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Kultur Dokumente
Comissão examinadora:
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Eliana Crispim França Luquetti (Doutora, Linguística) – UENF
(Coorientadora)
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Leandro Garcia Pinho (Doutor, Ciência da Religião) – UENF
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Sílvia Lúcia dos Santos Barreto (Doutora, Comunicação) – IFF/Campos
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Sérgio Arruda de Moura (Doutor, Literatura Comparada) – UENF
(Orientador)
AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus, que nunca me abandona, nem nos momentos mais difíceis e sempre
coloca as pessoas certas no meu caminho.
Aos meus pais, Cida e Zezé, meus maiores motivadores. Apoio constante, confiança e
amor incondicional! Ao meu irmão querido, Guilherme que sempre confia tanto em mim,
e a todos os meus familiares pelo tamanho reconhecimento da minha formação.
Ao meu orientador, Dr. Sérgio Arruda de Moura, por ter acreditado no meu potencial,
me escolhido, e, sobretudo, por ter me ensinado muitos valores.
A minha querida amiga e irmã, coorientadora Drª. Eliana Crispim França Luquetti, por
ter me acolhido, me encorajado, me apoiado, e principalmente por ter me apontado o
caminho certo para o sucesso. Não existem palavras suficientes que descrevam minha
profunda admiração! Só posso agradecer e pedir a Deus que sempre abençoe sua vida.
Aos membros da banca, que em sua maioria participaram de outros processos de
avaliação desse trabalho e aceitaram mais uma vez nosso convite, e que sempre
contribuíram com suas sábias sugestões.
Aos muitos amigos que fiz nessa árdua jornada: Maria das Graças (Dadai) - amiga
inseparável e constante. Muito obrigado pelo carinho e força de sempre! Hugo Coelho –
obrigado pelas brilhantes ideias e risadas; Joyce, Monique, Giselda, Karina, Karine e
Rachel – nunca conheci pessoas tão maravilhosas e carinhosas! Guardarei para
sempre em meu coração. Obrigado pela companhia em todos os momentos! Quero
estar com vocês em suas respectivas jornadas no mestrado.
Muitos contribuíram na construção dessa pesquisa, e por isso não poderia deixar de
agradecer a Jaqueline Pontes por dedicar seu precioso tempo na leitura e correção do
texto. Muito obrigado Jack! Conte sempre comigo!
A outros amigos, também, que direta ou indiretamente contribuíram apoiando meus
estudos e entendendo minha ausência em muitos momentos. Muito obrigado!
Acho que jamais poderia contemplar nesses agradecimentos todas as pessoas que
estiveram comigo nessa caminhada, mas que de alguma forma manifestaram seu apoio
torcendo por mim. Muito obrigado também!
Aos professores do Programa em Cognição e Linguagem, pela disponibilidade de
partilhar seus conhecimentos. As meninas da secretaria do programa, Silvana e Ana
Paula pela paciência de explicar e resolver nossas questões.
Aos meus grandes amigos do Ministério 3.16 – pessoas que fazem parte da minha vida
agora! Atuam em outra área, mas sei que me amam incondicionalmente. Muitos dos
meus sonhos eu realizo com vocês!
A todos que não tive como mencionar os nomes aqui, mas que se alegram comigo por
mais esta conquista. Muito obrigado mesmo!
Esta dissertação é resultado de uma pesquisa que se voltou para o estudo da História
Oral, enquanto uma metodologia investigativa que representa uma contribuição
imensurável no resgate da herança cultural de uma localidade. O que podemos verificar
em Natividade/RJ, a fim de desvelarmos a memória na questão da nomeação dos
bairros foi que o ato legal, mesmo sendo pertinente à autoridade legítima, não foi
suficiente para conseguir arrancar da população o caráter permanente que assume esta
memória específica. Essa questão é tão nítida que, na cidade estudada, boa parte da
população desconhece o nome oficial dos bairros. O resgate da memória consiste
numa tentativa de reconstrução do passado ou ressarcimento de uma perda, e a
oralidade é a forma privilegiada de transmissão de saberes, principal daqueles
vinculados às tradições, ao tentarmos entender a manutenção dos nomes tradicionais
dos bairros de Natividade, como uma forma velada de resistência. A cultura oral nesse
sentido esteve fortemente em evidência nos saberes populares dos seus habitantes.
This dissertation is the result of a search that turned to the study of Oral History as a
research methodology that represents an immeasurable contribution in the rescue of
cultural heritage of a locality. What we can verify in Natividade / RJ, in order to find the
memory on the issue of the neighborhoods nomination was that the legal act, even
though pertinent to the legitimate authority, was not enough to take out of the population
the permanent character that affects this particular memory. This issue is so clear that in
the city studied part of the population does not know the official name of the
neighborhoods. The rescue of memory is an attempt of rebuilding the past or
compensating of a loss and the orality is a transmission of knowledge privileged way,
mainly for those who are linked to traditions, when trying to understand the maintenance
of the traditional names of the neighborhoods of Natividade, as a veiled way of
resistance. Oral culture in this sense was strongly in evidence in the inhabitants’ popular
knowledge.
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 8
PROBLEMA ..................................................................................................................... 9
HIPÓTESES ..................................................................................................................... 9
JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 10
OBJETIVOS ................................................................................................................... 12
METODOLOGIA............................................................................................................. 12
1 HISTÓRIA ORAL E MEMÓRIA ................................................................................... 14
1.1 História e memória ................................................................................................ 14
1.2 O caráter científico da memória e suas contribuições para a história oral ............ 17
2 ALGUNS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA ANÁLISE DO DISCURSO ................... 23
2.1 Teoria da análise do discurso ............................................................................... 23
2.2 A questão da narrativa. ......................................................................................... 31
2.3 A estrutura narrativa do discurso e a questão ideológica no contexto de
Natividade ................................................................................................................... 32
2.4 Um olhar sobre os discursos popular e oficial em Natividade............................... 37
3 ANÁLISE DA AMOSTRA: EXPERIÊNCIAS QUE REVELAM ..................................... 47
3.1 Análises das narrativas dos natividadenses. ........................................................ 49
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 58
APÊNDICES................................................................................................................... 61
ANEXOS ........................................................................................................................ 77
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INTRODUÇÃO
PROBLEMA
HIPÓTESES
Há algum valor emocional e/ou cultural nos nomes atualmente extraoficiais dos
bairros que impossibilitaram a população da época aceitar a mudança;
A mudança dos nomes não se deu através de proposta da massa populacional,
por isso não obtendo aceitação;
A questão religiosa no contexto de Natividade influencia o processo de
renomeação dos bairros por parte do legislativo em vigência; e
A população atual vê o ato institucional como uma forma de não valorização da
cultura local.
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JUSTIFICATIVA
Este estudo se justifica por uma série de questões que constitui o objeto de
estudo desta pesquisa. Ele se propõe a caracterizar a discursividade presente nos
nomes dos bairros – bem como o processo legal de sua nomeação pelo poder público,
portanto, político, por meio de leis e portarias – a partir de estudo de caso na cidade de
Natividade, localizada no interior do Estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de
analisarmos as formas pelas quais linguagem, discurso e memória se relacionam.
Com Charaudeau (2006, p.40), sabemos que “não é o discurso que é político,
mas a situação de comunicação que assim o torna”, e que todo ato de linguagem
emana de um sujeito que apenas pode definir-se em relação ao outro segundo os
princípios de alteridade, influência e regulação, que serão discutidos aqui. Com respeito
à memória, tentaremos conciliar a justificativa do princípio do imaginário da tradição,
segundo o qual, às vezes, a história de uma comunidade é inventada, mas necessária
para estabelecer uma filiação com os ancestrais, com um território, ou com uma língua
(CHARAUDEAU, op. cit, p.211). Nesse caso, a memória é que estabeleceu o vínculo
com o presente, porque manteve a tradição valorizada positivamente.
Entendemos que o poder de legislar em Natividade recaiu sobre um obstáculo,
que caracterizamos como a própria situação de comunicação para a nossa análise: a
não concomitância entre o que se disse (legislou-se) e o que se entendeu (resposta
como ação resultante). Ou seja, a inadequação de um ato legal (lei) que não resultou
no seu cumprimento. Esta situação nos lembra Rousseau (2004), quando este
percebeu o que havia de contraditório na relação do homem (natureza) com o conjunto
das convenções (sociedade). O filósofo concorda apenas em parte com o que o Emílio
afirma ter aprendido acerca das leis afirmando:
Leis! Onde elas existem e onde são respeitadas? Em toda parte só viste
reinar sob esse nome o interesse particular e as paixões dos homens.
