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Romanos 3.1 Que vantagem há então em ser judeu, ou que utilidade há na circun-
cisão?
Ρομαιους 3.1 Τί οὖν τὸ περισσὸν τοῦ Ἰουδαίου, ἢ τίς ἡ ὠφέλεια τῆς περιτομῆς;
vantagem
τὸ περισσὸν
O adjetivo περισσὸν vem da preposição περι, cujo significado é “acerca, so-
bre”, dando a ideia de “mais do que, além do esperado, que excede a expec-
tativa, mais abundante, mais do que suficiente”. Stern traduz τὸ περισσὸν
também como “prerrogativa” ou “superioridade”244, enquanto Macknight tradu-
ziu como “preeminência”, Beza e Pareus traduziram como “superioridade”, e
Doddridge e Stuart como “vantagem”245.
utilidade
ἡ ὠφέλεια
O substantivo ὠφέλεια vem do verbo ὠφελέω (ajudar, beneficiar, ser útil),
dando o significado de “utilidade, lucro, vantagem, benefício, ganho”. Na rea-
lidade, as duas perguntas são a mesma, porque ser judeu implica em ser mar-
cado pela circuncisão246. Diante de Deus, as vantagens humanas perdem a
sua importância, tornando-se relativas. Até mesmo os mais acentuados anta-
gonismos humanos, as polarizações mais justas, do mais profundo cunho
espiritual, aparecem como realmente são, quando submetidas ao juízo de
Deus247.
Romanos 3.2 Muita, em todos os sentidos! Principalmente porque aos judeus fo-
ram confiadas as palavras de Deus.
Ρομαιους 3.2 πολὺ κατὰ πάντα τρόπον. πρῶτον μὲν γὰρ ὅτι ἐπιστεύθησαν τὰ
λόγια τοῦ Θεοῦ.
244
STERN, David. Op. Cit., p. 373
245
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 107 – nota do editor
246
LEENHARDT, Franz J. Op. Cit., p. 110
247
BARTH, Karl. Op. Cit., p. 113
248
pas, πᾶς, πᾶσα, πᾶν <http://biblehub.com/greek/3956.htm> Acesso em 31/01/2018
Principalmente porque aos judeus foram confiadas
πρῶτον μὲν γὰρ ὅτι ἐπιστεύθησαν
O advérbio πρῶτον vem da raiz πρῶτος (primeiro, antes, principal, o mais im-
portante), dando o significado de “em primeiro lugar, antes”. A partícula disjun-
tiva μὲν é uma partícula intraduzível, mas que geralmente sendo uma cláusula
destinada a ser contrastada com a outra249. O verbo ἐπιστεύθησαν vem da
raiz πιστεύω (crer, ter fé), sendo aqui conjugado no tempo aoristo no modo
passivo, indicado que sofreram uma ação, no caso, “foi confiado a eles”. Não
há a expressão “aos judeus”, como na NVI. A melhor tradução seria: “Em pri-
meiro lugar porque foram confiadas a eles”. Privilégios implicam deveres; hon-
ras vão de braços dados com responsabilidades250.
as palavras de Deus
τὰ λόγια τοῦ Θεοῦ
O substantivo λόγια tem a sua raiz no substantivo λόγος (verbo, palavra).
Segundo Calvino, τὰ λόγια, de acordo com os autores gregos, significa “res-
posta divina”251. Em um sentido não salvífico, os judeus têm muitos privilégios;
dentre eles, serem os despenseiros das promessas de Deus no Antigo Testa-
mento252. Ter as palavras, os oráculos de Deus não deve ser motivo de orgulho
para os judeus, uma vez que a iniciativa foi toda de Deus253.
Romanos 3.3 Que importa se alguns deles foram infiéis? A sua infidelidade anula-
rá a fidelidade de Deus?
