
mo elle foy compatriota de feus moradores tantos annos na vida , & ainda de-
pois de morto, nam quiz delles apartar feusoifos: motivos faõ que me defcul-
pao para*3 nomear por Santodaquella Villa , aonde a fua dilatada affiílencia
entre elles adquirio em feus coraçoens tanto amor, adoraçocns, & honras,que
em todos os feculos,& ainda neíle he nomeado por feu Santo; & affim honre-fe
muito embora França do feu nafcimento, que Guimaraens com a gloria do di-
vino Thefouro de feus oíTos,& cabellos logra as prerogativas de feu , & as
honras de fua companhia, que nos feilejos do cultó Divino, com que o veneraõ
feus naturaes, moflram os affeêlos de o fervirem, agradecidos aos continuados
favores de feus milagres.
Nam quizera que o Beato Fr. Lourenço Mendes tenha queixa de mim de
o não nomear por natural deGuimaraens; pois] para ir viver, & morrer na-
quella
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 8^
quellâ Villa, fahio da fua patria nos têrosannos de fua idade,& pedindo o habi-
to do Patriarca S» Domingos naquelle feuCoiívento , nelleviveotamfanta-
mente todd o mais reftante de fua vida, que porfuas virtudes fez Noffo Se-
nhor em feus moradores, & em outras muitas partes grandes milagres, como
já tenho referido ;& para honra daquella Villa, & Convento , aonde muitos
annos foy morador, petmittio Deos queneUe lhe cntregaffe fua alma, & alli
deixaíTe feusoffos para confolaçaõ de feus devotos, & teftcmunho verdadeiro
de a efcolher por patria fua, que como tal o honra, & venera» ^
Atègoranao tenhodadonoticiado milagrofo Sao Gonçalo, q Vulgatmetc
chamáo £ Amarante, fendo q fc naquelle Convento tem feu corpo fepultado,
o feu nafcimento foy junto a Guimaraens na ribeira de Viiella, huma legoa dl*
ft ante daquella Villa, para que o poíTamos com mais razao nomear delia , que
lhe deu o nafcimento, do que donde teve a íepultura. ... ,
Por tradicaõ antiga fe tem que efte Santo foy Religiofo da Ordem de S.
Domingos,& 5 antes de entrar nella fervira a hú Arcebifpo de Braga, q o pro-
veo na Abbadia da Igreja de S. Payo de Riba de Viffella, huma legoa deuuima-
raens, & que nafcèra em hum cafal, que chamao da Arnconha, fito na fregueíia
do Salvador de Tagilde , que parte com a de S» Payo. Dizem mais que foy a
Roma,& dahi a jer ufalem , deixando encarregado o Curado da fua Igreja a
hum lob»inho, & que tornando dahia quatorze annos, o dito fobrinho o nam
quizera recolher, & que vendofe desfavorecido, fe refolvera entrar em huma
Religião; & fendolhe revelado que foffe naquella, em que as Horas Canónicas
comecatfem, & acabafiem por Ave Maria, fe foy ao Convento de S. Domingos
deGuimaraens, aonde ackra que os Officios Divinos fe faziao na forma da
revelação, & que ahi recebera o habito, fendo Prior S. Frey Pedro Gonçalves

Tdll
E por fe não faber o tempo, em que S» Gonçalo foy Abbade, nem o nome do
ArcebiTpo, que o proveo no beneficio de S Payo, deu motivo aos Religiofos de
S. Bento, para affirmarem que foraFrade da fua Ordem,mandando o pintar cõ
o feu habito, & moverem demanda aos Frades de S- Domingos , dizend o que
tomàra o habitonoMofteirodeS- Maria do Pombeiro, que eira da caía, onde
nafceo,huma pequena legoa. E dizem mais , que naquelle Morteiro do i om-
beiro havia huma Kalenda, em que fè fazia commemoração do Santo , & que
fora Frade da fua Ordem , & que a dita Kalenda defapparecera depois que o
Morteiro de S. Gonçalo fora dado à Ordem de S. Domingos, que coita ler da-
do no anno de i y4.0. como refere o Padre Fr. Fernando de Caftíiho na Hiítorid
da Ordem de S« Domingos part, i.liv.». cap61 • • t. ,
Dizem mais, que S.Gonçalo não podia receber o.habito no Convento de
Guimaraens da mão de S. Frey Pedro Gonçalves Telmo ; porque quando efte
Convento fe fundou, havia muitos annos que era morto S. Frey Pedro Gon-
çalves, por falecer no de 1146. & fe fundar o Convento de S. Domingos no de
12 70. como acima fica dito- Trazem mais da ponte de Amarante ter as Annas
Rcaes fem caftellos , queElRey DomMonfoTerceiroaccrefcentou às ditas
Armas por caufa do Rey no do Algarve, queElRey Dõ Affonfo Oitavo de Caf-
telladeuemdote ao dito Rey Dom Affonfo o Terceiro com Dona Brites lua
filha ;& trazem mais outras coufasfobre a dita ponte fermais antiga que São
Gonçalo, referidas pelo Padre Frey Bernardo de Braga da fua Ordem, grande
inverti aador de antiguidades» Tambem dizem que fe S- Gonçalo fora da Or
dem de°S. Domingos, houverão os Frades do Convento de Guimaraens procu-
86 TOMO P R. I M E I, R. O >: ( • / (
rar de o levarem para elle, o que namfizerão, nem conftápertenderem,nem quç
o nomeaffem por Frade feu falvo depois que houver ao^p dito Conycnto de
Amarante. vir; i >. f tm.fb'; * , 1
A iftorefpondem os-FradesDominiços^que de tempo immemorial a efta
parte fempre S- Gonçalo foy -tido, St nomeado por Santo ck fua Ordem , aífim
nefta Comarca de Entre Douro & Minho, como na índia <, & em outras partes
daChriftandade, aonde dsnaturaesdeGuimaraens levarão fua imagem vefti-
da no habito de S. Domingos, & tem NoíTo Senhor por féus mereci meafots feito
grandes milagres -,St o Conego Cairafco. infigne Poeta na Ilha da GraÒ Çanaria
fez muitos poemas em louvor dcíle Santo. Pois que diremos do. milagre da po-
te, em que o Santo acudio no anno de 1400» veil ido no habito de S. Domingos,
a defviar hum grande madeiro, que eftava ãtraveflado nos olhaes da ponte, St a
tinha pofto em perigo de fe arrumar por caufa de huma glande enchente do rio
Tamega, St defviandoocôm o cajadmho, com que o pintão , fe tornou a reco-
lher no feu Convento?
Na Cidade de Lisboanà riia Nova eíiá humaErmida de N.Senhora da Oli-
veira, que mandàram fazer Pedro Eft eves, St fua mulher Clara Giraldes,ambos
naturaes de Guimaraens > St ahi eftão fepultados fobre o chafariz dos Cavai-
los , aífim chamado por dousdc bronze , que ahi eftavaõ, como diz Duarte
Nunes de Leaõ na Chronica delRey DomFernando foi. *05 • Efta Srmida fe
fundou por devoção da Igreja Collegiada de NoíTa Senhora da Oliveira de Gui-
maraens, St nella fe fez hum Altar a S. Gonçalo com o habito de S- Domingos \
fuccedeo cahir hum menino no cano real, que paffa pela dita Cidade j & por
fer em tempo de Inverno, foy levado éom-a força da agua ao mar, aonde vaõ dar
as aguas do dito cano, St là íãhio fem Ifefão alguma 3 8t perguntado como eíca-
pára, refpondeo, que o Fradinho, que eftà em Noífa Senhora da Oliveira , ò
guardàra, St tirara fóra do rio 3 St lendolhe moftraciona dita Ermida> diffe que
aquclle era. , -9
Para o tempo, em que efte Santo viveo, ha muitas conjecturas i que foy
poucos annos depois da fundaçam do dito Cõvento de Guimaraens, St que de-
via, ter feu pav alguma razaõ de parenteíco com o Meftre Pedro Juliano , que
elegeo o Cabido de Braga por feu Arcebifpo no principio do anno de 1172. &
que vagando a dita Igreja de S. Payo perto "da caía onde nafcèra, lha devia nú-
dar pedir, St facilmente o proveria nella, Sc lhe mandaria as letras , St depois
de faber que era feito Papa, determinaria de o ir viíitar , St haver delle outro
beneficio de mais importância , St quando láchegaffe o devia achar jà r
falecido; & com efte defgofto tendovifitadoos lugares fantos de Roma , fc
iriaajerufalem, St gaftanalá osquatorze annos, que efteve aufente da fua
Igreja,defde oanrio de 1277. atè o de 1290. em q tornou,St fov do fobririho
lançado fóra, St efcandalizado, St no dito anno de 1290. iria pedir o habito ao
Convento de S. Domingos de Guimaraens.
Naõ podedo S. Gonçalo aceitar o habito da maõ de S. F ríPedro Gonçalves,o
poderia aceitar de S.Frey Lourenço Mendez, ou de outro algum Religiofo; &
fe foy a Viterbo pelas novas que teve dè fer eleito Papa feu parente o Meftre
Pedro Juliao, gaftandopor lá osquatorze annos, devia tornar para a fua Igre-
ja no anno de 1290. em que fe podia andar na obra do Cõvento, que fe mu-
dou: St dahi iria para a dita Ermida de Amarante prègar à gétc daquella Co-
marca a palavra de Deos, como faziaõ os mais Fraaes, conforme a inftituiçaõ
da Ordem. -
Tinha-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 87
Tinha, fegundo ouVi, S. Gonçalo razaõde pafentcfco com os Motas,,que
o Conde Dom Pedrodiz morarem.no Concelho de Cerolico deBaflo , que
parte com o termo da Villa de Amarante, que forao os que fundaram o Mojlei-
ro de Gundar, que eflá meyalegoa alem de Amarante, de que ainda na Cidade
do Porto ha defeédentes ;& do dito Nobiliário cõílano titulo 60,dos de Gun-
dar, que Ruy Gomes da Mota foy filho de Dom MemGundar, Alcayde mor de
Cerolico de Balio,&deviaó tomar elle appeUido da Mota,de huma quinta cha-
mada da Mota,fita na fteguefia de S.Miguel de Fervença do dito Concelho de
Cerolico de Balio. E confia da geraçam dos Barbofas , que anda no.livro pe-
oueno das geraçoens às foi. 2. que Gonçalo Fernandes de Barbofa teve tres
filhos, & hum delles fe chamouFernaó Gonçalves Barbofa,& os dous tomarao
o apelidodosMotas,queforaóJoaódaMota,&AlvarodaMota : demodo

que le prezàraõ mais dos Motas, que dos Baiboías.


E por Saõ Gonçalo ter eftes Motas leus parentes ao redor de^Amarante, 8c
no Mofteiro de Gundar ,*]ue naquelle tempo era deFreyras , &.fora fundado
por leus avós, ôt por D-Toda cieGundar, que o Conde chama D. Toda Lou
renço, 8c poder haver nelle algumas parentas fuas Freyras > como leria Dona
Tareia Lourenço, que o Conde diz que foy âhi Abbadeça ; fe podia o Santo ir
por aquellas partes, para enfmar agenteruftica,quepor alli vivia, & lhe pre-
gar : & por ler a cifrada de muita paíTagem , &perigofa naquelle paffo do rio,
mandara fazer a ponte, que hoje eftá fobre o Tamaga 5 8t falecendo, o nao dei-
xariaò os parentes, & mais povo daquella terra trazer a Guimaraens; por que
fe fora F rade do Pombeiro, mais perto ficava do leu Mofteiro , por nam ficar
delle mais que tres legoas de diftancia,&de Guimaraens cinco: & por o Santo
eft ar naquelle lugar, fe concedeo à Ordem de Saõ Domingos, da qual fora Fra-
de o firio em que fundàraÕ Mofteiro com uniaÕ da Igreja de SaÕ Venífimo , &
dos Mofteiros de Mancelos, & de Freixo, queforamda Ordem de Santo Agof-
tmho , em que o Mofteiro de Villa Real da dita Ordem de Sao Domingos tem
também certa parte do rendimento. . . M
Quanto a S.Frey Lourenço Medes nam refiro aqui fua vida, 8c milagres,
por eftar là relatada; mas digo que o pergaminho, que treslade-y, f©} eicrito no
anno de 1111 • & devia acontecer a entrega das Relíquias a Saõ Frey Lourenço
• Mendes no anno de 1274* que foy quatro annòs depois da fundaçaõ do Con-
vento ; porque provavelmente fe tem que o lugar,onde eftavaõ eltas Reliq uias,
foy a Cidade de Antiochia, que naquelle anno foy entráda pelos infiéis, lendo
de Chriftaõs; 8c diz o fupplcmento,que Bondegar Soldaõ do Egypto naquelle
anno de 12 7 4.. deft ruío,8c levou delà vinte mil cativos,&Chnftaõs-0 mefmo de
fer deftruidanefte anno refere IlhefcasnaHift-Pontif. i.part-livç- cap.4.0.
A gcracaõ defte Santo, diz o pergaminho, que era dos de Chacim, que foy
muito nobre nefte Reyno, 8c delia faz mençaõ o Conde Dom Pedro no titui. 3 8 *
do leu Nobiliário, onde diz , que Dom Nuno Martins de Chacim foy homem
muito honrado, 8c privado delRey Dom Dinis , 8c leu Adiantado em Entre
Douro & Minho, & 11a Beira; mas nos que delle defcendèraõ, ou de leu payDo
Martim Pires de Chacim (de que também faz mehçaõArgote no livro da No-
breza de Andaluzia) nam acho feita mençaõ defte Religiofo ; pelo que parece
que devia fer parente, pois o pergaminho declara fer defta familia, 8c Chacim
he huma Villa cm Trás os Montes; que os Mefquitas de Guimaraens , Villa
Real, 8c Elvas faõ defeendetes dos de Chacim, porq -Martim Gõçalv es Pi metei
foy cafado com Ines deMefquita,a qual era filha de Eftevaõ Pires de Mefqui-
1
H ij
. .i ..^ n iyi i imMmt

88 TOMO PRIMEIRO;
ta , & de Alda Nunes de Meireles filha de Joaò de Chacim Commçndador da
Ordem de Chrifto,& Senhor de Chacim. . T

Efte milagre da entrega , que fe fez defta arca aó Santo Frey Lourenço
Mendes , efíava pintado na parede do Moíleiro entre os Altares de Noíia Se-
nhora do Rofario,õc de Saõ Gonçalo; & devendo os Religiofos do dito Moítei-
roconfervar eíla memoria, &c nam confentir que fc apagaíTe , a fizeraõ cobrir
de cal ao tempo,que fe apincelouo Molleiro-
No lugar, aonde agora eílá o ret abolo de S. Frey Pedro Gonçalves., ei te-
ve fepultacío eíte Santo, & tinha no tumulo huns buracos,pelos quaes_tocavaõ
contas, & outras coufas de devoção, & íc cobrio o dito lugar com íe fazer alli
Altar, & retabolo, deixando por memoria pintado no banco do retabolo a ima-
gem do Santo deitada ao comprido, com eíte verfo, que diz afíim:
JHic fita Laurenú Mendes funt ofja tíeatu
Nam ferà razaõ que neftelugar deixede nomear a devota Ifabel de Saõ Pe-
dro, porque quem fov tam penitente na-vida, permiteDeos íeja bemaventura4
da na gloria. Foy eíla ferya do Senhor natural de Guimaraens , que luppoílo
filha áe pays humildes, foy muy nobre nas virtudes ; fora moradora na Praça
• do peixe, & tam amiga de fervir a Deos , que guiada do Divino Efpir ito fe re-
folveoá ir vifitaras EítaçoensfantasdeRoma,&os lugares fantos de Jerufa-
lem. Tanto que chegou a Roma, que fov no anno de 1599. áhi pedio o habito
da Venerável Ordem Terceira de Saõ Francifco,& veftida de hum tofeo burel
profe-Juio a jornada, que tinha deftinado, donde voltou à fua terra, trazendo
de ofterta a NoíTa Senhora da Oliveira hua riquifíima Cruz de pao de reliquias,
que fe venera no feu Santuário- Nameima Villa viveo ornais reftante de lua
vida, fazendofe muy conhecida por fuas grandes penitencias, & virtudes, em
qug fempre perfeverou, ate entregar íuaditofa alma nas mifericordiofas maos
do Senhor, jaz fepultada na,Igreja de NoíTa Senhora da Oliveira,& í c cor, fer V á
inda hoje fua fama com opinião de Santa, como cõfta daHiftoria Sei afica part»
i.liv.i.fol.iRj» . < , ■
Da Villa de Guimarães,podemos dizer,era natural,pelos muitos annos q neJla
viveo,ã fenhora 13. Cõitaça de Noronha, fegúdamulher do Senhor Dõ Affonlo
primeiro Duque de Bragãça, a qual fe entregou tanto ao ferviço de Deos, q naõ
1
faltado às obrigaçoensdefeuEftado,foube disfarçar com o mageítolo das
0 galas o penitete dos cilícios; & quando no mundo apparecia com as regalias de
Princcza, no Ceò fe habilitava para os prémios de virtuofa» Chegou o tempo,
em q em fua paciência foportou a morte de feu marido na fua Villa de Barcel-
los, donde acabadas de fazer as devidas honras funeraes,fe partio para a Villa
de Guimaraens, em que viveo muitos annos em religiofo recolhimento , de-
dicando todas as fahidas de fua çafa para o feu Convento de Saõ Francifco, de
que era Padroeira, & nelle aífiftia aos Officios Divinos, derramando muitas la-
grimas diante das imagens veneradas em feus Altares- Pedio aos feus Religio-
fos lhe lançaífem o habito da Ordem Terceira , emque profeíTou , fazendo
tanta eftimaçaõ delle, que o trazia publico, venerandoo com rigorofas penitc-
cias. _ .
Como efte habito lhe facilitava todos os affos de piedade , curava por
fuas maõs aos enfermos, & a mayor parte de fua fazenda gaftava em os Hofpi-
taes, & pobreza, a quem continuamente eftava foccorrendo com efmolas, com
que parecia mais o feu Palacio Hofpital de pobres, que cafa de Princeza; & para
disfarçar a virtude,cõ que curava a muitos pobres, lhes applicava lavatórios,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZÀ.
& cozimentosdebumaherva,quenafciano territoriocio íeuPalacio , a que
chamavaõ, &chamão indahoje herva daDuqueza Santa,cõ que quafi milagro-
famente faravaõ de muitas enfermidades quantidade de enfermos- • Aílim ricia
de merecimentos faleceono anno de i com vulgar opinião de Santa; foy
fepultado feu corpo na Capella mor de S. Francifco junto aos degraos do Altar
mor; tresladàrão depois os Frades a fepultura para o presbyterio da parte da
Epirtola, aonde eftà a fuaíigura em meyà talha com o habito, & cordão, & tou-
ca íoqueixadaamodode Beatas Terceiras,&naquella pedra fe vè ainda hu bu-
raco, pelo qual com contas, outras coufastocavaõ luas reiiquias; & comcf-
te meirno traje depois de morta appareceo a hum enfermo, que em íua doença a
invocou. Defía penitente Duqueza trata, além de muitos, a Hiítoria Seraíica
foi. 18o. aonde fe referem alguns milagres autenticados no anno de 14.88.
Salvador de Meira Peixoto foy hum Cavalleiro natural de Guimaraens, &
hum dos principaes defta Villa, cafado com Maria Nunes de Carvalho; tiverão
dous filhç>s,hum que morreonas índias de Caftella , para onde fe embarcou
por crimes de homicídio: & outro chamado Joaõ do Valie Peixoto,que morreo
Beneficiado de S-Gens, o qual por morte de feuspays ficou em companhia de
fete irmãs, vivendo todos juntos tam unidos em huma fraternal amizade, que
nam havia entre elles fenaõ huma vontade. Mortooirmaõ , ficàraõ as irmãs
obfervando a mefmâuniaõ, vivendo tam recolhida, &. honcílamente 3 que era
a fuacafa centro de virtudes, & reparo da pobreza,a porta fempre aberta para
a efmola, & charidade, &. as vontades de todas fempre liberaes , para que ne-
nhuma peífoa, que a ellas pediífe, foífe defconfolada ; & como viviaõ em hum
retiro junto ao Morteiro das Capuchas de Santa Ifabel,fahiaõda fua cafa to-
das as manhãs muitos peregrinos,que nas noites nella tinhaõ agafalho, & para
effe effeito tinhão recolhimentos com o melhor commodo , que a fua poflibili-
dade^odft 0jiabit() deTerceiras de S.Francifco; masfólfabel Pei-

xota a mais velha o trazia publico, como gala de leu mayor affeéio. De fua pe-
nitente vida dará boa informação o Padre Frey Francifco do Salvador, Cõmif-
fario dos Terceiros em Lisboa, porque foy feu Padre efpiritual muitos annos
naquella Vília, aonde teve a mefma occupação. Fov muy devota de Noífa Se-
nhora, &todos os Sabbados, fem que o ruim tempo lho impediífe , hiavifitar
defcalça a fua Capella do Monte, que fica diftantehuma grande legoa de fua ca-
ía : todos os dias corria as cafas. do Sacramento , fem faltar aos Ohicios Divi-
nos no Convento do feu Seráfico Patriarcha S- Francil co; & as mais das tardes
com o feubordão, a que chamava companheiro, hia vifitar o Bom Jefus do Cal-
vário. Neftes exercícios,fem faltar à difciplina,& jejum,viveo noventa annos,
& morreo no de 16 8 $ • cõ tal opinião de virtude,que diífe Frey Pedro da Cruz,
feu Padre efpiritual muitos annos,q para lhe dar aabfolvição nas fuas cõfiíioés,
era neceífarid recordar venialidades de outras, que tinha feito ; & comoerta
ferva de Deos entregou a alma ao feu Creador em companhia defteReligiofo,-
excellencias manifefta de fíia morte. . . .
Muitos fogeitos aífim homen s, como mulheres falecerão nefta Villa,que fc
fuas noticias vivem hoje fepultadas com elles, ha N-Senhor de permitir> que o
que obràrao na vida pelo feu amor, ha de fer merecimento para que algum dia
fejão manifeftas fuas virtudes, &fayão debaixo daquellas pedras finaes, que
publiquem a gloria, que eftao poifuindo em fua companhia.

H iij CAP.
9o
TOMO PRIMEIRO

CAP. XVIII.
m

De outros fogeitos naturaes da Villa de Guimaraens , que illuflràratn


efle Rey no, & outras partes do Mundo.

O Primeiro Varão, de q poífo dar noticia, foy Payo Galvão, filho único, &
herdeiro de Pedro Galvão, & de íua mulher Dona Maria Paes , o qual
tocado dos auxilios do Ceo, deixou a cafa de feus pays , & fe meteo Religiofo
noConvento de Santa Marina da Colla de Conegos Regrantes de Santo Agob
tinho pelos annos do Senhor de 1178. em que naquelle tempo era Pjrior delle
o Padre Dom Mendo 5 o qual vendo a viveza, engenho , & virtude do novo
Religiofo, o mandou para a Univerfidade de Paris a eftudar,c©mo era coí! ume
naquelle tempo nos Padres deíla Ordem, por terem naquella Univerfidade Me-
dres feus, que eníinavão as lagradas letras.
Entrou nella o novo Religiofo Dom Payo Galvão em tam boa occafiao,
que lia naquella Univerfidade com grande fama Dom Lothario Conego Re-
grante de Santo Agoítínho do Moíleiro Lateranenfe de Roma, peífoa de muita
qualidade,l& authoridâde dos Condes de Cygnia em Italia, que daquella Uni-
verfidade foy chamado para Cardeal, donde em poucos annos foy Papa,cha-
mado Innocencio Terceiro , o qual era tam afteiçoado a Dom Payo Galvão,
que quando de Roma o mandàrão chamar,para lhe lançarem o Capelio de Car-
deal, o quiz levar em fua companhia ; mas como não tinira licença dfc feu Pre-
lado,nem acabados os feús efludos, fe efcufou,&nao aceitouoque tanto lhe
convinha. „ _ , .
Recebeo Dom Payo Galvão o grao de Meítre deTheologia na Univerfi-
dade de Paris , & querendo ir aRomavifítar feuMeílre o Cardeal Dom Lo-
thario, o não pode confeguir , por fer chamado para, o feu Moíleiro por carta
do feu Prelado. Chegado a elle , foy recebido de feusRelígiofos com grande
«ofto, & alegria de todos, & como nefte tempo a Igreja de Santa Maria de Gui-
maraens ainda era de Conegos de Santo Agoftinho, como diz Eflaço cap. 2 4.
de varias Antiguidades de Portugal, & nella Prior Pedro Amarelo 5 tanto que
fbube que o Meftre Dom PavoGalvao era chegado ao feu Moftciro da Coita,
lhe foy dar as boas vindas, & juntamente aofferecerlhe a dignidade de Meihrc-
efcola, que eftava vaga por morte de Dom Vafeo V ivar, que elle com licença dc
feu Prelado aceitou de boa vontade, & na clauílra daquella Real Collegiada leo
Theologia MoraH que para eftefim fe inftituío a dignidade de Meftre-efcola
nasCollegiadas,&Cathedraes.
Eftando neftaoccupação o Meftre-efcola Dom Payo Galvao, chegarao no-
vas a Portugal que era falecidoo Papa Callifto Terceiro , & que em feulugar
fora eleito a 8. de Janeiro do anno do Senhor de 1198. o Cardeal Dom Lo-
thario Meftre donoífo Dom Payo Galvão, que fe chamou Innocecio Terceiro;
& como nefte tempo reynava em Portugal Dom Sancho o Primeiro, elegeopara
lhe mandar dar obediência ao dito Dom Payo Galvão , por fer Varão perfeito
aílim em letras, conto em authoridade; occupação que elle muito eftimou, tan-
to
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. pi
to por fua regalia, como por ir bçijar o pè a feu Meftre na Cadeira Pontifical:
& dcfpedindofe por carta de todos os Prelados dos Mofteiros da fua Ordem ,
fe partio para Roma, aonde foy bem recebido do Pupa Innocencio Tercéiro,feu
Meftre,quecommuitabcnevolencia,&moftrasde aífeiçãoouyio fua embai-
xada, que lhe foy tão bem aceita , comofe colhe dacartaemrepoftaàdelRey
Dom Sancho,cuja copia relata Brandão na quarta parte da Monarc.Lufit-liv.12
cap. 2i- em que toma o Reyno de Portugal debaixo da protecção da Santa Sc
Apoftolica- .
Pela grande affeição que o Papa Innocencio Terceiro tinha ao noífoDom
Payo, não confentio que elle fe fahiífe de Roma , por lhe fer neceífaria a fàa cõ-
panhia, pelo conhecimento que tinha de fuas muitas letras, & prudência para o
bõ governo da Santa Igreja,& aíTimo fe'/ feu Vice-cancellario,& depois no anno
do Senhor de 1206. na quinta creação deCardcaeso fez Cardeal Diácono do
titulo de Santa Maria in Septifolio, como fe pôde ver emFrey AfFonfo Chacon
no livro dos Summós Pontifices, fallando do Papa Innocencio Terceiro; & de-
pois pelos annos de 1211.0 levantou à dignidade de Presbytero Cardeal de
Santa Cecilia, & no de 1115.0 fez Bii po Albanenfe.
Muito fentio o Cardeal Dom Payo a morte de feu Meíire o Papa Innocen-
cio III. por lhe parecer pararião cõ ella os feus accrefcentametos: mas como os
feus méritos erão tão grandes,nenhum Pontífice poderia fucceder, que fenão
aproveitaífe da fua doutrina, & prudência ; & aífim fuccedeo : porque juntos
os Cardeaes, elegerão em Summo Pontifice a Dõ Cencio, Conego Regrãte La-
teranenfe de nação Romana, aos 18. de Julho de n\6. o qual fechamou Ho-
norio III.& co efta eleição aliviou o nolfo Cardeal em parte o fentimc to da n íor-
tede feu Meftre Innocencio Terceiro, por fer o Papa novamente eleito tãbem
feu amigo particular 5 em tal maneira que o Padre São "Domingos o tomou por
valia,para que omefmoPapa lhe paTaTeaBulla da confirmação da Ordern aos
Pregadores, como aílim.o fez no primeiro anno de feu ?ontincado nella alli-
nou o noífo Cardeal Bifpo Albanenfe com mais dezaíete Cardeaes.
Huma das coufas principaes, que o novo Papa Honorio Terceiro inten-
tou fazer no principio ae feu governo, foy aconquifta da Terra Santa de Jeru-
falem,efcrevendo para iífoatodosos Reys,& Príncipes Chriftãos cartas, em
que os exortava para efta empreza,& para que delia trataífem com boa vonta-
de, paífou a Bulla da Santa Cruzada com notáveis graças, & indulgências para
todos os q ue neft a conquifta fe q uizeffem achar. De grande gofto foyparato-
dos os Príncipes Catholic.os efta refolução do Papa Honorio í erceiro; par-
que de todas as partes da Chriftandadefe ajuntou hum poderofo exercito por
mar,& terra,de que oSummo Pontifice fez General a João Breno,que eftava eley-
to Rey de jerufalem, por fei* na guerra muy experimentado Capitão , & para
efta empreza nomeou por feu Legado Apoftohco ao noífo Cardeal Dom Payo,
por conhecer neile hum defejo ardente de recuperar aquella fanta C idade. O
qnefta guerra fuccedeo fe pode vernaChronica dos Conegos Regrantes de S.
Ágoftinho 2• part.liv. ii-cap.2.
O Doutor Qafpar de Carvalho Chançarel môr do Reyno , do Confelho
delRev Dom João o Terceiro, & feu Embaixador aCaftella a tratar o cafamé-
to da Princeza Dona Maria fua filha comElRey Dom Filippe o Prudente, & tã-
bem teftamenteiro do dito Rey Dom João oTerceiro.
O Doutor Balthalar de Azeredo, Defembargador da Supplicação.
O Padre Frey Paulo do V alie da Ordem de São Bento > Meftre na fagrada
Theolo-
BBKRIRI

01 tomo primeiro
Theologia na Univeríidade dc Coimbra, aonde deixou itanta fama,como letra s

O Doutor Diogo Lopes de Carvalho,fenhor dos CoutoS de Abadim , &


Negrellos, Moço fidalgo da Cafa deiRey, & feu Defembargador do Paço.
O Doutor Gonçalo Dias de Carvalho, que foy o primeiro Legiíta Pprtu-
guez, que começou a edudar em Guimaraens , quando os eíxudos eitavão
110 Moíleiro de Santa Marina da Coda de Frades Jeronymos , & o primeiro
Doutor , que na U niverfidade de Coimbra tomou o grao do Doutoramento;
foy Defembargador dos A agravos, & Deputado da Mefa da Confciencia.
O Doutor Balthafar Vieira, Moçoíidalgo da Caía deiRey, que toy Corre-
gedor da Corte. ^ ... . j
O Licenciado Manoel Barbofa, cuja famafemprevivtra na memoria dos
homens pelos Volumes, que eícreveo à Ordenação; com que foy tão aouto nas
letras, como antiquário, & dos Genealogidas o de mais credito*
O iníigne Doutor Agodinho Barboía feu filho, Biípo de Gifgento , que
não he neceífario para encarecer fuas letras mais que nomeallo,& fie a coi hecido
não fó em Portugal , mas em todos os Reynos eílranhos, onde fe eitimao os
feus livros, alfim no fecular, como no Eccleíiaíiico,pela reputação de íua dou-
trina
O Doutor Símao Vaz Barbofa Medre em Artes, filho também do JurifcÕ-
fulto Manoel Barbofa, que fendo Conego naCollegiada de Guimaraens, fez o
feu livro do Axioma, para moftrar não degenerar de tal tronco.
O Doutor Antonio Pereira Cardote, que deu tanto credito a Portugal, oc
à fua Univeríidade de Coimbra, que as podillas, que nella leo, fe forão ler à tie
Salamanca :&fe não tivera dado de fi outro parto a Villa de Guimaraens, baí-
tavaedefogeito para o feu mayor crçoito. . • -
O Padre Frey Antonio da Luz,Religiofo de S. Bento, iníigne TheologoA
Lente na Uuiverfidadede Coimbra. \r
O Reverendo Padre Medre Frey Jofeph de Oliveira, Religiofo dos Eremi-
tas de Santo Agodinho, Lente de Theologia em Coimbra, que por luas muitas
letras, authoridade, Sc virtude o fez Bifpo de Angola ElRey Dom Pedro o Se-

O Doutor Gafpar de Abreu de Frey tas , Defembargador , & Con-


felheiro da Fazenda, Moço fidalgo da Cafa deiRey, & feu Enviado a Olanda,In-
glaterra, & Roma, & Commendador da Ordem de Chrido.
D
i O Defembargador João de Guimaraens, Embaixador duas vezes a Sué-
cia^ Inglaterra, & Olanda, Moço fidalgo da Cafa deiRey, Commendador de Ca-
parrofa na Ordem de Chrido, & Deputado da Mefa da Conferencia.
O Doutor João de G°uvea da Rocha, Chançarel na Relaçao do Porto,Def-
embargador dos Aggravos em Lisboa, & do Paço , Moço fidalgo da Cafa dei-
Rey, & Cavalleiro profeífo do Habito de Chrido.
O Doutor Pedro da Rocha de Gouvea, Defembargador do Braíil, & de-
pois da Supplicação, Cavalleiro da Ordem de Chrido, irmão do Doutor João
de Gouvea da Rocha. ,
O Doutor Jofeph Peixoto de Azevedo, Defembargador dos Aggravos em

O Doutor Jeronvmo Vaz Vieira, que actualmente eda fervindo" de Juiz


das Ordens Militares, Deputado da Mefa da Confciencia,Defembargador dos
A ot>
agravos, Juizda Coroa, & Defembargador do Paço-
Dom
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 93
Dom Gabriel da Annunciação Cónego de São João Evangelifta , que foy
Bifpo de Annel do Arcebifpado de Évora- ,
Dom Manoel Affonfo da Guerra, Bifpo de Cabo Verde , que o mereceo
por fuas letras, & virtudeS.
E ft as faõ as peffoas, que em noffos tempos pude alcançar, que em todas as
faculdades de letras oecupàrão nefte Reyno,& fora delle os melhores lugares;
& fó me falta dizer dos queforão muy doutos na Medictna, como foy o Dou-
tor Pedro de Soufa, Lente de Vefpora, o Doutor Chriftovão de Azeredo Fifí-
comór defte Rey no, $00 Doutor FrancifcoCibrão múy to conhecido na Corte
de Lisboa. ...
Também na Arte Poética hecoufa muito cõmua> que o primeiro homem,
que nefte Reyno fez trovas, foy Manoel Gonçalves o Trovador, natural defta
Villa, & nella morador no Burgo da rua de Couros ; & como os filhos de Gui-
maracns fe prezàrão em todos os feculosde imitarem aos primeiros invento-
res de todas as Artes liberaes, & cançarem.fe em querer exceder huns aos ou-
tros nas fciencias 5 muitos Poetas, &Humaniftas excedentes haveria depois
do Trovador Manoel Gonçalves, mas de todos feefqueceo a memoria depois
que ManoelThomás deu a luz as fuas obras de Oitava Rima, que compoz,para
dar noticia das guerras de Entre Douro & Minho , & das peflbas, que nellas
militarão naturaes de Guimaraens, como também do defcobrimento das Ilhas
aonde morreo •• porém aflim huns, como os outros eferitos, fenão perderão 0
credito de fua muita erudição, todosficàrão fufpendidos , &poftos de parte
depois queofamofo Manoel de Faria & Soufa manifeftou ao mundo fuas o-
bras, dando claras, & verdadeiras noticias não Iodas antiguidades de Portu-
gal, mas também da Africa, Afia, & America , dando noticia a todos por feus
efer itos daquelles dilatados Impérios, Reynos,& Senhorios, & fucceífos del-
les com tanta erudição, certeza, & verdade , que nenhum Author, por mais
apurado que foffe naquellas matérias,lhe poz objecção,que elle não refolveífe
com doutrina tão clara, como a luz do Sol; com que fó Guimaraens fe pode cõ
razão jaàar de ter por natural hurfi Chronifta como efíe, pois mereceo ter no-
me em todo o univerfo : & fe nas fuas muitas obras o deixou efculpido para
as eternidades, também o imprimio no coração , & memorias de íeus natu-
raes, para chorarem fua falta 1'obre a fepulturado Moftciro do Pombeiro de
Frades Bentos com o epitáfio de feu nome (que ferámais perdurável no bran-
- do fentir dos homens , que na dureza da pedra) ao entrar da porta principal
pela nave da mão direi ta, junto à porta traveífa doclauftro,ao pé do mageíto-
í'o tumulo de Dom João de Mello & Sampayo , antigo Commendatario da-
quelle Mofteiro. j
E como tenho coroado a todos os mais fogeitos feientes , & doutos na
faculdade das Hiftórias,cõ efta coroa irey dando conta dos Naturaes de Gui-
maraens, que coma efpada defenderão a Fé, defterràrão Gentios, & inftnigos
de NoíTo Senhor Jefu Chrifto,para que Portugal ficaffe povoado de Chriftãos,
& com ella defendèrão naõ fó a feus Reys, & Reyno,mas eftendèraõ por muitos
Reynos, & Provincias feu nome, & fama.
E quem nos ha de dar principio a tambons defenfores da Fè de Jefu Chri-
fto, fenão o noíTo melhor aumentador delia,& acérrimo perfeguidor de feus ini-
migos o bom Rey Dom Affonfo Henriques , que com fua efpada lançou fóra
do feu Reyno a tanta multidão de Infiéis, que oeftavaõ povoando, deixandoo
livre daquella Mauritana gente, nam os conquiftando, & perfe guindo fó nelle,
fenaõ
94 TOMO PRIMEIRO) r> '
feuaõ ainda fóra dos feus limites ? & cemo a cabeça do Rtyno naquelle tempo
era a Villa de Guimaraens, pois nella tinha affentado íua Corte o Conde Dom
Henrique feu pay,que na mefmaoccupação íc exercitou mui tos annos na guer-
ra dos Mouros, em que era força que da mefma Villa os acompanhaffem vale-
rofos Capitaens, que de fuas noticias nam ficou memoria •, porque traziaõ a
maõ occupada com a efpada,& lança, & nam com a penna , fazendo mais edi-
maçaõ dc luas façanhas para o íerviço de Deos, a quem defendiao, & a leu Key,
do que do nome, & fama, que podiaõ adquirir.
Em tempo delRey Dom Sancho o Primeiro fahio de Guimaraens aquclle
militante Santo,& fabio Cardeal Dom Payo GalvaÕ,quc tanto com í uas letras,
como com a efpada foy continuo perfeguidor dos inimigos cia Fè de Cnrif-
to: com as letras exortando aos Summos Pontífices , & Príncipes Chnitaos
para ver livre do poder de infiéis a Santa Cidade de Jerufalerh; & com a ei pa-
da na Campanha fazendo officio de General na facra guerra pelo Papa Hono-
rio T erceiro: trocando q defeanço da Curia Romana, aonde a ilidia , pel o t ra-
balho das armas, com que lhe parecia fazia melhor ferviço a Deos.
Aquelle famofo guerreiro Martim Ferreira, que acompanhado dos ieus ,
íáhindo da illuftrc Caía dos Cavallciros, invedio o exercito Caítelhano, que
edava alojado na Veiga das Favas junto a Guimaraens , para per íitio a cila
Villa: mas antes que puzeffe em execução íeu intento , fobreelle cahio aquclle
ravo de Marte, que iazendolhe virar cara, & fugir com toda a preífa por terra
de Chaves, fe recolheo nas fuas de Cadella (aonde chegou muito desbaratado)
deixando as edradas de Portugal bem povoadas de mortos, & feridos. Honra-
do tedemunho deda vitoria foy huma cutilada , que trouxe no rodo oiioífo
Adiantado Capitão Martim Ferreira, que lhe fervio de tanto nome , que daili
por diante fempre foy appellida do por Martim Narizes,por lhe ficar nelles o fi-
nal da ferida. ■
Fm todos osfeculos ede illudre Cafal dos Cavallciros os produzio em
armas muy exercitados, que ray os forão, que contra infiéis, & inimigos de ícus
Reys, tanto no Reyno, como fóra delle, fempre forão os primeiros nas ínvelh-
das. Sendo fenhor deda antiga Cafa Manoel Machadode Miranda, fidalgo ta-
to conhecido, como poderofo no feu Palacio do arco na rua de Santa Maria,por
não faltar à regalia de feus paífados, que tinháo como por tributo de trazerem
no ferviço de feus Reys, & em fuás conqitidas, quem roííe nomeado filho dtllc:
não fó deu hum, mas muitos a ede exercício por fuas varias conquidàs-
Mandou para a índia feus filhos Manoel Machado, & Francifco Machado;
o primeiro morreo em huma batalha naval peleijando com os Turcos tam va-
lerofamente,queprefumindoeclipfarfuas Luas comos rayosdc.íua efpada >
padeceo mortal ccliplc lua vida. O fegundo livrou na íua fuda para chorar
1'audades do irmão defunto, & vindo ao Reyno a negocios daquelle Ldado,pa-
ra elle fe tornou, aonde Deos lhe tinha decretado a morte fendo Capi tão de In-
fantaria, & hum dos que lhe tinhão feito muito ferviço contra feus inimigos,
&afeuRey. ** _ '
Nãofizerão menos ferviço a Deos, & ao feu Grão Medre cia Religião dc
S. joão de Rodes, em qué forão Cavalleiros profeífos, Fr. Guálter Machado,
& Fr. Martim Pereira d' Eça, ambos filhos do dito Manoel Machado de Miran-
da. Morreo o primeiro peleijando com os Turcos com tanto valor ^ , que
ferrío de exemplo para que muitos de feus companheiros à lua imitação per-
^deífem as vidas cm hum aífalto. O fegundo fe embarcou para o Reyno , que
achou
DA COREOGRAFIA PORTUCUEZÀ $>j
achou em guerras contraCafteHa , & não lhe permit ilido feu animo que def-
cançaffe do trabalho, dc que vinha,hufeou logo o exercido m ili tar na Provín-
cia do Minho, occupando o poílo de Meílre de Campo de hum Terço de V o*
lantes, cm tempo que aquella Próvincia eítava tam defmantclada, que não tinha
mais quehum de lnfanteria,& por lhe parecer fazia melhor ferviço a feu Rey,
fendo Capitão de huma Companhia de Cavallos , a ella paffóu com o titulo de
Couraças. Celebradas aspazes entre eiles do us Reynos para defcãço de fuas
milícias,entrou Fr.Martim Pereira em novas fadigas esom osnegocios da fua
Religião, que fuppofto de muito credito, erão de grande trabalho, & de muita
inquietação para os achaques, com que tinha fahido do ferviço delRey. i
Foy primeiramenteoccupado em Viíitador dasCommendas da fua Reli»
giãoj donde paffou a Recebedor delias, & eftando nefta occupação foy por al-
guns tempos Governador do Priorado do Crato por morte do Prior Dom João
de Souíã: faleceo ha Cidade de Lisboa fendo Commendador da Commenda de
S. João da Carvoeira em Tras os Montes,hua das de bom lote da fua Religiam,
em que foy melhorado da Commenda de Torres Vedras.
Teve mais o dito Manoel Machado de Miranda outros dous filhos , João
Machado d'"Eça, que fervio rio Alentejo combo a facisfaçio, & Gregorio Fer-
reira d' Eça, que foV Capitão morda Villa de Guimaraens , & Governador dc
fua Comarca , em que lhe fez tantos ferviços, como feandàra com as armas na
mão nas campanhas, aonde também fe achava , quando não era impedido com
as ordens de feu Rey, ou Generaes. Foy fidalgo da Cafa delRey, & Cavalleiro
profeffo do Habito de Chriílo.
Pedro Alvarez de Almada foy hum Cavalleiro valerofo natural deíla ViL-
la, que tinha as cafasdoíeu Morgado no Rocio da Tulha,o qual defejando que
as noticias de feu nome, & valor não foífem fómtte fabidas nos Reynos de Por-
tugal , .& Caftella , em que fervia a feus Reys , fe paffou a fervirâElRey
Henrique de Inglaterra nas guerras , que trazia com os Mouros pelos mur-
ros, & grandes ferviços, quenellaslhe fez, & para honrar feu muito valor, lhe
paffou o prefente Alvará , que diz : Henrique por graça de'Deos Rey de In-
glaterra de França,&ftnhor de Hybernia, a todos, & a cada hum dos fieis Chrifi-
tais, a que efias no fias prefentes publicas letras forem prefentadas,fiaude, & profpe-
ridade> Foy fempre ufonofo, que os que vemos mais aventajados em alguma virtu-
de, ou fejao no fios not urdes, oueftrangeiros,de muito boa vontade cem-nófjot favo-
res, &graças os honramos, & os havemos por merecedores de nojja liberalidade , &
Real franqueza. Feia qualcoufa como o nobre Faraó 'Pedro Alvarez de /ilmada,
fidalgo da Cfia do llluftriJfimo,& potitiffimo Principe *D ■ Manoel Rey de Portugal,
& dos Algarves, & fenbor de Guine,no fio Parété, & chariJJimo amigo, feja de Nós
a [Sa zbe conhecido por Faraó na verdade prudente, & grave. & principalmente comd
fomos certificados [érmuy valerofo nas armas, & exercido militar , tem propofito>
& por empreza fazerguerra aos Mouros-, defejando Nós muito honraln com tnerce
no fia, afim particular, para q fua virtude, & grddeza de animo fique mais clara,
lhe entregamos, &■ livremente doamos parte determinada de nofias Armas Reaes; a
faber, ametade de huma fiar delírio de ouro, & ametadede huma rofa vermelha em
campo dividido em duas partes, & em duas cores, corno he de huma parte de ver de,&
da outra de prata]para que elle,& todos feus defcendtntes, & parentes , afjim con-
junclos por fangue, ou afinidade pofiax) nfar dasmejmas Armas figura , & livre-
mente, aonde cada humquizer,ajffim como [efofiem fuas próprias Armasi emfc,&
testemunho da qualnoffa entrega ,. Irure doapai mandamos fer feita eíia noffâ
•; prefenti
9<S TOMO PRIMEIRO
prefente publica carta por Nh affinada, & authorizadapornop n andado cm noj-
(o particular fello pendente , dada cm nop Corte de Ricomonieem ijeMnrjo do
dnne do Senhor de 1501. Henrique Rey. Pedro Catnehano ajtz for mandado de
Sua Alteza. Não fervio dc pouca honra, & gloria aos defcendentes de edi o
Alvarez de Almada o feu valor, & esforço, com que qrnz mamfeftarfe nam fo-
mente em Portugal, & Caftella, fenão ainda no Reyno de Inglaterra, aonde lhe
ganhou com fua aifpofiçaõ militar muitas vitorias , que foy de muito credito

^3ra Fcr|^ade Mcfq^taíhamado o Velho^ que morou nas fuas cafas da rua da
Infcfta, com fua Capella de NoíTa Senhora da Graça , acompanhou com grande
difpendio de fua fazenda ao Duque de Bragança Dom Jaimes 11a tomada de Aza-
mor, em que moílrou no valor com que fe portou naquella empreza , no anno
de xç 11a illuflre nobreza de feu langue ; & como bom detenfordaFe de
Chrifto, tanto que chegou de Azamor, fe partio para a índia, aonde procedeo
com tanta valentia noexerciciodas armas;como omanifeftaa Chronica delRey
Don^Manodnocjitulo4^ ^filhodofobredltoFernaõ de Mefquita, acom-

panhou ao Infante Dom Luis, filhodelRey Dom Manoel, a tomadade Tunes,


aonde com as ihoftras de feu muito esforço fez o feu nome immortal, & Jo-
riofa a fua patria 5 & depois de ganliada T unes, paífou a índia, aonde fez obi as
d t rnâ
e
" Ddfe fòy filho Fernão de Mefquita & Li ma o Novo, que nam fo herdou
de feu pay os Morgados, & cafa, mas também o valor, & esforço, de que toy do-
tado, porque nam tendo roais que dezoito annos de idade , tinha vencido na
oUerra de Tangere huma Commendada Ordem de Chrifto, & dahi a dous an-
nos foy Capitaõ mór da Coifa, aonde fez grandes ferviços ao leu Rey. .
Foy também filho de Ruy Mendes de Mefquita, Diogo Lopes de Mefqui-
ta, que fe embarcou para a índia, para naquelle Eftado aliviar as faudadcj, que
nelle ficàraõ de feu irmão Fernaõ de Mefquita & Lima, & do quenelle obrou,
feachàrao por bem pagos da fua chegada, &fatisfeitos de feu valor , que mof-
trou na for t aleza de Maluco, de que foy Capitaõ ; & cafando nella teve hum
filho chamado Miguel Lopes de Mefquita, queveyo para o Reyno a herdar os
Morgados de feus avôs, & fuas cafásna rua da Infcfta ? aoj^e ^°>' h^P^de
o Infante Dom Luis,filho delRey Dom Manoel,em Agofto do anno do Senhor

dC 1
Nãoparàrão aquieftes Mefquitas deGuimaraens em publicarem feu no-
me nas acçoens referidas, porque ainda temos a Diogo de Mefquita , filno de
Fernaõ de Mefquita o Velho, que melhor que todos realçou, & eternizou leu
nome: efte paífou à índia, fendo Vifo-Rey Nuno da Cunha,, que o mandou por
Embaixador a hum Rey Mouro; & fendo cativo delRey de Cambava , por
não querer arrenegar, foy pofto na boca de huma peça de artilharia,para verem
fe com o medo da morte o fazia: mas elle conftante fempre na Fè de Jefu Chrif-
to,não fe lhe dava de perder por die a vida ; mas como foy fo para apurarem
fua conftancia, o puzerão a preço para o refgate , em que fe fez muito di pen-
dio: mas fahindo delle matou aElRey de Cãbaya, q era fervor de tres Reynos,
& por efte feito fe acrefcentàraõ às fuas Armas tres coroas, & hum altange,co
diz Diogo do Couto na Década 4. liv-^- cap-p.
Com igual valor continuou o ferviço delRey no mefmo Eftado da índia
feu filho Manoel de Mefquita, que pelo muito quenelle obrou, foy húmidos
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. 97
Capitaens de fama, que no feu tempo militavão; com que por feus grandes fer-
viços foy dei pachado com a fortaleza de Chaul; & não tinha menos opinião de
valor feu irmão Fernão de Mefquita no ferviço delRey Dom Sebaíhão , que o
occ upou muitas vezes em Armadas, & galês ; com que fó deita família dos
Mefquitas deu a Villa de cuimaraens muitos Varoens ílluítresnas armas.
Antonio Pereira da Sylva, fidalgo daCafadelRey , & Morgado rico com
cafas nobres na rua de Santa Maria , acompanhou a EIRey Bom Sebaíhão na
batalha de Alcacere, aonde foy cativo 5 & fendo refgatado, com o zelo de perfe-
guir aos inimigos da Fé de Chriíto, fe embarcou para a Índia , para fervir na-
quella guerra, que os Portuguezes fazião aos Turcos, aonde procedeo como
bom Cavalleiro. , . , r - s ~
No mefmo Eítado da índia íervio muitos annos com grande fatisfaçao
feu filho natural, Salvador Pereira da Sylva, que foy Meítre de Campo em Cei-
lão fendo General Dom jeronymo de Azevedo, & depois foy Capitão mor da
Armada, que foy ao cerco de Malaca, fendo Governador dã índia o Arcebifpo
de Goa Dom Aleixo de Menezes; & neítas occupaçoens fez tantos ferviços a
Deos, como quem no zelo de aumentar fua fanta F e trazia todo o feu cuidado.
Antonio Peixoto de Carvalho fendo moço fidalgo da Cafa delRey, & dei-
xando o feu Morgado da Poufadacom cafas na rua de Val de Donas, com zelo
daFè fe embarcou para a Índia, aonde fervio com tanta fatisfacão como a von-
tade, com que foy movido de fervir a Deos na guerra contra os infiéis , em que
acabou Vy^u^ qU€iargancJ0acafa, & Morgado da Poufada , de

que fez doação a feu irmão para fervir a Deos na guerra contra os Turcos, to.
mou o habito de S.João de Rodes, & nas guerras de Malta exercitou muy bem
o feu valor, para que fua fama ficaífe eternizada entre os Cavalleiros daquella
Ordem, de que foy Commendador.
João de Soufa Alcaforado moço fidalgo da Cafa delRey, deixando fua mu-
lher, & filhos, & o Morgado, & cafa de Villa Pouca, obrigado mais do amor de
Deos, que do da mulher, filhos, & fazenda, fe embarcou para a índia , levando
em fua companhia a feus filhos Manoel de Soufa da Sylva, &Francifco de Soufa
Alcaforado, que fervindolhe de exemplo o valor do pay, o tiveífepara perder a
vida na defenfa da honra de Deos, & na exaltação de feu nome, em que pay , &
filho tanto trabalhàrão,atè por elle entregarem a vida a feus inimigos, & as al-
mas à fua piedade, para que lhe déífe o premio da Gloria, acrefcentando com a
valentia ae fuas façanhas excellencias nas nobrezas de feus defcendentes.
Simão Rabelo de Valadares, que movido do proprio amor de fervir a Deos
nas guerras, que os Portuguezes faziaõ na India a feus inimigos, fe embarcou
para aquellas partes fem licença de feu pay João de Valadares, que vivia na rua
de Santa Maria; & fendo hum dos mais valentes foldados do feu tempo,como o
manifeflou ha efcala de Ceilão, aonde deixando os braços de dentro da mura-
lha, tornou a defcer o corpo morto ao peda efcada , por onde tinha lubido,
entregando a alma a feu Creador.
João Martins, Annadel mor dos Efpingardeiros na Villa de Guimaraens,
fendo fenhor do Morgado do Pinheiro, deixãdo mulher, & filhos, fretou húã
Naoàfua cuíla cõ gente,& armas, & metendofe nella cõfeu irmão Fernão Mar-
tins, feforãp oíferecer a ElRey Dom Affonfo o Quinto, para o acompanharem
na jornada, que fazia a Azamor,& chegando àquella praça obrarão com tanto
valor, & esforço no ferviço de Deos, & de feu Rey',contra os Mouros, que me-
I recerão
98 TOMO PRIMEIRO
recèrão lhes fizéíTem muito grandes merces, & honras, que fervirão de grande
luftre à fua nobreza, & credito a feus aefcendentes.
Sahio de fua cafa da rua de Santa Maria Pedro Coelho com armas, & cavai-
los para acompanhar feu Rey Dom Sebaftião na jornada de Africa S & ficando
cativo naquella batalha, fogeitou a fua paciência à efcravidão dc dous fenhores,
a que fov vendido 5 & experimentando os rigores daquelles infiéis Mauritanos,
a quem íervio com tantos exceífos de caftigos, que a não eft ar muito amparado
do amor dí Deos, & confiante na fua Fè, o podiao obrigar os tormentos, que
padeceo, a negala: mas elle, que antes queria morrer pelo feu amor em todo o
martyrio,quelhedeíTem, fofreo todo o caftigo, que de inflame a inftante lhe
faziãoj& como elle não pode disfarçar fua nobreza pelo modo, que intentou,
com muito trabalho, & difpendio de fua fazenda foy refgatado, para tomar o
Habito de Chrifto, em que foy profeífo , & conhecido por hum dos bons Sol-
dados, que daquellajnfeliz, & fempre chorada batalha efcapàrãocom vida.
Salvador da Cofta & Almada, hum dos authorizados Cavalleiros deGui-
maraens, St morador nã rua nova do Muro, para melhor illuftrar fua nobreza,
nome, & fama, fe embarcou para a índia, aonde fendo Cabo de tres fuftas , que
o Governador Máthias de Albuquerque mandou à Cofta de Ceilão, depois de
peleijarem muitas horas com os Turcos,forão de todo deftroçados,& mortos,
dando primeiro muita perda àquelles Barbaros.
Gregorio da Cofta do Valie, que tinha fua cafa na mefma rua nova do Mu-
ro, tio do referido Salvador da Cofta & Almada, foy Capitão da Cofta por El-
Rey Dom Manoel, & morreo na Indiá cóm grande valor , peleijando com Tur-
cos.
Gafpar Leite Pereira, que teve fua cafa na rua do Cano das gafas, defejan-
do ajudar feus naturaes nas guerras, que na índia fazião áos inimigos da Fe de
Chrifto, fe embarcou no anno de 1 559- &por feu valor foy provido no cargo
de Tanaydar, & Manorá nas terras de Baçaim 5 & depois por mandado delRey
Dom Sebaftião foy à Cofta de Guínè por Capitão do Navio S- Nicolao , em cu-
ja jornada faleceo com grande nome, & fama de bom Capitão.
Antonio Leite de Azevedo, fobfinho de Gafpar Leite Pereira, paífou à ín-
dia , aonde achando a grande fama de feu tio, o quiz imitar 5, procurando as oc-
cafioens de mayor rifeo, em que moftraíTe o amor, & zelo, cõ que fervia a Deos,
& a feu Rey naquella guerra de feus inimigosj & o bem, que nella obrou, o ma-
nifeftaavidado lrmaõ Pedro de Bafto liv-2.cap.T3. fol.i 79.
Nos tempos mais antigos vindo ElRey Dom Henrique II. de Caftella a
pôr cerco à Villa de Guimaraens,&afsentando feu exercito na Veiga das Fa-
vas *, foy Gonçalo Paes de Meira, que vivia na rua de Santa Barbara, cóm Mar-
tim Ferreira, & o fizeraõ fugir outra vez para Caftella com muito menos gente,
da que trouxe. Foy efte Gonçalo Paes de Meira filho de Payode Meira, Meiri-
nho mor de Entre Douro, & Minho no tempo delRey Dom Ajjfonfo :o Quarto
de Portugal, & foy fidalgo muito valerofo , como o moftfóuoefta oecaíiaõ da
Veiga das Favas-
Efte mefmoíGonçalo Paes de Meira,quando o dito Rey Dom Henrique II.
de Caftella tinha ido a cercar Guimaraens no anno do Senhor de n ? i. fe lan-
çou dentro com feus filhos,Eftevaõ Gonçalves de Meira , St Fernaõ Gonçalves
de Meira, com quarenta de cavallo, & fahindo a efearamuçár com o exercito
de Caftella, lhe matàraõ muita gente, & ElRey levantou o cerco , pelà nam po-
der tomar. •
Affonfo
DA COROGRAFIA PORTUGUESA.
Affonfo Lourenço de Carvalho, hum dos mais honrados Cavalleiros de
Guimaraens (eftandoefta Villa pela voz delReyDomJoaõ o Primeiro de Caf-
tella, & fendo feu Alcayde mór Ayres Gomez da Sylva, que tinha feito pleito >
& omenagemdelia ao mefmo Rey )huma madrugada a tomou por aííalto ElRey
Dom Joaõ o Primeiro de Portugal por traçado dito Affonfo Lourcço de Car-
valho, que fez abrir a porta do poftigo, dizendo ao porteiro, & guarda delia,
que queria meter por cila huma cuba em hum carro parafua cafa. Concedeolhe
o porteiro o que lhe pedio, & tanto que teve a licença , & confeguido a mayor
difíiculdade para o feu intento, deu parte a ElRey Dom Joaõ o Primeiro dePor-
tugal, que eftavacom o feu exercito na ponte, que hoje chamaõ do Sueiro, húa
legoa de Guimaraens junto à ponte de Servas , o qual com toda a preífa mar-
chou^ cõ trezentos de cavallo entrou pela dita porta, & recolhendofe os de
dentro da Villa ao Caftello, ElRey com os feus o começou de combater , & fi-
cou fenhor da Villa. . .
Manoel de Valadares Vieira foy dos primeiros Soldados filhos de G uima-
raens, que na Província de Entre Douro ôc Minho affentou praça , deixando o
intereífe de feu Morgado, de que era único herdeiro,*por naõ faltar ao ferviço
de feu Rey Dom Joaõ o Quarto na fua feliz Acclamaçaõ, & naquella Província
teve o primeiro pofto de Alferes de Infantaria, donde pafibu ao deCapitaõ,
&defte ao de Sargento mór de Infantaria, que largou por humTerçO de Vo-
lantes, donde foy a governar a praça de Montalegre na Provinda de Trás os
Montes , logrando fempre com grandes ferviços os créditos de bom Solda-
do.
Nam fofrendo obellicofoanlmo de André Pinto Barbofa lograr ociofoas
delicias de fua patria Guimaraens, bufeou as conquiftas do Reyno Ultramar, &
fe embarcou para o Brafil , aonde o Olandez empregava os tiros de fua ambi-
ção, & naquellas guerras íervio no pofto de Alferes de Infantaria com honrada
fatisfaçaõ ; & vindo para as guerras do Reyno fervio no pofto deCapitaõ de
Infantaria em Trás os Montes, de que paífou ao de Sargento mór pago, & defte
a Meftre de Campo com a occupaçaõ de Governador da praça de Miranda , &
ultimamente morreo em Lisboa, vindo de Provedor mór de Pernambuco.
Francifco de Meira Peixoto fervindoemduas Armadas,fe pozem terras
do Alentejo, aonde fervio com fatisfaçaõ 5 & avifinhandofe à fua patria , fervio
na Província de Trás os Montes , donde paífouà do Minho, occupando o po-
fto de Capitaõ de Infantaria.
Joaõ Leitede Oliveira deixando o exercício da Agricultura, a que ò con-
vidava o retiro da fua quintadePombeiro,fe foy adeftrar na milícia de Flan-
des, aonde pelo feu valor em breve tempo mereceo o pofto de Capitaõ de In-
fantaria, & pelo achar mal empregado em Reyno eftranho na Acclamaçam de
Portugal, fe paiTou a efte, aonde fervindo na Província do Alentejo de Sargen-
to mór de Infantaria , morreo no pofto de General da artilharia com grande
nome, & fama.
Sebaftiaõ Salgado de Faria goftando mais do paõde muniçaõ da frontei-
ra do Minho, que dos regalos da mefa de feu pay Jeronymo Salgado de Faria ,
fe foy de pouca idade oftcrecer àquelle exercício militar , aonde os tiros da s.
balas devendo diffuadillo de feu intento, o incitàraõ a mais valòr, qUe naõ pode
executar em Portugal pela terrível inquietação de feu animo 5 porque fazendo
hGa morte;em q a fua vida nam ficou fegura cõ a prefença das par tes,fe paífou a
Flandes, aonde militou com tam grande opinxaõ , quefoyhum dosCapitaens
X íí dc
IOO TOMO PRIMEIRO
de cavallo de couraças daquelle exercito do melhor nome.
Jeronymo de Figueiredo, que foy hum dos valerofos foldados, que no ex-
ercício militar luftràraõ nos exércitos da Província do Alentejo: morreo no
poíio de Tenente de Mefíre de Campo General, peleijando valerofamente cõ
os Caftelhanos.
Dionyíio da Ctmha fervindona Província do Aletejo no pofío de Alferes
de Infantaria, paliou à de Trás os Montes, aonde ocCupou o de Capitão , dc
que paffou ao de S argento mór de Vdantes, de que fe retirou a fua cala , tro-
cando o exercício militar pelo de Ecclefiaftico, em que vive em fua cafa na Víl-
ia de Guimaraen\ fua patria.
Pedro Coelho de Miranda, fendo herdeiro da cafa de feus pays, quiz her-
dar de feusavòs o exercício das armas, lendo Capitaõdos Privilegiados de
Ncíía Senhora da Oliveira da Villa de Guimaraens, como a elleslhcs faltava a
doutrina de Soldados para ^campanha, & o valor de feu Capitaõ era merece-
dor de pofíos, em quenellesíemanifefíafíe , foy provido pelos Generaes em
huma Companhia de Infantaria, quê eftava vaga no Terço do Mefíre de Cam-
po Manoel Nunes Leitaõ,tiovernador do forte de SaõFrancifco da Portela de
V éz, procedendo em huma, & outra occupaçaõ com grande valor.
Joaõ Rebello Leite,que no primeiro rebate,que os Gallegos deraÕ na fron-
teira do Minho, indo aelle na Companhia da Ordenança, de que feu pay joaõ
Rebello Leite era Capitaõ na feliz Acclamaçaõ , foy levado priíicneiro pelos
Gallegos com oito feridas ao Cafíello de Compofíella , donde fazendo numa
fugida valerofa depois dedezoitomezesde Orizaõ , foy aífentar praça à Pro-
víncia do Alentejo no feu exercito, cm que íervio com grande reputaçaõ , &
depois na Província do Minho, onde occupou vários pofíos até odtMefíre de
Campo,& com laftimofa defgraça morreo de veneno.
O mefmo fuccedeo a Joaõ Machado de Miranda, que largando os bens,em
que fuccedia, (que eraõ muitos ) fe foy exercitar na Província do Alentejo na
difciplina militar, & nclla manifefíou taõbemofeu valor,que em breves tem-
pos paífando pelos pofíos de Alferes de Infantaria , & Capitam, entrou no
de Capitaõ de cavallos dos de melhor opinião da quelle exercito , que
exercitou por tempo de anno &meyo, no fim do qual foy provido no pofío de
Medre de Campo de Infantaria, & indo a Santarém reformar o feu Terço,huma
mulata, de que le fervia, tendo certa defeonfiançâ delle,lhc preparou hum man-
jar, com que feu fenhor ficou cativo da morte, & ella na liberdade da vida.
Foy bem fentido joaõ Machado de Miranda naquelle exercito, porque as
fuas prendas, esforço, & fciencia militar era motivo, para que todos fentiílem
fua falta, & ainda o mefmo Reyno ,* porque prometia naquelles annosde mili-
tante grandes efperanças de hum grande Cabo da Milícia, porque fó efles daõ
nome ao Reyno, em que fervem, & o fazem temido de feus inimigos, & com el-
les pode mais para os render , & poftrar hum coraçaÕ traidor , & aleivofo,
do que lanças , & bailas contrarias ; & por eíte modo entregou a alma
a feu Creador o valerofo joaõ Machado de Miranda, deixando feu pay , & ir-
mans em continuas faudades , & a fua patria com o pezar de tam bom defen-
for.
Efíes faõ os fugeitos naturaes de Guimaraens, que em polios mayores nam
fómente ferviraõ a feus Reys, & Reyno, fenaõ ainda nos efíranhos , bufeando
conquifías, cm que íllufíraífem com o nome de'filhos de tal may , & como tem
aprerogativade conquifíadorss,nam houveCavalleiro naquella Villa (ainda
aquelles
DA COROGRAFIA PORTUGUEZÀ. *01
aquelles dc que mais neceílitava fua cafa de lhe aílíftir) que nam foíTc militar na
defenfa de feu Rey ; & fem fallar no plebeo, me dè licença o Ley tor para nomear
aqui osqoccupàraõ poífosde Capitacs de Volantes no exercito da Provinda
do Minho, fendo todos das principaespeíToasdaquella Villa, a faber, Fernão
Ferreira da Maya, Jofeph Peixoto de Soufa, Francifco de Macedo, Joaõ Barro-
fo de Azevedo, Jacinto Leite Pereira, André de Soula Homem, Jofeph Macha-
do Pinto, Manoel Velho do Couto , Diogo de Freitas Capitaõ de Infantaria,
Antonio Paes do Amaral, Cavalleiro do Habito de Chriífo , Ajudante da ca-
vallaria, Antonio de Andrade & Valle Ajudante de Infantaria, loaõ de Soufa Sc
Lima Alferes do Meftre de Campo de Infantaria, Pafcoal da Cofta Capitaõ de
Infantaria, Francifco Machado de Miranda Capitaõ de Infantaria, & Antonio
de Barros Capitaõ de Volantes.
Nam foraõ poucos os Fidalgos, Sc Cavalleiros de Çuimaraens , que fem
fogeitarem a fua liberdade aos aífentos de Soldados, obrigàraõ fuas vidas , Sc
difpendios de fuas fazendas ao ferviço de feu Reyno voluntariamente, & a obe-
diência à ordem dos Cabos, em cujos Terços com piques ferviaõ, St na cavál-
laria com a efpada na maõ; Sc pela fidelidade , amor, zelo, com que em todos os
fectilos os filhos, St naturaes deíla Villa fervíraõ a feus Reys,elles lho agradecè-
raô, St gratificàraõ com os privilégios, honras, liberdades, St ifençoens , que
pelos Reys paífados lhes foraõ concedidos,& pelos prefentes confirmados, co-
mo fe vé no feguinte Capitulo- n

CAP* XIX.

Privilégios, Honras, Qf Ifençoens^ que os Reys de Portugal con-


cederão aos moradores da Hilla de Guimaraens.

PRivilegio do Conde Dom Henrique, & de fua mulher Dona Therefa, Sc de


feu filha Dom Affonfo Henriques no anno de 1166. porque faz mercê aos
moradores de Guimaraens, que por todo o feu Reyno nam paguem paíTagem, nê
coílumagem-
Confirmação delRey Dom Diniz, pqrque manda fe guarde o Privilegio
da portagem aos moradores de Guimaraens por grande façanha, q ue por elle ã-
zeraõ, tendo eífa Vília de íitio feu filho o Infante Dom Affonfo , dada no anno
de 13 60.
Privilegio, q omefmo Rey Dõ Diniz deu aos moradores de Guimaraens, q
todo o homem, & peíToas, que por todos fetis Reynos differ mal, onde eftar ho-
mem de Guimaraens, morra por ello morte de traidor. O privilegio da porta-
gem eífà confirmado por todos os Reys, & o tem por foral, Sc mercê feita por
ElRey Dom Manoel no anno de 1 c 17.
Privilegio do Conde Dom Henrique,& de fua mulher Dona Therefa, por-
que manda que nenhum fidalgo edifique cafa, nem more neífa Villa contra võ-
tade dos moradores no anno de 1168-ElRey Dom Joaõ o Terceiro o confir-
mou no anno de 15:29-
Privilegio delRey Dom Affonfo o Quarto , & de feu filho ElRey Dom Pe-
dto, para que eífa Villa eleja Juiz dos Reguengos,no anno de 13 8 3 - eftá eonfir-
I iij inado
,0i TOMO PRIMEIRO
mado no annodc 1419. por ElRey Dom Fernando.
PrivilegiodelRey Dom Affonfo o Quarto,em que manda, que os mora-
dores de Guimaraens, nem feu termo vaõ com prezos, nem os levem, no anno

C 1
Prfvilegio da Rainha Dona Leonor, governando Dor morte delRey Dom
Fernando feu marido, em que manda que os Corregedores nam confintam ef-
tar nenhum fidalgo, nem poderofo em Camara, quando fe fizerem as eleiçoens,
nemjriõfintaõ haver fobornonellas, & condenem aos culpados, como lhes pare-
cer,anno 1411- ' ,
Privilegio dos Infançoens defta Villa confirmado por leatença da mayor
alçada, anno 1618-
Privilegio delRey Dom ]oaõ o Primeiro, em que manda que os moradores
da V illa de Cerolico de Bailo, & Monte Longo venhaõ velar, & guardar a efla
Villa,quando for tempo,&neceífario, 110 annode 1422. eftá confirmado por
ElRey Dom Joaõ o Terceiro anno de 1529- & ja dates defies Rey s o tinha co-
cedido ElRey Dom Diniz,& diífo ha fenrenças no cartorio, & aílim as juiticas
de Guimaraens os compelliraõ a iífo. *
Privilegio delRey Dom joaõ o Primeiro para que os moradores de Gui-
maraens poífaõ tirar todos os mantimentos da Cidade dol oito fcm levaram
carga, & aílim os poífaõ tirar por todo o feu Reyno, anno de 14 29.
Privilegio delRey Dom Joaõ o Primeiro paranefta Villa haver portagem,
como fempre houve, anno de 1438- eílá cõfirmado por ElRey Dom Joaõo III-
. annode 1520. .
Privilegio delRey Dom Joaõ o Primeiro para que os moradores de Gui-
maraens poífaõ mandar penhorar fe..s caiemos pelas rendas que lhes deverem,
fem mandado de Jufiiçâ,anno 1433*
Privilegio delRey Dom Fernando, em que manda, que os moradores de
Guimaraens poíTaõ trazer armas por todo o feu Reyno , todas as que quize-
rem, poífo que fejaõ defezas, & lhes naõ poffam fer tomadas, anno de 1421. _
Privilegio delRey Dom Joaõ o Primeiro, porque manda à Villa eleja Juiz
das Sizas, & aílim q fe naõ pague fiza entre os irmaõs herdeiros,anno de 1433.
Privilegio domefmo Rey Dom Joaõ porque manda fe naõ tom# para â guer-
ra aos lavradores do termo.deGuimaraens hum filho, oao tendo, outro , anno
de 143d. . , ,
Privilegio delRey Dom Affonfo o Quinto, em que manda , que todos os
moradores de Entre Douro, & Mimho venhao a ferir feus pezos, & medidas a
eífa Villa pelos Padroens delia , como fempre foy cuftume antigo , anno de

1
* Provi faõ delRey Dom Joaõ o Primeiro,em que manda que nenhum mora-
dor deíia Villa, nem feu termo feja Tutor fora delia, anno de 143 8-
Privilegio delRey Dom Affonfo Quinto,em que faz merce aos moradores
de Guimaraens, que jamais em tempo algum fe ja a dita Villa defannexada da
Coroa Real de feus Reynos, falvopara o feu filho Principe primogénito, & ou-
tra peffoa alguma naõ, por de grande exceliencia que íeja; & manda aos Reys
léus fucceífores, que fob pena de fuabençaõ o cumpraõ aílim , anno de 1462'
Eôá confirmado por ElRey Dom Filippe no annode iy8i.&já o eílava pelos
Reys feus anteçeífores- .
ConfirmaçaõdelRey Dom Joaõ o Terceiro, em que confirma o Privilegio
delRey Dom Fernando, porque monda que os moradores de Cerolico , & do
Con.
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. ro$
Concelho de Rocas, Vieira , Villaboa,&Guilhofrey> venhaõ velar, rondar, &
guardar efia Villa, quando forneceffario j&aífimfejaõ obrigados a pagar para
os concertos, & refazimentos dos muros, torres , & fortalezas delia , anno
de i 30.
Confirmação delRey Dom joaõ o Terceiro,em que confirma o Privilegio,
que a efta Villa concedeo EiRev Dom Pedro, porque manda que os cafeiros da
Ordem do Hofpital paguem as talhas, & mais coufas, que pagaõ os moradores
do termo da Villa, í em embargo de feu Privilegio, que tem, anno 1 f 30.
Confirmação delRey Dõ Joaõ o Terceiro,em que manda confirmar o Pri-
vilegio, que ElRey Dom Joaõ o Primeiro concedeo a efta Villa, de nam fer obri-
gada a dar ao Alcay dedo Caftello gente, nem ordenado para o guardar, fenam
que elle feja obrigado à fua cufta a guardar os prefos delle , como fempre foy
cuíiume,annode 1529.
Confirmação delRey Dom Joaõ o Terceiro, em que confirma o Privilegio,
que a eíla Villa concedeo ElRey Dom Diniz, que nam houveffe nella , nem em
feu termo relego, como de antes havia ,& ha por bem que nunca mais o haja,
anno de 1529-
Confirmação delRey Dom Joaõ o Terceiro, em que confirma o Privilegio,
que ElRey Dom Manoel concedeo a efta Villa, que haja no mez de Agofto nel-
la huma feira forra, & franca, que dure oito dias, começando aos onze do mef-
mo mez, como fempre foy, anno de 1 f 16.
Provifaõ delRey Dom Joaõ o Segundo,em que manda que os Mifteres nám
tenhaõ voto na Camara; fomente podem requerer pelo povo, por fer eíleoTeu
officio, anno de 1 491-
Tem efta Villa tres Provifoens delRey Dom Joaõ o Terceiro para os Al-
motaceis fervirem tres mezes, Sc levarem as almotaçarias cuftumadas, fem em-
bargo da Ordenaçaõ, concedidas nos annos de 15-22. ifz ;• ifd?»
Tem efta Camara Provifaõ delRey para eleger juizes efpadanos nas fre-
gueíías do termo delia paffandodelegoa , quando lhe parecer fer neeeífario>
fem embargo da Ordçnaçaõ, anno de 1563-
Provifaõ delRey Dom Joaõ o Primeiro,em que manda, que os Vereadores
da Villa de Barceliosvaõ varrer a praça, & açougues de Guimarâens todas as
vefperas das feftas da Camara daquella Villa, q vem a fer nas vefperas das fef-
tas da Natividade de N-Senhor, da fua gloriofa Reíurreiçaõ, do Efpirito Santo,
de Corpus Chrifti, de Saõ Joaõ Bautifta, da Vifitaçaõ de S. Ifabel, de S. Guál-
ter, de N- Senhora da Aífumpçaõ, Sc de S. Miguei o Anjo.
A caufa porque clRey Dom Joaõ o Primeiro deu à Villa de Barceiíos tam
aniquilado tributo, foy, que indo efte Rey a tomar a Cidade de Ceuta aos Mou^
ros , como tomou no anno do Senhor de 1414,# aos 21. dias do mez de
Agofto do dito anno, repirtioas eftancias da muralha da Cidade pelos mora-
dores das Cidades, & Víllas, que com elle foraõ, & o ajudarão nefta cmpreza,
para que cada hum defendeífe a que fe lhe entregava. OsMourosfe refizeram,
Sc tornando com grande força para recuperarem a Cidade, que tinhaõ perdida,
a inveftirãocom grande fúria, & alaridos àefcala, de que defanimados os de
Barcellos, Sc atemorizados feus ânimos, fugirão, Sc deixàrao de todo livre a ef-
tanciã, que fe lhes tinha encarregado para defenderem; vendo-a os de Guima-
raens de todo defemparada,fe dividirão em dous troços, hum com que a forão
occupar, & defender, & outro com que defenderão alua , que lhes eftava en-
tregue ; Sc com tanto valor o fizeraõ em huma, Sc outra eftancia, que fó delles,
aquelles
104 TOMO PRIMEIRO
aquelles inimigosfeforaomais'queixofcs- CaftigouElRey a fraqueza dos dc
Barcellos com lhes mandar, que fofíem varrer a praça, & açougues aos de Gui-
maraens,a quem gratificou com efla honra a valentia , comqueobràraõnade-
fenfadaquella Cidade, & em todas as mais occafioens, em que com ellefe acha-
rão.
Por efpaço de mais de fetenta annos cõtinuárão neíta fervidão os Vereado- ,
res da Villa de Barcellos nas Vefperas dasfeftas aífima dita -,da forte q lhes foy
mandado,com hum barrete vermelho na cabeça,huma banda ao hombro da mef-
má cor, a efpadaà cinta, & hum pé calçado, & outro defcalço , .& vaífoura de
°iefta,queeraõ obrigados a trazer, para fazerem efta limpeza; & acabada ella,
hiãoà Camara,&entregavão aos Vereadores o barrete, & banda, com que da-
vão fatisfação à fua fervidão; os quaes vendo fe algum faltava a ella, o conde-
navão em pena pecuniária, como lhe parecia, ou o aliviava a ca ufa de fua falta;
atè que não havendo quem quizeíTe ler Vereador naquella Villa, o Duque de
Bragança Dom Jaymes fez contrato com a Camara, & povo deGuimaraens de
lhe largar do termo da Villa de Barcellos , de que era íenhor, as freguefias de
Cunha, &Ruylhc, para continuarem naquella fervidão, & que as defannexava
daquelle feu termo, para que ellas fe uniífem, & annexaíTem ao de Guimaraens.
Foy por todos admitt ido feu requerimento por coufa jufta, &vir fazello pef-
jfoalmente, como fe vè no contrato, que de tudo fe fez, o qual fe guarda no Car-
tório da Camara de Guimaraens, pelo qual renunciàrão os Vereadores da Villa
de Barcellos efte tributo, que padecião,nos moradores das freguefias de Cu-
nha, òt Ruylhe , que ainda hoje eftão continuando nefta fervidão nomefmo
modo, que fica díto, & com as mefmas circunífancias.
Bem trabalhou o Doutor Gabriel Pereira de Caftro por aliviar defte tri-
buto as duas freguefias, Cunha, & Ruylhe, por ternellas certos cafeiros, que
confiados no feu poder, faltàrão à fervidão,a que por gyro eflavão obrigados}
forão cõdênados pelos Vereadores da Camara de Guimarães em leis mil reis ca-
da hujpuzerão a caufa em pleito,q correo atè a mayor alçada,aífiifindolhe íépre
efte Doutor, & não foy baftante o feu muito poder, para que allifenão íenten-
ciaífe, quepagaíTem os condenados a condenação, que lhes effava feita, & con-
tinuaífem a fua fervidão,com cuftas; como fe vè da mefmâ fentèça, quefe guar-
da no Cartorio da dita Camara de Guimaraens.
O primeiro padrão de medidas, que no Reyno de Portugal houve de pao,
foy na Villa de Guimaraens,o qual ainda hoje fe conferva na Igreja de S. Miguel
do Caftello; & nos foraes antigos diz, que nos paga tantas teigas anos , <5c a
noíTos herdeiros, ou mordomos pelo padrão de pedra, que eftà em S. Miguel,&
em todos os Privilégios, que depois dos deGuimaraens , que forão os pri-
meiros deíle Reyno outorgados a Lisboa, & a outras Cidades, & Villas , diz
nellesaífim,& pela maneira, que os temos concedido à noífa muy nobre , &
fempre leal Villa de Guimaraens.

• tsTu t íiCSeC/

CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA tój

CAP. XXI.
<•
Do numero das Freguejias, que tem o termo de Guimaràens,
,

T Em eíla Villa duas legoas & meya de termo para o Poente, atè o marco da
ferra de F alperra, para a parte de Barcellos duas, hua para a ponte de Ser-
vas, & duas pára a parte da Cidade do Porto, que fedividem na pote de Negrel-
los. O feu termo tem as Freguefias feguintes.
S. João da Ponte foy Moileiro duplex de Frades, & Frevras da Ordem de
Saõ Bento, deu-o EIRey Dom Ramiro o Segundo de Leão à Collegiada, quando
era Convento: he Vigairaria ,tem cento & dez viíinhos.
S. Eufemia, Abbadia da Mitrâ,tem feífenta viíinhos.
S• Eulalia de Fremontãos, Vígáiraria, que aprefentão os Priores da Colle-
giada de Guimaraens, tem noventa viíinhos. Neila Fregueíía em cafa de huma
viuva do Cafal de Valmelhorado eíliverSo efeondidos Dom Manoel, & Dom
Chriftovão, filhos do Senhor Dom Antonio, pertendente doReyno por morte
do Cardeal Rey Dom Henrique , & humConego de Guimaraens os levou a
Olanda. ,
S. Maria de Corvite, Vigairaria do Arcediagado deNeyva, tem quarenta
vifinhos.
S. João de Pencello, Abbadia do Padroado Real, que rende cento & cin-
coenta mil reis, tem quarenta & nove viíinhos ; foy do Priorado de Guima-
raens. v
S. Pero Fins de Gominhaens, Abbadia da Mitra, que rende cento & cin-
coenta mil reis • tem vinte viíinhos.
S.Torcato, Vigairaria da Collegiada de Guimaraens, que rende cento &
Vinte mil reis, tem duzentos viíinhos. Ametade deíla Fregueíia he Couto pri-
vilegiado de Noífa Senhora da Oliveira, com Juiz ordinário no Civel, aquém
vemefereverhum dosEfcrivaensdeGuimaraens,dondeheo crime.
S- Miguel de Gonce, Abbadia da Mitra, que rende cento & cincoenta mil
reis, tem cincoenta viíinhos. S- Tyrfode Prazins, Abbadia do Ordinário,que
rende duzentos mil reis, tem feten ta viíinhos.
S. Salvador de Souto Commenda de Chriílo, & Reytoria da Mitrá , que
rende duzentos mil reis, tem cento & trinta vifinhos. Foy Moileiro de Cóne-
gos Regrantes de Santo Agoílinho , que fundou Dom Payo Guterres da Cu-
nha : eílá em hum ameno valie, que fahe ao rio Ave , & he Templo magnifico
para aquelles tempos comas Armas dos Cunhas na Capella mór, & muitas fe-
pulturas nobres à porta principal da parte efquerda , huma com fuas Armas,
que dizem ferdo fundador, & outra de hum Commendador em huma Capella
do adro. Nelle eílá a Capella de Santa Margarida annexa ao Morgado deTa-
boa, que poífue Dom Pedro da Cunha.
Santa Maria do Souto, Abbadia do Padroado Real, que rende cento &
oitenta mil reis, tem feífenta vifinhos- Foy Moíleiro de Conegas de Sáto Ago-
ílinho, que fundou Dom Gomes de Maceyra pelos annos de i zoo- & tantos,
viílo acharfe feu filho Dom Lourenço Gomes Maceyra na conquiíla de Sevi-
lha no de 12 48 • SiCofme
JO6 TOMO PRIMEIRO
S. Coime, & Damião deGarfe, Commenda de Chrifto, & Reytoria do Or-
dinário, tem cento & doze vifinhos.
S-Martinho de Gondomar, Abbadia da Mitra , que rende cento & cin-
coenta mil reis, tem feíTenta viíinhos, & tres Ermidas.
Santa Marinha de Aroca , Vigairaria do Arcediagado de Fonte Arcada,,
tem vinte & cinco viíinhos, & huma Ermida de Santo Amaro , imagem miLa-
groía.
Santa Maria de Sobradello, Vigairaria do Arcediago de Sobradello , que
tem cadeira na Collegiada de Guimaraens, tem cem viíinhos.
Santa Criftina da Agrella, Vigairaria que aprefeta o Rey tor de Caftellãos,
de quem he annexa, tem quarenta viíinhos.
S.Julião de Sarafaó, Abbadia do Padroado Real, que rende trezentos &
cincoenta mil reis, & paga cincoenta de penfaõ à Capella Real, tem cento & dez
vifinhos.
S. Bartholomeu de Villa Cova, Abbadia do mefmo Padroado Real, andou
unida ao Arcediagado de Guimaraens, q inda conferva o titulo de V illa Cova,
tem quarenta viíinhos. .
S.João do de Caftellãos, Commenda de Chrifto, & Reytoria da Mitra ,
que rende cem mil reis, & para o Commendador com as annexas da Agrella, &c
Qucimadella duzentos mil reis, tem quarenta vifmhos. FovMofteiro fubdito
ao da Vacariça no tempo, quegovernavãoefteReyno por EIReyDom Aífonfo
o Sexto,o Conde Dom Ray mon de Borgonha com fua mulher Dona Urraca, fi-
lha mais velha defte Rey.
S. Pedro de Queimadella, Vigairaria,em que hoje reíide o Reytor de Caf-
tellãos, fendo annexa, &là o Vigário, tem noventá viíinhos.
S.Miguel do Monte, Vigairaria annexa à Abbadlia de S. Bartholomeu de
Villa Cova, tem oitenta viíinhos, & huma Ermida-
S. Vicente de Felguevras, vigairaria annexa à Commenda de S. Thomè
de Travaços, tem dezafeis viíinhos.
Santa Eulalia deGontim, Vigairaria annexa à Abbadia de S. Clemente de
Bafto, tem dezafeis vifinhos.
S. Vicente de Paços, Abbadiada Mitra, rende trezentos & cincoenta mil
reis, & tem cento & quinze viíinhos.
S.Pedro de Freitas, Vigairaria, que apreíentão asFreyras dosRemcdios
de Braga, tem feíTenta viíinhos. Foy Abbadia, que aprefentava a Cafade Bri
teiros. Aqui eftáo Paço de Freitas, que foy julgado folar defta tão nobre fa-
milia. 1 _
S. Thomé de Travaços, Reytoria da Mitra, & Commenda de Chrifto,tem
feíTenta viíinhos.
S. Maria de Ataes, Curado do Convcto da Cofta, que rende cem mil reis,
& para os Frades quatrocentos milreis, tem duzentos & dez vifinhos.
S. Lourenço de Gulats, Vigairaria do Mofteiro de S-Tirfo , por doação
dos Infantes Dom Martinho Sanches, & Dona Urraca fua irmã*, filhos illegi-
timos delRey Dom Sancho o Primeiro, no anno do Senhor de 1273. tem oiten-
ta & cinco viíinhos.
S. Romão de Mcijão frio, Abbadia do Padroado Real, rende duzentos mil
reis, têm fetenta&cinco viíinhos. Foy antigamente da Collegiada de Guima-
raens.
S- Cofmc de Lobeira, Curado da Collegiada de Guimaraens, tem feíTenta
viíi-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 107
vifinhos. Aqui, dizem, efteve efcondiao S-Torcato o Difcipulo de Santiago.
He o folar dos Lobeiras de Portugal, defcendentes de João Lobeira , fidalgo
muy authorizado, & como tal confirma com outros em muitas efcrituras, par-
ticularmete no foral daVilladeTerena dado no anno de izój.&nodeyt. na
licença, que ElRey deu a Dom João de Aboim para fundar Portel : era filho
natural de Pedro Soares de Alvim dos de Riba de Vizella, a cujo rogo o legi-
timou ElRey Dom Affonfo o Terceiro, devia fer para herdar muitos bens, que
defua mãy lhe podião vir,&ferfenhora principal deíie appellido , que pela
via paterna lhe nãotocavão. Tem por Armas em campo de ouro cinco flores
de liz em'afpa,&huma bordadura azul chea de lobos de ouro , timbre hum
Lobo comhuma flor de liz azul na eípadoa- Bem podião vir íeus antepaflados
dos Lobeiras de Galliza, que tem feu folar no Callello de Lobeira huma lcgoa
por cima de Pontevedra, de que falia Fr. Athanafio de Lobeira em fua hiiío-
ria,& povoando nefta Província darem o mefmo nome a eíla terra-
S. Romão de Aroés foy do Padroado dos Freitas, inílituido por Dom Go-
mez de Freitas no anno do Senhor de 1212- fendo Arcebifpo de Braga Dõ Svl-
veílre ; he hoje Abbadia do Padroado Real, rende quatrocentos mil reis, & tê
duzentos & vinte vifinhos.
Santa Chriítinade Aroês foy também do Padroado dos Freitas, inílituido
pelo mefmo Dom Gomez de Freitas no mcfrno anno, & no tempo do dito Arce-
bifpo Dom Svlveílre; he hoje Abbadia do Padroado Real, rende cento & cin-
coentamil reis, & tem feífenta &tres vifinhos.
S. Martinho de Candofo, Curado unido a hum Beneficio daCollegiada de
Valença, da qual fe intitula Abbade oBeneficiado. Aqui eílá huma Torre, que
chamão de Candofo, & he o íolar defta familia: tem noventa vifinhos.
S. Lourenço de Riba de Selho, Curado unido a efte Beneficio de Valença,
tem fetenta vifinhos.
S. Chriílovão de Riba de Selho, Vigayraria,tem feflenta vifinhos.
S.Jorge de Riba de Selho, Curado do Cabido de Braga , tem trinta & feis
vifinhos.
S. Miguel do Paraifo, (que antigamente fe chamou do Inferno, & lhe mu-
dou o nome o Arcebifpo de Braga Dom F r- Bartholomeu dos Mar tyres , ) he
Curado da Collegiada de Guimaraens, tem quarenta & feis vifinhos-
S. Pedro de Azurey, Curado da mefma Collegiada, tem cem vifinhos- Aqui
eftá huma Torre,folar dos Peixotos, que procedem de Gomez Peixoto o Ve -
lho, que fe entende ferfilhode Dom Egas Henriquez Portocarreiro.
S. Mamede de Aldao, Curado da mefma Collegiada de Guimaraens , tem
quinze vifinhos.
S. Vicente de Mafcutellos,Curado da mefma Collegiada , tem dezafeit
vifinhos, &. huma Ermida de Noífa Senhora do Monte.
S- Miguel de Creixomil, Curado do Chantre de Guimaraens, tem duzen-
tos & dez vifinhos , & huma Ermida de Noífa Senhora da Luz. Aqui eftá a
quinta da Porcariça , minto nomeada aflim por fua grandeza , & rendimento,
como pelos autos de fuas demandas, que andavão em juizo fobre hum jumento,
&osdefcarregavãoduas peífoas : he hoje poíTuida por Alexandre Palhares &
Brito Cavalleiro do Habito de Chriílo.
Santa Maria de Sylvares Vigairaria do Cabido de Guimaraens, tem feíTen-
ta vifinhos.
S.EÍlevão de Urguezes, Vigairaria da Collegiada de Guimaraens , tem
oitenta
108 TOMO PRIMEIRO
oitenta vifinhos. Aqui eílá a quinta do Paco, que antigamente foy habita-
da dos nobres Urguezes, que a eílaFreguezia deixarão por memoria ícu ap-
pellido, pelo não ficar de fua geração. .
S. Salvador do Pinheiro, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis , tem
quarenta & cinco vifinhos. Aqui cíiaaQninta, & Caía oo Pioneiro , cabeça
do Morgado dc Rabcllos^ & Almeidas^ de Gonçalo Peixoto da Syl va > Adail
mor, & íenhor da Calçada, & de Penafiel de Soufa.
S. Pedro de Polvoreira, Abbadia da Mitra , que rende duzentos & cin-
coentamil reis, temfetenta vifinhos.
Santa Eulalia de Nefpereira,V igairaria annexa ao Thcíourado da Coilegia-
da de Guimaraens, tem cincôenta vifinhos, & huma Ermida.
S- Pay o de Moreira dos Conegos, Vigairaria do Chantre de Guimaraens,
tem cincôenta vifinhos*
S.Martinho do Conde, aflim chamado, por fer fabrica do Conde D. Hen.
rique, que alii hia recrearfe, he Curado da mefma Collegiada, tem 2 6■ vifinhos,
& huma Ermida. .
5. André de Gandarella, Abbadia da Mitra, tem quinze vifinhos.
Santa Maria de Infias, Vigairaria das Freiras dos Remedios da Cidade de
Braga, tem feffenta vifinhos.
S. Miguei das Caldas, Abbadia, foy do Padroado Real, he agora aprelen-
taçãodo Prior de Santa Marinha de Lisboa com referva , rende quatrocentos
mil reis,& tem cento & quinze vifinhos. Neila Freguefia,em hum lameiro bai.
xo baldio eífão cinco olhos de agua, humas mais quentes que outras, &todas
muy medicinaes para grande quantidade de enfermos , que fe vem curar a ef-
tas Caldas, & dão o nome à Freguefia, a qual tem muita caça de coelhos no mo-
te, ôchebem provida de peixe do rio Vizella- T,
S. João de Guminhaés, que agora chamão das Caldas , he Abbadia do Pa-
droado Real, de que foy Abbade Dom Theotonio de Bragança, que depois a-
chamos Arcebifpo de Évora. Aqui eílá a quinta de Guminhaés, de que foy fe-
nhor Francifco Soares de Aragão, coutada, & honrada por ElRey Dom João o
Segundo com parte do rio Vizella, que deixàrão perder feus defeendentes em
não confirmarem fuas doaçoens defde o tempo delRey Dõ Henrique. He Mor-
gado que hoje poffue Pedro Vaz Sirne de Soufa, fidalgo da Cafa delRey. Tem
eíla Freguefia fetenta vifinhos, & he tradição commua que aqui eílivefle huma
antiga Cidade: faz delia menção o Padre Fr. João de Deos , Religioio de Saõ
Francifco, nos feus apontamentos.
S. CipriãodeTaboadello, Curado annexoà Igreja de S. Fauífino, tem de-
zoito vifinhos-
S. Fauílino de Vizella, Abbadia da Mitra, rende com a annexa duzentos
& cincoentamil reis,tem cincôenta vifinhos. AquieílaoPaçodeCarvalhaes,
de quehefenhor Manoel Barbofa Cabral Capitão mór de Geífaço, & he o fo-
lar deíla família , que tem por Armas o efeudo vermelho partido em pala no
primeiro Carvalho verde, no fegundo torre de prata fobrehum pé de agua,
timbre a torre com hum ramo de Carvalho em cima-
S.Thomè de Avação, Abbadia do Padroado Real , que rende duzentos
mil reis, tem quarenta vifinhos; he terra muito afperaaopê da ferra de S. Ca-
therina, com muita caça.
Santa Eulalia de Pentieires, Abbadia tenuc da Mitra,tem doze vifinhos,
S- Chrif-
DA COROGRAJIA PORTUGUEZA. 109
s. Chriítovão de Avaçáo, Vigairaria do Abbade dos Gémeos , tcmtreze
* /*
V1 m
Srnta Maria dos Gémeos, Abbadia da Mitra , que rende com a attnexa
duzentos St cincoenta mil reis, tem quarenta vuinhos- Aqui efta a^Qumtade
Calvos, que fendo dada por Honra aos deílâ família, lhe ficou por folar do ap
pellido de Calvos , que tem por Armas o campo efquartelado,no primeiro de
vermelho cinco fivellas de prata em afpa,no íegundo cinco vievras, ou conchas
de prata, &íòbre tudo nòmeyo hum eicudo de ouro com hum lobo de lua cor,
& por timbre o mefmo lobo pífrdo das Armas. ^
S. Lourenço de Calvos, Vigairaria, que aprefentao as Freiras dos Remé-
dios de Braga, tem trinta & cinco vifinhos.
S. MigueldeCerzedo, Abbadia doMofteiro de Pombeiro com referva,
rende duzentos & feffenta mil re is,tem tío-vifinhos.
S- Martinho de Farejà, Vigairaria infolidum dôs Priores de Guimaraens,
tem cincoenta vifinhos. . , .
Santa Maria de Matamá, Vigairaria doThefoureiro de Guimaraens , tem
trinta vifinhos. AquieftàaCafa,&QuintadaÇurugeira , de que he fenhor
Dom Manoel de Noronha, que ohe tambem dada Prelada no Porto, dcícende-
te da Cafa de Villa Real- j n-r •
Santa Maria de Villanova das Infantas, (nome que tomou de allifecria-
rem as irmãsdclReyDom
Guimaraens) AffonfoHenriques
he Vigairaria , quando
doMolleiro de Pombeiro, temtinhaofuaCorte
fetenra vifinhos.em

S PavodeVizella, Abbadia daMitra,em que forao Abbades fucceffivos


hum tio de S. Gonçalo,o Santo, & hum feu fobrutho, rende duzentos & cm-
coenta mil reis, tem feffenta vifinhos.
S. Salvador de Tagilde, que tomou o nome de Atanagildo Rey Godo, que
mandou povoar eflelugar pelos annos 560. he Abbadia do Ordinário , que
rende duzentos & Cincoenta mil reis, tem fetenta vifinhos- Na Aldeã da Arri-
conha nafceo S-Gonçalo de Amarante,alii efta huma Capella da íua mvocàçao,
reformada ha pouco tempo com letreiro, em que o declara por extenfo. Na ca-
ía mor ao Lavradores honrados, que vulgarmente faõ tidos por parentes feus>
de que por alli ha muitos- , , „ .
S- Marinhada Cofta, Convento dos Frades Jeronymos,q tem o oitavo lu-
gar na Congregação, cõ cinco mil cruzados de renda, q conftao de cafaeã, dos
lizimos defra Igreja,& dos de Santa Eulalia de Monte Longo, S-Eulalia de Bar-
roias, Santa Mariade A taes, Santa Maria de Pedrofo: aprefenta o Prior Cura
fecular, & tem vinte vifinhos. A qui eftá fepultado hum Religiofo ianto, cuja
vida mereceofuanotável morte, foy admirável ; porque eftando iocom oíeu
breviário aberto paffou para a Gloria, & aífim o acharão depois com hum dedo
poftonaquellas letras da Sexta,q diz 1-fDefecit in [alutare tun anima mea.Sc era
Conexo Regrante,ou de S- leronymo, não fabemos; mas entendemos que era
dos primeiros. Todas eftas Igrejas eftão entre os rios Ave , & Vizella : as
que fie feguem, eftáo defdea lerra da Falperra até o rio Ave- _
S- Salvador de Balazar,Vigairaria das Freiras dos Remedios de Braga^tem
quarenta & cinco vifinhos- Aqui foy o folar dos Balazares, de que trata o Con-
de Dom Pedro, & de que foy fenhor Dom Sueyro Longo de Balazar, bom Ca-
v ali firo, & honrado- .
Santa Chriílina de Longos cabeça de Arcedlagado em Braga , que primei-
ro fe chamou de Olivença , com cinco annexas mais, ôcíoros labidos, rende
iro TOMO PRIMEIRO
hum conto. Tem Vigário, que aprefenta o Arcediago, & oitcta yifmhos. Aqui
viveo Pedro de Longos, Pay de Dom Mem Pires de Longos, ou Briteiros, tro-
co dos deíle appellido, de que fallaremosna Fregueíia do Salvador de Britei-
ros.
Santa Leocadiade Briteiros foy Moíteiro de Frades Bentos , deque fov
Abbade o Santo Bamba, que no adro junto à porta traveffa delia Igreja eílá fe-
pultado fem outra veneração Eccleíialiica mais que humas gradés,que defendão
andarem animaes por cima: a tei-ra dafepultura,&hervasdo adro bentas pelo
Reytor, & dadas aos enfermos, dizem que melhofão. Devia eíte Moíteiro cor-
rer a fortuna dos outros, até que o Arcebifpo Dom Frey Agoifjnho de Caílro
& Jefus o deu aos Eremitas de Santo Agoílinho do Convento do Populo da Ci-
dade de Braga, que nelleaprefentão Reytor; tem fetenta vifinhos. Ha aqui fer-
mofas moças, & virtuoías,-partes que raras vezes fe achão juntas.
S- Martinho de EfpinhoVigayraria do Deão de Braga , tem cincoenta vi-
finhos,& criação de egoas- Aqui viveo,& foy fenhor Aífonfo Rodriguez de Eft
pinho, fidalgo ílluíire, cafadocom Dona Mór Gonçalves , filha de Gonçalo An-
nes Redondo com geração: era Honra muy antiga , em que eítes fidalgos vi-
vião.
S- Martinho dc Sande, Reytoria da Mitra, & Commenda deChriílo , tern
feflenta vifinhos. Foy Moíteiro de Eremi tas de Santo Agoílinho , que fundou
pelosannos de 392- S. Profuturo Arcebifpo de Braga. Nãofabemos como
paífou aos Bentos, mas parece foy, porque aquelles o deixàrão : nelle eílaráò
eíies,quandoo Arcebifpo S. Frutuofo o aumentou, & lhes deu para pobres,&
hofpedes a Igreja de Luíifinio no annode 65-9. Perfeverou effe Mofieiro .um
fua Religião muitos annos em poder de Mouras à cufte.de grandes tribo*
tos, que lhes pagava; extinguio-o o Arcebifpo Dom Fernando da Guerra , &
o fez Igreja fecular no anno de 144.4.. confirmando em Abbade delia a Francift
co Vaz feu criado, Clérigo de Ordens menores, de que paífou a Commenda,cot
mo hoje he. Daqui entendemos ferem os do appellido de Sande , que o Conde
Dom Pedro nos de Riba de Vi zella chama Sandim, & que eíle hefeu folar, don-
de devia pa{far algum para Galiiza, que deu nome ao Caíléllo, & valle de Sande
junto de Orenfe , em que depois entrou o Convento.de Celia.riova. Ha deíle
appellido osMarquezesdeVal deFoutes naEílremadura em Gailelia , aonde
luzirão mais que ca, & agora toda a fua cafa eílá por cafamentonos AlécaílreS
Por umiezes, Duques de Abrantes. Tem por Armas em campo vermelho hum
Leão de ouro armado de prata entre quatro flores de Iiz do meifeno poftes em
Cruz, timbre meyo Leão de vermelho com humaflor de liz de ouro na cabe-
ça. . i
S. Clemente de Sande, que foy t ambém Mofieiro,de qUe íè moílrão Inda
hoje veíligios, he Vigairana annexa à Commenda de S. Maftmhadb Sande, <jíre
aprefenta o Reytor: tem cincoenta & cinco vifinhos- TT*IJ3 - /1 C WOO
S. Lourenço de Sande, Vigayrariaannexa à mefma Commenda, tem qua-1
renta vifinhos. Neila Fregueíia eílâ a quinta de Braz Pereira Beliago , tão dtp
riofo, que nella tem feito hum Iabyrinto de vides, &'&m>res, coufa maraVilho-
fa,&humnotavel viveiro de peixes. r o
S. Thomé de Caldellas, V igairaria do Cabido de G-uirnaraens, tem cincoé-
ta vifinhos. ' . /
S. Salvador de Briteiros, Abbadia da Mitra ,que rehde sduaetitds mil reis,
tem cincoenta & cinco vifinhos , de que muitos delles paffamdfe cem annos
de
DA COROGRAFIA PORTUGUESA in
de idade. Ertá nefta Freguefia a antiga Torre, & Cafa de Briteiros, folar derta
illuftre família, como fe pode ver no Conde Dom Pedro, & toda efta Freguefia
era Honra fua,& Ricos homens os fenhores delia.
S. Salvador de Domim, Abbadiada Mitra , que rende duzentos mil reis >
tem quarenta & cinco vifmhos. Foy antigamente Couto do Morteiro de Ti-
baés, que lho fez, & deu EIRey Dom Affonfo Henriques, fendo inda Infante.
Aqui no rio Ave ertâ o poço de Ola, que couta a Cafa de Briteiros , ao qual
vay dar a eftrada encuberta , que por baixo do chao, dizem, correfpondia à
antiga Cidade de Citania. .
S. Ertevão de Briteiros, Curado do Chantre de Braga, tem cmcoenta vifi-

nh
° S. Cláudio de Barco, V igairaria do Arcediago de Olivença, ou Santa Chri-
rtina em Braga, tem quarenta viíinhos. ,
Santa Maria de Villanova de Sande, Abbadia da Mitra, que rende trezen-
tos mil reis com fabidos, & annexa, tem vinte& dousvifinhos. Dizem haver
fidoMoileirodeFrevras, dequefe moftrão indahoje veftigios»
S. João de Brito, Commenda de Chrifto, & Rey tona do Ordinário , tem
cento & trinta viíinhos. Foy Morteiro, que fundou Dom Soeyro de Brito, Ri-
co homem em tempo delRey Dom Affonfo o QuintO;ou, como dizem outros,
feu filho Arias de Brito, que fundou o Morteiro de Oliveira. Aqui he o iolar
dos Britos,de que defcendem muitos fidalgos, & nobres : a fua Cala ertá na
mefma Freguefia, aonde chamão o Paço da Carvalheira, que como não devia ter
Mor ° a do, paffou por cafamento aos Coutinhos , que agora a poffuem com al-
guma renda,que tem os do appellido deVillela. A varonxa particularmente
deftes Britos temos Vifcondes de Villa nova de Cerveira , de quem fe defan-
nexou o grande Morgado de Santo Eftevão de Beja da mefma família, por cafa-
mento de Dona-Magdalena de Borbon, Condeça dos Arcos, com o Conde Dô
Thomas de Noronha, por fer filha mais velha de Dom Luis de Lima Brito &
Nogueira, primeiro Conde dos Arcos, filho primogénito do Viíconde D- Lou-
renço de Lima Brito & Nogueira,& os Alcaydes móres de Beja , que por cafa-
mento entrou na Cafa dos Condes do Prado, Marquezes das Minas , os de Al-
deã Gallega, os da Porta da Cruz, os do Rio, os de Évora, & outros. Tem por
Armas em Campo vermelho nove lifonjas em tres palias, em cada huma hum
Leão de purpura, timbre hum Leão das Armas com lifonja de prata. Ertes fi-
dalgos,ou feus lucceffores devião fer fenhores do Couto de Brito alem do Dou-
ro,quando fe foy povoando,de quehojeoheo ConventodeGrijó-
S. Mamede de Vermil, Vigairaria annexa a S- João de Brito, que apreíen-
ta o Rey tor, tem vinte & cinco viíinhos. Ha aqui hum Morgado no Paço, que
dizem foy de Dona Branca Loba, que inda tem renda, a que chamão as Teygas,
nome,que antigamente davão aos noffos alqueires, ou razas de agora; he Cou-

S. loãode Ayrão, que antigamente fe chamou Rio de Ayrão , he Abbadia


da Mitra, tem vinte & cinco viíinhos. Nerta Freguefia íobre o rio Ave erta apõ-
tede S.]oãodebaixo,da qual continuametefe ertão vedo tã grades barbos, co-
mo falmoés, fem os poderem pefcar,pelas difficultofas lapas que alli ha.
S. Maria de Ayrão, Abbadia da Mitra, que rende duzentos mil reis, tem
cento &cincoenta viíinhos. .
S.Vicente deOleiros, Abbadia da Mitra, que rende cento & oitenta mil
reis, tem vinte & feis viíinhos* Aqui erta o monte de S. Miguel, com veftigios
in TOMO PRIMEIRO
de fortificação, que dizem fer do tempo dos Mouros.
Santiago de Ronfe, a que o livro da Ordem de Chriflo chama de Arrufe,
foy Mofleiro de Frades Bentos,hoje he Reytoria da Mitra , & Commenda de
Chrlfto. Tem CoutonoCivel com S. Mamede de Vermil , hum Juiz faz ou-
tro, vay lá hum Efcrivão de Guimaraens, donde he o crime , tem duzentos &
dez vifinhos.
S.Martinho dos Leitoens, Vigairaria do Convento de Oliveira , parte
delia he de Barcellos, tem trinta & dous vifinhos.
S. Payo de Figueiredo , Vigairaria do mefmo Convento, tem vinte vifi-
nhos.

Contimafe o termo de Cjulmaraens além do rio Vitella.

SAm Miguel de Villarinho , Convento dos ConegosRegrantes de Santo


A golfinho, eftá em hum valle além da ponte dc Negrellos , foy Abba dia fe-
cular muito rica , que fundarão para leu enterro os fidalgos do appellido de
Fafez, que teve princi pio em Fafez Saracim de Lanhofo, Rico homem 3 a quem
matàrãona de Agua de Mayas junto a Coimbra diante do noífoRey Dom Gar-
cia, contra feu irmão El Rey Dom Sancho de Caftella; Dom Fafez Luz feu ne,
to foy Alferes do Conde Dom Henrique, & Rico homem. Depois fendo delia
Abbade Gonçalo Annes Fafez, felia Mofteyro de Clérigos, appiicandolhe to-
das as rendas, fazendo em fua vida os dor mi tórios, & ofiicinas junto da Igre-
ja, em q recolheo dez Clérigos no anno de 1170. & 110 de 74. eflava o Conven-
to acabado, & ficou mui to mais perfeito cõ húa grande herança, q fe lheuniocõ
juia doação de D- Diogo Fafez de toda fua fazenda, por não ter filhos,& elle fe
recolheo nefte Mofleiro,em q acabou feus dias- Neífcs principias fe chamàrão
Abbades os q governavão,& depois Dõ Prior, couíá particular defte Mofleiro,
q em outro fe não acha em Portugal naOrde dos Conegos Regrantes de S. Agof-
tmho. Teve Commendatarios fidalgos , a faber, Dom João Gonçalves da Ca-
mara, DomVafcode Soufa, João Fernandez Farto, que juntasiente eraCom-
mendatario do de Roriz, aonde eftáíçpultado, & parece levou daqui para Vil-
larinho o retabolo, que tem da Capella mor- Depois Dom João Fernandes de
Aimeyda, a quem fuccedeo feu fobrinho Dom Luis de Almeyda, que eftá fepul-
tado na Capella mor, aonde temfepulturà razacomasfuas Armas , & hum le-
treiro, que diz: /icjiit jaz Luis de Airnesda T)om Pr ior, qutfoy de (la Gafa, fale-
ceoew23.de Abril de 1565-. & o ultimo foy Dom Luis de Azevedo, irmão do
Venerável Dom Ignacio de A zevedo, Martyr, & Provincial do Brafil na Com-
panhia de Jefus, em que era, Religiofo, & de Dom Francifco de A zevedo , fe-
nhor da quinta de Barbofa, & de Dom Jeronymo de Azevedo vifo-Rcy da ín-
dia, & Dom João de A zevedo, Capitão de C,ofala , todos filhos de Dom Ma-
noel de Azevedo, falecco em 26. de Julho, em que fedeu aos Conegos Regran-
tes de Santo a gqftinho , & foy feu primeiro Prior triennal Dom Eftevão dos
. Martyres: refidem ncfte Convento dous Frade , Prefidente , & Recebedor de
fetecentos mil reis, q tem derendaemdizimos deftaFreguefia, & dadeCarva-
Ihofanotermodo Porto, que anda em duzentos & emeoenta mil reis , & fabi-
dos com grandes pafíaes, de que tirando a côngrua defies , amais renda vay
para o Convento de Landim, a que eftá unido. Tem Cura, que adminiftra os
Sa-
DA COROGRAFIA "PORTUGUEZA. 113
Sacramentos a fetenta freguefes. Em hum alto monte, que fica logo acima entre
o Nafcente,& Norte,eftàhuma Ermida antiga de S.Pedro de Villarinho , &à
roda veftigios de fortificaçam, que dizem fer de Mouros.
Santa Eulalia de Barrofas, Curado do Mofteiro da Coita de Guimaraens,
temcemviíinhos. A
Santo Eftevão de Barrofas, Abbadia da Mitra, que rende cento & cincoen-
ta mil reis, tem trinta vifinhos. Daqui foy Abbade Dom João Pimenta, natural
da Ponte da Barca,(depois Bifpo de Angra) o qual fendo Lente de Theologia
cm Coimbra , & tendo Breve para comer a penfaõ defta Igreja, nunca a levou ,
Òt a mandava repartir pelos pobres da Frcgueíia, & fazer algumas peças da Igre-
ja, & para ella mandou humarcliquia deS. EftevaÕ, que eftá em hum relicário
de prata em fórma de cuftodia, & fe moitra em feu dia, & outros do anno, a que
concorre muita gente • Neft é deftritfo no mai.s.alto da Por tella fe fez huma Er-
mida do Bom Jefus com fazenda de hum Brafilciro daqui natural : he imagem
milagrofa,& de muita romagem. '
S- Adrião de Vizella, Abbadia da Mitra, que rende coma annexa deS. Jor-
oe mil cruzados, tem oitenta vifinhos. Moftra que foy Convento,& detráz do
Altar das Almas fe fente muitas vezes fuave cheiro, aonde dizem eftá enterra-
do hum Santo chamado Santo Epifânio- A Igrejahe fagrada ,& por |huns alga-
rifmos, que eftão em huma pedra nas coftas delia da parte de fóra , que dizem,
Era de 1 200. entendemos foy no anno de 1262. Aquieftã a quinta, que cha-
mão o Paço, que antigamente poífuiraô os Pimenteis, depois os Pereiras, & ho-
je he de Dom Lourenço de Almada: produz boas frutas, & admiráveis peífe-

ê S
° Santa Comba de Regilde, Abbadia da Mitra, que rende trezentos mil reis,
tem fetenta vifinhos. . _ , ,
Santa Maria de Villa fria, Abbadia do Padroado Real, que rende duzentos
mil reis, tem oitenta vifinhos.
S.joaõde Gondar, Abbadia do mefmo Padroado, que rende cento &cin-
coenta mil reis,tem cincoenta & feis vifinhos. ,
S. Miguei de Cunha, Abbadia que foy dos Cunhas, & a tirou EIRey Dom
Diniz a Dom Gomes Lourenço da Cunha, feu padrinho, em 8- de Setembro de
1285- por fentença de João Payo Conego de Braga , CommifTario do Primáz
Dom Tello, Juiz delegado, & não parando aqui o odio, que lhe tinha, a 4. de
Julho de 1185. mandou-o condenar, & executar nelle as penas, em que encor-
rèra,por humdefpacho,quefeu pay ELRey Dom Affonfo o Terceiro havia da-
do a favor das Frevras de Santa Anna de Coimbra, cuja Prioreza Dona Therefa
Dias, & mais Frey ras fe lhe havião queixado de aggravos, & perdas, que lhes
havia feito, & dado: he do Padroado Real, rende trezentos mil reis , &l tem
feífenta vifinhos. Aqui he o folar dos Cunhas , que teve principio em Dom
Guterre, natural de Gafcunha,Provincia de França ao pé dos montes Pirineos,
o qualveyoaefteReynocom o Conde Dom Henrique, fendo bom Cavalleiro,
velho, & de grande entendimento, de quem o dito Conde fiava a refoluçaõ de
feus mais diíficultofos confelhos ; pelo que lhe deu muitas herdades nefta Pro-
vinda, particularmente efta, & outras em terra de Guimaraens, & Braga , & o
Porto efe Varzim , hum quarto de legoa ao Norte de Vilia do Conde. Tem
por Armas em campo de ouro nove cunhas de azul de ferro firmadas , poftas
em tres palias, & por timbre hum meyo Grifo de ouro acunhadode azul, com
azas acunhadas de ouro, & por orla as cinco Quinas de Portugal em campo de
K. iij prata:
ii4 tomo Primeiro
prata: os efcudetes azuis, & as Quinas de prata todas lhe compoz ElRcy Dom
Affonfo Henriques -.osdeCaftella por novofucceíTo orlão o efcudo com 24.
bandeiras. j
S. Payo de Ruylhe, Abbadia, que aprefenta Fernão de Soufa , fenhor de
Gouvea do Tamega, rende cento St cincoenta mil reis , St tem vinte 6c feis vi*
íinhos»

C A P. XXI.

Dos R:os, 0s Pontes, que eflaÕ junto dafálla de Guwiaraens»

TOdos os Efcritores, que defta muito notável Villa efcrevèrão , a poem


íkuada (como a vemos) entre os dous rios Ave, StVizella, nomeando a
eftes pelos mais caudelofos, St de mayor fama, Sc nome , não fazendo cafo de
outros, q ue por pequenos não merecerão andar na memoria': mas fe eftes delles
ficàrão efquecidos, não ferá razão, que os deixe de nomear, & de fere ver.
O rio AVe corre afaftado da Villa huma legoa por entre o Norte, St Poem
te, St tem feu nafeimento em hum lugar, que chamão a Ribeira da Lage ao pé da
ferra de A gra no Concelho de Roças, que o divide com a fua corrente do de Ca-
beceiras de Bafto; & chegando ao Norte,fe ajunta com elle hum regato , que
tem feunafeimento ao pe da ferra de Cabreira,que paífando pelos valles doCõ-
celho de Vieira , St unidos em hum corpo fe íizerão poderofos para impedir a
communicação da Villa de Guimaraens com aquelle Concelho , St fer neceífario
para iífo fundar no lugar, que chamão de Domingos Terres, huma ponte de pe-
dra lavrada, grande, & boa para íua ferventia.
Defcendo defta ponte para o Poente fe topa na ponte de Donim , que dá
ferventia da Villa de Guimaraens para o Concelho de Lanhofo: he l'ermofa pon-
te de pedra lavrada , St eftá juntoaella huma Capella dcS. Bento de muita ro-
magem, aonde no feu dia fe faz huma feira de muitos gados.
Da ponte de Donim le delceà ponte de Sam João , que tem efte nome,
por eftar íituada nafrcguefia de Sam João da Ponte, termo de Guimaraens,
St no deftrido de huma a outra andão nefte rio dous barcos para fran-
quearem a paíTagem defta Villa para a Cidade de Braga : hum no lugar de Sam
Cláudio, St outro a que chamaõ obarco dã Taypa, aonde no Verão fe paífa a Ca-
vallo hum vao, & a pèhumasalpondras para a Cidade de Braga , & pela ponte
de S. João fe acha também eftrada direita para a mefma.Cidade , & para a Villa
de Barcellos pelo lugar, que chamão a Veiga do Penfo.
Defce efte rio Ave da ponte de S. João à ponte de Servas, que difta de Gui-
maraens huma legoa para o Poente, St por ella tem communicação para Villa no-
va de Famelicão, Villa de Barcellos , St do Conde, que neíla divide o feu termo
do de Guimaraens a Villade Barcellos.
Continuando efte rio o feu curfo para o Vendaval, vayfahir pela ponte da
Lãgoncinha,tambem de pedra, alta, St mageftofa , por fer alíim neceífario fua
grandeza para.melhor franquear a paíTagem defte rio Ave, por trazer já em fua
companhia o rio Vizella, com quem fe tinha encorporado 110 lugar de Entre am-
bas as Aves, aonde efte rio Vizella perdeo o nome. *
Com
DA COROGRAFIA PORTUGUESA, itj
Com mayor foberba ajudado do rioVizella continuou o no Ave afua
carreira para a parte de Entre o Vendaval, & Poente, aonde lhe tinha franquea-
do a paffagé a ponte de Ave, q por fua grandeza he conhecida em Portugal por
humadas mayoresdo Reyno, para na foz de \ ma do Conde Cir eiconder no
mar, & dar fim à fua corrente. .
Entre a Villa de Guimaraens, & o no Ave corre o no Celho, quenaíce na
fonte de S. Torcato entre o Nafcehte, & Norte, & augmentado com as aguas
dos valles feusvifinhos continua leu curfo ate chegar ao lugar de Penouços,
aonde primorofo oefperao ribeiro de F undello,& Cayde, que tem o leu riafci-
mentono monte de S. Antonino, & naquelle lugar humas , & outras aguas
derão dé beber aos cavallos Portuguezes, ôc Calf elhanos , que fe acharam na
batalha da Veiga das Favas, que eífá fituada entre as fuas correntes, & alli lhe
puzerao o nome de Celho pelo modo fcguinte.
He tradição antiga, que tendo ElRey Dom Henrique o Terceiro o feu ex-
ercito alojado na Veiga das Favas para dar aíTaltoà Villa deGuimaraens , que
lhe ficava para o Vendaval diífante hum bom tiro demofquete , lhe fairão os
de Guimaraens, & inveífindo aos Caí!elhanos, que acharão delmontados, co-
meçarão elles a dar vozes, cella, cella, (que na antiga lingua deífa ilação figni-
fica o q ue hoje foa em Portuguez) donde com pouca corrupção tomou eífe rio o
nome de Celho. . , _
Fazendo eífas aguas no lugar de Penouços hum corpo, dirigirão feu curfo
para o Poente, Achegando àF reguefia de S. Lourenço de riba de Celho, alli lhe
deu paífa^em a fua ponte de pedra lavrada , que chamão a ponte da Madre de
Deos, por eftar vifinha da Capella de NoíTa Senhora , que eífá fituada entre o
Poente, & a Villa 5 & quem vay para o Moífeiro de S. Torcato, Concelho de Ro-
ças, & Vieira, fahindo de Guimaraens pela fua ponte de Santa Barbara , tem a
cifrada corrente pela porta deífa Capella,•& ponte-
Abaixo da ponte da Madre de Deos dá paffagem a eífe rio à ponte de Ca-
neiros de pedra lavrada, fituada na Fteguefia <ie Santa Eulalia : também muitos
lhe chamão a ponte de NoíTa Senhora da Conceição, porque quem fáhe de Gui -
maraens pela lua porta de Santa Luzia para a Cidade de Braga, paíTapeia porta
deífa Senhora, donde a poucos paíTos chega à ponte de Caneiros, & fegumdo a
eífrada, fe vay embarcar no barco da Taypa ao rio Ave entre oNorte, & Poen-
tc*
Da Ponte de Caneiros faz o rio Celho fua guarida para o Vendaval, aon-
de em efpaço demeya legoa lhe tem franqueado a paflfagem a ponte do Mira-
douro^ por outro nome a ponte da Senhora da Luz; porq ue quem faz jorna da
da Villa de Guimaraens, & fahe pela fua porta de S. Domingos para a Villa de
Conde, fegue a eífrada de S. Lazaro parao lugar do Miradouro , aonde, eífá fi-
tuada a Capella de NoíTa Senhora, & junto da fua porta vay paíTar e.ífa ponte,&
continuando feu caminho em diífancia de huma legoa,fe acha na ponte de Ser-
vas do rio Ave.
No lugar de Reboto fe encontra .eífe rio Celho com o Celinho, que depois
de regar aslameyras de S- Miguel de Creixomil, perde nellas o nome, & ambos
fe efçondem debaixo da terra no lugar que chamão os Sumes na Freguefia de S.
João de Gurtdar, aonde quafi hum q uarto de legoa dão na terra , que os cobre,
paílo a muitos gados de feus vifinhos: dahi vão fahir à Freguefia de Sercedello,
termo de Barcellos,&paíTando por baixo da ponte de Soeiro de pedra lavrada,
fe metem no rio Ave abaixo da ponte de Servas, confervando o nome de Celho.
Entre
nó TOMO PRIMEIRO»
Entre a Villa de GuimaraenSjôt bem perto de feus muros , do rio Ce-
lho corre o rio Herdeiro, a quem derão eíte nome, porque muita parte de feus
moradores ufaõ delle para íua limpeza: tem fó huma ponte de pedra lavrada ,
que chamão de Santa Luzia, tão alta, & mageítofa , que he mal empregada em
coufa tam pouca. Tem eíte rio feu nafcimento na fonte do Bom Nome,que ef-
tá nocafal, que chamão Dentre as Vinhas, íituado na Fregueíia de Sam Pedro
de Azurey, & finaliza fua corrente 110 rocio' de S. Lazaro, aonde fe ajunta cõ
outro regato, que naquelle lugar fe chama rio deite Santo , & juntos ambos,
perdendo cada hum o feu nome, fe appellidão Celinho, que regando as lameiras
de S. Miguel de Creixomil, fe metem no rio Celho no lugar do Reboto.
O no Vizella diíta de Guimaraens huma legoa para o Sul,nafce nas terras
do Couto de Pedraydo, & defpenhandofe por cilas ao lugar de Calções , corre
partindo aFreguefia deS. Pedro de Queimadella do termo deGuimaraen^ , &
daqui bufcando o lugar de Vizella,ahi toma o feu nome na Fregueíia deS. Tho-
me de Travaços: divide eíte rio o termo da Villa de Guimaraens , porque da
Fregueíia de Travaços paffa à de S- Vicente de PaíTos, dividindoa do Concelhd
de Monte Longo, ôtnefta Fregueíia tem a fua ponte de Bouças de pedra lavra-
da junto da Ermida de S. Bar tholomeu , que eítando na borda do rio he da*
quelle Concelho, & correndo de Nafcente a Sul pela Fregueíia deGulaés che-
ga à Honra de Cepaês , donde quafimeya legoa de diítanciavay a dividir o
Couto do Pombeiro do termo de Guimaraens.
No Couto do Pombeiro acha o rio Avizella franqueada a fua paflagem pa-
rao Vendaval com a ponte do Pombeiro de pedra lavrada,ao pé da ferra deSã-
ta Catherina,da parte do Sul. Sahindo eíte rio da fua ponte do Pombeiro co-
meça de cortar para o V endaval a frefca, & alegre ribeira de V izella, & deixari-
doa abundante ae todos os frutos, vifita de paífagem a das Caldas, que com a
fua ponte de pedra bem lavrada, lhe tem defempedido o caminho para Negrel-
los, aonde aquelle lugar lhe tem fabricado outra também de pedra com muita
ventagem na grandeza,com o feunome de ponte de Negrellos.
Apreífadamentecorreorio Avizella da fua ponte de Negrellos a ir vifitar
na parte do Vendaval o excellente Moíteiro de S.Tirfo deReligiofos de São
Bento, que na fua levada o efperão com huma barca de regalo , em que na fua
cerca fe cmbarcao , dando com as redes lanços aos peixes do rio, que cõ
a fua abundancianunca ficão perdidos.
Entre ambas as Aves eítá o rio Ave efperando a eíte Avizella, aonde na-
quelle lugar fez eítedepoíito de feu nome, & deu a primazia ao feu mayor,para
não tornar a fer mais lembrado , & ambos unidos forao paífar a ponte de La-
goncinha, de que tenho fallado.
O rio da Villa corre junto dos feus muros, &he tam ambiciofo, que toma
o nome aos lugares por ondepaífa , com que do feu proprio fica efquecido.
Naíce na fonte de S-Romão de Meijão frio, que fica ao Nafcente 3 na bondade,
& qualidade de fuas aguas he a melhor que tem todo o termo de Guimaraens:
dividida por muitos prados fe vem a ajuntar no fim da rua do Fato , aonde to-
ma o primeiro nome de rio Fato.
Do lugar de F ato defee para o Vendaval ao campo da Feira , aonde larga
na fua ponte o nome, que trazia, & toma o de rio do C ampo da Feira 5 & che-
gando à rua da Ramada deixa o nome, que trazia, & dando paíTagem para a de
Soalhaes pelas fuas alpondras, alli fe appellida rio da Ramada.
Da Ramada paífaà rua de Couros , aonde na fua ponte de padieirasde
pedra
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 117
pedra Iaraaperde ofeunomc,&tomaodaquellelugar,&nos de Relho ^ Villa-
nova, & Madroa faz o mefmoatè chegar aS. Lazaro , queobfervando eíte em
pouco curfo fe ajunta com o rio Herdeiro, deixando cada hum o nome que ti-
nha, & fe appellidão Celinho, para fe irem afogar no noCelho no lugar de Re-
boto, como fica dito- . _ ^
J á que tenho falladp tantas vezes no rio Tamega , razao he que tratemos
delle, & das pontes por onde paffa: nafce elleno Reyno de Çailiza ao pè da fer-
ra de Larouco por cima da Villa de Montalegre entre o Norte, & Nafcente', &
deita mdma ferra nafce o Lima, que vay por Galiza , & por eíte refpeito cha-
mão a terra por onde paffa a Limia, que .entra em Portugal pelas terras de Lin-
doío
Parte o rio Tamega do feu nafcimento a bufcar a Villa de Verim, & paffan -
do por entre ella, & a praça forte de Monte Rey, as deixou fem communicação,
com que foy neceffario aos feus moradores fabricarem naquelle lugar huma
ponte dc pedra lavrada de hua parte para a outra j que fuppoíto fe íizeffe mayor
culto que os barcos, de que ufavão para a lua ferventia, ficoulhe mais fácil , &
mais feguraa fua communicação pela eítrada encuberta, que por eíta ponte fi-
zerãoda Villa para a praça. _
Corre eíte rio Tamega de Verim para o Nafcente a vifttar aVilla de Cha-
ves, aonde os Romanos fhe fac-litàrão a paffagem por baixo de huma ponte ex-
cedente, que junto daquella Villa lhe fabricarão , a qual fe começou em tempo
do Emperádor Vefpaíiano, & fe acabou no de Trajano: em cafa de hu João Gue-
des, que vivia naquella Villa, eítá huma pedra com hum letreiro, que o decla-
ra, & nelle eítão rifcadas duas regras , que continhão o nome do Emperádor
Domiciano; & taes forão feus feitos,que depois de fua morte fe mandou nfcar
toda a memoria,que delle houveffe diz o letreiro : ÁendoTreíores dtEfpanha,
Legados do Emperádor CayoCalpetano, Roncio Çtnirtml, Valmo iejto, & Décio
Lorneho Medict ano \ & fendo Enteio Ar une 10 Maximo C; oconful , ó4 ejlando por
guarnição a Legião fe.tima gemina doamada ditofajdess Cidades com feus povos pa-
çàraopara a obra d til a ponte. f. os Aqmjlavienfes, A orbigenfes, Bibatos, Gdetmos,
.Équezes, InteramicostLincios, Ebofíocios, Cfuerquemos, & Tarneganvs.
Quatro légoas para o Sul abaixo da ponte de Cavês topa o rio Tamega cõ
a ponte de Mondim, não menos mageítofa que amilagrofa de Cavês, por onde
tem paffagem, & communicação aquelle Concelho com os de Cer olico de Falto,
& Cabeceiras: he de pedra bem lavrada, & junto a ella eítá huma Ermida dc Sã-
tiago; fica no Concelho de Cerolico , aonde fe faz huma feira de grande con-
currencia de toda a mercadoria, & gados.
Confiderando o gloriofo S- Gonçalo de Amarante o muito que era con-
veniente para a paffagem huma ponte naquelle lugar, a fundou de pedra tão ma-
geítofa, como traça de tal Archite&o, em que pelos merecimentos deite Santo
obrou Deos com feus officiaes tantos milagres, que com razão lhe derão o no-
me de ponte de S. Gonçalode Amarante.
Cinco legoas ao Vendaval com violência corre o rio Tamega a honrarfe na
ponte, que a Rainha D- Mafalda lhe tinha mandado fabricar naVilladeCanave-
zes, tão mageítofa, que he das de mayor fama em Portugal, aflim pela fua altu-
ra , & comprimento, como na architeêlura da obra , toda coroada de ameyas ,
por onde franqueou a paffagem a muy ta parte de cima do Douro,& Reyno de
Caltella: delia fe vay afogar eíte rio junto à Villa de Entre ambos os Rios, &
ambos conformes na foz do Porto.
CAP.
TOMO PRIMEIRO

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S&íJ&E^ísà I JmR&^ . /«SÊR*\s*\ **\ SK/fc.v^?M\/M\ /*w-./w- /ws?* -

CAP. XXII.

Das Fontes, <# yúla de Gwmaraens tem dentro dos (eus muros,
0* tzoí /^w Arrabaldes.

TEm efla Villa dentro dos feus muros as fontes publicas feguintes: o tan-
que da praça mayor com tres bicas encoílado à torre dos finos da Real
Collegiada de NoíTa Senhora da Oliveira- O tanque da Mifericordia fituado i o
feupateo : o poço do Arco fituado na rua deíle nome : o poço da porta dc
Noífii Senhora da Graça, ou de Santa Luzia,, & o poço da praça do peixe.
Tem as Freiras de Santa Clara tres fontes,huma no clauflro,outra na lua
cerca, & outra na colinha- Manoel Ferreira d'Eça tem huma fonte de excellen-
~ te agua no quintal das fuas cafasdoarcodarua de Santa Maria , em que vive.
A fonte da coíinha do Hofpital da Cafa da Mifericordia, que a ella vêm por ca-
nos limpa, & boa para beber , &ferviço daquelleHoípital- A mayor parte das
cafas, que a Villa de Guimaraens tem de dentro dos feus muros , tem quintaes
com feu poço, & em alguns ha dous, &: tres-
Nos Arrabaldes darey principio na rua do Cano de baixo, aonde no fim
delia para entre o Norte, &Nafcente,em hum lugar ameno, & frefco das fom-
bras dos copados caíhanheiros fe efeonde a fonte da Douradinha firme , &
confiante nas aguas, que defper.de tão frefeas, & goíioías, que dandoas à flor
da terra, não quiz outro alinho, mais queagraça, que lhe dão brancas areas,
& com ifto tão foberana, que fó fe dá a goílar a quê lhe poem o gtolho no chão,
& abaixa a cabeça.
Na mefma rua defeendo para a Villa fe topa hum tanque de pedra la-,
vrada, que chamão o tanque do Cano de baixo , que por huma' carranca lança
huma bica de agua tão pouco firme, que no tempo do Verão, em que ha mayor
neceffidade delia, a fufpende, & lhe não larga o regiílo, fenão depois que ellas
faõ tantas, que já fe defeílimão.
AfontedaPipafituadanaeftrada, que vay para aBornaria de cima para a
parte do Norte por baixo da quinta do Verdelho, de que he poífuidor jerony-
mo de Matos Feyo- ■
A fonte das Maleitas fituada junto dp rio Herdeiro, & da fua ponte deS.
Luzia da parte dalém delle entre o Norte, &Nafcente : he hum tanque de pe-
dra lavrada coroado de ameyascomhumaíobica, &tam pouco afliíhido, que da
a entender que o nome, que tem, lhe deu a fua agua, por caufar tal achaque-
A fonte de Santa Luzia , que he hum tanque de pedra lavrada com huma
carranca de huma fóbica, & entre ella, & fuas pirâmides as Armas Reaes.
O chafariz do Toural,obra mageflofa de feis bicas , de que ja falíamos na
deferipção defta praça-
A fonte da Madroa, que he hum tanque de pedra com fuas pirâmides, &
duas carrancas,& he muy abundante de agua-
A fonte da Quinta de pedra lavrada,& em tudo galharda, porque em dir s
correntes frefea, & faudavel a fua agua fe comunica tam livre ao gofto de r >-
dos, que não ha quem fe aparte de tão doce regalo- 4
I\J a
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. up
No Burgo da rua de Couros eftá huma fonte de agua tão pezada, & falo-
bre, que fe não faz cafo delia.
Pela ponte da rua de Couros fe vay para a parte do Sul paia a fonte , que
chamão do Medre, que corre queixofa por entre verdes prados do pouco que
fe bufcão fuas aguas, tão bellas, & criítalinas, que pela fua bondade merece to-
da a eftimação.
Por detràz da rua , que fica para o Sul da parte dalém do rio de Couros,
eftá a fonte, que chamão do Buraco, & continuando efta rua dalém para o Sul,
fe topa na fonte do Amor junto das portas da Quinta de V illa Verde.
No fim do campo da Feira indo para o Sul, antes de chegar à Capella deN.
Senhora da Conceição eft ao humas efcadas,que defcem para o Nafcente além
do rio, que paífa por baixo delia para a fonte das Ameyas, que por fer de pedrâ
bem lavrada,& coroada delias, lhe puzerão eftenome : faõ luas aguas as mef-
mas no Verão, & no Inverno, & como o feu natural não he mudável , toda a
Villa gafta delia, por eftar continuamente aíliftida , & ter entre todas o melhor
lugar- .
Caminhando.pelocampo da Feira para o Nafccte,antes de chegar ao feu rio
. fe encontra com a fonte do Abbade ao pé das hortas, que chamão do Prior : he
frefca de Verão, & quente de inverno, porque aceita defte o que lhe dá , & ao
outro não nega o que lhe pede: mav aífim em hum tempo,como no outro femprc
faõ tantas as íuas aguas, que a liberal vontade com que as offerece pela fua bica
merecedora de fabrica mais viftofa, eftá convidando a aíHftencia dosCavallei-
ros daquelie povo,que alíiachão fitio aprazivel, & alegre para o feu regalo. ^
Entre a torre, que vulgarmente chamão do campo da Feira, & a dos Caés,
eftá hum tanque, a que chamão fonte nova, obrado ácufta de feus viíinhos,de
pedra lavrada, & bem viftofo, principalmente r o tempo do Inverno, em que as
aguas não cabem na boca da carranca de fua bica , porque concorrem nella em
muita quantidade.
Indo defte tanque ,ou fonte nova caminhando por entre o Sul , & Naf-
cente para a rua do Fato, fe acha a fonte , que daquelie lugar tomou o nome:
nafce do coração de hum rochedo, que fendo bruto lhe deu tal gofto , & bon-
dade, que fó fe culpa as fuas aguas deferem leves, muitas , & frias como a mef-

man
Atráz da Capella de Santa Cruz íàhindo da Villa pela fua porta da Frieira
fe efconde a fonte da Duqueza, que fazendo mais cafo da humildade , que da
authoridade do nome, fe poftra por terra, & arraftaudo por eila fua corrente ,
fica occulta de maneira, que fomente fé vè nella quemdepropofito abufca*
Afaftado da Villa de Guimaraens para o Sul fica a milagrofa fonte de Sam
Guálter, aonde efte Santo fundou a primeiracaíinha para o Convento: em tudo
hè efta fõte a principai,aflim pela virtudede fuas aguas,como pela quãtidade dei-
las, & pela mageftade, com que eftá obrada. He a primeira pela virtude de fuas
aguas, porque aífim oteftificão os muitos milagres, que N. Senhor tem obrado
com quem as bebe, para diverfas enfermidades, & por iffo he efta fonte bem aft
fiftida de dévotos do feu-Santo, huns a bébella, & Outròs a lavarem-fe com ella,
pela grandefé, que temem fua muita virtude. ■ !-
- He a primeira na,quantidade de fuas aguas, porque lançando por tres bi-
cas grande oopia delias, leva ventagemàs outras fontes; &he a primeira na
mageftade, com que eftá obrada, poroue he hum tanque de pedra obrado com
grande arte, may alto, & largo, para dar lugar a tres carrancas, aonde eftão fir-
madas

? J
.,0 TOMO PRIMEIRO
mortas fna<; bicas & entre ellas,&. as pirâmides do remate hum nicho grande
nomeyo do froiítifpicio,aondeeftá recolhida aimaêei? vidoílnoldusfef-
1 ar20 terreiro cercado todo de afiemos, que he coufabem viítolanos dias ícl
tivos de Verão, aonde muitos devotos de S. Guálter fe ajuntao commuficas,
danças, querendo cada hum manifeftar com ellas deS

Eftá efta fonte ao pe do monte de S. Roque no deftndo da FregueíU deS.


Eftevãode Urguezes, & fobindo delia para oNafcente junto àsCapellas do
Bom jefus eftá huma fonte, que chamão dos Impedidos, nome, que lhe
os quenaqueUe lugar o eftiverão da pefte: he tofeana fabrica , mas excellentc

n
° g°S^HiS^eftadfontefparSaaa parte do Nafcente pela fralda da í erra dc Sama
Catherina antes de chegar à Cruzdos Serodeos, eftá outra fonte, que cha-
mto^c Dom Duarte j por cima do Morteiro de Santa Maqnha da Corta de
Fredes leronymos, que loy Univerfidade, aonde affiftfao Lentes de Humatu-
dades, Filofofia, & Theologia, & nelle eftudavão o Infante Dom Duarte , filho
delRey Dom loão o Terceiro,& o Senhor Dom Antonio filho do Infante Dom
I uis & como o dito Infante Dom Duarte fchia recrear àquella fonte, delle to-

m0U
S6aXtsSt^ nome,que tem a ViUa de Guimaraens /
porque as particulares parece impoflivel ^enutre^fontes nati-
quinta, ou cafal no feu termo, que nao tenha duas, tres , &quatrolontes

V aS
' Atèciui a deferi peão Topográfica da muito nobre Villa de Guimaraens corn
todas as noticias, que frataremoTdos Conceíhos>

à fua Comarca , & aonde entra em Correis


ção o Corregedor de Guimaraens*

CAP. XXIII.

Do Concelho de Felgueiras.

D\ lasleooas de Guimaraens para oNafcenteeftá fituado o Concelho de


Feloufiras a ouem deu foral ElRey Dom Manoel em Lisboa ais-de
outubro
nro de liiti-
5 4 ^Produz
• todos
j, excellentes
os frutos,
frutas,muita
& dá boas criaçoens
caça, & algumas
de gados,
pef-
&
egoas, pouco azeite, muitomeb exceuen ^ ^ fc principia, &

dores, òu rocurauo comixct,dous A mota


que prefideqCorregedordaGomarca,^pombciro; cinco Tabeliaens■)

^&ss£sssas^s.
,„ér'&Ouvidor. Tem feiraas primeiras fegundas fc.mdecadamcznoltu
DA COROGRAFIA l'ORTUGUEZA. 121
garde Margaride, Scconfta das Freguefiasicguintes.
Santa Eulalia de Margaride, Vigairaria dy iMofteiro de Pombeiro, que re ■
de com as primícias cem milreis, Sc para os Frades duzentos mil reis , tem cem
vifinhos-
S. Pedro de jugueíros, Curado dos mefmos Frades,rende fet e nta mil reis ;
Sc para o Mofteiro de Tibaês cabeça da Ordem duzentos 8c trinta mil reis, tem
cento & feíTentaviíinhos.
Santiago de Sandim , Abbadia do Mofteiro de Pombeiro com referva>
rende duzentos mil reis, temcincoenta vifinhos. Aqui ha huma Torre, de que
he fenhor de feus foros Gonçalo Lopes de Carvalho,fenhor dos Coutos de Ab-
ba dim, 8c Negrellos: he o folar dos fidalgos do appellido de Sandim, de que fa-
li irão os fenhores de Riba de V izella, como diz o Conde Dom Pedro. Nefta
Freguefia em hum bello valle efteveno tempo da primitiva Igreja a Cidade Em
frazia, de que foy Regulo Lenciano, cujos Paços eft ao aopè do monte Colum-
bino, que fuppofto cila pereeeo na invafaõ dos Mouros , de qiie fó ficarão me-
morias, Sc ha veftigios, permaneceo entre tantas tormentas efta regia Cala, Sc
fua grande Torre, para vir a ler não cova de coelhos, mas morada, & folar dos
fenhores defte appellido, a qual fe chama de Cirgude, que fobre fuaJ muita ren-
da, ricas terra , Sc dehciofas fontes, tem huma grande mata, em que anda boa
quantidade de galinhas bravas inellas he tradição viveo o Honrado Egas Mo-
niz, 8c que delle ficou a imagem de Chrifto crucificado , que alli ha na Capella >
tem quatro cravos, he grande de corpo, muito devota, 8c milagrofa , feftejale
com jubilto o primeiro Domingo de Agofto. Entrarão nella os fidalgos do ap-
pellido Teyxeira,em tempo delRey DomSebaftião , por cafamento de Mart ni
Teyxeira de Azevedo chefre dos Teyxeiras cõ Dona Maria Coelho de Mellò,
filha de Gonçalo Coelho da Sylva, fenhor delia, & de Felguey ras, 5c Vieira. Foy
efte Ma-timTeyxeira o mayor home de corpo,q ncfte ieculo fe vio em Europa,
8c de grandes forças-' Defte nafceo Gonçalo Teyxeira Coelho, pay de Mart im
Teyxeira Coelho, que hoje vive, todos fenhores defta cafa, inda que o folar he
na Teyxeira. Saofuas Armas em campo azul huma Cruz de ouro potente , va-
fia do campo, & por timbre meyo unicórnio de fua cor cõ o corno, & unhas dc
ouro.
Santiago de Pinheiro, Vigairaria do MofteirodeCaràmos, que rende ciu-
coenta mil reis, 8c para os Frades oitenta mil reis, tem trinta 8c cinco vifinhos.
S.ThomédeFriande, Vigairaria do Convento de Pombeiro , que rende
oitenta mil reis, Separa os Frade; cento & vinte mil reis , tem eincoenta viíi-
nhos.
S.Salvador de Moure, Vigairaria dos mefmos Frades, que rende fetenta
mil reis, Sc para o Convento de Tibaens, a que cftá applieada, cento Sc trinta ,
tem fetenta vifinhos-
S- Martinho de Caràmoshe Convento dos Conegos Regrantes de S. Ago-
ftinho, fundado pelo Conde Dom Nuno Mendes, Capitão General, Sc Gover-
nador das terras de Entre Douro Sc Minho, Sc Trás os Montes em tempo dei- -
Rey Dom Fernando o Magno, o qual fahindode Guimaraens, aonde refidia , a
expullar os Mouros das terras vifinhas, que elles andavão affolando, Sc rouban-
do, Sc encomrandofecomelles nos campos da Veiga, aonde agora eftá o Con-
vento, tiverão huma grade batalna, Sc vendo oCapitãoque os feusviravão as
coftas aos Mouros,chamou com grade fé pelo valerofo Soldado de Chrifto Saõ
Martinho,queofoccorrefTeemtão grande neccífidade. Não fe dilatou muito
' Lo Sart-
m tomo primeiro
o Santo no feu cavalIo branco , % que com aíua lança o nao Viífe o devoto Ca-
pitão ferir pelos Mouros, matandoos ; & animado com o íoccorro do Ceo,
chamou pelos feus, que fugindo , largavão ocampo , & lhes diífe : Cara ãos
Mouros , que S- Martinho he em noíía ajuda. Animados os Soldados Portu-
guezes fizerão outra vez rolho aos Mouros , &os desbaratarão, &; puzerão
em fugida,ficando com a vidoria- Em gratificação, & memoria do favor, que
S. Martinho fez ao dito Conde, elle lhe fundou no mefmo lugar da batalha húa
Igreja pelos annos de Chriího de i o68- a quem chamou S. Martinho de Cara
aosMouros, que depois os annos corrompèrão em S. Maninho deCaràmos.
No lugar de Pedrofo entre Braga, òt o rio Ave no anno de 1071* deu o nolio
Conde Dom Nuno Mendes batalha a ElRey Dom Garcia, terceiro filho do di-
to Rev Dom Fernando, a favor dos Portugueses, a quem tinha mal-tratado,
na qual ficou o dito Conde morto, & osfeus forão vencidos. Hcrdou-oíeu fi-
lho Dom Gonçalo Mendes , que efcapou da batalha , & andou aufente al-
guns tempos, atè haver feguro delRey: mas achou por melhor fazerfe Clérigo,
& edificou hum Moíieiro no mefmo lugar de Caràmos, junto da Igreja de Sam
Martinho,q feu pay fizera,& o acabou 110 anno de 1090. dotãdo-o de boa ren-
da, &nelleferecolheo com outros Sacerdotes naturaes de Braga , & Guima-
raens: com feis defies fe foy a Braga a dar conta ao Arcebifpo Dom Pedro, an-
teceífor de S. Giraldo,o qual por ter fido ConegoRegular de Santo Agoltinho,
os encaminhou a tomarem aquella Regra, & lhes foy lançar o habito aCarámos
aos 28. de A golfo, no qual dia celebra a Igreja a feílado feu gloriofo Patriar-
ca ; & os Religiofos elegerão por leu primeiro Prior ao mefmo Dom Gonçalo
Mendes, que os governou atê o anno de 1124. em queDeos o levou a 8. de
Janeiro. Succedeólhe logo hum de feus cõpanheiros o fanto Varão D.Frutuofó
Gõçalves,eleito canonican.éte,& confirmado pelo Arcebifpo Dõ Payo Mendes
em 18. de Janeiro do mefmó anno. ElRey Dom Affonfo Henriques fez Couto
a eífe Moíieiro, & a toda a Freguefia, & lhe deu o Padroado da Igreja de Con-
llantim em Villa Reab.pcreíle modo fe governou, atè que pelos annos de i 542.
reynando ElRey Dom João o Terceiro, o Cardeal Dom Hérique leu irmão mã-
dou para Adminiíhrador de fuas rendas , & daquelles Conegoc a Francifco de
Morim, Cavalleiro de fuaCafa, em quanto o não deu a Dom joão Pinto Reli-
giofo delle Convento , & fobrinho de Fr. Diogo de Murça Frade Jeronymo,
Reytor da Univcrfidade, 8c Commendatario de Refoyos de Bailo, em que o fo-
brinho lhe fuccedéra, donde o fez vir para Carâmos no anno de ifAf. dando-
Iheelle Priorado perpetuo, em que eileve doze annos, & renunciou o direito
que nelle tinha nas mãos do Papa Sixto Quinto, para que o uniíle ao Conven-
to de Santa Cruz de Coimbra; não teve logo effeito, mas confeguio feno anno
de 1594. pelo Papa Clemente Oitavo, íéndo já falecido Dom loãó Pinto a y.
dejunhode 1587. Tomarão dellepoífe osCruziosem doze deFevereiro dtí
15-95. & foy feu primeiro Prior triennal Dom João dab Neves. Neila forma
permanece com íete Religiofos: tem mais de tres mil cruzados de renda em
dízimos de annexas, & iabidos , de que pagão à Capella Real cento & cincoen-
ta mil reis, ao Collegio novo de Santa Cruz de Coimbra duzentos & cincoett-
ta, à Camara Apoílolica trinta & dous,&oito mil reis ao Seminário de Braga-
Confervãohuma relíquia de S. Martinho Bifpoíie Turon, que obra muitos mi-
lagres -.rprefentão Cura fecular, que tem cincoenta mil reis de renda com opê
de Altar. A'villa deíle Convento ,apoucadiílancía,entreoMeyodia,& Poen-
te, fé vem veíligios de fortificação antiga,que fe devia fazer para amparar eílas
terras
DA COROGRAFIA PÓRTUGUEZA, iij
terras das correrias dos Mouros- Tem cila Frcguefia noventa vifínhos.
S. Jorge da Varzea, Vigairariá do Convento d.é Pombeiro , rende ao todo
fetenta mil reis, St para os Frades cento St vinte mu reis, tem cem vifínhos.
S- Salvador de Villa Cova, dizem alguns, foy Mofteiro de Monjas de Sam
Bento 5 mas não temos noticia dè quando fe fundou, ou extinguio 5 pafiòu.à
Commenda de Chriíto, Sc he Revtoria da Mitra1,' que renderá conto St tincoen-
ta mil reis, Sc para o Commendador íetecentos Sc:dncoenta milreis, tem cen-
to & vinte vifinhos.
S- Cypriaõ deRefrónteira, Abbadiá da Mitra, fende duzentos Sc cincoeri-
ta mil reis, tem feíTcnta vifinhos. Daqui fe entende era D- Gdldorá Goídáres
de Refronteira,que jaz emBuftello, de que era Padroeira , St de quemDÓm
Gonçalo Mendez de Soufa teve a Dona Elvira, ou Marinha Gonçalves >>mulher
de Martim Pires de Aguiar, dos quaes nafceo Pedro Martins Alcoforado , Sc
por eíta viafaõos A lcoforados Padroeiros do Moíkiro de Buífello.
Santa Maria de Ayraes, Commenda de Chrifto, Sc Reytoria da Mitra, que
rende ao todo cem mil reis , Sc para o Commendador com fabidos trezen-
tos Sc oitenta mil reis, tem cento Sc vinte vifinhos. Deu-fe neítas ultimas guer-
ras à Lourenço de Morim Pereira , pelo muito que dilatou a entrega da pr açá
de Monção, que governava naquelle taõ bem defendido, Sc apertado fitio , que
os Gallegos nos puz^rão, Sc a logra hoje feu filho Dom Antonio de'Morim Pe.
reira, fidalgo da Cafa de Sua Mageftade- _ 1
S.Miguel de Varziella, Vigairaria do Mofteiro de Pombeiro , rende ao
todo noventa mil reis, Sc para o Convento de Tibaês , a quemeftá applicada,
duzentos mil reis, tem fefienta St quat-ro vizinhos.
Santa Maria de Pedrofo,Curadodo Convento de Santa Marinha da Coifa,
rende quarenta mil reis, Sc para os Frades fefienta mil reis , tem vinte Sc hum
vifinhos.
S.Veriífimo de Lagares, Commenda de Chrifto, Se Reytoria, que apreferr-
ta in folidum o Convento de Pombeiro, que rende ao todo oitenta mil reis, Sc
para o Commendador com fabidos duzentos Sc oitenta mil reis, tem oitenta
Sc feis vifinhos.
S- Pedro de Torrados foy Mofteiro, q fudou Ayres Gomes de Torrados,pa-'
drinhodelRey Dom Diniz, que foy da geraçaõ dos Cunhas , bifnetode Payo
Guterres da Cunha, que inftituío o Mofteiro do Souto : he hoje Commenda
de Chrifto, Sc Reytoria da Mitra, que rende ao todo cem mil reis, Sc para o Co-
mendador com a annex a duzentos Sc cincoenta mil reis , tem noventa vifí-
nhos.
S.Vicente de Soufa foy Mofteiro antigo, paíTou a Abbadiá fecuíar , que
aprefentavaoCondede Figueiró, rende com fabidos trezentos Sc cincoenta
mil reis, tem cincoenta vifínhos.
Santa Maria de Idaés,Abbadia da Mitra, rende coma anriexa de SantaMa-
rinha quatrocentos milreis, tem noventa vifinhos.
Santa Marinha de Ravinhade, Vigairaria annexa à Commenda de S.Pedro
de Torrado , rende ao todo quarenta mil reis , Sc para o Commendador no-
venta,tem trinta Sc dous vifinhos.
S. Martinho de Penacova, Vigairaria do Mofteiro dePombeiro, que ren-
de ao todo fefienta mil reis, Sc para o Convento de Tibaens , a quemeftá ap-
plicada, Sc Frades Dominicos de Mancelios, Sc Amarante, cento Sc cincoenta
mil rei s, tem fefient a vifinho s.
L ij Cout9
ji4 ; TOMO PRIMEIRO

Couto de cPombeiro.
. . ' i l • ' -i J J • "
y - f »ri' 1/ - 'f
SAnta Maria de Pombeiro he Moíieiro de Frades Bentos, íituado ao pè do
monte Columbino perto do rio Vizeila para a parte do Meyo dia , huma
. legoade Guimaraens,juntQ da eítrada, que vay defla Vilia para a de Amarante,
& para a Provincia de Trás os Montes. Teve duas fundaçoens, a primeira era
hum lugar perto do rio, a que mda hoje chamaõ o Sobrado , donde tomou o
nome o Moíkiro, que eilava ao pè de hum monte que chamaõ de Santa Cruz,
porter no feu cume huma Ermida do meímoOrago. De lua primeira fundaçaõ
naõha clareza, por fenaõ acharem no feu Cartorio papeis, que a declarem ; &
iç fe acha hum prazo cm pergaminho antiquiílimo , que o Dom Abbade dclle
Frey Hugo fez a Domingos Annes de Val-melhor das Bouças de PayoCapello
no anno do Senhor de j66- a que hoje chamaõ Val-melhoraao corrupto de Val-
de-melhor- Também fe acha hum Breve do Papa Leaõ IV. paffado a 9• de Fe-
vereiro do anno de Chriflo de 855» para certas demandas , que os
Rêligiofos delle traziaõ com os Ricos homens Padroeiros feus , por lhes nam
quererem pagar as comedorias, & penfoens coílumadas, & ainda nos annos re-
feridos exiítia na fua primeira fundaçaõ com o nome de Sapta Maria do Sobra-
do.
A fegunda fundaçaõ deíle Moíieiro fe fez pouco mais abaixo da primeira
em hum íitio baixo cercado de montes com pouca vifta, porque fó para a parte
deGuimaraenstem húa aberta mais eílendida,q lhe fezorio Vizeila coma fua
ribeira. Foyfeu fundador ElRey Dom Fernando o Magno pelos annos do Se-
nhor de 1041 • & foy a fegunda coufa de todas quantas fundou, Sc o deu a feu
fobrinho o Conde Dom Gomes de Cella nova, a quem o Conde Dom Pedro no
feu Nobiliário tit. 2 2 • faz caiado com Dona Sancha Gomes Echigas; mas o Pa-
dre Frey Fclippe de Laganderano feu livro dos Triumphos , & feitos herói-,
cos dos filhos deGalliza c. 12. n-8. diz q o Conde D. Nuno de Cella nova fo-
ra caiado com a Condeça Dona Velafquita, filha do Conde Adulfo , & que de-
pois de viuva fe metera Freyra- Eíle Conde Dom Nuno foy Conde do Porto,
& por morar em Cella nova fe chamou aílim3 foy da familia dos Soufas , & por
iflfo eftes foraõPadroeiros muitos annos deiíe Moíieiro,a quem o feu fundador
ElRey Dom Fernando o Magno poz. o nome de Santa Maria de Pombeiro : he
Cafa grande, em que muitas vezes houve Coliegio; antes que cntraífe em Ab-
bades da fua Congregação, andou muitos annos em Commendatarios da fami-
lia dos Mellos & Sampayos , & foy o ultimo delles Dom Antonio de Mello &
Sampayo pelos annos de 1 f 28. atè ode 1560.
Por morte do Commendatario Dom Antonio de Mello & Sampayo pedio
a Rainha Dona Catherina (que por falecimento de feu marido ElRey Dom Joaõ
o Terceiro governavaeíleReyno) ao Papa Paulo IV. o'Moíieiro dePombeira
para o reformar, & concedendolhoelle,foraõ tantas aspetiçoens, que fefize-
raõàditaRainha,qaobrigàraõatornalloapedir aS-Sâtidade para oSenhor D.
Antonio,filho do Infante Dom Luis, Duque de Beja; mas o Papa lembrandofc
que ella lho tinha pedido para o reformar , lhe refpondeo que já que o naõ re-
formava, o queria dar a hum feu Nepote, que foy S. Carlos Borromeu , o qual
poíTuindo-o pouco tempo , o renunciou com penfaõ de tres mil cruzados no
dito fenhor D- Antonio pelos annos de 1564. & por fua morte entràraõ os
Pre-
D A COROGRAFIA PORTUGUEZA. itj
Prelados da Reformação, fendo o Mofteiro governado primeiro por Priores,
& depois por Abbades; & o prime ronque foy eleito no anno de 1570* para o
governo deite Convento de Pombeiro debaixo da obediência de hum Cerai >
foy o Padre Frey jeronymode Guimaraens ; & çontinuàraÕ os Priores no go •
verno delle atè o anno de 1590. em que entrou por primeiro Abbade o Padre
Fr. Bernardo de Braga- _ . -
De todas as obras antigas, & fabrica deite Mofteiro fo permanece a Igre-
ja, que he grande, & fermofa ; tem huma grande imagem de N. Senhora 5 he muy
antiga, & foy tammiraculofanaquelles primitivos annos , que os grandes Ca-
pitaens, quando hiaõ para a guerra, fevinhaõ valer delia, & voltavaõ a darihe
os agradecimentos com os defpojos das vitorias, que ganhávaõ , & por elre
refpeito fe appellidou o Convento de Noífa Senhora. Sobre a porta principal
tem hum prande efpelho, que terá em circuito de noventa atè cem palmos , «Sc
por remate da parede tem hum Leaõ rompente. Defronte deita porta citava
hua Gallilé dc tresnaves muy alta,& fermofa,toda de abobeda,& eíquadria na
qual eítavaõ por ordem abertas todas as Armas da nobieza antiga de Pcitu-
gal: de modo que quando havia alguma duvida ibbre eíta materia, a Gallile de
Pombeiro, & armas, que uella eítavaõ, ferviaõ de juiz. Toda eíta fabrica com
as injurias do tempo veyo ao chaõ, & fe perdeo eita grandeza particular de Põ-
beiro. No anno de 1568. quando o Cardeal Dom Henrique íe mandou infor-
mar dos Morteiros de S. Bento, que havia, ainda fe faz menção deita Gallilè,mas
iá muy damnificada-
Todo o mais Mofteiro, ôtofficinas delle fe fizerao de novo do tempo da
Reformação atè o prefente: tem tres dormitórios em quadro , hum com as ja-
nellas para o Nafcente, outro para o Mey o dia, & o terceiro para o Poente com
cellas altas, & baixas. Da parte do Norte o fica amparando a Igreja. Aos la-
dos da porta principal delia fe fizeraõ duas torres, em que eítaõ os finos, &c re-
lógio,todas de cantaria muy bem lavradas com feus curucheos, «Sc remates,obra
muy perfeita. Tem huma clauítra muito grande, de columnas muy grofias, cõ
fermofa galariano andar de cima- Em hum lanço da melma clauítra eíta o re-
feitório , &cafa do Capitulo, tem mais huma Sancnftia nova, ornada com
exce llentes payneis, & bons ornamentos, & huma grancic cerca , toda mui ada
de pedras & cab que confia de vinha, pomares, hortas, campos , & terras de
paõ, pelo meyo da qual corre hum ribeiro de agua, que a faz muy fecunda.
Aprei então Dom Abbade deite Mofteiro Cura fecular, que tera de renda
ao todo íetenta mil reis, &para os Frades duzentos & cincoenta mil reis,
tem cento & vinte vifmhos,& refidemnefte Convento vinte & quatro Frades,
que fe fuftentaõ dos dizimos das Igrejas annexas,& fabido ■, que importaram
tres mil & quinhentos cruzados- Tem Couto no civcl , no crime he de Fel-
gueyras: o Dom Abbade ferve de Ouvidor, faz Juiz, Procurador, & Portei-
ro por eleição do Povo. . . " . . ,
He fenhor de Felgueyras Antonio Luis Pinto Coelho , cujavaronia he a

^Alvaro Vafqucs Guedes foy filho de Gpnçalò Vaz Guedes, fenhor de Mur-
ça: cafou com Dona AnnaIfabeldeMefquita,filha deFernaõde Mefquita,que
inftituío o Morgado da Sobreira 110 termo de Souzei, Sede fua mulher Joanna
de Lucena, de que teve, entre outros filhos, a . i

Gonçalo Vafques Guedes, que cafou com Dona Maria Pereira > filha de
Nuno Alvares Pinto , & de fua mulher Dona Maria Pereira de Sampayo , de
L ílj
126 TOMO PRIMEIRO
que teve., entre outros filhos, a
Francifco Vaz Pinto, que caíòu com Dona Maria de Valença, filha de Frã-
cifco de Valença, fidalgo Caílelhano, natural de C,amora, & defua mulher Ma-
ria de Burgos, de que teve, entre outros filhos,a
Gonçalo Pinto, que foy Alcayde mór de Bailo,ôtinílituío oMorgado de
Retaens de Bailo: cafou com Beatriz da Cunha, filha de jeronymo da Cunha,
& de fua mulher Dona Leonor Taveira, de que teve, entre outros filhos, a
Francifco Pinto da 'Cunha, que toy Alcayde mór de Cerolico de Bailo, &
Commendador de S. Salvador de Forges na Ordem de Chriílo: cafou com Do-
na Fràncilca de Noronha, filha herdeira de Ayres Gonçalves Coelho , fenhor
de Felgueyras, & Vieira, & delia antiga Caía, que deu EIRey Dom Joaõ o Pri-
meiro a Gonçalo Pires Coelho de juro , & o Couto de Canellas no anno de
1436. & de íua mulher Dona Maria de Noronha,filha de Francifco de Abreu, fe-
nhor de Regalados, de que teve,entre outros filhos, a
Antonio Pinto Coelho, que foy fenhor de Felgueyras , & outras terras,
cafou com Dona Francifca de Ataíde, filha de Dom Antonio de Almeyda, Com-
mendador de S. Martinho da Soalheira, & da Bempoíla na Ordem de Chriílo,&
de fua mulher Dona Magdalena de Ataíde, de que teve, entre outros filhos, de
que abaixo faremos mençaõ, a
Joaõ Pinto Coelho, que foy fenhor de Felgueyras , & das mais terras de
feus avôs, cafou com Dona Mariana Francifca Pereira da Sylva, filha única, &
herdeira de Fernaõ Pereira da Sylva,fenhor de Fermedo,õt Cabeceiras de Bailo,
& de fua mulher Dona Maria da Sylva, por cujo cafamento herdou a antiga Cafa
dos fenhores de Fermedo, que defccnde por varonía de Alvaro Pereira, tercei-
ro Marichal de Portugal no tempo delRey Dom |oaõ o Primeiro, & tronco da
Cafa da Feira: teve da dita fua mulher os filhos leguintes-
Antonio Luis Pinto Coelho, de quem logo fadaremos,Jofeph Pinto Coe-
lho, Gonçalo Pinto Coelho, Francifco Pinto Coelho, Lourenço Pinto Coelho,
que morreo menino, Dona Francifca Joanna de Ataíde , que cafou com Joaõ
Pinto Pereira feu tio, fenhor do Bom Jardim , & Dona Joanna Manoel de Vi-
lhena, Freira em S- Bento do Porto.
Antonio Luis Pinto Coelho he Senhor de Felgueyras, Vieira, Fermedo, &
outras terras: cafou com Dona Anna Maria de Noronha, filha de Luis de Soufa
de Menezes, Copeiro mór, & de fua mulher Dona Mariana de Noronha,filha de
Dom Sancho Manoel, primeiro Conde de Villa Flor, de que teve a Joaõ Pinto
Coelho, Fernaõ Pereira, que morreo menino, & a Dona Mariana : cafou fe-
gunda vez com Dona Mariana da Sylveira & Noronha,fua fegunda prima, filha
de Mar tim Teixeira Coelho, fenhor de Teixeira, & de fua mulher D. Anna Ma-
ria de Mefquita & Sylveira, de que tem duas filhas.
Antonio Pinto Coelho, que foy fenhor de Felgueyras, & cafado com Do-
na Francifca de Ataíde, teve filhos a Joaõ Pinto Coelho , de quem acima fize-
mos mençaõ, Francifco Pinto da Cunha, Jofeph Pinto Coelho , Dona Magdale-
na Joanna de Ataíde, que cafou com Fernaõ Pereira da Sylva , fenhor de Fer-
medo, fogro de feu irmaõ Joaõ Pinto Coelho, de que naõ teve fucceífaõ, & por
fua morte cafou fegunda vez com feu primo Antonio Luis Vaz Pinto Pereira:&
a Dona Mana Luiza Antónia de Portugal, que cafou com Manoel Guedes Pe-
reira, Commendador na Ordem de Chriílo, Alcayde mór de Condexa , & EL
crivaõ da Fazenda de Sua Mageílade, ( o qual era filho de Francifco Guedes
Pereira, Efcrivaõ da Fazenda de Sua Mageílade, & Alcayde mór de Condexa,
&de
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. tit
& de fua mulher Dona Maria de Azevedo) de que teve a Antonio Guedes Pe-
reyra, que he Commendador na Ordem de Chrifto, Alcayde mór de Condexa,
& Efcrivaõ da Fazenda de Sua Mageftade, a ]oaõ Guedes Pereira, Luis Guedes
Pereira, Jofeph Guedes Pereira, Manoel Guedes Pereira , Dona Franciíca Joa-
na de Ataíde, Dona Maria Therefa de Portugal, Dona Therefa Joanna de Por-
tugal, Dona Joanna Therefa de Portugal, &Dona Inez Antónia de Portugal,
todas Religiofas no Mofteiro de Santa Clara ac Lisboa.

CAP. XXIV.

T>o Concelho de ZJnhao.

JUnto do Concelho de Felgueyras para a parte do Sul cõtinúa o de Unhaõ,


^Concelho rico, & abundante de todos os frutos, muito gado, caça, & peixe
do rioSoufa. ElRey Dom Manoel lhe deu foral aos 20. de Março de 15 1 y.
tem Jujz ordinário, dous Vereadores, & Procurador do Concelho feitos por
eleição triennal do povo, a que prefide o Corregedor de Guimaraens, Almota-,
ceis, dous Tabeliaensdo Judicial, & Notas, Efcrivaõ da Camara , & Almota-
çaria, outro das Sizas, Distribuidor, Enqueredor, & Contador, Meirinho,que
he Carcereiro, hum Efcnvaõdos prazos , & execuçoens do Conde lomente,
luiz dos OrfaÕs,& Efcrivaõ, todos data do Conde, que poem Ouvidor , para
quem fe appella, com Efcrivaõ. Aqui fizerao os fenhores deft e Concelho huma
fermofa cafa na melhor terra defta Provinda, aonde elles tem hua pequena pro-
priedade, a melhor coufadeftas partes , que alémidas mintas hervagens , da
feifeentos alqueires de trigo, que pela conta de Lisboa 1 aõ dez moyos; & a Ca-
fa he das mais ricas de Portugal. Confta o termo das F reguefias feguintes.
S. Salvador de Unhaõ, Commenda de Chrifto, & Rey tona da Mitra , que
rende cem mil reis,& trezetos & cincoenta mil reis para o Comendador , te cem
vifinhos. Em hum alto monte, que chamaõ de Santo Eufebio , aquelle famofO
Presbytero, & ConfeíTor Romano, que morreo pela Fé de Chrifto , eítá huma
Capella defte Santo, & à roda fe vem veftigios de fortificação, que fervio aos
Chriftaõs na expulfaõ dos Mouros.Nefta Freguefia eftaô os Paços do Cõde.
S. Chriftovaõ de Louredo, Abbadia da Mitra, rende cem mil reis, & tem
quarenta & cinco vifinhos. .
S. Fins, Vigairariado Mofteiro de Pombeiro com dízimos da Aldeã de
Paços, rende cem mil reis, & para os Frades deTibaés , aqueeftá applicada ,
trezentos mil reis: tem cem vifinhos. Aqui eftaa Qiiinta^Sc Paço de Soufa^ fo-
lar da illuífrefamilia de Soufas^quede prefentehe de Fernão dcSoufa, íenhor
de fiouv ea do T amega- j s :
Santa Marinha da Pedreira, Abbadia da Mitra, rende trezentos & emeoe-
ta mil reis,tem cento & doze vifinhos.
Santiago de Rande, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis , tem cin-
coenta & cinco vifinhos. ^
S. Joaô de Cernande, V igairaria , que aprefenta o Reytor de Unhão, de
quem he annexa, tem trinta vifinhos. .
S. Mamede de Villa Verde, Vigairaria do Convento de Pombeiro, que ren-
de cincoenta mil reis, & para o Mofteiro de Tibaés, a que eftâ applicada, cento
ii8 TOMO PRIMEIRO
ôccincoenta mil reis, tem quarenta & cinco viíinhos.
Santa Maria de Arentey, Vigairaria do Morteiro de Caramos , tem vinte
&tresvifinhos- ■ _ _
S. Joaõ de Macieira, Vigairaria das Freyras de Villa do Conde , tem qua-
renta viíinhos.
Santa Chriftina, Vigairaria, que aprefentaõ as meímas Freyras , tem cin-
coenta & cincò viíinhos. Ha neíle Concelho feira todos os mezes.

Honra de zZMejnedo.

ESta Honra fe compoem de parte da Freguefia, & Couto deífe nome em Pe-
nafiel de Soufa com que parte, & com Unhaõ : faz o povo juiz, & o íenhor
.delia aprefenta Efcrivaõ, que ferve de tudo. He íenhor delia , & Conde de
Unhaõ Rodrigo Telles de Cartro & Menezes , cuja illuítre varonia he a íe-
guinte.
Gonçalo Gomes da Sylva foy Rico homem em Portugal, Alcayde mór de
Montemór o Velho, Embaixador a Roma, primeiro fenhor de Vagos, & Unhaõ,
Tentúgal, Geftaço, Sinde, Buarcos, & outras terras: cafou com Dona Leonor.
Gonçalves Coutinho,filha de Gonçalo Martins da Fonfeca Coutinho , íenhor
do Couto de Leomil, & de Dona Joanna Martins de Mello, & foy feu primeiro,
filho Joaõ Gomes da Sylva Rico homem, & legundo fenhor de V agos, Unhaõ,&
mais terras, Alferes mor, & Copeiro mór delRey Dom joaõ o Primeiro, & do
feuConfqlho, Alcayde mór de Montemor o Velho, & Embaixador a Cartella ;
cafou com Dona Margarida Coelho, filha de Egas Coelho , 'primeiro fenhor da
Villa de Montalvo, Mertre-fala delRey Dom Joaõ o Primeiro de Portugal, & de
Dona Mayor AffonfoPacheca, &foy feu primeiro filho Ayres Gomes cia Sylva,
quefoy terceiro fenhor de Vagos, & Unhaõ, & mais terras , Alcayde moi de
Montemór o Velho, & Regedor da Jurtiça, o qual cafou fegunda vez com Do-
na Brites de Menezes, filha de Dom Martinho de Menezes^ íegurjdo fenhor de
Cantanhede, & de Dona lhereía Vafques Coutinho ,, da qual teve a Joaõ da
Sylva, que foy quarto fenhor de V agos , & continua a lua linha até o prel ente
Conde de Aveiras, & a FernaÕ Telles de Menezes , que foy quarto fenhor de
Unhaõ, (em quemfefeparouertaCafa da de Vagos ) & fenhor de Meynedo,
Sepaés,& Ribeira de Soàs, Cornmendador de S- Salvador de Ourique na Or-
dem de Santiago , & Mordomo mór da Rainha Dona Leonor, mulher delRey
Dom Joaõ o Segundo: cafou com Dona Maria de Vilhena , que foy Camareira
mór da dita Rainha Dona Leonor , filha de Martim Aífonfo de Mello, Alcay-
de mór de O ivença, & Guarda mór dos Revs, Dom Duarte , & Dom Aífonfo o
Quinto, & de fua mulher Dona Margarida Coutinho de Vilhena , íenhora de
Ferreira de Aves, da qual teve, entre outros filhos, a ^ ®
Ruy Telles de Menezes, que foy quinto Senhor de Unhaõ, Mordomo mór
da Rainha Dona Maria,fegunda mulher delRey Dom Manoel, & depois Mor;
domo mór daEmperatriz Dona Ifabel, mulher do Emperador Carlos Quinto:
cafou çom Dona Guiomar de Noronha, filha deDomPedrode Noronha,^ Com-
mendadormór da Ordem de Santiago, Mordomo mor delRey Dom Joaõ o Se-
gundo, & fenhor do Cadaval, & de fua mulher Dona Catherina de Tavora, da
qual teve, entre outros filhos, a
Manoel Telles, que foy fexto fenhor de Unhaõ , & cafou çom Dona Mar-
garida
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA tip
garida de Vilhena, filha dc Dom Fernando de Caftro o Magro , Capitaõ da Ci-
dade de Évora, & de fua mulher Dona Maria de Vilhena,da qual teve,entre ou-
tros fiíhos, a
Fernâõ Telles, que foy feptimo fenhor de Unhaõ, & caiou com Dona Ma-
riana de Caftro, filha de Dom jeronymo de Noronha o Bacalhao, Capitaõ de Ba-
çaim, & de Dona Maria de Caftro, da qual teve a
Ruy Telles,que toy oitavo fenl.or de Unhaõ, & cafou com Dona Maria-
na da Sylveira,filha herdeira de Vafco da Sylveira, Commendador de Arguin,
& de Dona Ines de Noronha, da qual teve a
Fernaõ Telles de Menezes, que foy nono fenhor , & primeiro Conde de
Unhaõ por mercê delRey Dom Felippe o Terceiro, feita no anno de i £30. ca-
fou com DonaFrancifca de Caftro, Dama da Rainha Dona Ifabel de Borbon, fi-
lha de Dom Martim Affoníb de Caftro, Vífo-Rey da índia, & de Dona Marga-
rida de Tavora, de que teve a
Dom Rodrigo Telles de Caftro & Menezes, que foy decimo fenhor , &
fegundo Conde de Unhaõ: cafou com Dona J uliana Maria Maxima de Faro, fi-
lha herdeira de Dom Dim#, fegundo Conde de Faro , & de íua, mulher Dona
Magdalena de Alencaftre, de que naõ teve filhos : cafou fegundavez com fua
pr ima Dona Joanna de A lencaftre, filha de Dom Rodrigo de Alencaftre, Com-
mendador de Coruche, & de fua mulher Dona Ines de Noronha , da qual te-
ve a
Dom Fernaõ Telles de Menezes Caftro & Sylveira , que foy undécimo
fenhor, & terceiro Conde de Unhaõ: cafou com Dona Maria de Alencaftre, que
hoje he Marqueza de Unhaõ, & Aya dos Principes,filha de Dom Martinho Maf-
carenhas, Conde de Santa Cruz , & de fua mulher aCondeça Dona Juliana de
Alencaftre , da qual teve a Dom Rodrigo Telles Caftro Menezes & Sylveira,
que he duodecimo fenhor, & quarto Conde de Unhaõ , cafado com Dona Vi-
ttoria de Tavora, filha de Miguel Carlos de Tavora Conde de S. V icente, & da
CondeçaDona Maria Caietana fua mulher.

CAP. XXV.

Do Concelho de Santa Crw^de Riba Tamega.

DO Concelho de Unhaõ para a melma parte do Sul fe continua o de Santa


Cruz de Riba Tamega, que toma o nome de huma Capella defta invoca-
ção, que eftá no alto do monte aonde chamaõ os Caítellos de SantaCruz , &
moftraõ ruínas, de que os houve. He fenhor defta terra o Conde de Sabugal,
tem Juiz ordinário feito pelo povo, dous Vereadores , & Procurador do Con-
celho, confirma-os o Conde, que tem Ouvidor , quatro Tabeliaens do Conce-
lho, & Coutos, Juiz dos Orfaõs, & Efcrivaõ, todos data do Conde , Efcrivaõ
da Camara, & Almotaçaria, outro das Sizas, Meirinho, que he Carcereiro,Dif-
tribuidor, Enqueredor, & Contador 5 eftes aprefenta EIRey. Tem feira todas
as primeiras quintas feiras do mez,&aos treze, & huma de beftas em dia deS.
Antonio. Tem paõ, vinho, caftanha/c caça, com muitos gados. Compoenvfe
das Freguefias feguintes.
xjo tomo primeiro :■ :

S. Martinho de Recezinhos, Abbadia do Morteiro de Bortello còm referva,


rende quatrocentos mil reis, tem cento & cincocnta viíinhos- Aquieftaõ os
Morgados dos Ferreyras inrtituidos em tempo delRey Dom Affonfo o Quarto
por Dona Mayor Lourenço, que ertá emMancellos,& foy mulher de Louren-
ço Annes Redondo, deixou-os a féu fobrinho Martim Annes Farízeu, pay de
Mayor Martins, Morgada de Cavalleiros, a que fe unio. Ha mais a Quinta do
Paço de Leiros, quepoffue Manoel de Soufa da Sylva,por defcendente de Mar-
tim Gonçalves Alcoforado, que viveo no principio do Reynado delRey Dom
Joaõ o Primeiro, que também lhe deu o fenhorio derte Concelho.
S.Mamede de Recezinhos, Abbadia que aprefenta Manoel Ferreyra d'Eça,
Morgado de Cavalleiros, rende trezentos mil reis, tem dento & vinte feis viPi-
nhos--
S. Salvador deCaftellaõs de Recezinhos, Abbadia que aprefenta o Con-
de de Sabugal, rende duzentos & cincoenta mil reis, tem cento & quinze viíi-
nhos.
S. Pedro de Ataíde, Abbadia do Ordinário , tem trinta & oito viíinhos.
Aqui ertá a Quinta, & Cafade Ataíde, em que houve Torre, que fe desfez , &
he illuftre folar defta illuftre familia , defcendente por varonía de Dom Moni-
nho Viegas o Gafco, que ganhou o Porto , da qual he fcnhor Dom Manoel de
Azevedo & Ataíde , de que fallaremos na Comarca do Porto- Dom Martim
Viegas de Ataíde foy o primeiro que aflim fe appellidou , por fer fenhor deftá
Torre, & Cafa, do qual defeendem > & tem o appellido as tres Cafas titulares
dos Condes de Atouguia com varonia de Camaras, & asdaCaftanheira,$c Câ£
trode Ayre,hoje unidas,& a Alcaydaria mór de Guimáraens naCofidéça Dona
Mariana'de Ataíde, mulher do Conde Simão Correa da Sylvâ,que por ella te^
veerta Cafa, & titulo , &outròs Morgados. Tem por Armas em campo azul
quatro barras de prata atraveífadas à efguelha, levantadas da parte dircita , &'
baixas da efquerda, timbre huma onça azul banhada de prata, como que falta- E
toda efta Fregueíia foy Honra dos Ataídes-
Santa Eulalia de Conftance, Abbadia do Ordinário , que rende aoAbba-
de, que leva fó huma terça, cento & vinte mil reis , &paraasFreyras daCarta-
nheira duzentos mil reis, das duas terças que lhes eftaó unidastem noventa &
feis viftnhos. Aqui ertá a Quinta do Paçç de Soutello, que foy da Rainha Dona
Mafalda, fui idadora da ponte, & do Hofpital de Canavezes. Todas eftas Fre-
guefias derte Concelho íaõ do Bifpado do Porto: as que fe feguem, pertencem
ao Arcebifpado de Braga-

Couto de dAíancellos.
\ , -

SAm Martinho de Mancellos com feu Couto, & jurifdição , que inrtituirant
Men Gonçalves da Fonfeca,&fua mulher Dona Maria Paes de Tavares no
anno do Senhor de 1120. & o deraõ aos Conegos Regulares de Santo Agofti-
nho, que o poifuíraõ atè o de 1 em que ElRey Dom Joaõ o Terceiro o deu
aos Religiofos de S- Gonçalo de Amarante da Ordem de S- Domingos por doa-
çaÕ, que confirmou o Papa Paulo Terceiro por Breve paíTado no anno de M4.2.
He Vigairaria fecular do Ordinário, rende cento & trinta mil reis , & para os
Frades com as annexasem Cerolico, cinco mil cruzados* Aífiftem nelle cinco
Religiofos com hum Vigário- Tem efta Fregueíia duzentos viíinhos.
Cou-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 131

Couto de Travança,

SAm Salvador de Travanca, Mofteirode FradesBentos>he Couto, em que


os Abbades faõ Ouvidores A aprefentão Juiz no ciVel , A Imotacel, Por-
teiro, & Coudel, Efcrivaens faõ Os do Concelho. He Caía grande, & rica,aon-
de houve Collegio por muitas vezes: foy fundado por DoínGarcia Moniz o
Gafco, que matàraõ os Mouros na conquiftàdeRibado Douro, filho fegundo
de Dom Moninho Viegas o Gaíco,nô anno do Senhor de 1008. Governoufe mui-
tos annos por Abbades, & todos lenhores grandes, como foy Rozindo Moniz
defcendente de feus fundadores, k pelos annos mais adiante Dom Joaõ de Ca-
li ro, filho de Dom Diogo de Caftro , íenhor das tçrrasHde Lanhofo , k Santa
Cruz Alcaydemór de Sabugal, ScAlfavates. Teve também Commendatarios,
& foy ultimo o fenhor Dom Fulgêncio^ filho quarto do Duque Dom Jay mes, &
dc fua fegunda mulher Dona Joanna de Mendoça, em cujo tempo o noífo Car-
deal Rey Dcm Henrique a fez renunciar com penfaõ de mil cruzados , & foy
feu primeiro Abbade triennal Fr.Domingos Teyfíeira,Religiofo de grande vir-
tude- Refidem neile Mofteiro vinte Frades: tem Cura fecular com feífenta mil
reis de renda, k toda a Freguefia conda de trezentos v ífinhos.
S. Salvador dc Real, Abbadia do Mode iro de d ravancacom referva,ren-
de trezentos & cincoenta mil reis, tem cento St feífenta vifinhos.
S. Romaó de Carvalhofa, que algum tempo fe chamou da Ermida, Vigaira-
ria, que aprefenta o Convento de S. Gonçalo de Amarante, a que he unida, ren-
de ao Vigário trinta mil reis , & aos Frades cem mil reis , tem feífenta &
cinco vifinhos. Aqui edá a Quinta, k Paço de Carvalhofa, folar dedà família,
de que fe acha noticia pelos annos de 1273. tem dado algumas peífoas grandes,
particularmente emletras: fuas Armas faõ em campo azulhum molho de palhas
de ouro, com efpigas do mefmo, entre quatro torres de prata lavradas, timbre
dous braços armados, que fahem do elmo com o molho de palhas nas maõs; k fe
entende que a quinta de Palhavã tomou efte nome , por haver fido dos deft a
família-
Santa Eulahà do Banho, a que vulgarmente chamaõ Santa Vaya , Vigaira-
ria do Mofteiro de Travanca, tem trinta vifinhos. Aqui eftá a Quinta da Tor-
«e, nome que tomou de huma antiga, que tem hoje ; tudo do Meftre de Cam-
po Matthèus Mendes de Carvalho, fenhor da Gafa de Villa-boa de Quires-
S. Joaõ de Louredo, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis , tem fe-
tcnta& cinco vifinhos. •.
Santiago de Figuêiró,Vigairaria, queaprefeiitaoReytOr deVilía-cova ,
de quem he annexa, rende oitenta mil reis, & para a Commenda cento & quin-
ze, tem noventa vifinhos. A qui eftá outra Caía,k Quinta da Torre, também
folar antigo, que dizem o era dos dOappellido de Figueiró-
Santa Chriftina de F igueiró, Abbadia da Mitra , rende duzentos k ciiv
coenta mil reis> tem cento k trinta vifinhos-
S. Pedro de Gaíde, Commenda de Chriftõ, k Rcytoria , çjue aprefenta o
Conde de Sabugal, que rende cem mil reis, k parao Commendador trezentos
mil reis, tèm cento & fetentá vifinhósi
Santo Ifidóro, Abbadia do Ordinário , rende duzentos & cincoenta mil
reis, tem cento & doze vifinhos-
• Santa
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t*% TOMO PRIMEIRO


SantaChriftina dc Toutofa, Abbadia da Mitra, rende fetenta mil reis , té
fete vifinhos- ~.
S' Juliao de Paços, ou Pacinhos, Curado do Moífeiro de Travanca , que
come o> frutos, tem doze vifinhos.
S-Veriífimo de Amarante foy Commenda delRey antes que a delie aos
Frades Dommicos de S. Gonçalo, he Parochia da Villa, Curado dos ditos Fra-
des, que rende noventa mil reis, & para os Religiofos com a annexa de Pad or-
nello em Gedaço duzentos & cincoenta mil reis, tem quinhentos vifinhos, por
entrar nella a Villa de Amarante. ,
Noffa Senhora de Fregim, Commenda de S. Joaõ de Malta, Vigairaria com
o habito, rende cento & vinte mil reis, & para o Commendador, que o aprclcn-
ta com a annexa, que fe legue, quinhentos mil reis, tem fetenta & feis vifinhos.
Aquihahuma imagem de Noíía Senhora, que por mais diligencia , que fizeraõ
antigamente, achandoa acalo a.lli , nunca puderaõ acabar com ella paraífe cm
huma Capella, que lhe obràraõ, & fe tornava para onde eftà huma grande olaya;
razaõ porque no mefmo íitio fe fez a Igreja Parochial, & inda hoje permanece a
olaya por íérvir de fombra à Senhora, como o Terebinto, debaixo do qual hol-
pedou Abraham os tres mancebos em o valle de Mambre.
Santo Adriaõ deSantaõ anne*a/de Fregim,Vigairarià com o habito de
Malta, rende cem mil reis, tem feffenta & feis vifinhos.
Santa Maria de Villar, Abbadia do Ordinário, deque levaõhuma terça os
Padres da Companhia de Braga, que lhes rende cincoenta mil reis , & cento &
feffenta mil reis para o Abbade tem fetenta vifinhos. Aqui eítá a Torre de
Villar.
S. Joaõ de Ayaò, V igairaria que aprefenta o Rey tor da Lixa, rendelhe íel-
fenta mil reis: os 1dízimos andaõ com a Commenda, tem cem vifinhos.

Honra de Filia Cahis*

Cinco legoas de Guimàraens áo pé das ferras de Abobreira , & do Monte


de Muroeftá a Honra de Villa Cahís, aquém deu foral ElRey Dom Ma-
noel em Lisboa oprimeirode Setembro de 151 y tem huma Parochia da mvo-
' caçaõde S. Miguel, Abbadia que aprefenta olenhor defla terra, je tres ermi-
das. Produz algum trigo, & azeite,Sc he abundante de águas,& dc vinhos ver-
des. Foy dos fenhores de Unhaõ,ôc Ayres Gomes da Sylva avendeo por cen-
to & vinte mil reis a Gomes dá Sylveira, que cafou com Iíabel Pinheira, dos Pi-
nheiros de Barcellos, de que teve entre outros filhos a Leonardo da Sylveira^
quefoy.fegundo fienhor deita Honra, & cafou com lfabel Teyxeira daCafa de
Cirgude, de que teve, entre outros filhos, a i ;
Antonio da Sylveira, que foy terceiro fenhor da Honra de Cahis, & calou
com lfabel Brandaõ, da qual teve, entre outros filhos,a
Francifco da Sylveira, que foy quarto fenhor da Houra de Cahis, & cafou
com Dona Maria de Leaõ Barbofa, da qual teve, entre outros filhos, a
Luis da Sylveira, que foy quinto fenhor da dita Villa, Sc calou com Dona
Maria Teyxeira de Caltellobranco, da quâl teve os feguinte s filhos.
Francifco da Sylveira, que foy fexto fenhor da dita Honra de Cahís, Sc ca-
fou com Dona Mana Cecilia de Aguiar & Albuquerque , filha de Antonio de
Carvalhal, St de fua mulher Vítona de Aguiar Cabral, moradores no lugar de
Alea-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA 133
Alcanhoensna quinta deHorta Lagoa, da qual naó teve filhos.
Frey Antonio da Sylveira,Religiofo de S- Domingos , que hoje vive ro

C0I
Frey Martinho da Efperança, que foy Frade de S. Franciíco.
Lu is Teyxeira da Sylveira, que foy Abbade da Villa de Cah 1 s.
Dona ]ofepha,&Dona Joanna Freiras de S-Clara de Amarante.
Tem efta Villa duzentos viíinhos, & rende ao fenhor delia trezentos mil
reis, com huma fingular prerogativa por Breve Apoftolico de eftar o Santillimo
Sacramento na Capella das cafa&do Donatário,& a aprefentaçao dos officios, &
Padroado da Igreja rendemaisde trezentos milreis ; vagou para aCoroa no
anno de 16 73 por morte do ultimo DonatanoErancifco da Sylveira, que mor-
reo fem filhos, & fez delia mercê, entre outras, EIRey Dom Pedro o Segundo a
Roque Monteiro Paim, cujavaronia he a feguinte.
Martim Affonfo Monteiro foy filho de Affonfo Monteiro, & netodeNuno
Martins Monteiro,bifneto de Martim Paes Monteiro, terceiro neto de Payo
Monteiro, quarto neto de E gas Monteiro, quinto neto de Ruy Monteiro, que
foy natural de Penaguião, & alem dos bens, que poffuio no dito Concelho, te-
ve o Padroado de Santa Ovaya de Andufe no Reynado delRey Dom Affonfo
•Henriques: teve o dito Martim Affonfo Monteiro de fua mulher a Fernão h
tins Monteiro, que viveo algum tempo na Cidade dò Porto, & nella foy erea-
dor no anno de 14.Ç4. & Juiz ordinário no de 14.70. foy criado da Cafa de
Bragança, feguindo as partes do Senhor Duque Dom Affonfo nas alteraçoens
delRey Dom Affonfo o Quinto com feu tio o Infante Dom Pedro, & depois co-
tinuou a mefma fidelidade com os Senhores Duques, Dom Fernando o Primei-
ro, & Dom Fernando o Segundo, & os apoí entou em Cedofeita, quando pa a-

a dita Cafa, &fizeraõ aufentar o Senhor Duque Dom Jaymes: calou na Cidade
de Évora com Ines de Pontes, filha de Salvador Antunes,& de Ifabel de Pontes,
da qual teve a Gonçalo Fernandes Monteiro , o qual teve a Diogo Fernandes
Monteiro, que foy 'Sargento mór no Terço de Dom Manoel de Caftellobranco

113
^ M^t^Fern^^es^^cm^eiK^que depois de fer Capitaò de hum dos Na-
vios defta Coroa, que foraô às Ilhas, fe retirou por caufa de hum crime para o
Couto de Palma, termo da VilladeMonforte : caiou na erade 1624.. na Villa
do Crato com Ifabel Fernandes, filha de Gil Annes de Abreu , c"jdo J0 ""
fante Dom Luis, & o primeiro Provedor da Mifencordia da dita Villa do Cra-
to, Ôt de fua mulher M aria Fernandes, da qual teve a r -
Pedro Fernandes Monteiro, que viveo na Villade Monforte, 5c cafou co
Brites LopcsFalcato,filhade Affonfo Lopes o Befteiros , natural da ViUa de
Veiros, & de fua mulher Guiomar Rodrigues Falcato, da qual teve a
Martim Fernandes Monteiro, que foy Efcudeiro da Cafa áaSephoraDo-
na Catherina Duqueza de Bragança, 6c Juiz dos Orfaos dadita V tila^Mon-
forte: cafou com Ifabel Vaz da Guerra, natural da meímaViUa,filha de Affonfo
Alvarez Manteigas, & de Anna F ernandes Pichim, naturaes da mefma Villa, da

411131
Doutor Pedro Fernandes Monteiro,o qual fendo ouvidor da Çáfa dean
Bra-
M g Ça>
134 TOMO PRIMEIRO
gança, fazia delletanta eíiimaçao o Senhor Rey Dom Joaõ o Quarto, que fioh,
delle o fegrcdo da Acclamaçaõ,& com o dito Rey paffou a Lisboa,aonde teve o
merecido valimento pelas fuas letras, & fiel fervíço da Cafa de Bragança : fuc-
ceífivamente continuou o mefmo valimento com o Principe Dom Theodoíio, a
Rainhn Dona Luiza, ElRev Dom Affonfo o Sexto , & ultimamente com ElRey
Dom Pedro o Segundo: foy do Confelho dos ditos Reys , & Defembargador
do Paço,& juiz da Inconfidência , qiíe exercitou toda a fua vida com valor,
conífancia, & fortuna, & fumma fidelidade, & foy hum dos Miniftros da Junta
do governo, que a Rainha Dona Luiza mílituío fobre todos os Tribunaes , &
para todos os negocios militares, & politicos, com o qual felizmente fe çonXe-
guio a expedição dos ditos negocios, & bom fucceffo dclles' s caiou oom Dona
Confiança Paim, natural da Villa de Veiros^filha de Roque Alvarez Franco,&
de Leonor Rodrigues Paim, (filha de pedrò Luis Paim , que fervio a Senhora
Dona Catherina,Duqueza de Bragança , com grande efiimaçaõ, & teve de
moradia cento & feífenta mil reis, numa das mayores daquelle tempo, & a lò~
grou até o da fua morte,depois de retirado por idade , & achaques paraa dita
Villa de Veiros, como coníia do Alvará,q fe paífou da dita mercê) da qual teve
a Martim Monteiro Paim, q he Clérigo de virtude, & letras, Defembargador
dos Aggravos, Deputado da Mefa da Confciencia, & Cõmilfario da Bulla dá
Cruzada,& Antonio Monteiro Paim tabem Clérigo,Deaõ da Se de Coimbra,&
do Concelho geral do Santo Officio em Lisboa, & a
Roque Monteiro Paim, que foy fucceífor da Cafa, & verdadeiro imitador
das virtudes de feu pay, & tem o mefmo trato, & a mefma confiança dos nego-
cios públicos, & particular da confervaçaõ, & efiado do Reyno: naõ feguio as
letras depois de as profeífar,& ferCollegial doCollesioReal dc Sàõ Paulo de
Coimbra, & de fer provido em huma Cadeira de Leys da dita Univeríídadc : he
do Confelho delRey, & feu Secretario, Juiz Prefidente da Junta da Inconfidên-
cia, fenhor da Villa, & Honra de Cahís por mercê delRey Dom Pedro o Segun-
do, pelos ferviçosde feu pay, Commendador de Santa Maria de Campanhaã na
Ordem de Chriíio, &. fenhor dos Concelhos de Refoyos, & Maya : cafou com
Dona Joanna Francifca de Menezes,filha de Lourenço de Mello & Sá,& de fua
mulher Dona Bernarda Michaelada Sylva,dequeteve a Pedro Fernandes Mo-
reira, lenhor da Cafa de Alva, que morreo folteiro, a Dona Leonor de Vilhena,
que faleceo de dezafeis annos eiiando defpofadacomD. Joaõ Diogo de Ataí-
de, filho legitimo dos Condes de Atouguia 5 a Dona Confiança Luiza Paim, q
hoje vivecafadacomodito Dom Joaõ Diogo de Ataíde, Sargento mór de Ba-
talha; a Do na Maria Antónia, & Dona Leonor, ambas folteiras.

CAP. XXVI.

da Villa de Canaveses.

NO Bifpado do Porto, oito legoas deíia Cidade para oNafcente,tem feu


affientoaVilla de Canavezes,que Eífaço,& outros dizem fer Behetria,
fundaçaõ da Rainha Dona Mafalda, filha delRey Dom Sancho o Primeiro,& mu-
lher, que foy delRey Dom Henrique o Primeiro de Caílella , o que morreo da
1. - telha,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 13J
telha que lhe deu na cabeça no anno de . tt7.de quem feapattou por parenta,
Sc neftellcvno fez muitas fundaçoens, A Rainha Dom Mafalda lua avo tinha
doído £'feito humHofpital para nove paffageiros, & peregrinos terem nolle
a -afalhó c6 todo o fuftéto,8c regalo poífivel,& fe alli morreffem, lhe diriao tre
Mtffas & entre as mais rendas,que lhe umo,&hoje nam palTadecineocntamil
-cif fáó as portagens da ponte, que cila também fundou com ameyas, obra ma-
«eltofa & entendemosque fecobraó de alguns géneros decouías emeonhe-
chnento do quehouveraõdedàr ao barco, fenaõ houvera ponte , &he erro de
qímáíribucefta obra a fua neta : fez a Igreja de Santa Maria de Sobre Ta-
mpada parte do Norte do rio; mda q alguns oattribuem a fua avo a Rainha
nona Mafalda mulher delRey Dom Affonfo Henriques,implicando os Autho-
res huma com outra, o que naõ decidimos; fuppollomc parece mais juí ífica-
da a opíiaõ de ler obra da avó, & mó da neta, como confia de feujeftamen o,
que Brandaó aponta na Terceira Parte da Monarchia Lulitana. Tudc admin

an eftâ"ViUa í^em^vifinhos^huiíjuiz Ordinário,que o (je também dos


Órfãos, por pelouro, Sc eleição de tres em tres annos,Vereadore.sProcu-
rador Almotaceis,confirmaõ-os os Adminiílradores doHofpital, & Tabe-
liaens que fervem em publico ,& Orfaòs, St naCamara, Sc dirtribuiçao por gy-
ro, cada hum feu anno, Sc pelo mefmo modovao ao Couto de Tuvas,
jnr niftribuidor Sc Contador, Sc Efcrivao das Sizas , aprelenta-os ElRey.
TehVebaáSnzc do íez,&=m dia deS- Nieolao huma, que dura tres d,as,
cm que fe vendem porcos, os melhores que ha nerte Rey no, Sceifltanta quan-
tidade, que naõ fóabaftaõ elta Provincia, mas muitas mais terras; & tem mus
outra feira no dia de Santa Luzia , de toda a coufa mercantil. - Produz ballan-
teoaó azeite, vinho de enforcado, caftanhas,&cem muitos gados, pefeas no
rfo^&caças no monte. Ha.fórada ViUaaCafadps Peffoas , & <>^a quefez
■ loao Correa dc Soufa. O Termo feçompoem dc duasFreguefiasdaquem , &
ílalém do Tamega, Sc faõ as feguiíites.
S.Nicolao 5eCanavezes,Curado annexo de Fornos em Tuyas,com quem
fe arrenda em cento & trinta mil reis, Sc para o Cura feffenta mil reis , tem cem

VlíinI
Santa Maria de Sobre T amega, àquem defte rio , Abbadia que aprefentaô
os Admimrtradores do Hofpital, rende duzentos mil reis , tem noventa vifi-

Couto de Tuyar.

O Salvador de Tuyas parte com Canavezçs ; aCoiideça Dona Urraca Vie-


gaJmulher do Coihe Dom Vafco Sanches, & filha de Egas Moniz ,fon*
dnnaauiefte Morteiro, que iá eraParochiaem tempo de fua may Dona Tarefa
AfcnfOj CCimoconftadadoaÇiiõ, que ella fez, Stfe guarda no Convéto de Arou,
ca- o que devia fer para nelle recolherfe depois de viuva de feus dous maridos ,

âvivia pelos annos deif?4-emS feu fobnnho Dlo§° dc Magalhaens Fícudeiro


fidalgo aprefetòuem i9-de Agoftoalgreja de S-Mameoede Manheve^hoieMa-
nhucellos no Concelho de Bem-viver, por procuração que tinha lua j andou ei-
te Padroado nos fucceffores da fundadora ate Dona Chamoa
M 11 Gomes fua b
i TOMO I?RI M9JAO •;
ta, mulher de Dom Rodrigo For jas , quevendofõ atracada com o Bifpo do
Porto fobre a fundação do Maffei ro de Santa Clara do Torrão Entre ambos os
rios, além de outras coufas, que lhe largou, çomofoy o Padroado deífe Mof-
teiro, por ella nam ter filhos, o qual depois fe extinguio, unindofe ao Convento
das Freyras de,S. Bento da Cidade do Porto, aonde fe recolherão as ultimas,
qucallihavia,&nuncafoydeMongesBentos , como erradamente dizem o
Arcebifpo Dom Rodrigo da Cunha, & Lavanhá, que ofegue. Entendemos que
a meíma fundadora lhe fez Couto, por fer a fuafamilia por aqui bem herdada;
o como o perderão as Freyras, naõ ie fabe: he hoje delRey com Juiz Ordinário,
que também ferve nos Orfaõs,feito pelo povo,com Vereadores,Procurador,^
mais Juíficas, que todos confirma o.Corregedor de Guimaraeus : os Efcrivacs
faõ osmefmos da Vtila de Canavezes, que tem huma Companhia .da Ordenan-
ça, em que entrao os moradores deile Couto. Tem feira na fegunda fell a feira
da Quarelma, que dura quatro dias, he couía grande. No mcfmo lugar,em que
eileve o Moííeiro, eífá agora a Cafa de Alvaro PeíToa de Carvalho, que ha pou
cos annos faleceo, & a Igreja fe mudou mais para cjma, he Vígairaria boa /ren-
de cem mil reis, & para as Freyras, que a aprelentaõ, com as annexas , trezen-
tos pt "cincotnta mil reis: tem cem vifinhos.
S- Miguei de Rio de Galinhas, Curado que aprefenta o Vigário de Tuyas,
de quem he annexa, tem quarenta &tres Vifinhos.
Noífa Senhora do Freyxo, Curado da meíma aprefentaçaõ „tem fetenta &
fetev.ftnhoíj.
Santa Marinha de Fornos, Abbadh. da Mitra,he Matriz de Canavezes, &
com a annexa de S. Nicolao, que tem naquelia Villa, rende trezentos mil reis,
tem fetenta & cinco vifinhos •

I • • . * ' . . rh ; , w« oi
CAP. XXVII. "
1 n\ > 3D OS lo:. 'V
T>o Concelho de (jouvea de ddjbaTaniega.

fí. . \ íri/fj '.i'rrE'r. ■ •


NOve legoa^do Porto para o Nafcente eífá a(ponte dçS.;Q$^alo de,Ama-
rante fobre o Tamega, & deixando da parte do Norte eíia VUla, tem da
banda dalém dous povos grandes, que faõ cabeças dos dous Concelhos de Geí-
taço,&Gouvea : deite he fenhor Fernáõ de Soufa , cujavaroniahe afeguin-
te.
Martim Aífonfo de Soufa, filho natural de Dom Martirn AffoiSfo/de Sóufe
Chichorro, (que era filho de Martim Aífonfo Chichorro, & neto delRey Dom
Aífonfo II I.de Portugal) houve em D. Aldonça Rodrigues de Sá, filha de Ro-
drigo Annes de Sá, entre outros filhos, a ■<
Martim Aífonfo de Soufa, que cafou com Violante Lopes de Tavora t fi-
lha de Pedro Lourenço de Tavora fenhor do Mogadouro, & Repoíteiro mór
delRey Dom Joaõ o Primeiro, & de fua mulher Dona Beatriz Annes de Alber-
garia, de que teve, entre outros filhos, a
Fernão de Soufa, que foy O primeiro fenhor de Gouvea, & A leayde mór de
Montalegre, & Portel: cafou com Dona Mecia de Caítro, filha de A lvaro Gon-
çalves de Ataíde, primeiro Conde de Atouguia , & de fua mulher Dona Guio-
mar
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. *3?
mar de Caftro, de que teve,entre outros filhos,a
Antonio de Soufa, que foy fenhor das terras de feu pay. & caiou comDo
na Branca de Vilhena.filha de Diogo de Azevedo, fenhor de Aguiar, S-João de
Rey, & outras terras, ôc de fua mulher Dona Maria de V ilhena Coutinho , cie
que teve,entre optros filhos,a i .. ^ r_
Fernão de Soufa, que foy. íehhor das terras deTeu pay, & cafoucom Dona
Felippa de Mello, filha de Duar te Peixoto, fenhor de Penafiel, &. do Concelho
delRey Dom Manoel, Sc de fua mulher Dona Joanna de Mello, de que teve,entre
outros filhos,a „ , , , r , r
Martim Affonfo de Soufa, que foy fenhor das terras de feu pay , & caiou
com Dona Joanna de Tovar, filha de Vafco Fernandes Caminlia, Alcayde mor
de Villa-viçofa.&Commendador de Santo Andre de Villa-boa , & c.e lua mu-
lher Felippa Mendez de Carvalho, de que tevç.entre outros fiffios.a
Fcrnaõ de Soufa, q foy Governador de Angola : cdfou fegunda vez com
Dona Maria de Caftro, filha de D. Simaõ de Caftro, fenhor de Rens, & Reiende,
& de lua mulher Dona Margarida de Vafconcellos, de que a
Gonçalo de Soufa, que morreo fem cafar , & foy Soldado de grande nome
nas Armadas em Flandes, &em Africa;aThomè de Soufa , em quem conti-
nuaremos efta Caia; a Diogo de Soufa, que foy Deputado da Meia da Conicic-
cia, do Concelho geral do Santo Officio, Btfpo eleito de Leyria , & depois Ar-
cebifpo de Évora, Prelado de grandes virtudes, & leiras; a MartimAftonío cie
Soufa, que morreo na Índia; a Gafpar de Soufa, que morreo pcleqando valero-
famente com os Turcos, & Simaõ de Soufa , ambos Religiofos de S- João dc

^^Thomè de Soufa, filho do fobredito Fernão de Soufa , & de fua fegunda


mulher Dona Maria de Caftro , herdou a fua Caía por morte de leu irmaõ
Gonçalo de Soufa: foy Meftre fala* & Trinchante delRey Dóm João oQuarto,
Veador da fua Gafa, ôcCommendador na Ordem de Chnfto, fidalgo de grande
valor, honra,&generofidade: cafoucom Dona Francifea Coutinho , filha de
Dom loão dc Caftellobranco,( que era filho do Conde de Sabugal, Dom Duar-
te de Caftellob ranço) & de fua mulher Dona Cecília de Menezes, que crà filha
dc Dom João Coutinho, Conde de Redondo, por cujo cafamento herdou feu ffi
lho Fernão de Soufa grande parte da fuaCafa. Teve efteThomè de Soufa de
fua mulher Dona Francifea Coutinho os filhos feguintes: Fernão de Soufa, D.
João de Souía, Bifpo do Porto, & hoje Arcebiipo de Braga, ( de cuja virtude,
qualidade, & letras fizéramos particular elogio, fe nam temêramos offender a
fua mcfdeftia, publicando feus merecimentos, que nam cabem na brevidade de-
fte volume) Dona Cecilia, Dona Maria,& Dona Ifabel, Rehgiofas noMoftei-
ro de S.Martajde Lisboa. . •,
Fernão de Soufa he fenhor de Gouvea, & das V Olas de Figueiro, & Pedro-
oão, Alcayde mór de Villa-viçofa, Commendador.ôc Alcayde mor de Meffejana,
' Veador dos Reys Dom Affonfo o Sexto, & Dom Pedro o Segundo , & Cava-
lheiro âe grandes virtudes: cafou com Dona Luiza de Portugal, fenhora de
orande entendimento, & de muita virtude, filha dos Condes de Sarzedas Dom
Rodrigo da Sylveira,& Dona Maria de VafconCellos , da qual teve a Thome
de Soufa, Rodrigo de Soufa, Felippe de Soufa, ConegO da Séde Lisboa , Joaõ
de Soufa,& Gonçalo de Soufa, Diogo de Soufa, Dona Maria Rofa de Noronha,
Dona Francifea&£)ona Cecília, Religiofâsno Mofteiroda Annuneiada em
Lisboa, Dona JJoanna de Soufa, & tres mais, que morrerão meninas.
M iij Thomõ
.i3» TOMO PRIMEIRO *1.0: A
Thomé de Soufa he herdeiro da Cafa de feu pay , V eatlor ddRey Dom
Pedro o Segundo , & Cavalheiro de muitas partes ; caiou eom Dona Magda-
lena de Noronha, fenhora muy virtuofa, & adornada de relevantes prendas, fi-
lha dos Condes dos Arcos, Dom Marcos de Noronha & Brito, & Dona Maria
JofephadeTavora,daqual temaDona Maria Francifca deNpronha , Dona
Luiza Xavier de Noronha, & Fernão de Soufa,que morreo menino.
Tem efte Concelho ]uiz ordinário, eleição do povo por pelouro de tres
em tres annos, com dous Vereadores, & Procurador do Concelho, tres Tabe.
_ liaens, Juiz dos Orfaõs, a que anda annexoDiftribuidor, Enqueredor, & Con-
' tador, Efcrivão dos Orfaõs, tudo aprefentação dos fenhores defte Concelho,
- Efcrivão da Camara, & Almotaçaría, & Efcrivão das Sizas com ordenado no
Almoxarifado ue,Villa Real, ambos data delRey; não ha Meirinho, nem Alcay-
de. Tem feira aos i y. do mez, & duas Companhias com Capitaõ mor feito pe-
lo povo : fazem aqui1 louça de fogo, & agua 5 tem muitos gados, azeite, caita-
iiha, nozes, & frutas, pouco vinho, & menos pão, pefcas no Tamega , de lam-
preas,'trutas, b(%as/efcallos, & barbos,& no rio da Ovelha boas trutas,& mais
peixe; confia das Fregueíias feguintes.
Santa Maria de Cepellos, Abbadia do Morteiro de Pombeiro com referva
do Ordinário, rende cento&cincoentamil reis , tem cento vinte &• tres vifi-
nhos. Além da Cafa dos fenhores defta terra, ertá nerta Freguefia a do Morga-
do de FontelLas do appellido de Queirós, & Vafconcellos , deque foy íenhor
Manoel Mendes de V afconcellos , fobrinho do V alerofo Antonio de Queirós
Mafcarenhas, Capitão de Cav alios neíta Província, & irmão de Mendo Rodri-
gues de Vafconcellos, Capitão de infantaria.
S- Pedro da Lomba, Abbadia do Ordinário, rende cento & vinte mil reis,
tem oitenta vifinhos. <
S. Salvador do Monte, A bbadia do Padroado Real, rende trezentos mil reis,
tem cento letentaôc cinco vifinhos.
S. Martinhode Aliviada, Abbadia dò Ordinário, rende cem mil reis, tem
trinta & dous vifinhos.*
S. André da Varzéá de Ovelha, Abbadia do Marquez de Arronches, & do
Ordinário, rende quatrocentos mil reis, tem duzentos & fete vifinhos.
S. Joaõ da Folhada, Abbadia do Ordinário, levão os Padres da Compa-
nhia do Porto ametade, que importará cem mil reis, & ao Abbade cento & cin-
coenta mil reis, tem cento vinte & tres vifinhos. Aquinafceo o Santo Fjr- Gon-
çalo Dias de Amarante, Religiofo Mercenário em índias de Caítella, cuja vida
cfcreveo Fr. F elippe Columbo*
S.Simão de Gouvea, Curado dos Conegos de Saó João Evangelifta da Ci-
dade do Porto,que lhes rende trezentos mil reis , & para oCura cincoenta
mil reis, com feis mil reis de ordenado: tem cento & dezafeis vifinhos , huma
Ermida deN- Senhora do Campo, & outra de S. Domingos.

