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ARTIGO ARTICLE
Promoção da Saúde Mental – Tecnologias do Cuidado:
vínculo, acolhimento, co-responsabilização e autonomia

Promotion of Mental Health – Technologies for Care:


emotional involvement, rteception, co-responsibility
and autonomy

Maria Salete Bessa Jorge 1


Diego Muniz Pinto 2
Paulo Henrique Dias Quinderé 2
Antonio Germane Alves Pinto 3
Fernando Sérgio Pereira de Sousa 2
Cinthia Mendonça Cavalcante 2

Abstract Healthcare relations serve as efficient Resumo As relações de cuidado funcionam como
devices for the promotion of mental health and dispositivos eficazes para a promoção da saúde
the development of comprehensive practices. This mental e para o desenvolvimento de práticas in-
study seeks to analyze the measures that make tegrais. Objetiva-se analisar os dispositivos que
mental healthcare possible in the daily operations possibilitam o cuidado em saúde mental no coti-
of a Psychosocial Healthcare Center (CAPS). It is diano do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).
qualitative research adopting a critical and re- Trata-se de uma pesquisa qualitativa de aborda-
flexive approach conducted in CAPS in the mu- gem crítica e reflexiva realizada no CAPS do Mu-
nicipality of Sobral in the State of Ceará. Com- nicípio de Sobral-CE. O estudo foi submetido à
plying with regulations, the study was submitted análise do Comitê de Ética em Pesquisa adequan-
for analysis by the Committee for Ethics in Re- do-se às normas da pesquisa envolvendo seres
search adhering to norms for research involving humanos. Para a coleta de dados, realizada no
human beings. For data gathering, conducted período de maio a julho de 2008, foram utilizadas
between May and July 2008, semi-structured and as técnicas da entrevista semi-estruturada e ob-
systematic observation interview techniques were servação sistemática. Os sujeitos da pesquisa fo-
used. The research subjects involved 20 people, ram 20 pessoas, distribuídas em três grupos: gru-
distributed into three groups: group I (mental po I (trabalhadores de saúde mental–8); grupo II
health workers-8); group II (users-7) and group (usuários–7) e grupo III (familiares dos usuári-
III (relatives of users-5). The material was orga- os–5). Após coletado, o material foi organizado e
nized and analyzed using principles of critical analisado pelos pressupostos da hermenêutica crí-
hermeneutics. According to the results, in the daily tica. Conforme os resultados evidenciam, no coti-
1
Programa de Pós- operations of CAPS, the relations of care and its diano do CAPS, as relações de cuidado e seus dis-
Graduação em Saúde
devices (reception, emotional involvement, co- positivos (acolhimento, vínculo, co-responsabi-
Coletiva, Centro de Ciências
da Saúde, Universidade responsibility and autonomy) make the trans- lização e autonomia) possibilitam a transversali-
Estadual do Ceará. Av. versal adaptation of psychosocial practices possi- zação da prática psicossocial, (re) construindo
Paranjana, 1700, Itaperi.
ble. The dialogues were derived from meetings of espaços de diálogo no encontro dos trabalhadores
60740-000 Fortaleza CE.
masabejo@bol.com.br mental health workers, users and relatives in their de saúde mental, usuários e familiares na busca
2
Departamento de quest for healthcare solutions. da resolubilidade da atenção à saúde.
Enfermagem, Universidade
Key words Mental health, Promotion of health, Palavras-chave Saúde mental, Promoção da saú-
Estadual do Ceará.
3
Universidade Regional do Care de, Cuidado
Cariri.
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Jorge MSB et al.

Introdução Ainda como mostra a literatura, a organiza-


ção das práticas de saúde e das relações terapêu-
Por décadas, o atendimento ao doente mental no ticas na produção do cuidado com ênfase nas
Brasil esteve ligado ao modelo centrado no hos- tecnologias leves possibilita a forma efetiva e cri-
pital, cujo tratamento oferecido limitava-se a in- ativa de manifestação da subjetividade do outro,
ternações prolongadas, mantendo o doente afas- a partir dos dispositivos de acolhimento, víncu-
tado do seu âmbito familiar e social. Nos anos lo, autonomia e responsabilização contidos nes-
1970, a modificação do modelo asilar foi discuti- sa organização da assistência à saúde5.
da e implementada por meio de lutas e conquis- Desse modo, exige-se a valorização das tec-
tas da reforma psiquiátrica, a qual dia-a-dia vem nologias leves ou relacionais pelos sujeitos com-
se consolidando nas políticas de saúde mental. ponentes da prática nos serviços de saúde men-
Historicamente, a desinstitucionalização permeia tal, aliada à perspectiva emancipatória de operar
o campo da saúde mental entre os trabalhado- o cuidado conforme os pressupostos da refor-
res, os familiares e a comunidade em geral1. ma psiquiátrica e da atenção psicossocial.
