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(UFMG).
vivenciar o cotidiano das comunidades ressignificando relacionadas a cultura local . A escola
normalmente não proporciona ao aluno vivências em espaços fora do ambiente escolar, a
metodologia praticada geralmente contempla atividades relacionadas à escrita. A esse
respeito Barbosa (2005, p. 89) se refere como:
A natureza da escola, de maneira geral e como a conhecemos e vivenciamos,
não privilegia um modelo de aprendizagem por relação direta com a
realidade. O conhecimento do mundo que se faz por mediação da escola é
necessariamente filtrado pela ferramenta verbal – de preferência em sua forma
escrita.
Esta história era contada por todos e a cada frase uma badalada, num suposto relógio,
na verdade um toque no triângulo, instrumento escolhido pelos alunos para a sonoplastia da
historia. Essa contação de historias foi resultado das muitas conversas, observações,
experiências, e pesquisa como retalhos que viemos costurando pelo fio dialógico que nos
conduziu, na busca pela interação dos alunos e a cultura da comunidade. Processo que
funcionou como uma polifonia no intuito de trazer sentimento de pertença e afirmação e no
fortalecimento da identidade dos próprios sujeitos dentro da localidade.
Entendendo a educação patrimonial também como o resgate da oralidade de uma
comunidade, contida na memoria do homem simples, que cotidianamente é calado pelas
mídias de consumo e historicamente ignorado por séculos. Buscamos a beleza contida nas
das historias da coletividade, a busca pela cidadania e resgate de auto-estima de alunos e
comunidade e valorizando as narrativas orais como fontes para a construção do conhecimento.
A primeira vez que os alunos foram conhecer as Paneleiras, percebemos que os alunos não
significaram aquela visita como algo importante ´que faz parte da cultura local, bem como
elemento da construção da identidade capixaba, desta forma os alunos tiveram a concepção
das Paneleiras como “um grupo de mulheres que fazem panela de barro” e se preocuparam
em tirar muitas selfies. Foi quando despertou a reflexão de qual a metodologia atribuiria para
os alunos o entendimento dessas mulheres como ícone da cultura local. Pensando na
etnografia como um processo em que a presença do pesquisador e sua interação, ou só
observação em um grupo social, é um método de coleta de dados e entendimento de como
aquela comunidade se organiza, poderia trazer uma nova concepção e ressignifcar essas aulas
de campo com uma atividade pedagógica que propiciasse aos alunos uma aproximação e
interação com essa comunidade. Uma vez que a atividade em ambiente não formal de ensino
é algo novo para os alunos, permitiria descobertas sobre essa comunidade, Gil (2008, p. 52)
nos fala que o estudo de campo:
Procura o aprofundamento de uma realidade específica. É basicamente
realizada por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de
entrevistas com informantes para captar as explicações e interpretações do que
ocorrem naquela realidade.
É indiscutível que as mudanças sociais com adventos das novas mídias digitais, fazem parte
do cotidiano do nosso ambiente escolar, e se torna um desafio para o professor, buscar uma
linguagem que dialogue com essa geração “tecnológica”, sendo assim essa prática educativa,
nas aulas de arte, teve uma abordagem que propiciou os alunos a experimentar e vivenciar os
caminhos e trajetos percorridos no cotidiano: quais as memórias carregam desses espaços;
quais as cores, as formas, as texturas, as paisagens, as pessoas que circuntam esse
cotidiano carregam historias, que historias são essas?
Sendo assim o registro fotográfico foi utilizado para trazer essas questões do espaço cotidiano
desses alunos, após os registros os alunos expuseram suas fotos e em seus relatos perceberam
que existia uma paisagem de manguezal exuberante; que se contrapunha com o lixo jogado a
céu aberto pelos moradores; que a caixa dágua da escola era um destaque (uma torre imensa
pintada de vermelho e amarelo que se destacava a longa distancia); perceberam que a
paisagem vista do alto do morro e vista da escola (na parte baixa) tem nuances diferentes, que
o balançar da árvores fazia um barulho de sininhos para alguns e de filme de terror para
outros. Os barcos do atracadouro do outro lado da rua da escola, tem inscrito nome de pessoas
que eles perguntaram e descobriram que se tratava de pessoas das família dos pescadores
(filhos, esposas, netos ou pais). Desbravar um espaço tão “familiar” foi despertar um olhar
repleto de significação, foi compreender que o nosso cotidiano nos conta quem somos ao que
pertencemos, desta forma o que era corriqueiro se transforma em novidades repleta de vida,
cores, formas e sons. A experiência de explorar o espaço físico dos alunos possibilitou aos
mesmos ter um maior entendimento dos lugares e não lugares de Augé, aquele lugar de
pertencimento de origem que nos faz sentir em casa, que nos é acolhedor.