Ρομαιους 3.3 τί γάρ; εἰ ἠπίστησάν τινες, μὴ ἡ ἀπιστία αὐτῶν τὴν πίστιν τοῦ Θεοῦ
καταργήσει;
249
men, μέν <http://biblehub.com/greek/3303.htm> Acesso em 31/01/2018
250
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 146
251
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 108 – nota do editor
252
BRUCE, F. F. Op. Cit., 2008, p. 1831
253
STERN, David. Op. Cit., p. 374
254
BRUCE, F. F. Op. Cit., 2008, p. 1831
255
CALVINO, João. Op. Cit. 2001, p. 109
A sua infidelidade anulará a fidelidade de Deus?
μὴ ἡ ἀπιστία αὐτῶν τὴν πίστιν τοῦ Θεοῦ καταργήσει;
O verbo καταργήσει tem a sua raiz em καταργέω (trazer nada, cortar, abolir)
que é composto pela preposição κατά (para baixo de, segundo) + o verbo
ἀργέω (demorar, estar ocioso), dando a ideia de “tornar inativo, invalidar”256.
Calvino traduziu καταργήσει como “tornará inútil” ou “tornará ineficaz”257. A
fidelidade de Deus pode até ser esquecida, traída, ignorada, porém não pode
ser suprimida258.
falta de fidelidade e falta de fé
Há uma relação muito estreita entre “falta de fé” (ἀπιστία) e “falta de fidelidade” (ἠπίστησάν).
Aquele em quem falta fidelidade também falta fé. Alguns tradutores do Novo Testamento enten-
dem que, nessa passagem, o substantivo ἀπιστία significa tanto falta de fé quanto falta de fideli-
dade; enquanto outros traduzem ambos como “falta de fé”259. A tradução “foram infiéis” e “infideli-
dade” é correta, já que no contexto, o foco está na fidelidade de Deus (τὴν πίστιν τοῦ Θεοῦ) é
contrastada com a infidelidade (ἀπιστός) humana.
Romanos 3.4 De maneira nenhuma! Seja Deus verdadeiro, e todo homem menti-
roso. Como está escrito: "De modo que são justas as tuas palavras e
prevaleces quando julgas"260.
Ρομαιους 3.4 μὴ γένοιτο· γινέσθω δὲ ὁ Θεὸς ἀληθής, πᾶς δὲ ἄνθρωπος ψεύστης,
καθάπερ γέγραπται Ὅπως ἂν δικαιωθῇς ἐν τοῖς λόγοις σου καὶ
νικήσεις ἐν τῷ κρίνεσθαί σε.
De maneira nenhuma!
μὴ γένοιτο·
A partícula negativa μὴ (não) é usada às vezes, como advérbio de negação
subjetiva261. O verbo γένοιτο vem da raiz γίνομαι (nascer, se tornar, aconte-
cer), sendo conjugado no aoristo optativo médio262. A expressão μὴ γένοιτο·
ocorre com freqüência nos escritos de Paulo263, sendo que a sua tradução
pode enfraquecer a expressão usada na LXX, para traduzir a expressão he-
braica ֙ ( חָ ִ֨לילָ הChalilah!), que significa "que profanação!", "maldito seja!", "fora
daqui!", manifestando o desejo mais intenso de negação no hebraico264.
256
RIENECKER, Fritz & ROGERS, Cleon. Chave linguística do Novo Testamento grego. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 260
257
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 109
258
BARTH, Karl. Op. Cit., p. 118
259
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 146-147
260
Citação do Salmo 51.4 conforme a LXX
261
mé, μή <http://biblehub.com/greek/3361.htm> Acesso em 02/02/2018
262
Na conjugação verbal na língua grega, o verbo pode ser conjugado na voz ativa (produzindo a ação), média (participando
dos resultados da ação) ou passiva (recebendo a ação), pelo modo real ou possível, que são duas irregularidades na voz,
sendo que o modo possível pode ser ainda, subjuntivo (objetivamente possível), optativo (subjetivamente possível) ou
imperativo (volitivamente possível).
263
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 148
264
STERN, David. Op. Cit., p. 375
Romanos 3.5 Mas, se a nossa injustiça ressalta de maneira ainda mais clara a jus-
tiça de Deus, que diremos? Que Deus é injusto por aplicar a sua ira?
