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exigente. Portanto, a escassez de mão de obra com um míni- estudos. Sem trabalhar, vive com a mãe na zona norte do
mo de competência técnica, que é um dos entraves crônicos Rio e conta com a ajuda da avó paterna de seu filho – o pai
do desenvolvimento no Brasil, tende a se acentuar – a não do garoto se recusou a registrar a criança. Ela diz que não
ser que haja uma virada drástica e imediata no sistema edu- se arrepende da escolha. “Vivi a maternidade intensamente,
cacional, de modo a atrair novamente essa massa de jovens estou com meu filho no principal momento de sua forma-
para os estudos e a especialização, fazendo-os perceber que ção, que é até os quatro anos. Claro que tenho vontade de
a educação pode significar um futuro melhor. concluir os meus estudos e trabalhar, mas espero isso para
quando ele já estiver mais crescido”. Determinada, Tatiane
(O Estado de S. Paulo, “Opinião”, 26.09.2012) conta que nunca pensou em não ter a criança. Ela lembra
que sua mãe é fundamental para ela e que um problema de
‘Nem-nem’: legião que não estuda nem trabalha saúde que atravessa agora dificultou a tentativa de retornar
seus sonhos de trabalho e estudo. Mas ela não desiste. “Uma
Fabiana Ribeiro; Cássia Almeida; Henrique Gomes coisa é certa: nunca é tarde para recomeçar”. Para Fernando
de Holanda Barbosa Filho, professor da Fundação Getúlio
O Brasil já aprendeu que lugar de criança é na escola. Vargas, a taxa de matrícula no Brasil é muito baixa. E, com
Tanto que, praticamente, todos os pequenos de 6 a 14 anos isso, boa parte dos jovens que trabalha não tem o nível mé-
estudam (98,2%). O País, contudo, não teve o mesmo suces- dio, o que ajuda a explicar essa condição de desalento estru-
so com jovens e adolescentes. Levantamento do Instituto de tural. “É um problema de longo prazo. Afinal, o que se vê
Estudos Sociais e Políticos da UERJ aponta que quase um são perspectivas menores de emprego para os jovens que
em cada cinco jovens (19,5% dos 27,3 milhões dos jovens não concluem o Ensino Médio. A escola precisa ter qualida-
entre 18 e 25 anos) não estuda, não trabalha, nem procura de”, apontou o professor da FGV. Mas apenas isso não re-
emprego. São os chamados “nem-nem”, representados por tém o jovem. É preciso, segundo ele, tornar a escola mais a-
um contingente de 5,3 milhões de pessoas. Tal é um cenário traente. E isso pode implicar até mesmo alterar o currículo
longe de ter um desfecho feliz. Em dois anos, a parcela dos das aulas. “Tornar a escola atraente passa por tornar o seu
jovens entre 15 e 17 anos que estuda caiu de 85,2% em 2009 conteúdo mais apropriado à realidade. Muitos jovens, por e-
para 83,7% em 2011, conforme mostrou a Pesquisa Nacio- xemplo, já viram que a taxa de empregabilidade dos cursos
nal por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE. Ou seja, profissionalizantes é baixa. E, com isso, deixam esses cur-
há outro 1,7 milhão de adolescentes dessa faixa etária longe sos”, comentou. Hildete Pereira, professora da UFF, acres-
dos bancos escolares, um contingente que pode ajudar a en- centa que não são apenas a gravidez ou a maternidade os
grossar a geração dos “nem-nem”. Segundo dados do Insti- responsáveis por tirar as jovens da escola. “Não basta ter es-
tuto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a maioria dos cola. É preciso ter escola com qualidade”. Na avaliação de
jovens de 15 a 17 anos mora com os pais. O que surpreende Flavio Comim, professor de Cambridge, a falta de investi-
é que, entre os que têm de 25 a 29 anos e não estudam nem mento na juventude traz impactos econômico-sociais. Com
trabalham, há quase 20% de chefes de família. Não são pou- menos educação, afirma, os jovens ficam mais propensos a
cos os motivos: de evasão escolar a desalento, passando por uma gravidez na adolescência, a maiores índices de violên-
gravidez precoce e envolvimento com crime. Fazer o jovem cia e a vagas trabalhistas de pior qualidade. Mas ele não a-
não abandonar os estudos é, sem dúvida, o maior desafio da credita que a responsabilidade seja unicamente do Governo.