Mas as leis eternas da natureza e da ordem existem. Para o sábio, são
como uma lei positiva; são escritas no fundo do seu coração pela
consciência e pela razão (ROUSSEAU, 2004, p.700).
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OBJETIVOS
METODOLOGIA
Para Queiroz (2009), a História Oral seria um termo amplo, que recobre tipos
variados de relatos obtidos através de fontes orais, a respeito de fatos não registrados
por outro tipo de documentos, de fatos cuja documentação se quer completar, ou que
se quer abordar por ângulo diverso. A História Oral registra a experiência vivida ou o
depoimento de um indivíduo ou de vários indivíduos de uma mesma coletividade.
Ainda afirma que as fontes orais podem assumir a forma de histórias orais de
vida, os relatos orais de vida ou depoimentos orais, tendo, as duas primeiras, sua
referência na própria vida e na experiência do narrador e, a última, em fatos que
presenciou ou sobre ao quais detém informação. Cabe tornar claras as diferenças entre
estas formas.
O autor também explica que a história oral de vida é o relato de um narrador
sobre sua existência através do tempo. Os acontecimentos vivenciados são relatos,
experiências e valores transmitidos, a par dos fatos da vida pessoal. Através da
narrativa de uma história de vida, se delineiam as relações com os membros de seu
grupo, de sua profissão, de sua camada social, da sociedade global, que cabe ao
pesquisador desvendar. Há histórias de vidas mais ou menos ricas, mais completas ou
fragmentadas. Não acreditamos que seja efetivamente possível a obtenção de uma
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história de vida completa, tantas são as facetas e os fatos que envolvem uma vida. É
evidente que uma vida não poderia ser totalmente revisitada, e um processo seletivo se
impõe envolvendo o próprio rememorar, em geral determinado pelo próprio narrador.
A proposta de estudos, através da História Oral, é o resgate da memória numa
tentativa de reconstruir um passado ou ressarcir uma perda. Várias disciplinas, como a
Etnologia, a História, a Psiquiatria e a Pedagogia emergem de uma dívida com os
desclassificados, com o passado, com os loucos e com os iletrados. Na dinâmica que
propiciou o alicerce às disciplinas supracitadas, por um longo período, utilizou-se de um
discurso que necessitava de elaborar antagonismos entre o passado e o presente
promissor, entre a nódoa marginal, patológica e a inteligência classificada coerente e
culta. No entanto, a oralidade não foi abandonada como forma de transmissão de
saberes, principalmente daqueles vinculados às tradições populares.
Muitos outros trabalhos se debruçam sobre a questão na tentativa de tentar
resgatar a história da memória que muitas das vezes se encontra em segundo plano,
pela subjetividade que a caracteriza. Contudo, esta é de extrema importância para o
legado cultural das regiões e consequentemente do seu povo, daí esta dissertação se
propor a abordar discurso, poder e memória, dando ênfase à História Oral na sua
função de reestruturar a formação ideológica das cidades. Sabemos da importância das
bibliotecas, como já afirmamos, mas pretendemos ponderar o uso da História Oral na
produção do conhecimento histórico e sua articulação com a memória.
visão qualitativa atual, o papel do historiador não tem sido contar a verdade sobre um
fato, mas conhecer diferentes verdades e entender como estas foram construídas pelo
sujeito histórico. Todas as conclusões passam a ser provisórias. O imaginário (conjunto
de representações; coletivo) formula o real e pelo real é trabalhado, num constante
movimento de circularidade (SWAIN, 1994, p.52).
Analisando a memória articulada à história oral, a partir de Ricouer (2008),
quando este vê a memória como arte, denominando-a como escrita interior, pois os que
apreendem essa arte podem dispor daquilo que viveram, ouviram ou sentiram,
inferimos que, dessa forma, a História Oral vem intervindo sim na estrutura ideológica,
em toda uma cidade, por exemplo, como especificamente no caso de Natividade – RJ,
a partir do papel que exerce a memória na manutenção do costume, da tradição, bem
como o papel que exerce a oralidade. O autor defende ainda que as narrativas sejam
partes constitutivas do conhecimento histórico e se diferenciam por sua pretensão de
garantias de verdade, sendo constituídas a partir de uma dimensão de causalidade e de
perspectivas explicativas, num projeto hermenêutico e reflexivo.
De acordo com Peter Burke (2000), a visão tradicional das relações entre a
história e a memória se apresentava sob uma forma relativamente simples: a função do
historiador era ser o guardião da memória dos acontecimentos públicos, quando
escritos para proveitos dos autores, para lhes proporcionar fama, e também em proveito
da posteridade, para aprender com o exemplo deles.
Entretanto a explicação tradicional de que a história espelha a memória tornou-
se muito simplista na atualidade, pois percebemos que se tornaram cada vez mais
complexas. Lembrar o passado e escrever sobre ele não se apresentam como as
atividades inocentes como julgávamos até bem pouco tempo atrás. Tanto as histórias
quanto as memórias não mais parecem ser objetivas. Num caso como no outro, os
historiadores aprenderam a considerar fenômenos com a seleção consciente ou
inconsciente, a interpretação e a distorção. Nos dois casos, passam a ver o processo
de seleção, interpretação e distorção como condicionado, ou pelo menos influenciado,
por grupos sociais. Não é obra de indivíduos isolados (BURKE, 2000).
Em sua narração a história tem por desígnio a possibilidade de nos levar a
pensar sobre o passado de outros, de nós mesmos, de nossas vidas, de nosso
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Um documento de arquivo, como toda escrita, está aberto a quem quer que
saiba ler; ele não tem, portanto, um destinatário designado diferentemente do
testemunho oral, dirigido a um interlocutor. O trabalho nos arquivos deve embasar a
objetividade do conhecimento historiográfico, abrigado na subjetividade do historiador.
Ocorreu uma mudança significativa: é então o testemunho ou o documento que serve
ou atende ao historiador que o evoca, além do testemunho ter sido elevado à condição
de prova documental. O arquivo recebeu uma definição bastante ampla englobando,
assim, todo conjunto de documentos, independente de data, forma ou suporte material
produzido ou recebido por toda pessoa física ou jurídica e por todo serviço ou órgão
público ou privado no exercício de sua atividade (RICOUER, 2008).
Nos últimos anos, muito se tem pensado, debatido, produzido e escrito sobre
memória, procurando decifrar seus enigmas, suas características, diferenças,
semelhanças, aspectos coletivos e individuais, as diferentes formas de concebê-la,
entendê-la, defini-la. Alguns afirmam que vivemos uma explosão da memória,
especialmente das memórias orais, que no final do século XX, passaram a receber
tratamento especial na construção histórica.
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os lugares. Os dados da memória podem ser agrupados pelos eventos vividos pela
pessoa dos quais ela mesma se recorda e de acontecimentos vividos como este define
“por tabela” que são os fatos vividos por um grupo ao qual a pessoa sente pertencer,
mesmo sem ter vivido aquilo presencialmente, mas no seu imaginário devido à
importância do ocorrido. Já como exemplos de memória relacionados a lugares,
podemos citar as bibliotecas, museus e arquivos.
A História Oral contribui para a construção de identidade cultural das localidades
de um modo geral, como também enfatiza sua importância na cientificidade histórica.
De modo geral a história oral ganha foros de popularidade mundialmente e passa a ser
um recurso apreciado não apenas nas universidades e círculos acadêmicos.
Enquanto disciplina, a AD adquiriu seu status logo no final dos anos de 1960, na
França, com os trabalhos de Michel Pêcheux. O método usado por Pêcheux procurava
associar o materialismo histórico à psicanálise e à linguística. A AD desenvolvida por
ele assimilava os documentos estudados às condições sócio-históricas de uma
determinada sociedade. Já em 1989, com Maingueneau, a AD passou a evidenciar a
posição de certas palavras, frases ou expressões que marcaram ou definiram certo tipo
de discurso, proveniente de uma determinada ideologia.
