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IFT.M.

01/83

SUPER-SIMETRIA
Introdução pelo formalismo
dos Super-Campos

Mario Goto*

* Instituição de origem:
Departamento de Física do Centro de Ciências Exatas da Fundação
Universidade Estadual de Londrina/PARANÁ
(em licença de Doutoramento pelo programa PICD/CAPES).
Conteúdo
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1 - Transformações de Poincaré . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1 - Grupo de Poincaré. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.2 - Álgebra de Lie graduada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2 - Super-campos e Transformações de Supersimetria . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1 - Super-translação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.2 - Supersimetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.3 - Super-campos Escalares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.4 - Álgebra da Supersimetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3 - Projeção Chiral dos Super-campos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.1 - Derivada Covariante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.2 - Super-campos Chirais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.4 - Super-campos Espinoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4 - Lagrangeanas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.1 - Modelo de Wess-Zumino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.2 - Modelo de Wess-Zumino extendido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5 - Formalismo de Gauge . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
5.1 - Grupo Abeliano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
5.2 - Generalização (Grupo Abeliano) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
5.3 - Lagrangeana no Gauge de Wess-Zumino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
5.4 - Grupo Não Abeliano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
6 - Modelo SU(3)XSU(2)XU(1) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
Apêndices . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
A1 - Métrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
A2 - Matrizes de Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
A3 - Identidade de Fierz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
A4 - Derivada Covariante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
A5 - Produto de Super-campos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
A6 - Correntes Conservadas em Teorias de Gauge . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
A7 - Quebra Espontânea de Simetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149

3
4
Introdução
Este trabalho pretende ser uma primeira introdução formal à supersime-
tria, através do formalismo dos supercampos desenvolvido por A. Salam e
J. Strathdee. A supersimetria é uma extensão do Grupo de Poincaré, unifi-
cando partículas de spin inteiro (bósons) e semi-inteiro (férmions), realizado
através de cargas fermiônicas, anticomutantes, que definem a "graduação"
da álgebra de Lie do Grupo de Poincaré.
Na secção II faz-se uma breve revisão do Grupo de Poincaré e a con-
strução das representações do mesmo, com uma pequena referência à ál-
gebra de Lie graduada. Na seccção III introduz-se os supercampos como
funções definidas sobre um superespaço, sobre o qual define-se a transfor-
mação de supersimetria. Em IV procede-se à decomposição chiral dos su-
percampos que dão as representações irredutíveis da supersimetria. Em V,
a construções das lagrangeanas supersimétricas passo a passo, o formalismo
de gauge introduzido na secção VI e, finalmente, na secção VII apresenta-
se um modelo supersimétrico mínimo baseado no grupo de simetria interna
SU (3) × SU(2) × U (1).

Agradecimentos ao Professor orientador A. H. Zimerman.

Observação:
Material re-editado com pequenas alterações, em 2006.

5
1 Transformações de Poincaré[1,2]
Para o estudo de um sistema físico é necessário fixar um sistema de referência
que, a menos da conveniência do observador, é completamente arbitrário. É
intuitivo que, devido a esta arbitrariedade, as leis físicas não devem depender
de um referencial em particular, isto é, todos os sistemas de referenciais são
absolutamente equivalentes do ponto de vista da natureza.
Em relação ao espaço-tempo, esta arbitrariedade é devido ao fato de
não se poder localizar nenhum ponto ou orientação privilegiados que possam
identificar um referencial absoluto. O espaço é uniforme, isto é, homogêneo
e isotrópico. A homogeneidade implica na invariança das leis da natureza
por translação espacial e a isotropia, a invariança por rotação. A homogenei-
dade temporal implica na invariança por "translação" temporal, sinônimo de
arbitrariedade na escolha da origem do tempo.
Além da equivalência dos referenciais transladados e ou rotacionados en-
tre si, há uma outra classe de transformações de simetria que relacionam os
referenciais inerciais movendo-se uniformemente uns em relação aos outros,
através das transformações de Galileu na física newtoniana e das transfor-
mações de Lorentz na física einsteniana.
Na relatividade einsteniana, fixo um referencial, define-se o espaço-tempo
de Minkowski cujas coordenadas (contra-variantes)
(xµ ) = (x0 , xi ) = (x0 , x1 , x2 , x3 ) (1)
representam eventos localizados no espaço com coordenadas (x1 = x, x2 =
y, x3 = z) e no tempo no instante x0 = ct.
As transformações de Lorentz atuam sobre as coordenadas como
x0µ = Λµν xν , (2)
com a condição de que a métrica
s2 = xµ xµ = (ct)2 − (x1 )2 − (x2 )2 − (x3 )2 (3)
seja invariante, isto é,

x0µ x0µ = gµλ Λλκ xκ Λµν xν = gµλ Λλκ Λµν xκ xν = xν xν , (4)


e portanto
gµλ Λλκ Λµν = gκν , (5)
onde as componentes do tensor métrico são definidas como

⎨ g00 = g 00 = 1
gij = gij = −1 para i = j . (6)

gµν = g µν = 0 para µ 6= ν

6
Em forma matricial, fica
ΛT gΛ = g, (7)
onde ΛT representa a matriz transposta de Λ, de modo que

det Λ = ±1. (8)

Veja também que ¡ 0 ¢2 ¡ i ¢2


Λ 0 − Λ 0 = 1, (9)
isto é, ¯ 0¯
¯Λ 0 ¯ ≥ 1. (10)
Se det Λ = +1 a transformação é própria e se det Λ = −1 é imprópria. Se
Λ00 ≥ 1 a transformação é ortócrona e se Λ00 < 1, não-ortócrona.
Como a transformação identidade tem det Λ = +1 e Λ00 = 1, as trans-
formações de Lorentz contínuas são próprias e ortócronas, contendo rotações
espaciais próprias e deslocamentos uniformes. Quaisquer outras transfor-
mações de Lorentz podem ser construídas como produto de uma transfor-
mação de Lorentz própria e inversões espaciais e ou temporal, razão pela qual
é suficiente concentrar os estudos somente sobre as transformações próprias
e ortócronas que, em forma infinitesimal, fica

x0µ = Λµν xν = (δ µν + ωµν ) xν , (11)

com Λµν = δ µν + ω µν e a condição ων µ = −ω µν para satisfazer à invariança


da métrica. As transformações de Lorentz formam uma estrutura de grupo
contendo 6 (seis) parâmetros essenciais (3 das rotações e 3 dos deslocamentos
uniformes.
Leis físicas relativísticas devem ser invariantes por transformações de
Lorentz, ou seja, serem descritas por equações covariantes, significando que
a forma destas são as mesmas em todos os referenciais inerciais. Grandezas
relativisticamente importantes, conforme as propriedades das transformações
induzidas pelas transformações de Lorentz (2), são classificadas como

a) escalares, que são invariantes

φ0 (x0 ) = φ(x), (12)

b) vetores, cujas componentes transformam-se da mesma forma que as


componentes das coordenadas,

A0µ (x0 ) = Λµν Aν (x), (13)

7
c) espinores, que transformam-se como

ψ0 (x0 ) = S(Λ)ψ(x) (14)

e
d) tensores de ordem genérica, cujas componentes transformam-se, índice
a índice, como as componentes dos vetores,

T 0µν··· (x0 ) = Λµα Λνβ · · · T αβ··· (x). (15)

De uma forma geral pode-se considerar os vetores como tensores de primeira


ordem e os escalares como tensores de ordem zero. Os pseudo-escalares,
pseudo-vetores, etc. transformam-se da mesma forma que os escalares, ve-
tores, etc., a menos do fator multiplicativo det Λ que determina a troca de
sinal quando houver uma inversão espacial ou temporal.
As transformações de Lorentz (2) acrescidas de translações no espaço-
tempo definem as transformações de Poincaré ou transformações de Lorentz
não homogêneas,
x0µ = Λµν xν + aµ , (16)
os termos de translação acrescentando mais 4 parâmetros independentes.
As transformações de Poincaré formam uma estrutura de grupo contendo
10 parâmetros essenciais. As propriedades dos campos escalares, vetoriais,
espinoriais, etc. são unicamente determinadas pela transformação de Lorentz,
visto que por translações estas grandezas são invariantes.
As transformações de Poincaré relacionam todos os referenciais inerciais
entre si e, como as leis da natureza devem ser as mesmas em todos estes refe-
renciais, as equações que descrevem as leis da física, em particular, devem ter
as mesmas formas em quaisquer destes referenciais. Significa que as equações
devem ser covariantes por estas transformações, conhecidas portanto como
transformações de simetria.

1.1 Grupo de Poincaré[1,2,3]


As transformações de Lorentz (2) e as transformações de Poincaré (16) rela-
cionam os diversos referenciais inerciais entre si, e os observadores em re-
pouso nestes referenciais observam o mesmo sistema físico. As quantidades
relevantes a este sistema podem ser grandezas escalares, vetoriais, espino-
riais, tensoriais, etc., as quais se relacionam pelas transformações (12-15),
respectivamente, nestas mudanças de referenciais.
Em vez de aplicar as transformações de simetria para mudanças de refe-
renciais mantendo fixo o sistema físico, pode-se manter o referencial fixo e

8
aplicar as transformações de simetria sobre o sistema físico. Estes dois pro-
cedimentos são fisicamente equivalentes e, embora na física clássica prevaleça
o primeiro caso, na mecânica quântica é mais proveitoso considerar o segundo
caso. Isto porque na mecânica quântica existem muitas transformações de
simetria baseadas nas coordenadas internas do sistema, independentes das
coordenadas do espaço-tempo (coordenadas externas). Pode-se citar como
exemplo de transformações de simetria interna as simetrias de gauge. Apli-
cando as transformações de simetria sobre o sistema físico, mantendo o refer-
encial fixo, tem a vantagem de unificar o formalismo para tratar destes dois
tipos de transformações.

Figure 1: Em (a), o sistema físico A no referencial R, representado pelo


vetor de estado ψR (x). Em (b), o mesmo sistema físico A no novo referencial
R0 = L−1 (R), representado pelo vetor de estado ψR0 (x0 ). Em (c), o sistema
físico transformado A0 = L(A) no referencial antigo R, representado pelo
vetor de estado ψ0R (x).

9
Considere um sistema físico A satisfazendo a determinadas leis físicas e
um outro sistema A0 idêntico a A a menos de uma transformação de simetria,

A0 = L(A) (17)

de modo que A0 deve satisfazer às mesmas leis físicas de A quando observados


no mesmo referencial R. Na linguagem da mecância quântica, o vetor de
estado
ψR (x) = ψ(x) (18)
representa o sistema A no referencial R enquanto que o vetor de estado ψ0R (x)
representa A0 no mesmo referencial.
Fazer a transformação do sistema físico A mantendo o referencial R fixo,
equação (17), é equivalente a fazer uma transformação inversa do referencial,

R0 = L−1 (R), (19)

mantendo o sistema físico A fixo, as coordenadas de R0 relacionadas como as


coordenadas de R através da transformação direta

x0 = L(x), (20)

como pode-se ver nas ilustrações da figura (1) onde, por razões de simplici-
dade e clareza, as transformações estão representados como translações.
No referencial R0 o sistema físico A é representado pelo vetor de estado
ψR0 (x0 ) e, dada a arbitrariedade da escolha da origem do referencial, o sistema
A visto do referencial R0 é idêntico ao sistema A0 visto do referencial R, fato
que pode ser traduzido pela igualdade

ψR0 (a0 ) = ψ0R (a0 ) (21)

para
a0 = L(a), (22)
onde a representa as coordenadas numéricas, do centro de massa, por exem-
plo, do sistema físico. De uma forma geral, o sistema A0 visto do referencial
R fica
ψR0 (x) = ψ0R (x) ≡ ψ0 (x) , (23)
a primeira igualdade devendo ser considerada como a definição para a função
ψ0 (x).
Pela transformação de coordenadas (18), o vetor de estado transforma-se
como
ψR0 (x0 ) = ψ0 (x0 ) = S(L)ψ(x) (24)

10
e, considerando que as coordenadas devem ser do referencial R,

ψ0 (x) = S(L)ψ(L−1 x). (25)

Em forma infinitesimal, a transformação de coordenadas (20) e a sua


inversa ficam
x0 = Lx = x + δx ⇐⇒ L−1 x = x − δx (26)
e o vetor de estado transforma-se como

ψ0 (x) = ψ(L−1 x) + δT ψ(x), (27)

isto é,

ψ0 (x) = ψ(x − δx) + δ T ψ(x) = ψ(x) − δxµ ∂µ ψ + δ T ψ(x), (28)

que relaciona a variação total

δ T ψ(x) = ψ0 (x) − ψ(x − δx) = δ F ψ(x) + δ 0 ψ(x)

com a variação funcional

δ F ψ(x) = ψ0 (x) − ψ(x) (29)

mais a variação devido à variação do argumento da função,

δ 0 ψ(x) = ψ(x) − ψ(x − δx) = δxµ ∂µ ψ. (30)

Em síntese, quando se faz a transformação do sistema físico A mantendo o


referencial R fixo, o vetor de estado ψ0 (x) do novo sistema A0 está relacionado
como o vetor de estado ψ0 (x) do sistema A pela variação funcional (29),

δ F ψ(x) = ψ0 (x) − ψ(x) = δ T ψ(x) − δxµ ∂µ ψ. (31)

1.1.1 Translação
Considere uma translação pura, cuja transformação infinitesimal (26) assume
a forma
x0µ = xµ + δxµ = xµ + µ . (32)
Como as grandezas físicas são invariantes por translação,

δ T ψ(x) = 0

e portanto
δ F ψ(x) = − µ ∂µ ψ, (33)

11
de modo que o campo transforma-se como

ψ0 (x) = (1 − µ
∂µ ) ψ(x) = (1 + i µ Pµ ) ψ(x). (34)

Para uma translação finita

x0µ = xµ + aµ (35)

resulta
µP
ψ0 (x) = eia µ
ψ(x) (36)
onde

Pµ = i∂µ = i (37)
∂xµ
é o operador (hermitiano) de momento linear, gerador do sub-grupo das
translações do Grupo das Transformações Gerais de Lorentz.

1.1.2 Transformação de Lorentz


A transformação de Lorentz na forma infinitesimal pode ser escrita como

x0µ = Λµν xν = (δ µν + ωµν ) xν , (38)

a invariança da métrica levando à condição

ω µν = −ω νµ . (39)

As grandezas físicas transformam-se diferentemente conforme sejam escalares,


vetores, etc. Serão considerados apenas escalares e espinores.

Escalares Uma função escalar, por definição, deve ser invariante pelas
transformações de Lorentz,
δT φ(x) = 0 (40)
e portanto

φ0 (x) = (1 − δxµ ∂µ ) φ (41)


para
δxµ = ω µν xν (42)
e
1 i
δxµ ∂µ = ω µν xν ∂µ = − ω µν (xµ ∂ν − xν ∂µ ) = ωµν Lµν
2 2
onde
Lµν = i (xµ ∂ν − xν ∂µ ) (43)

12
contem os operadores de momento angular orbital e do movimento retilíneo
uniforme das Transformações de Lorentz., de modo que
µ ¶
0 i µν
φ (x) = 1 − ω Lµν φ(x) (44)
2
ou, na forma finita,
i µν L
φ0 (x) = e− 2 ω µν
φ(x) (45)
Diz-se que esta equação define os geradores do Grupo de Lorentz para a
representação escalar.

Espinores A transformação de uma função espinorial ψ(x), dada pela


equação (14), para o caso de um espinor de Dirac, fica
i µν σ
ψ0 (x0 ) = e− 4 ω µν
ψ(x) (46)

e, portanto, pela equação (25),


i µν σ i µν L
ψ0 (x) = e− 4 ω µν
e− 2 ω µν
ψ(x)

ou
i µν J
ψ0 (x) = e− 4 ω µν
ψ(x) (47)
para
1
Jµν = Lµν + σ µν , (48)
2
que define os geradores do Grupo de Lorentz para a representação espinorial.
De uma forma mais geral, os geradores do Grupo de Lorentz podem ser
escritos na forma
Jµν = Lµν + Sµν , (49)
onde os operadores Lµν e Sµν comutam entre si e obedecem às mesmas re-
lações de comutação de Jµν ,

[Jµν , Jρσ ] = igνρ Jµσ − igµρ Jνσ − igνσ Jµρ + igµσ Jνρ (50)

que definem a álgebre de Lie do Grupo.


As componentes espaciais Jij formam a álgebra

[Jij , Jkl ] = −iδ jk Jil + iδ ik Jjl + iδ jl Jik + iδ il Jjk (51)

do grupo SO(3) de rotação, como pode-se ver definindo os três geradores


(hermitianos) de rotação
1
Ji = ijk Jjk , (52)
2
13
operadores de momento angular. Aqui, ijk é o tensor completamente antis-
simétrico de Levi-Civita, com 123 = 1. Os restantes três geradores são das
transformações puras de Lorentz,
Ki = J0i , (53)
operadores anti-hermitianos. Em termos destes novos geradores, as relações
de comutação (50) e (51) ficam


⎪ [Ji , Jj ] = i ijk Jk .



[Ki , Kj ] = i ijk Jk , (54)





[Ji , Kj ] = i ijk Kk
que inter-relacionam todos os geradores entre si e mostram que as transfor-
mações especiais de Lorentz não formam uma estrutura de sub-grupo, ao
contrário das rotações.
Com as seguintes definições,
1
Ni = (Ji + Ki ) (55)
2
e o seu conjugado hermitiano
1
Ni† = (Ji − Ki ) , (56)
2
estes novos grupos de geradores Ni e Ni† satisfazem, cada qual, à álgebra de
Lie do grupo SU(2), além de comutarem entre si,


⎪ [Ni , Nj ] = i ijk Nk




⎨ h † †i
Ni , Nj = i ijk Nk† , . (57)



⎪ h i


⎩ Ni , Nj† = 0
Deste modo pode-se obter dois operadores invariantes,
¡ ¢2
N 2 = Ni Ni e N † = Ni† Ni† , (58)
com auto-valores n(n+1) e m(m+1) respectivamente, n e m podendo assumir
valores inteiros e semi-inteiros,
1 3
n, m = 0, , 1, , 2, · · · , etc.,
2 2
14
como é bem conhecido do grupo SU(2) de spin. Assim, as representações do
Grupo de Lorentz podem ser identificadas pelos pares (n, m) e os seus estados
pelos auto-valores de N3 e N3† . Os grupos SU(2) definidos pelos geradores
Ni e Nj† não são independentes pois os mesmos podem ser intercambiados
por conjugação hermitiana ou por operação de paridade, que transformam
Ji −→ Ji , Ki −→ −Ki e Ni −→ Ni† . (59)
Como

Ji = Ni + Ni† , (60)
o spin da representação (n, m) é a soma n + m. A seguir, alguns exemplos
destas representações:

1. (0, 0) - (pseudo) escalar, spin 0.


2. (1/2, 0) - espinor de mão esquerda, spin 1/2.
3. (0, 1/2) - espinor de mão direita, spin 1/2. (As definições esquerda e
direita são simples convenções.)

As representações (1/2, 0) e (0, 1/2) intercambiam entre si por transfor-


mações de paridade, não possuindo, portanto, paridades definidas. São es-
pinores a duas componentes complexas denominadas espinores de Weyl. Se
a paridade for relevante, recorre-se à representação da soma direta (1/2, 0)+
(0, 1/2), que são os espinores de Dirac. Representações de ordem mais alta
(spin maior) podem ser obtidas pelo produto destas representações funda-
mentais. Por exemplo,

1. (1/2, 0)× (0, 1/2) = (1/2, 1/2) - quadri-vetor, spin 1.


2. (1/2, 0)× (1/2, 0) = (0, 0) + (1, 0) - a parte escalar é o produto anti-
ssimétrico e a representação (1, 0) a parte simétrica correspondente a
um tensor antissimétrico de segunda ordem, auto-dual,
i
Bµν = −Bνµ = µν ρσ Bρσ .
2
A representação (0, 1) que aparece no produto (0, 1/2)× (0, 1/2) é um
tensor de segunda ordem, anti-auto-dual,
i
Cµν = −Cνµ = − µν ρσ Cρσ .
2
O tensor eletromagnético Fµν transforma-se como (0, 1)+ (1, 0), pelo
grupo de Lorentz.

15
O grupo de Poincaré, definido pelas transformações (6), formado pelas
Transformações Gerais de Lorentz (2) mais as translações do espaço-tempo,
contém 10 parâmetros essenciais associados aos 10 geradores, 4 de translação,
equação (37), e 6 do grupo das Tranformações Gerais de Lorentz, equação
(48). A álgebra de Lie do grupo de Poincaré é definida pelas relações de
comutação


⎪ [Pµ , Pν ] = 0



[Jµν , Pρ ] = −igµρ Pν + igνρ Pµ . (61)





[Jµν , Jρσ ] = igνρ Jµσ − igµρ Jνσ − igνσ Jµρ + igµσ Jνρ ,

As representações do grupo de Poincaré são definidas pela massa e pelo


spin, a massa definida pelo invariante

Pµ P µ = m2 ≥ 0 . (62)

O outro operador de Casimir, que define o spin da representação, é construído


com a ajuda do quadri-vetor de Pauli-Lubanski,
1 1
Wµ = − µνρσ
Pν Jρσ = − µνρσ
Sρσ Pν , (63)
2 2
obedecendo às relações de comutação


⎪ [W µ , P ν ] = 0



[Jµν , Wρ ] = −igµρ Wν + igνρ Wµ , (64)





[Wµ , Wν ] = i µν W ρ P σ

o invariante de Casimir sendo

Wµ W µ = m2 s(s + 1), (65)

que define a representação de massa m e spin s, para s = 0, 1/2, 1, 3/2, · · ·


inteiros e semi-inteiros.
Os estados dentro de cada representação de spin e massa não nula são
indicados pela orientação da componente s3 do spin, −s ≤ s3 ≤ s.
Para massa nula,
Pµ P µ = Wµ W µ = 0, (66)
e como
Pµ W µ = 0, (67)

16
P µ e W µ devem ser proporcionais,

W µ = ±sP µ , (68)

a constante de proporcionalidade ±s definido pelo spin da representação.


Neste caso, uma representação de spin s 6= 0 admite somente dois estados,
correspondentes às duas únicas orientações do spin, ou helicidades, +s e −s.

1.2 Álgebra de Lie graduada[4,7]


Considere um conjunto de parâmetros αi de uma transformação contínua
para definir uma "graduação",

⎨ ni = 1 se αi for fermiônico
e

ni = 0 se αi for bosônico,
de modo que se tenha
αi αj = (−1)ni nj αj αi . (69)
Assim, se αi e αj forem bosônicos, ou se um deles for bosônico,

αi αj = αj αi , (70)

e se ambos, αi e αj , forem fermiônicos,

αi αj = −αj αi , (71)

ou seja, os parâmetros bosônicos comutam entre si e com os parâmetros


fermiônicos, e os parâmetros fermiônicos anti-comutam entre si e comutam
com os parâmetros bosônicos.
Suponha uma transformação T(α), que pode ser expressa como uma série
de potências em αi ,
1
T(α) = 1 + αi Ti + αi αj Tij + · · · , (72)
2
com
Tji = (−1)ni nj Tij . (73)
e a lei de composição
T (α)T (β) = T [f (α, β)], (74)
f (α, β) tendo a mesma graduação de α e β, definido por

fi (α, β) = αi + β i + fjki αj β k + · · · . (75)

17
Comparando os termos de mesma potência em αi e β j na equação (72),
resulta a relação que define a álgebra de Lie graduada

Ti Tj − (−1)ni nj Tj Ti = Cijk Tk (76)

para
Cijk = (−1)ni nj fijk − fjik = −(−1)ni nj Cjik . (77)
A álgebra de Lie graduada assim definida generaliza a identidade de Jacobi
na forma

(−1)nk ni {{Ti , Tj } , Tk }+(−1)ni nj {{Tj , Tk } , Ti }+(−1)nj nk {{Tk , Ti } , Tj } = 0,


(78)
onde o símbolo {· · · , · · · } pode indicar comutação ou anti-comutação seguindo
a definição
{Ti , Tj } = Ti Tj − (−1)ni nj Tj Ti (79)
conforme o caráter bosônico ou fermiônico dos geradores Ti e Tj .
A álgebra de Lie graduada pode ser vista como uma extensão da álgebra
de Lie usual, indtroduzindo uma graduação através de geradores fermiônicos
que obedecem a relações de anti-comutação entre si e de comutação com os
demais geradores bosônicos. A álgebra de Lie do grupo de Poincaré pode
ser graduada introduzindo os geradores espinoriais Qα com a característica
fundamental de misturar os campos bosônicos e fermiônicos, o que permite
a construção de multipletos contendo indistintamente bósons e férmions,
levando à simetria bóson-férmion, a que se denomina supersimetria.
Considerando somente os geradores fermiônicos Qα , a relação de anti-
comutação
{Qα , Q0β } = Qα Q0β + Q0β Qα (80)
deve resultar numa quantidade bosônica e pode ser escrita, de uma forma
geral, como
{Qα , Q0β } = Aµαβ Pµ + Bαβ
µν l
Jµν + Cαβ Zl , (81)
onde Pµ são os geradores de momento, Jµν os geradores do grupo de Lorentz e
Zl geradores bosônicos de alguma simetria interna. Foi visto que as represen-
tações do grupo de Lorentz são identificadas pelos pares (n, m), a soma n+m
definindo o spin da representação. Assim, os geradores como representações

18
do grupo de Lorentz ficam


⎪ Pµ ↔ (1/2, 1/2) - quadri-vetor.





⎪ Jµν ↔ (1, 0) e (0, 1) - tensor antissimétrico auto-dual e anti-auto-dual.




⎪ Zl ↔ (0, 0) - escalar.





Qα ↔ (1/2, 0) e (0, 1/2) - componente L e R do espinor de Dirac.

Se considerar o gerador Qα na representação básica (1/2, 0) e Q0β = Q∗β


na representação (0, 1/2), o produto Qα Q∗β pertencer à representação vetorial
(1/2, 1/2), e portanto deve ser proporcional ao único quadri-vetor disponível
dentre os geradores do grupo de Poincaré, de modo que

{Qα , Q∗β } = Aµαβ Pµ . (82)

Se tanto Qα como Q0β = Qβ pertencerem à mesma representação (1/2, 0),


como
(1/2, 0) × (1/2, 0) = (1, 0) + (0, 0),
a relação de anti-comutação entre Qα e Qβ deve ser uma combinação linear
de Jµν e Zl . No entanto, como Pµ e Qα comutam entre si, fica proibido o
termo proporcional a Jµν , de modo que deve-se ter
l
{Qα , Qβ } = Cαβ Zl . (83)

Muitos resultados podem ser obtidos analisando as propriedades do grupo


de supersimetria, como os exemplificados acima. No entanto, neste texto,
a supersimetria é estudada através do formalismo de super-campos desen-
volvido por A. Salam e J. Stradhdee [5], que fornece uma metodologia simples
e eficiente para a construção de modelos supersimétricos.

19
2 Super-campos e Transformações de Super-
simetria[5,6,7,8]
Teorias construídas com a generalização do grupo de Poincaré, introduzindo
geradores espinoriais, são conhecidas como teorias supersimétricas e a álgebra
resultante, que agora contém relações de anti-comutação destes geradores
espinoriais, é denominada álgebra de Lie graduada.
Os geradores espinoriais (spin 1/2) permitem construir super-multipletos
contendo partículas de spin inteiro (bósons) e semi-inteiro (férmions), forma-
lizando a unificação bóson-férmion. Neste contexto, o formalismo de super-
campos, desenvolvido por A. Salam e J. Strathdee [5], fornece uma maneira
simples e eficiente de realizar esta unificação.
Os super-campos são funções definidas sobre o que se denomina um super-
espaço, contendo o espaço-tempo usual acrescido por dimensões abstratas
definidas por coordenadas fermiônicas, resultando num (super-) espaço de
dimensão 8.
As coordenadas deste super-espaço são definidas por

(xµ , θα ) (1)

onde xµ são as coordenadas usuais do espaço-tempo, elementos pares da


álgebra de Grassman, e θα são as novas coordenadas, elementos ímpares da
álgebra de Grassman. A estas novas coordenadas θα associa-se uma regra
fundamental, que é a de anti-comutação,

θα θ0β + θ0β θα = 0, (2)

com consequência imediata sobre qualquer função local f (x, θ). Isto porque,
devido a esta regra de anti-comutação,

θα θα + θα θα = 0,

ou melhor,
θα θα = 0, (sem soma em α) (3)
de modo que os produtos

θα1 θα2 θα3 · · · θαi · · · θαn

(αj = 1, 2, 3 ou 4) serão identicamente nulos se n > 4, pois neste caso


necessariamente surgirão produtos quadráticos, equação (3). Assim qualquer
função f (x, θ) pode ser expandida como série de potências em θα , resultando
numa função polinomial de grau finito em θα , no caso, de grau 4.

20
As quatro coordenadas θα podem ser consideradas como as componentes
de um espinor de Majorana,
⎛ 1 ⎞ ⎛ ⎞
θ θ1
⎜ θ2 ⎟ ⎜ θ2 ⎟
θ=⎜ ⎟ ⎜ ⎟
⎝ θ3 ⎠ = ⎝ θ3 ⎠ . (4)
θ4 θ4

dUm espinor de Majorana ψ, definido pela condição ψC = ψ, contém qua-


tro componentes independentes, que podem ser tornadas reais se for adotada
a representação de Majorana das matrizes γ µ de Dirac. Veja o apêndice A2.
Devido a esta comodidade, será adotada a representação de Majorana
para as matrizes de Dirac, que satisfazem à anti-comutação

{γ µ , γ ν } = 2gµν ,

algumas das propriedades mostradas nas equações (A2—A45) do apêndice A2.


As coordenadas θα também são reais.c

Pode-se construir 16 produtos independentes com as coordenadas θα , que


são
1 1
θα 4
θα θβ 6 , (5)
θα θβ θγ 4
θα θβ θγ θδ 1
sendo que existem µ ¶
4
=6
2
combinações para os produtos do tipo θα θβ e
µ ¶
4
=4
3

combinações para os produtos do tipo θα θβ θγ , e qualquer função definida


sobre o super-espaço poderá ser expandida como
1 1
f (x, θ) = f0 (x) + fα (x)θα + fαβ (x)θα θβ + fαβγ (x)θα θβ θγ +
2 6
1
+ fαβγδ (x)θα θβ θγ θδ . (6)
24
21
(os coeficientes numéricos são arbitrários).
Em vez de expandir na série de potências acima, é mais conveniente fazer
a expansão em série de produtos com propriedades bem definidas sob o grupo
de Lorentz,
1 escalar 1
θ espinor 4
θθ escalar 1
5
θγ θ pseudo-escalar 1 . (7)
µ 5
¡ γ¢ θ pseudo-vetor 4
θγ
θθ θ espinor 4
¡ ¢2
θθ escalar 1
As potências e os produtos das coordenadas fermiônicas listadas em (5)
e (7) podem ser relacionadas usando a identidade de Fierz, apresentado no
apêndice A3. Ainda em (7), θ é o espinor adunto de θ definida por
θ = θ† γ 0 = θT γ 0 , (8)
sendo que a igualdade θ† = θT é válida para os espinores de Majorana e na
representação de Majorana das matrizes γ µ de Dirac.

2.1 Super-translação
Considere uma transformação nas coordenadas do super-espaço, que será
denominada super-translação,
⎧ µ
⎨ x −→ x0µ = xµ + 2i γ µ θ
. (9)
⎩ 0α α α
θ 7−→ θ = θ +
α
Pela própria definição da transformação acima, os parâmetros devem ser
do mesmo tipo das coordenadas θα , anti-comutantes entre si,
α β β α
+ =0 (10)
e com θα ,
α β
θ + θβ α
= 0. (11)
Em geral, quaisquer componentes espinoriais são anti-comutantes entre si.
Pode-se verificar que somente as super-translações não formam uma es-
trutura de grupo. Realmente, considere a transformação, infinitesimal,
⎧ 0µ
⎨ x = xµ + 2i 1 γ µ θ = xµ + δ 1 xµ
, (12)
⎩ 0α α 1α α α
θ =θ + = θ + δ1θ

22
onde, genericamente, ⎧ µ i
⎨ δx = 2
γ µθ
. (13)

δθα = α

Em seguida, uma outra transformação sucessiva,


⎧ 00µ
⎨ x = x0µ + 2i 2 γ µ θ0 = x0µ + δ 2 x0µ
, (14)
⎩ 00α 0α 2α 0α 0α
θ =θ + = θ + δ2θ
que resulta ⎧ 00µ
⎨ x = xµ + δ 1 xµ + δ 2 xµ + δ 2 δ 1 xµ
. (15)

θ00α = θα + δ 1 θα + δ2 θα + δ 2 δ 1 θα
Considerando que
µ ¶
µ i 1 µ i 1 µ i
δ2 δ1 x = δ2 γ θ = γ δ2θ = 1γ µ 2
(16)
2 2 2
e
δ 2 δ 1 θα = δ 2 1α
= 0, (17)
a transformação resultante fica
⎧ 00µ
⎨ x = xµ + 2i ( 1
+ 2) γµθ + i 1 µ 2
2
γ
, (18)

θ00α = θα + 1α
+ 2α

que contém um termo adicional de translação nas coordenadas do espaço-


tempo, não sendo uma super-translação definida pela equação (9).

dAparentemente, nas transformações sucessivas (12) e (14), poder-se-ia


fazer as substituições diretas, sem passar pelos passos (15-17), o que levaria
a
i i i ¡ ¢
x00µ = x0µ + 2 γ µ θ0 = xµ + 1 γ µ θ + 2 γ µ θ + 1 ,
2 2 2
onde, no entanto, inadvertidamente, a segunda variação foi realizada antes
da primeira, incorrendo num erro pelo fato de as transformações não serem
comutativas.c

Note que termos do tipo


i µ
γ θ,
2

23
apesar de serem reais, isto é,
µ ¶∗
i µ i µ
γ θ = γ θ,
2 2
não o são no sentido usual, pois as potências
µ ¶n
i µ
γ θ
2
são identicamente nulas para n > 4, o que não ocorre com nenhum número
real diferente de zero.