Após essa experiência fomos as Paneleiras de Goiabeiras e desta vez com o proposito de
fazermos um documentário os alunos passaram um período no galpão, participaram da oficina
de confecção das panelas, e obterem material (fotos e depoimentos) para o documentáro.
Entender como o aluno compreendia aquele ambiente, como se relacionavam e qual
percepção tinham, agora com essa atividade de campo. Sendo assim propus aos alunos que
fizessem um documentário sobre a Paneleiras de Goiabeiras. Os alunos fizeram toda a etapa
de um documentário: roteiro, trilha sonora, entrevistador, locação, luz, equipamentos que
seriam utilizados bem como a coleta de dados, aproximadamente dez mulheres estavam no
galpão nesse dia e os alunos escolheram a Nete, que é irmã da presidente da associação das
Paneleiras de Goiabeiras, Berenice, pela mesma ter experiência em ministrar oficina e ter se
disposto a dar entrevista para os alunos. A espontaneidade dos alunos, a proximidade com o
ambiente se deu pela empatia criada com a Paneleira, Nete, bem como pelos conhecimentos
prévios sobre o assunto nas aulas normativas (com vídeos, documentários, slides e textos) que
aguçou muita a curiosidade nos educandos, em saber não apenas sobre o processo de
fabricação das panelas de barro, mas sobre a vida daquelas mulheres que se dedicam a uma
cultura tão importante para nosso Estado. A respeito dessa investigação direta por parte dos
alunos na comunidade das Paneleiras de Goiabeiras, com coletas de informações, registro
fotográfico e filmagens, Gil (2008, p. 52) nos fala que o estudo de campo:
As aulas de campo aliadas aos conteúdos estudados no cotidiano escolar ampliaram para o
aluno as possibilidades de formas de se fazer e pensar a Arte. Para Ferraz e Fusari (1999, p.
16), “a arte se constitui de modos específicos de manifestação da atividade criativa dos seres
humanos ao interagirem com o mundo em que vivem, ao se conhecerem e ao conhecê-lo”.
Porém não podemos ver a aula de campo como um “portal mágico” que trará à tona toda uma
potencialidade e habilidade, antes “escondida dentro do aluno”. É importante que o educando
tenha conhecimentos prévios sobre o tema para que as vivências possam ser significativas.
Desta forma haja um entendimento sobre a proposta pedagógica. Saccomani (2016, p. 61) a
esse respeito nos fala que:
O indivíduo está incorporando à sua atividade um instrumento cultural que já
existe na sociedade, portanto não se cria nada novo. O acervo da humanidade
existe como memória do gênero humano e, no momento que o indivíduo se
apropria dele, passa também a ser memória individual. O uso desses
instrumentos culturais gera novas possibilidades na atividade do aluno, que
passa a fazer coisas que antes não fazia.
Teremos significativas contribuições sobre as formas que as aulas de Arte podem ampliar,
aguçar e desenvolver as habilidades e os processos criativos dos educandos. Quando
compreendemos aspetos dos processos de criação dos educandos e despertamos a reflexão do
aluno sobre as diferentes formas de se interagir e produzir como em uma comunidade cultural
local.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Aproximar alunos e patrimônio imaterial pode contribuir para resgatar memorias,
costumes, e envolve-los afetivamente com suas raízes, seu chão. O que pode trazer novos
significados para sua formação como sujeito dentro de sua localidade, impelindo-o a um
cotidiano mais atuante. O trabalho etnográfico como mote para o ensino de arte aproxima
comunidade e discente, traz sentimento de pertença, e pode ser um movimento de resistência
em face à crescente homogeneização decorrente das mídias de consumo cujo proposito parece
ser transformar a todos numa massa sem rosto, em subjetividade. Reconhecer-se como sujeito
dentro de um contexto ....
Continua?
Referências:
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução Alain François et. al.
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007