A temática do discurso inicia-se na segunda metade do século XX, precisamente
início dos anos de 1960, centrada em três eixos, trabalhando na confluência desses
campos de conhecimento e que irrompe em suas fronteiras surgindo e questionando os
domínios disciplinares que deixou de analisar, desencadeando uma ruptura com o
século XIX, pondo em observação a Linguística, o Marxismo e a Psicanálise. Podemos
entender o discurso como a conexão entre a língua e a ideologia.
Assim, a AD:
A AD não é apenas uma forma de leitura usada para decodificar um texto, ela
refere-se a um conjunto de procedimentos analíticos que envolvem diferentes saberes e
práticas do conhecimento. Usada na busca da dinâmica do pensamento e seus feitos
sociais e na produção de verdade, a AD é recorrida com a intenção de se compreender
aquilo que está além do linguístico.
Para compreendermos melhor o discurso dos entrevistados nesta pesquisa faz-
se necessário o entendimento de duas categorias: a situação e a memória. A situação é
o momento de compreender o que se produz no contexto, levando em consideração o
momento histórico (renomeação dos bairros), e os posicionamentos assumidos pelo
sujeito. A memória pode estar relacionada com a ideologia, ou melhor, é aquilo que se
diz sustentado em outros dizeres e centrado numa linha de pensamento para a
reprodução da vivência, é também o que está de certa forma internalizada
automaticamente no inconsciente dos cidadãos natividadenses.
A memória tem a capacidade de se fazer texto e discurso, ou os mesmos podem
conflitar, já que o discurso pode admitir o papel de narrativa ou um discurso escrito. Na
sociedade, a memória tem o poder de constituir uma hegemonia social, que poderá
exercer influências no campo político, tomando como exemplo um estudo de caso,
como o da renomeação dos bairros que aconteceu em Natividade/RJ.
A existência do discurso está intrinsecamente ligada no estabelecimento da
relação de um com outro e do contexto em que os atores e vozes sociais são
constituídos, podendo ser relações de exclusão, submissão e de subordinação.
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A narração está vinculada à nossa vida, pois sempre temos algo a contar.
Narrar é relatar fatos e acontecimentos, reais ou fictícios, vividos por indivíduos,
envolvendo ação e movimento. Naturalmente, o termo “narrativa” é amplo e pressupõe
a possibilidade de diversas abordagens. Nesse trabalho refiro-me a uma narrativa
popular, que seja construída acumulativamente, com começo, meio e fim, que tenha
continuidade, que tenha como objetivo contar uma história de interesse geral,
abordando temas que permitam identificação imediata, um discurso compartilhável
construído através de uma linguagem familiar e acessível.
Vale lembrar que a narrativa é um recurso naturalmente humano e fundamental.
Sem ela, a sociabilidade, e mesmo a visão que temos de nós mesmos, não poderia ser
construída. Narramos nossas experiências cotidianas, nosso dia no trabalho, fatos
acontecidos, lembranças, sonhos, projetos e desejos. Narramos, mesmo de forma
solitária, em pensamento, para nós mesmos, episódios acontecidos que de alguma
forma não ficaram claros. Para além de um recurso literário, a narrativa pode ser
considerada um dos procedimentos através dos quais tornamos a vida e o mundo
interpretáveis.
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Nos domínios do discurso, faz-se a fusão de dois termos essenciais para sua
compreensão: linguagem e ação, componentes das trocas sociais “que têm uma
autonomia própria e que, ao mesmo tempo, se encontram em uma relação de
interdependência recíproca e não simétrica. Assim, porque todo ato de linguagem
emana de um sujeito que se define em relação ao outro, para Charaudeau (2006), são
os seguintes os princípios que orientam as práticas entre sujeitos:
maioria desconhecer o ato legal de renomeação seja um fator importante para que a
memória fique ilesa, não sofrendo qualquer alteração durante todos esses anos.
Mas o que dizer dos moradores que participaram ou até mesmo que assistiram
ao momento em que tais bairros sofreram as mudanças. Como se observa nos relatos
obtidos nas entrevistas, tais moradores não moveram qualquer descontentamento
externo, mas o íntimo estava de certa forma mexido com tudo que estava acontecendo.
A reação em forma de descontentamento se deu a partir do momento em que a não
aceitação dos novos nomes, mesmo que calada, perpassa gerações que guardam em
suas memórias as histórias que cada bairro possui, desde o seu surgimento e
recebimento dos seus respectivos nomes anteriores.
O presente de um indivíduo está conectado ao seu passado. Tudo o que temos
hoje é resultado de experiências passadas e vividas por pessoas em outros tempos. O
conceito ou informação que cada morador de Natividade possui sobre os bairros desta
cidade estão entrelaçados aos “saberes” de seus parentes ou até mesmo conhecidos.
Somos resultado de uma cultura e de uma história que se constrói a cada instante e
que teve início bem antes da chegada do desbravador de Natividade, José de Lannes
Dantas Brandão.
Cada acontecimento ou fato tem um valor e um significado diferente para cada
natividadense. A História Oral enquanto um documento ou fonte de pesquisa serviu e
serve como meio transmissor de cultura e informação no que diz respeito à perpetuação
dos nomes antigos que permanecem na memória dos habitantes de Natividade.
A situação de aparente “conformidade” que cada morador possa ter apresentado
no momento da renomeação dos bairros não pode ter validade na atual situação em
que se encontra ou que se conhecem os nomes dos bairros hoje. O que levou tais
indivíduos a não absorverem ou aceitarem tal imposição do legislativo é o que se tem
observado nas entrevistas realizadas.
É bem verdade que não se deve avaliar um indivíduo ou o período em que está
vivendo, antes disso é necessário avaliar as condições reais e materiais de vida, para
que se possa apreender as contradições intrínsecas à sociedade. Não se julga o que
um indivíduo é a partir de sua própria consciência; ao contrário, é preciso explicar essa
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consciência a partir das contradições da vida material, a partir do conflito existente entre
as forças produtivas sociais e as relações de produção (MARX; ENGELS, 1996).
6) Permitir revisar uma noção de “subjetividade” onde esta aparece como produto
“passivo”, isto para repensá-la, as subjetividades, como um produto ativo e construtivo,
algo que se faz também a partir das práticas sociais.
Portanto a categoria ligada à definição de ideologia e o uso ou não desta
categoria é fruto de largas polêmicas, tanto nos círculos acadêmicos como em partidos
e organizações políticas. Assim como a memória deve ser pensada no plural, pois não
existe uma definição única e imutável a representação da ideologia, está diretamente
ligada ao sujeito e ao contexto em que este está inserido, tendo também de ser
analisada no plural como uma representação social das condições objetivas de vida e
especificas de cada sujeito.
A AD dá o nome de formação ideológica o confronto existente entre forças que
estão presentes em um determinado momento histórico:
1
Todos os documentos de lei consultados fazem parte do arquivo da prefeitura de Natividade.
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imposição, mas se mantiveram calados por algum motivo. Sabe-se que o curso dessa
conversa é uma atividade semântica que implica a realização de um processo de
produção de sentidos estruturados e motivados por seus falantes.
A proposta desta pesquisa é também resgatar a memória de moradores de
bairros através da análise das entrevistas realizadas e que também irão compor parte
deste trabalho. Vale ressaltar que as entrevistas estão sendo constituídas por
conversações produzidas em situações naturais, onde não há uma ordenação de
questionamentos por parte do entrevistador, que procurou deixar o entrevistado o mais
livre possível durante as gravações, para que no momento das análises possam-se
fazer as devidas observações.
O processo de levantamento dos dados nesta pesquisa esteve focado na
questão de valor emocional e cultural presentes nos nomes extraoficiais dos sete
bairros analisados. A não aceitação, mesmo que calada da população é algo que
instiga essa pesquisa, ao tentarmos desvelar os motivos que levam a população
natividadense a até os dias de hoje não conseguirem absorver e muito menos aceitar a
proposta de renomeação.
Quando se verificou a possibilidade de analisar junto à população, no caso os
entrevistados selecionados previamente para a coleta dos relatos orais, pode-se
perceber que a construção e constituição dessa pesquisa se daria de forma árdua, já
que as falas coletadas viriam carregadas de subjetividades.
Tal subjetividade causaria transtornos inicialmente, mas já que se trata de uma
pesquisa que se baseia em fundamentos de falantes, ou seja, relatos puramente orais,
sem qualquer transcrição em outro documento, a imparcialidade desses falantes que
daria a “essência” necessária para a construção dessa análise. Sem deixar de lado a
hipótese da religiosidade do povo natividadense, que se vê constrangido em querer
hoje criticar e até mudar os nomes dos bairros novamente, mesmo não aceitando a
negação da cultura popular dos nomes antigos (extraoficiais) por parte da prefeitura
naquele momento de renomeação.
