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Bernard Coutinho

Gênese
O Testamento de um Mundo
Um conto no universo Daemon RPG

“No vazio primitivo os Deuses descansavam, quando sentiram


a necessidade de despertar e povoar o mundo, como um jardineiro que
se revitaliza ao semear o seu jardim...”

Em um salão ovalado e escuro, cinco figuras enigmáticas


prostram-se sobre um chão em constante mutação. Nebulosas,
estrelas e cometas são visíveis nele, como uma representação
do próprio cosmos. As paredes, oscilam como nuvens de
tempestade, formando espirais que alteram seu movimento
constantemente. A frente, uma magnífica luz esta postada
perante os cinco, e é possível se perceber formas humanoides
ao topo de um púlpito muito alto, dezenas de vezes mais alto
que o solo...

– CULPA! – Exclama como ribombar de um trovão uma


das figuras, a do centro em destaque; as demais calam-se em
sinal de aceitação.

A primeira figura ajoelhada, é chamada apenas de o


Destruidor, e sua face e características físicas, são cobertos por

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um pesado elmo e armadura de combate, apenas seus olhos
brilham na escuridão do capacete de ferro negro; olhos
flamejantes como brasas. Sua respiração é a única coisa que
pode acusar a existência de um ser vivo dentro de toda aquela
monstruosidade de ferro. A segunda é Morel Vento de
Tempestade, A Princesa do Gelo, cuja pele e cabelo são alvos,
e os olhos assumem um tom azul, gélido e sem vida. Seu
manto branco cobre seu corpo como um todo, e este congela
uma circunferência ao seu redor com um leve e fino orvalho.

Aos rosnados a palavra é aceita pelo terceiro ajoelhado,


Vormog, O Deus Lobo das Estepes urra e rosna com sua pele
azul e sua longa cabeleira emaranhada. Ao redor do salão,
existem figuras de luminescência baixa, uma delas se
aproxima sendo possível notar feições leoninas e uma arma
indizível, esta última desce com violência sobre Vormog, que
apenas aquieta-se por alguns segundos, mas um sorriso
intimidante toma seus lábios negros com o gosto do sangue
que surge em sua boca.

Thrughan era tão alienígena, que sua aparência não era


concebível; aqueles próprios que ali estavam em penitência,
ajoelhados ao seu lado, possuíam dificuldades em reconhecer
que aquela luminescência rubra preenchendo um grande raio
a sua volta era também um réu. Nada que o caracterizasse
como algo vivo ou mesmo existente podia ser descrito, mas de

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alguma forma, aqueles que estavam aplicando a sentença,
sabiam que a entidade ali presente estava subjugada.
Ao contrário de Thrughan, Idwah era facilmente
perceptível como uma representação noturna: seu manto
parecia feito da própria noite, seus olhos brilhantes flutuavam
dentro de um capuz sinistro. Aqueles de joelhos se lembram
do modo como todo júri silenciou e levantou-se quando a
divindade adentrou o salão, ouviu-se a palavra “LONSA
AMMA, VEH GAL” algo que soou aos ouvidos como o
enochiano, mas sem absoluta certeza.
- Há culpa em todos que aqui encontram-se ajoelhados,
o Grande Concílio proferirá sua pena capital – diz a figura
reluzente a direita. Um silêncio lacerante toma conta
novamente da sala abobadada, exceto pela respiração daquele
conhecido como Destruidor.
- Morte! - É a palavra que surge do juiz a esquerda, como
um relâmpago que atravessa toda a sala.
Subitamente, passos são ouvidos adentrando o lugar,
uma criatura humanoide, de rosto elefantinho e portando um
objeto comprido como um cajado, mas, de ponta
geometricamente não euclidiana, aproxima-se dos
condenados, passando em desfile do último ao primeiro,
fitando friamente seus olhos.
Suas presas eram grandes, e formavam uma volta, suas
orelhas possuíam um anel dourado em cada ponta, seus olhos

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reluziam como gemas preciosas púrpuras que deixavam um
leve rastro luminoso. Pé ante pé, o verdugo se desloca,
acompanhados do som do artefato em suas mãos chocando-se
contra o solo, ele caminha vagarosamente.
Todo o júri que até então encontrava-se não visto, inicia
uma conversa sussurrante, mas audível devido a acústica;
quando o carrasco para de frente ao Destruidor, toda conversa
cessa em uníssono; o medonho cavaleiro levanta sua cabeça a
fim de fitar aquele que cumprirá a sentença decretada, seus
olhos flamejantes ardem em fogo enquanto a comprida arma
do carrasco ergue-se sobre sua cabeça, em um movimento sutil
e natural. Sua lâmina tangencia perpendicularmente sua
jugular, e a mera aproximação de sua pele, a faz queimar
lentamente.

BOOMM!!

Um imenso estrondo faz com que todo salão estremeça, e a


lâmina que descia sobre o pescoço do Destruidor desvie e
fenda o chão; nenhum dos acontecimentos retiram uma
fagulha de reação sequer do mesmo.
- HERESIA!!, quem ousa! – Um dos juízes repudia o
acontecido.

BOOMM!!

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Um segundo estrondo sacode novamente o local, fato
que não é deixado passar desapercebido pelo sombrio Idwah,
que em um ato místico deixa seu manto formado de trevas
para trás, se desvencilhando de todas as amarras magicas que
o seguravam de rosto contra o solo. A magia faz com que uma
duplicata saltasse de seu próprio corpo, para
instantaneamente, absorver o antigo, enquanto este se desfazia
em um líquido negro rapidamente. Antes de tocar o solo,
Idwah dispara finas agulhas negras contra os 8 guardas
leoninos, fazendo-os tombar com urros animalescos de dor e,
graças a isso, eliminando as amarras invisíveis que prendiam
os demais. O Carrasco vê Idwah tocando o solo e se prepara
para ataca-lo, girando sua arma em um ângulo oblíquo, mas
sendo impedido por um poderoso ataque dado com a cabeça
armadurada do Destruidor.
- Tan Kheg, detenha-os! - Diz o juiz central ao carrasco.
O Carrasco desfere uma cotovelada contra o rosto do
Destruidor e pegando impulso nessa ação para desferir um
golpe perfurante contra a Princesa do Gelo que se esquiva no
último segundo, tendo sua face ferida levemente, mas o
suficiente para o sangue azul escorrer em um fio.
Vormog avança sobre Tan Kheg com dois golpes de suas
garras negras, mas é evitado por um salto para trás, seguido
de um golpe vertical de sua lâmina exótica; um golpe

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desconexo já que no meio de sua evasão fora acertado por um
soco do Destruidor. A figura elefantina do Carrasco executa
um rolamento, e cai em pé, afastando-se da luta tão rápido,
que este escapa do chão que imediatamente, e por motivos
desconhecidos se fende, jogando os condenados em queda,
para fora do salão.
Em queda livre, os condenados veem-se rolando sobre
o dorso gigantesco de um humanoide, que carrega o templo
onde eram cativos sobre as costas, enquanto caminha de
joelhos por um imenso deserto sem vida. A queda é longa,
Vormog tenta fincar suas garras no couro resistente da
criatura, sem sucesso; Morel cria uma redoma gélida com seus
poderes e mergulha em direção as areias escaldantes e o
Destruidor apenas aceita sem expressões seu destino contra o
solo, mas sabido que não sofrerá dano algum.

KATOOM!

Morel Vento de Tempestade choca-se violentamente contra o


chão arenoso, resvalando com sua redoma de gelo, esta que
libera alguns cristais na queda ao rebater-se, pousando alguns
metros à frente do primeiro impacto; o frio que emana de seu
corpo é tão poderoso que o próprio solo se congela em um raio
de sua posição; ela levanta os olhos para observar o imenso
joelho da criatura as suas costas e uma grande cratera a uma

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média distância a sua frente, mas ela pouco se importa e corre
em fuga.

Da grande cratera visto pela Princesa do Gelo, ergue-se


o Destruidor, inabalável em sua armadura de ferro negro, e a
pesados passos distancia-se do templo onde era julgado; seus
olhos flamejantes observam suas mãos em pesar, pela falta de
alguma coisa, sua capa esta inerte, já que nenhum vento corre
por estas terras. Ele observa ao longe uma figura turquesa
deixando um rastro de gelo por onde passa e na direção
contrária, segue a fera, o Deus Lobo, que ele considerava nada
mais que um animal incomum, uma criatura que para ele
pouca divindade possuía, uma besta merecedora unicamente
de sua desatenção.

Vormog não observava nada além da entidade


gigantesca ao longe se distanciando, com um pequeno rugido
de insatisfação ele farejava o ar em busca de alguma eventual
caça. Olhando para sua mão, viu que suas garras haviam se
partido, e num gesto, fê-las crescer novamente. Sua armadura
negra, de ombreiras espinhadas era pesada e debilitava seu
movimento naquele solo afofado e quente.

Com as mãos juntas retira o peitoral e as manoplas, logo


depois as ombreiras, partindo em uma corrida na direção
contrária já que o único odor que sentia era o daqueles que
compartilhavam de seu claustro anteriormente: se estes não o

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levarem a algum lugar, eles provavelmente podem se tornar a
caça, pensou Vormog.

