Sie sind auf Seite 1von 15

Avaliação de Risco

Geológico em Barragens

Henrieth Viviane Borgo de Oliveira


Geóloga formada pelo Instituto de Geociências, Unicamp. Campinas, SP, Brasil
E-mail: henrieth.oliveira@geoklock.com.br

Luiz Ferreira Vaz


Themag Engenharia, São Paulo, SP.
Ex-Prof. Vistante, Inst. Geociências, Unicamp. Campinas, SP, Brasil
E-mail: vaz@themag.com.br

Celso Dal Ré Carneiro


Instituto de Geociências, Unicamp.
Caixa Postal 6152, CEP 13083-970, Fax +55 (19) 3289 1562, Campinas, SP, Brasil
E-mail: cedrec@ige.unicamp.br

ABSTRACT RESUMO

The safety of concrete dams, earthfill dams or rockfill A segurança de barragens de concreto, terra ou
dams is necessary to protect life, the environment and enrocamento, é necessária para proteger a vida, o
buildings. However, anthropogenic interference con- ambiente e as edificações; entretanto, a interferência
tributes to trigger intense and more frequent risks, be- antrópica pode desencadear riscos intensos e frequentes,
cause it speeds up or it changes the course of geological na medida em que acelera ou altera o curso de processos
processes. In order to identify risks and prevent acci- geológicos. Para detectar e prevenir acidentes, é
dents, evaluation and analysis of geological risk are an essencial a avaliação e análise de risco geológico. O
essential procedure. This paper summarizes knowled- artigo sintetiza conhecimentos e métodos práticos para
ge on the subject and practical methods for evaluation avaliação e análise de risco geológico em barragens, a
and analysis of geological risk in dams. As the geologi- partir de levantamento bibliográfico e de relatos práticos
cal phenomena can not be analyzed by mere statistics de especialistas. Deve-se lembrar que os fenômenos
series, it is required to analyze and to evaluate all the geológicos não podem ser analisados por meras séries
possible variables, both objectively and subjectively, estatísticas, sendo necessário analisar e avaliar objetiva
using common sense and the previous experience of e subjetivamente as possíveis variáveis, empregando-se
decision makers. Not only a choice between the best bom senso e a experiência dos tomadores de decisão.
alternatives for prevention of risk is needed, but it is Além da escolha das melhores alternativas para
necessary to select objective tools to present the results. prevenção do risco é necessário selecionar ferramentas
In the analysis of geological risk we have used the objetivas para apresentar os resultados. Empregou-
technique of Fault Tree Analysis (FTA); evaluation has se a técnica de Análise por Árvore de Falhas e foi
been produced using a geological risk matrix, which elaborada uma matriz de risco geológico, contendo
considers a detailed classification based on three quan- classificação mais detalhada, baseada em três critérios
tification criteria: chance, dangerousness and severity. de quantificação: possibilidade, periculosidade e
The results seem to be useful, but still rely on practical gravidade. Os resultados parecem úteis, mas ainda
implementation to be improved. dependem de aplicação prática para ser aprimorados.

31
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

1 INTRODUÇÃO da engenharia, desse modo, é preciso utilizar a


probabilidade subjetiva, ou seja, aplicar um méto-
A retenção de grandes volumes de água em do no qual as informações possam conter “pistas”
barragens proporcionou melhor qualidade de que permitam aferir condições de risco. Os proce-
vida à humanidade e contribuiu para a evolução dimentos muitas vezes se baseiam na sensibilida-
da Geologia de Engenharia. Uma barragem preci- de e na intuição do intérprete.
sa ser segura ao longo de toda a sua vida útil, uma O presente artigo descreve procedimentos
vez que interfere nos processos geológicos e pode de avaliação de risco geológico em barragens e
desencadear riscos, os quais podem se intensifi- busca quantificá-los em função dos efeitos sobre
car devido ao aumento das ações antrópicas. Isso o processo construtivo e a operação. A síntese de
exige atenção dos responsáveis pelos empreendi- conhecimentos e métodos práticos originou-se da
mentos, tanto nas etapas de construção como na literatura e de relatos práticos de especialistas em
fase de operação. avaliação de risco geológico. Utilizou-se matriz
A construção de barragens impõe diversas proveniente de organizações que fazem avaliação
solicitações aos maciços geológicos. A principal de risco, considerando dez fatores de risco geo-
solicitação é o empuxo hidráulico, resistido pelo lógico que podem ocorrer em barragens, associa-
peso da barragem e pela fundação. A estanquei- dos a condicionantes, como: esforços atuantes,
dade do reservatório, a sismicidade natural ou percolação de água e estabilidade das paredes de
induzida e a percolação de água são exemplos escavação. Os fatores que podem desencadear os
de solicitações, avaliadas pela Geologia de Enge- riscos ultrapassam as categorias alto, médio e bai-
nharia, que podem interferir na estabilidade da xo, tendo sido criada uma classificação detalhada,
barragem. Outros fatores que também podem a partir da aplicação de três fatores de quantifi-
comprometer uma barragem são a qualidade e cação: possibilidade, periculosidade e gravidade.
o comportamento mecânico-hidráulico dos ma- Para possibilidade e periculosidade foram estabe-
teriais naturais: de acordo com a estrutura atingi- lecidas cinco classes, divididas em notas; a multi-
da, pode haver desde pequenos atrasos na cons- plicação das notas resulta no fator gravidade. Os
trução até a inviabilização da obra. As ações do resultados da análise de gravidade permitem es-
intemperismo sobre os materiais naturais, asso- tabelecer três intervalos de risco: aceitável, preo-
ciadas a falhas, fraturas, zonas de cisalhamento cupante e inaceitável.
e ocorrência de sismos são fatores identificados O desenvolvimento da matriz de risco foi
como risco geológico. apoiado na realização de uma Análise por Árvo-
Acidentes em barragens têm origem em al- re de Falhas (AAF), técnica que permite identifi-
gum tipo de anormalidade, a qual, se detectada, car causas potenciais de um acidente. A AAF foi
pode ser diagnosticada como capaz de resultar criada a partir de causas básicas, tais como: vaza-
em acidente, ou até mesmo provocar ruptura mentos e instabilidade ou defeitos no tratamento
(Medeiros, 1999); consequentemente, a avalia- do maciço, falha na avaliação da estanqueidade e
ção de riscos que podem ocorrer na construção sismos. São situações que interferem no quadro
depende de investimentos em melhoria estrutu- geral de condicionantes geológicos e podem levar
ral, monitoramento e manutenção. Empreendi- até mesmo ao rompimento da barragem.
mentos com custo de segurança baixo requerem
nível aceitável de risco que é, em geral, definido 2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA
pela seguradora da obra (ICOLD, 2001). O cum- CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS
primento das medidas necessárias para constru-
ção do empreendimento com custo baixo não ga- As primeiras barragens construídas tiveram
rantirá redução do grau de incerteza. a finalidade de armazenar água para garantir
Os processos geológicos nem sempre se en- consumo durante períodos de seca. Entretanto,
quadram nas condições propostas pelos modelos o desenvolvimento da tecnologia e a demanda
matemáticos, ou seja, os fenômenos naturais não por mais intensa utilização dos recursos hídricos
atendem à objetividade requerida em abordagens trouxeram novas aplicações; hoje a construção de

