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EMPREITADA - 1207º a 1230º

Disposições gerais - 1207º a 1213º

Conceito - 1207º - Empreitada é o contrato pelo qual uma das partes se


obriga em relação à outra a realizar certa obra, mediante um preço.

É um contrato sinalagmático na medida em que dele emergem obrigações


recíprocas e interdependentes: a obrigação de realizar uma obra tem como
contrapartida a obrigação de pagar o preço; é um contrato oneroso, porque o
esforço económico é suportado por ambas as partes e há vantagens correlativas
para ambas, e é comutativo (por oposição a aleatório), porque as vantagens
patrimoniais que dele emergem são conhecidas, para ambas as partes, no
momento da celebração. E é um contrato consensual, na medida cm que, ao não
cair sob a estatuição de nenhuma norma cominadora de forma especial, a
validade das declarações negociais depende do mero consenso (art. 219º).

Não se pode considerar a empreitada como um verdadeiro contrato de


execução continuada ou periódica, porque cada acto singular de execução
realizado pelo empreiteiro não satisfaz uma parte correspondente do interesse do
comitente, que só se realiza plenamente com a entrega da obra. A empreitada é
um contrato que pode ter prestações de execução prolongada, como acontece
nas empreitadas de manutenção, mas bem pode esgotar-se numa só prestação ou
acto de cumprimento. Tudo depende da empreitada, da obra contratada. A
protelação no tempo é o mais normal mas não é característica da empreitada.

Sujeitos ou partes do contrato são o dono da obra que não é


necessariamente o proprietário ou comitente - que aqui não tem o sentido do art.
500º - e o empreiteiro.
Objecto do contrato de empreitada é a realização de uma obra material.

Se a Radiotelevisão mandar abrir concurso para acrescentar as suas instalações, toda


gente chamará empreiteiro ao concorrente que, vencendo a competição, se obrigue a realizar
as obras de ampliação.
Mas se for um artista (como Raul Solnado ou Herman José) que se obrigue a realizar
meia dúzia de programas para a Televisão, ninguém dirá que esse artista é empreiteiro da
Televisão. Como ninguém diz que o dentista que vai arrancar um dente é empreiteiro do
paciente, ou que o médico, ao dar a consulta marcada, é um empreiteiro do doente.
A obra que define a causa típica do contrato de empreitada refere-se ao acto que o
empreiteiro se obrigou a realizar (à construção ou à pintura da casa, à limpeza do arma-
zém, ao alargamento da estrada, à reparação da viatura, etc.) e não à coisa sobre a qual o
acto incide. Mesmo quando a empreitada, tenha por objecto a construção dum imóvel ou o

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fabrico duma coisa móvel, é na construção ou no fabrico, e não no imóvel ou na coisa móvel,
que reside a obra do empreiteiro - A. Varela, RLJ 121º-173 e ss, maxime 185 e ss, que trata,
ainda, de cumprimento, incumprimento, mora e cláusula penal.

O empreiteiro está obrigado a realizar uma obra - prestação de facto - obtenção de um


resultado, em conformidade com o que foi convencionado e sem vício - artigo 1208º
Realizada a obra, tem de entregá-la - prestação de coisa, instrumental e acessória
daquela.
No contrato de prestação de serviços uma das partes obriga-se a proporcionar à outra
certo resultado do seu trabalho intelectual ou manual.
O seu objecto é o resultado do trabalho, e não o trabalho em si.
No caso em apreço estamos perante contrato de elaboração de projectos e estudo de
construção civil.
As suas prestações típicas são o resultado ou produto de um trabalho intelectual,
essencialmente técnico, embora concretizado posteriormente em documento.
É, pois, um contrato de prestação de serviço inominado - acórdãos do Supremo
Tribunal de Justiça de 8 de Novembro de 1983, Boletim, nº 331, pág. 515, com comentário
favorável do Prof. B. Machado, Revista de Legislação e de Jurisprudência, ano 118º, pág. 278,
e de 14 de Fevereiro de 1995.
É sabido que tudo passa pela interpretação da expressão «certa obra» inserta na
definição de empreitada vazada no assinalado artigo 1207º: se com ela se visa só as coisas
corpóreas ou também as incorpóreas - ver Dr. Pedro Martinez, Direito das Obrigações, vol. III,
sob a coordenação do Prof. M. Cordeiro, págs. 462 a 467.
Muito resumidamente se dirá, em defesa da tese restritiva do conceito de empreitada,
só circunscrita às coisas corpóreas, por nós defendida:
- O direito de fiscalizar a obra - artigo 1209º - não se coaduna com a realização de
obras intelectuais;
- O mesmo acontece com o direito de exigir a eliminação dos defeitos artigo 1221º;
- O criador da obra intelectual pode desistir, enquanto na empreitada tal possibilidade
só é concedida ao dono da obra - artigo 1229º.
Estando, como estamos, perante um contrato inominado de prestação de serviço, dado
que o artigo 1155º considera modalidades de contrato típico: o mandato, o depósito e a
empreitada.
Regido, fundamentalmente, pelas disposições sobre o mandato - artigo 1156º - BMJ
478-354.
O poder de fiscalizar (1209º) e de exigir a eliminação dos defeitos (1221º),
o poder desistir da obra - que só assiste ao DO (1229º) - não se compadecem
com a realização de obras intelectuais. Nem sequer quando, pela natureza da
obra, esta tem forte suporte corpóreo, como na pintura de um retrato ou
feitura de filmes, livros, obras musicais.

BMJ 374-449 - O contrato pelo qual uma pessoa aceitou retratar outra em quadro a
óleo ... integra um contrato de prestação de serviços inominado, regulado pelas normas do
mandato.
O contrato de empreitada tem por objecto uma obra material, não abrangendo, por isso,
uma criação intelectual ou artística, mesmo exteriorizada em tela.

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Tratamos aqui apenas da empreitada de direito privado, que a empreitada
de obras públicas é regulada por lei própria, o Dec. Lei nº 59/99, de 2 de Março.
A empreitada pode ser de natureza civil ou comercial - 2º e 230º, nº 6, do
CC.al .
Nem sempre é fácil distinguir a empreitada de contratos afins. Mas
enquanto no de prestação de serviços (1154º) se promete uma actividade
através da utilização do trabalho, na empreitada promete-se o resultado desse
trabalho; na prestação de serviço é o beneficiário desse serviço que corre o
risco, enquanto que na empreitada o risco corre por conta do empreiteiro.

I - No contrato de prestação de serviço uma das partes obriga-se a proporcionar à


outra certo resultado do seu trabalho intelectual ou manual. O seu objecto é o resultado do
trabalho e não o trabalho em si.
II - Já no contrato de empreitada uma das partes obriga-se em relação a outra a
realizar certa obra, mediante um preço.
III - O contrato de empreitada só se circunscreve a coisas corpóreas, já que o direito
de fiscalizar a obra não se coaduna com a realização de obras intelectuais, o mesmo acon-
tecendo com o de exigir a eliminação dos defeitos, acrescendo que o criador da obra inte-
lectual pode desistir enquanto na empreitada tal possibilidade só é concedida ao dono da obra.
É o que resulta da expressão «certa obra», inserta na definição de empreitada vazada no artigo
1207º do Código Civil (tese restritiva do conceito de empreitada).
IV - No caso em apreço estamos perante um contrato de elaboração de projectos e
estudo de construção civil, configurando-se as suas prestações típicas no resultado ou produto
de um trabalho intelectual, essencialmente técnico, embora concretizado posteriormente em
documento.
V - Estamos, consequentemente, perante um contrato inominado de prestação de
serviço, dado que o artigo 1155º apenas considera modalidades de contrato típico o mandato, o
depósito e a empreitada, sendo regido, fundamentalmente, com base no artigo 1156º do
Código Civil, pelas disposições sobre o mandato.
VI - O dever jurídico de dar informações nasce: a) em primeiro lugar de contrato de
informações, que tem por objecto único ou principal a prestação de informação, ou de
«contrato de conselho», contrato atípico de prestação de serviço por quem está habilitado a
orientar a decisão a tomar: advogado, médico, engenheiro, arquitecto, conselheiro fiscal, etc.;
b) nasce, em segundo lugar, dos deveres laterais ou acessórios (artigo 762º) emergentes de
contrato fundado no princípio da boa fé, através dos vectores cooperação e lealdade, não sem
que antes já tivessem surgido na fase pré-contratual (artigo 227º); c) nasce, finalmente, por
força da lei: os deveres de prestação de informação derivados, como os trata a moderna
doutrina alemã, que os agrupa em sub grupos.
VII - O mandato é um exemplo vivo no que se refere às obrigações do mandatário
previstas no artigo 1161º: a obrigação de prestação de contas, a de prestar informações pedidas
pelo mandante relativas ao estado de gestão e a comunicação a que se refere a alínea c) - STJ
17.6.98 - BMJ 478-351.

Não há empreitada, por falta de obra nova, por falta de resultado material,
quando se contrata a manutenção de um jardim. Já haveria se fosse contratada
a construção ou remodelação do jardim.

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Àquele contrato inominado aplicam-se, por força do art. 1156º, as disposi-
ções sobre o mandato, designadamente o art. 1170º, nº 1, segundo o qual o
mandato é livremente revogável por qualquer das partes, ainda que haja
convenção em contrário e de mandato oneroso se trate.
A revogação do mandato, antes de terminado o prazo convencionado para
a sua vigência, destrói o contrato, criando, no entanto, o dever de indemnizar,
apesar de guardada antecedência razoável - 1172º, c) -, salvo se com justa
causa, que esta serve para isentar da obrigação de indemnizar - B. Machado,
RLJ 118-279, nota.
Operada essa revogação, a outra parte não pode pedir, sem mais, as
retribuições ajustadas, cabendo, antes, alegar e provar qual o prejuízo por si
sofrido, receitas não auferidas e existência ou a inexistência de despesas não
efectuadas, tudo nos termos do art. 566º, nº 2, do CC, que consagrou a teoria da
diferença - Col. STJ 98-III-34 e ss.

