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Prova I

Teoria da História II
Profª Dra. Márcia D’Alessio
Nome: Virgínia dos Santos Calado
R.A.: 94515 8º termo
Turno: Vespertino

A Teoria da História vem se desenvolvendo há muito tempo, no semestre passado


vimos que desde a Antiguidade, historiadores como Heródoto e Tucídides já refletiam sobre a
produção da História. Nesta trajetória da história da historiografia chegamos agora a Escola
Metódica, cuja principal contribuição para a Teoria da História foi a formulação de um
método para nosso ofício1, contribuição esta que será desenvolvida durante esta prova, onde
buscarei me debruçar sobre a questão da verdade, de grande relevância durante toda a história
da história, representando uma das continuidades da historiografia ao longo do tempo; questão
esta que, na escrita da história dos metódicos se relaciona diretamente com o uso do
documento como fonte para a história2. A verdade implica ainda, como será observado, na
questão da objetividade e subjetividade, o concreto e o abstrato na escrita da história. E ainda
que a Escola Metódica, ou o historicismo, tenha sido fartamente criticado pela Escola dos
Annales, faz-se importante lembrar que essa obsessão pelos documentos, ainda que de formas
diferentes, continua com os Annales. Aqui cabe colocar que a Teoria da História está sempre
em construção, entre continuidades e rupturas, e é um espaço de disputas, onde os debates
acadêmicos entre diferentes correntes historiográficas estão sempre em disputa por
hegemonia.

Neste sentido de construção da história da história, ao valorizar o papel do historiador


alemão Johann Gustav Droysen em seu Manual da teoria da história, o autor Julio
Bentivoglio, na apresentação deste mesmo livro, explica a própria mudança do termo que
designa “História” em alemão, no momento em que a Escola Metódica está se desenvolvendo,
da qual Droysen, Ranke, Langlois e Seignobos, faziam parte. Da Historie, relato ou narrativa

1
Se faz importante ressaltar que o método histórico já vinha sendo pensado há muito tempo, como por
exemplo com Tucídides, no entanto, é a Escola Metódica que vai sistematizar este método, em razão,
principalmente do contexto da época, como será melhor explanado em seguida.
2
Langlois e Seignobos, em sua Introdução aos Estudos Históricos, entendem o documento (a fonte) como o
documento escrito, visão esta que perdurou por muito tempo nas pesquisas dos historiadores. E ainda, ao
afirmar que “onde não há documentos não há história”, tendo por documentos, os escritos, estes autores
acabam por excluir algumas sociedades da história, uma vez que algumas sociedades, por exemplo, as
africanas, estão fundamentadas na oralidade.
de algo acontecido, passa-se a usar Geschichte, que define a história tanto como o relato,
quanto como o acontecimento de algo acontecido:

“A fórmula de Droysen, “acima das histórias está a história”, herança de Niebuhr, expressa
uma verdadeira inflexão, ao distinguir Geschichte de Historik, termo criado por
G.G.Gervinus em seu Grundzuge der Historik de 1837, usado exclusivamente com a
acepção da teoria da história. E Geschichte passou a ser, ao mesmo tempo, historiam rerum
gestarum e a res gestas”3.

Esta mudança está ainda atrelada a um contexto mais amplo, de “busca identitária” da
história. O século XIX assistiu ao ápice de privilégio do cientificismo, visto como lugar de
conhecimento, onde os diversos saberes que se desenvolviam neste momento buscaram
construir um saber científico, tendo como base as ciências exatas e naturais. Nesta busca
identitária então, os historiadores buscaram autonomia para a História, se desvinculando da
Filosofia e de outros saberes, buscando para a pesquisa histórica um caráter científico. Esta
busca é evidente na escrita da história do historiador alemão Leopold Van Ranke, que propõe
uma dualidade: entende a história como ciência (onde se aproxima da Filosofia), à medida que
recolhe, descobre e analisa, e como arte (onde se aproxima da Poesia), à medida que
representa e dá forma ao que é descoberto4. No entanto, a história se diferencia de ambas –
uma vez que registra e recria, e esta recriação é a própria historiografia, que não é algo em si –
por sua metodologia baseada no empírico:

“A História não é nem uma coisa nem outra, ela promove a síntese das forças espirituais
atuantes na poesia e na filosofia sob a condição de que tal síntese passe a orientar-se menos
pelo ideal – com o qual ambas de ocupam – que pelo real” 5.