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Este capítulo terá a finalidade de verificar junto aos relatos os momentos que
caracterizam a transmissibilidade dessa cultura de não aceitação dos nomes oficiais em
detrimento aos extra-oficiais. Valendo-se algumas vezes da transcrição aqui de tais
relatos, a fim de confirmar algumas hipóteses apresentadas na pesquisa, como por
exemplo, a relação que o prefeito tinha com a igreja Católica naquele período ou a
valorização, mesmo que involuntária, da cultura presente nos nomes antigos dos
bairros, valendo-se sempre da memória individual e/ou coletiva como suporte principal
para construção dessa pesquisa.
Tanto a memória coletiva quanto a individual possui um caráter
mutável/flutuante, pois existem nelas marcos ou pontos que são invariantes e/ou
imutáveis. Esse caráter mutável/flutuante pode ser percebido ao realizar-se uma
entrevista muito longa, como que em nosso caso, vemos que os entrevistados não
conseguem seguir uma ordem cronológica dos fatos. Várias vezes voltam aos mesmos
pontos sem perceberem tal feito, e é essa volta ou repetição que caracteriza essa
invariante nas entrevistas.
Os elementos que constituem essa memória coletiva ou individual podem ter sido
vividos pessoalmente ou pela coletividade à qual a pessoa pertence. Em sua maioria,
esses acontecimentos nem sempre tiveram participação de todos que o lembram, mas
que em seus imaginários, de certa forma, alcançaram alguma relevância na vida dessas
pessoas, que acabaram por internalizar ou apropriarem-se de tais acontecimentos.
Esses acontecimentos vividos pela coletividade podem até mesmo se juntarem
com eventos que não se cruzam num mesmo espaço-tempo da vida de uma pessoa ou
grupo. Eles podem ter acontecido em diferentes épocas e com pessoas distintas umas
das outras, mas que foram assimilados com o passar do tempo pela coletividade.
Para manter o anonimato das pessoas entrevistadas, denominamos aos mesmos
algumas letras para identificá-los, a saber: entrevistado I. A. F., entrevistado A. G. F., e
entrevistado J. M. Assim apresentamos a análise de quatorze entrevistas realizadas
com os moradores de sete bairros mais antigos do município de Natividade/RJ, a fim de
evidenciar de que forma esses moradores se posicionam em relação ao processo de
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renomeação dos bairros da cidade em estudo, em 1968, bem como sua postura diante
da perpetuação dos antigos nomes na memória de seus moradores.
Nessas entrevistas foram propostas perguntas com uma abordagem qualitativa
capturando a história de vida individual dos moradores de Natividade/RJ, seguindo
também procedimentos nessas entrevistas de caráter aberto cujo procedimento
utilizado nesta pesquisa social visa coletar dados para tentar diagnosticar os possíveis
motivos que levaram os natividadenses entrevistados a rejeitarem os nomes atuais
oficializados pelo poder público.
É natural e aceitável que um fenômeno de projeção ou identificação política,
como no caso de renomeação dos bairros de Natividade/RJ, seja tão forte em certo
momento que poderíamos verificar então uma memória naturalmente herdada.
O ato oficializado de “troca” dos nomes antigos dos bairros de Natividade pelos
de homenagem aos santos, não trouxe descontentamento imediato, e isso pode ser
confirmado nas entrevistas, onde afirmam em vários pontos que nada foi feito pela
população a fim de contrariar o ato oficializado. Ninguém se manifestou publicamente e
menos ainda questionou-se a decisão do legislativo. Mas a rejeição viria com os anos!
Com o tempo a população da época foi demonstrando seu descontentamento ao não
usarem em hipótese alguma os nomes oficiais. Nem mesmo nos documentos
vinculados aos Correios isso era “respeitado”, muitos até mesmo desconheciam a
existência de um outro nome que não fosse o tradicional, e até o dia de hoje
desconhecem.
O que foi observado nas entrevistas realizadas no que diz respeito à memória,
verifica-se a questão da identidade vinculada de alguma maneira. Maurice Halbwachs,
no período de 1920-1930, já atribuía à memória esse caráter de coletividade e social,
ou seja, a memória como um fenômeno construído em conjunto e submetido a
flutuações, transformações e mudanças constantes. O caso de Natividade é prova viva
disso! A população não se manifestou no momento da troca de nomes, mas
silenciosamente e com o passar dos anos foi mostrando sua insatisfação com a atitude
do governo passado, na pessoa do prefeito Vavá. Da maneira mais simples que
poderíamos conceber, a memória foi a grande “vitoriosa” nesse contexto histórico,
quando os moradores que presenciaram e viveram o processo de alguma forma não
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deram atenção ao ato legal, fazendo valer assim sua cultura popular em preservarem
os nomes antigos dos bairros.
Ao destacarmos essas características da memória, não podemos nos esquecer
também, a fim de relacionarmos aos moradores entrevistados nesta pesquisa, que na
maioria das memórias existem marcos ou pontos relativamente invariantes e imutáveis.
Percebe-se nesses relatos que a ordem cronológica não é necessariamente obedecida,
pois os entrevistados várias vezes voltam aos mesmos acontecimentos, e verifica-se
evidências dessas flutuações nos discursos apresentados, além de um “apego” a certos
períodos ou fatos da vida desses moradores.
O apego que mencionamos aqui está relacionado ao afetivo que o entrevistado
apresenta ao fazer relação aos bairros usados nesta pesquisa. Vale lembrar que os
bairros são os mais antigos de Natividade/RJ, e a relação de afetividade aos mesmos é
notório no que tange a representatividade da cultura popular presente nas narrativas
dos entrevistados.
Uma vez que os bairros foram renomeados sem qualquer consulta aos
munícipes, o sentimento de rejeição não apresentado no momento em que o ato se
deu, é visto nas entrevistas através de falas descontentes e entristecidas. Os
entrevistados apresentam grande descontentamento e frustração ao pensarem que o
ato foi uma iniciativa “egoísta”, no qual o prefeito Vavá não manifestou qualquer
preocupação em dar qualquer destaque à tradição que cada bairro de Natividade
apresenta. Essa insatisfação descrita nos relatos pode ser entendida no seguinte trecho
de uma das entrevistas: “... pra se quebrar uma tradição... tem que ter muito apoio da
opinião pública... e no caso desse [referindo-se ao Bairro da Liberdade]... e como de
todos os outros bairros... eu acredito que se ele [prefeito Dermeval Lannes] fizesse uma
consulta... ele não tria mudado... eu acho... porque não é só o nosso Bairro da
Liberdade... tem o Bairro do Sindicato... Bagaceira... mudou por quê?... pra que mudar
se o pessoal continua usando os mesmos nomes antigos?...” (Apêndice B, Entrevistado
A. G. F.).
Interessante aqui é o não entendimento da mudança dos nomes já que os
moradores nunca fizeram uso dos novos nomes, ou os nomes oficializados, como são
descritos. Seria possível afirmar que de certa forma os moradores entrevistados nesta
pesquisa não assumiram no passado qualquer tipo de posicionamento com relação ao
ato de renomeação, e por isso, hoje demonstram certa insatisfação por não terem feito
algo. Foi possível, também, observar que se baseado em uma das hipóteses desta
pesquisa, o ato de renomeação acontecendo nos dias atuais traria um desconforto para
o poder público, pois os moradores defenderiam a ideia de permanência dos nomes
antigos dos bairros.
Segue uma parte de uma das entrevistas para constatarmos que: “... eu acho
que seriam escolhidos os nomes antigos... porque é uma coisa que vem desde o
início... antes mesmo de sermos município... quando Natividade era distrito de
Itaperuna... esses nomes já existiam... então eu acredito que se fizesse agora um
plebiscito eu acredito que o pessoal gostaria que se mantivesse o nome antigo ou o
nome tradicional...” (Apêndice B, Entrevistado A. G. F.).
