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UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL - UNISC

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL –

MESTRADO

André Luís Frietto

AVALIAÇÃO DE CONTAMINANTES METÁLICOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NO

CULTIVO E PROCESSAMENTO DE ERVA-MATE (Ilex paraguariensis St. Hill)

Santa Cruz do Sul, março de 2008.


2
André Luís Frietto

AVALIAÇÃO DE CONTAMINANTES METÁLICOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NO

CULTIVO E PROCESSAMENTO DE ERVA-MATE (Ilex paraguariensis St. Hill)

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental

- Mestrado da Universidade de Santa Cruz

do Sul, para obtenção do título de Mestre

em Tecnologia Ambiental.

Orientador: Dra. Ana Lúcia Becker Rohlfes

Santa Cruz do Sul, março de 2008


3

É preciso,
é preciso urgentemente,
que te capacites que o homem que faz a máquina
jamais fez uma flor;
que o homem é bom, malgrado o próprio homem,
e que no íntimo de si é simples como as águas;
e que apesar das bombas, super-bombas, hiper-bombas,
as flores nascem a cada novo dia
e a vida é nova a cada amanhecer.

Aparício Silva Rillo


4

AGRADECIMENTOS

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)


pela bolsa de pesquisa concedida.
Ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental da Universidade
de Santa Cruz do Sul, pela possibilidade de execução deste trabalho.
A Central Analítica da Universidade de Santa Cruz do Sul, pela receptividade,
auxílio e possibilidade de execução deste trabalho.
A empresa ervateira visitada, pela possibilidade de desenvolvimento deste
trabalho.
Aos proprietários rurais que forneceram amostras e informações importantes
para a realização deste trabalho.
A minha família pelo afeto, compreensão e paciência em todas as horas.
A Profa. Dra. Ana Lúcia Becker Rohlfes pela amizade, apoio e orientação
durante a realização deste trabalho.
Aos Profs. Drs. Ênio Leandro Machado e Luciano Dornelles, pela participação
como banca examinadora e pelas valiosas sugestões que contribuíram para o
aperfeiçoamento deste trabalho.
Aos colegas do Laboratório de Ensino de Química da Universidade de Santa
Cruz do Sul, pela amizade e presteza em todos os momentos.
A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a conclusão deste
trabalho.
5
RESUMO

A erva-mate (Ilex paraguariensis St. Hill.) tem grande importância na economia dos
Estados da região sul do Brasil, como matéria-prima para misturas para chimarrão.
Constatações com relação a metais pesados, em trabalhos científicos regionais,
aliadas aos métodos de cultivo empregados no município de Venâncio Aires, RS,
formaram a base das pesquisas sobre metais pesados e impactos ambientais
gerados no cultivo e industrialização da erva-mate em empresa ervateira localizada
na Região do Vale do Rio Pardo, RS. Os impactos ambientais decorrentes do
processamento da erva-mate foram avaliados através do emprego do programa
SAAP. Os metais pesados estudados foram As, Pb, Cd e Mn, sendo analisados por
Espectrometria de Absorção Atômica, em amostras de erva-mate comercial, in
natura e cancheada, bem como, no solo de propriedades agrícolas fornecedoras da
matéria-prima à empresa visitada. Os resultados revelaram possíveis fontes de
impactos ambientais no processamento. Com relação aos metais pesados, nenhuma
amostra de erva-mate comercial demonstrou a presença de As como contaminante.
Para os demais metais, houve tendência à contaminação, revelando teores
significativos de Mn (até 1.000 mg kg-1), enquanto para Pb e Cd a maioria das
amostras avaliadas revelaram teores acima dos níveis de 10mg kg-1 e 0,3 mg kg-1,
respectivamente, estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde, para plantas
medicinais. Ainda, os resultados obtidos revelam a necessidade de maior
conhecimento técnico e controle tanto sobre as propriedades agrícolas, quanto
sobre o processo de industrialização da erva-mate para chimarrão.
6
ABSTRACT

The matte (Ilex paraguariensis St. Hill.) has great importance in the economy of the
states of the south region of Brazil, like raw material for mixtures for unsweetened
matte tea. Observations regarding heavy metal, carried out in scientific regional
works, allied to observations of the methods of cultivation employed in Venâncio
Aires, Rio Grande do Sul, formed the basis of the inquiries on heavy metal and
environmental impacts produced in the cultivation and industrialization of the matte in
manufacturing ervateira located in the Region tell Rio Pardo Valley, Rio Grande do
Sul. The environmental impacts resulting from the processing of the matte were
valued through the software SAAP. The heavy metal studied As, Pb, Cd and Mn
analysed by Atomic Absorption Spechtrometry, in samples of commercial matte, in
natura and semi manufactured product, as well as, in the ground of agricultural
properties suppliers from the raw material to the visited manufacturing. The results
revealed possible sources of environmental impacts in the processing. Regarding the
heavy metal, no sample of commercial matte demonstrated the presence of As as
contaminant. For too much metal, there was tendency to the contamination, revealing
significant values of Mn (above 1.000 mg kg -1), while for Pb and Cd to most of the
evaluated samples revealed tenors above the levels of 10 mg kg-1 and 0,3 mg kg-1,
respectively, for Pb and Cd established by the World-wide Organization of the Health,
for medicinal plants. Yet, the obtained results show the necessity of bigger technical
knowledge and control so much on the agricultural properties, how much is left the
process of industrialization of the matte for unsweetened matte tea.
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LISTA DE ABREVIATURAS

ADP Adenosina difosfato


ATP Adenosina tri fosfato
EAA Espectrometria de Absorção Atômica
EDL Lâmpadas de Descarga sem Eletrodos
FAAS Espectrometria de Absorção atômica com chama, do inglês Flame
Atomic Absorption Spectrophotometry
GF AAS Espectrometria de Absorção atômica com forno de grafite, do inglês
Graphite Furnace Atomic Absorption Spectrophotometry
HCL Lâmpada de Cátodo Oco, do inglês Hollow-cathode Lamp
HG AAS Espectrometria de Absorção atômica com geração de hidretos, do
inglês Graphite Furnace Atomic Absorption Spectrophotometry
IAG Índice de aquecimento global
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICE Índice de consumo de energia
IPA Índice de pressão ambiental
LD Limite de detecção
LQ Limite de quantificação
OMS Organização Mundial da Saúde
PVC Policloreto de vinila
SAAP Sistema de Avaliação Ambiental de Processos
ACV Análise do Ciclo de Vida
IUPAC União Internacional de Química Pura e Aplicada, do inglês
International Union of Pure and Aplied Chemistry.
UTM Sistema Universal Transverso de Mercator do inglês Universal
Transversa Mercator.
8

LISTA DE FIGURAS

Figura1 - Área de abrangência natural da erva-mate........................................ 16


Figura 2 - Localização do Município de Venâncio Aires..................................... 19
Figura 3 - Localização do Município de Fontoura Xavier.................................... 19
Figura 4 - Fluxograma do processamento básico de erva-mate......................... 20
Figura 5 - Fluxograma da metodologia aplicada para o desenvolvimento do
estudo dos impactos ambientais associados ao processamento de
erva-mate............................................................................................ 38
Figura 6 - Fluxograma com as etapas de processamento da erva-mate in
natura na empresa visitada................................................................ 49
Figura 7 - Mapa com localização das propriedades visitadas no município de
Venâncio Aires................................................................................... 56
Figura 8 - Localização das propriedades visitadas em relação ao centro da
cidade Venâncio Aires....................................................................... 56
Figura 9 - Mapa com localização das propriedades visitadas no município de
Fontoura Xavier.................................................................................. 57
Figura 10 - Cultivo consorciado de erva-mate no município de Venâncio Aires,
propriedades 1, 2, 3, 4 e 5................................................................. 58
Figura 11 - Cultivo nativo de erva-mate no município de Fontoura Xavier,
propriedades 6, 7 e 8.......................................................................... 59
Figura 12 - Curva analítica para determinação de arsênio em erva-mate
comercial............................................................................................. 61
Figura 13 - Curva analítica para determinação de cádmio em erva-mate
comercial............................................................................................. 61
Figura 14 - Curva analítica para determinação de chumbo em erva-mate
comercial............................................................................................. 61
Figura 15 - Curva analítica para determinação de manganês em erva-mate
comercial............................................................................................. 61
9
Figura 16 - Curva analítica para determinação de manganês na matéria- 68
prima...................................................................................................
Figura 17 - Curva analítica para determinação de chumbo na matéria-
prima................................................................................................... 68
Figura 18 - Curva analítica para determinação de cádmio na matéria-
prima................................................................................................... 68
Figura 19 - Curva analítica para determinação de manganês em solos............... 72
Figura 20 - Curva analítica para determinação de chumbo em solos................... 72
Figura 21 - Curva analítica para determinação de cádmio em solos.................... 72
10
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Limites máximos permitidos, segundo a OMS, para As, Pb, Cd, Cr,
Hg e Cu em ervas medicinais............................................................. 32
Tabela 2 - Programação de aquecimento e fluxo de argônio para análise de
chumbo............................................................................................... 42
Tabela 3 - Programação de aquecimento e fluxo de argônio para análise de
cádmio................................................................................................ 43
Tabela 4 - Operações envolvidas no beneficiamento da erva-mate.................... 48
Tabela 5 - Inventário material do processo em toneladas................................... 52
Tabela 6 - Inventário energético do processo...................................................... 53
Tabela 7 - Coordenadas UTM das propriedades visitadas.................................. 55
Tabela 8 Leituras em absorvância para os limites de detecção e de
quantificação para análise de As, Cd, Pb e Mn por EAA.................... 63

Tabela 9 - Limites de detecção e de quantificação para análise de As, Cd, Pb


e Mn por EAA...................................................................................... 63
Tabela 10 - Resultados obtidos na quantificação de Mn, Pb, Cd e As em erva-
mate comercial................................................................................... 64
Tabela 11 - Teores de chumbo (mg kg-1) para cada replicata das amostras
comerciais de erva-mate.................................................................... 65
Tabela 12 - Teores de cádmio (mg kg-1) para cada replicata das amostras
comerciais de erva-mate..................................................................... 66
Tabela 13 - Teores de Mn, Pb e Cd nas amostras de erva-mate in natura........... 69
Tabela 14 - Resultados obtidos (mg kg-1) na quantificação de Pb em erva-mate
in natura.............................................................................................. 70
Tabela 15- Teores dos metais Mn, Pb e Cd em talos e folhas, de erva-mate
cancheada.......................................................................................... 71
Tabela 16- Teores de Mn, Pb e Cd nas amostras de solos das propriedades
visitadas.............................................................................................. 73

Dissertação de Mestrado - André Luís Frietto- 2008


11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 13

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................... 15
2.1 Erva-mate...................................................................................................... 15
2.1.1 Aspectos botânicos.................................................................................. 15
2.1.2 Habitat e distribuição geográfica.............................................................. 16
2.1.3 Utilização da erva-mate........................................................................... 17
2.1.4 Importância sócio-econômica e ambiental............................................... 17
2.1.5 Processamento da erva-mate para chimarrão ........................................ 20
2.2 Ferramenta SAAP.......................................................................................... 21
2.3 Metais pesados ............................................................................................. 23
2.3.1 Metais pesados e o meio ambiente......................................................... 24
2.3.2 Metais pesados e organismos................................................................. 28
2.3.3 Os metais chumbo, cádmio, arsênio e manganês................................... 31
2.3.3.1 Chumbo.............................................................................................. 32
2.3.3.2 Cádmio............................................................................................... 33
2.3.3.3 Arsênio............................................................................................... 33
2.3.3.4 Manganês........................................................................................... 34
2.4 A Espectrometria de Absorção Atômica na determinação de metais
pesados......................................................................................................... 35

3 METODOLOGIA.................................................................................................. 38
3.1 Visita à indústria ervateira............................................................................. 39
3.2 Visita aos fornecedores de erva-mate in natura à indústria
ervateira......................................................................................................... 39
3.3 Estudo sobre metais pesados no processamento de erva-
mate............................................................................................................... 40
3.3.1 Instrumentação........................................................................................ 40

Dissertação de Mestrado - André Luís Frietto- 2008


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3.3.2 Reagentes e Soluções............................................................................. 40
3.3.3 Limpeza de material................................................................................. 41
3.3.4 Condições instrumentais de análise para a determinação de Cd, Pb,
Mn e As por Espectrometria de Absorção Atômica.................................. 41
3.3.5 Coleta e procedimentos de abertura de amostra de erva-mate in
natura........................................................................................................ 43
3.3.6 Coleta e procedimentos de abertura de amostras de
solo........................................................................................................... 44
3.3.7 Coleta e procedimentos de abertura de amostras de erva-mate
cancheada................................................................................................ 45
3.3.8 Determinação de metais pesados nas amostras de erva-mate
comercial, in natura, cancheada e solo.................................................... 45

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES........................................................................ 47
4.1 Acompanhamento do processo produtivo e inventário da indústria
ervateira...................................................................................................... 47
4.2 Informações relativas à visita aos fornecedores de erva-mate in
natura.......................................................................................................... 55
4.3 Avaliação das condições instrumentais para quantificação dos
metais.......................................................................................................... 61
4.4 Quantificação de Cd, Pb, Mn e As em erva-mate comercial......................... 64
4.5 Quantificação de Cd, Pb e Mn em amostras de erva-mate in natura e
cancheada...................................................................................................... 67
4.6 Resultados obtidos na análise das amostras de solo.................................... 72

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 75

6 REFERÊNICAS BILIOGRÁFICAS………………………………………………….. 78

ANEXOS................................................................................................................ 86
ANEXO I – Questionário apresentado aos proprietários rurais.............................. 87
ANEXO II – Questionários respondidos pelos proprietários rurais........................ 88

Dissertação de Mestrado - André Luís Frietto- 2008


13

1 INTRODUÇÃO

Segundo Esmelindro e colaboradores (2002), o chimarrão que faz parte da


cultura gaúcha tem a erva-mate (Ilex Paraguariensis St Hill) como sua matéria-prima.
Por ser uma planta que apresenta em sua composição diversas propriedades
nutritivas, fisiológicas e medicinais, representa um enorme potencial para diversas
finalidades. Atualmente, a exploração da erva-mate ocupa posição de destaque na
economia dos Estados do sul do Brasil, principalmente na forma de produtos
tradicionais para chimarrão.
O processamento da erva-mate contribui significativamente na economia do
município de Venâncio Aires, RS, sendo este considerado a “capital nacional do
chimarrão”. Além da existência de quatro indústrias ervateiras, especializadas no
beneficiamento da erva-mate, a região agrícola deste município, bem como do
município de Fontoura Xavier, RS, dedicam-se ao cultivo desta matéria-prima,
agregando, juntamente com a cultura do tabaco, mais renda familiar.
Atualmente, uma parte da erva-mate in natura é proveniente da exploração de
ervais nativos, cujos cultivares se desenvolvem em meio a florestas; a outra parte
tem sua origem em ervais plantados em regiões que permitem melhores condições
de desenvolvimento, longevidade e maior produtividade, com processos agrícolas
que viabilizam o aproveitamento destas plantas em escala industrial. Neste contexto,
o cultivo da erva-mate em consórcio com outros cultivares, como feijão, milho e
fumo, ganhou projeção no meio agrícola. Desta forma, a erva-mate se desenvolve
em solos que receberam fertilizantes e pesticidas, característicos da cultura com a
qual está consorciado. O uso de fertilizantes tem como objetivo garantir o
fornecimento de nutrientes ao solo, no entanto, a prática de aplicação de pesticidas
e fertilizantes pode aumentar consideravelmente as concentrações de metais
pesados, entre eles As, Cd, Pb e Mn, no solo e, por translocação, podem estar
presentes na matéria- prima que chega à indústria ervateira.

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Na indústria, a matéria-prima a ser processada é submetida a três etapas:
sapeco, secagem e cancheamento. No sapeco, ocorre a passagem rápida da erva-
mate in natura em um cilindro metálico perfurado com contato direto com fogo, no
intuito de promover a retirada da umidade superficial e a inativação de enzimas
capazes de promover a oxidação do produto. Em seguida, o restante da umidade é
retirado em secadores mecânicos, sendo a matéria seca submetida ao
cancheamento. Esta etapa consiste na trituração da erva que, depois de peneirada,
é socada dando origem à erva-mate de chimarrão.
Segundo Chan (2003), na mistura e manufatura de produtos naturais pode
ocorrer contaminação por elementos tóxicos, como os metais pesados advindos de
diversas fontes, entre elas, os ambientes e condições de crescimento e coleta das
plantas, as condições nas quais as plantas são secas e produzidas, condições de
armazenamento e transporte e os processos de manufatura nos quais as misturas
são produzidas. Deste modo, as atividades que compreendem o ciclo produtivo da
erva-mate para chimarrão, estão sujeitas a geração e incremento de contaminação
por parte de metais pesados, bem como de gastos de material e energia excessiva,
e, geração de resíduos.
Face ao exposto e considerando que as pesquisas relacionadas à cadeia
produtiva da erva-mate para chimarrão são praticamente inexistentes, é de suma
importância a avaliação do ciclo de vida da erva-mate com análise dos impactos
ambientais e contaminantes metálicos decorrentes do processamento da erva-mate.
Para a avaliação do ciclo de vida da erva-mate o presente trabalho teve como
proposição avaliar o processamento da erva-mate aplicando-se o programa Sistema
de Avaliação Ambiental de Processos (SAAP), com auxílio de inventários
energéticos e materiais acompanhados de fluxograma do processo.
Adicionalmente, a possibilidade de contaminação por metais pesados, como
Cd, Pb, Mn e As em relação ao modo de cultivo da erva-mate, nativa e consorciado,
bem como das etapas de processamento, também foi avaliada. Para tanto, os
referidos metais foram quantificados em amostras de erva-mate comercial, in natura,
cancheada e nos solos dos ervais, empregando a Espectrometria de Absorção
Atômica.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Erva-mate

2.1.1 Aspectos botânicos

A erva-mate (Ilex paraguariensis St. Hill.) é originária da América do Sul.


