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SOBRE A COMPLEXA RELACAO ENTRE A FILOSOFIA E SUA HISTORIA Lorenz B. Pune. Universidade de Munique, Alemanha N este artigo 6 esbogada uma concepcio geral da relagao da fia com sua hist6ria, Nesta relaglo, seis niveis sao dis- © nivel meramente historiogralico, (i) 0 nivel Jéria do texto © de editoragio, (il) 0 nivel meramente interpretativo-assistemati ivo-sistematico, (v) 0 nivel da tematizacao sistem: da relacao da filosofia com sta hist6ra, (1) o nivel da hist6ria da filosofia Sempre implicitamente presente e atuante em toda a Filosofia puramente Sistematica. As relagoes de pressuposigao e de implicagao métuas entre estes niveis sao estudadas pormenorizadamente. © conceito de interpreta- fo € endo, objeto de uma andlise especial. As consideragdes levam & Conclusao de que uma concepcio geral adequada da relagao da filsofia om sua historia deve levar em conta, de maneira detalhada, tanto a dis- fingdo rigorosa e irremovivel entre historia da filosofia e filosofia sistema- tica como a impossiblidade, caracterizada por grande complexidade, de separar uma da outra. “Este artigo pretende tracar as inhas mestras de um esbogo, numa concepeio giebalizante, sobre a complexa relagio entre a filosoia e sua histéra, Em razio dos limites de espaco que aqui se impoem, nio serio ferecidas nem explicagées extensas nem fundamentagSes muito amplas, como também nao se faré uso de citagdes bibliograficas detalhadas 1. A versio or Schénecker/Zwenge editores mencionados. inal alemi deste artigo esti publicads no volume editado pot a tepublicasio neste lito fol autorizada pelo autor € pelos 309 LORENZ 8, PUNTEL Arelagao da filosofia com sua histria é algo que constréi como que em virias camadas; pode-se afirmar que esta relacio se faz basicamente em seis n{veis. Estes niveis, em sua diversidade uns para com os outros, devem ser entendidos tanto no sentido de maneiras de considerar, ou seja, de pontos de vista, como no sentido de dimenses existentes na relagio da filosofia com sua histéria. O contexto mostrara, caso por caso, qual senti- do esta sendo usado, Este esboco das linhas mestras de uma concepsio global divide-se em quatro partes. Na primeira sio caracterizados, um por um, os seis niveis da relagdo entre a filosofia e sua histria. A seqaéncia em que 0s iveis aparecem e a denominacao que lhes é dada provém de uma perspec- tiva de dentro e de fora; o dentro e o fora tém como ponto de referencia a filosofia. Os primeiros cinco ni estatuto explicito, 0 sexto, entretanto, possui uma existéncia como que implicita. Na segunda parte examinam-se, em seus principios, as relages dos seis niveis, uns outros; neste contexto alguns problemas especificos recebem tratamento mais detathado. A terceira parte é dedicada a um tema espe: de interpretacao. A quartae iltima parte traz consideragées finais sobre alguns aspectos da discussao contemporinea sobre a relacio entre a filo sofia ¢ sua historia, 1. Os seis niveis da relagao entre a filosofia e sua histéria [1] © nivel mais “externo” da relagio da filosofia com sua histéria refere-se a dados ¢ fatores meramentehistricos, que, numa época determina- da, moldaram as feig6es de uma determinada filosofia, ou, respectivamente, moldaram a filosofia no todo de sua historia. Os dados e fatores aqui cha- mados de hist6ricos nao estao na algada de competéncia de uma pesquisa filos6fica, eles sio — vistos em principio —, antes de tudo, objeto da historiografia geral. Com dados e fatores quero dizer 0 seguinte: a vida de um filésofo numa época determinada, sua atuacio, sua importincia sob iniltiplos aspectos, as obras que escreveu, a escola que fundou ete. Em ‘ou nao os tratou de mancira suficiente, entio a filosofia deve se ocupar deles; isso por uma razio, a saber, porque este nivel, embora meramente Gam eo de rs pts tp cnn tes ee mode den ci Tec Ama ogi doef unt Ste ess pects min go PUNTEL, 1991, 1994, 1996. oe 350 KA RELAGAO ENTRE A F externo, representa para a filosofia uma realidade e esta determina a relagio fia e sua historia (O segundo nivel da relagao da filosofia com sua histéria refere- e poderfamos denominar ilolégico-bistrico-editorial, on seja, campo filol6gico, campo de histéria do texto, campo da editoragao. (© que queremos dizer com isso € algo que, visto s6 em si mesmo, n3o apresenta muitos problemas. Trata-se aqui do nivel das fontes no sentido amplo do termo, incluindo, portanto, expressamente toda a complexidade propria deste conceito, Todo o pensador mais ou menos esclarecido sabe que a questo acerca do estado ou da forma em que se encontram os tesctitos de um fil6sofo possti um papel decisivo para todos que se ocupam com esse fildsofo. Os trés campos mencionados (campo filolégico, da {ria do texto, da editoragao) sio fatores centrais, que determina marcada- mente 0 nivel que queremos aqui caracterizar. O fator filolégico aponta para a forma da lingua e da eserita na qual a concepcio de um determina- do fil6sofo se