É de prestação de serviço o contrato em que a autora se obrigou a proporcionar à ré


projectos de arquitectura, estabilidade, hidráulica e ventilação relativos a um imóvel. B.
Machado, RLJ 118-271 e ss, tratando, ainda, da aplicação a este contrato de normas gerais de
cumprimento, incumprimento e mora, da resolução nos contratos de execução continuada ou
periódica, da distinção entre denúncia, resolução e revogação, cumprimento defeituoso e
resolução por justa causa nas resoluções contratuais duradouras - Cópia já fornecida.

No mandato (1157º), o mandatário obriga-se a praticar actos jurídicos por


conta de outrem; enquanto que, na empreitada, o empreiteiro fica vinculado à
realização de actos materiais.

No contrato de trabalho (1152º) há subordinação às ordens e orientações


do patrão, enquanto que o empreiteiro é autónomo e independente do dono da
obra, é um empresário ou trabalhador por conta própria.

Por isso se entende, ainda que dubitativamente, que o dono da obra não é
parte legítima em acção por facto ilícito - queda de materiais, menor que é
atingido por descarga eléctrica de caixa acessível ao menor - ocorrido no decurso
da obra de empreitada, pois o empreiteiro não é empregado nem comissário do
dono da obra (500º) - Ac. STJ de 30.1.79, na RLJ 112-200.

Igualmente decidiu o STJ em 26.4.88 - BMJ 376-587 que


I - O dono da obra, quando esta é executada por empreitada, não está obrigado a vigiar
a sua execução por forma a prevenir danos nos prédios vizinhos.
II - O poder do dono do obra de fiscalizar, à sua conta, a execução dela, não integra a
conduta, o facto indispensável para haver responsabilidade civil, ainda que por facto lícito, já
que essa fiscalização não significa exercício de autoridade e direcção sobre o autor das obras,
o empreiteiro, que age sob sua própria direcção, com autonomia.

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Ao abrir os caboucos para demolição de um prédio e construção de outro
em seu lugar, porque se não escorou uma parede do prédio vizinho, este
desmoronou-se.
Em dois votos de vencido entendeu-se que o dono da obra era responsável,
nos termos gerais dos art. 1346º a 1348º CC.

Pode, no entanto, haver culpa in elegendo. E no caso do art. 1348º, nº 2,


CC, há responsabilidade do proprietário pelas escavações e obras, ainda que
feitas por empreiteiro - Col. STJ 96-II-91.

Na compra e venda sobre o vendedor impende uma prestação de coisa


(de dare), enquanto que o empreiteiro está adstrito a uma prestação de facto; A
compra e venda é um negócio real quoad effectum, porque os efeitos reais
(translativos da propriedade) se produzem por mero efeito do contrato (art.
408º), ao passo que a empreitada é um negócio consensual de que emergem
efeitos obrigacionais; mesmo quando o cumprimento de um contrato de emprei-
tada acarrete a transferência da propriedade sobre uma coisa, esta transferência
segue regras diferentes das da compra e venda (art. 1212º e 408º).

I - É de empreitada o contrato pelo qual o autor acordou com a ré fornecer a esta


contentores metálicos que produziria na sua fábrica de metalomecânica com materiais por ele
adquiridos e sob a sua direcção, embora subordinado a especificações técnicas entregues pela
ré, que fiscalizaria a obra e controlaria a sua qualidade.
II - A resolução legal de um contrato - 432º - só é admissível nos casos de não
cumprimento da obrigação, incluindo-se nesse não cumprimento o incumprimento temporário
(rectius, mora), quando se converta num não cumprimento definitivo derivado da perda de
interesse na prestação ou da falta de realização no prazo razoável fixado (pelo credor) para o
efeito - arts. 801º, nº 2 e 802º, nº 2, ex vi do art. 808º, todos do Cód. Civil.
III - Um dos efeitos próprios do abuso do direito é a legitimidade de oposição ao
direito de resolução de um contrato.
IV - Há impossibilidade culposa, nos termos do art. 801º do Cód. Civil, quando, sendo
a prestação ainda possível com interesse para o credor, o devedor lhe declara não querer
cumprir.
V - A ilegítima resolução de um contrato por uma das partes traduz declaração de o não
querer cumprir e constitui-a na obrigação de indemnizar a outra - 798º e 801º - pelo prejuízo
que o credor teve pela inexecução do contrato, de modo a colocar-se o credor na situação em
que estaria, se a obrigação tivesse sido cumprida: é a indemnização do chamado «interesse
positivo», ou « de cumprimento» - 564º CC - Col. STJ 98-II-138.

Já se entendeu que a reparação dum automóvel integra um contrato misto


de compra e venda das peças e de prestação de serviços, mas deve entender-se
que se trata de empreitada:

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I - Contrato de empreitada é aquele pelo qual uma parte se obriga em relação à outra a
realizar certa obra, mediante um preço (artigo 1207º do Código Civil).
II - A viatura objecto de revisão/reparação deveria ser entregue ao seu dono, no lugar
onde o trabalho ou obra teve lugar, mantendo-se o seu estado igual em relação aos pontos onde
a reparação não incidiu, sendo certo que foi destruída por incêndio quando se encontrava na
oficina.
III - Corre por conta do empreiteiro, até àquela entrega, o risco do perecimento do
veículo, salvo se provar que foi diligente, que usou do zelo e cautelas que empregaria um bom
pai de família.
IV - In casu, a lei presume a culpa do devedor (799º, nº 1) que, para afastá-la,
necessitaria de provar a existência de circunstâncias, especiais ou excepcionais, que elimi-
nassem a censurabilidade da sua conduta - STJ 24.10.95, BMJ 450-469.

I - Numa determinada obra de impermeabilização de uma placa feita com materiais


fornecidos pela ré, sendo embora executada por pessoal da autora, mas tendo actuado esta sob
a orientação e superintendência técnicas da ré, fica esta responsabilizada por essa mesma
execução, como se fosse levada a cabo por pessoal seu, não podendo a ré pretender livrar-se
da responsabilidade só porque a aplicação foi feita por aquele pessoal cuja desobediência às
ordens e orientação dos seus técnicos não previu.
II - Esta situação não pode levar a qualificar juridicamente as relações referidas como
um contrato de subempreitada definida no artigo 1218º do Código Civil, em virtude do
trabalho de aplicação, embora da responsabilidade técnica da ré, não ter sido feito por pessoal
desta, mas antes pelo pessoal da autora.
III - A situação descrita é antes integradora de um contrato de fornecimento de
materiais (compra e venda) com assistência técnica na sua aplicação, pouco importando se isto
justifica a integração num contrato misto ou se se trata antes de uma união ou junção de
contratos.
IV - Provando-se que os materiais aplicados e fornecidos não satisfizeram ao garantido
pela ré e que o resultado que esta se comprometeu a prestar não foi obtido face ao mau
comportamento dos mesmos materiais, devem aplicar-se as regras da venda da coisa,
constantes dos artigos 913º, 914º e 921º do Código Civil, segundo os quais a vendedora (ré e
recorrente) tem a obrigação de fazer nova impermeabilização com materiais adequados, desde
que isso lhe seja exigido pela outra parte - Ac. STJ, 15.1.92, BMJ 413-503.

As dificuldades de distinção entre estes vários contratos estão patentes


no facto de a lei considerar o mandato, o depósito e a empreitada como
modalidades do contrato de prestação de serviço - 1156º.

Deveres principais do empreiteiro são os de realizar a obra, fornecer o


resultado (1207º) em conformidade com o acordado, sem vícios - 1208º.

Por força das regras gerais e de boa fé deve ainda o empreiteiro prestar as
informações devidas pelos seus especiais conhecimentos quanto a projectos,
materiais e segurança da coisa. O empreiteiro, antes da entrega, está sujeito
aos princípios comuns da responsabilidade. As suas obrigações principais são
executar o trabalho prometido e efectuar a entrega logo que ele esteja terminado

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ou no prazo convencionado. A inexecução de qualquer destas obrigações cons-
titui responsabilidade contratual com fundamento na falta cometida, cujo regime
não apresenta originalidades em relação ao regime geral. - Col. 95-I-143

1209º

Tem o dono da obra a faculdade de fiscalizar a execução da obra, por si


ou por comissário, um técnico especializado, mas não pode perturbar o anda-
mento dos trabalhos. Por isso não fica impedido de fazer valer os seus direitos
contra o empreiteiro, embora os vícios fossem notórios, salvo se expressamente
concordou com a obra tal como foi executada.

1210º

Salvo convenção em contrário, os materiais devem ser fornecidos pelo


empreiteiro e ser de qualidade adequada às características da obra e não inferior
à média.
Atenção ao Assento dos elevadores e cláusula de reserva de
propriedade que caduca com a incorporação - D.R. II, 7.6.96.

1211º

Por remissão para o art. 883º, aplicam-se aqui as regras de fixação do


preço estabelecidas ali, na falta de fixação por entidade pública ou convenção
das partes.
Se não foi convencionada a revisão de preços ou por outra forma acordada
a sua alteração, poderá o empreiteiro recorrer ao disposto no art. 437º- alteração
das circunstâncias.

Também aqui tem lugar a aplicação da excepção de incumprimento do


contrato - 428º -: o empreiteiro pode recusar o prosseguimento da obra enquanto
não for paga a fase anterior, como combinado, tal como o dono da obra pode
suspender o pagamento se a obra não avança no ritmo contratado.

Uma obra de construção civil considera-se alvorada quando estejam feitas as divisões
do sótão e construída a placa de tecto.
Se nestas circunstâncias não estiver paga a parte do preço convencionado, o emprei-
teiro pode suspender a execução do trabalho, invocando a excepção de não cumprimento.
Esta excepção inibe o dono da obra de reconvencionar quaisquer prejuízos daí
decorrentes - Col. STJ 96-I-161.

