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JUSTIÇA FEDERAL

Tribunal Regional Federal da 1ª Região


Escola de Magistratura Federal da 1ª Região

Jornada de Direito Eleitoral das


Escolas de Magistratura Federal

Coleção Jornada de Estudos Esmaf, 20

julho/2013
Brasília/DF
© 2013. Escola de Magistratura Federal da 1ª Região – Esmaf
Setor de Clubes Esportivos Sul, trecho 2, lote 21
70200-970 Brasília/DF
(61) 3217-6600, 3217-6646, 3217-6647, 3217-6648
esmaf@trf1.jus.br

Jornada de Direito Eleitoral das Escolas de Magistratura (2012 :


São Paulo, SP)

Jornada de direito eleitoral das escolas de magistratura –


Brasília : Tribunal Regional Federal da 1ª Região, ESMAF, 2013.
244 p. – (Coleção Jornada de Estudos ESMAF; 20)

ISBN 978-85-85392-41-3

1. Direito eleitoral, Brasil. I. Brasil. Tribunal Regional Federal


(Região, 1.) (TRF1) II. Escola de Magistratura Federal (Região, 1.)
(Esmaf) III. Título. IV. série
CDD 341.28

Ficha catalográfica elaborada pela Divisão de Biblioteca e Acervo Documental do TRF 1ª Região.
O princípio democrático e as doações nas
campanhas eleitorais
Camila Franco e Silva Velano1

Questão de importância singular na seara eleitoral é a atinente à


identificação dos doadores nas campanhas eleitorais.
A questão é tratada no art. 28 da Lei 9.504/1997, que assim dispõe:
Art. 28. A prestação de contas será feita:
I – no caso dos candidatos às eleições majoritárias, na forma discipli-
nada pela Justiça Eleitoral;
II – no caso dos candidatos às eleições proporcionais, de acordo com
os modelos constantes do Anexo desta Lei.
§ 1º As prestações de contas dos candidatos às eleições majoritárias
serão feitas por intermédio do comitê financeiro, devendo ser acom-
panhadas dos extratos das contas bancárias referentes à movimen-
tação dos recursos financeiros usados na campanha e da relação dos
cheques recebidos, com a indicação dos respectivos números, valores
e emitentes.
§ 2º As prestações de contas dos candidatos às eleições proporcionais
serão feitas pelo comitê financeiro ou pelo próprio candidato.
§ 3º As contribuições, doações e as receitas de que trata esta Lei serão
convertidas em Ufir, pelo valor desta no mês em que ocorrerem.
§ 4º Os partidos políticos, as coligações e os candidatos são obrigados,
durante a campanha eleitoral, a divulgar, pela rede mundial de com-
putadores (internet), nos dias 6 de agosto e 6 de setembro, relatório
discriminando os recursos em dinheiro ou estimáveis em dinheiro
que tenham recebido para financiamento da campanha eleitoral, e os
gastos que realizarem, em sítio criado pela Justiça Eleitoral para esse
fim, exigindo-se a indicação dos nomes dos doadores e os respectivos
valores doados somente na prestação de contas final de que tratam
os incisos III e IV do art. 29 desta Lei.

Juíza federal substituta.


