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IDEIAS

Maria Helena Guimarães: "Há um tédio gene-


ralizado entre os alunos do ensino médio"
A secretária executiva do Ministério da Educação fala das mudanças na
etapa de ensino eleita prioridade pelo novo governo
BEATRIZ MORRONE (TEXTO) E FLÁVIA YURI OSHIMA (EDIÇÃO)
10/08/2016 - 09h00 - Atualizado 15/08/2016 17h29

DESAFIO
Maria Helena Guimarães de Castro, secretária executiva do Ministério da
Educação. Ela afirma que o ensino médio brasileiro é desmotivador e
precisa mudar

Logo que foi convidado a assumir o Ministério da Educação, em maio deste ano, o então
deputado Mendonça Filho (DEM-PE) telefonou para a socióloga Maria Helena Guimarães
de Castro. Ela seria sua secretária executiva. No currículo, ela tem a presidência do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a secretaria executiva
do Ministério da Educação e as secretarias de educação de São Paulo e do Distrito Federal. É
o nome ideal para equilibrar a inexperiência de Mendonça Filho em educação.

Na entrevista a seguir, Maria Helena detalha o que deve ocorrer nos próximos meses com
o ensino médio, etapa eleita prioridade pelo novo ministro da Educação.

O ensino médio é dono dos maiores índices de evasão e de reprovação escolar. Em 2014,
mais de 620 mil alunos abandonaram os estudos nessa etapa de ensino, segundo o Censo
Escolar. É o triplo do registrado no ensino fundamental. No Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb), o ensino médio alcançou apenas 3,7 pontos, em uma escala de 0 a
10.

Os dados escancaram a realidade de um ensino médio falido, incapaz de cumprir metas


e de atender às necessidades de seus estudantes. Desde 2013, tramita no Congresso
Nacional um projeto de lei (6.840/2013) com o objetivo de reformar essa etapa de ensino.
Entre suas propostas está a criação de um currículo dividido em áreas do conhecimento
(linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas). A medida nasceu da
crítica à existência de 13 disciplinas obrigatórias que pouco conversam entre si. Uma jornada
integral de no mínimo sete horas diárias e a integração da formação profissional ao currículo
regular estão entre as sugestões do projeto.
Maria Helena adianta que, nos próximos dias, o MEC encaminhará ao Congresso um
projeto de lei para alterar esse que está em trâmite. Uma das principais diferenças
propostas pelo novo documento será a possibilidade de o estudante adquirir dois diplomas
em três anos: um do ensino regular e outro do técnico.

Hoje, isso não é possível. Os alunos de ensino médio são obrigados a cumprir um currículo
comum a todos os estudantes, com 13 disciplinas e três anos de duração. Aqueles que
quiserem um certificado de formação profissional – oferecido aos que cursam o ensino
técnico em qualquer modalidade – devem enfrentar mais dois anos de estudo ou frequentar
aulas em dois turnos.

Outra medida já tomada pelo MEC para alterar o ensino médio foi o adiamento da
entrega da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para essa etapa. O novo prazo é
março de 2017. Até lá, espera-se ter tempo para aprovar a lei que dará uma nova estrutura ao
ciclo. A versão final do documento para a educação infantil e para o ensino fundamental
deverá ser definida até novembro deste ano. “A partir do momento em que a Base estiver
pronta e aprovada, investiremos na formação continuada de professores”, diz Maria Helena.

Unidade e diversidade na educação

"A Base Nacional Comum ajudará a mudar a educação no Brasil"

ÉPOCA – O ensino médio brasileiro precisa ser reformulado?


Maria Helena Guimarães de Castro - Há muito tempo defendo uma completa
reformulação do ensino médio brasileiro. Todas as pesquisas mostram que há um tédio
generalizado entre os alunos dessa etapa. Eles acham o currículo chato, cansativo e
desmotivador. Isso acontece independentemente de a escola ser pública ou privada, pior ou
melhor, cara ou barata. Hoje, os alunos têm outros objetivos do ponto de vista das
linguagens. Eles se interessam, por exemplo, por uma produção artística de rua, que incentiva
o protagonismo juvenil. Como aproveitar esse interesse em algo que possa ser escrito pelos
alunos, em uma autoria coletiva, sem seguir obrigatoriamente um ritual tradicional de
produção de texto? Os jovens estão conectados a outra cultura. Vivem usando redes sociais e
smartphones. As tecnologias foram tão aceleradas e a dinâmica da mudança foi tão intensa
que não tem como um jovem se identificar com o modelo de ensino médio atual. Ele não
atende às aspirações dos estudantes.