(Estou usando um argumento humano)
Ρομαιους 3.5 εἰ δὲ ἡ ἀδικία ἡμῶν Θεοῦ δικαιοσύνην συνίστησιν, τί ἐροῦμεν; μὴ
ἄδικος ὁ Θεὸς ὁ ἐπιφέρων τὴν ὀργήν; κατὰ ἄνθρωπον λέγω.
Romanos 3.6 Claro que não! Se fosse assim, como Deus iria julgar o mundo?
Ρομαιους 3.6 μὴ γένοιτο· ἐπεὶ πῶς κρινεῖ ὁ Θεὸς τὸν κόσμον;
Se fosse assim,
ἐπεὶ
A conjunção ἐπεὶ é composta pela preposição ἐπί (sobre, contra) + a partícula
condicional εἰ (se), tendo como significado: "Suponha que o que precede é
verdadeiro e o que se segue é aplicável"267. Ao contrário daquilo que a objeção
à retidão de Deus insinua, é justamente em Deus, mediante o Seu julgamento,
que toda rebeldia, toda tirania e toda prepotência encontram a sua antítese268.
A injustiça humana não realça a justiça divina; é a bondade divina que subjuga
de tal forma a impiedade humana, concedendo uma diretriz nova e distinta269.
265
BARTH, Karl. Op. Cit., p. 121
266
BRUCE, Op. Cit., F. F. 2008, p. 1831
267
epei, ἐπεί, <http://biblehub.com/greek/1893.htm> Acesso em 04/02/2018
268
BARTH, Karl. Op. Cit., p. 122
269
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 115
Romanos 3.7 Alguém pode alegar ainda: "Se a minha mentira ressalta a veracida-
de de Deus, aumentando assim a sua glória, por que sou condenado
como pecador?"
Ρομαιους 3.7 εἰ δὲ ἡ ἀλήθεια τοῦ Θεοῦ ἐν τῷ ἐμῷ ψεύσματι ἐπερίσσευσεν εἰς τὴν
δόξαν αὐτοῦ, τί ἔτι κἀγὼ ὡς ἁμαρτωλὸς κρίνομαι;
Romanos 3.8 Por que não dizer como alguns caluniosamente afirmam que dize-
mos: "Façamos o mal, para que nos venha o bem"? A condenação
dos tais é merecida.
Ρομαιους 3.8 καὶ μὴ καθὼς βλασφημούμεθα καὶ καθώς φασίν τινες ἡμᾶς λέγειν
ὅτι Ποιήσωμεν τὰ κακὰ ἵνα ἔλθῃ τὰ ἀγαθά; ὧν τὸ κρίμα ἔνδικόν
ἐστιν.
270
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 115
271
BARTH, Karl. Op. Cit., p. 122
272
Conforme a prática da lógica estoica.
273
LEENHARDT, Franz J. Op. Cit., p. 96
274
Soneto a nosso Senhor. Gregório de Matos recebeu o apelido de Boca do Inferno, graças a sua irreverente obra satírica.
como alguns caluniosamente afirmam que dizemos
βλασφημούμεθα καὶ καθώς φασίν τινες ἡμᾶς λέγειν
O verbo βλασφημούμεθα vem da raiz βλασφημέω (verbo, palavra), que é
composta pelo adjetivo βλαξ (lento) + o substantivo φήμη (fama), significando
“uma linguagem abusiva, calúnia, ou um julgamento ofensivo”275. O coração
religioso (ímpio) enxerga no evangelho (o Deus que justifica o ímpio), a desin-
tegração de toda moralidade séria, exatamente porque na mente religiosa, mo-
ralidade está ligada ao merecimento. Paulo rejeita essa interpretação do evan-
gelho como mera calúnia276.
275
“βλασφημία”. Léxico do Novo Testamento Grego/Português. São Paulo: Vida Nova. 1993, p. 43
276
FRANZMANN, Martin H. Op. Cit., p. 26
277
RIENECKER, Fritz & ROGERS, Cleon. Op. Cit., p. 260
278
CALVINO, João. Op. Cit. 2001, p. 116 – Nota do Editor
Romanos 3.9 Que concluiremos então? Estamos em posição de vantagem? Não!
