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Ecomuseus e
Museologia Social
Summer 2016
Ficha Técnica:
Informal Museology Studies
Papers on Qualitative Research
Issue 14 – summer /2016
Directory
Pedro Pereira Leite
ISSN – 2182-8962
Editor: Pedro Pereira Leite
Publisher: Marca d’ Água: Publicações e Projetos
Redaction: Casa Muss-amb-ike
Ilha de Moçambique,
3098 Moçambique
Lisbon: Passeio dos Fenícios, Lt. 4.33.01.B 5º Esq.
1990-302 Lisbon –Portugal
1
Centro de Estudos Sociais Universidade de Coimbra/ Programa de Doutoramento em
Musseologia ULHT
2
Ver em http://www.tsf.pt/programa/encontros-com-o-
patrimonio/emissao/ecomuseus-e-museus-comunitarios-4898954.html
A partir dos anos noventa Varine considera que a ideia de ecomuseus está em
crise mas não os princípios da nova museologia que ele transporta. Defende a
ideia de um museu integral, que já havia sido proposta no Conferência de
Santiago do Chile em 1972.
• o Território –
integra a relações com o ambiente e as sus múltiplas escalas de
interacção
• o Comunidade – dever partir de processos participatórios e
questionar as questões da regulação social (poder)
• o Objetos- assume a pluralidade dos objetos, das memória e das
heranças. Os objetos são transições que ajudam ao conhecimento.
Princípios do Ecomuseu
Segundo Matilde Ballargue (1992) um ecomuseu define-se por 4 princípios
• A sustentabilidade do projeto
Ecomuseologos
• Ana Mercedes Stoffel – Museu da Comunidade da Batalha
• Georges Henri Riviere – Museu do Homem Paris
• Hugues de Varine - Ecomuseu
• Isbel Vitor – Museu do Trabalha de Setúbal
• Jonh Kinar museus de vizinhança em Anacostia (USA)
• Maria Celia Moura Santos – Processos museológicoa na Bahia
• Mario Chagas – Museus de Favela no Rio de Janeiro
• Mário Moutinho. Museu de Monte Redondo
• Raul Lugo – Otaxepr e Nyarit
• René Rivard e Pierre Maylan – Museu do Quebec
• Organizam o espaço
• Controlam o tempo
• Vigiam e normalizam as práticas.
Esta crítica
permite
entender que
os processos
museológicos
são também
lugares de
afirmação de
poderes, que
ora exibem e
Comentários
De Osca Navarras Corral
Primo, Judite dos Santos (2008). Museus locais e ecomuseologia - Estudo para
o ecomuseu da Murtosa, in Cadernos de Sociomuseologia, nº 30
NOTA da Redação. Por vontade dos autores, este texto deverá ser lido
na sua versão publicada na Revista Almaden, abaixo referenciada.
3
Graça Filipe – Museóloga, Ex diretora do Ecomuseu do Seixal
4
Huges de Varine – Ecomuseólogo, Ex diretor geral do ICOM
5
Texto publicado em Almaden- Revista II série, nº 19, janeiro 2015, pp 21-35
– O ecomuseu de Creusot-
Montceau nasceu de uma
encomenda política, mas em
seguida tomou a forma de
uma associação comunitária,
agrupando o conjunto das
partes interessadas no
património de um território
de 16 municípios industriais e
agrícolas. Conheceu crises internas e externas, várias reformas estatutárias,
para finalmente se tornar, em 2012, um museu de coleções, uma instituição
científica e cultural dependente administrativa e tecnicamente da Comunidade
urbana de Le Creusot-Montceau. A sua função turística foi desenvolvida a partir
dos anos 90 do século XX.
• Que desafios vão ser exigidos aos ecomuseus, pelas escolhas, pelas
tomadas de decisão e pela invenção de métodos e de meios novos, para que
estejam aptos a desempenhar um papel próprio, nos seus territórios e nas suas
comunidades?
Mas o exercício é difícil, porque não há dois ecomuseus semelhantes e se, por
comodidade, aqui adotamos a palavra ecomuseu, já vimos anteriormente
tratar-se na verdade de uma nebulosa, ou talvez de uma constelação de
projetos locais, com características, dimensões e denominações diferentes.
Portanto, da nossa seguinte lista de riscos convirá referenciar, para cada
situação em particular, aqueles que são reais e os mais perigosos para a
existência e para o futuro de um determinado projeto. Tentaremos enumerar
aqui esses riscos, sem os ordenar segundo uma ordem específica, para não
privilegiar um ou outro, nem influenciar o leitor.
