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7 Os hospitais no crepisculo do absolutismo: prelidio de um novo paradigma conceitual VERA MAGALHAES * A linha epistemologica do presente estudo incide na interpelacao das representagdes de poder inscrites na arquitetura assistencial, particularmente hospitalar, da Modernidade, escrutinando 05 elementos tangiveis na definicao tipoldgica dos edificados, com particular enfogue no plano palaciano adotado, na vestidao da sua mole e nas Fachadas cenogréficas, e, a par, discutindo © respetivo impacto no desenho urbano. Do cotejo com os hospitais do Fecho do absolutismo, confirma-se a emergéncia de um novo paradigma a que respondem os “hospitais perspiraveis” de Ribeiro Sanches, propondo a confluéncia entre satide publica, medicina e tratadistica. Palavras-chave: Arquitetura hospitaler, absolutismo, imagem e poder. Hospitals in the twilight of absolutism: emergence of a new conceptual paradigm The epistemological line of this study focuses on the question of representations of power registered on welfare architecture, particularly hospital, of Modemity, scrutinizing the tangible elements on typological definition of edified, specifically the palatial plan followed, the vastness and the scenographic Facade, and, together, discussing the respective impact on urban design. Comparing with the hospitals by the end of absolutism, we confirm the emergence of a new paradigm to which respond the "perspired hospitals” of Ribeiro Sanches, proposing the confluence between publichealth, medicine and architecture treatise. Keywords: Hospital architecture, absolutism, image and power. * Deutoranda em Histéria da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (CEAUCP/CEMA REVISTA 7 MARES - NUMERO 4 (OS HOSPITAIS NO CREPUSCULO DO ABSOLUTISMO 78 s arquiteturas hospitalares' construidas sob 0 signo da Modernidade filiavam- se nos eloquentes programas cenogrificos, para sublimacéo das aspiragSes representativas dos encomendantes, fosse 2 Coroa, o clero regrante ou as itmandades leonorinas, em especial, sobre quem impendia um énus ‘eminentemente assistencial. Pela nobilidade das suas fachadas e vastidéo da sua mole, os planos comprometiam-se com 0 prestigio e o reconhecimento granjeados pelos patrocinadores na tessitura social local. Com paralelo na Europa coeva, os hospitals nacionals, em particular 08 projetos palacianos, assumiam-se como arquiteturas de poder, mudando a configuragéo da matha urbana e introduzindo uma nova escala de edificio civil. No final de setecentos, porémn, na esteira dos estudos precursores de Ribeiro Sanches, compulsados pela reforma pombalina da Universidade, a suntuosidade e grandeza dos hospitais, em prejuizo da prética médica ¢ da higiene, concitaram acerbas divergéncias no tocante & programago hospitalar, reclamando-se a um tempo austeridade e despojo, arvorando-se emergentes preceitos sanitérios incidentes nas caracteristicas da area de implantacao, ventilacdo e arejamento, sobretudo, e criticando-se, em primeira andlise, os planos comuns modelados pelo elxo centripeto patio-icreja’. Os planos palacianos e as representagses de poder A linha epistemolécica convocada na abordacem das arquiteturas hospitalares tende a felterar lugares-comuns, reproduzindo acriticamente consagrada historiografia versada em estudos monograficos e tipologicos, a despeito das especifiidades nacionais neste dominio, obliterendo, por conseguinte, as condigdes microestruturais na recessdo de paradigmas, necessariamente dotadas de Fluidez e variabilidade sobretudo pela definicéo gregéria de pequenos nichos menos permedveis e pulverizados, porque, desde logo, subtraidos as relagbes ‘com 0s polos da cultura arquiteténica e dos seus capitais estaleiros. Ademais, no que 2o estado da arte diz respeito, coloca-se 