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Instituto de Tecnologia
Faculdade de Engenharia Elétrica
Fluxo de Carga
em Sistemas de Energia Elétrica
Elaboração:
Prof. Dr. Ubiratan Holanda Bezerra
Belém-PA
2009
Apresentação
A tendência atual é de crescimento constante desses sistemas, tanto pela ampliação das redes
existentes e pela criação de novos circuitos para o suprimento da crescente demanda por energia
elétrica, como também devido às interligações de sistemas elétricos regionais isolados, formando
grandes sistemas interligados a nível nacional e muitas vezes a nível internacional, envolvendo
redes de vários países.
Entre os problemas de interesse nos grandes sistemas de energia elétrica encontra-se o cálculo
do fluxo de carga (ou fluxo de potência), e seu objetivo fundamental consiste em determinar, dentre
outras grandezas de interesse, as tensões nos nós elétricos do sistema, bem como os fluxos de
potências ativa e reativa que fluem pelos elementos da rede elétrica, como transformadores e
linhas, a partir dos parâmetros elétricos do sistema e de certas condições pré-estabelecidas, como as
potências demandadas pelas cargas e os limites físicos dos equipamentos.
A formulação matemática do problema é feita com base nas leis dos circuitos elétricos e nas
condições pré-estabelecidas, de onde surgem equações e inequações algébricas. Embora os estudos
de fluxo de carga não envolvam equações diferenciais, as equações algébricas são em grande
número e, a não ser que se usem aproximações, são não-lineares. Esta característica torna proibitiva
a procura por fórmulas e soluções analíticas.
Utilizam-se, então, técnicas numéricas iterativas, algumas delas (as mais utilizadas) tão
elaboradas e trabalhosas (principalmente quando se trata de sistemas de grande porte, com milhares
2
de barras, o que geralmente é o caso), que exigem laborioso esforço computacional, praticamente
impossível de se resolver sem o auxílio de um computador digital dotado de poderosa e eficiente
programação.
A apresentação divide-se em três partes. A primeira parte faz uma introdução ao problema,
mostrando suas principais aplicações e a sua formulação matemática básica.
A segunda parte mostra os diversos métodos de solução existentes. Maior ênfase será dada ao
algoritmo de Newton-Raphson, que é muito utilizado em pacotes computacionais comerciais para
análise de fluxo de carga.
A terceira parte mostra algumas variações do fluxo carga, como fluxo de carga de
harmônicos, fluxo de carga trifásico, fluxo de carga estocástico e outros. Estas variações se
constituem em estudos com propósitos específicos.
Ao final de cada capítulo, há um resumo do mesmo, onde são explicitadas suas idéias centrais
e as principais conclusões que dele se pode tirar.
3
Índice
4
Capítulo 3 Otimizações e Variações do Fluxo de Carga ................................ pág. 41
3.1 Métodos desacoplados ......................................................................................... pág. 41
Método de Newton desacoplado ......................................................................... pág. 42
Relações entre os métodos desacoplados e a matriz
susceptância de barra: o método desacoplado rápido ........................................ pág. 44
Critério de parada dos métodos desacoplados .............................................. pág. 46
Aspectos computacionais dos métodos desacoplados ....................................... pág. 46
3.2 Fluxo de carga linear ou CC ................................................................................. pág. 47
Linearização do fluxo de carga ............................................................................ pág. 47
Representação das perdas no fluxo de carga CC ............................................... pág. 49
Vantagens, aplicações e limitações do fluxo de carga CC .................................. pág. 41
3.3 Fluxo de carga trifásico ......................................................................................... pág. 52
Motivações para estudos de fluxo de carga trifásicos ......................................... pág. 52
Formulação do fluxo de carga trifásico ................................................................ pág. 53
3.4 Fluxo de carga harmônico .................................................................................... pág. 54
Harmônicos em sistemas de energia elétrica ...................................................... pág. 54
Formulação do fluxo de carga harmônico ............................................................ pág. 55
3.5 Fluxo de carga para sistemas de distribuição ....................................................... pág. 57
3.6 Fluxo de carga estocástico ................................................................................... pág. 58
Processos estocásticos em sistemas de potência ............................................... pág. 58
Aplicação das ferramentas probabilísticas em estudos de fluxo de carga .......... pág. 59
Formulação do fluxo de carga estocástico .......................................................... pág. 60
3.7 Resumo ................................................................................................................. pág. 61
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Capítulo 1
O cálculo do fluxo de carga (ou fluxo de potência) de uma rede de energia elétrica consiste
essencialmente na determinação do estado elétrico da rede, ou seja, valores de tensão nos nós e, a
partir daí, a distribuição dos fluxos de potência nos ramos, dadas certas restrições de geração,
condições de carga e configuração topológica da rede.
Neste tipo de problema, a modelagem do sistema é estática, ou seja, a rede é representada por
um conjunto de equações e inequações algébricas. Esse tipo de representação é utilizada em
situações nas quais as variações com o tempo são suficientemente lentas para que se possa ignorar
os efeitos transitórios. Considera-se, também, que o sistema é equilibrado, ou seja, que os valores de
grandezas elétricas são idênticos para todas as fases (exceto, é claro, pelo defasamento entre as
tensões de cada fase). Isto permite representar o sistema em seu modelo unifilar. Além disso,
assume-se que os elementos passivos do sistema são representados por parâmetros concentrados.
A formulação mais comumente encontrada para o fluxo de carga é feita em termos de
potências ativas e reativas que fluem no sistema. Pode-se também encontrar as equações do fluxo de
carga escritas em função das correntes, em vez das potências, ou ainda formulações mistas de
potências e correntes. Em todos os casos, o resultado obtido para as tensões nas barras do sistema é
o mesmo.
O motivo pelo qual é preferível trabalhar com potências do que com correntes está
relacionado principalmente às características físicas de geração e carga. Para um sistema de energia
elétrica, são geralmente estabelecidas potências ativas e reativas nas barras, não se sabendo de
início valores exatos de tensão em muitas delas. Esta característica intrínseca aos sistemas de
potência pode tornar ineficaz a descrição das condições de cada barra em termos de correntes.
Além desta condição, somam-se outras, algumas das quais fortemente ligadas à tradição em
Engenharia de Sistemas de Potência. A descrição em termos de potência permite ao engenheiro de
sistemas ter uma visão mais sólida da energia em trânsito.
O artifício a ser utilizado para a formulação do problema é, portanto, eliminar a variável
corrente, colocando em seu lugar termos em função de potência, mantendo, todavia, as informações
e a praticidade da matriz de admitâncias nodais.
Pelo fato de a rede de transmissão ser aproximadamente linear, pode-se, à primeira vista,
pensar que o problema do fluxo de carga é linear. Entretanto, como a potência é o produto da tensão
pela corrente, o problema se torna não-linear mesmo para uma rede linear.
6
A presença de fortes não-linearidades na formulação do problema, inseridas pela descrição em
termos de potência, torna difícil encontrar soluções analíticas. Por isso, faz-se uso de técnicas de
cálculo numérico iterativo. Esta estratégia transforma o problema não-linear em um conjunto de
problemas lineares que, resolvidos iterativamente (isto é, fazendo-se a solução de cada um deles ser
o ponto de partida para a solução do próximo), levam à solução do problema não-linear.
A solução exata das equações não-lineares do fluxo de carga só passou a ser comum com o
surgimento dos computadores digitais. Antes, quando os cálculos tinham de ser feitos à mão ou
mesmo pelos analisadores de redes, eram necessárias muitas simplificações, o que tornava
imprecisas as soluções obtidas. A tudo isso deve-se somar o tempo que se levava para efetuar os
cálculos, que se faziam numerosos mesmo para sistemas pequenos.
Os computadores digitais vieram facilitar a solução do problema, mas não resolvê-lo
definitivamente. As características não-lineares do fluxo de carga provocam dificuldades de
convergência ou mesmo divergências em muitas aplicações.
Por isso, apesar de já se dispor de métodos eficientes, a investigação e a pesquisa continuam,
sempre em busca de métodos de solução ainda mais poderosos, rápidos e confiáveis.
8
1.3 FORMULAÇÃO MATEMÁTICA DO PROBLEMA DO FLUXO DE CARGA
É comum encontrar na vasta literatura sobre fluxo de carga diversas formulações diferentes
para o problema. Aqui será apresentada a formulação básica do problema em termos de potências, o
que facilita a utilização do método de solução de Newton-Raphson, o mais difundido em estudos de
fluxo de carga.
Da figura 1.1 fica claro que, para que se atenda ao princípio da conservação da energia,
S Gi = S Ci + S Ti (1.1)
onde:
Já que S = P + jQ (1.2)
9
As variáveis P e Q representam as potências ativa e reativa, respectivamente. Os subscritos
das equações (1.3) têm o mesmo significado dos subscritos da equação (1.1).
Para um sistema com n barras, haverá um conjunto de 2n equações, sendo n equações do tipo
de (1.3a) e n do tipo de (1.3b).
Assim, a priori, haveria um sistema de 2n equações a 6n incógnitas, indeterminado por
natureza. Entretanto, note-se que, na prática, são conhecidas as potências consumidas nas barras de
carga. Este conhecimento prévio se faz necessário para que o problema tenha sentido e, por outro
lado, é o que torna possível resolvê-lo.