Para os ecomuseus, pelo contrário, pelo menos para aqueles que procuram um
certo profissionalismo, os orçamentos aumentam sem cessar, devido ao custo
dos salários do pessoal, das prestações externas que seguem a inflação ou a lei
do mercado, e também às normas nacionais e europeias cada vez mais
exigentes (acessibilidade, segurança, em particular).
No Ecomuseu
Municipal do Seixal,
sob a tutela do
poder local, a
mudança de geração
dos autarcas teve
reflexos evidentes
tanto ao nível das
escolhas de novos
projetos, por vezes
em detrimento de
anteriores projetos de aproveitamento do património, como ao nível das formas
de interação com a população. Aliás, os dois aspetos tornaram-se fatores
importantes para a vida do Ecomuseu, dado que novas áreas urbanizadas
trouxeram novos habitantes e outras mudanças ao território, exigindo um maior
esforço da própria equipa técnica do Ecomuseu. Apesar das tentativas de vários
membros da equipa, investigadores e mediadores, que procuraram integrar a
participação de elementos da população nos inventários e na programação de
exposições, a dependência incondicional do poder político e a chegada de uma
nova geração profissional tornaram cada vez difícil pôr em prática a
participação comunitária.
Como fazer evoluir o museu ao ritmo das gerações, tentando visioná-lo para
uma geração adiantada e não o deixar numa geração atrasada? Será isto uma
utopia? Um museu pode ultrapassar os primeiros 20 ou 25 anos sem declínio no
Como dar ao
ecomuseu uma
“plasticidade”
suficiente para que
possa ser
reconhecido como
útil e pertinente pelo
maior número
possível dos atores de desenvolvimento local, que consideram ter legitimidade
para se interessar pelo património? Voltaremos a estas preocupações ao
abordarmos a governança do ecomuseu, a que se deverá a possibilidade de
coabitação de todas essas legitimidades nas instâncias decisórias, ao lado da
legitimidade da comunidade e dos seus membros.
Neste caso, o ecomuseu fica no fio da navalha, entre a valorização cultural, que
implica manter com vida o património reconhecido como tal pela comunidade, e
a valorização económica, que implica muitas vezes uma reutilização, sob formas
diversas, de elementos do património, sendo ambas importantes, a primeira
para assegurar a legitimidade e a sua credibilidade junto da população, a
Em França, um resultado
dessa política museal foi a criação, sob iniciativa da Inspection des Musées de
Province da Direction des Musées de France, de uma categoria de “museus de
sociedade”, no seio da qual se enquadram os ecomuseus. Estes últimos são,
portanto, considerados segundo os mesmos critérios dos museus locais de
etnologia, de artes e tradições populares, de história, de arqueologia, de
indústria, etc. E a Federação dos Ecomuseus e Museus de Sociedade é o
resultado desta confusão. De país in ventor do ecomuseu, a França assumiu um
retrocesso considerável, com algumas exceções.
Perante esta situação geral, como garantir ao ecomuseu o seu carácter próprio,
deixar-lhe o direito à inovação, à experimentação? Mas também como
estabelecer relações de cooperação entre o sector “herético” dos ecomuseus e
os sectores mais ortodoxos dos museus e dos monumentos classificados,
sobretudo quando o território é, pelo menos parcialmente, comum? Como
escapar a uma contaminação pela norma museal, à “colecionite”, à
transformação da função social (respeitante à população) em função turística
(respeitante aos públicos)?
Responsáveis
experimentados trazem
assim o seu olhar exterior
ao proponente do projeto.
Poder-se-á ir até um
acompanhamento
prolongado, mas não chegar necessariamente a uma consultoria. Assim
funciona em Itália, com o grupo Mondi Locali, ou no Brasil com a Associação
Brasileira de Ecomuseu e Museus Comunitários (ABREMC). De certo modo, as
“Jornadas Sobre a Função Social do Museu”, que se realizam há mais de 15
anos em Portugal, têm o mesmo papel.
Como tirar o melhor partido possível desta tendência, sem contudo cair no erro,
sempre presente neste tipo de redes, da exclusão dos projetos que, por razões
eventualmente subjectivas, não respondem a critérios previamente fixados?
Há também casos de projetos que não fazem referência nem ao museu, nem ao
ecomuseu, mas que deveriam realmente estar-lhes ligados, pois têm todas as
características que lhes são comuns: os Pontos de Memória, igualmente no
Brasil, os Parques culturais de Aragão (por exemplo, o de Maestrazgo de
Teruel), o Consórcio de desenvolvimento sustentável da Quarta Colónia, em Rio
Grande do Sul. Baseiam-se na valorização do património do território a partir
da mobilização e da responsabilização das populações e numa perspectiva de
desenvolvimento global.
Todas essas experiências trazem aos ecomuseus ideias novas, que cada vez
mais se afastam do museu tradicional, colocando o acento principal no território
e no seu desenvolvimento, mesmo se o principal recurso continua a ser o
património no sentido mais lato. A comunidade humana continua a ser o actor e
o usuário principal. Por esta razão, quisemos, neste artigo, alargar o nosso
campo bem para lá da palavra ecomuseu. Também por isso, a observação das
A maioria dos ecomuseus ainda não estão habituados a essas negociações com
os parceiros que pertencem a outros sectores e outras lógicas, mas devem
aprender a existir nos seus territórios enquanto atores do desenvolvimento e,
portanto, estarem aptos a cooperar com o conjunto dos outros atores.
Também podemos referir uma tendência que partiu do Québec nos anos 90 do
século passado, de criar economuseus , em que a produção económica rentável
prevaleceu sobre o trabalho comunitário e o serviço à população. Esta fórmula
pode facilmente derivar para a pura exploração
lucrativa de um elemento de património por
equipas especializadas, sem ligação real ao
conjunto da população. O ecomuseu local e o
movimento Mondi Locali, em Itália, organizam
todos os anos, em Argenta (província de
Ferrara, Emilia-Romagna), a participação activa
de uma quinzena de ecomuseus vindos de
todas as regiões de Itália na feira comercial
local para a promoção e a venda de produtos
locais dos seus territórios (artesanato,
enogastronomia, programas turísticos).
Nos casos citados anteriormente isso foi feito, mas também poderiam ser
referidos museus de populações indígenas (Brasil) e autóctones (Canadá) que
se empenham numa gestão do seu meio, tendo em conta não só princípios
ecológicos definidos por especialistas exteriores, como também o significado
espiritual de sítios, de objetos e de ritos que contribuíram, geração após
geração, para manter determinados recursos disponíveis para a sobrevivência e
a coesão da comunidade.
O método de audioguia
torna-se cada vez mais
utilizado, mesmo por
pequenos museus locais ou
por sítios do património
para fazer conhecer e
compreender o património
e o seu contexto, a sua história, os seus significados.
O ICOM tem nestes últimos anos colocado em debate, por ocasião das suas
conferências gerais e das jornadas anuais dos museus, este tipo de tema,
talvez mais difícil de tratar nos grandes museus, de âmbito nacional ou
internacional, mas perfeitamente válidos para os museus regionais e de âmbito
territorial, que nas suas missões podem assumir serviços para as populações
próximas e orientar a utilização das coleções para benefício daquelas.
Esses objetivos requerem uma comunicação eficaz, dirigida aos apoios e aos
potenciais financiadores do ecomuseu, que tendem muitas vezes a considerá-lo
uma iniciativa simpática, sem dúvida, mas de importância quando muito
secundária.
A análise dos
riscos atuais e
prováveis, que já
esboçámos noutra
parte deste artigo,
orientará a
decisão, a qual
também deverá
ser partilhada com
os principais atores
locais do
desenvolvimento,
representando o poder político, a sociedade civil e os meios económicos. Em
todos os países, existe uma gama de estatutos e de modalidades de
organização de empresas de interesse público, entre os quais fazer uma
escolha. Voltaremos a este ponto.
• Como combinar uma iniciativa a curto prazo, uma fase de transição para
os ecomuseus existentes, que deverão procurar novas bases para se
reorganizarem, e uma fase de lançamento e de aprendizagem para os novos,
com uma perspectiva de longo prazo, que implica sustentabilidade e evolução?
6.4. Tornar-se
uma empresa
mista ou híbrida
Como já repetimos
diversas vezes, um
ecomuseu, devido ao seu
carácter inovador,
experimental, não-
conformista, não é uma
instituição cultural regida
pelas mesmas normas que
os museus enquanto serviços públicos culturais tradicionais, cujo financiamento
é em princípio assegurado pelas coletividades territoriais, da Câmara ao Estado.
É por isso que a maioria dos ecomuseus, pelo menos na Europa, adotam o
estatuto associativo, dito “sem fim lucrativo” (por vezes também denominado
ONG, organização não governamental). Mas esta fórmula adapta-se mal,
porque torna o ecomuseu dependente de subvenções concedidas seja pelas
administrações públicas, seja pelas fundações ou mecenas, que são frágeis e
dependentes de apreciações subjetivas, da parte de políticos, funcionários,
responsáveis de bancos ou de empresas, sempre suscetíveis de mudança de
orientação e dependendo da evolução dos orçamentos e de montantes de
negócios.