Por conta da memória afetiva que esses moradores possuem em relação ao
nome antigo dos bairros, acredita-se que o ato de renomeação trouxe desconforto e
51
Segue o trecho: “... quem nomeou esses bairros foi o prefeito Dermeval Lannes com a
anuência da câmara... eles falam que foi ele... ele teve a ideia inicial... mas essa lei que
alterou os nomes dos bairros partiu no executivo e eu posso explicar porque... olha... a
igreja católica na época... ela tinha muita força para eleger ou não um candidato... a
igreja era mais forte em peso aqui em Natividade... por causa de Varre-Sai que é um
povo de origem católica e que antes fazia parte do território de Natividade... O
candidato que saísse com o apoio da igreja... era quase que imbatível... não quer dizer
que já estaria eleito... mas já possuía uma grande possibilidade de se eleger... nesse
caso... o ‘Vavá’ quando deu esses nomes estava pensando numa reeleição... então se
aproximou do padre Moacir ou o padre se aproximou dele e sugeriu a ele que desse
nome a cada bairro de Natividade a Nossa Senhora de Fátima... Lourdes... Aparecida e
das Graças... a ideia inicial partiu do padre Moacir... podem até falar que veio por parte
de algum devoto da igreja... todo líder religioso possui certo prestígio e se aquele
governante for ligado àquele governante e o padre Moacir pediu a ele que desse nome
a esses bairros...” (Apêndice B, Entrevistado J. M.).
É claro que os posicionamentos mesmo sendo diferentes, possuem uma ideia
central, a da participação ou influência da Igreja Católica em idealizar a mudança de
nomes nos bairros. Mesmo não podendo confirmar tal ato, hoje em dia, é nítido que
houve alguma manifestação religiosa naquele instante, pois se sabe que a população
tinha profunda ligação coma igreja. Essa relação é comum em cidades pequenas como
Natividade/RJ, que naquele período tinha o catolicismo como religião quase que
unânime no município. Então, a influência religiosa, se houve mesmo, é claro, seria
quase que natural. O entrevistado J. M. mesmo afirma que o candidato que tinha o
apoio da Igreja, conseguiria com facilidade se eleger. Uma pessoa que viveu o período
de renomeação dos bairros com certeza teria algum fundamento para se expressar
dessa forma, como fez esse entrevistado.
Afirmar com exatidão que a Igreja Católica interferiu de alguma forma na
renomeação dos bairros, seria impossível aqui nesta pesquisa, mas caracterizar a
religiosidade presente nos relatos coletados, isso sim seria viável. Vejamos, por
exemplo, que ao serem questionados sobre uma possível troca de nomes nos bairros,
onde voltaria a vigorar o nome tradicional (antigo), os entrevistados, em sua maioria,
53
discordam ou até mesmo ficam duvidosos se isso seria possível, já que de alguma
forma estariam negando o “princípio” religioso que cada um possui. Lembrando que
todos entrevistados julgam-se católicos, e talvez por isso não desejem que o nome
santo dado aos bairros seja deixado de lado.
A proposta que os mesmos fazem é a de voltar-se com o nome antigo, como por
exemplo, Bairro da Liberdade, e usar o nome santo Nossa Senhora do Rosário como
figura protetora do bairro em questão. O mesmo aconteceria com os demais bairros da
cidade, preservando de alguma forma a tradição cultural e religiosa de Natividade.
Claro que seria algo que causaria certo espanto na população, mesmo porque
muitos dos moradores da cidade desconhecem a tal troca de nomes. Sequer sabem
que seus bairros possuem nomes em homenagem a figuras santas da Igreja Católica, e
talvez por isso fiquem espantadas com o ato de uma nova renomeação.
Culturalmente não acredito que os atuais moradores de Natividade queiram uma
nova alteração de nomes dos bairros, mas creio que desejem que o nome
popularmente conhecido seja o que realmente evidencie essas localidades. Talvez pela
facilidade e comodismo já impregnado nas mentes dos munícipes, ou também pelo
simples desconhecimento da história que moveu todo esse processo.
A fim de verificarmos mais detalhadamente como a tradição dos nomes antigos
dos bairros ainda está impregnada na mentalidade dos moradores de Natividade,
analisaremos alguns trechos da poesia de um habitante deste município, que muito
colaborou com informações preciosas com relação ao processo de renomeação dos
bairros analisados. Segue:
“A Bagaceira antiga de minha infância querida. Humilde gente amiga faz parte
da minha vida. A Liberdade famosa antro de prazer carnal, das messalinas dengosas,
do Todo Azul e o Pombal. Populares Velha e Nova, dos Prefeitos o empenho: disso foi
mais uma prova a Morada do Engenho. O Sindicato obreiro, café beneficiava. Produto
bem brasileiro em larga escala exportava. O lendário Pito Aceso, comunidade
modesta. Se agiganta, é coeso quando se trata de festa. Das construções elegantes. O
Balneário é lazer, variados restaurantes, um convite ao bem-comer”.
As palavras em negrito dizem respeito aos nomes conhecidos pela maioria da
população em Natividade hoje. É interessante observar que o poema, segundo palavras
54
nomeação com santos ocorreu por ele ser religioso... funcionava assim... o prefeito com
os vereadores se reuniam e votavam, mas já estava determinado... então quando subia
pra câmara já ia só pra votar... ou eles denominavam por ser santo ou eles
denominavam uma pessoa que tinha morrido... mas era determinado pelo prefeito e
com a votação da câmara... existia uma reunião entre o prefeito e os vereadores, mas
para a nomeação dos bairros não precisou necessariamente ter uma votação entre os
vereadores foi uma decisão do prefeito mesmo... era só uma votação pra poder fazer as
placas das ruas... só pra isso... já tinha decidido os nomes e o prefeito precisava de
uma autorização da câmara pra poder fazer as placas... pra tudo que acontece ali o
prefeito precisa do respaldo legal da câmara municipal... não houve votação da
câmara... houve a votação da câmara sim só pra fazer as placas da denominação das
ruas... os bairros foram criados pelas próprias associações... ficava mais fácil lembrar
da Rua Santa Terezinha ou Nossa Senhora de Fátima, então eles preferiram denominar
um conjunto habitacional...”
A população ainda permanece descontente, mas também silenciosa com seus
pensamentos sobre o processo de renomeação. Algumas por desconhecerem o fato, e
outras por mero comodismo e aceitação natural dos fatos.
Sabemos que a memória possui essa capacidade de fazer valer aquilo que é
significativo em nossa mente. Ela guarda e/ou seleciona o que é relevante para a
pessoa. Sua seleção é natural, e não seguem um padrão organizacional.
56
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FIORIN, J. L. Elementos de Análise do Discurso. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2002.
KOCH, F. G. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo, Contexto, 1997, p.116.
KONDER, L. Marx: vida e obra. São Paulo: Editora Paz e terra, 1998.
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. Tradução de José Carlos Bruni e Marco
Aurélio Nogueira. São Paulo: HUCITEC, 1989.
POLLAK, M. Memória e Identidade Social: estudos Históricos. Rio de Janeiro, v.5, n.10,
1992, p.200-212.
APÊNDICES
62
surgida em 1879 e tendo um grupo teatral muito ativo e engajado aos movimentos
sociais, inclusive, tendo importante papel no processo de emancipação do município.
Atualmente, a cidade acalenta a vontade de se equipar para atrair fábricas e
estabelecer uma infraestrutura que permita alavancar, de vez, o setor turístico, que se
baseia no turismo religioso (onde se destacam o Santuário das Aparições de Nossa
Senhora e a encenação da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo), no turismo cultural
(onde se destacam o Teatro, a Capoeira, Corais e Músicos) e no turismo rural (onde se
destacam as fazendas centenárias e as cavalgadas).
Marcos Históricos
Brasão de Armas
Interpretação do Brasão
Entrevistado: I. A. F.
Idade: 67 anos
Nascido em Natividade, onde reside desde então.