32
Avaliação de Risco Geológico em Barragens

barragens é destinada principalmente ao abasteci- geológico-geotécnicos a fim de produzir um estu-


mento de água, à geração de energia, ao controle do minucioso do empreendimento, envolvendo:
de cheias dos rios, à contenção de rejeitos de mi- ■■ Mapeamento geológico detalhado de super-
neração ou industriais e à recreação. fície e de subsuperfície;
Na avaliação de risco foram consideradas ■■ Estudo detalhado dos tratamentos para me-
as barragens de concreto, terra ou enrocamento. lhorar as condições gerais no empreendi-
Nas etapas de construção, os principais mecanis- mento e no reservatório;
mos associados a condições geológicas são des- ■■ Cubagem e caracterização detalhada das áre-
lizamento de taludes, erosão tubular regressiva as de empréstimo, correspondentes aos mate-
(piping) e fissuramento. Deslizamentos de taludes riais granulares, pedreiras e jazidas de solos.
podem manifestar-se ao longo da obra tanto a ju- Durante o desenvolvimento do estudo geoló-
sante, devido a infiltrações, quanto a montante
gico-geotécnico do Projeto Básico, elabora-se um
pelo rebaixamento do nível da água do reservató-
Projeto Básico Ambiental que é responsável pelo
rio. Fenômenos de erosão tubular regressiva ini-
detalhamento das recomendações presentes no
ciam-se quando a água de percolação desencadeia
EIA e necessário para a obtenção da Licença de
um processo erosivo e cria, de jusante para mon-
Instalação (LI).
tante, um conduto sob a barragem, denominado
No Projeto Executivo ocorre a construção da
piping ou entubamento.
obra, mediante uso de métodos mais complexos
de investigação, execução de ensaios especiais
2.1 Fases de estudo que, em muitos casos, permitem esclarecer deta-
lhes construtivos, tais como a definição do trata-
A construção de uma barragem obedece a mento específico para determinada estrutura ou
uma sucessão de etapas consecutivas que acom-
feição geológica. Junto com a execução das obras,
panham a pesquisa e desenvolvimento da obra:
ocorre o trabalho de implementação do reservató-
inventário, viabilidade, projeto básico, projeto
rio e de aplicação das medidas ambientais estuda-
executivo e operação.
das nas fases anteriores, visando prevenir, reduzir
Na etapa de Inventário aplicam-se técnicas de
e compensar possíveis danos ambientais desenca-
reconhecimento da área e formulam-se alternati-
vas para estimar o potencial aproveitável, em um deados pelo projeto.
cenário de utilização múltipla da água na bacia O término dos trabalhos de construção do
em estudo. A fase de Viabilidade é marcada pelo empreendimento é marcado pela obtenção da Li-
detalhamento do meio físico e das características cença de Operação (LO), que permite o enchimento
sócio-econômicas, com o objetivo de detalhar as do reservatório e a consequente operação.
avaliações da fase de inventário e definir os arran-
jos mais adequados para obras civis, por meio do
2.2 Condicionantes geológicos
estudo de alternativas técnico-econômicas e sua
comparação. Os estudos na área de geologia vi- Os esforços aplicados pela obra de engenha-
sam à identificação de possíveis problemas que
ria no substrato provocam respostas que depen-
inviabilizem a obra e consequentemente elimi-
dem dos condicionantes geológicos. É preciso ter
nam surpresas.
em mente que a obra não afeta somente a rocha,
Resultam da etapa de viabilidade dois do-
mas sim o maciço natural, que é constituído por:
cumentos: Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), necessá- (a) solo, rocha ou intercalações desses materiais;
rios para o pedido de Licença Prévia (LP) e conti- (b) estruturas (internas ou externas) e (c) vazios
nuação da obra. como poros, descontinuidades ou cavidades que
A etapa seguinte é a do Projeto Básico. Fato- podem estar preenchidos por ar ou água. O ele-
res como o porte da obra e as dificuldades encon- mento resistente do maciço natural é a rocha ma-
tradas nas fases anteriores determinarão o grau triz. A alteração da rocha, as estruturas (fraturas,
de detalhamento que será aplicado nos estudos falhas, contatos, etc) e a presença da água podem