Por isso, supondo que já são conhecidas as cargas, sobram para cada barra, quatro variáveis:
potência ativa gerada (PGi), potência reativa gerada (QGi), potência ativa transmitida (PTi) e potência
reativa transmitida (QTi).
Nota-se pela figura 1.2 que a potência transmitida da barra i para a barra k é dada por:
*
S ik = Pik + jQ ik = E i I ik (1.4)
onde E i = V i ∠δi .
Aplicando-se a Lei de Kirchhoff para a barra i, tem-se:
I ik = I S + I P (1.5)
onde: I S = ( E i − E k ) / z ik (1.6)
I P =Ei y (1.7)
Substituindo-se as equações (1.6) e (1.7) na equação (1.5), tem-se:
Ei − Ek
I ik = + Ei y (1.8)
z ik
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Substituindo-se a equação (1.8) na equação (1.4), obtém-se, por fim, a expressão para a
potência transmitida da barra i para a barra k. Esta expressão é dada já separada em parte real
(potência ativa) e parte imaginária (potência reativa) nas equações (1.9) a seguir.
Pik = Vi2gik − ViVk [gik cos δik − bik sen δik] (1.9a)
Qik = − Vi2 (bik + b) − ViVk [gik sen δik − bik cos δik] (1.9b)
Pik = (aVi)2gik − aViVk [gik cos (δik + φ) − bik sen (δik + φ)] (1.10a)
Qik = − (aVi)2 bik − ViVk [gik sen (δik + φ) − bik cos (δik + φ)] (1.10b)
Pik = (aVi)2gik − aViVk [gik cos (δik + φ) − bik sen (δik + φ)] (1.11a)
Qik = − (aVi)2 (bik + b) − ViVk [gik sen (δik + φ) − bik cos (δik + φ)] (1.11b)
As equações (1.11) são as equações gerais para o fluxo de carga entre duas barras genéricas i
e k. Para linhas de transmissão, deve-se fazer a = 1 e φ = 0. Para transformadores em fase, deve-se
fazer b = 0 e φ = 0. Para os transformadores defasadores puros, a = 1 e b = 0. Finalmente, para os
transformadores defasadores, b = 0.
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De posse da expressão para o fluxo de potência entre duas barras adjacentes, pode-se
generalizar para o caso de várias barras ligadas a barra i.
n
PTi = ∑ Pik (1.12a)
k =1
k ≠i
n
QTi = ∑ Qik (1.12b)
k =1
k ≠i
Com isto, obtém-se a potência total transmitida da barra i, em função dos valores de tensão
nas barras e dos parâmetros de admitância dos ramos de ligação.
Note-se que o problema ainda possui as quatro incógnitas listadas anteriormente, mas que,
agora, as potências transmitidas estão escritas em função das tensões de barra E i = V i ∠δi.
Ι = [Y] E (1.13)
E = vetor coluna (n x 1) das tensões nas barras, cujo elemento geral é E i = V i ∠δi .
n
Bii = ∑ bik (1.15b)
k =1
12
Comparando as equações (1.15) com as equações (1.12), observa-se que é possível uma
formulação para a potência transmitida em função dos elementos da matriz [Y ] .
As equações resultantes são mostradas abaixo:
n
PTi = Vi ∑ Vk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) (1.16a)
k =1
n
QTi = Vi ∑ Vk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) (1.16b)
k =1
n
QGi − QCi − Vi ∑ Vk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) =0 (1.17b)
k =1
Conforme será visto mais adiante, a formulação em termos dos elementos da matriz de
admitâncias nodais traz muitas vantagens para a solução do fluxo de carga.
13
QG total = QC total + perdas (1.18b)
Essa barra é denominada barra de balanço (alguns autores utilizam o termo barra oscilante
ou mesmo a denominação original em inglês, swing bus). Nela são especificadas V e δ.
Note-se que, como δ é especificado na barra de balanço, esta barra cumpre uma segunda
função, a de referência angular do sistema, também sendo, às vezes, chamada de barra de
referência. É importante notar nas equações (1.17) que os fluxos de potência não dependem
dos valores absolutos dos ângulos das tensões nas barras, mas sim da diferença entre os
ângulos; esta característica é de grande importância, pois torna o problema indeterminado na
variável δ, deixando livre a escolha de uma referência angular (geralmente, δ = 0o), o que
facilita bastante a resolução do problema.
A tabela 1.1 resume as especificações de variáveis para os três tipos de barras citados.
Variáveis especificadas
Tipo de Barra
P Q V δ
PV X X
PQ X X
Barra de
X X
Referência
Estes três tipos de barras são os mais freqüentes e também os mais importantes. Entretanto,
existem algumas situações particulares, como, por exemplo, o controle de intercâmbio de uma área
e o controle da magnitude da tensão de uma barra remota, nas quais aparecem outros tipos de
barras, como PQV, P e V.
Conforme será possível perceber mais adiante, a determinação dos tipos de barra, além de
tornar determinado o problema do fluxo de carga, provoca a diminuição do número de equações a
serem resolvidas iterativamente.
Isto ocorre porque o objetivo fundamental dos estudos de fluxo de carga é a determinação da
tensões E i = Vi∠δi em todas as barras. Assim, se já são fornecidos valores de Vi e δi para algumas
barras logo de início, o esforço de cálculo diminui.
A tarefa de determinar Vi e δi é o que consome grande esforço computacional, uma vez que a
tensão numa barra depende das tensões em todas as outras barras. A determinação da geração em
cada barra e dos fluxos de potência ativa e reativa nos ramos pode ser feita por simples balanço de
potência, o que significa não mais do que simples adições.
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O número de equações do problema cai de 2n para 2nPQ + nPV , em que nPQ é o número de
barras PQ e nPV é o número de barras PV. Para cada problema de fluxo de carga existe uma única
barra de referência.
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pu, valor muito abaixo do mínimo estabelecido. A atitude comumente adotada nesta situação é
mudar a tipificação da barra.
Deste modo, a barra em questão passaria a ser do tipo PV, sendo para ela estabelecido V = 1
pu. A solução de um outro fluxo de carga para esta nova condição daria origem a um novo valor de
Q para a barra em questão, a partir do qual seria possível, por exemplo, saber o valor da potência
nominal de um banco de capacitores a ser ligado à barra ou a posição do tap de um transformador
para que se atinja o valor de tensão desejado.
1.4 RESUMO
O fluxo de carga se constitui num problema básico de sistemas elétricos de potência. Consiste
na determinação das tensões nas barras do sistema, bem como os fluxos de potência nos diversos
ramos de ligação entre as barras, a partir de certas condições pré-estabelecidas de carga e da rede.
As grandes aplicações dos estudos de fluxo de carga estão no projeto e no planejamento da
operação e expansão dos sistemas de energia elétrica. Outras áreas de estudo dos sistemas de
potência, como os estudos de otimização, estudos de estabilidades, etc., também encontram no fluxo
de carga uma preciosa ferramenta.
A formulação básica do problema consiste em expressões que relacionam as tensões
(magnitudes e ângulos) com as potências (ativa e reativa), utilizando informações dos parâmetros
físicos do sistema fornecidos pela matriz de admitâncias nodais. As equações básicas do fluxo de
carga em termos de potência, tendo em vista o método de Newton-Raphson, são:
n
PGi − PCi − Vi ∑ Vk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) = 0
k =1
n
QGi − QCi − Vi ∑ Vk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) =0
k =1
Para associar à formulação matemática pura os limites físicos do sistema, aplicam-se também
as desigualdades:
Vi mín ≤ Vi ≤ Vi máx
Pi mín ≤ Pi ≤ Pi máx
Qi mín ≤ Qi ≤ Qi máx
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A solução das equações não-lineares não poderá ser obtida de forma analítica, a não ser que se
façam aproximações. Para o resolver o problema completo, portanto, são necessárias técnicas de
cálculo iterativo, algumas das quais serão vistas no próximo capítulo.
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Capítulo 2
Vista a formulação básica do problema do fluxo de carga, resumidas nas equações (1.17) e
inequações (1.19), cabe agora desenvolver ferramentas que possibilitem resolver o problema.
Estas ferramentas, de forma geral, resumem-se à associação de técnicas de cálculo numérico
com programação de computadores digitais. Assim, estabelecidas as equações, deve-se:
1) criar um algoritmo iterativo para resolvê-las e
2) executar o algoritmo em forma de rotina computacional.
Portanto, o desenvolvimento de ferramentas para solução do fluxo de carga tende a constituir-
se num grande desafio, uma vez que algoritmos eficientes, que levem a soluções exatas, podem
consumir excessivo esforço computacional; já os algoritmos simplificados, que exigem pouco da
máquina, podem produzir soluções pouco confiáveis.
x2 − 2x − ln (x) = 0 (2.1)
Esta equação pode ser escrita na forma:
1 2
x= [x − ln (x)] (2.2)
2
a qual permite que se proponha um processo iterativo:
1 (k) 2
x(k+1) = [(x ) − ln (x(k))] (2.3)
2
18
onde os sobrescritos (k+1) e (k) se referem a iterações consecutivas. A partir da estimativa de x na
iteração (k), obtém-se o novo valor de x por meio da equação (2.3). Procede-se assim até que a
diferença ⎪ x(k+1) − x(k) ⎪ seja menor que uma tolerância pré-estabelecida.