Observa-se, portanto, um ponto de inflexão, é exatamente neste ponto que há um


distanciamento da filosofia, ainda que Ranke entenda o princípio ativo da História como
sendo o divino6, o historiador deve se debruçar também sobre o concreto, se afastando assim
da abstração, caso contrário, “a História perderia toda a sua autonomia: ela seria simplesmente
regida por um teorema da Filosofia” 7, afirmação esta que dialoga com Langlois e Seignobos,
mas que retomarei em breve, uma vez que, como observado, tem relação com a questão da

3
BENTIVOGLIO, Julio. In: DROYSEN, Johann Gustav. Manual de teoria da história. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009,
p.8-9.
4
RANKE, Leopold Van. In: MARTINS, Estevão de Rezende. A História Pensada. Teoria e Método na historiografia
Européia do século XIX. São Paulo: Editora Contexto, 2010, 202.
5
Ibidem.
6
Dado sua criação em família protestante, e segundo Sérgio da Mata, a religião junto a filosofia e a política
forma a tríade do pensamento histórico de Ranke.
7
RANKE. In: MARTINS, Op. Cit., p.204.
verdade. Vejamos ainda, como estes dois autores franceses buscam a autonomia e a
cientifização da história.

Em Introdução aos Estudos Históricos, Langlois e Seignobos, buscam de forma


minuciosa explicar o método histórico, o qual é compreendido em um sentido “técnico” do
termo, onde vai se buscar mostrar o “como fazer”, quase como um passo-a-passo:

“A profissão de erudito ou de historiador assemelha-se à maioria das profissões: é


impossível exercê-la sem um certo lastro de noções técnicas, a que nem disposições
naturais, nem mesmo o método, conseguiriam suprir” 8.

Observa-se, portanto, que tanto Ranke, como Langlois e Seignobos, enxergam no


método um recurso fundamental para dar a história o caráter de ciência. Esta busca pelo
método é uma característica da ciência da época, que está no auge, como já observado. A
química, por exemplo, desenvolveu um método de observação através de experiências.
Droysen seguiu direção semelhante, e de acordo com Bentivoglio, buscou uma
fundamentação epistemológica para a História, característica de alguns metódicos, que deram
um caráter de investigação epistemológica para a metodologia histórica, e ainda:

“para corroborar a evidência metodológica, Droysen recusou dois possíveis desvios: de um


lado, o positivista que pretende submeter a história aos métodos matemáticos das ciências
naturais, admoestando-a no sentido de encontrar algo semelhante a leis estatísticas da
história; de outro, o da concepção da história como arte narrativa, de passatempo, em suma,
diletante” 9.

Desta forma, em uma perspectiva um pouco diferente de Ranke e Langlois e Seginobos,


Droysen rejeita que a história se espelhe totalmente nas ciências naturais, sua crítica vai então
ao sentido de que a história não pode ser positivista, o que para ele significa um método
extremamente racional.

Entendida a contribuição dos metódicos para a história como ciência, me debruço


agora sobre a segunda questão proposta, a questão da verdade. Em excerto anterior observou-
se como Ranke diferencia as ideias do real. Para este autor, a filosofia e a arte trabalham com
o real, com o especulativo, enquanto a História, é aquilo que aconteceu no real, é, portanto,

8
LANGLOIS, Charles-Victor. e SEIGNOBOS, Charles. Introdução aos Estudos Históricos. São Paulo: Editora
Renascença, p.32.
9
BENTIVOGLIO. In: DROYSEN, Op.Cit., p.7.
concretude, a história não deve prescindir do real10, o que explica a importância do
conhecimento empírico como material para a história.