1
Escola de Magistratura Federal da 1ª Região

Com efeito, a exegese do § 4º do art. 28 da Lei 9.504/1997 informa


que os partidos políticos e candidatos só estão obrigados a revelarem os
nomes dos doadores das campanhas eleitorais por ocasião da prestação
de contas final da campanha. Quer isto dizer que, no dia das eleições,
o eleitor não tem acesso aos nomes dos doadores de campanha de seu
candidato.
A escolha do legislador, porém, é de duvidosa constitucionalidade.
Isto porque o direito ao voto pressupõe o fornecimento ao eleitor de todas
as informações necessárias para exercê-lo efetivamente. É o que se extrai
da hermenêutica jurídica de diversos princípios constitucionais.
O Título I da Constituição Federal de 1988, onde se normatizam as
diretrizes basilares da ordem política e institucional vigente, foi nomeado
com o termo “Dos Princípios Fundamentais’’.
Como se sabe, os princípios constitucionais são elementos decisivos
na configuração de uma constituição, uma vez que, por meio deles, preten-
de-se a construção de uma estrutura institucional do Estado, fundando as
balizas sobre as quais se assentarão as ordens econômica, política, social e
jurídica. Assim é que uma constituição se consubstancia em um conjunto de
regras preceptivas, programáticas e de princípios configuradores de valores
básicos, permitindo uma normatização principiológica no texto constitucio-
nal (NASCIMENTO, 1997, p. 79).
Neste cenário, a Constituição Federal de 1988 elegeu o princípio de-
mocrático como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito,
que nascia a partir de sua promulgação. Assim, definiu, de forma clara e
inequívoca, a República Federativa como regime de governo constituído em
um Estado Democrático de Direito.
O princípio democrático está disposto na Constituição Federal de
1988 em três situações distintas, quais sejam, no Preâmbulo, no art. 1º e
no art. 3º.
No Preâmbulo, assim se manifesta:
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Na-
cional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado
a assegurar o exercício [...]

Os arts. 1º e 3º dispõem sobre os fundamentos e os objetivos cons-


titucionais, respectivamente.

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Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indisso-


lúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio
de representantes eleitos, ou diretamente, nos termos desta Consti-
tuição.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa


do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

É claro que o princípio democrático não é uma novidade da contem-


poraneidade.
Norberto Bobbio (1998, p. 319), ao estudar a teoria contemporânea
de democracia no concernente às suas tradições históricas, ensinou que não
se pode deixar de mencionar três grandes linhas de pensamento político-
-democrático: a) a teoria clássica; b) a teoria medieval; e c) a teoria moderna2.
Segundo o autor, a teoria clássica fundamenta-se nas três formas de
governo propostas por Aristóteles, segundo o qual a Democracia é o governo
de todos os cidadãos, o governo do povo, de todos aqueles que gozam de
cidadania. As ideias do filósofo grego deram as bases conceituais para o que
hoje se entende por democracia.
Leciona o autor que a teoria medieval é de origem romana, susten-
tando-se na soberania popular, em cuja base há uma contraposição de uma

BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de Política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998, p.
2

319.

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concepção ascendente a uma concepção descendente de soberania, depen-


dendo da origem de onde o poder deriva: do povo ou do príncipe.
A teoria moderna, ainda segundo Bobbio, é conhecida como a teoria
de Maquiavel, nascida com o Estado moderno, na forma das grandes monar-
quias, segundo a qual as formas históricas de Governo seriam essencialmente
duas: a monarquia e a república.
A base do conceito de Estado Democrático e, consequentemente, a
base do conceito de Princípio Democrático é, conforme dispõe Dallari (1998),
a noção de governo do povo revelado pela própria etimologia do termo de-
mocracia – do grego demos, povo, e kratos, poder.
Segundo Bonavides (1999, p. 267):
Pareto, ao pedir a significação exata do termo “democracia”, acaba
por reconhecer que “é ainda mais indeterminada que o termo com-
pletamente indeterminado ‘religião’” enquanto Bryce, dando-lhe a
mais larga e indecisa amplitude, chega a defini-lo, de modo um tanto
vago, como a forma de governo na qual “o povo impõe sua vontade de
todas as questões importantes”. Foi isso o que Kelsen pôs de manifesto
numa de suas obras fundamentais, em cujo preâmbulo fez ponderada
advertência sobre os desacordos pertinentes a esse conceito. Para
Kelsen, a democracia é sobretudo um caminho: o da progressão para
a liberdade3.

Para o autor, o conceito de democracia se sujeita às vicissitudes po-


líticas de um povo:
Variam pois de maneira considerável as posições doutrinárias acerca
do que legitimamente se há de entender por democracia. Afigura-se-
-nos porém que substancial parte dessas dúvidas se dissipariam, se
atentássemos na profunda e genial definição lincolniana de democra-
cia: governo do povo, para o povo e pelo povo; “governo que jamais
perecerá sobre a face da Terra”.

Por sua vez, Bobbio (1986, p. 18) leciona que:


O único modo de se chegar a um acordo quando se fala de democracia,
entendida como contraposta a todas as formas de governo autocrático,
é o de considerá-la caracterizada por um conjunto de regras (primárias

BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 267.


