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Modelagem e análise de sistemas elétricos em regime permanente

Research · September 2015


DOI: 10.13140/RG.2.1.4931.1207

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1 author:

Sérgio Haffner
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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Modelagem e Análise de

Sistemas Elétricos em

Regime Permanente

Sérgio Haffner

http://slhaffner.phpnet.us/
haffner@ieee.org
slhaffner@gmail.com

Desenvolvido para ser utilizado como notas de


aula para o primeiro curso na área de Sistemas
de Energia em nível de graduação ou pós-
graduação.

Setembro 2007
Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Sumário

Introdução [1 página] 4

I Fundamentos para solução de circuitos elétricos [22 páginas] 1


I.1 Representação fasorial 1
I.2 Impedância [Ω Ω] e admitância [Ω
Ω-1 ou siemens] 4
I.3 Associação de impedâncias 5
I.4 Potência complexa 6
I.5 Sentido do fluxo de potência 9
I.6 Fonte trifásica ideal 10
I.7 Carga trifásica ideal 11
I.8 Potência complexa em circuitos trifásicos equilibrados 11
I.9 Análise por fase e diagrama unifilar 14
I.10 O sistema por unidade (pu) 17

II O balanço de potência [7 páginas] 1


II.1 Capacidade de transmissão 1
II.2 Dependência da carga com a tensão e freqüência 3
II.3 O balanço de potência ativa e seus efeitos sobre a freqüência 5
II.4 O balanço de potência reativa e seus efeitos sobre a tensão 5

III A linha de transmissão [16 páginas] 1


III.1 Tipos de condutores 1
III.2 Resistência série 2
III.3 Indutância série 3
III.4 Capacitância em derivação 6
III.5 O modelo da linha de transmissão 11

IV O transformador [27 páginas] 1


IV.1 Transformador ideal de dois enrolamentos 1
IV.1.1 Transformador ideal em regime permanente senoidal 3
IV.1.2 Modelo do transformador ideal em pu 4
IV.2 Circuito equivalente do transformador real de dois 5
enrolamentos
IV.3 Transformador com relação não-nominal 14
IV.4 Transformador de três enrolamentos 16
IV.5 Autotransformador 17
IV.6 O modelo do transformador em fase 19
IV.7 O modelo do transformador defasador 25
IV.8 Expressões gerais dos fluxos de corrente e de potência 26

Introdução – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 2 de 4


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

V Geradores, reatores, capacitores e cargas [5 páginas] 1


V.1 Geradores 1
V.2 Reatores 1
V.3 Capacitores 2
V.4 Cargas 2

VI O estudo do fluxo de carga [12 páginas] 1


VI.1 Definição do problema do fluxo de carga 1
VI.2 As equações das correntes dos nós 6
VI.3 Formulação matricial 8

VII Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos [47 páginas] 1


VII.1 Formulação do problema básico 1
VII.2 Resolução de sistemas algébricos não lineares pelo método 10
de Newton-Raphson
VII.3 Fluxo de carga pelo método de Newton-Raphson 15
VII.4 Métodos desacoplados 24
VII.4.1 Método de Newton desacoplado 24
VII.4.2 Desacoplado rápido 31
VII.4.3 Apresentação formal dos métodos desacoplados 35
VII.5 Controles e limites 38

VIII Fluxo de carga linearizado [7 páginas] 1


VII.1 Linearização 1
VIII.2 Formulação matricial 3
VIII.3 Representação das perdas no modelo linearizado 5

Bibliografia [1 página] 1

Introdução – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 3 de 4


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Introdução

Estas notas de aula têm como objetivo apresentar, de forma resumida, o conteúdo integral da disciplina
introdutória na área de Sistemas de Energia para um curso em nível de graduação em Engenharia Elétrica
(parcial para uma disciplina em nível de pós-graduação em Engenharia Elétrica) que consiste na análise de
sistemas de energia elétrica em regime permanente senoidal. Estas notas não detalham em profundidade
todos os aspectos relacionados com o tema, mas podem ser utilizadas para balizar estudos nesta área, cuja
bibliografia em português não é muito abundante, em função da retirada dos títulos já esgotados dos
catálogos das editoras.

A análise de sistemas elétricos em regime permanente é de extrema importância, pois é desta forma que as
redes operam quase na totalidade do tempo. Nestas condições, busca-se que todos os equipamentos elétricos
(geradores, transformadores, linhas de transmissão, alimentadores, motores, etc.) estejam operando dentro de
seus limites (tensão, freqüência, potência, etc.) e, se possível, de forma ótima (visando maximizar a
segurança e minimizar o custo de geração, as perdas de transmissão, etc.).

Para efetuar esta análise, em cada condição de carga e geração possível para o sistema ou sub-sistema
elétrico, deve-se conhecer:
• O carregamento nas linhas de transmissão e nos transformadores, visando verificar se há sobrecarga
ou elementos ociosos;
• A potência gerada em cada unidade de geração, visando efetuar uma análise de custos;
• A potência consumida em cada unidade, visando efetuar projeções do crescimento do consumo;
• A tensão nos diversos pontos do sistema, para verificar se existem tensões muito acima ou abaixo
dos valores nominais;
• As perdas de transmissão, visando compara alternativas de alimentação das cargas;
• As conseqüências, em regime permanente, da perda de algum equipamento, visando verificar se o
estado de operação é seguro.

Desta forma, é possível verificar com objetividade a forma de operação que o sistema elétrico se encontra. A
avaliação destes indicadores é a base dos métodos empregados na definição das alterações necessárias para
modificar o ponto de operação do sistema com o objetivo melhorar sua forma de funcionamento em regime
permanente.

O conteúdo está dividido em oito capítulos, da seguinte forma.

No Capítulo I é feita uma revisão dos conceitos necessários da análise de circuitos em regime permanente
senoidal juntamente com a apresentação da notação empregada nos demais capítulos. Adicionalmente,
descrevem-se o sistema por unidade e a análise por fase, muito freqüente em sistemas de energia, quando o
sistema pode ser considerado equilibrado.

No Capítulo II é feita uma breve análise do balanço de potência e suas implicações com a magnitude da
tensão nas barras e com a abertura angular das linhas e dos transformadores.

Os Capítulos III, IV e V são dedicados para apresentar a forma pela qual os elementos do sistema de energia
elétrica são modelados para análise por fase (aplicada para circuitos equilibrados).

Nos Capítulos VI e VII o problema denominado Fluxo de Carga (ou Fluxo de Potência) não-linear que
consiste, basicamente, na determinação das tensões nodais (em módulo e fase) é formulado e resolvido.

No Capítulo VIII é descrito o modelo linearizado para o problema do Fluxo de Carga, que consiste em uma
simplificação do modelo não-linear que é muito utilizada em estudos de planejamento.

Introdução – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 4 de 4


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Bibliografia

1. Alcir J. Monticelli (1983). Fluxo de carga em redes de energia elétrica. Edgar Blücher.
2. Alcir J. Monticelli, Ariovaldo V. Garcia (2003). Introdução a sistemas de energia elétrica. Editora da
Unicamp.
3. Alcir Monticelli, Ariovaldo Garcia, Osvaldo Saavedra (1990). Fast decoupled load flow: hypothesis,
derivations and testing, IEEE Transactions on Power Systems, Vol. 4, No. 4, November, pp. 1425-1431.
4. Arthur R. Bergen, Vijay Vittal (2000). Power systems analysis. Prentice Hall.
5. Charles A. Gross (1986). Power system analysis. J. Wiley.
621.3191 G878p
6. Dorel Soares Ramos (1982). Sistemas elétricos de potência: regime permanente. Guanabara Dois.
621.3191 R175s
7. IEEE recommended practice for industrial and commercial power systems analysis (1997). IEEE.
621.31042 I42i
8. John J. Grainger, William D. Stevenson Jr. (1994). Power system analysis. McGraw-Hill.
621.3191 G743
9. J. Arrillaga, N. R. Watson (2001) Computer modelling of electrical power systems. John Willey & Sons
Ltd.
10. Hadi Saadat (1999). Power system analysis. McGraw-Hill, New York, 697p.
11. O. I. Elgerd (1981). Introdução à teoria de sistemas de energia elétrica. McGraw Hill do Brasil.
621.3191 E41ib (Edição 1981)
621.3191 E41ia (Edição 1978)
621.3191 E41i (Edição 1970)
12. Syed A. Nasar (1991). Sistemas eléctricos de potencia. McGraw-Hill.
13. Turan Gonen (1988). Modern power system analysis. J. Wiley.
621.3191 G638m
14. W. D. Stevenson Jr. (1986). Elementos de análise de sistemas de potência. McGraw-Hill.
621.3191 S847eb (edição de 1981)
621.3191 S847ea (edição de 1978)

Bibliografia – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 1 de 1


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

I – Fundamentos para solução de circuitos elétricos

I.1 – Representação fasorial

Nos circuitos elétricos assintoticamente estáveis1, a análise do regime permanente senoidal pode ser
realizada através da simples operação com números complexos por intermédio da transformada fasorial. Na
análise fasorial, todas as correntes e tensões senoidais são representadas por números complexos que
quantificam a amplitude e o ângulo de fase das senóides, sendo a freqüência destas considerada
implicitamente.

Qualquer função do tipo senoidal pode ser representada pela função

g (t ) = G cos (ωt + φ )

através da escolha dos valores adequados para:

G – valor máximo (amplitude);



ω = 2πf = – velocidade angular [rad/s];
T
f – freqüência [Hz];
T – período [s];
φ – ângulo de fase [rad].

A Figura I.1 apresenta o gráfico de uma função senoidal genérica, indicando os valores de G e φ.
G g(t)

−φ ωt
[rad]

-G

Figura I.1 – Função tipo senoidal.

Observar que quando o ângulo de fase φ é igual a −π 2 , a função cosseno transforma-se em um seno,
conforme mostra a Figura I.2, ou seja, são válidas as seguintes relações:
 π  π
cos ωt = senωt +  sen ωt = cosωt − 
 2  2

1
Circuitos assintoticamente estáveis são aqueles que não apresentam nenhuma das raízes de sua equação
característica no eixo imaginário ou no semiplano direito do plano complexo. Neste caso, a resposta natural tende a
zero:
lim t →∞ y n (t ) = 0
e a resposta completa tende à sua resposta forçada:
lim t →∞ y (t ) = lim t →∞ y n (t ) + y f (t ) = y f (t )

Fundamentos para solução de circuitos elétricos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 1 de 22
Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

cos
sen

π/2 ω t [rad]

Figura I.2 – Relação entre as funções seno e cosseno.

Define-se como defasagem a diferença entre os ângulos de fases de duas funções do tipo senoidal de mesma
φ2
 67 8
 
velocidade angular ω. Sendo g1 (t ) = G1 cos (ωt + φ1 ) e g 2 (t ) = G 2 cos ωt + φ1 − α  , a defasagem entre g1 (t ) e
 
 
g 2 (t ) é dada por φ1 − φ 2 = φ1 − (φ1 − α ) = α , conforme ilustra a Figura I.3.
g1(t) g2(t)

α
ω t [rad]

Figura I.3 – Defasagem entre duas funções senoidais.

Assim, pode-se dizer que:


g1 (t ) está adiantada em relação à g 2 (t ) do ângulo α e
g 2 (t ) está atrasada em relação à g1 (t ) do ângulo α.

Considere a função senoidal geral:


y (t ) = Ymax cos (ωt + φ ) (I.1)

Note que a função tem três parâmetros: Ymax – amplitude


ω – velocidade angular
φ – ângulo de fase

Observar que qualquer função senoidal pode ser representada através da escolha adequada de Ymax , ω e φ .

Utilizando a identidade de Euler: e jθ = cos θ + j sen θ

Fundamentos para solução de circuitos elétricos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 2 de 22
Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

y (t ) = Ymax cos(ωt + φ ) = Re[Ymax cos(ωt + φ )]


[ ] [
= Re[Ymax cos(ωt + φ ) + jYmax sen(ωt + φ )] = Re Ymax e j (ωt +φ ) = Re Ymax e jφ e jωt = ]
6 47Y48 
 Ymax jφ jωt 
= 2 Re  e e 
 2 
 
(
y (t ) = 2 Re Y e jωt ) (I.2)
Y
onde Y = max e jφ é definido como a representação fasorial de y (t ) ou a transformada fasorial da função
2
senoidal y (t ) .

Observar que a transformada fasorial transfere a função senoidal do domínio do tempo para o domínio dos
números complexos, que também é chamada de domínio da freqüência, já que a resposta envolve
implicitamente uma função senoidal de freqüência ω.

Ymax
Notar que Y contém 2/3 das informações de y (t ) a saber, Ymax e φ . Considerando Y = , o valor RMS2
2
de y (t ) , tem-se:

Y = Ye jφ = Y φ (I.3)

A representação gráfica em um sistema coordenado de um fasor genérico encontra-se na Figura I.4.


Im

Y =Y φ
Y sen φ

Re
Y cos φ

Figura I.4 – Representação gráfica do fasor Y

Observar que o fasor é diferente de um vetor porque a posição angular do fasor representa posição no
tempo; não no espaço.

Resumo:

y (t ) = Ymax cos (ωt + φ ) ou (


y (t ) = 2 Re Y e jωt )
Y
Y = Ye jφ = Y φ Forma polar Y = max
2
Ymax
Y = Y cos φ + jY sen φ Forma retangular Y=
2

2
“Root Mean Square” ou valor quadrático médio (eficaz).

Fundamentos para solução de circuitos elétricos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 3 de 22
Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Ω] e admitância [Ω
I.2 – Impedância [Ω Ω-1 ou siemens]

A impedância Z de um componente ou circuito é a relação entre os fasores tensão e corrente (vide


convenção de sinais da Figura 1.5):

∆ R = resistênci a
Z ( jω ) =
V
= R + jX  (I.4)
I X = reatância

A admitância Y de um componente ou circuito é o inverso de sua impedância:

∆ G = condutância
Y ( jω ) =
1 I
= = G + jB  (I.5)
Z ( jω ) V  B = susceptância

[
i (t ) = 2 Re I e jωt ]
Circuito +
linear
Z ( jω ) = [ ]
invariante 1
em regime v(t ) = 2 Re V e jωt
Y
permanente
senoidal

Figura I.5 – Definição de impedância e admitância.

Um resumo das relações entre tensão e corrente para os elementos simples encontra-se na Tabela I.1.

Tabela I.1 – Relação tensão/corrente dos elementos simples.

Forma fasorial:
Elemento Equações
Relação de [ ]
i (t ) = 2 Re I e jωt Diagrama Relação no
2 Re[V e ]
fase fasorial tempo
v(t ) = jωt

i(t )
I
v(t ) = Vmax cos(ωt + φ )
i(t)
i (t ) e v(t )
+
V
v(t )
V = RI v(t)
i (t ) = I max cos(ωt + φ ) em fase
R
φ

i(t ) V
v(t ) = Vmax cos(ωt + φ ) V = jω L I
i(t)
+
i (t ) atrasada φ
v(t ) L
i (t ) = I max
 π de v(t ) de 90°
cos ωt + φ − 
 2 X L = ωL I
v(t)

i(t ) 1
v(t ) = Vmax cos(ωt + φ )
V= I i(t)
+
i (t ) adiantada jωC I V v(t)

v(t ) C  π
i (t ) = I max cos ωt + φ + 
de v(t ) de 90° φ
 2 1
XC =

ωC

Fundamentos para solução de circuitos elétricos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 4 de 22
Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

I.3 – Associação de impedâncias

Para a associação série de impedâncias (vide Figura I.6), a impedância equivalente é dada pela soma das
impedâncias de cada um dos componentes, ou seja:
Z eq = Z 1 + Z 2 + K + Z n (I.6)
I + V1 – + V2 – + Vn – I

+ +
Z1 Z2 Zn

V ≡ V Z eq

– –

Figura I.6 – Diagrama para associação série de impedâncias.

A expressão (I.6) pode ser demonstrada utilizando-se a Lei de Kirchhoff das Tensões, da forma como segue:
V LKT V 1 + V 2 + K + V n V 1 V 2 Vn
Z eq = = = + +K+ = Z1 + Z 2 +K+ Z n
I I I I I
1
Sabendo que Z = , pode-se determinar a expressão da admitância equivalente da associação série, a partir
Y
da expressão (I.6):
1 1 1 1 1
= + +K+ ⇒ Y eq =
Y eq Y 1 Y 2 Yn 1 1 1
+ +K+
Y1 Y 2 Yn

Para a associação paralela de impedâncias (vide Figura I.7), a impedância equivalente é dada pelo inverso
da soma dos inversos das impedâncias de cada um dos componentes, ou seja:
1 1 1 1 1
= + +K+ ⇒ Z eq = (I.7)
Z eq Z 1 Z 2 Zn 1 1 1
+ +K+
Z1 Z 2 Zn
I I

+ I1 I2 In +

V ≡ V Z eq
Z1 Z2 Zn

– –

Figura I.7 – Diagrama para associação em paralelo de impedâncias.

A expressão (I.7) pode ser demonstrada utilizando-se a Lei de Kirchhoff das Correntes, da forma como
segue:
V LKC V V 1
Z eq = = = =
I I1 + I 2 +K+ I n V V V 1
+
1
+K+
1
+ +K+
Z1 Z 2 Zn Z1 Z 2 Zn
1
Novamente, sabendo que Z = , pode-se determinar a expressão da admitância equivalente da associação
Y
série, a partir da expressão (I.7):
Y eq = Y 1 + Y 2 + K + Y n

Fundamentos para solução de circuitos elétricos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 5 de 22
Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

I.4 – Potência complexa

Considere o sistema da Figura I.8 que se encontra em regime permanente senoidal.

i (t ) Im
V
+ V max
V= φ
v(t ) 2
SISTEMA
- θ
I max
φ I I= φ −θ
2
v(t ) = Vmax cos(ωt + φ )

i (t ) = I max cos(ωt + φ − θ )
Re
Figura I.8 – Sistema em regime permanente senoidal.

A potência instantânea fornecida para o sistema é dada por:

p(t ) = v(t )i (t ) = Vmax I max cos(ωt + φ ) cos(ωt + φ − θ ) (I.8)

mas cos(a + b ) = cos a cos b − sen a sen b , daí


cos(ωt + φ − θ ) = cos(ωt + φ ) cos(− θ ) − sen (ωt + φ ) sen (− θ ) = cos(ωt + φ ) cos θ + sen (ωt + φ ) sen θ (I.9)
Substituindo (I.9) em (I.8),
p (t ) = Vmax I max cos(ωt + φ )[cos(ωt + φ ) cos θ + sen (ωt + φ ) sen θ ] =
(I.10)
= Vmax I max cos θ cos 2 (ωt + φ ) + V max I max sen θ cos(ωt + φ ) sen (ωt + φ )
1 + cos 2a
Mas cos 2 a = e sen 2a = 2 sen a cos a , logo:
2
cos 2 (ωt + φ ) = [1 + cos(2ωt + 2φ )]
1
2
(I.11)
sen (2ωt + 2φ )
cos(ωt + φ ) sen (ωt + φ ) =
2
Aplicando (I.11) em (I.10), chega-se a:
p(t ) = cosθ [1 + cos(2ωt + 2φ )] + max max sen θ sen (2ωt + 2φ )
Vmax I max V I
2 2
Vmax I max
Definindo V = e I= como os valores eficazes da tensão e da corrente senoidais,
2 2
Vmax I max Vmax I max
= = VI
2 2 2
chega-se à seguinte expressão:

p(t ) = VI cos θ [1 + cos(2ωt + 2φ )] + VI sen θ sen (2ωt + 2φ ) (I.12)

A forma de onda da potência instantânea dada por (I.12) apresenta uma parcela constante, igual a VI cos θ , e
uma parcela variável e alternada variante no tempo, igual a VI cosθ cos(2ωt + 2φ ) + VI sen θ sen (2ωt + 2φ ) , cuja
freqüência corresponde exatamente ao dobro da freqüência da tensão e da corrente.

Quando a tensão está em fase com a corrente, os gráficos das funções tensão, corrente e potência
instantâneas são de acordo com a Figura a seguir. Observar que a função potência instantânea é oscilante e
apresenta sempre valores positivos.

Fundamentos para solução de circuitos elétricos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 6 de 22
Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Corrente em fase com a tensão


10

v(t), i(t), p(t)


5

0
v(t)
i(t)
p(t)
-5
0 1 2 3 4 5 6
wt
Figura I.9 – Gráfico da potência no tempo – corrente em fase com a tensão.

Quando a corrente está atrasada de 90°° em relação à tensão, os gráficos das funções tensão, corrente e
potência instantâneas são de acordo com a Figura a seguir. Observar que a função potência é oscilante e
apresenta valor médio nulo.
Corrente atrasada de 90 graus
5
v(t), i(t), p(t)

v(t)
i(t)
p(t)
-5
0 1 2 3 4 5 6
wt
Figura I.10 – Gráfico da potência no tempo – corrente atrasada de 90o em relação à tensão.

Quando a corrente está adiantada de 90°° em relação à tensão, os gráficos das funções tensão, corrente e
potência instantâneas são de acordo com a Figura a seguir. Novamente, observar que a função potência é
oscilante e apresenta valor médio nulo.
Corrente adiantada de 90 graus
5
v(t), i(t), p(t)

v(t)
i(t)
p(t)

-5
0 1 2 3 4 5 6
wt
Figura I.11 – Gráfico da potência no tempo – corrente adiantada de 90o em relação à tensão.

Fundamentos para solução de circuitos elétricos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 7 de 22
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Uma situação intermediária é aquela na qual a corrente está atrasada de um ângulo qualquer (por exemplo,
30°, conforme Figura a seguir). Neste caso a potência apresenta valores positivos e negativos, sendo a
predominância dos positivos.
Corrente atrasada de 30 graus
10
v(t), i(t), p(t)

0
v(t)
i(t)
p(t)
-5
0 1 2 3 4 5 6
wt
Figura I.12 – Gráfico da potência no tempo – corrente atrasada de 30o em relação à tensão.

A partir da expressão (I.12) é fácil determinar o valor da potência ativa (eficaz ou útil, que produz trabalho)
que é igual ao valor médio da potência instantânea fornecida ao sistema:
P∆
1 T
∫ p(t )dt =
1 T
[VI cosθ [1 + cos(2ωt + 2φ )] + VI sen θ sen(2ωt + 2φ )]dt

T 0 T 0
P = VI cos θ [W] (I.13)

A potência reativa corresponde ao valor máximo da parcela em sen(2ωt + 2φ ) da potência instantânea:


Q ∆ VI sen θ = VI sen θ [var] (I.14)

para a qual adota-se a seguinte convenção3:


INDUTOR: “consome” potência reativa
CAPACITOR: “gera” potência reativa

A potência aparente é obtida pela combinação das potências ativa e reativa P e Q:


S = VI = P 2 + Q 2 [VA] (I.15)

As expressões (I.13), (I.14) e (I.15) sugerem uma relação de triângulo retângulo (similar ao triângulo das
impedâncias) na qual a potência aparente S é a hipotenusa, conforme ilustra a Figura I.13.
S P
jQ
θ = ∠V − ∠ I

θ = ∠V − ∠ I jQ

P S

Característica INDUTIVA Característica CAPACITIVA

Figura I.13 – Triângulo das potências.

3
Observar que para qualquer elemento ou combinação de elementos, a parcela representada pela potência reativa
apresenta valor médio nulo, ou seja, não existem geração nem consumo efetivo, na metade do ciclo o elemento absorve
energia que será devolvida na metade seguinte do ciclo. A convenção é adequada porque na metade do ciclo em que o
indutor está absorvendo energia o capacitor está devolvendo e vice-versa.

Fundamentos para solução de circuitos elétricos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 8 de 22
Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

O fator de potência é obtido pela relação entre as potências ativa e aparente:

P VI cosθ
FP = = = cosθ
S VI

Utilizando-se os fasores tensão e corrente,


V =V φ
I = I φ −θ
pode-se definir a potência complexa através do produto do fasor tensão pelo conjugado do fasor corrente:

*
S = V ⋅ I = V φ I − φ + θ = VI θ = VI cosθ + jVI senθ = P + jQ (I.16)

Notar que desta forma, o ângulo da potência só depende do ângulo entre a tensão e a corrente (θ), conforme
ocorre nas expressões (I.13), (I.14) e (I.15).

I.5 – Sentido do fluxo de potência

Considere os dois sistemas elétricos interligados mostrados na Figura I.14.


I

+ V =V α

SISTEMA V SISTEMA
A B
- I =I β

Figura I.14 – Situação geral do fluxo de potência em circuitos CA.

De acordo com a notação da Figura I.14, a potência complexa fornecida para o Sistema B pelo Sistema A é
dada por:

S = V ⋅ I = V α I − β = VI α − β = VI cos(α − β ) + jVI sen(α − β ) = P + jQ


*

O sentido do fluxo de potência ativa P e reativa Q entre os dois sistemas para ψ = α − β variando de 0 a
360o está mostrado na Figura I.15.
Q [var] V =V α
P: B → A P: A → B
I=I β
Q: A → B Q: A → B
ψ =α − β
90 < ψ < 180
o o 0 o < ψ < 90 o

P [W]
P: B → A P: A → B
Q: B → A Q: B → A

180 o < ψ < 270 o 270 o < ψ < 360 o

Figura I.15 – Sentido dos fluxos de potência ativa (P) e reativa (Q) entre os Sistemas A e B.

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Na Figura I.15, observar que quando o ângulo de abertura é igual a 100o (ψ = 100 o ), o valor de cosψ é
negativo e, portanto, o fluxo de potência ativa de A para B também é pois P = VI cosψ . Isto significa que o
fluxo de potência ativa neste caso é de B para A. Por outro lado, o valor de sen ψ é positivo e, portanto, o
fluxo de potência reativa de A para B também é, pois Q = VI senψ . Isto significa que o fluxo de potência
reativa neste caso é de A para B. Observar que dependendo do ângulo de abertura existente entre os fasores
tensão e corrente é possível qualquer combinação de fluxo de potências ativa e reativa entre os dois sistemas.

I.6 – Fonte trifásica ideal

Uma fonte trifásica ideal é constituída por três fontes de tensão em conexão estrela ou triângulo, conforme
ilustra a Figura I.16.
V AN
A + –
+ +
+ –
V AB V AB
V BN V AB
B –
+ – V CA +
V CA V CA
+ + +
V CN V BC V BC V BC
+ C – + – +

N N
(opcional)

(a) Conexão estrela (b) Conexão triângulo.


Figura I.16 – Fonte trifásica, ligação estrela.

As diferenças de potencial entre as fases e o neutro (referência) são denominadas tensões de fase; as
diferenças de potencial entre as fases 2 a dois são denominadas tensões de linha. Na seqüência ABC, o
sistema é formado pelas seguintes tensões de fase V AN ,V BN ,V CN (
e de linha )
(V AB )
= −V BA ,V BC = −V CB ,V CA = −V AC , ilustradas na Figura I.17:
V AN = Vφ 0 V AB = V AN − V BN = 3Vφ 30 o = V L 30 o
V BN = Vφ − 120 o V BC = V BN − V CN = 3Vφ − 90 o = V L − 90 o
V CN = Vφ 120 o V CA = V CN − V AN = 3Vφ 150 o = VL 150 o
V CN ω V CB
V CA
ω

V AN V CN V AB
V CA
V AB
V BC

V BN V AN

Tensões de Fase (φ): V AN ; V BN ; V CN


V AC
V BA
V BN
V AB ; V BC ; V CA
Tensões de Linha (L):
V BA ; V CB ; V CA
V BC

Figura I.17 – Tensão de fase e de linha em um sistema trifásico simétrico (seqüência ABC).

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A constante que relaciona a magnitude da tensão de fase com a de linha VL = 3Vφ ( ) pode ser obtida,
conforme mostrado na Figura I.18.
− V BN

60 o V L = V AB = 2 V AN cos 30 o = 3 V AN
V AN
30 o V L = 3Vφ
120 o

V AB = V AN − V BN

30 o

V BN

Figura I.18 – Relação entre as tensões de fase e de linha.

I.7 – Carga trifásica ideal

A carga trifásica ideal é constituída por três impedâncias de igual valor conectadas em estrela ou triângulo,
conforme mostra a Figura I.19.
A ZY A

ZY Z∆
B B
Z∆

ZY Z∆
C C

N N

(a) Ligação estrela. (b) Ligação malha ou triângulo.


Figura I.19 – Carga trifásica equilibrada.

A equivalência entre uma carga equilibrada conectada em estrela com outra em triângulo é:
Z ∆ = 3Z Y (I.17)

I.8 – Potência complexa em circuitos trifásicos equilibrados

Para um sistema trifásico qualquer (a três ou quatro fios, ou seja, com ou sem condutor neutro), conforme o
ilustrado na Figura I.20, a potência complexa fornecida pelo Sistema A para o Sistema B é dada por:
* * *
S 3φ = V 1N ⋅ I 1 + V 2 N ⋅ I 2 + V 3 N ⋅ I 3 = V1N I1 α 1 − β1 + V2 N I 2 α 2 − β 2 + V3 N I 3 α 3 − β 3

Substituindo θ i = α i − β i e separando a parte real da imaginária, chega-se a:


( )
P3φ = Re S 3φ = V1N I1 cosθ1 + V2 N I 2 cosθ 2 + V3 N I 3 cosθ 3
Q3φ = Im(S ) = V
3φ 1N I 1 sen 1θ + V2 N I 2 sen θ 2 + V3 N I 3 sen θ 3
S 3φ = P3φ + jQ3φ

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V 1N = V1N α 1
V 1N I1
+ φ1 V 2 N = V2 N α 2
V 3 N = V3 N α 3
V 2N I2
+ φ2
I 1 = I1 β 1
N V 3N I3
φ3 Sistema B I 2 = I2 β2
+
I 3 = I3 β3
IN
θ1 = α1 − β1
Sistema A θ2 =α2 − β2
θ3 =α3 − β3

Figura I.20 – Sistema trifásico para a determinação da potência complexa.

O fator de potência médio da potência fornecida pelo Sistema A para o Sistema B é dado por:
P3φ
FPmédio =
S 3φ
As potências aparentes fornecidas pelas fases são dadas por:
S1 = P12 + Q12 = V1N I1
S2 = P22 + Q22 = V2 N I 2
S3 = P32 + Q32 = V3 N I 3
e os fatores de potência desenvolvidos em cada uma das fases são dados por:
P
FP1 = 1 = cosθ1
S1
P2
FP2 = = cosθ 2
S2
P3
FP3 = = cosθ 3
S3
Quando o sistema trifásico é simétrico e alimenta uma carga equilibrada, os ângulos de defasagem entre os
fasores tensão e corrente das fases são iguais (θ 1 = θ 2 = θ 3 = θ ) e as potências ativa, reativa e aparente totais
são dadas por:

P3φ = 3Vφ I L cosθ = 3VL I L cosθ


Q3φ = 3Vφ I L senθ = 3VL I L senθ
S 3φ = 3Vφ I L = 3VL I L

sendo o fator de potência expresso por:

P3φ
FP3φ = = cosθ
S 3φ

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Ainda, para um sistema trifásico simétrico alimentando uma carga equilibrada, tem-se4:

v A (t ) = Vmax cos(ωt + φ ) i A (t ) = I max cos(ωt + φ − θ )


(
v B (t ) = Vmax cos ωt + φ − 120 o
) (
i B (t ) = I max cos ωt + φ − 120 o − θ )
(
vC (t ) = Vmax cos ωt + φ + 120 o ) (
iC (t ) = I max cos ωt + φ + 120 o − θ )
Utilizando a definição de potência instantânea, tem-se:

p A (t ) = v A (t )i A (t ) = Vmax I max cos (ωt + φ ) cos (ωt + φ − θ ) (I.18)


( ) (
p B (t ) = v B (t )iB (t ) = Vmax I max cos ωt + φ − 120 cos ωt + φ − 120 − θ
o o
) (I.19)
pC (t ) = vC (t )iC (t ) = Vmax I max cos(ωt + φ + 120 )cos(ωt + φ + 120
o o
−θ ) (I.20)

sendo a potência total dada por:

p3φ (t ) = p A (t ) + p B (t ) + pC (t )
[ ( ) (
p3φ (t ) = Vm I m cos(ωt + φ ) cos(ωt + φ − θ ) + cos ωt + φ − 120 o cos ωt + φ − 120 o − θ + )
+ cos(ωt + φ + 120 )cos(ωt + φ + 120 − θ )]
(I.21)
o o

Das expressões (I.18), (I.19) e (I.20), têm-se5:

cos(ωt + φ )cos(ωt + φ − θ ) =
1
[cosθ + cos(2ωt + 2φ − θ )]
2
( ) (
cos ωt + φ − 120 o cos ωt + φ − 120 o − θ ) =
1
2
[ cos θ ( )]
+ cos 2ωt + 2φ − 240 o − θ =

=
1
2
[ cos θ + cos(2ωt + 2φ − θ + 120 )] o

( ) (
cos ωt + φ + 120 o cos ωt + φ + 120 o − θ ) =
1
2
[ cos θ + cos(2ωt + 2φ + 240 − θ )] =
o

=
1
2
[ cos θ + cos(2ωt + 2φ − θ − 120 )] o

Substituindo as expressões anteriores na expressão (I.21), chega-se a:

= 0 44444444444448
 644444444444447 
1
2
o
(
p3φ (t ) = Vm I m 3 cosθ + cos(2ωt + 2φ − θ ) + cos 2ωt + 2φ − θ + 120 + cos 2ωt + 2φ − θ − 120 =
o 

) ( )
 
1 Vm I m
= Vm I m 3 cosθ = 3 cosθ = 3P1φ = 3VI cosθ
2 2

Deste modo, a potência trifásica instantânea fornecida para um sistema equilibrado6, através de tensões
simétricas, é constante. Assim, embora a potência instantânea fornecida por intermédio de cada uma das
fases seja variável, o somatório de todas as contribuições é constante.

4
Foi utilizada a seqüência ABC mas o resultado permanece válido para a seqüência ACB.
cos a cos b = [cos(a − b ) + cos(a + b )]
5 1
Lembrar que:
2
6
Observar que o resultado obtido pode ser estendido para qualquer sistema polifásico simétrico que alimente cargas
equilibradas, ou seja, a potência polifásica instantânea fornecida para um sistema equilibrado, alimentado por tensões
simétricas, é constante.

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I.9 – Análise por fase e diagrama unifilar

No estudo do regime permanente do sistema de energia elétrica, utiliza-se a análise por fase pois o sistema é
considerado equilibrado, da geração ao consumo, ou seja:
a) as fontes do sistema são consideradas simétricas;
b) as impedâncias das fases são consideradas iguais e
c) as cargas são consideradas equilibradas.

Desta forma, o resultado (tensão, corrente, etc.) de uma fase pode ser utilizado para as demais desde que se
façam os ajustes de fase necessários.

Exemplo I.1 – Uma fonte trifásica, 2400 V, seqüência ABC, alimenta duas cargas conectadas em paralelo:
• Carga 1: 300 kVA, fator de potência igual a 0,8 indutivo e
• Carga 2: 144 kW, fator de potência igual a 0,6 capacitivo.

Se a Fase A é utilizada como referência angular (ou seja, o ângulo de fase de V AN é igual a zero),
determinar:
a) O circuito equivalente por fase (diagrama de impedância).
b) As correntes de linha das Fases A, B e C.

Solução Exemplo I.1:

a) Inicialmente, determina-se o fasor potência complexa referente a cada uma das cargas:

Carga 1: S 3carga
φ
1
= 300 kVA
P3carga
φ
1
= FP1 × S 3carga
φ
1
= 0,8 × 300 = 240 kW

Q3carga
φ
1
= (S 3φ ) − (P
carga 1 2
3φ )
carga 1 2
= 300 2 − 240 2 = 180 kvar

= (240 + j180) kVA = 300 36,9 o kVA


carga 1
S 3φ
Carga 2: P3carga
φ
2
= 144 kW
P3carga
φ
2
144
S 3carga
φ
2
= = = 240 kVA
FP2 0,6

Q3carga
φ
2
= − S 3carga
φ (2
) − (P
2 carga 2 2
3φ ) = 240 2 − 144 2 = −192 kvar

= (144 − j192) kVA = 240 − 53,1o kVA


carga 2
S 3φ

Para a Fase A, tem-se:


carga 1

= (80 + j 60 ) kVA = 100 36,9 o kVA


1 S 3φ
Carga 1: SA =
3
carga 2

= (48 − j 64 ) kVA = 80 − 53,1o kVA


2 S 3φ
Carga 2: SA =
3

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Solução Exemplo I.1 (continuação):


VL 2400
Conhecendo o valor da tensão de fase da Fase A, V AN = 0o = 0 o V , e a expressão da potência
3 3
desenvolvida na Fase A:
*
*  SA 
S A = V AN I A IA = ⇒ 
V AN 
pode-se determinar a corrente desenvolvida nas Cargas 1 e 2, como segue:
* *
 S 1A  100000 36,9 o 
 = 72,2 − 36,9 o A = (57 ,74 − j 43,30) A
1
IA =  =
V AN   2400
0 o

 3 
* *
 S 2A   80000 − 53,1o 
 = 57,7 53,1o A = (34,64 + j 46,19) A
2
I =
A  =
V AN   2400
0 o

 3 

Para o equivalente em estrela,


2400
0o
= 19,2 36,9 o Ω = (15,36 + j11,52 ) Ω
1 V AN
ZY = 1 = 3

IA 72,2 − 36,9 o

2400
0o
= 24 − 53,1o Ω = (14,4 − j19,2 ) Ω
2 V AN
ZY = = 3
2
IA 57,7 − 53,1 o

O circuito equivalente para a Fase A encontra-se na Figura I.21.


2
IA IA

15,36 Ω 14,4 Ω
+
2400
0o V 1
3 IA
j11,52 Ω − j19,2 Ω

Figura I.21 – Circuito equivalente para a Fase A.

b) De acordo com o diagrama da Figura I.21, a corrente de linha da Fase A é dada por:
I A = I A + I A = 57 ,74 − j 43,30 + 34,64 + j 46,19 = (92,38 + j 2,89 ) A = 92,4 1,8 o A
1 2

Levando em conta a simetria do sistema trifásico e a seqüência ABC, tem-se:

I B = 92,4 1,8o − 120 o A = 92,4 − 118,2 o A


I C = 92,4 1,8 o + 120 o A = 92,4 121,8 o A

Observar que quando se realiza análise por fase é melhor empregar o circuito equivalente em estrela; se a
conexão do equipamento é em triângulo, pode-se converter para o seu circuito equivalente em estrela. Como
conseqüência, as linhas de baixo dos circuitos equivalentes por fase representam o neutro, as tensões são as
de fase e as correntes são de linhas (na conexão estrela, a corrente de fase é igual à corrente de linha).

Fundamentos para solução de circuitos elétricos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 15 de 22
Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Na Figura I.22, observa-se a representação de um sistema de energia elétrica através do diagrama unifilar, do
diagrama trifásico (trifilar) de impedâncias e do diagrama de impedância por fase. No diagrama unifilar é
possível representar a topologia do sistema (ligações), os valores das grandezas elétricas dos componentes e
sua forma de conexão. O diagrama trifilar de impedâncias representa o circuito elétrico equivalente ao
sistema de energia elétrica. O diagrama de impedância por fase representa uma simplificação do diagrama
trifásico sendo utilizado para determinar os valores das grandezas elétricas do sistema para uma fase
(posteriormente, este resultado é estendido para as demais fases).

Linha de Carga e
Gerador Transformador 1 Transformador 2
Transmissão Gerador 2
4
1 2 3
T1 T2

G1
G2
Y-Y Y-Y
(a) Diagrama unifilar.

• • •

• • • •

G1 G2


• • •

• • • •

G1 G2

• • • • • • • • •
• • •

• • • •

G1 G2

• • • • • • • • • • •
(b) Diagrama trifilar de impedância.
• • •

G1 G2

• • •
(c) Diagrama de impedância por fase (em pu).

Figura I.22 – Representação do sistema de energia elétrica.

Fundamentos para solução de circuitos elétricos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 16 de 22
Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Exercício I.1 – Uma fonte trifásica, 13,8 kV, seqüência ABC, alimenta por intermédio de uma linha com
impedância série de (4 + j 4 ) Ω , duas cargas conectadas em paralelo:
• Carga 1: 500 kVA, fator de potência igual a 0,8 indutivo e
• Carga 2: 150 kvar, capacitivo.
Se a Fase A é utilizada como referência angular (ou seja, o ângulo de fase de V AN é igual a zero),
determinar:
a) O circuito equivalente por fase (diagrama de impedância).
b) As correntes de linha das Fases A, B e C.

I.10 – O sistema por unidade (pu)

Freqüentemente, na análise de sistemas de energia elétrica ao invés de serem utilizadas as unidades originais
para as grandezas envolvidas (tensão, corrente, potência, etc.) são utilizadas unidades relativas (por unidade
ou, simplesmente, pu), obtidas através da normalização dos valores originais destas grandezas (em V, A, W,
etc.) por valores pré-estabelecidos para cada grandeza, denominados valores de base. Realizando esta
normalização em todas as grandezas do sistema, é possível:
• Manter os parâmetros do sistema elétrico dentro de uma faixa de valores conhecidos evitando, portanto,
erros grosseiros. Por exemplo, quando se utiliza o valor nominal da tensão como valor de referência
(valor de base), pode-se verificar a partir do valor normalizado da tensão (em pu) sua distância do valor
desejado (nominal). Valores em pu próximos a unidade significam proximidades do valor nominal;
valores de tensão muito abaixo ou acima de 1 pu representam condições anormais de operação.
• Eliminar todos os transformadores ideais do sistema elétrico.
• A tensão de operação do sistema permanece sempre próxima da unidade.
• Todas as grandezas possuem a mesma unidade ou pu (embora os valores de base sejam diferentes para
cada uma das grandezas).
Para realizar a transformação das grandezas para pu basta dividir o valor destas pelo seu valor de base, ou
seja:
valor atual
valor em pu = (I.22)
valor base
O valor de base deve ser um número real; o valor atual pode ser um número complexo (se for utilizada a
forma polar, transforma-se apenas a magnitude da grandeza, mantendo-se o ângulo na unidade original).
A grandeza de base definida para todo o sistema de energia elétrica é a potência elétrica, S 3φbase
(geralmente 100 MVA):
S 3φbase
Sφbase = ⇔ S 3φbase = 3Sφbase [MVA] (I.23)
3
A tensão base, Vbase , geralmente corresponde à tensão nominal do sistema na região de interesse:
V L base
Vφ base = ⇔ V L base = 3Vφ base [kV] (I.24)
3
A corrente base, I base , e a impedância base, Z base , são obtidas a partir da potência e da tensão de base:
S 3φ base
Sφ base S 3φ base
I L base = I Y base = = 3 = [kA] (I.25)
Vφ base VL base 3VL base
3

Fundamentos para solução de circuitos elétricos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 17 de 22
Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

I L base S 3φ base
I ∆ base = = [kA] (I.26)
3 3V L base

Vφ base V L2base
Z Y base = = [Ω] (I.27)
I Y base S 3φ base
Vφ base VL2base
Z ∆ base = 3Z Y base = 3 =3 [Ω] (I.28)
I Y base S 3φ base

Têm-se, assim, duas classes de grandezas de base:


• Primárias – Nesta classe se incluem a potência base, definida para todo o sistema, e a tensão base, que
varia em função da tensão nominal da região em análise.
• Secundárias – Nesta classe se incluem a corrente base e a impedância base que são calculadas em
função da potência base (definida para todo o sistema) e dos valores nominais de tensão, utilizados como
tensão base na região em análise.
Existem outras formas de normalização possível, com definições diversas de grandezas nas classes grandezas
primárias e secundárias, entretanto esta é a forma usual na análise de sistemas de energia elétrica.

Uma operação bastante freqüente na modelagem de sistemas elétricos é a mudança de base de valores de
impedâncias. Um exemplo clássico da necessidade de mudança de base é a compatibilização do valor das
impedâncias dos transformadores, usualmente fornecidos em seu valor percentual, tendo como potência base
a potência nominal do equipamento e como tensões base as tensões terminais dos enrolamentos.

