Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
A agência de uma pessoa é a sua capacidade ou habilidade de agir de acordo com sua vontade.
Essa habilidade é afetada pela estrutura cognitiva de crenças que uma pessoa formou ao longo de
sua experiência de vida, e as percepções sustentadas pela sociedade e pelo indivíduo, das
estruturas e circunstâncias do ambiente onde alguém está e a posição onde este indivíduo nasce.
Discordâncias sobre a extensão da agência das pessoas frequentemente causa conflito entre as
partes, como, por exemplo, entre responsáveis e suas crianças.
Rizoma
Se vamos definir o que significa o conceito de rizoma para Deleuze e Guattari, é importante
evidenciar a diferença entre o substantivo e o conceito. Rizoma é uma raiz, mas não aquela raiz
padrão que aprendemos a desenhar na escola, trata-se de uma raiz que tem um crescimento
diferenciado, polimorfo, ela cresce horizontalmente, não tem uma direção clara e definida.
Deleuze e Guattari “roubam” esta definição da botânica para aplicá-la à filosofia. Do mesmo modo
que Descartes afirma que a filosofia seria uma árvore “a raiz a metafísica, o caule a física e a copa e
os frutos a ética”, Deleuze subverte esta ideia para transformá-la em um rizoma. Não devemos mais
acreditar em árvores, nem em seus prometidos frutos. Queremos um pouco de terra… já é tempo.
“Um agenciamento é precisamente este crescimento das dimensões numa multiplicidade que
muda necessariamente de natureza à medida que ela aumenta suas conexões. Não existem pontos
ou posições num rizoma como se encontra numa estrutura, numa árvore, numa raiz. Existem
somente linhas” (Deleuze & Gattari, Mil Platôs I).
As estruturas quebram o rizoma, o aprisionam. Veja o que acontece com todas as teorias: elas
cortam as multiplicidades, elas reduzem seu objeto. “Toda vez que uma multiplicidade se encontra
presa numa estrutura, seu crescimento é compensado por uma redução das leis de combinação”
(Deleuze & Gattari, Mil Platôs I). O rizoma não se deixa conduzir ao Uno (n), ele tem pavor da
unidade, por isso podemos defini-lo como n-1, contra um fechamento, contra regras pré-
estabelecidas, o pensamento rizomático se move e se abre, explode em todas as direções.
“Deixarão que vocês vivam e falem, com a condição de impedir qualquer saída. Quando um rizoma
é fechado, arborificado, acabou, do desejo nada mais passa; porque é sempre por rizoma que o
desejo se move e produz” (Deleuze & Guattari, Mil Platôs I).
Pesadelo do pensamento linear, o rizoma não se fecha sobre si, é aberto para experimentações, é
sempre ultrapassado por outras linhas de intensidade que o atravessam. Como um mapa que se
espalha em todas as direções, se abre e se fecha, pulsa, constrói e desconstrói. Cresce onde há
espaço, floresce onde encontra possibilidades, cria seu ambiente. Se trata de ciência? Isso importa?
São apenas agenciamentos, linhas movendo-se em várias direções, escapando pelos cantos, o desejo
segue direções, se esparrama, faz e desfaz alianças. Chame do que quiser então: “riacho sem início
nem fim, que rói suas duas margens e adquire velocidade no meio” (Deleuze & Guattari, Mil Platôs
I).
Não podemos mais apostar em compartimentos, o rizoma se espalha. Não há motivos para seguir
uma linha reta, um método cartesiano. As linhas tortas se ligam, se confundem, se espalham,
alastram. As conexões se multiplicam, logo, a intensidade também. Aí sim temos a chance de criar
novos sentidos, micro-conexões se difundindo, se diluindo, se confundindo, se disseminando. “A
questão é produzir inconsciente e, com ele, novos enunciados, outros desejos: o rizoma é esta
produção de inconsciente mesmo” (Deleuze & Guattari, Mil Platôs I).
Grupos de Afinidade Murray Bookchin
Durante períodos de atividade mais intensa, por outro lado, nada impede que os grupos trabalhem
juntos em qualquer nível que se fizer necessário. Eles podem unir-se através de grupos locais,
regionais ou nacionais para formular planos de ação comum; podem criar comitês temporários
(como os que congregavam estudantes e operários franceses em 1968) para coordenar
determinadas tarefas. Entretanto, os grupos de afinidade sempre têm suas raízes nos movimentos
populares e são sempre leais às formas sociais criadas pelos revolucionários, não a uma burocracia
impessoal. Como resultado de sua autonomia e regionalismo, os grupos são capazes de manter
uma avaliação crítica sensível sobre as novas perspectivas. Intensamente experimentais e
diversificados quanto ao estilo de vida, eles funcionam como uma fonte de estímulo mútuo,
influenciando também o movimento popular. Cada grupo procura adquirir os recursos necessários
para funcionar com quase total autonomia, desenvolvendo um perfeito sistema de conhecimentos
e experiências para vencer as limitações sociais e psicológicas impostas pela sociedade burguesa
ao desenvolvimento individual. Agindo como um núcleo de conscientização e experiência, cada
grupo tenta levar adiante uma forma de movimento revolucionário espontâneo do povo, fazendo-
o atingir um ponto em que o grupo possa finalmente desaparecer, integrando-se às formas sociais
orgânicas criadas pela revolução.
Autoridade e hierarquia:
Um dos aspectos mais importantes da revolta de maio-junho foi a luz que ela lançou sobre a
questão da autoridade e da hierarquia.