educação brasileira. A taxa de desemprego de adolescentes “A esfera privada, e com isso eu quero dizer a esfera das fa-
de 10 a 17 anos caiu de 20,1% para 19,4%, em dois anos. mílias, dos espaços de trabalho, das comunidades não pode
“A evasão escolar mostra que a escola não está interessante ficar de fora da discussão e da implementação de soluções
o suficiente. É entre mais pobres que encontramos as maio- para resolver o problema. A educação dos filhos deveria ser
res proporções de excluídos, tanto de estudos quanto do tra- a prioridade de todos os pais. Por que não é? Em alguns ca-
balho”, disse Adalberto Cardoso, pesquisador do Instituto sos, simplesmente não existem escolas, mas, em outros, a
de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da UERJ, acrescen- maioria, o problema é de baixa qualidade da educação. O
tando que mudar esse quadro exige políticas públicas que que os pais deveriam pensar é: o que fazer para melhorar a
busquem, por exemplo, incentivar as famílias carentes para qualidade da educação da escola do meu filho?”. Cardoso,
a manutenção dos jovens na escola e criar espaços acessí- do IESP, acrescentou que, em algum momento, esses jovens
veis e gratuitos de aprendizagem profissional. Pelos dados que não estudam e não trabalham irão tentar entrar no mer-
do IESP, com base no Censo de 2010, o número de moças cado de trabalho. “E parte desses jovens irá se tornar assala-
que não estuda e não trabalha é quase o dobro do número de riada sem carteira assinada”. Em alguns casos, deixar os es-
rapazes: respectivamente, 3,5 milhões e 1,8 milhão. A ma- tudos poderá ser uma opção para jovens quando o mercado
ternidade é a grande explicação para essa distância. Para se de trabalho continuar aquecido, apesar da desaceleração e-
ter ideia, 50% das jovens da geração “nem-nem” têm filhos. conômica no País. Com o desemprego em queda, o jovem
Mas a família não é a única explicação. Há, segundo Cardo- se sente mais atraído a trabalhar, justamente no momento
so, um forte desalento em consequência da qualificação ru- em que o setor de serviços, atual motor da economia, mos-
im. “A qualificação ruim dos jovens não permite a eles in- tra-se como um dos maiores empregadores do País. E, ao
gressarem no mercado de trabalho, mesmo em plena ativi- contrário do que acontece em países desenvolvidos, o setor
dade. Os pobres são, sem dúvida, os mais afetados”, disse não exige profissionais altamente especializados. Mas nem
Cardoso, acrescentando que, na parcela mais pobre da popu- sempre o jovem que sonha em trabalhar quer largar definiti-
lação brasileira, com renda per capita de até R$ 77,75, quase vamente os estudos. Diogo Chaves, de 23 anos, abandonou
metade dos jovens estava fora da escola e do mercado de o Ensino Médio quando começou a fazer o serviço militar
trabalho. Tatiane Destéfano, 23 anos, teve de optar por dois obrigatório. Hoje, ele tem de correr para retomar seus proje-
sonhos em 2009: continuar os estudos – ela estava ainda no tos: interessado em virar policial, ele vai fazer um curso pre-
2.º ano do Ensino Médio – ou ter o filho, que veio sem haver paratório para concursos e tenta concluir Ensino Médio em
sido planejado. Ela optou pela maternidade e abandonou os supletivo para ser aceito no serviço público. “Realmente, te-
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nho de recuperar o tempo perdido. O problema é que é difí- Geração que não trabalha, não estuda
cil se preparar para concurso e trabalhar. Fiz uma entrevista nem procura emprego diminui no país
de emprego, mas o horário não coincidia. Tentei meio perío-
do em telemarketing, mas também não deu certo”, diz o ca- Com a economia estagnada e a piora do mercado de
rioca, que mora com os avós e a mãe. trabalho, a proporção de jovens “nem-nem-nem” (nem estu-
da, nem trabalha, nem procura emprego) encolheu no Brasil
(O Estado de S. Paulo, “E&N”, 21.10.2012) pela primeira vez em cinco anos. No ano passado, 6,8 mi-
lhões de jovens compunham o contingente “nem-nem-nem”
A geração "nem-nem" e os profissionais “des-des” no país, o que representava 13,9% das pessoas de 15 a 29 a-
nos. No ano anterior, a proporção era de 15%, ou seja, 546
Gilberto Alvarez Giusepone Jr. mil jovens a mais nessa situação. Os dados foram divulga-
dos nesta sexta-feira (4) pelo IBGE e fazem parte da Síntese
Um em cada cinco brasileiros entre 18 e 25 anos não de Indicadores Sociais, que examina aspectos, como condi-
trabalha nem estuda. É o que revelou a pesquisa do Instituto ções de trabalho, moradia e educação da população. Segun-
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) no início do mês. do Cintia Simões Agostinho, pesquisadora do IBGE, o au-
Jovens que não encontram espaço no mercado de trabalho, mento da procura por emprego – e não o retorno ao estudo
não demonstram interesse em procurar emprego e não que- ou a conquista da vaga de trabalho – foi o responsável pela
rem saber de continuar a estudar. Um dado alarman- redução dos “nem-nem-nem” no país em 2014. Naércio Me-