apresenta; o ponto de vista da historia do texto trala da questo de como um determinado escrito se enquadra na obra total do filésofo; finalmente, o fator da editoraco ocupa-se com a questi sobre 0 0s escritos do filésofo se apresentam ¢ de que mancira in ser acessiveis aos leitores. Este segundo nivel nao é mais, toria do texto e de editoragao precisa ut que nio io mais de natureza meramente historiogréfica, no sentido estrito de uma mera historiografia. [3] O terceiro nivel da relagio da filosofia com sua histéria pode ico. Por “sistematico” (em filoso- losofia), "Sistematico” (em filoso! contrapartida real ou o estatuto de objetividade ou de verdade (Sachstatus) de uma proposicio, de uma concepcao, de uma teoria e similares tematico”, aqui, ndo significa 0 carter oniabrangente e/ou “fechado" de uma filosofia, como, por exemplo, no sentido dos grandes sistemas da losofia do idealismo alemao). Correspondentemente, “assistemético” significa nfo a negacio, mas sim a mera nfo-existéncia ou a auséncia de ‘uma perspectiva sistematica. ‘O nivel interpretativo-assistematico significa, portanto, o seguinte: obras filosoficas (ou seja, textos e concepgdes que de algum modo so “dados’ ou que podem ser ‘achados") so aqui apenas interpretadas. Tra- ta-se, portanto, do nivel da “mera interpretagio"; “interpretacao" aqui € centendida, primeiramente, de forma meramente negativa como urna ma- 3s Lorenz 8, PUNTEL neira tedrica de proceder caracterizada pelo seguinte fator (negativo) pontos de vista (proposigdes) que se referem ao estatuto da realidade, isto é, a0 estatuto de verdade ou falsidade das concepsées tratadas, nao séo nem considerados nem exclufdos explicitamente?. Este conceito de interpretagao é meramente (cor)relativo e negativo. Na terceira parte trataremos detalhadamente da problemética de um conceito positivo de interpretacao. ‘Um quarto nivel deve ser dos, especialmente do tercei Ele pode ser chamado de uma interpretacio que se conjuga com uma perspectiva sistematica. “In- terpretacio" como tal, no sentido estrto que aqui lhe damos, distingue-se claramente da consideragao sistematica de uma questo, Hé uma linha di- vis6ria entre ambas as perspectivas que de maneira nenbuma podemos igno- rar. Podemos chamar esta linha divis6ria de "Rubicio filos6fico”. A interpre- ‘taco como tal (no sentido que aqui lhe damos) nao ultrapassa este Rubicao. O interpretador, entretanto, que afirmar que o ultrapassa incorre num equt- voce grave, pois finge fazer algo que de fato nic faz pode ser apagada ou borrada. AA ultrapassagem do limite interpretativo conduz ao campo das consideracies sistematicas, isto €, ao campo em que sio levantadas proposigées a respeito da realidade (ou verdade). Aqui nio se trata mais tdo-somente de desvelar sentido de um texto, de uma pro- posigao, de uma concepcao ete. de um filésofo, trata-se, antes, de saber se uma determinada proposicio é verdadeira ou falsa (sespectivamente se é plausivel ou implaustvel ete Que o nivel interpretativo-sistematico pertence ao conjunto de a sofia com sua histéria resulta do fato de que as pro- veis da relacao d posigdes “sistemsticas” aqui mencionadas s6 podem ser levantadas & base de uma interpretacao determinada ou como resultado desta, Quand escrito (um artigo, um verbete num dicionario, uma monografia, livro 2. Observerse aqui que no éexcegio sim pritica amplamente difundida naflosofa {gue o estatuto objetivo do nivel stemaico seja determinado de maneita pouco exata ereceba ppouca Enfase. E possivel es SOBRE 4 COMPLEX LAGAO ENTRE FILOSOFIA € SUA HISTORIA extenso etc.) possui um estatuto interpretativo-sistematico, nao sto de im- portancia nho ¢ a extensdo da parte "meramente interpretativa’ 0 seguinte aspecto: para atribuir a um determinado texto um estatuto interpre- tativo-sistematico, ambas as perspectivas precisam, de alguma forma, tanto estar claramente distintas como claramente entretecidas, uma com a outa [5] Chamo o quinto nivel da relac3o da filosofia com sua histria de nivel sistemdtico. Atengao: falo aqui do nivel sistematico da relagao da fil sofia com sua histéria, nao me refiro, de maneira genérica, a0 nivel sis mitico em geral ou ao nivel sistematico puro. O nivel sistemético, aqui como que um “caso limite” (the limiting case — ou talvez, com mais exatidio, 1 caso mais extremo) da relagdo da filosofia com sua histéria. Aqui tal rla- Gio toma-se por assim dizer auto-referencal, isto ¢, ela é entendida e se articula como uma relagao para consigo mesma, como uma auto-relacdo. ente, a filosofia tematiza sua historia como ‘ontém a concepsio filosética propria da fia, Trata-se aqui no mais da consideracio de {atores historiogréficos, filolégicos, de histéria do texto, de editoracio; nao se trata mais de mera interpretago de textos ¢ concepgoes, também nao de uma interpretagdo a partir da qual certos resultados sistemticos sao infei- dos ete.; antes, pelo contritio, a filosofia sistematica desenvolve uma teoria sobre sua propria histéria, A