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fabrico duma coisa móvel, é na construção ou no fabrico, e não no imóvel ou na coisa móvel,
que reside a obra do empreiteiro - A. Varela, RLJ 121º-173 e ss, maxime 185 e ss, que trata,
ainda, de cumprimento, incumprimento, mora e cláusula penal.
BMJ 374-449 - O contrato pelo qual uma pessoa aceitou retratar outra em quadro a
óleo ... integra um contrato de prestação de serviços inominado, regulado pelas normas do
mandato.
O contrato de empreitada tem por objecto uma obra material, não abrangendo, por isso,
uma criação intelectual ou artística, mesmo exteriorizada em tela.
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Tratamos aqui apenas da empreitada de direito privado, que a empreitada
de obras públicas é regulada por lei própria, o Dec. Lei nº 59/99, de 2 de Março.
A empreitada pode ser de natureza civil ou comercial - 2º e 230º, nº 6, do
CC.al .
Nem sempre é fácil distinguir a empreitada de contratos afins. Mas
enquanto no de prestação de serviços (1154º) se promete uma actividade
através da utilização do trabalho, na empreitada promete-se o resultado desse
trabalho; na prestação de serviço é o beneficiário desse serviço que corre o
risco, enquanto que na empreitada o risco corre por conta do empreiteiro.
Não há empreitada, por falta de obra nova, por falta de resultado material,
quando se contrata a manutenção de um jardim. Já haveria se fosse contratada
a construção ou remodelação do jardim.
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Àquele contrato inominado aplicam-se, por força do art. 1156º, as disposi-
ções sobre o mandato, designadamente o art. 1170º, nº 1, segundo o qual o
mandato é livremente revogável por qualquer das partes, ainda que haja
convenção em contrário e de mandato oneroso se trate.
A revogação do mandato, antes de terminado o prazo convencionado para
a sua vigência, destrói o contrato, criando, no entanto, o dever de indemnizar,
apesar de guardada antecedência razoável - 1172º, c) -, salvo se com justa
causa, que esta serve para isentar da obrigação de indemnizar - B. Machado,
RLJ 118-279, nota.
Operada essa revogação, a outra parte não pode pedir, sem mais, as
retribuições ajustadas, cabendo, antes, alegar e provar qual o prejuízo por si
sofrido, receitas não auferidas e existência ou a inexistência de despesas não
efectuadas, tudo nos termos do art. 566º, nº 2, do CC, que consagrou a teoria da
diferença - Col. STJ 98-III-34 e ss.
Por isso se entende, ainda que dubitativamente, que o dono da obra não é
parte legítima em acção por facto ilícito - queda de materiais, menor que é
atingido por descarga eléctrica de caixa acessível ao menor - ocorrido no decurso
da obra de empreitada, pois o empreiteiro não é empregado nem comissário do
dono da obra (500º) - Ac. STJ de 30.1.79, na RLJ 112-200.
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Ao abrir os caboucos para demolição de um prédio e construção de outro
em seu lugar, porque se não escorou uma parede do prédio vizinho, este
desmoronou-se.
Em dois votos de vencido entendeu-se que o dono da obra era responsável,
nos termos gerais dos art. 1346º a 1348º CC.
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I - Contrato de empreitada é aquele pelo qual uma parte se obriga em relação à outra a
realizar certa obra, mediante um preço (artigo 1207º do Código Civil).
II - A viatura objecto de revisão/reparação deveria ser entregue ao seu dono, no lugar
onde o trabalho ou obra teve lugar, mantendo-se o seu estado igual em relação aos pontos onde
a reparação não incidiu, sendo certo que foi destruída por incêndio quando se encontrava na
oficina.
III - Corre por conta do empreiteiro, até àquela entrega, o risco do perecimento do
veículo, salvo se provar que foi diligente, que usou do zelo e cautelas que empregaria um bom
pai de família.
IV - In casu, a lei presume a culpa do devedor (799º, nº 1) que, para afastá-la,
necessitaria de provar a existência de circunstâncias, especiais ou excepcionais, que elimi-
nassem a censurabilidade da sua conduta - STJ 24.10.95, BMJ 450-469.
Por força das regras gerais e de boa fé deve ainda o empreiteiro prestar as
informações devidas pelos seus especiais conhecimentos quanto a projectos,
materiais e segurança da coisa. O empreiteiro, antes da entrega, está sujeito
aos princípios comuns da responsabilidade. As suas obrigações principais são
executar o trabalho prometido e efectuar a entrega logo que ele esteja terminado
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ou no prazo convencionado. A inexecução de qualquer destas obrigações cons-
titui responsabilidade contratual com fundamento na falta cometida, cujo regime
não apresenta originalidades em relação ao regime geral. - Col. 95-I-143
1209º
1210º
1211º
Uma obra de construção civil considera-se alvorada quando estejam feitas as divisões
do sótão e construída a placa de tecto.