Couto de Taboado.

O Salvador de Taboado foy Morteiro antigo de Conegos Regrantes de San-


to Agoftinho. Delle forão Padroeiros os Farias de Joaõ de Faria, Com-
mendador de Travanca na Ordem de Chrifto,Embaixador .delRey Dom Manoel
. duas vezes aos Papas Leão Decimo, 6c Adriano Sexto,& ao Emperador Carlos
Quinto
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 139
Quinto por ElRey Dom JoaÕ o Terceiro' fobre feu caíamento y ScChanceller
rnór do Reyno : a Igreja he fagrada, paíTou à Abbadia fecular , que aprefentam
os fidalgos Montes-negros, do appeliido de Correas, ScSoufas,que em todo
o tempo deu grandes homens para as armas, Sc poli ticas: íao íenhores das Ca-
ías dcNovocs, Sedada Pena. Eíla Freguefiahe Couto , que ja o deviaíer .do
Moífeiro; o Abbadeheíenhor, St Ouvidor , quecom opovotaz Juiz ordiná-
rio annual no Cível, St dos OrfaÕs, os Efcrivaés faõ os do Concelho, a que to-
ca o crime, rende quatrocentos mil reis, tem cento Sc doze Vifinhos , oc citas
Ermidas, Santa Maria do Outeiro, Santo Antonio, Sc S. Lourenço. As Fregue-
íias deííe Concelho,Sc Couto íaõdoBilpado do Porto.

CAP. XXVIII.
TM ■ ff y
»
T)o Concelho de Çejlaço.

Continuando do Concelho de Gouveapara oNafcentefetopacom oCõ-


celho de Geffaço, a quem deu foral ElRey Dom Manoel em Lisboa aos 1 y.
de Mavo de 1 y 1 +■ tem Juiz ordinário , eleição do povo por pelouro de tres
em tres annos,a que prefidé o Corregedor 'de Guimaraens : neilafazem dous
Vereadores Sc Procurador, Efcrivaõ da Camara, Sc Almotaçana , tres do J u-
dicial Sc Notas, Juiz dos OrfaÕs com feu Efcrivaõ, Sc outro das Sizas com or-
denado no Almoxarifado de Villa Real,Enqueredor,DiftnUiidor,St Contador,
tudodata delRey, Sc Meirinho, que he Carcereiro. Tenures Companhias com
Capitaõ mor, Sc Sargento mór, feira no primeiro dia do mez, muita caça no Ma-
raõ, baftante pefca noTamega, rio Dolo,Sc da Ovelha, gaaos, mel, Sc cera, mui-
ta caftanha,Scnozes, pouco paõ, Sc vinho, cal nam tam branca como a1 mais do
Reyno, mas melhor para argamaça, reboques, Sc telhados, porque caldea bem.
Fov primeiro íenhor deftc Concelho, fegundo alcançamos, o Infante Dom Pe-
dro, Conde de Barcellos, que compoz o livro das Linhagens ; deu-lho ElRey
Dom Diniz feu pay em 1 y* de Setembro de 1 $06• para elle, Sc ícu> dei cendentes
legítimos; como os nam teve, vagou para a Coroa. El Rey Dom Joaõ o Primei-
ro fez mercê delle a GilVafques da Cunha feu Alferes mor , terceiro filho de
Dom Vafco Martins da Cunha, feiíhor daTaboa,Sc das Villas de Pinheiro, An-
aeia Sc Bempofta, o qual contava fete illuftres avô s atè Dom Guterre, em que
começa o Conde Dom Pedro eíla família, Sc era eíle Dom Guterre dos antigos
Condes de Lernia, Sc Traftamara,defcendente dos Godos- Elie G" Vafques da
Cunha fe paíTou a Caílella, aònde foy fenhor das Víllas de Roa, Sc Mancilha, Sc
voltando a Portugal foy fenhor de Bailo, Sc Monte- longo : cafou com Ifabel
Pereira, filha de Alvaro Gonçalves Pereira, Prior do Crato, Sc irmaã do grande
Condeílable Dom Nuno Alvarez Pereira, de que teve, entre outros filhos , a
Toaõ Pereira Agoílim,que foy hum dos doze que foraõ com o Magriço,
a Inglaterra,Sc fe chamou Agoftim por matar naquelfe Reyno a hum Inglez dei -
te nome :foy homem de grande.valor, St cafou com li abei Fernandes de Moura,
filhade Alvaro Gonçalves de Moura, fenhor de Moura, Sc Portel, Scoutras ter-
-ras** Sede fua mulher Dona-Urraca Fernandes, fenhora da Azambuja , deque
XT 11 nn
i4o TOMO PRIMEIRO ;q:>
Nuno da Cunha, que foy fenhor de Gertaço,& Penajoas , & Camareiro
mór do Infante Dom Fernando, filho delRey Dom Duarte : caiou com Dona
Catherina de Albuquerque, filha de Luis Alvares Paes, Mertre-fala delRey Dõ
AfFonfo o Quinto, & de fua mulher Dona Therefa de Albuquerque, de que te-
ve,entre outros filhos,a
Triftaõ da Cpnha, que foy Camareiro mór do Duque de Vifeu D- Diogo,
irmão delRey Dom Manoel, & Embaixador a Roma defte Rey., aonde o elegi aõ
General das armas da Igreja em huma i\ rmada contra os Turcos , & não acei-
tou erte porto por fer Embaixador: cafou com Dona Antónia Paes, filha de Pe-
dro Gonçalves, Secretario delRey Dom AfFonfo o Quinto, &: de fua mulher D*
Leonor Paes, de que teve,entre outros filhos,a
• Nuno da Cunha, que foy fenhoídas terras de feus pays , Commendador
de Fonte Arcada na Ordem de ChriíFo, V eador da Fazenda delRey Dom Joaõ
o Terceiro,& Governador da India, em que fez tam raras acçoens , que mere-
ceodos Hiíioriadore^o nome de Grande: cafou fegunda vez com Dona Ifabel
de Vilhena, filha de Nuno Martins da Sylveira, Mordomo mór^da Rainha Dona
Leonor, & de fua mulher Dona Felippa de Vilhena, de que tevê a
Joaõ Nunes da Cunha, que foy fenhor de hum Morgado , que fua may
inrtituío,& cafou com Dona Felippa de Mendoça, filha de Manoel Corte-Reaí,
fenhor das Ilhas,Terceira, & S- Jorge, do Concelho delRey Dom Manoel , &
de fila mulher Dona Brites de Mendoça,de que teve,entre outros filhos,a
Nuno da Cunha, que cafou com Dona Leonor de Soufa, filha herdeira de
Jacome de Soufa, fenhor de Santo Ertcvaõ da Beira," & de fua mulher Dona Ma-
ria de Refoyos, de quem teve, entre outros filhos, a
Joaõ Nunes da Cunha, que foy Commendador de S.Vicente da Beira na
Ordem de ChriíFo, èt cafou com Dona Vicencia da Sylva , filha de Henrique
Correa da Sylva, Alcayde mór de Tavira, & Governador do Algarve com ou-
tros títulos, & de fua mulher Dona Maria de Menezes, de quem teve a
Nuno da Cunhd, que morreo afogado em hum Galcaõ da Armada, em que
hia por'Capitao Dom Antonio de Menezes: cafou com Dona Francifca de Lima,
filha de Joaõ Gonçalves de Aíaíde, Conde de Atouguia , & da Condeça Dona
Maria de CaíFro, de quem teve, entre outros'filhos, a
Joaõ Nunes da Cunha, que foy fenhor da Cafa de feus pays , & primeiro
Conde de S. Vicente: cafou com Dona Ifabel de Borbon, filha de Luis de Lima
& Brito, primeiro Conde dos Arcos , de fua mulher Madama Vitoria Ca-
pella de Borbon, defeendente dofangue Real de França , de quem teve , entre
outros filhos, que morrerão, a
Dona Maria Caietana de Vilhena & Cunha, filha herdeira da Cafa de feus
pays, que cafou com Miguel Carlos de Tavora, Almirante , & General da Ar-
mada Real, do Concelho de Guerra delRey Dom Pedro o Segundo, & hum dos
Cavalheiros de grande valor, entendimento, & gencrofidade, que por eíFe ca-
famentohe fegundo Conde de S- Vicente: tem os filhos feguintes-
Joaõ Alberto de Tavora & Cunha, Manoel Carlos de^Tavora, que he Ca-
pitaõ de Infantaria na CorteJ Dona Archangela Maria de Tavora , que cafou
.com TriíFaõ da Cunha & Ataíde, fenhor de Povolide, Dona Ifabel de Tavora,
que foy Dama da Rainha Abaria Sofia de Baviera, a qual trocando os mimos da
Cafa Real pelos jejuns, cilícios, & mortificação da Religião, fe meteo Freira no
Morteiro de Santo Alberto de Religiofas Carmelitas Defcalças , deixando às
illuftres Virgens vivos exemplos defuamodertia , & a feus pays (que a ama-'
vaõ
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 141
Vaõ muito) grandes faudades.; Dona Vitoria deTavora, cjaecafou com Dom
Rodrigo Telles Caílro Meneze, Sc Sylveira, Coade.de Unhap, Dona Ignacia de
Tavora, Sc Jofeph de Tavora-
João Alberto deTavora & Cunha, filho herdeiro delia illuílre Cafa,he ter.
ceiro Conde de S-Vicente em vida defeupay icafoucom Dona Bernarda deTa-
vora, filha de Antonio Luis deTavora, quarto Conde de S. João da Pefqueira>
Sc fegundo Marquez de Tavora, Sc da Marqueza Dona Leonor Maria Antónia
de Mendoça.
Tem eile'Concelho as Freguefias feguintes , que laõ do Arcebifpado de
Braga, Sc fó huma he do Bifpado do Porto.
Santa Maria de Gundar, Com menda de Chriílo,ScReytoria da Mitra, que
rende cem mil rei •, Sc para o Commendador com annexas,Sc fabidos quinhentos
mil reis, tem duzentos vifinhos. Foy Morteiro de Freyras de S- Bento : na fa-
mília dos G undares fe diz, que Dona Tareja Lourenço, filha de Lourenço Me-
des de Gundar, Sc neta paterna de Dom Mem de Gundar, foy Abbadeça de Gú-
dar. Tinha fubditos outros dous Moíleiros de Freiras, que vinhaõ aos Capítu-
los, que neíle fe faziaõ,por naquelles tempos não haver ciaufura. Aqui he tra-
dição, morou, foy fenhor, Sc teve fua Cafa folariega D. Mem de Gundar, tron-
co delia família, Sc da de Motas, fidalgo Aíluriano,muito honrado ,* que veyo
como Conde Dom Henrique.
Santa Maria Magdaleni de Covello,entendo foy hum dos dous Moíleiros
fubditos ao de Gudar, he VigairariaannexaaeílaCommenda, que apreíentao
Reytor: tem trinta St feis vifinhos»
S. Salvador de Lufrey, VigairariadamefmaCommenda,tem cento Sccin-
coenta vifinhos. Foy Moíleiro de Freyras Bentas fubditas ao de Gundar, nam
alcançamos quem o fundou, fem duvida feriãõ os Gúudares. Daqui era natu-
ral Frey Domingos,Frade leigo da Obfervancia, da Província de Portugal,que
faleceo com opinião de Santo em S. Francifco de Lisboa pelos annos de 1 ójz.
S. Martinho de Carvalho de Rey, Vigairaria da meíma Commenda , tem
cincoenta vi finhos.
Santo André de Padornello, Curado do Convento Dominico de S. Gon-
çalo de Amarante ,tem vinte vifinhos. Aquinolugar de Mór Milheiro eílá
huma Tprre, aonde dizem morava Dona Loba Mendez, filha de Dom Mem de
Gundar, Sc mulher que foy de Diogo Bravo de Riba de Minho.
Santo EílevaÕde Villachãa, Abbadiada Mitra, que rende com a annexa
feguinte duzentos Sc cincoenta mil reis, tem oitenta vifinhos.
S. Martinho de Carneiro, Vigairaria annexa de Villachãa , tem feíTenta
vifinhos. Povoou eíle lugar de Carneiro ao pé da ferra de.feu nome duas le-
góas da Villa de Amarante, Martini Carneiro, Monteiro mor delRey D- João o
Segundo, Sc progenitor defla illuilre, Sc antiga família, da qual faõ os Condes
da Uha do Príncipe, cuja varonia he a feguinte.
Joaõ Carneiro foy Cidadão do Porto , Sc dizem todos que era Francez,
defqendeote dos Duques de Monton em França, que tem por A rmas em cam-
po vermelho huma banda de azul, Sc ouro com tres flores de Liz de ouro en-
tre dous Carneiros de prata paflantes, armados de ouro , timbre hum dos
Carneiros,Scfaõasmeímasde que ufaõos Condesdallha : caiou eíle Joaõ
Carneiro com Cathenna Fernandes, filhade João Fernandes Sotomayor , do
qual teve a
Antonio Carneiro , que foy homem áe grande eílimação no tempo dos
Reys,
t t TOMO PRIMEIRO
Róvs, Dom João o Segundo, Dom Manoel, & Dom João o Terceiro, & Secre-
tario dos dous últimos,Capitão da Ilha do Príncipe , Commendador de Cem
foldos, do Marmelar,&de outras mais Commendas na Ordem de Chnfto . ca-
fou com Dona Beatriz de Alcaçova, filha de Pedro de Alcaçova, Efcnvao da t a,
zenda dosReys Dom Affonfo o Quinto, & Dom João o Segundo , & de lua
mulher Leonor Alvarez, de quem teve, entre outros filhos, \ .
FrancifcoCarneiro, quefoy Secretario delReyDom João o Terceiro, &
do feu Confelho,Capitaõ da Ilha do Príncipe , & lenhor daCala tie leu pay:
calou com Dona Meei a da SyWeira,tilhade Garoa de S™la &XcomSfo
dente de Lisboa, fem appellação nas caufas do governo delia , & do Conielho
delRey Dom Manoel, à de íua mulher Dona Beatriz cia Sylveira, de quem.teve,
enUC
Luiz Carnemo,aque foy fenhor da Cafa de feu pay,Commendador de Fol-
ques, lenhor das Villas de Alvâres, Sylvares, & Fayaõ, & do Confelho delRey
Dom Feliupe o Terceiro: cafou com Dona Leonor de Aragao , filha de Dom
Fradique Manoel, fenhor de Tancos, Atalaya, & outras terras , & de íua mu-
lher 1 ona Maria de Ataíde, de quemteve a Franciico Carneiro, que foy lenhor
da Cafa de feus pays, & cafou com Dona Lourença Mafcarenhas , filha de Dom
FernandoMafcarenhas, Capitaõ de Arzilla, & de lua mulher Dona Fekppa da
Sylva, de que teve,entre outros filhos, a Luis Carneiro , que íoy o primeiro
Conde da Ilha do Principe, & tafou com Dona Mariana de Faro, filha de Dom
Fernando de Faro, & de íua mulher Dona I fabel de Luna & Carcome , cie que
teve filho único* Francifco Carneiro, que he fegundo Conde da Ilha do I rinci-
ne & Capitão mor da Capitania de Noífa Senhora da Conceição no Rio cie Ja-
nevro: cafou com Dona Eufrazia Felippa de Noronha.filhadeDom Francilco
de Soufa, primeiro Marquez das Minas, & da Marqueza Dona Eufrazia de Vi-
lhena , de que teve a Antonio Carneiro de Souia , Jofeph Carneiro , Diony fio
Carneiro, Pedro Carneiro, Manoel Carneiro, Dona Mariana de Faro , Dona
Catherinade Noronha, Dona Felippa, DonaTherefa,Freiras no Moíteiro do
Sacramento de Lisboa* .
S- Mamede de Buftello, Abbadia da Mitra , rende duzentos & cincoenta
mil reis, com a annexa feguinte, tem cento & quatro vifinhos.
S.Payo de Anciães, Viga irar ia annexa à Igreja de Buftello, tem oitenta &

S. Chriftovão de Candomil, Abbadia do Mofteiro de Caràmos , com re-


ferva do Ordinário, rende duzentos mil reis, tem oitenta & quatro vifinhos.
S- João da Varzea, Vigairaria do Mofteiro de Caramos, tem vinte & cinco

VlíÍn
s?í fidoro deSanche, Vigairaria das Freyras da Conceição de Braga , tem
trinta & cinco vifinhos. r x* n ■ j r?
Santa Maria de Jazentehedo Bifpado do Porto, foy Mofteiro de Freyras
antigamente, & nelle Abbadeça DonaConftança Martins Frazao, filha de Mar-
tini Frazão, a qual de Martim Gonçalves Leitão , terceiro Meftre da Ordem
de Chrifto, eleito no anno de 1327* &falecido no de 1335. teve a Dona Leo-
nor Martins, mulher de Gonçalo Paes de Meira. PaíTou a Abbadia fecular ,que
aprefentão os Bifpos do, Porto, rende duzentos & cincoenta nnl reis , tem qua-
torze vifinhos.
Honr&
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 14,

Honra de Ovelha, quep

HE delRey com Juiz Ordinário.» que também he dos Õrfaõs,com Verea-


dores, & Procurador por eleição do Povo , que confirma o Corregedor
de Guimaraens, dous Efcrivaens, hum do Publico , Camara, Sc Almotaçaria ,
outro do mefmo Publico, & Orfaõs, huma Companhia da Ordenançaibgeita ao
Capitaõ mór de Geífaço- Recolhe pouco paõ, menos vinho, caífanha , muitos
gados, Sc caça nas ferras do Maraõ, & algum peixe no rio Ovelha : tem as Fre-
guefías feguintes-
Santa Maria de Bobadella, Vigairaria do Cõvento de Pombeiro , em que
aprefenta hum Religiofo com doze mil reis, St ametade dos frutos, St fabidos,
que lhe rendem cento & quarenta mil reis > Sc â outra ametade para a Congre-
gação de Tibaés importa oitenta mil reis,com a ereéfa feguinte.
S. Pedro de Canadello, Curado ereélo de Bobadella, tem vinte & cinco vi-
finhos.

CAP. XXIX.

T>a Filla de Amarante.

Cinco legôás de Guimaraens, entre o Nafcente,St Meyo dia , eífá fituada


da parte do Norte do rio Tamega a Villa de Amarãte, por cujo meyopaíTa
outro regato maispequeno chamado Locía,&. o Relias à entrada , ficandolhe
defronte além do Tamega os Concelhos de Gouvea, St Geífaço. Foy fundada
pelos Turdetânos da Lufitania ^Sò-annosântes davindadeChriífo, cujo pri-
meiro nome fe ignora, atè que Aniarãto,illuíf re Capitaõ Romano,a amplificou,
Sc lhe poz o feu,quc hoje tem, mudada a ultima letra O em E. Com a inconíf ã-
cia de varias fortunas fe foy defpovoando, Sc ficou campo razo, aonde S- Gon-
çalo pelos annos do Senhor de 11 f o • fundou huma pobre Ermida, em que fez
penitencia, na qual feu corpo eífá fepultado, refplanaecendo com infinitos mi-
[agres, por cuja câufafe povoou de novo elfa Villa, que teve principio emhuas
eífalagens, Sc çafas de Romeiros, St eífaseraõfó duas, que eraõ daCollegiada
de Guimaraens; Sc fuppoífo que nam fejaõ hoje eífalagens, fenaõ cafas particu-
lares, ainda faõ da md ma Igreja, St fe lhe paga por ellas certa renda de dinhei-
ro, Sc galinhas, Sc ainda diz o livro do recibo, cafas com feus quintaes, que faõ
eífalagens, de q fe foy eltcndendo a Behetria, que a devoção dos fieis, q vifitaõ
o fepulchro deS- Gonçalo, por favorecer a feus devotos com os feus muitos mi-
lagres,foy caufa de le dilatar em povoaçaõ grande,para vir a fer V illa, que fup-
poífo naó heacaífellada,Sc murada, tem Juiz de fora, Sc voto em Cortes-
Eífava aErmida, que S, Gonçalo fundou, no deítriéfo da Freguefia de S.
Veriílimo, que era Igreja Parochial, aonde os Rel/giofos de S. Domingos prin-
cipiàraô ó feu-Convento,em que refidem trinta FradesjSc a Rainha D- Catheri-
na, mulher dclRey'Dom João oTerceiro, lhe deu a Jgreja de Saõ Veriífimo no
anno
j44 TOMO PRIMEIRO
anno de i ff 9- com que defde efte tempo perdeo o feu primeiro nome,& fe cha-
ma de S. Gonçalo, & faõ os feus Frades Parochos daquella \ ília, a qual tem hu
Mofteiro de Freyras de Santa Clara íogeitas aos Religiofos de S_Francifco,
que f undou a Rainha Dona Mafalda , filha delRey Dom Sancho o Primeiro de
Portugal, para Religiofas da Ordem de Cifter, & por íer o fino afpero , & fra-
gofo, o fez War ao que efta Ordem tem na Villa de Arouca,o qual ella reedi-
ncou, deixandoo tam amplificado, como hoje fe vè, debaixo da obediência da
dita Congregação. Do tempo, em que a Ordem Francifcana tomou poffe dcl-
le, fe não acha noticia , &fó fabemosque nos fecuios paffados teve grande nu-
mero de Religiofas , as quaes por falta de fuftento le reduzirão a tam
pequeno , que quando oefpirito de Sór Margarida das Chagas íe afervorou
(ajudada da divina graça) eftava já quafi ex t índio, & ella oreftituio a íua an-
ti ga grandeza no Revnado delRey Dom Affonfo o Quarto.^
^Tern mais eftaVilla Cafa de Mifericordia, que por nao fer pobre, tem da-
do occaíião para que com as eleições de feus Provedores houveífe entre as duas
famílias de Queyrós, & Magalhaens (por ferem as mais dilatadas daquella V íl-
ia) tantas differencas, que gaftàrão huns, & outros muita parte de fua fazenda
em Alçadas. Compoem-fe efta Villa de huma fó rua muy comprida ate a ponte
com fuás traveças, & tem muitas cafas nobres, com que manifeftao a fidalguia
de feus povoadores. Aífiftem ao feu governo civil tres Vereadores, Procura-
dor do Concelho, Almotaceis, tres Tabeliaens do Publico, Judicial, & Notas,
anda annexo a hum o da Camara, Juiz dos Orfaõs,a que andao annexos Diftri-
buidor, Enqueredor, & Contador, Efcnvão dos Orfaõs , outro das Sizas an-
nexo ao de Cerolico de Bafto, Procurador dos Cativos , Meirinho díuBehe-
trias com ordenado no Almoxarifado de Guimaraens , & Meirmho Carcerei-
ro, todos data delRey • Tem feira aos leis, & vinte do mez: defta Villa toy le-
nhor Mar tim Affonfo de Soufa Chichorro, fobrinho delRey Dom Diniz.

mm w

cap. xxx.

X>o Concelho de Cerolico de Bajlo.

DUas legoasda Villa de Amarante para o Nafcente eftá o Concelho de


Cerolico de Bafto, de que foyfenhor Gil Vaz da Cunha , Alferes mor
delRey Dom João o Primeiro, de quem , & de fua mulher Dona I l abel Pereira
nafceo Fernão Vaz da Cunha, fenhor defta terra, que cafou com Dona Branca
de Vilhena, filha de Dom Henrique Manoel de Vilhena, Conde de Cintra , &
Cea,&deftepaffouaos Coutinhosporcafamêto de fua filha herdeira D. Maria
da Cunha com Fernão Coutinho. Deftes aos Caftros , & foy primeiro Conde
de Bafto Dom Fernando de Caftro, Alcayde mór de Alegrete, Capitão mor de
Évora, & do Concelho de Eft ado de Felippe o Prudente, quando ufurpou a Co-
roa de Portugal", fuccedeolhe Dom Diogo de Caftro feu filho, que toy fegun-
do Conde de Bafto, & Vifo-Rey defte Reyno, em tempo , que Caftell a o domi-
nava : & a efte fuccedeo feu filho fegundo Dom Lourenço Pires de Caítro , ter-
ceiro Conde dqBafto, que por não deixar fucceffaõ, paffou o titulo, & Cafa a
DA COROGRAFIA PORTUGUÊZA. 14/
fcu íòbrinho Jorge de Albuquerque Coelho & Caibro, filho herdeirô de Duar-
te de Albuquerque Coelho, quarto Capitão dePernãbuco, & primeiro Conde
daquelle Eíbado, & de Dona loanna de Caibro, fua irmaã, o qual ficou em Caf -
tella fervindo em Cataluna na Acclamação do Senhor Rey Dom João o Quarto';
pelo que entrou em todos cites fenhorios fua irmaã a Condeça Dona Mana de
Albuquerque, mulher de Dom Migitf 1 de Portugal Conde de Vimiofo fem fuc-
ceffaõ. A etvmologia deite Concelho dizem fer a feguinte. Entre os povos ,
que antigamente habitàrao a Andaluzia, houve huns, que fe chamarão Baíbia-
nos, de que paíTárão alguns a eíta Província , & nella fundarão huma Cidade
chamada Baíto, perto do Moíbeirode Santa Senhorinha, que cíiá em Cabecei-
ras : da qual fe não acha outra noticia, & devia fenecer na entrada dos Mouros :
delia fe chamarão Baito eíie Concclho,& o de Cabeceiras de Balbo, que por ci-
ma lhe fica.
A eíte Concelho de Cerolico de Baíto deu foral ElRey Dom Manoel em
Évora a 19. de Março de lyio-naotem muito pão, mas remedeafe eíba falta cõ
a muita quantidade de caibanha, que colhe, & manda para fora do Reyno ; re-
colhe algum azeite, muifo, & bom vinho de enforcado, caça, mel, cera, gados,
& pefca no Tamega,& regatos- Tem dous Juizes Ordinários por eleição do
povo, & pelouro de tres em tres annos, tres Vereadores, & Procurador do Cõ-
celho: prefide nella o Corregedor de Guimaraens: dous Almotaceis, Efcrivão
da Camara, & Almotaçaria, fete Tabeliaens do Publico, & Judicial , Juiz dos
Orfaôs com dous Efcrivaens, Diíbribuidor, Enqueredor,Sc Contador- Todos
eítes ofiicios apreíentavão os fenhores deíba terra,£t fo o das Sizas , Enquere-
dor , Diíbribuidor , õl Contador erão data delRev : hum Alcayde data
do Alcayde mór, que hoje he Plácido da Caíbanheira. Tem treze Companhias
com Capitão mór, & Sargento mór. No lugar da Lixa tem feira as primeiras
fegundas feiras decadamez :coníta eíte Concelho das Freguefias ieguintes.
S. Clemente, Abbadia, que aprefentàrão alguns tempos os Caibros , Al-
cavdes móres de Melgaço, & os Azevedos, fenhores das Cafas de Azevedo, &
S. João de Rey, & na menoridade de Vâfco de Azevedo Coutinho, feíihor de S.
João de Rey, & terras de Bouro, por fe não conformarem os Padroeiros, fe in*
troduzio a aprefentálao Arcebilpo Dom Rodrigo da Cunha, pondo nella híia
grandepenfaõ para Francifcode Azevedo de Sá , irmaõ íegundo de Vafco de
Azevedo, que inda a logra, mas a Igreja fe tem renunciado duas vezes : tem
duzentos & feífenta vifinhos.
S. Sebaíbião de Paífos, Curado de S, Clemente, & de Santa Maria do Outei-
ro dos Frades Jeronymos, tem vinte & cinco vifinhos. ,
S-Salvador de Ribas, Commenda de Chriíto , & Reytotia do Ordinário,
que rende cem mil reis, & para o Commcndador com fabidos trezentos & cin-
coenta mil reis, tem cento & cincoenta & dous vifinhos. Foy moíbeiro que te-
ve fua primeira fundação em huma Ermida do Salvador do mundo, na qual refí-
dia hum Ermitão ;& andando vifitandoaguella Comarca o Arcebifpo de Braga
Dom João Peculiar , & tendo noticia dos muitos milagres, que fazia aquellâ
fanta image por aquelles lugares, edificou naquella Ermida huma Igreja,& Mo-
íbeiro em honra, U louvor do mefmo Senhor, & o deu aos Conegos Regulares
de Santo Agoíbinho pelos annos do Senhor de u 60. & mandou vir do Convc-
to de Santa Cruz de Coimbra para primeiro Prior dos feus Conegos ao Vene-
rável Padre Dom Mendo, Religiofo de grande-virtude, q nelle morreo nO ánno
N dê
146 tomo primeiro c
de 1170.& foyfcpultadqnaclauílra <ío Moíleiro cm fepultura aí ta juto à pare-
de da Igreja com eíle epitáfio: Bic jãsti Domnvs Menendvs hujus Monajttrij
primus Prior, qui nunquam, dum vixit, pedem movit,nifiad obfequium T)ei: obqt
-vi Nonas O ff obr is , traM-CLXX. Quer dizer: Aqui jaz Dom Mendo, pri-
meiro Prior deíle Moíleiro, o qual nunca deu paifada, que não foífe em fer-
vico de Deos: fáleceo a 2 ■ de Outubro do #nno de 1170. E çomo as Religiões
de S. Bento, ff de S. Agoílinho, ff a dos Conegos Regrantes erão na Província
de Entre Douro ff Minho fenhores de todas as Igrejas, impetrarão os Reys, ff
Prelados breves de Sua Santidade para lhes tirarem algumas, ff as fazerem C o-
mendas, ff as darem às peffoas, que os fcrvião, & principalmente a Deos nas >
guerras contra os Mouros para exaltação de fua fanta F è; ff os Prelados allegà-
tão por íua parte não terem Igrejas para darem a Clérigos feculares ; com oue
muitas felhcs tirarão,& defannexàrãoj fòy huma delias eíla do Salvador de Ri-
bas, que fendo a ilidida de Conegos Regrantes de Santo Agoílinho, lhes fov ti-
rada para Commenda de Chrifto. Depois da morte do Prior Dom Mendo mui-
tos annos,entrou por Commendador de S- Salvador de Ribas Ruy de Mello, em
tempo do qual foy Deos fervido fe manifeftafíe ao mundo a fantidade daquelle
devoto Prior Dom Mendo, movendo o animo daquelle Commendador a querer
abrir a fepultura, & pondo em execução o feudefejo ,fahiodo monumento tão
grande cheiro, que logo lhe pareceo, ff aos circundantes,que não podia deixar
de fe ver hum grande prodígio; ff aflita fuccedeo; porque fe achou o íeu corpo
todo organizado,mas gaílado atè os geolhos femtermais queosoíTos, ff dos
geolhos para baixo eílavão a*> pernas inteiras, ff cheas de carne , metidas em
humasmeyasde grã, ff os pès nos fapatos, tudo tam novo , corno fe naquella
hora lhos calçàrão-Cõ eíla noticia cõcorreo logo muita gete de toda aFreguc-
jfiaaver aquclla maravilha, ff venerar aquclles pés, que havendo quatrocentos
annos que forão enterrados, eílavão como de homem vivo, ff muitos doentes
de varias enfermidades cobràraõ logo faude. De tudo o Commendador Ruy de
Mello mandou fazer hum auto por hum Notário Apoílolico de Guimaraens,
chamadoThomé Afvarez, que daquella Villa mandou vir para dar fé de cafo
tam prodigiofo- Defte Santo Prior faz mençaõ a Cronologia Monaílica Lufí-
tana a dous de Outubro por eílas palavras , que traduzidas do Latim em Por-
tuguez querem dizer: Na Previnem de Entre Douro, & Minho no antigo Mof~
tetro de S -Salvador de Ribas a depofição do Beato Metido,Conego Regrante}& Prior
antigamente do rnefmo Moíleiro, o qual nam fahio dofeu Mojleiro em quanto viveo %
cujos pes Deos coferva incorruptos dejde o anno defeu falecimento, que foy ode 1170
ate o dia de hojej ao qual por efta razao venerado com grande devoção os povos viftnhos
S. Martinho de Val de Bouro, V igairaria*k> Moíleiro de Pombeiro , tem
cento&vintecinco viíinhos. Daqui fòy natural oReverendiflimoPadre Frey
Pedro de Bailo,oitavo Geral dos Frades Bentos, filho de pays honeílos, o qual
jaz fepultado no Moíleiro de Tr avança com opinião de Bemav enturado.
Santo André de Molares foy Abbadia dos Condes de Bailo, ff hoje he do
Padroado Real,rende trezentos mil reis., tem cento & cinco vifinhos.
Santa Maria de Veade, Commenda de Malta unida à de Moura morta,tem
Vigairo com o Habito da Ordem, ( cue aprefenta o Commendador ) o qual
diz Miífaneíla Igreja dous Domingos, ff hum na de Gagos 3 que ambas eftão
unidas para os freguefes irem nciles aias ouvilla a hunia, ou outra parte, aonde
o Vigário vaydizella; renderlhehacemnulreis comaordinaria.,& para o Com-
mendador qúinhentçs ff feífenta mil reis,té duzentos cincoéta ff nove viíinhos.
DA COROGRAFIA PORTUGUE2A. 14?
Santiago de Gagos, Vigairaria annexa a S. Clemente , ciijos frutos fàõ,
ametade do Abbade, & a outra ametade da Commenda de Antim da Ordem de
Chrifto, tem quinze vifínhos.
S. Romão de Corgo, Vigairaria do Mofteiro de Refoyos de Bado , & dos • .
Frades jeronymos de Coimbra,tem quarenta vifínhos.
S. Maria de Canedo^ V igairaria annexa ao Mofteiro dePombeiro,tem cen-
to &feis vifínhos.
S- Salvador da Infefta , Reytoria do Padroado Real , & Commenda de
Chrifto, tem quarenta & cinco vifínhos»
Santa Maria de Borba da Montanha, Vigairaria annexa á Reitoria de S. Sal-
vador da Infefta, tem duzentos ôccincoenta vifínhos» y
Santa Maria de Moreira, Vigairaria annexa defta Commenda , tem vinte &
cinco vifínhos. Aqui eftá a Quinta da Torre , folar defta família de More i'r a>
que com toda a Freguefía-era Honra, como fe diznasInquiriçoensdelRey Dõ
Diniz com as palavras feguintes,fallando delia: A Quinta, que chamao a Tor-
re, q foyde Pedr o Peres de Moreira, horada co toda, a Freguesa,em q fizerao quietas
Ruy Peres [eu filho, & João Moreira, & Martitn Moreira: & não a Villa cie Mo-
reira na Província da Beira > como alguns cuidarão. Tem por Armas ém cam-
po vermelho nove efeudinhos de prata em tres palias , & em cada hum huma
Cruz de Aviz, timbre meyo lobo de vermelho , com hum efeudo das Armas
nos peitos. Os que delcendem de Fernão Moreira Perangal,tem por Armas em
campo azul huma Eftrella de ouro de oito pontas, abaixo huma cabeça de Mou-
ro enfangUentada com trunfa de prata , & no meyo da Eftrella , & da cabeça
huma banda de prata adentada,timbre hum Leão nafeente com eftrella na efpa-
doa»
S. Salvador de Fervença foy do Padroado Real, & o deu ElRey Dom Dini2
a feu fílho baft ardo Dom Affonfo Sanches, fenhor de Albuquerque, aos tres de
Mayo de i uo. o qual no de 1318.0 dotou ao Mofteiro de Freiras de Villa
do Conde, que então edificava: he Vigairaria que rende cento & vinte milreis>
& para as Freyras trezentos mil reis 3 tem cento & cincoenta vifínhos. He tra-
dição foy Convento de Freyras, de que ha indícios para fe crer, & parece foy
aqui o que fe intitulava Santa Maria de Recião, de ConegOs Regrantes com Ab-
badeças fogeitas aos Conegos do Mofteiro de Caràmos, a cuja vifta fica, & per-
manecia em tempo delRey Dom Affonfo Henriques. Daqui fe tomou o appclli-
do de Fervença.
S.Miguel de Carvalho, Abbadia da Mitra , que rende trezentos mil reisj
tem cento & feis vifínhos.
S» joãodeArnoyahe Mofteiro de Frades Bentos, fundado por Dom Ar-
naldo de Bayão, de que tomou o nome , como confta da Benedidtiná Lufítana
tomo 2. part. 4. cap. 6. he Convento rico, & bem afliftido de Religiofos 5 &. fup-
pofto que o tempo lhe foffe confumindo muitas rendas , ainda hoje he
dos mais rendofos da fua Ordem. Foy nos tempos antigos chamado S. joaõ
do Ermo, por eftar fundado em terra montuofa , & afpera junto do Caftello
com dilatada vifta para o Oriente por ferras, & fragofos montes , principalme-
te para hum, que chamaô o Monte Farinha, que do pè atè o cume , aonde tem
huma Ermida, & huma caudelofa fonte,fe fobe húma grande legoa. Tem Cura,
que com o ordenado, & pè de Altar lhe renderá oitenta mil leis , & confta à
F reguefía de duzentos & dez vifínhos.
S. Miguel de Borba de Godim, Parochia da Lixa, he Commêda de Chriftoq
Nij
i48 TOMO PRIMEIRO
& Reytoriada Mitra, que renderá oitenta mil reis, & pata o Commendador cõ
as annexas trezentos mil reis, tem cento & dez vifinhos.
Santa Eufemia de Agilde, Vigairaria annexa a eftaCommenda , que apre-
fenta o Reytor de Borba de Godimi tem quarenta vifinhos.
Santa Leocadia de Macieyra,V igairaria do Mofteiro de Carámos, que ren-
de fetenta mil reis, & para os Frades cento & vinte mil reis, tem trinta & tres

Santa Leocadia de Arnozella, Vigairaria do mefmo Mofteiro, que rende


quarenta mil reis, 8c paraos Frades feífehta mil reis , tem vinte & cinco vifi»

Santo Eftevaodas Regadas fov Abbadiado Ordinário , Sc a unioao Coil?


vento do Populo de Braga o Arcebifpo Dom Agoftinhode Jeíus ScCaílro '• he
Vigairaria, que apreíenta o Mofteiro de Pombeiro , a qual rende oitenta mil
yeis, Sc para os Frades do Populo de Braga cento Sc cincoentamil reis, tem íef-
fenta Sc cinco vifinhos. . i
Santa Marinha de Ardegaõ, Curado do Mofteiro de Pombeiro, que rende
trinta mil reis, Sc para os Frades vinte mil reis, tem doze vifinhos- *
S. Martinho de Seydoens, Abbadia da Mitra, rende cento Sc cincoenta mil
reis, ôc tem quarenta & quatro vifinhos-
S.Bertholameu do Rego, Vigairaria do Convento de Pombeiro , rende
ao Vigário cem mil reis, Sc para os Frades cento Sc cincoenta mil reis , tem oi-
tenta vifinhos.
S. Salvador de Freixo foy Convento de Conegos Regrantes de S. Agoiti-
nho, fundado pelos annos de 111 o. por Dona Gotinha Godins, mulher de Do
Egas Hermigis o Bravo, logros de Dom Egas Gozendes, que viveo em ten po
delRey Dom Affonfo o Sexto- De Curado do Convento de Saõ Gonçalo d e
Amarante, a que eftá unido, por fer annexo ao de Mançellos, & com elle o deu
ElRey Dom Joaõ o Terceiro ao Convento dos Dominicos: tem cincoenta vifi-
nhos, de que ametade faõ defte Concelho, & os outros do de S* Cruz.
S. Miguel de Freixo, Curado dos mefmos Frades, annexo ao Salvador,tem
dezanove vifinhos.
Santo André de Toloens foy Mofteiro de Frades Bentos , íundado por
Dom Rodrigo Frojas, tronco dos Pereiras pelos annos do Senhor de 887. El-
Rey Dom Aífonfo Henriques , & fua mulher a Rainha Dona Mafalda fizeram
doaçaõ delle aos Conegos Regrantes de Santo Agoftinho pelos annos de Chrif-
tode 1173* quenelle florecéram até o de 14.75* em que Joaõ de Barros leu
Prior,&Conego oannexou àCollegiadadeGuimaraens juntamente com ode
S. Torcato, que teve o mefmo fundador, & as mefmas datas por Breves do Pa-
pa Sifto IV. Confirmou a doaçaõ o Arcebifpo Dom Luis no mefmo anno de
X47 5- que fe guarda no Archivo daquella Real Collegiada ; he hoje Vigairaria
do Cabido de Guimaraens, que renderá cem mil reis , & para os Conegos com
as annexas feifeentos mil reis, tem trezentos 8t dez vifinhos.
S. Pedro de Aboim, Curado annexo a Toloens, rende vinte mil reis , &
para os Conegos fefienta mil rei s, tem vinte & cinco vifinhos.
Santo André de Codeçofo, Curado annexo a Toloens , temvinte 8cnove
vifinhos. Obrafe aqui telha, &'faõ eítas duas Freguefias Couto das Taboas Ver.
melhas de Noífa Senhora da Oliveira, no qual fazem Juiz os Conegos de Gui-
maraens : o Efcrivaõ he hum dos de Ceroiico de Bafto.
S. Cipriaõ da Chapa, Curado annexo ao Convento de Mançellos, tem qua-
torze vifinhos S,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA; 149
S. Salvador de Villa Garcia , Vigairariaannexa aoPrcftimonio,ou Cõ-
menda de Alvarenga em Louzada, tem trinta & dous vifinhos.
S.JoaõdeGataó, Abbadia do Ordinário, rende duzentos milteis , tem
cento & cincoenta vilinhos. Daqui, he tradição, foy fenhor o Conde DomGa*
taÕ , povoador de Aftorga em tempo que fe reftaurou dos Mouros: era defcen-
dente delRey Godo Flávio Egica 5 fundou entre nós muitas Igrejas, huma das

^UaCSantiago de Ourilhe, Vigairaria annexa a Santa Senhorinha de Cabeceiras


de Bafto,tèmtrinta&cinco vifinhos.
S. Miguel de Cacarilhe, Abbadia da Mitra, que fe defannexou da de S. Cle-
mente, rende cento & vinte mil reis, tem quarenta & dous vifinhos-
S.Pedro deBirtello,Abbadia daMitra,rêde trezêtos mil reis,tê cê vifinhos.
S. Miouel dosGemeos, Abbadia da Mitra , rende duzentos & cincoenta
mil reis, tem cento & dezafeis vifinhos. Neila Igreja da parte da Epiílola,da
banda de fóra abaixo da porta traveffa, eílá hum tumulo com dous vultos em ci-
ma feitos ao tofco, que dizem teve a caufa feguinte. Havia alli huma Capella do
Arcanjo S. Miguel, & junto à ella viviaõ hum lavrador rico com lua mulher,qué
teve hum parto monftruofo de dous varoens com duas cabeças, quatro pernas,
& hum fò ventre: aífim viverão trinta annos bautizados, £c facramentados , &
com tam bom ufo de razaõ, que edificàraõ efta Parochia no mefmo lugar da Ca-
pella com a invocaçaõ do mefmo Anjo, que delles tomou o fobrenome dos Có-
rneos 5 porque além de a obrarem, lhe dotàraõfeus bens, & falecendo hum, foy
corrompendo o outrode modo,que também morreodentro em tres dias*
Santa Maria de Rcbordello fica além do rio Tamega , he Curado do Moí}
teiro de A rnoy a, tem vinte & tres vifinhos. ' r

S. Jorge de Pedraça fica também alòm do rio Tamega, & he Curado do mef-
mo Mofteiro, tem vinte & nove vifinhos. ' ! d

CAP. XXXI.
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Do Concelho de Cabeceiras de Dafto.

DEfte Concelho, & do de Cerolico parece que, fendo ainda my Ricos, teve
principio o chamarem-fe ambos terra de Bafto , de que deviaõ fer fe-
nhoresos defcendentcs de Dom Guedao Velho,filho deMemGornes Muçara-
be de Toledo, que paliou a efteReyno com o Conde Dom Henrique , & lhe
deuBarrofo,& Aguiar de Pena, termos vifinhos defte, de que feus fucceífores
fe appellidàraõ Barrofos, Aguiares, & Baftos: & também delle fe entende virem
os Mafcarenhas; &. dos Barrofos defeendem hoje em Caftella os Marquezes de
Malpica, & Povar. Dizem alguns que efte tronco de todos vinha dos Godos,
& que o folar dos Guedas he em Noruegia, aonde teve fua origem antes da vin-
da de Chrifto. Aqui he o dos Baftos, que tem as mefmas Armas do - Barrofos 2
em campo vermelho cinco Leoens de prata faxados de duas faxas de purpura
cada hum, huma pelo pefcoço, outra pela bárriga, empequetados dé Ouro, pof-
tos em afpa, timbre hum dos mefmoSjLeoens.
tjo TOMO PRIMEIRO :>
A eíle Concelho deu foral ElRey Dom Manoel em Lisboa a f • de Outu-
bro de if 14. Foy delle fenhor Dom Chriflovaõ de Moura , & hoje he
da Coroa he cabeça delle o lugar das Pereiras , tem dous juizes ordiná-
rios jtres Vereadores , bum Procurador por eleição do Povo triennal , a que
prefide o Corregedor de Gtiímaraens, cinco Tabeliaens , Elcrivaõ pordiflri-
buiçaõ nos Coutos, juiz dos Orfaos com feuEfcrivaõ, Diftnbuidor , Enque-
redor,& Contador, Meirinho, que ferve de Carcereiro , Efcrivaõ das Sizas
com ordenadono Almoxarifado deGuimaraens- Eíle fertilifiuix) valle fituado
entre duas montanhas fe dilata por efpaçode tres legoas,tendo em partes mais
de huma de largo; dá bem paõ, azeite,bom vinho de enforcado),! frutas, mel,
hervagens, muitos gados de todaaforte, muitacal>anha ,& caça ; tem Capitaõ
mor, & Sar get o mór de cinco Cõpanhias,& cõpoc-fe dasFregliefías feguintes-
Santa Senhorinha foy Moíteiro, que fundàraõ íeus parentes para feu re-
colhimento, & de outras Vreyras da Ordem de S- Bento, que com eíla Santa ia-
biraõ do feuMofieiro dei Vieira, donde eraõ moradoras tendo efla ferva de
Dtos noticias que a terrade Bailo eraaccommodada para nella fãzerem fua ha-
bitaçaõ, a foraõ fazer 11a Freguefia de Santiago da Faya junto de hum pequeno
rio, que naqueljaparagcmiechamao rio Bailo, que a poucos pálios fe mete no
Douro. Indo pois caminhando a Santa com as luas Religiofas a povoar o ftu
Moíleiro, chegáraõ a hum lugar, que.cbamaõ Carrazedo, & querendo todas
defeançar à fombra de hum grande, ôtírondofo carvalho , cujo tronco inda
hoje í'e moííra , & por ferverde pavdhaõ para reparo do Sol daquellas fantas
fervas de Deos, nam falta a devoção dos fieis Catholicos daquelles contornos
para o irem ver, & darem nove voltas ao redor delle, offerecendo com eíle mais
ruílico que fuperíliciofo culto a aque la Santa fuas oraçoens. E como a Santa,
&íuas Religiofas namtinhaõ rezado Vefporas, para que as rezaílem a feu tem-
po, con.o manda afuaRegra,ordenou.queasrezaíTcm alli , aonde tinhaõ de-
fronte huma fonte , cujas aguas íufpcndiaõ fuas correntes<jm huns grandes
charcos, que tinhaõ criado muita quantidade de rãs; & tanto que as Religio-
fas comcçàrao a rezar, deraõ ellas também principio à fua coiiumada , & im-
portun a diífonancia, que por fervi r de eíiorvo âsfervas de Deos , a Santa Se-
nhorinha as mandou calar: Òcforaõ dias tam pônfuaes em lhe obedecerem,quc
nam fófeaquietàraõ,&fufpendèraõ fuas vozes, mas nunca mais apparecèram
naquelle lugar. Neíle Moíteiro ^S^mta Senhorinha eíleveFIRev Dom San-
cho o Primeiro de Portugal huma novena, pedindo a eíla Santa alcançaífe por
feus merecimentos de N- Senhor faude para feu filho oPrincipeDom AfFonfo,
que eflava gravemente enfermo, &oomperigo demorte. Alcançoulhe a Santa
o que pedia; & durando ainda a iuanovena , lhe rrouxeraõ novas em como o
Principe eflav^ já melhorado, & livre' de perigo. Agradecido ElRey , fez hum
Couto à Igreja de Santa Senhorinha, o qual todo.correo , & andou a pè apon-
tando os l ugares, aonde fe haviaõ de meter os marcos , mandando por o pri-
meiro à'fua viílã junto do rio de Moles, quando entra em Bafio y & os outros
encomendou a". Dom Gonçalo Mendes, que naquelle tempo era fenhor da terra,
que com tóda a diligencia osmandaffe pòr nos lugares, que ficavaõaífinados •
o que tudocopflá de huma efcritura,que.fe guarda no Archivo de Braga. Ex-
tinguiofe eôé Couto, com que delle naõ ufa eíla 1 greja.
Nam foy-fo ElRey Dóm Sancho o Primeiro o que com taíita devoção hon-
rfett, & venerou efta Igreja^roas tainfaém ElRey Dpm Pedro aPrimeiro, o quaf
lhe ânnexou a Igreja de Salto em terra dt Barrofo com certas-dondiçoens, das
-dte •• [uM * quaes
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. ' iff
quaes huma era , quena dita Igreja de Santa Senhorinha ardeflfem fcmpre tres
alampadas, huma diante de Noffo Senhor Jefu Chrifto crucificado, outra dian-
te do fepulchro da Santa, & a terceira diante da fepultura de leu irmaõ S* Ger-
vafio: & declara o Rey na data daquellà mercê, que a Rainha Dona Ines de Caf-
tro fizera a Capella do melmo Saõ Gervaíio- O defcuido dos antigos nos dei-
xou fem luz parafâbermos quanto tempo duraíTe o Moíleiro de Santa Senhori-
nha a ilidido de fuas Rei igiofâs, & o tempo em que foy fundado , porque de
nada fc acha clareza verificada para fe poder allegar, & pôr em publico ; fó fe
acha que no tempo delRey Dom Affoniò Henriques eftavájà eíie Madeiro ex.
tinto, & a fua Igreja veyo depois a fer Abbadia, que aprefentavam os Pereiras,
fenhores da Quinta da Taypa, & hoje he do Padroado de Dom Gaftaõ Jofeph da
Camara Coutinho*
Santiago da fay a, Abbadia, que aprefenta còm referva o Prior do Crato,
a mayor Commenda, & Dignidade que tonne if e Reyno a Ordem de S. Joaõ de
Malta, rende duzentos mil reis,&tem fetenta vifinhos. Neila Freguefia eílá â
Quinta do Villar, que foy de Antonio de Lima de Noronha, Capitaõ mor def-
te Concelho, filho de Manoel de Lima de Abreu & Noronha, & neto de Franci fi-
co de Abreu, fenhor de Regalados*, hoje he de feus genros Bento Rabcllo Lôj
bo,& Balthafar Peneira da Sylva, da qual federão já ao dizimo mais de feifceiy
tos alqueires de calfanha.Chama-fe efta Parochia vulgarméte Santiago das Bi.
chas,potq emhu regato,cj por ella corre,ha muitas fanguexugas,& defide as pri-
meiras Vcfporas deiie Sãto âtè às fegudas cõcorre a elle em romaria muita gete
faa,& enferma de vários males, St hús mádaõ tirar eiles bichos pará os poré enl
^fi, outros metem as pernas na agua, ôt ãferrandofe nellas,lhes tiraõ quantidade
defangue, conique fe achaô melhor, & fe attribue a milagre do Santo, nam o
pegar dasfangueXugas, pois heíeu natural, mas o obrarê tanto bem repenti-
namente.
S. Martinho do Arco deÈagulhe , Vigairaria dos Frades Jeronymos de
Coimbra, tem cem vifinhos.
Santo André de ViliaNune, Vigairaria dos mefmos Frades, rem trinta Se-
leis vifinhos.
Sapta Marinha de Pedraça, Vigairaria dos mefmos Frades , terri fetenta
vifinhos* Aq ui he a poufada, aonde ha veftiaios de huma Torre, que o tempo,
& outras peífoasdesfizeraõ para fazerem caías. Neila viveo Vaicd Gonçalves
Barrofo, & fua mulher Dona Leonor de Alirim,que depois cafou com o Condef-
table Dom Nuno-Alvarez Pereira. Dizem fer folar dos Duques de Lerma , St
he erro de quem o faz em S* Miguel de Carvalho do Concelho de Cerolico de
Baífo. .
S. Joaõ de Cavês, Vigairaria do Convento de Pombeiro , tem fetenta vifi-
nhos- Neila Freguefia cítá fobré o rio Tartfega a ponte de Cavês , fundaçaõ dc
' Frey Lourenço Mendes , a qual divide eíia Província da de Trás os Montes,
junto delia tilava hum tumulo, St nclle fepultado o Mcíire, que a obràra , com
hum letreiro, que dizia : Efia he a ponte de Cavês, aqm jaz quem a fez. Ha
poucos annos a desfizeraõ pata outra abrà*
. S- Lourenço de Villar, Vigairaria annebeá dc Cavês, tem trinta & dous vi-
{inhòs*- ! • : 1 Lb ' i
S- Joaõ de Gundiacs, Vigairaria do Morteiro de Refoyos , tem trinta viu*
nhos* .
S* André deRio de Oura, Vigairaria do mefmo Malfeito, tem cento &Cim
eoenta & cinco vifinhos« S*
m s tomo primeiro; C ' <
s. Nicolao de Bafto, Commenda de Chrifto, & Reytoriaxla Mitra, que re-
de cem mil reis, & para o Commendador coma annexa ieguinte duzentos- &c
trinta milreis:temcentoôc dezviíinhos. Aqui eftáa illuitrc Cala da Taypa,<
folar dosPereiras Marramâques , que tam grandes homens íahiraõ delia para
todas as partes, Scconquiftas defte Reyno»
S. joaõ de Buços, Vigairaria ercda de S. Nicolao de Bailo, que apreíenta
o Rey tor, tem quarenta viíinhos.
Santa Maria de Aboim, Vigairaria do Abbade de Roças , que rende cin-
coentamil reis com ametade das oftcrras de NoíTa Senhora da Lagoa, ôt para o
Abbade fetenta mil reis, tem trinta & íeis viíinhos. Eftá efta tam devota,como
ahtiga imagem emhumfcrmofo Templo, que fe fundou de| efmolas no cume
de huma íerra, aonde quafi juntos partem efte Concelho com o de Guimaraens,
Monte-longo, & Cerolico de Bafto; tem hum largo terreiro cbm algumas arvo-
res, que o fazem aprazivel; entendefe que naquellas brenhas a deixaria algum
Chriftaõ, quaudo os Mouros entràraõemEfpanha , & depois a acharam huns
paftores, que nefta montanha apafcentavaõ o gado : a Imagem he de palmo &
meyo, morena , como faõ as mais daquelles tempos. Logo concorreo gente a
efta appariçaõ, de que naõ ha noticia do tempo cm que appareceo : fizeraôlhe
huma CapeUinha, aonde efteve muitos annos: mas das muitas efmolas, que de-
raõ innumeraveis romeiros,(que concorrem de varias partes, por feus infini-
tos milagres, defde cinco de Agofto até o ultimo fabbado do meímo mez, & o
mefmoconcuríode gente fe encontra do primeiro fabbado daQuareíma atè o
ultimo daquelle fanto tempo) fe fez efta grande Igreja, em que hoje eftá muito
bem ornada no meyo de hum ermo. __ •
Santa Maria de Varzea Cova, Vigairaria , aprefentação da dcOuteiro,
quefefegue '• rende com ametade das offertas de NoíTa Senhora da Lagoa cin-
eoentamil reis,& para os Frades Bentos , &Jeronymos de Coimbra fetenta
mil reis, tem quarenta viíinhos.
Santa Maria do Outeiro, Vigairaria dos mefmos Collegios, que rende oi-
tenta mil reis, & para os Frades cento & dez mil reis , tem fetenta & dous viíi-
nhos.
Santo André de Painzella, Vigairaria annexa de Santa Senhorinha , que
rende feffenta mil reis, & para o Morgado da Taypa cento & quarenta , tem
feffenta viíinhos.
S. Pedro de Alvite, Vigairaria do Mofteiro deRefoyos, que rende qua-
renta mil reis , & para os Frades cento & vinte mil reis , tem feffenta viíi-
nhos.

Couto de Refojos de Bafto.

SA5 Miguel de Refoy os, Mofteiro de Frades Bentos, foy fundado por Her-
migio Fages em tempo dos Godos, & fe confervou em tempo dos Mouros,
por tributos, que os Frades lhes davão : eftá em lugar baixo de pouca vifta, &
tem defronte da porta principal da Igreja fermofa entrada com hum largo ter-
reiro muy comprido com padrão no meyo bem lavrado, 5c de hum lado olivei-
ras, & acipreftes poftos por ordem, & do outro alamos baftos, & altos,& mui-
tas aguas. Flouve aqui Monges de exemplar vida, & vivião alli feffenta & fete
Religiofos pelos annos de 1403. andou cm Abbades perpetuus até ode 1428.
•?ií cm
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 153
cm que começarão â entrar Abbades Commendatarios, &: foy o primeiro Dõ
Gonçalo Borges ? que com grande oílentação logrou aquelle lugar trinta &
quatro annos,"fio fim dos quaes lhe fuccedeo por renuncia lua feu fobrinhoDõ
Diogo Borges, que por morte do tio governou vinte & feis annos: renunciou
em outro feu fobrinho Dom Alvaro Borges, que faleceo no de 1496- tendo re-
nunciado em feu fobrinho Henrique Borges, que o teve trinta £c leis annos até
o de 1 f} 2. em que lhe fuccedeo o Doutor Francifca Borges, que faleceo no de
1537- não occupando cífe lugar mais de cinco annos j com que fe acabou o an-
dar nella familia no fim de cento & nove annos. Por morre do Doutor Francif-
co Borges entrou por Dom Abbade CommcndatariQj© Infante Dòm Duarte , fi-
lho natural delRey Dom Joaõ o Terceiro , que foy depois eleito emArcebiípo
de Braga; fuccedeo-lhe o Padre Frey Diogo de Murça-, Religiofo da Ordem de
S- Jeronymo, que governou a Cafa como Adminiílrador. perpetuo,& perfuadi-
dode alguns pedio ao Papa Paulo Terceiro extinguilfe eile Convento deRe-
foyos, & com as rendas delle fundaífem em Coimbra dous Collegios, hum de
S. Bento, outro de S. Jeronymo, & que do remanecente fe faria outro Collegio
de doze pobres; o que fe lhe concedèo pelos annos de 15-4.9. & chegando as Bui-
las a Coimbra, aonde elle era Reytor da Univerfidade por mercê do mefmo Rey
Dom joaõ o Terceiro, as mandou intimar aos Frades deRefoyos , os quaes
nam vindo nilfo, appellàraõ das Ccufuras. O mefmo Frey Diogo advertio a ra-
zão que tinhão , & pedio a Sua Santidade ficaíTe o Moíteiro empe com doze
Monges, & hum Prior, & fechamaífe Oratorio, & membro do Collegio de Saõ
Bento de Coimbra, ôc foífe reformado como os mais; o que tudo houve por beip
o Papa Paulo Quarto no anno de 15 f 5 • F aleceo neítc Molle iro o dito Padre
Frey Diogo no anno de 1570. & nelle fez muitas obras ; eftá fepultado na Ca-
pella mor da Igreja antiga: fuccedeo-lhe feu fobrinho Dom Joaõ PintoConego
Regrante de Santo Agoí!inho,nampor renuncia do tio, mas por Bulias,que lhe
alcançàraõ feus irmaõs em Roma; governou dez annos, & deixou o Moíteiro
por mandado delRey com certa penfaõ , que felhefatisfaria no Convento.de
Catámos da fuaOrdem^aondeferecolheo pelos annos de tf 70. em que entrou
a reforma ,& Abbades triennaes por Bulla do Papa S. Pio Quinto. Tinha eíte
Convento, nam ha muitos annos, muita renda , particularmente na Província
de Trás os Montes, aonde as repartia pelo meyo com os Duques de Bragança,
em razão que Vafco Gonçalves Barrofo primeiro marido de Dona Leonor de
Alvim, que depois cafou comoCondeítable Dom Nuno Alvarez Pereira, dei-
xou todos feus bens (que eraõ muitos osquepoíTuía) a efte Convento, aonde
fe fepultou, & os da mulher paífáraõ à Cafa de Bragança por cafarnento de Do-
na Brites Pereira, fua filha herdeira, & do Condeftable, com o primeiro Duque
O Infante Dom Aífonfo. Tinha grandes Quintas,-alheàraõ-fe numas t empra-
zàraõ-íè outras, & além do muito que lhe tiraõ nos fabidos, que importaõ tres
mil & quinhentos cruzados para Coimbra, fica com mais de tres mil cruzados
de renda com as Igrejas annexas,de que fuftenta trinta Frades. A Igreja he
bem ornada com muitas reliquias, aprefenta Cura fecular , que tem de renda
oitenta mil reis, & conda a Freguefia de quatrocentos vifinhos. Tem Couto
grande com Juiz no Civel, &Orfaõs, a quem o Dom Abbade dá juramento , &
palfa carta, & faz Almotacel, Mordomo, Coudel, jurados , & Quadrilheiros;
faõíeusos direitos Reaes,& penas delles,& o mefmo Prelado he Ouvidor para
quem feappella do Juiz: no Crime he o do Concelho,aquevay aíliftiro do Cou-
to : os mais Officiaes faõ os do termo, cõ que anda unida a Cõpanhia do Couto.
Couto
,54 TOMO PRIMEIRO

Couto de Abhadim.

SAÕ Jorge de Abbadim, Abbadia, que rende duzentos mil reis, a qual apre-
fenta Gonçalo Lopes de Carvalho, moço fidalgo da Cafa Real, & Cavallo*
rodo Habito de Chriílo, fenhor deíleCouto,& dodeNegrellos,emque apre-
fenta fomente Porteiro. Tem Juiz ordinário, &Orfaos , em cuja eleição an-
nual prefide o fenhor deíla terra: os mais Offictacs fao do Concelho. Tem Ga-
pitaõ à parte, & confia de cento & trinta vifinhos: ElRey Dom Manoel lhe deu
foral em Lisboa aos doze de Outubro de yri* Aquieíla huma Torre antiga
coroada de ameyas , que dizFreyFrancifco Brandao naMonarchiaLulitana,
part- 6- liv. 18- cap. í ?• fer o folar dos Badins.

CAP. XXXII.

T>o Concelho de 'Roças.


> f , •' f;"- Ci •} ] p pjv;

EStá mra a Darte do Norte cinco legoas de Guimaraens, & quatro da Ci


dade de Bra°a * ElRey Dom Manoel lhe deu foral em Lisboa a vinte & ires
de Outubro de ifl4 Foy fenhor delle Fernão de ^„V^kreu01 fenhor de de-
cern Dona Inez de Sotomayor, viuva de Lopo Gomes de Abreu , fenhorde Re.
«alados, & Valladares, ôt filha do primeiro Vlfconde Dom Leonel de Lima , vi
ferabcmGuimaraensidosquaesáefcendem alguns fida
clles Francifco de Souf^a Sylva ^que w^naquelh Villa* Hoje^he^da^Corm^

raens; hum Meirinho, que ferve de Carcereiro, eleito cada anno peia Camara;
dousÀlmotaceis,Diflribuidor,Enqueredor,iSc Cõtador,tresEfcnvacs do Ju-
dicial, & Notas, & hum Efcrivão da Camara, & Almotaçaria , & outro das Si-
sas, que tanbemohede V illa-Boa da Roda com o mefmo Juiz de Regas;• todos
data delRev. Recolhe baílante pão, vinho, frutas, caílanha, mel , & tem mui
• tos gados,'criacão de egoas,caça,& pefca nos regatos de trutas, bogas, & ef-
calhos. Tem hum Capitão, & as duasFreguefias feguintes. _
S. Salvador de Roças, Abbadia, tem cento & feffenta viíinhos : foy Mof-
teiro de Frades Bentos, & no anno de 119 T fez João Paes doaçao delle a Dom
Martinho Arcebifpo de Braga, dahi paliou aos Abreus , fenhores de Regala-
dos , que hc da fua aprefentaçaõ , como ha poucos annos o fez João Pinto
Pereira,fidalgodaCafaReal,&moradorno Bom jardim da Cidade doPorto;
por fer deíla familia: rende eíla Igreja com a annexade Aboim em Cabeceiras
de Bailo mais de feifeentos mil reis. Aquieílà a Torre do Bayrro, que teve cár-
cere,de queerafenhoro ditoFernaõdeSoufadaBote ha: he morgado deGer-
vaíio de Pena de Miranda por herança dos Mirandas de Guimaraens. No lugar
da Lama eílá outra Torre mais moderna , que poffue Antonio Machado Coe-
lho ■ & na Aldeã de S. Pedro eílaò humasboas cafas, onde morou Diogo Alva-
rez Correa daqui natural, que foy Cabo de hum troço de gente na de Alcacere,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA.1
cm que peleijou com grande valor, tendo funs próprias tripas na maõ efquer-.
da.
Santa Maria dos Anjos, Abbadia da Mitra, que rende cem mil reis , tem
quarenta viíinhos. ' • t

C A P. XXXIII.

c
Do Concelho de VdlaFBoa da F^da.

HE delRey, tem Juizprdinario,&Orfaõs, dous Vereadores, & Procura-


dor do Concelho feitos por pelouro,eleição do povo de tres em tres an-
nos, a que prefide o Corregedor de Guimaraens, dous Eícrivaens, que fervem
cm tudo, fó o da Camara anda unido a hum, Dilf ribuidor, Enquqredor, & Cõ-
tador,hum Almotacel feito pela Camara, & hum Meirinho, que he Carcereiro,
todos data delRey. Recolhe paõ, vinho, & tem muitos gados, caças , & pefcas
no rio Ave, & nos regatos. ElRey Dom Manoel lhe deu foral em Lisboa a oito
de Agoílo de 1514.. tem cento & trinta vifinhos com huma Igreja Parochial da
invocação de Santiago de Guilhofrey, Comenda dte Chrifto, & Rey toria do Or-
dinário, que rende cento & quarenta mil reis com Coadjutor , aquém daõ oi-
tomil reis, & feífenta alqueires de paõ, que tudo importará quarenta mil reis,
& para o Commendador com a annexa de S. Payo de Brunhaes em Lanhofo du-
zentos mil reis.

CAP. XXXIV.

Do Concelho de Fieira.

CHamoufe eftc Concelho antigamente Vernaria, fica para o Norte quatro


legoas de Braga , & o divide da Provincia de Trás os Montes a grande
ferra da Cabreira : ElRey Dóm Manoel lhe deu foral em Lisboa a 1 y. de No-
vembro de i y 14.- tem Juizordinario.dous Vereadores, hú Procurador do Con-
celho por pelouro, eleição triennal do poyo,a que prefíde o Corregedor de Gui-
maraens com appcllaçaõ ao Ouvidor do Donatário , quatro Tabeliacns, que al-
ternativamente eferevem 110 Givel, publico, &. Notas .no Couto de Cerzed ello
em Lanhofo: Efcrivaõ das Sizas, Contador, Diftribuidor, & Enqueredor•> Ef-
crivaõ da Camara! , & Almotaçaria , Meirinho annual feito pela Camara ,
juiz dos Orfaõs com feu Efcrivaõ , todo. data delRey , & hum Efcri>
vaõdp Ouvidor ) que pprefenta o fenhor dtfta terra. Tem dous Capi-
tacnSno &hum Sargento mór feitos pelo Donatário, que he Capitaõ mor. Rd-
colhe haílante paõ, vinho, frutas, muita caftanha, gados de toda acaíla, muito
mel,caça,&pefcds no Ave. que fe principia neita ferra daCabreirana fonte
Ave♦
: TOMO PRIMEIRO
Ave. Hefenhordefte Concelho António Luis Pinto Coelho, de quemja trata-
mos no Concelho de Fclgueyras: tem as Fregueíias íeguintes.
S. Toaòde Vieira foy Mofteiro de Freiras de S. Bento, fundado por Adul-
fo, Conde de Vieira, & fua mulher Dona Tareja, pays de Santa Senhorinha, que
profeífandonelle,fendo Abbadcça DonaGodinhaMonja de S. Bento, delle ie
foy com fuas companheiras para o Convento de Santa Senhorinha de Balio, que
feus parentes lhe edificàraô- HeReytoria , que rende cento & emeoenta mil
reis, & a aprefenta Martim Teixeira Coelho, fenhor da Teixeira. A quilha en-
tre cfte Caftello, & o de Lanhofo ruínas do Caílello de Pena Mounnha, q o foy
no tempo dos Mouros : em húa lapa, que tem, cabem duas tropas de cavallo, ou
mil infantes. Tem eftaFreguefia duzentos & dezyifinhos. ^
S. Payo da Ey ra Vedra foy annexa do Mofteiro de S. João, paliou a Abba-
dia, que aprefentavaõos moradores por doaçaõ fua, depois entràraõ nclxe Pa-
droado os fenhorcs da Cafa de Cirgude,& o tirou por demada a Martiml eixei-
ra Coelho, Dom Francifco de Souta, Capitaõ da Guarda de S- Mageixade, que
neUa aprefenta Abbade: tem oitenta vifinhos.
Sí Juliao deTabôaças, a que chamàraõ as tres Igrejas , por fer efta tres
vezes fundada em varias partes da Freguefia,he Abbadia doPadroadoReal,ren-
de cento &feíTenta mil réis, tem oitenta &dousvifinhos- Aqui fazem boa lou-

Ça dC f
S °Ei?évaõ de Cantarlaés, Abbadia da Mitra, que rende duzentos mil reis,
tem noventa vi linhos- Aqui ha ruínas de hum Caftello, chamado o Caltro de
Villa-ver de, que hoje dizem de Villa-íeca,& com eftar em hum alto , por baixo
delle vayhumamina diftanciade mil paífos geométricos, pela qual oscavallos
vinhaõ beber ao Ave. i -i
Santa Maria do Pinheiro, Abbadia da Mitra, rende oitenta mil^ reis , tem
quarenta & dous viíinhos, fóra os Meeyros de Corte Garça, quevaõ hum anno
a S-loaõ, outro a efta Igreja. . , ...
1 ;
S. Payo de Villarchaõ', Abbadia da Mitra , rende noventa mil reis , tem
cincoenta viíinhos. Daquivay o carvaõ para Braga, que fazem nefta ferra da
Cabreira.

CAP. XXXV.

Do Concelho de z5\donte Longo.


.
DUas legoas de Guimaraens entre o Norte, & oNafcente temfeu aífento
efte Concelho, de que he cabeça a Villa de Fafe , quetem huma fó rua,
aonde eftá a Cafa da Camara, & Cadea. ElRey Dom Manoel lhe deu foral em
Lisboa a y-deNovébro deiy 13. foraõ fenhores delle os Cunhas, Coutmhos,
& depois deftes paífou aos Condes de Bafto , & agora he dos Portugaes,
Condes de Vimiolo, por cafamento da Condeça Dona Maria de Albuquerque
com o Conde Dom Miguel de Portugal. Tem dous Juizes Ordinários , dous
Vereadores, hum Procurador por pelouro, & eleição do povo de tres em tres
annos, a quepreíide o Corregedor de Guimaraens , dous Almotaccis, Meiri-
nho, que he Carcereiro, eleição annual da Camara, tres Tabeliaens do Judicial,
•iv.'k L. *1
DA COROGRAFIA PORTUGÚEZA. fj?
& Notas, Diftribuidor, Enqueredor, & Contador, Efcrivaõ da Camara , & AÍ-j
moraçaria, Juiz dos Orfaos com feuEfcrivaõ , Outro das Sizas do Concelho,
Coutos, & Honra comordenado no Almoxarifado de Guimaraens,. & Porteiro
pela Camara; todos aprefenta EIRey, fendo qué os fazião os Condes de Bafio-
He fértil de trigo, vinho, algum azeite, muitos gados de toda a forte , mel, ca-
ça, & pefcas em tres regatos,que nelle nafeem, & formão-o VizelLa- Tem feirá
em Fafe no primeiro do mez,& em Pica aos 18-confia dasFreguefias feguin-
tes- ,
Santa Eulalia de Fafe,Toy Mofteiro, não alcançamos de que Ordem, enten.
demos que foy fundado por algum fidalgo dos do appellido Fafez; porque di-
zem fer cite o folar deitafamília, & que daqui foy fenhor Dom Godinho Fa-
fez, filho primeiro de Dom Fafez Luz, Rico homem, & Alferes do Conde Dom
Henrique, & que efta Villa, & Frèguefia tomáraõ delle o nome: extyiguiofe, o
quando naõ fabemos,&feunio ao Mofteiro de S-Marinha da Cofta, quenelle
aprefenta Cura,comnovent.a mil reis de renda, & para os Frades Jfcronymos
com íãbidos mil cruzados. Tem eftaFregucíia cento ôc cincoenta viíinhos, &
nelia há excellente pedra para edifícios-
S- Martinho de Ermil, Vigairaria do Convento dePombeiro,que ao todo
renderá feffenta mil reis, & para os Frades cento & trinta mil reis : tem cem
Vifinhos^

Honrâ de Cepaesi

SA m Mamede de Cepaés, Vigairaria do mefmo Convento, ífué rende feten- ' »


ta mil reis, & para os Frades cento & cincoenta mil reis : tem cento & q ua-
renta vifinhos. Deraõ o Padroado defta Igreja ao Convento de Pombeiro os
Infantes Affonfo Sanches , & fua mulher Dona Tareja em 6• de Outubro de
i2 18. por nelle eftar fepultado feu fogro , & pay Dom Joaõ Affonfo de Albu-
querque & Menezes, Conde de Bar cellos, & Mordomo .mór delRey Dom Di-
niz. Tem hum Juiz, que faz o povo, & hum Efcrivaõ, que ferve em tudo, data
do Conde de Unhaõ, fenhor defta Honra-
Santa Miaria de Antime foy Abbadia do Padroado Real, & delia Abbade o
Doutor Joaõ Pinheiro, Deaõ da Capella Real em tenipo delRey Dom Manoel,
em que le fez Commenda de Chrifto na família de Pinheiros , data da Cafa de
Bragança• he hoje Rey toria, que aprefentaõ òs Duques de Bragança , feríde
cem mil reis , & para O Commendador edm duas annexas trezentos mil reis,
tem fetenta vifinhos.
Santo André de Teyvaés , Vigairaria do Convento de Palme de Frades
Bentos, rende ao Vigário cincoenta mil reis, & para o Mofteiro trinta mil reis,
tem vinte & cinco vifinhos..
S- Martinho deQuinchaens, Abbadia da Mitra, que rende duzentos mil
reis, tem fetenta & cinco vifinhos- , .
Santa Maria deRibeiros , Vigairaria do Mofteiro dasFreyras de Santa
Clara de Guimaraens, que rende cincoenta mil reis, & para as Freyras com fo-
tos duzentos mil reis, tem cincoenta vifinhos-
S-ThomèdeEfturaõs, Abbadia da Mitra, que rende trezentos mil reis>
tem cento & íeis vifinhos;
Santa Eulalia de Revelhe, Abbadia do Padroado Real, que rende duzen-
O tos
,j8 TOMO PRIMEIRO/
tos mil reis, tem trinta & cinco vifinhos. " • • t

SantoEílevaõdeVinhós,Vigairamqueaprefenta oReytor tie S. Thome


de Travaçosno termo de Guimaraens, rende ao todo cjuarentamil reis, & pa-
ra o Commendador cem mil reis, tem trinta & íeis vifinhos.
Santa Comba, Abbadia que apreientaõ joaõ Pinto, fcnhpr da Caía do Bom
Jardim na Cidade do Porto, & Antonio da Colla da mefma Pregue lia, rende du-
zentos mil reis, tem trinta viiinhos • -
S. Martinhode Medello, Vigairaria doHofpital de S- Marcos da Cidade
de Braga, rende quarenta mil reis, & para o HofpitaPoitenra mil reis, tem vin-
te & hum viiinhos.
S- Bertholameude S. Gens, antigamente chamado de Giaens, foy Moíteiro
da Ordem de S- Bento, fundado por Dom Rodrigo Frojás , & dado aos Mon-
gesdeíle^into; depois ElRey Dom Affonfo Henriques o tirou a eiles , & o
deu aos Conegos Regrantes de Santo Agoftinho no mefmo tempo , em que lhes
deu o Moíleiro de Toloés, & S* Torcato; & vindo ao poder doCommendata-
rio Joaõ de Barros, elle o nomeou à Collegiada de Guimaracns , como fez aos
mais. Tem eíla Freguefia duzentos & trinta viiinhos, &a igreja hum Vigário
com tres Benefícios íimples, que rende cada hum cem mil rcisj tudo aprefenta-
çaõ do Cabido daquella Real Collegiada.

Couto de zSMoreyra de Ityy.

HE eíle Couto da Coroa Real, & privilegiado das Taboas vermelhas de


Nolfa Sefthora da Oliveira, tc cento & fetenta vifinhos com huma Paro-
ainvocaçaõ de S. Martinho, Commenda de Chriílo , & Reytoria do Pa-
droado Real, que rende cem mil reis, & para o Comendador duzentos mil reis.
Afliílê ao feu governo civil hú Juiz Ordinário,& Orfaõs por eleição do povo.de
tres em tres annOs,dous Vereadores, & Procurador do Concelho, Meirinho an-
nual pelo povo, & hu EJfcrivaõ, data delRey,que ferve cm tudo,hum Almotacel,
Diíl ribuidor, Enqueredor, & Contador.

Couto de Tèdraido.
0 , . 5, /»•;-•> *t 44, i,

SAõ Penhoras deíle Couto as Frevras de Arouca da Ordem de S. Bernardo:


tem Juiz ordinário do Civel,&Crime, hum Vereador , & Procurador do
Concelho feito por eleição do povo,& pelouro de tres em tresannos , humEf-
crivaõ, que ferve em tudo, data delRey; o Juiz também o he dos Orfaõs; & ap-
pella -fe daqui para o Porto: nem toda a Freguefia he Couto- Tem huma Igreja
Parochial dainvocaçaõ de S. Bento , Vigairaria annexa do Mollciro de Santa
Senhorinha de Bailo, que renderá quaréta mil reis, & para o Morgado daTay-
pa fetenta mil reis, tem feífenta viiinhos.

CAP.
t> A COROGRAFIA PORTUGUE2A. ijp

CAP. XXXVI.
•' ' - . 1 Vjl >* • * .tJ « ' #-/■'. ' -V - «•

©o Concelho da Ribeira de $\odh


• 'Jv ■
Fica efte Concelho para o Norte ao pê da ferra de Gerèfi, aonde fe críaõ ca-
bras bravas, que fe nâõ achaõ em outra alguma terra de Portugal: faõ anij
maes grandes, & quando os machos atidaõ no cio, enveftem com fúria à gen-
te : paitaõ cõ muita cautela,porq em quanto huns andaõ paftando, eftaõ outros
de vigia, & tanto queféntem gente, daô hum bramido aos mais , & recolhendo-?
fe todos às grutas, em quehabitaõ,ficaõtamlivres , quefelhesnaõ pode fazer
dano; & para fe chegar a matar algum delles, he com muita indulfria, & pegan-
do em algum, de tal modo fe amua, que logo morre, por naõ querer comer*
Criaõ-fe também nefta ferra muitas Águias Reaes, Falcoens, & outra mui-
ta ca ft a dé aves de rapina, Javalis, Lobos, & outros bichos: tem muita quanti-
dade de arvores de excefíiva grandeza, & de muita eftimaçáõ , & tam defeo-
nhecidas, que quem as vê,lhes poem o nome,que lhe parece,por dizer ter vifto
outras femelhantesfóra do Reyno; delias fe aproveita pouca gente pelo cufto,
que fazem, para fe tirarem dentre as penhas, em que a natureza as produzio:
de algumas fe fazem leitos, & outras obras femelhãtes de muito melhor lulfro,
que de paodoBrafil;& também fe achaõ outras, que dão flores fem fruto muito
engraçadas em cores, & cheiro , 8£ fe tem por coufa averiguada, que em nenhúa
parte defte Reyno feachão outras como ell?s. Tem cfta ferra doGerésdous
rios, que faõ o Homem, & Cavàdo, em que morrem muitos falmoens , ldm-
preas,exccllentes trutas, & grande quantidade de bogas*
A efte Concelho deuforálElRey Dom Manoel em Lisboa aos 16. de Julho
de i fif. he debomciima,&dá boas novidades de paõ, vinho, azeite , muita
caftanha, boas frutas, mel, muitos gados de toda a cafta, perdizes > & coelhos
fem conto. Os Condes de Unhaõ fe intitulão fenhores defte Coriéelho, & mã-
dandopôrnellepelourinho,pelos annosde 1672.comfuas Armas dos SvIvas,
que faõ hum Leão,os moradores as picàrão no anno feguinte com pretexto ze-
lofo, de que erão Portugueses , & não Cafteihanos,para confentirem Armas
delRey de Leão. Sobre efte pique trazem os ditos Condos demanda com o Cõ-
celho, q uefe defende diante do Juizo da Coroa , impugnandolhe o fenhorio.
Tem J uiz ordinário com dous Vereadores,& Procurador do Concelho por pe-
louro de eleição triennal do povo,a que prefide o Corregedor de Guimaraens,
&oJuifcnó<fia emqpetomaavaradâ hum bom jantar (a que chamáõ Brodeo-
Cabrita) aos amigos, & os dous Almotaceis daõ outro de menos cufto. Trcs
Tabeliaens do Judicial, & Notas, hum dos quaes o he também dos Or faõs nef-
te Concelho, & nos Coutos de Parada, & Poufadella , de que os Condes faõ
também fenhores. No officio de Efcrivaõ da Camara , &AImotaçaria fervem
<ps tres Tabeliaens alternativamente. Efcrivãodas Sizas, Contador , Diftri-
buidor, Enqueredor,& Juiz dos Orfaõs. Deftes officios huns aprefenta ElRcy,
outros o Conde de Unhão , cuja data também artda em litigio : a Camara faz
Meirinho, que ferve dc Carcereiro. Tem duas Companhias com Capi aiõ mór,
O ij *
j6q TOMO PRIMEIRO
& Sargento mór,&confiadas Frcguefias íeguintes.
S' Mamede de Caniçada, Abbadia da Mitra, rende ceiíto & cmcoenta mil
reis, tcmíeffenta vifinhos.
S.Joaõ de Cova, Abbadia da Mitra, rende cento & quarenta mil reis , com
ametade de Villar da Veigfl, tem fcífeiita vifinhos.
NoíTa Senhora doRoíario, Vigairarta annexa a Calamonde, que renderá
parao Vigário quarenta mil reis,õcpara o Abbade lctentà.mil reis,tem feífen-
ta vifinhos.
S- Gens de Calamonde, Abbadia da xMitra , rende com a annexa cento &
cincoenta mil reis, tem fetenta vifinhos. Aqui eftão as voltas de Calamonde,
coufá enfadonha de paffar; porque em pouca diftancia de huma. terra a outra
ha hum dilatado caminho,pelos muitos reeoncàvos,quc em repctidosvalles fa-
zem aquelles outeiros, &com continuo perigo de grandes precipícios , que
muitos tem experimentado em notáveis delgraças. ' >• • ••
S. Martinho da Ventola, Abbadia da Mitra, rende com as annexas de Vil-
lar da Veiga, &Soengas, duzentos & cincoenta mil reis , tem cincoenta vifi-
nhos. • ,
Santo Antonio de Villar da Veiga fica alem do Cavado dá parte do Norte
na ferra deGerès , he Viga irar ia annexa à Igreja de S. Martinho da Yentola,
que aprefentão os Abbades com o de S- Joaõ da CoVa , rende ao todo quarenta
mil reis, & para o A bbade outro tanto.
S. Martinho de Soengas, Vigairaria da Ventofa, rende trinta mil reis, &
para o Abbade quarenta mil reis, tem dez vifinhos.

Couto de Parada de ^ouro.


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SAm Julião de Parada de Bouro, Abbadia dusCondes dc Unhão , de que
por Biillas Apoílolicas comem o qumto dos dízimos, tem cmcoenta vifi-
nhos. No rio Cavado , aonde confina com Santa Marta de Bouro , tem
ruínas de huma ponte de tres arcos, coufa admirável, que dizem fer obra dos
Romanos., Eiia Freguefia he Couto, & o deu ElRey Dom Sancho o Primeiro a
Dona Maria Paes Ribeira, & aos filhos, que delia tinha: hum dos quaes era D.
Confiança Sanches, que deu o í eu quinhão à fua pupilia , & ibbnnha a Infanta
Dona Sancha, que morreo em Sevilha , filha delRey Dom Affonfo o Terceiro.
Por cafamento entrou nos Menezes, fundadores dò Convento de Villa do C ti-
de,& por eíla caufa eílc Couto,& o de Poufadella foram algum tempo das Frey-
ras, do qual faõ íenhores os Condes de Unhaõ, por defeenderem de Dona Bri-
tes de Menezes,filha de Dom-Martinhode Menezes , fenhor de Cantanhede,
q foy iegúda mulher de Ayres Gomes da Sylva, Regedor da juífiça , & Alcay-
de mor de Montemor o Velho. Tem*Juiz ordinário do Crime, & Civel, hum
Vereador, & Procurador do Concelho por pelouro de eleiçam do povo de tres
em tres annos, a que prefide, & confirma o Corregedor de Guimaraens, fervem
nelleno Judicial, & Notas>& Camara os Tabeiiãens da Ribeira de Soás, & aífim
os das Sizas, Juiz, & E feri vão dos Orfaõs-
Santo André de Frades, Abbadia do Conde de Unhaõ, dc que leva tãbem
o quinto dos dizimos, tem vinte & cinco vifinhos..:
Santo André de Friande, Vigairaria annexa à Coromenda de Verim , que
aprefenta o Rey tor, tem quarenta vifinhos.
r
CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 161

C A P. XXXVII.
Ir i* f h ^ ; |\Jg
Do Concelho de Lanhofo.

TRes legoas dê Guimaraens parao Norte, & duas de Braga tem feu aíTento
o Concelho de Lanhofo, de que he cabeça a Villa da Povoa, a quem deu
foral ElRey Dom Diniz, eftando em Coimbra, a *j» de Abril de 1192. dizem
ler povoaçam dos Ozorios, fenhores de Cabreira,&. Ribeira , porque nella vi-<
vcrãofeusdefcendentes, como diz o Conde Dom Pedro titul» 55* & Lavânha
foi z 3 2 • & também 0$ Fafez aqui devião ter muito, ou parte , pois fe appell ida
deita terra o Conde Dom Pedro Sarrazim de Lanhofo , cujo neto Fafez Luz,
diz Lavanlia, fer daqui fenhor: depois foram fenhores delle os Cunhas, <k hoje
he do Conde de Sabugal, Meirinho mór do Revno» Tem Juiz ordinário , tres
Vereadores, & Procurador do Concelho, feitos por pelouro de eleiçam triennal
dopovo a que prcíideo Ouvidor do Conde, ótlhes palia carta ; dous Almqta-
ceis, quatro Tabehaens, Efcrivaõ aaCamara, 6c Almotaçaria, juiz dos Orfaõs
com feu Efcrivaõ, Diftribuidor, Enqueredor, & Contador, Meirinho, que fer-
ve de Carcereiro» Todos eftes officios aprefenta o Conde, Sc lo oElcrivaõ das
Sizashedata delRey- Produz muitos, bellos frutos de paõ, vinho, azeite,
frutas temporans, Sc de pendura, linho, caftanha, Sc tem muitos gauos de toda
acaíta, caça,Sc pefca nos rios Cavado, Ave, Sc Pont ido- > em t res Companhias
com Capitaõ mór, Sc Sargento mór. Ha nefte Concelho íermoías, Sc piei umi-
das moças , tem feira franca todas as ultimas quartas feiras do mez , St pela
mayor parte delle hia o aquedutto, que os Romanos trouxcraõ do no Ave a
Braga» Confta dasFreguefíasfeguintes-
Santiago de Lanhofo, Commenda de Chrifto, Sc Rey tona, que aprefenta o
Commendador, rende cento St trinta mil reis , Sc para o Commendador com
fabidos trezentos mil reis , temfeíTcntaviíinhos» Aqui efta o inexpugnave
Caftello de Lanhofo, fundado em huma afpera , & eminente .penha,.com huma
cirande cifterna de agua, aonde efta huma Capella de S. maietano , St outra de
S-Payo, aonde vaõ no Veraõ em romaria nosSabbados à noite a mayor parte
das moças, mulheres, Sc homens daquelle contorno, Sc voltao no Domingo pela
manhaã para cafa. Dizem fer preíervati vo para todo o género de doença, parti-
cularmente de maleitas- ,
S- Martinho de Galegos,Vigairaria annexa ao- Arcediagado de t onte-Ar-
cada, tem trinta viíinhos- Aqui viveo o Conde Dom 1 afez Sarracim de La-
nhofo, bom, & Rico homem, que com muitos Cavalleiros leus vaifallos pelei-
jou, & morreo na de Aguade Mayas junto a Coimbra diante de íeu ReyDòm
rareia contra Dom Sancho feu irmão, Rey de Caftelia. luccedcolhe leu fi ho D.
Godinho Fafez, que fundou o Morteiro de Fonte-Arcada, como logo diremos,
Sc o de Mohia, deque alem dos Fafes, Sede outras famílias dcícendem os Go-
dinhos, Sc erte he feu folar-: tem por Armas o efeudo partido em palia , o pri-
meiro cfquaquetadodeouro,& vermelho, de duas peças em taxa : ortgundo
efquaquetado de ouro,Sc azul de outras duas peças em u:a - fazem ^
I<$st . \ a ' TJHíNtO p K4 M B IR O '
ambas as palias de vinte peças : timbre huma Hydra de ourodefete cabeças,
adomeyo mayçr que asoutras>& leu rtt^uarde^ armado de vermelho, & azas
eftèndiâas de azul. Outros trazem em campo de prata cinco Águias em aipa.
S. Miguel de Villela, Abbadia eia Mitra, rende duzentos mil reis , tem
feíTenta viíinhos. Aqui ha memoria, & ruínas de duas Torces, aonde chamão o
Paço de V ílleta, de que he fenhor, ( & de muitos fqros ,que alli fe pagão) Ma t-
theus Mendes de Carvalho. Efte Paço, & Torres íàõ o folar aos Villeias , de
que ha muita deícendencia neíle Rey no.
S. Martinho do Campo, Vigairar ia dos Coreiros de Braga , que rende ao
todo. quarenta mil reis para o Vigário, &. para os Coreiros' cento & quarenta
niihreis: temcincoenta viíinhos. Aqui eílá a Caiada Mota com ruínas de fuia
Torce no andar dacafa,que ke o folar deíla família , & não o Gallello da Mota
em Caílella,corr.o alguns erradamente diíferâo. Procedem os Motas de Fer-
não Mendes dc Gundar, filho cie Mcm de Gundar, Capitão do tem po do Conde
Dom Henrique. Tem por Armas em campo verde cinco,ilores de Liz de ou-
ro em afpa, & por timbre dous penachos verdes guarnecidos de ouro , & en-
tre os penachos humaf.or deLizde ouro: outros as efquartelão com Leoens
de prata coroados de ouro cm campo vermelho.
Si Salvador de Louredo foy Abbadia da CafadaMota,he hoje Vigairaria
do Cabido de Braga, que rende para os Conegos cem mil reis, & para o V igario
trinta mil reis item dezoito viíinhos. Por cima deíla Igreja cílão o monte de
S. Miguel, & o outeiro de Caílilhão,& outro chamado de Erandião, entre La-
nhofo, & o Couto de Pedralva, menos de quar o de legoa da antiga Cidade de
Çitania: tem ruínas de fortificaçoens,que infaUivelmentefizerão os Bracaren-
fes, para lhe apertarem mais o cerco , quando a puzerão em fítio , & a ganhà-
raõ-
S- Emiliaõ foy Abbadia da Cafa da Mota, & hoje he Vigairaria do Cabido
de Guimaraens, tem vinte viíinhos.
S. Miguel de Taídc, Reytoria do Moíleiro dos Remedios de Braga, rende
cem mil reis, & para as Freyras cento & fetenta mil reis, tem feíTenta viíinhos.
Daqui he tradição era Gileanes dc Ataíde, que teve o folar de Villela , de que
fica viíinho,& na verdade no Conde Dom Pedro achamos differpntes eíles dos
outros Ataídes. Neila Fregueíia eílá a Capella de S. Bento de Donim, imagem
milagroía, aonde ha feira nos feus dias duas vezes no anno-
S. Martinho de Travaços, Abbadia do Padroado Real com referva do Or-
dinário quando não renuncia, rende cento &: vinte mil reis, tem trinta &feis
viíinhos.
S. Payo de Brunhaés, Vigairaria da Mirra annexa à Commenda de Santia-
go de Guilhofrey,tcm trinta viíinhos.
S. Bertholameu da Elperança, Abbadia da Mitra,rende centoác vinte mil
reis, tem trinta & dous viíinhos.
S. Adrião de Soutello, Abbadia da Mitra, rende cem mil reis, tem vinte &
cinco viíinhos, que vivem em huma montanha, aonde ha muita caça,& gados.
S. Pedro de Cerzedello, Vigairaria das Freyras deVayraõ , que aprefen-
(taõ, quando não renuncia. He Couto no Civel com Juiz de eleição annual do
povo, hum Vereador, & Procurador, 2c vem a elle eferever hum Efcrivão dc
Vieira: no crime vay a Lanhofo, tem fetenta viíinhos.
Santiago de Oliveira, Abbadia da Mitra, rende cento & cincoenta mil reis ,
tem quarenta vifinhos- Neila Igreja eílá huma fermofa Capella de Santa Cruz
1
. feita
1

DA COROGRAFIA PoRTUGUE Z A> i6y


feita de bronze, & bem dourada, na qual ha muitâs relíquias j do lauto Lenho,
cia Corda de Chnflo, terra donde fubio aos Ceos , Cabellos de Noíía Senhora,,
de S. Urbano Papa, do Apoílolo Santiago Mayor , de S.Rento , & de outros
Santos , que fe pódem ver na Bulla que alli ha. Mandou as de Roma para eliá
Dreja pelos annos de 1580. hum Religioío natural da Aldeado Rio da meíma,
J reguefia: eílão metidas em hum facrario com duas chaves , que tem agora o
Abéadè para facilitar aos Romeiros o verem-nas. Tem jubileo perpetuo em
dia de Santa Cruz de Mayo, & de Santiago Mayor ; obrão infinitos milagres A
particularmente nos mordidos de caens danacios , &em totios os mais acha
ques, & enfermidades, como continuamente fc ven>
• •. i' iVri

Couto de Fonte-Ar cada*

SÀm Salvador de Fonte-Arcada foy Molieiro de Frades Bentos,fundado cm


luga» fértil, & aprazivel por Dom Godinho Fafes pelos annos de 1067.
que era pay do Rico homem , Dom Fafes Luz , Alferes mor do Conde
Dom Henrique, & filho do Conde Dom Fafes Sarrazim de Lanhoíò , também
Rico-homem, cujo folar, & morada foy em S- Martinho de Galegos, como já dif-
femos' O primeiro Abbade delfe Molieiro foy Frey João, que viveo , & mor-
reo com opinião de Santo no anno de 1082- permaneceo com Religiofos até o
tempo do Arcebifpo Dom Fernando da Guerra , ôcâchamos-lhe Dom Abbade
Monge no anno de 1437. chamado também Dom Fernando , confirmado por
eíie Arcebifpo, & foy o ultimo que teve: por cuja renuncia o aprefentou o Ar-
cebifpo em hum Clérigo no anno de 145-5- dalli a dez annos o mefmo Arcebif-
po creou nelle para a fua Sè hum bom Arcediagado, que nella tem Cadeira com
obrigação de cfuas Miífas cada anno,huma em dia cie S. Pedro, & S. Paulo , &
outra em dia de NoíTa Senhora da Cònceição- Tem dons Vigários , que apre-
fenta o Arcediago, quando não renuncião: importa a cada hum mais de feífenta
mil reis, curãoneíta Igreja, & nadeS. Martinho de Galegos, rende com a dita
annexa,&a de Santa Marinha da AjrofaemGuimaracns , & as offer tas da Ca-
pella de S- Sytveíire em feu dia na F reguefia de Friande, paífaes,&iabidos per-
to de hum conto: he data do Arcebifpo com referva : teve mais três Igrejas,
que fe lhe defannexàrão, como forão Villela, Oliveira, &. S. Gens de Calvos, &
agora faóAbbadias da Mitra, & muitos bens, que fe defertcaminhàrão por vá-
rios modos para muitas peífoas. Tem eíia F-reguefia cento & quarenta vifinhos,
& a mayor parte delia he Couto, de que he fenhor o Arcediago, aonde aprefenta
Juiz do Civel, & Orfaôs, hum Procurador, & Ouvidor: vem eícreverlhes dous
Efcrivaes do Concelho hurfi anno, outros dous o feguinte- Nos Orfaõs efere-
ve o que o he do termo: no crime pertence ao Juiz ordinário da Povoa.
S-Gens de Calvos, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis, tem citl-
coentavifinhos.
Santa Maria de Rendufinho, Abbadiâ da Mitra, rende duzentos & emeoe-
ta mil reis, tem cincoenta & feis vifinhos.
Santo Eítevão de Gerás, Abbadia do Conde de Sabugal, rende com a an-
nexa feguinte, trezentos mil reis, tem vinte & cinco vifinhos. Aqui eliá aTor-
re de Berredo, folar delia família defeendente dos Ozorios, Ribeiros , & Ri-
beiras, fenhores delia Quinta, & da mefmaCafa , qUepoíTuíoD. MartimPaeá
Ribeiro^
*$4 TOMO PRIMEIRO
Ribeiro, o primeiro que fez delia Honra, donde feus defeendentes tomarão o
appellido. Andão liados com os Pereiras, porque Dona Maria de Berredo , fi-
lha de Gonçalo Annes de Berredo, cafou com Ruy Vafqúes Perei ra, Sc daqui naf-
ceo o chamarem-fe hoje 'os defta família Pereiras de Berredo. Tem por Armas
cm campo azul hum baluarte deprata ardendo em fogo fobrehuma rocha,tim-
bre a mcfma torre. Aqui eíiá também a Quinta de Paços,que era honrada cm
tepo delR ey Dom Diniz, por ler de Dona Tareja Paes Bugalha., irmãa de Ruy
Paes Bugalho.
Santa Tecla, Vigairaria Ordinária, que aprefenta o Abbade de Santo Efte-
vão de Geras, de quem he annexa, tem-trinta St feis vifinhos-
S. Martinho de Ferreiros, V igairar ia dos Frades do Populo de Braga, tem
trinta Sc dousvifinhos. Aqui eftá a Quinta da Torre, que poífue o Marquez de
Montc-Bello; he folar dos Machados, por Dona Maria Moniz , filha de Dom
Moninho Ozores, fenhor de Cabreira, St Ribeira,St neta do Conde Dom Oso-
rio, povoador delias terras: a qual teve dclRcy Dom Sancho o Primeiro a Mar-
tini Martins Machado, (inda que outros dizemohouve de Mem Moniz de Gán-
darey) o qual rompendo com hum machado as portas de Santarém ,• quando
ElRey Dom Affonfo Henriques ganhou aquella Vília aos Mouros , foy o pri-
meiro, que a entrou, St por elf a façanha le appellidou Machado, St feus dtícen-
dentes, fenhores defta Cafa por fua máy, todos fidalgos de muita conta, St efti-
mação- Forão Alcaydes mores de Chaves, Lanhoío, St Ervededo , St depois
fenhores da V illa de Amares entre Homem , St Cavado por mercê delRey Dom
Affonfo o Quinto feita a nove de Abril de i+fo. a Pedro Machado, fidalgo de
fua Cafa, StTrinchante do Infante Dom Pedro, o qual comprou a dita Villa de
Amares por quinhentas coroas , que deu a Dona Maria de Azevedo viuva de
Alvaro de Biedma, as quaes fe lhe devião do cafamento, que ElRey Dom João o
Primeiro nrometeo a feu marido. Cafou o dito Pedro Machado com Dona Ines
de G'oes, filha de Pedro de Goes, St de Dona Margarida Cabral, St por efte cafa-
mento foy também fenhor das Villas da Lolizã, V illarinho, St Pedragal ; St leu
filho Francifco Machado no anno de 1 f 11. em vinte St tres de Outubro trocou
cfta s tres V illas com o Infante D. Jorge Mèftre de Santiago, Duque de Coim-
bra, St tronco da Real Cafa de A veyro,pcla Commenda de Souzel, St hum juro
em Guimaraens, que tudo permaneceo em fua geração por varonia até Francifco
Machado da Sylva, que de fua primeira mulher Dona Maria daSvlva teve filha
herdeira Dona Margarida Machado da Sylva, fenhora defta Cala, St da Villa de
Amares, que cafou com Manoel de Araujo de Soula, filho da Cala de Tora, dos
quaesnafceo Felix Machado da Sylva St Caftro, fenhor das mefmas Cafas,Vil-
la, St Concelho, St primeiro Marquez de Monte Bello , pay do q ue hoje vive.
Tem os Machados por Armas cinco Machados deprata em campo vermelho,
com os cabos de ouro.poftos em afpa, timbre dous* machados cm afpa, atados
com hum torçal verde, as quaes parece fe tomarão pela occafião referida. Ha
muitos fidalgos,St nobreza defte appellido com alguns Morgados, Stporca-
lamentos liaõ com os melhores do Rey no.
S. Julião de Covellas , Vigairaria do Mofteiro do Populo de Braga, tem
quinzevifinhos-
Santa Maria de Moure, Abbadia da Mitra, rende coma anneia duzentos
Sccincoenta mil reis, tem vinte' St hum vifinhos- Aqui eftá a Quinta dcCalde-
zes,naqualhaopédehumcaftanheiro , quedavahummoyodecaftanha , Sc
huma vide que dava trinta almudes de vinho. Nefta Frèguefia he o Morgado
de
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 16$
tk Outeiro com obrigação de appellido de Coelho-
S. Martinho de Aguas font as, Vigairariâ annexa à Igreja de Moure, tem
quarenta St cinco vifinhos, Sthuma Capella de S. Bento , imagem milagrofa ,
aonde hafeira franca em feusdias,vmteSchuni de Março, St onze de Julho.
' a Tt o' > »• n r \*t - * vi '1 . ■ ~ * •.

fulgado de Lagiofa.

ENtre o Concelho de Lanhofo, St Couto de Pedralva eftá oj ulgado de La-


giofa, terra de montanhas, mas ferul de paõ, mel, caça , St abundante de
gados. Teve huma Parochia, orago S. 1 nome , a qual feunio 110 efptritual à
Igreja de S. Martinho de Aguas fantas, por ferem poucos fregueíes- No tem-
poral he julgado com Juiz ordinário, que prelide à nova eleição, que o povo
fazdefucceííòr annual, huma audiência cada fomana , a que alternativamente
vem eferever hum dos Efcrivaens de Lanhofo, para cujojuizfe appella no Cí-
vel jno Crime toma os autos o do Julgado,& remete-os ao mefmo. O Meirinho
he o do Concelho. Tem efte Julgado vmtçvifínhos,

r
• ;3 -

CAP. XXXVIII. •
1
A . •í V, ) A »'- '

. T>o Concelho de S+foaõ de ljRey.

EStá efte Concelho na Ribeira do Cavado, Sc he hum dos que povoàraõ os


Ozorios, fenhores de Cabreira, Sc Ribeira,do qual era fenhor , St de ou-
tras coufas João Affonfo de Beça, que em tempo delRey Dom João o Primeiro
aleivofamcnte o quiz matar, Sc fazer as partes de Capella ■, Sc como neftas guer-
ras o ferviffe com grande fatisfação Lopo Dias de Azevedo , fenhor do
Couto, Sc Cafa de Azevedo, Sc Caftro , Sc das terras de Bouro (ao qual armou
Cavalleiroporfua mão na de Aljubarrota) lhe deu omeímoRey Dom João o
Primeiro osíenhorios defte Concelho, Sc os de Aguiar de Pena , Sc Jalies em
Trás os Montes, Sc os direitos Reaes da Honra de Frazão no termo do Porto,
Sç outras pertenças: fuccedeo-lhe feufilho mais velho João Lopes de Azevedo,
& a efte feu filho Diogo Lopes de Azevedo ; herdou-o leu filho Diogo dc Aze •
vedo, que cafoucom Dona Maria Coutinho da Cunha , filha de Fernão Couti-
nho da Sylva, Sc de fua mulher Dona Maria da .Cunha, fenhores de Cero! co dc
Bafto, dos quaes nafcèrao Diogo Lopes de Azevedo , queperdeo a Cafa por
cxccífos, Pedro Lopes, Sc Dona Leonor de Azevedo, mulher de Fernão Veiho
de Araujo, fenhor das Cafas de Lobeos , Sc Araujo- Pedro Lopes de Azevedo
por morte de Diogo Lopes feu irmaõ, herdou a Cafa de S. João de Rey com os
fenhorios diminuídos em parte :fer\fioem Atzilla, aonde le achou no fítio,que
ElRey de Féz lhe poz, teve filho mais velho Antonio de Azevedo,-que lhe fuc-
cedeo, foy Commendador de Couci eiro na Ordem deChrifto,Sc pay de Pedro
Lopes de Azevedo, Francifco de Azevedo, João Lopes, Lopo Dias, Diogo de
Azevedo, que todos fervirão na Índia fem geração, Sede Vafco Fernandes de
Azevedo Coutinho, queoherdou, além de dous-baftardos Franci leo de Aze-
vedo, Adail em Mazagão, Sc Antonio de Azevedo, que também là fervio. Sue-
í66 TOMO PRIM E I R O
cedeo a Vafco Fernandes de Azevedo na Cafa, & fenhorios feu filho Diògo de
Azevedo Coutinho, que fervio nas A rmatías, & em Mazagão, pelo que lhe de-
râo o Habito de Chrifto com feffenta mil reis; herdou-o feu filho Vafco de Aze-
vedo Coutinho, que hoje vive fenhor defta Caía, & terras, Meftre de C ampo de
Infantaria, & Fronteiro mór da Portella de Homem, que neftas ultimas guer-
ras fervio, Sc feu irmão Francifco de Azevedo, &feus filhos Diogo tie Azeve-
do , &F ernão de Azevedo fervírão também nas mefmas guerras com a pon-
tualidade, Sc valor, que devião à fua nobreza, como a todos he publico. A efte
Concelho deu foral ElReyLom Manoel em Lisboa aos 2 f. de Dezembro de
1514- tem ]uiz ordinário, que tambep he dos Orfaõs, dous Vereadores , &
Procura'dor do Concelho por pelouro de eleição triennal do pOvo, a que preíi-
de o Ouvidor do fenhor da terra, quando clle não quer preíidir, & lhe paffa car-
ta de confirmação; Almot?ceis, que faz a Camara, & Meirinhd annual, quatro
Tabeliaens do Judicial, & Notas, & Orfaõs, neftes cada annohuhi alternativa-
mente; Diftribuidor,Enqueredor,&Contador, todos data do fenhor defta
terra; EfcrivãodaCamara,ôc Almotaçaria,StEfcrivão dasSizascom ordena-
do no Almoxarifado de Ponte de Lima, faõ ambos data delRey. He terra de.
baftante pão, muito, Sc bom vinho de enforcado, bellas frutas, muito azeite, Sc
caftanha em tanta quantidade, que fó deftas por avença pagão aos fenhores def-
te C oticelHb (que tem os quartos de todos os frutos) quinhentos alqueires pi-
ladas, fora as próprias: tem muitos gados, caças ordinárias , &pefcas no Ca-
vado. Compoem-íe das Fregueíiasfeguintes.
'S.João de Rey, Abbadia,que foy da Cafa que aqui eftá,& hoje he do Pa-
droado Real, rende trezentos & cincoenta mil reis, tem oitenta vifinhos. Por
cima deft a Igreja eftá hum monte, a que chamaõ o Caftro, que moftra fer forti- •
ficaçãodos Romanos.
Santa Maria de Verim, a quem o Livro da Ordem de Chrifto chama Ver-
rim,heCommendade Chrifto, £t Rey toria da Mitra, que rende cem mil reis,
& para o Commendador com a annexa de Friande duzentos mil reis, tem qua-
renta & feis vifinhos. Neíta Fregueíia leva o fenhor da terra o íexto dopaõ,
& o quarto do vinho-
NoíTa Senhora da Ajuda, Abbadia da Mitra, rende cento & vinte mil reis,
tem vinte vitinhos-

Couto de Poufadella.

SAõ Martinho de MiíTulo,ou Moçul, Vigairaria do Cabido de Braga, rende


oitenta mil reis, Sc para o Cabido cento & feífenta mil reis , tem cento &
feis vifinhos, huma Aldeã chamada Poufadella , que he Couto dos Condes de
Unhão com Juiz feito cada anno pelo povo, que confta de doze homens , a que
prefide o Juiz velho: fervem nellc os Elcrivaens , & Miniftros dos Orfaõs do
Concelho da Ribeira, &Couto de Parada ;ha milícia, & fintas andaõ com S.Joaõ
de Rey, cujos fenhores tem o q uarto, & foros. Os Condes de Unhaõ poffueni
alli huma cafa antiga, Sc arruinada, a que chamão de Poufadella, da qual foy fe.
nhora Dona Maria Paes Ribeira,fidalga principal, flt de grande fermofura, que
por ter aqui fua cafa, & fer herança de íeus paffados Ozorios, povoadores def-
tas terras, feria coutada. Aqui eftá a Quinta de Outeiro, que Dom Mendo, fe-
nhor defta Fregueíia, deu a Mar tim Machado feu vaffallo , do qual entendemos
1
. foy
DA COROGRAFIA FORTUGÚÊZA* i6f
foy filho Eílevão Martins Machado, que aífiílio ao Infante Dom Affonfõ San-
ches, filho delRey Dom Diniz, & a fua mulher Dona Sancha, de que era muito
parenta, & por aqui tiveraõ cíles fidalgos muitas quintas, & folares.

CAP. XXXIX.

c
Dq Couto de Vimieiro*
•t

ES te Couto, parece, foy fubditoà Cidade de Braga , da qual diíta huma íe-
goa para o Poente; porque o Ouvidor daquella Cidade lhes hia fazer Hua
audiência cada mez, pelo que lhe davaõ hum carro de pão- He delRey cõ Juiz
ordinário, que tambemohe dos Orfaõs, dous Vereadores, de que hum ferve
de Almotacel, hum Procurador por pelouro, eleição triennal do povo , a que
prefide o Corregedor do Porto, dotis Tabehaens do Judicial, & Notas, que ai
ternativamenteefcrevemnaCamara, Almotaçaria,&Orfáõs, Elcrivaõ das Si-
zas, & Mevrinho; todos data delRey. Recolhe baftante pão, muito vinho, ga-
do, caça, h pefcas no Delle. He da Provedoria de Guimaraens , & tem as Fre~
guefias feguintes. ■
Santa Anna de Vimieiro foy Convento antigo, de que fe acha noticia pelos
annos de 6 5 2. mas não fabemos de que Religião foífe : fuppoíio o Chroniíla
dos Eremitas dç Santo Agoftinho diz que foy feu; he certo q perfcverou mui-
tos annos com grande obfervància, até que no de 1127- aos 25 de Mayo o deu
a Rainha Dona Therefa a Dom Pedro Mauricio, oitavo Geral da Congregação
Cluniacenfe em França, vifitandoa huma vez que andou cmEfpanha,& defde
entaõ ficou Priorado de Cluni, donde lhe mandavaó Prior , que prefidia aos
Monges Bentos, que cá tinhaõ- Finalmente o ultimo Abbade perpetuo de Ti-
baens Dom Gonçalo o fez annexar a elle, & aífim eíteVe cincoenta annos , até
que por falecimento de Ruy de Pina, terceiro Commendatario de I ibaens , fi-
cou Vimieiro devoluto ao Ordinário, & o Arcebifpo, que então era o Santo Dõ
Frey Bertholameu dos Martyres trazendo os Padres da Companhia para Bra-
ga, o unio ao Collegio de S. Paulo, que alli tem. He Vigairaria, que aprefenta o
mefmoCollegio, rende quarenta mil reis, & para os Padres da Companhia du-
zentos mil reis, tem feífenta v;finhos.
S. Lourenço de Celeiros, Vigairaria annexa a huma Conezia de Braga, ren-
de quarenta mil reis, & para o Conego cento & trinta, tem feífenta vifinhos.
S- Salvador de Figueiredo, Vigairaria de outra Conezia de B raga , rende
trinta & cinco mil reis para o Vigario, & para o Conego cento & vinte, tem qua-
renta vifinhos.
Santa Maria d'Aveleda, Vigairaria annexa a hum Beneficio limplezde S.
Giraldo, rende trinta mil reis, & para o Beneficiado, que he do Ordinário , oi-
tenta mil reis, tem cincoenta vifinhos.

I CAP
TOMO PRIMEIRO

C AP. XL.

2)o Couto de Tibcies*

NO tempo, que Braga era Corte dos Reys Suevos, & reynava Theodomi-
ro, tendo por feu Capellaõ mor a S. Martinho, Bifpo de Dume, o inci-
tou o Santo a que fundaffe o Modeiro de í ihacs de Monges Bentos, tres quar-
tos de legoa da Cidade de Braga para o Poente ao pc da ferra de $. Gens, nome
■que tomou de huma Ermida antiga, que edá no alto delia, da invocação dede
banto Reprefentante, fam.ofo Martyr Romano , & entendemos fer edificada
quando aquella nação nos dominava : fundou ElRey o Convento no anno de
5 como conda de huma pedra que nelíe fe achou em noíTos tempos, recdifi-
candoíede novo, & o"dedicou a S. Martinho de Turon. Succedeo a Theodo-
miro na Monarquia dos Suevos ElRey Miro , que ornou elie Convento com
huma grande mata de arvores, que não perdião a folha, & para ede.effeito as
conduzio do Alentejo. Prefume-fe eraó lòbreiros, de que hoje he bem provida
toda aquell a ribeira, de huma, & outra parte do Cavado ; & que ede Modeiro
edivcífe em ler, &. com Frades ainda pelosannos de 1070. & tantos, conda de
huma doação, que de ametade delle íez à Sede f uy a Infanta Dona Urraca, filha
delRey Dom Affonfo o VI. chamando a ede Convento Palatino 3 & como por
tempos devia arruinarfe,o reedificou pelos annos de 1080. Dom PayoGuter-
res da Sylva, fendo Rico homem, & Adiantado nedc Reyno por El Rey Dom Af-
fonfo o VI. de Cadella, por cuja caufa entendemos vivia em Braga, centro deda
Província, & por detráz do monte de S. Gens fez huma quinta, a qucdeu o no-
me de Sylva má, donde hia aííidir à fabrica do Modeiro , & em forma o am-
pliou, que muitos o tiverão por fundador, &. nelle edá fepultado; & como com
0 fangue herdou o zelo do pay feu filho Dom Pedro Paes Efcacha, devia largar
ao Modeiro algumas terras, que alli tinha , de que lhe fizerão Couto oConde
Dom Henrique, & a Rainha Dona Thcrefa em 2 4- de Março de mo. dizendo,
que o fazião por amor de Deos, & de Pedro Paes, & Payo Paes, filhos de Dom
Payo Guterres da Sylva,que fempre nos fervio copi grande fatisfação; &em 2 6.
de Fevereiro de 1135- fendo ainda Infante o noífo Rey Dom Affonfo Henri-
ques, lhe coutou o lugar de Donim junto ao rio Ave entre Braga , & Guimá-
raens- •
Teve ede Modeiro defde o anno de 1086. dezafeis, ou dezafete Abbadds
perpétuos, fendo o primeiro Dom Payo, & o ultimo D. Gonçalo pelos annos de
1+89. em que entrou por Abbade Commendatario o Cardeal D. Jorge daCof-
ta,Arcebifpode Braga 3 acabàraõfe edes no ultimo Cõmcndatario Dom Bem
1 ardo da Cruz, Frade de S- Domingos, Bifpo de S- Thomé,& Efmoler mor del-
R< y Dom Joaõo Terceiro, que faleceodia cie Pafcoa de 1565". em que entrou
a rc forma de Abbades, & foy o primeiro por dez annos, por nomeaçaõ do Car-
deal Dom Henrique, o Padre Frey Pedro de Chaves , a-quemvieraõ as Bulias
Apcdolicasem 22. de Julhode j fdp.fendo-o entretanto o PadreFrey Plácido.
I oy Frey Pedro Dom Abbade de T ibac s, Reformador, & Geral d a Ordem, de
'T A „ . que
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. ió?
que fizcraõ Cabeça a efte Convento. No fim dos dez armos o tòriHÍrãô à ele-
ger por hú triénio,& foy o primeiro Abbade triennal;íuecedeo lhe Fr- Plácido
de Víllalobos, o qual mandou Frade.-. para o Brafil,quc íundàraõ lá aquella Pro-
víncia de Bentos. Efte he o principio deffe Couto, Sc deíle Convento, de cj ie
láõ íenhores os Frades, Sc o Geral Ouvidor, faz o povo com ciiç elciçaõ de tres
cm tres annos, por pelouro,de dou* Juizes ordinários do Cível, & Crime pata
cada anno; efcolhe o Geral hum, que também íerve nos Orfabs, dous Vereadò-
res, que de mais faõ Almotaceis, Meirinho^ que faz ô Geral, dous Tabeliaens
do Judicial, & Notas; a hum anda annexo o tios Orfaõs, & Camara-? & ao outro
o das Sizas, Diílribuidor, Enqueredor, Sc Contador: todos data delRey» He
terra fria, recolhe pouco paõ, vinho, muita fruta, algum azeite, caça, muitos
gados, & quantidade de lenha,&pefcas 110 Cavádò. Temhuma Companhia, &
o G eral he Capitaõ mor ; compoern-fe o termo das Fregueíias feguintes.
S. Martinho de Tibaés, Mofleiro, & Cabeça da Ordem de S< Bento cm Por-*
tugal,dequeheGeralo Abbadedeíla Cala , rende quatro mil Sc quinhentos
cruzados com fabidos, & annexas, aprefenta Cura fecular, temtri ita Sc cin-
co vifmhos. He fermofo Templo com maravilhofo retabolo, & o primeiro,que
na Provinda fe inventou , tem grandes , & apraziveis clauílros com
muitas fontes, aíTim nos corredores altos, como nos pateos baixos , dilatada
cerca com bons pomares, olivaes, & matas; ha nefte Convento huma reliquia
de S. Bento, ô^nelle eflaõ fepultados muitos Varoens de exemplar virtude.
NoíTa Senhora da Graça, que antigamente fe chamou a Igreja de Paadim,
Abbadia da Mitra, rende com a Poufa lua annexa em Barcellos duzentos «5c cin-
coenta mil reis, tem cento St vinte vifinhos.
Santa Maria de Mire, Curado do Convento de Tibaens, tem vínte & cin-
co vifinhos. Aqui teve ElRey Theodomiro hum Paço, Sc quinta de recreação,
que deu o nome à Freguefía.
S-Payo de Parada, Vigairaria annexa ahumaConezia de Braga , rende
trinta & cinco mil reis, Sc para o Conego oitenta mil reis, tem trinta vifinhos.
S- Payo da Ponte, Vigairaria annexa a outra Conezia, renderá feffenta mil
re*is, Sc para o Conego cento Sc dez mil reis, tem cincoenta vifinhos.
S. PedrodeMerlim,a quem o livro da Ordem de Chriílo chama Mcrim,
foy Moíleiro de Frades Bentos, Sc depois de extinguido, aprefentaçao de Ti-
baés, a quem inda conhece comcerto foro: paífou a Commenda de Chrifto , Sc
heReytoriada Mitra, rende cem mil reis, & para o Comendador mais de mil
cruzados: tem cento Sc dez vifinhos.

CAP. XLL'

Dos Concelhos de <tC\4o?idim, <iAtey}Servay &■ Hermello*

DFfrontedos Concelhos dè Cerolico,& Cabeceiras de Bailo da parte da-


lém do Tamega para o Sul eftaõ quatro Concelhos : he o primeiro ó de
Mondim, que o divide de Cerolico de Bado o riò Tamega, mas dathe commu-
nicaçaõpela fua fermofa ponte de pedra, quechamaò de Mondim: heCõcelho
i7o / TOMO PRIMEIRO
ricO; aonde'Te lavra muita quantidade de couros,aífim fola, com o cordovaô; èc
fe faz muita cal; tem juiz,& Vereadores , que aprefenta o Marquez de Ma-
rialva, como fenhor delle. EIRey D Manoel lHcdeu foral cm Lisboa aos vinte
deAgoftode is 17. Tem emfeu delindo quinhentos vifinhos divididos pe-
las Freguefias feguint es- ~ J w
A Fregucíia da Villa de Mondim, Vigairaria da apreíentaçao do Marquez
de Marialva, & ha nefía Igreja hum Beneficio fimplez,que rende íeifeentos mil
reis, & o aprelenta o dito Marquez.
A Freguefia de Paradança, Vigairaria dameíma aprefentaçaõ.
A Freguefia de Villar deVerreiros, Abbadia da meíma aprefentaçaõ.
O íegundo Concelho hé o de Atev, que o divide do Concelho de Cabecei-
ras de Bailo o mefmo rio Tamega , otferecendolhe para fe dommunicarem hum
com o outro a fua barca de Atey: tem cento & cincoenta vifinhos comhuma
Igreja Parochial da invocaçaõ de S. Pedro, Vigairaria do Padroado das Frçyras
da Villa de Conde: he feuhordelleo Marquez deMarialva> que nelle aprefenta
juiz, que conhece do Civel, & Crime.
O terceiro Concelho he o de Serva, de que he Senhor o mefmo Marquez de
Marialva, que nelle aprefenta juiz, que conhece do Civel, & Crime: tem duzé-
tos & oitenta vifinhos, que fe dividem pelas Freguefias ftguintes.
A Freguefia de S- Payo de Serva, Vigairaria que aprefentaõ as Freyras de
%
Villa de Conde.
A Freguefia de Alvadia-
A Freguefia de S- Joaõ de Limão.
O quarto Concelho he o de Hermello,aonde fe achou huma mina de excel-
Iente eftanho:FlRey Dom Sancho o Primeiròlhe deuforalemGuimaraensno
mezde Abril de 1234.. He também fenhordeífe Concelho o Marquez de Ma-
rialva, quenelle poem Juiz, que conhece do Civel, & Crime ; tem quinhentos
vifinhos, que fe dividem pelas Freguefias feguinres.
A Freguefia de S. Viccte de Hermello, Abbadia que aprefenta o Marquez
de Marialva. •
A Freguefia de Fervença, Vigairaria. .
A Freguefia de Lamas dollo.
A Freguefia de Bilhó, Abbadia do Padroado do mefmo Marquez.

CAP. XLII.

T)o Concelho da 'Ribeira de cPena.

PArte o Concelho de Ribeira de pena com o de Cabeceiras de Bafio, & fó-


menteos divide o rio Tamega, que lhe dá communicaçaõ pelalua ponte
de Cavês, como a dá para toda a Província de Trás os Montes, Galliza, & Caf-
tella. Haneíhe Concelho Juiz, que conhece do Civel, & Crime, & tem no feu
deflriéto as Freguefias feguintes-
A Freguefia do Saltador, Rey toria, & Commenda de Chriílo , que ad-
miniftra a MarqUeza de Alenquer: nèíla Freguefia eílaõ fituadas a Capella de
Noffa Senhora do Rofario annexa ao Morgado, & Quinta da Olaria,de quche
- , ' fe-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. tyt
fenhor BalthafarPereira da Sylva,morador na fua quinta do Villar em Cábecei-
- ras de Bailo- A quinta, & Morgado do Bukeiro com Capella namefma Igreja,
de quehc fenhor Francifco Leitão de Almeyda. A quuita daTemporam com
fuas cafas nobres, que foy de Lilis Peixoto da Sylva , & hoje poffue por com-
pra Ambroíio Gonçalves Penha. A quinta de Picanhol com fuas boas cafas,que
poííue Francifco Pacheco de Andrade, Capitão mor daquelle Cõcelho. A quin-
ta de Freume com fuas cafas nobres , que poífue João de Valladares Vieira,
Cavalleiro da Ordem de Chrifto.
A Fregueíia de Santo Aleixo, que fica da banda dalém do rio Tamega, Vi-
gairaria annexa à Rey toria do Salvador.
A Freguefía de Santa Marina de Ribeira de Pena, Rey toria, & Commenda
da Ordem de Chnílo, de que he Commendador Manoel de Vafconceliós , filho
de Joanne Mendes de Vafconcellos-
Tem efte Concelho feifcentos & quarenta vifinhòs.

CAP. XLIII.

Da Villáx Concelho de Agúar*

O Nome propriodeíla Villa, & Concelho he Villa-Pouca de Aguiar , mas


como he habitada de honrados CaValleiros, não goílão que lhe chamem
Pouca, & aííim atem introduzido por Villa de Aguiar da Penha : difta dez le-
goas de Guimarães para oNafcente, & quatro de Villa Real para o Norte • eftá
fundada em hum ameno Valle entre as ferras de Falperra, & Sandonho , & he
compofta de humafó rua comprida, com muitas caías nobres, que moílram em
feus edifícios as nobrezas de íeus povoadores. Té hú Caftello , que íe não he
temerofo paraorefpeito,hc adjutorio para o credito de acaftellada : he feu
Alcayde mor Felippe de Soufa de Carvalho, que tem neíla Villa cafas magefto-
fas, & hum Reguengo.
Afliftem ao governo Civil defta Villa hum Juiz, que conhece do Civel, &
Crime, Vereadores, hum Procurador do Concelho, hum Juiz dos Òrfaõs com
feu Efcrivão, Alcayde, & Meirinho : tem mil & fetecentos & cincoenta vifí-
nhos, que fe dividem pelas Freguefias fcguintes.
A Freguefía do Salvador, Igreja Matriz , he Rey toria , & Commenda de
Chrifto, tem em feu deftriéto duas Ermidas,& eftes lugares, Guilhado, Noze-
do, Cidadelha, Pinoufal, ametade do lugar de Monte Negrello,Falperra, & Cõ-
dado.
A Freguefia de Santiago de Soutello annexa à Commenda de S.Marina da
Ribeira de Pena.
A Freguefía de S. Salvador de Toloes , Commenda de Martim Teixeira
Coelho, fenhor da Teixeira.
A Freguefía de Sãta Manha annexa à Commenda de S. Marina da Ribeira
de Pena.
A Freguefía de S. Martinho de Bornes, Rey toria, & Commenda de Chrif-
to, de que he Commendador o Marquez de Cafcaes, tem em feu deftriélo eftas
Ermidas, S. Giraldo, o Efpirito Santo, & S. Sebaftião.
Pij A
I7t x TOMO PRIMEIRO
A Freguefia deN. Senhora da Urea, annexa aReytoria de S. Martinho de
Bornes. ^ . , ■
A Freguefia de Valoura, annexa àrnefma Reytoria de Bornes-
A Freguefia de Santa Euialia de Penfalvos, Reytoria Comenda de Chri-
ílo, deq he Commendador o Conde de S. Lourenço ; tem eíial* regucíi.idous
lugares, Cabanes,&Soutello do Mato. u-. ^
A Freguefia dc Santa Maria de Affonfim, annexa a Rey tona de Penialvos.
A Freguefia de Parada de Monteiros, Vigairaria annexá à meíma Reyto-
ria de Penfalvos. • 'r } . ,
A Freguefia de S. Pedro do Bragado, annexa à meíma Reytoria de Pen-
ialvos- . ,
A Freguefia de S- João de Capelludos annexa á meíma Reytoria de Pen-
falvos. , ; '
He efle Concelho abundante dc pão, vinho,& frutas, & bons prezuntos,
muito mel, & por efla ri zão ie lavra nelle muita cera.

TRATADO II

Da Comarca, &Ouvidoria de Braga.

cap. i.

Da defirifçaõ 1 opograjica defia nobre Cidade.


' t • •y
JA latitudde 41. grãos , 33- minutos , &nalongitudde 12.
ij j grãos, 59-minutos no coração da Provincia de Entre Douro, &
Minho,entreosriosCavado,ôtDèíhe,emhumaalegre, &tiila-
1 tada planície, que cercão fertiliífimos campos, amenos prados,
& frondofos arvoredos, tem íeu afiento a muito nobre, &anti-
ga Cidade de Braga , fundada pelos Galios Celtas duzentos &
noventa feisannos antes da vintkdcChriího, chamados Brácaros por cauíã de
humaveílidura por nome Braça, deque ufavão, donde com pouca corrupçam
fe chamou Braga ; & eíha he a opinião mais provável, que leguem Florião de
Campo liv. 3. cap. 97. & G^ribay liv. 5. cap. 10. aonde dizem que os Turdulos,
Andaluzes, & os Gallos Celtas moradores nas ribeiras do Guadiana determi-
nàrão fahir de fuas terras,& entrar pelo mais interior de Efpanha a conquiíhar,
& fundar novos lugares: & concertados na jornada, fahirão mais de trezentas
mil peífoas, &forãocaminhando pelas ribeiras do Tejo, aondefizerão algumas
povoaçoens. Paffárão o rio, & marchando adiante pelas terras, que hoje faõ da
Coroa deíleReyno, povoarão Coimbra, & outros lugares, atè chegarc ao rio
Douro, aonde paràrão, paradefeançarem dos muitos trabalhos , que tinhão
padecido na jornada; & não querendo os Turdulos ir mais adiante,ficarao alli,
& povoarão muitos lugares. Os Gallos Celtas atraveffaraõ o rio Douro, &
depois
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 17/
depois de fundarem nas fuas ribeiras huma povoação,a que chamarão Porto
gallo (donde tomou o nomeeílc Rey no) forão povoar a Cidade de Braga,& ou-
tros muitos lugares, que fe incluem neílà Provinda.
Poífuírão os Gallos Celtas eíla Cidade mais de quarenta annos, até que a
ganhàrão os Romanos, debaixo de cujo império eíteve quinhentos annos , os
quaes lhe derao o nome de Auguíla. Delle tempo faõ as ant igualnas de cipos,
pedras, St monumentos, que nella, Stem feus contornos fe achão. Foy antiga-
méte Corte dos Suevos,St aífento de feus Reys mais de céto St íeteta annos; de-
pois a doininàrão os Çodos por efpaço de cento Sc vinte Sc fete, em cujo domi-
niofecelebràrãonelladiveríosConcilios, qqe lhe adquirirão grande gloria.
Pelos annos do Senhor de 716. a ganharão os Mouros, & foy conquillada por
ElRey Dom Pelayo, Scfeu genro Dom Affonfo o Catholico ; correo depois va-
rias fortunas, St quaíi de novo a povoou ElRey Dom Affonfo o Terceiro de
Leão pelos annos de 904. Tem forte Caílello , & he cercada de muros coiji
oito portas (obradelRey Dom Diniz) os quaes reedificou ElRey Dom Fernan-
do pelos annos de 13 7 y. Sc os ennobreceo com fortes torres. Produz o me-
lhor paõ de milho, que fefabe, pouco trigo, muito vinho de enforcado, frutas,
quantidade de tramoços, hortaliças, Scbaílante lenha, bellas carnes de vaca,
carneiro, Sc porco, que fe cor tão no mais excellente açougue que tem eífe Rey-
no, com pezo, Sc repezo, muitos laâãcinios, natas,manteigas, requeijoens, al-
gum azeite, limão, St laranja, muito peixe do mar, Sc rios , qucdevarios luga-
res trazem a vender, como caças, Sc aves domeflicasde toda a forte, Sc grande
quantidade de hervagens no Verão para os cavallos. Tem mais de fetenta fon-
tes perenes entre publicas, Sc particulares, Sc algumas de maravilhofa arquite-
ctura, como he o cnafariz da porta do Souto, Sc a fonte de S. Sebaílião, algumas
deitãopor feis bicas, outras por quatro, Sc outras por duas, com mais de oito-
centos poços em quintaes, jardins, Sc hortas a mayor parte delles. Foy Con-
vento jurídico no tempo dos Romanos, iílo he,Chancellaria ,àqual recorrião
as partes de vinte Sc quatro Cidades com fuas appellaçoens. Tem quatro mif
vilinhos com muita nobreza» grande trato de Mercadores, Cirgueiros, Sc offi-
ciacs de todo o genero; lavra-fe aqui cera fina,Sc fazem-fe velas de cebo melhor
que em nenhuma parte, Sc excellentes armas de fogo com coronhas exquifitas;
tem feira de quinze em quinze d ias nas fegundas feiras, Sc duas mais de bellas
cada anno, huma a vinte Sc quatro de Junho, Sc a outra aos oito de Setembro, ca-
da huma dura tres dias, ambas francas. Coníla de cinco Fregueíias, que faõ as
feguintes-
A Sê, orago Noífa Senhora da AíTumpção, he Igreja muito grande de tres
naves, com duas torres de finos, muitas Capellas, Sc clauílra; Templo tam an-
tigo, que muitos o fazem do tempo de Oíiris, Sc que fervio aos Romanos, co-
mo fe vê de humas letras, que eílão na parede da porta de S. Giraldo da parte
de fora. A Capella mor tem excellente retabolo, todo de pedra , que obrarão
os Bifcainhos por ordem do Arcebifpo Dom Diogo de Soufa, dos quaes ficárão
muitos na Cidade,Sc fundàrão cafas em huma rua, que chamao dos Bifcainhos,
pela dilatada alfiílencia, que tiverãoemofazer. He Vigairaria, que aprefenta
o Cabido, tem fetecentos vilinhos; junto a eíta Jgreja Cathedral eílá a Cafa da
Mifericordia com cinco Capelláens, que rezão em Coro , Sc trinta com obriga-
ção de MiíTa; tem mais de quatro mil cruzados de renda. A Ermida do Archã-
joS. Miguel, a Capella de Noífa Senhora da Ajuda , Sc a de Noífa Senhora da
Boa Nova.
p P iij San-
174 TOMO' PRIMEIROs:
Santiago da Cividade, Vigairaria do Caindo tem trezentos vifinhos ; dé-
trodefta Igreja eftá a Capella da* Chagas, que fez Pedro.O ran , ultimo Cõ-
mendatario de Carvoeiro, & faleceo no anno de 1602- po^.nella numa relíquia
do Santo Lenho com muitas indulgências, & Jubil<-OS,quçalcançou dos Sum-
mos Pontífices: he hoje Adminiílrador defta Capella o Reverendo Padre Fer-
não Correa de Lacerda, que tem quatro MifTas cada fomanfn Tem efta Frcgue-
íiaem feudeílriflooCollegio de S- Paulo, que fundou no auno de j 560. o Ar-
cebifpo Dom Frey Berthoíameu dos Martyres,aonde refidem quarenta Padres
da Companhia, os quaes enfinão Grãmatica, Filolofia, The.plogia eípeculat >va,
& Moral. A Ermida de*S. Scbaftião, & o Morteiro deNoffa Senhora da Conceit
çaõ de Religiofas da Terceira Ordem de S; Françjfço , que íç mç não engano,
não tem todo efte Reyno outro femelhante no habito , o qual he branco com
Efcapulario azul,& manto, &huma infignia da Senhora da Conceição 110 pei-
to : refidem nefte Morteiro cem Religiofas.
S ■ João do Souto he Abbadia, que aprefentão os Arççbflfpos, rende trezen-
tos mil reis, tem novecentos & oitenta vifinhos , & huma 1 iotayel Capella de
Noífa Senhora da Conceição com arco para efla Igreja de Saq Joaõ, a qual fun-
dou hum Provifor do Arcebifpo Dom Diogo de Soufa, que era da- família dos
Coimhras,a quê a deixou cõ Morgado de quinhetos mil reis de renda, & boas
caías : he hoje Adminiflradorderta Capella jofq-ph de Coimbra de Andrade , a
qual tem duas Miífas cada fomana- Tem mais értaFregueíia em feudefíncloo
famofo Ten plo de Santa Cruz, que fe tez de efmolas , no qual ha feis Capel-
laens, que rezão em Coro, & trinta com obrigação de Miffa , para o que tem
mais de dous mil cruzados de renda.
A Igreja do Efpirito Santo doHofpital, mais duas Capellinhas no mefm.O
Hofpit al, em que fê diz Miffa aos enfermos, & huma Capella de S- Marcos Joaõ
Bifpo, & Martyr, (primo, & companheiro do A portelo S- Barnabé) aonde eftá
o corpo delie Santo em hum fepulchro antigo de jafpe cuber^o com huma pedra
que guarda as fagradas reliquias, pelas quaes obra Deos muitos milagres: erta
Capella he muito antiga, &ertâ fit uada no campo dos Remédios ; defte Santo
Martyr tomou o nome a rua, que chãmaõ de S- Marcos.
O Morteiro de Noffa Senhora dos Remedios de Religiofas Francifcanas
da Terceira Ordem, logeitas aos Arcebilpos de Braga , em que refidem cen-
to & quinze Freiras, & tem a regalia de (quando morrem os Prelados) tange-
rem a Sè vacante, como na Igreja Cathedral, & affim aceitarem as Freiras, que
lhes parecem, fem teremfogeiçaõ, ou dependência do Cabido. Fundou erte
Convento Dom Frey Andre de Torquemada , Terceiro Regular da Província
de Andaluzia, Bifpo de Hume, que lhe anhexoua Igreja de S- Pedro de Frei-
tas, de que era Commendatario, com tudo quanto poffuía ; & pelos annos de
15-51. lhe deu licença para eíla fundação o Arcebilpo Dom Frey Balthafar Lim-
po : eftá fóra dos muros da Cidade em íttio alegre , hoje muy aumentado em
edifícios, & rendas; porque tem oito Igrejas annexas. Delle fahirão emdiver-
fos tempos fundadoras para o Convento da Conceição da mefma Cidade, & pa-
ra ode S-Francifco da Villa de Monção , que ambos faõ da Terceira Ordem
Francifcana-
O Convento de Noffa Senhora do Carmo de Carmelita? Defcaíços junto
ao campo da V inha, em que refidem trinta & feis Frades.
O Convento de Noffa Senhora do Pópulo de Eremitas de Santo Agoft inho,
em que refidem vinte & feis Religiofos, por naõ eftar ainda acabado, com ebri-
gaçaõ
D A COROGRAFIA PORfUGUF.Z A. i;S
gãÇao cie terem duas Cadmiras, huma de Theologiax& outra de Moral. Foy fuit
dado pelo Arcebifpo de BragaDom Frey AgoíKnhadç Caibro j Religioío ,da
melina Ordem,, o qual Ihç dotou feiíçentos mil reis dç jutOpafa feu fuífento \
com obrigaçaõ,entre oqçras,dehúa Miífa cotidiana:pela alma delRey D FcUp-
pe, que lhe dera o Arcebifpado, & hum QtTiciode poy.qLicoeug, ;^ o enrique-
cco còm hum grande theíbu^o de relíquias, que trouxera de Rotpa , & Alema-
nha, todas ricamente orn^dq^ Tem exceUçnte cerca com cinco fontes fingu-
larcs, (huma delias, quççhamaõ a do Menino de jafpe,com notável delicadeza
lavrada) <k fete devotas,Ermidas dos paífos da paixaõ de Chriíio , a que chjy
j-nao jerufalem, todas comgrande perfeição, íòbindo de humas para as outras
quafiem caracol, & por reinare delias Ermidas huma grade varanda com def-
irnpedidavifta: tem bons pomares, & hortas, St fobre tudo húa, fermofa deve-
2a, ou alameda de carvalhos poítos por tal ordem,queaíIimna grandeza ,f po-
mo na biftancia faõ hum deliciofo emprego da vifla ; & tem mais huma vi-
nhadentro, quenaòhc amenormaravilha, porquedentro detr-ps para quatro
legoas de diííancia defla Cidade fe não achã outra femelhante.
A Capella de NoíTa Senhora da Cõceiçãodentro do Seminário de S-Pedro,
que fundou o Arcebifpo Dõ Frey Bertholameu dos Martvres com haítantes
rendas para fuílento de trinta & cinco Coílegiaes,& pito Moços do Coro, que
depois de feçvirem alguns annos na Sé, tem também beca. Tem íãhido deíle
Collegio para q governo das Igrejas do Arcebifpado,& para varias Religiocns
fogeitos grandes em virtude, &. letras.
As Capellas de NoíTa Senhora do Amparo, & de Santo Antonio. O Paço
dos Arcebifpos com duas Capellas, & largos jardins , & nelles muitas pedras
com letreiros Romanos, de que poucos fe pódcmler, por efiarem nuiv gafhi
dos. A Capella de NoíTa Senhora da Abbadia. A s Canellas do Caílello, dp Air
jube, & da Relaçaò, & dous Hofpicios com Tuas Capellas, hum dos Frades Bo-
tos, & outro dos Bernardos.
S. Pedro de Maximinos, Abbadia da Mitra , rende quatrocentos & cin-
coentamil reis com a annexa de Gondifalve , tem duzentos & quarenta vifí-
phos- He cila Igreja a primeira, aonde os Arcebifpos Vinhaõ fazer oração, an-
tes quefizeítem a primeira entrada em Braga : tem emfeudeftricflo huma Er-
mida de NoíTa Senhora da Conceição, que eílá na entrada da Cidade, outra da
Madre de Deos na quinta de Eflevão Falcão Cota, & outra de Sam Gregorio
fundada em hum monte. Junto a efla Parochia de S. Pedro de Maximinos te-
ve feu principio, & primeira fundação a Cidade de Braga , de que femoílrão
ainda hoje ruínas de grandes edifícios , que dão teílemunho de íua antiga ma-
geftade,& ainda fevè hum como meyo circulo , lugar em que cífava o anfitear
tro, aonde os Bracarenfes ao modo Romano çelebrávao fuas feífas 3 & corren-
do de S.Pedro atèoHofpitaldeS.Marcos apparecem veíligips, qup indicaõ
queatéli fe eflendia a Cidade antiga- Também ha raílos de haver aquedudlos>
muy ufados no tempo dos Romanos, com que fe provia a C idade dç agua.
S- Viclor, chamado vulgarmente S. Viflouro , foy Moílciro de Frades
Bentos, fundado por S. Martinho de Dume, & doado com huma qqinta,que alli
havia dos Bifpos oe Santiago, aos Moriges do í. onvento de S. Antão de Moure
por Vafco Mendes Sacerdote, de quem erão: a qual doação foy feita em dez de
Novembro de 56 y. como confia de huma Efcritura, que tradugida em Pprtu-
guez, quer dizer: Damos a nofía quinta, ou heráade com tudo quanto lhe pertencei
17<S TOMO PRIMEIRO
^ com a forejã de S. mouro, a vós Voroens de Dos, pára que alh façais hum U-
plo [atito, & Mofieiro em que moreis. Cumprirão ós Monges de Moure a condi-
çãodo doador , fazendo Igreja,&Moíkironaquelle lugar , aonde viverão
íargo tempo, fazendo o officio de Capellaens do gloriofo Marty rS. Viclouro,
&foyfempre Prioradofeu; mas eilando, como fe entende , deílruido pelos
Mouros, fe deu ao Arcebifpo S. Giraldo juntamente com o de Moure. Sagrou
eílalgrejadeS- Vidouro o Arcebifpo Dom Payo Mendes em tempo deillcy D.
Affonfo Henriquesihe Vigairaria que aprefentão os Arcebiipos, que le mtitu-
lão Abbadesdefta Igreja,rcndèlhes quatrocentos mil reis,&: cento & cincoen-
taparao Vigário: tem mil Sc duzentos Sc oitenta viíinhos. Neila h reguefia ella
o lugar que chamão as Goladas, aonde S- Vidor foy martyrizado , de que lhe
ficou o nome, & hum ar co, dentro do qual com grades de fora ie guarda huma
pedra,em q foy degolado,& permanecem íinaes de leu fangue das gotas,que nel-
la derramou. Também ha huma torre, & ruínas de edifícios, a qúe chamão Pa-
ços, dizem eraõ do Santo, hoje he Morgado, que poíTuem os do appellido de
SyIva. Tem eíla Parochia em feu delindo as Igrejas, & Ermidas ieguintes.
A Igreja de NoíTa Senhora a Branca, que fundou o Arcebi fpo Dom Diogo
de Soufa, mandando abrir todo o terreiro, que vay da porta do Souto ate eíla
Igreja em tal proporção, & diítancia, que ie pode contai peta melhor praça, cc
fahida, de quantas ha pelo Reyno. A imagem da Senhora he muy mageílcfa, &
devota, fuipendeos olhos a quem ave, & parece lhe oíferece o Filho, que tem
em feus braços item Confraria dos principals da Cidade, com íeis Capellaes,
que rezaò em Coro, fora muitos que tem obrigação de Mi (la j fervem-na feus
Confrades com riqueza,apparato, tem muita prata,& cuílofos ornamentos.
Celebrafe fua feíla a cinco de Agoílo. Tem a invocação de NoíTa Senhora a
Branca , pela brancura da neve, com que em Roma appareceo branqueando o
monte Efquihno, aonde a Senhora queria fe Jhe fundafle aquelle fumptuofo Te-
plo, chamado por cila occtfúa,Santia Maria ad Mwí,acujd imitação o Arce-
bifpo Dom Diogo de Soula mandou fundar ella Igreja pela devoção, que tinha
àquclla Senhora, do tempo que eíteve cm Roma.
A Ermida de N- Senhora de Penha de França, que he de Beatas , que não
profeííao claufura.
A Ermida de Santa Anna, que fundou o Arcebifpo Dom Diogo de Soufa
no mefmo terreiro,& campo, que tomou o nome deíla Santa, junto da qual mã-
dou levantar em boa ordem as pedras, & colunas, que os Romanos, quando do-
minavão Braga,levantàrão a diverfosEmperadores, para que naquelles letrei-
ros tiveífem os curiofos em que gaílar o tempo, & le fizeíTem peritos nas anti-
guidades de fua patria. _ ■
As Ermidas de S. Gonçalo, S. Lazaro, Santa Julia, Santo Adrião , NolTa
Senhora das Mercês, S. Vicente, NoíTa Senhora dé Guadalupe, fituada em hum
alto monte, NoíTa Senhora do Pilar, & Saõ João da Ponte, fítuada em hum ame-
no, & dilatado campo, aonde cílâ huma fonte, que chamão do Arcebifpo , cer-
cada toda de muitos arvoredos. O Convento de S.Felippc Neri, em que refí-
dem quinze Padres.
O Convento de S. Fruduofo de Capuchos Piedofos, que fundou o Arce-
bifpo Dom Diogo de Soufa, no qual eílão cinco corpos incorruptos de Religio-
fos, que forão de virtude, Sc eílão fepultados na Sancriília velha : foy eíle Con-
vento hum dos mais notáveis que teve a Ordem de S- Bento , Sc odeílruirão
de todo os Mouros, ficando fó a Igreja, que hojeexille , lavrada em forma de
Cruz
r

DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 17?


Cruz com vinte & duas colunas de màtfmore, que a fuftentão : heColIegio em
que reíidem trinta &dous Religiofos,&ieuíitiohe viftofo,& alegre , porque
fenhorea todo o valle de Prado, hum dos melhores, &. mats ricos da Provinda
de Entre Douro, & Minho. •
Entre os fumptuofos Templos, que tem a Cidade de Braga, he hum delles
'a Igreja Cathedral, a qual hefagrada, & de tanta grandeza, que dentro delia ha
fete Coros, em que fe rezaõ as Horas Canónicas em voz alta , fiem edorvarem
huns aos outros, na qual eftão os corpos de S. Pedro de Rates, S. Giraldo, S'
Martinho de Dume, SantoOuvidio, Arcebtfpos de Braga , Ôc o de Santiago
Intercifo Martyr illuftriílímo ; & na Capella de Santo Thomas eftáocorpode
S. Lourenço de boa memoria, que depois de trezentos annos íc achou , como
na propria hora em que morrco. Na Capella mor defta Cathedral eftaõ fepulta-
dos o Conde Dom Henrique,&fua mulher Dona Tareja , pavs dos primeiros
Reys de Portugal, hum da parte do Evangelho, outro daEptíhola, & no meyo
da Igreja entre duas colunas, das que a fuftentaõpara a parte éfquerda, jaz fe-,
pultado o Infante Dom Affonfo, filho delRey Dom João o Primeiro, & da Rai-
nha Dona Felippa. Tem efta Sé hum riquiíiimo thefouro, aonde éftá hum efpi-
nho da Coroa de Chrifto Senhor noífo, & leite deNoffa Senhora emhuma am-
buía, hum braço do EuangeliftaS. Lucas, algumas Cruzes do fanto Lenho, &
outras militas de grade valor, cõ riquiííimas peças de ouro, 2c prata, & pannos
de tell.a,com que íe arma a Igreja nos dias de fefía,6c ricos pontificaes de tclla,
brocados, & bordados. •
As Dignidades que hanefta Sé,faô,oDcaõ,Chãtre, Arcediago doCoa*
to, Arcediago d® Barrofo, Arcediago deVermoim, Arcediago de Neiva, Mrf-
tre-eícoia, Theíoureiro mór, Arcediago de Fonte-Arcada, Arcediago de Olivé-
ça, Arcediago de Labruja, Arcipreftc de Valdevez , Arcediago de Cerveifci*
todos de groíTas rendas .-tem trinta & oito Conezias , deque as mais peque-
nas rende trezétosmil reis,porcj nove rende mais,porq além das di ftribuiçoés>
té Igrejas unidas; té mais dozef erccnarias,q rende cem mil reis cada húa,exce-
pto duas, huma que rende quatrocentos mil reis , & outra duzentos & cm-
coenta mil reis cada anno, que também tem Igrejâs unidas.
Neila illuftre Cidade, Primáz de toda a Efpanhã, pregou a Ley Euangeii-
ca o Apoftolo Santiago, irmão do Euangelifta S. Joaõ, & deixou por primeiro
Arccbifpo delia a S. Pedro de Rates, que o refufeitou mais de quinhentos an-
nos depois de morto,com admiração de todos os que tiverão noticia defta pro-
didofa reíurreição;& obautizou,pondolhe o nome de Pedro no bautiímo,
em memoriado Principe dos ApoftolosS- Pedro. Foy Hebreo de nação , natu-
ral da Paleftina, de huma das duas Tribus Sacerdotal, ou Real, venci das,& le-
vadas cativas à Cidade de Babylonia por Nabuchodonofor, como fe colhe dos
fragmentos de Santo Athanaíio. Seu pay fe chamou Unas , & parece aquelle
a quem EIRey Joachim mandou tirar a vida, por lhe pregar o que clle nam que-
ria ouvir, & o refere emfua Profecia Jeremias feucontemporâneo cap.26.
1 eve S. Pedro de Rates.o mefmo dftm de profecia, que feu pay: fahio def-
terrado com os mais cativos de Babylonia pelos annos da creaçao do mundo
4743> conforme a contados Setenta, & yB/'^ntesda vinda de Chrifto.
nome que então tinha,naõ fabemos,fó nos confta q os do feu tempo, & osqde-
pois dellefe feguíraõ,lhe chamavaõ Samuel o mais moço,ou Malachia s o mais
velho, pela femelhança que tinha na fantidade com os Profetas Samuel, & Ma-
lachias, de quem ha grande memoria na fagrada Efcritura. Era na fefthoíura do
178 TOMO PRIMEIRO
• roílo,& compofiçaõdosmembros,quaWtrdadeiramente pedia onome de Ma-
lachias, que conforme os melhor es interpretes, fignifica omefmoque Anjo do
Senhor. Sahio com os feus naturaes da Cidade de Babylonia à Provinda de Ef-
panha, quando a ella foraõ mandados por Nabuchodonofor, & foy fua morada
na Provincia de Entre Hour o, & Minho,& foy Cidadaõdeíla Cidade de Braga,
como diz Caledonio, & o refere Hugo,, na qual naõ fabemos os annos que teve
de vida em Efpanha, nem fe nella o tomou a morte.
Como quer que foífe,Santiago o refufcitou, & bautizou, ordenandoo lo-
go de Sacerdote, & o fez primeiro Arccbifpo de Braga , & Pregador daquclla
Cidade, aonde depois de converter muitos Gentios à Fé de Chrifto, & farar de
lepra a humafilhadofenhordaquellaterra,bautizandoa com lua mãy, & per-
fuadindoa a guardar caílidade, foy morto por mandado do dito fenhor , & fa-
crificado diante do Altar da Igreja de Rates, aonde eileve feu fanto corpo, def-
de o anno do Senhor de 44. emquepadeceo,ate' o de 1 yyj. em que foy trasla-
dadopelo ArcebifpoDom Frey Balthalar Limpo para a Sè deífa Cidade aos 17
de Outubro, dandolhe Capella particular à maõ direita da C apella mór-
Os Arcebifpos de Braga, que í iiccedèraõ a S. Pedro de Rates , faõ os fe-
guintes. S. Baíilio, S. Ouvidio,S.Polycarpo,Sereriano,S. Fabiaõ, S. Felix Gra-
to, S. Secundo, ou Secundino, Caledonio, S. NarciíTo, Paterno, S. Salamaõ, Si-
nagio,ou Sinagrio, S. Leorício, Apollonio, Domiciano, Idacio , ou Epitácio,
Lampadio, S. Paterno fegundo do nome, ou Patruíno, S. Profuturo, Pancracio,
ou Pancraciano,Balconio, Valério, idacio II. Caífino , Valério II. Profutu-
ro II. S- Ausberto, Juliano,Eieutherio, Lucrécio, S- Martinho deDume, Beni-
gno, Pant ardo, S. Tolubeu, ouTobeu, S. Pedro Juliano, Maeucino, Par ora-
cio, Potamio o Penitente, S. Fructuofo, S. Quirico, ou Quirino,S. Lcodeciíio,
Juliano, Liuba,Fauílino, S.Felix,Torcato Martyr, S« V iclor Martyr, Hero-
nio,Hermenegildo,& Jacob, Ferdifendo,Arcarico, Argimundo , Noíhrano,
Dulcedio, Gladila, Argimiro, Theodomiro, Silvanato, Heros, Gonçalo, Her-
migildo, Juliano, Sigifrido, Dõ Pedro , S. Giraldo, Dom Mauricio, Dom Payo
— Mendes, Dòmjoaõ Peculiar,o Beato Dom Godinho,Dom Martinho Pires II.
Dom Pedro V. Dom Eílevaõ Soares da Sylva, Dom. Sancho , Dom Sylveílre
Godinho, Dom Joaõ Egas, Dom Martinho Giraldes lib Dom Pedro Juliao, que
foy Summo Pontífice, & fe chamou Joaõ XXI. Dom Sancho II. Dom Ordonho,
Dom Frey TelloReligiofoFrancifcano, Dom Martinho deOliveira IV. Dom
Joaõ Martins Soalhacns III. Dom Gonçalo Pereira, Dom Guilherme, Dom Joaõ
Cordolaco IV. Dom Vafco, Dom Lourenço, Dom Joaõ Garcia Manrique V. D.
Martim Affonlo Pires da Charneca V. Dom Fernado da Guerra, Dom Luis Pi-
res , Dom JoaÕ de Mello VI. Dom Joaõ Galvaõ VII. Dom Jorge da Coifa,Car-
deal da Igreja Romana, Dom Jorge da Coifa 1L Dom Diogo de Soufa, o Infante
Dom Hcrique, Cardeal da Igreja Romana, que depois foy Rey de Portugal, Dõ
Diogoda Sylvall. Dom Duarte, filhodelRey Dom Joaõ o III. Dom Manoel
de Soufa, Dõ Balthafar Limpo, Dõ Frey Bertholameu dos Martyresq Dom Joaõ
Affonfo de Menezes VIII. Dom Agofltnho de Caílro , Religiofo Eremita de
Santo Agoffinho, Dõ Frey Aleixo de Menezes da mefma Ordem de Sãto A gof-
tinho, Dom Affonfo Furtado de Mendoça, Dom Rodrigo da Cunha , que ef-
crcveo a vida de todos eíies Prelados até o feu tempo, Dom Sebaíliaõ de Ma-
tos deNoronha,queaíIií!iono governocom aPrincezaMargarita , Duqueza
de Mantua, que governava eífeReyno,quando fe acclamouo fenhor Rey Dom
Joaõ o Quarto no anno de 164,0-&. no de 164,1. aos 29. de Agoífo o prende-
rão
V

DA COROGRAFIA PORTUCUÊZÀ* if#


rao na torre de S- Giaõ, aonde morreo , & jaz fepultadoem huma Ermida da
mefmá torre. Dom Veriífimode Alcncailre, Inquiíidor Geral, & Cardeal da
ianta Igreja Romana, Dom Luis de Soufa, Dom joièph de Menezes, Dõ Joàõ
de Soufa, & Ruy de Moura Telles, que foy Bifpo da Guarda.
Tem fahido delia Cidade Varocns illuílres em fantidadéj grandes cm le-
tras, & iguaes nas armasaos mayores Capitaens deEfpanha ;°&tem ereado
muitas peííòas de grande virtude, como foraõ vinte & tantos A rcebifpos act*
ma nomeados •, & fete de boa, & ianta fama , como íaõ o Beato Dom Godinho
Dom Frey Bertholameu dos Marty res, Dom Lourenço de boa memoria , Dom
frey Agoftinhode Jefus, Dom Frey Aleixo de Menezes, Dom Diogo de SOu-
fa, & o Cardeal Dom Henrique- As nove irmans gemeas, Vargens , & Marty-
res, filhas de Lucio Catilio, ou de Lucio Cayo Arilio,Varaõ Confulàr, natural
de Braga, Governador das Províncias de T.uíitanta, & Galliza pelos Romanos,
• & de Calcia fua mulher, ambos Gentios, & grandes Idolatras: os nomes delias
Santas nove irmans gemeas faõ, Santa Liberata, Santa Quitéria , Santa Mari-
nha, Santa Eufemia,Santa Genebra,Santa Germana, Santa Bafliliífa, Santa Vito-
ria, & Santa Marciana.
A Virgem,& Martyr Santa Értgracia, filha de hum Principe de Portugal,
a qual indo a França às vodas com o Duque deRuifelhon , foy martyr, zada
na Cidade de C,aragoça emoReyno de Aragaõ,por mandado de Daciano, jun-
tamente com dezoito companheiros, principaes pcífoas de fua Cafa, & Corte,
cujos nomes eraõ, Luperco tio da mefma Santa, Optato, Succeffo , Matcila,
Urbano, Julio, Quintiliano, Publio, F rontonio, F el ix, Ceciliano, E manto,Pri-
mitivo , Apodemio, & os quatro Saturnihos j feus làgrados corpos ellam na
mefma Cidade de C,aTagoça, na Igreja de S. Engracia, que hoje he Convento de
Frades Jeronymos.
A glorioia Virgem, & Martyr Santa Matrona , filha de Remifmundo Rey
dos Suevos, que com doze Companheiras padeceomartyrio pela Fé deChrif-
to pelos annos do Senhor de 5-45 •
S. Torcato, S- Cucufate, S. Sylveílre Martyres, & Santa Suzana Martyr,
■ cu jo corpo eíláfepultado na Igreja de S. Vitouro, feu irmaõ, em Capella pro-
pria da mefma Santa. No anno de 1 ? 90-em o mez de Outubro fe abrio o fe-
pulchro de Santa Suzana por mandado do lllultriílimo Arcebifpo de Braga D-
Agollínho deCaí!ro,& nellefe achàraÕ muitos olfos, & relíquias, que devem
fer da mefma Santa, deixadas alli para confolaçaÕ da riíefma Cidade.
Santa Veatride,& dezoito companheiros Martyres. O Abbade Recefvin-
to, da Ordem de S. Bento, que compoz em verfos os louvores delia Santa , &
dos feus dezoito companheiros, como diz Juliano na fua Chronologia pag. J6<
Oinfígne EfcritorEcclefiaíIico Paulo Qrofio, que elcreveo hum livro contra
qs Pelagianos, outro da razaõ da Alma, dous de Cartas para Santo Agoítinho,
& outras peííòas, & outro fobre os Cantares dcSalamaõ.
Dom Agollinho Ribeiro, Bifpo de Angra , Reytor da Univerfidade de
Coimbra, & depois Bifpo de Lamego. Dom Frey Braz de Barros , Religiofo de
?! Jerofiymo, que foy de tanta prudência, & virtude, que o fez ElRey Dõ Joaõ
o Terceiro,Reformador dos Conventos de Santa Cruz de Coimbra,& S. Vicen-
te de Lisboa, & depois Bifpo de Leiria. O Pidre Ignacio de Carvalho da Com-
panhia de Jefus, que morreo Martyr nojapaõ pelos artnos de 1616. O Padre
Miguel Carvalho , que morreo pela Fé queimado vivo aos 28.de Agoílo de
1Ó14. &outras muitas peíToas de conhecida virtude , que fe pódem ver nos
Agioío-
18o TOMO PRIMEIRO
Agiologios Lufitanos, & nas Chxonica-s da íagrada Religião oa -on.panlua dc
kius, & cias outras Ordens. •
Tem eíla Cidade voto em Cortes com aiTento no fegundo banco , & aqui
as celebrou ElRey Dom loaõ o Primeiro pelos annos de 1387. Sao luas Armas
huma imagem de Noíía Senhora no mevo de duas torres em leu caixilho ovado
com o Menino lefus no collo, com huma Mitra Pontifical em cima, ce ao pe cita
letra; íuíivinapdeiis, <& antiqua braihar<e. O leu termo tem trinta ÔCcnxo a-
rochiasidc que hefenhor o Arccbifpo,&hc também ienhor de treze Coutos,
que faõos feguintes: Capareiros, Moure, Cabaços,Cambczes, 1 ulha, Aren-
tim, Pedralva, Dorncllas, Ervededo,Provczende,Ribatua,Goivaens, & F eito-

3
Tem eíte Arccbifpado, con.o conda do Senfual,que cí+í: no Archivo da Sé,
mil & oitocentas & oitenta & cinco Freguefías em çinco Comarcas que com-
nrehende, corno faõ, a de Braga, a de Valença, a dc Chaves, a oe Villa Real, & a
daT orre de Moncorvo incitas Igrejas naõ entra ló a aprclentaçao cos Arce-
biluoSjfenaõ também o Padroado Real, & outros muitos Padroeiros- Sao lui-
fra-ancos deite A rcebifpado os Bifpos do Porto, Coimbra, Vizcu,& Miranda.
Tem hoieo fenhor Arctbiípo de renda cem mil cruzados; aprefenta ricas Ab-
badias Rey torias,Priorados,& Vigairarias,muitos Benefícios fímplices,Cone-
zias, Dignidades,Tercenarias,& Capellanías , &dà muitos officios, de que
adiante faremos mençaõ- , _ . ..... . .
Ha neíie Arccbifpado muitas Commendas das Ordens Militares, muitas,
& boas Abbadias de Padroados Ecclefiafhcos, &. Seculares, algumas de rendi-
mento de dous, & tres mil cruzados 5 tem n.ais de cento &. cincoenta Conven-
tos, & as rendas Ecckfiaíticas de todo o Arcebifpado rendem miais dc nnlhao
&: meyo.

Ofoticia das Vifitas do Arccbifpado de 'Braga.

S dos Penhores A rcebifpos, faõ Nóbrega, & Neiva , Soufa , & Ferreira,
^ Vermoim, &. Faria, Balio, Ordinana dc Valença, Chaves, V ília Real, òc
A
T r
° As doCabido faõ asfeguintes ; tres da diitribuiçaõ da Meia Capitular,
que faõ Lanhofo, & Vieira, Monte longo, Entre Homem, & Cavado , & Valle

Da dos particulares faõ as feguintes: do Deão, do Arcediago de Braga,


do Arcediago de V ermoim, do Meitre-efcola, do Arcipreíte dc V aldevez , o
Arcediago de Barrofo, do Arcediago de Neiva, & do Arcediago de Villa-nova
de Cerveira. Os Conegos de Valença tem huma, & o Thefoureiro mor de \ a-
lença outra.

Ufoticia dos officios da Cidade deBraga data dos Arcebi

HUm Provi for, que he também Defembargador , hum Vigário Geral, tã-
bemDefembargador, doze atè dezoito Deíembargadores , hum Juiz
dos Refiduos também Defembargador, outro dos Cafamcntos,tambcmDclem-
bar-
DA-COROGRAFIA PORTUGUEZA. 181
bargador, hum Chanceller defta Corte também Defembargador, hum Super-
intendenredaCafa do defpacho também Defembargador , hum Procurador
Geralda Mitra também ' 'efembargador, hum Promotor da Juftiça, hum Ef-
crivão da C amara Ecclefiaftica, outro da Comarca de Valença , que ferve neíla
Corte, dous Efcrivaens das Appellaçoens , hum Efcrivão dos Prazos da Mefa
Arcebifpal,i i. Efcrivaésde ante o Vigário Geral,hu Efcrivão dos feitos da Me-
fa Arcebifpal, hum Contador, hum Diftribuidor,hum Revedor das Contas no
Ecclefiaítico, &fecular, hum Porteiro da Relação , out ró de ante o Vigário
Geral, hum Efcrivão das Cartas de Excomunhão,outro das Cartas Citatorias,
outro das Fianças, & commutaçoens do degredo, outro dos Arrendamentos da
Mefa Arcebifpal,hum Meirinho Geral, hum Enqueredor da Comarca da Villa
de Valença, & feitos, que fetratãoneíla Cor te, dous Efcrivaens de ante o Juiz
dos Refiduos, hu Recebedor do Arcebifpado, fete Solicitadores, dous Portei-
ros dos Refiduos, hu Efcrivão do Regiíto geral, outro da Cafa do defpacho ,
hum Porteiro da Cafa do defpacho, hum Corredor das folhas , hum Efcrivão
dos Cafamentos, hum Efcrivão Apoftolico, hum Promotor dos Refiduos,tres
Enqueredores doEccleíiaí!ico,hum Efcrivaõ das Fianças de ante ojuizdos Ca-
famentos, hum Efcrivão do Seminário, & hum Aljubeiro.

Officios do Secular de fia Cidade da data dos Arcebifpos.

HUm Alcaide mór de Braga, hum Alcaide menor de Braga , hum Alcaide
mór de Ervededo,hum Alcaide menor deErvedcdo , hum Ouvidor dc
Braga, hum Juiz de fóra de Braga, hum Meirinho do Secular , feis Tabeliaens
das Notas, & Judiei A de Braga, h um T abeliaõ gerai das Notas , dous T abe-
liaens das Execuçoens, & dous Diílr ibuidores , hum do Ouvidor , oujro do
Juiz de fóra, hum Promotor do fecular,dous Enqueredores, hum Contador ,
hum Revedor dos feitos feculares, hum Carcereiro fecular,hum Juiz dos Or-
faõs com dous Efcrivaens, hum Efcrivão da Almotaçaria, nove Porteiros de an-
te o Ouvidor, & Juiz de fóra, hum Efcrivaõ da Camara da Cidade , & dous
Porteiros dc ante o Juizdos Orfaõs.

Officios das quatro Comarcas da data dos Arcebifpos,

QUatroVigariosGeraes,quatro Juizes dos Refiduos,quatro Promotores,


hum Efcrivão da Camara de Entre Lima, & Minho, que ferve ante o Vi-
gário da Comarca, feis Efcrivaens, que fervem ante os Vigários Geraes das
Comarcas, tres da adminiftração de Valença, que fervem ante o Vigario Geral,
quatro Meirinhos,quatro Efcrivaens de ante os Juizes dos Refiduos, quatro
Recebedores, âc quatro Porteiros.

Officios dos Coutos, que aprefentaõ os Arcebifpos,

HUm Ouvidor dos Coutos de Entre Douro>& Minho, hum Efcrivaõ dc


ante o Ouvidor dos Coutos, h um Ouvidor dos Coutos dc Villa Real,
hum Efcrivão de ante eíle Ouvidor , hum Efcrivão dos Coutos de Pedralva,
Mou.
iSi TOMO PRIMEIRO ; )
Moure, Arentim, Villar, 8c Areas,hum Tabeliâò do Couto.déXJapmreiros, ou-
tro do Couto de Cabaços, outro do Couto da Feitofa, outro; do Couto da Pu-
lha/lous Tabeliaens do Couto de Provezende,que fervehi em Goivâens, 8c S-
Mamede d>e Ribatua, hum Tabeliaõ de Ervededo, que fefvcdc 1 lmotaçaria, &
Camara, & hum Efcrivaõ no Couto de Dornellas em Bartolo, que ferve .oa Ca-
:
ntata, Judicial,&Almotaçaria. « f :
Ha mais neíta Cidade hum Efcriváodos Direitos Rcaes- da data dos Ar-
cebifpos, outro taníbem dos Arcebvfpos, 6c hum Efcrivaõ, da Bulla «dá Cruza-
da 5 8c lo ha neíla Cidade por El Rey hum juiz, & hum Efcrivaõ da Siza, 6c hum
Jr
Porteiro. '• •
Ha maisnefla Cidade hum Efcrivaõ do Cabido, queue da fua aprefcnta-
caõ, quatro Juizes Confervadores,6c quatro Efcrivaens da&Ordens de S-Ben-
m, S- Bernardo, Cruzios, 6c Loyos> que também naõ íao da aprefentaçam dos
.Arcebífpos. * , * .
" Coníiahaver todos os fobredi tos ofíicios doSeníual,xpae cífá no Archi-
-vo defla Sè, fora alguns,qtie também vaõ, que foraõ creados depois de feito o
Senfual; 6c por ido naõ vaõ em ordem de mayores a menores. 3t
Ha neíla Cidade huma Relaçaõ,em que de ordinário adi liem de doze, atè
dezoito Defembargadores, da qual tem fahido vários homens doutos para di-
ver fas occupaçoens, 6c lugares deíle Reyno , comodizlrey Luis de Sou la na
vida do Arcebifpo Frey Bertho'lamcmdos Martyres, 6c GabrielPereira em húa
das fuas Deeifoens, 6c o confeífa também Caldas Pereira em muitos lugares das
íuas obras, que efcreveo à mayor parte delias, fendo Defembargador da nfefma
Relaçaõ. Neila íe determiraõ fem appellaçaõ, nem aggravo todas as caufás ei-
veis dequalquer quantidade que fejão, dos moradores delia Cidade , 6c leu
termo, 6c dos Coutos tõdos, por terem neílas terras os^&nhores Arcebifpos
(tbda a jurifdiçam eivei independente dos Tribunaes delRey.
Conhece maiseíla Relaçaõ de rodas as caufás crimes dos moradores dos
-Coutos, as quaes néllá fe finalizáo,fem appellaçaAparaOsTríibílnaes delRey; 8c
ha na mefma Relaçaõ Breve de S. Sãcidade para os Defembargadores delia vota-
rem de morte, ainda que fej3o Clérigos, nas catilas crimes dos moradores dos
Coutos; 6c eíla prérogativa de terem os fenhores Arcebifpos- nos ditos Cou-
tos eíia jurifdiçaõ, fem appellaçam para os ditos Tribunaes delRey , he huma
regalia tam grande, quenenhum Donatário dajÇoroa a tem^nem fe achará fa-
cilmente, feriaõ em Principés abfdlútoáf põtóm nas caufas crimmáes de todos
os moradores delia Cidade, 6c feu termo naõ te os fenhores Arcebiípos mais
que a primeira infianda, quehe diante do'feu Olividor, 6c delle le appella , 6c
aggrava para a Relaçaõ do Porto, Se cara a de Lisboa- Finalmente he eíla Re-
laçaõ nam fómeflte Eccléíiaífica para todas as caufás Eccleliafticas, (como'o fao
todas as mais Relaçoens dás Metrópoles, que tem fuffragáneos ) mas he tam-
bem Relaçaõ fecular, porqde julga, ÔEfêntencea todas as caufásciveisdos mo-
radores delia Cidade,6c leu termo,6c dos Coutos;>como aciíria-já diíTemos.

. ftteguefi&s dó terrrt&da Cidade de 'Brag#.

SAm joaõideÂdgueira-,'<Abbàditfda Mitray^tic rende *ré>z<fritos m|. réis


com a arfiríejfá feguime, tefíhciticbbnta viftnhôs.' Ao :pddaferrade SÍMfr-
..tha eilá Sata Maria Magdaiena, cm qué k Gidaeteterri grande# : para chuva, oh
_uoíV J.. .Sol,
DA COROGRAFIA PORTUGU E2 A. 183
Sol, ou outras calamidades a vaõbufcarem prociífaõ,&fe achão foccorridos;
& no alto da ferra ha huma Capella de Sãta Martha, de que toma o nome, .com
veftigiosde grande fortificação , que entendemos foy dos Romanos, quando
conquiftárao Braga.
S* Payo de A rcos, V igairaria annexa a SJoaõ de Nogueira, que aprefenta
o Abbade, tem trinta &dous viíinhos.
Santiago de Efporoés, Vigairaria do Arcebifpo,tem feífenta & cinco Vi-
íinhos. Aqui eftá huma Capella de Noífa Senhora da Caridade , que fundou
Martim Ribeiro, natural derta Freguefia, com dinheiro que trouxe do Brafil:
tem hum celeiro, que reparte por empreftimo com Lavradores, ou femelhantes
pobres, que depois o rertituem còm o avanço,que cada hum quer , fem que fe
lhe limite.
S. Salvador de Trandcyras, Abbadia que aprefenta o Arcebifpo, te feífen-
ta & cinco vifinhos.
S. Miguel de Villa-cova da Morreira, Vigairaria do Morteiro de Landim,
tem trinta & feis viíinhos, & muita caça, particularmente de Coelhos, & perdi-
zes, & igual quantidade de viboras.
SantoEítevão de Penfo, Vigairaria da Mitra, tem cincoertta & tres viíi-
nhos: ha nerta Igreja huma relíquia dertc Santo, que deu o Arcebifpo Dom Fr-
Agortinho de Caftro, a qual mandou pòr em huma Culiodia de prata o Arcebif-
po Inquiíidor Geral Dom Veriílimoae Aiencaftre, hoje Cardeal da Santa Igre-
ja Romana, cm que fe moftra no leu dia primeira oitava do Natal, & he vifitada
de muita gente*
S* Pedro de Efcudeiros, Vigairaria annexa ao Mertre-efcola , tem trinta
&dous viíinhos. No lugar daPoufadaeftá hum caftanheiro cõ huma vide ao
pé, q dá muitas vezes trinta almudes de vinho,& vinte alqueires de carta nha.
S. Vicente de Penfo, Abbadia da Mitra, tem vinte & dous vifinhos. Nos
paíTaes eftá huma boa fonte, por quem Deos obra muitos milagres intercedi-
dos pelo Santo que invocão*
S-. Salvador de Figueyredo, Vigairaria annexa a huma Conezia, tem vinte
& cinco vifinhos, com muitas rolas, & codornizes.
S. Pedro de Lomar foy Morteiro muy antigo da Ordem de Saó Ben-4
to , & le acha noticia delle pelos annos de 667. Foy fua fundadora/
ou o reedificou Ameana de Selheris , mulher de Dom Arias Carpintei-
ro, a qual era também Padroeira de Tavoza, & tinha Monges com Abbade no
anno de 1558* Depois paíTou a Commenda de Chrifto, ficando com dous Pa-
rochos, ambos da aprefentação do Ordinário* Erão duas Fregueíias dirtin-
élas , a do Abbade tinha a Igreja, aonde chamáo a Capella, que alli ertá ; teve
principio o unirem-fe em hum Rey tor da Commenda , que entrou na Inquiíi-
çáo, & o Abbade por viíinho trouxe os freguezes ouvir Miífa a ella* O Reytor
terá feífenta mil reis de renda com trinta vifinhos , & o Abbade tem cento &
dezmilreis, com feífcta vifinhos, & o Commendador coma annexa de S. Mi-
guel de Guizande terá trezentos mil reis de renda*
Santa Maria de Ferreiros, Vigairaria que foy dos Padres da Companhia
de Braga , agora da Mitra , com trinta mil reis por ametade dos frutos,
que levava, rende ao todo cem mil reis , & para os Padres cento &vinte mi!
reis, tem cento & vinte vifínhosiaprefenta o Vigário a dous cmbutras Igrejas.
Santo André deGondifalve, Vigairaria annexa a S. Pedro de Maximinos,
que aprefenta o Abbade, tem trinta vifinhos.
^ QJi Saô
x84 TOMO PRIMEIRO
S. jeronymo, Vigairar a da Camara Arccbifpal,tem trinta & trcs vifinhos..
Fundou-a o Arcebifpo Dom Diogo de Soufa , quando deu o Convento de Sao
Fruéluofo aos Religiofos da Piedade, que até alli era Parochia , &paramayor
quietação dos Frades deixou de o fer.
S- João de Semelhe, Vigairaria dos Eremitas de Santo Agoítinho do Con-
vento dó Populo, rende trinta mil reis ao Vigário,que he Frade , & menos ao
Cura fccular, que lhe afiiíle, & para os Frades cem mil reis, ttfm vinte & cinco
vifinhos,& muitas, & boas trurasno riôTorto,&Viborasnomonte-Aqui poi-
fue Manoel da Rocha Pimentel hum antiquiflimo Morgado, que foy grande, o
qual iníhtuíoto Arcebifpo Dom João Egas,ou Viegas , da tamilia de Porto-
carreiro em hum feu irmão : tem-fe atenuado, por fazere de muitas terras delle
prazos favoráveis. „ ,
S.Miguel deFróffos, Vigairaria do 1 hefoureiro mor , a quem rende
cem mil reis, & para o Vigário quarenta mil reis, tem vinte & cinco vifinhos.
S.Martinho de Dume foy fundacío à hora de S.Martinho Biipo de Turon
por ElRey Theodomiro, & pouco depois a deu a S.Martinho, q chamão cie D11-
me,primeiro Bifpo,& Capellão mor de fua Cafa, qaquiobrou para reíidécia fua
hum Convento de Monges Bentos, & foy efte o primeiro deífaOrdem ,que fe
fez Bifpado, & ficou fendo aífento , & Capella dos Bifpos Capellaens móres,
quando Braga era Corte dos Reys Suevos» Aqui cíieve fepultado muitos an-
ijos, até que o mudarão para Braga : com a entrada dos Mouros ficando eira
Igreja pouco menos que erma, fe paífárão os Monges a fazer outra, a que de-
rão o n eíh o nome no Bifpado de Mondonhedo, levando húa relíquia do Santo,
queconfervão agora: he Priorado, que aprefentao os Arcebifpos , rende du-
zentos mil reis com N* Senhora da Parada fuaannexa no Couto cie Tibaens, te
.cincoentavifinhos. Aquihamuita hcrvab cha, ou Ariiloloquia.
S. M aria de Palmeira,Vigairaria do Cabido, q rende quatrocctos mil reis,
& mais de cem mil reis para o Vigário, tem trezentos & dez Vifinhos. Foy Cou-
to delRey em quanto o não trocàrao com os Arcebiipos pela rua nova de Lif*
boa,que eíles lá tinhão.
S- Lourenço de Navarra, Vigairaria annexa àAbbadia deCrelpos , tem
cincoenta & cinco vifinhos.
S. Payo de Poufada, Vigairaria da Mitra, rende cem mil reis , & para o
Mofteiro dePopuloosdizimos,queimportaõ duzentos mil reis , tem duzen-
tos & dez vifinhos- Aqui eflá a Cafa, & Quinta da Cerveyra, folar defla fami-
lia,quetem por Armas emeampode prata duas cervas de purpura paíTantes,
& humabordadura chea deefeudinhos das Armas donoífoReyno, & por tim-
bre huma das cervas.
Santa Eulalia deCrefpos, Abbadia da Mitra, que rende com a annexa de
Navarra mil cruzados, tem noventa vifinhos- Aqui eflá a Torre, & Cafa do
Enxido, de q foy fenhor Francifco Alvarez Brochado, he folar antigo, mas não
fe fabe de que família.
Santa Lucriça, que dizem fer corrupto de Lucrécia, mas a mim me pare-
ce fer Leocricia, aquella Virgem, & Martyr, natural de Cordova, difcipula de
Santo Eulogio Sacerdote, que fendo Moura de nação, & occultamente Chrif-
tãa,defcobrindofe fua Fé, foy por ella degolada a i f • de Março y he V igaira-
ria unida a huma Conezia, rende cemmilreis,& para o Vigário cincoenta mil
reis.
Santa Maria de Adaúfe, a quem o Livro da Ordem de Chriflo chama Da-
dufe,
í) A COROGRAFIA PORTUGUEZA*
dufe, foy Moíteiro de Frades Bentos, fundado , & dotado amplamente pelôs
annos de 1070. & tantos,por Dom Nuno Odoris,& fua mulher Dona Adozin-
na Vifcoy, que fe entende íer da família dos Soufas , pelo que fe colhe dos le-
treiros das fepulturas antigas, que àlli eftão- Sagrou a Igre ja o Areebifpo D.
Pedro; nunca foy Moíteiro duples,nelle permânecèrão os Reiigiofos mais de
360. annos, até que o Areebifpo Dom Fernando da Guerra em dousde Agoílo
de 14.y 2. o reduzio a Igreja íecular de fua aprefentação in folidum , & o pri-
meiro, que poz nella, foy João de Barros, Clérigo de Ordens menores : mas no
tempo delRey Dom Manoel femeteõ 110 rol das Commendas, que pedio à Sua
Santidade, & elle lha concedeo; he da Ordem de Chrifto , Rey toria do Ordiná-
rio, que rende cento & vinte mil reis, & para o Commendador coma annexa de
Paço em Regalados, & fabidos importão tres mil & q uinhentos cruzados, anda
nos Copdes de Atouguia; tem eíta F reguefia cento & trinta vifinhos. Daqui
era natural huma mulher chamada Ines, que fendo de noventa & fete annos, ti-
nha vivos cento & nove filhos, netop, í< bifnetos, & conheceo quaíi quatrocen-
tos no difeurfade alguns tempos,que viveo mais.
S. Miguel de Gualtar, Yigairaria annexa ao Arcediago de Braga , rendelhe
duzentos mil teis, & feífenta mil reis para o Vigário , tem cem vifinhos.
S. Pedro Défte, Abbadia da Mitra, que rende com a fua annexa do Salva-
dor de Pedralva trezentos mil reis, tem oitenta vifinhos.
S. Mamede Dèíte, Vigairaria do Thefoureiro mór > que lhe rende cem mil
reis, & para o Vígano cincoenta mil reis, tem feífenta & feis vifinhos.
S. VayadeTonois, Vigairaria do Deão, que lhe rende cem mil reis , &ao
Vigário quarenta mil reis> tem cincoenta vifinhos. Aqui ellá em huma fermo-
fa Capella, que fizerão devotos, o Bom Jefus do monte, imagem milagrofa, não
fó vifitadade muita romagem, mas afiiílida deErmitaens,&feftejada cõ gran-
des defpezas pelos melhores da Cidade.
A Igreja nova feita das de Dadim, & Nugueiró , que erão duas pequenas
Parochias,& as unio em huma o Areebifpo Inquifidor Geral Dom Veriífimo de
Alencaflre; fica no meyo de àmbas, & por iífo lhe chamão a Nova : he Vigaira
ria que aprefenta o Vigar ioda Sè, rende trinta mil reis, & para o Cabido, que
leva os dízimos, cincoenta mil reis; tem feífenta vifinhos. Em hum mote, aon-
de eftá Noífa Senhora da Confolação,fe vem veftigios de fortificação antiga, q
dizem fer huma das com que os Romanos fítiàráo Braga, quando a ganhà-
fão.
x Santa Maria de Lamaçaés, Abbadia da Mitra, que rende cem mil reis, tem
quarenta vifinhos*
Santiago de Frayão, Vigairariado Arcediago de Olivença, ou de S. Chrif-
tina ,que rende trinta mil reis, & para o Arcediago feífenta mil reis, tem trin-
ta vifinhos*

Couto de ^Pedralva*

EMtre os termos de Braga, Guimarãéns, & Lanhoío eílá efte Còutó,de que
he fenhor o Areebifpo: deu-oElRey Dom Sancho o Segurído ao Areebif-
po Dom Sylveftre Godinho, íompondofe com ellé fobre exCelfos cometidos
contra as Igrejas; fez-ftí a eferit ura A contrato citando ElRey em Guimaraens
QJij tiú
TOMO PRIMEIRO
no anno de 1158. ferve de coutada dos Primazes com guardas, que a viguo.
Tem Juiz ordinário do Cível, & Crime, com dous Vereadores,& Procurador,
eleição trienal do povo,a q prefideo Ouvidor de Braga,hum Eícrivao dos Cou-
tos, que ferve em tudo,data do Arcebifpo, & Meirinho annual feito pela C ama-
ra, que ferve de Porteiro: recolhe pão, vinho, muita caça, gados,& lacticínios-
Confia efte Couto de Freguefia 6c meya, & faõ as feguintes- .
S- Salvador de Pe.dralva, Vigairaria annexa a S. Pedro I <eíte, tem oitenta
viíinhos- j „
Santa Maria de Sobrepofia, Abbadiada Mitra, que rende conto & cincocn-
ta mil reis, tem cincoenta viíinhos, de que trinta faõ defte Conto, & vinte do
JulgadodaLagiofa , deque daremos noticianofundoConcelho deLanholo:
mas no efpiritualfe unioaefiaafua Parochiade S- Thomô de Lagioía , hoje
extinguida.

Couto de Capareiros.

AParochia defte Couto he S- Payo de Capareiros, que foy Mofieiro, mas


não fabemos de que Ordem, nem fe foy de Frades, ou Freiras , do qual
deuofeu quinhão â Sè de Braga Payo Paes no anno dc iiz6. reynando anoffa
primeira Rainha Dona Therefa, fendo iá viuva, & fendo Arcebifpo Dom Payo,
que confirma com outros neftaefçritura- Depois,ou antes teriao outtos lei-
to a mcfma doação dos mais quinhões, com que íe tez Abbadia dos Arcebtfpos,
fenhorcs defte Couto, que eftá no meyo das terras de Barcellos, & tem Juiz or-
dinário, que também he dos Orfaõs, feito por eleição tnennal do povo, & pe-
louro,comhum Vereador, Procurador do Concelho, & Meirinho, que ferve de
Porteiro, a que prefide o Ouvidor do Arcebifpo, que lhes p^ífa cart a,hum Ef-
crivão, que ferveem tudo,data do Arcebifpo- Todas as quartas leiras tem fei-
ra franca de gados em Barrofellas- Ha aqui vefiigios de nnneraes, aondecha-
mãoas Lagoas dosMedros,ôcnellasas melhores languifugas para doentes,de
quantas ha neftas partes. Só aFÉeguefiahe Couto,Sctoda rendera duzentos
& quarentamil reis,leva o Abbade a terça, que com paifaes & pe de Altar,, lhe
importará cento & cincoenta mil reis, o mais he dos Arcebifpos . tem cento &

cincoenta viíinhos-

Couto de zfAdoute. ' V

ENtre os Concelhos de Prado, Larim, & Villachaãtem icuaífento o C°l*to


de"Moure, de que he fenhor o Arcebifpo Primaz por doaçao do f-°nde D o
Henrique,&da RainhaDona Therefa ao Arcebifpo S-Qraldo , & ^ fez ou-
tra no mefmo tempo Nuno Soares de certa herdade, que aqui tini ia. Os mora
dores delle, por fçrem ifentos da jurifdição Real, 6c de irem a guerra falvo com
os Arcebifpos, erão obrigados de foro todos os Lavradores ( que °s nobres
„So) a cavarlhe a vinha que w
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. 187
voou de forte, que hoje paflaô de vinte & cinco pipas Ha aqui no lugar de Sã*
to André huma Torre antiga com grande quinta, que Dom Egas Paes de Pe-
nagate tinha, 6n a deu ao Arcebifpo Sam Giraldo para fua recreação depois do
myfteriofo iucceífo, que com elle teve em Guimaraens : o como iião fabemos
mas paífou à familia dos Soares fenhores de Prado, & alguns querem feja feu
folar, & por deícendente feu a logra hoje Luis Gonçalves Coutinho da Camara-
Tamifentahe,ôcquatorzecafeiros que'tem, que gozando osmefmos privilé-
gios dos mais,não pagão aquelle foro aos Arcebifpos , & ainda da primicia fó
ametade. He tradição tomou cftc nome de hum grade Caftcllo.de Mouros, que
efteve no alto do monte Brito, aonde chamão o Caftello dos Mouros, & outros
de Barbudo-com quem parte, do qual fe vem veítigios de cifterna > & muitas
ruínas continuadas, & muralhas de quatro, cinco,&feis palmos de altura 3 a
pedra que falta, divertio-fe para varias partes, particularmente para a reedifi-
cação da ponte de Prado ha menos de duzentos annos-
He efte Couto muito abundante de pão, & vinho de enforcado, feijão, ca-
ftanha, azeite, gados, caças ordinárias, & pouca pefca 110 regato. Aíliítem ao
feu governo civil hum Juiz ordinário, Vereadores, & Procurador feito por pe-
louro,& eleição triennãl do povo, a que prefide o Ouvidor de Braga,donde tam-
bém por diftribuiçao annual vem hum Efcrivão eferever as caufas,& proceífos
do Couto,oque lhe renderá vinte milreis. Compotím fe o termo dasduas
Freguefias feguintes, que formão huma Companhia.
' S. Martinho de Moure, Vigáiraria do Arcebifpo , que rende úttenta mil
reis, & para a Camara Arcebifpal duzeritos ôc vinte mil reis: tem cem vilinhós;
No monte Brito, ou do Caftello em hum recôncavo entre o Meyodia, & Poen-
te fundou S- Martinho de Dume hum Mofteiro de S- Bento pelos ahnos de f ó y.
com orago de Santo Antão, ou Antoninho, como dizem outros ; & logd nefte
principio derão os Monges delle tam grandes moftras de fua virtude , tendo
Laus perene, que todos fe lhe aífeiçoàrão, ôc o enriquecerão. Hum Sacerdo-
te chamado V alço Mendes lhes deU Uefte anno huma q uinta , que fora dos Bifo"
pos de Santiago, & o fítio de S. Viétouro de Braga allivifínho , para nelle obra-
rem outro, que fizerão,&teve Religiofos fvibditos, como em Priorado feu. Co
a invafaó dos Mouros correoa mefma fortuna que oâ mais ; mas tornandofe a
reftaurarEípanha,habitou-o algum particular, até que hum Clérigo por nome
Nuno Frojaz por devoção , òu efcrupulo tendo-0 reedificado em quatro-dc
Dezembro do anno de loji^orcftituíoáo AbbadeBento,Dom Sueyro , &a
outros Monges,ficando elle,& íeus fucceífores Padroeiros : teve cinco Abba-
des,queo actefcentàrão muito com doaçoens, que devotos lhe fizerãò,entre
ellas doze marinhas de fainas duas povoaçoens de Darque mayor , & menor
defronte de Viana. N o fim de fefícnta & çinco annos, qUe efteve dcfte modo
com Laus perene de noite, & quafi todo odia, fendodellePadroefro Nuno Sda-
res,o deu a S. Giraldo Arcebifpo PrimáiatCQnfirmàrãolhenoffos Principes, &
EIRey Dom Affonfo Henriques o fez Couto ao Arcebifpo Dom Pavo Mendes,
irmão de Dom Soeyro Mendes da May a, no que não ha duvida, indá que o Co-
de Dom Pedro lho não nomea- Hetradiç^b que nenhum Monge alli tomou o
habito, que o deixaíTe, nem morreo fem claros indicios de fua falvação 3 con-
fervafe ainda huma Capellmha, 4 huma Torre femelhante, que íqrviode finps,
com huma imagemde Santo Anoo, a que muitos chamão Saqto Antpninhd,
vulgo Antomhp, pela qualobra Deos muitos milagres- Nas torras fe defeo-
brem a cada paíTocolúnas,&outras pedras daquelia autigâ, &.g&nde fabrica^
Neila
,88 TOMO PRIMEIRO
Neila fazenda feita quinta, á que tãbem chamãoVítonnho, entrarão os Bran-
doens do Porto, & hoje a poffue Dona Felippa Brandão, viuva do Doutor João
de Carvalho,Corregedor do Crime naquella Relação.
S.Julião da Lage, Abbadia do Ordinário , que rende trezentos mil reis,
tem cento & dez vifínhos*

Couto de Arentim. ■

NO julgado de V crmuinl termo daV illa de Barcelíos té feu íitio o Couto


de Arentim, que temhumaParochia da invocação do Salvador , Vigai-
raria do Arcediagado de Braga, que rende quarenta mil reis , & para o Arce-
diago cento & dez mil reis: tem feífenta viíinhos com hum Capitão- He Cou-
to do Cabido com Juiz ordinário, dous Vereadores, & Procurador do Conce-
lho cm tudo como o de Cambezes: produz excedentes peras de pendura»
I ; . »V.
'

Couto de Cambeis.

ENtre as terras de Barcelíos tem feu aflento cíle Couto, de que he fenhor o
Cabido da Sé de Braga, que faz nelle juiz ordinário com dous Verea-
dores, StProcurador do Concelho por pelouro, &: eleição triennal do povo , a
que vem prefidir hum Conego, que o Cabido elege5 ferve também nos Orfaós,
& delleappèllão para o Cabido, que aprefenta Efcrivão , que o he também do
Judicial, & Notas. Tem Alcayde mór, que leva os quartos dos frutos das ter-
ras: conda de cento & oitenta viíinhos, com huma Parochia da invocação de
Santiago, Vigairaria que aprefenta o Fabriqueiro da Sê, que rende fefifenta mil
reis, & para o Cabido fetenta & cinco mil reis; he abundante de centeyo , mi-
lho, linho galego, frutas, &badantevinho-

Couto de Cabaço r.

NO termo do Concelho de Albergaria de Penella tem feu aífento o Couto


de Cabaços, de que he fenhor o Arcebifpo de Braga. Tem j uiz ordiná-
rio, que também ferve nos Orfaõs, hum Vereador, & hum Procurador, eleição
triennal do povo por pelouro, a que preíide o Ouvidor de Braga , hum Eícri-
vão, que ferve em tudo, data do Arcebifpo, & hum Meirinho , que também he
Porteiro item cento & trinta viíinhos com humd Parochia da invocação de S.
Miguel, Reytoria do Cabido de Braga, que rende cento & cincoenta mil reis ^
& para o Cabido trezentos mil reis, com a annexa de Fojo Lobaí.
.5 ; -/ ' . < v. • olj" jrvi; v' ' olnoTl/. -r.. ■ /: ■
•OJ o oco up011.r ' •• >
Couto da Feitofa.

ENtre o Concelho de Souto de RebordaõSj.ác Ponte de Limaeftá fituado o


Couto da Feitofa, de que he fenhor no ei firitual, & temporal o Arcebifpo
de Bragâ: tem tàm grandes privilégios , que >or nenhum crime entra nelle ou-
tra J uíliça, íenão a de Braga em correição. Chamoufe antigamente de Domes,
nome,
t> A COROGRAFIA PORTUGUESA. tfy
home, que fó hoje fe conferva em huma grande, & boa veiga que tern. Aififtem
ao feu governo civil hum Juiz orchnario Civ el, & Crime, & Orfaõs, dous V e-
r.eadores, & Procurador do Concelho feitos por pelouro , eleição triennal do
povo, a que prefide o Ouvidor de Braga, hum Efcrivão, que ferve em tudo, &
nos Coutos dc Cabaços, & Capareyros, & pelas muitas Efcrir uras,q ue faz, lhe
rende cem mil reis, he data dos Arcebifpos. Tem feífenta viíinhos, com huma
Parochia da invocação de S. Salvador, Vigairaria annexa ao Priorado de Pon-
te de Lima, que o aprefenta, a qual rende cincoenta mil reis , & para o Prior
cem mil reis: recolhe baiiaiite pão, vinho, feijão, linho, gados,, lenhas, algumá
pefca no Trovella, & pouca caça*

Couto da Tui ha,

ENtre as terras de Barcellos eftá o Couto da Pulha,nome,que entendemos,


lhe puzerão os Romanos, quando habitàrão eíta terra, em memoria da fuà
Apulia. Tem huma Igreja Parochial da invocação deS. Miguel, Rcytoria que
âprefentão o Arcebifpo,& Cabido: rendelhe trezentos mil reis com a terça par^
te dos dízimos,que leva,& as outras duas comos quintos , & quartos feifcê-
tos & cincoenta mil reis para oArcebifpo , & Conegos- Governafe por hum
Juiz ordinário, que também o he dos Orfaõs, Com dous Vereadores, Procura-
dor, & Meirinho, que ferve de Porteiro, eleição triennal do Povo por pelouro,
a que prefideo Ouvidor do Arcebifpo fenhor delle : tem hum Efcrivão que fer-
ve em tudo, data dos Arcebifpos. Produz todo o genero de pão, cevada , &
boas caças, & he falta de lenha. Por aqui vão veíiigios de huma vaHâ , que di-
zem era hum eíleiro, em que entrava o mar, pelo qual íe conduzia em barcos
aos navios o ouro, que das minas da terra fe tirava. 1 em huma Companhia an-
nexa às dos mais Coutos, & confta de cento & cincoenta vifínhoSí

"Trataoo IH

Da Comarca de Viana.

CAP. í.

t>d defcripçaõ de [la IS Ma,


fez legoas da Cidade do Porto para o Norte,ha foz do criílaÍF
no Lima emhuma viító, & alegre planicie tem feu aífento a nen
tavel Villa de Víana , undada pelos Gallos Celtas
annos antes da vinda de Ci vrifto cm n um alto monte para a parte
do Norte, onde hoje eftà â Ermida de Santa Luzia , de que fe
mofiraõ ainda ruínas de edifícios, ôccafas nobres: ehãmaraõlhé .
Yiànâ em memoria de fua patriá Viena, antiga Cidade de Frartçã , íitUada nas
I90 TOMO PRIMEIRO
margens do rio Rodano. He cercadã de fortes muros com cinco port as, a faber,
a porta de Santiago, a de S-Pedro, com huma Capella deífe Santo , a deS-Fe-
lippe com huma Capella de SaõCrifpim,& S.Crifpiniano, a de NoíTa Senhora
da Vitoria com íua Capella pela parte de fóra, & a de S. Joâõ com huma Capella
deíle Santo da |parte de fóra. >
Tem efta Villa tres mil vifinhos,&divide-fe(â imitação de Lisboa ) em os
bairrosíeguintes, a íaber, a Villa cercada de muros, o bairro da Bandeira, o da
Carreira,o de Monferrate,o da Ribeira,o de S. Bom Homem,o do Poffigo,o de
S. Bento, & o do Campo do Forno- Todos eítes bairros eiíaõ bem povoados
de cafas nobres, & tem de comprido meya legoa, que começa da rua do Lourei-
ro até S- Vicente de fóra. Tem hum caes de pedraria , que começa no fim da
V ilia no fitio, que chamaõ o Papanata, & acaba junto da barra no mar largo, cõ
hum redudo no fim, aonde fe vão recrear os moradores.VT em na boca da barra
huma inexpugnável fortaleza, refpeitada das Naçoens eífrangeiras, com hum
letreiro na porta, que diz: Todo o mundo me temrá, &[óo tempo me vencerá: tem
muitas peças de artilharia, St hum foífo de lodo à roda, que forve tudo o que
nellecahe, Sc fóra de ff a fortaleza tem huma obra exterior muito bem fabrica-
(•&» ^
Foy eíla Villa antigamente Cidade Epifcopal até o anno de 6iO. no qual fe
unio ao Bilpado de Tuy, St depois ao Arcebifpado de Braga- Pelo tempo adiã-
tefe arruinou de todo, & de ilias ruínas fe fundou no anno de 1260. a fegun-
da Vianna por E IRey Dom Affonfo o Terceiro no fitio, em que hoje eí!á,o qual
lhe deu grandes fóros , & privilégios , fendo fempre favorecida dos Reys
de Portugal com grandes liberdades, Stifençoens,Stna natureza ( demais de
outras excellencies) na capacidade de feu porto, que chegou a ter mais de ce m
navios proprios,que navegavaõa diverfaspartes. Goza de voto em Cortes-
com aífento no banco quinto, & tem por Armas humaNáo. Foy antigamente
cabeça de Condado, cujo titulo deu ElRey Dom Pedro o Primeiro a Dom Joaõ
Aífonfo, filho de Dom Joaõ Affonfo,Conde de Ourem: depois ElRey Dom Fer-
nando deu o mefmo titulo a Dom Joaõ Affonfo Telles de Menezes, pay de Dõ
Pedro de Menezes, primeiro Capitaõ de Ceuta.
Tem eíla Villa dentro dos muros huma Parochia , a qual he Igreja Colle-
giada, que no anno de 1483. engio Dom Jufto Baldino,Bifpo de Ceuta, com
licença do Papa Xiílo Quarto, á cujo Bifpado ainda então pertencia toda a Co-
marca de Valença. Começou primeiro na Igreja de S. Salvador junto aS. Bento
das Freyras: pouco depois fe fundou a Igreja nova, St femudàraõ para ella os
Conegos, que por todos faõ feis com o Arcipreífe, que he a principal Dignida-
de, & Thefoureirò •• he eíla Igreja fumptuofa , & ornada de muitas Capellas j
duas eíf aõ no Cruzeiro muito grandes de entalhado dourado, com muit as ren-
das, Sc ricos ornamétos -.huma he do Efpirito Santo,pertenci te aos Irmaõs Cie-,
rigos, que tem por ufo fazerem a ProciíTaõ dos Santos PaíTos com a veneracam
devida. A outra Capella he dos Homens do mar: em ambas ha tanta frequência
de MifTas, que fó para as cantadas de todas as fomanas tem muíica feparada cõ
canto de orgaõ; Sc quando ha enterro de algum Irmaõ Sacerdote , fe faz com
tanta gravidade, que leva ventagem a todas as Irmandades do Rey no : Se na
mefma fórma em competência o fazem os Homens do mar. Ha na mefma Igreja
huma Capella das Almas, em que fe dizem muitas Miífas. Tem mais fóra dos
muros huma Igreja Parochial, da invocaçaõ de NoíTa Senhora de Monferrate,
feita ao moderno, que faz inveja a todas as Parochias da Provincia do Minho»
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 191
Os Conventos, Igrejas, & Ermidas, que cercão , & eimobrecem muito a cila
Viila,faõ os feguintes. • «iabg? . ,
O fumptuoib Convento de Si Domingos, que fundou aq nelle fanto Va-
raõ Frey Bertholameu dos Martyres, Arcebifpo de Braga , com tanta grande-
za, & largueza, que he hum dos màyores daReiigiaõ Dominicana: tem fora do
adro hum grande chafarizde mármore com dous tanques, & no meyo delle hua
coluna muito alta, fobre a qual eílá humá grande imagem de pedra do Rey Sal-
vador do mundo com huma Cruz da mefma na maõ,; & dent ro do Convento ha
muita diver fidade de chafarizes, & fontes de agua > com q ue fe podiaõ regar
muitos campos,fe toda fenàm fora rfieter no no Lima , que banha feus mu-
ros. (, f"iX1 ; . • •), • '
-mu O Real Convento de Conegos Regrantes de Santo Ago í linho, da invoca-
ção deSaõ Theotonio , íituadono bairro da Carreira), que fe fundou pelos
mefmos Conegos, & fe lhe lançou a primeira pedra aos y.de Agollo de 163 f.
com grande folénidade, aífiílindo o Arcebifpo Dom Rodrigo da Cuíiha, os Pre-
lados dos Conventos, com toda a nobreza, & povo da Villa. ' j
O fumptuofo Moíleiro de Santa Anna de Freyrãs de S. Bento , ficuado no
mefmo bairro da Carreira , que fundou ElRey Dom Manoel pelos annos de
1501. tem huma fermofa Igreja com grandes ornaihentos, com dous pateos
na entrada, em quefe correm touros, hum foberbo dórmitorio com bom mira-
douro^ duas grandes Cercas. ' i
j r No bairro do Campo do Forno, aonde eílá a Cafa da Camara de novo fa-
bricada ; eílá a Igreja da Mifericordia com feu Hofpital , que fundou ElRey
Dom Manoel, Cafa de grandes rendas, ôtneíle Hvfpital ha muitos enfermei-
ros, & enfermeiras, quatro homens do azul, & qiiatro moços da Capella. Tem
huma alegre praça, aonde fc fazem as feílas da Villa, £cno meyo hum chafariz
de grande arquite<ílura,com muitas bicas, & dous tanques-
O Convento dos Carmelitas Defcalços , que terído grande numero de
F rades, não fahem fóra, por terem dentro delle todo o divertimento, aílim na
grandeza de fua Igreja,(que tem hum foberbo adro cõ fuas pirâmides nos Can-
tos dom duas ordens de eícadas) como na grande cerca, pomares , jardins , &
fontes, que logrão: eíles em certos tempos do anno fazem doutrina nas praças
da Villa, & miffoens peld termo na forma, em que o fazem os Padres da Compa-
nhia de Jefus.
O Moíleiro de S. Bento,que fundàraõ quarenta & dous homes dos prin-
cipaesdeíla Villa pelos annos de (ffo.fcm huma Ermida antiga da invocaçaõ
deíle Santo, fituada fóra das portas da Piedade nas ribeiras do Lima : reíídem
nelle cento & vinte Religiofos com bail ante renda , & quatro Igrejas annexas
para feu fuílento.
O Convento de Santo Antonio de Frades Capuchos, no qual tem feito os
Governadores das Armas tantas obras, que fe pôde chamar Convento Real,por
naó parecer o fumptuofo da Igre ja Cafa de Capuchos: na entrada doclauftro
temhumchafarizmuitogrande,&huma alameda com quatro maS em Cruz,
no meyo delia outra fonte de eíguichos coin muita abundancia de agua, quanti-
dade de frutas,& jardins de murtas 1
O Convento de S. Francifcodo Monte diílantemeya legoadà Villa pará
oNorte he tambcin da Provinda de Santo Antonio , & nelle aflíílem òs Reli-
giofos contemplativos: foy fundado no anno de 1398- pelo Beato Frèy Gon-
çalo Marinho, fenhor de muitas terras em Galliza, o qual faleceo com grande
opinião
1Ç1 TOMO PRIMEIRO
opinião de Santo,& eftá fepultador.o clauftro dcilc Convento , cuja Igreja,
inda que pequena,he muy affeada: vivem os Frades folitariafivente , porque
temi uma grande mata com muitas Ermidas nos bofques , quecorrefponde a
Arrabida, Carnota, Cintra, & Buffaco; & deite Convento le pôde dizer com
muita razão fer Santuário do Reyno, por nelle acabarem muitos Varoens tan-
tos, cuja virtude, & fantidade declarou Deos com muitos prodígios-
O Recolhimento de mulheres nobres, da invocação de Santiago, que vi-
vem de fuas tenças, como fe forão profeíTas, com grande reformação 5 &: citas
Ermidas Santa Clara, Saõ Bom Homem, NoíTa Senhora da Piedade , NoíTa Se-
nhora de Penha de França, S- Sebaítião, S. Roque, NoíTa Senhora da Conceição,
NoíTa Senhora da Soledade,(a auechamãoa Viafacra,) N- Senhora da Annun-
ciada, Santo Amaro, Santo André, os Reys Magos , NoíTa Senhora da AiTum-
pção, S- Vicente, Santa Catherina, o Efpirito Santo, Saõ Lourenço , oc S ■ Ma-
mede ; & neítas Igrejas ha onze Sacranos de novo fe edifica huma Ermida
aos Santos Martyres Theofilo, Saturnino,&Revocata, Padroeiros defira Villa,
que nclla forão martyrizados, cujas relíquias fe confcrvac no monte de Santa
Luzia , como diz a tradição, & o affirmão alguns Authores.
Além dos chafarizes acima ditos, tem efta Villa hú no bairro da Carreira
com huma grande coluna, & em cima huma Cruz: outro detráz do Caftello,que
chamão a fonte do Bom Nome-.o de Gontim de agua tam fria, que he antídoto
para as febres: os da ribeira, que dão agua a toda a navegação deita Villa j &
finalmente muitas fontes diverfas com particularidade para a dor de pedra , &
para outras enfermidades, que por ferem muitas, fe não repetem,£cíó na Villa,
&feu termo ha duzentas fontes nativas, & delias nafeem alguns rios caudalo-
fos- Te feira franca às feílas feiras dc quinze em quinze dias:he cabeça de Co-
marca, & governa-fe com tres Vereadorcs, & hum Procurador do Concelho ,
eleiçãotriennal do povoj de que vay a pauta a Lisboa, donde ElRev efcolhe os
que hão de fervir,& manda para cada anno os que lhe parece, dos quevão no-
meados. Tem juiz de fóra, & Efcrivão, que a mefma Camara aprefenta , em
quanto ellc vive, Juiz dos Orfaõs,&Efcrivão, que aprefenta a Camara por tres
anpos, dous Avaliadores dos Qrfaos, & hum Porteiro. Tem mais dous Mií-
tercs homens do povo, que aífiitem a tudo o que lhe toca, & levão de propina
cada,hum ametade da do Vereador. Tem Juiz das Sizas, que a Camara elege
de tres em tres annos, com feu uferivão, oitoTabeliaens do Judicial , & No-
tas, Diftribuidor,Enqueredor,& Contador, Carcereiro, nomeação da Cama-
ra^ Meirinho, Juiz da Alfandega, dotis Efcrivaens, Feitor, Efcrivão das Si-
zas, Cincos, & Marfaria, Recebedor, Meirinho, & Efcrivão das caufas , & fei-
tos, Chaveiro, &Pezador, quatro Guardas do numero , Eícnvao doConfuIa-
do,Recebedor, & Guarda. B n l.
Os Portos fecos tem hum Juiz, Efcrivão da Receita, Feitor , ot Recebe v
dor, Guarda, Meirinho, Chaveiro, Almoxarife, & Executor. A decima do pef-
cado he de Sua Mageílade pela Cafa de Villa Real, & rende dous mil cruzados,
aprefenta Almoxarife com cem mil reis de ordenado , & Efcrivão com trinta.
Tem Corregedor com quatro Efcrivaens, Diftribuidor gEnqueredor ,& Con-
tador, Meirinho, Porteiro, Caminheiro, Chanceller, Efcrivão das meyas ana-
tas, Requeredor das Sizas, & Carcereiro. Tem mais hum Provedor, & Conta-
dor da Fazenda, dous Efcrivaens, Porteiro, Caminheiro, Procurador dos Rc-
íiduos, Promotor, Enqueredor, Diftribuidor, & Contador , & Meirinho das
terças por os Contadore®, todos data delRey. Em cada Freguefia do termo,
DA COROGRAFIA PORT UG tJF. Z A. ipj
que paíTa de quarenta vifinhos, ha hum Juiz Pedancocom eleitos, que alguns
chamão Vereadores, dão fentenças definitivas vocaes fem appeílação, nem ag-
gra vo, atè quinhentos mil reis, & por cilas fe exccutão, com que evitão muitas
defpezas,& moleftias, que padecem, os q pleiteãoem outros íribunaes: como
muy bem entenderão os Emperadores Tito , Vefpafiâno, & Carlos Quinto, os
Reys DomFelippe o Prudente em Milão, Luis Undécimo em França,Dom Jay-
fhe o Primeiro de Aragão,os Reys Catholicos, Dom Fernando , & Dona Ifa-
bel, & o noffo Rey Dom Pedro o Primeiro. A Camara he Capitão , & Alcayde
mor defta Vilia, çj faz Sargento mor, & Capitaés: o Sargeto mór da Comarca he
por ElRey.

