Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Ioneide Alves de SOUZA1, André Maciel NETTO2, Antonio Celso Dantas ANTONINO3 e Márcio
Alekssander Granzotto KUNTZE4
ABSTRACT
The state of Pernambuco is affected annually by climatic instabilities, especially, in the semi-arid
section, where the rains are irregular and badly distributed in the time and in the space, producing
negative effects, which are perceptible in all the economical activities and in the readiness water.
The present work has as objective analyzes the availability of water, through the rains, in the basin
of the river Una/PE, in the period from 1993 to 2003 and to compare the results with the
agricultural production of the period. The annual medium totals of rain were used of thirty post
pluvial located in the area of the basin, as well as annual data of the temporary cultures of corn and
bean. Larger incidence of dry years was verified, in the Brejo of the Pernambuco (medium course of
the basin), with occurrence of strong drought, with reduction of the rains varying between 29% and
64%; the years of 1993 and 1998 considered extremely dry with reduction superior rains to 50% of
the climatological average reaching the whole area of the basin. In relation to the agricultural
production, the largest losses happened during the years of 1993, 1998, 1999, 2001 and 2003.
RESUMO
INTRODUÇÃO
O estado de Pernambuco possui cerca de 70% do seu território inserido no “polígono das secas”
Região definida a partir da isoieta de 800mm de chuva anual, por ser freqüentemente afetada por
secas severas. No estado de Pernambuco, devido a sua extensão longitudinal, predominam pelo
menos (04) quatro tipos climáticos. No Sertão (setor semi-árido), predomina o clima tropical árido e
semi-árido, onde as chuvas concentram-se, principalmente, nos meses de janeiro/abril e
fevereiro/maio. No Agreste (região de transição entre o Sertão e a Zona da Mata), predomina o
clima tropical semi-árido e sub-úmido, as chuvas concentram-se principalmente nos meses de
março/junho e abril/julho. Na Zona da Mata e Litoral, o clima predominante é o tropical sub-úmido
e úmido, onde o principal período chuvoso ocorre nos meses de março a agosto. Os principais
sistemas meteorológicos responsáveis pelas chuvas no estado são: 1) Zona de Convergência
Intertropical (março a maio), 2) Vórtices Ciclônico em Ar Superior (novembro a fevereiro), 3)
Cavado e Instabilidades de Frentes Frias (praticamente o ano todo), 4) Ondas de Leste (maio a
julho) e 6) Sistemas de Brisa (praticamente o ano todo). O impacto das variações climáticas na vida
econômica e social da população é enorme. Isto se deve, em parte, à grande variação do total das
chuvas de ano para ano, esta variabilidade é maior que 40% em algumas áreas, principalmente, no
interior da Região semi-árida do Nordeste brasileiro com a ocorrência de secas extremas em alguns
anos e enchentes em outros (Kousky, 1980). De modo geral, os impactos ocasionados pela seca são
perceptíveis em todo o estado de Pernambuco, as pesquisas mostram os percentuais de incidência
de secas no Estado onde pode ser agrupado na seguinte ordem: 1) Zona da Mata de 0 a 20%, 2)
Agreste de 21 a 80% e 3) Sertão de 81 a 100% (ATLAS DE PERNAMBUCO, 2003). A bacia do
Una é caracterizada por praticamente dois regimes climáticos, o que contribui para uma
diversificação da paisagem natural ao longo da bacia, com uma variabilidade espacial de solos,
vegetação e regimes hídricos. Esta diversificação da paisagem deve-se ao fato da referida bacia
pertencer a duas regiões fisiográfica (Agreste e Zona da Mata), onde as atividades econômicas
desenvolvidas são variadas e a demanda pela água (que na maior parte da bacia é escassa) torna-se
cada vez mais crescente. Sendo, portanto, de fundamental importância avaliar a disponibilidade
hídrica na área da bacia em função da quantidade de chuva que ocorre anualmente, bem como
comparar a variabilidade interanual das chuvas, nos últimos anos com a produção agrícola.
MATERIAL E MÉTODOS
Para avaliar a variabilidade climática interanual na bacia hidrográfica do rio Una, no período de
1993 a 2003, foram usadas informações de chuvas obtidas através do banco de dados pluviométrico
do Laboratório de Meteorologia, do Instituto de Tecnologia de Pernambuco - LAMEPE/ITEP.
