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CADERNO - N@ 3 - 1970 155 REIS FILHO, Nestor Goulart - EVOLUGAO URBANA DO BRA- SIL - Livraria Pioncira Ed., S.Paulo, 1968, ed. ilustrada, 235 pgs. Enquanto o meio rural tradicional brasilei- ro tem sido objeto de varios estudos historico- so- ciais, © mesmo nao acontece com o passado de nossas cidades; até hoje apenas uma ou outra tentativa de a bordagem tem sido feita, enquanto o meio urbanoatual, ao contrario, inspirou ja varios trabalhos. Nestor Goulart Reis Filho, apresentando seu livro centrali- zado principalmente pelo que se passou durante a co- lénia, trouxe sua contribuigdo a um aspecto tao des- curado de nossas pesquisas. Segundo anuncia em sua introducao, tenciona mostrar que as formagdes urbanas brasileiras nao cons tituem "um conjunto de dados aleatérios mas sao par- te de uma estrutura dinamica - a réde urbana - que deve ser compreendida, quando se almeja o conhecimen to daquelas"; tais formagdes surgiram através de "um processo de origem social - processo de urbanizagao- que determina o aparecimento do sistema social da Co lénia, no qual se desenvolve, e da politica de colo- nizacao portuguesa, no seu sentido mais amplo" ( pg. 15). Pretende também esclarecer os mecanismos que levam a transformagdo do processo de urbanizagaéo e assim concorrer para o melhor conhecimento da evolu- cdo urbana brasileira. 156 CENTRO DE ESTUDOS RURAIS E URBANOS Estudando as cidades coloniais, verifica o autor que certos elementos se repetem em nossas vilas e cidades, em condicgoes determinadas; o que o faz du vidar da afirmacéo corrente, de que sua formacio fos se obra do acaso. Parece, ao contrario, dadas aque- las repetigoes, que existiu algo de voluntario. alia do a certos condicionamentos. Para poder #natisar tanto a situacgao colonial, quanto a cidade e sua evo- lugdo, dedicou-se primeiramente a uma discussao de conceitos, aceitando o de Max Weber como 0 mais com- pleto e mais proprio para permitir uma abordagem va~ lida do problema. A partir da definicao de cidade explica em seguida o que entende por urbanizacio,pro cesso que se caracteriza por uma concentragao demo = grafica permitindo a divisao do trabalho em carat er permanente, e pela existéncia de um mercado de certo porte, fruto de uma variedade de fatores peculiares ‘ao aglomerado citadino. Como uma cidade nao existe sozinha, em escala nacional formam-se varios tipos de aglomeragéo urbana num pais, compondo umconjunto que é a réde urbana. De onde a necessidade de encarar o fenomeno em dois niveis: o do micleo e o da rede ur- bana. (pg. 20 a 23) Sio interessantes as conclusées a que che- ga o autor, depois da andlise dos documentos. Veri- fica, assim, que os portuguéses, até meados do sec. XVII, tem uma politica de urbanizagdo que consiste em "eoncentrar a atengdo e os recursos nos nitcleos maio res (...) e controlar apenas indiretamente as demais povoagoes" (pg. 185). A partir do séc. XVII, inicia -se uma politica centralizadora por parte da metropo le, e em consequéncia o processo de urbanizacao se mo difica; fomenta-se a fundacao de novas vilas para 0 enquadramento da populacao rural dispersa, - novas vi las que, no entanto, estavam proibidas de se tornar centros de manufaturas e nas quais 0 comércio so po- dia ser exercido pelos portuguéses e pelas companhias privilegiadas. Controla-se tambem o desenvolvimento dos aglomerados urbanos e surge a preocupacado com os edificios publicos, que sao encarados como monumen - tos (pg. 186-187). Assim, a organizacado dos nucleos CADERNO ~ N@ 3 - 1970 157 urbanos e, em cada época, produto "das condicoes his: toricas precedentes e da atuacgao dos agentes do pro- cesso de colonizacdo e urbanizacdo" (pg. 188). £ inegavel a utilidade déste trabalho que, como ja apontamos, analisa aspectos pouco estudados e conhecidos da formacao de nossas cidades. As cri- ticas que a seguir apresentamos, como contribuig 4 0 construtiva, se referem aos instrumentos de concei - tuacao utilizados. Estranhamos a falta, na biblio - grafia, de trabalhos modernos como os de Pierre Geor ge e Michel Rochefort, na Franga, - para naocitar se nao dois geografos urbanos muito ligados