Para realizar a mudança de base de uma impedância na base 1, Z pu (base 1) , para a base 2, Z pu (base 2 ) , deve-se
proceder como segue:
Z
Z pu (base 2 ) = Z pu (base 1) base 1 (I.29)
Z base 2
2
V  S 3φ base 2
Z pu (base 2 ) = Z pu (base 1)  L base 1  (I.30)
V L base 2  S 3φ base 1

Exemplo I.2 – Considere o sistema do Exemplo I.1. Supondo que S 3φbase = 300 kVA e V L base = 2,4 kV ,
determinar:
a) As bases do sistema por unidade.
b) Desenhar o circuito equivalente por fase em valores por unidade.
c) Determinar o fasor corrente da Fase A em valores por unidade e em ampères.
Solução Exemplo I.2:
a) Utilizando as expressões (I.23), (I.24), (I.25) e (I.27) tem-se:
S 3φbase 300000
Sφbase = = = 100 kVA
3 3
V 2400
Vφ base = L base = = 1386 V
3 3
Sφ base 100000
I Y base = = = 72,2 A
Vφ base 1386
Vφ base 1386
Z Y base = = = 19,2 Ω
I Y base 72,2

Fundamentos para solução de circuitos elétricos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 18 de 22
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Solução Exemplo I.2 (continuação):


b) De acordo com os valores obtidos no Exemplo I.1, tem-se:
1
19,2 36,9 o
= 1 36,9 o pu = (0,8 + j 0,6 ) pu
1 ZY
Z Y pu = =
Z Y base 19,2
2
24 − 53,1o
= 1,25 − 53,1o pu = (0,75 − j1,00 ) pu
2 ZY
ZY pu = =
Z Y base 19,2
2400 o
0
= 1 0o pu = (1 + j 0 ) pu
V AN 3
V AN pu = =
Vφ base 1386
O circuito equivalente por fase em valores por unidade encontra-se na Figura I.23.
2
I A pu I A pu

0,8 pu 0,75 pu
+
o
1 0 pu 1
I A pu

j 0,6 pu − j1,00 pu

Figura I.23 – Circuito equivalente para a Fase A em pu.

c) Do circuito da Figura I.23, tem-se:


1 0o
= 1 − 36,87 o pu = (0,8 − j 0,6 ) pu
1
I A pu =
0,8 + j 0,6
1 0o
= 0,8 53,13o pu = (0,48 + j 0,64) pu
2
I A pu =
0,75 − j1,00
I A pu = I A pu + I A pu = 0,8 − j 0,6 + 0,48 + 0,64 = 1,28 1,8o pu = (1,28 + j 0,04) pu
1 2

I A = I A pu I Y base = 1,28 1,8 o × 72,2 = 92,4 1,8o A = (92,38 + j 2,89 ) A


Observar que o valor obtido em ampères é o mesmo calculado no Exemplo I.1.

Exemplo I.3 – A Figura I.24 mostra o diagrama unifilar de um sistema elétrico trifásico.

1
′ ′
T1: N 2 : N 1 2 3 T2: N 1 : N 2 4
1000 A

G1
2,4 kV 24 kV 12 kV
Y-Y Y-Y

Figura I.24 – Diagrama unifilar do Exemplo I.3.

Considere que o comprimento da linha entre os dois transformadores é desprezível, que a capacidade do
gerador 3φ é de 4160 kVA (2,4 kV e 1000 A), que este opera em condição nominal (I L = 1000 A )
alimentando uma carga puramente indutiva. A potência nominal do transformador trifásico T1 é 6000 kVA
(2,4/24 kV Y/Y) com reatância de 0,04 pu. T2 tem capacidade nominal de 4000 kVA, sendo constituído por
um banco de três transformadores monofásicos (24/12 kV Y/Y) com reatância de 4% cada. Determinar:

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a) A potência base.
b) A tensão de linha base.
c) A impedância base.
d) A corrente base.
e) Resuma os valores base em uma tabela.
f) Os valores das correntes em A.
g) A corrente em pu.
h) O novo valor das reatâncias dos transformadores considerando sua nova base.
i) O valor pu das tensões das Barras 1,2 e 4.
j) A potência aparente nas Barras 1,2 e 4.

Solução Exemplo I.3:


a) A potência base é selecionada arbitrariamente como: S 3φ base = 2080 kVA .

b) Para o circuito em 2,4 kV arbitra-se o valor de VL base = 2,5 kV . As demais tensões de base são
calculadas utilizando as relações de transformação de T1 e T2:

N1 N1
= 10 =2
N2 ′
N2
Assim, para os demais circuitos:
Circuito em 24 kV: VL base = 25 kV
Circuito em 12 kV: VL base = 12,5 kV

c) As impedâncias de base são calculadas a partir dos valores base da potência e da tensão:
V2 2500 2
Circuito em 2,4 kV: Z Y base = L base = = 3,005 Ω
S 3φ base 2080000
VL2base 25000 2
Circuito em 24 kV: Z Y base = = = 300,5 Ω
S 3φ base 2080000
VL2base 12500 2
Circuito em 12 kV: Z Y base = = = 75,1 Ω
S 3φ base 2080000

d) As correntes de base são calculadas a partir dos valores base da potência e da tensão:
S 3φ base 2080000
Circuito em 2,4 kV: I L base = = = 480 A
3VL base 3 2500
S 3φ base 2080000
Circuito em 24 kV: I L base = = = 48 A
3VL base 3 25000
S 3φ base 2080000
Circuito em 12 kV: I L base = = = 96 A
3VL base 312500
Caso fossem escolhidos outros valores base nos itens (a) e (b), os valores calculados para a impedância e
corrente base poderiam ser diferentes dos valores obtidos nos itens (c) e (d).

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Solução Exemplo I.3 (continuação):


e) Os valores base estão sumarizados na Tabela I.2.

Tabela I.2 – Valores base do Exemplo I.3.


VL NOMINAL [kV] V L base [kV ] ZY base [Ω] IL base [A]
2,4 2,5 3,005 480
24 25 300,5 48
12 12,5 75,1 96
S 3φ base = 2080 kVA

= 1000 A , pode-se determinar os valores das


2, 4 kV
f) Conhecendo-se a corrente que sai do gerador I L
correntes que circulam na linha e na carga:
N 1
= 2 IL = 1000 = 100 A
24 kV 2 , 4 kV
Circuito em 24 kV: IL
N1 10

N 2
= 1 IL = 100 = 200 A
12 , 5 kV 24 kV
Circuito em 12 kV: IL
′ 1
N2

g) A corrente por unidade é a mesma para todos os circuitos:


2 , 4 kV
I 1000
Circuito em 2,4 kV: I L pu = L2, 4 kV = = 2,08 pu
I L base 480
24 kV
I 100
Circuito em 24 kV: I L pu = L24 kV = = 2,08 pu
I L base 48
12 ,5 kV
I 200
Circuito em 12 kV: I L pu = L12,5 kV = = 2,08 pu
I L base 96
Observar que o valor em pu obtido neste item poderia ser outro caso fossem escolhidos outros valores de
base nos itens (a) e (b).

h) Utilizando a expressão de conversão de base, considerando que os dados do transformador se encontram


na base deste (base 1: valores nominais de potência e tensão), tem-se:
2 2
V  S 3φ base 2  2400  2080000
Z pu (T1) = Z pu (base 1)  L base 1  = j 0,04  = j 0,0128 pu
VL base 2  S 3φ base 1  2500  6000000
2 2
V  S 3φ base 2 12000  2080000
Z pu (T2 ) = Z pu (base 1)  L base 1  = j 0,04   = j 0,0192 pu
V L base 2  S 3φ base 1 12500  4000000
Verificar que o resultado é o mesmo para o lado de alta tensão.

i) A Figura I.25 apresenta o diagrama de impedância por fase do sistema da Figura I.24, indicando os
fasores tensão de interesse.
I = 2,08 pu 1 2 3 4
• • • •
+ Z T1 = j 0,0128 pu + + Z T2 = j 0,0192 pu +
G1
V1 V2 V3 V4

– – – –

Figura I.25 – Diagrama de impedância por fase (em pu) do sistema da Figura I.24.

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Solução Exemplo I.3 (continuação):

Para o gerador, que opera em tensão nominal, tem-se:


o
VL NOMINAL 2400 0
V1 = = = 0,96 0 o pu
VL base 2500
Considerando que a corrente que circula no circuito está atrasada de 90o em relação à tensão (pois o circuito
é constituído exclusivamente por reatâncias indutivas):
V 2 = V 3 = V 1 − Z T 1 I = 0,96 0 o − j 0,0128 × 2,08 − 90 o = 0,93 0 o pu
( )
V 4 = V 2 − Z T 2 I = V 1 − Z T 1 + Z T 2 I = 0,96 0 o − ( j 0,0128 + j 0,0192) × 2,08 − 90 o = 0,89 0 o pu

j) A potência complexa pode ser obtida a partir dos fasores tensão e corrente:
*
[ ]
*
S 1 = V 1 I 1 = 0,96 0o 2,08 − 90o = 2,00 90o pu ⇒ S1 = 2,00 pu
S2 = S3 =V
*
2I2 [ ]
*
= 0,93 0 o 2,08 − 90o = 1,93 90 o pu ⇒ S 2 = 1,93 pu
S4 =V
*
4I4 [ ] *
= 0,89 0 o 2,08 − 90 o = 1,85 90o pu ⇒ S 4 = 1,85 pu

Observar que a potência aparente entregue pelo gerador é de 2,00 pu e que na carga chega é de 1,85 pu,
sendo a diferença “consumida”7 pelas reatâncias dos transformadores.

Exercício I.2 – Considere o sistema do Exercício I.1. Supondo que S 3φbase = 100 kVA e VL base = 13,8 kV ,
determinar:
a) As bases do sistema por unidade.
b) Desenhar o circuito equivalente por fase em valores por unidade.
c) Determinar o fasor corrente da Fase A em valores por unidade e em ampères.

7
De acordo com a convenção de sinais para potência reativa, os indutores consomem e os capacitores geram.

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II – O balanço de potência

O objetivo fundamental de um sistema de energia elétrica é fornecer energia para as cargas existentes em
uma determinada região geográfica. Quando o sistema é adequadamente planejado e operado, deve atender
aos seguintes requisitos:
• Fornecer energia nos locais exigidos pelos consumidores.
• Como a carga demandada pelos consumidores varia ao longo do tempo (horas do dia, dias da semana e
meses do ano), o sistema deve estar apto a fornecer potências ativa e reativa variáveis, conforme esta
demanda.
• A energia fornecida deve obedecer a certas condições mínimas, relacionadas com a “qualidade”. Entre os
fatores que determinam esta qualidade se destacam: freqüência, magnitude da tensão, forma de onda e
confiabilidade.
• O sistema deve buscar custos mínimos (econômicos e ambientais).

Neste capítulo, serão descritos os mecanismos que atuam no controle das potências ativa e reativa do sistema
de energia elétrica.

II.1 – Capacidade de transmissão

Considere uma linha de transmissão do sistema elétrico, representada pela sua reatância série xkm , conectada
entre duas barras, conforme mostrado na Figura II.1.

V k = Vk θ k V m = Vm θ m
k I km Z km = jxkm m

S km
Figura II.1 – Linha de transmissão do sistema elétrico.

Os fluxos de corrente I km e potência S km podem ser obtidos a partir dos fasores tensão das barras k e m
( V k = Vk θ k e V m = Vm θ m , respectivamente):
V k −V m V k −V m
I km = =
Z km jxkm
2
= V k =Vk2
678  j
* × j  j  
*
   Vk − V k V m 
2
 V k −V m 
*
 *

*
 *

S km
*
= V k I km = V k   =V k
V k V m = V k V k V k V m
=  =
  − jxkm  − jxkm − j xkm
2
 jx km   

=
(
j Vk − Vk θ k V m − θ m
2

=
) (
j Vk − Vk Vm θ k − θ m
2

=
) (
j Vk − Vk Vm θ km
2
) =
x km xkm x km

=
[
j Vk2 − Vk Vm (cosθ km + j sen θ km ) ]
x km

S km =
(
Vk Vm sen θ km + j Vk2 − V k V m cos θ km ) (II.1)
x km

O balanço de potência – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 1 de 7


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Quando todas as tensões das expressões anteriores correspondem aos valores de linha em kV e reatância
estiver em Ω, todas as potências obtidas serão os valores trifásicos dados em MW e Mvar. Obviamente, por
outro lado, quando todas as grandezas estão representadas em pu, os resultados das expressões anteriores
também estarão em pu (neste caso não há distinção entre valores de fase/linha e por fase/trifásico).

Definindo δ = θ km = θ k − θ m , como a abertura angular da linha de transmissão, e separando as partes real e


imaginária, chega-se a:

{ }
Pkm = Re S km =
Vk Vm
xkm
VV
sen θ km = k m sen δ
x km
(II.2)

{ }
Qkm = Im S km =
Vk2 − Vk Vm cosθ km Vk2 − Vk Vm cos δ
x km
=
x km
(II.3)

As equações (II.2) e (II.3) descrevem a forma pela qual as potências ativa e reativa são transferidas entre
duas barras de um sistema. De acordo com (II.2), pode-se observar que para valores constantes1 de tensões
terminais Vk e Vm o fluxo de potência ativa obedece à seguinte expressão:

Pkm = Pkm
max
sen δ

Vk Vm
max
sendo Pkm = o maior valor de potência ativa transmitida pela linha de transmissão km (capacidade de
xkm
transmissão estática) ou seu limite de estabilidade estática, somente atingido quando sen δ = ±1 , ou seja,
quando δ = ±90 o . Assim, a potência ativa transmitida por uma linha de transmissão está intimamente
relacionada com sua abertura angular δ, conforme ilustra a Figura II.2.

[ max
Pkm % de Pkm ]
100

50

-50

-100

-150 -120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150


δ = θ km [o ]
Região de Potência Potência Região de
instabilidade transmitida de transmitida de instabilidade
maneira estável maneira estável
de m para k de k para m
Figura II.2 – Potência ativa em uma linha de transmissão em função de sua abertura angular.

1
Observar que as tensões de operação em regime permanente dos sistemas de energia elétrica, usualmente, não sofrem
variações acentuadas e permanecem próximas aos seus valores nominais.

O balanço de potência – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 2 de 7


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

A capacidade de transmissão de uma linha é proporcional ao quadrado da tensão de operação e inversamente


proporcional à sua reatância. Tais características são muito importantes na especificação das linhas de
transmissão, ou seja, na definição de suas características nominais (nível de tensão, geometria das torres e
condutores). Entretanto, na prática, o sistema opera longe do limite de estabilidade estática, pois à medida
que nos aproximamos deste limite o sistema torna-se eletricamente fraco, ou seja, cada vez são necessários
maiores incrementos no ângulo de abertura para um mesmo incremento na potência transmitida. Assim,
raramente as linhas operam com ângulos superiores a 30° ou 45°.

Exemplo II.1 – Determinar a capacidade de transmissão estática de duas linhas de transmissão cujo
comprimento é de 200 km:
• Linha 1: 230 kV, 1 condutor por fase com reatância 0,5 Ω/km.
• Linha 2: 765 kV, 4 condutores por fase com reatância 0,35 Ω/km.

Solução Exemplo II.1: Para ambas as linhas, consideram-se que as tensões terminais são iguais aos seus
valores nominais.
Para a Linha 1, cuja reatância total é igual a x1 = 0,5 Ω km × 200 km = 100 Ω , a capacidade de transmissão
trifásica é de:
V V
P1max = 1k 1m =
(230 kV )2 = 529 MW
x1 100 Ω
Para a Linha 2, cuja reatância total é igual a x2 = 0,35 Ω km × 200 km = 70 Ω , a capacidade de transmissão
trifásica é de:
V V
P2max = 2 k 2 m =
(765 kV )2 = 8360 MW
x2 70 Ω
Desta forma, a linha de 765 kV é capaz de transportar o equivalente a mais de 15 linhas de 230 kV.

II.2 – Dependência da carga com a tensão e freqüência

Embora, individualmente, as cargas existentes no sistema elétrico sejam altamente aleatórias, quando
concentradas por conjuntos de consumidores apresentam caráter previsível. Quanto maior o número de
cargas agrupado, maior será a possibilidade de realizar tal previsão. Além disto, as cargas concentradas
variam com o tempo de maneira também previsível, em função da hora do dia (horário de maior consumo e
horário de menor consumo), do dia da semana (dia útil, final de semana e feriados) e das estações do ano,
conforme ilustrado na Figura II.3 que representa a curva de carga diária de um alimentador.
4.000

Alimentador RS--P 16/10/2002 (quarta-feira) kW


3.500
Alimentador RS--Q 16/10/2002 (quarta-feira) kvar
3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

0
00:00 01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00 21:00 22:00 23:00

Figura II.3 – Curva de carga de um alimentador.

O balanço de potência – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 3 de 7


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Na curva de carga de potência ativa da Figura II.3 observa-se um baixo consumo até as 7:00 horas, quando
se inicia um processo de crescimento até o horário do almoço, por volta das 12:00 horas. A partir deste
intervalo o consumo quase se estabiliza em um patamar para iniciar um novo processo de crescimento a
partir das 18:00 horas. O processo de redução inicia-se perto das 21:00 horas, sendo contínuo até as 24:00
horas. A curva de potência reativa segue de forma aproximada a curva de potência ativa, sendo seu valor
inferior à metade do anterior. Pode-se notar o caráter industrial/comercial da carga, em função do elevado
consumo durante o horário comercial e também a presença de residências, em função do aumento de
consumo no horário da ponta (freqüentemente evitado pelas indústrias em função da tarifa maior).

Outra característica importante das cargas de uma maneira geral é seu caráter indutivo, ou seja, a carga típica
consome potência reativa pois é a participação das cargas motoras é significativa. Desta forma, pode-se dizer
que a carga típica de um sistema de energia elétrica pode ser representada de forma simplificada pela
associação série RL da Figura II.4.
I
+

L
SISTEMA
Fonte
V
R

Figura II.4 – Carga RL série.

Sendo ω = 2πf a velocidade angular da fonte, a potência complexa consumida pela carga RL é dada por:
2 Z
* ×
V  V V2 V2
(R + jωL )
* Z
S =V I =V  = * = Z=
R 2 + (ωL )
2 2
Z  Z Z
Isolando as partes real e imaginária, tem-se:
{}
P = Re S = f (ω ,V ) = 2
R
V2 (II.4)
R + (ωL )
2

{}
Q = Im S = g (ω ,V ) = 2
ωL
V2 (II.5)
R + (ωL )
2

Assim, conclui-se que:


• P e Q crescem com o quadrado da tensão, característica típica de cargas constituídas por impedâncias e
• P diminui e Q aumenta com o aumento da freqüência. Uma carga típica deve possuir um fator de
potência perto da unidade para evitar penalizações, logo o valor da resistência deve ser muito maior do
que o da reatância indutiva, ou seja, R >> ωL ⇒ R 2 + (ωL ) → R 2 .
2

Para cargas compostas, uma relação funcional do tipo (II.4) e (II.5), via de regra, não é possível de ser
determinada. Neste caso, para pequenas variações na velocidade angular, ∆ω, ou na magnitude da tensão,
∆V, tem-se:
∂P ∂P
∆P ≈ ∆ω + ∆V (II.6)
∂ω ∂V
∂Q ∂Q
∆Q ≈ ∆ω + ∆V (II.7)
∂ω ∂V

O balanço de potência – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 4 de 7


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

 ∂P ∂P ∂Q ∂Q 
sendo as quatro derivadas parciais  , , e  obtidas empiricamente. Estas derivadas fazem o
 ∂ω ∂V ∂ω ∂V 
papel dos parâmetros da carga, descrevendo a natureza desta em torno dos níveis nominais de freqüência e
tensão. Um exemplo de uma carga típica pode apresentar a seguinte composição:

• Motores de indução: 60%


• Motores síncronos 20%
• Outras: 20%

Neste caso, os parâmetros correspondentes seriam:


∂P ∂Q
≈ 1 (não disponível)
∂ω ∂ω

∂P ∂Q
≈ 1 ≈ 1,3
∂V ∂V

II.3 – O balanço de potência ativa e seus efeitos sobre a freqüência

A freqüência em um sistema de energia elétrica deve ser mantida dentro de limites rigorosos pois:
• A maioria dos motores de corrente alternada gira com velocidades diretamente relacionadas com a
freqüência e
• O sistema pode ser mais efetivamente controlado se a freqüência for mantida dentro de limites estreitos.

O mecanismo carga-freqüência opera da seguinte maneira, envolvendo tempos da ordem de segundos:


• Sob condições normais, os geradores operam em sincronismo, gerando a potência que a cada instante
está sendo consumida mais as perdas ativas de transmissão.
• Para um aumento de carga o sistema elétrico estaria, momentaneamente, com suas máquinas motrizes
gerando pouca energia mecânica, o que provocaria uma redução na velocidade dos geradores,
inversamente proporcional a sua inércia. Isto produziria uma redução na freqüência do sistema.
• Para uma redução de carga o sistema elétrico estaria, momentaneamente, com suas máquinas motrizes
gerando muita energia mecânica, o que provocaria um aumento na velocidade dos geradores,
inversamente proporcional a sua inércia. Isto produziria um aumento na freqüência do sistema.

Desta forma, o controle da velocidade dos geradores pode ser utilizado a cada instante de tempo para ajustar
a quantidade de energia produzida à demanda do momento. Tal controle é realizado pelo regulador de
velocidade das máquinas motrizes dos geradores (constituídas, principalmente, por turbinas hidráulicas e
térmicas) que regulam a potência mecânica fornecida ao eixo do gerador de modo a manter sua velocidade
constante (por intermédio do controle do fluxo de água ou vapor). Este controle é empregado para corrigir
pequenos déficits ou superávits de potencia ativa no sistema; o despacho dos geradores, ou seja, a
definição de quanto cada unidade irá produzir em cada hora do dia, é estabelecida a priori, considerando a
carga prevista, a disponibilidade dos geradores, o melhor uso da água e o custo de geração.

II.4 – O balanço de potência reativa e seus efeitos sobre a tensão

De forma análoga ao caso anterior, no qual a manutenção da freqüência no sistema é a melhor garantia de
que o balanço da potência ativa está sendo mantido no sistema, um perfil constante de tensão em todo
sistema garante que o equilíbrio entre a potência reativa “produzida” e “consumida” está sendo mantido.

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Considere o seguinte sistema, sem perdas ativas, no qual a tensão da barra k é mantida constante e igual a
V k , a impedância da linha é Z km = jxkm , conforme mostrado na Figura II.5.

V k = Vk 0o V m = Vm θ m
k I km Z km = jxkm m

S = P + jQ
Figura II.5 – Sistema de duas barras.

Para o sistema da Figura II.5, a tensão na barra m pode ser obtida por:

V m = V k − I km Z km = V k − jxkm I km (II.8)

Supondo que as perdas de potência reativa na linha sejam desprezíveis, a potência entregue para a carga é a
mesma que está sendo transmitida de k para m e a corrente pela linha é dada por:

*
*  S  P − jQ P − jQ P − jQ
S = S km = V k I km ⇒ I km ≈   =
 *
= = (II.9)
V k  Vk Vk 0 o Vk

Substituindo (II.9) em (II.8), tem-se a seguinte expressão, cujo diagrama fasorial encontra-se na Figura II.6:

Vk 0o I km
} 6
474 8
P − jQ x x
Vm = V k − jxkm = Vk − km Q − j km P
Vk Vk Vk
xkm
Q
Vk
V k = Vk 0o
xkm
j P
Vk
I km jxkm I km

V m = Vm θ m

Figura II.6 – Diagrama fasorial do sistema de duas barras.

Conclui-se, daí, que:


• Uma variação na potência ativa P afeta o fasor queda de tensão que é perpendicular a V k , afetando
significativamente a fase do fasor V m .

• Uma variação na potência reativa Q afeta o fasor queda de tensão que está em fase com V k , afetando
significativamente o módulo do fasor V m .

Exercício II.1 – Considerando o sistema de duas barras da Figura II.5, completar a Tabela II.1 com o
diagrama fasorial correspondente a cada uma das situações de carga (P e Q podendo ser positivos ou
negativos) e sinal da reatância da linha de transmissão (indutiva, com xkm > 0 , ou capacitiva, com xkm < 0 ).
Representar, no mínimo os fasores V k , I km , V m e suas componentes.

O balanço de potência – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 6 de 7


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Tabela II.1 – Diagramas fasoriais do Exercício II.1.

xkm > 0 xkm < 0

Q>0 V k = Vk 0o V k = Vk 0o

P>0

Q<0 V k = Vk 0o V k = Vk 0o

Q>0 V k = Vk 0o V k = Vk 0o

P<0

Q<0 V k = Vk 0o V k = Vk 0o

Exercício II.2 – Efetuar análise similar à realizada na Seção II.4, supondo que a impedância da linha seja
igual a Z km = rkm + jx km . Considerar três casos distintos rkm >> xkm , rkm ≈ xkm e xkm >> rkm .

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III – A linha de transmissão

As linhas de transmissão são os equipamentos empregados para transportar grandes blocos de energia por
grandes distâncias, entre os centros consumidores e os centros geradores. No Brasil, em função do parque
gerador ser baseado na energia hidrelétrica, o sistema de transmissão desempenha um papel muito
importante pois as distâncias entre os centros consumidores e geradores são elevadas.

Os dados do setor elétrico brasileiro podem ser obtidos nos boletins do Sistema de Informações Empresariais
do Setor de Energia Elétrica (SIESE) que é parte do Sistema Integrado de Informações Energéticas (SIE) da
Secretaria Geral do Ministério das Minas e Energia (MME). Um extrato do relatório, referente às linhas de
transmissão encontra-se no Quadro III.1.

Quadro III.1 – Extensão das linhas de transmissão do setor elétrico brasileiro.


EXTENSÃO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO - km
Em 31.12 2001
1999 2000 2001 Entradas Retiradas
69 kV 40.023,0 39.973,0 39.973,0 0,0 0,0
88 kV 3.290,7 3.290,7 3.290,7 0,0 0,0
138 kV 55.723,2 56.080,1 56.080,1 0,0 0,0
230 kV 33.869,9 34.040,7 34.072,7 32,0 0,0
345 kV 8.952,3 8.952,3 8.952,3 0,0 0,0
440 kV 6.384,4 6.497,6 7.002,6 505,0 0,0
500 kV 16.952,7 18.617,2 18.721,5 104,3 0,0
600 kV (corrente contínua) 1.612,0 1.612,0 1.612,0 0,0 0,0
750 kV 2.114,0 2.379,0 2.683,0 304,0 0,0
Fonte: Boletim Semestral do SIESE Síntese 2001 (disponível em: http://www.eletrobras.gov.br/mercado/siese/).

Uma linha de transmissão de energia elétrica possui quatro parâmetros básicos: resistência série, indutância
série, capacitância em derivação e condutância em derivação. Estes parâmetros influem diretamente no seu
comportamento como componente de um sistema de energia elétrica mas, a condutância em derivação
(utilizada para representar a fuga pelos isoladores e corona de linhas aéreas ou isolação dos cabos
subterrâneos) geralmente é desprezada por ser muito pequena.

Assim, para a análise do regime permanente de uma linha de transmissão serão considerados apenas três
parâmetros: resistência série, indutância série e capacitância em derivação.

III.1 – Tipos de condutores

Na construção de linhas de transmissão são empregados largamente os condutores de alumínio devido aos
seguintes fatores:
• Menor custo e peso;
• Maior diâmetro que equivalente em cobre (portanto menor densidade de fluxo elétrico na superfície
proporcionando um menor gradiente de potencial e menor tendência à ionização do ar – efeito corona).

Os tipos mais comuns de condutores de alumínio são:


CA Condutor de Alumínio ≡ AAC All Aluminium Conductor
CAA Condutor de Alumínio com alma de Aço ≡ ACSR Aluminium Conductor Steel Reinforced

Os nomes código dos cabos CA são nomes de flores (por exemplo: 4 AWG Rose; 266,8 MCM Daisy; 636
Orchid) e dos cabos CAA são nomes de aves (por exemplo: 1 AWG Robin; 636 MCM Grosbeak; 1590
Falcon).

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III.2 – Resistência série

A resistência série é a principal causa das perdas de energia nas linhas de transmissão.

Em corrente contínua (CC) a resistência de um condutor é dada por:


l
RCC = ρ [Ω] (III.1)
A
onde:
ρ – Resistividade do condutor1 [Ωm]
l – Comprimento [m]
2
A – Área da seção transversal [m ]

Na determinação da resistência dos condutores devem ser levados em conta os seguintes aspectos:
• Para a faixa normal de operação, a variação da resistência de um condutor metálico é praticamente
linear, ou seja:
T + T2
R2 = R1 0 (III.2)
T0 + T1
onde:
R1 – Resistência à temperatura T1 [Ω]
R2 – Resistência à temperatura T2 [Ω]
2 o
T0 – Constante do material [ C]

• Em cabos encordoados, o comprimento dos fios periféricos é maior que o comprimento do cabo (devido
ao encordoamento helicoidal). Isto acresce à resistência efetiva em 1 a 2%.

Em corrente alternada (CA), devido ao efeito pelicular (skin), a corrente tende a concentrar-se na superfície
do condutor. Isto provoca um acréscimo na resistência efetiva (proporcional à freqüência) observável a 60
Hz (em torno de 3%).

Exemplo III.1 – Para o cabo de alumínio Marigold 1113 MCM ( 61× 3,432 mm ), a resistência em CC a
20oC é igual a 0,05112 Ω/km e a resistência CA-60 Hz a 50oC é 0,05940 Ω/km. Determinar:
a) O acréscimo percentual na resistência devido ao encordoamento.
b) O acréscimo percentual na resistência devido ao efeito pelicular.

Solução Exemplo III.1:


a) A área da seção transversal do condutor é:
2
 3,432 × 10 −3  −4
A = Nπr 2 = 61π   = 5,643 × 10 m
2

 2 
Utilizando a expressão (III.1), tem-se:
l 1000 m km
RCC = ρ = 2,83 × 10 −8 Ωm = 0,05015 Ω
5,643 × 10 −4 m 2
km
A
Portanto, o acréscimo devido ao encordoamento , ∆ enc , é:
ef Ω
RCC 0,05112
= km
= 1,019 ⇒ ∆ enc = 1,9 %
RCC 0,05015 Ω
km

1
Para o alumínio têmpera dura a 20o C, ρ = 2,83 × 10 −8 Ωm .
2
Para o alumínio têmpera dura a 20o C, T0 = 228 o C .

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Solução Exemplo III.1 (continuação):

b) Utilizando a expressão (III.2), tem-se:


20 T0 + 50 228 + 50
50
RCC = RCC = 0,05112 = 0,05730 Ω km
T0 + 20 228 + 20
Portanto, o acréscimo devido ao efeito pelicular, ∆ pel , é:
50
RCA 0,05940
50
= = 1,037 ⇒ ∆ pel = 3,7 %
RCC 0,05730

III.3 – Indutância série

Um condutor constituído de dois ou mais elementos ou fios em paralelo é chamado condutor composto –
observar que isto inclui os condutores encordoados e também os feixes (bundles) de condutores.

Sejam os dois condutores compostos arranjados conforme a Figura III.1. O condutor x é formado por n fios
cilíndricos idênticos, cada um transportando a corrente I n e o condutor de retorno Y é formado por M fios
cilíndricos idênticos, cada um transportando a corrente I .
M

b
a A B
DbC
Dbn
c C
n M

Condutor x Condutor Y

Figura III.1 – Seção transversal de uma linha monofásica constituída por dois condutores compostos.

Considerando as distâncias indicadas na Figura III.1, a indutância dos fios a e b que fazem parte do condutor
x são dadas por:
µ M D D D LD
La = n ln aA aB aC aM
[H/m]
2π n ra′ Dab Dac L Dan
µ M D D D LD
Lb = n ln bA bB bC bM
[H/m]
2π n rb′Dba Dbc L Dbn
onde:
µ = µr µ0 – Permeabilidade do meio3 (para o vácuo, µ 0 = 4π 10 −7 H
m = 4π 10 −4 H
km ) [H/m]
Dαβ – Distância entre os fios α e β [m]
rα′ – Raio de um condutor fictício (sem fluxo interno) porém com a mesma indutância que o
−1
condutor α, cujo raio é rα (para condutores cilíndricos, rα′ = rα ⋅ e 4 ) [m]

Nas expressões anteriores, é imprescindível que Dαβ e rα′ estejam na mesma unidade (em metros, por
exemplo).

3
Geralmente é utilizada a permeabilidade do vácuo pois, para o ar, a permeabilidade relativa é unitária: µ r ≈ 1 .

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

A indutância do condutor composto x é igual ao valor médio da indutância dos fios dividido pelo número de
fios (associação em paralelo), ou seja:
La + Lb + Lc + K + Ln
L x médio n L + Lb + Lc + K + Ln
Lx = = = a [H/m]
n n n2
Segue daí que:
Mn (D D L D
µ aM )(DbA DbB L DbM )L (DnA DnB L DnM )
Lx = ln 2 aA aB [H/m] (III.3)
2π n (Daa Dab L Dan )(Dba Dbb L Dbn )L (Dna Dnb L Dnn )
onde Dαα = rα′ . O numerador da expressão (III.3) é chamado de Distância Média Geométrica (DMG) e é
notado por Dm ; o denominador é chamado de Raio Médio Geométrico (RMG) e é notado por Ds . Assim,
µ Dm
Lx = ln [H/m] (III.4)
2π Ds
com:
Dm – Distância Média Geométrica (DMG):
Dm = Mn (DaA DaB L DaM )(DbA DbB L DbM )L (DnA DnB L DnM ) [m]
Ds – Raio Médio Geométrico (RMG):
Ds = n (Daa Dab L Dan )(Dba Dbb L Dbn )L(Dna Dnb L Dnn ) [m]
2

Sendo f a freqüência de operação da linha, a reatância indutiva é dada por:


X L = 2πfLx [Ω/m]
Em uma linha trifásica, com espaçamento assimétrico, a indutância das fases é diferente e o circuito é
desequilibrado. Por intermédio da transposição da linha, é possível restaurar o equilíbrio das fases, do ponto
de vista dos terminais da linha. A transposição consiste em fazer com que cada fase ocupe cada uma das
posições nas torres por igual distância (para uma linha trifásica, três são as posições possíveis e deve-se fazer
com que cada fase ocupe 1/3 do comprimento da linha em cada uma das três posições).

Considere a linha trifásica transposta com espaçamento assimétrico mostrada na Figura III.2.

1 Condutor A Condutor B Condutor C Posição 1

D12
2
Condutor B Condutor C Condutor A Posição 2
D13

D23

Condutor C Condutor A Condutor B


Transposição

Transposição

Posição 3
3

1 1 1
/3 comprimento /3 comprimento /3 comprimento

Figura III.2 – Linha trifásica com um ciclo de transposição.

Para a linha da Figura III.2, a indutância média por fase é dada por:
µ Deq
L= ln [H/m] (III.5)
2π Ds
onde:
Deq – Distância média geométrica entre condutores Deq = 3 D12 D23 D31 [m]
Ds – Raio médio geométrico do condutor [m]

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Observar a semelhança entre as expressões (III.4) e (III.5). Em linhas constituídas por mais de um condutor
por fase, o raio médio geométrico deve ser calculado como anteriormente, ou seja:
Ds = n (Daa Dab L Dan )(Dba Dbb L Dbn )L(Dna Dnb L Dnn )
2

e os termos empregados no cálculo da distância média geométrica (D12 , D23 e D31 ) correspondem às
distâncias médias geométricas entre cada uma das combinações das fases, ou seja, DxY é dado por:

DxY = Dm = Mn (DaA DaB L DaM )(DbA DbB L DbM )L (DnA DnB L DnM )

Os valores do raio médio geométrico de cada condutor (Daa, Dbb, etc.) podem ser obtidos diretamente nas
tabelas dos fabricantes, juntamente com os demais dados dos cabos (nome código, seção transversal,
formação, número de camadas, diâmetro externo e resistência elétrica), ou podem ser determinados por
intermédio da seguinte expressão:
Dαα = 0,5Dα × K g

onde Dα é o diâmetro externo do condutor α e Kg uma constante que depende de sua formação (quantidade
e tipo de fios), cujos valores encontram-se no Quadro III.2.

Quadro III.2 – Valores de Kg para a determinação do raio médio geométrico de um cabo.

Formação Fator de formação


(número de fios) (Kg)
7 0,7256
Condutor de Alumínio
(CA) 19 0,7577
37 0,7678
61 0,7722
91 0,7743
Formação Fator de formação
(fios alumínio/aço) (Kg)
22/7 0,7949
Condutor de Alumínio com
26/7 0,8116
alma de Aço
(CAA) 30/7 0,8250
45/7 0,7939
54/7 0,8099
54/19 0,8099
Fonte: Overhead, Pirelli Technical Manuals
(disponível em http://www.au.pirelli.com/en_AU/cables_systems/telecom/downloads/pdf/Overhead.pdf)

Para condutores de alumínio, observar que à medida que o número de fios aumenta o fator de formação (Kg)
−1
se aproxima do valor determinado para condutores cilíndricos maciços, que corresponde a e 4 = 0,7788 .

Exemplo III.2 – Determinar o raio médio geométrico do condutor de alumínio com alma de aço Pheasant
1272 MCM, formado por 54 fios de alumínio e 19 de aço (54/19) que possui um diâmetro externo de
3,5103 cm.

Solução Exemplo III.2: Do Quadro III.2, tem-se que o fator de formação correspondente (54/19) é dado
por Kg =0,8099. Substituindo na expressão, tem-se:
Dαα = 0,5Dα × K g = 0,5 × 3,5103 cm × 0,8099 = 1,4215 cm

Observar que um valor equivalente pode ser encontrado na tabela do fabricante.

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

III.4 – Capacitância em derivação

Para uma linha de transmissão monofásica formada por condutores de raio r, conforme a mostra Figura III.3,
a capacitância entre os dois fios desta linha é dada por:
πk
C ab = [F/m]
D
ln
r
onde k é a permissividade do meio ( k 0 = 8,85 × 10 −12 F
m = 8,85 × 10 −9 F
km , é a permissividade do vácuo,
geralmente empregada no cálculo de linhas aéreas).

a b
D
Figura III.3 – Seção transversal de uma linha monofásica.

Assim, a capacitância de qualquer um dos fios ao neutro corresponde ao dobro do valor determinado pela
expressão anterior (associação série de capacitores), conforme ilustra a Figura III.4.

C aN C bN
C ab a b
N
a b

C aN = C bN = 2C ab

Capacitância linha/linha
Capacitância linha/neutro
Figura III.4 – Capacitâncias linha/linha e linha neutro.

Desta forma, a expressão da capacitância entre linha/neutro, para uma linha monofásica é dada por:
2πk
CN = [F/m] (III.6)
D
ln
r
Para uma linha de transmissão trifásica espaçada igualmente e formada por condutores de raio r, conforme
mostra a Figura III.5, a capacitância entre linha/neutro de qualquer uma das fases pode ser obtida, também,
pela expressão (III.6).
b

D D

a c
D
Figura III.5 – Seção transversal de uma linha trifásica.

Observar que na expressão (III.5) não foi contemplada a existência da terra que causa uma descontinuidade
no meio dielétrico (passa de isolante para condutivo). Embora a consideração do efeito da terra, geralmente,
não provoque alterações significativas no valor da capacitância (em outras palavras, a capacitância entre as
fases é muito maior do que a capacitância entre as fases e a terra), é possível determinar esta componente
aplicando-se o método das imagens.

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Considerando os condutores fase e as imagens, mostrados na Figura III.6, a capacitância média com relação
ao neutro é dada por4:
2πk 2πk
CN = = [F/m] (III.7)
Deq  3 Daβ Dbχ Dcα  Deq  3 Daα Dbβ Dcχ 
ln − ln   ln + ln  
r  3 Daα Dbβ Dcχ  r  3 Daβ Dbχ Dcα 
sendo Deq = 3 Dab Dba Dca a distância média geométrica entre condutores. Observar a semelhança entre as
expressões (III.6) e (III.7). Como os condutores das linhas de transmissão são suspensos e adquirem a forma
de uma catenária, a altura adotada no cálculo da capacitância é diferente da altura de suspensão (H), pois o
cabo apresenta uma flecha f, sendo sua altura média é inferior. Usualmente, a altura empregada no cálculo, h,
é dada por: h = H − 0,7 f .
Condutores b

Dab
a Dbc

Dca c

Daα Dbβ Dcχ

Superfície do solo

D aβ Dcα Dbχ

χ
α

Imagens
β
Figura III.6 – Seção transversal de uma linha trifásica assimétrica e sua imagem.

Sendo f a freqüência de operação da linha e C N a capacitância linha/neutro, determinada pelas expressões


(III.6) e (III.7), a reatância capacitiva dos condutores em relação ao neutro é dada por:
1
XC = [Ωm]
2πfC N
Observar que a unidade de X L é diferente da unidade de X C , enquanto o primeiro é dado em Ω/m (pois a
reatância é diretamente proporcional à indutância que é dada em H/m), o segundo é dado em Ωm (pois a
reatância é inversamente proporcional à capacitância que é dada em F/m).

4
As duas expressões a seguir são idênticas, apenas diferem com relação ao sinal e a expressão do 2o termo do
denominador – lembrar que ln(a b ) = − ln(b a ) . Observar que o termo 3 Daβ Dbχ Dcα (diagonais) sempre é maior que
3 Daα Dbβ Dcχ (verticais), motivo pelo qual o segundo termo sempre reduz o valor do denominador, ou seja, a
consideração do efeito da terra aumenta a capacitância com relação à terra.

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Exemplo III.3 – Para as duas configurações abaixo (vertical e horizontal), determinar a indutância série e a
capacitância em derivação por unidade de comprimento (km). Considerar que ambas as linhas são
transpostas.
a
Vertical
D
µ = µ 0 = 4π 10 −4 H
km
b
k = k0 = 8,85 × 10 −9 F km Horizontal
D Cabo 636 MCM Grosbeak
r = 1,257 cm a b c
c
D D
D s = 1,021 cm (RMG)
D = 7, 0 m
H H = 20 m H

Superfície do solo

Solução Exemplo III.3: Para ambas as configurações, têm-se:


Deq = 3 D12 D23 D31 = 3 Dab Dbc Dca = 3 D ⋅ D ⋅ 2 D = D 3 2 ≈ 1,26 D = 8,82 m
logo, pela expressão (III.5):
µ Deq 4π 10 −4 H km 8,82 m
L = 0 ln = ln = 1,35 × 10 −3 H km
2π Ds 2π 0,01021 m
Para a configuração vertical, tem-se:
aβ bχ cα = (2 H + 3D )(2 H + D )(2 H + 2 D ) = 154818 ≈ 53,70 m
3 D D D 3 3

3 Daα Dbβ Dcχ = 3 (2 H + 4 D )(2 H + 2 D )2 H = 3 146880 ≈ 52,76 m


logo, pela expressão (III.7), tem-se:
2πk 2π 8,85 × 10 −9 F km
CN = ≈ = 8,51 × 10 −9 F km
  8,82 m 53 , 70 m
 ln 0,01257 m − ln 52,76 m
Deq 3 Daβ Dbχ Dcα
ln − ln 
r  Daα Dbβ Dcχ 
3
 
Negligenciando o efeito do solo, observar que a capacitância das configurações vertical e horizontal seria
igual a:
2πk 2π 8,85 × 10 −9 F km
C N′ = = = 8,48 × 10 −9 F km
Deq 8,82 m
ln ln
r 0,01257 m
Neste caso, a capacitância com relação ao neutro sem considerar o solo, C N′ , corresponde a 99,6% de C N 5.
Para a configuração horizontal, tem-se:
3 Daβ Dbχ Dcα = 3 (2H )2 + D 2 (2H )2 + D 2 (2H )2 + (2D )2 = 3 69883,37 ≈ 41,19 m
3 Daα Dbβ Dcχ = 3 2 H ⋅ 2 H ⋅ 2 H = 2 H = 40,00 m
logo, pela expressão (III.7), tem-se:
2πk 2π 8,85 × 10 −9 F km
CN = ≈ = 8,52 × 10 −9 F km
  8,82 m 41 ,18 m
 ln 0,01257 m − ln 40,00 m
Deq 3 Daβ Dbχ Dcα
ln − ln 
r  3 Daα Dbβ Dcχ 
 
Neste caso, a capacitância com relação ao neutro sem considerar o solo, C N′ , corresponde a 99,5% de C N .