Ocupação: Poeta.
votou contra... pois não trabalhava na câmara entrei um ano depois... como
concursado... na função de secretário geral... quando eles me indicam é porque
participei de vários processos de Natividade... e como me interesso pelas coisas da
cidade... eu procuro saber sobre o porquê Bagaceira?... por que Pito aceso?... por que
Areião?... por que Liberdade?... por que Sindicato?... Pito aceso só era o morro...
ladeira são Cristóvão que chamamos hoje... o bairro era Sindicato... tem hoje o “Ganha
Tempo” da prefeitura que foi uma empresa... aquele ali era um departamento dos
beneficiários do café... existia um departamento de vários funcionários... então... pra
facilitar o trabalho dos bairros pra você... pode dividir os bairros como estão divididos...
começa pelo centro... entendeu... do centro que é onde começa... onde começou seis
planejamentos todo povoado brasileiro... toda comunidade brasileira começou quase
que no mesmo jeito... entendeu?... com a proximidade com Minas Gerais temos muitas
características de minas porque logo na frente tem Minas... sofremos influência de
Minas Gerais... então o desbravador é mineiro... José de Lanes e os dois irmãos dele
são mineiros... eram de Ponte Nova... então aqui no centro construiu a casa dele ali
onde é o clube ele construiu uma capelazinha onde tá o CLEN ficava por aqui e foi
esticando... Natividade é um vale não tem onde expandir para os lados vai esticando...
aí começou a surgir... Surgiu a Liberdade... Bagaceira... talvez a Bagaceira primeiro que
a Liberdade porque ele tinha a fazenda do Engenho lá... surgiu o Pito aceso e o
Sindicato e não tinha mais o bairro nenhum... era só isso... resumia nisso e esses
nomes foram dados de acordo com a situação... hoje por exemplo tem mais bairros... o
que era apenas uma rua virou bairros... isso acontece normalmente tinha a rua Vinhosa
ficou o bairro Vinhosa... isso acontece normalmente entendeu?... um fato que acontece
em todas as localidades... cria uma rua aí ela cresce e cria os bairros... o Pito aceso
que era um morrinho... uma ladeira... tinha esse local de beneficiar café e esse local
tinha um departamento... um local mesmo de beneficiários... tinha o sindicato... bairro
Sindicato... mas o Pito está separado... Pito ou Sindicato... eles se entrelaçam... aí você
vai perguntar... por quê?... tem uma versão né?... pode alguém ter outro... vamos
começar pelo Pito... o Pito aceso segundo consta um morador antigo que por
coincidência esse morador era meu avô... na primeira metade... bem no início do século
vinte... talvez em mil novecentos e quinze... dezesseis e vinte... a primeira metade do
68
século vinte... ele morava ali nesse morro que era cheio de zonas de café... do lado do
barranco... ele morava num rancho daqueles... toda cidade não existia luz elétrica e
nem nada e como não tinha outra diversão o pessoal fazia o batuque... tinha o
barulho... outras pessoas iam tocar cavaquinho ou qualquer tipo de instrumento e eles
dançavam... concentrava muito negro ali no Pito... isso é uma característica de ser
muito povoado ainda mais morro de gente pobre... mas você pode observar que dá
muita gente da raça negra e o Pito não fugia a regra... esse pessoal tinha uma
matriarca que se chamava Generosa... era mãe... tia ou conhecida desse rapaz que
toda tarde depois do serviço ia fazer um batuque e meu avô já não era tão novinho
mais ficou aporrinhado com aquilo e certo dia fez um comentário com alguém “esse
morro aqui é muito bom... mas isso aqui é um pito... e um pito aceso e a desgraça
desse pito é o bororó da Generosa”... ele deu o nome do batuque de Bororó... o Bororó
da Generosa... o filho... sobrinho ou neto dessa senhora que era uma matriarca negra
se reunia no fina de tarde para fazer um batuque que esse senhor Venâncio Alves de
Farias deu o nome de Bororó e que era um Pito aceso... pito cachimbo e a desgraça do
pito era o Bororó... essa é minha visão... o Sindicato que é entrelaçado com o Pito...
esse departamento de café que tinha ali para beneficiar o café criou o Sindicato e ficou
o nome de Sindicato... deu pra sacar?... isso é a minha versão do Sindicato... Bagaceira
é a mais simples... o Engenho era a fazenda e o bagaço da cana jogava naquele lugar
ali... no local que criou as casinhas ali... Bagaceira... um depósito de bagaço... nome
desse lugar veio do bagaço de cana moída na fazenda do Engenho... a razão de serem
jogadas ali ninguém sabe... não era muito comum ter gado naquela época... a cultura
era o café... a mola compulsória do lugar era a lavoura... essa é a razão do nome
Bagaceira... e a Liberdade eu procurei saber por que ninguém me informou... difícil
você chegar a uma conclusão do nome do bairro Liberdade... aquela rua margem do rio
era um local de baixo meretrício e muitos e muitos anos funcionou lá uma zona de
prostituição que chamava de Liberdade... não sei se alguém ainda chama esse local de
casas de liberdade... essa é a razão... lá tinha esse local que ficava as prostitutas... não
era motel... elas moravam lá mesmo... eram mulheres excluídas da sociedade que com
desvio de conduta a família não aceitava... porque a sociedade não aceitava... na cada
de patroa muito raramente porque as patroas tinham medo por seus maridos e filhos...
69
na época era rígido... que não era bairro... mas que passou a ser bairro... Areião... era
por causa da quantidade de areia que existia naquele morro... descia e vinha pro
centro... descia muita areia daquele lugar ali... era chamada Rua do Areião... hoje eles
falam da rua que virou bairro... apesar de ser um bairro bem localizado no centro... ele
virou bairro... então... os bairros novos vai virar história porque hoje tem a Morada do
Engenho por causa da Fazenda do Engenho... tem a Popular Nova ao lado do
Engenho... porque Popular Nova?... porque tinha as casas da outra ponta... Popular
Velha porque era Popular... isso aqui quando foi criado era chamado de Conjunto
Habitacional ( ) Centenário... por quê?... porque ele foi concluído em mil novecentos
e setenta e dois... foi o ano do ( ) ... da independência do Brasil... mas ninguém
nunca falou isso... só falava popular... o Vavá também influenciado já no outro mandato
dele... o segundo mandato... nomeou de bairro São Luíz Gonzaga... oficialmente esse é
o nome... mas você vai ver na placa Conjunto Habitacional ( )... popular velha... era
só popular porque não tinha a nova... então quando construíram as novas casas
populares aqui ficou como popular velha... uns chegam correspondência como popular
velha e outras como São Luíz Gonzaga... mas nunca como conjunto habitacional ( )
... é totalmente desconhecido e a popular nova chama-se Santa Terezinha e tem o
Morro da Formiga que também era conjunto habitacional feito direcionado ao povo da
prefeitura... lá tinha um campo de futebol que era Campo da Formiga... Morro dos
Cabritos... que chama Morro São Pedro... não tem nada de Oscar Brito... ele não
existia... é uma versão totalmente sem fundamento... lá no morro ficavam cabritos
mesmo... tinha uns cabritinhos... alguma coisa... o prefeito Altair Alves... pai do Murilo
quis construir casas naquele morro lá... lá no morro que foi feito para cabrito... as
pessoas começaram a desdenhar porque o morro era bem íngreme... em mil
novecentos e sessenta e três... portanto há quarenta e oito anos atrás... ele foi eleito no
dia três de outubro de mil novecentos e sessenta e dois... quando foi em sessenta e
três ele cortou o morro para doar as casas pra alguém construir e surgiu o Morro dos
Cabritos... não tem nada de Oscar Brito... e foi o Vavá que deu o nome de Morro São
Pedro... não é novidade não... aqui em Natividade que ficou muito concentrado isso... a
formação do povo brasileiro é católica... todas as cidades do Brasil tem nome de
santo... São Salvador dos Campos dos Goytacazes... São José do Hawaí em
70
Itaperuna... São Sebastião do Rio de Janeiro... São Pedro da Aldeia... Santa Maria
Madalena... a influência que veio dos desbravadores... tenho um projeto em mente que
iria ajudar nas escolas... ruas e bairros e tentar convencer ao legislativo a oficializar os
bairros antigos... não desrespeitando a fé de ninguém... mas deixar assim... como
patrono do bairro do Pito acesso Nossa Senhora de Fátima... como patrona do bairro
Bagaceira... Nossa Senhora Aparecida... deixava o morro São Pedro... mas Bagaceira...