A tabela 2.1 ilustra a aplicação do algoritmo de Gauss na obtenção da resposta da equação
(2.1). O resultado correto, com precisão superior a 10−5, é 0,48140.
1 (k) 2
Iteração x(k) [(x ) − ln (x(k))]
2
1 2,0 1,6543
2 1,6543 1,11548
3 1,11548 0,56751
… … …
21 0,48140 0,48140
0.5[x2 + ln (x)]
Fig. 2.1 ilustração do processo de
convergência do método de Gauss.
O método de Gauss pode ser estendido para um sistema de n equações lineares ou não. Assim,
seja o sistema de equações:
F1 ( x1, x2 ,..., xn ) = 0
F2 ( x1 , x2 ,..., xn ) = 0
(2.4)
...
Fn ( x1 , x2 ,..., xn ) = 0
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As equações (2.4) podem ser expressas na forma:
x1(k+1) = φ1 (x1(k) ,x2(k) ,..., xn(k))
x2(k+1) = φ2 (x1(k) ,x2(k) ,..., xn(k)) (2.5)
...
xn(k+1) = φn (x1(k) ,x2(k) ,..., xn(k))
As equações (2.5) podem ser resolvidas pelo processo iterativo até que todos os
( k +1) (k )
∆xi = ⎥ x i − xi ⎢ sejam menores que uma determinada tolerância.
I = [Y] E (2.6)
⎡ ⎤
1 ⎢ n
⎥
Ei = I i − ∑ Y ik E k ⎥ (2.8)
Y ii ⎢
⎢ k =1 ⎥
⎣ k ≠i ⎦
*
Da relação S i = Pi + jQ i = E i I i , obtém-se:
Pi − jQi
Ii = *
(2.9)
Ei
⎡ ⎤
1 ⎢ Pi − jQi n
⎥
Ei = ⎢ *
− ∑ Y ik E k ⎥ (2.10)
Y ii
⎢ Ei k =1 ⎥
⎣ k ≠i ⎦
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Para que a expressão (2.10) torne-se iterativa, pode-se escrevê-la como:
⎡ ⎤
( k +1) 1 ⎢ Pi − jQi n
(k ) ⎥
Ei = − ∑ Y ik E k ⎥ (2.11)
Y ii ⎢⎢ E *i ( k ) k =1 ⎥
⎣ k ≠i ⎦
- Barra de referência:
- Barras PQ:
Nas barras tipo PQ, E é desconhecido. As grandezas especificadas são as potências ativa e
reativa gerada. Portanto, é valida a seguinte relação:
Pi esp − jQiesp
Ii = *
(2.12)
Ei
esp
onde: Pi = PGi − PCi
esp
Qi = QGi − QCi
⎡ esp ⎤
1 ⎢ Pi − jQi
esp
(k ) ⎥
n
( k +1)
Ei = − ∑ Y ik E k ⎥ (2.13)
Y ii ⎢⎢ *( k )
Ei k =1 ⎥
⎣ k ≠i ⎦
- Barras PV:
Para as barras do tipo PV, o módulo da tensão é especificado e somente o ângulo de fase é
desconhecido. Do mesmo modo, apenas a potência ativa gerada é especificada, devendo a potência
reativa gerada ser calculada.
Inicialmente, estima-se a potência reativa líquida injetada na barra i, dada por:
*
Q icalc = Im [ E i I i ] (2.14a)
*
ou ainda Q icalc = −Im [ E i I i ] (2.14b)
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Da substituição da equação (2.7) na equação (2.14b), pode-se escrever:
⎡ *( k ) n (k ) ⎤
Qicalc ( k +1) = −Im ⎢ E i ∑ Y ik E k ⎥ (2.15)
⎣ k =1 ⎦
⎡ esp ⎤
1 ⎢ Pi − jQi
calc ( k )
(k ) ⎥
n
( k +1)
Ei = − ∑ Y ik E k ⎥ (2.16)
Y ii ⎢⎢ *( k )
Ei k =1 ⎥
⎣ k ≠i ⎦
Observe-se que o valor de E i = Vi∠δi calculado em cada iteração de (2.16) não satisfará,
esp
necessariamente, a restrição ⎥ E i ⎢ = V i para a barra PV. Por isso, a cada iteração, racionaliza-se
esp
o valor de E i calculado, de tal forma que se mantenha ⎥ E i ⎢ = V i sem que se altere o valor de δi
calculado.
Método de Gauss-Siedel
No método de Gauss, em cada iteração, os valores de tensão que aparecem no lado direito das
equações (2.13), (2.15) e (2.16) são valores da iteração anterior. Os valores de tensão só são
atualizados ao final de cada iteração, ocorrendo o que se chama de substituição simultânea.
No método de Gauss-Siedel, utiliza-se a substituição sucessiva, ou seja, assim que uma valor
de tensão é calculado, ele substitui o da iteração anterior.
As equações (2.13), (2.15) e (2.16), do método de Gauss, quando adaptadas ao método de
Gauss-Siedel, tomam a seguinte forma, respectivamente:
1 ⎡ Pi − jQi i −1
(k ) ⎤
esp esp n
( k +1) ( k +1)
Ei = ⎢
Y ii ⎢⎣ *( k )
− ∑ Y ik E k − ∑ Y ik E k ⎥ (2.17)
Ei k =1 k =i +1 ⎥⎦
⎡ *( k ) i −1 ( k +1)
n
(k ) ⎤
Qicalc ( k +1) = −Im ⎢ E i ∑ Y ik E k + E i ∑ Y ik E k ⎥
*( k )
(2.18)
⎣ k =1 i +1 ⎦
1 ⎡ Pi − jQi i −1
(k ) ⎤
esp calc ( k ) n
( k +1) ( k +1)
Ei = ⎢
Y ii ⎣⎢ *( k )
− ∑ Y ik E k − ∑ Y ik E k ⎥ (2.19)
Ei k =1 k =i +1 ⎦⎥
onde ε é a tolerância.
Critérios de parada como o da inequação (2.20) têm a vantagem de serem de simples
programação, mas não dão certeza quanto à real proximidade de uma solução. Isto de deve ao fato
de que o fluxo de potência reativa numa linha é fortemente dependente da diferença entre as
magnitudes das tensões nodais das barras nos extremos da linha. O mesmo raciocínio se aplica à
potência ativa, mas relacionado à diferença entre os ângulos de fase, e não às magnitudes. Com isso,
vê-se que mesmo pequenos desvios em V e δ podem causar erros consideráveis no cálculo dos
fluxos, provocando conseqüências inaceitáveis.
Um outro critério de parada, este muito aplicado em todos os métodos iterativos para
determinação do fluxo de carga, consiste na minimização dos erros (mismatches) de balanço de
potência em cada barra. Como se sabe, para cada barra, é válida a relação:
S Gi − S Ci − S Ti = 0 (2.21)
Por ser o cálculo do fluxo de carga iterativo, dificilmente a identidade (2.21) será alcançada
com erro nulo. Assim, definindo-se o resíduo no balanço de potência da barra i, S i , como:
∆ S i = S Gi − S Ci − S Ti (2.22)
máx ( ∆ S i ) ≤ ε (2.23)
onde ε é uma tolerância, que assume valores típicos da ordem de 10−4 a 10−2 pu.
23
Outro modo de expressar o critério de (2.23) é em função das partes real e imaginária, como:
A grande vantagem do critério de parada pelo resíduo no balanço de potência está na relação
existente entre o erro na potência e a proximidade de uma solução. Se os erros nos balanços de
potência em cada barra são minimizados, haverá também menores erros nos cálculos dos fluxos de
potência no sistema.
Outros critérios de parada que podem ser utilizados junto com o do resíduo no balanço de
potência são:
- número máximo de iterações que se deseja realizar: às vezes, o processo divergiu ou demora
muito para convergir; neste caso, o processo é truncado num número máximo de iterações.
- valor máximo permitido para uma grandeza: se alguma tensão (módulo e/ou ângulo) atingir
valores maiores que alguns limites preestabelecidos, é sinal de que o processo poder ter divergido;
neste caso, o processo é interrompido.
Note-se que estes critério podem ser utilizados juntos, prevalecendo o que ocorrer primeiro.
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Fatores de aceleração da convergência
Os métodos de Gauss e Gauss-Siedel costumam apresentar convergência lenta e, portanto, há
vantagem em se utilizar fatores de aceleração no processo de convergência.
Sabe-se que, a cada iteração, as tensões são atualizadas para novos valores. Assumindo que
( k +1)
∆E i seja a correção aplicada à tensão em cada iteração, tem-se:
( k +1) ( k +1) (k )
∆E i = Ei −E i (2.25)
de forma que se pode escrever o processo iterativo de atualização do valor da tensão como
(k +1) (k ) ( k +1)
Ei = E i + ∆E i (2.26)
Se for desejado acelerar (ou desacelerar) o passo de atualização, pode-se empregar um fator
de aceleração α.