Se nestas circunstâncias não estiver paga a parte do preço convencionado, o emprei-
teiro pode suspender a execução do trabalho, invocando a excepção de não cumprimento.
Esta excepção inibe o dono da obra de reconvencionar quaisquer prejuízos daí
decorrentes - Col. STJ 96-I-161.
A exceptio não funciona como uma sanção, mas apenas como um processo lógico de
assegurar, mediante o cumprimento simultâneo, o equilíbrio em que assenta o esquema do
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contrato bilateral. Por isso ela vigora, não só quando a outra parte não efectua a sua prestação
porque não quer, mas também quando ela a não realiza ou a não oferece porque não pode.
E vale tanto para o caso de falta integral do cumprimento, como para o de
cumprimento parcial ou defeituoso, desde que a sua invocação não contrarie o princípio
geral da boa fé consagrado nos art.os 227º e 762º, nº 2.
Também, a propósito deste princípio legal, escreveu o Prof. Calvão da Silva, in
"Cumprimento e Sanção Pecuniária Compulsória", pág. 334:
"Processualmente, o demandado a quem se exija o cumprimento tem de invocar a
exceptio, que não é de conhecimento oficioso. Trata-se, efectivamente, de uma excepção sensu
próprio e stricto sensu (Einrede, na terminologia alemã), correspondente às exceptiones iuris
da doutrina romanista, cuja relevância e eficácia só operam por vontade do excipiens, não
podendo o juiz conhecer dela ex officio. Logo, se não opõe a exceptio, o demandado será
condenado.
Trata-se, ainda, de uma excepção material, porque corolário do sinalagma funci-
onal que a funda e legitima: ao autor que exige o cumprimento opõe o demandado o
princípio substantivo do cumprimento simultâneo próprio dos contratos sinalagmáticos,
em que a prestação de uma das partes tem a sua causa na contraprestação da outra. Por
conseguinte, o excipiens não nega nem limita o direito do autor ao cumprimento; apenas
recusa a sua prestação enquanto não for realizada ou oferecida simultaneamente a
contraprestação, prevalecendo-se do princípio da simultaneidade do cumprimento das
obrigações recíprocas que servem de causa uma à outra.
É, portanto, uma excepção material dilatória: o excipiens não nega o direito do autor ao
cumprimento nem enjeita o dever de cumprir a prestação; pretende tão-só um efeito dilatório,
o de realizar a sua prestação no momento (ulterior) em que receba a contraprestação a que tem
direito e (contra)direito ao cumprimento simultâneo...
Aparentemente, a exceptio só funcionaria quando ambas as partes fossem obrigadas a
cumprir, simultaneamente, as obrigações emergentes do sinalagma contratual.
Contudo não é esse o entendimento mais correcto do regime do art. 428º, nº 1, do C.
Civil.
A fórmula legal não é inteiramente rigorosa, pois o que a excepção supõe é que um dos
contraentes não esteja obrigado, pela lei ou pelo contrato, a cumprir a sua obrigação antes do
outro; se não o estiver pode ele, sendo-lhe exigida a prestação, recusá-la, enquanto não for
efectuada a contraprestação...
Por conseguinte, a excepção pode ser oposta ainda que haja vencimentos diferentes...
apenas não podendo ser oposta pelo contraente que devia cumprir primeiro.
Como antes se disse, e decorre do artº 1211º do C. Civil, inexistindo cláusula em
contrário, o preço deve ser pago no "acto de aceitação da obra". Há simultaneidade das presta-
ções: aceitação da obra/pagamento do preço - Col. 99-III-211.
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I - São elementos essenciais da interpretação de um negócio jurídico: a letra do
negócio, as circunstâncias de tempo, lugar, e outras, que precederam a sua celebração ou são
contemporâneas destas; as negociações respectivas; a finalidade prática visada pelas partes; o
próprio tipo negocial; a lei e os usos e costumes por ela recebidos; e a posição assumida pelas
partes na execução do negócio.