33
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

reduzir a resistência mecânica do maciço, repre- sinal negativo na fórmula 1) das propriedades
sentada pela fórmula (Vaz, 1999): mecânicas da rocha. Este trabalho aborda exclusi-
vamente os condicionantes geológicos relaciona-
Rm = R – (i + e + a) (1) dos a: (a) resistência de fundação; (b) percolação
de água pela fundação e (c) estabilidade das pare-
Sendo: des das escavações.
Rm = resistência do maciço
R = resistência da rocha
i = grau de intemperismo 2.3 Resistência de fundação
e = estruturas
a = água Na construção de barragens, o empuxo hi-
dráulico e a permeabilidade são associados à re-
A fórmula indica que é necessário estabe- sistência da fundação. Outras solicitações que
lecer a influência de fatores como: intensidade dependem de condicionantes geológicos são a sis-
de intemperismo, descontinuidades (estrutu- micidade natural ou induzida e a estanqueidade
ras) e água subterrânea, que podem ser respon- do reservatório. A figura 1 mostra o rompimento
sáveis pela mudança (redução, indicada pelo de uma barragem devido a evento sísmico.

Figura 1 – Ruptura da barragem Shinkan, Taiwan (Fonte: www.cee.engr.ucdavis.edu)

Os aspectos geológicos, os materiais utiliza- barragem escorregue em direção a jusante. Tom-


dos na construção e o tamanho da barragem são bamentos resultam do desequilíbrio entre os es-
fatores que, quando pouco estudados, podem oca- forços atuantes, o empuxo hidráulico e os esforços
sionar movimentos, como deslizamentos ou tomba- resistentes, sendo as principais o peso da barra-
mentos. Deslizamentos acontecem sobre um plano gem e a resistência da fundação.
determinado, o qual permite que a estrutura da

34
Avaliação de Risco Geológico em Barragens

2.4 Percolação de água Processos geológicos, quando desencadeados,


podem ou não gerar situações de perdas e danos.
Uma vez que a barragem deve armaze- Por isso, é necessário distinguir o conceito de risco
nar água, é indesejável a passagem de água por em relação ao de susceptibilidade.
qualquer caminho diferente daquele previsto no ■■ Risco: expressa a possibilidade de perdas
projeto. Entretanto, sabe-se que, independente materiais e sociais mediante a ocorrência de
do tipo de barragem, sempre haverá percolação um acidente;
na fundação, sendo necessário controle a fim não ■■ Susceptibilidade: é definida mediante a pos-
comprometer a obra. Além de afetar diretamen- sibilidade de ocorrer um fenômeno geológi-
te a estabilidade da barragem devido ao efeito da
co, em determinada área, sem que haja per-
subpressão, a percolação pode provocar proces-
das ou danos.
sos de piping, um tipo de ruptura que se dá nos
A Geologia de Engenharia passou a dar mais
casos em que grãos de solo são arrastados pela
atenção aos processos geológicos que podem de-
água subterrânea (Vargas, 1977). Como resul-
sencadear riscos em razão da intensificação das
tado tem-se a formação de um tubo ao longo do
atividades humanas. As ações antrópicas como,
filete d’água crítico.
por exemplo, as ocupações irregulares, têm sido
responsáveis por frequentes eventos de desliza-
2.5 Paredes de escavação mentos de encostas.
Em consequência da ruptura de barragens,
A ação da gravidade é a principal solicita- após 1800, o número de perdas humanas já atin-
ção sobre a estabilidade das paredes de escava- giu valor da ordem de 17.000 vidas (Lempérière,
ção. O processo de escavação provoca mudança 1993). Este dado mostra a importância dos trabalhos
no comportamento do esforço, alterando as ten- de avaliação dos condicionantes geológicos para a
sões presentes, em decorrência da descompressão prevenção do risco, ressaltando que estes trabalhos
causada pela retirada do material. Para garantir a devem estar presentes durante todo o desenvolvi-
estabilidade das paredes são necessários estudos mento da obra e não apenas na fase de operação.
detalhados sobre as descontinuidades do maciço
rochoso e seus efeitos na estabilidade. Alguns dos
fatores que podem implicar riscos geológicos são: 3.1 A incerteza na investigação geológica
o grau de facilidade para escavação; a resistência
mecânica da rocha à compressão; a tenacidade (re- Qualquer obra de engenharia provoca alte-
sistência da rocha à fragmentação quando golpea- rações no ambiente. O comportamento da alte-
da por um martelo); a densidade; o empolamento ração deve ser avaliado, em qualquer etapa do
(aumento do volume decorrente da descompacta- projeto, para evitar o desenvolvimento de um
ção de solos e da fragmentação de rochas). processo geológico. Entretanto, prazos curtos e
restrições financeiras proporcionam o aumento
do grau de incerteza. É tratada como incerteza
3 RISCO GEOLÓGICO: RELAÇÕES ENTRE a parcela não-esclarecida após a realização das
RISCO E INCERTEZA investigações geológicas. Em geral, os processos
São abordados neste item classificações de geológicos são bem conhecidos, porém, quando
risco e fatores associados, visando apresentar o há interação, ou seja, quando determinado pro-
conceito de “risco geológico”, que deve ser consi- cesso interfere em outro, surgem dificuldades na
derado em qualquer obra de engenharia, uma vez interpretação que aumentam a incerteza.
que a prevenção é menos complicada e custosa do Sempre existirá algum grau de incerteza no
que a remediação. Define-se como risco geológico conhecimento geológico em projetos de engenha-
uma situação que envolve perigo, perda e dano ao ria civil. Por isso, é necessário aplicar diferentes
homem ou às propriedades, devido à presença de métodos de investigação e possuir equipe devida-
determinado processo ou condicionante geológico. mente qualificada. Em muitos casos, a incerteza