Segundo o naturalista francês August de Saint Hillaire a erva-mate é uma
angiosperma, da classe dicotiledônea, sub-classe archichlamydeae, da família
“aquifoliaceae”, do gênero “Ilex” e espécie: “Ilex paraguariensis A. St. Hill”. No Brasil
a gênero Ilex apresenta 60 espécies (JACQUES, 2005).
Segundo Resende e colaboradores (2000), a floresta subtropical é uma floresta
mista, composta por formações de latifoliadas e de coníferas. Estas últimas são
representadas pelo pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia), que não aparece em
agrupamentos puros. A floresta mista ou Mata de Araucárias recobria as porções
mais elevadas do estado, isto é, a maior parte do planalto nordeste e partes do
centro. Essa formação ocupa grande parte do planalto gaúcho e ainda parte dos
estados de São Paulo, Santa Catarina e Paraná. Jacques (2005) cita que a erva-
mate é uma espécie arbórea que ocorre naturalmente na floresta subtropical, nas
condições de sub-bosque, ou seja, tolerando o sombreamento natural ocasionado
por espécies de maior altura, como a araucária, o que faz com que seja conhecida
como planta reprodutora à sombra.
O aspecto da árvore e o seu suporte lembram à laranjeira. O caule é um tronco
de cor acinzentada, geralmente com 20 a 25 cm de diâmetro, podendo chegar a 50
cm. A altura é variável dependendo da idade e o índice de sítio. Podem atingir até 15
m de altura, mas geralmente, quando podadas, não passam de 7 m, porém em

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sistemas agrícolas atuais, com adensamento e podas a altura não passa de 2 m
(VALDUGA, 2002).

2.1.2 Habitat e distribuição geográfica

Na distribuição da erva-mate, dois tipos climáticos são citados, o clima


temperado e o subtropical, com chuvas regulares, distribuídas ao longo do ano e
com médias de precipitação em torno de 1500 a 2000 mm. As temperaturas médias
anuais variam de 15 a 18ºC na região dos pinhais, e de 17 a 21ºC em Misiones,
Argentina. As geadas são freqüentes ou pouco freqüentes, dependendo da altitude
(RESENDE et al, 2000)
Distribuída em uma área de aproximadamente 540.000 km2, abrange, no Brasil,
os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, na
Argentina a Província de Misiones, parte da Província de Corrientes e pequena parte
da Província de Tucumã e no Paraguai a área entre os rios Paraná e Paraguai
(Figura 1). Esta região localiza-se entre as latitudes de 22º S e 30º S e longitudes
48º 30´ W e 56º 10´ W, com altitudes que variam entre 500 m a 1500 m sobre o nível
do mar. No Brasil corresponde a 450.000 km2, representando cerca de 5% do
território nacional. Na América do Sul corresponde a 3% da área (JACQUES, 2005;
RESENDE et al, 2000; VALDUGA, 2002).

Figura 1: Área de abrangência natural da erva-mate.

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17
2.1.3 Utilização da erva-mate

Inicialmente a erva-mate (Ilex paraguariensis St. Hill.) foi utilizada e


disseminada pelos índios guaranis. Com a colonização da América Latina pelos
europeus, a erva-mate, no princípio, proibida, conquistou os colonizadores e
despertou a curiosidade de grande número de estudiosos e cientistas desde o início
do século XVIII (URBAN, 1986).
A composição química da erva-mate é muito complexa, apresentando
metilxantinas, saponinas, taninos, vitaminas, componentes minerais, substâncias
aromáticas, ácidos graxos, terpenos, álcoois, cetonas, aldeídos, fenóis entre outros
(JACQUES, 2005; MÜLLER JÚNIOR, 1996).
Segundo Müller Júnior (1996), o emprego da infusão aumenta as forças
musculares, desenvolve as faculdades mentais, tonifica o sistema nervoso,
regulariza e regenera as funções do coração e respiração e determina uma
sensação de bem estar e vigor no organismo, sem acarretar depressões ou qualquer
efeito colateral no organismo, como a insônia, palpitações ou agitações nervosas
provocadas por outras bebidas similares e permite, como bom alimento (natural),
que sejam suportadas as fadigas e a fome.
De acordo com Esmelindro e colaboradores (2002), ao longo dos séculos e,
arraigada na cultura da América Latina, a erva-mate faz parte da economia regional.
No entanto, ainda hoje o consumo de erva-mate apresenta mercado limitado às
regiões onde é produzida sendo utilizada apenas na forma de produtos tradicionais,
principalmente através do chimarrão; formados exclusivamente pelas folhas
dessecadas, ligeiramente tostadas, e esmigalhadas, misturadas ou não com
fragmentos de ramos jovens, pecíolos e pedúnculos florais.

2.1.4 Importância sócio-econômica e ambiental

Segundo Valduga (2002), a exploração da erva-mate se intensificou com o


fechamento dos portos do Paraguai pelo ditador Francia, que levou os países
vizinhos a procurá-la no Brasil. Na antiguidade, a maior parte do mate produzido no
Sul do Brasil, provinha de ervais nativos. Paralelamente à queda de sua produção,
pela exploração contínua e avanço da agricultura, houve um aumento na demanda
do produto, tanto no mercado interno como no externo. Desse modo, tornou-se
prática comum o plantio dessa espécie.

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Atualmente, além da exploração dos ervais nativos, existem os ervais plantados
em regiões que permitem melhores condições de desenvolvimento, longevidade e
produtividade da erva-mate, utilizando processos agrícolas que permitem o
aproveitamento das plantas em escala industrial (VALDUGA, 2002; URBAN, 1986;
TRINDADE, 2007).
O ambiente da mata atlântica propiciou a manutenção dos ervais nativos e as
plantas demonstram longevidade de algumas dezenas de anos, permitindo colheitas
remuneradas, desde que sua exploração seja realizada com cuidado. Entretanto, o
plantio em áreas adensadas (monocultura) e a não seleção de matrizes para a
coleta de sementes, tem gerado problemas para a industrialização do mate, como
por exemplo, a intensificação do sabor amargo quando do preparo de infusão. Este
problema levou as empresas a preferirem à erva-mate nativa, pois esta proporciona
uma infusão menos amarga (VALDUGA, 2002).
A importância do cultivo desta planta se deve a características ambientais,
sociais e econômicas marcantes, pois por ser espécie nativa da região sul do Brasil,
atua em muitos casos como suporte para a preservação de grandes áreas e quando
plantada em curvas de nível, combate a erosão do solo; além disso, é cultivada em
diversas propriedades rurais, distribuídas pela região de origem, gerando muitos
empregos diretos e constituindo-se numa das poucas fontes de emprego e renda no
meio rural, principalmente no período de junho a agosto, época de poda (colheita)
sendo em muitos casos a principal atividade de muitos produtores e municípios.
Rendeu em 2006, diretamente R$ 86,9 milhões (IBGE, 2008).
Em 2006, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
produção brasileira foi de 233.360 toneladas de erva-mate cancheada, estando
concentrada nos Estados do Paraná (65,5%), Santa Catarina (18%), Rio Grande do
Sul (16,3%) e Mato Grosso do Sul (0,2%).
Além do grande número de agricultores envolvidos na produção primária, para
o processamento dessa produção existem diversas empresas no Brasil. Quatro
destas empresas estão instaladas no município de Venâncio Aires; um município
brasileiro do Estado do Rio Grande do Sul, considerado a "capital nacional do
chimarrão” (PREFEITURA MUNICIPAL DE VENÂNCIO AIRES, 2007).

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Conforme censo IBGE de 2000, o município tem 61.234 habitantes espalhados
em 9 distritos (incluindo a sede) que ocupam uma área de 728,45 km². Localiza-se
no Vale do Rio Pardo (Figura 2), entre os municípios de Santa Cruz do Sul e
Lajeado (PREFEITURA MUNICIPAL DE VENÂNCIO AIRES, 2007).

Figura 2: Localização do Município de Venâncio Aires,RS.

A principal cultura do município é o tabaco, no entanto, conforme dados do


IBGE do ano de 2005, neste município foram produzidas 9.900 toneladas de erva-
mate cancheada, colhida a partir de 4.000 hectares plantados, apresentando um
rendimento de 4.950 kg ha-1.
Outro município produtor de erva-mate é Fontoura Xavier, localizado no
planalto riograndense entre os municípios de Lajeado e Soledade, conforme
apresenta a Figura 3, com população de 11.074 habitantes, distribuidos em uma
área de 583 Km2. O município tem 2.100 hectares cultivados com produção de
18.900 toneladas anuais e rendimento de 9.000 kg ha-1, conforme dados do IBGE
coletados nos censos de 2000 e 2005.

Figura 3: Localização do Município de Fontoura Xavier, RS.

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2.1.5 Processamento da erva-mate para chimarrão

O processamento da erva-mate para chimarrão consiste basicamente de três


etapas: sapeco, secagem e cancheamento conforme representa a Figura 4. O
sapeco é utilizado junto ao fogo direto e consiste na passagem rápida dos ramos
com folhas sobre as chamas do sapecador. O equipamento consiste de um cilindro
metálico, perfurado e inclinado através do qual a erva colhida passa recebendo as
chamas (ESMELINDRO et al, 2002; SALINAS, 2002; VALDUGA, FINZER, MOSELE,
2003).

SAPECO SECAGEM CANCHEAMENTO

Figura 4: Fluxograma do processamento básico de erva-mate.

Esta etapa tem por função a retirada da umidade superficial e inativação de


enzimas (peroxidase e polifenoloxidase) que causam a oxidação do produto. A
temperatura média na entrada do sapecador é de 400 ºC e na saída é de 65 ºC. O
tempo de residência oscila em torno de 8 minutos (ESMELINDRO et al, 2002;
VALDUGA, FINZER, MOSELE, 2003).
A etapa de secagem pode ser realizada em dois tipos de secadores mecânicos,
rotativo e de esteira. A principal diferença entre eles está relacionada com o contato
da matéria-prima com a fumaça durante o processo de secagem. No secador
rotativo, a fumaça entra em contato direto com o produto, e no secador de esteira, o
contato é indireto, causando menores danos à matéria-prima. O tempo de residência
e a temperatura média da erva nos secadores dependem das características
operacionais de cada um (ESMELINDRO et al, 2002; VALDUGA, 2002; VALDUGA,
FINZER, MOSELE, 2003).
No secador de esteira, o tempo médio é de três horas e a temperatura varia
entre 90 e 110 ºC. No secador rotativo, o produto permanece em contato direto com
a fumaça por aproximadamente trinta minutos. No entanto, a temperatura não
apresenta a mesma uniformidade da utilizada no secador de esteira, sendo que na
entrada do secador a temperatura média é de 350 ºC e na saída 110 ºC
(ESMELINDRO et al, 2002; VALDUGA, 2002; VALDUGA, FINZER, MOSELE, 2003).

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21
O cancheamento consiste na trituração da erva após o processo de secagem.
Em seguida, a erva é peneirada e o material coletado passa a denominar-se erva
cancheada. Esta pode ser usada diretamente como matéria-prima para a produção
de chás ou, após passar por um processo de soque, como chimarrão.
(ESMELINDRO et al, 2002; VALDUGA, 2002; VALDUGA, FINZER, MOSELE, 2003)
A erva-mate para chimarrão não deve conter menos de 70% de folhas e não
mais de 30% de ramos secos, novos, inteiros ou partidos (SALINAS, 2002).
Segundo Chan (2003), a mistura e manufatura de produtos naturais, entre eles
a erva-mate, pode ocorrer contaminação por elementos tóxicos, como os metais
pesados advindos de diversas fontes, entre elas, os ambientes e condições de
crescimento e coleta das plantas, as condições nas quais as plantas são secas e
produzidas, condições de armazenamento e transporte e os processos de
manufatura nos quais as misturas são produzidas.
Em se tratando dos contaminantes metálicos na erva-mate, poucos estudos
vêm sendo desenvolvidos. Algumas pesquisas realizadas referem-se principalmente
ao produto comercial, não referindo à existência de concentrações significativas dos
metais chumbo e cádmio, mas bastante elevadas para manganês, com
concentrações de até 1.050 mg L-1 (BARTZ, 2007; JACQUES, 2005; HEINRICHS,
MALAVOLTA, 2001).
Por outro lado, em relação aos impactos ambientais gerados pela cadeia
produtiva da erva-mate, não são encontrados trabalhos que demonstrem esse
estudo.

2.2 Ferramenta SAAP

O SAAP (Sistema de Avaliação Ambiental de Processos) é um software


desenvolvido a partir de uma metodologia baseada nas recomendações descritas
por normas de padronização internacionais (International Organization for
Standarization) para sistemas de gestão ambiental, da série ISO 14000, buscando a
avaliação do desempenho ambiental de processos industriais. A metodologia usada
com auxílio do programa envolve as fases da análise de ciclo de vida de um produto,
com definição do escopo e objetivos, análise de inventários material e energético,
análise de impactos ambientais e interpretações (SANTOS, 2002).
A análise de ciclo de vida (ACV) de um produto é uma ferramenta objetiva para
avaliar encargos associados a um produto, processo ou atividade, com base na
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22
identificação e quantificação da energia e materiais usados e dos resíduos emitidos
para o meio ambiente. A análise se dá através do estudo dos estágios que envolvem
do ciclo de vida do produto, desde a extração de matérias-primas até a disposição
final, permitindo a identificação de oportunidades para implementação de melhorias
na performance ambiental nos vários estágios estudados. Os estágios comumente
observados envolvem a extração da matéria-prima, a produção, o transporte, o uso
e o gerenciamento de resíduos. Cada estágio recebe materiais e energia e produz
materiais para o próximo estágio e emissões para o meio ambiente (SETAC, 1993;
COELHO et al, 2002).
Uma ACV aborda os impactos ambientais relativos à saúde humana, aos
sistemas ecológicos e depreciação de recursos, sem propósito de avaliar os efeitos
econômicos ou sociais (COELHO et al, 2002).
Para avaliar os processos criam-se sistemas de produto, formados por diversos
processos e suas interconexões. Para este fim é necessário definir certos
parâmetros, como os contornos entre o sistema do produto e outros sistemas de
produto ou do meio ambiente, decidir quais processos serão considerados para
análise e o nível de detalhamento do estudo (COELHO et al, 2002; SANTOS, 2002;
FURTADO et al, 1998).
Após a definição do sistema em análise, analisa-se o potencial de contribuição
aos efeitos ambientais, na forma de impactos ambientais, consumo de recursos e
impactos nas condições de trabalho associados com o ciclo de vida do produto. A
análise é baseada em um inventário de entradas e saídas de todos os processos
envolvidos em cada estágio da vida do produto, identificando a carga ambiental
(COELHO et al, 2002; SANTOS, 2002; FURTADO et al, 1998).
O programa utiliza-se dos dados obtidos de fontes primárias que são dos
inventários confeccionados, ou de fontes secundárias que são dados sobre os
processos disponíveis na literatura. A avaliação de impactos ambientais é realizada
com base em valores máximos de emissão para a atmosfera e disponibilidade de
recursos naturais resultando no cálculo do índice de pressão ambiental (IPA)
apresentado na equação 1. A medida do impacto ambiental total (IPA), leva em
consideração as categorias de impacto ambiental e os seus diversos elementos
impactantes (SANTOS, 2002).

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23
n m n
IPA = ∑ Wi.(∑∑ Kij. Xij ) (eq. 1) onde:
i =1 j =1 i =1

Wi = peso da categoria de impacto ambiental.


Kij = fator de equivalência do elemento impactante Xij, na categoria de
impacto ambiental.
Xij = elemento impactante

Santos (2002) destaca entre as categorias de impactos ambientais o


aquecimento global, a destruição da camada de ozônio, a acidificação, a
eutrofização, a formação de oxidantes fotoquímicos, a toxicidade, o consumo de
recursos naturais, o consumo de energia, a destruição de oxigênio dissolvido em
águas naturais e o distúrbio local por material particulado na atmosfera.
Ainda, de acordo com Santos (2002), para cada indicador de categoria de
impacto ambiental são construídos índices de pressão ambiental equivalentes a
categoria, como por exemplo, o índice de aquecimento global (IAG) cujo cálculo é
apresentado na equação 2 e, o índice de consumo de energia (ICE), apresentado na
equação 3.

Emissão de CO2 equivalente


IAG = (eq. 2)
Emissão máxima permitida
Consumo de energia
ICE = (eq. 3)
Disponibilidade de energia

O IPA é um número adimensional que representa a performance ambiental do


processo em relação à legislação ambiental para um determinado período. O ideal é
que o IPA calculado para um processo industrial atinja valores entre 0 e 1, onde a
obtenção de valor unitário representa a pressão ambiental máxima permitida pela
legislação ambiental (SANTOS, 2002).

2.3 Metais pesados

Metal pesado é uma denominação geral aplicada aos elementos que


compreendem o grupo dos metais e metalóides com grande densidade atômica.
Ocorrem naturalmente na formação de rochas e minerais, compreendendo
coletivamente a menos de 1% das rochas da crosta terrestre. Assim, são
normalmente encontrados em pequenas concentrações no solo, em sedimentos,
águas e organismos vivos. Alguns deles são essenciais, em pequenas
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24
concentrações, para o desenvolvimento adequado dos organismos vivos, no
entanto, todos são tóxicos quando em concentrações elevadas e são comumente
associados à poluição (ALLOUWAY, AYRES, 1997; HARRISON, 2001; HE, YANG,
STOFFELLA, 2005). Cobre, manganês, chumbo, cádmio, arsênio, zinco, níquel,
cromo, mercúrio e outros metais compõem o grupo de poluentes metálicos gerados
pelas atividades humanas. A emissão destes nos rios, mares, solo e ar, pode
contaminar os peixes, plantas e a própria água potável e, conseqüentemente, atingir
a população através da cadeia alimentar (MENDONÇA, SCUSSEL, 2003).