Com o advento do paradigma psiquiátrico e Por suas especificidades, o trabalho em saúde
a evidenciação da subjetividade no processo te- não pode ser globalmente capturado pela lógica
rapêutico, foi possível delinear a superação dos do trabalho morto, expresso nos equipamentos
hospícios para compor uma assistência integral e nos saberes tecnológicos estruturados, pois seu
e resolutiva. Tenta-se evitar, desse modo, o aban- objeto não é plenamente estruturado e suas tec-
dono das pessoas nas ruas ou por seus familia- nologias de ação mais estratégicas se configuram
res com vistas a propiciar um efetivo acompa- em processos de intervenção em ato. Ele opera
nhamento do sujeito em sua existência e em rela- em tecnologias de relações, de encontros de sub-
ção às suas condições de vida2. jetividade, para além dos saberes tecnológicos
Durante muito tempo, a saúde mental cons- estruturados6.
tituiu um campo de exclusão. Entretanto discus- De acordo com o estabelecido, as tecnologias
sões sobre a cronificação dos pacientes, o siste- em saúde são divididas em leves, leve-duras e
ma asilar, o modelo biomédico, a não reinserção duras. As leves compreendem as relações inter-
social, a violação dos direitos humanos e de ci- pessoais, como a produção de vínculos, autono-
dadania fizeram surgir iniciativas políticas, cien- mização e acolhimento; as leve-duras dizem res-
tíficas, sociais, administrativas e jurídicas. Tais peito aos saberes bem estruturados, como a clí-
iniciativas trouxeram à tona novas estratégias nica médica, a epidemiologia e a clínica psicana-
voltadas à reabilitação e à recuperação desses in- lítica; e as duras são compostas por equipamen-
divíduos com transtorno mental, propondo a tos tecnológicos do tipo máquina, normas e es-
valorização do cuidar e uma nova forma de pen- truturas organizacionais7.
sar no processo saúde-doença2. Na prática cotidiana dos serviços de saúde
As estratégias formuladas intentam uma res- deve-se priorizar a tecnologia leve como instru-
significação das práticas e dos serviços de saúde, mento para atingir a integralidade e a humaniza-
ainda norteados por um modelo positivista de ção do cuidado. Essa prática pode ser fundamen-
atenção à saúde. Neste, os sujeitos que partici- tada no acolhimento, no diálogo, no vínculo, na
pam dos encontros efetivados nos espaços da co-responsabilidade e na escuta ativa entre pro-
saúde tendem a se reduzir à unidimensionalida- fissional e usuário dos serviços de saúde. Isto por-
de conformada por uma leitura tecnocientífica, que a integralidade está presente no encontro, na
construtora de objetos, na qual um é o próprio conversa, na atitude do profissional que busca
substrato dos recortes objetivos (o paciente) e o prudentemente reconhecer, para além das deman-
outro aquele que produz e maneja esses recortes das explícitas, as necessidades dos cidadãos no
(o profissional)3. concernente à sua saúde. A integralidade está pre-
Como propõe a literatura, o trabalho em saú- sente também na preocupação desse profissional
de deve ser permeado pelos encontros diversos e com o uso das técnicas de prevenção, tentando
pelas múltiplas visões na relação entre o trabalha- não expandir o consumo de bens e serviços de
dor e o usuário. Mas, lembrando, a relação tera- saúde, nem dirigir a regulação dos corpos8.
pêutica também é constituída pela dor, sofrimen- Na busca dessa totalidade do cuidado apro-
to, vivências e percepções de vida em que os sabe- fundam-se as relações subjetivas entre trabalha-
res e práticas no campo da saúde mental precisam dor/usuário/serviço de saúde. Com base nessa
estabelecer mecanismos para tornar evidente os perspectiva, os onipresentes e substantivos diálo-
elementos assistenciais, subjetivos e sociais4. gos que entretecem todo o trabalho em saúde não
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conformam apenas a matéria por meio da qual do cuidado, deve-se ter sempre em vista o senti-
operam as tecnologias, mas também a conversa- do final do trabalho em saúde, qual seja, defen-
ção; ela própria, na forma como se realiza, cons- der a vida dos usuários, individuais e ou coleti-
titui um campo de conformação de tecnologias5. vos, por meio da produção do cuidado. Assim, a
Esses dispositivos relacionais (acolhimento/ meta é reduzir o sofrimento, melhorar a quali-
vínculo/co-responsabilização/autonomia) repre- dade de vida e desenvolver a autonomia nas pes-
sentam possibilidades de se construir uma nova soas para viverem a vida13. Nesse prisma, o arti-
prática em saúde. Passa-se, então, a compreen- go em elaboração tem por objetivo analisar os
dê-la como ações comunicacionais, atos de rece- dispositivos que possibilitam o cuidado em saú-
ber e ouvir a população que procura os serviços de mental no cotidiano do Centro de Atenção
de saúde, dando respostas adequadas a cada de- Psicossocial (CAPS).
manda em todo o percurso da busca, desde a
recepção e o atendimento individual ou coletivo,
até o encaminhamento externo, retorno, remar- Metodologia
cação e alta9.