Usou-se os totais médios anuais de chuva dos municípios que fazem parte da bacia (os quais estão
agrupados nas microrregiões do Vale do Ipojuca, Brejo Pernambucano (Agreste pernambucano) e
Mata Meridional (Zona da Mata), no total de 30 postos pluviométricos, bem como a média
climatológica (média obtida através de uma série de dados com no mínimo trinta anos de
informações) dos referidos postos, obtidos através do banco de dados da SUDENE. Na análise dos
totais de chuvas foram consideradas as seguintes categorias: a) ano normal ou regular com variação
pluviométrica de ± 25%, b) seco -25% a -50%, c) extremamente seco superior a - 50%, d) chuvoso
+25% a + 50%, e, e) extremamente chuvoso + 50%. Foram utilizados dados da produção agrícola
do milho e do feijão, obtidos através do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, no
período de 1993 a 2003, nas microrregiões que compõe a bacia hidrográfica do Una.
A bacia hidrográfica do rio Una está localizada no setor leste do Estado de Pernambuco, entre as
coordenadas de 8 17’14’’ e 8 55’28’’ de latitude sul e 35 07’48’’ e 36 42’10’’ de longitude a
oeste de Greenwich abrange as microrregiões do Vale do Ipojuca, Brejo Pernambucano e Mata
Meridional pernambucana (Figura 01).
Figura 01 – Localização geográfica da bacia do rio Una no estado de Pernambuco. (UP5 –Unidade
de Planejamento)
A bacia do Una possui uma área de 6.785,79 km2 sendo 6.292,90 km2 pertencente ao estado de
Pernambuco e os 492,89 km2 restantes pertence ao estado de Alagoas. A área pertencente a
Pernambuco corresponde a 6,32% do total do Estado abrangendo 41 municípios, destes 27
encontram-se com suas sedes localizadas na bacia.
Rede Hidrográfica
O rio Una nasce na serra de Boa Vista no município de Capoeiras, a uma altitude de
aproximadamente 900 metros e percorre uma extensão aproximada de 255 km. A direção é em geral
no sentido oeste-leste, apresentando-se intermitente até aproximadamente a cidade de Altinho, em
seguida, torna-se perene. Os principais afluentes na margem direita são os riachos: Salobro,
Salgadinho, Quatis e Mandioca, e os rios Chata, Piranji e Jacuipe. Na margem esquerda destacam-
se os riachos: Garnes, Gravatá e Exu; e os rios Mentiroso, Maracujá, Carnevô, Preto, Camocim-
Mirim e José da Costa.
Condições climáticas
Solos
Conforme estudos realizados (PERNAMBUCO, 1998), existe na bacia uma grande diversidade
de solos destacando-se dois contextos diferenciados, os quais são:
1) Solos do cristalino - representados pelos Planossolos, Regossolos, Vertissolos e solos
Litólicos, os quais abrange dois terços (2/3) da área da bacia, especialmente no curso
superior onde domina o clima semi-árido e a estação chuvosa é irregular.
2) Solos da faixa sedimentar litorânea – Caracteriza-se pela presença de Podzólico Distrófico,
Latossolos Distróficos e Areias Quartzosas Marinhas onde as chuvas são regularmente
distribuídas e os solos bem desenvolvidos.
Por se tratar de uma bacia que ocupa duas zonas fisiográficas, a porção que fica no Litoral-Zona
da Mata apresenta solos mais desenvolvidos, entretanto, com o relevo movimentado, variando de
ondulados a montanhoso, o que os torna muito susceptíveis à erosão. Nesses solos são cultivadas a
cana-de-açúcar, pastagens e culturas de subsistência.
A porção semi-árida da bacia, localizada no Agreste, caracteriza-se por apresentar solos pouco
desenvolvidos, onde são aproveitados com pastagens e agricultura. Como os solos são poucos
desenvolvidos, possui reduzida capacidade de retenção hídrica favorecendo a seca edáfica.