8 evidéncia que a Forja da generalidade dos estudos no Ambito da arquitetura assistencial, pese embora precursores e veiculadores de um modus operandi ‘em semelhante contexto, carece de uma exploracéo semiolésica, quer dizer, de uma leitura extrapolada dos edificios hospitalares incidente na significacéo, perscrutando o indizivel, 0 no tangivel, exumando-se a projecdo social e imagética, colada gramética impressa e a cércea do edificado, da reconstituigéo dos ciclos € dos modelos construtivos. Neste ponto, perseguindo a tese de Cesare Brandi que, no vendo na obra arquiteténica um ato gratuito, estabelece uma dialética entre edificio e resposta a certas necessidades individuais e coletivas?, indagamos as representacdes de poder plasmadas nas arquiteturas hospitalares, erigidas sob os auspicios de um tempo Moderno. 1 Esclarecemos que a expresso compreende 0 ediicio-modelo, isto é, 2 Upologia, que se dissemina em relacso onde € construido, nie considerando, deliberadamente,_o descritwe compulsado em Memérias do aro réio, incorporadas no Ministério do Reino, que distingue 0 arosso dos hospitals como espacos amide improvisados, sem expressso arquitetonica, de fruste observancla das condicoes higieno-sanitarias, com deficiente utensilagem, com servicos de cirurgia divocciados da prStica mécica e revelando desprezo ou incapacidade de resposta 3s necessidades de convalescenca e de assepsia, 2.ldo se oferece aqui discutir a pvevaléncia ou nio dos cuidados com a alma Face 20s cuidados como corpo que Ditode autre modo, néo pretendemos dicatomizaro hospital como espaco de assisténca médica ede assisténcia spiritual, nem desambiquar a designacso larele e Hospital, contrepondo-Ihe Hospital com lareia. Dedlinamos, também, o intento de hierarauizar a sua funcéo, praterindo ou ado a definicso de hospital come arauitetura ‘eligiosa de sate em favor de arauitetura asistencia. Celeste Ediciones, 1997, , 38:38. DOSSIE - JUNHO DE 2014 ~ VERA MAGALHAES ‘A Modemidade irrompeu no reino sob o signo reformista no tocante ao binémio pobreza- assisténcia, Emborainternamente a percepgio da pobreza e damarginalidadenio tenha procedido nem carreado discussao ou projegio editorial, salvaguardando a construgdo cristolégica do pobre na dramaturgia de Gil Vicente; ao passo que no vizinho reino de Castela foi Fecunda e inspiradora ‘a problematizacéo desencadeada pelas obras de Juan Luis Vives, Juan de Medina ou Domingo de Soto; as esferas decisoras nao alijaram o Onus assistencial Face a incidéncla da pobreza e da marginalidade na sociedade da Renascenga. Pelo contrario, rentabilizar, organizar e laicizar compuseram justamente as linhas coordenadoras da reestruturacao da assisténcia empreendida a partir da segunda metade do século XV, ainda que mais vigorosa e consequente no rescaldo do Concilio tridentino, responsavel pela convergéncia imbricada da evolugio hospitalar ¢ do Florescimento das Misericérdias* materializada na padronizagao hospitalar., processo sistematico e transversal de incorporacdo dos hospitais na administragao das Misericérdias locais, decorrente da Forca reivindicativa da irmandade junto da Coroa, a que ndo eram estranhas a situagio de privilégio & protecdo, a visibilidade social € a crescente capacdade financeira. Pretendia- se empecer @ atomizacdo dos espacos medievals de assistencia modelados pelo influxo do ristianismo na Fécies salvifica da caridade, aglutinando recursos num hospital autossuficiente uniformizedo por um regimento. Clarifique-se, porém, que, neste processo reformador da assisténcia, o poder régio nao Foi © Unico interveniente, cabendo as dignidades eclesidsticas, prelados, sobretudo, um papel que importa reabllitar na historiografia sobre a assisténcia e, em concreto, a dispensada secularmente pelas Misericérdias. O Hospital