aos estudos da realidade urbana brasileira. De acordo com éstes estudiosos, existe rede urbana quando ha inter-depen dencia entre o meio rural e diversos tipos de aglome rados urbanos, indo desde aquéles que apresentam ao meio rural a menor quantidade de servicos em grau me‘ nor de especializagao, até aquéles que reinem amaior quantidade de servicos e também os mais especializa- dos, passando por varios graus intermediarios. Ca - racteristico de uma rede urbana ¢ o fato dos habitan tes do meio rural se servirem de todos os aglomera - dos, escolhendo ora uns, ora outros, na medida em que suas necessidades sao mais ou menos especializadas - Assim, por exemplo, os sitiantes comprarao no povoa- do fosforos, azeite de lamparina, lampadas, etc.,mas irao a uma cidade maior para comprar meios de ilumi- nacao mais importantes ou mais sofisticados. Pode-se entao perguntar, diante do cap. IIT da primeira parte do trabalho, "A réde urbana", se 0 fenomeno descrito ¢ realmente o de uma réde urbanaem formacao, ou se ndéo se trataria simplesmente da mul~ tiplicagdo de nucleos citadinos, o que é outra coisa? E é valida considerar a existencia de tal rédeno Bra sil-colonia? A resposta e dada pelos geografos cita dos, quando mostram que nao existem rédes urbanas em paises sub-desenvolvidos; pelo contrario, cada aglo merado urbano se desenvolve como um pequeno centro,e o pais @ composto de varios déles justapostos,atrain do cada qual os habitantes da regiao que comanda. 0s 158 CENTRO DE ESTUDOS RURAIS E URBANOS habitantes nao escolhem entre varios centros na medi, da de suas necessidades; porém se servem exclusiva - mente do centro mais proximo. fste tecido citadinoce lular é caracteristico do Brasil Coldnia, e o fatode existir explica uma série de acontecimentos histér cos que nessa época se deram. No que diz resreito a evolugao das cidades brasileiras, so no sécvio XIXse inicia a formagao de uma réde urbana nalguns_ pontos do pais, perdurando noutros pontos a forma celular; désse modo, ainda hoje esta em processo 0 desenvolvi mento da rede, que nao cobre ainda o pais: todo. Por outro lado, também o conceito de "urba- nizacao" nao pode ser utilizado como o fez o auto r sem grandes reservas, quando se trata do caso brasi- leiro, e isto porque tal conceito esta estreitamente ligado ao de industrializagdo, empregando-se exclusi, vamente préso a éste. Reconhece-se hoje a existén - cia de dois processos diferentes de formacao e desen volvimento de cidades: o que se da aliado a industria lizacdo (urbanizagao propriamente dita) e o quese pro cessa independentemente desta. No segundo caso, na falta de um térmo Unico que exprima o processo, fala -se em "formacao de cidades", evitando-se a utiliza- gao da palavra urbanizacgao. Ora, no Brasil, so ha li geiros prenuncios de urbanizagao durante o séc. XIX, € 0 processo surge realmente no século XX, com a pri, meira guerra mundial. Durante o séc. XIX, 0 que se da é@ um processo de transformacgdo e aburguezamento de algumas cidades maiores existentes nas regides mais ricas do pais; o fendmeno resulta do desenvolvimento da sociedade burguesa na Europa, que se espraia como um fato cultural pelo mundo. Mas o aburguezamento tam bem nao é geral no Brasil; opera-se principalmentems cidades ligadas a uma regiao rural rica, de que é e- xemplo a regido do cafe. Nossas observacgoes visam alertar os leito - res para os problemas que envolve a conceituagdo dos térmos empregados nas ciéncias humanas; sem uma con- ceituagao muito elaborada, ou passa-se ao largo dos verdadeiros problemas, ou estuda-se um problema por CADERNO - N° 3 - 1970 159 outro. Foi louvavel o esforco de definicao do autor, que é arquiteto, num campo que ndo é 0 seu, o da so- ciologia urbana. Suas deficiéncias na conceituagia o dos termos e dos problemas vém mais uma vez mostrar que, em assuntos dessa espécie, a colaboracdo entre especialistas ¢ fundamental, cada qual . trabalhando dentro de seu ramo, porém concorrendo juntos para o esclarecimento do mesmo problema. S.Paulo, 1 de setembro de 1970 Maria Isaura Pereira de Queiroz Departamento de Ciencias Sociais U.S.P.

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