Uma das possibilidades para edificar novas Pesquisa qualitativa, dentro de uma perspectiva
formas de se fazer saúde seria a potencialização crítica e reflexiva. Tal metodologia é adequada
do dispositivo acolhimento, articulado ao esta- para a análise do fenômeno social investigado e
belecimento de vínculo entre usuários, trabalha- sua interface com o campo da saúde mental.
dores de saúde e gestores do sistema de saúde, Nesta abordagem teórico-metodológica, pode-
em busca da humanização do atendimento10. se dimensionar a compreensão dos significados,
Portanto, o acolhimento permeia toda terapêu- dos sentidos, das intencionalidades e das ques-
tica e, desse modo, propicia um cuidado integral tões subjetivas inerentes aos atos, às atitudes, às
ao usuário de saúde. relações e às estruturas sociais14.
Etimologicamente, vínculo é um vocábulo de Como local da pesquisa decidiu-se pelo Cen-
origem latina, e significa algo que ata ou liga pes- tro de Atenção Psicossocial do Município de So-
soas, indica interdependência, relações com linhas bral, Estado do Ceará, Brasil, um dos serviços subs-
de duplo sentido, compromissos dos profissio- titutivos da Rede de Atenção Integral à Saúde Men-
nais com os pacientes e vice-versa. A constituição tal da cidade escolhida como campo empírico.
do vínculo depende de movimentos tanto dos Para a coleta de dados foram utilizadas as
usuários quanto da equipe10. técnicas de entrevista semi-estruturada e obser-
O vínculo pode ser uma ferramenta que agen- vação sistemática. Os sujeitos da pesquisa foram
cia as trocas de saberes entre o técnico e o popu- 20 pessoas, conforme coleta no período de maio
lar, o científico e o empírico, o objetivo e o subje- a julho de 2008, distribuídas em três grupos: gru-
tivo, convergindo-os para a realização de atos po I - trabalhadores de saúde mental (2 Terapeu-
terapêuticos conformados a partir das sutilezas tas ocupacionais; 1 Enfermeiro; 1 Assistente so-
de cada coletivo e de cada indivíduo. Ele favorece cial; 2 Psicólogos; 1 Recepcionista; 1 Porteiro);
outros sentidos para a integralidade da atenção grupo II – usuários (7) e grupo III - familiares
à saúde11. dos usuários (5).
Acolhimento e vínculo são decisivos na relação Quanto à escolaridade dos participantes da
de cuidado entre o trabalhador de saúde mental e pesquisa, eram trabalhadores de saúde de nível
o usuário. Nesta relação, o acolhimento e o vínculo superior e médio. Segundo a definição de traba-
facilitam a construção da autonomia mediante res- lhadores de saúde conceitua, estes são “todos aque-
ponsabilização compartilhada e pactuada entre os les que se inserem direta ou indiretamente na pres-
sujeitos envolvidos nesta terapêutica. tação de serviços de saúde no interior dos estabe-
A construção da autonomia ocorre na medi- lecimentos de saúde ou em atividades de saúde,
da em que ambos conseguem lidar com suas pró- podendo deter ou não formação específica para
prias redes de dependências, co-produção de si desempenho de funções atinentes ao setor”15.
mesmo e do contexto. Nesse caso, a formação da Como critério de inclusão, os usuários e os
atitude co-responsabilizada requisita o compro- familiares que participaram do estudo deveriam
misso e o contrato mútuo, evitando dissonâncias estar há pelo menos seis meses no CAPS e aceitar
cotidianas na possibilidade de se conviver e de se participar da pesquisa após apresentação e assina-
trabalhar em prol de algum propósito12. tura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Ante a importância da utilização das tecnolo- Adotou-se, então, a amostragem intencional
gias leves em saúde na procura da integralidade definida pela saturação teórica, a qual, ao esta-
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belecer o tamanho final da amostra em estudo, sociais, dois terapeutas ocupacionais, dois auxi-
interrompeu a captação de novos participantes, liares de enfermagem, uma psicopedagoga e um
fundamentada na redundância e convergência de administrador, além da equipe de apoio, forma-
sentido e significado obtido durante a coleta e da por cinco auxiliares de escritório, três auxilia-
análise dos dados16. res de serviços gerais, três zeladores de patrimô-
Conforme definido, as 20 entrevistas e as nio público e um motorista. Num total de trinta
observações foram orientadas por roteiros pre- trabalhadores.
estabelecidos sobre os seguintes pontos: 1) fluxo Mensalmente o serviço atende uma média de
de atendimento do usuário no serviço de saúde; 470 pessoas, entre procedimentos intensivo,
2) relação comunicacional e afetiva entre traba- semi-intensivo e não-intensivo. Mencionados
lhador/usuário/família (fala – escuta – confian- procedimentos são determinados pelo tempo de
ça – respeito – co-responsabilização); 3) cons- permanência diário no CAPS, desde momentos
trução do projeto terapêutico; 4) vínculo e aco- semanais, intercalados ou não, até aqueles com
lhimento como instrumentos de organização das permanência de continuidade diária. A demanda
práticas de saúde. dos transtornos evidencia os casos moderados e
Como mencionado, a pesquisa é um recorte graves de psicose, transtornos do humor e a
do Projeto Organização das Práticas de Saúde esquizofrenia.