filosofia, 20 voltarse sistematicamente para sua prépria historia, traz fato de que também sua hist6ria deve ser posta dentro da totalidade articulada de proposigées sistematicas Talvez com alguns exemplos possamos entender melhor que que~ remos dizer. Pensemos na tese central do Positivismo de A. Comte, isto é na lei das assim chamadas trés fases ou etapas do desenvolvimento intelec- tual da humanidade; Comte refere-se a fase ou etapa teoldgica, & ctapa metafisica e a etapa cientifica ou “positiva’. Esté claro que com isso ele quer defender a tese “sstematica” de que o homem moderno e esclarecido deve assumir a posigao caracterizada pela terceira fase ou etapa. (Se Comte rio tivesse essa intengao, se nao tivesse levantado esta tese, sua lei das tres fases devetia ser considerada pertencente ao terceiro nfvel acima descrito.) ‘Exemplos interessantes estdo associados especialmente aos nomes de ‘Hegel, Heidegger e Gadamer. Bem sucinto: Hegel entendia as concepgdes losoficas como degraus no processo do Voltar-para-si-mesmo do Espirito ja Ik 0 que iss0 possa significar), Ele levanta a pretensio de entender logicamente ” aqui no sentido hegeliano) este processo, de sorte que cada concepcao filosdfica seja atribuida a uma precisa determinacio do pensamento. 333 De acordo com Heidegger o ser deve ser pensado como um aconte- cimento, ¢, assim pensado, o ser possui um “destino”, isto é, uma histori Assim, as muitas concepsées filosoficas que, no curso da histéria da fil sofia, surgiram e foram articuladas representam sempre outras “formas” da historia do Ser. Disso se segue conseqtientemente que, de acordo com Heidegger, as concepsdes filossficas que se encontram na histéria da filo- sofia devem ser entendidas como a articulagao “sistemética” de uma deter- minada “figura” do Ser. Em Gadamer encontramos uma concepsa0 singular ¢ no fundo in- coerente da relagZo da filosofia com sua histéria, Por um lado, a histéria da filosofia é usada como 0 grande material para a “hermenéuti ptetacio”) filoséfica. Esta idéia, nele, esti it tese “sistematica’: 0 "intérprete” caracteriza-se por sua finitude, o que sig- nifica, em especial, que ele mesmo esta inserido na historia das concep- «Bes que se sucedem e se substituem; seu “interpretar” é simplesmente a articulagao de seu estatuto finito dentro do Todo que € a historia da filo- sofia, sendo que este Todo ¢ entendido como um processo absolutamente aberto e inacabado. Por outro lado, esta visio acentuadamente “finitista’, “hermenéutico-sistematica” & “determinada” dentro do quadro de uma posicao oniabrangente e sistematica “pura”. A proposigo mais radical que Gadamer afirma e levanta, para articular esta visio sistemstica oniabran- gente, diz: “Ser que pode ser compreendido é linguagem”. Fica claro que esta 4 ites de todo e qualquer ponto de vista téria, um ni € 56 assim atua. Defendemos aqui a tese de que tal nivel & pressuposto, respectivamente, tem de ser pressuposto quando se faz filosofia sistems- tica pura, a saber, quando proposigdes filossficas levantam a pretensio de possuir o estatuto de realidade ou verdade com relagao a tod e qual tema de carater objetivo, isto 6, tratado de modo ex} vista ndo-histérico. © que isso quer dizer deve ser ex O tratamento puramente sistematico-filoséfico de um tema objetivo no contém nenhuma relacio explicita com quaisquer fatores de historia 3. GADAMER, 1960065, p. 450. 4, Fazese mister notar, com certa estranheza, que esta profunda incoeréncia, que pperpassa toda a “hermentutica” de Gadamer, quase nua foi notada e tematizada, Mas cf entre outros, por exemplo, H 1990, pp. 975s., WEBERMANN, 2000. 354, PLEA RELAGKO ENTRE da filosofia — sejam estes quais forem. f preciso que nos atenhamos a isto, se nao quisermos cair em posi¢des ec tes ¢ extremamente desastrosas, confundem filosofiasistemética com his- {tia da filosofia, Disso nao se segue, de maneira nenhuma, que a historia da filosofia nao esteja por assim dizer “trabalhando” implicitamente, ou — do ponto de vista normativo — que ela n3o deva estar “trabalhando’. © porta é explicar como esta “existéncia implicita” ou este “trabalho ito” da histéria da filosofia no terreno da filosofia puramente siste- itica deve ser entendido ¢ situado. ‘Uma determinada questo, u determinado instrumentario teérico ser compreendidos, definidas, desenvol siderados em si mesmos, sem que haja uma referéncia explicita & his- t6ria da filosofia. Mas o termo precisivo “considerados em si mesmos" inclui uma restrigéo. A expresso “considerados em si mesmos” significa: ‘nfo com relacdo a outros fatores (outros conceitos, outras questées, outros instrumentdrios, em geral outros fatores de qualquer tipo)". Formulado de utra maneita: conceitos, questées etc. poclem ser “entendidos" e “explica- dos” de forma atomisticae isolacionista; mas com iss0 sua posigdo no todo sulada, Tal compreensio atomistica e isolacionista é uma compreensio unilateral e minguada do conceito, da questio etc. Somente uma compreensio