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FERNANDO VICENTE
JUAN ARNAU
28 ABR 2018 - 16:47 BRT
Esses são, em termos gerais, os três vértices do estoicismo antigo, que parece
ressurgir em nossos dias. É uma miragem? As sociedades modernas se
encontram dominadas pela rentabilidade tecnocrática da selfie, a autoindulgência
(todos nós merecemos, especialmente se pagarmos) e o capricho. Significa
fabricar um ego frágil e injustificadamente vaidoso. Uma situação que pode ser
supostamente remediada com uma boa dose de estoicismo. Uma vez que não
podemos controlar o que nos acontece e vivemos totalmente voltados para fora,
atemorizados e estressados, uma vez que somos mais circunstância do que nunca,
talvez essa antiga filosofia possa nos ajudar, ela que inspirou Marco Aurélio,
imperador de Roma, um homem que, por sua posição, conheceu o estresse
melhor do que ninguém.
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Essas metas nos trabalham por dentro e parecem projetadas para excluir a
contemplação e a observação atenta e desinteressada. Contra a tirania da meta, os
estoicos pretendiam se livrar de paixões muito urgentes e monopolizadoras. De
fato, um dos sinais distintivos foi considerar a poesia como meio legítimo de
conhecimento. A lírica nos mantém em uma atitude aberta e nada sabe de metas e
objetivos. A poesia era aos estoicos, especialmente a de Homero,
genuína paideia. Entender isso significa ganhar uma liberdade interior, não estar
eternamente abduzidos pelo circo e as telas, uma independência moral, não a
opinião geral e a gritaria do Twitter e transcender a dependência da pessoa em
relação a sua parte animal (a suposição de que o homem é esse ser singular que,
como dizia Novalis, vive ao mesmo tempo dentro e fora da
natureza). Com esse “cuidado de si”, que Marco Aurélio
chamava meditações, era possível conseguir uma autarquia
ética que teria uma importância decisiva no pensamento
político grego.
Vista da Sala dos Filósofos dos Museus Capitolinos de Roma. ALAMY STOCK
PHOTO
Concebiam a alma como uma lousa onde as impressões eram gravadas. Delas
surgem as certezas (se a alma aceitar a impressão) e os interrogantes (se for
incapaz de localizá-la). Para os estoicos, o mundo era, como para nós,
substancialmente corporal, mas sua física não nega o imaterial. Concebe a
natureza como um contínuo dinâmico, coeso pelo pneuma, um sopro frio e
quente, composto de ar e fogo. Herdaram de Heráclito o fogo como princípio
ativo e primordial, de onde surgiu o restante dos elementos e para onde
retornaram. Como o humor e o pranto, o pneuma não se movimenta e sim se
“propaga”, contagiando com alegria e doença.