Mental no Ceará na Produção do Cuidado Inte- Como previsto, a dinâmica de funcionamen-
gral: dilemas e desafios, aprovado pelo Comitê to prioriza o trabalho em rede, ou seja, concebe a
de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual atenção integral em saúde mental, por meio de
do Ceará. uma gestão participativa. Esta é efetivada em reu-
Para o melhor entendimento do objeto de niões para discussão do processo de trabalho,
estudo, a análise do material empírico baseou-se comunicação ampla dos trabalhadores entre si e
na hermenêutica crítica, na qual o fundamento também a inserção do usuário com suas singu-
de análise é a práxis social na perspectiva crítico- laridades na construção do projeto terapêutico.
analítica. Os passos operacionais foram: orde- A organização do serviço está transversaliza-
nação dos dados; classificação dos dados; e, por da pelo acesso referenciado e o acolhimento.
fim, a análise final dos dados14. Consoante visto em todo o processo assisten-
Os resultados se conformam na configura- cial, os dispositivos potencializadores da prática
ção analítica da compreensão do objeto de estu- integral em saúde configuram-se no cotidiano
do, dispostos em discursos e observações, cons- diverso e múltiplo do serviço CAPS e na lógica de
tituindo o entendimento temático da categoria funcionamento, no fluxo e no cuidado prestado
Relações de cuidado como ferramentas da práti- aos usuários.
ca em saúde mental: acolhimento, vínculo, co- Consideram-se como tecnologias leves em
responsabilização e autonomia. saúde aquelas implicadas no ato de estabelecimen-
to das interações intersubjetivas na efetuação dos
cuidados em saúde. Por espaço das tecnologias
Resultados e discussão leves compreende-se aquele no qual nós, profissi-
onais de saúde, estamos mais imediatamente co-
Relações de cuidado como ferramentas da práti- locados perante o outro da relação terapêutica5.
ca em saúde mental: acolhimento, vínculo, co- Conforme exposto, os discursos convergem
responsabilização e autonomia. na seguinte perspectiva: o acolhimento é estabele-
Mediante suas novas estratégias, a saúde cido por meio de um atendimento de qualidade,
mental visa atingir um cuidado integral. Para tal, de um tratamento pautado no respeito, no diálo-
utiliza as relações de cuidado como ferramentas go, na escuta qualificada, no estabelecimento de
de sua prática. Neste estudo, o espaço contextual um elo de confiança e de amizade entre ambos
é o CAPS Geral. Trata-se de um serviço destina- (trabalhadores de saúde e usuários/família).
do à população com transtornos mentais do Muitas vezes, a gente nem conversava sobre
município, que se articula com todos os níveis de mim paciente, a gente conversava sobre trabalho,
complexidade assistencial (atenção básica, hos- sobre televisão, sobre o meu curso, sobre a minha
pitalar e de especialidades) e ainda com os ou- faculdade. (Grupo II)
tros setores sociais. É bom! Eu não tenho o que dizer. Eles me aten-
Neste espaço, os sujeitos interpenetram suas dem bem aqui, desde o auxiliar de serviço até o
atividades pela composição multidisciplinar, pois médico. (Grupo III)
conta-se com quatro médicos psiquiatras, três Então, assim, a questão do respeito é algo fun-
psicólogos, dois enfermeiros, dois assistentes damental, principalmente a escuta. Hoje em dia, os
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CAPS e todos os serviços que buscam trabalhar na ca em saúde. Pode ser compreendido como ações
perspectiva da atenção psicossocial, trazem dentro comunicacionais, atos de receber e ouvir a popu-
da sua política a questão da valorização do saber, a lação que procura os serviços de saúde, ao dar
valorização da experiência, da fala tanto do usuá- respostas adequadas a cada demanda em todo o
rio como do familiar. (Grupo I) percurso da busca: desde a recepção e o atendi-
Ao potencializar a relação entre sujeitos, a mento individual ou coletivo, até o encaminha-
ênfase no processo relacional incorpora estraté- mento externo, retorno, remarcação e alta9.
