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Entrevista // Bresser-Pereira

Desafios
para o Brasil
pós-Reforma
Gerencial

O s e n h o r e s t eve à f r e n t e d a
Reforma do Aparelho do Estado
na década de 90, que surgia como
resposta às sucessivas crises polí-
ticas e econômicas pelas quais o
país passava. Vinte anos depois,
o país enfrenta novamente crises
econômicas e políticas. O senhor
considera que o Estado brasileiro
precisará de uma nova reforma
para superar o cenário atual?
O meu entendimento é que se
você trabalha em um nível de admi-
nistração relativamente alto só exis-
tem duas reformas administrativas
num Estado capitalista. Quer dizer,
o Estado capitalista nasce patrimo-
nialista, com os monarcas absolutos
associados aos mercadores, que de-
pois se transformam em industriais,
e os funcionários públicos. E a sua
corte que era formada não só de
Bresser-Pereira militares, mas de burocratas que ad-
Economista, cientista político e social ministravam o patrimônio público
como se fosse deles também. Isso é o
Economista, cientista político e social, além de ser formado em Administra- patrimonialismo. Aí vem a primeira
ção de Empresas e em Direito, Luiz Carlos Bresser-Pereira, foi Ministro da Fazen- reforma que é a reforma burocráti-
da em 1987 e Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE) ca. Em inglês é a civil service reform.
de 1995-1998, período em que foi responsável pela condução da reforma ge- Em francês era la réform de la fonction
publique. Em português seria a refor-
rencial no Estado brasileiro. Em entrevista à Revista do TCU, Bresser-Pereira faz
ma da Administração Pública. Ou
um balanço do legado da reforma gerencial à eficiência do serviço público
reforma burocrática. Que foi muito
brasileiro e propõe ações essenciais para que o país tenha um crescimento importante. É a reforma que depois
consistente. Aborda também o papel dos tribunais de contas na busca por Max Weber analisou. E, aí a partir
uma maior eficiência no setor público. dos anos 80 do século XX começa

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a segunda reforma, que é a reforma é uma coisa que as empresas usam perdeu o status e o foco foi diminuí-
gerencial na Inglaterra, na Austrália, amplamente. Agora, o segundo do. Mas, de qualquer forma, eu acho
Nova Zelândia. O Brasil é um dos ramo da coisa é que, para tornar mais que está acontecendo, porque eu
primeiros que começa. Hoje está em eficiente, eu fiz aquela classificação digo também, isso aconteceu muito
todo o mundo. Que é uma reforma de entidades públicas estatais, pú- nos estados e a coisa mais impres-
agora para tornar mais eficientes blicas não estatais, as exclusivas de sionante foi a mudança na acade-
principalmente os grandes serviços Estado e as não exclusivas de Estado. mia. A quantidade de papers e teses,
públicos do Estado. Agora, quando Então eu disse: atividades que são dissertações de mestrado, teses de
eu tenho um sistema universal de não-exclusivas de Estado, não há ra- doutorado sobre a reforma é uma
saúde, um sistema de educação, um zão para que elas fiquem dentro do coisa impressionante.
sistema de previdência, ou um siste- Estado, elas podem ser executadas
ma de arrecadação de impostos, aí por organizações sociais. Poderão ser Quais propostas o senhor acredita
eu preciso de eficiência. São grandes bem mais eficientes, mais flexíveis, que ajudaram na melhoria da efi-
serviços que envolvem muita gente. se então forem transformadas em ciência da Administração Pública?
organizações sociais. A FGV de São Paulo tem um cur-
Quais os objetivos fundamentais so de Administração Pública desde
da reforma gerencial? Como o senhor avalia o cumpri- 1970, de graduação, e desde meados
O objetivo fundamental da refor- mento desses objetivos no decor- dos anos 1980, de pós-graduação. Eu
ma gerencial de 1995 era mudar um rer dos anos? fui coordenador e reformei todo esse
pouco a lógica da gestão por procedi- Tudo isso tem andado bem mais curso logo depois que eu fui ministro
mentos para uma gestão por resulta- devagar do que eu gostaria. Assim da Fazenda em 1988 e 89. E eu dizia
dos e por competição administrativa. que eu saí, eu cometi um erro. aos meus colegas: a gente tem muito
Competição administrativa por ex- Quando chegou no final, em janeiro pouco aluno. Quer dizer, todo mun-
celência. Quer dizer, é simplesmen- de 2008, quer dizer, no último ano do quer ser aluno de Administração
te o TCU que está controlando, por dos quatro anos em que eu fui minis- de Empresas e ninguém quer ser
exemplo, o ministro da Previdência, tro, eu disse para mim mesmo o que aluno de Administração Pública. Já
que está controlando as agências do depois eu falei para o presidente: que sei qual é o motivo, é que não tem
INSS, comparar as agências entre eu achava que a reforma estava para concurso público. Quer dizer: esse
elas e, dadas certas condições, ver ser aprovada no Congresso em abril, pessoal não faz concurso, não se
os parâmetros e as metas. Os indica- e as ideias novas já estavam partilha- cria demanda regular para os alunos.