Liberdade... Areião... deixava como patrono... isso é algo que tenho em mente pra
fazer... pra evitar e não tirar... é preciso que alguém sugere... por exemplo Cantinho do
Fiorello... não tem nome de santo e se colocar nome de santo não vai pegar... se
pudesse alterar faria sim sem comunicar... porque tem que sentir o clima que aí você
sabe o que o povo quer... existe uma complicação para alterar nome de rua... você
ouviu falar que o Senhor Mauro Alves Ribeiro era um homem de valor... importante...
com uma visão ampla... empresário muito bem sucedido... quando Mauro morreu... em
agosto de mil novecentos e oitenta e quatro... estava ainda o pessoal vivendo o trauma
da vida dele... foi sugerido que mudasse a avenida Amaral Peixoto por Avenida Mauro
Alves Ribeiro Júnior... o pessoal criou o maior problema... a pessoa pode não ter
conhecido... mas se mudar a pessoa vai criar problema... mas nessa questão do bairro
não... não precisa consulta vai oficializar o que já é sem magoar a outra parte... não se
deve brincar de fazer lei... tem que fazer e pronto... se alguém quiser que mude
depois... no momento da mudança não causou nada em ninguém porque foi entre
quatro paredes... não houve nenhum tipo de movimento... a população não teve acesso
a nada...
Entrevistado: A. G. F.
Idade: 76 anos
Nascida em Natividade, onde reside desde então.
Ofício: Poetisa e professora em Natividade.
O Bairro da Liberdade que tem esse nome ou tinha... ou tem... nem sei agora... toda
vida foi conhecido como Bairro da Liberdade... depois o prefeito resolveu trocar os
nomes... mas ninguém usa o nome novo... por quê? Porque Liberdade é um bairro
71
tradicional... né?... esse nome vem desde o começo da cidade... então troca sem fazer
uma pesquisa... sem nada... que o povo não aceita... não usa o nome... não é que a
gente tenha alguma coisa contra o novo nome... a gente tem contra a mudar uma coisa
tradicional... o Bairro da Liberdade... dizem os antigos que tem esse nome porque aqui
sem pré houve muita “liberdade” aqui nesse bairro... sabe?... dizem que o nome vem
daí... cada qual tem a sua história... acho que essa tal “liberdade” era a vida fácil de
antigamente... mas atualmente eu não penso assim... acho que importante é o sentido
nato da palavra... a palavra liberdade mesmo que diz o direito que cada um tem de ir e
vir... eu acredito que seja a liberdade que caracteriza o bairro... e o nome atual é Nossa
Senhora do Rosário... nome que o prefeito colocou. eu não tenho nada contra o nome...
só acho que poderia colocar o nome de Nossa Senhora do Rosário como padroeira do
bairro... uma vez que temos até a Praça do Rosário ali já... né?... ai seria o nome de
Nossa Senhora do Rosário como padroeira do bairro e junto o nome mesmo do bairro
como Liberdade... eu acredito que o novo nome não pegou mesmo e a prova disso é
que ninguém usa o novo nome... se ele tivesse feito um plebiscito ou coisa assim... com
certeza o povo pediria para continuar o nome Bairro da Liberdade... assim como em
outros bairros também... mas ele não fez isso... ele colocou o nome e alterou o nome de
todos os bairros... sem fazer consulta pública... que eu acho que seria o necessário
para mudar uma coisa. eu penso que para se quebrar uma tradição tem que ter muito
apoio da opinião pública... e no nosso caso... eu acredito que ele fizesse uma consulta..
ele não teria mudado... eu acho... porque não é só o nosso bairro que aconteceu isso...
tem o Bairro do Sindicato... o Bairro da Bagaceira... e eu penso... mudou porque?...
porque mudar se o pessoal continua usando os mesmos nomes antigos?... acho que o
prefeito sempre foi uma pessoa muito religiosa... ele sempre foi muito religioso...
sempre participou de tudo na igreja católica... então eu acredito que tenha sido essa a
razão dele mudar os nomes dos bairros... e talvez também... ele quisesse homenagear
os santos... eu acho... acredito também que nem mesmo a igreja ele consultou para
mudar os nomes... foi uma coisa dele mesmo. não sei ao certo... não tenho fundamento
para poder afirmar isso... é só minha opinião... acho que ele não consultou a ninguém e
nem mesmo a igreja... ele decidiu mudar e pronto... ele era uma pessoa que gostava de
fazer as coisas... uma pessoa dinâmica... então ele pensou em revolucionar isso
72
mudando esses nomes todos... mas eu acho que foi uma coisa dele mesmo... acho que
seriam escolhidos os nomes antigos porque é uma que vêm desde o início... antes
mesmo de sermos município... quando Natividade era distrito de Itaperuna... ai esses
nomes já existiam... então eu acredito que se fizesse agora um plebiscito e eu acredito
que o pessoal gostaria que mantivesse o nome antigo... o nome tradicional... eu
acredito que toda população deve cultivar esse mesmo pensamento meu de manter a
tradição... então no caso se fosse feita uma consulta popular... eu acredito que todo
mundo votaria no nome antigo... acho que é involuntariamente que as pessoas ainda
usam os nomes antigos... não é por causa de quererem valorizar a cultura não... eu
acho que as pessoas nem pensam no novo nome... quando se fala o nome do Bairro da
Liberdade... por exemplo... ninguém pensa que ele se chama Nossa Senhora do
Rosário... é Bairro da Liberdade pra todo mundo... velhos... rapazes e crianças... acho
que uma tradição não pode ser quebrada... é como eu digo sempre... “o povo que não
cultiva uma tradição é um povo que perdeu a noção do seu próprio destino”... eu já li
isso em algum lugar quando fiz um encontro em cultural em Niterói... talvez... ai lá
alguém falou isso e eu achei interessante... e é mesmo... eu sou muito presa a essas
coisas antigas... eu gosto muito de coisa do passado... eu gosto muito do folclore...
nosso folclore é pobre e nós temos que procurar cultivar aquele que a gente tem... e
acho que esses nomes dos bairros se encaixam nesse folclore e nessa tradição...
Entrevistado: J. M.
Idade: 72 anos
Nascido em Natividade, onde reside desde então.
Acho que não lembro muita coisa não da história... minha cabeça não anda muito boa
mais... o que eu sei é que a Bagaceira era um local de cana-de-açúcar da Fazenda do
Engenho... onde hoje fica a Vila Cunha... O dono da fazenda era o doutor Tancredo
Lopes e o senhor Lannes Dantas Brandão... eu lembro que na Liberdade havia
rivalidade entre os meninos de um bairro com os do outro, e tinha um senhor na
Bagaceira que ensinava luta para defesa... Átila Ribeiro... irmão de Olímpio também da
Bagaceira... no centro havia divisão de ruas para pobres e negros e do outro lado a
73
classe abastada... eu me lembro disso... acho que já sou velho sabe, mas tinha também
o baile das moreninhas que era na parte de cima do cinema para os pobres e negros
assistirem e a outra parte no Clube Lítero Esportivo... ao lado da casa do doutor Walter
Leite Novaes... médico que atendia as pessoas indo às residências a cavalo... eu
lembro também que no Morro do Areião a família antiga que morava lá era do Pedro
Americano... avô do Brasilino Americano do INSS... quando o Vavá trocou os nomes
dos bairros eu não vi o pessoal achando ruim não... ninguém comentou nada na hora...
ele foi lá e mudou... mas também não perguntou quem iria gostar ou não... eu não
comentei nada porque para mim tava tudo na mesma... eu já conhecia os nomes
antigos mesmo e o nome de santo lá não iria pegar mesmo... eu acho que ninguém usa
mesmo esse nome de santo não né... eu acho... eu nunca vi não... o Vavá era uma
pessoa boa, tratava a gente bem na rua e ele era muito católico... ia na igreja...
ajudava... que lembre né?... e o povo católico gostava dele porque ele ajudava a igreja
nas festas... na construção... essas coisas né?... mas eu acho que ele não deveria ter
mudado os nomes dos bairros não... sabe... foi bobeira dele... ninguém usa mesmo
isso... então deixa o nome mesmo que a gente sabe... cada um tem sua história
mesmo... é o que eu acho...
Entrevistado: G. L. R. V.
Idade: 53 anos
Era Agente Administrativo quando os bairros foram renomeados.