2.2 Supersimetria[5,6]
Como visto acima, as super-translações por si, definidas em (9), não de-
finem uma estrutura de grupo. Deve-se entender a supersimetria como uma
generalização do grupo de Poincaré, que permita unificar as diversas repre-
sentações (do grupo de Poincaré) pela adição de geradores espinoriais que,
como será visto adiante, são justamente os geradores das super-translações.
Assim, define-se as transformações de supersimetria como o conjunto das
transformações de Poincaré mais as super-translações, que em forma infinites-
imal pode-se escrever como
⎧ 0µ
⎨ x = xµ + δxµ
, (19)
⎩ 0
θ = θ + δθ
para ⎧ µ

⎪ δx = ωµν xν + aµ + 2i γ µ θ



δθ = − 4i ω µν σ µν θ + . (20)




⎩ £ ¤
δθ = − 4i ω µν θσ µν +
Estas transformações definem uma estrutura de grupo.
Considere, agora, as transformações sucessivas
⎧ 0µ
⎨ x = xµ + δ 1 xµ
(21)
⎩ 0
θ = θ + δ1θ
e ⎧ 00µ
⎨ x = x0µ + δ 2 x0µ
. (22)
⎩ 00 0 0
θ = θ + δ2θ

24
Fazendo as substituiões (21) em (22), resultam nas transformações
⎧ 00µ
⎨ x = xµ + δ 1 xµ + δ2 xµ + δ 2 δ1 xµ
(23)
⎩ 00
θ = θ + δ1θ + δ2θ + δ2δ1θ
onde os termos infinitesimais das transformações são definidos pela equação
(20), ⎧
⎨ δ1 xµ = ω1µν xν + a1µ + 2i 1 γ µ θ
(24)
⎩ i 1 µν 1
δ1 θ = − 4 ω µν σ θ +
e ⎧
⎨ δ 2 xµ = ω2µν xν + a2µ + 2i 2 γ µ θ
. (25)
⎩ i 2 µν 2
δ 2 θ = − 4 ω µν σ θ +
Consequentemente, os termos de segunda ordem ficam
i 1
δ 2 δ 1 xµ = ω 1µν δ 2 xν + γ δ2θ
2 µ
µ ¶
1 νλ 1 ν i 1 2
= ω µν ω 2 xλ + ω µν a2 + γ +
2 µ
µ ¶
i 1 2 ν i 1 £ 2 ¤
+ ωµν γ − γ ω σ θ (26)
2 4 µ
e

i
δ 2 δ 1 θ = − ω 1µν σ µν δ 2 θ
4 µ ¶
i£ 1 ¤ i£ 2 ¤ i£ ¤
= − ω σ − ω σ θ − ω1σ 2
, (27)
4 4 4
onde se recorre à notação simplificada
[ωσ] = ωµν σ µν (28)
para a contração total dos índices tensoriais.
Veja também que
i
δ 2 δ 1 θ = − ω1µν δ 2 θσ µν
4 µ ¶
i 1 i£ ¤
= − ωµν − ω 2 θσ + 2
σ µν . (29)
4 4

25
Invertendo a ordem das transformações (21) e (22), os termos de segunda
ordem, equações (26-29), ficam
µ ¶ µ ¶
2 νλ 2 ν i 2 1 i 2 1 ν i 2 £ 1 ¤
δ 1 δ 2 xµ = ω µν ω 1 xλ + ω µν a1 + γ + ω µν γ − γ ω σ θ
2 µ 2 4 µ
(30)
e
µ ¶
i£ 2 ¤ i£ 1 ¤ i£ ¤
δ1 δ2 θ = − ω σ − ω σ θ − ω2 σ 1 . (31)
4 4 4
Para as coordenadas espinoriais na forma conjugada adjunta, a equivalente
à equação (27) é
µ ¶
i 2 i£ 1 ¤ 1
δ 1 δ 2 θ = − ω µν − ω θσ + σ µν . (32)
4 4
Os termos infinitesimais de segunda ordem, equações (26-29), das trans-
formações sucessivas (1) e (2) e os termos correspondentes, equações (30-32),
das transformações sucessivas (2) e (1) mostram a não comutatividade das
transformações de supersimetria,

⎨ [δ 2 , δ1 ] xµ = δ 3 xµ
(33)

[δ 2 , δ 1 ] θ = δ 3 θ
para ⎧ i 3
⎨ δ 3 xµ = ω 3µν xν + a3µ + 2
γ µθ
, (34)

δ 3 θ = − 4i ω3µν σ µν θ + 3

os novos parâmetros definidos em termos dos parâmetros das transformações


anteriores, ⎧ 3

⎪ ωµν = ω 1µλ ω λ2 ν − ω 2µλ ωλ1 ν



a3µ = ω1µν a2ν − ω 2µν a1ν + i 1 γ µ 2 . (35)



⎪ ¡ ¢
⎩ 3
= − 4i σ µν ω 1µν 2 − ω 2µν 1
Para a componente espinorial, deve-se considerar, também,
3 i¡ 1 2
¢
= ω − ω2µν 1
σ µν . (36)
4 µν
A álgebra das transformações de supersimetria fica definida, formalmente,
pela relação de comutação
[δ 2 , δ 1 ] = δ 3 , (37)

26
faltando determinar a representação dos geradores desta álgebra.
Para as super-translações puras, as relações de comutação (33) ficam

⎨ [δ 2 , δ1 ] xµ = δ 3 xµ = a3µ = i 1 γ µ 2
. (38)

[δ 2 , δ1 ] θ = 0

2.3 Super-campos Escalares[5,6]


Os super-campos escalares são funções definidas sobre o super-espaço invari-
antes pelas transformações de supersimetria,

φ0 (x0 , θ0 ) = φ(x, θ) . (39)

Analogamente, os super-campos vetoriais são definidos pela transformação

φ0µ (x0 , θ0 ) = Λµ ν φν (x, θ) , (40)

os super-campos espinoriais por

ψ0α (x0 , θ0 ) = Sαβ (Λ)ψβ (x, θ) , (41)

etc.. onde Λ define as transformações de Lorentz.


Pelo grupo de Lorentz, as coordenadas θα trransformam-se como es-
pinores, e por reflexão espacial, pela regra
¡ ¢α
θα −→ i γ 0 θ , (42)

o fator i presente para manter real. Deste modo é conveniente expandir os


super-campos em termos dos produtos listados em (7), que tem transfor-
mações bem definidas pelo grupo de Lorentz.
Os super-campos escalares assumem a forma geral
1 i
φ(x, θ) = A(x) + θψ(x) + θθF (x) + θγ 5 θG(x) +
4 4
1 1¡ ¢ 1 ¡ ¢2
+ θγ µ γ 5 θAµ (x) + θθ .θχ(x) + θθ D(x) , (43)
4 4 32
lembrando que (Veja o apêndice A3)

θγ µ θ = θσ µν θ = 0 ,

os fatores numéricos colocados por conveniência para cálculos posteriores.


Contém campos escalares A(x), F (x) e D(x), um campo pseudo-escalar,

27
G(x), um campo pseudo-vetorial Aµ (x) e campos espinoriais ψ(x) e χ(x).
Estes campos podem ser complexos.
No caso de um super-campo escalar real,

[φ(x, θ)]∗ = φ(x, θ) ,

considerando que a conjugação complexa é definida para inverter a ordem


dos fatores anti-comutantes, por exemplo,
¡ ¢∗ ¡ ¢∗ ¡ ¢
θψ = θα γ 0αβ ψβ = ψ∗β γ 0 αβ θ∗α = −ψ∗β γ 0αβ θα

= ψ∗β γ 0βα θα = ψ† γ 0 θ = ψθ ,

os campos de Bose serão reais e os campos de Fermi, espinores de Majorana.


Por exemplo, se ¡ ¢∗
θψ = ψθ = θψ ,
o campo ψ(x) deve ser um espinor de Majorana.
Considere uma super-translação aplicada ao sistema de coordenadas, dada
pelas equações (9) e (13) que, como foi visto, é fisicamente equivalente a
aplicar a transformação inversa ao sistema físico, mantendo fixo o sistema de
coordenadas, ⎧ 0µ
⎨ x = xµ − δxµ
. (44)
⎩ 0α
θ = θα − δθα
Esta última transformação determinará uma variação funcional no super-
campo escalar dada por

φ0 (x0 , θ0 ) = φ(x + δxµ , θ + δθ) . (45)

28
Usando as variações infinitesimais definidas em (13), resulta
i µ
φ0 (x0 , θ0 ) = φ(x + γ θ, θ + )
2
µ ¶
i µ ¡ ¢ i µ
= A(x) + γ θ∂µ A + θ + ψ + γ θ∂µ ψ +
2 2
µ ¶
1¡ ¢ i µ
+ θ + (θ + ) F + γ θ∂µ F +
4 2
µ ¶
i¡ ¢ i µ
+ θ + γ 5 (θ + ) G + γ θ∂µ G +
4 2
µ ¶
1¡ ¢ µ 5 i ν
+ θ + γ γ (θ + ) Aµ + γ θ∂ν Aµ +
4 2
µ ¶
1¡ ¢ ¡ ¢ i ν
+ θ + (θ + ) . θ + χ + γ θ∂ν χ +
4 2
µ ¶
1 £¡ ¢ ¤2 i ν
+ θ + (θ + ) D + γ θ∂ν D . (46)
32 2
Retendo somente os infinitésimos de primeira ordem, fica
µ ¶
0 0 0 i µ i µ
φ (x , θ ) = A(x) + γ θ∂µ A + θψ + ψ + θ γ θ ∂µ ψ +
2 2
µ ¶
1 1 1 i µ i
+ θθF + θF + θθ γ θ ∂µ F + θγ 5 θG +
4 2 4 2 4
µ ¶
i i i µ 1
+ γ 5 θG + θγ 5 θ γ θ ∂µ G + θγ µ γ 5 θAµ +
2 4 2 4
µ ¶
1 1 i ν
+ γ µ γ 5 θAµ + θγ µ γ 5 θ γ θ ∂ν Aµ +
2 4 2
1 1 1
+ θθ.θχ + θθ. χ + θ.θχ +
4 4 2
µ ¶
1 i 1 ¡ ¢2 1
+ θθ.θ γ ν θ ∂ν χ + θθ D + θθ.θ D . (47)
4 2 32 8
A identidade de Fierz, apêndice A3,
1X X
16 4
¡ ¢
Xβα (ΓA )αβ ΓA ρσ = δ ρβ δ ασ , (48)
4 A=1 α,β=1

29
permite reordenar os produtos de espinores nos produtos padrão (7):

1)
i iX A
θ ( γ µ θ) ∂µ ψ = − θΓ θ. γ µ ΓA ∂µ ψ
2 8 A
i i
= − θθ. ðψ − θγ 5 θ. γ ν γ 5 ∂ν ψ +
8 8
i
− θγ 5 γ µ θ. γ ν γ 5 γ µ ∂ν ψ
8
2)
1X A
θθ. χ = − θΓ θ. ΓA χ
4 A
1 1 1
= − θθ. χ − θγ 5 θ. γ 5 χ − θγ 5 γ µ θ. γ 5 γ µ χ
4 4 4
3)

θγ 5 θ.θγ µ = −θθ.θγ 5 γ µ
4)

θγ ν γ 5 θ.θγ µ ∂ µ Aν = −θθ.θγ ν γ 5 γ µ ∂ µ Aν
5)

µ ¶
i µ i X A i ¡ ¢2
θθ.θ γ θ ∂µ χ = − θθ θΓ θ. γ µ ΓA ∂µ χ = − θθ γ µ ∂µ χ
2 8 A
8

Usando estas identidades, a expansão (47) pode ser colocada na forma


padrão (43),

30
∙ ¸
0 0 0 1¡ 5 ν 5 µ
¢
φ (x , θ ) = A(x) + ψ(x) + θ ψ + F + iγ G + γ γ Aν − iγ ∂µ A +
2
∙ ¸
1 1 µ
+ θθ F + (χ − iγ ∂µ ψ) +
4 2
∙ ¸
i i 5 µ
+ θγ 5 θ G + γ (χ − iγ ∂µ ψ) +
4 2
∙ ¸
1 µ 5 1 5¡ ν
¢
+ θγ γ θ Aµ − γ γ µ χ − iγ ∂ν γ µ ψ +
4 2
∙ ¸
1 1¡ ν 5 ν µ 5 ν
¢
+ θθ.θ χ + D − iγ ∂ν F − γ γ ∂ν G + iγ γ γ ∂ν Aµ +
4 2
1 ¡ ¢2
+ θθ [D − i γ µ ∂µ χ] , (49)
32
que define o super-campo
1 i
φ0 (x, θ) = A0 (x) + θψ0 (x) + θθF 0 (x) + θγ 5 θG0 x) +
4 4
1 1¡ ¢ 1 ¡ ¢2 0
+ θγ µ γ 5 θA0µ (x) + θθ .θχ0 (x) + θθ D (x) , (50)
4 4 32
com os novos campos relacionados através das transformações definidas pelas
variações funcionais


⎪ δA(x) = ψ(x)





⎪ δψ = 12 (F + iγ 5 G + γ ν γ 5 Aν − iγ µ ∂µ A)









⎪ δF = 12 (χ − iγ µ ∂µ ψ)



δG = 2i γ 5 (χ − iγ µ ∂µ ψ) . (51)



⎪ ¡ ¢



⎪ δAν = 12 γ ν γ 5 χ − iγ µ γ 5 γ ν ∂ µ ψ







⎪ δχ = 12 (D − iγ ν ∂ν F − γ 5 γ ν ∂ν G + iγ µ γ 5 γ ν ∂ν Aµ )





δD = −i γ µ ∂µ χ
É usual referir-se às variações funcionais definidas acima como transfor-
mações de supersimetria dos campos, apesar de que contenha somente uma

31
super-translação. Evidentemente, as transformações pelo grupo de Lorentz,
ou de Poincaré, estão implícitas na natureza dos campos considerados.

2.4 Álgebra da Supersimetria[5,6,7]


Quando se varia as coordenadas anti-comutantes θα , naturalmente as funções
destas coordenadas, como os super-campos, também sofrerão variações. Isto
é, variando
θ −→ θ + δθ ,
uma função destas coordenadas variará como

f (θ) −→ f (θ + δθ) = f (θ) + δf

onde
δf = f (θ + δθ) − f (θ) ,
que é exatamente o procedimento usado na secção anterior para determi-
nar as transformações de supersimetria dos campos contido num super-camo
escalar.
O que se deseja aqui é definir as variações δf ou δφ, por exemplo, em
termos das suas derivadas, como ocorre com as funções usuais. Como estão
envolvidas variáveis anti-comutantes, esta questão requer uma certa cautela
pois a a ordem dos fatores é importante.
As derivadas em relação às variáveis θα podem ser definidas da maneira
usual [12], porém devem obedecer às regras

∂ ∂f1 ∂f2
α (f1 .f2 ) = α .f2 ± f1 , (52)
∂θ ∂θ ∂θα
conforme a função f1 seja bosônica (+) ou fermiônica (−), e

∂ ∂ ∂ ∂
α β
=− β α , (53)
∂θ ∂θ ∂θ ∂θ
as mesmas regras valendo para derivadas em relação a θα .
Considere uma função linear em θα tal que

Aα θα −→ Aα θα + Aα δθα , (54)

isto é,

δ (Aα θα ) = Aα δθα = ± (Aβ θβ ) δθα , (55)
∂θα

32
conforme o coeficiente Aα seja bosônico (+) ou fermiônico (−), ou
←−

δ (Aα θα ) = (Aβ θβ ) α δθα , (56)
∂θ
←−
onde o símbolo ∂ indica derivação à esquerda.
Funções de segundo grau em ordem θα podem ser expandidas como com-
binação linear de termos θΓA θ,
¡ ¢ ¡ ¢
δ θΓA θ = θ + δθ ΓA (θ + δθ) − θΓA θ = θΓA δθ + δθΓA θ



¡ A ¢ ∂ α ∂ ¡ A ¢
= θΓ θ α δθ + δθ β θΓ θ , (57)
∂θ ∂θβ
α
desde que se encare θα e θ como variáveis independentes.
Estes exemplos mostram que as regras para expressar as diferenciais de
α
funções em θα e θ é
←−
∂ ∂f
δf = f α δθα + δθβ . (58)
∂θ ∂θβ

No caso de θ ser um espinor de Majorana, θ e θ não são independentes e


portanto a diferencial pode ser simplificada para
∂f ∂f
δf = δθβ = δθ . (59)
∂θβ ∂θ
Para o super-campo-escalar φ(x, θ), equação (43), resulta
∂φ ∂φ
φ0 (x0 , θ0 ) = φ(x + δxµ , θ + δθ) = φ(x, θ) + δxµ µ
+ δθα ,
∂x ∂θα
ou seja,
∂φ ∂φ
δφ = δxµ µ
+ δθ . (60)
∂x ∂θ
No caso da super-translação, equações (13), resulta
µ ¶
∂ i µ
δφ = + γ θ∂µ φ = −i Sφ , (61)
∂θ 2
que define os geradores de super-translação
µ ¶α
α ∂ i µ
S =i + γ θ∂µ . (62)
∂θ 2

33
É fácil verificar que o operador
µ ¶
∂ i
δ = −i S = + γ µ θ∂µ (63)
∂θ 2
gera a super-translação nas coordenadas,
µ ¶
µ µ ∂ i µ i
δx = −i Sx = + γ θ∂µ xµ = γ µ θ
∂θ 2 2
e µ ¶
α α ∂ i µ β
δθ = −i Sθ = β + (γ θ) ∂µ θα = 0
β γ βα = α
.
∂θβ 2
As transformações sucessivas podem ser estudadas variando os parâmet-
ros das transformações do operador (63),

δ 1 = −i 1 S e δ 2 = −i 2 S ,

de modo que
φ01 = φ + δ 1 φ
e
φ0012 = φ01 + δ 2 φ0 = φ + δ 1 φ + δ 2 φ + δ 2 δ 1 φ . (64)
Invertendo a ordem das transformações, resulta

φ0021 = φ02 + δ1 φ0 = φ + δ2 φ + δ 1 φ + δ 1 δ 2 φ (65)

de modo que
φ0012 − φ0021 = [δ2 , δ 1 ] φ . (66)
Por outro lado, considerando as translações sucessivas das coordenadas,
equação (18),
µ ¶
00
¡1 2
¢ ∂ i µ β i
φ12 = φ + + + (γ θ) ∂µ φ + 1 γ µ 2 ∂µ φ (67)
∂θβ 2 2
e µ ¶
¡ ¢ ∂ i µ β i
φ0021 =φ+ 2
+ 1
+ (γ θ) ∂µ φ + 2 γ µ 1 ∂µ φ (68)
∂θβ 2 2
de sorte que
φ0012 − φ0021 = i 1 γ µ 2 ∂µ φ (69)
desde que
2 µ 1
γ = − 1γµ 2
.

34
Assim,
[δ 2 , δ 1 ] φ = i 1 γ µ 2 ∂µ φ
ou, em termos dos geradores (68),
£1 2 ¤
S, S = i 1 γ µ 2 ∂µ = 1 µ 2
γ Pµ . (70)

O lado esquerdo desta equação pode ser desdobrada como


£1 2 ¤
S, S = 1α Sα 2β Sβ − 2β Sβ 1α Sα

= − 1α Sα Sβ 2
β − 1 2
α Sβ Sα β =− 1
α {Sα , Sβ } 2
β

e o lado direito,
1 µ 2
¡ 2 ¢T
γ Pµ = − 1 γ µ γ 0 Pµ = − 1
α (γ µ C)αβ Pµ 2
β ,

onde C = −γ 0 é o operador de conjugação de carga na representação de


Majorana das matrizes γ µ de Dirac. Voltando à equação original (70), resulta
na relação de anti-comutação dos geradores de super-translação,

{Sα , Sβ } = Sα Sβ + Sβ Sα = − (γ µ C)αβ Pµ . (71)

Os geradores S α são componentes de um espinor de Majorana.


A relação de anti-comutação (71) pode ser obtida diretamente, usando a
sua representação diferencial definida em (68). Realmente, como operadores
diferenciais fermiônicos, devem obedecer à regra de derivação (53),

Sα Sβ φ = Sα (Sβ ) φ − Sβ Sα φ + Sβ (Sα ) φ ,

onde o último termo deve ser acrescido para descontar a ação de Sβ sobre
Sα , e como φ é arbitrário, resulta

Sα Sβ + Sβ Sα = Sα (Sβ ) + Sβ (Sα ) .

Usando a definição (62), obtem-se


∙ ¸
∂ 1 µ i ¡ µ 0¢
Sα (Sβ ) = i α − (γ θ)β ∂µ = γ γ αβ ∂µ
∂θ 2 2
i
= − (γ µ C)αβ ∂µ ,
2
e, trocando os índices e considerando que a matriz (γ µ C) é simétrica,
i i
Sβ (Sα ) = − (γ µ C)βα ∂µ = − (γ µ C)αβ ∂µ ,
2 2
35
de modo que

Sα Sβ + Sβ Sα = Sα (Sβ ) + Sβ (Sα ) = −i (γ µ C)αβ ∂µ ,

que reproduz a relação de anti-comutação (71).


Assim como as super-translações não formam um grupo, os seus geradores
também não formam uma álgebra fechada. Para tanto deve-se considerar a
supersimetria, que contém o grupo de Poincaré mais o grupo das super-
translações, equações (19-20). Neste caso, a variação (61) fica
i ∂
δφ = −i Sφ + (ωµν xν + aµ ) ∂ µ φ + ω µν θσ µν φ (72)
4 ∂θ
que, usando a igualdade
1
ωµν xν ∂ µ = − ωµν (xµ ∂ ν − xν ∂ µ )
2
pode ser reescrita como
∙ µ ¶ ¸
µ 1 µν i ∂
δφ = a ∂µ − ω xµ ∂ν − xν ∂µ − θσ µν −i S φ .
2 2 ∂θ
Em termos dos geradores, fica
∙ ¸
µ 1 µν
δφ = −iaµ P + ω µν J − i S φ , (73)
2
onde
1 ∂
Jµν = i (xµ ∂ν − xν ∂µ ) + θσ µν (74)
2 ∂θ
é o gerador de momento angular.
A não comutatividade das transformações sucessivas fica definido pela
diferença
φ0012 − φ0021 = [δ 2 , δ 1 ] φ (75)
onde, agora,
1
δ = −iaµ P µ + ωµν J µν − i S , (76)
2
Explicitando a variação do super-campo devido às variações sucessivas
das coordenadas,

φ0012 (x, θ) = φ(x00 , θ00 ) = φ(x, θ) +


+ (δ1 + δ2 + δ 2 δ 1 ) xµ ∂µ φ + (δ 1 + δ 2 + δ 2 δ 1 ) θ φ ,
θ
36
mais o análogo para φ0021 (x, θ), resulta

φ0012 − φ0021 = [δ 2 , δ 1 ] xµ ∂µ + [δ 2 , δ 1 ] θ φ = δ 3 φ (77)
θ
que, comparada com o resultado (??), define a relação de comutação formal

[δ 2 , δ1 ] = δ 3 , (78)

os parâmetros das transformações geradas por δ 3 definidas nas equações (35).


Substituindo as expressões correspondentes a δ 1 , δ 2 e δ 3 definidas pela
equação (76), corresponde a
∙ ¸
2 µ 1 2 µν 2 1 ν 1 1 ρσ 1
−iaµ P + ω µν J − i S , −iaν P + ω ρσ J − i S
2 2
1
= −ia3µ P µ + ω3µν J µν − i 3 S
2
que pode ser rearranjada para
−a1µ a2ν [P µ , P ν ] + 12 a1ν ω 2ρσ [P µ , J ρσ ] − 12 a2ν ω1ρσ [P µ , J ρσ ] − 14 ω1µν ω 2ρσ [J µν , J ρσ ] +

+a1µ 2
α [S α , P µ ] − a2µ 1
α [S α , P µ ] + 12 ω 1µν 2
α [J µν , S α ] +

− 12 ω 2µν 1
α [J µν , S α ] − [ 1 S, 2 S] =
¡ 1 ρ ¢
= −iω 2µν aν1 P µ + iω1µν aν2 P µ − 1 γ µ 2 P µ − i
2
ω µρ ω 2 ν − ω 2µρ ω ρ1 ν J µν
¡ ¢
+ 14 ω1µν 2
− ω2µν 1
σ µν S .
Comparando os termos de mesma potência nos parâmetros de transfor-
mação dos lados direito e esquerdo, resulta no conjunto de equações
⎧ µ ν

⎪ [P , P ] = 0





⎪ [S α , P µ ] = 0







⎪ α
⎨ [S α , J µν ] = 12 (σ µν S)
..

⎪ 1 2 1 2 µ

⎪ [ S, S] = γ µ P







⎪ a1µ ω2ρσ [P µ , J ρσ ] = −2iω 2ρσ aσ1 P ρ



⎪ ¡ ¢
⎩ 1 2
ω µν ω ρσ [J µν , J ρσ ] = 2i ω1µρ ωρ2 ν − ω2µρ ω ρ1 ν J µν

37
A seguir os parâmetros das transformações podem ser eliminados, re-
stando as relações de comutação e de anticomutação dos geradores,
⎧ µ ν

⎪ [P , P ] = 0







⎪ −i [P µ , J ρσ ] = g µη P σ − g µσ P ρ






⎨ −i [J µν , J ρσ ] = g νρ J µσ − g νσ J µρ + gµσ J νρ − g µρ J νσ
. (79)

⎪ α µ

⎪ [S , P ] = 0





⎪ α µν 1 µν α

⎪ [S , J ] = 2 (σ S)




⎩ © α βª ¡ ¢
S , S = − γ µC P µ

As relações de comutação e de anticomutação acima definem a álgebra


da supersimetria. As três primeiras correspondem exatamente às relações
de comutação da álgebra de Lie do grupo de Poincaré. A última, relação
de anticomutação, são dos geradores da super-translação, e que definem a
graduação da álgebra de Lie.
A comutação entre os geradores da supersimetria e da translação,S α e P µ ,
respectivamente, permite a construção de multipletos contendo partículas de
mesma massa, com spins inteiro e semi-inteiro, incluindo portanto bósons e
férmions num mesmo multipleto. A relação de comutação entre os geradores
S α e J µν simplesmente mostra que o gerador de super-translação é um espinor
sob o grupo de Lorentz.
Os geradores espinoriais S α , devido à anti-comutação, para um determi-
nado P µ , definem uma álgebra de Clifford contendo 16 elementos indepen-
dentes, de modo que as representações irredutíveis destes geradores devem
ser matrizes 4 × 4 atuando num espaço de dimensão 4.

38
3 Projeção Chiral dos Super-campos5,6
Um super-campo escalar, equação (2.43) da secção anterior,

1 i
φ(x, θ) = A(x) + θψ(x) + θθF (x) + θγ 5 θG(x) +
4 4
1 1¡ ¢ 1 ¡ ¢2
+ θγ µ γ 5 θAµ (x) + θθ .θχ(x) + θθ D(x) ,
4 4 32
contém 16 elementos independentes, em geral funções complexas. No en-
tanto, a relação de anti-comutação dos geradores de super-translação,

{Sα , Sβ } = − (γ µ C)αβ Pµ ,
da álgebra da supersimetria dada pelas equações (2.79) impõe que as repre-
sentações irredutíveis devem ser quadri-dimensionais. Neste sentido os super-
campos escalares são redutíveis, e esta secção cuida de obter as representações
irredutíveis destes super-campos.

3.1 Derivada Covariante


As derivadas covariantes
∂ i
Dα = − (γ µ θ)α ∂µ (1)
∂θα 2
tem papel muito importante na construção das representações irredutíveis a
partir dos super-campos. São operadores diferenciais fermiônicos semelhantes
aos geradores S α , e a partir da regra de derivação
Dα Dβ φ = Dα (Dβ ) φ − Dβ Dα φ + Dβ (Dα ) φ
pode-se obter
{Dα , Dβ } = Dα (Dβ ) + Dβ (Dα ) ,
onde ∙ ¸
∂ i µ i ¡ µ 0¢
Dα (Dβ ) = − (γ θ)β ∂µ = γ γ αβ ∂µ
∂θα 2 2
e ∙ ¸
∂ i µ i ¡ µ 0¢
Dβ (Dα ) = − (γ θ)α ∂µ = γ γ αβ ∂µ ,
∂θβ 2 2
resultando uma relação de anti-comutação idêntica à dos geradores de super-
translação, ¡ ¢
{Dα , Dβ } = − γ µ C αβ P µ . (2)

39
Em relação aos geradores da supersimetria, considere-se as operações


⎪ {Dα , Sβ } = Dα (Sβ ) + Sβ (Dα )



[Dα , P µ ] = Dα (P µ ) − P µ (Dα ) , (3)





[Dα , J µν ] = Dα (J µν ) − J µν (Dα )

que podem ser calculadas usando as representações diferenciais

Pµ = i∂µ

do momento linear,
1 ∂
Jµν = i (xµ ∂ν − xν ∂µ ) + θσ µν
2 ∂θ
do momento angular e
µ ¶
∂ i
S=i + γµθ ∂µ ,
∂θ 2
gerador da super-translação.
Em cálculos explícitos, considerando
∙ ¸
∂ 1 µ i ¡ µ 0¢
Dα (Sβ ) = − (γ θ)β ∂µ = γ γ αβ ∂µ
∂θα 2 2
e ∙ ¸
∂ i µ 1¡ ¢
Sβ (Dα ) = i − (γ θ)α ∂µ = − γ µ γ 0 αβ ∂µ ,
∂θβ 2 2
resulta a anticomutação

{Dα , Sβ } = Dα (Sβ ) + Sβ (Dα ) = 0 .

Em relação ao momento linear, é imediato constatar que

Dα (P µ ) = P µ (Dα ) = 0

e, para o momento angular„


∙ ¸
∂ 1 ∂ i
Dα (Jµν ) = θσ µν − (γ η θ)α ∂η [i (xµ ∂ν − xν ∂µ )]
∂θα 2 ∂θ 2
µ ¶
1 ∂ 1¡ ¢ 1
= σ µν + γ µ θ α ∂ν − (γ ν θ)α ∂µ
2 ∂θ α 2 2

40
e
µ ¶∙ ¸
1 ∂ i¡ ¢ η
Jµν (Dα ) = θσ µν − γηθ α ∂
2 ∂θ 2
i¡ ¢ ∂ h T
i i¡ ¢ ¡ ¢
= − θσ µν β −γ η γ 0 θ ∂η = θσ µν β γ η γ 0 αβ ∂ η
4 ∂θβ α 4
i³ 0 T T
´ i¡ ¢
= γ η γ σ µν θ ∂η = γ η σ Tµν θ α ∂ η
4 α 4
i¡ ¢ 1¡ ¢ 1
= σ µν γ η θ α ∂ η + γ µ θ α ∂ν − (γ ν θ)α ∂µ ,
4 2 2
e portanto
1
Dα (Jµν ) − Jµν (Dα ) = (σ µν )αβ Dβ .
2
A partir destes cálculos, pode-se obter o conjunto das relações de comu-
tação e de anti-comutação


⎪ {Dα , Sβ } = 0



[Dα , Pµ ] = 0 . (4)





[Dα , Jµν ] = 12 (σ µν )αβ Dβ

As derivadas covariantes Dα definem a mesma estrutura da álgebra dos


operadores de super-translação Sα . São componentes de um espinor de
Lorentz e invariantes por super-translações e translações espaço-temporais.
Por exemplo,
δDα = −i β {Sβ , Dα } = 0
por super-translações e
i i
δDα = ω µν [J µν , Dα ] = − ωµν (σ µν )αβ Dβ
2 4
pelas transformações de Lorentz.
Como as derivadas covariantes definem uma álgebra de Clifford, equação
(2), também definem um espaço tendo por base os 16 produtos indepen-
dentes, a base usual contendo as combinações
n ¡ ¢2 o
α 5 µ 5 α
1, D , DD, Dγ D, Dγ γ D, DD · D , DD (5)

onde define-se o adjunto


D = DT γ 0 , (6)

41
lembrando que D é um espinor de Majorana. Com os operadores adjuntos,
valem as relações de anti-comutação
© ª ¡ ¢
Dα , Dβ = γ µ αβ P µ (7)

e © ª ¡ ¢
Dα , Dβ = C −1 γ µ αβ P µ , (8)
obtidas por substituições diretas em (2) e portanto são equivalentes entre si.
Veja que a base do espaço de Clifford gerado pelos operadores Dα não
contém os produtos Dγ µ D e Dσ µν D. Isto ocorre porque o primeiro é pro-
porcional a 1 e o segundo é identicamente nulo,

Dγ µ D = 2P µ (9)

e
Dσ µν D = 0 , (10)
como serão demonstrados a seguir.
Para o primeiro,
¡ ¢
Dγ µ D = DT γ 0 γ µ D = γ 0 γ µ αβ Dα Dβ

¡ 0 µ¢
= γ γ αβ [Dα (Dβ ) − Dβ Dα + Dβ (Dα )]

¡ ¢ ¡ ¢
= − γ 0 γ µ αβ Dβ Dα + γ 0 γ µ αβ {Dα , Dβ }

que, com a relação de anti-comutação (2) fica


¡ ¢ ¡ ¢
Dγ µ D = − γ 0 γ µ αβ Dβ Dα − γ 0 γ µ αβ (γ ν C)αβ P ν .