Pregue (ias do termo de/ia V tila,

SAnta Chriftina de Meadelle, foy do Padroado Real, & a trocou por outróâ
EIRev DomDmizno anno de iao8- com Dom João Fernandes de Soto-
mayor, Bifpó de Tuy : he Abbadia da Mitra, rende trezentos mil reis , tem
cento & trinta vifinhos. A qui eílà a cafa Solariega, torre,& quinta de Paredes,
que foy Couto antigamente,& delia fenhor Dom Pedro Hermegis de Paredes,
a quem herdou feu filho Martim Cabeça, pay de Dona Maria Martins, mulher
de Lourenço Pay as Guedas. Tem eítaFreguefia duas Capellas annexas, Noífâ
Senhora da Ajuda, & S. Amaro-
S- M iguel de Perre, Abbadia da Mitra, que rende mil cruzados, tem duzé->
tos &cincoenta vifinhos* Aqui cila a Torre de S. Gil1
S* Martinho do Outeiro foy Abbadia, & a deu hum Abbade às Frcyras de
S. Bento de Viana, que nefta Igreja aprefentão Vigário, tem cento & vinte vi-
finhos. . .
S- Martha, Commenda de Chriíto,& Rey tona da Mitra com Coadjutor,
tem duzentos & vinte vifinhos.
S- Martinho de Cerraleys,Vigairaria annexa ao Collegio de Saõ Bento de
Coimbra, tem oitenta vifinhos.
Santiago Mayor de Cardiellos, Abbadia da Mitra, tem noventa vifinhos»
Aquihahumâ fermofa, & alta torre, que foy do tempo dos Mouros ; não tem
fenhor particular, maa que alguns o querem fer. He tradição vivia nella hum
Regulo pouco Chriftão, chamado Florentim Barreto, familia nobre , & muy
efprayada nefta ribeira: efte fe fez tao ty ranno, que as vafTallas donzellas con-
tratadas para cafar,havião de vir eftar com elle os dias, que elle quizeffe, an-
tes q cilas feajuntaífemcomfeus maridos,os quaes, quldo elle mandava , as
vinhãobufcar,trazendolhedeoffertaquantidade de feijoens , a que era muy
affeiçoado: hiftoria que indahoje permanece com tanta paixão dos moradores,
que quando os Barqueiros do Limá navegão por alli, & lhes perguntão fe levá*
rão já os feijões ao Florétim,a mais aífavel repoíta que lhes-dão, he chamarlhes
nomes afrõtofos,&às vezes paífaõ de palavras a obras. Tem emhum monte a-
cima da Igreja huma Ermida de S.Sylveftre com Irmandades de muitas Fregue-
fias defies cõtornos confirmadas,vão alli quatro vezes no anno com clamores
por obrigação na Quarefma, Ladainhas de Mayo, & dia de Sãtiago Mayor, dão
muitas efmolas , & comem juntos homem , & mulher no fegundo dia das
Ladainhas: tudo he voto antigo por huma grande fome, que houve antigámê-
te: outras vezes lhe vão pedir Sol, ou chuva, & voltao remediados por inter-
R ceifa o
I94 TOMO PRIMEIRO
ccífaõ cio Santo. Mais acima Te moíirão ruínas de Caftello antigo chamado da
Aguieira, aonde eílá o facho» Todaeíla ribeira de huma, & outra parte tem
muitas femelhantes , de que infiro fervio algum tempo o rio de raya entre na-
çoens inimigas, que cada hum fe fortificava cia lua parte.
S- Joaõ Bautiíla de Nogueira, Abbadia da Cala de S. Cláudio, tem ictenta
vifinhos. . *
S. Cláudio, Vigairaria annexà ao Collegio de S. Bento de Coimbra , tem
vinte vifinhos. A qui ellá huma Cafa de Rochas Lobos, & tem veíligios de for-
tificação. .
S. Salvador da Torre foy Moíieiro de Frades Bentos , & fe entende ler
fundado por S. Martinho de Pume: confervoufe com o nome de^ S. Salvador
de Dume até a invafaõ dos Mouros, que o deílruíraõ,& levantàraõ nelle huma
To rre, de que hoje tem o appellido: efcalou- a hum Capitão Gallego, que iegú-
do alguns era Payo Bermudes Conde de Tuy, o qual o reedificou, & povoou
de Monges; mas tornandofe a arruinar, hCi Religiofo feu defeendete chamado
Frey Ordbnho com outros o renovàrão pelos annos de i o 68- & o fagrou Dom
Jorge Bifpode Tuy: aflimefteve annos, & achamos memoria de Monges nelle
até o de iyò8- governados como os mais por Commendatarios , hum delles
Dom Affonío da Rocha, que também o era do Moíieiro de S.Claudio com mui-
ta defcendencia. Foy o ultimo Dom Chriftovão de Almeyda, filho fegundo de
Dom joáo de Almeyda,fegundo Conde de Abrantes, & da Condeça Dona Ines
de Noronha, por cuja morte o unio o Arcebifpo Dom FreyBertholameu dos
Martyres ao Convento de S* Domingos de Viana. He Vigairaria fécula r, que
rede fcífenta mil reis,& para os fradesDominicos cem mil reis,aonde tem huma
grande quinta ■. temcincoenta vifinhos , & eílá neíla Igreja huma imagem de
N- Senhor do Corporal, feita de pedra mármore,que dizem foy achada no mar,
& obra muitos milagres. Em hum monte vifinho fe vêm ruínas de fortificação
antiga, mas naõ alcançamos a quem fervio. Tem terranaveiga , a que chamaõ
Andoa, & aha em outras do termo,com que fazem eyras, he tarn pegadiça, que
cobrindoas a geada, faõ quafi eternas,fem fe fazerem mais.
S. Martinho de Villamou, Vigairaria das Freyras de S. Bento de Viana cÕ
oitenta mil reis de renda para o Vigario, & para as Freyras com mais o dizimo
dos prazos, de que faõ direito fenhorio, duzentos mil reis. Tambem acima da
Igreja ha veíligios de fortificação antiga, que devia fervir de amparar aquella
fermofa veyga, & de prefidio de raya, que o rio faria: tem feífenta vifinhos-
Santa Èulalia de Lanhezes, Abbadia que aprefenta a Cafa de Paço da mef-
ma Freguefía, de que faõ fenhorcs o Doutor Gonçalo Mendes de Britto , Def-
embargador, Sc Superintendente do Tabaco em Lisboa, & feu irmaõ Francifco
de Abreu Pereira, Sargento mor da Comarca de Barcellos: a Cafa dos Rochas
de Menxedo, dizem, tem alternativa neíle Padroado , rende quatrocentos mil
reis, & tem cento ôefetenta vifinhos. Aquifefazboa telha,& haruinas defop-
tificaçaõ, aonde chamão o Calvindo *. teve grandes minas de cílanho, & fe vem
ainda as cavas abertas, em que fe acha efeumalho de material»
S.payo de Monxedo tem cem vifinhos, he Abbadia da Mitra , que rende
duzentos mil reis, & com a annexa do Ervacem trezentos mil reis : faõ ambas
unidas em fórma, que pode o Abbade refidir em qualquer delias, deixando Cu-
ra naquella* em quenaõ eíliver. Deífas duas Igrejas foy Abbade Dom Aífonfo
da Rocha, filho de outro do mefmo nome , Commendatario dos Moíleiros de
S. Salvador da Torre, & de S. Cláudio. Deixou íucceffaõ, de que vem muitos
defla
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. ipj
defta família, dos quaes he cabeça Francifco da Rocha Lobo, & a Cafa, A Mor»
gado da Portella. Ha neftaFreguefía muitas, & honradas quintas , & matas.,
que provem de lenha a Viana, & grande quantidade de cavas, que forão de mi-
neraes de eftanho, & cobfe»
S. Miguel de Villar de Morteda foy anneXa de S. Lourenço da Montaria,
hoje he Abbadia da Mitra, tem quarenta vifinhos» Aqui eftá hum monte que
chamaõ do Crafto,cõ veftigios de fortificação,que devia fer dos Romanos.
S. Lourenço da Montaria, Abbadia da Mitra, tem cento & quarenta vifí-
nhos, & huma Ermida de S. Mamede.
Santa Maria de Amonde, Abbadia do Mofteiro de S. Domingos de Viana,
com referva do Ordinário, tem fetenta vifiuhos, &hum monte, a que chamão
a Coroa, que foy fortificação antiga.
S. Pedro de Ancora, a quem por pequena Freguefia chamaô S. Pedrinho,
he Abbadia da Mitra, tem quatorze vifinhos.
Santa Maria de Ancora chamoufe antigámentede Villar de Ancorâ , por
hum Caftello, que teve de Mouros, de que fe vem veftigios: deu a quarta par-
te delia Theodomiro Rey Suevoà Sè de Tuy, a quem depois cõfirmàrão a quar-
ta parte a Rainha Dona Therefa, & ElRev Dom Affonfo Henriques em 3. de Se-
tembro de 112 ç. he Abbadia da Mitra, tem cento & cincoenta vifinhos»
Santa Chriftina da Fife, comenda de Chrifto , & Reytoria do ConVento
de S. Domingos de Viana com referva, tem duzentos & fetenta vifinhos: devia
fer antigamente do Padroado Real toda,ou parte ; porque Dom AffonfooTer-
ceiro deu ametade delle, & a Igreja de Santa Maria de Sá no termo de Ponte de
LimaàSèdeTuyno anno de 1262- pelo Padroado de Santa Mari a de Vinha da
Areoza. Temnacoftado marcamboas , em que fe toma muito peixe nas ma-
rés : faõ as camboas huns lagos, que fe fazem com paredes , & portas pára o
mar, abrem-fe quando a maré creíce, com que lhes entra a agua , & o peixe
quenellavé:cerraõ-fe em preamar,& em maré vafia fica nellas o peixe errffcco.
Perto da Igreja eftà hum monte não grande, mas com elevada fubida, em cujo
cume tem húa Ermida, & em roda veftigios de forte antigo. Mais defviado por
cima da eftrada, que vay de Viana para Caminha, ha outro mayor, & com gran-
des ruínas. Meyo quarto de legoa da Igreja para oNafcente eftá o Mofteiro
deS. João de Cabanas de Frades Bentos, fundado por S» Martinho de Dume
ao pè da ferra da Fife, donde fe tira a melhor pedra de cataria deftas parte9 , &
que pôde fazer competência para efte minifterio com as mais finas do mundo.
Foy Mofteiro rico, porque não fó dominava os frutos do mar,& terra da Fife,
& ribeira de Ancora, mas tres milhas, que hequafi huma legoa para o Nafcctc
por riba de Ancora, com que fuftentava fetenta & cinco Religiofos. Deftruí-
raõ-noes Mouros, & depois o reedificou hum Rico homem Gallego, chamado
Lopo Munhos, peta grade devoção que tinha ao fagrado Bautifta feu Padroei-
ro. A ífimeftava com Religiofos pelos annos de 1382. quando entrarão nelle
Cõmendatarios: paíTou a Comenda de Chrifto,de que os Frades Bentos o tirà-
rão por demanda, & concerto, pagando aos Cartuxos de Noffa Senhora do Val-
le no termo de Lisboa certa penfaõ, que os Reys lhes applicàrão» —
Santa Maria de Carreço, Comenda de Chrifto, & Reytoria da Mitra,tem
duzentos & oitenta vifinhos, com alguns portos pequenos, em que entrão bar-
cos no V erão, & fe pefca muita Variedade de peixe, & bom marifeo. Abaixo da
Igreja eftá humouteiro chamado Monte dor, nome que tomou do fentimento
que à fua vifta moftrou a Rainha Dona Urraca, mulher delRey Dom Ramiro
Ríij oSc-
j96 tomo primeiro
o Segundo de Leaõ (quando elle a levava para Galliza) da morte que dera a
Alboazar Albucadaõ, Rey Mouro de Gay a, com quem eftava amancebada,& de
cujo poder a tirarão, pelo que EIRey, & feus filhos a lançàráo ao mar dalli huma
legoa com huma pedra, ou ancora ao pefcoço na foz do rio, que tomou o no-
me de Ancora,deite fucceíTo. Neftas duas Freguefias, & na que fe fegue ha no-
táveis fearas de trigo, & milho, ajudadas do eíterco quelhelanção , &dearga-
ço tirado do mar. . ,
Santa Maria de Vinha de Areoza, cabeça do Arcipreftado de Vinha na Col-
Icgiada de Valença, tem duzentos & oitenta viíinhos.^ Foy antigamente Villa,
& Couto: deu-osElRey Dom Affonfo Henriques àSèdc Tuy , & a.feuBif-
po Dom Payono ultimo de Outubro de 11 $7. Depois 110 de 1262. deu EIRey
Dom Affonfo o 1 erceiro à Sè de Tuy por efte Padroado ametade do da Fife,&
o de Sá em Ponte de Lima : & vindofe para V alença os Conegòs, que deraõ
principio àquellaCollegiada,fclevantàrão com efta, St as mais rendas, que cá
tinhão: he Vigairaria dc barrete, que aprefenta o Prelado , a renda fe reparte
em terças com o Prelado, StConegos da Collegiada de Viana, réderá toda qui-
nhentos mil reis.

CAP. II.

Da Filia de Donte de Lima.

TRcslegoasnoNafcenteda Villade Viana nas margens do criftallino Li-


ma , de que toma o nome, tem leu affento â nobre Villa de Ponte do Lima,
fundada pelos Gregos (ou,como outros querem, pelos Celtas , ouTurdulos,
muitos annos antes da vinda de Chriflo, chamandofe Limia , & no tempo dos
Romanos Fórum Limicorum , que íignifíca Praça de Limicos. Deflruío-fe
muitas vezes, & a mandou povoar a Rainha Dona Therefa em companhia del-
Rey Dom Affonfo Henriques feu filho pelos annos de 1 \ 2 f .dandolhe foral com
grandes privilégios, que depois confirmou EIRey Dom Affonfo o Segundo, &
EÍRey Dom Manoel, izentando de portagem, direitos, & miudezas em toda a
parte do Reyno os Vaffallos, Efcudeiros, & criados delRey, Rainhas, & Infan-
tes , que nella forem moradores. Tornoufe a arruinar em forma, que ficou cõ
humas limitadas choupanas de palha , & a reedificou ElRey Dom Pedro o Pri-
meiro no anno de 1 ^60' mudandoa debaixo do Convento dos Frades , aonde
eftara,para junto da ponte, que elle fundou entre duas torrai , fortififendoa
com fortes muros, barbacans,& torres com fuasannexas , que cada huma he
humCaftello. Tem cinco portas,que faõ a do Souto com huma Capella de Sacr
Benedito, a do Poíligo, a da Ponte com huma Capella deNoffa Senhora doRo-
fario, a de S.João com huma Capelladeíle Santo, (cmcujo dia fc fazem gran-
diofas feílas de cavallo) a porta de Braga, & a do Palacio dos Bifcondes, Alcay-
des móres defta Villa, folar da illuílre família dos Limas neíle Reyno*
Tem efla Villa,& feus arrabaldes fetecentos viíinhos,com muita nobreza,
alguns Fidalgos, & Morgados, todos grandes homés de cavallo, muitos efpin-
gardeiros, & ferreiros, viftofas cafas, com muitas hortas, & jardinW -Aíliítem
ao feu governo Civil hum Juiz de fora, tres Vereadores , & hum Procurador
*>0 do
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA, 19?
do Concelho, feitos por eleição triennal do povo , a que prcíldéò Corregedor
da Comarca. Efcrivão da Camara, &. Juiz dos Orfaôs pelo mefmo modo dos
Vereadores,durão tres aunos; o Efcrivão dosOrfaõsera nomeação da Camara
de tres em tres annos,hoje he propriedade, em quanto tem defeendefites : os
Tá beli aen s fao fefs, o ue paga penfao aos Vifcondes ; Meirinho, çom Diílri-
buidor,& Contador, &Enqueredor, todos data delRey. OAlcayde , que he
Carcereiro, aprefenta o Vifconde,efcolhe a Camara hum; Almoxarife nomeâ a
Camara, confirma EIRey; dõusAlmotaceis, que fàz a Camara. He abundante
de pão, vinho, frutas de toda a caíta, algum azeite, bons gados, egoas de cria-
çaõ,bom mel, muita lenha, caça, rapozas ,teixugos,& javalis, & muito peixe
do rio Lima, que aqui fe vadea em barcos tres legoas para baixo , & huma &
meya para cima. Compoem-fe o termo de terras àquê,St além do Lima, & das
Igrejas, que referiremos; a primeira he a da Villa.
NoíTa Senhora da AíTumpçaõ he grande Templo , que dentro dos muros
fe edificou de novo, mudando para ella a Parochia antiga, que eíleve próxima,
aonde hoje eftá NoíTa SenhoradaCuia, muito diftante da Villa : era do Pa-
droado Real, &ElRey Dom Sancho o Segundo a deu em Guimaraens ao Arce-
bifpo Dom Sylveflre Godinho no anno de 1238. em fatisfação de exceífos,
que cm bens de ííia Igreja lhe haviáo cometido os feus : he Priorado da Mi-
tra, & rende trezentos &cincoenta mil reis com S. Ma mede de Arca, & Feito»
fafuas annexas,& antigamente o era também a de Caftro Laboreiro. He Igre-
ja Collegiada, que inftituíoo A.rcebifpo Dom Frey Bertholameu dos Marty-
res, concorrendo ElRey Dom Sebaítião com parte item fete Benefícios fimpli-
ces, quatro que dá EIRey, & aífiltem na Capella Real de Lisboa, & pagão Iconi-
mos nefta, rendelhes quarenta mil reis, & outro tanto aos Beneficiados, para
o que vem huma terça dos diz imos de Soajó. Os tres > em que entra olhe-
Toureiro, faõ do Ordinário, parte pelo meyo com o Prior a renda da Fregue-
iia. A Capella mór tem de fabrica doze mil reis cada anno, fete da Camara, &
cinco do Prior ,& defies ultinps tres Benefícios ; o corpo da Igreja corre por
conta da Camara. No Altar do Cruzeiro da parte direita tem duas Imagens
de Noffa Senhora da Piedade, &do'Senhor morto no feu regaço, as quaes vie-
rão de Inglaterra. Tem a Villa muitas Capellas bem ornadas , fóra da porta
do Souto cífá a de S. Sebâífião, que foy finagoga dos Judeos, quando alíimrão
neíla terra, & moravão na rua nova. Abaixo de Nolta Senhora da Guia eftá
hum monte, que chamão dos Medos,com veíligios de fortificação , & ao pé
em húa pequena planície não dá outro mato, fenão hervas vermelhas , dizem
que nellas permanece a cordo fangue,que alli fe derramou em huma batalha
dada entre os de Bruto fobre paíTar o Lima, ou não. Mais adiante,aonde ho-
je eífá NoíTa Senhora da Conceição, fe vem ruínas de hum forte , que foy do
tempo dos Romanos. Tem mais Cafade Mifericordia com renda de tres mil
cruzados, & quatro Capellaens, que rezãoemCoro,paraos quaes inft:tuío,&
deixou renda Antonio de Magalhaens, AbbadedeToris : hum bomHofpital,
a que eíiá unida a renda do cia Gafaria de S. Vicente, que antigamente efteVe
aonde eflá NoíTa Senhora da Guia: outro para os feridos, & doentes,que fun-
dou o V ifconde Dom Diogo de Lima Brito & Nogueira, Governador das Ar-
mas^ outro fóra da porta do§outo para os peregrinos, & paíTageiros, que
inftituío,& dotou de bens D. Leonel ae Lima, primeiro Vifconde de Villa-ao-
va de Cerveira, &Alcay de mór defta Villa,a qual tem os Conventos feguin-
tes.
R iij O Con-
ipS TOMO PRIMEIRO
O Convento de Frades Capuchos da Província de Santo Antonio he de-
dicado a eíle Santo, tem hum bello paífeyo pela fua porta para a alegre Cape -
la de NoíTa Senhora da Guia, & o fundou Dom Leonel de Lima, primeiro Vi -
conde da Villa de Cerveira, aonde jaz fepultado. OConveiiLO cie S. Francilco
de V al de Pereiras,hum quarto de legoa diftanteda Villa , cflie toy de Frades
Conventuaesdo mefmo habito, 6c o largàrão a Sor Guiomar Ferreira, Rehgio-
fa de Santa Clara de Villa de Conde, por Bulla do Papa Leão Decimo , dada
em í fif - aonde no mefmo anno levando comíigo algumas Religioías de vir-
tude, deu principio à nova Comunidade, ficando eilapor Abbadeça , em cujo
ciliciofe moftrou muy zelofadoaugmentoda Cafa, adqu irindolhe rendas baí-
tantes, com que feíuftentao hoje mais dc cem Religiofas, fogeitas a Província
de Portugal. Foyefta Villa Cabeça de Comarca, que fe mudou para Viana a
petição dos Cavalleiros criminofos, que nella vivião, valendofe dos fidalgos,
que reíidião em Madridno tempo, que osReysde Caflella tyrannizavão cita
Coroa. Tem por Armas huma ponte entre duas Torres , 6c huma Cruz no
meyo. As Freguelias do feu termo laõ as feguintes.
S- Mamede de Arca, V igairaria annexa ao Priorado da Villa , tem trinta
vifinhos, 6c huma Ermida de S-Bento.
S. Vicente de Fornellos, Comenda de Chrifto, & Reytoria da Mitra , tem
duzentos vifinhos. Aqui eftá a Cafa do Paço de Anquião, que fundou de no-
vo (ou lhe coube cm quinhão) Dom Rodrigo de Mello de Lima , Cõmendata-
rio de Refoyos do Lima, filho quinto de Dom Leonel de Lima , primeiro Vif-
conde, 6c a deu em dote a fua filha Dona Joanna de Mello cafando com feu pa-
rente João Gomes de Abreu, filho fegundo de Leonel de Abreu, fenhor de Re-
galados, 6c de fua fegunda mulher Dona Maria de Noronha: fuccedeo-lhe neíla
Cafa, 6c Morgado feu filho Diogo Gomes de A breu, 6c a efte feu filho Antonio
de Abreu de Lima, pay de Pedro Gomes de Abreu, que o herdou ; 6c por fale-
cer femfucceífaõ feu filho primeiro Antonio de Abreu de Lima, paliou a Cafa,
6c Morgado ao fegundo João Gomes de Abreu, que hoje a poíTue-, & daqui def-
cendcm muitos fidalgos, 6c nobres, não fo neíle Reyno, mas nodeGailiza. Ha
mais nefta Fregueíia a nobre, 6c antiga quinta de Barreiros , poffu ida fempre
dos melhores da família dos Barros, a qual lograva Dona Maria de barros , fi-
lha de Duarte de Barros, quando cafou com Dom Francifco oe Lima, filho le-
gando de Dom Diogo de Lima , que pela mefma via era biíneto do di-
to V ifconde, de quem nafceo Dom Duarte cie Lima, que o herdou , 6c caí ando
com Dona Maria de Araujo & Vafccncellos, ti verão filha herdeira Dona Serafi-
na de Lima, que vive calada com Rafael de Abreu de Lima, terceiro neto de Pe-
dro Gomes de Abreu, fenhor de Regalados, 6c V alladares , & Alcay de mor de
Lapella , 6c quinto netó do mefmo Vifconde, que agora í aõ íenhorps da dita
quinta. Ha nefta Fregueíia hum monte, a que chamâo as Santas, dizem , to-
mou efte nome de humasfantas mulheres, que alli fizerãovida fanta naquelle
retiro, quandoosSantos , Bento,Romeu, 6c Udom por aqui viverão perto.
No alto deite monte femofírãoveíligios de fortificação : ao pe lhe fica hu-
ma Capella de Santo Amaro , imagem milagrofa, em cujo dia fe faz aqui fei-
ra franca, que he aos quinze de Janeiro.
Santa Martha de Cerdedello foy Moderno antigodeFrades de S- Bento,
cuja fundação fenão alcança,6c o converteo em Igreja Parochial Dom Luis Pi-
res pelos annos do Senhor 1471-hoje he Comenda deChriího, & Reytoria da
Mitra, tem cento 6c dez vifinhos- Ha aqui huma Confraria antiquiífima,cha-
i ■
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. içp
mada de San<ftificetur,em que anda toda a gente deftaFreguefia: congregaô-íe
ao Cruzeiro fóra da lgrçja na primeira oitava de Natal à tarde,armão alli hua
meia, em que poem duas velas accfas, St fe chove, metenvfe em algumas cafas,
St rezão pelas Almas dos antepaffados: St por cada Padrç noflb, que algum pe-
de lhe rezem, dão hum real & meyo 5 St como todos querem fe reze por íuas
obrigaçoens,fe ajunta quantidade de dinheiro, de que fe valem para os gaftos,
que lhes toca fazerem na Igreja*
S. João da Ribeira, no modo moftra que foy Mofteiro , hc Abbadiâ, que
rende tres mil cruzados , a qual aprefentão os lenhores dos Coutos de Para-
della na mefma f regueíia, St do de Mazarefes, Sc fua Cafa: tem quatrocentos 5c
quarenta vifinhos,St eftes lugares, Crafto, Paradella,6tTalharezes. A mayor
noticia, que achamos de fua antiguidade, healeguinte. Reynando em Leão o
gotofo Bermudo o Segundo no anno do Senhor 985 • fez doação ao Conde
Dom Tello, ôc a fua mulher Dona Munia da familia dos Eliotins , ( appellido
illuftre entre os Godos de Elpanha) dos Coutos dc Mazarefes , pouco acima
de Vtana, Comarca de Barcellos, ôc dos de Paradella, Crafto, 5c calhes de Frey-
ris, 5c Santiago de Gimieira, termo de Ponte de Lima 5 o que devia fer pelos
muitos ferviços, que lhe faria nas guerras, que teve com Dom Ramiro o Ter-
ceiro, em cuja oppofição já fe appellidava Rey em fua vida, Sc nas dos Mouros,
a quem por efta terra venceo com felices batalhas- Vendofe os Condes fem
fucceííaõ,que lhes herdade os muitos bens que tinhão, doarão eftes Coutos,St
Padroados defta Igreja, ôc da de Mazarefes com todos feus emolumentos (co-
mo fazenda propria) aoMofteirode S-Payode Antealtares da Ordem deSaõ
Bento na Cidade de Compoftella em Galliza , que hoje eftá annexo ao de Saõ
Martinho Real do Pinheiro da mefma Cidade. Aílim o poíTuírão muitos annos,
fpm embargo de fe feparar efta noíTa Coroa da de Leão, 5c de algumas vezes fe
não ajudarem muito de fuas rendas por çaufa das repetidas guerras, que en-
tre os Reyshavia. Ultimamente emtempodelRevD. Fernando fe lhe toma-
rão com pretexto de que o Abbade em deíerviço leu andava em companhia de
pi enrique Segundo ReydeCaftella pelos annos de 1574»* ^ confiderando o
dãno, que lhes refultava da inquietação das guerras, fizerão emprazamento
de tudo a Martim Mendes de Berredo , Alferes mór delRey Dom Aífonfo o
Quinto, filho de Gonçalo Pereira de Riba de V iíTell 1 o das Armas, o qual fen-
do cafado com Dona Maria Pereira, filha de Ruy Pereira , fenhor da terra da
feira, morreo na Cortede França,em que era Embaixador. E por não dei-
xar geração, fua mulher fundou o Convento dejefus de Aveiro, St vendeo os
Coutos com tudo o que lhes tocava a feu parente Diogo Pereira, Cavalleiro
da Ordem de Ayiz, & Alcayde mór de Villa nova de Cerveira, reynando EIRey
JDom João o Segundo, per certa quantia de moedas de ouro, que efte Rey ba-
rco^ q chamavão Jultos- Succedeo a efte cm fua Cafa feu filho Fernão Pereira ,
k a efte Martim Pereira feu filho, herdou-ò feu filho Jorge Pereyra, que c 1 fan-
do em Ponte de Lima 991*1 Tfabel Pires Malheiro , filha de Gonçalo Pires Cer-
queira, Feitor delRey dos direitos da Ilha da Madeira, 5c de fua mulher Leo-
norÍ4alhçiro,tiverãofilho ao Doutor Gafpar Pereira, Defembargador da Sup-
plicação, que com provifaõ delRey Dom João o Terceiro fezMoigado deftes
Çoutos, Padroados, 5c fazendas, pondolhe entre outras huma çlaufula muy
,çç»veniente,5c entédida,qual he a do poffuidor poder nomear em qualquer de
feus filhos, que melhor lhe parecer, ôc ainda deixar a eftes , & dallo ao neto-
Nafcèrão dçfte matrimonio Ruy Pereira fem geração , que tres vezes foy à
Jtoo TOMO PRIMEIRO
India, huma por terra, de que fezhum curiofo Itinerário , que fe conferva
manu-efcritona Cafade Mazarefes: teve muitos crimes , de que feus grandes
ferviços lhe adquirirão perdão; finalmente indo por Capitaõ mor de viagem
na Nao Salvação, naufragou no Cabo de Boa Efperança, (que para elle foy tor-
mentofo) aonde morreo às mãos de Cafres. E feu irmaõ Nuno Alvarez Pe-
reira,^ fe achou na de Alcacere, aonde ficou cativo, fem embargo de íucceder
naCafa,& íer homem de grande talento, a empenhou muito para o refgate;
fuccedeo lhe feu filho Gafpar Pereira, Comendador da Ordem de Chrifto, que
cafou com Dona Bernarda de Caft ro, filha de Jorge Peçanha, & de Dona Magda-
lena de Caftro, de que teve a N uno Alvarez Pereira, que fendo o primogénito,
fe meteo Religiofo na Ordem de S- Bento, Diogo Pereira, Jorge Peçanha Perei-
ra, Sebaíf ião Pereira,Luis Peçanha, que morrèrãomoços,Magdalcna do Cal-
vário, & Ifabel de S. Francifco, Freyras no Morteiro de Sãta Clara de V illa do
Conde» Jorge Peçanha he hoje fenhor dos ditos Coutos, & poífuidor do Mor-
gado ; cafou com Dona Ignacia Maria de Vilhena , filha de Dom Louren-
ço Soutomayor , & de fua mulher Dona Ines de Vilhena. He o leu
Morgado hum dos mais rendofos derta Provincia , porque rende onze
mil cruzados, & leva nos Coutos os quartos, naõ fó dos frutos, mas das ma-
deiras, & matos, coma regalia de não poder ninguém nelles levantar cafadc
fobrado fem fua licença, nem fazer lagar, antes todos faõ obrigados a ir pi-
zar as uvas aos feus. Em Santa Catherina,& acima deNoíTa Senhora de JFõ-
te cuberta, aonde chamão oCartello , ha veftigios de fortificaçoeas antigas
defronte das de S. Simão,& Cartello em Refoyoscom o rio em meyo, que de-
via fervirlhes de raya. Aqui eftá o poço de S-João muy celebrado por fua gran-
de pefca.
Santiago de Gimieyra, Abbadia da Mitra , que rende quatrocentos mil
reis, tem cento & vinte viíinhos. Na quinta do Villar, que foy de João Ma-
lheiro, & hoje de feu filho Lcureço Pereira de Tavora, ha hú cafíanheiro,q mu-
tas vezes palia de dar feíTenta alqueires de cartanha-
S. Martinho foy Abbadia, que aprefentavão os Freguezfis, com os quaes
fez hum Abbade a deflfem às Freyras de S5nta Anna de Viana , para que lhe
recolheffem certas peíToas de fua obrigação, & aífim ficou ao dito Morteiro,
que nella aprefenta Vigário : tem oittnta viíinhos. No monte do Ribeiro,
Coutada dos Vifcondes, em que ha baftantes coelhos, & lebres, ertá hú olho
de agua, a que chamão Marinho, que forve tudo o que nelle cahe. Na ertrada
que vay de Ponte de Lima para a Barca vemos a Capella de S- Sebaftião , que
teve feu augmento na fórma feguinte. Pelosannos de tf 11. hum rapaz de-
rta Freguefia, que depois fe chamou Martim Rodrigues de Luna, era filho de
humLavrador pobre, como faõ quaíi todosos que por alli ha , & olhava no
monte pelo gado de feu pay • havia já naquelle lugar huma pequena Ermida de-
rte Santo, aonde o dito rapaz com outros cortumavão ir merendar , & vale8-
rem-fe das inclemências ao tempo: achou-fe fó huma vez, & como pode rom-
peo a arca das offertas, que os paífageiros lançavão ao Santo. Succedeo en-
forcarem naquelle tempo hum ladrão na forca de Ponte de Lima , & dieer a
gente, que aílimhavião de fazera quem roubàra as offertas de S. Sebaftião; o
moço atemorizado com a pena, que o ameaçava , & receofodo caftígo,que
merecia fua culpa, defappareceo, & nunca fe foube para onde, atè que dalli a
annos achandolena índia rico, mandou reformar a Ermida do modo, que ho-
je eftá, com alpendre à porta para os paífageiros, cafas para Ermitão, & Cõ-
" * fraria
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. lot
fraria com Miífa quotidiana, que dizem Clérigos feus parentes com fcoaef
mola, hum legado grande à Mifericordiade Ponte de Lima, aquém conílituío
por adminiílradora : vem alli hum Irmão dos da Mefa em dia de S. Sebaílião
a dar hum quartilho de vinho,& hum pão alvo de oito reis a cada morador de-
íla Freguefia, & em Mayo quatorze alqueires de milho aos parentes»
Santa Cruz he o Padroeiro Santo André, Abbadia da Mitra , que rende
duzentos mil reis, tem fetenta viíinhos. Pelos annos de i6óo- pario aqui húa
mulher quatro crianças de hum parto.
Santa Maria de Burral,que os naturaes querem fejaBeyral,tem cento &
cincoenta viíinhos: he Vigairaria annexa á Comenda de Fornellos , queapre-
fenta oReytor. Aqui eílá a quinta do Paço , de que he fenhor Gonçalo de
Araujo, foy dosViícondes de Villanova da Cerveira, &faõfeus alguns foros,
de que lhe fez ElRey mercê. Ha mais h uma Aldeã, aonde chamão a Torre, por
huma que alli houve de incomparável altura.

Seguem-fe as Freguefias do termo alem do Lima far a


o (orte.

SAnta Marinha de Arcuzello, Abbadia de ametade dos frutos , rende du-


zentos & cincoentamil reis, a outra ametade he Beneficio fimples, que rt-
de duzentos mil reis,tudo data do Ordinário: tem duzentos & cincoenta vi-
íinhos,deque alguns, por ferem do Arrabalde dálem da ponte , vão no com-
puto dos da Villa. EÍÉklgreja havia dado à Sê de TuyTeodomiro , Rey dos
Suevos , & a Rainha Dona Therefa com feu filho ElRey Dom Affonfo Henri-
ques lha confirmou em 13. de Setembro de 112.5-. Aqui eílá a quinta da Frey-
r.ia, que poífue Dom João Manoel de Menezés; dizem tomou eíte nome,por an-
tigamente fer refidencia dos Cavalleiros Freyres Templarios. Ha mais o Mof-
teirodeReligiofas de S-Francifco de Val de Pereiras por cima da quinta, &
Morgado do Rego do Azar, que he tradição chamarfc aífim, de huma grande
batalha, quê aqui houve, em que os vencidos tiverãoazar : achaõ-fe por alli
muitas fepulturas,&no alto do monte deS. Miguel (em que ha boa pedra pa-
ra toda a obra)fe vem veíligiosde fortificação, a qual entendemos foy def-
truída com o vencimento dei la batalha no tempo dos Romanos. Tem huma
grande Igreja deS. Gonçalo, obrada com efinolas dos muitos devotos do San-
to pelos muitos milagres que obra, efpecialmente nos quebrados, com feira
franca em feu dia a dez de janeiro. Aqui mefmo eílá a Capella de Noífa Se-
nhora da Luz,a mais fermofa imagem da Virgem, que pôde haver : grandes
diligencias fizeraoos Religiofosda Ordem de Chriílo para a levarem para o
Convento de Noífa Senhora da Luz de Lisboa, & lho encõtrou o Conego Bal-
thefarde Araujo Franco- ^
Santa Eufemia de Calheiros, "Abbadia deíla família, rende quatrocentos
mil reis, tem cento & oitenta viíinhos. Aqui onde chamão o Paço velho he o
folar dos Calheiros defcendentes de Dom Arnaldo dc Bay am, de que foy pri-
meiro fenhor, fcgundo alguns, Pedro Martins de Chacim Calheiros , filho de
Martim Pires de Chacim.
Santiago de Brandara tem fetenta viíinhos , he Abbadia que aprefentão
os do appellido Bezerra, Morgado de Canivello na mefma Freguefia. Aqui eílá a
quin-
xoi TOMO PRIMEIRO
quinta do Paço, que poffue Manoel de Vafconcellos dc Scufa por fua mulher
Dona lfabel de Soufa, Senhora da Cala de Linhares. Eítà também neíta Fre-
guefia omonte de S.Simão, que no anno de i66i* fervio dc quartel ao noffo
Exercito, quando o Conde do Prado Governador das Armas preiumio que os
Gallegos vinhão fobrc Ponte deLima;moítra íinaes de fortificação antiga,&
pouco acima fe vem outros, onde chamão o Caftello,ambos oppoltos ao deS.
Catherina, & Fonte cuberta.
Santa Maria de Refoyos he Conveto de Conegos RegrátesdeS. Ago it 1-
nho, & diíta de Ponte de Lima trcs quartos de legoa, & diltante deite Convc-
to hum tiro de arcabuz; em hum ameno valle eítá a Torre, & Caftello , que
hoje poffue Diogo Malheiro, filho de Gafpar de Morim de Araujo- Aqui ti-
nha leu Paço, & Solar,& aqui vivia pelos annos de nop. hum grande fidalgo
chamado Affonfo Ancemondes , que em todas as guerras que teve o Conde
Dom Henrique,o acompanhou fempre ; & vendoíe obrigadoà Virgem San-
tiffuna pelos bons fucceffos, que lhe dera, fundou eíte Convento no anno de
112o* dedicando-o à Senhora fua advogada,& ajuntando nelle Clérigos , ou
Conegos, querezaffem em Coro as Horas Canónicas , lhes poz por pri-
meiro Prior a feu filho Pedro Mendes , Arcediago de Tuy,com approvação
do Bifpo Dom Affonfo, q então era daquella Cidade , cujoBifpado fe eíten-
dia atè eíta terra. DeTuy,& Ponte de Lima forão os Sacerdotes, que con-
duzio para novos povoadores deita Cafa, aonde, paffados quatro annos, veyo
o Cardeal jacinto, Legado cmEfpanha do Papa Caliíto Segundo, em cujapre-
fença a 10'. de Novembro de 1124.. fez o fundador com feus filhos, & netos
huma livre, & notável doação ao Convento,o que Deos logo lhe pagou, dan-
dolhe cento por hum, ôc acrefcentandolhe a fua Cafac^i a doação , que fez
ElRey Dom Affonfo Henriques,fendo Infante, a feu filno Mendo Affonfo, da
Condado de Refoyos no fim do dito anno de 1124. a titulo de ferviços, que
lhe havia feito, & efperava receber delle. Foy o Conde Mendo Affonfo cafa-
do com huma fidalga illuítre chamada Dona Continha Paes da Sylva, & ven-
do que não tinha filhos varoens, fez com fua mulher doação deite Condado
ao dito Convento de Refoyos pelos annos de 1140 . & a Dom Pedro feu ir-
mão, que o governava, a qual ElRey confirmou em Agoíto do mefmo anuo,
& lhe fez Couto, & concedeo jurifdição fecular,emque punhão Juiz, & mais
Tuítiças; hoje já o não-he, & lo refervàrão para viver o leu Paço , & Caftello
com alguns bens à roda, de q fecopoem os Morgados dos Ferreiras de Gui-
maraens,que lhes toca por Pereyrasde Bertiandos,i8tO de Antonio Pereira
Rego, & o da Torre, que poffue Diogo Malheiro, todos livres do Convento,
& não de prazo feu, como dizoChroniíta dos Cruzios- F.íta Torre he o So-
lar, & eíte Dom Mendo o tronco da familia de Refoyos , que dizem tem por
Armas em campo de prata quatro palias vermelhas, & timbre duas penas de
Águia vermelha com afpa, & hum baftao entre ellas. Dom Payo Bifpo de Tuy
vendo o bom modo de vida deftes Sacerdotes, levou dous no anno de 1136.
a reformarem os feus Conegos, ifentou os, & a rreguefia de 111a Dioceu,con-
firmou-o o Cardeal Legado em Novembro de 1154' pelo que ficou ímmedia-
to ao Papa, no que o confervàrão todos, particularmente Alexandre Tercei-
ro no anno de 1163. & ultimamente S. Pio Quinto no de 1565. Quando os
Clérigos tomàrao a Regra de Santo Agoltinho,nao fabemos *. entrarão nelle
Commendatarios, & hum dos primeiros, fegundo em numero, chamado Dom
Gonçalo João,ou por devoção particular,ou por obrigação, fez no lugar de
DA COROGRAFIA PORTUGUEZÀ; id*
Penas hum Hofpital,& Capella da invocação de S. João Evangeliíf a , no quaí
fe agafalhavão peregrinos. Nelle viveo, & morreo com opinião de Santo o Bea-
to Romeu, cujo corpo illuíira,& ampara eíle Convento. Foy o ultimo Com-
médatario o Bifpo de Mirada D. Julião de Alva,q o teve da mão do Cardeal S»
Carlos Borromeu, com penfaõ de quinhentos cruzados. Unio-ie aò Conven-
to de Santa Cruz de Coimbra no anno de i 56 p- fendo feu primeiro Prior trien-
nal Dom Theotonio de Mello, irmão do Monteiro mór. Eftava a Igreja , &
corpo do Convento de Refoyos muito arruinado, quizerão fundallo de novo
em Ponte de Lima, mas os naturaes fem fundamento lho encontràrão, dizen-
do que lhe fazia a terra cara 5 pelo que o reedificàrãonomefmo lugar. Em feu
principio compunha-fe de quatro Igrejas, a do Convento, a de Santa Eulalia, a
de S-Mamede da Vacariça,& S-Julião ae Nogueyra;permanecem fó as duas pri-
meiras, a que as outras fe unirão. Tem vinte & cinco Frades, o Prior he Prela-
do, faz Vigário Geral, Efcrivão,& Meirinho: tem cadeapara os culpados; o
íeu deílricro domina quafíhuma legoa;aprefentaCura,a quempaífa de render
cento & cincoenta mil reis, & a renda dosdizimos daFreguefia,& annexa,lau-
demios, & luóluofas faõ quatro mil cruzados. Tem trezentos & trinta vifi-
nhos. Na Igreja do Convento ha hum Efpinho da Coroa de Ch riflo, et os Fra-
des tem obrigação de o levarem a Ponte de Lima em tresde Mayo» & na Ca-
pella mór da parte efquerda defronte dafepultura do Beato Romeu eílá à de
Dom Mendo, para onde a mudàrão no anno de 15-82. da Igreja velha , aonde
cif ava,da banda de fora-O letreiro traduzido em vulgar diz: Aqui nelta fèpuliura
defcanção os ofSos do Conde L). Mendo,que doou a efta igreja t.idis fuás riquezas
faleceo no anno de 11+2. He eíla Fregueíia abundante de vinhos, & bons para o
Verão-
Santa Eulalia, Igreja antiga, he annexa ao Convento de Refoyos, em que o
Prior aprefenta Cura, que tem de renda íetenta mil reis, & os dizimos faõ dos
Frades, arrendaõ-fe como Convento: tem oitenta vifinhos, em que entrão os
trinta do termo de Arcos;
Santiago de Sepõis,Vigairaria do Arcediagado de Labruja, tem cem vifi-
nhos. Aqui eífá a Torre de Parada,de q foy fenhor Martirn Garcia dè Parada, fi-
lho de Garcia Mendes, que o foy de Dom Mendo Affonfo de Refoyos : 1 ucce-
deolhe feu filho Durão Martins de Parada, hiim dos fidalgos, que ElRey Dom
Affonfo oTerceiro efcolheoparafervira feu filho herdeiro, ElRev Dom Dinis,
quando lhe poz cafa à parte, & depois foy feu Vice-Mordomomór, & no fim
Mordomo mór. Eífe appellido não achamos muy continuado entre nós : na
Provinda de Trás os Montes algumas peífoas honradas o ufaõ,& dos que da-
' qui paflfárão ao Sardoal na Beira , faõ o Doutor Antonio Carvalho de Parada >
quecompoz o livro intituládo, Arte de reynar. A Galliza paíTárão outros,
dos quaes dizem fer tronco naquelle Reyno Sueyro Annes de Parada, que nas
guerras que teve com os Mouros ElRey Dom Affonfo o Septimo, lhes ganhou
a Cidade de Alméria no anno de 114.6 • & em memoria ao Solar deíla Pro-
vinda, entendemos tomou, & poz o nome ao Caftello deParada , de que là
foy fenhor, &. da Guardia;
S • Miguel de Barreo, AbbadiadoVifcondede Vilía-nova de Cerveira, q
rende duzentos mil reis, tem cento & vinte vifinhos-
S. Salvador de Rendufe, Vigairana do Arcediago de Labruja, tem feffenta
vifinhos. Aqui foy o recontro de Travanca, em que o Conde do Prado * de-
pois Marquez das Minas, desbaratou o Exercito de Galliza na vcfporadiá
. de S;Lourenço de 166a Santa
!04 TOMO PRIMEIRO
Santa Maria de Labrujó, Abbadia da Mitra, que rende cento & cincoetl
ta mil reis, tem fetenta vifinhos.
S. Chnílcvão de Labruja. ou Lauruja, Vigoraria , tem cento & noventa
viíinhos. Entre Coura, & Ponto de Lima, na eilrada Real, que vay deíla Villa
para a de Valença, eílá huma ferra, que chamão da Lauruja , nome que fe còr-
rompco de I.aboriofa, palavra Latina, que quer dizer trabalhofa, como na ver-
dade o be em í'ua íubicla. Aqui,he tradição,houve antigamente hum Mcílei-
ro de Frades, de que fó permanecem humas Cruzes de pedra, & tcr-íe por ufo
itnmemoriavelnaqueila Freguefia algumas vezes que chove muito, & necelíi-
tão de Sol, irem todos com o Parocho, & muitos meninos a eíle lugar, & neile
preparão hum clamor, vindo adiante os rapazes cantando: Senh> r cDeos vuvide
a nós, Santa M& ro^ay a Dm pnr nós: feguem-fe as Cruzes, & Parocho , &
a tráz os freguefes,que com Ladainha chegão à Parochia, q ue de prefente tem
em dilatada diílancia,aonde todos ouvem MiíTa , &Deoslhes concede ordi-
nariamente o que lhe pedem. Neila mefma Freguefia eílá huma Capella de Saõ
João Bautiíla,aondechamão a Gróva,entre duas altas ferras,em cujo fitio , di-
zem, houve outro Moíleiro de Freyras. Dentro da Capella eífá huma grande
pia, que trouxerão os freguefes à Igreja velha, primeiro que tiveffem a moder-
na, & bautizando nella algumas crianças, todas cegárão, do que pafmados os
pays, a tornârão a levar aolugaremqueeílava,&alli fe conferva quebau-
tizando em outra pia os que forão nafeendo, não fó eíles não cegàrão, mas co-
bràrao viíf a os que erão cegos. Pouco acima da Capella nafcc huma fonte,que
dá principio a hum regato, de que em diílancia de meyalegoa fe tirão mais dè
quarenta levadas de água, cada huma por dous regos, com que no Verão regão
os milhos. E logo abaixo deíla Capella ha hum poço muito alto , que chamão
do Sino, por hum,que trazedo o as Freyras de baixo para eíle Moíleiro , que
lhes fundárao Bilpo de Tuy,& chegando ao pê da ferra Clivia, cahirão em o
rio, homens,boys, carros, & fino- Em outra parte da mefmaFregueíia , aonde
chamão os Moíteiros, dizem eíleve hum de Freyras , que fundou S. Hermi-
gio Bifpo de Tuy, & tio de S. Payo. Foy a caufa , que fendo eíle Bifpo cativo
de Mouros no anr.o de 921- na' batalha de Val de Junquira,em que forãové-
cidos ElRey Dom Ordonho o Segundo, & Dom Sancho Garcia Abarca Rey de
Navarra, & deixando em Cordova por refensdefeurefgate hum fobrinho cha-
mado Pavo, tratou logode ajuntar o dinheiro, em que eílava cortado, &vin-
do com elle para Cordova, encõtrounella Fregueíia hum Caminheiro , & per-
guntandolhe donde fazia jornada, lhe reípondeo o homem, que de Cordova, a
trazerlhe atriílenova da morte de feu fobrinho Payo , oc perguntandolhe o
como fora,lhe diífe o Correyo,quemorrera martyr pela Fè de Chriílo, O Bif-
po com grande alegria começou a dar carreiras de baixo para cima, de que ad-
mirado o menfageiro, lhe perguntou a caufa de tanto goíloa viíla de nova tam
fúnebre, a que refpondèra, que pelo grande milagre que Deos obrara em fa«
zerhum menino Santo, de quem elle era tio: & tendo para fy que o dinheiro,
que levava para dar, não era já feu, ferefolvèra em ornei mo lugar ,em que lhe
derão a nova,fundar hum Moíleiro dc Freyras da Ordem deS. Bento, de que
fora Religiofo, & que eíle Convento eíleve aonde eílá a Capella de S. Anna,
orago da Freguefia, donde as Freyras fe mudarão,& a fua Igreja ficou aos fre-
guefes, & foy fua Parochia alguns annos, em quanto não fizerão a nova , que
tem, em lugar mais commodo. Teve efla Igreja Couto antigamente, & o deu a
Sè de 1 uy ElRey Theodomiro , o qual depois lhe confirmàrão a Rainha Dona
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA, ió1
Therefa,& feufilhoEIRey DomAíFonío Henriques em 13. de Setembro de
1125. A tradição diz, que o dito Morteiro fe extinguio, & asFreyras fe paf-
fárão para ode S- Salvador de Vitorinho das Donas, com que ficou fendo Pa-
rochial tornou à Sé de Tuy, quando a Infanta Dona Urraca, filha delRey D-
Fernando o Magno o rertaurou, com cujas rendas o Biípo Dom Lucas no an-
no de 124,1- creou o Arcediagado íimples de Labruja - titulo que inda perma-
nece naquella Igreja fem renda,&na de Braga comella,& importa comas an-
nexas, dizimos, & viíita fetecentos mil reis, & tem Cadeira cm ambas as Ses :
faõ fuas annexas Sepõis, Rendufe, & em Coura Santiago de Romarigacs. A
Parochia mudàrão mais para baixo meya legoa, fendo Vigário Pedro Maciel Ca-
lheiros, que para iflò deu quarenta mil reis, & hu freguez, chamado Domingos
Dias, a terra, èm que fe fundou, & duas juntas de boys com carros s aprefenta
o A rcediâgo ao Vigário, quando não renuncia. No mefmo tempo,entendemos,
fe fundou hum Hofpital na Aldeã, que aílimfe chatna, & fó no nome conferva
a memoria de que o foy.
S. julião de Moreyra, Abbadia, que algú tempo erteve dividida cm Ab-
bade,& Commenda de Chrirto, de que achamos Commehdador a Dom Pedro
de Soufa, Capitão deO rmuz :o como fe extinguio não alcançamos ; tornoií
comò as mais a Padroeiros feculares, Fagundes, fenhores da Cafa do Outeiro,
& Barbofas da Carcaveyra: porém havendo mortes fobre huma aprefentação,
fe vierão a compor com ficar in fòlidumdos Fagundes, que por cafamento fe
ajuntàrão aos Percy ras Pintos de Bettiandos , que hoje dommão erte Padroa-
do : rende efta Abbadia dous mil cruzados,& tem trezentos & vinte vifinhos.
Nefta Fregueíia ertão â Capella do Efpirito Santo, que foy de Templários , &
Parochia de muitas terras, que hojeeftão em outras; a de S. Ciprião, que com-
mummente chamão Sibrão, dizem, fov recolhimento de Beatas. Os do appelli-
doCrefpos, querem fejão daqui naturâes,& a Cafa do Outeiro Solar dos Fa-
gundes, cuja famiiiatem dadopeífoas grandes, deque defeédem muitos fidal-
gos, & forãoos primeiros, que com gente de Viana defeubrírão a Terra no-
va, & que nella tiverão fortificação, de que etão fenhores, & por fua conta cor*
ria apefea do bacalhao,em quanto Inglaterra a não tomou: elles fortificàrão o
CartellodeViana,emqueeftavão fuas Armas, que neftas guerras paífadas-fe
tirarão, &puzerão as dos Vifcondes, por Dom Diogo de Lima , Governador
das Armas derta Provinda, o reedificar ao moderno.
NoíTa SenhoradaNatividadedeCabrâça, parece que foy toda , ou parte
Couto do Morteiro de Vitorinho, q devia alliter quinta de criação de gados,o
quefe infere de huma efcritura,quedelle fe conferva no do Salvador de Braga,
paraondefe mudou,na qual fe diz, que indo ÉlRey Dom Affonfo Henriques à
caça de porcos bravos a efta Fregueíia, que he parte da ferra de Arga,acompa-
flhando-o Nuno Velho, Sancho Nunes, Gonçalo Rodrigues, Lourenço Viegas,
& outros fidalgos, o Abbade de Vitorinho lhe deu hum jantar jurtto da Érmi-
da de Azevedo porta no dito monte de Cabraçà,nofimao qual ElRey lhe de-
marcou alli hum Couto; mas arruínandófe a Capella, Dom Paícoal, Celeyrei-
ro em Ponte de Lima delRey Dom Sánck^ 1

devaífallo com lhe pagarem certos


r
cha Abbadeça de V itorinho, & a ] uftiç .
no Couto: hoje o não he, mais que Parochia com Vigário, que aprefentão as
Freyras do Salvador de Braga: tem oitenta vifinhos. O mel derta ferra merece
fer tam celebrado de nós,como he de Horácio o do monte Hymeto.
S São
10Í TOMO PRIMEIRO
São Salvador de Aliuraos, ametade dos frutos , Abbadia, que rende du-
zentos &cincocnta mil reis, a outra parte, que he fimples, rende cento & cin-
coenta mil reis: tudoaprefenta G°nçalo de Soufa, & Menezes, fenhor da Caía
de Penticyros, & do Couto de F reyxomil, tem cento &■ trinta vi linhos-
S. Pedro de Arcos, Abbadia que aprefenta jeronymo de Soula Machado,
fenhor da Cafa da Lage na mcfma Freguefia, rende mil cruzados, & tem duzen-
tos viíinhos. Aqui ao pé da ferra de Arga entre as Aldeãs de Portocarreiro,
& a antiga Capella de N oíTa Senhora dos Arcos eíteve aTorre de Morim, que
ha poucos annos a comprarão os fenhores da Cafa da Lage, para onde a mudà-
rão, fendo o Solar da familia de Morim- Eitá também neíla F reguefia a Cafa de
Pentieyros, de que he fenhor Gonçalo de Soufa de Menezes , íenhor do Couto
de Freyxomil, aqual por varonía he defcendente da Cafa dos Magalhaens, ie-
nhores da Pote da Barca; porq Fernão de Soufa de Magalhaens,filho fegudo de
loão de Magalhacs,fenhor daCafa de Magalhaís,Caílello da Nobriga,Couto de
FÕte Arcada,SoutoRebordãos,& o primeiro daVilla da Pôte da Barca,& de lua
mulher D-Ifabel de Soufa,Alcayde mór do Gallello de Ervededo, cafou com D-
Ifabel Bar boi a, filha de João Barboladc V iana do Lima,& Íenhor da Caía de Pe-
tieyros, de que teve a João de Soufa de Magalhacs, & houve outros, de qvem
os Alcoforados, os fenhores de Moz em Gailiza, os Tofcanos de Braga, Ôt ou-
tros muitos. João de Soufa de Magalhaens foy fenhor deita Caía , & caiou
com Dona Violante Fagundes, filha de João Alvarez Fagundes , deque teve
Cofmede Soufa,Damião de Soufa,& filhas, de que dcfccnderaoos Morgados
de Monti jo, & os fenhores de Montes, & outros. Damião de Soufa de Mene-
zes cafou com Dona Maria de Soufa, filha de Antonio de Soufa Alcoforado,de
que teve a Sebaítião de Soufa, & a Dona Violante, mulher de Dom Gabriel de
Queirós Sotomavor,fenhor de Móz. Sebaítião de Soufa deMenezes toy tabem
fenhor deita Cafá,& cafou cõ Dona Joanna de Noronha, filha herdeira de Dom
Garcia de Noronha, Governador da índia, de que teve a Damião de Soufa dc
Menezes, que fervio no Brafil, & em Portugal nas guerras paffadas, aonde foy
Capitão mór, & Governador de Salvaterra do Minho, quando a ganhamos aos
Calleeos, & depois Capitão|mór de Aveiro : cafou com Dona Joanna delavo-
ra, filha de Gonçalo Guedes de Soufa de Carrazedo, de que teve a Gonçalo dc
Soufa de Menezes fenhor deita Cafa, Capitão de Infantaria no Mmno , òc Ca-
pitão mór de Aveiro, & Commqidador na Ordem de Chníto , o wual cafou
com Dona Ines Guiomar de Caítro, filha de Diogo de Mello , & de fua mulher
Dona Guiomar de Caítro, de que teve a Dona Margarida de Menezes,mulher
defeu primo Damião Pereira da Sylva, fenhor de hum dos dous Morgados dc
Bertiandosia Frey Francifco dc Soufa, Commendador de Malta, <x Meítre de
Campo na Beira, a Manoel de Soufa de Menezes, Capitão de Infantaria no Mi-
nho, & Meítre de Campo da Comarca de Efgueira , que cafou com Dona Maç-
oarida C hriítina de Soufa & Vafcõcellos, filha de Lourenço de V afcpncellos,
fenhor da Torre, & Cafa de Figueiredo das Donas na Comarca de Vizeu j a
rareia de Soufa, Deputado do Santo Officio , & Prior da Bempoíta junto a
Aveiro, & a Dona Joanna deNoronha, mulher de Francifco Pereira da Sylva,fe-
nhor de hum dos Morgados de Bertiandos , que depois de viuva iemeteo
Freyra em Villa de Conde, aonde foy Abbadcça. Ac.ma do arruinado Caitel-
lo da Formiga eítá a Ermida de Santa Juíta Virgem, & Martyr, natural de Se-
vilha, muyviíitada com clamores demuytasFregucíias, & romagens de toda
cita ribeirajhc advogadadaquclíes, que não tem filhos, & quando lhos vao pe-
DA COROGRAFIA PORTUGUESA, to?
dir,lhe levão dc offer ta frangos, & frangas brancos , 8c obra Deos por fuá in-
terceíTaõ grandes maravilhas.
Santiago de Fontao era Abbadia de Padroeiros, qtie porannós fe deti às
Freyras de Vitorinho, hoje he Yigairaria que aprefentão as Religiofas do Mo-
ílciro de S- Salvador de Braga: tem cento 8c trinta vifinhos. Ha aqui boa pedrâ
para cantaria.
S. Salvador deBertiandos, Abbadia q alternativamõte aprefentão os fenho-
res dos dous Morgados, em q aquella Cafa elFá repartida: rende trezentos mil
reisjtc noventa vifinhos. Dizem tomou o nome da Cidade de Britonia,que aqui
eíleve fundada, em que outros a levão a outros lugares, abrangendo em parte
asFregueíiasde Sá, 8c Santa Comba, 8c inda hojechamão os Ferreyros, aonde
eíleve huma rua defies Artifices, ôcfeachão veiligios deíle material : perma-
neceocomBifpo atèosannos de p8o> cm que por guerras, que trazia Dom
Bermudo Segundo Rev de Galiza com feu primo Dom Ramiro Terceiro de
Leão, entrou nefleReyno Almançor, Capitão Mouro , & entre as muitas Ci-
dades que ganhou, lhe fez eíla tal refiílencia, que muitas vezes eíleve para a
deixar, a não fe por de permeyo o credito de fuás armas ; que nas conquiílas
mais que em tudo, tem grande lugar a reputação: apertou tanto com cila, atê
que a ganhou, 8c deílruío em forma, que fó eílas memorias, 8c fcmelhànças do
nome nos deixou; & não faz contra eftanoffa opinião a dos que querem ef-
tiveffc edificada nasAfturias perto de Oviedo: porque iííò podemos entender
era Afturãos,Fregueíia vifinha,com que parte, & de que já falíamos; 8c me-
nos a repartição dos Bifpados,em que fe acha fer efte já daDiocefi de Tuy,
quando Almançor a deftruío ; porque bem podia por fua atenuação extin-
guirfe, ou odeTuy dominar eílas duas igrejas, ou o que he mais certo, pelas
caufas, que não alcançamos. Neila Freguefia eflá a Torre, 8c Cafa de Bertian-
dos repartida em dous Morgados , que tiverão principio na fórmafeguinte»
Ruy Lopes Cerveira Padroeiro da Igreja, que então fe chamava Mangoeiro, 8c
agora Gondarem , por a mudarem daquelle para eíle lugar termo de Villa-no-
va de Cerveira, de cujos Alcaydesmóres defeendia, houve filho a Lopo Rodri-
gues Cerveira, que viveo em Ponte de Lima , 8c cafou cóm Brites Gomes Pi-
nheiro, filha de Martim Gomes Lobo, Ouvidor do primeiro Duque de Bragan-
ça, Dom Affonfo, 8c de fua mulher Mayor Pinheiro, deque teve a Fernão Pe-
reira, 8c Martim Pereira fenhor da Cafa dos Ferreiras de Cavalleiros,por Cafar
com Dona Joanna d'Eça, filha mais velha, 8c herdeira de Eílevão Ferreira, 8c de
fua mulher Dona Brites d'Eça,fenhores daquella Cafa, 8c a Diogo Pereira, pri-
meiro fenhor da Cafa, 8c Coutos de Mazarefes, 8c do de Paredella. Fernão Pe-
reira, filho primeiro deíle Lopo Rodrigues Cerveira 8c Pereira,cafou em Pon-
te de Lima com Maria Vafques Malheiro, filha de Vafco Affonfo Malheiro, de
que teve a Lopo Pereira, a Dona Ines Pereira, mulherde Jorge Ferrás do Por-
to, 8c a Mecia Pereira, mulher de Pedro Vaz Soares, de Monção. Lopo Pereira
filho deíle Fernão Pereira cafou em Viana com Ines Pinta,filha de Martim Fer-
nandes do Caílello, 8c de Leonor Pinta fua mulher , de que teve aFrancifco
Pereira, Antonio Pereira, 8c Dona Leonor Pereira, terceira mulher de Francif-
co de Magalhaens, filho quinto de Gil de Magalhaens ,' fenhor da Ponte da Bar-
ca. Havia primeiro fido cafado eíle Lopo Pereira com Dona Leonor Nunes de
Barros, filha herdeira de Gonçalo de Barros, fenhor da Honra de S. Martinho
de Vaobò em Regalados,8c tinha delia filhos,a Lopo Pereira, que ficou com a
quinta da Penha em Santa Vay a de Barros, que hoje poffue Lourenço deSoufa
S ij por
108 TOMO PRIMEIRO
por leu defcendente, Sc a Fernão Pereira, cie quem nafceo Dona Mecia Pereira,
mulher de Felipe de Mello de Sampayo dos de Pombeiro, que por efia razão
veyo viver em Ponte de Lima, aonde tem fidalga defeendenoa, & muytos no-
bres,que vem deile Fernão Pereira. Morreo Lopo Pereira no tempo da menori-
dade delRey D. Sebaílião, deixãdomuy mal ajuitadas fuas contas, Sc asdefeu
avô, que deviãoíer da fazenda delRey, com que corrèrão ; pelo que os feus
Miniilros apertarão muito com a fua fegunda mulher Ines Pinta ; porém co-
mo eíia íoiíe mulher de grande talento, fe foy a Lisboa pedir a F.lRey íe com-
padeceífe de lua viuvez, St de feus filhos, St como era generofo Príncipe , lhe
perdoou ametadeda divida jfabendo-o leu tio ò Cardeal Dom Henrique, que
depois lhe íuccedeo na Coroa, que então lha adminiílrava, diífe: Ah rapaz,que
íe terdes. Contou hum pagem aElRey o que o Tio diífera , Sc eílimulado de
que foífem à mão à fua liberalidade, mandou chamar Ines Pinta , Sc lhe per-
doou tudo. Recolheo-fe a fua cafa, Sc com eíie dinheiro , Sc outro feu íe go-
vernou tão bem,que em alguns annos,queviveomais,comproumuitas fazen-
das, com que cafou a filha ; fe2 a Torre,Sc Caías de Bertiandos, St nellas dous
Morgados com Padroados de Igrejas, que adquirio para feusfilhos : herdou
T hum delles Francifeo Pereira, que era o mais velho , Sc calou com Dona Anna
de Lima, filha de Fernão Borges Pacheco, Sc de fua mulher Dona Catherina da
Sylva,irmãa do grande Capitão Jorge de Lima, de que teve a Fernão da Sylva
Pereira, Frey Antonio Pereira de Lima, Cavalleiro de Malta, Sc Dona Ines de
Lima, mulher de Leonel de Abreu, fenhor de Regalados. Fernão da Sylva
Pereira, filho primeiro deíle Francifeo Pereira, cafou na Cidade da Guarda cõ
Dona Leonor de Mello, filha de Diogo de Mello Ozoriog fenhor de Sangumhe-
do , de que teve a Francifeo Pereira da Sylva, Frey Diogo de Mello Pereira,
Frey Lopo Pereira de Lima, Prior titular do Crato,Sc ambos fuccefíivamente
Balios de Leça, Frey Antonio Pereira de Lima , Commendador de Cernance-
lhe, Fernão da Sylva, todos quatro Maltezes , Bernardo Pereira Ozorio , Sc
-Manoel Pereira de Mello, Doutor na fagradaTheologia,Conego Doutoral de
Coimbra, Sc Governador daquella Univcrfidade depois de ter fido Collegial
de S. Paulo, ambos Eiludantes. Francifeo Pereira da Sylva fervio com dous
homens à fua cufla em Africa, Commenda que não chegou a lograr, foy Ca-
valleiro da Ordem de Chriflo , Capitão de Cavallos na Provincia dcTrasos
Montes na Acclamação delRey Dom João o Quarto, Sc fenhor da Cafa de feu
pay: caiou com Dona Joanna de Noronha, filha de Damião de Soufa de Mene-
zes, fenhor da Cafa de Pentieyros, Governador de Salvaterra do Minho , Sc
C apitão mór de Aveiro, Sc de fua mulher Dona Joanna deTavora, deque te-
ve a Damião Pereira da Sylva, Cavalleiro da Ordem de Chriflo com grandes
tenças, o qual herdou a Cafa de feu pay, Sc por fua mulher a de feu tio Gon
çalo de Soufa de Menezes: cafou com fua prima cõ-irmãa Dona Margarida Mâ-„
ria de Noronha Sc Souía, filha de Gonçalo de Soufa de Menezes, Governador-
da Comarca de Aveiro, Sc Efgueira, fenhor do Couto de Francemil, Sc Com-
mendador de. S.Mamede de Canellas na Ordem de Chriflo, Sc de fua mulher
Dona Ines Guiomar de Soufa, Sc Caílro, de que teve a Francifeo Pereyra da
Sylva, q ferve nas ArmadasdaCofla,Sche fenhor não fó da Cafa, Sc Morgado
de Bertiandos, mas da Cafajde Pcntieiros, Sc do Morgado de S. Miguel no ter-
mo da Guarda, Sc de outro, que chamão da Chainhano termo de Arrayolos, Sc
de outro Morgada,quetem na TlhaTerceira , inílituído porhum feu afeen-
dente chamado Gonçalo V az de Soufa; aGonçalo Pereira da Sylva , Antonio
DA COROGRAFIA P RT ti G U E Z A. io,
Pereira da Syívà, Diogo Pereira da Sylva, Dona Ines Juliana dc Cartro, Dona
Joanna Francifca de Noronha Freyra no Morteiro de Villa de Conde , Dona
Anna Antónia de Lima,& Dona Leonor de Noroíiiâ , que eítãõ educandas hò
mefmO Morteiro. Conferva efta Cala a fagrada relíquia de hum dente de Santo
Antonio, que Luis Decimo-tercioRey de FraiiÇa , & a Ráirlhà may Maria de
Medicis derão no anno de ióió- ao noffo Portugucz Frey Luis Mendes de
Vafeoncellos > então Embaixador dafuaReligião de Malta,de que veyo á
fer Gram Meftre, o qual ó deu a leu amigo , & companheiro naquella Embai-
xada o primeiro Frey Antonio Pereira de Lima, irmão de Fernaò da Sylva,
avò de Damiaõ Pereira da Sylva, & de Antonio Pereira da Sylva , que fby Co-
ne go Magirtral da Sé de Évora, & hoje he digniífímo Bifpo de Elvas , & de
Fr.Diogo Pereira da Sylva^Comendador deTavorana Ordem de Sam joaõ de
Maltâ,&fenhor do Couto de Aboim- Antonio Pereira Pinto , filho lègundo
de Lopo Pereira, & de Ines Pinto , foy fenhorde hum dos ditos Morgados,
que fua mãy fez,&o lograõ feus defeendentes. Aqui, he tradiçaõ, eraõ os
Campos Elyfíos, que quer dizer,defcançode Varoens juftos, aonde os Gen-
tios noflbs antepaffados tinhaõ para fy vinhaõ defeanear as almas dos feus>
quelogravaõ grande defeanço por paífaremas aguas do Limai
Santa MariadeSá,reparte-fe a renda em dous Benefícios, hum he Abba-
dia, que rende duzentos & cineoenta mil reis, o outro fimples, que rende cem
mil reis, ambos da aprefentação do Arcebifoo de Braga : tem cem vifinhos.
Erta Igreja com ametade do Padroado da Fife deu ElRey Dom Affonfo o Ter-
ceiro àSédeTuy no ánnode 1162 em trocado Padroado de Santa Maria de
Vinha, & de certos bens, que allii tinha o Cabido,pelo quemortra que até en-
tão devia fer da Coroa; A qui, onde chamão Louredo,pouco dirtante da an-
tiga Cidade de Britonia, efteve o Morteiro Maximo de Frades Bentos, fegun-
da fundação de S. Martinho de Dume ; deu-lhe o nome de Grande não lo á
grandeza de feu edifício, mas o numero de Religiofos, que o habitavão, , os
quaes, conforme o que alcançámos das Hiftorias, tinhão Laus perene,cõ que
de dia, & de noite eftavão louvando a Deos, & vertidos de cilicio fulkntavão
em feus hombros o Ceo, & terra no cfpirito, & virtude do Patriarca S. Bento,
& comfuas oraçoens libertavão efte Reyno do cativeiro da herefía Arria-
na.
Santa Comba, Vigairaria árinexa do Morteiro de Val de Pereiras, a quem
a deu ElRey Dom João o Terceiro, tem noventa vifinhos- Para que Deos dè
Sol, quando á chuva he muita, ouparaqUe dè agua, quando a feca hc grande,
levão Santa Comba a Val de Pereiras, & ordinariamente confeguem bom def-
pacho à fua petição.

Siij CAP
210 tomo primeiro

CAP. III.

T>a Filia dc zSMònçao.

SEis legoas da Villa de Caminha paraoNafccntc,duas da Villa de Valença,


& tres do Concelho de Coura para o Norte junto às ribeiras, do Minho,
defronte da Villa de Salvaterra no Rey no de Galliza,tcm íeuaífentoa nobre,
òc leal Villa de Monção, que, Ccgundo as hiftorias, he povoação antiga, chama-
da Obobriga, nome que tomaria delRey Brigo, comoas mais que fundou , &
acabão em Briga. Devia arruínarfe em forma, que os Gregos, quando povoa-
rão efta ribeira, a fundàrão de novo, chamandolhe Orozion. Panados annos
a achamos feita Cidade, cujo nome era Mamia no tempo que Santiago pregou
a Fé de Chrifto ilefta Provincia,indaque alguns ievão efta Cidade a Armenia >
ou a confundem com outra, que do mefmo nomeia haveria : defta forao natu-
raes Santa Celerina, & Serafina, a quem converteo o mefmo Santo, & feus Difci-
pulos. No tempodelReyHermenerico jáfe chamava emPortuguez Monção,
derivado do nome Orozion, que em Grego quer dizer o mefmo, que em Latim
Mons fanctus, cm Portuguez Monfanto, & abreviado Monção* Alguma de-
ftasfabricas foy paraCortos mais abaixo,aonde cftá agora,5c fe chamão Mo-
ção o Velho; mas ficando deferta ultimamente, & recolhendofe alguns mora*
dores àantiga VilladeBadim,queeftavafituadana montanha do termo de Va-
ladares, não nefte , como outros dizem , &: vendo ElRey Dom Aítonfo o
Terceiro a difparidade, que havia na bondade dos fitios, a extinguio,& com
os mefmos vifinhos,& outros, que fe lhe aggrcgàrão , a fundou de novo no
Couto de Manzedo,no lugariem que hoje eitá,& lhe deu foral com honrados
privilegios/cflando cmGuimaraens aos i2«clc Março dc ij^it.utundolhc âs
iurifdkoens|deBadim,& Concelho de Pena da Rainha , & outros de menos
conta,que tudo ficou em hum termo. Depois ElRey Dom Diniz a cercou de
/ muros com forte Caftello , que cingio de muralhas com fua barbacãa ElRey
Dom João o Segundopondo na porta do baluarte hum Pelicano, que tinha
por divifa : tem quatro portas, a dc Salvaterra, a do Rofal,a da Fonte,& a de
-S. Bento, & dentro da fortificação nova ; terá dc efpacio quatrocentos pados
de comprido, & duzentos &cincoenta de largo, & ha nefta praça quatro Cõ-
panhias de Infantaria paga, de gente muy luzida.
Tem efta Villa voto em Cortes,com aífento no banco decimo : antiga-
mente trazendo o noíTòRey Dom Fernando guerras com ElRey Dom Henri-
que o Segundo de Caftella, vindo osCaftelhanos a íitiala, & vendo fe os cer-
cados com poucas efperanças de foccorro,feitos de ma ntimentos,huma nobre
fenhorá chamada Deu la Deu Martins fe deliberou,como otttra Judith,a livrar
a fua terra do poder de feus inimigos, cozendo alguns paens, que da muralha
lhes lançou, dizendolhes, que fe eitavão faltos de mantimentos,fallaflem, por-
que eftava a Villa tão bem provida, que repartirião com elles ; & vendo os
Caftelhanos o pão frefeo, levantarão o fitio, & em gratificação defta heróica
obra,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. in
ebra, lhe ievantàrão os moradores delta Vilia Eítatua, & delia defcendem Os
melhores daquella íibeira,&de outras partes. Em tempo delRey Dom Fer-
nando era Alcaydemór deita Villa Alvaro Gonçalves de Abura , tronco dos
Marquezes de CaftettoRodrigo, dos ienhores da Povoa, & Meadas , hoje in-
cluído nos Condes de ValdeReys,òcaífim mais dos fenhores do Morgado do
Serrão. ElRey Dom João o Primeiro deu o íenhono delta Villa a Lopo Fer-
nandes Pacheco em 29.de Agoíio de 14.23- mas logo lho tornou a comprar
por mil & quinhentas livras- Depois ElRey Dom AíFonío o Quinto a deu a
Dom Affonfo, Conde de Ourem , filho primeiro do primeiro Duque de Bra-
gança Dom Affonfo, na occafião em que lhe deu Valença 1 mas impugnou-o
a terra de forte, que não tomou polfe, & íazendoíe queixa a I 'Key Dom João
o Secundo defuâdefobcdiencia à viita deque Valença não impugnàra a doa-
ção, refpondeo : Valença he femea, cr Moncào macho; & aflun ficou fempre na
Coroa, ôc ElRey a eítimou tanto, que lhe deu privilegio para que fempre fof-
fe lua, ou da Rainha, concedendolhes a honra de Infançoens. Tem muita no-
breza, & alguns fidalgos, com boas calas ; faõ íuas Armas em campo branco
huma mulher fobre os muros com dous paens junto de íy,& eíta letra ,
h Veuy o ha dado. Eíta he a Vilia, a quem ElRey Dom Felippe o Quarto
(trazendo guerras com Portugal) mandou pôr íitio, que durou quatro mezes
& meyo,íei>do Governador d as Armas o Marquez de Viana 3 & Meítre de
Campo General Dom Balthefar Pantoja; & eítando os cercados no mais mi-
feravei eítado que podia fer,& o forte de cima da fonte minado, como tam-
bém a praça,querendo ellescapitular,ofizerao os inimigos primeiro, vindo
em tudo o que os cercados quizerão: aíTmoufe o dia- & hora para íahirem,
& parecendolhe ao dito Marquez que o principal eítava ainda por lahir, lhe
diíTerão que iá todos tinhão fahido,de que admirado o mefmo Marquez,dilfe :
Efros, (on los Leones, que con tanto valor (e han defendido í [i cl Gr art Leon de Ef*
pdiía tuviera machos de/los Leones, fuer a fennt de todo el mundo. Era Governador
deítã praça no tempo deite fítio , & entrega delia Lourenço Perena dç Amo-
doi, que adefendeo copa grande valor , & na paz das duas Coroas a reititui-
rão osCaftelhanos. . . ■ r
Afliftem aofeu governo civil hum Jiuz de fora, tres Vereadores , num
procurador do Concelho, Efcrivão da Camara, íeis Tabcliaens j Juiz. dos Oi-
faõs com feuEfcrivão,Diftribuidor,Enqueredor,UContador , Efcnvaõ das
Sizas,& Meirinho, todos daiadelRey* Tem Capitaõ mor , & Sargento mór
feitos pela Camara, quando ElRey os não apreíenta , comíeis Companhias-
-1 iro de mofquete da Villa para o Nafcente perto do rio nafee hum olho de
agua quente , a que çhamaõ Caldas, ern que lavaõ roupa, poucos fe ajudaõ
delias para banhos, tendofe experimentado ferem muy medicinaes- Tem feira
-firScaaos ?-dias de cada mez; Gafa de Mifericordià com Hofpital , a queíe
kflsregou a renda do die s* Gião, que era de incuráveis , o qual íe desfez no
tempo das guerras } huma fermofa Capella de Noffa Senhora do Outeiro no
Cano,que he humcampo muy efpaçofo -.outra de Noffa Senhora da Viítâ em
hm baluarte, & outra deKoffa Senhora da Labandeira junto das ultimas mu-
-íStaS, & quatro fontes perenes de excellente agua- Tem mais dous Moíiei-
$0S de Freyras;.© de S, Bento, que fundou hum nobre Varão , chamado Payo
Comes Pereira, pelos anr.os de 15 50. em que refidem cem Rehgiolas , & mais
dç feffenta criadas; &o Moíteiro de Freyras de S.Francifco , emque aíliiíem
mais de noventa. Coníta de duzentos vifinhos > com huma Igreja Parochial
in TOMÒ P R 1MEIRO
tia invocação de Santa Maria, que foyAbbadia , & hoje be Rey tor ia doPá3-
droado Real, que por outros o largou oBiípo de Tuy Dom João Fernandes
de Sotomayor, a EIRey Dom Diniz no anno de 1308. que atèli era daquella
Sê. Della era Abbade Vafco Marinho, a quem chamarão Dom Vafco, filho baf-
tardo de Alvaro Vaz de Bacelar ,& de huma fenhora Gallega do appellido Ma-
rinho. Eíle andou em Roma, aonde fervio ao Papa Leão Decimo 5 fby feu Se-
cretario, & Confeífor, & Protonotario deíleReyno , &neUe fe recolheo com
hum filho, & duas filhas, que là tivera: trouxe muitos Benefícios , de que a
mayor parte fe íizerãoCommendas, (em feu filho, & genros ) por ferem dos
que o Papa tinha para iílo concedido a EIRey Dom Manoel- Inílituío a Ca-
pella de S. Sebaflião da 1 grcja Matriz, aonde eílá fepultado com íiguta de re-
levo, & lar gandoa paraCommenda de Chriflo com referva de quarenta cruza-
dos para fy,foy nella primeiro Commcndador Lançarote Falcão feu genro,
natural de Pontevedra em Galliza,fidalgo da Cafa delReyDom Manoel,que
lhe paíTou Carta da Commenda a 17. de Julho de 11 • em que o mefmo Rey
níorreo- Aqui ha huma Capella, que inílituío o Arcediago Alvaro Soares dé
Caílro , de que he adminiílrador oMeilre de Campo Leonel de Abreu de
Magalhaens,na qual ha cinco Capellaens, que rezãO cada dia as Horas Canó-
nicas^ huma Miífa com porção de vinte mil reis a cada hum. Ha outra , q
fez Payo Rodrigues de Araujo,& agora a reedificou Francifco da Cunhada
Sylva, Governador da praça, na qual eílá a fepultura de Deu la DcuMartinsi
aonde fe hiao abrir as pautas, ôteile por defeendente de ambos a poíTue.
S. Salvador de Manzcdo, Vigairâria da Camara Arccbifpal, rende cento
& cincoentamil reis ao Vigário, & para os Padres da Companhia do Colicgio
de] Braga, de quem faõ os dizimos, quatrocentos & cincoenta mil reis j tem
duzentos & quarenta viíinhos- Em Agrello ha hum grande penedo, que faz
huma tam efpaçofa lapa, que poderá nella viver hum morador com fua famí-
lia.
S- Maria de Troporiz, Vigai r aria dos Padres da Companhia doColíegio
de Coimbra, rende ao Vigário quarenta mil reis, & aos Padres com S.Louren-
ço de Lapella cento&cincoenta mil reis: tem cincocnta & feis viíinhos-
S. Lourenço de Lapella , Vigairaria que aprefentão os mefmos Padres,
tem vinte viíinhos,& tres Ermidas» Aqui junto do rio Minho tres quartos de
legoa daV illa de Monção eíleve fundado o 1 indo Caílello de Lapella com a mais
alta,forte,& fermofa torre, qucneílaProvíncia havia, todo com fua muralha
em roda, & ameyas, antigamente inexpugnável, & hoje pouco defenfavel pelas
muitas imminencias, que tinha à roda- A primeira memõria, que delle achá-
mos em papeis manu-efcritos,he, que Lourenço de Abreu , fenhor do Couto,
&. Torre de Abreu em Morufe,fe achou com ÉlRey Dom Affonfo Henriques
antes de fer Rey, na batalha de Valdevez, & que lhe mãdou fundar eílaTor-^
re,&Caílello em oppoíição de Galliza; mas não he iílo tam vulgar, como fer
feu Alcayde mór Vafco Gomes de Abreu feu defeendente, fenhor do Couto,
& Cafa de Abreu, & do Concelho de V alladares, Alcayde mór de Melgaço, &
de Caílro Laboreiro em tempo dos Reys Dom Fernando, & Dom João o Pri-
meiro,^ o tiverãoosde fua geração, fenhores que depois forão de Regala-
dos, até feu quarto neto Leonel de Abreu, que o trocou com o Marquez dc
Villa Real por cem mil reis de juro. Eíle Caílello fe mandou derrubar por
ordem de Sua Mageílade, para fe fortificar a Villa de Monção , & ficou £0 a
Torre muito alta, que chamão a Vara do Caílello.
S.
DA COROGRAFIA PORT UGUE ZÀ» 213
S- Eulalia de Lara foy do Padroado Real , a largou por outras ÈlRey
Dom Diniz ao Bifpo de Tuy Dom J0S0 Fernandes de Sotomayor no anno de
13 o 8- He hoje Vigairaria que aprefentão asFreyras do Morteiro de S .Anna
da Villa de Vianna; tem noventa vifínhos. Entende-fe que efte nome tomou
erta terra do Conde Dom Alvaro Nunes de Lara, por ferfenhor delia, & fazer
aqui novo Solar.
Santiago de Pias, Commenda de Chrirto, de que foy primeiro Commen-
dador Pedro Marinho, fenhor da Capella de S. Sebartião na Matriz de Mon-
ção, que inftituíofeu pay Vafco Marinho, & largou erta Igreja entre as mais
que tinha, para que ElRey lha fizeífe Commenda nefte filho. He Reytoria ,
que aprefentão os fenhores da Cafa de Agra por a de Abreu, & agora por tro,
ca os fenhores do Morgado de Barbeita: tem duzentos & quarenta vifínhos-
Nefta FreguefiaelUo famofo lugar da Lapâ de céto & trinta vifínhos cõCa.
pella grande, & o Santiflimo nella. Aqui ertá também a Torre do Sobreiro,
Solar do appellido de Folgueyras pouco ufado entre nós : de prefente fe
acha no Meftre de Campo João Folgueyra Gayo, & em alguns nobres: fuas Ar-
mas faõ em campo de prata hum xadrez de nove peças azues feitas ao vies
do canto direito para a volta efquerda do elcudo,&por timbre hum meyo la-
garto.
S. Mamede de Trovifcofo, fendo delia Abbade , & de outras, que temos
referido, Vafco Marinho o Protonotario,a largou a ElRey Dom Manoel, pa-
ra que a fizefTe Commenda de Chrifto em feu genro Lopo Malheiro, natural
de PontedeLima,&cafado comMargarida Marinho,lua filha. Tem noventa
vifínhos com hum Rey tor, que aprefentava a Cafa de Agra, & hoje a de Barbe i-
ta por troca.
NoíTa Senhora do O do Lordello do Monte, Abbadia, que foy da Cafa de
Agra, St por amefmatroca he agora da de Barbeita: tem quarenta & cinco vi-
fínhos»
Santa Maria de Abedim,nome que tomou delRey Abidis , por fe criar
nerta montanha, tem cento & dez vifínhos: he Abbadia, que aprefentão os def-
cendcntes dos Abreus, fenhores da Cafa, & Couto de Abreu, & Concelho de
Regalados. Tem duas Ermidas annexas,huma delias dedicada a S. Martinho,
que ertá em hum alto monte, a que chamão o Cartello da Forna»
S. João da Portella, foy do Padroado Real ametade , Iargou-a por troca
ElRey Dom Diniz a Dom João Fernandes Sotomayor,Bifpo de Tuy,de quem
devia fero mais :fez-fe erta avença no anno de 1508- he Abbadia que apre-
fentão os mefmos Padroeiros de S. Maria de Abedim : tem cento & trinta
yiíinhos.
Si Martinho tem cincoenta vifínhos, foy Abbadia dos mefmos Padroei-
ros de Abedim, & agora he da Cafa de Barbeita por troca.

Couto de Lugio.

O Am Veriífímo de Luzio, que algum tempo fe chamou S. Joio , foy doPa-


^ droado Real, trocou-o por outros no anno de 1308- ElRey Dom Diniz
com Dom Joãp Fernandes de Sotomayor, Bifpo de Tuy» Duas partes deftá
Freguefía, que tem noventa vifínhos, faõ Couto marcado, aiinexo ao de S-Fins
no tocante ao Civel; no Crime vão à Villa de Monção, para o quefó pode alli
éíi-
ii4 TOMO PRIMEIRO
entrar o Meirinh o,& pagão àqutllaCamara vinte &novemil reis de fnmages,
Íem em outra coufa lhe lerem íubditos. São ifentos de irem a qualquer guer-
ra, & havendoa entre Portugal, & Galliza, corre por fua conta velarem o vao
da Eftaca por baixo de Lapella: os Padres de S- Fins aprefentão Mordomo,
ou Porteiro para as diligencias : cada morador os reconhece com dez reis ,
quatro ovos, hum cabrito, & tres dias de ferviço cada anno , os mcyos fogos
arr.etade, como confia do Carçorio de S. Fins. E quando EIRey vier a cila
Provincia,pagarám huma vaca, & trazendo filho, pagaráõ mais meya. He Vi-
gairaria, que aprefentão as Freyras de S. Francifco do Moíleiro da Villa de
Monção.
Santiago dos A nhaos, Vi gairaria que aprefentão as Freiras do mefmo Mo-
fleiro,tem felfentavifinhos.
Santa Fulalia de Truytc, Abbadia que aprefentava o Sargento n.6r Fran-
cifco de Palhares-Coelho, fidalgo da Cafa de Sua Mageftade, & Cavalleiro do
habito de Chrifto,que ha poucosannosfaleceo, (masdeixou filhos ) por fer
fenhor da Cafa, & Torre dos Palhares,de que fallava o foral de Monção, que
muitos viraõ, & fe perdeo neftas guerras, cm que os Gallegos nos ganharam
a V ilia. He folar da mefma familia neíle Reyno; eílá neífaFregucfia, & delia
foy fenhora aquella n obre, & varonil Matrona Deu la Deu Martins, que dizé
fe appellidou dePalhares, & por ardil fez levantar o apertado cerco, que os
Leonezes lhe tinhaõ poftojpeloq aCamara daquella Villa,alem de lhe levantar
Eílatua, a debuxou em fuas bandeiras. E porque ella nam fó ditou com en-
tendimento,mas em muitas occafioens obrou com valor, achandofe nos avan-
ces com huma efpada degolando inimigos, como o melhor Soldado , & o ar-
dil foy ccm paõ, & fe levantou o fitio em dia de S. Francifco, tomou por Ar-
mas, & faó as que ufaõ os Palhares , em Efcudo vermelho huma maõ com
huma efpada empunhada a ponta para cima , & feispaés de ouro de alto a
baixo, tres de cada parte, & por orla do Efcudo o Cordaõ de Saõ Francifco.
Alguns querem tiveífe efie appellido principio na Villa de Palhares em Caf-
tella a Velha, de queferião fenhores, ou dariãoonome à terra fundandoa de
novo nos contornos da Cidade de Touro entre Segovia, Avila, Sepulveda, ôc
Arcuallo, nas margens de hum rio, que fe mete no Douro 5 mas o mais çerto
he que foy ncíla terra,Seque defcendemdeF.ro Conde de Lugo , St de Dom
Rodrigo Conde de Monterrozo, ambos em Galliza , & vivia o primeiro em
tempo delRey Dom AíFonfo o Magno- Tem eíla Freguefia cento & trinta
vifínhos. . . ...
S. Ciprião de Pinheiros, Abbadia do Ordinário, rende oitenta mil reis,
ametadehe fimples,que entra no pè de Altar igualmente com o Abbade, & o
come por herança o Morgado dos Marinhos, delcendentes do dito Dom Vaf-
co Marinho, feu inílituidor, que para iffo confeguio Bulias Apoífolicas : tenj
feífenta vifínhos-
Santa Maria de Moreira, ametade era do Padroado Real,que no anno de
1308. a trocou por outras ElRey Dom Diniz com Dom João Fagundes de So-
tomayor, Bifpo deTuy,de quem devia fer a outra ametade : he Curado que
aprefentão os Padres da Companhia do Collegio de Coimbra , tem cento &
cincoenta vifínhos. Aqui eílão a Cafa do Meftre de Campo Leonel de Abreu
deMagalhaens,& a Quinta deTheodoro de Araujo Lobo, que fó .de hervagés
rende mais de cincoenta mil reis, muito para Entre Douro, & Minho , & mais
por ler em terra,que todos os annos fe cultiva,& dá pão.

x
_?v
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. zi5
s. Miguel de Sago,Vigairaria dos mefmos Padres da Companhia,tem cin-
coentavifinhos.
S. João de Longos Valles,ou Longovares, como ordinariamente lhe cha- -
mão, foy Convento aòs Conegos Regrantes de Santo Agoftinho, o qual fun-
dou ElRey DomAffonfo Henriques , & feu filho ElRey Dom Sancho o Pri-
meiro o dotou, & coutou no anno de' 119;. eftando na Cidade do Porto , &
diz lhe faz efta mercê pelo alTinalado ferviço , que lhe fizera Dom Pedro Pi-
res,Prior que então era daquelle Convento,em fundar â lua cufta a Torre, &
fortaleza de Melgaço. Permaneceo nefta forma, atè que entràrão nelle Com-
mendatarios,foy o ultimo o Infante Dom Duarte, Arcebifpo de Braga, filho
natural dclRey D.João oTerceiro,q faleceoa 11. deNovébro de 154^. Qut-
zerão reftituíllo aos Conegos de Santa Cruz , mas fomentado pelo Cardeal
Rey Dom Henrique , o Papa Julio Terceiro o annexou ao Collegio da Com-
panhia de Coimbra no anno de 15 yi - por renunciação , que fez em mão de
Sua Santidade o Prior Dom Manoel Godinho. Eftando ainda com Conegos ,
ouRaçoeiros quizerão tirar do Altar mórhuma Imagem do Bautifta, a"que
chamaõ da Gorra, por huma que tem na cabeça, como antigamente fe ufavane-
fte Rey no, & porem outra nova com muita perfeição. Tinhão os freguefes
tal dcvoçaõ ao Santo velho, pelos grandes milagres que obrava , que todos
fe levantàraõ,& nam quizeraõ confentir na troca ; pelo que lhes foy força-
do deixarem-no eftar nomefmo lugar, em que hoje fevè. Tem quatrocentos
& cincoenta vifinhos com hum Vigário, que tem cento & vinte mil reis de
renda, & o Coadjutor fetenta mil reis, & para o Collegio de Coimbra com o
Mofteiro de S. Fins, & fuas pertenças, rende mais de quatro mil cruzados.
Santa Maria a Bella, Vigairana dos mefmos Padres da Companhia, tem
cento ôc quarenta & tres Ermidas.
Santiago de Bai^fcp, Abbadia da Cafa de Bragança, que rende trezentos
mil reis, tem cento eoioventa vifinhos. Aqui eftàa Torre, & Morgado , dc
que he fcnhor Gonçalo Affonfo Pereira de Soutomayor, fidalgo da Cafa Real,
Alcayde mór de Caminha, Commendador de Azere na Ordem deChrifto, &
Meftre de Campo de Infantaria, defcendete por pay , & mãy da Cafa de Arau-
jo: inftituírão efte Morgado Alvaro Affonfo Soares com fua mulher Grima-
neza Pereira. Aonde o pequeno rio Motiro fe mete no Minho , & eft eve no
tempo das guerras hum forte , cuja pedra fe conduzio para a nova obra das
muralhas de Monção, eftá a ponte do Mouro, que divide efte Concelho do de
Valladares,& da parte do Poente pouco acima tem hum padrão , & na hafte
delle a imagem de Santiago. He tradição , que no tempo que os Mouros fe-
nhoreàrão efta terra, vindo alguns Chriftãosfobre hum Mouro para o mata-
rem, elle apertou as pernas ao cavallo chamando por Santiago,quefe olivraf-
xfe,fe faria Chriftão. Não havia ainda alli ponte, & com fero rio largo, appa-
recendo Santiago ao Cavalleiro, o faltou perfeitamente, com que o poz em fe-
guro,& o Mouro fe bautizou depois, ot em memoria do fucceffopuzerão efte
padrão. Dizem muitos, que aonde fe fundou a ponte, eftavãe infculpidas na
rocha as pègadas do cavallo,que os Pedreiros gaftarião pára affentara pedra,
ou eftarão debaixo delia»
S. Pedro de Morufe foy Mofteiro de Freyras de S. Bento fubditas aos
Bifpos de Tuy, como o era toda efta terra de Entre Lima, & Minho ; & pelos
annos de 14.18. fe acha fazerem nelle Abbadeça , &ou por pouca renda, ou
máo governo , fe poz em eftado , que no anno de 1461. fendo delle ultima
Abba-
zl6 TOMO PRIMEIRO
Abbadeça D- Guiomar Rodrigues., fe extinguio, & o fizerão. Igreja Parochial,
provendo nellaEíievão Rodrigues, Clérigo de Mifla. Depois paffou a C emen-
da nova da Ordem de Chrifto,& he Rey tor ia da Mitra : tem quinhentos vi li-
nhos., & quatro Ermidas* Aqui hahuma Torre, Quinta, & Couto com huma
Aldeã, que fe diz a Pica, chamados de Abreu.,Solar deft a illuíhre familia , que
já exi-ftia nefte fenhorio cm tempo que.ElRey Dom Aífonfo Henriques deu a
batalha de Valdevèz, em que fe achou Lourenço de Abreu, fenhor deífe Couto,
& Cafa, filho de Gonçalo Rodrigues de Abreu também fenhor delia , que fer-
vio ao Conde Dom Henrique, & inda hoje o Couto he por eífa via do Marquez
de Tenorio feu defeendente, por fer neto de Dona Maria de Abreu & Noro-
nha, Condeça deCrecente , & lhe paga cada morador hum alqueire de ceva-
da»
S. Miguel de Borçoça, Curado que aprefentão asFreyrasdeS. Bento de
Monção, tem trinta viíinhos»
S. André de Tayas, Curado das mefmasFreyras alternativo com oAbba-
de de Abcdim, he limitado em tudo, tem Beneficio fimples , que rende doze
mil reis, & trinta &dous viíinhos.
S. Salvador de Cambezes , Abbadia fimplcs, que aprefenta Bernardo de
Alpocm de Abreu, fidalgo da Cafa de Sua Mageílade, & fenhor de Poufada em
Penella-.rende duzentos&cincoentamil reis, tem Vigário do Ordinário , a
quem importa oitenta mil reis. Neila Freguefia, que tem cem vifinhos, eííá a
nobre Cafa doSopegal da familia de Pereiras , cujo fenhor Francifco Pereira
de Caílro, fendo caiado com Eulalia Taveira a fundàrão alli vifinha à fermo-
fa, & grande Capella deN-Senhora dos Milagres, nome que lhe agenciàrão os
infinitos que obra, fendo bufeada de muitos Romeiros de Portugal , &Galli-
za. Dêfcendem osfenhoresdefta Cafa de Aífonfo Pe^^àdo Lago , de quem
ella foy, fendo Veador da Fazenda deíia Província de^jD. Aífonfo o Quin-
to, & fidalgo de fua Cafa, cujos oíTos forão tresladados para o Moífeiro de São
Bento de Monção no anno de i foi - & alli defeanção, do qual vem os bons Pe-
reiras daquella ribeira,& de outras partes.

CAP. IV.

T>a defer ipçao de Filia- nova de Cerveira.'

QUatro legoas abaixo de Monção, & duas acima de Caminha para a parte.
do Norte, junto do caudalofo Minho eífá fítuadaVilla-nova de Cervei-
ra, que fundou EIReyDom Diniz pelos annos de 1320. em hum lugar chama-
do antigamente Cervaria, donde tomou o nome, por acharem junto a elle hua
Cerva ,°que a Villa tem por Armas 3 & daqui prefumem alguns teve principio
o appellido de Cerveira, & na verdade parece que delleha dous Solares diífin-
dos, hum eíle,& outro naFreguefia de S.Payo de Poufada , termo de Braga.
He eíla Villa hum Caftello fechado, aonde chamão dentro da Villa , & a cin-
gem altos muros com oito torres ao redor delles, com tres plataformas,aonde
joga a artilharia,& fua barbacãa à roda dos muros. Dentro da Villa eífá a Igreja
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA* it?
da Mifericordia, o Paço do Concelho, Caden, & Armazéns delRey,aonde eítão
a polvora, bailas, & mais petrechos de guerra» Tem o Caítello huma porta,
& fobre ella huma Capella de Noífa Senhora da Ajuda com Contrariada gente
de guerra,de quehejuiz perpetuo oGOvernador deita praça. Sahindo Io«o
fóra do Caítello fe entra em hum largo terreiro, aonde eítá a Igreja Matriz da
invocação de S. Ciprião, Abbadiaquefoy do Padroado Real , & hoje a apre-
fentãoos Vifcondes, Alcaydesmóres delta Villa: leva o Abbade duas terças ,
que rendem cento &cincoenta mil reis; a ultima tefervou ElRey com Breve
Apoítolico applicada às fortificaçoens da praça, que a Camara da Villa arren-
da em nome de Sua Mageítade. Tem eíte terreiro dous alpédres, & junto dei*
lehuma galharda fonte de tres bicas , por onde lança tanta quantidade de a-
gua, que com ella pôde moer hum moinho, & he cercado de nobres cafas.
Sahe deite terreiro para o Vendaval a rua, que chamão da Igreja, no meyo
da qual eítá a praça do peixe, & no fim huma Ermida de S.Sebaítião : do mef-
mo terreiro para a parte do Norte fahe outra rua , que chamão do Arrabalde ,
no fim da qual eítá a Ermida de S'. Miguel, & juntodellaa fonte de Sol levado.
Cercão a eíte terreiro , & ruas huma muralha nova,queíe fez 110 tempo da
guerra, com feus baluartes, & foífoà roda delia, aonde tem fuas hortas a gen-
te de guerra, que eítà de guarnição deita praça* Fóra deita muralha nova fi-
ca a rua das Cortes, que tem huma Ermida de S. Roque, (que foy antigamen-
te Parochia da Villa) & no meyo delia eítão as feitorias, aonde fe cozia o pão
de munição para os Soldados.
Tem cita muralha, & praça quatro portas, huma para o Norte, que cha-
mão da Campanha com huma Capella de Santo Antonio de Lourido na entra-
da, defrõte aa qual eítá o forte de S»Francifco,quefe fez no tempo da guer-
ra fobre as ribeiras do Minho junto ao lugar de Azevedo , o qual tem feus
baluartes, & plataformas com fua artelharia ; & defronte deite forte para o
Nafcente em fitio alto eítá huma atalaya, que alcança com mofquetaria todo
o terreno atè a praça,& atè o forte. A fegunda porta fica para o Sul,(que he
a eítrada,que vay para as Villas de Caminha, & Viana) & lhe chamão a Porta
Nova; tem na entrada huma Capella de S* Gonçalo na beira do Minho cõ hum
ribeiro de baítante agua, que a cerca, com muitos arvoredos fombrios que fa*
zem o fitio alegre, & viítofo. A terceira porta fica ao Nafcente, & lire chamão
a porta detrás da Igreja , queheaquevayparaaruadasCortes» A quarta
porta olha para o Poente, & fe chama a Porta do Rio, que vay para o caes de-
ita Villa, & para o Rcyno de Galliza»
Tem eíta Villa com os feus Arrabaldes duzentos Sc cíncoenta viíínhos cõ
muita nobreza; goza de voto em Cortes com affento no banco dezafete: defde
feus princípios teve fempre dous Juizes, hum nobre, & outro plebeo , & per-
maneceóneíte governo atè o anno de iôzz.em q Felippe IV.deCaítelIa dominã-
do eíte Reyno,íhe poz Juiz de fóra; tem tres Vereadores, & hú Procurador do
Cõcelho por eleição do povo,remeté-fe a Lisboa as pautas,aonde fe efedlhe os q
hão de fervir; hG Efcrivão da Camara, Juiz dosOrfaõs com feu Efcrivão,Juiz
da Alfandega, Efcrivão, Juiz da Dizima,& Efcrivão: eítes dous aprefertta Bra-
gança: Efcrivão das Sizas, tres Efcrivaens do Judicial, & Notas, húCõtâdor,
Diítribuidor,&Enqueredor, Meirinho, todos data delRey,& Alcayde , que
aprefenta o Vifconde. Reparte-fe á gente do Concelho em quatro Cõpanhias
com hum Sargento mór lá Camara ferve de Capitão mór em aufenciã do Al-
T cáyde
ii8 TOMO PRIMEIRO
cayde mor, & tem efta praça de prefidio tres Companhias de Infantaria paga-
Tem efta Villa para o Nafcente tres Ermidas, NoíTa Senhora da Encarna-
ção, o Efpirito Santo, &S-Pedro dc Rates 5 & no alto de hum monte hum quar-
to de legoadift ante o Convento de S. Pay o dos Milagres, nome quefe lhepoz
pelos muitos que faz: he de Frades de São Francifco,da Obíervancia da Pro-
víncia de Portugal, o qual fundou Frey oonçalo Marinho. He fértil de fru-
tas, caftanha, feqão, hortaliças, pão, & vinho, baftantes gados de toda a forte,
excellente mel, muita caçâ,& o melhor linho quejia na Provinda , com mui-
ta pefca de lampreas, falmoens, laveis, mugens, tainhas, trutas, òt outros pei-
xes do mar, porfobira maré mais acima ; com que fica fendo belhífima terra
emfeus arredores- Antigamente efteve efta Villa fundada mais acima nas Va-
linhas, hum tiro de mofquete junto aonde eftá NoíTa Senhora de Lobelhe, dc
quefe moftrão inda hoje veftigios. O Teu termo tem as Freguefiasfeguni-
tes. . - 1
Santa Marinha de Loy vo,Vigairaria que ajprefentão as Freyras de S- Anna
da Villa de Viana, tem cemviíinhos- Foy antigamente Mofteiro de Monjas
de S. Bento, dizem que da invocação de Santa Anna , mas não alcançamos o
tempo de fua fundação, nem os nomes de feus Padroeiros. Por baixo defta
Igreja, aonde chamão oPedrofo, houve huma Torre antiga, que não ha mui-
tos annos fe desfez, para fazer humas calas, não alcançamos noticias de quem
foífe.
S. Pedro de Gondarem , nome que alguns dizem tomou de Gunderedo
Rey dos Normandos,quando veyo conquiftar Galliza,& parte defta Provincial,
& a occupou tres annos em tempo de Dom Ramiro o Terceiro ; antigamente
fe chamou a Igreja de Mangoeyro , por eítar em huma Aldeã, que tinha o tal
nome, mas mudandoa para outra, tomou delia o que tem. Jle Abbadia , ame-
tade Curado, que apreí então os fehhores da Caía deBertiandos por a família
dos Cerveyras, cujo Morgado poffue aqui Manoel Ferreira d'Eça, fenhor da
Cafa de Cavalleiros, por defeendénte de filho mais velho, rende trezentos mil
reis; a outra ametade he fimples,data do Ordinário, rende cento & vinte mil
reis: tem duzentos, & cincoenta vifinhos.
NoíTa Senhora do Reclamo de Lobelhe,ametade íimpíes , cabeça do Arce-
diagado de Cerveira, que até o tempo delRey Dom João o Primeiro era da Sé
de Tuy,aonde hoje té Cadeira,&: leconlerva efta íimples Dignidade fem ren-
da; a outra ametade foy antigamente Abbadia do Padroado Real , & ElRey
Dom João o Terceiro a deu aos Padres da Companhia doCollegio de Coim-
bra, que começarão a aprefentarnella Vigários no anno de 1600. tendo vagado
por morte do último Abbade João de Arão: tem feíTenta vifinhos.
S. João de Reboreda, Abbadia que aprefentá a Cafa do Carqueyjal,& ou-
tros, rende trezentos mil reis, tem cemviíinhos. Aqui eftá a Torre de Pena-
fiel, que dizem fer Solar da família dos Reboredas, a que o Conde Dom Pedro
chama Revreda, da qual foy fenhor Gonçalo Annes de Reboreda. Os Rebo-
redas tem por Armas em campo azul hum grifo de prata , outros huma
ferpe de ouro com duas azas, &dous pés em campo branco,& algús ufaõ das
Armas dos Berredos. O fitic,emque eftá a Torre, não he capaz de haver fi-
do fortificação entre Portugal, & Galliza, por fer defviado da ray a, que o rio
faz. *
S.João de Campos, Abbadia da Mitra , leva o Abbade ametade dos fru-
tos, rendelhe cento. & cincoeta mil reis;a outra ametade he Beneficio fimplcs
do
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. aio
do Ordinário, rende oitenta mil reis, tem oitenta vifinhos. Hânefta Frc«ue-
ila huma Igreja de Santa Luzia , aonde antigamente foy o Moíheiro de Santa
Maria de Valboa de Freyras de S.Bento. He t radição forão feus Padroeiros,
& fundadores os fenhores Sylvas, que alli vifinho tinhão feu Solar , & delle
foy Abbadeça D. Urraca Soares,filha de Sueiro Gonçalves de Barbudo,filho de
Gõçalo Pires de Belmir, qo era de MarcimPiresdeBelmir,Scefte o foy de Pe-
dro Soares de Belmir,& de fuam ulher D- Gontinha Paes da Sylva, filha de D5
Payo Guterre da Sylva,fenhor da Torre, & Solar da Sylva, Adiãtado neíte nof-
lò Reynopor ElRey O.Affonfo o Sexto de Leão, & de fua fegunda mulher D.
Urraca Rabaldes,cõqfe moftra q por efta defcendécia foy D. Urraca Abbade-
ça defte Mofteiro, q íe devia extinguir por pobreza das Religiofas. Aqui foy
oSolar do appellidode Valboa,de que tem havido grandes homes em Efpa-
nha, principalmente no Reyno de Callella, a quefe paífarião, & no defcobrime-
todefuas Índias fizerão muito; & não obíia dizerem forão Gallegos, para dei-
xarem de fer deíla Provincia, particularmente de Entre Lima, & Minho , por
antigamente fer toda de Galliza.
S. Payo de Villameaõ, Vigairaria do Cabido de Valença , tem'quarenta
vifinhos. Junto defta Parochiaeftá a Aldeã de Chamofinhos, que tem trinta &
cinco vifinhos, a qual fendo defte termo , & feus moradores annexosà Igreja
de Santa Maria da Sylva no de Valença, por eilarem diíhantes delia fizerão os
freguefes avença com os Frades de Oya em Galliza,Padroeiros daquella Tgreja,
de lhes darem oitenta alqueires de pão, & ferem Parochianos de Sam Pedro da
Torre,aonde pagão de dizimo vinte & hum.
S. Pantaleão de Cornez,ametade Ahbadia , foy dos Duques de Caminha,
hoje da Coroa; a outra ametade era fimples do Padroado Real, & a deu ElRey
Dom João o Terceiro aos Padres da Companhia do Collegio de Coimbra , que
apreíentão Cura: tem fetenta vifinhos.
S. Felis, a quem o vulgo erradamente chama S. Fins,& S. Perofins de Cã
demil, foy Abbadia dos Duques de Caminha, & hoje he da Coroa , rende tre-
zentos mil reis, tem cem vifinhos.
S. Miguel de Sapardos, Abbadia q aprefentavão os freguefes: eíle ultimo
Abbade Gafpar Pereira, que ha annos faleceo, adquirio delles o Padroado para
fy infolidum, & odeixouahumfeufobnnho , que deprefente pleiteacoin o
Tenente General Carlos Malheiro Pereira, & outros, fobre de quem ha de fer ;
tem cento & oitenta vifinhos.
Santa Chriftina de Menteftrido foy Abbadia do Padroado Real, trocou-a
ElRey Dom Diniz no anno de 1308. com D. João Fernandes de Sotomayor,
Bifpo de Tuy; agora he Vigairaria do Abbade de Cunha em Coura , de quem
he annetfa, rende ao Vigário feflenta mil reis, outro tanto ao Abbade com ame-
tade dos frutos, & a outra ametade he Beneficio fimples do Ordinário , tem
-cem vifinhos.
Santa Eulalia de Gundar, Vigairaria das Freiras de S. Bento de Viana,tem
quarenta vifinhos.
S, Salvador de Covas, Abbadia que aprefenta Dom Manoel de Azeve-
do & Ataíde, eftá nefte termo, fendo a mayor parte dos freguefes do de Cami-
nha,rede quinhetos mtl reis,ametade he do Abbade,alem dopè de Altar,& paf-
faes,& da outra fe fazé dous Preftimonios do Habito de Chriílo,q por Comen-
das aprefentavão os Duques de Caminha, cada hú importa cem mil reis,te du-
zentos, & trinta vifinhos. Neíia Freguefia eílá huma Torre antiga, que devia
Tij fer
no TOMO PRIMEIRO
ícr Honra; mas não achamos noticia ce que familia fofíe-

Couto de H\(ogueyra.

D Entro de fie termo eflá aFregucfiade Santiago de Nogueyra, fundação


delRey Dom Affonfo o Magno, que a deu à Igreja de Santiago de Gali-
za. He Vigairari a, que aprefenta o Abbade da Alheira em Barcellos, de quem
he annexa ; tem vinte & cinco vifinhos. He Couto da Cafa de Bragan-
ça , que leva o qiiinto dos frutos dos moradores, impor tão vinte mil reis ,
& com a dizima do pefeado de todo o termo , que tambem he da mefma Cafa,
cem mil reis. Aqm eílá a Torre de Nogueyra, Solar deíle appellido,de q forão
fenhores JoãoNogueyra,& feufilho Gonçalo Annes Nogueyra,cuja filha Dona
Guiomar Gonçalves cafou com Gonçalo Pires de Fafião, terra de Galliza , que
hoje fe chama Fafinhaés, de que foy primeiro Vifconde Dom Fernando de Val-
ladares por mercê de Felippe Quarto,pelos grandes ferviços,que lhe fez nas
guerras ultimas contra eíle Reyno, fendo Meílre de Campo, & Governador da
noífa praça de Monção, defde que a ganhàrão.
He eíla Villa cabeça de Vifcondado, cujo titulo deuElRey Dom Affonfo
o Quinto a Dom Leonel de Lima, filho de Fernão Annes de Lima (fidalgo illuf-
tre em Galliza , que fepaffou a eíle Reyno em tempo delRey Dom João o Pri-
meiro, que lhe fez mercê de muitas terras) & de Dona Therefa da Sylva , q era
filha de João Gomes da Sylvá, Alferes mór do dito Rey,& fegúdo fenhor de Va-
gos: caiou eíle Dom Leonel de Lima com Dona Felippa da Cunha, filha de Al-
varo da Cunha fenhor do Pombeiro, & de fua mulher Dona Beatriz de Mello,
dequetevea
Dom João de Lima, que foy fegundoVifconde deVilla-nova de Cerveira,
Alcayde mór de Ponte de Lima, & Guarda mór delRey Dom João o Segundo:
cafou com Dona Catherina de Ataíde, filha de Gonçalo de Ataíde , fenhor do
Morgado de Gayaõ, & de fua mulher Dona lfabel de Brito, de que teve a
Dom Francifco de Lima&|Brito, que.foy terceiro Vifconde de Villa-nova
de Cerveira, & cafou com Dona lfabel de Noronha , filha de Dom Joaõ de AI-
meyda,fegundo Conde de Abrantes, & de fua mulher Dona Ines de Noronha,
de que teve a ,
Dom JoaÕ de Lima & Brito , que foy quarto Vifconde deVilla-nova de
Cerveira, & cafou com Dona Ines de Noronha, filha de Joaõ Rodrigues de Sá,
Alcayde mór da Cidade do Porto, & de fua mulher Dona Camilla de Noronha ,
da qual teve a
Dom Francifco de Lima & Brito, que foy quinto Vifconde de Villa-nova
de Cerveira, & cafou com Dona Brites de Alcaçova, filha de Pedro de Alcaço-
va Carneiro, Secretario de Eílado, & primeiro Conde da Idanha,& de fua mu-
lher D. Catherina de Soufa,de que teve a
Dona Ines de Lima,filha única, & herdeira da Cafa de feu pay , a qual ca-
fou com Luis de Brito & Nogueyra, fénhor dos Morgados de São Lourenço de
Lisboa,& de S. Eftevão de Beja, de quem teve a
Dom Lourenço de Brito 6c Nogueyra,q foyfeptimoVifcõde de Villa-nova
de Cerveira, & cafou com Dona Luiza de Tavora , filha de Luis de Alcaçova
Carneiro, filho herdeiro do dito Conde da Idanha, da qual teve a Dom Luis de
Lima & Brito, que foy primeiro Conde dos Arcos, & a
Dom
DA COROGRAFIA í> OR TU G UE Z A. tit
Dom Diogo de Lima Brito & Nogueira , que foy oitavo Vifconde de
Villa-nova de Cerveira, & cafou com Dona Joanna de Noronha ôc Vafconcellos,
filha herdeira de Dom João de Vafconcellos de Menezes , fenhor da Villa de
Mafra, ôc de fua mulher Dona Maria de Noronha , viuva de Ruí de Matos de
Noronha, primeiro Conde de Armamar,de que teve,entre outros filhos, a
Dom João Fernandes de Brito & Lima, que fov nono Vifconde de Villa-
nova de Cerveira, & cafou com fua lobrinha Dona Vitoria deBorbon(quc fi-
cou viuva de Dom Manoel de Ataíde, filho herdeiro dos Condes de Atouguia)
filha de Dom Thomás de Noronha, terceiro Conde dos Arcos , & de fua mu-
lher Dona Vitoria de Borbon, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Thomás de Lima Vafconcellos Brito &Nogueyra, que foy decimo
Vifconde de Villa-nova de Cerveira, & cafou com Dona Mariana Iherefa de
Hohenlohe, Dama da Rainha de Portugal Dona Maria Sofia de Neoburg, filha
de Luis Guftavo, Conde de Hohenlohe, illuíhiífimo Cavalheiro de Alemanha,
de quem tem filha única Dona Maria*

• C A P. V.

Da Ftila dos Arcos de Fal de Fèi*

NO Arcebifpado de Braga, treslegoas do Concelho de Soajó para o Poe-


te, em lugar alto por modo de enleada, que faz orio Vèz,eílá fituada a
Villa dos Arcos,de que faõ fenhores os Vifcondesde Villa nova de Cerveira;
ElRey Dom Manoel lhe deu foral, quando hia em romaria a Santiago de Ga-
liza ; &. perguntandolhe os moradores pelo nome, lhe deu o dos Arcos,po r lhe
terem feito hunsmuy fumptuofos, por onde paíTou : chama-fe de Valde Vèz,
por ca ufa de hum rio chamado V èz, que a cerca pela parte do Nafcente ,& Nor-
te, o qual nafee em Valde Poldros no lugar do Padrão, Freguefia de S.João de
Siíkllo,termo defta Villa,&.corre de Norte a Sul pelos cãpos de Vai de Vèz,
que ficão logo abaixo do feu nafcimcto,& com cite nome corta pelo meyo do
termo atè abaixo da Villa pouco menos de legoa,aondeo perde, por fe ájutar
cõ o rio Lima entre as Freguefias de S-Pedro ao Souto,& N-Senhora de Pafíbò:
temtres pontes decantaria muito fortes,huma na Villa para o Nafcente por
onde he a eftradadas Cidades do Porto, & Braga, que váy para o Minho;outra
na Freguefia de Villella das ChoíTas;& a terceira na Paroehia do Salvador de Ca-
breiro.
Recolhe o rio Vèz em fy muitos regatos, que como braços lhe augmen-
tão o corpo de forte, que o fazem caudalofo ; faõ elles o da Portella de Vèz,
que corre por baixo de duas pontes de cantaria, a faber, a do Pezo na Portei-
la, & a das ChoíTas, & entra no rio Vèz pior cima da ponte da Afpera : outro
corre pela Freguefia de Cabreiro , & fe lhe ajunta perto de Porto Comedo
Freguefia de Louredo: 0 rio de GOgim,que junto com outros paífa pela Fre-
guefia do Salvador de Sabadim,& encorporafenelle por baixo da ponte da Af-
pera abaixo das Choífas: outro ribeiro corre pelas Freguefias de Sãta Vaya,
&S.Thomè de Guey,atè meterfe por baixo das Poldras da Laçada s outro>
T iij que
ill TOMO PRIMEIRO
que tendo quail o' mefmonafcimento pela vifinhança do fitiodonuc brota , ía-
zendó ruído com fuas aguas, & paffando pelas Freguefías de Grade , Carral-
cova, Gondoris, Azere, & Couto, fc mete nelle por baixo da ponte de canta -
riade Azere junto de huma grande coutaoa dos Vifcondes cie Villa-nova de
Cerveira defronte doToural; fazendolhe guerra outro regato, que no mefmo
fitio fc lhe mete por baixo da ponte de Parada , por eftar na mcfma Freguelta,
defcendo peia de S- João de Rio frio*
Tem cfía Villa huma boa praça,cuberta com huns arcos ( donae muitos
dizem tomou o nome) , & defronte delia hum excellente pelourinho doura-
do, o melhor do Reyno, que fe mudou para a beirado no, aonde eila fe vadea
comhumas poldras,que chamãodaBaileta : tem mais tres campos , que lhe
fervem de largo terreiro para a formatura de gente de guerra, & de alivio pa-
ra os naturaes, aonde fazem varias efcaramuças, Tortilhas , & outras muitas
fçrtas ; o primeiro cftá entre a Igreja do Elpirito Santo, & a Matriz , fitio ale-
gre^ villofo; o fegundofíca defronte dascafas da Camara no meyo da Villa;
& o terceiro à porta de S. Braz. Em todos eftes terreiros ha feira franca aos
tfes dias de cada mez, aonde cõcorrem muitos Mercadores daCidaae dè Bra-
ga, Porto, & da Villa de Guimaraens-
São os edifícios, &cafasdefta Villa de pedra de cantaria, barro, & cal,que
pelafua forma parecem muralhas, & as ruas todas faõ lageadas- Tem muitas
fontes artificiaes, a faber, a de S. João com duas bicas fobre hum grande tan-
que, a de S. Bento, a da Tornada, a do Gra jal, a de Sarzeda, a do Piolho , a da
Coca, a de Requejo, a de Cafares , & outras muitas fontes perOies. Tem huma
ferra, que por muito alta, &efpcífa no bofoue, lhe chamão cie Outeiro mayor,
que tem ofeupnncipio aonde o tem aíerra de Gefès. Tem duzentos vifinhos
com nobreza, huma Igreja Parochial da invocação do Salvador, que mandou
fazer oSereniílimoRey Dom Pedro o Segundo a todo o curto com os direitos
do fal,dequefez mercê a erta Villa, Cala de Mifericordia com cinco mil cru-
zadosderenda,Hofpital,o fumptuofo Templo do Efpirito Santo , com huma
illurtre Irmandade de Clérigos, que parta de quatrocentos Irmãos , a antiga
Capella de Norta Senhora da Conceição, que fundou hum Abbade do Mortei-
ro de Sabadim, que nella ertáfepultado, a Capella de S.Braz , a da Santiílima
Trindade, & a do Patriarca S. Bento, imagem milagrofa , que ferve de Igreja
aos Frades Capuchos da Província de Santo Antonio, o qual Convento fe fun-
dou no anno de 1678- à curta de Bento Cerveira Bayão, que fe com feu cuida-
do o adquirio no Brafil,nefta,& outras obras pias o repartio com liberal mão;
refidemnelle quinze Frades.
Aífirtem ao feu governo Civil hum Juiz ordinário de vara branca,tres Ve-
readores, hum Procurador do Concelho,Jufíiça que fe faz por pelouro, & elei-
ção dos Nobres, a que aílifte o Corregedor dc Viana ; tem feis Tabeliaens do
Judicial, & Notas, com hum Alcavde, que apreíenta oVifconde de Villa-nova
de Cerveira, Juiz dos Orfaõs com feu Efcnvão, Meirinho, dous Porteiros, &
Efcrivão da Camara, que aprefentaElRey, como também Enqueredor, Dirtri-
buidor, & Contador, &. Efcrivão das Sizas. Ao militar dez Companhias da Or-
denança com Sargento mór,& o Capitão mor he o dito Vifconae , que nerta
Villatemaliftado outra tanta gente de Auxiliares: da Infantaria paga , & Ca-
vallaria não he menor o numero. Tem feira franca a j 1 • de Março, & a 11. de
Julho: he abundante de trigo, centeyo, milho, vinho, frutas, hortaliças, gado,
& caça, com muita variedade de aves, &b£ provida de trutas,bogas,efcalos, &
eirozes,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA.
eirozes, que fe pefcão no rio Vez: recolhe muito linho,& o melhor do Reyno. j
São os feus montes, valles, & prados muy delicioíos , Sc tudo muito ameiío
comas copadas arvores, & perenes fontes, que fem conto continuamente cor-
rem: as arvores mais comuas faõ carvalhos, Sccaífanheiros , que no tempo de
luas folhas fazem dcliciofas fombras aos paífageiros, que aopè de feus verdes
troncos bufcão defcanço.
He eíia Villa cabeça de Condado, cujo titulo deuElRey Dom Felippc o
Terceiro a Dom Luis de Lima & Brito, que calou com Madama Capella, de que
teve a Dom Lourenço de Brito St Lima, que foy fegundo Conde dos Arcos fem
geração. O terceiro Conde dos Arcos foy Dom Thomàs de Noronha,cuja illu^
lire varonia he a feguinte.
ElRey Dom Henrique o Segundo de Caítella houve em Dona Leonor Pe-
res de Gufmão hum filho, que fe chamou Dom Aífonfo , o qual foy Conde de
Gijon, St de Noronha nas Affurias, Sc calou cm Portugal com Dona I fabel,filha
delRey Dom Fernando, da q ual teve a Dom Pedro de Noronha, Dom Fernando
de Noronha, Marquez de Vília Real, Sc a Dona Conílança de Noronha, fecunda
mulher do Duque Dom Aífonfo,filho delRey Dom João o Primeiro de Portu-
gal-
Dom Pedro de Noronha filho deíle Dom Aífonfo foy Arcebifpo de Lif-
boa,Sc teve eífes filhos, Dom Pedro de Noronha , Dona Ifabel, (mulher de
Dom João, Marquez de Montemor, Sc Condeíf able de Portugal, filho de Dom
Fernando,fegundo Duque de Bragança) Dona Ines, mulher de Dom João de
Almeyda, Conde de Abrantes, Sc Dona Catherina,que cafou com Dom Pedro
de Albuquerque,Conde de Penamacor.
Dom Pedro de Noronha, filho do dito Dom Pedro Arcebifpo de Lisboa,
foy Mordomo mór delRey Dom Joaõ oSegúdo,St Commendador mor de San-
tiago; cafou com Dona Catherina de Tavora , filha herdeira do Repoífeiro
mòr Martim de Tavora,filho de Pedro Lourenço de Tavora ,fenhor do Moga-
douro, Sc de Dona Britesde Ataíde, filha de Nuno Gonçalves de Ataíde , Go-
vernador da Cafa do Infante Dom Fernando,de que teve a Dom Henrique de
Noronha, Dom Martinho de Noronha, fenhor da Cafa de Villa Verde,Sc Dona
G uiomar, mulher de Ruy Telles de Menezes , fenhor da Cafa de Unhaõ , Sc
Mordomo mór da Emperatriz, filha delRey Dom Manoel.
Dom Henrique de Noronha herdou a Cafa de leus pays , Sc foy também
Commendador mór de Santiago-.cafou com Dona Guiomar de Caílro, filha de
Dom Joaõ de Noronha, filho de Dom Fernando de Noronha, Marquez de Villa
Real, Sc da Marqueza Dona Brites de Menezes, filha herdeira de Dom Pedro de
Menezes, Conde de Viana, Sc de Dona Joanna de Caffro, fenhora do Condado
de Monfanto, filha do Conde Dom Alvaro de Caffro , Camareiro mór delRey
Dom Aífonfo o Quinto, Sc de Dona Ifabel,filha de Dom Aífonfo de Cafcaes, de
' que teve a Dom Leaõ de Noronha, Sc a Dona Joánna , que eíf eve em Caífella"
com a Emperatriz.
Dom Leaõ de Noronha foy homem de grande virtude, cuja vida eícreveo
Jorge Cardofo; cafou com Dona Branca de Caffro, filha de Dom Gonçalo Cou-
tinho, filho do Marichal Dom Fernando Coutinho , Sc de Dona Brites de Caf-
tro, filha do Regedor Ayres daSylva, Camareiro mór delRey Dom Joaõ o Se-
gundo, Sc de Dona Guiomar de Caffro, filha de Dom Garcia de Caffro , Sc de
Dona Brites da Sylva, filha do Vifconde Dom Leonel de Lima, de que teve a
Dom Thomás de Noronha, que foy por Embaixador a França, Sc depois
aíliffio
214 TOMO PRIMEIRO
afíiifio no Concilio Tridentino: calou com Dona Elena da Sylva, filha dc Dom
Gelianesda Cofia, filho de Dom Alvaro da Coifa, Camareiro mór, & Atmeiro
mór delRey Dom Manoel, & de Dona Joanna da Sylva , filha de Dom Fclippe
^ dc Soufa, filho de Dom João Fernandes da Sylveira, Barão de Alviro, & de Do-
na Maria dc Soufa, filha herdeira do Barão Diogo Lopes Lobo, de que teve a
Dom Marcos de IN oronha, Dom Henrique, Dom Leão, Dom Bernardo, &: Do-
na Maria, mulher de jeronymo de Mello Coutinho.
Dom Marcos de Noronha foy cativo na batalha delRey Dom Sebaílião;
caiou com Dona Maria Henriques,filha de Franciícoda Colla, Armeiro mór,
&. de Dona Joanna Henriques, filha de Gonçalo Vaz de Souíã , fenhor de Fer-
reiros,& de D. Violãtc Henriques,filha de HêriqueHchques de Mirãda,Alcay-
de mór da Fronteira, de que teve a Dom Thomás de Noronha, Dom Francifco
de Noronha, DomGelianes,Dó Leão, Dom Bernardo,& Frey Henrique de No-
ronha, Dona Joanna, Dona Elena, Dona Branca deCaílro , & Dona Violante
Henriques, mulher dc Dom João de Almeyda , Veador delRey Dom João o
Quarto.
Dom Thomás de Noronha fervio em Ceuta muitos annos, & nas Arma-
das deíle Reyno, foy Camarilla do Príncipe Dom Theodofio, & de leu irmão
ElRey Dom Affonfo o Sexto, & do leu Confelho de Eílado , & Prefidente do
Coníelho Ultramarino: foy o terceiro Conde dos Arcos,por calar com Dona
Magdalcna de Borbon, filha do primeiro Conde dos Arcos, Dom Luis de Li-
ma & Brito, filho mais velho do Vifconde de Villa-nova de Cerveira Dom Lou-
renço de Lima & Brito , que foy do Confelho deEífado delRey Dom João o
Quarto, & Prefidente do Paço , &da Madama Capella Dona Vitoria de Car-
dailhac,& Borbon, Dama da Rainha de Callella Dona Ifabel de Borbon , filha
de Francifco Gilbert de Cardailhac,& Aquino,Baraõ de Cardailhac,& Capella
Marival,& de Magdalena de Borbon, filha de Henrique de Borbon,Marquez de
Maulofa,& V ifconde de Lavedan, & da Madama de Miramon, fenhora de Mi.
ramon em Anvcrnia. Defte matrimonio nafcèrão , entre outros filhos, o fe-
guinte.
Dom Marcos de Noronha, he quarto Conde dos Arcos, &c Cavalheiro de
grande entendimento, & generofidade:cafou com Dona Maria jofepha de Tá-
vora, filha do Grande Luis Alvarez de Tavora, primeiro Marquez deTavora,
&da Marqueza Dona Ignacia Maria de Menezes, filha dos Condes de Sarze-
das, Dom Rodrigo Lobo da Sylveira, & Dona Maria de Vafconcellos , de que
tem os filhos feguintes.
Dom I homás de Noronha & Brito, Dom Luis de Noronha, Dom Affonfo
de Noronha, Dom Jofeph de Noronha, Dom Rodrigo de Noronha, Dom Fran-
cifco de Noronha, Dom Antonio deNoronha, Dom Bernardo de Noronha, Dõ
Leão de Noronha, Dom João de Noronha, Dona Ignacia deNoronha , que ca-
fou com Dom Rodrigo da Sylveira, fegundo Conde deSarzedas , D- Magda-'
lena deNoronha,mulher deThomé deSoufa, Dona Ifabel deNoronha , que
foy Dama da Rainha Dona Maria Sofia, & duas mais, que morrerão meninas.
Parte o termo dcíla Villa pela parte do Norte com o termo de Monçaõ
em o alto daPortella de Vez,aonde eífá huma Igreja de NoíTa Senhora do Ex-
tremo. Pela parte do Sul parte com o termo da Villa da Ponte da Barca, divi-
dmdofe com o rio Lima,que por entre ambos corre. Pela parte do N afeente
confina com o termo de Valladares , & com o Concelho de Soajo; & pela par-
te do Poente parte com o termo do Concelho de Coura , & com o Couto de
DA COROGRAFIA PORTUGIÍF.7.A.
Refoyos, que fica acima de Ponte de Lima meyalegoa diftante dei ia Villa* He
o mayor termo, fóra o de Barcellos, & Guimaraens , & da melhor terra da Pro-
víncia de Entre Douro,& Minho: tem as Freguefias 1'eguintes*
Santa Comba deGudhafonce , que antigamente fechamou de Gilifonti,
foy a Matriz dos Arcos, & cm fua pequenhez, & modo moftra os poucos fre-
guefes, que entaõ tinha,& fua muita antiguidade: agora he annexa ao Abbade
da Igreja do Salvador dos Arcos, que nella aprefenta Cura annual, & a Abba-
dia he do Padroado do Vifconde de Villa-nova de Cerveira : tem quarenta &
cinco viíinhos. Aqui viviriaõ em tempo delRey D. Aífonfo o Terceiro Mar-
tim Fernandes Batalha, ou Baralha, & fua mulher , Freyrcs do Hofpital, a que
fizeraõ fuas herdades foreiras, devia fer por nam terem filhos, como diz o Con-
de Dom Pedro na famiíia dosPachecos, de queelle era , com o que fe moftra
também nam ferem entaõ obrigados a voto todos os Freyres, quando naõfof-
fem como agora faõ os Terceiros de S-Francifco. Tem em Cadorcas hua Ca-
pella do Apoftolo Santiago Mayor, &fuppofto eftá muy mal fabricada,exhala
fuaviífima fragrancia : entendefe que algum Santo eftá nella fepultado , cuja
appariçaõ referva Deos para quando for fervido.
S- Payo da Villa, (chamafe aflim porterhumarua delia, aonde vaõ os Ab-
bades cõ vara nas Prociffoésfolénes) Abbadia moderna,foy de Padroeiros ley-
gos, & de outros de Morilhoés, particularmente dos da Torre de Penaguda:
eftes perdèraõ o que lhes tocava, por cahirem em fumma pobreza, & entràraõ
os Prelados a prover, & fuppofto os Vifcondes adquirirão alguns Padroados,
nam faõ os que baftaffem a impedir que os Arcebilpos tiveffem fentença em
feu favor, com que eftá litigiofa : rende trezentos mil reis , tem cento & dez
vifinhos. Neila eftá Morilhoés, nome que tomou da plavra, Muar os longe, que
diífe ElRey Dom Bermudo o Segundo, quando aqui venceo a Almançor. Eftá
também nella Freguefia a vevga da Matança, aonde ElRey Dom Affonfo Hen-
riques venceo junto do rio Véz a feu primo Dom Affonfo o Septimo de
Leaõ«
Santa Maria de Paço,corrupto de Paço, nome que tomou dehuma lapa,
que chamaõ os Paços delRey, por nella fe aquartelar ElRey Dom Bermudo o
Segundo, depois de alli acabar de vencer a Almançor, bravo Capitão Mouro
Cordovèz , de quem também tomou o nome hum monte, & penedo fobre a
Igreja, a que chamaõ o Pico de Almançor ; porque alli eftava o feu quartel,
quando deu. a batalha de Morilhoés, ôt deile efcapou fugindo. A imagem da
Senhora he muy milagrofa, &fua appariçaõ antiga em Paço velho, achada ne-
fta occafíaõ, & por tal venerada de romagens , com offertas em todo anno,
& feira franca de tres dias aos 25. de Março,& aos 15. de Agofto : faõ as
mais notáveis nam fó deftas partes, mas de toda a Provinda de Entré Dou-
ro, &: Minho. A Rainha Dona Therefa, & ElRey Dom Affonfo Henriques a
"confirmàraõ à Sê de Tuy em 3- de Setembro de 1125-. aífim como lha havia
dado Teodomiro Rey dos Suevos;quando a fizeraõ annexa à Igreja deAze-
re,mmfabemos; he fagrada, & tem Vigário, que aprefenta o Rey tor de Aze
re, & confta de noventa vifinhos. Ha aqui huma terra, aonde chamaõ os Al-
tares, nome que tomou de huns que alli levantàraõ, para dizerem Miffas no
Exercito do noffo Rey Dom Affonío Henriques, quando deu a batalha da
Veiga da Matánça a feu primo ElRey Dom Affonfo o Septimo de Leaõ- Ne-
fta Freguefia eftá a Torre de Bem divifo, pouco acima aonde eftá a cafa de
David de Soufajde Brito defcendente delia. Dizem era Solar dos do appel-
xiá TOMO PRIMEIRO
lido de Azere, que já fe acabou. Ha entre ella, & a de S. Payo a Torre do Ou-
teiro já diminuída do que foy,também atíirmaõfer Solar dos Aranhas, St que
nella fez a Capella de Noffa Senhora dos Remedios Lançarote Dias Aranha,
Abbadede Oliveira, em que poz fuas Armas , que faõ em campo azul huma
afna de prata entre tres flores de Liz de ouro, St fobre a cabeça delia hum efcu-
dinho vermelho com hun abanda de prata, St fobre efta tres aranhas de preto ,
timbre o chaveiraõ das Armas. Efte Abbade augmentou de bens outra infti-
tuiçaõ da Capella, que havia feito feu pay Diogo Annes Aranh a. Nefta Fre-
gueíia eftá a Cafa, St Quinta de Campos do Lima, coufa nobre, St antiga, que
ha muitos annos anda na familiados Araujos , Sc deprefentealograjoaÕ de
AraujodeSoufa.
Santa Maria de Oliveira, ametade Abbadia Curada, que aprefenta o Con-
vento de Muhia com referva do Ordinário, rende cento Stcincocnta mil reis;
a outra ametade fov Beneficio fimples,que aprefentavaõ os fregueíes , St por
defavenças que tiveraõ, fizeraõ delle doaçaõ aos Vifcondes , rende noventa
mil reis. Nefta Freguefia, que tem noventa vifinhos, eftá o Paço de Oliveira, q
entendemos fer o Solar defte appellido.
S.Jorge, ametade Abbadia Curada, que aprefenta o Convento de Muhia
com referva do Ordinário, rende duzentos Stcincoenta mil reis; a outra ame-
tade he Beneficio fimples, que rende cento St oitenta mil reis ; foy de vários
Padroeiros, St hoje o aprefentaõ os Vifcondes deVilla-novade Cerveira: tem
efta Freguefia duzentos St feífenta vifinhos, St huma boi; Aldeã de monte, que
chamaõ Garçaõ.
Noífa Senhora do Valle tem duzentos St vinte vifinhos , St fe chama anti-
gamente S.Pedro de Arcos : a imagem da Senhora, appareceo alli perto entre
humas brenhas, que havia, aonde chamaõ Fonte cova, ou na Aldeã de Villari-
nho,como dizem outros, em que a devia lançar algum Chriftaõ na fugida dos
Mouros, St por muitas vezes a levàraõà Igreja, St outras tantas a achavaõ no
primeiro fitio de fua appariçaõ, até que ultimamente permitio ficar na Paro-
chia, em que apuzeraô no Altar mór: hemuy frequentada de Romeiros , que
a ella vem com clamores de varias, St diftantes partes todo o anno , efpecial-
mente na Quarefma, St Pafcoa, aos 25*.de Março,St if. de Agcfto.. Ametade
da renda Curada foy annexa ao Mofteiro de Ermello , St depois de extinclo
fe lhe.unio a do Convento, St fizeraõ os Reys Abbadia defta, que aprefenta o
Padroado Real, rende cõ a annexa quatrocentos mil reis. A outra ametade he
Beneficio fimples, que aprefentavaõ os Senhores da Torre de Tora , St;os da
Torre , St Couto da Campofa, St hoje he data dos Vifcondes de Villa-nova de
Cerveira: rende cento St cincoenta mil reis. Entre efta Freguefia, St a deS.
Jorge em hús penedos eftá huma lapa, St nella metido S* Giraldo, de quem o
monte toma o nome: dizem que também appareceo alli, .St que levado à Igre-
ja, fe tornou aonde eftá de prefente. Ha no pequeno rio defta Freguefia humr
diabólico poço,que chamaõ de Carocho, o qual deve fer porta do Inferno;
porque raros faõ os annos, que os Demonios não tragão a elle a aítogar pef-
foas de terras muy remotas, que nunca a efta tinhao vindo. Aqui eftá a Tor-
re de Tora, que poífuem os fidalgos do appellido de Araujo, de que tem fahi-
do peíToas de muita conta: efta Torre he Solar dos V alies , a quem o Conde
Dom Pedro faz defeendentes de Dom Sifnando,fundador do Mofteiro de Oli-
veira- Eft ao mais nefta Freguefia os veftigios, St nome da Torre da Campofa,
Solar dos Cerqueyras^ de que por aqui ha muitos, St outros foraõ para Ama-
DA COROGRAFIA PORTUGUÈZA, it?
rante, aonde temnomeyo daquella Villa as melhores cafas delia, que eráõ de
Dona Maria Cerqueyra , filha de Manoel Cerqueyra , & mulher de Baltefa r
Coelho da Sylva. No alto do monte da Pena fe vem ruínas de fortificação, in-
dalhe chamão o Caílello; também por cima de TrasTora fe vemveíligiosde
fortificaçoens, aonde permanecem as memorias defies Caílellos com nome de
Caílros,que nos parece ferem dos Romanos. Aqui eílá a Aldeã de Villari-
nho, donde fahirão os Villarinhos de Val de Vèz,<jueo Conde Dom Pedro diz
no feu Nobiliário : fuppoíto que o Solar achamos fer em Valladares.
S. Martinho de Cabana mayor he Vigairaria renunciável > que vagando
aprefenta o Abbade de S» Cofmede,de quem he annexa , tem cçilto &c fetenta
vifinKos. Feflejafe o Orago o primeiro Domingo de Agoíto com danças , &
luta de fogaça no fouto junto,à Igreja. Neila Freguefia ao pè do Outeiro
mayor ha huma Aldeã chamada Bouças Donas , nome que dizem tomou da-
quella Infarite, que acompanhavaõ para fundarem Moíteiro no alto do mon-
te, & que refidiraõ aqui,em quanto davaõ principio à obra-
Santiago de Carralcova foy filial de Grade, era Curado fem porção, âgen
ra he Vigairaria, que aprefenta oThefoureiro de Valença , tem noventa viíi-
hhosi V
Santa Maria de Grade, Vigairaria renunciável, cjue, vagando , áprefentá
o mefmoThefoureiro de Valença, rende comas oífertas fetenta & cinco mil
reis, & para o Thefoureiro oitenta mil rei s, tem cento & doze vifiuhos. No
altar collateral da maô direita em hum facrario ellá a famofa reliquia do San-
to Lenho,da mayor grandeza, que fe fabe emEípanha , a qual tomamos aos
Caítelhanos na celebre batalha que vencemos na Veiga da Matança em tem-
po delRey Dom AfFonfo Henriques. He vifitada com romagens, & clamores
por Voto em muitos dias do anno, que a moílraõ, Sc fóra defies com licença
do Ordinário. Vè-fe femella á primeira Oitava da Pafcoa, a tres de Mayo3
dia da Aícencaõ, aos oito de Setembro , & na primeira Oitava do Efpiritò
Santo* Aqui eílá a Torre, a que as hiílorias antigas chamaõ do Faro ,a qual
amparava os vifinhos,& com fogo dava final aos mais diílantes de quevinhaõ
os inimigos :8c agora fe chama de Grade) nome que tornou,& deu à Freguefia,
por o Senhor delia fer inventor das Grades, ardil com que Vencemos os Caíle-
Ihanos na fobredita batalha.
S. Vicente de Giella, Abbadia da Mitra in folidum, tem quarenta & cinco
vifinhos. Aqui eílá o Paço, Cafa, 8c Caílello de Giella com fua Torre, 8c bar-
bacaã, dizem fer obra de hum Dom Abbade de Sabadim , que para ella condu-
zi ode Morilhoes a Torre , aonde inda hoje pouco diífante chamão o Souto
da Torre, 8c que eíle mefmo fundou nos Arcos a Capella da Conceiçâm. O
Conde Dom Pedro diz, que Nunojella natural de Villa-novàdé Moinha, 8c de
.Sabadim, 8t outras muitas Igrejas. Entendemos fer Villa-nova de Muhiá,Cõ-
vénto dos Conegos Regrantes de Santo Agoílinho , de que fallaremos no ter-
mo da Barca; 8c eíla Cafa de Giella, de que diíla meya legoa > teve filho á Fer-
não Jelíâ, que foy pay de Dona Urraca Fernandes, mulher de Domingos Joan-
nes Fura-Cóvas de Santarém,8c de Dona SanchaFernandes. E eíles Fidalgos
conforme ao computo dos annos podião viver em tempo deÍReyDom Affon-
fo o Sexto, do Conde Dom Henrique, & de feu filho EiRey D5 AfFonfo Hen-
riques, 8c algum feu parente Dom Abbade do Moíleiro de Sabadim , de que
erão Padroeiros, fazer a Cafa; 8c erão hús dos Padroeiros do Convento de Ti-
baes, vive do ElRey D. Diniz, a q fe taxou apofentadoria de Infançoés; como
2*8 TOMO PRIMEIRO
entrou na Coroa, não alcançamos ; deu-aElRey D- João o Primeiro a Fernão
Annes de Lima cõ ametade do termo dos Arcos , & outras terras, por fe lhe
haver paffado de Galliza,quandoconquiftouTuy. Depois q os Vifcõdesa poí-
fué,a augmentàrão não íó em cafas,mas de matas em forma, q fe não verá outra
em Portugal,em q fe achem juntos tantos, & taõ grades paos de carvalho; a ve-
derc-fe, orfáraõ húa grande forni de dinheiro, mas a grandeza deites fenhores
os côferva, & fua liberalidade os defpéde de graça, com que lhos pede. Alexa-
dre de Brito Brandão tem aqui hum Prazo,a quem a Igreja paga hum moy o de
pão terçado,milho, & centeyo,pela medida reguenga; aílim o deu o Arcebifpo
DomFrey Balthefar Limpo aíeuantepaíTado Francifco dc Caldas , fogro de
Eitor Leão de Lemos feu parente , & de ambos defeende Alexandre de Brito >
& feu irmão o Tenente de Couraças Francifco de Brito Brandão-
S. Cofme, & Damião dè Azere foy Morteiro de Frades Bentos , & tinha
duas Igrejas, huma para os freguefes,& outra para os Monges: coníta eftar já
fundado pelos annos 568- & que he do tempo de S. Martinho de Dume. Em 4,-
dc Outubro de 1125-0 dotou com feu Couto,que lhe fez a Rainha Dona The-
refa,à Sê de Tuy, fendo Bifpo delia Dom Affonfo , & poz nerte Morteiro hum
Capeilão, que todos os dias cantaífe Miífa por ella , & pelos Reys feus defeen-'
dentes. No anno de 1}2p- em que reynava Dom Affonfo o Quarto, era Abba-
de derte Morteiro Pay o da Vaya, & confeffa dever de cento dous jantares cada
anno a Dom Rodrigo Bifpo de Tuy. Haverá cento & tantos que foy daqui Ab-
bade Diogo Annes Aranha, inftituidor da Capella do Outeiro, de que fallámos
na Freguefia de Paçó. Devião já fer fuas annexas ella Fregueíia, & as de S. João
de Parada, &S- Lourenço do Cabrão, em que oReytor aprefenta Vigário , &
dos dízimos, & outros fórosfe fez a Commenda dc Chnfto , que rende tre-
zentos mil reis. Tem efta Freguefia cento & vinte vifinhos com hum Rey tor,
que aprefenta o Ordinário, &. ha nella huma Capella de S- Miguel q A njo, Ermi-
da antiga, que no tempo da Rainha DonaThercfa fe chamava S. Miguel da Vei-
ga , & nella erão obrigados os Bifpos de Tuy a cantar cada anno huma Miífa
por fua Alma, & pelos Reys feus fucceffores. A efta Ermida vay a Camara dos
Arcos no terceiro Domingo de Julho, em que fe fefteja o Anjo Cuftodio, acõ-
panhando o feu Mordomo, que fempre he mancebo nobre, & folteiro ; dizem
Miffa; voltão a enfayar os cavallos a Requeijó, aonde lhes dão hum refrefeo
de doces: chegão ao terreiro da Villa, alli correm fuas parelhas, lanção canas,
& fazem huma efearamuça dobrada, com perfeição grande. A Rainha Dona
T herefa, quãdo deu à Sè de Tuy efte Morteiro, deu-lhe mais a Igreja de S.Mi-
guel de Auregana ribeira do Lima, que devia então fer Parochia.
S. Pedro do Couto, nome que lhe ficou de haver fido cabeça do Couto de
Azere, que confiava da Freguefia de S. Cofme, & Damião , & defta, & aqui na
Aldeã da Porta era o foral de fuas Juftiças: em tempo delRey D. João o Primei-„
ro entrou a devaçallo ajurifdição dos Arcos , & a Igreja feunio a huma Co-
nezia da Sè de Braga, que aprefenta nella Vigário com oitenta mil reis de ren-
da, & trezentos mil reisparaoConego,quefe intitula Abbade deS. Pedro do
Couto: tem cento & feffenta vifinhos.
Santa Eulalia de Gondoriz,Abbadia que aprefentão in folidum os Vifcon-
des de Villa-nova de Cerveira,queha mais de cento & oitenta annos adquiri-
rão efte Padroado, que foy de vários Padroeiros leigos da mefma F regueíia. De
ametade delle , & de Santa Vaya de Rio de Moinhos , &fua annexa São
Thomède Guey irtfolidum lhes fez doação João Rodrigues do cabo da Villa.
DA COROGRAFIA PORTUGUBZA. up
A outra ametade era dos Velofos, Barros, Pires do Crarto, Gonçalves de Pogi-
do, & da Cafa do Paço, Solar do appeliido de Gachinheiros, hoje pouco ufado,
que cem por Armas em campo vermelho dous gatos de prata : outros os tra-
zem azuis , & an orla do elcudo em campo vermelho oito Luas de prata , &
por timbre hum gato azul, ou branco conforme aos das Armas. Os do'appei-
lido Gatachos, & Gatinheiros uíaõ dertas Armas. Tem erta Freguefià trezen-
tos & trinta vifinhos, & rende a Abbadia fetecentos mil reis. Na Cruz de Lã-
paífas erteve (fegundo a tradição) o Exercito delRey Dom Diniz, ou de feu fi-
lho El Rey Dom Affonfo o Quarto, quando fe levantou contra feu pay, de que
fe achão vertigios de fortins, & quartéis. Abaixo da Igreja ha boa pedra para
edifícios, &huma Capella de NoíTa Senhora de Guadalupe , imagem milagro-
fa, & muy frequentada de Romeiros. Na deveza dos Carvalhos ha huma fepul-
tura aberta ao;picao, que por fuagrandeza mortrafer de algum Gigante.
S- Cofmede, aílim chamada por íeus Patroens S. Cofme, & Damião,he Ab-
badia dos Vifcondes com alternativa do Arcebifpo, rende trezentos mil reis,
tem cento & dez vifinhos. Ha aqui inda parte de huma Torre, que dizem foy
Solar dos Barros. Quando ha falta de agua do Ceo, para que a terra produza,
cortumão os homens, & mulheres derta Freguefià levar em ProciíTaõ S. Cofme a
huma fonte de feu nome, em que omolhao,& tem para fy que logo os loccor-
re > & alguns enfermos, que fe vem lavar a erta fonte, invocando o Santo , co-
brão faude.
Santa Maria de Villela, Abbadia do Ordinário, que rende trezentos mil
reis, tem cem vifinhos.
S. Pedro de Sá, Vigairaria annexa a Álvara, tem fetenta vifinhos. Aqui fe
faz boa telha, inda que de pequena marca. <
S. Salvador de Cabreiro, Abbadia dos Vifcondes , rende com a annexa,
que fe fegue, feifcentos mil reis, tem duzentos &quárenta vifinhos , & huma
Àldea, que chamao Villela feca, aonde ordinariamente vive a gente muitos aa-
nos,&no tempo da primitiva Igreja,fendo inda quafi Gentios,como os filhos
vião aos pays velhos em fórma, que não podião trabalhar o que comeífem, to-
mavão-nos às coifas, & os hião defpenhar em huma lage efcorregadia, que vay
cahirno poçodePortocales no rio, que vem do Outeiro mayor, acima da pon-
te de Cabreiro.
S. João Bautifta de Ciftello, Vigairaria erecrta filial de Cabreiro,que rende
cem mil reis, tem cento & quarenta vifinhos.
S. Miguei de Loureda, Vigairaria do Arciprertado de Braga , tem fefíentâ
vifinhos- Aqui fe vem bufcar os fantos Óleos para as Parochias da vifita do Ar-
cipreftado. Tem huma Cafa nobre antiga, que ha annos fe conferva na familia
de Caldas, Adminiftradores da Capella da Conceição dos Arcos.
Santa Maria de Álvara, Abbadia do Ordinário, ametade com toda a renda
de S. Pedro de Sá importa ao Abbade duzentos 5t cincoenta mil reis; 5c para a
Mefa Arcebifpal com titulo de Camara de Álvara a outra ametade rende oitti-
tã mil reis : tem noventa vifinhos,& boa pedra na Mourifca. ,
Santo André de Portelia, Abbadia, roy annexa do Morteiro de Sabadim,
cujos Abbades paífaõ a aprefentação aos defta ; mas ordinariamente em quem
os Vifcondes querem, por Padroeiros do Mofteiro:& também tem mezes nel-\
la com referva ordinária, quando não renuncião os Abbades : rende trezentos
mil reis, & tem cento & dez vifinhos- Abaixoda Igreja, aonde chamão o Cra-
Ito, fe vem veftigios de fortificação antiga , que pelo nome fe entende foy
V dc
130 TOMO PRIMEIRO
de Romanos , quando nos conquiftàram.
Noífa Senhora da Portella, a que alguns chamão daVifage, por eftarno
alto da Portella de Vez,donde fe delcobre muito para varias partes , he Vi-
gairaria com o Habito de S. João de Malta , por íer annexa a Commenda de
*Tavora defta Ordem: compocm-fe de poucos vifinhos do termo de Monção,
& defte tem trcs fomente, que por todos faõ vinte St cinco : em parte fc lhe
guardão alguns privilégios, que tem da Ordem- Emdous altos montes, que
formão efta Portella, chamado odoNafcente da Pereira , & o do Poente do
Bragandello, quafi em parallello,tiro de mofquete hum do outro, tivemos nef-
tas guerras paífadas dous fortes. Ha nefta Portella já no termo de Monção
huma grande fonte da mais fria agua, que neflas partes fe conhece, como po-
dem teftemunhar os muitos que nella bebem, quando paíTaõ pela eftrada em
que ella eftá.
Noífa Senhora das Neves dePadrofo Abbadia, foy annexa do Mofteiro
de Sabadim, de que inda os Abbades aprefentão a eftes por;ceremonia, pois
fempre faõ quem os Vifcondes querem que fejão,por Padroeiros de Sabadim:
he Padroado Ecclefiaftico com referva ordinária, & por iífo renuciavel: rende
trezentos mil reis,5c tem cento St vinte viíinhos.
Santa Comba de Eyras, Abbadia dos Vifcondes, rende duzentos mil reis,
St tem oitenta viíinhos. Em hum monte, que chamão o Villar, fe vemveftigios
de fortificação antiga, que entendemos haver fido de Mouros.
v Santo Èílevão ele Avoim, Abbadia dos yifcondes, rende cento ôt oitenta
mil reis; tem reliquias do Protomartyr no Altar mor em hum cofre dentro
do Sacrario, que entendemos ferem das que o Santo Paulo Orofio trouxe de
Jerufalem. NeflaFreguefia he o lugar das Choças , que fe compoem também
de parte da de Álvara; tomou o nome das que aqui fezElRey Dom AíFonfo o
Septimo de Leão, quando fe veyo perderna da Veiga da Matança : nellas a.
quartelou feus Soldados , 5c mais para cima aonde eftá hum pombal velho fc
vt ruínas do quartel da Corte,q nos fervio do mefmo neftas guerras paífadas,
quando o Vifconde Dom Diogo de Lima governando as Armas defta Provín-
cia fez nellepè de Exercito, com que nos foy introduzir foccorrolàs praças
de Monção, Sc Salvaterra.
S. Martinho de Mey, que algum tempo fe chamou de Momenta, foy do
Padroado Real, St a trocou ElRey Dom Diniz com o Bifpo de Tuy Dom João
Fernandes de Sotomayor no anno de 1308. he Abbadia dos Vifcondes , ren-
de duzentos mil reis, 5c tem fetenta vifinhos.
S.Salvadorde Sabadim, foy Mofteiro deTemplarios,St depois de Frades
Bentos: he Abbadia in folidum dos Vifcondes, rende quinhentos mil reis, 5c
tem cento ôt oitenta vifinhos. Aprefenta o Abbade as Igrejas de Portella, 5c
Padrofo, que erão annexas. ^
S.Ciprião de Sencharey, Abbadia do Ordinário,rende duzentos mil reis,
&tem cento & vinte vifinhos. No alto defta Freguefia fe vem veítigios de
fortificaçoens antigas que forão dos Romanos.
Santa Vaya de Rio de Moinhos,! corrupto de Eulalia, Abbadia dos Vif-
condes, rende ametade deíla,5cde fua annexa, que fefegue,t reze tos mil reis
para o Abbade:as outras duas ametades de ambas faê Beneficio fimples do mef-
mo Padroado:tem cento ôc fetenta vifinhos. Aqui eftá aTorre de Rio de Moi-
nhos com hum bom cafal, que foy de Garcia Rodrigues de Caldas , 5c de fua
mulher Dona Leonor de Soufa,osquaesoderãoem dote a fua filha D- Ifabel
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 231
Rodrigues de Caldas,que cafou em Galliza com o fenhor de Lyra fern geração,
& fegunda vez com João Rodrigues de Novaes & Olores , fenhor no mefmo
Reyno dos Coutos de Pedra furada, Souto Lóbre, Corçacs, "Delias, & Feaês ,
em cuja defcendencia fe continuou ate eftas ultimas pazes com Caftella, em
que Garcia Ofores Sotomayor & Lemos, Conde de Amarante , & fenhor da-
quella Cafa, os vendeo a Gonçalo de Mello de Lima.
S- Thomê da Águia, que ha poucos ahhos 1'e dizia de Guey ,V igairaria an-
nexa a Santa Vaya, com quem fe arrenda para o Abbade em cento &feífènta mil
reis, o qual aprefcntanella Vigário: tem noventa viíinhos. Aqui eftá a Torre
da Águia, de que he fenhor Simão da Rocha de Brito , fidalgo da Cafa de Sua
Mageftade, Cavalleiro do Habito de Chrifto,& Capitão de Infantaria. Alguns
querem que feja o Solar dos Aguiares,fe bem os de que trata o Cõde Dom Pe-
dro, & refere a Monarquia Portugueza parte 4. liv. 14. cap. ç. parece traze-
rem fua origem de Aguiar de Trás os Montes. Os que entrarão no Morgado
de Luis da Cunha, fenhor de Povolide , & de feu irmão Nuno da Cunha de
Ataíde, Conde de Pontével, faõ dos Aguiares defta Província; tem por Armas
huns, & outros em campo de ouro huma Águia vermelha eftendida, armada
de preto com huma cinta preta atraveífada pelo peito ,& por timbre a mefma
Águia.* Os de Galliza, Caftella, & Leão, que todosfaõosmefmosque os nof-
fos, fó fe pronuncião Aguilares, & trazem a Águia parda.
Santa Marinha deProzello, Abbad:a que leva huma parte dos frutos,
rende duzentos & cincoenta mil reis; a outra he Beneficio fimples, que rende
cento & vinte mil reis, ambos aprefenta o V ífeonde: tem cento & fetenta v.fi-
nhos. Ha nefta Igreja reliquias do Protomartyr Santo Eftevão : eft iverão me-
tidas no Altar ao ufo daquelles tempos da primitiva Igreja ; agora eftão em
hum vafo de prata ovado no facrario do Altar collateral de Jefus à mão direi-*
ta; benzem pão com ellas,que comendofe , preferva de mordeduras de caens
danados. Também levão Santa Marinha ao rio, quãdo querem chuva, & i )eos
piamente os foccorre- Ha aqui huma Torre, Solar em que entendemos viveo
Dom Egas Paes, a quem o Conde Dom Pedro appellida Torezellos , que o
Marquez de Monte bello diz, ha de fer Prozello em Entre Homem, &. Cavado,
aonde não fabemos de ruínas femelhantes.
S.joão de Parada, Vigairaria que aprefenta o Revtor de Azere, de quem
he annexa, tem cincoenta viíinhos. Ametadedefle Padroado-,que já o mais de-
via fer dos Bifpos de Tuy, lhes largou por troca ElRey Dom Diniz no anno de
1308. fendo Bifpodaquella Sè Dom João Fernandes de Sotomayor.
S-João de Rio frio foy Morteiro, &Commenda de Templários , mas ex-
tinta efta Ordem de Cavallaria em tempo delRey Dom Diniz , 8c inftituindo
elle a de Chrifto, lhe applicou efta Commcnda, de que forão Commendadores
depois de viuvo Payo Rodrigues de Araujo, (fenhor das Cafas de Araujo , &
Lobeos,&outras terras emGaMza;>&em Portugal das de S.Fins, Panovas,
& de muitas cõ a Alcaydaria mór de Lindofo, & Guarda mor delRey Bõ João
o Primeiro , & do Infante Dom Henrique feu filho) & Alvaro Rodrigues de
Araujo,filho defté Payo Rodrigues de Araujo, que eftá fepultado à mão direi-
ta da Capella mór deíia Igreja , a qual tem Rey tor, que aprefenta a Mefa da
Çonfciencia em Freyre do Habito com cento & cincoenta mil reis de renda, êz
mil cruzados para o Commendador: tem trezentos & vinte viíinhos. Na Al-
deã de Enxerto ha huma Torre antiga, que não fabemos de que família foíTe,
pafÍQU à familia dos Araujos defeendentes deftes Commendadores por caía-
V ij mento
i3i TOMO PRIMEIRO
mento de Pedro Alvarez de Antas , fenhor delia , com Violante de Araujo >
filha do Commendador Alvaro Rodrigues de Araujo, & por pobreza nenhum
a habitava. Aonde chamão oHoip-tM hahuma Caía nobre , cjucha annos per-
manece na família de Caldas* 1 em hum penhafco chamado o Caílello, que mo-
ftra fer de Mouros; porque junto a elle ettá huma lapa, que chamão d aMoura,
em que dizem vivia huma, lendo fenhora deíle Caílello. Pla neíla Freguefia
javalis, &egoasdc criação. , , .
S- Bertholameu de Monte redondo,Abbadia dos Vifcondes, rende cuze-
tos mil reis, tem cem vifinhos. Dizem que antes dos Arcos ter Igreja , erao
treguefes deífa os da de S- Payo da Villa,que depois fe fez Parochia.
Santa Maria da Miranda, Moífeiro de Monges Bentos, que fundou S-Fru-
tuofo Arcebifpo de Braga, o qual foy coufa grande em numero dc^eligiofos,
& virtude em todos, vivendo huns no Convento, &. nas Capcllas do ern.o ou-
tros- Filava fundado abaixo, donde agora o vemos tresladado: paífou a Ccm-
mendatarios, que em tudo o atenuarão muito , atè que no anno de 1590 &
tantos hum Abbade fecular o largou livremente à Congregação , que logo poz
nelle Abbade Regular; mas como he delimitada renda , não tem mais de tres
Frades com o Abbade. Tem muitos privilégios , que lhederão PiRey Dom
Afronfo o Terceiro, Sc feus fucceíforcs, alguns fe lhe confervão ao Couto, que
dominão,& de que o Dom Abbade he Ouvidor, mas na mayor parte lhos tem
quebrado a juriídiçao dos Arcos , que lá entra. Aprefentão Cura com qua-
renta mil reis de renda, & para os Frades com os dízimos, & fóros importaram
feifcentos mil reis: tem cento & vinte viíinhos. No alto, que por cima lhe fica,
eílão huns penedos, a que chamão o Caiteilo, que devia íervir nainvafaõ dos
Mouros de defenfa aos homens, & agora he ordinário paílo de muita s egoas de
criação,que por aquelle monte andío.
S- joão de Villar de Monte, Abbadia dos Vifcondes, rende cento &: vinte
mil reis, temfetentavifinhos , de que vinte & cinco faõ do termo de Ponte de
Lima. . '
Santa Chriílina, Vigairaria que aprefenta o Abbade de Padreiro, de quem
he annexa, tem feíícitta vifinlaos.
S- Lourenço do Cabrão, Vigairaria que aprefenta o Rey tor de Azere , de
cuja Commenda he annexa, tem fetenta & dous vifmhos. Por aqui corre tam
defpenhado o pequeno regato do Cabrão, que nunca fclhe vem de fuas aguas
fenãobrancasefcumas,oqual paliando por baixo de huma ponte de cantaria,
que chamão do Rodalho, faz dividir as aguas do celebrado Lima, aonde acaba:
dá boas trutas,& tem muitas fanguexugas._
Santa Maria Magdalena de Jolda , Abbadia que aprefenta a Cafa do Sapa-
gal em Monção, rende duzentos & cincoenta mil reis , tem cento & doze vifi-
nhos-
S. Payo de Jolda, Abbadia dos Vifcondes, rende duzentos mil reis, & tem
oitenta vifinhos. Atèqui chegão a- barcas que de Viana navegão o Lima dis-
tancia fomente de quatro legoas & meya.
Santiago de Sendufe, que antigamente fe chamava de Arcuzello , he Abba-
diado Convento de S. Domingos de Vmna com referva ordinária, rende cento
& feíTenta mil reis>&tem cento & dez vifinhos. Pòuco acimafe vem veíligios
de fortificação , aonde chamão o Craílo, oue devia fer dos Romanos , como
confia das 'moedas de ouro, & prata, que alli acharão com ■z efigie de feus Em-
peradores- A- . s
- s*
DA COROGRAFIA PORTUGUESA.
S. Salvador dc Padreyro, Abbadia dó Ordinário, rende com a annexa cíc
S.Chriílina duzentos Sccincoeíità mil reis: tem noventa vifinhos. Aqui eíláa
Torre, Sc Cafa das Pintas de antiga, & confervada nobreza.
Santa Maria de Tavora, Abbadia dos Vifcondes, cuja ametade com tóda
a annexa de S- Vicente rende ao Abbâde duzentos St cincoenta mil reis , Sc a
outra ametade da Matrizhe para os Frades de S. Domingos de Viana, a quem
a deu o fenhor Arcebifpo Dom Frey Bertholameu dos Martyres, fundador da-
quelle Convento,com obrigação de virem aqui prégar meya Quareíma , Sc fa-
zer tres Sermoensno difcurfo do anno : tem cento Sc trinta Sc cinco vifinhos.
Na Aldeã de Calvos houve Couto, de cujos fenhores foy a Cafa, em que vive
Fràncifco Brandão Coelho, a que chamão o Paço, Sc ainda alli houve outro, que
diziao fer a Cafa da Audiência, no qual depois de extinto, fe introduzio a ju«
nfdição dos Arcos; Sc defies fidalgos era o Padroado da Igreja. Ha aqui hua
pia em que comião porcos , a qual benzeo hum Arcebifpo Santo a rogos de
humavelha, Sc tem tanta virtude, que vindo beijàlla gêtecom Uzazeres, empo-
las na cara, Sc de outros femelhantes achaques farão: Francifco Brandão apoz
por ladrilho da fua Capella, Sc alli obra Deos por ella o mefmo. Tem húa fon-
te chamada das Virtudes, pelas que nella achãomuitos de varias partes , que
com eíta agua fe vem lavar na manhaã de S.Joaõ : outra mais abaixo junto do
rio Lima, a que chamão as Caldas, frequentada na mefma manhaã , cheira mal
lavando nella as mãos,Sc dalli apouco cheirão fuavemente. Neila Fregueíia
eílá a Cafa cabeça da Commenda de Tavora na Ordem de S. João de Malta, que
rende com fabidos, Sc annexas de Santar, Sc Noífa Senhora da Port ella, Sc Cou-
to de Aboim da Nobrigadous mil Sc quinhentos cruzados ; temhuma Igreja
antiquiífima, orago Saõjoão , em que eílãofepultados muitos fenhores da
Cafa, Sc à roda delia he tradição houve hum Caífello ; he o Solar da illuílre
famiíia de Tavoras, Sc em qucnafcèrão, Sc fe criarão aquelles dous irmãos Dõ
Thedon, Sc Dom Rauzendo, que conquiflàrão muitas terras aos Mouros em
Trás os Montes, Sc Beira pelos annos de 1037. aonde derão o nome da patria
ao rio, Sc Villa de Tavora, Sc o do Santo da fua Capella à Villa de S. JoãodaPef-
queira, pelo bom fucCeífoque lá tiverão na manhaã dodiadeífe Santo , & to-
màrão por Armas em memoria da palfagem do rio em campo de ouro cinco
ondas azues, Sc hum Delfim rompendoas a nado, timbre o mefmo Delfim de fua
cor fobre huma Capella de ramos vermelhos floridos de flores de Liz de Ouro-
O primeiro Marquez Luis Alvarez de Tavora, no efcudo que poz fobre á por-
ta da fua quinta de Mirandela, aífentou o Delfim entre as ondas, pondolhe por
orla huma letra, que diz: Qnafcumque findit. Da varonia delia illuílre Cafa tra-
taremos na Terceira Parte deíla Oora, defcrevendo a Comarca de Pinhel,de cu-
ja Correição he a Vília de S.João da Pefqueira.
S. Vicente de Tavora, Vigairaria annexa â Abbadia de Tavora, tem feten- .
ta Sc dous vifinhos. Aqui eílá a Cafa de Picouço, teve Torre antiga , em que
entràrão por cafamento Araujos defcendentes do Commendador de Rio frio1
Alvaro Rodrigues de Araujo,Sc a poffuem com muita fucceífao.
S. Pedro do Souto, Abbadia infolidumdo Ordinário, rende trezentos Se
cincoenta mil reis, tem cento Sc cincoenta Sc dous vifinhos. No alto do monte
de S. Sebaílião fe vem veíligios de fortificação antiga. Aqui eílá a Torre de
Fonte Arcada, que foy Couto,Sc he dos fenhores da Ponte da Barca , dé que
lhepagaõ foros, naô alcançamos de que familia foíle Solar-
Santa Maria de Santar, Vigairaria annexa à Commenda deTavorâ, qucô
V iij apre-
I34 TOMO PRIMEIRO
íiprefenfa j tem cincoenta vifinhos.
Santiago de Tabaçó, Abbadia da Mitra, antigamente fe chamava S. Chrif-
tovaõ, come fe colhe de hum Breve, que fe achou em hum cofre dentro no Al-
tor mor com oífos, & cabellos de SantoS, a faber, dos Apoílolos, Santa Chrií-
tina,& outros, as quaes reliquias foraõ aqui collocadas com efte Breve do Bif-
po de Tuy Dom Pedro na era de 1*39. que vê a fer anno de 1201. em que elle
devia falecer, &. lhe fuccedeo Dom Suey ro- Achàraô-fe eflas reliquias ^Bre-
ve no anno de 1604. em que o Abbadê Fernão Rodrigues mudou a Tgrejapar
ra a parte do Norte, tanto quanto hia a largura delia, & as tornou a meter no
Altar novo: rende duzentos mil reis, tem quarenta vifinhos. Os Abbades de
Souto tem que foy fua annexa, mas por prefcripçaõ a perderão-
Santo Andre de Guilhadezes, Abbadia da Cafa dos fenhores da Villa da
Ponte da Barca, rende duzentos mil reis, tem oitenta vifinhos. Aqui eflá a
Torre da Mó, Solar dos Cabeças de V aca Portuguezes, appellido pouco uíaclo
hoje, fendo que pot aqui, & em Ponte da Barca deícendem muitos delia.

CAP. VI.

Da Villa da 'Ponte da Parca.

DA parte do Sul do rio Lima meya legoa da Villa dos Arcos, cujo termo
chega atè o Padraõ do meyo da Ponte, aonde chamaõ Val de Vèz, & íeis
legoas de V iana pela corrente do rio acima ao Nafcente,elf á aífentada a V illa da
Ponte da Barca, cabeça do Concelho,que algum tempo fe chamou 1 erra da No-
briga,peloCaílello que tem em hum alto monte. Havia aqui huma barca de
paíiagem primeiro que fe fizeífe a Ponte, & de ambas fe compoz depois o feu
nome: junto delia fe for So levantando algumas cafas, &apeífoaq mais a po-
voou, foy Maria Lopes da Coíla , que de dous matrimónios teve tanta def-
cendençia,que fendo de cento & dez annos conheceocéto& vinte filhos , ne-
tos, & bifrletos, de q cotava oitenta todos os dias, por viverem junto delia.
Foy a fua cafa a primeira de fobrado,que alli houve, & em que vivia fua filha
Ifabel Gonçalves da Cofia, quando ElRey Dõ Manoel veyoa Santiago de Gallir
za, &nella poufou, fazendolhe muitas mercês a feus filhos 5 & eíia lie a razão
porque os principaes deíla Villa faõ todos Coifas por fangue , & ufaõ de lie
appellido- Temeíla Villa duzentos & cincoenta vifinhos, Cafa de Mifericor-
dia,Hofpital,& eífasErmidas, S. Bertholameu, Santo Antonio, Santo Ama-
ro, &NoíTa Senhora da Conceição fobre.as portas da Ponte, & huma fonte de
cantaria de excellente agua,que corre por huma bica em grande tanque.
Afliílem ao feu governo civil hum Juiz ordinário, tres Vereadores, hum
Procurador do Concelho, Efcrivao da Camara, & Almotaçaria, Diílribuidor,
Enqueredor, & Contador, Juiz dos Orfaõs, & Efcrivao , todos datadelReyj
quatro Tabeliaens,& Alcayde, que ferve de Carcereiro, aprefenta oíenhor da
Villa, que nella tem nobres cafas feitas ao moderno. Tem Tribunal de Alfan-
dega com Juiz, Efcrivao, & Guardas, que fe trésladou do Concelho de Lindo-
;fo ray a fçca,aonde eílava. O termo dá bons frutosde milho, trigo, centeyo,
linho,
DA COROGRAFIA PORTUGUESA;
linho, feijão, caftanha, vinho de vinhas, & de enforcado, algum azeite, muitos
gados de toda a íorte, mel, cera, caça, pefcas no Lima de falmoens , lampreas,
relhos, trutas, bogas, efcalhos, falmonetes, favcis , 110 Vade faborofas trutas,
carvão nos montes para Ferreiros, & baftante truta para a terra , com abun-
dância de lenha, & feira franca aos 2-& zj.de cadamez. Tema Villa, & feu
termo cinco Companhias, de que he Capitão mor a Camara em aufencia do fe-
nhor da terra, com hum Sargento mór,& mais Oíficiaes- Daqui erão naturaes
Jeronymo Pimenta Defcmbargador do Paço , Dom João Pimenta fcU irmão,
Bifpo de Angra, o Poeta Diogo Bernardes Pimenta, & outro Diogo Bernardes
Pimenta, & Antonio Pimenta de Araujo, que em noífos tempos morrerão Def-
embargadores, com que derão grande luftre à familia de Pimentas, fe bem ne •
nhum deixou Morgado, que os conferve, como aos de Torres Novas- Com-
poem-fe efta Villa, & feu termo das Fregueíias feguintes-
S.João Bautifta, Abbadia da Villa, Igreja que nella fe fundou depois de
povoada na Fregueíia de S. Martinho de Paço Vedro, qtie era a Matriz, & ago-
ra lua annexa,foy do Padroado Real, donde paliou aos fenhores da Barca , de
quem he, rendem ambas duzentos & cincoentamil reis.
S.Martinho de Paço Vedrohe Igreja muy antiga, & fagrada , diz-fe hella
Miffa fem pedra de ara': tem relíquias de S. Martinho , devem fer do de Du-
me; eftão metidas em hum nicho fechado no Altar. Foy Matriz da Villa , de
quem agoraheannexa,& o Abbade aprefenta nella Cura: tem trinta & leis vifi-
nhos. Aqui eftá a Caía, & Torre de Magalhaens , de que he fenhor Dom Fa-
drique Antonio de Magalhaens & Menezes, fenhor de ft a V ília.
S, Romão de Nogueyra, Abbadia do Ordinário , rende cento & cihcOenta
mil reis. tem cincoenta vifinhos. Aqui eftá a Torre de Quintella, não alcancey
de que familiafolfe Solar,paflou aos Pereiras , & defíies dizem que por cafa-
mento de Dona Ines Rodrigues Pereira, filha de Ruí Vafques Pereira , fenhor
de Payva,&Baltar,& de fua mulher Dona Maria de Berredo , com Rodrigo
Annes de Araujo, fenhor das Cafas de Araujo, & Lobeos , dos quaes nafceo
Pedro Annes de Araujo, fenhor da mefma Torre , Cafado com Catherina Ro-
drigues Pereira <JoLago,filhadeRuí Gomes do Lago :herdou-os feu filho Xif-
to Gomes Pereira , que de fua mulher Inacia de Magalhaens teve a Catherina
Pereira de Magalhaens cafada com Belchior Cerqueira Novaes , de quem naf-
ceo o Licenciado Lucas comes Pereira, pay do Capitão Xiftó comes Pereira,
que morreo no fitio de Monção: he feu filho Lucas Gomes Pereira, Cavalleiro
do Habito de Chrifto,&: fenhor da dita Torre.
Santo Adrião deOleyros, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis, &
tem cincoenta & feis vifinhos.
S* Salvador de Bravaés, que antiguamente fe chamava de Barbas, foy Con-
tento de Conegos Regrantes de Santo Agoftinho, parece que com alguma fub-
ordinação ao de S. Martinho de Crafto ; porque fe acha que efta Freguefia foy
Couto de S. Martinho, fundado por Dom Vafco Nunes de Bravaés, Rico ho-
mem, & huma das principaes peífoas da Corte delRey Dom Affonfo o Sexto,do
qual ficou illuftre defcendencia. O Arcebifpo Dom Fernando da Guerra com
Breve do Papa Martinho Quinto o fez Abbadia fecular , paffou a Commenda
de Chrifto, que rende duzentos & cincoenta mil reis, & he Reytoria da Mitra:
tem noventa vifinhos»
. S. Miguel de Lauradas, Rey toriâ da Mitra, & Commenda de Chrifto, que
rende duzentos & vinte mil reis, tem oitenta vifinhos. Aqui eftá a Cafa do
Pa
^^6 . TOMO primeiro
Paço, que foy de Dom Rodrigo Taveira, Commendatario de Bravaés,& a deu
em dote a fua filha Dona Brites Taveira, para cafar com Lopo da Colha , pelo
que entrou neíta família, &z hoje na dos Aimeydas Leboroés.
S. Martinho de Crarto he Convento de Conegos Regrantes de Sãto Agof-
tinho,que fundou hum illuftre fidalgo fenhordo dito lugar do Craflo por°no-
me Dom Onerico Soeiro, que era muy devoto de S. Martinho Bifpo de Tours
deFrança, à fua honra edificou no feuSolar deCraítohuma Igreja pelos an-
nos de 11$6- como diz a Chronica dos Conegos Regrantes de Santo Agofti-
nho liv.6.cap.<?. Nelle aífifle hum Procurador : he hoje Vigairaria collada,
qusaprefentao os mefmos Frades: tem noventa vifinhos. Aqui eífá a Torre
de Caldas, que não fabemos de que família folfe Solar.
S. Miguel de Boy vaens, Abbadia do Ordinário, rende duzentos mil reis,
tem felfenta vifinhos. Aqui eílão as Chans do Ourai , aonde paftão muytas
egoas de criação, & gado de toda a forte, & fazendo os Reys mercê defte Con-
celho aos Penhores do appellidode Magalhaens,refervàrão eífes matos, & que
ficafiem Realengos.
S-João deGrovelIas, Curado que aprefentao asFreyras do Bom Jefus de
Évora, tem quarenta Stfeis vifinhos. Aqui em hu n monte fevem vertigios
degrandes cavas, chamaõlhe a Tina de Ouro, pelo muito que deífa notável mi-
na devião tirar os antigos.
^ S. Pedro de Codeceda, Curado do Morteiro de Rendufe , tem cincoenta
vifinhos. Foy Couto do mefrno Morteiro, & o tempo, que tudo garta, o aca-
bou.
Sarta Marinha de Pen? faies, Abba cia da Mitra, tem cincoenta vifinhos.
Santa Eulalia de Baloís, Abbadia da Mitra, tem trinta&nove vifinhos.
Santa Vaya de Ruy vos, Abbadia da Mitra, tem feíferta vifinhos. Aqui
ertá a,Cafa do Real, que nortra antiguidade, & nobreza : nella viveo Gd Cer-
queira, & fua mulher Margarida Martins Velho , dos quaes fby filho Fernão
Gil cerqueira, que cafou comi label Gonçalves da Corta: fuccedeolhes leu fi-
IhoFrancifco da Corta Tavcyrao Razodealcu ha,cue cafoucom AnnaNu-
ncs Bezerra, filha de Truillos de Araujo de Acevedo , & de fua mulher Jufta
de Amorim Cerqueira: herdou os fua filha I fabel de Araujo de A zevedo, mu-
lher de Gonçalo de Antas de Sá, filho de Joaõde Antas de Amorim , & de fua
mulher Ines Brandaõ; íuccedeolhes fua filha Mariana de Sá, mulher de Francif-
code Abreu Felgueira,filho de Belchior de Abreu,deq tem a Leonel de Abreu
Felgueira,Francifco de Abreu Felgueira,& filhas, q todos vivem nerta Cafa.
Santa Maria das Neves de Covas, Vigairaria annexa de S. Thomè de Va-
de,'tem fetenta vifinhos.
S. Pedro de Vade, Vigairaria annexa a Santa Azias , tem quarenta vifi.
nhos.
S. Mamede deGoido, ou Villa-Verde, Curado que aprefenta o Geral de
Santa Cruz de Coimbra, por ferannexo a Sac Martinho de < rarto , tem qua-
rentavifinhos. Aqui ertá a Torre, & Paço de Villa-Verde , & no alto de hum
monte fe conferva o nome de Dona Elvira, de quem dizem foy ertaCafa , que
a meu ver fez Dom João de Aboim na quinta' que lhe havia dado Dom Frey
Affonfo Pires Farinha, Prior do Crato,com confentimento do Cram Mertrede
Efpanha na Ordem de S. Joaõ de Malta, de quem ella era : fez-fe erta doacam
no anno dc 1260. & devia já ter nclla parte feu avo Dom Ourigo o Velho da
No-
D A COROGRAFIA PORTUGUEZA. . Í37
Nòbriga , fundador (como dizem alguns) do Morteiro de Saõ Martinho de
ÇraíloJ de quem feria eíie Padroado de Villa-'Verde, cjue lhe annexou , & de
fua filha Dona Elvira, mulher de Lourenço Médes de Guindar, que era tia defle
Dom João, ficou ao monte o nome de Dona Elvira ; porque eíta em tempo de
pefte fe recolheo alli com outras, que com ella vivião em fórma de Religião >
depois que viuvou. Entràrão nella os fenhores da Barca, de q ue fali io por 1 uc-
ceifaõ, em que permanece, feita Morgado, & por tal a poffue Francifco de Sou-
fa de Menezes, No monte da Danava 1'e tira a melhor pedra, que ha neflas par-
tes para edifícios.
S- Thomè de Vade, Abbadia q foy do Padroado Real, he hoje dos fenhçres
da Barca, & rende com a áunexa de Covas duzentos mil reis, tem feffeiita vi-
íinhos. Tem a Torre da Poufada, cm que viverão Fernão Velho de Araujo, fe-
nhor da Caía de Araujo, & fua mulher Anna N unes Bezerra, filha de Nuno Gõ-
çalves Bezerra,fidalgo' allego,feríhor da Cafade S. oil de Perre junto a Via-
na, & de fua mulher Iiãbel de Barros : depois venderão effa quinta feus filhos
aos fenhores da Barca, que hoje a logrãdx,
Santiago de São Priz, Abbadia que foy do Padroado Real, & com à mercy
do fenhorio da terra paífou aos fenhores da Barca * rende duzentos mil reis,
tem cem viíinhos. Aqui em hum altiífimo , & inexpugnável monte tllá o Caí-
rello da Nobriga,( hoje todo arruinado comos rayos que nelle cahiráo) que
muitos tempos deu o nome a efle Concelho, porque fe chamava T::rra da Nò-
briga, deque era cabeça,& conforms a opinião vulgar, he obra delRey Brigo,
bifneto de Tubal,o primeiro povoador de Efpanha depois do Diluv.o, a querp
fe àlludem todas as fabricas, & nomes, que acabão em Brigo, ou Briga : fe bem
que Briga na lingua antigaEfpanholá quer dizer povoação. Em tempo dos
•noííbs primeiros Reys foy Penhor dclle,& das terras vdinhas Dom Ourigo 0
Velho da Nobfiga, grande Capitaõ, que ganhou muitas terras aos Mouros, dy
quem por defeendentes feus paílòuo direito defte fenhorioaos Magalhacs, que
agora a poíTuem: alli fe fazia audiência,& havia cadeà,emquanto íe não fundou
aVilla da Barca, para onde fe mudou o foral- He eíle Caífello Solar dos No-
brigâs, família antiga, que tem por Armas em campo de ouftí quat.ro palias
de vermelho, timbre hum meyo Leão de ouro, com huma palma vermelha. Ou
tros fobre as palias aífentao hum Açor de preto,com bico, & unhas de ouro.
NoíTa Senhora de Santa Azias, Abbadia do Ordinário,rende com a annexa
de S.Pedrode Vade trezentos & cincoenta mil reis : tem cento & dez vift-
nhosi
Santo André de Gondomar foy do Padroado Real, & paífou aòsMaga-
lhaens com o fenhorio da Barca, rende cento & vinte mil reis, & tem cincoen-
ta viíinhos. Aqui ha hum fojo , em que matão lobos, por fer terra de fnon-
te#
. •«
S. João de Villachão, Vigairaria do Arcediago de Neiva , rende cem mil
reis, & trezentos mil reis para o Arcediago : tem cento & feífenta viíinhos.
S. Vicente de Germil, Curado annexo ao Convento de Muya , tem quart-
ta viíinhos. Ha neíla Fregueíia, & na.que fe feguebons nabos.
Si Sylveíire da Ermida , Curado annexo a S. Miguel de Entre ambos Q8
•Rios, tem trinta & feis viíinhos : he do Couto de Aboim-
Santiago dc Villachão, Vigairaria annexa a S- Miguel de Entre ambos qp
Rios/tem oitenta viíinhos*
\ S. Martinho de Birtello tomou onómedeÈretol.eum,ouBritonfa,.Cida-
de
138 TOMO PRIMEIRO
de antiga, íituada (coirociizem muitos) aonde he Cidadelhe : foy Abbadia
annexa do Moflciro de Ermello, que fe extinguio , & annexandcíe oCõvento
â Igreja do Valle no termo dos Arcos, que fora do Moífeiro, & fazendefe del-
ia Abbadia do Padroado Real, também aprefentava Cura , ou Vigário rtfta;
mascomoosfenhoresda Barca tmhão mercê dos Reys de todos os Padroa-
dos, cue lhes tocaífem neífe Concelho,& fempre forão poderolos j fendo A b-
bade do Valle Francifco da Abrunhofa ,o fenhor da Barca fe intr. duzlo a pre-
fentar nella Abbade,& foy o primeiro Antonio Tofcano de Lima , dizendo lhe
tocava por doação Real. E aflim permanece com fentença já no terceiro apre-
fentado: rende duzentos mil reis, tem cento ôc dez vifinhos. Aqui elfá a no-
bre Cafa de Britello, a que chamão Paço, por fempre fer de bens fidalgos.
S- Miguel de Entre ambos os Rios, A bbadia do Ordinário, rende com as
annexas de Santiago de Villachão,&c S.Svlveífre da F rmida,quinhctosmil reis,
tem cento & oitenta vifinhos, parte faõ do Couto de Aboim.
S. Lourenço de Tovedo, Abbadia da Mitra , que rende com a annexa de S.
Salvador quinhentos mil reis, tem noventa vifinhos. Tem-fe por fé, que todo
o que entra primeiro neíha Igreja dia de S. Lourenço, lhe tirão Santo qualquer
achaque que tenha, & aflim he venerado com romagem, & PrcciíTcens. A qui
eífá aTorredeTouvedo, Solar dos fidalgos dcífeappellido , ôtemoueviveo
Afionfo Mendes deTouvedo, a quem o Conde Dom Pedro, ou feu Copiador,
dizTavocdo,cafadocom Dona Joanna Rodrigues, filha de Ruí çon esdeGun-
dar,& de fua mulher Dona Mayor Affonfo, todos fidalgos muy íllufires- Não
fey fe por fangue, ou que caufa entrou nella Dona Leonor de Alvim, m ulher do
grande Condeíiable Dom Nuno Alvarez Pereira, & por cafamer.to de fua filha
unica Dona Brites Pereira, mulher do fenhor Dom Affonfo primeiro Duque
de Bragança, ficou naquellaC afa,que depois a emprazou com feus bens por
certoforo,&deprefenteapoffueGabriel da Coita Pereira.
S- Salvador deTouvedo, Vi gair ar ia annexa à Igreja deS. Lourenço , tem
cincoertta vifinhos.
NoíTa Senhora da Conceição de Villa-nova de Muya he Convento de
Conegòs Regrantes de Santo A golfinho , que fundou Dom Godinho Fa-
fez de Lanhofo , fundador do de Fonte Arcada, & Rico homem, que fervio a
EIRey Dom Affonfo o Sexto, & ao Conde Dom Henrique feu genro, que lhe
fez Couto no anno de 110$. governando-o logo em feu principio Ramiro
F afez, que devia fer feu filho, ou ir maõ, de que o Conde Dom Pedro nam dá no -
ticia. EIRey D. Affonfo Henriques lhe confirmou o Couto no anno de 114,1»
& declara a demarcaçaõ de feu delf r'.<Ro, que ainda hoje fe vem em muitas par-
tes: permaneceo annos, mas em tempo delRey Dom Joaõ o Primeiro , gover-
nando cite Convento Ruí Gonçalves de Mello, irmaõ de Rodrigo de Mello Ca-
mareiro deIRey,lhefez queixa de que Gd Afionfo de Magalhaens , fenhor d*
Barca, & terra da Nobrigaíhe devaçava a jurifdiçaõ,& aprefentava Juizes no
feu Couto. Defaggravou-o com paffar Carta contra Gd Affonfo em Lisboa a
11.de Janeiro de 1404. & pleiteando o Molfeiro, teve fentença contra eíle fi-
dalgo 5 mas o poder de feus fucceffores, &o mao viver dos raçoeiros do Con-
vento os debifitàraõ em forças, & reputaçaõ demodo,queprevaleceooentrar
nelle a Juítiça da Barca; & do Couto nam ha agora mais que os marcos, & no-
ticias, de que o foy. O ultimo Cõmendatario que teve , foy o Doutor Anto-
nio Martins, que faleceono anno de 1594- & entiàraõ nelle osConegos Re-
gfantes.cm 2 .de Fevereiro de ifc^.Foyièu primeiro Prior tricnralD- Agof-
_ tinho
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 23?
tinho de S. Domingos. Agora nam tem íenaõ hum Religiofo Prefidente com
outro companheiro Procurador: rede feifccntos mil reis comosdizimos , &
fabidos, que applicaõ ao novo Convento de Viana; poem Cura fecular, que te-
rá de renda fetenta mil reis, Sc tem eíla Freguefia duzentos & feílenta vifinhos-
He fenhor defta Villa Dom Fradique Antonio de Magalhaens St Menezes,
cuja Varoniahe afeguinte.
Dom Pedro de Menezes fenhor de Cantanhede foy cafado com Dona
Tnes de Zuniga, filha de Dom F radique de Zuniga, fenhor de Mirabel , & de fua
mulher D- Anna deCalfro,deque teve a Dom Antonio de Menezes , que lhe
fuccedeo na Cafa de Cantanhede, Sc aDomFradique de Menezes , com quem
continuamos.
Dom F radique de Menezes, filho do dito Dom Pedro de Menezes fenhor
de Cant anhede, cafou com Dona lfabel Henriques, filha de Fernaõ Nunes Bar-
reto^ fenhor dos Coutos de Freirís,St Penagate , Sc de fua mulher Dona Ma-
ria Henriques, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Aífonfo de Menezes, que foy Meífre-fala delRey Dom Joaõ o Quar-
to, Coronel dehumTer .o emLisboa,& Commendadorna Ordem de Chrdlo:
cafou corn Dona Joanna Manoel, filha de Conftantino de Magalhaens,fenhor da
Ponte da Barca,& de fua mulher Dona Ifabel de Aragaõ, deque teve entre ou-
tros filhos a DomFradique Antonio de Menezes,& a Dom Jofeph de Menezes,
que occupou todos os lugares Eccleíiafticos defteReyno ate fer Arcebifpo de
Braga, St foy infigne nas letras.
Dom Fradique Antonio de Magalhaens Sc Menezes foy por fua máy fe-
nhor da Ponte da Barca: cafou com Dona Jeronyma Maria de Sá, filha herdeira
de Fernão Nunes Barreto, fenhor dos Coutos de Freirís, Sc Penagate, Sc de fua
mulher Dona Joanna de Sá, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Aífonfo de Menezes, q ue he fenhor da Cafa de feus pays, & cafou cò
Dona Antónia de Borbon, filha de Dom Antonio de Almeida, Conde dc Avin-
tes, St da Condeça Dona Maria Vitoria de Borbon-

CAP. VII.

Do Couto de Aboim da j\[obriga.

EStáefte Couto entre huns altos montes, que da parte do Norte o divide
oCaftellodaNobriga do termo da Barca , Seda do Sul as ferras de Gon-
, domar fobreBaldreu Concelho de Regalados. He delRey com Juiz ordinário
por eleição triennal do povo, St pelouro, dous Vereadores, Procurador do Cõ-
celho, Sc Meirinho, a que preíide o Corregedor de Viana, Efcrivaõ do Crime ,
Sc C amara,que andaõ juntos :oJuizdosOrfaõs,ScEfcrivaõ faõ osmefmos 4
na Barca. Compoem-fe além deifaFreguefia, de ramos de outras dos termos
da Barca, Sc Regalados ; terá ao todo quatrocentos homens com hum Capitaõ,
ScoCommendadorheCapitaõ mór; recolhe baft ante paõ de todo o genero,fei-
jão, bom vinho verde, caça, mel,Sc cera, gados,muitos paífos,criaçaõ de egoas,
Sc mulas, boas trutas no regato, inda que pequenas. Foy delle fenhor Dõ Joaõ
de
Mo ' ' TOMO PRIMEIRO * -*
de Aboim, Rico homem no tempo delRey Dom Affonío o Terceiro , a quem
acompanhou em França, & com elk veyo a eíle Rey no, aonde o fez feu Mprdo-
mo mcr; & nam foy menos eílimado de ficu filho ElRey Dom Diniz, de cujo Cõ-
felhofoy. Viveoem huma Torre, que alli ha junto da Aldeã do Outeiro , &
qual, dizem alguns, lhe deu Dom Martini Fagundes, Commendador de Leça ,
Tenente do Graõ Meílre, q entr o era dos cinco Reynos de Efpanha na Ordem
de S.Joaõ de Malta, Dcm Gonçalo Pires de Pereira, natural dcíla Provincial
fez eila Doaçaõ em 20. de Julho de 1270- por fer pertença deíla: & já no an-
no de 12<ío. Dom Frey Affonío Pires Farinha, Prior do Crato , com confenti-
menrodo Graõ Commendador de Efpanha Frey Faraudodc Barriaco, lhe ha-
via dado a de Vílla-Verde, de que já falíamos,no termo da Barca; mas a meu ver
deviaõ fer alguns quinhoens, que feus antepaífados deixariaõ àquella Ordem
Militar;pois por aqui viverão, & tiveraõ feus Solares,& neíte particularmen-
te viviaõ, que fempre foy Honra.
Era eíkDom Joaõde Aboim filho deDom Pedro Ouriguez daNobrgia,
& neto de Dom Ourigo o Velho da Nóbrega , tronco dcílas duas famílias da
Nobriga,& Aboins,& unidos por cafamentos com o melhor de Portugal , &
os mayores dos Reynos de Elpanha delledefcendé.Foy muito rico de bés,aííim
em Portugal, como em Caítella, &: fúdou neíle Reynoa Villa de Portel, a qué
deu foral cõ feu filho D- Pedro Annes de Portel, & poz feu appellido por nome
a Villa Boim, quando a edificou flerto de Elvas, & teve delia o lenhorio j & foy
tam amigo da Ordem de Malta , que lhefogeitou ao Moíleiro de Marmelal,
"(aonde eftá enterrado) as Igrejas da fua Villa de Portel. 1 odos eíhes fidalgos
amàraõ muito ella Ordem; delles ha illuílre dei cedência,como faõ os fenhores
da Barca, & os Cofias deíla Província por caíámcnto de Gonçalo Affonfo de
A boim com Maria Lopes da Coifa. Tem os Aboins por Armas o efcudo çf*
quartelado ;o primeiro enxequetado de ouro, & azul : nofegundotres palias
azuis em campo de ouro: timbre dous braços vellidos de azul , & nasmaõs
hum taboleiro deXadrês aleonado,enxequetado de ouro, & azul. Incluíofe
cíle appellido nos Soufas por cafamento de Dona Maria Pires, filha de Pedro
Annes, com o Infante Affonlo Diniz, filho delRey Dom Affonfo o Terceiro-
Alguns tem ainda o appellido de Aboim, mas nam o Solar, q eíle vendéraõ os
herdeiros em tempo delRey Dom Affonfo o Quinto a hum Fernaõ Martins,
criado do Arcebifpo de Braga, & por nam fer fidalgo pedio a ElRey lhe déífe
privilegio para poder ufar das Honras deffa quinta, & Cafa 5 o que lhe con-
cedeono anno de 14.4.5). porferviços que havia feito na guerra-Paffou depois
aos fidalgos Camaras do Porto, & defies entrou na Cafa dos fenhores de Ba-
ya® por cafamento de Fernaõ Martins deSoufa fenhor de Bayaõ,comDona
Maria de Ataíde, filha de Fernaõ Gonçalves da Camara, & de fua mulher D.
Brites Manoel, a quem herdou feu filho Chriífovaõ de Soufa Coutinho , fe-
nhor dcBayaõ,que hoje vive. E em Morgado eftá vinculada à Capella de S.
Miguel da Cidade do Porto.
Tem eíle Couto huma Igreja Parochial da invocaçaõ de NoíTa Senhora
da AÍTumpçaõ,Vigairaria annexa àCommenda deTavora na Ordem de Mal-
ta, tem trezentos & dezvifinhos; chamafe Moíleiro , &hetradiçaõ o foy de
Freyras primeiro qne entraífea fer Commenda, &c indahojeha hum rego por
onde vem agua, a que chamaõaCal das Freyras.

CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 241

CAP. VIII.

Do Concelho de Lin do/o.

TRes legoas acima da Pente da Barca pela mcfma ribeira do Lima da parte
do Sul, entre as afperas ferras da Amarella , & Cabril contíguas com as
de Gerês na raya deíle Reyno,St do de Galliza,tem feu aífento o Concelho , St
Caílello de Lindofo, nome que lhe poz F lRey Dom Diniz , quando o vio tam
galante, depois de o mandar fazer: & parece teve tanto gcfloElRey defeobrar
ertcCaíIello , que fe dilatou dias em Soajó da outra parte do Lima fó por eíle
refpeito 5 St de certo pcllo vinha ver como crefcia a fabrica: St logo entregou a
Alcaydaria mórdclle a Payo Rodrigues de Araujo o C avalleiro , fenhor de
Araujo, Lobeos, Gendive, Ogos, Torno, Alcayde mór dos Caflellos de Santa
Cruz, Sande, St Milmanda, St muitas aprefentaçoens de officios, St beneficies
em Galliza, & em Portugal fenhor dos Coutos de Val de Poldros, Soutello, Sc
Ris Caldo, & o primeiro Alcayde mór de CaflroLeboreiro, Sc de Lindofo.
A eíie Concelho deu foral ElRey Dom Maijoel em Lisboa a y. de Outu-
bro de i yi4- St lhe concedeo grandes privilégios : tem trezentos vifinhos
com huma Igreja Parochial da invocação de S- Mamede, Abbadia do Padroado
Real, St ha pleito fobre fe he fímplez,ouderefidencia ; porque tem Vigário,
que aprefenta o Ordinário: rende ao Abbade trezentos mil reis, Sc ao Vigá-
rio cem mil reis. Tem huma Aldeã chamada Cidadelhe, que dizem foy anti-
gamente Cidade , que por boas conjeduras feria Bretolvaõ,pouco acima de
Britello, de que tomaria "o nome,Sc fe vem ainda hoje vcíligios de fortificação.
Eile Concelho he delRey, tem Juiz ordinário, que o he também dosOrfaõs,Sc
dous Vereadores, com Procurador por eleição triennal do povo, & pelouro;
confirma os o Corregedor de Viana, hum Efcrivaõ, que ferve em tudo , data
delRey, Alcayde, que aprefenta o Alcaydemór. Produz muito paõ, milho, St
centeyo, feijão, caftanha, algum linho, bom vinho, muitos gados, mel, cera,ca-
ça, muitos lobos,rapofas, martas, ginetas, touroens, javalis, corços, cabras
bravas, & pefcíde bogas, St trutas do rio Lima, St Cabril, que nelle fe mete,
muita lenha, St madeiras daquellas matas bravas, em que também fe achaõ fru-
tas montefinhas, pouco conhecidas da mais gente, muitos, St grandes nabos ,
bons caens rafeiros,a que chamaõ fabujos, muy animofos contra os lobos,
•St bichos 3 carvão de urze, de que foccorrem aos Ferreiros defies povos.

SsÈaSsoajiss «

X CAP
2^z TOMO PRIMEIRO

CAP. IX.

T>a VilU de Tic a de Regalados.

DUas legoas de Braga para o Norte , & duas&meya daPonteda Èarca


para oSul,emíitiobaixo eífá fítuada a Vilíada Pica de Regalados,que
habitaõ noventa vifinhos, os maisdelles Almocreves, que conduzem trigodos
Arcos para Braga, Val longo, & outras terras , & tem muitas cafas de venda
para os paíTageiros. No termo ha muitas cafas, Sc gente nobre , huns deícen-
dentes dos mefmos fenhores da V illa, outros de boas famílias. Notável anti-
patia he a que tem a gente deile Concelho com os de Vieira fobre dizerc nuns.
y'tva Rtgalados%morra Vieita\ou f^iua leifa^niorra Regaladosem Noifa Senho-
ra da Abbadia ordinariamente he o campo de fuas batalhas. A ilidem ao feu
governo civil hum juiz ordinário, eleição triennal do povo, Sc pelouro, a que
prefide o Corregedor de Viana, Vereadores, Procurador do Concelho , A Imo -
taceis,Efcrivaõ da Camara, & Almotaçaria, quatro Tabeliaens do Judicial, &
Notas, Enqueredpr,Diílribuidor,& Cotador, juiz dos Or faõs cõ leu Efcrivaõ,
& outro das Sizas,&Alcay de, todos datadelRey. Ao militar té quatro Com-
panhias com Capitaõ mór, & Sargento mor. Ha feira de boys cada mezna pri-
meira fefta feira, & aos 17. ElRey Dom Aífonfo Henriques fez Couto a eíte
Concelho, & o deu ao Arceoifpo de Braga Dom Payo Mendes muitos annos
depois. Deu-fe O fenhoriodcíla Villa, & Concelho a Pedro Gomes de Abreu,
fenhor do Couto, Sc Cafa de Abreu, Sc dos direitos Reaes de Viilas boas , &
Alcayde mór de Lapella, & veyo viver a Coucieirc* Sc por eíla caufa fe fez V il.
la,Sc o dito Pedro Gomes de Abreu lhe poz o nome de Pica em lembrança da
Aldeã domefmonome,de que era íenhor em Morufe He lioje fenhor deita
Villa Luis Gonçalves Coutinho da Camara, que a herdou com outras fazen-
das de feu tio Dom Gaílaõ Coutinho. A fua varoniahe a feguinte-
Luis Gonçalves de Ataíde, fenhor da Ilha deferta , Sc Capitaõ de Ceuta,
he hum dos afeendentes dos Condes de Atouguia:Sc a fuavaronia fe verá na
Cafa de Atouguia, a quem pertence: cafou com Dona Violante aá Sylva, filha
deFrancifcoCarneiro, Capitaõ da Ilha do Principe, Sede fua mulher D. Me-
cia da Sylveira, dos quaes foy filho fegundo o feguinte.
Simaõ Gonçalves da Camara & Ataíde, q caiou com Dona Ifabel de Albu-
querque, filha de Ayres de Saldanha, Vifo-Rey da índia, &de fua mulher Do -
na Joanna de Albuquerque, de que teve, entre outros filhõs, a
Francifco Gonçalves da Camara Sc Ataíde , que cafou com Dona Felippa
Coutinho, filha de Dom Henrique Coutinho, & de fua mulher Dona Joanna de
Brito, de qbe teve, entre outros filhos, a
Luis Gonçalves Coutinho da Camara, que herdou a fazenda de íeu tio Do
Gaílão Coutinho, St cafou com Dona Ifabel de Noronha, filha de Diogo de Sal-
danha de Sande, & de fua mulher Dona Catherina Pereira da Sylva, de que te-
ve, entre outros filhos que morrerão, a
., Gaílão jofeph da Camara Coutinho, fenhor da Cafa da Taypa, Commen-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 24j
dador de',Santa Maria de Cafevel, & de Santo André de Villa boa deQuires na
Ordem de Chriilo, & Veador da Caía da Rainha Dona Maria Sofia , òc depois
da fua morte, de Suas Altezas: caiou com L ona Mana Therefa de Noronha, fi."
lha de Dom Pedro de Almeida, primeiro Conde de AíTumar , Vifo-Rey da ín-
dia, do Confelho de Efiado, & Veador da Caía dos Reys Dom Affonfo o Sex-
to, & Dom Pedro o Segundo, & de fua mulher Dona Margarida de Noronha, de
que tem a Luis Jofeph da Camara Coutinho, a ]ofeph Pedro da Camara Couti-
nho, Franciíco de Sales da Camara Coutinho, èt João Antonio da Camara Cou-
tinho.
He eíle Concelho abundante de azeite, vinho, linho, caílanha , muitas
hervagens, egoas de criação, gados, caça, frutas, & produz todo o genero de
pão, com pefca de falmoens, lamprtas, trutas, bogas , & efcallos no rio Ho-
mem^ no regato,que paífapelo meyodo termodeíie Concelho, que fe corn-
poem das F regueíias feguintes.
S. Payo, Abbadia da Mitra, rende cento & oitenta mil reis, tem feíTenta vi.
íinhos. Aqui faleceo hum homem de alcunha oOvelheiro ,o qual tinha mais de
cento & vinte annos, & era de boa difpoíiçaõ.
S. Miguel de Prado, Abbadia da Mitra, rende com a annexade Ataés tre-
zentos & feíTenta mil reis, tem cento & vinte viíinhos-
S- Joaõ de Atacs,Vigairariaannexa a S. Miguel de Prado, tem trinta viá
íinhos. Aqui eílá a Torre, & quinta de Santo Amaro, & a do Mouro, que eíí-
perto delia na Fregueíia de Santo Ellevão de Barros, as quaes forão dos fenho
res de Regalados, de que fe dcfannexàrão em Antonio de Abreu, filhoprimei-
ro baílardo de Pedro Gomes de Abreu, fenhor de Regalados , & de Dona Ca-
therina d'Eça, Abbadcça de Lorvão: cafou duas vezes, & não teve filhos , &
houve baílardos a Leonel de a breu, que lhe fuccedeo neíla Cafa, & cafou eni
Viana do Lima com Dona Maria Carneiro Jacome , de que teve a Pedro co-
mes de Abreu A bbade de Perre, & outros, de que nam teve fucceffaõ legitima,
pelo que fuccedeo afeus»irmaõs,& fobrinhos neíla Caía já poíla em Morga-
do. Teve de huma mulher de Regalados a Antonio de Abreu , que o her-
dou, & opoíTue. Entre os grandes carvalhos que tem eíla quinta, ha hum a
quechamão o Abreu;he mais alto que hum maífro de navio,quafi tam grof-
fo no pé , como na ponta,&naõ o abrangem quatro homens. Na quinta dc
Mouro fuccedeo Miguel de Lima de Abreu,filho fegundo de Leonel de Lima dc
Abreu, & de fua mulher Dona Maria Carneiro Jacome; nam cafou, mas teve de
Francifca Fagundes de Santar em Regalados a Joaõ Gomes de Abreu, que lh
fuccedeo, & cafou em Braga com Dona Angela Ferreira, filha de Manoel Fer°
reira Santarém, & de fua mulher, de que teve filha única , & herdeira a Dona"
Maria de A breu, mulher de Gonçalo de Araujo & Brito , filho de Jacome de
Araujo de Brito de Guilhadezes, & de fua primeira mulher Leonor Malheiro,
de que he filho único Antonio de Araujo de Abreu , cafado com Dona Anna
Maria dc Araujo Gayo,filha única de Jacome Pereira Gayo , & de fua mulher
Pafcoa de Araujo de Brito.
S. Chriílovão, Vigairaria annexa a huma Conezia de Braga, tem feíTer ta
vi íinhos. Aqui viveo Francifco da Fonfeca de Abreu, que faleceo nas ultimas
guerras com Caílella, fendo Capitão de Cavallos da tropa da guarda do Mar-
quez de Tavora, Governador das Armas da Provincia de Trás os Montes , &
CavalleirodaOrdemde Chrilfo,oqualem muitas occafioensde feífas corria
em hum cavallo, como os outros; & na carreira pegava cõ as mãós nas rilhas,
Xij &
244 TOMO PRIMEIRO
Sc as pernas para o ar, Sc no fim tornava a pararacavallo na fella , & outras ve-
zes polio de pê emeirna dafella corria parelhas; o que não fó admirou Portu-
gal, mas aííòmbrou Galliza,para onde tmha ido antes da Acclamação do Sere-
niífimoRey Dom João o Quarto-
S- Mamede de Villarinho , Vigairaria que aprefenta o Rey tor de Caldel-
las, quando não renuncia, de quem he annexa,tem oitenta vifmhos.
S. João de Coucieiro foy Convento dos Femplarios, & o fagrou o Arcc-
bifpo D-Payo Mendes em tempo delRey Dom Affonfo Henriquez ; he Com-
menda de Chrifto, St Reytoria da Mitra, rende cento Sc vinte mil reis, St para
o Commendador com duas annexas entre Homem, & Cavado, St a que fe Ce-
gue, lhe renderá quinhentos St cincoenta mil reis, tem cento & dez vifinhos.
Aqui eftá o Paço, & Torre de Coucieyro, em que fempre viverão os fenhores
de Regalados , como Ce appellidàrão alguns , antes que nclle entraflem os
Abreus. Eftá também nefta Freguefia o Paço de Linhares , que logo em feu
principio foy dos Barros, por tomarem daqui perto efte appellido, Stem ou-
tra Fregueíia viíinha terem o Solar, St Caía,em que vivião. .
Santo Eftevão de Barros, Vigairaria que aprefenta o Rey tor de Couciei-
ro, de quem he annexa, tem trinta vifinhos. Aqui eftá a quinta do Mouro , de
que falíamos na Fréguefia de S- João de Ataés, da qual foy fenhor Domingos
Annes de Guimaraens, que por ella fe appellidou Mourò.
S. Vaya de Barros, Abbadia da Mitra , rende duzentos & cincoenta mu
reis, tem noventa vifinhos. Aqui eftá a Cafa da Penha, couía antiga, que mof-
tra nobreza; foy de Bento da Sylva de Menezes, St hoje de feu cunhado Lou-
renço de Soufa.
J
S. Mamede de Gomide, Abbadia da Mitra, tem quareta vifinhos 5 he Cou-
to da Comenda de Chavão na Ordem de Malta com Juiz do Civel por eleição
triennal do povo, Sc pelouro, a cujas audiências vay eferever, quando lhe to-
ca, hum Efcrivão de Regalados. Tem feira de S. Frutuofo a ió.deAbnh
S- Vicente de Caldellas, Abbadia da Mitra, tem quarenta Sc dous vifinhos.
Aqui eftá o monte, Sc Caftello de S. Gião, em que fe vem muitas ruínas de for-
tificação antiga, Sc huma cova furada, larga, Sc alta , que dizem chega ao rio
Homem, diftante hum quarto delegoa. Ha nefte monte huma mina de criftal
fino, Sc miúdo.
Santa Marinha de Oris, Abbadia da Mitra , que rende com a annexa fe-
guinte duzentos Sc feíTenta mil reis, tem feíTenta vifinhos. Aqui eftá huma
Torre velha em fido, que mais moftrafer feita para morada , que^para Caf-
tello '.entrounella a familia dos Coimbrãs moradores 11arua de Saõ João de
Braga, onde faõ fidalgos honrados5 hoje a pofiue cõ alguma renda, que a Tor-
re tem, Tofeph de Coimbra, Cavalleiro da Ordem de Chrifto.
S. Miguel de Oris, Vigairaria que aprefenta o Abbade de Santa Marinhai
de Oris, de quem he annexa, tem cincoenta vifinhos.
S. Pedro de Babo, Abbadia da Mitra, rende cento Sc cincoenta mil reis, té
quarenta Sc oito vifinhos, Sc feira a 21. de Março em huma Capella de S • Ben-
to. .
S- Miguel de Paçó, Vigairaria annexa à Commenda de Adaufe', cujo Rei-
tor a aprefenta, quando não renúcia, tem quarenta vifinhos.
S.Martinho de Babo,ou das Fogaças, Vigairaria annexa a S. Salvador de
Baldreu, tem cincoenta vifinhos. Aqui eftá huma Torre com cafa, a que cha-
mão oPaçojteve,cadea,Sc jurifdição com titulo de Honra das Fogaças , Sc
Babó,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 24y
Babosa qual foy Solar dos Vabos, ou Babós, appcllido honrado , que poucos
hoje tomão, & tem por armas em campo vermelho huma liíonja de prata , &
nellá hum Leão dc negro em hum pê dc ondas de azul com xadrès de branco,
& vermelho pelo lombo: andavão em toro de Cavalleiros , que he o mefmo
dos filhos dos Ricos homens em tempo delRey Dom Diniz , & erão huns dos
Padroeiros doConvento deTíbaens;paliou aos Barros, quenella viverão, &
temos por Solar defta família.
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1 * ^ £ \ •" .* 1 ' C [ f ! , , ' : ■ | ' ■
o: :) Couto defBalclreu.