ÉPOCA - Qual o principal problema do modelo atual de ensino médio?


Maria Helena - Nosso modelo, que aplica um ensino igual para todos os alunos, é único no
mundo. Como apelidou Cláudio Moura Castro, é o “ensino médio jabuticaba”, só tem aqui.
Em países como França, Inglaterra, Alemanha, Finlândia, Cingapura e Austrália, o currículo
do ensino médio se diversifica e se flexibiliza quando alunos atingem os 15 anos de idade. O
próprio Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes] é aplicado a jovens de 15
anos, exatamente porque na maioria dos países o currículo é igual para todos até essa faixa
etária. Nos Estados Unidos, a parte obrigatória do currículo, comum a todos, representa
menos da metade da carga horária. A outra metade é composta de cursos eletivos,
organizados pelos alunos de acordo com suas preferências e interesses.

ÉPOCA - Como o Brasil tem evoluído no debate para redesenhar essa etapa de ensino?
Maria Helena - Esse debate é antigo no Brasil, mas nunca avançou muito. As diretrizes
curriculares de 2012 estabeleceram 13 disciplinas obrigatórias para o ensino médio, sem
considerar possibilidades de flexibilização do sistema. É discutido no Congresso Nacional,
desde 2013, o projeto de lei 6.840, que tem como objetivo reformular o ensino médio. Agora,
ele está em etapa final de tramitação. Paralelamente, o Consed [Conselho Nacional de
Secretários de Educação] mobilizou um grupo de trabalho – do qual já participei – para
pensar em possibilidades de reforma. Agora, o ministro Mendonça Filho quer encaminhar ao
Congresso um projeto de lei substitutivo ao Projeto 6.840. Esse novo documento incorpora
recomendações do Consed e várias sugestões de especialistas envolvidos nas discussões
sobre a reforma. A sugestão está em fase final, já está no jurídico do MEC, e deve ser
encaminhada em breve à Comissão de Educação da Câmara.

ÉPOCA - Quais as principais mudanças que o substitutivo vai propor?


Maria Helena - Uma delas é a flexibilização do ensino médio a partir da segunda metade do
2º ano. Atualmente, o aluno que quer um diploma de curso técnico – que oferece formação
profissional – precisa cursar três anos de ensino médio regular e mais, em média, dois anos
de técnico. É possível, também, fazer isso de forma concomitante: o ensino regular em um
período e o curso técnico em outro. A sugestão é mudar esse modelo. Para se formar no
ensino técnico, o estudante deverá cursar o currículo regular, aquele que é comum a todos,
por um ano e meio. Essa etapa deverá abordar o que é essencial. A partir daí, ele poderá optar
por um curso técnico, com um ano e meio ou dois anos de duração. Ou seja, em cerca de três
anos, terá dois diplomas.

ÉPOCA - E quais serão as possibilidades oferecidas aos alunos que não quiserem se
formar em um curso técnico?
Maria Helena - O que propõe o projeto de lei 6.840 sobre a divisão do currículo por áreas de
conhecimento permanece. A partir da segunda metade do ensino médio, o estudante poderá
escolher itinerários formativos diversificados. Depois de cursar durante um ano, um ano e
meio, aquilo que é comum a todos, ele poderá se aprofundar na área que escolher: exatas,
ciências sociais ou ciências da saúde, por exemplo. Se o aluno optar por se aprofundar em
ciências sociais, ele provavelmente terá uma carga horária maior de história, filosofia,
sociologia, atualidades. A ideia é que língua portuguesa e matemática continuem sendo
ensinadas de forma aprofundada até o final do ensino médio, independentemente da escolha
do aluno.

ÉPOCA - A Base vai legislar sobre todas as etapas do ensino médio ou apenas sobre a
primeira, comum a todos os estudantes?
Maria Helena - Essa é uma discussão que ainda está sendo feita pelo comitê gestor em
parceria com especialistas. Uma das propostas é que a Base contemple até o final do 1º ano
do ensino médio, quando os alunos têm 15 anos de idade. É assim na Austrália. A partir daí,
caberá a cada sistema de ensino definir os itinerários formativos, ou seja, as possibilidades de
estudo que se abrem a partir do final da etapa comum a todos. A Base poderá determinar,
também, o currículo aprofundado em português e em matemática que deve permanecer até o
final do ensino médio. Isso ainda não está decidido. Vamos preparar a terceira versão da
Base englobando educação infantil e ensino fundamental. Queremos incluir também o 1º ano
do ensino médio, que será igual para todos os alunos. Para a segunda etapa do ensino médio,
quando haverá possibilidade de flexibilização, queremos esperar a aprovação do projeto de
lei que reformulará o ciclo.