2.3.1 Metais pesados e o meio ambiente

Como parte dos ciclos biogeoquímicos naturais, a fração litogênica de metais é


liberada das rochas através de processos de intemperismo e são ciclados nos
diversos compartimentos por processos bióticos e abióticos, até chegarem aos
sedimentos ou aos oceanos. Os níveis naturais dos metais no solo dependem do
tipo de rocha sobre a qual o solo se desenvolveu e, principalmente, dos constituintes
minerais do material de origem. Estes elementos são amplamente dispersos em
grande variedade de minerais e em solos estão presentes na forma de carbonatos,
óxidos, sulfatos ou sais (HE, YANG, STOFFELLA, 2005; SOARES, 2004).
Os metais pesados também estão presentes na atmosfera e na hidrosfera,
devido ao estreito inter-relacionamento existente entre solo, água, plantas e ar,
podendo alcançar as regiões agrícolas. Estes metais são gerados via ação
antrópica, como na mineração, agricultura, combustão de combustível fóssil,
indústrias metalúrgicas, eletrônicos, entre outros; e também, por despejos de
resíduos sólidos e efluentes urbanos ou industriais (TU, ZHENG, CHEN, 2000;
BARANOWSKA, BARCANSKA, PIRSZ, 2005; NEWMAN, UNGER, 2003).
Processos que culminam na redistribuição e no aumento da transferência de
metais para os diversos compartimentos dos ecossistemas, são entendidos como
poluição e, são geralmente associados à ação humana (SOARES, 2004; NEWMAN,
UNGER, 2003).
A poluição por metais pesados pode afetar todos os ambientes, no entanto, o
solo é um dos principais compartimentos onde ocorre acúmulo desses poluentes
químicos e, no qual, seus efeitos são mais prolongados devido a sua baixa
mobilidade proveniente da força de adsorção de muitos metais sobre os colóides
húmicos e argilosos do solo. Os organismos do solo e seus processos dinâmicos
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25
são suscetíveis a vários poluentes, particularmente aos que apresentam maior
toxicidade e persistência. As plantas também são afetadas, pois absorvem os metais
do solo, podendo facilitar que estes ingressem na cadeia alimentar, no entanto,
podem levar anos e até décadas para que os efeitos indiretos desses contaminantes
sejam observados através desses organismos (ALLOUWAY, AYRES, 1997;
EDWARDS, 2002; CAMPOS et al, 2005).
Assim, os metais pesados em regiões agrícolas avançadas tecnologicamente
podem originar do uso de fertilizantes e corretivos, de deposição atmosférica, da
aplicação de pesticidas, dos resíduos sólidos orgânicos e inorgânicos, da aplicação
de esterco de animais, do esgoto e da água contaminada empregada para irrigação
(HE, YANG, STOFFELLA, 2005; NICHOLSON, 2003).
O uso de compostos químicos na agricultura tem como principal objetivo
garantir o fornecimento de nutrientes para a cultura implantada através dos
fertilizantes, ou proteção da cultura, pelo controle de doenças e pragas, através dos
pesticidas (CAMPOS et al, 2005; GARCÍA, ANDREU, BOLUDA, 1996). No entanto,
as repetidas e excessivas aplicações de fertilizantes e pesticidas podem aumentar
consideravelmente as concentrações de metais pesados no solo (OTERO, VITÒRIA,
CANALS, 2005; GARCÍA, ANDREU, BOLUDA, 1996).
Os fertilizantes fosfatados apresentam metais pesados como contaminantes da
rocha que os originou ou dos ingredientes usados na sua industrialização, e além do
mais, podem alterar propriedades do solo, como o pH e a capacidade de troca
catiônica; os inseticidas, fungicidas e herbicidas também podem conter metais
pesados como contaminantes (ALLOUWAY, AYRES, 1997; CAMPOS et al, 2005;
TU, ZHENG, CHEN, 2000).
Segundo Camargo e colaboradores (2000) a concentração de metais pesados
em fertilizantes fosfatados é dependente do tipo de rocha empregada como matéria-
prima e no Brasil, a grande maioria das rochas apresentam teores elevados de
metais pesados. Por esta razão, de acordo com Prochnow, Plese e Abreu (2001),
fertilizantes fosfatados produzidos a partir destas fontes apresentam teores de Cd
entre 5,1 a 9,4 mg kg-1.
Em estudo realizado por Campos e colaboradores (2005) a presença de
contaminantes metálicos foi avaliada em oito amostras de fertilizantes fosfatados,
sendo três de origem nacional e cinco procedentes de importação. As amostras

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26
foram analisadas por Espectrometria de Absorção Atômica tendo-se quantificado
Cd, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb e Zn. Todos os fertilizantes apresentaram níveis
consideráveis dos metais avaliados, com teores médios de 57 mg kg-1 para Cd, 210
mg kg-1 para Cr, 39 mg kg-1 para Cu, 75 mg kg-1 para Ni, 61 mg kg-1 para Pb e 245
mg kg-1 para o Zn. Os fertilizantes importados apresentaram níveis de contaminantes
mais elevados. Em estudo semelhante, Bizarro, Meurer e Tatsch (2006) também
encontraram Cd em amostras de fertilizantes fosfatados comercializados no Brasil,
com teores limítrofes entre 0,67 e 42,93 mg kg-1.
Em outro estudo realizado por Ramalho, Amaral Sobrinho e Velloso (1999) a
utilização de fertilizantes fosfatados e irrigação com água poluída foi avaliada quanto
ao aumento nos teores de metais pesados no solo. Esses autores observaram, por
exemplo, que solos que receberam fertilizantes fosfatados durante 25 anos
apresentaram aumento significativo de Cd (0,66 mg kg-1) quando comparados com
área controle. No entanto, segundo os autores, a mobilidade e disponibilidade dos
metais pesados varia de acordo com sua capacidade de adsorção, que é
dependente do pH do meio, teores de matéria orgânica, argila e óxidos de Fe e Al.
Ainda, na avaliação da translocação dos metais devem ser consideradas as
condições locais que possam levar a perdas por erosão de partículas de solo
enriquecidas com metais pesados para outros locais e corpos d’água.
Segundo dados publicados por Otero e colaboradores (2005) os fertilizantes
comercializados na Espanha, especialmente os derivados fosfatados, apresentam
concentrações de Cd em níveis superiores aos permitidos nos países europeus.
Contudo, alguns elementos como U, As e Cr apresentaram teores 10-50 vezes mais
elevados e não são regulamentados por lei, demonstrando uma necessidade de
regulamentação da composição de fertilizantes, de modo a garantir proteção
ambiental para solos e águas.
Ramalho, Amaral Sobrinho e Velloso (2000) avaliaram a contaminação, por
metais pesados, do solo, sedimentos, água e plantas, decorrente do uso de
pesticidas na microbacia de Caetés em Paty dos Alferes, RJ. Neste estudo foi
possível observar que as amostras de água do córrego e açude que cortam a
microbacia apresentaram valores acima dos padrões internacionais para Cd, Pb e
Mn, enquanto os valores não atingiram níveis críticos para o solo e plantas da
região.

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27
A região central do estado de São Paulo abrange municípios que se
caracterizam pela atividade canavieira, que vem se desenvolvendo de forma rápida
e pouco planejada, ocasionando impactos sobre os recursos hídricos adjacentes.
Tendo em vista reunir informações a respeito das conseqüências ambientais do
cultivo da cana-de-açúcar, Corbi e colaboradores (2006) avaliaram a presença de
pesticidas e dos metais Cu, Fe, Cd, Zn, Mn, Cr e Ni em sedimentos de 11 córregos
da região, sendo divididos em três grupos. O primeiro, formado por córregos com
mata ciliar preservada; o segundo, córregos com pastagem e sem mata ciliar; e, o
terceiro, com cana-de-açúcar e sem mata ciliar. Os resultados obtidos demonstraram
que as concentrações encontradas apresentaram diferenças de acordo com o uso
da terra nas áreas adjacentes (cana, mato ou pasto). Teores de Cd mais elevados
foram encontrados nos córregos situados em áreas abertas, ou seja, com cultivo de
cana-de-açúcar e pasto. Cobre e zinco apresentaram valores mais significativos em
regiões próximas ao cultivo de cana-de-açúcar, enquanto para Cr os teores foram
similares entre os três grupos avaliados. Assim, os resultados demonstram a origem
antrópica destes metais das áreas agrícolas através do processo de lixiviação do
solo.
A qualidade de águas superficiais depende do tipo de despejo emitido pelas
diversas atividades agrícolas, domésticas e industriais produzidas pelo homem. Os
metais pesados quando presentes em um sistema aquático ameaçam a saúde
humana devido a seus impactos na qualidade das águas, alimentos e ecossistemas.
Frente a isto, o trabalho desenvolvido por Bisinoti, Yabe e Gimenez (2004) teve
como objetivo principal avaliar o impacto da introdução e transporte de metais
pesados sobre a rede hidrográfica da cidade de Londrina/PR, avaliando à influência
da ocupação humana, industrialização e atividades agrícolas. O estudo contemplou
a amostragem da rede hidrográfica de Londrina, durante um ano hidrológico, em oito
pontos de coleta abrangendo os quatro rios da cidade. Os resultados obtidos
demonstraram a presença sistemática dos metais Cu, Zn e Cd com origem provável
na urbanização e industrialização. Houve também a presença sistemática de Mn,
Mg, Fe e Pb, provenientes provavelmente do solo. Ainda, segundo os autores,
meses de maior pluviosidade apresentaram aumento nas concentrações de metais
característicos do solo, devido ao carreamento intenso de partículas para o sistema
aquático. Este impacto pode estar relacionado à ocupação irregular ao longo das

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28
margens das microbacias. Muito solo tem sido removido e mantido exposto, sem
cobertura vegetal.
Por outro lado, no Brasil os combustíveis fósseis são amplamente empregados,
quer em veículos automotivos quer por usinas termoelétricas e siderúrgicas,
acarretando na emissão de partículas enriquecidas em espécies químicas altamente
tóxicas que podem causar sérios problemas ao meio ambiente e ao ser humano por
permanecerem durante um longo período na atmosfera e por apresentarem em sua
superfície elevadas concentrações de metais como Ni, Cr, Pb, Cd, Fe e Mn. No sul
do Brasil, particulados tem sido alvo de grande preocupação devido à baixa
eficiência dos sistemas de controle para as emissões das partículas mais finas. Um
estudo realizado por Carvalho, Jablonski e Teixeira (2000) demonstrou a influência
de siderúrgicas, usinas termoelétricas e de veículos automotores, na região das
cidades de Sapucaia do Sul/RS e Charqueadas/RS, na presença dos metais
pesados, que excederam os padrões de qualidade do ar estabelecidos pela
Legislação Brasileira, Fe, Mn, Cu, Pb, Cr, Ni, Co e Mg.

2.3.2 Metais pesados e organismos

A natureza dos metais pesados (oligominerais) exige mecanismos rígidos para


o controle da homeostase por parte dos organismos, a fim de otimizar suas funções
fisiológicas, pois qualquer déficit ou excesso que venha a ocorrer de determinado
oligomineral, freqüentemente produz alterações químicas significativas. A deficiência
de um oligomineral causará uma alteração severa de função ou, eventualmente
levará o organismo à morte (HE, YANG, STOFFELLA, 2005; BISHOP et al, 1996).
Segundo Bishop e colaboradores (1996), um oligomineral ocorre em sistemas
biológicos em concentrações de mg kg-1, µg kg-1 ou menos. A necessidade diária
desses elementos, geralmente, é de poucos miligramas por dia.
Anderson e colaboradores (1988) alertam ainda que as interações entre os
oligominerais podem ser sinergísticas ou antagonistas; sendo portanto, a
concentração de alguns elementos no organismo dependentes da concentração de
outros essenciais ou não-essenciais, por atuarem como concorrentes.

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Geralmente os íons livres dos metais são quase completamente absorvidos
pelo corpo e, de acordo com suas características químicas, acabam formando
complexos com grupos biológicos que fazem parte de biomoléculas importantes
como proteínas, enzimas, hormônios, entre outros, que podem possuir funções
catalíticas, estruturais ou de transporte (BISHOP et al, 1996; SILVA et al, 2005).
A maioria das espécies vegetais, crescendo em solos contaminados por metais
pesados, não consegue evitar a absorção desses elementos. Ainda que existam
muitas incertezas sobre a especificidade dos mecanismos de absorção, geralmente
a concentração do elemento nos tecidos da raiz e partes aéreas é função de sua
disponibilidade na solução do solo (SOARES et al, 2001; BARTZ, 2007) e a
translocação, ou seja, o movimento ou a transferência de íons do local de absorção
na raiz para outro ponto qualquer, dentro ou fora da raiz (PAIVA, CARVALHO,
SIQUEIRA, 2002).
Os metais absorvidos sofrem um transporte radial na raiz, encontrando um
primeiro filtro de difusão e de regulação na endoderme. Após, seguem via xilema e,
em suas relações com as células vizinhas, podem induzir alterações na
diferenciação do próprio sistema vascular, uma vez que, em concentrações
menores, alcançam as folhas, podendo alterar a estrutura e a funcionalidade das
células fotossintéticas. Variedades de uma mesma espécie vegetal, expostas a uma
concentração similar de metais pesados, podem diferir na absorção e/ou distribuição
interna desses na planta. Isso pode resultar em diferenças na capacidade de
retenção do elemento absorvido nas raízes, e/ou variação na carga no xilema
(SOARES et al, 2001; BARTZ, 2007). O acúmulo de metais também pode ocorrer
em quantidades relativamente grandes a partir da absorção foliar, do depósito
atmosférico no qual a planta está inserida (ALLOUWAY, AYRES, 1997).
A sensibilidade dos organismos à toxicidade dos metais varia com a espécie de
plantas e animais, variando também com os genótipos das subespécies; além disso,
muitos fatores podem modificar a resposta às doses tóxicas dos metais, como o
estágio de desenvolvimento do vegetal, tempo de exposição ao metal e as diferentes
espécies químicas dos elementos, podem também interferir nesses aspectos,
refletindo nos teores dos metais nas diferentes partes da planta. Alguns indivíduos
são geneticamente adaptados para tolerar anomalamente a grandes concentrações
de certos metais (SOARES et al, 2001; BARTZ, 2007; ALLOUWAY, AYRES, 1997;
PAIVA, CARVALHO, SIQUEIRA, 2002).
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30
As plantas, bem como os microrganismos, podem ser afetados quando
expostos ao excesso de metais pesados em seu ambiente de crescimento. No solo,
os metais podem provir tanto do material de origem quanto das atividades
industriais, urbanas ou agrícolas. Desta forma, muitos alimentos apresentam metais
a níveis elevados que se tornam tóxicos para o consumo humano.
Adicionalmente, a presença de poluentes metálicos no meio ambiente reflete
diretamente na concentração destes nos alimentos. A contaminação metálica em
alimentos pode estar relacionada com o manufaturamento e processamento dos
alimentos, bem como, com seu plantio e seu deslocamento até o consumidor final.
Assim, associado ao desenvolvimento de cultivares em solos contaminados e de
animais sendo alimentados em regiões contaminadas, outros fatores também
contribuem para a contaminação de alimentos. Dentre estes fatores, pode-se citar o
contato entre metal e alimento devido ao maquinário empregado no processamento
e no empacotamento (MORGAN, 1999).
Verma e colaboradores (2006) em estudo realizado sobre a acumulação de
cádmio em espinafre, cenoura, radite e repolho descreveram a dinâmica de
transporte deste metal nos referidos vegetais através de um modelo matemático.
O acúmulo e a distribuição de metais pesados nas raízes, caule e folhas de
espécies arbóreas tropicais, crescendo em solos contaminados foram avaliados por
Soares e colaboradores (2001) com as mesmas espécies arbóreas em solos não
contaminados. As espécies permaneceram em contato com o solo por um período
de 90 dias. Os resultados obtidos demonstram que as espécies que cresceram em
solo contaminado apresentaram s teores foliares elevados para Zn, Cd e Cu e mais
baixos para Pb. As espécies que apresentaram crescimento inibido demonstraram
translocação de Zn e Cd elevada, demonstrando que o padrão de distribuição dos
metais na maioria das espécies avaliadas está diretamente relacionada com o grau
de contaminação do solo.
Outros autores como Martins e colaboradores (2003), Ferraz Júnior e
colaboradores (2003) e Mantovani e colaboradores (2003) também observaram a
translocação de metais pesados presentes no solo para alimentos de natureza
vegetal como milho e alface.

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31
Deste modo, devido à tendência de translocação de metais pesados do solo
para as partes aéreas de plantas, existe o risco eminente de presença de metais
pesados em ervas medicinais, dentre as quais a erva-mate, principalmente nas
espécies cultivadas em regiões de elevado risco de contaminação como nos cultivos
em consórcio com outras cultivares que recebem fertilizantes e pesticidas para seu
desenvolvimento, como milho, fumo, feijão entre outros.
A legislação brasileira vigente para erva-mate através da resolução RDC nº
277, estabelece que devem ser seguidas boas práticas de fabricação e refere: “Os
produtos devem ser obtidos, processados, embalados, armazenados, transportados
e conservados em condições que não produzam, desenvolvam ou agreguem
substâncias físicas, químicas ou biológicas que coloquem em risco a saúde do
consumidor”. No entanto, não existem limites determinados para metais pesados,
como (Mn, Pb, Cd e As) neste alimento, tampouco, a exigência da quantificação
destes, a fim de garantir sua qualidade.