Já demonstramos que tanto judeus quanto gentios estão debaixo do
pecado.
Ρομαιους 3.9 Τί οὖν; προεχόμεθα; οὐ πάντως· προῃτιασάμεθα γὰρ Ἰουδαίους τε
καὶ Ἕλληνας πάντας ὑφ’ ἁμαρτίαν εἶναι,
Romanos 3.10 Como está escrito: "Não há nenhum justo, nem um sequer;
Ρομαιους 3.10 καθὼς γέγραπται ὅτι Οὐκ ἔστιν δίκαιος οὐδὲ εἷς,
279
A voz média descreve o sujeito como participando nos resultados da ação, acentuando o agente (enquanto a voz ativa
acentua a ação), relacionando a ação mais intimamente com o sujeito.
280
RIENECKER, Fritz & ROGERS, Cleon. Op. Cit., p. 261
281
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 159
282
FRANZMANN, Martin H. Op. Cit., p. 26
283
BARTH, Karl. Op. Cit., p. 126
Não há nenhum justo, nem um sequer
ὅτι Οὐκ ἔστιν δίκαιος οὐδὲ εἷς
Esta é uma citação do Salmo 14.1, no hebraico: “Ninguém há que faça o bem”
(ה־ט ב
ֽ ָ ֗ ;)ע ֲִלe do Salmo 13.1 na Septuaginta: “Não há ninguém pra-
ֵילה ֵא֣ין עֹֽ שׂ
ticando a bondade (οὐκ ἔστιν ποιῶν χρηστότητα), não há sequer um (οὐκ
ἔστιν ἕως ἑνός)”. Paulo está citando o significado do texto e não as palavras
textualmente284. Existem, ao menos, umas poucas pessoas, em toda história
da humanidade, que se pareçam, ou tenham se parecido com Deus? Não!
Antes mostra e ensina que: não há nenhum justo; nem um sequer285.
Romanos 3.11 não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus.
Ρομαιους 3.11 οὐκ ἔστιν ὁ συνίων, οὐκ ἔστιν ὁ ἐκζητῶν τὸν Θεόν·
Esta é uma citação do Salmo 14.2, no hebraico: “Para ver se há alguém que
entenda e busque a Deus” ( ;) ִל ְ֭רא ת הֲיֵ ֣שׁ מַ ְשׂ ִכּ֑יל ֹ֝דּ ֵרשׁ אֶ ת־ ֱא ִ ֽהיםe do Salmo
13.2 na Septuaginta: “Não há um que faça o que é bom; não há nem um. (οὐκ
ἔστιν ποιῶν χρηστότητα, οὐκ ἔστιν ἕως ἑνός). O primeiro efeito consiste
em que não há ninguém que entenda; e esta ignorância é prontamente ates-
tada por sua impotência em buscar a Deus. O homem, em quem não há o co-
nhecimento de Deus, falta este principal fundamento, o conhecimento de
Deus286.
Esta é uma citação literal do Salmo 13.3 na Septuaginta, sendo o seu signi-
ficado, uma versão correta do hebraico. “Todos têm se desviado do caminho
(πάντες ἐξέκλιναν), no hebraico é “todos eles têm se desviado”, ou revoltado,
ou apostatado (֮ )הַ ֥ ֹכּל סָ ר. Então, “tornaram-se sem proveito” ou inúteis () ֫ ֶנא ֱָל֥חוּ
“se tornaram pútridos” ou corrompidos, como o fruto ou alimento apodrecido,
portanto sem utilidade, não próprio para aquilo a que foi designado – servir a
Deus e promover o seu próprio bem e o de outros287. Paulo utiliza em cinco
momentos as expressões: “Não há ninguém... ninguém... ninguém... nin-
guém... nem sequer um”, para enfatizar que todos se desviaram, como um eco
do versículo 9: “...tanto judeus quanto gentios estão debaixo do pecado”288.