de Séo Marcos, em Braga, oferece-se como paradigmatico e, presume-se, excepcional. Este hospital moderno, que recebe os seus Estatutos em 1508, ica sob o patronato do arcebispo D. Diogo de Sousa, transitando paraa gestéo da Misericérdia em 1559 por arbitrio de D. Frei Bartolomeu dos Mértires, arredando-se deste desfgnio qualquer participagio da Coroa. © papel dos arcebispos na cidade de Braga, enquanto senhorios eclesidsticos que aglutinavam os poderes espiritual e temporal, deve ser particularizado, mesmo que tal signifique uma ruptura ou, pelo menos, uma burilagem epistemoldgica Face a interpretacso ortodoxa veiculada pela historiografia acerca da exclusiva natureza régia da reforma hospitalar finissecular’. Porfiando na especializagio dos hospitais, lato sensu, como espacos de acolhimento ¢ tratamento de doentes pobres, subtraindo-thes a amélgama indistinta de fungées imputadas 4s albergarias medievais, sem que isso significasse, porém, a prevaléncia dos cuidados com 0 corpo em prejuizo dos cuidados com a alma; simbiose sintomatizada, de resto, no arreigamento de planos basilicais, aos quais se vincula uma conota¢ao religiosa: a reorganizacao da assisténcia demandou pela implementacdo de programas Funcionais e sanitaristas, conquanto embrionérios, influentes no desenho cruciforme perfilhado, Deste plano decorria a orientagSo ortogonal das enfermarias, dispostas em torno de patios, que Favorecia sobremodo a ventilagéo e a vigiléncia ¢, colateralmente, possibilitava a progressiva separagéo dos doentes por género e por doenga acometida (caso do gélico que infundia o medo do contégic). Ademais, estancava, 2 um tempo, @ ambiguidade espacial na acomodaco de enfermos, presos pobres e passageiros e regulamentava, mesmo que empiricamente, uma diferenciacéo de respostas — a de natureza médica e a que Fepousava na hospitalidade. 4 isabel dos Guirmarges Sé. A reorganizacdo da caridade em Portugal em contexto europeu (1450-1600)' In: Cademes do Noroeste, vol. 11.02.1998 p. 31 ‘ Laurinds Abreu, Padronizacso hospitalar e Misericordias: apontamentos sobre areforma da assisténcia publica ‘em Portucal In: Gongresso comemorativo do V centendrio da fundacao do Hospital co Espirito Santo de Evora. Actas. Evora: Hospital do Espirito Santo, 1996, p, 137-148, s neste sent, aponta a nestiacao de Mart Loo confome a comunkacio Na vida namorte: 2 asssttnca de abide 2073, Faculdade de Citncis Sociais da Universidade Catslica Portuauesa, Broaal, REVISTA 7 MARES - NUMERO 4 (OS HOSPITAIS NO CREPUSCULO DO ABSOLUTISMO 80 © Hospital Real de Todos os Santos, em Lisboa, erguido no declinio de quatrocentos sob os auspicios de D. Jodo Il, replica a planta em cruz ensaiada nas cidades italianas e transposta para a tratadistica pelo punho de Antonio Averlino, dito Filareto, ao servigo do mecenas Francesco Sforza. Espanha Foi também prédiga na reproducao deste plano nos hospitais nascentes, como © de Santiago de Compostela, desenhado por Enrique Eaas sob protecdo dos Reis Catélicos, imbufdo de Forte significado politico, emanando firmeza, magnificéncia e poder. O fato destes ecificados recuperarem e decalcarem 0 modelo mondstico claustral no autorize ou, pelo menos, ndo se esgota numa interpretacao escatolégica, antes propde-se oferecer uma organica interna pragmatica e mais humenista. Ospedale Maggiore de Mildo (1456-1465). Plano de Antonio Avertino Fonte: Pevsner, Nikolaus, Historia de les tipologias arquitecténicas. Barcelona: Edicdes Gustavo Gili, 1979 \Vista do plano oriental do Rossio pré-terramoto de 1755. Hospital Real de Todos-os-Santos Desenho sobre papel. Lisboa. Col. Herdeiros do Professor Celestino Costa Fonte: Hospital Real de Todos-os-Santos: séculos XV a XVIII :catéloge, Lisboa: Museu da Cidade, camara Municipal de Lisboa, 1993 DOSSIE - JUNHO DE 2014 