(k +1) (k ) ( k +1)
Ei = E i + α ∆E i (2.27)
O método da matriz [Z] , também chamado método direto, apresenta alta confiabilidade na
convergência devido ao alto acoplamento matemático entre os nós do sistema (ao contrário de [Y ] ,
a matriz [Z] não é esparsa).
25
2.2 Método de Newton-Raphson
1 df 1 d 2f
f (x) = f (x(k)) + (x − x(k)) + (x − x(k))2 + … (2.30)
1! dx x =x (k ) 2! dx 2 (k )
x =x
df
f (x) ≅ f (x(k)) + (x − x(k)) (2.31)
dx x =x (k )
f (x ( k ) )
x − x (k) ≅ − (2.32)
df
dx x = x ( k )
Observe-se que o valor x não é raiz de f (x) = 0 devido ao erro introduzido ao serem
desprezados os termos de ordem maior; no entanto, x geralmente representa uma estimativa mais
próxima do valor da raiz do que representava x(k). Assim, pode-se definir
f (x ( k ) )
∆x = −
(k)
(2.32)
df
dx x = x ( k )
e utilizar ∆x para obter uma estimativa melhor da raiz por meio da relação
26
A fim de comparar este método com o de Gauss, pode-se aplicá-lo ao mesmo problema.
Assim, tem-se:
f (x ( k ) ) f (x ' ( k ) )
x(k+1) = x (k) − x' (k+1) = x' (k) −
Iteração x(k) df x' (k) df
dx x = x ( k ) dx x = x '( k )
A figura 2.3 ilustra o processo de convergência do método para dois valores iniciais
diferentes, x(0) e x' (0).
f (x) = x2 − 2x − ln (x)
Se x(k) estiver próximo de um ponto de máximo ou de mínimo (derivada quase nula), ∆x pode
ficar muito grande, deslocando x(k+1) para longe da solução e aumentando o número de iterações
para que se volte à região da solução. A figura 2.4 ilustra a sensibilidade do método à escolha do
valor inicial.
f (x)
⎧ F1 ( x1 , x 2 ,..., x n ) = 0
⎪ F ( x , x ,..., x ) = 0
⎪ 2 1 2 n
⎨ (2.36)
⎪...
⎪⎩ Fn ( x1 , x 2 ,..., x n ) = 0
As funções F1, F2, ..., Fn das variáveis x1, x2, ..., xn podem ser expandidas individualmente em
série de Taylor em torno de um ponto x(k) = (x1(k), x2(k), ..., xn(k)), resultando em um sistema de n
séries de Taylor. Cada expansão em série de Taylor representa a expansão de uma das funções Fi(x)
em torno de x(k).
Mais uma vez, assim como se fez no caso unidimensional, desprezando os termos de ordem
maior, surge um sistema de n séries de Taylor truncadas no termo de primeira ordem.
28
O sistema resultante pode ser expresso em forma matricial, na forma:
D = − [J] ∆x (2.37)
onde:
⎡ F1 ( x ( k ) ) ⎤
⎢ ⎥
⎢ F2 ( x ) ⎥
(k )
D= ⎢ ⎥
⎢ M ⎥
⎢ Fn ( x ( k ) )⎥
⎣ ⎦
⎡∆x1 ⎤
⎢∆x ⎥
∆x = ⎢ 2 ⎥ ; ∆xi = xi – xi(k)
⎢ M ⎥
⎢ ⎥
⎣∆x n ⎦
O processo iterativo se inicia a partir de uma solução estimada x(k) = (x1(k), x2(k), ..., xn(k)), que
permite o cálculo da matriz [J] e do vetor D. A seguir, calcula-se o vetor ∆x através de:
∆x = − [J]−1 D (2.38)
A seguir, calcula-se o novo vetor D, a nova matriz [J] e recalcula-se o vetor ∆x. Prossegue-se
iterando até que o vetor D apresente todas as suas coordenadas inferiores a uma tolerância
preestabelecida. Assim, o método iterativo de Newton-Raphson fica descrito na equação abaixo:
29
Solução do fluxo de carga pelo método de Newton-Raphson
Para a solução do fluxo de carga de método de Newton-Raphson, serão utilizadas as equações
(1.17), repetidas aqui por conveniência.
n
PGi − PCi − Vi ∑ Vk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) = 0 (2.41a)
k =1
n
QGi − QCi − Vi ∑ Vk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) =0 (2.41b)
k =1
para as barras PQ. Observe-se que há, então, 2nPQ + nPV equações a serem resolvidas. Para tanto,
utilizar-se-á o método de Newton-Raphson.
Para melhor entendimento da aplicação do método ao problema específico, pode-se rescrever
as equações (2.43) como
onde os subscritos k indicam que as funções Pi e Qi dependem das tensões em todas as barras do
sistema, não só da barra i.
30
Pode-se escrever ∆Pi e ∆Qi em forma vetorial, como
⎡∆P ⎤
D=⎢ ⎥ (2.46)
⎣∆Q⎦
Definindo-se o vetor x das incógnitas como
⎡δ 2 ⎤
⎢δ ⎥
⎢ 3 ⎥
⎢ M ⎥
⎢ ⎥
⎢δ nPV + nPQ ⎥ ⎡δ ⎤
x=⎢ ⎥ = ⎢V ⎥ (2.47)
⎢V 2 ⎥ ⎣ ⎦
⎢V3 ⎥
⎢ ⎥
⎢ M ⎥
⎢Vn ⎥
⎣ PQ ⎦
(na suposição de que a barra 1 é a barra de referência), pode-se empregar o método iterativo de
Newton-Raphson, resultando em
( k +1) (k ) (k )
⎡δ ⎤ ⎡δ ⎤ ⎡∆δ ⎤
⎢V ⎥ =⎢ ⎥ +⎢ ⎥ (2.48)
⎣ ⎦ ⎣V ⎦ ⎣∆V ⎦
onde:
(k ) (k )
⎡∆δ ⎤ −1 ⎡∆P⎤
⎢∆V ⎥ = −[J ' (k )
] ⎢ ⎥ (2.49)
⎣ ⎦ ⎣∆Q ⎦
e, portanto, tem-se:
( k +1) (k ) (k )
⎡δ ⎤ ⎡δ ⎤ ( k ) −1 ⎡∆P
⎤
⎢V ⎥ =⎢ ⎥ − [J ' ] ⎢ ⎥ (2.50)
⎣ ⎦ ⎣V ⎦ ⎣∆Q ⎦
31
A matriz [J’(k)] é a matriz jacobiana das equações (2.44), calculada em cada iteração.
Explicitamente, tem-se:
⎡ ⎡ ∂∆P ⎤ ⎡ ∂∆P ⎤ ⎤
⎢ ⎢ ∂δ ⎥ ⎢ ∂V ⎥ ⎥
J' = ⎢ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦⎥ (2.51)
⎢ ⎡ ∂∆Q ⎤ ⎡ ∂∆Q ⎤⎥
⎢⎣ ⎢⎣ ∂δ ⎥⎦ ⎢⎣ ∂V ⎥⎦ ⎥⎦
⎡ ⎡ ∂P ⎤ ⎡ ∂P ⎤ ⎤
⎢ ⎢ ∂δ ⎥ ⎢ ∂V ⎥ ⎥
J' = ⎢ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎥ (2.52)
⎢ ⎡ ∂Q ⎤ ⎡ ∂Q ⎤ ⎥
⎢⎣ ⎢⎣ ∂δ ⎥⎦ ⎢⎣ ∂V ⎥⎦ ⎥⎦
⎡ ⎡ ∂P ⎤ ⎡ ∂P ⎤ ⎤
⎢ ⎢ ∂δ ⎥ ⎢V ∂V ⎥ ⎥ ⎡[J 1 ] [J 2 ]⎤
J = ⎢⎣ ⎦ ⎣ ⎦⎥ =
⎤ ⎥ ⎢⎣[J 3 ] [J 4 ]⎥⎦
(2.54)
⎢ ⎡ ∂Q ⎤ ⎡ ∂Q
V
⎢⎣ ⎢⎣ ∂δ ⎥⎦ ⎢⎣ ∂V ⎥⎦ ⎥⎦
O motivo pelo qual se torna menos trabalhoso obter [J] com a notação alternativa ficará
evidente agora. Observe-se pela equação (2.50) que a matriz jacobiana é composta de quatro sub-
matrizes, a saber:
⎡ ∂P ⎤
(1) Submatriz [J 1 ] = ⎢ ⎥
⎣ ∂δ ⎦
∂Pi ∂ ∂P
J 1 (i, k ) = = [ PGi − PCi − PTi ] = − Ti = −ViVk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) (2.55)
∂δ k ∂δ k ∂δ k
∂Pi ∂ ∂P n
J 1 (i, i ) = = [ PGi − PCi − PTi ] = − Ti = −Vi ∑ Vk (−Gik sen δ ik + Bik cos δ ik ) (2.56a)
∂δ i ∂δ i ∂δ i k =1
k ≠i
32
n
J 1 (i, i ) = Vi ∑ Vk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) + Vi 2 Bii (2.56b)
k =1
⎡ ∂P ⎤
(2) Submatriz [J 2 ] = ⎢V ⎥
⎣ ∂V ⎦
∂Pi ∂ ∂P
J 2 (i, k ) = Vk = Vk [ PGi − PCi − PTi ] = −Vk Ti = −ViVk (Gik cos δ ik − Bik sen δ ik ) (2.57)
∂Vk ∂Vk ∂Vk
∂Pi ∂ ∂P
J 2 (i, i ) = Vi = Vi [ PGi − PCi − PTi ] = −Vi Ti (2.58a)
∂Vi ∂Vi ∂Vi
n
J 2 (i, i ) = −Vi ∑ V k (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) − Vi 2 Gii (2.58b)
k =1
⎡ ∂Q ⎤
(3) Submatriz [J 3 ] = ⎢ ⎥
⎣ ∂δ ⎦
∂Qi ∂ ∂Q
J 3 (i, k ) = = [QGi − QCi − QTi ] = − Ti = ViVk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) (2.59)
∂δ k ∂δ k ∂δ k
∂Qi ∂ ∂Q n
J 3 (i, i ) = = [QGi − QCi − QTi ] = − Ti = −Vi ∑ Vk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) (2.60a)
∂δ i ∂δ i ∂δ i k =1
k ≠i
n
J 3 (i, i ) = −Vi ∑ Vk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) + Vi 2 Gii (2.60b)
k =1
⎡ ∂Q ⎤
(4) Submatriz [J 2 ] = ⎢V ⎥
⎣ ∂V ⎦
∂Qi ∂ ∂QTi
J 4 (i, k ) = Vk = Vk [QGi − QCi − QTi ] = −V k = −ViVk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) (2.61)
∂Vk ∂Vk ∂Vk
∂Qi ∂ ∂QTi
J 4 (i, i ) = Vi = Vi [QGi − QCi − QTi ] = −Vi (2.62a)
∂Vi ∂Vi ∂Vi
33
n
J 4 (i, i ) = −Vi ∑ V k (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) + Vi 2 Bii (2.62b)
k =1
Concluído o cálculo dos elementos da matriz jacobiana, pode-se perceber a obtenção de uma
simplificação muito importante:
J1 (i, k) = J4 (i, k) (2.63a)
Esta última parte da solução consiste em resolver nPV + 2 equações nas quais todas as
incógnitas aparecem de forma explícita, o que torna trivial o processo de resolução.