ÉPOCA – Na prática, como isso será implementado?


Maria Helena - Esse projeto vai exigir uma transição de acordo com a realidade de cada
estado. Uma escola poderá oferecer aprofundamento só em ciências exatas e da natureza, por
exemplo. Ela pode não ter condições de oferecer cursos voltados para letras e ciências
sociais, modalidades que serão ofertadas por outra instituição. No caso dos cursos técnicos,
pode ser que o estado já tenha uma estrutura para ofertar o ensino, de maneira articulada.
Explico: até a metade do 2º ano do ensino médio, o aluno pode estudar em uma escola
pública. Depois, ele pode passar a frequentar uma escola do Sistema S ou uma escola técnica
da rede estadual, da rede federal. Diferentes combinações serão possíveis. É importante
deixar claro: isso não será feito de um dia para o outro. Ninguém vai resolver todos os
problemas históricos estruturais do ensino médio rapidamente. Vamos abrir um novo
caminho para essa etapa de ensino.

ÉPOCA - O projeto de lei 6.840 propõe a jornada integral para o ensino médio. A
senhora concorda com isso?
Maria Helena - O ministro Mendonça Filho é um grande defensor da jornada integral. Mas a
implementação desse modelo vai depender muito das condições de cada estado. Hoje, as 20
mil escolas públicas de ensino médio no Brasil têm, em média, quatro horas de aula por dia.
É pouco. Para oferecer seis ou sete horas de aula é necessário um investimento muito alto em
contratação de professores, com jornada única e dedicação exclusiva. Nem todas as redes têm
recursos suficientes para isso. Apenas 15% dos recursos do Fundeb [Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação] vêm
do governo federal. Os 85% restantes são recursos estaduais e municipais. Então, não existe
milagre. A ampliação da jornada vai exigir um investimento elevadíssimo. É um processo
importante e desejável, mas deverá acontecer aos poucos, de acordo com as possibilidades.

ÉPOCA - Muitos dos problemas do ensino médio são fruto de falhas acumuladas nas
etapas de ensino anteriores...
Maria Helena - É evidente que os anos anteriores não preparam bem os alunos para o ensino
médio, seja ele qual for: o que temos hoje ou o reformado. Apenas 47% das crianças que
acabam de cursar o 3º ano do ensino fundamental estão alfabetizadas em nível adequado.
Aos 8 anos, muitas não saber ler e escrever. Essas deficiências vão sendo acumuladas ao
longo da vida escolar.

ÉPOCA – E o que o MEC tem feito para resolver essas deficiências?


Maria Helena - A primeira coisa é a aprovação da Base Nacional Comum Curricular, que
está na reta final de redação. O texto será encaminhado ao Conselho Nacional de Educação
[CNE], que vai discutir a Base para depois aprová-la. A segunda coisa é o Pnaic [Pacto
Nacional pela Alfabetização na Idade Certa], que existe desde 2011. No ano passado, o
programa ofereceu mais de 620 mil bolsas para capacitar professores de ensino fundamental,
das redes municipal e estadual. Fora os professores das universidades, que também
receberam bolsa para realizar essa capacitação. No total, houve um investimento altíssimo,
de mais de R$ 2 bilhões. O problema é que os resultados disso têm sido pequenos ou nulos,
de acordo com os resultados da Prova Brasil. Ainda não temos uma avaliação específica do
Pnaic. O fato é que o programa não funciona bem e precisa ser reformulado. Estamos
trabalhando nisso.

ÉPOCA - Como será a atuação desse Comitê Gestor da Base Nacional Comum
Curricular e Reforma do Ensino Médio?
Maria Helena - O comitê, composto de secretários do MEC, está encarregado de receber e
organizar as sugestões recebidas a partir da segunda versão da Base. Ele também vai
convidar especialistas e consultores para discutir o encaminhamento do currículo do ensino
médio.

ÉPOCA - A Base vai exigir uma atenção especial à formação de professores, de acordo
com as novas determinações?
Maria Helena - Tenho certeza de que vai exigir uma formação específica para os
professores. A partir do momento em que a Base estiver pronta e aprovada, acredito que será
fundamental investir na formação continuada para professores [a formação que acontece,
continuamente, depois que o profissional já é formado, para atualizar seus
conhecimentos]. A formação de professores é o mais importante para implementar qualquer
mudança curricular.