dores nascem da comparação entre das, e as pessoas estavam sabendo, Então, quando eu cheguei aqui no
elas. O que é muito melhor do que de forma que, agora, o fundamental Ministério da Fazenda, eu falei: ago-
simplesmente você impor. Mas a era implementar a reforma. E para ra eu quero a minha portaria. Eu que-
competição por excelência é uma implementar a reforma, o MARE ro que todas as carreiras de Estado
coisa que os burocratas não gostam, não tinha poder, era um ministério tenham concursos todos os anos e
foi a coisa que eu mais tive dificul- muito pequeno. Nos Estados Unidos que esses concursos sejam seletivos
dade. Porque eu propus três coisas existe um office e eu fiquei muito ao invés de aprovativos. Cheguei e
na mudança da gestão. Ao invés de impressionado porque quando eu inventei a fórmula do número de
uma análise de supervisão de regu- fui conversar com gente de lá ele vagas do concurso, a fórmula do
lamentos físicos, supervisão direta virou para mim e disse: sabe qual é edital. Você pega o número de vagas
e auditoria rígida por processos, eu a fonte do meu poder? Eu falei: não. que a carreira precisa: suponhamos
defendia uma administração por re- Ele respondeu: aqui do lado. Era o que sejam 1500 servidores para uma
sultados. Todo mundo gostou disso. escritório do chefe do orçamento. dada carreira. Daí você divide 1500
Controle social, todo mundo gostou Então eu falei: é melhor colocar no pela quantidade média de anos que
disso. E quer dizer competição ad- Ministério do Planejamento, que o servidor permanece na carreira. O
ministrativa por excelência. Depois, eles têm orçamento. Hoje eu acho resultado seria a quantidade de vagas
eles começaram a entender, porque que foi um erro, porque o ministro que deveria abrir todos os anos. Mas
realmente a competição não está na do planejamento nunca se interes- isso te dá o número de servidores
lógica do servidor público. Mas a sou pela Administração Pública e a para que você tenha naquela carreira
competição é fundamental. E essa Administração Pública foi demovida, todas as idades equilibradas e uma

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oxigenação permanente. Depois, teto, que congela a despesa pública.


eu defendia também o salário dos A população brasileira vai continuar
servidores altos. Que naquela época
estavam muito baixos. Então, essas
“Você vai tendo sempre crescendo, o PIB vai continuar muito
modestamente crescendo, porque
que aperfeiçoar, são
duas coisas: os concursos regulares e cresce muito pouco, mas vai continuar
o aumento dos salários. novos problemas, novas crescendo, e os serviços para educa-
imaginações, mas o ção, saúde, previdência, assistência
Nesse novo contexto, os pressu- social vão encolhendo. É isso que está
postos da reforma gerencial con- problema fundamental acontecendo. Então eu fracassei. Mas
tinuam válidos ou a Administração continua a ser o de tornar eu estou muito feliz com a reforma
Pública precisa buscar novas bases que eu fiz, que eu ajudei a fazer, e afi-
para se reconfigurar? mais eficiente toda a nal eu digo que conquistei o coração
Na parte da gestão continua válido. Administração Pública e as mentes da alta Administração
Você vai tendo sempre que aperfeiço- Pública brasileira.
ar, são novos problemas, novas imagi-
através de mudanças nos
nações, mas o problema fundamental mecanismos de gestão.” Quais os principais avanços o Brasil
continua a ser o de tornar mais eficien- obteve em termos de eficiência
te toda a Administração Pública atra- regressivos, só que o Estado é grande. desde a reforma gerencial?