Cobertura vegetal
RESULTADOS E DISCURSSÃO
De modo geral, observou-se que os últimos anos foram caracterizados por grandes variabilidades
no comportamento das chuvas na bacia hidrográfica do Una. No período de 1993 a 2003 verificou-
se a ocorrência de quatro (4) anos secos (1993, 1998, 1999 e 2003), um (1) chuvoso (2000) e seis
(6) anos normais (1994, 1995, 1996, 1997, 2001 e 2002). No geral, os anos secos estão relacionados
com a ocorrência dos fenômenos El Niño/Oscilação do Sul e ao Dipolo do Atlântico desfavorável, a
exceção é para os anos de 1999 e 2003. Durante o ano de 1999, ocorreu o fenômeno La Niña,
entretanto, o desvio relativo médio anual das chuvas alcançou valores de até 43% abaixo da média
climatológica, isto talvez se explique pelo fato do ano de 1998 ter ocorrido o El Niño mais forte da
década (com anomalias positivas de Temperatura na Superfície do Mar - TSM de até 5C) e a
atmosfera não ter se ajustado ao padrão de “normalidade” no período chuvoso seguinte. No ano de
2003 não houve atuação de fenômenos meteorológicos de grande escala no oceano Pacífico tropical
(El Niño ou La Niña). No oceano Atlântico, as TSMs durante o período chuvoso, principalmente
nos meses de março a julho, mantiveram-se acima da média no Atlântico Sul, mas não foram
suficientes para configurar o Dipolo favorável e, conseqüentemente, incrementar chuvas neste
período, de modo que o total médio anual na bacia foi abaixo da média climatológica, cujo desvio
relativo médio ficou em torno de -40%. Por outro lado, verificou-se também que nos anos
considerados normais houve atuação dos fenômenos El Niño (1994 e 1997) e La Niña (1995-1996)
todos com intensidade fraca. Em relação à produção agrícola, em geral, se observou perdas
significativas, mesmo em ano considerado chuvoso, como foi o caso do ano 2000, que choveu
bastante durante o período de secagem dos grãos (feijão) acarretando prejuízos não por falta de
chuva, mas pelo excesso das mesmas.
As Figuras 02, 03 e 04 mostram respectivamente, o comportamento pluviométrico, nas
microrregiões, do Vale do Ipojuca, Brejo pernambucano e Mata Sul, no período de 1993 a 2003
(Fonte: SUDENE/LAMEPE/ITEP). No Vale do Ipojuca, onde está situada a nascente do rio Una
(município de Capoeiras), a redução pluviométrica registrada nos anos secos (1993, 1998, 1999 e
2003) representou, respectivamente, 63%, 65% , 45% e 36%, do total médio anual climatológico.
Nos demais anos, os valores pluviométricos observados foram próximos a média climatológica, de
modo que foram considerados normais. Ressalta-se que, a distribuição espacial das chuvas neste
setor ocorre, principalmente, no período de março a junho, e muitas vezes concentram-se em
poucos dias, perdendo-se por meio do escoamento superficial, visto que o processo de infiltração da
água no solo é muito lento e a topografia desta microrregião é bastante acidentada, com altitude
superior a 500 metros.
800
700
600
500
Chuva (mm)
400
300
200
100
0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Anos
(Figura 02)
1200
1000
800
Chuva (mm)
600
400
200
0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Anos
(figura 03)
2500
2000
1500
Chuva (mm)
1000
500
0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Anos
(figura 04)
O Brejo Pernambucano faz parte do médio curso do rio Una, esta microrregião foi a mais afetada
em relação à redução das chuvas, pois apresentou maior seqüência de anos com déficit hídrico, ou
seja, o total médio anual observado foi inferior a média anual climatológica. Os anos de 1993 e
1998 foram considerados extremamente secos, com redução pluviométrica respectiva de 63% e
65%. A redução pluviométrica observada durante os anos secos (1995, 1996, 1997, 1999, 2001 e
2003) representou, respectivamente, 45%, 34%, 33%, 37% , 29% e 45%, do total médio anual
climatológico. Os anos de 1994 e 2002 foram considerados normais, cujos desvios relativos foram
de 7% e 6% acima da média histórica. O ano de 2000 foi considerado chuvoso com desvios
relativos de 47% acima da média climatológica. É importante ressaltar que as chuvas ocorridas no
período analisado neste setor foram insuficientes para atender a demanda dos recursos hídricos e da
agricultura, tendo em vista a seqüência de eventos de secas, meteorológica, hidrológica e edáfica.
A microrregião da Mata Meridional faz parte do baixo curso do rio Una, apesar de não estar
localizada na faixa semi-árida, no entanto, apresentou redução das chuvas semelhante as demais
microrregiões analisadas, inclusive sendo afetada por secas extremas, a exemplo das que ocorreram
em 1993 e 1998, cujos desvios relativos foram respectivamente, de –56% e –53%. Em relação aos
anos considerados secos, destacaram-se 1997, 1999 e 2003, com redução pluviométrica de 29%,
47% e 36% respectivamente. Na maioria dos anos avaliados, observou-se grande variabilidade na
distribuição das chuvas, entretanto, esta variabilidade se encaixa dentro do intervalo considerado
normal ( 25%). O ano de 2000 foi considerado chuvoso, inclusive, com registro de enchentes em
vários municípios da microrregião e outros setores do Litoral pernambucano, o acréscimo no total
médio anual foi de 30% em relação ao total médio climatológico. É importante ressaltar que as
chuvas ocorridas em 2000 concentraram-se, principalmente, no final de julho e início de agosto
ocasionando enchentes nos municípios de Palmares, Barreiros dentre outros e, conseqüentemente,
perdas humanas e econômicas (SRH, 2000).