P Aõ Salvador de Baldreu foy convento de Conegos Regrantes de S« Agof-


3 tinho, que fundou Dom Ourigo o Velho da Nobriga, ou conforme outros,
feufilho Dom Pedro Ourigues da Nobriga, pay de Dom João de Aboim,& de
Fernão Ourigues, cujo filho Nuno Fernandes foy Prior defte Convento, Di-
gnidade que naquelles tempos occupavâo ordinariamente os filhos , ou pa-
rentes chegados dos Padroeiros. Foy feu filho Ruí Nunes privado delRey
t)om Diniz, & Ouvidor da Juftiça de fua Cafa. Teve Couto, que inda fe con-
ferva no Givel com Juiz ordinário, eleição annual do povo, dous Vereadores,
Procurador, Meirinho , & Monteiro; vem efcreverlhc hum Efcrivão de Pi-
ça de Regalados , cada anno hum, & confirma-os o Corregedor ; no Crime
vão a Regalados. O Arcebifpo Dom Fernando da Guerra, com Breve do Papa
Martinho Quinto o fez Abbadia fecular de fua aprefentaçao : paliou a Comen-
da da Ordem de Chrifto, ôt he Rey torta da Mitra. Tem cento & vinte vifi-
nhos, & em huma Aldeã da montanha , chamada Muxoés da Serra, tem huma
Ermida de Santo Antonio, muito viíitada dos povos vifinhos em feu dia.
S. Mamede deGondoriz, Vigairaria annexa à Igreja de Baldreu, que apre-
fcntão os Rey tores, quando não renuncião, tem oitenta vifinhos. Aqui cítá a
Torre de Gardenha, que era Honra dos Coelhos em tempo delRey Dom Diniz:
paífou aos Abreus, fenhores de Regalados, com alguns foros.
S. Mamede de Sibocs, Abbadia do Padroado Real , que rende duzentos
mil reis, tem cento & vinte vifinhos.

Concelho de Villa Çareia.

O Efpirito Santo de Villa Garcia, Vigairaria annexa à Carvalheira , tem


quarenta vifinhos. Aqui vay o rio Homem fetfcentos pados por baixo
de pedras,&fónas enchentes as cobre. No alto da ferra do Gerês havia huma
caía de neve, que mandou fazer o ArcebifpodeBraga Dom Sebaftião de Ma-
tos, &Noronha,cuja obra fe findou com a fua prizão em Lisboa naAcclama-
ção do Senhor Rey Dom Joaõ o Quarto, & aíTimefteveatèo anno de i684«.em
queollluílridimo Primaz Dom LuisdeSoufa a mandou reedificar, & encher
de neve. Defta Fregueíia,5t parte da dç Siboés, aonde tem outros tantos vifi-
nhos, fe compoem o Concelho de V ilia Garcia, que he delRey,com Juiz ordiná-
rio no Cível,■& Crime, dous Vereadores, & Meirinho, eleição trienal do povo
por pelouro, a que prefide o Corregedor da Comarca , & vem eferever hum
Efcrivaõ de Regalados por diftribuiçfco annual. Da Aldeã de Cacunco paga
cada morador dous alqueires de pao,& hurna gallinha à cafa de Gil Barbedo,
X iij aonde
24 6 TOMO PRIMEIRO
aonde eífá o foral, St devia fer algum tempo vivenda de fidalgo deffe nome, fe-
nhor do mefmo Concelho: eík he o Soiar de tam nobre appellido , hoje pouco
ufado. Entrâraõ nell a os Abreus, fenhores de Re galados, de quem fe deíanne-
xoupor morte de Leonel de Abreu , emfeu filho fegundo Lopo Gomes de
- Abreu, Capitaõ mór das N aos da índia, que também levou a quinta de A gra:
cafou com Dona Therefa de Montenegro, filha de Payo Sorred de Montenegro,
fidalgo Gallego,de que teve filha herdeira Dona Maria de Abreu & Noronha ,
mulher de Dom Fernando de Sotomayor, Conde de Crecente , St fenhor da
CaiadeSoutomayor em Galliza, Sc elia avendeo a Luis de Soufa da Sylva feu
fobrinho, morador nas Goladas de Braga , Sc pela Cafa de Magalhaens bifneto
do mefmo Leonel de Abreu, acima referido; poffue hoje eíles foros, Sc outros,
que alli lhe pagaõ , St entràraõ neífa compra Jeronymo Barreto de Menezes
ícufilho, que foy Capitaõ de Cavallos em Flandes, aonde paffou a fervir por hú
crime,que teve em Coimbra.
Santa Maria de Móz, Abbadia da Cafa de Magalhaens, fenhores da Vília
da Ponte da Barca, rende cento & oitenta mil reis, tem cincoenta vifinhos.
São Mamede de Gondiaens , Vigan aria annexa à Igreja de SãoPedro de
Efqueiros cm Villachaõ , tem trinta vifinhos. Foy antigamente Couto , Sc
teve hu Palacio,de q foy fenhora Dona Berengueyra Ayres, fundadora do Mo-
íieiro de Almofter de Freyras de S.Bernardo 5 julgoulhe ElRey Dom Affonfo
o Terceiro efte Couto, Sc Paço contra Affonfo Valques Pimentel, St fua mulher
Sancha Fernandes, que diziaõ pertencerlhes , por lho haverem comprado D.
Mayor Pires de Novaes, & feu marido Lourenço Annes Carneiro, ou Carnes,
como dizFrey Francifco Brandaõ na quinta Parte da Monarquia Lufitanaliv.
16. cap. 54.
S. Cláudio de Geme, Abbadia que perderão os Frades Bentos dc Rendu-
fe, de quem era, Sc nella foy já Abbade hum feu Monge, agora he da Mitra, re-
de cem mil reis, tem quarenta vifinhos.
S. Thomè, ou S. Lourenço de Lanhes, Vigairaria annexa à Commcnda dc
Caldelías, cujo Reytor a aprefenta, quando naõ renuncia, tem trinta Sc oito vi-
finhos- Ha nelfa Igreja hum cofre de relíquias, mas não fefabe de q Santos fe-
jaõ, que tanta he fua antiguidade-

% " C A P. X.

7
T)o Couto de Sabaris

HE Couto antigo, de que foy fenhor Pedro Fernandes de Cambra , &


por outro nome Fernaõ Savareguiz, que me parece fe lhe chamou pelo
"io deílc Couto, corrupto Sabariz , como coítumavao aquelles fidalgos
antigos appellidarem-fe do que domina vão, Sc tal vez lhe entraífe por dote dc
fua mulher Dona Maria Ouriguez da Nobriga, filha de Dom Ourigo o Velho
da Nobriga, que fenhoreou muitas terras por aqui- Dizem tinha Forre , Sc
Caíicllo, Sc que de tudo era fenhor Martim de Guimaraens, que o deu a fua fi-
lha Ines de Guimaraens cafandocom Pedro de Araujo, filho quarto de Troil-
los de Araujo, fenhor de Mil manda, Louvil,Sc S-Payo em G^hiza, ScemPor-
tugal
I

DA COROGRAFIA PORTUGUEZA.' 247


tugal dos direitos Rcacs de Monção, dos quaes nafceo Felippa de Araujo, mu-
lher de Gonçalo da Rocha, fenhor do antigo Caftello de Motuello junto aGui-
maraens: eíics, ou feus deicendentes trocarão o Couto com os Frades de Ren-
dufe porhuma quinta, Óccafaes junto a Br iga. Delíesvem osAraujos, Perei-
ras, & Lagos daquella Cidade, & aquelles dous tam grandes homes em letras, q
forão Gabriel Pereira de Caítro,& Luis Pereira deCaítro , filhos do Doutor
Francifco de Caldas Pereira, Cõpoíitor famofo no Direi to,particularmente de
Prazos,& de fua mulher Anna da Rocha de Araujo 4 filha do Doutor Antonio
Francifco de Alcaçova, Defembargador da Suppíicação, & Alcayde mór de Er-
vededo,&de fua mulher Catherina da Rocha de Araujo , filha dos fobreditos
Gõçalo da Rocha, & de Felippa de Araujo. E porfucceífaõ entraria 11a família
dos Guimaraés, q já temos apõtado. Té eíte Couto hua Igreja Parochial da in-
vocação de Satiago,Abbadia da Mitra, q rede,fora o Curativo,paíTal,èt Ordés,
oitenta mil reis,de q leva ametade dos frutos o Abbade deS. Vicéte do Bicocm
EntreFíomem,& Cavado. O Dom Abbade de Rendufe he Ouvidor deite Cou-
to, & vem cada anno prefidir à eleição, que o povo faz de Juiz doCivel,a que
efereve por anno hum Efcrivão da Pica, aonde obedecem no crime.
.

CAP. XI.

Da Filia do Fr ado.

HUma legoa da Cidade de Braga entre o Norte, & Poente perto do rio
Cavado em fítio plano, junto"do regato, que vem de Moure } & aqui
pouco abaixo fe mete no dito rio, tem feuaffento a Villa de Prado, fundação
delRey Dóm Affonfo o Terceiro, que lhe deu foral no ânno dc 12 So. he terra
pouco fadia, por haver muitas cezosns , caufadas das névoas do rio , & de
roins aguas,recolhe pouco paõ,centeyo, milho miúdo, vinho de enforcado >
caftanha, algum azeite,baítanre lenha, boa caça, gado, & algumas pefeas de
lampreas, trutas, bogas, efealhos, falmoens, & eirós:tem bom barro , de que
fazem telha, & louça ordinária, que vaõ vender por toda a Província ,& obraõ
carros de fobreiros, por terem muita quantidade deitas arvores. Tem cemvi-
íinhos, poucos nobres, com huma Parochia da invocação de Santa Maria détro
da Villa, & primeiro o tinha fido Santiago deFrancellos , hoje Capella parti-
cular, he Commenda de Chrifto, & Reytoria da Mitra : tem cento & oitenta
vifínhos com os da Villa.
Governafe eíta Villa por dous Juizes ordinários, tres Vereadores, & Pro-
curador do Concelho por eleição tricnnal do povo, prefidindolhes o Ouvidor
do Conde, a quem remete cada anno as pautas dos Juizes nomeados nellas, pa-
ra queefeolha os dous, que hão de fervir nelle,hum Meirinho também de elei-
ção, que ferve de Carcereiro, Efcrivão da Camara, outro da Almotaçaria,qua-
tro Tabeliaens, Meirinho do Ouvidor proprietário, Juiz dos Orfáos com feu
Efcrivão, tudo da aprefentação do Conde, & fóSua Mageítade provê o officio
de Efcrivão das Sizas. Tem Capitão mór, & Sargento mór, com quatro Com-
panhias da Ordenança, fóra a do Couto de Manhéte. Todas as quintas feiras
dc
a48 TOMO PRIMEIRO p
de quinze em quinze dias tem feira. Defla terra, querem alguns fcffe natural
João das Regras , Chanceller mór do Reyno em tempo delRey Dom João o
Primeiro, & tronco da Cafa de Cafcaes, o qual reduzio a livros a Ordenação,
que depois poz em melhor fórma o grande Pedro Barbofa , natural dc Cami-
nha, por mandado de Felippe Terceiro. O feu termo tem as Freguefias feguiiv

tCS
Santa Eulalia de Cabanellas, Abbadia que foy do Padroado Real, & paf-
fou ao Conde fenhor da V ília, rende feiicentos mil reis com as annexas feguirv-
tes, tem oitenta & nove vifinhos. • \ o. ' | : V'
S. Gensde Macrome, V igairaria que aprefentao Abbade deCabanellasí,
tem quarenta vifinhos. . - -h, \
Santa Marinha de Olleiros, Vigairaria q aprefenta o mefmo Abbade, tem
cincoenta vifinhos.
S. Romão, Abbadia da Mitra, tem noventa vifinhos-
Santa Eulalia de Oliveira,ou Ulveira, Vigairaria do Convento deTibaês,
tem oitenta vifinhos. Aqui foy o Solar dos do appellido de Olveira, diverfo do
de Oliveira- - - '
S. Martinho de Gallegos, Vigairaria da Mitra, que rende fetenta mil reis,
& para o Hofpitalde S. Marcos de Braga os dizimos, que importão noventa
mil reis. Aqui ha ruínas de huma cafa antiga, que chamavão de Campos , em
que viverão fidalgos deíle appellido: tem fetenta vifinhos.
S. Veriflimo, Abbadia da Mitra, tem fetenta & dous viíinhos : o Abbade
deíia Igreja he obrigado dar de foro cada anno hum jantar ao Dom Abbade de
Manhente,decujo Couto he parte deílaFreguefia.
Santa Maria de Gallegos, Abbadia da Cafa de Azevedo, rende com a an-
nexa do Salvador de QuirázemBarcellos quatrocentos mil reis, tem oitenta
vifinhos-
S. Miguel de Roriz,Curado do Convento de Villar de Frades, tem cento &
rrinta vifinhos. i-
Santa Maria da Igreja nova, Abbadia da Mitra, tem fetenta viíinhos.
S. Salvador de Parada, Abbadia da Mitra, que rende trezentos mil reis , té
noventa vifinhos.
Santiago de Ataés, Vigairaria annexa a huma Conezia de Braga, tem oi-
tenta vifinhos. Aqui eftá a Cafa, & Torre de Outeiro de Poldros/ Solar anti-
go,q poíTuem ha muitos annos os Sequeiras,Soares de Aibergaria/enhores de
Prado, & por efta mefma aefcendencia a logra hoje , & feus foros Luis Gon-
çalves Coutinho da Camara.
S. Mamede de Eícaris, Abbadia da Mitra, ametade eftá nefte Concelho,8c
a outra no da Portella das Cabras : tem trinta vifinhos.
Fov efta Villa do Prado de vários fenhores , hum dos quaes iorao òs Se- "
queiras, Soares, que também fe chamavão de Albergaria , & Mellos,fenhores
da Torre, & Solar de Outeiro, que nefta Villa fe confervão em feu fãngue , o
primeiro dos quaes foy F ernão Soares de Albergaria , filho de Fernão Gonçal-
ves de Santar, criado delRey Dom Joio o Primeiro, que lhe deu Santar , Bar-
reiro, Canas de Sabugofa, & Senhorim, & de fua mulher Catherina Soares, filha
de Diogo Soares de Albergaria, fenhor do Morgado de S. Matthcus de Lisboa,
que perderão, por fe paífar aCaftella. Ho je he fenhor, & Conde do Prado L")õ
João de Soufa,cuja illuflre varoniahe a feguinte.
EIRey Dom Aftonfo o Terceiro de Portugal houve illegitimo a Dom
Mar-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA, MP
Martim Affonfo chamado o Chichorro, que cafou com Doti a Ines Lourenço
de Soufa, filha de Lourenço Soares de Valladares, & de D- Maria Mendes tie
Soufa, que era filha de Dom Men Gracia de Soufa , & de DonaTherefa Annes
de Lima, &defcendente por varonia do Conde Dom Mendo de Soufa , & de
Dom Sueiro Belfeguer, atè o qual contava dez illuftriífimos Avós. Teve efté
Dom Martim Affonfo Chichorro da dita fua mulher, entre outros filhos,a
Dom Martim Affonfo de Soufa Chichorro , que teve baíhirdo em Dona
Aldonça Annes de Briteiros, filha de João Fernandes de Briteiros,& de Dona
Guiomar Gil, a
Martim Affonfo de Soufa Chichorro , que teve de Dona Aldonça Rodri-
gues de Sá, filha de Rodrigo Annes de Sá, a
Martim Affonfo de Soufa, que caiou com Violante Lopes de Tavora, filha
de Pedro Lourenço de Tavora, de que teve, entre outros filhos, a
Ruí de Soufa, que foy Veador da Rainha Dona Ifabel, mulher delRey Dõ
Affonfo o Quinto, Almotacel mór delRey Dom João o Segundo, Alcayde mór
de Almeyda, fenhor de Sagres, & de Beringel, muito valente Cavalheiro,& va-
lido dos ditos Reys , & Embaixador delRey Dom João o Segundoa Caf-
tella, Inglaterra,& Féz: cafou fegunda vez com DonaBranca de Vilhena, filha
de Martim Affonfo de Mello, Guarda mór delRey Dom Duarte , fenhor de
Ferreira de Aves, & outros lugares, & Alcayde mór de Olivença , & de fua
mulher Dona Margarida de Vilhena, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Pedro efe Soufa, que foy fenhor de Beringel, Alcayde mór de Beja >
& de Alcácer, Capitão morde Azamor, ôclhe deuElRey Dom João o Tercei*
ro o fenhorio deita Villa com titulo de Conde do Prado por grandes fervi-
ços que lhe havia feito em Africa , & por outras muitas partes, de que foy
dotado: cafou com Dona Mecia Henriques, filha de Fernando da Sylveira, fe-
nhor de Sarzedas, & SovereiraFermofa,&Coudelmór do Reyno , da qual
teve a
Dom Francifco de Soufa, que morreo em vida de feU pay , & foy caiado
com Dona Maria de Noronha, filha de Diogo Lopes Lobo, Barão de Alvito, de
que teve a
Dom Pedro de Soufa, que foy fenhor da Cafa de feus pays , & fegundo
Conde do Prado: cafou com Dona Violante Henriques, filha de Simão Freyre
de Andrade, fenhor de Bobadella,& de fua mulher Dona Leonor Henriques>
de que teve, entre outros filhos, a
'Dom Francifco de Soufa, que foy Governador do Brafil, & Alcayde mór
de Beja : cafou com Dona Leonor de Menezes , filha de Dom Rodrigo de Caf-
tro*e Hombrinhos, Alcayde mór, & Commendador de Cea, & Capitão de Ca-
firfi, aonde cílava, quando a derrubarão, & largàrão aos Mouros, da qual te-
ve, entre outros filhos, a
Dom Antonio de Soufa, que ferviortefte Reyno, & no Brafil, & vindo para
Lisboa,lhe derão a Commendade S. Martha de Viana na Ordem de Chrifto i
cafou com Dona Maria de Menezes, filha de Dom João Tello de Menezes, CÔ-
mendador de S. Martinho de Sande da mefma Ordem, & de fua mulher D Ca-
therina de Menezes, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Francifco de Soufa , que foy terceiro Conde do Prado por mercê
delRey Dom João o Quarto, & fenhor de Beringel, Alcayde mòrdeBeja, Prefi-
dente do Confelho Ultramarino, dos Confelhos de Eílado, & Guerra, Meftre
de Campodehu Terço, Governador das Armas das Provindas de Entre Dou-
,5o tomo primeiro
i-o°& Minho, 8r Alentejo,Eílribeiro n.cr delRey DomJoão o Quarto , pri-
meiro Marquez das Mmas por mercê delRey Dom Pedro o Segundo & feu
Embaixador de obediência ao Papa Clemente Nono : caiou fcgunda ve z com
Dona Eufrazia de Vilhena, filha de Dom Fernando Mafcarenhas , primeiro
Conde da Torre, & de fua mulher Dona Maria de Noronha,da qual teve,entre

CUU
Dom Antonio Luis de Soufa, que hc quarto Conde do Prado > ^ %mdo
Marquez das Minas,fcnhor de Beringel, & noEftado doBrafil das \ lhas de
Guvari,& de NoíTa Senhora daEfcada,&Alcayde mor de Beja, foy Capitao de
Cavallos, Meftre de Campo de hum Terço, Sargento mor de Ba«ma , Medre
de CamDO General, Governador das Armas cm Entre Douio & Mmt.o, Gover
na^CapitãoGeneral
Macdalena de Noronha, filha de Dom Alvaro Manoel, íenhor da Villa de Ata
laya&,&dé Tua mulher Dona Ines de Lima,de que teve a Dom F rancifco de soj!j
fa o uefov quinto Conde do Prado, & morreo fcm fucceffao vindo do BraíL
com feu pay, Sc lhe fuccedeo fcu irmaõ Dom Joa° de Soeria^ que
de do Prado, o qual cafou com Madama Francifca deNeufuille , filha dos Du-
ques de ViUe Roy, Marquezes de Almcourt, da qual tem a Dom Antonio Luis
de Soufa, & a D. Maria de Nufuille de Coce-

CAP. XII.

T>os Coutos de Freiriíj Jl^vcdo, &• z^ídnbentc.


i •

O Couto de Freyriztem húa Igreja Parochial da invocação de Santa Ma-


ria, Abbadia que aprelentava Fernão Nunes Barreto, fcnhor do Morga-
do & Cafa de Freyrtz, & hoje fcu genro, & herdeiro DomF radique deMenc-
£?fenhordaBaLTndeírczemosmilrejs. Ten,^ -
&o luiz,que acaba, faz com o povo eleyçao annual do que llie ha de íucce
der fentencea no Civel, & Orfaos, com Efcrivão do Concelho : no Crime vay
a Prado. Fila Cafa de Freyriz he Solar antiquiífimo, febemnao falta quem di-
ga tomou eíle nome, por fcr vivenda de Freyres CavaJ[el^0S^o^euteyo
nhores do mefmo Couto: fcu Morgado he o mais groffo de milho, & centro,
que fe achará neíla Provincuupaffade ter fete mil alqueires de renda, & gram
Ts matas, cuftofas fontes, Jdocoufa magnifica com af
jas-Por aqui ha veíligiosde fortificaçoens antigas, e"tcn^?Sf ff[/ f •
Lurar as marchas dos Exércitos Romanos, que p
Kuma das cinco viasReaes, que da Auguíla Braga fahiao,& pelote aIca^iça
mos,foy eíla quinta também de Egas Paes de Penagate , & por caíamento
trou nos Penellas, fenhores do Concelho de Penella.
A Honra, & Couto de Azevedo tem oitenta vifinhos com huma Igreja 1 a
rochial,orago S. Salvador de Lama, com hum Cura que aprclcmao os Frades
deTibaens. Tem Juiz annual,que faz o que acaba por eleição do povo, aque
prefidemos fenhores da Cafa dc Azevedo, quenelle Couto efta o Solar de tao
illuilrcfamilia. ' q
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. iji
O Couto de Manhente tem cento & quarenta vifínhos com huma Igreja
Parochial da invocação de S. Martinho, que foy dos antigos Mofteiros de São
Bento defta Provincia, o qual fundou S. Martinho de Dume- Confervoufe
depois mais de trezentos annos com A bbades, & Monges : paiTou a Abbade
fecular, & fe unio ao Convento de Villar de Frades em tempo cio Arcebifpo Dõ
Luis da Cunha, fucceffor de Dom Fernando da Guerra. He Curado que apre -
fenta o Convento de Villar, rende feíTenta mil reis, & para os Frades duzentos
& cincoenta mil reis, fóra a boa quinta,que aqui tem : he Couto dos mefmos
Frades de Villar com parte das Fregueftasde S. Vcriflimo , S. Maria de Galle-
gos, & S.Vicente de Areas: o Reytor nomea Juiz no Civel, & OrfaÕs, a que af-
fífte hum Efcrivão da Villa do Prado, aonde vay o Crime. Tem huma Compa-
nhia da Ordenança, cujo Capitão faz o Reytor, como Capitão, fenhor , & Ou-
vidor do Civel. ElRey Dom Affonfo Henriquez fez efíe Couto , eftando no
Caftello de Faria. ♦

CAP. XIII.

T>o Conto de Cervaens, ou Filiar de Areas.

O Salvador de Cervaens foy Mofteiro antigo da Ordem de S. Bento",& fun-


dação do tempo de S- Martinho de Dume , paíiòua Abòadia íimples do
Arccbifpo, que rende duzentos & cincoenta mil reis : tem Reytor com cem
mil reis de renda, tudo aprefentação dos Arcebifpos, de quem he Couto, ame-
tade com Areas, pelo que fe intitula de Villar de Areas: tem cento & cincoenta
vifínhos, com Capitão à parte dos de Prado. Aífiílem ao feu governo Civil, &
Crime hum Juiz ordinário, Vereadores, Procurador , & Meirinho, feito por
eleição triennal do povo,& pelouro, a queprefíde o Arcebifpo, ou feu Ouvi-
dor, hum Efcrivão,que ferve em tudo, data dos Arcebifpos. Entrão lo nelle o
Juiz de Prado com vara alçada fobre matérias de Siza Real, com feu Eícrivão.
^uife fazem as melhores quartas, &: púcaros de beber , que deíie gtofíeiro
barro na Provincia feobrão. Neila Freguefía eftá Noífa Senhora do Bom Dcf.
pacho, a que deu principio pelos annos de 164.0. & tantos João da Cruz , na.
tural'de Monção, que era Ermitão de Noífa Senhora da Eftrella pouco mais
abaixo: meteo-a entre douspenedos,& nos recôncavos delles com ferventia
occulta os paífos da Paixão a#Chrifto, de modo, que vendofe de fóra, a todos
fe vav por dentro. He muy frequentada de romagem de muitas partes , & lhe
cantão varias cantigas, cada hum a feu intento. Aqui eftá 'a Torre de Goma.
riz, Solar antigo, de que he fenhor Francifco da Cunha da Sylva , Mcftre de
Campo, & Governador de Monção; fuccedeo nella a feu pay André Velho de
Azevedo , que por herança lhes veyo da Cafa de Azevedo , de que defcca-
dem.
S.Vicente de Areas, Curado do Mofteiro de Villar de Frades', tem qua-
renta vifínhos: he toda Couto cõ ametade de Cervaens, como acima diifemos,
Staoutraametade do Couto de Manhente. Ha aqui huma fonte, que na ma-
nhaã de S.João he bufcada de doentes, de que muitos farão.
S. Mamede de Efcariz, Abbadia da Mitra, tem feíTenta vifínhos. Tem mais
o ter-
2 -t TOMO primeiro
o termo vinte vifinhos na Freguefía da Alheira em Barcellos , & na Aloca de
F cbros Frcgueíia de Laje em Villacl.aa trinta vifinhos*

\ T

CAP. XIV.

Do Concelho de Entre Homem, &■ Cavado.

TE m cfle Concelho (cuja cabeça he a Villa de Amares) humalcgoa de cõ-


prido, que liC da ponte do Porto à ponte de Caldelias, 8c effiíkm ao leu
covert o Civil dous Juizes ordinários, oous Vereadores, hum Procurador do
Cot celhOjhumEicrrvãodaC ;n.ara,6t Aln otaçarta,humOiliribuidor,Conta-
dor, & Enqucredor, officios que ancáo unidos,tresTabcliaens do Judicial, &
Notas, hunt Juizdos OrfaósCom feu Efcnvao, hum Ouvtoor de vara branca;
todos tiles officios faõ da aprefentação da Cafa deCaílro , ccm jurildi-
cão de alimpar, £c apurar as pautas,&paffar cartas de ouvir aos Juizes , os
quaes pagão cento & cincoenta reis de penfoo cada anno,conforme: as doaçoes,
concedida a primeira porElRey Dom Affonlo o Quinto a Pedro Machado , fi-
dalgo da fua Cafa, & Trinchante do InfanteDom Fernando leu irmão , pay
■ dcIRey Dom Manoel,primeiro Donatário,Sc fexto avodo fegundo Marquez de
Montebello, Dom Antonio Felix Machado da Sylva &Caftro, quenoje vive,
o qual lie também fenhor dos direitos Rcaes do dito Concelho, & nelle prove
hum Cargento mór, Sc dous Capitaens da Ordenança: EIRey Dom Manoel lhe
deu forafem Lisboa aos 8-de Abril de 151 +. tem feira franca as pnmeiras
quartas de cada mez , mais huma a 8. de Mayo, Seno primeiro Domingo fe-
guinte, outra em 29. de Setembro diadeS- Miguel, Sc outrano omingo e
guinte, todas em Carrazedo.
Tem eíie Concelho as Fregueíias fegumtes, & he abundante de todos os
frutos - nelle eihá íituado o Couto deRendufe , que confia de quatro Igrejas
Parochiaes,aonde oMoíieiro deRendufe aprefenta hum juiz para as^couías
eiveis, &no crime do dito Couto conhecem as Juíhças do Concelho oe Aa^-

rCfc
' S.Martinho de Carrazedo, Abbadia que aprefenta o Marquez de Mon-
tebello, tem fefíenta &feis vifinhos, & huma Ermida deS- Sebaíhao , que he
meeyra à Igreja de S- Miguel de Fifcah . ,
S. Thomè de Perozello, Abbadia da Mitra dC Braga, tem oitenta vifinhos,
& duas Ermidas, S. Miguel o Anjo, & Noífa Senhora da Salvaçao.
Santa Maria de Ferreiros, Abbadia da Mitra, tem noventa & íeis vifinhos,
ôt duasErmidas, Santa Luzia, & Santa Catherina.
S. Salvador de Amares, Abbadia da Mitra, tem fefíenta & nove vifinhos.
S- Pedro de Figueiredo, Abbadia da Mitra, tem feífenta óttres vifinhos,&
quatro Ermidas, S. Sebaíiião, NoíTa Senhora da Conceição, Santo Aleixo, & S.
Veriílimo. „ ■
S. Salvador deDornellas, Abbadia da Mitra, temfetentaòc íete vifinhos.
Santa Maria de Coayres, Abbadia da Mitra,tem cento & quatro vifinhos,
& duas Ermidas, S.Bento,&S. Vicente.
S. Payo de Be-fteiros, Abbadia da Mitra, tem cincoenta & íeis vifinhos, õc
huma
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 253
huma Ermida de Santo Antonio.
S. Pedro da Portella, Abbadiada Mitra, temcincoenta & tres viíinhos, &
huma Ermida de S- Martha.
S. Lourenço de Paranhos, Vigairaria que aprefcnta o Reytor de S.João de
Coucieiro termo da Villa de Regalados, tem trinta & nove viíinhos.
S. Payo de Sequeiros, Abbadia da Mitra, tem trinta Sc nove viíinhos , &
huma Ermida de S. Sebaftião.
Santiago de Caldelias, Revtoria da Mitra , & Commenda da Ordem tie
Chriflo, tem oitenta & fete viíinhos, &eftas Ermidas, S. Scb^ítuo, a Senhora
da Mifericordia, S. Ouvidio, Sc S. Peroíins.
Santa Maria daTorre, Vigairaria que aprefenta o Reytor de São João de
Coucieiro, tem fetenta& cinco viíinhos, & numa Ermida de Santo Amaro , a
uai tem fua fabrica, que lhe deu o Marquee de Montcbello , Felix Machado
aSylva , com obrigação dehumaMiíTa cada anno cm dia de S. Felix.
S' Miguel de Fifcal, Abbadia da Mitra, tem cento Sc hum viíinhos, & húa
Ermida de NoíTa Senhora da Guia.
As Igrejas Parochiaes do Couto de Rendufefaõ asfeguintes.
S. Vicente do Bico, Abbadia da Mitra, tem quarenta & hum viíinhos.
A Santiífima Trindade da Capella, Vigairaria que aprefentão os Religio-
fos do Morteiro de Santo André de Rendufe, da Ordem de S. Bento, tem cen-
to & quatorze viíinhos, Sc ertas Ermidas, N oíTa Senhora das Neves , São Se-
bartião, & S. Bráz. Nefta Fregueíia eftá fituado o dito Morteiro de S. A ndrè
, de Rendufe, dirtãte da Cidade de Braga quafi duas legoas para a parte do Nor-
te, o qual fundou Dom Egas Paes de Penagate , hum dos principaes fidalgos,
que florecèrão, & acompanhárão a Corte do noífo Conde Dom Henrique, fo-
gro do feu Alferes mór Dom Fafez Luz: foy Morteiro grande , Sc ainda hoje
he dos principaes da Religião: tinha muitos campos, que fe beneficiavão por
ordem da Cafa, Sc feis quintas, ou granjas de grande confidcração, com quatro
Coutos,q lhederão os Reys antigos, a faber, o Couto de Rendufe, o deXava-
ríz junto à Villa de Regalados,o de.Paredes Secas no Cõcelho de Bouro,de que
era fenhor Dom Egas Paes, & o de Codeceda em terra de Anobrega.
S. Martinho de Lago , Vigairaria que aprefentão os Religiofos do dito
Morteiro de Rendufe, tem fetenta& cinco viíinhos, Sc huma Ermida de Santa
Martha.
S. Pedro de Barreiros, Vigairaria da aprefentação dos Religiofos do mef-
mo Morteiro de Rendufe, tem felfenta Sc tres viíinhos, Sc huma Ermida de Nof-
fa Senhora das Anguftias.
He fenhor defte Concelho Dom Antonio Felix Machado daSylva & Cart
tro, cuja varonia, & afcendenciahe a feguinte.
Da illuflre Cáfa dos Caftros de Fornellos, de cujos princípios damos no-
ticia em outras varonias, era neto Alvaro Fernandes de Caftro, que foy o pri-
. meiro que paíTou a Portugal, aonde cafou com Dona Ines de Vailadares, Penho-
rada quinta de Mantellaens,& de illuftre fangue,& teve delia a
Gil Alvarez de Caftro, que foy fenhor da Torre de Mantellaens , Sc da
terras de Coura; cafou com Dona Leonor Rodrigues Fajardo,filha de D.Vafa
Rodrigues , & de Guiomar Rodrigues de Mogueimes Fajardo , que era da fa-
mília dos Araujos, da qual teve, entre outros filhos, a
Pedro Alvarez de Caftro, que foy fenhor do Solar de Soeiro , & cafou cõ
Dona Mayor Rodrigues de Araujo Pereira , filha de Alvaro Rodrigues de
Y Araujo,
M4 tomo primeiro
Araujo, St de fua mulher D« Leonor Pereira de Barbudo , da qual teve, entre
outros filhos, a - .
João de Araujo StCaifro , que fe chamou de Araujo pelo Morgado de
fua mãy, St foy fenhor delias duas Cafas, St de outras terras : calou com Dona
Mayor de Soufa, filha de Antonio Vaz de Araujo, fenhor de Tor a,St de fua mu-
lher D. Violante de Soufa, da qual teve, entre outros filhos, a
Diogo de Araujo de Soufa StCaílro, que foy fenhor de Tora , St outras
terras: cafou com Dona lfabel Lobato de Zunhiga, filha de Antonio Fernandes
de Zunhiga, Cavaleiro de Galliza, & defeendente da Cafa de Sotomayor,St dê
fuamulher Dona Joanna Lobato, da qual teve, entre outros filhos, a
Manoel de Araujo de Soufa St Callro, que foy fenhor de muitas terras, de
que teveas jurifdiçoens,porcafarcom Dona Margarida Machado da Sylva , &
V afconeellos, que era filha de Francifco Machado da Sylva, fenhor de muitas
terras, St Commendador de S- Mana de Souzcl na Ordem de Aviz , St de fua
mulher Dona Maria da Svlva-, St como delia familia dos? Machados tomarão
eíles fidalgos o anpellido (porque ainda que a varoniafeja dos Caílros,o dito
Manoel de Araujo de Soufa St Caílroera filho fegundo, St fua mulher herdeira
da Cafa dós Machados, que defde o tempo delRey Dom Sancho o Primeiro de
Portugal atè ella confervou fempre a fua varoma) feria razãorefcnlla, fenão
fora contra o methodo que feguimos,Stfe não houvera livro delia mater .a
doutamente eferito por Felix Machado da Sylva Marquez de Montebello.
Do dito Manoel de Araujo de Soufa St Caílro , St de fua mulher D. Mar-
garida Machado da Sylva St V afconeellos foy filho Fel ix Machado da Sylva , q
foy o primeiro Marquez de Montebello em Italia, St fenhor das terras de fu-
tre Homem,&Cavado, St da Villa de Amares > comoutras muitas terras cm
EntreDouro, St Minho, & Commendador de S- joio do Coucieiro na Oídem
de Chriílo, o qual contava muitos illuílres Avôs por varonia , St pelos Ma-
chados era decimo-fexto neto delRey Dom Ramiro o Terceiro de Leão : foy
Cavalheiro de muito valor, St entendimento, como coníla dos feus elcritos: ca-
fou com Dona Violante dc Horofco St Lodçpa , filha de Dom Rodrigo de Ho-
rófeo Lodron St Ribeira, Marquez de Mortara com outros títulos, St lugares,
St de fua mulher Dona Vitoria de Porcia,da Cafa dos Condes de Porcia em Ale-
manha, da qual teve, entre outros filhos, que morrerão meninos, a
Dom Antonio Felix Machado da Sylva St Caftro, que he fegundo Marquez
de Montebello, St Conde de Amares em Portugal, por mercê de Fehppe Quar-
to, por ter fervido de Moço fidalgo à Rainha Dona Mariana-de Auftna lua mu-
lher, do Confelho delRey Dom Pedro o Segundo , fenhor das terras de Entre
Homem, St Cavado, das Cafas de Caílro, Vafconcellos, St Barroto, & dos So-
lares delias, Alcavde mór de Mourão,Commendador, St Alcayde mor das Co-
mendas, St Villas do Cafal, St Seixo da Ordem de Aviz ; tem fervido a ElRey
com fatisfação, St foy Governador em Pernambuco: cafou com Dona Luiza dc
Mendoça, filha herdeira de Manoel de Soufa da Sylva,que íervio deApoícnta-
dor mór, St foy Commendador de varias Commendas , St de fua mulher Dona
Joanna de Mendoça, da qual tem a Felix Machado da Sylva, herdeiro deíla Ca-
fa, a Dona Joanna Maria de Mendoça, St a Manoel de Soufa da Sylva-

o
CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. ijj

CAP. XV.

Do Concelho de Douro.

ESte Concelho tem onzeFregueíias, que abrangem defde o no Homem atê


o Cavado , & pouco alem do Homem para o Nalcente comprehende a
mayor parte da grande ferra de Geres., que nos divide deGalliza,em q ha neve
muita parte do anno, & por efpaço de cinco legoas atè Barrofo tem fóhum Ca-
faro mais tudo faõ montes A outeiros,em que ha quantidade de lobos , rapo-
fas, ginetas, martas, touroens, & outros bichos , & ferpentes, cabras bravas
com ferozes cabroens, que já dcfpenhàrão homens depois de feridos , muitas
corças, veados, javalis, & caça miúda : crião neílas penhas Águias Reaes , &
Ribeirinhas, Bufos, & Gaviães, grandes matas de varias caftas de madeiras, al-
gumas pouco conhecidas^ recolhe baílante pão, linho, muito feiião , vinho de
enforcado, caítanha, gados, manteigas, mel, & cera, azeite, boas frutas, & no
Cavado pefca de falmoès, lampreas, relhos, trutas, & efealhos. Teve vários
fenhores, atè que entrarão nelle os do appellido Coelho,dõdepaífou aosAze-
vedos por cafámento de Dona Aldonça Coelho com Diogo Gonçalves de A ze-
vedo, lenhor da Cafa de Azevedo, a que alguns chamão deCaffro, por ferfe-
nhor também deíla Torre,& Cafa em Entre Homem, ô< Cavado- Era eíla fi-
dalga filha de Egas Coelho, que paffandofe a C aft cila em tempo delRey D- João
o Primeiro, deu lá principio à Cafa dos Condes de Montalvo , deque também
defeendem os da Ventofa , o qual era filho de Pedro Coelho, Meirinho mór,
( muy valido, & do Confelho delRey Dom Affonfo o Quarto , com quem fe a-
chou na morte da Rainha Dona Ines de Caítro , pelo que ElRey Dom Pedro
o Juífiçofo lhe mandou tirar vivo o coração) & de íua mulher Dona Aldonça
Vafques Pereira, dos quaes foy filho Lopo Dias de Azevedo, que fervio mui-
to a ElRey Dom João o Primeiro, o qual por eftes ferviços lhe deu de mais de-
fies fenhorios, que tinha, os de S- João de Rey, Aguiar, Pena, & Jales com to-
dos os bens, & jurifdiçoens, que forão de João Affonfo de Beça- Succedeo
lhe em tudo, fora a Cafa de Azevedo, Joaõ Lopes de Azevedo feu filho mais
velho, & fempre por varonia todos feus defeendentes atè Vafco de Azevedo
Coutinho, que hoje os logra, & por eíte fenhorio he, & foraõ fempre feus an-
tepaífados Fronteiros mores da Portelia de Homem. He o foral em Sequey-
ros, aonde os moradores fazem eleição de Juize' ordinários para tres annos,
temdous Vereadores, & Procurador do Concelho, tudo por pelouro » a que
preíide o Juiz queacaba,&ofenhor da terra, ou feu Ouvidor lhes paffam Car-
ta de confirmação* quatro Tabeliaens , a quem anda annexo por diftribuicão
annual o officio de Efcrivaõ da Camara, Juiz dos Orfaõs , que também vay a
Santa Martha, com feu Efcrivão, ambos data delRey, Almotaceis feitos pela
Camara, & Meirinho annual por eleição do povo- Dividefe a gente em duas
Companhias, de que he Capitaò mór ofennor delia terra, q confia das Fregue-
fias feguintes.
S. Joaõ de Rio Galdo, que alguns dizem foy Commenda de Chrifto , he
Y ij Abba-
a5<5 TOMO PRIMEIRO
Abbadia da Mitra, rende trezentos & cincoenta mil reis; tem cento & cincoe-
taviíinhos.
Santa Matinha de Valdozende, Abbadia da Mitra,rende cento & vinte mil
reis, tem cem viíinhos: eíias duas Freguefias eftaõ junto do rio Cavado.
S. Joaõ do Campo, Abbadia do Padroado Real, rende cento & feffenta mil
reis, tem feílenta viíinhos: he terra de grandes nabos, & tem huma A Idea alem
do no Homem para o Norte,chamada Villarinhode Furnas,a qual eíla ao pe da
ferra de Gerês.
S. Payo da Carvalheira, Abbadia da Mitra, rende mais de trezentos mil
reis, com a annexa feguinte,& a doEfpirito Sãto de Villa Garcia : tem cento &
feffenta viíinhos. . .
Santa Marinha de Covide, V igairaria annexa à Igreja da Carvalheira, té
quarenta & cinco vifinhos.
Santa Marinha de V illar, Vigairaria do Moílciro de Rendufo, rende para
o Vigário ao todo quarenta mil reis, & para os Frades oitenta mil reis, tem cin-
coenta viíinhos.
Santiago de Chamoim, Abbadia da Mitra, rende cento & feffenta mil reis,
tem noventa viíinhos.
Santa Marinha de Chorenfe, Abbadia do Padroado Real, rende duzentos
& cincoenta mil reis, tem cento & quinze vifinhos.
S.João da Balança, Abbadia da Mitra , rende duzentos & cincoenta mil
reis,com a annexa feguinte, tem cento & dez vifinhos.
Santo André de Momenta, Vigairaria annexa à Igreja de S. João da Balan-
ça, tem vinte & feis viíinhos-
S. Mattheus, Abbadia da Mitra, rende cento&vint-e mil reis, tem feffen-
ta vifinhos. Aqui eftá a Cafa de Moure, a que chamão Paço, por fempre nelle
viverem fidalgos hõrados, como faõ os que hoje a poffuem do appellido de Aze-
vedo, defcendentes por varonia da Cafa de Azevedo j porque Martim Lopes
cie Azevedo fenhor delia, &fua mulher Dona Ifabel de Ataíde tiverão filho fe-
gundo a Miguel de Azevedo, Abbade de Gallegos, aprefentação da Cafa , do
qual naíceo Bento de Azevedo, pay de Miguel de Azevedo, que .o foy de Ben-
to de Azevedo, Guálter de Azevedo, Alexandre de Azevedo , Agoílinho de
Azevedo de Menezes, familiar do Santo Officio, & filhas, que hoje vivem neíla
Gafa de Moure, como feus avôs-

Couto de Souto.

NEfte Concelho de terras de Bouro eftá o Couto de Souto dá jurifdição


Real com titulo de Villa de Souto da Ribeira de Homem. Deu-o EI-
ReyDom A ffonfo o Terceiro a João Soares Coelho , como coníta da Monar-
quia Luíitana part. ç • liv. 16. cap-2- tem Juiz ordinário feito peio povo,& mais
Officiaes,a que por diftribuiçaõ annual vaõ efcreveros Tabeliaens defte Con-
celho. Defannexoufe da Cafa de S- João de Rey por exceffos, que hum fenhor
dellefezaoJuiz,que então fervia: confia de huma Freguefia da invocação de
S. Salvador, Vigairaria annexa à Abbadia de Sequeiros em Entre Homem , &
Cavado: tem feffenta viíinhos.

CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 157

CAP. XVI.

Do Concelho de Santa edJvlartha de Douro.

TRcs lcgoas da Cidade de Braga entre o Norte, ScoNafcente na ribeira


do Cavado, ( que pelo Meyo dia o rega em partes com aguas tam frias,
que congela os que nelle nadão) tem feu affento o lugar de Santa Martha , a
quem cingem pela parte do Oriente, & do Norte os montes da terra de Bouro ,
que o fazem abundante de caça, lenha, carvão, gados, cartanha, & pelcas de fal-
moens, relhos, trutas, bogas, ôtefcalhos no rio Cavado.Elie lugar he de bom
clima, dá muito pãò, azeite, vinho, & bellas frutas: em feu principio foy V illa,
de que achamos noticia no tempo delRey Dom AíFonlo Henriques ; tem Juiz
ordinário feito por pelouro, & eleição triennal do povo, a que prefidem o Cor-
regedor de Viana, & o Dom Abbadedo Morteiro de Bouro, Vereadores, Pro-
curador do Concelho, Meirinho, quatro Tabeliaens do Judicial, & Notas , to-
dos data delRey, os Almotaceis faz a Camara. Tem dous Capitaens, que faz
o Dom Abbade de Bouro, que he Capitão mór , preeminência que os Rey s lhe
concederão por hum grande recontro, em que aqui perto vencerão aos Galle-
gos em huma entrada que fizerão neffa Província. EIReyDom Affonfo Hen-
riq ues deu efta Villa, & Igreja de Sanca Martha, ôc Couto do Mofteiro de Bouro
com toda a jurifdição Real ao Abbade delIe Dom Nuno no anno de 1148. 5c
porque fe queimou o Cartorio do Convento, lha tornou a reformar a feu fuc-
ceffor o Abbade Dom Payo pellos annos de 1162. O mefmo fez feu netaEl-
Rey Dom Affonfo o Segundo, chamado o Gordo; mas feu filho ElRey D-San-
cho o Segundo lho quiz tirar, induzido de Dona Mecia Lopes de Haro fua a-
miga. ou mulher, a que acudio o Abbade Dom João, & com mil maravedis de
ouro,que lhedeu,Scimportavão pertodemil cruzados, lhe fez cm Braga ti-
tulo de venda a ?. de Junho de 12 56. com que lhe comprou o que ja era feu
por doação. ElRey Dom Affonfo o Terceiro feu irmão, nao dando erte contra-
to por bom, mandou derrubar os marcos do Couto, fobre que tiverão deman-
da os Frades atèoanno ds 1279- em que ElRey Dom Diniz leu filho eftando
em Lisboa a 19. de Março mandou levantar os Padroens, Sc rcftituir os Frades
àfuapoffe. Tem erte Concelho as Freguefias feguintes.
Santa Martha foy db Padroado Real, & a deu ElRey Dom Affonfo Henri-
ques ao Convento de Bouro, que nella aprefenta Vigário Religiofo, aonde aífif-
tetres annos com dezafeis mil reis de ordenado, ao todo oitenta mil reis, ren-
de aos Frades trezentos Sc c ncoenta mil reis: tem cento 5c oitenta vifinhos.
Santiago de Villela, Abbadia da Mitra, rende cento 6c cincoenta mil reis, té
oitenta vifinhos. .
Santiago de Goaés, Abbadia da Mitra, rende cento Sc cincoenta mil reis, te
cem vifinhos. . .t .
S. Payo de Saramil, Abbadia da Mitra, rende cento 5c vinte mil reis, tem
feffenta vifinhos. „ , „ Jf .
Santa Maria dc Paredes fccas, Abbadia da Mitra, rende feffenta mil reis,
Yiij tem
v58 TOMO PRIMEIRO
tem trinta vifmhos. Foy Couto do Convcntode Rendufe , mas com o tempo
íeperdeo. . ^ _
Santa Ifabel, Curado annexo ao Morteiro de Bouro, que o apretenta, tem
cincoenta vifinhos. Tem mais cite Concelho trinta & dous vifinhos na Jb regue-
fia de Valdozende^terra de Bouro»

CoutoConvento de Botiro. o j c

PGuco mais de meyalegoa do rio Cavado para o Nforte na mefnpr FfB-


aucíia de Santa Martha de Bouro, em hum recôncavo p, pejp,quah (e deípe-
nhaõdous ribeiros de huma alta ferra, em lugar íohtariQ , & poycç çpp»# &
cultura, houve antigamente hum Morteiro de Monges principio,
ou fim naõ fabemos, mas parece o aífolàraô os Mouros; fiça^. deftmparar
do por falta de fuftento,como a muitos tem íucçedido.
nas defte Convento , mas vivendo o Conde Dom Henrique havia alh huma
Ermida do ArcanjoS. Miguel, em que aílirtia luim Ermitão, ftp Monge .Bçpjrp
de exemplar vida. Faleceo de parto de huma filha Pppa Munia, Dama que havia
fido da Rainha Dona Therefa, & mulher de Payo Amado,que evaafageraçaõ dos
Coelhos por Dom Egas Moniz, como dizem miptqsi. Foy tal p lentimento der
fte fidalgo vendofe viuvo, que dando de mao ao munao, fe recç^eode Braga a
erte monte, a acompanhar o Ermitão em Servirem aDcos ; pedioihe o aceitaífe
cm íua companhia, o que alcançou delle,yçrt indolhehum habitp g^ífeiro fçmer
Ihante ao que trazia: continuàraõ em fuas devoçccns, & penitencia com ugvtal
fervor; & fahindohuma noite Payo Arpado fora da cclV, vio.nçf yalle abaix.p
donde eflavaò,tiro de arcabuz, huma grande claridade , dequfi-dftu parte.,30
Mertre,&na feguintenoite avigiàraõambos;vendoufegunca- V£?jçlepiarcà-t
raõ olu°ar, em que fe deixava ver. Ao outro dia indo alli, ach^r^o hufpa fer»
mofa in!agem de Noífa Senhora de mediana grandeza obrada empedra :.mudà-
raõfe para aquelle novo fitio, sonde fizeraõpor íuas maõs outra.Ermida , em
cue a collocàraô; atégorarunca levou pincel,nem reçebeiWJ;inta : appellir
dafe Noífa Senhora da Abbadia, inveerçaõ que tcmou dps Abades Bentos>
cue alliviviaõemcommunidade com mais Monges; pois no aunp.de 1107. far
hiraõ daqui tres para ajudarem, a povoar çnpvo Morteiro de Rendufe,& tenho
por indubitável, q erteErmitaõeraReligiofode S.Beto.ForaÒ tãtos os milagres,
que a Senhora da Abbadia obrou, que o Arcebifpo que çntaõcra de Braga nam
id lhefez mayor Igreja, mas a proveo de bons ornamentos ; augmpptoufe dç
Eremitas, ou Religiofos,& falecido O primeiro Abbade Ermitap, lhe fuccedeo
Pavo Amado,&aefte Dõ Nuno,a quem ElRey Dom Affonfo Henriques,vindo
a erte Morteiro, fez Couto, & deu a Villa, & Igreja de Santa Martha de Bouro
no anno de 114.8.& no de 115 8- lhe deu os dízimos do f§l da Villa de Faõ,
que naquelles tempos fe fazia nas marinhas defta Província- Se ainda vivia
Payo Amado, quando o dito Rey Dom Affonfo Henrique^ incitou eftes Reli-
giofos a que mudaffem fitio para baixo muito menos de meya legoa aonde
ertavao Convento de Bouro, ^ctpm^ffem o habito de S- Bernardo , naõ alcan-
çamos- Frey Leaõde Santo Thomas naBenedictina Luíitana tradf. i-part. 2.
cap-1. diz, que no anno de 1139* principiàraõ o Real Convento de Bouro,pa-
ra onde vieraõ os Monges de Alcobaça, tk a Dom Payo hum dçrtps Rejigiofos,
tome de fama vida,.fecceí% na ^bbadia a D. N uno,çonfirmou ElRçyo Couto.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 259
He o orago deite Moiteiro NoíTa Senhora da Annunciaçaõ, fermofo tem-
plo, mda por acabar, he Cafa de Noviciado, & nelle aífiitem quarenta Religio-
lbs. Haverá oitenta & tantos annosfefez Freguefia, defannexando paralfiò/
humas Aldeãs, que temfeíTentavifinhos,aos quaes adminiítra os Sacramentos'
hum Rcligiofo com nome de Vigário, due tem doze mil reis de renda,fcm obri-
gação de dizer pelos, freguezes as MiífasConventuaes , porque eíTas tocaõ
30 Vigário de Santa Maj.tha> de quem eítas Aldeãs eraõ : rende quatro mil
cruzados, aílim em foros, como dízimos deitas duas Igrejas, & dê fete mais
pa Vallariça de Trás os Montes com feis Curas, & hum Confirmado , a faber
Santa Comba, Bemlhevay,aTrindade, Villarelhos, Santa Juíta, a Oucizia , &
outra,em que aprefenta Parochos oDomAbbâde, & antigamente tinha jurií-
diçaõ efpiritual, & temporal; todas eraõ huma A bbadi a, que ElRey Dom San-
cho o Primeiro deu a cite Convento , & rendem fetecentos & cincoenta mil
reis. Aqui eítá fepultada Dona Maria Paes Ribeira amiga do dito Rey , mas
com a mudança da Igreja naõ fefabe a parte em que eítá, fendo que por feus
afcendentes Ozorios lhe tocava parte deite Padroado.
Eítebe o Couto de Bouro, em que o Dom Abbade faz Juiz ordinário no .
Civil, por eleição annual do povo , a que vem aífijtir oEfcrivaõ da Camara de
Santa Martha, & os do Judicial, & Notas às Audiências por diítribuiçaõ ; o
Crime toca ao de Santa Martha, aonde he Capitão mor o Dom Abbade. Di-
zem tiveraõ Breve para em tempo de guerra poderem os Abbades deita Cafa
dizer Miifanos Exércitos fó com Cogula, & trazerem pagem de armas em fi-
nal do poíto; naõ fe faz aqui gente fern Carta dei Rey :o Abbade acode cõ ella
aonde lhemandaõ a faça; & tam fenhores faõ, que fe algum vaífallo for fervir
qualquer fidalgoPortuguez fem ordem fua (exceptuando a ElRey ) íem que
primeiro fe defnaturalize deita terra, lhe podem confifcar os bens para o Cõ-
vento, como fe fora outro grande crime- Grandes duvidas tem t ido com os
noffos Reys fobre eíte Couto, que por doaçoens, St compra lhes toca , como
ultimamente fedecidio. 7 em boas laranjas da China, & faõ muy celebradas as
b.iç.aes,por terem pouco de azedo; recolhe baítante paõ, vinho, azeite, caíta-
nha, gado de toda a caíta, caça, & peixe. Junto às Caldas da Rainha tem hum
prazo„que andou na Cafa de Odreira,&hojehe deite Moíteiro: eítá em hum
monteia que chamaõ a Serra do Bouro.
sup . |

-7 CAP. XVII.

ÍX,
Do Concelho de Soajo.

Inco legoas da Villa de Ponte de Lima para o Nafcente, entre afperos,


C St altos montes ao Norte do rio Lima, aonde eíta Província fe divide do
Reyno deGalIiza pelo pequeno, mas arrebatado rio de Peneda, (cujas inunda^
çoens de Inverno o fazem caudelofo) temfeu aífentoaVilla de Soajo, cabeça
cie iua Montaria, & Concelho; fempre foy, & he delRey com tam amplos privi-
légios, que naõfó faõ ifentosfeus moradores de todos os tributos,íalvo Siza,
& Ufuabmas nunca pagàrãopalha,nem derão alojamento, nem Soldados no
tempo
i<So TOMO PRIMEIRO
tempo da guerra, a quenaofaÓ obrigados ir ienaõ comElRey, quando elle pe-
lo m efn.o Concelho a faça: veítem burel r.a lavoira,&:nos dias de feita çarago-
' ça com fapatos de correa,&polaynas. Tem bons rafeiros, a que chamao ia-
buios,ccm que guardão os gados, & pagão a El Rey cinco cada anno , <x hum
cruzacodcs pálios da Peneda,íem mais outra coufa:ôtporq algus lenhores das
C afas de Araujo, & da de Lobeos em Galliza, depois que í"e paífár ao ao íerviço
dos noffos Reys , vivião nefle Concelho alguma parte do anno com regalia,
inquietandolhe mulheres, & filhas, & tomandolhes os caens ; ie queixarão a
EIRev, que logo lhes mandou vendeffem o que alli tinhão , & não moraílem
mais neffa terra,nem outro fidalgo, ou poderofo em nenhum tempo tiveite
relia bens, nem podeífe eftarde alfento mais que em quanto hum pão quente
arrefeceífe no ar na ponta dehuma lança j o que obíervão pontualmente. De-
viãoos Reys attctar a feusmerecimentos em algúa occafiaÕ,ou àafpereza dos
. montes que habitão. Entendemos que o primeiro que lhe concedeo cites pri.
vilegios foy EIRey Dom Diniz, quando aqui efteve vendo obrar o Caítello de
Li ndofo, que lhe fica defronte, aonde hia ver o como creicia a obra : ie bem
outros queremfcfleEIRey Dom Joaõ o Primeiro , em cujo livro íegundo íe
^ acha hum privilegio paliado a eftes Monteiros, que também o coníervaõ , em
que nenhum Cavalleiro (entendefe fidalgo ) poifai alli viver ; & logo nelle ex-
preífamente nomea a Ruí Gonçalves de Pedrofo,filho de Pedro A nnes de rau-
ío : a eranaõfe pode ler, & aílim fe enganou o Marquez de Montebcllo no Me-
morial fob 70. em dizer que eftc Rey o paffáranoanno do Senhor de 1439.
pois elle faleceo no de 1453. c . „
Tem eíte Concelho grandes matas, & dilatados trotados, em que le cria o
muitos lobos grandes, a que chamaõ Afnaes, & outros mais pequenos, chama -
dosCervaes, muitas rapofas, martas, ginetas, & touroens, javalis,veados,ca-
ca miúda, muitos gados de toda a caíia,& quantidade de bom mel , & c.cvâ>
produzmuito centeyo, milho, & he de taõ bem clima eíta terra , queovinno
he ornais temporaõ da Província, & o centeyo femeafe em Janeiro, &íe colhe
mais cedo que em cutras partes :he bem prov ida de falmoens^ , algun.as lam-
preas, grandes trutas, relhos, bogas, & efealhos, que fe pcícão no Li ma , <5c
nos regatos- Tem Juiz ordinário, dous Vereadores , & hum Procurador do
Concelho, eleição triennal do povo com pelouro , que antigamente fazia o
1uiz,que acabava, & o Corregedor lhe paífava Carta fem entrar na terra, o que
hoje faz, prefidindo âs eleiçoens. Tem mais dous Elcrivaens , que fervem em
tudo: eftes podem fer nobres, & de fórado termo, faõ data delRey. Todo o
termo fazhuma Companhia, de que hc Capitão mor o Juiz, & iazem feus alar-
dos na forma do Regimento da guerra , deque toma conta o Monteiro mor,
que tenures reis década Soldado que falta* Eíie Monteiro mor he tambe
natural deRa terra, & procura os montes, conforme o feu Regimento , trazen-
do em fua companhia doze Efpingardeiros. Confia das Freguefias fegum-

S. Martinho de Soajo, Abbadia do Padroado Real, rende trezentos & cin-


coenta mil reis para o Abbadeccm a annexa de Gavieira, tem trezentos & cm.
coentavifinhos.
Sí Salvador da Gavieira, Curado que aprefenta o Abbade de Soajo , tem
cento & vinte & cinco vifinhos* Aqui entre afperas ferras ao pe de huma altií-
fima, & precipitada penha foy achada,ha muitos annos, em huma lapa,Noíla Se-
nhora da Pcneda. He tradição, que a defcobríra hum criminofo natural de
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 161
Ponte de Lima, que acoçado da Juftiça paíTava miíeravelmente a vida entre ef-
tes folitarios boíques, fervindolhe as feras de companhia ; Sc neftes termos
.bem fe pôde prefumir o quanto paliaria defgoftofo,& mal tratado, caufa de re- ,
correra Deos com penitencias, acompanhadas de grande arrependimento, do
que he evidente prova o coníentir a Senhora qellè fodeo primeiro que a vif-
fe, depois de tantos annos eftar occulta- He de cor morena, & o corpo menos
de palmo com o Menino Jefus no braço : he imagem milagrofa , &dc grande
romagem todos os annos defde cinco de A godo até o dia de S. Lourenço.
Santa Maria deErmelo , foy Morteiro de Frades Bentos,fundado pelos
annos do Senhor de 628. ho je he Curado annexo à Igreja de NoíTa Senhora do
Valie no termo da Villa dos Arcos, & o apreíenta o Abbade delia : he Igre ja
fumptuofa de duas naves, tem no Altar mor pintado na parede hum fermofo
retrato de Nofla Senhora, &huma imagem de S-Bento , pela qual obra Deos
muitos milagres. Ainda hoje junto defta Igreja fe confervão algumas cellas,
em que os Frades vivião em communidade, Sc vertigios de outras, que já fe
desfizer».

CAP. XVIII.

T>o Concelho de Coura.

EStá erte Concelho entre os termos das Villas de Ponte de Lima,Monção,


Villa-nova de Cerveira, Valença, Arcos, & outros,quafi em igual diftan-
cia, aonde fe levantão huns altos montes, a que de todas as partes fe fobe , Sc a
meu ver faõ os melhores, não fó de Europa, mas do mundo todo, que regados
de muitas fontes de frias, Sc delgadas aguas , de que fe formão muitos ribei-
ros, os faz pingues, para darem groífos partos de gados, &egoas de criação,&
boas mulas, de que Portugal íe provê. He fértil de trigo, centeyo, milho , Sc
feijão de toda a carta, linho Mourifco,&Gallego em quantidade , muita caça
miúda, veados, javalis, frutas muy gortofas, Sc muitos ladicinios,natas, Sc mã-
teigasem tanta quantidade,que fervem de mantimento todo o anno a feus mo-
radores, emqueentrão muitos nobres*, he bem provida de trutas, algumas bo-
gas,& efcalhos. Tem Juiz ordinário com tres Vereadores, & Procurador do
Concelho, feitos por eleição triennaldo povo,& pelouro,a que prefide o Cor-
regedor de Vianna, Efcrivão da Camara, Sc Almotaçaria, Juiz dos Orfaõs, Ef-
crivão, Dirtribuidor, Enqueredor, Sc Contador, todos data delRey: cinco Ta-
beliaens,&hum Alcayde,datado Vifconde de Villa-nova de Cerveira, fenhor
defta terra, & Concelho, o qual temasFregueíias feguintes.
Santa Maria de Paredes, cabeça defte Concelho, he Abbadia que aprefen-
tao os Vifcondes, rende cento & cincoenta mil reis , tem cento Sc vinte vifi-
nhos,&huma Igreja do Efpirito Santo com Irmandade dos Sacerdotes, & lei-
gos, que tem mais de dous mil irmãos.
S-Pedro da Cartanheira,Abbadia dos Vifcondes, rende cento & cincoen-
tamil reis, tem cento & doze vifinhos. Aquiha huma Capella, que châmãoN.
Senhora de Goniróde, à qual o Arcebifpo Dom Frey Baltnefar Limpo applicou
os
i6i TOMO PRIMEIRO
os dízimos, & moradores da Aldcade SolmU,dcfannexandoos da Parochia, &
deu cila renda, & direitos Parochiaes a Heitor Leão de Lemos íeu parente , q
era natural da Cidade do Porto, filho de João de Leão, & de lua mulher liabcl
' Soaia de Len.os, cue viverão na Rua Eícura: cafou com Dona Ines de Lima de
Mello, filha de Francifco Caldas de Soufa , &de fua mulher Dona Felippa de
Lima, Penhores da Cala deVafcoens : fuccedeolhes nefta Capella íeu lho ,aí-
par de Lima de Mello, que cafou em Barcellos com Dona Felippa de Araujo,
filha de Pedro de Araujo o Podre de alcunha, & de fua fegunda mulher Ilabel
da Cofia Botelho, dos quaes foy filho Manoel de Lima de Mello, que inda vi-
ve junto a V iaina, & cc-me a renda defia Capella,em que aprefenta Capellao pa-
ra os freguefes, que de prefente faõ vinte & dous-
S- Joaõ de Bico, Abbadia dos V ífcondes, rende duzentos mil reis,tem cen-
to & quarenta & dous vifinhos- .
S. Miguel de Criftello, Abbadia dos Vifcondes, rende cem mil reis, tem
fetentavifinhos. ■
S.Martinho deVafcoens, cujo oragoheS. Pedro, Abbadia que apreien-
taõ os herdeiros de Gabriel Pereira de Caftro pelafamilia de Caldas , de que
ceícendem, & legundo entendemos,tem aqui o feu primeiro Solar, depois que
entràraõ ncfte Reyno, em tempo delRey Dom P ernando, para quem íe paífáraõ:
tem fefienta vifinhos-
S. Pero Fins de Parada, Vigairariada Mitra, rende fetenta mil reis,& ou-
tro tanto os dizimos, que comem as f reyras de S. Bento de Víana, tem íetenta
"vifinhos. - . ,
Santa Maria de Enfalde , Abbadia dos mefmos herdeiros de Gabriel
Pereira de Cafiro , rende duzentos mil reis , tem cento 8c cincoenta vifi-
nhos. "j - ,
S. Salvador de Rezende, Vigairaria que aprefenta o Abbade de Cunha,dc
quemhe annexa,temtrintavifinhos. ,
S.Miguel das Porreiras, Abbadia que aprefentaõ in folidum os filhos dc
Heitor Barbofa de Lima, tem quarenta vifinhos.
S. Payo de Mozellos, Abbadia da Mitra com ametade dos frutos, rende
cem mil reis, a outra ametade he Beneficio fimples , data delRey pela Cafa dc
Villa Real, renderá quarenta mil reis, tem oitenta vifinhos.
Santa Marinha de Padornello, Abbadia do Vifconde, ametade dos frutos
faõ do Abbade, & a outra ametade he Beneficio íimples da Cafa de Villa Real ,
que aprefenta Sua Magefiade, tem noventa vifinhos.
S. PedrodeFormariz, Abbadia dos Vifcondes de Villa nova de Cerveira,
rende duzentos & vinte mil reis, tem cento & cincoenta vifinhos. Aqui efiá a
quinta de Boy, 8c monte, de que he fenhor Belchior Barbofa de Lima.
Santiago de Infefia, Abbadia, cuja ametade aprefentão os A rcebifpos de
Braga,& a outra ametade he Beneficio fimples da Caia de Vília Real: tem cento
& cincoenta vifinhos. .
S. Mamede de Ferreira, Abbadia dos herdeiros de Gabriel Pereira de Ca-
firo pelos Caldas, rende trezentos & vinte mil reis, tem duzentos vifinhos.
Santa Marinha de Linhares, foy Abbadia da Cafa dos Antas , hoje he da
Mitra, rende cem mil reis, tem íetenta vifinhos.
Santa Maria deCoffourado , Abbadia que aprefentão alternativamente
Manoel Ferreira d'Eça Machado de Guimaracns , 8c Agofiinho Pereira de An-
tas de Fontouro, rende duzentos mil reis, tem novéta vifinhos , 8c huma Er-
mida
D A COROGRAFIA P O RT UGUEZA., te-
mida de SaõBenco, imagem milagrofe.
S. Payodc Agua Longa, Abbad a dosVifcondcs Com oppoíição de Dom
João Manoel de Menezes pelos Antas., de cuja família he fua mulher D; Frah-
cifca, à qual, 6c a outras geraçoens dizem tocava : mas he certo que a mayor'
parte dos Padroados tem os ViícQndes por doaçqens: rende com a ametade de
Romarigaes cento 6c vinte mil reis, tem fetenta vifmhos.
S.Pedro de Ruviaés, Abbadia dos Vifcondes,pnde cento & oitenta mil
reis,tem cento 6c quarenta vifinhos.. Aqui eífá a Aldeã de Antas, que antiga-
mente foy Villa, 6c tcmhuma Caiados que delia forão Penhores : he Solar dos
Antas, íkapoífuem CaV.afteiros honrados defta família , filhos de Francifcò
Soares de Novaes. Procedem os Antas de Mendo Affonfo de Antas, que foy
fenhor do Vimieyro item por Armas em campo vermelho feis lifonjas de pra*
ta em Cruz,'as quatro em palia 5 timbre huma Anta dc fua cor. Ha nefta Aldeã
huma Capella antiga do ApoftolôS-Bertholameu , que dizem fer obra dos Pe-
nhores defta Cafa.
S. Martinho da Coura, Vigairaria annexa à Igreja de CoíTourado , cujo
Abbade a aprefenta, rende fetenta mil reis, 6c para a Matriz cem mil reis : tem
noventavifinhos. NaPortella da Buftarangalevemveftigios de hu forte cha->
mado o Crafto, que pelo nome moítra fer obra dos Romanos.
Santiago de Romarigaes, Vigairaria com alternativa do Abbade de São
Payo de Agua Longa, 6c Arcediago de Labruja, que amoos comem os frutos ,
rende fetenta mil reis, 6c para o Abbade, 6c Arcediago cem mil reis: tem cen-
to 6c quinze vifinhos. Aquieílá hum monte, que chamão a Cidade do "Penedo
do Curral de Egoat-, moftra veftigios de grande fortificação com tres linhas y
outros tantos foífos,eílradasencubertas,6c no msyohum Caftello. lambem
na Portella da Labruja entre efte Concelho, 6c o de Ponte de Lima fe vem run
nas de outra grande praça,a que chamão a Cidade da murada , fem dizerem
quem as deftruío. Nefta Freguefta, 6c em todo efte Concelho ha muitos ho-
mens, 6c mulheres, que vivem larga vida , paífando muitos de cem annos até
cento & trinta.
Santa Maria de Cunha, que antigamente fe chamou de Colinâ, he Abba-
dia da Mitra, que fe compoem da ametade dos frutos da Fregueíia , 6c dos d<3
duas annexas, que faõ a do Salvador de Rezende, 6c a de Mentreftido em Vil-
la-nova de Cerveira. Efte Padroado deu a Rainha Dona Tharcfa com feu filho
ElRey Dom Affonfo Henriques a Dom \ffonfo BifpodeTuy , 6c àquella Sd
em 3.de Setembro da erà de 1163. que he anno do Senhor 11 jf. rendem to-
das duzentos mil réis; a outra ametade he Beneficio fimples , foy dos dous
Morgados de Bertiandos, agora fó o aprefenta Francifco Pereira da Sylva ^fe-
nhor de hum daquelles Morgados 5 rende o dito Beneficio cem mil feis , têm
cento & quarenta vifinhos.

CAP,
tomo primeiro

CAP. XIX.

Do Couto de S. Fins.

T Res lcgoas da Villa dos Arcos entre o Norte, & Poente, na raya de Ga-
liza, a quem divide o rio Minho, tem feu affentoo Couto de Fins,que
antigamente foy unido com Coura atèotempodelRey Dom Sebaíiião. Tem
Juiz'ordinario, dous Vereadores, & Procurador do Concelho, eleição trien-
nal do povo,aquepreíidc o Corregedor por ElRey. de quem he o Couto , &
Almotaceis, q faz a Camara^ Recolhe pão, vinho, muito mel, cera,caça, gados,
e°oas, veados, & boas pefcas no Minho. Neíte Couto tiverão os Frades Bé-
tos hum Convento chamado de S. Fins das Freitas, pelas que fazem ao Sol as
repetidasdivifoens dehuns altos montes , & eílava ja t andado pelos annos
do Senhor de 566* Dizem foy S.RGzendoAbbade deite Moiteiro, cuja virtu-
de tranfplantou no de Cella nova,que fundou. Floreciacom grande Religião
no anno de 1023.& logo emfua fundação entendemos foy fenhor deite Cou-
to , ou ao menos no anno de 1 i72.emqueElRey Dom Affonfo Henriques
lho deu, & demarcou, no qual não tinhaõ outra juítiça mais que o Mordomo,
&asqueítoens decidiáo os Abbades verbalmente; & ou foffe então todo hum
com Coura, ou logo dividido, accõmodaraõfe os moradores com as juítiças de
Coura,em que de quinze em quinze dias lhes vieffem fazer audiência-^ Entra-
rão neíte MoíteiroCommendatarios,&pondofe emeítado , que já não tinha
mais de tres,ou quatro Monges pelos annos de if+f-em que trazendo a e'-
te ReynoElRey Dom João o Terceiro os Padres da Companhia , para have-
rem de fundar na Univeríidade de Coimbra hum Real Collegio, em que cníi-
naíTem artes,entre as mais rendas que lhe applicou, foy cite Morteiro com
fuas Igrejas, & Coutos, que tudo era do Padroado Real, & ainda alli ha huma
cafa, a que chamãoaTorre,em que os Reys antigos mandavão prender algua
peífoa orande. Para cita doação concorreo o Summo Pontífice Paulo Ter-
ceiro com Bulias Apoítolicas, pelas quaes tomàrão poTe os ditos Padres no
anno de 1 y+8. faõ fenhores univerfaes de todas as Parochias , & terras do
Couto, excepto algumas, que nos tempos paífados dos Monges fe alienarao:
coafervaõ o dito Mordomo, ou Porteiro , & faô reconhecidos cada annope-
loínontados,& baldios com o primeiro veado, corço , ou javali, que nelles
mataõ, & com o primeiro peixe, falmaõ, folho , ou truta mariica,que no Mi-
nho pefcaõ naquelle deítridto, fóra o quarto de todo, & o de Lapella em Mon-
ção. Tem privilégios para no Couto naõ morar homem poderolo.o que jaie
naõ obferva, & que os moradores delle naõ feráõ obrigados irem à guerra, por
quãto he feu encargo guardarem no Minho o Váo de Carrexil no meímo ter-
mo. Impor taõ os labidos, que fe pagaõ a eíte Moíteiro, trezentos & vinte mil
reis, & os dizimos das Igrejas do Couto quatrocentos mil reis , tora as que
eítaõ em outros Concelhos, que ao todo ferá hum Conto. Tudo vay para o
Collegio de Coimbra, deixando fó côngrua para hum Superior, & dous , ou
tresjRcligiofos, que ordinariamente aqui ailiítem. Chamafe $• Fins por huma
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 265
Ermida em que eftava S. Felix Martyr deGirona,pouco acima do Mofteiro, a
que chamaõ St Fins o Velho: alii tem íua fanta cabeça, que preferva de rayvar
aos mordidos de caens danados., quando a bufcaò para remedio,5i reliquias dc
S. Rozendo, & outras, que fe naõ fabem de que Santos fejaõ.
As Igrejas defte Couto faõ o Mofteiro de S. Fins, S. Chriftovaõ deGon-
domil, aondeeftáhumaTorre com fór:>s fabidos annexosà.Caía de Agra, que
dos Abreus, fenhores de Regalados, fe defannexou por íucceíTaõ, St pela mef-
ma fe unio àdeSoutomayor, Condes deCrecente, Marquezes deTcnorioem
Galliza: naõ alcançamos que Solar foífe, mas que feria dos fenhores do Couto,
St que entrandoem tudo os Vifcondes, dariaõ efta Torre em cafamento com
filha fua aos Senhores de Regalados, aonde cafàraõ algumas. Santiago de Boy-
vaõ, em cujo deftridlo eftaõ ruínas de hum Caftello, a que com difficuldade fe
fobe; huns lhe chamaõ da Forna, outros a Penha da Rainha, & os mais o Caf-
tellodeFrayaõ , aonde as jufliças de Coura fe ajuntavaõ a fazer audiência à
gente daquelle Concelho, St defte Cpúto,antes que de todo fe apartaífem hum
do outro. S-Mamede, St S. Marinha de Verdoejo , que algum tempo fe cha-
mou S. Martinho. Emeftas cinco Parochias aprefenta o Coilegio de Coimbra
Curas annuaes, &rcderá a cada hú mais de quarenta mil reisjem todas ha qua-
trocentos & vinte homens, que antigamente fe dividiaõ çm duas Cõpanhias,
que provia o Mofteiro, hoje faz a Camara Capitaõ, andão em huma de famo-
fos foldados,como neftas ultimas guerras com Caftella o moftràraõ , fendo
pcu Capitaõ Gafpar de S. Miguel da Gama- Eftaõ no deftridto defte Couto no
meyo do rio Minho duas ilhas, a do V erdoejo, & a de Lagos de Rey , em as
quaes pafta muito gado, St fe colite algum paõ.

CAP. XX.

Do Concelho de dl berraria de Denella.


o

DUaslegoas dePõte de Lima,& tres de Braga eftá íítuada Albergaria,


cabeça do Concelho, que delia toma o nome. Dizem que antigamente
era todo hum com odaPortella das Cabras , como fe vè na demarcaçaõ que
ha entre hum, & outro, & fe corrobora o que fediz , que fendo todos dos
Caflros,lhe tiràraõ os Reys a ametade da Portella das Cabras, para darem a
outros, St depois à Cafa de Bragança. O primeiro fenhor defte Concelho
foy Dom Frey Alvaro Gonçalves Camello, Prior do Crato, & Meirinho mór
defta Provincia,que o perdeo,St tudo quanto tinha nefte Reyno, por fe paíTar
a Caftella em tempo delRey Dom Joaõ o Primeiro, hoje faõ fenhores delle os
Caftros, fenhores de Roriz, Rozendo, & Bem viver , Almirantes do Reyno ,
Caías que hoje poífue DomFrancifco de Cafíro, cabeça por varonia dos que
trazem por Armas em campo de ouro treze arruelas azuis em tres palias , Sc
por timbre meyo Leaõ de ouro com fete arruelas azuis no peito. Tem hum
juiz ordinário, dous Vereadores, & Procurador do Concelho , eleição trien-
nal do povo, & pelouro, a quepreíide o Corregedor de Viana , quatro Tabe-
liaens, que fervem alternativamente na Camara, St Almotaçaria, os quaes apre-
2 íenta
166 TOMO PRIMEIRO
finta o fenhor da terra.tjuc nomea trcs Meirinhos, & a Camara clcolhe hum.
Tem Dtftribiiidor,Enqueredor , Sc Cor tador, & Juiz dos Orfaos com eu F. -
crivaõ,data delRcy,dc hum Cap.taõ mor com duas Companhias- Reco.he ba-
ilar te paõ de milho, centeyO, Sc jaõ, vinho verde, quafi todo de enfoi cado,
algum azeite, muitas hervagens , bons paftos nos montes com criaçoens de
egoas, muita caça meuda, porcos bravos , veados, rolas,Sc p -C<?as no Pe9ue.
rio Netva, com grandes matos abundantes de lenha. Tem as Freguefias e-

^ S- Pedro de Calvello foy 4 bbadia do Padroado Real., hoje he Commends


deChrtfto,& Reytoria da Mitra, que renderá ao todo cento & çincoenta md
reis, & pai a o Gommendador com a annexa de FreefteUas , & foros quatro-
certos n.ft reis, tem cento St fetenta vifinhos- Eftá nefta Freguefia o Morga-
do, StCafa de Mareffe, que a meu ver he a quem o C onde Ltp, Pedro I.t-2 2-
foí 14,. chama Morozclho Solar dos Regos, defeendentes d.e Dom Mem de
Gundar bom Cavalleiro,St honrado,que das Afturias,lua F^a,veyo a tfte
Revno com o Conde Dom Henrique, Sc de fua mulher Dona Goda , de quem
nafceoDom Egas Mendes de Gundar, que de fua mulher Dona Mana Viegas
teve filhos, de que vem os Regos, os quaes tem por Armas em campo verde
huma banda de prata ondada de azu1,ôt fobre eUa trcs vieiras de ouro, tim-
bre dous pennachos verdes guarnecidos de ouro com huma vieira cc ouro
entre eíies. No lugar de-Cadcm eftá huma Torre , a qucíe pagao .oros de
certos cafaés que cobra joaõ Pereira de Miranda, fenhor delia, & da Caía, St
' Morgado do Pai to fuppoílo. No mefmo lugar ha ruínas, ^veihgios de for-
tifica aõ antiga com cavas, Sc cifradas encubertas, que forao dp Mouro- No
alto1 do monte deS- Vcnffimo eftahuma Capellaantiquiffima ,& bem o mof-
tra V Pois o monte tomou o nome do Santo, que ijella eft a çom fuas irmaas.
Santa Maxima, & Santa Julia, que em tempo do Emperador Diocleciano forao
todos Martyres na Cidade de Lisboa fua patria ; a Rainha Dona Mafalda lhe
deu certos cafaes , de que inda cobraõ alguma renda, que a mais por defcmdo

^°S ^ant^M^ria^e^umgreias moitra que foy Mofteirode Templários, Hc


Commenda de Chrifto, Sc Reytoria da Mitra, que rendera cem mil reis , & pa-
ra o Commendador duzentos Sc cincoenta mil reis, tem cento & feífenta viii-
nhos, de que cincoenta fiaõ do Concelho da Portella- Aqui eft a huma Capella
de Santa Luzia, aonde ha feira franca de beftas em feu dia, que he aos 13- de


S- Payo de Azoes, Abbadia dos fenhores do Concelho , rende duzentos
mil reis, tem fetenta vifinhos- Acuieftáomuy nomeado monte de Francos,
conhecido pela excefliva quantidade de coelhos que cria- Ha também hua Al
dea do Monte, a que chamaõ Sobradello, que hum anno fao foeguezes defta Pa-
rochia, outro da de duas Igrejas- Ha mais hum monte, que chamao o Redouço,
nome que devia tomar de Reducfo, porque moftra veftigios, de que o toy.
Santa Marinha de Annães, Vigairaria annexa a huma c_,onezia de Bra ,1
renderá ao todo cem mil reis, & para o Conego, que a aprefenta s, duzcntOs&
fetenta mil reis: tem cento Sc vinte Sc cinco vifinhos, de que as duas partes
da Portella das Cabras- _ . _ , ,
S- Salvador de Fojo, Vigairaria do Reytor de cabaços, de quem he anne. a,
tem cincoenta vifinhos. , _ „
Dasquefe feguem tem parte aVilladeBarccllos. <- ^ ^
DA COR OG R API A PORTUGUEZA. i6f
S* Lourenço do MutOj Abnfldia da Mutríj rende céco & cinco.ilea mil íeis.
tem vinte & cinco Viiiiihos.
S. Diaes, cujo orago he S.Mamede, Abòadiada Mitra,que rende cento & •
oitenta mil reis, tem trinta viíinhos. _ ,
S. Martinho de Fruftellas , Vigairaria annexa à Gommenda de CaLvelio,
tem fetenta viíinhos. . . . ;
Santa Eulaiia de Gay far, Vigairaria do Cabido de Braga, tem vinte & cm-
co viíinhos.

Couto da Queyjada, & SSoylbofa*

LOgo ao Norte da Albergaria , & mais chegado a Ponte de Lima cítá o


Couto da Qaev jada,a que fe unio o da Boylhofa pouco mais acima: eíte
naõ dá vinho, o da Queyjada tem vinhas, & vinho de enforcado. He no Cível
CoutodaOrdem de Malta,fubditoao CommendadordeChavao,de que anti-
oamenteeraem tudo ífcnto dajunfdicaõRea!: haannos que por ordem del-
Rey no crime vav a Albergaria,donde lhe vem eferever hum T abehaopor gy-
ro. Tem Juiz ordinário, & Orfaõs por eleição annual do povo , & o Corre-
gedor de Viana lhe paffa Carta de Confirmação, que chamaõ de Ouvir. Conda
de duas Fregueíias,que faõ as feguintes.
S. joaõ Bautifta daQ^evjada, ftbbadia qite apreienta oCommendador de
Chavaõ, rende cento Stfet-hta mil reis, com a annexa feguinte, tem feffenta vi-

Santo Eftevaô de Boylhofa, Vigairaria que aprefenta o Abbade da Quey-


jada, tem feffenta viíinhos ;he terra mbtituofa, dáccnteyo, algum milho , mui-
tas criaçoens de gados bravos, muitos porcos montezes, caça meuda, &c muita
lenha,qvaõ vender a Ponte de Lima por accommodado preço : noCivel íaô da
Qucyjadaj & no Crime da PortcUa das Cabras,

CAP. XXI.
- \■ ^ *
c
T>o Concelho de Souto de Rehordaos*

ENtre os termos de Ponte de Lima, & Correlhã , Coutos da Qupyjadã,


Cabaços, & Feitofa eftá o Concelho de Souto de Rebordaõs, que ElRey
Dom Diniz deu a feu filho baftardo Aífonío Sanches í eradaOroa , aquém o
comprou Gil Aífonfode Magalhaens,fenhorda Gafa de Magalhaens, terra da
Nobriga, Morilhoens, & Fonte Arcada, cujos fenhores por feus defeendentes
o dominaõ com titulo de Donatários, a quem por concerto pagaõ os moradores
trinta & tres mil reis, que cobra, & entrega aCamara. Tem Juiz ordinário,
dous Vereadores , & Procurador do Concelho por pelouro feito de eleiçam
triennal do povo, a que prefide o Corregedor de V íana; dous Tabeliaens , que
alternativamente fervem na Camara; Juiz dos Orfaõs, 6c Efcrivaõ, que he tom-
bem Enqucredor, Diflribuidor, & Contador, todos data delRey , & hum Me»-
2 ij nnho,
2<S8 TOMO PRIMEIRO
rinho, que ferve de Porteiro, feito pela Camara. He boa terra de paõ, vinho,
linho, feijão, centeyo, caílanha, frutas,&: muita quantidade de cereijas, boas,
& muitas madeiras de call anho para aduellas de vafilhas dc vinho,muita caça,
& pouca peíca noTrovella,baílantes gados de toda a caíla, & lenha.l em duas
Freguefias, que laõ as feguintes.
S. Salvador do Souto, Abbadia da Mitra, rende mil cruzados, tem cento
& quarenta vifinhos.
Santa Maria deRebordãos,V'gairariadoMoíleiro deS. Romão da Neiva
da Ordem de S. Bento, rende ao todo fetentamil reis, & para os Frades cento
& oitenta mil reis : tem cem vifinhos. No alto monte da Nó, a que o Conde
Dom Henrique com a Rainha Dona Therefa na doação, que confirmãode Cor-
relha a Santiago de Galliza, chama Monte Mayor, ou Nahor; tem huma Capel-
la de NoíTa Senhora da Nó, nome que toma do íitio em que cita ; moílra anti-
guidade, &veíligios de mayor edifício : dizem alguns que foy Moiteiro : a
imagem da Senhora obra muitos milagres, & hevifitada com romagens , &
clamores.

CAP. XXII.

T)o Concelho de S. EJIcvaõ da Facha.

HUma legoa abaixo de Ponte de Lima eflá o Concelho de Santo Eílevão


da Facha, que tem duas Freguefias,& parte de outra: ElRey Dom Fer-
nando o deu com outras terras em Valença do Minho a Fernão Caminha , & a
feus filhos, que paífárão de Galliza a fervillo contra Dom Henrique o badar-
do, tvranno Rey de Caílella; & fuppoflo nãodefcobrimos a caufa porque de-
pois o perderão 5 entendemos feria por deixarem o ferviço delReyDõ João
o Primeiro, ôt feguirem as partes da Rainha de Caílella Dona Brites, filha do
dito Rey Dom Fernando, pelo que oaífou a Fernão Annes de Lima , pay de
Dom Leonel de Lima, primeiro Vifconde de Villa-nova de Cerveira, em cujos
defeendentes permanece. He muito boa terra, dá milho, centeyo,feijão,pou-
co trigo,linho, alguns gados, caça , & pefeas no Lima. No alto da Nor tem
ruínas de Cidade, & da outra parte, aonde chamão o C aílello, veíligios de que
o foy. Aqui eflá huma cafa antiga, que chamão o Paço, em que viveo D. Suei-
ro Mendes da Facha, de que a terra tomou o appellido. Tem juiz ordinário ,
Vereadores, Procurador do Concelho, & Meirinho, eleição trienrial do povo,
a que prefide o Corregedor de Viana, quatro Tabeliaens , que aprefentão os
Vifcondes; fervem na Camara, Almotaçaria, & Sizas por diílribuiçãe, & tres
defies também eferevemno Concelho deGcráz. Tem mais Juiz dos Orfaõs,&
Efcrivão, ambos data delRey, & daqui vão a Geráz, com huma Companhia da
Ordenança, que confia das Freguefias feguintes.
S. Miguel da Facha,bom Templo, alto,& antigo, que dizem foy Moílei-
ro, de que 1 e moílrão veíligios 5 paffou a Abbadia fccular , que logrou Diogo
Alvarez Pacheco, & em fua vida fe fez Commenda da Ordem de Chriílo , em
que foy primeiro Commendador Fernão Borges Pacheco leu filho : hoje he
Rey-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 169
Reytoria da Mitra, que rende ao todo cento St fefienta mil reis , St trezentos
St cincoenta mil reis para o Commendador: tem duzentos & vinte vifinhos.
S. Salvador de vitorinhodas Donas , que foy Moíteirode Frades Ben*-
tos, & depois de Religiofas da mefma Ordem, hoje he Vigairaria que aprefen-
tão as Freyras do Salvador de Braga, tem cento Sc vinte vifinhos.

CAP. XXIII.

Do Concelho de Çerá^ do Lima»

POr baixo do Concelho de Santo EfteVão da Facha, cem quem parte , fica
o deGerázdoLima, de que foy fcnhor Lopo Gomes de Lira, por mercê
dciRey Dom Fernando. ElReyDomjoaõ o Primeiro o deu depois a Ruí Me-
des de Vafconcellos,Sc ultimamente a Fernão Annes de Lima, fidalgo de Ga-
liza, que deixou fua cafa, por fe paíTar a feu fcrviço no fit io de Tuy, St perma-
nece nos Vifcondes feus defcendentes. Nasdoaçoens antigas íe mandava,que
entrando aqui os íênhoresdeftc Concelho, feria ao modo de Bifcaya como pé
direito defcalço- Tem Juiz ordinário, Vereadores, & Procurador do Conce-
lho, eleição triennal do povo, a que prefide o Corregedor de Víana- Recolhe
paõ, vinho, legumes, hortaliças, frutas, St caça com gados, .Sc pefGas no Lima.
Tem as Freguefias feguintes, de que fe faz huma Companhia.
Santa Maria, Vigairaria da Mitra, rende ao todo cem mil reis , & para o
Arcebifpo duzentos St cincoenta mil reis, tem cento St dez vifinhos. He tra-
dição fer Convento da Ordem de S- Bento, de que fe moftrão veftigios. Aqui
eíU humaTorre,aondechamãooPaço,dizem foy dos fenhores deite Conce-
• lho, paliou aos Bezerras, que a poíTuem em Morgado.
Santa Marinha de Moreira, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis ,
tem quarenta vifinhos.
Santa Leocadia, Abbadia da Mitra, rende quatrocentos mil reis, tem cen-
to St cincoenta vifinhos.
S. Pedro de Deaõ, Abbadia do Padroado Real, rende trezentos ml reis,
tem cento Sc vinte Vifinhos. He tradição fundarfe em tempo dc S. Pedro de
Rates, primeiro Arcebifpo de Braga, Seque depois foy Convento grande , de
quefe achàrãono anno de 1676. algumas pedras mármores com rendas , &
outras delicadezas debuxadas,fazendo o Abbade o Licenciado Jofeph Mimo-
fo Pachecohumasboas cafas de refídencia, St grande ferviço aDeos naquelles
tempos em tirar hunsbeítiaes abufos,que allihavia, St quafi em todo o Con-
celho.
A qui efteve huma Torre, que foy Solar da familia dos Coutos > que tem
por Armas em campo de prata huma Serpe verde picando em huma perna corre-
io fangue : o primeiro deita familia, de que temos noticia, foy Ruí Gon-
çalves do Couto, Cavalleiro de Parmazaõ no anno de 1281. como confia da
Monarquia Lufitana y-part. foi. 77-Sc lhe fuccedeo o pediré-lhe carta de Ca-
valleiro para poder trazer armas; elle refpondeo,que na fua terra fó os Cléri-
gos pedião carta de Ordens. Deite forão defcendentes Ruí do Couto, St Aí.
varo do Couto, fidalgos poderofos, como confia das inquiriçoens delRey Dô
Z íij Di-
i7o TOMO PRIMEIRO
Diniz na Torre do Tombo liv. j- foi. >4.» no anno de 1514- & o traz a 5-part,
da Monarquia Ltfitana fol.co.
Do dito Joaõ Gonçalves do Couto foy defeendente A Ivaro do Couto,Ca-
pitaõ de maiyoc guerra 110 tempo dclRey Dom Manoel no anno de 1516. na
Armada que íoy levar a Infanta a Saboya, como diz LamiaõdeGoes : era C a-
valleiro fidalgo', St foy fervir a Africa comendo com criados, Sccavalios à fua
cuifa, Sc indofe pòr fido ao Gallello de Benamar para dar animo â gente, arri-
mou huma lança ao dito Gallello, & fubio por ella a brigar com os Mouros, St
como nam foy foccorrido, o tornáraõ a botar fóra ; Sc por ella acçaõ lh e deu
EIRey Domjoaõ oTerceiro no anno de 1336. como conlla da Torre do Tom-
bo, outras Armas, que faò em campo vermelho humCaílello de prata fobre on-
das, huma azul, outra de prata, Sc por timbre o Caítello coin huma bandeiri-
nha em cima: teve filhos, João Gonçalves do Couto, Sc Gaípar do Couto.
Joaõ Gonçalves do Couto foyCavalleiro fidalgo , cafado com Brites de
Barbofa,deque teve a Luis Gonçalves do Couto, & a Diogo do Co ato bailar-
do, do qual foy neto Cofmedo Couto Barbofa, fidalgo da Cala Real, Sc Comciv
dador da Commenda de S.Pedro de Nogueira naOrdcm deChriílo, Sc Almt--
rante General quatro vezes no tempo dos Reys Dom Fehppc, Sc Dom Joaô o
Quarto.
Luis Gonçalves do Couto foyCavalleiro fidalgo, caiba com Anna Ro-
drigues, filha do Capitaõ Joaõ Rodrigues, Coronel em Africa , como diz Da-
miaõ de Goes anno de 1514- & de Maria da Colla fua mulher, de que teve a
Jorge Gonçalves do Couto da Colla, Cavallciro fidalgo , que calou com
Ifabel 1 rança, filha de Affonfo do Couto, Morador da Cafa dclRey, Sc de fua
mulher Ifabel Franca, que era filha de Gonçalo Franco, Efcudeiro, Sc Cavai-
leiro, defeendem de Italia de Dom Rubertone la Corna, Sc o dito Affonfo do
Couto, filho de Gafpar do Couto,Morador da Cafa Real, Sc criado do Infante
Dom Luis, cafado com Ifabel Serrão de Calvos, filha de VafcoSerraõ de Cal- ^
vos, como diz o Chãtre de Évora Manoel de Severim; Sc deíle Affonfo do Cou-'
to foy filho Diogo do Couto, que continuou as Décadas de joaõ de Barros. Te-
1
ve o dito Jorge Gonçalves do Couto da Colla a Antonio do Couto Franço, Sc
a; Cona Maria do Couto, qítecafou cm Caflella, de que não ha noticia.
Antonio do Couto Franço foy fidalgo da Cafa Real, Cavalleiro do Habito
dc Chriílo, Sc Secretario da Cafa de Bragança : cafou fegunda vez com Dona
Ifabel de Carvalhaes Pita, filha de Bento de Carvalhaes Machado, Cavalleiro fi-
dalgo, Sc de fua mulher Elena de Barbofa ; Sc o dito Bento de Carvalhaes filho
de Salvador Velofo Machado, fenhor de Pedralva, & Outeiro, cafado com Do-
na Ifabel de Carvalhaes, filha de Dom Gonçalo de Carvalhaes, V êdor da Infan-
ta Dona Confiança, que veyo com ella de Cailclla ; Sc Elena de Barbofa era fi-
lha de Balthefar Pires da Cofia, que aprefentava fete Igrejas , quarto neto do
grande Rodrigo Affonfo da Jolla , que deu o nome de feu appellidoaodito
Morgado;ôc Balthefar Pires era cafado côCatherina Fernandes efe Barbofa, fi-
lha de Gonçalo Fernandes de Barbofa, Sc de Dona Brites Correa , filha de Fer-
naõ Affonfo Correa, fenhor de Farellanins, Sc de Dona Leonor Annes, Sc Gon-
çalo Fernandes de Barbofa era filho de Fernaõ de Barbofa , fenhor da Cafa de
Aborim,Sc FronteirodosReys,cafadq com Leonor Annes ; Sc o dito Fer-
naõ de Barbofa, filho de Fernaõ Gonçalves de Barbofa, fenhor de muitos her-
damentos, neto dc Gonçalo Fernandes de Barbofa, que" foy Rico homem , o
qual era filho de Dom Fernaõ Pires de Barbofa, Rico homem de Pendão , Sc
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 2?i
Caldeira del Rey Dom Diniz, & aífinava com o dito Rey, Alcayde mór de Lei-
ria, defeen dentes delRey Dom Ramiro o Primeiro de Leaõ. Teve o dito An-
tonio do Couto Franco de fua fegunda mulher Dona ilabel de Carvalhaes a'
Luis do Couto, & a Dona Ignacia Maria do Couto , Reíigiofa no Moiieiro do
Sacramento de Lisboa.
Luis do Couto he fidalgo da Cala de Sua. Mageíladc, Cavalleiro do Habi-
tode Chriílo, muito feiente nas humanidades, & em todasas linguas : cafou
com Dona Paula Jofepha de Caílellooranco, filha de Manoel da Cunha Soares,
Moço fidalgo, & Cavalleiro do habito, fenhor do Morgado do Zambujal, & de
Dona Mariana da Cunha de Cailellobranco , herdeira do Morgado, que inídi-
tuío Diogo da Cunha de Caílellobranco, fidalgo da Cafa delRey , & do feu
Confelho, Cavalleiro do Habito de Chriílo, & Defembargador do Paço, o qual
foycafado com Dona Luiza Pereira, filha de Manoel Ferráz , Cavalleiro fidal-
go, que era filho de Pero Ferráz Barreto dos do Porto, & de líábel de F iguci-
redo; & o dito Manoel Ferráz foy calado com Dona Ifabel Ferreira de Sam-
payo, filha de Chriílovaõ Lopes de Matos & Rodovalho , fidalgo, & Capitaõ
mór da Armada, que hia para a Colla da Mina , cafado com Dona Genebra Nu-
nes Ferreira,filha de Pedro Ferreira de Sampayo dos da Caía de Villa Flor. E
o dito Manoel da Cunha Soares era filho de Joaõ Soares, Moço fidalgo , & de
Dona Luiza da Cunha, deícendentes dos Sardinhas de Setuval, cuja família he
chefre das de Portugal,como coníta por hum brazaõ delRey Dom Manoel
anno i<í 21> o dito Joaõ Soares era filho de Manoel Alvarez de Torneio,
Moço^fidalgo, & Cavalleiro do Habito de Chriílo, defeendente do Infante D.
Fernando; Francifco Lopes, Elcrivaõ da Puridade , como conlla da Chronica
delRey Dom Manoeljôc o dito Manoel Alvarez de Torneio foy cafado com D.
Paula Soares de Albergaria, filha de Pedro Soares, Morador da Cafa delRey, &
porhuminílrumento deElReyDom AíFonfo anno de 1439. coníla fer paren-
te do Conde de Arrayolos, na q uai declara fer fidalgo de boa linhagem,& tinha
quatro mil reis de moradia. Teve o dito Luis do Couto de fua mulher Dona
Paula Jofepha de Caílellobraco,entre outros filhos,a Antonio do Couto de Caf-
tellobranco de Barbofa, fidalgo da Cafa de Sua Mageílade , Cavalleiro do Ha-
bito de Chriílo, & Capitaõ de Mar, & Guerra da Armada Real, fenhor do M or
gado da Caridade em a Villa deOurem,o qualunio as Armas dos Coutos com
as dos Barbofas por obrigaçaõ do Morgado.

TR A-
tomo primeiro
77*

TRATADO IV

Da Comarca de Valença.

C A P. I.

Dadefcnpçàõ clejld

O Arcebifpado de Braga quatro legoas acima de Caminha , fi-


câdolhc em meyo Villa nova de Cerveira, perto do rio Minho,
defronte de Tuy, Cidade de Galliza, em íitio alto , & o melhor
que tem eíia raya para huma boa praça, citá fundada a V.lla de
Valença, quequafi íignilica Valentia , cuja fundação foy por
huns Soldados veteranos, que militavaõ debaixo das bandeiras
do noífo Viriato , aos quaesDecio Junio Bruto Coniul Romano na ultenor
Efpanha pelos annos de 156- antes da vinda de Chriíto deu eíte reconci-
Jiandofe^om elles. Eftando arruinada, a mandou povoar ElRey Dom Sancho
o Primeiro de Portugal no anno de 1 joo. & no de 1117* a augmentoucom
grandes foros, & privilégios feu filho ElRey Dom Aífonfo o Segundo. Depois
fe tornou a deftruir com a entrada dos Leonezes , & a reedificou ElRey Dom
Affonfo o Terceiro pelos annos de 1161> mudandolhe o antigo nome de Co-
trafta em Valença do Minho- He cercada de fortes,& duplicados muros co
cento & feífenta vifinhos dentro delles: alem das obras coroadas, que iao tr in-
cheiras, que comcçaõna portada fonte,&vaõ acabar ao pinheiro, tem dous ba-
luartes, cada hum com cinco peças de artilharia, & outras obras mortas , que
faõ as da eira do vento, no forte de S- Sebaífiaõ, as quaes todas le derrubaram,
para fe fazerem outras obras novas-
1 em o circuito deita Villa tres portas, a faber, a dfe Santiago , que he a
principal, a do Poço, que vay para a fonte, & a do Poftigo do poço de S- V icen-
te, que vay para Tuy, o qual poço he todo de abobeda comfuasefcadas dentro
dos muros- As obras coroadas tem duas portas: a primeira he a da ponte , por
onde fe entra para toda a Villa, & fobre cila eítaõ as Armas Reaes , que man-
dou pôr o Viiconde Dom Diogo de Lima Brito & Nogueira , fendo Governa-
dor das Armas deita Província* A fegunda porta he a que vay para a fonte das
Barracas. Tem mais o circuito das muralhas de dentro tres baluartes ; o pri-
meiro he o da Gabiarra, que eftá fobre o caes do rio defronte de Tuy; o fegun-
do eíiá fobre o Abadinho;&o terceiro fica fobre as loges com fuas peças de ar-
tilharia, que por todas faõ quarenta, que cercão, & defendem efta Villa, a qual
tem de preíidio tres C ompanhias comhuma fonte tora dos muros ao pe
da cfquina da muralha para o Poente, 6e dentro dos muros eíta o poço de b. V 1-
cente, que lança agua para fora por hum cano- Tem feira aos cinco de cada m ez,
& os moradores delia faõ ifentos de pagar portagem em Villa do Conde por
privilegio delRey Dom Manoel, quando deu foral aquell a V ília- Recolhe bal-
t) AC O RO GRAFIA PORTUGUEZA.
tantepaõ, trigo,centeyo,milho,feijão,linho,hortaliças, pouca fruta , muirá
caça , algum vinho, gados ordinários, & pouca lenha*
hoy cila Villa cabeça de Marquezado, ôto primeiro do Reyno,cujo tifu- *
Io dcuElRey Dom Aífonfo o Quinto a Dom Aífonfo , filho primogénito dò
primeiro Duque de Bragança. Foy também cabeça de Condado, cujo titulo deu
omefmo Rey a Dom Henrique de Menezes, filho do Conde de Viana. Foraõfe-
nhores delia os Duques de Caminha, cuja Cafa eílá hoje unida à do Infanta-
do, & pela Junta da v afa de Bragança he provida de Ouvidor, & Juiz de fóra,
&neífa Villa afliíte o Ouvidor deíla Comarca,cujo delindo,&jurifdiçam cõ-
prehende a Villa de Caminha, & a de Valadares com feus termos : tem Voto
em Cortes com affento no banco decimo ; aífiílem ao feu governo civil tres
Vereadores,&Procuradordo Concelho por eleiçam triennal do povo , a que
prefide o Ouvidor, Kcrivaõ da Camara, dous Efcrivaens , hum dellesChan-
celler, quatro Tabeliaens,Ddlribuidor, Enqueredor, & Contador, Efcrivàm
da Almotaçaria, juiz dos Orfaõs com feu Efcrivaõ, hum Avaliador, & Alcay-
de mór, que apreíenta Alcayde Carcereiro, todos data delRey pela Cafa de Vil-
IaReal. Tem Capitaõmcr, Sargento mcr,& quatro Companhias.
Comprehendem aos moradoresdeíla Villa duasParochias,a faber, Santo
Ellevaõ dentrodos muros, & Santa Maria dos Anjos no lugar daOrgeira, que
terá noventa & feisvifinhos,de quehe AbbadeoMeílre-eicola da Collegiàda
de Santo Eítevaõ, a qual principiou em huns Conegos (que tendo por mais fe-
gura a juíliça dos Summos Pontífices, Urbano Sexto, & Bonifacio Nono > a
quem obedeciam os Portuguezes , & por intrufo no Pontificado a Clemente
Sétimo, a quem feguiamos mais Reynos de Elpanha ) fepaliaram a Valença
no anno de 1392. & neíla Igreja Paíochial de Santo Ellevaõ formaram hum
novo Capitulo, rezando em Communidade ãs Horas Canonicas,por lho afílii
ordenar o Arcebifpo de Santiago , & de Bragâ Dom Joaõ Gracia Manrique,
fendo Adminiílradordeíla Comarca. Pagavaõ-fe eltes Conegos das Preben-
das,que em Tuy lhe foram logo focreíladas pelas rendas, que o Bifpo,& Ca-
bido tinham em Portugal em duzentas & trinta Igrejas que àquella Igreja doà-
ra entreo Minho, & Lima Theodómiro Rey dos Suevos.
Elegêram logo os ditos Conegos porfia caoeea , & Adminiílradordas
Igrejas áhumDomTuribio , contra o qual procederam logo com cenfuras o
Bifpo de Tuy Dom Joaõ Ramires de Gufuão, & feufucceílorDom João Fer-
nandes de Sotomayor: mas como tinham; por fy aos verdadeiros Summos Port*
tifices,& o favor delRey de Portugal Do n João o Primeiro, continuavam fe-
guros, indo femfjre fuftituindo aos Governadores mortos, outros que de no-
vo fe elegiam,até que finalmente pozfilcncioa eíla caufa , &defannexou iri
perpetuum do Bifpado de Tuy toda a Comarca, q hoje he de Valença, o Papa
tugenio Quarto a petiçam do Infante Dom Pedro , P*egentc deíleReyno na
menoridade delRey D. Aífonfo o Quinto feu fobrinho.
Foy eíla Igreja de Santo Eílcvão edificada noanno de 1378-fendo hoífo
Rey Dom João o Primeiro , & permaneceo eíla ro!legiada alguns annòs no
governo de feus Adminiílradores com toda a Comarca de Valença. Depois
inílituindofe de novo Bifpo em Ceuta, lhe foram aíTi íadas eílas terrás,até que
finalmente vieram afer deíle Arcebifpado em tempo do Arcebifpo D- D:o.gd
de Soufa. Tem quatro Dignidades, Chantre, Thefoureiro, Meflre-efcola , &
Sochantre,& nove Conegos : tem da fua viíica trinta & duas Igrejas., nás
quaes entram as de Viana, StCanunhá $ viíitao y hcfoureirõ dezoito no in-
ti-
/

274 TOMO PRIMEIRO


tigo Condido deValladares,Craílo, Laboreiro ,& Melgaço. > SaÔ cftcs Bene-
fícios data do Ordinário '• no Coro delia Collegiada ha huma cadeira antiga
paraosBifpos,que alli feachaffem adminiílrando eíla terra de Entre Lima,
Minho depois que fedefannexou doBifpado de Tuy em tempo delRey Dom
Joaõ o Primeiro. Tem eíla Igreja varias relíquias, as mais notáveis iaõ do Pro-
toHiartyr Santo Eílevaõ, dadas pelo Primaz, quando fe erigio a Collegiada, &
foram das que trouxe o fanto Paulo Orofio, eílaõ em hum cofre de piata com
toda a veneraçam. Os Conegosfechamaõ Abbades delia Igreja,, porque a cu-
raõ, rende fetenta mil reis- . ,
Tem mais eíla Villa Cafa de Mifericordia , & Hofpital com pouca renda>
huma Ermida de S. Sebaíliaõ no outeiro junto ao forte, outra de S. Gião, huma
do Bom Jefus à entrada da Villa,cercada de arvoredos cõfuas devefas de car-
valhos, outra deNoíTa Senhora da Piedade junto á Igreia Parochial de Santa
Maria dos Anjos, & hum Convento de Santa Clara de Religioias Franciícanas
fogeito ao Ordinário, fundado por Fernaõ Caramena. Fby nelle primeira Ab-
badeça perpetua fua filha Leonor Caramena, & no Padroado do Moileiro uc-
cedeo Joaõ Soares, a eíle Simaõ de A breu, & a elle Ambrofio de Abreu, & a ci-
te Cofme de Brito, a quem fuccedco íeu filho o Capitaõ Jofeph de A breu. A
Capella mór he enterro leu, & daqui fevè nam fer muy antigo. Tem íetenta
Religiofas com boa reçam, que as dadivas de Sua Mageíladc as tiraram da po-
breza em que viviam- Temneíla Villa os Arcebifpos de Braga feu Vigário
Geral, do qual fenam appella fenam para a Relaçam daquella Cidade. O íeu
termo, cujos limites partem com Vílla-novade Cerveira, Coura, & Couto de
S. Fins, tem as Freguefias fcguintes.
Santa Maria de Chriílello eílá fora* dos muros, he Abbadiade Sua Ma-
geílade pela Cafa de Villa Real, rende cento & quarenta mil reis, tem cincoen-
ta viíinhos, & em feu deílridto no lugar do Jardim eftas Ermidas, NoíTa Senho-
ra dos Remedios, de que he adminillrador Antonio Soares Barboía da Sylva^
S- Miguel o Anjo junto à Cancella da Veiga de Mira, de que he adminiflrador
Manoel Pereira da Cunha, Santa Luzia, que adminiílra Gonçalo de Abreu de
Sá, fituada junto das fuascafas na quinta, que tem o nome deila Santa , & a
grade Capella do Bom Jefus, Imagem muy devota, ôcmilagrofa, que fica na me_
lhorfahiaa da Villa. . .
S-Salvador de Ganfey, Moileiro de Frades Bentos com Dom Abbade,
doze Religiofcs; querem alguns feja fundação do tempo de S. Martinho de Du-
menoffo Arcebifpo de Bragas outros quedeS. Frutuofo, que lhe fuccedeo no
Arcebifpado annos depois •, mas nam ha duvida que no de 6 91. era já rundado
havia annos ; porque neíle deu para Prior do Moileiro de Azere a Frey S ífnan-
do. Correo a mefmafortuna que os mais no anno de 997. em que Almançor
( que levou os finos de Santiago a Cordova)com feu exercito o affolou, & poz
por terra.!Recdificou-o no anno de 1018* D« Ganfrido^ Gayfeiros 9 ou Ganfey^
Cavalleiro Frãcez,de q tomou o Moileiro o nome: hús dizé q foy Monge Clu-
niacéfe,& aqui Abbade; outros q Ermitão, dõde o Chroniíla dos Eremitas de
S.Agoílinho fe quiz ajudar para dizer,q eíle Cõvento fora feu, fendo elle fépre
da Ordé de S-Beto.Foy tal a vida deíle fanto Varão, q por S. Gayfeyros,& Gan-
ey he conhecido, & venerado por feus milagres, que continuamcte obra, par-
cularmente nos meninos doentes de uzagre, febres, toce, & outros males.
Tm que faleceo, o fepultàrão dentro da Igreja, nam fe coílumando fazer en-
> fenam a Santos: muitos annos eíleve fua fepultura junto da porta princi-
pio
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 27;
pal, dõde lhe mudàram os offosno de 1603. para as grades do Cruzeiro per-
to do púlpito, allieftava algum tanto elevaco cercado de humas grades bai-
xas com epitáfio, que lhe dá o mefmo titulode Santo, & Monge de S. Bento*
Feftejafe a 3. de Janeiro, & de fóra ficaram algumas relíquias, com quefe cõ-
iíbla o povo de Galliza, Sc Portugal, que o frcquentãocom fuas romagens. Eftes
annos paffadosomudouo AbbadeFrey Bento Machado para tumulo alto dou-
rado junto à porta da Sancriftia. Tem fermofa Igreja de tres naves , bella
clauftra com hum chafariz no meyode nova invenção, & bem obrado, grande,
& boa cerca, com dous mil cruzados de renda em dizimos, & fóros. Antiga-
mente teve mais, com que ajudou a povoar Valença, & fundou nella as Igrejas
de ^ anta Maria dos Anjos, & a deChriftelo. Todos os noífos Reys o favore-
cerão, particularmente EIRey Dom Affonfo o Segundo, que o deixou por her-
deiro de toda a fua prata lavrada, para que feusReligiofos o encomendaííem a
Deos. O Infante Dom Pedro Conde deBarctllos, filho delRey Dom Diniz,
o reedificou, quandonelle viveo quatro annos, fendo Fronteiro contra Galli-
za. Paliou com os mais a Commendatarios , & deites por Bulla de Sixto
Quinto tornou à Congregação de S. Bento com grandes oppofiçoés dosMar-
quezes de Villa Real, que queriSo fer Padroeiros, & aprefentallo, St por ceifa-
rem das demandas que traz.ão,lhe largàrãoos Frades muitas Igrejas fó por-
que os deixaífe: St ainda conferva dezafeis Benefícios,a mayor parte fimples,de
oitenta, & cem mil reis, que dá o Dom Abbade. Tinha quatro Coutos , o do
Mofteiro,que era mayor do que hoje, o de Villarinho,o das Perreiras,Stode
Rebordaés, eftes tres últimos fe açaoàram, Sc o Moltetro fe atenuou com a vifi-
nhançados Marquezes. TemduzentosSc fetenta vifmhos, aos quaes adm tli-
ftra os Sacramentos hum Cura fecular, que aprefentam os Frades defte Con-
vento. NefraFreguefía no lugar de Tardmhade junto da fonte doTorninho
nafceo S. Theotonio, primeiro Prior de Santa Cruz de Coimbra, St Padroeiro
dos Conegos Regrantes de Santo Agofcinho,St na mefma cafa de feus pays eftá
huma Ermida defte Santo filho, Sc huma grande reliquia de feus oíTos , pelos
quaes obra Deos grandes milagres. A' vifta da Villa , em hum monte difeante
meva legoa, eftá huma Capella de Noífa Senhora do Faro, nome que tomou de
hum facho, que alli houve, he imagem mdagrofa , Sc por ido bufeada de mui-
to1; -.entre os mais prodigios notáveis, que tem feito, he hum, que eftando cm
Africa cativo de Mouroshum homem deita terra, Sc tam maltratado , que o
traz: ão com hum grilhão nos pès,encomeadoafe a efta Senhora devotament e,
pedindolhe ofoccorreíTeemtamgrandemiferia ; foy ella fervida, que deitan-
dofena cama eftehomem à noite emBerberia, amanheceíTe à porta delta Ca-
pella com o mefmo grilhão nas pernas,o qual para memoria eftá pendurado
na Capella mórdefta Ermida, Sc humas moedas, que lançarão peia boca muitos
endemoninhados, que a Senhora livrou, tirandolhes dos corpos os Demonios,
que os atormentavão. Junto a efta Capella de Noífa Senhora eftá huma Ermi-
da de Santa Anna, outra de S. Vicente fituada cmhum monte abaixo do lugar
das Zenhas juto à Cacharia, Sc outra de Noífa senhora do Carmo , de que he
adminiftrador Damião de Lançois Sc Andrade.
S.Salvador de Gandara, Abbadia da M tra , que fe compoem de huma
terça, rende efta oitentamil reis, as outras duas cento Sc vinte mil reis,leva-as
aMefa Arcebifpal, tem cento Sc o. tenta vifinhos. Efta Igreja com feu Couto,
que hoje não tem, deu a Rainha Dona Therefa, Sc feu filho ElRey Dom Affon-
fo Henriques a Dom Affonfo BifpodeTuy,Sc àquella Sè cm 3. de Setembro
da
<l76 TOMO PRIMEIRO
da era de 116^3. que he anno de 1»2 j. Sandoval na Igreja de Tuy foi. 112»
Tem eíla Freguefia tresErmidas, S- Payo no lugar de Picoins, Santo Antonio
r
do Pinheiro, junto àeílrada que vay para Tayaõ, Sc Noffa Senhora da Concei.
ção.
Santa Marinha de Tayão, Vigairaria do Moíleiro de S. Fins, rende trin-
ta mil reis, & para os Padres da Companhia cincoenta mil reis, tem cincoenta
Sc dous vifinhos,Schuma Ermida de S. Lourençoem hum monte alto da parte
do N afcente, de que he adminiífrador Bento de Lima Lobo.
Santa Eulalia doCerdal,repartida em dous Benefícios , hum fímples,que
rende letenta mil reis, outro A bbadia , que rende duzentos & cincoenta mil
reis jambos forão de vários Padroeiros, como fe pôde ver no ArchivodaSède
Braga:erão osBarbofasde aborim,Garcias,St Gondins,Pereiras, Sc outros
por herança, & poder; mas emtudoveyo a entrar Gabriel Pereira deCaflro,
Corregedor do Crime da Corte, cujos defcendentes o confervao : tem tre-
zentos vifinhos,St boas trutas em fcu pequeno rio. Aqui eítão ruínas da Tor-
re de Bacelar, Solar dclle appellido,quetem por Armas em campo de ouro hú
bacelo verde de duas vergonteas retorcidas , poflas cm palia com quatro ca-
chos de purpura, timbre hum meyo Leopardo de ouro com huma folha de par-
ra fobre a cabeça. A chamos noticia delia Cafa já com antiguidade em tempo
de IRey Dom Diniz, St de feu filho ElRey Dom Aílonfo o Quarto, a qual pof-
fuía,Sca Honra de Mira Affonfo Gil Martins , que fervio muito aos ditos
Reys contra Galliza nas guerras, que por feu mandado lhe fez feu filho o In-
fante Dom Pedro, Conde de Barcellos, St por iífo lhe concedeoo Conde gran-
des privilégios, eífando no Moifeiro de Gayfcm emtresdeNovcbro de 1:84.
Cafoucom Dona Melia Gil, dos quaes deícendeo Vafco Gil Bacelar , fenhor
d til a Cafa, Sc Honra, cafado com Elena Gomes de Abreu,filha de Vafco Gon es
de Abreu, fenhor da Cafa, Sc Couto de Abreu, o qual com fuamuiher viverão
em tempo dos Reys Dom Fernando, Sc Dom João o Primeiro, a cujo filho her-
deiro Ruí Vaz Bacelar pelos muitos fcrviços que fez em Africa , Sena guerra
de Caílella em tempo ctelRey Dom Aífonfcro Quinto, lhe confirmou o fenhorio
emTouro a 17. de Março de 1476. Cafou com Tareja Gil Bacelar,dos quaes
foy filho Fernão Rodrigues Bacelar , que cafando com Leonor Pereira de Caf-
trotiverão filho a João Rodrigues de Abreu Bacelar, que cafou comGuiomar
Affonfo de Abreu, de que teve a Manoel Vaz Bacelar, que cafou com Dona Leo-
nor Affonfo Bacelar, dos quaes, entre outros , nafceo Vafco Rodrigues Bace-
lar, que cafou com Dona Ines Pereira Soares, dos quaes foy filho Antonio Vaz
Pereira Bacelar, que cafou duas vezes, Sc da primeira teve a Braz Pereira com
fucceíTaõ, de que lhe morrerão valerofamente dous filhos neífas guerras paf-
fadasjSc da fegunda, que fe chamou Confiança Malheiro Pereira, teve a Mar-
cos Malheiro Pereira Bacelar, que de fua mulher Dona Elena de Meireles Soa-
res teve a Antonio Pereira Sotomayor , Commendador de Villa-nova de Mil
fontes, a Francifco Soares Malheiro, que foy Meílre de Campo, a Carlos Ma-
lheiro Pereira, Tenente General, Sc Meílre de Campo, a Manoel Pereira Bace-
lar, que foy Capitão, a João Pereira, que paífou à índia, outro, que lhe matá-
rão na guerra, a Dona Confiança, mulher de Duarte Cláudio , Commendador
de Tangil, Loreines de nação, Sc criado do fenhor Infante Dom Duarte, a quem
aíliífio fideliífimamente, em quanto lhe durou a vida no Caífello de Milão, aon-
de morreo prezo na Acclamação do fenhor Rey Dom João o Quarto , Sc a Dona
Margarida fegunda jmulher de Felix Pereira de Caílro,Capitão mór de Mon-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 177

ção, como tudo coníta de varias certidoens autenticas, que eu vi. Ainda ha
alguns homens hõrados, que íe appellidao alíim. Piuma Aldeã , quechamao
Gondim, teve Torre, 5c Cafa, chamada o Paço dc Gondim, de cuja pedra lavra- -
da fe fez huma preza de regar campos, &huns aífentos, para que íe veja -, em
que parão muitas vezes grandes Paços. Eftecra Solar dosGondins, cujos
defcendentes dizem, lhe.deu principio, & nome hum fidalgo Frãcez, que veyo
para efta terra ajudar a conquifta, que hiamos fazendo aos Mouros , o qual
era da Cafa de Contim naquelle Reyno, em q tc havido grandes Principes. Tem
os Gõdms por Armas em capo de prata tres Leoés rõpétes de vermelho em ra-
quete,armados de preto,timbre hú Leão.O LiceciadoManoelde Araujode Ca-
ftro no feu livro manu-efcrito traz os Leoeiís azuis armados de vermelho. O
primeiro, de que achamos noticia, he Garcia de Gondim , pelo que alguns fe
appellidao Garcias, & Gondins 5 ha muitos, em que entráo alguns com foro de
fidalgos, & nobres em Viana, Ponte de Lima, Abrantes, Santarém, & por cafa-
mento abrangem a mais partes. Ha também aqui huma Cafa nobre, a que cha-
mão o Fojo, em que fempre viverão Cavalleiros hõrados da familia de Caldas,
6c por defcendente feu a poffue Bento de Lima, Cavalleiro da Ordem de Chrif-
to,& Sargento mor de Guimaraens.fTem efta Freguefia em feu delindo as Er-
midas feguintes, Santa Anna, de que he adminiftrador Bento de Lima Lobo,
Noífa Senhora da Ajuda, que adminiftra Alvaro da Rocha de Suufa,Santo An-
tonio, de que he adminiftrador o Capitão Eftrangeiro Jorge de Lima dc Creta,
Noífa Senhora do Amparo , de que he adminiftrador João Pereira Barbofa de
Coura, S.João, que he do Padre Antonio Rodrigues, S. Bento da Lagoa anti-
ga, que eftá na Gandera, que vay paraS. Miguel de Fontouro, & S. Sylveftre
no alto do monte', & hum Convento de Capuchos da Província de Santo Anto-
nio da Invocação de Noífa Senhora do Mofteiro, fituado em hum monte da
parte do Nafcente com grandes arvoredos em fua cerca , dentro da qual ha
huma fonte nativa com feus aífentos de pedra á roda, 6c hum chafariz cõ huma
Hidra botando agua por muitas bocas. Fundarão efte Convento pelos annos
de i *91. Frey Diogo das Afturias,6c Frey Pedro Marinho, Varoens de grande
efpirito, filhos da Provinda de Santiago: he feu Padroeiro Sua Mageftade pda
Cafa de Villa Real. .
S. Miguel de Fontouro, Abbadia da Cafa de Aborim,5cde outras , parti-
cularmente dos defcendentes de Gabriel Pereira de Caftrq, rende duzentos .Sc
quarenta mil reis, tem duzentos 6c cincoenta vifinhos,6c eftas Erm.das, Santo
Antonio, de que he adminiftrador Domingos Ferreira Santar em , o Arcanjo
S- Gabriel, que eftá no montinho, com fua deveza, S-Francifco , de que he ad-
miniftrador Braz Antunes, Noífa Senhora do Populo, de que hc adminiftra-
dor Francifco Pereira de Torres novas, & Noífa Senhora da Guia , de que he
adminiftrador Francifco Barbofa Brandão.
S. Julião da Sylva he Abbadia do Arcebifpo, rende cento & vinte mil reis,
6c da ametade dos frutos fe faz hum Beneficio fimples, data do Summo Pontí-
fice, & Ordinário, rende feflenta mil reis : deu ametade defte Padroado em
troca de outros EIRey Dom Diniz ao Bifpo de Tuy Dom João Fernandes de
Sotomayor no anno de 1 *08 • tem cento & feífenta viíjnhos, 6c eftas Ermidas, o
Efpirito Santo junto â Igreja Matriz, de que he adminiftrador o Capitão mór
Gonçalo Teixeira Coelho, Noífa Senhora da Piedade no Lugar do Razo, de que
he adminiftrador Jofeph de Abreu Sotomayor, 6c S- Sebaftião, que eftá no mon-
te na eftrada, que Yay para Sapardos. Aqui eftâ a Torre da Sylva , cabeça, &
Aa So-
TOMO PRIMEIRO
Solar defla Real família, que tem por Armado* campo de prata hum Leão de
nurputa armado de azul, timbre o Leão.
Santa Maria da Sylva, Abbadia que aprefentao com referva ordinária os
Frades de Oya,Convento grande da Ordem de S. Bernardo noReyno de Galli"
za,rende cento & vinte mil reis, tem feífenta & oito vifinhos,& h uma Ermida
de Noifa Senhora da Conceição, de que he administrador calpar Mendes Cal-

daS
S. Pedro da Torre, foy antigamente Villa com termo, & dcfte modo fe
confervava a tres de Setembro de 1125- em que a Rainha DonaTherefa, &E1-
Rey Dom Affonfo Henriquez a derao a Dom Affonfo Bilpo de Tuy , òc aquella
IíireiaJareandolhc todo o direito Real, que nella unhão , & que nenhum ho-
mem de qualquer calidade que foíTe,pudeffe entrar em feus termos. Heagoia
repartido efte Beneficio em dous, hum Abbadia curada , que rende cento &
cincoenta mil reis, data de Sua Mageftade pela Cafa de Villa Real, outro fim-
pies, que rende cem mil reis,aprcíentação do Papa, & Ck iunno • tem cent
& dous vifinhos, & huma Ermida de S. Sebiftião, que efta na cifrada junto ao

Cl
Salvador de Arão, Abbadia de Sua Mageftade pela Cala de Villa Real>
rende cento & cincoenta mil reis ,tem oitenta vifinhos.

CAP. II.

T>a Filia de Caminha.



TRes legoas de Viana para o Norte temfeu aíTento a Villa de Caminha , á
qual fica entredous rios,o Minho, que corre do Nortepara o Sul, &o
Coura, que corre do Nafcente para o Poente, o qual metendoíeno Minho fahe
ao mar, & ambos juntos, & encorporados fazem duas barras , huma que he a
de Portugal, & a outra deGailiza: &acauíadeftasduas barras he a fortaleza
da Infoa, corrupto de Infula, que eíia no mar, & as divide. He efta fortaleza
hum Caftello tie cinco baluartes com fua artilharia , & tem dentro hum Con-
vento de Frades Capuchos da Provinda de Santo Antonio , em que rendem
nove Religiofos,o qual fundou Frey Diogo Arias,natural das Afturias, pelos
annos de 1292. com efmolas do povo. Para a parte do Nalcente fica a barra
Portugueza, & para a do Norte a barra cgalle^a, no fim da qual começa o Rey-
110 de Gallizacom o monte de S« Tecla, ficando por todas as partes efta for-
taleza cercada do mar. , _ r ,
Foy fundada efta Villa por Caminio, fidalgo illuftre deGailiza, ienhor
da Cafa de Caminho, donde tomou o nome, como diz Rodrigo Mendes Sylva
na pobiacion General de Efpanha foi. 14.1 • Depois fe deftruio,Sc a mandou po-
voar ElRey Dbm Aficnfo oTerceiro pelos annos de 12óf. ElRey DomDmiz
a augmentou,&lhc deuomelmo foral de Valença aos 24.- de julho dc 1284,
Outros Rey s a fizçrão Couto, que vale a todo homiziado, não fendo cri me
contra lefa Mageftade Divina, ouhumana^tc yoto em Cortes no tercei: o lu-
gar do banco treze da parte direita- ElRey Dom Affonfo o Quinto fez Conde
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 179
defta Villa a Pedro Alvarez de Sotomayor, Vifconde de Tuy, & fenhor da Cala
de Sotomayor em Galliza, donde fe paffou a eftc Reyno, fervio aodito Rey, &
por fua filha Dona Mayor de Zuniga he fexto avo de Gonçalo Affonfo Pereira.
de Sotomayor,Alcayde mór delia. Foy também cabeça de Ducado, cujo titu-
lo deu Felippe Quarto Rey de Caftella a Dom Miguel de Menezes , mho do
Marquez de Villa Real» ...
Fortificão, & defendem a efta Villa tres muralhas; a primeira he antiga,
eom feus muros todos de cantaria com dez 1 orres,& quatro portas, que fao
a da Villa (fobre a qual em huma torre alta eftá o Relogio) a do Sol, a porta
nova, & a da torre do Marquez, que em outro tempo foy de grande lerventia
nara os navios, que junto a cila eftavão no no Minho com hum caes muito
5rande de cantaria; porém como as areas tudo cobrirão,íe perdeu o uío defta
porta, & fe fechou de pedra: chama-fe a Torre do Marquez, porque no tempo
que o Duque de C aminha nella aífiítia,o feu Palacio fe eftendia ate efta tor-
re & delia via o rio Minho, mar, & navios, & hoje efta neile o corpo da Guar,
da. Perto defte Palacio eftá a Igreja Matriz, obra fumptuofa, por ler toda de
pedra de cantaria bem lavrada com fua torre dos finos , temduas naves alem
5o corpo da mefma Igreja, com feis Capellas todas de abobeda, & dezafeis Als
tares, a faber, o da Capella mór, orago NoíTa Senhora da Affumpo, Padroeira
defta Villa; o Altar da Capella do Santiflimo Sacramento, o da Capella de Nof-
fa Senhora do Rofario,o da Capella de NoíTa Senhora do Defterro, aonde cinco
Sacerdotes rezáoemCoro toáos os dias o Officio Divmo com Miffa canta-
da o Altar de SataCatherina,ode Santo Antonio,o de Noffa Senhora da Con-
ceição, & o de Santa Luzia. A Capella dos Mareantes, o Altar de S. Braz, o de
Santo Amaro,o de S.Carlos,o da Vera Cruz,& o de Santa Margarida. A Ca-
pella de NoíTa Senhora da Piedade, & o Altar de S. Caietano. Tem tresi Sancn-
ftjas, que faõ a principal, a do Santiffimo Sacramento , & a da Capella dos Ma-
reantes. Lançoufe a primeira pedra nefta Igreja aos 4.. de Abril_de 1488.3
qual fundarão os moradores com grandes dadivas,que lhes deu ElRcy Dom
Manoel: logo fov Abbadia, & o feu ultimo Abbade Dom Andre de Noronha
da Cafa de Villa Real, de quem era o Padroado, o qual foy fegundo Bifpo de
Portalegre no anno de 1560. Extinguio-fe, & provendoa de Rey tor, dos di-
zimos fe fizerao quatro Preftimonios da Ordem de Chrifto , tudo data dos
Marquezes, de quem paffou a Sua Mageftade. O primeiro Rey tor chamoufc
Balthefar da Nóbrega nafcido em Villa Real. Tem ricos ornamentos, muita
prata, & Imagens devotas de galharda efctiltura, a principal he huma de Chri-
fto nopaffo 3o Ecce Homo; eftá na Capella dos Mareantes em hum nicho fe.
chado, fó em alguns dias folénes o abrem para que o vejao; homens defta Villa
o trouxerão de Inglaterra, quando lá entrou a herelia, Scdeitarao fora as Ima-

gCnb
A fecunda fortificação he moderna, feita de pedra de alvenaria, toda cer-
cada ao redor comfuacava pela parte défóra, Sc além da cava tem contra-ef-
carpa; dctro defta fortificação eftá a mayor parte do povo, & o Convento de
Santo Antonio de Frades Capuchos, que fundouo Marquez de Villa Real Do
Miguel de Noronha, pelos annos de 1618- em querefidem dezoito ^ades,
eftá também a praça,q he muito plana, fcefpaçofa , com hum grande chafariz
no mevo delia com feis bicas,& defronte delia a Igreja da Mifencordia,que fe
prSiou no anno de 1 .. & neftes fe fórma com renda capaz paraoHof-
pital ordinário, além de outro, quehadelRey , &fc fez no tempo da guerra-
i8o TOMO PRIMEIRO
para os Soldados-Tem huma devota Imagem de Chrifto crucificado,que veyo
de Flandes no anno de 15 7+. & tanta he a te, que nella tem os moradores, q
em occaíioens de grandes Invernos,ouiccas alevao em prociífao peias ruas,
pedindo a Deos melhor tempo, & logo o Senhor lho concede. Tem efta íegun-
da fortificação fcisportas,a primeiracharfiada a portanova , aicgunda de S>
Antonio, a terceira da Corredoura, a quarta huma porta lalía , quevay para
ArgadeCoura para hum revellim,que eftá fóra da fortificação ; a quinta a
porta do caes, &. a fexta a do açougue. .
A terceira fortificação he mais antiga que a fegunda , feita pelo mefmo
modo com fua cava fcmente, &dctro delia ha íó huma rua comprida,que cha -
mío da Mifericordia, em que vivem os homens do mar , hum Mofteiro de
Freyras Franciícanas, cuja Padroeira he Noífa Senhora da Milericoroia , o
qual fundou Dom André de Noronha, Biípo de Portalegre pelos annos de
156.. Tem no Coro huma Imagem de Noífa Senhora tia Conceição muito
milagrofa, aífim pelo que obra, como por fer defeuberta prodigiofamente no
areai do Cabedello em hú caixão de madeira enterrado na arca,Se por alli perto,
diZt,foy achada pelo mefn.o medo a Image de S-Sebaílião,q eftá tora |t!a \ il-
ia, tão milagrola, 5 havido pcfte no termo,nunca na Villa entrou , pelo que
os moradores a venerão muito. Tem efta terceira fortificação, que he a ex-
terior, huma fó porta, que chamão de Viana, & hum poftigo quevay para o
rio Minho.
Tem efta Villa quatrocentos & cincoenta vifinhos com nobreza, &eftas
Ermidas, Noífa Senhora da Piedade, S. João,S. Sebaftião,& Noífa Senhora de
Guadalupe da pafte de fora junto às fortificaçoens, doutra de Noífa Senho-
ra da Graça. Tem muitas cafas boas cõ terreiros para feftas, muitos poços,&
da parte de fóra das fortificaçoens tem perto a fonte da Villa , a fonte de
Paicoal Rodrigues, a da Urraca, a de Scnande,& adaCavana. He bem pro-
vida de pão^,milho,centeyo,cevada,feijão,linho Gabçgo, Mourifco, & ca-
namo,frutas,hortaliças,algum vinho,gados,muita caça,oiuito,& bõ mel,&
cera- Depefca excede a todos os mais povos deftas partes , & do melhoí
peixe do Revnò, pefeandofe nãofó 110 mar o que elle dá , mas no rio corvi-
ras , folhos,falmocns,lampreas, faveis,trutas,muges, tainhas, iingoados,
azevias, negros, folhas, que poftas de fumo, fad admiráveis, bogas, , & eíca-
lhos tão itleclos no fabor, que daqui fe mandão para toda a parte , em que
faõ muy efftmadosj tcrnpouca.'lcriha>& ballantc criaçao de gados bcílas ^
com feira franca o primeiro dia de cada mez. Tem dado grandes Muficos
paraReligioens,& Capellas Reaes de Portugal,&CaftelIa,Cafa de Bragan-
ça, & Sè de Braga. O Sercmílimo Rey Dó João o Quarto, que eftimou mui-,
to efta Arte, mandou imprimir à fua cufta fóra doRtyno os livros, que dei-
la compoz João Soares Rabello,o maismfígne CompoíitordeSolfa , daqui
natural, que ncfte feculo teve Europa. Nas letras deu q grande Pedro Bar-
bofa, famofo Jurifconfulto, que reformou as Ordpnaçoens do Reyno ; o faze^
rem-no alguns de Viana , he porque fendo aqui nafctdo, aonde feu pay era
morador,recebendo efte certo aggravodos criado-; dos Marquèzes de Villa
Real,íe foy com'fua família para Viana, levando já efte fiUho,quc láfe criou.
E neftas ultimas (guerras teve muitos Cabos delia, Cap taens deCavallos, &
Infantaria, & Meítres de Campo, não fó nefta Província, & Reyno , mas em
fiias Conquiftas.
Affiftem ao feu governo civil hum Juiz de fora, três, V ereadores, Pro-
cu-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA! 281
curador do Concelho, todos de eleiç ao triennal do povo, a que prefide o Ou-
vidor, vão as pautas a Sua Mageítade pelo Tribunal da Cafa de Bragança , a
quem eítá unida, & láefcolhe dos nomeados os que hão de fervir cada anno/
quatro Tabeliães do Judicial, & Notas, Meirinho, Diítribuidor, Enqueredor,
& Contador andãó juntos, Juiz dos Orfaôs com feu Efcrivão, Juiz dos Direi-
tos Reaes, a quem toca tomar, & dar conta de tres em tres annos a Sua Magef.
tade do rendimento da dizima do pelcado, com feu Efcrivão , outro do Cou-
to, que efereve em hú livro os homiziados,que aqui fe vem acoutar,& lhes paf-
fa cartas, & certidoens, todos data delRey, Juiz da Alfandega, Efcrivão,& Al-
moxarife, Efcrivão, & Recebedor dos tres por cento,Efcrivão das Sizas anne-
xo ao da Alfandega, faõ da Coroa, Alcayde que ferve de Carcereiro, aprefen-
tação triennal do Alcayde mór. A gente deita Villa, & feu termo fe compoem
de quatro Companhias,que todas paíTaõ de mil & feifeentos homens, & tem
mais de guarnição quatro Companhias de Infantaria paga. No Cabedello tê
Sua Mageítade huma mata de iovereiros, & outras lenhas, chamada Camari-
do, em que traz muita caça de coelhos, diito trarão os Alcay des móres. No
principio que Portugal começou a fer Reyno feparado dos mais de Efpanha,
era mais dilatado o termo deita Villa , de que íe tirou todo o que fe deu a
Villa-nova de Cerveira, quando de novo fe fundou, hoje tem as Fregucíias fe-
guintes. . . .
N. Senhora da Encarnação deVillarelho , Vigairaria annexa à Reytoria
da Villa, que aprefenta o Reytor, rende cincoenta mil reis, & os dizimos faõ
dos Preítimonios,temfetenta vifinhos.
Santiago de Creítello, Abbadia que foy da Cafa de Villa Real , & hoje he
da Cafa do Infantado, rende novênta mil reis , tem cincoenta & feis vifi-
nhos.
S-Payo de Molledo, Reytoria da mefma aprefentação , rende cem" mil
reis: dos dizimos fe fazem dous Preítimonios da Ordem de Chriíto , cada
hum de noventa mil reis :tem cento & quarenta viíinhos. Neila Fregueíh
junto do mareítá huma Capella de Santo Ifidoro,he Igreja tão pequena, co-
mo antiga, toda de abobeda, ôc o que a faz muito celebre he huma Irmanda-
de, que nella ha, em que andão unidas por voto quatorze Fregueiias deite
termo, & do de Viana,confirmada pelos Summos Pontífices, Clemente, & Ur-
bano Oitavos, concedendolhe ambos muitos privilégios , & indulgências :
feu principio não fe fabe,nemacaufa •, prefume-fe que algum grande aperto
de fome, ou peite os incitou a tomarem por Padroeiro eíte Santo, & Ihcfize-
rão voto por fy, &feus defeendentes a lhe guardarem o dia, & fazerem do-
ze prociífoens a differentes Igrejas deite Concelho , a que faõ obrigados
irem com fuas Cruzes todos os Parochos, & Clérigos nellas moradores , &
hum homem de cada cafa, & he condenado o que falta : em todas tem MiíTa
cantada,huma fe faz em fete de Julho,vão pela Villa, vem a Camara efpera-
los ao Moitciro das Freyras, donde os acompanha ate a Igreja Matriz , em
que o Reytor por obrigação lhes tem expoíto o Santiflimo, alli canta huma
oração o Mordomo da Confraria, a que chamão Arcipreíte ,& acabada ,fahé
todos como entràrão até ovao, aonde fe embarcãopara S. Bento de Seixas,
& os Ofíiciaes da Camara fe tornão do rio para fuas cafas.
Santa Maria deGontinhaés, Abbadia do Ordinário com alternativa de
Sua Mageítade, em quê entrou pela Cafa de Villa Real, de quem era , rende
trezentos & cincoenta milreis, tem duzentos vilinhos- Aqui fe divide eíte
Aa iij Con-
*8* TOMO PRIMEIRO
Concelho do de Viana pelo pequeno rio de Ancora,nome que tcir.cu de hua>
com que alli lançou ao mar LIRcy Dom Ramiro o Secundo a lua mulher a Ra ir
nha Dona Urraca, que também por dcfgraças fe fazem conhecidos muy peque-
nos lugares.
S. Maria de Riba de Ancora, Vigairaria, rende cem mil reis, ôc os dízimos
cento & fetenta mil reis de hum Preltimonio da Ordem de Chriíto , tudo foy
da Caía de Villa Real, agora he de Sua Magcitade , tem cento ôc ftifenta vdh
nhos.
S. Salvador de Gundar, Vigairaria do Morteiro dc Tibaés, de que fe unio
ao Collegio de S. Bento de Coimbra, rende cincoenta mil reis , ôc para os Fra-
des oitenta mil reis: tem fetenta ôc cinco vifinhos-
5. Eulalia de Orbacem, Curado annexo à Abbadia de Menxedo em Viana,
rende quarenta mil reis , ôc para o Abbade cento ôc quarenta mil reis ; tem
ççutoôc vinte viíinhos. a
S. João Bautirta de Arga ertá da parte do Poente da grande ferra de Arga,
que divide os termos de Viana, Ponte de Lima, Coura, ôc Caminha, ôc be me-
dida no monte ertá cila Igreja de S-João de Arga,nome q tomou da mefma ferra,
ou de hum ribeiro aílim chamado- Aqui entre as denfas matas, ôc elcuras bre-
nhas fundàrão os Monges Bentos hum Morteiro , em que fe recolherão do
mundo; o tempo certo, em que teve principio, não fe fabe ; alguns entendem
que no reynaao de Sifebuto,em que tanto fe ampliou a té Catholica, outros
que foy fundação de S- Frutuofo Arcebifpo de Braga- Podemos conjecturar,
que fe acabou no anno dc 661- porquanto erta era íeachou eferita em hum»
padieira da porta da Igreja, ou de outra officina deile Morteiro, que vem a fer
o anno de Chnito 62 que por cita montanha viveífc muitos Monges fantos
divididos, fazendo vida penitente, ôc que por alli eílão fepultados, não ha du-
vida, de que o Vulgo tomou chamarlhe íagrada- Todos os amios em 6- de
Mayo, particular dia, em que os Catholicos feítejão a S- João Euangeliíta de
Ante portam Latinam, vem a eíte Morteiro muita gente de romagem , ôc a
mais he do termo dos Arcos. Perto da Igreja ertá hum Monge enterrado, do
qual dizem , que todos osanimaes que paífavão por cima de fua fepultura,
quebravão as pernas; o que vendo o fanto Arcebifpo Dom Frey Bertholameu
dos Martyres,viíitando eftaFregueíia , lha mandou cobrir com huma meya
Lua de pedra, como inda tem, para que nada paíTaífe por cila- Confervafe cÕ
Abbade, ôc Monges pelos annos de 134.6. ôc fuppoíto veyo nas Bulias da re-
forma do Papa Sixto Quinto, nunca a Religião tomou poífe delle. Entrarão
em feu Padroado os Marquezes de Villa Real,fizeraõ-no Reytoria, refide em
Filgueyras o Parocho,ôc lá vão os freguezes, onde faremos computo dos dí-
zimos, cuja repartição tem defta a origem, com o que lhe entra da de Covas:
tudo foy data fua, ôc agora he de Sua Mageftade. Aqui ha muitas egoas dc
criação, gados de toda acarta, caças, ôeveaçots de lobos , ôc outros bichos.
De tempo antiquilfimo cortumão muitos homens do termo dos Arcos, parti-
cularmente os do monte,trazerem feus gados grandes a paftar a cfte, que hc
mais quente, ôc algum por inftinto natural vay,ôc vem naquellas conjunçoens,
fem que o levem, ou tragão: pagão dc foro aos Alcaydes mores hum vintém de
cada cabeça-
Na mefma ferra eftáhuma Capella de hum Santo, a quem o vulgo chama
Santo Aginha, quer dizer, Santo depreífa > conforme a noífa lingua antiga,
que inda fe conferva em rufticQS, Ôc a caufa he a fegumte- Vivia-nefte ermo
hum
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA» 183
hum grande ladrão, que encontrandofecom hum pobre Religiofo , de quem
quiz tirar o dinheiro, que não tinha, apertou tanto çom elie,que fe lho não dar
Va, o havia de matar, como fucçedco a outro chamado Tito na Cidade de Cant-
dia, aonde S. Jeronymo lhe appareceoem forma dç Mercador por alguma , de-
voção, que lhe tinha no meyode feus latrocínios , para o reduzir ao caminho
da falvação. Pofto o Frade de joelhos, eftando o ladrão com aefpada nua,, ef-
cufavaíe cõ a impofíibilidadedo logro, mas como cõtra eftacafta de gente net
nhuma juftificada razão baile, fem que lelhe iatisfaça feu íntereffe , refolveo.»
fe em matallo- Pediolhe o Religiofo que primeiro o ouviífe a outro propofito*
no que elle veyo; que como Deos tinha decretado,que pelos meyos que fe per-
dia, fefalvaíle, lhe diífe : Irmão,que tiras das cwtit/uadjadigas ,que tens dos ^ri-
des deJcomado$,q padeces,&da má vidaquepaffas neste mu>idothumas ve^es com tif*
co, de que te matem os que roubas, outras não dormindo em lugar certo porque te não
prendão i outras não acendendo lume , porque te não prefwtao, & raras vezes
Undo com que te (nitentes, ò" nada com que te cubras, pois te (ftou vendo quafi nu *
& ultimamente hum certo inferna,para tua alma ganhado tanto à cufta de teu cor'
po: repara bem nu cj te diga, 7 quanto vay de fugir a gente,para tratar com feras,
como de perderes a vifia de Deos, & ganhares a do Diabo ; poem emenda em tua
Vida, que Deos com huma boa morte te dará a.Gl >rta.Q ladrão, que ja vivia defeí-
nerado de falvarfe, lhe refpondeo o quanto eílava, havia muito, defviado deft
fe caminho, que lhe inculcava , & impoflibilitado para Deos lhe perdoar os
grandes peccados, que tinha feito, em matar huns , & roubar a todos os que
podia , mais por malevolencia de feu animo , que por falta de conhecimc-
t,o de feu erro- Tornou o Padre a inftar contra efta obifinaçaõ, & a declarar»
lhe, que fe Deos rigorofamente caíltga, também benignamente pfrdoa. Efup..
pofto de juftiça nam pode falvar algum,fem que primeiro reftitua ao proximo o
que deve, de poder abfoluto pôde tudo ainda coftuma, quando ao peniten»
te falta com quefatisfaça , tomar por fua conta eftas reftituiçoens em muitas
felicidades, queda àquelles,a quem fedesMaõ fazer, & que para fsguir efte ata-
lho,o melhor caminho era confcífarfe de todos feus peccados com húa dor mui»
to grande de os haver cometido, nam pelo que merecem de caftigo , mas pelo
mal,que havia feito, &offenfas, que contra hum tam bom Deos cometera, que
antes defejaífe morrer mil vezes, que encontrar huma íua divina vontade : &
fogeitandofe a fatisfazer a penitencia que lhe deífem , indubitavelmente teria
remedio tanto mal- Já entaõ feito huma Magdalena arrependida comos olhos
cheyos de íagrimas,poftrado por terra pede aoFradeoconfe(Te,oque fez com
tanta contrição do penitente , que julgou fer baftante para abfolvello aceitar
çile que no mefmo monte, em que tantos dãnos tinha íeito, continuaífe algum
tempo a foccorrer os paífageiros, que por alli foífem. Poucos dias eraõ paífa-
dos, quando a hum Lavrador, que baixava mato, fe lhe entornou o carro , em
que o trazia, & eftando na fadiga de levantallo, veyo ajudallo a iífo; mas o vil-
laõ, queo conheceo, defeonfiando de feus favores ,' pornamfaber de fua nova
mudança de vida, deu-lhe com huma enxada na cabeça , de que cahio morto no
mefmo lugar,em que o deixou- Paliados alguns dias,fendo já muy públicos na
Corte feus exçeífivos dãnos, & chegando ordem dclRey com grandes promef-
fasaquçmlhoprendeíre,oumataíTc , fahioo viilaõ dizendo que elle o tinha
morto, foy moftraradonde , naõ lhe parecendo que em tantos tempos depois
da morte achafl> de feu corpo outro teftemunho mais que alguns offos, que as
feras lhe deixàífem j mas como Deos line tinha perdoado por fua grande contri-
ção,
I84 TOMO PRIMEIRO
çaõ, & penitencia, a que fe lògeitàra pelo mandamento da Igreja, em fe confef-
far bem, & verdadeiramente, o prefervouaffim de nada lhe tocar, como de cor-
rupção, em forma, que além da alvura extraordinária de feu corpo, dava fuavif-
fimo cheiro, & tal, que fe eftendia alarga diftancia, & obrou Deos por elle al-
guns milagres à viíla de todos os que fe achavaõ prefentes ; & como então o
povo era o que por acclamaçaõcanonizava os Santos, lhe chamàraõ Santo Agi-
nha,ou Azinha. fcftahe atradiçaõ vulgar,que,a meu ver,nam tem duvida em
feu fundamento, inda que alguns querem que a Padroeira defta Igreja foffe S.
Eugenia Romana,Virgem, & Martyr, que por nam cafar com o Conful Aquilio,
fugio de cafa, & muitos tempos foy Religiofo no deferto de Alexandria, aonde
feu pay era Prefeito pelo Império, &veyo a padecer em Roma por mandado dc
Nicetio Prefeito do Emperador Galieno. Ainda nifto acho myfterio ; porque
Santa Eugenia fendo mulher le veftioem trage de homem, para fer,como foy,
Religiofo: & efte Santo íe he o ladraõ, fendo homem com o nome , que lhe de-
raõ dc Santo A ginha, nos poem cm duvida fe he Santa Eugenia. O que fey he,
que a Igreja, que foy Parochia, eftá por terra fem veneração alguma , fó fe con-
ferva íuima Ermida , & os freguezes fe dividirão para a de S- joaõ de F ilguei-
ras,& para a de Covas, & nam fe acha fepultura , nem noticia aonde eíle Santo
efteja fepultado, viíitaò-na com clamores, ôc lci/aõ dalli terra para os doentes
de maleitas, que com ella faraõ. *
Santa Maria de F ilgueiras he a Parochia, a que fe reduzirão os freguezes
de Santo Aginha, Vigairaria que rende cincocnta mil reis , & os dizimosfaõ
ametade do Abbade de Covas , & da outra fe fizeraõ dous Preftimonios da Or-
dem de Chrifto, data delRey pela Cafa de Villa Real: tem trinta vifinhos, vem a
S. Joaõ de Arga todos,alguns dias do anno, por fer a Matriz antiga.
Santa Maria de Arga, Curado do Abbade de Covas , rendelhe quarenta
mil reis, & os dizimos faõ do Abbade, & dos dous Preftimonios acima:tem cm-
coentavifmhos.
Santo Antaõ de Arga de Riba, Vigairaria das Freyras de Sãta Anna de Via-
na com oito mil reis, ao todo quarenta, & para as Freiras cincoenta mil reis : té
trinta & feis vifinhos.
Santiago de Sopo, Abbadia.que rende duzentos & oitenta mil reis,he da-
ta delRey pela Cafa de Caminha: tem cento & noventa viftnhos, quaíi to dos Pe-
dreiros, que vaõ pela mayor parte de Efpanha a fazer obras , de que trazem
muito dinheiro.
Santa Eulaliade Villar de Mouros ^que foy antigamente Couto , he Vi-
gairaria que aprefenta o Chantre de Braga, rende cento & vinte mil reis , & os
dizimos mais de trezentos mil reis, ametade vay para a Mefa Arcebifpal, & a
outra paraosCapellaens de S. Pedro de Rates na mefmaSè. Deraõ efte Padro a-
do, & Couto, que entaõ tinha, a Dom AffonfoBifpo de Tuy , & àquella Sè a
Rainha Dona Therefa,& El Rey Dom Affonfo Henriques em tres de Setembro
da era de 116 que vem a fWo anno do Senhor 112 y. ElRey Dom Gar ci a ti-
nha dado efte Couto à mefmaSè, & a feu Bifpo Dom Jorge no anno de 1071.
por fua alma, & dos Reys Dom Fernando, & Dona Sancha feus pays : tem du-
zentos,& trintavifinhos,&hurna Torre antiga, aque fe naõ fabe a caufa dc
fua fundaçaõ; mas todos affirmaõ que nefta Freguei!a viverão Mouros, quando
ganháraõ Efpanha,& que na 1 orre morava o fenhor delles. Tãbem no rio Cou-
ra, que por aqui paffa, ha huma boa ponte , que difta [de Caminha huma legoa,
aonde fe mete no Minho.
Saõ
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. i8j
S. Martinho deLanhellas , Vigairaria que aprçfenta o Rcvtorde Seixas,
rend e-lhe oitenta mil reis, Sc dízimos fe aj ui itaõ com os da Matriz para oX ô-
mendador :tem cento Sc dez vifinhos- junto aorio cita a Cafa, & Torre deLa- „
nhelias com íuas ameyas a modo de fortificação ,. a mais perfeita ,Scmageítcla
quinta de regalo queem Portugal vi, 6c com renda que a conferva : dizem toy
dos Abreus, fenhores da Cafa de Abreu,que na verdade íòraõlenh ores das me-
lhores quintas, que na ribeira do Minho liavia , he agora dcjacome Soares de
Viana.
S- Pedro de Seixas he Commenda de Chriílo, Sc Rey toria da Mitra , rende
cem mil reis, Sc para o Commendador com a annexa de Lanhellas trezentos £c
cincoenta mil reis: tem duzentos v/íinhos. N eíla Freguefia ha huma fermofa
Capella de S. Bento, a qual he grande de tres naves com arcos poítosemcolum-
nas, tres portas, Sc duas Sancriítias, he muito antiga , Sc tem huma Imagem do
Santo feita de vulto, que continuamente eítá fazendo infinitos milagres, ccmo
publicão os muitos Romeyros,que frequentemente o Vifitaõ,aííim deite Reyno,
como do de 3alliza, efpecíalmente nos Sabbadps de Agofto 3 fempre tem as
portas abertas de dia, Sc de noite, por fe entender que aflím o quer o Santo , p
que fe alcançou, de que fechandolhas huma tarde, ao outro dia as achàraõ na ri-
beira do Minho, que diita tiro de arcabuz , Sc por cita tradiçaõ fe nam fechar
mais, nemos Prelados mandàraÕ o contrario- Em 21 • de Março, & 11 - de ju-
lho, dias em que a Igreja celebra as icftas deite Santo, tem feira franca,que du-
rava oito dias com privilégios dos Reys deite Reyno, para nenhum homiziado,
que a cila venha, pofia fer prezo; nam dura hoje mais de dous dias , na qual íç
achao muitos Mercadores de varias partes-
Santa Marinha de Argélia, Abbadia do Ordinário dc ametade dos dízimos,
com que rende cento & vinte mil reis, & a outra cem mil reis, lev aõ-na os Fra-
des de S. Domingos de Vianna, a quem a deu o fauto Arcebifpo Dom Frey Ber-
tholameu dos Martyres, quando fundou eite Convejito, tem cento & cincoen-
ta Scfeis vifinhos.
Santa Eulalia de Venade , Abbadia de Sua Mageftade pela Cafa de Villa
Real, rende cento & quarenta mil reis, tem cento & vinte vifinhos-
S. Miguel de Azevedo, Curado do Collegio de S- Bento de Coimbra, que
fie defannexou doMofteiro de Tibaens,rende aoCura vinte mil reis,Sc quarenta
mil reis para os Frades: tem trinta Sc cinco vifiuho^ Efta Igreja ,Scaquefe fe,-
gne,eraõ ambas huma,ScentaõaParochiaemS-Pedrode Varaes, que inda hoje
fe vè náferra, Sc toy Mofteiro da Ordem de S- Bento , Sc feu Çommendacano
F.emaõ Velho, queem hum prazo,que fez a Lucrécia Lobo, fe intitula Abbade
Revtor,comoconfta do original, que vi em Viana em maõ de Afienfo Pereira
da Sy Iva, fenhor defre prazo-
S- Sebaftiaõ Villa, outra pequena Freguefia do termo, Curado dos mefmos
Religiofos, que rende trinta mil reis, Sc para ffe Frades ferenta mil reis , tem
cincoenta vifinhos. n ; u

p
1
• - - mm

CAP*
TOMO PRIMEIRO

•>

CAP. III.
C" *

Da Villa de Valladares.

Uatro legoas da Villa de Valença para o Norte , & lcgoa & meyada de
\ I Monçaõ para o Nafcente, feguindo a mefma ribeira do Minho, aígú tan-
tod£fviadodelle,eftá a Villa de V alladares, a quem deu foral EIRey Dom Af-
fònfo o Terceiro: tem feflenta vifmhos com muita nobreza, Cafa de Mifericor-
dia deboa arquitectura feita ao moderno, & Hofpital. Chamavafe Condado,
mas nunca teve titulo de Conde. Della foy fcnhor Dom Sueyro Arias de Val-
ladares, que afíim feappellidou da terra que dominava nefte Rey no, depois que
vcvo do de G alliza,donde era naturaljíeus paysforaõ Dom Arias Nur es,& Do-
na Examea Nunes. Teve muita fucceflaõ, que occupou grandes lugares : entre
eftes Dom Rodrigo Paes de Valladares doConfelho delRey Dõ Sancho o Pri-
meiro, feu Mordomo mór, & * lcay de mór de Coimbra , que com fua fegun-
da mulher Dona Tareja Gil foraõ pays de Gil Rodrigues,que o Conde Dom Pe-
dro diz foy morto por Pedro Soares Galhinato. L Duarte Nunes, que enten-
demos achou melhor certeza, affirma que eftehe aquelle grande Magico, que
arrependido do padtoque tinha feito com o Demonio , confirmado com elcrito
de feu fangue, entrou na Ordem de S. Domingos, & fez vida tam penitente, que
por interceffaõ daVirgem NoíTa Senhora lho reftituío,& he S Frey Gil tam ce-
lebrado nefte Reyno por fuas Nigromancias no feculo, & milagres na Religião,
cuio corpo fe venera em Santarém no Convento dos Frades da fua Ordem, ccm
feita, & romagem notável em 14.. de Mayo. Sempre cafáraò bem eftes fidal-
gos, & delles procedem os melhores do Reyno. Inda hoje fe confervaõ alguns cõ
Morgados defte appellido, particularmente no Porto, &Guimaraens. Também
foy bifneto de Dom Sueyro Arias de Valladares Dom Lourenço Soares de V alla-
dares, Tenente da ribeira do Minho, que era entaõo mefmo que Governador
das Armas. Asdeftafamiliafaôoefcudoefquartelado nopnmeyrode azul hu
Leaõde prata,armado de vermelho,o fegundo empequetado de vermelho , &
prata de íeis peças em faxa, timbre o mefmo Leaõ das Armas empequetado de
vermelho na carranca. Entràraõ nefte fenhorio os Abreus , & o primeiro de
que achamos noticia,he VafcoGomes de Abreu, fenhor da Cafa, Tprre, & Cou-
to de Abreu em Morufe termo de Monçaõ, Alcayde mór de Lapella, Melgaço,
& Caftro Leboreiro, o que devia fer em tempo dos Rey s Dom Pedro, & Dom
Fernando,&o perderia no delR# Dom Jóaõo Primeiro,por felhe cppor em
Melgaço, quando lho conquiítou, por fer primo fegundo de Dona Aldonça de
Vafconcellos, mãy da Rainha Dona Leonor Telles, que o era tia Rainha de Cal-
tella, herdeira do noffo Reyno- A ntes, ou depois foy fenhor delta V ilia F erna-
cfc> Aífonfo Correa,fenhor de Farelaés:paífou aos Marquezes de Vilia Real, que
a perderão na feliz acclamaçaõdo fenhor Rey Dom Joaõ o Quarto, & hoje he
Cafa do Infantado- Tem dous juizes ordinários, tres Vereadores , & Procu-
rador do Concelho, eleição triennal do povo, & pelouro, a que preíjde o Ouvi-
dor de Valença, Efcrivaõ da Camara, & Almotaçaria, quatro Tabeliaens , Mei-
rinho,
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. iê?
rinho, Juiz dos Orfaõs com feu Elcnvaõ, Diftribuidcr,Enqueredor , & Con-
tador, tudo data delRey, Efcrivaõ das >izas, Cápitaõ mór, Sargento mór , & 1
Monteiro mór, & quatro Companhias da Ordenança. Dá muito pao de toda a *•
cafta, feijão, linho, caftanha,baftante vinho, boas frutas, & hortaliças, caça,
criaçaõ de egoas,& gados,lãs as melhores da Provinda, de q fe fazc boas man-
tas, muito mel,&peícas no Minho de todo o peixe quecoftumadar, & muitas
trutas no pequeno rio Mouro. Compoem-fe o termo das Freguefias feguin-
tes.
Santa Eulalia de Sá he Igreja Matriz, Abbadia de Sua Mageftade pela Cá-
fa de Villa Real, rende cem mil reis, tem feífcnca vifmhos. Alguns cuidaram
ferem daqui os Sàs.
S. Joaõ de Sá, Vigairaria ad nutum do Arciprefte de Viana, rende quarentá
mil reis, & para o Arciprefte fçtenta mil reis : tem noventa & leis vifinhos.
Aqui eftá huma quinta honrada, que repart íraõ Lavradores entre íi. Tem cáfá
grande com efcudo de Armas: era Solar da família dos Caos , dos quaes foy
Diogo Caõ, que defcubrio Angola, &. o Congo no anno de 148 f • Era Cavallei-
ro da Cafa do Infante Dom Henrique sEl.Rey Dom Joaõ o Segundo lhe deu por
Armas em campo verde duas colunas de prata fobre dous penhafcos, 8c no re-
mate de cada huma, huma Cruzíingella de azul larga nas pontas a modo das
dos Templários, timbre as colunas em alpa atadas com torfal verde em memo-
ria de dous padroens, que levantou na boca do rio Zayre,i ou Mameongo mil &
feiscentas legoas de Lisboa, & fete grãos ao Sul, & no Cabo do padraõ duzen-
tas legoas alem do Reyno do Congo. Tevefilho Pedro Cam , que foy Alferes
da bande ira Real do primeiro Vifo-Rey da Índia Dom Franciíco de Mmeydà
quando aellapaffou nc anno de 1505- Daqui entendemos paliaram a Villa
Real comos Marquezes, aonde fe confervaõ nobres,&principães»
S. Miguel de Meífegavs, Vigairaria collad a com titulo de Rey toria , tern
ao todo fetenta & cinco mií reis de renda, 8c dos dízimos fe fez Preftimonio da.
Ordem de Chrifto com o Habito,que rende cem mil reis, tudo data de Sua Ma-
gelt ade pela Cafa de Villa Real: tem feífcnta vifinhos.
S< Salvador de Mouro Juzaõ, a que vulgarmente chamaõ de Seivaês , he
Reytoria, q rende ao todo oitenta m l reis, os dizimos cõ alguns foros faõ Pref-
timonio da Ordem de Chriflo, que rende duzentos mil reis , tudo data dclRey
pela mefma Cafa de Villa Real: tem cento & felfenta vifinhos.
S.Julião de Badim,V igairaria ad motum,q aprefenta ó Rey tor de Seivaês ,de
quem he annexa, rende doze mil reis, ao todo quarenta mil reis, 8cpará o Com-
ínendador cincoetamil reis, tem cem vifinhos. Nefta Freguefia,oiide chamãoi
O Couto de Villaboa (porque o foy antigamente, 8t delle fenhor , 8c dos direi-
tos Reaes Diogo comes de Abreu, filho de Vafeo Gomes , por mercê delRey
Dom Fernando) ha huma Torre, que por defcendencia de Abreus com os di-
reitos Reaes anda nos Marquezes de Tenorio em Qalliza. Ha mais outra cafd
com ruínas de Torre, em que vivem Lavradores defeendentes dos antigos fe-
nhorcs delia, que vulgarmentefe diz ferem doappellido deVillarinho,& aqui
feu Solar > fem embargo que O Doutor João Salgado de Araujo no Nobiliária
manu-eferito diz fer noReyno de Galliza. Todos fe conformão com que elles,
& os Abreus defeendem de hum Cavalleiroprincipal,chamado Arção ae Cotos>
& que por eft a razão tomàrão os Abreus por Armas os Cotos , ou azas de An-
jos por alluzão a feu nome; 8c que os Villarinhos vem de hum filho baftardo dos
primaros fenhores dá Cáfa de Abreii, que indo com feu pay , & oútr os clous
V

*88 TOMO PRIMEIRO


:
filhos Ieg timos à caça, fora o pay afíkltado de huma feróz ferpente, o que ven
do os legítimos, vilmente fugíraõ, deixando o pay em tarn conhecido perigo, St
, o baítardo naõ fó fugira, mas matara o bicho, 5c livràra o pay 5 St que iabendo-o
a mulher, eítimulada da baixa acçaõdeleus proprios filhos, & obrigada da he-
róica fineza do enteado, o perfilhou, Sc desherdou os filhos. Na Igreja de Perre
em Viana ámaõ direita da Capella mór da parte de fóra eitaÕ as Armas dos
Abreus com duas ferpes pegadas noefcudo, que corroboraõ o que fe diz, que
por eite relpeito fe puzeraõ. Muitos dizem , que aqui foy a Honra de
Villarinhos , Sc que eítes foraõ ienhores do Paço de Villaboa, Sc do Couto de
Quintella, Seda Torre de Villa Martins, Sc da quinta da Sobreyra em Monçaõ,
dos quaes crafenhor,emtem]X>delReyD. Diniz, Gil Pires Viilarinho, cabeça
dobando nas contendas, Sc inimizades, que os fidalgos de Qumtella, Sc outros
tiveraõ contra os de Abreu, aos quaes o dito Rey mandou compor.
S. Pavo de Segude,he Abbadia de Sua Mageítade pela Caia de Villa Real,
rende cento & cincoenta mil reis,tem cento Sc trinta vifinhos.
S. Cofme de Pcdàma, Vigairaria da Mitra, rende cem mil reis, tem noven-
ta vifinhos. .
S.Salvador de Tangil, Vigairaria cclladacom titulo de Reitoria, tem do-
ze mil reis, ao todo fetent a mil reis: os dízimos , Scícros laõ Preitimonio da
Ordem deChrilto , rende duzentos mil reis, tudo data delRey pela.Cafa de
Villa Real: tem duzentos 8c letcnta vifinhos. Aqui na Aldeã da Cofta ha huma
Cafa, Sc Torre, Sòiar dos Soares Tangis, de que defeendem os mais nobres de-
lias ribeiras do Minho, Lima, Sc outras partes , Sc em Galliza os Senhores de
- Ventrazes,queconfervaõ osmefmosappcllidos: tomáraõode Soares por deí-
cendentes deDom Sueyro McndesdaMaya» Tem por Armas em campo azul
febre hum rio huma ponte de tres arcos com fuas ameyas, Sc duas Águias pre-
tas com coroas poítas em duas torres, que eílaõ no principio, Sc fim da ponte j
as Águias voantes olhando huma para a outra, Sc em húa ameya da ponte bem
110 meyo hum Leaõ de ouro fobre os pès , levantado para a parte direita com
huma efoada nas maõs. NamelmaFregueíiafevem ruínas de outra Torre , de
que he íenhor o Marquez de Tenoriopor Abreu: dizem ler Solar dos Ney vas,
cujo langue chega a muitos nobres deita Província, Sc Galliza, fuppoíto que en-
tre nós poucos le appellidaõ aílim.
S. Pedro de Riba de Mouro, Preílimonio da Ordem de Chriíto, 8c Reytoria
q rende ao todo cé mil reis,hum Coadjutor cõ trinta mil reis,Sc duas annexas, q
faõ as feguintes; todas importaõ para o Commendador duzentos mil reis, da-
tas delRey peia Cafa de V illa Real: tem trezentos Sc oitenta vifinhos- Aqui ef-
tá a Cafa, Sc Solar dos Quintellas, tinha Couto, de que foy fenhor Abril Pires
de Quintclla, hum dos grandes fidalgos, que feguiaõ a Corte dos nolíòs Reys,
cafado com Dona Tare ja Soares, filha de Sueyro Gõçalves de Barbudo, St de fua
mulher Dona Tareja Pires de Novaes, Sc diz o Conde Dom Pedro, que houve-
raõ Semel de Cavalleiros. Pcrmaneciaõosdcfcer.dctes deites fidalgos cõpcder
cm tépo delRey Dó Diniz, em que tiveraõ contendas pezadas com os Abreus
feus vifinhos, ajuntando huns, Sc outros tanta gente , que caminhando para
guerras civis, EIRey os mandou compor. Deixàraõmuita fucceíTaõ, que fe in-
cluío em outras famílias, Sc deita fe acabou a noticia por naõ fe appeilidarc del-
ia, fendo tamnobre- He tradição que eítenome tomou aquelle iitio de huma
grande quinta,que alli teve hum poderoio Mouro, que nella vivia, Sc era fe-
nhor de toda a ribeira deite rio,que pela mefmacauíã fe chamou também aífim,-
DÁ COROGRAFIA PORTUGUEZA. 189
& he o proprio, a quem fuccedeo a felicidade de fe converter à Fè de Chrifto,
quando menos o cuidava no medonho ialtoda ponte do Mouro.
S^Maria de Gave,oi£ Gavia, he Viga iraria q aprefenta o Rey tór de Riba de.
Mouro, rende quarenta mil reis, & para o Commendador fetenta mil reis; tem
cento,& trinta vifinhos. t . .
S. Mamede de Parada do Monte, Vigairarià da mefma aprefentaçao , que
rende ao todo quarenta mil reis , 8c para o Commendador leffenta 8c feismil
reis, tem cento 8c cincoenta viíinhos. Aqui ie faz o melhor bilrei de lã das
ovelhas Gallegas de todo o mais Reyno,donde he muy procurado para cubcrtas
de camas de Lavradores, ou criados, 8c ainda de muitos nobres para as meterc
entre os cobertores; he muy branco, groffo, 8c macio. Neitas montanhas, em q
ha muita caça, 8c veação, houve antigamente hum Couto, a q chamavão Val de
Poldros,o qual fez, marcou,8c defendeo Payo Rodrigues de Araujo , de que
poííiie parte feu fexto neto Manoel de Araujo de Caldas, Sargento mor de Val-
ladares, inda que atenuado em parte das grandes regalias que tinha.
S. João de Lamas de Mouro he Abbadia-do Ordinário, rende quarenta mil
reis, tem quarenta viíinhos, que faõ privilegiados de Malta pela Commenda dc
Tavora,.a que pagão muito foro, não lendo a terra por roim capaz de t anto.
Dizem que algum tempo foy efta Igreja de Templarios, 8c dellcs, quando fe ex-
tinguirão, paliou aos Maltezes. O co.no fahio delles para o Ordinário nam al-
cançamos , que naquelles tempos os mais dos contratos erãoverbaes. Aqui
nafee o rio Mouro, nome que tomoudaquelle poderoío, ou regulo , de que já
falíamos, 8c que nefte monte tinha fua coutada de recreação para caçar. O rio
inda que pequeno, dá faborofas trutas, 8c íeengrolfa com o da Mendeira , que
pouco abaixo lhe entra. ■. * , •«
Santiago dePenfo, Vigairariado Morteiro de Paderne com de2 mu reis,
ao todo oitenta mil reis, 8c para os F rades cento 8c dezoito mil reis, tem duze-
tos viíinhos. Aquieftá a Quinta de S. Sybrão, que poílue F elippe de Araujo dc
Caldas, Cavalleiro do Habito de Chrifto, Capitãomor , 8c Monteiro morde
Valladares; tomou erte nomedehuma Capella antiga derte Santo Cipriano,que
alli ertá; he tradição foy templo da Gentilidade dedicado a Jupiter ; o fitio hc
fúnebre, 8c defacõmodado no meyo de hum campo com pouca vcncração,& me-
nos o fora a não fer advogado das cézoens, ou maleitas, que muitos enfermos
vem alli tremendo, 8c voltaõ faõs. 1 . J
S. Martinho de Alvaredo, que algum tempo fe chamou de Paderne,he Cu-
rado annual com titulo de Vigairariado Morteiro de S> F ins dos madres da i^õ-
panhia, com oito mil reis de ordenado, ao todo cincoenta mil reis , 8c para os
Padres cento 8c vinte mil reis: tem cento 8c felfenta viíinhos. Onega Fernan-
des fenhora principal, fendo viuva, 8c tendo habito de Religiofa > deii a quarta
parte derta Igreja a Dom Affonfo Bifpo de Tuy, 8c àquella Sc em 15• de Abril
da era de 11 ytf. que he anno 1118- na qual confirmão feu filho Payo Dias , Sc
fua filha Aragonta Dias. Ha nefta Freguefia duas Torres com alguma renda,
chamafe huma de Villar, outra a Torre fomente , 8c de ambas faõ fenhores os
Marquezes de Tenorio. A que ertá defrõte de Galliza he Solar dos Marinhos,
quefe entende haver fido do Dom Froy ao, fidalgo Italiano, que veyo a elhe Rey-
no com o Conde Dom Mendo ajudar a expulfar os Mouros delle. Entendeis
que elle, ou algum filho fez efta Torre, 8c Cafa folaricga dc fua família, 8c não
faz contra ifto o que diz o Conde Dom Pedro, 8c outros Gallegos, que o feguc,
que os Marinhos faõ naturaes de Galliza yporque naquella era andava cõ ella
1
" Bb miíticc
a90 TOMO PRIMEIRO
miíbica a noffa Província. Cafou com Dona Marinha, de que teve a Dom João
Frojás Marinho, que de fua mulher houve a Pay o Annes, Dom Gonçalo A nnes,
Dom Pedro Annes,Dom João Annes, & Martim Annes , que todos fe appelli-
dàrão Marinhos 5 de hum fahio o Solar de Ulhoa, de outro o de Imra, & delles
vem os Condes dos Mollares, Adiantados de Andaluzia, os Duques de Alcalár
&poraquiosmayoresdeEfpanha- Outros ficàrão em Portugal , dos quaes
erão aquelles dous irmãos, que fervírão no Paço a ElRey Dom Aífonío o T er-
ceiro, onde lhe fuccedeo com Dom Vafeo Martins Pimentel a pendência , que
conta o Conde Dom Pedro- Alguns dos já ditos paífárão aGalliza por cafa-
mentos, de que defcendem muitas Cafas daquelle Reyno, & neíba ribeira do Mi-
nho, Ponte de Lima, & outras partes- Elbe Solar parece que paffou a Pedro Al-
vares de Sotomayor, por cafar com Dona Elvira Annes, filha de João Pires Ma-
rinho, neta de Dom Pedro Annes Marinho, bifneta de Dom João Frojàs Mari-
nho, & terceira neta do dito Dom Froyão , do qual matrimonio naíceo Dona
Elvira Pires, mulher de Fernão Gonçalves dePias,fenhor do Solar de Pias,que
entendemos fer aTorredaSobreyra em Santiago de Pias, de que falíamos em
Monção, fuppoíbo outros o levão aoReynodeGalliza- Tem os Marinho- por
Armas em campo verde cinco flores de Liz de prata em afpa, & por timbre hua
ferea de fua cor com cabellos de ouro. Alguns trazem em campo de prata tres
ondas-azues, & de fóra do efeudo duas fereas de pê tendo mão nelle- Aflim ef-
tão em humas caías 11a rua de S- joaõ dentro dos muros de Ponte de Lima,& faó
dos defeendentes de Vafco Marinho, filho de Alvaro Vaz Baceliar de Monçam,
& por fua may dos Marinhos de Galliza , fenhor da Cafa de Goyanes junto à
Ilha de Salvora no Arcebifpado de Santiago, em que fizerão Solar, porque def-
ta Província paflarão para aquelle Reyno,aonde trazem quatro ondas na mefma
fórma com a ferea por timbre, 6t outros em campo azul cinco meyas flores de
Liz de ouro em afpa- A alguns pareceo tomarem eíbe appellido, & Armas por
defeenderem de huma mulher marinha, ou ferea, mas he fabula: o certo foy por
trazerem fua origem do Romano Cayo Mario , & deíba família he o noflò Santo
PortuguezS- Marino, que em Cefaria padeceomartyrio em io- de Julho, im-
perando Juliano.
He Conde deíba Villa de Valladares por mercê delRey Dom Pedro o Se-
gundo Dom Miguel Luis de Menezes, cuja illuíbre varonia he a feguinte.
Dom Antonio de Noronha foy filho fegundo de Dom Pedro de Menezes,
primeiro Marquez de Villa Real, & de fua mulher a MarquezaDona Brites de
Bragança ; fiou feu pay dclle fendo de dezoito annos o negocio de mayor im-
portância, & foy, que indo fogindo do furor delRey Dom Joaõ o Segundo Dó
Alvaro de Ataíde, & feufilho, que erão dos mais culpados na conjuraçam do
Duque de Vifeu, o Marquez movido a laíbima os poz afalvo , & mandou pelo
dito Dom Antonio de Noronha feu filho feguralos atê a raya de Caíbella, & de-
pois foy dar conta a ElRey do que fizera emfatisfaçaõ de fua lealdade; o que o
dito Dom Antonio obrou com tal modo ,que admirado ElRey em fogeito de
tam pouca idade tal prudência, & valor, o fez de feu Confelho, dandofe por fa -
tisfeito de fua lealdade, & do Marquez feu pay ; & aos que diziaõ,tam poucas
barbas não erão capazes de lugar de tanta confiãça, refpondeo ElRey: Os filhos
da Cafa de Villa Realnafcem emplumados: & confiou delle o fufbituir a feu pay
no lugar de Ceuta , aonde lhe fuccedeo,eílando hum dia no campo paífeando,
dando guarda aos da Cidade, fahirlhe pelas coíbas hum Lcaõ , que dando nas
ancas do cavallo, o fez em pedaços ], & Dom Antonio pegando nos braços do
Leaõ,
\

DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 191.


Leaõ, o fuftentou, ate que hum flecheiro atirandolhe huma fetta,com que lhe
deu em huma perna, o fez virar para onde o ferirão , & deu tempo a que Dom
Antonio tirando de hum punhal, o meteíTc pela barriga do Leaõ, & ganhaffe a-
vitoria de tam efpantofa luta. Achoufe na tomada , & finos de algumas praças
de Africa, (& em varias Armadas) & lá fez algumas entradas com feliz iuccef-
fo, mas defcontoufe; porque vindo de huma entrada, derão os Mouros nelle,&
ficou cativo: refgatoufe por Haiibarac.he; EiRey Dom Manoel o fez feuEfcri-
vão da Puridade, & o mandou fazer huma fortaleza no no Mamora 5 eftando
quafiféitã com grande refiftencia dos Mouros, com coníentimento delRey, &
dos mais Capitaens a largou; & vindo para o Reyno continuou na occupaçam
de Efcrivaõ da Puridade, & foy Procurador do dito Rev para fe efteituar o cafa-
mento da Emperatriz Dona Ifabel, & o fez Conde de Linhares, dandolhe cen.
to& íeffenta mil reis de affentamento pelo particularizar mais aos outros Co-
des, & cm lugar do tal affentamento, por lhe fazer mercê mda com mais venta-
lem, lhe deu cm treze de Janeiro de 1501- a dizima nova, & velha do pefcado
de Atououia , a qual dizima trefpaffou a Dom Affonfo de Ataíde no anno de
1 < 18- comprou com licença delRey a Affonfo de A Imeyda a Alcaydaria mor de
Linhares, & a Francifco de Caceres de Mello as Víllas de Algodres, Penaverde,
& Fornellos: cafou com Dona Joanna da Sylva, filha de Dom Diogo da Svlva,
primeiro Conde de Portalegre, & de fua mulher Dona Maria de Ayala, de que
teve, entre outros filhos, a . a _
Dom Pedro de Menezes, que foy Capitao de Ceuta, & o matàrao os Mou-
ros peleiiando com grande valor na occafiao dos Alcay des de Xarife . cafou
com Dona Confiança de Gufmão, filha de Dom Francifco deGufmaõ Mordo-
mo mor da Infanta Dona Maria, & de fua mulher Dona Joanna de Blafuel, íllu-
ítriffima fenhora em Flandes, de quem teve, entre outros filhos, a
Dom Antonio de Menezes, que foy Alcay de mor de V ifeu, & morreo na
batalha dc Alcacere} cafou corn Dona Joanna de Callro^filha de Dom Jeronymo
de Caftro, Governador da Cafa do Cível, & Senhor do Paul de Bucjuilobo , &
de fui primeira mulher Dona Cecília Henriques (que era filha de Ruí de Mel-
lo, chamado o Punho, Alcayde mor de Évora, & Alegrete , Commendador de
Proença, & de fua mulher í )ona Joanna Henriques , que era filha de Dom Car-
los Henriques, & de fua mulher Dona Cecilia de Brito, filha de Artur de Brito,
Alcavdemor de Beja,& de Dona Catherina de Almada,) teve o dito Dom An-
tonio de Menezes de fua mulher Dona Joanna de Caflro,entre outros filhos, a
Dom Carlos de Noronha, que foy grande letrado, Prefidente da Mefa da
Confciencia,& Comendador de Mouraõ na Orde de Aviz;cafou cõ D. Antónia
de Menezes, filha de Dom Miguei dc Menezes,fegundo Duque de Caminha, &
de Dona Maria de Soufa,mulher nobre,, natural de Ceuta, com quem cafou, co-
mo declara o feu teílamento,& a legitimação feita a íua filha em Abril do anno
de 1624.. de que teve a #
Dom Miguel Luis de Menezes, q he hoje Conde de Valladares , Commen-
dador de S. Julião de Montenegro, de S. João da Caftanheira, & da Commenda
da Grania junto a Loures, termo de Lisboa : cafou com Dona Magdalena de
Alejicaítre, filha herdeira de Dom Alvaro de Abranches & Camera , & de fua
mulher Dona Maria de Alencaftre, de que teve, entre outros filhos , a Dom
Carlos de Noronha, & a Dom Alvaro de Abranches, Bifpo de Leiria, Prelado
de grandes letras, & virtude, Sc a Dona Francifca Ineâ de Alencaítre, que roy
cafada com Pedro de Figueiredo, de que ha geraçaõ. .. _
# Bb íj Dom
i9i TOMO PRIMEIRO
Dom Carlos de Noronha he herdeiro da Cafa de feuspays, caiou com Do-
na Maria de Álencaftre, filha de Luis da Cunha de Ataíde, fenhor de Povolide,
Ac de fua mulher Dona Guiomar de Álencaftre, de quem teve aDom Miguel de
Menezes, Dona Guiomar, DonaMagdalena, & Dona Joanna.

Couto de aderne.

SAõ Salvador de Paderne, Morteiro de Conegos Regrantes de Santo Agofti -


nho, tomou o nome de fua fundadora a CondeçaDona Paterna, viuva do
Conde deTuy Dom Hermenegildo, que aqui tinhão grandiofa quinta, & mui-
tas aldeas, a qual vendofe livre das obri^açoens conjugaes fez erte Morteiro
para nelle fe recolher com quatro filhas, acabou-o no anno de 11 ;o. & em feis
de Agofto, dia da Transfiguração do Senhor,Dom Payo Bifpo de Tuy o dedicou
ao Salvador, lançandono mefino dia à Condeça, filhas, & companheiras o habi-
tode Concgas Agoftinh as, de que antigamente tivemos muitos, & hoje fó hum
M orteiro tem erte Reyno em Chellas meya legoa diftante de Lisboa : logo lhe
meteo para Capellaens, & ConfeíTores fete Clérigos, os quaes no anno de 1138.
fe fizerão Regulares,& a Abbadeffa DonaPaterna lhes mandou fazer para a par-
te do Sul humclauftrocom cellas, em que viveíTem, ficando asFreyras para o
Norte,& o Morteiro Duplex. Faleceo a Condeça Abbadeffa em feis de Janeiro
de 114.0. & foy lepultada em hum arco da parte de fora da bãda doEuangelho
da Capella, que hoje he Sancriftia dos Clérigos, aonde fe vè fua figura de Cone-
ga obrada demeyo relevo fobre o tumulo,&|imtodefy namefmafepulturaou-
tro de homem armado com huma eipadadamãoparao pè} prefumimos fer do
Conde feu marido, que com ella eftará alli enterrado : fuccedeo-lhe no cargo
de Abbadeffa fua filha Dona Elvira, a quem ElRey Dom Affonfo Henriques fez
doação doCoutode Paderne,&da jurifdição civil no anno de 1141. & nella
diz lha fazia pelos bons ferviços, que lhe fizera, quando elle efiava fobre o Laftelb
de Caflro Laboreyro, a quem tinha cercado, mandandolhe mantimentos , & hlguns
cavallos, entre elles hum minto fer mofo, & jactado ricamente para fua peffoa. Não
fe fabe em que tempo fe dividirão as Freyras dos Frades , mas acha-fe que no
anno de 1221 • vivião aqui fó ertes, ou raçoeiros, a quem governava Dom João
Pires, que derrubou a Igreja antiga,por fer pequena para os muitos freguezes,
que tinhão crefcido,&fazendoa novamente, a acabou no de 1264. & he a que
exifte. Defte foy tam affedo ElRey Dom Affonfo o Terceiro , que lhe fez al-
gumas doaçoens, confirmandolhe o Couto no anno de 12 4.8. Em feis de Ago-
fto de ud+.afagrou Dom Gil Pires de Cerveira (não Egidio,como dizem ou-
tros) Bifoo de Tuy,ficandolhe o mefmo orago do Salvador. Tem Prior trien-
nai com íete,ou oito Religiofos, & hum Cura fecular com fete mil reis, ao to-
do fetenta mil reis, & para os Frades com as annexas,que fe feguem, & Paços
em Melgaço, & fabidos perto de tres mil cruzados , de que pagão penfocns :
tem quatrocentos & trinta vifinhos. Paffou erte Morteiro a Commendadores,
& nelle o forao fucceffivaméte dous, ou tres fidalgos do appellido deMoguey-
mes, & Fajardos, que fendo Gallegos, deixàrão muita fucceffaõ em Portugal,
entre ella fe acha nefta Freguefia a da quinta de Pontezellas , que elles fundà-
rão,& a poffuío o Capitão Pedro Falcão , porfercafado com filha herdeira de
Diogo Ortiz de Tavora, filho de Gregouio Mogueymes Fajardo. O ultimo Cõ-
mendatario perpetuo, a quem o Chronifta dos Conegos Regrantes chama Prior,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 293
foy Diogo de Alarcão., por cujo falecimento, permitindo-o ElRey Dom Sebai-
tião , fe unio a Santa Cruz de Coimbra 110 anno de 1 f 9+. por Bulias do Papa
Clemente Oitavo, com condição, que femprenelleficaíTem Religiofos, que re-
zaíTem no Coro os Officios Divinos, & prègaíTem ao povo, & Clérigos Curas,
que adminiflraffem os Sacramentos, razão porque o deixàrãocomo eflava, &
foy feu primeiro Prior triennal Dom Nlcolao dos Santos. He Couto no eivei,
&asFregueíias,quefe feguem com juiz ordinário, que faz oPrior , & todos
os Olficiaes; vem Tabeliães de Valladares elcreverlhe hum anno, outros dous
no feguinte: o Prior he Ouvidor,no crime, & Grfaõs os de Valladares, & aífim
o Enqueredor, & Contador 3 tem duas Companhias, de que o Prior he Capitão
mór. . .
S- Thomè do Couço, Curado annual do Morteiro de Paderne, rende vin-
te & cinco mil reis, &para.os Frades quarenta mil reis: tem cento & vinte vi-
íinhos.
NoíTa Senhora de Cubalhao, Curado do mefmo Morteiro, rende trinta mil
reis, & para os Frades fefienta mil reis: tem oitenta vifinhos. Erta Imagem de
NoíTa Senhora he de pedra , & muy milagrofa. Ha aqui hum íitio, a que cha-
mãooCartro,que moftra fer fortificação antiga dos Romanos. Ertas duas
Fregueíias faõdo mefmo Couto.

Couto de Feaes.

NO mefmo Concelho de Valladares, ficandolhe para o Norte o de Melga-


ço, & para o Nafcente o Reyno de Galliza, lobre huns altos montes ,
ao pede outros mais altos eftá o Convento.de Feacs j fundado em tempo del-
Rey Ramiro Primeiro , & de fua mulher a Rainha Dona Paterna , de que jul-
gamos tomar o nome o valle de Paderne; quando ella então não foíTe a fundado -
ra daquelle Morteiro, o feria do de S. Payo , que no termo de Melgaço houve.
Foy eíte de Fcaés de Monges Bentos com a invocação de S.Chrirtovão,de qae
fe acha noticia pelos annos de 8yi. & hum dos primeiros , que defta Ordem
houve em Efpanha. Foy logo tam rico em feus princípios de rendas, & lenho-
rios, que teve nerta Província, na de Trás os Montes, & Galliza, que vulgar-
mente fe dizia não haver algum tam poderofo, como o Dom Abbade de Feaés,
depois delRey, pelo que fe pôde prefumir fer obra fra. Alli viviao oitenta
Frades de Milia, além dos Converfos,os quaes em Laus perene aífiftião con-
tinuamente no Coro de dia, & de noite, & com tam exemplar vida, que de to»
dos erão chamados Santos, & muitos fazião milagres; pelo que fe vinhaõ aqui
enterrar muitos Príncipes, q ue lhe fizerão amplas doaçoens- De tres Infantes
ha noticia, & de muitos fidalgos Gallegos, & Portuguezes, Fernão Annes de
Lima, pay do primeiro Vifconde,eftá em fepultura levantada, & magnifica cõ
fuas Armas junto da Capella de S. Sebaftião. Tinha antigamente hum banho,
que por milagre de NoíTa Senhora appareceo junto do Morteiro , & erta agua
era de tanta virtude, particularmente no dia do Bautirta , que muitos doem es
de varias enfermidades, & aleijoens incuráveis, que nellefe vinhão lavar, vol-
tavão faos. Mandoufe entupir ha annos por mortes que houve entre os que
havião de entrar primeiro; mda hoje vem muitos bufcar agua, que delle mana,
& a levão a enfermos, que bebendoa com fé , obra Deos por ella muitas mara-
vilhas- Da imagem deS. Bento, que aqui eftá , & he vi/itada dos1 contornos
Bb iij em
194 TOMO PRIMEIRO
cm todo anno, particularmente em Teu dia, fe contão grandes milagres. A fa-
brica deftc Mofteiro, & cellas dos Religiofos foy coufa grande, trezentos &
tantos annos havia, que neilevivião elles Monges- Teve nellestempos dous
incêndios por defgraça, caufa de fua total ruína , porfe lhe queimarem os me-
lhores títulos de luas rendas, com que fe poz em eitado, que mal tem. com que
fuílente oito Frades,quanto mais para pagará Capella Real quarcta.mil reis,&
vinte & cinco mil reis ao Convento do Deilerro de Lisboa. Da primeira ruína
o tirou a piedade Chriftaã de Affonfo Paes,& dous irmãos feus, que de novo o
reedificàrão, &: der ão a Alcobaça; ultimamente não tivera nada,a não fer Alva-
ro de Abreu, que em nome do Molteiro com peífoas poderofas pleiteou os fo-
negados,& fe extinguira, como fedizno prazo do Carqueyjal, de que faõ di-
reito fenhorio as Freyras de Arouca. No anno de 11 yo. era tam grande a fama
que corria da vida fanta dos Frades Bernardos , que tiuharu vindo de França
para efteReyno, que mandou o Dom Abbade defte Mofteiro dous Monges ao
de Alcobaça a pedir nova reformaçam dos inílitutos de Ciller, 3t hum Religio-
fo para que melhor os mílruiíTenoque hav ião de obrar, ficando logo fogeitos
àquella Real Cafa, que de novo íehia edificando. Tanto que receberam a refbr
ma, tomàram por Padroeira a Virgem Noffa Senhora, deixando a S. Chriftovão-
St fe chama delde entam Santa Maria de Feacs, & em memoria do grande gof-,
to que tiveram de fe mudarem a Bernardos, , & da boa doutrina, que o novo
Meftrelhes veyo dar, puzerãonome de Alcobaça a huma Aldeã arrayana , que
então povoàrão, ôt permanece. Donde leu principio fempre teve Couto 110 Cí-
vel, que lhe confirmarão EIRey Dom Affonío Henriques, & feus fucceffores; &
o Dom Abbade, ou quem o fuílitue,tem jurifdição Epiícopal , Metropolitano
immediatoao Papa, fem queo Arcebifpo lhevifitedefeus fubditos, &. reconhe-
ce os Breves Apoftolicos, ou o feu Çrovifor,q he hum Religiofo da Cala, a que
o Abbade efeolhe, St delles appella para Roma, ou Nuncio. A mefma jurifdi-
ção tem em Galliza no Bifpado deTuy além do rio Troncofo em dous lugares
chamados Lapella,& A zureyra,em que exercita a dignidade Epiícopal por fen-
tençasque teve cá, & lá contra o Primaz, &Bifpo, que ambos lho quizerão ti-
rar,coufaquenão ley haja emoutra Diocefi. ACondeça Dona Fronilla deu a
eíle Mofteiro, & ao feu Abbade João em Janeiro do anno de 1166. a quinta de
Cavalleiros junto de Melgaço, coufaboa,particularmentede vinhas: & enten-
demos que com ella lhe daria também a Igreja de NoíTa Senhora da Oráda alli pe-
gado, que os Frades di^emfoy Mofteiro de S. Bento, Sc fundado quando fe edi-
ficou o de FeaCs, de que veyo a fer Priorado :outros dizem ( o quetenho por
mais certo, & alguns finaes moftra para iífo) que foy de Cavalleiros Téplarios,
de que ella quinta tomou o nome, St era paífal feu- Pouco ha fe lhe vião ruínas
de cellas, clauftros, Sc canos de pedra, pelos quaes lhe vinha agua. Tambem o
Arcebifpo não pôde vifitálla por fer de Feaes,mas melhor fora que a vifitaffe pa-
ra a mandar venerar, antes que de todo fe arruine. Naerade 117+. GomesMu-
nhos lhe deu certas herdades em Rouças termo de Melgaço. Menos ha de du-
zentos annos tinha ainda vinte Abbadias de fua aprefentação in totum , ou em
parte voto, St muitas em Galliza, de que erahuma a de Padrenda, a de Lamas de
Mouro, Chriftoval,Chaveaés, Santa Maria da Porta da Villa , & Rouças em
Melgaço, St de Villela nos Arcos, de que fó fe conferva Chriftoval. Teve mui.
tos Coutos, que os Commendatarios aforàrão a vários fidalgos. A Real Cafa
- de Bragança pagavalhe hum florim de ouro pelos lugares de Villarinho, Fezes
juzão, Sc de Mandim vifínhos de Monte Rey , Sc pelos Padroados das Igrejas
defies
D A ~ C ORO G.RA FIA PORTUGUEZA, hps
deites lugares. Em Galliza tem o de S. Breyxomo junto de Alhariz,o de Gt>
ginde, Aíperello,Gãceiros,&: Requeixo cm Entrimo,& o de Rio frio em Vigo,
& muitas granjas,&cafaes, que reconhecem o Convento com fcus feros. Os de.
Breyxomo lhe entràrão pela caufa feguinte- Erão dos fenhores da Cafa de San-
dias os íenhorios da de Parada de Outeiro, &. alguns 1 ugares da de Guilhamil,
emquecontinuàrão, atè que Ruí dsSàndiasteve duvidas iobre os termos cô
João Rodrigues de Biezma,& como naqiielletempoo melhor direito era o po-
der, & valimento, & o tinha grande o Biezma comos Reys deCaftella , levou
o fenhorio dos lugares de Guilhaniil , deixandolhe a fazenda ; valeo-fe
Ruí de Sandias do amparo de Dom Fadrique, Duque de Benavente pelos annos
de 1581.& Fernão Peres de Sandias feu irmão fe recolheo neíte Moíteiro de
Feaés, aonde acabou a vida, & lhe fez doação da jurifoição de Breygemo, & de
outras fazendas, que lhe tocarão em partilhas , que íe outorgou no anno de
1386. depois da batalha de Aljubarrota , pelo qual eíte Convento cobrava an-
nualmente feifeentos maravedis de prata at è o anno de 16+o< em que nos fepa-
rámosde Caftella,&comas pazes eltáreíbtuido. De toda a caça Real, que no
Couto fe mata, tem o Dom Ábbadea cabeça de direito Real,&ie lha não trou-
xerem, caftiga o que falta a eíta obrigação. Em dia de janeiro manda chamar o
juiz velho , & que arçume a vara , vem os moradores , & por veto delles
•fazo que hade fervir no eivei,& Procurador ^ vem- lhes elcrever dous 7 abe-
liaens de Valladaresjo crime, ôt mais otíicios faõ do Concelho. Muitos Reys
lhe concederão grandes privilégios a eítes vaíTallos,alaber, que não paguem
fintas, ou empreftimòs,inda que lhospeção para EIRey, & que^ nenhumas fuas
Juftiças os avexem, oumoleftem fob graves penas , o que atègora ijb guarcâ.
Os Àbbades Cõmendatarios perpétuos ihe dciãnnexãrao muito , até que tor-
pàrão os triennaes. O Abbadehe Parocho, & hum Frade Cura com pouca ren-
da ; o Mofteiro renderá ao todo com dízimos próprios , & íabidos hum conto
de reis: tem cento & vinte & feis Viíinhos. Os melhores prezuntos delia Pro-
víncia faõ defte Couto, curable femfal;os frutos delleíaõ centeyo, pouco mi-
lho miúdo, nabos, & caftanha, gados, muita caça de toda a caíia , em quê en-
trão javalis, & corças.

TRA-
ipí TOMO PRIMEIRO

Liy^^w^J QiÇ- ygffcSRWi Lg*tRg^i if^iR%yi

TRATADO V

T>d Comarca de^Bar cellos. .

CAP. I.

Da defcripçau dejla l^illa.

UAS legoas da foz do rio Cavado,tres abaixo de Braga,fete do


Porto para o Norte, & cinco ao Sul de Ponte de Lima tem feu af-
fento a nobre Villa de Barcellos,de cuja fundação não ha noticia
certa. Rodrigo Mendes Sylva attribue fua origem aos Barci-
nos, cabeça debando em Carthago contra os Edos,duzentos &
trinta annos antes da vinda de Chriílo, tempo em que povoàrão
Barcellonaj mas a efta fua opinião o não moveo outra razão mais que a feme-
lhança de Barcellos cõ BarcelLona, &em nenhum dos Authores, que ailega,íe
acha.
Felis Machado, Marquez de Montebello,nas notas que fez ao Nobiliário
do Conde Dom Pedro Plana 303. diz , que Barcellos fe chamou antigamente
BarraceUos,derivandoíeefte nome (corrupto hoje em Barcellos ) dc Barra
Celani, quehe o mefmo que Barra do rio Celano, que por alli corre, por eft ar
efta Villa fundada nas margens do mefmo rio. Os curiofos,defcobrindo a ori-
gem do nome de Barcellos por differente modo, dizem , que antes que no rio
Cavado houveífe a ponte, quenelle vemos, andava em aquella palfagem huma
barca, a que chamavão Barca Celi, ôtque delia fe derivou o nome à povoação,
que de Barca,& da palavra Celi com pouca corrupção fe chamou Barcellos, pa-
ra o que allegaõ aquelle verfo, que anda na memoria da gente:
Barca Celi Barcellos nomine dicunt.
A opinião mais provável he, que efta Villa foy antigamente Cidade Epif-
copal, chamada Aguas Celenas do rio Celano, chamado hoje Cavado , nome
quelhepuzerão os Mouros, quando dominàrão Efpanha pelos annos de 713.
chamando a efta Cidade Barcellenos, corrupto hoje em Barcellos. He cercada
de muros com duas torres muito altas , que mandou fazer o primeiro Duque
de Bragança Dom Affonfo, aífiftindo a efta obra Triftão Gomes Pinheiro, fidal-
go honrado de Galliza: tem quatro portas, a daTorreda ponte, a porta nova,
a do Valle, a da fonte de baixo, & tres poftigos, o da Feyra, o das Vigandeiras,
&odos Pelames. Tem hum chafariz na praça, outro no Poyo, & hum Tanque
com tres bicas na rua das Velhas, & fora dos muros a fonte debaixo com tres
bicas, & hum tanque com duas de cxcellente agua, & hum chafariz com duas
taças no meyo do campo da Feyra defronte da Ermida do Bom Jefus. Tem al-
guns Fidalgos, & muitos muito nobres, & os melhores Letrados da Provincia,
boas cafas, & he abaftada de paõ, milho, & centeyo, feijão,algum linho, bom vi-
nho no valle de Tamel,& por todo o termo, mas naõ o que bafte; pelo que fe pro-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA, íp?
Vê dc Ponte de Lima,, boas hortaliças , muita caça nos montes de perdizes, le-
bres, coelhos, & rolas em redes, & pefcano rio de falmoens, lampreas,muges ,
bogas, ires, & efcalhos, gado de toda a cafta, mel, & Cera, baftante lenha, & fei- *
rafrancaas primeiras quintas feiras decadamefcj&defdeodiade S. Miguel dê
Setembro atè o Natal outra cada fomana às fegundas feiras.
Tem efta VUla quinhentos vifinhos com huma Igreja da invocação de Sail*
ta Maria dentro dos muros, que fundou o Duque Dom Fernando o Primeiro
do nome, a qual he Collegiada , &a confirmou o Papa Paulo Segundo no anilo
de 14.74. com mais rendas, que depois fe dividirão para a Capella Real de Villa
Viçofa. He baftante Templo de tres naves com muitas, & boas Capellas ;a de
baixo da torre dos finos efcolheo para fy Triftaõ Gomes Pinheiro, & nellà eftá
fepultado feu quarto neto Alvaro Pinheiro,fenhor de fua Cafa, & Morgado, A í-
cayde mór de Barcellos, & Commendador de S. Pedro da Veygá de Lylla, Co-
menda da Cafa de Bragança,a que todos fempre fervíraô , & pegado à Capella
no corpo da Igreja eftà outra fepultura levantada , em que entendemos foy fe-
pultado o dito TriftãoQomes Pinheiro, &. na coifa da parte eíquerda acima da
porta travefía eftá outra com letreiro Gotico metida na parede, em quediz eíhr
alli fua neta Branca Pinheiro, de modo que entre as melhores famílias defta Vil-
la efta fe elevou mais. Fez Triftaõ Gomes Pinheiro humas cafas perto das do
Duque com duas Torres, coufa magnifica 5 & efta he o Solar dos Pinheiros de
Portugal, em que tem fuas A rmas diffcrentes das de outros defte appellido, &
fe parecem em parte com as dos Matos : faõ em campo vermelho hum Leaõ de
ouro rompete combatendo, ou trepando a hurn pinheiro de fua cor com pinhas
douradas,& raizes de prata, timbre o mefmo Leaõ- Outros que vem de Trif-
tão Gomes Pinheiro, &aparentão com os Freires, & parece defcendem de Pe-
dro Martins Pinheiro, & de fia mulher Maria Affónfo, que viverão em Santa-
rém nas cafas que eftão ao poftigo de Elvira Moniz, de que lhes fez doação El-
Rey Dom Affonfo o Terceiro em 15. de Mayo de 1254- Trazem por Armas
em campode prata cinco pinheiros. ie verde fem raizes,Schum chefe das ArmaS
dos Freires, timbre huma cabeça de ferpentedeouro,á quefahe pela boca hum
pinheiro das Armas. Os de Galliza, onde depois defta tranfmigração houve fi-
dalgos muy finalados, particularmente da Religião de Malta, trazem huma Cu-
ftodia do Santiífimo Sacramento , queganhàraõ feusafeendentesaos Mouros
na conquifta de Malta, tres alfanges Mourifcos, hum pinheiro junto do Caft el-
IodeNareyo,de que craõfenhores antes que Henrique o Êaftardo lho tiraífe,
&deu aos Andrades,&dous Lebréos atados ao pê do Pinheiro. Deu efta famí-
lia notáveis homens, particularmente em letras,aífi, 11 feculares, como Ecclefíaf-
ticos , com muitos Bifpos , que deixàraõgrandes memorias cm fuas Prela-
zias.
HaneftaCollegíadaasDignidadesfeguintes : Prior, que tem de renda
trezentos milreis, cola aos Conegos, & provê os Benefícios da mafia; Chantre
tem oitenta mil reis, Meftre-efcola duzentos & oitenta mil reis , Thefoureiro
mór mil cruzados,Arcipreftecento & cincoenta mil reis,duas Coneziãs intei-
ras a cento & cincoenta mil reis cada huma, & fe: s Tercendrias a cincoent a mil
reis, tudo data da Cafa de Bragança, & as Dignidades faõ da confirmaçam dos
Arcebifpos de Braga. Tem efta Villa Cafa de Mifericordia, Hofpital , huma
Ermida de NoíTa Senhora da portado Valle, &no arrabalde que chamão Bar-
ceIlinhos,& huma Igreja Parochial da invocação de Santo André , Vigairáriá
que aprefenta o Prior da Collegiada de Barcellos. Efta Igreja fe chamou antiga-
mente
ao8 TOMO PRIMEIRO :
mente Santo Andre de Mareces, tem duzentos vifinhos, & effasErmidas, R
Senhora da Ponte, cercada de varandas de pedra, Santo Antonio, S. Braz , Sr
MiSoÂnio, Santiago, aonde fe diz Miíla aos prezos todosOsDomingos, &
dias Santos, & nofitio,quechamáo a Magdalena,huma Ermida de S- Bento, &
outra de S. lofeph com Confraria dos Carpinteiros,&no campo da feira, cjue
lhe fica para o Norte, tem hum Convento dedicado a S. t ranciíco,de Capuchos
Píprlnfos quê fe principiou com efmolas do povo no anno de 164 9 . & cilas
Ermidas ^NoíTa Senhora da Conceição, o Efpirito Santo, & o Bom Jefus, aonde
cftáhuma devota Imagem de Chrifto Senhor noffo com a Cruz as codas, (que
trouxeTe Fllndes hum Mercador natural deíla Villa ) a qual mikgrofamente
o edebre ^

o tamanhodahafíe m^orquefiumabraç^osbra^semboa — ao : nem


fe moílrão à flor da terra,cavádoa vão fempre moílrando a mel ma forma. Teve
nrincipio eífe admirável apparecimento aos vinte de Dezembro de 1504. hua
Çefta feira pela manhaã, tempo em que foy achada a primeira Cruz, que fe vio ef-
tampada milagrofamente na terra no fitio,cmquehoje eílaa Imagem deChrií
f n Senhor noffo com a Cruz as coftas. . ^ _ .
Neftes dias, em que apparecemas fantas Cruzes, tirão os devotos Romei-
ros > que fazem huma cova de cinco &feis
palmos,aqualmilagiofamente fe tornaaencher deterra, ate ficar namefma pla-
nície.

cap. 11.

Em que fe profegue a defcripçao dejla VdU.

D Eu foral à Villa de Barcellos ElRey Dom Affonfo Henriques, o qual re-


formou depois ElRcy Dom Manoel: goza devoto em Cortes com affen-
oanco quatorze, & tem por Armas em humefeudo huma ponte, torre, &
Ermida com hum carvalho à porta , & por cima cm Ito tr« !£
nos dous com as Quinas do Reyno, & o do meyo com huma aipa, diviia ao íe
nhor Dom Affonfo/primeiro Duque de Bragança, que lhas deu , &^m hOf
na torre da cafa da Camara. Foy cabeça de Condado o primeiro de Portugal,
cu'10 titulo deu ElRey Dom Diniz a Dom Joaõ Affonfo de Menezes, & o fuz feu
• Mordomo mór -.cafou com Dona Therefa Sanches, filha delRey Dom Sancho o
Terceiro de Caftella, da qual teve a Dona Tharcja Martins , quecafouicom Af-
fonfo Sanches, fenhor de Albuquerque, filho baft ardo do mefmo Rey Dom D -

mZ
' O fecundo Conde de Barcellos foy Dom Martim Gil de Soufa , Alferes
mór delRey D. Diniz, queeftá fepultado no Moíleiro de kS. Tyrfo co ^J
DA COROGRAFIA P OR TU G V E Z A. tpp
Iher Dona Violante Sanches , filha do primeiro Conde Dom Joaõ Affonfo de
Menezes.
O terceiío Conde foy Dom Pedro,filho baílardo delRey Dom Diniz,8c feu*
Alferes mór: câfou a primeira vez com Dona Branca Pires, filha de Dom Pedro
Annes de Portel, 8c de Dona Coílança Mendes de Soufa: a fegunda Vez com Do-
na Maria Ximenes Coronel, Dama da Rainha S- Ifabel. Naõ teve filhos ; eifâ
fepultado no Convento de S> Joaõ de F aroucá de Frades Bernardos.
O quarto Conde foy Dom Martim Affonfo, cafado com Dona Elvira Qaí-
cia, filha de Dom Garcia Fernandes de Villamayor. »
O quinto Conde foy Dom joaõ AffoníòTello de Menezes , Alferes mór
delRey Dom Pedro, 8c Mordomo mór delRey Dom F ernando, 6c Conde de Ou-
rem-
O feXto Conde foy Dom Affonfo Tello, filho do fobredito Dom Joaõ Af-
fonfo Tello de Menezes : delíe não ficou geraçaõ-
O fetimo Conde foy Dom Joaõ Affonfo Tello de Menezes, irmaõ da Rai-
nha Dona Leonor, a quem ElRey Dom Fernando feu cunhado fez Almirante de
Portugal,& Alcayde mòr de Lisboa.
O oitavo Conde foy o Condeílable Dom Nuno Alvarez Pereira por merj
cè delRey Dom Joaõ o Primeiro aos oito de Outubro de 1285* * 0 qual o deu
em dote a feu genro Dom Affonfo, primeiro Duque de Bragança , que foy o
nono Conde de Barcellos de cOnfentimcntodo Condeftable feufogro , a quem
ElRev tinha prometido de naõ fazer outro Conde em fua vida. Depois fe conti-
nuou efle titulo nos Duques de Bragança ãtè o tempo delRey Dom Sebaíliaõ,
queo levantou a Ducado nos primogénitos da mefina Cafa , 8c foyoprimeiro
Duque de Barcellos Dom Joaõ, filho de Dom Theodofio o primeiro do nome»
He efta Villa cabeça de Comarca das terras que o Ducado tem nefta Provin-
da, 8c junto a Coimbra; governafe por Ouvidor com cento 8c quatro mil reis ao
todo 300. Juiz de fôra com duzentos mil reis, tres Vereadores, 8c hum Pro*
curador do Concelho, & hum Thefoureiro- Toda a Camara he oCapitaõmór
da Villa, & feu termo por mercê delRey Dom Joaõ o Quarto nos últimos àn-
nos de fua vida, que ate entaõ eraõ particulares : tem tres Efcrivãens da Cor-
reição, hum Meirinho da Correição, Enqueredor, Diffnbuidor , & Contador,
hum Porteiro, & Caminheiro da Correição, hum Sargento mór da Villa , 8c fua
Comarca. No Juizo geral tem Efcrivaõ da Camâra, dez Tabeliães do Judicial,
& Noras, & cinco Enqueredores do Geral, Diftribuidor , 8c Efcrivaõ da Almo*
taçaria, que andaõ unidos, hú Contador do Geral, hú Relogeiro do Concelho,
dous Alcaydes pequenos,q apreféta o Alcayde mór,hú Porteiro dasExecuçoés,
8c outro da Camara,dous Almotaceis,q faz a Camara, 8c hú Efcrivaõ. Nomeâ a
Camara hú officio, a q chamaõ F iel,q ferve de apõtar os preços de paõ, 8c vinho
por todo o anno,8c fe fazem as liquidações pelas certidoens q paffa,tiradas do li-
vro, em q vay efcreVedo, dandolhe por cada húa dous vinténs. Tem dous Jui-
zes dos Orfaõs, cuja jurifdiçaõ divide o rio Cavado, com dous Efcrivãehs, 8c
dous Porteiros, dous Efcrivaés das Sizas por ElRey, ihiím Almoxarife, 8c Juiz
dos direitos Reaes, hum Efcrivaõ do Almoxarifado, hum Solicitador dos feitos
do Effado de Bragança, hum Procurador do mefmoEftado , hum Porteiro do
Almoxarifado, 8c outro dos Reguengos delle. Rende o Almoxarifado defta
Villa vinte 8c cinco mil cruzados livres para a Cafa de Bragança.

CAP.
30O TOMO PRIMEIRO

CA P. III.