vés de mudanças nos mecanismos de E especialmente na área social. Em Eu acho que os avanços são esses,
gestão. Qual era o meu objetivo funda- 1985, a área social representava entre quer dizer, hoje se administra muito
mental em relação a tudo isso? Tornar 11 e 12% do PIB. E hoje representa 23, mais por resultados do que antes,
mais eficiente o aparelho do Estado, 24%. Então dobrou, mas eu preciso hoje o controle social está melhor
mas por quê? Para mim, o Estado é o legitimar isso, ou seja, eu preciso de- do que antes e esse controle social
instrumento de ação coletiva funda- fender esse Estado do bem-estar social já estava nascendo na sociedade.
mental da nação brasileira. Isso que é o contra aqueles senhores que gritam: Quer dizer, isso melhorou muito. As
Estado. Então, é através do Estado que “não quero colocar dinheiro bom em organizações sociais, especialmen-
eu busco os grandes objetivos políticos cima de dinheiro ruim. É desnecessá- te em São Paulo, são muito bem-
das sociedades modernas. A liberdade, rio. Todo servidor público é corrupto -sucedidas. Tanto na área hospitalar
o desenvolvimento econômico, a justi- e ineficiente”. Para mostrar e dizer que quanto na área da cultura. Em outros
ça social, a proteção do meio ambiente eles não têm razão, que isso é falso, lugares não foi tão bem, porque eles
e a segurança. Esses são os cinco obje- eu preciso mostrar que o Estado, ao não são nenhuma solução mágica.
tivos. Pois bem, no que é que eu estava prestar esses grandes serviços sociais, Simplesmente é um mecanismo que
interessado naquela época e continuo é eficiente. É dinheiro bom que eu po- se for bem administrado e bem audi-
interessado hoje? Eu estava interes- nho nisso. Então essa é a lógica. E aí eu tado funciona melhor do que antes.
sado principalmente em aumentar vou dizer que parece que eu fracassei.
o tamanho do Estado na área social. Eu fracassei por quê? Eu acho que eu E os entraves?
Porque, ao meu ver, uma sociedade vi muitas melhoras. Essa reforma é Os entraves são as dificuldades
justa é necessariamente uma socie- inevitável e vai continuar, porque não da natureza humana. Nós somos
dade que tem uma carga tributária tem alternativa a ela. Países que de- pessoas muito falíveis. Eu tenho
grande e que tem grandes despesas moraram a fazer essa reforma como uma visão muito simples de como é
nos grandes serviços de saúde, nos Alemanha e França já estão fazendo o processo administrativo. Não exis-
grandes serviços sociais do Estado. E também, cada um de um jeito, mas te voo cruzeiro. Voo cruzeiro é um
a Constituição de 1988 tinha apontado sempre nessa direção. Agora, o pro- avião que quando ele chegava lá em
nessa direção. E eu precisava, então, le- blema é que o Brasil teve um tal retro- cima ele voava lisinho e não tinha
gitimar essa coisa. Legitimar por quê? cesso nesses últimos 3 anos. O Brasil mais nuvens, mas ainda tem umas
Porque é claro que os liberais têm hor- foi dominado por liberais que estão turbulências que às vezes são bravas.
ror a isso. Eles querem um Estado bem determinados a mostrar que o Estado Quer dizer, em administração a últi-
pequenininho financiado por impos- do bem-estar social não presta e que ma coisa que se tem é o voo cruzeiro.
