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1. ABSORÇÃO DE HERBICIDAS
Ricardo Camara Werlang
São muitos os herbicidas utilizados no controle de plantas daninhas, estes podem ser
classificados quanto seu mecanismo de ação, seletividade, absorção, toxicidade, capacidade
sortiva no solo, etc. Para entender um pouco mais sobre a absorção de herbicidas pode-se
analisar a Tabela 1. Neste experimento os autores realizaram a aplicação do herbicida
imazaquim, inibidor de ALS, de duas maneiras – apenas nas folhas, protegendo a superfície
do solo para que o herbicida não entre em contato com este, mesmo após a simulação de
chuva e a aplicação sem a proteção da superfície do solo, onde o herbicida entra em contato
com o mesmo tanto na aplicação como na simulação da chuva. Os autores também
avaliaram o efeito da simulação de chuva em diferentes intervalos após a aplicação do
herbicida. A água da chuva tem a capacidade de lavar a superfície foliar o herbicida ainda
não absorvido.
Folha
Caule
Raíz
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Cutícula
Epiderme superior
Células do mesófilo
paliçadico
Xilema
Feixes
vasculares Floema
Epiderme inferior
Células do mesófilo
Células lacunoso
guarda
Estômato
Cutícula
Figura 2- Corte transversal de uma folha esquematizando os principais
componentes. As organelas onde os herbicidas atuam estão no interior das células.
pelas raízes, transloca até as folhas e, aí, atinge e penetra nos cloroplastos, onde atua,
destruindo-os. Por outro lado, o 2,4 DB precisa ser absorvido, translocado e, ainda,
metabolizado para exercer sua ação herbicida. O imazaquin pode ser absorvido pelas folhas
e caules ou sistema radicular e depois é translocado até o interior das mitocôndrias onde
terá a sua ação.
Os herbicidas podem penetrar nas plantas através das suas estruturas aéreas (folhas,
caules, flores e frutos) e subterrâneas (raízes, rizomas, estolões, tubérculos, etc.), de
estruturas jovens como radículas e caulículo e, também, pelas sementes. A principal via de
penetração dos herbicidas na planta é função de uma série de fatores intrínsecos e
extrínsecos (ambientais).
Quando os herbicidas são aplicados diretamente na parte aérea da planta (pós-
emergência), as folhas e os caules são as suas principais vias de penetração. Por outro lado,
as raízes, as estruturas jovens das plântulas (radícula e caulículo) e as sementes são as vias
de penetração mais importantes para os herbicidas aplicados e, ou, incorporados ao solo. O
caule (casca) de árvores ou arbustos pode também ser uma via de penetração de herbicidas,
principalmente quando se deseja controlar apenas algumas plantas, dentro de uma
população mista, ou quando, em um reflorestamento, se deseja matar as árvores antes da
derrubada.
As grandes diferenças entre a absorção de herbicidas pelas raízes ou pelas folhas
estão muito relacionadas com a disponibilidade dos produtos nos locais de absorção, sua
capacidade de absorção pelas diferentes rotas e com fatores ambientais (temperatura, luz,
umidade relativa do ar e umidade do solo), que influenciam tanto a absorção quanto a
translocação destes. No caso do exemplo da Tabela 1, o imazaquim, possui a característica
de ser absorvido tanto pela parte aérea (folhas e caules) como pelo sistema radicular. Uma
vez que este encontra-se disponível na solução do solo e pode ser absorvido e translocado
para as folhas onde se encontram as organelas em que terá sua ação biológica.
As espécies possuem sensibilidade diferenciada para o herbicida, por isso a
quantidade deste necessária para causar a morte de uma determinada espécie é diferente do
que para outra espécie. No exemplo da Tabela 1, a ordem crescente de susceptibilidade ao
imazaquim é: C. obtusifolia (375 g/ha) < S. spinosa (125 g/ha) < X. strumarium (32 g/ha),
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fato este que pode ser observado nas doses do herbicida utilizado para cada espécie e suas
respostas no controle.
1.1. Interceptação, retenção e absorção de herbicida pela folha
A absorção foliar de um herbicida requer que o produto seja depositado sobre a
folha e permaneça ali por um período de tempo suficiente, até ser absorvido. Assim a
ocorrência de chuvas (lavando o herbicida da superfície foliar), em intervalos onde não
ocorreu a absorção de quantidade suficiente para o controle adequado da espécie, vai
proporcionar redução do controle. Por isso que o controle foi menor nos menores intervalos
sem chuva após a aplicação do imazaquin (Tabela 1) quando a aplicação foi realizada
somente nas folhas.