No geral, percebe-se que a variabilidade climática interanual afeta diretamente todas as
microrregiões, sendo mais acentuada no alto e médio curso do rio principal. É importante salientar
que, climatologicamente, as microrregiões do Vale do Ipojuca e Brejo pernambucano fazem parte da
Região do “polígono das secas”, que é delimitada pela presença da isoeita 5 de 800mm anuais,
segundo caracterização da SUDENE. Deste modo, percebe-se que a disponibilidade hídrica para o
consumo animal, humano e atividades econômicas é bastante limitada nestes setores (alto e médio
curso), sendo aconselhável o manejo de culturas de ciclo curto (milho e feijão) ou culturas menos
exigentes, como o sorgo que é tolerante a variabilidade das chuvas.
As Figuras 05 e 06 se referem à produção agrícola das culturas temporárias do feijão e do milho,
comparadas com as chuvas observadas, na área da bacia do Una, no período de 1993 a 2003 (Fonte:
IBGE). A análise dos gráficos indica que os efeitos da oscilação climática interanual são marcantes
nas atividades econômicas, principalmente nas que dependem diretamente das chuvas, no caso a
agricultura de sequeiro. De acordo com os dados de produção e área plantada, a microrregião do
Vale do Ipojuca se destaca em relação às demais microrregiões da bacia, talvez pela presença dos
vales e encostas úmidas que são de suma importância à agricultura, bem como sua área que é maior
em relação às demais. O Brejo pernambucano, talvez devido a sua posição geográfica e a orografia
local apresentou maior seqüência de anos secos (grande variabilidade das chuvas), bem como as
maiores perdas agrícolas. A microrregião da Mata Sul, embora apresente os maiores índices
pluviométricos, entretanto não se destaca na produção dessas culturas, tendo em vista que esta área
é destinada ao plantio da cana de açúcar. As maiores perdas foram observadas, nos anos de 1993,
1998, 1999 e 2003, o que já era de se esperar tendo em vista a redução significativa dos valores
pluviométricos. Por outro lado, é importante salientar a variabilidade temporal das chuvas durante
os anos de 2001 e 2000. O ano de 2001 foi “regular”, do ponto de vista meteorológico, entretanto,
em relação à produtividade, observou-se perdas semelhantes aos anos de secas extremas, o que pode
ser caracterizado como seca edáfica, ou seja, houve déficit hídrico durante as fases fenológica das
culturas, isto se deve à má distribuição espaço-temporal das chuvas, dentro do principal período
chuvoso (figuras 06 e 07). O ano de 2000 foi chuvoso, contudo, houve perdas agrícolas devido ao
excesso de chuva no período da secagem dos grãos, principalmente do feijão (segundo comunicação
oral, técnico do IBGE).
5
Isoieta linha que liga os pontos de igual precipitação, para um dado período (WMO apud DNAEE, 1976).
2500 16000
2000
12000
1500
chuva (mm)
produção (t)
8000
1000
4000
500
0 0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
chuva_V. Ipojuca Anos
chuva_Brejo chuva_Mata Sul
Produção_V. Ipojuca Produção_Brejo Produção_Mata Sul
2500 25000
2000 20000
1500 15000
chuva (mm)
produção (t)
1000 10000
500 5000
0 0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
chuva_V. Ipojuca Anos
chuva_Brejo chuva_Mata Sul
Produção_V. Ipojuca Produção_Brejo Produção_Mata Sul
350
300
250
Precipitação (mm)
200
150
100
50
0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Meses
400
350
300
Precipitação (mm)
250
200
150
100
50
0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Meses
CONCLUSÕES
ARAGÃO, J. O. R., Fatos sobre o fenômeno de El Niño e sua relação com as secas no Nordeste do
Brasil. Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia, 14(1), março, 1990, 2-8.
KOUSKY, V. E., Diurnal Rainfall Variation in Northeast Brazil. Monthly Weather Review, 108,
p.488 – 498, 1980.
PHILANDER, S. G. El Niño, La Niña, and the Southern Oscillation. Ed Academic Press, New
York, 1989, p.8-57.