II - O cumprimento defeituoso integra-se no instituto do não cumprimento e traduz-
-se numa forma de violação de deveres obrigacionais, sejam eles principais, secundários ou
acessórios de conduta. Nele, tal como na falta de cumprimento, a culpa do devedor presume-se
(art. 799º - 1, CC - e este torna-se responsável pelo prejuízo que causa ao credor (art. 798º)
III - O dono da obra pode, face ao cumprimento defeituoso, por má construção e
desrespeito do projecto camarário aprovado, pedir, como forma de indemnização e ao abrigo
do art. 1223º do CC, a condenação do empreiteiro no pagamento de despesas com as obras
impostas pela Câmara Municipal e necessárias para legalização e obtenção da licença de
habitabilidade.
IV - Não pedindo o dono da obra a condenação do empreiteiro a eliminar os defeitos
ou a fazer nova construção, não pode invocar a excepção de não cumprimento do contrato
como forma de recusar o pagamento do resto do preço da empreitada.
1212º
A) - Propriedade - 1212º
B) - Risco
CONTRATO DE EMPREITADA
REVISÃO/REPARAÇÃO DE VEÍCULO AUTOMÓVEL
INCÊNDIO/DESTRUIÇÃO
I - Contrato de empreitada é aquele pelo qual uma parte se obriga em relação à outra a
realizar certa obra, mediante um preço (artigo 1207º do Código Civil).
II - A viatura objecto de revisão/reparação deveria ser entregue ao seu dono, no lugar
onde o trabalho ou obra teve lugar, mantendo-se o seu estado igual em relação aos pontos onde
a reparação não incidiu, sendo certo que foi destruída por incêndio quando se encontrava na
oficina.
III - Corre por conta do empreiteiro, até àquela entrega, o risco do perecimento do
veículo, salvo se provar que foi diligente, que usou do zelo e cautelas que empregaria um bom
pai de família.
IV - In casu, a lei presume a culpa do devedor (art. 799º, nº 1), que, para afastá-la,
necessitaria de provar a existência de circunstâncias, especiais ou excepcionais, que eliminas-
sem a censurabilidade da sua conduta - STJ, Ac. de 24 de Outubro de 1995, BMJ 450-469.
1213º
Subempreitada
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Entre o empreiteiro e o subempreiteiro as relações são as de DO para
aquele e de E para este. Também o subempreiteiro é autónomo em relação ao
empreiteiro como este o é em relação ao DO.
Porque nada contratou com o subempreiteiro, parece que só ao empreiteiro
pode o DO pedir contas pela execução defeituosa da obra.
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da obra uma indemnização correspondente ao enriquecimento deste (art. 1214º,
nº 3, in fine).
II - Se o preço foi determinado por outra forma - por medida, por
unidade, por tempo de trabalho, etc., não se exige que a autorização seja dada
por escrito, pode sê-lo verbalmente, pois aí não há perigo de habilidades do
empreiteiro.
Validamente autorizadas, devem ser pagas as alterações introduzidas.
Na falta de autorização - nem escrita, quando devida, nem verbal quando
permitido, a obra tem-se por defeituosa e, se aceite, não obriga o DO nem ao
pagamento do aumento do preço nem a indemnização por enriquecimento sem
causa - 1214º, nº 2.
Aceitação
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O empreiteiro, se a coisa lhe foi entregue, tem a guarda dela e, assim, pode ser respon-
sabilizado pelos danos nela causados por terceiros - Col. 89-II-217.
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Como ensina P. R. Martinez, Empreitada, 1994, 184 e 185, e refere Rosendo Dias
José ("Responsabilidade Civil do Construtor de Imóveis", pág. 10/11) em linhas gerais o
empreiteiro, antes da entrega, está sujeito aos princípios comuns da responsabilidade. As suas
obrigações principais são executar o trabalho prometido e efectuar a entrega logo que ele
esteja terminado ou no prazo convencionado. A inexecução de qualquer destas obrigações
constitui responsabilidade contratual com fundamenta na falta cometida, cujo regime não
apresenta originalidades (...)".
E mais adiante:
"Se o empreiteiro não faz a obra ou cai em mora o dono da obra valer-se-á dos meios
comuns do credor.
O art. 1222º disciplina a responsabilidade do empreiteiro após a entrega da obra
(Rosendo Dias José, ob. cit. pág. 14 e ss) pressupondo, pois, que o empreiteiro entregue pronta
uma obra que não tenha sido realizada nos termos devidos ou seja, uma obra que tenha
defeitos.
O artº 1222º reporta-se, pois, não aos casos de incumprimento definitivo do contrato de
empreitada - para os quais valem as regras gerais constantes dos normativos já assinalados -
mas antes ao casos de cumprimento defeituoso - Col. 95-I-144.
Mas a grande fatia do bolo indemnizatório pretendido pela A. também não logrou
aceitação da prova, pois que se não provou qualquer nexo de causalidade entre o comporta-
mento da Ré e os custos financeiros de quase seis mil contos alegadamente suportados pela A.