35
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

é reduzida quando se compreendem os proces- à probabilidade do resultado de um experimento


sos geológicos locais e a maneira como podem aleatório (Belchior et al., 1997).
interferir no empreendimento. As características Aplicando a questão à Geologia de Enge-
geológicas e geotécnicas do local não mudam no nharia, mais especificamente à construção de
decorrer do tempo histórico e sempre estiveram uma barragem, a tomada de decisão é mais difícil
presentes; o que ocorre em muitos casos é a es- porque não há como calcular as probabilidades
cassez de investigações em relação ao tamanho envolvidas no processo de decisão, além de não
da área, além de interpretações equivocadas, que haver informações, ou seja, séries estatísticas com
podem ocasionar acidentes nas etapas seguintes o reconhecimento de todos os fatores envolvidos.
e até após a conclusão obra (Minicucci, 2008). Por exemplo, a presença de uma falha, que pode
resultar em uma ruptura e comprometer a obra.
3.2 Análise da incerteza a partir de métodos Devido às complicações, torna-se necessário
estatísticos utilizar a probabilidade subjetiva, método dire-
cionado a assuntos inteiramente novos, sobre os
Andrade (2000) avalia a questão do risco e quais existem apenas informações subjetivas. As
da incerteza pelo ponto de vista estatístico; define informações precisam conter “pistas” para que
risco como uma estimativa do grau de incerteza seja possível aferir, basicamente por meio da sen-
existente com respeito à realização de resultados sibilidade, a probabilidade, ou seja, a medida de
futuros desejados. Vieira (1978) aborda em sepa- incerteza, correspondente a cada fator. Para isto,
rado o risco e a incerteza, apresentando as seguin- o tomador de decisões deve superar outro obstá-
tes definições: culo, a escolha de alternativas; neste caso, pode
1) Risco: corresponde à possibilidade de exce- ser utilizado um critério matemático, sempre com
dência ou não excedência da distribuição de dois resultados:
probabilidade de variáveis aleatórias, quan-
do relacionadas a sistemas de recursos hídri- Sucesso: quando o evento ocorrido é favorável;
cos na natureza, tanto naturais quanto artifi- Falha ou fracasso: quando o evento ocorrido é
ciais ou uma combinação de ambos; desfavorável.
2) Incerteza: consiste na possibilidade da exis-
tência de erro em uma mensuração ou em um
Há casos em que o tomador de decisões pode
cálculo. O erro pode surgir, por exemplo, na
também recorrer à elaboração de modelo matemá-
determinação de variáveis, no uso de méto-
tico que simule situação do mundo real. O méto-
dos de resolução de problemas ou na tomada
do de Monte Carlo gera modelos estatísticos para
de decisão.
lidar experimentalmente com variáveis descritas
A incerteza está presente em todas as obras
por funções probabilísticas (Andrade, 2000). É
e, em geral, a tendência é minimizá-la no decor-
preciso, no entanto, que os fatores probabilísticos,
rer das fases de implantação do empreendimento.
ou seja, a série estatística esteja sob controle do to-
Ao construir uma barragem, por exemplo, fatores
como o prazo disponível para detalhamento do mador de decisões; em situações do mundo real,
projeto e investimento podem reduzi-la e conse- em geral, isto não é possível.
quentemente, diminuir o risco geológico. Para aplicar um modelo matemático que visa
A estimativa das probabilidades é a parte estimar a incerteza na construção de uma barra-
mais complicada, pois para fazer estimativas é gem, é necessário reconhecer todos os fatores en-
necessário superar a questão da “tomada de de- volvidos, o que é muito difícil quando se trata de
cisão”, que consiste na escolha da alternativa um ambiente geológico. Mesmo que sejam reali-
mais apropriada, mediante critérios estabeleci- zadas muitas investigações, sempre existirá um
dos. Entretanto, no mundo real aparece o fator condicionante não detectado, como uma falha ou
da “multidimensionalidade”, diferente do mun- um corpo de calcário, que impedirá ao tomador
do matemático, no qual a incerteza corresponde de decisões controlar os fatores probabilísticos.

36
Avaliação de Risco Geológico em Barragens

3.2.1 Riscos abrangentes e específicos Rt = E x Rs (2)

Na construção de uma barragem, podem Sendo:


aparecer problemas caso as etapas de estudo, in- Rt = risco total. Corresponde à expectativa de perda de
vidas humanas, de pessoas afetadas, de danos à proprie-
ventário, viabilidade e projeto básico não sejam dade ou a interrupção das atividades econômicas em
realizadas de maneira eficaz e conveniente. Dada decorrência de um acidente natural;
uma determinada ocorrência e constatado o risco E = elementos de risco. Trata-se do número de pessoas
perante a obra, é essencial dimensioná-lo. A clas- e de todos os demais elementos que estão sob risco em
um determinado local;
sificação a seguir aborda parâmetros de dimen-
Rs = risco específico. Refere-se ao grau de expectativa
são e divide o risco geológico entre abrangente de perdas devido a um acidente natural em particular.
e específico.
Riscos abrangentes são aqueles que podem O risco específico também é apresentado me-
comprometer totalmente a obra. Fazem parte des- diante a relação entre o risco natural e a vulnera-
sa categoria os fenômenos de falta de estanquei- bilidade, fórmula 3:
dade e colapso de estrutura.
Para garantir a estanqueidade do reservatório, Rs = H x V (3)

ou seja, para não haver fuga significativa de água,


analisam-se as condições geológicas, geomorfoló- Sendo:
H = risco natural. Qualquer processo que represente
gicas, geotécnicas e hidrogeológicas, que possam
uma ameaça à vida humana ou à propriedade;
levar a sucessivas percolações de água devidas à V = vulnerabilidade. Trata-se do nível de dano espera-
presença de falhas, ou de rochas permeáveis; ero- do de acordo com a intensidade do acidente.
são tubular regressiva (piping); ou pela disposição
do lençol freático, em relação ao relevo regional. Para avaliação do risco geológico, foi adota-
Outro tipo de risco abrangente é o colapso de da a fórmula adaptada de Ayala Carcedo y Olcina
estrutura. A estrutura de uma barragem de con- Cantos (2002), na qual o risco (R) é o resultado da
creto, terra ou enrocamento pode ruir em função interação do meio físico (geologia, geomorfologia,
de condições geológicas não previstas. Assim, clima, hidrologia) com as atividades antrópicas. E
por exemplo, uma falha sub-horizontal na fun- desta interação, resulta a fórmula 4 que apresenta
dação, dependendo de suas características de três conceitos: periculosidade (P), exposição (E) e
resistência, pode propiciar o deslizamento da es- vulnerabilidade (V):
trutura e sua ruptura.
Riscos específicos são os que não afetam o R=PxExV (4)

conjunto da estrutura e não necessariamente le-


vam ao rompimento da barragem. Entre eles, há A periculosidade indica a intensidade e a pro-
condições geológicas desfavoráveis ou imprevis- babilidade de ocorrência, ou seja, a frequência
tas, tais como sistemas de fraturas afetando a esta- de um acidente, enquanto a exposição, ou o grau
bilidade das paredes de escavação, perda d’água de exposição, refere-se à quantidade de pessoas
elevada devido a fraturas em rocha, risco de pi- e bens materiais potencialmente submetidos a
ping, nível d’água elevado provocando inundação um risco natural. A vulnerabilidade, por sua vez,
das praças de trabalho, zonas afetadas de baixa apresentada nas fórmulas 3 e 4, pode ser definida
resistência em maciços rochosos e muitos outros. como a predisposição de um sistema, ou elemento
a ser afetado na ocorrência de um acidente. Refle-
te o grau de fragilidade de determinada região.
3.2.2 Quantificação do risco
Por exemplo, a ocupação mal-planejada tende a
Dentre os autores que utilizam fórmulas para instabilizar encostas em zonas de solos frágeis.
equacionar o risco, para Varves (1985), o risco é A fórmula 4 também permite estabelecer
dividido em total e específico, fórmula 2: uma relação entre R, P, E e V e a capacidade de

37
Baseada na engenharia de avaliação e em técnicas estruturadas,
frequências e consequências de um acidente. Para este trabalho, d

Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental


para análise de riscos, foi escolhida a Análise de Árvore de Falhas
que podem levar ao rompimento de uma barragem. A AAF é uma t
resposta e recuperação de uma área afetada. O ris- estimativa da frequência com que determinado
co é diretamente proporcional a P x E x V. O risco permite identificar
acidente as causas
pode ocorrer. potenciais
A AAF de acidentes
é construída do em um sistem
pode ser minimizado, por sua vez, na medida em topo para com
frequência base,que
ou determinado
seja, a partiracidente
de determinado
pode ocorrer. A AAF é co
que se intensificam estudos para conhecer melhor evento indesejado, em direção às possíveis causas
a partir
que de determinado Para
o desencadearam. evento indesejado,
definir ementre
a relação direção às possíveis
a área e realizar medidas preventivas que impe-
çam ou ajudem a mitigar os efeitos de fenômenos causa
definir eaeventos,
relação são utilizados
entre causa e portões
eventos,desão
lógica,
utilizados portões
geológicos. Isso depende ainda da capacidade de do tipo “E” ou “OU”, apresentados na figura 2.
apresentados na figura 2.
resposta e recuperação de uma área afetada por
um acidente.
Evento indesejado

4 ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE RISCO


Causa ou falha básica
GEOLÓGICO

A análise de risco é atividade direcionada ao Portões de lógica


desenvolvimento de estimativas do risco. Baseada
na engenharia de avaliação e em técnicas estrutu- Portão E
radas, busca promover a combinação de frequên-
cias e consequências de um acidente. Para este Portão OU
trabalho, dentre as diversas técnicas existentes
para análise de riscos, foi escolhida a Análise de
Árvore de Falhas (AAF), apresentando os meca- Figura22.– Símbolos
Figura Símbolosutilizados
utilizadosnana
AAFAAF
nismos que podem levar ao rompimento de uma
barragem. A AAF é uma técnica dedutiva (Cetesb, A elaboraçãoAda árvore para
elaboração da análise do risco
árvore para análise do risco g
2002b) que permite identificar as causas potenciais geológico (Fig. 3) contém alguns dos riscos geoló-
de acidentes em um sistema, além de possibilitar riscos descritos
gicos geológicosna
descritos na tabela 1.
tabela 1.