5
Isto explica porque o efeito da terra é muitas vezes desprezado no cálculo da capacitância das linhas de transmissão.

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Exemplo III.4 (Provão 2002) – Questão relativa às matérias de Formação Profissional Específica (Ênfase
Eletrotécnica).

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Média (escala de 0 a 100) % escolha


Brasil Região Sul Instituição Brasil Região sul Instituição
8,0 8,1 16,8 17,7

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Exercício III.1 – Descrever e demonstrar com exemplo as alterações necessárias na disposição dos cabos
(altura, arranjo das fases, arranjo do bundle, etc.) para:
a) Reduzir a indutância série de uma linha de transmissão.
b) Aumentar a capacitância em derivação de uma linha de transmissão.

III.5 – O modelo da linha de transmissão

As linhas de transmissão são classificadas de acordo com seu comprimento:


• Linhas curtas: até 80 km.
• Linhas médias:até 240 km.
• Linhas longas: mais de 240 km

Embora as linhas nem sempre possuam espaçamento eqüilátero e sejam plenamente transpostas, a assimetria
resultante em sistemas de alta e extra-alta tensão é pequena e as fases podem, geralmente, ser consideradas
equilibradas (via de regra, a carga é bastante equilibrada).

Os parâmetros utilizados nos estudos de fluxo de carga para representar linhas curtas e médias podem ser
obtidos diretamente das expressões anteriores – basta multiplicá-los pelo comprimento da linha de
transmissão. Para linhas longas é necessário fazer uma correção para considerar que os parâmetros são
distribuídos.

Qualquer linha de transmissão pode ser representada de modo exato, a partir dos seus terminais, por um
circuito π equivalente, como mostrado na Figura III.7, onde:

Z km – Impedância série total da linha de transmissão [Ω]


Y km – Admitância em derivação (linha/neutro) total da linha de transmissão [S]
γ – Constante de propagação da linha: γ = α + jβ = z ⋅ y [1/km]
z – Impedância série por unidade de comprimento [Ω/km]
y – Admitância em derivação (linha/neutro) por unidade de comprimento [S/km]
α – Constante de atenuação [neper/km]
β – Constante de fase [rad/km]
l – Comprimento da linha [km]
′ senh γ ⋅ l
Z km = Z km
k γ ⋅l m


γ ⋅l
′ Y Y km
tanh
Y km
=
km 2
2 2 2 γ ⋅l
2

Figura III.7 – Circuito π equivalente de uma linha de transmissão.

Para linhas de transmissão médias, tem-se que:


senh γ ⋅ l tanh γ2⋅l
≈1 e γ ⋅l
≈1
γ ⋅l 2

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Logo, para linhas de transmissão médias, pode-se utilizar diretamente a impedância série total da linha (pois
′ ′
Z km = Z km ) e a metade da admitância em derivação total (pois Y km 2 = Z km 2 ), resultando no chamado
circuito π nominal.

Para linhas de transmissão curtas, pode-se desprezar a admitância em derivação e utilizar-se somente a
impedância série total da linha.

Observar que, geralmente, a condutância em derivação é insignificante, ou seja, a admitância em derivação é


composta apenas pela susceptância em derivação shunt

Exercício III.2 – Para a configuração vertical do Exemplo III.2, determinar o circuito equivalente,
considerando a resistência em corrente alternada por unidade de comprimento igual a r = 0,10054 Ω km , 60
Hz, e que o comprimento da linha é:
a) 500 km (linha longa)
b) 150 km (linha média)
c) 50 km (linha curta).

Após realizadas as correções necessárias para levar em conta o comprimento, a representação das linhas de
transmissão no fluxo de carga é realizada pelo seu equivalente π, mostrado na Figura III.8 que é definido por
sh
três parâmetros: a resistência série rkm ; a reatância série xkm e a susceptância em derivação (shunt) bkm .
V k = Vk θ k V m = Vm θ m
k I rkm jx km m
I km I mk

sh sh
jb km jb km

Figura III.8 – Modelo equivalente π de uma linha de transmissão.

A impedância e admitância do elemento série são dadas por:


Z km = rkm + jxkm
1 r −x
Y km = g km + jbkm = = 2 km 2 + j 2 km2
rkm + jxkm rkm + xkm rkm + xkm
Para uma linha de transmissão, rkm e xkm são positivos (portanto, g km é positivo e bkm é negativo) e o
sh
elemento em derivação, bkm , também é positivo em função de representar a capacitância linha/neutro da
linha de transmissão.

As correntes I km e I mk são obtidas a partir dos fasores tensão das barras k e m ( V k = Vk θ k e


V m = Vm θ m , respectivamente):

(
I km = Y km V k − V m + jbkm
sh
)
V k = Y km + jbkm
sh
(
V k − Y kmV m ) (III.8)

I mk = Y km (V m −V k ) + jb
sh
km V m (
= −Y kmV k + Y km + jbkm
sh
Vm ) (III.9)

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

A expressão do fluxo de potência complexa da barra k para a barra m é dada por:


*
S km = Pkm + jQkm = V k I km = V k Y km + jbkm [(
sh
V k − Y km V m ) ]
*

= V k  Y km − jbkm
sh  
V k − Y km V m  =  Y km − jbkm Vk − Y km V k V m
* * * * * sh 2 * *
    
*
Sabendo que V k V m = Vk Vm θ k − θ m e definindo θ km = θ k − θ m ,

[ (
S km = g km − j bkm + bkm
sh
)]
Vk2 − ( g km − jbkm )Vk Vm θ km
= [g − j (b )]V
(III.10)
km km + bkm
sh
k
2
− VkVm (g km − jbkm )(cosθ km + j senθ km )
Separando as partes real e imaginária, chega-se a:

Pkm = Vk2 g km − Vk Vm (g km cosθ km + bkm sen θ km ) (III.11)

(
Qkm = −Vk2 bkm + bkm
sh
)
− Vk Vm (g km sen θ km − bkm cosθ km ) (III.12)

Analogamente, para determinar o fluxo de potência complexa da barra m para a barra k:


*
S mk = Pmk + jQmk = V m I mk = V m Y km + jbkm sh
[(
V m − Y km V k ) ]
*

 * * *
= V m  Y km − jbkm V m − Y km V k =  Y km − jbkm
* * sh  2 * *
Vm − Y km V m V k
sh
  
  
cujas partes real e imaginária são:

Pmk = Vm2 g km − Vk Vm (g km cosθ mk + bkm sen θ mk ) (III.13)

(
Qmk = −Vm2 bkm + bkm
sh
)
− Vk Vm ( g km sen θ mk − bkm cosθ mk ) (III.14)

O diagrama fasorial da linha de transmissão é mostrado na Figura III.9.

rkm I Vk
jx km I

θ km
V km

Vm I
Figura III.9 – Diagrama fasorial da linha de transmissão.

As perdas de potência ativa e reativa em uma linha de transmissão podem, então, ser determinadas somando-
se, respectivamente, as expressões (III.11) com (III.13) e (III.12) com (III.14), ou seja:

( )
Pperdas = Pkm + Pmk = Vk2 + Vm2 g km − 2Vk Vm g km cosθ km
Qperdas = Qkm + Qmk = (
− Vk2 )(
+ Vm2 bkm + bkm
sh
)
+ 2Vk Vm bkm cosθ km

Exercício III.3 – Mostrar que Pkm + Pmk = rkm I perdas . ( ) 2

A linha de transmissão – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 13 de 16


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As expressões (III.8) e (III.9), podem ser arranjadas de outra forma, tendo em vista possibilitar a
representação da linha de transmissão por um quadripolo, conforme mostrado na Figura III.10.
I km I mk

+ +
V m   A B   V k 
V k = Vk θ k  = ⋅  V m = Vm θ m
 I mk  C D   I km 
– –

Figura III.10 – Linha de transmissão representada por um quadripolo.

Isolando V m em (III.8), chega-se a:

Vm =
1
Y km
[(Y km + jbkm
sh
) 
] jb sh 
V k − I km = 1 + km V k −
Y km 
1
Y km
(
I km = 1 + Z km jbkm
sh
)
V k − Z km I km (III.15)

Em (III.9), substituindo V m , pela expressão (III.15), tem-se:


Vm
644447 44448

(  
)  
( sh 
)
jb sh  Y + jbkm
sh sh
jbkm 1
= Y km + jbkm 1 + V k − I km  − Y km V k = Y km + jbkm 1 + km V k − km I km − Y km V k =
sh
I mk   
 Y km  Y km   Y km  Y km

( )   jb sh   sh sh jbkm   
sh sh sh
sh jbkm jbkm
= Y km + jbkm
sh
+ Y km + jbkm − Y km V k − 1 + km  I km =  jbkm + jbkmsh
+ jbkm V k − 1 +  I km
 Y km   Y km   Y km   Y km 

sh 
I mk = jbkm 
jb sh 
Y km 


jb sh 
 2 + km V k − 1 + km  I km = jbkm
Y km 
sh
2 + Z km jbkm
sh
(
V k − 1 + Z km jbkm
sh
)
I km ( ) (III.16)
 
Assim, os parâmetros do quadripolo são: A = 1 + Z km jbkm
sh
B = − Z km
C = jbkm
sh
(
2 + Z km jbkm
sh
) (
D = − 1 + Z km jbkm
sh
).

Exemplo III.5 (Provão 2000) – Questão relativa às matérias de Formação Profissional Específica (Ênfase
Eletrotécnica).

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Média (escala de 0 a 100) % escolha


Brasil Região Sul Instituição Brasil Região Sul Instituição
23,9 20,8 14,8 16,0

A linha de transmissão – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 16 de 16


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IV – O transformador

Os transformadores de força são os equipamentos utilizados para viabilizar a transmissão de energia elétrica
em alta tensão. Desta forma, são instalados nas usinas de geração, para elevar a tensão em níveis de
transmissão (no Brasil de 69 kV a 750 kV), nas subestações dos centros de consumo (subestações de
distribuição ou subestações de grandes consumidores), para rebaixar o nível de tensão em níveis de
distribuição (tipicamente 13,8 e 23 kV) e também nas subestações de interligação para compatibilizar os
diversos níveis de tensão provenientes das diversas linhas de transmissão que aportam.

Para se ter uma noção da importância destes equipamentos no setor elétrico, apresenta-se o Quadro IV.1 no
qual a potência instalada em subestações corresponde aos equipamentos de transformação.

Quadro IV.1 – Potência instalada em subestações do setor elétrico brasileiro.


POTÊNCIA INSTALADA EM SUBESTAÇÕES - MVA
Em 31.12 2001
1999 2000 2001 Entradas Retiradas
25 kV/outras (1) 74.196,0 75.109,0 75.109,0 0,0 0,0
69 kV/outras 18.777,1 18.902,1 19.094,4 192,3 0,0
88 kV/outras 5.717,2 5.717,2 5.717,2 0,0 0,0
138 kV/outras 46.251,6 46.707,1 47.384,0 676,9 0,0
230 kV/outras 34.732,7 35.928,7 36.779,7 851,0 0,0
345 kV/outras 33.610,4 34.480,4 34.480,4 0,0 0,0
440 kV/outras 15.137,0 15.437,0 15.437,0 0,0 0,0
500 kV/outras 47.636,9 49.538,9 53.510,9 3.972,0 0,0
750 kV/outras 16.200,0 16.750,0 18.250,0 1.500,0 0,0
(1) Apenas transformadores elevadores de usinas
Fonte: Boletim Semestral do SIESE Síntese 2001 (disponível em: http://www.eletrobras.gov.br/mercado/siese/).

O objetivo deste capítulo é a definição do modelo do transformador para estudos de transmissão de potência
elétrica em regime permanente, ou seja, considerando tensões e correntes senoidais em freqüência industrial.
Além disto, considera-se que os transformadores operam em condições equilibradas. Desta forma, os
modelos e resultados apresentados a seguir não se aplicam a estudos de transitórios de alta freqüência, de
curto-circuito ou de harmônicos.

O modelo dos transformadores de força para estudos de fluxo de potência são similares aos transformadores
de menor porte, desconsiderando-se os efeitos da corrente de magnetização.

IV.1 – Transformador ideal de dois enrolamentos

Em um transformador ideal considera-se que a resistência elétrica dos enrolamentos é nula (logo não existe
queda de tensão na espira em função desta resistência e a tensão induzida pela variação do fluxo é igual à
tensão terminal) e que a permeabilidade do núcleo é infinita (portanto todo o fluxo fica confinado ao
núcleo e enlaça todas as espiras). Levando em conta as polaridades indicadas na Figura IV.1, têm-se as
seguintes relações entre as tensões terminais:
v1 (t ) = N1 φ1 (t ) = N1 φ m (t )
d d
dt dt
v2 (t ) = N 2 φ 2 (t ) = N 2 φ m (t )
d d
dt dt
Assim, a relação entre as tensões terminais é dada por:
v1 (t ) N1
= (IV.1)
v2 (t ) N 2

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 1 de 27


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N1 espiras φm (t )
N2 espiras
i1 (t ) φ () i 2 (t )

+ +

v1 (t ) v 2 (t )

– –

Fluxo em 1: Fluxo em 2:
φ1 (t ) = φ m (t ) φ 2 (t ) = φ m (t )

Figura IV.1 – Transformador ideal de dois enrolamentos.

Como o transformador é ideal, a potência instantânea de entrada, p1 (t ) , é igual a potência instantânea de


saída, p2 (t ) pois as perdas são desprezíveis, ou seja:
p1 (t ) = p 2 (t ) ⇒ v1 (t ) ⋅ i1 (t ) = v2 (t ) ⋅ i2 (t )
logo,
i1 (t ) v2 (t ) N 2
= = (IV.2)
i2 (t ) v1 (t ) N1
As expressões (IV.1) e (IV.2) definem o modo de operação dos transformadores ideais.

Os enrolamentos onde se ligam as fontes de energia e as cargas são geralmente denominados primário e
secundário, respectivamente.

De forma alternativa, as relações (IV.1) e (IV.2) podem ser obtidas levando-se em consideração que um
transformador ideal constitui um caso particular de circuitos magneticamente acoplados no qual o coeficiente
de acoplamento entre os enrolamentos é igual a unidade, ou seja, K = 1 . Para as polaridades indicadas na
Figura IV.2, são válidas as seguintes expressões:
v1 (t ) = L1 i1 (t ) − M i2 (t )
d d
(IV.3)
dt dt
v2 (t ) = M i1 (t ) − L2 i2 (t )
d d
(IV.4)
dt dt
i1 (t ) i 2 (t )
i1 (t ) i 2 (t )
K=1
+ • • +
+ • • +
L1 L2 M = K L1 L2
v1 (t ) v 2 (t ) v1 (t )
+ v 2 (t ) M = L1 L2
– – di (t ) di (t )
N1 : N 2 M 2 M i
dt dt
+
– –

Figura IV.2 – Transformador ideal representado por circuito magneticamente acoplado.

i2 (t ) em (IV.4) e substituindo em (IV.3), tem-se:


d
Isolando
dt
1  d 
i2 (t ) =  M i1 (t ) − v 2 (t )
d
dt L2  dt 
1  d   M2  d
v1 (t ) = L1 i1 (t ) − M  M i1 (t ) − v2 (t ) =  L1 −  i1 (t ) + v2 (t )
d M
 (IV.5)
dt L2  dt   L2  dt L2

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 2 de 27


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Como K = 1 , pode-se escrever:

M2
M = L1 L2 ⇒ M 2 = L1 L2 ⇒ L1 − =0 (IV.6)
L2
L1αN12
L2αN 22
M L1 L2 L1 M N12 M N1
= = ⇒ = ⇒ = (IV.7)
L2 L2 L2 L2 N 22 L2 N 2
 N φ (t )
pois as auto-indutâncias são proporcionais ao quadrado do número de espiras  L1 = 1 1 , com
 i1 (t )
N [P N1i1 (t )] 
φ1 (t ) = P N1i1 (t ) , sendo P a permeância do espaço atravessado pelo fluxo, então L1 = 1 = P N12  .
i1 (t ) 
Substituindo (IV.6) e (IV.7) na expressão (IV.5), chega-se a expressão (IV.1):

v1 (t ) N1
v1 (t ) = 0 i1 (t ) + 1 v2 (t ) = 1 v 2 (t )
d N N
⇒ =
dt N2 N2 v2 (t ) N 2

IV.1.1 – Transformador ideal em regime permanente senoidal

A Figura IV.3 mostra um transformador ideal, em regime permanente senoidal.

I1 I2
N1 : N 2
+ +
• •
Transformador
Ideal V1 V2

– Ideal –

Figura IV.3 – Transformador ideal em regime permanente senoidal.

Considerando as polaridades indicadas na Figura IV.3 e as expressões gerais (IV.1) e (IV.2), o regime
permanente senoidal do transformador ideal pode ser descrito por:

V 1 N1 N2
= ⇒ V2 = V1
V 2 N2 N1
I1 N2 N
= ⇒ I 2 = 1 I1
I 2 N1 N2
N
fazendo a = 2 , a relação de espiras do transformador ideal, pode-se escrever:
N1

1
V 2 = aV 1 ⇒ V1 = V 2
a
1
I2 = I1 ⇒ I 1 = aI 2
a

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 3 de 27


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Exemplo IV.1 – No circuito da Figura IV.3, N 1 = 2000 , N 2 = 500 , V 1 = 1200 0o V e I 1 = 5 − 30o A ,


ref
quando uma impedância Z 2 é ligada ao secundário. Determinar V 2 , I 2 , Z 2 e a impedância Z 2 que é
definida como sendo o valor de Z 2 referido ao primário do transformador (impedância refletida).

Solução Exemplo IV.1: Supondo que o transformador é ideal, tem-se:


N 500
V 2 = 2 V1 = 1200 0o = 300 0o V
N1 2000
N 2000
I 2 = 1 I1 = 5 − 30o = 20 − 30o A
N2 500
Pela definição de impedância, tem-se:
V2 300 0o
Z2 = = = 15 30o Ω
I 2 20 − 30 o

o
ref V 1 1200 0
Z2 = = = 240 30o Ω
I 1 5 − 30o
ou
N1
V2 2 2 2
ref V 1 N2  N 1  V 2  N1   2000 
Z2 = = =   =   Z 2 =   15 30 = 240 30 Ω
o o
N2 N N  500 
I1 I2  2  I 2  2
N1

A expressão obtida no Exemplo anterior


2
ref N 
Z 2 =  1  Z 2
 N2 
é empregada na reflexão de impedâncias, técnica que consiste em colocar no circuito primário uma
impedância que produza o mesmo efeito que a impedância que está colocada no circuito secundário.
Analogamente, é possível realizar a reflexão do primário para o secundário, ou seja,
2
ref N 
Z 1 =  2  Z 1
 N1 
Observar que o efeito produzido pela impedância em qualquer um dos enrolamentos deve ser o mesmo.
Assim, quanto maior a tensão do enrolamento (portanto, maior o número de espiras) maior deverá ser o valor
da impedância em ohms.

IV.1.2 – Modelo do transformador ideal em pu

Utilizando a magnitude das tensões terminais nominais como tensões de base tem-se, os seguintes valores de
base para o primário e secundário, respectivamente:

pri
Vbase – Tensão de base do primário [kV]
N 2 pri
sec
Vbase –
sec
Tensão de base do secundário: Vbase = Vbase [kV]
N1

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 4 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Sendo S base a potência de base do sistema, as correntes de base para o primário e secundário,
respectivamente, são:
S
pri
I base = base
pri
Vbase
S base S base N pri
sec
I base = sec
= = 1 I base
Vbase N 2 pri N2
Vbase
N1

Desta forma, os valores em pu serão dados por:


V1
V 1 pu = pri
Vbase
N2
V1
V2 N1 V1
V 2 pu = sec = = pri ⇒ V 2 pu = V 1 pu (IV.8)
Vbase N 2 pri V
Vbase base
N1
I1
I 1 pu = pri
I base
N1
I1
I2 N2 I1
I 2 pu = sec
= = pri ⇒ I 2 pu = I 1 pu (IV.9)
I base N1 pri
I base I base
N2

Portanto, quando as grandezas estiverem em pu, o transformador ideal com relação nominal pode ser
substituído por um curto-circuito, conforme mostrado na Figura IV.4, pois tanto a tensão quanto a corrente
apresentam o mesmo valor em ambos enrolamentos – vide equações (IV.8) e (IV.9).
I 1 pu I 2 pu I 1 pu I 2 pu
+ + + +

Transformador
V 1 pu Ideal V 2 pu V 1 pu V 2 pu
em pu
– – – –

Figura IV.4 – Circuito equivalente do transformador ideal de dois enrolamentos em pu.

IV.2 – Circuito equivalente do transformador real de dois enrolamentos

No transformador real de dois enrolamentos, as resistências dos enrolamentos não são nulas (serão notadas
por r1 e r2 , respectivamente, para o primário e secundário), nem todo o fluxo que enlaça um enrolamento
enlaça o outro pois a permeabilidade do núcleo não é infinita, isto é, existem fluxos dispersos nos
enrolamentos cujos efeitos são representados por intermédio das reatâncias de dispersão x1 e x2 ,
respectivamente, para o primário e secundário. Além disto, ocorrem perdas devido às variações cíclicas do
sentido do fluxo (histerese) e também devido às correntes parasitas induzidas no núcleo. Assim, mesmo
com o secundário em aberto, existe uma pequena corrente circulando no primário quando este é energizado,
denominada corrente de magnetização – o efeito deste fenômeno é representado pela impedância de
magnetização rm e x m , colocada em derivação no primário do transformador (ou no secundário).

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 5 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Considerando os efeitos anteriormente mencionados, o transformador real de dois enrolamentos pode ser
representado por um circuito composto por transformador ideal de dois enrolamentos e algumas
impedâncias para representar o efeito das perdas ôhmicas, devido ao fluxo disperso e à magnetização,
conforme ilustra a Figura IV.5
Fluxo disperso em 1: Fluxo disperso em 2:
φm (t )
φ1disp (t ) φ () φ 2disp (t )
i1 (t ) i 2 (t )

+ +

v1 (t ) v 2 (t )

– –

N1 espiras N2 espiras

(a) Transformador real de dois enrolamentos.

I1 r1 + jx1 r2 + jx 2 I2
N1 : N 2
+ +
• •
Transformador
Real V1 V2
rm jxm

– Ideal –

(b) Transformador real de dois enrolamentos em regime permanente.

Figura IV.5 – Transformador real de dois enrolamentos.

Quando todos os parâmetros ( r1 , x1 , r2 , x2 , rm e x m ) e grandezas ( V 1 , I 1 , V 2 e I 2 ) estão em pu, o


transformador ideal pode ser omitido (substituído pelo seu circuito equivalente em pu que é um curto-
circuito), resultando no circuito da Figura IV.6.

I1 r1 + jx1 r2 + jx2 I2
+ +
Transformador Im
Real em pu
V1 V2
rm jxm
– –

Figura IV.6 – Circuito equivalente em pu do transformador real de dois enrolamentos.

Os parâmetros em série (resistência dos enrolamentos e reatância de dispersão: r1 , x1 , r2 , e x2 ) são


determinados por intermédio do ensaio de curto-circuito no qual os enrolamentos são submetidos à
corrente nominal. Neste ensaio, um dos enrolamentos é curto-circuitado enquanto aplica-se uma tensão
variável em outro enrolamento até que a corrente que circule nestes dois enrolamentos do transformador seja
igual ao seu valor nominal. Neste caso, a impedância de magnetização é desprezada pois a tensão empregada

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 6 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

neste ensaio é significativamente menor que o valor nominal e a corrente de magnetização corresponde a
uma fração muito pequena do valor nominal. Considerando que o enrolamento secundário tenha sido curto-
(
circuitado e que a corrente que circula por este é igual ao seu valor nominal I 2 = 1 0 pu , o circuito )
equivalente do ensaio de curto-circuito é dado pela Figura IV.7. Neste circuito equivalente, a impedância
medida nos terminais do enrolamento energizado é dada por:
V1
Z= = r1 + jx1 + r2 + jx 2
I1
Corrente nominal nos enrolamentos
I 1 ≈ I 2 = 1 0 pu r1 + jx1 r2 + jx 2 I 2 = 1 0 pu

+ +
Im ≈0
V1 Magnetização V2 =0
desprezada rm jx m
– –

Figura IV.7 – Ensaio de curto-circuito (circuito equivalente em pu).

A impedância de magnetização é determinada por intermédio do ensaio de circuito aberto no qual os


enrolamentos são submetidos à tensão nominal. No ensaio de circuito aberto é aplicada tensão nominal a um
dos enrolamentos e mede-se a corrente que circula neste enrolamento enquanto o(s) outro(s) enrolamento(s)
permanece(m) em circuito aberto. Considerando que o enrolamento primário tenha sido energizado com
( )
tensão nominal V 1 = 1 0 pu , o circuito equivalente do ensaio em vazio de um transformador é dado pela
Figura IV.8. Neste circuito equivalente, a impedância medida nos terminais do enrolamento energizado é
dada por:
V1 r ⋅ jxm
Z= = r1 + jx1 + m
I1 rm + jxm
Tensão nominal nos enrolamentos
I 1 = I m r1 + jx1 r2 + jx 2 I2 =0
+ +
Im
V 1 = 1 0 pu V2
rm jx m
– –

Figura IV.8 – Ensaio de circuito aberto (circuito equivalente em pu).

Como exemplo das características elétricas dos transformadores em nível de distribuição, têm-se os valores
do Quadro IV.2. Em transformadores de maior potência e nível de tensão, as perdas em vazio e as perdas
totais apresentam valores percentuais (em função da potência nominal) menores, sendo inferiores a 0,1 e
0,5%, respectivamente.

Levando em conta as características reais dos grandes transformadores, as perdas nos enrolamentos1 (devido
a r1 e r2 ) e no núcleo2 (devido a rm e x m ) são muito pequenas quando comparadas com a potência do
transformador sendo, geralmente, desprezadas. Desta forma, o modelo equivalente do transformador fica
bastante simplificado, conforme mostra a Figura IV.9.

1
Cujo valor nominal corresponde à diferença entre as perdas totais e as perdas em vazio.
2
Ou perdas em vazio.

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 7 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

I1 jx I2
+ +

jx = jx1 + jx2
V1 V2

– –
Figura IV.9 – Circuito simplificado em pu do transformador real de dois enrolamentos.

Quadro IV.2 – Características de perdas, correntes de excitação e impedâncias.

TRANSFORMADORES TRIFÁSICOS DE TENSÃO MÁXIMA 15 kV


Corrente de
Potência Perdas em vazio Perdas totais Impedância
excitação
[kVA] máximo [W] máximas [W] 75° C [%]
máxima [%]
30 4,1 170 740
45 3,7 220 1.000
75 3,1 330 1.470 3,5
112,5 2,8 440 1.990
150 2,6 540 2.450
225 2,3 765 3.465
4,5
300 2,2 950 4.310
TRANSFORMADORES TRIFÁSICOS DE TENSÕES MÁXIMAS 24,2 e 36,2 kV
Corrente de
Potência Perdas em vazio Perdas totais Impedância
excitação
[kVA] máximo [W] máximas [W] 75° C [%]
máxima [%]
30 4,8 180 825
45 4,3 250 1.120
75 3,6 360 1.635 4,0
112,5 3,2 490 2.215
150 3,0 610 2.755
225 2,7 820 3.730
5,0
300 2,5 1.020 4.620
Fonte: Trafo Equipamentos Elétricos S.A. (disponível em http://www.trafo.com.br/)

Exemplo IV.2 – Um transformador monofásico tem 2000 espiras no enrolamento primário e 500 no
secundário. As resistências dos enrolamentos são r1 = 2 Ω e r2 = 0,125 Ω ; as reatâncias de dispersão são
x1 = 8 Ω e x 2 = 0,5 Ω . A carga ligada ao secundário é resistiva e igual a 12 Ω. A tensão aplicada ao
enrolamento primário é de 1200 V. Determinar o fasor tensão secundária e a regulação de tensão do
transformador:
vazio carga
V2 −V2
Regulação% = carga
100%
V2
carga vazio
onde V 2 é a magnitude da tensão no secundário com plena carga e V 2 é a magnitude da tensão no
secundário em vazio.

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 8 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Solução Exemplo IV.2: Utilizando uma potência de base de 7500 VA e as tensões nominais, tem-se:
S base = 7500 VA
N pri 500
pri
Vbase = 1200 V sec
Vbase = 2 Vbase = 1200 = 300 V
N1 2000

pri
Z base =
(V ) pri 2
base
=
1200 2
= 192 Ω sec
Z base =
(V )
sec 2
base
=
300 2
= 12 Ω 3
S base 7500 S base 7500

Desta forma, os valores das impedâncias do circuito equivalente em pu são dados por:
r + jx 2 + j 0,125
Z 1 = 1 pri 1 = = (0,0104 + j 0,0417 ) pu
Z base 192
r2 + jx2 0,125 + j 0,5
Z2 = sec
= = (0,0104 + j 0,0417 ) pu
Z base 12
carga 12 12
Z 2 = sec = = 1 pu
Z base 12
e o circuito equivalente em pu desconsiderando a impedância de magnetização é dado pelo circuito a seguir.

I1 Z 1 = r1 + jx1 Z 2 = r2 + jx 2 I2
+ +

carga
V 1 = 1 pu V2 Z2

– –
Valores em pu
Circuito primário Circuito secundário

Com a carga conectada, a tensão nos terminais do secundário do transformador é dada por:
carga
carga Z2 1
V 2 = V1 = 1
Z1 + Z1 +
carga
Z2 0,0104 + j 0,0417 + 0,0104 + j 0,0417 + 1
carga carga
V 2 = 0,9764 − 4,67o pu V2 = 300 × 0,9764 − 4,67o = 292,9 − 4,67 o V

Em vazio (sem a carga conectada), como não existe corrente circulando, não existe queda de tensão na
impedância série e a tensão nos terminais do secundário do transformador é igual à tensão primária:
vazio
V2 = V 1 = 1 pu

Daí, a regulação percentual do transformador é:


vazio carga
V2 −V2
1 − 0,9764
Regulação% = carga
100% = 100% Regulação % = 2,42%
V 2
0,9764

3
Observar que a potência de base foi previamente escolhida para que a impedância da carga fosse igual a 1 pu.

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 9 de 27


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Solução alternativa Exemplo IV.2:

A solução anterior poderia ter sido obtida sem transformar as grandezas para pu, utilizando reflexão de
impedâncias.

N 1 2000
A relação nominal do transformador é dada por: a NOM = = =4
N2 500

Refletindo a impedância série do secundário para o circuito primário, tem-se a seguinte impedância série
equivalente do primário e secundário:
R = r1 + r2 (a NOM ) = 2 + 0,125 ⋅ 4 2 = 4 Ω
2

X = x1 + x 2 (a NOM ) = 8 + 0,5 ⋅ 4 2 = 16 Ω
2

(a NOM )2 = 12 ⋅ 4 2 = 192
carga carga
Z ref = Z2 Ω

Assim, tem-se o seguinte circuito equivalente do ponto de vista do primário.

I2
I1 R + jX a NOM

+ +

carga
V 1 = 1200 V Z ref a NOM V 2

– –

Com a carga conectada, a tensão nos terminais do secundário do transformador é dada por:

carga
carga Z ref 192
a NOM V 2 = V1 = 1200 = 1171,6 − 4,67o V
Z+
carga
Z ref 4 + j16 + 192
carga 1171,6 − 4,67 o
1171,6 − 4,67 o carga
V 2 = = V2 = 292,9 − 4,67 o V
a NOM 4

Em vazio (sem a carga conectada), como não existe corrente circulando, não existe queda de tensão na
impedância série e a tensão nos terminais do secundário do transformador é igual à tensão primária:

vazio
a NOM V 2 = V 1 = 1200 V
vazio 1200 1200 vazio
V 2 = = V2 = 300 V
a NOM 4

Daí, a regulação percentual do transformador é:

vazio carga
V2 −V2
300 − 292,9
Regulação% = carga
100% = 100% Regulação % = 2,42%
V2 292,9

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Exemplo IV.3 (Provão 2000) – Questão relativa às matérias de Formação Profissional Específica (Ênfase
Eletrotécnica).

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Média (escala de 0 a 100) % escolha


Brasil Região Sul Instituição Brasil Região Sul Instituição
19,3 19,2 16,4 14,5

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IV.3 – Transformador com relação não-nominal

Com o objetivo de possibilitar um melhor controle da tensão no sistema elétrico, muitas vezes os
(
transformadores operam com relação de transformação diferentes da nominal N1NOM : N 2NOM . Neste caso, )
os transformadores apresentam um enrolamento especial provido de diversas derivações (taps), comutáveis
sob carga ou não. Quando a seleção da derivação é realizada sob carga, o transformador apresenta um
dispositivo denominado comutador de derivações em carga (ou comutador sob carga) que se encarrega de
realizar as conexões necessárias para que seja selecionada a relação de transformação desejada. Para operar
tais comutadores utilizam-se acionamentos motorizados, possibilitando comando local ou à distância,
inclusive com controle automático de tensão. Quando a seleção da derivação é realizada sem carga o
dispositivo é muito mais simples, sendo utilizada apenas uma chave seletora que opera quando o
transformador está desligado.

Por norma, as derivações são numeradas, sendo a derivação “1” a de maior tensão, conforme mostra o
Quadro IV.3 no qual encontram-se exemplos de valores de derivações e relações de tensão para
transformadores em nível de distribuição. Neste caso, no interior do tanque o transformador apresenta uma
chave seletora que possibilita o ajuste do tap quando este estiver desligado.

Quadro IV.3 – Derivações e relações de tensões.

Tensão [V]
Tensão máxima
Derivação Primário Secundário
do equipamento
N° Trifásicos e Monofásicos
[KV eficaz] Trifásicos Monofásicos
Monofásicos (FF) (FN)
1 13.800 7.967
15,0 2 13.200 7.621 2 terminais
3 12.600 7.275 220 ou 127
1 23.100 13.337 ou
380/220
3 terminais
24,2 2 22.000 12.702 ou
440/220 ou
3 20.900 12.067 220/127
254/127 ou
1 34.500 19.919 240/120 ou
36,2 2 33.000 19.053 230/115
3 31.500 18.187
(FF) - tensão entre fases
(FN) - tensão entre fase e neutro
Fonte: Trafo Equipamentos Elétricos S.A. (disponível em http://www.trafo.com.br/)

Em nível transmissão de energia elétrica os transformadores podem possuir dispositivos para comutação sob
carga, apresentando um maior número de derivações, conforme exemplifica a Tabela IV.1. Observar que as
derivações são realizadas no enrolamento de maior tensão, visando operar com menores correntes no
comutador sob carga.

Tabela IV.1 – Derivações típicas da regulação sob carga.

Tensão primária [kV] Tensão secundária [kV]


138
230 ± 8 × 1,875%
69
69
138 ± 8 × 1,875% 23
13,8
23
69 ± 8 × 1,875%
13,8

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Considerando toda a impedância série concentrada em apenas um dos enrolamentos (refletida para o
primário, por exemplo) e desprezando as perdas no núcleo, o circuito equivalente do transformador com
relação não-nominal encontra-se na Figura IV.10. Observar, neste caso, que a relação de espiras dos
enrolamentos N1 : N 2 pode ser diferente da relação nominal, dada por N1NOM : N 2NOM .

N1 : N 2
I1 R + jX I2
1: a
+ + + +
• •

V1 E1 E2 V2

– – Ideal – –

Figura IV.10 – Circuito equivalente de um transformador com relação não nominal.

Para o transformador da Figura IV.10 são válidas as seguintes expressões:

N2 E2 I2 1
a= =a =
N1 E1 I1 a
Utilizando as magnitudes das tensões nominais do primário e do secundário com tensões de base
 pri N 2NOM pri  , define-se a relação nominal como sendo:
Vbase e Vbase
sec
= Vbase 
 N1NOM
 
sec
Vbase N 2NOM
a NOM = pri
=
Vbase N1NOM
Considerando a potência de base S base , as correntes de base para o primário e secundário são dadas por:
S
pri
I base = base
pri
Vbase
S base S base 1
sec
I base = sec
= pri
= pri
I base
Vbase a NOMVbase a NOM
Assim, transformando as grandezas para pu, tem-se:
E1
E 1 pu = pri
Vbase
E2 a E1 a E1 a
E 2 pu = sec
= pri
= pri
E 2 pu = E1 pu (IV.10)
Vbase a NOMVbase a NOM Vbase a NOM
I1
I 1 pu = pri
I base
1
I1
I2 a a I1 a NOM
I 2 pu = sec
= = NOM pri I 2 pu = I 1 pu (IV.11)
I base 1 pri a I base a
I base
a NOM
Portanto, mesmo quando as grandezas estão em pu, o transformador com relação não nominal não pode
ser substituído por um curto-circuito, pois tanto a tensão quanto a corrente apresenta valores distintos nos
enrolamentos – vide equações (IV.10) e (IV.11).

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 15 de 27


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IV.4 – Transformador de três enrolamentos

Em sistemas de energia elétrica é bastante comum a presença de um terceiro enrolamento nos


transformadores de força, além dos enrolamentos primário e secundário. Este enrolamento é denominado
terciário e é empregado para fornecer caminho às correntes de seqüência zero, para a conexão dos
alimentadores de distribuição, para alimentar os serviços auxiliares das subestações de energia ou para
conexão dos equipamentos empregados na compensação de reativos (normalmente bancos de capacitores).

A Figura IV.11 mostra um transformador monofásico de três enrolamentos juntamente com o seu circuito
equivalente em pu. Observar que o ponto comum O representado no circuito equivalente, mostrado na Figura
IV.11(b), é fictício e não tem qualquer relação com o neutro do sistema.

φm (t ) Fluxo disperso em 2:
Fluxo disperso em 1:
φ 2disp (t )
φdisp
(t ) i 2 (t )
1
i1 (t ) +

+ v2 (t )

v1 (t )
i3 (t )
N2 espiras

– +
N1 espiras v3 (t )

N3 espiras
Fluxo disperso em 3:
φ3disp (t )
(a) Transformador de três enrolamentos.

Z 2 = r2 + jx2 I2
I1 Z 1 = r1 + jx1 +
O
+ Z 3 = r3 + jx3 I 3

+
V2
V1 V3
rm jx m

– – –

(b) Circuito equivalente em pu.


Figura IV.11 – Transformador de três enrolamentos.

As impedâncias de qualquer ramo da Figura IV.11(b) podem ser determinadas através da impedância de
curto-circuito entre os respectivos pares de enrolamentos, mantendo o enrolamento restante em aberto
(ensaio de curto-circuito). Desta forma, sendo z12 a impedância obtida no ensaio no qual é aplicada tensão
no enrolamento primário suficiente para fazer circular a corrente nominal quando o secundário está em curto-
circuito e o terciário aberto (vide Figura IV.12), tem-se (desprezando o ramo de magnetização):
Z 12 = Z 1 + Z 2

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 16 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

I 2 = 1 0 pu
Z 2 = r2 + jx2
I 1 ≈ I 2 = 1 0 pu
Z 1 = r1 + jx1 O +
+ Z 3 = r3 + jx3 I 3
Im ≈ 0 +
V2 = 0
V1
V3
rm jxm

– – –

Figura IV.12 – Exemplo de ensaio de curto-circuito em um transformador de três enrolamentos.

Para as demais combinações, tem-se:


Z 23 = Z 2 + Z 3
Z 13 = Z 1 + Z 3
As impedâncias de quaisquer ramos da Figura IV.11(b) podem ser determinadas resolvendo-se o sistema
formado pelas três equações anteriores (três ensaios de curto-circuito), cuja solução é dada por:
1
(
Z 1 = Z 12 + Z 13 − Z 23
2
)
1
(
Z 2 = Z 12 + Z 23 − Z 13
2
)
1
(
Z 3 = Z 13 + Z 23 − Z 12
2
)
Notar que este modelo pode apresentar resistências e/ou reatâncias negativas. O significado físico de tais
parâmetros pode parecer contrariar a natureza do equipamento, mas deve-se levar em conta que o circuito
equivalente representa o transformador a partir de seus terminais (portanto, os componentes não precisam
possuir individualmente ligação direta com um enrolamento específico).

Diferentemente dos transformadores de dois enrolamentos, os transformadores de três enrolamentos


geralmente apresentam enrolamentos com potências nominais diferentes.

IV.5 – Autotransformador

Um autotransformador é um transformador no qual, além do acoplamento magnético entre os enrolamentos,


existe uma conexão elétrica conforme mostra a Figura IV.13. São duas as formas possíveis de conexão
elétrica: aditiva ou subtrativa.

I1 N1 : N 2 I2
N2
+ 1: a + a=
• • N1
V1 N1 1
V1 V2 = =
V2 N2 a
I1 N2
– Ideal – = =a
I2 N1

• •
• •
• •
• •
Conexões Aditivas Conexões Subtrativas
Figura IV.13 – Transformador ideal conectado como autotransformador.

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 17 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Em geral utiliza-se a conexão aditiva nas duas formas de operação possíveis, ou seja, como
autotransformador elevador ou rebaixador, conforme ilustra a Figura IV.14.
I2 Iy Ix

+ • + + + •

V2 V1 I1
Ix Iy
– –
Vy Vx + +
+ +
• •
Vx V1 I1 V2 I2 Vy
– – – – – –

(a) Autotransformador elevador. (b) Autotransformador rebaixador.

Figura IV.14 – Autotransformador elevador e rebaixador.

Para o autotransformador elevador da Figura IV.14(a), tem-se:


N  1
I x = I 1 + I 2 = I 1 + 1 I 1 = 1 +  I 1
N2  a
N 1 
V y = V 1 + V 2 = 1 V 2 + V 2 =  + 1V 2
N2 a 
Daí, as potências complexas de entrada, S x , e saída, S y , são dadas por:
*
*  1   1 *  1 *
S x = V x I x = V 1 1 +  I 1  = V 1 1 +  I 1 = 1 + V 1 I 1
 a   a  a
 1
S x = 1 +  S 1
 a
*  1 *
S y = V y I y = 1 + V 2 I 2
 a
 1
S y = 1 +  S 2
 a
onde S 1 e S 2 são as potências complexas de entrada e saída obtidas na conexão como transformador ideal.
Assim, como a é sempre positivo, para a ligação aditiva, o autotransformador permite a transformação de
maior quantidade de potência elétrica do que a conexão como transformador. A desvantagem é a perda de
isolação elétrica entre o primário e o secundário.

Exercício IV.1: Repetir o equacionamento da potência do autotransformador para a conexão rebaixadora da


Figura IV.14(b).

Exercício IV.2: Determinar a magnitude da tensão secundária e a potência nominal de um


autotransformador construído a partir de um transformador monofásico de 30 kVA, 120/240 V, conectado
conforme a Figura IV.14(a) (autotransformador elevador). Sabe-se que a tensão nominal é aplicada ao
enrolamento de baixa tensão e que a corrente que circula nos enrolamentos é a nominal.

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 18 de 27


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IV.6 – O modelo do transformador em fase

A representação de transformadores em fase, mostrada na Figura IV.15, consiste de um transformador ideal


com relação de transformação 1 : akm e uma impedância série Z km . Observar que neste modelo as perdas no
núcleo são desprezadas.
V p = a km V k = a kmV k θ k
V k = Vk θ k V m = Vm θ m
k p Z km = rkm + jx km m
I km I mk

1 : a km I pm

Figura IV.15 – Representação de um transformador em fase.

Da relação do transformador ideal em fase4:


Vk 1
= ⇒ V p = a km V k
V p a km
I km
= a km
*
= a km ⇒ I km = a km I pm
I pm
As correntes I pm , I km e I mk são obtidas a partir dos fasores tensão das barras k, p e m ( V k = Vk θ k ,
1
V p = V p θ p = a kmVk θ k e V m = Vm θ m , respectivamente) e do valor da admitância série Y km = :
Z km
( ) (
I pm = Y km V p − V m = Y km akm V k − V m )
(
I km = akm I pm = akm Y km akm V k − V m ) I km = akm
2
Y km V k − akm Y km V m (IV.12)

(
I mk = − I pm = −Y km akm V k − V m ) I mk = −akm Y km V k + Y km V m (IV.13)
Deste modo, o transformador em fase pode ser representado por um circuito equivalente do tipo π, conforme
está ilustrado na Figura IV.16.

k m
I km I mk
Vk A Vm

B C
A, B, C admitâncias

Figura IV.16 – Circuito equivalente π de um transformador em fase.

Para o modelo π da Figura IV.16, onde A, B e C são as admitâncias dos componentes, as correntes I km e
I mk são dadas por:

4
Lembrar que não há dissipação de potência ativa ou reativa no transformador ideal, logo:
* *
* * I km Vp I km  V p 
S km = S pm ⇒ V k I km =V p I pm ⇒ = ⇒ = 
I pm
*
Vk I pm  V k 

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

( )
I km = A V k − V m + BV k = ( A + B )V k − AV m I km = ( A + B )V k + (− A)V m (IV.14)

I mk = A(V
m −V k ) + CV
m = − AV k + ( A + C )V m I mk = (− A)V k + ( A + C )V m (IV.15)
Comparando as expressões (IV.12) com (IV.14) e (IV.13) com (IV.15), tem-se:
A = a km y km
B = a km (akm − 1)Y km
C = (1 − akm )Y km
Observar que o valor de a determina o valor e a natureza dos componentes do modelo π da Figura IV.15:
a km = 1 pu, ou seja, a km = a NOM : A = y km , B = C = 0
a km < 1 pu, ou seja, a km < a NOM : B < 0 (capacitivo) e C > 0 (indutivo)
a km > 1 pu, ou seja, a km > a NOM : B > 0 (indutivo) e C < 0 (capacitivo)

NOTA IMPORTANTE: As grandezas de base utilizadas para fazer a conversão da impedância série do
transformador para pu devem ser obrigatoriamente relativos ao enrolamento no qual esta impedância está
ligada. Mais especificamente, no modelo de transformador adotado, que é mostrado na Figura IV.15, deve-se
utilizar a tensão de base do enrolamento conectado à Barra m.

Exemplo IV.4 – Dado um transformador trifásico, 138/13,8 kV, 100 MVA, cuja reatância de dispersão vale
5% (na base do transformador), determinar o circuito equivalente do transformador se as bases do sistema
são:
a) 138/13,8 kV, 100 MVA;
b) 169/16,9 kV, 200 MVA;
c) 169/15 kV, 250 MVA.

Solução Exemplo IV.4:


a) Como x = 5 % = 0,05 pu , tem-se que:
Z TR = j 0,05 pu
Y TR = − j 20 pu
e o circuito equivalente é dado por:
I1 − j 20 I2
+ +

V1 V2
Admitância em pu
– –

16,9 13,8 a 0,1


b) Observar que a NOM = =a= = 0,1 , então a pu = = = 1 pu .
169 138 a NOM 0,1
2
 VL pu (base 1)  S 3φ pu (base 2 )
Z pu (base 2 ) = Z pu (base 1)  
 VL pu (base 2 )  S 3φ pu (base 1)
 

2
 138  200
Z TR = j 0,05  = j 0,0667 pu
 169  100

Y TR = − j15 pu

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Solução Exemplo IV.4 (continuação): e o circuito equivalente é dado por:


I1 − j15 I2
+ +

V1 V2
Admitância em pu
– –

15 13,8
c) Neste caso, tem-se a NOM = = 0,0888 e a = = 0,1 . Calculando em pu, tem-se:
169 138
13,8
a
apu = = 15 = 1,1267 pu
a NOM 138
169
2
 VL pu (base 1)  S 3φ pu (base 2 )
Z pu (base 2 ) = Z pu (base 1)  
 VL pu (base 2 )  S 3φ pu (base 1)
 
Para o modelo de transformador adotado, que é mostrado na Figura IV.15, deve-se utilizar a tensão de base
do enrolamento conectado à Barra m, ou seja, a tensão do lado de média tensão do transformador, sendo o
valor em pu na base 169/15 kV, 250 MVA dado por:
′ ′
2
 13,8  250
Z TR = j 0,05  = j 0,1058 pu Y TR = − j 9,4518 pu
 15  100
Os parâmetros do circuito equivalente π são dados por:

A = apu Y TR = 1,1267(− j 9,4518) = − j10,65 pu

(
B = apu apu − 1 Y ) TR = 1,1267(1,1267 − 1)(− j 9,4518) = − j1,349 pu

(
C = 1 − apu Y ) TR = (1 − 1,1267 )(− j 9,4518) = j1,198 pu
e o circuito equivalente correspondente é:
I1 − j10,65 I2
+ +

V1 − j1,349 j1,197 V2

Admitâncias em pu
– –

Exemplo IV.5 – Considerando que o transformador do Exemplo IV.4 alimenta uma carga de 50 MVA, com
fator de potência 0,9 indutivo, no enrolamento de menor tensão e que este é representado pelos três modelos
determinados na solução do Exemplo IV.4 (em função das bases adotadas para o sistema pu), determinar o
valor da tensão no lado de alta tensão em pu e em kV quando a tensão na carga é igual a 13,8 kV.

Solução Exemplo IV.5:


a) Considerando os dados do problema, têm-se os seguintes valores em pu para a tensão, potência e
corrente secundária, para a base 138/13,8 kV, 100 MVA:
13,8 50 
V2 = = 1 pu S2 =  0,9 + j 1 − 0,9 2  = 0,45 + j 0,2179 = 0,5 25,84o pu
13,8 100  
*
*  S2 
S2 =V 2I2 = ⇔ I2 =  
V 2 
 

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 21 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Solução Exemplo IV.5 (continuação):


*
 0,45 + j 0,2179 
I2 =   = 0,45 − j 0,2179 = 0,5 − 25,84 pu
o

 1 
Do circuito equivalente mostrado na solução do Exercício IV.4, a tensão no lado de alta é dada por:
V 1 = V 2 + Z TR I 2 = 1 + j 0,05(0,45 − j 0,2179) = 1,0109 + j 0,0225 = 1,0111 1,28o pu
V 1 = 138 × 1,0111 1,28o = 139,50 + j 3,11 = 139,54 1,28o kV

b) Para a base 169/16,9 kV, 200 MVA, tem-se:


13,8 50 
V2 = = 0,8166 pu S2 =  0,9 + j 1 − 0,9 2  = 0,225 + j 0,1090 = 0,25 25,84o pu
16,9 200  
*
*  S2 
S2 =V 2I2 = ⇔ I2 =  
V 2 
 
*
 0,225 + j 0,1090 
I2 =  = 0,2755 − j 0,1335 = 0,3062 − 25,84o pu
 0,8166 
Do circuito equivalente mostrado na solução do Exercício IV.4, a tensão no lado de alta é dada por:

V 1 = V 2 + Z TR I 2 = 0,8166 + j 0,0667(0,2755 − j 0,1335) = 0,8255 + j 0,0184 = 0,8257 1,28o pu
V 1 = 169 × 0,8257 1,28o = 139,50 + j 3,11 = 139,54 1,28o kV
Observar que o valor obtido em kV é idêntico ao do Item (a), mostrando que o resultado não depende das
bases adotadas.

c) Para a base 169/15 kV, 250 MVA, tem-se:


13,8 50 
V2 = = 0,92 pu S2 =  0,9 + j 1 − 0,9 2  = 0,18 + j 0,0872 = 0,2 25,84o pu
15 250  
*
*  S2 
S2 =V 2I2 = ⇔ I2 =  
V 2 
 
*
 0,18 + j 0,0872 
I 2 =   = 0,1956 − j 0,0948 = 0,2174 − 25,84o pu
 0,92 
Do circuito equivalente obtido na solução do Exercício IV.4, a tensão no lado de alta é dada por:

I1 − j10,65 I2
+ +
SH
I2
V1 − j1,349 j1,197 V2

Admitâncias em pu
– –

V1 = V 2 +
1 1
(
 I 2 + I 2  = V 2 + I 2 + CV 2 = 0,92 +
A
SH

 A
) 1
− j10,65
(0,1956 − j 0,0948 + j1,197 × 0,92)
V 1 = 169 × 0,8257 1,28o = 139,50 + j 3,11 = 139,54 1,28o kV
Observar que o valor obtido em kV é idêntico ao dos Itens anteriores, mostrando que o resultado não
depende das bases adotadas.

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 22 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Exemplo IV.6 – Dado um transformador trifásico, 230/69 kV, 50 MVA, cuja reatância de dispersão vale
5%, determinar:
a) o circuito equivalente do transformador, se as bases do sistema são 230/69 kV, 100 MVA;
b) o valor da tensão no enrolamento de 69 kV (onde a carga está ligada), quando a tensão no enrolamento
de 230 kV (onde a fonte está ligada) é igual a 200 kV e são fornecidos 50 MVA, com fator de potência
igual a 0,8 indutivo;
c) o valor da tensão no enrolamento de 69 kV (onde a carga está ligada), quando a tensão no enrolamento
de 230 kV (onde a fonte está ligada) é igual a 250 kV e são fornecidos 10 MVA, com fator de potência
igual a 0,8 capacitivo;
d) nas situações operacionais dos Itens (b) e (c), determinar a potência complexa fornecida para a carga e as
perdas no transformador;
e) comentar as diferenças nos resultados obtidos nos Itens (b), (c) e (d).

Solução Exemplo IV.6:


a) Como x = 5 % = 0,05 pu na base de 50 MVA, para a base de 100 MVA e tensões nominais tem-se:
100
Z TR = j 0,05 = j 0,10 pu Y TR = − j10 pu
50
e o circuito equivalente é dado por:
I1 S1 j 0,10 S2 I2
+ +
Lado 230 kV Lado 69 kV

V1 V2
Admitância em pu
– –

b) A potência complexa fornecida ao transformador no enrolamento de 230 kV é dada por:


50 50 2
S1 = 0,8 + j 1 − 0,8 2 = 0,4 + j 0,3 pu
100 100
200
Levando em conta a tensão de operação no lado de 230 kV dada por V 1 = 0 = 0,8696 pu, a corrente no
230
transformador é dada por:
* *
*  S 1   0,4 + j 0,3 
S1 = V 1 I 1 I 1 =   =   = 0,4600 − j 0,3450 = 0,5750 − 36,87 o
 V 1   0,8696 
Do circuito equivalente, pode-se obter a seguinte expressão para a tensão no enrolamento de 69 kV:
V 2 = V 1 − Z TR I 1 = 0,8696 − j 0,10(0,4600 − j 0,3450 ) = 0,8351 − j 0,0460 = 0,8363 − 3,15o
V 2 = 57,71 − 3,15o kV
c) A potência complexa fornecida ao transformador no enrolamento de 230 kV é dada por:
10 10
S1 = 0,8 − j 12 − 0,8 2 = 0,08 − j 0,06 pu
100 100
250
Levando em conta a tensão de operação no lado de 230 kV dada por V 1 = 0 = 1,0870 pu, a corrente no
230
transformador é dada por:
* *
*  S 1   0,08 − j 0,06 
S1 = V 1 I 1 I 1 =   =   = 0,0736 + j 0,0552 = 0,0920 36,87 o
 V 1   1,0870 
Do circuito equivalente, pode-se obter a seguinte expressão para a tensão no enrolamento de 69 kV:
V 2 = V 1 − Z TR I 1 = 1,0870 − j 0,10(0,0736 − j 0,0552) = 1,0925 − j 0,0074 = 1,0925 − 0,39 o
V 2 = 75,38 − 0,39 o kV

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 23 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Solução Exemplo IV.6 (continuação):

d) A potência complexa fornecida para a carga nas situações dos Itens (b) e (c) são dadas por:
* *
S 2 = V 2 I 2 = V 2 I1
e as perdas no transformador são dadas por:
2
S perdas = S 1 − S 2 ou S perdas = Z TR I 1
Para o Item (b), tem-se:
S 2 = (0,8351 − j 0,0460)(0,4600 − j 0,3450) = 0,4000 + j 0,2669 = 0,4809 33,72 o
*

S perdas = 0,4 + j 0,3 − (0,4000 + j 0,2669) = j 0,0331 pu


2
S perdas = j 0,1 0,5750 = j 0,0331 pu
S perdas = j 3,31 MVA
Para o Item (c), tem-se:
S 2 = (1,0925 − j 0,0074)(0,0736 + j 0,0552) = 0,0800 − j 0,0608 = 0,1005 37,26 o
*

S perdas = 0,08 − j 0,06 − (0,0800 − j 0,0608) = j 0,0008 pu


2
S perdas = j 0,1 0,0920 = j 0,0008 pu
S perdas = j 0,08 MVA

e) Fasor tensão – No Item (b) a magnitude da tensão em pu no enrolamento de 69 kV é menor do que no


enrolamento de 230 kV, pois este fornece potência ativa e reativa para a carga, havendo queda de tensão em
sua impedância de dispersão. No Item (c) o fluxo de potência reativa ocorre do enrolamento de 69 kV para o
enrolamento de 230 kV (carga capacitiva) e isto faz com que a tensão em pu do enrolamento de 69 kV
apresente magnitude superior. Em ambos os casos, o fluxo de potência ativa é em direção ao enrolamento de
69 kV, sendo o ângulo de fase do fasor tensão V 2 menor do que do fasor tensão V 1 .

Potência complexa na carga – Nos Itens (b) e (c) a potência ativa na carga é a mesma fornecida para o
transformador, pois o modelo considera apenas a reatância de dispersão. A potência reativa difere, pois
existe um consumo de potência reativa na reatância do transformador.

Perdas ativas e reativas – Em ambos os casos não existem perdas de potência ativa e existe um consumo de
potência reativa em função da reatância de dispersão do transformador ser percorrida pela corrente. No Item
(b) as perdas são maiores, pois a corrente é maior.

Exercício IV.4 – Dado um transformador trifásico, 230 (+4)(–8)×1,875%/69 kV, 50 MVA, cuja reatância
de dispersão vale 5%, determinar:
a) o circuito equivalente do transformador, indicando os valores mínimos e máximos da relação de
transformação em pu (a), se as bases do sistema são 230/69 kV, 100 MVA;
b) o valor da tensão no enrolamento de 69 kV (onde a carga está ligada), quando a tensão no enrolamento
de 230 kV (onde a fonte está ligada) é igual a 200 kV e são fornecidos 50 MVA, com fator de potência
igual a 0,8 indutivo (nesta condição o transformador opera com o tap na posição 13);
c) o valor da tensão no enrolamento de 69 kV (onde a carga está ligada), quando a tensão no enrolamento
de 230 kV (onde a fonte está ligada) é igual a 250 kV e são fornecidos 10 MVA, com fator de potência
igual a 0,8 capacitivo (nesta condição o transformador opera com o tap na posição 1);
d) nas situações operacionais dos Itens (b) e (c), determinar a potência complexa fornecida para a carga e as
perdas no transformador;
e) comentar as diferenças nos resultados obtidos nos Itens (b), (c) e (d).

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 24 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Como para a linha de transmissão, é possível escrever a expressão do fluxo de potência complexa da barra k
para a barra m:
*
S km = V k I km = V k akm 2
[Y km V k − akm Y km V m = ]
*

= V k  akm Y km V k − akm Y km V m  = a km


 * * * * * * *
2 2
Vk2 Y km − a km Y km V k V m =
  
= (akmVk ) ( g km − jbkm ) − a km ( g km − jbkm )VkVm θ km
2

= (akmVk ) ( g km − jbkm ) − (akmVk )Vm (g km − jbkm )(cosθ km + j senθ km )


2

Separando as partes real e imaginária, chega-se a:


Pkm = (a kmVk ) g km − (a kmVk )Vm ( g km cosθ km + bkm sen θ km )
2
(IV.16)

Qkm = −(a kmVk ) bkm − (a kmVk )Vm (g km sen θ km − bkm cosθ km )


2
(IV.17)
O fluxo de potência complexa da barra m para a barra k é dado por:
Pmk = Vm2 g km − (a kmVk )Vm ( g km cosθ mk + bkm sen θ mk ) (IV.18)

Qmk = −Vm2 bkm − (a kmVk )Vm ( g km sen θ mk − bkm cosθ mk ) (IV.19)

Exercício IV.5 – Conhecidos os parâmetros que definem o transformador em fase e os fasores das tensões
terminais, mostrar como é possível determinar as perdas de potência ativa e reativa neste transformador.

IV.7 – O modelo do transformador defasador

Os transformadores defasadores são equipamentos capazes de controlar, dentro de determinadas limitações, a


relação de fase entre o fasor tensão do primário e do secundário. Para um transformador defasador puro, a
relação de transformação em pu é representada por um número complexo de módulo unitário e ângulo de
fase ϕ , ou seja, é dada por 1 : t km , com tkm = e jϕ , ou seja, 1 : 1 ϕ . A representação de um transformador
defasador puro está mostrada na Figura IV.15.

V p = e jϕ km V k = Vk θ k + ϕ km
V k = Vk θ k V m = Vm θ m
k p Z km = rkm + jx km m
I km I mk

I pm
1 : t km = e jϕ km
Figura IV.15 – Representação de um transformador defasador puro.

Da relação do transformador ideal:


Vk 1 1
= = jϕ ⇒ V p = t km V k = e jϕ km V k = 1 ϕ km ⋅ Vk θ k = Vk θ k + ϕ km
V p t km e km
I km
= t km
*
= e − jϕ km ⇒ I km = t km
*
I pm = e − jϕ km I pm
I pm

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 25 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

As correntes I pm , I km e I mk são obtidas a partir dos fasores tensão das barras k, p e m ( V k = Vk θ k ,


1
V p = V p θ p = Vk θ k + ϕ km e V m = Vm θ m , respectivamente) e do valor da admitância série y km = :
z km
( )
I pm = Y km V p − V m = Y km t km V k − V m ( )
I pm
6447 448
I km = *
tkm I pm = t km
*
(− V m = t km
Y km t km V k *
)
t km Y kmV k − tkm
*
Y kmV m I km = tkm
*
(
t km Y kmV k + − tkm
*
)
Y km V m (IV.20)
( )
I mk = − I pm = −Y km t km V k − V m = −t km Y km V k + Y km V m ( )
I mk = − t km Y km V k + Y km V m (IV.21)

Assim, o transformador defasador não pode ser representado por um circuito equivalente do tipo π,
conforme está ilustrado na Figura IV.15, pois o coeficiente de V m da expressão (IV.20), − t km
*
Y km , é
diferente do coeficiente de V k da expressão (IV.21), − t km Y km .

Como anteriormente, é possível escrever a expressão do fluxo de potência complexa da barra k para a barra
m:
*
[
S km = V k I km = V k Y km V k − t km
*
Y km V m = ]*

 * * * *
 * * *
= V k Y km V k − t km Y km V m = Vk2 Y km − t km Y km V k V m =
 
= Vk2 ( g km − jbkm ) − 1 ϕ km (g km − jbkm )VkVm θ km
= Vk2 ( g km − jbkm ) − Vk Vm ( g km − jbkm )[cos(θ km + ϕ km ) + j sen(θ km + ϕ km )]
Separando as partes real e imaginária, chega-se a:
Pkm = Vk2 g km − Vk Vm [g km cos(θ km + ϕ km ) + bkm sen (θ km + ϕ km )] (IV.22)
Qkm = −Vk2 bkm − Vk Vm [g km sen(θ km + ϕ km ) − bkm cos(θ km + ϕ km )] (IV.23)

Exercício IV.6 – Determinar a expressão do fluxo de potência complexa da barra m para a barra k.
Utilizando esta expressão equacionar as perdas de potência ativa e reativa neste transformador.

IV.8 – Expressões gerais dos fluxos de corrente e de potência

As expressões dos fluxos de corrente e potência em linhas de transmissão, transformadores em fase,


defasadores puros e defasadores, podem ser generalizadas de forma tal que seja possível utilizar sempre a
mesma expressão, fazendo algumas considerações para particularizar o equipamento em questão. Assim, os
fluxos de corrente nestes equipamentos obedecem às seguintes expressões gerais:

(
I km = t km
*
t km Y km + jbkm
sh
)
V k + − t km
*
(
Y km V m ) (
I km = akm
2
Y km + jbkm
sh
) (
V k + − a km e − jϕkm Y km V m ) (IV.24)

I mk = (− t km Y km )V + (Y
k km + jbkm
sh
Vm ) I mk = (− a km e
+ jϕ km
Y km)V + (Y
k km )
+ jbkm
sh
Vm (IV.25)

De acordo com o tipo de equipamento, as variáveis a km , ϕ km e bkm


sh
assumem valores particulares, mostradas
na Tabela IV.2.

Tabela IV.2 – Parâmetros para os diferentes equipamentos nas expressões gerais dos fluxos.
Equipamento a km ϕ km sh
bkm
Linha de transmissão 1 0
Transformador em fase 0 0
Transformador defasador puro 1 0
Transformador defasador 0

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 26 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Os fluxos de potência ativa e reativa em linhas de transmissão, transformadores em fase, defasadores puros e
defasadores, obedecem às seguintes expressões gerais:

Pkm = (a kmVk ) g km − (a kmVk )Vm [g km cos(θ km + ϕ km ) + bkm sen (θ km + ϕ km )]


2
(IV.26)

(
Qkm = −(a kmVk ) bkm + bkm
2 sh
)
− (a kmVk )Vm [g km sen (θ km + ϕ km ) − bkm cos(θ km + ϕ km )] (IV.27)

Assim, as expressões (IV.24) a (IV.27) podem ser utilizadas indistintamente para o cálculo dos fluxos de
corrente e potência em linhas de transmissão, transformadores em fase, defasadores puros e defasadores,
bastando utilizar os parâmetros conforme a Tabela IV.2.

O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 27 de 27


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

V – Geradores, reatores, capacitores e cargas

O sistema elétrico possui duas classes de componentes, os empregados na conexão entre dois nós elétricos
(elementos série) e aqueles que são conectados a apenas um nó elétrico (elementos em derivação). O
segundo grupo inclui os geradores e as cargas que constituem a razão de existir do sistema elétrico. Os
demais componentes em derivação (reatores e capacitores) são empregados no controle da tensão/potência
reativa.

Para todos os componentes em derivação é adotada a convenção gerador, ou seja, são consideradas
positivas aa potências ativa e reativa injetadas.

V.1 – Geradores

A Figura V.1 mostra o sentido positivo da potência injetada em uma barra que contém um gerador.

V k = Vk θ k V k = Vk θ k
k k

Pk + jQk

G Pk + jQk
Figura V.1 – Convenção da potência para um gerador.

Para um gerador que está injetando potência ativa no sistema, tem-se:


Pk > 0
> 0 , sobrexcitado

Qk 
< 0 , subexcitado

V.2 – Reatores

A Figura V.2 mostra o sentido positivo da potência injetada por um reator em uma barra.

V k = Vk θ k Para um Reator V k = Vk θ k
k xL > 0 k
Ik −1
bL = <0
Z k = jxL Pk + jQk xL
Y k = jbL
jQk
Figura V.2 – Convenção da potência para um reator.

Geradores, reatores, capacitores e cargas – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 1 de 5


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Neste caso, tem-se:

Ik =
0 −V k −V k
Zk
=
jx L
= j
Vk
xL
ou ( )
I k = Y k 0 − V k = − jbL V k

* 2
*
*  0 −V k  −V kV k Vk 2
Sk =V kIk = V k   =
 = − j = jbL V k
 jxL  − jxL xL

Portanto, para um reator (como xL > 0 e bL < 0 ), a injeção de potência reativa é negativa, ou seja, Qk < 0 .

V.3 – Capacitores

A Figura V.3 mostra o sentido positivo da potência injetada por um capacitor em uma barra.

V k = Vk θ k Para um Capacitor V k = Vk θ k
k xC < 0 k
Ik −1
bC = >0
Z k = jxC Pk + jQk xC
Y k = jbC
jQk

Figura V.3 – Convenção da potência para um capacitor.

Neste caso, tem-se:

Ik =
0 −V k −V k
Zk
=
jxC
= j
Vk
xC
ou ( )
I k = Y k 0 − V k = − jbC V k

* 2
*
*  0 −V k  −V kV k Vk 2
Sk =V kIk = V k   =
 = − j = jbC V k
 jxC  − jxC xC

Portanto, para um capacitor (como xC < 0 e bC > 0 ), a injeção de potência reativa é positiva, ou seja,
Qk > 0 .

V.4 – Cargas

A Figura V.4 mostra o sentido positivo da potência injetada por uma carga constituída por uma impedância
em uma barra.

Geradores, reatores, capacitores e cargas – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 2 de 5


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

V k = Vk θ k V k = Vk θ k
k k
Ik
Z k = rk + jxk Pk + jQk

Pk + jQk
Figura V.4 – Convenção da potência para uma carga.

Neste caso, tem-se:


0 −V k −V k
Ik = =
Zk Zk
Zk 2 2 2
* ×
−V kV k Zk − V k Z k − V k Z k
*
 −V k  Vk
( )
*
Sk =V kIk = V k   =
 *
= *
= 2
= − rk + jx k 2
 Zk  Zk ZkZk Zk rk2 + xk2
Pk jQk
647 48 64
47 44
8
2 2 2
Vk Vk Vk
S k = −(rk + jxk ) = − rk 2 − jxk 2
rk2 + xk2 rk + xk2 rk + xk2
Portanto, para uma carga constituída por uma impedância (com rk ≥ 0 ), a injeção de potência ativa é
negativa, ou seja, Pk < 0 . Por outro lado, a injeção de potência reativa tem o sinal inverso da reatância, ou
seja, é negativa para um indutor, Qk < 0 , e positiva para um capacitor, Qk > 0 .

No fluxo de carga, as cargas são representadas por injeções constantes de potência ativa e reativa ou por
intermédio de uma expressão mais geral que considera a dependência da carga com relação à magnitude da
tensão, sendo as injeções de potência determinadas por:

(
Pk = a P + bPVk + c PVk2 PkNOM )
Qk = (a Q + bQVk + cQVk2 )Q
NOM
k

sendo a P , bP e c P constantes que definem o tipo de dependência que a potencia ativa tem com a tensão e
aQ , bQ e cQ constantes que definem o tipo de dependência que a potencia reativa tem com a tensão.
Observar que devem ser válidas as seguintes relações para que quando a tensão assuma seu valor nominal
(Vk = 1 pu ) , as injeções correspondam ao valor nominal PkNOM e Q kNOM : ( )
a P + bP + cP = 1
aQ + bQ + cQ = 1

Exercício V.1 – Determinar as constantes a, b e c de uma injeção composta formada por:


Potência nominal: P NOM + jQ NOM
20% potência constante
30% corrente constante
40% impedância constante

Geradores, reatores, capacitores e cargas – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 3 de 5


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Exemplo V.1 (Provão 2002) – Questão relativa às matérias de Formação profissional Específica (Ênfase
Eletrotécnica).

Geradores, reatores, capacitores e cargas – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 4 de 5


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Média (escala de 0 a 100) % escolha


Brasil Região Sul Instituição Brasil Região Sul Instituição
14,7 20,2 31,3 38,5

Geradores, reatores, capacitores e cargas – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 5 de 5


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

VI – O estudo do fluxo de carga

A avaliação do desempenho das redes de energia elétrica em condições de regime permanente senoidal é de
grande importância tanto na operação em tempo real do sistema quanto no planejamento de sua operação
e expansão. Entre as informações a serem determinadas para uma condição definida de carga e geração se
destacam as seguintes:
• O carregamento das linhas de transmissão e transformadores;
• O carregamento dos geradores;
• A magnitude da tensão nas barras;
• As perdas de transmissão;
• O carregamento dos equipamentos de compensação de reativos (síncronos e estáticos)..

A partir destas informações, é possível definir propostas de alterações a serem implementadas no sistema,
com objetivo de tornar a sua operação mais segura e econômica. Entre as alterações possíveis na operação
do sistema se destacam:
• Ajuste no despacho dos geradores;
• Ajustes nos dispositivos de controle de tensão (injeções de potência reativa, posição dos taps dos
transformadores e status dos bancos de capacitores e reatores);
• Ajustes no intercâmbio com os sistemas vizinhos;
• Mudanças na topologia (ligar ou desligar alguma linha de transmissão ou transformador).

Por outro lado, entre as alterações possíveis no planejamento da expansão do sistema se destacam:
• Instalação de novas plantas de geração;
• Instalação de novas linhas de transmissão e transformadores;
• Instalação de dispositivos de controle do fluxo de potência (FACTS1);
• Interconexão com outros sistemas.

VI.1 – Definição do problema do fluxo de carga

O problema do fluxo de carga (load flow em inglês) ou fluxo de potência (power flow em inglês) consiste na
obtenção das condições de operação (magnitude e ângulo de fase dos fasores tensão nodal, a partir dos quais
podem ser determinados os fluxos de potência ativa e reativa) em regime permanente de uma rede de energia
elétrica com topologia e níveis de geração e consumo conhecidos.

Na formulação básica do problema do fluxo de carga em sistemas elétricos são associadas quatro variáveis
a cada barra da rede (que representa um nó do circuito elétrico equivalente):
Vk – Magnitude do fasor tensão nodal da barra k;
θ k – Ângulo de fase do fasor tensão nodal da barra k;
Pk – Injeção líquida (geração menos carga) de potência ativa da barra k;
Qk – Injeção líquida de potência reativa da barra k.

Por outro lado, aos ramos da rede (cujas barras extremas são k e m) associam-se as seguintes variáveis:
I km – Fasor da corrente que sai da barra k em direção à barra m;
Pkm – Fluxo de potência ativa que sai da barra k em direção à barra m;
Qkm – Fluxo de potência reativa que sai da barra k em direção à barra m.

No fluxo de carga convencional, definem-se três tipos de barras, em função das variáveis que são
conhecidas (dados do problema) e incógnitas, conforme mostra a Tabela VI.1.

1
Flexible AC Transmission System.

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Tabela VI.1 – Tipos de barra no fluxo de carga convencional.

Tipo de barra Notação Dados Incógnitas


Barra de carga PQ Pk e Qk Vk e θ k
Tensão controlada PV Pk e Vk θ k e Qk
Referência Vθ Vk e θ k Pk e Qk

De forma geral, as barras de carga aparecem em maior número e representam as subestações de energia
elétrica nas quais estão conectadas as cargas do sistema elétrico; em segundo lugar, as barras de tensão
controlada representam as instalações que possuem geradores que podem realizar o controle da sua tensão
terminal (por intermédio do seu controle de excitação) e também as barras cuja tensão pode ser controlada
por intermédio do ajuste do tap de algum transformador. A barra de referência é única e imprescindível na
formulação do problema em função de dois fatores:
• Necessidade matemática de estipular um ângulo de referência (geralmente igualado a zero);
• Para fechar o balanço de potência da rede pois as perdas de transmissão não são conhecidas a priori,
ou seja, não é possível definir todas as injeções de potência do sistema antes de conhecer as perdas
que são função dos fluxos de potência na rede.

Exemplo VI.1 – Considere o sistema elétrico composto por duas barras e uma linha de transmissão
ilustrado na Figura VI.1. Para este sistema, são conhecidos o fasor tensão na Barra 1 (utilizada como
referência angular pois θ1 = 0 ), V 1 , e a demanda de potência da Barra 2 (que constitui uma barra de carga),
S 2 . Deseja-se determinar o fasor tensão na Barra 2, V 2 , e a injeção líquida de potência da Barra 1, S 1 .

V 1 = 1 0 pu V 2 = V2 θ 2

Z LT = (0,01 + j 0,1) pu
1 I 12 2

S1 S 2 = (0,8 + j 0,4) pu
Figura VI.1 – Sistema elétrico de potência.

Solução Exemplo VI.1: Embora o sistema elétrico da Figura VI.1 seja extremamente simples, a
determinação do fasor tensão da Barra 2 não é imediata. De acordo com os tipos de barra definidos na Tabela
VI.1, a Barra 1 é a referência, pois seu fasor tensão é conhecido, e a Barra 2 uma barra de carga, pois sua a
injeção de potência é conhecida.
Da análise do circuito elétrico, observa-se que a tensão na Barra 2 está vinculada com a corrente I 12 que
percorre a linha de transmissão pois:
V 2 = V 1 − Z LT I 12
e, por outro lado, a corrente que circula na linha de transmissão I 12 é função da tensão da Barra 2 pois a
grandeza conhecida nesta barra é a potência demandada, assim
*
 S2 
I 12 =  

 V 2 
Substituindo a expressão da corrente I 12 na expressão da tensão na Barra 2 tem-se:
I 12
67 8
* * *
 S2  ×V 2 * *  S2  *

V 2 = V 1 − Z LT   ⇒ 
V 2 V 2 = V 1V 2 − Z LT  
  V2
V 2  V 2 
* *
V22 = V 1V 2 − Z LT S 2

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Solução Exemplo VI.1 (continuação): Substituindo os valores conhecidos, chega-se a:


V22 = 1 0V2 − θ 2 − (0,01 + j 0,1)(0,8 − j 0,4 ) = V2 (cosθ 2 − j senθ 2 ) − 0,048 − j 0,076
V2 cosθ 2 − jV2 senθ 2 = V22 + 0,048 + j 0,076
Esta é uma equação a números complexos que pode ser resolvida separando-se as partes real e imaginária, de
forma a obter duas equações a números reais:
V2 cos θ 2 = V22 + 0,048
V2 sen θ 2 = −0,076
A solução analítica para V2 deste sistema não linear de equações pode ser obtida somando-se o quadrado das
duas expressões2 e eliminando-se, assim, a variável θ 2 .

(V2 cosθ 2 )2 = (V22 + 0,048)2 = V24 + 2 × 0,048V22 + 0,0482 = V24 + 0,096V22 + 0,002304
+ (V2 sen θ 2 )2 = (− 0,076)2 = 0,005776
6444(4 V2 cosθ 2 ) (V2 senθ 2 )
2 2
744448 6 474 8
= (V2 cos θ 2 ) 2
+ (V2 sen θ 2 )
2
= V2 + 0,096V2 + 0,002304 + 0,005776
4 2

64447 =1 4448

[ ]
V22 (cos θ 2 ) + (sen θ 2 ) = V24 + 0,096V22 + 0,00808
2 2
⇒ V24 + (0,096 − 1)V22 + 0,00808 = 0
V24 − 0,904V22 + 0,00808 = 0
As soluções da equação biquadrada são dadas por:
0,904 ± 0,904 2 − 4 × 1 × 0,00808
V22 = ≈ 0,4520 ± 0,4430
2 ×1
V2 = ± 0,4520 ± 0,4430
Têm-se, assim, 4 soluções para o sistema de equações: V2 = {+ 0,9460; − 0,9460; + 0,0949; − 0,0949}
Os valores negativos não têm significado, pois V2 representa o módulo da tensão. Como o sistema elétrico
não pode operar com valores muito baixos para a tensão (0,0949 pu, por exemplo) a única solução válida é
dada por V2 = 0,9460 pu .

Conhecido o valor de V2 , o valor de θ 2 pode ser obtido através da expressão:


 − 0,076   − 0,076 
V2 sen θ 2 = −0,076 ⇒ θ 2 = sen −1   = sen −1   ≈ sen −1 (− 0,0803)
 V2   0,9460 
θ 2 = −0,0804 rad = −4,61o

Após a determinação do fasor V 2 , a injeção de potência da Barra 1 pode ser obtida diretamente:
*
 S 2   0,8 + j 0,4 
*

I 12 
=  = = 0,8089 − j 0,4894 = 0,9455 − 31,18o pu
  o 
 V 2   0,9460 − 4,61 
*
(
S 1 = V 1 I 12 = 1 0o 0,9455 − 31,18o )
*

S 1 = 0,8089 + j 0,4894 = 0,9455 31,18o pu 3


Conhecido o valor de todas as injeções, podem-se determinar as perdas no sistema de transmissão:
S perdas = S 1 − S 2 = 0,8089 + j 0,4894 − 0,8 − j 0,4 = 0,0089 + j 0,0894 = 0,0898 84,31o pu

2
Desta forma, aparece a soma dos quadrados de um cosseno e um seno de mesmo argumento que é igual a 1 e que
permite eliminar o ângulo de fase. Lembrar que cos 2 α + sen 2 α = 1 .
3
Observar que como o sistema possui perdas o valor da injeção da Barra 1 é diferente do valor demandado na Barra 2.

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Solução alternativa Exemplo VI.1: A partir das equações da corrente I 12 e da tensão V 2 é possível
construir um procedimento iterativo rudimentar para determinar o valor da tensão na Barra 2. O
procedimento compreende os seguintes passos:

0 0
i. Fazer ν = 0 e estipular um valor inicial para V 2 e I 12 , por exemplo: V 2 = V 1 = 1 0 o pu e I 12 = 0 .
ν
ii. Em função do valor atual de V 2 , calcular o valor da corrente I 12 :
*
ν  S2 
I 12 = ν 
 
V 2 
ν ν −1 ν
iii. Se I 12 ≈ I 12 , então o processo convergiu e a solução é dada por V 2 = V 2 . Caso contrário prosseguir.
ν
iv. Calcular o novo valor para V 2 , em função do valor calculado anteriormente:
ν +1 ν
V 2 = V 1 − Z LT I 12
v. Fazer ν = ν + 1 e retornar para o Passo (ii).

Aplicando este procedimento para o problema são obtidos os resultados mostrados na Tabela VI.2.

Tabela VI.2 – Resultados do procedimento iterativo.


ν ν
Iteração ν V 2 [pu] I 12 [pu]
0 1 0o 0,8944 − 26,57 o

1 0,9550 − 4,56 o 0,9365 − 31,13o

2 0,9466 − 4,56 o 0,9449 − 31,13o

3 0,9461 − 4,61o 0,9454 − 31,17 o

4 0,9460 − 4,61o 0,9454 − 31,17 o

Os resultados mostrados na Tabela VI.2, foram obtidos executando-se a seguinte rotina em MATLAB4.
% disponivel em: http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/exemplo_VI_1.m
clear all
saida=fopen('saida.txt','w');
v1=1+0i;
z=0.01+0.1i;
v2=1+0i;
for k=1:10,
i12=conj((0.8+0.4i)/v2);
y=[k abs(v2) angle(v2)*180/pi abs(i12) angle(i12)*180/pi];
fprintf(saida,'%2.0f %6.4f %6.2f %6.4f %6.2f\n',y);
v2=v1-z*i12;
end
fclose(saida);

Para sistemas elétricos de maior dimensão, a solução analítica se torna impraticável, restando apenas os
métodos numéricos.

Exercício VI.1 – Determinar os dados e as incógnitas do problema de fluxo de carga convencional de um


sistema composto por 4 barras (Pi , Qi ,Vi ,θ i , i = 1,L,4) , sabendo que a Barra 1 é a referência (Vθ), a Barra 3 é
de tensão controlada (PV) e as demais barras são de carga (PQ).

4
MATLAB é marca registrada pertencente à The MathWorks, Inc.

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Como conseqüência da imposição da Primeira Lei de Kirchhoff para uma barra qualquer do sistema elétrico
da Figura VI.2 tem-se que a potência líquida (geração menos carga) injetada nesta barra é igual à soma dos
fluxos de potência que deixam esta barra, ou seja, têm-se duas equações:
Pk = ∑ P (V ,V
m∈Ω k
km k θ θ
m, k , m ) (VI.1)

Qk + Qksh (Vk ) = ∑ Q (V ,Vkm k θ θ


m, k , m ) (VI.2)
m∈Ω k

sendo:
k = 1,2, L , NB – Índice de todas as barras do sistema, sendo NB o número de barras do sistema;
Ωk – Conjunto de barras vizinhas da barra k;
Vk , Vm – Magnitude dos fasores das tensões terminais do ramo k-m;
θ k ,θ m – Ângulo de fase dos fasores das tensões terminais do ramo k-m;
Pkm , Qkm – Fluxo de potência ativa e reativa no ramo k-m;
Qksh – Componente da injeção de potência reativa devido ao elemento em derivação
(
(shunt) da barra k Qksh = bkshVk2 . )
1 2

Pk 2 + jQ k 2
Pk 1 + jQ k 1

Pkm + jQ km

k m

jQ ksh
Pk + jQ k

Figura VI.2 – Sistema elétrico de potência.

Nas expressões (VI.1) e (VI.2), os fluxos de potência ativa e reativa nos ramos (linhas de transmissão,
transformadores em fase, defasadores puros e defasadores), obedecem às seguintes expressões gerais5:
Pkm = (a kmVk ) g km − (a kmVk )Vm [g km cos(θ km + ϕ km ) + bkm sen (θ km + ϕ km )]
2
(VI.3)

Qkm = −(a kmVk ) bkm + bkm


sh 2
( )
− (a kmVk )Vm [g km sen (θ km + ϕ km ) − bkm cos(θ km + ϕ km )] (VI.4)

De acordo com o tipo de equipamento, os parâmetros a km , ϕ km e bkm


sh
assumem valores particulares,
mostradas na Tabela VI.3.

Tabela VI.3 – Parâmetros para os diferentes equipamentos nas expressões gerais dos fluxos.

Equipamento a km ϕ km sh
bkm
Linha de transmissão 1 0
Transformador em fase 0 0
Transformador defasador puro 1 0
Transformador defasador 0
Assim, o problema do fluxo de carga consiste em resolver o sistema de equações (VI.1) e (VI.2) tendo como
dados e incógnitas as variáveis descritas na Tabela VI.1.

5
Para mais detalhes, vide Capítulo IV, Seção IV.8.

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VI.2 – As equações das correntes dos nós

Para a barra k do sistema elétrico da Figura VI.2, a injeção líquida de corrente pode ser obtida aplicando-se a
Primeira Lei de Kirchhoff,
∑I
sh
Ik + Ik = km para k = 1,2,L , NB (VI.5)
m∈Ω k

onde
sh
(
I k = jbksh 0 − V k = − jbksh V k) (VI.6)
e


sh * 

 
 
  
( *

 
)
Qksh = Im V k  I k   = Im V k − jbksh V k  = Im V k  jbksh V k   = Im jbkshVk2 = bkshVk2
*
[ ]
 
são a injeção de corrente e de potência reativa correspondentes ao elemento em derivação da barra k.

A expressão para fasor corrente I km depende do tipo de equipamento considerado, ou seja:

Linha de transmissão: (
I km = Y km + jbkm
sh
) ( )
V k + − Y km V m
I mk = (− Y )V + (Y + jb )V
km k km
sh
km m

Transformador em fase: I km = (a Y )V + (− a Y )V
2
km k km m

= (− a Y )V + (Y )V
km km

I mk km km k km m

Defasador puro: I km = (Y )V + (− e
km Y )V k
− jϕ km
km m

I mk = (− e Y )V + (Y )V
jϕ km
km k km m

De forma mais geral, considerando os parâmetros a km , ϕ km e bkm sh


, definidos na Tabela VI.3, podem-se
escrever as seguintes expressões gerais para os fluxos de corrente nos ramos:
(
I km = akm
2
Y km + jbkm
sh
) (
V k + − akme − jϕ km Y km V m ) (VI.7)

I mk = (− a km e
jϕ km
Y km )V + (Y
k km + jbkm
sh
Vm ) (VI.8)

Exemplo VI.2 – Para o circuito de 4 barras e 5 ramos (3 linhas e 2 transformadores) da Figura VI.3,
determinar as expressões das injeções de corrente obtidas com a aplicação da Primeira Lei de Kirchhoff.
1 2 3 4

V1 Y 12 V2 I2 Y 23 V3 1 : a 34 V4

jb12sh jb12sh sh
jb23 sh
jb23 Y 34

I3

Y 13
I1 I4

jb3sh
jb13sh jb13sh

1 : e jϕ14

Y 14

Figura VI.3 – Sistema exemplo de 4 barras.

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Solução Exemplo VI.2: Considerando as expressões (VI.7) e (VI.8), as injeções de corrente nas barras do
sistema da Figura VI.3 são dadas por:
I 12 I 13 I 14
644447 44448 644447 44448 644447 44448
( ) ( ) (
I 1 = Y 12 + jb12 V 1 + − Y 12 V 2 + Y 13 + jb13 V 1 + − Y 13 V 3 + Y 14 V 1 + − e − jϕ14 Y 14 V 4
sh sh
) ( ) ( ) ( )
I 21 I 23
644447 44448 644447 44448
( ) ( )
I 2 = − Y 12 V 1 + Y 12 + jb12 V 2 + Y 23 + jb23 V 2 + − Y 23 V 3
sh sh
( ) ( )
sh
I3 I 31 I 32 I 34
647 48 644447 44448 644447 44448 644447 44448
( ) ( ) ( )
I 3 + − jb3 V 3 = − Y 13 V 1 + Y 13 + jb13 V 3 + − Y 23 V 2 + Y 23 + jb23 V 3 + a34 Y 34 V 3 + − a34 Y 34 V 4
sh sh sh 2
( ) ( ) ( ) ( )
I 41 I 43
644447 4444 8 6444 47 4444 8
(jϕ14
) ( )
I 4 = − e Y 14 V 1 + Y 14 V 4 + − a34 Y 34 V 3 + Y 34 V 4 ( ) ( )
Agrupando os termos, chega-se a:
( ) ( ) ( ) ( )
I 1 = Y 12 + Y 13 + Y 14 + jb12sh + jb13sh V 1 + − Y 12 V 2 + − Y 13 V 3 + − e − jϕ14 Y 14 V 4

I2 = (− Y )V + (Y + Y + jb + jb )V + (− Y )V
12 1 12 23
sh
12
sh
23 2 23 3

I3 = (− Y )V + (− Y )V + (Y + Y + a Y + jb + jb + jb )V + (− a
13 1 23 2 13 23
2
34 34
sh
13
sh
23
sh
3 3 34 Y 34 )V 4

I4 = (− e Y )V + (− a Y )V + (Y + Y )V
jϕ14
14 1 34 34 3 14 34 4

Reescrevendo o sistema na forma matricial, tem-se:


 I 1  Y 12 + Y 13 + Y 14 + jb12sh + jb13sh − Y 12 − Y 13 − e − jϕ14 Y 14  V 1 
     
I 2  =  − Y 12 Y 12 + Y 23 + jb12 + jb23
sh sh
− Y 23 0  ⋅ V 2 
I 3   − Y 13 − Y 23 Y 13 + Y 23 + a34 Y 34 + jb13 + jb23 + jb3 − a34 Y 34  V 3 
2 sh sh sh
     
 I 4   − e jϕ14 Y 14 0 − a34 Y 34 Y 14 + Y 34  V 4 

Exemplo VI.3 (alternativo, sem transformador defasador) – Para o circuito de 4 barras e 5 ramos (3
linhas e 2 transformadores) da Figura VI.4, determinar as expressões das injeções de corrente obtidas com a
aplicação da Primeira Lei de Kirchhoff.
1 2 3 4

V1 Y 12 V2 I2 Y 23 V3 1 : a 34 V4

jb12sh jb12sh sh
jb23 sh
jb23 Y 34

I3

Y 13
I1 I4

jb13sh jb13sh jb3sh

a41 : 1

Y 41

Figura VI.4 – Sistema exemplo de 4 barras (alternativo).

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Solução Exemplo VI.3: Considerando as expressões (VI.7) e (VI.8), as injeções de corrente nas barras do
sistema da Figura VI.3 são dadas por:
I 12 I 13 I 14
644447 44448 644447 44448 6444 47 4444 8
( ) ( ) (
I 1 = Y 12 + jb12 V 1 + − Y 12 V 2 + Y 13 + jb13 V 1 + − Y 13 V 3 + − a41 Y 41 V 4 + Y 41 V 1
sh sh
) ( ) ( ) ( )
I 21 I 23
644447 44448 644447 44448
( ) ( )
I 2 = − Y 12 V 1 + Y 12 + jb12 V 2 + Y 23 + jb23 V 2 + − Y 23 V 3
sh sh
( ) ( )
sh
I3 I 31 I 32 I 34
647 48 644447 44448 644447 44448 644447 44448
( ) ( ) ( )
I 3 + − jb3 V 3 = − Y 13 V 1 + Y 13 + jb13 V 3 + − Y 23 V 2 + Y 23 + jb23 V 3 + a34 Y 34 V 3 + − a34 Y 34 V 4
sh sh sh 2
( ) ( ) ( ) ( )
I 41 I 43
644447 44448 6444 47 4444 8
( ) ( )
I 4 = a41 Y 41 V 4 + − a 41 Y 41 V 1 + − a34 Y 34 V 3 + Y 34 V 4
2
( ) ( )
Agrupando os termos, chega-se a:
( ) ( ) ( ) ( )
I 1 = Y 12 + Y 13 + Y 41 + jb12sh + jb13sh V 1 + − Y 12 V 2 + − Y 13 V 3 + − a41Y 41 V 4

I2 = (− Y )V + (Y + Y + jb + jb )V + (− Y )V
12 1 12 23
sh
12
sh
23 2 23 3

I3 = (− Y )V + (− Y )V + (Y + Y + a Y + jb + jb + jb )V + (− a
13 1 23 2 13 23
2
34 34
sh
13
sh
23
sh
3 3 34 Y 34 )V 4

I4 = (− a Y )V + (− a Y )V + (a Y + Y )V
41 41 1 34 34 3
2
41 41 34 4

Reescrevendo o sistema na forma matricial, tem-se:


 I 1  Y 12 + Y 13 + Y 41 + jb12sh + jb13sh − Y 12 − Y 13 − a 41 Y 41  V 1 
     
I 2  =  − Y 12 Y 12 + Y 23 + jb12sh + sh
jb23 − Y 23 0  ⋅ V 2 
I 3   − Y 13 − Y 23 Y 13 + Y 23 + 2
a34 Y 34 + jb13sh + jb23
sh
+ jb3sh − a34 Y 34  V 3 
     
 4  
I − a 41 Y 41 0 − a34 Y 34 a 41 Y 41 + Y 34  V 4 
2

VI.3 – Formulação matricial


sh
Considerando I k dado por (VI.6) e I km dado pela expressão (VI.7), a expressão (VI.5) pode ser reescrita
como:

I k − jbksh V k = ∑ [(a
m∈Ω k
2
km Y km + jbkm
sh
) (
V k + − a km e − jϕ km Y km V m ) ]
Isolando-se I k , chega-se a:
 
I k =  jbksh +
 m∈Ω k
2
akm ∑(
Y km + jbkm
sh
)V

k + ∑ (− a
m∈Ω k
km e
− jϕ km
Y km V m ) (VI.9)

Fazendo k = 1,2,L, NB , e escrevendo na forma matricial, a expressão (VI.9) se resume a:

I = YV (VI.10)

sendo:

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

I – Vetor das injeções de corrente, cujas componentes são os fasores Ik ,


k = 1,2,L, NB ;
V – Vetor das tensões nodais, cujas componentes são os fasores V k = Vk θ k ,
k = 1,2,L, NB ;
Y = G + jB – Matriz admitância nodal, cujos elementos são:
Ykm = −akme − jϕ km Y km
Ymk = −akm e − jϕmk Y km = −akm e jϕ km Y km
Ykk = jbksh + ∑ ( jb
m∈Ω k
sh
km + akm
2
Y km )

As principais características da matriz admitância, que relaciona as injeções líquidas de corrente com as
tensões nodais são as seguintes:
• É uma matriz quadrada de ordem NB;
• É uma matriz esparsa para redes de grande porte ( Ykm = 0 sempre que não existir ligação entre os nós
k e m);
• É uma matriz simétrica se a rede for constituída apenas por linhas de transmissão e transformadores
em fase, pois para uma linha de transmissão Ykm = Ymk = −Y km e para um transformador em fase
Ykm = Ymk = − akm Y km . A presença de defasadores torna a matriz assimétrica pois Ykm = −e − jϕ km Y km e
Ymk = −e jϕ km Y km (vide Exemplo VI.2).

A k-ésima componente da expressão matricial (VI.10) é dada por:


I k = Ykk V k + ∑
Ykm V m = Ykm V m
m∈Ω k

m∈K

onde K é o conjunto de todas as barras adjacentes à barra k , incluindo a própria barra k (K = {k } ∪ Ω k ) .


Sabendo que Ykm = Gkm + jBkm e V m = Vm θ m ,

Ik = ∑ (G
m∈K
km + jBkm )Vm θ m

e a injeção líquida de potência S k é dada por:


*
 
= Pk + jQk = V k I k = Vk θ k  (Gkm + jBkm )Vm θ m  =

*
Sk
 m∈K 
= Vk θ k (Gkm − jBkm )Vm − θ m = Vk Vm (Gkm − jBkm ) θ k − θ m
∑ ∑
m∈K m∈K

Sk = Vk ∑V (G
m∈K
m km − jBkm )(cosθ km + j sen θ km ) (VI.11)

Separando as partes real e imaginária de (VI.11), tem-se:


Pk = Vk ∑V (G
m∈K
m km cosθ km + Bkm senθ km ) (VI.12)

Qk = Vk ∑V (G
m∈K
m km sen km θ − Bkm cosθ km ) (VI.13)

Exercício VI.2 – Para o sistema de 4 barras da Figura VI.2, escrever as expressões das injeções de potência
de cada barra, considerando que a Barra 1 é a referência (Vθ), a Barra 3 é de tensão controlada (PV) e as
demais são barras de carga (PQ). Considerar a matriz admitância conhecida e dada por:

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 G11 G12 G13 G14   B11 B12 B13 B14 


G G 22 G23 0  B B22 B23 0 
Y = G + jB G= B=
21 21
G31 G32 G33 G34   B31 B32 B33 B34 
   
G41 0 G43 G44   B41 0 B43 B44 

Exemplo VI.4 (Provão 1998) – Questão relativa às matérias de Formação profissional Específica (Ênfase
Eletrotécnica).

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Média (escala de 0 a 100) % escolha


Brasil Região Sul Instituição Brasil Região Sul Instituição
20,8 Não disponível 15,5 Não disponível

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Exercício VI.3 – Sabendo que os dados do circuito de 4 barras e 4 ramos (3 linhas e 1 transformador
defasador com relação não nominal) da Figura VI.4 estão em grandezas normalizadas (pu), determinar o
solicitado:
1 2 3 4

V1 0,02 + j 0,2 V2 I2 0,5 − j 5,0 V3 1 : 0,95 10 o V4


I4
j 0,01 j 0,01 10%
− j 0,5
I1

0,05 + j 0,12
I3
j 0,02 j 0,02

Figura VI.4 – Sistema exemplo de 4 barras.

a) As expressões das injeções de corrente obtidas com a aplicação da Primeira Lei de Kirchhoff.
b) A matriz admitância a partir das equações anteriores.
c) A matriz admitância a partir das expressões da Seção VI.3.
d) Sabendo que os fasores tensão das barras são dados por V 1 = 1 0 , V 2 = 0,95 − 5o , V 3 = 0,97 − 5o
e V 4 = 1,0 5o , determinar as injeções de corrente nas barras.
e) Para as mesmas tensões do item anterior, determinar as injeções de potência nas barras e as perdas
totais na rede de transmissão.

Exercício VI.4 (alternativo, sem transformador defasador) – Sabendo que os dados do circuito de 4
barras e 4 ramos (3 linhas e 1 transformador com relação não nominal) da Figura VI.4 estão em grandezas
normalizadas (pu), determinar o solicitado:
1 2 3 4

V1 0,02 + j 0,2 V2 I2 0,5 − j 5,0 V3 1 : 0,95 V4


I4
j 0,01 j 0,01 10%
− j 0,5
I1

0,05 + j 0,12
I3
j 0,02 j 0,02

Figura VI.4 – Sistema exemplo de 4 barras.

a) As expressões das injeções de corrente obtidas com a aplicação da Primeira Lei de Kirchhoff.
b) A matriz admitância a partir das equações anteriores.
c) A matriz admitância a partir das expressões da Seção VI.3.
d) Sabendo que os fasores tensão das barras são dados por V 1 = 1 0 , V 2 = 0,95 − 5o , V 3 = 0,97 − 5o
e V 4 = 1,0 5o , determinar as injeções de corrente nas barras.
e) Para as mesmas tensões do item anterior, determinar as injeções de potência nas barras e as perdas
totais na rede de transmissão.

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VII – Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos

VII.1 – Formulação do problema básico

Para um sistema elétrico, com NB barras, as equações básicas do fluxo de carga para k = 1,2, L , NB são:

Pk = Vk ∑ V (G
m∈K
m km cos θ km + Bkm sen θ km ) (VII.1)

Qk = V ∑ V (G
k m km sen θ km − Bkm cos θ km ) (VII.2)
m∈K

constituindo um sistema de 2 × NB equações e 4 × NB variáveis com as seguintes características:

• NB equações do tipo (VII.1);


• NB equações do tipo (VII.2);
• 4 × NB variáveis (para uma dada barra k associam-se: Vk , θ k , Pk e Qk ).

O fluxo de carga básico em redes de energia consiste em resolver este problema definindo (especificando)
parte das variáveis ( 2 × NB variáveis) e calculando as demais ( 2 × NB variáveis). Na formulação clássica, a
definição das variáveis que são especificadas e calculadas encontra-se na Tabela VII.1.

Tabela VII.1 – Tipos de barra no fluxo de carga convencional.

Tipo de barra Notação Dados Incógnitas


Barra de carga PQ Pk e Qk Vk e θ k
Tensão controlada PV Pk e Vk θ k e Qk
Referência Vθ Vk e θ k Pk e Qk

Se a barra está representando um ponto do sistema onde é conhecida a injeção líquida de potência (como
S k = S G − S D , deve-se conhecer a potência gerada S G e a potência demandada S D ), esta pode ser
especificada, restando calcular Vk e θ k . Este tipo de barra é denominado barra de carga ou PQ.

Se a barra está representando um ponto do sistema onde é possível o controle da magnitude da tensão Vk ,
através do controle da injeção líquida de potência reativa Qk = QG − QD ou por intermédio do ajuste do tap
de algum transformador, esta tensão pode ser especificada, restando calcular θ k e Qk . Este tipo de barra é
denominado barra de tensão controlada ou PV.

Como as perdas não são conhecidas a priori, deve-se deixar pelo menos uma barra onde a injeção líquida de
potência S k = S G − S D seja calculada. Este tipo de barra é denominado referência ou Vθ, sendo definidos
Vk e θ k . Observar que pelo menos uma injeção líquida de potência ativa Pk = PG − PD e outra de potência
reativa Qk = QG − QD precisam ser calculadas para fechar os balanços de potência ativa e reativa. Embora
geralmente tais injeções de balanço sejam associadas à barra de referência angular, não é mandatório que
sejam associadas a uma única barra.

Uma vez resolvido o problema do fluxo de carga, é conhecido o estado da rede, ou seja, são conhecidos os
fasores tensão (Vk , θ k ) de todas as barras (k = 1,2, L , NB ) . Isto torna possível o cálculo de outras variáveis
de interesse como as injeções de potência nas barras e os fluxos de potência nos ramos (linhas e
transformadores).

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Sejam NPQ e NPV, respectivamente, o número de barras PQ e PV da rede. O fluxo de carga pode ser
decomposto em dois subsistemas de equações algébricas:

• Subsistema 1 (dimensão 2 × NPQ + NPV ) – Neste subsistema são dados:


Pi e Qi , i ∈ {barras PQ} : Pi = Pi esp Qi = Qiesp
Pj e V j , j ∈ {barras PV} : Pj = Pjesp V j = V jesp
Vk e θ k , k ∈ {barra Vθ} : Vk = Vkesp θ k = θ kesp
e deseja-se determinar:
Vi e θ i , i ∈ {barras PQ}
θ j , j ∈ {barras PV}
resultando em um sistema de 2 × NPQ + NPV equações algébricas não-lineares (funções quadráticas e
trigonométricas) onde parte das incógnitas aparece de forma implícita (θ km = θ k − θ m ) . O Subsistema
1 é constituído pelas seguintes equações:

 Pkesp − Vk ∑ Vm (Gkm cos θ km + Bkm sen θ km ) = 0 k ∈ {barras PQ e PV}



(S1)  esp
m∈K

Qk − Vk ∑ Vm (Gkm sen θ km − Bkm cos θ km ) = 0 k ∈ {barras PQ}


 m∈K

• Subsistema 2 (dimensão NPV + 2 ) – É resolvido após a solução do Subsistema 1. No Subsistema 2


são dados:
Vk e θ k , k = 1,2,L, NB
e deseja-se determinar:
Pi e Qi , i ∈ {barra Vθ}
Q j , j ∈ {barras PV}
resultando em um sistema de NPV + 2 equações algébricas não-lineares onde todas as incógnitas
(Pk e Qk ) aparecem isoladas de forma explícita. O Subsistema 2 é constituído pelas seguintes
equações:

 Pk = Vk ∑ Vm (Gkm cos θ km + Bkm sen θ km ) k ∈ {barra Vθ}



(S2) 
m∈K

Qk = Vk ∑ Vm (Gkm sen θ km − Bkm cos θ km ) k ∈ {barras PV e Vθ}


 m∈K

A Tabela VII.2 resume as características dos dois subsistemas. Observar que o Subsistema 2 pode ser
facilmente resolvido após a solução do Subsistema 1, ou seja, após a determinação do estado (Vk , θ k ) da
rede. Por outro lado, a solução do Subsistema 1 exige um processo iterativo pois este é formado por
equações não-lineares. Assim, os métodos de resolução do problema do fluxo de carga concentram-se na
solução do Subsistema 1.

Tabela VII.2 – Características dos subsistemas que constituem o fluxo de carga.

Variáveis
Subsistema Dimensão
Especificadas Calculadas
Pi e Qi , i ∈ {barras PQ}
Vi e θ i , i ∈ {barras PQ}
2 × NPQ + NPV Pj e V j , j ∈ {barras PV }
θ j , j ∈ {barras PV }
S1
Vk e θ k , k ∈ {barra Vθ}
Pi e Qi , i ∈ {barras Vθ }
NPV + 2 e θ k , k = 1,2,L, NB
Q j , j ∈ {barras PV }
S2 Vk

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Exemplo VII.1 – Considerando o sistema elétrico utilizado no Exemplo VI.1, cujos dados encontram-se na
Figura VII.1, formular as equações referentes ao Subsistema 1 do fluxo de carga.

V 1 = 1 0 pu V 2 = V2 θ 2

Z LT = (0,01 + j 0,1) pu
1 I 12 2

S1 S 2 = (0,8 + j 0,4) pu
Figura VII.1 – Sistema elétrico de duas barras.

Solução Exemplo VII.1: Conforme as definições já apresentadas para o problema do fluxo de carga, a
barra 2 é uma barra de carga pois sua injeção de potência é conhecida; a barra 1 é a referência. Assim, as
variáveis especificadas (conhecidas) para o Subsistema 1 são as seguintes:
P2esp = P2G − P2D = 0 − 0,8 = −0,8 pu
Q2esp = Q2G − Q2D = 0 − 0,4 = −0,4 pu
V1esp = 1,0 pu
θ1esp = 0 rad
A matriz admitância da rede é dada por:
1 1
Y 12 = = ≈ 0,9901 − j9,9010 = 9,9504 − 84,29o pu
Z 12 0,01 + j 0,1
 Y 12 − Y 12   0,9901 − 0,9901  − 9,9010 9,9010 
Y =  ⇒ G=  e B= 
 − Y 12 Y 12   − 0,9901 0,9901   9,9010 − 9,9010
As equações do Subsistema 1 são as seguintes:

(S1)  P2esp − V2 [V1 (G21 cos θ 21 + B21 sen θ 21 ) + V2G22 ] = 0


 esp
Q2 − V2 [V1 (G21 sen θ 21 − B21 cos θ 21 ) − V2 B22 ] = 0

− 0,8 − V2 (− 0,9901cosθ 2 + 9,9010 sen θ 2 + 0,9901V2 ) = 0


(S1) 
− 0,4 − V2 (− 0,9901sen θ 2 − 9,9010 cosθ 2 + 9,9010V2 ) = 0
Observar que o Subsistema 1 é formado por duas equações não lineares e possui duas incógnitas: V2 e θ 2 .
As expressões do Subsistema 1 têm origem na equação de balanço de potência da Barra 2 (a potência
injetada menos a potência que flui através da linha de transmissão é igual a zero) e diferem das equações
obtidas na solução do Exemplo VI.1, oriundas da aplicação de uma equação de malha (soma de tensões),
entretanto, a solução de ambos sistemas é mesma1: V2 ≈ 0,9460 pu .e θ 2 ≈ −0,0804 rad = −4,61o .

As incógnitas do Subsistema 1 podem ser agrupadas no vetor x dado por:


θ  } NPQ + NPV
x= 
V  } NPQ
em que θ é o vetor dos ângulos das tensões nodais das barras PQ e PV e V é o vetor das magnitudes das
tensões nodais das barras PQ. De forma mais compacta, o Subsistema 1 pode ser rescrito como:
∆Pk = Pkesp − Pk (V ,θ ) = 0 k ∈ {barras PQ e PV}
(S1) 
∆Qk = Qk − Qk (V , θ ) = 0 k ∈ {barras PQ}
esp

1
Isto pode ser comprovado substituindo este valor nas expressões anteriores. Como os números apresentam alguns
arredondamentos, o resultado fica próximo a zero, na ordem de 10-4.

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colocando as funções ∆Pk e ∆Qk na forma vetorial


∆ P = P − P (V , θ ) = 0
esp

∆Q = Q − Q (V ,θ ) = 0
esp

em que P é o vetor das injeções de potência ativa nas barras PQ e PV e Q é o vetor das injeções de potência
reativa nas barras PQ. Definindo a função vetorial g (x ) :

 ∆ P  } NPQ + NPV
g (x ) =  
 ∆Q  } NPQ
o Subsistema 1 pode ser rescrito de forma simplificada através da seguinte expressão:
g (x ) = 0
Este sistema de equações não-lineares pode ser resolvido por um número muito grande de métodos, sendo
que os mais eficientes são os métodos de Newton e o método Desacoplado Rápido.

Exemplo VII.2 – Empregando a notação na forma vetorial, determinar as variáveis e equações do


Subsistema 1 do problema definido no Exemplo VII.1.

Solução Exemplo VII.2: As variáveis e equações do problema são dadas respectivamente por:
θ  θ   ∆ P( x )  ∆P2 (θ 2 , V2 )  0
x =   =  2 g (x ) =  = = 
V  V2   ∆Q (x )  ∆Q2 (θ 2 , V2 ) 0

∆P2 (θ 2 , V2 ) = −0,8 − V2 (− 0,9901cosθ 2 + 9,9010senθ 2 + 0,9901V2 )


∆Q2 (θ 2 , V2 ) = −0,4 − V2 (− 0,9901senθ 2 − 9,9010 cosθ 2 + 9,9010V2 )

Na figura a seguir encontra-se o gráfico das funções ∆P2 (θ 2 , V2 ) e ∆Q2 (θ 2 , V2 ) para valores em torno do
ponto (θ 2 , V2 ) = (− 0,0804 ; 0,9460) que corresponde a solução do problema, pois ∆P2 (− 0,0804 ; 0,9460) = 0
e ∆Q2 (− 0,0804 ; 0,9460) = 0 . A linha pontilhada indica a intersecção entre as duas funções, ou seja,
corresponde aos valores para os quais a função ∆P2 (θ 2 , V2 ) = ∆Q2 (θ 2 , V2 ) .

1
dP2(theta2,V2) dP2=dQ2
0.5

dQ2(theta2,V2)
-0.5

-1
1

-0.06
0.95 -0.08
-0.1
-0.12
0.9 -0.14
V2 theta2

A figura anterior foi gerada utilizando o seguinte código MATLAB.

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Solução Exemplo VII.2 (continuação):


% disponivel em: http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/exemplo_VII_2.m
clear all;
theta2 = -0.15:.002:-0.05; V2 = 0.9:.002:1.0;
[T,V] = meshgrid(theta2,V2);
g1 = -0.8 - V.*(-0.9901.*cos(T)+9.9010.*sin(T)+0.9901.*V);
g2 = -0.4 - V.*(-0.9901.*sin(T)-9.9010.*cos(T)+9.9010.*V);
zero = zeros(size(V2,2),size(theta2,2));
figure(1)
contour3(theta2,V2,g1,100); %colorbar;
xlabel('theta2'); ylabel('V2');
hold on
contour3(theta2,V2,g2,100);
% determina pontos de interseccao entre as superficies g1 e g2
g11 = []; g22 = [];
t = []; v = [];
for k=1:size(g1,1)
g11 = [g11 g1(k,:)]; g22 = [g22 g2(k,:)];
t = [t T(k,:)]; v = [v V(k,:)];
end
i = find(abs(g11-g22)<=0.005);
tt = t(i); vv = v(i); gg = g11(i);
plot3(tt,vv,gg,'k');

Exemplo VII.3 – Para a rede de quatro barras cujos dados estão na Figura VII.2 e nas Tabelas VII.3 e VII.4,
determinar as equações do fluxo de carga.

1 2 3 4

V1 Y 12 V2 S2 Y 23 V3 1 : a 34 V4

jb12sh jb12sh sh
jb23 sh
jb23 Y 34

S3

Y 13
S1 S4

jb13sh jb13sh jb3sh

1 : e jϕ14

Y 14

Figura VII.2 – Sistema exemplo de 4 barras.

Tabela VII.3 – Dados das barras do sistema de 4 barras.

Barra Tipo V esp [pu] θ esp [rad] P esp [pu] Q esp [pu] b sh [pu]
1 Vθ 1,05 0,0 — — —
2 PQ — — –0,4 –0,2 —
3 PV 0,95 — 0,2 — 0,0675
4 PQ — — –0,8 –0,4 —

Tabela VII.4 – Dados dos ramos do sistema de 4 barras.


k m Y km [pu]
sh
bkm [pu] a km [pu] ϕ km [rad]
1 2 0,3 – j2,0 0,01 — —
1 3 0,3 – j2,0 0,01
1 4 – j2,0 — — 0,15
2 3 0,2 – j1,0 0,02 — —
3 4 – j1,0 — 0,95 —

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Solução Exemplo VII.3: Como já determinado na solução do Exemplo VI.2, a expressão da matriz
admitância é dada por:
Y 12 + Y 13 + Y 14 + jb12sh + jb13sh − Y 12 − Y 13 − e − jϕ14 Y 14 
 
− Y 12 Y 12 + Y 23 + jb12sh + jb23
sh
− Y 23 0
Y = 
 − Y 13 − Y 23 Y 13 + Y 23 + a34
2
Y 34 + jb13sh + jb23
sh
+ jb3sh − a34 Y 34 
 
 − e jϕ14 Y 14 0 − a34 Y 34 Y 14 + Y 34 
Substituindo os valores da Tabela VII.4, chega-se a:
 0,6 − j 5,98 − 0,3 + j 2 − 0,3 + j 2 0,2989 + j1,9775
 − 0,3 + j 2 0,5 − j 2,97 − 0,2 + j1 0 
Y=  2
 − 0,3 + j 2 − 0,2 + j1 0,5 − j 3,805 j 0,95 
 
 − 0,2989 + j1,9775 0 j 0,95 − j3 
 0,6 − 0,3 − 0 ,3 0 , 2989   − 5,98 2 2 1,9775
 − 0,3 0,5 − 0,2 0    2 − 2,97 1 0 
G= e B=
 − 0,3 − 0,2 0,5 0   2 1 − 3,805 0,95 
   
− 0,2989 0 0 0  1,9775 0 0,95 −3 
As matrizes anteriores podem ser obtidas com o seguinte código MATLAB.
% disponivel em: http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/exemplo_VII_3.m
ramos = [ 1 2 0.3-2i 0.01 1.0 0;
1 3 0.3-2i 0.01 1.0 0;
1 4 -2i 0 1.0 0.15;
2 3 0.2-1i 0.02 1.0 0;
3 4 -1i 0 0.95 0];
bksh = [ 0; 0; 0.0675; 0];
nr = size(ramos,1);
y = ramos(:,3);
bsh = 1i*ramos(:,4);
a = ramos(:,5);
fi = ramos(:,6);
Y = diag(1i*bksh);
for k = 1:nr
k1 = ramos(k,1);
k2 = ramos(k,2);
Y(k1,k2) = Y(k1,k2) - a(k)*exp(-1i*fi(k))*y(k);
Y(k2,k1) = Y(k2,k1) - a(k)*exp(1i*fi(k))*y(k);
Y(k1,k1) = Y(k1,k1) + a(k)*a(k)*y(k) + bsh(k);
Y(k2,k2) = Y(k2,k2) + y(k) + bsh(k);
end
Y
G = real(Y)
B = imag(Y)

Para cada uma das quatro barras do sistema, podem ser escritas duas equações, uma para a injeção de
potência ativa e outra para a injeção de potência reativa, da forma como segue:
P1 = V1esp Vm (G1m cos θ 1m + B1m senθ 1m )

Ω1 = {2,3,4} K1 = {1,2,3,4}
m∈K1
Q1 = V1esp ∑ V (G
m∈K1
m θ
1m sen 1m − B1m cos θ1m )

P2esp = V2 ∑ V (G m 2m cos θ 2 m + B2 m senθ 2 m )


Ω 2 = {1,3} K 2 = {1,2,3}
m∈K 2
Q2esp = V 2 ∑ V (G
m∈K 2
m θ
2 m sen 2 m − B 2 m cos θ 2 m )

P3esp = V3esp ∑ V (G cosθm 3m 3m + B3m sen θ 3m )


Ω 3 = {1,2,4} K 3 = {1,2,3,4}
m∈K 3
Q3 = V3esp ∑ V (G sen θ
m∈K 3
m 3m 3m − B3m cos θ 3m )

2
Observar que devido à presença de um transformador defasador a matriz admitância não é simétrica.

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Solução Exemplo VII.3 (continuação):


P4esp = V4 Vm (G4 m cos θ 4 m + B4 m sen θ 4 m )

Ω 4 = {1,3} K 4 = {1,3,4}
m∈K 4
Q4esp = V4 ∑ V (G
m∈K 4
m 4m sen θ 4 m − B4 m cos θ 4 m )

Observar que as variáveis que se deseja calcular (incógnitas) encontram-se tanto do lado direito ( θ 2 , θ 3 , θ 4 ,
V2 e V4 ) quanto do lado esquerdo ( P1 , Q1 e Q3 ) da igualdade. O Subsistema 1, de dimensão
2 × NPQ + NPV = 5 , cujas incógnitas aparecem do lado direito ( θ 2 , θ 3 , θ 4 , V2 e V4 ) é dado por:
P2esp = V2 ∑ V (G m 2m cos θ 2 m + B2 m sen θ 2 m )
K 2 = {1,2,3}
m∈K 2
Q2esp = V2 ∑ V (G
m∈K 2
m 2m sen θ 2 m − B2 m cos θ 2 m )

P3esp = V3esp ∑V (G
m∈K3
m 3m cos θ 3m + B3m sen θ 3m ) K 3 = {1,2,3,4}

P4esp = V4 ∑ V (G m 4m cos θ 4 m + B4 m sen θ 4 m )


K 4 = {1,3,4}
m∈K 4
Q4esp = V4 ∑ V (G
m∈K 4
m 4m sen θ 4 m − B4 m cos θ 4 m )

As equações restantes constituem o Subsistema 2, de dimensão NPV + 2 = 3 . Para este subsistema, as


incógnitas aparecem do lado esquerdo ( P1 , Q1 e Q3 ) sendo dado por:
P1 = V1esp ∑ (G
Vm 1m cos θ1m + B1m sen θ1m )
K1 = {1,2,3,4}
m∈K1
Q1 = V1esp ∑ (G
m∈K1
Vm 1m sen θ1m − B1m cos θ1m )

Q3 = V3esp ∑V (G
m∈K3
m 3m sen θ 3m − B3m cos θ 3m ) K 3 = {1,2,3,4}

Observar que após a determinação das incógnitas do Subsistema 1 ( θ 2 , θ 3 , θ 4 , V2 e V4 ), o estado da rede


será completamente definido pois o fasor tensão da Barra 1 ( V1 = V1esp e θ1 = θ1esp ) e a magnitude da tensão
da Barra 3 ( V3 = V3esp ) são conhecidos, o que torna a solução Subsistema 2 trivial (basta substituir os valores
das tensões e ângulos e calcular os somatórios).
Reescrevendo-se as equações do Subsistema 1, tem-se um sistema de cinco equações não lineares e cinco
incógnitas ( θ 2 , θ 3 , θ 4 , V2 e V4 ), das quais três aparecem de forma implícita (os ângulos de fase θ 2 , θ 3 e
θ 4 ):
[
P2esp = V2 V1esp (G21 cosθ 21 + B21 sen θ 21 ) + V2 (G22 cosθ 22 + B22 sen θ 22 ) + V3esp (G23 cosθ 23 + B23 sen θ 23 ) ]
P3esp = V3esp [
(G31 cosθ 31 + B31 senθ 31 ) + V2 (G32 cosθ 32 + B32 senθ )
V1esp 32 + V3 (G33 cosθ 33 + B33 senθ 33 ) +
esp

+ V4 (G34 cosθ 34 + B34 senθ 34 )]


P4esp = V4 [V1esp (G41 cos θ 41 + B41 sen θ 41 ) + V3esp (G43 cos θ 43 + B43 sen θ 43 ) + V4 (G44 cos θ 44 + B44 sen θ 44 )]
Q2esp = V2 [V1esp (G21 sen θ 21 − B21 cos θ 21 ) + V2 (G22 sen θ 22 − B22 cos θ 22 ) + V3esp (G23 sen θ 23 − B23 cos θ 23 )]
Q4esp = V4 [V1esp (G41 sen θ 41 − B41 cos θ 41 ) + V3esp (G43 sen θ 43 − B43 cos θ 43 ) + V4 (G44 sen θ 44 − B44 cos θ 44 )]
Colocando na forma de diferenças de potência ( ∆Pk = Pkesp − Pk (V , θ ) = 0 e ∆Qk = Qkesp − Qk (V ,θ ) = 0 ) e
considerando que cos θ kk = 1 e sen θ kk = 0 , tem-se:
[
P2esp − V2 V1esp (G21 cosθ 21 + B21 senθ 21 ) + V2 G22 + V3esp (G23 cosθ 23 + B23 senθ 23 ) = 0 ]
P3esp − V3esp [ (G31 cosθ 31 + B31 senθ 31 ) + V2 (G32 cosθ 32 + B32 senθ 32 ) +
V1esp +
G33V3esp
+ V4 (G34 cosθ 34 + B34 senθ 34 )] = 0
P4esp − V4 [V1esp (G 41 cosθ 41 + B41 sen θ 41 ) + V3esp (G43 cosθ 43 + B43 sen θ 43 ) + G44V4 ] = 0

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Solução Exemplo VII.3 (continuação):


[
Q2esp − V2 V1esp (G21 senθ 21 − B21 cosθ 21 ) − B22V2 + V3esp (G23 senθ 23 − B23 cosθ 23 ) ] = 0
Q4esp − V [V
4 (G41 senθ 41 − B41 cosθ )
1
esp
(G43 senθ 43 − B43 cosθ 43 ) − B44V4 = 0
41 + V3
esp
]
Substituindo-se os valores conhecidos mostrados na Tabela VII.3 e pela matriz admitância, têm-se as
seguintes equações que constituem o Subsistema 1:
− 0,4 − V2 [1,05(− 0,3 cosθ 21 + 2 sen θ 21 ) + 0,5V2 + 0,95(− 0,2 cosθ 23 + 1sen θ 23 )] = 0
0,2 − 0,95[1,05(− 0,3 cos θ 31 + 2 sen θ 31 ) + V2 (− 0,2 cos θ 32 + 1sen θ 32 ) + 0,5 × 0,95 +
+ V4 (0 cos θ 34 + 0,95 sen θ 34 )] = 0
− 0,8 − V4 [1,05(− 0,2989 cos θ 41 + 1,9775 sen θ 41 ) + 0,95(0 cos θ 43 + 0,95 sen θ 43 ) + 0V4 ] = 0
− 0,2 − V2 [1,05(− 0,3 sen θ 21 − 2 cos θ 21 ) + 2,97V2 + 0,95(− 0,2 sen θ 23 − 1 cos θ 23 )] = 0
− 0,4 − V4 [1,05(− 0,2989 sen θ 41 − 1,9775 cosθ 41 ) + 0,95(0 sen θ 43 − 0,95 cosθ 43 ) + 3V4 ] = 0
Agrupando as variáveis do Subsistema 1 no vetor x e as equações do Subsistema 1 e utilizando Pk ( x ) e
Qk (x ) para representar as injeções de potência ativa e reativa calculadas em função das variáveis x , tem-se:
∆P2 = P2esp − P2 ( x ) = 0 
θ 2   
θ   ∆P3 = P3esp − P3 ( x ) = 0  ∆P = 0 {barras PQ e PV} = {2,3,4}
 3 ∆P = P4esp − P4 ( x ) = 0 
x = θ 4  (S1) 
4 
  ∆Q
V2  = Q2esp − Q2 (x ) = 0 
 2  ∆Q = 0 {barras PQ} = {2,4}
V4  ∆Q4 = Q4esp − Q4 (x ) = 0 

∆ P  } NPQ + NPV = 2 + 1 = 3 equações
(S1) g (x ) =   = 0
∆Q  } NPQ = 2 equações
Na forma compacta, as expressões das equações do Subsistema 2 são dadas por:

 P1 = P1 (x ) } {barras Vθ} = {1}

(S2) 
Q1 = Q1 ( x )  {barras PV e Vθ} = {1,3}
Q3 = Q3 ( x ) 

Exemplo VII.4 (alternativo, sem transformador defasador) – Para a rede de quatro barras cujos dados
estão na Figura VII.3 e nas Tabelas VII.5 e VII.6, determinar as equações do fluxo de carga.

1 2 3 4

V1 Y 12 V2 S2 Y 23 V3 1 : a34 V4

jb12sh jb12sh sh
jb23 sh
jb23 Y 34

S3

Y 13
S1 S4

jb13sh jb13sh jb3sh

a 41 : 1

Y 41

Figura VII.3 – Sistema exemplo de 4 barras (alternativo).

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Tabela VII.5 – Dados das barras do sistema de 4 barras (alternativo).


Barra Tipo V esp [pu] θ esp [rad] P esp [pu] Q esp [pu] b sh [pu]
1 Vθ 1,05 0,0 — — —
2 PQ — — –0,4 –0,2 —
3 PV 0,95 — 0,2 — 0,0675
4 PQ — — –0,8 –0,4 —

Tabela VII.6 – Dados dos ramos do sistema de 4 barras.


sh
k m Y km [pu] bkm [pu] a km [pu]
1 2 0,3 – j2,0 0,01 —
1 3 0,3 – j2,0 0,01
2 3 0,2 – j1,0 0,02 —
3 4 – j1,0 — 0,95
4 1 – j2,0 — 0,90

Solução Exemplo VII.4: Como já determinado na solução do Exemplo VI.3, a expressão da matriz
admitância é dada por:
Y 12 + Y 13 + Y 41 + jb12sh + jb13sh − Y 12 − Y 13 − a 41 Y 41 
 
− Y 12 Y 12 + Y 23 + jb12sh + sh
jb23 − Y 23 0
Y = 
 − Y 13 − Y 23 Y 13 + Y 23 + 2
a34 Y 34 + jb13sh + jb23
sh
+ jb3sh − a34 Y 34 
 
 − a 41Y 41 0 − a34 Y 34 2
a 41 Y 41 + Y 34 
Substituindo os valores das Tabelas VII.5 e VII.6, chega-se a:
0,6 − j 5,98 − 0,3 + j 2 − 0,3 + j 2 j1,8 
 − 0,3 + j 2 0,5 − j 2,97 − 0,2 + j1 0 
Y =
 − 0,3 + j 2 − 0,2 + j1 0,5 − j 3,805 j 0,95 
 
 j1,8 0 j 0,95 − j 2,62
 0,6 − 0,3 − 0,3 0  − 5,98 2 2 1,8 
− 0,3 0,5 − 0,2 0  2 − 2,97 1 0 
G= e B=
− 0,3 − 0,2 0,5 0  2 1 − 3,805 0,95 
   
 0 0 0 0  1,8 0 0,95 − 2,62

As matrizes anteriores podem ser obtidas com o seguinte código MATLAB.


% disponivel em: http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/exemplo_VII_4.m
ramos = [ 1 2 0.3-2i 0.01 1.0 0;
1 3 0.3-2i 0.01 1.0 0;
2 3 0.2-1i 0.02 1.0 0;
3 4 -1i 0 0.95 0;
4 1 -2i 0 0.9 0];
bksh = [ 0; 0; 0.0675; 0];
nr = size(ramos,1);
y = ramos(:,3);
bsh = 1i*ramos(:,4);
a = ramos(:,5);
fi = ramos(:,6);
Y = diag(1i*bksh);
for k = 1:nr
k1 = ramos(k,1);
k2 = ramos(k,2);
Y(k1,k2) = Y(k1,k2) - a(k)*exp(-1i*fi(k))*y(k);
Y(k2,k1) = Y(k2,k1) - a(k)*exp(1i*fi(k))*y(k);
Y(k1,k1) = Y(k1,k1) + a(k)*a(k)*y(k) + bsh(k);
Y(k2,k2) = Y(k2,k2) + y(k) + bsh(k);
end
Y
G = real(Y)
B = imag(Y)

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Solução Exemplo VII.4 (continuação): Como os tipos das barras e as conexões existentes são as
mesmas, as expressões obtidas no exemplo anterior permanecem válidas, havendo diferença apenas nas
expressões cujos valores numéricos foram substituídos. Para os valores das Tabelas VII.5 e VII.6 que
definem a matriz admitância, têm-se as seguintes equações que constituem o Subsistema 1:
∆P2 : − 0,4 − V2 [1,05(− 0,3 cosθ 21 + 2 sen θ 21 ) + 0,5V2 + 0,95(− 0,2 cosθ 23 + 1sen θ 23 )] = 0
0,2 − 0,95[1,05(− 0,3 cos θ 31 + 2 sen θ 31 ) + V2 (− 0,2 cos θ 32 + 1sen θ 32 ) + 0,5 × 0,95 +
∆P3 :
+ V4 (0 cos θ 34 + 0,95 sen θ 34 )] = 0
∆P4 : − 0,8 − V4 [1,05 (0 cos θ 41 + 1,8 sen θ 41 ) + 0,95(0 cos θ 43 + 0,95 sen θ 43 ) + 0V4 ] = 0
∆Q2 : − 0,2 − V2 [1,05(− 0,3 sen θ 21 − 2 cos θ 21 ) + 2,97V2 − 0,95(− 0,2 sen θ 23 − 1 cos θ 23 )] = 0
∆Q4 : − 0,4 − V4 [1,05(0 sen θ 41 − 1,8 cosθ 41 ) + V2 (0 sen θ 43 − 0,95 cosθ 43 ) + 2,62V4 ] = 0

VII.2 – Resolução de sistemas algébricos não lineares pelo método de Newton-


Raphson

Considere, inicialmente, um sistema unidimensional (neste caso, os vetores g (x ) e x possuem apenas um


componente e podem ser representados por escalares) formado por uma equação do tipo:
g (x ) = 0 (VII.3)
Resolver este sistema significa determinar o valor de x tal que a função g (x ) seja nula. Sendo g (x ) uma
função contínua com suas derivadas contínuas a expansão em série de Taylor em torno de um ponto
conhecido x 0 é dada por3:

( )
g (x ) = g x 0 +
( )(
1 ∂g x 0
x − x0 + )
1 ∂2 g x0 ( )(
2
x − x0 + K )
1! ∂x 2! ∂x 2

Desprezando-se todos os termos após a derivada primeira, isto é, aproximando-se a função g (x ) por uma
reta, conforme mostra a Figura VII.4, chega-se a:

( )
g (x ) ≈ g x 0 +
( )(
∂g x 0
x − x0 ) (VII.4)
∂x
A partir da expressão da aproximação linear (VII.4) é possível determinar o ponto x1 no qual o valor desta
( )
aproximação é nulo, ou seja, g x1 = 0 (vide Figura VII.4) da seguinte forma:

( ) ( )
g x1 = g x 0 +
∂g x( ) (x 0
1
)
− x0 = 0 (VII.5)
∂x
 ∂g x 0 
x = x −
1 0 ( ) 0
−1

( )
 gx
 ∂x 
g(x)
Equação da reta tangente por x0:
gx( )0
( )
g (x ) = g x0 +
( )(
∂g x 0
)
x − x0
∂x

( ) (
g x1 = g x 0 + ∆x 0 ) Ponto no qual a reta
tangente por x0 é nula: x1

x1 x0 x
∆x = x − x
0 1 0

Figura VII.4 – Interpretação geométrica do método de Newton.