A este respeito, ela representou um desafio não só aos processos conscientes dos indivíduos mas
aos seus mais arraigados hábitos inconscientes e aos condicionamentos impostos pela sociedade.
Não creio que seja preciso discutir aqui que tais hábitos são instilados no indivíduo desde os
primeiros anos de vida — no ambiente familiar, na educação recebida no lar e na escola, na
organização do trabalho, do lazer e da vida cotidiana. Esta amoldagem da estrutura do caráter,
segundo normas criadas a partir de arquétipos de obediência e comando, constituem a própria
essência daquilo a que chamamos de socialização da juventude.
A mística da organização burocrática, de hierarquias e estruturas impostas e formais, impregna os
movimentos mais radicais em períodos não-revolucionários. A extraordinária suscetibilidade da
esquerda aos impulsos autoritários e hierárquicos revela que o movimento radical está
profundamente enraizado naquela mesma sociedade que aparentemente deseja destruir. Sob este
aspecto, quase todas as organizações revolucionárias são uma fonte potencial de contra-revolução
e este potencial só pode ser reduzido se a organização revolucionária for estruturada de tal modo
que seu modelo espelhe as formas diretas e descentralizadas de liberdade pregadas pela
revolução, e se a organização revolucionária promover a adoção de uma personalidade e um modo
de vida realmente livres. Só assim o movimento revolucionário será capaz de integrar-se na
revolução, sendo absorvido pelo novo modelo social democrático assim como a linha cirúrgica
acaba desaparecendo, absorvida pela fenda que cicatriza.
A ação revolucionária destrói todos os laços que mantêm autoridade e hierarquia unidas na ordem
social existente. A participação direta do povo na arena social é a própria essência da revolução,
forma mais avançada de ação social, assim como a ação direta em épocas "normais" é uma
preparação indispensável para a ação revolucionária. Em ambos os casos, o que ocorre é uma
substituição da ação social, a partir das camadas mais baixas, pela ação política dentro da estrutura
hierárquica já estabelecida. Em ambos os casos, há uma transformação molecular de "massas",
classes e níveis sociais, que passam a ser apenas indivíduos revolucionários. É necessário que esta
nova condição se torne permanente para que a revolução possa ser bem sucedida — do contrário
ela se transformará apenas numa contra-revolução mascarada de ideologia revolucionária. Cada
fórmula, cada organização, cada programa "testado e aprovado" deve dar lugar às exigências da
revolução. Não há nenhuma teoria, programa ou partido que possa valer mais do que a própria
revolução. Entre os mais sérios obstáculos ao sucesso da revolta de maio-junho estavam não
apenas De Gaulle e a polícia mas as rígidas organizações de esquerda — o Partido Comunista, que
sufocou qualquer espécie de iniciativa em muitas fábricas e os grupos trotskystas que conseguiram
criar um péssimo clima durante a assembléia geral na Sorbonne. Não me refiro aqui aos inúmeros
indivíduos que se identificavam romanticamente com Che, Mao, Lênin ou Trotsky (e muitas vezes
com todos eles a um só tempo), mas daqueles que perdiam totalmente a identidade, a iniciativa e
a vontade própria, entregando-se a organizações hierárquicas submetidas a uma rigorosa
disciplina. Por mais bem intencionadas que fossem essas pessoas, sua tarefa era "disciplinar" a
revolta, ou mais precisamente, retirar dela seus aspectos revolucionários, introduzindo hábitos de
obediência e autoridade que suas organizações haviam assimilado da ordem estabelecida. Estes
hábitos, estimulados pela participação em organizações muito bem estruturadas — organizações
modeladas, na verdade, naquela mesma sociedade que os revolucionários afirmam querer destruir
— levavam ao aparecimento de estratégias parlamentares, "panelinhas" secretas, e tentativas de
controlar as formas revolucionárias de liberdade criadas pela revolução. Isto tudo fez com que
surgisse, durante a assembléia da Sorbonne, um sonho venenoso de manipulação. Muitos dos
estudantes com que falei estavam absolutamente convencidos de que estes grupos estariam
dispostos a destruir a assembléia se não pudessem "controlá-la". Estes grupos não estavam
preocupados com a vitalidade das novas formas criadas pela revolução mas apenas com o
crescimento de suas próprias organizações. Tendo criado formas autênticas de liberdade nas quais
todos podiam expressar livremente os seus pontos de vista, a assembléia estaria plenamente
justificada se tivesse decidido banir do seu meio todos os grupos organizados de forma
burocrática.
Um dos grandes feitos do Movimento 22 de Março é o fato de que conseguiu integrar-se de tal
forma às assembléias revolucionárias que acabou por desaparecer quase totalmente como
organização independente, conservando apenas o nome. Nas suas próprias assembléias, os
integrantes do 22 de Março baseavam todas as suas decisões no consenso unânime, que permitia
a livre expressão de todas as tendências que o movimento abrigava, para testar na prática a sua
validade. Tal tolerância não prejudicou em nada a sua "eficácia"; este movimento anárquico fez
mais para catalizar a revolta do que qualquer outro grupo, segundo observações feitas por quase
todos os que observaram a sua atuação. O que distingue o Movimento 22 de Março e outros
grupos, tais como os anarquistas e os situacionistas, de todos os outros grupos é o fato de que eles
não trabalhavam para tomar o poder mas sim para destruí-lo.