holistica, isto é, que considera e tematiza explicitamente todo 0 meio ambiente do conceito, da questi ete, pode ser aceita como adequada. E facil de ver que um dos principais fatores que formam o meio ambiente de todo 0 conceito, de toda a questio, de todo 0 entario tedrico € a relacdo com a histéria da filosofia, Para ilustrar este nexo: se tum fil6sofo que procede de maneira sistemstica utiliza uma pergunta, uma determinada rede conceitual, um determinado instrumentatio etc., mas, ignora a maneira como sua pergunta e sua rede conceitual esto inseridos na rede conceitual daquele Todo que € a hist6tia da filosofia, pode acon- tecer que ele fique aquém e abaixo da consciéncia do problema e do nivel te6rico ja atingidos, isto é, que ele no consiga nem determinar nem fun- dameniar 0 estatuto exato, a importat \ce tedrico etc. de suas proposicdes e teses. A relacdo para com a histéria da filosofia, assim com- preendida, deveria ser tratada como algo totalmente evidente, Quere- os acentuar, entretanto, que se trata aqui de uma relagao que nao pre- cisa ser tematizada explicitamente. O conhecimento e, se quisermos, a consideragao tacita desta relagio sio simplesmente um pressuposto para toda e qualquer filosofia sistematica que queira fazer sentido. determinada rede conceitual, um gica, metodologia etc.) etc. podem los, aplicados etc. enquanto con- 355 Lorenz 8. runret 2. Sobre 0 nexo dos seis niveis da relacio da filosofia com sua histéria A relagdo da filosofia com sua histéria, quando tematizada, caracte- riza-se pelos cinco niveis acima descritos. A cles se soma um nivel ulterior, ‘o sexto, que é o da relacao implicita da filosofia sistematica com a hist6 da filosofia. Nesta segunda parte quero, primeiro, mostrar como os cinco primeiros niveis se relacionat t6es colocadas pela tese estudar 0 nexo entre os cinco niveis de relagio exp! da relagi losofia com sua histéria constitui-se numa ordem linear; scdem” caracteriza-se aqui pelos conceitos de “pressuposiga0 0". Isso significa que cada nivel com o estatuto de * pres- — vice-versa —nenhum ladle anterio- res, mas nao é implicado por eles; ou: 0 quarto nivel pressupse 0 terceiro, mas nao é por ele implicado. Isso tem, entre outras, uma conseqiéncia muito relevante, a saber, de que € possivel e sensato ocupar-se com a his- t6ria da filosofia de forma e com intengdes interpretativas. E necessério precisar ulteriormente em que sentido a ordem linear aqui mencionada deve ser entendida. Primeiramente, pode-se dizer que a tese aqui defendi- da se refere, sob um aspecto, a uma visio um pouco idealizada, sob outro aspecto, somente a forma bem simples da relagio da filosofia com sua histéria. Pode-se falar de uma forma idealizada, porquanto a ordem linear a afirmada no apresenta adequadamente, em todas as suas facetas, a relacdo real e concreta da filosofia com sua histéria,e assim nao Ihe faz justiga completa. Pode-se falar de uma forma “bem simples” no sentido de que a ordem linear aqui mencionada nio caracteriza 0 nexo entre os seis niveis em todos os seus aspectos, pressuposicées, condigdes de possibili- sralico e 0 filol6gico, da histéria do texto e da editoraZo, apresentam um caso e um problema todo particular. Num sentido determinado — e fun- damental — o segundo nivel pressupée claramente o primeiro. Mas sob outro aspecto ocorre © contrario: o primeiro nivel pressupée o segundo, pois a elaboracao dos fatores e dados histdricos no sentido acima exposto (portanto: a vida, a atuacdo etc, de um filésofo) pressupde em geral ou na maioria dos casos que os textos deste flsofo estejam a disposicio; mas 356 sours A co} FILOSONIA £ SUA HISTORIA GAO ENTRE limites, a poss referentes a um filésofo ou a uma época filosfica independentemente das obras do filésofo em questo ou das obras filoséficas de seu tempo. Mas 3s, aqui, em maiores detalhes nesta complexa temtica, Para at, entendemos a ordem seqiencial, acima mencionada, [3] A tese de que 0 segundo nivel (0 n légico, de histéria do texto e de editoracio) no pressupée o terceiro e os demais ntveis superio- res precisa de uma explicacio ulterior. © nexo de ndo-implicacao vale, no ‘mais, nao é adequada uma interpretacio filosofica de um texto ou de uma passagem de texto, Pois, to logo o editor faz uma interpretacao e esta faz com que o texto adquira uma determinada forma, nao se pode mais dizer no sentido estrito que se trata do texto do autor referido. Nao deixamos de reconhecer aqui que esta vislo rigorosa ‘mas pata a edigio de obras filos6ficas. I interessante, neste contexto, mencionar que a compreensio e a forma concreta das edigbes, por exem- plo, dos grandes fildsofos alemaes sofreram, no curso dos iitimos cem anos, variagées altamente significantes. Pod geral, que 0s editores se afastaram mais ¢ mais das interpretagées pré- prias, porque se basearam na idéia correta que a tarefa de uma edigio deve set a de por a disposigao dos EE claro que uma visdo, poder-se-ia dizer, tio purista em muitos, sim, nna maioria dos