Usando as igualdades
¡ 0 µ ¢T
γ γ = γ 0 γ µ , C = −γ 0 e tr (γ ν γ µ ) P ν = 4g µν Pν = 4P µ ,

resulta
¡ ¢ ¡ ¢ ¡ ¢
Dγ µ D = −Dβ γ 0 γ µ βα Dα + γ 0 γ µ βα γ ν γ 0 αβ P ν

¡ ¢
= −Dβ γ 0 γ µ βα Dα + tr (γ ν γ µ ) P ν = −Dγ µ D + 4P µ ,

o que leva diretamente à equação (9).

42
Quanto à equação (10),
¡ ¢
Dσ µν D = DT γ 0 σ µν D = Dα γ 0 σ µν αβ Dβ

¡ ¢ ¡ ¢
= − γ 0 σ µν αβ Dβ Dα + γ 0 σ µν αβ {Dα , Dβ }

= −Dσ µν D + tr (γ η σ µν ) Pη = −Dσ µν D = 0 .
Define-se os operadores chirais
1¡ ¢ ∂ i
D+ = 1 + γ5 D = − γ µ θ− ∂µ (11)
2 ∂θ− 2
e
1¡ ¢ ∂ i
D− = 1 − γ5 D = − γ µ θ+ ∂µ (12)
2 ∂θ+ 2
com os respectivos conjugados
1¡ ¢
D+ = T 0
1 − γ 5 D = D− γ (13)
2
e
1¡ ¢
D− = T 0
1 + γ 5 D = D+ γ (14)
2
cujas relações inversas são
T
D± = −γ 0 D∓ (15)
onde
1¡ ¢ 1¡ ¢
θ+ = 1 + γ 5 θ; θ− = 1 − γ 5 θ; etc..
2 2
Em função destas componentes chirais, a relação de anti-comutação (2)
pode ser desdobrada nas seguintes relações de anti-comutação:
n o
α β
D± , D± = 0
n o 1£ ¤αβ µ
α β
D+ , D− = − (1 + γ 5 ) γ µ C P
2
n β
o 1£ ¤αβ µ
α
D± , D± = (1 ± γ 5 ) γ µ P
2
n β
o
α
D± , D∓ = 0
n α βo 1£ ¤αβ µ
D+ , D− = (1 + γ 5 ) C −1 γ µ P . (16)
2
43
Note que as componentes de mesma chiralidade anti-comutam, e como
D+ e D− são espinores a duas componentes independentes, os produtos de
três ou mais componentes de mesma chiralidade são identicamente nulos.
Por exemplo,
α β γ
D± D± D± ≡ 0
assim como
α β γ
D∓ D± D± ≡0,
etc., e em especial, ¡ ¢
D+ D− D+ ≡ 0 (17)
e ¡ ¢
D− D+ D− ≡ 0 . (18)
Estas identidades são fundamentais para a construção dos operadores de
projeção definidos no apêndice A4,
1 ¡ ¢¡ ¢
E+ = − D + D− D − D+ , (A4-15)
4∂ 2
1 ¡ ¢¡ ¢
E− = − 2 D− D+ D+ D− (A4-16)
4∂
e
1 ¡ ¢2
E1 = 1 − E+ − E− = 1 + 2
DD , (A4-17)
4∂
os quais satisfazem às equações diferenciais

⎨ D∓ E± ≡ 0
. (A4-18)

D∓ D± E1 ≡ 0
Como
E+ + E− + E1 = 1 ,
pode-se decompor, por exemplo os super-campos escalares, em
φ(x, θ) = (E+ + E− + E1 ) φ(x, θ) , (19)
definindo as projeções


⎪ φ+ (x, θ) = E+ φ(x, θ)



φ− (x, θ) = E− φ(x, θ) (20)





φ1 (x, θ) = E1 φ(x, θ)

44
onde
φ(x, θ) = φ+ (x, θ) + φ− (x, θ) + φ1 (x, θ) , (21)
as projeções satisfazendo às equações


⎪ D− φ+ = 0



D+ φ− = 0 , (22)





D− D+ φ1 = D+ D− φ1 = 0

decorrentes das identidades (A4-18).


Os operadores de projeção E± e E1 são quantidades escalares e, portanto,
invariantes supersimétricos.

3.2 Super-campos Chirais5,6


As projeções
φ± (x, θ) = E± φ(x, θ)
do super-campo escalar φ(x, θ) são chamadas de super-campos chirais. Estes
super-campos chirais continuam sendo super-campos escalares, podendo ser
expandidos na forma padrão, equação (2.43), embora nem todos os campos
contidos sejam agora independentes. As relações de dependência podem ser
obtidas impondo as condições dadas em (22).
Os super-campos chirais positivos

φ+ (x, θ) = E+ φ(x, θ)

devem satisfazer à condição

D− φ+ = 0 .

45
Tomando o resultado do apêndice A4, equação (A4-22),
1 1
D− φ = (1 − γ 5 ) ψ + (1 − γ 5 ) θ (F − iG) +
2 4
1
+ (1 − γ 5 ) (γ µ θ) (Aµ − i∂µ A) +
4
1 ¡ ¢
+ θθ + θγ 5 θ (1 − γ 5 ) (χ + iγ µ ∂µ ψ) +
16
1 ν 5 ¡ ¢
+ θγ γ θ (1 − γ 5 ) γ ν χ + iγ µ γ ν ∂ µ ψ +
16
1
+ θθ (1 − γ 5 ) (θD − iγ µ θ∂µ F + iγ µ θ∂µ iG − iγ µ γ ν θ∂µ Aν ) +
16
i ¡ ¢2
+ θθ (1 − γ 5 ) γ µ ∂µ χ . (A4-22)
64
leva às condições sobre os campos


⎪ γ ψ = ψ+
⎪ 5 +






⎪ F = iG = F+



Aµ = i∂µ A+ (23)







⎪ χ = −iγ µ ∂µ ψ+





D = iγ µ γ ν ∂µ Aν = −γ µ γ ν ∂µ ∂ν A+ = −∂ 2 A+
além da identidade

(1 − γ 5 ) γ µ ∂µ χ = −iγ µ γ ν ∂µ ∂ν (1 − γ 5 ) ψ+ ≡ 0 , (24)

e o fato de ψ = ψ+ ser um espinor de chiralidade positiva.


Assim, os super-campos chirais φ+ (x, θ) assumem a forma
1
φ+ (x, θ) = A+ (x) + θψ+ (x) + θ (1 + γ 5 ) θF+ (x) +
4
i i
+ θγ µ γ 5 θ∂µ A+ (x) − θθ · θγ µ ∂µ ψ+ (x) +
4 4
1 ¡ ¢2 2
− θθ ∂ A+ (x) , (25)
32
46
contendo os campos independentes A+ (x), ψ+ (x) e F+ (x), transformando-se
por super-translações como


⎪ δA+ = ψ+



δψ+ = 12 (1 + γ 5 ) (F+ − iγ µ ∂µ A+ ) . (26)





δF+ = −i γ µ ∂µ ψ+

No caso dos super-campos chirais negativos

φ− (x, θ) = E− φ(x, θ) ,

devem satisfazer à condição


D+ φ− = 0
que, aplicada à equação (A4-22) do apêndice A4 leva a


⎪ γ 5 ψ− = −ψ−







⎪ F = −iG = F−



Aµ = −i∂µ A− (27)







⎪ χ = −iγ µ ∂µ ψ−





D = −iγ µ γ ν ∂µ Aν = −γ µ γ ν ∂µ ∂ν A− = −∂ 2 A−

além da identidade

(1 + γ 5 ) γ µ ∂µ χ = −iγ µ γ ν ∂µ ∂ν (1 + γ 5 ) ψ− ≡ 0 , (28)

agora com ψ = ψ− sendo espinor de chiralidade negativa.


Os super-campos chirais φ− (x, θ) assumem a forma

1
φ− (x, θ) = A− (x) + θψ− (x) + θ (1 − γ 5 ) θF− (x) +
4
i i
− θγ µ γ 5 θ∂µ A− (x) − θθ · θγ µ ∂µ ψ− (x) +
4 4
1 ¡ ¢2 2
− θθ ∂ A− (x) , (29)
32

47
contendo os campos independentes A− (x), ψ− (x) e F− (x) com as super-
translações ⎧

⎪ δA− = ψ−



δψ− = 12 (1 − γ 5 ) (F− − iγ µ ∂µ A− ) . (30)





δF+ = −i γ µ ∂µ ψ− .
Pode-se expressar os super-campos chirais de uma maneira mais compacta
recorrendo às variáveis auxiliares
i i i
y µ = xµ + θγ µ γ 5 θ = xµ + θ+ γ µ θ+ − θ− γ µ θ− (31)
4 4 4
e
i i i
y µ = xµ − θγ µ γ 5 θ = xµ − θ+ γ µ θ+ + θ− γ µ θ− . (32)
4 4 4
Nestas novas variáveis as componentes chirais da derivada covariante,
equações (11) e (12) ficam
µ ¶ µ ¶
∂ i µ ∂
D+ = − γ θ− ∂µ = (33)
∂θ− y 2 ∂θ− y
e µ ¶ µ ¶
∂ ∂ i
D− = = − γ µ θ+ ∂µ (34)
∂θ+ y ∂θ+ y
2
que, aplicadas sobre as variáveis auxiliares (31) e (32), resultam


⎪ D+ y µ = −iγ µ θ−





⎪ D+ y µ = 0

. (35)

⎪ µ

⎪ D − y = 0





D− y µ = −iγ µ θ+
Isto significa que, para funções arbitrárias de y µ e y µ , necessariamente

⎨ D− f (y) ≡ 0
. (36)

D+ f (y) ≡ 0
De maneira similar, ⎧
⎨ D− f (θ+ ) ≡ 0
. (37)

D+ f (θ− ) ≡ 0

48
Estas identidades implicam que os super-campos chirais podem ser escritas
como
1
φ+ (x, θ) = φ(y, θ+ ) = A+ (y) + θ− ψ+ (y) + θ− θ+ F+ (y) (38)
2
e
1
φ− (x, θ) = φ(y, θ− ) = A− (y) + θ+ ψ− (y) + θ+ θ− F− (y) , (39)
2
satisfazendo automaticamente às condições

⎨ D− φ(y, θ+ ) ≡ 0
. (40)

D+ φ(y, θ− ) ≡ 0
As transformações de supersimetria podem ser obtidas através das vari-
ações dos super-campos φ(y, θ+ ) e φ(y, θ− ) pelas super-translações, onde as
variáveis y µ e y µ transformam-se como
(1 + γ 5 )
δy µ = i γ µ θ = i + γ µ θ+ (41)
2
e
(1 − γ 5 )
δy µ i γ µ θ = i − γ µ θ− . (42)
2
Formas equivalentes de expressar os super-campos chirais são
∙ ¸
− 4i θγ µ γ 5 θ∂µ 1
φ+ (x, θ) = e A+ (x) + θ− ψ+ (x) + θ− θ+ F+ (x) (43)
2
e ∙ ¸
− 4i θγ µ γ 5 θ∂µ 1
φ− (x, θ) = e A− (x) + θ+ ψ− (x) + θ+ θ− F− (x) . (44)
2
Em princípio, os super-campos φ+ (x, θ) e φ− (x, θ) são independentes. No
entanto, em certos casos podem aparecer ligados por condições tal como
£ ¤∗
φ− (x, θ) = φ+ (x, θ) . (45)
Neste caso, como
∙ ¸
£ ¤∗ − 4i θγ µ γ 5 θ∂µ ∗ C 1 ∗
φ+ (x, θ) = e A+ (x) + θ− ψ+ (x) + θ+ θ− F+ (x) ,
2
resulta nas condições sobre os campos


⎪ A− = (A+ )∗



ψ− = ψC
+ . (46)





F− = (F+ )∗

49
Veja que as condições ψ− = ψC C
+ ou ψ + = ψ − equivalem à condição de
Majorana
ψC = ψC C
+ + ψ− = ψ .

Quanto às componentes

φ1 (x, θ) = E1 φ(x, θ) ,

devem satisfazer simultaneamente às condições

D− D+ φ1 = 0 e D+ D− φ1 = 0 ,

equivalentes a
(1 ± γ 5 )
D Dφ1 = 0 .
2
Usando a equação (A4-24) do apêndice A4, resultam nas condições inde-
pendentes sobre os campos


⎪ F ± iG = 0



χ = iγ µ ∂µ ψ (47)





−D ∓ 2i∂ µ Aµ + ∂ 2 A = 0

que implicam em ⎧

⎪ F = iG = 0



χ = iγ µ ∂µ ψ . (48)





D = ∂ 2 A e ∂ µ Aµ = 0
As demais igualdades,


⎪ ±D + 2i∂ µ Aµ ∓ ∂ 2 A = 0






⎨ ±∂ µ F + 2i∂ µ G = 0
, (49)



⎪ γ µ ∂µ χ − i∂ 2 ψ = 0




⎩ 2
∂ F ± i∂ 2 G = 0

podem ser consideradas como identidades.

50
Assim,
1
φ1 (x, θ) = A1 (x) + θψ1 (x) + − θγ µ γ 5 θA1µ (x) +
4
1 1 ¡ ¢2 2
+ θθ · θiγ µ ∂µ ψ1 (x) + θθ ∂ A1 (x) , (50)
4 32
contendo os campos independentes A1 (x), ψ1 (x) e A1µ (x), o campo vetorial
satisfazendo à condição ∂ µ A1µ = 0.
Por super-translação, estes campos transformam-se como


⎪ δA1 = ψ1



δψ1 (x) = 12 (γ µ γ 5 θA1µ − iγ µ ∂µ A1 ) . (51)





δA1ν = γ 5 σ µν ∂ µ ψ

3.3 Super-campos Espinoriais6


Será analisada de forma breve os super-campos espinoriais definidos pela
transformação dada pela equação (2.41)

ψ0α (x0 , θ0 ) = Sαβ (Λ)ψβ (x, θ) ,

onde Λ representa os parâmetros do grupo de Lorentz. Mais exatamente,


serão considerados os super-campos espinoriais chirais, lembrando que a chi-
ralidade, neste caso, pode ser de dois tipos. Um está relacionado com a
estrutura chiral espinorial, que define as componentes de mão direita e es-
querda,
1
ψR (x, θ) = (1 + γ 5 ) ψ(x, θ) (52)
2
e
1
ψL (x, θ) = (1 − γ 5 ) ψ(x, θ) , (53)
2
respectivamente. O outro está relacionado com as coordenadas espinoriais
θα definido pelas condições

D− ψ+ (x, θ) = 0 (54)

e
D+ ψ− (x, θ) = 0 (55)
para as projeções chirais positiva e negativa, respectivamente.

51
Usando as coordenadas auxiliares, equações (31) e (32), os super-campos
espinorias podem ser escritos numa forma simples,

ψ++ (x, θ) = ψR+ (x, θ) = ψR (y, θ+ )


∙ ¸
1 µν 1
= λ+ (y) + η(y) + σ Fµν (y) θ+ + θ− θ+ χ+ (y)
2 2
∙ µ ¶ ¸
− 4i θγ µ γ 5 θ∂µ 1 µν 1
= e λ+ + η + σ Fµν θ+ + θ− θ+ χ+ , (56)
2 2

com chiralidade positiva em relação à sua estrutura espinorial,

γ 5 ψ++ (x, θ) = ψ++ (x, θ) , (57)

e positiva também em relação à estrutura das coordedadas θ,

D− ψ++ (x, θ) = 0 , (58)

onde os campos λ+ (x) e χ+ (x) são espinores chirais positivos ou de mão


direita, η(x) um escalar de Lorentz e Fµν (x) um tensor antisimétrica de
segunda ordem.
Por super-translação, equações (41) e (42), resulta na variação

ψR (y, θ+ ) −→ ψR (y + δy, θ+ + δθ+ ) = λ+ (y) + i ( + γ µ θ+ ) ∂µ λ+ (y) +


∙ ¸ ∙ ¸
1 µν 1 µν
+ η(y) + σ Fµν (y) θ+ + η(y) + σ Fµν (y) + +
2 2
∙ ¸
1
+i ( + γ µ θ+ ) ∂µ η(y) + σ µν Fµν (y) θ+ +
2
1
+ θ− θ+ χ+ (y) + − θ + χ+ (y)
2
cuja variação é
∙ ¸
1
δψR (y, θ+ ) = η + σ µν Fµν + + i ( + γ µ θ+ ) ∂µ λ+ +
2
∙ ¸
µ 1 µν
+ − θ+ χ+ + i ( + γ θ+ ) ∂µ η + σ Fµν θ+ .
2

52
Usando a relação (A3-18) do apêndice A3,

1X A
16
β
ψαχ = ψΓ χ (ΓA )βα , (A3-18)
4 A=1

as matrizes base ΓA e ΓA dadas pelas equações (A3-1) e (A3-5), podem ser


feitos os rearranjos

i ( + γ µ θ+ ) ∂µ λ+ = i ( + γ µ )α (θ+ )α (∂µ λ+ )

1 X¡
16
¢
= − i + γ µ ΓA ∂µ λ+ (ΓA θ+ )
4 A=1
∙ ¸
1 µ 1 µ ηχ
= − (i + γ ∂µ λ+ ) + (i + γ σ ∂µ λ+ ) σ ηχ θ+
2 4

e, de maneira similar,
∙ ¸
1 1 ηχ
( − θ+ ) χ+ = − − χ+ + −σ χ+ σ ηχ θ+
2 4
assim como
∙ ¸ ∙ ¸
µ 1 µν i¡ ¢ 1 µν
i ( + γ θ+ ) ∂µ η + σ Fµν θ+ = θ− θ+ ∂κ η + σ Fµν γ κ − .
2 2 2

Com estes rearranjos, a variação do supe-campo fica


∙ ¸
1 µν 1 ¡ ¢
δψR (y, θ+ ) = η + σ Fµν + − + χ+ + iγ µ ∂µ λ+ +
2 2
1 £ ¤
− σ ηχ − σ ηχ χ+ + i + γ µ ∂µ σ ηχ λ+ θ+ +
4
∙ ¸
1¡ ¢ 1 µν
θ− θ+ i∂κ η + σ Fµν γ κ − (59)
2 2

que, comparado com a expressão do super-campo (56) fornece a variação dos

53
campos
∙ ¸
1 µν
δλ+ = η + σ Fµν +
2
1 ¡ ¢
δη = − + χ+ + iγ µ ∂µ λ+
2
1 £ ¤
δFµν = − − σ µν χ+ + i (γ∂) σ µν λ+
2
∙ ¸
1 µν
δχ+ = i∂κ η + σ Fµν γ κ − (60)
2
O super-campo

ψ−+ (x, θ) = ψL+ (x, θ) = ψL (y, θ+ )

1
= U− (y) + Vµ (y)γ µ θ+ + θ− θ+ W− (y)
2
∙ ¸
− 4i θγ µ γ 5 θ∂µ µ 1
= e U− (x) + Vµ (x)γ θ+ + θ− θ+ W− (x) , (61)
2
com chiralidade negativa em relação à sua estrutura espinorial,

γ 5 ψ−+ (x, θ) = −ψ−+ (x, θ) , (62)

e positiva em relação à estrutura das coordedadas θ,

D+ ψ−+ (x, θ) = 0 . (63)

Contém os campos espinoriais U− (x) e W− (x) de chilaridades negativas e o


campo vetorial Vµ (x).
Por super-translação, equações (41), transforma-se como

ψ−+ (x, θ) −→ ψL (y + δy, θ+ + δθ+ ) =

= U− (y) + i ( + γ µ θ+ ) ∂µ U− (y) + Vµ (y)γ µ θ+ +

+Vµ (y)γ µ + + i ( + γ µ θ+ ) ∂µ Vν (y)γ ν θ+ +

1
+ θ− θ+ W− (y) + − θ + W− (y) ,
2
54
onde

1 X¡
16
¢
i ( + γ µ θ+ ) ∂µ U− = − i + γ µ ΓA ∂µ U− (ΓA θ+ )
4 A=1
1
= − (i + γ µ ∂µ γ ν U− ) (γ ν θ+ ) ,
2
1
( − θ+ ) W− = − (i + γ ν W− ) (γ ν θ+ )
2
e
i¡ ¢
i ( + γ µ θ+ ) ∂µ Vν (y)γ ν θ+ = θ− θ+ γ µ (γ∂) Vµ − ,
2
resultando na variação do supe-campo
1 ¡ ¢
δψL (y, θ+ ) = Vµ (y)γ µ + − γ µ W− − iγ µ ∂µ γ ν U− γ ν θ+ +
2
i¡ ¢
+ θ− θ+ γ µ (γ∂) Vµ − (64)
2
e na dos campos

δU− = Vµ γ µ +

1 ¡ ¢
δVµ = − γ µ W− + i (γ∂) γ µ U−
2

δW− = iγ µ (γ∂) Vµ − . (65)

Analogamente,

ψ−− (x, θ) = ψL− (x, θ) = ψL (y, θ− )


∙ ¸
1 µν 1
= λ− (y) + ξ(y) + σ Gµν (y) θ− + θ+ θ− χ− (y)
2 2
∙ µ ¶ ¸
− 4i θγ µ γ 5 θ∂µ 1 µν 1
= e λ− + ξ + σ Gµν θ− + θ+ θ− χ− ,(66)
2 2

com chiralidades negativas em relação às suas estruturas espinorial e das


coordenadas,
γ 5 ψ−− (x, θ) = −ψ−− (x, θ) , (67)

55
e
D+ ψ−− (x, θ) = 0 ; (68)
e

ψ+− (x, θ) = ψR− (x, θ) = ψR (y, θ− )

1
= U+ (y) + Vµ (y)γ µ θ− + θ+ θ− W+ (y)
2
∙ ¸
− 4i θγ µ γ 5 θ∂µ µ 1
= e U+ (x) + Vµ (x)γ θ− + θ+ θ− W+ (x) , (69)
2

tem chiralidades positiva em relação à sua estrutura espinorial,

γ 5 ψ+− (x, θ) = ψ+− (x, θ) , (70)

e negativa em relação às coordedadas,

D− ψ+− (x, θ) = 0 . (71)

As transformações dos campor por super-translação são

∙ ¸
1
δλ− = ξ + σ µν Gµν −
2
1 ¡ ¢
δξ = − + χ− + iγ µ ∂µ λ−
2
1 £ ¤
δGµν = − σ µν χ− + i (γ∂) σ µν λ−
2
∙ ¸
1 µν
δχ− = i∂κ ξ + σ Gµν γ κ + (72)
2
e

δU+ = Vµ γ µ +

1¡ ¢
δVµ = − + γ µ W+ + i − (γ∂) γ µ U+
2

δW+ = iγ µ (γ∂) Vµ + . (73)

56
4 Lagrangeanas5,6
¡ ¢2
As invariantes DD e DD tem papel relevante na construção das la-
grangeanas supersimétricas. Veja que estas lagrangeanas podem ser con-
sideradas como super-campos escalares,
L = L(x, θ) , (1)
transformando-se por super-translações (do sistema físico) como
µ ¶
∂ i µ
δL = −i SL = + γ µθ ∂ L , (2)
∂θ 2
que são as suas variações funcionais.
Para que as equações de movimento sejam invariantes na forma, ou seja,
covariante, a ação Z
d4 x L
deve ser invariante,
Z Z µ ¶
4 4 ∂ i µ
δ dxL = dx + γ µθ ∂ L
∂θ 2
Z Z
∂ 4 i
= d x + γ µθ d4 x ∂ µ L = 0 , (3)
∂θ 2
e como a integral de superfície não contribui, implica que
Z

d4 x L = 0 . (4)
∂θα
Significa que as lagrangeanas devem ser independentes das coordenadas θα a
menos de termos em derivada nas coordenadas do espaço-tempo, que resul-
tam em integrais de superfície.
Com a derivada covariante
∂ i¡ ¢
Dα = α − γ θ ∂µ (3.1)
∂θ 2 µ α
é possível construir os escalares
1
DDφ = −2F + θ (−χ + i (γ∂) ψ) + θθ (−D + ∂µ ∂ µ A) +
4
1 1
+ θγ 5 θ · 2i∂µ Aµ + θγ ν γ 5 θ · 2i∂ν iG +
4 4
1 ¡ ¢ 1 ¡ ¢2
+ θθ · θ iγ µ ∂µ χ + ∂ 2 ψ + θθ · 2∂ 2 F . (A4-25)
4 32
57
e

¡ ¢2 ¡ ¢ ¡ ¢
DD φ = 2 D − ∂ 2 A + θ −2iγ µ ∂µ χ − 2∂ 2 ψ +

1 ¡ ¢ 1 ¡ ¢
+ θθ −4∂ 2 F + θγ 5 θ −4∂ 2 G +
4 4
1 1
+ θγ ν γ 5 θ (−4∂ν ∂µ Aµ ) + θθ · θ2∂ 2 (−χ + iγ µ ∂µ ψ)
4 4
1 ¡ ¢2 2 ¡ ¢
+ θθ 2∂ −D + ∂ 2 A (A4-26)
32
a partir de um super-campo escalar arbitrário φ(x, θ). Para super-campos
chirais φ± (x, θ), resultam
1 1 ¡ ¢
DDφ± = −F± + θi (γ∂) ψ± + θ 1 ∓ γ 5 θ∂ 2 A± +
2 4
1 1 1 ¡ ¢2 2
± θγ ν γ 5 θ · i∂ν F± + θθ · θ∂ 2 ψ+ + θθ ∂ F± (5)
4 4 32
e
1¡ ¢2 1 ¡ ¢
DD φ± = −∂ 2 A± − θ∂ 2 ψ± ∓ θ 1 ± γ 5 θ∂ 2 F± +
4 4
i 1
∓ θγ ν γ 5 θ∂ν ∂ 2 A± + θθ · θiðψ± +
4 4
1 ¡ ¢2 2
+ θθ ∂ A+ . (6)
32
Termos do tipo
¡ ¢2
DD φ e DDφ±
satisfazem aos requisitos de uma lagrangeana supersimétrica. O único termo
¡ ¢2
significativo de DD φ é a componente D(x) do super-campo escalar φ(x, θ)
pois os outros termos aparecem como derivadas, especialmente os que depen-
dem de θ, que podem ser eliminados tomando θ = 0, isto é,
1¡ ¢2 ¯¯
DD φ¯ = D − ∂2A . (7)
2 θ=0

A parte em derivada, ∂ 2 A = ∂µ (∂ µ A) não é significativa, e a componente


D(x) é um escalar de Lorentz e invariante por super-translação a menos de
uma derivada,
δD = −i ∂µ ∂ µ χ(x) . (8)

58
No caso dos termos DDφ± , os termos significativos são as componentes F±
dos super-campos chirais φ± (x, θ), que podem ser isolados tomando θ = 0,

1 ¯
DDφ± ¯θ=0 = −F± (x) . (9)
2
As transformações destas componentes são

δF± = −i γ µ ∂µ ψ± (x) , (10)

garantindo a invariança supersimétrica, a menos das derivadas.


Deseja-se construir as lagrangeanas a partir das representações super-
simétricas irredutíveis, por exemplo φ± (x, θ). Como o produto de super-
campos de mesma chiralidade resulta num outro super-campo de igual chi-
ralidade,
φ1,± (x, θ).φ2,± (x, θ) = φ3,± (x, θ) , (11)
e o produto de super-campos de chiralidades diferentes resulta num super-
campo não chiral,
φ+ (x, θ).φ− (x, θ) = φ(x, θ) , (12)
então uma lagrangeana supersimétrica de uma representação (super) escalar
deverá ter a forma
¡ ¢2 ¡ ¢¯¯ £ ¤¯
L(φ+ , φ− ) ∼ DD φ+ φ− ¯ + DD f (φ+ ) + f (φ− ) ¯θ=0 ,
θ=0

onde f (φ± ) é uma função polinomial em φ± , devendo-se notar que


X ¡ ¢n
f (φ+ ) = cn φ+ (13)
n

é um super-campo chiral positivo e


X ¡ ¢n
f (φ− ) = cn φ− (14)
n

um super-campo chiral negativo.


¡ ¢2 ¡ ¢
O termo DD φ+ φ− fornece a parte cinética da lagrangeana, enquanto
que o segundo termo contém termos de massa e de auto-interação.
A condição de renormalizabilidade é fundamental para restringir a quan-
tidade de invariantes que podem ser acrescidas à lagrangeana. Por exemplo,
na parte cinética, todos os termos
¡ ¢2 ¡ ¢n
DD φ+ φ− para n = 1, 2, 3, · · ·

59
são igualmente invariantes, e a função polinomial f (φ± ) poderia ser de qual-
quer grau. A análise da dimensionalidade dos candidatos à lagrangeana é
suficiente para eliminar termos que não sejam renormalizáveis. Tomando por
unidade de massa M, dimensão igual a 1, então (na convenção } = c = 1) a
dimensão da lagrangeana deve ser 4, lembrando que as coordenadas xµ tem
dimensão −1,
[L] = M 4 ; [xµ ] = M −1 ,
estabelecendo a dimensionalidade dos campos. A componente D(x) do pro-
duto φ+ φ− contém (veja o apêndice A5) termos do tipo
C
∂µ A+ ∂ µ A− , F+ F− e ∂µ ψ+ γ µ ψ− ,

de modo que as dimensões destes campos devem ser




⎪ [A± ] = M


⎨ £ ¤
ψ± = M 3/2 (15)





[F± ] = M 2
ou, para as variáveis externas,
⎧ £ ¤

⎪ φ± = M





⎪ [θ] = M −1/2

£ ¤ . (16)

⎪ 3

⎪ f (φ± ) = M





[Dα ] = M 1/2
¡ ¢2 ¡ ¢n
O único termo renormalizável em DD φ+ φ− (n = 1, 2, 3, · · · ) é jus-
¡ ¢2 ¡ ¢
tamente o termo cinético DD φ+ φ− (n = 1). A adição de termos com
n > 1 implica na necessidade de multiplicações por constantes de dimension-
alidades que são inversas de potências de massa, introduzindo divergências
que não podem ser removidas com um número finito de contra-termos. Por
um argumento análogo, restringe-se a função f (φ± ) para uma função polino-
mial de 3o. grau em φ± .
Uma maneira convencional de expressar a lagrangeana é
1¡ ¢2 ¡ ¢ 1 £ ¤
L(φ+ , φ− ) = DD φ+ φ− − DD f (φ+ ) + f (φ− ) , (17)
8 2
calculado em θ = 0.