gias de aproximação e efetivação de uma prática Especificamente, os dispositivos das tecnolo-
resolutiva e voltada para o modo de vida de cada gias relacionais transversalizados na prática em
usuário. No processo de escuta e acolhimento, o saúde mental são o acolhimento, o vínculo, a co-
que se desvela é um ato de interpretação mútua responsabilização e a autonomia. Mas a ênfase
entre o que o serviço pode oferecer e o que usuá- ocorre no acolhimento por disponibilizar um
rio deseja em sua vida cotidiana. A ação integral processo de escuta, diálogo e valorização do sa-
ainda é fortalecida pela multiplicidade de visões ber do outro. Perpassa toda a terapêutica e o cui-
sobre cada situação no CAPS, já que cada traba- dado em saúde, e intensifica o conjunto de dis-
lhador absorve e dispõe de saberes e práticas di- positivos já mencionados.
ferenciadas para o trabalho em saúde mental. Nas relações de cuidado do cotidiano investi-
Deste modo, é possível reproduzir socialmen- gado, segundo se nota, o vínculo pauta-se na
te a relação assistencial no campo psicossocial, construção de laços afetivos entre trabalhadores
ou seja, redireciona-se a forma de atendimento e usuários, na qualidade do atendimento, ou seja,
baseada na intervenção direta na patologia e pas- no receber bem aquele usuário, na confiança e na
sa-se a conceber os sujeitos. Visto assim, coloca- facilidade de comunicação entre esses atores. Além
se a doença em parênteses ao deslocar o olhar disso, a busca de resolutividade para seus pro-
para o “doente” (sujeito), tornando-o objetivo blemas (usuários) com o seu trabalhador de re-
de todo o trabalho, não apenas a ação técnica. A ferência é uma forma de percepção do vínculo
ênfase é dada pelo processo de “invenção da saú- estabelecido entre eles.
de” e de “reprodução social do paciente”. Contu- O vínculo no sentido da amizade, no tratamento
do, “colocar em parênteses” não pode ser pensa- que você recebe, o jeito que nós se expressamos um
do como a negação da existência da doença17. com o outro, acho que é o suficiente pra dizer que
Acrescenta-se, ainda, o acolhimento é um dis- somos realmente amigos. (Grupo II)
positivo transversal na conduta terapêutica, pois O Doutor que me acompanha, a relação é óti-
não é tido apenas como uma parte do processo ma! A relação é como amigo, né, não é como médi-
de cuidado (triagem). Ele perpassa todo o traje- co. Ele me dá conselho, me orienta, me ajuda de-
to terapêutico do CAPS. mais! (Grupo II)
Inicialmente, a maioria dos CAPS faz triagem Sempre quando querem resolver alguma coisa
e acolhimento no próprio serviço, o CAPS de So- falam “eu vim falar com você, o que você pode fa-
bral, no início, era assim [...] Hoje, o CAPS de zer”. Então, eu percebo que há uma reciprocidade,
Sobral não faz mais triagem, é feita na atenção eles me têm muitas vezes como referência, pra tá
primária, que é, justamente, um ganho que a gente esclarecendo algo, pra tá agilizando algo com o PSF
tá tendo aqui [...] Triar é ver se o paciente que você ou aqui mesmo dentro do serviço, dando algum
tá observando, realmente, tem indicação pra ficar esclarecimento quanto à conduta medicamentosa,
no CAPS, naquele serviço, ou se ele é indicação de pra mim tá fazendo o contato com o psiquiatra.
ficar em outro serviço. Acolhimento é você pegar o (Grupo I)
paciente que tem indicação daquele serviço e você O usuário que frequenta o CAPS tem essa neces-
acolher, fazer a escuta e dali você já construir com sidade desse vínculo. Eu percebo muito claro isso,
ele e a equipe o seu projeto terapêutico. (Grupo I) que o vínculo, de certa forma, é uma necessidade
É visto que no CAPS de Sobral-CE o acolhi- terapêutica que se tem, se a gente não conseguir
mento não é confundido como uma etapa do pro- manter esse vínculo que é a aproximação, o respeito,
cesso de cuidar (triagem), e sim como um dispositi- a confiança, o tratamento pode não funcionar [...]
vo que permeia todo o projeto terapêutico do indi- A principal coisa que eu vejo necessário pra esse vín-
víduo desde a sua construção. Sendo um processo culo é a confiança. Esse usuário ter confiança em
compartilhado entre usuário e equipe de saúde você como profissional e você responder pra ele nes-
mental, perpassa toda a singularidade do indiví- ses momentos que ele precisa do seu apoio [...] O
duo. (Observação) paciente com transtorno mental tem uma carência
O dispositivo acolhimento funciona como afetiva muito grande. Desse olhar, dessa atenção que
uma possibilidade de construir uma nova práti- você como profissional oferece e que, muitas vezes,
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ele não tem isso lá fora. Ele é discriminado pela soci- sujeito. A condição de vida, o direito à singulari-
edade, pela escola e pela própria família. Então, aqui dade, o direito às tecnologias de melhoria da vida,
quando eles chegam, eles buscam isso no profissio- o acolhimento e o vínculo na construção da au-
nal, esse vínculo afetivo, ligado ao respeito, ao cui- tonomia são características, muitas vezes, mais
dado, ao olhar, na escuta. Então, eu faço isso e tento amplas do que os espaços de intervenção das re-
fazer esse vínculo tendo em pauta esses quesitos. (Gru- des de cuidado em saúde. Cabe, assim, conceber
po I) o ato de saúde como intersetorial, porquanto na
Já formei um laço, porque ele já sabe da história busca pela resolubilidade, o encontro de vida se
da minha família, do meu filho doente. Se eu mu- dá, às vezes, no mundo vivido.
