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“A catequese das crianças, dos jovens e dos adultos visa a que a Palavra de Deus seja
meditada na oração pessoal, atualizada na oração litúrgica e interiorizada em todo o
tempo, para que dê fruto numa vida nova. A catequese é também o momento em que se
pode purificar e educar a piedade popular. A memorização das orações fundamentais
oferece um suporte indispensável à vida de oração, mas é importante que se faça saborear
o seu sentido”.
O olhar atento à experiência da vida, crua e difícil, pode suscitar no grupo a oração de petição,
de intercessão e de súplica. As experiências de bondade e de beleza das coisas criadas podem
gerar a ação de graças, a bênção, adoração e o louvor. Na verdade, para aquele que crê, tudo
lhe fala de Deus e o conduz a Deus. Para quem ama a Deus, tudo, na sua vida, é motivo para a
bênção e adoração, a petição, a intercessão, a ação de graças e o louvor.
A oração é diálogo e encontro entre Deus e o homem. Por isso, quando, na catequese,
proclamamos a Palavra de Deus, inicia-se um momento de especial intimidade. Deus fala ao
coração de cada um e comunica-se, ofertando não só a mensagem salvadora mas a sua própria
vida.
O coração da catequese é o encontro com a Palavra de Deus. Iniciado o diálogo por parte de
Deus, a porta está aberta para que lhe respondamos cheios de confiança e para que entremos
em comunhão com Ele. Há que favorecer este momento de intimidade e saber aproveitá-lo.
Uma Palavra bem proclamada, acolhida e meditada é fonte inesgotável de oração viva.
3. Ao expressar a fé
O guia do catequista apresenta habitualmente propostas e indicações para viver este momento
como um verdadeiro momento de oração. Podemos enriquecê-lo com alguns elementos e
materiais.
A catequese é um diálogo ininterrupto com Deus que se inicia orando a partir da vida
(Experiência Humana), se alimenta e desenvolve na Palavra e se expressa com todas as suas
formas e riqueza na oração, celebração e compromisso.
O clima de oração deve estar criado, desde o momento em que se inicia a catequese, até que
termina. Não obstante, dedicar um apartado exclusivamente à oração , um «oracional» parece-
nos importante para uma verdadeira iniciação à vida de oração, tão própria e tão necessária na
iniciação à vida cristã.
6. O catequista, mestre de oração
A oração é como "uma forma de respiração necessária para viver" (K. Barth); é a respiração da
alma. Ninguém duvida da necessidade de respirar. Quem não ora, como quem não respira,
asfixia e morre. A oração é fruto espontâneo do amor: quem reza é porque ama. E " aquele que
não ama está morto" (I Jo. 3, 15). Quem não reza é porque não vê. Porque rezar não é só pedir,
mas descobrir e saber estar na presença de Deus, olhar e deixar-se olhar, tratar de amar. Orar é
admirar, louvar, agradecer e também é pedir ou interceder.
É, por isso, muito importante abordar esta perspetiva da iniciação à oração em catequese, para
que esta não se reduza a um puro ensinamento doutrinal. Dizia João Paulo II:
“Como aqueles peregrinos de há dois mil anos (cf. Jo.12.21) os homens do nosso tempo,
talvez sem se darem conta, pedem aos crentes de hoje não só que lhes «falem» de Cristo,
mas também que de certa forma lh'O façam «ver». E não é porventura a missão da Igreja
refletir a luz de Cristo em cada época da história, e por conseguinte fazer resplandecer o
seu rosto também diante das gerações do novo milénio? Mas, o nosso testemunho seria
excessivamente pobre, se não fôssemos primeiro contemplativos do seu rosto”…
Os catequistas chamados por Deus e enviados pela Igreja para educar a outros irmãos na fé hão
de ser homens e mulheres com profunda experiência de Deus. Os meios mais eficazes que
encontram para o seu apostolado são a palavra, o exemplo e a oração. Mas, das três, a que tem
mais importância para o cultivo da sua vocação de catequista é a oração.
A eles ensina-os a rezar, antes de mais com o seu exemplo. Antes de falar de Deus, deve falar a
Deus e com Deus. Além do mais o catequista não deve deixar de rezar pelos seus
catequizandos, confiando-os a Deus e à palavra da sua graça.
O catequista sabe que fazer catequese é mais do que ensinar uma doutrina: é pôr os outros em
contacto e em comunhão com a pessoa de Jesus Cristo. Bem dizia Paulo VI:
Evangelii Nuntiandi 76
Poderíamos ter a impressão de que se trata de verdades grandiosas, que nos abrem novos
horizontes, mas são difíceis de reduzir à prática de cada dia. Não obstante, só o refletir um
pouco sobre o assunto já representa um primeiro passo. Convém, antes de tudo, esclarecer a
meta.