te, que revela o tamanho da bomba-relógio que ameaça o fu- nezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do
turo do Brasil. São 5,3 milhões de jovens desinteressados INSPER, diz que o desemprego começou a crescer no país
– os chamados “nem-nem”, que nem estudam, nem traba- no ano passado, e o avanço da renda perdeu fôlego (alta de
lham, nem procuram emprego. O que mais impressiona é apenas 0,8%, para R$ 1.774). “Quando a renda dos pais a-
pensar que, se fossem computados aqueles que ainda procu- perta, o jovem tem de começar a procurar emprego. Ele não
ram alguma ocupação, o número saltaria para 7,2 milhões. consegue se sustentar mais só pela renda dos pais. Ele preci-
Num cenário de baixo desemprego e de economia em ex- sa de um emprego para comprar o tênis”, diz o professor do
pansão, essa é uma parcela importante de brasileiros que INSPER. Esses jovens, entretanto, encontram dificuldades
não estão participando do desenvolvimento experimentado para ingressar no mercado de trabalho. Primeiro, porque a
nos últimos anos. Segundo a pesquisa do IPEA, a maioria oferta de vagas ficou mais escassa. Segundo, porque “nem-
deles está inserida em domicílios de renda mais baixa e de- -nem-nem” são, na média, pouco qualificados. Sinal disso é
pende fortemente do apoio familiar. Além disso, a escolari- que mais da metade (58%) deles não tinha completado o
dade foi vista como fator primordial para a participação nas Ensino Médio. Em sua maioria, moram na região Nordeste
atividades econômicas do país, ou seja, quanto maior a esco- (36%), a mais pobre do país. E 62,9% eram pretos ou par-
laridade dos pais, maior a frequência do jovem à escola. Is- dos. Claudio Dedecca, professor da UNICAMP, afirma que,
so explica a falta de interesse, pois o grupo que nem traba- apesar da redução, uma parcela majoritária dos “nem-nem-
lha nem estuda mora com os pais e acaba tendo como refe- -nem” exerce uma função na estrutura familiar que impede
rência alguém que não deu continuidade nos estudos. O fato uma mudança. Pelo fator sexo, 75% dos jovens que não tra-
é que os jovens precisam ser estimulados e orientados. Co- balhavam, não estudavam nem procuravam emprego eram
mo não encontram estímulo em casa, a escola passa a ter o mulheres, das quais 62% tinham filho. E, desses “nem-nem-
papel crucial de ajudá-los nessa busca por um caminho a se- -nem”, 91% se dedicavam aos afazeres domésticos. “Esta-
guir. Acontece que ainda não somos exemplo no quesito “e- mos falando majoritariamente de mulheres que exercem um
ducação”, e o grande referencial da sala de aula é o profes- papel importante na estrutura familiar, cuidando dos filhos.
sor. O professor tem um papel fundamental. É preciso quali- Elas cumprem esse papel porque precisam, porque não há
ficá-lo, dar-lhe condições pedagógicas e melhorar substan- creche ou porque não existe alternativa”, disse o especialis-
cialmente sua remuneração. Um professor bem preparado e ta. Segundo relatório da OIT (Organização Internacional do
motivado é meio caminho andado para despertar no aluno Trabalho), essa proporção de jovens que não trabalha nem
o desejo por aprender, participar da sociedade e exercer seu estuda cresceu em 30 de 40 países analisados – entre 2007
papel de cidadão. Além disso, são necessários investimen- e 2012. Com a economia brasileira em recessão há três tri-
tos maciços em educação pública em geral, desde a primeira mestres e a piora do mercado de trabalho, mais jovens têm
infância, até o Ensino Fundamental e Médio. Temos uma procurado emprego neste ano. No terceiro trimestre de 2015
juventude sedenta por mudança, com enorme potencial para a taxa de desemprego chegou a 8,9% no país. Enquanto os
transformar o país, fazer avançar a democracia e reduzir a “nem-nem-nem” se concentram na parcela pobre da popula-
desigualdade social. Não podemos permitir que ela se imo- ção, outro fenômeno ocorre em um extremo social oposto:
bilize, se sinta desmotivada por não conseguir visualizar o os “cangurus”, jovens adultos que adiam a saída da casa dos
caminho que deve seguir. Caso contrário, os 5,3 milhões de pais. Uma em cada quatro pessoas de 25 a 34 anos no país
jovens “nem-nem” de hoje serão certamente profissionais ainda morava com os pais, segundo o IBGE. Essa proporção
desmotivados e despreparados – “des-des” – de amanhã. cresceu de 21,2% em 2004 para 24,3% no ano passado. Os
jovens adultos “cangurus” são em sua maioria formados por
GILBERTO ALVAREZ GIUSEPONE JR., especialista homens (59%), da região Sudeste (47%) e mais escolariza-
em ENEM, é diretor do Cursinho da Poli (SP), instituição dos (34,9% tinham Ensino Superior). São pessoas que adia-
sem fins lucrativos que trabalha a educação como inclusão ram a saída de casa porque dedicaram mais tempo aos estu-
social. dos, casaram-se mais tarde ou foram afetados pela alta do
custo de vida no país.
(Jornal do Brasil, “Sociedade Aberta”, 27.08.2013)
(Folha de S. Paulo, “Mercado”, 04.12.2015)
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