casos nao é factivel. A razio disso € que muitos textos possuem, no original, uma forma que nao é legivel (no sentido comum) sem intermediac3o. Para que tais textos possam ser lids por leitores “ct inserir partes fatantes ete. Nao se nega aqui, de modo algum, que tal tarefa seja nio apenas , mas até indispensdvel. Mas precisamos acentuar que a feitura de uma tal interpretaglo, por paste do editor, na maioria dos casos é e deve ser um trabalho basicamente filoséfico; isso tem por conseqiiéncia que 0 texto assim editado no pode ser visto como 0 texto original do autor editado, mas como um texto interpretado para tomar-se legi ‘expresso de maneira bem exata: um texto modificado, Pode-se precisar ou concretizar a tese aqui defendida da se maneira: em principio (isto é, no caso ideal), 0 LORENZ B. PUNTEL de texto e de editoracéo nao implica o seguinte (0 terceiro) nivel (e os niveis superiores). Em muitos, sim, na dos casos concretos de uma edicao, os textos s6 podem ser apresentados como “legiveis" quando 0 nivel filolégico, de histéria do texto e de editoracao assume as tarefas do ‘eerceico nivel (o da mera [4] A tese de que o nivel meramente interpretativo, que é 0 terceito, ‘do implica o quarto (o interpretativo-sistematico) e os demais niveis deve ser objeto de forte rejeicao por parte de muitos filésofos. De acordo com eles, um tratamento meramente interpretativo de textos filoséticos (isto é, um procedimento que nao tematiza o estatuto de realidade das proposi- ‘Ges pesquisadas) nao € nem mesmo possivel. A este respeito, ha que se constatar, primeiramente, que “meras interpretagdes” no sentido referido so posstveis pelo simples fato de que elas realmente existem. Ab esse ad posse valet ilatio, Deve-se ainda dizer que tais "meras interpretagSes’ no so excecoes, bem ao contrario, ¢ preciso constatar como um [ato inegavel que a esmagadora maioria das publicagées filosdficas — pelo menos no Ambito da lingua alema — ha muitas décadas se caracteriza por ser “metas, interpretagées”. E importante, neste contexto, mostrar as razdes em que se apsia a tese oposta mencionada, Esta tarefa no & cil, pois tais razdes quase ‘nunca sio expostas de forma clara e explicita. Mas, de alguma maneira, pode-se dizer o seguinte: Presumivelmente sao dois os taciocinios pressu- postos pelos filsofos que defendem a tese contréria em questo. [i] O primeiro consiste no comentario de que nao é posstvel pensar- se 0 tratamento filoséfico de um texto filos6fico quando se abstrai do ele- mento de procura de verdade que mativa ¢ acompanha tal procedimento. Duas coisas temos de observar a este respeito. [a] A pressuposigao feita esta longe de ser evidente. Um intérprete, quando se ocupa de um texto filoséfico, nao precisa estar motivado pela busca da verdade. Pode perfei- tamente acontecer que ele esteja sendo movido por curiosidade, por curio- sidade meramente hist6rica, por exemplo. Pode inclusive ocorrer que se- jam bem banais os motivos que levem alguém a se ocupar de algum autor; como, por exemplo, evitar o tédio, ganhar dinheiro com a edicao de um livro etc. Surge aqui, é claro, a pergunta se em tais casos, isto é, quando a busca de verdade realmente nao esta presente de nenhuma maneira, 0 intérprete que assim procede est capacitado a fazer uma interpretagao adequada, ou se seu trabalho ainda tem algum sentido. Voltaremos a isso ‘mais adiante. [b] Mesmo que se admita que toda e qualquer interpretagao — pelos menos as que sejam sensatas e efetivas — seja sempre motivada ¢ acompanhada pela busca de verdade, isso nao permite que se possa in- ferit sem mais que o nivel meramente interpretativo implique o nivel sub- = SOBRE A COMPLEXA RELACKO ENTRE A FILOSOFIA E SUA HISTORIA seqiiente, o interpretativo-sistemético. A relacio de implicacao, de que aqui tratamos, refere-se a forma explicita que uma explicacao adquire, seja como uma apresentagao oral, seja como uma apresentacdo escrita, Nao tem relevancia aqui se e quais circunstancias concomitantes ocorram, se- jam elas getais, sejam de ordem pragmdtica, Poder-se-ia dizer: no nivel concreto psicolégico-pragmatico 6 evidente afirmar que uma interpreta- 620 filoséfica sensata de um texto filos6fico precisa ser motivada ¢ acom- panhada pela busca de verdade. Mas enquanto esta busca de verdade nao se cristaliza expressamente na forma de proposigdes, apresentagdes etc. ha que se dizer que uma “mera interpretacao" nao implica um “tratamento sistematico” do texto interpretado. ] A segunda cadeia de argumentacao refere-se a fatores € nexos muito mais importantes. A idéia basica pode ser exposta assim: Sem a referéncia explicita ao estatuto de realidade (de verdade ete.) das propo- sigdes a serem interpretadas de um filésofo, nao € nem mesmo possivel captar o “sentido” de tais proposigdes. Muitos filésofos, no caso mais sim- ples, apontam para o fato de que 0 nexo entre busca de “sentido” ¢ busca de "verdade” sempre ocorre num movimento de vaivém. Tal vaivém, afir ma-se, é algo que se cristaliza em determinadas manifestagoes atribuidas a0 intérprete, como a seguinte: “Mas isso ele (o autor interpretado oua ser interpretado) jamais poderia querer dizer..” Transforma-se af o fator de verdade (caracterizado assim ou assado, respectivamente pressuposto) das proposigées a serem interpretadas num fator central de interpretacio: dependendo do fato de que uma proposicao a ser interpretada pareca ser verdadeira ou falsa (plausivel ou implausivel), atribui-se ao autor dessas proposigGes um “sentido” correspondente ao fator de verdade, respectiva- ‘mente ao fator de falsidade. [a] Esta caracterizacio da interpretacio ({iloséfica) incorre num ‘equivoco. E preciso distinguir dois ntveis diferentes, que chamamos, para sar termos simples, de nivel ‘pragmatico” e nivel “de principios’. No prag- ‘mitico 6 absolutamente racional e possfvel (mas nem sempre livre de equi- ‘yocos) basearse no estatuto de realidade (de verdade) para “interpretar” as proposigées de um fildsofo, Em certos contextos é absolutamente sensato, sim, € necessétio recorrer a0 ponto de vista a que se refere a expressio cima mencionada ("Mas isso ele [0 autor interpretado ou a ser interpre- tado] no poderia querer dizer"). Mas este recurso ao estatuto de realida- de, respectivamente ao estatuto de verdade, possui com respeito a inter- pretagdo uma conotagao meramente pragmticas ou, se alguém preferit 0 termo, “inventiva". O recurso a este fator pode ser, em determninadas cir- cunstancias, muito itil paca elaborar o "sentido verdadeiro” das proposi- ‘gées de um filésofo a serem interpretadas. Mas isso nfo vale no nivel de 359 lidade (ou que seja a ela atribuido um determinado estatuto de realidade) no é nenhum critério de que a proposic3o correspondente tenha realmente 0 sentido que o autor queria darlhe ou que lhe deu efetivamente. 5] O iltimo aspecto precisa ser aprofundado. A concepcao aqui 6 entendida por fil6sofos (basicamente de orientacio analtica) im chamado Principle of Charity (“Principio da dado & histéria da filosofia Isso deve ser dis- cutido mais a fundo. “Interpretacdo” é compreendida aqui, em principio, sobre o pano de fundo daquilo que D. Davidson chama de “interpretacio como um: convicgGes a uma pessoa (ao “informante”) somente a base de correlacdes existentes entre as circunstancias “locais", nas quais esta pessoa se situa, e as proposigdes observacionais, que esta pessoa con: to com prineipios gerais sobre a justficacao de inferéncias dedutivas e no demonstrativas). Fica claro que este conceito de “interpretacao radical" no pode ser aplicado a histéria da filosofia, pois em autores da histéria da filosofia nao sio dadas, é claro, circunstancias, Nos tiltimos anos ctistalizou-se a tendéncia de por o Principle of Charity, divulgado yalmente por Davidson’, em relagdo com 0 con- ceito “hermenéutico” de interpretacao’. Mas esta é uma empreitada bem duvidosa. © principio mencionado afirma: Uma proposigao na forma "Fa- lantes da lingua L consideram a proposicao "S verdadeira nas circunstin- cias U" possibilita, respectivamente justifica, a proposigao correspondente assinalada como "verdadeira") “S é verdadeira (na lingua L) sempre quan- do U", sob a condigdo de que seja pressuposto um principio ulterios, “constitutivo’, de atribuicdo intencional, a saber, de que condicées de verdade precisam ser atribufdas a férmulas de L, com a restricio de que a maioria das proposig6es que um falante de L considera verdadeiras real- mente sejam verdadeiras (¢ isso por causa e na perspectiva do intérpre- te). Se quiséssemos aplicar este Principle of Charirty mento da histéria da filosofia, surgiriam disparates ia, entretanto, fazer a tentativa de modificar o princi 5, Cf. DAVIDSON, 1984, 6Ch especialmente pp. 101, 136s, 152s. e 196s, 7.0 Principle of Charity vern de N. L. WILSON, 1959 (cf. p. 533), Cl, sobre isto, entre outros, ABEL, 1993, cap. 19. 360 lades de interpretacio de determinada proposi¢io ou concepsai escolher aquela interpretacéo na qual a proposi¢&o ou concepgio inter- pretada se mostra como verdadeira, ou se aproxima mais da verdade. Neste caso, a "interpretacio" nfo se distinguiria do estatuto de realida- de, pois ela s6 poderia ser claborada & base de consideragdes sobre 0 estatuto de realidade. Mas um “pr de uma confusao sob 0 aspecto conceitual ¢ sob 0 aspecto de obj pode construir uma definigéo de interpretagao dizendo que interpretacdo 6 classificagao de uma proposicia/cancepgo como sendo verdadeira ‘Quando se faz isso, entretanto, corre-se o perigo de pular um nivel impor- fante e fundamental no tratamento de proposigées/concepgses dads na historia da filosofia, ou, pior ainda, de ignoré-lo. Pois a classificagao de uma proposigao como sendo verdadeira é resultado de um procedimento teérico que tematiza téo-somente o estatuto de realidade de uma propo- sigo ou concepcao. Este procedimento nao tem mais nada a ver com a ‘questdo de como a proposigao/concepca0 correspondente deva ser enten- dida —e isso significa: como