tos regressivos. Isso que eles querem, vamos diminuir o tamanho do Estado. Você tem que estar corrigindo o tem-
porque no Brasil eles têm impostos E para isso aprovaram a emenda do po todo. Porque está sempre saindo

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do controle. É um desafio de todo Brasil crescia entre 1930 e 1980 cerca desenvolvimentista, entre 1930 e
dia você fazer esse conserto. Se você de 4% por ano per capita. Entre 1950 1990, com uma crise nos anos 60
quiser, isso é o obstáculo maior e isso e 1980 a 4,5% per capita. Desde que foi superada, e afinal uma crise
decorre dos interesses das pessoas, 1980 cresce a 1% per capita. Então, a dos anos 90 que não foi superada. Aí
que você tem que motivar de forma diminuição foi muito grande. E ago- o neoliberalismo, que tinha tomado
correta. Quer dizer, isso decorre da ra, desde 2014, a gente viu isso com conta do mundo lá fora, o capitalis-
permanente tentativa de captura do clareza. A partir de 2015 nós estamos mo financeiro, rentista, tomou conta
patrimônio público das pessoas. em uma profunda recessão, de forma do Brasil também, em dez anos de
que se for acrescentar as taxas nega- decolagem. E, desde então, os nossos
Como o TCU e os demais tribunais tivas de crescimento desses últimos juros são altíssimos, o nosso câmbio
de contas podem atuar no sentido anos, aí a coisa fica ainda muito pior. é apreciado. As nossas empresas en-
de induzir a desburocratização e a Eu estou envolvido desde 2001 frentam uma desvantagem compe-
busca de maior eficiência e quali- numa macroeconomia desenvol- titiva muito grande. Então você vai
dade dos serviços públicos? vimentista, ou, mais amplamente, vendo uma enorme desindustriali-
Acho que sem dúvida os foi o nome que acabou ficando: já zação, e consequentemente baixas
Tribunais de Contas podem ajudar é o novo desenvolvimentismo. É taxas de crescimento. Esse é o grande
em todas essas coisas. Vocês não uma tentativa de entender por que problema do Brasil. Uma das causas
estão apenas interessados na frau- o Brasil está crescendo tão pouco. principais disso é o poder que hoje
de, mas estão interessados tam- Qual é a causa macroeconômi- tem o capitalismo financeiro rentis-
bém na eficiência e na efetividade. ca disso? No meu entendimento, ta, os rentistas e os seus financistas,
Efetividade é a política pública al- essa causa é essencialmente que o e que não se expressa nesses juros
cançar o objetivo, a eficiência é ela Brasil passou a ter uma taxa de juros muito altos e nesse câmbio aprecia-
alcançar a menor custo. Quer dizer, muito alta e uma taxa de câmbio do. Lá no Norte, o neoliberalismo
as duas coisas não são fáceis. Vocês muito apreciada. A consequência financeiro rentista entrou em crise
disseram que uma terceira coisa é disso no longo prazo é um grave em 2008. Desde então, a coisa está
que vocês vão fazer avaliações de desestímulo ao investimento. E muito complicada para eles. E a par-
políticas públicas. Tem um grupo de sem investimento não há poupan- tir de 2016 entrou em crise política,
economistas que são especializados, ça, sem investimento e poupança por causa do Brexit e do Trump. E
são microeconomistas sociais. E afi- não há crescimento. Investimento nós aqui, com grande entusiasmo
nal eu descobri que eles são essen- vem antes da poupança, segundo e determinação, estamos dispostos
cialmente avaliadores de políticas Keynes. E o Brasil não parece ter a acabar com o Estado brasileiro e
públicas. Eles têm toda uma me- condições de sair dessa coisa. reduzir todos os brasileiros a empre-
todologia, com altas econometrias O Brasil passou a ter um regime gados das empresas multinacionais.
para fazer isso. Então, o Tribunal de de política econômica liberal. Tinha Nós vivemos no mundo da glo-
Contas fazer o seu processo de ava- um regime de política econômica balização, quer dizer, os estados
liação, entrar em contato com essas competem entre si, os estados-nação
pessoas e usar essa tecnologia, seria competem entre si fortemente, sen-
uma coisa muito boa. do que os mais poderosos, os países
ricos capitaneados pelos Estados
O senhor tem defendido um novo “Acho que sem dúvida Unidos, têm grande interesse em
projeto de desenvolvimento para os Tribunais de Contas capturar o nosso mercado.
o país, o Projeto Brasil Nação, que Nesse quadro, o meu entendimento
elenca ações essenciais para um
podem ajudar em todas é que para se desenvolver, você pre-
crescimento consistente. Quais essas coisas. Vocês não cisa ter uma nação forte e, portanto,
seriam os pontos fundamentais você precisa ser nacionalista do pon-
desse novo projeto?
estão apenas interessados to de vista econômico. O naciona-
Eu venho dizendo isso há mais na fraude, mas estão lismo econômico é quase a mesma
de dez anos, que o Brasil é uma eco- coisa que o desenvolvimentismo.
interessados também na
nomia quase estagnada. Quer dizer, O desenvolvimentismo acrescenta
que cresce a taxas muito baixas. O eficiência e na efetividade.” ao nacionalismo econômico uma

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Entrevista // Bresser-Pereira

intervenção moderada do Estado na keynesianos populistas, ou desen- Quando você tem uma taxa de câm-
economia.Então, se isso for verdade, volvimentistas populistas que acham bio apreciada no longo prazo, você
a partir desses dois pressupostos, o que resolvem todos os problemas está competindo sem condições de
pressuposto político e o pressuposto da economia brasileira e mundial igualdade. Eu defendo que o Brasil
econômico da quase estagnação e aumentando a despesa do Estado não precisa proteção para a indústria
suas causas, é que nós começamos e fazendo o Estado entrar em crise nacional, isso aí precisava quando
a elaborar esse Plano. Reunimos um fiscal. É a mesma coisa que tem do começou a indústria nos anos 1930
grupo no começo desse ano e afinal outro lado, os economistas liberais, e 1940. Há muito tempo não precisa
lançamos o Projeto Brasil Nação. que são ortodoxos, eles acham que [de] proteção, mas precisa [de] igual-
No Projeto Brasil Nação nós defen- resolvem todos os problemas cortan- dade de condições na competição.
