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11 de outubro de 1977: há 40 anos a criação do Estado de Mato

Grosso do Sul em prol da ditatura civil-militar, dos coronéis e o silêncio dos


vencidos

Prof Eduardo Martins/UFMS

Disse o historiador inglês Peter Burke que ―A função do historiador é lembrar a


sociedade daquilo que ela quer esquecer‖. Por seu turno outro historiador Edgard De Decca
em seu livro ―1930: o silêncio dos vencidos‖ faz um exercício de análise de como se produz a
memória histórica, como ela se elabora nos enunciados dos discursos políticos que, para se
legitimarem, criaram a revolução de trinta como fato histórico fundador e como essa mesma
memória também é reelaborada e consolidada pela prática historiográfica.

Podemos esmiuçar a ―Revolução de 30‖ e nos permitir observar este importante


evento da história republicana, por vezes, velado por discursos de uma minoria que deseja
garantir sua hegemonia, sob uma perspectiva totalizante, capaz de nos recompensar com uma
visão menos turva de uma realidade, já, bastante distorcida.

Dentro do contexto do evento inventado em 1930, cabe problematizar outra invenção;


a criação do estado de Mato Grosso do Sul por Ato arbitrário - como é praxe de governos
ditatoriais. O povo não foi consultado. Uma decisão meramente geopolítica militar sem
considerar as pessoas. O entrelaçamento das condições que possibilitaram a vitória de uma
causa perdida não fosse a conjugação dos interesses regionais à geopolítica do regime militar,
que, por sua vez, transcorria no contexto da Guerra Fria.

O golpe de 31 de março de 1964 põe fim a um período de democracia e inicia um


regime civil-militar autoritário. Os militares, buscando um maior controle dos problemas da
sociedade, adotam a política do desenvolvimento com segurança, o que permitiu a criação de
programas que facilitam o desenvolvimento de alguns Estados, entre eles Mato Grosso. Nesse
período, os políticos divisionistas aproximam-se dos militares o que lhes permite tomar parte
de algumas comissões que estudam (secretamente) as potencialidades políticas que impediam
a divisão de Mato Grosso.

No dia 11 de outubro de 1977, o presidente assinou a Lei Complementar nº 31, que


impôs a criação do estado de Mato Grosso do Sul, por meio do desmembramento de Mato
Grosso, sem sequer consultar a população. O projeto se encontrava no pacote denominado II
Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) e fez reativar, de forma tímida, a Liga Sul-Mato-
Grossense, desativada havia muitos anos. Vale destacar aqui o que enfatiza Bittar sobre o caso
da divisão ter ocorrido sem uma consulta popular.

Vejamos o que diz parte do hino desse estado:


Rememoram desbravadores, - Heróis, tanta galhardia! - Vespasiano, Camisão - E o
tenente Antonio João, Guaicurus, Ricardo Franco, - Glória e tradição! Procura-se contar um
tipo de história oficial que deve ser decorada pelos moradores do estado, mas principalmente
para que as crianças saibam que alguns homens privilegiados fizeram a história da divisão.
Deve-se contar às crianças que no estado de Mato Grosso do Sul também teve heróis – que
lutaram contra os ―malvados‖ paraguaios na Guerra da Tríplice Aliança. Os heróis guaicurus
índios usados nessa guerra como linha de frente e sacrifício. Um hino como qualquer outro;
ufanista e vazio de memórias populares.

O estado-sonho tornava-se, enfim, estado-realidade. Provavelmente, porém, o sonho


não era de todos. A população, privada da participação, mostrou, com o seu silêncio, um
misto de indiferença e aprovação. Uma parte, de fato, era favorável à divisão do estado, mas
isso nunca foi mensurado. O que os jornais registraram foi a ―passeata monstro‖, em Campo
Grande, para comemorar o acontecimento. Embora tenha ocorrido a manifestação, ela foi a
única e, assim mesmo, depois do ato consumado. Em todo o processo, não houve participação
popular. A maioria nem sequer soube do envio do projeto de lei ao Congresso Nacional e da
sua aprovação em setembro [de 1977], só vindo a saber do ato consumado em outubro
(BITTAR, 2009, p. 316).

Além de atender às demandas geopolíticas do país, a divisão de Mato Grosso tinha


outro objetivo: o político. Estes estavam ligados aos interesses do governo em aumentar suas
bases parlamentares no Congresso Nacional, visto que desde 1974 o MDB vinha ampliando o
número de deputados e senadores. O objetivo político imediato foi exatamente esse.

Basta considerarmos que quando o presidente Geisel assinou a lei que criou Mato
Grosso do Sul, justificou que o ato era decorrente também de uma necessidade política, tendo
em vista um melhor equilíbrio da Federação do dia de amanhã (BITTAR, 2009, p. 339,
citando trechos de BRASIL. Ministério do planejamento. Exposição de motivos sobre a
criação de Mato Grosso do Sul. Brasília, 24 ago. 1977).