interpreté-la, Pelo contrétio, tal procedimen- to pressupde que a questao de como uma proposicao/concepsio deva ser “entendida’ (e assim “interpretada’) ja foi esclarecida (estando isso jé decidido). Com outras palavras: a questio de atribuir ou no a uma pro- posicdo/concepcao 0 estatuto de realidade e de verdade (ou de verossimi- Ihanca) pressupde que a proposicao/concepgao jé foi entenc assim interpretada), Nao fosse assim, néo se saberia de que se esta falando. Esclarecidos estes nexos conceituais, metodol6gicos e de vinculacio com a realidade, poder-se-ia dizer que a aplicagao 3 hist6ria da filosofia do Principle of Charity, na formulagio acima mencionada (¢ modificada), € uma maneira confusa e malsucedida de dizer 0 mesino que ja fo quarto nivel, acima descrito (isto &, o nivel interpretativo-sistems relagio da filosofia com sua histéria 5] Contra a tese de que o nivel 3 no implica 0 nivel 4 e de que sozinhos ou em conjungio, nao implicam o nivel 5, pode ser levan- {a0 de que é preciso admitir que uma determinada filosofia da sofia pode, sim, certamente vai influenciar a interpretagto is € de textos filoséficos; a tese da ndo-implicacao, portanto, nao poderia ter validade universal. Contra isso é de observar que a tese da nao-implicagao tem um sentido estrito, isto é, bem preciso: ela diz que € posstvel fazer uma consideragao filoséfica no sentido dos niveis 3e 4, sem que seja necessério, como condicao necessiria de possibilidade, 36 fazer uma consideracio filos6fica explicita da historia da filosofia como ‘um todo. Que isto é possivel decorre de consideragdes de principio; além disso, é simplesmente um fato. Com isso nio esté excluido que a tentativa de fazer uma filosofia de toda a histéria da filosofia possa ter e tenha efetivamente conseqiiéncias portantes, sim, decisivas para a interpretagao de certas filosofias e cer- tos textos filosdficos. Isso se deve ao fato de que uma filosofia de toda a historia da filosofia manifesta uma perspectiva holistica. Ora, aintrodugao de uma perspectiva holistica, isto é, de sistematica geral, é um fator que coloca cada “componente” do todo, neste caso a histéria da filosofia, sob uma éptica holistica, ou seja, na Gnica forma que lhe é realmente adequa- da, Por isso podemos afirmar: os niveis 3 ¢ 4 implicam o nivel 5 somente quando se levanta a pretensio de chegar a uma interpretagio definitiva de um determinado texto ilos6fico, isto €, a uma interpretagao que sob todos os aspectos seja absolutamente valida. Tal interpretagio, assim entendida, 86 € possivel e s6 pode ser pensada sob condigées rigorasamente holisticas; isto significa aqui: sob a condicio de que se faga uma consideracio filos6- fico-sistemdtica da histéria da filosofia como um todo. Mas se no se per- Se nfo se coloca a questio de maneira holistica, ou se a perspectiva ica no se faz valer, ou seja, se se trata apenas de um nexo simples (n0 sentido acima explicitado), entio os niveis 3 e 4 nao implicam o nivel 5. Faz-se mister aqui acrescentar que uma concep¢io holistica do nivel 5 6 uma das tarefas mais ousadas da filosofia, pois compreender a propria, vista “absoluto". Por isso é muito estranho que filosofias que se apresen- tam como sendo acentuadamente “finitistas” se ocupem com tanto empe- no com seu “espaco proprio” na histéria da filosofia. Exemplo caracteris- tico disso é, como mais acima brevemente mostramos, a hermenéutica de 3. Observagdes sobre o que seja 0 conceito positivo iterpretacao filoséfica de textos (e concepgées) filoséficos [1] Em nossas consideragées, falamos freqiientemente de “interpre- loséfica), colocando-a no centro da atencdo. Este conceito, até izado somente como um conceito contrario ao 0", segundo, foi determinado somente de forma negativa, no sentido de que a interpretacio (filosofica) deve ser compreen- dida como uma maneira de tratar textos e concepgdes que se caracteriza 362 SOBRE A COMPLEXA RELAGRO EN pelo fato de que 0 estatuto de realidade (isto é, 0 estatuto de falsidade) das proposigdes correspondentes analisadas ou a ser an nao € nem questionado nem — pelo menos nao de maneita diret explicita — abordado. Este c determinado 6 negativamente, considero-o, em principio, plenamente suficiente para resolver a questio da relacao da filosofia com sua histéria. Nao obstante isso, surgem neste contexto muitas perguntas que s6 podem ser respondidas se pressupomos, pelo menos em esboco, uma caracteriza- G40 basica do conceito positivo de interpretacao filosfica, Esta terceira parte trata exatamente deste tema. © termo “interpretacio”é usado, sabidamente, em varios sentidos & ‘em muitos contextos, que inclusive variam. Para o esclarecimento da ques- tao em pauta é de suma importancia apontar para algo que parece ser Gbvio mas que muitas vezes nio é percebido: Nao existe “o” conceito (ini- co) de interpretacao (inica), Isso vale, de resto, para todos os conceitos. Nio existe "o” conceito de “verdade”, de "democracia’, de “teoria” etc. Mesmo quando se entende “conceito” em