demos algumas ideias gerais que são do a despesa do estado e entrando Eu inclusive, quando fui percebendo
valores, defendemos a ideia de nação em déficit de conta corrente para ter isso, finalmente entendi uma expres-
e propusemos cinco pontos na área poupança externa. E daí liquida o são que os americanos usam muito
da economia. Claro que tem outras Brasil do outro lado. É uma perfeita – os ingleses não sei se usam – é a
áreas para desenvolver, mas nós esco- aliança dos dois extremos. Então, o expressão: “leveling the playing field”.
lhemos uma que por acaso é a que eu primeiro [ponto] é: eu preciso de um Quer dizer: aplainando, tornando
conhecia melhor e que eu poderia dar estado capaz. Capaz de intervir efeti- igual o campo de jogo, ou seja, não
alguma contribuição, e que também vamente para promover o desenvol- dando desvantagem. A tradução é:
seja mais importante atualmente. E vimento econômico no Brasil, para estabelecendo condições iguais de
quais são esses cinco pontos? Estão garantir que os cinco pontos macro- competição. Isso na cabeça deles é
muito relacionados com essa macro- econômicos estejam certos, e para fundamental. A gente não sabe dis-
economia desenvolvimentista. isso eu preciso de um Estado que não so. Eu descobri que isso é fundamen-
O primeiro ponto é a responsa- esteja quebrado. Eu preciso de um tal e toda a nossa indústria não tem
bilidade fiscal. Aí é uma briga minha Estado que esteja financeiramente essas condições.
com os meus amigos keynesianos saudável. Então esse é o número um. E o quarto ponto é recuperar
aqui dessa conferência. Entre eles O segundo ponto é a taxa de juros, a capacidade de investimento do
há muitos keynesianos vulgares, ou que precisa ser muito mais baixa. Não Estado. Além de ajuste fiscal na
há razão para a taxa de juros ser como despesa, eu quero que o Estado seja
é. Dois pontos percentuais reais está capaz de investir um pouco. Vinte
mais que suficiente, ao meu ver. por cento do total, digamos.
“o meu entendimento é que Terceiro: nós devemos ter um pe-
queno superávit em conta corrente,
E, finalmente, a quinta é o ponto
da distribuição. Nós queremos que os
para se desenvolver, você porque só um pequeno superávit impostos sejam progressivos. Porque
precisa ter uma nação forte em conta corrente é compatível com há três formas de você distribuir
uma taxa de câmbio que torna com- renda. Uma forma é aumentando o
e, portanto, você precisa petitivas as empresas que utilizam salário mínimo, quando há espaço.
ser nacionalista do ponto boa tecnologia no Brasil. Empresas Isso foi feito pelo PT recentemente.
industriais. [Para] empresas produ- Getúlio fez isso há muito tempo. A
de vista econômico. O
toras de commodities não há pro- outra forma que, foi feita não pelo
nacionalismo econômico é blema, porque elas têm vantagens. PT, mas pela transição democrática,
quase a mesma coisa que Os recursos naturais lhes dão van- é o aumento do gasto social, o au-
tagens ricardianas. Renda ricardiana mento de 11, 12 para 24. E a terceira,
o desenvolvimentismo. para elas. Mas a indústria brasileira que não foi feita no Brasil, é tornar
O desenvolvimentismo precisa concorrer com a indústria es- os impostos progressivos. Eu sabia
trangeira, mas estrangeira não são as disso há muito tempo. Mas na ver-
acrescenta ao nacionalismo multinacionais aqui não. Estrangeira dade o que aconteceu no Brasil é que
econômico uma intervenção quer dizer a indústria na China, nos brasileiros esqueceram disso. Saiu
Estados Unidos ou na Argentina. A fora da agenda brasileira há muitos
moderada do Estado indústria brasileira precisa competir anos. Claro que saiu da agenda da
na economia.” com elas em condições de igualdade. direita, mas saiu também da agenda

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poderia adotar para que isso fosse objetivos. Eu não dei ideologia para o
implantado no panorama atual de da segurança. Mas podia dar. Então,
“Quando você tem uma crise fiscal?