Esta tese também é reforçada pelo jornalista e escritor Elio Gaspari em seu livro A
ditadura encurralada, ao tratar do ―Pacote de abril‖. Dividiu em dois o estado de Mato
Grosso. (Na estimativa de um deputado da região, a bancada federal, que tinha seis deputados
da Arena e dois do MDB, ficaria com treze para a Arena, enquanto a oposição continuaria
com dois) (GASPARI, 2004, p. 365).

Por meio desses elementos é possível afirmar que realmente a divisão do estado de
Mato Grosso e criação de Mato Grosso do Sul possui os embasamentos técnicos e políticos,
como confirmou o presidente da República ao dizer que a divisão visava ―um melhor
equilíbrio da Federação do dia de amanhã‖, talvez uma referência às eleições de 15 de
novembro de 1978 que se aproximavam.

Logo após a criação de Mato Grosso do Sul pela ditadura militar, por meio da Lei
Complementar nº 31, de 11 de outubro de 1977, as discussões em torno do nome daquele que
seria escolhido o primeiro governador aumentaram, isso porque alguns meses antes da
divisão, o nome do ex-governador de Mato Grosso uno, entre 1966 e 1970, Pedro Pedrossian,
era o mais cotado, dentro da ala ―independente‖ da Aliança Renovadora Nacional (ARENA)
estadual. É valido lembrar que no período ditatorial, entre 1966 e 1981, a população perdeu o
direito de eleger o governador.

Porém, na década de 1970, foi retomada pelos militares, que nunca realizaram consulta
popular sobre o assunto. Entre as justificativas do governo, estavam a de que a população queria a
divisão, que o estado era muito grande e poderia querer a separação do país, e a busca dos militares
por maior número de senadores biônicos - o que seria feito por meio da criação de mais um ente
federativo.

Note-se para fins de evidências ditatoriais que o então recém criado estado sulista foi
comandado por governadores criaturas da ditadura civil-militar representados pela ARENA,
partido dos ditadores, bem como do PDS, sigla nova para velhas fórmulas ditatoriais.

Quadro I – primeiros governadores do MS - partidários da ditatura civil-militar.

Regime Militar (1977-1985)

Governador
Harry
1ºde janeiro 12 de junho nomeado pelo
1 Amorim ARENA
de 1979 de 1979 Presidente da
Costa
República
Assumiu o cargo
de governador
Londres 13 de junho 30 de junho
— ARENA como presidente
Machado de 1979 de 1979
da Assembleia
Legislativa
Governador eleito
Marcelo 30 de junho 28 de outubro
2 PDS pelo Colégio
Miranda de 1979 de 1980
Eleitoral
Assumiu o cargo
28 de 7 de de governador
Londres
— outubro de novembro de PDS como presidente
Machado
1980 1980 da Assembleia
Legislativa
7 de Governador eleito
Pedro 14 de março
3 novembro PDS pelo Colégio
Pedrossian de 1983
de 1980 Eleitoral
Nova República
Governador
Wilson Barbosa 15 de março 14 de maio eleito em
4 PMDB
Martins de 1983 de 1986 sufrágio
universal
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_governadores_de_Mato_Grosso_do_Sul. (adaptado pelo autor).
Acesso em 05/10/2017.
Note-se na tabela acima que o primeiro governador eleito democraticamente foi apenas no
ano de 1983, portanto 4 anos após a criação do estado de Mato Grosso do Sul. Sendo ele o quarto
governador eleito pelo PMDB partido de oposição a ditadura civil-militar.

Finalmente, a função do historiador é a de desmontar discursos oficiais que tentam


criar as memórias vazias de histórias populares. Há 40 anos se inventou um estado em prol
das elites e da ditadura civil-militar, coronelistas ou patrimonialistas desse lugar. Cabe
indagar o que o povo, as populações pobres e trabalhadoras braçais e/ou manuais, assim como
os negros quilombolas e indígenas desse estado conquistaram ao longo desses quarenta anos
de trajetória de invenção desse estado. As evidências disponíveis nas diversas fontes revelam
que tais populações sofríveis não tiveram seus direitos reconhecidos muito menos garantidos.
Diante disso tais populações marginalizadas por um tipo de estado conservador não tem o que
comemorar. A elite agrária-mercantil baseada no agronegócio é fortemente protegida por esse
estado liberal que tem na ampla exploração da mão de obra barata e desqualificada seu
sucesso! Restando, dessa feita aos excluídos das benesses desse estado buscar se esclarecer e
lutar por um tipo de estado inclusivo, justo e equitativo.

Eduardo Martins
Professor de história – UFMS/CPNA
11/10/2017

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