Figura 3 – Análise do risco geológico por meio de Árvore de Falhas

38
Tabela 1 – Matriz de risco geológico em barragens.

Identificação Localização Avaliação Quantificação Remediação


Referência Risco Condicionante Geológico Estrutura Efeitos Dimensão Possibilidade Periculosidade Gravidade Soluções e tratamentos
Alteração no projeto
Camadas de areia
Erosão interna geométrico das
com elevada
R01 (piping) Ensecadeira Percolação de água Específico 4 9 36 Ensecadeiras.
condutividade
  Tapete de vedação
hidráulica
e bombeamento
Baixa resistência ao Camadas de argila Alteração no projeto
R02 cisalhamento de consistência mole Ensecadeira Escorregamento Específico 4 9 36 geométrico das
a média Ensecadeiras.
Pode ser
Reação Estruturas de concreto
Ruptura abrangente Dosagem adequada
R03 álcali-agregado Reatividade do material em geral 1 6 6
das estruturas de acordo com a dos concretos
estrutura atingida
Taludes de escavação
da casa de força, do Escorregamento do Tratamento pesado,
Deslizamentos  esença de fraturas vertedouro, da eclusa, material podendo com tirantes,
R04 Específico 4 3 12
planares e em cunha subverticais ou inclinadas dos canais de aproximação, comprometer as chumbadores e
de restiruição, de adução, estruturas afetadas concreto projetado
de fuga e de navegação
Ensecadeiras, barragem, Ruptura Definição do coeficiente de
R05 Aceleração horizontal Sismicidade Abrangente 1 20 20
taludes de escavação das estruturas aceleração sísmica
Presença de fraturas Sobreescavação e
Rebaixamento, Pode ser
de alívio sub-horizontais, Barragens de concreto e recomposição
trincas e rachaduras abrangente
R06 Recalques alteradas para outras estruturas com 2 12 24 com concreto ou
dasestruturas de acordo com a
solo, até 15 metros fundações rasas chavetamento
afetadas estrutura atingida
de profundidade da fundação
Presença de fraturas de
Pode ser
alívio subhorizontais com Barragem de enrocamento e Tratamento das fraturas
Rebaixamento das abrangente
R07 Subpressões elevada permeabilidade de concreto, ensecadeiras de 4 12 48 com injeções e drenagem;
estruturas afetadas de acordo com a
até 15 metros de montante e de jusante sobreescavação
estrutura atingida
profundidade
Colocação de filtros e
Presença de materiais Perda d’água
Comprometimento drenos, dimensionados
granulares, permeáveis,  Barragens de terra e com possivel
R08 da estanqueidade Abrangente 2 20 40 em função dos materiais
ou variação abrupta enrocamento esvaziamento
do reservatório usados no corpo
da topografia do reservatório
da barragem
Pode ser
Barragem de enrocamento e abrangente
Ciclagem dos Alterabilidade Comprometimento Aumento da espessura
R09 enrocamentos de proteção caso a barragem 1 6 6
blocos de enrocamento do material  do enrocamento do enrocamento
em geral seja a estrutura
afetada
Taludes de escavação dos
Presença de solos trans-
Taludes em solos canais de aproximação, de Remoção dos
R10 potados Escorregamentos Específico 2 6 12
pouco resistentes restiruição, de adução, de corpos de tálus
Ex: corpos de tálus
fuga e de navegação

39
Avaliação de Risco Geológico em Barragens
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

4.1 Avaliação de risco geológico periculosidade como relativo à interferência


do risco ao empreendimento e a frequência
A avaliação utiliza os resultados da análise de ocorrência foi caracterizada pela análise da
para determinar o controle e monitoramento de possibilidade. Portanto, foram considerados
uma área afetada. Os trabalhos são conduzidos três fatores de quantificação: possibilidade,
mediante comparações entre critérios de tolerabi- periculosidade e gravidade. Nessa nova for-
lidade de riscos previamente estabelecidos. Neste mulação, a gravidade (G) resulta da multipli-
trabalho, foi criada uma matriz de risco geológico cação da periculosidade (Pe) pela possibilida-
(Tab. 1), com os seguintes parâmetros: de (Po), conforme apresentado na fórmula 5.
■■ Identificação. Na primeira coluna da matriz
os riscos estão identificados pela letra R e são G = Pe x Po (5)

seguidos por números de 1 a 10, por exemplo,


■■ Possibilidade. A possibilidade foi avaliada
R01. Na segunda coluna estão caracterizados
com os critérios indicados na tabela 2, que os
os riscos e, na terceira, os condicionantes ge-
divide em cinco classes. A primeira coluna
ológicos associados. contém a referência, por exemplo, Po1. Em
■■ Localização. Corresponde às estruturas que seguida aparece a descrição que varia entre
podem ser afetadas pelo risco. Observe-se improvável, até extremamente possível. A
que, de acordo com o risco descrito, mais do primeira categoria envolve riscos menos pro-
que uma estrutura pode sofrer interferência. pensos a ocorrer, enquanto a última volta-se
Por exemplo, a ocorrência de subpressões a situações em que o fenômeno associado ao
pode afetar ensecadeiras e a barragem. risco já se manifestou anteriormente. Após a
■■ Avaliação. Este parâmetro é representado na descrição, duas classificações estabelecem re-
lação entre o evento que pode acontecer e a
matriz, com base no efeito e na dimensão que
chance de uma futura ocorrência e, por últi-
o risco pode causar à barragem. De acordo
mo, para cada classe é dada uma nota, utili-
com as estruturas atingidas o risco poderá ser zada para definir a gravidade.
específico ou abrangente. ■■ Periculosidade. A tabela 3 refere-se à peri-
■■ Quantificação. Observando a fórmula (4), culosidade e para este fator também foram
adotada para avaliação do risco geológico, definidas cinco classes. A primeira coluna
optou-se pelo desmembramento do fator apresenta a referência, por exemplo, Pe1. Em
periculosidade. De acordo com a fórmula, a seguida aparece a descrição de cada classe,
periculosidade indica a intensidade e a fre- associada às interferências, como escopo,
quência de ocorrência do risco. Entretanto, prazo, custo e qualidade do empreendimen-
visando à quantificação do risco de maneira to. Na terceira coluna estão as notas atribuí-
mais detalhada e objetiva, restringiu-se o fator das às classes estabelecidas.

Tabela 2 – Análise de possibilidade.

Referência Descrição Definição para evento único Definição para evento seguinte Nota

Ocorreria em menos
Po1 improvável Não esperado, surpreendente 1
de 1% das vezes

Ocorreria em mais de
Po2 provável Baixa possibilidade de ocorrer 2
1% e menos de 10% das vezes

Ocorreria em mais de
Po3 possível Média possibilidade de ocorrência 4
10% e menos de 40% das vezes

Acontece em projetos semelhantes, Ocorreria em mais de


Po4 muito possível 8
forte possibilidade de ocorrer novamente 40% e menos de 75% das vezes

Frequentemente acontece em projetos


extremamente Ocorreria em mais de
Po5 semelhantes e consequentemente, 16
possível 75% das vezes
há grande expectativa de ocorrência

40
Avaliação de Risco Geológico em Barragens

Tabela 3 – Análise de periculosidade.