T)ts pregue fits do tem

noeíde Gallcsos no feu Poema Epttalamio,Oitava


Só em Barcellos houve atar do hum dta,
Em que o Òolpelos campos dilatados
Com terrível, & Ura galhardia
VezqfetemU peitos ™ f^^tonumerofas Companhias , inda que
Hoje faõ mais,repartidos em' t■ - , f naComarca; & neftas guerras ipa
outrodiíTequaraita& duas , e deInfantaria , mil & quinhentos
fadas, fora as OrdenanÇâs,dava ^^ julgados ? que íao 0 de
gaftadores, 5c qunihentos ca • 1^ com juizes Pedaneos pára as miu-
ena
V ana, Vermoim, I f^^ordarezaiev«jaõno Mapa os fitios de cada ter-

feJSSffiSgggS Ut-A'VSOS.

vSed^Tamí que^KTlton<Xd.zem,felhe deriva o nome deTcmmel,


entreos nos C.vZ fc Ncy va, &aa fegumtes. nomcs
Santa Maria de Condevao, Vado, ou de Abbade «que tot ^ ^
tra
tevc,& confervaoultimo,he Í'^° u ^ & tem hum letreiro Gotico
Mafalda, mulher delRey ^ AffonfoHenr^ueM^ ^ [ip fa.
cõ efta conta ii 9°- q lendo erade_ , ^ fe acabaria o edifício , como
leceo efta fenhora no de 1157*. naoaaoHofpital de Santa-
dia o principiou; oqueeftá o ladroado def-
rem dez a^ue^res ^terra da Neyva ao Meftre
ta Igreja, & a Ermida deS. Vicente ae b efcritura em Santarém a dez
Martinho'feu Fifico, St j
d a <Sa Cafa de Bragança , rende trezentos
de Novembro de 1301. H < Abbades faõ Ouvidores perpétuos de Fra-
mil reis, tem noventavifinhos- Os Abbadesiaou r r com
gofo, aonde fazem Juizes, levao as > llRev, eftylo confervado por pof-
Kumacircunftancia,quenamtem f resueíia eftá a Caía doFayal, Com-

fe contra a OrdenaçaódoReyno. N a Commenda de Cabo


menda antiga da Ordem dt Chr , q lcoforado ^ & a p0ífue feu defeen-

^ SCCPe^rG ile'v iha F^rafclinha/v'igairaria que aprefenta o Rey tor do


DA COROGRAFIA PORTUGUEZA- 301
he annexa, quando nam rcnuncia,rende vinte & cinco mil reis, &para oCom-
mendador cincoenta mil reis: tem trinta viíinhos.
S. Salvador de Villar do Monte, Vigairaria dosT.crcenarios da Sè de Br^_
ga, rende vinte Sc cinco mil reis, Sc para os Terce narios trinta mil reis: té qua
renta Sc fete viíinhos.
Santiago dos Feitos, Vigairaria dos Loyos de Lamego , rende vinte mil
reis, Sc para os Frades cincoenta: tem quarenta viíinhos»
S. Payo de Perelhal, Vigairaria da Mefa Arcebifpal, rende ao Vigário cem
mil reis, Sc para o Arcebifpo cento Sc feffenta mil reis: tem eento Sc dezafete vi-
íinhos.
S- Mamede de Arcuzèllo, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis: tem *-
feífenta & feis viíinhos.
S. Juliao do Calendário de Tamel, Vigairaria dosÇpnegos de Braga, ren- *
de trinta & cinco mil reis, Sc para o Cabido feífenta mi I reistem quarenta Sc fe-
te viíinhos. Aqui eftá a Cafa da Sylva-
S. Perofins de Tamel, Abbadia da Mitra , rende trezentos mil reis com a
annexa de Dorraés: tem fetenta viíinhos. Aqui em Noífa Senhora daPortella,
huma grande legoa ao Norte deBarcellos, vive nefles tempos hum Ermitaó
de boa vida, grande Latino, que eníinou a muitos fem intereífe , chamafe Bel-
chior daGraya. Ultimamente fe lhe ajuntou o Reverendo Manoel Velho Cone-
go de Barcellos, Sc deraõ principio a huma Recoleta, em que fe guarda o inftitu-
to de Terceiros de S. Francif co. Eftaõ nella cinco, ou feis Sacerdotes, & Eremi-
tas fazendo vida exemplar, Sc virá afer coufa grande com o muito que lhe a-
crefcenta F rancifco de S oufa Ferraz,que fendo muito nobre, natural de Ponte
de Lima, Sc Abbade de S. Pedro de Êfqueiros renunciou, & fe foy aqui meter,
aonde gafta a penfa5,que lhe pagaõ.
S. Martinho de Alvite, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis : tem
fciTentaSt quatro viíinhos. Aqui eftá huma Torre já arruinada , deque faófe-
nhoresios Ferreiras da Cafa de Arzemil; nella entendemos viveo,&foy fenhor
Dom Galinho de Poufada de Tamel, a quem o Conde Dom Pedro , ou feus co-
piadores chamâõTamal, ca fado com Dona Sancha Pires, filha de Pedro Soares
o Efcaldado, de que teve filh a única, herdeira de fua Cafa,a Dona Oureana Go-
dins, mulher de Fernaõ GonÇalves, fenhor, Sc Adcayde mór da A zambuja, dos
quaes defeendem, naó fó os fenh ores daquella Villa, mas os da Povoa, Sc Mea-
das, hoje incluída nos Condes de Val de Reys, os Marquezes deCaftello Ro-
drigo, Sc outros fetihores, Sc fidalgos. E eíia fe entende era a morada do Con-
de Dom Veja de Tamei, hu dos fete Condes,a quem cegou o Conde Dom Mem
Soares de Novellas Capitaõ General delf c Reyno antes de o fer , Sc todos fetc
eífaõ lepultados em S-Pedro de Atey.
S. Salvador dcí^giráz^Vjgairaria annexa a Galegos em Prado , rende ao t
Vigário vinte Sc cinco mil reis, Sc para o Abbade cincoenta mil reis : temqua-
renta Sc dous viíinhos.
S Salvador do Campo he tradiçaõ foy Mofteiro de Freyras, & que todas
morrèraõ de verem hum bicho: fe he que alfim foy , devia fer bafilifco ,&elle o .
queasvio. Paífou a Commenda de Chrifto , Sc he Reytoria do Ordinário com
quarenta mil reis, ao todo cem mil reis, & para o Commendador com as anne-
xasfeguintes , Sc fabidos trezentos Sc cincoenta mil reis : tem oitenta viíi-
nhos.
Santiago do Couto, que o foy antigamente defte Motteiro, he Vigairaria
. Cc annexa

v
lot TOMO PRIMEIRO
annexa á Commenda, & aprefentação do Rey tor, rende vinte mil reis, & qua
renta mil reis para o Commendador item quarenta & quatro viíinhos.
S. Pedro de Alvite, V igairaria annexa â mefma Commenda , rende qua-
renta mil reis, & feíTenta mil reis para o Commendador : tem quarenta vifi-
nhos.
Santa Maria de Lijo, Vigairaria do ArcediagadO de Santa Chriftina, rende /
feffenta mil reis, & cem mil reis para o Arcediago : tem noventa & cinco viíi-
nhos. .
Santa Leocadia de Tamel, Vigairaria dasFreiras de SaôBento de Viana,
rende feíTenta mil reis, &. cem mil reis para as Freiras. Deu-lha o Abbade Jorge
de Miranda Henriques,por lhe tomarem quatro filhas , & dous lugares perpé-
tuos, de que já naõ ha memoria: tem fetenta & íeis viíinhos.
Santiago de CarapeíTos, Abbadia da Mitra , rende trezentos Stcincoenta
mil reis, tem cento & cinco viíinhos. A qui eftá a antiga Cafa, & Quinta de Ca-
rapeíTos (de que trata o Conde Dom Pedro Tit* j 5 • foi. 15*4.) que hoje fe cha-
ma da Madureira, com muitas fazendas, matas, montes, ôciabidos. Della foy
fenhor Joaõ CarapeíTos, caiado com Dona Maria Martins Carvalho, dos Carva-
lhos da terra de Bailo, & depois o Infante Dom Pedro, Conde de Barcellos, que
a deu a feu vaíTallo Pedro Coelho, aquelle Meirinho mór, grande valido , & do
Confelho delRey Dom Affonfo o Quarto, aquém feu filho EIRey Dom Pedro
mandou tirar o coração, eít ando vivo, por fe achar na mor te de Dona Ines de
Caílro; & confifcandolha com mais bens, comprou-a o Arcebifpo Dom Gon- b-
çalo Pereira, & fez delia prazo, em que por compra entrârão os Figueiredos
de Chaves, que hoje a poíTuem: logo moílra nobreza-
Santa Marinha da Alheira, Abbadia da Cafa de Bragança, rende com a an-
nexa de Nogueyra em Villa-nova de Cerveira, mil cruzados: tem cento & qua-
renta & três vifinhos, & tres Ermidas.
Santo Antaõ do Ginzo, Vigairaria do Prior de Barcellos, rende trinta mil
reis, & para a fabrica,& Prior feíTenta mil reis: tem quarenta vifinhoo
> S. Lourenço de Dorraís, & Dor Iaé s, como vulgarmente lhe chamaõ , he
Vigairaria annexa a S- Perofins, rende trinta & cinco mil reis , & feíTenta mil
reis para o Abbade: tem feíTenta vifinhos.
S-Martinho de Mondim, Abbadia do Ordinário, rende cento Sccincoenta
mil reis: tem cincoenta vifinhos.
Santiago de CoíTourado, a que antigamete chamavaõ Courado , he Com-
menda de Chriíto, & Reytoria da Mitra com quarenta mil reis, ao todo cem mil
reis, & para o Commendador com fabidos trezentos & vinte mil reis: tem cen-
to & oitenta & cinco vifinhos. Aqui fe achou huma boa mina de prata ,que fe
fechou por ordem do Serenillimo Rey Dom Joaõ o Quarto.
Santa Lucrécia de Aguiar, que dá o nome a todo o Julgado, & que antiga-
mente teve hum Caílello no alto do monte, que por diíferençade outros tres
fe chamou de Aguiar de Neiva, he Abbadia da Caía de Abcrim,rende duzentos
mil reis, tem fetenta vifinhos
Santa Maria de Quintiaens , Vigairaria do Convento de Carvoeiro, ren-
de fetenta mil reis, & paraos Monges d uzentos& vinte mil reis: tem cento &
vinte vifinhos. Aqui eífá a Cafa, & Terre de Aborim , em que antigamente vi-
veo Lourenço Fernandes de Aborim, & ou por fucceíTaõ de cafamento, ou por
compra entràraõnella os Barbofas, que confervaõavaronia , & chefre deite
appellido.
Saõ
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 303
Saõ Martinho de Aborim, V igairaria annexa do Convento de Carvoeiro,
rende cincoenta mil reis, 6c cento 6c vinte mil reis para osFrades : temfetenta
viíinhos;
Santiago de Aldrcu, Vigairaria doMofteirodePalme, rende feíTenta mil
reis, ôi para os Frades centooccincoentamil reis: tem noventa 6c quatro vifi-
nhos.
Santa Marinha de Frojaes, Vigairaria do mefmO Convento, rende oitenta
mil reis , 6c para os Frades duzentos mil reis ; tem cento 6c fetenta viíí-
nhos.
Santo Andre de Palme he Mofteiro de Frades Bentos fundado ao pê da
ferra deTamel,6ctomóu onomedehuma boi planície;, que lhe fica ao Poente
entreosdous rios Cavadp,6cNeyva,6tnaõentre efte, 6co Lima , como diz
Frey Leaõ de Santo Thomas na Bened.t. Lufic. to n. i- p. 2. tr. 1. Erâ eíle fí-
tio quinta de hum fidalgo chamado Lovezendo, filho de Sazi, nomes, ou appel-
lidos, que naquelles tempos feufavaõ;edificou-o o filho rio anno de 1028- fa-
zendolhe ampla doaçaõ de rendas, com que fe fuftentaíTm os Religiofos , que
nellemeteo: aífim fe confervou até quenelle entràraõ Commendatarios , de
que foy o ultimo Dom Joaõ de Portugal Bifpo da Guarda,que daqui levava ca-
da anno quinhentos 6c tantos mil reis, como fe vè da informação , que s? fanto
ArcebifpoDomFrey Bertholameu dos Martyres deu no anno de if68. por
ordem do Cardeal Rey Dom Henrique,6c nefta reforma fe tornou aos Monges,
q nelle.metéraõ primeiro Prior no anno de 15 7 5. 6c no de 15-88- tomàraõ titu-
lo de s bbade por falecimeto defte ultimo Cõmendatarioihe Igreja pequena,mas
bem concertada; tem annexas as de S- Bertholameu do Mar, Santa Marinha de
Frojaes, Santo André deTeyvaés,6c Santiago de Aldreu, de dízimos, 6c fabi-
dos rende perto de tres mil cruzados, com que fuftenta doze Frades , 6c paga
muito para a Congregação, a que eftá penfionado. Tem Cura, a quem chamão
Vigário, rendelhe quarenta mil reis, tem cento & q uarenta 6c fete vifinhos.
S• Payo de Antas , Vigairaria do Molle iro d.- S. Romão de Neyva de Frá
desBctos, rende fetenta mil reis,6cparaos Religiofos cento 5c trinta mil reis
tem cento 6c trinta 6c tres vifinhos.

Couto de Fragofo*

O Ao Vicente deFragofo he Vigairaria q rende cem mil reis ,&osdizimds


importão duzétos 6c feíTenta mil reis,q faõ para o Thefoureiro mor da Col-
legiada de Barcellos; ambos eftes benefícios aprefentâ a Caía de Bragança- He
Couto da mefma Caía, de que he Ouvidor,6ctaz Juizo Ahbade de Santa Ma-
ria de Abbade, & leva os direitos que Iâ diítemos 5 vem efereverlhes hum ÈfcST
vaô dos de Barcellos por diftribuiçáo: tem duzentos 3c trinta 6c hum vifínhos-
NeftaFregueíia ha huma agua juntodehuma Capella de S. Vicente, que obra
notáveis maravilhas nos enfermos , que nella fe lavão na manhã de Saõ
João, para o que fe fez hum grande tanque, em que cahe a agua , 6c no fundo,
queferá de cinco palmos, eftá huma pedra com huma Cruz,"que beijao de mer-
gulho tres vezes os doentes, ôc tem por fô,quefaraõ , ou morrem dentre em
nove dias.
Santa Maria de Treboufa,ouTragofa, como variamente lhe chamão , he
Abbadia da Mitra, rende cento 6c vinte mil reis :tem oitenta vifinhos*
Ccij San-
TOMO PRIMEIRO

Santiago de Creyxomil, A bbad.a da Cafa de Bragança » rende cento £< «.

te con. J^toe.ondc/»^

çsF^SSfc*jS=5msx
cinco vicy ras c ^ azul comhuma vieyrana cabeça, pj^icenciaoo

saw
«kpoi. de haver morto aquc kbarbato^de
lul
riz,ou ^^f ^"e/l ^ores Ae ■ hehoie Morgado dos Ferreiras , &o pn-
?
mandofeMarizes f M ferreira, filho fegundo de Ayres

mUlhe
«^vSoCBaaÁo foyMofte.ro de Conegos Regrantes de SátoAgo-

' f Si
edificação de ^^^^ ^"^^gg^^Q^^^is^atèqueuítimameme^ft^extin-
que faleceo: correo luas torturas cu u Rcitoria do Ordinário com qua-
guio,& paffou^Xc±tr" kremati^como de Vfflar deFraL,

&Orf^rionaaprcfentaç'aodaAbbãa5d££5nièzes • para o Commendador


com fabidos, & araiexa de S. Pedro de VillaFrafcatnha, rende fe.fcentos & o.tc-
tamilrcis: qy Morteiro de Freiras, entendemos que deS.
Santa Maria d , , tempodclRey Dom Diniz huma filhajáe.Payo

^w^tíSfôlSlSSo^íondc Dom Pedro ; extinguido


de Moles Correa, a q Ordem de Chrifto, & Rey toria da Mirra com quaren-

tos & cincoenta miireis: tem duzentos vifinhos.

Filia de Ejpotçnde.

HUm quarto de legoa acima da foz do Cavado da parte do Norte, & não
tres ao Poente de Barcellos, como diz Jorge Cardofono Agiologio Lufi-
om. i-fol- 219. cftáfituada a Villa de Eípozende, titulo que logra ha cen-
Í«&íantos annosiíua fundação moderna, porque alguma gente veyo dc:S. Mt-
ot.pl das Marinhas alli poVoar, para dar mais calor anavegaçao, &peka. T m
■ f ^ Vereadores, &. Procurador do Coftcelho, eleição triennal dopo-
5U!ZC Innm a cue nrefideo Ouvidor de Barcellos,por ler efla Villa dos Du-
V
°r^fteBr^ança-^ousTabcUa£s!EfcrivaõdosOrfaôs ,2c Efcrivao daCama-
tudodatados Duques;JuiZ da Alfattfga , & Efcnvao fao
dcÍRey. Teve eftlvillapleitocom.Faó fobre os direitosda barra,venceo Fao
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. $oy
por mais antigo, & fuppofto o rio he debaftante quantidade de agua pelas mui-
tas areas, Sc má entrada que no mar tem, não he muy capaz de grandes embar-
caçoens, pelo que ufaõ de muitas caravellas- Tem Hoípital, 5c Cafa deMife-
ricordia não muy rendofos. Neila eftá a Capella dos Mareantes com hua Ima-
gem de Chrifto crucificado com grande veneração , aílim pelos muitos mila-
gres que obra, como por fua reípeftiva prefença. Boa Igreja Parochial, q ue he
a primeira das do termo; dous Capitaens, de que o Ouvidor de Barcellos he Ca*
pitão mór; duas feiras pequenas, huma em Junho, outra em Dezembro, muita
pefca, pouca caça, Sc gados, baft an te pão, Sc cevada branca, pouco, Sc roim vi-
nho, muito alho, & cebola. He da Provedoria de Viana , & tem as Freguefias
feguintes.
Santa Maria dos Anjos, Vigairaria da Villa , que aprefenta o Ordinário,
com dez mil reis, ao todo duzentos mil reis , St para os Conegos de Braga cen-
to Sc cincoenta mil reis- O povo a fabrica, porque foy eredh de S. Miguel das
Marinhas, tem trezentos vifinhos com cem, de queconfta a Villa.
S. Miguel das Marinhas, Vigairaria do Ordinário com dez mil reis,ao todo
duzentos mil reis, Sc para o Cabido de Braga trezentos mil reis; tem duzentos
Sc cincoenta vifinhos.
S. Bertholameu do Mar foy Mofteiro de Monges Berttos , Sc ha annos fe
fez Vigairaria do Convento de Palme damefma Ordem, rende oito mil reis, ao
todo fetenta mil reis, com as offertas da grande, St antiga romagem que tem de
toda efta Provincia, particularmente dos Arcos, Barca,Ponte de Lima,St Cou-
ra, em o dia do Santo 24* deAgofto. Tem grande feira,que dura tres dias, re-
de aos Frades cento St vinte mil reis, tem cincoenta Sc dous vifinhos.
S- João de Villa Chã ,# Abbadia da Cafa de Bragança, rende trezetos mil
reis, tem cento Sc dez vifinhos.
Santa Eulalia de Pal meira he Commenda de Chrifto, ScVigairaria do Ordi-
nário, rende dezaíeis mil reis, ao todo cem mil reis , Sc para o Commendador
cento Sc trinta mil reis: tem cento Sc quarenta vifinhos. Foy antigamente Cou-
to das Freiras de Villa do Conde, que aqui tinhão bons maninhos , Sc cafa 11a
Barca do Lago, de que fizerão prazo, que poffuem os Gajos de Villa do Conde,
fidalgos honrados, & por iíTofaõ Penhores dos Maninhos.
S. Cláudio de Curvos, Vigairaria do Thefoureiro mor de Barcellos, q rede
ao todo cincoenta mil reis, Sc para o Thefoureiro cem mil reis; tem oitenta vifi-
nhos.
S- Miguel de Gemezes he Abbadia alternativa do Ordinário, Rey tor do
Banho, Sc do Convento de Villar de Frades, rende duzentos Sc trinta mil reis,
tem cem vifinhos. A qui he a Barca do Lago, onde fe paffa de graça , falvo aos
carros, pelo que pagão as Freguefias dos contornos, cada morador hUm molho
de trigo, our rode centeyo para os barqueiros, que poem nella os Juizes da Cõ-
fraria de Nofla Senhora, que allieftá em boa Capella, Sc he muy vifitada de ro-
magens em 2 f. de Março, fegunda Oitava da Pafcoa, primeiro Domingo de No-
vembro, Sc outros dias do anno, com muitas offertas, que dão os devotos para
repartir a pobres. Entendefe fer tudo doação antiga , Sc voto a efta mila-
grofa Imagem, aonde também ha huma Irmandade de Clérigos.
S. Martinho de Gandara, Vigairaria do Cabido de Braga com dez mil reis,
ao todo q uarenta mil reis, Sc para os Conegos cento Sc feífenta mil reis: tem no-
venta vifinhos. Aqui fe acaba o termo de Efpozende^, St ode Barcellos entre o
Cavado, Sc Neiva no Julgado de A guiar; onue fe fegue he o de Ney va.
Ce iij CoíV
3oó TOMO PRIMEIRO
Continuafe o termo de Barcellos no julgado de Neyva na tetra, que cdá
entre efte pequeno rio, ôc o celebrado Lima.Toma o nome do Caftello deA guiar
de Neyva, & não de outro inexpugnável podo em hum penhafcô fobre o mar,6c
perto do rio,, que nelle fe mete com tam limitada boca por entre rochas, que mal
pode entrar barco, mas muitas lamprcas, relhos, trutas, bogas, & efcalhos, 6c
militas azenhas de moer pão. Fica legoa & meya de Viana para o Sul , & foy
fundação dos Gregosmuito antes da vinda de Chrifto com nome de Nevis,
hoje Neyva ; permaneceo até o tempo delRey Dom joão o Primeiro, porque ga-
nhada então fe aífolou; foy cabeça dt Condado , mercê queElRey Dom Fer-
nando fez a Dõ Gonçalo Tello de Menezes i depois fe incorporou comBarcel-
los na Cafa de Bragança, onde fe conferva com titulo de Condado, 6c na Sê de
Bragao ArcediagadodeNeyva,deque he aqui cabeça, Santa Maria de Neyva,
Vigairariaque rende feífentá mil reis ; os dízimos vão em Braga como Árce-
diagado: tcmícíTenta vifinhos. Também entendemos que aqui teve principio
o appellido de Ney vas, de que fe appelíidão algumas peífoas nobres,& ferem os
me imos que Neyres, como fe efcreve no Conde Dom Pedro, o que devia fer er-
rodo tradudlorj&o primeiro de que achamos noticia he João Eftevcs deNey-
re, cafado com Dona Urraca Fernandes , filha de Fernão Reymão de Canhe do,
&defua mulher Dona Alda Martins Botelho, de que teve muitos filhos , 6c fó
hum, que foy ornais velho, Gonçalo Annes de Neyre,feguio efte appellido, que
em Galliza 1'e dizem Riba de N eyra, êc he differente dos noffos Neyvas. Tem
bons carneiros, gados, caça de lebres, & rolas, pelcas, em que entrão lagoftas,
6c navalhciras, trigo, cevada, milho, centeyo, 6c vinho.
Santiago de Neyva, que depois feappelíidou do Caftello , nome que to-
mou, por eft ar ao pê do da Neyva, onde havia V dia em tempo delRe y Dõ João
o Primeiro. Foy de Dom João deSoalhaês quando era Bifpo de Lisboa , & a
trocou com o Prirgaz Dom Martinho pela Igreja de Sãta Cruz de IÍ<ba Douro,
quãdo era fubdita à de Soalhaens, ambas faõ aprefentação dos VifcOndes: con-
firmou efte contrato EIRey Dom Diniz nó anno de 1307. he Abbadia do Ordi-
nário, rende hum conto de reis, tem duzentos vifinhos.
Santiago de Ai Jiâ.he Abbadia da Cafa de Bragança, antigamente era a Pa-
rochia MatrizNoíTa Senhora das Areas, mas creícêrãoeftas tanto , que a Frc-
guèfia, 6c Igreja fe fumergiraõ com el!as,6c muitas marinhas de fal,que aq ui ha-
via, onde chamavão Darque mayor: mudàtão então a Paíòchia, que hoje he Ca-
pella, para junto do Lima defronte de Viana, aonde vem muitos clamores cada
anno de Freguefiasdiftantes por voto dos antepâífadõs; 6c aqui tomão os Ab-
bades poífe, mas nem hum palmo de terra tem efta Freguefiã, peloque fe mudà-
rão para Anha fua annexa,aondedefdeaquelles tempos tem Vigário, que apre-
fenta o Abbade com dezafeis mil reis, ao tódo feteuta ífiil reis, 6c para o Abba-'
decomaannexade Parque feifcentos mil réis, & antes que a eobrifferh as areas
rendia hum conto de reis: tem trezentos vifinhos.
Santo André de Darque, Vigairaria que aprefentao Abbadedé Anha, reni
de ao todo feífentá mil reis,& para o Abbade cento 6c oitéta mil reis: tem cento
& vinte vifinhos, muita hortaliça, os primeiros melões da Província , grande
quantidade de pepinos, q.ue abaftão Viana, & outras partes, ôc muito alho , ôc
cebola. Eftabeyra mar provê deftes dous generos, 6c de moftardanão ío a ma-
yor parte de Portugal, 6c fuas Conquiftas , mas a muitos Reynos eftfangetros.
Junto do rio Lima eftá hum Paço antigo já ermo , qiie domínaõ os Duques de
Bragança, ôc ainda nefte eftado o zcj^/a tanto o fenhof Rey Dõ João o Quarto,
que
DA COROGRAFIA PORTUGUÈZA; p?
que indolhe pedir a pedra os Carmelitas Deícalços para a fabrica do Convento
que faz ião em Viana, lhe perguntou que valeria; & refpondendolhe que qua-
renta mil reis, lhes mandou dar oitenta mil reis, não querendo tirar a memoria
daquelas ruínas- He tradição que aqui foy o Caílello , & Solar dos Macieis,
fidalgos Francezes , que paliarão a tilas partes a ajudar noífos antepaíTados a
lançar os Mouros fóra delias terras,& que peíla fizerão a (Tento, & fortificação,
dequeerãofenhores. Em Viana quali todos o laõ , & aífim alguns nobres tem
elle appellido: faõ fuas Armas hum efcudopartido de alto a baixo, no primei ro
em campo de prata huma meya Águia vermelha, com bico, & ui^ias de ouro, &
no outro meyo também de prata duas flores de Liz azuis, timbre huma das flo-
res de Liz azul Acompanhada com huns ramos verdes de macieira , & nelles
humas maçãs de prata- Junto delia Cafa fe fez huma eílaca, que atravefla o rio
no tempo da pefca das lamprcas, & nelle armão redes , com que tomão muitas
para os Duques, fenhores delia pefqucira-
S- Nicoíao de Mazarefes he Abbadia que antigámente foy do Moíleiro de
Ante-Altar em Galliza de Monges Bentos; affim elle Padroado, & Couto, como
o de Paradella, & S- João da Ribeira em Ponte de Lima, comprou Diogo Pereira,
que alguns dizem foy Alcaydemór de Villa-nova de Cerveira , & pela mefma
viahefenhor de ambos, & de fua grande Cafa, que aqui tem, feu defcendente
Gafpar Pereira, Cavalleiro da Ordem de Chriílo, òc fidalgo da Cafa de Sua Ma -
geílade, que leva os quartos de todos os frutos; rende a Abbadia quatrocentos
mil reis, tem duzentos,& feflenta & quatro vifinhos.
S- Miguei de Villa Franca he Commenda de Chriílo, & Reitoria da Mi.
tra, que rende ao todo cem milreis,&paraoCommendador com fabidos qua.
trocentos mil reis: te cento & noventa vifinhos,& tres Ermidas- Dizem fe cha-
mou aífim .por fer alguma hora povoada por Francezes-
S- Pedro de Soportella, Abbadia da Mitra, rende trezentos milreis , tem
cento & oitenta vifinhos.
' S- Romão deNeyvahe Moíleiro deFrades Bentos, que fundou com grã-
des doaçoens Dom Payo Soares, a quem o Conde Dom Pedro chama Jpayo Paes
Caminhão, o qual era fetihor delias terras, em que fez elle pequeno Convento
noannode t ioo- porque ainda quefobre aporta da igreja diz:Era M^LXXy
itóepta fuit hic opera, que quer dizer: Xa ara de 1173 que he amo de Chritto
de. 11 tf.fe começou efta obra 5 naõ fe entende pelo Convento , fenão a portada^
A alguns pareçe felhe deu elle nome,& devia principiarfe por-S-Romão Abbade
da Ordem de S- Bento, que de França veyo a plantar fua forma de vida no anno
de 54.0. As grandes efmolas,quefe lhe fizerão,juntas com o Reguengo que El-
Rey Dom Affonfo Henriques lhe deu em Setembro de 1133. o engroífárão de
rendas, que os Monges antigos repartião com os peregrinos , & paflageiros-
Entrarão nelle Commenda t ar ios; o ultimo, dizem, que ornar àrão os parentes,
porque nãoquizrenunciar em hum fobrinho. No mefmo tempo houve a refor-
ma geral, em qucfedeu aos Mondes com pcnfaõ da terça parte, que o Papa Pio
Quartolhe poza Dom Alvaro deCaílro, Embaixador àquella Curia por El-
ReV Dom Sebaílião, de cujo Confelho era: que o gailar a mocidade fervindo ná
índia, aonde foy doas vezes com feu pay oGrandeDom João de Caílro,nãolhe
tirou o preílimo de o occuparem neíta, & nas embaixadas de França, Caílella,
& Saboya: que entre o eílrondo das armas tãbem fe aprende a politica das Cor-
tes, & mui tas vezes faz mais nellas hum valcrofo Soldado , que hum politico
Cortezão- Acõmodou-o brevemente de Commenda o Cardeal Rey Dom Hen-
C • ' rique,
^o8 TOMO PRIMEIRO
rique, com que o Convento ficou livre, & no primeiro Capitulo da Ordem, que
fe celebrou no anno de i 570-teve logo Abbade triennal, q foy Freyjoão de Ta-
vila. fi.no anno de jy^-devião applicarlhe as rendas a outra parte, porque
lhe puzerão Prefidentes, que duràrão doze annos 5 mas no de 1 60 5. tôrnàrão
a por-lhe Abbade. Eftá ávifta dos dous Morteiros de Palme, & Carvoeiro cõ
poucadiftanciadehunspara os outros. TemCura,aquém rendequarenta mil
reis, & para oito Religiofos que conferva, & gaftos da Congregação , & ou-
tras penloens, que paga, com as anntxas de S< Payo de Antas , Villa fria, &
Souto de Rebordaõs, tem mais de tres mil cruzados de renda : tem oitenta vi-
u ^0^ .
S-Martinho de Villa fria, Vigairaria do Moíleiro de S.Roftiao,q rende ao
todo quarenta mil reis, & para os Monges noventa mil reis , tem oitenta vifi-
nhos. Aqui eftá a quinta do Paço, que anda na família dos Alpoés, a de Sa-
bariz, que foy dos mefmos , da qual fe amparou o fenhor Dom Antonio antes
que fe embarcaífe para França.
S- Mamede de Deuchriííe, Vigairaria dos Conegos de Barcellos, rende ao
Vigár io cem mil reis, & duzentos ôefeífenta mil reis para os Conegos : tem fe-
tentavifinhos- ,
Santa Eulalia de Villa de Punhe, Vigairaria do Convento deTibaens, que
rende ao todo feífenta mil reis, & para os Frades cento & vinte mil reis , tem
cento & quinze vifinhos-
S Miguel de AlvaraensheCommenda deChriíto,&Reytoria da Mitra,
que rende ao todo cento & emeoenta mil reis, & para o Commendador com fa-
bidos, & annexas de S- Juliãode Freixo, & Ardegãomaisdefeifcétosmil reis:
tem duzentos & cinco vifinhos- Aqui ha ruínas de huma Torre chamada Syl-
veira; eftá em poder de Lavradores. Prefumo que nella viveo Dom Egas Lou-
renço, que chamàrão Dom Alvarats por cafar com mulher fenhora defte Solar,
como diz o Conde Dom Pedro tit. 46.fol.325. & ferião os fundadores defta
Commenda, & efle oSolardosSylveiras , air.da que o dos Condes de Sortelha
dizem fero-Morgado da Sylveira no Alentejo, & trazem por Armas em campo
de prata tres faxascarmczins, & quatro mcyasLuasdc prata prezas pelas põ-
tas cm campo azul, timbre hum Drago azul com huma das quadernas na eípa-
doa,ou meyoUífo de prata armado de vermelho fahindo de huma capella de
fvlvas, & por orla no efeudo hua fylva verde.
Noíla Senhora de MujaCs he Abbadia da Cafa de Bragança , que rende
duzentos mil reis, tem noventa & dous vifinhos.
S. Salvador de Portella S ufana, Vigairaria do Convento de Carvoeiro,que
rende ao todo quarenta mil reis , & para os Frades oitenta mil reis : tem
fetenta vifinhos.
Santa Maria de Carvoeiro, Convento antigo de Religiofos Bentos, tomou
o nome de huma grande Cidade que houve no alto de hum monte , que lhe fica
por cima, de que fe vem veíligios.Chamavafe Carbona pelo carvão, que alli fe '
fazia, agora Caramona,& o Convento Carvoeiro. Deftruíofe na invafaó dos
Mouros, &eftando ermo, &defpovoada efta terra, EIRey, que fe entende fer
Dom AíFonfo o Magno, a deu a hum fidalgo, que a povoaífe com fimples Colo-
nos. Elie fundou, ou reedificou o Moíleiro, ainda que alguns o attribuem a
Dom Payo Guterres, fendo q ue 1'e foy, feria em outra occafião, que fobrevieffe
fecunda ruína- Deu ao Moíleiro o Couto, que tem,de mero, & mifto império;
porque
r
o Dom Abbade he Juiz, & Ouvidor, fem Efcrivão , determina verbal-
1 mente
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. 309
mente os pleitos entre os moradores, fem appellação, nem ãggravo nomeá
Porteiro, 6c Achegado, que penhorão pelas dividas que ao Moíteiro fe devem*
Scmanda porem pregão, 5c remata; ainda por crime não vão querelar a BarceP.
los (que he a quem toca) fem licença do Abbade. tudo, quanto poffuem de
bens de raiz, he do Convento íimples Colonia, nem alguma tomada de monte he
fua, 6c quando aquerem doar,outíefpaíTarâoutro, a largaonas maós do Ab-
badc, para queda fua a dem a quem querem, nem lhe entra alli outra J uítiça; 6c
também he deite Couto a Freguefia de S- Lourenço de Dorlaés , em que as fa-
zendas faõ do mefmo Convento- Tem boas cellas feitas ao moderno ; a Tgrejá
he couía antiga, & tem algumas fepulturas de fidalgos, que nellas fe enterràrao,
como faõ Nuno íiares Velho, o que comprou o quarto do Moitei.ro dc Varzea,
5c a quem o Conde Dom Pedro chama o Poítrimeiro, em differença do primei-
ro, que foy feu avô. E eíte neto he o que por querer moítrar #a feu filho Pedro
Veino, que Simão Nunes Curutello , com quem andava brigando em defafio,
trazia hum olho defcuberto por ondeobufcaífecom a efpada, carregou tanto
no feu, que o lançou fóra. Dom Gomes Pires de Maceyra, que fez o Moíteiro
de Santa Maria de Souto em Guimaraens, calado com a irmaã de Dom Sarrazi-
noOzores, que também aqui eitá fepultado , dequemFrey Bernardo de Brito
diz fer filho de Dom Ozono Vellofo, Conde deCabreyra , neto delRey Dom
Ramiro o Segundo. O que mais authonzâ eíte Convento, he eítar nelle fepul-
tado em monumento alto junto da Sancriitia com hum arco por cima o fanto
Dom Pedro Aífonfo,Dom Abbade deite Moíteiro. Entràrão nelle Commenda^
tarios, de que foy o ultimo Pedro da Gran , que 11a Igreja de Santiago de Bra-
ga fez a Capella das Chagas; faleceo no anno de 1602 • em que foy eleito pri-
meiro Abbade triennal depois da reforma Fr. Prudecio de S< Thomè: 6c jâ an-
nos antes a mefa Conventual era governada por Priores Monachaes. Tem no-
ve Religiofos, 5c Cura fecular com quarenta mil reis de renda , ôtparâ»os Fras
de^ com as annexas deQuintaes, Portella Suzana, S. Martinho de Aborim, fa-
b;dos,5c proprios mais de tresmil cruzados, de que pagão para outras Cafas,
alem de tres Igrejas de fua aprefentação com alternativa, em que entrão Navió,
& Santa Maria de Trebofa: tem cento ôcfeífentaòc dousvifmhos. Neíta Fre-
guefiahe OiSolardo appellido de Carvoeiro, que tem por Armas em campo de
prata doze fobreyros de verde, cada quatro em faxa com tres palias de verme-
lho, que os ãpartão, timbre huma afpa do mefmo carregada de fete bolotas de
ouro, 5c deites deve fer aquelle Carvoeiro de Évora, de que falia o Conde Dom
Pedro.
Santiago de Poyares, Vigairaria do Meftre-efcolado de Braga, de quem he
annexa, tem vinte mil reis de ordenado, ao todo cem mil reis, 5c para o Meftre-
efcola trezentos 5c cincoenta mil reis: tem cento 5c cincoenta vifinhos.
S. Martinho de Balugaés, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis, te
noventa vifinhos.
. S. Salvador de Navio, Abbadia do Moíteiro de Carvoevro, rende cento 5c
cincoenta mil reis, tem trinta 5c cinco vifinhos.
S. Julião de Freyxo, VigayrariaqueaprefentaoReytor çkAlvaraens , dç
quem he annexa, tem dez mil reis, ao todo feífenta mil reis, 5c para o Commé-
dador cento 5c cincoenta mil reis: terricento5c quarenta vifinhos. Aqui eitá o
antigo Çaítello de_Çurutcllo com torre, 6c muralhas, do qual forão fenhores fi-
dalgos grandes daquelles tempos, que fe appellidavãoCurutellos. Em hum al-
to monte, que lhe ferve de padraíto,eitá huma fer mofa Capella muito antigá,
mas
,I0 TOMO PRIMEIRO ^
m. ft-hrm ohrada,cuio Padroeiro he S- Chriftovão , ch amado aqu
rSS«LpaoTSos1Saz,a , caufa de antes do anno de ,6+0. w
q .1 n(irrL>m romaria tanta gente, particularmente de Galliza, que vou
*è£^SS^ÍS2?fc«Sd^deRSa«»s. Poreft.-ul^&pur»» do-

vococs q de novo Ce encaminharão a outros S a tos/e atenuou a trequccia daR,


não a de feus prodigiofos favores, como ha poucos annos experiment u cm fy
huma Freyra do Salvador de Braga, a quem o Santo deu faude, iwowdogi-
rando ellaiá moribunda. Tem em roda hum alto muro, que lhe mandou lazer
a , ílklfnn Dom Aaoftinhode Caífro & jefus, para reparo dos temporaes-
9
Santa Eulalia dePanque.Abbadia da M.tra , rende trezentos & emeoenta
rr.il reis tem duzentos & feffenta vifinhos,muitomel,&pomb*>.
NoíTa Senhora do O de Ardegão, he V igairaria que aprefenta o Reytor dc
Alvaracs, quando, não renuncia: tem dez mil reis, ao todoieííenta mil reis , &
para oCommendador oitenta milreis:tem quarenta^ cinco vifinh s.
Continuafe o termo de Bar cellos entre os rtosCavad.', j D r/te.
ç fp outros dous íulgados do mefmo termo dc Barcellos, de que a
parteXemWrios Cavado, & Dalle ao Sul da Villa faõ eiles Fa-
ri'a*& Penafiel.que tomàrão o nome de dous Catlellos que ttverao,o de Far.a
iáfov cabeça de Condado , cuio titulo logrou DomGonjaloTellcsde Mene-
zes &o de Penafiel inda o conl'erva unido a Bragança- E ou ie chamaffe affim
de Fará miniftro de Gedeão , para quemDeoso elegeoporcompanheiropara
s;—rT^PVnioriret-no exercito dosMadianitas:oudeFarai, peífoa {inalada
nasSiifctf^^vipas ouosuSregos povoadores deftaProvíncia lhe puzeffetfi
o nome de alguma de fuas terras, como erão em Creta ( hoje Cand^)aCdade
dc Fara, ou de Fana em Dalmacia,oudadcKiris,ou riqFano, &Offer: n ic
* oti/i fí-r-m nri itipto quê Faria,ciueo podia tomar de Oiter , nlnodeLc

t an"& quarto neto de Noe, ou dos netos deOffir , que a ella vierão- Alguns
n.iÊrem felhe deduziffe de Nuno dc FariaTTiumyirodos Romanos, ou deJFji
ra natural defta Província, Virgem fanta,&Monja de S. Bento >que em tempo
dos rodos alcançou o reynado de feis Príncipes que fuccederao deíde Sca*
buto a Flávio Chindafvindo, ou de outra Fareyra,de que fe acha memoria no
Mofteiro de S- Simão da junqueira, a quem fez hunu efcritura na e a '3 P
qUeV
Meylk«oâac1mld6a7barra do rio Cavado da parte do Sul em fitio areofo

f{\(* fundado o luaar de Fão, que antigamente, antes que as areas o perfeguif
fem unto!fov^povo mavor, & muy conhecido pelo nome de Aguas Ce:enas, de-
rivado do rio Celano, out ciando, fundado a meu ver pelos Celtas ,como di-
oo adiante & aqui fe celebrou aquellefamofo ConciUocQQtraosPrifcilianos,
em que prefidio S. Toribio, ou por feu talento , ou por achaque do noíTo Pri-
maz Balconio, que depois o confirmou, &tãbem porobfequiolhc daria aquelle
limar nelle, por fer daqui natural ; objecções com que alguns querem divert
fernefte lu°ar, para o levarem a Qalliza, & outros a Barcellos- E de era ° P°"°
/ re havemos de dar credito a tam certas hiílorias) era que le carregava o de
rodefteOffir as frotas daquelle fabio Rey, & depois o foy das Armadas , com
cue os Romanos conduzirão gente para conquillar Braga, & as terras a ella o-
oeitas que erão muitas, fendo eíla huma das cinco vias Romanas, que para a-
quella AuguftaCidade havia- Tem Juiz pedaneo,& homenshonrados, coque
fe governa, feitos por eleição annual do povo, a que vem prefidir a Camara
BarceUos, de quem he fogeito- O Juiz, & adjuntos fazem Almotaceis: tem E -
DA COROGRAFIA PORTUGUESA; pt
cri vão das Sizas, 6c Impofição, data da Cafa de Bragança 3 que leva dé cinco
peixes hum> coufaque ordinariamente paffa defetecentos mil reis,porfer aqui
amais notável pefearia da Província. Tem os mayores barcos de pefear de -
quanto Te conhecem, tam veleiros , ôc ajudados dos remos pelos muitos ho-
mens, que levao, que fe nàõ lembra que inimigos tomaíTem algum. Outra meyá
íegoa da barra defronte defte lugar não muy defviado da ccíia eílão os famo-
fos cavállõs deFaõ celebrados dos Mareantes, cujas noticias dão os Mapas 3
6t Cartas de marear Taõhuns penhafcos,que correm de Norte a Sul perto de
hum quarto de legoa,baílantemente metidos ao mar, com que entre elles, & a ■
terra bordejão navios ;fó huma barra tem capaz de fe entrar neíferefayo , mas
he de modo, que fiunca inimigos fe atreverão a entralla, inda vindo acofíando
àlgumá embarcaçaõ, que a elle fe acolheíTc- Nelles fe acha no baixa - mar muito
marifeo: defde Janeiro até dia de Pafccàhà eílacadanorio,em que fearma de
noite com redes, 6c nellas fe pefeão falmoens, íris, faveis, lampreas, trutas, ôc
relhos. A terra dá trigo, milho, linho, 6c bons alhos, fó de lenha padece gran-
de falta: antigamente teve marinhas de fal, cujos dizimos no anno de 1 i8-deu
ElRevDom Affonfo Henrique--aos Monges de NoíTa Senhora da Abbadia. No,
lugar ha Cafa da Mifericordia,Hofpital,6chumaParochiada invocação de Saô
Payo, Reitoria da Cafa de Bragança,de quarenta mil reis, ao todo duzentos mil
reis com as offertas do Santo Chrifto, 6c os dizimos importão mil cruzados;
erão antigamente do ChantradodeBarccllos,hoje he fóafextaparte,6c as cin-
co leva 0 QeãodeVillá Viçofa,aquemfeapplicàrão: tem trezentos vifinhos>
quali todos pefeadores. Na entrada do lugar para o Nafcente eflá a Capella de
NoíTo Senhor com a Cruz às cofias, que alem dos muitos milagres , que obra,
em quem a invoca, mete refpeito, 6c devoção. Hetamjantiga, que não fe averi-
gua donde veyo: huns dizem que de Inglaterra , outros que fe fez em Viana;
Vifítaõ-iiaaquelles contornos com prociífoens,ôc clamores em muitos dias do
anno, particularmente no de S. Frey Pedro Gonçalves, & no da V iíitação de S;
Ifabel. Daqui erão aquelias duas neceífitadàs mulheres, de que huma cega, 6c
outra furda forão ao fepulchro de S. Pedro de Rates a cobrar vifta, 6c ouvir-
S. Salvador de Fonte boa, chá mou-fe em feu principio Fonte mar,por eíla-
remàvifla,6cdepois Fonte má da roimaguideíuafonte, a qual pelo tempo
adiante fe foy melhorando, 6c fe chama hoje Fonte boa. He Abbadia do Ordi-
nário, teve em feu principio duas annexas, NoíTa Senhora da Graça , que eftâ
unida à Matriz, 6c fó conferva a que fe fegue, com que rende dous mil cruza-
dos ; tem cem vifinhos. Pouco acima da Barca de Lago eftão ruínas de Caílello,
aque chamão Craílo, que fe prefume fer de Romanos. Chega ao rio, aonde cha-
mão o Poço da batalha, por huma que alli tiverão Chriflãos com Mouros: eftes
hiaõ retirandofe,6c os noífos os forao carregando em forma, que já muy diftan-
tes,donde principiàrão o choque,os âcabàraõdevehcer por onde corre hum
pequeno rio, que fe mefe no Cavado, cujas aguas créfcèraõ, 6c fe tingirão cõ
o fangue dos mortos, 6c por iífo lhe ficou o nome de Rio tinto.
S-João de Barqueiros, VigairariaannexaaFonteboa, rende ao todo qua-
renta mil reis, tem quarenta vifinhos.
Santa Maria da Eftella, que algum tempo fe chamou Villa Menendi, he Vir
gairaria do Convento de Tibaens, que rende ao todo feífenta mil reis, ôc para os
Frades duzentos 6c trinta mil reis: tem feífenta 6c tres vifinhos; Foy eftá\ter-
ra do Conde Dom Mem Paes Bufinho^tronco dos Azevedos, 6c fenhór de Villá
do Conde, o qual com feu filho Hermenegildo Mendes venderão eíla herdade a
Dòml
TOMO PRIMEIRO
?:om Mendo terceiro Abbade de Tibaens 'dSÍ
lhes deu, moeda daquclle tempo, que1 Jí^tou a Qom Ordenho quarto Abba-

' ** °Ab--

muitas cebolas, como as de Bragança com dez mil reis,ao

todo dSmdrdsAF" a^Collegiada de Bareellos duzentos* trmta «ul

yadacento&nuuanul reis V™lamdametaaaprefentaçáo,& renda, tem

sa^rÉâSSBsi

SB==fe-

SaBBgegfêgfflg
& Solar defte nobre appeHido,de quenao foWcendea ^^
& muita defta Província, mas Ca^b §r delRevDom Affonfo Henri-

ísssgsassStí=a.í.7ss

No reynado delRey Dom Aito Alravdc mór de Miranda; parecem

A^Revnode ("alhza ^o tefte^nunho^cafamentodelRey Dom Fedro com a


Rainha Dona Ines de ^^'^^SNunTGonçalvS^^a com Do-
valleiro, que então er^oni^aSO, ^ d M Alcavde mór de Ponte de
DA COROGRAFIA PORTÚGUEZA* |ij
que foy Abbade de Santa Eulalia de Rio Covo, & fenhor de Azurara, Pindelo,
& Faõ, por mercê delRey Dom Joaõ o Primeiro,& Alvaro Garcia de Faria, que
lhe fuccedeo na Cafa, & delle defcendem os que ha no Rey no defte appellido,
que em todas as idades deu íingulares Varoens. Tem por Armas em campo
Vermelho huma Torre de prata lavrada de preto com cinco flores de Liz de
prata lavrada, huma a cada lado, & tres em chefe. Pela morte de Nuno Gonçal-
ves , dizem , fe lhe acrefcentou efta Torre, ou Caftello com hum homem ao pê
feito cm pedaços; o que fe reformou em tempo delRey Dom Manoel, tirando-
Ihe o homem, por fer contra a regra de armeria : deixàraõlhe o Caftello com
as Lizes, que dizem, erao as que o Caftello tinha, peto fundarem Frailcezes, de
que tomou o nome aquella ferra, chamandofe da Franqueira.
S. Payo de Villar de Figos, Vigairaria da mefma Collegiada de Barcellos
com dez milreis>ao todo quarenta mil reis, & para amaffa do Cabido cento &:
cincoenta mil reis : tem fetenta vifinhos*
S- Martinho de Courel,Vigairaria da mefma Collegiada com dez mil reis,
ao todo trinta mil reis, depara a maífa fetenta mil reis,tem quarenta & fete vifi-
nhos.
Santa Marinha de Paradella , Vigairaria que aprefenta o Reytor.de Cho-
re te, de quem he annexa, com dez mil reis, ao todo quarenta mil reis, & para o
Commendador cento & trinta mil reis: tem cincoenta Sc quatro viíinhos, mui-
to mel, caça de lebres, & muitas viboras.
S. Salvador de Criftello, Abbadia da Cafa dos Pinheiros , rende duzentos
& cincoenta mil reis, tem cento & vinte vifinhos.
S. Miguel de Laundos, Abbadia da Mitra , rende duzentos & vinte mil
reis, tem feífenta 8c dous viíinhos. Aqui eftá hum alto monte , que chamão de
S Pero fins, devendo dizerfe de S- Felis,nomedo primeiro Ermitão que teve
a Igreja de Deos depois de Chrifto vir ao mundo, fem embargo que outros di-
gão o foy S. Paulo; reíidia nefte ermo,quando os tyrannos martyrizàraõ a Sa5
Pedro de Rates noífo primeiro Arcebifpo de Braga , cujo fagrado corpo foy
achado por efte fanto Eremita, de quem he a Capella que alli eftá.
S. Salvador deNabaes, Vigairaria das Freyras de Villa do Code com dez
mil reis, ao todo cem mil reis, ôc para o Mofteiro trezentos mil reis : tem no-
venta viíinhos.
S.Miguel, que alguns dizem Santa Maria de Torrofo , heCommenda de
Chrifto, & Reitoria da Mitra com quarenta mil reis,ao todo cem mil reis , 8c
para o Commendador duzentos mil reis, tê cento 8c trinta 8c quatro viíinhos.
Aqui houve antigamente huma Cidade chamada Torrofo , a qual parece que
exiftia,& ao menos confervava o nome, reynando o Conde Dom Henrique no
anno de i io<S. em que a vinte de Julho Guterre Soares fez huma doação à Sé
de Braga, vivendo o Primáz S-Giraldo, de huma quinta no lugar de Margata-
nes viíinho defta Cidade.
Santiago de Amorim, Reitoria da Mitra com quarenta mil reis , ao tcd>
duzentos mil reis , & para as Freyras de S.Clara do Porto quinhentos & cin-
coenta mil reis:tem trezentos vifinhos.
Santa Eulalia de Viriz, Abbadia da Mitra, rende quinhentos mil reis, tem
duzentos vifinhos.
S.Salvador de Touguinho, Abbadia da Mitra , que rende com a annexá
feguintefeifeentosmil reis, tem oitenta vifinhos*
Dd Saõ
3i4 TOMO PRIMEIRO
SaõPedro deFromariz , Vigairaria que aprefenta o AbbadcdcTougui-
nho, rende ao todo trinta mil reis, tem vinte & íete vifinhos.
Santa Maria deTouguinha , V igairaria do Cabido de Braga com dez mil
teisj, ao todo cincoenta mil reis ^ & para a maffa do Cabido duzentos mil reis.
Deu-a ElRey D.Sancho o Segundo por cõcerto ao Arcebifpo D. Svlveftre Godi-
nho em Guimaraens no anno de i2$8> a vinte & cinco de Novembro: temíeífe-
ta& dous vifinhos. .« , ,
S. Miguel de Urgevay, Vigairaria da mefma Sè com dez mil reis , ao todo
trinta mil reis, os frutos vaõ com os da Povoa de Varzim : tem quarenta viíi-

nhCS
S. Chriftovão de Riomao foy Convento de Conegos Regrantes de Santo
Accftinho, & o achamos jà fundado no anno de 1122. mas não fabemos por
quem. Teve fempre Prelado, & Clérigos raçoeiros, que rezavão em Coro as
Horas Canónicas atèoannode 1418. em que o Arcebifpo Dom Fernando da
Guerra o unio ao de S. Simão da junqueira feu vifinho, & da mefma Ordem por
Breve do Papa Martinho Quint o , comobrigaçamdeque femprenefte de Saõ
Ch rido vão refidiífcm dous Frades, 0 que já fe não obferva. Tem fó V ígarto
fecular, que aprefenta o Mofteiro de S. Simão, rende ao todo cem mil reis, & pa-
ra os Frades duzentos mil reis: tem cento & dez vifinhos. Aqui eitá a quinta
da V arze, coufa antiga, que anda unida à de Cavalleiros.
S. Mi-melde Arcos, Vigairaria que aprefenta o Meflre-efcola de Barcel-
los,a quem rende cento &vmté mil reis, & para o Vigário cincoenta mil reis:
tem fetentaSt dous vifinhos. , ,
S- Miguel deChorentehe Commenda de Chrifto, & Reitoria do Ordiná-
rio, que rende ao todo cem mil reis, & para o Commendador trezentos & cin-
coenta mil reis com as annexas de Santa Marinha de Paradella,& a que ie fegue:
tem cem vifinhos- . . _ .
Santo Adrião de Macieira , Vigairaria que aprefenta o Reyror de Cho-
rente com dez mil reis , ao todo feflentamil reis, tem noventa & tres vifi-

nhOS
*Santa Jufta de Negreiros, Abbadia da Mura , rende cento & vinte mil
reis, tem fefienta vifinhosT
S. Fins de Gondefellos, Abbadia da Mitra , que rende com a annexa ex-
tiníla duzentos & cincoenta mil reis, tem cem vifinhos.
S. Braz de Chavão, Commenda de S-joão de Malta, & Vigairaria do Com-
mendador,rende oitenta mil reis, & para o Commendador com a Capella anne-
xa de Santa Martha em Barccllos, & fabidos perto de dous mil cruzados : tem
cento & cinco vifinhos. .
S. Salvador de Minhotâés he Commenda de Chrifto, & Reitoria da Mitra
com quarenta mil reis, ao todo íetenta mil reis, &. para o Commendador, com a
annexa feguinte,duzentos & cincoenta mil reis : tem cincoenta & iete vifi-
nhos. .
S. Mattheus de Grimancellos , Vigairaria que aprefenta o Reytor de
Minhotâés com dez nul reis, ao todo cincoenta mil reis : tem cincoenta & feis
vifinhos. . .
Santa Maria deNinedáquem,heCommcnda de Chrifto , & Reitoria da Mi-
tra, que rer.de ao todo cem mil reis,& para o Commendador duzentos mil reis:
tem cem vifinhos.
S. Miguel daQirreira, Vigairaria dosCoreiros de Braga , que rende ao
todo
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA; 315-
todo fetenta mil reis, 5c pará os Corèiros cento & vinte mil reis: tem cem vizi-
nhos.
S. Romão de Fonte coberta he Commenda de Chrifto,& Reitoria dá Mitra,,
que rende ao todo feíTenta mil reis , & para o Commendador com a annexa íe-
guinte duzentos & cincoenta mil reis: tem trinta & cinco viíinhos;
S- João Bautifta de Syl veiros, Vigairaria que aprefenta o Reitor de Fonte
coberta, de quem he annexa, & nella refide, & o Vigário na Matriz , tem oito
mil reis, ao todo oitentamil reis :& confia de fetenta viíinhos. Aqui eftà a
Cafa de Villa meã de fidalgos honrados do appellido de Correas, deícendentcs
dos Fralaes, que delia forão fenhores.
Santa Cecilia de Viljaça, Abbadia que aprefenta Fernão de Souía, fenhor
de GouveadoTamega, tem cincoenta viíinhos.
S. Bertholameu de Tadim, Abbadia do Ordinário , rende duzentos mil
reis, tem fetenta viíinhos.
Santa Maria de Siqueyra, Abbadia do Ordinário , rende quinhentos mil
reis, tem cento & vinte viíinhos.
S; Miguei de Cabreiros, Vigairaria do CabidojJe Braga, rende cincoenta
mil reis , & para os Conegos oitenta mil reis : tem fetenta & quatro viíi-
nhos.
Santiago de Sequiade, Abbadia da Mitra j que íe compoem de tres igre-
jas, qual he eífa, tem feíTenta & fete viíinhos.
S. Pedro de Sá, aonde vay o Abbade de Sequiade dizer MiíTa hum Domin-
go, outro vem os FregueZes a Santiago, rende com a annexa feguinte duzen-
tos & vinte mil reis, tem quarenta viíinhos.
Santa Comba de Curujaes he Curado do Abbade de Sequiade cõ feis mil
reis, ao fodo vinte & cinco mil reis: tem vinte Ôt feis viíinhos*
S* ^ay° de Midoes, Vigairarjados Loyos do Porto, que rende ão todo fe-
tenta mil reis, & para os Frades cento & cincoenta mil reis, tem fetenta & feis
viíinhos»
S. Pedro de Oliveira, Vigairaria da Mitra, rende feíTenta mil reis , & parâ
o Arcebifpo oitenta mil reis: tem cincoenta & cinco viíinhos.
Santo Eílevão de Baíluço, Vigairaria da Collegiadade Valença, páraqaiem
rende trinta mil reis, & para o Vigario vinte & cinco mil reis ; tem trinta &
dous viíinhos»
Santa ChrifHna da Poufa, Vigairaria annexa à Abbadia da Graça.em Ti-
baes, rende o mefmo que a de Baftuço, tem oitenta & dous viíinhos.
S. João de Gamil foy Abbadia fecular 5 fendo delia Abbade Eftevão Ferrei-
ra, filho da Cafa.de Cavalleiros, a deu às*Freiras de S. Francifcode Val de Pe-
reiras, por lhe aceitarem humas filhas que tinha. He Vigairaria defte Mofteiro
com oito mil reis, ao todo feíTenta mil reis, & para as Freiras cento & vinte mil
reis: tem quarenta & fete viíinhos.
Saiita Eugenia, VigamariadosLoyos do Porto com oito mil reis, ao todo
íeífenta mil reis, & para os Frades cento & trinta mil reis : tem fetenta vifí-
nhos. Dizem foy antigamente Couto de Guimaraens, & por caffigo,& privi-
légios que tinhão, erão os moradores obrigados a irlhe varrer as ruas ; mas
fendo muy prejudicial a Barcellos haver aqui eíie Couto tarn feu viíinho , cm
que íe recolhião feus criminofos, donde fahião a rouballos, lhes derão em troca
as duas Fregueíias dsjCunha, &: Ruylhecom a mefma obrigação.
Santa Mana de M^tim heTxmeíicio fimples^kSuaJantidade , aprefenta
Dd ij Vi-
TOMO PRIMEIRO
V igario com oito mil reis, ao todo feíTenta mil reis j & para o Beneficiado cent o
& quarenta milreis: tem cento & feis viíinhos.
S • Julião de Paços, Abbadia da Mitra, rende cento & feíTenta mil reis, tem
noventa & feis vifmhos •

Couto de Filiar de Frades»

SAõ Salvador de Villar de Frades foy Mofteiro de Monges Bentos, que fun-
dou S: Martinho de Dume, & padecendo a mefma ruína que os mais na in-
vafaõ dos Mouros, citava todo por terra, quando pelos annos de i ioo- o re-
edificou Dom Godinho Viegas- Teve V aroens muy lautos,& entre elles aquel-
le Tanto Abbade, que dormio a quantidade de annos, que muitos con tão 5 mas
crefcendo a malignidade humana, & atenuandofe a devoção, fe depravou nclle
tanto aboa Regra de S-Bento , que com a falta da virtude fe acabárão nelle os
Religiofos: aflimeftavano anno de 1+25. em que o Medre João , depois Bif-
po de Lamego, & Vizeu,natural de Lisboa, & famofo Medico delRey Dõ João
o Primeiro, Affonfo Nogueyra, filho de Aíloníb Annes Nogueira , Alcayde
mór de Lisboa, depois Bifpo de Coimbra, & Lisboa, Sc Martim Lourenço gra-
de Predador, dando de mão ao mundo tratavão de fe apartar do trafego fecu-
lar,&de occuparfe na cultura de fuás almas; cuja noticia chegando a Dom Vaf-
co,fegundo Biipo do Porto,os chamou para aquella Cidade , em que lhes deu
para fua morada a Igreja de Santa Maria de Campanhã ; mas fendo promovido
para oBifpado de Évora, & experimentando menos favor no que lhe fuccedco,
& arãde no ArcebifpoDom Fernando da Guerra, que para aqui os couduzio,
lhe aceitàrão a doação que do Convento lhes fez com mais doze Igrejas , em
que entrava o Mofteiro de S. Bento daVarzea,concedendolhes alguns privi-
legiôsõrdínèíos, quaes íaõ os de prover os Vigários, & Curas de luas Igrejas
femapprovação do Prelado, pondolhefó de obrigação , que o Rey tor , quando
pela c5ommunidade foífe eleyto, antes de exercitar efta dignidade, viria a Bra-
oa tomar a confirmação do Arcebifpo, a quem pagaria hum real de prata, co-
mo inda hoje feobferva. Tomarão por Padroeiro a S- JoãoEvangelifta,& ha-
bito, mur ça, & barrete azul; Conegos feculares^jm a mefma Regra, que a dos
de S.Jorge de Alga, que podem fahir,&fazerem-fe Clérigos , porquenão pro-
feffaõ Rdigião perpetua. Eftefoyo primeiro Convento que efta Religião te-
ve, & fov cabeça de toda a Ordem, atè que a Rainha Dona Ifabel , mulher del-
Rey Dom Affonfo o Quinto lhes deu o Oratorio de. S; Bento de Xabregas em
Lisboa (aonde feu pay o infante Dom Pedro governando efte Reyno na menor-
idade de feu fobrinho, & genro, o dito Rey Dom Affonfo o Quinto lhes tinha
dado o Hofpital de Santõ Eloy por Bulla do Papa vl ugenio Quarto, de que 1 hes
vierão a chamar Loyos) poraffeição que tinha a S. João Evangel ida, &ao bõ
viver defies filhos, fez que em Lisboa foffe a cabeça delia Congregação , que
tem dado muitos Varoens de exemplar vida. Aílim dedizimos,comode fabi-
dos, & proprios tem doze mil cruzados de renda, com que fuílenta feíTenta Re-
ligiofos ;hefermofo Templo, por haver aqui a melhor pedra deft a Província,&
nclle "randes relíquias, como he hum retalhodomanto de Noffa Senhora , que
he depano azul, outra do Santo Lenho, & muitas de Santos , hum lingular or-
gão com charamellas, que nem todos os Organiftasjabem tanger; tem boa cer-
ca com dilatada mata, regaladas fontes, hortas, & pomares; o celebrado poço
do
«r
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 317
do Lago no rio Cavado alii vifinho, em que morrem muitos falmoens ,trutas,
relhos, efealhos, bogas, & lampreas. A Fregueíia he Couto feu, compoemfe de
quatro, a do Moileiro, & de S. foão de Areas , & a*de Santa MariaMagdalcna,
cuja renda faõ feífenta mil reis, applicada aos Romeiros de Santiago, que fe ex-
tinguirão, & vem aqui os freguezes, & a feguinte.
Santiago de Encourados, Curado do Mofteirocom oito mil reis, ao tedo
quarenta mil reis,&todas temduzentos vifinhos. Aqui he o Solar dosfidal-
gos do appellidode Encourados, de que falia o Conde Dom Pedro: & fuppof-
to faz dilferentes a Fernão Sylvcíire de Encourados de Dom Sueiro Mendes de
Encourados, erãodeíla Gafa ambos.
S- Pedro de Adacs, Curado domefmo Moíieiro , que rende ao todo cin-
coenta mil reis,&paraos Fredes cento & trinta mil reis , tem cento & vinte
vifinhos.
S. Jorge de Ayró, Curado do mefmo Convento, que rende ao todo oiten-
ta mil reis, & para os Frades com a união de S. Bento da Varzea,&feus fabidos
duzentos & cincoenta mil reis: tem cem vifinhos, em que entraõ os da Fregue-
fia feguinte.
S-Bento da Varzea foy Moíieiro antigo de Monges Bentos, fundado por
S- Martinho de Dume, & o aífolàrão os Mouros,como aos mais, & o reedificou
de novo pelos annos de mil & tantos Dom Suevro Guedes da V arzea ( aflim
chamado, por viver nefte lugar) neto de Dom Arnaldo de Bayão,& he para fa-
zer reparo em que os mais dos bemfeitores dos Conventos erão defcendente9
defte fidalgo, a que podemos- attribuir confervarfe tanta defcendencia fua com
muita fidalguia, & nobreza: feu bifneto Nuno Soares Velho o Poíiimeyro com-
prou hum quarto delle aos mais herdeiros, & inda o habitavão eífes Religio-
1'os pelos annos de 1 3 30. extinguio-fepor falta de Monges, & paffou a Abba-
dia fecular,que poífuía,& renunciouae.Mofteirode Villar , em que entrou
Religiofo,& acabou fãtaméte Vafco Rodrigues, Chantre de Braga, confirmando
a união o Arcebifpo DomFernandcTda Guerra. Os Frades depois o extingui-
rão de Parochia unindo os freguezes a S.Jorge. Permanece a Igreja como Ca-
pella com a devota Imagem de 5. Bento, que pelos muitos milagres que obra, he
vifitada em muitos dias do anno, particularmente nos feus de 21.de Março, &
11. de Julho, & em ambos ha feira franca ;& tanta he a devoção que lhe tem,
que os Romeiros lhe hião rafpando os pès,& habito para relíquias, a que acu-
dirão com o cercarem com gradinhas de ferro. Alguns querem que efte Mof-
teiro fofie duples, ou ao menos que de Monges paiTaíTe a Monjas da mefma Or-
dem, & que entre ellas houve duas, & huma Abbadeça Santa-, St que eila eíiá no
adro, de que levão terra para mezinhas, em que obra milagres ; em roda delia
eílão as duas Freiras, mas, anenhuma fe fabe o nome. Tem efta Freguefia o no-
me de Ayró de hum grande monte, que nella começa , & fe eftende por outras
Parochias, todo muy regado de fontes de bella agua , com quehefertil depa-
ft os, & arvores, em que fe dá o melhor vinho de enforcado,que defte genero ha.
Nelle cftão veftigios de muitas fortificaçoens com titulo de Torre velha , «Sc
CaftelIos:hum he o de Penafiel, que dá nome a hum defies dous julgados,& com
titulo de Condado anda encorporado na Cafa de Bragança , do qualfoyfe-
nhor Mendo Nunes de Penafiel, Rico homem, & hum dos que aífinàrão nos fo-
raes,que aRainhaDonaTherefa,&o Conde Dom Henriquederão avariasteç-
ras, & na doação,que a dita Rainha, & feu filho o Infante Dom Affonfo Henri-
ques,noífoprimeiro Rey, fizerão no anno de 1110. doCaftello de Goes por ci-
Dd iij ma
8 TOMO PRIMEIRO
m dc Coimbra a Dom Anito da Efeda, que fe conferva em feus dcfcendcn-
rcs Condes de Fieuciró: confirma Hcrmieio Moniz,fenhor deite Callello, do
qui fez doação EIRey Dom Affonfo Hénques ao ArcebilpoDom Payo Mendc?
no anuo de 1.8- Eaopèdomonte para o Poente efta o Paço de Vil asboas co
fua quinta A Caía,Solar defta família, vem-fe ruínas de Torre, ou Çattedo., cm
que vivião os fidalgos antigos fenhores delle , & que antes do principio defc
Reyno ganharão cous Caftellos aos Mouros, comofoy ode Penafiel, de que
tomarão por Armas huma Torre no meyo de dous homens armados, cada hutn
com fua lança na mão, das quaes ularaõ ate o tempo delRey Dom Pedro,em que
DAo Femandesde V illasboas, fenhor delia Caft , por nto haver guerra no
ReynO, fe foy à de Granada lervir a EIRey Dom Pedro deCaitella ,o qual tendo
defitiohum Gaftdlo,deráo a DiogQ Fernandes em Domingo de Ramos huma
palma benta, & tomando, diffc: "]* <> aoJpojto o Santiago que amanhimor.
to, ou vivo a vorey na mais alta torre âaquelle Caftdlo: ôedandoie oaffalto no dia
feguinte, foyacaufa de fe ganhará por a palma aonde havia dito , levandoa a
todos, pelo que todos o trouxeraõ nas palmas 3 & aflim por eíle , como por
outros randesferviços, que fez áquelle Rey, o honrou muito , & lhe deu as
Armas,de que ufaõfeusdelcendentes,queíaooefcudo efquartelado; no pri-
meiro em capo vermelho húa Torre,ouCailello de prata de tres Torres co por-
tas,lavrado de preto cõhúa palma verde entre as ameyas da Torre do meyo: no
fegundo em campo azul hum Drago de prata volante, armado de vermelho co
o rabo retorcido, & o ramo de palma na boca, & aílim os contrários. Conferva-
feeíla Caía por varonia nos fenltores queapoífueni , que ao Ignacio de San,-
payo & feus irmãos o Doutor Antonio de Víilasooa s & Sampayo, I rovedor
que foy de Coimbra, hoje Dciembargador do Porto, Auihor^JiVra^ que k
intitula,Nobiliarquia Portugueza; & João de Carvalfío de Calldbranco , Juiz
dos direitos Reaes de Barcellos. Tem GpidLa^ReT^
deVillar de Frades,õenefta quinta logo a entrada do portal o mayor cedro,que
no Reyno vi, onde eftas arvores faõ modernas.Os efue vem de Pedro d&Villas-
boas trazem por Armas em campo verde hum Dragão preto volante com a cau-
da levantada, & lingua de prata. He tradição que nefte Raço viveo Gonçalo
r il de Ayró, a quem o Conde Dom Pcdro diz^acàraõjtaJ^j^e eu cuido
fcr a ferra da Corveã ; foy cafado com Dona Urraca Annes , filha de João Lou-
renço da Maceyra, de q ue teve a Dona Urraca Gd, mulher de Dom Sueyro Men-
des deEncourados, & D- Mór,ou Mana Gd, mjdhcrde Martim Soares Pache-
co fem geração; mas olivro antigo lhedamaishum filho , chamado Affonfo
Gil-de que alguns entendem deícenderem osVillasboas , íenhores defta Ca-

Noffa Senhora de Moure, Curado do mefmo Moíleiro, rende ao Cura qua-


renta milreis , & para os Frades cento & trinta mil reis : tem íeílenta vili-
n l0S
' Santa Maria deGovos, que fundou a Rainha Dona Mafalda, heVigairaxia
do mefmo Convento, que rende ao todo oitenra mil reis, & para os Fresco
a que fe fegue trezentos mil reis: tem cem vifínhos, & huma aldea chama -
cavellos, aonde em tempo delRey Dom Sancho Capello, tinha Eilevao Pires de
Moines hum Paço honrado, com que quiz violentamente fazer Honrado todo o
luoar ,& impedir entrar nelle o Mordomo delRey 5 & porque hum chamado Mar
tirn Vermui foy penhorar ao Paço hum Lavrador, que nelie morava, o prui eo
Dom Eftevão,&o trouxe emrodadaEreguefia pelo modo que lhe pareceo,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA.
xendolhe a cada paíTo: Por aqui hi H>nra\ &.nofim o enforcou ; Sc tornândo
alli penhorar hum Domingos Alcaydc, Eíjevaõ Pires, depois de lhe cortar as
maõs, o matou. Com tudo em tempo delRcy Dom Diniz fe devaçou o lugar,ôç
fó o Paço ficou, & Honra, em quanto foífe de fidalgo, &c ou foífe por defeenden-
cia, ou por compra,extinguindofe eíhe appellido, paffou a fer Soiar dos Goyos,
como diremos na F reguefía de S. Marinha de Remelhe.
Santa LeocadiadePedrafurada, Curado do mefmo Molhei ro , rende ao
Cura quarenta mil reis, tem quarenta &tresvifinhos. No alto do monte tem
huma Ermida de S. Vicente, Sc junto delia humas fontes , que chamâõ da Vir-
tude, pela queemfuas aguas achao muitos enfermos de vários achaques , que
•nellas fe vemlavar na manhã cie S. João , em cujo dia he o Santo feílejado com
MiíTa cantada, Sermaõ,<k clamores das Freguefias circumvifinhas.
Santa Marinha de Remelhe, Vigairaria dos Padres da Companhia de Bra^
ga, rende feíTenta mil rers,Separa os Padres cento&vinte mil reis; tem feten-
ta vifinhos. A eíia eíhá unida a de Moldes, Moines, ou Molles, que antigamen-
te foy Parochia, Sc aqui he o Solar deíha antiga famáia , de que trata o Conde
Dom Pedro foi. 3 20- & naõ Santa Maria de G°yos,como dízemoutrosj impli-
cação que devião ter com a Honra, que elies ndalgos lá tinhaõ, Sc a perdetião
por feus muitos, Sc pezados crimes, ou' por defeendentes feus entráriâõ ella
os Goyos, de que ficou fendo Solar, quando os Goyos não fenhoreaflèm a mhos.
Teveefhe appellido grandes peflbas, particularmente naÔrdein de S. joaõ de
Rodas, hoje"Malta, como foraõ Frey Lourenço Eíhevês de Goyos, que em tem-
po delRey Dom Joaõ o Primeiro, fendo Commendador de Vera Cruz, entrou a
ferPrior do Crato, pela depofiçaõ que fe fez do Prior Dom Frey Alvaro Gon-
çalves Camelo por fe paífar a Caiiella; mas voltando eíhe ao Rey no, tornou a
entrar no Priorado, fendo a meu ver falecido Frey Lourenço Elleves , Sc por
morte do dito Dom Frey Alvaro Gonçalves Camelo, fucceieo-lhe Frey Nuno
deGoyos, irmaõ de Frey Lourenço. Muitos ma :s houve com que os Genealó-
gicas topàraõnos Nobiliários manu-efcritos,&faõdiíferentes dos do appelli-
do de Goes,cujo Solar he na Beira.
S. Salvador de Pereyró, Vigairaria dos mefmos Padres, rende outro tan-
to ao Vigário,&aífim aos Padres: tem cincoentaôc feisvifinhos. No alto do
monte da Franqueyraeftá huma grande, & fermofa Capella de NoíTa Senhora,
cuja fundaçaõ attríbuem ao grande Egas Moniz , Avo delRey Dom Affotifo
Henriques, mas o corpo da Igreja tem as Armas dos Pinheiros : entendefe fer
obra do BifpoDom Diogo Pinheiro, a qual do fitio toma o nome da* Franquey-
ra : he Imagem milagroía,&dé romagens, de quem era tam devoto oprimeiro
Duque Dom Affonfo, que quando EIRey Dom Joaõ o Primeiro feu pay ganhou
Ceuta, em cuja companhia foy, trouxe dellahuma grande, Si larga loufa de pe-
dra de groífura de tres dedos,em que he tradiçaõ comia Caiabéçayla fenhor da-1
quella Cidade, & acollocOunoAltar,dandolhe melhor ufo, em que eíhá. Bre-
ve diftancia abaixo para a parte do Norte em lqgar folitanofica o devoto Cõ-
vento da Franqueyra de Religiofos Capuchos da Província da Piedadeo qual
fundou Dom Jaymes quarto Duque dc Bragança no a uno de 1 foy. fazendo-
Ihe doaçaõ da Ermida do Bom Jefm, que edificàraõ no anno de 13 91. Vicente
Pobre, Sc lua mulher Catherina Affonfo.
S. Martinho das Carvalhas, Vigairaria annexa à Commenda de Santa Eulá-
lia de RioCovo com dez mil reis,ao todo quareta mil reis,& para o Cõmendadof
vay na Matriz: tem quarenta & íeis vifinhos.
.Safitã
3*0 TOMO PRIMEIRO
Santa Eulalia de Rio Covo he Commenda de Chrifto , & Reitoria da Mh
tra com quarenta mil reis, ao todo cento & vinte mil reis , & para o Comenda-;
dor com a annexa acima quatrocentos mil reis: tem fetenta vifinhos.
S. Payo do Carvalhal, Vigairaria que aprefenta o Prior de Barcellos,rende
ao Vigário cincoenta mil reis, & para a maífa daquella Coliegiada cem mil reLS:
tem fetenta &dous vifinhos.
S. Lourenço deAlvellosfoy Morteiro de Religiofas, & nelle Freyra Do-
na Sancha Pires, filha de Pedro Garcia Gallego, como diz o Conde Dom Pedro
Tit. 7 4- foi. 5 88. & 401. & que foy dellé AbBãdêffa huma filha de Mem Rodri-
gues de Quiroga, & de fua mulher Dona Sancha Paes, de quem deviafer erte Pa-
droado, mas não fabemos de que Ordem; paffou â Abbadia do Ordinário, ren-
de duzentos & cincoenta mil reis, tem noventa vifinhos. Aqui he o Solar dos
Alvellos, mas não ha memoria da Cafa, cuja illuftre defcendencia procede por
varonia dos Rey s de Leaõ; porque Pedro Annes Alvello foy filho de Joaõ Mar-
tins Salça, & eíle de Martim Moniz, o que perdeo a vida, quando ElRey Dom
Affonfo Henriques ganhou Lisboa, deixando o nome à porta , em que cahio*
morto, & dando lugar para que osnoíTosentraíTemnoCaílello. Vem delíesas
mayores Caías de Efpanha; mas poucos nobres fe appellidaõ Alvello- Tem
por Armas em campo vermelho cinco Eílrellas de ouro em afpa de fete pontas
cada huma , timbre meyo pefcoço de Leaõ vermelho com huma Eftrella das
Armas- . .f
S. Miguel de Brufe, Abbadia da Cafa de Bragança, rende cento & trinta mil
reis, tem feífenta vifinhos.
Santa Maria de Mogagc, V igairariada Sé deBraga, rende ao Vigário qua- t
renta mil reis, & cem mil reis para a Sê: tem cincoenta vifinhos.
Santiago de Cartellaõs, Abbadia do Ordinário, rende cento & trinta mil
reis, tem feífenta & feis vifinhos.

Julgado de Vermoim, que antigamente entrava por muitas ter-


ras y que hoje Jaõ do termo de Çuimaraens.

Quinto, & ultimo Julgado, de que fe compoem o termo de Barcellos , hc


(J ode Vermoim, nome que tomou de hum Cartello quenelleefta , & efte
deliumfidalgo que o fenhoreou, chamado Dom Vermui Frojás , derivado de
Veramundo, progenitor dos Pereiras, que por alli teve feu afiento. Na Sé de
Braaahahum Arcediagado,que poreftacaufa fechamade Vermoim, &a elle
pertencem a mayor parte das terras, que ha entre os rios Ave, & Defte , & al-
gumas Freguefias entre ambas as Aves: & como feguimos mais o modo de no-
mear as terras entre rio, & rio, para que melhor no Mapa fe poífa entender , em
que parte eftaõ, talvez tiramos a hum Julgado, & acrelcentamos a outro o que
he o menos anofíb intento ;& começando por entreoDefte,& Ave pouco aci-
ma de Villa do Conàe, ertá a Freguefia feguinte.
Santo Agocs, Vigairaria do Moíleiro de Vayraõ com dez mil reis, ao to-
do trinta mil reis, & para as Freiras cincoenta mil reis , tem trinta vifinhos.
Pouco abaixo da Ponte de Ave fobre o rio em hum alto fe vem veftigios de
fortificação, a que chamaõ o Crafto, deviaõos Romanos com elle fegurar a paf-
fa°cm,
0
quando nos çonquirtáraõ, tempo em que ainda naõhaveria ponte,& aqui
nos
DA COROGRAFIA PORTUGUESA- 3lt
rios parece efteve a Cidade Labrica, que Bruto ganhou , quando naõ fofíe'em
Lavra, terra da Maya, Comarca do Porto.
S. Simaõ dajunqueyrahe Mofteiro de Conegos Regrantes de Santo Agof-
tinho, fundado no tempo da primitiva Igreja; mas ganhada Eipanha pelosMou-'
ros, ficou deftruido- Em fua reftauraçaõ no anno de 1072. veyo por alli vifitar
Dom Arias Arcediago de Braga, & o reedificaria, porque node 1082- o acha-
mos nelle Abbade, & que tinha eomfigo feisClérigos com que vivia em Com-
munidade, cinco erão Presbytefos, &. hum Diácono. t\ugmentou - o tanto o
Capitaõ om Payo Goterres, tronco do illuftre appellido de Cunhas , que fi-
cou, & feus defcendentes Padroeiros defte Convento, como dos dous de Vilie-
la,& Souto, de que já tratamos, que fundara,atè que dalli a cem annos no de
118o- em doze de Dezembro o Largàrão aos Sacerdotes, que nelle viviaó, & a
feu Prior, ou Abbade Dom Payo Garcia; & naõ acho errada a opinião do Con-
de Dom Pedro em fazer a Dom Payo Goterres reedificadcr defte Convento ,
como parece ao Chronifta dos Conegos Regrantes ; porque fe veyo#com feu
pay DomGoterre no anno de 1080- de Gaícunha, (Província de França ao pê
dos Pireneos) no que naõ ha duvida, & naõ vemos Sacerdotes neftc Convento
fenaõnode 1082- como o Author diz, poílivel coufaera , & eu com ífto me
accõmodo-Tève Couto naquelle principio, que com o tempo fe acabou Dom
Payo Garcia Prior, ou Abbade, a quem largaraõ os Padroeiros o domínio, que
no Convento tinhaõ, era feu parente; parece viveo muitos annos, & tam amf-
tadamente , qucElRey Dom Affonfo Henriques fe lhe recomendava cm fuás
oraçoens, ot lhe confirmou o Couto no anno de 1181 - fáleceo em vinte de Ago-,
fio de 1192 - como conifa do epitáfio de fuafepultura, que eftá metida na pare-
de da Igreja junto ao Altar collateral da parte direita,o qual relata em Latim o
que dizemos em Portuguez ; & de todos aquelles contornos era chamado, o
Prior fanto de S. Simaõ. Pelos annos de 139;. fendo aqui Prior Dom Eítevaõ
Domingues, he que Eftevaõ Ferreyra fez o Morgado de Cavalleiros, &. dá po-
der aos Priores defte Convento o tirem ao que fe naõ chamar Ferreira , & o
dem a outro parente, que aífim fe appeilide. Eílá fepultado em huma Capella
fua, q tê aquelles fidalgos 11a clauílra.Foy o ultimo Prior perpetuo Dom Pedro
Alvarez, que faleceo no anno de 1516. PaíToulogoaCommeudatarios, &foy
o primeiro Dom Diogo Pinheiro, Bifpodo Funchal; ofegundo Dom Miguel da
Sylva, que depois foy Bifpo de Vizeu; terceiro o Doutor Ruy Gomes Pinhei-
ro, quarto Pedro Gomes Pinheiro, que também fe chamou Dom Prior; quinto
DomRodrigpPinheiro, Bifpodo Poijfo, aquém fuccedeopor renuncia feu fo-
brinho Martim Pmheiro^grande bemfcitor do Convento , & fó as luas obras
faõ as que o autorizaõ, como hea dilatada carreira, que tem da porta para Vil-
la do Conde,cuberta toda cõ arvores, & huma fermofa Capella no fim : faleceo
noannode t 594- &íe deu aos Cone os Regrantes , que emfete de Fevereiro
de 1 í 95. fizerão Prior tf ierinàl ao Padre Dom Manoel- Applicáraõ depois as
rendas aoutras partes, que de diz mos, anexaà, 5c faòidos paffaÕ de tres mil
cruzados, ficando fó alli hum Prefidente com companheiro. He Curado fecu-
lar com dez mil reis, ao todo cinco en ta mil reis: tem cem vifinhos-
Santa Maria de Bagunte, Abbádia da Cafa de Bra- ança, rende trezentos &
cincoêta mil reis, tê cento & dezafeis vifinhos, &. feira franca em 25*. de Mar-
ço, & aos 1 f. de Agofto; fó huma conhecença limitada daõ ao Abbade. Junto
do rio Defte acima da Ponte de Arcoseftaõveftigios defortificaçaõ,queíe co-
municava por eftradas encubertas com outra mayor no alto do monte , a que
indá
1ZZ ' TOMO PRIMEIRO
irdachamao a Cividade, & as ruínas moítraõqual feria fua fortaleza. Já eft a
Fre-uefia foy cabeça de Condado antes que eíte Reyno fe feparaífe dodeLeao;
porque o Conde Dom PedroPayo de Bagunce foy hum dos fete Condena quem
cegou o Conde Dom Mem Soares dc Novellas,CapitaÕ General deita terra, os
quaes eftaõfepult ados em S.Pedro de A tey.
S Martinho de Outeiro, Vi.airana do Convento de S. Simão da Junquei-
ra com dez mil reis, ao todo cincoenta mil reis : tem cincoenta * quatro viíw
nhos. Aqui cjftá a Cafa, 8t Quinta de Cavalleiros , huma das grandes da Pro-
víncia. Entendefe tomou o nome de o haver fido dos Cavalleiros Templários,
como S- Pedro de Ferreira no termo do porto,St outras daquelle va.le,aonde em
Saó joaõ de Evriz achamos noticia do Paço de Ferreira , Solar deita tami-
Ijg J* * 00
Santo André de Parada, Vi giraria do mcímo Convento deSaôSimaõ da
"junqueira, cujos dízimos vaò na Matriz, Stao Vigário rende trmta mil reis ,
tcmvinfe Stdous vifmhos. Aqui em Lamizios Marum Lourenço da Cunha,h- %
lho terceiro de Lourenço Fernandes da Cunha, Padroeiros de S. Simão da Jun-
queira, & fenhores do Solar de Cunha a velha em S. Miguel de Cunha, onde vi-
viaÕ, fez huma quinta honrada, St lhe poz o nome Cunha a nova. _
Santa Eulalia de Balazar he Commendade Chriíto,St Reitoria do Ordiná-
rio, que rende acftodo cem mil reis , St para o Commendador duzentos St cin-
coenta mil reis: tem 106. vifmhos- Na AldeadoCafalefta a fonte, em que Sao
Pedro de Rates citava de Joelhos bebendo , quando os tyranos vinhao atraz
delle de Braga para o matarem, Sc foy Deos fervido de que o nao viflem, citan-
do patente à viíta; dizem, que duas covinhas, que tem, faõ de feusi fantos joe-
lhos 5 vem a titã fonte muitos enfermos de maleitas, & çezoens, St bebendo del-
ia, voltaô livres do achaque. A qui na quinta do Cafalhe o Solar deite appelli-
do, que tem por Armas em campo de ouro cinco flores de Liz vermelhas em af-
pa, timbre huma flor de Liz com hum cardo de ouro fobre a folha do meyo; ou-
tros huma afpa de ouro com duas flores de Liz vermelhas iobre a cabeça das po-
tas delia- Tem dado bons fidalgos, & pefíòas de grande talento-
S- Martinho de Cavallocs, Abbadia da Mitra, rende quatrocentosmil reis
com a de S- Veriífimo de Outiz, que fe extinguio no tempo do Concilio Tnde-
tino, St fe lhe unio; cita ultima foy Moíteiro de F reiras, mas nao alcançamos de
que Ordem, St ellas fizeraõ no rio Deite a ponte, que alli ha. E^tre cíJa Efe*
Puefia,Scaq fefegueeitá huma Torre, chamada Penaboa, que poífue João Bau-
t'fta de Almeida da Povoa de Varzim ; Drefumo fer eíta a Caia em que vivia
Dona Elvira Fernandes de Cabonoes,que o tempo corrompeo em Cavalões , a
qual foy mulher de Affonfo de Maçada, St ambos pays de Dona Dordia Affon-
fo, mulher de Gil Eíteves do Avelar, dequem vem os defle appellido.
Santiago de Outiz,Vigairariaqueaprefenta o Abbade deS. Pedro derr-
miriz de quem he annexa, fendo que antigamente toy cabeça, tem dez mil reis,
ao todo trinta mil reis, St para o Abbade cincoenta mil reis: tem trinta St tres
vifmhos- Aqui eítà a Torre de Outiz, aonde viverão Nuno Pires deOutiz , St
feu filho Gomes Nunes de Outiz, Cavalleiros honrados de hum efeudo, St hua
lança. Tem eíta familia por Armas em campo de ouro feistortaõs devermelho
do modo dos Caítros, timbre huma cabeça deDrago de ouro com hum tortao
vermelho na teíta. He fenhor deita Torre, St Morgado , que rendera mais de
mil cruzados, Pantaleaõ de Sá St Mello, cuja varonia he a feguinte. Diogo de
Mello da Sylva ,foy filho quinto de Gracia de Mello, Alcayde mor de Serpa, St
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 323
de Do na Felippa da Svlva: foy Commendador de Santa Jufta de Lisboa , & de
Calde lias na Ordem de Chrifto,Veador da Rainha Dona Catherma , mulher
delRey Dom Joaõ o T erceiro, St do ConfeLho do dito Rey ; cafou com Dona .
Catherina de Caftro, filha de Miguel Corte Real,Porteiro mor delRey Dõ Ma-
noel, Sc de Dona Ifabel de Caftro, da qual teve, entre outros filhos, a Chriíio-
vaõde Mello, que foy Commendador de Caldellas, & Governador daCafa do
fenhor Dom Antonio: cafou com Dona Catherina de Barros , filha do grande
Hiftoriador Joaõ de Barros, & de Dona Maria de Almeyda, de que teve, entre
outros filhos, a Lourenco de Mello, que foy Commendador de S. Pedro de Caf-
tellaés, õc cafou com Dona Barbora de Menezes, filha única, St herdeira de Pa-
taleaõ de Sá Sc Menezes, Capitaõ de Sofalla,(irmaõ de Sebaftiaõ de Sá St Mene-
zes, progenitor da CafadeFontes)Sede Dona Luiza de Vafconcellos , da qual
teve, entre outros filhos, a Pantaleaõ de Sà & Mello, que fuccedeo na Cafa , Sc
Comméda de feu pay A cafou com D-Joanna de Lima, filha herdeira de Miguel
de Mefquita de Lima, fenhor do Morgado dcOutiz em Entre Douro , & Mi-
nho^ de Dona Maria Brandaõ (dosBrandoensdo Pagem da lança delRey Dõ
Joaõ o Primeiro) fua fegúda mulher, de que teve a Marrim Affonfo de Mello, (q
foy fexto filho, St fervio na guerra, fendo Capitaõ de Ca v.;llos em Almeyda , Sc
Governador da Ilha Terceira, aonde cafou com Dona Catherina da Caxa , filha
de Sebaftiaõ Correa de Larvella, que fervio com fatisfaçaõ na guerra, occupan-
do vários poftos,St de Dona Luiza de Almeyda,de q uem he hoje filho Joaõ Cor-
rea de Mello, que vive na dita Iiha Terceira) & a Dona Luiza de Menezes,(que
cafou no Porto com Luiz Brandaõ, de quem he filho Luiz Brandaõ, que hoje he
Capitaõ de Infantaria doTerçodaguarniçaõdo Porto, 3c joaõ Rodrigo Bran-
daõ, que foy o mais velho, & cafou com Dona Mariana da Cunha , viuva deEf-
tevaõ Brandaõ de Lima, & filha de Antonio Correa Pereira,& de Dona Felippa
Lobo, de quem he hoje filho Luiz Brandaõ, que vive na Cidade do Porto ) Sc a
Lourenço de Mello, que foy o mais velho, Sc fenhor da Cafa , St Commenda de
feu pay, St avôs,-St fervio em algumas Armadas , St em varias Campanhas do
Alentejo: cafou com Dona Bernarda Michaela da Sylva , filha de Miguel Bran-
daõ da Sylva, Sc de Dona Ifabel de Madureira, de que teve a Pantaleaõ de Sá Sc
Mello, que fuccedeo na Cafa, & Commenda de feu pay , & fervio em Lisboa,
aonde foy Capitaõ de Infantaria, & depois governou a Ilha daxMadeira.
S. Marinha de Louzado, Abbadia doMofteiro de S. Thirfo com referva
ordinária, rende cento Sc cincoenta mil reis, tem cincoenta vifinhos.
Santa Marinha de Ribevraõ foy Abbadiafecular , hum Abbade a deu aos
FradesBentosdeS.Thirfo;heReytoriaque aprefentaõ, leva a terça dos dízi-
mos, renderlheha ao todo cento St trinta mil reis , St para o Moftciro c^nto Sc
feífenta mil reis: tem oitenta Sc dous v.linhos.
S. joaõ de V illarinhodas Cambas, Abbadia da Mitra, rende cento & vinte
mil reis, tem cincoenta Sc dous vifinhos.
Santa Leocadia dc Fradellos, Abbadia da Mitra , rende trezentos Sc cin-
coenta mil reis, tem cento'Bc trinta vifinhos.
S. Pedro de Ermiriz, Abbadia da Mitra, rende com Santiago deOutiz fua
annexa cento Sc fetenta mil reis, tem fetenta vifinhos. Aqui tinhaõ Honras Pe-
dro Rodrigues de Pereira, como confta das inquiriçoens delRey Dom Affonfo
o Terceiro.
S. Miguel de Cojloyas he Ermida de S• Juliao, Abbadia da Mitra , rende
duzentos Sc vinte mil reis , tem cento Sc oito vifinhos. Aqui ha o lugar do
Barral,
' 1
*14 TOMO PRIMEIRO
Barral, aonde vivia Gonçalo Fogaça , a quem Pedro Rodrigues de Pereira fez
Honra^ por hum jantar quelhedeu,& a 1 ua mulher; & por lhe adoptar hum ícu
filho.
S. Chriflovaõ de Cabeçudos; Abbadia da Mitra; rende duzentos & vinte
mil reis, tem oitenta viíinhos-
S. Martinho de Ávidos, Abbadia da Mitra , rende cento & cincoenta mil
reis, tem feffenta viíinhos.
Santiago de Areas, Abbadia da Mitra, rende outro tanto , tem fetenta &
dous viíinhos. Sobre o rio Ave pouco abaixo do Morteiro de S-Thirfo , eftá
huma grade,& alta Torre com veítigios de mais fortificaçoens, que devia fervir
em tempo de Mouros, quando efte rio foffe raya entre elles, òc os Chr irtaõs.
Naõ fabemos que Solar forte; mas deboarazaõ fe deve entender haver fido do
Infante Alboazar Ramires, & feus defeendentes, que fobre ganharem aos Mou-
ros aterra dalém, por aqui viverão-Comprou eftaTorre na pouco tépoLuiz
Camello Falcaõ do Porco, que hoje a poiíue.

Filia de Farnelicao cabeça do fulgado de Fermuim.

1*1 Res Iegoas de Braga, & huma grande do rio Ave na ertrada do Porto vi-
veohum Vendeyro,a que chamavãoFameliaõ , & como crte foy o pri-
meiro que aqui fundou cala, & junto delia fe augmentouopovo em fórma,que
felhe deu titulo de Villa-nova, & de Familiaõ pelo principiador, a que o tem-
po corrompeo em Famelicaõ: cafou eífe com huma criada dos Condes deBar-
cellos chamada a Mota, a qual plantou allihum carvalho, aonde inda hoje por
effa caufa chamaoo Carvalho da Mota. O fitio, com fer baixo,nam tem fonte,
fe bem fe fatisfaz de hum pequeno rio , que inifturado com o de Santiago de
Antas, fe vaõ meter no Ave pouco acima da ponte de Lagoncinha- Tem feira
franca de quinze em quinze dias à quarta feira, & em dia de S. Miguel de Sete-
bro, outra de bertas, & gados: habitaõ-na cem viíinhos. Em feu principio teve
juiz ordinário, agorahepedaneo; julga fem appellaçam até hum cruzado; faz-
fe por pelouro, & eleiçam triennal do povo , a que vem prefidir o Ouvidor de
Barcellos, hum Almotacel,& Elcrivaõ fem notas , Meirinho, que também he
Porteiro, ambos data dos Duques, os quaes tem aqui hum Paço, a que chamaõ
Foral, com huma quinta emprazada a Domingos Thomè da Fonfeca; & dentro
da caía eftá huma coluna dedicada ao Emperador Elio Adriano. Tem húa 1 gre-
ja Parochial da ínvocaçamdeS- Maria, que he Abbadia da Mitra , & rende du-
zentos mil reis.
Santiago de Antas foy Moíleiro de Templários, he fagrado, partou a Ab-
badia fecular de Padroeiros leigos da família de Mayas; hoje he dos Condes de
Penaguião,Marquezes de Fontes,rende cõ a annexa feguinte hu Conto de reis:
tem dous Benefícios íimples de quarenta mil reis cada hum , data, & collaçam
do Abbade: tem cento & leis vifinhos.
S- Miguel de Gimunde foy Padroado do fenhor da quinta de Joaõ Aífonfo
de Sá, tronco defta illuftre família; depois fe unio à de Santiago de Antas , de
que he Vigairar ia annexa com doze mil reis , ao todo vinte & cinco mil reis:
tem doze viíinhos. Aqui ha huma quinta antiga com Torre , que poífue agora
Antonio Pinheiro Touro.
Santiago de Gaviaõ, Abbadia do Ordinário , rende'duzentos & trinta
mil

t'
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 315:
mil reis , tem noventa viíinhos.
Santiago da Cruz, Abbadia da Cafa de Bragança , rende cento St oitenta
mil reis, te oitenta viíinhos. Aqui eftá a Quinta, St Morgado de P indel la, q ha
annosanda na família de Pinheiros defcéndétesde Branca Pinheiro , Sc de fcu
marido o Doutor Diogo Affõfo de Carvalho; St por efta via por hú laftimofo ho-
micídio que fe fez em Jofeph Pinheiro, entrou agora nelle Dona Ifabel de Soufa
de Lima Figueyra, mulher de Manoel de Vafcc cellos de Soufa, fenhores da Ca-
fa de Linhares em Regalados.
Santiago de Mouquim foy Abbadia fecular,que teve o Abbade Diogo Pi-
nheiro, filho natural de Alvaro Pinheiro Lobo, fenhor das Cafas, St Morgados
dos Pinheiros em Barcellos, St a deu ao Mofteiro de Val de Pereyros , por lhe
aceitarem por Freyrashumasfuas filhas, entre ellasFrancifca Pinheiro, de que
defcendcm fidalgos honrados. He Vigairaria defte Convento , que rende ao
todo cincoenta mil reis,6t para as F reyras cem mil reis : tem feífcnta Sc dous
vifinhos. Aqui haduas quintas antigas, & de nome, a da Juncofa comhua Tor-
re, foy da familia de Prado, Sc hoje anda repartida: & a da Cofta , ramo dos Pi-
nheiros de Barcellos, poffue Dona Luiza Pinheiro, mulher do Capitaõ Antonio
Arrays, que com ella cafou em Villa do Conde.
Santa Lucrécia da Ponte do Louro he Abbadia , que algum tempo foy do
Mofteiro de Oliveira de Conegos Regrantes, cujo Prior àinftancia delRey Dó
Joaõ o Segundo a deu a Diogo Pinheiro Lobo, de que acima falíamos. Hoje he
do Ordinário, rende trezentos mil reis, tem cento & cincoenta St dous viíinhos,
St huma Ermida de S. Frey Pedro Gonçalves Telmo, a q chamaó Santo do Mon-
te ; fefteja-feà fegunda feira da Pafooela, a que concorrem muitos clamores das
F regueíias viíinhas.
S. Salvador de Lemenhe, Vigairariada Mitra com feis mil reis, ao todo fef-
fenta mil reis, Sc para o Arcebifpo noventa mil reis : tem feífcnta St dous viíi-
nhos, Sc huma Capella de NoíTa Senhora de Agua levada, Imagem milagrofa, Sc
advogada dos Mareantes com romagem em todo o anno , particularmente no
dia de fua Annunciaçam, em que a feftejam.
S. Miguelde Jefufrey foy annexa de Lemenhe, he Vigairaria do Arcebif-
po, a quem rende oitenta mil reis: tem o Vigário fete mil reis de ordenado , ao
todo trinta mil reis: tê quarêta Sc cinco viíinhos. Aqui ha húa Cafa antiga q cha-
maó o Paço, nam defcobrimos de que familia foy, foque a poífuemhoje os Ere-
mitas de S. A golfinho do Convento do Populo de Braga.
S. Miguel de Guizande, V íaairaria que aprefenta o Rey tor de Lomar em
Braga, de quem he annexa, tem doze mil reis , ao todo vinte St cinco mil reis,
outro tanto para o Commendador: tem trinta St fete viíinhos. Aqui eftá o al-
to monte de S.Mamede com veftigios defortificaçam , Sc feria notável ; mas
quando fe valèraô de feu preftimo, nam fabemos.
Santa Marinha da Portella , Vigairaria que aprefenta o ds Ferreiros em
Braga com oito mil reis, ao todo quarenta mil reis, St para os Padres da Com-
panhia daquella Cidade feífentamil reis: tem feífentavifinhos.
Santa Marinha do Valle de Outeiro he Vigairaria femelhante com oito
mil reis, ao todo cincoenta mil reis, Sc para os Padres cem mil reis: tem cem vi-
íinhos.
Santa Maria de Telhado he Abbadia da Mitra, a que fe unio a Parochia de
Aziveyro, hoje extinêfa, rende trezentos mil reis , tem fetenta Sc dous viíi-
nhos-
Ee Saõ
3t6 TOMO PRIMEIRO
Sao Salvador dc Joanne foy Mofteiro de Templarios ,hoje he C ommenda
de Chrifto, & Reitoria da Mitra com quarenta mil reis , ao todo cento & cin-
coenta mil reis, & para o Commendador quatrocentos mil reis : tem cento &
oitenta viíinhos. Aqui emhuma alta ferra, chamada daCorvcan, eftaò muitas
ruínas de hum Caftello, donde fe dominava grande quantidade de terras, fervi-
ria no tempo dos Mouros. .
S- Martinho do Valle, Vigairariada Mcfa Arcebifpal , rende ao Vigário
cem mil reis, ix. parao Arcebifpo cento & quarenta mil reis : tem cincoenta vi-
íinhos. ..
S- Martinho de Poufada de Saramagos, Vigairaria do Mofteiro de Olivei-
ra com dez mil reis, ao todo trinta mil reis, & para os-Frades cincocta mil reis;
tem vinte & cinco viíinhos- ... . , ..
Santa Maria de Vermoim , Vigairaria domefmo Mofteiro com doze mil
reis, aotodofctenta mil reis, & para os Rcligiofos cemo Sc cincoenta mil reis:
tem cento & dez viíinhos.
S. Colmade foy Mofteiro,nam fabemos de que Ordem, nefn fe foy de Fra-
despoli Freyras 5 paiTou a Abbadia fccular do Ordinário ^ rende letecentos mil
reis, tem duzentos & cincoenta viíinhos.
S. Mattheusde Oliveira, Vigairaria da Mitra, rende cincoenta mil reis ,St
para o Arcebifpo fetenta mil reis: tem quarenta viíinhos.
S. Salvador de Arenofo, A mofo , ou Arnofinho, foy Mofteiro de Frades
Bentos, que fundou S- Frutuofo noanno de 636- ou 42- extinguio-fe, como
outros, ôtaílim eft eve arèoannòde 1495- em que o Arcebifpo Dom Jorge da
Cofta o uni o ao do Pombeiro; o como depois fe lhetirou nam alcançamos, ló de
aue paífou aos Frades Jeronymos do Real Convento de Bellcm , os quaes del-
ie, St de grandes fazendas, que alli tinhaõ, fizeraò prazo ao Doutor Miguel Pi-
nheiro F igueira, Conego de Braga; St por parentefco que com elie tinha,& com
Jofeph Pinheiro Dona Ilabel de Soufa de Lima Figueira , mulher de Manoel de
Vafconcellos de Soufa, entrou nelle, & aprefenta a Igreja , que he Abbadia fe-
cular, rende feífentamil reis 5 tem quatorze viíinhos-
Santa Maria de Arnofo, Abbadia da Mitra , rende cento St feífenta mil
reis, tem noventa viíinhos. . ...
Santa Eulalia de Arnozinho,Vigairaria doDeaõ de Braga cõ oito mil reis,
ao todo vinte & cinco mil reis: tem feífentaStdous viíinhos.
Santiago de Piícos, Abbadia da Mitra, rende com a de Moimenta , que lhe
eftá unida, & a annexa íeguinte,trezentos mil reis, tem fetenta viíinhos. Aqui
viveo, St foy fenhor Dom Gomes Paes de Pifcos, irmaõ doMeftreDom Gal-
dim Paes, filhos de Dom Payo Ramires,St de fua fegunda mulher Dona Gontro-
de Soares dos Correas de Fralats,& deixou grade defcendccia, particulàrméte
de Cunhas-
S. Mamede deCizuras, Vigairaria annexa a Santiago de Pifcos com oito
mil reis, ao todo trinta mil reis, tem feífenta vifmhos.
S.Salvador de Tabofa, fe foy &fofteiro;certamente nam alcançamos , mas
parece que aflim o devemos entender das palavras do Conde Dó Pedro tit- 56.
foi. 323* quando diz: eD, Ayr as Carpinteiro foy cajado cotn Meana deSeiheris, &
de Tavoojõ,cjut fez o Mofteiro de Leomar ,'Tavn»fo. qve foy feitura de Leomar , &
Taaroeira de Tavoofo. Leomar he a Commenda de Lomar enftBraga,St Tavoofo,
hoje Tabofa; St que foífe, ou nam Convento, fempre efta fenhora era a Padroei-
ra úhe Vigairaria annexa ao Chantrado de Braga com oito mil reis , ao todo
qua?
da corografia poRTUGUEZA. 317
quarenta mil reis, & para o Chantre cem mil reis : tem fetenta Sc cinco viíi-
nhos-
S. Juliao do Calendário de Vermoim, Abbadia da Mitra > que rende cento-
Sc oitenta mil reis, tem oitenta Sc feis vifmhos.
S. Salvador da Lagoa, Abbadia da Mitra, que rende cem mil reis, tem ciir
coenta vifmhos.
S- Svlveífre de Requiaõ, corrupto de Rcquies , que em Latim quer dizer
defcanço, pelo aprazível íitio em que eftá , foy Moíieiro antigo deTempla-
rios, Sc depois de Conegos Regrantes de Santo A goílinho ; extinguio-fe por
falta de obTervancia na boa regra de viver, & 110 anno de 14.18. o ArcebifpoD-
Fernando da Guerra porBullado Papa Martinho Quinto o fez Igreja fecular
com Prior. Em tempo delRey Dom Sebaftiaõ paflfou a Commenda de Ghriíio,
tem Reytor do Ordinário com quarenta mil reis , ao todo cento Sc vinte mil
reis,& para o Commendador com dizimos,St fabidos feifcentos mil reis : tem
duzentos Sc quarenta & cinco viíinhos. Ha aqui huma Ermida de Nofta Senho-
rade Pedra Leitar, aonde da parte de fóraeílá hum penedo com huma verruga
a modo de peito de mulher, aonde vaõ mamar as que lhes falta leite para cria-
rem os filhos. Devia NoíTa Senhora querer cõmunicarlhe aquelia virtude, que
com feufagrado leite deu à terra da Capella, que hoje fe venera junto a Jerufa-
lem, aonde o Anjo appareceo aos Paftores a noite do Nafcimento , Sc em que
cila derramou depois aquelle inextimavel licor , a cuja terra chamaõ v ulgar-
mente Leite de Noífa Senhora, Sc abebem desfeita emagua,Chriífãs, Mouras,
Turcas, Sc animaes, com quemilagrofamente lhes crefce o leite, para criarem os
filhos. Neila Freguefía eftá o Paço de Ninaes, a que, dizem, chamàraô antiga-
mente Novaes; he tradiçaõ que delle, Sc dos foros que lhe pagaõ, fora5 fenho-
res Affonfo Fernandes de Novaes, que viveo pelos annos de 1 opa. em tempo
delRey Dom Affonfo o Sexto: era natural de Galliza , Sc fenhor do Caftello de
Novaes em terra de Quiroga, Sc prefumem alguns que entre nós deu principio
a dous Solares de Novaes, ambos aqui viíinhos: paífou a eíle Reyno com o Con -
de Dom Henrique, Sc fez aqui íeu aífento, a quem fuccedeo feu filho Fernando
Affonfo de Novaes, Sc a eftefeu filho Vafco Fernandes de Novaes,que fe achou
na conquiíf a de Lisboa com ElRey Dom Affonfo Henriques ; herdou-o feu fi-
lho Fernaó Vafques de Novaes , q fervio aosReysDom Sancho o Primeiro,
Sc Dom Affonfo o Segundo ;fuccedeolhe Martina Fernandes de,Novaes feu fi-
lho, hum dos que ganhàraõ Sevilha,no qual o Conde Dom Pedro começa os Pi-
menteis, quetempor Armas em campoverdecinco vieiras de prata , Schuma
bordadura domefmochea de Cruzes vermelhas , timbre meyo Touro verme-
lho com pontas, Sc unhas de prata,Sc na teft a huma vieira das A rmas. Os Con-
des de Benavente trazem o efcudo em quartéis, no primeiro, Sc ultimo tres fa-
xas de fangue em campo de ouro, Sc nos outros as vieiras , Sc depois lhe ácref-
centàraõ huma orla das Armas Reaes de Caífella, Sc Lea5: Sc he erro de Bran-
dão confundir eite Solar de Ninaes, que o he dos Pimenteis, com o de Nomaes,
ou Novaes, que ficaô vifmhos, quando nam foífem ambos feus Solares , como
já diífemos. Aquellas cochas fe entéde tomáraó por fere os Pimêteis defcédente9
de Cayo Carpo, Sc de Claudia Loba, Régulos da Maya , a quem milagrofamente
bufcàraõ os Difcipulos de Santiago em fua vinda a Efpanha. Delles paífou eíle
Solar aos Vafconcellos por fegundo cafamento de Dona Leonor Rodrigues, fi-
lha de Joaõ Rodrigues Pimentel, Sc de fua mulher Dona Eíievainha GonÇalves
Pereira, com Gonçalo Mendes de Vafconcellos fem geraçaõ , Sc p'ermanecco
Ec ij annos
3*8 TOMO PRIMEIRO
annos nos antepaíTados dos Condes de Caitello melhor , mas eomo naõ era
Morgado, teve muita variedade ; porque o Arcebifpo Dom Diogo de Sou ia
.quiz ajuntar eftes bens por herança, & compra; hoje eftá repartido em quatro
fenhorios,humdos Azevedos,fenhoresdeS. JoaòdeRey,St terras de Bouro,
cs herdeiros de Gabriel Pereira de Caftro, os Padres da Companhia, & a MTe-
ncordia do Porto. Tem huma Capella de Santa Luzia , a que asFregue-
íías viíinhas vem por voto antigo com clamores nas Ladainhas de Mayo. Fi-
nalmente aqui he o Solar dosPimenteis , Tem embargo do Doutor Antonio de
Villasboas Sc Sampayo o fazer em GaIliz.a,por delia terem vindo os antepaíTa-
dos, mas cá tiveraó principio o apptllidarem-fc Pimenteis.
Santa Maria de Abbadede Vcrmuim he Abbadiada Mitra, rendejoitenta
mil reis, tem treze viíinhos- Nefta Igreja eftaó duas fepulturas, em huma João
Efteves irmão do Doutor Pedro Efteves Godinho, & na outra fua mulher, nam
devião ter filhos,porque deixarão Teus bens vinculados ao Morgado de Pouve,
com encargo de quatro MiíTas ditas ncfta Igreja, duas rezadas , St duas canta-
das, Sc que humafeja por fua ama»
S-PayodeSeyde, Vigairaria annexa àCommendade Ronfe com dozemil
reis, ao todo vinte mil reis, Separa o Commendador trinta mil reisitem quaren-
ta St fete viíinhos-Aqui eftá a quinta do Paço,cabeça doMorgado de Pouve,obra
do Doutor Pedro Efteves Cogominho,Ouvidor,Sc Defembargador de todas as
terras do primeiro Duque Dom Affoniò, cafado com Ifabel Pinheiro , filha de
Martim Gomes Lobo, & de fua mulher Mayor Efteves Pinheiro , St por feus
deícendetesfe chamarem Pinheiros fazem muitos aqui oSolar,fendooemBar-
cellos, como já diíTemos.
S> Miguel de Seyde, Curado annual annexo âo Salvador de Bentc, tem de
ordenado leis mil reis, aotodoquinze mil reis, Separa o Abbade vinte mil reis:
tem vinte Se feis vifuihos. Fazem aqui telha-
S. Salvador deRuy vaés, Abbadia dos Vifcondes de Villa-nova de Cervei-
ra pela Cafa de Mafra , rende duzentos Se cincocnta mil reis , tem cento Sc
doze viíinhos,Se tres Cafas honradas com Morgados, Se lu&uofas de Cafeiros,
que todas entendemos ferem procedidas de huma , qual he o Paço deNomays
com fua Torre , Se que antigamente foy Honra, Se dcfde entam atègora fem-
preo habitàrão fidalgos honrados. O primeiro , de que temos noticia , he
Dom Ruí Nunes, ou Martim das Aftunas, quefe achou na tomada de Sevilha
no anno de 1248- Parece que efte fidalgo paífou de Galiza para aqui, onde ca-
foucom Dona Elvira Gonçalves, ou Rodrigues dePalmeyra, filha de Gonçalo
Rodrigues de Palmeyra feuviíinho, tronco dos Pereiras, Se de fua mulher D-
Trolhe Affõío,de que teve a D Gõçalo Rodrigues de Nomays,PedroRodrigues
de Palmeyra, que morreo de amor es por a mulher de hum feu tio , Dom Marti-
nho Rodrigues, Bifpo do Porto, Se filhas. Dõ Gonçalo Rodrigues de Nornava
cafou com Sancha Martim, filha de Martim Fernandes de Riba deVizella , de
que teve a Dom Martim Gonçalves deNcmays , queconheceo por irmão ma^
terno a Vafco Martins Pimentel, cõ condição, que nunca ella,ouíeus defeendé-
tes pudefle ter quinhão noCouto de Palmeira-.cafou cõ D.Mór Soares,filha deD.
Suevro Dias Gallego,de q teve a Gonçalo Martins deNomays,Ruí Martins,D.
Mór Martins, Abbadeça de Arouca, Sc Dona Elvira Martins, mulher de Dom
Pedro Mendes Gandarey. Gonçalo Martins de Nomays fervio em Italia com
Dom Henrique Infante de Caftella, dc quem era Alferes, Sc omatàrão em hua
de duas batalhas , nam fabemos de certo fefoy na em .que Carlos Conde de
í j; " ' Anjou
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA.' 329
Anjou, filho de Luiz Oitavo Rey de França venceo , & matou a Manfredo Rey
de Nápoles no anno de 1266. ou naemqueomeímoCarlos venceo no anno de
12<>8. a Conradino legitimo fucceíTor dos Revnosde Nápoles, Sc Cecilia, neta
do Emperador Federico, na qual foy prezo o Infante Dom Henrique, Sc nam na
primeira, como diz o Conde Dom Pedro. Ruy Martins de Novaes cafou com
DonaBrites Annes, filha de Joaõ Pires Redondo , & deDonaGontinha Soares
deMello, de que teve a Dona Joanna Rodrigues, mulher de Martim Vafques da
Cunha, Dona Maria Rodrigues, mulher de Martim Affonfo de Rezende,& Do-
na Urraca Rodrigues, com que fe acabou eda varonia. Logra eda Cafa em Mor-
gado Francifco Lopes'de Carvalho, Cavalleiro da Ordem de Chrido, Sc fidalgo
da Cafa de Sua Magedade. Ha aqui também outra Torre , & Caía antiga , de
quehefenhoro Medre de Campo Mattheus Mendes de Carvalho, na qual vi-
verão alguns fenhores do appellido de Novaes- Na Aldeã de Rebordello , que
antigamente fe chamou Reboredo, eíbà a do Medre de Campo Manoel Correa
de Lacerda, fenhor de Fralaés, Sc dentro do pateo tem hum grande carvalho,que
o cobre todo, a mais fermofa arvore para o intento de quantas tenho vido.
S. Salvador de Delaês, Abbadia da Mitra,rende cento Sc cincoenta mil reis,
tem cincoenta viíinhos. Edeve eda Igreja no alto de S. Miguel do Monte,& he
tradição que nos tempos paífados fora Cidade ( ao menos devia ter fortifica-
ção, pelo que modraõ os vedigios, )& que fora Modeirode Freyras. Aqui he
o Solar dos Novaes de Portugal defeendentes de Dom Pedro de Novaes o Ve-
lho, fidalgo Gallego,que fe achouna Conquida de Sevilha, & vivia em Riba de
Teya, era pobre, foyfeà fronteira para por feusferviços melhorar de fortuna,
entrou com outros em terra de Mouros, que o cativàraô , onde edeve muitos
annos, por não ter com que refgatarfe- Compadecidos de fua miferia huns AI-
faqueques, pagárão porelle o em que foy cortado , obrigandofelhe a em certo
tempo lhes íatisfazer ,ou tornar ao cativeiro; veyo a ElRey Dom Affonfo, Sc
pediolhe, Sc à Rainha lhe deífem cartas para que nos Reynos de Efpanha o favo-
receífem todos em geral,& muitos em particular; ajuntou confideravel cabedal,
com que pagou o que devia, 8c o redo empregou em pão , que hia trocando de
huns annos para outros, ^tè que chegouhum de grande caredia, em que o ven-
deotaõbem,queficourico,&fovRicohomem;vindoparaedeReyno , o fez
nelle Alcayde mor de Villa-novade Cerveira ElRey Dom Sancho o Segundo.
Teve de fua mulher a Payo Novaes o Velho cafâdo com Dona Mór Soares, filha
de Dom Sueyro Nunes o Velho, Sede Dona Tareja Annes de Penella, deque te-
ve a Affonfo Novaes, Pedro de Novaes, Sc Dona Maria Paes , que todos deixà-
rão illudre defcendencia. Affonfo Novaes cafou com Dona T areja Rodrigues
de Meyra, filha de Rodrigo Affonfo de Meyra, fenhor do Solar deMeyra , que
edá no Reyno de Galliza, não no Convento de Meyra da Ordem de Saõ Bento
junto a Cadro de Rey, aonde o Minho nafee, como diz Dom Jofeph Pelhier na
fuá Deferipeaõ, Sc os que o feguem; mas perto donde fe mete no mar, Sc da Vil-
la de Bayona, Bifpado de Tuy, de que he fenhor Dom Luiz Sarmento deValla-
dares, Marquez de Valladares, Sc Vifconde de Meyra: tiveraõ filho mais velho
a Ruy Novaes, o qual de fua mulher Dona Maria Fernandes Torrichaõ , filha
de F ernaõ Gonçalves Farroupim, ou Torrichão, Sc de Dona Sancha Rodrigues
fua mulher, houve filho fegundo a Payo de Meyra , que cafou com Dona Leo-
nor Rodrigues, filha de Rodrigo Annes de Vafconcellos, Sc de Dona Mecia R» -
drieuesde Penella. Continuoufe ede appellido emfeu filho fegundo Gonçalo
Paes de Meyra cafado com Dona Leonor Martins, filha de Dom Martim Gon-
■..... Ee iij çalves
«O TOMO PRIMEIRO
calves Leitão, Meítre de Chriíto, & de Dona Confiança, ou Guiomar Martins
Frajaõ, Abbadeça de Jazente, dos quaes defcenderaõ muitos fidalgos , 3cho]e
grande ncbreza, de que a mayor parte vive em Guimaraens- Tem os Novaes
por Armas em campo azul cinco novellos de prata em afpa , timbre numa ai pa
azul com dous novellos das Armas nas pontas mais altas. Os Meyras em Cam-
po vermelho huma Cruz de ouro florida vazia do campo , timbre hum Libreo
preto com aboca aberta. Asn.efmastcmosMeyrelles.
S. Simaô de Novaes, dizem ferfundaçaõ dos fidalgos deite a ppellido , &
que delles o tomou eíia Fre .-uefia. He Vigairaria das 1 reyras de Villa do
Conde com oito mil reis, ao todo trinta mil reis, 6c para as Freyras oitenta mil
reis: tem vinte & oito vifinhos, 6c grande romagem no dia do mtfmo Santo.
Santa Maria de Oliveyra he Molieiro de Conegos Regrãtes de Santo Agof-
tinho, fundado no anno de 1052. por Arias de Brito, que fe entende fer avô de
DomSueyro,ouSefnandoOcriz,a quem o Conde Dom Pedro faz, feu funda-
dor na5 fendo mais que bem feitor, que o augmentou muito ; fez-lhe Arias dc
Brito grandes doacoens de herdades, que diz ter na Villa de Oliveyra , Carre,
zedo, & Subilhacs, 6c humas pefqueyras no Ave , 6c meteo-lhe Clérigos com
peffoa que os governava, chamada Dom Antaõ- Tem boa Igreja , & fagrada;
fov delíe Prior, ou Commendatario Dom Fernaó Annes Coelho, que alli cita
fepulcado com opinião de Santo; era irmaõ de Pedro Annes Coelho , que com
fua mulher Dona Margarida Efteves de Teyxeira fizeraõ doaçaõ a cite Moítci-
ro de tres cafaes em terra de Vievra,com obrigaçaõ de MiíTa quotidiana, 6c hua
alapada fêpre aceza diante deita Imagem de N- Senhora. Foy feu ultimo Prior
perpetuo, ou Cõmendatario Chriítovaó da Coita Brandaõ, quefaleceo em 17-
de Mayo dc 1599- em que entràraõ osCruzios por Bulla do Papa Clemente
Oitavo 6c por feu primeiro Prior triennal Dom Bernardo da Piedade; tem tres
mil cruzados de renda cm Benefícios, 6c fóros, com q.uefuítenta dousRehgio-
fos hum com titulo de Prefidente, outro de Procurador, 6c o mais eíta appli-
cado in perpetuum ao Real Convento de S- Vicentede fora de Lisboa ; apre-
fentaõ Vicario fecularcomosdizimos de tres A Ideas, que rendem ao todo cem
mil reis, tem annexas as Igrejas de S- Martinho dos Leitões, 6c Santiago de Fi
gueiredo: tem eíta Freguefia cento, & quinze vifinhos.
S. Pedro do Bayrro, ^bbadia do Ordinário, rende duzentos 6c cincoenta
mil reis,de que a mayor parte faÕfabidos:.tem cincoenta vifinhos.

Couto deTalmeyra, ou Landim.

S Anta Maria de Nandim, ou Landim heCõvento de Conegos Regrantes de


S-Agoítinho, de qfe acha noticia pelos annos de 1096. eítá perto do no
Ave, 6c o fundou, 6c dotou amplamente Dom Rodrigo Frojáz deTraítamara,
filhode DomFrojáz Bermui, Conde deTraftamara , que vindo a Portugal cm
tempo do Conde Dom Henrique, o ajudou nas conquiítas deite Reyno. Aeíte
Convento fez doaçaõ do Couro dePalmeyraDom Gonçalo Rodrigues daPal-
meyra, aífim chamado por fer fenhor delle ; dizem alguns haverlho dadoEi-
Rey Dom Sancho o Primeiro, febem clle o deu ao Convento na era de 1215.
quevemafer anno de 1177. em que inda EIRey Dom Sancho naõ governava;
mas em vida de feu pay o tinha já feito. Confirmaraõ-na íeus filhos Gõçalo Ro-
drigues, Fernão Gonçalves, Gonçalo Gonçalves, 6c Eyria , a quem o Conde
Dom
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 331
Dom Pedro diz Elvira Gonçalves; era coufa boa, St grande , lograva titulo de
Condado, St como tal o confirmou ao Convento ElRey Dom Attoníò o Quarto
no anno de 134,0.StElRey Dom Joaõ o Primeiro no de 138 y- conferva-o com.
jurifdiyão eivei confirmando os Juizes ordinários, Vereadores, & Almotaccis
por eleição annual, vemlhes eícrever hum Tabellaõ de Barcellos por diftribui-
çaò: confia da Freguefía do Moftciro , & da de Saõ Berthol ameu além do Ave
(aonde hoje chamamos Entre ambas as Aves) que he Ermida da Commendà de
Santa Chriftina de Cerzedello: & em dia defté Santo 24.• de Agófto vay o Prior
com vara alçada,como Ouvidor que he do Couto,aífiíhr 11a feira que allife faz,
St pòropreçoàs coufas quenellafevendem,dequelhepagaõ certos direitos.
O Cõvento he ífento dos Arcebifpos , naõ o vifitaõ, fenaõ aos freguezes em
huma Capella que eftá fóra: foy muito rico, teve doze mil cruzados de renda ,
hoje com dizimos de annexas, Stfabidos terá quatro, fem o de Villarinho, cõ
quefuftentadezoitoReligiofos,Stpagapenfoens* Tem Cura fecular com fef-
fenta mil reis de renda, St cento St quarenta vifinhos; O fegundo Prior defle
Convento depois de fua fundação foy Horn Pedro Garcia, queviveotam ajuf-
tadamente, que faleceo no primeiro de Março de 1198- com opinião de Santo;
fepultaraõ-no na clauílra emfepulturaraza com letreiro Latino , que em Por-*
tuguez diz: Aqui faz coberto comejta pedra o (faraó bom, & j u/lo o 'Prior 'Dom
'Pedro Garcia, que faleceo no primeiro de Março de 1198. Concorrèrão os doen-
tes daquellescontornos alançarfe fobre a fua fepultura,Stcobràraõ faude. O
tempo que inda da virtude atenua a memoria, fez efquecer muitos annos a def-
tefanto Religiofo,atèquenode 15*4.8. fendo Prior mór defte Convento Dom
Antonio da Sylva( não Dom Miguel, nem no anno de 1537- como diz certo
Author) filho terceiro de Dom Joaõ da Sylva , fegundo Conde de Portalegre,
indo paffeando pela clauftra, St rezando o Officio Divino , fentio hum fuave
cheiro, St reparando no epitáfio, advertio quedalli podia manar, mandou abrir
a fepultura, com que exalou mayor fragrancia, achou o corpo incorrupto todo
inteiro com a carne branca, St mirrada fobre os.oífos. Outros houve de fanta
vida, mas roubaraõ-nos os annos feus nomes. Foy efte Dom Antonio daSylva
0 ultimo Prior perpetuo, faleceo no de 1 ydo. Impetrou as rendas em Comen-
da o Cardeal Alexandre Farnezio por conceflfaó do Papa Pip Quarto 5 entre-
meteofe Dom Felipe Procurador Geral dos Conegos Regrantes, que cntaÔ ef-
tavaemRoma, Stfolicitouemfórmaonegocio,qucconfeguio fe uniíTe a Santa
Cruz de Coimbra, para o que defiftto delle o Cardeal , St lhe deu carta para
Angelo Gariffimo nobre Italiano lhe entregar o Convento, que por elle gover-
nava; o que fe effeituou em dia de Noífa Senhora dasMeves «ç- de Agoílo de
1 <562. Daqui he tradiçãofahio o appellido de Landim,pouco ufado de grandes
peíToas. Tem por Armas em campo de prata huma faxa vermelha, St em chefe
huma cabeia de Leopardo vermelho entre duas azas de Águia de ouro<
SantaEulaliade Palmeyra, Abbadia do Convento de Landim com refervâ
ordinária, rende cento St trinta mil reis, tem fetentavifinhos. Aqui eftá a quin-
ta da Palmeyra com huma Torre da parte de fóra , na qual viviaõos Frojazes
Palmevras, fenhores defte Condado, atè que o derao ao Mofteiro de Landim,
que fundàrão, St elles foraõ viver á quinta de Pereyra, Solar defta familia.
S. Miguei de Lama, Abbadia femeihante, rende oitenta mil reis, tem trin-
ta St feisvifinhos. < ,
S. Salvador de Bente, Abbadia como as acima, reríde duzentos mil reis,tem
oitenta vifinhos.
Sâõ
331 TOMO PRIMEIRO
Saõ Martinho de Siqueyró, Abbadia como as fobreditas, rende cento &
oitenta mil reis, tem quarenta &. cinco vifinhos.
Santiago da Carreira, de que era Prelado o Prior de Landim; perdeo~fe erta
dignidade, paffou a Abbadia do Ordinário, rende cento & oitenta mil reis,tem
feflenta vifinhos, & huma notável Capella de Santo Amaro, com grande roma-
gem, & clamores.
S. Fins de Riba de Ave, Curado annexo a Landim, rcdelhe vinte mil reis,
& para os Frades duzentos &cincoenta mil reis; tem trinta vifinhos. Aqui ef-
tá a Quinta, & Cafa de Pereyra, Solar defla ílluftre familia, de que defccdem os
F„eys Chriftaõs, & os mayores Titulos da Chriftandade. Povooufe na forma
feguinte. Tanto que D- Gonçalo Rodrigues de Palmeyra dotou aquelle Couto,
& Cafa ao Morteiro de Landim, veyo aqui fazer feu aífento, por deixar aquelle
Couto livre aos Conegos, como fizeraõ osEmperadores de Roma em defem-
pararem aquella Cidade para vivenda dos Summos Pontifices , fazendo nova
Corte em Conrtantinopla. Caiou duas vezes, & da primeira mulher , que foy
Dona Trolhe, filha do Conde DomAffonfo de Cela Nova , teve filho mais ve-
lho a Dom Ruy Gonçalves de Pereyra,o primeiro que aífim fe appellidou, por
verna batalha das Navas de Tolofa huma Cruz fobre huma Pereyra , de que
tomou as Armas, & o appellido, que deu a eíla Cafa; era de vinte annos,' quan-
do fe achou com feu pay em notáveis occafioens, procedendo de modo, que to-
dos diziaõ, que nunca taes vinte annos viraõ.
Entre ambas as ^Aves. continha o termo àe Barcellos.
S. Lourenço dc Romaõ, Curado annexo ao Morteiro de Roriz , rendelhe
vinte mil reis, & para os Padres da Companhia, de quem he o Morteiro , trinta
mil,reis: tem vinte & cinco vifinhos.
S. Miguel de Entre ambas as Aves, Abbadia da Mitra, que rende trezen-
tos & vinte mil reis, como Salvador do Campofua annexa além do Vizella: tem
oitenta vifinhos.
Santo Andre de Sobrado, Curado do Morteiro de Landim, rende dezoito
mil reis, & vinte mil reis para os Frades: tem dezafete vifinhos.
Santiago de Lordello, Vigairaria do Arcediagado dc Santa Chrirtina com
dez mil reis, ao todo felfenta mil reis, & para o Arcediago duzentos mil reis :
te noventa &feis vifinhos. A ertaFreguefia anda unida a deS.Joaõ de Calvos, a
qual feextinguio ha muitos annos.
Santa Maria de Gardizella, Abbadia da Mitra, rende duzentos & cincocn-
ta mil reis, tem cem vifinhos*'
S. Pedro de Riba de Ave, Abbadia da Mitra, rende cem mil reis , tem cin-
coenta vifinhos.
S.SalvadordeGandarella, Abbadia da Mitra, rende cem mil reis , tem
vinte vifinhos.
Santa Chrirtina de Cerzedello foy Morteiro , nam defcobrimos de que
Ordem; paifou a Abbadia fecular,& ultimamente a Commenda de Chrirto , &
pela apparencia dos nomes, & variedades quetiveraõ,a confundem alguns cõ
a de Cerdedello em Ponte de Lima, havendo perto dc nove legoas de diftan-
cia entre huma, «Sc outra: tem Reytor do Ordinário com quarenta mil reis , ao
todo cem mil reis, & para o Commendador feifeentos & feífenta mil reis : tem
cento & vinte vifinhos. Aqui eftá a fermofa, & grade Ermida de N oífa Senho-
ra do Monte,muy frequentada de romagens pelos muitos milagres que obra,&
a de S. Eertholameu, de que falíamos em Landim. He derta Commenda quarta
Com-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 333
Commendadora a Condeça da Ericeira Dona Joanna de Menezes*

Honra de Fralaes*

DUaslegoas de Barcelios para a parte do Sul , & no meyo das terrãs de


feu termo eítà a Honra, £c Cafa de Fralaés , Solar do illuílre appellidò
de Correas , que tem por Armas o campo de ouro fretado de correas de ver-
melho repaífadas humas por outras., timbre dous braços armados em afpa , ata-
dos com humafivella vermelha. Entendemos fer fundada por hum illuílre Ro-
mano que aqui viveo, chamado ElioFaye, ou Saye, como colhemos de poucas
letras, que com mais eítão em huma pedra quebrada, que ferve de terceiro de-
graodaefcadaquevaypara a Capella, onde fófe deixa entender ElioFaya , ou
Say a ;tam pouca tem fido a curiofidade de alguns fenhores defta Cafa ,' que pu-
zerão debaixo dos peso que houverão de trazer na coroa das cabeças. Dizem
que Dom Payo Ramiro fov o primeiro fidalgo Portuguez , de quem defeendê-
rao os Correas, o qual viveo em tempo delRey Dom AíFonio o Sexto, era Rico
homem, & a principal peffoa de íua Corte,mas a meu ver já efles fenhores o eraõ
defta Honra ha mais annos,& entre os Mouros â confervàrão fem mercê de
nenhum Rey; pois dando tantas voltas a eftes fenhorios, para os darem , efte
como hereditário nao fófe tem fempreatè hoje perpetuado neftes fidalgos,mas
ainda fobre paífar ao irmão, ou fobrinho fem mercê Regia,faz as juftiças com
differente império do que manda a Ordenação. Em dia de Janeiro de cada hú
anno fe ajuntãoos Vaífallos neíta Cafa, Sc o fenhor, que alli eftá affentado em
huma cadeira, manda arrumar a vara ao juiz velho, & de entre todos efeolhe o
que lhe parece, Selha metena mão paraquefirvaoanno que vem, dandolhe jura-
mento de que fará juftiça,Ôdhepalfa carta de ouvir,fellada com ofello de fuas
Armas, & fem mais fica feito juiz ordinário, 6c dos Orfaõs : efte então faz alli
meí mo eleição com o povo dos Vereadores ,& mais Oíficiaes, que com elle haó
defervir aquelleanno. No fim vem humas fogaças, que cutlumão pagar huns
Cafeiros defies fenhores da Aldeã de Câmpofinhos, Freguefia de Santa Maria
de Viatodos, 6c todos as comem, St bebem o vinho , que o fenhor lhes dà, St fe
vaõ embora. Do Juiz feappella para o fenhor, St deite para ElRey,fem embar-
go de lhe impugnarem, fempre tiverão fentença em feu favor ; vem eferever-
lhes hum Efcrivão de Barcelios por diftribuição. Tem eftes fenhores aqui a
mayor Cafa das antigas de quantas vi em Portugal, St Galliza, com Torres, Sc
grandes falas, muitas fontes curiofas, jardins, Sc hortas, dilatados pomares de
toda a fruta ordinária, St de efpinho ,Sc huma grande mata de Carvalhos, St Caf-
tanheiros,coufa magnifica. Tem eíta Honra, & feu termo duas Freguefias, que
faõ as feguintes.
S. Pedro de Fralaes, que fe chamou S. Pedro do' Monte , por eflar antiga-
mente no alto do monte da Saya, aonde houve hum Caítello (que a meu ver to-
mariaonomcdoappeilidodeElioSoyanovalídodeTibcrio ) em que eítes fe-
nhores devião de viver com feus vaíTallos feguros das correriás dos Mouros
defmandados,q de feus exércitos fahiaõ fem ordem dos Generaes a inquietar
os Ghriílaõs feudatarios, a quem era permitido a juíta defenfa em femelhan-
tes invafoens, do qual, St das efpaçofas muralhas, que tinha baftantes à grande
povoação, fe vem ruínas, & alicerces; quando aqui nãofoífe o quartel de Bru-
to, aonde os Bracarenfes o vierão buícar. Ficavalhes eíta Parochia de fóra,
donde
334 TOMO PRIMEIRO
donde fe mudou ha mais de duzentos an r os para junto da Cafa defies fenhores:
he Abbadia que elles aprefentão, rende cento & vinte mil reis , tem trinta &
dousviíinhos.
Santa Maria de Viatodos he Commenda da Ordem deChrifio,& Reitoria
do Ordinário com quarenta mil reis.) ao todo cem mil reis , & para o Commen-
dador cento & feífenta mil rei s: tem cento & quinze vifínhos- He fenhor defia
Honra F emaõ Correa de Lacerda & Figueyroa, cuja varonia he a feguinte.
Dom Payo Ramiro, que fe tem por fem duvida foy fenhor defia Cafa , &
Honra, cafou, & teve de 1'u a mulher a
DomSueyro Paes Correa, que cafou com Dona Urraca Hueirs , filha de
HuerGueda, & netadeD-Gucda o velho, de que teve a Dom Pay o Soares Cor-
rea, & a D. Gontrode Soares, que cafou com Payo Ramires.
Dom Payo Soares Correa foy fenhor defia Cafa, & fe achou na conquifia
de Sevilha: cafou com Dona Guntinha Gudins, filha de Dom Godinho Fafez,
de que teve a Dona Oureana Paes, mulher de Pedro Pires Gravei , & a Dona
Sancha Paes, que cafou com Rey mão Pires de Riba de Vizella: cafou fegúda vez
efte Dom Payo Soares Correa com Dona Maria Gomes da Sylva, filha de Dom
Gomes Paes da Sylva, & de fua mulher Dona Urraca Nunes , filha de Nuno Soa-
res, & de fua mulher Dona Mór Pires Perna-, filha de Dom Pedro Paes Efcacha:
era efte Dom Gomes Paes da Sylva irmaõ inteiro defte Dom Pedro Paes Efca-
cha , & ambos filhos de Dom Payo Guterres da Sylva, Rico homem do Conde
Dom Henrique, & Adiantado de Portugal pdr EIRey Dom Affonfo o Sexto de
Leaõ.
Pedro Paes Correa, filho de Dom Payo Soares Correa , & de Dona Maria
Gomes da Sylva fua fegunda mulher, cafou com Dona Dordia Paes, filha de Pe-
dro Mendes de Aguiar, & de Dona Eftevainha Mendes, filha de Dom Mem G&-
dar, que acompanhou ao Conde Dom Henrique, & foy muy bom Cavalleiro , &
natural das Afturias, & de fua mulher Dona Goda: era efte Pedro Mendes de
Aguiar filho de Mem Pires de A guiar, & neto de Dom Pedro Hueris, 5c de fua
mulher Dona Therefa Ayras, irmaa de Dom Payo Ayras de A mbia, bifneto de
Dom HuerGueda o Velho, como diz o Conde Dom Pedro Tit. 62. teve o dito
Pedro Paes Correa defia fua mulher a Do Payo Correa Meftre da Ordem de
Santiago no anno de 1242-aquelleJofuePortuguez,a quem parou o Sol , &
crefceo o dia para acabar de vencer a batalha aos Mouros , de quem dizem fer
feu neto Gonçalo Correa Alferes mór delRey Dom Affonfo o Quarto, do qual
defeendem, conforme a melhor opiniaó, os Correas fenhores do prazo da Mur-
ta, como diz Duarte Nunes de Leaõ na Chronica delRey Dom Affonfo o Quar-
to foi. 61. porém Frey Antonio Brandaõ na quinta parte da Monarquia Luíita-
na liv- ló-cap-15. quer que efte Gonçalo Correa feja filho de Payo Soares de
Azevedo, & de fua mulher Dona Therefa Gomes de Azevedo , filha de Gomes
Correa,irmaõ do Meftre Dom Payo Correa: houve mais Pedro Paes Correa de-
fia fuamulher a Sueiro Correa, Gomes Correa, Martim Correa , Joaõ Correa ,
& a outro Payo Correa, & a Dona Mór, ou Urraca Pires , que cafou com Efte-
vaõ Pires de Mólas , & a Dona Sancha Pires , que cafou com Nuno Martins
de Chacim.
Payo Correa filho quinto de Pedro Paes Correa , & irmaõ do Mefire Dom
Payo, chamaraõlhe o Alvaraunto, como diz o Conde Dom Pedro Tit. ;o-& Tit.
40. & que cafára com Dona Maria Mendes de Mello, filha de Dom Mem Soares
de Mello, & de Dona Therefa Affonfo Gata, filha de Dom Affonfo Pires Gato,
de
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA- 335-
de que houve a Affonfo Correa, & a Sacha Correa,que cafou cõ Fernaõ Affonfo
de Cambra, & a outros filhos, quenaõ tiveraõ geraçaõ.
Aftonfo Correa filho defte Payo Correa diz Lavanha na Nota ao Conde-
Dom Pedro foi. $<; 1. que fora fenhor da Honra deFarellacs , & das Freguefias
de S. Pedro do Monte, Veatodos,&Villa Mevam ; & na Provinda de^Entre
Douro, & Minho diz o mefmo Lavanha que tivera eíle fidalgo grandes pende-
ciascomosdafamilia dos Tavares, & que indo efperalos com os feus criados
o matàraõ, ficando da outra parte alguns mortos: cafou, conforme dizem, ccm
Brites Martins, da qual teve a
Fernaõ Affonfo Cori ca, que foy fegundo fenhor de Farellaens ,& da mais
cafa de feu pay per mercê delRcy Dom Joaõ o Primeiro: cafou com Leonor Ro-
drigues da Cunha, filha de Nuno da Cuiiha, que foy Padroeiro de Souto em En-
tre Douro, & Minho, de que teve a Gonçalo Correa, & a Payo Correa,que mor-
reo folteiro,& a Viola te da Cunha, que cafou com Martim Ferreira, & a Brites
Correa, que cafou com Conçalo Fernandes de Barbofa, & a Ifabel Correa, que
cafou com Ruí Vafqucs,& a outra Brites Correa , que cafou com Frarcilco
Annes de Siqueira ; eíla Brites Correa poderia fer a primeira que cafaífe duas
vezes. .
Gonçalo Correa, filho primeiro de Fernaõ Affonfo Correa , foy terceiro
fenhor de Farellaens, & caiou com Branca Rodrigues Botelho , da .qual teve ,
entre outros filhos, a
Gonçalo Correa, que foy quarto fenhor de Farellaens, & cafou com Mar-
garida do Prado, filha de Bertholameu Affonfo do Prado , &de Maria Efteves
do Porto; outros dizem de Joaõ Affonfo do Pradp,& de Brites Pimenta,de que
teve, entre outros filhos, a
Diogo Correa,que foy quinto fenhor de Farellaens, & cafou com Ifabeí
Pinheira, filha de Alvaro Pinheiro Lobo, Alcayde morde Barcellos,& de Der
na Joanna de Lacerda, da qual teve, entre outros filhos, a Antonio Pereira Cor-
rea, que foy fexto fenhor de Farellaens,o qual teve a
Chriftovaõ Pereira Correa, que foy fetimo fenhor de Farellaens , & eíhe
teve a Antonio Correa Pereira, oitavo fenhorde Farellaens,o qual teve a Chri-
ftovaõ Pereira Correa, que foy nono fenhor de Farellaens , & por morrer fem
filhos, paffou a dita Honra à fegunda linha, que fe fegue.
Foy filho fegundo, entre outros, de Diogo Correa quinto fenhor de Fa-
rellaens, &. de Ifabel Pinheira, Gonçalo Correa de Lacerda,o qual cafou com D.
Maria de Moraes, de que teve a
Antonio Correa da Cunha, que cafou com Dona Joanna de Msfqirta, filha
de Lourenço de Carvalho, Capitaõ da Mma,& de Dona Anna de Mcí quita, da
qual teve a
Gonçalo Correa de Lacerda, que viveo em Ruyvaens junto a Landim , &
cafou em Azurara do Porto com Dona Maria vlonteira, filha deFrancifco Fer-
nandes Monteiro, & de Dona Maria da Paz , de q ue teve dous filhos fem gera-
çaõ; cafou fegunda vez na Cidade do Porto com Dona Branca Aranha Barbofa,
filha de Balthefar Pinto Aranha , & de Dona Maria Barbofa , de que te-
ve a
Manoel Correa de Lacerda & Figueyroa,q foy decimo fenhor deFarellaens
por morte de feu paretc ChriftovaÕPereiraCorrea,nono fenhor de Farellaês aci-
ma nomeado: caiou com D* Brites Therefa de Mello , filha de Ayres de Sá &
Mello, fenhor do Prado de Anadia jtinto a Coimbra,& de Dona ifabel Oforio,
de
336 TOMO PRIMEIRO
de que teve a Fernão Correa de Lacerda St Figueiroa , que hoje he o undécimo
fenhor delia Cafa,St Honra.

CAP. IV.

Da Filia de %ates. f ";1

HUma Icgoa de Barcellos para o Sul, & fete dc Ponte de Lima tem feu af-
fento a Villa de Rates, povoaçaõ antiga, muy principal, inda que agora
pequena. Foy deítruída varias vezes pelos Gallegos tendo guerras comnof-
co. Querem alguns que alli chegaífem do mar asembarcaçoens naquelles tem-
pos das frotas Offirinas, ao menos as pequenas, quenavegavaõpor hum eítey-
ro, de que fe vem vertigios vindo daPulha,Seque eflc nome tomou dos navios,
que ifíò quer dizer em Latim Rales- O que a fez nomeada no mundo, foy o
martyrio de S. Pedro de Rates, primeiro Arcebifpo de Braga, St o primeiro que
tiveraõ as Efpanhas,St por iífo faõ os deita Sè Primazes de todas. He certo que
aqui houve logo muitos Chriflaõs com Templo na primitiva Igreja ; Sc aífim
como nós chamamos aos Hereges Albigenfes do nome da terra, em que feu erro
teve principio, chamàraõ os Gentios Ratinhos aos Catholicos deita Província
pela morte, que em Rates fe deu a S. Pedro Patriarcha, ou Aportoloderta Chri-
ltandade. Outros querem federivaífe dos fecundos partos das mulheres defla
Província, de que fe té em tam breves annos povoado quaíi todas as mais Pro-
víncias do Reyno, St muitos lugares em Africa, Angola, Sofala , Sc outros na
Afia,índia, & America. Governafe por Juiz ordinário , quetambem ohe dos
Orfaõs, dous Vereadores, Sc Procurador do Concelho, feitos por pelouro,elei-
ção triennal do povo, a que prefide o Ouvidor de Barcellos, de quem he fogei-
ta. VemefcreverlhehumEfcrivaõde Barcellos por diflribuiçaõ, ferve em tudo
como na Almotaçaria. Nam he terra rica, dá muito paõ, porque até os montes
o daõ bom, pouco vinho, muitos gados, Stbeftas decriaçaõ, mel, caça meuda,
veaçoens de rapofas, òt outros bichos pequenos. Tem huma Parochia [da invo-
cação de S. Pedro, que já era Igreja Parochial, quando eíte Santo vivia, porque
nella o matàraõ ostyrannos,Sefobre elle a arrazàraó. Tornáraõlogo alevan-
tallaos devotos, St depofitando nella ofagradocorpo, foy muy venerado dos
Catholicos. PaíTou a Morteiro de Monges Bentos, St crè-fe fer o primeiro que
em Efpanha tiveraõ, de que era Abbade o Santo Eftevaõ , que no anno de 590.
reynando Recaredo, fe achou no grande Concilio nacional, que dizem fer o ter-
reiro, Sc no de 676- era Abbade delle huMonge chamado Pedro. Devia arruí-
narfe com a invafaõ dosMouros; pois o Conde Dom Henrique,Sc a Rainha Do-
na Therez a levantàraõ dos fundamentos , por eftar deítruída havia muitos
tempos;Sc delle fizeraõ doaçaõ em Coimbra no mez de Março no anno de 1100.
ao Prior do Morteiro de Santa Maria de Caride de Monges Cluniacenfes na Pro-
vinda de Aquitania, naõ longe da Cidade de Altifiodoro, hoje Auxerre 5 outros
affirmaõvieraõ de lá Religiofos para elle- Mas a mim me parece quecomeriaõ a
renda, Sc lhe aprefentavaõ Cura; porque no anno de 1113. Gonçalo Annes,que
devia fer Vifitador geral pelo Metropolitano, deixou huma verba na vifita ,em
que
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 337
que mandava â Jorge da Povoa, Cura do Moíteiro, que enterraíTe huma caixi-
nha de relíquias, porque abrindoa,defconfioudeque oeraõ. A Chronica dos
Conegos Regrantes quer que nó anno de n 5 2- a Rainha Dona Mafalda mandaf?
fe levantar da terra, & meter em tumulo na parede o corpo de S-Pedro , & lhe
poz Conegos Reerãtes com Prior, que trouxe de Santa Cruz de Coimbra > &
lhes fez aquelle Couto. Tudo poderia fer, & com o tempo fe extinguiria, fe bé
naõ querem muitos que taes Conegos o occupaíTem nunca- O qpe he certo, &
confiado Archivo da Sé de Braga,he, que em 13. de Agofiode 1315-. tinha Re-
ligiofos com Prior, os quaes negavaõ a obediência, & naõ queriaõ fer viíitados
pelo Primaz Dom Joaõ Martins de Soalhaés , fundados em alguns privilégios'
Apoftolicos: mas fazendo o Arcebifpo queixa a El Rey Dom Diniz, & achando
que os Arcebifpòs tinhaõ efia polfe, o mandou confervar nella, & que fuas Juf-
f iças o favoreceífem contra òs Frades. Em hum nicho occulto efiá a Rainha
Dona Therefa com cetro na maõ, & naõ he a Rainha Dona Mafalda, como algús
cuidàraõ- Depois fe fez Priorado fecular, entendemos do Padroado Real, que
teve Joaõ de Soufa, filho de Pedro de Soufa de Ccabra , & de fua mulher Maria
Pinheiro, que de Clemência Rodrigues houve a Thomê de Soufa, primeiro Go-
vernador do Braíil,( que até alli fe governava por Capitanias ) & Veador del-
Rey Dom Sebafiiaõ,& primeiro Commendador defia Igteja , que entrou a fer
Commenda da Ordem de Chrifio em tempo delRey Dom Manoel por Bulla do
Papa Leaõ Decimo, folicitada pelo Cardeal Dom Jorge da Coifa- Foy mais fi-
lha deftc Prior Dona Elena de Tavora, mulher do Licenciado Henrique Perei-
ra, & ambos pays do Doutor Pedro de Soufa, Commendatario de Padernc , de
q ue ha nobre defcendenciarna ribeira do Minho, & em outras partes. Confer-
va- fe em Commenda com Reytor do Ordinário fem ordenado: leva por elle San-
joaneyra, ao todo renderlheha cento & quarenta mil reis, St para o Commenda-
dor trezentos &cincoenta mil reis. Em memoria do Priorado, que foy , con-
ferva hum Beneficio fimples, que rende cincoenta mil reis, fervindo-o, data do
Arcebifpo. Tem àroda do adro muitas fepulturas antigas , deviaõ fer de pef-
foas grades, que nellas fe fepultavaõ; porque nam vinha de perto a pedra para
ellas- Namefma Igreja eftaõos fantos Ermitaens Felis,&feufobrinho , & ef-
teveS-Pedro de Rates, até que o mudou para Braga o Arcebifpo Dom Fr. Bal-
thefar Limpo 5 fó ficàraõ relíquias fuas, que faõ hum dente, parte de oífos,& de
hum dedo em húacuftodia de prata com vidraça ,& òutro relicário com mais;
faõ procuradas por muitos devotos, em queobraó infinitos milagres, quotidia-
namente em mulheres de parto. Tem cento & cincoenta vifinhos , que faõ 09
que ha na Villa-

CAP. V.

Da Filia de zSAdelgaçOé

T Res legoas acima de Monção para o Nafcente,& huma da ravá de Portu-


gal, & Galliza para o Poente efiá fituada a Villa de Melgaço , a quem os
rios Minho pelo Norte, & o pequeno V arzeas , que nelle fe mete da par te do
Ff Orien-
\

338 TOMO PRIMEIRO


Òrierte em angulo redlo dividem o feu termo do Reyno de Gallina* A' mais
antiga noticia que achamos de fuafundaçam he que ill Rey Dom Affonío Hen-
riques a povoou no anno de 117* • fabricando nellahumá grande fortaleza na:
parte em que eílava outra chamada Minho ;& no def f 181 • a 22- de Julho deu
o meímo Rey aosmoradores defla Vília o lugar de Chaviaés. Segunda memo-
ria he o titulo de bens, & Couto, que ElRey Dom Sanchao Primeiro deu ao Mo-
íkirodeS. Joaç de Longos Valles em Monção, eliando na Cidade do Porto no
anríode 119 7* do qual diz que fazia eíla mercê pelo aílinalado ferviço, que lhe
fizera Dom Pedro Pires, Prior que entaõ governava o Convento, em lhe fazer
' à fua cuiha a Torre, & fortaleza de Melgaço, devia reformaila. ElRey Dõ San-
cho o Capeilo lhe deu grandes foros, & pr Lvilegios , que confirmou feu irmaõ
ElRey Dom Affonfo oTerceiro no anno de 1262. mandando quenella houVeffo
trezentos & cincocnta vifinhos, permittindolhes que pudcíTcm eleger hum Ca-
valleiro Portuguezpara Alcayde daquelle CaílellOj & que fendo peífoa beneme-
rita, eíle o confirmaria. ElRey Dom Dini z a cnnobreceo , & cercou de nov os
muros,tudo forte para aquelks tempos, mas para os prefeíites fraquiílima,poí
ter penhafcos,que lhe fervem de batar.ascubertas a tiro de clavina. Tem boas,
& ferteis terras,pela mayor parte todas, mas em particular o valle da Folia cõ
grandes ventãgeiís: dá muito pão, & vinho, frutas, feijão, hortaliças, & cebo-
las muv celebradas por doces, & as melhores defla Provinda, excelièntes pre -
zuntos fern fal, caça do monte, & pefcas do rio de boas lampreas, bons linhos,
caílanha, mel, gado, & ladicinios. Tem cento & vinte & feis Vifinhos muitd
nobres, com Cafas, & Quintas honradas; faõ as melhores as dos Gaftros , ôe
Soufas,que por muitos annos foraõ Alcaydes móresdeíla Villa, de-que defceiP
dem grandes fidalgos dcílc Reyno, Araujos, & Roías; eftes tem duas fepultu-
ras honorificas na Capella mor da Matriz, huma que venderão aos Caílros,ou-
tra no corpo da Igreja à parre efquerda junto do Altar deNoífá Senhora. Ne-
ftas ultimas guerras com Caftella deu famofos Soldado^ qtle occuplrão gran-
des poftos ; he da Cafade Bragança, & tem Juiz de fora , que taftitem o he dos
Orfacs, & tem a mefma preeminência o Juiz da terra, quando aquellc falta,douã
Vereadores,& Procurador do Concelho,eleição triennal do.povo por pelouro; a
que preíide o Ouvidor de Barcellos, Efcrrvad da Camara, tres Tábehaens f, hum
Efcrivão dos Orfaõs, & outro das Sizas: o Alcaide mór tem de renda vinte- &
dousmil reis,& huns carros de palha,&leAha,& péfqueitàsnõ Minho;oquaí
aprefenta Alcayde Carcereiro com vinte mil reis de renda ., tudd data dos De-
ques. I em^Capitaomór, que nomeaa Camara, os Duques o cortfírmão, St lhe1
paffaõ a pàtênte; quatro Companhias da Ordenança , em que fefve o mais antH
go de Sargento mór. TemCafadeMifericordia,Hofpital, & asFreguefias fe-
guintes.
Santa Mana da Porta da Villa, Abbadia da Cafa de Bragança, & do Moíhei-
ro de Feaes com alternativa ordinária, rende duzentos mil reis. Tiro de mof-
quete da praça eftá a Ermida de N. Senhora da Orada, Imagem de muita devo-
ção pelos milagres que obra.
Santa Maria Magdalena de Chaviaés, Abbadia da mefma Cafa, rende cen-
to&cin'coenta mil reis, tem cento& trinta & fete vifinhos-
Santa Anna de Paços , Vigairaria que aprefenta o Mofleiro de Paderne,
rende oitenta mil reis ao Vigário, & para os F rades cento & quafentã mil reis:
terh cento St fefTenta Vifinhos.
S. Martinho de GhriftôVal ,• Abbadia em que teve pártd óMofteirocfe
Feaes,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA; 339
Feails, hoje he toda do Ordinário, rende duzentos & cincoenta mil reis , tem
cento & cincoenta & nove vifinhos. Aqui^íiá a ponte das Varzeas, que divide
eíle Reyno do de G alliza.
Santa Marinha de RouçaS, Abbadia do Padroado fecular , que dizem foy
dos Penhores do Paço de Rouças do appellido de Befteiros, familia tam antiga,
como nobre, a quem o tempo, & pobreza tem atenuado de modo , que poucos
Lavradores o tomaõ hoje. Tem por Armas em campo azul huma Torre firma-
da em penhas azuis, & tres béílas de ouro, duas dos lados da Torre , & htima
em cima, timbre a mefma Torre com humabéítano alto. O Solar paliou aos
Caílros, & o Padroado a Manoel Pereira o Mil-homens de Alcunha , morador
em Monção, cuja filha herdeira cafou em Galliza: rende a Igreja ao Abbade du-
zentos mil reis, tem cento & cincoenta vifinhos*
S. Payoheo rneímoaque Sandoval chama Moíleiro de S. Payo de Pader-
ne, haveria-o fido antes dos Mouros, & a Infanta Dona Urraca, filha delRey Dõ
Fernando o Magno, dotou ametade de feu Padroado à Sê de Tuy, & a feu Bifpo
Dom Jorge no anno de 1071.com o lugar de Prado , que inda então não devia
fer Parochia,& outros bens, &vaífallos; em 13. de Abril da era de 1156. que
vem a fer anno 1118. deu à mefma Sè, £t ao Bifpo Dom AíFonfo a quarta parte
da mefma Igreja Onega Fernandes,parece que lendo viuva com filhos Payo
Dias,& Argenta Dias, que confirmàrão eíia doação, a qual tomou o habito de
Monja, entendemos que em Paderne, & nefla mefma deu também o que lhe to-
cava,^ na deS- Martinho de Valladares. Ultimamente aRainha Dona There-
fa, & feu filho ElRey Dom Affonfo Henriques da era de 11 <5j. que he anno de
iiíy. deraõ ao mcfmo Bifpo eíia Igreja, & dizem na doação, que lha dão intei-
ra ; mas a meu ver feria o.quarto que nella tinhaõ,com que lhe vinha a ficar in
folidum. He Abbadia fecular do Ordinário com as duas annexas que fe fegué,
tem a quarta parte dos dizimos, importa feífenta mil reis, ao todo cem mil reis:
o outro quarto, a que chamaõ a renda do Caftello, leva a Cafa de Bragança , &
ametade a Mefa Arcebifpal; tem duzentos vifinhos. ♦
S. Lourençodc Prado, Vigairaria annexaaS.Payo,que aprefenta o Abba
de delia, rende ao Vigário cincoenta mil reis,os dizimos vão na Matriz : tem
cento & qnitize vifinhos.
S. Joaõ de Remoaés, Vigairaria do mefmo Abbade, a quemheannexa, ren-
de ao V igario vinte & cinco mil reis, os dizimos vaõ na Matriz : tem oitenta &
dous vifinhos. Aqui eíláajuradia da Varzeafogeiu. a Melgaço , masdaFre-
guefia do Moíteiro de Paderne em Valiadares.

CAP. VI.

T>a Filia de Cajlro Laboreiro•

DUas legoas & meya de Melgaço entre o Nafcente, & mcyo dia eftá a Vil-
la de Caftro Laboreiro , a que vulgarmente chamaõ Caftro. \ He terra
montuofa, & frigidilfima deneves,feus ordinários frutos faõ centeyo,Sc pouco
milho miúdo, muitos gados de toda a cafia , as mayores ovelhas Gallegas , &
Ff ij que
34° TOMO PRIMEIRO
que cão o melhor burel de todo o Portugal ^ & aífim os melhores lacticínios
produzidos dos ferteis paíios de hervagcns,que aquelles motes tem no Verão, \-
a caça de coelhos, lebres, perdizes, javalis, corças, & veação de lobos, rapofas,
martaSptouroens, ginetas, & outros bichos he infinita, & em hum pequeno re-
gato grande quãtidade de trutas. Não tem out ras arvores, fenão poucos , &
pequenos carvalhos, baftantes nabos,mcnos couves Gallegas,frias,& delgadas
aguas. Temos moradores grades privilégios,qlhescõçedèrãoos noffosReys
cm remuneração dos grandes ferviços,que lhes fizerão nos tempos das guerras
deites Reynos. G°vernafe por Camara de dous Juizes ordinario^que também
fervem nos Orfaõs, dous V ereadores, &: Procurador do Cõcelho, eleição trien-
nal do povo,& pelouro,a q prende o Ouvidor de Barcellos,& dous Tabeliaes,q
fervem em tudo. Tem em rocha viva hum inexpugnável Caftello, que huns di-
zem fer obra dos Mouros; outros, que levantandofe em Galiza hum Conde
chamado Vitiza, Utiza, ou Guicia contra ElRey Dom Affonfo o Magno ter.
ceiro em numero, mandou conquiítallo por Hermenegildo, Conde das Cidades
do Porto,&Tuy íeu parente,& Mordomo,o qual ovenceo, & lho trouxe pre-
zo ; pelo que ElRey lhe deu as terras do treydor, & entre ellas a Villa de Lima,
aonde depois feu neto S-Rofendo fundou o Moíteiro de Cella-nova : & eftc
monte Laboreiro, em quefeubifnetoDom Sancho Nunes de Barbofa, cunhado
delRey Dom Affonfo Henriques, fundou efte Caftello, que feaílim foy , feria
emoppofição das guerras, que com o Reyno de Leaõ tivemos;mas pelos nomes
de Caítro, & Laboreiro,que derivados do Latim querem dizer jCaftello trabalho-
/<?, ou que eftá em terra trabalhofa, como eft a o he pára o trato humano ,me pa-
rece fer do tempo dos Romanos; & que fejamais antigo que ElRey Dom Affõ-
fo Henriq ues naõ ha duvida, pois elle o conquiíiou com hum duro cerco, co mo
fe vè de huma doação do Couto de Paderne, que deixamos dito naquelle M o-
fteiro: por onde o atribuir fe eft a fabrica a ElRey Dom Diniz, feria mais reedi-
ficação, que edifício. Confia de huma Torre, que pouco antes que os payfanos
o entregaffem aos Gallegos, voou com o incêndio, que hum rayo caufou, donde
no armazém da polvora, que fempre o Ceo ameaça as ultimas ruínas com fínaes
antecedentes à noffa prevenção , & tem huma muralha tofca com duas portas,
húaparao Poente,pela qual mal fe pôde ir a Cavallo,& outra para o Norte,por
onde mal pôde huma peffoa ir a pè; vinte homens baftão para o defenderem de
grandes exércitos,mas he quafi incapaz de habitarfe. Tiro de arcabuz para o
Norte eftá a Villa em fitio plano, que terá feffenta vifínhos, da qual he fenhor o
Duque de Bragança, que dá os officios; tem o termo huma Freguefia, que he a
feguinte.
Santa Maria de Craflo, fermofa Igreja, foy Vigairaria annexa à Matriz de
Ponte de Lima, paffou a Abbadia dos Bifpos de Tuy, quando o eraõ também de-
itas terras, trocou-a por outras o Bifpo Dom Joaõ Fernandes de Sotomayor cõ
ElRey Dom Diniz no anno de i $o 8 • & hoje he Commenda da Ordem de Chrif-
to,&Reitoria com quarentamilreis,ao todo cento &vintemil reis , &orde-
nado para Coadjutor,& para a Comenda duzentos & cincoenta mil reis, tudo
datados Duques: tem duzentos & vinte vifínhos, de que fefórma huma Com-
panhia muy alentada. Entre mais Ermidas que tem, ha huma de Noffa Senho-
ra de Anamaõ, Imagem milagrofa, que eftá em hum valle junto daraya , meti-
da em huns grandes penhafeos,onde toy achada no buraco, q a natureza obrou
cm hum monftruofo penedo; dizem a trouxeraõ por vezes à Igreja, mas que ou- '
íras tantas fe tornou, caufa de alii lhe fazerem Ermida. Na chaa tam dilatada,
> que
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 341
que terá cinco, ou féis legoas de circunferencia,nafce o pequeno rio,cm que fc
criaõ as trutas, no qual ha huma pequena ponte que chamaõ Pedrinha , fabrica
de Mouros. Quando himos do Porto dos A íhos, ou Cavalleiros, paífamos ou-
tro limitado ribeiro, pelo qual foy a pè o fanto Arcebifpo Dom Prey Berthola*
meu dos Martyres a vifitaraquella Igreja ; tem virtude eíf a agua para curar a
bocalixofa âs crianças, & outras enfermidades: entaó dilfe que tarde tornaria
alli outro ArcebifpOi aífim foy; porque fuppoíPo o intentou Dom Sebaftiaõ de
Matos & Noronha,nam o confeguio, &fó emnoífos tempos o fez oEminen-
tiílimo Cardeal Dom Veriífimo de Lancaft ro,noíTo Inquifidor Geral,quando era
Arcebifpo de Braga. Para prova da frieldade da terra baile, que o vinho fe cõ-
gela no Inverno de modo, que para a MiíTa he neceíTario aquétallo, do q fe tivera
noticia nam fe admirara o Argonès Vitrian nas notas a Felippe de Comines,
tom. 1. capit. 4.2. de o cortarem com efeoupro , & martello junto a Liejano
exercito de Carlos o Bravo Duque de Borgonha no anno de r +<58. porque co-
mo Aragaõ he terra quente, pareciaihe que todo o mundo aílim devia fer«

CAP. VII.

T)o Couto de Çondufe.

HUma legoa acima de Ponte de Lima ao Nafcéte, & defviado do rio meya
ao Sul, eílào Couto de Gondufe,de que faó fenhores os Duques de Bra-
gança; defee do alto monte da Balhofa , & Armada para a parte do Norte com
belliífimas terras de paõ de toda a caíla, aflirn nos campos, como nos montes, &
vinho,muytashervagens,caça meuda,javalis,& muita veaçaõ, particularmé-
te de rapofas. Tem hum regato, em cujas aguas nunca ha névoa, nem vive peixe
algum, &fe lholançaõ,logo morre , atè quenelle entra hum pequeno ribeiro,
que fahe da Freguefia de Burral, & tanto neífe , comodalli para baixo fe acha
peixe; fegredo notável, que atègora ninguém alcançou : tem muitas egoas de
criaçaõ, gados ordinários, & alguns touros tarn bra vos,que fe os levaô ao cor-
ro, ou nam fazem nada de pafmados de fc verem entre gente, ou de braveza ca-
hemmortos. Governafepor Camara dejuizordinario, que também ferve nos
Orfaõs, & lhe rende cinco mil reis,"hum Vereador, outro Procurador do Con-
celho, eleição tricnnal do povo por pelouro, a que prefide o Ouvidor de Bar-
cellos. Meirinho, que também he Porteiro, dous Tabeliaens , a hum pertence
os Orfaõs; ambos data da Cafa de Bragança. Tem cento & quinze vifmhos, cõ
huma Igreja Parochial da invocação de S. Miguel, Abbadiado Ordinário, ren-
de duzentos & vinte mil reis- No mais alto aa montanha tem huma antiga Er-
mida de S« Lourenço, a quem feílejaó em feu dia, moílra em feu circuito veili-
gios de Caílello , mas náo defcobrimos em que tempo ferviria. Ha também
ruínas do Paço , & Cafa de Sequeiros , & aílim fe chama a Aldeã : he Solar
deíla nobre familia, não cm Entre Homem, 2c Cavado , como alguns dizem;
feus defeendentes dizem deduzirfe do Conde Dom FafezSarrazim de Lanho-
fo, que morreo na batalha, que o noífo Rey Dom Garcia deu a feu irmão ElRey
Dom Sancho de Caílella por feu neto Dom Fafez Luz Rico homem, & Alferes
Ffiij rr.ór
34i TOMO PRIMEIRO
rr.ór do Conde Dom Henrique, do qual foy filho fegundo Dom Egas Fafez de
Lanhofo, a quem ElRcy Dom Affonfo Henriquez deu efte Solar com feus fe-
nhorios, que deviãofer entre outros cif e Couto , de que tomarão o appellido
de Sequeiros, que fe continuou de pays a filhos (como dizem alguns Authores)
até o tempo delRey Dom Fernando., em que João de Sequeiros matou huma pef-
íòa grande por amor de huma fua irmaã, & fe paffou a Galliza- Neíle Reyno fe
ufa pouco deite appellido,, alguns aífim fe chamão neíta Freguelia : confervafe
com boa nobreza na Villa dos Arcos noCapitão Pedro de Sequeiros de Abreu,
«jue nas guerras da felice Acciamação do fenhor Rey Dom João o Quarto foy
hum dos melhores Soldados , & cm feu filho Antonio de Sequeiros de Abreu
Sargento mór de Infantaria, & Cavalleiro da Ordem de Chriíto, que imitando
a feu pay, fendo filho único, fervio fempre com grande valor. U faõ por A rmas
as mefmasdos Siqueiras,fcndoameuver tam differentes eítasduas gerações
em feus princípios ; porque oe Sequeiros Portuguezes defcendem do Conde
DomFatez,& osSiqueiras,deDom Anião de Eítrada, fidalgo Aíturiano , a
quemo Conde Dom Henrique deu o fenhoriode Goes ; indaqueo Conde D6
Pedro no Tit. 42. os inclue nos Coronéis: fe bem que a Honra de Siqueira, de
que a alguns parece foy fenhor Dom Aniaõ de Eltrada, fica muitas legoas diífa-
te do Solar de Sequeiros; as Armas de huns, & outros [faõ em campo azul cin-
co vieiras de ouro em afpa eítendidas em preto, & por timbre cinco penachos
do primeiro com huma vieira no meyo, o que não bafta para parecer tem ambos
o mefmo principioj porque muitas famílias tem as conchas, outros Cruzes, &
talvez poro proprio fuccelfo de huma batalha , fendo muydiítantes nosnafci-
mentos. Ha mais entre eítaFreguefia,&a do Burral em fitio alto, & magnifi-
co o Paço de Jozim,Cafa antiga aa família dos Antas , procedida do Solar de
Antas em Coura, como jâ lá diíTemos, inda que nam falta quem aqui o queira
fazer, &na terra da Feira 5 ha muitos annos a pofíiiem nobres Cavalleiros, que
fe appellidavão Antas atè Gõçalo de Antas, pay de Suzana de Brito, mulher dc
Agoíiinho de Araujo Franco, dos quaes ha quatro filhos, & huma filha.

BmèmmmmrimmimmmmmmZimmmmMíãmMrámmm

CAP. VIII.

T)o Couto de Comelbd, ou Correba.

HUm quarto de legoa abaixo de Ponte de Lima da parte do Sul do mefmo


rio cífá o Couto de Correlhã abundante de gados de toda a caila, caça,
pefcas no Lima, & muitas trutas no Trovella, pouca lenha, & ainda que falto de
agua, he a terra tal, que dá excellentes frutos. Foy antigamente Vilia , que El-
Rey Dom Ordonho o Segundo com a Rainha Dona Elvira fua mulher derão a
Santiago de Galliza em fatisfação de certo legado de dinheiro, queElRey Dõ
AffonfooMagnofeupaylhe deixara; fez-fe efta entrega em if. de Janeiro da
era de 9 $4. que he anno 9i6 confirmou-a ElRey Dom Fernando em Março de
1064. & opprimindo aos moradores muito poderofos, particularmente Diogo
Trutefindes,Sifnande Annes,&ThedonTelles,paíToucarta contra elles, que
mal fe executou, até que no anno de 1097. em 5 > dos Idus dc Dezembro, que
vem
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 34J
Vem a fer a 18- domefmo mez, o Conde Dom Henrique,& a Rainha Dona The-
refa a ratificàrão com grandes ameaços, a quem os inquietafle, Sc pacifícamen*
tea poffuío Dom Diogo GelmiresBifpo ultimo, Sc primeiro Arcebifpo de San-
tiago, contemporâneo deites Príncipes,& do PrimázS. Giraldo» ElRey Dom'
Dmiz lhe confirmou os privilégios em Santarém a io.de julho de 13*4» por
lho pedir Dom Berenguer Arcebifpo de Santiago, que alli viera de mandado do
Papa Joaõ Vir te St dous tratàr de eompolo com o Principe feu filho, o qual fen-
do depois Rey, fez outra confirmação no anno de 13 3 5. Tem as Freguelias fe*
guintes.
S. Thomè de Correlhã, grande, St fermofo Templo , que o Conde Dom
Henrique doou ao Apoílolo Santiago no anno de 1097. paífou a Comenda da
Ordé de Chriílo, data da Cafa de Bragaça, rende duzetos Sc cincoéta mil reis:
he Collegiada com Reytor do Ordinário com quarenta mil reis, ao todo cento
& oitenta mil reis, hum Coadjutor com enze mil reis,ao todofeífenta mil reis,
tem feis Benefícios fímples do Ordinário , rende cada hum trinta Sc dous mil
reis, com obrigaçam de ofliciarem a Miífa, Sc rezarem aonde lhes parecer. No
adrojeílâ huma Capella,Sc nella fepultado S. Eudon ,hum dos tresRomeyros Ita-
lianos, que vindo a Santiago ficâraõ fazendo vida eremitica perto de Ponte de
Lima: obra muitos milagres, particularmente nos doentes de maleitas , & ce-
zoens- Neila Frcguefía ha huma Cafa chamada O Paço , que anda emprazada
pela Cafa de Braganç a em joaõ Lobato de Abreu, tem huma Capella antiquiífi-
ma, huma guarida de agua , Sc he certo foy dos antigos fenhores deíle Couto
primeiro que foíTe dos Duques, Sc nella fe recolhem os quintos dos frutos, que
eíla ferenifíima Cafa tem em todaaFreguefía , a qual confia de trezentos Sc
vinte vifinhos, com huma Companhia de Ordenança.
S. Martinho de Paradella, a que vulgarmente chamaõa Seara, he Abbadia
da Mitra, rende cento Sc fetentamil reis. No adro tem hum grande vinháti-
co, arvore muy Angular, que entendemos trouxe algum curiofo das Ilhas,quan-
do as defcobrimos} tem cem vifinhos.

CAP. IX.

7)o Concelho daTPortelh das Cabras«

EN tre a Cidade de Braga, Sc a Villa de Ponte de Lima , quafí cm igual dif-


tancia,eíiá a Porteila das Cabras, povoaçaõ de vinte Sc cinco vifinhos,
cabeça do Concelho, que delia toma o nome , Sc de q ue he fenhor o Duque de
Bragança, fendo que antigamente o foraõ os Caílros fenhores de Albergaria de
Penella; porque ambos eraô miíiicos, Sc depois fe dividirão : he tetra abun-
date de lenhas,caças,8c veaçoes,gados,mel,baíiãte azeíte,Sc criaçaó de egoas,8c
tem boas terras de paõ, muito vinho verde de enforcado, caílanha, Sc algumas
trutas, que fepeícaõ noNeiva. Aflifiemaofeu governo civil hum Juiz^ ordi-
nário, dous Vereadores, Sc Procurador do Concelho por pelouro, eleição trie-
nal do povo, a que prefíde o Ouvidor de Batcellos; quatro Tabeliacns, que Por
diilribuiçaõ annual fervem na Camara,Diítribuidor,Enqueredor,Sc Contador,
344 TOMO PRIMEIRO
Meirinho que elegemcada anno quatro, Juiz dos Orfaõs,& Efcrivaõ, que fer-
vem também em Penella, v illachS , & Larim- A gentefereparte em duas Cõ-
panhias,com Capitaõ mór, & Sargento mor, tudo data dos Duques; Efcrivaõ
cias Sizas, que ferve nefte Concelho, & no de Albergaria , aprefenta-o EiRey.
Tcm feira todos os primeiros Domingos de cada mez , & compoem-íe das f re-
gutíias feguintes.
S. Salvador da Portella, Curado annexo a S.Miguel de Carreyras em Vd-
lachã , rende trinta mil reis, & para o Abbade trinta & cinco mil reis: tem trin-
ta vi linhos.
S.Pedro de Goaes, Abbadia do Padroado Real , que leva a terça parte,
rendelhe cento & trinta mil reis, & as outras duas faó para o Coliegio de S- Pe-
dro de Coimbra, a que as unio hum Abbade deita Igreja, quando o fundou, im-
portaõ cento & oitenta mil reis: tem fetenta viíinhos.
S. Salvador de Pedragaes, Abbadia que aprefentaõ os Caílros de Roriz,
Penhores da Albergaria de Penella, rende cento & vinte mil reis , temfeífenta
& dous viíinhos.
Santa Euíalia deGodinhaços,Vigairaria dos Eremitas de Santo A'gofhnho
do Convento do Populo de Braga com doze mil reis, ao todo cincoenta mil rc is,
& para os Frades duzentos mil reis: tem cento & doze viíinhos- Aqui ha huma
Torre antiga, que chamaõ de 5. Mamede, a qual fundou hum Rey Mouro, quã-
do cá andavaõ, para nella ter huma amiga fegura.
S. Martinho deRiomao, Abbadia da Mitra, rende com a annexa dcTrava-
çosem Villachã trezentos & trinta mil reis , tem fetenta&dous vifinhos, em
que entraõ alguns do Concelho de Albergaria.
Santiago de A rcuzello, Abbadia da Mitra,rende coma annexa de Marra-
cos que fe fegue duzentos ôc cincoenta mil reis, tem cincoenta vifinhos- Aqui
eftá a grandiofa quinta, & antiga Cafa,a que chamaõ o Paço, que hoje poíTue o
Capitaõ mór Francifco Barbofa, a qual he huma das nobres que efta familia te-
ve : & como eíla Fregueíia, & a de Marrancos forão húa fó, & depois fe lhe fez
filial aquella, faõ ambas nomeadas com qualquer defies nomes.
S. Mamede de Marrancos, Curado annexo a Santiago de Arcuzello, ren-
delhe vinte mil reis, & para o Abbade vay na Matriz: tem cincoenta & feis vi-
íinhos-
Santo Eílevão de Villar, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis , tern
noventa vifmhos, de que ametade faõ da Albergaria.
S. Martinho deEfcarizhe Vigairaria annexa-a huma Conezia de Braga cõ
feis mil reis, ao todo quarenta mil reis, & para o Conego cem mil reis ; tem
cincoenta & dous viíinhos. Sobre a ribeira do no Neyva tem hum alto monte
com veftigiosde fortificação,chamafe Santos Idus , nome que lhe devia pôr a
Gentilidaae Romana, que começaria, ou daria fim a eífa fabrica nos Idus de al-
gum mez. Tem mais eíte termo cincoenta vifinhos nas duas Igrejas, & em Santa
Marinha, & outros em outras Fregueíias da Albergaria, & vinte & feis na de S. t
Mamede deEfcariz, que vay em Prado.

CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 347

C A P. X

T)o Concelho de Vtllacha.

QUatroIegoas &meya da Villa de Ponte de Lima tem feu aíTento eftc


Concelho, terra abundante de milho,centevo,vinho de enforcado, azei-
te, caílanha, gados, caças do monte, veaçoens ordinárias, lenha , ôcpefcas 110
rio Homem. Teve vários fenhores, & ultimamente entrou na Cafa de Bragan-
ça. Tem Juiz ordinário, dous Vereadores,& Procurador do Concelho,eleição
triennal do povo, a que prefíde o Ouvidor de Barcellos, tres Tabeliaens , que
fervem aqui, & em Larim, data dos Duques de Bragança. Tem feira em Villa
Verde aos treze dias de cada mez, & confta das Freguefias feguintes.
S.Miguel de Carreiras, Abbadia do Ordinário,rende com a annexa da Por-
tella das Cabras duzentos mil reis: tem feífenta vifinhos. Aqui em huma Tor-
re, de que indafe vem veíligios, differente da que hoje exifle mais moderna,
vivia Dom Egas Paes de Penagate, fenhor do Couto de Penagate, St deite Con-
celho, & grande valido do Conde Dom Henrique.
Santiago de Carreiras, Abbadia do Ordinário , rende cento 5c cincoenta
mil reis, tem feíTenta Sc fete vifinhos.
Santa Marinha de Novegilde, Abbadia da Mitra, rende outro tanto , te n
cincoenta Sc feis vifinhos.
Santa Maria de Doçaôs, Abbadia do Ordinário, rende duzentos mil reis,
tem fetenta Sc dous vifinhos.
S. Martinho de Travaços, Vigairaria annexaaRiomaoemPenella, rende
ao Vigário trinta mil reis, & para aAbbade quarenta mil reis : tem cincoenta
vifinhos. A qui onde chamao Revenda he a cabeça, & foral doConcelho.
S-Pedro de Efqueyros, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis com
a annexa de S-MamededeGondiaes 110 termo de Regalados item cincoenta vi-
finhos.
Santa Maria de Barbudo, a quem eftâ unida ha annes a Parochia do Salva-
dor de Parada, Abbadia fimples com Vigário, ambas do Ordinário, tem o V: -
gar io dez mil rei s, ao todo cincoenta mil reis , Separa o Abbade trezentos mil
reis. Aqui ha huma Torre antiga Solar doappelhdo de Barbudo , que os co-
piadores do Conde Dom Pedro erradamente dizem Barundo ; comprenendia
em fi muitas fazendas, particularmente a nobre quinta de Geja. O primeiro de
feus habitadores, de que achamos noticia, he Dom Gonçalo Pires de Belmir,
do qual logo tornaremos a fallar em Toriz; não fe fabe o nome de fua mulher ,
que devia ler fenhora defta Cafa; teve delia Sueyro Gonçalves de Barbudo,Joaõ
Gonçalves de Barbudo, Fernão, ou Ruí Gonçalves , Pedro Gonçalves de Bar-
budo, (ionçalo Gonçalves de Barbudo, Dona Sancha Gonçalves, mulher de Gõ-
çalo Rodrigues da Maya o Velho do Couto de Palmezõs, Sc Dona Maria Gon-
çalves, mulher de Rodrigo Henriques de Louredo ; Sc diz mais o Conde Dom
Pedro, que todos aífim fe appellidàrão, por ferem daquinaturaes, Sc terem mui-
tos bens; de todos ha ílluitre defcendencia, 8c ainda a Cafafe conferva nellesj
por-
'346 TOMO PRIMEIRO
porque fuppoílo a varonia delia fe acabou em Bernardim de Barbudo , foy fua
filha herdeira Dona Leonor Pereira de Barbudo , huma das tres mulheres de
Tayo Rodrigues de Araujo oCavalleiro, íenhor das Cafas de Araujo , & Lo-
beos, dos quaes entre outrosnafceo Gonçalo Rodrigues de Araujo , que her-
dou cfte Solar, & foy pay de Payo Rodrigues de Araujo, que viveo na quinta de
Arca, & também lhe chamàrãoo Cavalleiro. De Sueyro Gonçalves de Bar-
budo, & de fua mulher Dona Tareja Pires de Novaes defcendèráo os melhores
Soares doReyno,& de hum feu. filho foy o Solar de Outeiro de Poldros , de
que falíamos em Prado- Também fe tem por certo fer filho defta Caía Dom
Frey Martim Annes de Barbudo, que no anno de i$8y- foy eleito Medre Ge-
ral da Ordem da Cavallaria de Alcantara, que chamamos de Aviz 5 o epitáfio,
que tem na fepultura,publica feu valor, o qual diz : jaz aquelU )qi*e de
nenhuma couja houve pavor em feu coraçao. Tem os Barbudos por Armas em
campo de ouro cinco eftrellas vermelhas , & huma bordadura azul,tim-
bre dous braços de Leão de ouro em alpa muito gadelhudos de cabellos
vermelhos, & entre elles huma eftrella das Armas,& outra nas unhas em tudo
femelhantes às dos Barbudos. No alto do monte Brito, aonde chamaõ o Caftel-
lo dos Mouros (outros de Barbudo) fc vem veft igios, de que o houve, & com a
pedra dclle fc reedificou a Ponte de Prado- Na Aldeã de Real ha outra Torre
antiga, não fabemos de que família foíÇc Solar ; muitos^ querem que dos Bar-
ros, ou pertença fua: mas fuppoilo algús aífim íe appellide,o Solar he em Rega-
lados, como dizem muitos Geneologicos- Com alguns bens paífou eíla Torre
aos Mefquitas de Outiz: teve-a fer náo de Mefquita ; depois a comprou Eíte-
váo Falcáo Cota, Thefoureiro mór da Sè de Braga, que tudo poz em Morgado,
& de prefente o logra Manoel Falcáo, fidalgo daquella Cidade. Ha neíta Fre-
guefia humas antigas ruínas de huma Caía, a que chamaõ o Paço dos Sylvas j
devia íer de Dom Payo Guterres da Sylva, Rico homem , v& Vifo-Rey de Portu-
gal por ElRey Dom Aífonfo o Sexto, que feguio a Corte do Conde Dom Hen-
rique, o qual de fua fegunda mulher Dona Urraca Rabalves teve a Dona Gon-
tinha Paes, mulher de Pedro Soares de Belmir , & de ambos era bifneto Dom
Gonçalo Pires de Belmir, de quem já falíamos , & por fua deicendente a pof-
fuío a mulher de Pafcoal Borges Leite, Capitão mór de Regalados, com pleito
com a Cafa de Gege, a quem pela mefma via pertence. Ha mais a quinta do Sol,
coufa muy viftofa, que em Morgado poffuem filha,& genro de Pedro Barreto dc
Menezes, que fendo porvaronia Abreu de Regalados, tem por cafamentos in-
cluído em fi os Barretos, & Menezes da Cafa dos Magalhaens da Ponte da Bar-
ca, & dos Limas de Giella, Vifcondes de Villa-nova de Cerveira.
S- Payo de Villa Verde, Abbadiado Conde de Fisueyró pela Cafa de Ma-
fra, por deicendente de Mem Rodrigues de Vafconcefios fenhor deftc Conce-
lho, rende ccto & cincoenta mil reis,té feffenta & oito vifinhos-Nefta Freguefia
ha hum lugar chamado Alvim,no qual eftá huma Cafa antiga,que dizem íer So-
lar dcíla tam ditofa familia, da qual todos osReysChriítaõsdefcendem por
Doria Leonor de Alvim aqui nafeida, que foy mulher do Condeftable Dom Nu-
no Alvarez Pereyra, a qual era filha de João Pires de Alvim , & defuamulher
Dona Branca Pires Coelho fenhores da Cafa , &João Pires Coelho foy filho
mais velho de Martim Pires de Alvim, que o foy de Pedro Soares de Alvim , o
primeiro que aífim fe appellidou,a meu ver por fer fenhor do Solar , o qual era
irmaõ fegundo de Dom Mem Soares de Mello, & ambos filhos de Dom Sueyro
Reymondo, fenhor da Cafa de Riba de Vizella,como dizem o Conde D.Pedro,
DA CORoGRAflA PÔRTUGUEZA 34?
8c feus copiadores com todos os Nobiliários- He fenhor deíla Caía, peío fâli-
gue que delia herda, Antonio dá Sylva Coelho, Capitão mór deíle ConceIho>
8t do de Larim, filh o de Francifco da Sylva Coelho , & de fua fegunda mulhet ,
Dona Felippa de Alvim de Soufa, filha de Antonio de Alvim deSoufa , & de
Dona Anna de Araujo,todos fenhores defla Cafa , -8c dos antecedentes ha fe-
pulturas magnificas neíla Igreja com muitos lavores, & grandes letreiros, húa
junto do arco em letra Gótica diz: ^7«í jazem as muito honradas 2) ena If abei
de Barros, mulher d: Fernão ^dyres de Soufa, & fua filha Leonor de Alvim; faõ de
Antonio da Sylva Coelho- Eíle Fernão Ayres eíiá na Capella mòr do Moílci-
ro de Rendufe, aonde o mandou fepultarfeu neto Henrique de Soufa'Commeli-
datario delle- Tem por Armas os Alvins o tfeudo efquartellado,o primeiro, &
quarto em campo de azul cinco flores de Liz de ouro em alpa, o fegundo, 8t ter-
ceiro enxequetado de ouro, & vermelho em peças meudas,5c por timbre o li-
rio das Armas.
Santa Eulalia da Louteyra , Abbadia da Mitra, rende cento 8c cincoenta
mil reis, tem cincoenta 8t cinco vifinhos*

CAP. XL

T>o Concelho de Larim*

O Concelho de Larim parte com o de Villacha , & em ámbòs fervem os


Ofíiciaes de Juíliça, 8c Guerra. Tem Juiz ordinário, dous Vercadores,
& Procurador do Concelho, eleição triennal do povo , a que prefide o Ouvi-
dor de Barcellos, por fer terra dos Duques de B ragança. Recolhe pão, vinho de
enforcado, azeite, caílanha, gados de toda a caí la, caças ordinárias , & pefca9
no Homem, & Cavado. Tem duas Freguefias, que faõ as feguintes.
S- Miguel de Soutello, Abbadia do Ordinário , rende duzentos 8c fetenta
mil reis, tem cento & vinte vifinhos.
Santa Maria deToriz, Abbadia que aprefentão Luiz de Meireles de Lima,
Luiz Gavião, & Luiz de Barros Gavião pela familia de Barros , rende-cento 8c
feífenta mil reis, tem oitenta8c feis vifinhos- Aquivivco, & entendemos foy.
fenhor deíle Cõcelho Pedro Soaresde Belmir, (a quem pela vivenda chamàrãO
Pedro Toriz) cafado com D- continha Paes daSylva filha de D- Payo Guter-
res,comOjàdiflemos em Villachã, dequeteveaMartim Pires de Belmir , ■&
Gonçalo Pites de Belmir, de que vem os de Barbudo , 8c a Dona Sancha Pires
mulher de Dom Sueyro Dias Oveques, dos quaes procederão illuílres defeen-
dentes<

CA P*
34* TOMO PRIMEIRO

. CAP. XII.

Da Villa do Conde.

MEyo quarto de Iegoa da foz do rio Ave da parte do Norte , em lugar


píano,& fadiocomhum fcrmofo campo na ribeira tem feu aíTento efta
Villa, que alguns dizem fer fundação delRey Dom Sancho o Primeiro no anno
de i 2 oo- Mas pelo que alcançamos de outros, & moftraó algumas circunftan-
cias,he povo mais antigo, no qual havia hum Caftello chamado Caftro , que
pelo nome parece obra dos Romanos, & eftava aonde agora eftà o Mofteiro das
Freiras. Daquifehiriaaugmentandoa Villa, dequefoy fenhor o Conde Dom
Mendo Paes Rofinho, tronco dos Azevedos;que por elle fe chamou Villa do
Conde. ElRey Dom Diniz a deu a Dona Maria Paes Ribeira , & aos
filhos que delia teve, hum dos quaes era Dona Coítança Sanches, que doou a-
metade delia a fua fobrinha a Infanta Dona Sancha, filha delRey Dom Affonfo o
Terceiro. Enãodizbem quemquer que efta Villa foífe de Dom Martim San-
ches, filho do dito Rey Dom Sancho , & de Dona Maria Annes de Fornellos;
porque a efte fatisfez com dinheiro,& quinhão em outras terras, & ultimamen-
te viveo, & morreo em Caftella. Entràraõ nella os Menezes por cafamento da
Infanta Dona Tharefa Sanches, filha do dito Rey DomDiniz*, & de Dona Ma-
ria Paes Ribeira, com Dom Affonfo Tello o Velho, povoador de Albuquerque,
& por eft a via a fenhoreàrão. Depois o Infante Dom Affonfo Sanches, filho ba-
ftardo delRey Dom Diniz,& de Dona Aldonça Rodrigues deTelha,ou de Sou-
fa, & fua mulhe. Dona Tareja Martins de Menezes , filha herdeira do fenhor
deft a Villa o primeiro Conde de Barcellos Dom Joaõ Affonfo T ello de Mene-
zes & Albuquerque, & de fua mulher a Ihfanta Dona Tharefa Sanches, fundi-
rão o Mofteiro de Santa Clara, em que eftaõfepultados. Forão asFreyras mui-
tos annos fenhoras defta Villa, & do Concelho de Rebordaõs, &' dos Coutos de
Poufadella, Parada, Villa da Povoa de Varzim , & Alcoentre em Riba-Tejo,
& a Abbadeffa com féu Ouvidor fentenciava as appellaçoens das fentenças do
juiz,& delia para ElRey,&. abfolutamente tinha todos os direitos Reaes , &
Alfandega. Houve duvidas com alguns Miniftros delRey : compuzeraõfe cõ
o fenhorDom Duarte, em que lhes ficaffe o quarto do peixe do mar, os direi-
tos das embarcaçoens de Caftella; fe bem que logo lhos tomou por juro de du-
zentos & cincoenta mil reis, & a elle os do Reyno- Mas como foy por pleito ,
alcançàraõ-nas em novemil & cento & vinte & cinco cruzados , pelos quaes
ElRey Dom João o T erceiro no anno de 1537. lhes fez execução no fenhorio,
& jurifdição da Villa, em que lançou feu irmão o Infante Dom Duarte,de que fe
pagou à Coroa; & por cafamento da fenhora Dona Cathertna,filha defte Infante,
com Dom João Duque de Bragança, entrounaquella Cafa, em que permanece,
& aífim perderão as jurifdiçoens da Villa da Povoa , & do Couto da Avele-
da.
Tem por Armas efta Villa humaNao à vela , governafe por Camara de
tres Vereadores, & Procurador do Concelho, eleição triennalcíopovo, aque
pre-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA; ug
prefide o Ouvidor de Barcellos. Vaô as pautas aos Miniílros da Cafa de Bra
gança, donde vem efcolhidos os que haõ de fervir cada anno. Tem Juiz de fo-
ra letrado, provido pelo mefmo Tribunal, Efcrivão da Camara , quatro Tabe-*
haens, Diftribuidor,Enqueredor, & Contador, Juiz dos Orfaõs com fcu Ef-
crivão, Juiz da dizima do peixe, & Efcrivão, todos data dos Duq ues; Efcrivão
das Sizas, Juiz, & Efcrivão da Alfandega, Feitor, Procurador dos Feitos, Ef-
crivão dos Cincos, Almoxarife, & tres Guardas,faõ data delRey. Tem mais
Juiz dos direitos Reaes, que aprefentão as Freyras, com feu Efcrivão ; a AI-
caydaria mor he data dos Duques, o Alcayde pequeno he Carcereiro', & ha
dous Almotaceis, que faz a Camara. Na boca da barra tem hum forte de cinco
baluartes, que principiou Dom Duarte Duque de Guimaraens, & lho delineou
Felippe Teríio, Engenheiro Italiano. Çontinuou-o o Duque DomTheodoíio
pelos annos de 1624. tendo nelle por affiilente àobra o Sargento mor Antonio
de Villalobos. Enode 16$6. fendo primeiro Capitaõ Manoel Francifco feu
filho, o Conego Belchior Mayo alcançou huma pedra, que alli achàraõ, & leva-
da ao Porto a trocou hum Lapidario a hum Eftrangeiro por vinte & cinco mil
reis,&efte em Pariz de França por fetenta mil cruzados : era fafira marinho.
Mais pedras fcdefcubrírãode menos conta, deque ha algumasna terra- Aca-
boule o forte neílas guerras, em que foy Governador Manoel Gavo Carneiro,
fidalgo da Cafa de Sua Mageílade, natural defta Villa com trinta mil reis de fol-
do, & coní precalços oitenta mil reis- Tem quatro peças de artilharia com cin-
co Soldados deprefídio ordinário. He muy provida de peixe , & feu porto fó
he capaz de caravellas, ou navios pequenos; recolhe baftante trigo , & milho
alhos, & cebolas, boas hortaliças, particularmente repolhos, que ( vindo a fe
mente do Norte )aquifedaõ melhor que em outras partes, & fermofos cravos
detodaacaíla. Tem voto em Cortes com aífento no banco oitavo , & huma
feira cada anno-
Ennobrecemuito efta Villa o Real Moíleiro de Santa Clara deReligiofas
Francifcanas, de que acima fizemos mençaõ, no qual fempre floreceo o rigor
dá regular obfervancia,& penitencia, com tal pureza de vida, & fant idade,que
merecerão ferlhes revelada a falvação de feus fundadores, & que tiveraõ quin-
ze annos de Purgatório. Nelle reíidem cento & vinte Freyras , as mais delias
fidalgas; tcmfumptuofa Igreja com muitas reliquias , St Imagens milagrofas ,
bons ornamentos, & muita prata para o ferviço delia. Aífiílem-lhe tres Reli-
giofos, dous Confeífores, St hum Capellaõ : tem o Mofleiro de renda mais de
doze mil cruzados, em dizimos de Igrejas, St em direitos Reaes, St fabidos } a
primícia, quechamãoNave, & os dizimos do peixe importaólhe trezentos Sc
vinte mil reis. No pequeno termo da Villa tem o quinto do pão, St em partes
o quarto: faõ fenhoras dos maninhos,& gados do vento. Do fal, q ue alli entra,
lhes pagão de vinte alqueires hum, o qual em Fevereiro, Março, & Abril, tem
relego; St a barca da paíTagem lhe rende mais de trinta mil reis. Tem mais ou-
tro Convento de F rades Francifcanos da Obfervancia, cuja Igreja tem por ora-
goNoíTa Senhora da Encarnação, em queaífiílem dezoito Frades, cujo princi-
pio foy de afíiílirem às Freiras.
Tem eíla Villa novecentos vifinhos, alguns fidalgos, & muitos nobres, de
que fe fazem duas Companhias, com huma Igreja Parochial da invocação de S.
Joaõ Bautiíla, que fundou EIRey Dom Manoel : he Vigairaria queaprefenta a
Abbadeífa quãdonam renuncia; o Arcebifpo Dom Diogo de Soufa a fez Colie
giada no annode 1518. fendo Vigário,& Rey tor Pedro de Faria. Tem quatro
Gg Be-
3fa TOMO PRIMEIRO
Beneficiados, que rezão cm Coro as Horas Canónicas, & repartem igualmente
com o Vigário certas coufas partiveis, em que entraõ os dízimos dos frutos j
rende cada Beneficio fetenta mil reis, outro tanto ao Thefoureiro, & ao Vigá-
rio duzentos mil reis, todos renunciáveis , & vagando, aprefenta-os a Abba-
deffa. Tem mais feis Ermidas, Cafa de Mifericordia^ Hofpitai , & na boca da
barra humafermofa Capella de NoflaSenhora;da Guia , que foy Oratorio dos
Príncipes fundadores do Convento de Santa Clara , a quem também oderão.
Alli toma primeiro poífe o Vigario de Nabaes, & lhe aprefenta Capeilaõ , que
tem fabidos tres mil reis, com obrigação de M:ífa às' fellas feiras, ao todo treze
mil reis, por fer cabeça da Confraria dos Mareantes , que a fabricão por devo-
ção, & do arco para cima a AbbadeíTa; paga de feudo ao Vigário de Nabaes feis
toítoens. Alli fe vè em roda a plataforma antiga, em que havia quatro peças de
artilharia, antes que fe fizeífe o forte. He A leayde mór deita Vilia Francifco
de Baena Sanches, Commendadorna Ordem de Chriíto.

TRATADO VI

Da Cornar ca, do T or to,

C A P. I.

Da defer ip^aô Topográfica da Cidade do Porto.

A latitud de41.gr.«f.min.&na longitudde 10. gr. oito Ie-


goasao SudueitedàVilla deGuimaraensnadecidade hum mo-
te (ramo dos Pirineos) junto das margens do caudaloíò Dou-
ro eítà fituada a Cidade do Porto, muy frequentada das Nações
eítrangeiras pela bondade de feu porto , & fácil defearga dos
navios,pela benignidade de feu clima,&fertilidade de fuas ter-
ras, abundantes de Angulares frutas, hortaliças, gado, caça, aves , com algum
trigo, & quantidade de pefcadosfrefcos-Foy fundada pelos Galíos Celtas 296.
armos antes da vinda de Chriíto no fitio fronteiro,que chamão Gaya. Depois
pelos annos do Senhor de 41 f. havendo grandes guerras entre AtaceS,Rey doâ
Alanos, & HermenericO, fundàrão os Suevos nova povoação da outra parte do
rio Douro, a que chamarão Feítabole, que na fua lingua quer dizer Porto , ou
Praya nova, como diz Rodrigo Mendes Sylva na Poblacion General de Efpa-
na.
A eítanovapovoaçaó deítruíraô os Mouros pelos annos do Senhor dc
7i6.&node9oy.areítaurouElRey Dom AíFonfo o Terceiro de Leaõ. Depois
foy arrazada por Almançor Capitaõ de Cordova, permanecendo defpovoada atè
o anno de 98a.no qualreynandoem Leaõ, & Alturias EIRey Dom Ramiro o
Terceiro, diz o Cõde Dom Pedro, q chegou à Foz do Douro D- Moninho Vie-
gas com huma Armada de Gafeoens, os quaes entrando no Porto,&; achando-o
deítruí-
f)A COROGRAFIA PORTUGUEZA. 3yi
deftr uído, começàraõ a reedificar a Cidade com novos muros , de que fe mof-
traó hoje ruínas, fortalecendoa de maneira que pudeífem expulfar os Mouros
de toda a Comarca.
Nefta obra da reftauraçaõ do Porto puzeraõ todas as íuas forças Sifnan-
do, irmaõ de Dom Moninho, que depois foy Bifpo defta Cidade, & Dom None-
go Bifpo de Vandoma em França,que tinhaõ também vindo na Armada dos Gaf-
coens, para os ajudarem na expulfaõ dos Mouros , & de novo reííauràram a
Igreja Cathedral, edificando outras obras, com que a Cidade fe melhorou , &
ficou livre da fogeição dos Barbaras.
No tempo, em que Dom Moninho reedificou efta Cidade , tinha dous fi-
lhos, Dom Egas, & Dom Garcia efte morreo em huma batalha que deu aos
Mouros em terra de Sanca Maria: aquelle cafou com Dona Toda Ermigcs , &
delia houve a Dom Hermigio Egas , de quem foy filho Dom lítoninho Hermi-
ges, que cafando com Dona Ouriana, teve por filho a Mem Moniz , que matâ-
raõ na tomada de Lisboa, & a Egas Moniz, Ayo delRe^D. AíFonfo Henriques,
de quem defcendem os Coelhos.
Todos eftes Cavalleiros governarão efta Cidade, & foraõ fcus naturaes,naõ
lhe dando com iífo menos gloria da que para fy ganhàraÕ, fazendo delia glorio-
fas conquiftas, & chamando a toda a terra que ganhavaõ , Terra d ■ Saniã Ma ~
ria, comofizeraõ à da Feira, & Guimaraens, aonde naquelle tempo era a fron-
teira dos Mouros: & por fuás obras valerofas foraõ muy eítimados dos Reys
de Leaó Dom AíFonfo o Quinto, & Dom Fernando o Primeiro, & honrados cõ
muitos privilégios, de que tiveraõ principio os de que °;oza hoje efta Cidade,
por doaçaõdelRey Dom Joaõ o Primeiro, em premio aos notáveis ferviços q
léus Ctdadaôs lhe fizeraõ, quando os Caftelhanos lhe pertédiaõ impedir a Co-
roa defte Reyno.
He efta Cidade cercada de foberbos muros cõ imminentes torres, ( fa-
brica de Dom Gonçalo Pereira Arcebifpo de Braga) com cinco portas,que faõ a
Porta nova, a da Ribeira, a do cimo da Villa, a dos Carras, & a do Olival: fuas
ruas faõ muy alegres, todas lageadas, as principaes a Rua Nova , obra delRey
Dom Joaõ o Primeiro,& a Rua das Flores, que mandou fazer ElRey Dom Ma-
noel. Tem dentro dos muros tresParochias, a Sê com 1507. vifinhos, peffoas
mayores 6057. menores 2 pi. S. Nicolaocom Boo. vifinhos, peífoas may ores
3 iof. menores 24.9. & Noíía Senhora da Vi&oria com 704. vifinhos , peífoas
mayores 2643. menores 100. & todas tresfaõ Abbadias. Fóra dosmuros em
os arrabaldes tem duas Freguefias,S. Pedro de Miragaya,Abbadia com 384.
vifinhos,peíToasmayores 1181. menores 120. he Igreja antiga , edificada por
S. Bafileo primeiro Bifpo do Porto, Sc dedicada a S.Pedro, que inda entam vi-
via -.nellaefteveogloriofocorpo do Martyr S-Pantaleaõ atê ó tempo do Bifpo
Dom Diogo de Soufa, que na tresladaçam que delle fez para a Sè , lhe deixou
hum braço do mefmo Santo, o qual he hoje Padroeiro deita Cidade, de que anti-
gamente foy Patrono o gloriofo Martyr S. Vicente. A fegunda Freguefia he S.
Ildefonfo,Curado,tem 589.vifinhos, peíToas mayores 1923. menores 211.
com quetoda a Cidade, & feus arrabaldes tem 3990. vifinhos, 14905?. peífoas
1
mayores, & póf • menores.
Tem efta Cidade dentro dos muros os feguintes Conventos.' O de S. Do
mingos,fituadono principio da Rua das Flores, que fundou ElRey Dom San-
cho o Segundo pelos annos de i2 83-fendo Bifpo do Porto Dom Pedro Salva-
dor. Junto aefte Convento eftá huma igreja dos Terceiros de S- Domingos.
I Ggij O
TOMO PRIMEIRO
O Convento deS.Francifco, fituado no principio da Rua Nova, que fe edi-
ficou fóra dos mures no anno de 12 3 5 • & no de 1404,. o fundou no fitio em q
' hoje eftá ElRey Dom Joaõ o Primeiro , por caufa das guerras que havia entre
Portugal, &Caftella. Junto a eft e Convento edificàraõos Terceiros deS. Fran-
cifcohuma fumptuofa Igreja com feuHofpital.
O Convento de NoíTa Senhora da Confolaçam dos Conegos Seculares de
S. Joaõ Evan gelift a , fituado junto aopoftigoda Fonte Darca, que fe fundouno
anno do Senhor de 1415* com ajuda do Bifpo do Porto Dom Vafco fegundo do
nome, eftiveraõ alguns annos na Igreja de Santa Maria de Campanhaõ. De-
pois o Bifpo Dom Joaõ de A zevedo lhe deu o fitio, & Ermida de i\ oífa Senhora
da Confolaçaõ, para nelle fundarem o Convento , ao qual fe lançou a primeira
pedra pelos annos de 1490.
O CollegIRdeS. Lourenço dos Padres da Companhia de Jefus , que fc
fundou junto da Ribeira pelos annos de 1 j6o. comaiuda,& favor do Cardeal
D om Henrique, do Bifpo do Porto Dom Rodrigo Pinheiro , & de outras pef-
foas nobres; depois no de 1 $7 7- femudàraõ para a rua das Aldas , & foy feu
fundador Frey Luis Alvarez de Tavora, Balio de Leífa, que para efta obra offe-
receo trinta mil cruzados, ficando para fuafepultura a Capella rnór,que he húa
das mats perfeitas defte Reyno.
OConvento deS.Bento,que fundàraôos feusReligiofos junto à porta
do Olival em a rua de S Miguel no anno de 1597. & lhe applicâraõ rendas do
Mofteiro de S- Joaõ de Pendorada-
O Convento dos Eremitas de Santo Agoftinho, cuja Igreja he dedicada a
S• Joaõ Bautifta, aonde eftá hum dente deite Santo metido em huma cabeça cõ
grande decoro.
O Convento de Santa Clara de Religiofas F rancifcanas , que fundou El-
Rey Dom Joaõ o Primeiro junto ao muro no lugar que entaõ chamavaõ Car-
valhos do monte, pelos annos de Chriíto de 1416. fendo Bifpo do Porto Dom
Fernando da Guerra, que lhe lançou a primeira pedra fundamental da Igreja , o
Rey a primeira do Convento no canto direito delle , & no canto efquerdo a lan-
çou feu filho o Infante Dom Affonfo: tem mais de cem Religiofas , & he da ad-
miniítraçaõ dos Padres da Obfervancia.
O Convento da Ave MariadeFreyrasde S. Bento,da adminiítraçam dos
Bifpos do Porto, que fundou ElRey Dom Manoel pelos annos de 1 y 18» & no
de iyi 8. o acabou feu filho ElRey Dom Joaõ o Terceiro : tem mais de cento |&
trinta Religiofas, com algumas relíquias de S. Joaõ Bautifta, & eftá no fim da
rua das Flores, em hum largo terreiro, aonde ha feira todas as fomanas.
Tem mais efta Cidade fóra dos muros os feguintes Conventos. O de N.
Senhora do Carmo de Carmelitas Defcalços, fituado no Campo do Olival , a
quem lançou a primeira pedra com as ceremonias coftumadas o Bifpo Dom Ro-
drigo da Cunha aos 5. de Mayo de i <S 19. ajudando a efta obra a Camara defta
Cidade com grandes efmolas.
OConvento dos Padres da Congregação de S.FelippeNeri, que fe fun-
dou na Ermida de Santo Antonio junto à porta de Carros , por fer Igreja fum-
ptuofa, que edificou a Camara defta Cidade.
O Convento da Madre de Deos de Monchique em Miragaya,de Religiofas
Francifcanas da adminiftraçaõ da Obfervancia , que fundou pelos annos de
174v Pedro da Cunha Coutinho, & fua mulher Dona Brites de Vilhena , fidal-
gos muy conhecidos no Reyno; têm mais de cem Freyras- Florecè raõ fempre
nelle
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA- 353
fielle Religiofas de muyta virtude, como foy nos noíTos tempos a Madre Leoca-
dia, cuja vida efcreveoNuno Barreto Fuzeiro.
O Morteiro de S.Therefa, q fundou no lugar do Calvário o Bifpo do Porto
DomFrey Jofephde Saldanha no anno de 1704.. hcde Carmelitas Defcalças, Sc
foraõ para fundadoras a Madre Maria Therefa de Jefus, irmaã de Joaõ de Salda-
nha de Albuquerque, com mais duas Freyras do Convento de NoíTa Senhora dá
Conceição dos Cardaes,Sc outras duas do de Aveiro da mefma Ordem , todas
Religiofas de conhecida virtude.
A s Ermidas derta Cidade faõ, NoíTa Senhora da Batalha , que fica fora dá
porta de cima da Villada qual he de excellente fabrica , Sc tem Confraria com
bons ornamentos, Sc muitas peças de prata.
NoíTa Senhora da AÍTumpção, que fica defronte da porta principal da Sè, á
qual he também de obra Angular., Sc tem fua Confraria com muitas peças, Sc or-
namentos .
Santo Antonio junto ao portigo , que tem o nome derte Santo , defrõte
do Morteiro de Santa Clara: ertá bem ornada, Sc tem Confrarias , de que faõ
Protedoresos Chançareis derta Relaçaõ.
O ArcanjoS. Miguel fora dos muros juntõ aportado Olival, cuja Ermi-
da fundou a Camara, aonde fez hum Recolhimento para Donzellas pobres D*
lfabel de Anhaya, natural derta Cidade, no qual faieceo, fendo Regente.
A Ermida de NoíTa Senhora da Graça no campo do Olival, aonde fundoil
a Camara (a petição do Padre Balthefar Guedes, Clérigo de virtude)o Collegiõ
dos Meninos Orfaõs com huma fumptuofa Igreja, que ertá por acabar, de que
foy muitos annos Rey tor o dito Padre, Sc com fua ajuda fe fizerão o claurtro, Sc
mais oflicinas.
A fumptuofa Ermida doCalvariode excellente fabrica com fua Confra-
ria, fituada junto ao Collegio dos Meninos Orfaõs.
A Ermida de NoíTa Senhora da Conceição junto ao portigo deSaõ João
novo- NoíTa Senhora do Terreiro junto à Alfandega com fua Confraria.
Huma Igreja antiquiflima em Miragaya da invocação do Efpirito Sáfito.
A Ermida de Santo Ouvidio,na ertrada que vay para Braga , de que he Pa-
droeiro o Doutor Paulo Carneiro de Araujo, Confelheiro , Sc Procurador da
Fazenda; Sc outra de NoíTa Senhora da Hora, hum quarto de legoa dertá' Ci-
dade para o Norte, muy celebrada por huma fonte nativa, que fe defpenha por
fete chorros de agua.
A Cafa da Mifericordia,que no edifício da Igreja he huma das boas do Rey-
no, o frontifpicio, Sc Capella mòr tem poucas femelhantes, Sc a cercão em roda
os quatro Evangelirtas de eftatura grande, dourados, Sc pintados com grande
arte.
Os Hofpitaes, que ficão dentro da Cidade, faõ o da Mifer icordiá, que do-
tou Dom Lopo de Almeyda , a que vulgarmente chamão o Hoípital de Roque
Amador, aonde fecurão muitos enfermos, Sc lhe afliftem os Irmãos da Mifer i-
cordia com grande zelo, Sc cuidado, Sc lhe vem tomar contas dous Irmãos dás
Mifericordias da Cidade de Braga, Sc Vil!a de Guimaraçns, por aífim o mandar
o inftituidor: temreliquias do íagrado Bautifta. OHofpital de S. Crifpim jú-
to à rua das Cangoftas, aonde fe recolhem os peregrinos 5 o de Santa Ciará, em
que fe curão alguns doentes, Sc o de cima da Villa, aonde fe recolhem mulheres
entrevadas, Sc pobres j Sc fora dos muros o Hofpital de S. Ildefònfo também de
mulheres pobres, Sc o de S. Lazaro,aonde fecurão alguás doenças Gontagiofas-
Gg iij Entre
3^4 TOMO PRIMEIRO
Entre as Igrejas que temos nomeado , he a mais fumptuofa a Cathedral
prefente, que reedificou o Conde Dom Henrique , Sc fagrou Dom Bernardo
Arcebifpode Toledo: he de tres naves, com muitas , & excedentes Capellas,
efpecialmente a mayor, que edificou o Bifpo Dom Frey Gonçalo de Moraes, a
qual pôde competir com os melhores Templos deEfpanha. Tem a Sè oito Di-
gnidades, a faber, Deão, Chantre, Meífre-cfcola, Theloureiro mór , A rcedia-
go do Porto, Arcediago de Oliveira, Arcediago da Regoa, & Acipreífe , doze
Conegos,Sc cinco meyos Conegos, dez Bacharéis, & quatro meyos Bacharéis.
O Deão âprefenta a Camara Apoifolica,Sc tem duas Conezias, q com os frutos
da Igreja de Sovereira fuaannexa lhe renderam dousmii Sc tantos cruzados :
o Chantre tem duas Conezias,o Mcífre-elcola outras duas, o Thefoureiro mor
huma Conezia, o Arcediago do Porto outra, o Arcediago de Oliveira duas, o
Arcediago da Regoa outras duas, & o Acipreífetem duas Conezias, renderá
cada huma mil cruzados, & as meyas Conezias cento & oitenta mil reis ; as
Bachelarias renderá cada huma feííenta mil reis, St as quatro meyas Bachelarias
trinta mil reis, St todas, fóra o Deão, apreíenta, Sc colla o Biípo.
O Bifpado do Porto íe comprehende na Cidade do Porto, Sc feus arrabal-
des, Sc nas quatro Comarcas, a faber, a da Maya, que tem 74.- Fregueíias, a de
Penafiel, que tem tos. adeSobre-Tamega,quetem 70. Sc a da Feira com 90.
que todas fazem foma de 34,1 • Igrejas Parrochiaes, que faõ as que tem todo cf-
te Bifpado; em todas ellas ha 4965o. vifinhos, 149008. peffoas mayores, Sc
27970. peffoas menores.
O primeiro Bifpo deífa Cidade (nam no íitio em que hoje eífá,Sc a edificà-
rãoos Suevos, fenão em quanto cif eve de além do Douro no lugar de Gay a, Sc
com o nome de Cale, ou Portucale) foy o gloriofo Martyr S. Baíileo, Difcipu-
lo de Santiago, St Condilcipulo de S- Pedro de Rates. O fegundo Bifpo foy
Arisberto, a quem fuccedèrão os feguintes Prelados.
Timotheo, Confiando, Argiovitro, Argeberto, Anfíulfo , Uzibefo, Flá-
vio, Froarico,Felis,Gumeado,Froalengo,Hermogio, Dom Sefnando , Dom
Hugo,Dom Joaõ Peculiar,Dom Pedro, Dom Pedro Pitões fegundo do nome ,
Dom Pedro Senior terceiro do nome, Dom Fernando Martins, Dom Marti-
nho Pires, Dom Martinho Rodrigues fegundo do nome, Dom Julião, Dom Pe-
dro Salvador quarto do nome, Dom Julião II. Dom Vicente, Dom Sancho Pi-
res, Dom Giraldo Domingues, Dom Frey Eífe vão, Religiofo de S. Francifco
dos Menores, que foy também Bifpo de Lisboa , Dom Fernando Ramires II.
Dom João Gomes II. Dom Vafco Martins, Dom Pedro Affonfo V. Dom Af-
fonfo Pires, Dom Egidio , Dom João III. Dom João de Azambuja quarto do
nome, que foy fegundo Arcebifpode Lisboa, Sc Cardeal de S. Pedro ad Vincu-
la , Dom Gib Dom João Affonfo Aranha V. Dom Fernando da Guerra , que
depois foy ArcebifpodeBraga,DomVafcoII. Dom Antão Mart ins de Chaves,
Cardeal de S. Chryíogono, Dom Gonçaleanes de Óbidos, Dom Luiz Pires, D-
Joãode Azevedo VI. Dom Diogo de Soufa,que foy Areebifpo de Braga, Dom
Diogo da Coifa II. Dom Pedro da Coifa VI. Dom Frey Balthefar Limpo Reli.
giofo dos Carmelitas Calçados, que depois foy ArcebifpodeBraga , Dom Ro-
drigo Pinheiro, Dom Ayres da Sylva, Dom Simão Pereira de Sá, Dom Fr. Mar-
cos, Religiofo da Ordem deS- Franciífco, Dom Jeronymo de Menezes, Dom Fr.
Gonçalo de Moraes, Religiofo da Ordem de S. Bento, Dom Rodrigo da Cunha,
( quecompoz a vida de todos os Prelados deífa Cathedral, donde tiramos eíie
Catalogo) DomNicolao Monteiro,natural deífa Cidade , que. foy Prior da
Colle-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA: 355-
Collegiada de Cedofeita,, & Meftre dos Revs, Dom Affonfo o Sexto, & Dom
Pedro o Segurfdo, reedificou a Igreja de S. Nicolao, aonde foy bautizado ; Sc
morreo com grande opinião de virtude 5 Fernão Correa de Lacerda , que re-
nunciou o Bífpado, Dom João de Soufa, que hoje he Arcebifpo de Braga , & D.
Fr. Jofeph de Saldanha, Religioío Capucho da Provinda de Santo Antonio , q
foy Bifpo da Ilha da Madeira.