60
4.1 Modelo de Wess-Zumino
Apresenta-se aqui um procedimento para a construção da lagrangeana de
um modelo supersimétrico simples contendo um único super-campo chiral
positivo, equação (3.25), cujo conteúdo de campos é
© ª
φ+ (x, θ) ∼ A, ψ + , F . (18)
Por questões de simplicidade, os índices ± dos campos escalares A e F serão
omitidos. A este super-campo pode-se associar o super-campo chiral negativo
como o seu conjugado complexo,
£ ¤∗ © ª
φ− (x, θ) = φ+ (x, θ) ∼ A− , ψ − , F− , (19)
para ⎧

⎪ A− = A∗



ψ− = ψ∗+ = ψC
+ , (20)





F− = F ∗
o espinor
ψ = ψ+ + ψ−
sendo um espinor de Majorana.
Denominando por A0 (x), ψ0 (x), F 0 (x), · · · , etc. os campos contidos no
produto
φ0 (x, θ) = φ+ (x, θ).φ− (x, θ) , (21)
na lagrangeana (17) a parte cinética fica
1 0
Lc = (D − ∂µ ∂ µ A0 ) (22)
4
onde, conforme apresentado no apêndice A5,
⎧ 0

⎪ A = AA∗



⎨ 0
D = −A∂ 2 A∗ − A∗ ∂ 2 A + 4F F ∗ + 2∂µ A∂ µ A∗ + . (23)



⎪ h ³ ´ i

⎩ +2i ψC γ µ ∂µ ψ− − ∂µ ψC γ µ ψ−
+ +

Como ψ é um espinor de Majorana,


h ³ ´ i £ ¡ ¢ µ ¤
⇒ ψC + γ µ
∂ ψ
µ − − ∂ ψ
µ +
C
γ µ
ψ µ
− = ψ − γ ∂µ ψ − − ∂µ ψ − γ ψ −

∙ ¸
(1 + γ 5 ) µ ¡ ¢ (1 + γ 5 ) µ
= ψ γ ∂µ ψ − ∂µ ψ γ ψ = ψγ µ ∂µ ψ .
2 2

61
Nos termos contendo o campo A,
A∂ 2 A∗ = ∂µ (A∂ µ A∗ ) − ∂µ A∂ µ A∗
e
A∗ ∂ 2 A = ∂µ (A∗ ∂ µ A) − ∂µ A∗ ∂ µ A .
Assim,
D0 = −∂µ ∂ µ (AA∗ ) + 4∂µ A∂ µ A∗ + 4F F ∗ + 2iψγ µ ∂µ ψ ,
de modo que a parte cinética da lagrangeana fica
i 1
Lc = F F ∗ + ∂µ A∂ µ A∗ + ψγ µ ∂µ ψ − ∂µ ∂ µ (AA∗ ) .
2 2
O último termo, em derivada, não contribui na ação, podendo ser desprezado.
Eliminar este termo em derivada equivale a reescrever a equação (22) como
1 0 i
Lc = (D + ∂µ ∂ µ A0 ) = F F ∗ + ∂µ A∂ µ A∗ + ψγ µ ∂µ ψ . (24)
4 2
As funções f (φ± ) são super-campos chirais, definidas em (13) e (14), o
super-campo chiral positivo
X ¡ ¢n
f+ = f (φ+ ) = cn φ+
n
com coeficientes
⎧ P

⎪ Af+ = n cn An



⎨ P
ψf+ = n cn nAn−1 ψ+ , (25)



⎪ h i
⎩ Ff = P cn nAn−1 F −
⎪ n(n−1) n−2 C
A ψ+ψ+
+ n 2

e o super-campo chiral negativo


X ¡ ¢n
f− = f (φ− ) = Cn φ− = f+∗
n

com coeficientes
⎧ P

⎪ Af− = n cn (A∗ )n



⎨ P
ψf− = n cn n (A∗ )n−1 ψ− . (26)



⎪ h i
⎩ Ff = P cn n (A∗ )n−1 F ∗ −
⎪ n(n−1) ∗ n−2
(A ) ψC
− n 2 − ψ−

62
Assim,

1 ¯ X ∙ n(n − 1) n−2 C
¸
¯
− DDφ+ θ=0 = Ff+ = n−1
cn nA F − A ψ+ ψ+
2 n
2

e
1 ¯ X ∙ n(n − 1)
¸
− DDφ− ¯θ=0 = Ff− = ∗
cn n (A )n−1 ∗
F − ∗
(A )n−2 C
ψ−ψ−
2 n
2

que podem ser escritas como


1 ¯ 1 0
− DDφ± ¯θ=0 = Ff+ = f 0 (A± )F± − f 0 (A± )ψC
±ψ± ,
2 2
onde
¯
f (A± ) = f (φ± )¯θ=0

∂f
f 0 (A± ) = , etc..
∂A±
A lagrangeana completa fica, feitas as substituições, e desprezando termos
em derivada,
i
Lc = F F ∗ + ∂µ A∂ µ A∗ + ψγ µ ∂µ ψ +
2
0 0 ∗ ∗ 1 h 00 00 ∗
i
+ [f (A)F + f (A )F ] − f (A)ψ− ψ+ + f (A )ψ+ ψ_ .(27)
2
A função f (A) é um polinômio de 3o. grau em A,

f (A) = c0 + c1 A + c2 A2 + c3 A3 , (28)

sendo que a constante c0 é irrelevante, refletindo o fato de que a lagrangeana


é invariante por um acréscimo de uma constante no super-campo,

φ+ −→ φ+ + C

que pode ser absorvida pelo campo A+ ,

A+ −→ A+ + C ,

63
e equivale às mudanças nos coeficientes da função (28),

c1 −→ c1 + 2c2 C + 3c3 C

c2 −→ c2 + 3c3 C

c3 −→ c3

a menos de uma constante que pode ser somada à função f (A). Constantes
aditivas em f (A) não influem na lagrangeana (27) uma vez que só aparece
como derivadas. Uma escolha adequada da constante C permite fazer

c1 = 0

resultando na função
f (A) = c2 A2 + c3 A3 . (29)
Como a lagrangeana não contém derivadas dos campos F± , estas não são
variáveis dinâmicas independentes (não se pode definir os seus momentos
canônicos). São campos auxiliares que podem ser eliminados com o auxílio
da equaçaõ de Euler-Lagrange,
µ ¶
∂L ∂L ∂L
− ∂µ = =0,
∂F± ∂ (∂µ F± ) ∂F±

que resulta nas relações


F = −f 0 (A∗ ) (30)
e
F ∗ = −f 0 (A) . (31)
Com estas substituições, a lagrangeana fica
i
Lc = ∂µ A∂ µ A∗ + ψγ µ ∂µ ψ − f 0 (A)f 0 (A∗ ) +
2
∙ ¸
1 00 (1 + γ 5 ) 00 ∗ (1 − γ 5 )
− f (A)ψ ψ + f (A )ψ ψ . (32)
2 2 2

Como
f 0 (A) = 2c2 A + 3c3 A2 . (33)
e
0
f 0 (A) = 2c2 + 6c3 A , (34)

64
resulta

f 0 (A)f 0 (A∗ ) = 4c22 AA ∗ +12c2 c3 AA∗ (A + A∗ ) + 9c23 (AA∗ )2

e
∙ ¸
00 (1 + γ 5 ) 00 ∗ (1 − γ 5 )
⇒ f (A)ψ ψ + f (A )ψ ψ =
2 2
£ ¤
= (2c2 ψψ + 6c3 (A + A∗ ) + 6c3 (A − A∗ ) ψγ 5 ψ .

Com isto, a parte livre da lagrangeana fica


1
L0 = ∂µ A∂ µ A∗ − m2 AA∗ + ψ (iγ µ ∂µ − m) ψ − f 0 (A)f 0 (A∗ ) , (35)
2
que contém um campo escalar complexo A(x) e um campo espinorial ψ(x)
com uma massa comum
m = 2c2 > 0 . (36)
A parte da (auto) interação fica

LI = 12c2 c3 AA∗ (A + A∗ ) + 9c23 (AA∗ )2 +

£ ¤
+ 6c3 (A + A∗ ) + 6c3 (A − A∗ ) ψγ 5 ψ (37)

ou, definindo o campo escalar complexo como

A = A1 + iA2 , (38)

¡ ¢ ¡ ¢2
LI = 12c2 c3 A21 + A22 2A1 + 9c23 A21 + A22 +

£ ¤
+ 12c3 A1 + 12c3 A2 iψγ 5 ψ . (39)

Mostra que o campo real A1 (x) é um escalar enquanto que o campo real
A2 (x) é um pseudo-escalar.
Esta é a lagrangeana de Wess-Zumino, de um super-multipleto escalar.
Contém um escalar, um pseudo-escalar e um espinor (spin 1/2) de Majorana,
representações (0, 0) e (0, 1/2) ou (1/2, 0) do grupo de Lorentz, formando um
multipleto caracterizado pela massa comum m.
Existe uma corrente conservada associada à invariança supersimétrica,
que pode ser determinada pelo método usual. Mais especificamente, existe

65
uma corrente conservada espinorial associada à super-translação, calculada
no apêndice A6. Veja que as lagrangeanas supersimétricas são somas de
componentes D(x) de super-campos escalares φ(x, θ) e de componentes F± (x)
de super-campos chirais φ± (x, θ), mais precisamente,
1 0
Lc = [D (x) + ∂µ ∂ µ A0 ] + Ff+ (x) + Ff− (x) , (40)
4
o termo em derivada servindo para cancelar um termo idêntico contido em
D0 (x). Por super-translação,


⎪ δA0 = ψ0



δD0 = −i γ µ ∂µ χ0 (41)





δFf0± = −i γ µ ∂µ ψ0f±

conforme as regras de produto apresentadas no apêndice A5. Mostra que as


lagrangeanas supersimétricas são invariantes por super-translação a menos
de termos em derivadas, que não contribuem na ação mas devem ser levados
em conta ao calcular a corrente conservada, através do fator Ωµ da equação
de conservação (A6-20).
A equação (A6-12) do apêndice A6 identifica o fator Ωµ com a variação
funcional da lagrangeana,
1£ 0 ¤
∂µ Ωµ = δ F L = − δD + ∂ 2 δA0 − δFf+ − δFf− .
4
Enfim, a corrente conservada é
¡ ¢ £ ¤
j µ ∼ γ ν γ µ ψ+ ∂ν A∗ + ψ− ∂ν A + iγ µ ψ− f 0 (A∗ ) + ψ+ f 0 (A) , (42)

e a carga espinorial Z
¡ ¢α
Qα = d3 x j 0 , (43)

geradores da super-translação, e portando obedecendo à mesma relação de


anti-comutação (2.71),

{Qα , Qβ } = (−γ µ C)αβ Pµ . (44)

Multiplicando esta equação à esquerda por (Cγ ν )βα e somando nos índices α
e β, resulta
X X¡ ¢
{Qα , Qβ } (Cγ ν )βα = γ µ C α β (Cγ ν )βα P µ ,
α,β α,β

66
2
de onde resulta, usando C = −γ 0 e C 2 = (−γ 0 ) = 1,
1X ¡ ¢
Pµ = {Qα , Qβ } γ 0 γ µ βα (45)
4 α,β

e, em especial, para µ = 0,
1X 2
P0 = H = Q ≥0. (46)
2 α α

Através desta identidade, pode-se ver que se


hHi0 = 0 , (47)
isto é, se a energia mínima (vácuo) for nula, a supersimetria não pode ser
quebrada espontaneamente. Isto porque
1X
hHi0 = h0| H |0i = h0| Q2α |0i
2 α

e, para todo α,
h0| Q2α |0i ≥ 0 .
Então, para hHi0 = 0 resulta obrigatoriamente
h0| Q2α |0i = 0
e, portanto,
Qα |0i = 0 ,
isto é, todos os geradores de super-translação aniqulam o vácuo, indicando a
inexistência de degenerescência do vácuo, o que impede a quebra espontânea
de simetria.
A quebra espontânea de supersimetria pode realizar-se desde que o mín-
imo de energia seja positivo, pois
1X
hHi0 = h0| Q2α |0i ≥ 0 .
2 α

4.2 Modelo de Wess-Zumino extendido5,7


Uma extensão imediata do modelo anterior é considerar super-campos es-
calares múltiplos. Considere, pois, o conjunto de super-campos chirais φa (x, θ),
assumidas como todos de chiralidade negativa,
∙ ¸
− 4i θγ µ γ 5 θ∂µ a 1
φa (x, θ) = e ϕa (x) + θ+ ψ− (x) + θ+ θ− Fa (x) . (48)
2

67
A construção da lagrangeana deste modelo segue os passos do anterior e,
tendo como referência a equação (17), fica
1¡ ¢2 1
L= DD (φ∗a φa ) − DD [f (φa ) + f (φ∗a )] , (49)
8 2
que deve ser calculada para θ = 0. Os super-campos φ∗a conjugados complexos
dos φa são de chiralidade positiva
∙ ¸
∗ i
θγ µ γ 5 θ∂ ∗ a 1 ∗
φa = e 4 µ
ϕa (x) + θ− ψ+ (x) + θ+ θ− Fa (x) . (50)
2
Em princípio a parte cinética poderia conter termos como
1¡ ¢2
DD (φ∗a φb ) ,
8
porém os super-campos φa (x, θ) sempre podem ser redefinidos, eliminando
estes produtos cruzados na parte cinética da lagrangeana. A função f (φa ),
neste caso, é X
f (φa ) = cn φa1 φa2 φa3 · · · φan . (51)
n

A lagrangeana em funçãod os campos internos fica


µ ¶∗ µ ¶
∗ ∗ µ i µ ∂f ∗ ∂f
L = Fa Fa + ∂µ ϕa ∂ ϕa + ψa γ ∂µ ψa + Fa + Fa +
2 ∂ϕa ∂ϕa
µ 2 ¶∗ µ 2 ¶
1 ∂ f (1 + γ 5 ) 1 ∂ f (1 − γ 5 )
− ψa ψb − ψa ψb , (52)
2 ∂ϕa ∂ϕb 2 2 ∂ϕa ∂ϕb 2
somados nos índices a e b. Eliminando os campos auxiliares
µ ¶
∗ ∂f
F =− (53)
∂ϕa
e µ ¶∗
∂f
F =− , (54)
∂ϕa
a lagrangeana fica
µ ¶∗ µ ¶
i ∂f ∂f
L = ∂µ ϕ∗a ∂ µ ϕa
µ
+ ψa γ ∂µ ψa − +
2 ∂ϕa ∂ϕa
µ 2 ¶∗ µ 2 ¶
1 ∂ f (1 + γ 5 ) 1 ∂ f (1 − γ 5 )
− ψa ψb − ψa ψb (55)
2 ∂ϕa ∂ϕb 2 2 ∂ϕa ∂ϕb 2

68
ou, definindo
µ ¶∗ µ ¶
∂2f (1 + γ 5 ) ∂2f (1 − γ 5 )
Mab = − ψa − ψa (56)
∂ϕa ∂ϕb 2 ∂ϕa ∂ϕb 2
e
X µ ∂f ¶∗ µ ∂f ¶
V (ϕ) = , (57)
a
∂ϕ a ∂ϕ a

assume a forma compacta


i 1
L = ∂µ ϕ∗a ∂ µ ϕa + ψa γ µ ∂µ ψa + ψa Mab ψb − V (ϕ) . (58)
2 2
O potencial V (ϕ) é um polinômio de 4o. grau em ϕ, sendo o termo que
comanda a quebra espontânea da (super) simetria.
O mínimo da energia vai coincidir com o mínimo do potencial, e como
X ¯¯µ ∂f ¶¯¯2
¯ ¯
V (ϕ) = ¯ ∂ϕ ¯ ≥ 0 , (59)
a a

o mínimo absoluto existirá se


µ ¶
∂f
=0 (60)
∂ϕa ϕ0

para todos os campos ϕa para algum

ϕ0 = h0| ϕ |0i ,

onde, por questões de simplicidade, recorre-se à notação matricia


⎛ ⎞
ϕ1
⎜ ϕ ⎟
⎜ 2 ⎟
⎜ ⎟
ϕ = ⎜ ϕ3 ⎟ .
⎜ .. ⎟
⎝ .. ⎠
ϕn

onde
ltimo termo, em derivada, não contribui na ação, podendo ser desprezado.
Eliminar este termo em derivada equivale a reescrever a equação (22) como
1 0 i
Lc = (D + ∂µ ∂ µ A0 ) = F F ∗ + ∂µ A∂ µ A∗ + ψγ µ ∂µ ψ . (61)
4 2

69
As funções f (φ± ) são super-campos chirais, definidas em (13) e (14), o
super-campo chiral positivo
e
F = −f 0 (A∗ ) (62)
e
F ∗ = −f 0 (A) . (63)
Com estas substituições, a lagrangeana fica
i
Lc = ∂µ A∂ µ A∗ + ψγ µ ∂µ ψ − f 0 (A)f 0 (A∗ ) +
2
∙ ¸
1 00 (1 + γ 5 ) 00 ∗ (1 − γ 5 )
− f (A)ψ ψ + f (A )ψ ψ . (64)
2 2 2
Neste caso, a supersimetria não pode ser espontaneamente quebrada pois

hHi0 = hV i0 = 0 .
Se não existir nenhum ϕ0 tal que satisfaça a equação (60), então para qual-
quer outro mínimo,
hV (ϕ0 )i0 > 0 .
Se ϕ0 for escolhido como o vácuo do sistema, pode-se definir o novo campo
escalar
ϕ0 = ϕ − ϕ0 , (65)
o termo quadrático do potencial nesta nova variável ficando
X µ ∂2V ¶ 1
µ 2
∂ V

1
µ 2
∂ V

0 0∗ 0 0

ϕa ϕb + ϕa ϕb + ∗ ∂ϕ∗
ϕ∗0 ∗0
a ϕb
a,b
∂ϕa ∂ϕb 0 2 ∂ϕ a ∂ϕb 0 2 ∂ϕ a b 0

que pode ser escrito, formalmente, como a operação matricial


⎛ 2 ⎞
∂ V ∂2V
∗ ∗ ∗ µ 0 ¶
1¡ 0 ¢
0∗ ∗ ⎜
∂ϕa ∂ϕb ∂ϕa ∂ϕb
⎟ ϕa
ϕa ϕb ⎝ ⎠ . (66)
2 ∂2V ∂2V
ϕ0∗
b
∂ϕa ∂ϕb ∂ϕ∗a ∂ϕb 0

Definindo µ ¶
∂2f
Aab = − , (67)
∂ϕa ∂ϕb 0
então µ ¶
∂2V X µ ∂ 2 f ¶ µ ∂ 2 f ¶∗ ¡ ¢
= = AA† ab (68)
∂ϕa ∂ϕ∗b 0 c
∂ϕa ∂ϕc 0 ∂ϕb ∂ϕc 0

70
e portanto a soma do quadrado das massa dos campos escalares ϕa é
X ¡ ¢
m2a = 2tr AA† . (69)
a

A matriz de massa dos férmions fica


1 1
Mab = (1 − γ 5 ) Aab + (1 + γ 5 ) A∗ab . (70)
2 2
Calculando o produto matricial

MM † = AA† ,

levando em conta que Aba = Aab , pode-se determinar a soma do quadrado


das massas dos férmions,
X ¡ ¢
m2 = tr AA† . (71)
f érmions

Como os férmions estão representados por espinores de Majorana, contendo


dois graus de leberdade cada, obtém-se uma importante relação entre a soma
(dos quadrados) das massas dos férmions e dos escalares contidos no super-
multipleto, X X
m2 = m2a , (72)
f érmions escalares

somados sobre todos os graus de liberdade.

71
5 Formalismo de Gauge5,6,7
Na secção anterior foram apresentados modelos supersimétricos onde pode-se
notar que a parte cinética da lagrangeana do modelo em questão é invari-
ante por transformações globais de fase dos campos constituintes. Uma vez
detectada uma transformação de simetria global, pode-se implementar o for-
malismo de gauge, adotando o procedimento usual de impor a simetria por
transformações locais cujo custo é a necessidade de introduzir os campos de
gauge.
No caso supersimétrico, para manter a invariança torna-se necessária a
introdução de companheiros fermiônicos para os campos de gauge vetoriais,
formando super-multipletos pertencentes à mesma representação adjunta do
grupo de simetria considerado.
Serão consideradas apenas as simetrias internas.
A supersimetria é uma simetria externa, isto é, envolve transformações
de coordenadas que, quando tornada local, introduz como campos de gauge
os campos gravitacionais, agora com companheiros supersimétricos. É a
maneira de introduzir a gravitação no formalismo supersimétrico, conhecido
como super-gravitação.

5.1 Grupo Abeliano


Considere a lagrangeana supersimétrica do Modelo de Wess-Zumino exten-
dido da secção anterior, cuja parte cinética é
1¡ ¢2 ¯ i
¯
Lc = DD (φ∗a φa )¯ = ∂µ ϕ∗a ∂ µ ϕa + ψa γ µ ∂µ ψa + Fa∗ Fa , (1)
8 θ=0 2
que é invariante pela transformação de fase global


⎪ ϕa (x) −→ e−iqa ω ϕa (x)



ψa− (x) −→ e−iqa ω ψa− (x) , (2)





Fa (x) −→ e−iqa ω Fa (x)
onde qa são cargas reais e ω uma constante real. Em termos dos super-campos
chirais, as transformações acima equivalem a

⎨ φa (x, θ) −→ e−iqa ω φa (x, θ)
, (3)
⎩ ∗
φa (x, θ) −→ eiqa ω φ∗a (x, θ)
que mantém o produto (φ∗a φa ) invariante.

72
Veja que em (2),

ψa+ (x) = ψ∗a


− (x) −→ e
iqa ω a
ψ+ (x)

e, portanto, em forma infinitesimal,

ψa (x) = ψa+ (x) + ψa− (x) −→


∙ µ ¶ µ ¶¸
1 + γ5 1 − γ5
−→ (1 + iqa ω) + (1 − iqa ω) ψa (x)
2 2

definindo a transformação do espinor


¡ ¢
ψa (x) −→ 1 + iγ 5 qa ω ψa (x) . (4)

Considere, agora, as transformações de fase locais,




⎪ ϕa (x) −→ ϕ0a (x) = e−iqa ω(x) ϕa (x)



ψa− (x) −→ ψ0a
− (x) = e
−iqa ω(x) a
ψ− (x) , (5)





Fa (x) −→ Fa0 (x) = e−iqa ω(x) Fa (x)

onde ω(x) é uma função arbitrária. As transformações dos super-campos


chirais podem ser obtidos pelas substituições dos campos constituintes,
1
φ0a (x, θ) = φ0a (y, θ− ) = ϕ0a (y) + θ+ ψ0a 0
− (y) + θ + θ − Fa (y)
2
i µ 5 £
= e− 4 θγ γ θ∂µ e−iqa ω(x) ϕa (x) + θ+ e−iqa ω(x) ψa− (x) +
¸
1 −iqa ω(x)
+ θ+ θ− e Fa (x) = e−iqa ω(y) φa (y, θ− )
2

resultando nas transformações

φ0a (x, θ) = e−iqa ω(y) φa (x, θ) , (6)

e
φa (x, θ) = eiqa ω(y) φ∗a (x, θ) (7)
para a sua conjugada complexa, supondo que.

ω(y) = [ω(y)]∗ . (8)

73
Assim, nas transformações locais, a fase em si é um super-campo,
i
ω(y µ ) = ω(xµ + θγ µ γ 5 θ)
4
i 1 ¡ ¢2 2
= ω(x) + θγ µ γ 5 θ∂µ ω − θθ ∂ ω (9)
4 32
e
i
ω(y µ ) = ω(xµ − θγ µ γ 5 θ)
4
i 1 ¡ ¢2 2
= ω(x) − θγ µ γ 5 θ∂µ ω − θθ ∂ ω . (10)
4 32
Mais precisamente, ω(y µ ) é um super-campo chiral positivo e ω(y µ ) um super-
campo chiral negativo, cuja única componente independente é a função es-
calar ω(x).
Como ω(y µ ) 6= ω(y), o produto φa (x, θ)φ∗a (x, θ) não é mais invariante,

φ0∗ 0
a φa = e
iqa [ω(y)−ω(y)] ∗
φa φa , (11)

e como
i
ω(y) − ω(y) = θγ µ γ 5 θ∂µ ω , (12)
2
então
1 µ γ 5 θ∂ ω
φ0∗ 0
a φa = e
− 2 qa θγ µ
φ∗a φa . (13)
Para restabelecer a invariança intruduz-se um super-campo de gauge
Φ(x, θ) com a transformação
1
Φ(x, θ) Φ0 (x, θ) = Φ(x, θ) + θγ µ γ 5 θ∂µ ω (14)
4
de modo que o produto
φ∗a e2qa Φ φa (15)
seja invariante.
A lagrangeana supersimétrica invariante de gauge fica

1¡ ¢2 ¡ ∗ 2qa Φ ¢¯¯ 1 ¯
Lc = DD φa e φa ¯ − DD [f (φa ) + f (φ∗a )]¯θ=0 , (16)
8 θ=0 2
com a função f (φa ) restrita a termos que satisfaçam a invariança de gauge.

74
Com o super-campo Φ(x, θ) acaba-se por introduzir novos campos gauge
além do campo vetorial usual Aµ (x), todos invariantes pela transformação de
gauge (14) exceto o campo vetorial, que deve transformar-se da forma usual,

Aµ (x) A0µ (x) = Aµ (x) + ∂µ ω . (17)

O super-campo Φ(x, θ) contém os escalares de Lorentz A(x), F (x) e D(x),


o pseudo-escalar G(x), o vetor Aµ (x) e os espinores ψ(x) e χ(x), com as
transformações por super-translação dadas pelas equações (2.57). Para con-
struir a lagrangeana livre destes campos de gauge, deve-se antes procurar
uma representação que seja irredutível.
Considere o tensor anti-simétrico

Fµν = ∂µ Aν − ∂ν Aµ

com a transformação
1 ¡ ¢
δFµν = ∂µ δAν − ∂ν δAµ = γ 5 γ µ ∂ν − γ ν ∂µ (χ + iðψ) .
2
Definindo
χ + iðψ
λ=
2
então
1¡ ¢
δλ = D + ∂ 2 A + iγ µ γ ν γ 5 Fµν
4
e, para
1¡ ¢
η= D + ∂2A
4
resulta
i i
δη = − ð (χ + iðψ) = − ðλ .
4 2
Em suma, os campos

Fµν = ∂µ Aν − ∂ν Aµ

χ + iðψ
λ = (18)
2
1¡ ¢
η = D + ∂2A
4

75
formam um super-multipleto, transformando-se entre si como
¡ ¢ i £ ¤
δFµν = γ 5 γ µ ∂ν − γ ν ∂µ λ = − γ 5 σ µν , γ η ∂ η λ
2
µ ¶
i µ ν 5
δλ = η + γ γ γ Fµν
4
(19)
i
δη = − ðλ
2
µ ¶
i 5 ν µ
δλ = η + γ γ γ Fµν .
4
Para construir a lagrangeana contendo os membros do super-multipleto,
pode-se partir de formas já conhecidas. Para o espinor, por exemplo, espera-
se que a lagrangeana livre tenha a forma usual
i
Lλ = λγ µ ∂µ λ .
2
Por super-translação,
i¡ ¢ µ i
δLλ = δλ γ ∂µ λ + λγ µ ∂µ (δλ)
2 2
i¡ ¢ µ i ¡ ¢ i¡ ¢
= δλ γ ∂µ λ + ∂µ λγ µ δλ − ∂µ λ γ µ δλ
2 2 2
i i ¡ ¢ i
= δλγ µ ∂µ λ + ∂µ λγ µ δλ + δλγ µ ∂µ λ
2 2 2
que, negligenciando o termo em derivada, leva a
µ ¶
µ i 5 ν µ
δLλ = iδλγ ∂µ λ = i η + γ γ γ Fµν ðλ
4
1 5 ν µ
= −2ηδη − γ γ γ Fµν ðλ .
4
Agora,
γ 5 γ ν γ µ Fµν ðλ = γ 5 γ ν γ µ Fµν γ η ∂ η λ = γ 5 γ ν δ µη Fµν ∂ η λ

1 5
= γ 5 γ ν Fµν ∂ µ λ = − γ Fµν (γ µ ∂ ν − γ ν ∂ µ ) λ
2
1
= − Fµν δF µν
2
76
e portanto
1
δLλ = −2ηδη + Fµν δF µν ,
8
de modo que µ ¶
i µ 1
δ λγ ∂µ λ + η 2 − Fµν F µν =0. (20)
2 16
A lagrangeana do super-multipleto, invariante supersimétrico e de gauge
será, portanto,
i 1
Lg = λγ µ ∂µ λ + η 2 − Fµν F µν .
2 16
Pode-se normalizar a lagrangeana de modo a deixar a parte do campo
tensorial com o coeficiente usual,
1
Lg −→ L0g = 2iλγ µ ∂µ λ + 4η 2 − Fµν F µν
4
ou
i 0 1
L0g = λ γ µ ∂µ λ0 + η 02 − Fµν F µν , (21)
2 4
com a redefinição dos campos

Fµν = ∂µ Aν − ∂ν Aµ

λ0 = 2λ = χ + iðψ (22)

1¡ ¢
η 0 = 2η = D + ∂ 2A
2

¡ ¢ 1 ¡ ¢
δFµν = γ 5 γ µ ∂ν − γ ν ∂µ λ = γ 5 γ µ ∂ν − γ ν ∂µ λ0
2
µ ¶
i
δλ0 = η 0 + γ µ γ ν γ 5 Fµν
2
(23)
i
δη 0 = − ðλ0
2
µ ¶
0 0 i 5 ν µ
δλ = η + γ γ γ Fµν .
2

77
Como a transformação do campo escalar η(x) por super-translação é um
termo de derivada, pode-se acrescentar à lagrangeana o termo conhecido
como de Fayet-Iliopoulos,

LF I = −2ξη(x) , (24)

onde ξ é uma constante arbitrária.

5.2 Generalização (Grupo Abeliano)


O conjunto dos campos (18) define um super-multipleto de gauge de massa
nula. Os campos são componentes de um super-campo de gauge Φ(x, θ)
que, sendo um super-campo escalar, contém outros campos que não os do
super-multipleto, e devem ser eliminados de alguma maneira. Esta questão
está associada a uma formulação mais geral da própria transformação de fase
local, equação (6), que pode ser generalizada como

φa (x, θ) −→ φ0a (x, θ) = e−iqa Ω(x,θ) φa (x, θ) (25)


e
∗ (x,θ)
φ∗a (x, θ) −→ φ∗a (x, θ) = eiqa Ω φ∗a (x, θ) (26)
para o campo complexo conjugado, onde Ω(x, θ) deve ser um super-campo
chiral negativo para manter a chiralidade dos super-campos φa (x, θ), que
foram definidas como de chiralidade negativa,
1
Ω(x, θ) = Ω(y, θ− ) = ω(y) + θ+ S− (y) + θ+ θ− W (y)
2
1 i
= ω(x) + θS− (x) + θ+ θ− W (x) − θγ µ γ 5 θ∂µ ω +
2 4
i 1 ¡ ¢ 2
− θθ.θγ µ ∂µ S− − θθ ∂ ω (27)
4 32
e
1 i
Ω∗ (x, θ) = ω ∗ (x) + θS−∗ (x) + θ− θ+ W ∗ (x) + θγ µ γ 5 θ∂µ ω ∗ +
2 4
i 1 ¡ ¢ 2 ∗
− θθ.θγ µ ∂µ S−∗ − θθ ∂ ω , (28)
4 32
onde ω(x) e W (x) são funções escalares complexas arbitrárias e S− (x) é a
componente chiral negativa de um espinor S(x).