ÉPOCA - A senhora acha que o Brasil vai conseguir colocar em prática toda
essa teoria?
Maria Helena - Para conseguirmos fazer isso em médio e longo prazos, precisamos queimar
as primeiras etapas: a aprovação do projeto de lei que mudará o ensino médio e a finalização
da Base Nacional Comum Curricular. A Base também é essencial para renovar a formação
dos professores, inicial ou continuada. Os docentes recebem uma formação inicial muito
frágil, incapaz de promover uma educação diferente, mais inovadora e criativa. A escola
precisa incentivar a tolerância, o pluralismo de ideias, a convivência com as diferenças.
Nossos professores não estão preparados para trabalhar com essa realidade. É claro que o
problema não está no professor, mas nas instituições que os formam. Faltam aos professores
a possibilidade de fazer uma residência pedagógica, um estágio supervisionado. Além disso,
o professor precisará sempre de formação continuada. Não tem como imaginar que um
educador, por melhor que seja sua faculdade formadora, poderá dispensar a formação
continuada para aprimorar seu trabalho. A formação de professores é nosso maior desafio.

MEC lança currículo único


para a educação básica
A proposta, considerada crucial para o avanço da educação
brasileira, irá finalmente trazer orientações diretas e precisas sobre
o conteúdo do ensino básico.
Por Marcela Mattos

access_time16 set 2015, 19h00


Educação
Escolas de Ensino Fundamental em Brejo Santo, no Ceará

O Ministério da Educação (MEC) lançou nesta quarta-feira a proposta de um


currículo nacional único para a educação básica. Esse é um ponto crucial para o
avanço da educação brasileira pois, apesar de ter Parâmetros Nacionais
Curriculares desde 1996, o país ainda carece de um conjunto organizado de
orientações diretas e precisas sobre os conteúdos do ensino básico. A Base
Nacional Comum Curricular (BCN) vai determinar um currículo mínimo para os
alunos das 190 000 escolas do país. Ela trará objetivos de aprendizagem para
todas as matérias, divididos de acordo com o contexto de experiências dos
alunos – de uma abordagem mais lúdica nos primeiros anos até conceitos mais
abstratos no ensino médio.

Leia também:
Barreiras para melhorar a educação são políticas”, diz economista do Banco
Mundial
O material preliminar disponibilizado pelo MEC mantém uma divisão em quatro
categorias: linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas –
mesma divisão adotada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) –
adaptadas para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio.

A área de linguagens reúne quatro componentes curriculares: línguas


portuguesa e estrangeira moderna, além de arte e educação física. A
diversidade sexual e de gênero, que causou discussões nos planos estaduais e
municipais de educação, é contemplada no ensino de ética, direitos humanos e
cidadania, temas transversais.

Nas ciências humanas há a previsão de ensino religioso do 1º ao 9º ano escolar.


Pelo programa, a disciplina assume a responsabilidade de “oportunizar o acesso
aos saberes e aos conhecimentos produzidos pelas diferentes culturas,
cosmovisões e tradições religiosas, sem proselitismo. O estudo dos
conhecimentos religiosos na escola laica, a partir de pressupostos científicos,
estéticos, éticos, culturais e linguísticos, visa à formação de cidadãos e cidadãs
capazes de compreender as diferentes vivências, percepções e elaborações
relacionadas ao religioso e ao não religioso, que integram e estabelecem
interfaces com o substrato cultural da humanidade”, diz o documento.

Articulação – A reforma curricular, com disciplinas comuns para toda a


educação básica, é uma exigência do Plano Nacional de Educação (PNE),
sancionado no ano passado. A ideia do BCN é que 60% do currículo seja
unificado pelo MEC, enquanto o restante seja definido pelos Estados conforme
critérios regionais.
“Um número maior de disciplinas articuladas é muito mais produtivo que poucas
disciplinas desarticuladas para cobrir aspectos variados do conhecimento”, disse
o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, durante o lançamento, em
Brasília. Janine ainda exaltou as peculiaridades regionais e citou como exemplo
a valorização de escritores de uma região específica que, embora estejam fora
da bibliografia nacional, podem ser importantes para a cultura local.

Para Janine, a base disciplinar comum trará melhorias para o ensino, pois
orientará a formação de professores (haverá parâmetros específicos para as
licenciaturas) e também o desenvolvimento do material didático.

O texto ainda representa uma versão preliminar e está à disposição das


secretariais estaduais, da sociedade civil e de conselhos de educação para
receber sugestões, no site do MEC. A ideia do ministério é que ele seja colocado
em prática a partir de meados do ano que vem. Contudo, de acordo com
experiências internacionais, a implementação de um currículo nacional costuma
levar entre cinco e dez anos.

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