Referência Descrição Notas


Pe1 Afeta muito pouco o custo, o escopo e o prazo do empreendimento. 3
Pe2 Afeta pouco o custo, o escopo e o prazo do empreendimento. 6
Pe3 Afeta medianamente o cuso, o escopo, o prazo e a qualidade do empreendimento 9
Pe4 Afeta consideravelmente o custo, o escopo, o prazo e a qualidade do empreendimento. 12
Pe5 Afeta muito o custo, o escopo e o prazo do empreendimento. 20

■■ Gravidade. A multiplicação das notas possíveis de acordo com as notas definidas


dos fatores possibilidade e periculosidade para os fatores possibilidade e periculosida-
(fórmula 5), resulta nas tabelas 4 e 5 que apre- de. A tabela 5 apresenta apenas os resultados
sentam a análise de gravidade do risco geo- referentes a risco geológico utilizados na ma-
lógico. A tabela 4 mostra todos os resultados triz de risco da tabela 1.

Tabela 4 – Análise de gravidade.

Periculosidade Pe5 Pe4 Pe3 Pe2 Pe1


 
Possibildade   20 12 9 6 3
Po5 16 320 192 144 96 48
Po4 8 160 96 72 48 24
Po3 4 80 48 36 24 12
Po2 2 40 24 18 12 6
Po1 1 20 12 9 6 3

Tabela 5 – Resultados da análise de gravidade dos riscos geológicos descritos na tabela 1.

  Periculosidade Pe5 Pe4 Pe3 Pe2 Pe1


Possibilidade   20 12 9 6 3
Po5 16
Po4 8
Po3 4 48 36 12
Po2 2 40 24 12
Po1 1 6

A análise de gravidade foi realizada com em decorrência da gravidade do risco geológico;


base em três intervalos, os quais definem o risco entretanto, as ações não são descritas porque a
como aceitável, preocupante e inaceitável, con- gestão de risco envolve variáveis que não fazem
forme a tabela 6. A tabela apresenta, na terceira parte da temática deste trabalho.
coluna, um exemplo da ação que pode ser tomada

Tabela 6 – Descrição das classes utilizadas para a análise de gravidade.

Gravidade Classe Ação ou Endereçamento


Tentar evitar por meio de um Plano de
Acima de 120 Inaceitável
Eliminação ou Transferência
25 - 120 Preocupante Tentativa de mitigação por meio de um Plano de Ação
1 - 25 Aceitável Monitoramento

41
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

■■ Remediação. A coluna referente à remedia- arredores do empreendimento, além dos


ção mostra as possíveis soluções e tratamen- impactos agudos causados ao ambiente
tos que devem ser aplicados a fim de reparar, (Cetesb, 2002b). E com relação à segurança
quando possível, os danos provocados pela de barragens, o Comitê Brasileiro de Barra-
manifestação de um determinado risco. gens (CBDB, 1999) elaborou duas classifica-
■■ Outras classificações. Os riscos geológicos ções que englobam a dimensão, o potencial
avaliados devem contemplar o levantamen- ao dano, a perda de vidas humanas e de ma-
to de possíveis vítimas fatais, bem como os teriais e o impacto ambiental, como pode ser
danos à saúde da comunidade presente nos observado nas tabelas 7 e 8.

Tabela 7 – Classificação de barragens de acordo com a dimensão (CBDB, 1999).

Categoria Altura h (m) Armazenamento V (m3)


Pequena 5 < h < 15 0,05x106 < V < 1,0x106
Média 15 < h < 30 1,0x106 < V < 50x106
Grande h > 30 V > 50x106

Tabela 8 – Classificação de barragens quanto ao potencial de dano (CBDB, 1999).

Categoria Perdas de Vida Perdas materiais


Nenhuma esperada
Mínima (região não desenvolvida
Baixo (nenhuma estrutura permanente
e estruturas e cultivos ocasionais)
para habitação humana)
Até cinco (nenhum desenvolvimento  
Urbano e não mais do que um Apreciável (terras cultivadas,
Significante
pequeno número de estruturas indústrias e estruturas)
habitáveis  
Excessiva (comunidades, indústrias
Alto Mais do que cinco
e agricultura extensas)

Deve-se ter em mente que a matriz de risco foram testados métodos estatísticos, na tentativa
(Tab. 1) é um exemplo, já que nem sempre os ris- de criar um modelo para análise de risco. Para
cos citados ocorrem em todas as obras e podem problemas de risco geológico, modelos matemá-
existir outros que não constam na matriz elabo- ticos, como os operados pelo método de Monte
rada. Na prática, a presença de uma equipe de Carlo, não se enquadram nas condições propor-
profissionais de Geologia de Engenharia é deter- cionadas pelos processos geológicos. O método
minante para constatar quais os riscos presen- revela-se útil, por exemplo, em controle de chu-
tes e verificar se a dimensão, bem como as notas vas, previsão de custos de produção e estudos de
atribuídas à quantificação do risco e medidas de viabilidade econômica.
remediação, estão ou não condizentes com os pro- Consequentemente, iniciou-se a seleção de
blemas tratados. uma técnica de análise de risco adequada. A Aná-
lise por Árvore de Falhas mostrou-se satisfatória
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS para apresentação de causas básicas, ou seja, os
riscos geológicos, que podem levar à ocorrência
O objetivo da pesquisa sobre avaliação de ris- de um evento indesejado, neste caso, o rompi-
co geológico em barragens foi estabelecer critérios mento de uma barragem. A análise facilitou o de-
que permitiram elaborar um método de preven- senvolvimento de uma matriz de risco geológico
ção de acidentes. A partir da análise da incerteza, e tabelas associadas.