“Cada um despertou em uma hora; eles estavam letárgicos


devido a um sono imemorial e ao caminhar no vazio, se depararam
com nada mais que um deserto de areias douradas e muito quentes...”

Os três seguem na mesma direção, cada um em seu passo


e mantendo uma distância segura dos demais, mas todos
cientes de que estavam juntos, devido ao acaso. Muralhas
douradas surgem no horizonte e são percebidas pelos três ao
mesmo tempo; O Destruidor não detém sua marcha,
mantendo-se no mesmo passo, rumo a gigantesca metrópole.
Morel já havia ouvido histórias das Grandes Muralhas de
Ouro que existiam em um deserto e que deveriam ser evitadas
pois seus habitantes eram poderosos e alienígenas em
demasia, lembrando o próprio Carrasco que a pouco tentava
mata-los.
-Espere! – Disse Morel criando com um gesto um muro
de fino gelo a fim de impedir a marcha do Destruidor. – Não
prossiga, isso irá alertar as Azi B'hemot, e as trará diretamente
ao nosso encalço.
Com um simples golpe, o Destruidor desfaz a parede de gelo,
e observando a Princesa ele diz, com uma voz aterradora e

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poderosa: - Este não é o lar das Serpentes de Behemot feiticeira,
aqui vivem criaturas que guardam a entrada para o Mundo
dos Espíritos, e este é o meu destino.

-Você não faz ideia do poder que aquelas criaturas


possuem, e nem o transtorno que causamos com nossa fuga,
não importa onde estamos, se entrarmos em contato com
quem quer que seja eles viram. Há outros caminhos para o
Mundo dos Mortos Destruidor, eu o levarei até um deles...-

- CHEGA! - Interrompe o guerreiro armadurado,


iniciando um caminhar a passos largos novamente até a
muralha, sendo interrompido novamente por mais uma fina
camada de gelo. – Minha intenção não é o confronto ó
poderoso Destruidor, Portador de Awdun, mas sim lhe
convencer que se não atrairmos atenção, sem combates,
poderemos sobreviver para lutar mais e mais dias a frente.
– Diz Morel a uma média distância. Em um movimento
rápido, inversamente proporcional a seu tamanho e aparente
peso, o Destruidor se aproxima, e agarra A Princesa do Gelo
pelo pescoço, erguendo-a do chão; seus olhos ardem
flamejantes, e sua mão é quente ao toque.

- EU, SOU O COMBATE! - Diz de maneira assustadora


o Portador de Awdun. A Princesa do gelo se agarra com as

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duas mãos no imenso braço do Destruidor, e tenta utilizar seus
poderes de gelo, mas é inútil, então, ela utiliza suas pernas com
o mesmo propósito, usando o frio de seu corpo como um todo
para maximizar os efeitos que busca. Grande vapor de gelo
sendo evaporado emana da cena, mas sem abalar-se, sem
desfazer sua postura o Destruidor solta Morel sobre as areias.
Com as mãos no pescoço, e sentada sobre as areias, Morel diz:
- Como disse...minha intenção era passar desapercebida
por Dudael – apontando para as costas do Destruidor.
Criaturas animalescas pairavam sobre o ar, montadas em
besouros de fogo, observando as duas divindades, dotadas de
feições animalescas; essas estavam munidas de armas
douradas, mas eram menos majestosas que os seres que
acompanhavam o carrasco Tan Kheg na sala do júri.
O Destruidor vira-se para as entidades, encarando-as e
aponta para uma aleatoriamente, sua voz mais uma vez firme
e autoritária, poderosa e trovoante irrompe através do deserto:
- Eu utilizarei as entradas para o Abismo de Nun, e nada
farei a sua metrópole; recusem e eu a deixarei de modo que
areia e restos de sua existência sejam o mesmo.
As criaturas mantem-se impassíveis, e continuam
fitando as duas divindades, sem um mínimo movimento
aparente.

- In tamura! - Uma delas diz de forma inteligível.

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O Destruidor avança rapidamente em um salto contra os
habitantes da Metrópole Dourada, unicamente para ir de
encontro a uma parede de areia sólida que se forma. Sem
interromper o movimento, ele a desfaz sem muitas
dificuldades, mas uma segunda barreira de energia dourada o
impede; o choque é violento, o som é um estrondo que desloca
o ar.
A Princesa de Gelo se levanta, e inicia a invocação de
uma magia, cristais de gelo dançam a sua volta, o clima
enregela, e as areias tornam-se unidas e se solidificam cada vez
mais. Ao se recuperar do impacto, o Destruidor ergue sua
cabeça, somente para ver que esferas flamejantes veem em sua
direção, lançadas pelos cavaleiros de besouros de fogo; eles a
lançavam como fundas, giravam-nas sobre as cabeças e com
maestria as arremessavam. Utilizando os dois braços, o
destruidor se protege da torrente de chamas que se aproxima,
chamas tão poderosas que ao atingirem, pulverizam o gelo
criado por Morel .
- Não subestimem o poder da Herdeira do Trono de Gelo
animais! - Exclama Morel , e com um gesto com os dois braços
apontados na direção das criaturas atacantes, um turbilhão de
frio é lançado; não gelo, mas a própria essência do frio, algo
tão poderoso que faz o próprio clima se modificar, os céus
assumirem a cor azul as chamas se extinguirem, mas o fogo de

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todas as criaturas juntas se mantem forte e resistente perante o
ataque.
- TOLOS! - Uma voz ecoa das costas de Morel ; em uma
corrida, o Deus Lobo Vormog impulsiona-se nos ombros da
Princesa do Gelo, já que essa mantém uma posição inalterada,
a fim de persistir em seu ataque.
O Deus Lobo lança-se no ar tomando a forma de um
gigantesco lobo azulado com chifres, cuja pele tem entalhado
diversas runas desconhecidas. No movimento, Vormog
abocanha uma das entidades e com a pata eviscera outra,
estraçalhando a primeira antes de tocar o solo. Novas esferas
de chamas são lançadas contra o Deus Lobo, mas graças a
quebra da união das criaturas da Metrópole Dourada, o poder
de Morel as transforma em estátuas de gelo instantaneamente.
Vormog devora a criatura que estava em sua boca, em seguida
agarra o Destruidor e com um movimento o atira o mais longe
que sua força ampliada era capaz, a figura de armadura
completa voa até perder-se no horizonte.
Em um outro gesto, o lobo gigante cede o dorso para que
Morel suba, e quando esta agarra-se em seus pelos grossos, ele
dispara em uma corrida veloz, o mais veloz possível que sua
forma lupina era capaz.

“...Um era um grande guerreiro, outra era uma princesa e o terceiro


era o lobo...”

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Quilômetros de distância, a Princesa do Gelo e o Deus
Lobo encontram um rastro de areia profundo, e no fim dele a
figura do Destruidor ergue-se em desafio a Vormog, que se
aproxima em posição de ataque, mas um iceberg surge entre
os dois, a Princesa de Gelo salta do dorso do grande lobo e
vira-se para o Destruidor o encarando - Está sem sua arma, em
uma terra que não é a sua, perseguido por inimigos que
possuem dominância sobre a região; você não possui exércitos
sequer aliados...o que faria? - Por um curto momento, as
palavras da Princesa fazem sentido, e é possível notar as
órbitas do Destruidor diminuírem em chamas.
Vormog assume novamente sua forma humanoide, o
sangue das criaturas da Metrópole Dourada ainda jaz em sua
boca. – Não é possível lutar contra os habitantes da Cidade
Dourada, tão próximo de sua morada, ela os cede poderes que
os tornam tão poderosos, até para criaturas como nós. –Ele
continua – tenho que concordar com a Princesa, Azi B'hemot
podem nos rastrear em qualquer lugar da Roda, estando
dentro da existência, é uma breve questão de tempo até sermos
encontrados pelas serpentes.
A Princesa de Gelo cria uma imagem de energias azuis
em suas mãos, uma espécie de astrolábio místico, ele se
movimenta surrealmente e a faz fitar o horizonte em um arco
de visão.

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- Spiritum pode ser atingido por outros pontos, devemos
rumar nesta direção – aponta ela em uma diagonal de onde
está. – Até a morada dos mortos, vocês terão minha lealdade,
mas ela não perdurara mais além. – Diz o Destruidor; dando
as costas para seus novos aliados ele continua – se me
abocanhar novamente lobo, mastigue o mais forte que puder,
pois você desperdiçou uma chance que ninguém nunca teve,
ou terá novamente. – Ele completa e Vormog sorri.
Tempos de caminhada nas areias escaldantes, a marcha
era liderada sempre pelo Destruidor, incansável mesmo
trajando uma armadura tão pesada. Seguindo o Destruidor,
estava a Princesa de Gelo, envolta em uma fina aura gélida
constante, ela parecia estas sempre lutando contra as forças
flamejantes do deserto, totalmente contrárias à sua natureza.
Seus cabelos alvos, desprendiam mínimos cristas de gelo que
se dissipavam assim que se afastavam dela.
Cerrando a fila, vinha o Deus Lobo Vormog, com sua
pele azul e sua cabeleira emaranhada, desenhos tribais escuros
cobriam algumas partes de seu corpo. O sol parecia não o
incomodar, e ele farejava o ar constantemente e mantinha-se
sempre em estado de prontidão.
Nenhuma montanha, árvore ou qualquer outro ponto
nítido era notório, a paisagem geográfica era imutável, ao
longe o ar tremulava e o deserto parecia sem fim. Não havia
noite, apenas a luz escaldante existia ali. Vez por outra, Morel

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sacava seu artefato místico de localização e orientava o trio,
que seguia initerruptamente pelas areias douradas,
caminhando por tempos imensuráveis; que para padrões
humanos chegariam a casa dos séculos, mas para essas
entidades o tempo era desconhecido, e a caminhada que
desenrolava levara o tempo da construção e queda de milhares
de civilizações.
Em uma de suas paradas, Morel postou-se a se orientar;
ela segura o artefato místico com uma das mãos e com a outra
gesticula, fazendo o objeto mexer-se, mas este parecia
descontrolado agora fazendo com que a Princesa do Gelo
ficasse confusa.
O Deus Lobo postou rapidamente seus ouvidos no chão
– Esperem...ouço algo...- levantou sua cabeça e farejou o ar, -
levante-se lobo, olhem – diz em uma voz gutural o Destruidor.
Morel ouve o Destruidor e fica catatônica com o que vê. Ao
longe no horizonte, uma gigantesca tempestade se formava,
cobria uma frente de quilômetros a fio, o que descartava a
possibilidade de os faze-los escapar.
Trovões vermelhos podiam ser vistos no interior da
tempestade, toda a frente do grupo escurecia com o avançar
da tormenta, ventos fortes ficavam cada vez mais fortes e
levantavam uma quantidade absurda de areia, a cada avanço
da tempestade.

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- FIQUEM ATRÁS DE MIM! – Diz Morel , assumindo
uma posição defensiva com os braços e irradiando uma
barreira de energias enregelantes. Vormog ouve a Princesa do
Gelo e o Destruidor permanece imóvel, Morel utiliza suas
energias para assumir a forma de uma entidade de ar gélido
gigantesca, com formas femininas que envolve toda a área.
A medida que a tempestade avança, Morel mistura-se
com os ventos e assume o controle da tormenta, aumentando
a pressão do centro e diminuindo a temperatura, forçando
seus ventos a girarem em sentido horário, desestabilizando a
força de gradiente de pressão em seu cerne, dissipando-a
lentamente.
Após a grande demonstração de poder, A Princesa do
Gelo assume novamente sua forma humanoide. Vormog se
aproxima da Princesa e parece fareja-la, ela lança lhe um olhar
questionador – Você cheira a morte, Princesa – ele responde.
O Deus Lobo se adianta alguns passos farejando o ar
novamente
– A tempestade trouxe o odor do mundo dos mortos
consigo, os portões da morte podem estar próximos. – De volta
a caminhada, Morel aproxima-se do Destruidor e o indaga:
- Você, Portador de Awdun, sabe que não foi somente o
meu poder que dissipou a tempestade não sabe? Ela me
pareceu um tanto fraca para toda a sua maestria. – Recebendo
apenas o silêncio em resposta. Agora liderando a marcha

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estava o Deus Lobo, pois este era capaz de farejar Spiritum, o
Mundo dos Mortos. Ao longe avistaram um monte muito alto,
único ponto que realmente existia no horizonte. – Lá é
Aramesh, o monte da Cidade de Prata, lar de Demiurgo. – Diz
o Deus Lobo – Lar do renegado – completa a Princesa do Gelo.
– Mas lá não é nosso destino – retifica Morel .
– Como adentraremos nos braços da morte Princesa? – Diz
Vormog. – O frio traz a morte Deus Lobo, no local onde as
paredes entre as dimensões fraquejam, eu poderei abrir um
portal, pois também sou uma antiga guardiã destes domínios.
– Responde Morel.
Subitamente, a Princesa e Vormog parecem se lembrar
de alguém que não estava presente, a conversa entre eles fê-
los não perceber que O Destruidor ficara um pouco para trás,
sua figura, perturbadoramente ágil para seu tamanho, estava
lateralmente afastado, postado perante ruínas que passaram
desapercebidas. O Deus Lobo aproxima-se e é capaz de farejar
um leve cheiro dos mortos. – Este lugar, faça sua mágica aqui
Princesa de Gelo. – Diz o Destruidor. – A tempestade deve ter
revelado estas ruínas; local de um grande massacre, outrora
ocorrido – Diz Morel.
A Princesa de Gelo caminha dentre aquilo que foram
construções, hoje somente destroços, tentando encontrar o
centro do local. Após algum tempo caminhando, sobre rochas
semienterradas, Morel agacha-se e com a palma de sua mão

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sobre o solo consegue sentir o fluxo de energia que fluía de
Spiritum.

Morel começa a desenhar no solo um intrincado símbolo


com a ponta dos dedos; círculos, elipses e espirais surgem nas
areias através do movimento de sua mão.

“...e os deuses mergulharam fundo; arriscando-se na terra dos


espíritos para dar vida, futuramente aos habitantes do mundo...”

Spiritum...a morada daqueles que desencarnaram, ou


seja, dos mortos. Uma dimensão superior que engloba todos
os mundos da Roda dos Mundos, num quantum energético
diferente, noutro contexto espaçotemporal, onde medidas
imensuram-se por métodos normais.

Vagando pelos ares quintessenciais dessa existência


estão Vormog e Morel; inebriados com as impressões
multifacetadas que eles experimentam a cada segundo, não
pela primeira vez, mas nada que uma criatura - mesmo uma
divindade oriunda de dimensões lineares – deva-se adequar,
para que seu continuum espaço-tempo compreenda a realidade
alienígena a sua volta.

Ao longe é possível avistar criaturas que deslizam


livremente neste meio; monstros reais antigos, imagens
pretéritas de mundos existentes em épocas arcaicas. Sua

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marcha, é embalada por notas monótonas que compõem a
Canção das Esferas – a “canção de ninar dos deuses”.
Vormog, o Deus Lobo observa tudo isso com encanto e
temor, mas Morel é uma velha conhecida destas terras, uma
deusa da morte, venerada por deusas da morte oriundas das
mais diversas partes da arcádia. – Essas criaturas são
antigas...seres que se originaram na aurora de muitos mundos
perdidos, e ainda residem aqui, como reflexos vívidos e
imortais dessas terras. – Explica Morel. – Spiritum se revela a
nós muito mais detalhista do que a olhos mortais. Muitos
desses seres, são entidades poderosas e imperceptíveis para
seres menos evoluídos; tão poderosas quanto deuses, mas, não
mais conscientes que animais.
Ao longe, eles avistam a figura do Destruidor pousado
sobre uma rocha flutuante a esmo, sem rumo, com seu olhar
ele fita o infinito que é aquela dimensão.
– Portador de Awdun...acreditamos que tivesse partido... – Diz
a Princesa do Gelo. – Vormog, você sabe porque parei
aqui...sabe que há algo nos rastreando desde que chegamos –
Sim – responde o Deus Lobo, para espanto da Princesa do
Gelo.
As três divindades permanecem estáticas sobre a rocha,
fitando cada um seu raio de visão para perceberem que
semivisível, uma criatura surge parcialmente os circundando;
espinhos deixam-se a mostra de seu dorso serpentiforme,

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como se o ser nadasse em um mar de águas invisíveis. –
Porque não nos ataca? – pergunta Morel – Ele está nos
seguindo...rastreando nossos passos – responde Vormog. –
Vamos ataca-lo logo e acabar com isso!! – Não... – responde o
Destruidor – Não se ataca aquilo que não se toca... – diz ele,
caminhando próximo a borda da rocha, estendendo sua mão
para tocar a criatura, encontrando apenas o vazio. – Você está
diante de uma divindade primitiva de tempos antigos Deus
Lobo, ele só está curioso... não vamos incomodá-lo – Diz o
Destruidor.
– Maravilhados com a fauna indizível de Spiritum, Princesa
Gélida – diz uma voz sibilante às costas do grupo.
O Destruidor põe-se na defensiva, assim como o
Vormog, mas diferente deste último, o colosso armadurado
salta a fim de encarar a figura misteriosa. – Inútil – Diz ela,
subitamente tornando-se translucida, fazendo com que o
Destruidor a transpasse. – Achei que sua reflexão fosse válida,
Portador de Awdun “não se ataca aquilo que não se pode
tocar” não é mesmo? – O Destruidor ruge e seus olhos se
inflamam.
– O que quer Espectro? – Pergunta Morel a figura. Suas asas
murciélagas se abrem revelando uma figura de corpo azul e
um elmo com chifres que deixa transparecer apenas sua boca,
tendo a imagem de um único olho desenhado onde deveria
estar a abertura para sua visão. – Você é Asteraoth, o Maldito...