3
Embora a função seja de apenas uma variável x, adotou-se a notação de derivada parcial para facilitar a extensão para
o caso multidimensional.

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Definindo-se ∆x 0 = x1 − x 0 ⇒ x1 = x 0 + ∆x 0 e substituindo-se na expressão (VII.5), tem-se:

∂g (x )
+ ∆x 0
x 0} 6 4748 ∆x 0

g (x ) = g (x ) + (x − x )= 0
0
1 0 1 0
∂x
∂g (x )
g (x + ∆x ) = g (x ) +
0
0 0 0
∆x = 0 0
(VII.6)
∂x
 ∂g x 0 
∆x 0 = −   gx
0 ( ) −1

( ) (VII.7)
 ∂x 
onde x 0 é a aproximação inicial e x1 = x 0 + ∆x 0 uma primeira aproximação. Observar que x1 não é a
solução da equação inicial (VII.3) e sim a solução de uma aproximação linear dada por (VII.4). A solução da
equação (VII.3) é obtida repetindo-se este processo até que o módulo da função g (x ) esteja suficientemente
próximo de zero (dentro de uma tolerância definida). Isto sugere o seguinte algoritmo denominado método
de Newton-Raphson.

Algoritmo do método de Newton-Raphson unidimensional

i. Fazer ν = 0 e escolher uma aproximação inicial xν = x 0 .

ii. Calcular o valor da função g (x ) , no ponto x = xν : g xν ( )


iii. ( )
Comparar o valor calculado g xν com a tolerância especificada ε: se g xν ≤ ε , então x = xν será a ( )
solução procurada (dentro da faixa de tolerância ±ε); se g xν > ε , prosseguir. ( )
iv. ( ( ))
Linearizar a função g (x ) em torno do ponto xν , g xν . Isto se resume na determinação da seguinte
derivada – vide equação (VII.6):
( )
∂g xν
∂x
v. Calcular a correção ∆xν que resolve o problema linearizado (VII.6) – vide equação (VII.7):

ν ∂g xν 
∆x = −  ν ( ) −1

( )
 gx
 ∂x 
vi. Determinar a nova estimativa de x passa a ser: xν +1 = xν + ∆xν
vii. Fazer ν = ν + 1 e voltar para o Passo (ii).

Exemplo VII.5 – Utilizando o método de Newton-Raphson, determinar a solução para a equação4


x = 2 − sen x , considerando uma tolerância ε = 0,001 .

Solução Exemplo VII.5: Inicialmente, faz-se:


g ( x ) = x − 2 + sen x = 0
∂g (x ) ∂
= (x − 2 + sen x ) = 1 + cos x
∂x ∂x
Considerando uma solução inicial x 0 = 0 obtêm-se os resultados mostrados na Tabela VII.7.

4
x em radianos.

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Solução Exemplo VII.5 (continuação):

Tabela VII.7 – Resultados parciais do processo iterativo – método de Newton-Raphson ( x 0 = 0 ).

ν xν ( )
g xν
( )
∂g xν
∆xν
∂x
0 0 –2 2 1
1 1 –0,1585 1,5403 0,1029
2 1,1029 –0,0046 1,4510 0,0031
3 1,1061 –4,4×10-6 — —

Portanto, para uma tolerância ε = 0,001 , a solução x = 1,1061 foi obtida após 3 iterações, seguindo o
processo ilustrado na Figura VII.5.
1

-1
g(x)

-2

-3

-4
-1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2
x
Figura VII.5 – Processo de convergência para x 0 = 0 .

Observar que a escolha da solução inicial afeta o processo de convergência conforme pode ser comprovado
pela comparação entre os resultados obtidos com x 0 = 0 e com x 0 = 2 , quando foram necessárias 4
iterações (vide Tabela VII.8 e Figura VII.6).

Tabela VII.8 – Resultados parciais do processo iterativo – método de Newton-Raphson ( x 0 = 2 ).

ν xν ( )
g xν
( )
∂g xν
∆xν
∂x
0 2 0,9093 0,5838 –1,5574
1 0,4426 –1,1291 1,9036 0,5931
2 1,0357 –0,1040 1,5099 0,0689
3 1,1046 –0,0021 1,4495 0,0014
4 1,1061 –9,10×10-7 — —

-1
g(x)

-2

-3

-4
-1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2
x
Figura VII.6 – Processo de convergência para x 0 = 2 .

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Uma variante do método de Newton-Raphson é obtida considerando-se a derivada constante, isto é, o Passo
(iv) do algoritmo é realizado uma única vez, na primeira iteração quando ν = 0 :
( )
∂g xν
=
( )
∂g x 0
∂x ∂x
Utilizando-se derivada constante, em geral, o número de iterações (para uma tolerância definida) é maior que
no método de Newton original, mas cada uma das iterações se torna mais rápida pois não é necessário
recalcular a derivada.

Exemplo VII.6 – Utilizando o método de Newton-Raphson com derivada constante (Von Mises),
determinar a solução para a equação x = 2 − sen x , considerando uma tolerância ε = 0,001 .

Solução Exemplo VII.6: Considerando uma solução inicial x 0 = 0 obtêm-se os resultados mostrados na
Tabela VII.9.

Tabela VII.9 – Resultados parciais do processo iterativo – método de Von Mises.

ν xν ( )
g xν
( )
∂g xν
∆xν
∂x
0 0 –2 2 1
1 1 –0,1585 2 0,0793
2 1,0793 –0,0391 2 0,0196
3 1,0988 –0,0105 2 0,0052
4 1,1041 –0,0029 2 0,0014
5 1,1055 –0,0008 — —

Portanto, para uma tolerância ε = 0,001 , x = 1,1055 . Como esperado, com a utilização de derivada
constante, foi necessário realizar um número maior de iterações (5 ao invés de 3).

Exercício VII.1 – Utilizando os métodos de Newton-Raphson e de Von Mises, determinar, com uma
tolerância ε = 0,001 , o valor de x tal que e x = sen x − 3 x 2 + 5 .

Considere-se, agora, a resolução do seguinte sistema n-dimensional:


g (x ) = 0 (VII.8)
onde g (x ) é uma função vetorial e x é o vetor das incógnitas, isto é:
 g1 ( x )
 g ( x )
g (x ) =  2 
 M 
 
 g n ( x )
 x1 
x 
x =  2
M
 
 xn 
A solução do sistema de equações (VII.8) é obtida a partir de uma extensão do algoritmo de Newton-
Raphson anterior, descrito a seguir.

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Algoritmo do método de Newton-Raphson n-dimensional


ν
Fazer ν = 0 e escolher uma aproximação inicial x = x .
0
i.
ii. Calcular g (x ) , no ponto x = x : g xν
ν
( )
iii. ( )
Testar convergência: se g i xν ≤ ε para i ∈ [1, n ] , então o processo convergiu para a solução x = x ;
ν

caso contrário, prosseguir.


iv.
ν ν
(
Linearizar a função vetorial g (x ) em torno do ponto x , g x . Isto se resume na determinação da ( ))
seguinte matriz de derivadas, denominada matriz Jacobiana:


( )
 ∂g1 xν ( )L
∂g1 x
ν
∂g1 x ( )
ν

 ∂x1 ∂x 2 ∂x n 
( ) ν ( )
 ∂g 2 xν ( )
∂g 2 x
ν
∂g 2 x
ν
( )
( )
J xν =
∂g x
∂x
=  ∂x
 1 ∂x 2
L
∂x n 
 M M O M 

( )
 ∂g n xν ( )
∂g n x
ν
L
∂g n x
ν
( ) 

 ∂x1 ∂x 2 ∂x n 
v. Calcular a correção ∆xν que resolve o problema linearizado:
ν
∆x = − J x[ ( )] g (x )ν −1 ν

vi. Determinar a nova estimativa de x que passa a ser:


ν +1 ν ν
x = x + ∆x
vii. Fazer ν = ν + 1 e voltar para o Passo (ii).

Exemplo VII.7 – Utilizando o método de Newton-Raphson, determinar a solução considerando uma


tolerância ε x = ε y = 0,001 , para o seguinte sistema de equações:
2x + y = 4
2x + y2 = 6

Solução Exemplo VII.7: Inicialmente, faz-se:


 ∂g1 ∂g1 
g1 ( x1 , x2 ) = 2 x1 + x2 − 4 = 0 ∂ g (x )  ∂x1 ∂x2  2 1 
J= = =
g 2 ( x1 , x2 ) = 2 x1 + x22 − 6 = 0 ∂x  ∂g 2 ∂g 2  2 2 x2 
 ∂x1 ∂x2 
Considerando uma solução inicial x10 = 0 e x20 = 3 obtêm-se os resultados mostrados na Tabela VII.10.

Tabela VII.10 – Resultados parciais do processo iterativo – método de Newton-Raphson n-dimensional.


x1ν g1 x ( )
ν

[ ( )] −1 ∆x1ν
ν
(x )
ν
ν ν − J x
x2 g2 ∆xν2
0 –1 − 0,6 0,1 0,9
0
3 3 0,2 − 0,2 –0,8
0,9 0 − 0,647 0,147 0,094
1
2,2 0,64 0,294 − 0,294 –0,188
0,994 0 − 0,665 0,165 0,00586
2
2,012 0,0354 0,331 − 0,331 –0,0117
0,999977 0
3 — —
2,000046 0,000137

Portanto, para uma tolerância ε x = ε y = 0,001 , x = x1 = 0,99977 e y = x2 = 2,000046 .

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Solução Exemplo VII.7 (continuação): Observar que a partir da primeira iteração a função g1 xν passa ( )
a apresentar valor nulo. Isto ocorre porque a aproximação linear empregada para representar esta função
corresponde à própria função pois esta é de primeira ordem nas variáveis x1 e x2 .

Exemplo VII.8 – Utilizando o método de Von Mises, determinar a solução do sistema de equações do
exemplo anterior.

Solução Exemplo VII.8: Considerando uma solução inicial x10 = 0 e x20 = 3 obtêm-se os resultados
mostrados na Tabela VII.11.

Tabela VII.11 – Resultados parciais do processo iterativo – método de Von Mises n-dimensional.
x1ν g1 x ( )
ν

[ ( )] −1 ∆x1ν
ν
(x )
ν
ν ν − J x
x2 g2 ∆xν2
0 –1 − 0,6 0,1 0,9
0
3 3 0,2 − 0,2 –0,8
0,9 0 − 0,6 0,1 0,064
1
2,2 0,64 0,2 − 0,2 –0,128
0,964 0 − 0,6 0,1 0,00221
2
2,072 0,2212 0,2 − 0,2 –0,0442
0,9861 0 − 0,6 0,1 0,0084
3
2,0278 0,08406 0,2 − 0,2 –0,0168
0,99452 0 − 0,6 0,1 0,0033
4
2,01095 0,03297 0,2 − 0,2 –0,0066
0,99782 0 − 0,6 0,1 0,00131
5
2,00436 0,01309 0,2 − 0,2 –0,00262
0,99913 0 − 0,6 0,1 0,00052
6
2,00174 0,00522 0,2 − 0,2 –0,00104
0,99965 0 − 0,6 0,1 0,00021
7
2,00069 0,00208 0,2 − 0,2 –0,00042
0,99986 0
8 — —
2,00028 0,000834

Portanto, para uma tolerância ε x = ε y = 0,001 , x = x1 = 0,99986 e y = x2 = 2,00028 .

Exercício VII.2 – Utilizando os métodos de Newton-Raphson e de Von Mises, determinar, com uma
tolerância ε = 0,001 , a solução do seguinte sistema de equações:
x 2 + 3xy = 4
xy − 2 y 2 = −5

VII.3 – Fluxo de carga pelo método de Newton-Raphson

O método de Newton-Raphson é aplicado para a resolução do Subsistema 1 (S1) sendo dado por:
∆ P = P esp − P (V , θ ) = 0 ∆Pk = Pkesp − Pk (V , θ ) = 0 k ∈ {barras PQ e PV}
(S1) =  ⇒  (VII.9)
∆Q = Q − Q (V , θ ) = 0 ∆Qk = Qk − Qk (V ,θ ) = 0 k ∈ {barras PQ}
esp esp

De acordo com o algoritmo de Newton-Raphson deseja-se determinar o vetor das correções ∆ x , o que exige
a resolução do sistema linear dado por:

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

gx( ) = − J (x )∆ x
υ υ υ
⇒ ν
∆x = − J x [ ( )] g (x )
ν −1 ν

onde
 ∆ Pυ 
( ) υ
g x = υ
← PQ + PV
← PQ
 ∆Q 
υ θ υ  ← PQ + PV υ  ∆θ υ  ← PQ + PV
x = υ ∆x =  υ 
V  ← PQ ∆V  ← PQ
υ
 
 ∂(∆ P ) ∂ (∆ P ) 
∂ g (x )
υ ← PQ + PV
J (x ) =
υ  ∂θ ∂V 
=
∂x
 ∂ ∆Q ( ) ( )
∂ ∆Q 

← PQ
 ∂θ ∂V 
 
↑ ↑
PQ + PV PQ
Considerando as expressões dos vetores ∆ P e ∆Q e que P
esp esp
e Q são constantes, a matriz Jacobiana
pode ser rescrita da seguinte maneira:
 ∂ P (V ,θ ) ∂ P(V ,θ ) 
υ

 ∂θ ← PQ + PV
∂V 
( )
J x
υ
= −
 ∂Q (V ,θ ) ∂Q(V ,θ ) 

← PQ
 ∂θ ∂V 

↑ ↑
PQ + PV PQ
sendo as submatrizes representadas por:
∂ P(V ,θ ) ∂ P (V ,θ ) ∂Q (V ,θ ) ∂Q (V ,θ )
H= N= M= L=
∂θ ∂V ∂θ ∂V
Assim, a equação que define a aplicação do método de Newton ao fluxo de carga fica sendo:
 ∆ Pυ   H N  υ  ∆θ υ 
 υ=   υ (VII.10)
∆Q   M L   ∆V 
Considerando que:
Pk = Vk Vm (Gkm cosθ km + Bkm sen θ km ) =

m∈K
= Vk2 G kk + Vk ∑V (G
m∈Ω k
m km cosθ km + Bkm sen θ km )

Qk = Vk ∑ (
m∈K
θ
Vm Gkm sen km − Bkm cos km = θ )
= − Vk2 Bkk + Vk ∑ (
Vm Gkm sen km − Bkm
m∈Ω k
θ cosθ km )

as submatrizes que compõem a matriz Jacobiana são dadas por:


 ∂Pk
 H kk = ∂θ = Vk Vm (− Gkm sen θ km + Bkm cosθ km )

 k m∈ Ω
∂ P (V ,θ )
k

 ∂Pk
H=  H kl = = Vk Vl (Gkl sen θ kl − Bkl cosθ kl ) l ∈ Ωk
∂θ  ∂θ l
 H kl = 0 l ∉ Ωk

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

 ∂Pk
 N kk = ∂V = 2Vk Gkk + Vm (Gkm cosθ km + Bkm sen θ km )

 k m∈ Ω
∂ P(V ,θ )
k

 ∂Pk
N=  N kl = = Vk (Gkl cosθ kl + Bkl sen θ kl ) l ∈ Ωk
∂V  ∂Vl
 N kl = 0 l ∉ Ωk


 ∂Qk
M kk = ∂θ = Vk Vm (Gkm cosθ km + Bkm sen θ km )

 k m ∈Ω
∂Q(V ,θ )
k

 ∂Qk
M= M kl = = −Vk Vl (Gkl cosθ kl + Bkl sen θ kl ) l ∈ Ωk
∂θ  ∂θ l
M kl = 0 l ∉ Ωk


 ∂Qk
Lkk = ∂V = −2Vk Bkk + Vm (Gkm sen θ km − Bkm cosθ km )

 k m∈ Ω
∂Q(V ,θ )
k

 ∂Qk
L= Lkl = = Vk (Gkl sen θ kl − Bkl cosθ kl ) l ∈ Ωk
∂V  ∂Vl
Lkl = 0 l ∉ Ωk

Assim, os passos a serem executados para solução do fluxo de carga pelo método de Newton são os
seguintes:

Fluxo de carga pelo método de Newton-Raphson – Algoritmo

i. Fazer υ = 0 e escolher os valores iniciais dos ângulos das tensões das barras PQ e PV θ = θ = θ ( υ 0
)e
as magnitudes das tensões das barras PQ V = V = V ( υ 0
).
ii. Calcular: Pk (V ,θ ) para as barras PQ e PV
Qk (V ,θ ) para as barras PQ
υ υ
e determinar o vetor dos resíduos (“mismatches”) ∆ P e ∆Q .
iii. Testar a convergência: se max
k∈{PQ + PV }
{∆P }≤ ε υ
k P
k∈{PV }
{ }
e max ∆Qkυ ≤ ε Q , o processo convergiu para a

( υ υ
)
solução V ,θ ; caso contrário, continuar.
iv. Calcular a matriz Jacobiana:

(
υ υ
J V ,θ = −  ) (
 H V υ ,θ υ N V υ , θ υ  ) ( )
υ
 M V ,θ
υ υ
(
L V ,θ 
υ 
) ( )
v. Determinar a nova solução V ( υ +1

υ +1
) , onde:
υ +1 υ υ
θ = θ + ∆θ
υ +1 υ υ
V = V + ∆V
υ υ
sendo ∆V e ∆θ obtidos com a solução do seguinte sistema linear:

(
 ∆ Pυ   H V υ ,θ υ N V υ ,θ υ   ∆θ υ 
 υ=
) ( ) υ

υ
∆Q   M V ,θ
υ υ
( υ   υ
L V ,θ  ∆V  ) ( )
vi. Fazer υ = υ + 1 e voltar para o Passo (ii).

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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Após a determinação do fasor tensão de todas as barras, a solução do Subsistema 2 (S2) é trivial, sendo
obtida através das expressões:
 Pk = Vk Vm (Gkm cosθ km + Bkm sen θ km )
∑ k = {barra de referência}

(S2) =  m∈K
(VII.11)
Qk = Vk Vm (Gkm sen θ km − Bkm cosθ km )
∑ k ∈ {barras PV e referência}
 m∈K

Exemplo VII.9 – Utilizando o método Newton, determinar a solução do problema do fluxo de carga
correspondente ao sistema elétrico de duas barras utilizado no Exemplo VII.1, considerando uma tolerância
ε P = ε Q = 0,001 .

Solução Exemplo VII.9: Conforme já determinado, as incógnitas e equações do Subsistema 1 são as


seguintes:
θ 
x =  2
V2 
∆P2 = − 0,8 − V2 (− 0,9901 cos θ 2 + 9,9010 sen θ 2 + 0,9901V2 ) = 0
(S1) 
∆Q2 = − 0,4 − V2 (− 0,9901 sen θ 2 − 9,9010 cos θ 2 + 9,9010V2 ) = 0
Para este problema a matriz Jacobiana apresenta os seguintes elementos, para os quais Ω 2 = {1} :
∂ P(V ,θ ) ∂P
H= = H 22 = 2 = V2 ∑ Vm (− G2 m sen θ 2 m + B2 m cosθ 2 m ) = V2V1 (− G21 sen θ 21 + B21 cosθ 21 )
∂θ ∂θ 2 m∈Ω2

∂ P(V ,θ ) ∂P
N= = N 22 = 2 = 2V2G22 + Vm (G2 m cos θ 2 m + B2 m sen θ 2 m ) = 2V2 G22 + V1 (G21 cos θ 21 + B21 sen θ 21 )

∂V ∂V2 m∈Ω 2

∂Q(V ,θ ) ∂Q2
M= = M 22 = = V2 ∑ Vm (G2 m cosθ 2 m + B2 m sen θ 2 m ) = V2V1 (G21 cosθ 21 + B21 sen θ 21 )
∂θ ∂θ 2 m∈Ω 2

∂Q (V ,θ ) ∂Q2
L= = L22 = = −2V2 B22 + Vm (G2 m sen θ 2 m − B2 m cosθ 2 m ) = −2V2 B22 + V1 (G21 sen θ 21 − B21 cosθ 21 )

∂V ∂V2 m∈Ω 2

Levando em conta a matriz admitância da rede (já calculada na solução do Exercício VII.1), e os valores
especificados para V1 = V1esp = 1 pu e θ1 = θ1esp = 0 rad , têm-se os seguintes elementos:
H 22 = V2 (0,9901senθ 2 + 9,9010 cosθ 2 )
N 22 = 1,9802V2 + (− 0,9901cosθ 2 + 9,9010 sen θ 2 )
M 22 = V2 (− 0,9901cosθ 2 + 9,9010 sen θ 2 )
L22 = 19,802V2 + (− 0,9901sen θ 2 − 9,9010 cosθ 2 )
Neste caso, como a matriz Jacobiana é dada por:
H N 
J = −  22 22 
 M 22 L22 
então sua inversa é dada por:
−1
−1  H N 22  −1  L22 − N 22 
J = −  22  = − M
 M 22 L22  H 22 L22 − N 22 M 22  22 H 22 
Considerando uma solução inicial θ 20 = 0 rad e V20 = 1 pu , obtêm-se os resultados mostrados na Tabela
VII.12. Portanto, para uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 , a solução do Subsistema 1 é dada por:
V2 = 0,9461 pu e θ 2 = −0,0804 rad = −4,61o , mesmo valor obtido na solução do Exemplo VI.1.

Na Tabela VII.12 é importante observar os valores obtidos nas submatrizes que constituem o Jacobiano.
Enquanto os elementos das submatrizes H e L possuem maior valor absoluto e apresentam variações
pequenas ao longo do processo iterativo, os elementos das submatrizes N e M possuem menor valor absoluto
e variam de forma significativa.

Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 18 de 47
Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Solução Exemplo VII.9 (continuação):

Tabela VII.12 – Resultados parciais do processo iterativo – fluxo de carga Newton.


θ 2ν ∆P2 x( )
ν
[J (x )]
ν
[ ( )] −1 ∆θ 2ν
ν
( )
ν
ν − J x
V 2ν ∆Q 2 x ∆V 2ν
0 –0,8 − 9,9010 − 0,9901 0,1000 − 0,0100 –0,0760
0
1 –0,4 0,9910 − 9,9010 0,0100 0,1000 –0,0480
–0,0760 –0,0418 − 9,3270 − 0,1462 0,1069 − 0,0017 –0,0044
1
0,9520 –0,0463 1,6555 − 9,0543 0,0195 0,1101 –0,0059
–0,0804 –0,0003
2 — — —
0,9461 –0,0004

Os resultados mostrados na Tabela VII.12, foram obtidos executando-se a seguinte rotina em MATLAB.
% disponivel em: http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/exemplo_VII_9.m
clear all;
saida=fopen('saida.txt','w');
p2=-0.8; q2=-0.4;
v1=1; t1=0;
v2=1; t2=0;
x=[t2; v2];
G11=0.9901; G12=-0.9901;
G21=-0.9901; G22=0.9901;
B11=-9.901; B12=9.901;
B21=9.901; B22=-9.901;
for k=0:5,
dp2=p2-v2*(v1*(G21*cos(t2)+B21*sin(t2))+G22*v2);
dq2=q2-v2*(v1*(G21*sin(t2)-B21*cos(t2))-B22*v2);
gx=[dp2; dq2];
h22=v2*v1*(-G21*sin(t2)+B21*cos(t2));
n22=2*v2*G22+v1*(G21*cos(t2)+B21*sin(t2));
m22=v2*v1*(G21*cos(t2)+B21*sin(t2));
l22=-2*v2*B22+v1*(G21*sin(t2)-B21*cos(t2));
Jac=-[h22 n22
m22 l22];
Jac1=-inv(Jac);
dx=Jac1*gx;
y=[k x(1) gx(1) Jac(1,1) Jac(1,2) Jac1(1,1) Jac1(1,2) dx(1)];
fprintf(saida,'%2.0f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n',y);
y=[x(2) gx(2) Jac(2,1) Jac(2,2) Jac1(2,1) Jac1(2,2) dx(2)];
fprintf(saida,' %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n\n',y);
x=x+dx;
t2=x(1);
v2=x(2);
end
p1=v1*(v2*(G12*cos(-t2)+B12*sin(-t2))+G11*v1);
q1=v1*(v2*(G12*sin(-t2)-B12*cos(-t2))-B11*v1);
y=[p1 q1];
fprintf(saida,'%8.4f %8.4f',y);
fclose(saida);

Por outro lado, o Subsistema 2 corresponde ao cálculo da injeção de potência na barra de referência:
P1 = V1 Vm (G1m cos θ1m + B1m sen θ1m )


(S2) =  m∈K1
Q
 1 = V 1 ∑ Vm (G1m sen θ1m − B1m cos θ1m )
 m∈K1

 P = V [V (G cos θ12 + B12 sen θ12 ) + V1G11 ]


(S2)  1 1 2 12
Q1 = V1 [V2 (G12 sen θ12 − B12 cos θ12 ) − V1 B11 ]
Substituindo os valores conhecidos, chega-se a:
 P = 0,8089 pu
(S2)  1
Q1 = 0,4894 pu

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4450A-04 – Sistemas de Energia I

Exemplo VII.10 – Utilizando o método de Newton, determinar a solução do fluxo de carga da rede da
Figura VII.7 cujos dados se encontram nas Tabelas VII.13 e VII.14. Utilizar uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 .

1 2 3

V1 Z 12 V2 S2 Z 23 V3
S3

jb12sh jb12sh sh
jb23 sh
jb23
S1

jb1sh

Figura VII.7 – Sistema exemplo de 3 barras.

Tabela VII.13 – Dados das barras do sistema de 3 barras.

Barra Tipo V esp [pu] θ esp [rad] P esp [pu] Q esp [pu] bksh [pu]
1 PQ — — – 0,15 0,05 0,05
2 Vθ 1,00 0,0 — — —
3 PV 1,00 — 0,20 — —

Tabela VII.14 – Dados dos ramos do sistema de 3 barras.

sh
k m Z km [pu] bkm [pu]
1 2 0,03 + j0,3 0,02
2 3 0,05 + j0,8 0,01

Solução Exemplo VII.10: As admitâncias das linhas de transmissão são dadas por:
≈ (0,3300 − j3,3003) pu
1 1
Y 12 = =
Z 12 0,03 + j 0,3
≈ (0,0778 − j1,2451) pu
1 1
Y 23 = =
Z 23 0,05 + j 0,8
sendo a matriz admitância dada por:
 0,33 − j 3,2303 − 0,33 + j3,3003 0 
Y =  − 0,33 + j 3,3003 0,4078 − j 4,5154 − 0,0778 + j1,2451

 0 − 0,0778 + j1,2451 0,0778 − j1,2351 
 0,33 − 0,33 0   − 3,2303 3,3003 0 

G =  − 0,33 0,4078 − 0,0778  e B =  3,3003 − 4,5154 1,2451 

 0 − 0,0778 0,0778   0 1,2451 − 1,2351
As incógnitas e equações do Subsistema 1 são as seguintes:
θ1 
x = θ 3 
V1 
∆P1 = P1esp − V1 [V1G11 + V2 (G12 cos θ12 + B12 sen θ12 )] = 0

(S1) ∆P3 = P3 − V3 [V2 (G32 cos θ 32 + B32 sen θ 32 ) + V3G33 ] = 0
esp

∆Q = Q esp − V [− V B + V (G sen θ − B cos θ )] = 0


 1 1 1 1 11 2 12 12 12 12

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4450A-04 – Sistemas de Energia I

Solução Exemplo VII.10 (continuação): Substituindo os valores conhecidos, tem-se o seguinte sistema
de equações:
∆P1 = − 0,15 − V1 [0,33V1 + 1(− 0,33 cosθ1 + 3,3003 sen θ1 )] = 0

(S1) ∆P3 = 0,20 − 1[1(− 0,0778 cosθ 3 + 1,2451sen θ 3 ) + 0,0778 × 1] = 0
∆Q = 0,05 − V [3,2303V + 1(− 0,33 sen θ − 3,3003 cosθ )] = 0
 1 1 1 1 1
Para este problema a matriz Jacobiana apresenta a seguinte formação:
 ∂∆P1 ∂∆P1 ∂∆P1 
 
 ∂θ1 ∂θ 3 ∂V1   H 11 H13 N11 
∂∆P3 ∂∆P3 ∂∆P3 
J=  = −  H 31 H 33 N 31 
 ∂θ ∂ θ ∂V 
 ∂∆Q1 ∂∆Q3 ∂∆Q1   M 11 M 13 L11 
 1 1 1
 ∂θ1 ∂θ 3 ∂V1 
∂P
H11 = 1 = V1 Vm (− G1m sen θ1m + B1m cos θ1m ) = V1V2 (− G12 sen θ12 + B12 cos θ12 )

∂θ1 m∈Ω1

∂P1 ∂P3
H13 = =0 e H 31 = =0
∂θ 3 ∂θ1
∂P3
H 33 = = V3 ∑ Vm (− G3m sen θ 3m + B3m cos θ 3m ) = V3V2 (− G32 sen θ 32 + B32 cos θ 32 )
∂θ 3 m∈Ω3

∂P1
N11 = = 2V1G11 + Vm (G1m cosθ 1m + B1m sen θ 1m ) = 2V1G11 + V2 (G12 cosθ12 + B12 sen θ12 )

∂V1 m∈Ω1

∂P3
N 31 = =0
∂V1
∂Q1
M 11 = = V1 Vm (G1m cosθ1m + B1m sen θ1m ) = V1V2 (G12 cosθ12 + B12 sen θ12 )

∂θ1 m∈Ω1

∂Q1
M 13 = =0
∂θ 3
∂Q
L11 = 1 = −2V1 B11 + Vm (G1m sen θ1m − B1m cosθ1m ) = −2V1 B11 + V2 (G12 sen θ12 − B12 cosθ12 )

∂V1 m∈Ω1

Considerando uma solução inicial θ10 = θ 30 = 0 rad e V10 = 1 pu , obtém-se os resultados mostrados na
Tabela VII.15.

Tabela VII.15 – Resultados parciais do processo iterativo – fluxo de carga Newton.


θ 1ν ( )
∆P1 x
ν
∆θ 1ν
ν θ 3ν ∆P (x )
ν
[J (x )]
ν
[ ( )]
− J x
ν −1
∆θ 3ν
∆Q (x )
3
V1ν
1
ν
∆V1ν

0 –0,15 − 3,3003 0 − 0,3300 0,2999 0 − 0,0313 –0,0487


0 0 0,20 0 − 1,2451 0 0 0,8031 0 0,1606
1 0,12 0,3300 0 − 3,1603 0,0313 0 0,3132 0,0329

–0,0487 0,0045 − 3,3882 0 − 0,1913 0,2927 0 − 0,0165 0,0014


1 0,1606 –0,0001 0 − 1,2415 0 0 0,8055 0 –0,0001
1,0329 –0,0081 0,5065 0 − 3,3927 0,0437 0 0,2923 –0,0022
–0,0473 8,14×10-6
2 0,1605 0 — — —
1,0307 –2,01×10-5

Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 21 de 47
4450A-04 – Sistemas de Energia I

Solução Exemplo VII.10 (continuação): Portanto, para uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 , a solução do
Subsistema 1 é dada por: V1 = 1,0307 pu , θ1 = −0,0473 rad = −2,71o e θ 3 = 0,1605 rad = 9,20 o . Observar
que após a 1a iteração o resíduo ∆P3 já se encontrava dentro da tolerância desejada
( ∆P1
3 )
= − 0,0001 < ε P = 0,001 , mas foi necessário realizar mais uma iteração, pois os demais resíduos
(∆P1 e ∆Q3 ) eram superiores.

Os resultados mostrados na Tabela VII.15, foram obtidos executando-se a seguinte rotina em MATLAB.

% disponivel em: http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/exemplo_VII_10.m


clear all;
saida=fopen('saida.txt','w');
p1=-0.15; q1=0.05; p3=0.2;
v1=1; t1=0; v2=1; t2=0; v3=1; t3=0;
x=[t1; t3; v1];
b1sh=0.05;
g12=0.33; b12=-3.3003; b12sh=0.02;
g23=0.0778; b23=-1.2451; b23sh=0.01;
G11=g12; G12=-g12; G13=0;
G21=-g12; G22=g12+g23; G23=-g23;
G31=0; G32=-g23; G33=g23;
B11=b12+b12sh+b1sh; B12=-b12; B13=0;
B21=-b12; B22=b12+b23+b12sh+b23sh; B23=-b23;
B31=0; B32=-b23; B33=b23+b23sh;
kmax=10; tol=0.001; kpq=1;
for k=0:kmax,
dp1=p1-v1*(v2*(G12*cos(t1-t2)+B12*sin(t1-t2))+G11*v1);
dp3=p3-v3*(v2*(G32*cos(t3-t2)+B32*sin(t3-t2))+G33*v3);
dq1=q1-v1*(v2*(G12*sin(t1-t2)-B12*cos(t1-t2))-B11*v1);
gx=[dp1; dp3; dq1];
if max(abs(gx))>tol
h11=v1*v2*(-G12*sin(t1-t2)+B12*cos(t1-t2));
h13=0; h31=0;
h33=v3*v2*(-G32*sin(t3-t2)+B32*cos(t3-t2));
n11=2*v1*G11+v2*(G12*cos(t1-t2)+B12*sin(t1-t2));
n31=0;
m11=v1*v2*(G12*cos(t1-t2)+B12*sin(t1-t2));
m13=0;
l11=-2*v1*B11+v2*(G12*sin(t1-t2)-B12*cos(t1-t2));
Jac=-[h11 h13 n11; h31 h33 n31; m11 m13 l11];
Jac1=-inv(Jac);
dx=Jac1*gx;
else
Jac=[0 0 0; 0 0 0; 0 0 0]; Jac1=[0 0 0; 0 0 0; 0 0 0];
dx=[0; 0; 0];
kpq=0;
end
y=[k x(1) gx(1) Jac(1,1) Jac(1,2) Jac(1,3) Jac1(1,1) Jac1(1,2) Jac1(1,3) dx(1)];
fprintf(saida,'%2.0f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n',y);
y=[x(2) gx(2) Jac(2,1) Jac(2,2) Jac(2,3) Jac1(2,1) Jac1(2,2) Jac1(2,3) dx(2)];
fprintf(saida,' %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n',y);
y=[x(3) gx(3) Jac(3,1) Jac(3,2) Jac(3,3) Jac1(3,1) Jac1(3,2) Jac1(3,3) dx(3)];
fprintf(saida,' %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n\n',y);
if kpq==0
break
end
x=x+dx;
t1=x(1); t3=x(2); v1=x(3);
end
p2=v2*(v1*(G21*cos(t2-t1)+B21*sin(t2-t1))+G22*v2+v3*(G23*cos(t2-t3)+B23*sin(t2-t3)));
q2=v2*(v1*(G21*sin(t2-t1)-B21*cos(t2-t1))-B22*v2+v3*(G23*sin(t2-t3)-B23*cos(t2-t3)));
q3=v3*(v2*(G32*sin(t3-t2)-B32*cos(t3-t2))-B33*v3);
q1sh=v1*v1*b1sh;
y=[p2 q2 q3 q1sh];
fprintf(saida,'%8.4f %8.4f\n %8.4f\n %8.4f\n',y);
fclose(saida);

Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 22 de 47
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Solução Exemplo VII.10 (continuação): Por outro lado, o Subsistema 2 corresponde ao cálculo da
injeção de potência na barra de referência:

 P2 = V2 Vm (G2 m cos θ 2 m + B2 m sen θ 2 m )
∑ K 2 = {1,2,3}
 m∈K 2
(S2) = Q2 = V2 Vm (G2 m sen θ 2 m − B2 m cosθ 2 m )
∑ K 2 = {1,2,3}
 m∈K 2
Q3 = V3 Vm (G3m sen θ 3m − B3m cos θ 3m )
∑ K 3 = {1,3}

 m∈ K 3

 2
P = V [
2 1V (G 21 cos θ 21 + B21 sen θ 21 ) + V2 G22 + V3 (G23 cos θ 23 + B23 sen θ 23 )]

(S2) Q2 = V2 [V1 (G21 sen θ 21 − B21 cos θ 21 ) − V2 B22 + V3 (G23 sen θ 23 − B23 cos θ 23 )]
Q = V [V (G sen θ − B cos θ ) − V B ]
 3 3 2 32 32 32 32 3 33
Substituindo os valores conhecidos, chega-se a:
 P2 = −0,0469 pu
(S2) Q2 = −0,1152 pu
Q = −0,0064 pu
 3
Após a determinação do estado da rede, os fluxos de potência nas linhas podem ser facilmente determinados,
utilizando-se as expressões (III.11) e (III.12)5, obtendo-se os resultados mostrados na Figura VII.8.

V 1 = 1,0307 − 2,71o V 2 = 1 0o V 3 = 1 9,20 o

1 2 3

S 12 = −0,15 + j 0,1031 S 21 = 0,1511 − j 0,1336 S 23 = −0,198 + j 0,0184 S 32 = 0,2 − j 0,0064

S 1 = −0,15 + j 0,05 S 2 = −0,0469 − j 0,1152 S 3 = 0,2 − j 0,0064


sh
S 1 = j 0,0531

jb1sh

Figura VII.8 – Resultado do fluxo de carga do sistema exemplo de 3 barras.

Exercício VII.3 – No sistema de três barras do Exemplo VII.10, em função da barra de referência (Barra 2)
ocupar uma posição central e de não existir ligação direta entre as Barras 1 e 3, o sistema elétrico de três
barras pode ser dividido em dois sistemas de duas barras independentes, conforme mostrado na Figura VII.9.

1 Sistema A 2 2 Sistema B 3
B
V1 Z 12 V2 V2 S2 Z 23 V3
A
S2 S3
sh sh
jb12sh jb12sh jb23 jb23
S1
A B
S2 = S2 + S2

jb1sh

Figura VII.9 – Sistemas de duas barras equivalente ao exemplo de 3 barras.

5
Para detalhes, vide Capítulo III.

Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 23 de 47
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Observar que as equações utilizadas para determinar o fasor tensão da Barra 1 não envolvem o fasor tensão
da Barra 3 e vice-versa. Desta forma as duas redes podem ser resolvidas separadamente, sendo a injeção de
A B
potência da Barra 2 dada pela soma das injeções calculadas para as duas redes, ou seja, S 2 = S 2 + S 2 .
Resolver o fluxo de carga das duas redes separadamente e comparar com os resultados do Exemplo VII.10
para comprovar estas afirmações.

Exercício VII.4 – Para o mesmo sistema elétrico utilizado no Exemplo VII.10, determinar solução do fluxo
de carga considerando os dados da Tabelas VII.16 e utilizando uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 .

Tabela VII.16 – Dados das barras do sistema de 3 barras.

Barra Tipo V esp [pu] θ esp [rad] P esp [pu] Q esp [pu] bksh [pu]
1 PQ — — – 0,15 0,05 – 0,05
2 PV 1,00 — – 0,0469 — —
3 Vθ 1,00 0,1605 — — —

VII.4 – Métodos desacoplados

O processo iterativo de solução do fluxo de carga pelo método de Newton baseia-se na solução do seguinte
sistema linear:
∂ P (V ,θ ) ∂ P(V ,θ )
H= N=
 ∆ Pυ   H N υ  ∆θ υ  ∂θ ∂V
 υ =    υ com
∂ ( θ ) ∂ (V ,θ )
 ∆ Q   M L   ∆V 
Q V , Q
M = L=
∂θ ∂V
Em redes de transmissão em alta tensão (maiores ou iguais a 230 kV), o fluxo de potência ativa é muito
menos sensível às mudanças na magnitude das tensões que às mudanças nos ângulos de fase das tensões
nodais. De forma similar, o fluxo de potência reativa é muito menos sensível às mudanças nos ângulos de
fase das tensões que às mudanças nas magnitudes das tensões nodais. Isto faz com que as sensibilidades
∂P e ∂Q sejam muito mais intensas que as sensibilidades ∂P e ∂Q , e possibilita a separação
∂θ ∂V ∂V ∂θ
deste sistema linear em dois subsistemas independentes (não acoplados). Esta separação é denominada
desacoplamento Pθ θ-QV.

VII.4.1 – Método de Newton desacoplado

O processo mais imediato de aplicação do desacoplamento, denominado Newton desacoplado, consiste em


desconsiderar as submatrizes N e M. Em outra família de métodos, além de ignorar as submatrizes N e M,
utilizam-se matrizes constantes no lugar das submatrizes H e L. Observar que em todas as versões de
métodos desacoplados as aproximações são feitas apenas na matriz Jacobiana; nenhuma aproximação é feita
no cálculo dos resíduos ∆ P e ∆Q . Deste modo, altera-se o processo de convergência (geralmente torna-se
mais lento), mas a solução final se mantém, pois o sistema resolvido continua sendo o Subsistema 1 (S1),
dado por:
∆ P = P esp − P (V ,θ ) = 0 ∆Pk = Pkesp − Pk (V ,θ ) = 0 k ∈ {barras PQ e PV}
(S1) =  ⇒ 
∆Q = Q − Q(V ,θ ) = 0 ∆Qk = Qk − Qk (V ,θ ) = 0 k ∈ {barras PQ}
esp esp

O algoritmo básico do método de Newton-Raphson para solução do fluxo de carga é dado por:

Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 24 de 47
4450A-04 – Sistemas de Energia I

( ) (
∆ Pν V ν ,θ ν = H V ν ,θ ν ⋅ ∆θ ν + N V ν ,θ ν ⋅ ∆V ν ) ( ) barras PQ e PV

1 Iteração
 ν ν ν
( ν ν
) (
ν
∆Q V ,θ = M V ,θ ⋅ ∆θ + L V ,θ ⋅ ∆V
 ν +1
ν ν ν
) ( ) barras PQ
ν ν
θ = θ + ∆θ barras PQ e PV
V = V + ∆V ν
ν +1 ν
barras PQ

Desprezando os termos N V ,θ ( ν ν
) e M (V ν

ν
), é possível resolver separadamente e alternadamente para
∆θ ν e ∆V ν da seguinte maneira:
1 Iteração Pθ  ν +1
(
∆ Pν V ν ,θ ν = H V ν ,θ ν ⋅ ∆θ ν ) ( ) barras PQ e PV
θ = θ ν + ∆θ ν
2
barras PQ e PV (VII.12)
1 Iteração QV  ν +1
(
∆Qν V ν ,θ ν +1 = L V ν ,θ ν +1 ⋅ ∆V ν ) ( ) barras PQ
2 ν ν
V = V + ∆V barras PQ
As alterações introduzidas pela simplificação da matriz Jacobiana são, parcialmente, compensadas pelo fato
ν +1
das variáveis θ e V serem atualizadas a cada meia iteração (observar que utiliza-se θ para os cálculos
ν
dos resíduos ∆Q e da submatriz L ).

De um modo geral, a taxa de convergência dos dois subproblemas (subproblema ativo: ½ Iteração Pθ;
subproblema reativo: ½ Iteração QV) são diferenciadas e é comum a realização de iterações em apenas um
dos subproblemas.
A resolução do fluxo de carga pelo método de Newton desacoplado segue os seguintes passos:

Fluxo de carga pelo método de Newton desacoplado – Algoritmo

i. Fazer p = q = 0 , KP = KQ = 1 e escolher os valores iniciais dos ângulos das tensões das barras PQ e
PV θ = θ = θ ( ) e as magnitudes das tensões das barras PQ (V = V = V ) .
p 0 q 0

Calcular P (V ,θ ) para as barras PQ e PV e determinar o vetor dos resíduos (“mismatches”) ∆ P


q p p
ii. k .
iii. Testar a convergência:
a) Se max
k∈{PQ + PV }
{∆P }≤ ε k
p
P , a ½ Iteração Pθ convergiu:

• Fazer KP = 0 . Se KQ = 0 , o processo convergiu para a solução V ,θ ( p q


);
• Caso contrário, vá para o Passo (vii) (Iteração QV).
b) Caso contrário, prosseguir.
iv. Calcular a submatriz H V ,θ .
q p
( )
p +1
Determinar o valor de θ = θ + ∆θ sendo ∆θ
p p p
v. obtido com a solução do seguinte sistema linear:
(
∆ P V , θ = H V ,θ ⋅ ∆θ
p q p
) ( q p
) p

vi. Fazer p = p + 1 , KQ = 1 e prosseguir no Passo (vii).


vii. Calcular Qk V ,θ ( q p
) para as barras PQ e determinar o vetor dos resíduos (“mismatches”) ∆Q q
.
viii. Testar a convergência:
a) { }
Se max ∆Qkq ≤ ε q , a ½ Iteração QV convergiu:
k∈{PQ }

• Fazer KQ = 0 . Se KP = 0 , o processo convergiu para a solução V ,θ ( p q


);
• Caso contrário, vá para o Passo (ii) (Iteração Pθ).
b) Caso contrário, prosseguir.
ix.
υ υ
Calcular a submatriz L V ,θ . ( )
q +1
= V + ∆V sendo ∆V
q q q
x. Determinar o valor de V obtido com a solução do seguinte sistema
linear: ∆Q V , θ
q
( q p
) = L(V q

p
)⋅ ∆V q

xi. Fazer q = q + 1 , KP = 1 e voltar para o Passo (ii).

Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 25 de 47
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Exemplo VII.11 – Utilizando o método Newton desacoplado, determinar a solução do Subsistema 1 do


problema do fluxo de carga correspondente ao sistema elétrico de três barras utilizado no Exemplo VII.10
considerando uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 .

Solução Exemplo VII.11: A matriz admitância da rede e as expressões do Subsistema 1 permanecem


inalteradas, sendo as mesmas do Exemplo VII.7, ou seja:
 0,33 − 0,33 0   − 3,2303 3,3003 0 

G =  − 0,33 0,4078 − 0,0778  e B =  3,3003 − 4,5154 1,2451 
 0 − 0,0778 0,0778   0 1,2451 − 1,2351
θ1 
x = θ 3 
V1 
∆P1 = P1esp − V1 [V1G11 + V2 (G12 cos θ12 + B12 sen θ12 )] = 0
(S1) ∆P3 = P3esp − V3 [V2 (G32 cos θ 32 + B32 sen θ 32 ) + V3G33 ] = 0
∆Q = Q esp − V [− V B + V (G sen θ − B cos θ )] = 0
 1 1 1 1 11 2 12 12 12 12

Para o método de Newton desacoplado, as matrizes a serem definidas são apenas as submatrizes H e L, ou
seja:
 H 11 H 13 
H = 
 H 31 H 33 
∂P1
H11 = = V1 Vm (− G1m sen θ1m + B1m cos θ1m ) = V1V2 (− G12 sen θ12 + B12 cos θ12 )

∂θ1 m∈Ω1

∂P1 ∂P3
H13 = =0 e H 31 = =0
∂θ 3 ∂θ1
∂P3
H 33 = = V3 Vm (− G3m sen θ 3m + B3m cos θ 3m ) = V3V2 (− G32 sen θ 32 + B32 cos θ 32 )

∂θ 3 m∈Ω3

L = [L11 ]
∂Q1
L11 = = −2V1 B11 + Vm (G1m sen θ1m − B1m cosθ1m ) = −2V1 B11 + V2 (G12 sen θ12 − B12 cosθ12 )

∂V1 m∈Ω1

Considerando uma solução inicial θ10 = θ 30 = 0 rad e V10 = 1 pu , obtém-se os resultados mostrados na
Tabela VII.17.

Tabela VII.17 – Resultados parciais do processo iterativo – fluxo de carga Newton desacoplado.
θ 1p ∆P1 x( )p ,q
[ ( )] [H (x )] −1 ∆θ 1p
( ) [ ( )] [L(x )] −1

( ) − H x ∆Q1 x p , q − Lx ∆V1q
p,q p ,q q p,q p,q
p q V1
θ 3p ∆P3 x p , q ∆θ 3p
0 –0,15 − 3,3003 0 0,3030 0 –0,0455
0 0 1 0,1016 –3,1787 0,3146 0,0320
0 0,20 0 − 1,2451 0 0,8031 0,1606
–0,0455 –0,0065 − 3,3868 0 0,2953 0 –0,0019
1 1 1,0320 –0,0043 –3,3861 0,2953 –0,0013
0,1606 –0,0001 0 − 1,2415 0 0,8055 –0,0001
–0,0474 2,44×10-4
2 — — — 2 1,0307 –5,10×10-6 — — —
0,1605 0

Portanto, para uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 , a solução do Subsistema 1 é dada por: V1 = 1,0307 pu ,
θ1 = −0,0474 rad = −2,72 o e θ 3 = 0,1605 rad = 9,20 o . Observar que após a 1a iteração, ou seja, após duas ½
(
iterações, o resíduo ∆P3 já se encontrava dentro da tolerância desejada ∆P31 = − 0,0001 < ε P = 0,001 , mas )
foi necessário realizar mais uma ½ iteração Pθ, pois o outro resíduo (∆P1 ) era superior.

Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 26 de 47
4450A-04 – Sistemas de Energia I

Solução Exemplo VII.11 (continuação): Os resultados mostrados na Tabela VII.17, foram obtidos
executando-se a seguinte rotina em MATLAB.
% disponivel em: http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/exemplo_VII_11.m
clear all;
saida=fopen('saida.txt','w');
p1=-0.15; q1=0.05; p3=0.2;
v1=1; t1=0; v2=1; t2=0; v3=1; t3=0;
x=[t1; t3; v1];
b1sh=0.05;
g12=0.33; b12=-3.3003; b12sh=0.02;
g23=0.0778; b23=-1.2451; b23sh=0.01;
G11=g12; G12=-g12; G13=0;
G21=-g12; G22=g12+g23; G23=-g23;
G31=0; G32=-g23; G33=g23;
B11=b12+b12sh+b1sh; B12=-b12; B13=0;
B21=-b12; B22=b12+b23+b12sh+b23sh; B23=-b23;
B31=0; B32=-b23; B33=b23+b23sh;
kmax=10; tol=0.001; kp=1; kq=1;
for k=0:kmax,
dp1=p1-v1*(v2*(G12*cos(t1-t2)+B12*sin(t1-t2))+G11*v1);
dp3=p3-v3*(v2*(G32*cos(t3-t2)+B32*sin(t3-t2))+G33*v3);
gxp=[dp1; dp3];
if max(abs(gxp))>tol
h11=v1*v2*(-G12*sin(t1-t2)+B12*cos(t1-t2));
h13=0; h31=0;
h33=v3*v2*(-G32*sin(t3-t2)+B32*cos(t3-t2));
Jacp=-[h11 h13; h31 h33]; Jacp1=-inv(Jacp);
dxp=Jacp1*gxp;
kq=1;
else
kp=0;
Jacp=[0 0; 0 0]; Jacp1=[0 0; 0 0];
dxp=[0; 0];
end
y=[k x(1) gxp(1) Jacp(1,1) Jacp(1,2) Jacp1(1,1) Jacp1(1,2) dxp(1)];
fprintf(saida,'%2.0f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n',y);
y=[x(2) gxp(2) Jacp(2,1) Jacp(2,2) Jacp1(2,1) Jacp1(2,2) dxp(2)];
fprintf(saida,' %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n\n',y);
if kp==1
x=x+[dxp(1); dxp(2); 0];
t1=x(1); t3=x(2);
elseif kq==0
break
end
dq1=q1-v1*(v2*(G12*sin(t1-t2)-B12*cos(t1-t2))-B11*v1);
gxq=[dq1];
if max(abs(gxq))>tol
l11=-2*v1*B11+v2*(G12*sin(t1-t2)-B12*cos(t1-t2));
Jacq=-[l11]; Jacq1=-inv(Jacq);
dxq=Jacq1*gxq;
kp=1;
else
kq=0;
Jacq=[0]; Jacq1=[0];
dxq=[0];
end
y=[k x(3) gxq(1) Jacq(1,1) Jacq1(1,1) dxq(1)];
fprintf(saida,'%2.0f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n\n',y);
if kq==1
x=x+[0;0;dxq(1)];
v1=x(3);
elseif kp==0
break
end
end
p2=v2*(v1*(G21*cos(t2-t1)+B21*sin(t2-t1))+G22*v2+v3*(G23*cos(t2-t3)+B23*sin(t2-t3)));
q2=v2*(v1*(G21*sin(t2-t1)-B21*cos(t2-t1))-B22*v2+v3*(G23*sin(t2-t3)-B23*cos(t2-t3)));
q3=v3*(v2*(G32*sin(t3-t2)-B32*cos(t3-t2))-B33*v3);
q1sh=v1*v1*b1sh;
y=[p2 q2 q3 q1sh];
fprintf(saida,'%8.4f %8.4f\n %8.4f\n %8.4f\n',y);
fclose(saida);

Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 27 de 47
4450A-04 – Sistemas de Energia I

Em alguns sistemas, é possível acelerar a convergência através da normalização das equações (VII.12) com
relação à magnitude da tensão. Sendo V a matriz diagonal cujos elementos não-nulos são as magnitudes das
tensões das barras do sistema, ou seja,
1 
V 0 L 0 
V1 0 L 0 
0  1 
V2 L 0  ⇒ 0 1
L 0 
V = V −1 =  V2 
M M O M 
  M M O M 
0 0 L VNB   1 
0 0 L 
 VNB 
as equações normalizadas do fluxo de carga pelo método de Newton desacoplado são dadas por:
1 Iteração Pθ
( ) (
V −1 ⋅ ∆ Pν V ν ,θ ν = V −1 ⋅ H V ν ,θ ν ⋅ ∆θ ν
 ν +1
) barras PQ e PV
θ = θ ν + ∆θ ν
2
barras PQ e PV (VII.13)
1 Iteração QV
(
ν
V ⋅ ∆Q V ,θ
−1

 ν +1
ν ν +1
) ν
= V −1 ⋅ L V ,θ(ν +1
⋅ ∆V
ν
)barras PQ
2 ν ν
V = V + ∆V barras PQ
Sabendo que as matrizes H e L originais são dadas por:
 ∂Pk
H kk = ∂θ = Vk ∑ Vm (− Gkm sen θ km + Bkm cosθ km ) = −Qk − Vk2 Bkk
 k m∈ Ω
∂ P(V ,θ )
k

 ∂Pk
H= H kl = = VkVl (Gkl sen θ kl − Bkl cosθ kl ) l ∈ Ωk
∂θ  ∂θ l
H kl = 0 l ∉ Ωk


 ∂Qk
∑ Vm (Gkm sen θ km − Bkm cosθ km ) = k − Vk Bkk
Q
 Lkk = ∂V = −2Vk Bkk + Vk
 k m∈Ω k
∂Q(V , θ )  ∂Qk
L=  Lkl = = Vk (Gkl sen θ kl − Bkl cosθ kl ) l ∈ Ωk
∂V  ∂Vl
 Lkl = 0 l ∉ Ωk


é possível definir novas submatrizes, incluindo a normalização, ou seja, definir:
 ' 1 ∂Pk − Qk
 H kk = V ∂θ = ∑ Vm (− Gkm sen θ km + Bkm cos θ km ) = − Vk Bkk
Vk
 k k m∈ Ω k

 1 ∂Pk
H ′ = V −1 H  H kl' = = Vl (Gkl sen θ kl − Bkl cos θ kl ) l ∈ Ωk
 V k ∂θ l
 H kl' = 0 l ∉ Ωk


 ' 1 ∂Qk
Vm (Gkm sen θ km − Bkm cos θ km ) = k 2 − Bkk
1
 Lkk = V ∂V = −2 Bkk + V ∑ Q
Vk
 k k k m∈Ω k
 1 ∂Qk
L′ = V −1 L  L'kl = = Gkl sen θ kl − Bkl cosθ kl l ∈ Ωk
 Vk ∂Vl
 L'kl = 0 l ∉ Ωk


Utilizando as matrizes H ′ e L ′ , o processo iterativo do método de Newton desacoplado, em sua versão
normalizada, se resume a:
1 Iteração Pθ
( )
V −1 ⋅ ∆ Pν V ν , θ ν = H ′ V ν , θ ν ⋅ ∆θ ν
 ν +1
( )
barras PQ e PV
2 ν ν
θ = θ + ∆θ barras PQ e PV
(VII.14)
1 Iteração QV
ν
V ⋅ ∆Q V , θ
−1

 ν +1
ν
(
ν +1 ν
= L′ V , θ ) (
ν +1
⋅ ∆V
ν
barras PQ )
2 ν ν
V = V + ∆V barras PQ

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4450A-04 – Sistemas de Energia I

Exemplo VII.12 – Utilizando o método Newton desacoplado normalizado, determinar a solução do


Subsistema 1 do problema do fluxo de carga correspondente ao sistema elétrico de três barras utilizado nos
Exemplos VII.10 e VII.11 considerando uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 .

Solução Exemplo VII.12: A matriz admitância da rede e as expressões do Subsistema 1 permanecem


inalteradas, sendo as mesmas dos Exemplos VII.10 e VII.11. Para o método de Newton desacoplado
normalizado, as matrizes a serem definidas são apenas as submatrizes H ′ e L′ , ou seja:
′ H13
 H11 ′ 
H′ = 
′ 
′ H 33
 H 31
∂P1
′ = V1−1
H11 = Vm (− G1m sen θ1m + B1m cos θ1m ) = V2 (− G12 sen θ12 + B12 cos θ12 )

∂θ1 m∈Ω1
∂P1 ∂P3
′ = V1−1
H13 =0 e ′ = V3−1
H 31 =0
∂θ 3 ∂θ1
∂P3
′ = V3−1
H 33 = Vm (− G3m sen θ 3m + B3m cos θ 3m ) = V2 (− G32 sen θ 32 + B32 cos θ 32 )

∂θ 3 m∈Ω3
L′ = [L11
′]
∂Q1
Vm (G1m sen θ1m − B1m cosθ1m ) = −2 B11 + 2 (G12 sen θ12 − B12 cosθ12 )
1 V
′ = V1−1
L11
∂V1
= −2 B11 +
V1 m∈Ω1 ∑ V1
Considerando uma solução inicial θ10 = θ 30 = 0 rad e V10 = 1 pu , obtém-se os resultados mostrados na
Tabela VII.18 que diferem dos da Tabela VII.17 apenas no itens assinalados que correspondem às
submatrizes do Jacobiano.

Tabela VII.18 – Resultados parciais do processo iterativo – fluxo de carga Newton desacoplado normalizado.
θ 1p ( )
∆P1 x
p ,q

[ ( )] [H ′(x )] −1 ∆θ 1p
( ) [ ( )] [L′(x )] −1

( ) − H′ x ∆Q1 x − L′ x ∆V1q
p,q p ,q q p ,q p,q p ,q
p q V1
θ 3p ∆P3 x p , q ∆θ 3p
0 –0,15 − 3,3003 0 0,3030 0 –0,0455
0 0 1 0,1016 –3,1787 0,3146 0,0320
0 0,20 0 − 1,2451 0 0,8031 0,1606
–0,0455 –0,0065 − 3,2819 0 0,3047 0 –0,0019
1 1 1,0320 –0,0043 − 3,2812 0,3048 –0,0013
0,1606 –0,0001 0 − 1,2415 0 0,8055 –0,0001
–0,0474 2,44×10-4
2 — — — 2 1,0307 –5,10×10-6 — — —
0,1605 0

Comparando-se os resultados das Tabelas VII.17 e VII.18, observam-se diferenças apenas nas matrizes
utilizadas no processo iterativo pois este descreve a mesma trajetória. Isto ocorre, neste caso, porque para o
subproblema ativo (Pθ), a matriz H só possui elementos não nulos na diagonal e os sistemas resolvidos nos
dois casos tornam-se idênticos (embora isto não ocorra no caso geral):

ν ν ν
 ∆P1   H 11 0   ∆θ1  ∆P1ν = H 11
ν
∆θ1ν
Desacoplado: ∆P  =  0 H  ⋅  ∆θ  ⇒
 3  33   3 ∆P3ν = H 33
ν
∆θ 3ν
ν ν ν
V1−1∆P1  ′ 0   ∆θ1 
 H11 V1−1∆P1ν = V1−1 H 11
ν
∆θ1ν
Desacoplado normalizado:  −1  = ⋅ ⇒
V3 ∆P3  ′   ∆θ 3 
 0 H 33 V3−1∆P3ν = V3−1 H 33
ν
∆θ 3ν

Para o subproblema reativo (QV), a matriz L só possui um elemento, razão pela qual os sistemas resolvidos
também são idênticos.
Desacoplado: [∆Q1 ]ν = [L11 ]ν ⋅ [∆V1 ]ν
Desacoplado normalizado: [V−1
1 ∆Q1
ν
] = [L11
′ ] ⋅ [∆V1 ]
ν ν
⇒ V1−1∆Q1ν = V1−1 Lν11∆V1ν

Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 29 de 47
4450A-04 – Sistemas de Energia I

Solução Exemplo VII.12 (continuação): Os resultados mostrados na Tabela VII.18, foram obtidos
executando-se a seguinte rotina em MATLAB.
% disponivel em: http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/exemplo_VII_12.m
clear all;
saida=fopen('saida.txt','w');
p1=-0.15; q1=0.05; p3=0.2;
v1=1; t1=0; v2=1; t2=0; v3=1; t3=0;
x=[t1; t3; v1];
b1sh=0.05;
g12=0.33; b12=-3.3003; b12sh=0.02;
g23=0.0778; b23=-1.2451; b23sh=0.01;
G11=g12; G12=-g12; G13=0;
G21=-g12; G22=g12+g23; G23=-g23;
G31=0; G32=-g23; G33=g23;
B11=b12+b12sh+b1sh; B12=-b12; B13=0;
B21=-b12; B22=b12+b23+b12sh+b23sh; B23=-b23;
B31=0; B32=-b23; B33=b23+b23sh;
kmax=10; tol=0.001; kp=1; kq=1;
for k=0:kmax,
dp1=p1-v1*(v2*(G12*cos(t1-t2)+B12*sin(t1-t2))+G11*v1);
dp3=p3-v3*(v2*(G32*cos(t3-t2)+B32*sin(t3-t2))+G33*v3);
gxp=[dp1; dp3];
gxp1=[dp1/v1; dp3/v3];
if max(abs(gxp))>tol
h11=v2*(-G12*sin(t1-t2)+B12*cos(t1-t2));
h13=0; h31=0;
h33=v2*(-G32*sin(t3-t2)+B32*cos(t3-t2));
Jacp=-[h11 h13; h31 h33]; Jacp1=-inv(Jacp);
dxp=Jacp1*gxp1;
kq=1;
else
kp=0;
Jacp=[0 0; 0 0]; Jacp1=[0 0; 0 0];
dxp=[0; 0];
end
y=[k x(1) gxp(1) Jacp(1,1) Jacp(1,2) Jacp1(1,1) Jacp1(1,2) dxp(1)];
fprintf(saida,'%2.0f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n',y);
y=[x(2) gxp(2) Jacp(2,1) Jacp(2,2) Jacp1(2,1) Jacp1(2,2) dxp(2)];
fprintf(saida,' %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n\n',y);
if kp==1
x=x+[dxp(1); dxp(2); 0];
t1=x(1); t3=x(2);
elseif kq==0
break
end
dq1=q1-v1*(v2*(G12*sin(t1-t2)-B12*cos(t1-t2))-B11*v1);
gxq=[dq1];
gxq1=[dq1/v1];
if max(abs(gxq))>tol
l11=-2*B11+(v2/v1)*(G12*sin(t1-t2)-B12*cos(t1-t2));
Jacq=-[l11]; Jacq1=-inv(Jacq);
dxq=Jacq1*gxq1;
kp=1;
else
kq=0;
Jacq=[0]; Jacq1=[0];
dxq=[0];
end
y=[k x(3) gxq(1) Jacq(1,1) Jacq1(1,1) dxq(1)];
fprintf(saida,'%2.0f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n\n',y);
if kq==1
x=x+[0;0;dxq(1)];
v1=x(3);
elseif kp==0
break
end
end
p2=v2*(v1*(G21*cos(t2-t1)+B21*sin(t2-t1))+G22*v2+v3*(G23*cos(t2-t3)+B23*sin(t2-t3)));
q2=v2*(v1*(G21*sin(t2-t1)-B21*cos(t2-t1))-B22*v2+v3*(G23*sin(t2-t3)-B23*cos(t2-t3)));
q3=v3*(v2*(G32*sin(t3-t2)-B32*cos(t3-t2))-B33*v3);
q1sh=v1*v1*b1sh;
y=[p2 q2 q3 q1sh];
fprintf(saida,'%8.4f %8.4f\n %8.4f\n %8.4f\n',y);
fclose(saida);

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VII.4.2 – Desacoplado rápido

O método desacoplado rápido é uma simplificação do método de Newton desacoplado, versão normalizada,
na qual são empregadas matrizes constantes nos lugares das matrizes H ′ e L ′ , mostradas na equação
(VII.14). Na determinação das matrizes constantes, são realizadas algumas aproximações:
a) cosθ km ≈ 1
b) Bkm >> Gkm sen θ km
c) Vk2 Bkk >> Qk
Têm-se, assim, as seguintes aproximações para as matrizes H e L:
 ' 1 ∂Pk
 H kk = V ∂θ ≈ ∑ Vm Bkm
 k k m∈Ω k

 ' 1 ∂Pk
H ′  H kl = ≈ −Vl Bkl l ∈ Ωk
 Vk ∂θ l
 H kl' = 0 l ∉ Ωk


 ' 1 ∂Qk
 Lkk = V ∂V ≈ − Bkk
 k k
 ' 1 ∂Qk
L′  Lkl = = − Bkl l ∈ Ω k
 Vk ∂Vl
 L'kl = 0 l ∉ Ωk

Considerando-se que as tensões são próximas a 1 pu, é possível obter matrizes independentes das variáveis
de estado do sistema. Tais matrizes dependem apenas dos parâmetros do sistema e são dadas por:
 Bkk' ≈

∑m∈Ω k
Bkm

H ′ ≈ B′  Bkl' ≈ − Bkl l ∈ Ωk
B ' = 0 l ∉ Ωk
 kl

 Bkk'' ≈ − Bkk

L′ ≈ B′′  Bkl'' = − Bkl l ∈ Ω k
 B '' = 0 l ∉ Ωk
 kl
A denominação B ′ e B ′′ vem do fato destas matrizes serem semelhantes a matriz de susceptâncias B .
Utilizando estas matrizes (B ′ e B ′′) , o processo iterativo do método desacoplado rápido é dado por:

1 Iteração Pθ  ν +1
( )
V −1 ⋅ ∆ Pν V ν , θ ν = B′ ⋅ ∆θ ν barras PQ e PV
θ = θ ν + ∆θ ν
2
barras PQ e PV
( )
(VII.15)
V −1 ⋅ ∆Qν V ν , θ ν +1 = B′′ ⋅ ∆V ν barras PQ
1 Iteração QV
 ν +1
V = V ν + ∆V ν
2
barras PQ
De modo heurístico, observou-se que o método apresentava melhor desempenho quando, na formação da
−1
matriz B ′ , desprezava-se as resistências série, aproximando-se bkm por − x km :
 Bkk' =

∑m∈Ω k
−1
xkm
 ' −1
B′  kl
B = − xkm l ∈ Ωk
B ' = 0 l ∉ Ωk
 kl

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4450A-04 – Sistemas de Energia I

Quando no sistema considerado existem elementos shunt com admitâncias anormalmente elevadas, a
hipótese (c) pode não ser válida. Neste caso, o emprego da matriz B ′′ como definido anteriormente pode
proporcionar convergência lenta ou até mesmo a divergência.

A correção que deve ser realizada na matriz B ′′ é obtida realizando-se as seguintes aproximações na
expressão do elemento da diagonal da matriz L. Tem-se que:

≈ − Bkm
≈1
} }≈1  67≈1 8
  644 4 7444 8
∂Qk    
Lkk =
∂Vk
= −2Vk Bkk +
m∈Ω k
 ∑
Vm Gkm sen θ km − Bkm cosθ km ≈ −2 Bkk +
 
m∈Ω k 
G km sen θ km − B km 


   
Lkk ≈ −2 Bkk + ∑ (− B )
m∈Ω k
km

   
′′ = −2 Bkk −
Bkk ∑B km = −2 Bksh −
 ∑ Bkm  − ∑
 m∈Ω
Bkm = −2 Bksh + ∑ Bkm = − Bksh −
 ∑ Bkm  − Bksh

m∈Ω k  m∈Ω k  k m∈Ω k  m∈Ω k 
′′ = − Bkk − Bksh
Bkk
onde Bksh é a soma de todas as susceptâncias que ligam o nó k à terra.

A resolução do fluxo de carga pelo método desacoplado rápido segue os seguintes passos:

Fluxo de carga pelo método desacoplado rápido – Algoritmo

i. Fazer p = q = 0 , KP = KQ = 1 e escolher os valores iniciais dos ângulos das tensões das barras PQ e
( )
PV θ = θ = θ e as magnitudes das tensões das barras PQ V = V = V .
p 0
( q 0
)
ii. Determinar as matrizes B′ e B′′ .
iii.
q p
( )
Calcular Pk V ,θ para as barras PQ e PV e determinar o vetor dos resíduos (“mismatches”) ∆ P .
p

iv. Testar a convergência:


a) Se max
k∈{PQ + PV }
{∆P }≤ ε k
p
P , a ½ Iteração Pθ convergiu:

• Fazer KP = 0 . Se KQ = 0 , o processo convergiu para a solução V ,θ ; ( p q


)
• Caso contrário, vá para o Passo (vii) (Iteração QV).
b) Caso contrário, prosseguir.
p +1
Determinar o valor de θ = θ + ∆θ sendo ∆θ obtido com a solução do seguinte sistema linear:
p p p
v.
p q
(
∆ P V , θ = B′ ⋅ ∆θ
p
)
p

vi. Fazer p = p + 1 , KQ = 1 e prosseguir no Passo (vii).


vii. Calcular Qk V ,θ ( q p
) para as barras PQ e determinar o vetor dos resíduos (“mismatches”) ∆Q q
.
viii. Testar a convergência:
a) { }
Se max ∆Qkq ≤ ε q , a ½ Iteração QV convergiu:
k∈{PQ }

• Fazer KQ = 0 . Se KP = 0 , o processo convergiu para a solução V ,θ ; ( p q


)
• Caso contrário, vá para o Passo (iii) (Iteração Pθ).
b) Caso contrário, prosseguir.
q +1
= V + ∆V sendo ∆V obtido com a solução do seguinte sistema
q q q
ix. Determinar o valor de V
linear:
q
(
∆Q V , θ = B′′ ⋅ ∆V
q p
) q

x. Fazer q = q + 1 , KP = 1 e voltar para o Passo (iii).

Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 32 de 47
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Exemplo VII.13 – Utilizando o método desacoplado rápido, determinar a solução do Subsistema 1 do


problema do fluxo de carga correspondente ao sistema elétrico de três barras utilizado nos Exemplos VII.10,
VII.11 e VII.12 considerando uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 .

Solução Exemplo VII.13: A matriz admitância da rede e as expressões do Subsistema 1 permanecem


inalteradas, sendo as mesmas dos Exemplos VII.10, VII.11 e VII.12. Para o método desacoplado rápido, as
matrizes a serem definidas são apenas as submatrizes B′ e B′′ , ou seja:
′ B13
 B11 ′ 
B′ = 
′ 
′ B33
 B31
1 1
′ =
B11 ∑x
m∈Ω1
−1
1m = =
x12 0,3
≈ 3,3333

′ =0
B13 e ′ =0
B31
1 1
′ =
B33
m∈Ω3
∑x −1
3m = =
x23 0,8
= 1,25

B′′ = [B11
′′ ]
′′ = − B11 − B1sh = −(− 3,2303) − (0,05 + 0,02) = 3,1603
B11

Para o método desacoplado rápido as matrizes utilizadas para determinar as correções nas iterações Pθ e QV
são constantes e podem ser obtidas no início do processo pois não dependem do estado Vθ da rede (vide
Passo (ii) do algoritmo), sendo dadas por:
−1
3,3333 0  0,3 0 
[B′]−1
= =
 0 1,25 
 0 0,8
[B′′]−1 = [3,1603]−1 = [0,3164]

Considerando uma solução inicial θ10 = θ 30 = 0 rad e V10 = 1 pu , obtém-se os resultados mostrados na
Tabela VII.19.

Tabela VII.19 – Resultados parciais do processo iterativo – fluxo de carga desacoplado rápido.
( ) ∆P1 x
p ,q

∆P (x ) ( )
θ ∆θ 1p
( )
p p ,q
∆Q1 x
q p ,q
V
∆P (x ) ∆P (x )
∆Q1 x ∆V1q
1 1 1 q p ,q
p q V1
θ 3
p
3
p ,q
3
p ,q
∆θ 3p V1q
V3
0 –0,15 –0,15 –0,0450
0 0 1 0,1018 0,1018 0,0322
0 0,20 0,20 0,1600
–0,0450 –0,0081 –0,0078 –0,0023
1 1 1,0322 –0,0051 –0,0049 –0,0016
0,1600 0,0006 0,0006 0,0005
–0,0473 1,8×10-4
2 — — 2 1,0307 1,9×10-4 — —
0,1605 4,3×10-6

Portanto, para uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 , a solução do Subsistema 1 obtida pelo método desacoplado
rápido é dada por: V1 = 1,0307 pu , θ1 = −0,0473 rad = −2,71o e θ 3 = 0,1605 rad = 9,20 o . A grande
vantagem deste método é o fato de não ser necessário recalcular e re-inverter a cada iteração as matrizes
necessárias para as iterações Pθ e QV. Desta forma, embora possa ser necessário realizar um número maior
de iterações, as iterações do método desacoplado rápido são sempre mais simples e rápidas do que as
iterações dos métodos de Newton-Raphson ou Newton desacoplado.

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Solução Exemplo VII.13 (continuação): Os resultados mostrados na Tabela VII.19, foram obtidos
executando-se a seguinte rotina em MATLAB.
% disponivel em: http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/exemplo_VII_13.m
clear all;
saida=fopen('saida.txt','w');
p1=-0.15; q1=0.05; p3=0.2;
v1=1; t1=0; v2=1; t2=0; v3=1; t3=0;
x=[t1; t3; v1];
b1sh=0.05;
g12=0.33; b12=-3.3003; b12sh=0.02; x12=0.3;
g23=0.0778; b23=-1.2451; b23sh=0.01; x23=0.8;
G11=g12; G12=-g12; G13=0;
G21=-g12; G22=g12+g23; G23=-g23;
G31=0; G32=-g23; G33=g23;
B11=b12+b12sh+b1sh; B12=-b12; B13=0;
B21=-b12; B22=b12+b23+b12sh+b23sh; B23=-b23;
B31=0; B32=-b23; B33=b23+b23sh;
bl11=1/x12; bl13=0;
bl31=0; bl33=1/x23;
Jacp=-[bl11 bl13; bl31 bl33]; Jacp1=-inv(Jacp);
bll11=-B11-b1sh-b12sh;
Jacq=-[bll11]; Jacq1=-inv(Jacq);
kmax=10; tol=0.001; kp=1; kq=1;
for k=0:kmax,
dp1=p1-v1*(v2*(G12*cos(t1-t2)+B12*sin(t1-t2))+G11*v1);
dp3=p3-v3*(v2*(G32*cos(t3-t2)+B32*sin(t3-t2))+G33*v3);
gxp=[dp1; dp3];
gxp1=[dp1/v1; dp3/v3];
if max(abs(gxp))>tol
dxp=Jacp1*gxp1;
kq=1;
else
kp=0;
dxp=[0; 0];
end
y=[k x(1) gxp(1) Jacp(1,1) Jacp(1,2) Jacp1(1,1) Jacp1(1,2) dxp(1)];
fprintf(saida,'%2.0f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n',y);
y=[x(2) gxp(2) Jacp(2,1) Jacp(2,2) Jacp1(2,1) Jacp1(2,2) dxp(2)];
fprintf(saida,' %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n\n',y);
if kp==1
x=x+[dxp(1); dxp(2); 0];
t1=x(1); t3=x(2);
elseif kq==0
break
end
dq1=q1-v1*(v2*(G12*sin(t1-t2)-B12*cos(t1-t2))-B11*v1);
gxq=[dq1];
gxq1=[dq1/v1];
if max(abs(gxq))>tol
dxq=Jacq1*gxq1;
kp=1;
else
kq=0;
dxq=[0];
end
y=[k x(3) gxq(1) Jacq(1,1) Jacq1(1,1) dxq(1)];
fprintf(saida,'%2.0f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f\n\n',y);
if kq==1
x=x+[0;0;dxq(1)];
v1=x(3);
elseif kp==0
break
end
end
p2=v2*(v1*(G21*cos(t2-t1)+B21*sin(t2-t1))+G22*v2+v3*(G23*cos(t2-t3)+B23*sin(t2-t3)));
q2=v2*(v1*(G21*sin(t2-t1)-B21*cos(t2-t1))-B22*v2+v3*(G23*sin(t2-t3)-B23*cos(t2-t3)));
q3=v3*(v2*(G32*sin(t3-t2)-B32*cos(t3-t2))-B33*v3);
q1sh=v1*v1*b1sh;
y=[p2 q2 q3 q1sh];
fprintf(saida,'%8.4f %8.4f\n %8.4f\n %8.4f\n',y);
fclose(saida);

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Exercício VII.5 – Utilizando os métodos de Newton, Newton desacoplado (normalizado) e desacoplado


rápido, determinar a solução do fluxo de carga da rede da Figura VII.10 cujos dados se encontram nas
Tabelas VII.20 e VII.21. Utilizar uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 .
1 2 3

V1 Z 12 V2 S2 Z 23 V3

jb12sh jb12sh sh
jb23 sh
jb23

S1 Z 13 S3

jb13sh jb13sh

jb1sh

Figura VII.10 – Sistema de 3 barras.

Tabela VII.20 – Dados das barras do sistema de 3 barras.

Barra Tipo V esp [pu] θ esp [rad] P esp [pu] Q esp [pu] bksh [pu]
1 PQ — — – 0,30 0,05 – 0,05
2 Vθ 1,00 0,0 — — —
3 PV 1,00 — 0,20 — —

Tabela VII.21 – Dados dos ramos do sistema de 3 barras.

sh
k m Z km [pu] bkm [pu]
1 2 0,03 + j0,3 0,02
1 3 0,08 + j1,1 0,03
2 3 0,05 + j0,8 0,01

VII.4.3 – Apresentação formal dos métodos desacoplados

Dezesseis anos após a apresentação heurística do método desacoplado rápido, foi publicado um artigo
descrevendo formalmente esta abordagem em 19906. Em linhas gerais, a formulação apresentada neste artigo
parte da iteração do método de Newton clássico:
∂ P(V ,θ ) ∂ P (V ,θ )
H= N=
 ∆ P   H N   ∆θ  ∂θ ∂V
 ∆Q  =   ⋅  com
∂ Q(V ,θ ) ∂ Q(V ,θ )
   M L   ∆V  M= L=
∂θ ∂V
∆ P = H∆θ + N∆V (VII.16)
∆Q = M∆θ + L∆V (VII.17)
Isolando ∆θ em (VII.16) e ∆V em (VII.17), tem-se:
∆θ ∆θ
67H8 647N4 8
∆θ = H −1 (∆ P − N∆V ) = H −1∆ P − H −1 N∆V (VII.18)
∆V L ∆V M
678 6474 8
(
∆V = L−1 ∆Q − M∆θ )
L−1∆Q − L−1 M∆θ (VII.19)

6
A. Monticelli, A. Garcia, O. Saavedra (1990). Fast decoupled load flow: hypothesis, derivations and testing, IEEE
Transactions on Power Systems, Vol. 4, No. 4, November, pp. 1425-1431.

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Substituindo (VII.18) em (VII.17):


[
∆Q = M H −1 (∆ P − N∆V ) + L∆V ]
−1
∆Q − MH ∆ P = (L − MH −1
)
N ∆V
Substituindo (VII.19) em (VII.16):
[ (
∆ P = H∆θ + N L−1 ∆Q − M∆θ )]
−1
∆ P − NL ∆Q = (H − NL M )∆θ
−1

Das expressões anteriores, tem-se 3 processos idênticos:


 ∆P  H N   ∆θ 
∆Q − MH −1 ∆ P  =  −1  ⋅   (VII.20)
   0 LL − MH N   ∆V 
∆ P − NL−1 ∆Q   H − NL−1 M 0   ∆θ 
 = ⋅  (VII.21)
 ∆Q   M L   ∆V 
 ∆ P − NL−1 ∆Q   H − NL−1 M 0   ∆θ 
 −1 = ⋅
−1    (VII.22)
∆Q − MH ∆ P   0 L − MH N  ∆V 
Para simplificar a notação definem-se 2 matrizes:
H eq = H − NL−1 M
Leq = L − MH −1 N

Propriedade 1: Considerando a expansão em série de Taylor das funções de ∆ P e ∆Q , tem-se:


∂Q
∆θ ∆θ
 67 8 ∂θ 67 8
  ∂∆Q }
∆Q V , θ + H ∆ P  ≈ ∆Q(V , θ ) +
−1
∆θ = ∆Q (V , θ ) − M H ∆ P
−1

  ∂θ
 
∂P
∆V ∆V
 67 8  ∂V 67
} 8
  ∂∆ P
∆ PV + L ∆Q, θ  ≈ ∆ P (V , θ ) +
−1
∆V = ∆ P (V , θ ) − N L ∆Q
−1

  ∂V
 

Propriedade 2: Utilizando a Propriedade 1, os processos (VII.20), (VII.21) e (VII.22) podem ser


resolvidos de forma desacoplada. Utilizando-se (VII.18) e a formulação (VII.20) define-se o algoritmo
primal; utilizando-se (VII.19) e a formulação (VII.21) define-se o algoritmo dual, a seguir descritos:

Algoritmo Primal Algoritmo Dual


1. Calcular a correção de ângulo temporária: 1. Calcular a correção de magnitude temporária:
∆θ H = H −1 ∆ P(V ,θ ) ∆V L = L−1∆Q (V ,θ )
2. Calcular a correção na magnitude: 2. Calcular a correção no ângulo:
∆V = L−eq1 ∆Q(V ,θ + ∆θ H ) −1
∆θ = H eq ∆ P(V + ∆V L ,θ )
3. Calcular a correção de ângulo adicional: 3. Calcular a correção de magnitude adicional:
∆θ N = − H −1 N∆V ∆V M = − L−1 M∆θ
4. Fazer: 4. Fazer:
∆θ = ∆θ H + ∆θ N ∆V = ∆V L + ∆V M

Embora o processo já possa ser resolvido de forma desacoplada, apresenta dois seguintes inconvenientes:
• Em ambos algoritmos uma das correções é calculada em dois passos: ∆θ para o primal e ∆V para o
dual.
• As matrizes H eq e Leq podem ser cheias.

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Propriedade 3: Para uma dada iteração do algoritmo primal, tem-se:


ν ν
∆θ H = H −1∆ P V ,θ
ν
( )
ν +1 ν ν
θ temp = θ + ∆θ H
∆V ν = L−eq1 ∆Q V ,θ temp ( ν ν +1
)
ν +1
V = V ν + ∆V ν

ν ν
∆θ N = − H −1 N∆V
θ ν +1 = θ νtemp
+1 ν
+ ∆θ N

Para a próxima iteração a correção temporária em ângulo seria:


ν +1 ν +1 ν +1
∆θ H = H −1∆ P V ,θ ( )
θ νtemp
+2

ν +1
+
ν +1
∆θ H
Assim, as duas correções sucessivas de ângulo seriam dadas por:
ν ν +1
∆θ N + ∆θ H
ν +1 ν +1
= H −1 ∆ P V , θ − N∆V
ν
[ ( ) ]
≈ H −1
[∆ P(V ν +1 ν +1
,θ temp )− H∆θ − N∆V ]
ν
N
ν

Observar que, pela Propriedade 1, tem-se:



 θ ν +1
64748 

(
ν +1 ν +1
∆ P V ,θ

)
= ∆ PV ,θ temp + ∆θ N 
ν +1 ν +1 ν

 
 
ν +1 ν +1
≈ ∆ P V ,θ temp − H∆θ N
ν
( )
ν −1 ν
Como ∆θ N = − H N∆V ,
ν ν ν
H∆θ N = − HH −1 N∆V = − N∆V
logo
ν ν
− H∆θ N − N∆V = 0
Assim:
ν ν +1
∆θ N + ∆θ H
ν +1 ν +1
≈ H −1∆ P V ,θ temp ( )
Deste modo, as duas correções em ângulo sucessivas podem ser obtidas de uma só vez, ou seja, as correções
∆θ N são automaticamente realizadas (de forma aproximada) na próxima iteração.

Para uma dada iteração do algoritmo dual, tem-se:


ν ν
∆V L = L−1∆Q V ,θ
ν
( )
ν +1 ν ν
V temp = V + ∆V L
∆θ ν = H eq
−1
∆ P V temp ,θ ( ν +1 ν
)
ν +1
θ = θ ν + ∆θ ν

ν ν
∆V M = − L−1 M∆θ
ν +1 ν +1 ν
V = V temp + ∆V M
Para a próxima iteração a correção temporária em magnitude seria:
ν +1
∆V L = L−1 ∆Q V ,θ
ν +1 ν +1
( )
ν +2 ν +1 ν +1
V temp = V + ∆V L
Assim, as duas correções sucessivas de magnitude seriam dadas por:

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ν
∆V M + ∆V L
ν +1
[ (
= L−1 ∆Q V
ν +1

ν +1
)− M∆θ ]
ν

≈ L−1 [∆Q(V ν +1
temp , θ ν +1 )− L∆V − M∆θ ]
ν
M
ν

ν ν
Como ∆V M = − L−1 M∆θ ,
ν ν ν
L∆V M = − LL−1 M∆θ = − M∆θ
logo
ν ν
− L∆V M − M∆θ = 0
Assim:
ν ν +1
∆V M + ∆V L
ν +1
≈ L−1∆Q V temp ,θ (
ν +1
)
Deste modo, as duas correções em magnitude sucessivas podem ser obtidas de uma só vez, ou seja, as
correções ∆V M são automaticamente realizadas (de forma aproximada) na próxima iteração.

VII.5 – Controles e limites

Para evitar que a solução obtida para o problema do fluxo de carga seja não realizável, é importante verificar
se os equipamentos e instalações do sistema encontram-se dentro dos seus limites de operação. Além disto,
devem ser considerados os dispositivos de controle que influenciam as condições de operação para que seja
possível simular corretamente o desempenho do sistema elétrico. Exemplos de controles e limites existentes
nos programas de fluxo de carga são os seguintes:
• Controle da magnitude do fasor tensão nodal por ajuste de tap (transformadores em fase);
• Controle do fluxo de potência ativa (transformadores defasadores);
• Controle de intercâmbio;
• Limite de injeção de potência reativa em barras PV;
• Limite de tensão em barras PQ;
• Limites de taps de transformadores;
• Limites de fluxo em circuitos.

De uma maneira geral, existem três maneiras básicas de representar os controles:


1. Classificação por tipo de barra (PQ, PV, Vθ, etc.) e o agrupamento das equações em
subsistemas 1 e 2, como já mencionado.
2. Mecanismos de ajuste executados alternadamente com a solução iterativa do Subsistema 1, ou
seja, durante a realização de uma (ou mais) iteração as variáveis de controle permanecem
inalteradas, sendo reajustadas entre uma iteração e outra buscando sua aproximação com um
valor especificado.
3. Incorporação de equações e variáveis adicionais ao Subsistema 1 ou substituição de equações e
variáveis deste subsistema por novas equações e variáveis.

Um exemplo de limite que pode ser facilmente verificado é a injeção de potência reativa das barras de tensão
controlada (PV) que deve estar dentro da faixa definida para o equipamento
( )
Qkmin ≤ Qk ≤ Qkmax , k ∈ {barras PV} . Embora existam diversas formas de realizar este controle, é
conveniente fazê-lo ao longo do processo iterativo (antes da convergência) para evitar que sejam realizados
cálculos desnecessários.

É importante observar que a inclusão dos controles provoca alterações na taxa de convergência do processo
iterativo (para pior) podendo, ainda, provocar sua divergência e facilitar o aparecimento de soluções
múltiplas para o problema original.