máx ( ∆ S i ) ≤ ε (2.65)
onde ε é uma tolerância, que assume valores típicos da ordem de 10−4 a 10−2 pu.
35
de esparsidade da matriz [J], os gastos em memória são proporcionais a n (n = número de barras do
sistema), sendo geralmente bem maiores que os de Gauss-Siedel.
onde 0,7 ≤ α ≤ 1,4. A utilização de α < 1 desacelera a convergência e costuma ser feita em estudos
com grandes cargas ativas e/ou reativas.
36
⎡0 0 1 0⎤ VAL IL IC
⎢3 1 0 0⎥⎥ 1 1 3
A=⎢ seria armazenada como 3 2 1
⎢0 0 3 0⎥
⎢ ⎥ 1 2 2
⎣0 0 0 0⎦ 3 3 3
x = A−1 B (2.68)
Este problema é análogo ao freqüentemente encontrado para sistemas de potência
Ι = [Y] E (2.69)
D = − [J] ∆x (2.70)
Observe-se que para n ≈ 10.000, realidade comum para muitos sistemas de energia
interligados, o número de operações aritméticas necessárias para a obtenção da inversa A−1 é
excessiva mesmo para um computador.
Suponha-se então que a matriz A seja fatorada em duas matrizes:
A = LU (2.71)
onde L é a matriz triangular inferior e U é a matriz triangular superior. Então:
LU x = B (2.72)
Criando uma nova variável w = U x, tem-se:
Lw=B (2.73)
A equação (2.73) pode ser resolvida de forma trivial, já que L tem uma forma especial:
37
⎡ l 11 0 0 K⎤
⎢l l 22 0 ⎥
⎢ 21 ⎥w= B (2.74)
⎢l 31 l 32 l 33 ⎥
⎢ ⎥
⎣ L ⎦
Assim, de imediato:
B1
w1 = (2.75)
l 11
l 21 w1 + l 22 w2 = B2 (2.76)
B2 − l 21 w1
Logo: w2 = (2.77)
l 22
Como w1 é conhecido de (2.75), w2 pode ser calculado. Este processo continua até que todos
os wi tenham sido determinados. A fórmula recursiva geral para o cálculo de w é:
r −1
Br − ∑ l rq wq
q =1
wr = (2.78)
l rr
wn −1 − u n −1 n x n
x n −1 = (2.81)
u n −1 n −1
Este processo de substituição de trás para frente é repetido até que todos os xi sejam
encontrados. A fórmula recursiva geral para calcular x é:
n
wr − ∑ u rq wq
q = r +1
xr = (2.82)
u rr
38
Como se vê, através da fatoração triangular da matriz A e substituição de trás para frente com
os elementos das matrizes resultantes L e U, a solução de A x = B é encontrada sem necessidade de
calcular a inversa de A.
O processo de fatoração de A em L e U pode ser feito da várias maneiras. Uma das mais
simples é a partir da suposição de que L tem a diagonal principal unitária, ou seja:
⎡ 1 0 0 L⎤
⎢l 1 0 ⎥
L = ⎢ 21 ⎥ (2.83)
⎢l 31 l 32 1 ⎥
⎢ ⎥
⎣ L ⎦
A matriz U continua como foi apresentada:
l 21u11 = A21
l 21u12 + u 22 = A22
l 21u13 + u 23 = A23
M
e assim por diante. Destas equações extrai-se:
A21
l 21 =
u11
u 22 = A22 − l 21u12
u 23 = A23 − l 21u13
M
39
A generalização para a expansão da linha r de A é:
c −1
Arc − ∑ l rq u qc
q =1
l rc = ; c = 1, 2, K , r − 1 (2.87a)
u cc
r −1
u rc = Arc − ∑ l rq u qc ; c = r , r + 1, K , n (2.87b)
q =1
As matrizes triangulares inferior e superior não mantém o mesmo grau de esparsidade que a
matriz original [ Y ]. A diferença é que, em L, aparecem alguns novos elementos em posições que
estavam originalmente vagas. Considerando que o número de operações e as necessidades de
armazenamento dependem basicamente do número d elementos não-nulos das matriz L e U, é
desejável que o aparecimento de novos elementos seja minimizado. Isto pode ser conseguido por
meio do que se chama ordenação ótima.
A ordenação ótima consiste em renumerar os nós da rede, visando uma ordem mais favorável
para as substituições. A fatoração triangular da matriz jacobiana já representa por si só um processo
de ordenação dos nós, mas não se constitui em ordenação ótima, pois apenas ordena segundo a
numeração já existente.
A idéia básica dos métodos mais usuais de renumeração consiste em se eliminar primeiro os
nós que tenham o menor número de ligações. Algoritmos mais avançados podem ser utilizados na
ordenação, como a redução dos circuitos por meio da eliminação de Gauss para posterior
eliminação pelo critério do menor número de ligações.
2.3 Resumo
Neste capítulo foram estudados os principais métodos de solução do fluxo de carga. Viu-se
que, por se tratar de um problema fortemente não-linear e com muitas variáveis, é necessário o
emprego de técnicas numéricas iterativas para resolução.
A primeira técnica vista foi a de Gauss, que consiste em manipular algebricamente as funções
matemáticas que descrevem o problema, fazendo surgir equações recursivas que podem ser
resolvidas iterativamente a partir de uma estimativa inicial. O método de Gauss-Siedel é uma
variação do método de Gauss que permite melhor convergência, pois utiliza valores atualizados das
variáveis já calculadas para atualização das demais. A equação básica do método de Gauss-Siedel
para o fluxo de carga é:
1 ⎡ Pi − jQi i −1
(k ) ⎤
esp esp n
( k +1) ( k +1)
Ei = ⎢
Y ii ⎢⎣ *( k )
− ∑ Y ik E k − ∑ Y ik E k ⎥
Ei k =1 k =i +1 ⎥⎦
40
O método de Gauss-Siedel é de simples implementação e consome recursos modestos da
máquina. Entretanto, possui fraca característica de convergência, principalmente para sistemas
muito grandes e complexos.
O método de Newton-Raphson consiste em expandir as funções matemáticas que descrevem o
problema em série de Taylor, em torno de uma estimativa inicial, e truncar a série no termo de
primeira ordem, utilizando a informação da derivada da função no processo iterativo. A expressão
básica do método de Newton-Raphson aplicado ao fluxo de carga é:
( k +1) (k ) (k )
⎡δ ⎤ ⎡δ ⎤ ( k ) −1 ⎡∆P ⎤
⎢V ⎥ =⎢ ⎥ − [J ] ⎢ ⎥
⎣ ⎦ ⎣V ⎦ ⎣∆Q ⎦
O método apresenta convergência quadrática próximo da solução e é bastante robusto, sendo
praticamente insensível, em matéria de convergência, à dimensão e complexidade do sistema.