Na primeira, de suas seis exigências, Ranke diz que é preciso ter “amor à verdade”.
Nesta proposição, o autor busca explicar que se deve considerar de maneira elevada o que
realmente aconteceu (o que, para ele, remete ao fundamento divino, “a História reconhece o
infinito em cada coisa viva, algo de eterno vindo de Deus em cada instante, em cada ser; é
este seu princípio vital” 11), afastando a imaginação, que está no plano das ideias, a fim de não
cair na subjetividade, para então compreender a manifestação externa dos acontecimentos:

“Caso quiséssemos, por meio de nossa imaginação, nos antecipar em algum lugar a tal
objetivo, estaríamos trabalhando contra ele, estaríamos reconhecendo apenas o reflexo de
nossas teorias e de nossa imaginação” 12.

Na exigência seguinte, Ranke resgata a questão da verdade para tratar da investigação


documental, que deve ser pormenorizada e aprofundada, e é a partir desta análise que
encontramos a verdade, que está no documento, onde se deve observar primeiro o fenômeno,
e depois a sua essência. Não cabe ainda, ao historiador julgar estar “verdade”, ele deve aceitá-
la, a fim de manter a objetividade da pesquisa histórica, longe da subjetividade e da
especulação filosófica.

Na mesma direção, mas excluindo o fundamento divino que Ranke, como já


observado, enxerga como o princípio vital da História, Langlois e Seignobos rejeitam a
especulação filosófica e buscam o empirismo. Em sua formulação do método histórico,
mostram que os fatos só podem ser conhecidos de forma direta, através de sua observação no
instante em que foi produzido, ou de forma indireta, onde os fatos são observados a partir dos
traços que deixaram. Os historiadores se encontram em desvantagem em relação a outras
ciências, pois a observação dos fatos históricos se dá de forma indireta, uma vez que a ciência
histórica não é uma ciência de observação13.

Para Langlois e Seignobos, a concretude está então na observação direta dos fatos,
sendo o indireto a documentação, e “onde não há documentos não há história” 14
, é preciso

10
RANKE. In: MARTINS, Op.Cit., p.202.
11
Ibidem, p.206.
12
Ibidem, p.207.
13
LANGLOIS e SEIGNOBOS, Op.Cit., p.44-45.
14
Ibidem, p.15.
então buscar uma metodologia que garanta ao historiador a obtenção da verdade. Esta
metodologia é definida então por estes metódicos como o domínio crítica15, onde:

“O trabalho histórico é, pois, um trabalho crítico por excelência; toda vez que o
empreendermos, sem nos havermos preliminarmente defendido contra o instinto, estamos
irremediavelmente condenados ao afogamento” 16.

A constatação da veracidade do documento pode ser encontrada principalmente na fidelidade


das cópias com relação a seus originais, sendo fundamental a verificação de elementos
linguísticos e materiais do documento, como pode ser observado nos capítulos Crítica de
restauração e Crítica de procedência, onde Langlois e Seignobos exploram detalhadamente
os métodos de investigação das cópias. Esta busca pela verdade então é trazida pelo
documento, o que por sua vez, é indireto, dado que o historiador não viu o passado.

Voltando na questão da subjetividade e objetividade, introduzida aqui pelas ideias de


Ranke, estes metódicos franceses, ao chamar atenção do historiador para o perigo que vem
acompanhado do instinto, recusam o “a priori”, e vale lembrar que esta é uma característica
deste período, onde o prestígio que se tinha pelas filosofias da história e de grandes modelos
filosóficos até então, passa a entrar em decadência, por isso, como já dito, a abordagem dos
metódicos é “técnica”, em razão da busca pela positividade, objetividade e concretude. Assim,
ao fazer uma leitura preconcebida dos textos, os historiadores caem no risco de interpretarem
de forma errônea o que está posto no documento, é isto que constitui o método subjetivo,
deve-se, portanto, entender o texto por si mesmo:

“Entre o texto e o espírito prevenido que o lê está posta uma espécie de conflito: o espírito
recusa-se a aceitar o que é contrário a sua ideia, e o resultado ordinário desse conflito é que
o espírito não se renda a evidencia do texto, mas que este ceda, adultere-se e amolde-se a
opinião preconcebida do espírito” 17.