seu sentido marcadamente objetivo, é preciso atentar pata o fato de que um conceito, embora assim entendido, nao esta necessariamente vinculado a uma determinada "ex- pressao”. Um conceito pode ser “articulado” por uma expressio ou por muitas expressdes. E vice-versa: uma determinada expresséo pode ser as- sociada a um conceito determinado, mas pode também acontecer que dlversos conceitos sejam a ela associados. Quando se diz que existem di- ‘versos conceitos “da” interpretagio, esta afitmagio pode ser mal entendi- dda, sim, a rigor, ela esta errada, O que se pode (e deve) aceitar como niicleo de verdade de uma tal afirmacao € a constatasio de que existem diversos conceitos que so associados a uma 6 expressio (neste caso 0 termo “interpretagao"). sso pasto, para ter clareza no uso do termo “interpretacio”, toma-se necessério introduzir algumas diferenciagSes. A primeira distinglo refere-se ao limite entre interpretagao filos6icae interpretagao nao-filosofica. Parece ser irreal sim, parece ser irracional pretender construir um conceito supremo de “interpretagao", para ento fazé-lo variar em instancias diversas, ent as quais também se conta a filosofia. Tal pretensdo vai sempre entrar fem colapso 01 pela vacuidade ou pela equivocidade do conceito de interpre- tasio que se pretende definiz. Seja qual foro significado de “intexpretagao” ‘em sentidos ou contextos noflosdficos, neste trabalho este termo s6 € tusado e compreendido por seu uso na area da filosofia. Mas logo devemos serescentar que também na filosofia 0 termo “interpretagio” nem sempre é tusado de maneira uniforme. O conceito de “interpretacao” pressuposto neste artigo e até agora s6 determinado de maneira *(cor)relativa” ou “negativa” 3683 pode ser caracterizade como 0 conceito de “intespretagao" estrito (ou, mais exatamente, 0 mais estrito poss(vel), no ambito da filosofia. “estrito’ (o mais estrito possivel) de uma concep¢ao “ampla” de interpre- los6fica). Este conceito amplo de interpretacdo tem, pelo menos lingua alema, duas formulagées. Um conceito amplo de in- usado ou pressuposto, primeiro, no ambito da filosofia (principalmente no daquela desenvolvida por H.-G. Gat mer). O conceit * 10 acima foi breve- thetmen€utico" de interpretac3o,c mente exposto, ndo pode ser tomado adequadamente como conceito correlative ou contrétio ao conceito de “filosdfico-sistematico". Na filoso- fia contemporénea de lingua alemi existe uma segunda corrente que usa 6 termo “interpretacao" em modo extremamente amplo e pretende, assim, construir um conceito deliberadamente muito mais abrangente associado este termo, Isto é feito especialmente por G. Abel? e H. Lenk’, sendo Aue, dos dois, Abel, como afirma Lenk, defende o conceito mais amplo Como exemplo soja citada a caracter sua “filosofia da interpretagio" ou de se Euristicamente podemos distinguir pelo menos aspectos do conceito de interpretacdo, como este € usado |...) podem ser cchamados de interpretacdo, os componentes produtivos primei- ros que constroem estruturas e se manifestam nas fungdes signicas categoriais, que S20 pressupostos periéncia organizada, Por sua vez sio chamados de interpreta ‘¢do, 0s padres uniformes que se enraizam nos costumes € que ficam habituais. Finalmente, interpretacdo, s20 chamados, no que segue, 05 esclarecimentos apropriativos, por exemplo, os de formu \s, de explicar, de fun- Nao nos cabe, neste artigo, tomar posigdo quanto ao conteto des- ta proposta de “interpretagio filoséfica’, mas algo deve ser dito, Parece- nos inadequado uso da expressio “interpretagao” para designar a pro- 8.Cr. especialmente ABEL, 1993 e 1999, 9. CE LENK, 1993 e 1995. 1995, p. 9 LL ABEL, 1993, pp. 1s. posta em pauta, tivo da expressio eleva facitme ‘mais uma ver: neste artigo o termo “interpreta dido neste ou naquele sentido amplo ou ampl «em sentido estrito. io aqui pressupostoevisado? E claro que, nos limites deste artigo, no se pode dar uma resposta extensa ou quis adequada a esta pergunta. Algu- mas indicagGes, entretanto, sio possiveis. Para esbosar uma resposta 4 pergunta formulada ¢ indispensével jntrodusit a distingio entre interpretasdo (filos6fica) “imanente” e inter- pretagdo [3.1.] A perspectiva intexpretativa imanente caracteriza-se Pe fato dde que ela 86 considera e traz & luz aqueles “elementos” que pertencem tlaramente, explicita ou a0 menos implicitamente, aos textos ou concep~ Goes. A interpretagao, assim entendida, toma a forma de uma apresenta- To da concepsdo floséficainterpretada que é melhor (num ou em vérios epectos) que a apresentagdo feta pelo autor que estdsendo interpretado, Para dar umn exemplo: quando se interpreta de maneira imanente um au- tor pertencente a tradicdo metafisica clissca (pré-kantiana), tal interpe- tacdo, por exemplo, consistiia no seguinte: conceitos que o autor inter pretado pen: ) sio ou “definidos” (quando uma Tefingao de tais conceitos no autor interpretado é possivel ou considerada

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