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Vivian Biazon El Reda Feijó1, Luiz Cordoni Junior2, Regina Kazue Tanno de Souza3, Alexsandro
Oliveira Dias4
RESUMO O objetivo desta pesquisa foi analisar a classificação de risco em serviço de ur-
gência de um hospital. Foram amostrados 976 usuários que procuraram atendimento, cujos
dados foram coletados nas fichas preconizadas pelo protocolo de atendimento médico.
Predominaram pessoas do sexo masculino, na faixa etária de 20 a 59 anos, que procuraram o
serviço em dias úteis e horário comercial. Foram considerados adequados à demanda para o
atendimento no serviço de urgência 82,3% dos pacientes, com associação significativa entre
adequação e as variáveis procedência e horário de atendimento. A implantação do protocolo
contribuiu para a identificação dos casos mais graves e organização da demanda.
ABSTRACT The objective of this research was to analyze the risk rating at the emergency depart-
ment of a hospital. We sampled 976 users who sought treatment, whose data were collected from
records at forms recommended by protocol and medical care. Results showed that 20-59 year-old
males, attending the service on weekdays and during business hours, were predominant 82,3% of
patients were considered adequate to meet the demand in the emergency department. There was
a significant association between adequacy and the variables origin and opening hours. The im-
1 UniversidadeEstadual de plementation of the protocol helped identifying the most serious cases and demand organization.
Londrina (UEL) – Londrina
(PR), Brasil.
feijovivif@gmail.com KEYWORDS Emergency service; Nursing service; Health profile; User embracement.
2 UniversidadeEstadual de
Londrina (UEL), Programa
de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva – Londrina
(PR), Brasil.
luizcordoni@gmail.com
3 UniversidadeEstadual de
Londrina (UEL), Programa
de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva – Londrina
(PR), Brasil.
reginatanno@hotmail.com
4 Universidade de São
Paulo (USP), Escola
de Pós-Graduação em
Enfermagem – São Paulo
(SP), Brasil.
alexuel@bol.com.br
DOI: 10.1590/0103-110420151060003005 SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 39, N. 106, P. 627-636, JUL-SET 2015
628 FEIJÓ, V. B. R.; CORDONI JUNIOR, L.; SOUZA, R. K. T.; DIAS, A. O.
Tabela 1. Classificação de risco atribuída à amostra por cores de acordo com o protocolo do ACCR do pronto-socorro, HUL.
Londrina-PR, Brasil, 2008-2009
Classificação de risco n %
Vermelho 15 1,5
Amarelo 200 20,5
Verde 588 60,3
Azul 173 17,7
Total 976 100,0
Nota: Elaboração própria
Tabela 2. Associação da adequação da demanda dos pacientes atendidos na classificação de risco, com variáveis
sociodemográficas e de utilização de serviços. HUL. Londrina-PR, Brasil, 2008-2009
Tabela 3. Classificação de risco segundo clínica responsável pelo atendimento no pronto-socorro. HUL. Londrina-PR, Brasil,
2008-2009
Tabela 4. Destino após atendimento médico no pronto-socorro segundo a classificação de risco. HUL. Londrina-PR, Brasil,
2008-2009
Dos casos classificados como vermelho, esta tendência (OLIVEIRA ET AL, 2011; FERREIRA ET AL.,
um terço foi internado imediatamente, 13,3% 2009; BARRETO ET AL., 2012; GIBSON ET AL., 2010).
foram encaminhados à UTI e um terço per- Ressalta-se que o acesso aos serviços do
maneceu em observação. Entre os pacientes SUS deve ser realizado preferencialmente a
classificados com a cor amarela, 34,2% foram partir da atenção primária, com garantia de
internados e 3,1% transferidos ao centro referência a outros níveis de atenção conforme
cirúrgico. sua necessidade. Porém a situação observada
reflete ainda a desarticulação dos diferentes
níveis de atenção à saúde, com supervaloriza-
Discussão ção do enfoque curativo e hospitalocêntrico e
descrédito da população em relação à atenção
Estudos realizados em diferentes países primária e secundária no alcance da resolutivi-
mostram que a implantação de protocolos de dade desejável (KOVACS ET AL., 2005).
triagens nos serviços de emergência permi- A maior procura pelo serviço ocorreu nos
tiu que os casos considerados de maior gra- dias de semana, em horário comercial, prin-
vidade fossem priorizados, com impacto nas cipalmente no período matutino. Todavia, a
taxas de mortalidade (LUNET; PINTO; AZEVEDO, 2010; associação entre a adequação da demanda
PROVIDENCIA ET AL., 2009). e horário de procura, com maior proporção
O presente estudo, ao analisar as ca- de casos inadequados no horário matutino
racterísticas da demanda de um serviço e diurno, corroboram os dados encontrados
de urgência de hospital terciário público em diversos estudos (OLIVEIRA ET AL., 2011; KOVACS
e sua adequação conforme o protocolo de ET AL., 2005), que evidenciaram maior procura
avaliação com classificação de risco, per- por atendimento no horário comercial de
mitiu constatar que o perfil predominante casos que se caracterizaram como baixa ur-
da amostra atendida foi de adulto jovem, gência no atendimento.
em idade produtiva, sexo masculino, que Mais da metade dos casos pesquisados
procuraram o serviço espontaneamente, no não procurou outro serviço de menor com-
período diurno, em dias úteis, e que foram plexidade devido à queixa atual, contribuin-
classificados na cor verde ou azul. do com o aumento da espera do usuário que
A predominância do atendimento aos in- aguardava o atendimento.
divíduos do sexo masculino é padrão que se De acordo com o protocolo do ACCR, ve-
repete em serviços de urgência referenciada rificou-se que a maioria da demanda estuda-
de hospitais públicos do Brasil (BERTONCELLO; da estava adequada à finalidade assistencial
CAVALCANTI; ILHA, 2012; OLIVEIRA ET AL., 2011) e se rela- deste serviço. Entretanto, a alta frequência
ciona a maior exposição masculina à violên- de pacientes classificados como verde e azul
cia urbana, ao tipo de trabalho e ao meio de pressupõe que muitos desses casos poderiam
transporte, pois frequentemente os homens ter sido resolvidos em instituições de menor
são condutores de carros e motocicletas, complexidade tecnológica. Alguns fatores
possuem ambas as habilitações e aprendem a podem explicar a procura por estes serviços:
dirigir com menor idade. Indicadores brasi- baixa concentração de recursos humanos
leiros mostram que os homens têm 12 vezes e tecnológicos nos serviços primários e se-
mais chances de morrer por causas traumá- cundários, a efetividade dos procedimentos
ticas que as mulheres (FERREIRA ET AL., 2009). médicos assistenciais disponíveis no nível
Quanto à variável idade, a maior proporção terciário e a cultura largamente difundida de
de indivíduos em idade produtiva que procu- confiança na instituição hospitalar.
ram espontaneamente os serviços de urgên- Richards, Navarro e Derlet (2000), em estudo
cia coincide com pesquisas que verificaram americano, ressaltam que a superlotação que
Referências
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