Não é uma
empresa
capitalista,
destinada ao
lucro
remunerador
dos detentores
do capital.
Aplica-se-lhe
pois,
claramente, uma
das duas
fórmulas
seguintes (a encontrar por comparação com as legislações nacionais
aplicáveis):
Os dois casos têm por regra a hibridação dos recursos, o que permite
simultaneamente uma real implicação das partes interessadas e uma
diversificação de recursos que ajuda a prevenir as flutuações económicas e
políticas do momento.
A escolha do estatuto é uma decisão importante que não se pode tomar com
ligeireza e que obriga a assegurar o compromisso real e durável das partes
interessadas. É igualmente necessário obter a ajuda de juristas especializados,
fiscalistas, que sejam bons conhecedores da situação do território, ir ao
encontro das estruturas análogas que podem contribuir com a sua experiência
concreta e evitar que se cometam erros.
6
http://www.ecomusei.eu/ecomusei/wp-content/uploads/2016/01/Documento-strategico.pdf. Tradução de
Pedro Pereira Leite
7
http://www.ecomusei.eu/ecomusei/wp-content/uploads/2016/06/WELCOME-ICOM2016.compressed.pdf
8
http://www.minom-icom.net/noticias/icom2016-special-programme-ecomuseums-and-community-museums-
wednesday-6th-july-friday-8th
9
http://network.icom.museum/icofom
10
http://network.icom.museum/camoc
1.1.Situação atual
Os ecomuseus italianos viveram um período particularmente dinâmico na
primeira década deste século, quando se assistiu a uma multiplicação
das leis regionais, mas também da organização de encontros de debate e
intercâmbio a nível nacional e europeu.
Alguns exemplos:
• . Formação e pesquisa
• Paisagem e Planeamento
11
“Convenção-Quadro do Conselho da Europa Sobre o Valor do Património Cultural para
a Sociedade”, assinada em Faro em Outubro de 2005 no âmbito da Conferência de
Ministros da Cultura do Conselho Europa
http://www.patrimoniocultural.pt/media/uploads/cc/ConvencaodeFaro.pdf
14
Planos de Bacia hidrográfica
15
GAL – Grupos de Ação Local formados no âmbito do Programa Leder
http://ec.europa.eu/agriculture/rur/leaderplus/index_en.htm
16
Em português veja—se a Carta do Património (http://recil.grupolusofona.pt/handle/10437/5471)
17
Ver em https://inventariopartecipativo.wordpress.com/
18
https://www.amazon.it/progetto-locale-Verso-coscienza-luogo/dp/8833921506
19
https://www.researchgate.net/profile/Maurizio_Maggi
20
http://www.hugues-devarine.eu/
21
Hughes de Varine
Nota da Redação: Por vontade expressa do autor, este artigo deverá ser
acedido através da sua página, referenciada.
Em breve este este espaço será ocupado pela leitura crítica do texto.
21
https://inventariopartecipativo.files.wordpress.com/2013/05/notes-gemona-rev-hdv.pdf
22
E necessário dizer que o arquivo não seja constituído apenas por documentos administrativos e científicos
(de conteúdo), mas também por documentos fáceis de compreender e de leitura fácil, ilustrados, e acessíveis de
diferentes níveis de leitura (o meio /comunicação)
23
Pedro Pereira Leite
23
Centro de Estudos Sociais Universidade Coimbra / ULHT
24
Isso mesmo refere Mário Moutinho em 1995 “A declaração do Quebec de 1984, in A
memória do pensamento museológico contemporâneo” (Documentos e Depoimentos)
org. Marcelo araujo & Cristina Bruno, Comitê Brasileiro do ICOM, dá um testemunho
sobre esta questão.
https://www.academia.edu/27176139/A_Declara%C3%A7%C3%A3o_do_Queb%C3%A
9c_de_1984
A museologia não pode ser vista apenas numa das dimensões, seja ela
económica, social ou ambiental. Um ecomuseu só faz sentido se aquilo
que é feito ecomuseu irradiar, contagiar, toda a comunidade, seja do
ponto de vista educativo, cultural, social, económico ou ambiental. Ou
seja, para o processo ecomuseal ser hoje sustentável, é necessário que
seja interdisciplinar e trabalhe a cultura a partir das três dimensões:
ecomómica, social e ambiental. Como consequência, é necessário que
todo o processo ecosociomuseológico seja transdisciplinar. Que inclua
diferentes modos de conhecimento e produza diferentes soluções.
25
http://icom-portugal.org/documentos_outros,129,542,detalhe.aspx
Caros amigos,
(http://www.ecomusei.eu/?page_id=1591