A exceptio não funciona como uma sanção, mas apenas como um processo lógico de
assegurar, mediante o cumprimento simultâneo, o equilíbrio em que assenta o esquema do

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contrato bilateral. Por isso ela vigora, não só quando a outra parte não efectua a sua prestação
porque não quer, mas também quando ela a não realiza ou a não oferece porque não pode.
E vale tanto para o caso de falta integral do cumprimento, como para o de
cumprimento parcial ou defeituoso, desde que a sua invocação não contrarie o princípio
geral da boa fé consagrado nos art.os 227º e 762º, nº 2.
Também, a propósito deste princípio legal, escreveu o Prof. Calvão da Silva, in
"Cumprimento e Sanção Pecuniária Compulsória", pág. 334:
"Processualmente, o demandado a quem se exija o cumprimento tem de invocar a
exceptio, que não é de conhecimento oficioso. Trata-se, efectivamente, de uma excepção sensu
próprio e stricto sensu (Einrede, na terminologia alemã), correspondente às exceptiones iuris
da doutrina romanista, cuja relevância e eficácia só operam por vontade do excipiens, não
podendo o juiz conhecer dela ex officio. Logo, se não opõe a exceptio, o demandado será
condenado.
Trata-se, ainda, de uma excepção material, porque corolário do sinalagma funci-
onal que a funda e legitima: ao autor que exige o cumprimento opõe o demandado o
princípio substantivo do cumprimento simultâneo próprio dos contratos sinalagmáticos,
em que a prestação de uma das partes tem a sua causa na contraprestação da outra. Por
conseguinte, o excipiens não nega nem limita o direito do autor ao cumprimento; apenas
recusa a sua prestação enquanto não for realizada ou oferecida simultaneamente a
contraprestação, prevalecendo-se do princípio da simultaneidade do cumprimento das
obrigações recíprocas que servem de causa uma à outra.
É, portanto, uma excepção material dilatória: o excipiens não nega o direito do autor ao
cumprimento nem enjeita o dever de cumprir a prestação; pretende tão-só um efeito dilatório,
o de realizar a sua prestação no momento (ulterior) em que receba a contraprestação a que tem
direito e (contra)direito ao cumprimento simultâneo...
Aparentemente, a exceptio só funcionaria quando ambas as partes fossem obrigadas a
cumprir, simultaneamente, as obrigações emergentes do sinalagma contratual.
Contudo não é esse o entendimento mais correcto do regime do art. 428º, nº 1, do C.
Civil.
A fórmula legal não é inteiramente rigorosa, pois o que a excepção supõe é que um dos
contraentes não esteja obrigado, pela lei ou pelo contrato, a cumprir a sua obrigação antes do
outro; se não o estiver pode ele, sendo-lhe exigida a prestação, recusá-la, enquanto não for
efectuada a contraprestação...
Por conseguinte, a excepção pode ser oposta ainda que haja vencimentos diferentes...
apenas não podendo ser oposta pelo contraente que devia cumprir primeiro.
Como antes se disse, e decorre do artº 1211º do C. Civil, inexistindo cláusula em
contrário, o preço deve ser pago no "acto de aceitação da obra". Há simultaneidade das presta-
ções: aceitação da obra/pagamento do preço - Col. 99-III-211.

Sobre cumprimento defeituoso do contrato de empreitada, consequente in-


demnização e excepção de não cumprimento pode ver-se, por último, o Ac. da
Relação de Évora, de 13 de Janeiro de 2.000, assim sumariado na Col. Jur.
2.000-I-259:
CONTRATO DE EMPREITADA
Interpretação do negócio jurídico
Cumprimento defeituoso. Indemnização
Excepção de não cumprimento do contrato

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I - São elementos essenciais da interpretação de um negócio jurídico: a letra do
negócio, as circunstâncias de tempo, lugar, e outras, que precederam a sua celebração ou são
contemporâneas destas; as negociações respectivas; a finalidade prática visada pelas partes; o
próprio tipo negocial; a lei e os usos e costumes por ela recebidos; e a posição assumida pelas
partes na execução do negócio.
II - O cumprimento defeituoso integra-se no instituto do não cumprimento e traduz-
-se numa forma de violação de deveres obrigacionais, sejam eles principais, secundários ou
acessórios de conduta. Nele, tal como na falta de cumprimento, a culpa do devedor presume-se
(art. 799º - 1, CC - e este torna-se responsável pelo prejuízo que causa ao credor (art. 798º)
III - O dono da obra pode, face ao cumprimento defeituoso, por má construção e
desrespeito do projecto camarário aprovado, pedir, como forma de indemnização e ao abrigo
do art. 1223º do CC, a condenação do empreiteiro no pagamento de despesas com as obras
impostas pela Câmara Municipal e necessárias para legalização e obtenção da licença de
habitabilidade.
IV - Não pedindo o dono da obra a condenação do empreiteiro a eliminar os defeitos
ou a fazer nova construção, não pode invocar a excepção de não cumprimento do contrato
como forma de recusar o pagamento do resto do preço da empreitada.

A propósito das garantias das obrigações já tratàmos do direito de


retenção do empreiteiro que o Prof. Varela diz não lhe assistir, contra a opinião
de G. Teles, em O Direito, Ano 106º a 119º, 33, 120º, 173 e BMJ 211-279.

1212º

Tem interesse saber a quem pertence a obra, se ao Dono da obra se ao


Empreiteiro, tanto para saber por conta de quem corre o risco de perecimento
como em caso de falência do empreiteiro.

A) - Propriedade - 1212º

Distingue a lei conforme se trate de construção de móveis ou imóveis.

Móveis - a) - materiais fornecidos, no todo ou na sua maior parte, pelo empreiteiro: a


propriedade da obra só se transfere para o DO com a aceitação;
b) - materiais fornecidos pelo DO: este continua dono dos mate-riais e torna-
se proprietário da obra logo que concluída.

Imóveis - se o solo ou superfície pertencem ao DO este adquire a proprie-dade dos


materiais, ainda que fornecidos pelo empreiteiro, à medida que vão sendo incorporados na
coisa e a propriedade da própria coisa.

B) - Risco

Se um evento fortuito ou um caso de força maior destruírem ou deterio-


rarem bens, os danos são suportados, em princípio, pelo respectivo proprietário:
res suo domino perit; casum sentit dominus.
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Esta regra só não se aplica, segundo o regime estabelecido no Código
Civil, quando alguém tem em seu poder, com base numa relação obrigacional,
bens que deve entregar ao respectivo dono e se encontra em mora relativamente
ao cumprimento da obrigação de entrega - 807º, 1 e 2.

Especialmente para o contrato de empreitada rege o art. 1228º:

1 - Não havendo mora do empreiteiro, o risco corre por conta do dono


da obra: art. 1228º, n.° l. Trata-se de aplicação do princípio geral.
2 - Incorrendo o empreiteiro em mora, recai sobre ele o risco do
perecimento da obra, mesmo que a propriedade desta, por força do disposto no
artigo 1212º, pertença já à contraparte - salvo se o empreiteiro provar que o
credor da sua prestação, caso a houvesse cumprido em tempo, teria sofrido igual-
mente o dano (art. 807º, n.os 1 e 2);
3 - Se houver mora por parte do credor do empreiteiro, quanto à
verificação ou aceitação da obra, o risco passa a incidir sobre ele (art. 1228º, n.°
2) - H. Mesquita, RLJ 128º-191.

CONTRATO DE EMPREITADA
REVISÃO/REPARAÇÃO DE VEÍCULO AUTOMÓVEL
INCÊNDIO/DESTRUIÇÃO

I - Contrato de empreitada é aquele pelo qual uma parte se obriga em relação à outra a
realizar certa obra, mediante um preço (artigo 1207º do Código Civil).
II - A viatura objecto de revisão/reparação deveria ser entregue ao seu dono, no lugar
onde o trabalho ou obra teve lugar, mantendo-se o seu estado igual em relação aos pontos onde
a reparação não incidiu, sendo certo que foi destruída por incêndio quando se encontrava na
oficina.
III - Corre por conta do empreiteiro, até àquela entrega, o risco do perecimento do
veículo, salvo se provar que foi diligente, que usou do zelo e cautelas que empregaria um bom
pai de família.
IV - In casu, a lei presume a culpa do devedor (art. 799º, nº 1), que, para afastá-la,
necessitaria de provar a existência de circunstâncias, especiais ou excepcionais, que eliminas-
sem a censurabilidade da sua conduta - STJ, Ac. de 24 de Outubro de 1995, BMJ 450-469.

1213º
Subempreitada

Como acontece com a sublocação ou outros subcontratos, subempreitada


é o contrato celebrado entre o empreiteiro e terceiro - subempreiteiro - pelo qual este se obriga
para com aquele a realizar a obra - ou parte dela - a que o empreiteiro se encontra vinculado.

Carece este subcontrato de autorização expressa ou tácita, nos termos


estabelecidos para o procurador no art. 264º.

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Entre o empreiteiro e o subempreiteiro as relações são as de DO para
aquele e de E para este. Também o subempreiteiro é autónomo em relação ao
empreiteiro como este o é em relação ao DO.
Porque nada contratou com o subempreiteiro, parece que só ao empreiteiro
pode o DO pedir contas pela execução defeituosa da obra.

Na subempreitada o subempreiteiro é responsável apenas perante o empreiteiro,


designadamente quanta aos termos de cumprimento do contrato (art. 1213º CC) - BMJ 474-
451.
Porque entre o empreiteiro e o subempreiteiro, tal como entre aquele e o dono da obra,
não existe qualquer relação do tipo comitente-comissário, ocorrido acidente - queda de uma
tábua na cabeça de passante - imputável a operários a trabalharem sob a autoridade e
direcção do subempreiteiro, apenas este está obrigado ao pagamento da indemnização dos
danos consequentes a tal acidente - Col. 90-V-247; Contra, responsabilizando também o
empreiteiro por omissão do dever de vigilância do subempreiteiro, o STJ em Ac. de 10.1.75,
citado na Col. 87-I-302.

Entre o empreiteiro e o subempreiteiro verifica-se a mesma relação que


entre o DO e o Empreiteiro, porque à subempreitada aplicam-se, em princípio, as
regras da empreitada - Col. STJ 93-II-97.

