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Material Teórico
Religião no mundo atual: fanatismo, alienação ou utopia?
Revisão Textual:
Profa. Ms. Alessandra Fabiana Cavalcanti
Religião no mundo atual: fanatismo,
alienação ou utopia?
• Introdução
• O fanatismo religioso
• Funções psicossociais da religião
• Religião como alienação e utopia
• Conclusão
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· conhecer as relações da religião com os modelos gerais de fanatismo
em outras áreas da vida humana;
· perceber a religião como fenômeno de interação entre indivíduo e
sociedade;
· demonstrar a religião em sua interação com aspectos psicológicos,
emocionais e sociais;
· aprender a identificar tendências comportamentais religiosas de
fanatismo, alienação e utopia.
ORIENTAÇÕES
A presente unidade é sobre o caráter psicossocial da religião. A dimensão
psicológica e emocional é, talvez, a mais influente condicionante da crença
religiosa para a vida de uma pessoa. O caráter cultural e sociopolítico da
religião está presente, mas sempre ancorado na dimensão psicológica. Por
isso, procure observar, ao ler os textos dessa unidade, como a religião só
se entende quando são desvendadas as relações de mútua implicação entre
indivíduo e sociedade. As razões alegadas para explicar as crenças religiosas
não esgotam os motivos emocionais dos comprometimentos religiosos.
Tente confrontar e aplicar à sua própria experiência religiosa ao que você vai
aprender aqui sobre fundamentalismo, alienação e utopia. A pergunta mais
relevante e que provavelmente nem seja teórica, embora exija uma teoria bem
fundamentada, é essa: a religião é utopia ou alienação? Não se apresse em
respondê-la. Qualquer que seja a resposta, ela não pode se contentar com uma
análise genérica, abstrata ou essencialista do fenômeno religioso. O que isso
significa? Significa que afirmar se a religião é alienação ou utopia requer análise
caso a caso, segundo o modo como são vividas as crenças religiosas nas situações
concretas delineadas em sua mais completa inserção histórica e social.
UNIDADE Religião no mundo atual: fanatismo, alienação ou utopia?
Contextualização
Leia o trecho da notícia divulgada pelo site do Jornal ODIA em 07 de Janeiro de 2015 no link
Explor
a seguir: https://goo.gl/FDLf2a
Como vimos, através desse episódio muito bem divulgado em todo o mundo,
o fundamentalismo religioso não é um problema teórico e nem é só um problema
da França ou do semanário que tem ousado debochar de crenças religiosas as
mais diversas, inclusive islâmica, mas também cristã, católica, evangélica e judaica.
Independentemente do que você pensa sobre a liberdade de expressão e até onde
se deve brincar com a fé alheia, o fato é que a violência em nome de Deus foi
praticada e custou a vida de 12 pessoas.
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Introdução
A primeira condição para uma abordagem da religião que pretenda ser crítica é
discutir suas funções socioculturais que ao longo da história humana objetivamente
influenciou e referendou processos de socialização, consolidação, legitimação
transformação ou manutenção da realidade social vigente. O espaço aqui não permite
o enfoque histórico, mas tê-lo como pressuposto favorece a compreensão do papel
que a religião tem assumido nas mais complexas situações do mundo atual.
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UNIDADE Religião no mundo atual: fanatismo, alienação ou utopia?
O fanatismo religioso
Discutir o fanatismo religioso é voltar o foco da análise para as suas funções
psicossociais da religião, mas também verificar como o complexo das dimensões
cognitivas e emocionais dos indivíduos é afetado pelas crenças religiosas.
Afinal de contas, o fanatismo é um traço que se observa socialmente, mas está
enraizado nas estruturas psicoemocionais do sujeito e não se expressa apenas
como crença religiosa.
Segundo o dicionário Aurélio, fanático é aquele que segue cegamente
uma doutrina ou partido, o termo não está ligado unicamente a doutrinas
políticas ou religiosas, pois tudo aquilo que leva o indivíduo ao exagero
é considerado como forma de fanatismo. Uma pessoa pode ser fanática
por amar exageradamente uma pessoa, objeto, time de futebol, etc., o
erro mais comum das pessoas é o de designar fanatismo como sendo algo
exclusivamente religioso e político (PERCÍLIA, s/d,).
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O problema maior do fanatismo religioso é que o sujeito acredita estar a serviço
do ser supremo ou de forças sagradas que legitimam a “verdade”, a “ética” e a
“bondade” absolutas de seus atos.