2.3.3 Os metais chumbo, cádmio, arsênio e manganês

De acordo com diversas pesquisas citadas, a contaminação agrícola pelos


metais pesados é uma realidade e pode estar associada a fontes ligadas
diretamente à atividade humana, como o uso abusivo de fertilizantes e de pesticidas.
Pequenas concentrações destes metais podem causar alterações indesejadas nos
organismos, animais e vegetais. O tema tem tamanha relevância que em 2005 a
Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu o Limite Máximo Permitido
(LMP) para metais pesados em alimentos e medicamentos, como as ervas
medicinais. A Tabela 1 apresenta os limites para os metais pesados arsênio,
chumbo, cromo, mercúrio e cobre em ervas medicinais.
Apesar da preocupação com os elementos mais “agressivos”, como arsênio,
chumbo e cádmio, outros metais também podem causar danos aos organismos
quando em grandes quantidades, como é o caso do manganês.

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32
Tabela 1: Limites máximos permitidos, segundo a OMS, para As, Pb, Cd, Cr, Hg e
Cu em ervas medicinais.

Metal LMP (mg kg-1)

Arsênio 5,0

Chumbo 10,0

Cádmio 0,3

Cromo 2,0

Mercúrio 0,2

Cobre 20,0

2.3.3.1 Chumbo

De acordo com Silva e colaboradores (2005), o chumbo é um metal pesado


não-essencial empregado na produção de diversos utensílios desde escudos para
radiação e soldas, até cristais finos, lentes e inseticidas. A entrada do chumbo na
cadeia alimentar pode ocorrer devido à absorção do metal do solo ou água por
plantas ou da atmosfera, devido principalmente às emissões atmosféricas industriais
e automobilísticas (SILVA et al, 2005; NASREDINE, PARENT-MASSIN, 2002;
NEWMAN, UNGER, 2003).
A toxicidade do chumbo ocorre em diversos organismos vivos e resulta,
principalmente, de sua interferência no funcionamento das membranas celulares e
enzimas, formando complexos estáveis com ligantes contendo enxofre, fósforo,
nitrogênio ou oxigênio (grupamentos -SH, -H2PO3, -NH2, -OH), que funcionam como
doadores de elétrons (MOREIRA, MOREIRA, 2004). Estão associados à exposição
ao chumbo vários efeitos adversos em diferentes sistemas do organismo humano,
desde órgãos vitais como os rins, passando por alterações nos sistemas ósseo,
neurológico, hematológico, metabólico, cardiovascular e reprodutivo (NEWMAN,
UNGER 2003; QUITÉRIO et al, 2001).

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33
2.3.3.2 Cádmio

O cádmio, Cd, é um elemento não essencial, muito similar ao zinco, sendo


utilizado em diversos processos industriais (SILVA et al, 2005). Já os fumantes são
expostos a altos níveis de cádmio pelos cigarros (NEWMAN, UNGER, 2003).
Para a maioria das pessoas, contudo, a maior parte da exposição ao cádmio
vem da dieta alimentar. Devido à sua similaridade com o zinco, as plantas absorvem
cádmio das águas de irrigação, de fertilizantes fosfatados, que contêm cádmio
iônico, do lodo de esgoto e de emissões atmosféricas contaminadas com o cádmio
provenientes dos centros urbanos e indústrias que, por sua vez, contaminam a
natureza, aumentando o nível desse elemento no solo e nas águas,
conseqüentemente as plantas e animais acumulam este elemento (HE, YANG,
STOFFELLA, 2005; QUITÉRIO et al, 2001).
Apesar de o cádmio não experimentar biomagnificação, ele é um veneno
cumulativo eliminado lentamente por algumas proteínas, motivo pelo qual
permanece no organismo por várias décadas (HE, YANG, STOFFELLA 2005). O
acúmulo deste metal afeta o sistema reprodutivo, é carcinogênico e um perturbador
endócrino; os rins são particularmente atingidos pelo acúmulo do cádmio que pode
acarretar severas mudanças morfopatológicas e até a ocorrência de câncer nestes
órgãos (SILVA et al, 2005).

2.3.3.3 Arsênio

O arsênio é um semi-metal e seus compostos, encontram diversos usos


atualmente, desde pesticidas, a semicondutores e estão presentes em pequenas
quantidades em organismos vivos, animais e plantas, sem causar danos a estes
(SILVA et al, 2005; NEWMAN, UNGER, 2003). No organismo humano é importante
na manutenção do ciclo de vida normal das hemácias, no metabolismo das
proteínas e de várias enzimas. Sua deficiência pode causar diminuição do
crescimento, anemia e cabelo áspero (BISHOP et al, 1996).
Geralmente, compostos com arsênio coexistem com os de fósforo na natureza
devido à similaridade de suas propriedades, freqüentemente contaminando, por isso,
os depósitos de fosfatos e os fosfatos comerciais (HE, YANG, STOFFELLA, 2005).

Dissertação de Mestrado - André Luís Frietto- 2008


34
As formas orgânicas comuns do arsênio não são derivados metilados simples,
mas ácidos solúveis em água que podem ser excretados, sendo por isso menos
tóxicos que algumas formas inorgânicas. O As(Ill) inorgânico é mais tóxico que o
As(V), embora esse último seja reduzido para o primeiro no corpo humano. Acredita-
se que a maior toxicidade do As(Ill) deve-se à sua capacidade de ser retido no
organismo por mais tempo, pois fica ligado a grupos sulfidrila (HE, YANG,
STOFFELLA, 2005; SILVA et al, 2005).
A ingestão de água, especialmente subterrânea, constitui a principal fonte de
arsênio para a maioria das pessoas. Em muitos alimentos, existem níveis
secundários de arsênio. Altas doses deste elemento causam envenenamento agudo
e em alguns casos pode ser fatal. Exposições crônicas podem causar de câncer
como o de pulmão (inalação), próstata, bexiga, rim e fígado (BORBA, FIGUEIREDO,
CAVALCANTI, 2004; PEREIRA et al, 2002).

2.3.3.4 Manganês

A maioria dos minérios de manganês extraídos são utilizados na indústria para


formação de ligas metálicas e para obtenção de alguns fungicidas (HE, YANG,
STOFFELLA, 2005; HERMES, TORRES, 2003).
O manganês desempenha papéis essenciais, tanto na nutrição vegetal como
animal. Em razão de sua presença ou ativação de enzimas nas vias dos glicídios,
das proteínas, dos lipídios e do metabolismo intermediário de mamíferos, presume-
se que seja essencial (ANDERSON et al, 1988; BISHOP et al, 1996).
Entre as manifestações da deficiência do Mn em animais, incluem-se um
desempenho sexual deficiente, atraso no crescimento, formação defeituosa dos
ossos e cartilagens, distúrbios da tolerância à glicose e retardamento da coagulação
do sangue (ANDERSON et al, 1988). Por outro lado, o excesso apresenta potencial
neurotóxico (HERMES, TORRES, 2003).
O Mn é um elemento essencial, em quantidades muito pequenas, para o
crescimento das plantas e no grupo das enzimas fosfotransferases. Onde há
deficiência de manganês no solo, ele é acrescentado aos fertilizantes (BISHOP et al,
1996).

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35
O corpo humano contém 10 a 20 mg de manganês, amplamente distribuído
pelos tecidos. É encontrado em alta concentração nas mitocôndrias das células,
estando também associado aos melanócitos. O controle homeostático do manganês
é regulado principalmente pela sua excreção na bile, e pela absorção intestinal
(ANDERSON et al, 1988).

2.4 A Espectrometria de Absorção Atômica na determinação de metais


pesados

A Espectrometria de Absorção Atômica (EAA) baseia-se no princípio de


Kirchoff. Assim, um elemento no estado fundamental é capaz de absorver radiação
eletromagnética (REM) no mesmo comprimento de onda (λ) que ele emite quando
excitado. A técnica utiliza uma chama para atomizar o analito, cujo vapor sofre
incidência de uma fonte de REM com λ exato, promovendo-os a estados excitados.
A REM absorvida pelo analito para sua promoção ao estado excitado é diretamente
proporcional à concentração deste no meio (SKOOG, 2006; HARRIS, 1997).
Os principais componentes de um espectrômetro de absorção atômica e sua
seqüência ordenada no aparelho são: a fonte de radiação eletromagnética (HCL ou
lâmpada de cátodo oco, EDL ou lâmpada de descarga sem eletrodo), o atomizador
(chama FAAS, forno de grafite GF AAS e gerador de hidretos HG AAS), o
monocromador e o detector (VOGEL, 1992).
A grande diferença entre os diferentes métodos de EAA são os atomizadores.
Estes têm a função de volatilizar e decompor a amostra de forma a produzir uma
fase gasosa de átomos e íons, a partir de uma solução aquosa (HARRIS, 1997). O
sistema de atomização por chama (FAAS, do inglês Flame Atomic Absorption
Spectrophotometry) é composto por um nebulizador pneumático e pelo queimador,
contendo uma chama. No método com forno de grafite (GF AAS, do inglês Graphite
Furnace Atomic Absorption Spectrophotometry) são empregados atomizadores
eletrotérmicos, que empregam tubos de grafite eletricamente aquecidos,
aumentando a sensibilidade analítica devido ao confinamento dos átomos no
caminho óptico com um tempo de residência de vários segundos (SKOOG, 2006;
LAJUNEN, 1992; VANDECASTEELE, BLOCK , 1993).
No método com gerador de hidretos (HG AAS, do inglês Hydride Generation
Atomic Absorption Spectrophotometry), é utilizada uma célula de quartzo acoplada
sobre um queimador ar-acetileno convencional e alinhada com o feixe óptico da
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36
fonte. A célula permite realçar de 3 a 5 vezes a sensibilidade analítica, através do
aumento do tempo de residência dos átomos do analito em seu interior. É
empregado para a análise de elementos voláteis, como arsênio, selênio, estrôncio,
bismuto, germânio, estanho, telúrio e chumbo capazes de formar hidretos a partir da
reação em meio ácido com NaBH4 (borohidreto de sódio) (SKOOG, 2006; HARRIS,
1997; LAJUNEN, 1992).
As técnicas instrumentais analíticas mais utilizadas para a determinação de As
e outros metais pesados são a EAA e a espectrometria de massas com fonte de
plasma indutivamente acoplado (ICP-MS) (DIAS, SATTE, 2003). Dias e Satte (2003)
propuseram a determinação de As em amostras orgânicas de interesse ambiental,
empregando GH AAS, após queima da amostra em bomba de O2 e recolhimento dos
produtos voláteis. Neste trabalho foram utilizados atomizadores de grafite, com
grafite pirolítico e plataforma de L’vov incorporada. A metodologia descrita foi
aplicada para a avaliação de poluição ambiental caracterizada pela presença de As
em amostras de Tillandsia aeranthos, epífita da família Bromeliaceae, coletadas em
três bairros centrais, da cidade de Porto Alegre – RS. Os baixos teores encontrados
nas amostras avaliadas são semelhantes entre si e podem servir como um indicativo
da ausência de fonte poluidora importante, responsável pela contaminação do ar
com As, na região central de Porto Alegre.
Andrade, Alves e Takase (2005) empregaram a FAAS para a determinação dos
teores de cobre, ferro e zinco, após extração seqüencial, para a especiação dos
metais em amostras de ervas medicinais. As amostras analisadas foram de ervas
secas para infusão de chás, comercializadas em farmácias de manipulação na
cidade do Rio de Janeiro/RJ. Entre as ervas avaliadas são citadas entre outras a
alcachofra, alcaçuz, agoniada, camomila, capim-cidreira, eucalipto, guaco, poejo e
sálvia. Os teores de cobre, zinco e ferro encontrados podem ser considerados
adequados ao se comparar com outras fontes de alimentos de origem vegetal,
podendo desta forma, as ervas medicinais, serem consideradas como fontes de
suplementação destes metais.
Paiva e colaboradores (2002) empregaram a EAA, após digestão nitro-
perclórica, para a quantificação de nutrientes como Ca, Mg, Fe, Cu, Mn e Zn. Neste
trabalho o grupo avaliou a influência da aplicação de cádmio, níquel e chumbo, em
solução nutritiva, sobre o índice de translocação de macro e micronutrientes em
mudas de cedro e ipê-roxo. Os resultados obtidos demonstram que a presença de
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37
metais pesados em solução nutritiva faz com que haja resposta diferenciada no
índice de translocação dos diferentes nutrientes, de acordo com a espécie.
Em estudo realizado sobre a presença de metais pesados em latossolo tratado
com lodo de esgoto e em plantas de cana-de-açúcar, as determinações analíticas
dos metais nos extratos de solo e plantas foram realizadas por Espectrometria de
Absorção Atômica convencional com chama ar/acetileno, obtidos a partir de digestão
nitro-perclórica. Os resultados demonstram que a aplicação de lodo de esgoto
proporcionou em dois anos agrícolas aumentos lineares nos teores totais de Cu, Cr
e Zn. No entanto, com relação à possibilidade de incrementos na absorção dos
metais pelas plantas de cana-de-açúcar não foram possíveis maiores considerações
uma vez que os teores encontrados nas amostras analisadas estiveram abaixo do
LQ do método analítico (OLIVEIRA, MATTIAZZO, 2001).
Corbi e colaboradores (2006) também empregaram a EAA para a realização
de diagnóstico ambiental de metais em córregos adjacentes a áreas de cultivo de
cana-de-açúcar, no estado de São Paulo. Neste trabalho, os metais Cd, Zn, Fe, Mn,
Cr e Ni foram quantificados em amostras de sedimentos coletados em onze córregos
da bacia hidrográfica do Rio Jacaré-Guaçu. As amostras coletadas entre os meses
de março a junho, que corresponde ao período de corte da cana-de-açúcar, foram
submetidas à digestão ácida e posteriormente analisadas por FAAS. Todas as
amostras do em torno do cultivo da cana-de-açúcar apresentaram teores
consideráveis dos metais estudados, demonstrando a influência desta atividade
agrícola.
Fertilizantes fosfatados são essenciais para obtenção de altas produtividades,
entretanto, eles podem conter metais pesados contaminantes do solo e, deste modo,
ameaçadores da saúde humana e animal. Objetivando quantificar Cd e Pb em
diferentes fertilizantes fosfatados, bem como a absorção desses metais por plantas
de mucuna preta, Mendes e colaboradores (2006) empregaram a Espectrometria de
Absorção Atômica. As amostras de fertilizantes, solos e plantas foram submetidas à
digestão ácida e analisadas por FAAS. Entre os resultados obtidos os autores
ressaltam a significativa absorção de Cd pelas plantas de mucuna quando da
aplicação de qualquer um dos fertilizantes, bem como uma proporcionalidade de
absorção em relação a diferentes doses de fertilizantes.

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38

3 METODOLOGIA

A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste estudo está


esquematizada no fluxograma da Figura 5.

Revisão
Bibliográfica

Visita à Empresa Visita as


Ervateira Propriedades Rurais

Adequação Análise da
do Método Erva Mate
Analítico à Comercial
Amostra

Análise da Análise da Análise do


Erva Mate Erva Mate Solo das
Cancheada in natura Propriedades

Comparação entre os
modos de produção:
nativo e consorciado.

Figura 5: Fluxograma da metodologia aplicada para o desenvolvimento do estudo


dos impactos ambientais associados ao processamento de erva-mate.

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39
3.1 Visita à indústria ervateira

Para constatação in loco de alguns estágios do ciclo de vida do produto erva-


mate comercial, foi realizada saída de campo, em visita a uma empresa ervateira
com sede no município de Venâncio Aires/RS (Vale do Rio Pardo), com intuito de
avaliar o seu processo produtivo a partir das boas práticas de fabricação
(PROFÍQUA; SBCTA, 2000) e com auxílio de inventário material e energético.
A fim de viabilizar o estudo de impactos ambientais do processo de produção,
uma vez que nem mesmo se conhecia o sistema como um todo e, apurar a
realidade do sistema, utilizou-se o programa SAAP (Sistema de Avaliação Ambiental
de Processos), com auxílio de inventários energéticos e materiais, somados a
fluxograma do sistema, baseados nas referências citadas no item 2.2, de forma a
gerar dados suficientes para a investigação do processo utilizado na empresa
ervateira.

3.2 Visita aos fornecedores de erva-mate in natura à indústria ervateira

A partir do acompanhamento do processo produtivo da indústria ervateira, do


município de Venâncio Aires, RS e da constatação das condições de manufatura,
distribuição e comercialização do produto acabado, foram realizadas visitas, a oito
fornecedores de matéria-prima da indústria escolhida, cinco dos quais cultivam erva-
mate consorciada com diversas cultivares, entre elas fumo, milho e feijão; já os
demais utilizam o chamado cultivo florestal ou sombreado. As áreas investigadas
estão localizadas nos municípios de Venâncio Aires e Fontoura Xavier, na região
Central do Rio Grande do Sul.
As visitas aos fornecedores foram realizadas durante o mês de julho de 2007,
acompanhando a época de colheita da erva-mate daquele ano. Nestas, foi
empregado um questionário, previamente elaborado, para melhores esclarecimentos
sobre as técnicas agrícolas empregadas, averiguando-se os fertilizantes, herbicidas
e demais pesticidas, utilizados nos dois casos estudados (cultivo consorciado e
cultivo florestal ou sombreado). O questionário aplicado é apresentado no ANEXO I.

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40
3.3 Estudo sobre metais pesados no processamento de erva-mate

A determinação dos oligominerais (metais pesados) como manganês (Mn),


chumbo (Pb), cádmio (Cd) e arsênio (As), nas amostras de solo, erva-mate in natura
e produto acabado foi realizada com o emprego da técnica de Espectrometria de
Absorção Atômica. Os métodos espectroscópicos foram escolhidos devido a sua
especificidade e ao limite de detecção adequado para as medidas dos metais
desejados. O método mais comum desta técnica, a Espectrometria de Absorção
Atômica por Chama (FAAS) foi utilizada na determinação de manganês. Os demais
metais foram quantificados por Espectrometria da Absorção Atômica por Forno de
Grafite (GF AAS) e Espectrometria de Absorção Atômica por Geração de Hidretos
(HG AAS), sendo GF AAS mais adequada para a quantificação de chumbo e cádmio
e HG AAS, para a quantificação de arsênio.