dasse de profissional, eu acharia ruim porque eu No trabalho ora elaborado houve divergên-
teria que contar tudo de novo! (Grupo III) cias quanto ao efeito positivo do vínculo, pois
Conforme é possível observar, os discursos para determinados sujeitos da pesquisa este é
configuram uma direcionalidade de significado prejudicial ao tratamento por causar dependên-
dos encontros realizados em cada ato terapêuti- cia do usuário em relação ao trabalhador de saú-
co. Desse modo, caracterizam determinados de e vice-versa:
construtos relacionais entre os sujeitos na pró- Eu acho que esse vínculo causa muita dependên-
pria relação de cuidado. A necessidade oriunda cia minha em relação a ela, pode até prejudicar o
da vida de cada sujeito e das demandas apresen- trabalho e até me prejudicar também, quando uma
tadas transpõe a dinâmica social, política e ge- pessoa fica muito dependente da outra. (Grupo II)
rencial do serviço e refaz-se na conformação prá- Eu tô bem melhor agora, mas se a minha psicó-
tica e operacional pela utilização e evidenciação loga tivesse no passado esse afastamento, eu teria
de tecnologias e ferramentas subjetivas. sentido mais, porque eu tava mais vulnerável. Eu
Nesse sentido corrobora-se a concepção teó- tinha mais abertura com ela, foi a pessoa que me
rica da ferramenta relacional do vínculo resultan- atendeu na minha crise, no dia que eu vim pra cá.
te da disposição de acolher uns e da decisão de (Grupo II)
buscar apoio em outros. Portanto, o vínculo se Ela já entende tão bem o meu caso, que se eu
expressa pela circulação e por afetos entre as pes- fosse pra outra pessoa, que eu teria que explicar
soas10. No trabalho em saúde, a vinculação é uma tudo de novo, aí, talvez, ele não me entenderia tão
ferramenta eficaz na horizontalização e democra- bem como ela. Me compreenderia como ela, iria
tização das práticas em saúde mental, pois favore- me orientar como ela, aí eu ia ficar confusa e não
ce a negociação entre os sujeitos envolvidos nesse ia gostar muito não! (Grupo II)
processo, isto é, usuários e profissional ou equipe. Acho que o vínculo é ruim, porque meu pai
A equipe ou profissional de referência são não quer ser atendido por outro profissional a não
aqueles que têm a responsabilidade técnica pela ser a doutora [...] (Grupo III)
condução de um caso individual, familiar ou co- Então, se for estabelecer um vínculo muito for-
munitário. Cabe-lhes, de modo integral, ampliar te, de confiança e aquilo ali pode ser prejudicial, até
as possibilidades de construção de vínculo entre mesmo porque é algo forte [...] Então, a gente faz
eles e os usuários18. uma escuta acolhedora, mas não é aquele vínculo
Mas a construção do vínculo no cuidado em forte estabelecido no contato inicial. (Grupo I)
saúde mental depende ainda do modo como os Ao se vincular a alguém ou a alguma institui-
trabalhadores de saúde se responsabilizam pela ção (uma equipe, um centro de saúde) costuma-
saúde dos usuários e suas singularidades do pro- se transferir afetos para essas pessoas ou institui-
cesso de cuidar. ções. Afetos são sentimentos imaginários, apos-
Tal constatação na determinação para o es- tas que se faz com base na história pessoal de
tabelecimento do vínculo advém de uma exigên- cada um e na imagem produzida pelo serviço ou
cia, qual seja, é preciso existir negociações parci- pelo profissional. Esses afetos podem contribuir
alizadas na construção mútua de um consenso ou não para a eficácia da conduta terapêutica e
ao dar resolubilidade de cada necessidade e/ou para a manutenção da vida em cada pessoa afeta-
problema. Contudo, o ato terapêutico não deve da, seja o trabalhador, ou o próprio usuário10.
estar centrado no trabalhador; tampouco deve Por isso, o vínculo pode ganhar variados sen-
ser realizado puramente pela manifestação de tidos (confiança - respeito - amizade - depen-
desejo do usuário. O vínculo pode, pois, intera- dência - antipatia), de acordo com os laços de
gir com ambas as possibilidades na busca da afetividades construídos ao longo da terapêutica
conduta cuidadora resolutiva e humanizada12. entre trabalhador de saúde mental e usuários.