É importante evitar um certo "extrinsecismo": apresentar a oração como algo a ser feito ao lado
das outras ocupações, sem compreender a sua coexistência com a vida global do cristão e do
homem:
As metas devem ser mais modestas e ao mesmo tempo mais radicais. Elas podem ser indicadas
assim:
- A consciência do valor cristão da oração: é preciso dar-se conta intimamente de que a oração
silenciosa e contemplativa é inseparável da existência cristã autêntica;
1. Rezar cada dia, rezar em segredo. Rezar ao menos, pela manhã e pela noite
2. Fazer bem o sinal da Cruz (cf. texto de Guardini), pronunciando a fórmula trinitária;
3. Abrir a Bíblia, rezar os salmos, aprender algum deles de memória;
4. Pela manhã, oferecimento da vida;
5. Rezar durante o dia; marcar sítios e momentos próprios para rezar; pequenas pausas;
6. Rezar à mesa antes de comer: vida e comunhão;
7. Rezar à mesa, depois de comer
8. À noite fazer o exame de consciência;
9. De noite, permanecer sob o olhar de Deus;
10. À noite, rezar pelos outros: vivos e defuntos;
11. Não passar sem a Missa, ao domingo;
12. Ao Domingo, viver a alegria do repouso, da contemplação, da gratuidade
13. Ao Domingo, rezar com a Igreja
14. Preparar e prolongar a meditação dos textos da missa dominical
15. Viver a espiritualidade de cada tempo litúrgico: vigilância (advento), contemplação (natal),
ascese (quaresma), alegria (páscoa), perseverança (tempo comum).
16. Pedir a Maria, que rogue por nós
A nossa pobre oração pessoal, as nossas singelas leituras da Bíblia e os momentos de adoração
e silêncio, que conseguimos furtar à corrida dos compromissos quotidianos, são na verdade um
"tesouro escondido" que devemos descobrir no campo da nossa vida. Trata-se de começar por
aquilo que já nos é dado compreender, de viver e de pôr-se resolutamente a caminho nesta
estrada, com coragem e espírito de sacrifício, tendo bem claro na mente as metas, os
instrumentos e os ambientes da educação para a oração. Temos formas simples de rezar,
aproveitemo-las:
a) Recitar, repetir as orações conhecidas; são uma ajuda, uma espécie de «ponto de partida»…
1
Cf. JEAN-MARIE LUSTIGER, Primeiros pasos em la oración, Ed. Paulinas, Madrid 1988.
b) Fixar-se numa imagem, numa pagela, numa frase, escutar uma música…
c) Leitura rezada: um salmo, uma oração escrita, uma poesia… para ajudar a ter ponto de
conversa…
d) Meditação de um salmo, para sair de si ao encontro de Deus e dos outros…
e) Leitura meditada (Santa Teresa fê-la 14 anos seguidos: «não ousava começar a orar sem um
livro»); trata-se de uma oração mental, destinada a disciplinar a imaginação…
f) Oração de elevação: oração do coração: presença e silêncio, quando o “discurso” não conta
O próprio Catecismo da Igreja Católica se refere à importância dos guias para a oração (artigo
3), lembrando uma nuvem de testemunhas, as grandes espiritualidades que se desenvolveram
ao longo da história e apontando como servos da oração a família cristã, os ministros
ordenados, os religiosos e os catequistas (cf. CIC 2688).
«Em certos momentos, o acompanhamento espiritual pode ser necessário para verificar que
não estamos no caminho errado, para desconstruir as armadilhas da ilusão e da omnipotência»,
afirma a Ir. Véronique Fabre.
«Por exemplo, quando só ouvimos aquilo que temos desejo de ouvir, deixando de lado certas
passagens da Bíblia com o pretexto de que não as compreendemos. O acompanhamento pode
também ajudar a não avaliar a nossa oração apenas à luz da emoção».
2
MARTINE DE SAUTO, In La Croix, Trad.: rm © SNPC (trad.) | 19.11.10
- Considerar que iniciar na vida de oração é uma das tarefas fundamentais da Catequese, que
tem que realizar com competência e experiência;
- Dedicar tempo a contemplar o rosto de Cristo, na oração pessoal e litúrgica, já que a comunhão
com Jesus Cristo leva o catequista a assumir o caráter orante e contemplativo que teve o
Mestre, e poder assim ser guia para ensinar outros a rezar;
- Aprender a orar, com os mesmos sentimentos com que Jesus se dirigia ao Pai: adoração,
louvor, ação de graças, confiança filial, súplica, admiração. Tendo percorrido os diversos
caminhos de oração, pode iniciar outros nesses caminhos;
- Saber, pelo ensinamento recebido e pela própria experiência, que o Pai-Nosso é o modelo de
toda a oração cristã;
- Realizar a aprendizagem da vida quotidiana no âmbito da catequese, num clima de oração;
- Invocar a todo o momento a ajuda do Espírito Santo, para realizar o seu trabalho na catequese
e unir-se estreitamente, pela oração e pela imitação á Virgem Maria.