Entretanto, exige muitos recursos computacionais, tanto em gastos com memória, como em tempo
de computação e sofisticação das técnicas de programação necessárias para sua implementação.
Além disso, sua convergência é muito sensível à estimativa inicial, podendo até divergir se a
escolha do ponto de partida for mal feita (em geral, uma boa escolha é E i = 1 + j 0 pu).
Para ambos os métodos, podem ser utilizados fatores de aceleração da convergência. Critérios
de pada usualmente utilizados para os processos iterativos são:
41
Capítulo 3
∆δ = −[J 1 ] −1 ∆P (3.2)
∆V
= −[J 4 ] −1 ∆Q (3.3)
V
Note-se que as equações ainda estão acopladas, já que [J1] depende de Vi e [J4] depende de δi.
Entretanto, um desacoplamento matemático é conseguido no algoritmo de resolução, em que se
divide o problema em dois sub-problemas, resolvidos alternadamente. No sub-problema Pδ são
usados os valores atualizados de V; no sub-problema QV são utilizados os valores atualizados de δ.
Em sistemas com predominância de barras PQ, o tempo de processamento para solução do
fluxo de carga reduz-se para um quarto do tempo que seria requerido para a matriz jacobiana
completa.
42
Apesar do erro introduzido pela simplificação da matriz, a robustez do método de newton-
Raphson garante a chegada à uma solução utilizando não mais que uma ou duas iterações
adicionais. Isto acontece porque a introdução de aproximações na matriz jacobiana altera o processo
de convergência, isto é, muda o caminho percorrido entre o ponto inicial e a solução, mas não altera
o resultado, pois o problema resolvido permanece o mesmo.
Para ilustrar este ponto, observe-se a figura 2.5, que mostra um exemplo de método
desacoplado que mantém as derivadas constantes.
f (x)
f (x)
(a) (b)
(a) método de Newton-Raphson convencional; (b) método de Newton-Raphson com jacobiano constante.
Note-se que no caso de 2.5(b), em que as derivadas são mantidas constantes, a convergência é
um pouco mais lenta (exige maior número de iterações), mas conduz ao mesmo resultado.
Assim, de modo geral, pode-se dizer que os métodos desacoplados aproximam o cálculo das
derivadas mas mantém a integridade do modelo da rede e, por isso, não a afetam a solução final do
fluxo de carga.
δ ( k +1) = δ ( k ) + ∆δ ( k ) (3.4c)
V ( k +1) = V ( k ) + ∆V ( k ) (3.4d)
43
Devido ao desacoplamento Pδ-QV , os termos [J 2 ] ∆V e [J 3 ] ∆δ são numericamente muito
pequenos em relação a [J 1 ] ∆δ e [J 4 ] ∆V , respectivamente. Pode-se, então, por aproximação,
desprezar os termos menores, trabalhando apenas com [J1] e [J4].
Esta aproximação transforma o problema, que passa agora a ser:
∆P ( k ) = −[J 1 ] ( k ) ∆δ ( k ) (3.5a)
(k )
⎛ ∆V ⎞
∆Q ( k ) = −[J 4 ] ( k ) ⎜ ⎟ (3.5b)
⎝ V ⎠
δ ( k +1) = δ ( k ) + ∆δ ( k ) (3.5c)
V ( k +1) = V ( k ) + ∆V ( k ) (3.5d)
A recorrência dada pelas equações (3.5) ainda está na forma simultânea, isto é, δ e V são
atualizados ao mesmo tempo. A Segunda etapa da obtenção do método desacoplado consiste em se
aplicar o eaquema de resolução alternado, resultando em:
∆P ( k ) = −[J 1 ] ( k ) ∆δ ( k ) (3.6a)
δ ( k +1) = δ ( k ) + ∆δ ( k ) (3.6b)
(k )
⎛ ∆V ⎞
∆Q (k )
= −[J 4 ] (k )
⎜ ⎟ (3.6c)
⎝ V ⎠
V ( k +1) = V ( k ) + ∆V ( k ) (3.6d)
Note-se que, colocando-se o algoritmo na forma alternada dada pelas equações (3.6), as
aproximações introduzidas na matriz jacobiana são parcialmente compensadas pelo fato de as
variavéis δ e V serem atualizadas a cada meia iteração.
Existem situações em que o sub-problema Pδ, por exemplo, pode convergir antes do sub-
problema QV. Nestes casos, podem-se obter algumas vantagens computacionais iterando-se apenas
o sub-problema ainda não resolvido.
O método de Newton desacoplado foi proposto por Stott, em 1972.
⎡ ∂P ⎤
∆P = − ⎢ ⎥ ∆δ (3.7a)
⎣ ∂δ ⎦
⎡ ∂Q ⎤
∆Q = − ⎢ ⎥ ∆V (3.7b)
⎣ ∂V ⎦
Da equação (2.56c), tem-se que:
∂Pi
= QTi + Vi 2 Bii (3.8)
∂δ i
δik ≅ 0 (3.12a)
As aproximações das equações (3.10) e (3.13) podem ser combinadas para produzir:
⎡ ∂P ⎤
⎢ ∂δ ⎥ = [B] (3.14)
⎣ ⎦
45
Considerando a equação (3.7b), pode-se fazer as mesmas aproximações. Tomando-se a
equação (2.62c), tem-se que:
∂Qi
Vi = −QTi + Vi 2 Bii (3.15)
∂Vi
As aproximações das equações (3.16) e (3.18) podem ser combinadas para produzir:
⎡ ∂Q ⎤
⎢ ∂V ⎥ = [B] (3.19)
⎣ ⎦
Assim, após as aproximações, as equações (3.7) podem ser escritas como:
∆P = −[B ] ∆δ (3.20a)
∆Q = −[B ] ∆V (3.20b)
∆P = −[B'] ∆δ (3.21a)
onde: [B’] = vetor [B] sem as linhas e colunas referentes à barra de balanço.
[B’’] = vetor [B] sem as linhas e colunas referentes às barras PV e de balanço.
Para simplificar ainda mais o método e completar o desacoplamento, são feitas ainda as
seguintes manipulações:
- omite-se de [B’] a representação de elementos que afetam predominantemente os fluxos
reativos, tais como reatâncias shunt e taps em fase de transformadores controladores;
- omite-se de [B’’] a representação de componentes que afetem predominantemente os
fluxos ativos, tais como taps em quadratura de transformadores defasadores.
46
Com isto, chega-se ao método desacoplado rápido em sua forma final:
∆P = −[B'] ∆δ (3.22a)
δ ( k +1) = δ ( k ) + ∆δ ( k ) (3.22b)
V ( k +1) = V ( k ) + ∆V ( k ) (3.22d)
em que foi utilizada mais uma vez a estratégia de solução alternada de ∆δ e ∆V.
Outra simplificação usualmente utilizada, com a qual se consegue acelerar ainda mais a
convergência do método, consiste em:
- substituir cada ∆Pi por ∆Pi /Vi no vetor ∆P ;
O método desacoplado rápido foi originalmente proposto por Alsac e Stott, em 1974.
47
3.2 Fluxo de carga linearizado ou CC
Sob determinadas condições, as seguintes aproximações, mesmas que foram citadas acima,
podem ser feitas:
Vi ≅ Vk ≅ 1 pu (3.25a)
48
O fluxo Pik pode então ser aproximado por:
δi − δk
Pik = (3.26)
x ik
Esta equação tem a mesma forma da Lei de Ohm aplicada a um resistor percorrido por uma
corrente contínua, sendo Pik análogo à intensidade de corrente, δi e δk análogos às tensões terminais
e xik análogo à resistência. Por esta razão, o modelo de fluxo de potência ativa baseado na equação
(3.26) é também conhecido como modelo CC.
Seja a injeção de potência na barra i definida por:
n n
ou ainda Pi = ( ∑ xik−1 )δ i + ∑ (− x ik−1δ k ) (3.30)
k =1 k =1
k ≠i k ≠i
P = [B’] δ (3.31)
Bik' = − x ik (3.32a)
n
Bii' = ∑ xik (3.32b)
k =1
k ≠i
A matriz [B’] é singular pois, como as perdas na transmissão foram desprezadas, a soma dos
componentes de P é nula. Para resolver o problema, adota-se uma das barras como referência (δi =
0o), restando assim um sistema não-singular de dimensão (n−1). Os ângulos desconhecidos das
(n−1) barras podem ser calculados a partir das injeções de potência líquida especificadas nas barras
através da expressão:
δ = [B’]−1 P (3.33)
49
Como se vê, trata-se de uma resolução trivial de sistema linear, feita por meio da inversão da
matriz [B’]. A condição matemática para que o modelo CC forneça uma solução é que a matriz [B’]
seja não-singular, o que equivale a exigir que a rede seja conexa.