Inegavelmente, as necessidades de saúde es- Quanto à co-responsabilização, é uma par-
tão contextualizadas no modo de vida de cada ceria entre os sujeitos envolvidos no processo de
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cuidar em saúde para a melhoria da qualidade transtornos mentais a ocorrer mediante constru-
de vida do portador de transtorno mental. Se- ção do projeto terapêutico que tenta trabalhar as
gundo os discursos revelam, essa parceria acon- necessidades, as incapacidades, os desejos, os an-
tece de forma multilateral, levando em conside- seios e os sonhos desses usuários. Esse pensa-
ração as opiniões e as possibilidades dos traba- mento está sintetizado nos seguintes discursos:
lhadores/usuários/família na composição do Eu avalio o paciente, aí, através do que ele me
projeto terapêutico. Seguem os discursos: mostra na avaliação, é que eu vou construir junto
A gente tem aquela parceria, que eu quero di- com ele quais são os interesses dele, o que ele gosta,
zer, que eles dão atenção à gente! Eles me atendem o que ele não gosta, o que ele quer aprender, onde
bem, me perguntam como é que eu vou. Eles se estão as dificuldades dele, é um trabalho feito jun-
preocupam! (Grupo II) to. (Grupo I)
Dou opinião no meu tratamento. Assim, você Tentar construir nesse projeto terapêutico algo
fala o que está sentindo, o que a gente passa e fala que também se enquadre como projeto de vida, dar
pra eles. Aí eles tomam uma atitude. (Grupo II) para essas pessoas a capacidade de prover os so-
A psicóloga não diz exatamente o que eu tenho nhos, as possibilidades que ela teria. Está “empode-
que fazer, ela deixa que eu me expresse, dê as mi- rando”, por isso a importância de estar discutindo
nhas opiniões, aí ela diz o que eu tô pensando de com as pessoas o tratamento, quais são seus so-
errado, o que eu tenho que mudar, ela nunca diz nhos, suas possibilidades e isso seria a questão de
que eu tô errada, ela sempre tem a forma dela de reabilitação psicossocial. (Grupo I)
dizer que eu tô fazendo não é bem assim. Não é que Eu não tenho tempo de fazer atividades aqui
ela manipule, entendeu? Ela tem a maneira dela de no CAPS, só o tratamento com o médico, porque
fazer a gente pensar diferente. (Grupo II) trabalho no interior. Todo dia vou pra Meruoca de
O doutor sempre pergunta se o meu filho tá manhã e só chego à tarde. (Grupo II)
precisando de alguma coisa [...] Ele leva em conta Eu não faço nenhuma atividade aqui, porque
o que eu falo. (Grupo III) para quem faz tratamento à tarde as atividades são
Realmente, qualquer acompanhamento e o pro- de manhã, e de manhã eu estudo e faço curso Eu
jeto terapêutico nunca podem ser propostos de for- estudo pra ser alguém na vida. (Grupo II)
ma solitária pelo médico. A construção é com o Ele nunca fez nada obrigado, aqui não! (Gru-
cliente e com o familiar, porque eles têm que estar po III)
bem comprometidos. (Grupo I) Na perspectiva da reabilitação psicossocial
Outra coisa que é importante é escutar a opi- pode-se apresentá-la como um conjunto de ativi-
nião familiar. (Grupo I) dades capazes de oferecer condições amplas de
Ao se considerar o contexto onde esses sujei- recuperação dos indivíduos por meio da utiliza-
tos estão inseridos, a vida vivida de cada um e a ção de recursos individuais, familiares e comuni-
própria oferta terapêutica no serviço favorecem a tários com vistas a neutralizar os efeitos iatrogê-
transcendência de valores, práticas e sentimentos nicos e cronificadores da doença e do interna-
acumulados ao longo do tempo. A incorporação mento. Reabilitar significa, pois, ajudar os porta-
dos saberes de cada sujeito no modo de operar a dores a sobrepujar suas limitações e incapacida-
manutenção da vida tem sentido duplo em virtu- des e promover o autocuidado, no intuito de ele-
de de ocorrer a transfiguração da relação direta var-lhes a auto-estima, ensejando-lhes a restitui-
trabalhador de saúde-usuário para também usu- ção da autonomia, a identidade pessoal e social19.
ário-trabalhador de saúde. Deste modo, a prática Por fim, ressalta-se a importância de elevar a
coincide com a concepção segundo a qual cuidar autonomia dos usuários, ou seja, ampliar a ca-
não é só projetar, é um projetar responsabilizan- pacidade de compreenderem e atuarem sobre si
do-se; um projetar porque se responsabiliza5. mesmos e sobre o mundo da vida. O grau de
Ao mesmo tempo, a responsabilização deve autonomia mede-se pela capacidade de autocui-
ser mútua, ou seja, uma co-responsabilização dado, de compreensão sobre o processo saúde-
entre terapeuta/usuário/serviço/família na ten- doença, de usar o poder e de estabelecer com-
tativa de minimizar os efeitos deletérios da doen- promisso e contrato com outros19.