O Sr. Demerval era uma pessoa muito fácil de lidar... muito religioso ... acredito que o
fato de ele ser muito religioso influenciou na sua decisão de renomeação dos bairros
em Natividade sim... não acredito que o motivo de hoje poucas pessoas conhecerem os
verdadeiros nomes do bairros da cidade se dá pelo fato que na época da nomeação
dos mesmos não tenha sido passado a população essa mudança... acho que o povo
não entendeu né... ele já era visto mesmo como uma pessoa muito religiosa... mas aqui
em Natividade as pessoas já estavam acostumadas com os outros nomes... pra você vê
ali perto do Padrão, qual é a referência ali?... era conhecido como ponte do “Seu Ari”
porque ele tinha um posto de gasolina ali... você vê aqui nesse bairro aqui da
74
Liberdade... ninguém falava bairro da Liberdade... todo mundo conhecia como ponte do
“Seu Joel” porque ele tinha um posto de gasolina ali... Morro da Formiga, ele colocou
um nome no bairro ali, tem nome de santo também... acho q é Santa Rita de Cássia...
pessoal só conhecia como Morro da Formiga... a Rua do Campo ali, o bairro chama Vila
Almeida, mas todo mundo conhece como Rua do Campo porque? Por causa do campo
do Nac... então o pessoal vai mais assim pelo costume... pelo nome fantasia... lá no
Pito por exemplo, o bairro é conhecido como bairro do Pito... Ali é Ladeira São
Cristóvão, conhecido como bairro do Pito, se fala Ladeira São Cristóvão ninguém
sabe... Morro São Pedro, conhecido como Morro dos Cabritos... ele divulgou, mas fica
na memória do povo né... o povo acostumou... igualzinho o apelido... você tem seu
nome, mas a pessoa trata você com o apelido... aí várias pessoas não vão conhecer
pelo nome, somente pelo apelido... então eu creio que é por aí... você vai faz um bairro
bonito, coloca um nome bonito, e o pessoal só vai conhecer pelo nome que está
acostumado ouvir dos mais antigos de lá... não me recordo se aqui na prefeitura
alguém foi contra... mas eu creio que sim... talvez alguém fez crítica, porque houve a
troca dos nomes e as pessoas estavam acostumadas com os nomes antigos, mas eu
não tenho lembranças se alguém foi contra a troca dos nomes não.
Entrevistado: A. B. F.
Idade: 53 anos
Aposentada
Era Chefe de gabinete e Secretária quando os bairros foram renomeados.
Demerval Lanes Vieira (Vavá) era uma pessoa íntegra... uma pessoa que era mais dos
pobres mesmo... ele gostava disso aqui... inclusive tem na história que quem desbravou
era um dos parentes do Demerval... então ele amava isso aqui... era um político nato...
ele já acordava fazendo como se fosse prefeito dentro de casa mesmo como já dizia a
dona Zenir (esposa)... ele... eu acredito que o Vavá, ele não foi pressionado por
ninguém, era religioso, tinha os seus santinhos que entregava os santinhos viam
sempre com umas mensagens bonitas, uns versículos da bíblia e os próprios ofícios
que a gente batia na máquina tinha versículos e mensagens bíblicas... eu acredito que
75
foi uma coisa dele mesmo... não foi influenciado por nada... ele era muito religioso
freqüentava a igreja do padre Moacir sim... que era a única que predominava no centro
da cidade... no centro da cidade existia a igreja do padre Moacir, num era a igreja
católica... então não é que ele influenciou... é que ele nos próprios folhetinhos dele já
distribuía seus santinhos... fazia aquelas coisinhas de campanha dele... é tanto que
todos falam...vou entregar santinho... agora não é aqueles santinhos de verdade é a
foto do candidato... ele dava o santinho e dava o retrato, atrás do retrato às vezes tinha
mensagem ou era calendário pro ano inteiro... a nomeação com santos ocorreu por ele
ser religioso... funcionava assim... o prefeito com os vereadores se reuniam e votavam,
mas já estava determinado... então quando subia pra câmara já ia só pra votar... ou
eles denominavam por ser santo ou eles denominavam uma pessoa que tinha
morrido... mas era determinado pelo prefeito e com a votação da câmara... existia uma
reunião entre o prefeito e os vereadores, mas para a nomeação dos bairros não
precisou necessariamente ter uma votação entre os vereadores foi uma decisão do
prefeito mesmo... era só uma votação pra poder fazer as placas das ruas... só pra
isso... já tinha decidido os nomes e o prefeito precisava de uma autorização da câmara
pra poder fazer as placas... pra tudo que acontece ali o prefeito precisa do respaldo
legal da câmara municipal... não houve votação da câmara... houve a votação da
câmara sim só pra fazer as placas da denominação das ruas... os bairros foram criados
pelas próprias associações... ficava mais fácil lembrar da Rua Santa Terezinha ou
Nossa Senhora de Fátima, então eles preferiram denominar um conjunto habitacional...
não tinha bairro aí falava a essa rua aqui vamos chamar ela de Sindicato... essa aqui
fizeram umas populares novas aqui, onde? Num tem a placa no lugar aí ficava vamos
chamar de Popular Nova? Aí colocava Popular Velha, Popular Nova, Liberdade,
Areião... mas foi tudo porque não lembravam ou não tinham acesso a placa... é muito
difícil você sair daqui até lá... você ta vendo alguma placa daqui até lá até hoje? Nós
estamos em 2012... então eu acho que eles pecam nessa porque se tivesse mais
propagação... se tivesse tipo assim em cada curva... em cada encontro da curva tivesse
vocês estão indo pra rua tal transversal a fulano de tal... porque tem gente que passa
aqui e não sabe que rua que eu estou morando... sabe que é Popular Nova, mas não
sabe que é rua Abel Jacinto da Fonseca... as vezes fala Morada do Engenho... ah você
76
mora na Morada do Engenho... Entendeu? Fica até hoje isso, mas a culpa é do
executivo, de passar pra população... eles precisam do apoio só pra denominar as ruas,
mas eles não dependem do povo para denominar os bairros... não é necessário que o
prefeito tivesse comunicado a população antes de ter tomado a decisão da nomeação
dos bairros... nenhum prefeito precisa, já imaginou se fosse no Rio de Janeiro? Eles
não saem do gabinete deles pra perguntar outras pessoas, simplesmente colocam na
cabeça, eles que criam e a câmara autoriza, quando chega lá em cima já está votado é
só assinar... que eu lembre teve sim uma votação na época do Murilo Alves Ribeiro teve
um plebiscito porque houve muita confusão quando ele queria acabar com a divisória
das ruas, que era a rua dos pobres e a rua dos ricos, então ele fez uma votação existe
um livro, existem muitas assinaturas inclusive eu assinei, esse livre ficou no BANERJ e
todo mundo que passava via uma maquete, porque todo mundo falou demais que não
ia ficar bonito, que ele não deveria mexer na estrutura, como foi agora do jardim com o
Taninho que fez a maquete, só que o Taninho colocou um outdoor, teve votação na
câmara, teve votação do projeto, teve dois projetos, eles votavam qual ficaria melhor e
ficava centralizado... esse plebiscito do Murilo que foi uma ótima coisa que ele fez... o
Murilo nunca quis mudar o nome da praça... o popular prevaleceu, porque o que te falei,
por incoerência, por falta de interesse não do prefeito, mas tem vários secretários ali o
secretário de obras de administração, eles poderiam fazer uma divulgação e placas
para a população... isso...conjunto habitacional...Tubiacanga foi por causa da novela...e
caiu na boca do povo vira lei...então não sobressaiu, sobressaiu mais o que o bairro
determinava o que eles achavam mais fácil de decorar, os próprios carteiros eles tem
anotados assim o nome dos bairros, eu acredito que você pode digitar o nome correto
nos documentos, mas na hora de falar você vai falar... ah vou no bairro da Liberdade...
não tem jeito o que vai prevalecer sempre é o que o povo determina... então os
prefeitos não sei...deveriam interagir mais com as pessoas.
77
ANEXOS
78
_____________________________________
Assinatura
ANEXO C – Poema
Natividade
O ladeiroso Areião
Com a Encosta do Sol.
81
A Bagaceira antiga
de minha infância querida.
Humilde gente amiga,
faz parte da minha vida.
De apertadas ruelas
estreitando amizades.
Janelas frente janelas,
sincera afetividade.
A Liberdade famosa
antro de prazer carnal,
das messalinas dengosas,
do Todo Azul e o Pombal.
O destacado Castelo
outrora um bairro pobre.
Transformou-se, ficou belo,
82
Na pequena Avenida
quem mora lá se enfeitiça.
Não sei por nada da vida,
é a sede da justiça.
O bairro desenvolvido
todo ano se engalana,
por seu parque distinguido,
com a festa da EXFANA.
O Sindicato obreiro,
café beneficiava.
Produto bem brasileiro
em larga escala exportava.
Didi Faria.