Nos casos em que haja transformadores em fase, é válida a relação:
onde aik é a relação de transformação; a expressão (3.34) pode ser demonstrada a partir do mesmo
raciocínio empregado para a equação (3.26). Quando houver transformadores defasadores, pode-se
utilizar a expressão:
para a qual admite-se que a abertura efetiva (δik + φik) entre as barras i e k é da mesma ordem de
grandeza de δik .
onde Pi é a potência ativa injetada na barra i, definida por Pi = PGi − PCi = PTi . Aproximando Vi =
Vk = 1 pu e rearranjando-se o somatório, pode-se escrever:
n
Pi = Gii + ∑ (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) (3.36)
k =1
k ≠i
Considerando-se que:
Gik = − g ik (3.37a)
n
Gii = ∑ g ik (3.37b)
k =1
50
obtém-se:
n n
Pi = ∑ (1 − cos δ ik ) g ik + ∑ ( xik−1 sen δ ik ) (3.38)
k =1 k =1
k ≠i k ≠i
Aproximando-se as funções seno e cosseno por suas séries de Taylor truncadas, tem-se:
1 2
cos δ ik ≅ 1 − δ ik (3.39a)
2
sen δ ik ≅ δ ik (3.39b)
obtém-se, finalmente,
1 n n
Pi − ∑ ik ik ∑ xik−1δ ik
2 k =1
g δ 2
= (3.40)
k =1
k ≠i k ≠i
Para interpretar o significado do termo com g ik δ ik2 na expressão (3.40), pode-se fazer uma
comparação desta expressão com a expressão para cálculo das perdas na linha de transmissão entre
as barras i e k pelo modelo CA:
1 2
Fazendo-se as aproximações Vi = Vk = 1 pu e cos δ ik ≅ 1 − δ ik , obtém-se:
2
1 n
Portanto, o termo ∑
2 k =1
g ik δ ik2 no lado esquerdo na expressão (3.40) pode ser entendido como
k ≠i
a metade das perdas ativas de todas as linhas adjacentes à barra i. Isto significa que o efeito das
perdas pode ser representado como cargas adicionais obtidas pela divisão das perdas de cada linha
do sistema entre suas barras terminais, sendo metade para cada barra.
Com esta representação, o modelo CC passa a assumir a forma:
Observe-se que neste novo há uma indeterminação, já que Pperdas depende dos δik e estes
ângulos só serão conhecidos quando o problema for resolvido. Um procedimento que pode ser
adotado para resolver o sistema da equação (3.43) consiste em:
51
Vantagens, aplicações e limitações do fluxo de carga CC
Conforme se observa na equação (3.33), o fluxo de carga CC consiste num problema linear,
que não necessita de métodos iterativos para ser resolvido. É baseado em aproximações derivadas
do acoplamento Pδ e apresenta resultados tanto melhores quanto mais alto for o nível de tensão.
A potência reativa e a magnitude das tensões terminais não fazem parte do problema. A
solução apenas fornece valores de ângulos e fase, a partir dos dados de potência ativa injetada em
cada barra e configuração e parâmetros do sistema.
Uma característica importante do modelo linearizado é o fato de ele fornecer uma solução
mesmo para problemas irreais para as condições atuais do sistema, que não poderiam ser resolvidos
pelos métodos convencionais de fluxo de carga. Isto ocorre freqüentemente em estudos de
planejamento quando, para uma dada rede, testam-se acréscimos de carga e/ou geração. Os
problemas de convergência que surgiriam nos programas de fluxo de carga convencionais, por
ocasião destes testes, devido à insuficiência de suporte de potência reativa ou por falta de
capacidade de transmissão para atender novas cargas, não ocorrem no fluxo de carga CC.
O modelo CC fornece uma solução que pode servir como indicativo do que está ocorrendo
com a rede. Mesmo sendo aproximada, a solução do modelo linear é mais útil que a informação
dada por um programa convencional que simplesmente dissesse que a convergência não foi
alcançada.
Observe-se, por exemplo, a figura 2.6. Nesta figura aparecem duas curvas de fluxo de
potência entre duas barras adjacentes: uma que representa o modelo CA (convencional) e outra que
representa o modelo CC. Note-se que para um dado valor de potência P1, a solução é possível nos
dois modelos. Porém, para um valor maior P2, o sistema modelado em CA não apresenta solução, o
mesmo não ocorrendo para o modelo CC.
Modelo CC
Modelo CA
52
Uma das grandes limitações do fluxo de carga CC está no fato de não ser aplicável para
sistemas de distribuição em baixa tensão, nos quais os fluxos ativos dependem de maneira
significativa das quedas de tensão.
Além disso, deve-se observar que o modelo CC não leva em conta as magnitudes das tensões
nodais, as potências reativas e os taps dos transformadores. Por esta razão, ele não pode substituir
os métodos não-lineares de fluxo de carga, não cabendo assim, uma comparação entre os métodos
CA e CC.
O que de pode dizer é que a interação entre os métodos CC e CA têm grande utilidade em
fases preliminares de estudos que exigem a análise de um grande número de casos, que dificilmente
poderiam ser feitas por métodos convencionais. Em fases subsequentes dos estudos, se for
necessário o conhecimento de variáveis como as magnitudes das tensões, os fluxos de potência
reativa e os valores dos taps dos transformadores, deve-se, então, partir para uma solução exata,
utilizando-se algum dos métodos de fluxo de carga CA.
E 3φ = [ Z ] 3 φ I 3φ (3.44)
I 3φ = [ Y ] 3 φ E 3 φ (3.45)
54
onde as matrizes [Z]3φ e [Y]3φ são as versões trifásicas de [Z] e [Y] , sendo as regras de formação
das matrizes impedância e admitância trifásica idênticas às de suas análogas monofásicas (ou
unifilares).
Na formulação do método de Newton-Raphson para o caso trifásico, a diferença básica é na
dimensão dos vetores ∆V e ∆δ, que aumentam de um fator de 3, de modo a representar magnitudes
e ângulos de fase das três tensões de fase.
Evidentemente, se o estudo for feito em decorrência de um único desbalanço, representado
por uma carga monofásico, pode-se fazer representação com vantagem pelo método das
componentes simétricas. Para os casos gerais, no entanto, a abordagem eficiente do problema exige
um tratamento em componentes de fase.
∞
i (t ) = c o + ∑ c h sen (hω o t + θ h ) (3.47)
h =1
55
Já a potência aparente é dada por:
∞ ∞
S = ( ∑ a h2 ) ( ∑ c h2 ) (3.51)
h=0 h =0
S 2 = P2 + Q2 (3.52)
Para o caso não-senoidal, a equação (3.52) não é válida. A discrepância D é uma componente
de distorção, que tem a mesma natureza de Q, e que surge dos produtos de termos de freqüências
harmônicas. Os volt-ampères de distorção são dados por:
D = S 2 − P2 − Q2 (3.53)
Em se tratando de harmônicos, é comum definir uma grandeza para medir o nível de distorção
da forma de onda. Esta grandeza é denominada distorção harmônica total (DHT) ou taxa de
distorção harmônica (TDH), sendo dada por:
∞ 2
⎛a ⎞
DHT(%) = 100 ∑ ⎜⎜ ah ⎟⎟ (3.56)
h=0 ⎝ 1 ⎠
h ≠1
57
As principais limitações da formulação proposta por Xia-Heydt são:
- A resposta de cargas convencionais (lineares) aos harmônicos é tratada como a resposta de
simples impedâncias.
- O efeito de componentes não-lineares nas linhas de transmissão e transformadores não
levados em consideração.
- Cargas não-lineares monofásicas só podem ser tratadas por este método às custas de
grande aumento na complexidade da formulação.
- Cada carga não-linear deve ser tratada e modelada separadamente.
- Dificuldade na escolha de valores iniciais das componentes harmônicas. Embora as
magnitudes assumam, em geral, valores baixos, da ordem 10% da fundamental, os
ângulos podem assumir qualquer valores entre 0 e 2π.
Outras formulações para o fluxo de carga harmônico surgiram, mas ainda há problemas no
que diz respeito à complexidade, esforço computacional e convergência dos métodos.
A maior parte dos estudos de fluxo de carga são feitos para redes de transmissão porque é
nestes altos níveis de potência e tensão que se dão as mais importantes decisões sobre
dimensionamento e carregamento de componentes. Tal importância advém do fato de que uma
decisão de operação pode causar efeitos em milhares de barras do sistema, afetando o fluxo de
centenas de megawatts.
Embora com menor freqüência, os estudos do fluxo de carga também são feitos para sistemas
de distribuição em baixa tensão. Tais estudos são utilizados principalmente quando há grande
quantidade de circuitos sendo planejados simultaneamente ou quando determinadas cargas são
especialmente importantes ou críticas.
Um fluxo de carga em níveis de distribuição é feito do mesmo do modo que para os níveis de
transmissão. Entretanto, algumas peculiaridades típicas dos sistemas de distribuição podem ser
utilizadas na elaboração de programas dedicados a este tipo de estudo. Estas peculiaridades são:
- Predominância de redes radiais, o que pode causar dificuldade de convergência, devido à
lenta propagação dos valores obtidos a cada iteração ao longo da rede. Uma solução que
pode ser empregada para amenizar esta dificuldade é aplicar o método de Gauss-Siedel
nas iterações iniciais, antes da execução do método de Newton-Raphson.
