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permitia que fosse vista. Seria ele, portanto, a
unca consegui me livrar da sensação terceira margem desse rio caudaloso, talvez
de angústia com a leitura de A ter- manso, correndo, rio-rio-rio, o rio? O que não
ceira margem do rio, de Guimarães se vê tem mistérios escondidos, nuances. O
Rosa. Não sei se porque não alcan- pai, como a outra margem, os tinha e, tal e qual
cei por inteiro a mensagem do autor, se por in- essa margem, não os revelava. Já que ele não
corporar o sentimento de abandono da família podia ser a outra margem-margem, era a mar-
ou pela solidão absoluta em que mergulhou o gem inexistente, mas real em seus segredos,
pai ao deixar os seus para morar permanente- a terceira margem, enfim.
mente dentro de uma canoa, no rio. Mas por que essa decisão tão radical de
Esse é um dos mais belos contos de Rosa isolar-se da família, dos amigos e do mundo,
e também, sem dúvida, o mais cheio de signi- enfim? E por que logo optar pelo isolamento
ficados, de enigmas, no qual o autor, recorren- mais radical, mais hermético e intransponível?
do a título em si mesmo absurdo, nos mostra Acredito que algumas palavras ou frases do
as várias faces do relacionamento humano, conto são a chave para se entendê-lo. O pri-
permeado de desenganos, frustrações, arro- mogênito, narrador do conto, já nos informara