284
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 120 – Nota do Editor
285
BARTH, Karl. Op. Cit., p. 126
286
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 120
287
Idem – Nota do Editor
288
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 162
Romanos 3.13 "Suas gargantas são um túmulo aberto; com suas línguas enganam".
"Veneno de serpentes está em seus lábios".
Ρομαιους 3.13 τάφος ἀνεῳγμένος ὁ λάρυγξ αὐτῶν, ταῖς γλώσσαις αὐτῶν
ἐδολιοῦσαν, ἰὸς ἀσπίδων ὑπὸ τὰ χείλη αὐτῶν·
Na primeira frase, Paulo faz uma citação do Salmo 5.10 da Septuaginta: “suas
gargantas são um túmulo aberto, com suas línguas eles enganam” (τάφος
ἀνεῳγμένος ὁ λάρυγξ αὐτῶν, ταῖς γλώσσαις αὐτῶν ἐδολιοῦσαν), que
traduz o Salmo 5.9 no hebraico () ֶ ֽקבֶ ר־פָּ ת֥ וּחַ גְּ ר נָ ֑ם ְ֝לשׁ ֗ ָנם יַחֲ ִ ֽליקוּן. A segunda
frase vem do Salmo 139.4 da Septuaginta: “Veneno de serpentes em seus lá-
bios (ἰὸς ἀσπίδων ὑπὸ τὰ χείλη αὐτῶν), traduzindo o Salmo 140.3 no he-
braico ( ) ֲח ַמ֥ת עַ ְכשׁ֑ וּב ַ ֖תּחַ ת ְשׂפָ ֵת֣ימ. Hendriksen afirma que Paulo provavel-
mente estava pensando em um monstro gigantesco, cruel, pronto a devorar as
suas vítimas, por meio da lisonja: “a língua lisonjeira” do Salmo 5.9, aquela que
pratica o engano289. Calvino interpreta “suas gargantas são um túmulo aberto”
(τάφος ἀνεῳγμένος ὁ λάρυγξ αὐτῶν), como um abismo devorador de ho-
mens290.
289
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 163
290
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 121
291
Idem, - Nota do Editor
292
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 163
293
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 121 – Nota do Editor
Romanos 3.16 ruína e desgraça marcam os seus caminhos,
Ρομαιους 3.16 σύντριμμα καὶ ταλαιπωρία ἐν ταῖς ὁδοῖς αὐτῶν,
294
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 121 – Nota do Editor
295
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 121
296
LEENHARDT, Franz J. Op. Cit., p. 97-98
297
BRUCE, F. F. Op. Cit., 2008, p. 1832
298
FRANZMANN, Martin H. Op. Cit., p. 26-27
Romanos 3.19 Sabemos que tudo o que a lei diz, o diz àqueles que estão debaixo
dela, para que toda boca se cale e todo o mundo esteja sob o juízo
de Deus.
Ρομαιους 3.19 Οἴδαμεν δὲ ὅτι ὅσα ὁ νόμος λέγει τοῖς ἐν τῷ νόμῳ λαλεῖ, ἵνα πᾶν
στόμα φραγῇ καὶ ὑπόδικος γένηται πᾶς ὁ κόσμος τῷ Θεῷ·
299
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 124
300
FRANZMANN, Martin H. Op. Cit., p. 27
301
STERN, David H. Op. Cit., p. 377
302
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 165
303
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 124
304
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 166
Romanos 3.20 Portanto, ninguém será declarado justo diante dele baseando-se na
obediência à lei, pois é mediante a lei que nos tornamos plenamente
conscientes do pecado.
Ρομαιους 3.20 διότι ἐξ ἔργων νόμου οὐ δικαιωθήσεται πᾶσα σὰρξ ἐνώπιον αὐτοῦ·
διὰ γὰρ νόμου ἐπίγνωσις ἁμαρτίας.