- Forma distinta na apresentação dos dados de carga. Em sistemas de distribuição, o dado
normalmente associado às cargas é a capacidade nominal dos transformadores, em KVA.
Aqui se aplicam fatores de demanda, para levar em conta o fato de que não há utilização
constante de toda a capacidade dos transformadores. Valores comumente encontrados para
fatores de demanda estão entre 60 e 80%. A participação de reativos na carga pode ser
58
considerada através de valores típicos de acordo com o tipo de carga. Fatores de potência
típicos para cada tipo de carga são:
Residencial: 0,95
Comercial: 0,90
Industrial leve (sem grandes motores de indução): 0,87
Industrial pesada (com grandes motores de indução): 0,85
- Forma distinta na apresentação dos parâmetros da rede. Ao passo que em sistemas de
transmissão, são fornecidos valores de impedâncias e admitâncias em pu, o usual em
sistemas de distribuição é falar em bitola dos condutores, associada à capacidade de
corrente e às quedas de tensões permitidas. Alguns programas de fluxo de carga aceitam
entrada de dados em termos de bitola dos condutores, comprimento dos circuitos e
geometria do espaçamento entre os condutores.
59
As técnicas para estes estudos são a mais diversas. Em estudos de curto prazo, por exemplo,
uma das variáveis aleatórias a ser considerada é a temperatura, já que ela influenciará no uso de
equipamentos elétricos de aquecimento e refrigeração.
Outro modo de efetuar tais estudos é dividir a carga em classes, de forma que as classes
apresentem certo desacoplamento entre si. Tal divisão poderia consistir, por exemplo, em cargas
residenciais, comerciais e industriais. Em regiões não equatoriais, a demanda residencial é
fortemente vinculada às condições climáticas. Cargas industriais, menos sensíveis a variáveis
geográficas e climáticas, dependem mais de fatores econômicos. As cargas comerciais estariam
mais ligadas ao dia da semana, à ocorrência de feriados, etc.
60
- obter valores esperados para magnitude da tensão das barras, ângulo da tensão ou fluxo de
potência nas linhas.
⎡∆P ⎤ ⎡∆δ ⎤
⎢∆Q⎥ = −[J] ⎢∆V ⎥ (3.57)
⎣ ⎦ ⎣ ⎦
Se [∆P ∆Q]t é um vetor aleatório com função densidade de probabilidade fPQ , a densidade de
probabilidade de ∆δ e ∆V , fδV, é obtida através do fato de que [∆δ ∆V]t é uma função de diversas
variáveis aleatórias, estando estas relações caracterizadas por:
⎡∆δ ⎤ −1 ⎡∆P ⎤
⎢∆V ⎥ = −[J] ⎢∆Q⎥ (3.58)
⎣ ⎦ ⎣ ⎦
Para o caso geral de estatística arbitrária para [∆P ∆Q]t, a determinação de fδV pode ser uma
tarefa laboriosa. Se [∆P ∆Q]t apresenta característica gaussiana,
⎡ 1 ⎤
exp ⎢− ( X − M ) t Σ −1 ( X − M )⎥
⎣ 2 ⎦
G (M, Σ) = (3.60)
(2π) n/2
det( Σ)
Supondo que [J]−1 é constante e utilizando o fato de que o resultado de uma transformação
linear de um vetor com probabilidade gaussiana é também um vetor com probabilidade gaussiana,
tem-se que:
61
Observe-se que, na definição de G (M, ∑), supõe-se que a inversa da matriz ∑ existe. Se ∑−1
não existir, as relações acima ainda serão válidas, mas a função densidade de probabilidade fδV não
existirá.
Esta formulação para o fluxo de carga estocástico exige o conhecimento da estatística de P e
Q. Suas limitações principais são assumir que [J] é constante e que P e Q têm distribuição
gaussiana.
Assumir que [J] é constante poderia ser um erro, já que foi dito que os parâmetros da rede são
variáveis aleatórias. Entretanto, para variâncias inferiores a 0,1, é válida a aproximação de que os
elementos de [J] são fixos.
A aproximação de P e Q gaussianos é, em geral, válida para grandes sistemas, sendo esta
característica justificada pelo Teorema do Limite Central, segundo o qual a soma de variáveis
aleatórias arbitrárias (obtida por convolução das densidades de probabilidade) tendem e compor
uma densidade gaussiana. Para pequenos sistemas ou estudos concentrados em pontos de
distribuição, esta aproximação pode não ser válida.
É importante frisar que esta formulação não é única. Foi mostrada com fins ilustrativos. Deve-
se ter em mente que o estudo estatístico de quaisquer fenômenos relacionados a sistemas de energia
elétrica é de suma importância, devido à natureza estocástica destes sistemas.
O estudo do fluxo de carga estocástico não se tornou ainda uma ferramenta largamente
utilizada. Isto ocorre, em parte, pelo fato de que as demais aproximações utilizadas (determinísticas)
são suficientes para suas respectivas aplicações. Mas muito desta falta de utilização e
desenvolvimento de algoritmos para fluxo de carga estocástico se deve ao surgimento de novas
técnicas computacionais (algoritmos genéticos, lógica difusa, etc.), que são capazes que levar em
conta e aplicar certos conceitos não-determinísticos através de métodos e formulações
determinísticas.
3.7 Resumo
Neste capítulo final do trabalho, foram vistas as otimizações e variações mais comuns nos
estudos do fluxo de carga.
Os métodos desacoplados constituem numa otimização poderosa, à medida que levam a
formidáveis economias em matéria de computação, sem perder, entretanto, a robustez do método
original, o de Newton-Raphson.
O método desacoplado de Newton, proposto por Stott, utiliza-se dos fortes acoplamentos Pδ e
QV existentes para sistemas reais, dando ao problema uma boa simplificação. O método
desacoplado rápido, proposto por Alsac e Stott, veio simplificar ainda mais o modelo desacoplado,
utilizando a matriz susceptância otimizada no lugar do jacobiano, não mais havendo a necessidade
de atualização e processamento de matrizes a cada iteração. O método desacoplado rápido pode ser
descrito pelas equações:
62
∆P = −[B'] ∆δ
δ ( k +1) = δ ( k ) + ∆δ ( k )
∆Q = −[B' '] ∆V
V ( k +1) = V ( k ) + ∆V ( k )
Embora existam diversas variações para esta formulação, a essência do método não muda.
Depois do estudo dos métodos desacoplados, passou-se à análise do modelo CC, um tipo de
análise que lineariza o problema, simplificando-o ao máximo. Entretanto, este modelo só trabalha
com potências ativas e ângulos de fase, ignorando as magnitudes das tensões, os fluxos reativos e as
próprias limitações físicas do sistema. Devido às características extremamente simplistas, este tipo
de enfoque só serve para estudos preliminares e de planejamento.
O fluxo de carga trifásico pode ser definido como um fluxo de carga monofásico estendido
para o caso de sistemas desbalanceados. Sua principal característica é de triplicar a dimensão do
problema, e suas aplicações principais estão na avaliação do impacto de grandes cargas monofásicas
e no estudo de contingências simultâneas e/ou monopolares.
O fluxo de carga harmônico analisa a presença de distorções nas formas de onda de tensões e
correntes do sistema, decorrentes da presença de cargas não-lineares. Conforme pôde-se averiguar,
o problema tende a tornar-se muito complexo, pois sua formulação e solução dependem de uma
descrição detalhada da não-linearidade da carga e os perfis de tensões e correntes de todas as
harmônicas para todos os nós e ramos do sistema são interdependentes entre si. Com a difusão da
eletrônica de potência e o aumento do número de cargas que se utilizam dos benefícios desta
tecnologia, há grande tendência que o fluxo de carga harmônico torne-se muito importante, tanto
quanto os convencionais.
Os estudos de fluxo de carga para sistemas de distribuição, como o próprio nome diz,
encontra grande aplicação nos sistemas urbanos de baixa tensão. O manejo e forma dos dados num
estudo deste tipo é ligeiramente diferente do que se utiliza em estudos para sistemas de transmissão.
Também há forte tendência de que se utilizem fluxos de carga trifásicos e harmônicos em estudos
de sistemas de distribuição, devido à grande presença de desbalanços e distorções nesses sistemas.
Por fim, o fluxo de carga estocástico representa uma aplicação das ferramentas probabilísticas
aos sistemas potência, constituindo-se num tipo de estudo que, embora não se tenha difundido
muito, apresenta boas aplicações na predição das condições do sistema diante de certas
adversidades e condições de operação aleatórias.
63
Conclusão
Com isso, espera-se ter alcançado o objetivo de apresentar o problema do fluxo de carga e
mostrar as principais maneiras de resolvê-lo e suas aplicações.
65
Bibliografia
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McGraw-Hill Inc., 1973.
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converters, applications, and design. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons, Inc., 1995.
[8] RAMOS, Dorel Soares & DIAS, Eduardo Mário. Sistemas Elétricos de Potência Regime
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[10] XIA, Daozhi; HEYDT, G. T. Harmonic Power Flow Studies, Part II – Implementation
and Practical Application. IEEE Trans. Power Apparutus and Systems, vol. PAS-101,
no. 6, June 1982, pp. 1266-70.
66