78
Na parte cinética da lagrangeana, o produto dos super-campos φ∗a φa , que
não é mais invariante, transformando-se como
∗ (x,θ)]
φ∗a φa −→ e−iqa [Ω(x,θ)−Ω φ∗a φa ,
deve ser substituído pela expressão
φ∗a e2qa Φ φa
que será invariante se o super-campo de gauge transformar-se como
i
Φ −→ Φ0 (x, θ) = Φ(x, θ) + [Ω(x, θ) − Ω∗ (x, θ)] . (29)
2
O super-campo de gauge Φ(x, θ) pode ser decomposto nas suas partes
chirais irredutíveis,
Φ(x, θ) = Φ+ (x, θ) + Φ− (x, θ) + Φ1 (x, θ) (30)
e, escolhendo como real tal que Φ− (x, θ) = Φ∗+ (x, θ), de modo que a trans-
formação de gauge fique
i i
Φ0 (x, θ) = Φ+ (x, θ) − Ω∗ (x, θ) + Φ− (x, θ) + Ω(x, θ + Φ1 (x, θ)) , (31)
2 2
pode-se ver que a parte chiral Φ+ (x, θ) é completamente arbitrária, podendo
ser suprimida por uma escolha adequada de gauge, restando a parte irre-
dutível Φ1 (x, θ) que contem um campo escalar, A1 (x), um campo espinorial,
ψ1 (x) e o campo vetorial A1µ (x) que deve satiafazer à condição de gauge
∂ µ A1µ (x) = 0 .
Embora o super-campo irredutível Φ1 (x, θ) aparente ser o candidato nat-
ural para representar o super-multipleto dos campos de gauge, há uma séria
restrição, pois o produto invariante
φ∗a e2qa Φ1 φa
pode conter potências arbitrárias de Φ1 , tornando-o não renormalizável. Por
esta razão recorre-se a uma representação diferente.
Considere o super-campo escalar na sua forma geral, equação (2.43) da
secção anterior,

1 i
φ(x, θ) = A(x) + θψ(x) + θθF (x) + θγ 5 θG(x) +
4 4
1 1¡ ¢ 1 ¡ ¢2
+ θγ µ γ 5 θAµ (x) + θθ .θχ(x) + θθ D(x) . (32)
4 4 32
79
Como

¡ ¢ 1
Ω(x, θ) − Ω∗ (x, θ) = (ω − ω ∗ ) + θ S− − S−∗ + θθ (W − W ∗ ) +
2
1 1
+ θγ 5 θ (W + W ∗ ) + θγ µ γ 5 θ∂µ (−i) (ω + ω∗ ) +
2 4
i ¡ ¢ 1 ¡ ¢ 2
− θθ.θγ µ ∂µ S− − S−∗ − θθ ∂ (ω − ω ∗ ) ,(33)
4 32
a transformação (29) corresponde às transformações dos campos


⎪ A(x) −→ A(x) − ω I (x)



⎪ ψ(x) −→ ψ(x) − S−,I (x)


⎨ F (x) −→ F (x) + ω I (x)
G(x) −→ G(x) − ωR (x) , (34)



⎪ A µ (x) −→ A µ (x) + ∂ ω
µ R (x)



⎪ χ(x) −→ χ(x) + iðS −,I (x)
⎩ 2
D(x) −→ D(x) + ∂ ωI (x)
onde os índices R e I indicam as partes real e imaginária, respectivamente.
O importante é que os campos
F (x), λ(x), η(x)
que formam o super-multipleto são invariantes por estas transformações,
de modo que a lagrangeana livre de gauge e o termo de Fayet-Iliopoulos,
equações (21) e (24), respectivamente, são automaticamente invariantes pela
transformação de gauge generalizada (29), o que permite escolher as funções
ω(x), S(x) e W (x) tal que anulem os campos indesejáveis,
A(x) = F (x) = G(x) = ψ(x) = 0 ,
o super-campo de gauge assumindo a forma
1 1 1¡ ¢
Φ(x, θ) = θγ µ γ 5 θAµ (x) + θθ.θλ(x) + θθ η(x) . (35)
4 2 8
Conhecida como gauge de Wess-Zumino, nesta escolha a transformação de
gauge (29) fica
i
Φ −→ Φ0 (x, θ) = Φ(x, θ) + [Ω(x, θ) − Ω∗ (x, θ)]
2
1
= Φ(x, θ) + θγ µ γ 5 θ∂µ ω , (36)
4
80
que justamente coincide com a transformação não generalizada (14) onde

Ω(x, θ) = ω(y)

contendo uma única componente real ω(x) e S(x) = W (x) = 0. As transfor-


mações de gauge das componentes são


⎪ Aµ (x) −→ Aµ (x) + ∂µ ω(x)



λ(x) −→ λ(x) . (37)





η(x) −→ η(x)

O super-campo de gauge na forma (35) não é invariante por super-translação,


sendo necessário, para manter a forma, combiná-la adequadamente com uma
transformação de gauge.

5.3 Lagrangeana no Gauge de Wess-Zumino


Será calculada explicitamente a parte cinética da lagrangeana mais as inter-
ações de gauge,
1¡ ¢2 ¡ ¢
L0 = DD φ∗a e2qa Φ φa = Lc + LI , (38)
8
usando o gauge de Wess-Zumino, cujo super-campo de gauge tem a forma
(35). A exponencial fica

e2qa Φ = 1 + 2qa Φ + 2 (qa Φ)2 , (39)

considerando que as potências superiores a Φ2 são automaticamente nulas.


Como
1 ¡ ¢2
Φ2 = θθ Aµ Aµ , (40)
16
então
1 1
e2qa Φ = 1 + θγ µ γ 5 θ (2qa Aµ ) + θθ.θ (4qa λ) +
4 4
1 ¡ ¢2 ¡ ¢
+ θθ 8qa η + 4qa2 Aµ Aµ . (41)
32
O super-campo de gauge Φ(x, θ) deve ser real, e também a exponencial resulta
num super-campo escalar real.

81
A seguir, serão definidos os produtos (sem soma em a)

φ0a = φ∗a φa (42)

e (com soma em a)
φ00 = e2qa Φ φ0a . (43)
Os campos resultantes, coeficientes de φ0a e φ00 , podem ser obtidos usando as
expressões da regra de produto de super-campos do apêndice A5.
O super-campo φ0a , produto de super-campos de chiralidades positiva e
negativa, não tem chiralidade defintida, e os campos componentes são

A0a = ϕ∗a ϕa
ψ0a = ϕ∗a ψa− + ψa− ϕa
Fa0 = ϕ∗a Fa + Fa∗ ϕa
G0a = i (ϕ∗a Fa − Fa∗ ϕa )
a
A0aµ = −iϕ∗a ∂µ ϕa + iϕa ∂µ ϕ∗a − ψ− γ µ ψa−
χ0a = −iϕ∗a γ µ ∂µ ψa− − iϕa γ µ ∂µ ψ∗a a a a a
− + 2ψ + F + 2F ψ − +
+iγ µ ψ∗a µ a
+ ∂µ ϕa + iγ ψ − ∂µ ϕa

Da0 = −ϕ∗a ∂ 2 ϕa − ϕa ∂ 2 ϕ∗a + 4Fa∗ Fa + 2∂ µ ϕ∗a ∂µ ϕa +


³ a
´ a
−2i ∂ µ ψ− γ µ ψa− + 2iψ− γ µ ∂ µ ψa−

O super-campo φ00 também não tem chiralidade definida, e os seus campos


são
X
A00 = A0 = ϕ∗a ϕa
a
X¡ ¢
ψ00 = ψ0 = ϕ∗a ψa− + ψa− ϕa
a
00 0
F = F
G00 = G0 ³ ´
X a
00 ∗ ∗ a ∗
Aµ = −iϕa ∂µ ϕa + iϕa ∂µ ϕa − ψ− γ µ ψ− + 2qa Aµ ϕa ϕa
a
X¡ ¢
χ 00
= χ0a + 4qa ϕ∗a ϕa λ − 2qa Aµ γ µ γ 5 ψ0a
a
X ¡ ¢
00
D = Da0 + 8qa η + 4qa2 Aµ Aµ ϕ∗a ϕa +
a
³ a
´
µ ∗ ∗ a
+4qa A −iϕa ∂µ ϕa + iϕa ∂µ ϕa − ψ− γ µ ψ− +
¡ ¢
−8qa λ ϕ∗a ψa− + ψa− ϕa

82
A lagrangeana (38) fica
1 ¡ 00 ¢ 1¡ 0 ¢
L0 = D + ∂ 2 A00 = D + ∂ 2 A0 aa + LI (44)
4 4
onde
1¡ 0 ¢ i a
Lc = D + ∂ 2 A0 aa = ∂µ ϕ∗a ∂ µ ϕa + ψ γ µ ∂µ ψa + Fa∗ Fa (45)
4 2
é a parte cinética dos campos originais e
¡ ¢
LI = 2qa η + qa2 Aµ Aµ ϕ∗a ϕa +
³ a
´ ¡ ¢
+qa Aµ iϕa ∂ µ ϕ∗a − iϕ∗a ∂ µ ϕa − ψ− γ µ ψa− − 2qa λ ϕ∗a ψa− + ψ∗a
− ϕ(46)
a

é a interação destes campos com os campos de gauge.


Veja que

⇒ [(∂µ − iqa Aµ ) ϕ∗a ] [(∂ µ + iqa Aµ ) ϕa ] = ∂µ ϕ∗a ∂ µ ϕa +

+iqa Aµ (iϕa ∂ µ ϕ∗a − iϕ∗a ∂ µ ϕa ) + qa2 Aµ Aµ ϕ∗a ϕa

e
a a (1 + γ 5 ) µ (1 − γ 5 ) a 1 a
ψ− γ µ ψa− = ψ γ ψ = − ψ γ µγ 5 ψa
2 2 2
pois
a
ψ γ µψa = 0
e, portanto,
i a µ a i a ¡ ¢
ψ γ ∂µ ψa − qa Aµ ψ− γ µ ψa− = ψ γ µ ∂µ − iqa γ 5 Aµ ψa ,
2 2
de modo que a lagrangeana (38) pode ser escrita em termos das derivadas
covariantes de gauge
Dµ ϕa = (∂ µ + iqa Aµ ) ϕa (47)
e ¡ ¢
Dµ ψa = ∂ µ − iqa γ 5 Aµ ψa , (48)
resultando
i a
L0 = Lc + LI = Fa∗ Fa + Dµ ϕ∗a Dµ ϕa + ψ γ µ Dµ ψa +
2
∙ ¸
(1 − γ 5 ) ∗ (1 + γ 5 )

+2qa ηϕa ϕa − 2qa λ ϕa + ϕa ψa . (49)
2 2

83
A lagrangeana completa, é (somados em a e b)
i a
L = Fa∗ Fa + Dµ ϕ∗a Dµ ϕa + ψ γ µ Dµ ψa +
2
∙ ¸
(1 − γ 5 ) ∗ (1 + γ 5 )

+2qa ηϕa ϕa − 2qa λ ϕa + ϕa ψa +
2 2
µ ¶∗ µ ¶
∂f ∂f 1 a
+ ∗
Fa + Fa + ψ Mab ψb +
∂ϕa ∂ϕa 2
i 1
+ λγ µ ∂µ λ + η 2 − Fµν F µν − 2ξη , (50)
2 4
com a definição
µ ¶∗ µ ¶
∂2f (1 + γ 5 ) ∂2f (1 − γ 5 )
Mab = − − . (51)
∂ϕa ∂ϕb 2 ∂ϕa ∂ϕb 2
Esta lagrangeana contém os campos auxiliares Fa e η que podem ser elimi-
nados com o auxílio da equação de Euler-Lagrange,
µ ¶∗
∂f
Fa = −
∂ϕa
e X
η=ξ− qa ϕ∗a ϕa ,
a
de modo que
µ ¶∗ µ ¶ X µ ∂f ¶∗ µ ∂f ¶
∂f ∂f
LF = Fa∗ Fa + Fa∗ + Fa = − (52)
∂ϕa ∂ϕa a
∂ϕa ∂ϕa
e à !2
X
Lη = η 2 + 2qa ηϕ∗a ϕa − 2ξη = −η 2 = − ξ − qa ϕ∗a ϕa . (53)
a
Estes termos definem o potencial
à !2
X µ ∂f ¶∗ µ ∂f ¶ X
V (ϕ) = + ξ− qa ϕ∗a ϕa , (54)
a
∂ϕ a ∂ϕa a

para um parâmetro ξ arbitrário, de modo que a lagrangeana total (50) fica


∙ ¸
i a µ a (1 − γ 5 ) ∗ (1 + γ 5 )
∗ µ
L = Dµ ϕa D ϕa + ψ γ Dµ ψ − 2qa λ ϕa + ϕa ψa +
2 2 2
i 1 1 a
+ λγ µ ∂µ λ − Fµν F µν + ψ Mab ψb − V (ϕ) . (55)
2 4 2

84
5.4 Grupo Não-Abeliano7
No modelo de Wess-Zumino extendido, representado por super-campos chi-
rais negativos, cujos campos componentes são
© ª
ϕa (x), ψ a− (x), Fa (x) ,

as transformações locais destes campos representadas por um grupo não-


abeliano ficam ⎧ £ −it ω (x) ¤

⎪ ϕ a (x) −→ e A A ab ϕb (x)


⎨ £ ¤
ψa− (x) −→ e−itA ωA (x) ab ψb− (x) , (56)



⎪ £ ¤

Fa (x) −→ e−itA ωA (x) ab Fb (x)
onde tA são os geradores (hermitianos) do grupo considerado e ω A (x) funções
reais arbitrárias. Os geradores obedecem à álgebra de Lie do grupo,

[tA , tB ] = ifABC tC , (57)

fABC a constante de estrutura, completamente anti-simétrica nos três índices.


A transformação equivalente do super-campo em particular é
£ ¤
φa (x, θ) −→ φ0a (x, θ) = e−itA ωA (y) ab φb (x, θ) (58)

e, para o seu complexo conjugado,


£ ∗ ¤
φ∗a (x, θ) −→ φ∗a (x, θ) = eitA ωA (y) ab φ∗b (x, θ)

£ ¤
= eitA ωA (y) ba
φ∗b (x, θ) . (59)

O produto global invariante é

φ† (x, θ)φ(x, θ) = φ∗a (x, θ)φa (x, θ) (60)

que localmente transforma-se como


£ it ω (y) ¤ £ −it ω (y) ¤
φ∗0
a (x, θ)φ0
a (x, θ) = φ∗
b (x, θ) e A A ba e A A ab φb (x, θ) ,

não sendo invariante, portanto. Para construir um novo produto que seja
invariante local, introduz-se os super-campos de gauge ΦA (x, θ) com a trans-
formação
e2tA ΦA −→ eitA ωA (y) e2tA ΦA e−itA ωA (y) (61)

85
de modo que o produto invariante seja
£ ¤
φ† (x, θ)e2tA ΦA φ(x, θ) = φ∗a (x, θ) e2tA ΦA ab φb (x, θ) . (62)

O número de super-campos de gauge necessário é igual ao número de ger-


adores do grupo. Como estes geradores não são comutativos, a manipulação
dos exponenciais requer maior atenção.
Em forma generalizada, a transformação (58) fica
£ ¤
φa (x, θ) −→ φ0a (x, θ) = e−itA ΩA (x,θ) ab φb (x, θ) (63)

e, para o complexo conjugado,


£ it Ω∗ (x,θ) ¤ ∗
φ∗a (x, θ) −→ φ∗0
a (x, θ) = e A A φ (x, θ) ,
ab b
(64)

os super-campos de gauge transformando-se através da regra



e2tA ΦA −→ e−itB ΩB e2tA ΦA eitC ΩC , (65)

de modo a manter invariante o produtro (60). Também



e−2tA ΦA −→ e−itB ΩB e−2tA ΦA eitC ΩC . (66)

As funções de gauge ΩA (x, θ) são super-campos chirais negativos (tem a


mesma chiralidades dos super-campos φa (x, θ)), e Ω∗A (x, θ) são super-campos
chirais positivos obedecendo, portanto, às condições

D+ ΩA = D− Ω∗A = 0 . (67)

Deste modo o super-campo espinorial


£ ¤
ψ−− ∼ D− D+ e2tA ΦA D− e−2tB ΦB (68)

transforma-se como
£ ∗ ∗ ¤
ψ−− −→ D− D+ e−itB ΩB e2tA ΦA eitC ΩC D− e−itD ΩD e−2tE ΦE eitF ΩF
(69)
£ −it Ω 2t Φ −2tE ΦE itF ΩF
¤ £ −it Ω itF ΩF
¤
= D− D+ e B B
e A A
D− e e = e B B
ψ−− e ,

a última passagem usando o fato de que


¡ ¢ α
n β
o α
D− D+ D− eitB ΩB = D− D+ α
, D− eitB ΩB ∼ D− ðeitB ΩB ≡ 0

devido à identidade (67).

86
Do mesmo modo o super-campo espinorial
£ ¤
ψ++ ∼ D+ D− e−2tA ΦA D+ e2tB ΦB (70)

transforma-se como
£ ∗ ∗ ¤
ψ++ −→ e−itB ΩB ψ++ eitF ΩF , (71)

de modo que se pode construir a invariante supersimétrica

ψ−− ψ++ ,

cuja componente F é a lagrangeana livre dos campos de gauge, no caso não


abeliano contendo possíveis auto-interações,
¡ ¢ ¯
Lgauge ∼ DD ψ−− ψ++ ¯θ=0 . (72)

Os super-campos espinoriais ψ++ (x, θ) e ψ−− (x, θ) são exatamente os definidos


na secção 3.
Será usado um procedimento menos rigoroso para construir a lagrangeana
de gauge, pelo procedimento usual de substituições das derivadas comuns
pelas derivadas covariantes de gauge. Para construir as derivadas covariantes,
deve-se conhecer as transformações dos campos de gauge. Será assumido o
gauge de Wess-Zumino, quando é válida a transformação (61) na forma não
generalizada.
Os super-campos de gauge tem a forma
1 1 A 1¡ ¢ A
ΦA (x, θ) = θγ µ γ 5 θAA
µ (x) + θθ.θλ (x) + θθ η (x) (73)
4 2 8
no gauge de Wess-Zumino e portanto

e2tA ΦA = 1 + 2tA ΦA + 2tA tB ΦA ΦB , (74)

considerando que as potências superiores a Φ2 são automaticamente nulas.


Como
1 ¡ ¢2 A µ
ΦA ΦB = θθ Aµ AB , (75)
16
então
1 ¡ ¢ 1 ¡ A
¢
e2qA ΦA = 1 + θγ µ γ 5 θ 2tA AA
µ + θθ.θ 4tA λ +
4 4
1 ¡ ¢2 ¡ µ¢
+ θθ 8tA η A + 4tA tB AA
µ AB . (76)
32

87
A transformação de gauge (61) em forma infinitesimal fica

e2tA ΦA −→ [1 − itA ω A (y)] e2tA ΦA [1 + itA ωA (y)]

= e2tA ΦA − itB ωB (y)e2tA ΦA + ie2tA ΦA tB ω B (y) (77)


onde ωB (y) e ω B (y) são super-campos chirais
i 1 ¡ ¢2 2
ω A (y) = ω(x) + θγ µ γ 5 θ∂µ ω A − θθ ∂ ω A . (78)
4 32
e
i 1 ¡ ¢2 2
ω A (y) = ω A (x) − θγ µ γ 5 θ∂µ ωA − θθ ∂ ω A . (79)
4 32
Em (77) tem os produtos
1 £ ¤
tA ω A (y)e2tB ΦB = tA ω A (x) + θγ µ γ 5 θ 2tA tB AB
µ + itA ∂µ ω A +
4
1 £ ¤
+ θθ.θ 4tA tB ω A λB +
4
1 ¡ ¢2 £ µ
+ θθ 8tA tB ωA η B + 4tA tB tC ω A AB
µ AC +
32
¤
− tA ∂ 2 ω A + 4itA tB ∂µ ω A .AµB
e
1 £ ¤
e2tB ΦB tA ω A (y) = tA ω A (x) + θγ µ γ 5 θ 2tB tA AB
µ − itA ∂µ ω A +
4
1 £ ¤
+ θθ.θ 4tB tA ω A λB +
4
1 ¡ ¢2 £ µ
+ θθ 8tB tA ωA η B + 4tB tC tA ω A AB
µ AC +
32
¤
− tA ∂ 2 ω A − 4itB tA ∂µ ωA .AµB
que, substituídos resulta
0 1 ¡ ¢ 1
e2tA ΦA −→ e2tA ΦA = 1 + θγ µ γ 5 θ 2tB A0B
µ + θθ.θ (4tA λ0A ) +
4 4
1 ¡ ¢2 ¡ 0µ ¢
+ θθ 8tA η 0A + 4tB tC A0B
µ AC , (80)
32
88
onde ⎧ 0A

⎪ Aµ = AA B
µ + ∂µ ω A + fCBA ω C Aµ



λ0A = λA + fCBA ω C λB , (81)




⎩ 0
η A = η A + fCBA ωC η B
que definem as transformações de gauge dos campos componentes de ΦA (x, θ).
O tensor antissimétrico

FAµν = ∂µ AAν − ∂ν AAµ − fABC ABµ ACν (82)

tranaforma-se como
0
FAµν = FAµν − fABC ωC FBµν (83)

mostrando que os campos


FAµν , λA , η A
formam um super-multipleto pertencente à representação adjunta do grupo
considerado. Os geradores na representação adjunta são definidos a partir
das constantes de estrutura,
³ ´
tadj
A = −i (fA )BC ,
BC

e com isto as transformações (81) e (83) ficam


⎧ ³ ´

⎪ F 0
= F − i tadj ω C FBµν

⎪ Aµν Aµν C
AB



⎨ ³ ´
λ0A = λA − i tadj
C ω C λB . (84)

⎪ AB



⎪ ³ ´

⎩ η 0 = η − i tadj
A A C ωC η B
AB

Substituindo a derivada comum pela derivada covariante na equação (21)


resulta a lagrangeana dos campos de gauge,
i 1 A µν
Lg = λA γ µ Dµ λA + η A η A − Fµν FA (85)
2 4
onde
³ ´
Dµ λA = ∂µ λA + i tadj
C ACµ λB
AB

= ∂µ λA + fCAB ACµ λB (86)

89
é a derivada covariante sobre o campo λA .
O termo de Fayet-Ilioupoulos é
LF I = −2ξ A η A , (87)
A
para ξ constantes arbitrárias.
A parte cinética mais as interações de gauge é dada por
1¡ ¢2 ¡ ¢ 1¡ ¢2 £ ¤
L0 = DD φ† e2tA ΦA φ = DD e2tA ΦA ab φ∗a φb , (88)
8 8
O produto
φ0a = φ∗a φb
tem os coeficientes

A0ab = ϕ∗a ϕb
ψ0ab = ϕ∗a ψb− + ψa− ϕb
0
Fab = ϕ∗a Fb + Fa∗ ϕb
G0ab = i (ϕ∗a Fb − Fa∗ ϕb )
a
A0abµ = −iϕ∗a ∂µ ϕb + iϕb ∂µ ϕ∗a − ψ− γ µ ψb−
χ0ab = −iϕ∗a γ µ ∂µ ψb− − iϕb γ µ ∂µ ψ∗a a ∗ b
− + 2ψ + Fb + 2Fa ψ − +
+iγ µ ψ∗a µ b
+ ∂µ ϕb + iγ ψ − ∂µ ϕa

0
Dab = −ϕ∗a ∂ 2 ϕb − ϕb ∂ 2 ϕ∗a + 4Fa∗ Fb + 2∂ µ ϕ∗a ∂µ ϕb +
³ a
´ a
−2i ∂ µ ψ− γ µ ψb− + 2iψ− γ µ ∂ µ ψb− (89)
e o produto £ ¤
φ00 = e2tA ΦA ab φ∗a φb
(somados em a e b) os coeficientes
A00 = A0aa = ϕ∗a ϕa
¡ ¢
ψ00 = ψ0aa = ϕ∗a ψa− + ψa− ϕa
F 00 = 0
Faa = ϕ∗a Fa + Fa∗ ϕa
G00 = G0aa = i (ϕ∗a Fa − Fa∗ ϕa )
³ a
´
A00µ = −iϕ∗a ∂µ ϕa + iϕa ∂µ ϕ∗a − ψ− γ µ ψa− + 2ϕ† tA ϕAAµ
³ ¡ ¢ ´
0
χ00 = χ0aa + 4ϕ† tA ϕλ − γ µ γ 5 2tA AA µ ab ψ ab
¡ µ¢
D00 0
= Daa + ϕ† 8tA η A + 4tA tB AA µ AB ϕ +
³ a
´
µ ∗ ∗ b
+4 (tA AA )ab iϕa ∂µ ϕb − iϕa ∂µ ϕb + −ψ− γ µ ψ− +
¡ ¢ ¡ ¢
−8 tA λA ab ϕ∗a ψb− + ψ∗a − ϕb (90)

90
A lagrangeana (88), calculada para θ = 0, é
1 ¡ 00 ¢ 1¡ 0 ¢
L0 = D + ∂ 2 A00 = D + ∂ 2 A0 aa + LI
4 4

= Lc + LI ,

a parte cinética sendo


1¡ 0 ¢ i a
Lc = D + ∂ 2 A0 aa = ∂µ ϕ∗a ∂ µ ϕa + ψ γ µ ∂µ ψa + Fa∗ Fa (91)
4 2
e a parte da interação de gauge,
¡ µ¢
LI = ϕ∗a 2tA η A + tA tB AA
µ AB ab ϕb +

¡ ¢ ³ a µ b
´
+ tA AA
µ ab iϕb ∂ µ ∗
ϕa − iϕ∗ µ
a ∂ ϕb − ψ − γ ψ − +

A ¡ ∗ b ¢
−2 (tA )ba λ ϕa ψ− + ψ∗a
− ϕb (92)

ou
h¡ ¢ i£ ¤
L0 = ∂µ − it∗A AA ϕ∗
µ ab b (∂ µ + itB AµB )ac ϕc +
∙µ ¶ ¸
i a B (1 − γ 5 )
+ ψ γµ ∂µ + itB Aµ ψb + Fa∗ Fa +
2 2 ab
A £ ¤
+2ϕ∗a (tA )ab ϕb η A − 2 (tA )ba λ ϕ∗a ψb− + ψ∗a
− ϕb . (93)

Finalmente, a parte do super-potencial definido pelas componentes F das


funções f (φ+ ) e f (φ− ),
µ ¶∗ µ ¶
∂f ∗ ∂f
Lf = Fa + Fa +
∂ϕa ∂ϕa
µ 2 ¶∗ µ 2 ¶
1 ∂ f a (1 + γ 5 ) 1 ∂ f a (1 − γ 5 ) b
− ψ − ψ ψ . (94)
2 ∂ϕa ∂ϕb 2 2 ∂ϕa ∂ϕb 2

A lagrangeana total é

L = L0 + Lgauge + LF I + Lf

91
ou, explicitamente,
h¡ ¢ i£ ¤
L = ∂µ − it∗A AA ϕ∗
µ ab b (∂ µ + itB AµB )ac ϕc +
∙µ ¶ ¸
i a B (1 − γ 5 )
+ ψ γµ ∂µ + itB Aµ ψb + Fa∗ Fa +
2 2 ab
A £ ¤
+2ϕ∗a (tA )ab ϕb η A − 2 (tA )ba λ ϕ∗a ψb− + ψ∗a
− ϕb +

i ¡ ¢ B 1 A µν
+ λA γ µ ∂µ + fC AC A
µ AB λ + η A η − Fµν FA +
2 4
µ ¶∗ µ ¶
∂f ∂f
−2ξ A η A + Fa∗ + Fa +
∂ϕa ∂ϕa
µ 2 ¶∗ µ 2 ¶
1 ∂ f a (1 + γ 5 ) 1 ∂ f a (1 − γ 5 ) b
− ψ − ψ ψ . (95)
2 ∂ϕa ∂ϕb 2 2 ∂ϕa ∂ϕb 2

Esta lagrangeana contém como campos auxiliares as funções Fa (x) e

η A (x), que aparecem nas combinações


µ ¶∗ µ ¶
∗ ∂f ∗ ∂f
LF = Fa Fa + Fa + Fa (96)
∂ϕa ∂ϕa
e
Lη = η A η A − 2ξ A η A + 2ϕ∗a (tA )ab ϕb η A . (97)
Aplicando a equação de Euler-Lagrange, resultam
µ ¶∗
∂f
Fa = − (98)
∂ϕa
e
η A = ξ A − (tA )bc ϕ∗b ϕc (99)
que, substituídos em (96) e (97) levam a
X µ ∂f ¶∗ µ ∂f ¶
LF = − (100)
a
∂ϕa ∂ϕa

e
X X £ ¡ ¢ ¤
Lη = − ηAηA = − [ξ A − (tA )bc ϕ∗b ϕc ] ξ A − tA de ϕ∗d ϕe , (101)
A A

92
que constituem os termos do potencial, definido como
X µ ∂f ¶∗ µ ∂f ¶ X £ ¡ ¢ ¤
V (ϕ) = + [ξ A − (tA )bc ϕ∗b ϕc ] ξ A − tA de ϕ∗d ϕe .
a
∂ϕa ∂ϕa A
(102)
Definindo o termo de massa dos férmions,
µ 2 ¶∗ µ 2 ¶
∂ f (1 + γ 5 ) ∂ f (1 − γ 5 )
Mab = − − (103)
∂ϕa ∂ϕb 2 ∂ϕa ∂ϕb 2

e, fazendo as devidas substituições, a lagrangeana (95) fica


h¡ ¢ i£ ¤
L = ∂µ − it∗A AA ϕ∗
µ ab b (∂ µ + itB AµB )ac ϕc +
∙µ ¶ ¸
i a B (1 − γ 5 )
+ ψ γµ ∂µ + itB Aµ ψb +
2 2 ab

i ¡ ¢ B 1 A µν
+ λA γ µ ∂µ + fC AC
µ AB λ − Fµν FA +
2 4
A £ ∗ b ¤ 1 a
−2 (tA )ba λ ϕa ψ− + ψ∗a b
− ϕb + ψ Mab ψ − V (ϕ) . (104)
2

93
6 Modelo SU(3) × SU(2) × U(1)9,10
Considerar-se-á nesta secção a extensão supersimétrica do modelo SU(3) ×
SU (2) × U(1) que, embora não seja fenomenologicamente adequado, serve
para ilustrar os problemas e as dificuldades inerentes aos modelos super-
simétricos.
Como a supersimetria não é uma lei natural da natureza no universo
atual, uma das primeiras providências que se tem em mente é justamente
quebrá-la, de preferência pelos mecanismos de quebra espontânea. Neste
modelo descrito por S. Weinberg, sugere-se que a supersimetria sobreviva
até uma escala de energia ordinária, da ordem de 300GeV , o que poderia
ajudar a superar o problema da hierarquia presente nas teorias de gauge
atuais. Também trará importantes consequências fenomenológicas, por ser
acessível à experimentação.
O modelo mínimo contém os quarks e os léptons usuais como componentes
fermiônicos de um conjunto de super-campos chirais, que estão relacionados
na tabela a seguir, juntamente com a representação dentro dos grupos SU(3),
SU (2) e U(1). Somente os quarks são coloridos, tripletos de SU (3); as com-
ponentes de mão esquerda são dupletos de SU(2), e as componentes de mão
direita singletos de SU (2).
Abaixo segue uma tabela contendo os super-campos e as partículas con-
tidos no modelo:

Super-campos e partículas contidos no modelo.

Por quarks e léptons considera-se as famílias


µ ¶ µ ¶ µ ¶
u c t
, ,
d s b
para os quarks (carga 2/3 na linha superior e −1/3 na inferior) e
µ ¶ µ ¶ µ ¶
νe νµ ντ
, ,
e µ τ

94
para os léptons, cujos membros ou gerações devem ser convenientemente
somados.
A lagrangeana supersimétrica completa é dada em (5.104) da secção an-
terior,
h¡ ¢ i£ ¤
L = ∂µ − it∗A AA ϕ∗
µ ab b (∂ µ + itB AµB )ac ϕc +
∙µ ¶ ¸
i a B (1 − γ 5 )
+ ψ γµ ∂µ + itB Aµ ψb +
2 2 ab

i ¡ ¢ B 1 A µν
+ λA γ µ ∂µ + fC AC
µ AB λ − Fµν FA +
2 4
A £ ∗ b ¤ 1 a
−2 (tA )ba λ ϕa ψ− + ψ∗a
− ϕb + ψ Mab ψb − V (ϕ) , (5.104)
2
onde
µ ¶∗ µ ¶
∂2f (1 + γ 5 ) ∂2f (1 − γ 5 )
Mab = − − (5.103)
∂ϕa ∂ϕb 2 ∂ϕa ∂ϕb 2
é o termo de massa dos férmions é
X µ ∂f ¶∗ µ ∂f ¶ X £ ¡ ¢ ¤
V (ϕ) = + [ξ A − (tA )bc ϕ∗b ϕc ] ξ A − tA de ϕ∗d ϕe
a
∂ϕa ∂ϕa A
(5.102)
o potencial definido pelos campos escalares.
Na realidade, Mab e V (ϕ) são funções de ϕa e ϕ∗a , e f = f (ϕa ) é a parte
escalar do super-potencial f (φa ) construído como função somente dos super-
campos chirais negativos (secção 4). A expressão do potencial, explicitados
os geradores FA = λA /2 de SU(3), σ i /2 de SU(2) e Y se U(1) fica
µ ¶∗ µ ¶
∂f ∂f
V (ϕ) = +
∂ϕa,α ∂ϕa,α
∙ ¸" ¡ A¢ #
(λA )bc ∗ λ
+ ξA − ϕb,α ϕc,α ξ A − de ∗
ϕd,β ϕe,β +
2 2
∙ ¸∙ ¸
0
(σ i )αβ ∗ 0i
(σ i )γδ ∗
+ ξi − ϕb,α ϕb,β ξ − ϕd,γ ϕd,δ +
2 2
£ ¤£ ¡ ¢ ¤
+ ξ 00 − Yϕ ϕ∗b,α ϕb,α ξ A − tA de ϕ∗d,β ϕd,β , (1)
onde a, b, c, · · · (variando de 1 a 3) e A (variando de 1 a 8) são índices de
SU (3), e α, β, γ, · · · (variando de 1 a 2) e i (variando de 1 a 3) são índices
de SU (2).

95
Os seguintes produtos conservam a hipercarga de U (1):
⎧ α β ∗

⎪ LL LL ER



Qa,α ∗b β
L DR LL
.