C A P. II

Em que feprofegue a defer ipç ao Eopografica defla Cidade.

AS fontes que ha nefta Cidade dentro de feus muros, faõ, o chafaris no


meyo da Ribeira do peixe com quatro bicas, cuja agua lhe vem da fonte
decima. O chafaris da rua Chaõcom quatro bicas- O chafaris das cicadas da
Sê com huma bica- A fonte dos Canos j unto ao Convento das Freiras de Saõ
Bento. Hum chafaris junto à porta dos Carros: outro chafaris fumptuofo jun-
to à porta do Olival com quatro bicas. A fonte da Rata na Tanoaria : hum
chafaris junto ao poftigo dos Banhos-.outro na rua Nova com duas bicas : o
chafaris de S.João novo: outrojunto à cadea da Corte, & hum de lumptuofa
fabrica, que chamão de S. Domingos, com quatro bicas.
As mais fontes que ficão fora dos muros, faõ, a celebre fonte de Arca có
tres carrancas, & filas pirâmides de cantaria lavrada ; hum chafaris junto à
Igreja dos Meninos Orfaõs; a celebre, & antiga fonte das virtudes com tres
b.cas junto a huma porta, que delia toma o nome. A fonte da Colher em Mira-
gaya : outra junto à Igreja do Efpirito Santo em Miragaya : a fonte de Mal me
a judas defronte da Ermida do Senhor Jefus dalém do no, & o chafaris de San-
to Ildefonfo com huma bica; com que he efta Cidade tam abundante de águas,
que em todos os Conventos delia ha muitas fontes nativas, &artificiaes.
Tem por Armas cfta Cidade duas Torres, & no meyo delias huma Imagem
dc NoíTa Senhora de Vandoma com o Menino Jefus nos braços , & cfta letra,
Cidade da Virgem. As antigas, de quem as tomou o Reyno , erão huma Cidade
branca em campo azul fobrehummar de ondas verdes , & douradas em me-
moria defte Porto de Cale, &duràrão ate o tempo do Conde Dom Henrique.
Tem voto em Cortes com affento no primeiro banco, & ha nella hum Tribunal
da Relação, quetresladou de Lisboa 110 anno dc 1 y8 j. ElRcy Dom Felippe o
Segundo, a petição das Cortes de Thomar, com Governador illuftre , que ha
annosfaõos Soufas, Condes de Miranda, Marquezes de Arronches,com tre-
zentos mil reis de ordenado, outros tantos de propina, & àfua ordem asdef-
pezas da Relação. Tem mais hum Chanceller Defembargador , hum Juiz da
Coroa Defembargador, oito Defembargadores dos Aggravos , hum Correge-
dor do Crime Defembargador com dousEfcrivaens , hum Corregedor do Cí-
vel Defembargador com tres Efcri vaens, dous Porteiros, hum Procurador da
Coroa, tres Ouvidores do Crime, oito Defembargadores extravagantes , ao
todo faõ quarenta, hum Contador fem falario, que terá de renda trezentos mil
reis, hum Efcrivão das defpezas da Relação, hum Thefoureiro ; eftestres no-
mea
3j6 TOMO PRIMEIRO
mea o Governador, os mais ElRey, todos com propinas como Defembargado-"
res;hum Guarda mór, hum Diftribuidor, hum Solicitador da Juítiça , dous
. Meirinhos com dous Efcrivaens, & tres Guardas , que faõ Porteiros dos Ag-
gravos, & hum da Chancellaria. Todos eíks officios tem bons ordenados, que
ie pagão dos direitos da Alfandega aos quartéis, & as folhas para os pagamen-
tos manda fazer,&affina o Governador,& as propinas fahem das cõdenaçoens
dos culpados; hum Efcrivão dos Aggravos, tres das A ppellaçoens Civei s , &
tres das A ppellaçoens Crimes, hum Efcrivão da Coroa , hum Corregedor da
Comarca, que ferve de Provedor, hum Efcrivão da Provedoria, &. tres da Cor-
reição, hum Contador, Diílribuidor, & Enqueredor ferve em tudo, hum Mei-
rinho, hum Porteiro, hum Solicitador dos Reíiduos, hum Caminheiro , hum
Juizdefóra primeiro banco, oitoTabeliaens,feis Enqueredores,que também
o faõ dos Orfaõs,& Contadores, hum dos quaes he Diftribuidor ,pelo que té
mais dez mil reis, hum Aícayde, que aprefenta o Alcaydemór, com feu Efcri-
vão, tres Porteiros: hum Juiz dos Orfaõs Letrado primeiro banco com tres Ef-
crivaens, hum Contador, & Diflribuidor, dous Repartidores, dous Avaliado-
res, & tres Porteiros. Tem quatro Vereadores, de que he Preíidente o Juiz de
fora, hum Procurador da'Cidade, hum Sindico, & hum Efcrivão da Camara de
tres em tres annos, eleito pelosCidadaõs a requerimento do ultimo proprie-
tário, que pedio a ElRey o fizeffe triennal, para o ferviremos Cidadaõs pobres
defta Cidade, rende mais de dous mil cruzados- TemTribunal deAlfandcga,
que rende mais de quarenta mil cruzados para ElRey com o Confulado, St Por-
tos fecos, com hum Juiz , tres EfcrLvaens da receita , hum Feitor, outro
da defcarga, hum Porteiro, & quatro Guardas. Na mefma Alfandega entra o
Confulado de tres por cento, tem hum Efcrivão, Sc hum Recebedor. Nos Por-
tos fecos ha hum Contador,hum Juiz das Sizas com feu Efcrivaó, & hum The-
foureiro de tudo, hum Juiz da Moeda, Sc outros officios de menos conta.

mm

CAP. III.

T)a dejcripçao de Pilla-nova do 'Porto.

DEfrõte daCidade doPorto,o rio Douro de por meyo,em lugar algú tãto al -
to eitá fundada Villa-nova,affim chamada por diftinçaõ da Villa velha
de G^ya, que lhe fica perto, & da mefma banda, & ambas eífão naProvincia da
Beira. ElRey Dom Affonfo o Terceiro de Portugal a mandou povoar pelos an-
nos de 1277. o que foycaufa demayores duvidas entre o mefmoRey, &oBif-
po do Porto Dom Vicente acerca dos direitos, que o dito Rey queria nam pa-
gaífem aos Bifpos do Porto , querendo que no lugar de Gaya defcarregaflem
todos os navios, & barcas, que vieíTem ao Porto, & alli lhe pagaffe m os direi-
tos, que devião, ficando os Bifpos privados dos que lhes pertencião , & erão
de fua Igreja, por fe lhes tirar a defembarcaçam,& defcarga dos navios em a fua
Cidade.
ElRey Dom Diniz ampliou eíla Villa,& lhe deu foral pelos annos de 1288.
tem quinhentos & oitenta vifinhos com grande trato de Mercadores, peífoas
mayo-
.

DA COROGRAFIA PORTUGUESA. 357


mayor es 1980-menores 2 50. com huma Igreja Parochial da invocação de Sã-
ta Marinha , Vigairaria do Cabido da Sé do Porto, a qual fundou EIRey Dom
Affofifo o Terceiro de Portugal, Cafa da Mifericordia, Hofpital , & eílas Er- •
midas, NoíTa Senhora das Neves, S. Roque, Santo Antonio, S. Nicolao, S» Pe-
dro, Santo Antão, a Vera Cruz,S.Jeronymo,oBomJefusdeGaya,S. Marcos,
NoíTa Senhora do Pranto, S. Lourenço, & NoíTa Senhora do Caíiello: tem mais
o Morteiro de Corpus Chrifti deReligiofas de S. Domingos, que fundou Do-
na Maria Mendes Petite, filha de Dom Sueiro Mendes Petite , & mulher de
hum Cavalleiro da família dos Coelhos, todos muy illuftres , reynando Dom
Affonfo o Quarto, no anno de 1545. O Convento de Santo Antonio de Fra-
des Capuchos da Província da Piedade, & o Convento de Santo Agoftinho de
Conegos Regrantes - que ertá fundado na ferra de Quebrantoens , fitio apra-
zível, & de bellasvirtas da Cidade do Porto, que lhe fica defronte , & do rio
Douro,que corre aopè da dita ferra. Teve principio erte Cõvcnto pelos annòs
de 1538- fendo Sumo Pontífice Paulo Terceiro, Rey de Portugal Domjoaõ o
Terceiro, &Bifpo do Porto Dom Frey Balthefar Limpo. .O corpo da Igreja he
circular na forma de Santa Mapa Redonda de Roma, toda cercada de Capellasj
tem huma fermofa clauftra da mefmaarchite<ttura,& forma circular , toda de
abobeda, & no meyo delia huma grande fonte de agua, dourada em partes,muy
alegre àvirta. O primeiro Prior deftc Convento foy o Padre Dom Bento, que
depofitou nelle algumas relíquias notáveis, que trouxe de Roma, a faber, hum
efpinho da Coroa de Chriilo , que fe conferva em huma Cuftodia pequena de
prata dourada dentro de hum crirtal,aonde fc vè partido em duas ametades,
cinco cabellos da Virgem NoíTa Senhora, fete de Santa Maria Magdalena, dous
oíTos pequenos dos Apoftolos S. Pedro^ & S. Paulo , huma relíquia do Tanto
Lenho, que eftá em huma Cruz de prata dourada, & outras relíquias , que fe
confervaõ, & euardaõ em hum meyo corpo de prata, em que eiU também parte
de huma das cabeças dos cinco Santos Martyres de Marrocos.

CAP. IV.
9

• Do Concelho de advintes»

Elea erte Concelho duas lecoas da Cidade do Porto na Comarca da Feira,


tem huma Igreja Parochial da invocaçaõ de S. Pedro, Abbadia, & fe divi-
_ or vários lugares, que habitão duzentos & vinte vifinhos he fenhor,& Co-
de cielle Dom Antonio de Almeyda com a jurifdiçaõ de fazer as Jurtiças, & tem
o meímo fenhorio no rio Douro naquella parte,que entefta nos feus lugares, de
que lhe pagaõ os Pefcadores o quinto. A fua varonia he a feguinte-
A illuftre família dos Almeydas tem por Armas em campo vermelho tres
Bezantes de ourp, entre huma dobre Cruz, & bordadura do mefmo ouro ; tim -
bre huma Águia de vermelho abezentada de ouro. Procedem de Pellato Ama-
to, ou Amado, que foy hum dos pnncipaes fidalgos da Corte do Conde Dom
Henrique, & muito feu amado, donde tomou o appellido de Amato : era da fa-
mília dos Coelhos, como diz Frey Bernardo de Brito na Chronica de Gutter
livv y.
35g TOMO PRIMEIRO
hv-f-cap-é- foi. 302.& deixou por hum meyoeflranho as efperanças do mun-
do, entregandofc todo às da gloria, como mais firmes, & feguras : foy caiado
com Dona Moninha Guterres Dama da Rainha DonaTherefa, mulher do Con-
de Dom Henrique, & mãy delRey Dom Affonfo Henriques, & houveraó a Suei-
ro Pscs.
Sueiro Paes filho defle Pellato' Amado teve filho a Payo Guterres o Almey-
dàõ, que fby o primeiro que teve efte appellido.
Payo Guterres o Almeydàõ filho defle Sueiro Paes tomou eftc appellido
por livrar dos Mouros o Caftello de Almevda em Riba de Coa, & fe achou com
ElRey Dom Sancho o Primeiro, fendo ainda Principe , na batalha dos Campos
de Arganhaõ : foy efle Payo Guterres muito valido delRey Dom Affonfo o
Gordo, & teve filho a Pedro Paes de Almeyda.
Pedro Paes de Almeyda filho delie Payo Guterres o Almeydàõ foy-fe pa-
ra Caftella com ElRey Dom Sancho o Capello, & depois delle morrer em Tole-
do, tornou para Portugal, aonde teve filho Fernão Peres de Almeyda.
Fernaõ Peres de Almeyda, filho defle Pedro Paes de Almeyda , viveo em
tempo delRey Dom Diniz, foy Alcayde mor da Villa de Avô, &fe achou com
ElRey Dom Affonfo o Bravo na batalha do Salado: teve filho a
Pedro Fernandes de Almeyda, que fervio a ElRey Dom Pedro o Primei-
ro, fendo Principe, & à Rainha Dona Ines de Caftro por fua ordem : teve fi-
lho a
Fernaõ Alvarez de Almeyda, que fervio a ElRey Dom Joaõ o Primeiro , &
fendo Meftre de A viz, foy V eador de fua Cafa, & depois fendo Rey , ofezCa-
valleiro da Ordem de Aviz, & Avo de feus filhos : houve baflardos a Diogo
Fernandes de Almeyda, & a Alvaro Fernandes de Almeyda , que foy Alcayde
mór de I orres Novas,& a Nuno Fernandes de Almeyda,que morreo fem gera-
ção,^ a Ines Fernandes de Almeyda.
Diogo Fernandes de Almeyda, filho primeiro defle Fernaõ Alvares de Ah
meyda, foy Veador da Fazenda dos Reys Dom Joaõ o Primeiro, & DomDuar-
te, & Alcayde mór de Abraces: cafou a primeira vez com Dona Brites Sanches,
irmaa da mãy do Arcebifpo de Braga Dom Fernando da Guerra , de que te-

Dom Lopo de Almevda, que foy fenhor do Sardoal, Alcayde mór de Abrã-
tes, Punhete, & Maçaõ, Veador da Fazenda delRey Dom Affonfo o Quinto,
que o fez Conde de Abrantes: cafou com Dona Beatriz da Sylva , Camareira
mór da Rainha Dona Joanna, filha de Pedro Gonçalves Malafaya , V eador da
F azenda delRey Dom Joaõ o Primeiro, & feu Embaixador a Caftella, & de fua
mulher Ifabel Gomes da Sylva, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Diogo Fernandes de Almeyda, (irmaõ do famofo V ifo-Rey^ da índia
Dom Francifco de Almeyda) que foy Prior do Crato , Monteiro mór delRey
Dom Joaõ o Segundo , & Alcayde mór de Torres Novas : houve em Ines
Vafqucs, natural da Certaã, entre outros filhos, a
Dom Lopo de Almeyda, que foy Capitão de Sofala , & cafóu com Dona
Antónia Henriques, filha de Dom João Pereira, Commendador do Pinheiro, &
de fua mulher Dona Felippa Henriques, de que teve, entre outros filhos, a
' Dom Antonio de Almeyda, que foy Capitão mor do mar da índia, & Vea-
dor da Rainha Dona Catherina; cafoufegunda vez com Dona Beatriz da Syl-
va, filha de Francifco Correa, fenhor de Bellas, & de fua mulher Dona Anna de
Mendoça, de que teve, entre outros filhos,a
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA.' 379
Dom Luiz de Almeida,que foy fenhor da Cafade fcus pays,& teve huma
Commenda na Ordem de Chrifto, cafou com Dona Maria de Portugal, filha de
Dom Henrique de Portugal, & de fua mulher Dona Maria de Ataíde, de que te- "
ve, entre outros filhos, a
Dom Antonio de Almeyda, que foy Commcndador de S. Martinho da Soa-
lheira, & da Bempofta na Ordem de Chrifto : cafou com Dona Magdalena de
Ataíde, filha de Dom Manoel Mafcarenhas, Capit ao de Mazagão, & de fua mu-
lher Dona Francifca de Ataíde, de quem teve,entre outros filhos, a
Dom Luiz de Almeyda, que fervio com boa opinião, foy Meftre de Cam-
po de hum dos Terços de guarnição da Armada Real , que no anno de 1047.
paífou ao Brafil, fendo General Antonio Telles, Cõde de Villa Pouca, Governa-
dor do Rio de Janeiro, & do Algarve,& primeiro Conde de Avintes por mercê
delRey Dom Affonfo o Sexto: cafou com Dona Ifabel de Caftro, filha de Dom
João de Almeyda o Sabio, & de fua mulher Dona jeronyma de Caftro, de que
teve a Dom Antonio de Almeyda, que he fegundo Conde de Avintes; a Frey
João de Almeyda, Religiofo de S- Bernardo , & nella foy muitas vezes Abba-
de; a Dom Miguel de Almeyda, q&e governando feu pay a praça de Tanger, foy
Capitão de Infantaria nella, & depois com o mefrno pofto paífou ao Rey no do
Algarve, Scpaífando no anno de 1669. a fervir na índia, foy Capitão de Mar,
& Guerra, General da Armada do Norte, Governadbi) de Damão, & de Moçam-
bique, & ultimamête morreo cftãdo governãdo o Eftado da índia, aonde cafou
cõ D. Paula Corte-real,filha de Manoel Corte-real de Sampayo , & de D. Fran-
cifca da Cunha, de que teve a Dom Antonio de Almeyda, que morreo fem gera-
ção, & a Dona Maria Rofa de Portugal, que hoje he caiada com Dom Lourenço
de Almeyda feu primo coirmão, como ao diante diremos : teve mais o dito
Conde Dom Luiz de Almeyda a Frey Francifco de Almeyda , Religiofo dos
Eremitas de Santo Agoftinho, & Meli rena fua Ordem, a Dom Jofeph de Al-
meyda, que morreo eftudaodo em Coimbra , a Dona Magdalena Francifca de
Ataíde, Religiofa no Mofteiro de Santa Clara de Santarém, & a Dona Jeronyma
de Caftro, Dama do Paço da Rainha DonaLuiza,a qual morreo folteira.
Dom Antonio de Almeyda, filho do primeiro Cõde Dom Luiz de Almey-
da, he feguftdo Conde de Avintes, &occupou no Alentejo vários poftos, & fe
achou no fegundo íitio. de Elvas pofto por Dom Luiz de Haro, procedendo com
muito valor: foy Governador do Algarve , & ao preiente he Govern ador das
Armas da Provinda de Trás os Montes : cafou com Dona Maria Antónia de
Bórbon, filha deD.Thomás de Noronha,Cõde dos Arcos, õc de Magdalena de
Borbon, de q té a D. Luiz de Almeyda, de que abaixo fadaremos, a D. Thomas
de Almeyda, Deputado do S.Officio, & Defébargador da Cafa da Supplicação,
a D. Lourêço de Almeyda,^ no anno de 169 7. paífou â índia cõ o pofto de Ca-
pitão de Infantaria , aonde foy Capitão de Mar & Guerra , & de prefente
foy no focorro a Mombaça com o pofto de Fifcal da Armada : cafou com fua
prima coirmaã Dona Maria Rofade Portugal, filha de feu tio Dom Miguel de
Almeyda, de quem já fizemos menção, da qual teve a Dom Antonio de Almey-
da item mais efte fegundo Conde de Avintes os filhos feguintes: Dom Joaõ de
Almeyda,que he Eftudante, Dona Magdalena de Borbon, que cafou com Dom
Jorge Henriques Pereire, fenhor das Alcáçovas, Dona Ifabel de Borbon , que
cafou com Pedro de Mello de Caftro,filho do primeiro Conde das Galveas, Do-
na Antónia de Borbon, que cafou com Dom Affonfo de Menezes, fenhor da Po-
te da Barca, Dona Therefa de Borbon, que cafou com Dom Alvaro da Sylveira,
Dona
36O TOMO PRIMEIRO
Dona Jeronyma de Bordon, quecafou com Francifco jofeph de Sampayo &
Mello, fenhor de Villaflor^ôc a Dona Catherina de Borbon, & a Dona Bernar-
da de Borbon folteiras.
D. Luiz de Almeyda,filhodcfte fegúdo Cõde D-Antonio de Almeyda,he ter-
ceiro Conde de Avintes emvidadefeu pay, foyCapitaõ de Inf ataria do Terço
de guarnição de Elvas,Medre de Cãpo,& Governador da praça de Almeyda, & de
preíete he Medre de Capo doTerçodeguarniçaõ da Torre de S- G&acafou cõ
lua prima coirmaã D. Joanna de Lima, filha de D- Joaõ Fernandes de Lima, Vif-
conde de Villa-nova de Cerveira,& de fua mulher Dona Vitoria de Borbon.

C A P, V.

Do Concelho da z^faya»

EStá eíle Concelho na Comarca, & terra da Maya, que a dim fe chamou anti-
gamente toda a terra de entre Douro, & Lima; hojefótem cite nome a de
entret}ouro,& Ave,à qual os Latinos chamàrão Palancia. EIRey Dom Manoel
lhe deu foral em Évora aos 15. de Dezembro de 1f19» Hefenhor dos direitos
Reaes deite Concelho Roque Monteiro Paim : tem as Fregueiias feguin-
tes- . ..
S. Salvador de Ramalde, Vigairaria da Mitra, rende cento & cincoenta mil
reis, & para as Freiras de S. Clara do Porto, q comem a renda, q uatrocentos &
cincoenta mil reis: tem cento ôtquarent a vifinhos, &; huma Ermida de Saõ Ro-

^UC S. Martinho de Lordello he Commenda de Chriílo, & Reitoria do Padroa-


do Real, que rende cento & vinte mil reis, & para o Commendador quatrocen-
tos mil reis, tem cento & felfenta viíinhos. Aqui eítá a ribeira do Ouro , em
q ue fe fazem os Galeoens, & a Ermida de Noffa Senhora da Ajuda muy frequen-
tada dos Mareantes.
S. Joaõ da Foz tem fetecentos,& trinta vifinhos,& edas Ermidas, Nolfa
Senhora da Luz, Noífa Senhora da Lapa, Santa Anaítafia, S. Sebaítiaõ, & S. Mi-
guei o Anjo. Tem hum forte,que fegura a barra do Douro com quatro baluar-
tes, & hum rebelim, dezoito peças de artilharia, doze de bronze, & feis de fer-
ro, todas de bom calibre. Aqui edava a Igreja, em que fe fez afortaleza princi-
piada em tempo, que os Rey s de Cadella nos dominavaõ, &fe acabou no do Se-
reniílimo Rey Dõ Joaõ o Quarto, com Governador nomeado pelo Marquez de
Fontes, & confirmado por ElRey, com treze mil reis de foldo cada mez : hum
Alferes com dez mil reis, Artilheiros quatro vinténs cada dia , & tres a cada
Soldado, de quarenta que tem de prefidio,huma fonte dentro de agua fadia,in-
da q falobra- Os navios edrãgeiros pagaõ ao Governador dous cruzados de fa-
hida, & cinco toftoes dc entrada: os noífos muito mais , porque o menos que
daõ faõ dous mil reis; os barcos de fóra, que vem aqui pefear, & vender peixe,
pagaó o melhor que trouxerem. Os Gallegos hum cento de fardmha à entrada,
&humtoftaõàfahida. Asnoífascaravellasdefardinhaomefmo : asdo fal,ou
cal, outro tanto àfahida,& dous alqueires à entrada. Fez-fe boa Igreja nova
DA COROGRAFIA P0RTUGÚÊ2Á. s6t
cm lugar mais oportuno , & todo he Couto eivei dos Frades Bentos deSaõ
Thiriò, que aqui poem dous Monges, hum Prior, outro Vigário, a que rende
duzentos mil reis, & para o Convento fetecentos mil reis. O Abbade faz Jui^
ordinário, dous Vereadores,.por voto do povo, dous Almotaceis, Eferivaõ, &
Porteiro. Os dízimos da terra importaràm oitenta mil reis , fabidos cento &
cincoentamilreis,omais hedapeíca* Hanefta Igrejahumarelíquia de S.Joaõ
Bautifta.
S- Salvador de Bouças no lugar de Matoíinhos ( nome que nos parece to-
mou de pequenos matos, que eftavaõ naquellas Bouças,) tem quinhentos &
felfenta vifmhos, & eftas Ermidas, NoíTa Senhora de Rida-mar, Santiago, Santo
Antonio, S. Sebaftiaõ, S. Roque, Santa Maria Magdalena, Santa Anna, & Santa
Luzia: he Vigairaria que aprefenta a Univèrfídade de Coimbra, a quem Elftey
Dom Joaõ o 1 erceiro deu o Padroado defta Igreja, a qual he de tres naves, íi-
tuada em grande planície, que cercaõem parte altos, Stfrondaíòs alamos, que
apartaõ de fy ascafas,que daõ principio ao frefeo lugar de iVíatofinhos.He efta
Igreja muy celebrada pela milagrofa Imagem do Santo Crucifixo, que nella fc
venera, & guarda, obra (fegundo a tradiçam) do Santo Varaõ Nicodemus: toy
fua maravilhofa invençam entre huns pinheiros no íitio do Efpinheiro, muy co-
nhecido dos Pefcadores deita terra pelos milagrofos effeitos que cada dia alli
experimentaõ, quando ha tempeftade no mar, tendo tanta fé nefte lugar, que
o tem por fagrado, fervindolhe.de baliza huma fermofa Cruz de pedra, aonde o
povo,& Clero vão em prociflàõa tres de Mayo. Efta devota Imagem vemos
hoje no fumptuofo Altar mór de fua Igreja com grande decenciã, & Veneráçam,
fechada em hum nicho com grades de prata > & cortina de damafcO carmezí,
quefe corre nas feitas feiras da Quareima, a refpeito da muita gente, que nel-
las concorre à MiíTa, & Prègaçam. E no dia de fua feita , que he na íegunda
Oitava do Efpinto Santo, vem em romaria a efta Igrcj a mais de vinte & cirtco
mil peffoas, como nós vimos no anno de 1691 • quando nos achamos nella- O
vUko he pouco mayor que o de S. Domingos de Lisboa, eftá encravado em húa
Cruz menos grolTa do que pede a grandeza do corpo, tendo a parte que vay
da cabscapara cima, aonde fica o titulo,mais comprida que as que vemos de
ordinário. Tem nove palmos de alto, oito de braço abraço , fem fe conhecer
qual delles he o que faltava: a cintura tem quatro palmos largos, & a cobre húa
toalha, cuja ponta chega quafi ao peito do pèefquerdo, ficando o direito defeu-
bertoatèonódo joelho, & pregados cada hum de per fi em huma pequena ta-
boa, que fica atraveífada, tendo quatro cravos, conforme â opinião cte S. Grego-
rio T uronenfe, & revelaçam de Santa Brigida. Eda he a mais antiga Imagem
que fabemos de noífo Portugal, à qual lhe faltava hum braço , que achou mila-
grofamente húa pobre mulher, a quem a neceílidade obrigava bufear marifeo, &
lenha pela praya, parafe fuftentar, & aquentar; & ignorante do felice achado,o
poz no fogo, & vendo que nam ardia, antes faltava fóra , atemorizada bradou
or huma viíinha, a quem dava conta da fua vida: efta com fuperior vifta, enten-
endo o que era,foy-feà praça, & começou a gritar em altas vozes que appa-
recèra o braço que tanto fe defejava. Efpalhado o rumor pela terra , nam ficou
pefToa que deixaffe de correr à limitada cafa da mulher, para ver efta maravilha.
O Cura fe deu então por obrigado levallo com folemnidade à Igreja, aonde ef.
tava a fanta Imagem,taõ certos todos do milagre,como feo viraõ executadorque
huma fé viva, & confiante alcança quanto crê, & defeja. Applicado logo a feu
lugar,ficou tam proprio, & proporcionado como o outro, unido divinamente y
Hh &
36i TOMO PRIMEIRO
&pegadfode forte, comofe fora inteiriço.
S. Martinho de Guifoens, Curado que aprefenta o Vigário de Bouças , de
quem he annexa, tem trinta &. feis vifinhos.
S- Miguel de Palmeira, tem trezentos & oitenta vifinhos, efiá em Leça de
Matofínhos ao Norte defte no, foy fubdito do Mofteiro da Vacariça , que fe
fundou na Oioccíi de Coimbra por baixo donde hoje efiá o Convento de Buça-
co de Carmelitas Defcalços. Tem Vigário Letrado, que aprefenta aUniverfí-
dade de Coimbra, & he também annexa de Bouças, de que fe dividiO ha mais de
oitenta annos./ Efieluiar de Leça deMatofinhos tem na boca da barra huma
fortificação moderna, ou para melhor dizer, huma atalaya quadrada com huma
plataforma para o rio, & mar, & nella duas peças de artilharia ; nam eífá acaba-
da, dentro em fi tem armazéns, & quartéis : tem outra fortaleza para o Norte
tiro de molqucte pelo mefmo modo, joga quatro peças j & nella afíiftem oito
Soldados com hum Tenente, que tem noventa mil reis deíòldo , aprefentado
pelo Marquez de Fontes,& pago pela Camara do Porto.Ha muita pefca domar,
& rio nefies dous lugares, ou Villas, como lhe chamaõ os moradores , ambos
te m feu Juiz pedaneo, feitos pela Camara do Porto. Tem Procurador, & dous
Almotaceis,quefazodeMatofinhos,eftetambemohedasSizas, &detodo o
Julgado de Bouças, para o qual, & para os dous lugares ha dous Tabeliaens do
Judicial, & Notas, hum das Sizas, & todos data delRey :hum Meirinho. O
julgado tem Ouvidor pela Camara do Porto , a quem ElRey Dom Joaõ o Pri-
meiro o deu, com Meirinho, & Procurador. Neila Freguefia efiá o Convento
de No (Ta Senhora da Conceição de Recoletos Francifcanos da Provinda dePor.
.tugal, de quefaõ Padroeiros os Marquezes de Fontes , &nelle tem feu jazi-
go-
S. Mamede de Perafita, Abbadia da aprefentaçam do Convento de Morei-
ra^om referva do Papa, & Ordinário, rende quatrocentos & cincoenta mil reis,
tem cento & dezafeis vifinhos
S. Salvador de Moreira Convento de Conegos Regulares de Santo A todi-
nho, que efieve antigamente em Gontaócom invocaçam de Saõ Jorge,t?ro de
mofquete dondehoje efiá, he antiquiífimo,porque já achamosdelle°memoria
noannode 8(52. em que algunsquerem lefundalle , & prefumimos fer por
Dom Ordonho primeiro de Leão, que por eftes annos vivia , & povoou efia
terra da Maya, edificando muitos-Conventos;& nam ferá muito foílehum del-
les eíle, que fe mudou para a parte de dentro da portaria ao Poente com invoca-
ção de Santa Maria Magdalena, & S. Salvador,& alli efiava já no anno de 1064..
com Conegos, & Conegas, por fer Convento duples, & no de 108 y. D. Suei-
ro Mendes da Maya fenhordefta terra, St anteceffor da fainilia de Araujos, cu-
jos defeendentes devião dar o nome ao lugar, & Vendas de Araujo logo adian-
te, fez teftamentos no 1. de Mayo, & deixa nelie mui tas herdades a eíle Cõ ven -
to, & feus Clérigos, &faó a mayor parte das rendas quepoííue, & Ievàrão
as Conegas, quefe mudàrão depois para Rio tinto,& fó a eftas tocàrão mais
de hum conto ;&ellefe mandou aqui enterrar, mas com a mudança fe perdeo a
memoria donde eftava. O mefmo fuccedeo a huma grande relíquia do Santo
Lenho, que também efieve muitos annos no Convento fem fe faber aonde, a tê
que NoíTo Senhor foy fervido revelalo ao virtuofo Conego Dom Vafco Annes,
Prior Crafieiro no anno de if io- que a achou no Altar debaixo da pedra de
ara em hum relicário antigo, & avifando ao Prior mór Dõ Pedro da Cofia Bif-
po do Porto, mandou fazer grandes feftas por efie fucceífo , & huma Cruz de
pra-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZÁ' jSjj
prata de bom tamanho dourada, com muitas pedras preciofas> Sc rio méyo htiiit
criftal, dentro do qual fe vê a fagrada reliquia,emqueaquelles povo9 té mui-
ta fé, & heviíitada emtresde Mayo de cinco milpeffoas , Sc pararemedio dc.
luas fementeiras, pedindo Sol, ou chuva , fe ajuntío alli em ProciíTaõ fetenta
Freguefiaá,& logo vão defpachados; naõ menos os endemoninhados , que em
chegando à fua vifta ficão livres. Paífou a Commendatarios> de que foy O ulti-
mo Dom Fulgêncio, filho do Duque Dom Jayme, que o largou aosCruzios em
2 2. de Julho de 15 62 - St o Papa Pio Quarto o unio â Congregação de S. Cruz^
com izenção dos Bifpos do Porto, St a quatro annexas, que depois de renhido
pleito com os Bifpos fe compuzerão , em que fófoífeizento dos muros para
dentro,mas os freguezes,Sc Curas fendo feculares faõ fogeitos aos Bifpos j Sc
as quatro Igrejas. Tratàrãodogo dc nová Igreja pela velha nam eftar capaz, & \
nella lançàrão a primeira pedra a 3. de Mayo de 1 j 88. & acaboufe no de 162 2.
he fumptuofo Templo,com Angular galilè ; St fuppofto os freguezes venerão
ainda ò dia da Magdalena, fó o nome do Salvador conferva: As principaes ro-
magens do Santo Lenho faõ a 3. de Mayo, & 14. de Setembro, & havendo aqui
muitas viboras, não mordem nefta freguefía; entendefe que em razão do Santo
Lenho; Sc a efta mcfma reliquia fe attribue o nunca alli cahir rayo. Refidem ne-
fte Convento vinte Conegos, tem mais de tres mil Cruzados de renda em fabi*
dos, Sc Igrejas annexas; a Freguefia do Convento tem vinte vifinhos com Cu-
ra annual, que terá de renda aotodofeffenta mil reis,& os dizimosparaos Co-
negos duzentos &fe(Tenta mil reis. Hum AbbadedcS. Sylveftrede Couço em
tempo do Papa Pio Quinto lhe fez fupplica para que lhe uniífe a Abbadia ao
Convento, em razão de eftar em hum ermo, & ter poucos freguezes; o que lhe
concedeo, St a Parochia ficou fendo Capella, mas por defacatos que nella fe co-
metêraõ , a mudàraõ no anno de 1650. para junto do Leça , aonde eftá
abreviados Frades : tem duzentos vifinhos, aprefenta com referva a Abbadia
dePerafita. Teve efteConvento amplo Couto nos tempos paliados, deque fó
permanece hoje a memoria de que o foy.
Santa Maria de Yilla-nova da Telha, Vigairaria perpetua, que aprefenta cl
Prior com ordenado de quarenta Sc dous mil reis, ao todo cento Se trinta mi!
reis, 8t para o Convento de Moreira duzentos Sc vinte mil reis : tem feífenta
vifinhos*
. Santiago da Labruja, Vigairaria d,a mefma aprefentação. Tem o Vigário
dez mil reis, Sc hum carro de trigo, ao todo cento Sc trinta mil reis, Sc duzentos
mil reis para o Convento: tem fetenta Sc dous vifinhos.
S.JoaõEvangelifta deMindello, Curado annual da mefma aprefentaçamy
que rende ao todo feífenta mil reis , Sc duzentos Sc vinte mil reis para o Con-
vento de Moreira: tem cem vifinhos, todos muito ricos, pela grande quantida-
de de argaço que tiraõdo mar, quando oUnça, para o que tem em certos tem-
pos centinellas, que os avife, Sc logo que apparece, feja de noite, ou de dia , vaõ
todos, de que ás vezes fica la algum , Sc nam fó tirão o neceífario para efterca-
rem íuas terras, mas para venderem a outros,que com elle temperaó feus efter-
cos, .Sc do q ue efte lhes rende fó pagão dizimo*
S. Coime, Sc Damiaó dc Gemunde he annexa do Convento de Moreira, q
aprefenta aõ Vigário âd nutú com grandes palfaes,pelo que lhe renderá cento Sc
vinte mil reis, Sc para o Convento cento Sc noventa mil reis: tem cento St viivj'
te Sc feis vifinhos.
Santa Maria de Leça, que vulgarmente chamaõ o Mofteiro, porque 6 foy
Hh íj
3<$4 TOMO PRIMEIRO
(iègundo daõ a entender as Cruzes das vidraças daquella Igreja) primeiro de
Templários, depois de S- ]oaõ de Malta, & Commenda de Babado. Ha nefta
-1 greja hum Theioureiro com cento & cincoenta mil reis de renda, dous Benefí-
cios fimples defetenta mil reis cada hum, mais íeis Capellaens, & feis Raçoei-
ros leigos, & cinco Mercieiras com obrigação de rezarem todos os dias o Ro-
fario de NoíTa Senhora,ou quarenta Padresnoífos,ouvirem duas Miffas, var-
rerem a Igreja, & lavarem a roupa delia, pelo que dãp a cada huma feu carro de
pão, & doze almudes de vinho, ou dous mil reis em dinheiro : efte legado dei-
xou o l ommendãdor, ou Balio Fr. Alvaro Pmto, queeftána Capella do Ferro:
tem mais feis annexas, a faber, S. Mamede da Infefta, Santiago de Coftoyas, S.
Fauftino de Ciuifoens, S- Miguel de Barreiros, S. Martinho de Aldoar, & o Sal-
vador de Gondim, tudo aprllenta o Balio , chatnaõfe os Vigários Abbades,
porque comem as primícias, tem o habito de Malta , 8c faó obrigados a canta-
remos Miffas da Terça no Mofteiro todos os Domingos, & dias Santos , cm
que vem dous com ícus freguezes alliouvilla,o lnefoureiro os aponta, & lhes
dá o rol das condenaçoens, para os Parochos as executarem- No Eccleíiaftico
todas faõ izcntas dos Bifpos do Porto; no efpiritual, & temporal, faó fogeitas
fómerite ao Vigário Geral da Religião. Também era feu efte Couto no íecular
com mais de quinhentos vaífallos , hoje tem juiz feito pelo Corregedor da
Comarca, dous Efcrivaens, que ferve em tudo,õc Juiz dos Orfaós, todos data
delRey ;huma Companhia, de que o Balio he Capitão proprietário, 8c o Alferes
feito pelo Porto: rende ao Balio com as annexas, 8c fabidos mais de doze mil
cruzados, & com as Commendas, que lhe fickodas que tem quando nelle en-
tra, paífa de quinze. Tem efta Freguefia cento& fecentavifinhos,&huma gra-
de relíquia do Santo Lenho , que com outros legados lhe deixou D. Chamo*
Gomes, fundadora do Mofteiro de Entre ambos os Rios.
S.Mamede da Infefta, Vigairaria do Balio de Leça , tem fabidos quinze
alqueires de trigo, outros tantos de ceuteyo, trinta de milho , 6c dous mil Sc
quatrocentos reis em dinheiro , que lhe dá o Balio pelo meyo anno de Miffas,
que diz no Mofteiro de Leça; rendelhe ao todo cem mil reis , &. para o Balio
cento 8c noventa mil reis, tem oitenta viíinhos.
Santiago de Coftoyas, Vigaftariado mefmo Balio, tem cem viíinhos. Aqui
cftá a quinta de Efpezade, Solar defta família , à qual com duas Aldeãs chama-
das Efpezade de Suzaõ, 8c Efpezadc de Juzaõ rrazião honradas Ruí Paes Buga-
lho, & fua irmaã Dona Tareja Paes Bugalha, por haverem fido de feus avôs , &
antepaffados,8c de huns,8c outros ha as illuftriíTimas dcicendencias,que os Ge-
nealogiftas podem ver no Conde Dom Pedro, donde depois as côtinuàrão ou-
tros» ... .. •
S- Fauftino de Guifaens, Vigairaria do mefmo Balio, rende para o Vigário
oitenta mil reis,& tem quarenta viíinhos.
S. Miguel de Barreiros, Vigairaria do mefmo Balio , rende ao Vigário no-
venta mil reis, tem oitenta viíinhos.
S-Martinho de Aldoar, Curado perpetuo da mefma aprefeíitação, que re-
de cincoenta mil reis, 8c para o Balio cento 8c feíTenta mil reis : tem vinte &
quatro viíinhos.
S. Salvador de Gondim , Vigairaria da mefma.aprefentação, <Jue rende ao
todo trinta mil reis , 8c para o Balio feíTenta mil reis : tem fetenta 8c oito
vifinhos.
Santa Chriftina de Cornes, Abbadia que aprefenta o Balio de Leça,rende
cento
DA COROGRAFIA PORTUGUESA;
cento & cincoenta mil reis, de que paga ao Balio trinta & feis mil reistem no-
venta Sc dous viímhos.
Santa Cruz do Bifpo deu-a a noffa Infanta Dona Mafalda Rainha de Caf-
tella aos Bifpos do Porto, por evitar duvidas que eftes tinhãocomos Religio-
fos do Convento de S. Domingos, fobrea muita gente que a ellefehiafepultar,
o que era em detrimento da Sé; atè então fe chamava Santa Cruz de Riba de
Leça, St depois Santa Cruz.do Bifpo, unio-fe à Mefa Epiícopal, St rende com os
dizimos, Sc fabidos cento & oitenta nnl reis ; he Curado annual que aprefen-
taõ os Bifpos, que renderá ao todo quarenta mil reis : tem cincocnta viíinhos.
Eftá nefta Freguefia a magnifica quinta dos Bifpos do Porto, obra de Dom Ro-
drigo Pinheiro, maravilhofa por fua grandeza, 6c regalo de cuftofas fontes , &
efpeífos arvoredos.
Santa Marinha de Villar do Pinheiro, Abbadia da aprefentação do Conven-
to de Moreira com referva, rende ao Abbade cento & vinte mil reis , Sc outro
tanto para âs Freyras de Vayrão, que levao duas partes dos dizimos : tem oi-
tenta viíinhos.
Santa Eulália de A Velieda, Curado que aprefentaõ osConegos de S- João *
Evangelifla da Cidade do Porto, rende ao todo fetenta mil reis,St para os Fra*
des duzentos mil reis: tem oitenta & feis viíinhos.
»S.Salvador de Lavra, Commenda de Chrifto, ScReytória que áprefentà cí
Morteiro de S. Thiríò com referva, rende ao todo cento St cincoenta mil reis,Sc
para o Commendador quatrocentos mil reis item cento & noventa viíinhos.
S. Gonçalo de Morteiro, que primeiro fe chamou S. Salvador , & depois
Santa Maria, he Vigairaria que aprefentaõ as Freyras de S- Bento do Porto, ren-
de ao todo cem mil reis, Sc para as Freyras mais de outro tanto : unio-a-a efte
Morteiro o Bifpo Dom Frey Balthefar Limpo (de quem era) em Abril de 15 4.0;
Sc o mefmo fez da Igreja de S. Martinho de Fajoens. Tem cincoenta & dous vi-
íinhos.
Santa Maria de Villar, Abbadia que aprefenta o Morteiro de S. Thirfo c5
referva , rende ao Abbade com meyos frutos cento Sc feifenta mil rcisj
& para os Padres da Companhia de Braga cem mil reis dos outros meyos fru-
tos : tem noventa & fete viíinhos.
S. Pedro de Fajozes, Abbadia do Padroado Real, que rende quinhentos mil
reis,- tem feíTenta & hum vifinhos. Aqui eftà hum Morgado antigo dos Ferrey-
rasdaMaya. *
S. Mamede dé Villa-chaa, Abbadia que aprefentaõ os Padres da Compa-
nhia de Braga, com os dízimos de algumas Aldeãs rende cem mil reis, os mais
levâõ os Padres, que importam menos; tem quarenta Sc feis vifinhos.
Santa Maria a Nova de Azurara, Vigairaria do Cabido da Sé do Porto,que
rende ao todo cem mil reis, St para os Conegos com a diziína do peixe, Sc anne-
xafeguintemais de duzentos mil reis: he fermofa Igreja , obra delRey Dom
Manoel, que fundou muitas nefta Província; tem ámaõ direita em Capella par-
ticular huma Imagem do Ecce Homo,coufa notável. Hepovoaçam grande,que
tem quinhentos viíinhos, feis Ermidas, Sc hum Convento de Piedofos da invo-
caçam de NoíTa Senhora dos Anjos, que fundou o Mertre Frey Joaõ Chaves pa-
ra Frades Claurtraes, Sc fendo Provincial o largou ao Duque de Bragança Dom
Jaymes para Piedofos, quedelletomàraõpoífervo anno de 1518. refidem nelle
dezoito Frades. Tem efte lugar Ouvidor annual feito pela Camara do Porto,
&fervedeJuizdosOrfaõs,SchumEfcriváo,queaditaCamaranomea, do juj
Hn iij oicialy
366 TOMO PRIMEIRO
dicial, & Notas. Julga fó no eivei: tem homens bons, & Almotaceis. Efte lu-
gar he antigo, querem alguns feja fundação do Conde Dom Henrique pelos ân-
uos de 1111. mas achamos que o dito fenhor lhe deu foral antes do anno de
1107. com que moftrafer mais velha lua fundação, & que entaõ era Villa, hoje
lugar; fica defronte de Villa de Conde da parte do Sul do rio Ave; foraô delie
fenhoras as Freyras de Santa Clara daquella Villa por doaçaõ de huma fenhora
parenta dos fundadores, 8c o perderão como os mais.
S.Salvador de Arvore, Curado que aprefenta o Vigário de Azurara , que
rende ao todo fetenta mil reis: foy Matriz antigamente , arrendafe com Azura-
ra, de quem he annexa. Tem oitenta vifinhos.
Santa Maria de Retorta, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis , tem
feffenta vifinhos. Aqui eftá huma quinta, que foy de Dom Sucyro Mendes da
Maya, 8c a poífuem hoje as Freyras de S. Bento do Porto com outros cafacs,que
leváraõ do Convento de Moreyra , quando fe aparcàraõ dos Frades para Rio
tinto, 8c tudo lhes havia dado eíte fidalgo.
S. Vicente de Tougues foy Morteiro de Conegos Regrantes de Santo Ago-
rtinho, he Abbadia da Mitra com oppofiçaõ do Balio de Leça , rende duzentos
mil'reis, tem quarenta vifinhos.
S. Salvador de Macieira, Curado que aprefentaõ os Conegos fcculares de
Saõ Joa5 Evangelifta do Porto, rende ao todo feílenta mil reis, 8c para os Pa-
dres duzentos mil reis item cento 8c vinte 8c cinco vifinhos.
S. Salvador de Vayraõ he Morteiro de Freyras de S. Bento, quatro legoas
diftante do Porto para o Norte, 8c o fundou Dom Turis Sarna, como diz o Co-
de Dom Pedro tit.4i.noannodeChriftode 1110. fica perto do rio, & ponte
de Ave, 8c da eítrada Real que vay da Cidade do Porto para a de Braga: refidem
nelle mais de cem Religiofas, cuja Abbadeça aprefenta Cura annual , que ferve
de Capellaõ com fetenta mil reis de renda ao todo. Era Couto feu toda efta
Freguefía, que tem cento 8c fetenta vifinhos, 8c duas feiras francas nos dias de
S• Bento, & o deixàrão perder por defeuide ha muitos annos. Tem erte Mof-
teiro mais de feis mil cruzados de renda em fabidos, juros, &anncxas,& delle
fahíraõ AbbadeíTas com outras companheiras para a fundaçaõ do Morteiro de
Santa Efcolartica da Cidade de Bragança, Sc para ode S.Bento da Villa de Mur-
ça na Província de Trás os Montes.
S.MartinhodcFornello , Curado annual que aprefenta a AbbadeíTa do
Morteiro de Vay raõ, tem noventa vifinhos.
SantoErtevaõ de Giaõ, Reitoria que aprefenta a dita AbbadeíTa, tem cento
ôc quarenta vifinhos.
S. Salvador de Modivas, Curado annual que aprefenta a mefma Abbadef-
fa,tem oitenta vifinhos.
Sanra.Mariade Alvarelhos, Vigairaria da mefma aprefentação, tem cento
& fetenta 8c tres vifinhos, 8c cinco Ermidas, huma delias da invocação de Santa
Eufemia, perto da qual fe vem ruínas de huma Cidade antiga chamada Palma-
zaõ.
S. JoaõBautirta de Guidóens, Curado annual que aprefenta o Vigário de
Alvarelhos, tem fefienta vifinhos.
S. Pedro de Canidello, AbLadia da Mitra , tem feíTenta 8c dous vifinhos.
Aqui eftá a quinta cabeça de hum Morgado de Ferreiras, de que he fenhor Dom
Joaò Manoel por fua mulher Dona Francifca Ferreira Furtado 8c Mendoça.
S. Martinho de Guilhabreu, Commenda de Chrifto, 8t Reytoria da Mitra,
tem
DA COROGRAFIA' PORTUGUEZA. 367
tem cento & vinte & dous viíinhos. Ha neda Freguefia hum lugar, que chamão
Pay ços, derivado de Paços, em razão dos que alii houve , deque feachão ruí-
nas, em que viverão os Mendes da Maya, fenhores deda terra. Ha mais na Al-
deã de Parada huma Caía nobre, que fez Luiz de Novaes da Sylva, homem muy
rico no Porto, que deixou entre outros legados hum annual de íeis mil reis de
pano para veíLr os pobres deda Fregueíia. Ha também a Caía de Freixo, cabe-
ça de M argado do appellido de Madureiras, de que he fcnhor Martinho de Ma-
deira Tofcano, fidalgo da Cafa de Sua Mageítade.
S. Pedro de Aviofo, Vigairana dos Padres da Companhia de Braga , que
comosdizimos,& fabidos de duas Aldeãs renderá ao todo cem mil reis,& pa-
ra os Padres outro tanto: tem oitenta &. quatro viíinhos,
Santa Maria de Aviofo, Vigairana das Freyras de Santa Clara do Porto,
que rende ao todo feíTenta mil reis , ôt para o Madeiro cento & cincoenta mil
reis:tem cento & quinze viíinhos.
S. Romão de Vermoim , Abbadia da Mitra, que rende trezentos mil reis,
tem oitenta viíinhos.
S. Martinho da Barca, Abbadia das Freyras de Vayrão com referva, pelo
que lhe pagão de feudo os Abbades cento & vinte mil reis , tem fetenta viíi-
nhos.
Santa Maria de Noguevra , Curado annexo ao Medre-efcolado de Cedo-
feita,tem fetenta & cinco vifinhos.
NoíTa Senhora do O de Sylva efeura , Abbadia que aprefenta o Mode iro
de S. Thirío com referva, rende trezentos mil reis, tem fetenta & cinco viíi-
nhos.
S. Salvador deFolgofa, Abbadia da Mitra, rende trezentos mil reis, tem
cento & fete viíinhos.
S. Mamede de Coronado, Abbadia que aprefenta o Abbade de S. Romão de
V ermoim com referva, o qual vem a eda Igreja dia de S. Mamede à MiíTa com to-
dos feus criados, bedas, caés, <5t gados, & a todos dá de jãtar o Abbade de Co-
ronado, êcedando o de Vermoimreveílidocomfobrepeliz, ôcedoía, lhe oífe-
receaquellefete varas de bragal, que odcS. Romão mede, & aceita publicamé-
te, ôefe vay com cilas; rende mil cr uzados; tem cento & doze viíinhos.
S. Martinho de Covellas, Abbadia do Modeiro de S. Thirfocom referva,
rende duzentos & vinte mil rei», tem feifenta viíinhos.
S. Romão de Coronado, Abbadia da mefma aprefentação, que rende cento
& oitenta mil reis, tem quarenta viíinhos.
S. Chridovão de Muro, Re.toria dos Conegos feculares de S.João Evan -
gélida da Cidade do Porto, que levão duas p irtes dos frutos, que importaram
cento & vinte mil reis, & o V<ganoleva a terceira parte: tem feíTenta viíinhos.
Santiago de Bougado, Abbadia do Cabido da Sè do Porto , terq cento &
oitenta &feis viíinhos.
S. Martinho de Bougado, Abbadia da Mitra, que rende cento & cincoenta
mil reis: tem oitenta &aous vifinhos.

TÍO C$»

CAP.
TOMO PRIMEIRO

CAP. VI.

T)o Concelho de Refojos de Ifybd de Ave.

DUas legoas da Cidade do Porto entre o Nafcentey & Norte tem leu af-
fento efte Concelho, de que forão fenhores os Pereiras Condes da Fei-
ra, & o vendeo Dom Manoel Pereira com licença delRey Dom João o Terceiro,
por fer Reguengo, no anno de 1 y $ 9- a Manoel Cirne da Sylva, Feitor em Flan-
des, lugar em que naquelle tempo Qccupavão os noffos Reys grandes peffoas,
pela fumma quantidade de drogas , que da noíTa índia Oriental lá mandavão
vender, & lho confirmou de juro, & herdade para fy,&feus defcendentes. He
hoje de Roque Monteiro Paim por compra a ElRey Dom Pedro o Segundo, &
extinção dos Cirnes: tem juiz, que conhece de luas rendas, & ,direitos Reaes,
do qual fe aggrava fomente para o Juiz da Coroa; tresTabeliaens do Judicial,
& Notas com cem mil reis de renda cada hum, data do fenhor da terra,Efcrivão
da Camara, outro dos Orfaõs, Diftnbuidor, Enqueredor, & Contador , hum
Ouvidor feito pelo povo, dalhe a Camara do Porto juramento, nam julga mais
de quatrocentos reis, & nas Sizas toda a quantia- Hum Porteiro , os Ofliciaes
da Vara faõ os do Porto. Conda das Freguefias feguintes-
S. Pedro de Agrella, Curado annexe a $. Julião de Agua longa, tem fetenta
vifinhos. Aqui he a cabeça deite Concelho , & eftá a Cafa dos fenhores dei-
le.
S. Salvador de Penamayor, Commend a de Chriífo, & Reytoria da Mitra >
que rende ao todo cento & cincoenta mil reis , &para o Commendador com a
annexa de Meixomil quatrocentos mil reis:tem cento & cincoenta vifinhos.
S- Julião de Agua longa, Commenda de Chrifto, & Reitoria da Mitra,que
rende aotodocemmil reis, & para o Comendador, cõ a annexa que relatamos,
duzentos mil reis:tem feífenta & quatro vifinhos.
Santa Maria de Reguenga, Abbadia do Padroado Real,rende duzentos mil
reis, tem cento & quarenta vifinhos.
Santa Eulalia de Lamellas, Abbadia que aprefenta o Moíteiro de S- Thirfo
com referva, & o Abbade de Refoyos, rende duzentos mil reis ; tem novent a
vifinhos. ,
S. Payo de Guimarey, Abbadia que aprefentao osBrandoens da Cala que
tem nefta Fregucfia, rende cento & vinte mil reis, tem feífenta vifinhos. Aqui
ha huma Cafa de fidalgos delia familia, & a famofa,que fez o Balio Braz Bran-
dão.
Santiagoda Carreira, Curado annexo de Refoyos, com quem fe arrenda,
tem feífenta &. dous vifinhos.
S.Chriftovão de Refoyos fie Igreja fagrada, & Abbadia que aprefentao os
Brandoens: diz o Catalogo dos Bifpos do Porto, que foy Convento de Fra-
des de Santo Agoftinho, naõ fey fe ferá implicação com o de Refoyos de Lima-
Tem annexa a Igreja de Santiago da Carreira, & rende com os dízimos de am-
bas,& foros fabidos mais de feilcentos mil reis: tem duzentos vifinhos.
Honra
DA COROGRAFIA F O R T U G U È £ A.

NO meyo derte termo cftà erta antiga Honra, que confia derta Ff eguefia,
Sc das de S. Mamede de Villar da Soroya, Sc S- Pedro da Reygada , com
preeminência do Juiz fazer eleição dos que fe hão de feguir de tres em tres an-
nos por pelouro com hum Efcrivão dos tres do Concelho , toma os votos dd
povo, Sc com elles faz também doús Vereadores, hum Almotaeel, Sc Porteiro j
à todos dá o Efcrivão juramento, poem porturâs,julgão no eivei, & crime, cb-
firma-os o Corregedor do Porto, que lhe toma contas, quando vem ao Conce-
lho em correição; porque não faõ obrigados a íahirem fóra a coufa alguma: tê
Cadea, St Pelourinho, Sc tres dias feira franca,que começa no primeiro de Feve-
reiro- Defta Honra forão fenhores os Alcoforados,millicos, ha annos,com os
Soufas, cujas Armas, Sc defcendencia apontaremos na b regueíia de S- Salvador
de Lordelto , da renda, Sc Torre, que aqui tem, chamada ponefta razão dos Al-
coforadoi, fa i lenhores os defcendentes dos paífados- Os direitos Reaes logra
Vafco de Azevedo Coutinho, fenhor de S- João de Rey, Sc Terra de Bouro-
S. Martinho de Frazão, Comenda de ChriftoySc Reitoria da Mitra > quô
fende ao todo cento Sc vinte mil reis, Sc para o Commendador com a annex a fe-
guinte quinhentos mil reis, tem cento Sc oitenta Sc feis vifinhos- He leu Com-
mendador o Conde da Ericeira.
S- Mamede de Villar da Soroya, Curado que aprefenta o Reytor dc Frazão,
de quem he annexa, tem feíTenta vifinhos.
S- Salvador de Moijte Cordova foy xMofteiro de Frades Bentos , que fun-
dou o pay de S- Rozendo Guterre Arias, Conde de Arminio, que viveo pelos
annos de 9 o 7. en» que S. Rozendo nafceo aqui perto , aonde parece era fua vi-
venda na Villa de Salas, que deftruío o tempo, Sc eíle fitio cahe agora na Ff egue-
fia feguinte,que defta íe erigio-Foyeftc Morteiro fogeito muitos annos depois,)
St Priorado do de Cella nova em Galliza, que punha alli hum Frade , Sc o Con.
Ventocomia a renda, quede cá lhe hia por confentimento dosBifpos do Porto,•
querendo o que S- Rozendo quiz, que vtveffemfeus Religiofos nelle : ríamfa-
bemos o tempo em que fe variou erta Ordem, mas que poUcos annos ha fe mu-
dou erta Igreja paraoutra parte da Fregueíia , em que ficou acomodando me-
lhor os freguezes, que faõ trezentos Sc quarenta vifinhos : heCommeilda dc
Chrifto, Sc Rey toria da Mitra, q ue rende ao todo cento Sc cincoenta mil reis> Sc
para o Commendador com a annexa feguinte quinhentos mil reis.
S- Miguel do Couto, Curado annexode S- Salvador de Monte Cordova >
Com quem fe arrenda,foy feita pelos pays de S-Rozendo, por Deos lhes dar crt e
filho, que nella*foy fervido febautizafle ;hum dos Altares do Cruzeiro eflá fun-
dado fobre a pia em que o Santo recebeo erte Sacramento, da qual fe conta , que
querendo trazellapara S- Thirfo hum Dom Abbade, levando para iífo muitos
homens, Sc boys, nunca a puderão mover , Sc voltando para leu lugar,humas
fracas vacas a levàrão. Tem o Cura feíTenta mil reis de renda, Sc o aprefenta o
Reytor de S- Salvador dc Monte Cordova: tem trinta Sc feis vifinhos.
Sãta Chrirtina do' Couto, Vigairaria que aprefenta o Dom Abbade die S«
Thirfo, rende ao todo cincoenta mil reis, Separa os Frades cento Sc trinta mil
reis; tem oitenta vifinhos.
370 TOMO PRIMEIRO
Sao trais de fie Conceito no Jriebijyado de Braga as Fregwfias [cguintes.
Santiago de Rebordaõs , Abbadia que aprcfentã o Morteiro de S. .Thirfo
com referva, deurtha Gil Martins, filho de Martim Fernandes de Sá no anno de
1226. rende quatrocentos mil reis, tem noventa vifinhos.
Santa Maria de Burgaés>fituada em humbellovalle do rio Ave, heAbba-
diada Mitra, que rende quinhentos & cincoenta mil reis, tem oitenta &. leis vi-
finhos. 1
S.ThomèdeNegrelios , Vigairaria dos Padres da Companhia de Braga,
por fer annex a de S-Pedro de Roriz, de que lògo fartaremos, rende ao todo oi-
tenta mil reis , & para os Padres quatrocentos mil reis : tem fetenta vifi-
rhos. ♦ .
S. Pedro*de Roriz, Morteiro antigo de Conegos Regrantes, paffou a Com-
mendatarios , &ertá fepultado hum na Capella mor com letreiro que diz cha-
marfe Joaõ Fernandes Farto; teve a mefma dignidade no de Villarinho alli per.
to defte, & deixou muita defcendencia. Ultimamente o derão os noífos Reys
aos Padres da Companhia em quanto duraífem as çbras do Coliegio de Bra-
ga- < '
O Morteiro Duples de S.Thirfo,fituadono mefmo Concelho de Refoyos,
& Bifpado dó Porto, cujo Bifpo Dcm Rodrigo da Cunha chama da Magdalena ,
fundado junto do rio Ave,que lhe banha a cerca, parece haver fido hú Téplo da
Gentilidade, por hum fcpulehro que nelle fe achou com letras,que dizião:^«í
jaz Sjl var.o L apitão de huma legião Romana. A mais antiga noticia que delie def-
cobrimos he,dcqueertava ja fundado na era de 8 8-que vem a fer o anno de
Chrirtode 770. & que tinha por Padroeiro a S.Nicolao. Geralrogte entendem
todos fer obra do Arcebifpo Primaz S. Frutuofo, ou de S. Martinho Bifpo de
Dume, que o edificàrão para a fua Religião de S. Bento, de que erao Monges.
Erte Morteiro devia perecer na invafaõ dos Mouros, & rertaui^tndofe erta Pro-
víncia, o Infante Dom Alboozar Ramires, filho delRey Dom Ramiro o Segun-
do de Leaõ, com fua mulher a Infanta Dona Elena Godins o reedificàrão, & do-
tàraõ em fórma pelos annos de 9 2 7. que todos os fazem feus fundadores,devo-
ção continuada nos deícendentes,que nelle fe lepultàrão,por lerem fenhores da
mayor parte derta Provinda, emquevivião,entreosquaes he hum Sueiro.Men-
des da Maya, cuja fepultura diz falecer em 2 7. de Junho de 1176. q fe he era de
Cefar,vemaferanno deChrirto 1 u 8-«Sc he erro de quem o faz morto mais ce-
do, ou fepultado no Convento de Moreira. Aqui jaz também feu filho primo-
génito Dom Payo Soares Çapata, de que diz o epitáfio morrer primeiro que o
pay no anno do Senhor de 112 7. cujos defcédentes paliado aCaftella,& Aragão,
derão lá principio a grandes Cafas doappellido de Çapatas. Em tepo delRey
D- Pedro o Quarto de Aragão já lá eraõ poderofos , como diz Zurita. Em
Cartelladcu EIRey Dom Felippe o Prudente o titulo de Conde'de Barajas no
anno de 1562. a Dom Franciíco Çapata deCifneros, fua Cafa Solar fe conferva
em Madrid. 1 em por Armas em campo vermelho cinco Çapatas de preto com
manchas de ouro, & huma orla de ouro com oito efcudos'de ouro , cada hum
com fua banda de prata do canto direito alto para a volta efquerda. Muitos
Reys, Príncipes, & fenhores dotàrão também erte Morteiro , hum dos quaes
foy Dom Martim Gilde Soufa,Condede Barcellos, Alferes mor delRey Dom
Diniz, & Mordomo mor delRey Dom Affonlo o Quarto, feu filho, fendo Prin-
cipe, & a Condeça Dona Violante Sanches fua mulher , & ambos ertaófepulta-
dos na Capella mor da parte direita com letreiro, que lhe poz Dom Miguel da
da corografia Portuguesa; vt
Sylva B:fpo de Vizeu, fendo Cõmendatario deite Convento no anno de i fio
mandandoihe fazer fepultura. Tem treze mil cruzados de tenda em dízimos,
annexas, & íabidos, com que fuftenta quarenta ôtfeis Religiofos , além do que
oa para os de S. Bento de Lisboa, Santarém, & outros. Deixou o nome de S»
Nicolao, & tomou ode S. f hirfo famofo Martyr Toledano , ou fegundo ou-
tros, B .fpo de Meinedo junto a Arrifana de Soufa , por hum braço deite fanto
lrelado, que para alli trouxerão de Meinedo. Aqui obra S» Bento por huma fua
imagem muitos milagres, pelo que he viíitado de muita gente, particularmente
nos íeus dons dias do anno, em que ha feira franca, & às quartas feiras de 1 f.
em if. dias, huma no lugar de Cidnay,outra eih 8. de Setembro,que dura dous
dias, & outra de boys, & beítas, os primeiros fabbados de cada mez. Tem re-
liquta.i de S. Bento, S. Plácido, & de vanos Santos. Teve muitos Coutos, de
doze achamos noticia, o do Convento , que lhe deu Dom Sueiro Mendes da
Maya em ij. de Março de 1094.. nameímafórma que lho havià dado o Conde
Dom Henrique no anno -antecedente: teve mais o de S. João da Foz, Villa-nová
dos Infantes, o de Qulaes, o de Sylvares, o de Soutello, o de Ayrão, o de STayo
de Guimarey,o dc Sãtiago de Guimarey,os do Ey xo, & Requeixo cõ o Condado
de Avintes; cõferva fóméte o do Moíteiro,& S.João daFóz,em q faz Juizes or-
dinários do eivei,Procurador, Almotaceis,& Meirinho,& fica o D. Abbade fedo
Ouvidor, paraque appellão as partes, & paifa às Juítiças cartas de Ouvir: os Ef-
crivaens deite Couto faõ os do Concelho de Refoyos , & aílimos da Camara,
Orfaõs, Diitribuidor,& Enqueredor. Logo que o reedificàrão aquelles Prin^
cipes para a Ordem de S. Bento, fe entende o povoarão de Monges, & Monjas j
& humas de quefe faz lembrança, faõ Dona Mayor Mendez, fua terceira neta,
fenhora de Burgacs, filha de Dom Mem Gonçalves d%Maya feu bifneto: Dona
Aldara Vafques, bifneta do Conde Dom gomes deSobrado , ScDonaUrtacá
Hermigis neta de Dom Mem Moniz de Riba do Douro. Se aífim permanecètão
muitos feculos,nãodefcubrimos,nemo anno,emque nelleentràraõCommén-
datarios , fó de que fe reformou para Religiofos por ordem da Princefa Dona
Joanna, mãy delRey Dom Sebaítião,poraí!ímo querer a Rainha Dona Cathcri-
na fua avô: foy o Reformador aquelle Religiofo Caítelhano, & da mefma Or-
dem Frey Pedro de Chaves, a quem o nofío Cardeal Rèy Dom Henrique entre-
gou as Bulias a 12. de Julho de 15-69. & 110 anno feguinte eítava reformado, &
foy o primeiro que deita Ordem fe reformou. Tem fermofa Cafa, bons claiíf-
tros com perfeitas fontes nelles , & no corredor do Dormitório outra muito
regia: huma grande levada de agua, que tirada do Leça perto de feu nafeimert-
to no monte Cordova, traz fuâ corrente de huma legõa,eomque fe regão mui-
tas terras, & moem moinhos. Temmaisbons pomares, olivaes, matas, & pra-
dos. A Igreja he fumptuofa, & nella continuamente feis alampadas s o Dom
Abbade apreíènta vinte & cinco Igrejas nos mezes de referva com diverfos Pa-
droeiros, & neíta aprefenta Vigário , que adminiítra os Sacramentos aos fre-
guezes: tem duzentos viíínhos, & eítas Ermidas, N. Senhora da Piedade, N.Se-
nhora da Varciela, S. Bertholameu,
Torna a entrar o termo 4a Cidade do Porto.
. $• Vicente de Alfena, Rey toria do Ordinário , que rende ao todo cento &
trinta mil reis,& para o Collegio dos Frades do Carmo de Coimbra duzêtos &:
cincoenta mil reis: chamafe Villa de Alfena, he arruada, & tem pelourinho, di-
zem o foy antigamente, & que tomou eíte nome de hua batalha, que alli demos
aôs Mouros, em que entrarão fete Condes, que emíingoa Arabiga Alfena quer
dL
37» TOMO PRIMEIRO
dizer batalha. Aquiha hum Hofpital de Lazaros, em que fuftentam quatro , &
a cada hum fcdà cada fomanatres quartas de paõ , & em cada huma de quatro
feftas do anno fe lhes dá hum alqueire de trigo, & hum almude de vinho a cada
hum de mais, & mais da ordinária, & hum carro de lenha,&: campo para hortas-
He adminiftrador derte Hofpital João Pinto Coelho , fenhor de Felgueyras,
V ieyra, & Fermedo, & lhe toma conta o Corregedor da Comarca, como Prove-
dor delia: tem cento &. feífenta vifinhos.
S- Lourenço de Afmes, Abbadia do Morteiro de Saõ Thirfo com referva*
rende trezentos &cincoenta mil reis, tem cento & vinte vifinhos.
S-Pedro Fins, Curado dasFreyras de S-BentodoPorto , rende aoCura
cincoenta mil reis, & cento & quarenta mil reis para as Freyras : tem oitenta &
quatro vifinhos. Aqui ertá o monte de S. Miguei com veftigios de fortificação
antiga, que dizem foy dos Mouros.
Santa Maria de Aguas fantas, Commenda de Malta , fundada pela Rainha
Dona Mafalda,chama-fe Morteiro,& dizem o foy, não dos Templários , como
alguns querem, mas dos Cavalleiros do SantoSepulchro, a que aílirtião } muy
parecidos em tudo aos fobreditos. Depois viverão nefte Morteiro , que era
Duples, Conegos, & Conegas Regrantes,& fe acha fua memoria pelos annos de
1130. & ainda no de 12 83. perfeverava com Conegos, & Prior , reynando El-
Rey Dom Diniz. Como paffou outra vez a Commenda de Malta não fabemos ,
nem temos noticia de que houveífe outro em Portugal da Ordem do Santo Se-
pulchro, fenão efte nefta Provinda. Tem Vigário com cento & vinte mil reis
de renda; he Collegiada com quatro Beneficiados fimples , tem de renda cada
hum cem mil reis, & tudo aprefenta o Commendador , quando vaga com refer-
va, ao qual importa a Cojpmenda em dízimos,& fabidos feifcentos mil reis, 5c
110 efpirituai he Prelado. Tem ertaFreguefia trezentos & trinta vifinhos , &
huma Ermida de Noffa Senhora de Guadalupe, Imagem milagrofa, &de muita
romagem. Aqui foy a Cafa folareja dos Mayas, em que viveo o Infante Alboa-
zar feu afcendente, para daqui poder melhor profeguir a guerra cõtra os Mou-
ros.
Santiago de Milheiros, Abbadia do Padroado Real, que rende duzentos
mil reis, tem cincoenta Vifinhos.
S.Veriífimo de Paranhos , Vigairaria que rende cento & feífenta mil reis,
& quinhentos mil reis para o Cabido da Sè do Porto, a quem he unida in perpe-
tuum, & a aprefenta: tem cento & cincoenta vifinhos.
S. Miguel de Nevogilde, Abbadia da Mitra, rende oitenta mil reis , tem
vinte & cinco vifinhos.
S. Martinho de Cedofeita he Collegiada Real, & das melhores do Reyno,
fundada por Reciario noífo Rey Suevo, que reynou pelos annos de 4,4,6- &foy
o primeiro Rey Catholico que houve no mundo -.levantou erte Templo à honra
de S. Martinho Papa, & mandando a França à Cidade de Tours bufcar huma re-
líquia derte Santo (que alli ertá) para pôr na nova fabrica ; ainda que os m en-
fageiros forão com toda a prefla, muito mais cedo fe fez a Igreja, & por tanto
lhe puzerão o nome de Cedofeita. Depois, fegundo fe entende , foy de Cone-
gos Regrantes de Santo Agoftinho com Prior, como fevê nafegunda parte do
Catalogo dos Bífpos do Porto na vida do Bifpo Dom Hugo, & aflim perfeverou
atèoannode 1191.em quecra Bifpo Dom Martinho. No anno de 1280. o
achamos com Abbade, & que tinha erta Igreja Couto ; porque ElReyDom Di-
niz lho confirmou em Braga em 7. de Julho ; & que as Jurtiças Reaes lhe nam
' DA COROGRAFIA PORTUGUESA, ifi
impediffem tirarfe fal nas marinhas de Maçarellos. PaíTou a Priorado fccular
cm que permanece com renda dedous mil cruzados, & em noíTos temoos fnhin

D A on
Pedm^ ÍT Regente,
1 edro noffo R agora°^
Rey ^ ^oSexto
fegundo , & do
do nome, Seren./Timo
o venerável pTc^e
Dom Da
Nicolao
Monteiro , que depois faleceoBifpo do Portò com opinião de ajuftada vida.

1S
STvf^
reis, r' 1a
M Jtre-efcola, klc0mrenda
Abbadede de cento
Nogueyra, em que aprefenta &cincocnta
Cura, mil
que confir-
ma o Ordinário, com duzentos & trinta mil reis , TJaefoureiro com cento &
ciricocnta.mil reis, oito Conegos a oitenta mil reis , & tresmeyos Conexos i
quarenta mil reis, todos da aprefentação do Prior alternativamente com o Papa,
que também o prove.. Aprcfentão o Prior, ScOonegos o Priorado de S. Mar-
tinho de Salrcu com alternativa do Convento de Lonão , aAbbadia de Saõ
João de Canellas na terra da feira, & a Reytoria de STCofme de Gondomar: o
Prior aprefenta, & colla os Curas de Cedofeita, & a annexa de Maçarellos em
que he Prelado, eflando tam perto do Porto , como Santa Cruz em Coimbra.
Ha aqui grande romagem no dia de S- João Bautifta com novena antecedente:
tem relíquias deite Santo metidas em huma cabeça , & todos os terceiros Do*
mingos dos mezes concorre muita gente aos E vangelhos de S. Joaõ Evanseliffcu
Tem mais huma cuítodia de diverfas relíquias , & entre ellas algumas das
roupas de No-Ta Senhora. Tem eíta Freguefia duzentos & noventa viíinhos.
t ~ Santa Maria da Boa Viagem de Maçarellos,arrabalde do Porto,he Curado
de Cedofeita, de quem he annexa, & com ellafe arrenda. Aquieítá outra Igre-
jaque chamão o Corpo Santo, mas ambas faõ de hum Curado, tem duzentos &
o. tenta & quatro viíinhos.

CAP. VIL

T)o Concelho, &• fulgâdo de ^Aguiar de Soúfá*

A Eíte Concelho deu foral El Rey Dom Manoel em Lisboa aos 2 y. de No-
vembro de 151 f tem Ouvidor pedaneo feito pela Camara do Porto cõ
votos do Concelho, tres Tabeliaens do Civel, & Notas por El Rey, rende cadá

u Cei^ a uCl*} P°^u^fervem Honras, & Coutos em civel, & crime; he


cabeça Caítellaos, & faõ fenhoresdos maninhos, & direitos Reaesos Marque-
zes de F ontes,& tudo he termo, & Correição do Porto, & Comarca de Penafiel,
Fuma das quatro Comarcas Eccleíiafticas, em que fe divide o Bifpado do Porto:
tem as Fregueíias feguintes.
S de
11 " Rio tinto, nome que tomou da batalha que aíli deu aos
Mouros ElRey Dom Ordonho o Segundo, de cu\ofangue fe tingio aquelle pe-
queno no. Dizem alguns quefundàrão aqui Morteiro de Monjas de S. Bento
no anno de 1062.Dom Diogo Trutifendes , & feus filhos Truytifendo Dias,
Gonçalo Dias, & fua filha Unifco Dias, dotandoo de groífas rendas, & Padroa-
dos de Igrejas, porque in folidum, ou meyas, ou terços> eraõ ao todo doze. El-
Key Dom Affonfo Henriques lhe fez Couto por fuas oraçoens, & por quinhe-
tos maravedis de ouro, que lhe deu a Abbadeífa Dona Hermezcnaa Goterres

li
l74 tomo primeiro
em 20.de Mayo de 1141. El Key Dom Affonfo o Quarto lho confirmou por
fentença,dizendo>que a Abbadeffa dcffe juramento ao Juiz para ouvir feitos
eiveis, &as appellaçoens foffempara a mefma Abbadeffa;, de quem fopudeffe ir
por aggravo a El Rey: aflim fe conferva hoje, elegendoo o povo cada anno, & ler-
ve também de Grfaõs, com que lhe rende oito mil reis à Abbadeffa de S- bento
do Porto, a quem efte fe unio,a qual lhe dá juramento, & a vara ,& apreíenta Eí-
crivão, Meirinho, que ferve de Porteiro, & Almotacel* Outros dizem que ci-
tas Monjas foraõConegas Regrantes, & que primeiro eftiveraô noConvento
Duples de Moreira, donde fe paffàraõ para efle , & nelle confervàrao o antigo
habito de Conegasatè o anno de 1 3 5 • em que fe mudàraõ para o novo Moitei-
roda Ave Maria de S. Bento do Porto, aonde ficàraó Bentas, lendo ultima Ab-
badeffa de Rio tinto Dor^Ines Borges, levando do Convento de Moreira, qua-
do fe dividirão dos Conegos, mais de hum conto de renda, em que entra a quin-
ta da Retorta junto de Azurara, & os cafaes, & Igreja q tem na terra da Maya,
& fe entede foraó de D- Sueiro Mendes da Maya, que fez grandes doaçoes ao di-
to Convento de Moreira no anno de 1085". Muito oppoítasfaõ eiras duas opi-
nioensdeFrcvLeaõdeSantoThomás , & de Dom Nicolao deS- Mana, Ghro-
niílas de fuas Religioens, fe a minha coníideraçaõ valera , differa eu, que Rio
tinto logo foy fundaçaõ de Freyras Bentas , & que depois dividir.doie dos Co-
negos as Concgas de Moreira, fe iriaõ alli recolher com eítas vifmhas, conier-
vando cada huma feu habito, & adminiflrando feus bens, como poucos annos
ha vimos no Seminário de Braga, aonde, depois que os Gallegos neítas guerras
paffadas nosganhàraõ Monçaõno anno de 16^9. eíliverao juntas ( mas nam
unidas) as Freyras dos dousMoíieiros,deS. Bento, & S Franciíco, ate o an-
node id68- emque feajuífàraõ aspazes , & cada Religiofa tornou parai eu
Convento. He eíla Igreja Vigairaria que aprefentaa Abbadeffa de S-Bento do
Porto , a quem daõ em lugar dedezafetemil reisosdizimos da Aldeã de Ba-
guim do Monte, que com a cultura creceo tanto, que rende ao todo trezentos
mil reis, & para as F reyras com fabidos tres mil cruzados. Tem duzentos &
quarenta & feis vifinhos, & ha neíla F reguefia minas de talco fino , que' eleva
para muitas partes, com que muitos tem enriquecido item muito mel, lacticí-
nios, boas frutas, muito vinho verde, & caça- ....
S.Pedro da Cova, Abbadia da Mitra, rende cento & oitenta mil reis,tem
fetenta vifinhos. . _v ,
S- Mamede de Val longo,Vigairaria do Moíteiro das Freiras de S.Bento do
Porto,q rede ao todo céto & vinte m'ilreis,& para as Religiofas cõ íabidos tre-
zentos mil reis: he povo grande arruado habitado de muitas padeiras , que
fuftentaõ o Porto de paõ, que ellas lá levaõ a vender, & de muitos almocreves,
que vive de conduzir de muitas legoas o trigo para fuas mulheres cozerem:
tem duzentos & noventa vifinhos, ôteftas Ermidas, Noffa Senhora das Chans,
que foy de muita romagem. Santa Juíla,S. Bertholameu, & Santo Antaõ- Aqui
eílaõos veftigios das minas antigas com muitos fojos inda abertos, de que he
tradiçaõ tiràraõ os Romanos grande quantidade de ouro,& prata,&: que condc-
navaõ os culpados para trabalhar nellas. Nas penhas defta ferra fe achaõ muitos
criílaes, alguns baítantemente finos. No mais alto da montanha eíla hum po-
ço altiífimo,que de Inverno fe feca, & de V eraõ tem tanta agua bemfria , que
com ella fe regaõ muitos milhos.
S. Martinho do Campo, Abbadia do Convento de V illela com referva, ren-
de duzentos mil reis, tem cento & cincoenta & dous vifinhos.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA, 375-
Santo André de Sobrado, Abbadia da aprefentaçaõ dos Baldayàs do Por-
to, familia antiga, & nobre, rende quinhentos mil reis, tem cento & trinta 6c
quatro viíinhos.
S. Miguel dc Gandara, Abbadia que aprefenta o Balio, rende duzentos &
cincoenta mil reis, tem cento, & quarenta viíinhos*
Santa Marinha de Eftromil, Abbadia quefoyda familia dos Ferrazes do
Porto, ét paliou por cafamento aos Nunes Barretos, em que anda 5 he feu Pa-
droeiro infolidumDomFradiquede Magalhaens 6c Menezes ,fenhor da Villa
da Barca,por fer genro, ôc herdeiro deí ernaõ Nunes Barreto Morgado de Frei-
riz: rende cem mil reis, tem quarenta 6c tres viíinhos*
Santa Eulalia de Vandoma chamaõlhe Morteiro, porque fegundo alguns o
foy de Bentos, inda que Dom Ntcolao de Santa Maria na fua Chronica do9 Có-
negos Regrantes o faz da fua Ordem ; mas o certo he haver íido dos Premof-
tratenfes em França, 6c nelieos achamos até o anno de 1 y 16- Foy fundado
por Dom Moninho Viegas o Gafco,6c feus filhos, 6c feu irmão o Bifpo Saõ Sif-
naudo, St Dom Nonego, Bifpo de Vandomà em F rança , donde o foy primeiro
que vieíTe para o Porto: tiveraõefteappelliclo,ôcodéraõa muitas terras junto
da fó z do Soufa, que inda conferva o nome de Gafconha , por irem a Gafcunha,
Província de França, bufear gente, que trouxerão por mar ao Douro, com que
ganhàraõ a Cidade do Porto aos Mouros, 6c muitas terras acima daquelle rio }
6c como o Bifpo Dom Nonego o tinha fido de Vaudoma , quereria fe puzeífe
aquellenome a efte Morteiro, 6c àquelle grande monte, em que íe vem ruinas de
fortificação, que fervia ao exercito de fegurarfe das.correnas dos Árabes , ou
repentinas affaltadas, quando os Conqniííadoresfe tiveíTem divertido a outra
parte, a que era força fahilfem , deixando alli com fuas famílias huma guarni-
ção ordinária. He Abbadia do Padroado Real, rendelhe huma parte dos dízi-
mos coin o que lhe toca das duas annexas, S. Miguel dcChriftellos , 6c Santa
Eulalia de Paifos, duzentos 6c cincoentamil reis, Óc para os Padres da Compa-
nhia do Collegio de 5. Lourenço do Porto, a quem fe derão as outras duas par-
tes dos dízimos, 6c fabidos, quinhentos mil reis, dequepagaõa cada hum dos
dous Curas das annexas, que aprefenta o Abbade, dezoito mil reis: tem feten-
taéc.oito viíinhos.
S. Miguel de Rebordoza, Abbadia da Cafa de Pertaguiaõ, que rende qui-
nhentos mil reis, tem duzentos 6c vinte 6t feis vifinhos-
S. Salvador de Lordello, foy Morteiro de Gonegos Regrantes , 6c ainda
os tinha no anno de 14,78- He Abbadia fecular dos Bifpos do Porto infolidum,
rende íeifeentos mil reis, tem duzentos & trinta & feis vifinhos. Aqui ertá a
Torre, & Solar dos Alcoforados, de quehefenhor Peflro Vaz Cirne de Soufa-
Tem efte appellido por Armas o campo enxequetado de prata, 6c azul > de fete
jecas em faxa, timbre huma Águia de azul volante, armacia, ôc enxequetada da
)anda direita ametade da prata. Defcendem de Pedro Martins Alcoforado, fi-
ho de Martim Pires de Aguiar, ôc de fua mulher Dona Elvira Gonçalves , ôc ne-
to (naõ filho, como diz Frey FrancifcoBrandaõ na Monarquia Lufit.p. 7. liv.
16- cap-17.) de Dom Gonçalo Mendes de Soufa, 6c de fua amiga Dona Goldo-
ra Goldares de Refronteyra, por onde faõ Padroeiros de Boftello , 6c tiveraõ
muitas Honras nefta Província, em que ha muitos fidalgos defte appellido mif-
tico com Soufas, 6c delles defcendem os mayores do Rey no , particularmente
por varonia as Cafas da Sylvaem Barcellos, 6c a de Villa Pouca em Guimarães,
de q ue he fenhor Francifco de Soufa da Sy Iva.
3 76 TOMO PRIMEIRO
s. Eftevão de Villela , Mofteiro de Conegos Regrantes de Santo Agofti-
nho, que fundou Dom Payo Gutçrres, que com feu pay Dom Goterrc veyo de
Gafcurha em companhia do Conde Dom Henrique, que lhe deu muitas terras
nefta Província, aonde foraõ troncos da illuftre i amilia dos Cunhas- IN am lhe
fabemos o anno de fua fundaçam, mas já eftava feito no de 1118* &havia nelle
Raçoeiros com Prior chamado Affonfo Paes- Muitas peífoa nobreslhe iizeram
depois grandes doaçoens ;paffoua Commendatarios, que lhe alheàraõ n.uito,
& toy o ultimo que teve Antonio Brandaõ, irmaõ de joaõ Brandaõ do Porto, fi-
dalgo honrado, de que vem os fenhores da C afa de Corevxas • Fez no Morteiro
obras de cufto, & muitas fe teftificaõ com fuas Armas, que nellas le vem : tale-
ceono anno de 1590. em quefe Unio à Congregação dos Conegos cie -Santa
Cruz de Coimbra, & no de 1595- entrou nelle por primeiro Prior triennal o Pa-
dre om Gafpardos Reys- No de 1612- fe unio in perpetuum ao Convento
da Serra do Porto: de prefente tem dous Religioíos, fetvindo hum de Piefiden-
te, & outro de Procurador: confervaõhuma relíquia do Proto- Martyr Santo
Eftevaõ em huma maõ de prata com muita romagem em feu dia. Teve Couto,
que já nam tem ; rende ccm paíTaes,- anntxa, & labidos dous mil cruzados para
o Mofteiro da Serra do Porto, cujo Prior poem Cura fecular, que terá de renda
trinta & cinco mil reis item cento & quarenta & cinco vifínhos. _
Santa Maria de Duas Igrejas, Abbadia que aprefenta o Mofteiro de V ide-
la com referva, rende trezentos mil reis, tem oitenta vilinhos.
S. M iguel de Chriftellos , Curado anriexo a Santa Eulalia de Vandoma ,
que terá de renda cincoenta mil reis, com dezoito que lhe daó de ordinária.
tem cincoenta vifínhos.
S. Pedro da Arreygada, Curado annexo ao Mofteiro de Villela , & com
elie fe arrenda, daò ao Cura dez mil reis, & ao todo trinta mil reis: tem quareta
& fete vifínhos. ....
Santia, o de Modellos, Curado do Mofteiro de Ferreyra com oito mil reis,
ao todo vinte mil reis , & para hum beneficio fímples do Mofteiro íefftnta mil
reis: tem fefíenta & quatro vifínhos.
S. Salvador de Meixomil, Curado anr.exo à Commenda de Penamayor,que
aprefenta o Rey tor: tem cento & dezafeis vifínhos.
Santa Eulalia de Paífos, Curado annexo de Vandoma, tem cento & quinze
vifínhos. > . .
S. Salvador de Freamunde, Preftimonio da Ordem de Chrifto, que roy ha
poucos annos Abbadia, tem Rey tor com quarenta mil reis de renda , ao todo
cem mil reis, & para o Commendador duzentos mil réis; he Couto , & Honra
cò Sobrofa, cada húacõjuiz ordinário, & dos Orfâõs, eleito pelo povo por pe-
louro, confirmado pelos Màrquezes de Villa Real, fenhores delia , que davaõ
todos os ofícios, &: Commenda,& aprefentavaõ Reytor; dous Vereadores,Pro-
curador, & Almotacel,Efcr Iva *>,& out rodo PubliéO , & Camara; fazem elles
Juizes ambos audiências alternativamente, & entrao no domínio deita Honra
cafeiros defóra,que gozão privilegio de moradores : tem cento & cincoenta
vifínhos, & eftá cercada do Julgado de A uiar. Preftimonio chamamos ahúas
rendasde Igrejas, que com o habito de Chrifto davaõ os Marquezes de Villa
Real,Duques de Caminha, a quem lhes pareaa,& lograõ titulo de Commendas,
&os queapofíuem tem asmeírnaspreeminencias queoscídRey ; que os Pr in:
cipes que poífuíraõ efta Real Cafa, nam quizeraõ degenerar do fangue que her
dàraõ das Mageítades de quem defeendem.
DA COROGRAFIA PÕRTUGUE2A; 37;
S. Salvador de Figueiras, Abbadia que aprefenta o Balio, rende duzentos
& cincoenta mil reis, tem cem vifinhos.

Couto de Ferreira.

O Morteiro de S. Pedro de Ferreira, querem alguns que feja fundação de


Sueiro Viegas, fogro de Dom Fernando Geremias , tronco dos Pache-
cos; outros que não he erte, mas o de Freiras em Ferreira de Aves j foy. de
Templários, depois de Conegos Regrantes, a quem fe tirou no anno de 14.7 f.
&fe annexou à Cathedral do Porto por Bulla de Sixto Quarto , fendo Bifpo
delia Dom João de Azevedo. He Igreja Collegiada, tem Miífa Conventual cõ
hum Thefoureiro porto pelo Bifpo, & Beneficiados, que todos entrão nos dizi-
mos, alguns com fetenta mil reis de renda,outros cOm oitenta mil reis, & pára
o Bifpo com íabidos quatrocentos mil reis : tem cento & quarenta vifinhos, &
ertas Ermidas, NoíTa Senhora do Loureiro, S. Miguel, & S. Domingos. He Cou-
to do Bifpo com Juiz ordinário, & dos Orfaõs eleito pelo povo por pelouro cõ
Vereadores, & Procurador confirmado pelo Bifpo, Efcrivaõ dos Orfaõs, 2c Pu-
blico, data do Prelado. He derte Morteiro a Ermida de Santiago dos Milagres,
em que Deospor interceffaõ derte Santo obra tantos, que excedem a fé huma-
na : tem feira em feu dia, que dura tre s dias.
Santa Eulalia de Sobroza , Curado annexo ao Morteiro de Ferreira, que
aprefentaõ os Bifpos, rende cincoenta mil reis, tem cento & feííenta & tres vifi-
nhos. He Honra da Cafa de Villa Real na fórma de Freamunde já referida > &
Sol at dos Soverofas.
ebnaV n A: 1 ■ •

Feetria de Louredo.

SAõ Chriftovãode Louredo, Abbadia da Mitra, rende duzentos & cincoé-


ta mil reis, tem fetenta & oito vifinhos. Foy Beetria, que tiveraõ principio
em Cartella em tempo de Dom Rodrigo Trelas primeiro Conde da-
quelle Reyno, pay do Conde Dom Diogo Porcellos ; faõ folares eximidos da
fogeição Regia, privilegio que tomáraõ, & ti verão muitas terras de poderem
eleger quantos, & quaefquer fenhores que quizeífem , fendo naturaesdeEfpa-
nha, & tomando hum, depolo,& efeolher outro, & outros, até fete em hú dia,
pelo que fedizião Beetrias de mar a mar, ideft, defdeo Cantabro Oceano atè o
Atlântico, ou Mediterrâneo, dos a quem mais obrigados fe achaíTem, accõmo-
dandofe erte nome com a fignificação Latina de Benefactor ta, & em Caftelhano ,
Bienteharia, fe corrompeo em Beetria; mas algumas, ainda que podiao mudar
fenhor, fempre havia de íer defeendente dós que o tinhão fido, com que muitas
familiasporprefcripçãodo tempo ficàrão fenhores delias para fempre , & al-
gumas tiveraõ eftes privilégios paliados pelos Reys, por em lugares folitarios
fe principiarem em vendas, & eftalagcns, em que os miferaveis , &paffageiros
achaíTem agazalho,& militas de tam pouco fefizeraõ grandes povos^ Entre mui-
tos lugares, que nefte Reyno pertendèraõ ferem Beetrias , faõ nefta Provinda
ertas de Louredo, & Gallegos, Amarante, Ovelha, Canavezes, Paços de Gayo-
lo, Couto de Tuyas, & Varzea da Serra í pende o feito inda hoje no Juizo da
Coroa,, em que foy Efcrivaõ Agortinho Rabello. He Honra delRey com Veire>
Ji iij * Gou-,
j78 tomo primeiro
Gondelaes, 5c Gallegos em Penafiel, que antigamente era feparada , Sc tambcm
he Beetria. Tem Juiz, Sc os maisoffieios da Republica com E.fcrivão do Julga-
do de Aguiar de Soufa. EiRey Dom Affonfo o Quarto confirmou eíla ftonra de
Louredo noanno de 1342* a Dona Leonor Furtado, filha de Fernando, ou At-
foníò Furtado, Sc irmaã de Ruí Furtado.
S. Miguel de Veyre, Abbadia da Cafa de Marialva, que rende trezentos Sc
feffenta mil reis, tem cento Sc trinta Sc quatro vifinhos , Sc huma Ermida de S.
Luiz. Aqui eftá a antiga quinta , Sc Cafa do Paço , que hoje poffuem os fi-
dalgos da familiadePamplonas vindos de Navarra a eíla Provinda-
S. VeriíFimo de Neovegilde, Abbadia do Mofteiro de Pombqiro com refer-
va, rende duzentos Sc feffenta mil reis, tem cento Sc dezoito vílinhos , Sc huma
Ermida de N • Senhora da Aj uda. '
S. Payo de Cafaes , Abbadia , aprefentação alternativa com referva dos
Mofteyros de Villela, Sc Roriz, rende duzentos Sc vinte mil reis , tem noventa
Sc quatro vifinhos.
S. Thomède Bitaraens, Abbadia da Mitra in folidum,que rende trezentos
mil reis , tem cento Sc dous vifinhos , Sc huma Ermida de Noffa Senhora dos
Cha5s.
Santa Maria Magdalena, Curado do Mofteiro de Cete com feis mil reis ,ao
todo vinte Sc cinco mil reis, Sc para os Frades noventa mil reis , tem trinta Sc
hum vifinhos.
S. Pedro de Gondilacs, Abbadia que aprefenta o Mofteiro de Villela com
referva , rende duzentos Sc vinte mil reis , ScoAbbade tem obrigação de dar
hum jantar cada anno à Communidade do Mofteiro : tem fetenta Sc tres vifi-
nhos.
S. Cofme de Befteiros, Abbadia do Mofteiro de Cete com referva, rende
duzentos Sc trinta mil reis, tem feffenta Sc quatro vifinhos.
S. Salvador de Caftellaõs da Cepeda, Abbadia da Mitra que rende duzen-
tos mil reis,tem cento Sc trinta Sc cinco vifinhos- Aqui he a cabeça do Cõcelho,
aonde fe adminiftra juftiça.
S- Romaõ de Moriz he Commenda de Chrifto, Sc Reytoria da Mitra , que
rende ao todo cento Sc vinte mil reis , Sc para o Commendador quatrocentos
mil reis, tem duzentos Sc quinze vifinhos. Aqui viveo Eftevaõ Dias de Mou-
riz cafado com Dona Mana Martins do Avelar,filha única herdeira de Martim
de Aragaõ, Scdefte cafamento defcendem os Avelares, que tem por Armas em
campo de ouro tres faxas vermelhas, Sc fobre cada huma tres eftrellasde prata,
timbre tres efpadas fincadas no elmo com os cabos de ouro , Sc os punhos de
vermelho em roquete»
S. Joaõ Evangelifta de Villa Cova de Carros, Abbadia do Mofteiro de Cete
com referva, rende duzentos mil reis, tem íeffenta Sc feis vifinhos.

Ho?ira de 2>altar.

SAõ Miguel de Baltar, Abbadia da Cafa de Bragança, duas partes da renda


eftaõ unidas ao Mofteiro das Chagas das Religiofas de S. Francifco de Vil.
la Viçofa, toda renderá duzentos Sc oitenta mil reis, tem cento Sc oitenta vifi-
nhos. He Honra daquella Cafa com Juiz por pelouro, eleição triennaldo povo,
que confirma o Ouvidor de B jrcellos, os Efcrivaens faõ os de A guiar de Soufa-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA.
Aq ui em hum alto cm que eíla terra eílá,fe vem vcítigios de fortificação ánti--
ga. Foy fenhor deíla Honra, naõ Villa (como dizem alguns ) Joaõ Rodrigues
Pereira, tronco dos Pereiras Marramaques, ôc a trocou com leu parente oCon-
deilable Dom Nuno Alvarez Pereira por Cabeceiras de Bafio.
S. Mart inhode Perada de Todea, Curado do Moíleiro de Ccte , cõ quem
le arrenda, tem fetenta vifinhos.
S- Pedro de Cete fòy Moíleiro de S. Bento , fundado perto do rio Soufa
por Dom Gonçalo Oveques, tronco dos Freitas , que viveo em tempo delRey
Dom Affonloo Sexto, íogro do Conde Dom Henrique» Deu-fe no anno de
1521. aos Religiofos Eremitas de Santo Agoílinho, que o unirão ao Collegia
de Noíía Senhora da Graça de Coimbra- Nellc ha huma grande reliquia do San-
to Lenho, que deu a Rainha Dona Mafalda, mulher dei Rey Dom Affonfo Hen-
riques, a que concorrem em feíla feira de Endoenças, ôc em tresdeMayo mais
de vinte mil almas. He Prefídencia de tres atè íeis Frades, rende com as anne-
xas,ôc íabidos mais de tres mil & quinhentos Cruzados, com hum bom Cura-
do, que rende cem mil reis: tem cento ôc vinte vifinhos-
. S-Pedro da Sobreira, Vigairaria do Deaõ do Porto , que rende ao todo
cem mil reis, ôc para o Deaõ quinhentos ôc quarenta mil reis, tem cento ôc oité-
ta ôc feis vifinhos, ôc huma Ermida de S. Comba.
S-Romaó de Aguiar de Soufa, Abbadia do Padroado Real, rende duzen-
tos ôc cmcoenta mil reis, tem noventa ôc dous vifinhos, & cftás Ermidas, Nof-
fa Senhora dos Remcdios, NoíTa Senhora do Salto, S. Sebafliaõ, ôc Santa Mar-
tha.
Santa Maria de Covello, Curado de S. Joaõ de Soufa,& ambas do Moíleiro
de Cete, com quem fe arrendaõ; tem quarenta & tres vifinhos.
Satfta Maria das Medas, Curado que aprefenta o Reytor de Lever além
do Douro, com quem fe arrenda, tem fetenta ôc feis vifinhos»
S- Joaõ de Soufa, Vigairaria do Moíleiro de Cete, rende feffenta mil reis, &
para os F rades de S- Joaõ o novo do Porto cento ôc trinta mil reis : tem cento
ôc quarenta vifinhos.
Santa Cruz de Jovim, Abbadia da Mitra, rertde duzentos mil reis , tem
cento & doze vifinhos, & huma Ermida de N- Senhora dasNeves.
. S- Venífimo de Valbom, Abbadiada Mitra , rende duzentos ôc vinte mil
rei9, tem cento ôc trinta ôc tres vifinhos, ôc huma Ermida de S. Roque. Aqui ef-
tâ a quinta dos Correas Montenegros, q he húa das melhores delia Província,
ôc boje a poíTue Pedro Correa de Azevedo, filho de Paulo Correa Montenegro,
ôc de Dona Iíabei de Barros Carneiro, irmaã de Joaõ Carneiro de Moraes , que
toy Defembargador do Paço, ôc Chanceller mór do Reyno. ' 1
Santa Maria da Entrega, ôc Campanhaa , nome que tomou da campanha,
que allieítcy© com exércitos de Catholicos,ôc Mouros, quando fe deu a bata-
lha de Rio tinto 5 he Commenda de Chriílo, ôc Rey toria da Mitra, que rende ao
todo cento ôcfeflentamil reis. Foy antigamente Padroado fecular, ôc odeu-
Dona Maria Annes de Fralaês mulher de Dom Gomes Correa, ôc fua filha Do-
na Tareja Gomes Correa (mulher que depois foy de Payo Soares de Azevedo)
ao Bifpo do Porto Dom Sancho Pires feu primo, cuja data he do anno de 1297»
ficou da Mefa Pontifical, depois paíTou aos Frades Loyos, quando fe pr incipia-
va eíla Ordem, deu-lha o Bifpo Dom Vafco Segundo, ôcnella agafalhavaõos pe-
regrinos, mas premudado eíte Bifpo para Évora,viraõ-fe os Religiofos taÔ 00u-
co favorecidos do fucceffor,ôc muito do Arcebifpo Primaz Dom Fernando da
Guer-
580 ' ' TOMO PRI MEIRO
Guerra, que a defemparàraõ, & vieraõ para Villar de Frades, aonde comecâraõ
a ter ordem devida.
, S'. Salvador de Fânzeres, Vigairaria da Mitra, que rende ao todo cento &
vinte mil reis, & para huma Capella da Sè de Lamego os dízimos, que rendem
mil cruzados, de que he adminitirador a Dignidade mais antiga daquella Sè: te
duzentos & doze vilinhos.
São mais defte Concelho as Fregueftas feguintes, que pertencem ao ^ircebi(pa-
do de Braga.
Santiago de Loftoía foy Morteiro, que reedificou a Rainha Dona Therefa,
&he fagrado; de prefentehe Abbadia que aprefenta Dom Fadrique de Mene-
zes, fenhor da Villa da Ponte da Barca, por fer cafado com filha herdeira de feu
tioFernaõ Nunes Barreto, Morgado deFreiriz,emcujaCafa entrou por caía-
mento de Ferrazes do Porto, de quem era, rende quinhentos mil reis , tem oi-
tenta vifinhos. NeftaFreguefiaertá aChaãde Ferreira , em que começão o
Valle, & rio derte nome. Tambem em hum monte alto, aõde ertá a Capella de S.
Marinha fe vem fínaes de fortificação antiga. Os Ferrazes, de que ha muitos no
Porto, & em Ponte de Lima, deriva-os o Conde Dom Pedro por femea dc Fer-
não Gonçalves, Cavalleiro da terra de Souía , & de fua mulher Dona Examea
Dias Duroom. Tem por Armas em campo vermelho feis arruellas de ouro , &
em cada huma pelomeyotres rifeos pretos.
S. Pedro de Reymonda, dizem que foy annexa a Santiago de Loftofa , hc
Abbadia da Mitra, rende duzentos & cincoenta mil reis , tem oitenta vifi-
nhos.
Santa Maria de Souzella , Abbadia do Ordinário com referva do Balio,
rende trezentos & oitenta mil reis, tem cento &vinte&feis vifinhos- Aquieí-
tá a fonte fanta de S. Chriftovão, a qual fe deu a ver a huma mulher pelbs annos
de 164.2. em hum fítio pouco húmido , & fem obra de maõs, ou arte rebentou
em tanta quantidade, que lança por tres bicas. Muitas mortalhas, & muletas,
que na Ermida fe vem, faõ publico tertemunho dos grandes milagres, que Deos
por ella obra. ^ . . _
S. Joaó de Covas, Abbadia com a mefma alternativa , rende duzentos &
vinte mil reis, tem fetenta vifinhos.
Santa Eulalia da Ordem, Igreja antiga, que parece Morteiro daquelles te.
pos,he Vigairaria annexa do Baliado, que rende ao todo feífenta mil reis , &
cento & trinta mil reis para o Balio: tem feffenta & feis vifinhos.
S. Joaõ de Eyriz, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis, tem oitenta
vifinhos. Aqui eftá o Paço de Ferreira , que mudou de outra parte para onde
hoje eftá, o Capitão Paulo Ferreira fenhor delle,& o reedificou feu filho Rafael
Ferreira de Matos, Abbade de Santiago da Gimieira.
Santiago de Carvalhofa, Vigairaria do Morteiro de Villarinho, que rende
ao todo cem mil reis, & para os Frades trezentos & cincoenta mil reis; tem cen-
to & vinte vifinhos.
S.Pero Fins de Ferreira, CommendadeChrifto,&ReytoriadaMitra, que
rende ao todo cem mil reis, & para o Commendador trezentos mil reis com a
annexa feguinte: tem oitenta vifinhos com dms Aldeãs , huma que chamão a
Freiria, nome que tomou de hum Morteiro de Templarios que alli houve; outra
que chamão da Torre, por huma que teve, & ha poucos annos a derrubarão os
Lavradores, para com a pedra fazerem cafas , os quaes neftesbens faõ cafeiros
do Conde de Caftello melhor.
... .' >, ' Santai
DA COROGRAFIA PORTUGUÊZA*
S anta Maria de Lamofo, Vigairaria annexa a S. Pero Fins , cujo Rey tor a
aprefenta,.tem a uarenta viíinhos.
S. Joaõ de Codeços, Abbadia da Mitra,, rende cento 2; vinte mil reis, teih
trinta 5c íeis viíinhos.
Santiago de Figueyró, Vigairaria annexa da Commenda de Villa Cova,que
apreí enta o Rey tor, tem quarenta 5c cinco viíinhos.

CAP. VIII.

T)o Concelho de Çondomar.

HUmalegoa do Porto pelo Douro acima cfíá íítuado eíie Concelho, de que
he Donatário o Marquez de Fontes, Conde de Penaguião : ElRev Dom
Sancho oPrimeiro eílando em Santarém 110 mee de Março de 125 6. lhe deu
foral, que depois reformou FlRey Dom Manoel em' Lisboa aos 19. de Junho de
15" 1 f. Eíie Couto deuElRey Dom Sancho o primeiro à Sê do Porto, 5c o con-
firmou a feu Bifpo Dom Martinho ElRey Dom Affonfo o Segundo eíiando em
Santarém em Março de i2iS.&aqui elieve aquelía Honra de Sueiro Rey mo-
do, de que ElRey Dom Affonfo o 1 erceiro mandou tomar conhecimento , 5c
achou que naõ era honrada por couto, padrões, carta, ou pendão, fenão por ra-
zao da peffòa deíie fidalgo. Era eíia Honra Solar dosReymondos , que tem
por Armas o efcudoefquartelado, o primeiro cm campo azul com huma flor de
Liz de prata, 5c o fegundo em campo de prata com hum Pinheiro verde , a que
corre fponde os cõtrarios, timbre o peixe Reimaõ de ouro com hú ramo de pi-
nheiro atraveffado na boca, Aqui eíiá hum alto penhafco, a que chamaõ o Craf-
to, que foy fortificação inexpugnável de Mouros., de que os lançou fora o In-
fante Dom AlboazarRamires; permitcDeos que neíie íitio,em que tantas ve-
zes devia fer por elles offendido , feja hoje muitas mais venerado pelos Chrif-
taõs com grande romagem a huma Ermida que nelleeíiá. Coníla eíie limitado
Concelho das Fregueíías de Rio tinto, Campanhaã, & S. Pedro da Cova,de qtlê
ja falíamos, 5c deíia, que logo defcrevcremo-,. Todo tem tres juizes, a quedo-
mína o Ouvidor deíiaFregueíia, 5c lhes vem efcrever hum Efcrivão do Porto,
Os mats officios importão pouco,'
S. Cofme de Gondomar, que daonome ao dito Concetto, foy a primeira
Igreja que a eíte Santo natural de Egea, Cidade de Arabia, fededicòu emEfpa-
nha; he Çommenda de Chriílo,ôc Reitoria que aprefenta Cedofeita com refer-
va, rende ao todo cento 5c cincoenta mil reis, 5c para o Comendador feifcentos
mil reis: temtrezentos 5c trinta & quatro viíinhos. Houve aqui huma notável
mina de talco fino, que fe extinguio eíles annos páííutio,.

sua

wmw

CAP,
382 TOMO PRIMEIRO

CAP. IX.

Do Concelho de Loufyda.

C Hamamos Concelho avarias Aldeãs,&Freguefias, que juntas fe gover-


nao por humas JufHças,& Acordàõs. Elie fe compoem de algumas do
Biipado do Porto na Comarca de Penafiel; & de outras do Arcebifpado deBra-
ga. Tem juiz ordinário, que ferve dos Orfaõs, hum Meirinho, dous Vereado-
res, &. Procurador do Concelho., tudo por pelouro, eleição triennal do povo, a
que prtfide o Ouvidor de Barcellos, que aqui entra em correição, dous Almo-
taceis,Efcrivão da Camara,& Almotaçaria, Diílribuidor, Enqucredor, &Cõ-
tador,& quatro Tabeliaens, que também fervem nosOrfaóspor diftribuição,
tudo datados Duques de Bragança. O Efcrivão das Sizas vem de Aguiar de
Soufa- Tem as Frcgucfias feguintes, que faõ do Arcebifpado de Braga.
Santa Margarida ele Louzada, Abbadia do Vifconde de Villa-nova de Cer-
veira pela Cafaac Mafra , rende duzentos mil reis , tem trinta & feis vifi-
nhos. .
S. Salvador de Aveleda, Abbadia da Cafa de Bragança , rende com fabi-
dos,& a annexa feguinte quatrocentos mil reis», tem cincoenta vifinhos.
S. Miguel de Louzada, Vigairaria annexa de Aveleda , tem leífenta vifi-
nhos. t .
Santa Maria de Alvarenga, Reitoria da Mitra com quarenta mil reis, ao to-
do fefienta mil reis, & a renda he Preílimonio da Ordem de Chri fio , em cujo
livro anda com titulo de Commenda, rende para o Comendador com a annexa
de V ília Garcia cento & oitenta mil reis: tem dezafeis vifinhos.
Santiagode Cernadello, Vigairaria que aprtfenta o Reytofi de Alvarenga ,
de quem he annexa, tem trinta & dous vifinhos : ambas rendem duzentos &
quarenta mil reis para a Condeça de Alegrete , viuva do Conde Mathias de Al-
buquerque Coelho-
S. Miguel de Sylvares, Vigairaria annexa a huma Conezia de Braga , que
rende ao todo cincoenta mil reis, &para o Conego duzentos & cincoenta mil
reis item fefienta & dous vifinhos.
As mais Fregutfias que fe feguem, fao defle Concelho, & do fíifpado do Torto.
Santo André de Chriíkllos, Abbadia do Moíleiro de Villela com referva,
& obrigação de dar hum jantar, & cea cada anno ao Prior do Moíleiro, & a dous
homens de Cavallo, & gente de pè, que os acompanhe: rende duzentos & vinte
mil reis, tem quarenta & feis vifinhos. Aqui ená o Monte deCraflode S. Do-
mingos, que tomou elle nome de huma Capella que teve defte Santo: tem finàes
de fortificação, que pelo nome fuppomosíer dos Romanos.
S- João Evangelíífa de Nefpereira , Abbadia que aprefentaõalternativa-
mente os Moíleiros-de Villela,& Boftello com referva , & obrigaçaõ de dar de
jantar huma vez no anno ao Prior de Moreira, & a hum Conego, criados, & bef-
tas; rende duzentos & trinta mil reis: tem quarenta &tres vifinhos.
Santa Marinha de Lodares, Abbadia dos Moífeiros de Paço de Soufa, &
Cete
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 383
Cete com referva., rende duzentos St cincoenta mil reis: tem cento & dousvi*
finhos, St huma Ermida de S. Ifabel.
S- Salvador deNovellas, Curado do Moíleiro de Boiiello , que rende ào
todo quarenta mil reis, St duzentos mil reis para o Moíleiro : tem oitenta St
feis vifinhos.
S. Vicente de Goim, que antigamente fechamou deQoy , Curado de Saõ
Thirfo, a quem he unido,rende»ao Cura fetenta mil reis, St para os Frades du-
zentos mil reis: tem cinccenta Sc oito viíinhos } Sc huma Ermida de Saõ Jor.
§e*
S.Lourenço das Pias , Abbadia do Convento de S. Thirfo com referva ,
rende duzentos mil reis, tem fetenta viíinhos. Aqui eílá o foral do Concelho
de Louzada
%' -

C A P. X.

T)o Concelho, & fulgado de Penafiel de Soufa , cabeça de Co*

marca Ecclcjiajhcd do 'Turto,

SAõ Donatários defte Concelho, & Julgado os Peixotos, fenhores da Càfã


da Calçada , A dais mores ; deu-o EIRey Dom João o Primeiro a
Diogo Gonçalves Peixoto em fatisfaçao da terra da-Maya, Sc Travaços, que ha-
via dado de juro, & herdade a feupay chamado também Diogo Gonçalves Pei-
xoto, & fez depois eíla troca por haver tirado a terra da Maya ( quando lha
deu) a Gil Vaz da Cunha em pena de haver feguido as partes de Caíiella ; mas
tornando eílepara oReyno para lha reilituir,fe ajuílou eíla troca fem embar-
go do que diz Lavanha. Merecerão Diogo Gonçalves Peixoto, pay, St filho ef-
tas, St outras mercês pelo bem que o fervi rão , Sc á ElRey Dom Fernando nas
guerras, que teve com EIRey D >m Henoque o Se5undo de Cattella , Sc tanto
que governando o Caftello de Miranda do Douro, o defendeo com grande va-
lor de muitos cercos, que varias vezes lhe vierão por. Succedeu-lhe no fenho-
rio, St Cafafeu filho João Peixoto, neto do primeiro Diogo Gonçalves Peixoto,
que também foy fenhor da Honra de Canellas, Veador da Cafa delRey D. João
o Segundo, fendo Principe, St feu Mordomo mór. Deite nafceo Duarte Peixo-
to de Azevedo St Souía, quefuccedeo em tudo, St foy dos Confelhos dos Rey s
Dom Manoel,St Dom João o Terceiro,com mtiitos Padroados de Igrejas, que
quafi todos te paífado a outros 5 herdou-o feu filho Lopo de Mello Peixoto,Co-
mendador de Cinfaens na Ordem de Chriílo, do Coníelho dos Reys Dom João
o Terceiro, St Dom Sebaílião, St foy Adail mór por cafar com Dona Ambro-
íia de Loureiro, filha mais velha, Scherdeira dofamofo Adail Luiz de Lourei-
ro, dos quaes nafceo Dona Joanna de Mello, que por não ter geração de feu ma-
rido Dom Alvaro de Caílro, irmão do primeiro Conde de Bailo , paífou toda
efla Cafa a feu tio Pedro Peixoto da Sylva o Gallego de alcunha, meyo irmão de
feu pay, grande Soldado, St Capitão em Africa, Afia, America, St Europa , Ge-
neral das Galds> St Commendador das Commendas de S- Miguel de Lobão , Sc
384 TOMO PRIMEIRO
-de S. Salvador de Canedo na Ordem de Chrifto , & do Confelho de Felippe o
Primeiro, que lhe fez mercê dc toda a Cafa , & de Adail mór. Siiccedeo-lhe
Manoel Peixoto da Sylva feu filho, Cavalleiro da Ordem dc Chriílo, por fervi-
ços que fez. Teve, entre outros filhos, a Dona Guimar da Sylva, que cafou cm
Guimaraens com Fernando Rebello de Almcyda , & de ambos nafceo Gonçalo
Peixoto da Sylva, que a poífue com mais Morgados,& grofías rendas.
He cabeça defte Concelho de Penafiel o lugar de A rrifana de Soufa , cuja
fundação fe deve ao valor de Dom Fayão Soares defcendente dos Godos,& trô-
co da illuft re familia dos Soufas, o qual governado os Catholicos, que por aqui
vivião, fubditos aos Mouros com licença fua, povoou efte famofo lugar no an-
no de 8 yo.com os moradores que tirou da Cidade, &Caíteliosdc Penafiel, &
do.de Aguiar, fitos na foz do Soufa- He terra muy fadia, aprazivel , & abun-
dante de pão, vinho, aztite, frutas, linho, gados de toda a cafta, caça, peícas,
& de todo ornais neceífario para a vida humana. Sobre a ethimologia de feu no-
me ha varias opinioens, mas os payzanos querem fe derive de Aurifiama, aqúel-
la bandeira quadrada de cor vermelha, & de fedatam fina, que refplandecia, ou
outra femelhãte, que o Ceo deu a Moroveo R.ey de França, a qual metida na ba-
talha contra infiéis, era certa a a vitoriados Francezes. Tem boas cafas , &
Igrejas; a da Mifericordia,coufagrande, que fundou o Licenciado Amaro de
Meireles, Abbade de Ermellojdotandolheduas mil medidas de pão, & temdc
renda por todo mais de dous mil cruzados. HumHofpital , em que fe reco-
lhemos paíTageiros,&nellehuma Imagem dc Chrifto crucificado, que faz mui-
tos milagres. Na Matriz eftá outra do Ecce Homo, & em huma Capella fora do
lugar outra deNoífa Senhora da Piedade , todas muy devotas, & milagrofas.
Hum Convento de Frades Piedofos, com invocação da Soledade de Santo An-
tonio, fundação, & Padroado de Dom Francifco de Azevedo & A taíde, fenhor
da Honra de Barbofa, Meftre de Campo General que foy deft a Província; prin-
cipioufe efte Convento no anno de 1662-
Ha nefte Concelho duas feiras cada mez, aos dez dentro no lugar, &aos
vinte em Coreyxas: nos dias do Efpirito Santo, & S. Martinho duas de muito
concurfo, particularmente efta,pm que fevendembeftas, & de ambas tem as
portagens os fenhores do Reguengo,;&Cafa da Calçada. He povo de feifeen-
tos vifinhos, em qqe entrão alguns fidalgos,& nobres,os mais faõ artifices,par-
ticularmente de malho,lima, & agulha. Alguns homens grandes tem dado nas
armas, letras, & virtude ; forão nos noffos tempos muito valercfos Mathias
Ozorio Rangel, Tenente de Meftre'de Campo General no Alentejo. •
O Capitão Jeronymo de Soufa'Santiago, a cujo cargo eftava o governo de
Cabo Verde quando fe acclamou efte R.eyno,& outros muitos.
Nas letras forão homens eminentes GonÇalo de Meirellcs Freyre, Lente
de Leys na Univeríidade de Coifnbra, & ao depois Defembargador, fervio to-
dos os lugares com grande fatisfação, morreo Defembargador do Paço.
O Doutor Domingos de SdftfirSantiago Ferráz, Commendador da Com-
menda de Santa Maria de Torrofono Arccbifpado de Braga,também Lente de
Leys na Univeríidade de Coimbra, & hoje Defembargador dos Aggravos.
NaTheologiafoy Lente dc Vefpora na Univeríidade de Coimbra o Dou-
tor Frey Manoel da Áfcenfaõ, & de'Prima de Efcritura o Padre Doutor Fr. Ben-
to de Santo Thomas, & depois de Vefpora de Theologia, o Doutor Fr. Jerony-
mo de Santiago, talento de grande fuppofíção, aflim em Theologia , & Efcritu-
ra, como nas Mathematicas, por cuja razão foy eleyto Arcebiipo de Crãganor
no
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 387
no Ejffodo da India, que renunciou por achaques que lhe íòbrevierão j o Dou-
tor Frey Bento'da Afcenfaõ, o Doutor Frey Miguel de S. Bento , todos Mon-
ges de S. Bento-
Na Medicina forão Lentes de Vefpora o Doutor Manoel Guedes Efcache-
na 5 & de Avicena o Doutor Manoel Freyre, & em todas as mais Religiões deu
íògeitos eminentes em virtudes, & letras. Governa-fe por dous Ouvidores,
hum do lugar, & toda a Freguefia , que também he Juiz das Sizas no Conce-
lho, & outro derte; ambos confirmados pela Camara do Porto , & aíTim o Por-
teiro: a dita Camara lhe aprefenta Juiz dos Orfaõsportresannos , &como en.
tra no Concelho de Aguiar, rendelhe cem mil reis , ao Efcrivão duzentos mil
reis; tres Tabeiiaens, & hum Efcrivão da Almotaçaria, & Sizas- Rcparte-fe a
gente em dez Companhias , de que he Capitão mor o Alcayde mór do Porto;
Em feu dertriélo ha algumas V illas, Coutos, & Honras , de que no fim faremos
menção :compoem-fe o termo das Fregueíiasfcguintes.
S. Martinho da Arrifana, Rey toria da Mitra,& Conventos de Paço de Sou-
fa, & Bortello, algum dia íe chamou o Efpirito Santo, nome queperdeo , & to-
mou efte pela feira, que fe faz aqui cmdiadeS. Martinho : he Commenda de
Chriflo com quarenta mil reis para o Reytor, ao todo duzentosmil reis, & pa-
ra o Commendador com a annexa feguinte renderá trezentos mil reis: tem feif-
centos vifinhos-
Santiago de Sobarrifar.a, Curado annexo a efta Commenda, que aprefenta
o Reytor, tem quarenta vifinhos.
S- João Evangelifla deGalhufe, Abbadia que aprefenta o Morteiro de Ce-
tecom referva, rende cento & ciiyoenta mil reis , tem cento & quarenta vifi-
nhos.
Santo André de Marecos, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis, té
cento & feffenta vifinhos.
Santo Adrião de Penafiel, ou de Canas de duas Igrejas, he Commenda de
Chriflo,&Reytoria da Mitra, que rende ao todo cem mil reis, &para o Com-
mendador duzentos &cincoenta mil reis: tem cento & fetenta vifinhos.
S. Thomè de Canas, Curado annexp ao Morteiro de Paço de Soufa, tem
trinta & quatro vifinhos.
Santa Maria dePerozello, Vigairariaque aprefentãoos Bradoens da Ca-
fa de Corexas, & comem os frutos por Breve do Papa, que lhes rende duzentos
& quarenta mil reis, & para o Vigário quarenta mil reis, tem cento & doze vi-
finhos.
S. João Bautirta de Rande, Curado annexo da Commenda de Villa-boa de
Quires, tem trinta & dous vifinhos.
Sama Martha, Curado annexo do Morteiro de Bortello , tem quarenta &
fete vifinhos-
S- Pedro da Croça, Curado annexo domefmo Morteiro de Bortello, rende
ao Cura cem mil reis, & para a Congregação de Tibaés com a Igreja de S. Mar-
tha perto de mil cruzados: tem cento & trinta & tres vifinhos.
S. Miguel de Bortello he Morteiro da Ordem de S- Bento, & eftá fundado
meya legoa da Arrifana de Soufa para o Norte em hum imminente fitio daquelle
rico valle, pois em menos de huma legoa tem quarenta Igrejas, de que algumas
faõ tam rendofas, como daqui fe colhe : muitos querem fe dirive a ethimologia
de feu nome de boa terra, ou de bona Efiella-, o que tenho por mais certo , por
huma que fe achou nas ruínas do edifício antigo, aberta em huma pedra, &hojc
KK cíU
386 TOMO PRIMEI RO
eftá renovada na parede do claurtro novo com hum habito de Templar ios , &
outro de Santiago, & humbaculo de S- Bento junto delia. Dizem o fundou em
tempo delRey Dom Fernando o Magno, Nuno Paes, que alguns tem para fy foy
tronco dos Soufas; o que corrobora huma carta, que eflá no Cartono do Mo-
rteiro, & he do Conde de Barcellos Dom Mart im Gil de Soufa, na qual chama a
Nuno Paes o Padroeiro Soufaó. Mas o Conde Dom Pedro Tit. 62. dá efile Pa-
droado aos Alcoforados por D. Goldora Goldares deRefeiteira,que eftánef-
te Morteiro, de quem Dom Gonçalo Mendes de Soufa teve Dona Elvira,ou Ma-
rinha Gonçalves, mulher de Martini Pires de Aguiar , dos quaes nafceo Pedro
Martins Alcoforado,o primeiro derte appellido; fuppofto outros o façam filho
de fua avô Dona Goldora,& de Dom Gonçalo Mendes de Soufa , o que temos
por erro; com que fe verifica por todos os que eferevem familias, que clle nam
foy dos Soufas. Tem huma reliquia do Patriarca S. Bento em huma Cruz de
prata muy venerada de todo o contorno por feus milagres , rende três mil &
quinhentos cruzados com annexas, & íabidos , de que fuftenta dezoito Fra-
des. Favorecerão muito a erte Morteiro os Reys Dom Affonfo Terceiro , &
Quarto, que lhe derão o Couto, que tem com toda a jurifdição eivei,cm que os
Abbades fazem Juiz, & faõ Ouvidores, para quem fe appella; nam ha noticia de
como fe governou fó, dizem que Dom Manoel de Azevedo, ultimo Commenda-
tario de Pendorada, o foy também defte- Teve o primeiro Prior triennal, vivc-
dooCõmendatario ainda no anno de 15-75-. & por fua morte elegerão Abbadc
Monge no anno de 1596. tem duzentos & quarenta vifiiT.os cõhum Vigário, q
lhes adminirtra os Sacramentos, & efías Ermidas , Noífa Senhora de Cabancl-
ias, S. Sebaftiaõ, & S-Miguel-
S. Miguel de Urró, Curado do Morteiro de Cete, a quem he annexa, tem
cincoentavifinhos. . . . r „
S. V icente de Erivo, Curado do Morteiro de Paço de Soufa , tem lcilentá
& feis vifinhos.

Couto de Taco de Soufa,

S Ao Salvador de Paço de Soufa he Morteiro de S. Bento , fituado junto do


rio Soufa huma legoa de Arrifana, em lugar baixo, & fádio; fundou-o pe-
los annos de 1000. DomTroycozendo Guedes,neto de D. Arnaldo deBayaõ,
tronco dos Azevedos; augmentou-ofeu heto o grande Egas Moniz, q alli te-
ve feuPaço,& o deu ao Morteiro, de que tomou o nome , & do rio & ainda
conferva hum carvalho,a cujo pè he o foral do Couto , & lhe chamaõ de Qaf-
mon, corrupto de Egas Moniz; foy fagradopelo Arcebifpo Dom Pedro, ante-
ceflòrde S. Giraldo,em 29. de Setembro de 1088- femembargo de ertarno Bif-
pado do Porto. Fez-fe efta folénidade a requerimento de Egas Hermiges, & de
fua mulher Dona Gontinha, que lhe deraô grandes efmolas 5 o fundador o do-
tou rieftemefmo anno de groffas rendas, & Padroados , entre as quaes foraõ
ametade das Igrejas de Gallegos, Afcariz, Lagares, & Figueira, todas junto
do Morteiro,outras mais diftantes. foy Convento de fetenta Frades; paliou
aCommendatarios,& foy o ultimo Dom Manoel do Canto, Conego Regrante,
&BifpodeTarga,em cujotépobé cotra fua vontade, o deu na reforma geral o
Cardeal Rey Dom Henrique aos Padres da Companhia, fó com a renda Abba-
cial. Depois alcançàraõ tudo do Papa Gregorio XIII» com confentimento de-
oL"
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. iU
alguns Monges Clauftraes , que ndlcvivião , & queriJo acabar a vida fem
reíorma , fem embargo de andarem em Roma dous Monges com eerti*
doens, que levàraó, de queviviaõ bem, para que fe lhes naõ extinguiíTe com
que ficàraõ fenhores de todo. Com tudo o mefmo Papa informandofe do noíTo
Arcebiípo Santo Dom Frey Bertholameu dos Martyres , fe era alli neceíTario
cite Convento,& dizendolhe que fim, mandou rertituir aos Bentos oMortciro
& renda Conventual, & os Padres por algumas obrigaçoens que lhe toeavaõ'
lhe derao a Igreja de Pedraido juntodo Douro , &elles feficàramcomhumas
calas, que eftes lhes fizeram por baixo do Morteiro , emq eftâo 'dous Frades
& celleiros, & a renda unida ao Collegio de Évora. PaíToufe eíle Breve no anno
de i y 78. em que E IRey D. Sebaftiaõ fe perdeo: & affim terão hoje alli os Padres
perto de cinco mil cruzados de renda, ôc os Bentos tres mil & quinhentos cru-
zados, com que fuftentão trinta Monges, &tem feito grandes obrâs. O pri-
meiro Abbade triennal, que teve, foy Fr. Plácido Ferreira , depois Geral da
Ordem-Na Capella mór tinha antigamente os doze Apoílolos de vulto grande
& de prata, de que os Rey s fe valèram para fuas neceífidades. Alli eíleve outra
Igreja mirtica com a do Morteiro para a parte do Norte, a que chamavão Corpo-
ral, em que fe dizia Miflfa aos freguezes. Nertafoy fepultado Egas Moniz &
em cima do Carneiro eliava huma fepulcura com fua effigie de caminho a cavai-
lo, nu dl cinta acima com huma corda ao pefcoço, & aífim a da mulher, & filhos
mas nam defpidos, & ertes a pê com criados, & alguns a cavallo, em que mortra
a jornada, que fez a Cartella a dar fatisfaçam ao Emperador Dom yffonfo o Séti-
mo do engano que lhe fizera cm nome donoffo Infante Dom AfFonfo Henri*
ques, quando eftava fobre Guimaraens(exemplo raro de fidelidade.') eom hu m
letreiro Latino, que traduzido em Portuguez dizia s Aquidefcança o fervo da
Tfeos Egas iMomz, Farão efcUrecidn. era 1184. que he anno de 11±6. em que
faleceo. Tresladou-o o Abbade Fr. Martinho Golias no anno de ióoy. para a
parte do Evangelho da Capella mór, em que fe declara quem fez erta mudança
& da parte da Epiftola os filhos, que j unto do pay ertavão, dos quaes todos fi-
achàraõ poucos o(Tos. O Couto fica jâ dito, que faõ delle fenhores os Padres
da Companhia de Évora, em que fazpm Juiz por eleyçaõ do povo, que também
he dos Or faós, & o Efcrivaõ he o do Concelho,de Ouvidor ferve o Padre Pro
curador, que confirma ao Juiz, & Vereadores. Os Frades Bentos aprefentam
hum Vigário, quelhe renderá oitenta milreis : tem trezentos & quinze vizi-
nhos*
Santa Maria de Coreyxas, Curado do Morteiro de Cete, tem vinte & féis
vifinhos. Aqui eftá a Caía, & Torre, que poffuem fidalgos do appellido Bran-
daõ, família antiga, que traz fua origem doReynode Inglaterra*

Honra de Tdarbojd*

S Aõ Miguel de Rans, Curado do Morteiro de Cete, tèm fetenta vifinhos,&*


humaErmida de Noffa Senhora da Conceição. Aqui ertâ a Honra de Bar-
bola com Torre, & Cafa antiga, que he Solar defta família* He fenhor delia D*
Manoel de Azevedo ôc Ataíde, cuja varonia he a feguinte.
Gonçalo Pires Malafayá foy Regedor da Cafa do Civel,& fenhor de Velías,
trazia
rtworigem dos Fafiaõs, fenhores da Honra de Malafaya, & dos Avela-
KK ij reá:
og TOMO primeiro

ics ; cafou com Maria Annes,filha de humfidalgodafamília dos Paes,de que

*tVe?Luiz^onç^esMaíafaya,q foy Ricohomé.Veador da Fazenda dcUley


Dom Duarte, & Embaixador a Calklla aEIRcy Dó Fernandoo Catholico, ma-
florin tinr F1U ev Dom loao o Sesundo , & vendo-oElRey de L aítella íaliar com
nde refoluçani dilíe, que lhe nam chamaria Malafay a, lenam Bonafaya: cafott
^m^a^Felfpade Azevedo, fiiba de Lopo Dias de Azevedo , feriior deSao
Joaò de Rey, & de outras terras, & de fua mulher Joanna Gomes da S> Iva ,

^SomSKvSque foy Bifpodó Porro, kquarroCommendata-


rio do Morteiro de S. ]oaõ Bautifta dc Pendorada : houve cm Dona Joannai de
Caftro, filha de Fernaõ de Soufa, íenhor de çouvea, & dc lua mulner Dona Me
cia de Caftro (que erafilhade Alvaro Gonçalves de Ataíde primeiro Conde de

^ t0UD^m^Maiwl dc'Azevedo'que foy Abbade de S-Joaõ de Pend^ada,& mui-


to rico • houve em Dona Violante Pereira , filha de Diogo Pinto,& de lua mu-
lher Dona Mecia Pereira, filha de Vaíco Pereira, íenhor de b ermedo , entre ou-
tr
°S DomFrancifcode AtaídefcAzevedo, que foy íenhor das Quintas , &
Honras de Barbofa,& Ataíde em Riba do Douro : cafou comDonaBritedá
Sylva, filha de Vicente de Novaes, homem nobre do Porto , & de fua mulher
Dona Branca da Sylva, que era da família dos Mo:uzes,iei.horesde Angeja, de
que teve, entre outros filhos, a „ _ . . , c
Dom Manoel de Azevedo & At aide, que foy fenhor das terras de leu pay,
& Commendador na Ordem de Chrifto : caiou com Dona AngeU dc: Caftro
filha de Manoel de Caftro Pinheiro do Porto , & de lua mulher D. Maria
cana, de que teve, entre outros filhos, a . _ j c .
Dom Francifco de Azevedo & Ataíde , que foy fenhor das terras de feu
mv & Commendador na Ordem de Chrifto , Governador das Armas na Pro-
vincia de Entre Douro, & Minho, ôt fidalgo de grande valor, & entendimento:
cafou com Dona Maria de Brito, filha de Lopo de Brito , & de Dona Maria de
Alcaçova fua mulher, deque teve os filhos íeguintes»
Dom Manoel de Azevedo & Ataíde, que fervio na guerra do Minho com
boa opinião: foy Meftre de Campo do Terço pago pela Camara do Porto , fe-
nhor do Caftello de Ataíde, Commendador da Commenda de Cabo Monte ]u-
to a Barcellos, foy Tenente General da Cavallaria da Corte, & hoje he Sargen-
to mór de Batalha na Provincia da Beira, & na Província da Eftremadura: ca-
fou com Dona Luiza Ponce de Leaõ , filha de Dom Pedro de Caftellobranco,
primeiro Conde de Pombeiro, & de fua mulher a Condeça Dona Luiza Ponce
de Leão, Dama da fenhora Rainha Dona Luiza, de que nam tem filhos.
Dom Antonio de Azevedo, Frey Ignacio,&Frey Lopo Frades deS. Ben-
to Dona Angela, Dona Antónia, & Dona Barbora Frevras no Mofteiro de San-
ta Clara de Villa do Conde, & Sor Maria Michael, Fre'yra no Cõvento da Ma-
dre de Deos em Lisboa.

fíonrty
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA; jS?

Honra, &• Beetria de Çat legos.

SAõ Salvador de Gallegos he Abbadia da Mitra, que rende duzentos & vin-
te mil reis, tem cento & doze viíinhos, & duas Ermidas, huma de Santia-
go j outra de NoíTaSenhora» Aqui eífá a Honra de Gallegos , que hc
Beerria fogeita à de Louredo no Concelho de Aguiar de Soufa»
S bo
* 5 Tlih> clue antigamente fe chamava de Caifaz, he Curado
annexo de S. Eitevaõ de Oldraõs, cujo Reytor o aprefenta , tem cincoenta Sc
quatro vilinhos.
Santo Eftevaõ de Oldrãos foy Abbadia daCafada Calcada , paíTou a Co-
menda de Chriíto,& he Reytoria da Mitra , que renderá ao todo cento & cin-
coenta mil reis, & trezentos mil reis para o Commendador» Aqui elk a Caía
da Calçada, quepoflue Gonçalo Peixoto da Sylva,fenhordos direitos Reaes de-
ite Concelho, & das armas que ferem: tem feffenta& feis viíinhos.
Santiago de Valpedre, Abbadia do Mofteiro de Paço de Soufa com refer-
va, rende trezentos mil reis, tem cento & doze viíinhos , & huma Ermida de
N» Senhora da AíTumpçaõ.
S. Miguel de Paredes, Abbadia da Mitra , rende cento & cincoenta mil
reis, tem quarenta & fete viíinhos.
_ S» Salvador de Gandra, he Curado dos ConegoS de S» Joaõ Evangeliíla do
Porto, fica meya legoa ao Norte do Burgo de Entre ambos os rios. Fundou
cita Igreja a Rainha Dona Mafalda , filha delRey Dom Sancho o Primeiro em
1 ortugal, & mulher de Dom Henrique o Primeiro de Caltella , de que por pa-
rente fe apartou. Chamafe vulgarmente a Cabeça fanta, por huma que tem, fem
labcrmos de q Santo,ou Santa feja, & pelos muitos milagres que obra, fe-Guar-
da no Altar collateral da mão direita em hú facrario cuberta cõ hum encaixe Sc
cmtasde prata, que a feguraõ, mas bem fe vè. Os Padres Loyos, a quem unio.
erra Igfeja o Papa Leaõ X. no anno d 2 1 y 1 p. a quizeraá levar para o Porto
mas o povo fe inquietou de forte, que fó parte lhe confentio. Rende ao Cura
com as offertas de todo o anno, que faõ muitas , particularmente aos z±. de
Mayo, duzentos mil reis, & para os Frades trezentos mil reis. ElRey D» Joaõ
o Terceiro mandou paíTar de graça os Romeyros, que a ella vem , na barra de
Entre ambos os Rios, em que os Reys tem a terça» Tem ella Frenueíia cento
0
& trinta viíinhos.

&lhoje^J^õdeVillaCovadeVezdeViz
da Mitra, rende duzentos & cincoentafoy
milAbbadia
reis, temdafetènta
Cafa da Calçada,
& dous viíi-
nhos,& huma Ermida de N» Senhora do Rofario.
S Gens de Boelhe, Abbadia do Mofteiro de Villa boa doBifpo com refer-
va, rende duzentos mil reis, tem noventa & dous viíinhos.
S. Miguel de Pacinhos , Curado annexo a Rio de Moinhos, com quem fc
arrenda, tem trinta & dous viíinhos.
S» Martinho de Rio de Moinhos foy Abbadia, & hoje he Vigairaria , que
rende ao todo cento, & vinte mil reis :ós frutos, que paífaõcõ a annexa acima
de trezentos mu reis,comem os Leites Pereiras do Porto , como Adminiíira-
dores da Capella dos Reys no Convento de S» Francifco daquella Cidade, com
obrigação de cafarem algumas orfans ; tem cento & fetenta Sc dous viíi-
nhos .
KKiij S.
0 TOMO PRIMEIRO
S- Vicente do Pinheiro de Vandoma, Abbadia que aprefenta GonçaloPci-
. to da Sylva, fenhor da Cafa da Calçada, rende mais de mil cruzados , tem c£-
to & trinta & cinco vifinhos. Neila f reguefia em hum monte perto da Aldeã
/ 0uteiro tias Velhasviviaõ exemplarmente humas Beatas , de cujas cellas
térreas, 6c cerca fe vem ruínas, 6c poucos annos lia fe deixou de dizer alii M iffa
„. cacellade S- Eyria, que ellas tinhaõ*
í Payo da Portella, Abbadia de Manoel Ferreira d'Eca , Morgadodc Ca-
valkiros rende cento 6c cincoentamil reis, tem fetenta vifinhos, com huma Er-
mida de S. Sebaíliaõ, 6c outra de Santo AntaÔ- Aqui neíta Freguefia no lugar
da Torre eitàhuma arrumada , que he defies fidalgos Padroeiros da lgre-

Santa Maria de Eia, Vigairaria do Cabido do Porto, a que he unida , rende


quarenta mil reis, 6c para o Cabido cem mil reis ; tem quarenta vifinhos , 6c
dUaS
SMSededX°cfasS foXcafada Calçada , paffou a Commend* dc
Chriflo, 6c he Reytoria do Moíteiro de Paçode Soufa com referva, rende ao to.
do cento & cincoenta mil reis, & trezentos mil reis para o Commendador: tem
duzentos 6c dous vifinhos, 6c eílas Ermidas, NoíTa Senhor a do Eílreito, S. e.
dro S Paulo, 6c S. Sebaíliaõ. Aqui eíláaQumta de Santa Cruz, Caía folarre-
S de Martinho de Madureyr a, família nobre, que tem alguns fidalgos com ci e
appellido, 6c por Armas o efeudo efquartellado com leões, 6c Lores de Liz de
ouro ocampo todo vermelho: outros trazem o efeudo efquartellado , o pri-
meiro de vermelho com fuas arruellas de ouro, o fegundo de prata, com hum
cachorro pardo, com huma flor de Liz azul diante das maõs.

S Martinho de Lagares he Commcnda de Chriflo, 6c Reitoria da Mitra,


ciue rende cento & vinte mil reis, 6c para o Commendador quatrocentos & cin-
coenta mil reis: tem cento & oitenta 6c feis vifinhos, 6c huma Ermida de S. An-

^"'Santiago da Capella, Curado que aprefenta o Reitor de S. Martinho de La


gares,6c poí fer fua annexa tem cento 6c dez vifinhos, 6c duas Ermidas, S.Mat

d CU
' símiiodc°Fonte Arcada,Commenda de Chriflo, com Rcytor com o habi-
i w J? j. nnct-pm de renda cento 6cfefienta mil reis, 6c para

o Commendador íetecentos mu reis: ne uas uuab x gi ^


pado tiveraõ os Templários; nam pôde fer vifitadafenao peloiBifpo , quetem-
quarentamUreis todas asvezesquea vifita : temeento 6c feffenta 6c quatro-
r í*
V
* Santa Marinha da Figueira, Curado annexo ao Moíleiro de Paço de Soufa,

^TjoITdeMSU. quefoy da Cafa da Calçada, & hoje he daMh


tra,rende trezentos mil reis, tem cento 6c vinte 6c cinco vifinhos. Aqui eítaa
Quinta de Sá, que alguns querem feja Solar deita ílluítre tamil ia-

Couto de Entre ambos os lljos.

SAõ Miguel de Entre ambos os Rios, Abbadia da Mitra, que rende cento &
vinte mil reis, tem trinta vifinhos , 6c huiUa Ermida de Nofia Senhora da
Saúde. Parece que antigamente foy Vilia, a qual era da Mitra de Coimbra ,cu]o
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA' J0,

BrfpoDom Bernardoa largou porfcmprcflimo afeu grande amigo Dom Hugo


Bi podo Porro no anno . izp.ajunfdição devia toniaràCoroa,&dcfpovoj».
dole, correria s fortuna, que diremos em Santa Ciara doTorraõ. Aqui eftá a
Quinta,ótCafa do Outeiro, de que he fenhor Manoel deSoufa Cirne. Temo»
aquém do T amega do Concelho de Penafiel, & alem em Riba Tamega, & da out
ara parte do Douro p Bifpado de Lamego , hum Couto, chama
Entre ambos os Rios, de que faõ fenhoras as Freyras de Santa Clara do Code-
çal no Porto, que daqui perto fe mudàraõ, como diremos em Sãta Clara do Tor-
raono Conce.hode Bem Viver, com Juiz ordinário feito pelo povo , a quem

Penafiel 1 Iurament0aAbbadcíTa
f , & nelleferve defilcnvaõhim dps tfc

Villa de zSMelres,

D UasIegoasdaFózdoSoufa,outrasduasdadoTamega , & quatro aci-


ma do Porto entre oNaíccnte , & Norte junto ao Douro nomefmo íu I-
gado de Penafiel,tem feu aífento a Villa de Melres,que tem cento & oitenta vi-
finhos com huma Igreja Parochial da invocação de Santa Maria, Abbadia , data
do Marquez de Marialva , que rende com a annexa de Santo Antonio da Lõ-
ba mais de mil cruzados; tem mais tres Ermidas , NoíTa Senhora da Moreira
Santiago, & Santa Ey ria. Governafe por hum Juiz ordinário , que também he
dos Oifaos, por pelouro, & eleição do povo de tres em tres annos, a que prefide
o Ouvidor do Marquez de Marialva; Almotaceis,& hum Efcrivaõ , que ferv-
em tudo, data do mefmo Marquez, fenhor deft a Villa, cuja varonia he a feguin-

A illuftre Caía de Cantanhede, chefe dos Menezes,tem huma tam antiga va-
ronia, que depois de mil annos fe acha ingénua ; & ainda que os Nobiliários i
começao a contar de Dom Tello Peres de Menezes , lhe daremos principio mak
certo, & muito mais antigo.» ^
Senior Tello foy grande Senhor em Afturias, & Rico homem1, & como tA
confirma muitos privilégios pelos annos de 738. reynando D.Favila • tcvl
por filho a '
Tello Telíes, que viveo noreynado dos Reys Dom Silo, & Aurelio • confir-
mou efen tura s a Santa Maria de V alpuefta no Reyno de Leaõ , & a outras mais •
no anno de 770. Tevefilhoa «"«uiais
Tel Telles de celebrada memoria, Rico homem dos Reys de Lea5 Dom A l
fonfo o Caito,& DomBermudo,&foy feufilho legitimooíeguinte.
, Suer Telles, a quem outros chamaõ Sueyro Peres Telles , foy Mordomo
mor delRey Dom Ramiro o Primeiro , & confirmou privilégios à Igreia de No-
gueyra na ribeira do Minho: cafou nobremente, & teve filho a

» T Gofer, que foy Rico homem, & fenhor de bons vaíTallos em Galliza,
& Leão, Mordomo mor, & Veador da Fazenda do Infante Dom Alboazar • ca-
fou altamente, & teve filho a
Gonçalo Telles , que foy Rico homem dos Reys de Oviedo, & Leaõ Dom
Ramiro o Terceiro, & DomBermudo o Segundo, & grande amigo dos Condes
de Caftella 5 povoou a Cidade de Ofma, de que foy Governador , & cafou alta-
mente, de que teve, entre outros filhos, a
Tello Gonçalves, que foy Rico homem delRey Dom Bermudo o Segundo,
391 TOMO PRIMEIRO
&. Governador de O ima: cafou altamente, & teve filho a
Diac Telles, que foy Rico homem dos Rey s de Leaõ Dom Affonfoo Quin-
to, & Dom Bermudo o Terceiro : cafou nobremente, & teve filho a
1 ello Dias, ciue floreceo no tempo delRey Dom Sancho o primeiro de Caf-
tella, & no dos Condes defte Reyno pelos annos de 1150. cafou muy nobremê-

Fernaõ Telles, que foy Rico homem delRey Dom F ernando o Primeiro dc
Caftella, & Leaõ, & confirmou privilégios no anno de 118 5. cafou altamente,
Sttevefilhoa , '
Tello Fernandes, que foy Rico homem delRey Dom F ernando , & confir-
mou muitos privilégios da Rainha Dona Urracaexilou altamente , & teve, en-
tre outros filhos, a
Com Affonfo Telles de Monte alegre, q floreceo no reynado delRey Dom
Affonfo o Sexto, & foy Rico homem com muitos poftos na guerra, íenhor da
terra de Campos, & Sahagum, cafou, & teve filho a
Don;Pedro Bernardo de S- Fagundo , que foy fenhor aas terras de feus
pays, de Malagaõ,& outras muitas terras : cafou com Dona Maria Soares da
Maya , filha de Dom Mem G onçalves da M ay a, & de fua mulher Dona Leon-
guida Soares, chamada a Tainha, q foraõ pays do Lidador, de q teve, entre ou-
tros filhos, a
Dom Tel Peres de Menezes, que foy fenhor ao Caítcllo de Malagao , que
trocou com ElRey Dom Affonfo o Oitavo deCaftella pelas Villas de Menezes,
Villa-nova, S.Romaõ,& outras muitas terras: foy Principe de grar^es ferviços,
& como neto delRey D-Ordonho foy hú dos mayores fenhores de Ffpanha : ca-
fou com Dona Urraca Garcia DeorcaSorcde,filha de Monçorre, fidalgo Gal-
lego de illuftre familia, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Affonfo Telles de Menezes, que foy fenhor das terras de feu pay, &
de outras muitas,entre as quaes era Valhadolid: foy povoador de Albuquerque,
porcafarfegundavezcom Dona Therefa Sanches, filha delRey Dom Sancho o
primeiro d^Portugal, & de Dona Maria Paes Ribeira, fidalga illuftre, de quem
teve, entre outros filhos,a
Dom Joaõ Affonfo Tello de Menezes, que foy fenhor dc Albuquerque, Al-
feres mór, & Rico homem de feu primo ElRey D- Affonfo o Terceiro de Portu-
gal : cafou com Dona Leonor Gonçalves Giron , filha de Do n Gonçalo Rodri-
gues Giron,JSc de fua fegunda mulher Dona Marqueza , de que teve, entre ou-
trosfilhos,a
Dom Gonçalo Annes de Menezes, a quem chamàrao o Rapozo , por ular
de muitos ardis na guerra ; foy Rico homem delRey Dom Sancho o Bravo dc
Caftella,& de Dom Affonfo o Sabio: cafou com Dona Urraca Fernandes de Li-
ma, filha de Fernando Annes de Lima , & de íua mulher Dona 1 iiereía Annes,
de quem teve, entre outros filhos, a
Dom Affonfo Telles de Menezes, que paffou a Portugal em tempo delRey
Dom Affonfo o Quarto , pelo querer matar ElRey Dom Pedro o Primeiro de
Caftclla 5 foy Mordomo mór dodito Rey Dom Affonfo o Quarto, & Conde de
Ou rem :cafou com Dona Bennguella de Valladares, filha ae Lourenço Soares
de Valladares, grande fenhor em Entre Douro, & Minho , & de fua mulher Do-
na Sancha Nunes de Chacim,de que teve, entre outros filhos, a
Dom Martim Affonfo Tello de Menezes, que paffou aCaftella por Mordo-
mo mór da Rainha Dona Ma ria, fiiha delRey Dom Affonfo o Quarto,& mulher
dei-
DA COROGRAFIA PORTUGUESA, |<?j
delReyDom Affonfo o Undécimo deCaftella : matou o injuííamenteÉlRey
Dom Pedro o Cruel de Caíklla; cafou com Dona Aldonça de Vafconcellos , fi-
lha de Joanne Mendes de Vafconccllos, Rico homem delRcy Dom Diniz , & dê
fua mulher Dona Aldonça Affonfo Alcoforado, de que teve, entre outros , a
Dona Leonor Telles de Menezes, que foy Rainha de Portugal, mulher delRey
Dom Peruando, 6c a
Dom GonçaloTello de Menezes, que foy Conde de Neyvá, & Faria, por
mercê delReyDom Fernando feu cunhado, Alcây de mor de Coimbra, fenhor
de V iila-viçofa, Abrantes, Almada, Cintra, Torres Vedras, Alenquer, Atou-
guia, O vidos, Unhos,6c Cantanhede, com outras muy tas terras , & Regue»
gos: cafou com Dona Maria de Albuquerque, filha de Dom Joaõ Affonfo de Al-
buquerque, chamado do Ataúde, fenhor de Medelim, Albuquerque , 6c outras
muitas terras, que era filho do Infante Dom Affonfo Sanches , filho delRcy Dõ
Diniz de Portugal, 6c de fua mulher Dona Tareja de Menezes, fenhora herdei-
ra deft a illuífre Caía, & houve o dito Dom Joaõ Affonfo de Albuquerque eíla
fua filha emMaria Rodrigues Barba,mulher fidalga;tevedeíla D-MariajdeAlbu-
querque o dito D.Gonçalo Tello de Menezes feu marido,entre outros filhos, á
Dom Martinho de Menezes, que foy fegundo Conde deNeyva, fenhor de
Cantaahede, 6c outras terras: caiou com Dona Therefa Coutinho, filha de Vaf
co Fernandes Coutinho, primeiro fenhor do Couto de Leomil , 6c Meyrinho*
mór deite Reyno, 6c de fua mulher Brites Gonçalves de Moura , de que teve ,
entre outros filhos, a
Dom Fernando de Menezes, que foy fenhor da Cafa de Cantanhede, Mor-
domo mór da Rainha Dona Ifabel, mulher delRey Dom Affonfo o Qrnnto : ca-
fou com Dona Brites Freyre de Andrade, filha de Ruí S;reyre de Andrade, Co-
mendador de Palmella, 6c da Arruda,& de fua mulher Maria Fernandes de Mey-
ra, de que teve, entre outros filhos, a Dom joaõ de Menezes, 6c a Dom Fernan-
do de Menezes o Reyxo,de quem defeendem os Candes da Ericeira, como em
feu lugar diremos.
Dom Joaõ de Menezes, filho do dito Dom Fernando de Menezes, & de D*
Brites Freyre de Andrade fua mulher, foy fenhor dc Cantanhede, 6c cafou com
Dona Leonor da Sylva, filha de Ayres Gomes da Syiva, fenhor de Vagos , &
Regedor da Juítiça, & de fua mulher D. Leonor de Miranda, de quem te ve , en-
tre outros fi Ih os, a
Dom Pedro de Menezes , que foy primeiro Conde de Cantanhede por
mercê delRey Dom Affonfo o Quinto, fenhor de muitas Villas , & de grande
valor: cafou com Dona Leonor de Caítro, filha de Dom Alvaro de Caítro, pri-
meiro Conde de Monfanto, 6c de fua mulher Dona Ifabel da Cunha , de quem
teve, entre outros filhos, a •
Dom Jorge de Menezes, que foy fenhor da Cafa de feu pay , 6c cafou com
Dona Leonor Manoel, filha de Dom joaõ Sotomayor, fenhor deAlconchel , 6c
de fua mulher Dona Joanna Manoel, de quem teve, entre outros filhos, a
Dom Joaõ de Menezes, que foy fenhor de Cantanhede, 6c cafou com Dona
Margarida da Sylva, filha de Dom Antonio de Noronha , primeiro Conote
Linhares, & de fua mulher a Condeça Dona Joanna da Sylva, de quem teve já,-
tro outros filhos, a
Dom Pedro dc Menezes, que foy fenhor da Cafa de feu pay, 6c cafou fegú-
da vez com Dona Ines de Zunhiga, filha de Dom Fadrique de Zunhiga, fenhor
de Mirabel, & de fua mulher Dona Anna de Caftro, de que teve , entre outros
filhos, a E)°m
394 TOMO PRIMEIRO
Dom Antonio de Menezes, que morreo cm vida de feu pay, & caiou com
Dona Ines de Avila & Zunhiga, filha de Dom Luiz de Avila,fegundo Marquez
tie Mirabel, Commendador mór de Alcantara , & Gentil homem da Camara do
Emperador Carlos Quinto, & de fua mulher Dona Maria de Zunhiga, de quem
tete, entre outros filhos, a
Dom Pedro de M enezes, que foy fegundo Conde de Cantanhede por# mer-
cê délRey Dom Felippe o Terceiro , & cafou com Dona Coftança de Gulmaõ
Coutinho, filha de Dom Rodrigo Gonçalves da Camara, primeiro Conde de .
Villa Franca, & de fua mulher Dona Joanna de Blaveft, de qucmteve,entre ou
tros filhos, a
Dom Antonio Luiz de Menezes, que foy terceiro Conde de Cantanhede,
& primeiro Marquez de Marialva por mercê delRey Dom Affonfo o Sexto, do
Confelho deEftadodelReyDom Joaõo Quarto, Veador da Fazenda , Gover-
nador das Armas de Cafcaes, & Alentejo, CapitaÔ General junto a PeíToa , &
hum dos grandes Heroes do noíTo feculo ; cafou com Dona Catherina Couti-
nho, filha herdeira de Dom M anoel Coutinho, & de fua mulher Dona Guiomar
da Sylva, de quem teve, entre outrós filhos, a
Dom Pedro de Menezes, que he quarto Conde de Cantanhede, & fegundo
Marquez de Marialva, & Marichal do Rey no,Gentil homem da Camara delRey
Dom Pedro o Segundo, fenhor de Cantanhede, & de outras muitas terras, Co-
mendador de Santa Maria de Almenda na Ordem de Chrifto , & da Commenda
de Santa Maria de Serpa na Ordem de A viz , fenhor do Morgado de Medello,
Preíldente da Junta do Comercio, & Cavalheiro muy generofo, & de grande en-
tendimento: cafou com Dona Catherina Coutinho, filha de feu tio , irmaõ de
' feu pay Dom Rodrigo de Menezes,& de fua irmaã Dona Guiomar de Menezes,
dc quem tem a Dona Joaquina de Menezes, única em tudo, & atègora herdeira
de tam illuftre Cafa.
Efte Dom Rodrigo de Menezes, que cafou cô fua fobrinha Dona Guiomar
de M enezes, foy Dei embargador do Paço delRey Dom Joa5 o Quarto, Gover-
nador do Porto, Regedor da CaiadaSupplicaçaõ , Preíidente do Defembargo
do Paço, do Confelho de Eftado , Gentil-homé da Camara delRey Dom Pedro,
fendo Principe Regente, & feu Eftribeiro mór: teve de fua mulher , entre ou-
tros filhos, a 1 t _
DomJofeph de Menezes, quçhe Conde de Viana por mercê delRey Dom
Pedro o Segundo,Comendador deN.Senhora do Loreto,na Orde de Aviz,& de
outras Commçndasna Ordem de Chrifto , fenhor dos Reguengos da Villa
de Almada, Gentil-homem da Camara dodito Rey, & feu Eftribeiro mór; cafou
com. Dona Maria de Alencaftre, filha do fegundo Conde de Sarzedas D- Luiz
da Sylveira/Bt da Condeça Dona Mariana de Alencaftre & Sylva. He também
do defpacho delRey, & do feu Confelho de Eftado, & nos feus poucos annos fç
faz digno das mayores òftimaçoens.
Teve também o Marquez Dom Antonio Luiz de Menezes daMarqueza
fua mulher a Dom Manoel Coutinho, Conde do Redondo por mercê delRey
D~m Pedro o Segundo, que depois de vários poftos militares atè o de Tenen-
te General da Cavallaria de Alentejo, morreo fem cafar,& fe malogràraõ as gra-
des tfperanças que delle tinha o noífo Reyno.

! Coute
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA; 39S

Couto de z5\4einedo'

SAnta Maria de Meynedo, Vigairaria do Arcediago do Porto , que rende


cento & vinte mil reis, & para o Arcediago quinhentos mil reis. He parte
Honra, & a outra Couto,de que he Senhor o Arcediago , & faz Juiz do Cível í
tem duzentos &. feíTenta viíínhos. Dizem que cila Igreja fundou Fonfa, Con-
de neífa Província, & que alli perto devia ter fua cafa, o qual indo a Coníf anti-
nopla a graves negocios no anno de 600. trouxe de lá as reliquias deS. Thirfo
natural de Toledo, que em tempo do Emperador Décio padeceo cruel martyrio
pela Fé na Cidade Apolonia em Thracia, & as depofitou neíla Igreja, não de fua
invocação, nem em íepultura raza, como alguns dizem, mas em Capella à parte
do Evangelho, em tumulo levantado : todo o anno lhe concorre grande roma-
gem, particularmente em 28.de Janeiro, em que fe celebra fua feita, & he advo-
gado das febres, & maleitas , & obra Deos muitos milagres nos febricitantes
com a terra que tirão da fua fcpultura. Os da Arrifana de Soufa o tem por Pa-
trono. Daqui fe levou hum braço para o Moífeiro de S. Thirfo de Riba de Ave,
por cujo reípeito perdeo o antigo orago, que tinha de S. Nicolao; mas o anno
não o fabemos. Alguns querem que aqui houveffe huma Cidade Epifcopal,cha-
mada então Magneto, de que íe corrompeo Meynedo,& que delia foy Bifpo eíle
Santo, & que os de Arrifana o martyrizàrão às pedradas ao modo de S- Fíie-
vãoj o que favorece chamaríe naquelle tempo Guimaraens (que não fica longe )
A poíonia, & fe o Conde o trouxera de fora , não havia de deixar de lhe fundar
Templo de feu nome. Deu efta Igreja à Sè do Porto ElRey Dom Affonfo Hen-
riques antes de fer Rey, & fendo Bifpo daquella Cidade Dom Hugo.

CAP. XI.

Z^0 Concelho de ^Porto Carreyrò.

AEÍfe Concelho deu foral ElRey Dom Manoel em Lisboa no primeiro de


Setembro de 1713. Tem Juiz ordinário, & dos OrfaSs, eleição do povo
por pelouro de tres em tres annos, com dous Vereadores, Procurador, & Mei-
rinho, & Almotaceis,confirma-os o Corregedor do Porto ; tres Tabeliaens do
Publico, que fervem alternativamente nos Orfaõs, hum o he também da Cama-
ra, Sizas, & Almotaçaria; tudo data delRey,comohe o Concelho, depois que
fahio dos fidalgos do appellido de Portocarreyro, de quem foy, como logo di-
remos. O Preftimonio,(que fem duvida era o que depois fe fez Commenda) &
direitos deífe Julgado deu ElRey Dom Diniz a feu filho baíhrdo , & Alferes
mor Dom João Affonfo no anno de 1311. TemasFregueíiasfeguintes, tudo
do Bifpado, & Comarca do Porto: toda a gente do Couto, & Cócelho andão em
huma Companhia,& tem feira aos 28-domez.

Cout»
TOMO PRIMEIRO

Couto de Villaboa de Quires.

SAnto André de Villaboa de Quires, Commendade Chriftoda Cafa de Bra-


gança, que aprefenta Rey tor com quarenta mil reis, ao todo cento &. trinta
mil reis, & para o Comendador feifcentos mil reis com a annexa de Rande em
Penafiel, tem duzentos & doze vifinhos,&eftas Ermidas , NoíTa Senhora do
Penedo, Noífa Senhora da Torre, S- Sebaftião, S. Miguel, Sc S. Pavo. He Cou-
to deíRey com Juiz do Civel,&Orfaõs, eleito pelo povo , a que prefide o Rey-
tor, & confirma o Corregedor da Comarca ; os Efcrivacns faõ os do Concelho j
& porque he a primeira vez que falíamos em Commenda da Cafa de Bragança,
o que muitos não faberám, porque nem a todos faõ publicas eftas noticias , fai-
bão que efta Real Cafa tem nefte Reyno mais de quarenta Commendas, que dá a
quem lhe parece com hábitos, & faz alguns fidalgos, &huns , & outros gozão
as preeminências dos que os Reys fazem, &nomeão 5' porque tanto chegou a
merecer, ou alcançar o Condeftable Dom Nuno Alvarez Pereira tronco delia.
Aqui eftá a Torre, & Solar dos fidalgos doappellido de Portocarreiro , que
defeendem de Dom Reymão, ou Bermudo (como outros lhe chamão ) Garcia
de Portocarreiro, fidalgo Leonez, que vcyo a efte Reyno com o Conde D. Hen.
rique, & lhe deu nelle efte Concelho, porque fe chamou de Portocarreiro , &
feus<defcendentes,deque paíTáraõ alguns a Caftella, dos quaes defeendem as
Cafas dos Condes de Medelhim, a dos de Montijo, a dos da Puebla do Medre,
ados de Palma, ados Marquezes de Villa-nova del Frefno,a dosde Barca rota,
& a dos de Alcalá da Alameda, & outras ; & ncfte Reyno a dos Marquezes de
Villa Real, Duques de Caminha, por cafamentoda Condeça Dona Mayor Porto-
carreiro, filha herdeira de João Rodrigues Portocarreiro, fenhor de Villa Real,
com Dom Joaõ Affonfo Tello de Menezes, Conde de Viana. Defta família he
chefre, & fenhor defte Solar Manoel da Cunha Ozorio. Trazé por Armas quin-
ze efquaques de ouro, & azul, a que ajuntaõos Marquezes de Barca rota orla
de Caftellos, & Leoens, & osCondes de Palma quinze bandeiras, & a Cruz de
S- Jorge, que ganhou em diverfas occafíoens Dom Luiz Fernãdes Portocarrei-
ro nasguerras de Granada,& Nápoles em tempo dos Reys Catholicos Dõ Fer-
nando, & Dona Ifabel, que foraõos que lhas concedèraõ. Tem mais efta Fre-
gueíia duas Cafas nobres, a do Pombal, que he de Carneyros Pamplonas, oriú-
dos da grande Cafa de Pamplona em Navarra , de que eraõ fenhores em tempo
de feus últimos Reys os Condes de Lerim, Condeftables daquelle Reyno ; & a
do Meftre de Campo Mattheus Mendes de Carvalho, fidalgo honrado. No ou-
teiro do Crafto, & no de Pé de Corvo fe vem ruínas de fortificação antiga, que
devia fer dos Romanos, & huma Aldeã chamada Urró, que dizem tomou o no-
me de huma Rainha Dona Urraca, que aqui viveo,& íevem finaes de edifícios.
S. Pedro de Abregaõ, Abbadia que aprefenta o Marquez de Fontes,rende
com a annexa feguinte mais de mil cruzados : tem cento & noventa viíinhos.
Fundou efta Igreja a Rainha D. Mafalda, filha delRey D- Sancho o Primeiro de
Portugal.
Santa Maria de Maureles, Curado annexo de Abregaõ, com quem fe arren-
da, tem feífenta & quatro viíinhos.

CAP.
DA COROGRAFIA P ORTUGUÊZAi Jp,
*" w'' < ■' ■^ vD >-J- ! .> l'"j "»Oí i

:1
cap. xii. f

l Itiivoir Í130
?
Do Concelho deDem-viver,

A Eftc Concelho deu foral El Rey D. Manoel em Lisboa aos ft de Setébrò


de 15 14. Parece que antigamente foy todo,ou parte Honra,&.por tala
deu EIRey D.João o Primeiro ao Efcudeiro Martim Fernandes de Freitas- Tem
Juiz ordinário, dous Vereadores, Procurador, St Meirinho por pelouro,& elei-
ção do povo, confirma-os o Corregedor da Comarca, que he o do Port o;quatro
Táheliaens, juiz dos Orfaôs com feu Efcrivão,o da Camara, todos aprefenta o
fenhor da terra; reparte-fe a gente em quatro Companhias com Capitão mor >
Sc Sargento mór 5 Sc tem em fy tres Coutos, que logo fe dirão, quando lhes to-
car. Recolhe pouco pão, muita caílanha, frutas, bom vinho de enforcado, bas-
tantes gados, muita caça nos montes, que por muitos, Scafperos com maos ca-
minhos he terra pouco tratavel; tem muita pefca no Tamega, & Douro; às larm
reasdeífefaõ decor dourada, Sc as daquefle verdes. Todo eíle Concelho he
uma ferra dividida cm altos montes, que fe defpenhão no Tamcga, & Douro,
hum dos quaes fe chama Santiago de Arados, nome que tomou de huma Ermi-
da deíle Santo Apoíiolo, que no alto a coroa em huma larga planície , depois de
fe fobir a ella huma legoa do Douro; he frequentada de muitas Freguefías com
clamores annuaes por voto de feus antepaífados; dizem huns,que por o Santo
os favorecer aqui em huma occaíião, em que os Mouros na reftauraçao de Ef-
panha fe havião amparado deíle íitio, que os Chriílãos lhe ganharão numa noi-
te, ajudandofe do eílrãtagema de pôr luzes nas pontas do gado, Sc guiallos al-
guns por-huma parte, em quanto os mais fobião por outra j íinaes fe vem de hua
eílrada foterranea por onde fe communicavao com o Douro, & fe tem achado
nella algurts mineraes- Ha outro monte chamado Monforte, que dá pedras de
amolar , quafitamboas , comoasdeBifcaya- Coníla das Freguefías feguin-
tes.
S. Martinho de Aveífadas, Abbadia que foy da Cafa da Calçada , St agora
he da Mitra, rende cento, St feífentamil reis, tem cincoenta Sc feis viíinhos , Sc
huma Ermida de N-Senhora do Caílellinho.
Santa Maria de Rozem, Abbadia da Mitra, que rende duzentos mil reis,
tem quarenta viíinhos.
S. Mamede de Manhuncellos foy Abbadia das Freyras de Tuyas , Sc hoje
he da Mitra, rende cem mil reis, tem feífenta viíinhos.
S. Romão de Paredes, Abbadia do Moíleiro de Villa boa do Bifpo com re-
ferva, de que leva duas partes dos frutos, que lhe podem render cento & oiten-
ta mil reis, St.para o Abbade cento St feífenta mil reis : tem cento Sc feífenta Sc
fete viíinhos com duas Ermidas, N. Senhora de Geres, Sc S.João.
S. Clemente de Paços de Gayolos , appeliido que dizem lhe ficou de huns
Paços,queaqui tinha hum Principe Mouro,pay,ou irmão deGaya,que tam-
bém viveo defronte da Cidade do Porto, aonde aíli.n fe chama j St não fó o no-
me, mas o querer fer Beetria moílra que alguma coufa tem fido mais do ordina-
L1 rio.-
,98 TOMO PRIMEIRO
rio' He Abbadia dos Marquezes de Marialva , rende com a annexa feguintc
trezentos & cincoenta mil reis.
S-Martinho de Pandinhaés, Curado annexo de Gayolos , com quem íc ar-
renda, tem cento & fetTenta viíinhos. ^
Santa Maria dePenalonga, Abbadia da Mitra, rende mil cruzados , tem
cento & dezoito viíinhos. Aqui eftá huma Torre aonde chamão o Paço , Redi-
zem teve caía, em que viveo Dom Pedro dc Caftro, primeiro fenhor defte Có-
cclho*
1
s. Martinho de Sande, Abbadia que aprefentava o Morteiro de Pendorada,
& hoje he do Padroado Real, rende quinhentos mil reis, tem cento & noventa
viíinhos. . _
S- Lourenço do Douro, Abbadia queapreíentão os Morteiros de Villa boa,
& Pendorada com referva, rende cento & oitenta mil reis, tem oitent a & dous
viíinhos. .
S. Salvador de Magrellos, Abbadia do Morteiro de Pendorada com refer-
va do Ordinário, rende cento & fetenta mil reis, tem cincoenta vifmhos.
S. Martinho de Ariz , entendefe fov Morteiro de Freyras Bentas; depois
que paífou a fer Abbadia fecular, tornou a Frades da mefma Ordem,& Abbadia
fua,& tendoa Fr- Gafpar de Penella, trouxe de Roma para efta Igreja (em que
era Abbade no anno de 1560.) muitas reliquias, que nella poz em relicário de
prata; no meyofevè huma Cruz formada do Santo Lenho, parte de hum efpi-
nho da Coroa de Chriíto, & parte de huma vara, com que foy açoutado,reliquia
do Santo Sudário, leite de NoíTa Senhora,& nos vaõs offos dos Apoftolos S.Ber-
tholameu, Santo André, Santiago menor, & S. Mathias,de S. Martinho Papa,
&; Martyr,deS. Martinho Bifpo, & Confeffor, & de outros Santos,que naõíà-
bemos, & fe feftejão todas, & tem romagem aos tres de Mayo. De prefente re-
íidia nella hum Religiofode Pendorada com titulode Vigário , para quem dei-
xavao côngrua rezoada; mas achando não convir ávida Monaftica efta forma
de reíidenaas, tem agora Vigário fecular, a quem rende feíTenta mil reis , & a
mais renda ha tempos, quando tinha iiida Abbade, partia pelo meyq com o Col-
jeoio de S. Bento dc Coimbra, agora também vay para o Morteiro dc Frades Ben-
tos da Cidade do Porto,& toda importa duzentos & vinte & cinco mil reis: tem
oitenta viíinhos.
Santa Maria de Villa boado Bifpo he Convento de Conegos Regrantes de
Santo Agoftinho, fundado perto do Tamega, & enriquecido pelo grande Capi-
tão Dom Moninho Viegas o Gafco, por comprimento do voto que fizera ven-
dofe apertado no lugar de Val boa em huma batalha de Mouros , aque ganhou
eftasterras,favorecendooDeos comdefejadavitoria,pelo que dando princi-
pio ao Convento n o anno de 990. tinha acabado a Igreja no de 99 2 • a qual fa-
grou o Bifpo do Porto Dom Nonego, & poz nella Clérigos debaixo da Regra dc
Santo Agoftinho,& foy feu primeiro Abbade Dom Rozardo,Francez de nação,
como confta do teftamento do fundador feito no anno de 1012. Chamoufc
depois Villa boa do Bifpo, por eftar nelle fepultadoo Beato Dom Sifnando , ir-
mão do fundador, Bifpo do Por to, & Marty r, que renunciando o Bifpado , fe
recolheo aqui, aonde tomou o habito de Conego Regrante- Tinha por devoção
ir todas as fcftas feiras dizer Miffa da Paixão a huma Ermida do Salvador, que
eftava em hum alto monte â vifta do Morteiro,menos de quarto de legoa ao Naf-
cente> aonde foy aífaltadodos Mouros, vindo a huma correria, & às lançadas o
matàrão , eftando celebrando em 30. de Janeiro de 103 havendo cincoque
DA COROGRAFIA PORTUGUEZÀ-
alli(refidia,&deixàraoBifpado node 1030. Foyfepultàdo debaixo dp Altar
daqueila Ermida aos pês de huma devota Imagem de Chriílo, & aonde eíleve a
Capella fe levantou hum Padrão: alli repoufou em o Senhor cento & oito an-
nos, atê que no de 114,2. vindo vifítar o Bifpo do Porto Dom Pedro Ribaldiz'
& abrindo a fepultura,achando-o inteiro com grande fragrãcia , tendo obrado
muito s,& notáveis milagres,'o ajudou a mudar para o Convento j aonde foy
poíio em fepulchro alto, metido na parede do corpo da Igreja, da parte efquer-
aa, com pintura do martyrio, & hilm letreiro Latino, que em Portuguez diz: O
Martyr, & Bifpo Dom Sifnando, a quem Chriftolevou ao Ceo em 50. de Íaneiro
do anno de 103 ç.foy aqui fepultado comfoléne rito em ii.de Outubro dc 1142.
Vindo a eíle Convento'ElRey Dom Affoníb Henriques, fcznelle huma confif:
iáõgeral, ôcaosdozedeFeVéreiro de 1141- lhe deuoCouto que tem, ém que
©Prior faz .juiz ordinário no eivei, por eleição do povo, os Efcrívacns faõ òs
do Concelho. .Tiverão os Priores Mitra, & Bago por Breves dos Papas Lucio
Segundo.no anno de 1144. & Anaílaíio Quarto no de 11 7,3. como íe vç nas
duas fepulturas, que eífeona Capella deNoíTa Senhora a Velha junto dolyíof-
teiro à parte do Evangelho :huma, em que fe lè: Aqui jaz Dom Nicolao Mar-
tins Triot que foy de Villa boa do Bifpo y&paffóu az dias de Novembro de
1386- que he anno 1348-A outra da parte da Epiftola diz: Efle monumento he
deDom Salvador Tires Trior defte Mofteiro, o qual foy dos Milhaços , & dos
Teixoens, falece o no anno de 1392. ambos com Mitra & Bago , & de nobre
geração ; porque Dom Nicolao era irmão de Julio Giraldes , Vaflallo
quefoydelRey DOm Fernando , & feu Corregedor perpetuo neífe Pro-
vincia , ôc na de Trás os Montes , quando o erão fidalgos fem lerem le-
trados; cuja fepultura eftà à porta da dita Capella com eíie letreiro .* Aqui jaz
duli o Gir aides, vafjallo que foy delRey Dom Fernando^fèúCorregedor de En-
tre Douro, & Minhoy &paffou a jo.de íaneiro da era 1419. annos» que vem
a fer anno de Chriílo 1581. & ambos irmãos deDomAfFonfoMartins,Abbadc
de S-.joão de Pendorada, que reformou a Capella em que eftes eílavão. O D-
Salvador P;res era dos melhores deíb Provinda por Milhaços ,■ & Peixões , &
delle fe entende virem os Peixotos de Entre ambos os rios. Reformoufe efte
Convento no anno de 160 7. & nam aceitou a reforma hum dos Conegos Clauf-
traes antigos, a que o vulgo chama Bravos, ôc elle fe chamavá Andr è Carnev ro
de Vafconcellos,filho de Gafpar Carneiro de Vafconcellos , & irmão de Dona
Maria Velho Carneyro, mulher de Francifco LeãoGiraldes & Vafconcellos, fe-
nhor da Gafa Nova. Teve fempre porta para o Convento, pela qual ent rava da
eafa em que vivia,a rezar comos Frades, no que continuou atè o anno de 1673
em que faleceode muita idade, & com huma perfeita difpoíição, vida honefta,6c
muito cfmoler; entretinhafenacaça afeuns tempos, que lhe fobejavão da reza >
& coqtetriplaçoens, rezando todos os aias a todas as Igrejas, que via do Moílei-
ro; tinha perco de trinta annos no da reforma, & viveo depois feífenta & oito. É
elk foy o,ultimo, que fe fabe viveífe em toda Efpanha. Rende cfte Morteiro corn
dízimos, annexas, & fabidos quatro mil cruzados, de que leva a Capella Real
çento & cincoenta mil reis, & com o mais fizerão agora de novo huma galhar-
da Cafa, & í uftentahum Prior com fete Religiofoã: tem unidas a fy duas terças
da renda de S,. Romão de Paredes; nadeS. Miguei de Bayrros em Pay va , Bif-
pado de Lamegojcomem os dizimos, & aprefentão Vigário, a quem rende fetc-
ta mil reis-, em Santiago de Paços no mefmo Bifpado tem huma terça, 5c outra 11a
dçS. Miguel de Pacinhos; & fora as Abbadias, que aprefenta nefte Concelho,
11 íj (que
4oo TOMO PRIMEIRO
(qucfaõ S.Martinho da Varzea do Douro alter nativamé te com Pendorada,& a
de S. Lourenço do Douro) tem no de Penafiel a de S-Gens de Boelhe. No Mof-
teiro ha Curafecular com mais de cem mil reis de renda item duzentos & fef-
fentavifinhos. Dá todos os frutos, & frutas, azeite, muita caça , & pefeas no
Tame^a-
s! Payo de Favoés, Abbadia da Mitra, rende duzentos mil reis,tem feffen-
tavifinhos* Aquieftaa quinta da CafaNova, em one vivcojuro Gnaldes, ín-
ílituidor deíie Morgado, & Capella de V illa boa.

Couto de "Pendorada.

SA6 João de Pendorada he Mofteiro de Frades Bentos, &- teve principio na


forma feguinte. Huma legoa de Entre ambos os rios,& fete do Porto pelo
Douro acima eftá hum alto monte chamado de Arados com veíhgios de gran-
de fortificação, em que já falíamos, com outra em outro monte defronte,que de-
via ferfua oppofta, quando os Mouros cá entrarão, & nella degolanão muitos
Chriftaós, como fe entende pelos myftenoíos fucceífos , que depois o tempo
moftrou. Aquipaífava ajuíladavida no anno de 1014. (reynando Dom Fer-
nando o Magno) hum Sacerdote chamado Velino àfombrade huma Ermida da
invocação de Santa Sabina, matrona velha, & Martyr Romana. Por t res noites
ouvio húa voz doCeo,qfoffe fervo de S.João Bautifta,&lhe edificaffe húalgreja,
aífinalandolhe o lugar entre a Agua de tresSequeyros,&das Lages; & como
era temente a Deos, o foy communicar a hum feu compadre, £c amigo, chamado
Arguirio, que morava em Cabanellas, o qual lhe certificou a mefma revelação,
& de que alli fe tinhaõ viíto muitas luzes, indicio manifefto de efiarem naquel-
le lu^ar algumas reliquias,que prefumo feriaõ de Martyres, mortos pelos Mou-
ros na occafiaò referida. Ambos foraõ là ter, & entre aquellas brenhas (mora-
da entaõ de Urfos, Lobos, & outras feras) compràraõ por dinheiro o fitic," que
kl^uns donos lhes queriaõ dar de graça,&fundàraõ no mefmo anno de ioia.
hum Oratorio, que depois veyo a ler o que hoje he Mofteiro de S. Joaõ de Al-
nendorada,ou Pendorada, derivandofe-lhe o nome de hum grande alpendre da
porta ou do defpenho que faz para o Douro; fagrou-o oSantoBifpo do Por-
to Dom Sifnando Martyr, que eiHem Villa boa,pondolhe varias relíquias,par-
ticularmente hum dedo index damaõ efquerdade S.Joaò Bautifla, juftificando
frllofeus °randes milagres; outras de Santa Comba, de Santa Eugenia, & de S.
Romano. ^Eftando neftes termos lhepoz Velino por Abbade a Exameno,Mon-
«e de exemplar virtude, o qual foy tomando noviços , & povoandoa de Reli-
eiofos. Mas ou por Velino, & Exameno nam poderem confervar efta nova Ca-
fa que cm tam calamitofos tempos difficult oíamente podia fer , ou por a have-
rem aumentado, fizeraõdoaçaõdefte Padroado no anno de 1072. a Dom Mo-
ne^o, ou Moninho Viegas, a quem o Conde Dom Pedro chama Dom Moninho
Hermigis o Gafco,bifnetodo primeiro Dom Moninho Viegas , que eflá em
Villa boa, ao qual applica a Beneditina Lufitana efta doaçao, fem reparar, que
efte faleceona era de 1060. como diz Lavanha no tit. B,fuppoík>que também
he erro feu dizer anno,& ainda q quizeraõ encontrar o letreiro da fepultura,
&q naõ foíTe era, fenaô anno o de Lavanha, indafe eftava vendo o erro ; por-
que morrendo no de 6o.naõ podia aceitar o Padroado no de 71.0 que dizemos
he provável, que he annòde 1032. & ainda naõ era fundado o Moíieiro de Pen-
dorada node 1024. como'aqui fc vê, & para fe fazer , & povoar havia mifter
tem-
D.A C O RO G R A EI A PORTUGUESA; . 40Í
tempo,, no qual nam era muito viver feu bifneto o fegundo Dcm Moninho no
anno da doaçaõ, que para o primeiro he impoííibilidade clara- Elie efiando ca-
tivo de Mouros, pela grande deVoçaõ que tinha a S. Joaõ Bautiíla , por muitds
milagres, q continuamente fazia em Pendorada, fe lhe encomendou,Sc mila CTro-
famete foy livre. Entaõ reedificou de novo efie Morteiro com mayor grandeza,
&o dotou de muitos bens, que teve, 6c tem, com nove Igrejas de feu Padroado ,
de que algumas fe perderão, 6cpoz no Altar mor huma grande Imagem do San-
to Precurfor,feita de prata. Por difeurfo de annos crefceo em rendas, por mui-
tas doaçceiís, que vanos fidalgos, 6c devotos lhe fizeraõ : ElRey Dom Affonfo
Henriques, 6c a Rainha Dona Therefa fuamãy lhedefaõ , 6c marcàraõ Couto,
& ElRey Dom Joaõ o Primeiro o favoreceo muito- Governoufe muitos annos
por Abbades, Sc Priores, atè que no de 1413. o achamos com Commendatario,
Dom Lóurcço Bifpôde Malhorca,& Capellaõ mór delRey Dom Joaõ o Segun-
do, a quem fucccddraõ mais dous , 6c a ertes Dom Joaõ de Azevedo Bifpo dó
Porto pelos annos de 1481- A eftefucceífi vãmente íuccedèraõ feus filhos Dõ
Antonio de AzevedoProtonotarioda Sé Aportolica, 6c Dom Manoel de Aze-
vedo pelos annos de 1 f4o.Neftc tepo houve a reforma geral, 6c foraõ provédo
os Frades Priores,atè q o Cõmendatario faleceo,em q fizeram primeiro Abbade
eleito no ailnode 1580. aííimcõtirluouatèode ifpp.cmq apphcàraõ aquellas
redasao Morteiro novo deFradcs de S.Béto doPorto,paraondelevàraõretabo-
los,orgaós, 6c finos, deixado a nao daquella antiga Igreja arvore feca,cõ Prefide-
tes por quatro triennios, no fim dos quaes, advertidos do mal que tinhaô feito,
otornàraõapovoar de Religiofos, Sc Abbade no anno de 16ii. 6c permanece
com nove Monges, em que entra o Prelado ; St fe furtentaõ de tres mil cruza-
dos, que rende os dizimos^Sc fabidos, Sc o que acrefce vay pard o Convento do
Porto. Entcndefe que pouco menos de outro tanto lhe diminuíras ós Cõmcn-
datarios. No Couto do Morteiro o Abbade faz Juiz ordinário no eivei com o
povo, Efcrivaêsos do Concelho, & outro além do Douro,chamado Efcamaraõ,
em que obra o mefmo, & comem os dizimos derta Igreja, aprefentandolhe Vi-
gário,a que rede vinte & cinco mil reis, & para o Morteiro trinta mil reis,-& "ha
dè Aípiunça rende ao Vigário quarenta mil reis,6c para o Morteiro fetenta mil
reis. Aprefenta com referva as Abbadias de Souzello, que rende trezentos mil
reis, a de Santa Leocadia de Travanca duzentos mil reis :• tem mezes cmSaõ
Martinho da Varzea, 6c em S. Miguel de Matos, o mefmo na de Magrellos. Per-
deo a de S. Chriftovaó de Efpadanedo, qne hoje he do Padroado Real, 6c as Ma-
gertades, quando aprefentaõ, mandaõ.ao aprefentado pedir a Pendorada a au-
thoridade- Tem no Morteiro Curafecular com quarenta mil reis de renda: 6c
confia efta F reguefia de cento 6c cincoenta.Sc feis vifmhos, com tres Ermidas,
N.Senhora,S.Sebaftiaõ,6c S. Amarou
S. Martinho da Varzea do Douro, Abbadia dos Morteiros de Pendorada.»
& Villa boa com referva, rende cento & oitenta mil reis, tem oitenta Sc feis vifi-
nhos, 6c huma Ermida de S. Sebaftiaõ.
Santa Clara doTorraõ, a que vulgarmente chamámos de Entre ambos os
rios, por ertar naquella parte, em que o Tamega fe mete no Douro , feis leoas
acima do Porto,povobemaffentado,Sc fértil, pelo que propriamente lhe"cha-
maõoTorraS,muy frefeo, aprazível, Sc mimofo deterra,Serio , apertadode
montes, que fendo ermo, como inda hoje,nam he muy povoado, o deu, & mayor
diftancia, ElRey Dom Sancho o Primeiro no anno de mi.à Condeça D. Toda
Palazim, mulher de Dom Ruí Vafques da família dos Barbofas, fó para que elía
El iij fizeíle
4oi TOMO PRIMEIRO
fizeíleallihuma Albergaria paraamparodos paíTageiros naquelle dcfpovoado,
como fez. Succedeo lhenerta herança fuafilha Dona Tercja Rodrigues,mulher
de Dom Gomes Soares da familia dos Pereiras, & efta povoou a rua, ou burgo,
que alli ertaõ juntos, & lhe deu foral nos annos de i 2 51. & 4.1. Paliou cite iç-
nhorio, & bens a fua filha Dona Chamoa comes, mulher de Dom Rodi ígo ro-
jas de terra de Leaõ, & por nam terem filhos , fez com feu marido, tundatiem
aqui hum Convento de Freyras de Santa Clara, para nelle ler virem mulheres a
Deos, & os homens terem refugio dos ladroens, falteadores , & bandoleiros,
que neftepaffo acõmetiaõ , 5c matavaõ os caminhantes. No anno de 12 58- co
antidata de dousmezes,& cinco dias foraõ paliadas as Bulias pelo Papa Alexa-
dre Quarto para o Convento de.Lamego , que hoje he o de Santa Clara
de Santarém , &para erte de Entre ambos os rios , quedeprefentehe o de
Santa Clara do Porto, & fendo aquelle o primeiro que fe fundou , ou para me-
lhor dizer, teve ordem para fe fundar debaixo da Regra de Santa Clara , he o
noffo o fegundo. Para o primeiro, queerteve em Lamego , vieraó as fundado-
ras de França defembarcar ao Porto, aonde entaõ cliava EIRey Dom Atronlo o
Terceiro, qfTe de lá devia trazerlhes aífeiçaõ por feu bom modo de vida; & pa-
ra eftenoíTo, em que havia de haver cem Freyras, mandou oSummo Pontífice à
Abbadeífa de Çamora lhe déíTe doze; mas ou foífe por lenam achar tam íobra-
da defte cabedal, que pudeífe ficar provida, & partir tam largo, ou pelas razoes,
que para iífo teria, naõvieraò mais de tres , a que fcagregáraõ algumas Don-
zellas nobres, & as feis, ou fete Beatas de grande opinião, que viviaõ em S. Vi-
cente do Pinheiro no Julgado de Penafiel de Soufa* Muito trabalho teve Dona
Chamoa para fundar eíle Convento no anno de 1264- pelos encontros, que lhe
fez o Bifpo do Porto, mas ultimamente fe vieraõ a ajudar com lhe dar certas
coufas ao Bifpo, & largarlhe por fua morte o Padroado de Tuyas, Morteiro de
Freyras de S. Bento,que acima derte fundára perto do Tamega fua vnavo Ami-
nhana, Dona Urraca Viegas, filhade Dom Egas Moniz o Honrado , & hoje he
das Freyras de S. Bento do Porto, & logo unio ao de Entre ambos os nos o Co-
mendador Gonçalo Paes a Parochia do Salvador, que era de fua Comenda, mas
de que Ordem foífe nam fabemos. Também teve o de S. Joaõ da Foz , que ha
annos he dos Frades Bentos de S. Thirfo. Por fua morte difpoz eíla fenhora
muitos legados; porque além de tudo, o que eíle Convento tem com a fua her-
dade da ribeira do Lima,para veftuario das Donas,encargo com que lha deixà-
ra fua prima Dona Tareja Garcia,&huma grande relíquia do Santo Lenho; dei-
xou muitas efmolas aos Morteiros aeTuyas, S. Tliirfo , & Paço, todos ce S-
Bento ,& outras ao de Santa Clara de Ciudad Rodrigo em Caiklla ; & por-
que naquelles tempos os parentes dos Padroeiros dos Conventos cuftumavaõ
comelios, ellanam foube que coufa era fer mãy , & moftrou melhor o defamor
aos parentes, dizendo na inftituiçam: E mando, que fe algum ou alguma dg mi-
nha linhagem quizer demandar herança em o Mofleiro de Entre ambos os nos, que
le dem huma enxada com que cave,&dem à Dona humapeça de lai,que fie, & fe-
nhãs reçoes de boroa, & de agua^ quanto p off a beber, fo pelos de sherdar. Morta
ella, entrouElRey em muitas coufas, que dizia ferem da Coroa, & depois lhas
reftituíohumas,& outras feu filho EIRey Dom Diniz ; mas o peyor foram al-
guns parentes da fundadora, que por muito poderofos vieram a lfvar por con-
certo as tres partes do que deixàraao Morteiro,dizendo lhes pertencia por he-
rança antecedente. Os nofTos Reys, que a eftes fuccedéram,o favorecerão mui-
to, particularmente EIRey Dom Fernando,& ElRey Dom joaõ o Primeiro^ que
DA COROGRAFIA PORTUGU É Z A. 40$
• fobre lhe confirmar eítas mercês, lhes privilegiou dous criado s, & oito Cafei-
ros de muitas coufas, & de irem à guerra. A Rainha Dona Felippa, mulher do
dito Rey Dom Joaõ o Primeiro,tratou mudallas para o Porto , o que nam teve
effeito, por Deos a levar antes de confeguillo: o mefmo Rey, feu; marido,o fez
no anno, que diffemos na deferipçam da Cidade do Porto cap. f. fendo Abba-
deça, & ultima em Entre ambos os rios Dona Mecia Alvarez Gafanha, deitan-
do alli Cura, que aprefenta o Moíteiro de Santa Clara do Porto , para onde fo-
ram ; rendelhe feííenta mil reis, & para as Freyras com fabidos , òtfórosfete-
centos mil reis: tem duzentos & trinta & hum vifinhos, & eítâs Ermidas, San-
tiago do Burgo, S. Pedro de Jugueiros, & S- Seballião. Tem Couto , cm que
aprefentam Juiz nafórma que diffemos em S> Miguel de Entre ambos os rios >
Concelho de Penafiel, aonde eítá o foral. Alli fahem os barcos , que navegam o
Douro, & parte do Tamega no Inverno a pagarlhe a portagem, que delles lhes
toca.

CAP. XIII.

Do Concelho de Dajtô.

A Eíte Concelho deu foral ElRey Dom Manoel em Lisboa i. de Setembrò


de 1513 he da mefma Comarca de fobre Tamega no Ecclcííaftico , & no
fecular do Corregedor do Porto. Nelle fe termina eíta Província com á de
Trás os Montes; he terra afpera,inda que fértil no clima; porque ou fedefpe-
nha em profundos ,&dilatados valles, que todos vaõ dar ao Douro, ou fe eleva
em altiílimas ferras: carros nam tem aqui preítimo ; às coitas dos homens i ou
belt as conduzem os moradores para fuas cafas o fuítento de que necefíltam; tem
azeite, vinho de enforcado, muitas frutas, o paô nam he muito, gado9 > muita
caça, mel, quantidade de caítanha, & pefeas no Douro- Tem dous Juizes ordi-
nários, Vereadores, & Procurador, feitos por pelouro , ôteleiçam do povo de
tres em tres annos, a que prefide o Corregedor, & o fenhor do Concelho confir-
ma, que inda he mais; cinco Tabcliaens, juiz dos Orfaõs, dous Efcrivaens , &
outro da Camara, Meirinho, Contador,Enqueredor, Diítribuidor, & Ouvi-
dor,todosdaaprefentaçamdofenhor;oEfcrivaõ dasSizashe data delRey: as
penas do fangue faõ do fenhor , & as armas, com que feriram. A gente fe re-
parte em treze Companhias cõhum Sargento mór, & Capitaõ mór,que he Chri-
itovaõ de Soufa Coutinho, fenhor deite Concelho, cuja varonia he a feguinte.
DomFrey Alvaro Gonçalves Camello,filho de Gonçalo Nunes Camello, &
de Dona Aldonça Rodrigues Pereira , era defeendenteporvaronia de Martini
Lourençoda Cunha, fenhor de Pombeiro. Foy eíte Dom Frey Alvaro Gonçal.
ves Camello Prior do Crato, algum tempo fenhor de Guimaraens , & fenhor de
Bayaõ, Atalaya, Ouguella, S- Chriítovaõ de Nogueyra, da Lage, Moyos de Bi-
toure,& outras terras: teve eíte Prior filho baítardo a
Alvaro Gonçalves Camello,que foy fenhor das terras de feu pay, & Vea-
dor da Fazenda do Porto por mercê delRey Dom João o Primeiro : cafou com
Dona Ines de Soufa, filha de Martim Affonfo de Soufa Chichorro, & de Dona
•Ma-
4o4 TOMO PRÍ ME IRO
Maria de Bríteiros fua parenta, da qual teve, entre outro s filhos, a
Luiz Alvarez de Soufa, que por fua mãy tomou eíle appdlido , êc todos
feus defcendentes; herdou a Caía de fçus pays , òcfoy Vendor da Fazenda do
Porto: cafou com Dona Felíppa Coutinho,filha de Fernaõ Martins Coutinho,
irmaõ do Marichal Gonçalo Vaz Coutinho, 6c por eíle cafamento foy fenhor de
Regos,Eiriceira, 6c parte da V illa de Mafra, 6c de outras terras ; teve, entre
outros filhos, a .
Fernaõ M artins de Soufa, que faleceo em vida de feu pay, 5c cafou com D.
Joanna de Brito,filha de joaõ Aftonfo de Brito, ícnhor do Morgado de Santo
E ílevaõ de Beja, 6c do de S- Lourenço de Lisboa, & de fua mulher V iolante No-
gucyra, da qual teve, entre outros filhos, a
Joaõ Fcrnandesde Soufa, que foy ícnhor das terras de feus avós , cafou
a primeira vez com JDona Ifabel da Sylva,filha do primeiro V ifconde Dom Leo-
nel de Lima, da qual teve a Dona Joanna de Soufa, que herdou toda efta Cafa, 6t
cafou com Manoel de Soufa. Eíle Joaõ Fernandes de Soufa caiou fegunda vez
com Dona Joanna da Guerra, filha de Gonçalo Vaz Coutinho, dos fenhores de
Celorico de Bailo, 6c Monte longo, da qual teve, entre outros filhos, a
Fernaõ Martins de Soufa, que trouxe demanda com fua meya irmaã Dona
Joanna de Soufa, com que nam chegou a lograr a Cafa de Bayaõ: cafou com Do-
na Beatriz de Gouvea, filha de Pedro de couvea, homem nobre de Fonte Arca-
da, da qual teve, entre outros filhos, a
Chriílovaõ de Soufa, q continuou a pertençam da Cafa de Bayaõ,de q teve
duas fentencas a feu favor: cafou com Dona Maria de Albuquerque , filha de
Manoel de Carvalho, natural de Lamego, ôc fenhor do Souto delRey,que levou
em dote ella fua filha, 6c de fua mulher Ifabel Coelha: eíle Chriílovaõ de Soufa
foy do Confelho dclRey Dom Joaõ o Terceiro, 6c feu Embaixador a Romajte ve
da dita fua mulher, entre outros filhos, a
Fernaõ M artins de Soufa, que entrou na poííe do Concelho de Bayaõ , &
mais terras de feus avós, de que algumas fe defmembràram , 6c foram aos her-
deiros de Dona Ifabel, primeira mulher de Joaõ Fernandes de Soufa: cafou com
Dona Maria de 1 eve, filha de Antonio de Teve morador em Lisboada qual
teve, entre outros filhos, a
Chriílovaõ de Soufa Coutinho, que foy fenhor da Cafa de feu pay ,6c Guar-
da mór das Naos da índia: cafou com Dona Leonor da Cunha, filha de Gonçalo
Pinto Guedes, Alcayde mór de Bailo, ôc de Beatriz da Cunha, da qual teve, en-
tre outros filhos, a
F ernaõ Martins de Soufa, que foy fenhor da Cafa de feus pays , 6c cafou
com Dona Maria de Ataíde, filha de Fernaõ Gonçalves da Camara , 6c de fua
mulher Dona Brites Manoel, da qual teve, entre outros filhos, a
Chriílovaõ de Soufa Coutinho 6c Ataíde , que foy fenhor da Cafa de feus
pays, 6c avós, 6c cafou com Dona Maria Vitoria de Lima, filha de Dom Anto-
nioda Sylveira,Commendadorde Sortelha, 6cde Dona Catherina de Lima, da
qual tem a Joaõ Femandes de Soufa, que morreo folteiro,a Fernaõ Martins de
Soufa,q hoje he fenhor da Cafa de Bayaõ, por faleciméto de feu pay, 6c irmaõ, a
Dom Jeronymo da Sylveira, a Dona Catherina Roza de Lima, a Dona Leonor,
6c a Dona Joanna.
Freçue/ías defle Ccncelho .
S. Cruz do Douro,he Abbadia dos Vifcondes de Ponte de Lima,izeta dos
Bifpos do Porto, 6c fogeita à de Soalhaés, também dos V ifcondes, cujo Abbadc
he

í
DA COROGRAFIA PORTUGUESA* 40*
he aq ai Prelado: rende quatrocentos mil reis, tem cento & vinte vifinhos.Efta
Igreja era do Arcebifpo de Braga D.Martinho, trocou-a co D. Joaõ deSoalhaés
Bifpo deLisboa,antes q lhefuccedeíTe 11aprimazia,pela deSãtiago deNeivaJ
agora chamamos do Caftello, no termo de Barcellos; o que confirmou ElRey D*
Diniz no anno de 1307. Sc defde entam he fubditadeSoalhaes, St ambas àpre^
fentaçam daquelleMorgado, quepoííuemos Vifcondes* Aqui eftáhumaquin-
ta honrada, que tinha privilegio , por nella ter vivido Dom Jeanne Reimaõ,
Francezilluftre, cujos defeendentes faõCirnes Reymocns.
Santiago de Mefquinhata, Curado de Soalhaés, de quem he annexa, Scxom
cila fe arrenda, tem fetentaviíinhos.
S. Joaõ do Grillo, Abbadia da Mitra, rende dento 8t oitenta mil reis', tem
feífenta Sc oito vifinhos.
Santa Maria de Gove, Curado do Mofteiro de Anfede, rende ao Cilra cem
mil reis, Separa os Frades mil cruzados: tem cento Se feífenta Se cinco vifinhos*
Aqui eítá em huma Ermida antiga NoíTa Senhora das Maleitas , he Imagem mi-
lagrofa, Sc muy venerada com romagens, particularméte dos que tem (maleitas,
que nam faltam neíte Concelho, por comunicação do Douro.
S. Joaõ de Ovil, Reitoria que aprefenta a Cafa de Bayaõ, rende ao Reytor
cento 8c trinta mil reis; os dizimos faõ de hum Beneficio íimples, que a] mefma
Cafa aprefenta; importam com os da annexa de Toloens trezentos mil reis,tem
cento Se feífenta Se dous vifinhos.
S. Bertholameu de Campello he Vigairaria doMoíteirodeAnfedecom ti-»
tulo de Abbade, 8c Arcediago de Campello, a quem rende cento Sc feífenta mil
íeis, Se para os Frades quinhentos mil reis :tem duzentos Se trinta Se feis vifi-
nhos-
Santa Comba de Toloês, Curado annexa a Ovil, com quem fe arrenda, té
vinte 8c quatro vifinhos.
S. Payo dos Loi vos do Monte, Curado annexo de S- Joaõ de Geftaço, tem
cincoenta 8c dous vifinhos.
S-fauftino de Veariz, Abbadia da Mitra,rende cem mil feisi, tem feíferlta
& fete vifinhos. Aqui eftava aquella quinta de Gõçalo Moniz, que elle,femque
o foífe, quiz fazer Honra em tempo delRey Dom AíFonfo o Terceiro , a cujo
Porteiro impedio entrar nella, dizendolhe,que fe o intentaífe, lhe cortaria hum
pé.
S. Joaõ do Campo de Geftaço he Igreja fagrada , Sé Abbadia do Conde de
Uiihaõ, rende com aannexa de Loivos feifcentOs mil reis , dequeos Condes
levaõos qumdenios porBrevedos Summos Pontifices :tem duzentos Se cin-
coenta vifinhos.
S. Pedro da Teixeira, Abbadia do mefmo Conde, Se com a annexa de Villa
Juzaõ he quafí da mefmà renda,tem cento 8c oitenta Sc cinco vifinhos*
Santa Maria de Frende, Abbadia da Mitra , rende cento Sc cincoenta mil
reis, tem fetenta Sc quatro vifinhos.
Santa Maria Magdalena de Loivos, Abbadia que aprefentám os fidalgos
do appellido de Tavora, fenhores da Cafa de Macieira na terra da Feira, rende
cento Sc cincoenta mil reis, tem cincoenta Sc cinco vifinhos.
S. Miguel de Frezouras, Vigairaria annexa à Commenda de Villa CoVá da
Ordem dê Chrifto, junto a Lixa, rende aoCura vinte Sc cinco mil reis,Sc para o
Commendador cento Sc cincoenta mil reis: tem noventa Vifínhôs.
Santa Marinha do Zezere, Abbadia do Mofteiro de Travanca cora refef-
. va,
406 TOMO PRIMEIRO
va, levam as duas partes da renda os Padres da Companhia de Évora, que im -
porta duzentos & fetenta mil reis, & ao Abbade trezentos mil reis; tem duzé-
tos,St oitenta viíinhos.
5» Thomè de Cubellas, Abbadia do Vifconde, & Conde de Figueiró, rende
trezentos mil reis, tem cento & vinte & dous viíinhos.
Santiago de Valladares, Abbadia das Caías de Bayaõ , & Marquez de Ar-
ronches , rende quatrocentos &cincoenta mil reis , tem cento & vinte viíi-
nhos. • -
Santa Leocadia de Bayaõ he Abbadia do Marquez de A r ranches y & nam
annexa do Morteiro de Aníede , como diz Brandão Monarch. Luíit. part. 3.
liv.p. cap.4. Sc devia íer do Padroado Real ; porqua a Rainha DonaTherezaa
dotou a Froyla EfpaíTo no anno de 1112- rende trezentos & vinte mil reis,tem
cento & trinta &.íete viíinhos.
;or^v , , - ■ - . -

Couto de <tAnfede.

S Anto André de Aníede he Morteiro antigo , fundado no anno de 1107.


junto do Douro no lugar de Ermello, hum quarto de legoa para oNaícente,
aonde hoje eftá o mais moderno. Por falta de agua de beber, o mudaram os Có-
negos para aqui com ajuda delRey Dom Affonfo Henriques,que por dizer: <S up-
pofto que os Cortegòs hão fede, mudem o Mcfteiro, que eu os ajudarey; daqui lhe ficou
o nome de Aníede, mudoufe 110 anno de 1160. & o poífuíam Clérigos raçoêi-
ros, que osCruzios querem fejaõ osieusConegos.de SaiiEO Agoftinho, & por
erta duvida diz o Padre Fr. Luiz de Souía na Hiítoria de S. Domingos part, i-
liv.g. cap.4,0. lhes foy dado aos Conegos Regrantes neíte mefmo anno , coufa
que elles fazem mais antiga. Exirte ainda a primeira I grejâ no meímo lugar,em
que efteve o Morteiro , Sc na Capella inór da parte direita da banda de fora na
meíma parede eítà íepultado S. Berardo, a quem outros chamaò Dom Giraldo,
que foy hum Prior, ou Conego Santo do primitivo Morteiro, o qual em vida
benzia o gado danado, St faravajSt do meímo tumulo íahe huma figueira , que
nelle naíceo da parte de fora, cujas folhas tem particular virtude em varias en-
fermidades. Depois de morto,faltando aos Partores, Sc Lavradores efte remé-
dio, pediraò, lhes tiraflem de fua fepultura a caveira , com que os Clérigos do
Convento benzião,& aproveitava. Erta cabeça vevo para o novo Morteiro,aon-
de ertà da parte direita do íacrario em huma caixa de madeira pintada; tempar-
ticular virtude para mordeduras de çaens danados s como experimentam os
que a vem beijar; Separa os animaes íe benze paó,h erva, & palha , quedando-
Iha a comer, os preíérva do mal ; he vifitada gcralmete em todo o anno, em parti-
cular nas Domingas de Mayo. O Morteiro novo ficou em lugar mais fobido na
recorta de hum monte, que íe precipita ao Douro, & fica deíviado de fuas con-
tinuas, & nocivas névoas ;faõ duas Igrejas, huma dos Frades , outra dos fre-
guezes, & ambas divididas cõ huà corta,porque ha porta para fe communicare.
O Morteiro he fagrado: na Igreja dos fregueze s à mão direita eftá metida na
parede huma fepultura dos Souías, fenhores de Bayão, cm que entra efteCou-
to,çom as Armas dos derta familiay pelo que entendemos eftar alli feDultado al-
gum deftes fidalgos, depois de tomarem erte appellido , porque moffra ferem
Padroeiros; St na verdade nam fó por ifto, mas por muitas razoens , me parece
que eftes fenhores o deviam fundar, por íer em huma terra, que he fua ha tantos
aíinos.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA; 407
annos. Aqui eftá hum púlpito grande, & redondo, todo feito de huma fó pe-
dra. Os antigos Priores ulavam de Mitra, & Bago; paffou a Commendatarios,
em que andou até o ultimo, que foy Dom Sancho, & falecendo no principio do
anno de 15 57. o deu EIRey Dom Joaõ o Terceiro aos Cruzios, que logo o man-
daram reformar por alguns Frades; mas como em tanto, qus as Bulias tardàraõ
de Roma, faieceíic nefte mcfmo anno EIRey , a Rainha Dona Catherina fua mu-
lher, Regente do Reyno na menor idade de feu neto EIRey Dom Sebaftião, por
-eonfelhodo Venerável Frey Luiz de Granada , o deu aos Frades de S- Domin-
gos,para terem eftudos em Lisboa,a que fe unio,& por efte fe chama Dõ Prior
ode S- Domingos daquella Cidade. Tem de renda com annexas, &fabidos qua.
tro mil & quinhentos cruzados, cm que entram os dizimos do Mofteiro, & das
Igrejas de Gove, Campello, Santo André de Medim, S-Miguei de Oliveira, &
S- Ciprião ; eftas ambas além do Douro. Confervafe com Vigário , & cinco
Religiofos, Sc hum Procurador em nome do Dom Prior; o que fobeja do fuften-
to defies vay para Lisboa. Tem aquella notável cuba,cm que muitos faliam ,
levava perto ae quarenta pipas, hoje he mais pequena, & a mayor maravilha he
nam ter arco de ferro. Na porta de arco da adega, por onde entrava, & fahia, fc
pôde conferir o que devia fer. He prazo defte Mofteiro a quinta de Val de Cu-
nha,que eftá pela parte de baixo, & a comem fidalgos do appellido de Brandão,
& alguns dizimos com obrigaçaúi de darem as toalhas neceíTarias para a mefa
dos Frades defte Convento. Tem Couto dilatado no Civel , que lhes deu em
parte, & vendeo em todo EIRey Dom AíFonfo Henriques- O povo elege Juiz
no Civel,que também he dos Orfaõs; confirmaõ-no o Procurador do D. Prior,
& o feu Ouvidor; Efcrivaens os do Concelho. Na guerra he Capitão mór oDõ
Prior, & na paz os Senhores de Bayam- O Dom Prior aprefenta os Curas de
Gove, & do Convento; efte rende cem mil reis , tem (quatrocentos & vinte &
tres viíinhos,&cftas Ermidas, NoíTa Senhora da Cunha, NoíTa Senhora do Er-
mdlo, S. João do Pereiro, & S. Domingos- Ha nefte Concelho de Bay ao duas
Honras, a de Gozcnde, & a de Eyras, das quaes faõ fenhores os Caftros de Ro-
riz : tem j uftiças à parte, mas de pequeno deftr [<fto , Efcrivaens os do Conce-
lho. A de Gozende, entédemos, deu o nome Dom Gozendo Araldes de B ayão,
filho primeiro de Dom Arnaldo de Bayão, ou Dom Egas Gozendes, feu filho,
que viveo em tempo delRey Dom Affonfo o Sexto, como diz Lavanha nas No-
tas ao Conde Dom Pedro tit.40.foi.2X1- not-(A) jScaífin he por alli tradi-
çam vulgar.