No contrato de subempreitada que tenha por objecto a simples reparação de coisa


móvel o risco da perda da coisa não corre, em princípio, por conta do subempreiteiro, por não
ser o seu proprietário (artigos 1228° e 1212º do Código Civil).
Nesse contrato o subempreiteiro é responsável apenas perante o empreiteiro,
designadamente quanto aos termos de cumprimento do contrato (artigo 1213° do citado Có-
digo) - BMJ 474-451.

Alterações e obras novas - 1214º a 1217º

Convém distinguir entre alterações - são obras necessárias ou oportunas,


que estão ainda no plano de execução da obra, e podem referir-se ao tipo ou
qualidade dos materiais - e obra nova - a inovação que não é necessária ao
cumprimento da empreitada, tem autonomia em relação à obra contratada, como
é o caso de se pretender mais uma casa de banho, mais um andar.

A - Alterações por iniciativa do empreiteiro - 1214º

O empreiteiro não pode proceder a alterações sem autorização do DO -


1214º, 1.
I - Esta autorização tem de ser dada por escrito (formalidade ad
substantiam), com fixação do aumento do preço, mesmo que o contrato tenha
sido inicialmente consensual, no caso de se ter fixado o preço global para toda
a obra; Na falta de tal autorização escrita, o empreiteiro só pode exigir do dono

11
da obra uma indemnização correspondente ao enriquecimento deste (art. 1214º,
nº 3, in fine).
II - Se o preço foi determinado por outra forma - por medida, por
unidade, por tempo de trabalho, etc., não se exige que a autorização seja dada
por escrito, pode sê-lo verbalmente, pois aí não há perigo de habilidades do
empreiteiro.
Validamente autorizadas, devem ser pagas as alterações introduzidas.
Na falta de autorização - nem escrita, quando devida, nem verbal quando
permitido, a obra tem-se por defeituosa e, se aceite, não obriga o DO nem ao
pagamento do aumento do preço nem a indemnização por enriquecimento sem
causa - 1214º, nº 2.

B - Alterações necessárias - as resultantes de direitos de terceiro ou


de regras técnicas - 1215º
Na falta de acordo - que não precisa ser escrito - compete ao tribunal
determinar essas alterações e fixar as correspondentes modificações quanto ao
preço e prazo de execução, mas o empreiteiro pode denunciar o contrato e
exigir uma indemnização equitativa se, em consequência das alterações, o
preço for elevado em mais de vinte por cento, ou for alterada a natureza da obra
por forma a que o empreiteiro não tenha para ela capacidade técnica - 1215º,
n.os 1 e 2.

C - Alterações exigidas pelo DO - 1216º

Não podem exceder um quinto do preço ajustado nem alterar a natureza da


obra - nº1.
Se das alterações introduzidas resultar aumento do preço o E tem direito a
esse aumento na parte correspondente ao acréscimo de despesa e trabalho e ainda
ao prolongamento do prazo de execução - nº 2.
Se por via das alterações o preço diminuiu, o E mantém o direito ao
preço estipulado mas deduzido das despesas que poupou e daquilo que adquiriu
por outras aplicações da sua actividade - nº 3.
Não tendo as partes chegado a acordo quanto ao aumento do preço, ou
dedução a fazer-lhe, caberá recurso para o tribunal, nos termos dos arts. 1211º,
n.° l e 883º, regras gerais de determinação do preço.

D - Obras novas e alterações posteriores à entrega - 1217º

Entregue a obra, não se justificam, à sombra daquele contrato já executa-


do, nem alterações por iniciativa do empreiteiro nem alterações necessárias,
como definidas na lei. Nem se pode permitir ao DO a possibilidade de exigir
alterações sob pena de forte insegurança do empreiteiro.
12
Claro que nada impede as partes de celebrarem novo contrato com vista a
alterações ou inovações, mas então trata-se de novo contrato de empreitada,
independente do anterior.
O DO pode exigir a eliminação - se for possível - ou recusar a obra
alterada ou inovada após a entrega, sem prejuízo da indemnização que ao caso
couber - 1217º, nº2.
Se o DO a aceitar e retirar vantagens da actividade extracontratual do
empreiteiro, deverá indemnizar a contraparte. Esta indemnização basear-se-á,
consoante os casos, nos institutos da gestão de negócios (art. 464º e ss.), da
acessão (arts. 1340º e 1341º) ou do enriquecimento sem causa (art. 473º ss.).

Defeitos da Obra - 1218º a 1226º

Colocada a obra à disposição do DO pelo empreiteiro, deve aquele, em


prazo razoável ou usual, verificar ou mandar verificar por peritos, à sua custa,
se a obra está concluída sem vícios e conforme o convencionado. A verificação -
1218º - é independente de ter havido ou não fiscalização no decurso da obra e é
importante porque os seus resultados devem ser comunicados ao E e a falta de
verificação ou de comunicação dos seus resultados importa (presunção abso-
luta e inilidível) aceitação da obra - 1218º, 5.

Aceitação

A aceitação é um acto de vontade, pelo qual o comitente - DO - declara


que a obra foi realizada a seu contento, ao mesmo tempo que reconhece a
obrigação de a receber e de pagar o preço.
Não depende de forma especial (219º) e é declaração recipienda: torna-se
eficaz logo que conhecida ou em poder do empreiteiro (224º, 1).
Desde que a obra tenha sido executada sem defeitos e nos termos acor-
dados tem o DO o dever de a aceitar, sempre de acordo com a boa fé que pode
ditar o dever de aceitação perante defeitos insignificantes.
A violação deste dever coloca o DO em mora accipiendi e ou solvendi se a
obrigação de pagar o preço se vence só com a aceitação.
Será o caso do dono do automóvel que, avisado de que o carro está
reparado, o não vai levantar e pagar o respectivo preço. Poderá ser-lhe exigido o
pagamento do depósito, de guarda, na garagem.

Se um automóvel é destruído por incêndio na oficina, durante a empreitada e antes de


entregue a seu dono, corre por conta do empresário, até àquela entrega, o risco do perecimento
do veículo, salvo se provar que foi diligente, que usou do zelo e cautelas que empregaria um
bom pai de família, com presunção de culpa contra si, nos termos do art. 799º - BMJ 450-469,
atrás visto.

13
O empreiteiro, se a coisa lhe foi entregue, tem a guarda dela e, assim, pode ser respon-
sabilizado pelos danos nela causados por terceiros - Col. 89-II-217.

A aceitação tem importância, designadamente no que respeita ao venci-


mento da remuneração (art. 1211º, n°2), à transferência da propriedade (art.
1212º), à assunção do risco (art. 1228º) e à responsabilidade por defeitos da obra
(art. 1218º ss.).
A aceitação pode ser expressa, tácita (218º) ou presumida (visto 1218º, nº
5), com ou sem reserva.
A aceitação com reserva é condicional e não retira ao DO aceitante o
direito à eliminação dos defeitos, conferido pelo art. 1221º. A aceitação sem
reserva implica que o empreiteiro fica liberto da responsabilidade pelos vícios
conhecidos (art. 1219º, n.° 1) assim como por defeitos aparentes relativamente
aos quais o comitente deveria ter tomado conhecimento usando da diligência
normal (art. 1219º nº 2).
Vícios aparentes são aqueles que um homem médio ou um técnico médio
- se foi um técnico a verificar - detectaria, os visíveis para uma dessas pessoas.
Defeitos ocultos são os que não eram conhecidos do dono da obra e não
eram detectáveis pelo bonus pater familias - 487º, 2.

Neste específico domínio da empreitada, as questões reportam-se, sobre-


tudo, ao cumprimento defeituoso, cumprimento que não corresponde à conduta
devida, com defeitos, que assim classifica a lei as deformidades - discordâncias
com o plano convencionado, como acontece com uma mesa que devia ter 3
metros e foi feita, contra a encomenda, o contrato, com 2,5 metros - e os vícios -
imperfeições que excluem ou reduzem o valor da obra ou a sua aptidão para o
uso ordinário ou o previsto no contrato (art. 1208º).
A obra é havida como defeituosa nas situações em que se verifique:
1. execução com deformidades,
2. a execução com vícios, ou
3. a realização de alterações da iniciativa do empreiteiro sem autorização
do dono da obra - 1217º.

DEFEITOS - 1220 a 1226º

Como se disse já e antes da entrega, seguem-se, em matéria de incum-


primento, as regras gerais dos art. 799º, 801º e 808º, sendo ainda hipótese de in-
cumprimento aquela em que o E declara peremptoriamente que não fará a obra,
que não quer cumprir.
Em qualquer destes casos resta ao DO resolver o contrato e exigir a
indemnização devida - 801º, nº 2.
Em caso de mora é devida indemnização pela mora (804º, nº 1).

14
Como ensina P. R. Martinez, Empreitada, 1994, 184 e 185, e refere Rosendo Dias
José ("Responsabilidade Civil do Construtor de Imóveis", pág. 10/11) em linhas gerais o
empreiteiro, antes da entrega, está sujeito aos princípios comuns da responsabilidade. As suas
obrigações principais são executar o trabalho prometido e efectuar a entrega logo que ele
esteja terminado ou no prazo convencionado. A inexecução de qualquer destas obrigações
constitui responsabilidade contratual com fundamenta na falta cometida, cujo regime não
apresenta originalidades (...)".
E mais adiante:
"Se o empreiteiro não faz a obra ou cai em mora o dono da obra valer-se-á dos meios
comuns do credor.
O art. 1222º disciplina a responsabilidade do empreiteiro após a entrega da obra
(Rosendo Dias José, ob. cit. pág. 14 e ss) pressupondo, pois, que o empreiteiro entregue pronta
uma obra que não tenha sido realizada nos termos devidos ou seja, uma obra que tenha
defeitos.
O artº 1222º reporta-se, pois, não aos casos de incumprimento definitivo do contrato de
empreitada - para os quais valem as regras gerais constantes dos normativos já assinalados -
mas antes ao casos de cumprimento defeituoso - Col. 95-I-144.