⎩ ∗a ∗b ∗c
UR DR DR

Para tornar invariantes por SU (3) e SU(2), deve-se contrair os índices ade-
quadamente a fim de resultar em singletos nos dois grupos,
⎧ α 0β ∗

⎪ αβ LL LL ER



a,α ∗b β
αβ QL DR LL ,




⎩ abc ∗a ∗b 0∗c
UR DR DR
as linhas indicando gerações diferentes. O super-potencial é a combinação
linear dos três termos invariantes acima,
α 0β ∗ a,α ∗b β abc
f (φ) = a1 αβ LL LL ER + a2 αβ QL DR LL + a3 UR∗a DR
∗b 0∗c
DR , (2)

a parte significativa sendo somente a parte dos campos escalares,


α 0β ∗ a,α ∗b β abc
f (φ) = a1 αβ LL LL ER + a2 αβ QL DR LL + a3 UR∗a DR
∗b 0∗c
DR , (3)

que entra na construção de V (ϕ) e Mab . Os únicos campos escalares neu-


tros disponíveis para quebrar a simetria SU(2) × U (1) são os companheiros
escalares dos neutrinos, NL , aos quais pode-se associar valores esperados no
vácuo não nulos,

hNL i0 6= 0. (4)
Assim, calculadas no vácuo, todas as derivadas primeiras do super-potencial
são identicamente nulas, µ ¶
∂f
≡0. (5)
∂ϕa
Derivadas de segunda ordem não nulas são
µ ¶ D E
∂2f
= a1 αβ L0β
L = a1 α1 hNL0 i0 (6)
∂LαL ∂ER∗ 0 0

e µ ¶ D E
∂2f
a,α ∗a
= a2 αβ LβL = a2 α1 hNL i0 , (7)
∂QL ∂DR 0 0

96
as quais definem as massas dos férmions.
Derivadas de terceira ordem não nulas são
à !
∂ 3f
= a1 αβ , (8)
∂LαL ∂L0β ∗
L ∂ER 0

à !
∂3f
= a2 αβ (9)
∂Qa,α ∗a
L ∂DR ∂LL
β
0
e µ ¶
∂3f abc
= a3 , (10)
∂UR∗a ∂DR∗a 0∗c
∂DR 0
que definem os acoplamentos de Yukawa.
Fazendo a expansão de Mab ao redor do ponto de mínimo

hϕi0 = (0, 0, · · · , hNL i0 , · · · , 0) (11)

e redefinindo os campos
ϕa − hϕa i0 −→ ϕa (12)
resulta exatamente
µ ¶ µ ¶
∂Mab ∂Mab
Mab = (Mab )0 + ϕc + ϕ∗c , (13)
∂ϕc 0 ∂ϕ∗c 0

aparecendo dentro da lagrangeana como


∙µ ¶ µ ¶ ¸
1 a b 1 a b 1 a ∂Mab ∂Mab
ψ Mab ψ = (Mab )0 ψ ψ + ψ ϕc + ∗
ϕc ψb .

2 2 2 ∂ϕc 0 ∂ϕc 0

Assim,
1 a
LMψ = ψ Mab ψb (14)
2
define as massas dos férmions e
∙µ ¶ µ ¶ ¸
1 a ∂Mab ∂Mab
LY uk = ψ ϕ + ϕ ψb

(15)
2 ∂ϕc 0 c ∂ϕ∗c 0 c

os acoplamentos de Yukawa.
Em (6-14),
µ ¶
∂2f (1 − γ 5 )
(Mab )0 = − + c.c.
∂ϕa ∂ϕb 0 2

97
(c.c. indica complexo conjugado), cujos termos não nulos são
µ ¶
∂2f (1 − γ 5 )
(M α e∗ )0 = − α ∗
+ c.c.
∂LL ∂ER 0 2
D E
= −a1 αβ L0β L = −a1 α1 hNL0 i0 (16)
0

e
µ ¶
∂ 2f (1 − γ 5 )
(Mqa,α d∗,a )0 = − a,α ∗a
+ c.c.
∂QL ∂DR 0 2

= −a2 α1 hNL i0 (17)

ou, mais precisamente,

(Mee∗ )0 = a1 hNLµ + NLτ i0 (18)

e
(Mda d∗,a )0 = a2 hNLe + NLe + NLµ + NLτ i0 (19)
que aparecem na lagrangeana como
1 1
LMψ = Mee∗ ψe ψe∗ + Me∗ e ψe∗ ψe + (e −→ µ, τ ) +
2 2
1 1
+ Mdd∗ ψd ψd∗ + Md∗ d ψd∗ ψd + (d −→ s, b) .
2 2
Veja que ψa são espinores de Majorana, por construção. Por exemplo,

ψe = eL + e∗L

e
ψe∗ = e∗R + eR ,
que não representam as funções de onda dos elétrons ou pósitrons. No en-
tanto,

ψe ψe∗ + ψe∗ ψe = (eL + e∗L ) (e∗R + eR ) + (e∗R + eR ) (eL + e∗L )

= eL eR + e∗L e∗R + e∗R eL + eR e∗L = ee + e∗ e∗

onde ⎧
⎨ e = eR + eL
(20)
⎩ ∗
e = e∗R + e∗L

98
representam os elétrons e os pósitrons e, portanto,
1 1
LMψ = Mee∗ ee + Me∗ e e∗ e∗ + (e −→ µ, τ ) +
2 2
1 1 ∗
+ Mdd∗ dd + Md∗ d d d∗ + (d −→ s, b) , (21)
2 2
a massa dos elétrons sendo Mee∗ = Me∗ e e a massa dos quarks d, Mdd∗ = Md∗ d .
Os neutrinos e os quarks u continuam sem massa.
Quanto aos acoplamentos de Yukawa,
∙µ ¶ µ ¶ ¸
1 a ∂Mab ∂Mab
LY uk = ψ ϕc + ∗
ϕc ψb

2 ∂ϕc 0 ∂ϕc 0
∙µ ¶ µ ¶∗ ¸
1 a ∂3f (1 − γ 5 ) ∂3f (1 + γ 5 ) ∗ b
= − ψ ϕc + ϕc ψ
2 ∂ϕa ∂ϕb ∂ϕc 0 2 ∂ϕa ∂ϕb ∂ϕc 0 2
X a ∙µ ∂ 3f

(1 − γ 5 )
¸
= − ψ ϕc + c.c. ψb
a≥b
∂ϕ a ∂ϕ b ∂ϕc 0 2

Utilizando as derivadas (8-10),


∙ ¸
α ∗ (1 − γ 5 ) (1 + γ 5 ) 0β
LY uk = −a1 αβ ER + ER +
2 2
∙ ¸
0
β α (1 − γ 5 ) α∗ (1 + γ 5 )
−a1 αβ LL + LL e+
2 2
∙ ¸
α 0β (1 − γ 5 ) 0β∗ (1 + γ 5 )
−a1 αβ LL + LL e+
2 2
∙ ¸
a,α ∗a (1 − γ 5 ) a (1 + γ 5 ) β
−a2 αβ q DR + DR +
2 2
∙ ¸
∗a a,α (1 − γ 5 ) ∗a,α (1 + γ 5 ) β
−a2 αβ d QL + QL +
2 2
∙ ¸
a,α β (1 − γ 5 ) ∗β (1 + γ 5 )
−a2 αβ q LL + LL da +
2 2
∙ ¸
abc ∗b ∗c (1 − γ 5 ) a (1 + γ 5 )
−a3 u DR + DR d0∗a +
2 2
∙ ¸
abc ∗c ∗b (1 − γ 5 ) b (1 + γ 5 )
−a3 d UR + UR d0∗a +
2 2
∙ ¸
abc 0 ∗c ∗a (1 − γ 5 ) a (1 + γ 5 )
−a3 d DR + DR d0∗b
2 2

99
ou, de forma mais concisa,
h ∗α ∗ α ∗
i
LY uk = −a1 αβ L ER∗ 0β
+ 0
L LL eR +
h a
i
β
−a2 αβ q ∗a,α DR
∗a
L + dR Qa,α
L L
β
+ qL ∗a,α
LβL d∗a
R +
h a
i
abc
−a3 ubR DR
∗c 0∗a
dR + dcR UR∗b d0∗a
R + d0 D ∗c u∗b + c.c. .
R R R

Explicitando as componentes de SU(2), a lagrangeana acima contém in-


terações lépton-lépton,
h ∗α ∗ α ∗
i
∗ 0β 0
L , = −a1 αβ L ER + L LL eR + c.c. , (22)

cujos acoplamentos estão especificados na tabela abaixo,

ν ∗L ER∗ e0L ν L ER e0∗ L


e∗L ER∗ ν 0L eL ER e0∗ L
e0∗
L NL eR
0∗
e0L NL e0R
ν 0∗
L ER eR

ν 0L EL∗ eR
ν ∗L ER0 e∗R ν ∗L EL0∗ eR
e∗L NL0 e∗R e∗L NL0∗ eR
A figura (1) ilustra o diagrama de Feynman correspondente aos acopla-
mentos da equação (22) onde, usando como exemplo o primeiro termo da
tabela acima, L1 = ν ∗L é alinha do anti-férmion, L2 = e0L a linha do férmion
e L = ER∗ a linha do bóson escalar.

Figure 1: Diagrama de Feynman dos acoplamentos das equações (4.22) e


(4.23).

100
A componente seguinte da lagrangeana contém interações lépton-quark,

h a
i
β
Lq, = −a2 αβ q
∗a,α ∗a
DR L + dR Qa,α
L
β
L + qL ∗a,α LβL d∗a
R + c.c. , (23)

cujos acoplamentos estão listados na tabela a seguir:


u∗a ∗a
L DR eL uaL DRa ∗
eL
∗a ∗a a a ∗
dL DR ν L dL DR ν L
a ∗a
dR URa eL dR UR∗a e∗L
a ∗a
dR DLa ν L dR DL∗a ν ∗L
u∗a
L EL dR
∗a
uaL EL∗ daR
∗a a
dL NL d∗aR dL NL∗ daR
Usando a mesma figura (1) e tomando como exemplo o primeiro acopla-
mento, L1 = u∗a L é a linha dos anti-quarks, L2 = eL a linha do lépton e
∗a
L = DR a linha dos bósons escalares.
Finalmente, o termo
h a
i
Lq,q = −a3 abc ubR DR
∗c 0∗a
dR + dcR UR∗b d0∗a
R + d0 D ∗c u∗b + c.c.
R R R (24)

contem as interações quark-antiquark, detalhadas na tabela seguinte.


ubR DR
∗c 0∗a
dR u∗b c 0a
R DR dR
c ∗b 0∗a ∗c b 0a
dR UR dR dR DR dR
0a ∗c ∗b 0∗a c b
dR DR uR dR DR uR

No diagrama de Feymann representado pela figura (1) tendo o primeiro


acoplamento como exemplo, L1 = ubR é a linha dos anti-quarks, L2 = d0∗a R a
∗c
linha do lépton e L = DR a linha dos bósons escalares.
As interações (23) e (24), que envolvem quarks e léptons, possibilitam o
a
decaimento dos prótons através da troca dos bósons escalares DR , ilustrados
no diagrama de Feynman da figura (2).
Por exemplo, no decaimento
p −→ π 0 (ρ0 ) + e+ ,

o próton, representado por L1 = dR , L2 = uR e L5 = uR decai para o
méson π 0 representado por L3 = u∗L e L6 = uR mais o pósitron L4 = eL ,
0
intermediado pelo bóson escalar L = DR , lembrando que a direção das setas
das linhas de férmions indicam se representam férmions (seta para a direita)
ou anti-férmions (seta para a esquerda). A outra possibilidade é a reação
p −→ π + (ρ+ ) + ν L ,

101
Figure 2: Diagrama de Feynman representando decaimentos de prótons.


representado por L1 = dR , L2 = uR e L5 = uR decaindo para o méson

π + (L3 = dL e L6 = uR ) mais o neutrino L4 = ν L , intermediado pelo
0
bóson escalar L = DR . Estas reações de primeira ordem, intermediadas pelos
escalares companheiros super-simétricos dos quarks, com escala de massa da
ordem de . 300GeV , são catastróficas.
Tem pelo menos três pontos incorretos neste modelo:

1. Os quarks u (carga 2/3) permanecem sem massa.

2. Os números bariônico B e leptônico L não são conservados, causando,


em particular, um decaimento a nível catastrófico dos prótons. A con-
servação dos números bariônicos e leptônico B − L poderia ser imposta
a mão, eliminando as interações indesejáveis, mas atualmente deseja-
se que tal conservação seja consequência de uma lei de simetria mais
ampla.

3. Após a quebra da supersimetria e de SU (2) × U(1), no modelo so-


brevivem os escalares leves, garantidos pelo teorema de Dimopoulos e
Georgi. Este teorema mostra que em qualquer modelo supersimétrico
com o grupo de gauge SU(3) × SU(2) × U(1) onde somente os quarks
e glúons são coloridos, após a quebra espontânea de supersimetria e de
SU(2) × U(1), permanece ao menos um escalar mais leve que o mais
leve dos quarks d ou u.

102
Os quarks u podem ser tornados massivos introduzindo um super-campo
de Higgs HL , de chiralidade negativa, singleto SU(3), dupleto SU(2) e hiper-
carga Y = 1/2.
A conservação de B − L é obtida introduzindo uma simetria discreta,
invariança pela troca de sinal de todos os super-campos dos quarks e léptons.
Isto elimina as três interações anteriores, equação (2), e portanto torna-se
necessário um outro super-campos de Higgs HL0 , singleto SU(3), dupleto de
SU (2) e hipercarga Y = −1/2, para gerar as massas dos quarka d. Os
super-campos HL e HL0 são considerados pares pela simetria discreta acima
definida, isto é, quando todos os super-campos dos quarks e léptons mudam
de sinal, os super-campos de Higgs mantêm o mesmo sinal.
Os produtos invariantes são
α 0β
αβ HL HL

α β ∗
αβ HL LL ER

α αβ ∗a
αβ HL QL DR

0α αβ ∗a
αβ HL QL UR

resultando o super-potencial
α 0β α β ∗ α αβ ∗a
f (ϕ) = a1 αβ HL HL + a2 αβ HL LL ER + a3 αβ HL QL DR +

0α αβ ∗a
+a4 αβ HL QL UR . (25)

As massas dos férmions, dadas por


µ 2 ¶
∂ f (1 − γ 5 )
(Mab )0 = − + c.c. (26)
∂ϕa ∂ϕb 0 2

resultam

(M β c∗ )0 ∼ hNL i0

¡ ¢ 1β
­ 0®
Mqαβ d∗a 0 ∼ YL 0

¡ ¢ 2β
Mqαβ u∗a 0 ∼ hUL0 i0 (27)

103
correspondentes às massas dos férmions (e, µ, τ ), os quarks d (d, s, b) e os
quarks u (u, c, t), cujos valores numéricos devem ser ajustados fenomeno-
logicamente. Os neutrinos permanecem sem massa.
Os números B e L são automaticamente conservados, associando-se B =
L = 0 para os super-campos de Higgs, de modo que, pelo menos em primeira
ordem o modelo está protegido do decaimento dos prótons.
Resta o problema dos escalares leves, que somente pode ser resolvido à
mão impondo uma quebra explícita de supesimetria.
Decaimentos de pròtons podem ocorrer em processos de ordem mais alta,
associados a interações efetivas que não conservem B e L. Interações efetivas
de mais baica ordem, e portanto menos suprimidas, são as de dimensão 5,
correspondentes aos termos não renormalizáveis do super-potencial, a saber

L0L L0L HL0 HL0 B = 0, L = 2

QL QL UR∗ DR

B = L=0

QL UR∗ LL ER∗ B = L=0

QL QL QL LL B = 3, L = 1

UR∗ UR∗ DR
∗ ∗
ER B = −3, L = −1

O primeiro não conserva o número leptônico L e os dois últimos não


conservam B e L. As constantes de acoplamento destas interações são da
ordem de
∼ f 2 /M ,
onde f e M são, respectivamente, a constante de acoplamento e a massa
típica das partículas super-pesadas (de Higgs ou de Gauge) do modelo. Na
análise de S. Weinberg9 , a supressão por M −1 das reações promovidas por
estas interações não é suficiente para inibir os decaimentos dos prótons a um
nível aceitável.
Dimopoulos e Georgi10 embebem o mesmo modelo numa simetria mais
alta SU(5), com escala de massa da ordem de 1017 GeV , mesmo assim re-
sultando a vida média do próton da ordem de 1028 anos. S. Weinberg
faz a supressão da violação de B e L através de um grupo mais amplo,
SU (3) × SU (2) × U(1) × G, e onde este grupo adicional Ge pode ser um outro
U(1) associado a um número quântico adicional Ye .

104
Bibliografia

1. P. Ramond: Field Theoriy - A Modern Premier, Beenjamin/Cumming


(1981).

2. S. S. Schweber: An Introdution to Relativistic Quantum Field Theory,


Row, Peterson and Company (1961).

3. A. Messiah: Mécanique Quantique, vol. II, ed. Dunod (1964).

4. L. Corwin, Y. Ne’eman and S. Sternberg: Rev. of Mod. Phys. 47, 573


(1973).

5. A. Salam and J. Strathdee: Phys. Rev. D11, 1921 (1975).

6. Idem, Fortschritte der Physik 26 (1978) 57.

7. S. Weinberg: Course on Supersymmetry, manuscrito.

8. P. Fayet and S. Ferrara, Phys. Rep. 32, 249 (1977).

9. S. Weinberg: Phys. Rev. D26, 287 (1982).

10. S. Dimopoulos and H. Georgi: Nucl. Phys. B193, 150 (1981).

11. C. Itzykson and J. B. Zuber: Quantum Field Theory, McGraw-Hill


(1980).

12. F. A. Berezin: The Method of Second Quantization, Academic Press


(1966).

13. E. L. Hill: Rev. Mod. Phys. 23, 253 (1951).

105
106
SUPERSIMETRIA
Introdução pelo formalismo dos super-campos

APÊNDICES

107
1 Métrica
As coordenadas do espaço-tempo são dadas por
¡ ¢ ¡ ¢
(xµ ) = x0 , xi = x0 , x1 , x2 , x3 ,

onde x0 = ct é a coordenada temporal e xi para (i = 1, 2 e 3) são as co-


ordenadas espaciais. Será adotado o sistema de unidades naturais para as
constantes de Planck e a velocidade da luz,

~=1ec=1,

e a convenção de soma ou contração dos índices duplos.


A transformação de Poincaré

x0µ = Λµ ν xν + aν

mantém a métrica invariante,

s2 = xµ xµ = x0µ x0µ ,

onde
xµ = gµν xν ,
o tensor métrico definido pela matriz
⎛ ⎞
1 0 0 0
⎜ 0 −1 0 0 ⎟
gµν = g µυ = ⎜
⎝ 0
⎟ , (A1-1)
0 −1 0 ⎠
0 0 0 −1
isto é, ⎧ 00
⎨ g =1
g ii = −1 (i = 1, 2, 3) . (A1-2)
⎩ µυ
g = 0 para µ 6= ν
O tensor métrico é utilizado para transformar um vetor contra-variante Aµ
num vetor covariante Aµ e vice-versa,

Aµ = gµν Aν (A1-3)

e
Aµ = gµν Aν . (A1-4)
Veja que ½
ν µ 1 se µ = ν
gµ =g ν = δ µν = . (A1-5)
0 se µ 6= ν

108
Como no caso da métrica, define-se os produtos escalares de dois quadri-
vetores

AB = Aµ B µ = Aµ Bµ = gµν Aµ B ν = A0 B 0 − Ai B i . (A1-6)

Por convenção usual, índices repetidos indicam somatória, índices gregos em


geral indicando espaço-tempo e índices latinos as componentes espaciais.
Para as derivadas, usa-se a notação curta
∂ µ ∂
∂µ = e ∂ = = gµν ∂ν , (A!-7)
∂xµ ∂xµ

e o operador d’alambertiano fica

¤2 = ∂ µ ∂µ = ∂02 − O2 , (A1-8)

onde O é o operador gradiente usual,



Oi = = ∂i = (grad)i . (A1-9)
∂xi
Em situações que não causem confusão, usa-se igualmente

¤2 = ∂ µ ∂µ = ∂ 2 . (A1-10)

O operador quadri-momento é definido por


¡ ¢
P µ = i∂ µ = i∂ 0 , −i∂ i . (A1-11)

Produtos contraídos de matrizes γ µ de Dirac com vetores Aµ indica-se


como
γ µ Aµ = (γA) . (A1-12)
Como as matrizes de Dirac obedecem à relação de anti-comutação

{γ µ , γ ν } = 2g µν ,

então
1 µ ν
(γA) (γA) = γ µ Aµ γ ν Aν = {γ , γ } Aµ Aν = g µν Aµ Aν = Aµ Aµ (A1-13)
2
e, em especial,

(γ∂) (γ∂) = γ µ ∂µ γ ν ∂ν = g µν ∂µ ∂ν = ∂µ ∂ µ = ∂ 2 = ¤2 . (A1-14)

109
2 Matrizes de Dirac[2,3,11]
As matrizes γ µ de Dirac, presentes na equação de Dirac,

(iγ µ ∂µ − m) ψ = 0 (A2-1)

devem satisfazer à relação de anti-comutação

{γ µ , γ ν } = γ µ γ ν + γ ν γ µ = 2g µν , (A2-2)

onde g µν é o tensor métrico definido no aêndice A1. Neste caso, assume-se


γ 0 hermitiano e γ i (i = 1, 2 e 3) anti-hermitianos,
¡ 0 ¢† ¡ ¢†
γ = γ0 e γi = γi (A2-3)

respectivamente. As representações irredutíveis são matrizes 4×4, as diversas


representações ligadas por transformações de similaridade,

eµ = U γ µ U † ,
γ (A2-4)

onde U é uma matriz unitária.


Por uma transformação de Lorentz

x0µ = Λµ ν xν ,

transforma-se como

S(Λ)γ µ S −1 (Λ) = (Λ−1 )µ ν γ ν , (A2-5)

que define a transformação do espinor ψ(x) da equação de Dirac,

ψ0 (x0 ) = S(Λ)ψ(x) , (A2-6)

para µ ¶
i µν
S(Λ) = exp − ω µν σ , (A2-7)
4
onde ωµν = −ω νµ são os parâmetros da transformação de Lorentz e
i µ ν
σ µν = [γ , γ ] . (A2-8)
2
Veja que
¡ 0i ¢†
σ = −σ 0i = −iγ 0 γ i
e
¡ ij ¢†
. σ = σ ij = iγ i γ j . (A2-9)

110
Uma outra combinação útil é

γ 5 = γ 5 = iγ 0 γ 1 γ 2 γ 3 , (A2-10)

com as propriedades
¡ 5 ¢† ¡ ¢2
γ = γ5 e γ5 = 1 (A2-11)
além das relações de anti-comutação
© 5 µª
γ ,γ = 0 (A2-12)

e © 5 µν ª
γ ,σ =0. (A2-13)
Envolvendo σ µν ainda tem as relações de comutação

[γ µ , σ ηχ ] = 2i (gµη γ χ − gµχ γ η ) (A2-14)

e
[σµν , σ ηχ ] = −2i (g νχ σ ηµ + g µχ σ νη + gνη σ µχ + g µη σ χν ) (A2-15)
obtidas a partir da relação básica (A2-2), com o auxílio eventual das identi-
dades
{AB, C} = A {B, C} − [A, C] B
e
[AB, C] = A {B, C} − {A, C} B .
Tem ainda as igualdades


⎪ γ 0 γ µ γ 0 = (γ µ )†






⎪ †
⎨ γ 0 γ 5 γ 0 = − (γ 5 ) = −γ 5
. (A2-16)

⎪ †

⎪ γ 0 γ µ γ 5 γ 0 = − (γ 5 γ µ )





⎩ 0 µν 0
γ σ γ = (σ µν )†

Para o espinor de Dirac ψ, define-se o seu adjunto

ψ = ψ† γ 0 (A2-17)

e a conjugação de carga
T
ψC = Cψ , (A2-18)

111
onde C é a matriz de conjugação de carga que deve satisfazer às relações


⎪ Cγ µ C −1 = −γ Tµ





⎪ −1 T
⎨ Cγ 5 C = −γ 5
. (A2-19)

⎪ −1
Cσ µν C = −σ µν T





⎪ ¡ ¢T

Cγ 5 γ µ C −1 = γ 5 γ µ

A matriz C naturalmente depende da representação das matrizes de Dirac.


Com o auxílio das matrizes de Pauli
µ ¶ µ ¶ µ ¶
1 0 1 2 0 −i 3 1 0
σ = , σ = eσ = (A2-20)
1 0 i 0 0 −1

serão construídas as três representações mais usadas das matrizes de Dirac.

2.1 Representação de Dirac


É a representação genérica usada na maioria dos casos, tanto na mecânica
quântica relativística como na teoria quântica dos campos.

µ ¶
0 I 0
γ = β=
0 I
µ ¶
0 σi
γi = i
βα =
−σ i 0
µ ¶
0 I
γ5 =
I 0
µ ¶
2 0 0 σ2
C = iγ γ = −i
σ2 0

C T = C † = −C; CC † = C † C = 1; C 2 = 1 (A2-21)

2.2 Representação chiral


A representação chiral ou de Weyl é muito útil para clarificar as relações
existentes entre os espinores de Dirac com as suas projeções chirais e os
espinores de Weyl [1].

112
µ ¶
0 0 I
γ = β=
I 0
µ ¶
0 −σ i
γi = i
βα =
σi 0
µ ¶
I 0
γ5 =
0 −I
µ ¶
−σ 2 0
C =
0 σ2

C T = C † = −C; CC † = C † C = 1; C 2 = 1 (A2-22)
A ligação com a representação de Dirac faz-se usando a matriz
µ ¶
1 I −I
U=√ (A2-23)
2 I I
através da operação matricial
γ µchiral = Uγ µDirac U † . (A2-24)
As representações do grupo de Lorentz são indicados pelos pares (n, m),
o spin dado pela soma n + m. Em especial, para spin 1/2, tem-se as repre-
sentações µ ¶ µ ¶
1 1
,0 e 0, ,
2 2
que identificam os espinores de mão esquerda e direita, respectivamente ψL (x)
e ψR (x). Estas representações não tem paridade definida, por reflexão espa-
cial transformando-se uma na outra. São denominados espinores de Weyl,
e contém cada um duas componentes complexas. É comum, na literatura,
indicar as componentes do espinor de mão direita por um índice simples,
(ψR )α = ψα (A2-25)
e por um índice pontuado as componentes do espinor de mão esquerda,
(ψL )α = ψα. , (A2-26)
.
α e α variando de 1 a 2. Pela transformação de Lorentz, os espinores de Weyl
transformam-se pelo grupo SU (2),
ψ0L (x0 ) = SL ψL (x)
e
0 0
ψR (x ) = SR ψR (x) (A2-27)

113
para
SL = e− 2 σ (ω +iv )
i j j j
(A2-28)
e
SR = e− 2 σ (ω −iv )
i j j j
(A2-29)
onde σ j são as matrizes de Pauli,
1
J i = − σ i (i = 1, 2, 3) (A2-30)
2
os geradores de rotação espacial e
i
K i = σi (A2-31)
2
os geradores das transformações especiais de Lorentz nas três direções do
espaço.
Os espinores de Dirac transformam-se como na equação (A2-6), a matriz
de transformação (A2-7) podendo ser explicitada, usando as propriedades de
antissimetria, ω µν = −ω νµ e σ µν = −σ νµ , como
µ ¶ µ ¶
i µν i ij i 0i
S(Λ) = exp − ωµν σ = exp − ω ij σ − ω 0i σ (A2-32)
4 2 2

para os índices ordenados i < j, onde


i £ i j¤
σ ij = γ , γ = iγ i γ j
2
e
i £ 0 i¤
σ 0i = γ , γ = iγ 0 γ i
2
que, na representação chiral, assumem as formas
µ k ¶
ij ijk σ 0
σ =
0 σk
e µ ¶
0i σi 0
σ =i .
0 −σ i
Assim, o argumento da exponencial em (A2-32) fica
µ k ¶ µ i ¶
i ij i 0i i ijk σ 0 i iσ 0
− ω ij σ − ω 0i σ = − ω ij − ω 0i
2 2 2 0 σk 2 0 −iσ i

114
que, redefinindo os parâmetros

ωk = kij ω ij (A2-33)

das rotações espaciais e


vi = ω 0i (A2-34)
das transformações especiais de Lorentz, leva a
∙ µ k ¶ µ i ¶¸
i σ 0 i iσ 0
S(Λ) = exp − ωk − vi , (A2-35)
2 0 σk 2 0 −iσ i

sugerindo que o espinor ψ(x) pode ser decomposto em blocos,


µ ¶
ψR (x)
ψ(x) = , (A2-36)
ψL (x)
onde ψR e ψL são exatamente os espinores de Weyl, com as transformações
dadas pelas equações A2-27 - A2-29.
A operação de paridade é bem definida,
µ ¶ µ ¶
ψR P ψL
ψ(x) = −→ = γ0ψ . (A2-37)
ψL ψR
A decomposição chiral é realizada com o auxílio da matriz
µ ¶
5 0 1 2 3 I 0
γ = iγ γ γ γ = ,
0 −I
de modo que µ ¶
1¡ ¢ ψR
ψ+ (x) = 1 + γ 5 ψ(x) = (A2-38)
2 0
e µ ¶
1¡ ¢ 0
ψ− (x) = 1 − γ 5 ψ(x) = (A2-39)
2 ψL
e portanto
ψ(x) = ψ+ (x) + ψ− (x) . (A2-40)
O espinor adjunto fica
³ ´
ψ = ψ† γ 0 = ψ†L ψ†R (A2-41)

e a conjugação de carga,
µ ¶
C T −σ 2 ψ∗L
ψ = Cψ = . (A2-42)
σ 2 ψ∗R

115
A condição de Majorana ψC = ψ implica
−σ 2 ψ∗L = ψR e σ 2 ψ∗R = ψL ,
de modo que um espinor de Majorana deve ter as componentes
µ ¶
ψR
ψ(x) = (A2-43)
σ 2 ψ∗R
ou µ ¶
−σ 2 ψ∗L
ψ(x) = , (A2-44)
ψL
mostrando que os espinores de Majorana são equivalentes aos espinores de
Weyl.

2.3 Representação de Majorana


A representação de Majorana, que é utilizada neste texto, é construída de
modo que o operador de Dirac (iγ µ ∂µ − m), da equação de Dirac (A2-1), seja
real. O espinor ψ(x) é, em geral, uma função complexa.
As matrizes são
µ ¶ µ 3 ¶
0 0 σ2 1 σ 0
γ = γ =i
σ2 0 0 σ3
µ ¶ µ 1 ¶
2 0 −σ 2 3 σ 0
γ = γ = −i
σ2 0 0 σ1
µ 2 ¶
5 σ 0
γ = C = γ0 . (A2-45)
0 −σ 2
Todas são imaginárias,
(γ µ )∗ = γ µ
e
¡ 5 ¢∗
γ = −γ 5 (A2-46)
o que implica em
¡ 0 ¢T ¡ ¢T ¡ ¢T
γ = −γ 0 , γ i = γ i , γ 5 = −γ 5 , C T = −C. (A2-47)
A ligação com a representação de Dirac é feita através da matriz
µ ¶
∗ 1 1 σ2
U =U = √ 2 (A2-48)
2 σ −1
pela transformação
γ µMajorana + Uγ µDirac U † . (A2-49)

116
2.3.1 Espinores de Majorana
Os espinores de Majorana são definidos para satisfazerem à condição
T
ψC = Cψ = ψ (A2-50)

e tornam-se reais na representação de Majorana das matrizes γ µ de Dirac


pois
¡ ¢T
ψC = −γ 0 ψ† γ 0 = ψ∗ , (A2-51)
e portanto
ψC = ψ = ψ∗ .
Se ψ e χ forem espinores de Majorana, então, usando as propriedades de
simetria ou de anti-simetria das matrizes a seguir,
¡ 0 ¢T
γ = −γ 0

¡ 0 µ ¢T
γ γ = γ0γµ

¡ 0 5 ¢T
γ γ = −γ 0 γ 5

¡ 0 µ 5 ¢T
γ γ γ = −γ 0 γ µ γ 5

¡ 0 µν ¢T
γ σ = γ 0 σ µν , (A2-52)

pode-se estabelecer as seguintes relações, seguidamente utilizadas no texto,

ψχ = χψ

ψγ µ χ = −χγ µ ψ

ψγ 5 χ = χγ 5 ψ

ψγ µ γ 5 χ = χγ µ γ 5 ψ

ψσ µν χ = −χσ µν ψ (A2-53)

Em particular,
ψγ µ ψ = ψσ µν ψ = 0 . (A2-54)

117
Realmente, indicando por ΓA qualquer uma das combinações de matrizes
µ
γ envolvidas em (A2-53),
¡ ¢ ¡ ¢
ψΓA χ = ψα γ 0 ΓA αβ χβ = −χβ γ 0 ΓA αβ ψα ,

usando
¡ 0 A ¢ o fato de que ψα e χβ são anticomutantes, ψα χβ = −χβ ψα . Para
γ Γ simétrico (Γ = γ µ ou σ µν ), resulta
A

ψΓA χ = −χΓA ψ
¡ ¢
e para γ 0 ΓA antissimétrico (ΓA = 1, γ µ γ 5 ou γ 5 ),

ψΓA χ = χΓA ψ ,

justamente os resultados listados em (A2-53).