Bem se compreende, por isso, que no recurso a Apelante tenha esquecido essa parte do
pedido para centrar a sua atenção naqueles 1.464.167$00, quantia que teve de pagar a mais
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para concluir os trabalhos que a Ré deixou por executar e corrigir os defeituosamente
executados.
I - Da Caducidade
Não se suscitam dúvidas que entre A. e Ré - ora recorrente e recorrida - foi celebrado
um contrato de empreitada que a lei - art. 1207º C.C. - define como o contrato pelo qual uma
das partes se obriga em relação à outra a realizar certa obra, mediante um preço.
Também temos por certo que o contrato não chegou ao fim, que não houve execução
completa da obra que, por isso, não foi pelo empreiteiro posta à disposição do comitente ou
dono da obra para que este procedesse à sua verificação e posterior aceitação, com ou sem
reserva, ou a recusasse.
Com efeito, deve o empreiteiro colocar o dono da obra em condições de poder fazer a
verificação - 1218º, nº 2, in fine - em prazo razoável, independentemente de ter ou não havido
fiscalização no decurso da obra; esta verificação é acto importante porque os seus resultados
devem ser comunicados ao empreiteiro - 1218º, nº 4 - e a falta de verificação ou desta comu-
nicação importa aceitação da obra - 1218º, nº 5.
À verificação seguir-se-á, em regra, a aceitação que é um acto de vontade pelo qual o
dono da obra declara que a obra foi realizada a seu contento, assim reconhecendo a obrigação
de pagar o preço.
A aceitação tem importância, designadamente no que respeita ao vencimento da
remuneração - 1211º, nº 2 - à transferência da propriedade - 1212º - à assunção do risco -
1228º - e à responsabilidade por defeitos - 1218º e ss.
Pode ser expressa ou tácita (218º) ou presumida (visto nº 5 do art. 1218º), com ou sem
reserva.
Mas supõe sempre que o empreiteiro colocou a obra, a seu ver concluída, à disposição
do comitente para que este, verificando-a, a aceite com ou sem reserva e, sendo caso disso,
denuncie os defeitos que encontre no curto prazo de trinta dias - 1220º.
Depois tem o dono da obra o prazo de um ano - 1224º - para exercer os direitos que lhe
conferem os art. 1221º a 1223º do CC, nos termos e pela ordem aí indicada.
Ora, se a obra não foi acabada e colocado o comitente em condições de a verificar para
aceitar ou recusar, não pode dizer-se que houve aceitação, ao menos em sentido jurídico, como
acto de vontade que marca o início do prazo para exercer aqueles direitos sujeitos a curtos
prazos de caducidade.
Como é sabido, a fixação pela lei de prazos curtos, seja de caducidade seja de
prescrição, deve-se à necessidade de conferir segurança ao tráfico jurídico e a permitir a prova
dos factos em discussão.
Já não há razão para se fixarem prazos curtos, se os direitos invocados pelo dono da
obra não se fundarem em defeitos desta, mas em qualquer outro facto, como na mora ou no
não cumprimento da obrigação. Daí a enumeração taxativa, feita no artigo 1224°, dos direitos
sujeitos a caducidade. A indemnização a que ele se refere é a prevista no artigo anterior. O
pedido, por exemplo, duma indemnização pelo não cumprimento está já sujeito às regras
gerais da prescrição1.
Em boa verdade, a interpretação lógica dos artigos 1220º e seguintes do Código Civil
evidencia que os respectivos prazos (curtos) não têm, no seu tatbestand, a não conclusão da
obra (cfr. acórdão deste Supremo de 25 de Julho de 1985, Boletim do Ministério da Justiça, n.°
349, pág. 512)2.
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- P. Lima - A.Varela, CC Anotado, II, 4ª ed., 900.
2
- BMJ 465-533.
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Basta ler o art. 1224º para se concluir que o prazo se conta desde a recusa ou da
aceitação com reserva ou da denúncia de vícios desconhecidos, mas nunca para além de dois
anos a contar da entrega da obra.
No caso sub judicio não houve entrega e, portanto, não houve nem podia haver
aceitação. O que houve foi abandono da obra pela Ré que, nos termos da al. p) dos factos
provados, abandonou definitivamente a obra, sem qualquer justificação, em 17 de Outubro de
1994 e sem que tenha concluído qualquer dos trabalhos em falta (os referidos em g) e h).
Como se disse no Ac. da Relação de Lisboa, de 16.1.90 3, não houve obviamente
aceitação ... nos termos dos art. 1218º e 1219º do CC, da obra que não estava terminada ... nem
desistência nos termos do art. 1229º do mesmo Código (na empreitada a desistência é direito
só do dono da obra, não do empreiteiro).
Em suma: antes da conclusão e entrega da obra não é aplicável o regime dos art. 1220º
a 1224º do CC, porque só com a entrega, verificação e aceitação ou recusa está o dono da obra
em condições de exercitar, no prazo legal, aqueles direitos.
... o direito à indemnização, ao abrigo do artigo 1223.° do Código Civil, tem em vista
apenas os danos que não podem ser ressarcidos através da eliminação dos defeitos, ou da
construção de novo da obra, ou da redução do preço, pois que, tratando-se de danos
compensáveis por estes meios, é deles que se deve lançar mão, e não do pedido de
indemnização nos termos gerais; este direito à indemnização nos termos gerais do artigo
1223° só respeitaria àqueles danos que não estão numa conexão imediata com o cumprimento
defeituoso, mas que são causados por um outro novo acontecimento que está com o cumpri-
mento defeituoso só numa conexão «mediata»4.
II - Da Indemnização e Resolução
Para além da figura «desistência por parte do dono da obra», prevista no art. 1.229º do
Código Civil, pode configurar-se uma situação de resolução de empreitada, dado a este
contrato serem aplicáveis as regras gerais sobre inexecução dos contratos - arts. 801º, nº 2 e
808º, nº 1, ambos do Cód. Civil.
...temos que nos termos do art. 432º, nº 1 do Cód. Civil, é admissível a resolução do
contrato fundada na lei ou em convenção.
Admite este preceito que as partes estabeleçam no contrato a chamada cláusula
resolutiva expressa, ou seja, que as partes estipulem que ambas ou uma delas tenha o direito
de resolver o contrato quando ocorrer certo e determinado facto (por ex. não cumprimento ou
não cumprimento nos termos devidos, segundo as modalidades estabelecidas de uma obriga-
ção): a inadimplência de uma específica obrigação, acordada pelas partes, constitui o funda-
mento e o pressuposto indispensável da resolução do contrato.
A resolução legal de um contrato só é admissível nos casos de não cumprimento da
obrigação, incluindo-se nesse não cumprimento o incumprimento temporário (rectius, mora),
quando se converta num não cumprimento definitivo derivado da perda de interesse na presta-
3
- Col. Jur. 1990-I-140.
4
- BMJ 445-472.
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ção ou da falta de realização no prazo razoável fixado (pelo credor) para o efeito - arts. 801º,
nº 2 e 802º, nº 2, ex vi do art. 808º, todos do Cód. Civil.
Também há incumprimento quando o devedor declara ao credor que não quer cumprir
a prestação ainda com interesse para aquele credor5.
A resolução do contrato pode fazer-se mediante declaração à outra parte - 436º, nº 1,
CC.
Temos por certo que nenhuma das partes resolveu o contrato. Nem a dona da obra nem
a empreiteira declarou essa intenção de pôr fim ao contrato, com base em convenção ou fun-
dando-se em incumprimento.
Para não falar na empreiteira Ré que abandonou a obra sem dar satisfações, diremos
que a dona da obra, depois de aceitar sucessivas prorrogações de prazo, limitou-se a chamar a
atenção da Ré para os sucessivos atrasos e consequentes prejuízos, como se vê das cartas de fs.
29 a 35, designadamente da de 17 de Outubro de 1994, contemporânea do abandono da obra
pela destinatária da missiva.
Nem uma palavra de interpelação admonitória, de fixação de prazo ou de perda de
interesse, a converter a mora em incumprimento definitivo - 808º CC.
Não pode dizer-se, como afirma a apelante, que a recorrida resolveu unilateralmente o
contrato quando se desvinculou da sua contraprestação ao abandonar a obra. Como se disse e
resulta do disposto nos art. 801º, 802º e 808º do CC, a resolução legal é mera faculdade 6 de
que o credor pode aproveitar ou não em face do incumprimento culposo do devedor.
E já se viu que a empreiteira abandonou a obra sem qualquer justificação, sem qual-
quer declaração de resolução. Incumprimento, pois, e não resolução.
Por seu turno, a dona da obra, confrontada com este incumprimento, não declarou à
devedora inadimplente a resolução e, naturalmente, não pediu ao Tribunal que apreciasse
inexistente resolução.
Nem precisava de o fazer, certo sendo, como agora mesmo dito, que o direito à indem-
nização é independente da resolução do contrato, como está expresso no nº 2 do art. 801º e no
nº 1 do art. 802º, este para o incumprimento parcial, e ambos do CC.
Regra primeira do regime dos contratos é a do seu cumprimento ponto por ponto: o
contrato deve ser pontualmente cumprido, e só pode modificar-se ou extinguir-se por mútuo
consentimento dos contraentes ou nos casos admitidos na lei - 406º, nº 1, do CC.
Daí aqueloutra norma que esclarece cumprir o devedor a obrigação quando realiza a
prestação a que está vinculado - 762º - e ensinar-se que não cumprimento significa a não
realização da prestação debitória, sem que entretanto se tenha verificado qualquer das causas
extintivas típicas da relação obrigacional7, ou que há cumprimento defeituoso quando a
prestação efectuada apresenta vícios, defeitos ou irregularidades causadores de danos ou que
desvalorizam, impedem ou dificultam o fim a que a prestação se destina8.
O devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigação - ou que cumpre
defeituosamente - torna-se responsável pelo prejuízo que causa ao credor, incumbindo ao
devedor provar que a falta de cumprimento ou o cumprimento defeituoso da obrigação não
procede de culpa sua - art. 798º e 799º CC.
Tendo a obrigação total ou parcialmente incumprida por fonte um contrato bilateral, o
credor insatisfeito tem direito à indemnização, independentemente da resolução do contrato,
5
- Col. Jur. STJ 1998-II-142 e 143.
6
- P. Lima - A. Varela, Anotado, II, 58.
7
- A. Varela, Obrigações, II, 58 e ss.
8
- Ibidem, 120 e ss.
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da exigência de restituição por inteiro da sua prestação ou da redução da sua contraprestação -
801º, nº 2 e 802º, nº 1, do CC.
A extensão do direito de indemnização do credor é regulada, quer o credor resolva o
contrato quer o não faça, pelo artigo 564°, n.° l, do Código Civil: «O dever de indemnizar
compreende não só o prejuízo causado, como os benefícios que o lesado deixou de obter
em consequência da lesão9», mas a obrigação de indemnização só existe em relação aos
danos que o lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão - 563º CC.
... temos por relevante que é susceptível de indemnização o que, segundo o que vem
provado, os donos da obra tiveram de desembolsar para corrigirem as anomalias e defeitos da
responsabilidade do empreiteiro (cfr. artigos 483.° e 562º do Código Civil); tanto mais quanto
é certo que nada demonstra tratar-se de verba exagerada para o efeito10.
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E também é ponto assente que não pode o DO eliminar por si ou man-
dar eliminar por outro empreiteiro os defeitos para pedir depois ao E o custo do
que pagou por essa eliminação, nem sequer pode pedir, em acção ou recon-
venção, a condenação do E a pagar-lhe a quantia, a indemnização que entende
necessária para o efeito. A indemnização a que se refere o art. 1223º é a
indemnização nos termos gerais.
O dono da obra não pode seguir qualquer uma das vias apontadas e antes está obrigado
a seguir à risca o mecanismo legal, o qual pressupõe uma prioridade de direitos a serem
exercidos por ele, a saber:
1 - Em primeiro lugar está o direito de exigir a eliminação dos defeitos, se estes
puderem ser suprimidos;
2 - Em segundo lugar está o direito de exigir uma nova construção, se os defeitos não
puderem ser eliminados - art. 1221º, nº 1;
3 - Em terceiro lugar, na hipótese de não serem eliminados os defeitos ou construída de
novo a obra, está o direito de exigir a redução do preço ou, em alternativa, a resolução do
contrato - art. 1222º.
Mas interessa ainda ter em conta que os direitos referidos acima nos n.os 1 e 2 cessam
se as despesas forem desproporcionadas em relação ao proveito (art. 1221º, nº 2) e também
que o direito à resolução do contrato só existe, para além do mais, se os defeitos tornarem a
obra inadequada ao fim a que se destina (nº 2 do art. 1222º), inadequação esta que existirá
quando a obra seja completamente diversa da encomendada ou quando lhe falte uma qualidade
essencial, objectiva ou subjectivamente considerada ...
... o direito de indemnização nos termos gerais apenas tem em vista os danos não
ressarcíveis através da eliminação dos defeitos, da construção de nova obra ou da redução do
preço.
Em sentido algo diferente, mas para caso de urgência na eliminação dos
defeitos, o ac. da Relação do Porto, na Col. 96-I-203:
... seria abusiva a invocação pelo empreiteiro do seu direito de eliminar ele próprio os
defeitos para se furtar a indemnizar o dono da obra, quando este só os eliminou porque o
empreiteiro se colocou em mora no seu correspondente dever e a eliminação era urgente para
o dono da obra.