A este propósito decidiu a Relação do Porto que a A. contratou com a Ré a


execução, por esta, de determinadas obras (em serralharia de ferro e alumínio, com vidros),
pelo preço global e fixo de 5.241.600$00 e a executar, após sucessivas prorrogações, até
3.10.94.
A Ré executou alguns trabalhos mas não outros, até que em 17 de Outubro de 1994,
sem qualquer justificação e sem que tenha concluído qualquer dos trabalhos em falta [os
referidos em G) e H) acima] abandonou definitivamente a obra.
Por trabalhos executados no âmbito da empreitada, a A. pagou à Ré, em 8.8.94, a
quantia de 1.706.940$00.
Visto o abandono da obra, a A. adjudicou a outras empresas trabalhos não executados
pela Ré (porta de entrada; guardas de escadas; caixilharias das marquises e respectivos vidros;
reposição de venezianas, puxadores, fechos e batentes; e puxadores de portas de ferro da cave)
por que pagou 2.174.585$00 (7º e 8º); adjudicou, também, os trabalhos de substituição das
caixilharias do prédio (com excepção dos vãos das marquises) pelo facto de as executadas pela
R. apresentarem mau corte, falta de medição e fragilidade no caso dos vãos de quatro folhas
(9º), por que pagou 2.194.030$00 (10º).
Também adjudicou à CARPINTARIA MECÂNICA E MOVEIS ... os trabalhos de
substituição dos apainelados em madeira de carvalho dos vãos das caixilharias, por forma a
permitir a aplicação de novas serralharias e novos apainelados devido à errada medição das
caixilharias aplicadas pela R. - 11º - o que lhe custou 495.612$00; e adjudicou à empresa
ROGOL - CONSTRUÇÕES, Lda, os trabalhos de transporte para armazém das
caixilharias deficientemente executadas e aplicadas pela R., bem como lhe adjudicou os
trabalhos de envernizamento de apainelados dos vãos aplicados pela CARPINTARIA
MECÂNICA E MOVEIS, trabalhos que lhe custaram o total de 134.600$00 - 13º e 14º.

Mas a grande fatia do bolo indemnizatório pretendido pela A. também não logrou
aceitação da prova, pois que se não provou qualquer nexo de causalidade entre o comporta-
mento da Ré e os custos financeiros de quase seis mil contos alegadamente suportados pela A.
Bem se compreende, por isso, que no recurso a Apelante tenha esquecido essa parte do
pedido para centrar a sua atenção naqueles 1.464.167$00, quantia que teve de pagar a mais

15
para concluir os trabalhos que a Ré deixou por executar e corrigir os defeituosamente
executados.
I - Da Caducidade

Não se suscitam dúvidas que entre A. e Ré - ora recorrente e recorrida - foi celebrado
um contrato de empreitada que a lei - art. 1207º C.C. - define como o contrato pelo qual uma
das partes se obriga em relação à outra a realizar certa obra, mediante um preço.
Também temos por certo que o contrato não chegou ao fim, que não houve execução
completa da obra que, por isso, não foi pelo empreiteiro posta à disposição do comitente ou
dono da obra para que este procedesse à sua verificação e posterior aceitação, com ou sem
reserva, ou a recusasse.
Com efeito, deve o empreiteiro colocar o dono da obra em condições de poder fazer a
verificação - 1218º, nº 2, in fine - em prazo razoável, independentemente de ter ou não havido
fiscalização no decurso da obra; esta verificação é acto importante porque os seus resultados
devem ser comunicados ao empreiteiro - 1218º, nº 4 - e a falta de verificação ou desta comu-
nicação importa aceitação da obra - 1218º, nº 5.
À verificação seguir-se-á, em regra, a aceitação que é um acto de vontade pelo qual o
dono da obra declara que a obra foi realizada a seu contento, assim reconhecendo a obrigação
de pagar o preço.
A aceitação tem importância, designadamente no que respeita ao vencimento da
remuneração - 1211º, nº 2 - à transferência da propriedade - 1212º - à assunção do risco -
1228º - e à responsabilidade por defeitos - 1218º e ss.
Pode ser expressa ou tácita (218º) ou presumida (visto nº 5 do art. 1218º), com ou sem
reserva.
Mas supõe sempre que o empreiteiro colocou a obra, a seu ver concluída, à disposição
do comitente para que este, verificando-a, a aceite com ou sem reserva e, sendo caso disso,
denuncie os defeitos que encontre no curto prazo de trinta dias - 1220º.
Depois tem o dono da obra o prazo de um ano - 1224º - para exercer os direitos que lhe
conferem os art. 1221º a 1223º do CC, nos termos e pela ordem aí indicada.
Ora, se a obra não foi acabada e colocado o comitente em condições de a verificar para
aceitar ou recusar, não pode dizer-se que houve aceitação, ao menos em sentido jurídico, como
acto de vontade que marca o início do prazo para exercer aqueles direitos sujeitos a curtos
prazos de caducidade.
Como é sabido, a fixação pela lei de prazos curtos, seja de caducidade seja de
prescrição, deve-se à necessidade de conferir segurança ao tráfico jurídico e a permitir a prova
dos factos em discussão.

Já não há razão para se fixarem prazos curtos, se os direitos invocados pelo dono da
obra não se fundarem em defeitos desta, mas em qualquer outro facto, como na mora ou no
não cumprimento da obrigação. Daí a enumeração taxativa, feita no artigo 1224°, dos direitos
sujeitos a caducidade. A indemnização a que ele se refere é a prevista no artigo anterior. O
pedido, por exemplo, duma indemnização pelo não cumprimento está já sujeito às regras
gerais da prescrição1.
Em boa verdade, a interpretação lógica dos artigos 1220º e seguintes do Código Civil
evidencia que os respectivos prazos (curtos) não têm, no seu tatbestand, a não conclusão da
obra (cfr. acórdão deste Supremo de 25 de Julho de 1985, Boletim do Ministério da Justiça, n.°
349, pág. 512)2.
1
- P. Lima - A.Varela, CC Anotado, II, 4ª ed., 900.
2
- BMJ 465-533.

16
Basta ler o art. 1224º para se concluir que o prazo se conta desde a recusa ou da
aceitação com reserva ou da denúncia de vícios desconhecidos, mas nunca para além de dois
anos a contar da entrega da obra.

No caso sub judicio não houve entrega e, portanto, não houve nem podia haver
aceitação. O que houve foi abandono da obra pela Ré que, nos termos da al. p) dos factos
provados, abandonou definitivamente a obra, sem qualquer justificação, em 17 de Outubro de
1994 e sem que tenha concluído qualquer dos trabalhos em falta (os referidos em g) e h).
Como se disse no Ac. da Relação de Lisboa, de 16.1.90 3, não houve obviamente
aceitação ... nos termos dos art. 1218º e 1219º do CC, da obra que não estava terminada ... nem
desistência nos termos do art. 1229º do mesmo Código (na empreitada a desistência é direito
só do dono da obra, não do empreiteiro).

Em suma: antes da conclusão e entrega da obra não é aplicável o regime dos art. 1220º
a 1224º do CC, porque só com a entrega, verificação e aceitação ou recusa está o dono da obra
em condições de exercitar, no prazo legal, aqueles direitos.

Podemos então concluir que, ao contrário do decidido, não se verifica a caduci-


dade do direito da A. à indemnização pelo incumprimento nem pelo cumprimento defei-
tuoso, indemnização que é diferente da indemnização nos termos gerais a que se refere o
art. 1223º do CC:

... o direito à indemnização, ao abrigo do artigo 1223.° do Código Civil, tem em vista
apenas os danos que não podem ser ressarcidos através da eliminação dos defeitos, ou da
construção de novo da obra, ou da redução do preço, pois que, tratando-se de danos
compensáveis por estes meios, é deles que se deve lançar mão, e não do pedido de
indemnização nos termos gerais; este direito à indemnização nos termos gerais do artigo
1223° só respeitaria àqueles danos que não estão numa conexão imediata com o cumprimento
defeituoso, mas que são causados por um outro novo acontecimento que está com o cumpri-
mento defeituoso só numa conexão «mediata»4.

II - Da Indemnização e Resolução
Para além da figura «desistência por parte do dono da obra», prevista no art. 1.229º do
Código Civil, pode configurar-se uma situação de resolução de empreitada, dado a este
contrato serem aplicáveis as regras gerais sobre inexecução dos contratos - arts. 801º, nº 2 e
808º, nº 1, ambos do Cód. Civil.
...temos que nos termos do art. 432º, nº 1 do Cód. Civil, é admissível a resolução do
contrato fundada na lei ou em convenção.
Admite este preceito que as partes estabeleçam no contrato a chamada cláusula
resolutiva expressa, ou seja, que as partes estipulem que ambas ou uma delas tenha o direito
de resolver o contrato quando ocorrer certo e determinado facto (por ex. não cumprimento ou
não cumprimento nos termos devidos, segundo as modalidades estabelecidas de uma obriga-
ção): a inadimplência de uma específica obrigação, acordada pelas partes, constitui o funda-
mento e o pressuposto indispensável da resolução do contrato.
A resolução legal de um contrato só é admissível nos casos de não cumprimento da
obrigação, incluindo-se nesse não cumprimento o incumprimento temporário (rectius, mora),
quando se converta num não cumprimento definitivo derivado da perda de interesse na presta-
3
- Col. Jur. 1990-I-140.
4
- BMJ 445-472.

17
ção ou da falta de realização no prazo razoável fixado (pelo credor) para o efeito - arts. 801º,
nº 2 e 802º, nº 2, ex vi do art. 808º, todos do Cód. Civil.
Também há incumprimento quando o devedor declara ao credor que não quer cumprir
a prestação ainda com interesse para aquele credor5.
A resolução do contrato pode fazer-se mediante declaração à outra parte - 436º, nº 1,
CC.
Temos por certo que nenhuma das partes resolveu o contrato. Nem a dona da obra nem
a empreiteira declarou essa intenção de pôr fim ao contrato, com base em convenção ou fun-
dando-se em incumprimento.
Para não falar na empreiteira Ré que abandonou a obra sem dar satisfações, diremos
que a dona da obra, depois de aceitar sucessivas prorrogações de prazo, limitou-se a chamar a
atenção da Ré para os sucessivos atrasos e consequentes prejuízos, como se vê das cartas de fs.
29 a 35, designadamente da de 17 de Outubro de 1994, contemporânea do abandono da obra
pela destinatária da missiva.
Nem uma palavra de interpelação admonitória, de fixação de prazo ou de perda de
interesse, a converter a mora em incumprimento definitivo - 808º CC.

Não pode dizer-se, como afirma a apelante, que a recorrida resolveu unilateralmente o
contrato quando se desvinculou da sua contraprestação ao abandonar a obra. Como se disse e
resulta do disposto nos art. 801º, 802º e 808º do CC, a resolução legal é mera faculdade 6 de
que o credor pode aproveitar ou não em face do incumprimento culposo do devedor.
E já se viu que a empreiteira abandonou a obra sem qualquer justificação, sem qual-
quer declaração de resolução. Incumprimento, pois, e não resolução.
Por seu turno, a dona da obra, confrontada com este incumprimento, não declarou à
devedora inadimplente a resolução e, naturalmente, não pediu ao Tribunal que apreciasse
inexistente resolução.
Nem precisava de o fazer, certo sendo, como agora mesmo dito, que o direito à indem-
nização é independente da resolução do contrato, como está expresso no nº 2 do art. 801º e no
nº 1 do art. 802º, este para o incumprimento parcial, e ambos do CC.

Regra primeira do regime dos contratos é a do seu cumprimento ponto por ponto: o
contrato deve ser pontualmente cumprido, e só pode modificar-se ou extinguir-se por mútuo
consentimento dos contraentes ou nos casos admitidos na lei - 406º, nº 1, do CC.
Daí aqueloutra norma que esclarece cumprir o devedor a obrigação quando realiza a
prestação a que está vinculado - 762º - e ensinar-se que não cumprimento significa a não
realização da prestação debitória, sem que entretanto se tenha verificado qualquer das causas
extintivas típicas da relação obrigacional7, ou que há cumprimento defeituoso quando a
prestação efectuada apresenta vícios, defeitos ou irregularidades causadores de danos ou que
desvalorizam, impedem ou dificultam o fim a que a prestação se destina8.
O devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigação - ou que cumpre
defeituosamente - torna-se responsável pelo prejuízo que causa ao credor, incumbindo ao
devedor provar que a falta de cumprimento ou o cumprimento defeituoso da obrigação não
procede de culpa sua - art. 798º e 799º CC.
Tendo a obrigação total ou parcialmente incumprida por fonte um contrato bilateral, o
credor insatisfeito tem direito à indemnização, independentemente da resolução do contrato,
5
- Col. Jur. STJ 1998-II-142 e 143.
6
- P. Lima - A. Varela, Anotado, II, 58.
7
- A. Varela, Obrigações, II, 58 e ss.
8
- Ibidem, 120 e ss.

18
da exigência de restituição por inteiro da sua prestação ou da redução da sua contraprestação -
801º, nº 2 e 802º, nº 1, do CC.
A extensão do direito de indemnização do credor é regulada, quer o credor resolva o
contrato quer o não faça, pelo artigo 564°, n.° l, do Código Civil: «O dever de indemnizar
compreende não só o prejuízo causado, como os benefícios que o lesado deixou de obter
em consequência da lesão9», mas a obrigação de indemnização só existe em relação aos
danos que o lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão - 563º CC.

... temos por relevante que é susceptível de indemnização o que, segundo o que vem
provado, os donos da obra tiveram de desembolsar para corrigirem as anomalias e defeitos da
responsabilidade do empreiteiro (cfr. artigos 483.° e 562º do Código Civil); tanto mais quanto
é certo que nada demonstra tratar-se de verba exagerada para o efeito10.

A importância da verificação e aceitação da obra foi posta em relevo no


Ac. do STJ, de 8.3.2001, assim sumariado:

I - Não facultada a verificação da obra (dever acessório de conduta do empreiteiro), o


comitente não se encontra em condições de satisfazer o onus de denúncia de eventuais
defeitos.
II - Privado o dono da obra do acesso e da recepção material da maior parte da obra,
não pode sequer falar-se, nessa parte, em aceitação, com a qual, de harmonia com o nº 1 do
art. 1212º do CC, se tenha operado a transferência da propriedade - Col. Jur. (STJ) 2001-I-
147.
Quanto ao cumprimento defeituoso, a denúncia dos defeitos ocultos [os
aparentes foram ou deviam ter sido logo denunciados aquando da aceitação
com reserva - e sem prejuízo do disposto no art. 1225º, especial para imóveis de
longa duração] manda o art. 1220º que a denúncia se faça ao E nos trinta dias
seguintes à sua descoberta, mesmo que o empreiteiro tenha, com dolo, enco-
berto os defeitos.

Equivale, porém, à denuncia o reconhecimento, por parte do empreiteiro,


da existência dos defeitos (art. 1220º, n.° 2), desde que o faça posteriormente à
aceitação da obra.

O decurso do prazo implica caducidade dos direitos do DO, cumprindo ao


E o ónus da prova da excepção, de já ter decorrido o prazo de denúncia - 342º, 2
e Col. STJ 94-III-93.
1221º a 1223º

Do conjunto de direitos conferidos por estas normas e restrições ao seu


exercício resulta que não é arbitrário, não é livre para o DO o exercício de
qualquer deles, antes deve seguir a ordem estabelecida na lei, só podendo passar
ao seguinte no caso de se revelar inviável o anterior.
9
- BMJ 440-445.
10
- BMJ 465-533.

19
E também é ponto assente que não pode o DO eliminar por si ou man-
dar eliminar por outro empreiteiro os defeitos para pedir depois ao E o custo do
que pagou por essa eliminação, nem sequer pode pedir, em acção ou recon-
venção, a condenação do E a pagar-lhe a quantia, a indemnização que entende
necessária para o efeito. A indemnização a que se refere o art. 1223º é a
indemnização nos termos gerais.

Pela abundância de doutrina e clareza de exposição transcreve-se pequena


parte do Ac. do STJ, de 14.3.95, no BMJ 445-464, de que se fornece cópia :

O dono da obra não pode seguir qualquer uma das vias apontadas e antes está obrigado
a seguir à risca o mecanismo legal, o qual pressupõe uma prioridade de direitos a serem
exercidos por ele, a saber:
1 - Em primeiro lugar está o direito de exigir a eliminação dos defeitos, se estes
puderem ser suprimidos;
2 - Em segundo lugar está o direito de exigir uma nova construção, se os defeitos não
puderem ser eliminados - art. 1221º, nº 1;
3 - Em terceiro lugar, na hipótese de não serem eliminados os defeitos ou construída de
novo a obra, está o direito de exigir a redução do preço ou, em alternativa, a resolução do
contrato - art. 1222º.
Mas interessa ainda ter em conta que os direitos referidos acima nos n.os 1 e 2 cessam
se as despesas forem desproporcionadas em relação ao proveito (art. 1221º, nº 2) e também
que o direito à resolução do contrato só existe, para além do mais, se os defeitos tornarem a
obra inadequada ao fim a que se destina (nº 2 do art. 1222º), inadequação esta que existirá
quando a obra seja completamente diversa da encomendada ou quando lhe falte uma qualidade
essencial, objectiva ou subjectivamente considerada ...

... o direito de indemnização nos termos gerais apenas tem em vista os danos não
ressarcíveis através da eliminação dos defeitos, da construção de nova obra ou da redução do
preço.
Em sentido algo diferente, mas para caso de urgência na eliminação dos
defeitos, o ac. da Relação do Porto, na Col. 96-I-203:

... seria abusiva a invocação pelo empreiteiro do seu direito de eliminar ele próprio os
defeitos para se furtar a indemnizar o dono da obra, quando este só os eliminou porque o
empreiteiro se colocou em mora no seu correspondente dever e a eliminação era urgente para
o dono da obra.

Também P. Martinez (Cumprimento defeituoso..., 389) ensina que «Todavia, em


casos de manifesta urgência, e para evitar maiores prejuízos, é admissível que o credor (que
aqui é o dono da obra), directamente e sem intervenção do poder judicial, proceda à elimi-
nação dos defeitos, exigindo, depois, as respectivas despesas. Esta ilação tem por base o
princípio do estado de necessidade (339º).

Eliminação dos defeitos ou obra nova - 1221º

20
O dono da obra deve começar por exigir que o defeito seja eliminado
pelo próprio empreiteiro (art. 1221º, n.° l). Se os defeitos não puderem ser
eliminados, o comitente pode exigir do empreiteiro a realização de uma nova
obra (art. 1221º, 1, 2ª parte).
A opção entre eliminar os defeitos ou realizar uma nova obra cabe ao
empreiteiro; Se o dono da obra discordar da opinião do empreiteiro, cabe ao
tribunal decidir se os defeitos são ou não elimináveis.
Perante a recusa do empreiteiro, pode o dono da obra requerer a execução
específica da prestação de facto, nos termos do art. 828º, se ela for fungível, ou
a condenação ao pagamento de uma quantia pecuniária por cada dia de atraso na
eliminação dos defeitos ou na realização de uma nova obra (art. 829ºA) se
prestação de facto do empreiteiro for infungível.
Não há lugar ao exercício de qualquer destes direitos se as despesas
inerentes forem manifestamente superiores ao interesse que o comitente daí
retiraria (art. 1221º, n.°2).

Redução do preço ou resolução - 1222º

Não sendo eliminados os defeitos ou construída nova obra, quando o devia ter sido,
pode o Do exigir a redução do preço, a que se procede nos termos do art. 884º, ou pode
resolver o contrato, mas, neste caso, só quando a obra apresenta defeitos tais que a
tornam inadequada ao fim a que se destina - 1222º, 1, in fine.
A opção entre a exigência de redução do preço ou de resolução do contrato está no
critério do dono da obra mas não pode ele pedir cumulativamente os vários direitos.