Se no fanatismo o sujeito inexiste para dar lugar ao Senhor absoluto e
maravilhoso, então faz sentido não assumir a sua própria responsabilidade,
porque ela é “obra do Senhor”, “o Senhor quer que eu faça”, “foi a
mão de Allah”, etc. São mais do que frases, são efeitos de uma poderosa
“fantasia da eleição divina” onde o sujeito é nadificado para dar lugar ao
discurso delirante da salvação messiânica (LIMA, 2002).
1ª) Socialização;
Essas mesmas funções sociais da religião podem ser analisadas sob a ótica
psicológica, uma vez que o indivíduo deve possuir estrutura psicoafetiva compatível
para se deixar afetar e, ao mesmo tempo, aderir ativamente às crenças e às práticas
religiosas. Nessa perspectiva opera a psicologia da religião.
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UNIDADE Religião no mundo atual: fanatismo, alienação ou utopia?
O quadro das funções psicossociais, segundo Theissen (2009, p. 25) pode ser
demonstrado a partir de uma dupla função: a de socialização do indivíduo e a de
regularização dos conflitos entre grupos:
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Sendo assim, pode-se concluir provisoriamente, desde o contexto das funções
psicossociais, que a religião opera como alienação ou utopia. O fanatismo também
é uma forma de expressão da crença religiosa, mas essa já foi tratada no primeiro
tópico. Analisemos então, o caráter da alienação ou da utopia na religião.
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UNIDADE Religião no mundo atual: fanatismo, alienação ou utopia?
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A religião como alienação humana em L. Feuerbach
O conceito de religião em Ludwig Feuerbach (1804-1872) está principalmente
em seu livro A Essência do Cristianismo (1988). O pressuposto é o seu ateísmo.
Uma vez admitido que Deus não existe como pode a religião sobreviver na mente e
na vida prática de tanta gente? Essa é a questão que move o trabalho de Feuerbach.
A resposta se encontra na análise da essência do próprio ser humano:
A religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem. Deus é a
mais alta subjetividade do homem... Este é o mistério da religião; o homem
projeta o seu ser na objetividade e então se transforma a si mesmo num
objeto face a esta imagem, assim convertida em sujeito”.
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UNIDADE Religião no mundo atual: fanatismo, alienação ou utopia?
Portanto, Marx abandona a crítica da religião, pois ela não tem razão em si
mesma, a não ser como meio para se criticar a própria realidade de miséria, de
desigualdade e de infelicidade humana que a produz. Enquanto Feuerbach via
na religião a essência do humano, Marx não vê nela essência alguma, a não ser
como produto histórico social diretamente ligado às condições fundamentais da
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relação que o próprio homem estabelece com o trabalho e o modo mais geral da
organização econômica, social e política de produção e de reprodução da vida.
A força interior das ideias religiosas para Freud reside em sua natureza psicológica:
A origem psíquica das ideias religiosas, proclamadas como ensinamentos,
não constituem precipitados de experiência ou de resultados finais de
pensamento: são ilusões, realizações dos mais antigos, fortes e prementes
desejos da humanidade. O segredo de sua força reside na força desses
desejos (FREUD, 1997A, p. 48).
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UNIDADE Religião no mundo atual: fanatismo, alienação ou utopia?
Mas ilusão para Freud não equivale exatamente ao conceito de alienação nem
em Marx nem em Feuerbach, embora haja aproximações e semelhanças? Em
Marx, a religião é pura inversão que entorpece o ser humano: “é ópio do povo”.
Em Feuerbach, é alienação porque sua verdadeira identidade humana é confundida
com a divina. Em Freud, a ilusão é uma realidade que tem consistência psíquica,
ainda que não tenha objetividade fora do sujeito.