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O dono da obra deve começar por exigir que o defeito seja eliminado
pelo próprio empreiteiro (art. 1221º, n.° l). Se os defeitos não puderem ser
eliminados, o comitente pode exigir do empreiteiro a realização de uma nova
obra (art. 1221º, 1, 2ª parte).
A opção entre eliminar os defeitos ou realizar uma nova obra cabe ao
empreiteiro; Se o dono da obra discordar da opinião do empreiteiro, cabe ao
tribunal decidir se os defeitos são ou não elimináveis.
Perante a recusa do empreiteiro, pode o dono da obra requerer a execução
específica da prestação de facto, nos termos do art. 828º, se ela for fungível, ou
a condenação ao pagamento de uma quantia pecuniária por cada dia de atraso na
eliminação dos defeitos ou na realização de uma nova obra (art. 829ºA) se
prestação de facto do empreiteiro for infungível.
Não há lugar ao exercício de qualquer destes direitos se as despesas
inerentes forem manifestamente superiores ao interesse que o comitente daí
retiraria (art. 1221º, n.°2).
Não sendo eliminados os defeitos ou construída nova obra, quando o devia ter sido,
pode o Do exigir a redução do preço, a que se procede nos termos do art. 884º, ou pode
resolver o contrato, mas, neste caso, só quando a obra apresenta defeitos tais que a
tornam inadequada ao fim a que se destina - 1222º, 1, in fine.
A opção entre a exigência de redução do preço ou de resolução do contrato está no
critério do dono da obra mas não pode ele pedir cumulativamente os vários direitos.
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Nas empreitadas de construção de coisa móvel em que os materiais
foram, ainda que em parte, fornecidos pelo dono da obra, tem este,
cumulativamente com o pedido de resolução, direito a exigir a entrega dos
materiais fornecidos ou de outros do mesmo género, qualidade e quantidade ou,
na falta destes, do seu valor.
Se os materiais foram fornecidos pelo empreiteiro, como a propriedade
da obra para o DO só se transfere com a aceitação - 1212º - que implica o
pagamento do preço - o DO só tem que restituir a obra que volta a ser
propriedade do E e recebe o preço de volta.
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Em especial para as relações contratuais duradouras, justa causa de
resolução para uma só das prestações ou para todo o contrato, e efeitos da
resolução no já cumprido - B. Machado, RLJ 118-271, acima vista.
INDEMNIZAÇÃO - 1223º
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A indemnização pelo interesse positivo dever-se-á cumular com os pedidos de
eliminação dos defeitos, realização de nova obra e redução do preço, com vista a colocar o
comitente na situação em que estaria se o contrato tivesse sido pontualmente cumprido.
Não faria sentido que o interessado resolvesse o contrato e, ao mesmo tempo, o fizesse
valer, pedindo uma indemnização pelos prejuízos derivados do não cumprimento - P. Coelho e
P. Martinez, citados na Col. 95-I-143.
Tem de atender-se à nova redacção dada a este art. 1225º pelo Dec.- Lei nº
267/94, de 25 de Outubro, norma interpretativa, ao menos no acrescentamento
que fez do nº 4 - BMJ 458-315.
No nº 1 alargou-se a responsabilidade do E para com o dono da obra ou
terceiro adquirente e deixou de se exigir que os defeitos sejam graves ou que
exista perigo de ruína. É igual o prazo de cinco anos durante o qual se mantém a
responsabilidade do empreiteiro por prejuízos causados.
A responsabilidade aqui deve entender-se no seu sentido geral, de
obrigação de indemnizar, de reparação de prejuízos (562º) começando pela
reconstituição natural, nos termos dos art. 1221º e ss.
A denúncia deve ser efectuada dentro de um ano a contar da descoberta
dos defeitos e o direito à eliminação dos defeitos ou à indemnização há-de ser
exercido no ano seguinte à denúncia - n.os 2 e 3 - mas nunca para além dos
cinco anos a que se refere o nº 1, contados desde a entrega da obra.
No tocante a imóveis de longa duração, especialmente depois da nova redacção
dada ao art. 1225º pelo Dec-lei nº 267/94, de 25 de Out.º, entendeu o STJ - Ac.
de 8.3.2001 (Noronha Nascimento), na Col. STJ 01-I-159 - que o art. 1225º do CC
concede um direito indemnizatório autónomo, à margem da ordem sequencial
das normas anteriores mas que acresce aos direitos aí previstos. E condenou o
empreiteiro a indemnizar o DO pelos prejuízos por eles sofridos com os defeitos
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provados (falta de dois pilares e de uma viga) ainda que tal falta não pusesse em
perigo a segurança do edifício:
Os arts. 1220º e segs. impõem, segundo parece, uma ordem sequencial dos direitos do
dono da obra que este deve respeitar sob pena de preclusão da tutela dos seus interesses.