Um espinor de Majorana na representação de Majorana possui quatro
componentes reais, ⎛ ⎞
ψ1
⎜ ψ2 ⎟
ψ=⎜ ⎟
⎝ ψ3 ⎠ , (A2-55)
ψ4
o seu adjunto dado por
ψ = ψ† γ 0 = ψT γ 0 . (A2-56)
Como γ 5 não é diagonal nesta representação, as relações entre o espinor
ψ e as suas projeções chirais
1¡ ¢
ψ+ = 1 + γ5 ψ
2
e
1¡ ¢
ψ− = 1 − γ5 ψ
2
não tem a simplicidade como ocorre na representação chiral.
A seguir algumas das propriedades envolvendo as projeções chirais ψ+ e

118
ψ− de um espinor de Majorana ψ:
¡ ¢∗ 1¡ ¢
ψ+ = ψ∗+ = 1 − γ 5 ψ = ψ−
2
¡ ¢∗ 1¡ ¢
ψ− = ψ∗− = 1 + γ 5 ψ = ψ+
2
¡ ¢T 1 ¡ ¢
ψ+ = ψT+ = ψT 1 − γ 5
2
¡ ¢T 1 ¡ ¢
ψ− = ψT− = ψT 1 + γ 5
2
¡ ¢† 1 T¡ ¢
ψ+ = ψ 1 + γ 5 = ψT−
2
¡ ¢† 1 T¡ ¢
ψ− = ψ 1 − γ 5 = ψT+
2
¡ ¢ ¡ ¢† 1 ¡ ¢
ψ+ = ψ+ γ 0 = ψT− γ 0 = ψ 1 − γ 5
2
¡ ¢ ¡ ¢† 1 ¡ ¢
ψ− = ψ− γ 0 = ψT+ γ 0 = ψ 1 + γ 5 (A2-57)
2
Como a matriz γ 0 é imaginária, então
¡ ¢∗ ¡ † 0 ¢∗
ψ = ψγ = −ψ , (A2-58)

isto é, ψ é imaginário também. Assim


¡ ¢∗ ¡ 0 ¢∗ ¡ ¢ ¡ ¢
ψ+ = ψ∗T
− γ = − ψ− γ 0 = − ψ− ,
e
∗ ¡ 0 ¢∗ ¡ ¢
ψ− = ψ∗T+ γ = − ψ+ γ 0 = −ψ+ . (A2-59)

119
Envolvendo conjugação de carga,
¡ C¢
ψ = ψ∗T γ 0 = (ψ∗ ) = ψ

¡ ¢C ¡ ¢∗
ψ+ = ψ+ = ψ−

¡ ¢C ¡ ¢∗
ψ− = ψ− = ψ+

¡ ¢C ¡ ¢
ψ+ = ψ∗T 0 T 0
+ γ = ψ−γ = ψ−

¡ ¢C ¡ ¢
ψ− = ψT+ γ 0 = ψ+ . (A2-60)

As relações equivalentes a (A2-53) para as componentes chirais são:


¡ ¢ ¡ ¢
ψ+ χ− = χ+ ψ−

¡ ¢ ¡ ¢
ψ− χ+ = χ− ψ+

¡ ¢ µ ¡ ¢
ψ+ γ χ+ = − χ− γ µ ψ−

¡ ¢ µ ¡ ¢
ψ− γ χ− = − χ+ γ µ ψ+

¡ ¢ µν ¡ ¢
ψ+ σ χ− = − χ+ σ µν ψ−

¡ ¢ µν ¡ ¢
ψ− σ χ+ = − χ− σ µν ψ+

¡ ¢ µ 5 ¡ ¢
ψ+ γ γ χ+ = χ+ γ µ γ 5 ψ+

¡ ¢ µ 5 ¡ ¢
ψ− γ γ χ− = χ− γ µ γ 5 ψ−

¡ ¢ 5 ¡ ¢
ψ+ γ χ− = χ+ γ 5 ψ−

¡ ¢ 5 ¡ ¢
ψ− γ χ+ = χ− γ 5 ψ+ (A2-61)

Os produtos de componentes de chiralidades opostas são identicamente


nulos.

120
3 Identidade de Fierz[11]
Com as quatro matrizes γ µ de Dirac, que satisfazem a relação de anti-
comutação
{γ µ , γ ν } = 2g µν ,
pode-se construir uma base contendo contendo 4 × 4 = 16 matrizes linear-
mente independentes que serão denominados ΓA , para o índice A variando
de 1 a 16.
Uma base usual é
⎧ 1

⎪ Γ =1







⎪ Γ2 a Γ5 = γ 0 , γ 1 , γ 2 , γ 3



Γ6 a Γ11 = σ µν = 2i [γ µ , γ ν ] . (A3-1)







⎪ Γ12 a Γ15 = γ µ γ 5




⎩ 16
Γ = γ 5 = iγ 0 γ 1 γ 2 γ 3

Uma outra base é formada pelas matrizes ΓA tal que (sem soma em A)

ΓA ΓA = ΓA ΓA = 1 , (A3-2)

ou seja, ¡ ¢−1
ΓA = ΓA , (A3-3)
com propriedade ¡ ¢
tr ΓA ΓB = 4δ A B = 4δAB . (A3-4)
Os elementos desta base são


⎪ Γ1 = 1







⎪ Γ2 a Γ5 = γ 0 , γ 1 , γ 2 , γ 3


⎨ £ ¤
Γ6 a Γ11 = σ µν = 2i γ µ , γ ν . (A3-5)







⎪ Γ12 a Γ15 = γ 5 γ µ





Γ16 = γ 5 = γ 5
Note que
γ 0 = γ 0 e γ i = −γ i . (A3-6)

121
Qualquer matriz 4 × 4 pode ser expandida como

X
16
X= CA ΓA , (A3-7)
A=1

os coeficientes CA dados por


1
CA = tr (XΓA ) (A3-8)
4
e, portanto,
X
16
1
X= tr (XΓA ) ΓA . (A3-9)
A=1
4
Em termo das componentes, fica

1X X
16 4
¡ ¢
Xρσ = Xβα (ΓA )αβ ΓA ρσ ,
4 A=1 α,β=1

que leva à identidade de Fierz

1X
16
¡ ¢
(ΓA )αβ ΓA ρσ = δ ρβ δ ασ . (A3-10)
4 A=1

Com esta identidade pode-se estabelecer importantes relações envolvendo


produtos das coordenadas de Majorana θα , lembrando que

θγ µ θ = θσ µν θ = 0 (A3-11)

pois θ é um espinor de Majorana:

1o. )
θγ 5 θ.θ = −θθ.θγ 5 (A3-12)
Demonstração: escrita em componentes, fica
β ¡ ¢α β β ¡ ¢α ρ ¡ ¢α
θγ 5 θ.θ = θγ 5 θα θ = −θ θα θγ 5 = −θ δ ρβ δ ασ θσ θγ 5 .

Nesta forma, está preparada para inserir a identidade de Fierz,

1X ρ 1 X A ¡ 5 ¢β
16 16
5 β ¡ A ¢ σ ¡ 5 ¢α
θγ θ.θ = − θ (ΓA )αβ Γ ρσ θ θγ =− θΓ θ. θγ ΓA .
4 A=1 4 A=1

122
Explicitando a expansão nos elementos da base listados em (A3-1), excluindo
as componentes identicamente nulas (A3-11), fica
β 1 ¡ ¢β 1 β 1 ¡ ¢β
θγ 5 θ.θ = − θθ. θγ 5 − θγ 5 θ.θ − θγ ν γ 5 θ. θγ ν
4 4 4
ou, rearranjando os termos,
β ¡ ¢β ¡ ¢β
5θγ 5 θ.θ = −θθ. θγ 5 − θγ ν γ 5 θ. θγ ν .

Aplicando novamente o identidade de Fierz,

1X A ¡ ν 5
16
ν 5
¡ ¢β ¢β 1 ¡ ¢β
θγ γ θ. θγ ν = − θΓ θ. θγ γ ΓA γ ν = − θθ. θγ ν γ 5 γ ν +
4 A=1 4
1 ¡ ¢β 1 ¡ ¢β
− θγ 5 θ. θγ ν γ 5 γ 5 γ ν − θγ λ γ 5 θ. θγ ν γ 5 γ 5 γ λ γ ν .
4 4
Considerando as somatórias e as propriedades das matrizes de Dirac,
¡ ¢β ¡ ¢β ¡ ¢β 1 £ ¤β
θγ ν γ 5 θ. θγ ν = θθ. θγ 5 − θγ 5 θ. θ − θγ λ γ 5 θ. θγ ν (−γ ν γ λ + 2gλν ) ,
4
isto é,
¡ ¢β ¡ ¢β ¡ ¢β 1 ¡ ¢β
θγ ν γ 5 θ. θγ ν = θθ. θγ 5 − θγ 5 θ. θ + θγ λ γ 5 θ. θγ λ
2
que pode ser rearranjada para
1 ν 5 ¡ ¢β ¡ ¢β ¡ ¢β
θγ γ θ. θγ ν = θθ. θγ 5 − θγ 5 θ. θ
2
e substituída na equação iniciai,
β 1 ¡ ¢β 1 β 1 ¡ ¢β 1 ¡ ¢β
θγ 5 θ.θ = − θθ. θγ 5 − θγ 5 θ.θ − θθ. θγ 5 + θγ 5 θ. θ
4 4 2 2
β 1 β 1 ¡ ¢β 1 ¡ ¢β
⇒ θγ 5 θ.θ − θγ 5 θ.θ = − θθ. θγ 5 − θθ. θγ 5
4 4 2
que, após as simplificações finais leva ao resultado (A3-12),
β ¡ ¢β
θγ 5 θ.θ = −θθ. θγ 5

2o. )
θγ ν γ 5 θ.θ = −θθ.θγ ν γ 5 (A3-13)

123
Demonstração: como no caso anterior, aplicando a identidade de Fierz,
resulta

1 X A ¡ ν 5 ¢β
16
ν 5 β
θγ γ θ.θ = − θΓ θ. θγ γ ΓA
4 A=1
1 ¡ ¢β 1 ¡ ¢β 1 ¡ ¢β
= − θθ. θγ ν γ 5 − θγ 5 θ. θγ ν γ 5 γ 5 − θγ λ γ 5 θ. θγ ν γ 5 γ 5 γ λ
4 4 4
1 ¡ ¢β 1 ¡ ¢β 1 ¡ ¢β
= − θθ. θγ ν γ 5 + θθ. θγ 5 γ ν + θθ. θγ λ γ 5 γ ν γ λ
4 4 4
1 ¡ ¢β 1 ¡ ¢β
= − θθ. θγ ν γ 5 + θθ. θγ λ γ ν γ λ γ 5
2 4
1 ¡ ¢β 1 £¡ ¡ ¢ ¢¤β
= − θθ. θγ ν γ 5 + θθ. θ −γ ν γ λ + 2g λν γ λ γ 5
2 4
1 ¡ ¢β ¡ ¢β 1 ¡ ¢β
= − θθ. θγ ν γ 5 − θθ. θγ ν γ 5 + θθ. θγ ν γ 5
2 2
¡ ¢β
= −θθ. θγ ν γ 5 .

3o. ) ¡ ¢
θγ 5 θ.θ = −θθ. γ 5 θ (A3-14)
Demonstração: pode-se recorrer à primeira relação, equação (A3-12), lem-
brando que
T
θ = θT γ 0 =⇒ θ = −γ 0 θ .
Assim,
³ T ´β ¡ ¢
5 β
θγ θ.θ = −θγ θ. γ 0 θ
5
= −θγ 5 θ. γ 0 βη θη

¡ ¢ ¡ ¢ ¡ ¢ ¡ ¢
= θθ. θγ 5 η γ 0 βη = θθ.θχ γ 5 χη γ 0 βη
³ T
´ ³ T
´ ¡ ¢
= −θθ. γ 0 γ 5 θ = θθ. γ 5 γ 0 θ = −θθ. γ 5 θ β .
β β

4o. ) ¡ ¢
θγ ν γ 5 θ.θ = −θθ. γ ν γ 5 θ (A3-15)

124
Demonstração: é decorrência da segunda relação,
³ T ´β ¡ ¢
θγ ν γ 5 θ.θβ = −θγ ν γ 5 θ. γ 0 θ = −θγ ν γ 5 θ. γ 0 βη θη

¡ ¢ ¡ ¢ ¡ ¢ ¡ ¢
= θθ. θγ ν γ 5 η γ 0 βη = θθ.θχ γ ν γ 5 χη γ 0 βη

¡ ν 5 0¢ ³ ´
ν 5 0 T
= −θθ.θχ γ γ γ χβ = θθ. γ γ γ θ
β

¡ ¢
= −θθ. γ ν γ 5 θ β ,
onde se usou o fato de que o produto γ ν γ 5 γ 0 é anti-simétrico,
¡ ν 5 0 ¢T
γ γ γ = − γ ν γ 5γ 0 .
Reunindo os resultados:
⎧ 5

⎪ θγ θ.θ = −θθ.θγ 5






⎨ θγ ν γ 5 θ.θ = −θθ.θγ ν γ 5
.



⎪ θγ 5 θ.θ = −θθ. (γ 5 θ)




⎩ ν 5
θγ γ θ.θ = −θθ. (γ ν γ 5 θ)
Como consequências imediatas, surgem as seguintes identidades, que per-
mitem simplificar em muito os produtos envolvendo as coordenadas de Ma-
jorana θα :


⎪ θθ.θγ 5 θ = θγ 5 θ.θθ = −θθ.θγ 5 θ = 0







⎪ θθ.θγ ν γ 5 θ = θγ ν γ 5 θ.θθ = −θθ.θγ ν γ 5 θ = 0




θγ 5 θ.θγ ν γ 5 θ = θγ ν γ 5 θ.θγ 5 θ = θθ.θγ ν θ = 0 . (A3-16)



⎪ ¡ ¢2

⎪ 5 5

⎪ θγ θ.θγ θ = − θθ





⎩ µ 5 ¡ ¢2
θγ γ θ.θγ ν γ 5 θ = θθ gµν
A última igualdade pode ser demonstrada como segue:
θγ µ γ 5 θ.θγ ν γ 5 θ = −θθ.θγ µ γ 5 γ ν γ 5 θ = θθ.θγ µ γ ν θ

¡ ¢2
= θθ.θ (gµν − iσ µν ) θ = θθ g µν .

125
Uma outra igualdade interessante é

X
4
¡ µ 5 ¢ ¡ ¢ ¡ ¢2
θγ γ θ . θγ 5 γ µ θ = −4 θθ . (A3-17)
µ=0

Usando a identidade de Fierz, pode-se expandir os produtos de dois es-


pinores quaisquer como

1X
16
β σ
¡ ¢
ψαχ = ψρ δ ρα δ βσ χ = ψρ (ΓA )βα ΓA ρσ χσ
4 A=1

1 X ¡ A¢ 1X A
16 16
= ψρ Γ ρσ χσ (ΓA )αβ = ψΓ χ (ΓA )βα . (A3-18)
4 A=1 4 A=1

De maneira similar, pode-se obter

1X A ¡
16
¢
ψα χβ = ψρ δρα δ βσ χσ = ψΓ χ ΓA γ 0 βα . (A3-19)
4 A=1

Um outro produto comum é

θψ.θχ = θα ψα .θβ γ 0βη χη = −θα θβ ψα γ 0βη χη

1X A
16
= − θΓ θ (ΓA )αβ ψα γ 0βη χη
4 A=1

1X A T 0
16
= − θΓ θ.χ γ ΓA ψ . (A3-20)
4 A=1

Aqui, θα são as coordenadas de Majorana e se ψ e χ forem espinores de


Majorana,.

1X A 1X A
16 16
θψ.θχ = − θΓ θ.χΓA ψ = − θΓ θ.ψΓA χ . (A3-21)
4 A=1 4 A=1

126
4 Derivada Covariante5,6
Na secção 3, foram definidas as derivadas covariantes
∂ i
Dα = − (γ µ θ)α ∂µ (3.1)
∂θα 2
com as relações de anti-comutação
¡ ¢
{Dα , Dβ } = − γ µ C αβ P µ , (3.2)

componentes de um espinor de Majorana e invariantes por super-translações.


Usando as propriedades da matriz γ 5 = γ 5
1¡ ¢1¡ ¢ 1¡ ¢
1 ± γ5 1 ± γ5 = 1 ± γ5
2 2 2
e ¡ ¢¡ ¢ ¡ ¢¡ ¢
1 + γ5 1 − γ5 = 1 − γ5 1 + γ5 = 0 ,
pode-se obter as relações de anti-comutação envolvendo as componentes chi-
rais da derivadas covariantes diretamente da relação básica (3.2).
Assim,
n o ½ ¾
α β
(1 + γ 5 )αη (1 + γ 5 )βχ
D+ , D+ = Dη , Dχ
2 2
(1 + γ 5 )αη (1 + γ 5 )βχ
= {Dη , Dχ }
2 2
(1 + γ 5 )αη (1 + γ 5 )βχ ¡ ¢
= − γ µ C ηχ P µ
2 2
e, lembrando que a matriz transposta γ T5 = −γ 5 , resulta
n o ∙ ¸
α β (1 + γ 5 ) (1 − γ 5 )
D+ , D+ = − γ µC Pµ ,
2 2 αβ

isto é, n o
α β
D+ , D+ =0. (A4-1)
De maneira análoga, pode-se verificar que as componentes de mesma chi-
ralidade anti-comutam, n o
α β
D− , D− = 0 , (A4-2)

127
n β
o
α
D+ , D− = 0 (A4-3)
e n o
α β
D− , D+ = 0 . (A4-4)
A consequência imediata é que produtos de três ou mais elementos de mesma
chiralidade são identicamente nulos.
As relações de anti-comutação das componentes de chiralidades diferentes
ficam
n o ½ ¾
α β
(1 + γ 5 )αη (1 − γ 5 )βχ
D+ , D− = Dη , Dχ
2 2
(1 + γ 5 )αη (1 − γ 5 )βχ
= {Dη , Dχ }
2 2
∙ ¸αβ
(1 + γ 5 )αη ¡ ¢ µ (1 − γ 5 ) µ
= − γ µ C ηχ P = − γ µ C P (A4-5)
,
2 2

n β
o (1 + γ 5 )αη (1 − γ 5 )βχ © ª
α
D+ , D+ = Dη , Dχ
2 2
∙ ¸αβ
(1 + γ 5 )
= γµ Pµ , (A4-6)
2
n β
o ∙ (1 − γ ) ¸αβ
α 5
D− , D− = γµ Pµ (A4-7)
2
e
n α β o ∙ (1 − γ ) ¸αβ
5
D+ , D− = Cγ µ Pµ . (A4-8)
2
Multiplicando as equações (A4-6) e (A4-7), somando em todos os índices,
resulta
n on o ∙ ¸αβ ∙ ¸βα
α β β α (1 + γ 5 ) (1 − γ 5 )
D+ , D+ D− , D− = γµ γν P µP ν
2 2
µ ¶
(1 + γ 5 ) (1 − γ 5 )
= tr γµ γ ν P µP ν
2 2
µ ¶ ³γ γ ´
(1 − γ 5 ) µ ν
= tr γ µ γ ν P µ P ν = tr P µP ν
2 2

= 2gµν P µ P ν = 2Pµ P µ . (A4-9)

128
Considerando que os produtos de operadores de mesma chiralidade são
identicamente nulos,
α α α α
D+ D− = D+ D− ≡ 0 , (A4-10)
e usando a propriedade
α α η ¡ ¢ η ¡ ¢ α α
D± D∓ α
= D± γ 0 ηα D∓ α
= −D± γ 0 αη D∓ = −D∓ D± , (A4-11)

pode-se obter
n β
on α
o ³ ´³ ´
α β α β β α β α α β
D+ , D+ D− , D− = D+ D+ + D+ D+ D− D− + D− D−

α β β α β
α β α
= D+ D+ D− D− + D+ D+ D− D−

α α β β β
β α α
= −D− D+ D+ D− − D+ D− D− D+

α
n β o α α β
α β β
= −D− D+ , D+ D− + D− D+ D+ D− +

β
n α o β
β α β α α
−D+ D− , D− D+ + D+ D− D− D+
n α on β o
β α
= − D− , D− D+ , D+ +

+D− D+ · D+ D− + D+ D− · D− D+

ou seja,
¡ ¢¡ ¢ ¡ ¢¡ ¢
D− D+ D+ D− + D+ D− D− D+ = 4Pµ P µ = −4∂ 2 . (A4-12)

Considere as identidades
¡ ¢
D+ D− D+ ≡ 0 (3.17)
e ¡ ¢
D− D+ D− ≡ 0 . (3.18)
¡ ¢¡ ¢
A multiplicação à direita da equação (A4-12) por D− D+ D+ D− re-
sulta £¡ ¢¡ ¢¤2 ¡ ¢¡ ¢
D− D+ D+ D− = −4∂ 2 D− D+ D+ D− (A4-13)
e a multiplicação à esquerda resulta
£¡ ¢¡ ¢¤2 ¡ ¢¡ ¢
D+ D− D− D+ = −4∂ 2 D+ D− D− D+ . (A4-14)

129
Com estas igualdades pode-se mostrar que os operadores
1 ¡ ¢¡ ¢
E+ = − D + D− D − D+ (A4-15)
4∂ 2
e
1 ¡ ¢¡ ¢
E− = − 2
D− D+ D+ D− (A4-16)
4∂
são operadores de projeção, ortogonais entre si. Isto é,

E+2 = E+ , E−2 = E− e E+ E− = E− E+ = 0 .

Também
E1 = 1 − E+ − E−
é um operador de projeção, ortogonal a E+ e E− .
O resultado

E12 = (1 − E+ − E− )2 = 1 − 2 (E+ + E− ) + (E+ + E− )2

¡ ¢
= 1 − 2 (E+ + E− ) + E+2 + E−2 + E− E+ + E+ E−

= 1 − (E+ + E− ) = E1

é a condição para ser operador de projeção, e

E1 E+ = E1 E− = 0

são as condições de ortogonalidade.


Como
½ ¾
1 © ª 1 1 − γ5 1 − γ5
E+ + E− = − 2 D+ D− , D− D+ = − 2 D D, D D
4∂ 4∂ 2 2

e, lembrando que
¡ ¢2 ¡ ¢2
Dγ 5 D = − DD ,
de onde resulta
1 ¡ ¢2
E+ + E− = − DD ,
4∂ 2
a expressão formal do operador E1 pode ser escrita na forma
1 ¡ ¢2
E1 = 1 − E+ − E− = 1 + 2
DD . (A4-17)
4∂

130
Estes três operadores de projeção satisfazem, identicamente, às equações
diferenciais ⎧
⎨ D∓ E± ≡ 0
. (A4-18)

D∓ D± E1 ≡ 0
A seguir serão listadas algumas expressões envolvendo derivadas do super-
campo escalar, equação (2.43),

1 i
φ(x, θ) = A(x) + θψ(x) + θθF (x) + θγ 5 θG(x) +
4 4
1 1¡ ¢ 1 ¡ ¢2
+ θγ µ γ 5 θAµ (x) + θθ .θχ(x) + θθ D(x) ,
4 4 32
visando operações com as derivadas covariantes equação (3.1).

4.1 Coordenadas fermiônicas

∂φ 1 i ¡ 5 ¢α 1 ¡ µ 5 ¢α
= ψ α + θα F + γ θ G+ γ γ θ Aµ +
∂θα 2 2 2
1 £¡ ¢ α ¡ ¢α ¤
+ θθ χ − θγ 5 θ (γ 5 χ)α − θγ µ γ 5 θ γ 5 γ µ χ +
8
1¡ ¢ α
+ θθ · θ D(x) . (A4-19)
8

4.2 Coordenadas do espaço-tempo

1 1
(γ µ θ)α ∂µ φ = (γ µ θ)α ∂µ A − θθ · (γ µ ∂µ ψ)α − θγ 5 θ · (γ µ γ 5 ∂µ ψ)α +
4 4
1 ¡ ¢ 1
− θγ ν γ 5 θ · γ µ γ 5 γ ν ∂ µ ψ α + θθ (γ µ θ)α ∂µ F +
4 4
i ¡ ¢ 1 ¡ ¢
− θθ γ µ γ 5 θ α ∂µ G − θθ γ µ γ ν γ 5 θ α ∂µ Aν +
4 4
1 ¡ ¢2
− θθ . (γ µ ∂µ χ)α . (A4-20)
16

131
4.3 Derivada covariante

∂φ i
Dα φ = − (γ µ θ)α ∂µ φ
∂θα 2
1 i ¡ 5 ¢α 1 ¡ 5 µ ¢α
= ψ α + θα F + γ θ G− γ γ θ Aµ +
2 2 2
i 1 £ ¤
− (γ µ θ)α ∂µ A + θθ χα + i (γ µ ∂µ ψ)α +
2 8
1 £ ¤
− θγ 5 θ (γ 5 χ)α + i (γ µ γ 5 ∂µ ψ)α +
8
1 £ ¡ ¢ ¤
− θγ ν γ 5 θ (γ 5 γ ν χ)α + i γ µ γ 5 γ ν ∂ µ ψ α +
8
1 £ ¡ ¢ ¡ ¢ ¤
+ θθ θα D − i (γ µ θ)α ∂µ F − γ µ γ 5 θ α ∂µ G + i γ µ γ ν γ 5 θ α ∂µ Aν +
8
i ¡ ¢2
+ θθ . (γ µ ∂µ χ)α . (A4-20)
32

4.4 Componente chiral (negativo)

(1 − γ 5 ) Dφ = 2D− φ

1
= (1 − γ 5 ) ψα + (1 − γ 5 ) θ (F − iG) +
2
1
+ (1 − γ 5 ) (γ µ θ) (Aµ − i∂µ A) +
2
1 1
+ θθ (1 − γ 5 ) (χ + iγ µ ∂µ ψ) + θγ 5 θ (1 − γ 5 ) (χ + iγ µ ∂µ ψ) +
8 8
1 ¡ ¢
+ θγ ν γ 5 θ (1 − γ 5 ) γ ν χ + iγ µ γ ν ∂ µ ψ +
8
1
+ θθ (1 − γ 5 ) (θD − iγ µ θ∂µ F + iγ µ θ∂µ iG − iγ µ γ ν θ∂µ Aν ) +
8
i ¡ ¢2
+ θθ (1 − γ 5 ) γ µ ∂µ χ . (A4-22)
32

132
4.5 Componente chiral (positivo)

(1 + γ 5 ) Dφ = 2D+ φ

1
= (1 + γ 5 ) ψα + (1 + γ 5 ) θ (F + iG) +
2
1
− (1 + γ 5 ) γ µ θ (Aµ + i∂µ A) +
2
1 1
+ θθ (1 + γ 5 ) (χ + iγ µ ∂µ ψ) − θγ 5 θ (χ + iγ µ ∂µ ψ) +
8 8
1 ¡ ¢
− θγ ν γ 5 θ (1 + γ 5 ) γ ν χ + iγ µ γ ν ∂ µ ψ +
8
1
+ θθ (1 + γ 5 ) (θD − iγ µ θ∂µ F − iγ µ θ∂µ iG + iγ µ γ ν θ∂µ Aν ) +
8
i ¡ ¢2
+ θθ (1 + γ 5 ) γ µ ∂µ χ . (A4-23)
32

4.6 Produtos chirais


1 1
D (1 ± γ 5 ) Dφ = − (F ± iG) − θ (1 ∓ γ 5 ) (χ − iγ µ ∂µ ψ) +
2 2
1
− θθ (D ± 2i∂µ Aµ − ∂µ ∂ µ A) +
8
1
+ θγ 5 θ (±D + 2i∂µ Aµ ∓ ∂µ ∂ µ A) +
8
i
+ θγ ν γ 5 θ (±∂ν F + i∂ν G) +
4
1
+ θθ · θ (1 ± γ 5 ) [iγ µ ∂µ χ + ∂ µ ∂µ ψ] +
4
1 ¡ ¢2 2
+ θθ ∂ (F ± iG) . (A4-24)
32

133
4.7 Produto escalar
1
DDφ = −2F + θ (−χ + i (γ∂) ψ) + θθ (−D + ∂µ ∂ µ A) +
4
1 1
+ θγ 5 θ · 2i∂µ Aµ + θγ ν γ 5 θ · 2i∂ν iG +
4 4
1 ¡ ¢ 1 ¡ ¢2
+ θθ · θ iγ µ ∂µ χ + ∂ 2 ψ + θθ · 2∂ 2 F . (A4-25)
4 32

4.8 Produto escalar quadrático


¡ ¢2 ¡ ¢ ¡ ¢
DD φ = −2 D − ∂ 2 A + θ −2iγ µ ∂µ χ − 2∂ 2 ψ +

1 ¡ ¢ 1 ¡ ¢
+ θθ −4∂ 2 F + θγ 5 θ · −4∂ 2 G +
4 4
1 1
+ θγ ν γ 5 θ · (−4∂ν ∂µ Aµ ) + θθ · θ2∂ 2 (−χ + iγ µ ∂µ ψ)
4 4
1 ¡ ¢2 ¡ ¢
+ θθ · 2∂ 2 −D + ∂ 2 A . (A4-26)
32

134
5 Produtos de Super-campos5
Os super-campos escalares tem a forma geral

1 i
φ(x, θ) = A(x) + θψ(x) + θθF (x) + θγ 5 θG(x) +
4 4
1 1¡ ¢ 1 ¡ ¢2
+ θγ µ γ 5 θAµ (x) + θθ .θχ(x) + θθ D(x) , (2.43)
4 4 32
conforme visto na secção 2, equação (2.43).
O produto de dois super-campos escalares, φ1 (x, θ) e φ2 (x, θ) resulta num
terceiro super-campo escalar,

φ1 (x, θ).φ2 (x, θ) = φ3 (x, θ) , (A5-1)


onde φ3 (x, θ) deve ter a mesma estrutura mostrada na equação (2.43). Os
rearranjos dos coeficientes resultantes da multiplicação podem ser feitas uti-
lizando expansões baseadas na identidade de Fierz cujas regras estão no
apêndice A3. Deve-se lembrar também que para um espinor arbitrário ψ(x)
na representação de Majorana das matrizes de Dirac,
T T
ψC = Cψ = −γ 0 ψ = ψ∗

e
¡ ¢† ³ T ´† ¡ ¢∗ ∗
ψC = ψC γ 0 = Cψ γ 0 = ψ C † γ 0 = −ψ .
Da mesma forma, produtos de dois super-campos chirais de mesma chi-
ralidade resultam num outro super-campo de igual chiralidade. Para evitar
uma miscelânea de índices de naturezas diferentes, será usada uma notação
compacta,
φ+ (1).φ+ (2) = φ+ (2) , (A5-2)
e
φ− (1).φ− (2) = φ− (2) , (A5-3)
para os produtos de super-campos chirais, cuja interpretação é intuitiva.
A seguir, após rearranjados adequadamente, apresenta-se os coeficientes
resultantes destes produtos de super-campos. Para o produto de dois super-
campos escalares, os coeficientes do super-campo escalar resultante são

135


⎪ A3 = A1 A2







⎪ ψ3 = A1 ψ2 + ψ1 A2







⎪ F3 = A1 F2 + F1 A2 − ψC
⎪ 1 ψ2







⎪ G3 = A1 G2 + G1 A2 + iψC
1 γ 5 ψ2




A3ν = A1 A2ν + A1ν A2 + ψC
1 γ 5γ ν ψ2
. (A5-4)







⎪ χ3 = A1 χ2 + χ1 A2 + ψ1 F2 + 2F1 ψ2 − iγ 5 ψ1 G2 +







⎪ −iγ 5 G1 ψ2 − γ ν γ 5 ψ1 A2ν − γ ν γ 5 A1ν ψ2







⎪ D3 = A1 D2 + D1 A2 + 2F1 F2 + 2G1 G2 + 2A1µ Aµ2 +






⎩ −2χC C
1 ψ 2 − 2ψ 1 χ2

Para os produtos de super-campos chirais, os coeficientes do super-campo


chiral resultante são


⎪ A+ (3) = A+ (1)A+ (2)



ψ+ (3) = A+ (1)ψ+ (2) + ψ+ (1)A+ (2) (A5-4)





F+ (3) = A+ (1)F+ (2) + F+ (1)A+ (2) − ψC
+ (1)ψ + (2)

para os de chiralidade positiva e

A− (3) = A− (1)A− (2)

ψ− (3) = A− (1)ψ− (2) + ψ− (1)A− (2) (A5-6)

F− (3) = A− (1)F− (2) + F− A− − ψC


− ψ−

para os de chiralidade negativa. Os produtos são simétricos nos índices 1 e


2.
Produtos de super-campos de chiralidades diferentes resultam super-campos
não chirais, cujos coeficientes podem ser obtidas diretamente de (A5-4), lem-

136
brando das relações ⎧

⎪ G = −iF+






⎨ Aµ = i∂µ A+
(A5-7)



⎪ χ = −iγ µ ∂µ ψ+





D = −∂ 2 A+
para os super-campos de chiralidade positiva e


⎪ G = −iF−






⎨ Aµ = −i∂µ A−
(A5-8)



⎪ χ = −iγ µ ∂µ ψ−





D = −∂ 2 A−
para os de chiralidade negativa, como discutidas na secção 3. Assim, os
coeficientes do produto

φ+ (1).φ− (2) = φ(2) (A5-9)


resultam


⎪ A(3) = A+ (1)A− (2)







⎪ ψ(3) = A+ (1)ψ− (2) + ψ+ (1)A− (2)







⎪ F (3) = A+ (1)F− (2) + F+ (1)A− (2)







⎪ G(3) = A+ (1)F− (2) − F+ (1)A− (2)




Aµ (3) = −iA+ (1)∂µ A− (2) + iA+ (2)∂µ A− (1) − ψC + (1)γ µ ψ − (2)







⎪ χ(3) = −iA+ (1)γ µ ∂µ ψ− (2) − iA− (2)γ µ ∂µ ψ+ (1) + 2ψ+ (1)F− (2)+







⎪ +2F+ (1)ψ− (2) + iγ υ ψ+ (1)∂ν A− (2) + iγ υ ψ− (2)∂ν A+ (1)







⎪ D(3) = −A+ (1)∂ 2 A− (2) − A− (1)∂ 2 A+ (2)A+ (1) + 4F+ (1)F− (2)+






+2∂µ A+ (1)∂ µ A− (2) − 2i∂µ ψC µ C µ
+ (1)γ ψ − (2) + 2iψ + (1)γ ∂µ ψ − (2)
(A5-10)

137
onde, no coeficiente D(3) foi usado
¡ ∗ ¢† 0 ¡ ¢T
χC
+ = χ+ γ = χT+ γ 0 = −i γ µ ∂µ ψ+ γ 0

= −i∂µ ψT+ (γ µ )T γ 0 = −i∂µ ψC µ


+γ .