42
Avaliação de Risco Geológico em Barragens

Referências S. N. A. Geologia de Engenharia. 2.ed. São Paulo:


ABGE, 1998. cap. 24, p. 397-418. 
Andrade, E. L. Introdução à Pesquisa Operacio-
nal: Métodos e Modelos para Análise de Decisão. 2 ed. Medeiros, C.H.A.C. Utilização da Técnica de
Rio de Janeiro, LTC. 2000. 277p. Análise de Probabilidade de Risco na Avaliação
de Segurança de Barragens. In: XXIII Seminá-
Ayala Cacerdo, F.J.; Olcina Cantos, J. rio Nacional de Grandes Barragens,
Riesgos naturales. Ariel Ciência. 2002. 1512 p. 1999, Belo Horizonte. Anais... Vol.I. Belo Hori-
zonte: Comitê Brasileiro de Grandes Barragens
BELCHIOR, A. D., XEXEO, G. B., ROCHA, A. R. (CBGB). 1999. p 77-81.
Enfoques Sobre a Teoria dos Conjuntos Fuzzy, Pro-
grama de Engenharia de Sistemas e Computação, MINICUCCI, L.A. Acidentes em Barragens. Co-
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 1997. (Rel. Técn. nhecimento Geológico e Geomecânico e Riscos
RTEC-430/97). Geológicos. In: VI Simpósio Brasileiro Sobre Pe-
quenas e Médias Centrais Hidrelétricas, 2008, Belo
Comitê Brasileiro de Barragens CBDB. Horizonte, Minas Gerais. URL: http://www.cbdb.
Guia Básico de Segurança de Barragens. São Paulo: org.br/simposio/Microsoft%20PowerPoint-%20
CBGB. 1999. 77p. %20Acidentes%20em%20Barragens%20-%20
F%C3%A1bio.pdf. Acesso: 01/07/2010.
COMPANHIA DE SANEAMENTO AMBIEN-
TAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. CETESB. Vargas, M. Introdução à mecânica dos solos. São
Análise, Avaliação e Gerenciamento de Riscos. v. 2, Paulo, McGraw-Hill do Brasil. 1997. 509p.
São Paulo, 2002b. 119 p.
Varves, D.J. Landslide hazard zonation: a review of
INTERNATIONAL COMISSION ON LARGE principles and pratice. Unesco. 1985. 63p.
DAMS - ICOLD. Tailing Dams: Risk of Dangerous
occurrences. Lessons Learned from Practical Experiences. Vaz, L.F. O Efeito das Condições na Economia
Bulletin 121. Paris. 2001. 144p. das Obras Subterrâneas. In: III Simpósio Sobre
Túneis Urbanos, 1999, São Paulo. Anais… São
LEMPERIERE, F. Dams that have Failed by Floo- Paulo: ABGE, 1999. p. 89-110.
ding : an Analysis of 70 Failures. Water Power and
Dam Construction, v. 45, n. 9/10, p. 19-24, 1993. Vieira, V.P.B. Risk Assessment in the Evaluation of
Water Resources Projects. Orginalmente apresenta-
Marques Filho, P. L.; Geraldo, A. Barragens da como tese de Doutorado, Colorado State Uni-
e reservatórios. In: OLIVEIRA, A. M. S.; BRITO, versity, 1978.

43
ESTUDOS SOBRE RISCOS GEOLÓGICOS E SUA
INCORPORAÇÃO NO PLANEJAMENTO TERRITORIAL –
RELATO DA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO
DE QUADROS TÉCNICOS NO ABC PAULISTA

Fernando Rocha Nogueira


Professor adjunto do Centro de Engenharia,
Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas – UFABC
E-mail: fernando.nogueira@ufabc.edu.br

Ricardo de Sousa Moretti


Professor titular do Centro de Engenharia,
Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas – UFABC
E-mail: ricardo.moretti@ufabc.edu.br

Cláudia F. Escobar de Paiva


Professora adjunto do Centro de Engenharia,
Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas – UFABC
E-mail: claudia.paiva@ufabc.edu.br

Resumo

O presente trabalho relata e analisa alguns resultados promovendo a articulação entre pesquisas científicas,
da experiência de formação de quadros técnicos muni- tecnológicas e políticas públicas na região do Grande
cipais da Região do ABC paulista e de estudantes da ABC paulista. Suas atividades buscaram incentivar a
Universidade Federal do ABC - UFABC por meio do incorporação dos estudos de risco no planejamento
Programa de Extensão - PROEXT denominado “Ges- territorial. Este artigo relata a metodologia empregada
e os resultados das atividades realizadas pelo grupo
tão de Riscos Geológicos em Ambiente Urbano: Escor-
gestor do PROEXT.: exercícios de cartografia geotéc-
regamentos e Processos Correlatos”, que foi desenvol-
nica para áreas piloto em três diferentes escalas e fi-
vido pela Universidade Federal do ABC - UFABC no
nalidades para aplicação no planejamento territorial e
ano de 2012. Este PROEXT teve por objetivo contri- gestão de riscos; avaliação de aspectos legais e sociais
buir para o mapeamento, caracterização e gestão de envolvidos na remoção de famílias em áreas de risco;
áreas de riscos geológicos nos municípios do Gran- estudos de aderência entre características geotécnicas
de ABC, além de propiciar a qualificação de alunos do terreno, processos geodinâmicos atuantes e obras
da UFABC, de profissionais e dirigentes dos poderes de contenção implantadas na região, análise de estra-
públicos regionais, e demais envolvidos na gestão de tégias para ação da defesa civil e comunicação de risco.
riscos geológico-geotécnicos no espaço urbano, defi-
niu como foco principal a geração de conhecimento Palavras-chave: Extensão universitária, gestão de ris-
científico e tecnológico sobre os desastres ambientais, cos, planejamento territorial.

45

Das könnte Ihnen auch gefallen