Resolução - 1222º e 432º

A resolução do contrato de empreitada segue as regras gerais com a


única especialidade de só ser admitida quando a obra é imprestável para o fim
que se destina - 1222º, nº 1, parte final.
Além deste pressuposto, exige-se a verificação dos pressupostos positi-
vos gerais, os do art. 808º e 801º e também os negativos do art. 432º, 2: estar o
credor que resolve em condições de restituir.
Efectiva-se mediante declaração receptícia à outra parte - 436º, 1 e 224º,1
- e tem como consequências as do art. 289º, salvo direitos de terceiro - 435º - e
prestações já efectuadas nas empreitadas de execução continuada ou periódica,
como as de manutenção - 434º, 2.
Porque a consequência normal da resolução é a restituição do que tiver
sido prestado, sendo que na empreitada há incorporação de materiais ou
diferentes titulares destes e do terreno, a restituição levanta questões particulares
para empreitadas de móveis e imóveis e conforme os materiais foram
fornecidos pelo DO ou pelo E.

21
Nas empreitadas de construção de coisa móvel em que os materiais
foram, ainda que em parte, fornecidos pelo dono da obra, tem este,
cumulativamente com o pedido de resolução, direito a exigir a entrega dos
materiais fornecidos ou de outros do mesmo género, qualidade e quantidade ou,
na falta destes, do seu valor.
Se os materiais foram fornecidos pelo empreiteiro, como a propriedade
da obra para o DO só se transfere com a aceitação - 1212º - que implica o
pagamento do preço - o DO só tem que restituir a obra que volta a ser
propriedade do E e recebe o preço de volta.

Relacionar com o 1212º - propriedade da obra.

Quanto a empreitadas de construção de IMÓVEIS :

I - Em terreno do DO com materiais fornecidos pelo E - o comitente


poderá, conjuntamente com o pedido de resolução, exigir a demolição da obra à
custa do construtor.
E se o DO forneceu materiais ainda lhe cabe exigir a devolução dos
mesmos ou de outros de idêntico género, qualidade e quantidade ou, na falta
destes, do seu valor.
II - O mesmo se verifica, neste último aspecto, se o terreno é do E.
III - Em terreno do DO, sem interesse deste na demolição - e não sendo
possível a restituição dos materiais, deve o DO compensar o E pelo respectivo
valor.
Pode a resolução ser parcial em caso de obras com elementos indepen-
dentes - 1000 bonecos - ou de várias obras - diferentes blocos de habitação.

I - A resolução do contrato de empreitada, facultada pelo artigo 1222º do Código Civil,


é equiparada quanto aos seus efeitos, por aplicação do disposto nos artigos 433º e 434º, n.° l,
do mesmo Código, à nulidade ou anulabilidade do negócio jurídico com eficácia retroactiva se
a retroactividade não contrariar a vontade das partes ou a finalidade da resolução.
II - Da declaração de nulidade ou de anulabilidade deriva como consequência, em
relação às partes, o dever de restituir tudo o que tiver sido prestado ou, não se tornando
possível a restituição em espécie, a obrigação de satisfazer o valor correspondente (art. 289º,
n.° l, do CC), nessa restituição se consubstanciando o efeito retroactivo da resolução.
III - Resolvido o contrato de empreitada pelos donos da obra e tendo consistido a
prestação do empreiteiro na incorporação de materiais e de mão-de-obra na construção objecto
do contrato, a restituição em espécie não é possível, traduzindo-se no pagamento (ao
empreiteiro) do valor correspondente.
IV - No caso de resolução do negócio jurídico, como nos casos de nulidade, anula-
bilidade ou revogação, a restituição não se baseia no enriquecimento sem causa, porque a
destruição do negócio já envolve a eliminação do enriquecimento que poderia repugnar ao
sistema jurídico - BMJ 364-849.

22
Em especial para as relações contratuais duradouras, justa causa de
resolução para uma só das prestações ou para todo o contrato, e efeitos da
resolução no já cumprido - B. Machado, RLJ 118-271, acima vista.

INDEMNIZAÇÃO - 1223º

Destina-se esta indemnização a cobrir os prejuízos causados por danos que


permaneçam apesar de exercidos os direitos conferidos pelos artigos anteriores e
cumulativamente com esses pedidos.

Provado que, após a resolução de um contrato de empreitada não concluída e tendo o


dono da obra protestado por defeitos praticados pelo empreiteiro, este deve indemnizar,
correspondentemente, o dono da obra, nos termos do artigo 1223.° do Código Civil.
Resolvido o contrato de empreitada, o empreiteiro não deve o custo do que não
realizou ao dono da obra se não se provou que este lhe fizera correspondente pagamento, ficou
com o património imobiliário enriquecido e não se provou que isso lhe tivesse trazido dano
relativamente a preços - BMJ 465-527.
Ora, se o exercício dos direitos conferidos nos artigos 1221º e 1222º do Código Civil
não exclui o direito a ser indemnizado nos termos gerais (artigo 1223º do Código Civil),
mesmo que os defeitos tenham sido eliminados ou a obra realizada de novo, ou reduzido o
preço, ou resolvido o contrato ..., claro está que, por maioria de razão, o dono da obra goza do
mesmo direito a ser indemnizado nos termos gerais quando, como é o caso, os defeitos não
foram eliminados pelo empreiteiro, mau grado ter sido solicitado a fazê-lo, nem foi construída
nova obra, nem foi reduzido o preço e nem o contrato foi validamente resolvido.
... o direito à indemnização, ao abrigo do artigo 1223.° do Código Civil, tem em vista
apenas os danos que não podem ser ressarcidos através da eliminação dos defeitos, ou da
construção de novo da obra, ou da redução do preço, pois que, tratando-se de danos
compensáveis por estes meios, é deles que se deve lançar mão, e não do pedido de
indemnização nos termos gerais; este direito à indemnização nos termos gerais do artigo
1223° só respeitaria àqueles danos que não estão numa conexão imediata com o cumprimento
defeituoso, mas que são causados por um outro novo acontecimento que está com o cumpri-
mento defeituoso só numa conexão «mediata» - BMJ 445-472, acima visto.

«Parece, escreve Vaz Serra, que a orientação de conceber o direito de indemnização


como um direito alternativo dos de resolução ou redução do preço não é aceitável, pois, não
obstante a resolução ou redução do preço, pode haver danos do comitente que com elas não
são eliminados e susceptíveis de ser reparados por meio de indemnização. Nem a reso-
lução, nem a redução do preço, eliminam todos os danos do comitente». Basta pensar no
tempo que podem exigir a eliminação do defeito ou a nova construção e na necessidade em
que esse facto pode colocar o dono da obra de realizar despesas com que razoavelmente não
contava ou de não obter lucros com que legitimamente contava. Por outro lado, o defeito da
obra, antes de ser remediado, pode ter dado lugar a acidentes que hajam prejudicado o dono -
PLAV, CC Anotado, II, notas ao art. 1223º

A indemnização pelo dano negativo ou de confiança cumular-se-á com o pedido de


resolução do contrato, a fim de colocar o dono da obra na situação em que estaria se não
tivesse celebrado o negócio.

23
A indemnização pelo interesse positivo dever-se-á cumular com os pedidos de
eliminação dos defeitos, realização de nova obra e redução do preço, com vista a colocar o
comitente na situação em que estaria se o contrato tivesse sido pontualmente cumprido.
Não faria sentido que o interessado resolvesse o contrato e, ao mesmo tempo, o fizesse
valer, pedindo uma indemnização pelos prejuízos derivados do não cumprimento - P. Coelho e
P. Martinez, citados na Col. 95-I-143.

Aplicam-se aqui as regras dos art. 562º e ss, da obrigação de indemnizar.

CADUCIDADE - 1220º, 1224º a 1226º

Trata-se de prazos de caducidade, não de prescrição, pelo que não estão


sujeitos à interrupção nem à suspensão (art. 328º) e só poderão ser impedidos
(art. 331º).
Os defeitos hão-de ser denunciados em 30 dias a partir do seu desco-
brimento - 1220º - e os aludidos direitos devem ser exercidos dentro de um ano
a contar da recusa da aceitação da obra ou da aceitação com reserva - 1224º, 1.
Se houve aceitação e os defeitos eram desconhecidos, aquele prazo de um
ano conta-se a partir da denúncia, mas os direitos devem ser exercidos dentro de
e nunca para além de dois anos sobre a entrega da obra - 1224º, nº 2.

Imóveis destinados a longa duração - 1225º

Tem de atender-se à nova redacção dada a este art. 1225º pelo Dec.- Lei nº
267/94, de 25 de Outubro, norma interpretativa, ao menos no acrescentamento
que fez do nº 4 - BMJ 458-315.
No nº 1 alargou-se a responsabilidade do E para com o dono da obra ou
terceiro adquirente e deixou de se exigir que os defeitos sejam graves ou que
exista perigo de ruína. É igual o prazo de cinco anos durante o qual se mantém a
responsabilidade do empreiteiro por prejuízos causados.
A responsabilidade aqui deve entender-se no seu sentido geral, de
obrigação de indemnizar, de reparação de prejuízos (562º) começando pela
reconstituição natural, nos termos dos art. 1221º e ss.
A denúncia deve ser efectuada dentro de um ano a contar da descoberta
dos defeitos e o direito à eliminação dos defeitos ou à indemnização há-de ser
exercido no ano seguinte à denúncia - n.os 2 e 3 - mas nunca para além dos
cinco anos a que se refere o nº 1, contados desde a entrega da obra.
No tocante a imóveis de longa duração, especialmente depois da nova redacção
dada ao art. 1225º pelo Dec-lei nº 267/94, de 25 de Out.º, entendeu o STJ - Ac.
de 8.3.2001 (Noronha Nascimento), na Col. STJ 01-I-159 - que o art. 1225º do CC
concede um direito indemnizatório autónomo, à margem da ordem sequencial
das normas anteriores mas que acresce aos direitos aí previstos. E condenou o
empreiteiro a indemnizar o DO pelos prejuízos por eles sofridos com os defeitos
24
provados (falta de dois pilares e de uma viga) ainda que tal falta não pusesse em
perigo a segurança do edifício:
Os arts. 1220º e segs. impõem, segundo parece, uma ordem sequencial dos direitos do
dono da obra que este deve respeitar sob pena de preclusão da tutela dos seus interesses.
Mas isto que será nítido para a empreitada-padrão, já não o será para as empreitadas de
imóveis destinados a longa duração reguladas no art. 1225º (alterado pelo DL nº 267/94).
Aqui, estamos perante casos que se não reconduzem a situações banais mas às quais
subjazem motivações que entroncam em interesses de ordem pública expressos quer em razões
de segurança quer em razões de estabilidade e permanência.
Por isso mesmo, a primeira grande preocupação daquela norma (art. 1 225º) cifra-se
não em alongar os prazos de caducidade do exercício do direito do dono da obra mas sim em
alongar os prazos para a descoberta de vícios, defeitos, erros de execução que, as mais das
vezes ocultos, só se patenteiam anos depois numa obra que, por natureza, deve ser durável e
duradoura.
O art. 1225º remete para as disposições antecedentes “Sem prejuízo do disposto nos
arts. 1219º e segs, assim começa aquela norma.
Esta remissão pode ser interpretada de duas formas diferentes: ou significa que os
direitos conferidos na norma se subordinam à ordem sequencial das normas para as quais
remete (esta foi a leitura das instâncias); ou significa que o dono da obra goza do direito
indemnizatório que a mesma lhe confere, independentemente e para além dos outros direitos
que os arts. 1220º e segs. lhe reconhecem (esta é a nossa leitura).
No primeiro caso, o art. 1225º não atribui verdadeiramente ao dono da obra um direito
novo, limitando-se a ampliar o prazo de denúncia do defeito e o prazo de garantia da emprei-
tada.
No segundo caso, o art. 1225º atribui ao dono da obra um direito indemnizatório como
meio autónomo dos restantes direitos.
O art. 1225º do C. Civil de 1967 foi directamente influenciado pelo art. 1669º do C.
Civil italiano (cfr. Antunes Varela, CC Anotado, e Vaz Serra, B.M.J. 146, págs. 94 a 122).