CAP. XIV.

T)o Concelho de Soalhaens.

EStá efte Concelho em hum monte, huma Iegoa do Tamega para o Sul, &
lhe deu foral em Lisboa EIRey Dom Manoel aos 17. de Julho de i^i^. tc
quinhentos & quinze vifinhos com huma Parochia da invocaçam de São Marti-
nho, Abbadia dos Vifcondes de Villa-nova de Cerveira , & entendemos o po-
voou, & foy fenhor delic hum fidalgo do appellido de Soalhaens , que viveo no
, - Fa-,
4oS TOMO PRIMEIRO
Paco de Villa pouca da mefma Frcguefia, em quem o Conde Dom Pedro começa
cila família; alli achamos já o Moíteiro Duples de Frades, 6c Freyras da Ordem
de S- Bento com titulo de S. Martinho no anno de 86$ • fundado, Sc bem dotado
por Sancho Ortiz,ou Ortiga; aílim permaneceo annos; porque no de 1029. no
ultimo de Dezembro, reynando Dom Fernando o Magno, íe lhe foram queixar
ps Monges deite Convento de Garcia Moniz, que entendemos fer o Gafco, por
lftes ter tomado algumas terras; Sc he erro de quem diz foy dc Templarios: ex-
tipguiofe,namfabemos como; masque veyo a fer Abbadiafecular,aprefenta-
da pelos Bifpos do Porto, a quem deu eite Padroado EIRey Dom Sancho o Se-
gundo pelos annos de 124,5-. depois de o haver tirado a Dom Gonçalo Viegas
cie Portocarreiro, de cuja família era. Palfóu aos Bifpos de Lisboa, por huma
troca, Sc ultimamente dos fenhores deíle Concelho, o que nos parece íer em té-
po de Dom Joaõ Martins de Soalhaens , que por fer dos de Portocarreirolho
reftituíram, fendo muito vali do delRey Dom Diniz , Sc nam como Bifpo de
Lisboa, ainda que o era entam, Sc veyo a fer Arcebifpo dc Braga, cujos oífos ef-
taõnaquelIaSè na parede da Capella do Cruzeiro da parte efquerda cõ letrei.
ro, cueo declara. Inílituío o Morgado da dita Cafa em 13. de Mayo de 1304.*
cujo filho foy Vafco Annes de Soalfiaés, fenhor do mefmo Concelho, que de fúa
fegunda mulher Dona Leonor Rodrigues Ribeiro Tavares teve a Ruí Vafques
Ribeiro , "que os herdou, o qual de fuafegur/i». mulher Dona Margarida Gon-
çalves de Briteiros, houve a Dona Thereza Ribeiro, fenhora deíle Concelho,Sc
Padroado, quarta mulher de Gonçalo Mendes de Vafconcellos, fenhor da Lou-
zaã, Sc foram pays de Joanne Mendes de Vafconcellos, fenhor deíle Cõcelho, Sc
. de Penelia juntoa Coimbra, do qual nafceo filha mais velha , Sc herdeira deite
Çafa Dona Maria de Vafconcellos,fegunda mulher de Dom AfFonfo de Cafcaes,
filho do Infante Dom Joaõ, Sc neto dos Rey s Dom Pedro, Sc Dona Ines de Caf-
tro. Deites foy filho herdeiro DonvFernando de Vafconcellos , quecáfando
com Dona Ifabel dc Menezes,filha de Dom Pedro de Menezes,Conde de Viana,
Scdeíua terceira mulher Dona Brites Coutinho, juntou àfua Cafa as Villas de
Mafra, Sc Enxara dos Cavalleiros, Sc Concelho de Aregos, em que lhes fucce-
deofeu filho Dom Aífonfo de Vafconcellos Sc Menezes , primeiro Conde de
Penelia, do qual nafceo o Conde Dom Joaõ de Vafconcellos Sc Menezes , Vea-
dor da Fazenda, de quem foy filho Dom AfFonfo de Vafconcellos Sc Menezes,
fenhor da Cafa. Deíle foy filho , Sc herdeiro dos bens da Coroa Dom Joaõ dc
Vafcõcellos Sc Menezes, de quem nafceo D- AfFonfo de Vafconcellos: Sc Mene-
zes, cujo filho herdeiro foy Dom Joaõ Luiz de Vafconcellos Sc Menezes, Ca-
pitaõ General de Mazagaõ, aonde morreo , que caiando com Dpna Maria de
Noronha, filha única herdeira de Ferrtaõ Alvarez Cabral, teve filha única , Sc
herdeira Dona Joanna de Vafconcellos Menezes Sc Noronha, mulher de Ruí de
Mattos de Noronha, Conde de Armamar, fem geração, Sc depois fegunda vez
cafada com Dom Diogo de Lima Brito Sc Noronha , fetimoVifeonde de Villa-
nova de Cerveira, em cujo tempo tiràram por demanda muito deite Cafa, Sc da
de Mafra, Sc Enxara, em que entra o Padroado deíla Igreja , que rende com a
annexa de Mefquinhata mais de hum conto, o Abbade fe intitula Prelado ; por-
queohedaFregueíiade SantaCruz. A Igreja he fagrada, como fe relata em hu
letreiro da cofia do lado efquerdo com torre à parte, que ferve para finos, Sc al-
jube. Na Capella mor da mefma banda eííá huma fepultura dos antigos Pa.
droeiros. Hoje he fenhor defia Cafa Dom Joaõ Fernandes de Lima Sc Vafcon-
çelíos oitavo Vifçonde^fiiho dos referidos- O povo faz Juiz ordinário , que
. ' tam-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA; íoã
também he dos Orfaõs,Vereadores, Procura dor,5c Meirinho,que ferve <Je Por-
reiro, confirma-os o Corregedor do Porto; EIRey aprefenta os dous E fcrivaeSi
que fervem também na Camara,5c Orfaõs- Ha nefta Freguefia huma Torre-que ' "
chamaõ de Cadimes,de que faó fenhoies os Vifcondes, Sc alli cobram abuma
renda, que tem> & aqui he O bolar antigo dos fenhores dcfte Concelho , Morgâ-
t dos, Sc Padroeiros da Igreja. Dá todos os frutos, 5t feda, muitos «ados, Sela
<fticinios,os mayores carneiros defta Pròvincia com rabos muy cõpndos, muy~
to mel, azeite, caça, St pefeas nós regatos. Tem hum Capitao da gente da Fre-
gueíia, St Concelho. Teve mais filhos o Arcebifpo Dõ joaõ Martins Soalhaés,
como diz o Conde Dom Pedro , St o dá a entender o Primáz Dom Rodrigo da
Cunha, dos quaes ha as grandes defcendencias, que os cunofos podem ver rios
Nobiliários manu-efcritos.
• •

C A P. XV.

7) a Villa da Tovoa de Farfym. '

He povoáçam antiga com hum porto deenfeada, em que antigamente em


travão , Sc fahiaõ navios, da qual foy fenhor Dom Goterre" tronco dos
( iiuiias, que lendo Francez natural de Gafcunha , Provincia de França vifinha
de Eípannaao pèdosPirineos,vcyo para efteReynocom o Conde Dom Hen-
rique, que lhe fez mercê deft a terra, 5c de outras em Braga, 5c Guimaraens. EF
Rey Dom Diniz lhe deu foral, Sc a doou a feu filho Affonfo Sanches , 5c entrou,
no Mofteiro de Villa .do Conde por doaçam deftes Infantes feus fundadores,
ate que ultimamente tornoifà Coroa, em queeftá com tributo annual às Frey-
xasgp quatro mil reis,St o folho, que alli morre em memoria do fenhorio, que
tiveram. Goveriiafe por Juiz ordinário, Vereadores, St Procurador do Conce-
lho, feitos por eleicam triennal do povo, St pelouro, a que prefíde o Corregedor
do í orto. Vemefcreverlhepordiftribuiçam hum dos Eicrivaens de Villa do
Conde, de que difta hum quarto de legoa. Tem huma Freguefia da invocaçam
de Santa Maria, Vigairaria do Cabido, 5c Mitra de Braga com dez mil reis, ao
todo íeifenca mu i eis, & para a maífa do Cabido quinhentos 5c cincoéta mil reis
com a de Urgevay, 5c dizima do peixe: tem cep vifinhos,de que trinta faõ Cou-
to do dito Cabido.

Mm CAP.
TOMO PRIMEIRO .

■g®gaasaiiis®®3:®s®®i5S®s5SSiS
*
CAP. XVI.

T)o Concelho de Tennguiao.

Fica eftc Concelho na Comarca de Sobre Tamega da PartJ d° Nafcente o


lhando para elle da Cidade do Porto: he fenhor delle o Marquez de Foiv
que ipreíenta in folidum todos os officios no que toca as Juftiças que co.
Xr?m do eivei & crime, para o que tem hum Ouvidor, dous Juizes ouduia-
nhecem dociveC^ ^ii^^p^co Eícrivaens , &mais Officiaes pertencentes ao

ooverno das Juftiças, fervindolhe de Relaçam a Camara do dito Concelho, aon-


deffizem Audiências, a qual tem dous Vereadores, & pertence aeftes o gover-
no daRèpublica defte deftricto. E ao Ouvidor comòMimftro demayor• jW
poíicam ( ainda que nenhum delles he Letrado) pertence prover as Juftiças dos
outros Concelhos mais inferiores íubordinados a eftc de Penaguião , po
ribeca de todos, como faõ Fontes, Moura morta, & Godim- Tem dez Compa-
nhias da Ordenança, fubordinadas ao Capitaõ mór delias, & e lie com as ditas
Companhias ao General das Armas da Província de Tras os Montes. Te m^qua-

d. Mitra de «-=nde
cruzados,, tem cincocnta vifinhos, & eftas Ermidas , NoíTa Senhora da Urea,
NoíTa Senhora daEfperança, Santa Barbora, Santa Anna no lugai da \ eiga , .
Pavo no lugar deBritello: he efta U regucfia abundante de todos os frutos com
huma fonte cm cada lugar,& fica entre dous rios,hum da parte do Norte , que
chamáo o Sordo,& pada pelo lugar de Relvas,ôc outro da parte do Sul,que cha-
mioda Veiga,fendoquejâhumHiftoriadorlhe deu onome de rio de Arca-
delMomando-o de hum lugar mais acima , & ambos entram cm o rio Cor-

g
°' Santo Adrião de Cever, Abbadia que aprefenta o Marquez de Fontes, que
rende quinhentos mil reis, tem cento & trinta & leis v Tmhos,&dftó Ermida^
S Martinho, Santa Margarida, NoíTa Senhora da Conceição, NoíTa Senhora do
iyptSnto Antonio^. FranciTco,&S- Paulo :] tem fete lugares com nove
font es; os frutosfaõ muy faborofos, porem de pouca d ura, por íer o clima mui
to ftu|nt^. . dc LobrigOS^Curado annexo à Abbadia de S.João de Lobrigos,

tem cem vifinhos, & eftas Ermidas, Santa Martha (em cuj® lugar efta o Tribu-
nal do Concelho, com fua cadea, fendo efte o íuperior de todos ) Santa Com
ba, NoíTa Senhora da Guia nas Leyras,& NoíTa Senhora da Piedade em Lore -

tlm
* S-JoãodeLobrigos , Abbadia do Padroado do Marquez de Arronches,
que rende tres mil & quinhentos cruzados, tem duzentos viíinhos, & eftas Er-
midas, o Efpirito Santo, S.(Lourcnço, S. Pedro, Santo Antonio, S- Gonçalo, k
N. Senhora da Graça: os frutos principaes fiaõ vinho , & azeite combalia
frutas,& cinco fontes. •
S-Fauftinoda Regoa tem quatrocentos vifinhos,& eftas Ermidas , ofcipi-
• rito Santo, Santo Antonio, & Afceufaõ em Godim : rende tres mil Cruzados,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 4it
& trezentos mil reis defta renda faõ duas partes do Bifpo do Porto,& huma do
Arcediago daRegoa, que aprefentahú Cura nefta Igreja : os frutos faéirinho,,
& azeite, com poucas fontes, & a rega o Douro pela parte do Sul.
S. Miguel deFontellas, Abbadia do Bifpo do Porto , que rende dous mit
cruzados, tem trezentos vifinhos, & eftas Ermidas, o Efpirito S. & S. Pauloios
frutos faõ vinho, &. azeite: tem muitas fontes de boa agua , & a rega o Dou ro
pela parte do Sul-
Santa Maria de Oliveira, Abbadia do Bifpo do Porto, que rende trezentos
mil reis, tem cem vifinhos, & duas Ermidas, noífa Senhora da Efperança , & N.
Senhora do Quintam; parte com o Douro pela parte dõ Sub & tem poucas fõ-
tcs.
Santa Maria de Sydiellos rende mil cruzados para asFreyras de Monchi-
quejda Cidade do Porto, as quaes aprefentam hum Cura annual : tem trezen-
tos & fetenta vifinhos, & eftas Ermidas, o Efpirito Santo, S. João, & S. Sebaf-
tião; recolhe baftante pão, frutas, & caftanha, & he terra fádia, com muitas fõ.
tes de boa agua.
S. Pedro do Loureyro, Abbadia que aprefentam os fenhores de Murça,que
rende feifcentos mil reis, tem trezentos vifinhos, & eftas Ermidas , NofTa Se-
nhora da Vida, S. Sebaftião, &S. Gonçalo : os frutos faõ vinho, & caftanha ,
com muitas fontes de excellente agua, Sc boa vifta fobre o Douro.
Santa Comba de Moura Morta, Vigairaria que aprefcnta o Cofnmendador
defta Commenda,que he de Malta, rende fetecentos mil reis,mas tem a mais da
renda fóra da Freguefía, a qual tem fetçnta vifinhos, com muitas fontes de boa
agua: os frutos faõ pão, caftanha, & frutas.
S. Salvador de Medroés, Abbadia do Padroado do fenhor de Murça , que
rende duzentos mil reis, tem duzentos vifinhos, Sc eftas Ermidas, Noífa Senho-
ra do Monte, NoíTa Senhora dos Remedios,& a Igreja de S.Pedro, aonde os
Clérigos do Concelho tem a fua Irmandade, que he fua propria: he terra frefca,
produz vinho, frutas, Sc caftanha, 3c tem muitas fontes efe boa a«ua.
Santo André de Medim tem oitenta vifinhos com hum Vigário confirma-
do, queaprefenta o Bifpo do Porto; rende quatrocentos mil reis para os Frades
de S. Domingos de Anlede, St tem eftas Ermidas, S. Sebaftião, Santo Antonio,
Santa Anna a da Portella,& Noífa Senhora da Aprefentacão: produz vinho, Sc
azeite, & tem poucas fontes.
Santiago de Fontes, Vigairaria confirmada, que aprefenta oCommenda-
dor da Ordem de Malta, rende tres mil cruzados, tem trezentos vifinhos , Sc
eftas Ermidas,S- Sebaftião, NoíTa Senhora do Vizo , o Efpirito Santo em Ta-
boadello, S.Pedro, Sc S. Maria Magdalena.
S. Sebaftião de Fornellos, Curado annual queaprefenta oCommendador
de SantiagodeFontes, aonde vay metida a renda, por fer fua annexa : tem oi-
tenta vifinhos, St huma fonte; he terra fádia, recolhe pão, vinho, azeite ^caf-
tanha.
A efte Concelho de Penaguião deu foral ElRey Dom Manoel em Évora
aos i y. de Dezembro de 1519. Sc à Honra de Fontes , de que he fenhor o Mar-
quez Dom Rodrigo Pedro Annes de Sá Almeyda Sc Menezes , cuja illuftre va-
. ronia he a feguinte.
Sendo efta família tam antiga , nam dá noticia ;delia o Conde Dom Pe-
dro, havendo em feu tempo fidalgos defte appellido; com razão diz o Mar-
quez de Montebello , que fe podião queixar do Conde Dom Pedro os do
Mm ij appelli-
412 TOMO PRIMEIRO
appellidode Sá,pois failãdo em D-Therefaccçalves de Sá,qcaiou com Rui Go-
ne s de Telha, repetindo em outras partes elle appellido ,fe nam lembrou de
faliar neíla familia, que tem por Armas o campo enxequetado de prata, Sc azul
de feis peças em faxa : timbre meyo bufo de lua cor enxequetado de prata com
huma areola de pratanasventas- . ,
Os Sás, conforme dizFrey Francifco Brandao na quinta parte da Monar-
chia Lufitana liv. 17. cap. 20. procedem de João Affonfo de Sá, que toy vaílallo
delRey Dom Affonfo o Qu arto, ainda que dá noticia mais antiga em Gonçalo de
Sá, primeiro povoador daVilla de Mello , & queentendia que era natural da
Fregueíia de Santa Maria de Sá no Julgado de Cea , que por fer tres legoas da
Villa de Mello, fedifpuzera a povoar aquella Villa; também da noticia de Mem
de Sá, & de Gil Martins de Sâ, hum em tempodelRey Dom Diniz, & outro em
tempo delRey Dom Affonfo o Quarto, & que lhe parecia que dcftc Mçm de ba,
como deíie Gil Martins de Sá, defcendia aílluftre Caía de Penaguião.
João Affonfo de Sá, em quem dão principio os Nobiliários a cita família,
foy fenhor da quinta de Sá no termo de Quimaraens ; foy filho de Payo Rodri-
gues de Sá, que no Concelho de Lafoens tinha muita fazenda , & neto de Ro-
drioo Annes de Sá, & de fua mulher Dona MeciaRodrigues do Avelar: foy cite
João Affonfo de Sà caiado com Dona Therela Rodrigues deBerredo , & tive-

" ^J a Rodrigo Annes de Sá, que foy Alcayde mor do Caíiello de Gaya junto da
Cidade do Porto, que lhe deu ElRey Dom Pedro, & fenhor da renda de Gaya,&
Villa nova junto a Gaya, que lhe deu ElR^ey Dom Fernando, como diz F1 • r 1 an-
cifco Brandão, & que havia de fervir com certas lanças, como naqucllc tempo ie
coíiumava: foy Embaixador delRey Dom Pedro ao Papa Gregorio Undécimo,
& lácafoucom Cecilia Colona, filha de D.ogo Colona, que foy duas vezes Se-
nador de Roma, & de huma fenhora illuftre, que tinha muitas terras em Sicilia ,
Neta de Pedro Colona Senador de Roma: bifneta de Jacobo Colona, commum-
mente chamado Jacomo Sarra, & de outros Sarra Colona, Senador ck Roma, ir-
mão do «randeEíievão Celena Senador de Roma, & fenhor de Palettma , que
tjorfeuserandes feitos mereceo o nome de Magno, & Pay da Patria, & ambos
coroarão ao Emperador Ludovico Bavaro na Igreja de S- Pedro , & por iffo pu-
zerão huma coroa de ouro fobre a coluna de prata , míignia da Cafa de Colona
defde Cavo Mario: terceira neta de João Colona, Senador de Roma, lenhor de
ralicano, Sede Colona , tronco immediato das tres Cafas pnncipaes deita fa-
milia em Roma, que fao os Príncipes de Carbonãno, os Condefiables de Napo-
ks fenhores de Ginezano, & os Duques de Zagarola, como diz Dom Tiviíco
de Nafao na fua Pericope Genealógica» E por abreviar foy aíenhora Cecília Co-
lona vigefima-tercia neta do grande Cayo Mario, efplqndor da milícia Romana,
íete vezes Conful de Roma, a quem com leu valor , & induíiria adquirio gran-
des vitorias, & dilatados dominios , pelos quaes lhe concedeo o Senado cinco
vezes triunfo em feu Capitólio, aonde hoje feconfervão em mármores feus tro-
feos, como diz Apiano no livro primeiro das G uerras civis dos Romanos- Te-
ve die Rodrigo Annes de Sá de fua mulher Cecilia Colona a João Rodrigues de
Sá o dos Galês, pelo combate, que com cilas teve cõ a Armada de l. aíiella, vin-
do do Porto a foccorrer Lisboa,íitiada por E1R ey Dom JoaÕ o Primeiro de Ca-
íiella; a Confiança Rodrigues de Sá, que conforme alguns, cafou com Joao Go-
- çalves o Zarco,o criado do Infante Dom Henrique , &. dcícubndor da Ilha da
Madeira, & a Aldonça Rodrigues de Sà, Abbadeça do Rio tinto.
DA COROGRAFIA P0RTUGUE2A. 4r3

Joaó Rodrigues de Sá o das Galés foy Camareiro mór dei Rey Dom Joaõ
o Primeiro, Aicayde mór da Cidade do Porto, fenhor de Cever, St Matofinhos>
& de toda a Cafa de feu pay 3 cafou com Dona lfabel Rodrigues Pacheco, filha de
Diogo Lopes Pacheco, íénhor de Ferreira de Aves, & de Penella , Sc teve a Fer-
não de Sá, Sc a Gonçalo de Sá.
Fernão de Sá foy fenhor das terras de feu pay, Sc Camareiro rhór dos Reys
Dom Duarte, Sc Dom Affonfo o Quinto, de cuja parte morreo na batalha de Al.
farrobeira; cafou com Dona Felippa da Cunha, filha de Gil Vaz da Cunha j fe-
nhor de Bailo, Sc Monte longo, St teve a Joaõ Rodrigues de Sá,a Gil Vaz da Cu-
nha, a Diogo da Cunha, St a Dona lfabel da Cunha, que cafou com Luiz de Bri-
to, fenhor do Morgadode Santo Eílevaõ de Beja, & de S. Lourenço de Lisboa 3
& a Dona Maria da Cunha, que cafou com Luiz Freyre de Andrade , fenhor de
Bobadella.
Joaõ Rodrigues de Sâ foy fenhor das terras de feu pay, Aicayde mór , &
Veador da Fazenda do Porto, & Fronteiro de Entre Douro, & Minho : cafou
tres vezes, & da primeira, que foy Dona Catherina de Menezes, filha de Luiz
de Aze vedo, Veador da Fazenda delRey Dom Affonfo o Quinto, teve,entre ou-
trosJfilhos,a
Henrique de Sá & Menezes (chamado de Menezes por hum Morgado,que
lhe deixou fua avô materna D. Aldonça de Menezes , filha de Dom Pedro de
Menezes, Conde de Viana) foy fenhor da Cafa de feu pây , & cafou com Dona
Beatriz de Menezes, filha de Dom joaõ de Menezes, íenhor de Cantanhede > Sc
de Leonor da Sylva, de que teve, entre outros filhos, â
Joaõ Rodrigues de Sá, chamado o Velho t porque viveo cetlto Sc 'quinze
annos, o qual foy grande Poeta, & Orador, & Embaixador aoEmperâdòr Car-
los Quinto fobre o cafamento da Princeza Dona Joanna, filha delRey Dõ Joa5
o Terceiro :càfou com Dona Camilla de Noronha, filha de Dom Martinho de
Caftellobranco, primeiro Conde de Villa-nova de Portimão , da qual teve a
Dom Francifco de Sá^Gonde de Matoíinhos, que por falecer fem filhos, lhe fuc-
cedeonaCafa íeu fobrinho Joaõ Rodrigues de Sá,filhode feu irmaõ Sebuftiaõ
de Sá, que paffou à índia, aonde fervio com grande opinião, & foy CapitaÕdc
Sofala; morreo na batalha de Alcácer foy cafado com Dona Luiza Henriques,
filha de Dom Francifco Pereira, Commendador do Pinheiro, Sc de fuafegunda
mulher Dona Joanna de Tavora, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Joaõ Rodrigues de Sá, que foy o primeiro Conde de Penaguião por
mercê delRey Dom Felippe o Terceiro, Aicayde mór,ScCap:taÕ mór do Por-
to, St Camareiro mór de F elippe o Segundo: cafou Com Dona lfabel de Mendo-
ça, filha de Dom Joaõ dc Almeyda, fenhor do Sardoal, Sc Aicayde mór de Abrã-
tes, Sc teve, entre outros filhos, a
Dom Francifco de Sà Sc Menezes, que foy fegundo Conde de Penaguiaõ,
St Camareiro mór de Felipe o Quarto, officio que largou a feu filho Joaõ Rodri-
gues de Sá: cafou com Dona Joanna de Cartro, filha de joaõ Gonçalves de Ataí-
de, quinto Conde de Atouguia, de que teve, entre outros filhos, a
Dom Joaõ Rodriguez de Sá Sc Menezes, que foy terceiro Conde de Pena-
guiaõ, Camareiro mór delRey Dom Joaó o.Quarto, do feu Confelho de Eftado,
& Embaixador a Inglaterra: foy peífoa de grande fuppofiçaó, Sc cafou com Do-
na Luiza Maria de Faro, filha de Dom Luiz de Ataíde , fextoConde de Atou.
guia, & de Dona Felippa de Vilhena, da qual teve, entre outros filhos, a
Dora Francifco de Sá Sc Menezes, que foy quarto Conde de Penaguiaõ, &
Mm iij pri-
<414 TOMO PR I MElRO
primeiro Marquez de Fontes por mercê delRey DomAífonfo o Sexto, de que
fioy Camareiro mór: cafou com Dona Joanna de Alcncaftre, viuva de Dcm Ro-
drigo Telles deCaftro & Menezes, iegundo Conde de Unhão , que era filha
dei) om Rodrigo de Alcncaftre, Commendador de C oruche, & de Dona Ines de
Noronha,de q teve a Dõ joaõ Rodrigues de Sá & Menezes , que foy fegundo
Marquez de Fontes, & morreo de deaafeis annos, 3c lhe íuccedco feu irmaõ D.
Rodrigo Pedro Annes de Sá Almeyda & Menezes, que he terceiro Marquez de
Fontes, &fexto Conde de Penaguião, CavaUieiro de muitas prendas , & muy
feiente nas Mathematicas: foy cafado com Dona Ifabel de Lorena, filha única
de Dom Nuno Alvares Pereyra, primeiro Duque do Cadaval, & de fua fegunda
mulher Dona Maria Henriqueta de Lorena, filha do Principe de Arcurt em Fra-
ça, da qual tem aDom Joachim Francifco Rodrigues de Sá Almeyda & Mene-
zes, que he fetimo Conde de Penaguiaõ, a Dona Anna Maria de Lorena, & a D.
Maria Luiza Sofia Palatina.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZa; 4tj-

LIVRO SEGVNDO

Da Província dc Trás os Montes.

I HAMASE efía Província de Trás os Montes a refpeito da


Província de Entre Douro, & Minho, quelhcfica aoOcci-
dente detrás damontuoía ferrado Maraõ, que às divide^ co-
mo da Beira os rios Coa, & Douro ; & do Reyno de Galiiza
parte a mefma ferra, ainda que com ditterentes nomes , &
parte os rios,Douro, Coa, ôc Tamega de Freixo de Efpada.
r cinta atè Cafiro Laboreiro. Terminafeefta fértil Província
pela parte do Meyo dia, & Oriente com o no Douro, & pela
do Norte com o Reyno de Galfza; tem trinta legoas de comprido ,& vinte dc
largo: dividefe em quatro Comarcas, a faber, a da Torre de Moncorvo , a de
Villa Real, a de Miranda, & a de Bragança , as quaes defereveremos nos Tra-
tados feguintes.

TRATADO f

Da ComarcA da Torre de zZA/Loncorvo*,

Eíla Província hc grande, & çoníideravel parte a Çomarcá , Sc


Provedoria da V ilia da Torre de Moncorvo, que tem dezafèis
legoas dc comprido de Norte a bui , & quaíi outras tantas dc
largo de Lede a Oeftc; confina pela parte do Nafcente com ter-
, ras da Comarca de Miranda do !Ouro, & pela do Poente com a
■ Comarca de VtllaReal,pela doNorte com oReynode Galliza,
õc termo da Cidade de Bragança, & pelo Sul comorioDouro,defdc as terras
do termo da Villa do Mogadouro atè o porto de foz Tua, fervindolhe a afpere-
za de fuas fragofas prayas atè a foz da ribeira Agueda de inacceííivel, & de to-
do intradavel antemural, com que fe divide do Reyno de Caftella a V elha.
He trad içam, que nos tempos antigos tinha íia Comarca dtffcrente demar-
caçam,poisfe eftendiaa jurifaíçam dos Mmdhros delia atè ás pontes de Cavês,
& da Villa de Amarante, quê doVniiiao ao rio Tamega, & díífo fe achaó ainda al-
gumas
'47 6 TOMO PRIMEIRO
guinas memorias nos Cartórios dos Eferivaens. Temhoje vinte & feis Villas,
aLaber,
A Villa da Torre de Moncorvo.
A V illa de Freyxo de Efpadacinta.
A Villa de Monforte de Rio livre. I
A Villa de Anciães.
A Villa, ou Julgado de Linhares.
A Villa de V illarinhoda Caitanheira.
A Villa de Cortiços.
A Villa de Valdafncs.
A Villa deSezulfe-
AVilla de Pinhovelo. Todas eíias Villas faõ da Coroa* Das mais Villas reinan-
tes da Comarca toca o dominio a cinco donatários, a faber:
Ao Eíiado da SereniffimaCafa de Bragança pertence nefta Comarca a Villa-
de Nuzellos,& nella entra fomente o Provedor defta Comarca a exercitar em
tudo feu officio, & no mais he fubordinada ao Ouvidor da Cidade de Bragan-
ça, que nella entra por Correiçam.
EÍRey noííb fenhor como Marquez de Villa Real, & fenhor das mais ter-
ras do Infantado,he fenhor neftaComarca de tresVillas,q foraó do mefmo Mar-
quezádo,afaber,
A Villa de Lamas de Orelhão.
A Villa deFrexieb
A Villa de Abreiro.
Eneftastres Villas nam entra o Corregedor,nem ainda por Correiçam , por-
que nellas a faz o Ouvidor de V illa Real,que o he das mais terras da Ouvidoria
damefmaVilla. ' .
Antonio Luiz deTavora,Marquez de Tavora , CondedeS. Joaõ da Pef-
queira, he fenhor de tres Villas neíla Comarca, a faber,
A Villa de Mirandella.
A Villa dç Alfandega da Fé.
A Villa de Craftoviccnte.
E também neftas tres Villas nam entra o Corregedor , nem ainda por Correi-
ção, por particular privilegio das doaçoens delia Cafa.
Luiz Guedes de Miranda & Lima he nefta Comarca fenhor das tres Vil-
las feguintes.
A Villa de Murça dePanoya.
A Villa da Torre de Dona Chama.
A Villa de Aguarevèz.
Porem neftas tres Villas entra o Corregedor por Correiçã o.
Manoel de Sampayo & Mello, fenhor da Cafa de Villa Flor , hc nefta Co-
marca fenhor das Villas feguintes.
A V illa de Villa Flor.
A Villa de Chacim. ^ '
A Villa de Villasboas.
A Villa de Frechas.
A Villa de Mós. ' '<
A V illa de Sampayo.

Corre cdo r
f/amftaTasvm«° S cfta
ie ajulíao as vinte & fete, de que fe compoem 'P= CorreipS,
Comarca, comas quaes
& Provedoria , em
^odas as quaes entra o Provedor a exercitar feu officio. ~ AlTiíFe
DA COROGRAFIA PORTUGUESA, 4t?

Afíifte ao governo civil defta Comarca hum VigarioGeral nomeado pelo


líluftriífimo Arcebifpo Prirr áz , para quem a Comarca tem differente de-
marcação , por quanto nam exercita fua jurifdição nas Villas de Chacim,
Cortiço s,Mirãdella, Torre de Dona Chama,Monforte de Rio livre , Nuzellos^
Valdafnes, Sezulfe, & Pinhovcllo, por ferem do Bifpado de Miranda do Dou-
ro.
Nem na Villa de Murça de Panoya , que fuppofto hc do Arcebifpado de
Braga, pertence ao Vigario Geral da Comarca de Vilia Real. Nem na Villa de
Agua revez, que toca ao Vigário Geral da Comarca de Chaves : porem eften-
defe a íua jurifdição à Villa do Mogadouro, & feu termo, que fendo da Comar-
ca, & Provedoria de Miranda do Douro , pertence ao mefmo Arcebifpado de
Braga.
O reftante das mais Villas ficão íituadas no limite! do dito Arcebifpado,
a todas as quaes adminiftrajuftiçanoefpirituaio dito Vigário Geral com certa
jurifdição coartada.
Afliftem tãbem ao governo civil hum Cófervadoí fuperintendete da ad-
mimftração do Tabaco, que o he de toda a Provinda; lugar de primeiro banco,
quede prefenterefíde. , & moranefta Villa de Moncorvo com feus Odiciaes;
hum Corregedor com feus Ofíiciaes,que exercita fua juriflção em todas as
Villasda Coroa,&:nas de alguns Donatários,como já declaramos ; o Prove-
dor,'& Contador da Fazenda Real com feus Oíficiaes , nus cm todas as Villas
defta Comarca entra a tomar contas das rendas dos Concelhos, ôe a prover fo-
bre osOrfaõs,&aomais que lhe pertence.
Achaõfe nefta Comarca dons Juizes de fóra, afaber,hum da Villada Tor-
re de Mõcorvo,& feu termo,5t outro da Villa de Freixo de Efpadacmta, oc feu
termo. Mais hum Superintendente da fabrica dos linhos canhamos,que cõ feus
OíHciaes tem jurifdição nefta Comarca,& na de Pinhel da Provinda da Beira,
deípachadopelo Congelho, da Fazenda- Outro ouperintC Jente da criação dos
cav alios com feus ÕfEcúfes, defpãchado pela J unta da rnefna creaçam. Mais
hum Almoxarife das Sizas defta Comarca, & do i amo das Villas de Chaves, &
Agua revez.
Tambemos Contratadores das Terças coílumão ter fempre afíiftente na
cabeça defta Comarcahú feu Feitor para adminiftração delias, a/fim das defta
Provedoria, como das de Miranda do Douro; & o mefmo fazem os Contratado-
res da fabrica do fabão, folimão, cartas de jugaç,agua ardente, rofafolis, cho.
culate, & outras bebidas , que tudo concorre para o governo civil defta Co-
marca.
Quanto ao militar teve nas guerras paffadas Governador de toda ella, car-
go, q cõ a paz fedefvaneceo:& quando exiftia, recebia as ordens do Governa-
dor das Armas defta Provincia, & as repartia pelos Capitaés mores defta Co-
marca. Tem hum Sargento mór por patente doConfelho.de Guerra > com no-
venta mil reis de foldo, repartidos pelas Camaras da Comarca , com obrigaçam
de aíliítir aosexercicios da formatura, & manejo das armas para doutrinadas
Ordenanças ; nam exercita as obrigàçoens de feu pofto na Villa de Nuzellos,
por ferda Caía de Bragança, que he doutrinada pelo Sargento mór da Comarca
da mefma Cidade; nem nas villas de Lamas de Orelhão, Freixiel, & Abreiro,
que faõ do Maíquezado de Villa Real , poreftaremfubordinadas ao Sargento
mór da Comarca de V illa Real.
Quanto ao clima defta Comarca , como faõ largas, & diftantes as terras
delia,
4i3 . TOMO PRIMEIRO
idella,faz differente< cffcitosocalor,&frielclade , porque alguns lugares por
baixos, faódeftemperadaméte cálidos; outros queoccupãoasimminencias , &
íerranías, padecem o dtfcomodo de demafiadaméte frios : alguns, que nem tem
nota de n.uito baixos, nemo defvanecimento de levantados, logrão huma lou-
vável mediania de temperamento , como particularmente notaremos em cada
hum dtllcs.
Quanto àproducção dos frutos,geralmente fallando,abunda efta Comar-
ca de muito paõ de todos os graõs, recolhe fértil colheita dp azeite , logra fu-
perabundante provimento de vinhos, muitas frutas, legumes, figos, amêndoas,
caftanhas, fumagre, linhos, mel, & cera, & dos mais generos, que coftuma criar
efte noíTo Emisferio, em forma que não fó tem em fy o que lhe baila , mas ainda
foccorrc âs terras confinantes com os fobejos, principalmente os de pão, vinho,
azeite, amêndoas, figos, & frutas, que fe transferem para os Reynos de Caftcl-
la, Galliza, & Provincia da Beira, & para a Cidade do Porto, donde alguns paf-
faõ à Corte de Lisboa , outros às partes ultramarinas, conforme aos mayores
intèreífes dos Mercadores, que no Porto de FozTuadefta Comarca facilitão
pelo Douro abaixo a condução de femelhantes frutos.
De gados de todo o genero temo mefmo provimento com os frutos , &
emolumentos, que delles fe tirão,de laas, queijos, & manteigas: fahem muitos
gados para a Corte, para Coimbra, & para outras partes do Reyno , & ainda
para os de Caftella, que delles neceflitão para feus açougues, & a efta Comarca
íòbcjão.
Também eni muitas das terras delia ha grande, & coníideravel criação dos
bichos de feda, que muito facilita crgrandenumero de amoreiras, de cuja folha
feíalimeptão : o trabalho dos bichos fe reduz também a vários generos de fe-
das, que nefta Comarca, & Provincia feobrão por feus natura'es, em particu-
lar na Cidade de Bragança, & Villa de Freixode Efpadacinta, aonde fe tecem ve-
ludos razos, felpas, pinhoelas, gorgoroens, tafetas dobres, & fingelos , man-
tos, buratos, fitas, panos de peneiras, meyas de feda, picotilhos ,& outras dro-
gas, de que fe prove o Reyno; & dos folhelhos, a que chamao cafulos , que não
ferve para as referidas fedas, fe faz comercio para a Cidade de Lamego, & ou-
tras partes, q a feus temposvem conduzir os Mercadores para fe obraremfitas
de cadarço, atacas, lenços pardos, buratos,beatilhas, & outros mais reneros.
He também b a ftantemente provida de caças meudas, coelhos, lebres, per-
dizes, rolas, codornizcs, pombps, galinholas,& todos os mais generos de aves,
& ainda aguias Reaes,açores,& mais aves de rapina: muitos montes fe achão a
bailados de corças, & porcos montezes.
Nos rios fepefeão todos os peixes, que coftumão criar os de agua doce,-
& em algús trutas, & lampreas; no Douro faveis , mugens, folhos, exroês, Iam-
preás, & enguias.

. . . ... CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA* 415,

CAP. I.

t *Da defer ipcao Tupograjica da Villa da Tor re de


o5\íb?icorvo>

A Cabeça deita Comarca he aVilladaTorre dcMócorvo do Arctbifpâdo cíe


Braga, a qual eílá fundada entre os deus rios Douro, & Sabor, que lhe
ficão,aquelle emdiítancia de huma grande legoa, & eite pouco mais demeya ;
Íiaraa parte do Sul a domina o monte Roboredo com dilatadas matas de carva-
hos,&pinhos, cujas brenhas pizão muitas vezes corças, & javalis , & fempre
caças meudas; adornafe efle monteie viítofos arvoredos de caítanheiros, oli-
vaes, & vinhas , alegrando com aproveitofa , & agrada vel viiia a feus natu*
raes-
Sobre a origem de feu nome fe referem por tradiçãa#arias, & apócrifas hif-
torias, dizendo que hum Lavrador chamado Mendo, habitador de alguma Al-
deã, ou Cafal, que havia no fitio deita Villa antes de fua fundação , achando
humgroíTotheíòuro,por experimentar o que fe podia fiar em fua mulher , lhe
difíe, parira hum corvo,pedindolhe ncíle parto grande fegredo , q ue ella logo
efpalhou pelas vifinhas, acrefcentando o numero dos corvos , com que divul-
gado o caio, fe abíteve o Lavrador de communicarlhe o thefouro achado } &
fundando depois huma Torre (para fe defender dos Mouros confinantes ) lhe
chamárão a Torre de Mendo, &. por aliuuir à hiitoria do parto , fe chamou a
Torre de Mendo do Corvo.
Outros dizem que eíta Aldeã fe chamava Corvo,& fabricando nclía o mef-
mo Mendo huma torre, por fer feu morador , fe chamou a Torre de Mendo do
Corvo. Os q lhe chamao Moncorvo, dizem fe denominou do dito monte Ro-
boredo, que por fer algum tanto arqueado, fe chamava Mom Curvas , & dahi a
Torre de Moncorvo 5 mas nos papeis antigos fe acha eferito Mencorvo.
Seja verdadeira, ou não eíta tradição , o certo he que eíta Villa fe fundou
das ruínas da Villa de Santa Cruz, que foy povoação antiga, aífentadaem húa
imminécia entre o rio Sabor, & ribeira Vellariça, aonde inda hoje fe confervão
os veítigios de muralha, cafas, & igreja com o nome de Derruída, huma legoa
de Moncorvo, referindofe por caufa deite deítroço, ou ruína , ou à faltado
aguas, (pois não tem na fua circumvaliação fonte alguma) ou à importuna mo-
Icítiadas formigas. E bem pode fer fe transferee eíta Villa , & fundaífe feu
Caítello no tempo de Mem Garcia, filho de Garcia Mendes', Scneto do Con-
de Dom Mendo o Souzaõ , queno tempo delReyDom Sancho o Segundo
de Portugal foy Tenente deita Provinda (o mefmo que Governador, & Adian-
tado em Caítella,) ou fe fundaria por ordem de Mencorvo, ou Mencurvo, ou
Mem Cravo, nomeados pelo Conde Dom Pedro tit. 29. na Genealogia dos Pei-
xotos, & tit. 4.1 • & 4.7. & que deites tomaria o nome, & de alguns corvos , que
inculcaífemo fitio, como a Águia aííinalou a fundação da v ília dc A viz , pois
também deites, ou de outro Mendo fe chamou na Província da Beira Caítello
4Ío ' TOMO PRIMEIRO
JV! end©, & de Syla a Torre, que em Caftella com pouca corrupção cham ao Tor
dccillas.
v
Temeíla Villa voto cm Cortes com affento no banco treze. São fuas Armas
( fem cfcudo) hú Caílello cõ húa fô Torre, 6c aos dous lados delia dous Corvos.
EIRey Dom Diniz lhe deu o foral , que depois reformou ElRcy Dom Manoel
em 4. de Mayo de 1512. EIRey Dõ João o Primeiro em 4. de Janeiro de 1423.
por provifaíj, que ainda fe conferva no archivo da Camara, lhe deu por A Idea de
leu termo a Villa de Villa-nova dcFós Coa, q ou não houve eíteito,ou depois
fe feparou, como de prefente eftá. Outros muitos privilégios, que antigamen-
te logrou, confumio o tempo,& ainda a memoria delles , 6c fe conferva a tradi-
ção, de que os devedores, que fe acoutavão de muros adentro , não podião fer
executados', nem ainda por dividas eiveis : 6c que os Cavalleiros da referida
Villa de Santa Cruz tinhão certofoldo, 6c moradia todos os dias , que faíuão a
efearamuçar com os Mouros de Villa mayor, 6c S. Mamede, duas povoaçoens ,
que lhe ficavão viíinhas, 6c fronteiras, em cujos veíhgiosfe conferva eíla lem-
brança, como também do Caítello de Alfarella, que tudofoy habitado dos Ára-
bes.
Tem eíla Villa com o lugar, ou quinta de Mendel de fuaFregueíia quatro-
centos 6cfeífenta vifinhos com alguns baihntes edifícios de cafas, muralha ao
ufo antigo com tres p#tas, 6c a feus lados baluartes , ou cubcllos redondos ;
hum Gallello de cataria em fórma quadrada com duas torres, quatro cortinas,
& dous baluartes redondos 5 para a banda do Sul grande parte da Villa lhe fica
fendo padraílo: he Alcaydemór deile Caílello de juro, 6c herdade Francifco de
Sampayo de Mello & Caílro, fenhor da Cafa de Villa Flor ; temeom aAlcayda-
ria mor os foros Reaes da Villa, 6c termo, de que lhe paga cada morador dous
alqueires, 6c meya quarta de cevada, & feis reis, 6c osTabeliaens feis toitofs
cada hum, que tudo monta cem mil reis livres cada anno; tem também as por-
tagens da V illa, 8c termo, que rendem mil 8c feifeentos reis; nomea para Alcay-
de menor cada tresannostrespeífoas, 8c a Camara cícolhc huma , & não tem
mais domínio, por fer a Villa da Coroa.
Huma fó Parochia comprehende aos moradores deíla Villa com humftim-
ptuofo Templo,o mais capaz edifício de Freguefia, que tem o Rey no, por den-
tro, & fora de cantaria lavrada com tres naves divididas com duas fileiras de
groífas, 6c levantadas colunas, em que fe fuílenta a abobeda,tecida com groífos,
6c relevados laços, 8c cordoens; tres Coros , 8c em cima do principal huma fo-
berba torre, que fe finaliza em varandas de pedraria, & nos quatro ângulos pi-
râmides com bolas; rematafe em hum zimborio cuberto de|chumbo,huma cf-
fera, 6c por remate huma Cruz com fua grimpa, moílradora dos ventos : tem
cila torre nove janellas de finos, 6c no andar das varandas fe accõmoda o relogio;
o frontifpicio, que olha ao Nafcétc, he mageífofo com algumas imagens de San-
tos em nichos dourados, à entrada hum largo , 6c efpaçofo paífeyo de cantaria
com aífentos, 6c pirâmides aos lados, 6c no meyohum grande Cruzeiro.
Transferiofe aFreguezia para eíta Igreja'da de Santiago, que ainda fecõ-
ferva com decencia no Arrabalde da Villa com hua milagrofa Imagem de Chrif-
to crucificado: também fe venera neíla Ermida huma relíquia, a que chamão Ca-
beça fanta,único remedio aos mordidos de animaes danados: não fe fabe delia
mais que a certeza dos prodígios que obra; a tradiçãoconfufamente refere,que
hum Varão juílo nos tempos antigos fazendo viagem com leu companheiro a
v lutar com devoção o fepulchro do grande Apoílolo de Efpanha,fizerãopaclo
que
r
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA* 411
que re algum dos dous nefte caminho rendeffe os últimos alentos dâ vida,o ou-
tro lhe cSrtaífe a cabeça, & a leyaffe em romaria , parâ que ao menos morta tr;-
butaífe feudos de veneração ao refpeitofo cadaver daquelle affombro ac fanti-.
dade • & fuccedendo falecer hum delles, & executandofe o pacto , continuou o
companheiro fua peregrinação até efta referida Ermida de Santiago , aonde fe
achou immovel,& de todo entorpecido para íahir delia : manjfeftando o prodí-
gio, deixou em prenda a venerável cabcça,& feguio feu piedofo cammho: defta
reliquiaie conferva fomente a caveira. , . , „ .riu
Em q uanto efta Ermida de Santiago comptehendia toda a FregUeíia defta
Villa, & de muitos lugares do termo, foyrendofo Priorado , &mudandofea
novaWeia do oragodeNoffa Senhora da Affumpçao,fereduzioà Commenda
das novasda Ordem de Chrifto, que rende livres quinhentos milreis , de que
he Commendador Manoel Lobo da Sylva, & a Rey tona rende noventa mil reis i
tem quatro Benefícios, aprefentação do Pontífice, hum Thefoureiro , que apre-
fentão os Arcebifpos de Braga, & hum Cura, que aprefentao Rey tor: he CoL
legiada com obrigação de Coro, & de tres Miffas cada dia, duas rqzadas , &
huma cantada. i '
Tem a Villa, & feu limiteCafade Mifencordiacom pouca renda , quinze
Ermidas, hum Hofpital com Ermida do Padroado Real, que agora adminiftra
por feus ferviços Marcos da Fonfcca , Cavalleiro da Ordem de Sao Bento ae
Aviz, morador no lugar de ViUarozo, termo de S. João da Pefqueira ; tem o
Adminiftrador a quarta parte da renda, & as tresfeapplicao para a iabnea do
' Hofpital,algunsannosfearrendatudoemcento&vintemilreis : das quinze
Ermidas referidas faõ oito do Padroado da Camara , & de íua aprefentaçao os
Ermitaens, que ha em algumas; as outras fete íaõ de marticulare^ .
No alto da Villa pouco diftante delia para a banda do Sul , encoftado ao
monte Roboredo eftá fundado hum Convento de Religiofos Capuchos de Santo
Antonio, com larga,& accõmodada cerca,fitio frefeo, dcfcubecto ao Norte, & o
edifício limpo, & decente ; funoouíe no anno de i f6p. enviando o Senado da
Camara ao Cardeal Dom Henrique a pedirlheRcligiofos para efta fundação,que
fe loarou com ajuda do mefmo Senado, que applicou certa confignaçSo para cor-
rerem as obras em que fe difpendeo confideravel quantia, ate fe concluir : para
o reftante fc vaíerâo^cíe outras efmolas , affimdoRcy , con» dos devotos
eircumviiinhos, que defejavão eftes Religiofos,queosmove{Tcm , Scdcípcrtaf-
fem a fcCTuir a virtude: foy neceffaria a intervenção do Cardeal Rey, por duvi-
darem o°s Padres fundar em terras tão diftantes dos outros feus Conventos. Pa-
ra o Nafcente fóra da Villa eftão os princípios de hum Recolhimento para mu-
lheres leigas, embom fitio, & combaftante cerca, & o edifício ja cm grande al-

tU1 a
' Houve nefta Villa alguns Varoens infignes em virtude, que fuppofto que
a Igreia não tem canonizado fuas obras, forão ellas de qualidade,que a pia devo-
çaõ fe'lhes não rende culto,tributa grande veneração ^as memç^.
O Venerável Padre João Cardim nafceono annode if 86-nefta Villa cm
humascafaá (fegundo a tradição )íituadas na praça delia , quede prefentefao
de Francifco Botelho de Moraes: fov filho do Doutor Jor|e Cardim Froes,DcT
cmbaraador dos Aggravos na Cafada Supphcaçao, ôc de íua mulher Dona Ca-
therina de Andíade, que fendo Provedor defta Comarca, logrou a felicidade dc
lhe nafeer hum filho de tam rara virtude, pois crefcendo cila neUe comos annos,
fendo em Coimbra oppofitor a huma beca do Collegio de S. Paulo, dei prezando
4ii T O M O P RI M E I RO
aomundo, fc retirou ao íagrado da Religião dos Padres da Companhia, aonde
tomando o habito, em tres annos & meyo, quenellaviveo,namió deu pontual
íatisração às obrigaçoens delle, mas com as fuas obras muito que imitar a feus
contemporâneos, dando raros exemplos de virtude. Com cila grande opinião
faleceo em Braga , de trinta annos de idade , emi8.de Fevereiro dc 161 f.
por íua morte nam fe lhe achou coufa,que poffuiffe , mais que hum regiílo dc
papel, diante do qual orava, & no gibão cm hum caixilho, o fanto Lenho, & a
forma da profiífaõ, que fizera depois do noviciado, efcrita com íeu proprio lan-
gue,a qual le guarda em reheario de prata entreas muitas rcliquias, que enri-
quecem a Capella da Conceição do Moíteiro de Jefusdc Viana do Alehtejo-.pelâ
qual reliquia tem Dcos obrado muitas maravilhas, autenticadas por inilrume-
to, que tirou Dom Gabriel Bifpo de Fêz.
' O Eremita Jordaõ do Efpirito Santo , natural do lugar dc Ovelha na Pro •
vmcia do Minho, peregrinando algumas terras veyo a eíla Villa , aonde com-
prando hum íitio no termo delia, meya legoa dc diftancia , fundou aErmidadc
NoíTa Senhora da Teixeira, fitio agradavel, que accõmodou com caías, vinha,&
horta, aonde viveo alguns annos com todo o recolhimento, & virtude; movi-
do depois de fuperior impulfo, paliou a Roma, & viíitados os fagrados lugares,
voltou para a íua Ermida, aonde rtíiílindo aos vícios ate amorte , paliou a co-
roaric pelas fuas virtudes, como piamente feprefume 5 refpeitandofe as fuas
cinzas, que eítaõ depoíitadasna mefma Ermida,aondefoy enterrado de icelhos'
raleceo pelos annos dc idio. '
0
Venerável Padre Pedro de Mefquita Carneiro,natural deíha Villa, filho
de Pedro Carneiro Varejaõ,& de fua mulher Cuíiodia de Mefquita,da principal
get e dclla,fe criou em cafa do BifpoInquiíidor gerai D-Pedro de Caíhilho,& por
moi te deixe Pi ciado paífando a do Duque de Aveiro Dom Alvaro > em ambas
toy eínmado por íuas prendas: pela cõmunicaçam, que teve com os Religiofòs
da lerra da Arrabida, efpecialmente com o Padre 1-rey Francifco dos Reys , fe
inflamou t an to no amor de Deos, que repartindo muita fazenda com os pobres
& profeíTando a Terceira Regra da Penitencia, levantouhuma cafa na dita fer-
ra, em que fe recolheo o primeiro de Novembro de 163 9. & vivendo neíie reti-
ro como verdadeiro Anacoreta, com aífiíhencia fomente dc hum rapaz, que o
fervia, pobre no veílido, penitente 110s excrcicios, abíhinente nos manjares li-
beral com os pobres, fervorofo, & continuo na oração , depois de fundar o
Hofpital de Azeitaõ, que mandou erigir no anno de 164.5-. o qual dotou de al-
guma renda, & continuando neíhes fantos exercícios, pelo meyo da morte paf-
fou a lograr a melhor vida em 24. de Março de 1649. ' .
O Eremita Gafpar da Piedade foy natural deíha Comarca, filho de nobres
pays, partio a Roma a ganhar ojubilcodoannofanto, & havida licença do Pa-
pa Clemente Oitavo, paífou a vifitar os lugares fantos de Jerufalem , & levan-
tandofe na viagem huma grande tempeíiade, a ferenou oCeo por meyo do Ve-
nerável Eremita, porque dandofelhe hum relicário por hum Cavalheiro de Ve
neza (que hia na mefma embarcaçam ) para que o lançaífenas ondas , tile o fez
com tanta fe, que logo ceifou de todo a tormenta: vifitados os fagrados lufares
com grande devoçam, & enriquecido de tantas relíquias , voltou a Roma^, &
achando no mefmo Pontífice toda a affabibdade paternal, lhe accrefcentou o feu
theiouro com mais relíquias 5 com todas fe recolheo a hum fitio juro ao rio Dou-
ro no termo da Villa de S- Joaõ da Pefqueira, & nelle fundou a Ermida do Salva-
dor do Mundo, que adornou de devotas Imagens, &enriqueceo com as famas
reli-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 41$
relíquias: ahi viveo muitos annos com notável opinião de virtude , que confer»
vou até os 9 5-. de idade, em que foy receber o premio , a que tanto afpirou>no
anno de 1615.
O Irmaõ Francifco de Jefus foy natural do lugar da Vella, termo da Cida-
de da Guarda, filho de Antaõ Femandes, & de Maria de Proença, gente honra-
da, que o criàraõ atè nove annos de idade, em que foy a eftudar à mefma Cida-
de, aonde fervioa André de Arau jo :)eaõ delia, por cuja morte, fendo de deza-
fete annos, paífou a Roma, & clahi veyo a Caftella , aonde recebeo o habito dos
Eremitas de S« Paulo na ferra de Cordova nos defertos de Albava : depois de
tres annos de aífiftencia voltou a efle Reyno, efteve na Guarda, ôc tornou a Caf*
tella, aonde afíiftio alguns annos na Comarcade Ciudad Rodrigo nas Batoecas;
dahi (dizem que com defejo de martyrio) veftio o habito Francifcàno em orde
ásmiífoens de Africa,& porque eftas ceifaram, do noviciado voltou aos defer-
tos de Cordova, donde paífado algú tempo,com o mefmo impulfo fe embarcou
para a nova Efpanha, mas arribado a náo,tornou paraofeu ermo, em q por caufa
deachaques,havidocõfelhode Medicos, pafibu a eífe Reyno, & afliftio em húa
Ermida.do termo de Villa Flor no Alctejo, depois fe mudou para outra no lu-
ga r de Ca.fede júto a Caftellobraco do Tejo; de ambas o expulfou a ambiçam de
aigus vifinhos,atè qveyo a parar em húa afperiífima ferra junto ao lugar da Ca-
beça boa deftetermo,aonderefidioquatorze annos; tãbemdahio lançàram as
fem-razoes dos rufticos vifinhos para a ferra, & mõte Roboredo juta a eira Vil-
ia,aonde habitou húa limitada choca'cinco annos,fepre tido por bõ, Varaõ;cont i-
nuou 110 retiro abftinente, zelofo da honra de Deos , defprezador do mundo,
cafto,humiIcfe, caritativo, paciente,& finalmente nos olhos de todos julgado
por Juftoifalcceo a 15. de Outubro de i66y.
O Venerável Padre Amaro Vaz foy natural defta Villa , filho legitimo de
Antonio Vaz, & de fuamulher Ines Gomes : tomou o habito na Religião dos
Padres da Companhia, donde paífou ao Eftado do Brafil, vivendo fempre com
boa opinião , & afliftindo no Convento que a mefma Religião tinha no Mara-
nhaõ, entraram os Olande^es a deftruillo , & intentando roubar o Senhor do
façrario,ofervodeDeos acudio diligente a confumillo, do que indignados os
hereges, o matàrão>partindolhe a cabeça junto ao Altar, pela qual razaõ fe ve-
nera por Martyr; paífou o referido pelos annos de 1640. pouco mais , ou mei
nos.
O Veneravel Padre Frêy Jeronymo foy natural defta Villa , filho legit imo
de#Chriftovaõ de Gouvea, & de fua mulher Anna Botelha; tomou o habito dos
Capuchos de Santo Antonio, &c viveo na Religião muitos annos,exercitandofe
em obras de virtude com opinião de Varaõ perfeito; depois q deícaçou em o Se-
nhor, paífado s alguns annos, fe achou feu corpo inteiro 110 Convento da Car-
nota, aonde tinha fido fepultado, & íe venera com refpeito fua memoria : fale-
ceo pelos annos de 164.5.
He efta Villa algum tanto deftemperada no calor do Veraõ, & frieldade do
Inverno, mas ou efta pouca temperança, ou abrigo, que tem no monte Robore-
do,dos ares do Sul,a fazem tam izenta dos contágios, que nam ha memoria, ne
tradiçam que nella houveífe pefte, fendo que muitas vezes a houve no termo,5c
Comarca.
Quatro fontes publicas de frefeas,& falutiferas aguasdaõbaftante provi-
mento à Villa,demais de algumas particulares, & muitos poços: fora delia, em
feu limite tem outras muitas de excellente agua, que chegaõ a numero de cento
Nn ij &
4*4 TOMO PRIM$ IRO
& cincoenta: no alto da praça tem hum chafariz, a que naturalmente vem cahir
humcopiófo cano de agua, cujo manãcial brota quafi na immintíncia do monte
-Roboredo, que ha muitos annos corre defencammhada, por c ft ar cm deftruidos
os aquedueftos.
A fabrica do fabaõmolle, que nefta Villa fe obra, dá provi menta a muitos
lugares deft a Província, à Cidade do Porto, à Província do Minho , & Cidade
de Lamego; rende para Sua Magéftade, como património do Infantado , que
femprelogroui ainda antes de governar oRcyno.
O armazém da fey tor ia do linha canhamo, que eft ánefta Villa, he demui-
ta importância para o aprefto das Armadas: o linho, quenelle fe recolhe, & be-
neficia, he produzido nos ferteis campos da Vellariça, & outras terras adjacen-
tes, cuja bondade, & fortaleza tem calificado a expencncia :• tem coníignados
no Almoxarifado defta Villa fete mil & quinhentos cruzados, applicados para
efta fabrica cada anno; em alguns de fértil novidade fe tem recolhido, & com-
prado dezafeis mil pedras de linho,de mais de dez arráteis cada pedra, a preço
detrestoftoens :nofeu principio le governou efta feitoria por hum Contrata-
dor, que juntamente era feitor; encarregou fe logo a adminiftraçam ao Juiz de
fora; paííou depois a hum fó feitor, havendo hum Superintendente de todas as
tres feitorias do Reyno, atè que no anno de idyd-fe fez Regimento , Òt afícn-
tou Tribunal com Superintendente , Feitor , Efcrivaõ , Meirinho , &
dous Fieis, refidentes nefta Villa, que tem jurifdiçaõ nefta Comarca, & na de
Pinhel: pafiou ultimamente a contrato, em que eftà feito arrendamento por
feis annos, que correm:o armazém he edifício capaz de accõmodar muitas mil
pedras de linho.
Alèmdos Miniftros de Juftiça, Fazenda, &Querra, que já nomeamos, af-
íiftem ao governo civil defta Villa o Senado da Camara , & hum Juiz dos
Orfaôs com feus Ofhciaes. Ao governo militar hum Capitaô mór,& hum Sar-
gento mór da Villa, ê* termo por eleiçam dos homens da governança , & cinco
CapitaenscomfeUsOfficiaesdecincocompanhiasdaOrdcnançív, que fe corn-
poem huma da Villa, & quatro dos lugares do termo, mais huma Companhia de
Auxiliares.
Ao prefente ha nefta Villa atè cincoenta cafas de peíToas nobres, cujos ap-
pellidos íaõ, Azevedo, Aragaõ, Aroza, Amaral, Almeyda, Araujo, Botelho,
Barreto, Bora es, Coelho, Caftro, Cabral, Carneiro, Correa, Carvalho, Coura-
ça, Efcovar, Fonfeca, Falcaõ, Gouvea, Gamboa, Ledefma, Lobaõ, Lobo,Madu-
reira, Moraes, Machado, Magalhaens, Mello, Mendoça, Mefquita, Meirelle^,
Monteiro, Moreira, Mota, Ozorio, Pereyra, Pimentel, Pinto, Ribeiro, Sá, Sa-
raiva, Sampayo, Sil, Soufa, Teixeira, Torres, Vafconcellos.
A nobreza defta Villa femprefoy amiga de honra, briola,& authorizada,
inclinada aos nobres exercícios de montarias de javalis, corças, & maís caças,&
decavallaria,emqhouvehomésconfúmadosnos tépos antigos, & modernos,
como também em doutrinar os porros Andaluzes, de que chegou a haver nefta
Villa grande numero decavallosbem doutrinados : nas guerras procederam
com valor; os que feguíram as letras, fe aventejàramnasíciencias; osquepo-
voaram as Religioens,foram Angulares na virtude; os que fahiraõ a ver terras
eftranhas, femprenellas fe fizeram bom lugar, que parece que a influencia dos
Aftros,-que dominaõ efte paiz, para tudo infunde em feus habitadores genero-
fos, & accõmodados génios.
He tradiçam bem fundada, que foy natural defta Vilia a mãy do fenhor D.
An-
DA COROGRAFIA PORTUGUESA: 417
Antonio, I nfante, que feis mezes fe vio coroado Rey de Portugal f ainda de
prcfente apontão as cafas em quenafceo , & fe conhecem peíToàs, que lhe íaõ
conjuntas em fangue.
Hum dosprincipaes frutos defla Villa he o azeite, ha tres , ou quatro att-
nos importou o dizimo, fómente no limite, & ca co da Villa,quatrocentos al-
mudes: de dez , ou quinze annos a efla parte fe tem plantado tantasjolivciras
novas, como havia velhas 5 gaílafena fabrica do fabao mais de mil & quinhentos
cantaros 5 o reílante tem faca para o Porto, Minho, Chaves, Bragança , Miran-
da, Galliza, & algum para Cáflella.
Recolhefe de trigo, centeyo,& cevada o neceífario para o gaílo da Villa,
além de muito pão cozido, que em cargas vem a vender do termo do Mogadou-
ro ; alguns annos fobeja, & fe vende para fora , ou para provimento das terras
confinantes, ou fe embarca no rio Douro no porto de Foz Tua.
De vinho tem falta, porque as vinhas nam correfpondem com a quanti-
dade, que devem à defpeza, que na fabrica delias fe confome, & ainda eífe pou-
co que fe recolhe, fe faz azedç pela Pafcoa, ou S. João , com que fe defeuidão
os moradores em o multiplicar; provè-fc do termo de Bragança, & Murça, & de
outras partes da Província.
De frutas de todo o generotembaflante provimento, & todas com parti-
cular goílo:faõefl imados, & conhecidos no Reyno os meloens da Vellariça
Íior fua bondade, &muy celebradas as atêqui peras : também he abundante de
egumes, & hortaliças, caças groífas de todo o genero, peixes dos rios Douro,
Sabor,ôcribeiraVellartça:camesdevaca,&carneiro,dequetodos os dias fe .
acha por obrigação abaílado o açougue.
Recolhefe nos cãpos da Vellariça muito linho canhamo,de que já falíamos,
que todo fe conduz ao armazém Real; he grande a fertilidade defies campos,
originada das inunckçoens que'faz o Douro, que quando muito crefcido, nam
confenteasaguasdoSabor,& Vellariça,& reprezadascilas, eílão renovando
as terras com o nateiro novo quelhecfeixão ; achaõfeaoprefente deílroçados
com os eílragos, que nellas executa a Vellariça com as mudanças que faz de fua
corrente, que ha poucos annos fe intentou encanar; obra utilifTima, fe fe con-
feguíra. De gados de todo o genero logra eíla Villa huma mediania»
Dos tres rios viíinhos a ella, o Douro (• que muitos querem tenha o primei-
ro lugar entre os de Portugal) temfeunafcimento emOrbião,parte do monte
Idubeda, junto ao fitio que occupou (como alguns dizem ) afamofa Cidade de
Numancia,duaslegoas acima de Soria em Caflella a Velha, & já allitem ponte,
que chamãode Garay;tem outra pertoda Cidade de Touro,& outra junto da
Cidade de Çamora: entra neíle Reyno (aonde já nam confente ponte) contíguo
da Cidade de Miranda, & dilatandofea corrente de fuas copiofas aguas cento
& vinte legoas,fepultafe no mar Oceano em S. João da Foz,huma legoa abaixo
da Cidade do Porto.
O rio Sabor nafee na raya de Galliza por cima do lugar deRabal , termo
da Cidade de Brag-ança,duaslegoas acima delia , & difcorrendo junto da mef.
ma Cidade, & pelo lugar de Izeda do mefmo termo,entra neíla Comarca pelos
confins da Villa de Craflo Vicente, & defagua no Douro,huma legoa defla Vil-
la, correndo primeiro dezafeis legoas :hecopiofo de aguas, a cuja paífagem faõ
neceífarias barcas em alguns portos; tem junto a eíla Villa huma fermofa pon-
te de cantaria de perfeita architedlura,& outra no limite da Vilia de Craflo Vf*
cente, outra em Izeda, outra em a Vilia do Outeiro, & outra em Bragança.
Nniij A
416 J TOMO PRIMEIRO
A ribeira Vellariça tem principio na ferra de Monte Mel por cima do lu-
gar da Burga., termo da Cidace deBragança, St difcorrendo por hum dilatado,
<& fértil valle por efpaço de feislegoas , levem encorporar com o rio Sabor
-fiiçya legca acima do Douro ;St he de nofar que a fegunda fonte de feu nafcimé-
to he tini copicfa, que logo a tiro de piíiola moem quatro moinhos com fuas
aguas.
A cabamos a noticia defta Villa como reparo., que alguns fazem de que ef-
tejaíttuada igualmente emdiftancia de trezelegoas de fete povoacoés nobres,
a fabcr, da Cidade da Gtíarda, Cidade de Lamego, Villa Real, V illa de Chaves ,
Cidade de Bragança, Cidade de Miranda, St Ciudad Rodrigo no Reyno de Ca-
liella.
Lugares defte termo, que pertencem í Commenda da Villa.
Mendel, Freguçíia defta Villa, como já diíTerhos, tem fete vifmhos , St mui-
tas fontes, por fer lugar abundante de aguas , que já vaó inclufas no numero
das da Villa, por ferem de feu limite; recolhe baftatite pão, & algumas frutas.
Cabeça boa tem noventa viíinhos,Igreja Parochial da aprefentação do Rey-
tor da Villa, mais duas Ermidas, Sc quatro fontes; recolhe moderado pão, pou-
co vinho, & azeite.
Cabeça de Mouro tem felTentavilinhos, Igreja Parochial da mefma apre-
fentacam, mais tres Ermidas, St nove fontes; recolhe centcyo, pouco azeite,
& vinho.
Nam parece fora do intento referir a tradição, que entre fy tem os mora-
dores defte lugar da origem de feu nome; dizem elles q no tempo dos Árabes,
quando dominavãoeftas terras,achahdofe hum Chriftão com hum Mouro jú-
to à principal fonte, que eftá no alto defte lugar,Sc convidandofe hum ao outro
a beber nella, duvidou o Chriftão fazello, por haver muitas víboras naquelles
contornos, Sc temer ou que omordeffem , ou que ficaífe-avenenada delias a
agua: o Mouro lho facilitou, dizendo tinha encantados eftes bichos venenofos
em todas as terras, quedaquelle íitio (quehclevanrado , ôcimmincnte) lhe e£
tavão à vifta;porque feja verdadeira, ou nam efta tradição , a experiência mof-
tra, que havendo grande quantidade de víboras naquelles contornos , Sc nos
que daquella imminencia fe comprehcndem com os olhos, não ha noticia que até
o prefente offendeífem a peffoa alguma»
Orta tem cento Sc quatro viíinhos, Igreja Parochial da mefma aprefenta-
ção, mais huma Ermida, Sc fete fontes de ruins aguas: abunda de pão, Sc azeite,
deque alguns annòs recolhe oitocentos almudcs; tem pouco vinho , Sc alguns
gados: he lugar quente, Sc enfermo.
Eftes tres lugares proximos acima cultivão os campos da Vellariça, de q
muito fe a judão para fuftentarfe.
, Eftebaestemcincoenta viíinhos,IgrejaParochialda mefma aprefentação,
mais tres Ermidas, Sc treze fontes; he terrá pobre, recolhe centeyo , Sc algum
trigo: huma dasErmidas da invocação de S.Mamede,fica em alguma diftancia
do lugar, aonde fe vem ainda veftigios de que junto a ella foy povoação, Sc diz
a tradição que de Mouros.
Povoa,Fregueíia dos Eftebaes,tem vinte Sc cinco viíinhos, huma Ermida,
Sc cinco fontes : he também terra pobre, recolhe centeyo, Sc algum trigo.
_ Larinho tem cento Sc dezoito vi íinhos, Igreja Paroch ial da mefma aprefen-
. tação,mais quatro Ermidas,Sc oito fontes: abunda de centeyo , pouco vinho,
Sc n.enos azeite, bons paílos". ajudaõfe nefte lugar de fabricar louça de barro,
d£ que dão provimento à Comarca.
Fel-
D A ~ CO RO GR ATI A PORTUGtJ EZA* 41?
Felgueiras temfetenta vifinhos, Igreja Parochial da mcfma aprefentacam,
mais duas Ermidas, & feis fontes; recolhe pão, pouco vinho, caíianha , & • al-
gumas frutas, tem muitos moinhos de trigo, 6c centeyo , de que fe provém oá
contornos, 6c fcajudão afuftentaros moradores do lugar; tem minas de ferro,
que neile fe obra em padas; hegroíTeiro, 6c não'ferve mais que para concerto
dos inlirumentos, com que fe cultiva a terra. Nos montes conjuntos aefte lu-
gar fe crião porcos montezes.
Açoreira tem oitenta viíinhos , Igreja Parochial da mefma áprefehtàçam,
mais tres Ermidas, 6c nove fontes: recolhe pão, vinho, 6c azeite, gados, frutas,
6c algumas de efpinho , he lugar pouco fádio,por não ter Norte livre.
Campo de Almacay, Fregueíia de Açoreira, tem fete viíinhos, humaEriiii-
da, & nenhuma'fonte ; fervem-le das aguas do Douro, a que fica] conjunto ; he
terra quente, 6c enferma.
Lugares que pertencem a, Abbadia da Villa de Moz•
Felgar tem duzentos Sc vinte viíinhos, Igreja Parochial, aprefehtaçaõ do
Abbadeda Villa de Mòz, mais quatro Ermidas, 6c vinte 6c duas fontes abun-
dantes de água para regar: he lugar frefco, ôc levantado, recolhe paõ, algum vi-
nho, 6c azeite, caftanha, 6c nozes; produzem-feneíte lugar quantidade decebo-»
las compridas,doces, 5c faborofas, de que fefaz eíHmaçam, 6c fe mandão por re-
galo ainda para a Corte; a femente em outras terras degenera. A efle lugar do-
mina para a banda do Sul] hum monte de figura ovada , que chamão Cabeço
da Mila, aonde fe vé hum buraco, 6c concavidade, que dizem haver fido obra de
Mouros.
Souto da Velha tem fetenta viíinhos, Igreja Parochial da mefma aprefen-
tação, mais húa Ermida, 6c quatro fontes. he terra frefca, & pobre, recolhe al-
gum pão, pouco vinho, poucas frutas, 6c algumas caftanhas, tem minas de fer-
ro groífeiro. «

Ahbadia de Vrros*

VRros tcrri cento 6c noventaviíínhoc,he Abbadia do Padroado Real., ren-


de duzentos mil reis, além da I ,rej-.i Matriz, tem cinco Ermidas, 6c deza-
feis fontes; he lugar rico, 6c temperado, recolhe muito tri o, 6c centeyo, algum
vinfio, 6c azeite, algumas amêndoa^, 6c figos, tem muitos gados de ovelhas , 6c
algumas cabra-.. •
Jpntoaefteln^arfevenerâemErimdaparticularhum tumulo em que di-
zem enar ftpultado ocorpo de Santo Apolinario Martyr, que foy Bifpo de Ra-
vena; tem obrado muito grande^ /5c repetidos milagres, ae que fazem memoria,
muitas iníi .nia,,muleta-,mortalhas,brqços, pernas,6cc. deque fe adorna a fua
Cafa; não ha memoria que fe fizeífe exame noTepulcnro, 6c fó ha tradição de que
querendoo fazer hum Prelado defte Arcebiipado cegàra, ou elle, ou as peíTòas,
que intenravão abrir o tumulo, de quefevirão livres, tãtoqueceífóu o exame;
heniuitodiíficultofode concordar como poffaefiaraqui íepultado o corpo da-
quelle Santo, que padeceo martyrio em Itaha, pois aíTim o diz a fua lenda • oVe,
neravel Arcebifpo Dom Frey Bertholameu d.o > Marcyres, tam conhecido por
fua virtude,6cletras, viíitando aquella Ermida , declarou quenellaeftava Íe-
pultado o corpo do Santo por provifaõ fua, que coíhimavalerfe nos dias de fef-
ta annual,6cainda viven»algus naturaes,quefe lembrãoouvilla publicar,mas
4*8 ^ TOMO PRIMEIRO *
jáfe não acha; querc os moradores cõcordar eíla duvida coma tra dição conti-
nuada, que entre fy tem, de que cíle Santo fora Bifpo de huma Cidade,que nos
tempos antigos eíleve íituada no alto de hum monte cõtiguo ã mefma Ermida,
aonde fe vem veífigios dè povoação, que dizem teve, & ainda conferva o nome
de Ravena, & que ahi mefmo padecera martyrio, referindo a calidade delle, que
fora degolado depois de vários tormentos dados, ou pela Gentilidade, ou pelos
Árabes;& tanto atíirmão a fua aflillencia neflas terras , que huma fonte, que
brota junto àErmida, dizem manara milagrofamentepor interceífaõ do Santo;
& he de notar, que fendo deíie íitio ao rio Douro huma grande legoa, guarda a
fonte pontualmente as calidades do rio, com elle turva, & com elíe clara.
Naquelle monte, que dizemos foy Ravena, fevèhum buraco, & concavi-
dade,que fe entranha na terra; dizem que tem communicação com o Douro; he
diíBcultofa a averiguação-
Nolimite defte lugar fe acha huma fonte, que chamão da Gafaria, de tam
maligna calidade, que dizem feusnaturaes, que as peííòas, que nella bebem, fe
gafaõ de piolhos, & que dalli lhes procede o nome.

Abbadia de Teredo.

PEredo dos Caftelhanos (porque nos tempos antigos o foraofeus primei-


ros habitadores ) tem cem vifinhos, Abbadia da Mitra Primáz, que rende
cem mil reis; alem da Igreja Matriz tem duas Ermidas, & dezafete fontes,mas
as mais delias fecão de Verão, com que he muito falto de íagua , & também de
lenha, pouco fádio, abundante de trigo, algum vinho, pouco azeite, muitos fi-
gos, & amêndoas, de que alguns annos recolhe feifeentas arrobas , que' fe con-
duzem para varias partes do Reyno- ♦

Abbadia dez5\4açores.

M Açores tem oitenta vifinhos, he Abbadia da Mitra Primaz , que rende


quarenta mil reis; alem da Igreja Matriz tem duas Ermidas , & fete
fontes; recolhe trigo, & centeyo, pouco vinho, & azeite, terra quente, & pqpco
fádia,pornão ter Norte.

C A. P. II.

Da Filia de Freixo de Ejpadacintal

Cinco Iegoas ao Sueífe da Torre de Moncorvo, & huma do rio Touro (que
já alli ferve de divifaõ aos Reynes de Portugal, & Caftella) tem feu aífen-
to I reixo de Efpada cinta, Villa da Coroa, & do A rcebifpado de Braga. He a
principal defta Comarca , & no tempo delRey Dom Sancho o Segundo reíiftio
valerofamente ao Infante Dom Affonlò, filho delRey Dom Fernando o Santo de
Caf-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZÀ- 419
Caftella,que entrou armado nefteReyno por aquellaVilla; antes do referido.#
reynando Dom Aífonfo o Segundo pay do dito Dom Sancho , nasdomcft.cas
guerras que teve com fuasàrmais, padeceo efta Villa com outras deita Pro-
vincial & Reyno grandestrabalhos na entrada., queos Leonezes fizerao por el-
la ã favor daslnferítas. :ocq, «. /■'À
Tem por Armas hum Freixo, & delle pendente huma Efpada , & bem podo
ferque feja em memoria de alguma vicfloria iníigne, que feus moradores alcan-
çdrião i depois da qual feu Ca picão entregue ao defcançò, arrimou, & fuípend eo
as armas- ODourar João de Barros nas Anti' uidades de Entre Douro, & Mi-
nho faz menção de hum fidalgo do apeilido Feiião, pfimo de S. Rozendo, attru
buindolhe a fundação deita V ilia; & porque efte fiaalgo trazia por Armashús
freixos, & huma efpada no meyO, ficàrãoo fre.xo,&4 efpada por nome > Sc ar-
mas à Villa, à qual ElRey DbmManoel deu foral.
Seus naturaes tem por tradição que hum Rey, ou Capitão chamado Efpa*
dacinta,cançadodehumabatalha,chegaíido a efta A ília, feaíFentàranaselcaJ
das, que rodeão. hum grande fira xo,qubaindafc conferva ahlwfl lado da Igreja
Matriz, & pendurando ãefpada nefía arvore, lhe dera o nome , & a infignia.
Tem voto, & aífento em Cortes no banco decimo : feus viíinhosr chegão ao mV
mero dc trezentos&fetenta cm huma fó t-reguefia com' boa greja (que dizem
fer fundação delRey Dom Dinii) de cantaria lavrada i & abobeda do mcfmo; he
Collegiada com obrigação de Coro, & três Beneficiados , entre os quaes hum
hc juntamente Thcioureiro com a s primícias infolidum , os mais tem igual
partilha: a theíòuraria com o beneficio annçxo a cila, & mais outro faõ do Pa-
droado Real, o outro terceiro Beneficio he aprefentação do Pont ifice : para ad-
miniftração dos Sacramentos tem hum Vigario act nutum com certoeftipendio,
aprefentação da Mitra Primaz; dos dizimos da illa, Sc termo tem a Coroa a
terça parte , que anda junríícom a adrniniftraçãodap terças dos Concelhos:
alem da Igreja jem dez Ermidas, Sc doze Vantes de poucas , & muito ruins
aguas, & alguns poços particulares da nxfrna cai. (ladç. .3.
Na Ermida de Noífa Senhora do V-illar pouco afaíiada da Villa de fete, ou
oifo<atinos a efta parte, fe recolherão os Clcrigos>qiie vivem debaixo da Regra,
&fnftitutodeS. FelippeNeri, com vida efp;ritual,&: bom exemplo; além das
caías, que ja acompannavão a Ermida, tem dies obrado alguma coufa s que ac-
creíccutàrão a ellas.
Dos frutos defta Villa o principal he azeite, deque recolhem gfánde qua-
lidade^ algunsannosferteiS chet'a a tresmil almudcs; também recolhe pão,
algum vinho, poucas frutas, Sc muito gado- He pouco lavada do Norte, & por
iífo não muito fádia, de clima deftemperado, aflim de Verão, como de Inverno.
Tcmhons edifidiosdecafas,comaccõmodados fotãos, bons quintaes, Sc nos
mais delies poços.
\ Nefta Villa ha contrato de feda, & delia feobrão pannos de peneira s , ta-
fetá, fitas, buratospara mantos, meyas de feda, Sc outras drogas , que fe efpa-
lhão pelo ReynoNTem Alfandega comjutz>Efcrivão delia , ác outro dos Por-
tos íecos, Feitor, Meirinho,1 Guarda, Sc mais Ofiiciacs.
Aíliftem ao feu Governo civil hum Ju-.z de fora, em que jâ falíamos, Verea-
dores, com feus Officiaes, &atègora tinha Jui z dos OrfaÕs com feus Òfficiass,
mas de prefente jeftá vago, Sc ferve de tudo.o j ui z defora.
Ao militar afíifte na Villa hum Capitão mor, Sc hum Sargento mór, eleitos
a votos dos homens da governança, a que obedecem quatro Capitaensde
( quaf.
43° TOMO PRIMEIRO
quatro Companhias da Ordenança da V illa, & termo. v
TemhumCaílellodecantarialavrada(fundaçãodeíR-ey4ionw©ink:') de
bãftance fabrica com tres foberbas torres, a cujo governo aífift io no tempo da
guerrahumCapitãopagocomhumaCompanhia-de guarnição 3 que era junta-
mente Capitão mor da Villa; depois da paz , fuppoito aflifte o Capitão no Caf
tello com onome de Governador, não tem Companhia de guarniçaõ , como de
antes havia. •
r Ainda que efta Villa he da Coroa , tem nella FrancifcodeSampavo de
Mello & Caftro, fenhor da Cafa de Villa Flor,os foros,& direitos Reaes,de que
lhe paga cada morador delia, &feu termo dous aLqueires & meya quarta de ce-
vada, &feis reis, que tudo monta cada anno feífenta mil reis.
Dasfamilias nobres,que authorizão efta Villa,faõos appellidos, cõ que
de prefente fe dcnominão, Pinto, Peftana, Varejão, Travínca, 'Pereira , Bel er-
ma, Meireles, Coelho, Gamboa, Zuzarte, Sá, Sotomayor, Pacheco, Ret o, Ma-
chado, R amires,.Carvalho, Miranda, Borges, Lemos, Monteiro, Eft-eves, Bri-
to, Freire, Andrade, Fonfeca, Crafto, Amarai, Carvalhaes,Carrafco, Barretos.
Os Varoensinlignesem virtude, que loção a efta Villa, de que temos no-
ticia, faõ os feguintes.
. O Padre Meftre Gõçalo de Medeiros, Religiofo da Companhia de Jefus, o
primeiro que em Portugal nella tomou o habito : já no feculo era Varão exem-
plar, virtuoío, & penitente , que fendo certo dia tentado emdefçonfianças de
iuaíaIvação,mereceoapparecerlhe hum Anjo , que duas vezes o certificou de
que fe nam perderia; com tam feguras prendas veftio o habito de Santo Ignacio,
em que viveo alguns annos,gaftados com grande perfeição em fantos , & de-
votos exercícios, dando cada dia feis horas ao da oração mental, & fazendo no
confcííionario muitos ferviços a Deos: já proximo aos últimos inftantes dã vi-
da, fez notáveis a cios da proteftação da Fé, & conformidade com a divina von-
tade com quepoz termoà fuávida, deixando aos Reys Dom Joaõ o Terceiro,
& Dona Catherina grandefentimento, pelo amor quetinhão a fuas raras virtu-
des : faleceo em Lisboa a 4. de Abril de 1 f f2 •
O Venerável Padre Joaõ Francifco de Varejaõfoy natural defta Villa , &
de nobres pays; deixando as vaidades do feculo, fe acolheo aoamparade Santo
Ignacio, veftindofeu habito na Companhia de Jefus : ainda mancebo paliou ao
Japão em huma das prodigiofas miífoens, que coftumão fazer eftes Rcligiofos a
tam remotas terras, ahi padeceo martyriopela confiffaõ da Fè u feu ret rateiem
hum painel fe guarda cõ grande veneraçaõ na Igreja da Mifericordia defta Villa,
diante do qual arde hum lampadario.
Lugares do termo defta Filia.
ligares tem duzentos &cincoenta vifinhos, Abbadia da Mitra Primáz, 3
rende feífenta mil reis; de mais da Igreja Parochial tem fete Ermidas , & cinco
fontes: recolhe muito pão, pouco vinho, & azeite, alguns figos , & amêndoas,
muita caça meuda,& porcos montezes, muito mel, & cera , muitos gados de
ovelhas, & cabras: he lugar temperado-
Poyares tem duzentos viíinhos, Igreja Parochial da aprefentaçaõ dos Be-
neficiados da Villa,mais fete Ermidas,& quinze fontes: tem os mefmos frutos,
& calidades do lugar de ligares; & nas vifinhanças do Douro frutas de efpinho- •
No limite defte lugar perto domefmo rio Douro eftá a Ermida de Noífa Senho-
ra de Alva, & junto a ella hum arruinado Caftello com fuas muralhas , aonde
antigamente efteve fundada a Villa de Alva, que por fe entregar , ou com trei-
p ' caõ,
DA ^COROGRAFIA PORTUGUEZÁ>\ 4St
ca2!, ou com pouca refuicncia ao referido Infante Dom Affonfo , filho delRey
Dom Fernando o Santo de Caftella, foy caíligadapor ElRey Dom Sancho o Se-
gundo deite Rey no, privandoa dos privilégios de Vilia , dandoa por Aldeã do
termo a Freixo, pela fidelidade, com que na mefma occ^íiaõ fe houveraõ os de
Freixo; com condição que nam deixaffem habitar nella nenhuma das peífoas q
a entregáraõ ao dito Infante Dom Affonfo, como coníta da Quarta Parte da Mo-
narquia Luíitana liv. 14. cap. i6> & ou por efta caufa,ou poroutras,de todo fe
defpovoou,& arruinou, ficando fomente abarca, que ainda navega no rio com
o nome de barca de Alva, & a referida Ermida de Santa Maria., que tem annexo
hum beneficio fímples do Padroado R cal.
Fornos tem cento & dez vifinhos,Igreja-Parochial da mefma aprefentaçaõ,
mais opatro Ermidas, & nove fontes com abundancia de agua de rega ; he terra
temperada, recolhe muito paõ, pouco vinho, & aceite, & minta caítanha. Junto
a eíte lugar fevè a Ermida de NbíTa Senhora da Tcrena , adornada com decên-
cia, &. frequentada de Romeiros; tem rendimentos proprios, & efmolas confi-
deraveis.
Mafouco tem feífenta vi linhos, Igreja Parochial da mefma aprefentacàm,
mais duas Ermidas, & oito fo rtes ; he terra temperada com as mefmas caíida-
des, & frutos do lugar de Fornos, & muitas aguas de rega ; recolhe muito
mel, & cera, & muitas cebolas; & hortaliças. Huma das fontes, que chamãodo
Xido, junto da Igreja Matriz defle lugar, coft uma começar a lançar fuas aguas
no mez de Março, & fe o anuo ha de fer fértil de pão, lança muito pouca, & fe ha
defer eíheril, lança mais agua no tempo do Eftio , quenosmezes anteceden-
tes.

—. * CAP. 111/

Da Vdia de eZMonforte de cRjto Livre*

HE eíta Villa da Coroa, & do Bifpado de Miranda : dizem feus náturaes


terefténome, por eíhar livre das inundaçoens dos riosTamega, & Me-
te, ou Rabaçal, que lhe diftaopor ambos os lados mais de Iegoa : El Rey Domf
Affonfo o Terceiro lhe deu foral, & a fez Villa : fica doze legoas ao Nornoroef-
te da Torre de Moncorvo, & eftá fí. uada em huma i mmmencia, murada com dé-
bil cerca, & dentro hum Caftello com huma levantada torre de cantaria de for-
ma antiga, mas nas guerras paffadas, por confinar om a raya deGalliza , felhe
fizeraõ alguns baluartes, em que juga vão quatro peças , tinha guarnição com
feu Governador, & dentro dos muros fonte de agua perene : para o Nafcente
a domina humpadrafto-
He feu Alcayde móroCondede Atouguia , que aprefenta os officios de
Tabeliaens, & logra os direitos Reaes, que rendem cada anno trint a mil reis, &
nam tem maisdominionella.
Aífiftem ao feu governo civil dous Juizes ordinários, Vereadores , hum
Juizdos Orfaõs com feus Officiaes,& dous Tabeliaens. Ao militar hum Capi-
tão mór,& hum Sargento mór por eleição dos homens da governança, a quem
1
• obc-"
431 TOMO PRIMEIRO
obedecem os Capitaens de treze Companhias da Ordenança da Villa , & ter-
mo.
Eda Villa> & lugares de feu termo faõ terras frias, & pobres ; produzem
multo centeyo, muito vinho, & bom, muita caífanha,& gado vacum, deque fa-
zem eílremadas manteigas; o que lhe fobeja deites frutos paífaõ a Galliza, aon-
de fazem fuas trocas. Correm por feu termo o rio Mente de moderadas aguas,
cmquefepefcaõtrutas,&oriodeCalvo,quehehúalimitada ribeira. ^
A nobreza deita Villa vive efpalhada pelos lugares do termo : faõfeus ap-
pellidos, Araujo, Boda,Sá, Cunha, Pcçanha,Teixeira, Soufa, Pinheiro , Mo-

^Abbadia de cfMonforte, &• lugares de feu temo, que

lhe pertencem.

HE fua cabcçaamefma Villa, que por privilegio particular nam paga fiza;
rende a Abbadia, que he do Padroado Real, oitocentos mil reis , & paga
penfaõá Capella Real. . ,
Temei ta limitada Villa quatorze vifinhos, & doze fontes , & demais da
Igreja MatrizhumaErmida da invocação de NoíTa Senhora do Prado, que toy
antigamente de muita romagem, pelos muito milagres que fazia»
Mairos tem cem vifinhos, Igreja Parochial da aprefentação do Abbade da
Villa, mais duas Ermidas,& vinte fontes.
Curral de Vacas tem cincoenta& cinco vifinhos, Igreja Parochial da meí-
ma aprefentação, mais huma Ermida, & doze fontes.
Aguas frias tem cincoenta vifinhos , Igreja Parochial damefma aprefenta-
ção, mais duas Ermidas, & vinte fontes.
Açoreira tem trinta vifinhós, huma Ermida, & oito fontes.
Avelellas tem cincoenta vifinhos, duas Ermidas,& vinte fontes.
Sobreira tem vinte & cinco vifinhos, huma Ermida,& dez fontes.
Cafas tem cincoenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçam,ne-
nhuma Ermida, & dez fontes.
Nogueirinhos tem fete vifinhos, huma Ermida, & dez fontes.

Abbadia de Santavalba, &• lugares, que nejle termo


lhe pertencem.

SAntavalha he cabeçada Abbadia do Padroado Real, que rende fetecentos


mil reis: tem efle lugar, & a quinta de Calvo da fua Freguefia cento & trin-
ta^ vifinhos, & demais da Igreja Matriz tem huma Ermida, &. vinte fontes.
Fornos tem noventa vi finhos, Igreja Parochial da aprefentação do Abbade
de Santavalha, mais huma E rmida, & oito fontes.
Paradelinha tem 16. vifinhos, nenhuma Ermida, & feis fontes-
Bouça tem cincoenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentação, ne-
nhuma Ermida, & huma fonte-
Gregozos tem treze vifinhos, huma Ermida, & quatro fontes.

Abba*
DA COROGRAFIA PORTUGUÊZA.

Abbadia de Sonim, &- lugares que lhe toe do nejle termo» *

SOnim cabeça de Abbadia do Padroado Real, rende mais de trezentos mil


reis, tem noventa viíinhos, & demais da Igreja Matriz tem tres Ermidas >
& doze fontes.
Barreiros tem cincoenta & quatro viíinhos, huma Ermida, & feis fontes.
Fiàes tem fetenta viíinhos, Igreja Parochial da aprefentaçaõ do Abbade de
Sonim, mais huma Ermida,& doze fontes.
Aguieira tem cento & nove vifinhos, Igreja Parochial da mefma apreícnta#
ção, mais quatro Ermidas,& dez fontes»

Abbadia de Bouçoaes, lugares, que neHe termo lhe pertencem•

BOuçoaes cabeça de Abbadia do Padroado Real, que rende mais de duze-


tos mil reis, tem trinta & dous.vií»nhosA& demais da Igreja Matriz húa
Ermida,& feis fontes»
Villartão tem feífenta viíinhos, Igreja Parochial da aprêfentação do Ab.
bade de Bouçoaes, mais huma Ermida, & leis fontes»
Piçoes tem oito viíinhos, & quatro fontes.
Bouças tem cinco viíinhos, huma Ermida, & quatro fontes»
Hermidas tem vinte viftnhos, & duas fontes.
Hermos, & Tortomil tem vinte viíinhos, huma Ermida, & feis fontes»
Regalcovo tem quatro viíinhos, & tres fontes»
Lampaças tem nove viíinhos, & oito fontes.

Commencfa de S'. foaodaCaflanheira, &■ lugares,cjue

nejle termo lhe tocao.

DEfta Comenda he cabeça a Ermida antiga de S. João da Caftanheirá fan'


dada junto ao lugar, que chamão Cima de Villa, ou Caftanheira : he da
Ordem de Chrifto do Padroado Real. He feu Commendador Antonio Luiz de
Menezes: rende toda a Commenda quinhentos mil reis com o ramo, que entra
no termo da Villa de Chaves, porém o ramo do term d defta Villa rende fó du-
zentos mil reis: a Reytoria, que he do Padroado Real, rende oitenta mil reis
cada anno. Eííe lugar da Caftanheira, oii Cima de Villa tem fetenta viíinhos,&
demais da Igreja Matriz huma Ermida, & vinte fontes. Junto a efte lugar ef-
tao veftigios de huma fortaleza, que he tradição fora dos Mouros, aonde ago-
ra eftá a Ermida dc S. Sebaftiao.
Lebução tem feffenta viíinhos, Igreja Parochial da âprefentação do Rey tor
da Caftanheira, mais huma Ermida, & feis fontes.
Ferreiros tem vinte viíinhos, huma Ermida, & feis fontes.
Parada, & Ribeira tem vinteôc feis viíinhos, huma Ermida, & feis fontes :
também junto a eíte lugar fe vem as ruínas de huma fortaleza,que foy dos Mou-
ros.
Santa Cruz tem vinte vifinhos, huma Ermida, & feis fontes.
Oo Mof-
454 â TOMO PRIMEIRO
Moíleiró tem quatorze vifinhos, huma Ermida, & feis fontes.
Sanfinstem trinta vifinhos, Igreja Parochial da mefma apreícntação, mais
íruma Ermida, & feis fontes.
Dadim te trinta & quatro vifinhos, huma Ermida, ôc doze fontes.
Paradelia temfeffenta ôcfeis vifinhos, Igreja Parochial da mcfma aprefen-
tação, maishuma Ermida, ôc oito fontes. *\
Tranvacastem trinta & quatro vifinhos, Igrejã Parochial da mefma apre-
fentaçao, nenhuma Ermida, & doze fontes.
Arjomiltem cincoenta vifinhos, huma Ermida,ôedoze fontes.
S. Vicente tem trinta ôc feis vifinhos, Igreja Parochial da mcfma aprefenta-
çSo, humaErmida, &t feis fontes.
Aveleda, ôc Valies tem dezafete vifinhos, huma Ermida , ôc quatro fon-
tes./
Or jaes tem treze vifinhos, húa Ermida, ôc feis fontes.
Roriz tem fetenta 6c quatro vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefenta-
ção, nenhuma Ermida, ôc vinte fontes: neíle lugar fe recolhe fino eftanho
Tronco tem fetenta ôc oito vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefenta-
ção, mais huma Ermida, ôedoze fontes.
Ribeirinha tem treze vifinhos, huma Ermida, ôc quatrofontes.
S. Cornélio tem dezafeis vifinhos, húa Ermida, ôc feis fontes.
Podome tem treze vifinhos, hua Ermida, ôc quatro fontes.
Polidetem onze vifinhos, húa Ermida, ôc quatrofontes-
Moreiras tem dez vifinhos, nenhuma Ermida, ôc íete fontes.
. •

Commend a de Oucidres, & Lugares, que nejle termo lhe toe ao.

HE cabeça defta Commenda o lugar de Oucidres, he da Ordem deChrif-


to, do Padroado Real ; he feu Commendador Antonio Luiz de Menezes,
ôc rende duzentos ôc cincoenta mil reis cada anno: a Reytoria he da aprefenta-
ção do Bifpo de Miranda. Tem eílc lugar de Oucidres cincoenta ôc cinco vifi-
nhos, ôc demais da Igreja Matriz tem huma Ermida, ôc doze fontes.
Villa-nova tem trinta ôc cinco vifinhos, húa Ermida, ôc feis fontes.
Alvarelhos tem fetenta vifinhos, Igreja Parochial, que aprefenta o Reytor
de Oucidres, mais húa Ermida, ôc feis fontes.
Lama de Ouriço tem trinta ôc fete vifinhos, húa Ermida , ôc feis fontes: jun-
to a eíle lugar fe vem as ruínas de huma fortaleza, que dizem haver fido dos
Mouros. '
Agradella tem treze vifinhos,húa Ermida, ôc feis fontes.
Monte Darcas tem quarenta ôc oito vifinhos, húa Ermida, ôc feis fontes :
junto a cfte lugar fe vem os veífigios de húa fortaleza dos Árabes.
Tinhela tem fetenta ôc quatro vifinhos , Igreja Parochial da mefma apre-
ícntação, mais húa Ermida, ôcfeis fontes.
Nuzellos tem feífenta vifinhos , Igreja Parochial da mefma aprefentação,
mais húa Ermida,ôcfeis fontes.
Bobadella tem eincoentâ vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentação,
mais huma Ermida, ôc fete fontes-
Vfilar de Geu tem vinte ôc fete vifinhos, húa Ermida, ôc oito fontes.

CAP.
DA COROGRAFIA PQRTUGUEZA. 435
~ 'N

CAP. IV.

Da Villa de Anciães.
% % j

QUatro lcgoas da Torre de Moncorvo para o Poente no Arcebifpado de


Braga tem feu affentoa Villa de Anciães, a qual.he da Coroa : he toda
murada com feu Caílello,tudo cantaria, St eíiá fundada na imminencia de hum
alto monte falto de agua ; nos tempos antigos devia fer povoação maiscõfide-
ravel, Sc feus moradores tem por tradição., que reíiílíra com Valor a alguns fi-
tiôs q lhepuzeraõosCaílelhanósantigaméte; Sternfeu termo efláhum valle,
quechamao o Ribeiro da Oifeira, onde houve huma batalha com os Caífelha-
nos, em queficàrão vitoriofos os Portuguezes com ajuda, 8tdifpofição dos fi-
dalgos do appellido Sampayo, que nefte tempo erâo fenhores delia V illa; Sc al-
guma coufa concorda eíla tradição como que diíTe Lqpo Vaz de Sampayo a El-
Rey Dom João o Terceiro,quando o mandou vir .prezo da índia , como refere
João de Barros nas fuas Décadas-
De prefente he huma limitada Aldeã habitada de alguns Lavradores', por-
que as famílias nobres, ou pela aípereza do fítio, frio em demafia, falto de agua,
Sede todos os frutos , ou por outras caufas fe efpalhàrão avivemos lugares
de feu termo, St fó fe conferva a cafa da Camara, aonde fazem as audiências.
Pôde jatfLarfe efta Villa de haver nafeido nella Lopo Vaz de Sampayo , oi-
tavo Governador da índia Oriental; cujas proezas, St inteireza de governo tã-
tc louvão, St-engraodecem os Efcritores, cujos íllullres progenitores foráo fe-
nhores delia Villa, comõ acima tocamos.
He Rey tor ia dô Padroado Real, que rende oitenta mil reis, cabeça de Co-
menda, qlie chamão do Salvador: fora de feus muros fe vè huma Ermida de Saõ
. joaó Bautiíla, cabeça de outra Comenda, cuja Reytoria fe transferio ao lugar
de Margazão deífe termo, ambas da Ordem de Chrifto, do Padroado Real , St
delias he Comendador Manoel de Mello Porteiro mor , Regedor que foydas
Juíf iças da Cafa da Supplicação, St Prior do Crato : rendem ambas feifeentos
mil reis, St já renderão tres mil cruzados.
Tem eíta Villa por Armas hum Caílello com eífa letra: Anciães leal no Réy-
no de ePalugai ElRey Dom Affonfo Henriques lhe deu foral. Os lugares de
feu termo geralmente faõ terras frias, recolhem muito pão, algum vinho , St fó
produzem azeite alguns lugares vifinhos aos rios Douro, St lua , por ferem
terras quentes, como em cada húa notaremos; de gados , 5c caças meucfas tem
mediania. Tem comercio no porto de Foz Tua, que fica em feu termo, donde
cm barcos pelo no Douro fe conduz trigo, azeite, vinho, fumagre, frutas def.
ta Província, St da da Beira para a Cidade do Porto, donde trazem fal, ferro, Sc
outras mercadorias.
Afliíf em ao féu governo civil dous Juizes ordinários, Vereadores, Sc Juiz
dos Orfaõs com feus Officiaes. Ao militar hum Capitão mor, Sc hum Sargento
mór, eleitos a votos dos homens da governança, a quem obedecem cinco Capi-
taens de cinco Companhias da Ordenança da Villa, St termo.-
Oo ij AchacV
436 -i TOMO PRIMEIRO
Achaõfe nefte Concelho famílias nobres de ppellidos, Sampayo , Mello,
Moraes, Carvalho, Cabral, Mefquita, Sylva, Magalhaens, Azevedo, Pereira,
Teixeira, Matos.
No rio Douro, que corre enco fiado aeíle Concelho 110 fitio,q chamão o
Cachão,fe pelcão folhos, laveis, mugens, & lampreas em quantidade.
Efte Cachão he hum penhafeo grande, que acompanhado de outros occupa
a paffage do rio, q deitas rochas.fe defpenha,cõ que de todo impede a navegação
dos barcos, que da Cidade do Porto , &. mais partes fazem i ó viagem até eíte
Cachão; já fe intentou desfazer para facilitar o comercio das terras deita Pro-
vinda, & dada Beira, queffcão por cima deita paífagem : ha poucos annOs,que
por ordem de Sua M ageítade veyo nelle fazer exame Miguel de Lafcol, & facili-
tou a em preza; forã utiliííimaobra, & de notáveis conveniências a eítas Pro-
víncias. /
Junto ao Douro neíte fitio afpero, aonde chamão as Letras, eftà húa gran-
de lage com certas pinturas de negro , & vermelho efeuro quad em forma de
xadrês, em dous quadros com certos rifeos, & fínaes imâl formados , que de
tempo immemorial fe confervão neíte penhafeo, & como não faõ caraéteres for-
mados, os não trazemos eítampaclos: os naturaes dizem, que eftas pinturas fe
envelhecem humas,& fe repovão outras,& que guarda eíta pedra algum encan-
tamento ; porque querendo por vezes algumas peífoas examinar ã cova, que fe
occulta debaixo, forão dentro mal tratadas, femverdequem.

Commenda do Salvador, &• lugares, que nefie termo

lhe tocao.

"Vidí -*ri,,kr imê - «•


j\ Villa de Anciães tem quatorzeviílnhos , & demais da Igreja Parochial
tem duas Ermidas, & dezoito fontes
Lavandeira tem trinta & cinco vifinhos, húa Ermida, & oito fontes.
Sellores, a que chamão Arrabalde da mefma Villa , tem cincoenta'& cinco
vifinhos, Igreja Parochial da aprefentaçãodoReytorda Villa , mais tres Ermi-
das, & vinte & nove fontes de ruins aguas: he terra quente, & recolhe algum
azeite.
Alganhofres tem trinta viíinholí, húa Ermida, & tres fontes: recolhe pou-
co azeite.
Beira grande tem fetenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefenta-
ção, nenhuma Ermida, & dezoito fontes: recolhe pouco azeite ; húa das fon- *
tesda Portellade Val de Martinho chamão aFontefanta , & os meninos que
•neíla lavão, melhorão em feus achaques.
Seixo tem cem vifinhos , Igreja Parochial da mefma aprefentaçao , mais
quatro Ermidas, & vinte fontes-.recolhe muito azeite em feus limites.
Foy natural defte lugar o VeneraYel Padre Frev Antão, que fendo filho de
ricos, & honrados pays, logo nos primeiros annos de fua adolefcencia fe reti-
rou às montanhas a gozar da tranquillidade,com que fc aífegura o Ceo, de quem
recebeo particulares favores-.hum Anjo o convidou ao empenho da fundação
do Convento da'Santiffima Trindade no lugar da Louza ( como ahi diremos )
que fe confeguio com alguns milagres no anno dc 1 yoo. nelle tomou o habito ,ôt
acabou fantamente no de 151 o.
1) À COROGRAFIA PORTUGUESA.
Coleja tem trinta vifinhos, huma Ermida, Sc doze fontes: he terra guenté,
& de muito azeite.
Fonte longa tem feíTenta viíinhos, Igreja Parochial da mefnla aprefentação",
mais quatro Ermidas, Sc feis fontes.
Penafria tem vinte St cinco viíinhos, huma F rmida, Sc oito fontes.
Beíteiros tem dez viíinhos, huma Ermida,& treze fontes, huma das quaes
he "de agua tam delgada, & leve, que geralmente dizemos moradores, fe hão po-
de com ella fazer azeite, porque fe não aparta bem delle.
Belver tem cincoenta viíinhos , Igreja Parochial da mefma aprefentação,
mais quatro Ermidas, & trinta Sc quatro fontes;
Mogode Anciães tem trinta St dous viíinhos, huma Ermida , & oito fon-
tes.
Camorinha tem vinte St feis viíinhos, Igreja Parochial da mefma aprefenta-
ção, mais duas Ermidas, Sc vinte Sc duas fontes.

Commenda de S. J o txo> &• lugares que nefle term lhe pertence mi

MArzagão tem noventa vifinhcs, Igreja Parochial,mais huma Ermida, &


oitenta Sc oito fontes: efte lugar he cabeça da Commenda de S.João B au-
tiíla da Ordem de Chriílo, em que já falíamos : a Rey toria he também dtrPa-
droado Real, & rende oitenta mil reis cada anno.
Lufellos tem vinte viíinhos , Igreja Parochial da aprefentação doReytor
de Marzagão,mais huma Ermida,Sc vinte St íete fontes: neífe lugar fe recolhe
muito, Sc fino eílanho, que a certos tempos vem apurar, Sc fundir o feitor delle,
rtíidentena Cidade de Vizeu, que leva para a fundição da artilharia.
Carrazeda tem trinta & feis vifinhos , Igreja Parochial da mefma apr efen-
tação, mais duas Ermidas, & oito fontes.
Gedes tem ícflenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentação, mais
duas Ermidas, Sc vinte St oito fontes.
Arnedo tem quarenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçam,
mais duas Ermidas, Sc quarenta St q uacro fontes: recolhe algum azeite.
Arcas tem trinta 8t feis vifi lhos, huma Ermida, Sc vinte& huma fontes.
Pinhal tem cincoéta vifinhos,Igreja Parochial da mefma aprefentação,mais
duas Ermidas, Scdezafete fontes : terra quente, Sc de muito azeite.
Brunheda tem vinte Sc feis vifinhos, huma Ermida, Sc vinte Sc nove fontes:
terra quente com abundancia de azeite.
Centrilha tem doze vifinhos, humà Ermida, Sc oito fontes: terra quente,
Sc de muito azeite.
Felgueira tem dezafeis vifinhos, huma Ermida, Sc dezanove fontes.
Pombal tem fetenta vifinhos,Igreja Parochial da mefma aprefentação, mais
huma Ermida, Sc dezafete fontes: terra quente, Sc de muito azeite ; huma das
fontes, que chamão as Caldas, junto ao rio Tua,'lança muita agua, Sc quente cõ
cheiro de enxofre,Sc as peííòas que nella fe lavãó, expsrimétão melhora cm íeus
achaques, principalmente no da farna.
Paradella tem quarenta Sc quatro vifinhos, húa Ermida , Sc quinze fontes-j
terra quente, Sc abundante de azeite.

Oo iij tuga-
4j8 TOMO PRIMEIRO

'■ Lugares que nejle termo pertencem a Commenda da Villa, ou

Julgado de Linhares.

ARnaltemvinte & oito vifínhos duas Ermidas & vinte & quatro fontes.
Campellostem 57. vifínhos, huma Ermida, & nove fontes.
Parambos tem oitenta vifínhos, Igreja Parochial da aprefentaçam do Rey-
ter de Linhares, mais huma Ermida, & vinte fontes.
Mifquel tem vinte&tres vifínhos, huma Ermida, & trinta fontes , huma
das quaes chamada a Fonte Bieita, dizem , tem virtude para os achaques dos
meninos que nella lavâo.
Caílanheiro tem quarenta vifínhos, Igreja Parochial da mefma aprefenta-
ção, mais huma Ermida, & nove fontes: terra quente, & de muito azeite.
Tralharis tem trinta&feis vifínhos, huma Ermida , & quarenta & duas
fontes: terra quente, & abundante de azeite.
Fiolhal,& Foz Tua tem dezafete vifínhos, tres Ermidas,& dez fontes: ter.
ra quente, & de muito azeite. .
Riba longa temquarenta vifínhos, Igreja Parochial, huma Ermida, & feis
fontes: terra quente, & abundante de azeite.

CAP. V.

Da Villa, ou Julgado de Linhares»

Cinco legoas da Torre de Moncorvopara o Poente cftá fundada eíla Villa,


aqualhedoArcebifpadode Braga, & da Coroa, encorporada com as ter-
ras do termo da Vilia de Anciães, & fó quanto ao eivei tem certa jurifdição li-
mitada ; em tudo o mais reconhece as Juftiças, Officiaes de Guerra , & dos Ór-
fãos de Anciaés, com que mais fe pode chamarlugar de feu termo, do que Vil-
la feparada.
He cabeça da Commenda de S. Miguel da Ordem deChriílo do Padroado
Real,dequeheCommendadorDom Francifco Manoel, porém a Keytoria he
da aprefentação da Mitra Primaz 5 a Commenda rende duzentos & feffenta mil
reis,&aReytoriafetentamilreis cada anno-
He terra quente, & enferma, recolhe algum azeite, & dos mais frutos, q
produzem as terras de Anciaés. Tem noventa vifínhos , & demais da Igreja
Parochial tem oito Ermidas, & quatorze fontes*
Lugar àe feu termo.
Carrapatofa he lugar do termo defta Villa, & da Commenda delia, tem vin.
te & dous vifínhos, huma Ermida, & fete fontes.

CAP.
DA COROGRAFIA PORTUGUESA:

CAP. VI*

Da Filia de Fttlarinbo da Caflanbeira.

TRes Iegoas da Torre de Moncorvo para o Poente tem feu fítio Villarinhò
da Caflanheira, Villa da Coroa, & do Arcebifpado de Braga. ElRey Dô
Pedro o Primeiro lhe deu foral, & a fez V il!a : no alto delia fe vè ainda hum
arruinado Caftello. He terra fria, & montuofa, recolhe muito azeite em huns
valles junto do rio Douro,aquechamão Lobafim, humalegoa diílante da Vil-
la, o reftante delia, & feu termo produz baíbante pão, & vmho, algum fuma.gre,
muita caftanha, medianos gados, & caças meudas : tem criação de bichos de
feda-
Aíliftem ao feu governo civil dous Juizes ordinários, Vereadores, & Juiz
dos Orfaõscom feusOffíciaes- Ao militar hum Capitão mór, & hum Sargen-
to mór eleitos a voto dos homens da governança , a quemobedeceni tres Capi-
taens de tres Companhias da Ordenança da V illa, & termo-
Tem famílias nobres de appellidos, Almeyda, Crafto, Pinto, Pereira,Ten-
reiro, Mello, Magalhaens, Vieira, Tavares,Botelho, Abreu, Mefquita-
He cabeça de hua Abbadia de op ão do Cabido, & mais Ecclefiafticos,que
aíliílemno Coro da SèdeBra a , rende para o Abbade cento & cincoentamil
reis :os mais dízimos he renda doinefmo Cabido, que vai feifcentos & quaren-
ta mil reis cada anno. Tem duzentos vifinhos, & demais da Igreja Matriz tem
fete Ermidas, & triata & tres fontes-

Lugares dejeu termo, cujot diurnos pertencem ao Abbade, ao

Inhal,Fregueíia da Villa,tem quarenta viíinhos , huma Ermida , &oito


fontes.
Louza téduzetos&ciricoctavifinhosihe Vigairariacollada,q fepóde re-
nunciar, aprefentação do Abbade da Valia: demais da Igreja Parochial tem feis
Ermidas, & vinte Stfeis fontes: terra fria, afpera, recolhe pão , vinho , &
azeite: tem medianos gados,& caças. Jadiaõfefeus moradores, que deite lu-
gar ( pela grande imminencia, em que cila tundado) fe vem as terras de qua-
torze Bifpados, afaber,do de Braga, Porto,Miranda,Lamego, Guarda,Vizeu,
Coimbra, Ciudad Rodrigo, Çamora, Salamanca, Cona, Tuy, Placencia , &
Orenfe.
Engrandece a eílc íugar hum Convento de Religiofos da Santiífíma Trin-
dade, baftante edifício,& com fufíiaente renda : a origem de fua fundação foy
que o Padre Frey Antão, Religiolò da mefma Orde, natural do lugar do Seixo
de Anciães, de que já falíamos, quando na lu.. mocidade eftava retirado nas bre-'
nhãs dos montes vifínhos, lhe appareceo hum Anjo , que da parte de Deos lhe
orde-
44o TOMO PRIMEIRO
ordenou edificaíTehuma Igreja no alto da montanha deite lugar, em honra da
.Santiífima Trindadr.veyo aolugar,manifeftou a vifaõ,& não fe lhe dando credi-
to^ voltou paraofeu retiro: fegúda vez o Anjo o convida aomefmo empenho,
torna ao lugar, 6c achando a meima duvida, deu faude ahum enfermo, aefcon-
fiadodavida,em nomedaSantiílima Trindade para abono defuavifaõ: o pro-
dígio alhanou a incredulidade ; com fè fe applicao os moradores à erecção da
obra, que em breve fe vio confummada. T erceira vez o empenha o Cclefte Pa-
raninfo a que aggregaífe ao fanto Templo Religiofos Trinos : obedeceo, foy
ao Convento de Santarém da mefma Ordem, & narrando o referido aos Religio-
fos, nomeàrão fundadores, que logo conduzio em fua companh ia, & ficou íun-
dadò o Convento pelos annos de i yoo. por vezes intentarão os Prelados def-
fazello por alguns motivos temporaes, mas não teve cffeito»
Caftedo tem cento & vinte & cinco vifinhos , Igreja Parochial da aprefen-
tação do Abbade da Villa, mais quatro Ermidas,& quinze fontes: recolhe mui-
to vinho, & produz fumagre, & nelle ha criação de bichos de feda.
Carvalhadegas tem trinta &oito vifinhos, Igreja Parochial da mefma apre-
fentação, mais huma Ermida, & duas fontes-
Seixo de Manhofes tem feífenta vifinhos , Igreja Parochial da mefma apre-
íentação, mais tres Ermidas, & quatro fontes.
Gavião tem dez vifinhos, huma Ermida, & tres fontes.
Mourão tem oitenta ôtdous vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefen-
tàção, mais tres Ermidas, & dez fontes.
Val de Torno tem cento & vinte vifinhos, Igreja Parochial da mefma apre-
fentação, mais fete Ermidas, & treze fontes.
Lagoa tem trinta vifinhos, huma Ermida, & nove fontes.

CAP. VII.

T)a Villa de Cortiços.

SEtcIegoasao Nornoroefte dàVilladaTorredeMôcorvõnoBifpadode Mi-


randa tem feu fitio eft a pequena V ilia, a qual he da Coroa , & lhe deu foral
EIRey Dom Diniz, que depois reformou ElRey Dom Manoel em Lisboa a 4. de
A gofto de 1 y 17. He de clima temperado, £c produz baftante pão, azeite, pou-
co vinho, alguns gados, & medianas caças meudas.
Alfiftem ao feu governo civil dous Juizes ordinários , que o faõ também
dos Orfaõs, & Vereadores com feus OfEciaes. Ao militar hum Capitão mór,& *
hum Sargento mór por eleição dos homens da governãça,que ofaô também das
Villas de Valdafncs, Sezulfe, & Pinhovello, & em todas éftas quatro Villas ha
quatro Capitaés de quatro Companhias dâ Ordenança, todos fubordinados ao
Capitão mór defta Villa.
He cabeça de huma Rey toria do Padroado Real , & os dízimos pertencem
aos Religiofos da Companhia dejefus do Collegio de Bragança 5 rende cento
& vinte mil reis.
Tem algumas cafas nobres no edifício, & nas famílias nos tempos antigos
teve
DA CO ROGRAFt A PORTUGUESA.' 44»
teve ainda mayor numero de peffoas nobres; os appellidos,q hoje fe confervão,
faõ, F aria,, Loureiro., Pinto, Alcoforado, T eixeira, Lemos.
Os moradores deíla Villa, & termo pagão a Sua Mageítade peío foral] deílà
os direitos Reae<> que faõ quatro alqueires de centcyo , & trinta 6c feis reis em
dinheiro cada cafal;q tudo fe arreda em trinta mil reis cada anno. Té 6o.viíinhos>
6c demais da IgrejaMatriz,duas Frmidas, 6c feis fontes, em q entra hú chafaris.
Lugares de (eu termo.
Cernadella tem trinta 6c cinco viíinhos, Igreja Parochial da aprefentçaõ do
Reytor da Villa, mais duas Ermidas, 6c huma fonte-
Romeu tem trinta & feis viíinhos,Igreja Parochial da aprefentação do Rey-
tor de Mafcarenhas, termo da Villa de Mirandella, mais duas Ermidas4, 6c qua-
tro fontes.

CAP* VIII.

Da Ftila de Fildafnet.

,Ç Eislegoas da Torre de Moncorvo para o Norte eftáíituada a Villa de Vaí-


O dafnes, a qual he da Coroa, 6c do Bifpado de Miranda. He de clima tempe-
rado, recolhe muito azeite, baftante paõ, pouco vinho, muitos linhos gallegos,
muita cebola, muito pimentão, baílantes gados, 6c poucas caças. El Rey Domi
Manoel lhe deu foral em Lisboa aos i i.dejulho de 15 14..
A ill item ao feu governo civil hum juiz ordinário ; que o hc também dos
Orfaús, hum Vereador , Jiu.n Procurador do Concelho com hum Efcrivaó da
Camara, que he juntamente proprietário de todos os mais ^officios. Ao gover-
no militar hum Capitaõdc huma Companhia da Qrdenançaíubordinado aoCá-
pitaõ mór da Villa de Cortiços.
Tem Igreja Parochial cõfirmadada aprefentaçam do Reytor do lugar dc
Bornes, termo da Cidade de Bragança. Pertencem os dizimos , hum terço ád
Bifpo de Miranda, & os outros dous terços àCommenda de Santa Martha , de
quefoy Commendador Nuno da Cunha de Ataíde, Conde de Pontevel.
Tem eíla Villa cem viíinhos, & íemaisda igreja Parochial tem tres Ermi-
das, 6c quatro fontes- Naõ tem lugar algum de feu termo.

mmsm

CAP. IX.
»

Da V illa de Sefylfe,
%
Tto legoas da Torre de Moncorvo para aparte do Norte eítâ fundada a
Villa de Sezulfe,a qual he da Coroa,& do Bifpado de Miranda- O feu eli-
mahe temperado, recolhe muito pão,baítante azeite, vinho,gado, 6c caça.
> Afliílem
44* TOMO PRIMEIRO
Affiftem aofeu governo civilhum Juiz ordinário, que ohe,tãbemd os Ór-
fãos, hum Vereador, hum procurador do Concelho, & hum fó Efcrivão , que
lêrve todos os officios. Ao governo militar hum Capitão de huma Companhia
da Ordenança, que fe compoem dos moradores defta V illa ,& dos da V illa de Pi-
nho vtllo , fubordinado ao Capitão mór da Villa de Cortiços.
Tem Igreja Parochial confirmada da aprefentação do Bifpo de Miranda , a
quem pertencem todos os dizimos. Tem algumas familias nobres de appelli-
dos, Pinto, N unes, Pereira, Craflo.
Tem quarenta vifihhos, duas fontes, &; demais da Igreja Parochial tres Er-
midas, huma delias da invocação de Noífa Senhora das F lores, que eftá reduzi-
da a Convento de Clérigos da Congregação , intitulada dos Padres do Calvá-
rio, a que deu principio ha poucos annos o Doutor Jeronymo Ribeiro, C hantre
da Sê de Coimbra,& refidem nelle dez Religiofos. Não tem efta Villa lugar al-
gum de feu termo. . s

CAP. X.

T)a Villa de Tinhovello.

SEte Iegoas & meya ao Nordefte da Torre de Moncorvo noBifpado de Mi-


randa tem feu affento a V illa de Pinhovello de climá muito freíco , a qual
he da Coroa* & foy antigamente infigne povoação dos Romanos, como fe vé das
ruínas de hum forte, fepulturas, moedas, & outras antiguidades: recolhe baf-
tante pão, & vinho, alguns gados, poucas caças.
Alliftem ao feu goveriiocivil hum Juiz ordinário , que juntamente ferve
de Juiz dos Orfaõs, hum Vereador, hum Procurador doConcelho , & humEf-
crivão, que ferve de tudo. Ao militar , faõ os moradores Soldados do Capitaõ
da V illa deSezulfe, que he fubordinado ao Capitão mór da V illa de Cortiços.
Tem Igreja Parochial confirmada da aprefentação do Bifpo de Miranda, a
quem pertencem os dizimos. -
Tem efta limitada Villa doze vifinhos, duas fontes, nenhuma Ermida, nem
lugar algum de féu termo.
#

CAP. XL

c
& Da VilU de 3\(uzç!!oy:
• •
NOve Iegoas da Torre de Moncorvo para o Norte no Bifpado de Miranda
eftá fundada a Villa deNuzellós,a qualheda Sereniffima Cafade Bragã-
ça, em que fomente entra o Provedor defta Comarca a exercitar a jurifdiçam,
quelhetoca,&nomaishefogeita ao Ouvidor da Cidade de Bragança, que nel-
la entra em Correição; he terra quente, recolhe baftante paó, & vinho , algum
azeite, gado, & caça.
Aífiftem
DA COROGRAFIA PO RT U G Ú Ê Z A- 44$
Affiílem ao feu governo civil dous Juizes ordinários, que juntamente íer-
Vem de Juizes dos Orfaõs, hum Vereador, hum Procurador do Concelho , ôc
hum Efcrivaõ, que ferve todos os officios. Quant o ao militar, faõ os Officiaes
de Guerra fubordinados ao Sargento mór da Comarca de Bragança-
Temefta Villa dezafete vifinhos, Igreja Parochial dedicáda a NoíTa Senho-
ra da Affumpção, Abbadia do Padroado da Cafa de Bragança , que rende com
asmas annexas trezentos &cincoenta mil reis. Tem mais huma Ermida , &
huma fonte.
Lugares de feu termo.
Villarinho de Agrochão , aonde vivem os Abbades, tem 62- vifinhos,
Igreja Parochial da Invocação de S« Antão , que aprefenta o Abbade da Villa >
mais huma Ermida, & feis fintes: he lugar frefeo, & fádio, recolhe bom pão j
algum azeite, muito vinho,ot dos melhores da Comarca, baífantes gados , al-
guma caífanha,& muita caça.
Arcas tê quarenta & feis vifinhos,igreja Parochial da invocação de Sãta Ca-
therina da aprefentaçaõ do mefmo Abbade,mais duas Ermidas,& quatro fontes:
he terra temperada, recolhe muito vinho, & bom, baflante paç>, & azeite, gado,
& caça. Tem algumas famílias nobres de appellidos, Moraes,Sà, Borges,Viljie-
gas.
Villarinhodo Monte tem trinta & oito vifinhos, Igreja Parochial dedica-
da a S. Sebaftião, que áprefenta o mefmo Abbade, mais huipa Ermida, & duas
fontes: he lugar temperado, produz bem paõ, algum vinho, azeite, caítanha ,
gado, & pouca ca^ â- ♦

CAP. XII.

* T>a Filia de Lamas de Orelhão..

SÉis Íegoas ao Noroeífe da Torre de Moncorvo no Arctbifpado de Braga


temfeuaffento a Villa de Lamas de Orelhão , à qual deu foral El Rey Dom
Manoel em Lisboa a 1 f. de Julho de 1 s-i f - he da Provedoria deíla Comarca, &
do Marquezado de Villa Real,& toca o dominio delia a S. Mageftade, como Do-
natário,&fenhordasterrasdomefmoMarquezado,&affimna Villa, como no
termo fe lhe pagà certo foro, a que chamão fogal (pelos que acendem fogo) a du.
zentos & cincoenta reis cada lugar, & ah:uns pouco mais.
* . Dizem feus moradores, que nos tempos antigos a dominara hu Rey Mou-
ro chamado-Orelhaõ, & que vivendo ahi S- Leonardo, & Santa Comba, a quem
o Rey queria forçar, fogindo ella, & o Santo, íc abrio huma gruta, que os rece-
beo, & ainda hoje fe vè o buraco no penhafeo, por onde, dizem, entràraõ , &
adi ante delleeílaò duas Ermidas dos mefmos Santos , em que fc vene aõ com
devoção no alto da ferra, já no limite da Villa de Chaves ; & deíla hiíloria que-
rem deduzir o nome da Villa. .
Lftáfundadanafraldadehumaferra, que lhe impede ovento Norte : he
terra quente, & pouco agradavel,mas abúdante de paõ, vinho, azeite, fumagre,
& algumas frutas, medianos gados, bailante caça meuda , & alguma caílanha
nos lugares vifinhos da ferra*
A/fi&em
444 TOMO PRIMEIRO
Aífiftem ao feu governo civil dous Juizes ordinários, Vereadores cõ feus
Officiaes* que recon heccm ao Ouvidor de Vilia Real, q ue cnt ra neíla V ULa a fa-
zer Correição, mais hum Juiz dos OrfaÕs com feus Officiaes, fubordinados ao
Provedor delfa Comarca. Ao militar hum Capitãomór, & hum Sargento mór
eleitos a votos dos homens da governança , a que obedecem quatro Capitaens
de quatro Companhias da Orde ançada Villa, & termo , que todos faõ doutri-
nados pelo Sargento mór da Comarca de Villa Real.
No alto da referida ferra fe vem algumas muralhas arruinadas, & veiligios
de fortaleza, obra dos Árabes. Tem eíla Villa, & feu termo familias nobres de
appellidos, Pereira, Soufa, Machado, Teixeira, Correa, Taveira , Moutinho.
He cabeça de huma Abbadia, que logrão asFreyras do Convento dp Santa Cla-
ra de Villa de Conde, que aprefentão o Vigário rebente nelia Villa); tem feis
Igrejas annexas à Vigairaria, cujos frutos, & dizimos importa o às Rdigiofas
fe ifcentos mil reis cada anno.
Tem eíla Villa cincoenta viíinhos, com huma Igreja Parochial da invoca-
ção da Santa Cruz, mais tres Ermidas, & cinco fontes.
. •
Lugares, que nejle temo toe ao à .Abbadia das Freiras de Sat a

Clara da Vdia de Conde.


* •
CAfcalhal, lugar, ou quinta, Freguefia da Villa, tem fete viíinhos , & tres
fontes. - •
Carrapata, Freguefia da Villa> te~> dezanove viíinhos, duasErmidas , &
cinco fontes: tem Coadjutor, q ue lhe .: MiíTa, & adminiílra os Sacramentos
na Ermida de S- Luzia da aprefentação do Vigário da Villa.
Pados tem oitenta vifinhos com huma Igreja Parochial da invocação de
Noífa Senhora da Graça,da aprefentação do Vigário da Villa , mais tre> Ermi-
das, & quatro fontes*
Valverde tem trinta&douS vifinhos, comhuma Igreja Parochial , orago
Noífa Senhora da Purificação, que aprefenta o Vigário da V^lla, mais huma Er-
mida, & huma fonte: terra quente, & pouco fádia.
S. Sylveílre tem feis vifinhos, huma Ermida, Sc huma fonte: terra quente ,
& enferma. • • .
Cobro tem trinta viíinhos com huma Igreja Parochial, orago S. Sebaílião,
Vigairaria que aprefentão as mefmas Freyras , mais huma Ermida , & huma
fonte. '
Rego da vide tem quarenta vifinhos, duas Ermidàs, & huma fonte.
Efcovais tem dez vifinhos, huma Ermida, & huma fonte-
Avidagos tem trinta vifinhos, com huma Igreja Parochial da invocaçam
de S. Miguel, da aprefentação do Vigário da Villa, mais huma E^nida, & huma
fonte.
Carvalhal tem dezoito viíinhos, huma Ermida, & huma fonte.
Pereira tem trinta viíinhos,, huma Ermida, & duas fontes.
Villaboa tem trinta vifinhos com huma Igreja Parochial da invocação de
Santa Maria Magdalena, da aprefentaçaõ do Vigário da Villa, nenhuma Ermi-
da, & huma fonte.
Franco tem oitenta viíinhos, com huma Igreja Parochial da mefma apre-
feritaçam, dedicada a Noífa Senhora do O, mais duas Ermidas, & quatro fon-
tes. Abba-
DA COROGRAFIA PORTUCUFZA: 44$

Mb adia dos Frades de S. feronymo do Collegio de Coimbra ,&*


lugares, que nejle termo lhe pertencem,

C* Uzains,lugar dotermo defta Villa, he cabeça de huma Abbadia,quC nelle


tem os Religiofos de S. Jeronymo do Collegio de Coimbra, q naô fó reco-
lhe os dízimos em alguns lugares deite termo , mas também entra no lugar dc
Villa-nova termo de Mirandella: rendem todos eftes frutos para os Frades du-
zentos & cincoenta mil reis cada anno: temefte lugar noventa viíinhos , com
huma Igreja Parochial dedicada a NoíTa Senhora da Aííumpção , Vigairariã da
aprefentaçaõdosmefmos Frades, mais tres Ermidas,& quatro fontes: he abu-
dante de aguas de rega, muitas frutas, algum mel, & cera.
Eyvados tem vinte viíinhos, huma Ermida, & tres fontes.
Fyxes tem dezoito vifinhos com huma Igreja Parochial, da irivocaçaõ de
S. Frutuolb, que aprefenta o Vigário de Suzains,mais huma Ermida , &duas
fontes : terra muito quente, & enferma»
Marmellos té quinze viíinhos cÕ húa Igreja Parochial da invocaçaó de Saõ
Luiz, nenhuma Ermida, & quatro fontes: huma delias, em que fe ajuntão tres,
tem virtude para enfermidades, & as peífoas que nella fe lavaõ , experimentaõ
melhora jeífes banhos fetomaõ no Domingo de manhaã antes da MiíTa ; dizem
que goza deila virtude o primeiro que chega a banharfe : os enfermos não tor-
naõ a levar os veílidos, que trazem : concorre muita gente a ufar deíle remé-
dio, por fer de grande effeito.
S. Pedro de Val do Conde tem trinta & cinco viíinhos, duas Ermidas , &
feis fontes. .
ffiTtA

Lugar }qut pertence a Commenda dc Freixiel de Sao foao

de z5\dalta*

B Areei he também do çermo defta Villa, tem qiiaréta & dous viíinhos, com
huma Igreja Parochial da invocaçaõ de S-Cyriaco, da aprefentaçam do Co-
mendador da Villa de Freixiel, mais huma Ermida, Sc huma fonte : os dízimos
deite lugar pertencem à Commenda das Villas de Freixiel, ôcAbreiro da Reli-
gião de S. Joaõ do Hofpital da Ilha de Malta , que ;faõ ramo da Commenda de
Poy ares, de que he Commendador Antonio dc Soufa Correa Montenegro*

Lugares da Freguefta de ^Mirandella*

BRonceda tem dezafeis vifinhos, huma Ermida, & huma fonte.


Golfeiras tem vinte & quatro viíinhos, tres Ermidas , & duas fontes:
faõ eftes dous lugares da Fregueíia da Villa de Mirandella > a quem pagamos
dízimos.

* Pp ÇAP*
44 6 . TOMO PR I ME I Ra

C A P. XIII.

Da VIlla de FrejxteL

TWT O Arccbifpado de Bragn,qu<urolcgoasaoNoroeife da Torre de Mõcor-


J^( vo eíiá íituada a Villa de 1" reixiel, cerra muito quente, & enferma , por
eftar fundada em hum valle rodeado de altos montes: tem o terreno fértil, & af-
íim produz muito paõ, & azeite, moderado vinho, poucos gados, &. alguma ca-
ça. He do Marquezado de Villa Real-
Aífiftem ao feu governo civil dous Juizes ordinários, Vereadores , & feus
Ofliciaes fubordinados ao Ouvidor de Villa Real , que neíla Villa çntra
em Correição; mais hum Juiz dos Orfaõs, que o he também cia Vilía de Aorei
ro, & feu termo, fogeito ao Provedor deíla Comarca- Ao militar, hum Capitão
mor, eleito a votos dos homens da governança , que o he também da V ília de
Abreiro, a quem obedecem dous Capitaens de duas Companhias da Ordenança,
huma deíla Villa, & outra da de Abreiro, doutrinados pelo Sargento mór da
Comarca de V ilia Real-
£ fia Villa he ramo da Commenda de Poyares da Religião de Malta, de que
he Comendador o referido Antonio de Soufa Correa Montenegro, a quem per-
te ncem os dízimos, & lhe paga cada cafal da V illa, & termo cinco alqueyres de
centeyo de foro. Tem cento & trinta & cinco viíinhos , com algumas cáías de
peíToas nobres de appellidos, Moraes, Miranda, Coelho jliuma Igreja Parochial
da invocaçaõ de Santa Maria Magdalena,Vigairlria da aprefentaçaõ do rtiefmo
Commendador, mais três Ermidas~& huma fonte de ruim agua-
Foy natural dcíla Villa o Venerável Varaõ Frey Antonio das Chagas,que
nafeendo de nobres pays do appellido Coelho, le veflio da afpereza do burel da
ferra da Arrabida:períeverou ncífa Religião em continuo exercício das virtu-
des, de que foy dotado: he opinião confiante, que lhe fallava a Virgem Senhora
nofía, diante de cuja Imagem foy achado algumas vezes bailando, & tangendo,
rendédo cõ cila feftividadcobfequiofocultoàquellaSenhora.Cõtafe,qas aves
dacercadofeuCõventofe lhe vinhao voluntárias aprefentar nas maõs,& elle
as levava a offereccr em holocauílo á mefma Senhora) & depois íhes dava líber,
dade; morreo com grande opinião de juftò, & ainda fe veneraõ os defpojos de
fúa pobre cella, & de fua pelíoa como fantas relíquias: faleceo no anno de 164.2 -
eflá fepultado no Convento de Santa Catherína de Ribamar em tumulo lev an-
tado, & o feu retrato fe venera em huma Ermida da cerca; a fua vida anda eferi.
ta na Chronica da Religião.

Lugares do termo dejla Filia contos mefmos frutos, & calidades

delia, cujos diurnos tocao ao mcfmo Commendador.

Ereirostem feífenta vifuihos, Igreja Parochial dedicada a Santo Amaro da


P mefma aprefentaçaõ, huma Ermida, & duas fontes.
Codeçaes tem trinta & tres vifínhos,huma Ermida, & huma fonte-
, F . Feb
DA COROGRAFIA P ÒRTUGUEZA. 447
Felgares tem dezoito vifinhos, huma Ermida, 8c huma fonte.
Mo"o tem quarenta vifinhos, Igreja Parochial da invocação dè Santa Ca- ^
therina, la melmaaprefentação, nenhuma Ermida> quatro fontes j he lugar
frioj recolhe alguma eaftanha-

CAP. XIV.

T)a Villa de Abreiro\.

NO Arcebifpado de Braga cinco legoas aoNornoroefíe da Torre de Mon-


corvo tem feu affento a Villa de Abreiro , que he também do Marqueza.
do de Villa Real, a q paga cada morador da Villa, & termo fcis reis de foro, que
tudo importa nove, ou dez toftoens. EIRey Dom Sancho o Primeiro lhe d eu fo-
ral no anno de 1225.heterraquente,&enferma ,8cde ruinsaguas j eííá fun-
dada em huma imminencia, que dominaaorio 1 ua : recolhe pao, vinho, &
azeite, tudo moderado, poucos gados, & mediana caça<
A hum'lado da Villa, no alto daferra , em que eíta a Ermida de Santa Cá-
therina, fe vem ainda os veftigios de muralhas, que aífegura a tradiçaõ fora nos
tempos antigos povoaçaõ dos Árabes. „ >
A finfem ao Teu governo civil dous Juizes ordinários, V ereadores co íeus
Officiaes, que obedecem ao Ouvidor da Comarca de \ illa Real, que entra em
Correição neftaVilla. Ao militar hum Ca^itao de huma Companhia da Orde-
nança da Villa, & termo, que reconhece ao Capitao mor da Villa dc Freixicl.
Tem efta Villa íctenta vifinhos com huma Igreja Parochial da invocaçam
de SantoEftevaõ, Vigairaria queaprefenta o mefmo Comendador dePoyares,
aquém também pertencemos dizimos nefta Villa,Sc feu termo, comona de Frei-
xiel, por fer ramo da referida Commenda de Poyares? Tem mais tr es Ermidas,
& quatro fontes.

Lurjrdresde leu termo com<xs me finaiscAÍidade^ (s* ft mos


da Ma.

T^yrilhaes tem trinta vifinhos, huma Ermida , Sthuma fonte : he terra

Lo^grTtem dezoito vifinhos , Igreja Parochial da mefma aprefetítaçam,


duas Ermidas,&: nenhuma fontejbebem dono Tua, 8c de huma ribeira viftnha *

HC
^Navaího^te^iítriníIvifiS^gtejaParochial da mefma aorefentaçaó, dedi^
cada a NoíTa Senhora da Purificação, mais huma Ermida, & duas fontes.
Ametadc do lugar de S. Braz da Sobreira, co treze vifinhos , 8c hua fonte*

Ppijj CAP«
TOMO PRIMEIRO

CAP. XV.

Da Villa de zZAdirandella.

NO Bifpado dc Miranda féis legoas da Torre de Moncorvo para a parte


do Norte nas margens do rio Tua eftá fundada a Villa de Mirandella , a
qual viíla da parte do Poente tem alv umaapparencia com a Cidade de Coim-
bra ; tem algumas caías baílantes 110 edifício, lie terra muito quente, pouco fá-
dia, com poucas, & ruips aguas. EIRcy Dom Affonfo o Terceiro a fez Villa , &
lhç deu foral pelos annos de jj88. He do Marquez de Távora dc juro, & her-
dade, que aprefenta todos os officios dc Juiliça, & hum Ouvidor, que o he affim
dçíla Villa, como dc todas as quatorze Villagdeíla illuíire Cafa , & conhççe
das appellaçoens, & aggravos de todas cllaSjSc fó o officio de Efçnyaó das íizas,
achados, & almptaçaria he da mercê de S. Mageílade-
Paga cada morador deíH Yi.Ua, & termo deite Donatário trinta Sc feis reis
de foro, & direito Real,que importaõ, cada anno cincoenta mil reis, *Sc as por-
tagens dous mil reis. Tem também huinpreítimonio neíta Villa , Sena mayor
{larte dos lugares do termo, que lhe toca hum terço dos dizimos, deque di a
- quarta parte para a fabrica da Igrçjas dos lugares , Sc rende o que fica livre
mais de quinhentos mil reis cada anno: fad bens da. Coroa, que logra eíta Cafa
de tempos antigos atè o prçfçntç.
He, eítaVilla mimada ap ufo antigo çõ débil muro em partes arruinado,Sc nel-
le ttes portas.Tc famílias nobres de appellidos, Alrncyda, Barros,Borges,Car-
ciòló, Coutinho, Camello, Eícovar, Gama, Lago, Lemos,Magalhaens,Moraes,
Oliveira, Pinto, Ronte, Pçreira, Pinheiro, Pimentel, Pegado, Queiroga, Rofa,
Sá,Sil,Sarmento,Sequeira?Sampayo,Teixeira,Taveira, Vargas, Vafconcel-
los, Veiga 5 de que houve nos tempos antigos , & ainda ha no prefente homens
confummados na nobre arte da cavallaria em huma, & outra fella 5 chegou a ter
eíta Vília vinte cavallos ginetes nos annos , em que mais facilmente fe condu-
zião de Cordoya, Sc agora efião providos dos doReyno, que fempre 1 íuns , Sc
outros criàrão, & doutrinarão baílan temente: facilitao a criação defies gene-
rofos animaes os bons paíios, & excelíentes cevadaes de feus campos,& a com-
modidadedoriopara os banhos.
X. He fértil o terreno affim da Villa, como dos lugares dc feu termo, porque
produzem muito azeite, & trigo, & moderado vinho, muitas hortaliças ,
frutas: por fua fertilidade era capaz de huma grande povoação, fe lho não im-
pedira a deíicmperança do clima: tem muitos gados,baíiante caça. , & grande
provimento de peixes dos rios,a que eílá vifinha j & affim nella, como no termo
ha muita criação dos bichos da feda. X
Affiftem ao feu governo civil hum Oúvidpr, em que já falíamos, dous Juf
zes ordinários, Vereadores com feus Officiaes. fubordinados ao mefmo Ouvi-
dor, por quanto neíia Villa não entra o Corregedor em Correição 5 mais hum
Juiz dos Orfaõs com feus Officiaes íogeitos ao Provedor delia Comarca- Ao
militar humCapitaõmór,& hum Sargento mór eleitos a votos dos homens da
gover-
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. '449
governança, a que obedecem fete Capitaens de fcte Companhias da Ordenança
da Villa, & termo.
Junto a efta Villa corre o rio Tua, â que domina huma fumptuofa ponte de
cantaria com dezanove arcos, que fica contigua à Villa, fahida agradavel, vif-
tofa, & alegre the rio caudelofo, por vir encorporado cóm dous, & duas ribei-
ras, de que efte fe compoem, que fe ajuntaõ por cima da Villa: hum deftes dou9
rios chamado Tuella,que he o principal , & que nefta Villa muda o nome em
Tua, temfua origem no Reyno de Gallic íunt0 a0 ^llgar ^as pias; entra em Por-
tuga! pelo lugar de Moumenta, termo de Bragança , & correndo pelos Conce-
lhos daí Villas de Vinhaes, & Torre de Dona Chama viíinho ao lugar de Guide,
paflfa por efta Villa a defaguar no Douro no porto de Foz Tua , tendo corrido
dezoito legoas.
O rio Mente, ou Rabaçal, tem feu nafcimentò no mefmo Reyno de Galhza
no lugar de Pentes, defagua no rio Tuella, ou Tua, &iunto ao lugardeChel-
lâs deite termo, & antes de defaguar nelle tem caminhado doze legoás.
Huma das ribeiras, que fe chama Lobos, nafee na ferra do lugar de Bornes>
termo de Bragança, & havendo curfado tres legoas entra no rio Tua juntOa ef-
ta Villa por baixo do prado, que chamão a Coutada, aonde tem ponte*
A outra ribeira , chamada Merce,temféu nafeimento junto aos lugares
de Val de prados, & Caftellaós, termo de Bragança, & correndo perto da Villa
de Cortiços, fe aviíinha a efta V illa junto ao referido prado da Coutada, aonde
tem ponte de cantaria com dous arcos, & havendo fertilizado cinco legoas de
terra, perde o nome 110 riò Tua,&ji unidas todas eftas aguas, paííaõ p ela ponte
defta Villa.
He eft a Villa cabeça d e huma Reytona do Padroado Real > que rende cem
mil reis 5 & os dizimos dos lugares annexos a ella pertencem a feisCommen-
dadores, que todos juntoslograõ os frutos defta Reytoria : hum deftes Com-
mendadores leva.qij^ttroj^ dos frutos , & poreífa razao lhe chamão Com-
mendador dasquatrcTplrrres I os "outros cinco Commendadores, leva cada hum
huma parte;& nefta fórma fe reparte as nove partes dos frutos defta Comenda ,
cl por efta caufa deu motivo a lhe chamar o vulgo a Comenda dos nove ladroes.
A renda de cada Comenda, & os nomes deftes Commendadores faõ os fe-
guintes- Da Commendada Villa, orago Noffa Senhora da Encarnaçaõ, he Co-
mendador Alvaro Jofeph Botelho de Tavora,fegundo Conde de S- Miguel,que
chamão a Commenda das quatro partes, rende cada anno cento & vinte mil reis,
& leva hum terço dos dizimos dos lugares da Freguefia da Villa , & entra nos
mais lugares da Reytoria com quatro partes das nove. Já que falíamos nefte il-
luftre Conde,não ferá alheyo defte lugar tratar da fua varonia, que he a feguin-
te> „
Os Barbas procedem dos Romanos do tempo de Cayo Barba, como affirmao
as RelaçoensGenealógicas liv- 3. foi. z 8 ;• Efteappellido feconfervouatè o tê-
po dos Godos, como confta das mefmas Relaçoens liv- 3• foi. 2 8 2 •• ElRey Dom
Gracia faz menção de Munio Barba, como diz Sandoval; confirmafe efta cct-
tezacom eferituras demais de quinhentos annos, que eftão no Apendice das
Relaçoens Genealógicas- Deftes Barbas antiquifltmos he tronco D-Payo Mogu-
do de Sandim, como diz Argote de Molina liv. 2. foi. 231- & as Relaçoens Ge-
nealógicas liv. 3. foi. 2 8 í • & nelle começamos a Cafa dos Condes de S- Miguel-
DefteDom Payo Magudo de Sandim trata o CondeD. Pedro no cap.4,3. & diz
que cafou,& teve filho a
4jo TOMO PRIMEIRO
Mem Paes Mogudo de Sandim, que fe achou no cerco de Sevilha, quando
ElRey Dom Fernando o Santoa tomou aos Mouros, caiou, & teve filho a
'• Martim Mendes Mogudo de Sandim, que caiou, & teve filho a
Vafco Martins Mogudo de Sandim, que cafou com Fona Elvira Vafques
de Soverofa, viuva de Payo Soares de V alladares, & filha de Vafco Fernandes,
& de fua mulher D. TherefaGonçalves de Soufa, de que teve a
Martim Vafques Barba, de quem trata o Marquez de Montebello nas No-
tas ao Conde Dom Pedro, Nota 286. que viveo perto de Valladares, aonde cha-
mao Barbeita, & feus filhos fe appell idàrão Èotelhos , parece por refpeito de
huma quinta, & Solar antigo , que da outra parte do rio Lima correfponde ao
Moíleiro de Ermello; a qualchamàrão antigamente Bcrtelho , & depois Brite-
lho, aonde depois viveo o dito Martim Vafques Barba, que cafou com D.Urra-
ca Rodrigues Pacheco, filha de Ruí Pires de Ferreira, & de Dona Therefa Pires
de Cambra, de que teve a
Pedro Martins Botelho, que cafou cõ D- Dordia Martins, filha de Domin-
gos Martins, &de D- Aldonça Martins, de que teve a
Martim Pires Botelho, que também fe chamou Martim Botelho de Sandim,
&foy hleayde mór de Caíicllo de Vide cm tempo delReyDom Diniz pelos an-
nos de 1296. comoconfla da Monarquia Luíitana part.y. liv-i 7. capit. 34. foi.
246. cafou com Dona Joanna Martins de Parada, filha de Duraô Martins de Pa-
rada, Rico homem, & Mordomo mór do dito Rey, de que teve a
Affònfo Botelho, que cafou com Dona Mecia Vafques de Azevedo, filha
de Vafco Paes de Azevedo,& de DonaMaria Rodrigiiesde Vafconcellos , de
que teve a
Diogo Affonfo Botelho, que cafou com Dona Maria Fernandes de Carva.
lho, filha de Fernaõ Gomes de Carvalho,òt de Dona Mayo r Rodriguez, de que
teve a
Fernão Dias Botelho, que foy Aícavde mór de Almeyda, cafou , & teve fi-
lho a
Diogo Botelho, que cafou com Dona Leonor Valente, filha de Martim Af-
fonfo V alente, fenhor do Morgado da Povoa, de que teve a
Pedro Botelho, qué cafou com Dona Ifabel Eanes de Buaços, filha de Gon-
çalo Eanes de Buaços, de que teve, entre outros filhos, a
Diogo Botelho, Guarda mór da Excellentiífima fenhora , que cafou com
D. Violante de Magalhaés,filha de Fernaõ Lourenço de Guimarães, de q teve a
Pedro Botelho , quefoydoConfelho , &Véadorda Fazenda delRey
Dom Joaõ o Segundo, & Juiz da Alfandega em Lisboa : cafou com Dona Ifa-:
bel Annes, filha de hum Cidadaõ honrado de Lisboa, de que teve a
Diogo Botelho, que foy do Coníelho delRey Dom Manoel: cafou com D'
Ifabel de Barros, filha de Fernão Lourenço da Mina , & de Dona Maria de Bar
ros, de que teve a
Francifco Botelho, que foy Capitaõ General deTangere , Embaixador a
Roma, & Eílribeiro mór do Infante Dom Fernando , & fez a Capella do Con-
vento de Bemfica: cafou com Dona Brites da Caftanheda, filha de Ruí da Caíla-
nheda, fidalgo Caílelhano, que veyo a Portugal por hum homizio,& de fua mu-
lher D. Ifabel de Proença, de que teve, entre outros filhos, a
Diogo Botelho, que foy Governador do Eílado do Brafil , & Commenda-
dor na Ordem de Ch riflo: cafou com Dona Maria Pereira, filha de Nuno Alva-
rez Pereira, qne era da illuílre Cafa dos Condes de Benavéte, & de fua mulher
Dona
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 451
Dona Ifabel de Mariz, filha de Lopo Mariz , Sc de fua mulher Dona Anna de
Macedo, de que teve, entre outros filhos, a ?
Nuno Alvarez Botelho, que foy General na Índia , & depois Governador
daquelle Eft ado, aonde o queimàraõ os Holandezes depois de alcançar grandes
vitorias; cuja vida efcreveo elegantemente o Padre Manoel Xavier , St outros
Authores, aonde íe lerá eternamente aquelle real Epitáfio (o mais honrado que
contêm os annaes da fama ) eferito da propria maõ do mayor Monarca de
Europa, em que publíca,q'uandoouvioefteíucceíTo trágico , queanaõfeachar
cuberto de luto, o veftira fomente para moftrar ao mundo feu jafto fenrimento.
Foy caiado com Dona Brites de Lima, filha de Dom Luiz Lobo da Sylveira, fe-
nhor de Sarzedas, Sc de Sovereyra Fermofa , Sc de fua mulher Dona Joanna de
Lima, cie que teve, entre outros filhos, a
Francifco Botelho, que foy primeiro Conde de S. Miguel , por mercê deí-
Rey Dom Felippe o Quarto: calou a primeira vez com Dona Ifabel de Sá, filha
de Dom Francifco de Sa St Menezes, Conde de Penaguião , & de fua fegunda
mulher Dona Beatriz de Lima, que por morte de Nuno Alvarez Botelho cafou
com o dito Conde de Penaguião, St dellá não teve filhos: cafou feguda vez com
Dona Cecilia de Tavora,filha herdeira de Alvaro Pires de Tavora , Sc de fuá
mulher D. Ifabel de Caftro, de que teve, entre outros filhos, a
Alvaro jofeph Botelho de Tavora , que he fegundo Conde de S.Miguel,
Commendador de Santa Maria da Arruda, de S. Julião de Azurara, St S-Miguel
da Villa de Enreade, todas da Ordem de Chrifto,Cavalheiro muito entendido,
& adornado de grandes prendas-.cafou com Dona Antónia de Borbon , filha de
Dom Thomas de Noronha, Conde dos Arcos, Sc da Condeça Dona Magdalena
de Borbon, de que teve a Thomas Botelho de Tavora, Sc a Miguel Botelho.
Thomas Botelho de T avora he terceiro Conde de S. Miguel, St eftá cafá-
do com Dona Juliana de Alencaftre, filha da Marqueza de Unhaõ,Sc Aya de fuas
Altezas, St do Copeje de Unhão» .
A Commenda do ltrgarda Freixeda, que rende quarenta mil reis , he feu
Commendadot Francifco de Tavora, primeiro Conde de Alvor, Sc tem de nove
partes huma.
A Commenda do lugar de Villaverde rende cada anno quarenta mil reis: hc
feu Commendador Luiz Alvarez de Tavora, tem de nove partes huma.
A Commenda do lugar de Cedaes rende cada anno vinte Sc cinco mil reis,
por ter muitos encargos; he feu Commendador Dom Marcos de Noronha, Co-
de dos Arcos, tem de nove partes huma.
A Commenda do lugar de Val de Telhas rende cada anno trinta mil reis :
he feu Commendador Pedro Fernandes de Lemos, tem de nove partes huma-
A Commenda da Villa de Villas Boas defta Comarca he ramo deftas Com-
mendas, rende cada anno trinta mil reis , nuõtem de prefente Commendador;
tem de nove partes huma. Todas eftasCommendasfaõ do Padroado Real, Sc
da Ordem de Chrifto.
Tem eft a Villa cento Sc cincoenta vifinhos, Igreja Parochial, Sc Cafa de Mi-
fericordia, que ha poucos annosfe fundou na praça delia, de baftante edifício,
por eftar envelhecida a'antiga,que foy fundada no tempo deiRey Dom Manoel:
tem mais dez Ermidas, Sc fete fontes demais do rio , de cujas aguas também fs
aproveitão algumas noras para cultura das hortaliças, Sc pomares.

Luga-
45Ti TOMO PRIMEIRO

-Lugares do temo, que tocao a Feytoria da Filia, &■ pertencem

àsfeis Commendas delia.

M Ourei tem tres vifinhos, huma Ermida, & duas fontes: recolhe azeite,
& muito trigo. He tradição que eftelugar, ou quinta fora antigamente
povoação dos Mouros.
V al de Madeiro tem feis vifinhos, hiíma Ermida, & duas fontes : recolhe
osmefmos frutos.
Frexedinha tem quatro vifinhos, huma Ermida, & tres fontes: recolhe mo-
derado azeite, & pouco pão.
Choupim tem dous vifinhos, huma Ermida, & duas fontes : recolhe pou-
co pão, & tem muita caça.
S- Salvado tem oitenta vifinhos, Tgreja Parochial da aprefentação doRey-
tor da Villa,mais húa Ermida,& fete fontes:recolhe baílãte azeite,&. pouco pão.
Freixeda, nome de huma das Commendas da Villa , tem oitenta vifinhos,
Igreja Parochial da mefma aprefentação, mais huma Ermida, St dezafete fontes;
huma delias, que tem feu naíeimentono alto do monte do Concelho, he de agua
tam fria, que metendo dentro delia hum quarto de carneiro , lhe gaíla a carne
emefpaçode meyahora,deixandolhefó os oíTos,como já fe experimentou: re-
colhe pão, vinho, & azeite. junto a eíle lugar fevè hum monte , que ch a mão
Cabeço Figueiró, que tem certos buracos, & concavidades, que dizem os na-
turaes, forãonos tempos antigos minas de prata, & ainda perto de hum ribei-
ro fe vcm as ruínas de hum cafarão, aonde dizem, fe apurava, Sc fundia eílc me-
tal. Tambem junto a eíle lugar eilão veíligios de muralhas de duas povoaçoés,
que forão dos Mouros, huma delias chamada Val de Mouro , Sc outra o Mu-
rado.
Villa Verde, nome de huma das Commendasda Villa, tem cincoenta vifi-
nhos, Igreja Parochial da mefma aprefentação, mais huma Ermida , St oito fon-
tes : recolhe os mefmos frutos,que a Freixeda. Também junto a eíle lugar hou-
ve antigamente minas de prata, Sc perto delle he tradição haver também huma
povoaçaõ de Mouros, St ainda fe vem os veíligios.
Cedacs, nome de huma das Commendas da Villa, tem cem vifinhos / Igreja
Parochial da mefma aprefentação, mais quatro Ermidas, & fete fontes : reco-
lhe muito pão, vinho, St azeite.
Val de Lobo tem vinte Sc feis vifinhos , Igreja Parochial da mefma apre-
fentação, nenhuma Ermida, St feis fontes; recolhe muito pão.
Villaverdinho tem quatorze vifinhos, huma Ermida, & quatro fontes : re-
colhe muito pão.
Val de Telhas, nome de huma das Commendas da Villa, tem noventa vifi-
nhos, Igreja Parochial da mefma aprefentação, mais tres Ermidas.Sc dez fontes:
recolhe muito paõ, vinho, St azeite.
Val de Sardaõ tem oito vifinhos, huma Ermida, & quatro fontes.
Val de Salgueiro tem quarenta & oito vifinhos, duas Ermidas , & quatro
fontes : recolhe muito paõ, 8t vinho.
Barca tem oito vifinhos, huma Ermida, Sc cinco fontes : recolhe pouco
paõ, & vinho. Junto a eíla quinta corre o rio Mete,aonde tem ponte de canta-
ria de cinco arcos.
Chellas
DA'COROGRAFIA PO RTUGUF. 7. A. 45J
Chellas tem quarenta vifinhos]Igreja Parochial da mefma aprefentaçam ,
mais huma Ermida, St nenhuma fonte: í ervem-fe das aguas dos nos , recolhe
pouco paõ, vinho, Sc azeite. Efte lugar eftá ficuado em húa imminencia em for-
ma de penmfula entre os dous rios , Mente, ScTuella, que aqui fe ajuntão-

Lugares que toe ao a T^eytoria, & Commend a do lugar


de ÓXLafcarenbas.

M Afcarenhastem fetentavifinhos, & demais da Igreja Parochial tern tres


Ermidas,& nove fontes; he terra fádia,recolhe muito paõ,vinho,Sc azei-
te : he Rev tor ia da aprefentaçaó do Bifpo de Miranda, que rende cada anno cem
mil reis, & cabeça de huma Commenda da Ordem de Chrifto, que rende quatro-
centos mil reis, de que he Commendador D. Jorge Mafearenhas.
Valbom de Mafcarenhas tem vinte vifinhos, duas Ermidas , Sc cinco fon-
tes ; recolhe paõ, vinho, St azeite.
Valpereiro tem quinze vifinhos, duas Ermidas, & quatro fontes : recolhe
muito paõ: huma das Ermidas da invocação de Noffa Senhora do Vizo, he fre-
quentada de Romeiros, Sc tem Confraria de muitos Irmãos.
Paradella tem quarenta & tres vifinhos, tres Ermidas, & cinco fontes : re-
colhe paõ, vinho, & azeite.
Gurivanes temíeis vifinhos,humaErmida,St tres fontes : recolhe pouco
paõ, St azeite; junto a efte lugar corre o rio Tuelia.
Carválhaes tem quareta St cineo vifinhos, Igreja Parochial da aprefentaçaó
do Rey tor de Mafcarenhas, mais huma Ermida, Sc nenhuma fo te ; ufaõ das
aguas da ribeira: recolhe muito paõ, azeite,linho canhamo, frutas , & hor tali-
ças: junto a efte lugar pafía a ribeira Merce. ^
Villar de Ledra tem trinta vifinhos, igreja Parochial da mefmá aprefenta-
c aõ, mais huma Ermida, Sc cinco fontes: recolhe paõ-
V al de Couço tem doze vifinhos, huma Ermida, St quatro fontes: recolhe
paõ, vinho, Sc azeite.
V al dos Meoês tem feis vifinhos, huma Ermida, & tres fontes, obrafe nef-
te lugar louça de barro. • ■
Poufadas tem quinze vifinhos,IgrcjaParochial da mefma aprefentaçaó,mais
huma Ermida, feis fontes: recolhe muito paõ, Sc azeite.
Cabanellas tem cincoenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefenta-
çaó,mais huma Ermida, Sc feis fontes-. recolhe muito paõ, vinho, Sc azeite.
Val longo das Meadas tem dez vifinhos, huma Ermida, & quatro fontes.
VimieirotemvinteSccincovifinhos,humaErmida,Sc duas fontes : efte.
lugar he Freguefia do lugar de Romeo , termo da Villa de Cortiços deíla Com-
menda, a que tocao os dizimos.

Lugares que tocao a %eytoriaf &• Commenda de Aila*

A Lia tem cincoenta vifinhos , Sc demais da Tgrcja Parochial tem tres Fir
midas, Sc oito fontes: recolhe muito paõ, Sc vinho : he cabeça de huma
Commenda da Ordem de Chrifto do Padroado Real, de que foy Commendador"
Joa&
454 TOMO PRIMEIRO
Joaõ Fernandes Vieira., aííiíknte noEftado do Brafil , & hum dosprincipaes
inílrumentos da fua reftauraçaõ: rende cada anno trinta mil reis : he Reyto-
ria do mefmo Padroado Real, que renderá oitenta mil reis.
Chorenfe tem quatro vifinhos,huma Ermida A quatro fontes.
Carrapatinha tem dez vifinhos, huma Ermida, & duas fontes.
Mograõ tem dezafeis vifinhos, huma Ermida, & cinco fontes.
Brinco tem quarenta vifinhos, Igreja Parochial da aprefentaçao do Rey tor
do lugar de Aila, mais duas Ermidas, & cinco fontes: recolhe muitcApaõ, pou-
co vinho, & azeite.
Alvites tem fetenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentação,mais
tres Ermidas, & feis fontes: recolhe muito p aõ, vinho, & azeite.
Valdc Lagoa tem trinta õedous vifinhos, duas Ermidas , & quatro fon-
tcs.
Açorcira tem dous vifinhos, huma Ermida, & tres fontes.
Lama de Cavallo tem vinte vifinhos, huma Ermida, & tres fontes.
Avantos tem quarenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentação,
mais huma Ermida, 5c oito fontes: recolhe muito paõ, vinho,& azeite.

Lugares deíle termo, que toe ao d Commenda, &- %eytoria do lu-

gar de Bornes, termo da Cidade de Bragança. .

SAravellas tem fcíTenta vifinhos, Igreja Parochial, que aprefenta o Reytor


de Bornes, mais duas Ermidas, & feis fontes: recolhe paõ, vinho , &. caf-
!•
Sedainhos tem trinta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçao, ne-
nhuma Ermida, & cinco fontes -.recolhe paõ, vinho, & azeite.

Lugar que toca d Abbadia dos Frades de S. Jeronymo de Coim-

bra, de que he cabeça o lugar de Sutains termo de La-

mas de Orelhão.

Vllla-nova tem vinte & oito vifinhos Igreja Parochial da aprefenta-


ção do Vigário de Suzains, mais huma Ermida, Sctrcsfontes : he terra
fértil, recolhe muito paõ, pouco azeite, & tem grandes paílos.

Lugar que toca d Commenda,&- Bçytoria do lugar dos Valies,


termo da Filia de Chaves

COntins tem vinte vifinhos , Igreja Parochial da aprefentaçao do Rey tor


dos Valles, mais huma Ermida,& quatro fontes: recolhe muito paõ, baf-
tantevinbo,& azeite. Os dízimos rende trinta mil reis cada anno para o Co-
mendador dos Valies, que hc Duarte Teixeira Chaves; he lugar aprazivcl, com
leus arvoredos, & vinhas, & vifta do rio Tuella, que corre junto a elle.

Lvga»
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 455

Lugares que nejle termo toe ao a V igair aria de <Abambr es." ■'

ABambres tem noventa viíinhos , & demais da Igreja Parochial tem huma
Ermida, &cinco fontes: he Vigairariada apre tentação do Bifpo de Mi-
randa^ quem pertencem os dizimos deite lugar, & dos mais de fua Freguefia:
recolhe muito paõ, Sc azeite, Sc menos vinho ; corre junto a eíte lugar c rio

L L
V al de Juncal tem vinte Sc quatro vifinhos, huma Ermida, Sc tres fontes.
Val de Martinho tem trinta Sc dous vifinhos, huma Ermida, Sc tres fontes-
Cotas temíeis viíinhos, huma Ermida, Sc tres fontes: recolhe pouco pao,
& azeite: junto a eíte lugar corre o rio Tuella. . ■
Quintas tem dezafeis viíinhos, Igreja Parochial da apréfentação do Bifpo
de Miranda, a quem tocao os dízimos,ma is huma Ermida, Sc tres fontes. reco*
lhe poucppaõ, Sc azeite; coiyre junto a eíte lugar o no l ucila-

Luo-ares da Frem/iada Villa de Sè0ft fitos nefte .


U ^

YAl dcPradinhos tem vinte viíinhos, huma Ermida, & feis fontes de fref*
cas, delgadas, Sc criílalinas agoas; he da Freguefia da Vília de Sezulfe de-
ita Comarca, Sc pertencem os dizimos ao Bifpo de Miranda*
Car vas tem quatro viftnhos, huma Ermida,Sc tres fontes.
*■" / jBS * jpt * ■
í'ij • f% :Vc-A. • i* i
Lugar da Freguefia de Valçouvinhas termo da Villa

VAlbompetis tem doze viftnhos, huma Ermida, Sc tres fontes recolhe


paó, vinho, Sc azeite*

Lugares que tocao a Commenàa, &• jReitoria de%oTortó,


lugar do termo da Vdia de Chaves.

MIradezes tem vinte Sc quatro vifinhos, Igreja Parochial da aprefentaçáo


do Rey tor do lugar do Rio Torto termo da Villa de Chaves , nenhuma
Ermida, Sc quatro fontes: corre junto a cite lugar o rio Mente*
Val de Frexo tem feis vifinhos, huma Ermida, Sc tres fontes; he Freguefia
do lugar de Miradezes, Sc eítá também fituado junto ao rio Mente*
Ametade do lugar da Trindade , quanto à jurifdição, pertence ao termo
deita Villa, Sc a outra ametade ac termo de Vilia Flor, como ahi diremos ; Sc os
dizimos deite lugar tocaõao Convento de S. Bernardo de Bouro, como adiante
diremos.

CAP.
TOMO PRIMEIRO

CAP. XVI.

T)a Villa de Alfandega da VL

QUatro legoas daTorre de Moncorvo para o Norte no Arcebifpadode


Braga tem feuaflento a Villa de Alfandega daFè , de que he Donatário
de juro, & herdade o Marquez de Tavora, que nella tem de direitos Rcaes em
treze lugares dezoyto reis de cada morador, &nos lugares da ferra de Sandim
para o Poente quatro alqueires & quarta de cevada , & feis reis cada cafal , &
quando não pagão a cevada em fer,a fatisfazem a dinheiro pela eítimação de Vil-
ia Flor , por fer defannexado efleforo da Cafa do Donatário da mefma Villa
Flor, & nos outros feis lugares trinta & feis reis cada viíiniio, q tudoréde cada
anno cem mil reis: aprefenta todos os officios de Juíliça, excepto o de Efcrivão
dasSizas,quehe da mercê de Sua Magelfade-
Dizem feus moradores queeíla Villa fe chama da Fê, pela haver defendi-
do antigamente com valor contra os Árabes habitadores das terras vifinh as: na
cafa da Camara fe guardava grande quantidade de armas, peitos efpaldares, ef-
poras, &c. para fe armarem, quando havia occaíião de peleija, & dizem que ha-
verá cem annos fedesfizerão,ou reduzirão a íuílrumcntos ruílicosde cultivar
aterra.
Aindanclla íe vem as ruínas de hum Caílello, donde,dizem feusnaturaes,
fahião duzentos homens de cavallo de efporas douradas a defendella dos Ára-
bes : eílá fítuada çmknma immincncia, com que logra clima temperado: ElRcy
DomDinízlhedeu foral- TcmramifiasnoBresdeappellidoii , Sá, Machado,
Mefquita, Cabral, Pegado, Camello, Borralho, Soares, Taveyra , Cerveyra ,
Tello, Loução, Fontoura, Lobão, Efcovar, Macedo, com algumas cafas de baf-
tante edifício: afíim a Villa, como o feu termo recolhe muito pão, & azeite, me-
diano vinho, gados, & alguma caça, & nos lugares da ferra muita caílanha.
Affiílem ao feu governo civil dous Juizes ordinários, Vereadores com feus
Officiaes fubordinados ao Ouvidor de Mirandella, porque neífa Villa não entra
o Corregedor em Correição, por privilégios das doaçoens deíla Cafa j mais hú
j uiz dos Orfaós fogeito ao Provedop deíla Comarca com feus Officiaes. Ao mi-
litar hum Capitão mór,& hum Sargento mór, eleitos, a votos idos homens da
governança, a quem obedecem cinco Capitaens de cinco Companhias da Orde-
nança da Villa, & termo.
He eíla Villa cabeça de humaAbbadia do Padroado Real, que rende oi-
tocétos mil reis,& paga cento &feffenta de penfaõà Capella Real: té mais em
leu termo a Abbadia de Sambade, parte da Abbadia dos Frades de Bouro , & a
Commenda de Adeganha, como nos mcfmos lugares declararemos. Tem cen-
to & cincoenta vifínnos, & demais da Igreja Parochial, orago $. Pedro, tem Ça-
fa da Mifericordia, tres Ermidas, & dezafeis fontes.

Lugi-
DA COROGRAFIA P O RT U GUE ZAi 4 yz
»

Luparesy que tocao nesle termo a Abb adi a da VMà.

FErradoza tem trinta & cinco vifinhos / Igreja Parochial da aprefentaçãó


do Abbade da Villa, mais huma Ermida, & quatro fontes.
Picões tem vinte & fete viíinhps, huma Ermida, & ties fontes.
• Sereiaes té fetenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçãó, mais
huma Ermida, & nove fontes. . _ r

Sandim da Ribeira tem quarenta vifinhos,Igreja Parochial da mefma apre-


fentaçãó, mais huma Ermida, & quatro fontes^ c
Sârdaô tem vinte & dous vifinhos, huma Ermida, oc tres fontes.
Zacharias tem feis vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçãó , ne-.
"nhuma Ermida, & duas fontes.:-he lugar quente, & enfermo, & jiftito delle cor-
re huma ribeira,cjue ahi tem ponte decantaria de quatro arcos ; de Inverno
he caudelofa, Sc arrifeada,naícena ferra de Sambade , quechamao de Monte-
mcl, & defaguano rio Sabor perto do lugar dos Picoens; havendo corrido feis
legoas, não tem mais nome que a ribeira de bocharias. • .
Por cima defte lusar entra em fua ribeira outra,que nafeendo em flifterente
fonte no áíto da mefma fêrtà de Montemel , que chamão o Ladaino, termo dá
Villa de Caftro Vicente, & correndo pelo termo da V ília de Chacim, & conjun-
ta ao lugar de V alpereiro, vem a defaguar na ribeira de Zacharias, havendo cor-
rido quatro legoas. . .
CaíteUo tem nove vifinhos, huma Ermida-, & quatro fontes- -
Valverdetemfeffentavifinhos > Igreja Paroehial da mefma aprefentaçao,
ir.ais tres Ermidas, & dez fontes : liuma delias chamada a Fonte fanta, porque
fóem dia de S-- Joaó Bautifta lança agua, que ferve de remedio às maleitas , 6c a

F^TnaturaldefoúgãrÕTethrode Deos Frey Joa5 Hortelão , filho de per


bres, & humildes pays; a pobreza o levou ao lugar de Souto termo de Moncor-
vo, aortde fervio de paftor,tam devoto, que deixando o gado, todos os dias lua
ao luCTar ouvir Miífa, cravando o cajado em terra, donde o gado fe nao ataítava
atèvoltar, &pondolhefeuamo preceito deque não defacompanhaífe o gado,
expondoo aos affaltos das feras, ordenou aos barqueiros do rio Sabor que o
não paffaíTemna barca; mas elle facilitava a paífagem em fua pobre capa, icrvin-
dolhe de batel paranavegar as aguas do rio: conitou do prodígio ao ama, & de
que as ovelhas defemparadas não padecião dano, Sc cõtudo o defpedio, Sc fe pal-
iou à Villa de Ledefma, Reyno de Caftella, aonde já iervindo, já mendigando y
parou no Convento de Santa Marina, em que tomou o habito de leigo obicrva-
te, Sc mudando o nome de Pafcoal em Frey Joaõ Hortelão (por feu minifteno)
continuou fua vida exemplar, & virtuofamente rencomendandolhe o Guardião
que vigi afie os paífaros , quélhenãocomefiem as fementes das hortaliças, el-
le quando hia ouvir MiíTa,os deixava fechados na cafinha.juntoda horta , &
quando vinha, os foltava, & mandava bufear fua vida: dahi lhe deu obediência
para o Convento de Saíamanca, aonde perfeverou mais de quarenta annos, e*-
ercitandofe em adornar os Altares,efpecialméte o do Sacramento; foy nelie gra-
de a caridade com os pobres, muito penitente , 6c continuo na contemplação,
em que muitas vezes fearrebatava:teve fciencia infufa,efpirito profético,vivos
defejos,dc que fó a Deos fe honralíe: Amor meus Ie/us era o icu continuo fallar.
4j8 TOMO PRIMEIRO
& meditar-, de efmolas, que adquirio, fez cdjficarneila fua patria a Igreja Ma-
triz da Annunciada, ornandoa do neceffarío, & ainda hoje fe conferva nella húa
fermofa Cruz de prata, galhetas, òt outros ornamentos, algumas relíquias, en-
tre as quaes húa gota do fagrado ley te da Virgem Senhora no(Ta,& hum cabei-
lo de fua fagrada cabeça, ( afíim o diz a tradição) tudo dadivas fuas : foube o
dia de fua morte , & paífou a lograr o defeanço da eterna vida no anno de
*499- ' • *
Pombal, terra quente, & enferma, tem trinta & dousvifmhos, Igreja Pa:
rochialdaaprefentaçao do Abbade da Villa,mais humaErmida, & tres fontes,
huma delias ae agua quente emquelavão os meninos enfermos, que experimc-
tão melhora em feus males.
ValdasCordastemdousviíinhos,humaErmida,&humafonte ; foy al-
gum dia Parochia,& faltandolhe os moradores, fe arruinou a Igreja.
Villar de'eima tem dez viíinhos, duas Ermidas, & duas fontes.
Também tem eíla Abbadiaos dízimos do lugar de Villarchão, termo da
Villa de Caílro Vicente, como a feu tempo declararemos. *

Abbadia dos Frades do cBouro> &• lugares que ne jle

termo lhes tocao


• —

TEm os Religiofos de S. Bernardo do Real Convento do Bouro, íituado no


entre Douro, & Minho,vhuma Abbadia, par te no termo deíla Villa , &
parte no termo de Villa Flpr, aonde eftá o lugar cabeça delia; os que neite ter-
mo lhçs to<&Q>faó os íeguintes.
Villar debaixo tem quarenta &feis viíinhos, Igreja Parochial da aprefen-
tação do Dom Abbade de Bouro, mais duas Ermidas, & cinco fontes : he terra
quente, & tem frutas de efpinho..
Villarelhos,terra*quente, tem fetenta viíinhos Igreja Parochial damef-
majaprefentação, mais quatro Ermidas, & feis fontes.
Santa Jufta, terra quente, tem vinte & cinco viíinhos , Igreja Parochial da
meímaaprefentação, mais huma Ermida, & quatro fontes. Pelo meyo defte lu-
gar paífo huma ribeira de poucas aguas, que chamão Alvar , que nafee na ferra
de Montemel pela parte do lugar de Covellas, & paíTando junto da Villa de Al-
fandega, vem a eítc lugar, & defagua na ribeira Vellarva , havendo caminhado
quatro legoas.
Nuzellos tem dez viíinhos, huma Ermida, & tres fontes.
Ridevides tem quatro viíinhos, huma Ermida, & tres fontes. '•
Oucizia tem cincoenta viíinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentação,
mais duas Ermidas, & doze fontes : huma delias muy celebrada, que chamão
Agaicha, porque de hum tofeopenhafeo em íitio frefeo, ôcagradavel nafee húa
telha de excel lente agua, que ferve de regalo,aos moradores., & defertilidade
aos campos yifuihos. - . tó

Commen.
Sií • —nBT'-g •*?'

DA COROGRAFIA PORTUGtJÈZA. 4^

/ ■»
Commcnda de aJdcganha, &• lugares que nefte ter mo lhe tocáo.

ADeganha tem fetenta vifinhos, 5c demais da Matriz, tem três Ermidas, 6c


cinco fontes: he cabeça de humaCommenda da Ordem deChrifto do
Padroado Real, que rende livres cem mil reis, 6t algumas pitanças : a Rey toria
defte lugar he da aprefentaçãoda Mitra Primáz,6c rende feíTenta mil reis-Huma
das Ermidas da invocação cleNoffa Senhora doCafteilo he frequentada de de-
votos Romeiros.
Junqueira tem dezanove vifinhos, Igreja Parochial, que aprefenta oReyv
tor de A deganha, mais huma Ermida, 6c tres fontes: he terra quente, enferma;
& de ruins aguas; tem frutas de cfpinho : jintoaefte lugar corre a ribeira
Vellariça, 6c ahi tem ponte de cantaria lavrada com quatro arcos de boa arqui-
tectura. . ■
Cardenha tem oitenta vifinhos, Tgreja Parochial da mefma aprefentaçam,
mais.h uma Ermida, 6c oito fontes-
Gouvea tem cincoenta vifinhos,Tgreja Parochial da mefma aprefentaçãoi
mais duas Ermidas,Sc cinco fontes.
Cabreira tem doze vifinhos, huma Ermida, & quatro fontes.

Ahbadia de Sambade, &- lugares que lhe tocao nefle termo*

SAmbade cabeça de huma Abbàdia do Padroado Real , que rende novecen-


tos mil reis, tem duzentos vifinhos , 5c demais da Igreja Matriz tem tres
•Ermidas , 5c dez fontes X he terra fria, & de muitas neves, tem muita cafta*
ilha, 6c linho, asma-^ aqundancia, 6c recolhe muitas, 5c boas frutas-
Covellastem trinta vihnliOS, huma Ermida, & tres fontes : he ferra fria,
& recolhe muita caftanh a. »
Villa-nova tem vinte 5c oito vifinhos, duas Ermidas, huma delias dâ invo-
cação de S- Francifco, adminiftrão os Frades Trinos do lugar da Louza : tem
mais efte lugar feis fontes, he terra fria ,5c recolhe muita caftanha.
Eftes treslugaresproximos eftãofituados na fralda da ferra de Moníc-
mel; & he de notar,q fendo efta ferra das levantadas que fe fabem, no mais alto
delia fe colhe bom trigo; 5c geralmente toda ella" produz pão ,6c por efta caufa
não tem matos.
Valles tem quarenta 5c oito vifinhos, Igreja Parochial. que aprefenta o Ab
bade de Sambade, nenhuma Ermida, 6c cinco fontes.
Sandim da ferra tem cincoenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma apre-
íentação, mais tres Ermidas, 5c quatro fontes : huma das Ermidas, da invoca-
ção de N- Senhora de Jcrufalem, he frequentada de muitos devotos-
Ride cabras tem quatro vifinhos, huma Ermida, 6c duas fontes.
Colmeaes tem dez vifinhos, huma Ermida, ôc huma fonte. Tambem per-
tencem a efta Abbadiapsdizimos do lugar de Soeyma termo da Villa de Caf-
tro Vicente, como ahi diremos-
t

Qgi) CAP<
46o TOMO PRIMEIRO
+

CAP. XVII.

Da Villa de Cafiro Vicente*

Cinco legoas da Torre de Moncorvo para o Norte no Arcebifpado de


Braga eitá íituada eíia Villa , de que he Donatário de juro, ôc herdade o
Marquez de Tavora, ôc nella, ôc leu termo lhe pagão de foro , & direito Real
trinta ôc feis reis cada morador: aprefenta tedos os officios, ôc não entra nella
Viila o Corregedor em Correição por privilegio das doaçoens delia Cafa. hl-
Rey Dom Diniz lhe deu foral: he terra montuofa/ôc fria , recolhe muito pão,
vinho, pouco azeite,muitos pimentoens , quelevaõ a vender a varias partes
do Rey 110, em que fazem baíiantecommercio ;hefádia, ôc de boas aguas, abun-
dante de caças., coelhos, perdizes, lebres, ôc porcos montezes.
Delia Villa a pouca diíiãcia para a parte do rio Sabor em huma imminencia
fe vem os veiiigios de muralhas, Ôc baluartes de a rgamaffa, ôc pedra louzinha, a
que chamão Villa-Velha,ôc dizem que primeiro elieve ahi fundada eíia Villa,
donde fe transferiopara eíie novo íitto. He cabeça de Abbadia do Padroado
Real, que rende feifcctos mil reis,& paga duzentos de peníãõ à Capella Real.
Tem famílias nobres,de appellidos, Sa, Pinto, Aragão,Cabral, Moraes , ôc Ta-
veira. .
A ffiíiem ao feu governo civil dous Juizes ordinários, Vereadores , tom
Ceus Officiaes fubordinados ao Ouvidor da Villa deMirandella : mais hú Juiz
dos Órfãos com feus Officiaes fogeitos ao Provedor da Comarca- Ao militar
hum Capitão mor,.5c hum Sargento mór eleitos a voto dos homens da gover-
nança, a quem obedecem quatro Capitaens de quatro Companhias da Ordenan-
ça dâ Villa, ôc termo.
Os frutos delia Villa, ôc lugares de feu termo, & os dízimos Eccleliaíiicos
pertencem a cinco Abbadias, a laber, à Abbadia delia Villa, à de Agobrom, de
Chacim, de Alfandega, ôc Sambade.
Temelia Villa noventa vifmhos,ôcdemais da Igfeja,Parochial tem qua-
tro Ermidas, ôc vinte fontes.

Lugares que toe ao d Abbadia deíla Vill a,

POrraes tem dezafeis vilinhos,huma Ermida, & feis fontes.


Varges tem quatro vilinhos, huma Ermida, ôc três fontes-
Villar feco tem vinte vilinhos, huma Ermida, ôc cinco fontes.
Parada tem quarenta & oito vilinhos , Igreja Parochial que aprefenta o
Abbade da Villa, mais huma Ermida, & duas fontes: he terra muito provida de
peixes, que fe pefeão no no Sabor.
Saldanha tem quarenta vilinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçáo,
mais huma Ermida,& nove fontes: recolhe muitas cereijas.
Lagonha tem dezoito vifinhos„huma Ermida,ôc duas fontes.
Abbadia
DA COROGRAFJA i>ORTUGUEZA' 461
•.

oJbbadia de Agrobom, & lugares que Ik tocao.

AGrobom tem trinta &ifeisviSahos, he cabeça dehuma Abbadia do la-


droado Real- que rende duzentos & cmcoenta mil reis , & demais da
Igre,a Parochial da invocação de S. Miguel, tem duas trmidas, & feffenta fon-
tes deboas,ôccriftalinas aguas: recolhe muito azeite, & figos, tem criaçao de
bichos de leda. Junto aefte lugar íe ve hum cafarao arruinado , que dizem

f y C
° FdguèSs temdcz vifinhos, huma Ermida, & cinco fontes : recolhe at
guma caftanha, & tem criação de bichos de feda» 1
ValD^reiro tem cincoenta 8c oito vifinhos, Igreja Parochial da aprefenta-
cãodo Abbade de Agrobom, mais duas Ermidas, &feis fontes; recolhe muito
azeite, & figos, tem enaçãode bichos de feda,terra muito quente, & enferma,
& de ruins aguas, lugar rico»

Lugares quê nette termo tocao a Abbadía da Vdia de Cbacim.

GEbelim tem oitenta & dous vifinhos, Igreja Parochial da aprefentaçaõ do


Abbade da Villa de Chacim, mais duas Ermidas, & íete fontes: tem hum
ribeiro, que de Veraò lhe rega os campos -.recolhe muita caftanha, muito, & bo
linho gállego, pão,& vinho moderado-
Peredo tem cem vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçaõ , mais
tres Ermidas, & féis fontes; recolhe muita caftanha, he lugar pobre. ^ .
Lombo tejnfeffenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçao,fnais
duas Ermidas", Srrres-Éontes.

Lurar , que nefte termj toea


1
* da Fè.

VI liar chão tem oitenta & dous vifinhos , Igreja Parochial da aprefentaçaõ
do Abbade da Villa de Alfandega da Fé, mais duas Ermidas , & quatro
fontes; recolhe muito azeite, lugar rico.

Lugar que nejie termo toca d Abbadia de Sambade*

SOeyma tem feffenta & nove vifinhos ? Igreja Parochial dá aprefentaçaõ do


Abbade do lugar de Sambade, mais huma Ermida, & vinte fontes, fundado
em ferra fria, recolhe muita caftanha, pouco pão, nenhum azeite, muito vinho,
mas não he eftitnado-

Q^iij CAP.
4^2, TOMO PRJMEIRO

CAP. XVIII.

Das Fillas de que nefta Comarca he Donatário Luiz Quedes de


zSAdiranda &- Lima.

HE illuftre neíleRcyno, 8cmuito antiga a Caiados fenhores da Villa de


Murça,cujo appellidohe Guedes ; fuppoílo que Juavaroniale acabou,
entrou nella a dos Mirandas, não menos illuftre.
O Nobiliário do Conde Dom Pedro no titulo 30. dá principio a efla famí-
lia de Guedes em Dom Gueda o velho, cuja defcendencia vay continuando de
pays a filhos até Vafco Lourenço G uedes, em quem acaba o dito Nobiliário ; 8c
do dito Vafco Lourenço Guedes foy filho o feguinte.
Gonçalo Vafques Guedes, em quem o Nobiliário de Dom Antonio de Li-
ma dá principio a efta familia de Guedes; & diz q foy hú fidalgo Gallego, que
veyo aefteReynoaferviraElRey Dom joaõo Primeiro , oquallhedeuas ter-
ras de Lomba,& Val de paífo, 8c outras,que erão de Martim Gonçalves de Ataí-
de, o qual tornando aoferviçododito Rey, lhe reftituío fuas terras , 8c em lu-
gar delias deu ao dito Gonçalo Vafques Guedes as terras de Murça, Brunhais,
Agua revez, 8c Torre de Dona Chama,de juro, 8c herdade, que fe confer vão em
feus defeendentes; o qual, entreoutros, teve o filho feguinte.
Pedro Vafques Guedes, filho, 8c herdeiro defte Gonçalo Vafques Guedes
'acima, foy fenhor das Villas de Murça, Agua revez,& Dona Chama: 8c delle
foy filho o feguinte.
Gonçalo Vafques Guedes, que foy fenlior das Villas de Murça, Torre de
Dona Chama, 8c Agua revez, cafou com Dona Ifabel de Alvim, filha de Pero
de Soufa de Alvim,Alcayde mór de Bragança; 8c delles foy filho o feguinte, en-
tre outros.
Pedro Vaz Guedes, que foy fenhor das Villas de Murça , Torre de Dona
Chama, 8c Agua revez, cafou com DonaMaria de Mendoça Furtado , filha de
Affoníò Furtado de Mendoça, Annadel mór dos Befteiros, 8c Capitão mór do
Mar, 8c fenhor da Honra de Pccfrofo : 8c delles, entre outros, foy filho o fe-
guinte.
Simão Guedes de Mendoça, que andou muitos annos na índia, 8c foy Ca-
pitão de Chaul, 8c neíle Reyno foy fenhor das Villas de Murça, Torre de Dona
Chama, 8c Agua revez, 8c Veador da Rainha Dona Catherina: cafou com Dona
Elena de Mendoça, viuva de Diogo da Sylveira, 8< filha de Henrique de Soufa,
fenhor de Oliveira do bairro, Annadel mór dos Efpingardciros, 8c do Confelho
d.elRey Dom João o Terceiro :8c delles, entreoutros,, foy filho o feguinte.
Pedro Guedes de Mendoça,que veyo a herdar, 8c fer fenhor das Villas de
Murça, Agua revez, 8c Torre de Dona Chama, foy Governador da Relação do
Porto, Prefidente da Camera de Lisboa, Veador da Fazenda, 8c do Confelho de
EííadodelRey Dom Felippeo Segundo: cafou com Dona Luiza deTavora, fi-
lha de Francifco Tavares de Soufa, fenhor de Mira , 8c Commendador de Saó
Pedro
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 4^3
Pedro da Varzea da Ordem de Chrifto ; & fuppofto que o dito Pedro Guedes
teve tres filhos varoens,feextinguio afua defcendencia , Sc avaronia primo^
geuita defta Cafa, &nella veyo a fucceder a íua filha fcguinte.
Dona foanna de Tavora Guedes, filha deite Pedro Guedes de Medoça, foy
herdeira da Cafa de feu pay, como fica dito , Se fenhora das Villas de Murça,
A"ua revezj Sc Torre de DonaChamaxafoucom Luiz de Miranda Henriques ,
Eftribeiro môr dos Reys Dom Felippe Terceiro, & Quarto , Sc Dom loa Õ o
Quarto, Commendador de Cabeça de Vide , & Alter Pedrofo na Ordem de
A viz • era eíte fidal T0 defcendete por varonia daiUuftre iamiliados Mirandas,
Penhores do Morgado da Patameira, donde fe dividio efte illuftre ramo , que
trouxe fua varonia a efta Cafa de Murça: &delleSj entre outros ^ foy filho o íe-

Pedro Guedes de Miranda Henriques foy herdeiro das Cafas de feu pay,
Sc may, fenhor das Villas de Murça, Agua revez,& Torre de Dona Chama, Ef-
tribeiro mor delRey Dom joaó o Quarto, cc Commendador de Cabeça de \ ide,
Sc Alter Pedrofo: cafou com Dona Maria Jofepha de Mendoça , fill >3. de i edro
de Mendoça Furtado, Alcáydemór de Mourão, fenhor da Serageira , Guarda
mor da Peifoa delRey Dom Joa5 o Quarto , Sc hum dos principaes fidalgo.-, de
fua Acclamação: & delles foy filho o íeguinte.
Luiz Guedes de Miranda Sc Lima, fenhor das Villas de Murça., Agua r c-
vez,ScTorrede Dona Chama,Commendador deCabsça de Vide,Sc Alie. í c-
drofo, o qual cafou com Dona Maria Jofepha de Mendoça & Ataíde , filha oe
Nuno de Mendoça,fegundo Conde de Val dos Reys, Sc de fua mulher Dona
Luzia de Caftro,de quem tem a João Guedes de Miranda.

P. XIX.

2)^ f ilia de zSMurça de dPctnop.

NO Arcebifpado de Braga oito legoas da Torre de Moncorvo para ò


Poente té feu fitio a Villa de Murça de Panoya,deq he Donatário de juro,
& herdade Luiz Guedes de Miranda Sc Lima acima referido ,que nella, Sc feu
termo tem de foro de cada morador dous alqueires Sc meyo de centeyo,meyo de
tri«o, hum almudede vinho, Sc cincoenta Sc quatro reis em dinheiro, Sc tres ar-
ráteis de cera,Sc aprefenta todos os officios de Juft :ça , affim nefta Vília, aonde
tem feu Palacio, como nas duas mais, de que he fenhor nfcfta Comarca,Sc o Cor-
regedor delia entra ncllas em Correição- _
A efla Villa deu foral ElRey Oom João o Primeiro, que depois reformou
EIRey Dom Manoel cm Lisboa a 4.. de Mayo de m 12. logra bom clima, Sc fau-
daveis ares, com que feus moradores vivem muitas ánnos: he abundante de ex-
cellente trigo, centeyo, cevada, milho, feijoens, azeite, bom vinho, caílanha, Sc
muita caça me uda. Affim a V Illa, como os lugares de feu termo faõ mu; to pro-
vidos de carvão, Sc vay para quatro Concelhos confinantes para os officiaes.a
que toca o ufo delle em feus ofiicios, Sc para os particulares.
A ilidem ao feu governo civil hum Ouvidor, que o he também das mais ter-
iâH
^4 TOMO PRIMEIRO
rarfdoDonatariodefta Villa, dous Juizes ordinários, Vereadores , Juiz dos
Q.t aõs com feus Ofiiciaes. Ao militar hum Capitão mór , & hum Sargento
mór, eleitos a votos dos homens da governança, a que obedecem quatro Capi-
saens de quatro Companhias da Ordenança da Vília, & termo.
Tem muitas cafas de peífoas nobres,de appeilidos, Cabral, Ribeiro, Fon-
feca, Pinto, Carneiro, Cardofo, Vafconcellos, Azeredo, Machado , Teixeira,
Borges, Carvalho, Mefquita, Freitas, Soufas, Magalhaens , Barros , Soalhaes,
Sampayos, Moraes, b reyre, Andrade, Leitão, Caí Iro, Almeyda.
Eftá nefta Villa defronte da praça delia em pedra grande a fórma de hum
UíTo, cuja íignificação (dizem feus moradores ) he fer tam antiga a Cafa dos
Donatários defta Vília antes que os Mouros tiveffem o vencimento da batalha,
que ganharão aElRey D. Rodrigo nos campos deGuadalete no anno de 714..
& como os que efeapárão delia 1'e retirarão aGalliza, Afturias , & montanhas
de Burgos, fe fizerão os Mouros em oito mezes fenhores de toda Èfpanha; paf-
fados muitos annos os progenitores defta Cafa tornàrão a ganhar efta Villa , &
as duas,que mais tem nefta Comarca,(que dizem feus antepaífados tinhão) aos
Mouros , & fegundo a tradição no tempo delRey Dom Affonfo o Primeiro de
Caftella no anno de 75-7. & achando a terra povoada de UíTos , que deftruíão as
colmeas, fizerão delles montarias, & os matàrão, em cujo reconhecimento os
moradores, além dos foros de pão, vinho, & dinheiro atrás referidos , lhe pa-
gão os tresarrateis de cera emfatisfação do beneficio recebido : depois levan-
tarão gente paga à fua cufta para as guerras , & fe lhes fazia feu affento ao pé
deftc Ulío, com que ganhàrãonove Caftellos, que tem efte termo, -povoado,,
&; íuftentados pelos Mouros naquellc tempo.
Junto da Igreja de Santiago eftãonefta Villa humas oliveiras , que Ianção
hunndadc nos troncos a modo de rezina de Flandesjque o tem fabor de aífucar
cande ,&fecome, ficgoftacomo mefmo fabor, & perfeição que o aífucar tem;&
duvidandofe na Corte, foy neceíTario juíhficaríe, para abono do credito de q ué
o diífe, por tres certidoens dos três Tabeliaens públicos defta Villa, que as paf-
fárãonoannode í^y.&node 1680. duvidando difto o Donatário da Villa
foy peífoalmente ver, & examinar o íòbredito, & tornou, ao mefmo exame com
dous Padres da Companhia, & o feu Medico, & outras mais peffoas, aonde ar-
guírão renhidas queftoensfilofoficasfobrea cauía produ&iva: aílim o referem
feus naturaes.
Paífa pelo meyo do termo o rio Tinhella, que tem feu nafeimento nas ferras
de Carrazedo de Montenegro, termo da Villa de Chaves .-cria muitas, & boas
trutas, & mais peixe meudo; domina-o huma boa ponte de hum arco , aonde
vem dar as eftradas dos portos de mar da Provincia do Minho, com que he pro-
vida a V ilia de todo o peixe frefeo, & falgado: curfa o rio oito legoas , & def-
agua no rio Tua, que divide os limites dcfte termo dos da V illa de Anciães.
Os frutos dos dizimos defta Villa,& feu termo pertêcem ao Dõ Prior , &
Cabido da Igreja Collegiada de Guimaraens, &andão arrendados em tres mil
& duzentos &cincoenta cruzados livres; a Villa he Reytoria , aprefentação
do mefmo Dom Prior, & Cabido.
Tem hum Convento de Religiofas de S. Bento, que antes de o fer, fervia de
Hofpital, que os Donatários defta Villa tinhão, & a fuas inftancias com Bulias
Apoftolicas fe difpenfou foífe Mofteiro; & Simão Guedes , filho de Pedro Gue-
des,primeiro Governador que foy do Porto, dotou para o Mofteiro muitos fó
ros, cafas de Hofpedaria,& toda a pedra com que fe fizerão os dormitorios,& a-
Igreja,
DA COROGRAFIA PoRTUGUEZA: 465
Igreja, except o a Capella mor, que era ja de antes fuá, feita de abobe da, Sc boa
arquitectura., com hum Carneiro dos alicerces abaixo, que ferve de depofíto 'a
feus progenitores, St aífim dizem, faõ legítimos Padroeiros defte Mofteiro.
Tem efta Villa duzentos vifinhos, Sc demais da Igreja Matriz, & do Mof-
teiro tem cinco Ermidas, três do povO, & duas de particulares ; huma das do
povo da invocação de Santiago, foy antigamente Priorado, & Parochia, que fe
pafton para a Villa: tem oito fontes, tres de arco, & a principal, que chamão a
da Ramha, he demaíiadamente fria, St ferve a feus habitadores em lugar de ne-
ve para refrefear as bebidas*

Lugares de feu termo,

Flolhofo tem feíTenta vifinhos , Igreja Parochial da áprefentação do Doni


Prior, Sc Cabido da'Collegia da de Guimaraens, mais duas Ermidas,Sc oito
fontes: entre as quaes a que chamão da Pipa, he celebrada por fua frialdade, cõ
que em breve faz perder a fuftaucia ao vinho: outra que chamão a fonte do vi-
nho, he muy copiofa de agua, Sc delia fe régio muitas hortas ; 110 alto da ferra
tem, alem das o.to, outra fonte, que chamão da Barrozâ, com que fe rega a outra
parte do lugar, que eftá fundado em huma efpaçofa veiga, a hum lado do qual
íe vem as ruínas do primeiro Caftcllo por cima da referida ponte do rio Tinhel-
Laqhede amenos ares, vivem muito feus habitadores, produz bom linho,muito
pão, vinho, caftanha, frutas, Sc hortaliças.
<?adãval, que logra os mefmos ares, tem quarenta Sc íeis vifinhos, húa Er-
inicia, & fe*s fontes.
Populo tem vinte vifinhos, Igreja Parochial da mefmaaprefentação , mais
duas Ermidas, Sc feis tontes: defronte defte lugar eftà fundada huma das ditas
Ermidas da ^ Nt lift Senhora do Popuio, frequentada de^devotos.,
cuja Confraria palia de trSzelkos irmãos, 8c junto da Ermida fe vé o Caftello ,
que Antigamente chamavão o da Touça rota, com muros, cavas, foífos, Sc con-
t-ra-muros, já arruinado.
Eítrada tem doze vifinhos, huma Ermida, Sc humaboa fontes
Val de Cunho tem vinte Sc quatro.vifinhos, huma Ermida , Sc treâ fon-
tes-
Caldebois tem doze vifinhos, huma Ermida, Sc tres fontes,
v Val de Mil, que do feu Caftello a elle proximo tomou o nome , tem dez vi-
finhos, huma Ermida, Sc quatro fontes.
Caftorigo, que do feu Caiftilo tomou o nome, & eífá conjunta à primeira
muralha delle a Ermida de S. Bertholameu, tem doze vifinhos f mais outra Er-
mida, Sc três fontes.
Pegarinhps tem noventa vifinhos , Igreja Parochial da mefmaaprefenta-
ção, nenhuma Ermida, Sc oito fontes : produz muito pão, vinho , Sc cafta-
nha. .
Santa Eugenia tem noventa vifinhos, Igreja Parochial da mcfma aprefen-
tação, mais huma Ermida, Sc huma fonte : produz muito pão, vinho, & azei-
te. . *
Porraes, que do leu aftello da Porreira, a que eftá conjunto, tomou o no-
me, tem vinte Sc fete vifinhos, huma Ermida, Sc quatro fontes.
Sobreira tem quarerita vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçam,
ne-
A66 TOMO PRIMEIRO
nenhuma Ermida, & duas fontes 5 produz muito azeite, vinho, trigo, cevada
&fumagre. •
" , Candedo tem trinta & cinco vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprelem
tação, mais huma Ermida, & huma fonte > he regado todocom hú cano de agua,
& produz os mefmos frutos,que o da Sobreira.
Martim tem trinta vifinhos, huma Ermida, & tres fontes.
Mofebres tem quinze vifinhos,huma Ermida, & duas fontes: eftá ficuado
entre duas ribeiras. _ ■
Varges tem quinze vifinhos, húa Ermida, & hfia gricha de agua aífim cha-
mada, immediata a huma amena ribeira.
P alheiros tem vinte & cinco vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefen-
tação, duas fontes, & huma frequentada Ermida de Saõ Bertholameu junta ao
inexpugnável Caíteilo de Craftro : fica eík lugar nas fraldas da ferra dc Gar-
raya, aonde habitou Santa Comba, &: S. Leonardo , de quem falíamos na Villa
de Lamas dc Orelhão. I .
Salgeiros tem oito vifinhos , duas fontes, & huma Ermida bem fabricada,
affiftida de huma Confraria décentp& vinte Irmaõs.
Paredes temdezvifinhos, huma Ermida,& tres fontes.
Serapices na fralda da ferra té doze vifinhos, huma Ermida, & duas fon-.
tes; rega-ie, 6t he a agua ferrada.
Vallongo tem vinte & cincovifínhos, Igreja Parochial da mefma aprefen-
taçáo, nenhuma E rmida, & tres fontes; eíià fituaao entre duas ribeiras, que re-
gão os campos, & produzem grande quantidade de linho gallego. , ^
Noyra, que do Caílello, que eílá immediato a ella , tomou o ncjme , tem
quarenta & cinco vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçao, mais duas
Ermidas, & huma fonte. ( - -. j . •; M «Mi*
Sobredo,que tomou onome do leu Gallello, que lhefica defronte , tem
trinta & cinco vifinhos, huma Ermida, & duas fonteS. Entre cfte lugar, & o de
Noyra, que nos tempos antigos foy Vília, corre huma efpaçofa ribeira, que fer-
tiliza muito o íeu terreno-
Carvas tem dez vifinhos, huma Ermida, & duas fontes , huma delias de
particular bondade.
Ha mais outro Caílello, que chamão da Cidadonha.

CAP. XX.

T>a Villa da Vme de Dona Chama.

%
NOvc legoas ao Noroeíleda Torre de Moncorvo no Bifpado de Miranda
té feu aíTento efta Villa,de q he fenhor de juro,& herdade Luiz Guedes dc
Miranda & Lima, que tem os direitos Reaes , & lhe pagão em certos lugares
trinta & feis reis cada morador, &a&portagens: aprefenta todos os officios de
Juíliça, & fó entra ncífa Villa em Correição o Corregedor defta Comarca. El-
R cy Dom Diniz lhe deu foral.
' E ftá fituada cm huma campina algum tanto levantada junto da Villa, & em
huma
1
/
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA- tfr
huma imminenciafe vê huma torre quafi arruinada com veftigios de muralha
ao redor, que dizem os naturaes haver íido antigamente ahi V ilia , & que nella
morava huma fenhora chamada Dona Chamoa, de quem tomou o nome, & ainda
nos foraes antigos fe chama a Villa de Dona Chamoa , & pode ferfoffe cita fe-
nhora da Caía do Donatário defla villa, pois o Conde Dom Pedro r.ofeu Nobi-
liário titulo 3o. aonde trata da Genealogia de Dom Gomez Mendes Gedeão
(de quem diffemos procedem os fidalgos de appellidos Guedes) diz, foy caia-
do com Dona Chamòa Mendes, & no mefmo titulo faz menção de outra Doná
Chamòa caiada com Dom Pedro Gomes Barrofo , & de outros do mefmo no-
me. .
He terrà temperada, recolhe muito centeyo, pouco azeite , moderado vi-
nho, alguns gados, & medianas caças; terra falta de agua, ôç pouco fádia.
T cni a Villa, & termo famílias nobres de appellidos Moraes, Coelho, Lo-
bam, Soufa, Sâ, Vaz, Teixeira, Araujo, Loureiro, Meíquita, Faria, Borges ,
Andrade, Rofa, Botelho,Machado, & F erreira.
Affiílem a feu governo civil dous Juizes ordinários, V ereadores, Juiz dos
Orfaõs com feus Officiacs, & dous Tabeliaens. .
Quanto ao militar hum Capitão mór, & hum Sargento mór, eleitos a votos
dos homens da governança, a quem obedecem quatro Capitaens de quatro Cõ-
panhias da Ordenança da Villa, & termo.
Neila Villa fe vè também huma pedra do feitio de hum Uífo , cuja fignifi-
cação já referimos na Villa de Murça.
Õs dizimos,& frutos Ecclefíafticos defta Villa , & lugares de feu termo
pertencem ao Abbade de Guide, lugar deíle termo, & ao Commendador do lu-
gar de Aila, termo de Mirandella,6t em parte de alguns lugares em certa fórma
entra o Comendador da Villa de Algozo do Bifpado, & Comarca de Miranda,
da Religião de S. João do Hofpital de Jerufalem.
a Ip'i?p"yir4».11^ br pnnpy.i.a: da aprefentação do dito Abbade deGui-
de.
Tem efta Villa fetenta&feisvifinhos , & demais da Igreja Parochial tem
dua s Ermidas, & duas fontes.
|
Lugares de feu terno com as me]mas calidades, &• frutos da

Villa* Os que pertencem d Jbbadia de Çuidejaõ


osjeguintes*

GUide tem quarenta & cinco viíinhos , cabeça de huma Abbadia da apre-
fentação do Bifpo de Miranda, que rende feifeentos mil reis , & demais
da Igreja Matriz tem huma Ermida, & duas fontes: terra quente, muito enfer-
ma, fundada nas margens do rioTuella, que nafee em Galliza, & junto com ou-
tros rios paífa pela Villa de Mirandella, como ahi diffemos ; nefte lugar hc rio
mediano com o nomedeTuella.
Também feavifinha a eftepovo huma ribeira,q chamão dos Villar es , de
poucas aguas, que junto a cílc lugar deiagua no rio Tuella.
Ferradoza tem vinte & cinco vifijihos, huma Ermida, & humâ fonte.
Regadeiro tem oito vifinhos, Igreja Parochial da aprefentação do Abbade
de Guide, nenhuma Ermida, & duas fontes.
Val
^68 TOMO PRIMEIRO
Val de prados tem vinte Sc cinco viíinhos , Igreja Parochial da mefma
aprefentação, nenhuma Ermida, 8c huma fonte.
S Pedro Velho tem oitenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefen-
tação, mais duas Ermidas, 8c feis fontes.
Fradizella tem feífenta & quatro vifinhos,Igreja Parochial da mefma apre-
Tentação, mais huma Ermida, 8c treS fontes.
Valgouvinhastem trinta 8c cinco vifinhos , Igreja Parochial da mefma
aprefentaçãq, mais tres Ermidas, 8c duas fontes.
Villardouro tem vinte Sc cinco vifinhos, huma Ermida,& duas fontes.
. Ervedeira tem quatro vifinhos,huma Ermida, & huma fonte.
Argana tem treze vifinhos, huma Ermida, 8c huma fonte.
Lama longa tem trinta & nove vifinhos , Igreja Parochial da meímâ apre-
fentação, mais huma Ermida,8cduas fontes.
Gandariças tem cinco vifinhos, huma Ermida, 8c huma fonte-
Valmayor tem dezafeis vifinhos, huma Ermida, & huma fonte.
Ribeirinha tem vinte vifinhos, huma Ermida, & huma fonte-
V illa-nova tem vinte 8c fete vifinhos, huma Ermida>& duas fontes.
Fornos tem vinte Sc fete vifinhos , Igreja Parochial da mefma aprefenta-
ção, nenhuma Ermida, & tres fontes.
Mofteiró tem feis vifinhos, huma Ermida, Sc duas fontes, Sc o rio Tuelía,
de que bebem-
* Coiços tem dezoito vifinhos, huma Ermida, Sc huma fonte.

Lugares que neste termo tocao à TLytona

" de Aila.

METÍestcm trinta vifinhos , Igreja Parochial da apresentação do Reytor


do lugar de Aila, termo de Mirandella, mais huma Ermida, Sc duas fon-
tes. .
Villares tem quinze vifinhos , Igreja Parochial da mefma aprefentação,
mais huma Ermida, Sc tres fontes. •
Seixo tem quatro vifinhos, huma Ermida, 8c huma foritfc. .
Murias tem vinte 8c dous vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefenta-
ção, mais duas Ermidas, 8c duas fontes.
Ponte de pè tem tres vifinhos, humaJErmida, Sc huma fonte.

CAP. XXI.

T)a Fília de <iAgua reve%.

NCve legoas da Torre de Moncorvo para o Poente eílá fituada a Villa de


Agua revez, de que he Donatário de juro, 8c herdade Luiz Quedes de
Miranda 8c Lima, que nella aprefenta todos os officios : he do Arcebifpado de
Braga, da Vigairaria, 8c Comarca da Villa de Chaves; o fcuclimahe quente, Sc
enfer-
.•...•.•.v''1.--.. iwr iiifcríiMr rr^-r-i'- T I - <5

DA COROGR'AFIA PORTUGUEZA; 46?


enfermo, recolhe muito azeite , pão, vinho, poucos gados , & medianas Caças*
Tem huma Cafa nobre do appellido Sampayo, & Cunha -i cftá também nefta
V illa huma pedra com a fórma de hum Uífo, como nas outras duas Villas defte
Donatário, cuja fignificação já explicamos na Villa de Murça.
Aífiftem ao feu governocivi!*dous Juizes ordinários , que também fer-
vem de Juizes dos Orfaõs, V ereadores com feus Oífieiaes fubordinados ao Ou-
vidor da Villa de Murça, & fomente em Correição entra nefta Villa o Correge-
dor defta Comarca. Ao militar hum Capitão de huma Companhia da Ordenan-
ça da Villa, &c termo, que não eftá fogeito a algum Capitão mór.
Defta Villa, & lugares de feu termo fe compoemhuma fó Freguezia , cuja
Igreja he da invocação de S. Bertholameu, Abbadiaéa aprefentação da Cafa de
Bragança, que rende cento & feffenta mil reis cada anno- Tem oitenta viíinhos,.
& demais da Igreja Parochial tem duas Ermidas, & cinco fontes-
As fizas deita Villa , & feu termo pertencem ao ramo da Villa de Chaves,
aonde os executa o Almoxarife da Torre de Moncorvo.

Lufares de feu termo com as mefnas calidades, &■ frutos


da Villa.'
Rimhais tem dezafeis viíinhos, huma Ehnida, & duas fontes.
B Fonte merce tem quinze viíinhos, huma Ermida, & duas fontes.
Brunhainhos tçm cinco viíinhos, nenhuma Ermida, & tres fontes.

XXII.