Ilusão não é a mesma coisa que um erro [...] A crença de Aristóteles
de que os insetos se desenvolvem do esterco [...] era um erro [...]. Por
outro lado, foi uma ilusão de Colombo acreditar que descobriu um novo
caminho marítimo para as Índias. O papel desempenhado por seu desejo
nesse erro é bastante claro [...]. O que é característico das ilusões é o fato
de derivarem de desejos humanos. Com respeito a isso, aproximam-se
dos delírios psiquiátricos, mas deles diferem também, à parte a estrutura
mais complicada dos delírios. No caso destes, enfatizamos como essencial
o fato de eles se acharem em contradição com a realidade. As ilusões
não precisam ser necessariamente falsas, ou seja, irrealizáveis ou em
contradição com a realidade. Por exemplo, uma moça de classe média
pode ter a ilusão de que um príncipe aparecerá e se casará com ela. Isso
é possível, e certos casos assim já ocorreram. Que o Messias chegue e
funde uma idade de ouro é muito menos provável. [...] Podemos, portanto,
chamar uma crença de ilusão quando uma realização de desejo constitui
fator proeminente em sua motivação e, assim procedendo, desprezamos
suas relações com a realidade, tal como a própria ilusão não dá valor à
verificação (FREUD, 1997A, p. 49-50).
Desse modo, pode-se afirmar que para Freud a religião é uma ilusão, mas
diferentemente dos outros autores, não é necessariamente um erro ou uma
contradição com a realidade, mas é expressão do desejo, mesmo que este não se
realize, trata-se de algo que tem uma realidade psíquica.
Conclusão
A religião como dimensão que procura articular o sentido da vida acaba
exercendo diversas funções no universo das relações humanas em geral, tanto
do ser humano consigo mesmo, quanto do ser humano com toda a natureza, o
universo e a sociedade.
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A religião tem sempre a ver com o universo, com o ser em seu todo,
com a interpretação da totalidade do ser a partir da realidade última.
Consequentemente, é no horizonte dessa referência explícita e especificada
à realidade frontal que o homem religioso encontra um horizonte último
de sentido para responder ao porquê e para que da totalidade do ser e,
a partir desse horizonte, motivos para viver e lutar (OLIVEIRA, 2013,
p. 107 e 108).
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UNIDADE Religião no mundo atual: fanatismo, alienação ou utopia?
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Ética e intolerância: O fanatismo religioso do ponto de vista da ética
Leia o breve texto “Ética e intolerância: O fanatismo religioso do ponto de vista da
ética” de Antonio Carlos Olivieri, da Página 3 da Revista Pedagogia & Comunicação
postado em 31/07/2005 às 13h06 no site “Educação Pesquisa Escolar” da UOL.
Trata-se de um artigo que vai complementar o aspecto da alienação religiosa, segundo
a concepção de dois outros filósofos: Baruch Spinoza (1632-1677) e John Locke
(1632-1704).
https://goo.gl/8gCci5
Livros
Reflexões Sobre a Religião Como Utopia e Esperança
Leia o livro “Reflexões Sobre a Religião Como Utopia e Esperança” de Pedro Cesar
Kemp Gonçalves, publicado pela editora Paulinas/São Paulo, 1985, 95p
Disponível para download em:
https://goo.gl/c6F8nx
Vídeos
Zé Vicente - Utopia
A primeira canção cujo nome é “Utopia” do cantor e compositor Zé Vicente, um dos
representantes mais célebres dos artistas populares das Comunidades Eclesiais de Base
- CEB’s – comunidades que melhor representaram a dimensão artística e poética da
Teologia da Libertação.
https://youtu.be/RtzZ69xr2Ao
Ney Matogrosso - Coração Civil - Vídeo Clip
A segunda é “Coração Civil”, composição de 1983 de Milton Nascimento e de
Fernando Brant, gravada também por Ney Matogrosso.
https://youtu.be/ZLcEjldHnOE
Filmes
A festa de Babette
Veja o filme “A festa de Babette”. Direção: Gabriel Axel. Ano 1987, Dinamarca. “Na
desolada costa da Dinamarca vivem Martina e Philippa, as belas filhas de um devoto
pastor protestante que prega a salvação através da renúncia. As irmãs sacrificam suas
paixões da juventude em nome da fé e das obrigações, e mesmo muitos anos depois
da morte do pai, elas mantêm vivas seus ensinamentos entre os habitantes da cidade.
Mas com a chegada de Babette, uma misteriosa refugiada da guerra civil na França,
a vida para as irmãs e seu pequeno povoado começa a mudar”. Procure ver como o
filme mostra as duas facetas da religião, uma mais alienante e conservadora e outra
profundamente utópica e libertadora. Assista ao trailer no link a seguir:
https://goo.gl/QAjdWD
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Referências
ALVES, Rubem. Suspiro dos Oprimidos. São Paulo: Paulinas, 1984.
SUNG, Jung Mo. Deus: ilusão ou realidade? São Paulo: Ática, 1996.
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