Naturalmente, potências (φ)n de super-campos


¡ ¢nescalares são outros super-
campos escalares e, em especial, potências φ± de super-campos chirais
continuam super-campos de mesma chiralidade. Pode-se obter, diretamente
de (A5-4), ⎧

⎪ A+ (2) = A2+


¡ ¢2 ⎨
φ+ : ψ+ (2) = 2A+ ψ+ , (A5-11)





F+ (2) = 2A+ F+ − ψC
+ψ+



⎪ A+ (3) = A3+


¡ ¢3 ⎨
φ+ : ψ+ (3) = 3A2+ ψ+ (A5-12)





F+ (3) = 3A2+ F+ − 3A+ ψC
+ψ+
e


⎪ A+ (4) = A4+


¡ ¢4 ⎨
φ+ : ψ+ (4) = 4A3+ ψ+ . (A5-13)





F+ (4) = 4A3+ F+ − 6A2+ ψC
+ψ+
Genericamente,


⎪ A+ (n) = An+


¡ ¢n ⎨
φ+ : ψ+ (n) = nAn−1
+ ψ+ (A5-14)




⎩ n(n−1) n−2 C
F+ (n) = nAn−1
+ F+ − 2
A+ ψ+ ψ+
e ⎧

⎪ A− (n) = An−


¡ ¢n ⎨
φ− : ψ− (n) = nAn−1
− ψ− . (A5-15)




⎩ n(n−1) n−2 C
F− (n) = nAn−1
− F− − 2
A− ψ− ψ−

138
6 Correntes Conservadas em Teorias de Gauge
Segue uma rápida revisão dos procedimentos para a obtenção das correntes
conservadas para transformações de simetria contínuas13 . A uma dada sime-
tria do sistema físico, traduzida pela invariança das equações de movimento,
existe uma quantidade que é conservada.
Considere a lagrangeana, função do campo e da sua derivada primeira,

L = L(ϕ, ∂µ ϕ) , (A6-1)
onde ϕ(x) pose eventualmente representar um conjunto de campos. Por uma
transformação genérica, que pode incluir transformações de coordenadas, a
lagrangeana também pode ser afetada, com a transformação
£ ¤
L [ϕ(x), ∂µ ϕ(x)] −→ L0 ϕ0 (x0 ), ∂µ0 ϕ0 (x0 ) , (A6-2)
No caso de transformações infinitesimais, a variação total da função la-
grangeana fica
£ ¤
δ T L = L0 ϕ0 (x0 ), ∂µ0 ϕ0 (x0 ) − L [ϕ(x), ∂µ ϕ(x)]

£ ¤ £ ¤
= L0 ϕ0 (x0 ), ∂µ0 ϕ0 (x0 ) − L ϕ0 (x0 ), ∂µ0 ϕ0 (x0 ) +

£ ¤
+L ϕ0 (x0 ), ∂µ0 ϕ0 (x0 ) − L [ϕ(x), ∂µ ϕ(x)]

= δF L + δ0 L , (A6-3)

onde £ ¤ £ ¤
δF L = L0 ϕ0 (x0 ), ∂µ0 ϕ0 (x0 ) − L ϕ0 (x0 ), ∂µ0 ϕ0 (x0 ) (A6-4)
é a variação funcional da lagrangeana e
£ ¤
δ 0 L = L ϕ0 (x0 ), ∂µ0 ϕ0 (x0 ) − L [ϕ(x), ∂µ ϕ(x)]

£ ¤ £ ¤
= L ϕ + δ T ϕ, ϕ,µ + δ T ϕ,µ − L ϕ, ϕ,µ

∂L ∂L
= δT ϕ + δ T ϕ,µ (A6-5)
∂ϕ ∂ϕ,µ
é a variação da lagrangeana devido à variação dos seus argumentos, cuja
variação total do campo ϕ(x) é

δ T ϕ = δ F ϕ + δxµ ∂µ ϕ (A6-6)

139
e a variação total da derivada do campo,

δT ϕ,µ = δ F ϕ,µ + δxν ∂ν ϕ,µ , (A6-7)

onde recorre-se às notações de derivadas


∂ϕ
ϕ,µ ≡ ∂µ ϕ ≡ ,
∂xµ
conforme as circunstâncias exijam para manter as equações legíveis.
Veja que, em transformações locais,

∂µ δT ϕ 6= δ T ∂µ ϕ (A6-8)

embora
∂µ δ F ϕ = ∂µ [ϕ0 (x) − ϕ(x)] = δ F ∂µ ϕ . (A6-9)
Considere a variação total da lagrangeana,
∂L ∂L
δT L = δF L + δ0 L = δF L + δT ϕ + δ T ϕ,µ
∂ϕ ∂ϕ,µ

onde
∂L ∂L
δ0L = δT ϕ + δ T ϕ,µ
∂ϕ ∂ϕ,µ
∂L ∂L ¡ ¢
= (δ F ϕ + δxµ ∂µ ϕ) + δ F ϕ,µ + δxν ∂ν ϕ,µ
∂ϕ ∂ϕ,µ
∂L ∂L
= δF ϕ + δ F ϕ,µ + δxµ .∂µ L .
∂ϕ ∂ϕ,µ

Assim, usando a equação de Euler-Lagrange


µ ¶
∂L ∂L
− ∂µ =0,
∂ϕ ∂ϕ,µ

resulta
µ ¶
∂L ∂L
δ T L = δF L + ∂µ δF ϕ + δ F ϕ,µ + δxµ .∂µ L
∂ϕ,µ ∂ϕ,µ
µ ¶
∂L
= δF L + ∂µ δ F ϕ + δxµ .∂µ L . (A6-10)
∂ϕ,µ

140
Como as equações de movimento são obtidas através da equação de Euler-
Lagrange, uma transformação de simetria requer uma lagrangeana invariante
na forma funcional,
£ ¤ £ ¤
L0 ϕ0 (x0 ), ∂µ0 ϕ0 (x0 ) = L ϕ0 (x0 ), ∂µ0 ϕ0 (x0 )

e, além disto, como a própria equação de Euler-Lagrange é obtida pelo princí-


pio variacional, pode-se acrescentar um divergente de um quadri-vetor arbi-
trário que seja uma função somente do campo, Ωµ (ϕ),
£ ¤ £ ¤
L0 ϕ0 (x0 ), ∂µ0 ϕ0 (x0 ) = L ϕ0 (x0 ), ∂µ0 ϕ0 (x0 ) + ∂µ Ωµ (A6-11)

desde que Ωµ (ϕ) seja nula na fronteira de integração e, portanto,

δ F L = ∂µ Ωµ , (A6-12)

ou seja, µ ¶
∂L
δ T L = ∂µ δ F ϕ + δxµ .∂µ L + ∂ µ ⊗µ . (A6-13)
∂ϕ,µ
Em geral, devido ao fato de ser uma função escalar por construção,

δT L = 0 , (A6-14)

resultando µ ¶
∂L
∂µ δ F ϕ + δxµ .∂µ L + ∂µ Ωµ = 0 . (A6-15)
∂ϕ,µ
Este resultado já é suficiente para definir a corrente conservada. O termo

δxµ .∂µ L

pode ser substituído pela derivada do produto,

∂µ (δxµ L) = δxµ .∂µ L ,

como é fácil de verificar nos casos de translações e transformações de Lorentz,


pois
∂µ µ = 0; ∂µ (ωµν xν ) = ω µµ = 0 ,
resultando na corrente conservada
∂L
jµ ∼ δ F ϕ + δxµ L + Ωµ , (A6-16)
∂ϕ,µ

tal que
∂µ j µ = 0 .

141
Se desejar um rigor maior, pode-se lembrar que a ação extendida a um
certo domínio R, Z R
A= d4 xL [ϕ(x), ∂µ ϕ(x)]

deve ser invariante pela transformação de simetria,


Z R0 Z R
4 0 0
£ 0 0 0 0 0 ¤
δA = d x L ϕ (x ), ∂µ ϕ (x ) − d4 xL [ϕ(x), ∂µ ϕ(x)] = 0 .

Pode-se fazer uma mudança das variáveis de integração da primeira integral,


Z R0 Z R Z R
4 0 4
···d x = ···J d x = · · · (1 + ∂µ δxµ ) d4 x (A6-17)

onde
J = (1 + ∂µ δxµ ) (A6-18)
é a jacobiana da transformação. Assim, resulta
Z R
δA = d4 x [L ∂µ δxµ + δ T L] = 0

e, usando (A6-13),
Z R ∙ ¸
4 ∂L
δA = d x∂µ δ F ϕ + δxµ L + ∂ µ ⊗µ =0.
∂ϕ,µ
Considerando que a região de integração é arbitrária,
∙ ¸
∂L µ µ
∂µ δ F ϕ + δx L + ∂ µ ⊗ =0, (A6-19)
∂ϕ,µ
que define a corrente conservada (A6-16).
No caso de uma simetria interna, δxµ = 0 e
∙ ¸
∂L µ
∂µ δF ϕ + ∂ µ⊗ =0, (A6-20)
∂ϕ,µ
A variação funcional (A6-12) pode ser calculada considerando que, devido
à invariança da ação,
δT L = 0 ,
de modo que
∂L ∂L
δ F L = −δ 0 L = −δT ϕ − δ T ϕ,µ
∂ϕ ∂ϕ,µ
∙ ¸
∂L ∂L µ ∂L ∂L
= − δF ϕ − δF ϕ,µ − δx ∂µ ϕ + ∂µ ϕ,ν (A6-21)
,
∂ϕ ∂ϕ,µ ∂ϕ ∂ϕ,ν

142
onde não se deve levar em conta a equação de Euler-Lagrange. No caso de
simetrias internas (δxµ = 0), fica

∂L ∂L
δF L = − δF ϕ − δ F ϕ,µ . (A6-22)
∂ϕ ∂ϕ,µ

Esta variação deve ser identificada com ∂µ Ωµ , equação (A6-12), para que
a lagrangeana satisfaça às condições de simetria, ou seja, que as equações
de movimento resultem as mesmas. A seguir serão calculadas as correntes
conservadas ligadas às principais transformações contínuas de simetria.

6.1 Translações
As translações infinitesimais no espaço-tempo são definidas por

δxµ = µ
= −i ν Pν xµ

e a variação funcional

δ F ϕ = i ν Pν ϕ = − ν ∂ν ϕ .

A equação de conservação (A6-19) fica (Ωµ = 0)


∙ ¸
ν ∂L µ
∂µ ∂ν ϕ − gν L = 0
∂ϕ,µ
e, considerando que os parâmetros ν são independentes e arbitrários,
∙ ¸
∂L µ
∂µ ∂ν ϕ − gν L = 0 ,
∂ϕ,µ

ou seja,
∂µ T µν = 0 (A6-23)
para
∂L ν
T µν = ∂ ϕ − g µν L (A6-24)
∂ϕ,µ
que define o tensor densidade de corrente de energia e momento.
A carga conservada é a energia e momento
Z Z ∙ ¸
µ 3 0µ 3 ∂L µ
P = d xT = d x ∂ ϕ−L . (A6-25)
∂ϕ,0

143
6.2 Transformações de Lorentz
As transformações de Lorentz na forma infinitesimal ficam
i
δxµ = ω µν xν = ω νη Lνη xµ ,
2
a variação funcional ficando
i
δ F ϕ = − ω µν Jµν ϕ
2
para
Jµν = i (xµ ∂ν − xν ∂µ ) + Sµν = Lµν + Sµν .
A equação de conservação (A6-19) fica (Ωµ = 0)
∙ ¸
∂L µ
∂µ (Lνη + Sνη ) ϕ − Lνη x L = 0
∂ϕ,µ

ou, substituindo os operadores diferenciais,


∙ µ ¶ ¸
µ ∂L ∂L
∂ (xν ∂η ϕ − xη ∂ν ϕ) − i Sνη ϕ − (xν gµη − xη gµν ) L = 0 .
∂ϕ,µ ∂ϕ,µ

Usando a definição do tensor corrente de energia e momento (A6-24), fica


∙ µ ¶ ¸
µ ∂L
∂ (xν Tµη − xη Tµν ) − i Sνη ϕ = 0
∂ϕ,µ

que define a corrente

µ
¡ ¢ ∂L
jνη = xν Tηµ − xη Tνµ − i Sνη ϕ (A6-26)
∂ϕ,µ

com a lei de conservação


µ
∂µ jνη =0. (A6-27)
A carga conservada é
Z
Mµν = d3 xjµν
0
, (A6-28)

identificado como o momento angular total.

144
6.3 Simetrias internas
No caso de simetrias internas,
δxµ = 0
e
δF ϕ = −igω a ta ϕ ,
de modo que a equação de conservação (A6-20) define a corrente conservada
∂L
jaµ = ig ta ϕ + ⊗µa (A6-29)
∂ϕ,µ
com a equação de continuidade
∂µ jaµ = 0 . (A6-30)
Aqui, ta são os geradores da transformação considerada, matrizes n × n at-
uando sobre a representação n dimensional
ϕ = (ϕ1 ϕ2 ϕ3 ϕ4 · · · ϕn )T .

6.4 Super-translação
A corrente conservada associada à super-translação pode ser determinada
da forma usual lembrando que, para θ = 0 equivale a uma transformação
interna, ¯
µ i µ ¯¯
δx = γ θ¯ =0. (A6-31)
2 θ=0
A lagrangeana também pode ser colocada na forma usual,
L = L(ϕ, ∂µ ϕ) ,
a menos de termos em derivada, que são irrelevantes do ponto de vista das
equações de movimento, porém contribuem na corrente. Por exemplo, no caso
do modelo de Wess-Zumino apresentado na secção 4, a corrente conservada
definida pela equação (A6-20) resulta
∂L ∂L ∂L
jµ ∼ δA + ∗
δA∗ + δψ + Ωµ , (A6-32)
∂A,µ ∂A,µ ∂ψ,µ
o fator Ωµ identificado pela variação funcional da lagrangeana, equação (A6-
12). Por comodidade, está-se omitindo o índice F nas variações funcionais).
Substituindo as derivadas da lagrangeana, resulta
i
j µ ∼ (∂ µ A∗ ) δA + (∂ µ A) δA∗ + ψγ µ δψ + Ωµ , (A6-33)
2
145
as variações dos campos (vistos na secção 3) dadas por


⎪ δA = ψ+



δA∗ = ψ−





δψ = δψ+ + δψ− = 12 (1 + γ 5 ) (F − iðA) + 12 (1 − γ 5 ) (F ∗ − iðA∗ )
(A6-34)
que, substituídas em (A6-33) e após algumas manipulações algébricas, leva a
i µ¡ ¢
jµ ∼ ψ+ ∂ µ A∗ + ψ− ∂ µ A − γ ψ−F + ψ+F ∗ +
2
1 ν µ¡ ¢
+ γ γ ψ− ∂ν A + ψ+ ∂ν A∗ + Ωµ . (A6-35)
2
Para identificar Ωµ , considere a expressão original da lagrangeana super-
simétrica (secção 4),
1 0
L= [D (x) + ∂µ ∂ µ A0 ] + Ff+ (x) + Ff− (x) ,
4
onde D0 (x) e A0 (x) são as componentes D e A, respectivamente, do super-
campo escalar
φ0 (x) = φ+ (x).φ− (x)
produto dos supercampos chirais φ+ (x) e φ− (x) e Ff+ (x) e Ff− (x) são as
componentes F dos supercampos chirais
f± = f (φ± ) .
Pela equação (A6-22), resulta
1£ 0 ¤
δF L = − δD (x) + ∂µ2 δA0 − δFf+ − δFf− , (A6-36)
4
os campos transformando-se por super-translação como


⎪ δA0 = ψ0



δD0 = −i γ µ ∂µ χ0 , (A6-37)





δFf0± = −i γ µ ∂µ ψf±
onde ψ0 e χ0 são as componentes dos super-campo φ0 = φ+ .φ− e ψ0f± as
componentes dos super-campos f± = f (φ± ). Após as substituições,
1£ µ ¤
δF L = i γ ∂µ χ0 − ∂µ2 δψ0 + i γ µ ∂µ ψf + + i γ µ ∂µ ψf− , (A6-38)
4
146
onde, pelas regras do produto (apêndice A5),

ψ0 = Aψ − + A∗ ψ+

χ0 = −iAðψ− − −iA∗ ðψ+ + 2F ∗ ψ+ + 2F ψ − + (A6-39)

+iγ µ ψ+ ∂µ A∗ + iγ µ ψ− ∂µ A ,

ψf+ = f 0 (A)ψ+ = −F ∗ ψ+
(A6-40)
0 ∗
ψf− = f (A )ψ− = −F ψ − ,

(veja secção 4). Feitas as substituições, a (A6-38) fica


£ ¤
δ F L = − γ µ ∂µ γ ν ψ− ∂ν A + γ ν ψ+ ∂ν A∗ + iF ∗ ψ+ + iF ψ − , (A6-41)
2
ou seja,
£ ¤
Ωµ = − γ µ γ ν ψ− ∂ν A + γ ν ψ+ ∂ν A∗ + iF ∗ ψ+ + iF ψ − . (A6-42)
2
Substituindo em (A6-35), resulta
£ ¤
j µ ∼ γ ν ∂ν A∗ γ µ ψ+ + γ ν ∂ν Aγ µ ψ− + i γ µ ψ− f 0 (A∗ ) + ψ+ f 0 (A) . (A6-43)

ou
¡ ¢ £ ¤
j µ = γ ν γ µ ψ+ ∂ν A∗ + ψ− ∂ν A + iγ µ ψ− f 0 (A∗ ) + ψ+ f 0 (A) , (A6-44)

que é a corrente associada à simetria por super-translação. Esta corrente é


um espinor-vetor (espinor de Rarita-Scwinger), a carga conservada sendo
Z
¡ ¢α
α
Q = d3 x j 0 . (A6-45)

6.5 Teorias da gauge


Considere a lagrangeana de um sistema livre,

L0 = L0 (ϕ, ∂µ ϕ) , (A6-46)

147
e uma transformação de simetria global
δϕ = δF ϕ = −igω a ta ϕ . (A6-47)
Considerando apenas simetrias internas, a nova lagrangeana fica
L00 (ϕ0 , ∂µ ϕ0 ) = L0 (ϕ, ∂µ ϕ) = L0 (ϕ0 − δϕ; ϕ0,µ − δϕ,µ )
µ ¶
0 0 ∂L0
= L0 (ϕ , ∂µ ϕ ) − ∂µ δϕ
∂ϕ,µ
ou, usando a equação de conservação (A6-11),
L00 (ϕ0 , ∂µ ϕ0 ) = L0 (ϕ0 , ∂µ ϕ0 ) + ∂µ Ωµ .
No caso de uma transformação local, a equação (A6-47) fica
δϕ = −igω a (x)ta ϕ (A6-49)
e, considerando que
δϕ,µ = ϕ0,µ (x) − ϕ,µ (x) = ∂µ δϕ , (A6-50)
a lagrangeana nas novas variáveis fica
L00 (ϕ0 , ∂µ ϕ0 ) = L0 (ϕ, ∂µ ϕ) = L0 ([ϕ0 − δϕ; ∂µ (ϕ0 − δϕ)])
µ ¶
0 0 ∂L0
= L0 (ϕ , ∂µ ϕ ) − ∂µ δϕ . (A6-51)
∂ϕ,µ
Aqui o termo de divergência não é nulo, pois a equação de conservação
(A6-20) é válida somente para parâmetros ω a constantes. Deve-se utilizar a
lei de conservação (A6-30), de modo que
µ ¶
∂L0 ∂L0
∂µ δϕ = ig (∂µ ω a ) ta ϕ + ∂µ Ωµ . (A6-52)
∂ϕ,µ ∂ϕ,µ
Assim,

∂L0
L00 (ϕ0 , ∂µ ϕ0 ) = L0 (ϕ0 , ∂µ ϕ0 ) + ∂µ Ωµ + ig ta ϕ ∂µ ω a , (A6-53)
∂ϕ,µ
a variação funcional da lagrangeana dada por
∂L0
δ F L = ig ta ϕ ∂µ ωa + ∂µ Ωµ = jaµ ∂µ ω a , (A6-54)
∂ϕ,µ

148
a corrente jaµ definida em (A6-29). O termo ∂µ Ωµ é arbitrário e pode ser
convenientemente absorvido.
A variação funcional (A6-54) destrói a invariança das equações de movi-
mento. Para corrigir isto torna-se necessário introduzir campos vetoriais de
gauge Aaµ (x) com a transformação
Aaµ (x) −→ Aaµ (x) + ∂µ ω a + gf abc ω b Acµ , (A6-55)
onde f abc é a constante de estrutura, completamente antissimétrica, da álge-
bra de Lie do grupo das transformações em questão,
£ a b¤
t , t = if abc tc . (A6-56)
Com os campos de gauge define-se a derivada covariante
¡ ¢
Dµ ϕ = ∂µ + igta Aaµ ϕ , (A6-57)
covariante no sentido de transformar-se da mesma maneira que o campo sobre
o qual atua,
Dµ ϕ −→ (1 − igωa ta ) Dµ ϕ , (A6-58)
o que leva à invariança funcional da lagrangeana
L = L0 (ϕ, Dµ ϕ) = L0 (ϕ, ∂µ ϕ) + jaµ Aaµ (A6-59)
desde que L0 (ϕ, ∂µ ϕ) seja invariante por uma transformação global.
A lagrangeana total, incluindo os campos de gauge, tem a forma
L = L0 (ϕ, ∂µ ϕ) + jaµ Aaµ + Lgauge (A6-60)
onde
1 a µν
Lgauge = − Fµν Fa (A6-61)
4
é a parte livre dos campos de ggauge e
a
Fµν = ∂µ Aaν − ∂ν Aaµ − gf abc Abµ Acν . (A6-62)
a
O tensor anti-simétrico Fµν transforma-se como
a a
Fµν −→ Fµν + gf abc ω b Fµν
c
(A6-63)
ou, em termos dos geradores da representaçãoadjunta
¡ a ¢bc
tadj = −if abc , (A6-64)
a transformação fica
a a
¡ ¢bc
Fµν −→ Fµν − i taadj ω b Fµν
c
, (A6-65)
significando que os campos de gauge pertencem à representação adjunta do
grupo de simetria.

149
7 Quebra Espontânea de Simetria
A quebra espontânea de simetria ocorre quando o sistema tem uma certa
simetria na lagrangeana mas tem o estado de vácuo degenerado. Na medida
em que o sistema tem de escolher apenas um como o seu estado de vácuo,
justamente este processo de escolha do vácuo leva à quebra da simetria origi-
nal da lagrangeana. Nas teorias de campo, a quebra espontânea de simetria é
realizada através de campos escalares auto-interagentes, mais propriamente
táquions, pois devem ter o sinal do termo de massa quadrática invertido.
Um exemplo típico de um sistema com quebra espontânea de simetria é
representado pela lagrangeana de um campo escalar real com simetria ϕ −→
−ϕ,
1 m2 2 λ 4
L = ∂µ ϕ∂ µ ϕ − ϕ − ϕ , (A7-1)
2 2 4!
onde pode-se identificar o termo de potencial

m2 2 λ 4
V (ϕ) = ϕ + ϕ . (A7-2)
2 4!
O mínico de energia do sistema coincide com o mínimo do potencial, que
ocorre quando
∂V λ
= m2 ϕ + ϕ3 = 0 , (A7-3)
∂ϕ 3!
que é satisfeita para
ϕ = 0 ou ϕ2 = −3!m2 /λ . (A7-4)
Para m2 > 0, o mínimo ocorre para um único valor do campo, ϕ = 0.
No entanto, para m2 < 0 (táquion) e para λ > 0, o ponto ϕ = 0 quando
V (0) = 0 é um ponto de máximo local. Os pontos de mínimo são duplamente
degenerados, identificados como
r
3!m2
ϕ0 = ± − . (A7-5)
λ
Escolher um destes estados de mínimo como o vácuo físico significa fazer
a redefinição do campo original

ϕ −→ ϕ + ϕ0 . (A7-6)

150
Assim, a lagrangeana original agora fica
1 1 λ
L = ∂µ ϕ∂ µ ϕ − m2 (ϕ + ϕ0 )2 − (ϕ + ϕ0 )4
2 2 4!
1 1 ¡ ¢
= ∂µ ϕ∂ µ ϕ − m2 2ϕϕ0 + ϕ2 + ϕ20 +
2 2
λ¡ 4 ¢
− ϕ + ϕ40 + 4ϕϕ30 + 4ϕ3 ϕ0 + 6ϕ2 ϕ20 , (A7-8)
4!
que, a menos de termos constantes, pode ser reorganizado na forma
µ ¶ µ ¶
1 µ 1 2 λ 2 2 2 λ 3
L = ∂µ ϕ∂ ϕ − m + ϕ ϕ − m ϕ0 + ϕ0 ϕ +
2 2 4 0 3!
λ λ
− ϕ4 − ϕ3 ϕ0 , (A7-9)
4! 3!
onde verifica-se que a simetria anterior ϕ −→ −ϕ não existe mais.Se fizer a
substituição do campo ϕ0 no coeficiente do termo quadrático ϕ2 , resulta
µ ¶
1 1 2 2 λ 3 λ λ
µ
L = ∂µ ϕ∂ ϕ − |m| ϕ − m ϕ0 + ϕ0 ϕ − ϕ4 − ϕ3 ϕ0 , (A7-10)
2
2 2 3! 4! 3!
de modo que a lagrangeana ganha o termo de massa com o sinal correto.

7.1 Bósons de Goldstone


Uma generalização imediata é modelo de Goldstone, que contém um campo
escalar complexo cuja lagrangeana,
1 1 λ
L = ∂µ ϕ∗ ∂ µ ϕ − m2 ϕ∗ ϕ − (ϕ∗ ϕ)2 , (A7-11)
2 2 4!
tem simetria de fase
ϕ −→ eiα ϕ (A7-12)
ou, equivalentemente, dois campos escalares reais com simetria O(2),
1 1 1 ¡ ¢ λ¡ 2 ¢2
L = ∂µ ϕ1 ∂ µ ϕ1 + ∂µ ϕ2 ∂ µ ϕ2 − m2 ϕ21 + ϕ22 − ϕ1 + ϕ22 . (A7-13)
2 2 2 4!
Como antes, o ponto de mínimo da energia coincide com o de mínimo do
potencial
1 ¡ ¢ λ¡ 2 ¢2
V (ϕ1 , ϕ2 ) = m2 ϕ21 + ϕ22 + ϕ1 + ϕ22 . (A7-14)
2 4!
151
Considerando apenas o caso m2 < 0 (táquions) e λ > 0, resulta nas
condições ⎧ 2
⎨ m ϕ1 + 3!λ (ϕ21 + ϕ22 ) ϕ1 = 0
, (A7-15)
⎩ 2 λ 2 2
m ϕ2 + 3! (ϕ1 + ϕ2 ) ϕ2 = 0
satisfeitas para ϕ = ϕ1 + iϕ2 = 0, que é um ponto de máximo local, e para
3!m2
ϕ21 + ϕ22 = ϕ∗ ϕ = − , (A7-16)
λ
que define os pontos de mínimo, infinitamente degenerados, que podem ser
representados, a menos de uma fase arbitrária, por
ϕ = ϕ1 + iϕ2 = ρ0 eiθ (A7-17)
para
6m2
ρ20 = e 0 ≤ θ < 2π . (A7-18)
λ
A escolha de um destes estados de mínimo como o vácuo físico, por ex-
emplo, fazendo θ = 0, significa redefinir os campos originais, nesta escolha,
como
ϕ1 −→ ϕ1 + ρ0 e ϕ2 −→ ϕ2 , (A7-19)
de modo, fazendo as substituições
ϕ21 −→ (ϕ1 + ρ0 )2 = 2ρ0 ϕ1 + ρ20 + ϕ21 , (A7-20)
a lagrangeana, a menos de termos constantes, fica
1 1 1
L = ∂µ ϕ1 ∂ µ ϕ1 + ∂µ ϕ2 ∂ µ ϕ2 − |m|2 ϕ21 +
2 2 2
λ ¡ ¢ λ¡ 2 ¢2
− ϕ1 ϕ21 + ϕ22 − ϕ1 + ϕ22 , (A7-21)
3! 4!
cuja simetria de fase original não está mais presente.
Nesta nova forma, o campo ϕ1 tem massa |m| enquanto que o campo ϕ2
tem massa nula, conhecido como o bóson de Goldstone.
A escolha de um dos vácuos como o vácuo físico, ao mesmo tempo em
que acarreta a quebra da simetria original da lagrangeana, parte dos campos
escalares originais passam a ter massa nula, os bósons de Goldstone. Es-
tas partículas escalares sem massa, inexistentes na realidade, aparentemente
inviabilizaria a quebra espontânea de simetria como um mecanismo válido
nas teorias de campo. No entanto, se for considerada a simetria local, os
bósons de Goldstone são absorvidos pelos campos vetoriais de gauge, que
também adquirem massas pela quebra espontânea de simetria, num processo
conhecido como o mecanismo de Higgs.

152
7.2 Mecanismo de Higgs
O modelo de Goldstone extendido para a simetria local permite a eliminação
dos bósons de Goldstone, ao mesmo tempo em que os campos de gauge
adquirem massa pela quebra espontânea de simetria. Este procedimento é
conhecido como o mecanismo de Higgs, No entanto, na presença dos campos
vetoriais de gauge, o processo de quebra espontânea de simetria cria termos
de massa para os campos de gauge e os bósons de Goldstone são absorvidos
por estes campos vetoriais agora massivos. A lagrangeana, com os campos
de gauge, fica
1 λ
L = − F µν Fµν + Dµ ϕ∗ Dµ ϕ − m2 ϕ∗ ϕ − (ϕ∗ ϕ)2 , (A7-22)
4 4
com simetria de fase local. Considerando m2 < 0, pode-se ver que o potencial
λ ∗ 2
V (ϕ) = m2 ϕ∗ ϕ − (ϕ ϕ) (A7-23)
4
assume valor mínimo para os campos definidos por

ϕ = v.eiη , (A7-24)

onde r
2
v= |m| (A7-25)
λ
e η uma fase arbitrária.
Neste caso, é conveniente redefinir os campos usando a representação
polar
1
ϕ = √ (χ + v) eiθ/v (A7-26)
2
onde χ e θ são campos reais, que entram na lagrangeana como

µ ¶
1 µν µ 1 2 2 3λv 2 λ ¡ 4 ¢
L = − F Fµν + ∂µ χ∂ χ − χ m + − χ + 4vχ3 +
4 2 4 16
µ ¶2 µ ¶2
χ+v ∂µ θ
+ − eAµ . (A7-27)
2 v

A massa do campo χ é dado por


µ ¶ µ ¶
3λv 2 3 1
2
m + = − |m| + |m| = |m|2
2 2
(A7-28)
4 2 2

153

e corresponde, portanto, a |m| / 2. O campo de gauge Aµ também tem um
termo de massa, enquanto que o campo escalar θ pode ser eliminado pela
redefinição do campo de gauge,
∂µ θ
Aµ −→ Aµ + , (A7-29)
ev
que absorve o campo escalar sem diminuir o grau de liberdade do sistema,
pois o campo vetorial massivo tem três graus de liberdade, enquanto que o
campo vetorial de massa nula tem apenas dois graus de liberdade.
Este procedimento pode ser imediatamente extendido para grupos de
simetria não abeliana, como ocorre no modelo de Weinberg-Salam da in-
teração eletrofraca.

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