3.3.1 Instrumentação

- Espectrômetro de Absorção Atômica Varian, modelo SectraAA 55;


- Pipetador Automático (Varian)

3.3.2 Reagentes e Soluções

Todos os reagentes utilizados foram produtos de grau analítico e a água


utilizada no preparo das soluções e amostras foi bidestilada e deionizada. Os
reagentes empregados são descritos a seguir:
- Ácido nítrico P.A. 65% Merck
- Padrão titrisol chumbo 1000 mg L-1 P.A. Merck
- Padrão titrisol cádmio 1000 mg L-1 P.A. Merck
- Padrão titrisol manganês 1000 mg L-1 P.A. Merck
- Padrão titrisol arsênio 1000 mg L-1 P.A. Merck
- Borohidreto de Sódio (NaBH4) P.A. Merck
- Hidróxido de Sódio (NaOH) P.A. Nuclear
- Ácido Clorídrico (HCl) P.A. 37% Merck
As soluções padrão de trabalho foram preparadas imediatamente antes do uso
pela diluição das soluções padrão estoque, em balão volumétrico de 50 mL, nas
concentrações ideais para o preparo da curva analítica de cada oligomineral
analisado. Para chumbo foi utilizada solução padrão 100 µg L-1 e para cádmio, de
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41
20 µg L-1. As curvas analíticas, para estes dois metais, foram confeccionadas com
auxílio de pipetador automático acoplado ao Espectrômetro de Absorção Atômica.
As curvas analíticas para manganês foram obtidas a partir de soluções padrão nas
concentrações de 0,6; 1,2; 1,8 e 2,4 mg L-1; para arsênio as curvas analíticas foram
construídas com soluções padrão 0,5; 1; 2,5 e 5 µg L-1.

3.3.3 Limpeza de material

As vidrarias e materiais utilizados para as análises passaram por limpeza com


solução de ácido nítrico (HNO3) a 15% v/v, bem como por lavagem tripla com água
bidestilada/deionizada, de acordo com García, Andreu e Boluda (1996).

3.3.4 Condições instrumentais de análise para a determinação de Cd, Pb, Mn e


As por Espectrometria de Absorção Atômica

Na fase inicial da execução desta proposta, foi realizado treinamento, nos


Laboratórios de Ensino de Química e da Central Analítica da Universidade de Santa
Cruz do Sul, para utilização do Espectrômetro de Absorção Atômica. Nesta etapa,
foram confeccionadas as curvas analíticas para os metais As, Cd, Pb e Mn, através
de suas soluções padrão. Os limites de detecção (equação 4) e quantificação
(equação 5) do método, a fim de avaliar a sensibilidade do equipamento foram
calculados com base em informações obtidas a partir de IUPAC, organização
referência mundial em química que permite a manutenção de uma linguagem
comum desta ciência no planeta. Esta etapa permitiu avaliar a viabilidade das
análises a serem realizadas posteriormente.

c L = x Bi + 3S Bi (eq. 4)

q L = x Bi + 10 S Bi (eq. 5)

Onde:
x Bi : média das dez medidas dos brancos lidos no aparelho e

S Bi : desvio padrão das dez medidas dos brancos lidos no aparelho.

As curvas analíticas para manganês foram confeccionadas com soluções


padrão de 0,6; 1,2; 1,8 e 2,4 mg L-1. O método empregado foi FAAS e as leituras em
espectrômetro foram realizadas com lâmpada de cátodo oco do elemento desejado,
em comprimento de onda 279,5 nm e fenda 0,2 nm, com lâmpada de deutério como

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42
corretor de fundo. A chama utilizada foi de ar/acetileno (HERMES, TORRES, 2003;
LAJUNEN, 1992; VANDECASTEELE, BLOCK, 1993).
Para a confecção das curvas analíticas de chumbo e cádmio utilizou-se o
método GF AAS. Foi empregada lâmpada de cátodo oco específica para cada metal,
tubo de grafite com aquecimento longitudinal com plataforma de L’vov, argônio como
gás inerte e lâmpada de deutério como corretor de fundo (LAJUNEN, 1992). O
espectrômetro é equipado com pipetador automático, permitindo a introdução de 20
µL por amostra para análise. Ainda em termos gerais, para análise dos dois metais
foi utilizada a integração da área do pico formado para a quantificação.
Para a determinação de chumbo o método utilizado é baseado em orientações
da OMS. O comprimento de onda selecionado através da lâmpada de cátodo oco foi
de 283,3 nm, com fenda de 0,5 nm e a programação de aquecimento para a
atomização do analito é demonstrada na Tabela 2.

Tabela 2: Programação de aquecimento e fluxo de argônio para análise de chumbo.


Tempo na Vazão de argônio
Temperatura (ºC)
Temperatura (s) (L/Hora)
90 10 3,0
150 30 3,0
200 10 3,0
400 10 3,0
400 1,3 3,0
400 2 0
2100 1 0
2100 2 0
2200 2 3,0
40 20,8 3,0

No caso do cádmio o método utilizado também foi baseado nas orientações da


OMS. O comprimento de onda de 228,8 nm foi selecionado para o metal e fenda de
0,5 nm foi empregada (LAJUNEN, 1992; VANDECASTEELE, BLOCK, 1993). A
programação de aquecimento para a sua análise é disposta na Tabela 3.

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43
Tabela 3: Programação de aquecimento e fluxo de argônio para análise de cádmio.
Tempo na Vazão de argônio
Temperatura (ºC)
Temperatura (s) (L/Hora)
95 30 3,0
120 25 3,0
150 15 3,0
250 30 3,0
250 2 0
1800 1 0
1800 3 0
1900 1 3,0
21,1 3 3,0

Na confecção da curva analítica para o arsênio, o método de HG AAS foi


utilizado com lâmpada de cátodo oco do elemento desejado, selecionando-se o
comprimento de onda de 193,7 nm em fenda de 0,5 nm. O tempo de vazão de
amostra foi de 45 segundos com corrente de gás nitrogênio como gás inerte, em
chama de ar/acetileno. Para a geração do hidreto de arsênio foram empregadas
soluções de Borohidreto de Sódio (NaBH4) 0,3% v/v com Hidróxido de Sódio (NaOH)
0,5% m/v e de Ácido Clorídrico (HCl) 5 mol L-1 (VANDECASTEELE, BLOCK, 1993;
BARRA et al, 2000; BAX, ELTEREN, AGTERDENBOS, 1986; YAN, NI, 1994).

3.3.5 Coleta e procedimentos de abertura de amostra de erva-mate in natura

Durante as visitas aos fornecedores foram coletadas amostras, em triplicata, de


erva-mate in natura. Estas amostras foram coletadas em sacos plásticos do tipo zip,
próprias para congelamento de alimentos. No laboratório houve o congelamento do
material em freezer (HERMES, TORRES, 2003), sem realização de lavagem com
água corrente ou quarterização, a fim de simular adequadamente o sistema de
manufatura utilizado pelas indústrias, que não utilizam lavagem prévia da matéria-
prima para o processamento.
A determinação dos metais pesados em amostras de erva-mate in natura
necessita de uma etapa de clean up. Para tanto, foram empregados procedimentos
de abertura de amostra onde as amostras de erva-mate passaram por trituração em
processador tipo pic-lic e, em seguida, foram levadas para retirada de umidade à

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44
estufa com circulação de ar a 65ºC por 48 horas (BAIRD, 1999; SOARES et al,
2001). O resíduo seco foi finamente triturado em gral e embalado a vácuo para
armazenamento. Imediatamente antes da análise as amostras foram submetidas a
processo de digestão ácida. Para tanto, pesou-se com precisão em torno de 0,1 g de
amostra seca disposta em bomba de teflon com adição de 6 mL de ácido nítrico P.
A. Merck, passando então por aquecimento, em estufa adequada, a 100ºC por
aproximadamente dezoito horas (HERMES, TORRES, 2003; TEDESCO et al, 1995;
KRUG et al, 2006).

3.3.6 Coleta e procedimentos de abertura de amostras de solo

Aproveitando a oportunidade de coleta de amostras de erva-mate in natura,


também foram coletadas amostras de solo das propriedades visitadas. Tais
amostras foram coletadas a partir das linhas de adubação (linhas das plantas) em
dez pontos da propriedade, todos a profundidades entre 0 - 20 cm, com pá-de-corte
removendo da superfície a vegetação, as folhas, os ramos e as pedras. As alíquotas
dos dez pontos foram colocadas em um balde de vinte litros e em seguida,
homogeneizadas com separação de meio quilo de solo, sendo acondicionado em
saco plástico limpo e etiquetado e encaminhado ao laboratório para análise,
conforme SBCS, 2004.
No laboratório as amostras foram acondicionadas individualmente em caixa de
papelão, separadas em frações do solo seco em estufa a 40ºC (TU, ZHENG, CHEN,
2000). As amostras ficaram assim acondicionadas até o momento de análise dos
metais por Espectrometria de Absorção Atômica.
As amostras de solo foram igualmente submetidas a processos de digestão
ácida na etapa de clean up, imediatamente antes da quantificação dos referidos
metais. Devido à homogeneidade do material, pôde-se partir para a pesagem,
dispensando-se as demais técnicas de destorroamento e peneiração (TEDESCO et
al, 1995; EMBRAPA, 1997).
Deste modo, para a análise de solo foram pesadas com precisão 0,1g de
amostra em triplicata. Em seguida estas alíquotas foram transferidas para bomba de
teflon com adição de 6 mL de ácido nítrico P. A. e 5 mL de ácido fluorídrico P. A.
passando posteriormente por aquecimento, em estufa adequada, a 100ºC, por
aproximadamente dezoito horas. O ácido fluorídrico foi utilizado principalmente para
promover a dissolução dos materiais contendo silicatos devido à formação de ácido
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45
fluorosilícico (H2SiF6). Este é retirado da matriz na forma SiF4 gasoso, por
dissociação à quente em sistema aberto, preparado após resfriamento das
amostras, posteriormente transferidas para cadinhos de teflon para consecutivo
aquecimento a 100ºC por aproximadamente quatro horas (TEDESCO et al, 1995;
EMBRAPA, 1997; KRUG et al, 2006; SUN, CHI, SHIUE, 2001; SBCS, 2004).

3.3.7 Coleta e procedimentos de abertura de amostras de erva-mate cancheada

Após o período da colheita da erva-mate in natura, foi possível acompanhar o


processamento de duas cargas provenientes do município de Fontoura Xavier, RS,
na indústria em estudo. Para a avaliação do processo foram coletadas amostras em
triplicata do produto semi-acabado (erva-mate cancheada), ou seja, após as etapas
de sapeco, secagem e trituração do processo. Através da análise dos metais nestas
amostras foi possível avaliar a contribuição ou não do processo produtivo na
contaminação do produto acabado pelos metais em estudo. As amostras coletadas
foram igualmente acondicionadas em freezer até o momento de suas análises.
Ainda, foram submetidas a procedimentos de abertura de amostra, conforme
descrito em 3.3.5, imediatamente antes da análise por Espectrometria de Absorção
Atômica.

3.3.8 Determinação de metais pesados nas amostras de erva-mate comercial,


in natura, cancheada e solo

Nesta etapa, inicialmente, foram escolhidas aleatoriamente treze marcas de


erva-mate para chimarrão para a análise comparativa, quanto à presença ou não
dos contaminantes estudados e de sua quantificação. As amostras foram adquiridas
no comércio local. Nesta, foram quantificados os metais pesados Cd, Pb, Mn e As,
empregando-se as condições instrumentais descritas em 3.3.4.
As amostras de erva-mate in natura, produto cancheado (semi-acabado) e solo
foram levadas para análise em Espectrômetro de Absorção Atômica, após serem
submetidas aos procedimentos de abertura de amostra descritos nos itens 3.3.5,
para as amostras de erva-mate in natura e cancheada e 3.3.6, para solo. Nestas
amostras, devido aos resultados obtidos na quantificação dos metais no produto
comercial, foram determinados os metais Cd, Pb e Mn. Para a quantificação foram
empregadas as condições instrumentais descritas em 3.3.4, com emprego da

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46
técnica de Espectrometria de Absorção Atômica por chama (FAAS), para determinar
manganês e por Forno de Grafite (GF AAS), para chumbo e cádmio.

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47

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Acompanhamento do processo produtivo e inventário da indústria

Para o acompanhamento, foi escolhida uma empresa dedicada exclusivamente


à manufatura e beneficiamento da erva-mate para chimarrão, que emprega
matérias-primas oriundas das duas formas de cultivo em estudo: uma com o cultivo
intenso em consórcio com diversas culturas, entre elas milho, feijão e fumo, a outra
com o cultivo florestal, no qual a erva-mate “nativa” se desenvolve na mata original
ou próxima da original.
O acompanhamento do processamento de erva-mate in natura se deu nas
dependências da empresa situada às margens da Rodovia RST – 287, no município
de Venâncio Aires, RS, tendo ocorrido nos meses de agosto a outubro de 2006.
Através deste acompanhamento, a partir do uso do programa SAAP (Sistema
de Avaliação Ambiental de Processos), com auxílio de inventários energéticos e
materiais, somados a fluxograma do sistema, baseados nas referências citadas no
item 2.2, foi possível verificar alguns dos impactos ambientais resultantes do
beneficiamento.
Para o processamento da erva-mate, a empresa segue as três etapas
tradicionais: sapeco, secagem e cancheamento, apresentando algumas
particularidades, como a trituração realizada antes da secagem e a exposição do
produto semi-acabado (erva cancheada) ao ambiente. A empresa utiliza caminhões
de coleta, balança, separador mecânico, sapecador, triturador, secador, triturador
com peneira, misturador e socador, granulometria e empacotadora, sendo os
caminhões de serviços terceirizados. A Tabela 4 apresenta as operações pertinentes
ao processamento da erva-mate in natura, cujas etapas são apresentadas na Figura
6. Salienta-se a priorização do volume de produção.

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48

Tabela 4: Operações envolvidas no beneficiamento da erva-mate.


Operação Descrição da Operação Processo

Colheita e È realizada a poda e os ramos e folhas de erva-mate são,


M
Transporte em seguida, transportados para beneficiamento.

Pesagem e É recebida a matéria-prima, identificada conforme a região


M
recepção de procedência e em seguida é pesada.

Desembarque e È realizado o desembarque e a seleção visual (espécies e


M
Seleção plantas daninhas)

A matéria-prima pré-selecionada passa por uma esteira


Seleção
até chegada em um separador mecânico (retirada de A
mecânica
plantas daninhas e parte da areia e demais impurezas)

Os galhos e folhas são expostos diretamente à chama, a


Sapeco A
altas temperaturas, no interior do sapecador.

Trituração de folhas e ramos da erva-mate por trituradores


Cancheamento A
helicoidais.

O produto obtido passa por uma secagem final, em


Secagem A
secador rotativo.

O produto obtido é triturado novamente e é peneirado,


Peneiração A
para retirada de pedaços de galhos maiores.

O produto é ensacado e armazenado, permanecendo


Armazenamento M
exposto ao ambiente de 5 a 15 dias.

Tem-se a mistura do produto, para moagem em socador,


Socagem MA
e posterior ajuste da granulometria em triturador.

Realizado logo após acerto de granulometria, com


Empacotamento MA
dosagem automática e empacotamento manual.

O produto final fica armazenado em local próximo à


Distribuição M
peneiração, aguardando a retirada para distribuição.
M=manual; A=automático; MA=misto

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49

Colheita Pesagem e Desembarque e


Transporte recepção Seleção

Seleção
Sapeco mecânica
Cancheamento
Secagem
Peneiração

Armazenagem
Socagem
Empacotamento

Distribuição

Figura 6: Fluxograma com as etapas de processamento da erva-mate in natura na


empresa visitada.

A partir dos dados da Tabela 4 e do fluxograma da Figura 6, é possível


constatar que boa parte do processo produtivo expõe o produto ao ambiente,
principalmente no estágio de armazenamento, prática que além de estar facilitando
sua contaminação por vetores físicos, químicos e microbianos, provavelmente
permite agregar umidade ao produto semi-acabado. Deste modo, tem-se perda de
energia e tempo, uma vez que no processamento existe uma preocupação em
promover a retirada de umidade da erva-mate e, em seguida, nesta etapa de
armazenamento, é permitida sua agregação.
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50
Adicionalmente, os funcionários não possuem treinamento especializado para
manipulação da matéria-prima e não existe um sistema de higienização do processo
produtivo após a manufatura do produto, demonstrando falta de aprofundamento
tecnológico.
No processo produtivo da erva-mate para chimarrão, representado na Figura 6,
pode-se observar que normalmente a matéria-prima empregada é proveniente de
um cultivo consorciado. No caso apresentado, o consórcio ocorre com as culturas de
fumo e milho, para as quais são empregadas grandes quantidades de pesticidas,
herbicidas e fertilizantes podem, possivelmente, afetar de modo indireto a cultura da
erva-mate.
É necessário destacar também que após a saída da matéria-prima do secador,
quando cai no ciclone e parte para a trituração seguida do ensacamento, ocorre à
geração de emissões particuladas que se espalham por todo o espaço do prédio
utilizado para estoque e carregamento de caminhões de distribuição. Neste espaço
os funcionários não utilizam máscaras como equipamento de proteção individual, o
que é indispensável devido à quantidade de material particulado suspenso.
Apesar de graves, os problemas encontrados podem ser facilmente
solucionados, uma vez que a higienização pode ser implantada por lavagem ou até
mesmo por ar comprimido (PROFÍQUA, SBCTA, 2000); as áreas expostas podem
ser fechadas e materiais transparentes ou portinholas, podem ser adaptados, para
visualização e coleta do produto em manufatura; a abertura das sacas processadas
pode ser substituída por um sistema de resfriamento mais apropriado; e, a região
com geração de particulados pode ser confinada, com um sistema de exaustão
instalado.
Deste modo, pequenos ajustes podem racionalizar e qualificar o processo
produtivo em primeira instância. Contudo, somente com uma avaliação mais
aprofundada sobre a contribuição de contaminantes metálicos por parte do
maquinário utilizado, que foi confeccionado com aço comum, bem como da
contribuição de contaminantes como os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos
(HPAs) (CAMARGO, TOLEDO, 2002), resultantes da exposição direta da matéria-
prima à fumaça durante a secagem, pode-se falar em produto de elevada qualidade.

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51
A Tabela 5 apresenta o inventário material do processo, em relação à matéria-
prima, erva-mate verde, num período de um ano, demonstrando as quantidades
processadas, as perdas, o tempo de estocagem, o produto reprocessado e o
comercializado.
A legislação vigente (Resolução RDC nº 277, de 22 de setembro de 2005)
estabelece teor de umidade em torno de 5% para produtos solúveis e, segundo os
proprietários da empresa o processo produtivo visa obtenção de um produto
industrializado neste padrão e para tanto, ocorre a retirada de água com redução de
30% no peso do produto após a secagem, no entanto, outras empresas consultadas
revelaram que esta redução pode chegar a 60%. A Tabela 5 apresenta diferenças
significativas entre a quantidade processada, a quantidade armazenada e a
quantidade vendida, confirmando que o processo na realidade ocorre de acordo com
a informação, da segunda fonte de consulta sendo, portanto, esta levada em
consideração para avaliação do processo nesta etapa.
A partir da Tabela 5, pode-se considerar também as quantidades médias de
resíduos sólidos gerados no processo de seleção de 735 kg mensais, juntamente
com a perda média estimada do retorno do produto comercializado de 194 Kg
mensais, excetuando-se as quantidades de cinzas, embalagens e o denominado
palito, totalizam 929 Kg mensais, que atualmente não tem destino adequado. Estes
poderiam ser compostados e comercializados como adubo orgânico ou ainda,
empregados para outras finalidadesl, como geração de energia nos fornos de
secagem ou, a utilização do subproduto palito, como matéria-prima para obtenção
de carvão ativo, aproveitando suas características.
Neste sentido, Gonçalves e colaboradores (2007) avaliaram o material
adsorvente obtido a partir da pirólise de resíduos de erva-mate. O material obtido
demonstrou elevada área superficial específica quando comparado com outros
materiais pirolisados, indicando ser um material de elevada capacidade para
remoção de contaminantes orgânicos de soluções aquosas.
Em relação ao resíduo, ou o produto que não retorna à empresa e não pode
mais ser reaproveitado e o reprocessado (Tabela 5), ou seja, o produto que retorna
à empresa por fim de validade e é reaproveitado sendo adicionado a marcas de
menor qualidade e valor comercial, pode-se verificar a necessidade de um
armazenamento do produto acabado mais adequado, visto que após a secagem o
produto é exposto ao ambiente, sem critério algum de controle.
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52

Tabela 5: Inventário material do processo em toneladas.


Resíduo Redução Redução Período de
Quantidade Quantidade Quantidade Quantidade
Mês da seleção de peso de peso Armaze- Resíduo Reprocessado
Adquirida Processada Armazenada Vendida
visual 30% 60% nagem (dias)
07/05 105,800 105,500 0,362 42,344 73,850 42,200 20 35,145 0,175 0,702
08/05 105,240 104,900 0,340 42,056 73,450 41,960 14 37,496 0,187 0,749
09/05 153,565 152,797 0,768 61,426 106,957 61,118 10 44,263 0,221 0,885
10/05 80,235 79,432 0,803 30,489 55,602 31,772 7 39,133 0,195 1,173
11/05 85,688 84,659 1,029 30,847 59,261 33,863 7 39,318 0,196 1,179
12/05 62,357 61,608 0,749 22,448 43,125 24,643 7 33,896 0,169 1,016
01/06 52,695 51,904 0,791 18,443 36,332 20,761 7 38,708 0,193 1,354
02/06 62,334 61,398 0,934 21,816 42,978 24,559 7 25,754 0,128 0,901
03/06 54,807 53,984 0,823 19,730 37,788 21,593 7 35,689 0,178 1,249
04/06 55,065 54,514 0,551 19,823 38,159 21,805 7 28,830 0,144 0,864
05/06 84,615 83,768 0,847 31,730 58,637 33,507 7 39,261 0,196 1,177
06/06 108,520 107,977 0,543 41,129 75,583 43,190 14 33,791 0,168 0,675
07/06 95,283 94,997 0,286 36,207 66,497 37,998 20 36,897 0,184 0,737
TOTAL 1106,266 1097,438 8,826 418,488 768,219 438,969 - 468,181 2,334 12,661
Média 92,188 91,453 0,735 34,874 64,018 36,580 - 39,015 0,194 1055

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53

A Tabela 6 apresenta os dados do inventário de energia, com a quantidade de


energia gasta mensalmente nos dois principais processos da empresa, juntamente
com a quantidade de lenha gasta com o aquecimento dos secadores.

Tabela 6: Inventário energético do processo.

Quantidade
Consumo Aquecimento Aquecimento
Mês Total (kWh)
kWh ton-1 (m3 de lenha) (m3 lenha ton-1)
mês
07/05 5858 138,8 76 1,80
08/05 7580 180,6 75 1,78
09/05 7277 118,9 110 1,80
10/05 7002 220,2 55 1,70
11/05 6016 177,5 55 1,60
12/05 6247 253,9 40 1,60
01/06 5037 242,1 33 1,60
02/06 5089 206,9 39 1,60
03/06 5644 261,3 35 1,60
04/06 4971 228,0 36 1,65
05/06 5523 164,4 57 1,70
06/06 6392 148,6 74 1,70
07/06 7509 197,6 65 1,70
TOTAL 80145 2538,8 750 21,83
Média 6678 211,6 62,5 1,68

Na Tabela 6 observa-se um consumo energético médio de 6678 kW mês, ou


seja, 211,6 kW ton-1, que comparados com levantamentos realizados por Maccari
Junior 2005, demonstram similaridades, com os valores obtidos para outros tipos de
secadores, como o secador de esteira com gasto médio de 208 kWh ton-1, secador
rotativo Intecnial com gasto médio de 256 kWh ton-1, o secador fixo com misturador
com gasto médio de 127 kWh ton-1, secador rotativo Grimm com gasto médio de 174
kWh ton-1 e o secador de leito fixo com gasto médio de 4 kWh ton-1.

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54
Os valores obtidos demonstram um gasto de energia bastante elevado e, que
pode ser avaliado comparando-se ao gasto energético de 6 a 20 kWh ton-1 para a
moagem de milho em diversos moinhos testados por Pozza et al, 2005 e maior
ainda quando comparado com gastos de 150 kWh mês efetuados em edificações
brasileiras ocupadas por quatro indivíduos (TAVARES E LAMBERTS, 2005).
Utilizando o programa SAAP (Sistema de Avaliação Ambiental de Processo), com
dados dos gastos mundial e nacional de 2002, por exemplo, a empresa apresenta
um índice de consumo de energia (ICE) de 1205,7143; sendo que o software
utilizado não referencia quais os valores ideais para o índice.
Para a secagem da erva-mate são utilizados em média 62,5 m3 de lenha
mensalmente, ou seja, 1,68 m3 ton-1. Estes valores comparados com os dados
obtidos por Maccari Junior 2005, com gastos entre 25 e 43 m3 ton-1, parecem não
refletir a realidade do sistema pesquisado. Caso se considere 1 m3 igual a 1 kg, a
queima de 1,68 m3 ton-1 de madeira para secagem da erva-mate gera, segundo o
programa SAAP, 3,1046 kg de CO2 por tonelada produzida, apresentando um índice
de aquecimento global (IAG) de 0,0019 (SANTOS, 2002)
Apesar dos índices obtidos, faltaram informações corretas e adicionais sobre as
emissões do processo, como as atmosféricas e de efluentes, prejudicando as
avaliações posteriores. Mesmo prejudicadas, devido a necessidade de maiores
informações para o cálculo de maior quantidade de índices, a partir dos dois índices
obtidos, foi possível simular o cálculo do índice de pressão ambiental (IPA), que
alcançou valor de 904,2862, bastante acima do esperado, que deveria estar entre 0
e 1, representando a máxima pressão ambiental permitida pela legislação
O software SAAP, é uma ferramenta poderosa para a avaliação de impactos
ambientais, sendo necessário a maior quantidade de dados possível, devido a
complexidade dos sistemas industriais e por conseqüência, do software utilizado, no
entanto, os levantamentos de dados devem ser o mais próximos da realidade, para
que o programa possa refletir o que acontece no processo estudado. É importante
ressaltar que são necessárias comparações entre processos para uma avaliação
efetiva, o que não foi possível neste trabalho, pois não foram encontrados trabalhos
que utilizassem o programa.

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55
Com as informações obtidas anteriormente, desde o fluxograma e os
inventários material e energético, poder-se-ia sugerir a otimização do processo
produtivo, bem como, o desenvolvimento de equipamentos para resfriamento, e
caso necessário tratamento da água e sua utilização em outro setor da empresa,
como na lavagem de automóveis e caminhões, ou até mesmo, para implantação de
lavagem pressurizada da matéria-prima selecionada para a industrialização, visto
que 60% do peso da matéria-prima é perdido durante o processo industrial na forma
de umidade.
4.2 Informações relativas à visita aos fornecedores de erva-mate in natura

Foram visitadas oito propriedades rurais fornecedoras de erva-mate in natura


para a empresa selecionada para acompanhamento. Estas foram numeradas de 1 a
8, sendo cinco delas no município de Venâncio Aires/RS, cujas coordenadas UTM
(Sistema Universal Transverso de Mercator) são dispostas na Tabela 7 e localizadas
de acordo com os mapas das Figuras 7 e 8; três outras propriedades visitadas são
situadas no município de Fontoura Xavier/RS e suas coordenadas UTM também
estão disponíveis na Tabela 7 e são localizadas no mapa da Figura 9. As
informações relativas à visita aos produtores de erva-mate foram coletadas a partir
do questionário, cujo modelo está disponível no ANEXO I e os resultados obtidos
são apresentados no ANEXO II.

Tabela 7: Coordenadas UTM das propriedades visitadas.


Propriedade Município Localização
1 Venâncio Aires 22 J 0381758 UTM 6728130
2 Venâncio Aires 22 J 0381758 UTM 6729860
3 Venâncio Aires 22 J 0381611 UTM 6729569
4 Venâncio Aires 22 J 0381345 UTM 6728905
5 Venâncio Aires 22 J 0381129 UTM 6730759
6 Fontoura Xavier 22 J 0375719 UTM 6796248
7 Fontoura Xavier 22 J 0374896 UTM 6791068
8 Fontoura Xavier 22 J 0372471 UTM 6792484

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56

Figura 7: Mapa com localização das propriedades visitadas no município de


Venâncio Aires.

Figura 8: Localização das propriedades visitadas em relação ao centro da cidade


de Venâncio Aires.

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57

Figura 9: Mapa com localização das propriedades visitadas no município de


Fontoura Xavier

De acordo com as respostas e registros decorrentes do questionário (ANEXO


II) aplicado aos agricultores do município de Venâncio Aires, pode-se observar que
as visitas foram realizadas ao longo do mês de julho de 2007 durante as quais foram
registradas temperaturas entre 19 e 27ºC após período chuvoso. Os proprietários
não souberam informar a extensão dos ervais, apesar do cultivo ocorrer por
períodos de 16 a 25 anos.
As propriedades visitadas neste município são caracterizadas como sendo de
pequeno porte por terem área de 6 a 11 hectares, a variedade de erva-mate
plantada é a denominada como “argentina” pelos agricultores. Quanto à quantidade
de árvores cultivadas, alguns proprietários (propriedades 1, 3 e 5) não souberam
informar a abrangência dos ervais; a propriedade 2 apresentava em média 800 pés
por hectare e a propriedade 4, 500 pés por hectare. Nestas, ocorre o consórcio de
erva-mate com diversas outras cultivares como fumo, feijão, aipim, batata e milho,
ocorrendo também rotação destas culturas com prática de aração, uso de herbicidas
como glifosato (Rondup) e clomazone (Gamit), bem como de fertilizantes fosfatados.

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58
Apesar de no relato os agricultores confirmarem o uso de herbicidas e
fertilizantes, é possível que utilizem também outros agrotóxicos como pesticidas e
fungicidas devido à maior fragilidade destas cultivares no ambiente agrícola.
O modo de cultivo da erva-mate, consorciado com diversas culturas, entre elas
fumo e/ou milho, é demonstrado na Figura 10, nas propriedades 1, 2, 3, 4 e 5 do
município de Venâncio Aires, RS.

Propriedade 1. Propriedade 2

Propriedade 3. Propriedade 4.

Propriedade 5.

Figura 10: Cultivo consorciado de erva-mate no município de Venâncio Aires,


propriedades 1, 2, 3, 4 e 5.

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59
Ainda, no mês de julho de 2007, foram realizadas visitas a fornecedores da indústria
ervateira, no município de Fontoura Xavier, RS, nos quais a erva-mate in natura foi
coletada. De acordo com as respostas e registros decorrentes do questionário
(ANEXO II) aplicado aos agricultores, pode-se observar que as visitas realizadas ao
longo do mês de julho de 2007 durante as quais foram registradas temperaturas
entre 7 e 15ºC. Nestas propriedades visitadas os proprietários não souberam
informar a extensão dos ervais, apesar do cultivo ocorrer por períodos de pelo
menos 25 anos.
Nesta visita, foi informada somente a área de cultivo da propriedade número 8,
que corresponde a 100 hectares. Quanto à quantidade de árvores cultivadas,
obteve-se a informação das propriedades 7 e 8 com, respectivamente, 800 e 500
pés ha-1. A variedade plantada nestas propriedades é a denominada “nativa” pelos
agricultores, por estar em meio à mata nativa. Não é utilizada aração, no entanto, as
propriedades 7 e 8 utilizam glifosato (Rondup) e adubação orgânica. O cultivo de
erva-mate nas propriedades 6, 7 e 8 é demonstrado nos registros fotográficos da
Figura 11.

Erva-Mate
Erva-Mate

Propriedade 6. Propriedade 7

Erva-Mate

Propriedade 8.

Figura 11: Cultivo nativo de erva-mate no município de Fontoura Xavier,


propriedades 6, 7 e 8.

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60
Adicionalmente, os fornecedores de erva-mate in natura revelaram que a
indústria ervateira prioriza e valoriza diferencialmente a aquisição de matéria-prima
das propriedades com plantações da variedade “nativa”, para a obtenção de um
produto com maior valor agregado, sendo a variedade “argentina” empregada para
produtos populares de menor custo. O sistema consorciado é muito interessante
para a melhoria da qualidade do cultivo por propiciar diversidade no sistema agrícola
com certa proteção para o solo e para as diferentes cultivares. No sistema utilizado
em Venâncio Aires, nota-se claramente uma necessidade de aprofundamento
tecnológico por parte dos agricultores, tanto para o cultivo da erva-mate como para
as demais cultivares, de modo que os benefícios do cultivo consorciado de espécies
possam funcionar adequadamente. O resultado é um desconhecimento de práticas
de manejo adequadas, fazendo com que a erva-mate se torne um cultivo secundário
devido ao baixo valor da matéria-prima no mercado.
De acordo com os dados obtidos no questionamento aos proprietários do
município de Venâncio Aires, pode-se sugerir o incentivo e intensificação do manejo
agroflorestal orientado adequadamente, para que se obtenha melhor qualidade nos
variados cultivos realizados, a fim de aumentar os ganhos financeiros e
conseqüentemente os ambientais.
Para este fim a criação de associação de ajuda mútua, devido ao tamanho das
propriedades, seria uma saída. Esta ação poderia facilitar a busca por assistência
técnica adequada, de forma a permitir o planejamento de cultivo e venda das
produções.
Por outro lado, as informações obtidas a partir dos produtores do município de
Fontoura Xavier, sugerem a busca do cultivo agroflorestal de erva-mate com
madeira de corte, visto que o último caracteriza um mercado em expansão na região
do Vale do Rio das Antas. O cultivo consorciado de madeira para corte e erva-mate
além de manter a qualidade da matéria-prima propiciaria o retorno financeiro do
corte.
Nesta situação, também poderia ser criada uma associação semelhante à
sugerida anteriormente, buscando facilidades na busca por assistência técnica
adequada, de forma a permitir o planejamento de cultivo e venda das produções.
Para desenvolvimento das sugestões citadas, o apoio e incentivo da indústria
ervateira são fundamentais, no sentido de facilitar o desenvolvimento das

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61
organizações, garantir a compra e o preço de compra com lucro para os
fornecedores da matéria-prima por contratos de obrigações mútuas. Este
estratagema seria basicamente voltado a manter os fornecedores e incentivar
quantidade mínima de matéria-prima com qualidade para produtos de maior valor
agregado.
4.3 Avaliação das condições instrumentais para quantificação dos metais

Nesta etapa empregando as condições instrumentais descritas em 3.3.4, foram


obtidas as curvas analíticas para a determinação dos metais As, Cd, Pb e Mn em
todas as amostras avaliadas neste estudo. As curvas analíticas, obtidas
individualmente para cada metal, são apresentadas nas Figuras 12 a 15
respectivamente, para os metais As, Cd, Pb e Mn.