Por fim, vejamos como aparece a questão da verdade no texto de Droysen. Um


primeiro ponto o qual chamo atenção é que em contraposição a Ranke, Droysen vai buscar
humanizar a história, uma vez que rompe com o divino, mostrando que as transformações na
história dependem da ação do homem, apenas o que é humano progride. No parágrafo 3,
Droysen explica que a soma dessa progressão é o que constitui o “mundo ético”, onde a

15
Estes autores desenvolvem minuciosamente esta questão da crítica, dividida em externa, análise da
materialidade do documento, e interna, análise “psicológica”.
16
LANGLOIS e SEIGNOBOS, Op. Cit., p.47-49.
17
COULANGES, Fustel. In: LANGLOIS e SEIGNOBOS, Op.Cit., nota 108, p.102.
história alcança sua aplicação geral, e no parágrafo 7 segue mostrando que apenas o que é
produzido pelo homem se ilumina a nós. Ao se perguntar se existe verdade histórica, ou se a
história é apenas uma fábula, Droysen responde que tudo indica para uma coerência nas
atividades humanas, “uma verdade e um poder que, quanto maior e mais misterioso, tanto
mais estimula o espírito a conhecê-lo e a fundamentá-lo” 18.

Neste sentido, em diálogo com Ranke, Droysen se questiona se é possível que a crítica
das fontes leve ao “fato puro”, para ele, é justamente esta a essência do método histórico, mas
apenas observar a fonte não é o suficiente, para sua compreensão é preciso ainda uma
“sensibilidade”:

“O sentido histórico, é por demais na natureza humana para que não pudesse encontrar,
bem cedo e sob condições favoráveis, a sua expressão adequada. E é essa sensibilidade
natural que ainda hoje aponta o caminho e confere as formas aos estudos históricos” 19.

Isto nos leva a pensar na forma como o subjetivo não é descartado na obra de Droysen,
embora descarte a especulação filosófica, característica dos metódicos no geral, cabe ao
historiador “reconhecer que o caminho especulativo se lhe torna absolutamente proibido e que
ele deve antes partir, sobre o caráter empírico que é o seu campo” 20
. Para este autor (no
parágrafo 13), o “mundo ético” é a reconciliação entre uma visão de mundo idealista e outra
materialista, das ideias e do real. Existem então três métodos científicos (parágrafo 14), que
não estão, no entanto, dissociados, pelo contrário, são lados do mesmo prisma, são eles:
especulativo, físico e histórico, cuja essência é reconhecer, esclarecer e compreender.

Droysen, portanto, não rejeita a subjetividade, pelo contrário ele reconhece seu papel
na produção da história, reconhecendo tanto a objetividade do conhecimento histórico como a
subjetividade colocada pela interpretação. Segundo este autor, o “mundo ético”, observado de
acordo com a sucessão das transformações humanas, é a própria história, e os acontecimentos
históricos tem sua verdade nos poderes éticos, “pensar historicamente significa ver, nessas
realidades, a sua verdade” 21
, nestes poderes encontram-se ainda a continuidade da história,
onde todos fazem parte, cada um com seu papel. É, portanto, a partir da verdade – que se
encontra na apreensão da própria história – que se pode conhecer o “mundo ético”, ou seja, a
história.

18
DROYSEN, Op. Cit., p.32.
19
Ibidem, p.30.
20
Ibidem, p.33.
21
Ibidem, p.41-42.

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