Das Villas de que nefla Comarca he fenhor Francifco de


Sampayo de FAdello O* Caftro.
He antiga, & iliuftre nefte Reyno a Cafa dos fenhores de Villa Flor , que
teve principio em Vafco Peres de Sampayo, que foy hum fidalgo muito
honrado em tempo dos Reys Dom Fernando, & Dom João o Primeiro, que lhe
fizerão mercê das Villas de Chacim, & Villa Flor , & outras, de que fez dous
Morgados, hum para o primeiro filho , em quem fe continuou a defcendencia
dos fenhores de Villa Flor, ôcoutro no filho fegundo com o fenhorio das Villas
de Anciães, & Villarinho da Caftanheira,& a varonia defte fegundo filho fe aca-
bou, fuppoftofe conferva a fua defcendencia por femeas : he de prefente o fe-
nhor da Cafa de Villa Flor fenhor de feis Villas nefta Comarca , que abaixo fe
hão de declarar, & da Villa de Bempofta na Comarca de Miranda, & da Villa de .
Parada de Pinhão na Comarca de Villa Real , Alcayde mór da Torre de Mon-
corvo,'fenhor dos foros, & direitos Reaes delia, & dos daVilla de Freixo de •
Efpadacinta,como jà diífemos,^ chefe defta illuftre,4c antiga familia dcSãpayo: ♦
cafou o dit^Vafco Peres de Sãpayof cõforme hu Nobiliário defte Revno) cõ D.
Maria, ou Genebra Pereyra filha de D-Alvaro Pereyra,fegúdo Marichal de Por-
tugal;porèm hu memorial antigo,q fe cõferva no archivo dos fenhores defta Ca-
fa diz,que elle cafãra com Domingas Paes, fenhora de grande calidade, & muito
** ^ " * Rr rica,
47° TOMO PRIMEIRO
rica, & herdada noíugar de Sampayo, de que parece era íenhora: ôc delles, en-
tre outros, foy filho o feguinte-
Fcrnão Vaz de Sampayo,filho primeiro defteVaíco Peçes de Sampayo,foy
fegundo fenhor da Cafa de Villa Flor ,&das mais Villas de feu cíiado : cafou
com Dona Senhoreza Pereyra, de quem teve ò filho feguinte.
Vafco Fernandes de Sampayo, filho primeiro defte,foy terceiro fenhor da
Cafa de Villa Flor, 6c das mais Villas de feu eftado: cafou com Dona Mecia de
Mello, filha de Vafco Martins de Melio, Ôc delles, entre outros, foy filho o fe-
guinte*
Fernão Vaz de Sampayo,filho primeiro deíle , foy quarto fenhor da Cafa
de Villa Flor, ôc das mais Wlas de feu eftado : cafou com Dona Leonor de Tá-
vora, filha de Pedro Lourenço de Tavora, fenhor do Mogadouro : & delles, en-
tre outros, forão filhos Manoel de Sampayo, que foy quinto fenhor da Cafa de
Vília Flor, & das mais.Villas de feu eftado, Ôc cafou com Dona Maria de Abreu,
6c por nam ter filhos, paíTou efta Gaíaafeuíobrinho, filho de feu irmão fecun-
do Antonio de Mello de Sampayo, quefefegiic.
Antonio de Mello dè Sampayo, filho fegundo de Fernão Vaz de Sampavo,
fegundodo nome,&quarto ienhpr da Cafa de Villa Flor, não fuccedeo nefta
Cafa, por falecer em vida de Manoel de Sampayo feu irmão mais velho, mas foy
Commendador de Rio Torto na Ordem de Chrifto: cafou com Dona Mar ia cíc
Noronha, filha de Dom Bernardim dc Almeyda , ôc delles forão filhos os fe-
guintes.

■ de Mellode
nio /??£> ^ az de.Sampayo,terceiro
Sampayo acima,fuccedeo nado nome,
Cafa & filho
de Villa primeiro
Flor defle
por morte deAnto-
leu tio Manoel de Sampayo,ôcfby'kx to fenhor defta Cafa, 6c das mais Villas de
leu eirado; & por não ter filho,, fucçedeo nella, 6c foy feu herdeiro feu irmão
P ranciíco de Mello de Sampayo, que hc-ofçguir.te.
^ TráPOTco deMelloac Sampayo,irmãodefte Fernao Vair de Sampayo pro-
ximo acima, & filho quarto de Antonio de Mello de Sampayo, 6c de fua mulher
Dona Maria de Noronha acima nomeados, luccedeo nefta Cafa a feu irmaõ mais
velho, 6c foy fetimofenhor de Villa Flor, Ôc das mais Villas de feu eftado • cafou
com Dona Antónia da Sylva, que foy fua primeira mulher , filha de Febo Mo-
niz, 6c delles, entre outros, foy filhooféguinte-
Manoel de S ampayo, filho, 6c herdeiro defte, foy oitavo fenhor daCafade
Villa Flor, 6ç das mais Villas de feu eftado , 6c Commendador da Ordem de
Chrifto: cafou com Dona Felippa de Caftro, filha de Chriftovaõluzarte :6c del-
les, entre outros, foy filho o fc -uinte.
anc co
vil
Villa^
Flor ^ Sampayo,
, 6c das filhode
mais Villas primeiro defte
ku eftado, , foy nono
F romeiro fenhor
emlrás da Cafa de
os Montes,&
G< vernador das Armas da mefma Provincia: cãfou com Dona Luiza Moniz fi-
lha dc F ebo Moniz , & por cila herdou a Capella de Noffa Senhora da Piedade

mo uc
I hcRíe^uint Císboa, & o Morgado a ella annexo: & delles foy fi-
Manoel de SfflnpayodeMello&CaflrOjlilhoprimeiro , & herdeiro defte,
he decimo fenhor da CafaáefViila Flor, & das mais Villas de feu citado : cafou
C na mnna L zii
iGufa, 6c dellesTfoy% « >* Tavora, filha de Joaõ de *ldanha dc
filho Júnico o feguinte.
Çaftro, he undecimó fenhor da Cafa de
V lor, 6c das mais A illas de leu eftado: cafou com Dona jeronyma de Bor-

bon,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZ A. 471
bon,filha de Dom Antonio de Almcyda, fegundo Conde de Avintes, Sc de fua
mulhe r Dona Maria Antónia de Borbon-

m&aim

CAP. XXIII.

Da Villa de Vdla Flor*

TRes legoas ao Nornoroefte da Torre de Moncorvo tem feu affento cila


Villa, de que he fenhordejuro,& herdade Manoel de Sampayo de Mello
St Caftro, Sc nella aprefénta os officios de Tabeliacs, 8c Alcayde, St fomente poí
Correição entra nella o Corregedor deft a Comarca \ pagão-lhe de foros , & di-
reitos Reaes da Villa, 6c termo cada morador quatro alqueires, & quarta de ce-
vada, St doze reis em dinheiro, que tudo importa cada anno duzentos mil reis.
Antigamente le chamou Povoa dalém do Sabor, cujo nome (dizem feus mora-
dores ) lhe mudou EIRey Dom Diniz confirmando o foral velho, mandandoa
murar com o débil, Sc antigo muro, que ainda a cerca com quatro portas.
He do A rccbifpado de Braga, & tem por Armas huma Flor de Liz por alu-
zao de feu nome, & as Armas Reaes ; masna Calada Camara leve hum efcuc o
com cinco Aguietas, que ferião antigamente ou Armas da Villa, ou do mais
antigo Donatário, como o forão os do appellido Aguilares , q no tempo del-
Rey "Dom João o Primeiro feguírão as partes de Caftella , Stporiffo lhes foy
tirada a Villa, & dada aos fidalgos do appellido Sampayo.
EÍU fundada na fralda de huma ferra, que lhe impede o vento Norte, mas
A* 1-.1 hp de bons ares, St ladia. Foy em algum
tempo mayor, & mais ridâ povoação, porque os muitos homens dírnação Hc^
brea, q ue a habitavão, a fazião mais populofa, St com feus tratos , St commer-
ciosa enriquecião,&aoprefentecõaiuaaufenciafe achaõ arruinadas muitas
cafas. Tem familias nobres de appellidos Montez, Sil, Machado , Azevedo,
Moraes, Pereira, Seixas, Lemos, Meirelles,Coelho,Borges,Pinto.
v' Heabundantede pão, vinho, azeite , St alguns annos recolhe dez milal-
mudes de vinho, tem muitas frutas, algunslegumes, Sc gados, o que diílo lhe
fobeja tem a mefma fahida , que os mais frutos da Comarca : tem medianas
caças metidas- Ainda hoje tem algum trato , St commercio de Mercadores de
logea, tenda, St couramas.
Affiílem ao feu governo civil hum Ouvidor , que o he de todas as terras
defta Cafa, aprefentado pelo Donatário delia, dous ] uizes ordinários , Verea-
dores, St Juiz dos Orfaõs com feus Officiacs. Ao militar hum Capitão mór , St
hum Sargento mór, eleitos a votos dos homens da governança ,que ofaõ tam-
bém das Villas de Frechas, Villasboas, St Sampayo, aos quaes em Villa Flor, Sc
feu termo obedecem quatro Capitaens de quatro Companhias da Ordenança
deíla Villa, St feu termo, St mais tresCapitaens de tres Companhias das tres
Villas de Villasboas, Frechas, St Sampayo-
He eíla Villa Cabeça de Abbadia do Padroado Real , que rende^ mais de
dous giil cruzados, St paga duzentos mil reis de penfaõ à Capella Real Tem
trezentos vifinhos, St demais da Igreja Parochial, St Cafa de Mifericordia, tem
Rrij doze
471 TOMO PRIMEIRO
doze Ermidas, & dez fontes, huma delias a principal, de que fe ferve a V illa,dc
boa arquitectura, & muita abundancia de agua.

Lugares quetocao a Abbadia da Villa.

ROyos tem oy tenta vifinhos, Igreja Parochial da aprefentaçao do Abbade


da Villa, mais huma Ermida, & duas fontes: he abundante de aguas de re-
ga, produz muita cebola, muito azeite, bafhtnte pão, & vinho , muito linho, &
algumas frutas. . .
Nabo tem quarenta vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçao, mais
duasErmidás, & huma fonte: recolhe bail ante azeite.
Arco tem vinte vifinhos,duas Ermidas,& huma fonte de boa agua.

Lugares quetocao à Abbadia dos Frades Ler nardos do

Convento de Bouro.

S Anta Comba he cabeça de huma Abbadia de fete Igrejas ficas no termo de-
lia Villa, & da Villa de Alfandega da Fê, (como já ahi dilfemos) cujos dí-
zimos pertencem aos Religíofos deS. Bernardo do Real Convento do'Bouro na
Província do Minho, que rende fetecentos & cincoenta mil reis cada anno ;
conílaõ os frutos delias de muito azeite, baílante paõ, algum vinho, Sc linhos:
eíle lugar he Vigayraria confirmada da aprefentaçao do Dom Abbade do mef-
mo Convento, tem cento Sc doze vifinhos , St demais da Igreja Parochial tem
quatro Ermidas, Sc quatro fontes: recolhe muito azeite.
Bcrnlhevay Femfeffcmãviíinhos,Igreja Parochial dame ma aprefentaçao.,
mais tres Ermidas, & oito fontes: he lugar frefeo, òc abundante de aguas.
Trindade tem oito vifinhos, Igreja Parochial da mefma aprefentaçao , ne-
nhuma Ermida,& huma fonte; a Igreja he fumptuofa,dizem fora dos Templá-
rios -.ametadedeíle lugar quanto à jurifdiçaõfecular he termo da Villa deMi-
randella- . \
Val bom tem trinta vifinhos, huma Ermida, & duas fontes : recolhe muito
azeite.
Macedo tem vinte vifinhos, duas Ermidas, & duas fontes, & hum ribeiro,
que rega todo o lugar; junto a elle eíiá huma ferra toda cavada, St furada, & he
tradição, que antigamente houve ahi minas, naõfefabe de que metal, & fe pre-
fume ferem as que prohibe a Ordenação em Trás os Montes.

aAbbadia de VA freebofo. - •

VAI frechofo tem cincocta vifinhos, Igreja Parochial, & Abbadia da apre-
fentaçao da Mitra Primaz, que rende cem mil reis, mais huma Ermida, &
tres fontes; recolhe paõ, vinho, Sc azeite-

• Lugar
DA COROGRAFIA PORTUGÚE2A. 473

Lugar que toca a Commenda,&-cReytom da Villa daT'errc


de ^Moncorvo,

*1 T Ide tem vinte & cinco vífinhos, Igreja Parochial da aprefentaçãó do Rey-
V tor da Villa da Torre de Moncorvo , cujos dízimos pertencem àCom-
menda delia; mais huma Ermida, & huma fonte: recolhe pão, & azeite, & pou-
co vinho»

Lugares que tocaoa Comenda de FrexieL

SAmocs temcincoentavifinhos , Igreja Parochial da aptefentação do Com-


mendador da Villa de Frexiel da Religião de S. João de Malta, que he ramo
da Comenda de Poyares,( como já diíTemosja quem também pertencem os dízi-
mos defte luaar, mais duas Ermidas,& tres fontes: he abundante de pão» ^
Candozotem feffentavifinhos , Igreja Parochial da meíma aprefentacao,
mais duas Ermidas,& tres fõtes: os dízimos faõ da mefma Comenda. Entre eite
lu°ar,&ode Samoéseftá hum fitioque chamãodosBarreiros, que foy lugar
deite termo , & ha tradição que junto a elle houve antigamente huma grande
batalha entre Portugal, & Caítella,em que ficàrão vencedores os Portuguezes,
& no caminho eftá huma fonte, que chamão das Mitalmas, que antigamente de-
via chamarfe das muitas almas,aliudindo a eíta batalha-
Açares rem quarenta & oito viíinhos, Igreja Parochial da meíma apreien-
tacão, mais duas Ermidas, & duas fontes •. faõ os moradores cafeiros da Reli-
oáo de ria mefma Commenda^ recolhe muito.azeite. ,
&
SantoEítevãotemdezafeisvifínhos,huma Ermida,&duãs"fõntes: ifaõos
moradores cafeiros da Religião de Malta, & os dizimos da mefma Comtoènda*

CAP. XXIV.

Da Filia de Cbacim.

S Eteíe?oasda Villa da Torre de MÓcorvo para apartedoXorte noBifpado


de Miranda eítá íituada a V illa de Chacim, de quehe Donatário de juro , &
herdade o fenhor de Villa Flor , que nella.aprefenta os dous officios deTabe-
liaens, & Efcrivaens dos Orfaós, & fomente entra nella em Correição o Corre- •
oedordefi Comarca- Deu foral a efta Villa Fernão Mendes Cogominho , que
de Trás os Montes , por fer frefeo de

Verão, & abundante de boas aguaS, que correm pela Villa, & feus campos a re-
oar os frutos, & entrão em todas as cafas da V illa, excepto huma, ou duas.
* Tem loaeas, & tendas de Mercadores, & fe contrata em feda, & courámas,
i. 474 TOMO PRIMEIRO
que tudo a faz rica. Recolhe pão, vinho, azeite, linho gall ego, alguns gados ,&
Vi caças meudas, poucas frutas• pudera haver muitas,em razão de bons chaõs,fif-
tios accõmodados para ellas, capazes de fe regarem. •
Corre por feu limite o rio Azibo de medianas aguas , que tem feu princi-
pio junto ao lugar de Podenfe, termo de B ragança, & correndo fete legoas, def-
agua no rio Sabor por cima da Pontè do lugar de Romondes nos confins da V il-
ia de Craífo Vicente.
Aíliftem a feu governo civil dous Juizes ordinários, que o faõ também dos
Orfaõs , Vereadores com feus OiEciaes fubordinados ao Ouvidor de Villa
Flor.
Quanto ao militar, hum Capitão mór, eleito a voto dos homens da gover-
nança, a quem obedece hum Capitão de huma Companhia da Ordenança d a Vil-
la, & termo.
Tem familiasnobres de appellidos Pacheco, Fonfeca, Tavares, Arruda,
Sá, Craílo, Tello, Moraes, Mefquita,Filino, Ferreira.
He cabeça de huma Abbadia da apfefentação do Donatário defta Villa,
que rende quinhentos mil reis, & lhe pertencem os dízimos delia , & dos luga-
res de feu termo.
Tem cento &fefTenta& nove viíinhos, & demais da Tgreja Parochial tem
cinco Ermidas, & trinta & cinto fontes, além da grande copia de aguas,que bai-
xão da ferra, com que fe regão todos os campos, como temos dito.
Huma das referidas Ermidas da invocação de MoíTa Senhora deBalfamão
junto ao rio Azibo, dizem haver íido mefquita de Mouros, & diífo ha veftigios
em algumas ruínas junto a ella, aonde fe vè hum poço, 5c concavidade, que di-
zem temcommunicação como mefmorio 5 neítaErmida ha huma Confraria
geral de cem Clérigos 3 he frequentada de Romeiros, tem Ermitão apresentado
pela Camara.

Lugares de feu termo quafi cornai mfmas calidades}&

frutos da Filia.

OLgas he huma quinta da Freguefia da ViUa, tem cinco vifuihos, huma Er-
mida, & huma fonte.
Olmos tem emeoenta & cinco viíinhos , Igreja Parochial da aprefentação
do Abbade da Vília, mais tres Ermidas, & quinze fontes, huma delias, que cha-
mão do Gogo no efcarlido tem aguas medicinaes , que fazem fio como clara
de ovo, & nella fe lavão alguns enfermos , que experimentaõ melhora em feus
açhaques.

CAP.
DA COROG.RAFIA PORTUGUEZA* 475:
' ♦

: -'Â /tf\ //is. />»\/«*>\/J


r^s - *£ /&& VÂ f£k SftaKSlR2K ^ s*~ /»»"•* ' , N

CAP. XXV.

T>a Villa de Villasboas.

QUatro le°oas da Torre de Moncorvo para o Norte tem feu aifento Villas-
boas do Arcebifpado de Braga,Villa defta Comarca,de que he Donatano
_ _ herdade o fenhor da Cafa de Villa Flor ,q nellaaprefenta os officios
de Tabelião , & tem a terça parte dos dízimos Ecclefiafticos por antiquiílima
coftume; entra nella o Corregedor defta Comarca fomente por Correição.
He de clima temperado, recolhe baftante pao, vinho, 8c azeite, poucas ru-
tas, alguns gados, Sc medianas caças. ElRey Dom Affonfo o Quarto lhe deu
£ |
013
Afliftemafeu governo civil dous Juizes ordinários , Vereadores com
feus Oíficiaes fubordhiados ao Ouvidor de Villa Flor. , O Juiz dos Orfaõ s de
Villa Flor o he também de Víllasboas. ,
Quanto ao militar tem hum Capitão dehumaCopanhia da Ordenança da
Villa, & termofubordinado ao Capitão mor de Villa Flor.
Tem famiiias nobres de appellidos Villasboas, Macedo, 8c Borges.
He a Igreja Matriz Vigayraria adnutumdaapreientaçao do Reytor de V -
randella, 8c os dizimos pertence hum terço ao Uluftriílimo ArcebTpo Prim<*z>
outro ao fenhor defta Villa, como já diffemos; outro a hum dos Comnrendado-
res da Villyje Mi randella, que o vulgo chamaa Com atenda dos nove ladroes,

COIT1
Tem efta Villa cento 8c quarenta 8c cinco viíinhos, 8c demais da Igreja Pa-
rochial tem cinco Ermidas , quatro fontes, & dous tanques t huma das Ermi-
das da invocação deNoffa Senhora da Affumpçao fica pouco dift ate da V-illa ^co-
roando a imminència de hum monte, 8c de quatro, ou cinco annosacíta parte
tem obrado muitos milagres nos Romeiros, que com pia devoção em numeroto
concurfo frequentão aquella devota Cafa.

Lugares de feu termo:

Arzeda da Freguefia da Villa tem quatro vifinhos, huma Ermida, Ôc huma


£
S
Mei relies Freguefia da Villa tem doze vifinhos, huma Ermida, 8c tres foiv
tes muito caudebfaSa da viiia de Frexieltem vinte & cinco vifinhos,huma Er-

mlda
^a"^^g Azenhas tem trinta viíitíhos , 8c demais da Igreja Paro-
chial tem duas Ermidas, 8c tres fontes, 8c huma delias tam caudelofa, que todo
o anuo corre delia hum 4go de agua por erte lugar: a Igreja heVigairaria con-
firmada da aprefentação do Reytor do lugar dos Valles termo> daVilla de Cha-
ves, cujos dizimos feriai tem pela terça do ArcebifpaPnmáz , &PelamCe^a
4 76 TOMO PRIMEIRO
merrda do mefmqjugar dos Valles , de que he Commendador Duarte ^Teixeira
Chaves da mefma V ília: eftâ o lugar fundado nas margens do rio Tua , terra
baixa, calmofa, & enferma.

CAP. XXVI.

1 Da Filia de Frechas.

Cinco legoas da Torre de Moncorvo para o Norte no Arcebifpado de Bra-


ga tem feu aíTento a Villa de Frechas, de que he Donatário de juro,& her-
dade o fenhor da Cafa de V illa Flor, que nella aprefenta o officio de Tabelião ,
& tem o oitavo do azeite, & mais frutos , que le recolhem em certas rerra§ de
feu limite 5 entra nella em Correição o Corregedor defta Comarca. Lourenço
Soares lhe deu foral, que reformou depois ElRey Dom Manoel.
Eftá fundada para o Nafcente nas ribeiras do rio Tua, que de V erão deixa
vadearfe, fendo que de Inverno he hum caudelofo rio, cuja paffagem fr anqueão
algumas barcas: para o lado do Sul corre huma ribeira, que perde o pouco no-
me, & aguas, q tem, entrando no Tua junto daVilla. He terra muitocalida, &
pouco fádia, recolhe pão, muito azeite, pouco vinho, alguns gados , & caças
meudas.
Affiftem ao feu governo civil dous Juizes ordinários, que também fervem
dos Orfaõs, Vereadores com feus Officiaes fubordinados ao Ouvidor de Villa
Flor- Ao militar hum Capitão de huma Companhia da Ordenança da V illa , &
termOiIu.bgrdinado aoCapitão mor de V illa F lor.
Tem Igreja Parochial da aprefentaçao do Rey tor do lugar de Rio Torto,
termo da V illa de Chaves , que he cabeça de huma Commenda da Ordem de
Chriíjo do Padroado Real, q anda na cafa dos Condes de S. Lourenço. Tem
cemviíinhos, tres Ermidas,&nenhuma fonte; bebem do rio Tua ,& dcVerão
de algumas fontes, que rebentão nos areaes, a que chamão Frieiras.

Lugar de íeu termo.

VAidafancha, Freguefia da Villa,com as mefmas calidades, & fruto s delia,


tem trinta viíinhos, duas Ermidas, & duas fontes.

CAP. XXVII.

Da Filia de zFWós.

Uas legoas & meya para o Poente da Torre de Moncorvo roArcdbifpâ


JL J do de Braga eftâ fundada a Villa de Mós, de que he Donatário de juro, &
herdade o mefmo fenhor de V illa Flor, que nella aprefenta hum officio de Efcri-
^ ' " VãO,
DA COROGRAFIA P ORTUGUE2A. 4^
vão, em que ànda encorporado o de Tabei ião, dos Orfaõs, da Camara , & A li
motaçaria. Pagaõ-fea efte Donatárionefta Villa, & feu termo os foros, & di-
reitos Reaes, cada morador dous alqueires, & meya quarta de cevada , & feis
reis, que tudo importa cada anno quarenta mil reis liyres.
Tem também hum preftimonio da terça parte dos dízimos, com que além
defta Villa,que he cabeça delle,entra no lugar de Caraviçães de feu termo , &
nos lugares de Urros, Peredo, Maçòres, Souto, & Fclgar do termo da Villa de
Moncorvo, que rende cada anno trezentos & feffenta mil reis livres, & de tem-
pos antigos anda annexoao Morgado defta Cafa.
ElRey Dom Affonfo o Terceiro deu foral a efta Villa, na qual entra em Cor:
teição o Corregedor defta Comarca. He terra temperada, recolhe muito pão,
pouco vinho, ót menos azeite: tem muita caça meuda,& porcos montezes, em
razão dos dilatados montes de feu limite , "&dôsvifinhos;tem também gran-
de quantidade de cabras. .
Aífiftem ao feu governo civil dous Juizes ordinários, que também o faõ
dos Orfaõs, Vereadores comfeusOfíiciaes fubordinados ao Ouvidor de Villa
Flor. Ao militar tem de prefentehum Sargento mór,& hum Capitão de humâ
Companhia da Ordenança da Villa, & termo.
He cabeça de huma Abbadia do Padroado Real, que rende cada annó tre-
zentos mil reis. Tem noventa viíínhos, & demais da Igreja Parochial tem qua-
tro Ermidas, &. feis fontes: huma delias, que chamão do Gogo, que fica em feu
limite, he medicinal, & em dia de S. João Bautifta levão os meninos a lavar nel-
la, daidolhe certo banho, & fuores, & affegura a experienciâ que ou logo Iogrão
melhoria em feus achaques, ou brevemente morrem; & também nellafe lavão
peífoasmayores combomfucceíToem fuasenfermidades;8the denotar, que
iançandoeftafonteno difeurfodoanno moderada agua , pela meya noite da
vefpora do dia de S. João começa a lançar em grande quantidade , & afíim con-
tinua todõTT3??rr----«L^_
Nefta Villa fevê quáfi hum arruinado Caftello com fua ciftêrha détro dei-
le, que moftra fer a Villa antigamente povoação de mai s conta, & diífo fe jadtão
feus moradores,dizedo fer tradição,q nos feculospaífados ahabitavão,& guar-
necião feu Caftello muitos, & valcrofos Cavalleiros de efporas douradas , Sc
q de huma vez o fenhor da Villa, ou por tyrannia, ou por caftigo mandàra ma-
tar no rnefmo Caftello quarenta deftes Cavalleiros de efporas douradas'; 8c em
alguma fórma concorda efta tradição com a oração, que fez a ElRey Dom João
o Terceiro Lopo Vaz de Sampayo , como a traz João de Barros nas fuas Déca-
das.
Junto a efta Villa corre huma ribeira, chamada a ribeira de Mós, em que
fecrião peixes meudos de particular gofto, de que lhes refulta lingular eftima-
ção: he de poucas aguas, corre fomente tres, oU quatro legoas, atè defaguar no
rio Douro : hum quarto delegoada Villa , tem ponte de tres arcos dej pedrá
louzinha.

Lugar de Jeu temo»


* K

CAraviçaes tem duzentos & cincoentavifinhos, Igreja Parochial da apre-


íentação do Abbade da Villa, mais duas Ermidas,& tres fontes: he abun-
dante de pão, & quantidade de ovelhas; obrafe nelle ferro em paftas que^e
478 TOMO PRIMEIRO
acha em mineraes junto do lugar, de quefe fazem inílrumentos, com quecul-
tivão a terra; tem matos de pinho, Sc carvalho, & muita caça meuda, & porcos
montezes. • (

C A P. XXVIII.

La Villa de Sampayo.

TRes legoas da Torre de Moncorvo para o Norte no Arcebifpado de Braga


temfeuaíTentoa Villa de Sampayo, que vulgarmente chamão a Honra de
Sampayo, de que he Donatário de juro,& herdade o mefmo fenhor da Cafa de
Villa Flor: he Solar delia illuflre familia , & ainda ao prclente fe vè nella hum
arruinado edifício, cuja antiguidade fe reípeita por habitação dos progenitores
delia Cafa: aprefenta os officios de Efcrivão da Camara, Almotaçaria, Orfaõs,
& Tabelião, & fomente por Correição entra nella Villa o Corregedor delta Co-
marca.
He terra muito quente, pouco fádia, & de ruins aguas, recolhe muito azei-
te, & trigo, algum vinho, melões, linho canhamo, alguns gados , & medianas
caças.
Aífiílem ao feu governo civil dóus Juizes ordinários , Vereadores cõ fcus
Officials fubordinados ao Ouvidor de Villa Flor. O Juiz dos Orfaõs de Villa
I lor o he também de Sampayo. Quanto ao militar tem hum Capitão de huma
Companhia da Ordenança da Villa>& termo fubordinado ao Capitão mór de
Villa FÍorT
Tem Igreja Parochial da aprefentação do Abbade de Villa Flor , a qué
pertencem ametade dos dizimos,& a outra ametade ao Commendador de Ade-
ganha- Tem oitenta vifínhos, duas fontes , & demais da Igreja Parochial tem
duas Ermidas, hõa delias da invocação de N- Senhora daRofa , em íitio immi-
nente aos areaes da Vellariça: he frequentada de devotos Romeiros , & tem
Ermitão aprefentado pela Camara.

Lugar de feu termo.

LOdoes, terra quente, & pouco fádia, tem feífenta vifínhos , Igreja Paro-
chial da aprefentação do Abbade de Villa Flor, a quem pertencem os dí-
zimos, mais huma Ermida: recolhe os mefmo frutos,que a Villa , & tem duas
fontes de ruins aguas.

TRA:
, r. ,T«..

■ y

DA COROGRAFIA PORTUGUEZÀ; 479

TRATADO li-

Da Comarca da Cidade de dJVLiranda. '

/ CAP. I.

J)a defcnpçao dejla Cidade.

A latitucí de 41 • graos, 1 f .mirtutos, & nalógitud de 1 f-graos>


18- minutos, fobre crefpos,ot f ragofos penhafcos tem feu fitio a
nobre Cidade de Miranda do Douro , affim chamada, por eftar
junto defte rio,que pela parte do Nafcente atèo Me?o d a a di-
vide do Rey node Caítella,6c a todo o Bifp ido atè a Villa deBé-
pofla,ultimolugardelle pela parte do Sul: corre efte'rio precipi-
tado com violcncia por terra muy afpera, 6c tem aqui hum porco, cm que anda
huma barca no Inverno, tarn perigofo, que muitas vezes tem iuccedido levala
o rio. junto aefte porto eftá o penedo amarelo, celebre pela grandeza, & pelo
intracftavel. . . . . •
Chamoufe antigamenteeíia Cidade Scpontia, Paramicá, & Contium , ou
Contia, a qual era huma limitada Aldeã, que b.lRey Dom Dipiz fez Villa a 7. de
Setembro de i ao 7. com grandc'S lórosjjk pr^lçgiçjs , .que inda hojelogrãò
feus moradores. ElR?i l>mi oTerceiro a ennobreceo com titulo de Ci-
dade, & confcguio do Papa Paulo Terceiro a erecção do novo Bifpado, que nel-
la fe fundou com Sé Cathedral, fepafandoa, & as terras de feu Bifpado da fua
' Mcrropoli a Primáz das Efpanhas- O feu tlima he muito frio de Inverno , &
demaíiadamente quente de Verão ; tanto,que vulgarmente fe diz que nellaha
nove mezes de Inverno , 6c tres de inferno : he cercada de muros anti-
gos de pedra com tres portas, tem bom Caftelío com arteíharia , obra dei Rey
D*. Diniz,de que faõ Alcaydes móres de muitos annos a eira pat te os illuílres
Marquezcs de Tavora: tem mais entre o Norte, 6c Nafcente hum forte de obra
cornea contíguo àCidade.
Goza de voto em Cortes com affento no banco quarto, 6c tem por A rmas
húm Caftelío com tres torres, 6c fobre a do meyo huma meya Lua com as por.
tas para baixo: tem duzentos 6c çincoenta viíinhos compeffoas nobres de ap-
pcílidos Ferreira, Sarmento, Carvalho, Alvares, Suppieo, Macedo, Pimentel
Buiças, Pinto, Ordazes, Campo, Efcoyar: recolhe pão, vinho, 6c gadps, de .que
abunda toda cfta Comarca-
A Parochia antiga defta Cidade fe intitulava Santa Maria,6c era Commenda
rendofa da Ordem de Chrifto, da qual defiftio EIRey Dom João o Terceiro, pa-
ra que o Summo Pontífice applicaífeíeus bens à nova Cathedral, obra moderna,
6c fiunptuofa de tres naves,que matukf^fazcr o dito Rey Dom João o Tcrcciro;
6c aílímdaquellcs bens,como de outros muitos,que lhe accrefcèrão por ref-
peito
/

4?o TOMO PRIMEIRO


peito da união do Moíheiro de Caíhro de Avelãs, de que também deíiíhio o Car-
deal Don» Henrique feu Commcndatario, refultou ogroffo da Mefa EpifcopaL
& Capitular. . .
T em cila Cathedral, única Parochia da Cidade, fete Dignidades, a faber,
hum Deão, que aprefenta o Bifpo com faculdade Real : eíle ha de fer Bacharel
erp Cânones pela Univeríidade de Coimbra; tem duas Prebendas x que rendem
mil cruzados: hum Chantre , Meíhre-efcola fu mado pela Univeríidade em
Theologia, ou Meíhre em Artes: Thefoureiro mór, Arcediago da Sè, Arcedia-
go de Bragança , çous Conegos Dodoraes Bacharéis pela Univeríidade de
Coimbra,doys Magifhraes Theologos;os Meftresem Artes tem obrigação de
pregar os Sermoens da Taboa da Sé, eíhes dous, & o Meíhrc-cfcola ; mais fete
Conegos inteiros,íeis meyos,& oitoÇapellaés,&feis Moços db Còro,cõhubõ
Palacio dos Bifpos, & dentro delle hum Collegio, da invocação de S. Jofcph, cõ
doze Collegiaes, hum Reytor, Vice-Rey tor, Sc hum Meíire de Grammatica, o
qual reedificou o Illufhriífimo fenhor Dom jofeph de Alçncaílre, fendo Bifpo
deíla Cidade,cujo Bifpado rende hoje dezanovp mil Cruzados.-
Ti em mais eíha Cidade Cafa de Mifericordia com Hofpital dentro dos mu-
ros, huma Capella da Santa Cruz, & outra de S.FelippeNerbaoiide fe guarda
com veneração hum dente defte Santo : fora dos muros p ira o J^afcente tem
huma Ermida de Noífa Senhora do Boni Succeffo, & outra d . :t;aifa Catherina-
& para o Poente tem eíhas Ermidas, o Efpirito Santo, S.joão, S. Luzia, S.Caie-
tano, St S. Pelayo:dentro da Cidade não ha fontes, as mais das cafas tem poços:
fora dos muros tem as fontes feguintes,a da T erronha para o Nafcctc,a da Ara-
da para o Sul, Sc duas em Villarinhopara oPoSte-São annexas à Cidade a quin-
ta do Palancar com quatro viíinhos, Vafdaguia com oito , Val-do Carro com
dous, Sc a Refega cóm hum.
AíTiftcm ao feu governo civjlhum Corregedor, Provedor, & Juiz defóra ,
ti es Vereadores^ hum Efcnvaõ da Cain a fajhíi n i T ro cu r a do r do Concelho,dous
AImotaceis,hmnJuiz dos Grfaõs de propriedade, data da Camara , Sc confir-
maçaõ delRey, quatro Efcrivaens do Judiciai, & Notas , hum Meirinho'da Ci-
dade, quenomea o Alcaydc mór ,*hum Eicnvaõ das Achadas com feu Meiri-
nho, outro Meirinho da Correiçam edm quatro homens de vara, dous Efcrivaes
da Correiçaõ,& dous dos Orfaõs: tem mais hua Alfandega com feus Officiaes.
Ao militar lhe affifhehu Governador com duas Companhias pagas, que perten-
cem ao Terço de Bragança, com feus Officiaes , & hum Sarmento mór da Orde-
nança com quatro Companhias da Cidade,& feu termo-
Tem eíha Cidade no feu termo vinte Sc cinco lugares, Sc a cerca pela parte
do Oriente a{è o Sul o rio Douro, Sc pela banda do Occídente o rio Frefno, que
tem huma ponte de pedra lavrada, Sc junto delia huma fonte, cuja'agua vem por
í. uns áicos defdc o íicio^ cjuç cham&o Villarinho* O leu Biípado tem vinte &
duas legoas de comprido , que fe contaõ da Cidade de Miranda até a Villa de
.Monforte, ultimo lugar delle para o Poente; Sc de largo dez de Norte a Sul, que
ie contaõ da Cidade de Buagança até a Villa de Mirandclla. Pela parte do NaC
cento confina com o Bifpado de Çamorâ^ pela do Sul na Villa da Bempofta com
o Bifpado de Salamanca, pela do Nórte de Bragança ate Vinhaes com os Bifpa-
dos de Santiago, Leaõ, St Aírorga, Reyno de Ca ihcila , Sc pela parte do Poente
defde Monforte, Mirandella, 8c Mogadouro com o Arccbiípado de Braga.
Dividefe eíhe Bifpado em cinca Vararias, ou Acipreíhados ^ que faõ a
Vigairariade Aro, a de Bragança, o Acipreíhadó de Monforte, odeMirãdella,

O
DA COROGRAFIA PORTU GUEZA. 48*
& o do Lampacas, & tem trezentos & vinte & quatro lugares* A Yigaira ria
de Aro tem dez Abbâdias, & quatro Commendas, huma de Malta , <1 ties da
Ordem de Chrifto * temfeffenta & oito Parochias. A Vigairana de Bragança
?/mcmfo"&hTaParochiaS. O Aciprríladodc Monforte tc quarc.uaft
huma O Acipreftado de Miranddla tem quarenta & oito. O Acipreftado de
Lampacis tc trinta & feis , com que todo efte Bifpado tem trezentas & quator-
zcT|rejas Patochiacs. Os Bifpos,quetemhav>doate oprefcnte , faoos fe-

ÊUln
Dom Toribio Lopes, Efmoler da Rainha Dona Catherina, Varão de mui-
tas letras, & conhecida virtude. _ „
Dom Rodrigo dc Carvalho, ou Dom Rui Lopes de Carvalho.

Dom Julião de Alva, Confeffor da mefma Rainha, que fora Bifpo de Porta-

' ^ Dom Antonio Pinheiro, que depois foy Bifpo de: Leiria.

, Deão da Capella

^Ca^Dom°Db^odeSmía"que'depoisfby Arcebifpo deEvora.


Dom Tofeph de Mello, que também foy Arcebifpo de Évora.
Dom Jeronymo Teixeira, natural de Lamego,que antes foraBifpo de An-

13
riom Tnãn da rama, irmão do quarto Conde da Vidigueira* _. .
Dom Frey Francifco Pereira, ReUgiofo dos Eremitas deSato Agoftinho,
irmão de Pedro Alvarez Pereira, Secretario, & do Cr°nfc^^ ^' àt -
Dom Frey João de ValLadares, Religiofo da mefma Ordem , que depois

f0> B
Dom Jorge de Mello, que depois foy Bifpo de Coimbra.

DomFrey Jofe^^fmratire?Rdigiofo do Carmo, que depoisfoy Bif-


Romana.1"1 Alen-

EtanFrcyLourenço deCaftro,Rdigiofo da Ordem de S. Domingos, an-

tCS B
Do°mFrAcyiAntoniode Santa Maria, Frade: Capucho da Província de San-
to Antonio,natural da Villa de Britiande,que fora BilpoCortczao,& Deão da
CaPC
D Manoel de Moura Manoel, que antes fora Inquifidor em Coimbra, do

C
°nDom Jo^o F^i^oToUv^raoque foy drAngoh, depois Arcebifpo

d 1 Ba
' osí^gMls,B&^uefi^quê-tem a Cidade de Mirada no feuj termo,

í
^° a Cercio^ Abbadia da Mitra, que rende quinhentos mil reis*
Villachaã da Barciofa, Abbadia do Padroado Real, que rende quatrocentos
*1
Freixiofaheannexa à Abbadia de Villachaã da Barciofa. _
Sendim, Abbadia alternativa, que aprefentaõ o Bifpo, & Malta, rende tre.
zentos mil reis-
Picote he annexa a Abbadia de Sendim-
4^ TOMO PRIMEIRO
Duas Igrejas, Abbadia da Mitra.
Palaçoulo, Reytoria do Bifpo, &. Commenda de Chrííio-
Pradogatão he annexa à Reytoria de Palaçoulo.
Aguas vivas he também annexa à Reytoria de Palaçoulo.
Malhadas, Curado que aprelenta o Cabido.
Villar feco, Abbadia da Mitra.
Genizio, Abbadia da Mitra, que rende duzentos mil reis.
CaíTarelhos, Abbadia da Mitra, que rende quinhentos mil reis.
Eípeciofa he annexa à Abbadia de Genizio.
S. Martinho, Abbadia do Bifpo, que rende cento & cincoenta mil reis.
Avellanofo, Abbadia do Padroado Real, que rende duzentos mil reis.
Ilanes, Reytoria da Mitra.
Conítantim, Vigairaria da Mitra.'
Sicouro, Abbadia do Padroado Real , que rende duzentos & cincoenta
mil reis.
Aldeã nova, Commenda de Chriíto,he annexa àReytoria de Ifanes.
Paradella he annexa à Abbadia de Genizio.
Povoa, Curado que aprefenta o Cabbido.
Fonte de Aldeã he annexa à Abbadia de Villachaãda Barciofa.
Angueira he annexa á Reytoria de Palaçoulo, & tem a Commenda de Saõ
Cipriano de Angueira da Ordem de Chriílo, de que he Commendador o Cõde
da Ericeira, rende quinhentos & quarenta mil reis.

Das Villas de JlgQfy, Frieyra}Sao Seris, & ^bordainhos.

QUatro legoas ao Oesfudueíte da Cidade de Miranda te feu afTento aVilIa


de Algozo,edificada para o Naícete junto ao rio Angueira,ficãdolhe para
o t'oue o rio de MaçansiElRey D. Affoníò o V. lhe deu foral por ícntença: tem
2 yo» viíinhos com peífoas nobres de appellido , Gama, Moraes , Machados,
Pimenteis, Ferreiras,Sarmentos , os quaesfe comprehendemem huma Igreja
Parochial, Reytoria que aprefentão alternative o Bifpo, òt Commendador de
Malta. Tcmhumaltiflimo Caílello,&para o Poente huma Ermida de S. João
Bautiíla com huma fonte de admirável virtude parador de olhos, & varias en-
fermidades, aonde na noite deite Santo,& mais dias do anno concorrem muitos
enfermos a banharfe, experimentando logo melhoria em feus achaques. Para a
parte do Norte tem hum Hofpicio dos Padres da Congregação do Oratorio, em
que rcfide hum Padre, por não terem rendas para feu fuítento.
Tem eíta Villa hum Juiz de fóra, que o he também dos Orfaõs, Vereadores,
hum Procurador do Concelho, hum Elcriv ao da Camara,outro dos Orfaõs,tres
Tabehaens, hum Meirinho, & hum Capitão n.cr, que nomea a Camara. He do
Bifpado , & Provedoria de Miranda , & tem no feu termo os lugares feguin-
D D
tes.
Avinho, Igreja Parochial annexa à Rey toria de Algozo.
Ma-
BHBaW

DA COROGRAPIA PORTUGUEZAi 483


Matelaj,Igreja Parochial, annexa à mefma Reytoria.
junqueira, Igreja Parochial annexa a mefma Rey toria»
Val ferto, Igreja Parochial annexa àmefma Reytoria.
Mora, Igreja Parochial annexa à mefma Reytoria.
Urea, Igreja Parochial annexa à meíma Reytoria.
Val de Algozo, Igreja Parochial annexa à mefma Reytoria.
Urros he annexa à Abbadiade Sendim, termo da Cidade de Miranda.
Travanca, Abbadia alternativa do Bifpo,& Malta, que rende cento & vin
te mil reis.
Tenor, Igreja Parochial annexa à Abbadia de Travanca;
Teixeira, Igreja Parochial annexa à mefma Abbadia de Travanca.
Gregos, & Granja de Gregos, Igreja Parochial annexa à mefma Abbadia.
Saldanha, annexa também à Abbadia de Travanca.
Figueira, Igreja Parochial annexa à mefma Abbadia de Travanca.
S.Pedro da Sylva, Abbadia do Bifpo,&Malta, que rende cento & feífenta
mil reis.
Granja de S.Pedro, Igreja Parochial annexa à Abbadia de Saõ Pedro dá
Sylva» ^ <
Villachaa da Ribeira, Igreja Parochial annexa à mefma Abbadia de S. Pe-
dro da Sylva.
Fonte ladrão, Igreja Paroehial annexa à mefma Abbadia.
A Villa deFrieyra fica feislegoas de Miranda,para a parte do Norte:tem
cento & vinte vifinhos com huma Igreja Paroehial , Reytoria queaprefenta 0
Cabido da Sè de Miranda; he da Coroa, & lhe deu foral EIRey Dom Diniz: en-
tra nclla em Correição o Corregedor de Miranda, de cuja Provedoria he.
A Villa de Saõ Seris tem cem vifinhos com huma Igreja Parochial, Reyto-
ria do meímoC abido: El Rey Dom Diniz lhe deu foral , & entra nella em Cor-
reição o Corregedw<itíJS/Liranda, de cuja Provedoria he.
A Villa de Rebordaínhos diíla oito legoas de Miranda para a parte doNor-
tc :he da Coroa, tem fetenta vifinhos comhúa Igreja Parochial, confirmação
do Bifpo de Miranda,de cuja Provedoria he,& entra nella em Correição o Cor-
regedor deíla Comarca»

CAP. III.

T>a Villa de Vinhaesi

TReze legoas ao Nornoroeíle da Cidade de Miranda, quatro da de Br^pã-


çapara o Poente, & cinco da Villa de Monforte de Rio livre para o
cente, entre huns outeiros do monte, que chámão Ciradelha, que banha o Río
Mente, eiláfituada a Villa de Vmhaes,á qual deu foral EIRey Dom Aífonfo o
Terceiro no anno de 1262- mandandoa povoar em hum valle , cercadode mui-
tas vinhas, donde tomou o nome: he cercada de muros com duas portas ,huma
para o Norte, & outra para o Sul , & tem hum forte Caftello com duas torres,
que mandou fazer EIRey Dom Diniz. Tem cento & cincoenta vifinhos com
Ss ij pelfoas
4$4 ' TOMO PRIMEIRO
peffoas nobres do appellido, Moraes, Sarmentos ,,Marizes, Ferreiras, Sylvas>
Amarac , Dourados, os quaes fe dividem em duas Freguefias huma dentro
dos muros dedicada a NoíTa Senhora da Afíumpção , Abbadia do Padroado
Real, que rende quinhentos mil reis, & outra da invocação de S. Fagundo fo-
ra dellesnos Bairros,Curado annexoà dita Abbadia- Tem mais Cafa de Mi-
fericordia, Hofpital, hum Convento de Freyras Francifcanas, fogeito aos Bif-
pos de Miranda, huma Ermida de S. Vicente no bairro dalém , outra de Saõ
Lourenço no bairro do campo, & outra de Santa Engracia no bairro da Ermi-
da.
Ha neíla Villa hum grande Rocio, em que fe correm touros , & fazem as
fedas de cavallo ;nelleeílá hum cano de agua em tanta abundância , que com
ella fe regão diverfos prados, & hortas, & dizem que he a melhor agua de toda
a Provinda de Trás os Montes. He o clima delia Villa excellente para o Ve-
rão, por ter boas aguas, & arvoredos, & fer bem provida de goífolás frutas : o
feu termo tem cinco legoas de comprido, & tres de largo; pela parte do N afeen-
te confina com o termo de Bragança, & pela do Sul com o da Torre de Moncor-
vo : pela Parte do Poente confina com o termo de Villarfeco da Lomba , & pela
do Norte com a Villa de Palfó,òc Reyno de Galliza: tem quarenta & quatro lu-
gares, que fe dividem pelas Freguefias feguintes.
Sapito lldcíbnfo de Moàs, Curado annexo à Abbadia de Vinhaes, tem hua
Ermida de S. Sebaíf ião de Armonis, a quem eílá fogeita a Aldeã da Ribeirinha,
que terá doze v ifinhos: eílá junto a huma ribeirinha de pouca agua, a que cha-
mão Rio de trutas, & tem huma Capella de S. Jorge: aqui fe colhem boas frutas
temporans, & bons vinhos- Armonis tem dezoito viíinhos, fica junto do rio
Tua, recolhe melhor vinho, algum trigo, azeite, figos>avellans , &: caílanha.
AquifedizalternativehumdiafantoMiiTa,& outro em Moàs: eíte lugar eílá
no altode hum grande monte, tem trinta Sx. feis viíinhos , boas aguas, & pro-
duz os mefmos frutos dos outros dous lugares.
S.Mattheus do Sobreiro, Abbadia do Bifpo,q rende mil cruzados, té eíles lu-
gares,Sobreiro de,baixo,aonde eílá o Sacrario,Sobreiro de cima cõ hua Ermida
de S. M iguel, o Craílo com outra de Santa Barbora , aonde eíleve huma forta-
leza de Mouros, Soutello com huma Ermida de S. Lourenço , Coveilas com
outra de Noffa Senhora da incarnação, Caroceiras com outra de Santo Amaro:
todos efleslugaresterãotrezenros viíinhos ; recolhembom linho, vinhos ver-
des, mui ta caílanha, & nozes: junto do lugar das Caroceiras palia huma ribei-
ra aílim chamada, que trazmuitas trutas.
S. João Bautiílade Alvaredos, Curado annexoà Abbadia de Sobreiro , té
cincoenta vifinhos.
S-Nxolao de Candedo, Abbadia da Mitra, que rende cento & vinte mil
reis', tem quarenta & cinco vifinhos: produz Candedo bom trigo, muita caíla-
nha, & vinhos froxos, & tem huma Ermida de NoíTa Senhora da Encarnação no
alto de hum monte, que chamão da Forca.
SantoEílevão de Efpinhofo , Curado que aprefentão alternativamente o
Abbade de Candedo, & o de Rebordello, tem fetenta vifinhos : eílá eíle lugar
na planície de hum alto monte, produz muito centeyo, algum trigo, linho, caf-
tanha, & tem boas aguas.
S. Pedro de Valdepaço, Curado, tem cincoenta vifinhos, algum gado, tri-
go, caílanha, & ruins aguas.
Santa Maria Magdalena de Curopos,Curado que aprefentão alternative o
x
i Abbade
DA COROGRAFIA PORTUGUÊZA. 485
Ab bade de Candedo, & o de Rcbordello; tem cmcoenta & dous vifinhos.
Noffa Senhora da Affumpção de Val de Janeiro, que chamãò doCaftelfo,,
hcCurado que aprefentao alternative os ditos Abbadcs . tem lcíTcnta vifi-
nhos com o lugar da Macieira, &trcs quintas : recolhe bons centeyos, & vi-
nh°. • ■. .1
S. Lourenço de Rebordelio, Abbadia do Padroado Real , que rende mil
cruzados, tem dltenta vifinhos, ruins aguas,muito azeite, & bons vinnos.
S. Bertholameu de Val das Fontes, Curado annexo á Abbadia de Rebor-
delio, tem íeffenta vifinhos: fica cm hum alto , &temhumvallc de muitas fon-
te s,donde tomou o nome: recolhe muito azeite,& bons vinhos-
Noffa Senhora da Expedia ção do lugar de Nuzedo fob CafteIIo( aífim cha-
mado por ficar por baixo da fortaleza da Senhora do Caftello) he Curado que
aprefenta o Abbade de Rcbordello: tem eincoenta vifinhos, & recolhe muito
azeite, vinho,& trigo. .
Noífa Senhora da Expedacão de Rio de Fornos, Curado annexo aReyto-
ria de Paffó, tem quarenta & cinco vifinhos: recolhe muito imito , trigos treme-
zes, &: he abundante de aguas- - rrr
A Freguefia de Lagarelhos,da aprefentaçáo do méiimo Rey tor de Palio,tem
eincoenta vifinhos: produzo lugar vinhos verdes, mnita quantitíadc de nozes,
& linhos tremezes. A efta Igreja vem ouvir MiíTaos do lugar de Izedo, que
tem vinte, & cinco vifinhos. _ , „ i
A Freruefia de Travanca he tdmbemda aprelentaçãodo meímo Reytor de
Paífó: eftá junto do mais alto monte ( a que chamão a Coroa) termo delia Villa,
donde fe vem terras de muitos Bifpados: tem quarenta vifinhos, recoil te exccl-
lente linho, boas manteigas, & faô as aguas defte lugar muito frias.
S- Cyprião de Villar dofios, Abbadia da Mitra , tem 66- vifinhos: pro-
duz o lugar mu^caftanha, nozes, vinhosverdes, linhos tremezes , centeyo,
frutas dotar3^ffimr^enha,& algumas manteigas.
Santa Maria Magdalena de Tyo^ello , Vigairana que aprefenta o Reytor
de Nuzedo Trefpaffante, tem oitenta vifinhos : heTyozello lugar de muitas
hervas,linhos, vinhos verdes, calianha, & manteigas : em huma ribeira defte
lu^ar eftá huma Ermida de NoffaSenhora dos Remédios, aonde fe faz feira to-
dos os Sabbados. A efta Igreja Parochial vem à Miffa os moradores do lugar
dos Salgueiros,queferao vinte. j
S. Beítholameu do lugar dâ Cabeça da Igreja defmernbroufe da Freguefia
de N uzedo Trefpaffante: tem eincoenta vifinhos : a efta Igreja vem à Miffà os
moradores do lugar de Rebelhe, que ferão vinte & cinco, & os do lugar' das Pe-
leas, que feraojvinte. Tem o lugar de Rebelhe huma Ermida de S. Thomè, & o
das Peleas outra de Santa Agueda :faõ eftes lugares abundantes de vinhos ver-
des,& tem pouco pap. . - .
Noffa Senhora da Efperança de Nuzedo Trefpaffinte, Revtoria do Bilpo,&
Commendada Ordem de Chrifto, tem oitenta vifinhos : he lugar de Bairros,
produz hervas medicinaes, vinhos verdes, linho, muita caftanha , & mantei-
gas- - ■
" • Santa Olaya do lugar de San talha, Revtoria do Bifpo , & Commenda de
Chrifto, tem eincoenta vifinhos: a efta Igreja vem àMíffa os do lugar do Pen í),
que tem vinte vifinhos com huma Ermida de S- Marçal-; ôt os do lugar . c Con-
tim , que terá outros tantos vifinhos com huma Ermida de Sanca Mar_ ari-

v
486 TOMO PRIMEIRO
S. Sebaílião do Pinheiro novo , Curado que aprefentaoReytordeSanta-
lha, tem cmcoenta viíinhos, muita lenha, centeyo, & manteigas.
Santiago do Pinheiro velho, Curado da mefma aprefentação, tem fetenta &
feis viíinhos com o lugar de Seixas, que temhuma Capella de S. Clemente: reco-
lhe muito centeyo , lenha , & algumas manteigas ; <k as aguas laõ muito
frias.
A Cathedra de S. Pedro da Quadra he annexaàReytoria de NuzedoTref-
paíTante ; tem ciucoenta viíinhos, com muita lenha, centcyo, cabras , & mantei-
gas.
Santa Cecilia do lugar dos Caiares , Curado annexoà Reytoria deSanta-
lha,temcincoenta viíinhos: eílá junto da ribeira dos Gallegos , aonde ie pef-
cão muitas trutas; produz centeyo, & vinhos verdes. As Carvalhas he huma
Aldeã de oito viíinhos comhumaErmida de Santa Marti »a , vão àMiííaà Fre-
gueíia de S- Pedro de Montou'to, que he termo de Bragança , aonde vão tam-
bém os do lugar de Candedo, que tem vinte & cinco viíinhos com huma Ermi-
da de S. Jorge: tem eíle lugar huma fonte de agua tam fria, que metendolhe den-
tro hum quarto de carneiro, o come todo, fem lhe deixar mais queosoííòs , &
delia bebem os moradores", (em lhe fazer dano. Tem efles dous lugares muita
criação de gados, manteigas, & produzem muito centeyo-
Foyeíla Villa no tempo das ultimas guerras comCaílella íltiada por Dom
Balthefar Panto ja com mil & quatrocentos homens , & a defenderão valeroiã-
mente feus naturaes, deílruindo fó os Caftelhanos alguns lugares, queimando
os Arrabaldes, & as portas da mefma V illa, de que he íenhor o Conde de Atou-
guia- He Governador defta praça Eíle vão cie Mariz Sarmento , que no leu íitio
íe defendeo com grande valor.
'

C A P. . IV.

Da Villa de Villar Jeco da Lomba.


■ ■ •
NO Bifpado de Miranda, dezafete legoas deíla Cidade para o Norte , &
quatro da Villa de Vinhaes para o Poente junto da raya de Galliza , em
íitio plano, entre dous "caudelofos rios com difficultofa entrada por todas as
partes, eítà fundada a Villa de VillarTeco da Lomba , deque faõ fenhores os
Condes'deAtouguia. ElRey Dom Diniz lhe deu foral, que reformou depois
ElRey Dom Manoel: tem feífenta viíinhos com huma 1 greja Parochial da invo-
cação de S. Julião, Abbadia da Mitra, que rende duzentos mil reis. O feu ter-
mo tem quatro legoas de comprido, & duas de largo, com oito lugares que íe
dividem pelas Fregueíiasfeguintes.
S. Pedro de Quirás, Abbadia da Mitra, que rende quinhentos mil rei s.
NoíTa Senhora do Rofario de Villarinho , Curado - annexo à Abbadia de
v
Quirás. - h _ ;
Santa Marinha do Pinheiro novo, Curado annexo à mefma Abbadia-
NoíTa Senhora da AíTumpção da Gcílofa, Abbadia do Bifpo , que rende
cento & vinte mil reis»
S.
DA COROGRAFIA PORTUGUHZ A. ^87
S.Romão do Edral,Reytoria da Mitra ,& Commenda de Chrifto.
A Fregueíia de Frades, Curado annexo â Rcytoria do F drab
A Frcguefia de Saõ Somilhe também Curado annexo à mefma Reytoria
do Edral.

C A P. V.
1

Da Villa de Taffô, ou Val de Ta/fá.

NHO Bifpado de Miranda,treze legoasdefta Cidade para o Norte, Sc duas


de V inhaes para a mefma parte, na ladeira de hum monte tem leu alien to
a Villa de PaíTó, ou Val de PaíTó, de que he fenhór o Conde de Atouguia. hlRey
Dom Diniz lhe deu foral : tem cem vilinhos com huma Parochia dedicada aó*
Julião, Reytoria da Mitra, Sc Commenda de Chriflo. O leu termo recolhe pão,
vinho, cxcellentes frutas, bom linlio, com abundancia de agua , Sc tem tres lu-
gares, que fe dividem pelas Fregueíias feguintes-
Santâ Cruz, Curado annexo à Reytoria de PaíTó.
S. Miguel de Villaverde, Reytoria da Mitra, Sc Commenda de Chri íto-
A Fregueíía do lugar de Quintela, Curado annexo ã Reytoria de Villaver-
de.
Neftas tres Vijlas,de q he fenhor o.Códe de Atouguia,entra em Correição
o Corregedor de Miranda, Sc faõ da fua Provedoria.
As Villas de Faylde, Sc Carrocedoficão oitolegoas de Miranda para o
"Mafrfnrp. •■t^m raPi huma cincoentalinhos com lua igreja Parochial, Cura-
dos que aprêíerííaoTisrfltfposrrcntránellas em Correição o Corregedor de Mi.
randa, Sc íaô da fua Provedoria.

CAP. VI.

Da ifill a de Vimiofo.

NO Bifpado de Miranda,quatro legoas ao Oefnoroeíte defta Cidade , &


cinco da de Bragança para o Sul , em lugar planotem feu íitio Vimiofo,
Villa acaíkllada, à qual deu foral ElRey Dom Manoel em Lisboa aos y. de Mar-
ço de 1516. TemtrezentosviiinhobComdozeCafas.de homens nobres dei-
tes appellidos, Antas, Moraes,Gamas, Soufas, Pimenteis, Ferreiras, Eças,aos
quaes comprehende huma furríptuofa Igreja Parochial de ábobeda de cantaria
de huma íó nave, Reytoria do Padroado Real, Sc Commenda de Chriflo. En-
tra neila V illa em Correição o Corregedor de Miranda, Sc o Provedor . Tem no
feu termo os lugares feguintes: Sarafptcos, Val de frades , Campo de Viboras,
S. Joannico, Ciírado annexo à Abbadia de Caçarelhos, termo da Cidade de Mi-
randa • . He
488 TOMO PRIMEIRO
He fenhor, Sc Conde deila Villa Dom Francifco dePortugal, cuja illuilre
varonia,Sc afcendencia he a feguinte.
Dom Affonfo Marquez de V alença era filho de D. Affonfo primeiro Duque
de Bragança, St de fua primeira mulher Dona Beatriz Pereira : teve por filho ba-
11 ardo de D. Beatriz de Soufa, filha de Martim Affonfo de Soufa , 6c de íua mu-
lher Violante Lopes deTavora, a Dom Affonfo, que foy Bilpo de Évora,o qual
teve de Felippa de Macedo, filha de João Goççalves de Macedo,entre outros fi-
lhos, a Dom Francifco tk Portugal-
D. Francifco de Portugal, filho ceife Bifpo,foy o primeiro Cede de Vimiofo
por mercê delRey D- Manoel, St fei her de Aguiar, St outrás terras •. cafou ccm
Dona Beatriz de Vilhena, filha de Ruí Telles de Menezes, de quem teve, entre
outros filhos, o feguinte.
Dom Affonfo de Portugal foy fecundo Conde de Vimiofo-.cafou ccm D.
Luiza de Gufmão, filha de Francifcò de Gufmão, Mordomo mór da Infanta D.
Maria, & de fua mulher Dona Jóanna de Êlafveut , da qual teve dezoito filhos,'
que chegou a ver juntos, & lhe fucceáco ornais velho Dom Francifco de Por-
tugal, que foy terceiro Conde de Vimiofo, que morreo fem geração.
A eíle Dom Francifco de Portugal lhe fuccedeo feu irmão Dom Luiz de
Portugal, que foy quarto Conde de V imiofo, o qual cafou com Dona Joanna de
Mendoça, filha de Dôm Fernandode Cafiro primeiro Conde de Baítb, da qual
teve, entre outros filhos, o feguinte.
Dom ÀiTonfo de Portugal foy quinto Conde de Vimiofo,& primeiro Mar.
quezde Aguiar por mercê delRey Dom João o Quarto , StdoConfelho deEf-
tado,St Governador das Armas da Província do Alétejo: cafpu com Doria Mag-
dalena de Mendoça, filha de Dom Chriííovão de Moura, Marquez deCaílello
Rodrigo, St de fua mulher Dona Margarida Corte-real, da qual teve, entre ou-
tros filhos, a Dom Luiz de Portugal, & a Dom Miguel* de Portugal.
Dom Luiz de Portugal foy í exto Conde de Vimiofo, <3c cafou com Dona
Ignacia M&ria de Portugal,filha de Antonio Luiz de Tavora, Conde de S.João,
da qual não teve filhos,& o matàrão em huma pendência no Jogo da Pela.
A cífe Dom Luiz de Portugal lhe fuccedeo na Cafa teu irmão Dom Mi-
guel de Portugal, que foy fetimo Conde de Vimiofo , o qual cafou com Dona
Mariade Albuquerque,filha herdeira de Duarte de Albuquerque Coelho , Ca-
pitãode Pernambuco, St fenhorada Cafa de Bailo, da qual não houve geração;
mas de huma mulher nobr.e, chamada Dona Antónia de Bulhoens (que hojehe
Religiofa profeífa no Convento de Santa Anna) teve a Dom Francifco de Por-
tugal,St a Dona Maria Margarida Religiofa no Moífeiro do Sacramêtode Lff-
boa-
Dom Francifco de Portugal hc pelas fuas partes digno fenhor da Cafa de
feus pays, St avós, oitavo Conde de Vimiofo, Sc Conde de Bailo por mercê del-
Rey Dom Pedro o Segundo, como titulo de Conde Parente : cafou com Dona
Francifca de Menezes, filha de Manoel Telles da Sylva, primeiro Marquez dc
Alegrete, Sc de fua mulher Dona Luiza Coutinho,de que tem a Dona Terefa dc
Portugal.

CAP,
DA CORO GR AT IA PORTUGCE2A. 48?

GAP. VII"

Da Villa de aJqnhofo*

NO Bifpadodc Miranda oito legoas ao Sufudueile da Cidade de Bragan-


ça eíá fituada a Villa de Azinhofo, a qual he da Coroa, & lhe deu foral
EIRey Dom loáo o Primeiro, que defmembroueftc lugar das Villas de Penas
Rovas, & Mogadouro, o qual reformou depois EIRey Dom Manoel em Évora
aos ia. de Fevereiro de ijao. Tem oitenta & feisvifinhos com huma Igrejá
Parochial, confirmação do Bifpo, & Commenda de Chriíto : feus moi adores
far. izentos . & livres de pagar tributo algum a Sua Mageílade, & gozaodc
grandes privilégios, quelhes concedeo ElRey Dom Diniz, que depois confir-
marão os noffosReys em obfequio,& veneração de huma milagroía Imagem de
Noíía Senhora, que he Padroeira,& Orago de fua Igreja. ^
Tem efta Villa algumas Cafas nobres dos appellidos, Soeiros, Lob aes ,&
Caftros : conftade huma fó rua, & todas as cafas com feus alpendres por caufa
de huma «rande feira, que lhe concedeo o dito Rey D- Diniz, a qual le faz aos
oito de Setembro, & he a melhor de toda aProvincia. Entra em Correição ne*
lta V illa o Corregedor de Miranda, & he da fua Provedoria: foy cabeça de Con-
dado, cujo titulo deu o Cardeal Rey Dom Henrique a D. Nuno Mafcarenhas.

/is •

CAP. VIII.

"Da Filia dp sZMogadouro.

-KT O Arcebifpado de Braga ,&nosjfcus confins, noveíegóas d;iCidade ât


Bragança parao Sul, St fete da de Miranda parao Suducfte, dia fundada
a Villa do Mogadouro, de que faõ fenhores os dlullres Marquezes de rafo-
ra & nor fuas doaeoens não entra nella o Corregedor de Miranda- EIRey Dom
Affoníò o Terceirolhe deu foral, que reformou depois EIRey Dom Manod tm
Lisboa aos 4- de Mayo de 1 pia- temYefoSlos-^e^ntigt^n.uroscom humfor-
te Callellode fabrica antiga, em que vivemos fenhores dcftaCafa, quando re
fidem neíla Villa, em a aual ha huma Parochia da invocação de Santa Ma™ d
j
Caílello com hum Prior da Ordem deChrifto, & quatro Beneficiados , Câfode
Mifericordia, Hofpital, & hum Convento de Frades da Terceira Regra de S.
• Franeifco. Tem duzentos vifinhos- Junto a efta Villa eftá a quinta de Zava co
fua Ermida. O feu termo tem os lugares feguintes. ^ , n , 1tn v;í
Villarinho dos Gallegos, Brucó> Villadalla, Soutelo, Paço, Paraddla, I
3
lar do Rey, Brunhofo, Meirinhos,Remondei, a Quinta de y f
Antão, Villa de Sinnos, Lagoaça, que tem duzentos & cincoenta yifinhos, Ven
490 TOMO PRIMEIRO
tozello, Figueira, Santiago, Val de porco, Vaiverde, Eftcvais, Valdamadre,
Çaftellobranco, que he Abbadia do Marquez deTavora , & cabeça de huma
Commenda da Ordem de Chrifto,q rede dez mil cruzados, & já rendeo doze.
Ha nefta Villa, & feu termo familias nobres do appellido, Moraes , Mon-
teiro, Antas, Camelos, Pintos, Aragoés, Dobandos, Machados, Soeiros, Ma-
cedos, Magalhaens,Pereiras Coutinhos. E já que falíamos nefte illuftre appel-
lido de Pereira Coutinho,não ferà fora do aífumpto tratar aqui da afeendencia,
& defeendenciade D. Manoel Pereira Coutinho, que he a feguinte-
Dom Manoel Pereira Coutinho, filho legitimo de Heitor Mendes de Bri-
to, & de fua primeira mulher Dona Joanna de Caftro, he oitavo neto por linha
legitima, & varonil de Fernão de Brito, que floreceo no tempo dei Rey D. Affon-
íò o Quinto, & foy feu collaço por hum Álvara Real, que fe lhe paliou em nome
do dito Senhor em Évora aos * 3 • de Abril de 14.7 5.
Sétimo netodeFrancifcodeBrito,quefoy filhado,&teve oforo defidal.
go pelo mefmo Alvará delRey D- Affonfo o Quinto.
Sexto neto de Francifco Mendes de Brito,que também foy filhado por Al-
vará delRey Dom Manoel aos 2 3. de Fevoreiro de 149 8.
Quinto neto de Heitor Mendes de Brito, que com efpecial louvor fe refe-
re no mefmo Alvará delRey Dom Manoel, por fe ter achado comElRey Dom
Affonfo o Quinto na tomada de Arzila»
Quarto neto de Diogo Mendes de Brito, que foy marido de fua prima coir-
maã Anna Mendes, & filhada pelo Alvará delRey Dom Manoel do dito anno de
14,98. em que fe fez illuftre recordação dos grandes ferviços de feu^ progenito-
res.
Terceiro neto de Francifco Dias Mendes de Brito,q foy marido de fua fi>
brinha Beatriz Mendes, filhado com o mefmo foro de feu pay.
Segundo neto de Heitor Mendes de Brito, o Rico por Antonomaíia, que
foy calado com fua prima Dona Guiomar Dias, ao qual ElRc> de Caftella , no
tempo que governava eífeReyno, accrefcentoumais quatrocentos reis além da
moradia ordinária do foro de fidalgo pelo Al vara de 2 2. de J aneiro de 1611.
Primeiro neto de Frãcifco Dias Medes de Brito,q teve o mefmo foro de fi-
dalgo com o'tal accrefcentamento de moradia no Alvará de 23. de Setembro de
16 li» o qual Francifco Dias Mendes de Brito foy pay de Heitor Mendes de
Brito, que teve o mefmo foro de fidalgo de feus pays , & avôs pelo Alvará dei
Rey Dom João o Quarto, paliado em 12. de Fevereiro de 164.2- & efte Heitor
Mendes de Brito foy pay de D. Manoel Pereira Coutinho, q teve o mefmo foro
de feus anteceffores por Alvará delRey D. Affonfo o VI.paliado em 2 6- de Nove?
bro de 16^4. o qual por feus aílinalados ferviços he Comendador da Ordem de
Chrifto,8tCõmiífario Geral da Cavallaria da Corte,por mercê delRey D-Pedro
o II. feita em Novembro de 1704. Delle contamos a afeendencia defde feuoi.
tavo avô até efte tempo, em que permanece a antiguidade de fua nobreza com-
provada com os Alvarás antigos,& modernos do feu filhamento, & de feus an-
teceífores. E pela mefma parte do dito Heitor Mendes de Brito feu pay , pe-
la linha materna de feu pay, he o dito D. Manoel Pereira Coutinho
Primeiro neto de Dona Luiza de Elvas, que foy mulher do dito Francifco
Dias Mendes de Brito feu primeiro avo.
Segundo neto de Antonio Fernandes de Elvas, & de fua mulher Elena Ro-
drigues; o qual Antonio Fernandes de Eivas teve o foro de fidalgo por portaria
delRey de Caftella, governando efte Reyno,paliado no anno de 1566. de que fe
e*pe-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 4pt
exp ediododito filhamento no de 157$'
Tereeiro neto de Jorge Fernandes de Elvas, St de lua mulher Branca Men-
des, o qual teve o foro de feu pay no dito Alvará cie 1573'
Quarto neto de Antonio Fernandes o Surdo, &de Mayor Fernandes fua
mulher, que inftituírão dous Morgados para os dous filhos que tinháo; hum
para o mais velho, que era o fobredtto Jorge Fernandes de Elvas , em que en-
tràrão as cafas do terreiro do Carmo , Sc a Capella de Santo Antonio dâ Igreja
da Trindade defta Corte ; o outro para o filho fegundo, chamado Diogo Fer-
nandes de Elvas, que veyo também uuirfe ao primeiro Morgado , por falta de
fucceífaõ de Dona Mariana de Lima, irmaã de Domjoão de Noronha, os quaes
Morgadospoffue hojeodito D- Manoel Pereira Coutinho*
Quinto neto de Jorge F ernandes, Sc de fua mulher Brites Vaz, cujos oífos
mandou trasladar odito feu filho Antonio Fernandes o Surdo, na inftituiçao
dos Morgados,da Igreja da Magdaiena de Lisboa, onde jaziao, para a dita Ca-
pella de Santo Antonio, chamado de Entre as paredes, em a Igreja da Trinda-
de, aonde hoje jazem. E pela parte da dita Dona Joanna de Caftro fuamãy, he
odito Dom Manoel Pereira Coutinho
Primeiro neto de Dom Manoel Pereira Coutinho, chamado o Caim, alcu-
nha queTc renovou agora em feu neto, talvez por fer do mefmo nome, & de D.
A ntonia da Cunha de M enezes fua mulher- .
Segundo neto de Lopo de Soufa Coutinho , St de fua mulher Dona Joanna
de Caí Fro, que foy filha de Dom Manoel Pereira, Governador de Angola, St de
fua mulher Dona Violante de Caftro : o qual Dom Manoel Pereira foy filho de
Dom Francifco Pereira, Commendador do Pinheiro, St Efcrivão da Puridade
do Infante Dom Luiz, St de fua mulher Dona Bernarda Coutinho, filha de Dom
Fernando Coutinho, fenhor de Leomil, Sc de fua mmher Dona Maria deTavo-
' ra, filha de João Pereira, filho natural de Ruí Pereira, primeiro Conde da Feira.
EaditaDonâViSlantc^e-Gadrofoy filha de João Carvalho Patalin, filho de
Pedro Carvalho, Veador das Obras do Rey no, Sc Cafa Real, Sc de Dona Maria
Patalin, Sc neto de Gonçalo Pires de Carvalho , Sede fua mulher Dona Maria
de Caftro, filha de Dom Luiz de Caftro, fenhor da Cafa de Monfanto, St de Do-
na Violante de Ataíde, filha de Dom Antonio de Ataíde , primeiro Conde da
Caftanheira.
Terceiro neto de Gonçalo Vaz Coutinho, Sc de fua mulher Dona Jcrony-
ma de Moraes, filha de Sebafttão de Moraes, Thefoureiro mór do Rey no.
Quarto neto de Lopo de Soufa Coutinho,Sc defua mulher Dona Maria de
Noronha, que foy filha de Fernão de Noronha, Sc de fua mulher Dona Anna da
Cofta, filha de Alvaro da Cofta, Camareiro, Sc Armeiro mór delRey Dom Ma-
noel, Sc neta de Affonfo de Noronha, Capitão de Sacotorà-
Quinto neto de Fernão Coutinho, Sc de fua mulher Dona Joanná da Cu-
nha, filha de Gonçalo Coutinho, fegundo Conde de Marialva. E pela parte ma-
terna da mefma Dona Joanna de Caftro fua mãy, he o dito Dom Manoel Pereira

' Primeiro neto de Dona Antónia da Cunha de Menezes , mãy da dita fua
mãy.
Segundo neto de Nuno da Cunha, Sc de fua mulher Dona Felippa de Me-
nezes Coutinho, que foy filha de Antonio Queimacio Fello de Menezes , Sc de
fua fegunda mulher Dona Luiza deTavora Coutinho. E efte Antonio Quei-
mado Tello de Menezes foy filho de Dom Francifco de Menezes , o qual Toy
filho
ao* TOMO PRIMEIRO
filho de TriíTao Gomes da Mina, Commendador de SantoEufebionaOrde de
Chril>o,page da lança delRey D-João o 11.8c de fua mulher D.Felippa deMene-
zes,filha de D.Jcaõ Tello de Menezes A neta de D.Fernando de Meneze^Co-
medador da Orde de Chrifto ,8c a dita D- Luiza de Tavora Coutinho foy filha de
Fernão Ortiz de Vilhegas,neta de Inigo Ortiz de V ilhegas,Sc d'
Maria de Tavora,filha de João Telles de Tavora, Mordomo do Infante D.Fer.
nando, que foy filho fegundo de Lourenço Pires de Tavora, fenhor do Mofa-
do de Caparica, 8c de fua mulher Dona Maria Telles, filha de D- Gonçalo Cou-
tinho^^un^^ondc de Mar^ ^ Cunh3j & ^ fua mulher Dona Jufta Pinta, fi-

1Ha
^aTtonetodeMattheus da Cunha, Cavalleiro da Ordem de Omito , &
de fua mulher Dona Maria Soares,filha do Doutor Pedro Barbofa ,L)eicmbar-
gador da Cafa da Supplicação, Ouvidor Geral que foy na índia , &.de luamu-
lher Dona Brites Lopes, que foy irmaã do Doutor Sebafliao barbola, Deíem-

ò
Quinto neto do Doutor Antonio de Macedo, Defembargador , 8c Chan-
celler mor da Cafa da Supplicação, 8c de fua mulher Dona Micia da Cunha,que
foy filha de loão Gomes da Cunha,fenhor de Taboa, 8c de fua mulher D- C eci-
liade Andrade, Dama da Rainha Dona Leonor, 8c neta do Commendador mor

ROj 1
w neto^de Joaõ de Macedo da Ponte da Barca , & de fua mulher Dona
Francifca de Caíiro, que foy filha de Diogo Borges de Caítro.
Sétimo neto de Pedro de Barros, 8c de fua mulher Beatriz de Magalhaes-
Oitavo neto de Gonçalo de Magalhacs. .
Nono neto de Fernão de Magalhacs o Velho, que foy fenhorde Belteíros.
Toda eífa tam antiga, &• illuftre afcendencia por todos os quatro coitados
do dito Dom Manoel Pereira Coutinho achey referida por letra, & final do Dou-
tor Simão Cardofo Pereira, Familiar do Santo Officio, 8c Procurador fifeai do
deftrido da Inquifição deita Corte, cuja letra eu conheço , alemde eítar reco-
nhecida em publica forma pcloTabeliaó Manoel Rodrigues, 8c por Rui da Cof-
ia de Almeyda, que foy Elcrivaõ do dito Fifeo ; onde fazia menção de vanos
documentos authenticos, entre os quaes, alèmdehumai certidão do fenhor D.
Fernão Martins Mafcarenhas, Bifpo Inquifidor Geral deite Reyno, paífadaem
a 2. deDezembro de 1624- vi outra do Eminentiffimo Senhor Dom Veriíh-
mode Alencaítre, Inquifidor Geral, cuja letra conheço, 8c reconhece também o
Tabeliaõ Domingos de Barros, que me parecco digna de í e ver , 8c hc em tor-
maes palavras afeguinte.

DE Dom Manoel Pereira Coutinho tenho muitos, 8c vários documentos


authenticos, com certidoens de peffoas grandes do Reyno, 8c entre ellas
hufhado Uluítriífimo Senhor Bifpo Dom Fernão Martins Mafcarenhas,que toy
Inquifidor Geral, 8c fentenças antigas, de quefemoftraa fua antiga limpeza, &
afcendencia : 8c que feu oitavo avô por varonia foy collaço delRey Dom Atton-
fo o V. com foro na Cafa Real, o qual fe continuou emfeus avos ate o prelen-
tecom muita eílimaçaó, & limpeza em todos oscafamentosem afua alcenden-
cia- E porq de fua mãy naõ he nada menos,mas antes eíia aparentado co muitas
familiasilluílriffimas, 8c por todos eíles refpeitos o reputo por merecedor , 5c
capaz das mayoreshonras, 8c de todos oslugares,ôc occupaçocns , que todas
DA COROGR A:F IA PORTUGU E|Z A* 493
a (Tentarão bemnelle; & por tudo o referido fcrverdade mandcypaíTar a pfe
fente, que aífiney em Lisboa aos ivdc Março de 1689. OCardeal de Aíen-
caftro Arcebifpo Inquifidor Geral.

Efta atteftacão tam cabal, & por todas as partes fidedigna, me fez deícré-
ver efta tam antiga afcendcnck ; mas pois fe acha com defcendencia o dito D*
Manoel Pereira Continho,não he razão que efta fe queixe de que eu paífe em
filéneio o que he muy digno de fe publicar. . r j c t
Dom Manoel Pereira Coutinho foy calado co Dona Mana Terefa da Syl-
va ôc Tavora,irmaã inteira de Ruí daSylva de Tavora, (quehoje vive no Al-
garve, Meftre de Campo do Terço daquelle Reyno , Alcayde mor de Sylves,
que anda na fua afcendencià, & Provedor das Almadravas) de que teve a Dom
Francifco Jofeph Coutinho,que he o fucceffor dos Morgados, &Cafade feu
pay; a Dom Pedro da Sylva Coutinho, que hoje he Capitaõ de CavaUos de hua
das Companhias do partido defta Corte, cujo poftolhe deu ElRey Dom Pedro
o Secundo por feus finalados ferviços , o qual eftando em Santarém odefpa-
choupor Real Decreto feu em Novembro de *704.. a Rui da Sylva de Tavora,
Ayres Antónia da Sylva & 1 avora, a Madre Cathenna da Soledade , & Joanna
dírloria Relisiofas profeíTasno Mofteiro da Efperança de Lisboa , & Anna
dos Serafins, Margarida dos Martyres, & Ines da Gloria, recolhidas no mefmo
Mofteiro "que por falta de idade inda não faõprofeíTas.
Todos eftes filhos, & filhas pela parte paterna da dita fua may D. Maria

TerC
prfmeíros newsdePedro da Sylva, Câvalleiro da Ordem de Chrifto, Al-
cayde mor de Sylves ,& Governador de S.Thomè,( que era irmaó do Reveren-
do Padre MeftreFrey Ayres da Sylva, que depois de vários lugares, que teve
na Religião do Carmo, foy Provincial nefta Província de Portugal,) & de fuâ
mulher DTcStnu inn ihiStiiora. . . c , ,
Segundos netospelapartedoditofeuavo Pedro da Sylva,de Rui dâ Syl-
va, Alcayde morde Sylves, Vead&r da Fazenda de Felippe Quarto, Mordomo
mór & do Confelho de Eftado, & de D. Cathenna Bautifta de Lubciro, filha
de Nuno de Bafto, & de fua mulher Maria Amada , os quaes tiverãõ outras fi-
lhas; huma chamada Maria de Lubeiro, mulher do Provedor de Caftellobran-
co de que houve defcendencia; Sc outra que cgfou com Luiz Sylveft re, que ta-
bem deixârão defeendentes, todos Cavalleiros das Ordens de Chrifto, & Aviz,
&Religiofos de varias Religioens. 4 . i

Terceiros netos de Fernão da SylvaPereira, Alcayde mor de Sylves,do Coíc-


lho de Eftado delRey D-Sebaftião,Embaixador a Caftella,Veador da Fazcda em
tempo de Felippe Segundo, Governador do Algarve,& Cafa da Supph cação; &
de fua mulher Dona Magdalena de Lima, filha de Dom Pedro de Caftellobrán
co, & de fua mulher Dona Margarida de Lima, filha de João Brandao, & de lua
mulher Dona Ifabel da Cunha, que foy filha de Duarte da Cunha de Lima, filho
de Dom Leonel de Lima, Vifconde de Villa-nova de Cerveira, & de fua mulher
Dona Felippa, filha de Alvaro da Cunha, fenhor de Pombeiro: & o dito D. Pe-
dro de Caftellobranco foy filho do Almirante Nuno Vaz de Caftellobranco, fi-
lho de Lopo Vaz de Caftellobranco , Monteiro mór delRey Dom João o Pri-
meiro, que lhe deu a Alcaydana mór de Moura, & de fua mulher Cathenna I e-
çanha,filha do Almirante Lançarote Peçanha.
Quartos netos de Ruí da Sylva Pereira, Alcayde mo; de Silves, & dc lua
494 TOMO PRIMEIRO
mulher Dona Ifabel Coutinho, filha de Dom Fernando Coutinho , Regedor da
Cafada Supplicação, (que foy irmão de Ayresda Sylva , que foy tambemRc-
gedor da dita Cafa, Alcayde mór de Montemor o Vclho, & Lagos, & fenhor de
Vagos) & de fua mulher Dona Joanna de Noronha, filha de Dom Diogo Pereira,
íegundo Conde da Feira, . , o t*
E pela mefma parte da dita lua mãy Dona Maria Terela da Sylva ôc Tavora
pela linha materna faõ os filhos de D* Manoel Pereira Coutifiho ^
Primeiros netos da dita Dona Catherina de Tavora , mulher de feu avo
Pedro da Sylva, a qual foy filha de Lourenço Pires de Tavora, Commendador de
S. Pedro de Lardoza na Ordem de Chrilto, irmaõ de Luiz Alvarez de Tavora,
que foy Prelado de Thomar, &. de tua mulher pona Anna da Cunha de Chaves,
filha de João Barbofa da Cunha, Sargento mòr na Ilha de S-Thomè,que foy fi-
lho de Fernão Barbofa da Cunha, Sargento mòr na dita Ilha , para onde foy de
Viana, a dõde era natural, & da nobre familia ifcs Barbofas daquclla Villa.
Segundos netos de Chriítovão de Tavora, do Confelho deGuerra, & Go-
vernador de Gaeta. -
Terceiros netos de Alvaro dfc Soufa, Commendador na Ordem de Chrilto,
& Capitão mòr de Chaul, & de fua mulher Dona Francifca de Tavora, que era
irmaã de Dom Chrittovaô de Moura,Commendadormòr de Alcantara, Con-
de de Lumiares, Marquez de Caltello Rodrigo, & Vifo-Rey deite Reyno, & fi-
lhos ambos de Dom Luiz de Moura, & de fua mulher Dona Brites de Tavora,
filhade Chriítovão deTavoradaCafa de Caparica.
Quartos netos de Simão de Soufa, quintos netos de Alvaro de Soufa, fex-
tos netos de Fernaõ de SoufaCamello, letimos netos de Alvaro G°ticalves Ca-
mello, todos notoriamente illuílres , cujas afcendencias referem vulgarmente
os mais dos livros Genealógicos, & asxíeixo para os verfados nelles; pois io re-
firo o que vi em documentos authenticos,fen tenças, & teítamentos donde íe
comprova o referido.

CAP. IX.

7) as Villas de Tenas de 7$oyas} ou Tenas Ttyas, &• Tempo/la.

NO Bifpadode Miranda eítáfituadaefta Villa de quehç fenhor o Mar-


quez de Tavora , & por fuas doaçoens não entra nella em Correição o
Corregedor de Miranda, mas entra fó o Provedor da dita Cidade. Tem hum
Caftello de fabrica antiga, & he povoação de fetentavifinhos comhuma Igreja
Parochial, Curado que aprefenta o Prior do Mogadouro. ElRey Dom Affonfo o
Terceiro deu foral aeíta Villa , a qual tem no feu termo os lugares feguin-
tcs. Macedo, S.Martinho do Pezo,Abbadia do Marquez de Tavora, Sãpayo,
Sanhoane, Viduedo,oVariz,& Villarifca , todas Curados que aprefenta o
dito Marquez.
A Villa da Bempoíta he do mefmo B ií pado de Miranda, & lhe deu foral LL-
Rey Dom Diniz: tem duzentos vifinhos com huma Igreja Parochial, Abbadia
do Marquez de Tavora; he fenhor deita Villa Fíancifco de Sampayo de .Mello
&
DA COROGRAFIA PORTUGU E2A. 495:
& Caftro, fenhor da Cafa de Villa Flor. & lhe pagão os moradores dos lugares
trinta & íeis reis cada hum. Eítáefta Villa em fit 10 alto juntodo Douro ,tcm
Tribunal de Alfandega com feus Officiaes; o feu termo tem quatrocentos vifi-
nhos, que fe dividem por eftes lugaresBrunhozmho, & Too, Igrejas Paro-
chiacs, Curados que aprefenta o Marquezde Tavora; Paredo, & Algozmhd>
Igrejas annexas à Abbadia da Villa da Bempofta, & o lugar de Lamofo.

TRATADO IIP

T>a Comarca, &• Ouvidoria de "Braganç

CAP. I»

Da defcripçaõ dejla Cidade.

A altura,ou iatitud de 4,i.graos,$t- minutos , &na longittld


| de n-grãos, 10. minutos , nove legoas ao Nornoroefte da Cu
1 dade de Miranda, treze ao Nordefte da Torre de Moncorvo , &
trinta & oito da Cidade de Braga, nas margens do rioFervença
emefpaçofa , & alegre planície eflá fituada a nobre Cidade de
Bragança, a que os Latinos chamao Celiobriga •. foy fundada por
Bri^o quarto Rcv •_«; dpanha, ipod» arwios antes da vii\da de Chriíto , dc dclle
tomou o nome de Brigantia, corrupto hoje em Bragança. Auguíto Cefar lhe
chamou ]ulia, em memoria, & agradecimento de feu tio Julio Cefar, que a ree-
dificou, & lhe deu grandes privilégios: & aílim parece que de feu fundador , &
reedificador tomou o antigo nome de Juliobriga , que heCidadede Julio Ce-
far- He praça de armas com feu Caftcllo> de que he Alcayde mòifL azaro Jorge
de Figueiredo Sarmento, Stern lugar demuralhas, quenãotem,a rodea huma
eftaca^a, que a defende,^ ahum lado em certa ímminencia tem hum forte pa-
ra máyor defenfa : afliftemàfua guarda oitoCompanhias de Infantaria pagas,
& duas da Ordenança, de que he Meftre de Campo , & Governador Sebaíhao
da Veiga Cabral, General da Artelharia da Província , & Soldado de grande

rC
PU Tem efta Cidade muitas cafas de homens nobres , cujos appellidos faõ,
Abreus, Antas, Cunhas, Cabraes, Caftros, Almeydas, Moraes, Pereiras , Ma-
lheiros, Sarmentos, Machados, Figueiredos, Ferreiras, Pontes, Vetgas , Pi-
menteis, Pereftrellos, Marizes, Soares, Teixeiras, Madureiras, Colmieiros.
O povo fe divide em Cidade,& Villa,neflaeílao Caftello, obra antiga,mas ad-
mirável, todo murado com fua artelharia : tem dentro em fy a Igreja de Santa
Maria com quatro lconimos,& hum Prior, que aprefenta o Bifpo : rendera o
Priorado cento & trinta mil reis, & as Icênomias quarenta: defta Parochia faõ
freauezes ametade da Cidade; eíta dentro da Villa huma Ermida de Santiago,
que he Commenda da Ordem de Chrifto, & renderá duzentos mil reis. Tem
^ Tt ij 1M19
45>6 tomo primeiro
mais a Cidade outra Igreja Parochial, dedicada a S. João Baiitiíta, Abbadia da
aprefentação do Bifpo, que renderá duzentos mil reis, & terá ametade dos mo-
radores, que por todos faõ quinhentos viíinhos.
Tem hum Convento de S.Francifco da Regular Obfervancia, que dizem
fer fundação do mefmo Santo, que com fua prefença honrou peíToalmente eíta
Cidade, & nas condiçoens que ajuítou com os Vereadores delia para a erecção
deite Convento, dizem, que com fua propria mão aífinou o Santo, & que feu fi-
nal fe guarda com veneração no Archivo da Camara da dita* Cidade. Tem mais
os Conventos feguintes.
O Coll egio de Jefus dos Padres da Companhia, que fundarão os Cidadaõs,
& mais nobres deita Cidade,& o derão aos ditosPadres da Çõpanhia, que tomà-
rão poíTe dclle pelos annos de i f 61. com licença do Bifpo de Miranda Dom An-
tonio Pinheiro: tem humaclaífe deefcola,duas de Latim, & outra deTheolo-
gia Moral-
O Moíteiro de N. Senhora da AíTumpção de Religiofas de S. Clara , que
fundou a fenhora D- Catherina, de que he Padroeira a Camara de Bragança, cõ
privilegio de não darem mais quemeyo dote as filhas dos Cidadaõs , para as
quaes tem quarenta & cinco lugares deputados, ôc nelles nenhuma entra fem li-
cença da Camara.
O Mõíteiro de Santa Efcolaítica de Religiofas de S. Bento , que fundou
T
uma Dora viuva por nome Maria Teixeira, moradora neíia Cidade, que o do-
, > V todos feus bens,& tendo Bulias de Sua Santidade mandou pedir ao Mof-
iro de S. Bento de Vayrão Religiofas, que lhe pudeffem dar principio, reger,
^governar as que nelledenovo entraííem.
A Igreja da Mifericordia com nove Capèllaens, hum bom Hofpital: a Igre-
ja de S. Vicente com dous Beneficiados, aonde eítà huma devota, & milagrofa
Imagem de N- Senhor crucificado: a Ermida de Santiago ; & fóra dos muros
tem eítas Ermidas, Nofla Senhora do Loreto fobre o rio, S- Scbaítião,S. Laza-
ro, Santa Apollonia da outra banda do rio, S. Bertholameu junto das Vinhas, &
mais adiante o Santo Chriíto de Cabeça boa, Imagem milagrofa , & muy fre-
quentada de devotos Romeiros.
Ha neíta Cidade tres Praças, huma dentro dos muros do Caítello, aonde
eítá o pelourinho, & cafa da Camara, ôt duas mais fora das muralhas com hum
fermoíò terreiro em que fe fazem grandiof^feítas de cavallo, por haver neíta
terra muita nobreza, & graudes Gavalleirosthe abundante de pão, & vinho, &
nella fe fabricão veludos, damafeos, pinhoelas, gorgoroens, & teve huma cafa
por conta de Sua Mageítacfe, em que fe obra vão excellentes veludos lavrados.
Logrou eíta Cidade, & feu termo grandes privilégios de Couto, de que fe am-
paravão grande numero de criminofos , que agora foy fervido Sua Mageítade
revogar.
Affiítem ao feu governo civil hum Ouvidor, que entra em Correição em to-
das as Villas , que a grande Cafa de Bragança tem neíta Provinda; hum Juiz
de fóra, que exercita íuajurifdição fomente neíta Cidade, & feu termo ; tres
Vereadores, hum Procurador, hum Thefoureiro da Camara,hum Efcrivão da
Correição, hum Chanceller, hum Efcrivão da Chancellaria, hum Meirinho da
Correição,os officios de Contador, Enqueredor , & Diítribuidor da Correi-
ção, dous Porteiros da Correição, huffi Fiel das appellaçoens da Correição, hú
Efcrivão da Camara,oito Tabeliaens do Judicial, & Notas , hum Diítribuidor,
Contador, & Enqueredor, que andão unidos , dous Enqueredores do Geral,
que
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 49?
queandãofcparados,dous Meirinhos, hum Eferivão da Almotaçaria , dous
Porteiros da Camara, hum Juiz dos Oriaos com quatro Eícnvaens ,osofficuos
de Partidos dos Orfaôs, & Avaliador do Concelho, que andão unidos, quatro
Porteiros dos Orfaôs, hum Almoxarife, & Juiz dos direitos Reaes , hum Ef-
erivão do Almoxarifado, & outro das Sacas, hum Prccurador'do Eífado da Ca-
fa de Bragança, & hum Porteiro do Almoxarifado.

CAP. II.
\

Em que Ce projegue a dejeripcao dejla Cidade „

M tempo dos Godos, & dos Rey s de Leão teve fempre efta Cidade Cori-
E des, & lenhores principaes, que a governàraõ. ElRey Dom Affonfo o Ter.
cc^oàe Leão fez Conde delia a Dom Pelayo, illuftre Cavalleiro j depois pelo
tempo adiantepadeceo vários infortúnios,atè le arruinar de todo, & a reedifi-
cou no anno de 1130. DomFernaõ Mendes,grande fenhor em Trás bs Montes,
cunhadodelRévDom Affonfo Henriques;5c no anno de,1187. a mandou po-
voar de novo EÍRey Dom Sancho o Primeiro de Portugal, com grandes foros,
& privilégios,&defte tempo andou fempre na Coroa , atè queElRey Dom Fer-
nando a efeu a Joaõ Affonfo Pimentel com â Vílla de Outeiro em dote com Dona
Joanna Telles fua cunhada, iixnaãbaflardada Rainha Dona Leonor r êc Cõmen-
dadeira, que tinha fido do Cõvento de Santos da Ordem de Santiago»
Paffado o dito Joaõ Affonfo Pimentel a Caftella, & feguindo a parcialidade
delRey Dom J^-ir 1 Primrirn perdeoaqueilas terras, em cuja fatisfaçaõ lhe deu
ElRev Dom Henrique o Terceiro de Caflella a Villa de Benavente com titulo de
'Condado, 5c delle procederão porvaronia osfenhores defta Cafa com titulo de
«randeza , ôc deprefente a logra Dom Francifco Antonio Cafimiro Pimentel
Vicúl de Qumhones Herrera & Benavides, Conde duodecimo de Benavente, &
Conde decimo de Luna, Conde decimo-quarto de Mayorga, Marquez quarto
de Javalquinto, & de Villa Real, Gentil-homem da Camara delRey com exerci-
cio, Alcayde perpetuo de Soria,5c Capitaõ dehuma das Companhias das guar-
dasde Caftella 5 procedem também delle por varoniabs Marquezes de Ta vara,
os de Villar, & os de Viana, ôc em Portugal oultimotonde da Feira.
ElRey de Portugal, como Duque, ôc fenhor de Bragança,paga todos os an-
nos ao dito Conde de Benavente dous açores de Irlanda, que reduzidos a di-
nheiro , faõ vinte & quatro mil reis,muito bem pagos no cabeçaõ das íizas da
Comarca de Miranda, & ainda hoje os ditos Condes tem as fuasArmas noCaf-
tello. " . ...
Foy também fenhor de Bragança Dom Fernando, filho illegitimo do Infan-
te Dom Joaõ, 5c neto delRey Dom Pedro, cafado com Dona Leonor Coutinho*
filha de Vafco Fernandes Coutinho, fenhor do Couto de Leomil: fuccedeo-lhe
no fenhorio defta Cidade feu filho Dom Duarte ; porém morrendo fem fuccef-
faõ, o Infante Dom Pedro,filho delRey E)om Joaõ o Primeiro , governando a
Rey.no na infancia delRey Dom Affonfo o Quinto, feu fobrinho,a deu com ti-
tuío de Ducado a feu meyoirmaõ o íenhor Dom Affonfo, Conde de Barcellos,
Ttiij &
45>S TOMO PRIMEIRO
& foy o primeiro Duque de Bfagança.
, Caiou o dito Dom Affonfo, filho natural delRey Dom Joaõ o Primeiro de
Portugal,com Dona Brites Pereira, filha única, & herdeira do Grande Condef-
table Dom Nuno Alvarez Pereira , & defua mulher Dona Leonor de Alv im,
Condes de Arrayólos, Ourem, & de Barcellos , & fenhores de outras muitas
Villas: &delles, entre outros, foy filho ofeguinte.
Dom Fernando primeiro do nome , &c filho iegundo do primeiro Duque
Dom Affonfo, foy herdeiro da Cafa de feu pay, & Duque iegundo de Bragança,
& Penhor das muitas terras de feu Filado : cafou com Dona 1 oanna de Caílro,
Penhora do Cadaval, filha, & herdeira de Dom Jpaõ de Ca firo, fenhor do Cada-
val, & do Peral, & de outras terras; & deíle matrimonio, entre outros, foy fi-
ho o feguinte.
Dom Fernandofegundo do nome, & filho primogenitodo fegundo Duque
lacima, foy terceiro Duque de Bragança, & lenhor das mais terras de leu Fila-
do: cafou com Dona Ifabel de Portugal, filha do Infante Dom Fernando, Duque
de Vizeu, Meílrc das Ordens de Chriílo, & Santiago; & dcfle matrimonio, que
foy o Iegundo, teve, entre outros filhos, o feguinte-
Dom Jaimes, filho primogénito do terceiro Duque acima, foy herdeiro da
Cafa de feu pay, & quarto Duque de Bragança:cafou com D.Leonor de Gufmaõ
fua primeira mulher, filha de D. Joaõ de Gufmaó, terceiro Duque de Medina
Sidónia,Marquez de Caçaça, & Condede Nicbla;& deíle matrimonio foy fillio,
entre outros, o feguinte.
Dom Theodoíio primeiro do nome , filho primogénito do quarto Duque
ácima,foy herdeiro da Cafa de feu pay*,£t Duque quinto de Bragança : cafou a
primeira vez com Dona Joanna de Alencaílre,filhatíe Dom Diniz de Portugal,
que por fua mulher foy terceiro Conde de Lemos: & deíle matrimonio toy fi-
lho único o feguinte.
Dom Joao^íilho primogenitodo quintaDuque acima ^ foy herdeiro da
Cafa de feu pay, & Duque fexto de Bragança,o primeiro deíle nome*: cafou com
a fenhora Dona Catherina, filha do Infante Dom Duarte,Duque de Guimarães,
& Cofideílablc de Portugal; & delles, entre outros, foy filho o feguinte.
Dom Theodofio o feguddo do nome, & filho primogénito do fêxto Duq ue
acima, foy fucceífor da Cafa de feu pay, & fetimo Duque de Bragança : cafou
com Dona Anna dé Velafco, filha de Dom Fernando de Velafco, fexto Conde
de Haro,fegundo Duque de Çrias,& fexto Condeílable deCaílellado feu ap-
pellido, Governador de Mjlaõ, Prêfidente do Cònfelho de Italia,dos Confelhos
de Eílado, & Guerra dclRty Dom Feiippe o Tercei.ro : & deíle matrimonio,
entre outros, foy filho o feguinte.
Dom Joaõ fegundo do nome, filho primogénito do fetimo Duque acima,
foy herdeiro da Cafa de feu pay , & oitavo Duque de Bragança : no anno de
1640. foy acclamado Rey de Portugal, & entre elles o quarto do nome ; cafou
com a Sereniífima Dona Luiza Maria Francifca Jofepha Margarida Jacinta Ma-
noela de Gufmaõ, filha de Dom Manoel Domingos Francifco de Paula Peres de
Gufmaõ el Bueno, oitavo Duque de Medina Sidónia, quinto Marquez de Caça-
ça, & nono Conde de Niebla, Cavalleiro de Tuzaõ: &. deíle matrimonio, entre
outros, foy filhoo feguinte.
O Grande , & Pacifico Dom Pedro o Segundo no nome entre os Reys de
Portugal, filho terceiro do Gloriofo Rey Dom Joaõ o Quarto acima nomeado:
cafou a primeira vez com a Sereniífima Princeza, & R ainha D- Maria Francifea
" DA COROGRAFIA PO RT UGUEZA. 499
Ifabel de Saboya , filha de Carlos Amadeu Manoel de Saboya, Duque fexto de
Nemours, Aumale, & cenevocs, Marquez dc S Sorlim, Conde dt Gilors &.
defte matrimonio foy filha uniíaaPrinceza Dona Ifabel Luiza Jofepha , que
110ir
CafouSunda vez com a Sereniífima Rainha Maria Sofia Ifabel de Baviera
Neoburg, Prfnceza Condeca Palatina do Rin, Duqueza de Baviera, Neoburg,
Julier ai Cleves,& Mons,Condeça Vvaldens,fenhora deRevensthein,& MarfC,
filha de Felippe Vvilhelmo, Conde Palatino do Rin, Duque de Baviera, & Co-
de de Vvaldens, fenhor de Revenílhin,& MarK,Principe do lacro Romano Im-
pério ; & deíle matrimonio teve oPrincipe D-JoaÕ, que moçreo menino,o Prín-
cipe D.Joaõ,& os fenhores Infantes, D- Francifco,D. Antonio, D. Manoel,as
fenhoras Infantas D. Thereía,8c D-Francifca. •

CAP. Ill- •

Dos lugares do termo dejla Cidade, &• das Fregu


com o numero dos

r-p Em o termo deíla Cidade cento & cincoenta & tres lugares, que fe divi-
JL dem pelas Freguefias feguintes. * ' •
íTantob flevaõ de F refulfe, Abbadia dos Bifpos de Miranda , tem fetenta
vifinhos. „ , t -cr
S. yuTniCT jlilmilia uaiin fim aprefcntacão, tem o lugar de Moireita com
cincoenta vifinhos, & o de Ozeii£e com trinta & hum.
N. Senhora da Aífumpçaõde Dine annexaaReytoria deParamio , temo
lugar de Dine com quarenta vifinhos-
S.Pedro de Montouto, Abbadia dos Bifpos de Miranda, tem trinta & cm-
covifinhos. /- o j
S. Pedro de Moymenta, Abbadia damefma aprefentaçao, tem cento,&do-
zevifinhos.
Noífa Senhora da Aífumpçaõ, Abbadia da Cafa de Bragança , que ,rend e
trezentos mil reis, tem Gondezende com trinta vifinhos, Oleiros da Urea cõ
trinta 8tdous,8cPortella com trinta &,feis. '
S. Joaõ Bautifta, Reytoria da Cafa de Bragança, & Commenda de Chrilto,
temParamio comfeflenta &nove vifinhos, Maçans com trinta, & Fontes Traf-
baceiro com cincoenta & quatro. .
S- Jufto de Donay, Curado annexoà Reytoria de Carragoza, tem cincoen-
ta vifinhos. t . .
S- Martinho de Sueira, Reytoria dos Bifpos de Miranda, tem cento & vin-
te vifinhos.
Santo Eílevaõ de Efpinhozela, Abbadia da Cafa dc Bragança , que rende
trezentos mil reis, temleífentavifi lhos. ^ ■
S- Pedro de-Soutolb, Curado annexoà Reytoria de Carragoza, tem feten-
ta vifinhos: chamafe efte lugar Soutello da G^moeda.
Sao
pó TOMO PRIMEIRO
S' Cypriaõ de Villariahode Cova de Lua tem feffènta viíinhos, 6c he anne-
xa à Abbadia de Efpinhozella.
Santa Co; nb de Cova de Lua,, annexa à mefma Abbadia de Efpinhozela ,
temtrintáviíinhos.
N. Senhora da AíTumpçaõ de Carragoza, Reytoria da Cafa de Bragãça,tem
feffenta viíinhos.
S. Thomè de Terrozo, Abbadia que aprefentaõos Bifpos de Miranda,tem
cincoenta viíinhos*
Santiago de Lagomar tem vinte & quatro viíinhos, & o lugar de Savaris cõ
doze.
S.Joaó Bautifta de Craftellos he annexa à Reytoria de Villa-verde , tem
quarenta & cinco viíinhos.
.S. Berthclameu de Negredahe annexa à'Abbadia de S. GensdeSclías , té
vinte & oito viíinhos. '
S. Pedro de Conlellas, Reytoria do Bifpo de Miranda , & Commenda de
Chriíto, tem cincoenta viíinhos.
S. Cypriano he annexa à Reytoria de S. André de Ouzilhaõ, tem Nunes, &
Romaris com quarenta viíinhos.
Santo André de Ouzilliaõ, Reytoria da aprefentaçaõ do Cabido de Miran-
da, tem fetenta viíinhos: he Ccmmenda de Chrifto.
N. Senhora da AíTumpçaõ deCidoens he annexa á Abbadia de Villar de
Peregrinos, tem vinte & dous viíinhos.
Santa Barbora de Brito he annexa à Abbadia de S. Pedro de Penas juntas,
tem vinte & cinco viíinhos»
N.SenhoradaTrindadedeOzoyohe annexaà Abbadia de Sa5 Mamede de
Alimonde,tem feíTenta viíinhos.
S. Jorge de Saõ Cibraõ he annexa à Abbadia de Sendas, tem trinta~& cin-
co viíinhos^
Nolfa Senhora da AíTumpçaõ de Ferreira he annexa à Reitoria de S. Pedro
de Macedo dos,Cavalleiros, tem cincoenta viíinhos com o lugar de Comunhas.
S. Lourenço de Mucos he annexa à mefma Reytoria de S. Pedro dos Ca-
valleiros, tem quarenta viíinhos. ,
S. Miguel de VillaboadeOuzilhaS he annexa à Reytoria de S.Martinho
de Soeira, tem noventa viíinhos*
S. Gens de Sellas, Abbadia da aprefentaçaõ do Cabido de Miranda,que ré-
derà trezentos mil reis, tem quarenta viíinhos.
S. Mamede de Alimonde, Abbadia da Cafa de Bragança, que rende trezé-
tos mil reis, tem fetenta vifinhos. •
S. Martinho de'Martim, Abbadia da aprefentaçaõ do Bifpo, que renderá
trezentos mil reis, tem vinte & cinco viíinhos.
NoíTa Senhora de Melhe he annexa à A bbadiade NoíTa Senhora da AíTump-
çaõ da Villa de Rebordaõs, tem vinte viíinhos.
S.Jufto de Villar de Peregrinos, Abbadia da apreíentaçaõ do Bifpo , que
rende duzentos mil reis, tem quarenta viíinhos , & o lugar de Saõ Cibrainho
com dez. • *■ .
Santa Ifabel de Boufendehe annexa àReytoria deS. Pedro de Macedo dos
Cavalleiros, tem trinta viíinhos.
S. Miguel de Soutello de Pena Mourifca, Prebend4^& Curado do Cabido
de Miranda, tem vinte viíinhos.
Santa
DA COROGRAFIA POR'TUGUEZA: 5ot
Santa Olaya de Edrofa he annexa à Reytoria de Santo AndrèdeOuzilhaõ,
tem cincoenta vifinhos. _
Santa Cecilia de Carrazedo he annexa à Abbadia de S. Mamede de Alimõ-
de, tem quarenta vifinhos.
S.Miguel deEfpadanedo&VallongoheannexaàReytoria dcS-Pedro de
Macedo dos Cavalleiros, tem vinte viíinhos-
NoíTa Senhora do O de Refoyos he annexa à Abbadia dc Saõ Mamede de
Ali monde, tem vinte & dous vifinhos-
Santa Marinha de Edrofo, Abbadia da apreíentaçaõ doBifpo , que rende
cem mil reis, tem quarenta vifinhos.
S. T homè de Mós de Sellas he annexa à Abbadia de S. Gens dc S ellas, tem
vinte & dous vifinhos.
S. Pedro de Penas juntas, Eiras mayores, tem quarenta vifinhos: he Abba-
dia da Cafa de Bragança, que rende com as annexas trezentos mil reis.
S. Mamede de Agrochaõ he annexa à Abbadia dePenas juntas, tem cento
& cinco vifinhos.
S. Lourenço de Frãça he annexa à Reytoria de S.Bertholameu de Rabal,té
cincoenta vifinhos.
S. Romaõ de Baçal he annexa à Parochia de Santa Maria da Cidade de Bra-
gança : tem feffenta vifinhos-
S. Sebaftiaõ de Val de Lamas, Reytoria da apreíentaçaõ do Bifpo, & Com-
menda de Chrifto, tem dezoito vifinhos.
SantaCruz de Portello, & Montezinho tem trinta & quatro vifinhos : he
annexa à Reytoria de N.Senhora da AíTumpçaõ de Carragoza.
S- Jorge de Villa-nova he annexa à Reytoria de Caftro de Avellas Padroa-
do do Cabido, de quem faõ os dizimos: tem dezafeis vifinhos.
S. Cypriaõ de Avelleda he annexa à Abbadia de S. André de Meixedo,tem
feíTenta viluihdl». m*. jl ,»
S. Miguel de Varge he também annexa a mefma Abbadia de Meixedo, tem
quarenta vifinhos.
Santo André dc Meixedo, Abbadia da Cafa de Bragança,que rende com as
fuas annexas oitocentos mil reis: tem o lugar de Meixedo com feíTenta & qua-
tro vifinhos, & Oleirinhos com quatorze.
S. Bertholameu de Rabal,Reytoria da Cafa dc Bragança . tem feíTenta vifi-
nhos :efta Reytoria eftá dividida em quatro Commendas, a quechamaõ quar-
tos^ renderá cada hum cincoenta mil reis, dos quaes pagaõ os Commenda-
dores quarenta & dous ao Rey tor: tem mais a Commenda de Villa Meam por
annexa, que rende cento & trinta mil reis,& a Commenda de Gradamil , que
renderá cincoenta. /
NoíTa Senhora dá Aflupçaõ de Sacoya(s he annexa á Abbadia de Meixedo, te
cincoentavifinhos. \
S- Payode Nogueira he annexa àReytoria de Crafto de Avellans, tem fe-
tenta & feis vifinhos.
S. Pedro de Sam Pedro he annexa à Reytoria dc S. Gens de Parada, tem fe-
tenta vifinhos.
NoíTa Senhora da AíTumpçaõ de Samil he annexa à Igreja Parochial de San-
ta Maria da Cidade de Bragança: tem o lugar de Samil com cincoenta vifinhos,
& o de Cabcçaboa com doze.
' S.
5ot TOMO PRIMEIRO
S. Cláudio de Fermil tem cincoenta &dous vifinhos.
S. Martinho de Alfayaó, Abbadia do Cabido., que renderá cento & cincoe-
ta mil reis: tem fêífenta & féis viíinhos.
Santa Maria Magdalena de Grijó de Parada he annexa à Reytoria de S-Gens
de Parada: tem fcífenta viíinhos»
S. Vicente de Freixedello, Abbadia da Caía de Bragança, que rende cem
mil reis, tem trinta & cinco viíinhos.
S. N icolao de Pinella he annexa à Abbadia de S. Pedro de Carças, tejn cin.
coenta & quatro viíinhos;
S-Lourenço de Paredes he annexa à Rey toria de S. Gens deParada : tem
trinta viíinhós.
S. Mattheus de Sarzeaa he annexa à Rey toria de Caftro de Aveilans : tem
vinte & oito viíinhos.
S. Gens de Parada, Rey toria da Caía de Bragança, que tem fete Commen;
das,aquechamão oitavos, que rendem huns por outros a oitenta mil reis ca-
da hum, & cem para o Rey tor: tem efta F reguefia noventa & íeis viíinhos.
S. Lourenço de Fontes Barrozas he annexa á Rey toria de S. Pedro de Cõ-
lellas : tem cincoenta viíinhos.
S. Bento Rey toria do Cabido , tem Caítrode Aveilans com quinze viíi-
nhos, & Grandeas com trinta.
S.Vicente de Valverde he annexa ;à Abbadia de Santa Maria da Villa de
Rebordaõs: tem vinte & cinco viíinhos.
S. Pedro de Babe tem oitenta & cinco vifinhos ;he Reytoria da Cafade Bra-
gança, que com as fuas annexas tem duas Commendas, que renderam cada húa
cento & cincoenta mil reis, de que fe pagão ao Rey tor quarenta & dous.
Santa Olaya de Villa Meam he annexa à Rey toria de Saõ Bertholameu de
Raoal; tem quarenta viíinhos. Eftánotermo defla Cidade o lugar da Refega
coní doze viíinhos, que vão ouvir MiíTaàFregueíIa de Veigas , termo da Villa
do Outeiro. 'r
S. Miguel de Palacios, Curado que apreíenta o Cabido, tem vinte & cinco
vifinhos. -
S- Bertholameu, Reytoria do Bifpo, & Commenda de Chrifto , tem eíks
lugares, S-Julião com feífenta&feis vifinhos, & Carãvella com vinte-
Noífa Senhora da Aífumpção de Gimonde he annexa à Reytoria de S. Pe-
dro de Babe : tem quarenta vifinhos.
Noífa Senhora da Aífumpção de Labeados he também annexa àReytoria dc
S. Pedro de Babe : tem trinta viíinhos.
Noífa Senhora da Aífumpção de Deylão he annexa à Reytoria de Sac? Ber-
tholameu de Rabal: tem trinta viíinhos. Villar, & Val de Prados tem vinte &
cinco v iíinhos, que vão à Miífa ao lugar de Milhão, termo da Villa do Outeiro.
£ão Lourenço da Petifqueira he annexa à Reytoria de S. Bertholameu de
Rabal: tem vinte vifinhos.
S. João Bautifta de Riodonor he também annexa à mefma Reytoria de Ra-
bal-.tem quinze vifinhos, porque ametâde do lugar de Riodonor he de Portu-
gal, & a outra ametade de Caftella.
S. Vicente de Gradamil he também annexa á Reytoria de Rabal: tem deza-
feis vifinhos.
S. Miguel de Fcrmontaõs he annexa à Reytoria de Salças ; tem quarenta vi.
íinhos.
S.
D A COROGRAFIA PORTUGUEZA.' 505
S. Miguel de Lançãohe annexa àRevtoria deS. Mamedede Sortestem
trinta &cinco vifinhos; Villa boa de Arutc, lugar de fete viíinhos , & Arufe de
doze vão à Miffa à Villa dc Rebordainhos Contorça de Miranda.
S Julio de Calvelhe , Curado annexoà Reytoria dc Izeda, temoitenta
Vlflnl
6. MigueldePaçodeSortestcmquarentavifinhos : heanrtexa à Reytoria

dCS
' sí Mitue?Cuiado,temo lugar de Paradinha a nova com cincoenta vifi-

de Izeda: tem o lugar de Pombares com

vifoho»: hecófirmaçáo do Btfpo.

si Nicolao de Salças, Reytoria-do Biípo, que rende cincocta mil reis ,tcm
oluvar de Salças com cincoenta viíinhos, & Moredo com quarenta & íeis- La-
toens lugar dõ termo de Bragança tem doze vilinbos, que vao a Mula a Sezul-
fe<
^nroEft«5ode'Vfflatoad^Carjashe annexa âAbbadlade S. Pedro de

Carí
si Pedriidc Carças^Abbadia da Cafa de Bragança, que rende com as fuas
annexas trezentos mil reis livres para o Abbade, tem quinze vili nhos.
Santiago de Coelhozo he he annexa à Reytoria de S. cens deparada : tem

^CtCnSanta Maria Magdalena de Grijó de Valbemfeito he annexa à mefma Rey-,


toria de S. Gens de Parada: tem noventa viunnoí»- _
S. Martinho de Villar do Monte he annexa aReytonade S-i edro dc Ma-
cedo dos Cavalleiros: tem quarenta viíinhos-.
fsanra("nir|>ia^dc^^^^Co^^iha^cmtrin^^cin^o^virinnos .he annexa a
RCyt
Sr Lo urmçode Salcelhas/Abbadia do Padroado Reahque rende trezentos
mil reis, tem fetentaviíinhos. •
Santa Maria de Talhinhas/ Abbadia da Cafa de Bragança, que rende cento

& C1
M^çde d^Sor ces, ReyToria do Brf^>o dc Miranda ,' tem feffenta viíi-
nh
°S.BertholameudeViduedohe annexaà Reytoria de Sortes: tem cinçoen-
• /* 1
SanuMaria.de Valbemfeito, Abbàdia da Cafa de Bragança , querenácrá
cem mil reis livres para o Abbadç, tem cento & vinte viíinhos: ^ „
S. Pedro de Macedo dós Cavalleiros,Reytoria da Cafade Bragança, q co
as fuas annexas renderá oitocentos mil reis para o Commendador, deque paga
quarenta & dons ao Reytor item Macedodos Cavàlle-roscom leffenta vifinhos,
Travanca com cincoenta , Mugueirinha comvinte&leis,&Gradiílimo com
qUarC
N.SenhoradaPuvif.caç"ao,AbbadiadoBifpod=Mitand?,quC rende qui-
nhentos mil reis,.tem o lugar de Podence com cento Sc doze viíinhos, Sc o Azh
veiro com qtiatorze- - ** j
' S. Vicente de Vinhas, Abbadia que aprefenta o Marquez de Tavora , que
rende dous mil & quinhentos cruzados; tem noventa viíinhos.
S. Sebaftiãode Limãos té fetenta viíinhos;. he annexa a ABbadia de Viftha^
504 TOMO PRIMEIRO
Si Vicente de B agueixe, annexa também à Abbadia de Vinhas,tem feffen-
ta viíinhos-
N. Senhora da AíTumpçãodeCaílro Roupal, annexa á mefma Abbadia de
Vinhas, tem quarenta viíinhos.
Santa Cruz de Galhos, annexa à mefma Abbadia de Vinhas,tem cincoé-
ta & oito viíinhos. •
S. Giraldo de Banrezes, annexa à mefma Abbadia de Vinhas , tem vinte
viíinhos.
S. Sylveftre de Freixeda he annexa à Rey toria deSalças: tem trinta & cin-
co viíinhos. O lugar de Fernande tem vinte & fete vifinhos, que vaõ à Miffa à
Villa de V al de Nogueira deíl a Comarca.
S. Giraldo de Carrapatas tem cincoenta vifinhos: he Curado da aprefenta-
ção do Bifpo.
Santo André de Moraes, Reytoria do Bifpo, &Commenda de Chriflo, té
o lugar de Moraes com cento & feíTentaviíinhos,& o de Sobreda com quatorze.
S. Bertholameu de Paredinha dos Befteiros tem vinte & cinco vifinhos : he
annexa à Reytoria de Santo Andre de Moraes.
S.Martinho da Lagoa annexa à mefma Reytoria de S. Andre de Moraes,
tem cento & quarenta vifinhos.
Santa Comba de Roças tem cincoenta viíinhos.
S. Miguel de Talhas he annexa à Abbadia de S- Pedro de Carças , tem no-
venta viíinhos.
N. Senhora da AíTumpção de Serapicos, annexa também à Abbadia de Saô
Pedro de Carças, tem fetenta viíinhos.
N. Senhora dá AíTumpção de Caftellãos tem cem viíinhos : he annexa à
Reytoria de S- Pedro de Macedo dos Cavalleiros. „ *
Santa Eufemia de Vergada tem vinte & cinco viíinhos : he annexa à Abba-
dia efesendasT
N. Senhora das Candeas de Macedo do Mato, Abbadia do Bifpo, que ren-
de fetenta mil reis jtem quarenta & feis viíinhos.
S- Pedro de Sendas, Abbadia do Bifpo, que rende quatrocentos mil reis,
tem trinta &. cinco vifinhos.
NoíTa Senhora da AíTumpção de Lamas de Podence, Reytoria do Bifpo, té
fetenta & feis viíinhos.
Santiago de Crujas tem fetenta viíinhos 5 he annexa à Reytoria de Lamas.
N-Senhora da AíTumpção de Izeda , Reytoria do Bifpo , tem cento &
feífqnta viíinhos.
S-Vicente de Val da Porca tem oitenta vifinhos: he annexa à Abbadia de
Salcellas.
Santa Martha de Bornes, Reytoria do Bifpo, & Commenda de ChriíTo,tem
cento & fetenta vifinhos.
N. Senhora daCõccição de Burga tem qyarenta vifinhos :he annexa à Rey-
toria de S. Martha de Bornes-
Santa Maria de Quintella de Lampaças, Abbadia da Cafa de Bragança>que
rede cõ as fuas annexas duzétos & cincoenta mil reis livres para o Abbade, tem
olugar de Quintella com cento & doze vifinhos, & ode Veigas eom vinte &
cinco.
S. Miguel de Baldres he annexa à Abbadia de Santa Maria de Quintella: té
trinta & cinco vifinhos. O lugar de Arrifana tem quinze vifinhos , que vão à
'iíTa
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. pf
Miffa à Villa de Valde Prados defta Oomarcâ*
S. Nicolao da Amendoeira, Curado do Biípo, tem feffenta vifinhos.

CAP. IV.

Das Villas em que entra em Correição o Ouvidor da Cornai ca de


Bragança,qtk [ao dos Duques defta grande Cafa.

A' Villa de Val de Nogueira deu foral no anno de 125)6- EÍRey Dom Af-
fonfo o Terceiro, que depois reformou ElRey Dom Manoel : tem trin-
ta vifmhos com huma Igreja Parochial, Orago N. Senhora da Affumpção. He
da Provedoria de Miranda.
A Villa de ViUa Franca tem citicoetltavifinhosçom huma Igreja Parochial
da invocação de S. Bento, annexa à Abbadia de S.Maria deQuintelía no termo
de Bragança. He também da Provedoria de Miranda-
A Villa de Vai de Prados tem noventa vifinhos com huma Igreja Parochial
da invocação de S.Jeronymo , annexa á Reytoria de S. Pedro de Macedo dos
Cavalleiros no termo de Bragança j he da Provedoria de Miranda.
A Villa de Rebordãos tem cem vifinhos com Igreja Parochial, Orago Noí-
fa Senhora da Affumpção, Abbadia da Cafa de Bragança,que com fuas annexas
renderá quinhentos mil reis livres paraoAbbade: ElRey Dom Diniz lhe deu
foral. O feu termo tem o lugar de Mós de Rebordãos com cincoenta vifinhos,
Igreja,Parochial da invocação deS. Pedro, Abbadia annexa a da Villa: tem mais
huma SfiiihrP >Tmagcm.muy devota, & de muitos mila-
gres. He da Provedoria dê Miranda. . _ , . , , .
A Villa deGuftei tem quarenta vifinhos com huma Igreja Parochial da in-
vocação de S. Cláudio, annexa áReytoria de S. Bento deCrafto de Avellãs no
termo de Bragança. Tem eft a Villa no feu termo o lugar da Caftiriheira cõ 24.
vifinhos :he da Provedoria de Miranda.
A Villa de Ervedoza tem cens vifinhos com huma Igreja Parochial da in-
vocação de S. Martinho, annexaá A bbadia de S. Pedro de Penas juntas : tem
eft a Villa no feu termo Pegolago, &Soutella com doze vifinhos , & Falgueiras
comnove,quevãoá Igreja de S. Pedro dePenasjuntas termo de Bragança 5 hc
da Provedoria de Miranda. | [.
A Villa do Outeiro fica feis legoas ao Noroefte de Miranda, & tres de Bra-
gança para o Sul: eftá íituada na planície de hum outeiro, donde tomou o nome ,
com feu Caftello: he abundante de pão, & vinho; tem oitenta vifinhos com húa
Igreja Parochial dedicada a N« Senhora da Affumpção. He feu Alcayde mor o
Doutor Antonio de Freitas Branco , do Confelho de S*Mâgeílade,& dodefua
Fazéda, Comendador de S.Mamede do Trovifcofo,Juiz geral das Coutadas do
Reyno,Chanceller da Cáfa de Bragança,& Miniftro da junta da dita Cafa, & da
Cafa da Infantado,& Adminiftrador da Cafa de Aveiro.;O feu termtftem asFre-
:
gueílas feguintes. ' •
Santa Olaya tem Pinello com fetenta vifinhos, & Val de Pena cotfi t re s«
S. Thomè de Quintanilha tem trinta vifinhos.
S. Cruz de Carção tem cento & cincoenta vifinhos.
Uu b*
yo6 TOMO PRIMEIRO
S. Lourenço de Milhão tem cincoenta vifínhos.
S.Vicente de Paço do Outeiro tem feffenta vifínhos.
S- Frutuofode Argozello tem cento 8c cincoenta vifínhos*
S. Miguel de Paradinha tem quarenta vifínhos.
N- Senhora da Affumpcão de Rio frio tem fetenta vifínhos.
S- Julião de Santulhão tem cento 8c cincoenta vifínhos.
S. Vicente de Vcigas tem vinte vifínhos. Pertencem aos dízimos defies
lugares ao Cabido de Miranda, que nelies aprefentão Curas.
Aífiílem ao governo civil deíla Villa, que he da Provedoria de Miranda,
hum Juiz de fora, Vereadores, 8c Juiz dos Orfaõscom feus Officiaes,8c tem al-
gumas cafas nobres deappellidos, Rochas, Machados, Moraes, Fragofos.

CAP. V.

Da Filia de Chaves.

HE eíla Villa do Arcebifpado de Braga, 5c do Eílado da Çafa de Bragança,


em que entra o feu Ouvidor em Correição, 8c o Provedor da Comarca de
Guimaraens a exercitar leu officio: foy fundada pelo Emperador Flávio Vefpa-
fíano > 8c o nome que teve antigamente de Acjua blavia, dizem que eile lho pu-
zera,que depois fe corrompco em Afyna Calid#, por razão das aguas calidas,
que nella nafçé fora dos muros junto da põte q chamão das Caldas, aonde hou-
ve cafa em que fe tomavãobâhnosf1, 'quenearruinou par a ficar livre a campa-
nha, & defembaraçados os tiros da artilharia; andando os tempos fe corrcpeo
o nome d tCalida em Clavis em Chaves no tempo delRey Dom Affon-
fo o Sexto de Leão, que a deu em dote a feu genro o Conde Dom Henrique de
Borgonha- Na entrada dos Mouros emEfpanha foy deílruída por elles, 8c de-
pois reedificada por ElRey Dom Affonfo o Terceiro de Leão no anno de 888.
que a mandou povoar , Sc cercar de muros t, encarregando a obra ao Conde
Oduario. Tornou ao domínio dos.Mouros, Sc po anuode utío. reynandoDõ
Affonfo Henriques, foy reílaurada por dpus.irmãos Puí Lopes, 5c Gracia Lo-
pes, Cavalleiros Portuguezes, por cuja caufa tomarão o appellido de Chaves,
que ficou a feus defeendentes. Finalmente ElRey Dom Diniz a engrandeceo,
reparando feus antigos muros , Sc lhe deu ípral ElRey Dom Affonfo o Quarto
feu filho, o qual depois reformou ElRey Dom'Manoel em Lisboa a 19. de Julho
de 15 t y- tem voto em Cortes com aífento no banco quinto.
Tem eíla Villa feu fítio emhuma imminenciapouco levantada junto do rio -
Tamega , que corta huma efpaçofa veiga defde a V illa de Monte-rey (que he a
f| >raça de Armas fronteira de Galliza) por diílancia de treslegoas até Chaves,5c
argura de meya,de terras férteis,& abundantes de pão,8c linhos. O rio divide
aeíla Villa jdofeu Arrabalde,que chamão da Magdalena,8caambos ajunta hua
ponte,que o domina, que dizem ler fundada pelo Emperador Trajano, em cuja
comprovação fç confer vão em huma das entradas da ponte duas {colunas com
infcripçoens deíle,5c outros Emperadores, de que fazem memoria. Entre o
rio, 5c a Villa ha outro Arrabalde, que chamão das Couraças: o reflante da po-
voação
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. jo?
voâção eftá recolhido dentro da muralha feica>~& emendada aoimodcrno com
cortinas, baluartc§,'&cavalleiros, com artilharia. & bom iolfo'* t váoas cor A-
nas fechar com o forte de S. Francifco, maisunmlnente que a Vj1U_, obra rfio-
derna, que agora lhe ferve de Cidadella; mas conforme a plartta da fortificação,
di zem fe ha de alhanar a parte do forte, que olha para a Vida dentro das corti-
nas da muralha, para que deixe de fet Cidadella, & fiquem os muros »- St foofc
fazendo cm circíitohuma fó murallia irregular, que rodec a Villa , denuo di y
qual ertá hum Caftello de fabrica antiga , que ferve de habitaçao dos Governa-
dores das Armas defta Província,que fempre nelta praça fizerao fua affiftenctaj
coma mayor quantidade de gente de guerra, que eflava dcftinada para guarda,
&defcnfadefta Província; & aindahojetem de preCdio ordinário hum. terço
de Infantaria, & duas Companhias de cavallos- Dlftante hum grande tiro dc .
mofquete eílá o forte de S- Noutel,obra moderna, 8t de fmgular fortaleza , &
perfeição, com eftacada de alamos em lugar de cítacas.
Toda a povoação hehuma fó Freguefia, que tem quatrocentos viíínhos, co
huma Igreja CoUegiada,OragoNoíTa Senhora da Affumpçáo , Priorado que
aprefenta a Cafa de Bragança, que rendefeifcentosmil reis , com roais dous Be-
nefícios limples daapreíentaçãoda mefma Caia, que rendera cada hum fetenu
mil reis. I Jentrodo fortedeSaóFranclfco e la hum Convento da uivocâçao
defte Santo, o qual foy antigamente de Templários, depois. de Conventuaes, Sc
hoje de Capuchos Piedofos, a fegynda Cafa delia Província: fundouie depois
no lítio cro que hoje eílá pelos annos de 1637.com cfmolas do povo , & dos
Duques de Bragança, Padroeiros do antigo Convento , & fc tresladatao para
ditos olfos do primeiro Duque Dom Affonfo. Lntreoforte,& «Wbto
Recolhimento de mulheres leigas, & com capacidade de fer Convento, em cu)a
pertencão andao os moradores- •
Reítde ne&LVillahum das cauf^dos Solda-
dos, & ha hvurA^toti'CTSrnofFo petoArcebifpo dc Braga com certa junídi-
ção coarólada nefta Villa,& em outras circunwftinhas. Afliítem ao leu governo
civil hum Juiz de fóra,Vercadores com feus Officiaes, hum Juiz dos Orf aos cq
dousEfcrivaens, & feis Tabeliaens- Tem muitas caías nobres de appelli os,
Magalhaens,Teixeiras, Barros, Bahias, Queirogas, Ma^iras, Pinheiros Fo
touras, Meraes, Araujo^Fontes, Oliveiras, Carneiros, Campilhos, Pereiras,
Velhos, Barrozos, Soufas, Coifas, Peffoas, Brandoens, Chaves, I equuios, &
outros muitos.

Lugares do termo de/la Filia, quefe dividem feias Freguefw


, - feguintes. !•

SAõ Domingos , Curado annexo ao Priorado da Igreja Matriz de Chaves,


tem eft es lugares, Valdanta com vinte & oito vifinhos, Abobleira com vin-
te, Cando com doze, & Granja com quatorze. . , r • „
Santa Clara, Curado da aprefentaçao do Reyror dc Bobadella,tem Samjur-

]
° L°^ntaM?rk,íCurado da aprefentação do Rey tor de Bobadella, tem Soutcl-
lo de baixo com fetenta & oito vifinhos, & Noval com trinta & feis , huma Er-
mida do Efpãrito Santo, & quatro fontes. ^ .. Santo
5o8 TOMO PRIMEIRO
Santo André,Curado da aprefentação do mefmo Reytor de Bobadella,tem
Ar daõs com oitenta vifinhos, òc huma Ermida de N. SenhoràdoRofario.
.* Santo Antonio, Curado da meíma aprefentação,tem Sounfinho com íeilen-

W V1
, Santo Maria tem Calvão com cento Sc nove vifinhos , Cear a velha com íe-
tetitaSc feis,Caílellaõscomdezoito, Agrellatem vinte, que vão ao Couto dc
Ervededb dos Arcebifpos de Braga. .
Santa Maria de Villelafeca, Curado da Mitra, tem cincoenta vifinhos , òc
huma Ermida de N. Senhora.
Santiago, Abbadia da Mitra, tem Villarelho, St Cambedo com cincoenta
vifinhos, & Villarinho do Extremo com dezafeis , Sc huma Ermida de N- Se-.
nhoradoRofario. ' ,
Santa Comba de Villameam, Curado da Mitra, tem quarenta vifinhos , ôc
huma Ermida de S.Anna. .
S. Miguel, Curado da Mitra, tem Outeiro feco com oitenta vifinhos , 3c
huma Ermida de N- Senhora do Roíario,St o lugar de S- Cruz com dez, St hua
Ermida de S.Anna. _ . .
Santa Maria de Lahiadarcos tem cincoenta vifinhos: he annexa ao Priorado
da Villa de Chaves. . ,
S. Martha de Villa Frade tem trinta vifinhos, Sc huma Ermida de N. Senho-
ra : he também annexa ao mefmo Priorado-
Santo Eílevão, Vigairaria da Mitra, tem eftes lugares, Santo E ftevão c5
cincoenta vifinhos, Fayoens com cento & dez, & Villaverde do Extremo com
quarenta: faõ annexas a eífa Freguefia tres Ermidas, N. Senhora do Roí ario, S.
Mattheus, & Santiago. _
S.Maria, Curado da aprefentação do^Vigario de S-Eftevão , tcmorogãf
de S. Lourenço com trinta vitf hTi&s.,'^Pira^ com dez. . .
S. Salvador, Vigairaria da aprefentação da Caía dc Bragança, tem O Elpiri-
to Santo de V illár de Nantes com oiteta vifinhos, Nantes com cincoenta St íeis,
& Outeiro João com trinta,& huma Ermida de Santiago.
N.Senhora doO,Curado annexoàVigairaria cfeS-Salvador , tem Sa-
mayoens com quarenta & cinco vifinhos , 5c huma Ermida deN. Senhorado
Rofario, 5c Izei com vinte 5c cinco-
Santa Maria, Curado annexo à Reytoria de S- Miguel de Nogueira , tem
Sella, 5c Sampayo com doze vifinhos, 5c huma Ermida, 5c Trefmundes, 5c Bru-
nheiro com vinte- "
S.Julião de Monte negro, Reytoria, 6c Commenda deChriito, tem eites
lugares, S. Geão com vinteôc cinco vifinhos, Morteiro de baixo com quinze,
& Limaos com oito.
Santa Maria de Paradeiía, Curado annexoà Reytoria de S. Miguel de No-
gueira, tem Paradella, ôc»Pardelhas com tripta vifinhos, Ôc Maços com vinte.
S- Miguel, Reytoria da Mitra, & Commenda de Chriílo, (de que he Com-
mendador Dom Pedro da Cunha) tem eftes lugares , Nogueira com dezoito
vifinhos, Capelludoscom vinte, Sandanil com quatorze , Santa Marinha com
dez, a Moinha velha com nove, Sobrado de Nogileira com feis , Santiago do
Monte com vinte 5c dous, Alanhofa com vinte, & Gundar com dez.
S. Vicente de Vilharandello tem cento & cincoenta 6c dous vifinhos , 5c
huma Ermida :he Vigairaria de Malta da Commenda de Saõ Joaotde Corvei-
ra
* S.
DA COROGRAFIA PORTUGUESA. J09
S. loão, Vieairaria de Malta da mefma Commenda, tem eíles lugares , Er-
voes com cincoenta vifinhos, Lamas com dezafeis , Alpande com vinte & cin-
co, Valongo com oito, Villardouro com feis, Alfonge com doze, Sendofelhe co
dez, 8c Sá com cincoenta & cinco, & huma Ermida de anta Luzia.
S. Maria de Vaçal, Curado da aprefentaçao do Cabido ,de Braga, tem Vaçal
com cincoenta vifinhos, Sc Monçalvarga com quarenta.
S. Pedro de Frioés, Vigairaria da aprefentaçao da Cafa de Bragança , que
rende duzentos mil reis; tem eftes lugares, Fnoens com íeis vifinhos-, Villari-
nho com vinte & dons, Frugende com dezanove, QumteUa com cmçoenta , S.
Domingos com feis, Ladairo com dez, Selleirosicom cincoenta, Villarandaboa
com doze, Paranhos com dezoito, & Moíteiro de cima com vinrfc & íeis : os
dizimos deftaFreguefíafaò do Prior de Chaves. .
S. Mamede, Curado annexo à Reytoria de S. Nicolao de Carrazedos, tem
Argeris com oitenta vifinhos, Ribas com vinte & cinco , Pereiro de Santiago
com vinte, Alvarenta com quinze, Midoens com dez , 8cValdefpinhocomoi-

S. Pedro de Sanfins, Curado annexo à mefina Reytoria de Carrazedo, tem


feffenta vifinhos. , . „
Santa Maria de Crafto, Curado annexo a mefmaReytona.de Cralto, tem
quarenta vifinhos. , , ,, L
S.Pedro do Rio torto, Reytoria, Sc Commenda de Chriíto,(de que he Co-
mendador o Conde de S. Lourenço) tem noventa vifinhos. .
S. Louréço de Lilella, Curado annexo à Reytoria de Sao Pedro de Rio
torto, tem Lilella com vinte Sc feis vifinhos,Povoa cõ vinte Sc dous,Payo co do*.

NoíTa Senhora das Neves da Veiga de Lila tem trinta Sc dous vifinhos: hc
annexa á Reytoria de S. Pedro dos Valles.,
S. PcdrodosVSTtesyRcy toria da aprefentaçao da Cafa de Bragança , que
com as fuas annexas rende ao Reytor duzentos mil reis,tem quarenta vifinhos,
& huma Commenda que aprefenta a Cafa de Bragança, que rendera t rezen t o s

ml11
Notta Senhora do O,he annexa à Reytoria de S. Pedro dos Valies : tem ef-
tes lugares, Canavezes com quarenta vifinhos, Cadoufo com vinte , Deimâos
com trinta, Sc Emeres com oito. *
S. Nicolao dos Valles, Reytoria da Mitra , Sc Commenda ae Chrifro ( dc
que he CommcndadorFrancifco Teixeira Chaves) tem Vallos.co vinte Sc dous
vifinhos, Sc Zebres com dezafeis. , ,
Santo. Andre tem Jou com feffenta 8c cinco vifinhos, Toubres com dezoi-
to, Valdigua com oito, Cima da V ilia com quarenta Sc cinco : he annexa a Rey-
toria de S. Pedro dos Valles. „ , . ,
S. Miguel, Curado annexo à Reytoria de S. Nicolao de Carrazedo , tem
Curros com vinte 8c cinco vifinhos, Val do Campo com doze, Sc Cabanas com

Santa Maria de Emeres, Curado annexo a mcfma Reytoria de Carrazedo ,


tem fetenta vifinhos. _
S. Thomè de Randufe Traz Carrazedo, Curado annexo à mclma Keyto-,
ria de Carrazedo, tem quarenta vifinhos. ,
S. Nicolao de Carrazedo, Reytoria da Mitra, Sc Commendadc chnito( de
que he Commendador o Marquez da Fronteira) tem Carrazedo Com noventa
5I0 TOMO PRIMEIRO
vifinhos, Silva com vinte & íeis, Cubo, & Ribeira da Fraga com trinta.
Santa Maria de Tazem, Curado aunexo àReytoria de Carrazedo, tem o
lugar de Tazem com trinta vifinhos, Valizcllos com doze, Cubas com nove,&
Frutuofo com quinze.
S. João da Corveira, Vigàiraria de Malta, tem S. João da Corveira com de
zoito viíinhos, Corveira com doze, J unqueira com quatorze, Rio bom com vin-
te & dous, Sobrado da junqueira com dezanove, Buí lo com nove, V arges , &
Quintelinha com oito,& Villarinhodo Monte com dezoito.
S- Salvador deNuzedo he annexa àReytoria de Santa Leucadia : tem Nu-
zedo com quarenta vifinhos, & Argemil com quarenta & cinco: rende a Reyto-
ria de Santa Léucadia com as fuas annexas cem mil reis, & tem huma Commen-
da da Cafa de Bragança, que rende quatrocentos mil reis.
S-Pedro de Padrella, Curado annexo àReytoria de Carrazedo , tem trinta
vifinhos.
S. Bertholameu da Povoa he annexa àReytoria de Santa Leucadia ; tem
Povoa de Agraçaos com doze vifinhos -, Pereirode Loivos com vinte & oito,
Agraçaos com dez, Fernandinho,& S. Pedrinho cõ feis,& Dorna com quinze.
Nofla Senhora da Affumpção he Rey toria da Caia de Bragança, que com as
•fuas annexas rende ao Rey tor cem mil reis, & he Commend a que renderá qua-
tro mil cruzados: tem eíles lugares. Santa Locaya com vinçe & cinco vifinhos,
Adaes com trinta & quatro, Matozinhos com trinta & cinco, Fornellos com
tres, Santa Ovaya com quinze,Carregal com oito,8c Vai do galo com quinze.
Santa Maria de Moreiras tem dezoito vifinhos , France com vinte & feis,
Almorfe com doze, Torre de Moreiras com vinte & fete , & Randufinho com
fete: hê Reytoria da Caía de Bragança, 8c Commenda de Chrifto , de que hé
Commendador o Duque do Cadaval. t ■
S. Giraldo de Loivos he annexa à-Revtoria de Moreiras : tem Loivos com
cem vifinhos, & Ceixo corrrquarenta.
Noífa Senhora do Rofario de Salharis he também annexa à Reytoria de Mo.
reiras :tem Salharis con\trinta & feis vifinhos,Fornos cõ quinze, Valverde cõ
vinte, 8c Villarel com quinze-
Santiago de Oura he annexq à mefrna Reytoria de Moreiras: tem Oura cõ
quarenta vifinhos) 8c Villaverde de Oura com vinte 8c íeis-
S. Thomè de Arcoço he também annexa â Reytoria de Moreiras : tem Ar-
coço comfetcnta 8c feis vifinhos, 8c Vidago com cincoenta.
S. Francifco de Villarinho das Paranheiras tem cincoenta vifinhos ; he an-
nexa à mefrna Reytoria de Moreiras-
Santa Olaya de Anelhe he também annexa à mefrna Reytoria de Moreiras:
tem Anelhe com quatenta 8c dous vifinhos, Souto velho com trinta 8c dous, 8c
Rebordondocom quarenta & cinco.
Nbífa Senhora da Aífumpção, Curado, tem Villela doTamega com qua-
renta vifinhos, Rodeai com trinta* 8< "Moure com dez.
S- Gonçalo de Villasboas, Curado, tem Villasboas com quarenta vifinhos,
Pereira do Sellão com vinte 8c nove, 8c V ill a Rei com doze.
S. Pedro de Agoftem, Vigairaria da Mitra, tem eftes lugares ? S. Pedro de
Agbftem com trinta vifinhos, Agoftem com quinze, Ventozellos cOm dezaieis,
Villa-nova da Veiga com quarenta, Pereira de Veiga com doze , Paradella da
Veiga£bomd.*z,Sefmil com quinze , Bobeda com trinta 6c feis , Lagarelhos
tomnove, & Efcaris com doze-
<'f ' Santo
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA: jii
Sinto André de Curalha tem quarenta viíinhos, Sc huma Ermida : he an-
iiexa à Vigairaria de S. Vicente deRedondello- ^ .
S Vicente deRedondello, Vigai raria da Mitra, tem Redondello com trin-
ta viíinhos, Cafas novas com quarenta Sc dous,& Paftoria com feíTenta,Sc huma
Hrmidade S. Martinho- „ ■
Santa Anna de Sarapicos, Curado da aprefentaçao do Cabido de Braga,tem
trinta & fcis viíinhos. ^ , n. i c • 3 o:
Santiago, Vigairaria do mefmo Cabido, tem eíhes lugares, Santiago da Ri-
beira com quatro viíinhos, Alvites & Dagoy com dezafeis,A moinha no va com
vinte, AvelledaSc Friande com quatorze,Chamoinha com dezafeis,Campo de-
ooacom cincoenta, Cancello com oito, Efturaõs com dezanove , Paradella de
Saõ juzenda com vinte, Parada de Saõ Juzenda com quinze , S. Juzenda com
treze, S. Sibrão com doze , VUlela do Monte com quatorze , & Villa-nova
do Monte com dezafeis. . TT t ~ -
Santa Maria, Vigairaria do mefmo Cabido , tem V alpaífos com cento &
feíTenta vifinhos, Lagoas com vinte St dous, V alverde com doze A V al de Calas

C0 r
' Sant^Maria dos PolTaquos Vigairaria do mefmo Cabido , tem PoíTa-
quoscom cem viíinhos, ScCachaõ com vinte.

•CAP. VI.

T>d VilUde^Mpnteaíezre. ^

Cinco legoas para o Poente da Villa de Chaves, caminhando para a Provin


cia de Entre Douro St Minho, tem feu aífento a Vília dc*Montealegre,ter
ra montuofa, & muito fria, abundante de centeyo, caça. St criaçoens de vacas,
de que tirão muitas manteigas, Sc natas: em Teus nos, Caldo, Sc Beça fe pefcao
muitas Sc boas trutas, Sc em outras Ribeiras- ElRey Dom Diniz lhe deu io^al,
Sc a mandou povoar no anno de 1289- hedo ArcebifpadodeBraga, Sc doF.iia-
do da Cafa de Bragança, cuio Ouvidor entra nella em Correição , Sc da L rove-
dória de Guimáraens ;fem cento Sc feíTenta viíinhos com huma Igreja Parochial
da invocação de Santa Maria, Rey toria da Mitra, Cafa de Mifericordia, Sc duas
Ermidas -.confina com o Reynode Gallizapela parte do Norte, Sc tem hum Ca-
íhello de fabrica antiga, em que no tempo da guerra, Sc alguns annos depois da
Dazhouve Governador com prefidio de [manteria, que agora naotem- O ^
termo tem dous Caftellos, hum que chamão da Piconha, Sc outro de Seirraons.
te cento Sc quarenta Sc tres lugares, q le dividem pelas Freguefias fegumtes.
S. Migueide Villar de Perdizes, Vigairaria da Mitra, tem cento Sc noven-
ta viíinhos^ Sc eftes lugares, Santo André com cem, Sc Sorveira com oitenta.
Santa Maria de Gralhas, Curado, tem cento Sc dezafeis vifinhos.
Santa Maria de Meixcndo, A bbadia da Mitra, tem Meixendo com fetenta
Sc dous vifinhos, Sc Codeçozo com trinta Sc fete. . >
Sanca Maria de Pádornellos he annexaàReytoria de Santa Mana de Mo-
t ealegr e, tem feíTenta Sc dou s v ifinhos •
ni TOMO PRIMEIRO
S. Martinho de Padrozo, Abbadia da Mitra , tem cincoenta & dous vifi-

,l! 0b
's. Pedro de Tourem, Abbadia da Cafa de Bragança, que rende trezentos
mil reis, tem noventa vilinhos. Neila Fregueíia eila o Caftello da Piconha.
S. Pedro de Donoens tem feffenta vifinhos: hc annexa à Reytoria de Santa
Maria de Montealegre. # x „ , . _ , ,
Santiago de Mourilhe tem feffentavifinhos , & o lugar de Sabuzedo com
cincoenta: he também annexa à Keytoria de Montealegre.
S Mamede de Cambezes, Abbadia da Cafa de Bragança, que rende duzen-
tos mil reis, tem o lugar de Cambezes com feffenta vifinhos, & o de Frades com
trinta&cinco. . . , x
Santo André de Cezelhe he annexa à Reytoria de Santa Mana dc Monte-
alegre, tem Cezelhe cora cincoenta vifinhos , & Travaços com quarenta & cin-
co
Santa Maria de Covellaens tem cincoenta vilinhos , he annexa à Reytoria
de Santa Maria de Veade- .
Santiago de Paredes do Rio tem cincoenta vilinhos , he também annexa a
Reytoria de Santa Maria de Veade.
Santa Maria de Pitoens tem cem vilinhos.
S. Thomè de Parada do Gerês, Abbadia da Cafa de Bragança , que rende
duzentos mil reis, tem Parada do Gerês com trinta vifinhos, Outeiro com vin-
te & oito, Sirvozello com doze, & Sella com oito.
S.Lourenço de Cabril, Abbadia da Cafa de Bragança , que rende trezen-
tos mil reis, tem Cabril com quinze vifinhos, Lapella, & Azebedo com doze,
Zertellocom dez, & Cheio com nove.
S. V icente de Contim he annexa à Abbadia de Santa Marinha : tem Con-
tim com vinte vifinhos, & S. Pedro do Rio com trinta & feis.
S- Miguel de Villaça tem vinte vifinhos , & lhe pertencem ametade dos vi-
finhos do lugar de S. Pedro do Rio: he Curado que aprefenta o Abbade de San-
ta Marinha. . . . . , , _ .
Santo André de Fiaens do Rio tem trinta vifinhos , & o lugar de Loivos
com doze: he annexa à Reytoria de S. Maria de Veade.
S- João de Ponteira, he também annexa à Reytoria de Santa Maria de Vea-
de : tem Ponteira com quinze vifinhos, & Paradella com vinte & feis.
S. Pedro de Covello do Gerês, Abbadia da Cafa de Bragança, que rende li-
vres da penfaõ para o Abbade cem mil reis, tem Covello com trinta & feis vifi-
nhos, & Seftafreita,& Penedas com quinze.
Santa Marinha, Abbadia da Cafa de Bragança, que com as fuas annexas re-
de quatrocentos mil reis, tem Ferral, & Viveiro com cincoenta vifinhosr,Saco-
felo com vinte & feis, Nogueirò comdczoito, Villa-nova, & Sidròs com trinta
&feis. . , , _ „
S. Martinho de Reigozo he annexa à Abbadia de S- Pedro de Covello item
Reigozo com trinta vifinhos, Curraens com trinta & dous , & Ladrugaens cõ
cincoenta. . .
S. Pedro de Poldras, & Sanfins, Abbadia da Mitra ,tem dezafeis vilinhos,
& olugarde PayoAffonfo com fete, & ode Ormeche com vinte.
Santa Maria Magdalena da Villa da Ponte he annexa à Abbadia dc S. Ma-,
rinha: tem V ilia da Ponte com trinta vifinhos, & Buftello com vinte.
Santia <o'.de Frividellas he annexa à Reytoria de Santa Marinha dc V eadc:
° rrm
wwv

DA COROGRAFIA PORTUGUEZ A. 5:13


1
t-rm Fri vide las com vinte & cinco vifinhos, & Lamas com trinta.
SantaMaria de Veade, Reytoria da Cafa de Bragança,tem V eade debaixo
com eterna v finhos & Veade de cima com trinta Parafita com quarenta St
cineo, Brandim com dezoito,Trtaens com trmta,& Antigo de Veade co mn-
9 VicentedaChaá.VigairariaqueaprefentáoasFreiras daVilla deCon-

dc, tem S. Vicente, ScTorgutda com quarenta vifinhos, Medeiros com ic ent a
&óito,'Peirezes com vim?, Gralhes com trinta, Fwidas com trinta, Trava-
ços da Chaá com vinte St oito, Penedones com cincoenta , StCaftinheira coi

qUare
Santa Maria MaaJalena de Negroens , Curado annexe à Igreja de S. Vi-
cente da Chaá, tem Ncgroens com cincoenta viflnhos, Villar mho com trinta,&
Lamachao com quinze.~ ^ mmK0 à

Morgade com trinta I feri vifinhos,Carvalhaes com quarenta, & Rebordello

COm
SíHirfl rhriftina de Servos, Abbadia da Cafa de Bragança, que renderá feis-
centos mi! rei" teni Servos com felfenta vifinhos, Cortiços com trmta Scoito,
Villarinhode Arcoscõdoze,& Arcos com cincoenta. ? ~
Nofia Seuhorada Alfumpçáo de Serraqumhos he annexa a Aboadui de S.
Chriftina dc Servos, temSerraquinhoscom quarenta vifinhos , Sepeda com
mnm, Zebral com trinta St quatro, Antigo de Zebral com quarenta, & Pedrat-
K>
TSCuTdc4Bobadella,ReytoriadaMitra,&CommendadeChrifto-,tem

Bobadella bom feffenta vifinhos, & Nogueira com oitenta.


S. Pedro de Sepeaõs,Reytoriada Mitra , temSepeaos com centoSt doze
Vll n
' SantaMam^^^fSsJoqueaprerenfSoosReligiofos de SaSBento

do Convento de Refoyos, tem Granja, & VentozeUoscom lelTenta vifinhos.


Santa Martha, Curado da M it ra, tem Pinho com cujcoenta vifinhos, Val-.
de°as com quarenta, & Sobradelio com oito. . . . , n
° S. Salvador de Eiró, Rey toria da Mitra, tem Eiro com trinta vifinhos, Eo-
rica. mm dezafeis , & Sauaonhcdo com quarenta & dous.
S Bettholameide Betfa, AbbadiadaCafa de Braganç», que rende trezen-
tos St cincoenta mil reis,tem Beffacomcincoentavifinhos^com leu r io do mef-
monome, aonde fe pefcáo cxcellentes trutas: Torneiros cg vmte.ee ,eis, Quin-
tas, St Seirraõs com cincoenta St feis,Carvaltidhos com vinte, Labradas com
frinta, & Viliarinho da Mó com quinze.
Santa Mariade Villar do Porro, Curado, tem Villar do Porro com feffeti*
ta & feis vifinhos, & Carvalho com dezafeis. „ R/Jioin-
S. Lourenço do Codeçofo de Canedo, Curado que aprefentao os Rehg 10-
fosdeS. Bento do Mofteiro de Refoyos, tem cincoenta &feis vifinhos, & o iu-

S<U
^m^Mark de Curros, tem Curros com doze vifinhos,Morteiro cõ quin-
» ze, Friaens de Tamega com quarenta, & Antigo de Curros com vmte.
S. Salvador de Canedo, Rey toria da Mitra, tem Canedo com emeoenta &
• feis vifinhos, Veral comvmte, Seiros com trinta, Penalonga comcmcoenta |«
Alijó com doze. Viella,&Melhe tem vinte & feis vifinhos, que vaoa Ribeira
de Pena fóra da Comarca. . - Santa
5i4 TOMO PRIMEIRO
Santa Maria de'Covas, Abbadia daCaía de Bragança, que renderá feiícen-
tos mil reislivres par,a o Abbade, tem Covas com cento & doze vifinhos,Vivei-
ro com cincoenta òt feis, Campos com quarenta , Agrellos com vinte , Bufto
frio com trinta, Cafalde Guimera tem três vifinhos, que vão ao Couto deQr-
nelías fóra da Comarca. | - -V I
Noffa Senhora da Natividade de Meixide, Curado annexo à Reytoria de S.
Miguel de Bobadella, tem quarenta vifinhos. .
Santa Maria Magdalena das Alturas he annexa à Abbadia de Sánta Maria
de Covas :tem Alturas com cincoenta 3t dous vifinhos, Atilho com cincoenta,
Villarinhofeco com trinta, & Telhado com vinte&dous-
Santiago de Cerdedo, Abbadia da Cafa de Bragança, tem Cerdedo com
vinte vifinhos, Cóimbrò com quinze, Venda da Serra com quatro, Covello do
Monte com tres, & Britello com dous.
Santa Maria de Salto, Reytoria, tem Salto com vinte vifinhos, Pereira cõ
doze, Serdeira com feis, Reboreda com vinte, Povoa com quatorze, Bagulhão
com doze, Corva com dezafete, Ameal com oito, Amear com treze, Pomar da
Rainha com cinco, Paredes de Salto com íeis, õt, Taboadella com íeis»
S. Simão do Codeçozo do Arco he annexa à Abbadia de S. Marinha : tem
vinte & feis vifinhos com eftes lugares, Sangunhedo, Venda nova, V illarinho
do A rco, & Codeçozo do Arco.
'

CAP. VII.

ta rtllfl de Jtyyvaens. 4 jfii "<


NO Arcebifpado de Braga dez legoas da Villa de Chaves para o Poente,&


feis de Montealegre tem feu aíTentoaVilla deRuyvaens do Eílado da
Caía de Bragança, cujo Ouvidor entra nella em Correição, & o Provedor da Co-
marca de Guimaraens": he â ultima Villa da Provincia de Trás os M ontes para a
banda do Poente, pela qual confina com a Provincia do Minho, & já nella,& feu
termo fe achão parreiras levantadas nos carvalhos, como no Minho. Tem fe-
tenta vifinhos com ht^ma Parochia da invocação de S. Martinho, & eftes luga-
res pertencentes àmefma Freguefia: Efpindocom trinta vifinhos, Honras cõ
vinte, Frades com quinze, & Zebrai com vinte & oito.
O feu termo tem huma Freguefia dedicada aS. Vicente com quarenta vi-
finhos no lugar de Campos, & vinte & nove no de Lama longa. Fafiáo tem de-
zoito vifinhos,&Pinquaês doze,quevloàMiíTaaS. Lourenço de Cabril, ter-
mo de Montealegre. Linharelhos tem nove vifinhos, &Canizo quinze , que
Vão a S. Maria de Salto, termo da Villa de Montealegre.

tra-
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA* 51^

TRATADO IV

c
Da Cowarca, &" Ouvidoria de Villa R^al-

CAP. I.

Da áefcripçdõ dejla Villa.

nu ..
IUATRO legoas de Lamego para a parte do Norte em hum vil-
tofo & alegre plano tem feu affento cfta nobre Villa, a mayor, &
1 melhor povoação da Provincia de Tra s os Montes , aonde a la
i íituada para a parte do Occidente, por onde confina com a Pro-
í vincia de Entre Douro, & Minho, da qual a dividem as ferras, &
-J montes,que chamaodo Mar^O» Alguns dizem, ( & parecenao
fer fórade razão) que jímtos fe°chama 'o

A OsquedÍKmdcvetfc chamar hlla Real ^


que aílimfe chama, porque ElRey Dom Diniz mandou

> Menezes, Pereiras,


Te Seiras, Pintos, Coelhos, Magalhaens, & Lacerdas, que tem o foro defida -
«os Correas,Botelhos,Cunhas,Mendoças,Soares, Cabraes,Lobos,Mefqui-,
tas 'que faõ familiasnobres, & antigas, ôcoutras nauitas*
' Tem voto em Cortes com acento no banco quinto, & ufa por Armas huma
Coroa de louro, & dentro delia humas letras, que dizem Aller» & a hum lado hu a
Efpada, que parece denota a dignidade de Marquezado ; & a 1 azao deíl as A r-
mas dizem ter, que acabada de conquiftar a Cidade de Ceuta , cuidadoloE^
Re? S o Primeiro dedeixar nella por Governador neffoa de tal valor, que
a confervaffe; & tendo já recufado efte governo algum Cavalheiro a que le of-
ferecèra pelo grande rifeo quefe confideravanafuadefen^,pedto efte gove -
no Dom Pedro de Menezes, que foy o primeiro Conde delia Vill a , & mandan-
do-oElRev cliátnar em occafião que com outros Cavalheiros andava jug nd

dito Rey,&a do mcfmo Dom Pedro de Menezes, que efereveo


mes Eanes de Azurara. A generofa confiança com que efte Cavalheuo ^ RO
deo a EIRev, St ogloriofo defempenhotanta,
annos.emquefluLfedefarmou,deu com que defendeo a praça por muito-
&támrefpeitof^ftmagao feu

Aíleo, & cajado, que fe guardou , paracom ellefe dar pofie em lugar de bait ao
5i 6 TOMO PRIMEIRO
aos Governadores daquella praça : &a Villa de Villa Real o tomou porinfig-
nia de Armas dentro de huma coroa de Louro em memoria de tam grandeCa-
valleiro, fenhor deíla Villa, que tam dignamente mereceo coroarfe com a coroa
de Louro por fuas grandes façanhas.
Divideíe eífa V illa em duas Parochias , huma da invocação de S. Diony-
íío , & outra dedicada a S. Pedro, ambas com feu Vigário A dous Coadjutores,
que aprefenta o Geral dos Frades jeronymos doCõvento de Bcllem.j 1 em Caia
de Mifericordia, Hofpital, onze Capellas, ou Ermidas limpa , &curiofamente
adornadas; o Convento de S- Domingos , que fe fundou pelos aruios de 15 2 4"
com efmolas do povo, & depois o accrefcentàrão com grandes doaçoes os Mar-
quezes de Villa Real ; o Convento de S Francifco de Capuchos Antoninos',
que fundarão pelos annos de 1573. os Marquezes de Villa Real, & humMoí-
teiro de Frevras da Ordem de Santa Ciara. I em huma grandiofa praça cõ bom
chafariz, & huma pirâmide altiífima de huma fo pedra , que fe remata em huma
Cruz, óònde a gente nobre fempre coíl umou celebrar luas feílas. He bem pro-
vida, & abaílada de Mercadores, & officiaes mecânicos, &; de boas aguas , de
que tem nove fontes perenes, mais de íctfenta em quintas particulares : tem
grande colheita de muitos, & bons vinhos, qufc embarcados pelo rio Doiiro(que
lhe fica duas legoas diílante para o Sul ) fe conduzem à Cidade do Porto,
& dahi a partes ultramarinas, com grandes intereífes, & utilidades dos mora-
dores.
A/Iiílem ao feu governo civil hum Ouvidor, que entra por correição em to-
das as Villas, que o Marquezado tem neíla Provinda, & na da Beira 5 & hum
juiz de fora, ambos dcfpachados pela junta da Caía de Bragança , que também
adminiílra cíle Marquezado ; hum Vigário Geral pofto pelo Arcebifpoce
Braga, cõ certa juriídiçao coarílada, que exercita neilaVilli,2c emoutTSS*Vi-
finhas a elfe. Entra'nefía WT*o Provedor da Comarca de
Lamego a exercitar fua jurifdiçâo.
No tempo das guerras paffadas fahirao defla V il.a, & feu termo íeis i.lef-
tres de Campo, hum Governador dá Comarca, quatro Capitaens de Cavallos ,
feis de Infantaria,& muitos, & valetofos Soldados: & nos noífos tempos teve
tres Lentes na Univerfidade de Coimbra, & hum Doutor, que efereveo a ma-
teria de Ttftammis. Dizem feus moradores, que houve alguns Santos natu-
raes deíla Villa, & dous, ou tres Bifpos, & cinco Martyres , mas não me ex-
preífárão os nomes de algum delles.
Tem eíla Villa viílofas, & alegres fahidas para todas as partes, com duas
torres, a da Quintella, & a de Agores, na qual, dizem, fe achou hum thefouro ,
que fora delRey Dom Pedro. He fértil de pão, frutas, hortaliças, gado, caça,.
& peixe, & tem muitos foutos- ElRey Dom Diniz fez logo nò principio doa-
çaõ delia à Rainha S- Ifabel, & foy tãbem fenhora delia a Rainha D- Brites , mu-
lher delRey Dom Affonfo o Quarto 5 annos adiante a deu ElRey Dom Fernan-.
do à Rainha Dona Leonor. Depois foraõ fenhorcs delia Villa osCavalleiros do
appellido íiluílre de Porto Carreiro, como o foy joaõ Rodrigues Porto Car-
reiro, do qual foy filha a leguinte.
Dona Mayor de Villalobos Porto Carreiro, a qual foy herdeira da cafa de
feu pay, & fenhora de Villa Real, caiou com Joaõ AFoníb Tello de-Menezes,pri-
meiro Conde de Viana, & fenhor de Alvito, & Villa-nova , dos quaes foy .filho
ofemnnte. - V
Dom Pedro de Menezes,filho defies aci ma, foy fegundo Conde de V íana,
DA COROGRAFIA PORTUGUEZA. 517
& primeiro de Villa Real A o primeiro Capitão de Ceuta, que governou vime
&5ous annos, obrando grandes proezas: & andando com leu pay em Caft clla,
fovlácondeáe A) Ion A também de Agudaricafou a primeira vez com Dona
Margarida de Miranda, & delles foy filha A herdeira a fegu mte.
ê
Dona Brites de Menezes foy (ilha primeira, & (herdeira, do Conde D. Pe-
drode Menezes acima, fov fenhora de Villa Real, cafou com Dom Fernando de
Noronha, filho terceiro de Dom Affonfo Henriquez de Callella , Conde de
ruibn & Noronha A de fua mulher Dona 1 fabel de Portugal , filha bafiarda
delRey Dom Fernando de Portugal; o qual Conde Dom Artonfo Hcriqiiez dc
CaMa foy filhobaftardo delRey Dom Henrique o Segundo de Cailella .cha-
mado oNobrc. F. o dito Dom Fcrnãdo deNoronha por fua mulher a dita Dom
Brites de Menezes foy fegundoConde de Villa Real,& Capitao de Ceuta . c
Camareiro mór delRey DomDuarte: & delle, entre outros, foy filho o feguin-

DomPedvode Menezes,filho primeiro, &herdeiro delia Dona Brites de


Menezes acinia.foy o primeiro Marquez de Villa Real,8t fenhor das mais terras
de Sado: cafou com Dona Brites de Bragança,;filha de Dom V cmando,pri-
meiro do nome, &|Duque fegundo de Bragança idos quaes, entre outros, .oy ,1

^^D^Fertand^Sehlènezes, filho primeiro delle Mar5ueg^^a,/°afou


gundo Marquez de Villa Real; & fenhor das mais te rras de foi Eíhdo . cafou
com Dona MariaFreyrede Andrade , filha, St herdeira de JoaoFrey re de
drade, fenhor de Alcoutim, & delles, entre outros, foy filho o fegumte. .
Dom Pedro de Menezes, filho primogénito do fegundo Marquez ,
fov terceiro Marquez de Villa Real, & primeiro Conde de Alcoutim, & fenhor
das mais terra sdefeuEftado: cafou com Doua Brites4c Lara , filhade Dom
Affbufo de Por -gal,Condeftable defte Reyno: & delles, entre outros, forao
Ú K
filhosinrnm^Vldp Meuezcs, }: Í>^
não deixou ueração, & por ena caufa íuccedeo neíta Cala feu irmão fecundo, q

hC d
DSom Manoel tie Menezes, filho fegundo do terceiro Marquez acima, fuc-
cedeo nefta Cafa por morte de feu primeiro irmão, fem filhos : & toy quinto
Mníoue" Scorimeiro Duque de Villa Real , & fenhor das mais terras de feu
Eftado: cafou com Dona Maria da Sylva, filha de Dom Alvaro Coutinho, Co m-
mendador de Aimourol, & delles, entre outros, forao Idhoscy fegumtes. Dom
Miouel de Menezes, que foy fexto Marquez , & fegundo Duque cie Vi Ha Real,
ou de Caminha, & por não deixar filhos legítimos, lhefuccedeo neita Caía leu

'rmJ°Dom'Llíizqde MencSfilho fegundodo primei ro.Duque:


cfta Cafa,por morrer fem filhos legítimos feu primeiro irmão cifcgundoDuquc.

Tar
°DomiMlgSd dfeMÍMz°es'ffiího único varão dofaimo
fucccdeo na Cafa de feu pay, & foy oitavo Marquez de V ília Real, & huquc de
1
Caminha; Stfuppoftocafou tres vezes,nao teve geraçaoi&cllçA feu pay iwir
rèrão por fentençaa a,. de Mayo de ití+r- & foyconfifcada <-^C;laparaa
Coroa, & ElRey Dom Joaõ o Quarto a deu a feu filho o Sereniílímo Dom ,
nefíe tempo Infante de Portugal. p.;
jj8 TOMO PRIMEIRO
Ficou Dona Maria de Noronha irmaã inteira de Dom Miguel de Noronha
Duque de Caminha, que caiou a primeira vez com feutio Dom Miguel de Me-
nezes fegundo Duque de Villa Real, de que não teve filhos , Sc cafou fegunda
vez com Dom Rodrigo Porto Carrero, Conde de Medelhim,Grãde de Efpanha ,
de que ha defcendentcs em Cafbclla^ que fe intituião Matquczes de V Illa Real.
He hoje Alcayde mór delia Villa Garcia de Mello , Monteiro, mor do Rey-
no,cuja illuílre varonia he a fcguinte.
Martim Affonfo de Mello foy filho de Vafco Martins de Mello, fenhor de
Povos, Sc da Caífanheira, Sc de outras terras, queeradeícendente por varonia
de DomReymaõFormaens, que dize;n muitos ler defeendente de JulioCefar,
St dos antigos Metelos, St até eite Dom RevmSo , St fua mulher Dona Dordia
Goutinha contava oito avós. Foy eite Martim Affonfo fenhor de Barbacena,&
A lcayde mór de Évora, Sc de outras terras :cafou com Dona Briolanja deSou-
la, filha de Martim Affonfo de Soufa o Velho,Sc de Dona Maria de Briteircs,dos
quaes foy filho, entre outros, o feguinte.
joaõ de Mello fcy Alcayde mór de Serpa , Sc Copeiro mór delRey Dom
Affonfo o Quinto: cafou com Dona Ifabel da Sylveira, filha de Nuno Martins
da Sylveira o Velho, Rico homem, Sc Coudel mór, St Efcrivaõ da Puridade del-
Rey Dom Duarte, Sc de fua mulher Dona Leonor Gonçalves de Abreu, de que
t eve, entre outros filhos, o feguinte.
Gracia de Mello foy Alcayde mor de Serpa, St Commendador de Langroi-
va na Ordem de Chriíto: cafou com Dona Felippa Pereira da Syiva , filha de
Henrique Pereira da Sylva, Commendador mór de Santiago, & de fua mulher-
Dona Ifabel Pereira, de que teve, entre outros filhos, o feguinte-
Jorge de Mello foy Commendador do Pinheiro, Porteiro mór , Sc Mon-
teiro mór dos Rey s Dom Manoel, Sc Dom joaõ o Terceiro : cafou coin Dona
Margarida de Mendoça, filha de Diogo de Mendoça, Alcayde mór de Moufao,
& de fua mulher Dona Bear ri z So?ifPs7t!e revê, entrè'õucros filhos, o fe-
guinte-
Manoel de Mello foy Monteiro mór delRev Dom Joaõ o Terceiro , & de
tresReys mais, Embaixador a Caftella, Sc Miniítro dc grande eftimaçaõ : cafou
com Dona Guiomar Henriques,filha de Pedro da Cunha, fenhor de Geil aço, Sc
Penajoas, Sc de fua mulher Dona Maria Henriques, de quem ceve, entre outros
filhos, o feguinte.
Francifcode^lello herdou a cafa, Sc officio de feus pays , Sc foy hum doS
cinco acclamadoresdelRey Dom Joaõ o Quarto, Sc feu Embaixador a França,
General da Cavallaria do Alentejo, & Governador do Algarve , Cavalheiro de
muito valor, Sc lealdade: cafon com Dona Luiza de Mendoça,-filha de Pero de
Mendoça, Commendador de Mouraó, Sc Capitaõ de Chaul, Sc de fua mulher D.
Mariana de Mello, de quem foy filho, entre outros, o feguinte.
Gracia de Mello, Commendador de Santiago daFeiteira , de Santiago de
Santarém, de S. Miguel do Pinheiro de Azere , de N- Senhora dos Altos Ceos
da Louza, Sc de S. Miguel de Infames na Ordem de Chriilo , Monteiro mór
delRey Dom Pedro o Segundo, Prefídente do Senado de Lisboa, da Mefa da
Coníciencia, Sc do Defembargodo Paçó, Miniílro muy reóto, Sc digno de ou-
tros mayores titulos: cafou com Dona Ifabel de Caílro, filha de Dom Francif-
co Mafcarenhas, nomeado Vifo-Rey da índia, Sc do Conlelho de Eífado , Sc de
fua mulher Dona Margarida de V ilhena, dc que teve, entre outros filhos, o fe-
guinte. . . • n -
. Fran-
DA COROGRAFIA PoRTUGUEZA. yip
Francifco de Mello Monteiro mór,& fenhor da Cafa de feus pays ,foy cafa- /
tío a nrimeira.vez cô D- Mariana Jofepha deCaftellobranco,filha de Manoel t cl-
les da Svlva, Marquez de Alegrete, &. de fua mulher Dona Luiza Coutinho , &
deftecaYametito naõ houve geraçaó- Hecafadofegundavezcom D- Catherina
de Noronha,- filha dos fegundos Condes de V ília Verde.

(
I c A P. n.

- . lDas Freguefias do ter mod a VHU de Vdia l\e aL >■

Hl? o termo defta Villa muy dilatado, & tem duzentosjugares, que fe di-
videm pelas Freguefiaâfeguintes. •
A S. Pedro de Abbaífas, Vigairaria da Mitra, tem cento & cincoC ta Viíinhoá
com quatro fontes; nefta Fregaefia efta fituado o Morgado deAboauas cõ fua
quinta, & boas cafas.
S. Pedro de Nogueira, Vigairaria da Mitra, tem cento &. trinta vifinhos. ^
Santiago de Andra.ens, Reytoria que apreíenta a Cafa de Bragança, & Co-
menda de Chrifto, tem cento & quarenta vifinhos : eftá efte lugar nas margens
do rio Alpedrinha,& o mandou povoar ElRey Dom Sancho o Primeiro de Por-
tugal pelos annosde 1202-hefertií de frutas, caftanha, gado, & caça- 4
Santa Maria Magdalena de Conftantim , Vigairaria do Cabido de Guima-
raens, tem cem vifinhos, duas Ermidas, & tres fontes. Foy fundado efte lugar
pelo CònarPw*» Urnijimifi ,fllT !»***>'***»» os < arados %-os deGuima-
raens: eftá fituado em huma planície junto de hum arróyo, & he abundante dc
- paõ, caftanha, & caça. Na Igreja Parochial defte lugar eftà fepultado o corpo
de S. Frutuofo, que dizem fer natural delle, & alguns confiderão fer o melmo
Santo, que foy Arcebifpo de Braga, do proprio nome : fuas relíquias iáõ v ifita-
das de muitos devotos, que experimentaô o patrocinio do Santo em luas lup-
plicas, & fc lhes dá a beijar a fua cabeça , que fe guarda com grande decencia
cm hum facrario, & vulgarmente íe chama a Cabeça fanta de Conftantim , ix
:
com o contado defta relíquia experimentaô muitos enfermos remédio em feus
achaques, particularmente as peílbas mordidas deanimaes danados, fendo effi-
• caz antidoto contra o venenõfo de tam pernicioía enfermidade*
S. Chriftovaõ de Parada de Cunhos, Rey toria da Cafa do Infantado , tem
noventa vifinhos, & huma Ermida.
. S. Martinho de Mattheus, Vigairaria da Mitra, tem fetenta vifinhos.
S. Joa5 de Royos, Vigairaria da Mitra, tem trinta vifinhos , hc lugar dc
muitas aguas.
Santiago de Folhadella, Vigairaria da Mitra , tem cento & emeoenta viíi-
nhos.
Santo Andre de Campeam, Abbadiada Mitra, que rende mais de quatro-
trocentos mil reis, tem duzentos vifinhos.
Santo Antonio de Alvaílois do Corgo, Vigairaria da Mitra, tem cincoenta
vifinhos.
S. Salvador deTrogueda,Reytoria que aprefenta5 os Frades do Conven-
Xx íj to
~lo tomo primeiro
to dc Bcllcm j tem cento 6c oitenta vi íinhos.
• Santa Mariade Adoufe, Abbadiada Mitra, qué.rtínde quatrocentos mil
- reis item cento & cinctícnta & dous vifinhos.
Santa Comba da»' rmida tem noventa vifinhos, Vigaíraria da Mitra.
S. Martinho de Villarinho de Samardão tem cem viílnhos , & he annexa a
A
bb'^stnhoradafNeves de Freirias, Vigaíraria de Malta, que aprefenta o

BaIÍ
°Santa Marinha de Villamarim,Vigairaria dos Frades de Bellem,tem cento
& trinta & cinco viíinhos. . ,
S.Pedro deValde Npgueiras,'Rey toriadaMitra,&Commenda dcChrii-
to, tem cento & dpze vifinhos. •. v
Santiago de Mondroms, Reytoria dos Frades de Bebem, tem noventa òc

CinC
°Santígo de Viílacova,Reytoria que 'aprefentaõ os Frades de Bellem,tcm
cincoentaSt quatro viíinhos.
S. Miguel de Pena, Vigaíraria da mefma aprefentaçam , tem cento & coze
Vlfo
Santa Mariade Borbella, Abbadiada Mitra, que rende quatrocentos mil
reis, tem cento & quarenta viíinhos- j • j
S- Salvador de Mouçòs, Reytoria da Cafa do Infantado, que rende mais de
trezentos mil reis j tem cento & oitenta viíinhos.
S. Miguel de Povares, Vigaíraria de Malta, que rende trezentos mil reis,
tem cento ôcfeíTenta viíinhos. • . . , ,
S-Thomè do Caftello , Vigaíraria annexa à Reytoria de S. Salvadoi de
Mouçòs, tem cento & oitentajofinhos. •*-*., , ir duzentos mil
S. Martinho de Anta,Reytoria d5 Mitra, que rétlde W»s dc duzentos mu
íeis, tem cento & vinte viíinhos.
S. Lourenco, Vigaíraria da Mitra, tem cem vifinhos. .
S. Joaõ de Lamares tem noventa & feis vifinhos, & he annexa a Vigairaria

Santiago da Torre do Pinhão tem cento 6t trinta viíinhos, St He annexa à


dita Vitabar ia deS. Lourenço. . • ... ,
Santo Antonio de Villarinho de Cotas tem vinte Sc cinco vifinhos, & he an-
nexa à Vigaíraria da Villa de Favayos t tem huma Ermida de Noíia Senhtíra do
Couto
S- Vicente de Gallafura, Vigaíraria annexa à Abbadia de Goyaén>, té cem

V líIn
Santa Comba de Soutomayor, Vigairaria da Mitra, temoitenta vifinhos.
Santa Maria de Cotas, Vigaíraria annexa à Vigaíraria da Villa de Favayos,
tem trinta & oito vifinhos: pertence a eíla Freguefiao lugar da Povoa, que he
termo da Villa de Favayos, o qual tem quarenta vifinhos com huma Ermida de

Santa Maria Magdalena de Govvaens, Abbadia da Mitra, que rende oito-


centos mil reis, tem cem vifinhos. . . v ,, ,.
Santa Comba de Paradella de Govaens , Vigaíraria annexa a Abbadia dc
Goyaens, tem fetenta& dous vifinhos. . it
Santa Maria de Sanfins, Abbadia da Mitra, que rende feifçentos mil reis ,
tem cento & quarenta & cinco viíinhos,6c huma Ermida de Santá Marinha , m

i4
DA COROGRAFIA PO RTUGUEZA. pi
íituada em hlima ferra para oNaícente. . _ ...
S. Romaõ deVillarinho, Vigairaría queaprefentao:os Conegos de S. João
Euangeliftado Convento da Cidade do Porto, tem oitenta & cinco vifinhos.
S. Pedro de Seleiros, cujos dizimos faõ dos mefmos Conegos do dito Cõ-
vento do Porto, tem cento & doze vifinhos, & nefta Freguefíaafliík fempre hu
Reiigiofo. o
S. Joaõ de Covas, Reytoria da Cafa do Infantado , tem cento & vinte St
cincq vifinhos. . . . ^ _
S. Salvador de Sabroza, Vigairaría annexa a Reytoria de Pálios , tem cem

Santa Anna de Riba longa, C urado annexo à Reytoria de Trefminas, tem


feffenta vifinhos. • . . , TT.„ T ....r
Santiago de Villa chaã, Vigairaría annexa a Reytoria da Villa dc Alijo,tem
cem vifinhos. . . ...
S. Domingos de Val de Mendís> Vigairaría, tem trinta vifinhos.
Santa Maria de Paííos, Rcvtoria da Mitra, tem cento & vinte vifinhos- _
Santa Maria de Villar de Maçada, Vigairaría colkda,annexa à Reytoria dc
Trefminas, tem duzentos & trinta vifinhos.
Santa M&ia de Parada de Pinhão, Vigairaría annexa à Vigairaría deSao
Lourenço, tem cem vifinhos : he fenhor deite lugar Francifco de Sampayo de
Mello&Caftro,fenhor de Villa Floí. .
Santa Maria deGoains, Abbadiada Mitra, tem noventa & leis vifinhos-
Santa Marinha de Villaverde, Curado annexo à Reytoria de Trefmmas,
tem cento & vinte & cinco vifinhos. ^ '
As Igrejas, Sc preftimonios, que faõ da aprelentaçao delRey , íao âs íe-
guintec-
A T-n-j-rdnS Sj]v.idnr dç qs TT,1" RÍRRPQ1. anne-
xa a Igreja de S, Thomé do Gallello, aprefentaçao do Rey tor, que hc preítimo.
mode Sua Mageftade, que o deu ao Conde de Villaverde.
A Igreja, St preftfmonio deS-Chriftovão de Parada de Cunhos o mefmo.'
A Igreja, Sc preftimonio-dc S. Joaõ de Covas o mefmo.
A Igreja de Santa Maria do Mofteiro da Ermida do Bifpado de Lamego,
que tem duas annexas, huma de S- Payo de Atoins, outra de S. Joaninho , as
quaes aprefcntaoReytor, St aprefentava outra de Baltar, á qual o Cabido de
Lamego tem ufurpado, aprefentando ja nella quatro Vigários.

CAP. III.

Das Filias em que entra o Ouvidor de VilU Tfyal em Correição*

A S Villas defta Comarca ,em q entra em Correição o Ouvidor de Villa


J\ Real,faõ as de Lamas de Orelhão,de Freixiel,& de Abreiro, das quaes ja
tratámos na Comarca da Torre de Moncorvo, por ferem da lua Provedoria. lao
tabem da Ouvidoria de Villa Real a yilla de Ranhados, Sc a Villa de Almeyda,
de q trataremos na deferipção da Beira,deferevendo a Comarca de Pinhel-
Xx iij A
m TOMO PRIMEIRO
A Villa de Canellas, que não tem Igreja Parochial, & feus moradores, q
faô cento & vinte, faõ freguezes da Freguefia de S. Miguel de Poyares, que vay
no termo de V ília Real. ... T ^ ,
A Honra de Sobroza rem duas Igrejas Parochiaes,huma da invocação de
Santa Eulalia, Curado annexoao Morteiro de Ferreira., com cento & íetenta
viíinhos, outra do Orago de S. Salvador de Freamunde, que tem duzentos vi-
finhos, a qual he Reytoria, & Commenda de Chnfto, & tem eftas Ermidas anne-
xas, S. Sebaftião, í< Santa Elena. EIRey Dom Sancho o Primeiro lhe deu .oral
no annode 1234. heabundante de azeite, vinho, trutas, caftanha, & tem muita
caça. Hc do Bifpadòdo Porto.

CAP. IV.

Das Villas da terra de Villa Kyi, cm que entra o Trovcdor da


Comarca de Lamego.

Lordello.

F Tea efta Villa meyalegoadirtante de Villa Real para o Poente: EIRey Dom
Minoel lhe deu foral por inquiriçoens em Évora a 12. de Noyemb«r-ae
o remduzenrosviiinhoseomhnmTParrj'chta,OragoSantn Maria, cohum
VigariíSue^adminirtra os Sacramentos. He do Marquez de Tavora, que
nella aprefenta as Juftiças. Aqui fc faz muita louça, de que íc prove toda efta
Comarca.

Honra de Çallegos.

HE efta Villa do Marquezde Tavora , & feut moradores lhe pagão cada
a nno de foro feis alqueires de centeyo, fins almudes de vinho>, & oitenta
reis em dinheiro : diftahumalegoade Villa RcalparaoNafcente. ElIUvDopi
Manoel lhe deu foral em Évora a 12-de Novembro de 1519-te quinze vifi nhos,
qtre&ozlio de grandes privilégios, que lhe conccdeq EIRey Dom Diniz, agaza- ■
ÍLndolehuma noite ncfte lugar, aonde mandou fazer hum arco,que chamao a
Memoria, o qual inda hoje exifte.

d/flijò.

EStá efta Villa fituada na planicie dc hum outeiro, quatro Iegoas diftantede
Villa Real para oNafcente: ElRey Dom Sancho o Segundo a mandou po-
voar pelos annos de i22f.&lhedeuforalElReyDom Diniz. Temhuma Igreja
Parochial da invocação de Santa Maria Mayor, Reytoria do Padroado que
r ende mais de duzentos mil reis, & huma Ermida de S. Gonçalo: tem duzentos
& noventa vifinhos com famílias nobres do appellido Moutinhos, Soutos, 1 ei
xciras^
COROGRAFIA PORTUGUEZA. «,
. v"„ Ur abundãtc de pão, ccnteyo, milho, vinho, frutas, câfta-
xcuras, ôc DorieaV ite. tem duas fontes, huma delias de excellent e agua.
nha, & recc i e . ~ ^' z de Tavora,que nella aprefentâ as Juítiças. O
Hefenhordefta VilUo^u^ i ^ ^ que f^dividem pelos lugares

feigo dos Capuchos c^Q^^onw do cí^po^ôs Curraes ^oy ■ devida incui-


boa no Convento de Janto n . gcfantidade : temeíle lugar hua
pavel &. fc teA í^hSÍffida de Santa Anna Som fr
Ermida de S- Dommgos. A Gra ] mboas,que VÍer^aode Btfcaya,& Re-
milias nobres do appeUido Cay aoOo G inv0caç^o de S- João Bautifta,
bellos. Caftedo temhuma Igre]a Parochm^a ínv^^Ç^ ^ Cariam, Cu-
Curado collado, que aprcfema o R J d VtllaChaã , Curado do Rey tor de
rado da mefmaaprcfentaçao^S^tiagpc^ huma da

Fctvayos.

a
T-T - Hjí» Affónrote«andó
í^^t^mdazcnLO'ivin[ihos íhc dlífS cS
c^hiAaP^^ia,Or^oS dc SV í«gud de
Dionyfio^V^n^uia

derenuncia,8c eftasEmi^,NoBabemo«oa ™

no feu termo o lugar da Povoa com huma Ermida.

CAP. V.

T)os Coutos em que entra emCorreifo o Ouvidor daCidade


de "Braga.

ca antiga com Alcayde mor^a quanren y^a & Couto quatrocentos vifinhos

com
P4 TOMO PRIMEIRO

Dormitas.

HE Villa pequena, & Couto dos Arcebifpos de Braga , aonde aprefentão


as juíiiças, & entra nella em Correição o feu Ouvidor: tem huma Igreja
Parochial com cento & cincoenta vifinhos, huma Ermida, & tres fontes ; fica
cíie Couto junto à V illa de Montealegre.

"Provezende.

H Uma legoa do rio Douro, & tres de Villa Real para a parte do Sul tem
feu aífento a Villa de Provezende, que he Couto, de que faõ fenhores os
Arcebifpos de Braga, & nella entra em Correição o feu Ouvidor ; tem q uatroce-
tos & cincoenta vifinhos com huma Parochia da invocação de Santa Maria, Rey-
toriada Camara dos Arcebifpos.. He abundante de pão, bom vinho,azeite,boas
frutas, gado,&caça: tem huma Ermida de S. Sebaftião, outra de Santa Mari-
nha da Sobreira, & no termo hum lugar, que chamão Cafal de Loy vos , ccm fua
Igreja Parochial da invocação de Saõ Bertholameu annexa à Abbadia de Goy-
vaens, Villa, & Còuto, de que faõ fenhores os Arcebifpos de Braga, aonde en-
tra cm Còrreição o feu Ouvidor, & lhe deu foral ElRey Dom AÍíonfo o Ter-
ceiro de Portugal.

S. <FA4amcde de %iba T'tta,

HE V illa, & Couto, àrqifrlrici Braga; d illa cirt -


colegoasae Villa Real para o Nafcente; tem quatrocentos <k cincoenta
vifinhos com huma Igreja Parochial da invocação de S. Mamede, Abbadia que
fentão os Arcebifpos. Produz.muitas cebolas,pão, milho, frut .s, & caíta-

E com a exa&a deferipção deíias duas Provincias fe termina c? imeiro


Tomo da Corografia Portugueza^ efperando dar brevemente a luz o icgundo,
onde fe veràõ as outras tres Provindas, & o Rcyno do Algarve,feguiudo o mef-
mo methodo, & exacção.

Fim do primeiro 7~omo da Corografia Fortuguety*

i N-
INDEX

DOS LIVROS, TRATADOS, E CAPI-

tulos que fe contem neftc primeiro Tomo.

LIVRO PRIMEIRO.

INtroducçaõ, pag. i.

Tratado primeiro da Trovincia de Entre Douro , &*

zTVhnho.

Cap. I. DaTopografia da Villa de Guimaraens, pag. 3.


Cap. II. Da fundaçaõdoMoíleiro de Mumadona,& como àfuafõbrafc foy po*
voando cila Villa, p. 5.
Cap. III. Das Doaçoens que fe fizeraõ a eíle Mofteiro, p. 6.
Cap. IV. Do Foral que o Conde Dom Henrique deu à nova Villa de Guima-
raens,p. 8. <-
Cap. V. Como Portugal confervou fempre onome de Reyno, p. 10-
Cap. VI. Em que fe profeguea legitimidade da noíTa Rainha D. Therefa , & fe
trata da nobreza do Conde D. Henrique feu marido , p. 1 $.
Cap. VII. De como a Villa de Guimaraens foy o primeiro aíTento da Corte do
noíTo Conde Dom Henrique, p. 16.
Cap. VIII. Da milagrofa Imagem de NoíTa Senhora da Oliveira da VilIadcGui-
maraens, p. 19.
Cap. IX. Da Real Collegiada de Guimaraens, & dos Priores que teve até o
prefente, p.26.
Cap. X. Em que fedefcreve a Igreja de N. Senhora da Oliveira, p. 28-
Cap. XI. Em que fe profegue a deferi pçaõ da Igreja de NoíTa Senhora da Oli-
veira, &femoftra que ella Real Collegiada foy fempre immediata aos Sum-
mos Pontífices, p. gjj.
Cap. XII. Dos Privilégios,izençoens, & liberdades , que os Reys de Portugal
concederão à Real Collegiada de Guimaraens, p. 42.
Cap. XIII. Das Igrejas que aprefentaõos Prioresda Collegiada de Guimaraens,
& das que aprefentaõ as fuas Dignidades, & de fuas rendas, p.44.
Cap. XIV. Das Ruas, Praças, & Rocios da Villa de Guimaraens, p. ^0.
Cap- XV. Dos Arrabaldes de Guimaraens, & das Igrejas que nelles eílaõ fi-
tuadas j p. 55.
> * Cap.

,
v
5l6 INDEX. ^
Cap. XVI- Dos Mofteiros, Igrejas, Hofpitaes, & Capellas ] que tem a Villa de
Guimaraens dentro dos feus muros,&nos Arrabaldes, p. 58*
Cap. XVII- Dos Varoens illullrcs em virtude, fantidade, & letras, que foraõ
naturaes cie Guimaraens, p. 81.
Cap. XVIII- De outros fogeitos naturaes da Villa de Guimaraens, que illuf-
tráraõ eile Reyno, & outras partes do mundo, p. 90.
Cap. XIX- Dos Privilégios, Honras, Òt Izcnçoens, que os Reys de Portugal
concederão aos moradores da Villa de Guimaraens, p. 101.
Cap. XX. Do numero das Fregueíias, que tem o termo de Guimaraens, p. ioç.
Cap.XXI. DcsRios, & Fontes que eííaõ junto da Villa de Guimaraens, p. 114.
Cap. XXII- Das Fontes que a Villa de Guimaraens tem dentro dos feus mu-
ros ,. & nos feus Arrabaldes, p. 118.
Cap. XXlll- Do Concelho de Felgueiras, p. 120.
Couto de Pombeiro, p-124.
Cap- XXIV. Do Concelho ueUnhaõ, p. 127.
Honra de Mey nedo, p. 128.
Cap- XXV. Do Concelho de Santa Cruz deRibaTamega ,p. 129.
Couto de Mancellos, p. 150.
Couto de Travanca , p. 131.
Honra de Villa-Cahis, p. 152.
Cap. XXVI. Da Villa de Canavezes, p. 134.
Couto de Tuas, p. 134»
Cap.XXVlI. DoConcclho deGouveade RibaTamega, p. 1 36.
Conto deTaboado, p. 138.
Cap. XXVIII. Do Concelho de Geftaço, p. 139.
Honra de Ovelha, que pertende fer beetria ,p. 143.
Cap- XXIX- Da Villa de Amarante, lbid.
Cap. XXX. Do Concelho de Cerolico de Bailo, p. 144.
Cap. XXXI. Do Concelho de Cabeceira de Bailo, p. 149.
Couto de Refoyos de Bailo, p. 152.
Couto de Abbadim, p. 154.
Cap. XXXII. Do Concelho de Roças. Ibid.
Cap. XXXIII. Do Concelho de Villa-Boa da Roda, p. 154.
Cap. XXXIV. Do Concelho de Vieira. Ibid.
Cap. XXXV- DoConcclho de Monte Longo, p. 156.
Honra de Cepacs, p. 157.
Couto deMoreyra de Rey, p. 158-
Couto de Pédraido. lbid.
Cap. XXXVI. Do Concelho da Ribeira deSoás, p. 159.
Couto dcParada de Bouro, p. 160.
Cap. XXXVII. Do Concelho de Lanhofo, p. 161.
Couto de Fonte-Arcada, p. 163.
Julgado de Lagiofa, p. 16Ç.
Cap. XXXVIII. Do Concelho de S. Joaõ de Rey. Ibid*
Couto de Poufadella, p. 166.
Cap. XXXIX- Do Couto de Vimieiro, p. 167.
Cap. XL. Do Couto de Tibacs, p. i<S8«
Cap. X LI. Dos Concelhos de Mondim, Atey, Serva, & Hermello j p. 169*
Cap. XL1I- Do Concelho da Ribeira de Pena, p. 170.
INDEX.
Cap. XLIII. Da Villa , & Concelho de Aguiar , p. 171.

C
Tratado fegundo da Comarca, &• Ouvidoria de 2

Cap. I. Da deferipçaõTopográfica defla nobre Cidade, pag. 17a.


Freguelias do termo da Cidade de Braga, p. 182.
Couto de Pedralva, p. 185.
Couto de Capareiros, p. 186.
Couto de Moure. Ibid.
Couto de Arentim, p. 188.
Couto de Cambezes. Ibid.
Couto de Cabaços. Ibid.
Couto deFeitofa. Ibid.
Couto da Pulha, p. 189,

Tratado terceiro da Comarca de Viana.

Cap. I. Da defcripçaõ defta Villa. Ibid.


Frcguefias do termo defta Villa,p. 195.
Cap. II. Da Villa de Ponte de Lima, p. j ptf.
Seguem-fe as Frcguefias do termo além do Lima para oNortc, p. 2oi
Cap.III. Da Villa deMonçao, p. 2io«
Couto de Luzio, p. 213.
Cap. IV. Da defcripçaõ de ViUa-nova de Cerveira, p. 216.
Couto de Nogueira, p. 220.
Cap. V. Da Villa dos Arcos de Val de Véz, p. 221.
Cap. VI. Da Villa da Ponte da Barca, p. 22±.
Cap. VII. Do Couto de Aboim da Nóbrega, p. 22o.
Cap. VIII. Do Concelho de Lindolo, p. 241.
Cap. IX. Da Villa de Pica de Regalados, p. 24.2.
Couto de Baldreu, p. 24.5.
Concelho de Villa Garcia. Ibid.
Cap. X. Do Couto de Sabariz, p. 24.5.
Cap. XI- da Villa do Prado, p. 24.7.

D s
f!E' ° Coutos dcFrciriz, Azcvedo.&Manhenfe, p. iro.
Sn v Lr 1fcCemens.cm Villar de Areas, p.2,1.
rlwnr ií., ® Homem
Cap. XV. Do Concelho de Bouro, p. 2 íe. ,&Cavado, p. 151.
Couto de Souto, p. 25 6.
Cap. XVI. Do Concelho de Santa Martha de Bouro, p. 2çr.
Couto, & Convento de Bouro, p. 2<8.
Cap. XVII. Do Concelho de Soaio , p. 2< o.
Cap. XVIII. Do Concelho de Coura, p.261.
Cap. XIX. Do Couto deS. Fins, p. 254.
C
rT??'
Couto de R° °Jnccl&
Queijada,
ho dc AIba
0 Boylhofa,
T) "garia de Penella, p. 26<.
p. 267.

rJ£'víuíí?<íncdI!? d^Soutode Rcbordaõs. Ibid.


Cnn XXIII.
Cap. Ív fí r£r? A? de
Do Concelho j S-Eftevaõda Facha,
Geráz do Lima, p. 268.
p.269.
8 INDEX.

7*ratado quarto da Comarca de Valença.

Cap. I. Da defcripçaõ defta Villa, p. 272.


Cap. II* Da Villa dc O minha, p. 278.
Cap. Ill* Da Villa de Valladares., p. 286.
Couto de Paderne, p- 292.
Couto de Feacs, p* 295.

T\ratado quinto da Comarca de Tdarcellos.

Cap. I- Da defcripçaõ defta Villa, p. 296.


Cap. II. Em que lc profegue a defcripçaõ defta Villa, p. 298*
Cap. HI* Das frreguefias do termo de Barcellos, p. 300.
Couto deFragofo, p* 3°3*
Villa deEfpoltfide,p.3o4-
Couto de Villar de trades ? p* 3 id* . f J.
Jurado de Vermoim, que antigamente entrava por muitas terras, que hoje fao
do termo dcGuimaraens, p. 320.
Villa de Famelicaô cabeça do Julgado de \ ermoim, p. 324*
Couto de Palmeira, ou Landim, p- 3 30.
,c
Honra de Fra'acs, p-335*
Cap. IV. Da Villa de Rates, p. 336.
Cap. V. Da Villa de Melgaço, P- 337*
Cap- VI. Da Villa deCaltro Laboreiro, p* 339.
Cap. VII. Do Couto de Gondufe, p. 34.1*
Cap. VIII. DoCouto deCorntlhã, ouCorreba, p. 34.2.
Cap- IX- Do Concelho da Portella das Cabras, p. 343.
Cap. X. Do Concelho de Villachá, p. 34.5.
Cap-'XI* Do Concelho de Larim, p- 347-
Cap. XII. Da Villa do Conde, p. 348.

Tratado Jexto da Comarca do T or to*

Cap. I. Da defcripçaõ Topográfica da Cidade do Porto,> P* K°-


Cap- II. Em que le profegue a defcripçaõ Topográfica deita Cidade, p*35Ç-
Cap. III- Da defcripçaõ de Villa-nova do Porto, p. 356-
Cap- IV. Do Concelho de Avintes, p. 357*
Cap-V. Do Concelho da M^ya, p* 360-
Cap- VI- Do Concelho de Rcfoyos dcRiba de Ave,p-368.
Honra deFrazaõ,pag. 369.
Cap. VII. Do Concelho, & Julgado de Aguiar de Soula,p.373.
Couto de Ferreira, p. 377.
Bcetria de Lcuretlo. Ibid.
Honra de Baltar , p* 37^*
Cap. VIII. Do Concelho de Gondomar, p. 381.
Cap. IX- Do Concelho deLouzada,p. 382. _ _
Cap. X. Do Concelho, & Julgado de Penafiel de Soufa, cabeça de Comarca
Ecclcfiaftica do PortOj p. 383.
INDEX. J29
Couto dc PaçoTffòoufa, p. 386.
Honra de Barbofa, p. 3 87.
Honra, & Bectria de Gallegos, p. 389.
Couto de entre ambos os Rios, p. 290.
Villa dc Melres, p- 391.
Couto dc Meineda, p. 3913.
Cap. XI- Do Concelho de Porto Carreiro. Ibid.
Couto de Villaboade Quires, p. 396.
Cap. XII. Do Concelho de Bem-viver,p. 297.
Couto de Pendorada, p. 400.
Cap. XIII. Do Concelho de Bayaõ, p. 4.02»
Couto de Anfede, p. 406.
Cap. XIV. Do Concelho de Soalhaens, p. 407.
ap. XV. Da Villa da Povoa de Varzim , p. 4.09.
Cap. XVI. Do Concelho de Penaguiaõ, p. 41 o-

L i vro fegundo da Provinda de Trás os Montes. -

Tratado primeiro da Comarca da Torre de zCAdoncorvo.


r
• . •• ; .1 1- \.M ■ ' >
^a defcripçaõ Topográfica da Villa da Torre de Moncorvo, 0.416. •
Abbadia de Urres,p. 427. *
Abbadia de Peredo, p.428.
Abbadia de Maçores- Ibid.
Cap. II. Da Villa de Freixo de Efpadacinta. Ibid-

aÍu1 í-' Dj V da dc
* , Monforte de Rb Livre,p. 421.
lu aresde
g ícu termo, que lhe pertencem, p. 422.
a k u ía jC ^ant.a" Va'ha, & lugares, que nefte termo lhe pertencem. Ibid.
a LLjía j £omm> & Lugares que lhe tocaõ nefte termo, p. 43 2.
Abbadia de Bouçacs ,& lugares que-nefte termo lhe pertencem. Ibid.
Commenda de S- Joaõ da Caftanheira, & lugares, que nefte termo lhe tocaõ.

Commenda de Oucidres, & lugares que nefte termo lhe tocaõ, p. 424.
F
Cap. IV. Da Villa de Anciaens, p. 43 y. ***
; ommenda deS. Salvador, & lugares que nefte termo lhe tocaõ, p. 416.
on.mendade S.Joaõ, & lugares que nefte termo lhe pertencem, p. 427. ' ,

tCrm
n ha res *43 8 ° Pcrtenccm a Commenda da Villa, oujulgado de Li-
Cap. V. Da Villa, ou julgado de Linhares. Ibid.
Cap. VI. Da Villa de VillarinhodaCaftanheira,p. 439.

Brag" ibid tCrm°' CU^°S dÍzimos Frtencemao Abbade, & ao Cabido de


Cap. VII. Da Villa de Cortiços, p. 44.0.
P Vil,a de
?
Cap." » Valdafnes,
IX. Da Villa de Sezulfe. p 44,.
Ibia.
Cap. X. Da Villa de Pinhovcllo, 442.
1
Cap. XI.Da Villade Nuzellos. Ibid.
Yy Cap.
J3p INDEX.
Cap. XII. Da Villa de Lamas de Orclhaõ , p- 44$.
Lugares, que nefte termo tocaõ à Abbadia das Frcyras de Santa Clara de Villa
do Conde, p. 444.
Abbadia dos Frades de S. Jeronymo do Collegio de Coimbra, & lu«arcs que
&
nefte termo lhe pertencem, p. 445.
Lugar que pertence à Commenda de Freixiel de S. Joaõ de Malta. Ibid.
Lugares da Frcguelia de Mirandella. Ibid.
Cap.XIII. Da Villa de Freixiel,p. 446-
Lugares do termo defta Villaccm os mefmos frutos, & calidades delia, cujos
dízimos tocaõ ao mefmo Commendador. Ibid-
Cap. XIV. Da Villa de Abreiro,p. 447.
Lugares de feu termo com as mefmas calidades, & frutos da Villa- Ibid.
C .p. XV. da Villa de Mirandella,p. 448.
Lugares do termo, que tocaõ à Rey totia da Villa, & pertencem às feis Commen-
• das delia, p.45-2.
Lugares que tocaõ à Rey toria, & Commenda do lugar de Mafcarenhas, p. a< 5.
Lugares que tocaõ à Rey toria, & Commenda de Alia. Ibid.
Lugares defte termo , que tocaõ à Commenda, & Rey toria do lugar de Bornes,
termo da Cidade de Bragança, p. 474.
Lugar que toca à Abbadia dos Frades de S. Jeronymo de Coimbra, de que he
cabeça o lugar de Suzains termo de Lamas de Orelhão. Ibid.
Lugar que toca à Commenda, & Rey toria do lugar dos Valles, termo da Villa
de Chaves. Ibid.
Lugares que nefte termo tocaõ à Vigairaria de Abanibres, p. Aze.
Lugares da Frcguelia da Villa de Sezulfe fitos neflc termo. Ibid.
Lugar da Freguefia de Valgouvinhus termo da Villa de Dona Chama. Ibid.
Lugares que tocaõ à Commenda, & Rey toria de Rio Torto, lugar do termo da
Villa de Chaves. Ibid- •
Cap. XVI. Da Villa de Alfandega da Fé, p. 446.
Lugares que tocaõ nefte termo à Abbadia da Villa , p«4tf7.
Abbadia dos Frades do Bouro , & lugares que nefte termo lhe tocaõ, p. 4c 8.
Commenda de Adcganha, Sc lugares que neile termo lhe tocaõ, p. azo.
Abbadia, Sc lugares que neíte termo lhe tocaõ. Ibid.
Cap. XVII. Da Villa de Caftro Vicente, p. 460.
Lugares que tocaõ à Abbadia delia Villa. Ibid. ?
Abbadia de Agrobom, Sc lugares que lhe tocaõ, p. 461.
Lugares que nefte termo tocaõ à Abbadia da Villa de Chacim. Ibid.
Lugar que neífe termo toca à Abbadia de Alfandega daFé. Ibid.
Lugar que nefte termo tocai Abbadia de Sambade. Ibid.
Cap. X VIU. Das Villas de que nefta Comarca he Donatário Luiz Guedes de
Miranda & Lima,p. 46z.
Cap. XIX. Da Villa de Murça de Panoya, p. 46$.
Lugares de feu termo, p. 465.
Cap- XX* Da Villa da Torre de Dona Chama, p. 4 6<J.
Lugares de feu termo com as mefmas calidades, & frutos da Villa. Os que per-
tencem à Abbadia de Guide faõ os feguintes, p. 46 7.
Lugarci; que nefte termo tocaõ à Commenda, & Rey toria de Aila, p. 46S
Cap. XXL Da Villa de Agua revez- Ibid.
Lu-
INDEX. j3r
Lugares de feu termo com as mefmas calidades , & frutos da Villa ? p. 469.
Cap. XXII. Das Villas de que nelia Comarca he fenhor Francifco de Sampayo
de Mello & Caftro- Ibid-
Cap. XXIII- Da Villa de Villa Flor, p. 471.
Lugares que tocaõ à Abbadia da Villa, p. 472-
Lusares que tccaõ à Abbadia dos Frades Bernardos do Convento do Bouro
Ibid.
Abbadia de Valfrechofo. Ibid.
Lugar que toca àCommenda,&Reytoriada Villa daTorrc de Mõcorvo,p.47$.
Lugares que tocaõ à Commenda de Freixiel. ibid.
Cap- XXIV. Da Villa de Chacim. Ibid.
Lugares do feu termo quafi com as mefmas caiidades, & frutos da Villa? p*474«
Cap. XXV. Da Villa de Villasboas, p. 475.
Lugares de feu termo. Ibid.
Cap- XXVI. Da Villa deFrechas, p- 476.
Lugar de feu termo. Ibid.
Cap. XXVII- Da Villa de M*s. Ibid.
Lugar de feu termo, p. 477.
Cap. XXVIII. Da Villa de Sampayo,p. 478.
Lugar de feu termo. Ibid.

Tratado [egundo da Comarca da Cidade de £\4iranda.


o w-
Cap. I. Da defcripçaõdríiaCidade, p. 479.
Cap. II. Das Villas de Algozo, Frieira, SaõScris,&Rebordainhos,p. 482.
Cap.lII. Da Villa de V^nhaes,?. 483.
Cap. IV. Da Villa de Villar-feco da Lomba, p. 486.
Cap. V- Da Villa de Pado, ou Val de Paffó,p. 487.
Cap. VI. Da Villa de Vimiofo. Ibid.
Cap. VIL Da Villa de Azinhofo, p. 489.
Cap. VIII. Da Villa de Mogadouro. Ibid.
Cap. IX- Das Villas de Penas de Royas, ou Penas Rotas, & Bempoíia, p. 494.

7"ratado terceiro da Comarca, &• Ouvidoria de "Bragança.

Cap. I. Da defcripçaõ defla Villa, p. 495-.


Cap- II- Em que íe pi ofegue a defcripçaõ delia Cidade, p. 497.
Cap. Ill- Dos lugares do termo delia Cidade, & das Freguelias ,que tem como
numero dos vifinhos, p. 499.
Cap. IV- Das Villas cm que entra em Correição o Ouvidor da Comarca de Bra-
gança , que faõ dos Duques delia grande Cafa, p. 5*05 •
Cap. V. da Villa de Chaves, p. 506*
Lugares do termo delia Villa, que fe dividem pelas Fregueíiasfcguintcsjp.ço/.''
Cap. VI. Da Villa de Montealegre, p. 5 11.
Cap. VII- Da Villa de Ruy vaens ^.514.

"Tratado quarto da Comarca, &• Ouvidoria de Vi/la Bçal.

Cap. I- Da defcripçaõ delia Villa, p. 517.


Yy ij Cap.
53l INDEX.
Cap. IÍ. Das Freguefias do term© dc Villa Real, p. 519.
Cap. IH. Das Villas em que entra o Ouvidor de Villa Real cm Correição, r.ç21
Cap. IV. Das Villas da terra de Villa Real, em que entra o Provedor da Ccmar
ca de Lamego, p. 522.
Lordello. Ibid.
Honra de Gallegos. Ibid.
Alijó. Ibid.
Favayos ,p. $23.
Cap. V- Dos Coutos em que entra em Correição o Ouvidor da Cidade de Fra
ga. Ibid.
Ervededo. Ibid.
Dornellas, p. 524.
Provezcndc. Ibid.
S. Mamede de Riba Tua. Ibid.
INDEX
'•y ' #» • f V- \v >*1. W' • 45; : ' '.'-y
• r.

DAS VARONIAS DOS DUQUES, MARQJJE-


zes, Condes , & Senhores de Terras que fe con-

tem nefte primeiro Tomo.

DUques de Bragança Reys de Portugal, pag. 497.


Duques de Caminha, Marquezes de Villa Real, Menezes, p. 516.
Marquezes das Minas, Condes do Prado, Sou.as, p. 248.
Marquezes de Marialva, Menezes, p. 391.
Marquezes de Fontes, Sás, p. 411.
Condes de Unhaõ,Telles,& Menezes,p. 128-
Condes de S. Vicente, Cunhas, & Tavoras , p* 139.
Condes da Ilha, Carneiros-, p. 141.
Condes de Bailo, Qílros, p. 144.
Vifcondesde Villa-nova de Cerveira, Limas,Britos, p. 22o.
Condes dos Arcos, Noronhas, p. 223.
Condes de Valladares, Menezes, p. 290.
* Condes de Barcellos, p. 298»
Condes de Avintes, Almeydas, p. 357.
Condes de S. Miguel, Botelhos, p. 449.
Condes do Vimiofo, Portugal, p. 48 8-
Cafa do Monteiro Mór, Mellos, p- 418.
Senhores de Felgueiras, & Vieyra, Pintos Coelhos, p. 125.
Senhores de Villa Cais, Monteyros, p. 155.
Senhores de Gouveade Riba Tamega, Soufas,p. 156.
Senhores de S.Joaõ de Rey, Azevedos,p- i6f.
Senhores de Pentieyros, Soufas Menezes, p. 206.
Senhores de Britiandos, Percyras Sylvas, p. 207.
Senhores da Ponte da Barca, Menezes Magalhaens ,p. 239.
Senhores de Regalados, Coutinhos Camaras p. 242.
Senhores de Entre Homem , & Cavado, Machados Sylvas & Caílros d as*
255. ' ?
Senhores do Morgado da Charidade em Orem, Coutos, p. 269.
Senhores de Fralacs, Correas Lacerdas,p. 334.
Senhores de Penafiel, Peixotos, p. 3 83.
Senhores da Honra de Barbofa, Azevedos, p. 388.
Senhores de Bayaõ, Soufas, p. 403.

Se-
• v- rfST»
J*
\

534 index:
Senhores de Murça de Panoya, Guedes Mirandas & Lima, p. 4,62
Senhores de Vilia Flor, Sampayos Mellos & Caftros p-^óp. *

E outras muitas Familias fe pódem ver nas Freguefias da Provinda dc F


tre Douro, & Minho. y ^

I '

1 LAUS DEO,
' ^ JV

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