Mas isto que será nítido para a empreitada-padrão, já não o será para as empreitadas de
imóveis destinados a longa duração reguladas no art. 1225º (alterado pelo DL nº 267/94).
Aqui, estamos perante casos que se não reconduzem a situações banais mas às quais
subjazem motivações que entroncam em interesses de ordem pública expressos quer em razões
de segurança quer em razões de estabilidade e permanência.
Por isso mesmo, a primeira grande preocupação daquela norma (art. 1 225º) cifra-se
não em alongar os prazos de caducidade do exercício do direito do dono da obra mas sim em
alongar os prazos para a descoberta de vícios, defeitos, erros de execução que, as mais das
vezes ocultos, só se patenteiam anos depois numa obra que, por natureza, deve ser durável e
duradoura.
O art. 1225º remete para as disposições antecedentes “Sem prejuízo do disposto nos
arts. 1219º e segs, assim começa aquela norma.
Esta remissão pode ser interpretada de duas formas diferentes: ou significa que os
direitos conferidos na norma se subordinam à ordem sequencial das normas para as quais
remete (esta foi a leitura das instâncias); ou significa que o dono da obra goza do direito
indemnizatório que a mesma lhe confere, independentemente e para além dos outros direitos
que os arts. 1220º e segs. lhe reconhecem (esta é a nossa leitura).
No primeiro caso, o art. 1225º não atribui verdadeiramente ao dono da obra um direito
novo, limitando-se a ampliar o prazo de denúncia do defeito e o prazo de garantia da emprei-
tada.
No segundo caso, o art. 1225º atribui ao dono da obra um direito indemnizatório como
meio autónomo dos restantes direitos.
O art. 1225º do C. Civil de 1967 foi directamente influenciado pelo art. 1669º do C.
Civil italiano (cfr. Antunes Varela, CC Anotado, e Vaz Serra, B.M.J. 146, págs. 94 a 122).
Se a leitura italiana da norma é esta (cfr., neste particular, Vaz Serra, ob. cit., pág. 108 -
112 e especialmente a citação de Rubino, a págs. 101-102) mais a mais quando a lei civil
italiana parece conhecer um sistema de precedência sequencial similar ao nosso, lógico se
mostra que a interpretação do art. 1225º se faça de modo correspondente.
Subempreiteiro e E - 1226º
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Já vimos que nas relações entre E e SE aquele está para com este na
posição de DO e este para com aquele na de E.
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Havendo vários responsáveis, a responsabilidade é solidária (497º e 507º) na responsa-
bilidade extracontratual e, ainda, na contratual, ao contrário da regra do art. 513º, em face da
indivisibilidade dos danos, por ser impossível individualizar os danos atribuídos a cada
interveniente no processo de construção.
Por Ac. de 15.3.01 (O. Barros), o STJ decidiu que a Brisa, como concessionária das
auto-estradas, nos termos da Base LIII, nº 1, anexa ao Dec-lei nº 315/91, responde por todas as
indemnizações que, nos termos da lei, sejam devidas a terceiros em consequência de qualquer
actividade decorrente da concessão.
Daí que responda pelos danos causados em prédio rústico devidos à incorrecta
execução da drenagem de águas pluviais, aquando da construção de sublanço da auto-estrada,
ainda que a obra tenha sido efectuada por empreiteiro - Col. 01-I-175.
O dono da obra pode desistir da empreitada a todo o tempo, mas tem que
indemnizar o E dos seus gastos (materiais, transportes, etc.,) e trabalho - aqui
incluído o dos seus empregados e subempreiteiros - e do proveito que poderia
tirar da obra completa.
O proveito encontra-se subtraindo ao preço total fixado o custo global da
obra.
A desistência não se pode enquadrar na figura de resolução, porque esta é
vinculada (há que alegar um fundamento) e opera retroactivamente; em contra-
partida, a desistência é discricionária e tem eficácia ex nunc. Mais difícil se
apresenta a distinção relativamente à revogação que também é discricionária e
não retroactiva; porém, a revogação do contrato tem origem bilateral e a
desistência é unilateral. Por ultimo, a denúncia, além de discricionária e não
retroactiva, é também unilateral; mas a denúncia é específica dos contratos de
duração indeterminada e o contrato de empreitada, apesar de dele constarem
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prestações que se podem protelar no tempo, não é, por via de regra, de duração
indeterminada.
Novembro de 2001
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