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– Diz Vormog – Tais epítetos soam um tanto quanto
pejorativos, a alguém tão dispostos a guia-los – Responde a
figura estranha. – Não queremos seus conselhos víbora, vá!! –
Morel faz a rocha congelar, e seus olhos brilham em um
intenso azul. – Ah, mas desejam sim...e na verdade, fui
enviado aqui para livra-los de seus algozes, enviados por
B'hemot, principalmente Tan Kheg, o Impassível, aquele que
os mantinha cerceados no tribunal. – Responde Asteraoth –
Tan Kheg iria até os confins do Mundo Morto, literalmente,
para encontra-los. – Continua... deixando brotar uma risada
sonora sinistra. – E, porque deveríamos teme-lo demônio? –
Diz o Destruidor em tom austero.
As asas acobreadas da figura sinistra assumem um tom
vermelho, sua boca serra dentes afiados; com um movimento
imperceptível surge a frente do Destruidor, estende sua mão a
colocando imaterialmente dentro de seu peito – consegue
sentir isso Titã? Seu coração pulsa em minhas mãos
agora...chamai-me demônio mais uma vez, e vou guarda-lo
para mim, eternamente... – Diz Asteraoth sibilando. O
Destruidor agarra a garganta da criatura e aperta, seus olhos
são brasas e fogo. – Então que suas mãos sejam mais fortes que
as minhas.
As mãos amaduradas são poderosas e fortes, e em uma
disputa de forças, Asteraoth é obrigado a tornar-se imaterial
para se livrar delas. – Chega de ameaças e conversas sem

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rumo...se me seguirem eu os levarei para longe das forças que
os caçam...caso contrário eu mesmo os entregarei a elas!! – Por
alguns segundos o trio fita friamente a criatura, Vormog faz
um gesto com a mão saindo de lado – mostre o caminho então,
víbora... –

“...montando feras indizíveis os deuses vagaram pelo mundo


dos espíritos a procura das almas dos habitantes; pois eles desejavam
dar-lhes vida um dia.…”

O grupo agora vaga atemporalmente sobre uma das


divindades primitivas domadas por Asteraoth e seus poderes
mentais, pois tempo é algo capaz de ser medido, mas não
nessas terras.
Mundos podem ser vistos ao longe, cores múltiplas os
circundam e enchem o Mundo dos Espíritos de espetáculos
belíssimos; alguns são dourados como Paradísia, outros
prateados como a Terra, mas outros são vermelhos-sangue e
rubros mas apenas um, o Mundo Morto, é totalmente negro.
Os caminhos escolhidos por Asteraoth levam as
tangentes de Infernun, 5º planeta de Satânia, perpendicular
aos locais mais decrépitos de Spiritum; local onde as forças
celestes temem entrar. – Porque criatura, porque nos traz para
próximo a esses lugares – Diz Vormog apreensivo de pé sobre
o dorso da fera preambular. – Já ouviu o ditado terreno

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“apenas tolos aventuram-se onde anjos temem entrar” Deus
Lobo? – Vormog rosna – não me atenho a tais seres... – Deveria,
são interessantes, intrigantes e alguns belos em sua forma... –
Diz Asteraoth, sentado à frente, na cabeça do monstro.

O homem lobo se aproxima da figura misteriosa... –


conte-me sua história então Asteraoth – ele se senta próximo
aquele chamado de víbora. – Ele não possui história alguma,
ele é apenas aquilo que restou de uma época de guerras, onde
seu “deus dos deuses” possuía uma outra faceta mais
aterradora... – Diz Morel, A Princesa de Gelo. – Sinto-me
honrado que conheces minha história Dama Gélida...mas
trata-la assim, a desmerece e a empobrece em sua essência. –
Responde Asteraoth. – Então, a engrandeça através de suas
palavras, eu beberia embalado por seus contos se pudesse –
Diz Vormog de maneira irônica. Asteraoth dirige seu olhar
para o Deus Lobo dizendo: – Saiba apenas que os da minha
raça não possuem nome ou berço, fomos criados em uma
época de guerras para as guerras onde meu Pai desejava
vence-las, mas, não encontramos lugar em tempos de paz... –
Asteraoth inclina sua face para baixo, e o pesar pode ser
sentido em suas palavras. – Vendo a forma como lutou contra
o Destruidor, Víbora, imagino o destino de seu Pai, seja lá
quem for, nessas guerras... – Ironiza Vormog. – Talvez
Vormog, talvez o resultado desta contenda não tenha sido

24
assim tão óbvio como pensas que foi... – Responde a Víbora
fitando o infinito de Spiritum.
Ao longe, a trilha negra que o monstro desenha através
do Mundo dos Mortos, é guiada por Asteraoth; a iluminação
dos mundos ainda pode ser vista, mas é escassa e mostra-se
bruxuleante.
Algo semelhante a um buraco negro em desenho pode
ser visto agora; trovões azul-escuros ribombam no centro
desta forma, mesmo na escuridão essa luminescência se faz
presente como se surgisse de formas de vida abissais. Um
silêncio toma conta do grupo, a própria divindade irracional
que lhes serve de montaria afasta seu caminho, temendo se
aproximar demais da prisão dos Deuses Negros; o Abismo.
O silêncio é quebrado mediante uma farfalhar de asas
que acendem daquele lugar decrépito, uma miríade de
sombras parece ascender do Abismo, em direção a eles. O
Destruidor não mostra nenhuma reação, o Deus Lobo mostra
suas garras e suas tatuagens brilham em azul... – Não façam
nada... – as duas divindades observam o inerte Asteraoth,
paralisado enquanto as sombras voadoras passam sem ao
menos notar a gigantesca criatura, tão quanto os quatro em seu
dorso.
– o que são essas coisas? – Pergunta Morel – São os vigilantes
do Abismo princesa...os Anjos das Sombras de Nodens; se
você não for uma criatura abissal ou semelhante, estará a salva

25
se não os perturbar... – E assim a gigantesca divindade
serpentiforme que transporta o grupo adentra mais e mais,
descendo nas trevas primevas de Spiritum.

“...eles chegaram em suas serpentes do mundo dos espíritos,


carregando nossas almas, para joga-las no solo, para que crescessem
os homens como plantas...

Um brilho faiscante é tudo que eles se lembram...

Eles acordam em uma grande campina verdejante e


infinita, seus olhos são incapazes de avistar seu fim, apenas
montanhas existem no horizonte. O Destruidor levanta-se,
avista todo o grupo jogado ao solo, cada qual em seu canto e a
gigantesca fera imemorial tombada a sua retaguarda, morta,
arquiteta de um grande buraco onde agora jaz seu corpo
imóvel.
Ele procura mais uma vez algo para fixar sua visão, e
encontra, em um pequeno monte não muito longe; uma
entidade pequenina parece sentar no topo deste acidente
geográfico, mais que depressa ele caminha até ele. Morel
levanta-se, com o olhar turvo devido à queda; o céu que ela
observa é nebuloso, e a cor predominante é a púrpura – ela não
reconhece qualquer lugar assim.

26
Vormog desperta sobre a carcaça da fera indizível; seu
corpo dolorido leva um certo tempo para se regenerar, mas ele
o faz rapidamente. Vormog observa o Destruidor ao longe,
sendo seguido pelo voo de Asteraoth e Morel que não está
muito longe dele.
Ele fita a direção tomada pelos dois primeiros, e também
enxerga um pequeno ser sentado sobre um monte, mas não é
capaz de fareja-lo.
O Destruidor é uma figura assustadora; um monólito
armadurado de 2,50m de altura, um elmo que esconde sua face
deixando à mostra apenas duas órbitas flamejantes. Mesmo
com sua aparência intimidadora, a pequena figura parece não
se importar com ele, preferindo permanecer sentado sobre as
duas pernas com cascos, observando o horizonte e segurando
uma espécie de gorro vermelho nas mãos.
O Destruidor agarra o pequeno colete verde que a
criaturinha veste, o ergue e fita seus olhos: – Que lugar é esse?
– A pequena criatura, sem esboçar reação alguma, traga um
tipo de cachimbo – também desconheço meu caro Portador de
Awdun.
As brasas que orbitam o negrume do elmo do Destruidor
arregalam-se, ele solta a pequena criatura e se afasta. –
Aconselho esperarmos por seus outros amigos, para então
podermos esclarecer certas coisas por aqui – diz a pequena
figura, voltando a sua posição inicial. – Não são meus amigos

27
criatura... – Ahh, eles talvez não, mas a mulher de gelo...ah ela
com certeza o é... – diz a pequena criatura acariciando uma
barba branca e longa.

O Destruidor tenta se afastar da criatura, mas sente-se


compelido a sentar-se; uma vontade surreal, que em
nenhum momento o força, apenas lhe entrega paz;
calmaria esta que nunca sentira em toda a sua existência.