3

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ou fundamentais) que estabelecem quem está autorizado a tomar as


decisões coletivas e com quais procedimentos.

Como se sabe, o conceito contemporâneo de democracia é dividido


em democracia direta e indireta. A democracia direta é a forma de organiza-
ção na qual todos os cidadãos podem participar diretamente no processo de
tomada de decisões. Já a indireta ou representativa é aquela em que o povo,
através de eleições periódicas, escolhe as pessoas que irão representá-lo,
para em seu nome tomar as decisões políticas de seu interesse; assim, o povo
é a fonte primária do poder que será exercido por representação.
As principais características da democracia indireta ou representa-
tiva são, entre outras: a soberania popular, como fonte de poder legítimo do
povo; a vontade geral; o sufrágio universal, com pluralidade partidária e de
candidatos; a distinção e a separação dos poderes; o regime presidencialista;
a limitação das prerrogativas do Estado; e a igualdade de todos perante a lei.
Nesta senda, o sufrágio é o meio pelo qual o povo, por meio de seus
representantes, manifesta a sua vontade, elegendo seus pares. Ora, a de-
mocracia só pode ser efetivamente exercida se o eleitor tiver acesso pleno
a todas as informações atinentes aos candidatos que concorrem às eleições.
De se ressaltar que o conhecimento acerca dos doadores de campa-
nhas eleitorais é bastante revelador da ideologia à qual pertence o candidato,
bem como dos grupos sociais e econômicos os quais provavelmente serão
priorizados em sua atuação, seja ela legislativa ou executiva.
Assim sendo, a democracia, em sua radicalidade, exige uma proces-
sualística presente não apenas na denominação ou na autoclassificação por
parte das próprias sociedades. Depende de preceitos normativos precisos
que possam promover faticamente as balizas sob as quais ela se sustenta.
Desta forma, só se poderá falar em efetividade do princípio democrático
com a abertura da totalidade dos dados das campanhas políticas aos eleitores.
Neste cenário, merecem aplausos as recentes portarias e decisões
prolatadas por juízes eleitorais, concernentes à determinação de divulgação
dos doadores de campanhas.
Com base na Lei de Acesso à Informação, juízes eleitorais de Mato
Grosso, do Maranhão e do Paraná baixaram portarias determinando que
candidatos a prefeito e a vereador apresentassem, no decorrer da campa-
nha eleitoral, a lista com o nome de todos os doadores e os respectivos

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valores que foram repassados. As decisões também se respaldam no art. 37


da CF/1988:
Argumenta o juiz Márlon Jacinto Reis, titular da 58ª Zona Eleitoral
do Maranhão, o primeiro do Brasil a publicar a portaria:
A Carta Magna, em seu artigo 37, apresenta o princípio da publicidade
ou transparência entre os que regem todas as atividades da adminis-
tração pública, em cujo contexto inapelavelmente se insere a Justiça
Eleitoral, quando promove a organização dos processos eleitorais.

São passos dados com vistas à implantação e efetivação do real sig-


nificado do princípio democrático, tal como hoje entendido.
A busca da construção de uma efetiva participação popular na vida
político-jurídica do país só pode se consolidar na medida em que a escolha,
por meio do sufrágio, seja livre e consciente.

Referências
BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de política. Brasília: Ed. Universidade de
Brasília, 1998.

_______. O futuro da democracia; uma defesa das regras do jogo. Rio de Janei-
ro: Paz e Terra, 1986.

BONAVIDES, Paulo. Ciência política. São Paulo: Malheiros, 1999.

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Saraiva, 1998.

NASCIMENTO, Tupinambá Miguel Castro do. Comentários à Constituição


Federal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997.

Referências consultadas
BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. Brasília: Ed. Universida-
de de Brasília, 1985.

_______. Estado, governo, sociedade; por uma teoria geral da política. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

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BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Ma-


lheiros, 1993.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua


portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo. Reflexiones sobre La ley y los prin-


cipios generales del derecho. Madrid: Cívitas, 1986.

MALUF, Sahid. Teoria geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 1991.

MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. Rio de Janeiro:


Forense, 1994.

NUNES, Pedro. Dicionário de tecnologia jurídica. Rio de Janeiro: F. Bastos,


1993.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo:
Malheiros, 1999.

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