305
LEENHARDT, Franz J. Op. Cit., p. 98
306
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 166
307
ἐνώπιον, enópios <http://biblehub.com/greek/1799.htm> Acesso em 14/02/2018
308
A preposição ἐκ é governada pelo genitivo, sendo que, quando antecede uma vogal, é escrita ἐξ (como neste caso)
309
BRUCE, F. F. Op. Cit., 2008, p. 1832 – citando Phillips
Romanos 3.21 Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, indepen-
dente da lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas,
Ρομαιους 3.21 Νυνὶ δὲ χωρὶς νόμου δικαιοσύνη Θεοῦ πεφανέρωται, μαρτυρου-
μένη ὑπὸ τοῦ νόμου καὶ τῶν προφητῶν,
independente da lei
χωρὶς νόμου
A preposição χωρὶς às vezes é usada como advérbio e vem da raiz χώρα
(região, terra, campo), tendo o significado de “separado”, no sentido de tor-
nar algo inválido. A δικαιοσύνη Θεοῦ (justiça de Deus) entrou em vigor “à
parte da lei”, o que só pode significar que ela não era, e nem pode ser, obtida
pela obediência humana à lei de Deus, por isso era e é uma justiça “à parte
das obras da lei”313.
Romanos 3.22 justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que
creem. Não há distinção,
Ρομαιους 3.22 δικαιοσύνη δὲ Θεοῦ διὰ πίστεως Ἰησοῦ Χριστοῦ, εἰς πάντας τοὺς
πιστεύοντας· οὐ γάρ ἐστιν διαστολή·
310
LEENHARDT, Franz J. Op. Cit., p. 99
311
O tempo perfeito indica uma ação completa (olha a ação e vê seus resultados como continuando a existir)
312
FRANZMANN, Martin H. Op. Cit., p. 28
313
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 169
314
BARTH, Karl. Op. Cit., p. 140
315
Idem, p. 144
para todos os que creem
εἰς πάντας τοὺς πιστεύοντας
A fé é o contrário da autoconfiança, é um ato que é a negação de toda a
atividade, um ato de compromisso de vida no qual a pessoa se entrega a
Jesus Cristo316. Quando, pois, somos justificados, a causa eficiente é a mi-
sericórdia divina; Cristo é a substância de nossa justificação; e a Palavra,
juntamente com a fé, são os instrumentos317.
Não há distinção
οὐ γάρ ἐστιν διαστολή
O substantivo διαστολή vem da raiz διαστολή (dar uma tarefa, ordenar),
tendo como significado “distinção, diferença, separação”.
mediante a fé em Jesus Cristo ou mediante a fidelidade de Jesus Cristo
As palavras que se seguem, διὰ πίστεως Ἰησοῦ Χριστοῦ, “por ou através da fé de Jesus Cristo”,
significam não a fé que é sua, mas a fé da qual Cristo é o objeto, por isso a tradução “através da
fé em Jesus Cristo”318. Porém, a tradução parece apontar em outro sentido: “através da fidelidade
de Jesus Cristo”. O grego διὰ πίστεως Ἰησοῦ Χριστοῦ é quase sempre traduzido "por meio da
fé em Jesus Cristo". Isso implica que Deus considera um indivíduo justo porque ele crê em Jesus.
Porém, há fortes argumentos a favor desta expressão grega não como um genitivo objetivo, mas
como um genitivo subjetivo, com πίστις no sentido de “fidelidade”, em vez de "fé, crença".
Na gramática grega, πίστεως ("fidelidade de" ou "fé de") é o caso genitivo (equivalente em portu-
guês ao adjunto adnominal restritivo) de πίστις ("fidelidade" ou "fé"); falando em termos gerais, o
caso genitivo acrescenta o "de", indicando posse. Com um substantivo de ação, temos o genitivo
subjetivo quando o substantivo no genitivo produz a ação, relacionando-se, portanto, como sujeito
com a ideia verbal do substantivo modificado. Quando o substantivo no genitivo recebe a ação,
relacionando-se, portanto, como objeto com a ideia verbal contida no substantivo modificado, há
o genitivo objetivo. No versículo em questão, se πίστεως for subjetivo, Jesus faz a πίστις (fideli-
dade de Jesus); se πίστεως for objetivo, Jesus recebe a πίστις (fé em Jesus) e uma outra pessoa
a faz319. O genitivo do objeto é um hebraísmo, e ocorre com frequência320.