Não há nenhum segredo em
o Estado existe para ajudar a nação
brasileira a atingir os seus objetivos.
taxa de câmbio apreciada
como é que faz o imposto progres- Para isso, ela precisa ter metas inter-
no longo prazo, você está sivo. Você começa pelo imposto de mediárias, porque esses objetivos
competindo sem condições renda e vai aumentando o peso do são muito gerais. Qual é a meta in-
imposto de renda na arrecadação to- termediária que eu estou brigando
de igualdade. Eu defendo tal, e vai diminuindo os impostos di- assim ferozmente? É um superávit
que o Brasil não precisa retos, quer dizer, ICMS, essas coisas. pequeno em conta-corrente, porque
A dificuldade é política. Ninguém eu quero um câmbio competitivo.
proteção para a indústria quer pagar imposto e especialmente Se eu tivesse que escolher só um
nacional, isso aí precisava os ricos não querem definitivamente objetivo seria esse. E, curiosamente,
pagar imposto, e agora eles são todos o segundo objetivo que nós nem dis-
quando começou a poderosos, porque com o fracasso cutimos, minha meta intermediária,
indústria nos anos 1930 e do governo Dilma eles se sentiram seria acabar com toda a indexação,
fortalecidos, foram derrotados na é coisa de economista aí. Proibir o
1940. Há muito tempo não eleição, mas conseguiram de forma Estado brasileiro de ter qualquer
precisa [de] proteção, mas profundamente antidemocrática der- indexação, porque isso baratearia
rubar o Estado. Derrubar o governo muito o controle da inflação. Você
precisa [de] igualdade de
que estava aí, e agora estão fazendo é obrigado a fazer recessões brutais.
condições na competição.“ a sua festa particular contra o Brasil. Então, o interessante é saber qual
seria o objetivo intermediário estra-
da esquerda. Quatro anos atrás eu, Gostaríamos de ouvi-lo especifi- tégico, um ou dois que o Tribunal de
por acaso, vi uma comparação en- camente sobre a atuação do TCU, Contas da União deveria ter.
tre a Suécia e os Estados Unidos. A um órgão que tem como missão
distribuição de renda antes e depois aprimorar a Administração Pública
do imposto. Quer dizer, nós sabe- por meio do controle externo. Na
mos que a Suécia é um dos países
mais iguais do mundo. E os Estados
sua opinião, qual pode ser a prin-
cipal contribuição do TCU para a “A dificuldade é política.
Unidos entre os países ricos é de construção de uma Administração Ninguém quer pagar
longe, todas as pesquisas mostram, Pública mais eficiente?
imposto e especialmente
o pior. Muito bem. O índice de Gini Nunca pensei nesse assunto sufi-
dos dois países antes de pagar o im- cientemente para dar uma resposta os ricos não querem
posto é quase igual. A Suécia tem um que faça sentido. Mas o principal, definitivamente pagar
índice um pouco mais baixo, quer vocês têm tantos objetivos, e o
dizer, a distribuição é melhor, mas meu entendimento é que as socie- imposto, e agora eles
nada de dramático. Agora, depois do dades modernas definiram para si são todos poderosos,
imposto aí faz assim (cresce). Então próprias certos objetivos políticos
o efeito é realmente poderoso. O fundamentais. Já tinham o objetivo porque com o fracasso
imposto na Suécia é progressivo, os da segurança e definiram já no século do governo Dilma eles
ricos pagam mais do que os pobres, XVIII o objetivo da liberdade e do
proporcionalmente. E nos Estados liberalismo, e depois o objetivo do se sentiram fortalecidos,
Unidos é regressivo, no Brasil tam- desenvolvimento econômico e o na- foram derrotados na
bém é regressivo. Então, nós temos cionalismo, ou desenvolvimentismo.
que colocar isso na agenda do país. Depois o objetivo da justiça social e o
eleição, mas conseguiram
socialismo. E finalmente, o objetivo de forma profundamente
Em relação ao imposto progressi- da proteção ao meio ambiente e o
vo, um dos pontos desse projeto, ambientalismo. Então, nós temos
antidemocrática
que medidas o Governo Federal quatro grandes ideologias e cinco derrubar o Estado.”
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