ça mental e estimular a capacidade do usuário Portanto, para atingir o objetivo terapêutico
para o enfrentamento de seus problemas. Isto, deve-se voltar os trabalhos para as incapacida-
porém, com base nas suas condições sociais, eco- des, para as necessidades do paciente, tendo em
nômicas, culturais e resgatando a sua cidadania, vista o desenvolvimento de condições cada vez
para a própria reinserção na sociedade. melhores e que lhes permita gerenciar sua vida e
Converge, ainda, o entendimento sobre o de- aumentar suas possibilidades de fazer escolhas20.
senvolvimento da autonomia dos portadores de
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Jorge MSB et al.

Considerações finais diálogo entre trabalhador de saúde e usuário/


família, na escuta, no atendimento e na resolubi-
De modo geral, o estudo propiciou um aprofun- lidade da problemática de saúde desses sujeitos,
damento sobre as relações na produção do cui- transversalizando toda a terapêutica.
dado em saúde mental na ênfase analítica dos O vínculo, então, favorece o cuidado integral
seus dispositivos na efetivação da integralidade por democratizar e horizontalizar as práticas em
da atenção resolutiva. Evidentemente existem os saúde, na medida em que constrói laços afetivos,
limites, decorrentes, sobretudo, da própria de- confiança, respeito e a valorização dos saberes
terminação do cotidiano múltiplo, diverso e di- dos usuários/família/trabalhadores de saúde.
nâmico presente no CAPS. Desse modo, propicia o desenvolvimento da co-
Considera-se que as ferramentas relacionais responsabilização, da parceria desses sujeitos para
envolvidas no processo de trabalho se dinami- a melhoria da qualidade de vida do portador de
zam e se articulam na prática cotidiana e determi- transtorno mental.
nam-se pelas próprias relações, demandas, ne- A autonomia como dispositivo do cuidado
cessidades e ofertas envolvidas no cuidado. To- integral é o resgate da cidadania dessas pessoas,
mam sentidos e significados de acordo com a buscando a auto-estima, o poder contratual e o
potência afetiva de cada sujeito para com o outro. autocuidado, tendo como pilar o projeto de vida
Na operacionalização diária e contínua do de cada usuário do CAPS. É preciso trabalhar as
trabalho no CAPS segue-se uma compreensão incapacidades, as necessidades, os medos, as an-
segundo a qual os mecanismos subjetivos de gústias e os sonhos desses indivíduos para que
transversalização das ferramentas relacionais di- possam, um dia, voltar a gerenciar suas vidas.
recionam o cuidado em saúde para uma resolu- Dessa forma, os dispositivos do cuidado in-
tividade emanada das evocações reais da subjeti- tegral se transversalizam no cotidiano do CAPS
vidade. Este cuidado pode ser dimensionado nos principalmente no ato de acolher e no vínculo
atos de escuta e acolhimento, no diálogo próxi- construído nas relações terapêuticas. A autono-
mo de cada singularidade e ainda na confiança mia e a co-responsabilização ainda requisitam
constituída de cada sentimento, vínculo e com- dos sujeitos envolvidos uma maior capacidade
promisso para com o outro. de articulação com as próprias demandas imagi-
Como se depreende, a concepção teórica dos nárias que se conformam no contexto subjetivo
dispositivos cartografados no cotidiano dos ser- de cada trabalhador e usuário.
viços de saúde mental possibilita entender o real, A partir da análise, conforme se observa, a
o vivido no espaço micropolítico de cada encon- resolubilidade somente tornar-se-á real na me-
tro. Transpor o imaginário e efetivar a prática é dida em que todos estes dispositivos suprirem as
apropriar-se dos conceitos como ferramentas e necessidades de saúde da população em cada ato
assim potencializar sua utilização na construção cuidador.
de ações mais próximas do cotidiano e de cada Embora o cotidiano do CAPS seja tenso, é
subjetividade. também harmônico; a significação se faz no tra-
O acolhimento funcionando como um dis- jeto terapêutico. Enquanto a estática parece visu-
positivo capaz de (re)estruturar o cuidado inte- alizar-se em espaços rígidos, a dinâmica confi-
gral em saúde mental, transpondo os conceitos gura-se como um constante processo de trans-
de patologia e de diagnóstico da doença mental, formação e conformação social. Nesse trilhar é
ressaltando a subjetividade e a singularidade de possível o surgimento de novos sujeitos e novas
cada indivíduo que é atendido no CAPS. Esse dis- práticas que ressignifiquem continuamente o
positivo de base relacional é compreendido no cuidado em saúde mental no SUS.
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Ciência & Saúde Coletiva, 16(7):3051-3060, 2011


Colaboradores Referências

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Artigo apresentado em 24/05/2009


Aprovado em 30/06/2009
Versão final apresentada em 27/07/2009

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