E em Itália a leitura normativa feita maioritariamente da norma correspondente vai


exactamente no sentido que, aqui, propomos: estamos perante um direito autónomo dos
anteriores que se adiciona a estes e vocacionado a reforçar o leque de garantias do dono
nomeadamente numa época em que a introdução de novas tecnologias de construção
pode manter ocultos, por anos, vícios e defeitos congénitos da obra.

Se a leitura italiana da norma é esta (cfr., neste particular, Vaz Serra, ob. cit., pág. 108 -
112 e especialmente a citação de Rubino, a págs. 101-102) mais a mais quando a lei civil
italiana parece conhecer um sistema de precedência sequencial similar ao nosso, lógico se
mostra que a interpretação do art. 1225º se faça de modo correspondente.

Subempreiteiro e E - 1226º

O direito de regresso do empreiteiro contra os subempreiteiros, por força


do exercício dos direitos conferidos ao DO nos artigos anteriores, caduca se o E
não comunicar ao SE a denúncia por ele recebida do DO dentro dos trinta dias
seguintes à recepção dessa denúncia.

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Já vimos que nas relações entre E e SE aquele está para com este na
posição de DO e este para com aquele na de E.

A celebração de um contrato de subempreitada não transfere para o subempreiteiro as


obrigações do empreiteiro perante o dono da obra. A subempreitada produz apenas efeitos
inter partes, e porque dela não resulta, nem sequer parcialmente, uma cessão da posição
contratual do empreiteiro, é apenas este quem continua a responder em face do dono da obra.
Se, por exemplo, determinado subempreiteiro incorrer em mora e, por virtude disso, a
empreitada não for concluída no prazo convencionado, o dono da obra só ao empreiteiro
poderá exigir a indemnização que a mora do subempreiteiro lhe causar. «O dono da obra -
escrevem PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA - não tem, em princípio, nenhuma acção
directa contra o subempreiteiro, visto que este se obrigou apenas perante o empreiteiro e se
trata de uma pura relação obrigacional» - H. Mesquita, RLJ 131º-127.

No dia em que abriu ao público um Centro Comercial, ruiu uma viga de


20 metros de comprimento, provocando o desmoronamento da cobertura do
hipermercado.
Chamado a pronunciar-se sobre a responsabilidade de cada um dos inter-
venientes, o Prof. Calvão da Silva emitiu Parecer publicado em Estudos de
Direito Civil e Processo Civil (Pareceres), Parecer cuja leitura se recomenda
vivamente e de que se retirou a seguinte súmula:

1 - Responsabilidade do dono da obra, proprietário, o C. C.al - art. 492º, nº 1, CC.


Os lesados provarão que a ruína parcial do edifício foi causada por vício de construção - 342º,
nº 1; ao proprietário cabe provar a sua falta de culpa no vício ou defeito que provocou a ruína
do edifício, pois estamos perante conhecido caso de responsabilidade por culpa presumida.
2 - Resp. do E perante o DO - indemnização - 1225º - pelos prejuízos (danos emer-
gentes e lucros cessantes) e direito à reconstrução da parte desmoronada - 1221º e 1222º - por
força dos art. 1208º e 799º.
O E responde pelos actos do Subempreiteiro nos termos do art. 800º CC, mesmo que
o DO tivesse autorizado a subempreitada, pois, além do mais, o E goza de direito de regresso
contra o SE.
Mas pode provar que a ruína se deve ao projectista contratado pelo DO.
3 - Resp. E perante terceiros - 483º, ilicitude, violação de direitos absolutos por
violação de normas do RGEU a que subjazem interesses de ordem pública.
Se o defeito de construção na origem da ruína do edifício for devido exclusivamente ao
subempreiteiro, o empreiteiro não responderá pelos actos deste perante os terceiros lesados
por ser o SE autónomo, pois não existe entre eles a relação de comissão a que se refere o art.
500º.
4 - Resp. do SE - Perante o E responde contratualmente, incluindo a indemnização
que o E pague ao DO, nos termos do art. 800º (1226º);
- Perante terceiros - 483º e ou 1225º, visto este como afloramento
da obrigação geral de segurança.
5 - Resp. do Projectista - contratado que foi pelo DO, responde perante este nos
termos do art. 799º - resp. contratual - e perante terceiros, incluindo o empreiteiro, nos
termos dos art. 483º e ss.

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Havendo vários responsáveis, a responsabilidade é solidária (497º e 507º) na responsa-
bilidade extracontratual e, ainda, na contratual, ao contrário da regra do art. 513º, em face da
indivisibilidade dos danos, por ser impossível individualizar os danos atribuídos a cada
interveniente no processo de construção.

Por Ac. de 15.3.01 (O. Barros), o STJ decidiu que a Brisa, como concessionária das
auto-estradas, nos termos da Base LIII, nº 1, anexa ao Dec-lei nº 315/91, responde por todas as
indemnizações que, nos termos da lei, sejam devidas a terceiros em consequência de qualquer
actividade decorrente da concessão.
Daí que responda pelos danos causados em prédio rústico devidos à incorrecta
execução da drenagem de águas pluviais, aquando da construção de sublanço da auto-estrada,
ainda que a obra tenha sido efectuada por empreiteiro - Col. 01-I-175.

Impossibilidade - 1227º e 790º e ss

Cura-se aqui da impossibilidade superveniente, a que extingue a


obrigação, os efeitos do contrato (790º, 1); a impossibilidade originária produz,
antes, a nulidade do negócio - 280 e 401º.
A impossibilidade superveniente, há-de ter as características e os efeitos
consagrados nos art. 790º a 795º: ser efectiva, não constituir simples agrava-
mento da prestação; absoluta, salvo se a prestação for infungível, pois então
releva a impossibilidade relativa - 791º; definitiva e não simplesmente tempo-
rária, que esta livra o devedor da mora - 792º; pode ser total ou parcial - 793º.
Se havia trabalhos efectuados quando sobreveio a impossibilidade o E tem
direito a indemnização pelos trabalhos executados e despesas que suportou,
perdendo o eventual lucro. - 1227º, 2º parte.

Desistência do D.O. - 1229º

O dono da obra pode desistir da empreitada a todo o tempo, mas tem que
indemnizar o E dos seus gastos (materiais, transportes, etc.,) e trabalho - aqui
incluído o dos seus empregados e subempreiteiros - e do proveito que poderia
tirar da obra completa.
O proveito encontra-se subtraindo ao preço total fixado o custo global da
obra.
A desistência não se pode enquadrar na figura de resolução, porque esta é
vinculada (há que alegar um fundamento) e opera retroactivamente; em contra-
partida, a desistência é discricionária e tem eficácia ex nunc. Mais difícil se
apresenta a distinção relativamente à revogação que também é discricionária e
não retroactiva; porém, a revogação do contrato tem origem bilateral e a
desistência é unilateral. Por ultimo, a denúncia, além de discricionária e não
retroactiva, é também unilateral; mas a denúncia é específica dos contratos de
duração indeterminada e o contrato de empreitada, apesar de dele constarem

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prestações que se podem protelar no tempo, não é, por via de regra, de duração
indeterminada.

Morte ou incapacidade - 1230º

A morte do dono da obra não produz a extinção do contrato de emprei-


tada porque a posição do DO, não tendo carácter pessoal, transmite-se aos seus
herdeiros; a morte ou incapacidade permanente do E só determina a extinção do
contrato se, no acto da celebração, foram tomadas em conta as qualidades
pessoais dele.
De notar que o ónus da prova de que foram tomadas em conta as especiais
qualidades do E - 1230º, 1 - cabe ao DO. Só neste caso o contrato se extingue
por morte ou incapacidade do E, que não também por morte do DO.
Se o contrato de empreitada foi concluído intuitu personae, por morte ou
incapacidade do empreiteiro considera-se o contrato extinto por impossibilidade
de execução da obra não imputável às partes (art. 1230º, n.° 2).
O dono da obra terá, portanto, de pagar aos herdeiros do empreiteiro ou ao
empreiteiro incapacitado o trabalho executado e as despesas realizadas (art. 790º
e 1227º), não se atendendo aos possíveis lucros.

Nota - Além da bibliografia indicada no programa do Curso, deve ler-se as obras


Empreitada e Cumprimento defeituoso, em especial na Compra e Venda e na Empreitada,
de P. R. Martinez, que se seguiu de muito perto, com transcrição de algumas partes.

Novembro de 2001

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