0,7 1
0,9
0,6
0,8
0,5 0,7
Absorvância
Absorvância

0,4 0,6
0,5
0,3 y = 0,1269x + 0,0132
0,4
R 2 = 0,997
0,2 0,3 y = 0,0728x - 0,0027
0,2
0,1 R2 = 0,9988
0,1
0 0
-0,1 0 2 4 6 0 2 4 6 8 10 12
Concentração As (µ g/L) Concentração Cd ( µg/L)

Figura 12: Curva analítica para Figura 13: Curva analítica para
determinação de arsênio. determinação de cádmio.

0,3 1
0,9
0,8
0,7
Absorvância
Absorvância

0,2
0,6
0,5
0,4
0,1 0,3 y = 0,3008x + 0,0086
y = 0,0014x + 0,0112
R2 = 0,9892 0,2 R2 = 0,9993
0,1
0 0
0 50 100 150 200 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
Concentração Pb ( µg/L) Concentração Mn (mg/L)

Figura 14: Curva analítica para Figura 15: Curva analítica para
determinação de chumbo. determinação de manganês.

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62

Os gráficos das curvas analíticas, apresentados nas Figuras 12 a 15,


demonstram lineariedade de resposta entre a radiação eletromagnética absorvida
pelos analitos para a realização do salto quântico e a concentração destes no meio.
Os coeficientes de correlação (R2) obtidos foram todos próximos a 0,99, indicando
confiabilidade nas leituras de absorvância realizadas.
De acordo com IUPAC, o limite de detecção (LD) e o limite de quantificação
(LQ) são características importantes para uma metodologia analítica, principalmente
no que tange a validação de um método. O LD pode ser definido como a menor
concentração do analito que produz uma resposta mensurável, ou seja, é a menor
resposta dada pelo equipamento utilizado para a quantificação do analito. O LQ
representa a menor concentração do analito que pode precisamente ser
quantificado. A Tabela 8 apresenta as leituras de absorvância (n = 10) quando do
emprego da solução denominada ”branco”. A partir da média e do desvio-padrão das
absorvâncias, os LD e LQ foram calculados para todos os metais, sendo aplicáveis
às condições instrumentais descritas anteriormente. As absorvâncias, relativas aos
LD e LQ, para cada metal, são igualmente apresentadas na Tabela 8.

Posteriormente, para as amostras, foram preparados brancos com os mesmos


ácidos utilizados para digestão da amostra, cujas concentrações foram subtraídas
das respectivas amostras.

A partir dos dados apresentados na Tabela 8 e das equações da reta, obtidas a


partir das curvas analíticas traçadas para os metais arsênio (Figura 12), cádmio
(Figura 13), chumbo (Figura 14) e manganês (Figura 15) os limites de detecção e
quantificação foram determinados e são descritos na Tabela 9.

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63

Tabela 8: Valores de absorvância (n = 10) para os limites de detecção e de


quantificação para análise de As, Cd, Pb e Mn por EAA.

Amostra Mn (Abs) Pb (Abs) Cd (Abs) As (Abs)

1 0,0002 -0,0003 0,006 0,004


2 -0,0001 -0,0029 0,0059 0,0081
3 -0,0014 -0,0034 0,0054 0,0011
4 -0,0009 0,0004 0,0048 -0,0012
5 -0,0006 -0,0031 0,0038 -0,0082
6 -0,0008 -0,0013 0,0043 -0,0097
7 0,0002 -0,0015 -0,0002 0,0076
8 -0,0015 -0,0024 0,0037 0,0018
9 -0,0007 -0,0022 0,006 -0,0049
10 -0,0011 -0,0016 0,0008 0,001
LD=3*DP+X 0,001152 0,001836 0,010553 0,018169
LQ=10*DP+X 0,005405 0,010391 0,025726 0,060658

Tabela 9: Limites de detecção e de quantificação para determinação de As, Cd, Pb


e Mn por EAA.

Metal LD LQ
Arsênio 0,04 µg L-1 0,37 µg L-1
Cádmio 0,18 µg L-1 0,39 µg L-1
Chumbo < 0,01 µg L-1 0,01 µg L-1
Manganês < 0,01 mg L-1 0,01 mg L-1
LD=limite de detecção
LQ=limite de quantificação

Dissertação de Mestrado - André Luís Frietto- 2008


64
4.4 Quantificação de Cd, Pb, Mn e As em erva-mate comercial

Foram determinados os teores dos metais pesados arsênio, cádmio, chumbo e


manganês em 13 amostras comerciais, adquiridas no comércio local do município de
Santa Cruz do Sul. Foram selecionadas as marcas de erva-mate mais consumidas,
sendo codificadas pelos números de 1 a 13. Todas as medidas analíticas foram
realizadas em triplicata, a partir do tratamento de três alíquotas de erva-mate de
cada marca. A Tabela 10 apresenta os valores encontrados nas análises dos
metais.

Tabela 10: Resultados obtidos na quantificação de Mn, Pb, Cd e As em erva-mate


comercial.

Amostra Mn Pb Cd As
(mg kg-1) (mg kg-1) (mg kg-1) µg kg-1)

1 743,48 ± 3,0% 4,30 ± 18,8% 0,92 ± 5,4% < LD

2 396,49 ± 2,6% 3,90 ± 117,9% 0,74 ± 9,4% < LD

3 668,21 ± 2,8% 5,61 ± 61,6% 0,70 ± 4,3% < LD

4 731,74 ± 3,8% 18,64 ± 30,9% 0,53 ± 7,5% < LD

5 682,17 ± 5,8% 3,17 ± 55,2% 0,48 ± 12,5% < LD

6 628,74 ± 3,0% 15,25 ± 65,5% 0,96 ± 56,2% < LD

7 667,75 ± 10,9% 13,62 ± 62,6% 1,02 ± 27,4% < LD

8 983,57 ± 2,2% 25,43 ± 11,2% 0,30 ± 43,3% < LD

9 416,38 ± 6,5% 4,63 ± 12,9% 1,12 ± 15,2% < LD

10 373,77 ± 8,8% 1,31 ± 74,0% 0,61 ± 39,3% < LD

11 569,79 ± 6,0% 29,57 ± 9,3% 0,94 ± 17,0% < LD

12 538,80 ± 2,8% 45,14 ± 60,7% 0,98 ± 8,2% < LD

13 859,68 ± 8,1% 7,85 ± 115,4% 1,15 ± 21,7% < LD


LD= limite de detecção

Os resultados apresentados na Tabela 10 demonstram que o metal pesado


arsênio não aparece como contaminante nas amostras de erva-mate
Dissertação de Mestrado - André Luís Frietto- 2008
65
comercializadas no município de Santa Cruz do Sul. Por outro lado, a quantificação
levou a valores consideráveis de manganês, onde teores de 300 a 1.000 mg kg-1 de
erva-mate foram encontrados. Os teores encontrados entre as marcas de erva-mate,
com relação ao manganês demonstram três grupos, um de menor teor por volta de
300 a 400 mg kg-1 (amostras 2, 9 e 10), um de teor intermediário de 500 a 700 mg
kg-1 (amostras 1, 3, 4, 5, 6, 7, 11, 12) e outro com teores mais elevados, acima de
800 mg kg-1 (amostras 8 e 13). Em relação às concentrações de chumbo tem-se dois
grupos, um com concentrações inferiores a 10 mg kg-1 (amostras 1, 2, 3, 5, 9, 10,
13), e outro de altos teores, com valores acima de 10 mg kg-1 (amostras 4, 6, 7, 8,
11, 12). Os resultados encontrados para a quantificação de cádmio revelam valores
acima de 0,3 mg kg-1.
Heinrichs e colaboradores (2001) ao avaliarem amostras variadas de erva-mate
comercial, encontraram valores semelhantes para o manganês, com teor mínimo de
655 mg kg-1 e máximo de 1.050 mg kg-1, apesar destes valores não serem
comentados pelos referidos autores, é fundamental salientar-se que o excesso deste
metal apresenta potencial neurotóxico (HERMES, TORRES, 2003).
Os resultados obtidos para as amostras comerciais, demonstrados na Tabela
10 apresentam desvios-padrão bastante elevados para chumbo, sendo observados
principalmente nas amostras 2, 3, 5, 6, 7, 12 e 13, cujos valores dessas replicatas,
ou seja, abertura de três frações iguais da amostra gerando três procedimentos
diferenciados seguidos de análise em espectrômetro de absorção atômica são
demonstrados na Tabela 11.

Tabela 11: Teores de chumbo (mg kg-1) para cada replicata das amostras
comerciais de erva-mate.

Amostra Replicata 1 Replicata 2 Replicata 3

2 1,63 0,80 9,25

3 7,53 1,69 1,62

5 4,86 3,69 1,37

6 15,34 21,17 4,37

7 27,39 31,43 76,69

12 18,28 2,00 3,26

Dissertação de Mestrado - André Luís Frietto- 2008


66

É notória a ocorrência de dois valores próximos e um extrapolado, podendo ser


essa ocorrência devido a sujidades presentes ou pela heterogeneidade da amostra,
que na realidade é uma mistura de matérias-primas oriundas de diversas regiões e
de subespécies diferentes de erva-mate, além do mais, como a quantidade de
amostra utilizada para cada replicata é pequena, em torno de 0,1g, aliada a
pequenas concentrações encontradas, os desvios-padrão tendem a maiores valores;
apesar do que já foi citado, esta diferença pode estar associada a algum erro ou
desvio analítico não detectado, ou ainda por contaminação ocorrida devido ao
ambiente ou materiais utilizados.
Nas análises de cádmio este fato pode ser observado nas amostras 6 e 10,
cujas replicatas são apresentadas na Tabela 12. Possivelmente as diferenças entre
os valores observados são justificados pelos mesmos problemas citados para
chumbo.

Tabela 12: Teores de cádmio (mg kg-1) para cada replicata das amostras comerciais
de erva-mate.

Amostra Replicata 1 Replicata 2 Replicata 3

6 1,55 0,83 0,49

10 0,73 0,77 0,34

Estes metais são biocumulativos e sua presença é preocupante. Muitos dos


valores encontrados para os metais cádmio e chumbo nas amostras de erva-mate
comercial, demonstrados na Tabela 11, são superiores aos encontrados por
Heinrichs e colaboradores (2001), que encontraram concentrações de Cd e Pb em
erva-mate comercial inferiores a 0,03 mg kg-1. No entanto, Bartz (2007), ao
determinar cádmio e chumbo em erva-mate comercial, encontrou teores de Cd de
0,43 ± 0,01 mg Kg-1 a 0,9 ± 0,05 mg Kg-1, e, de Pb teores de < 0,4 mg Kg-1 a 9,81 ±
0,34 mg Kg-1, estando os teores de cádmio também acima dos limites
recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para plantas medicinais
de 0,3 mg kg-1 e 10 mg kg-1 para Cd e Pb, respectivamente.

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67
Cabe, no entanto, ressaltar que as concentrações encontradas não se referem
à quantidade destes metais biodisponíveis na planta, ou seja, pode não haver perigo
para os consumidores da infusão da erva-mate.
Traçando-se um paralelo entre os grupos formados anteriormente visando a
melhor visualização da relação entre estes e a região de procedência do material
analisado, observa-se que para manganês e chumbo, as amostras de regiões
diversas do município de Santa Cruz do Sul apresentam as concentrações mais
baixas, diferentemente do que ocorre para cádmio.
A indicação de erva-mate nativa comercial está associada a uma subespécie
de erva-mate chamada pelos produtores de “nativa”, no entanto, os resultados
encontrados nas amostras de procedência nativa, 5, 6 e 9 não apresentam
diferenciação com relação às demais marcas tradicionais que utilizam a chamada
erva argentina. Desta forma, em relação aos metais avaliados, há um indicativo de
não existir a relação de que o cultivo de erva-mate em consórcio com o cultivo de
diversos cultivares como fumo e milho, vem a aumentar o teor de metais no produto
acabado quando comparado ao cultivo florestal.

4.5 Quantificação de Cd, Pb e Mn e em amostras de erva-mate in natura e


cancheada

A quantificação do elemento arsênio, inicialmente prevista, não foi realizada


nas amostras de erva-mate in natura e cancheada uma vez que o mesmo não foi
detectado nas amostras comerciais avaliadas. Foram confeccionadas novas curvas
analíticas para a quantificação dos metais manganês, chumbo e cádmio e são
representadas, respectivamente, nas Figuras 16, 17 e 18.
A análise das curvas analíticas (Figuras 16 a 18) demonstra uma boa
linearidade de resposta entre radiação absorvida pelos átomos no estado gasoso
fundamental e a concentração destes no meio. Desta forma, as mesmas foram
empregadas na quantificação dos metais nas amostras avaliadas.

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68

1 0,6

0,5
0,8

Absorvância
A bsorv ância
0,4
0,6
0,3
0,4
y = 0,2843x + 0,005 0,2
0,2 y = 0,0022x - 0,0119
R 2 = 0,9996 0,1 R2 = 0,9866
0
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 0 25 50 75 100 125 150 175

Concentração Mn (mg/L) Concentração Pb (µ g/L)

Figura 16: Curva analítica para Figura 17: Curva analítica para
determinação de manganês determinação de chumbo na
na matéria-prima. matéria-prima.

0,25

0,2
Absorvância

0,15

0,1
y = 0,0219x - 0,0077
0,05 R2 = 0,9941

0
0 5 10 15
-0,05
Concentração Cd ( µ g/L)

Figura 18: Curva analítica para determinação de manganês na matéria-prima.

Os metais foram quantificados tanto nas folhas quanto nos talos das amostras
de erva-mate in natura coletadas nas propriedades dos fornecedores da indústria
ervateira. Todas as amostras foram analisadas em triplicata. Os teores encontrados
são expressos considerando-se o total (folha + talo) de metal para cada 1 kg do
produto e são descritos na Tabela 13.

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69
Tabela 13: Teores de Mn, Pb e Cd nas amostras de erva-mate in natura.

Propriedade Mn (mg kg-1) Pb (mg kg-1) Cd (mg kg-1)

1 895,45 ± 11,7% 3,59 ± 7,5% 0,61 ± 26,2%

2 1189,64 ± 10,8% 4,75 ± 37,0% 0,74 ± 22,9%

3 1396,31 ± 4,1% 3,40 ± 31,2% 0,79 ± 3,8%

4 370,81 ± 2,9% 13,72 ± 2,0% 0,68 ± 27,9%

5 969,72 ± 3,5% 4,40 ± 28% 0,73 ± 42,5%

6 1593,68 ± 5,0% 5,92 ± 66,0% 1,06 ± 13,2%

7 956,12 ± 1,3% 5,17 ± 11,0% 0,88 ± 5,7%

8 774,30 ± 2,8% 3,75 ± 9,1% 1,02 ± 24,5%

Os resultados apresentados (Tabela 13) são bastante similares aos


encontrados quando da dosagem destes metais em amostras de erva-mate para
chimarrão comercial, onde valores significativos de manganês foram encontrados.

Considerando que as amostras comerciais 4, 6 e 12, são provenientes das


marcas relativas à indústria ervateira visitada, as concentrações encontradas para
Mn são bastante superiores na erva-mate in natura, com exceção da amostra 4 que
teve resultados semelhantes às amostras comerciais. Jacques (2005) ao estudar
macronutrientes das folhas de erva-mate em função da idade da folha, incidência de
luz e adubação, constatou concentrações de Mn em torno de 1.168 a 3.542 mg kg-1
que aumentaram de acordo com o sombreamento, com a adubação e com a idade
das folhas (teor mais alto em folhas jovens). Foram encontrados teores semelhantes
(amostras 2, 3, 5, 6, 7) e até inferiores aos encontrados naquele trabalho (amostras
1, 4, 8).
Hermes e Torres (2003), ao determinarem teores de manganês em alimentos
como aipim, batata-doce, couve, feijão, melancia, pepino e tomate, cultivados
ecologicamente e em canteiros de fumo, encontraram teores de manganês de 0,8 a
59,7 mg kg-1 e constataram que todas as amostras pesquisadas apresentaram
resultados superiores aos encontrados na literatura pesquisada.

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70
Tendo em vista que o corpo humano contém de 10 a 20 mg de manganês
distribuído pelos tecidos, aliado a seu potencial neurotóxico, a preocupação com a
concentração nos alimentos é relevante (HERMES, TORRES, 2003); e diante das
quantidades encontradas na erva-mate, estudos referentes a biodisponilidade do
metal na infusão da planta são necessários.
Para chumbo os valores encontrados são bastante inferiores a 10 mg kg-1,
limite estabelecido pela OMS (2005), com exceção da amostra 4, no entanto, os
problemas com o desvio-padrão novamente se manifestaram nas amostras 2, 3, 5,
6, cujas replicatas em mg kg-1 são demonstradas na Tabela 14.