A interceptação da gota pulverizada é função do método de aplicação e da distância
entre o alvo e o bico do pulverizador, que serão discutidos no item referente à tecnologia de
aplicação. Também a morfologia da planta e as condições ambientais exercem grande
influência.
A morfologia da planta influencia a quantidade de herbicida interceptada e retida.
Dentre os aspectos relacionados com a morfologia da planta destacam-se o estádio de
desenvolvimento (idade da planta), a forma e a área do limbo foliar, o ângulo ou a
orientação das folhas em relação ao jato de pulverização e as estruturas especializadas,
como tricomas (pêlos) (Figura 4). Também o número e a abertura dos estômatos exercem
importante influência sobre a penetração dos herbicidas. Contudo, essas estruturas estão
localizadas, em maior número, na face abaxial das folhas, a qual é pouco atingida pelos
processos usuais de aplicação de herbicidas.
A B
Figura 4 – Microscopia da superfície foliar da face abaxial (A) Leonotis nepetaefolia e (B)
Crotalaria incana. Observe a presença de tricomas em A e ausência em B.
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Após a interceptação, para cada herbicida, deve haver um período crítico de sem
ocorrência de chuvas até que ocorra absorção de quantidade suficiente deste. Isto para
herbicidas que possuem sua absorção apenas pela parte aérea da planta, uma vez da
possibilidade de absorção pelo sistema radicular, o efeito da ocorrência de chuvas após a
aplicação é reduzido, como observado na Tabela 1 no exemplo com imazaquin. A perda do
herbicida ou de sua atividade depende da ocorrência de chuva (intensidade e duração) neste
intervalo, do método e da tecnologia de aplicação e das espécies de plantas envolvidas. A
influência da chuva sobre a eficiência dos herbicidas está também relacionada à
formulação. Por exemplo, 2,4-D amina requer um período muito mais longo sem chuva do
que o 2,4-D ester para causar a mesma toxicidade em várias espécies sensíveis (Behrens e
Elakkad, 1981). A chuva pode causar perdas consideráveis de herbicidas das folhas das
plantas. Sais aniônicos (cargas negativas), por exemplo sais de sódio, não penetram
rapidamente, não são absorvidos pela superfície da cultícula e são solúveis em água e
podem ser lavados caso ocorra chuva até mais de 24 horas após. Sais catiônicos (carregados
positivamente), como o paraquat, são solúveis em água, mas são rapidamente absorvidos e,
por isso, menos sujeitos a lavagem pela chuva. Herbicidas lipofílicos (usualmente
formulados como CE ou flowable) são pouco solúveis em água, porém são rapidamente
absorvidos nos lipídios da cutícula e são pouco lavados pela chuva. Na Figura 5, estão
demonstrados os resultados de um experimento com quatro herbicidas (glyphosate, 2,4,5-T,
triclopyr amina e triclopyr éster) sendo sua eficácia influenciada por diferentes intervalos
sem chuva após a aplicação. O glyphosate é um herbicida polar e sua absorção é
relativamente lenta, o que pode ser observado pela grande influencia da ocorrência de
chuva na eficácia deste produto. O 2, 4, 5 – T é um herbicida lipofílico (apolar) e sofreu
menor influencia da ocorrência de chuva após a aplicação. Quanto as duas formulações de
triclopyr, observa-se que a formulação amina sofre maior influencia da ocorrência de
chuvas do que a formulação éster, mesmo em um herbicida apolar, isto porque além da
absorção mais rápida da formulação éster esta possui maior capacidade de ser absorvida
pelo sistema radicular. Assim, mesmo o produto lavado da formulação éster pode ser
melhor absorvido no solo pelo sistema radicular.
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Controle
%
As folhas, como todas as estruturas aéreas das plantas, são recobertas por uma
camada morta (não-celular), lipofílica, denominada cutícula. Embora em menor proporção,
esta existe também nas raízes, razão pela qual muitos fatores influenciam, igualmente, tanto
a penetração dos herbicidas pelas folhas quanto pelas raízes (Figuras 1, 2 e 3).
A cutícula recobre todas as células da epiderme da planta, incluindo as células-
guarda dos estômatos e as células que envolvem a câmara subestomática. A cutina é o
principal componente estrutural da cutícula. Externamente, a cutícula é recoberta por uma
camada de cera. Este conjunto, freqüentemente, é referido como camada cuticular (Figura
6).
Entre a camada cuticular e a membrana citoplasmática tem-se a parede celular, que
é formada de fibrilos de celulose impregnados de pectina.