a VERA MAGALHAES s pianos palacianos’, tipologia hospitalar consagrada no reino desde @ Renascenca até 20 Liberalismo, derivam justamente do programa arquiteténico em referéncia que colocava na presenga do patio 0 seu elemento definidor e organizador e filiam-se nos eloquentes programas cenogréficos, especialmente explorados pelo Barroco, para sublimacéo das aspiracées de representagio dos encomendantes. Mescia de palacio e hospital, simbolo da assisténcia e medida de grandeza, estas construcdes, pela nobilidade das suas fachadas, pela vastidéo da sua mole, pela introdugéo de uma nova escala de arquitetura civil e, nessa medida, pela imposigao no tecido urbano encerram uma leitura propagandistica de enaltecimento dos esforsos reformistas. Manifestavam, com a sua presenca, 0 poder € © papel aglutinador da Coroa*, do episcopado, das irmandades leonorinas ou de outras experiéncias confraternais, comprometendo-se objetivamente com o prestigioe o reconhecimento granjeados pelos patrocinadores entre os seus pares e junto de uma larguissima franja da populagao dependente da caridade, que o iluminismo hi de cristalizar em Filantropia, esvaziando-a do sentido escatolégico que ainda carregava, Hospital de S. Marcos, Braga. Plano. Estudo de Paulo Providencia Fonte: Providéncia, Paulo, A Ccbana do Higinista, Coimbra: EDARQ, 2000 7 Vicente Lampérez y Romea. Arquitectura cvil esparola de [os siglas | al XVII Madrid: Ediciones Giner, 1993. Tomo I, p. 283; Mario Carmona. ‘0 Hospital Real de Todes-os-Santos' In: Boletim Clinico des Hespltais Cvs de Lisboa, vol.18,n.1-2, 1954. 1917. 8 Rafael Moreira. A arquitectura do Renascimento no sul de Portugat a encomenda réia entre 0 moderno € © romano. Lisbon: Faculdace de Ciencias Socia's ¢ Humanas do Universidade Nova de Lisboa, 1991. Voi. p. 22. REVISTA 7 MARES - NUMERO 4 (OS HOSPITAIS NO CREPUSCULO DO ABSOLUTISMO 82 ee Cee Hospital de Santo Anténio (1769), Porto. John Carr, Planta Fonte: Taylor, René, "John Carr eo Hosnital de Sant Anténio do Porto’ In: Revista e Boletim da Academia ‘Nacional de Belas Artes, 2a sérien.o15, 1960 A simultaneidade da carga imagética e ideol6gica que impregna estes edificios, articulada com a grandiosidade e magnificéncia que thes conferem (‘air d’un palais, caracterizam modelo hospitalar que vingou no Antigo Regime, salvaguardando, claro est, matizes produzidas por ingeréncias de encomendantes e clientelas na morfologia e gramética adotadas, além do indefectivel improviso que continuou a definir algumas estruturas hospitalares heterogeneas, aglutinando fungdes e cumprindo as disposigdes testamentarias do instituidor. Saide piblica e tratadistica: vetores confluentes na emergente morfologia hospitalar No ocaso de setecentos, porém, a reforma dos estudos médicos, operada sob impulso do Marqués de Pombal e inspirada, em particular, nas indicagdes de Ribeiro Sanches para a construcdo de hospitais perspirdveis (de perspirare, isto é, respirar por todo o lado, espaco arejado, com renovacao permanente do ar), converaitia na emeraéncia de novos espacos, hospitalares, modelados por preocupacées bem distintas dos precedentes planos palacianos. No conjunto, a topografia médica, a policia médica, os mecanismos que obstavam ao confinamento do ar, 0 planejamento urbano ea praxis arquitetdnica com referéncia aos Tratados, plena ou subsidiariamente condensados no Tratada da Conservarad da Saude dos Povos (1756) de Ribeiro Sanches, reclamam espacos racionais, classificadores da doenca, profilaticos, discernindo na preservacdo doar @ pedra angular do moderno edificio da higiene e da sade piblicae, a propésito, trazendo a terreiro estudos sobre ventilag3o como os de Stephen Hales (1743) e de Duhamel de Moreau (1748), publicados nas Memérias da Academia Real das Ciéncias de Paris. Facamos, neste