O segundo a encontrar o monte, a pequena criatura e o


Destruidor é Asteraoth, que pousa a esquerda do misterioso
ser meio caprino. Suas asas fecham-se como um manto, seu
elmo com chifres observa a pequena criatura... – Não tema
Primogêntio, também conheço você; eu sabia que você
também viria. – Quem é você? – Pergunta Asteraoth. –
Algumas de suas perguntas poderão, e irão ser respondidas,
em seu devido tempo; até lá, sente-se comigo, e observe este
maravilhoso campo e contemple sua beleza. Vormog
metamorfoseado em lobo surge no monte, trazendo em seu
dorso a Princesa de Gelo; eles também se surpreendem ao
avistarem o pequeno.

Vormog aproxima-se da criatura, mas sua forma lupina


recebe um afago no focinho, desestruturando qualquer atitude
hostil do deus, fazendo-o retornar a sua forma humanoide. –
Agora que todos estão aqui, por gentileza, encontre seus
melhores locais e sentem-se, para que eu tente esclarecer a

28
todos o que acontece – diz a pequena figura, com uma voz
amigável, de certa forma até mesmo cômica.
O Destruidor já estava sentado à sua direita, Vormog
senta-se a sua esquerda; Asteraoth a sua retaguarda e Morel a
sua frente.

“...e cada deus tomou um ponto do mundo para si; e dele fez
seu lar e reuniu seu povo como seus filhos...”

Vocês poderiam observa atentamente o horizonte e


dizerem a mim o que veem? – Diz a pequena criatura. – Chega
de jogos anão, quem é você – Pergunta o Destruidor de forma
austera.
Eu tenho muitos nomes cavaleiro, e ao mesmo tempo
nenhum, pois todos aqueles que se referem a mim, o fazem
pelo nome errado...aqui vocês podem me chamar de criador
de montanhas e campinas ou o Senhor das Campinas; simples
assim... – Então “Senhor das Campinas” onde estamos? –
Pergunta Vormog – Como já respondi ao seu amigo, eu não
sei...ainda...mas espero com a ajuda de vocês descobrir... – O
Destruidor observa a pequena criatura de maneira atenta e se
levanta – Porque o ajudaríamos? – Porque eu tenho as
respostas que procuram...mais uma vez muito simples... –
Então diga, porque estou aqui? Fui chamado apenas para levar
essas criaturas até determinada parte de Spiritum... – Você está

29
exatamente onde deveria estar Primogênito. – Responde o
Senhor das Campinas a Asteraoth.

Vocês estão diante do meu belo jardim meus amigos;


cada pedaço que observam agora, cada folha, cada detalhe
e árvore eu coloquei onde está, eu criei; mas, como
também podem perceber, só há campinas verdejantes,
cadeias de montanhas e cavernas...nada mais. – Então, este
lugar é seu? E porque não nos diz onde é este lugar? –
Pergunta Morel. – Sim, mas sou um simples jadrineiro... e
ele não é lugar algum e nem está em lugar algum, até
nós o nomearmos e o colocarmos onde deve estar. –
Nós? – Responde Vormog, surpreso – Não temos tantos
poderes para alterar um mundo pequeno senhor... – Não,
caro Deus Lobo, realmente ainda não... – diz o Senhor das
Campinas sorrindo, tragando o fumo de seu cachimbo e
soltando fumaça pelo seu grande nariz.

“... O que eles não sabiam é que o mundo não estava totalmente
solitário, mas povoado por bestas colossais que passaram a aterrorizar
o povo...”

Vocês podem observar como meu jardim é estático?


Do meu sangue e uma rocha fiz as montanhas, as campinas e
as árvores e com ele as mantenho, mas não há vento, não
há água; o solo é escasso e nas cavernas não há fogo.
Esses elementos vagam

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sem rumo; formando vidas concentradas e colossais, guiadas
por instintos primitivos, esperando para serem mortas, para
originarem uma nova gênese. – Você quer que matemos esses
seres? Você quer que tragamos vida ao seu jardim... – Diz
Morel curiosa. – Exato – Temos alguma escolha criador de
montanhas? – Pergunta Vormog – Essas divindades primitivas
guardam a centelha da criação, de posse desse poder, vocês
poderão criar o que quiserem... – Até uma saída daqui... –
Interrompe o Destruidor.
Mas eu garanto meus amigos, quando conhecerem
melhor este lugar, vocês irão chama-lo de lar! – Diz a pequena
figura, levantando-se e enchendo os pulmões, com os braços
abertos fitando o horizonte, depois colocando as mãos na
cintura.
Pois bem pequeno senhor, onde estão essas criaturas? –
Pergunta o Deus Lobo. – Você mais que ninguém pode farejá-
las, não? – Sim, mas apenas sinto o cheiro de uma... – então o
que está esperando? Diz o pequeno. Vormog assume sua
forma lupina gigantesca, partindo rumo ao oeste, seguindo
seus sentidos superagudos.
Se estas criaturas podem me dar o poder de sair deste
lugar maldito, então eu irei caça-las... – Diz Asteraoth, mas em
seu coração, uma ideia pulsa incessantemente: o que ele
poderia fazer se obtivesse todas as centelhas existentes?
Mesmo seu elmo obscurecendo sua face, é possível notar um

31
sorriso malicioso surgindo. Ele alça um voo que
rapidamente rompe a barreira do som, partindo para o sul.
A Princesa Gélida realiza mais uma vez um ritual de
localização, mas sua instrumentação mística parece
desordenada. – Aqui, deixe-me ajuda-la... – o Senhor das
Campinas segura a mão de Morel com a mão direita, e com a
esquerda ele deixa cair uma gotícula de sangue; o astrolábio
mágico de Morel assume uma coloração rubra, e agora ela sabe
exatamente para onde ir, partindo no encalço de sua presa. –
Não está ansioso para ter o poder da criação para si, Portador
de Awdun? – Pergunta a pequena figura.
O que um deus da destruição faria com o poder da
criação pequeno? – Diz o Destruidor, olhando os integrantes
de seu grupo partindo em suas missões.
– O manto da destruição é um fardo meu amigo, você o
carrega se assim o desejar. Você destruiu todo o seu panteão
e a cultura que o adorava; com ela a personificação
destrutiva também se foi a muitos eons, mas a escolha é sua;
nada se cria sem algo ser destruído, sempre haverá espaço
para um deus da criação e para um deus da destruição... –
Diz o pequeno senhor, tragando seu cachimbo ao lado do
Destruidor.
O Gigante armadurado observa profundamente aquele
que ele chama de anão, partindo para o leste em seguida.

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“...e foi através desses colossais, que os deuses realmente
aprenderam, e se fizeram Deuses...”

Asteraoth sobrevoa as florestas e planícies desse novo


mundo; sua pele azulada contrasta com os céus róseos do
local. Seu elmo dourado oculta seus olhos como punição por
algum crime arcaico cometido, mesmo assim, do alto, ele é
capaz de visualizar todo o terreno a sua volta a frente e graças
a outros sentidos, também a retaguarda, mas não nota nenhum
animal pelas redondezas.
Obviamente não seria um animal que procura, ao menos
assim ele pensa enquanto percorre o caminho escolhido.
Pousando sobre um galho qualquer, ele utiliza-se de seus dons
e até mesmo sua onisciência é incapaz de rastrear algo. – Como
anda a caçada meu amigo? – uma voz surge dos galhos
superiores da árvore onde Asteraoth se encontra. –
Intrigante...você se aproximou de mim, e não pude senti-lo... –
Diz o Primogênito para o Senhor da Campina, que se
encontrava agora, sentado em um galho sob sua cabeça. –
Digamos que o tempo pode ter feito os seus sentidos falharem
meu amigo...ou os meus se aguçarem – Diz o pequeno senhor
com um sorriso agradável. – O que caço aqui pequeno? – Com
uma gramínea em sua boca, o criador de montanhas e
cavernas responde – O Flamejante; eu nunca lhes dei nomes,
mas costumava chamá-los de Colossos ou Colossais, não sei

33
qual soaria melhor...o que acha? – Acho que você mesmo
poderia vencer essas bestas elementais sozinho, mas não o faz
devido a alguma lógica inelegível para mim, ainda... – Nem
tudo é uma questão de poder meu caro Primogênito; todos
aqui já foram conquistadores um dia, no entanto, estão aqui
em um jogo do destino pela liberdade, se assim desejarem. –
Responde o Senhor da Campina.
– O que quer dizer pequeno?
–Quero dizer que não importe quanto poder acumule...sempre
haverá alguém maior meu amigo, sempre. – Acho que sua
presa acaba de chegar... – Diz o pequeno apontando para o
horizonte.
O elmo de Asteraoth segue a direção apontada pela mão
grossa e cabeluda de seu estranho anfitrião, mas o que ele vê é
a personificação do próprio sol que parece aproximar-se dele
em um constante bater de asas flamejantes; ele procura mais
uma vez o pequeno senhor nos galhos acima, para perceber
que este já não se encontrava mais ali.
Subitamente com um salto e um bater de asas rápido,
Asteraoth mergulha em parafuso até o solo, a fim de escapar
rapidamente da majestosa e gigantesca criatura de forma
aquilina, que vinha em sua direção; ele observa atentamente
do solo, procurando algum ponto fraco enquanto o Colosso
sobrevoa sua cabeça, mas percebe que ela não desejava ataca-
lo; visto que sequer percebeu sua presença. Ela passa pelas

34
copas e todas essas incendeiam-se simultaneamente até que
apenas cinzas se desprendam e despenquem ao solo, devido à
ausência do soprar dos ventos.
Asteraoth concentra-se e, com poderes telecinéticos ele
arranca várias árvores daquele vasto campo onde se encontra,
e as lança velozmente contra a divindade de chamas; os
troncos pesados e grandes voam como flechas pontiagudas,
para imolarem-se ao transpassar o corpo da entidade, que não
pareceu se importar com o acontecido.

“...já que tais seres poderosos existiam antes da própria vida,


eles então não poderiam viver, logo também, não poderiam morrer;
eles apenas estavam ali, desde o início...”

Ao Norte da li, Morel Vento de Tempestade atinge as


montanhas, e através de seu astrolábio arcano, ela pode
facilmente chegar ao local onde a entidade repousa. Tudo que
ela vê são rochas, pedras e montanhas, poucas árvores
dispersas e gramíneas, mas seu instrumento de localização
pulsa em vermelho, acusando que ela havia chegado ao local
onde repousa o Colosso.
Ela caminha, atenta a qualquer movimento,
ouvindo cada nuance, analisando cada detalhe do ambiente.
– Já se perguntou, o que uma encarnação da terra, estaria
fazendo

35
sobre ela? Morel assusta, seguindo a voz que ela reconhece
bem, até uma rocha mais alta e lá, pode ver o Senhor da
Campina sentado. – Se sabe de algo, porque não me indica a
direção correta... não tema, pois o trabalho sujo farei para você!
– Diz a Princesa do Gelo, sem desviar o olhar de seu
instrumento de localização. – Mas, eu já não estou lhe dizendo
Princesa? – Diz o pequeno, deitado sobre a rocha observando
o céu sem nuvens.
– Não sejas tão hostil minha amiga, logo este jardim será
o mais belo em toda Roda dos Mundos. – O Senhor da
Campina se levanta e acende seu cachimbo; um odor de ervas
é percebido pela Dama Gélida a fazendo lembrar do passado,
de dias arcaicos quando era uma divindade em Arcádia. – O
que é você criador de montanhas e campinas? – Pergunta ela,
abaixando a mão que carregava o astrolábio, fazendo-o
desaparecer.
– Lhe fiz lembrar do passado não? Estas são ervas-de-
fumo, muito populares dentre aqueles que lhes prestavam
honrarias no passado não? – Porque nos trouxe aqui? – Eu os
trouxe aqui para ajudarem com meu jardim, e quem sabe
recuperarem algo que perderam a muito tempo...
O Senhor da Campina deita na rocha nua, da mais uma
tragada forte, e lança a fumaça para fora; com uma das mãos
sustentando sua cabeça, os pés com cascos cruzados, e o gorro
vermelho sobre a barriga ele mantem-se deitado sorrindo,

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quando tremores poderosos o fazem rolar da pedra e o jogam
até próximo dos pés de Morel.
– Sentiu isso Princesa? – Ele sorri. Morel levanta-se e mais uma
vez manifesta seu astrolábio; ele agora aponta para baixo, logo,
ela deduz que a entidade esteja no subterrâneo e dever ser algo
extremamente poderoso e grande.
Morel paira levemente até uma entrada de caverna, onde
ela julga ser o caminho para a criatura; começando a descer,
cada vez mais para baixo. O negrume é tamanho que qualquer
mortal estaria impossibilitado de viver naquela região; as
trevas são densas e sufocariam qualquer criatura mortal viva.
A medida que desce ela ouve os barulhos se
aproximando, tornando-se cada vez mais altos; tremores
abalam seu caminho, fragmentos despencam do teto, mas ela
continua sua corrida até encontrar o Colosso.
Sua visão aguçada, dita divina, é capaz de perceber uma
figura rochosa e alta; à medida que caminha, ela resvala no teto
e nas paredes daqueles salões, ocasionando os tremores.
A besta possui uma forma quadrúpede e corpulenta,
sem aparentes olhos, boca ou quaisquer características que o
diferenciem de uma montanha que caminha. – Vê, minha
querida amiga, sua perna direita? – O Senhor da Campina,
subitamente sussurra nos ouvidos da Princesa Gélida. Ela
então percebe que ele divide com ela o mesmo canto da parede
onde esta se esconde. – Ele...não a possuí – Diz Morel

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observando a entidade. – Possuía, mas tive que pega-la para
lapidar tudo onde pisamos e aquilo que enxergamos...agora
cabe a você tomar o resto. – Porque ele deveria morrer? – Ele
sabe que deve – Diz o Senhor da Campina – O que o faz lutar
é puramente o instinto de sobrevivência, nada mais.

“...e foi injusto com os deuses, quando lutaram batalhas que


não poderiam vencer...

A leste, o Destruidor foca o horizonte; ele não sabe o que


procurar, então ele apenas caminha nesta direção, a esmo,
deixando que o destino decida seu futuro. As formações
rochosas ao longe parecem se repetir em um intervalo de
tempo grande; o mesmo acontece com as árvores e o relevo
verdejante. Ele caminha por mais algum tempo, e parece que
o padrão do horizonte se altera em uma pequena fração de
segundo, o bastante para chamar-lhe a atenção.

Após um grande salto, o Destruidor pousa em uma


montanha, sendo capaz de observar que o destino o trouxe até
aquela que, em sua concepção, seria a representação dos
oceanos deste lugar: uma forma cefalópode translúcida, que
serpenteia com toda sua majestosa forma no solo; deslizando
suavemente sem rumo.

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De imediato ele se lança em um ataque furioso sobre a
criatura, que pouco se importa quando a figura armadurada
transpassa seu corpo e perfura o solo em quilômetros para
baixo da superfície. Em um curto intervalo, o destruidor volta
do subterrâneo para mais um ataque sem sucesso.
A criatura ainda flui livremente pelo ar, nenhum
ferimento fez-se em seu corpo. – Maldita seja criatura! – O
Destruidor ergue uma gigantesca e a lança contra a entidade,
e o resultado é o mesmo quando aquela se choca contra o corpo
fluídico.
Os olhos do Portador de Awdun se inflamam, e como
teste, ele desfere uma rajada de raios flamejantes contra a
entidade; os raios incandescentes são tão poderosos, que
cavam uma vala no caminho traçado até o Colosso – o
Destruidor firma seus pés com força, fazendo com que estes se
enterrem parcialmente no solo e mesmo assim, ele é lançado
para trás.
Quando o ataque flamejante atinge seu alvo, o
Destruidor percebe um incomodo, mesmo que leve na
entidade magnânima, fazendo-o pensar o que seria quente o
suficiente para realmente causar algum dano aquela
divindade; a resposta surge em sua mente de imediato.

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“...mas o lobo, ele é amigo da criação, então ele sabia o que
fazer...”

Observando as altas árvores que compõem uma


pequena parte do jardim do Senhor da Campina, Vormog,
metamorfoseado em Grande Lobo observa sua caça, pairando
levemente sobre o arvoredo a sua frente. Um imenso ser
inséptico composto puramente de vento e ar; uma
tempestade revolta lapidada em uma adimirável.
Do solo, ele pode ver o quão grandioso é aquela
entidade; ele a fita com os olhos de sua forma lupina e pensa
que se fossem outros tempos, a eons passados, antes de sua
cultura ter sido esquecida, ele teria poderes para obliterar
aquele ser instantaneamente. Ele solta um lamurioso uivo,
longo e triste, fazendo sua mente remeter a épocas arcaicas da
mitologia da Roda dos Mundos.
– Creio que em épocas imemoriais, você Vormog era senhor
tanto dos homens quanto das feras; estou certo? – Diz o Senhor
da Campina, sobre o dorso de Vormog.
Ele se contorce como se estivesse se livrando de um
incomodo, fazendo o pequeno senhor cair na grama; aos
poucos ele retoma sua forma hominídea. – Outrora pequeno
senhor, meu uivo atrairia tanto homens quanto animais para
próximo de mim; eles me honravam com desenhos em
seus totens e sacrifícios de caça para alimentar meu
espírito...isso

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foi a muito tempo... – Os mundos estão repletos de deuses
caídos meu amigo, e muitos encontram uma forma de se
reinventar e renascer.
Diz o Senhor da Campina. – Não sei que jogo está
arquitetando pequeno, mas se puder ter a chance de correr
pelo seu jardim acompanhado novamente de criaturas crentes
a mim, você terá minha mais sincera devoção... – o Senhor da
Campina se joga de costas na grama e deixa um sorriso feliz
brotar em seus lábios ressecados, quase totalmente cobertos
pela longa barba e bigodes vermelhos.
Vormog levanta-se, colocando-se de pé frente ao
pequeno senhor; com suas garras negras ele faz um grande
rasgo em seu peito, fazendo com que o sangue verta; ele
escorre pela barriga, pernas e embebe o solo.
Com dois dedos ele faz desenhos tribais em seu rosto,
braços e no chão onde pisa. O próprio Senhor da Campina fica
perplexo com o que acontece a seguir: As árvores, a vegetação
e o próprio vento parecem responder a convocação do Deus
Lobo, enquanto ele recita cânticos em uma língua arcaica e
esquecida.
Os pés de Vormog agora, são um com o solo, enraizados
nele; às árvores acompanham o movimento de seus braços e
suas copas, o soprar do vento em sua longa cabelereira negra.
O pequeno senhor pode sentir que Vormog não era
apenas um deus guerreiro de sua cultura, ele também era uma

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divindade da natureza, que a entendia e a dominava; era
um com ela. O Deus Lobo então infla o pulmão de ar
totalmente, fazendo com que o Colosso se dissipe
por completo instantaneamente; quando este esvazia seu
peito em uma lufada de vento, todo o jardim do pequeno
agita-se, banhando pela primeira vez naquele elemento.
O Senhor da Campina enche seus pulmões com ar em
uma respirada profunda, mostrando grande alegria com o
acontecido e sorrindo diz: – Agora meu amigo, vá e renasça! –
Diz ele para o Deus Lobo que mais uma vez uiva, mas agora
de satisfação fazendo-o ecoar por todo o oeste.

“...os outros que não eram, pobre dos deuses, eles sofreram...”

Uma revoada de chamas engolfa o Primogênito; como


Asteraoth é chamado pelo Senhor da Campina. Ele tenta de
todas as formas e possibilidades atingir o Colosso: todas elas
são malsucedidas. O ser alado manifesta então uma lança de
um material dourado, brilhante como o sol, mas logo essa
arma se torna azul e brilha, envolta em uma aura gélida e
congelante.
Acompanhando o voo do ser aquilino de cima, Asteraoth
murmura algumas palavras e a lança congela seu braço antes
de ser arremessada com fúria contra seu alvo. A velocidade é

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tão grande, que uma barreira de vento é rompida causando
um grande estrondo fazendo-a deixar um fino feixe de azul
pelo caminho até a ave flamejante.
O dardo de gelo transpassa o fogo moldado em pássaro,
fazendo-o mudar seu percurso e olhar diretamente para a
divindade com asas de morcego. Um soprar poderoso de
chamas irrompe na direção de Asteraoth; tantas são as
labaredas, que ele tem metade de seu corpo chamuscado por
elas, e as queimaduras mantem-se incandescentes mesmo após
o fogo se dissipar.
– Isso não é fogo, isso é a essência das chamas; um Fogo
Primordial, vi isso apenas em épocas arcaicas no Elysium – Ele
sorri observando suas feridas. Subitamente algo se
aproxima de sua posição com rapidez, ele fita o objeto e
percebe que outra divindade elemental o segue tão
rápido quanto. Passando por ele e se chocando contra o
solo de modo duro esta o Destruidor, lançado pela criatura
formada de águas que enfrentava.
Quando pressente o outro Colossal se aproximando, a
entidade flamejante muda seu foco, e inicia um bater de asas
furioso, em direção aquele ser que representa toda a sua
antítese. Asteraoth observa a cena parecendo não acreditar; ele
desce até o chão, na cova feita pela queda do Portador de
Awdun, quando ele chega até o local, o Destruidor já se
levanta.

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– Titã, você trouxe o Colosso até aqui, ótima idéia! – Elogia
Asteraoth com um sorriso nos lábios. Recebendo apenas um
olhar penetrante das labaredas orbitais que se mostravam
dentro do elmo do Destruidor.
O céu é dominado por um brilho nunca antes visto; um
amarelo e laranja risca a imensidão púrpura, conforme a
entidade de fogo recebe golpes de sua contraparte; em
contrapartida, uma chuva torrencial muito forte se
inicia, quando a batalha favorece a grande ave
flamejante; o combate é feroz: trombas d’água escavam o
solo e formam rios, as faíscas de fogo, nascem dos
impactos do Colosso de água contra o de fogo, para se
fixarem no firmamento.
As duas entidades, esquivam-se dos efeitos colaterais do
combate, são atingidos por alguns, mas nada danoso o
suficiente para incapacita-los.
Com um golpe simultâneo, os dois Colossos parecem
ferirem-se mortalmente - ao menos para os dois observadores
– o que faz ambos explodirem em um efeito que libera água e
fogo ao mesmo tempo. Asteraoth é envolto pelas chamas; seu
corpo se incendeia e ele é atirado contra o solo com tamanha
força que desce ao subterrâneo sem fim e desaparece.
O Destruidor é atingido por ambos, fogo e água, sendo
arremessado em um precipício, mas sendo amparado por um
oceano que agora existe ali; seu peso é enorme, e o faz descer
até as profundezas deste. Como se seu peso não existisse ele

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toca o fundo do mar, para então voltar a terra firme. Ele
observa ao redor, pode ouvir cantos de pássaros, ver que
alguns pequenos animais correm nos campos.
Aquilo lhe intriga, mas agora ele sente que um poder
novo corre por suas veias, e a muitos quilômetros de distância
ele pode ouvir os gritos de dor de Morel; ele simplesmente
pensa na direção norte e na Princesa Gélida, para se manifestar
no local, próximo a entrada onde ela havia descido.

“...eles se ajudaram, combateram, se feriram e venceram...”

O Destruidor adentra aos salões subterrâneos onde


Morel Vento de Tempestade consegue congelar toda a
personificação do elemento terra de todo um mundo, mas, isso
ainda não é o bastante para acabar com a entidade colossal,
que agora, teve sua atenção atraída pela Princesa do Gelo. Ele
ataca não só tentando pisoteá-la, mas toda a terra e rocha ao
redor conspiram para destruí-la, obedecendo-o, até que
subitamente, teto e chão do local se fecham sobre a divindade
tentando esmaga-la.
O Destruidor, agora dotado do poder da criação cria
uma lança forjada de ventos, e atira no solo próximo a Morel;
ela, em meio a muitas toneladas de rocha sólida e terra, pode
ver a figura do Portador de Awdun observando o combate, da

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entrada por onde ela descera. Ela utiliza suas poucas forças
para deslizar para fora da armadilha mortal criada pelo
Colosso, antes que ele a esmagasse.

Prostrada sobre o solo, ela arrasta-se até a lança de vento


fincada no chão; próximo a ela jaz uma arma, semelhante a
uma lufada de vento forjada em formato pontiagudo,
fincada de forma que a própria rocha a evita, escavando
uma cratera. Ela tenta agarrar a arma, mas é interrompida
por um grande golpe do Colosso que faz toda a região
tremer e desmoronar; ela então fita o Titã armadurado que a
observa ao longe, sem expressar reação alguma.

Morel salta sobre o monólito de rocha, criando várias


cópias de si mesma, a fim de ludibriar a criatura, e obtém
sucesso. A entidade de rocha e terra desfere um
poderoso pisão contra Morel, mas escolhe errado; a
verdadeira Princesa Gélida agarra rapidamente a arma de
vento deixada pelo Destruidor.

Munida da arma, Morel atravessa o corpo da deidade


colossal com um só golpe, liberando o poder do elemento terra
sobre o mundo, e adquirindo a dádiva da criação para si.

“...e um Rei, retirou sua Rainha das garras de uma besta...”

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Morel e o Titã de armadura saem do subterrâneo, ela se
apoia nele, e ele lacônico, apenas permite que ela se firme em
seu corpo, mas, a espera em cada passo vagaroso que dá rumo
a saída. Sem uma palavra, ambos deixam o local para perceber
como o jardim havia mudado; pássaros e cervos caminhavam
e voavam, a água fluía em rios, o vento soprava balançando as
madeixas alvas de Morel e um ou dois vulcões podiam ser
vistos em montanhas remotas, distantes.
O céu deixou a púrpura inicial para assumir uma
tonalidade azulada, com nuvens densas e carregadas de
chuva. Uma grande esfera de fogo paira agora no alto, herança
deixada pelo Colosso flamejante caído, cujo espírito agora
velava por todos aqueles que viviam naquele mundo.
Os aromas florais agora inebriavam seus sentidos, eles
os sentiam enquanto contemplavam o horizonte, e então
puderam chamar aquilo de serenidade; algo que nunca
sentiram antes. O caminhar das duas divindades levou-os ao
encontro de outras criaturas, uma nação delas; eles
imediatamente associaram aqueles seres aos Humanos do
Plano terreno e prontamente foram tomados pela fúria; o Titã
destruidor deixa a Princesa Gélida sentada no solo gramado -
calmamente depositada por aquelas mãos que carregavam a
nulificação de toda uma gênese.
Ele caminha ameaçadoramente a fim de confrontar
aqueles seres. – Praga... – murmura o Destruidor enquanto