Tabela 14: Resultados obtidos (mg kg-1) na quantificação de Pb em erva-mate in


natura

Amostra Replicata 1 Replicata 2 Replicata 3

2 5,12 2,80 6,30

3 2,82 2,76 4,63

5 4,40 3,70 3,66

6 5,83 3,61 3,71

É possível que os problemas com o desvio-padrão derivem da opção adotada


inicialmente de não se lavar as folhas antes dos procedimentos de abertura da
amostra, a fim de simular o máximo possível as condições empregadas no
processamento da erva-mate observado, podendo, assim, haver a presença de
sujidades; no entanto, os desvios podem também ter ocorrido devido a
heterogeneidade da amostra, visto que na realidade as plantações de erva-mate
visitadas apresentavam diferentes subespécies em cultivo. Ainda, contaminações
nas replicatas podem ter ocorrido devido ao ambiente ou materiais utilizados.
As concentrações para cádmio mantiveram-se acima do limite de 0,3 mg kg-1,
estabelecido pela OMS (2005). O cádmio no solo pode existir em forma solúvel em
água de solo, ou em complexos insolúveis com componentes inorgânicos e
orgânicos do solo. Além disso, o cádmio está disponível para a ingestão em grãos,
especialmente o arroz, e vegetais, havendo ainda uma associação clara entre a
concentração de cádmio no solo e as plantas que crescem naquele solo (CABRERA

Dissertação de Mestrado - André Luís Frietto- 2008


71
et al, 1994). Assim, esta dinâmica pode estar associada às concentrações
encontradas.
A única propriedade que não indicou o uso de qualquer tipo de fertilizante e
pesticida (propriedade 6), não apresentou valores diferenciados e inferiores na
dosagem dos metais em relação às demais propriedades. Esta situação indica que a
presença de contaminantes metálicos, neste caso, pode não estar associada
unicamente ao emprego ou não de pesticidas e fertilizantes. Possivelmente a
contribuição maior está relacionada com a localização da propriedade e o tipo de
formação do solo. A contaminação de um erval pode ser oriunda de fontes como a
proximidade a indústrias, bem como o tipo de relevo e as condições climáticas.
Foi possível realizar a análise de duas amostras de erva-mate cancheada,
provenientes das propriedades 6 e 7, demostrando que o processo produtivo
também pode ter influência na quantidade dos contaminantes metálicos
pesquisados, como demonstram os teores de Mn, Pb e Cd apresentados na Tabela
15.

Tabela 15: Teores dos metais Mn, Pb e Cd em talos e folhas, de erva-mate


cancheada.

Propriedade Mn (mg kg-1) Pb (mg kg-1) Cd (mg kg-1)

6 1.153,53 ± 33,3% 3,95 ± 22,8% 1,89 ± 21,7%

7 1.072,92 ± 2,4% 5,35 ± 61,1% 1,32 ± 6,8%

Quando estes valores são comparados com os teores dos metais na erva-mate
in natura, nota-se um pequeno aumento nas concentrações de manganês e cádmio.
Estes aumentos são provenientes possivelmente de uma ou mais etapas do ciclo de
vida do produto, uma vez que o processo produtivo pode ter contribuído, através da
trituração ou com sujidades provenientes de cargas anteriores, podendo, também,
ter ocorrido alguma contribuição durante o transporte da matéria-prima.
Os resultados encontrados para cádmio revelam valores acima do limite
proposto pela OMS (2005), de 0,3 mg kg-1. Particularmente para cádmio observou-
se que as quantidades agregadas deste metal são bastante elevadas, indicando
uma probabilidade de contaminação durante o processamento da erva-mate.
Contudo, a literatura não apresenta pesquisas realizadas neste sentido.

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72
4.6 Resultados obtidos na análise das amostras de solo

Buscando uma melhor visualização dos possíveis pontos de contaminação, a


análise do solo das propriedades visitadas também é importante, uma vez que a
partir desta é possível verificar seu nível de contribuição para a erva-mate agregar à
sua composição os metais pesados estudados. Na análise de solo, para a
quantificação dos metais Mn, Pb e Cd foram confeccionadas curvas analíticas,
apresentadas nas Figuras 19 a 21, respectivamente.

1 0,4

0,8
0,3
A bsorvânc ia

Absorvância
0,6
0,2
0,4
y = 0,3128x - 0,005 0,1 y = 0,0022x - 0,0233
0,2
R2 = 0,9985 µ R2 = 0,9605
0 0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 0 25 50 75 100 125 150 175
Concentração Mn (mg/L) Concentração Pb (µ g/L)

Figura 19: Curva analítica para Figura 20: Curva analítica para
determinação de manganês determinação de chumbo em
em solos. solos.

0,25

0,2
Absorvância

0,15

0,1
y = 0,0219x - 0,0077
0,05 R2 = 0,9941
0
0 5 10 15
-0,05
Concentração Cd ( µg/L)

Figura 21: Curva analítica para determinação de cádmio em solos.

É preciso levar em consideração ainda o período climático da realização das


coletas, ensolarado após um período chuvoso, período este que pode ter
influenciado nas concentrações dos metais estudados no solo, principalmente nas
propriedades do município de Venâncio Aires que apresentavam menor cobertura

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73
vegetal estando, portanto o solo destas mais sujeito a erosão e conseqüente
transporte de minerais através da água de rolamento e lixiviação para outros sítios
ou até mesmo para compartimentos hídricos próximos (YARON, CALVET, PROST,
1996; LEINZ, AMARAL, 1980). Os valores obtidos na análise de Mn, Pb e Cd em
solos são apresentados na Tabela 16.

Tabela 16: Teores de Mn, Pb e Cd nas amostras de solos das propriedades


visitadas.

Propriedade Mn (mg kg-1) Pb (mg kg-1) Cd (mg kg-1)

1 867 ± 1,0% 75,89 ± 12,5% 1,37 ± 31,4%

2 286,38 ± 7,9% 76,84 ± 4,7% 1,15 ± 52,2%

3 193,58 ± 2,0% 53,64 ± 3,5% 0,76 ± 43,4%

4 877,48 ± 5,5% 90,88 ± 26,0% 0,8 ± 21,2%

5 679,46 ± 7,0% 78,53 ± 19,5% 0,92 ± 54,3%

6 313,8 ± 25,2% 131,79 ± 1,5% 0,67 ± 16,4%

7 396,76 ± 9,6% 87,21 ± 2,0% 0,39 ± 51,3%

8 392,86 ± 19,9% 102,92 ± 3,3% 0,37 ± 40,5%

Os valores obtidos quando comparados com parâmetros destacados por HE,


YANG, STOFFELLA (2005), para os teores dos metais chumbo 10 – 150 mg kg-1 e
cádmio 0,06 mg kg-1 obtidos para análise de amostras de solos mundiais, revelam
que todas as amostras analisadas apresentam valores inferiores para as
concentrações de chumbo e superiores para cádmio.
A partir dos resultados apresentados, pode-se afirmar que a erva-mate acumula
manganês e cádmio, visto que as concentrações no solo são bastante inferiores às
encontradas nas amostras de erva-mate in natura e cancheada. Este fato pode estar
associado à contaminação por cádmio, visto que Paiva e colaboradores (2004), ao
estudarem a absorção de nutrientes por mudas de Ipê Roxo em solução nutritiva
contaminada por cádmio, observaram aumento linear de concentrações de Mn em
raízes e caule, com o aumento da concentração de cádmio.

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74
No caso do chumbo ocorrem concentrações muito maiores no solo quando
comparadas as amostras de erva-mate analisadas, revelando que este
contaminante é absorvido em pequenas concentrações por estas plantas,
possivelmente devido à forma química em que se encontra no solo, estando menos
disponível às plantas.
Para avaliação deste conjunto de dados é importante considerar os fenômenos
climáticos relatados anteriormente. No entanto, quando comparados em conjunto, os
resultados obtidos apontam para a possibilidade de contaminação pelos metais
pesados manganês, chumbo e cádmio. Quanto à quantificação desta contaminação,
os dados obtidos apesar das variações ocorridas entre as análises de cada replicata,
foi possível estabelecer tendências de contaminação das plantas cultivadas e ao
longo do ciclo de vida do produto pelos metais pesados estudados.
Quanto às possíveis fontes de contaminação da planta por estes metais,
observa-se que de acordo com as tendências obtidas nas análises, confirmam-se as
suposições anteriores, nas quais a ocorrência destes metais nas plantas pode não
estar associada unicamente ao emprego ou não de pesticidas e fertilizantes. Ainda,
ao avaliar-se a tendência das amostras cancheada a possibilidade de aumento das
concentrações de manganês e cádmio pelo maquinário utilizado.

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75

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As pesquisas bibliográficas aliadas às visitas técnicas com levantamento de


inventário ambiental da empresa ervateira, com as visitas às propriedades rurais
fornecedoras de erva-mate in natura, bem como a quantificação dos metais pesados
arsênio (As), manganês (Mn), cádmio (Cd) e chumbo (Pb), por Espectrometria de
Absorção Atômica, permitiram constatar as dificuldades, necessidades
organizacionais e tecnológicas do setor, bem como possíveis oportunidades na
busca pelo desenvolvimento sustentável.
As visitas técnicas e o uso do programa SAAP com auxílio dos inventários
ambientais realizados na empresa ervateira permitiram a busca por possíveis pontos
de poluição e contaminação do produto. Pôde-se observar que no processamento
da erva-mate para chimarrão o produto é exposto ao ambiente, principalmente no
estágio de armazenamento, prática esta que além de estar facilitando a
contaminação do produto cancheado por vetores físicos, químicos e microbianos,
possivelmente permite agregar umidade. Os inventários de material e energético
revelaram o impacto ambiental gerado por cerca de uma tonelada de resíduos
orgânicos oriundos da seleção prévia da matéria-prima e do retorno do produto, sem
destino apropriado que poderiam ser compostados e comercializados como adubo
orgânico. Aliado a este fato, a indústria apresenta um gasto de energia elétrica
mensal bastante elevado quando comparado ao gasto mundial e nacional.
Para o gasto de madeira pelo processo estudado, os dados fornecidos pela
empresa são inferiores ao encontrado na revisão bibliográfica. Diante da realidade
observada, pode-se sugerir aos proprietários da empresa visitada realizar
levantamento de informações de forma mais eficiente para futuramente otimizar a
indutrialização da erva-mate, fundamentada em princípios de produção mais limpa.

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76
Quanto às visitas realizadas às propriedades agrícolas fornecedoras da
matéria-prima (erva-mate in natura) à indústria ervateira, pôde-se observar cultivares
antigos, de no mínimo 16 anos de dedicação ao cultivo dessa espécie de planta,
bem como uma desatualização com relação a métodos de cultivo por parte dos
agricultores. Não obstante, observou-se a falta de conhecimento sobre sua própria
propriedade e das potencialidades da erva-mate, fazendo com que esta seja tratada
como uma cultura secundária, principalmente no que diz respeito ao município de
Venâncio Aires, RS. No contexto acompanhado, a criação de associações de
benefício mútuo auxiliaria os produtores a direcionarem adequadamente suas
demandas tecnológicas e comerciais na busca pela sustentabilidade das
propriedades.
A quantificação dos metais pesados As, Pb, Cd e Mn na erva-mate comercial
demonstrou a não ocorrência do As nestas amostras. Por outro lado, níveis de Mn
elevados foram detectados, com teores entre 300 mg kg-1 e 1.000 mg kg-1 e valores
de chumbo e cádmio, superiores aos permitidos pela Organização Mundial da Saúde
para plantas medicinais, respectivamente, 10 mg kg-1 e 0,3 mg kg-1, foram
encontrados. Estes dados permitem classificar a erva-mate para chimarrão, em
relação aos metais Mn, Cd e Pb, como um produto potencialmente tóxico ao ser
humano, considerando-se, principalmente, o hábito diário do chimarrão.
Adicionalmente, as amostras comerciais, processadas a partir de erva-mate “nativa”
não apresentaram diferenciação com relação às demais marcas tradicionais que
utilizam a chamada erva argentina. Deste modo, não se pode afirmar a amplitude da
contribuição da variedade ou modo de cultivo no aumento do teor de contaminantes
metálicos.
A partir da avaliação do conjunto de dados fornecidos pelas análises da erva-
mate in natura, pré-industrializada (cancheada) e do solo das propriedades agrícolas
e considerando que as coletas das referidas amostras foram realizadas após um
período chuvoso, os resultados obtidos apontam tendências de contaminação de
cádmio no solo, que por sua vez, pode estar interferindo na absorção de metais
pelas plantas, revelando, desta forma, tendências de contaminação da erva-mate
pelos metais pesados manganês e cádmio.

Dissertação de Mestrado - André Luís Frietto- 2008


77
Contudo, a ocorrência dos metais nas plantas pode não estar associada
unicamente ao emprego ou não de pesticidas e fertilizantes, uma vez que a
avaliação de possíveis fontes de contaminação do produto acabado revela uma
tendência das amostras cancheadas ao aumento das concentrações de manganês e
cádmio durante estágios iniciais do ciclo de vida do produto.

Dissertação de Mestrado - André Luís Frietto- 2008


78

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ANEXOS

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ANEXO I

Informações sobre Propriedade Visitada No:

Condições Climáticas:
Proprietário: Data: Localização:

Temperatura:

Tamanho da Propriedade: Idade do Erval:


Tamanho do Erval:
Pés de erva p/ ha:
Espécie de Erva cultivada:
Culturas comuns:
Distância entre as mudas:
Fertilizantes:
Pesticidas:
Herbicidas:
Fungicidas:

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ANEXO II

Propriedade No. 1

Condições Climáticas: nublado após período chuvoso


Proprietário: 1 Data: 06/07/2007 Localização: 22 J 0381758
UTM 6728130
Temperatura: 27ºC
Tamanho da Propriedade: 7 ha Idade do Erval: ± 25 anos
Tamanho do Erval: não informado
Pés de erva p/ ha:
Espécie de Erva cultivada: argentina
Culturas comuns: Erva-Mate, Milho, Aipim c/ rotação
Distância entre as mudas: 2,5–3 m c/ aração, s/ irrigação, milho e aipim 0,3 x 0,4 m
Fertilizantes: sim
Pesticidas:
Herbicidas:_Rondup
Fungicidas:

Propriedade No. 2

Condições Climáticas: nublado após período chuvoso


Proprietário: 2 Data: 06/07/2007 Localização: 22 J 0381758
UTM 6729860
Temperatura:27ºC
Tamanho da Propriedade: 6 ha Idade do Erval: ± 26 anos
Tamanho do Erval: não informado
Pés de erva p/ ha: 800
Espécie de Erva cultivada:
Culturas comuns: Erva-Mate, Fumo feijão, milho, aipim c/ rotação
Distância entre as mudas: 2–3 m c/ aração, s/ irrigação, fumo 0,8 x 0,8 m
Fertilizantes: sim
Pesticidas:
Herbicidas: Gamit, Rondap
Fungicidas:
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89

Propriedade No. 3

Condições climáticas: ensolarado após período chuvoso.


Proprietário: 3 Data: 27/07/2007 Localização:22 J 0381611
UTM 6729569
Temperatura: 19 ºC
Tamanho da Propriedade: 11 ha Idade do Erval: ± 18 anos
Tamanho do Erval: não informado
Pés de erva p/ ha: não informado
Espécie de Erva cultivada: nativa e argentina
Culturas comuns: Erva-Mate, Milho, Aipim, Fumo, Banana, Feijão e Batata c/
rotação
Distância entre as mudas: 2,5–3 m c/ aração, milho e aipim 0,5 x 0,5 m
Fertilizantes: sim
Pesticidas:
Herbicidas: Gamit, Rondup
Fungicidas:

Propriedade No. 4

Condições climáticas: ensolarado após período chuvoso.


Proprietário: 4 Data: 27/07/2007 Localização: 22 J 0381345
UTM 6728905
Temperatura: 19ºC
Tamanho da Propriedade: 6 ha Idade do Erval: ± 16 anos
Tamanho do Erval: não informado
Pés de erva p/ ha: 500
Espécie de Erva cultivada:
Culturas comuns: Erva-Mate, Fumo, Milho e Feijão c/ rotação
Distância entre as mudas: 3 m c/ aração, s/ irrigação fumo 0,6 x 0,7 m
Fertilizantes: sim
Pesticidas:
Herbicidas: Rondup, Gamit
Fungicidas:

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90

Propriedade No. 5

Condições climáticas: ensolarado após período chuvoso.


Proprietário: 5 Data: 27/07/2007 Localização: 22 J 0381129
UTM 6730759
Temperatura: 19ºC
Tamanho da Propriedade: 7 ha Idade do Erval: ± 25 anos
Tamanho do Erval: não informado
Pés de erva p/ ha: não informado
Espécie de Erva cultivada: + argentina
Culturas comuns: Erva-Mate, Milho, Aipim, Cana c/ rotação
Distância entre as mudas: 2 – 3 m c/ aração, s/ irrigação
Fertilizantes: sim + orgânico
Pesticidas:
Herbicidas: Rondup
Fungicidas:

Propriedade No. 6

Condições climáticas: ensolarado após período chuvoso.


Proprietário: 6 Data: 24/07/2007 Localização: 22 J 0375719
UTM 6796248
Temperatura: 7ºC
Tamanho da Propriedade: n i Idade do Erval: + de 25 anos
Tamanho do Erval: não informado
Pés de erva p/ ha: não informado
Espécie de Erva cultivada: nativa plantada no meio da mata nativa
Culturas comuns: Erva-Mate, madeira lei
Distância entre as mudas: não informado.
Fertilizantes: não
Pesticidas: não
Herbicidas: não
Fungicidas:não

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Propriedade No. 7

Condições climáticas: ensolarado após período chuvoso.


Proprietário: 7 Data:24/07/2007 Localização: 22 J 0374896
UTM 6791068
Temperatura: 8ºC
Tamanho da Propriedade: não informadoi Idade do Erval: acima de 20 anos
Tam. do Erval: não informado
Pés de erva p/ ha: não informado
Espécie de Erva cultivada: nativa
Culturas comuns: Erva-Mate, em meio à mata nativa
Distância entre as mudas: não informado
Fertilizantes: não
Pesticidas: não
Herbicidas: não
Fungicidas:não

Propriedade No. 8

Proprietário: 8 Data:24/07/2007 Localização: 22 J 0372471


UTM 6792484
Temperatura: 12ºC

Tamanho da Propriedade: 100 ha Idade do Erval: + 25 anos


Tamanho do Erval: não informado
Pés de erva p/ ha: 500
Espécie de Erva cultivada: nativa
Culturas comuns: Erva-Mate, Milho
Distância entre as mudas: 2,5 – 3 m s/ aração, s/ irrigação milho 0,5 x 0,5 m
Fertilizantes: orgânico
Pesticidas: não
Herbicidas: Rondup
Fungicidas: não
Dissertação de Mestrado - André Luís Frietto- 2008
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