O padrão de superfície da camada cuticular é bastante variável. Ela pode ter a forma
de grânulos, de prato (ou disco), de camadas superpostas e, ainda, pode ser semifluída ou
fluída. A composição química do revestimento epicuticular é muito variável entre as
espécies de plantas (Tabela 2), entretanto, alguns componentes são comuns. Em geral, esta
camada é uma complexa mistura de alcanos de longas cadeias (21-37 carbonos), álcoois,
cetonas, aldeídos, ésteres, ácidos graxos, etc. A constituição diferenciada da camada
cuticular pode estar influenciando as respostas quanto a chuva no experimento da Tabela 1.
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O grau de polaridade varia muito. A camada cerosa que envolve a cutícula é mais
rica em compostos menos polares do que a cutina. A cutina possui grupos de polaridade
variáveis (Figura 6), funcionando como uma resina de troca de cátions. Em presença de
água, acredita-se que a cutina aumente de volume (por embebição), separando as partículas
de cera, aumentando, assim a sua permeabilidade.
CAMADA
CUTICULAR
superfícies: uma facilmente molhável (rica em álcoois) e outra de molhagem mais difícil
(rica em alcanos). As características da solução aplicada, a polaridade do composto, a
tensão superficial da calda, etc. são importantes nessa interação.
No momento em que os herbicidas entram em contato com a superfície foliar este
pode ter vários destinos (Figura 7).
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2
3
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As folhas das plantas apresentam muitas barreiras à penetração dos herbicidas, tanto
aos polares quanto aos não-polares. Apesar das barreiras existentes (como a camada
cuticular), tanto os herbicidas polares quanto os não-polares penetram nas folhas das
plantas. Uma hipótese descrita por Crafts e outros, citados por Klingman e Ashton (1975),
sobre a penetração dos herbicidas pelas folhas, é que estas barreiras não são totalmente
rígidas e distintas. A maior barreira à penetração de um herbicida no citoplasma das células
é a membrana citoplasmática. Entretanto, o herbicida, após atravessar a camada cuticular e
a parede celular, pode penetrar no citoplasma, via simplasto, através dos plasmodesmatas.
A camada cuticular funciona como uma barreira à perda de água e também como
uma barreira à entrada de pesticidas e microrganismos na planta. O processo de absorção de
um herbicida é complicado em razão da espessura, composição química e permeabilidade
da cutícula, que variam em função da espécie, da idade da folha e do ambiente sob o qual a
folha se desenvolve. Todos esses fatores podem influenciar a absorção de herbicidas.
Uma grande diversidade de herbicidas, que diferem em estrutura e polaridade,
atravessa a camada cuticular. O exato mecanismo de penetração não é conhecido para todos
os herbicidas, mas admite-se que os compostos não-polares sigam uma rota lipofílica e os
compostos polares, a rota hidrofílica. O herbicida possui certa marcha de difusão dentro da
camada cuticular, cuja velocidade vai depender de vários fatores como já mencionados no
texto. Observa-se na Figura 8 a esquematização do processo difusivo do herbicida na
camada cuticular no tempo.
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Figura 9 – Esquema de
camada cuticular com
rachaduras, em duas
condições de umidade do ar.
Com baixa umidade do ar a
cutícula fica pouco
hidratada e as rachaduras
são poucas, dificultando a
absorção de herbicidas
polares, já a presença de alta
umidade relativa do ar,
promove a hidratação
cuticular e expansão das
ceras e assim
pronunciamenteo das
rachaduras na camada
cuiticular o que melhora a
condição de absorção de
herbicidas polares.
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são menores (Hess, 1995). Segundo Pires (1998), o glyphosate e o sulfosate apresentam
máxima atividade em plantas não estressadas e com pelo menos um período de quatro horas
sem chuva após a aplicação (Figura 11). Nas plantas estressadas (déficit hídrico no solo),
houve rebrota acentuada da maioria delas, mesmo quando o período sem chuva foi de seis
horas.
aditivos e das espécies das plantas. Por exemplo, a atividade do glyphosate é melhorada
mais pelos surfactantes com alto balanço lipofílico-hidrofílico que pelos surfactantes
hidrofílicos que são não-iônicos ou catiônicos (Turner e Loader, 1980). No entanto, quando
sulfato de amônio é adicionado à solução, o surfactante lipofílico é eficiente. A função
primária do surfactante é reduzir a tensão superficial da gota, melhorando a retenção e o
espalhamento desta sobre a folhagem (Figura 15). Em alguns casos o surfactante pode
provocar parcial solubilização da cera epicuticular, favorecendo mais ainda a penetração do
herbicida.
2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS