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Para Mayes e Allen (1977), as organizações podem ser vistas como entidades políticas, nas
quais as tomadas de decisão e o estabelecimento de objetivos são forjados em processos de
barganha. Por conseguinte, os autores enfatizam a utilidade de se adotar uma perspectiva
política para os estudos organizacionais.
Morgan (1996) também propõe que a análise organizacional seja realizada em termos
políticos. Entre outras metáforas, o autor entende que as organizações podem ser interpretadas
tanto como sistemas de governo quanto como sistemas de atividade política. Na primeira
perspectiva, as organizações são caracterizadas de acordo com os princípios políticos
empregados e com o estilo particular de liderança, sendo classificadas como autocracias,
burocracias, tecnocracias ou democracias, o que estabelece um paralelo com os sistemas
políticos de governo.
Pode-se afirmar que foi essa última visão, a organização como lócus de atividades políticas, e
as idéias decorrentes dela que orientaram a realização do presente estudo. Mais do que estudar
a política sob a ótica da organização, seus princípios, normas e estruturas, a pesquisa está
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Para entender a natureza dessas atividades políticas, Mayes e Allen (1977) ressaltam que é
preciso considerar que muitas variáveis envolvidas podem ser comuns a outros construtos do
campo do comportamento organizacional, mas é uma combinação dessas variáveis que
compõe um processo singular denominado comportamento político.
No entanto, faz-se necessário ressaltar que, embora possa ocorrer em todos os níveis
organizacionais, nem todas as organizações ou grupos têm a mesma realidade política.
Robbins (2005) lembra que em algumas organizações fazer política é uma atividade explícita
e exuberante, enquanto em outras a política tem um papel menor.
Para Cropanzano, Howes e Grandey (1997), a percepção individual da política é até mesmo
mais importante do que de fato a sua ocorrência nas organizações, pois os indivíduos
respondem àquilo que percebem, não necessariamente ao que é objetivamente real. Não se
trata de afirmar que a realidade organizacional objetiva é irrelevante, mas que há uma forte
relação entre a percepção dos comportamentos políticos e os seus efeitos no contexto laboral.
Para além dos termos da literatura, parece ser essa a reputação dos comportamentos políticos
também nas organizações: um fenômeno ao mesmo tempo inevitável e indesejável. Uma
pesquisa realizada por Gandz e Murray (1980) observou que a maior parte dos indivíduos
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considera a política uma atividade comum e até mesmo necessária para se alcançar o sucesso
nas organizações. Apesar de reconhecerem sua existência, também defendem que a política
deveria ser excluída, por ser prejudicial à efetivação de relações de acordo com as normas
formalmente definidas e aceitas.
Ademais, essa presunção ambivalente da política, ora vista como um jogo natural, ora
associada a praticas manipulativas, interesseiras e ilegítimas, pode ser conceitual e
operacionalmente limitadora à caracterização do construto do comportamento político nas
organizações. A delimitação da natureza desse fenômeno fica mais enriquecida e também,
deve-se reconhecer, bem mais difícil, se considerarmos que há outras matizes. Logo, é
importante supor que, assim como o poder, o jogo político não deve ser avaliado como bom
ou mau apenas por si mesmo.
Por todo o exposto, a essa pesquisa interessa estudar os comportamentos políticos nas
organizações não a partir da descrição factual das táticas ou jogos empregados, mas
considerando as percepções dos profissionais que vivenciam a política no seu cotidiano, uma
vez se tratar de um fenômeno inevitável da dinâmica organizacional.
Além disso, admitindo como pressuposto que a política não é necessariamente auto-
interessada, que seus jogos não se efetivam apenas através de meios não sancionados pela
organização e que seus fins nem sempre são ilegítimos, importa examinar os efeitos dos
comportamentos políticos na percepção dos indivíduos sobre o ambiente organizacional,
particularmente as relações entre política e os construtos de justiça e confiança nas
organizações.