ponto, um parénteses, para declinar a presuncao de que os referidos postulados embrionaram no iluminismo. Sem branquear a influéncia da obra sanchesiana na 9 Pierre Lavedan: Jeanne Hugveney & Philippe Henrat. L'urbonisme @ ’6poque Moderne XVile ~ XVile siécles Geneve: S/ed, 1982. p. 75. DOSSIE - JUNHO DE 2014 2 VERA MAGALHAES conceitualizagéo de espacos com serventia pera a populagio, concretamente os hospitais, importa relativizar o seu cardter dito precursor, entendende-a, antes, como o caldeamento de saberes adquiridos desde a Antiguidade Classica, que, no caso, a Renascenca prodigalizou. De Fato, a preocupacéo com a salubridade dos sitios de implantacao dos aglomerados humanos impreana cedo « licdo arvorada sob a autoridade dos exempla, em Os dez livros de Arquiteture, de Vitrivio, onde afirma categorico "quand on veut bastir une ville, (a premiere chose qu il faut falre este de choisir un lieu sain [J en un lieu élevé, qui ne soit point sujet aux brouillards & aux brouines, & qui it une bonne temperature dai", Corroborando o articulado de Michel Foucault, no final do século XVIII, “a arquitetura comeca ase especializar, a0 se articular com os problemas da populacdo, da satide, do urbanismo”". A cldade miasmatica, patogencica e cética, tal como a apresenta mais tarde vica d'Azir (1778), recentra 0 discurso médico e urbanistico na morbidade urbana e, por arrasto, na implantagao e morfologie dos ecificados, em especial os que pela sua natureza se convertiam em potenciais Focos de doenca, como os hospitais. A ruptura que se adivinha prope 2 assungo do hospital como uma méquina de curar, nas palavras de Jean-Baptiste Leroy, ou uma cabana do higienisto, segundo Paulo Providéncia. Neste contexto, preconiza-se o hospital pavilhao (amples salas/enfermarias paralelasentre si e perpendiculares face 2 um patio central), plano aplicado em Plymouth (1756-1764) e distinguido por Le Roy no projeto para o Hétel-Dieu de Paris (1773), € 0 hospital radial (salas/enfermarias estrelades que se interceptam numa cipula, com serventia de capela e meio de arejamento), aconselhado pelo médico Antoine Petit (1774) e pelo arquiteto Bernard Poyet (1785), e que teré no Pandptico (c.1791) de Jeremy Bentham a afilada metéfora do poder e controle. Emergentes apés a segunda metade do século XVIll, estas propostas disseminam-se pela Europa (dentro de certa heterodoxia), em virtude das deficiéncias apontadas a Formula tradicional do hospital geral, Por via de regra polivalente. Hétel-Dieu (1785). Projeto de Bernard Poyet. Perspetiva e plano Fonte: Pevsner, Nikolaus, Mistoria de as tipologias argutecténicas Barcelona: Edigdes Gustavo Gil, 1979 10 Quando se constréi uma cidde, 0 primeiro aspecto a atender diz respeito a escolha de um lugar saudavel |. um lugar altaneiro, niosujeito 20 neveeiro eas chuviscos e com uma agradével temperatura (tradugio livre). Lee dis ivresd ‘architecture de Vitruve. Paris: Chez Jean Beptiste Coignard, 1684. Livro |, Captulo IV. p. 16. 11 Michel Foucault. Microfisica do poder. Rio de Janeiro: EdicBes Graal, 1992. 9.211 12 Nikolaus Pevsner. Historia de (as tpologias arquitectonicas. B2rcelona: Editorial Gustavo Gil, 1979. p. 180. REVISTA 7 MARES - NUMERO 4 (OS HOSPITAIS NO CREPUSCULO DO ABSOLUTISMO e4 Real Hospital Naval(1756-1764), Plymouth, de Rowehead. Plano e perspetiva Fonte: Pevsner, Nikolaus, Mistoria de las tipologias arquitecténicas Barcelona: Edigdes Gustavo Gill, 1979 Ressoavam no reino os ecos de um novo paradigma conceitual. Antecipando-se face a discussio suscitada pela reedificagdo do Hatel-Dieu parisiense, o médico e higienista Ribeiro Sanches anuncia o hospital perspirdvel no Tratado, onde a salubridade teria lugar de eleigéo, preterindo-se a elegncia, 0 ornato e a suntuosidade. Na mesma linha segue a Meméria sobre 0s hospitais do Reino, de José Joaquim Soares de Barros, editada pela Academia das Ciéncias de Lisboa (1812). Embora se trate de um ensaio eminentemente estatistico e demografico e menos cultor da caridade que do Fomento econdmico e da conservacao da satide, na sua relacao dialética, o estudo Formaliza um plano de administracao geral norteado pela maxima: “diminuit ondimero de hospitais, fazé-Los menos sumptuosos, e dividi-los", Décadas antes, em 1788, participando do primado da cultura arquiteténica hospitalar em contexto europeu, o Jomal Enciclopedico dedicado d Rainha consagra um artigo & reforma e melhoramentos dos hospitais convencionais, convergindo amide com os postulados higienistas e sanitaristas de Ribeiro Sanches. O autor, intérprete do pensamento iluminista permesvel prodigamente ao progresso, & ilustraglo, Felicidade e 3 filantropia, concluia, sem subterfuigios, que "se os Hospitaes mostram no seu Frontispicio soberba arquitetura, dentro tudo he parcimonia, tudo mizeria™* Mas 0s postulados de higienismo e saiide pablica arbitrados por Ribeiro Sanches seriem apenas efetivados na centcria ulterior, j& sob a égide do Estado Liberal, e verdadeiramente imiscuidos nos programas hospitalares pelo espirito clarividente de Anténio Augusto da Costa SimBes, médico, reformador e projetista de hospitais, impulsionador da visita e observagio sistematica e comparada de hospitais, as ditas viagens-inquérito, com paralelo em John Howard (1777) ou Jacques-René Tenon (1788), tornando determinantes as concepoes higienistas e 2 pratica médica no desenho hospitalar e, para tanto, elegendo o médico principal responsavel pela sua organizacéo. Estancada a convulséo politico-social que agita a primeira metade de citocentos, o plano hospitalar reflete os progressos cientificos e técnicos, enquanto reformadores/programadores dos edificios assistenciais, aos quais atribui como capitais predicados a funcionalidade e racionalidade do equipamento, o estdgio do saber médico, a zona sanitaria, a topografia médica, a exequibilidade orgamental. De resto, as construgbes hospitalares ideadas por Costa Simées devem ser interpretades justamente & luz dos novos paradigmas cientificos, interpelados pela cultura positivista, pelo racionalismo cartesiano, pelo cientificismo, pela pratica clinica, pelos progressos técnicos, pelo ascendente das ciéncias biomédicas e Farmacéuticas, pela profilaxia ¢ 13 José Joaquim Soares de Barros. ‘Meméria sobre os hospitals do Reino’ In Memérias econdmicas da Academia Real das Ciéncias de Lisboa (1789-1815). Lisboa: Banco de Portugal, 1991. Tomo IV, 14 Jomat enciciopédico dedicade @ Raina, Lisboa: na Officina de antonio Rodrigues Galhardo, 1788. 9.218. DOSSIE - JUNHO DE 2014 as VERA MAGALHAES pelo higienismo social. Typo no} para Hospitaes Districtaes. Planta Geral : Acquivo da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (AFMUC), Legade de Costa Simées, Hospitais Distitais te |, APLH.-1-7 Fen Rematando, em Portucal, na esteira do positivismo e cientifismo oitocentistas, os novos hospitais abandonam o plano palaciano, que tinha no risco uma ébvia encenacéo eloquente do poder ¢ das aspiragdes sociais das elites, propondo esquemas compositivos pavilhonares, radiais, de configurago em U, H, T, servidos por galerias e corredores enquanto elementos de conexio. Deste modo, Favorecia-se o arejamento e a ventilago das dependancias e promovia- se a emergéncia do hospital como espaco légico, racional, classificador da doenga, profilético, obediente ao saber médico, mas também de confinamento, controle e repressio autorizados elas coevas teorias de decenerescéncla propaladas por Morel, Lombroso ou Darwin. Artigo recebide para publicacéo em 14 de abril de 2014. REVISTA 7 MARES - NUMERO 4

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