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carrega seus olhos com um olhar calcinante. – Detenha-se
Portador de Awdun – Diz o pequeno Senhor das Campinas,
tocando calmamente a lateral do corpo do Destruidor com a
mão direita, enquanto a esquerda ele leva até seu cachimbo.
O Titã faz a luz flamejante de suas órbitas acalmarem-se
e então ele desvia seu olhar para o dono de todo o jardim onde
pisa. – Eles não possuem nome – Diz o Senhor da Campina
caminhando até os apavorados humanoides a frente do trio
divino. – São vida acordada neste mundo, vê como eles nos
observam? Eles os temem, com medo e veneração; são nada
mais que recém-nascidos desprotegidos a procura de um
acalento; a proteção de um pai... – Ele estende a mão próximo
da figura desprezível, aos olhos do Destruidor, e ela se recolhe
protegendo-se, enquanto os demais procuram abrigo na mata
e nas rochas caídas.
O Destruidor observa aqueles à sua frente, não com os
olhos flamejantes da fúria, mas agora, ele caminha
calmamente até aquele próximo ao Senhor da Campina, que
inacreditavelmente observa o Titã com admiração; ele põe-se
de pé e fita as órbitas incandescentes do gigante armadurado,
flutuando em um elmo sinistro, à mais de dois metros de sua
cabeça.
Morel sente compaixão por aquelas pobres criaturas; ela
estende sua mão na direção do Destruidor. – Não os destrua
Portador de Awdun – A figura gira seu elmo para a Rainha

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Gélida, e por algum tempo apenas o soprar do vento ouve-se
naquele local – um vale entre duas montanhas.
O Titã volta a fitar a figura humanoide e, subitamente
segura seu elmo com as duas mãos e, com um
esforço hercúleo, ele o retira; um estrondo de metal
se desprendendo pode ser ouvido e quando a peça deixa
sua cabeça, madeixas de cabelo cinzento correm por seus
ombros até o meio das costas, ele então solta o elmo que,
com um estrondo atinge o solo e enterra-se até a metade.
O Titã volta a olhar para a Rainha Gélida; seu rosto
possui barbas e um longo bigode também grisalhos; ela o
observa com ternura e um sorriso surge em ambas as faces.
O Destruidor caminha até o humanoide, e admira a
bravura da criatura quando ela não recua; ele então coloca
uma de sus mãos sobre a cabeça do pequeno dizendo: – Eu não
serei seu deus criatura; eu serei seu Pai... – a mão desce até o
ombro – Eu também serei seu Rei – a mão do Destruidor desce
até as mãos do humanoide, e ele segura em dois dedos do
Titã enquanto aquele ajoelha-se... – eu também serei seu
amigo. Ao ver a cena, os demais humanoides sorriem pela
primeira vez e o medo os abandona, e mesmo sem ter
noção do acontecido, eles comemoram.
O Titã levanta-se e diz – De hoje em diante, irei
construir a maior nação desta terra, a terra de Astren e
vocês, astrenianos, homens livres; meu povo e meus
protegidos. Ele

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dirige-se então até Morel, a toma nos braços e, sem oposição a
beija. – Minha rainha – ela sorri, retribuindo o gesto. Ambos
procuram o Senhor da Campina, mas aquele em algum
momento desaparecera, sem deixar vestígios.

”...e eles deram origem ao povo branco da terra de gelo do


Oeste...”

O Leste fora tomado por um gigantesco bosque de


árvores com copas vermelhas e troncos com desenhos rúnicos.
Adentrando seu interior, um trono vivo, forjado naquele
formato sustenta Vormog eu seu acento; o Deus Lobo agora
possui um manto negro e peludo que cobre seu corpo, mas este
prefere andar desnudo, como sempre o fez.
O bosque é tomado por inúmeros animais; aves,
mamíferos e insetos, mas, no centro deste, próximo ao trono
de Vormog, apenas os lobos gigantes que ele mesmo esculpira
de sua carne se aproximam. – Como criar vida a minha
imagem pequeno, preciso que me diga como? – Vormog diz
sem desviar a atenção dos lobos que se posicionam a seus pés,
deitados.
De suas costas o Senhor da Campina caminha até a frente
do Deus Lobo, acaricia uma de suas belas criações – Você já a
criou meu amigo; esses são vidas inteligentes, cada uma a sua
maneira... – Não! – Interrompe Vormog – Quero que sejam

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como a mim, que possam lutar, correr, e serem livres como eu.
– Eu não sei, mas posso dizer que nem toda a vida precisa ser
criada, as vezes ela só precisa ser lapidada... – Enigmas demais
pequeno anão. Os olhos de Vormog podem observar sombras
que se aproximam de seu trono.
O Deus Lobo havia criado humanoides lupinos,
esculpidos dos lobos que criara e de seu sangue; estes ele havia
chamado Mac Tíre, os Lobos Homens. Instintivamente, os Mac
Tíre começaram a atacar os humanoides que se aproximavam,
e mataram alguns, mas foram impedidos de destruir a todos
por Vormog que deixou que aqueles seres se aproximassem.
Ele então observa as criaturas e se levanta; seu manto é longo
e é arrastado pelo solo com pompa.
Ele se aproxima dos humanoides e eles fogem, mas os
Lobos Homens os cercam. Eles se agrupam em um amontoado
no centro dos Mac Tíre, e estes dão passagem a Vormog, seu
senhor. – Se estarem comigo, jamais precisarão temer
novamente esses seres...eles estarão com vocês, viverão com
vocês e para vocês... – Diz o Deus Lobo.
Os seres humanoides parecem entender o que a
divindade de cor azul fala, temerosos eles arriscam aproximar-
se das criaturas assassinas que vitimaram muitos de sua
espécie algum tempo atrás, e estas prostram-se submissas a
eles; o Deus Lobo consente com um aceno positivo com a
cabeça. – De agora em diante, meus filhos serão os senhores do

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cão, do lobo e da minha natureza e ela irá servi-lo e eles a
protegerão. Vormog leva todo aquele povo até um lago
cristalino próximo dali; os Mac Tíre formam um corredor
conduzindo os humanoides até o local.
Vormog adentra o lago e corta seus pulsos, deixando o
sangue fluir em cascata, tornando as águas, outrora límpidas,
em águas vermelhas e sangrentas. Os humanoides adentram
também aquelas águas rubras, se banham e a bebem;
subitamente adquirem certos comportamentos animalescos,
que remetem aos lobos; características estas que fazem
daquele povo um povo selvagem, assim como aquele que os
bestifica.
– Vocês serão meu povo, o povo selvagem; eu os chamo
Ruari, seu símbolo será a runa circular e a garra, para que se
lembrem daquele que lhes entregou a dádiva da natureza um
dia. Aqueles homens ali, agora eram homens selvagens,
gritavam vorazmente e uivavam como seu deus.

“...e o deus lobo criou os homens selvagens do Leste...”

No subterrâneo, uma entidade jazia no solo; sua queda


flamejante havia detonado as chamas no interior do mundo e
ele, com isso, havia acordado inúmeras criaturas humanoides
que agora se levantavam e caminhavam para a luz do dia, para

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a saída do inframundo. Sua coloração celeste, era agora negra;
sua pele escura, possuía fendas vermelhas incandescentes.

Ele abre suas asas, e a chama ao fundo quase é ofuscada


pelas sombras que ela irradia; seus olhos agora podem ser
vistos, já que sua pena fora destruída juntamente com a
dourada armadura que portava.

Ele vê as criaturas bípedes caminharem em transe para


longe, cambaleantes e sem rumo. A visão daqueles seres
remete a imagens passadas em sua mente, visões de guerra e
conquistas, de sangue derramado, de dor e ira; quando seu
próprio Pai abandonou o senhor de seus exércitos, aquele que
realmente fora criado a sua imagem e semelhança no vazio do
tempo, apagando até mesmo seu verdadeiro nome da história
do Tudo.

Ele infla seus pulmões e desfere uma baforada de


chamas primitivas sobre aquelas pobres criaturas, nulificando
seus corpos instantaneamente. Ele esvazia seus pulmões em
fogo, até que não reste nada vivo a sua volta.

Ele se prostra de joelhos, ofegante, observando o chão e


com o peso amargo do ódio sobre suas costas. Ele ouve passos
a sua retaguarda, e com sua asa ele golpeia fortemente a
esquerda; a garra que possui neste membro é tão afiada que
fende o chão, errando seu alvo, que era nada mais nada menos
que o diminuto Senhor da Campina.

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– Primogênito...eu não esperaria nada melhor de você...
– Diz o pequeno senhor sorrindo e observando a figura feita
de fogo e sombras.

“...mas no Sul, aquele que fora criado para guerrear e matar,


fazia seu reino de morte e chamas...”

Escrito por Bernard Coutinho, baseado em uma campanha de


RPG do Sistema Daemon que se iniciou com o Módulo
Básico comum em partidas esporádicas, em 2009 e graças a
publicação do Trevas: Campanha Épica, terminou em 2012.

Talvez eu continue até o fim da campanha...

Qualquer dúvida bercoutinho@yahoo.com.br

Agradecimentos ao meu grupo de RPG, Macumba (Destruidor),


Tilão (Vormog) e em memória de Donão (Morel), fique em paz
amigo.

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