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Exercício VII.7 – Utilizando os métodos de Newton, Newton Desacoplado e Desacoplado Rápido,


determinar a solução do fluxo de carga da rede da Figura VII.11 cujos dados se encontram nas Tabelas
VII.22 e VII.23. Utilizar uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 .
1 2 3

V1 Z 12 V2 S2 Z 23 V3

S1 S3

jb12sh jb12sh
jb2sh

Figura VII.11 – Sistema exemplo de 3 barras.

Tabela VII.22 – Dados das barras do sistema de 3 barras.

Barra Tipo V esp [pu] θ esp [rad] P esp [pu] Q esp [pu] bksh [pu]
1 Vθ 1,0 0 — — —
2 PQ — — – 0,20 – 0,10 – 0,05
3 PV 1,05 — – 0,30 — —

Tabela VII.23 – Dados dos ramos do sistema de 3 barras.

sh
k m Z km [pu] bkm [pu]
1 2 0,01 + j0,1 0,1
2 3 0,02 + j0,3 0,0

Solução Parcial Exercício VII.7: As admitâncias das linhas de transmissão são dadas por:
≈ (0,9901 − j 9,9010) pu
1 1
Y 12 = =
Z 12 0,01 + j 0,1
≈ (0,2212 − j 3,3186) pu
1 1
Y 23 = =
Z 23 0,02 + j 0,3
sendo a matriz admitância dada por:
 0,9901 − j9,8010 − 0,9901 + j 9,9010 0 
Y =  − 0,9901 + j 9,9010 1,2113 − j13,1696 − 0,2212 + j 3,3186

 0 − 0,2212 + j 3,3186 0,2212 − j 3,3186 
As incógnitas e equações do Subsistema 1 são as seguintes:
θ 2 
x = θ 3 
V2 
∆P2 = P2esp − V2 [V1 (G 21 cos θ 21 + B21senθ 21 ) + V2 G22 + V3 (G23 cos θ 23 + B23 senθ 23 )] = 0

(S1) ∆P3 = P3esp − V3 [V2 (G32 cos θ 32 + B32 senθ 32 ) + V3 G33 ] = 0
∆Q
 2 = Q2 − V2 [V1 (G 21senθ 21 − B21cosθ 21 ) − V2 B22 + V3 (G 23 senθ 23 − B23 cosθ 23 )] = 0
esp

Substituindo os valores conhecidos, tem-se o seguinte sistema de equações:


∆P2 = − 0,2 − V 2 [1(− 0,9901 cos θ 2 + 9,9010senθ 2 ) + 1,2113V2 + 1,05(− 0,2212 cos θ 23 + 3,3186senθ 23 )] = 0

(S1) ∆P3 = − 0,3 − 1,05[V 2 (− 0,2212 cos θ 32 + 3,3186senθ 32 ) + 0,2212 × 1,05] = 0
 ∆Q
 2 = − 0,1 − V2 [1(− 0,9901senθ 2 − 9,9010cosθ 2 ) + 13,1696V 2 + 1,05(− 0,2212senθ 23 − 3,3186cosθ 23 )] = 0

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Solução Parcial Exercício VII.7 (continuação): Para este problema a matriz Jacobiana apresenta a
seguinte formação:
 ∂∆P2 ∂∆P2 ∂∆P2 
 
 ∂θ 2 ∂θ 3 ∂V2   H 22 H 23 N 22 
∂∆P3 ∂∆P3 ∂∆P3 
J =  = −  H 32 H 33 N 32 
∂θ 2 ∂θ 3 ∂V2 
   M 22 M 23 L22 
 ∂∆Q2 ∂∆Q2 ∂∆Q2 
 ∂θ 2 ∂θ 3 ∂V2 
∂P2
H 22 = = V2 ∑ Vm (− G2 msenθ 2 m + B2 m cosθ 2 m )
∂θ 2 m∈Ω2
= V2 [V1 (− G21senθ 21 + B21 cosθ 21 ) + V3 (− G23senθ 23 + B23 cosθ 23 )]
∂P2 ∂P3
H 23 = = V2V3 (G23senθ 23 − B23 cosθ 23 ) H 32 = = V3V2 (G32 senθ 32 − B32 cosθ 32 )
∂θ 3 ∂θ 2
∂P3
H 33 = = V3 ∑ Vm (− G3m senθ 3m + B3m cosθ 3m )
∂θ 3 m∈Ω3
= V3V2 (− G32 senθ 32 + B32 cosθ 32 )
∂P2
N 22 = = 2V 2 G 22 + ∑ V m (G 2 m cos θ 2 m + B2 m senθ 2 m )
∂V2 m∈Ω 2
= 2V 2 G 22 + V1 (G 21 cos θ 21 + B21senθ 21 ) + V3 (G 23 cos θ 23 + B23 senθ 23 )
∂P3
N 32 = = V3 (G32 cosθ 32 + B32 senθ 32 )
∂V2
∂Q2
M 22 = = V2∑ V m (G 2 m cos θ 2 m + B2 m senθ 2 m ) =
∂θ 2 m∈Ω 2
= V2 [V1 (G 21 cos θ 21 + B21senθ 21 ) + V3 (G 23 cos θ 23 + B 23 senθ 23 )]
∂Q2
M 23 = = V2V3 (− G23cosθ 23 − B23senθ 23 )
∂θ 3
∂Q2
L22 = = −2V2 B22 + Vm (G2 m senθ 2 m − B2 m cos θ 2 m ) =

∂V2 m∈Ω 2
= − 2V2 B22 + V1 (G21senθ12 − B21 cos θ 21 ) + V3 (G23senθ 23 − B23 cos θ 23 )

Considerando uma solução inicial θ 20 = θ 30 = 0 rad e V20 = 1 pu , obtém-se os resultados mostrados na


Tabela VII.24.

Tabela VII.24 – Resultados parciais do processo iterativo – fluxo de carga Newton.


θ 2ν ( )
∆P2 x
ν
∆θ 1ν
ν θ 3ν ( )
∆P3 x
ν
[ ( )]
− J x ν
[ ( )]
− J x
ν −1
∆θ 3ν
∆Q (x )
ν
V 2ν 2 ∆ V1ν

0 –0,1889 13,3855 − 3,4845 1,2003 0,1003 0,1008 − 0,0075 –0,0512


0 0 –0,3116 − 3,4845 3,4845 − 0,2323 0,1008 0,3879 − 0,0024 –0,1402
1 0,1159 − 1,2224 0,2323 12,9536 0,0077 0,0026 0,0765 0,0066

–0,0512 –0,0008 13,4171 − 3,5145 1,0215 0,1004 0,1016 − 0,0036 0,0001


1 –0,1402 0,0007 − 3,4730 3,4730 − 0,5410 0,1022 0,3916 0,0081 –0,0000
1,0066 –0,0277 − 1,4267 − 0,0788 13,1851 0,0115 0,0133 0,0755 –0,0021
–0,0511 –3×10-6
2 –0,1402 –1×10-6 — — —
1,0045 –5,8×10-5

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4450A-04 – Sistemas de Energia I

Solução Parcial Exercício VII.7 (continuação): Portanto, para uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 , a
solução do Subsistema 1 é dada por: V2 = 1,0045 pu , θ 2 = −0,0511 rad = −2,93o e θ 3 = −0,1402 rad = 8,03o .
Observar que após a 1a iteração os resíduos ∆P2 e ∆P3 já se encontravam dentro da tolerância desejada
( ∆P1
2 )
= − 0,0008 < ε P = 0,001 e ∆P31 = 0,0007 < ε P = 0,001 , mas foi necessário realizar mais uma iteração,
pois o resíduo ∆Q2 era superior.

Os resultados mostrados na Tabela VII.24, foram obtidos executando-se a seguinte rotina em MATLAB.
% disponivel em: http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/exercicio_VII_7.m
clear all;
saida = fopen('saida.txt','w');
p2esp = -0.20; q2esp = -0.10; p3esp = -0.3;
v1 = 1; t1 = 0; v2 = 1; t2 = 0; v3 = 1.05; t3 = 0;
b2sh = -0.05; b12sh = 0.1; b23sh = 0.0;
z12 = 0.01+0.1i; z23 = 0.02+0.3i;
y12 = 1/z12; g12=real(y12); b12 = imag(y12);
y23 = 1/z23; g23=real(y23); b23 = imag(y23);
G11 = g12; G12 = -g12; G13 = 0;
G21 = -g12; G22 = g12+g23; G23 = -g23;
G31 = 0; G32 = -g23; G33 = g23;
B11 = b12+b12sh; B12 = -b12; B13 = 0;
B21 = -b12; B22 = b12+b23+b2sh+b12sh+b23sh; B23 = -b23;
B31 = 0; B32 = -b23; B33 = b23+b23sh;
Y = [G11+B11*1i G12+B12*1i 0; G21+B21*1i G22+B22*1i G23+B23*1i; 0 G32+B32*1i G33+B33*1i];
x = [t2; t3; v2]; kmax = 50; tol = 1e-5;
fprintf(saida,'Resumo do processo iterativo --------------------------------------------------------
------------------');
fprintf(saida,'\n\nIter x g(x) -Jac -
inv(Jac) dx\n\n');
for k=0:kmax,
p2 = v2*(v1*(G21*cos(t2-t1)+B21*sin(t2-t1))+v2*G22+v3*(G23*cos(t2-t3)+B23*sin(t2-t3)));
p3 = v3*(v2*(G32*cos(t3-t2)+B32*sin(t3-t2))+G33*v3);
q2 = v2*(v1*(G21*sin(t2-t1)-B21*cos(t2-t1))-v2*B22+v3*(G23*sin(t2-t3)-B23*cos(t2-t3)));
dp2 = p2esp-p2; dp3 = p3esp-p3; dq2 = q2esp-q2;
gx = [dp2;dp3;dq2];
if max(abs(gx)) > tol
h22 = v2*(v1*(-G21*sin(t2-t1)+B21*cos(t2-t1))+v3*(-G23*sin(t2-t3)+B23*cos(t2-t3)));
h23 = v2*v3*(G23*sin(t2-t3)-B23*cos(t2-t3));
h32 = v3*v2*(G32*sin(t3-t2)-B32*cos(t3-t2));
h33 = v3*v2*(-G32*sin(t3-t2)+B32*cos(t3-t2));
n22 = 2*v2*G22+v1*(G21*cos(t2-t1)+B21*sin(t2-t1))+v3*(G23*cos(t2-t3)+B23*sin(t2-t3));
n32 = v3*(G32*cos(t3-t2)+B32*sin(t3-t2));
m22 = v2*(v1*(G21*cos(t2-t1)+B21*sin(t2-t1))+v3*(G23*cos(t2-t3)+B23*sin(t2-t3)));
m23 = -v2*v3*(G23*cos(t2-t3)+B23*sin(t2-t3));
l22 = -2*v2*B22+v1*(G21*sin(t2-t1)-B21*cos(t2-t1))+v3*(G23*sin(t2-t3)-B23*cos(t2-t3));
Jac = [h22 h23 n22; h32 h33 n32; m22 m23 l22]; Jac1 = inv(Jac);
dx = Jac1*gx;
y = [k x(1) gx(1) Jac(1,1) Jac(1,2) Jac(1,3) Jac1(1,1) Jac1(1,2) Jac1(1,3) dx(1)];
fprintf(saida,' %2.0f %8.4f %10.6f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f
%8.4f\n',y);
y=[x(2) gx(2) Jac(2,1) Jac(2,2) Jac(2,3) Jac1(2,1) Jac1(2,2) Jac1(2,3) dx(2)];
fprintf(saida,' %8.4f %10.6f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f
%8.4f\n',y);
y=[x(3) gx(3) Jac(3,1) Jac(3,2) Jac(3,3) Jac1(3,1) Jac1(3,2) Jac1(3,3) dx(3)];
fprintf(saida,' %8.4f %10.6f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f %8.4f
%8.4f\n\n',y);
else
y = [k x(1) gx(1) Jac(1,1) Jac(1,2) Jac(1,3)];
fprintf(saida,' %2.0f %8.4f %10.2e %8.4f %8.4f %8.4f\n',y);
y = [x(2) gx(2) Jac(2,1) Jac(2,2) Jac(2,3)];
fprintf(saida,' %8.4f %10.2e %8.4f %8.4f %8.4f\n',y);
y = [x(3) gx(3) Jac(3,1) Jac(3,2) Jac(3,3)];
fprintf(saida,' %8.4f %10.2e %8.4f %8.4f %8.4f\n\n',y);
break
end
x = x+dx; t2 = x(1); t3 = x(2); v2 = x(3);
end

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Solução Parcial Exercício VII.7 (continuação):


p1 = v1*(v1*G11+v2*(G12*cos(t1-t2)+B12*sin(t1-t2)));
q1 = v1*(-v1*B11+v2*(G12*sin(t1-t2)-B12*cos(t1-t2)));
q3 = v3*(v2*(G32*sin(t3-t2)-B32*cos(t3-t2))-B33*v3);
q2sh = v2*v2*b2sh;
fprintf(saida,'Injecoes calculadas ----------------------\n\n Barra P [pu] Q [pu] Qsh
[pu]\n');
fprintf(saida,' %4.0f %8.4f %8.4f %8.4f\n',1,p1,q1,0);
fprintf(saida,' %4.0f %8.4f %8.4f %8.4f\n',2,p2,q2,q2sh);
fprintf(saida,' %4.0f %8.4f %8.4f %8.4f\n',3,p3,q3,0);
p12 = v1*v1*g12-v1*v2*(g12*cos(t1-t2)+b12*sin(t1-t2));
q12 = -v1*v1*(b12+b12sh)-v1*v2*(g12*sin(t1-t2)-b12*cos(t1-t2));
p21 = v2*v2*g12-v2*v1*(g12*cos(t2-t1)+b12*sin(t2-t1));
q21 = -v2*v2*(b12+b12sh)-v2*v1*(g12*sin(t2-t1)-b12*cos(t2-t1));
q23 = -v2*v2*(b23+b23sh)-v2*v3*(g23*sin(t2-t3)-b23*cos(t2-t3));
p23 = v2*v2*g23-v2*v3*(g23*cos(t2-t3)+b23*sin(t2-t3));
p32 = v3*v3*g23-v3*v2*(g23*cos(t3-t2)+b23*sin(t3-t2));
q32 = -v3*v3*(b23+b23sh)-v3*v2*(g23*sin(t3-t2)-b23*cos(t3-t2));
pperdas12 = p12+p21; qperdas12 = q12+q21; pperdas23 = p23+p32; qperdas23 = q23+q32;
fprintf(saida,'\nFluxos e perdas nas linhas ---------------------------------\n\n De Para Pkm
[pu] Qkm [pu] Pperdas[pu] Qperdas[pu]\n');
fprintf(saida,' %4.0f %4.0f %8.4f %8.4f %8.4f
%8.4f\n',1,2,p12,q12,pperdas12,qperdas12);
fprintf(saida,' %4.0f %4.0f %8.4f %8.4f\n',2,1,p21,q21);
fprintf(saida,' %4.0f %4.0f %8.4f %8.4f %8.4f
%8.4f\n',2,3,p23,q23,pperdas23,qperdas23);
fprintf(saida,' %4.0f %4.0f %8.4f %8.4f\n',3,2,p32,q32);
fclose(saida);

Por outro lado, o Subsistema 2 corresponde ao cálculo da injeção de potência ativa e reativa na barra de
referência e de potência reativa da barra de tensão controlada:

 P1 = V1 Vm (G1m cosθ 1m + B1m senθ 1m )
∑ K 1 = {1,2}
 m∈K1
(S2) = Q1 = V1 Vm (G1m senθ1m − B1m cosθ1m )
∑ K 1 = {1,2}
 m∈K1
Q3 = V3 Vm (G3m senθ 3m − B3m cosθ 3m )
∑ K 3 = {2,3}

 m∈K 3

 P1 = V1 [V1G11 + V2 (G12 cos θ 12 + B12 senθ 12 )]


(S2) Q1 = V1 [− V1 B11 + V2 (G12 senθ12 − B12 cos θ12 )]
Q = V [V (G senθ − B cos θ ) − V B ]
 3 3 2 32 32 32 32 3 33
Substituindo os valores conhecidos, chega-se a:
 P1 = 0,5058 pu
(S2 ) Q1 = −0,1827 pu
Q = 0,1931 pu
 3
Após a determinação do estado da rede, os fluxos de potência nas linhas podem ser facilmente determinados,
utilizando-se as expressões (III.11) e (III.12), obtendo-se os resultados mostrados na Figura VII.12.
V 1 = 1 0o V 2 = 1,0045 − 2,93o V 3 = 1,05 − 8,03o

1 2 3

S 12 = 0,5049 − j 0,1827 S 21 = −0,5023 + j 0,0080 S 23 = 0,3023 − j 0,1584 S 32 = −0,3 + j 0,1931

S 1 = 0,5049 − j 0,1827 S 2 = −0,2 − j 0,1 S 3 = −0,3 + j 0,1931

sh
S 2 = − j 0,0505

jb2sh

Figura VII.12 – Resultado do fluxo de carga do sistema exemplo de 3 barras.

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Solução Parcial Exercício VII.7 (continuação): Os resultados anteriores podem ser obtidos por
intermédio de simulação computacional empregando, por exemplo, o programa PowerWorld Simulator7. Na
Figura VII.13 encontra-se o diagrama unifilar do circuito com o resultado do fluxo de carga, e quadros com a
matriz admitância da rede e com a matriz Jacobiana utilizada no fluxo de carga pelo método de Newton
(− J (x )) , calculada para a solução do fluxo de carga.

Figura VII.13 – Solução e matrizes admitância e Jacobiana do sistema exemplo de 3 barras.

Exercício VII.8 – Utilizando os métodos de Newton, Newton Desacoplado e Desacoplado Rápido,


determinar a solução do fluxo de carga da rede da Figura VII.14 cujos dados se encontram nas Tabelas
VII.25 e VII.26. Utilizar uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 .
1 2

V1 V2

S1 S2

3 4

V3 V4

S3 S4

Figura VII.14 – Sistema exemplo de 4 barras.

Tabela VII.25 – Dados das barras do sistema de 4 barras.


Barra Tipo V esp [pu] θ esp [rad] P esp [pu] Q esp [pu] bksh [pu]
1 PV 1,05 — 0,20 — —
2 Vθ 0,95 0 — — —
3 PQ — — – 0,30 – 0,10 —
4 PQ — — – 0,30 – 0,40 0,20

7
Comercializado pela PowerWorld Coporation (http://www.powerworld.com/). Arquivos de simulação disponíveis
em:
http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/ex_3barras.pwd e
http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/ex_3barras.pwb.

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Tabela VII.26 – Dados dos ramos do sistema de 4 barras.


sh
k m Z km [pu] bkm [pu]
1 2 0,02 + j0,1 0,18
1 3 0,01 + j0,05 —
2 3 0,04 + j0,2 0,09
2 4 j0,05 —

Solução Parcial Exercício VII.8: As admitâncias série dos ramos são dadas por:

≈ (1,9231 − j 9,6154 ) pu
1 1
Y 12 = =
Z 12 0,02 + j 0,1
≈ (3,8462 − j19,2308) pu
1 1
Y 13 = =
Z 13 0,01 + j 0,05

≈ (0,9615 − j 4,8077 ) pu
1 1
Y 23 = =
Z 23 0, 04 + j 0,2

= (− j 20 ) pu
1 1
Y 24 = =
Z 24 j 0,05

sendo a matriz admitância dada por:

 5,7693 + j 28,6662 − 1,9231 + j9,6154 − 3,8462 + j19,2308 0 


 − 1,9231 + j 9,6154 2,8846 − j 34,1531 − 0,9615 + j 4,8077 j 20 
Y =
 − 3,8462 + j19,2308 − 0,9615 + j 4,8077 4,8077 − j 23,9485 0 
 
 0 j 20 0 − j19,80

As incógnitas e equações do Subsistema 1 são as seguintes:

θ1 
θ 
 3
x = θ 4 
 
V3 
V4 

∆P1 = P1esp − V1 [V1G11 + V2 (G12 cos θ12 + B12 sin θ12 ) + V3 (G13 cos θ13 + B13 sin θ13 )] = 0

∆P3 = P3esp − V3 [V1 (G31 cos θ31 + B31 sin θ31 ) + V2 (G32 cos θ32 + B32 sin θ32 ) + V3G33 ] = 0
(S1) = ∆P4 = P4esp − V4 [V2 (G42 cos θ 42 + B42 sin θ 42 ) + V4 G44 ] = 0
∆Q
 3 = Q3esp − V3 [V1 (G31senθ31 − B31 cos θ31 ) + V2 (G32 senθ32 − B32 cos θ32 ) − V3 B33 ] = 0
∆Q4 = Q4esp − V4 [V2 (G42 senθ 42 − B42 cos θ 42 ) − V4 B44 ] = 0

Substituindo os valores conhecidos, tem-se o seguinte sistema de equações:

∆P2 = − 0,2 − V 2 [1(− 0,9901 cos θ 2 + 9,9010senθ 2 ) + 1,2113V2 + 1,05(− 0,2212 cos θ 23 + 3,3186senθ 23 )] = 0

(S1) ∆P3 = − 0,3 − 1,05[V 2 (− 0,2212 cos θ 32 + 3,3186senθ 32 ) + 0,2212 × 1,05] = 0
 ∆Q
 2 = − 0,1 − V2 [1(− 0,9901senθ 2 − 9,9010cosθ 2 ) + 13,1696V 2 + 1,05(− 0,2212senθ 23 − 3,3186cosθ 23 )] = 0

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Solução Parcial Exercício VII.8 (continuação): Para este problema a matriz Jacobiana apresenta a
seguinte formação:

 ∂∆P1 ∂∆P1 ∂∆P1 ∂∆P1 ∂∆P1 


 ∂θ ∂θ 3 ∂θ 4 ∂V3 ∂V4 
 1 
 ∂∆P3 ∂∆P3 ∂∆P3 ∂∆P3 ∂∆P3   H 11 H 13 0 N13 0 
 ∂θ1 ∂θ 3 ∂θ 4 ∂V4  H
 ∂∆P
∂V3 H 33 0 N 33 0 
∂∆P4 ∂∆P4 ∂∆P4 ∂∆P4   31
J = 4
 = − 0 0 H 44 0 N 44 
 ∂θ 1 ∂θ 3 ∂θ 4 ∂V3 ∂V4   
 ∂∆Q3 ∂∆Q3 ∂∆Q3 ∂∆Q3 ∂∆Q3   M 31 M 33 0 L33 0 
   0 L44 
 ∂θ1 ∂θ 3 ∂θ 4 ∂V3 ∂V4  0 M 44 0
 ∂∆Q4 ∂∆Q4 ∂∆Q4 ∂∆Q4 ∂∆Q4 
 ∂θ ∂θ 3 ∂θ 4 ∂V3 ∂V4 
 1

∂P1
H11 = = V1 Vm (− G1m senθ1m + B1m cosθ1m )

∂θ1 m∈Ω1
= V1 [V2 (− G12senθ12 + B12 cosθ12 ) + V3 (− G13senθ13 + B13 cosθ13 )]
∂P1 ∂P3
H13 = = V1V3 (G13senθ13 − B13 cosθ13 ) H 31 = = V3V1 (G31senθ 31 − B31 cosθ 31 )
∂θ 3 ∂θ1
∂P3
H 33 = = V3 Vm (− G3m senθ 3m + B3m cosθ 3m )

∂θ 3 m∈Ω3
= V3 [V1 (− G31senθ 31 + B31 cosθ 31 ) + V2 (− G32 senθ 32 + B32 cosθ 32 )]
∂P4
H 44 = = V4 Vm (− G4 m senθ 4 m + B4 m cosθ 4 m ) = V4V2 (− G42senθ 42 + B42 cosθ 42 )

∂θ 4 m∈Ω4

∂P1
N13 = = V1 (G13cosθ13 + B13senθ13 )
∂V3
∂P3
N 33 = = 2V3G33 + Vm (G3m cosθ 3m + B3m senθ 3m )

∂V3 m∈Ω3
= 2V3 G33 + V1 (G31 cosθ 31 + B31senθ 31 ) + V2 (G32 cosθ 32 + B32 senθ 32 )
∂P4
N 44 = = 2V4 G44 + ∑ Vm (G4 m cosθ 4 m + B4 m senθ 4 m ) = 2V4 G44 + V2 (G42 cosθ 42 + B42 senθ 42 )
∂V4 m∈Ω 4

∂Q3
M 31 = = V3V1 (− G31cosθ 31 − B31senθ 31 )
∂θ1
∂Q3
M 33 = = V3 ∑Vm (G3m cosθ 3m + B3m senθ 3m ) =
∂θ 3 m∈Ω 3
= V3 [V1 (G31 cosθ 31 + B31senθ 31 ) + V2 (G32 cosθ 32 + B32 senθ 32 )]
∂Q4
M 44 = = V4 ∑ Vm (G4 m cosθ 4 m + B4 m senθ 4 m ) = V4V2 (G42 cosθ 42 + B42 senθ 42 )
∂θ 4 m∈Ω 4

∂Q3
L33 = = −2V3 B33 + ∑ Vm (G3m senθ 3m − B3m cosθ 3m ) =
∂V3 m∈Ω3
= − 2V3 B33 + V1 (G31senθ 31 − B31 cosθ 31 ) + V2 (G32 senθ 32 − B32 cosθ 32 )
∂Q4
L44 = = −2V4 B44 + ∑ Vm (G4 m senθ 4 m − B4 m cosθ 4 m ) = − 2V4 B44 + V2 (G42 senθ 42 − B42 cosθ 42 )
∂V4 m∈Ω 4

Considerando uma solução inicial θ10 = θ 30 = θ 40 = 0 rad e V30 = V40 = 1 pu , obtém-se os resultados
mostrados na Tabela VII.27.

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Solução Parcial Exercício VII.8 (continuação):

Tabela VII.27 – Resultados parciais do processo iterativo – fluxo de carga Newton.


θ 1ν ( )
∆P1 x
ν
∆θ 1ν
θ 3ν ( )
∆P3 x ν ∆θ 3ν
ν θ 4ν ( )
∆ P4 xν [ ( )]
− J x
ν
∆θ 4ν
∆ Q (x )
ν ν
V3 ∆V3ν
∆Q (x )
3
ν
V 4ν 4 ∆V 4ν
29,7837 − 20,1923 0 − 4,0385 0
0 –0,6038 –0,0544
0 –0,1558 − 20,1923 24,7596 0 4,6635 0 –0,0560
0 0 –0,3000 0 0 19,0000 0 0 –0,0158
1 0,7111 4,0385 − 4,9519 0 23,1373 0 0,0283
1 –1,2000 –0,0583
0 0 0 0 20,6000
30,2422 − 20,7693 0 − 4,0066 0
–0,0544 –0,0040 –0,0002
–0,0560 0,0027 − 20,7562 25,3926 0 4,6492 0 0,0002
1 –0,0158 –0,0175 0 0 17,8910 0 − 0,3000 –0,0010
1,0283 –0,0281 4,1853 − 5,3858 0 24,5551 0 –0,0011
0,9414 –0,0694 –0,0038
0 0 − 0,2825 0 18,2956
–0,0545 7,46×10-6
–0,0558 2,22×10-6
2 –0,0168 –7,55×10-5 — —
1,0272 –3,08×10-5
0,9379 –2,96×10-4

Portanto, para uma tolerância ε P = ε Q = 0,001 , a solução do Subsistema 1 é dada por: V3 = 1,0272 pu ,
V4 = 0,9379 pu , θ 1 = −0,0545 rad = −3,13o , θ 3 = −0,0558 rad = −3,20 o e θ 4 = −0,0168 rad = −0,96 o .

Os resultados mostrados na Tabela VII.27, foram obtidos executando-se a rotina em MATLAB, disponível
em http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/exercicio_VII_8.m.

Por outro lado, o Subsistema 2 corresponde ao cálculo da injeção de potência ativa e reativa na barra de
referência e a injeção de potência reativa na barra de tensão controlada:


 P2

= V2 ∑V (G
m∈K 2
m 2m cosθ 2m + B2 m senθ 2 m ) K 2 = {1,2,3,4}

(S2) = Q2 = V2 ∑V (G m θ
2 m sen 2 m − B2 m cosθ 2 m ) K 2 = {1,2,3,4}
 m∈K 2
Q1

= V1 ∑V (G m θ
1m sen 1m − B1m cosθ1m ) K1 = {1,2,3}
 m∈K1

 P2 = V2 [V1 (G21 cosθ 21 + B21senθ 21 ) + V2 G22 + V3 (G32 cosθ 32 + B32senθ 32 ) + V4 (G42 cosθ 42 + B42senθ 42 )]

(S2 ) Q2 = V2 [V1 (G21senθ 21 − B21cosθ 21 ) − V2 B22 + V3 (G32senθ 32 − B32 cosθ 32 ) + V4 (G42senθ 42 − B42 cosθ 42 )]
Q = V [− V B + V (G senθ − B cosθ ) + V (G senθ − B cosθ )]
 1 1 1 11 2 12 12 12 12 3 13 13 13 13

Substituindo os valores conhecidos, chega-se a:

 P2 = 0,8356 pu

(S2) Q2 = −1,4129 pu
Q = 1,3858 pu
 1

Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 46 de 47
4450A-04 – Sistemas de Energia I

Solução Parcial Exercício VII.8 (continuação): Os resultados anteriores podem ser obtidos por
intermédio de simulação computacional empregando, por exemplo, o programa PowerWorld Simulator8. Na
Figura VII.15 encontra-se o diagrama unifilar do circuito com o resultado do fluxo de carga, e quadros com a
matriz admitância da rede e com a matriz Jacobiana calculada para a solução do fluxo de carga.

Figura VII.15 – Solução e matrizes admitância e Jacobiana do sistema exemplo de 4 barras.

8
Arquivos de simulação disponíveis em:
http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/ex_4barras.pwd e
http://slhaffner.phpnet.us/sistemas_de_energia_1/ex_4barras.pwb.

Fluxo de carga não linear: algoritmos básicos – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 47 de 47
Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

VIII Fluxo de carga linearizado

Em função da grande simplificação proporcionada nas equações do fluxo de carga, os modelos linearizados
apresentam grande utilidade no planejamento da operação e da expansão dos sistemas elétricos. Tais
modelos se baseiam no acoplamento entre a potência ativa (P) e o ângulo do fasor tensão (θ) e apresenta
bons resultados para níveis elevados de tensão, característicos dos sistemas elétricos de transmissão e
subtransmissão.
Nos sistemas elétricos em alta e extra alta tensão, como a magnitude do fasor tensão não varia muito entre
barras vizinhas, o fluxo de potência ativa é aproximadamente proporcional à abertura angular existente e
desloca-se no sentido dos ângulos menores. Deste modo, a relação entre os fluxos de potência ativa e as
aberturas angulares é similar a existente entre os fluxos de corrente e as tensões nodais de um circuito em
corrente contínua no qual aplica-se a Lei de Ohm. Surge daí a nomenclatura fluxo de carga CC para a versão
linearizada do fluxo de carga.

VIII.1 Linearização

Para uma linha de transmissão, o fluxo de potência ativa entre duas barras é dado por:

Pkm = Vk2 g km − Vk Vm (g km cosθ km + bkm sen θ km )

Pmk = Vm2 g km − VmVk ( g km cosθ mk + bkm sen θ mk ) = Vm2 g km − Vk Vm ( g km cosθ km − bkm sen θ km )

Assim, as perdas são dadas por:


( ) (
Pkm + Pmk = Vk2 + Vm2 g km − 2Vk Vm g km cosθ km = g km Vk2 + Vm2 − 2Vk Vm cosθ km )
Se forem desprezados os termos correspondentes às perdas, chega-se a:
Pkm = −Vk Vm bkm sen θ km

Pmk = −VmVk bkm sen θ mk = Vk Vm bkm sen θ km


Introduzindo as seguintes aproximações:
Vk ≈ Vm ≈ 1 pu

sen θ km ≈ θ km

−1
bkm ≈
x km
o fluxo de potência entre duas barras pode ser aproximado por:

1 θ −θ m
Pkm = θ km = k
xkm x km

1 θ −θ
Pmk = θ mk = m k
x km x km

Fluxo de carga linearizado – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 1 de 7


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Para um transformador em fase, o fluxo de potência ativa entre duas barras é dado por:

Pkm = (a kmVk ) g km − (a kmVk )Vm ( g km cosθ km + bkm sen θ km )


2

Pmk = Vm2 g km − Vm (a kmVk )(g km cosθ mk + bkm sen θ mk ) = Vm2 g km − (a kmVk )Vm ( g km cosθ km − bkm sen θ km )

Assim, as perdas são dadas por:


( ) (
Pkm + Pmk = (a kmVk ) + Vm2 g km − 2(a kmVk )Vm g km cosθ km = g km (a kmVk ) + Vm2 − 2(a kmVk )Vm cosθ km
2 2
)
Se forem desprezados os termos correspondentes às perdas, chega-se a:
Pkm = −(a kmVk )Vm bkm sen θ km

Pmk = −(a kmVk )Vm bkm sen θ mk = (a kmVk )Vm bkm sen θ km

 −1 
Introduzindo as mesmas aproximações anteriores Vk ≈ Vm ≈ 1 pu; sen θ km ≈ θ km ; bkm ≈  , o fluxo de
 xkm 
potência entre duas barras pode ser aproximado por:

a km θ −θm
Pkm = θ km = akm k
xkm xkm

a km θ −θ
Pmk = θ mk = akm m k
xkm x km

Adicionalmente, pode-se considerar a km ≈ 1 o que torna a expressão igual a das linhas de transmissão.
Para um defasador puro, o fluxo de potência ativa entre duas barras é dado por:

Pkm = Vk2 g km − Vk Vm [g km cos(θ km + ϕ km ) + bkm sen(θ km + ϕ km )]

Pmk = Vm2 g km − VmVk [g km cos(θ mk + ϕ mk ) + bkm sen (θ mk + ϕ mk )]

Assim, as perdas são dadas por:


( ) [
Pkm + Pmk = Vk2 + Vm2 g km − 2Vk Vm g km cos(θ km + ϕ km ) = g km Vk2 + Vm2 − 2Vk Vm cos(θ km + ϕ km ) ]
Desprezados os termos correspondentes às perdas e introduzindo algumas aproximações
 −1 
Vk ≈ Vm ≈ 1 pu; bkm ≈  , o fluxo de potência entre duas barras pode ser aproximado por:
 x km 

sen (θ km + ϕ km )
1
Pkm =
x km

sen(θ mk + ϕ mk )
1
Pmk =
x km

Fluxo de carga linearizado – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 2 de 7


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Mesmo que os ângulos θ mk e ϕ mk possam assumir valores elevados, a combinação θ mk + ϕ mk apresentará


valores semelhantes as aberturas observadas nas linhas de transmissão e transformadores em fase, ou seja, é
válida a aproximação sen (θ mk + ϕ mk ) ≈ θ mk + ϕ mk . Assim o fluxo de potência se simplifica para:
θ km + ϕ km θ km ϕ km
Pkm = = +
xkm xkm x km

θ mk + ϕ mk θ km + ϕ km θ ϕ 
Pmk = =− = − km + km 
x km x km  x km x km 

Nas expressões anteriores, observar que existem duas parcelas independentes: uma depende da diferença
de fase entre as tensões nodais, θ mk , e outra da abertura angular do defasador ϕ mk . No caso da abertura
angular do defasador ser considerada constante, o fluxo de potência relativo a esta parcela pode ser
−1
representado por injeções adicionais nas suas barras terminais: uma carga adicional de x km ϕ km na barra k e
−1
uma geração adicional de x km ϕ km na barra m.

VIII.2 Formulação matricial

Para uma rede de transmissão sem transformadores em fase ou defasadores os fluxos de potência ativa são
dados por:
1
Pkm = θ km
xkm
Para satisfazer a Primeira Lei de Kirchhoff, a injeção de potência ativa na barra k tem de ser igual à soma dos
fluxos que saem da barra, ou seja:
1 1 −1
Pk = ∑
m∈Ω k xkm
θ km = ∑
m∈Ω k x km
θk + ∑
m∈Ω k x km
θm k = 1,2,L, NB

cuja representação matricial é dada por:


P = B ′θ
onde B ′ é uma matriz que possui a mesma estrutura da matriz admitância nodal, com seus elementos dados
por:
Bkk

′ =
m∈Ω k
∑−1
xkm
 −1
B′  kl
B ′ = − xkm l ∈ Ωk

Bkl′ = 0 l ∉ Ωk

sendo xkm a reatância equivalente de todas as linhas em paralelo que existem no ramo k-m.
Como as perdas foram desprezadas, a soma das componentes de P é nula, ou seja, a injeção de potência em
qualquer barra do sistema pode ser determinada a partir da soma das injeções das demais. Da mesma forma,
uma linha qualquer da matriz B ′ pode ser obtida como combinação linear das demais o que a torna singular.
Tal problema é contornado adotando-se uma barra como referência angular (para a qual o ângulo de fase é
conhecido) e eliminando-se sua respectivas linha e coluna na matriz B ′ . O sistema resultante tem dimensão
NB − 1 , é não singular e pode ser resolvido para θ a partir da definição das injeções líquidas especificadas
P.

Fluxo de carga linearizado – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 3 de 7


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

A inclusão de transformadores em fase e defasadores seguem o seguinte princípio. A regra de formação da


matriz B ′ permanece inalterada, ou seja, utiliza-se o inverso da reatância série. A inclusão de defasadores se
faz através de injeções adicionais no vetor das injeções líquidas P .

Exemplo VIII.1 – Considere o sistema de 4 barras, cujos dados encontram-se na Figura VIII.1 e nas Tabelas
VIII.1 e VIII.2. Utilizando o modelo linearizado, determinar o estado da rede e comparar com a solução
obtida para o modelo completo.

1 2

3 4
G

Figura VIII.1 – Sistema elétrico exemplo de 4 barras.

Tabela VIII.1 – Dados das linhas.


Impedância série
Linha
r [pu] x [pu]
1–2 0,01008 0,05040
1–3 0,00744 0,03720
2–4 0,00744 0,03720
3–4 0,01272 0,06360

Tabela VIII.2 – Dados das barras.


Geração Carga
Barra V [pu] θ [graus]
P [MW] Q [Mvar] P [MW] Q [Mvar]
1 1,00 0 – – 50 30,99
2 – – 0 0 170 105,35
3 – – 0 0 200 123,94
4 1,02 – 318 – 80 49,58

Solução Exemplo VIII.1: Para o sistema de 4 barras a matriz B ′ é dada por:


 1 1 −1 −1 
 0,05040 + 0,03720 0,05040 0,03720
0 
 
 −1 1 1 −1 
+ 0
 0,05040 0,05040 0,03720 0,03720 
B′ =  
−1 1 1 −1
 0 + 
 0,03720 0,03720 0,06360 0,06360 
 −1 −1 1 1 
0 +
 0,03720 0,06360 0,03720 0,06360 

Fluxo de carga linearizado – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 4 de 7


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Solução Exemplo VIII.1 (continuação):


 46,72 − 19,84 − 26,88 0 
 
 − 19,84 46,72 0 − 26,88
B′ =  
− 26,88 0 42,60 − 15,72 
 
 0 − 26,88 − 15,72 42,60 

Considerando a Barra 1 como referência angular θ 1 = 0 e o sistema a ser resolvido se resume a:

 − 1,70   46,72 0 − 26,88 θ 2 


  
P =  − 2,00  = B′θ =  0 42,60 − 15,72  ⋅ θ 3 
3,18 − 0,80 − 26,88 − 15,72 42,60  θ 4 

Resolvendo para θ tem-se:


−1
θ 2   46,72 0 − 26,88  − 1,70  0,0369 0,0100 0,0270  − 1,70 
θ  =  0 42,60 − 15,72   − 2,00  = 0,0100 0,0299 0,0173 ⋅ − 2,00
 3       
θ 4  − 26,88 − 15,72 42,60  3,18 − 0,80 0,0270 0,0173 0,0469  2,38 

θ 2  − 0,0185 rad   − 1,0590 


o

θ  = − 0,0355 rad  = − 2,0320 o 


 3    
θ 4   0,0311 rad   1,7830 o 
 

Observar que a solução obtida é bastante próxima da solução do fluxo de carga que é dada por:

θ 2  − 0,976 
o

   
θ 3  =  − 1,872 
o

   
θ 4   1,523 
o

VIII.3 Representação das perdas no modelo linearizado

A expressão das perdas de uma linha de transmissão é dada por:


(
Pkm + Pmk = g km Vk2 + Vm2 − 2Vk Vm cosθ km )
Considerando-se as tensões próximas a 1,0 pu, Vk = Vm = 1,0 pu , e aproximando-se cosθ km pelos dois
θ km
2
primeiros termos da série de Taylor, cos θ km ≈ 1 − , tem-se:
2
  θ 2 
Pkm + Pmk = g km 1 + 1 − 21 − km   = g kmθ km
2
 2 
  
Tais perdas são calculadas em cada uma das linhas e distribuídas, metade para cada uma das barras
terminais, sendo acrescentadas como cargas adicionais.

Fluxo de carga linearizado – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 5 de 7


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Assim, para a resolução do modelo linearizado considerando as perdas, pode-se adotar o seguinte
procedimento:
1. Calcular a solução temporária sem considerar as perdas P = B ′θ
tmp
.

2. Calcular as perdas aproximadas nos ramos através da expressão Pkmperdas ≈ g km θ km


tmp
e acrescentá-la( ) 2

como cargas adicionais nas barras extremas determinando novo vetor de injeções líquidas
P−P
perdas
.

3. Recalcular os ângulos considerando a injeção corrigida P − P = B ′θ .


perdas

Exemplo VIII.2 – Considere o sistema de 4 barras empregado no Exemplo VIII.1. Determinar o estado da
rede utilizando o modelo linearizado com perdas.

Solução Exemplo VIII.2: Da solução do Exemplo VIII.1 tem-se:

θ 2  − 0,0185 rad   − 1,0590 


o

 
θ tmp = θ 3  = − 0,0355 rad  =  − 2,0320o 
θ 4   0,0311 rad   1,7830o 
 
As perdas nos ramos são dadas por:
• Linha 1-2:

( )
P12perdas ≈ g12 θ12tmp
2
=
0,01008
0,010082 + 0,05040 2
(0 − (− 0,0185))2 = 3,8156 ⋅ 3,4225 × 10 −4 = 0,0013
• Linha 1-3:

( )
P13perdas ≈ g13 θ13tmp
2
=
0,00744
0,00744 2 + 0,03720 2
(0 − (− 0,0355))2 = 5,1696 ⋅ 12,6025 × 10 −4 = 0,0065
• Linha 2-4:

( )
P24perdas ≈ g 24 θ 24
tmp 2
=
0,00744
0,00744 + 0,03720
2 2
(− 0,0185 − (0,0311))2 = 5,1696 ⋅ 24,6016 × 10 −4 = 0,0127
• Linha 3-4:

( )
P34perdas ≈ g 34 θ 34
tmp 2
=
0,01272
0,01272 + 0,06360
2 2
(− 0,0355 − (0,0311))2 = 3,0237 ⋅ 44,3556 × 10 −4 = 0,0134

Assim, as injeções corrigidas são dadas por:


  P12perdas P24perdas   
− −    0,0013 0,0127  
 1, 70  2 + 2    − 1,70 −  + 
  
  2 2    − 1,7070 
 P perdas perdas
 
  = − 2,00 − 
P 0,0065 0,0134    
P−P = − 2,00 −  13 + 34 +   =  − 2,0100
perdas
   2 2 
  2 2 
   2,3670 
  P24
perdas perdas
 
  0 , 0127 0, 0134   
 2,38 −  P
  2,38 −  + 
 2 + 2   
34
  2 2  
  

Fluxo de carga linearizado – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 6 de 7


Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente

Solução Exemplo VIII.2 (continuação):


−1
θ 2   46,72 0 − 26,88  − 1,7070  0,0369 0,0100 0,0270  − 1,7070 
θ  =  0 42,60 − 15,72  − 2,0100 = 0,0100 0,0299 0,0173 ⋅ − 2,0100
 3       
θ 4  − 26,88 − 15,72 42,60   2,3670  0,0270 0,0173 0,0469  2,3670 

θ 2  − 0,0192 rad   − 1,1001 


o

θ  =  − 0,0361 rad  = − 2,0684 o 


 3    
θ 4   0,0301 rad   1,7273o 
 

Fluxo de carga linearizado – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 7 de 7

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