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Sumário
grazia.tanta@gmail.com 9/05/2018 1
Fonte primária: UNCTAD/CNUCED
A Ásia é sempre o continente mais populoso, com mais de metade dos seres humanos,
passando de 54.3% em 1950 para 59.8% do total em 2016, mantendo-se com indicadores
estáveis naquele patamar desde 1980 e esperando-se um decrescimento do seu peso
relativo em 2050 na sequência do grande crescimento demográfico que se prevê para
África.
A Europa surge como uma imagem em negativo da África. Com perto de um quarto da
população mundial em 1950 (22.7%) decresce contínuamente, mesmo em termos das
projeções para 2050. O decrescimento é mais abrupto em 2000 uma vez que após o
desmembramento da URSS, as repúblicas asiáticas que a incorporavam passaram a ser
integradas na Ásia e não na Europa, onde estava incorporada em bloco toda a população
da URSS; assim, entre 1990 e 2000 a população da Europa desceu de 790 M para 730 M.
Isso porém, apenas acentua o pendor decrescente do peso da população europeia em
todo o período; o que conduz a uma expectativa de perda em números absolutos para
2050. A muito baixa natalidade não é compensada significativamente com os afluxos
migratórios; uma população que se não reproduz e se vê obrigada a recorrer à imigração
evidencia um sistema político, económico e cultural doente.
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A população do continente americano atinge um máximo na sua representatividade no
total mundial em 1970 (14%), decrescendo lentamente nos decénios seguintes para
atingir 13.3% em 2016. A projeção para 2050 aponta para uma descida para 12.4% do
total, com uma perda de peso relativo também já referida para a Ásia e a Europa.
O crescimento médio anual para cada período e em cada continente, revela uma redução
generalizada, com excepções para África no período 1970/2010. Por seu turno, o início do
presente século revela taxas muito mais modestas de crescimento demográfico,
mostrando-se as previsões para 2050 muito mais optimistas, excepto para a Europa.
%
1970/1950 1990/1970 2010/1990 2016/2010 2050/2016
ÁFRICA 3,0 3,7 3,3 1,0 3,1
ÁSIA 2,6 2,6 1,6 0,4 0,5
EUROPA 1,1 0,6 -0,3 0,0 -0,1
AMÉRICA 2,6 2,0 1,5 0,4 0,6
OCEANIA 2,8 1,9 1,8 0,6 1,2
total 2,3 2,2 1,5 0,5 0,9
Fonte primária: UNCTAD/CNUCED
Com o tempo a colonização quase chegou ao fim, embora haja pequenos países, sobretudo
nas Caraíbas e na Oceania cuja independência pouco significado tem, servindo apenas como
interface de parqueamento ou passagem de capitais, em actos de fuga fiscal ou de
branqueamento de atividades mafiosas.
Esse predomínio dos EUA evidenciar-se-ia no âmbito militar, com a NATO (1949) que, de
estrutura construída para uma contenção de um expansionismo soviético passou, depois da
extinção da URSS, a instrumento de intervenção militar ocidental na Ásia Ocidental, na África
do Norte e no Sahel, em nome de uma “luta contra o terrorismo”.
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Essa “luta” aplicável ao Afeganistão tem-se revelado um evidente fracasso – como antes
ocorrera com a Grã-Bretanha, no século XIX e com a URSS, nos anos 80 do século passado. Os
EUA vão mantendo ali uma guerra de contenção que evite uma repetição da humilhação
vietnamita… enquanto chineses e indianos se instalam economicamente. Algum sucesso
apresentaram na contenção na luta contra a Al-Qaeda, mas esta continua activa no Sahel
(AQMI), na Somália (al-Shabaab), no Paquistão e na Líbia. Uma das suas criaturas, o ISIS/Daesh
apresentado como instrumento confessional (sunita) falhou na limitação da influência iraniana
na região e em conduzir a Síria e o Líbano à influência ocidental.
A “luta contra o terrorismo”, subsequentemente, vai dando lugar à confrontação direta com
quem os EUA se entendem ameaçados. A ameaça comercial da China é evidente; depois do
surgimento do euro e, gradualmente do yuan, como moedas globais, o dólar tende a reduzir a
sua utilização, fazendo com que muitos países vão retirando o seu ouro depositado em Fort
Knox (Alemanha, Turquia, Holanda, Venezuela..) sabendo-se que não há ali ouro que sustente
a enorme circulação de dólares. Entretanto a China e a Rússia aumentam as suas reservas e o
Irão não aceita dólares nas suas transações, o que está a provocar a reação dos EUA como
antes se verificou contra Saddam ou a Líbia de Kadhafi.
Baseando-se no seu dispositivo logístico militar (80 bases militares espalhadas pelo mundo) os
EUA pretendem concertar a sua estratégia enfrentando diretamente os seus adversários –
Russia e China - com um cordão que corresponde à fronteira Leste da UE e outro no mar da
China envolvendo sobretudo o Japão e a Coreia do Sul. Como a Rússia e a China entretanto
criaram em 2001 a OCX, há uma disputa, com aproveitamento de inimizidades antigas, em
todo o sul da Ásia.
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2 – As áreas geopolíticas da Europa e os seus perfis demográficos
A distribuição da população, num espaço temporal mais restrito, tendo em conta as várias
áreas geopolíticas do continente1, apresenta enormes divergências conforme se observa no
gráfico abaixo.
No período 1970/1990 há um crescimento regular em todas as áreas, ainda que com algumas
diferenças, não muito pronunciadas mas que se acentuam brutalmente desde então, muito
para além das alterações políticas – desmembramento da URSS e da Checoslováquia para além
do ocorrido na Jugoslávia, na sequência de conflitos, guerra e movimentações massivas de
população.
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Europa Central - Alemanha, Áustria, Eslováquia, Hungria, Polónia, Rep. Checa, Suiça e Checoslováquia (nos dados
até 1990)
Europa Ocidental – Bélgica, Dinamarca, França, Holanda, Ilhas Faroer, Irlanda, Islândia, Luxemburgo, Noruega,
Reino Unido, Suécia
Europa Oriental – Bielorrússia, Estónia, Federação Russa (a partir de 2000), Finlândia, Letónia, Lituânia, Moldávia,
Roménia, Ucrânia e URSS (nos dados até 1990)
Mediterrâneo Ocidental – Andorra, (a partir de 2010), Espanha, Gibraltar, Itália, Malta, Portugal, S. Marino,
Vaticano
Mediterrâneo Oriental – Albânia, Bósnia/Herzegovina (a partir de 2000), Bulgária, Chipre, Croácia (a partir de 2000)
Eslovénia (a partir de 2000),Grécia, Jugoslávia (até 1990), Macedónia (a partir de 2000), (Montenegro (a partir de
2010), Sérvia (a partir de 2010), Sérvia e Montenegro (2000)
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limbo como unidade compósita; e o Kosovo é algo que se assemelha a uma “coisa” que serve
de terreno para a base americana de Boldsteen - vocacionada para a supervisão militar dos
Balcãs - e ainda como uma plataforma para tráficos mafiosos diversos, recebendo ainda o
essencial apoio financeiro da UE.
A Albânia atingiu a sua máxima população em 1990, decaindo desde então prevendo-
se que em 2050 atinja a população de… 1980. O conjunto dos países da ex-Jugoslávia
teve um máximo alcançado em 1990, perdeu 16% da população de então, até 2016 e
as perspetivas para 2050 é que a população conjunta se cifre ao mesmo nível de um
século atrás;
Finalmente, refira-se que Chipre é o único país da região cuja população cresce
uniformemente depois da quebra de 1980, assim como é também o único onde se
prevê, em toda a região europeia do Mediterrâneo Oriental, um crescimento
populacional no horizonte 2050. A Grécia teve um crescimeto populacional em todas
as décadas de 1950 a 2010 mas perde cerca de 240 mil habitantes até 2016, imolados
na salvação do sistema financeiro global; e, claro, para 2050, admite-se uma quebra de
11% face a 2016;
Como se poderá ver na descrição da composição das áreas geopolíticas europeias que
acompanham o gráfico, nesta área, há a considerar quatro países e quatro territórios que,
essencialmente são offshores, referindo-se que um destes é um bairro de Roma que funciona
como sede de uma instituição religiosa e um outro é uma colónia inglesa.
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Nesta área, observa-se um crescimento demográfico acima da média global no periodo que
findou em 2010. Na década presente, os efeitos da crise do sistema financeiro recairam
fortemente sobre Espanha, Itália e Portugal, produzindo a saída de imigrantes, nuns casos ou a
entrada de centenas de milhar de imigrantes e refugiados, em Itália; e ainda uma forte
emigração de gente fugida ao desemprego e à degradação da qualidade de vida que se dirigiu
para a Europa Central ou Ocidental. A perspetiva para 2050, com emigração, baixa natalidade,
maior precarização na vida, mais algumas crises financeiras e a óbvia fascização das chamadas
democracias de mercado mostra-se bastante provável; nesta área como nas outras áreas
geopolíticas europeias.
As quebras registadas no último hexénio são de 300 mil pessoas em Itália, 280 mil em
Portugal e 440 mil em Espanha, montantes que, não sendo muito afastados em valores
absolutos, têm um significado diferente em termos relativos – 3% da população para
Portugal e 1% para os outros dois países, em apenas seis anos. Fica evidenciada em
termos demográficos a violência da ação da classe política portuguesa, como
executante das imposições da troika, numa atuação lesta em reduzir o poder de
compra e os direitos da plebe, em amansar os protestos, para salvaguarda dos
interesses do capital financeiro;
Esta área, a velha Mittel Europa, engloba, grosso modo, além do cofre suiço, os territórios dos
antigos impérios prussiano e austro-húngaro; de modo mais atualizado, temos a Suiça, a
Alemanha e o seu sempre desejado drang nach Osten, como terreno próximo de instalação da
grande indústria alemã, com trabalho a baixo preço, sem a importação de gastarbeiter; um
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processo que se iniciou muito antes da reunificação alemã, tanto na República Federal como
na antiga DDR/RDA.
Como é conhecido, o impacto da crise iniciada em 2008 não foi dramático, como no sul da
Europa e daí que a mesma não se tenha refletido na demografia, uma vez que o afluxo de
imigrantes compensou a baixa natalidade. A população embora estagnada, não recua até
2016, embora as perspetivas futuras sejam de declínio.
Esta área engloba quase toda a faixa litoral do Atlântico, do Bidasoa ao Ártico, para além da
Suécia e da Islândia. A sua âncora são os antigos impérios coloniais, mormente a França e o
Reino Unido, ainda pouco compenetrados do seu perfil regional, quando disfarçam essa
situação oferecendo-se como damas de honor dos EUA (Líbia, Iraque, Afeganistão, Síria). A
França tenta manter-se no Sahel para esquecer as derrotas na Indochina e na Argélia e a Grã-
Bretanha mantém a política definida por Harold Wilson, de se fixar a oeste do Suez, embora
tenha o planeta bem povoado de offshores, certamente envolvidos nos negócios da City.
Todos apresentam um elevado nível de vida e a Longa Depressão, que vem de 2008, tocou-
lhes de modo muito mais ligeiro do que os países da orla mediterrânica. A sua reletiva
homogeneidade e bem-estar – aliado a algumas políticas de apoio a refugiados e imigrantes –
evidencia o regular e acentuado crescimento populacional em todo o período e ainda nas
expectativas para 2050.
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A situação é diferente se se considerar apenas os seis anos terminados em 2016. O
Luxemburgo apresenta uma taxa de 2.2% de crescimento populacional anual,
seguindo-se-lhe a Suécia (0.8%), a Grã-Bretanha e a Bélgica (0.65 e 0.64%), a que não
serão estranhas as imigrações de gente proveniente da Europa do Sul, de África e da
Ásia, muitos deles como refugiados. Estes afluxos vieram reforçar a audiência dos
discursos xenófobos de Farage ou Boris Johnson que conduziram ao referendo inglês
que desembocou no Brexit, produzindo derivas idênticas em outros países. As
situações de menor dinamismo demográfico observam-se na Holanda (0.3%) e na
Irlanda;
Engloba-se aqui, para além da Finlândia, as mais ocidentais das antigas repúblicas soviéticas, a
actual Federação Russa e a Roménia. Em termos demográficos essas antigas repúblicas
soviéticas têm a sua população contida em todos os anos considerados nesta área geopolítica,
isoladamente desde 2000 ou no total da URSS antes daquele ano. A partir de 2000 as antigas
repúblicas soviéticas da Ásia Central e do Cáucaso, integradas na população total da URSS,
deixam de o estar na Federação Russa, justificando assim a grande quebra da população desta
área geopolítica, entre 1990 e 2000; mas, pouco afetando a enorme população do continente
asiático.
Para o período 2000/16 para o qual existem dados compatíveis para todos os países,
todos revelam quebras de população excepto a Finlândia cujo efetivo cresceu 3%. Para
os restantes, há quebras de população no período, que vão de 1% e 2% para a Estónia
e a Federação Russa até 11% nos casos da Letónia e da Lituânia, aderentes da UE em
2004;
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As projeções para 2050 são muito negativas face a 2016. De novo a Finlândia surge
como o único país com uma previsão de crescimento demografico (7%). Por outro lado
é bastante acentuada a previsão de perdas demográficas para a Letónia (23%) e em
torno dos 17/19% para a Lituânia, a Moldávia, a Roménia e a Ucrânia;
2.6 – Conclusão
O que atrás vem sendo referido, no capítulo das expectativas para 2050 pode ser visto,
graficamente a seguir:
Evolução da população europeia em 2050 face a 2016
Do ponto de vista político revela-se um continente onde o pendor anti-democrático que vigora
na UE, ao formar um centro e várias periferias, promove enormes desigualdades, acentua
xenofobias e fica muito longe de um projeto internacionalista e solidário como uma união dos
povos da Europa2 que, obviamente, as classes políticas e as oligarquias do capital não
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subscrevem. O declínio geopolítico de uma Europa fragmentada, política, económica e
socialmente, com enormes áreas de pobreza, tende a torná-la, no contexto global, numa
península asiática de um espaço tricontinental, como um regresso da Gondwana, onde o papel
da China, com o seu poder económico e demográfico se irá impor. Será, no futuro, Roterdão
apenas a estação final da linha ferroviária de uma Rota da Seda, protagonizada pela China?
Essa fragmentação, como o Brexit demonstra, corresponde ao exacerbar da lógica mais radical
que vive no seio da NATO, de vinculação à deriva imperial e fascizante dos EUA, por parte de
países da orla atlântica, como a Noruega, a Holanda e Portugal, para além da já capturada Grã-
Bretanha; ou ainda, na Europa de Leste, onde a fobia anti-russa é evidente, nos paises bálticos
ou na Polónia, felizes por albergarem tropas da NATO nas suas fronteiras.
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Observam-se aumentos populacionais generalizados aos vários grupos de países
integrados até 2010. A crise da chamada Longa Depressão revela-se em 2016 mas, de
modo assimétrico, atingindo os países periféricos, nas orlas mediterrânicas e no Leste,
que perdem população (grupos B, D, E e F). Poupando, precisamente, os mais ricos,
que souberam imputar aos restantes os custos da deriva financeira e das
incapacidades do modelo capitalista global
(continua)
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