Dessa forma, Jesus Cristo é o objeto desta fé321, visto que Paulo usa διὰ πίστεως (através da
fidelidade) ao invés de διὰ τὴν πίστις (por causa da fé) e que exprimiria a ideia de que a fé seria
causa instrumental322. Como Bultmann bem apontou, a atitude do ser humano, na qual recebe a
dádiva da δικαιοσύνη Θεοῦ [justiça de Deus] e na qual se realiza nele o ato salvífico divino é a
πίστις [fé]323. Schnelle enfatiza que para Paulo, Jesus Cristo é tanto o desencadeador como o
conteúdo da fé, de tal modo que o centro da fé não é o crente, mas o acreditado, sendo a fé, em
última instância, sempre um ato de Deus. Por isso, a fé não pode ser o meio pelo qual o ser huma-
no cria a condição para a atuação salvífica de Deus, aparecendo como uma atuação criativa de
Deus no ser humano324.
316
BRUCE, F. F. Op. Cit., 2008, p. 1832
317
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 132
318
Idem – Nota do Editor
319
STERN, David H. Op. Cit., p. 381-382
320
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 132 – Nota do Editor
321
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 169
322
LEENHARDT, Franz J. Op. Cit., p. 100
323
BULTMANN, Rudolf. Op. Cit., p. 383
324
SCHNELLE, Udo. Op. Cit., p. 679
Romanos 3.23 pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus,
Ρομαιους 3.23 πάντες γὰρ ἥμαρτον καὶ ὑστεροῦνται τῆς δόξης τοῦ Θεοῦ,
Romanos 3.24 sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da reden-
ção que há em Cristo Jesus.
Ρομαιους 3.24 δικαιούμενοι δωρεὰν τῇ αὐτοῦ χάριτι διὰ τῆς ἀπολυτρώσεως τῆς
ἐν Χριστῷ Ἰησοῦ·
325
hamartanó, ἁμαρτάνω <http://biblehub.com/greek/264.htm> Acesso em 21/02/2018
326
hustereó, ὑστερέω <http://biblehub.com/greek/5302.htm> Acesso em 21/02/2018
327
LEENHARDT, Franz J. Op. Cit., p. 101 e 113
328
FRANZMANN, Martin H. Op. Cit., p. 28
329
SCHNELLE, Udo. Op. Cit., p. 644
por meio da redenção que há em Cristo Jesus
διὰ τῆς ἀπολυτρώσεως τῆς ἐν Χριστῷ Ἰησοῦ
O substantivo ἀπολυτρώσεως vem da raiz ἀπολύτρωσις (redenção, li-
bertação) que é composta pela preposição ἀπό (de, para longe) + o verbo
λυτρόω (resgatar, libertar, entregar), dando a ideia de “redenção”. A ideia
do "resgate, libertação e redenção" (ἀπολυτρώσεως) expressa de maneira
concisa, o ato libertador de Jesus Cristo: Ele tomou sobre si aquilo que man-
tinha as pessoas no cativeiro, pagando "por nós" o preço da libertação do
poder do pecado e da morte330. Com respeito ao preço, tornar-se justo di-
ante de Deus não custa nada ao homem, mas muito para Deus331. Esta
expressão deve ter evocado nos seus leitores, a libertação romana de um
escravo, através do pagamento de seu peculium (pecúlio) aos deuses liber-
tadores, estabelecendo um contraste era berrante: os deuses nada faziam
para a libertação, era o escravo quem, pouco a pouco, acumulava a quantia
necessária; mas Deus em Cristo fizera tudo, Ele próprio providenciara o de
que se fazia necessário para a libertação332.
justificação
A palavra grega δικαιοσύνη é como o termo hebraico ( ְצ ָד ָ ֽקהtsedaqah) de sentido múltiplo, não
significando uma qualidade ética, ou qualquer qualidade da pessoa, mas uma relação, ou seja, a
pessoa não possui δικαιοσύνη para si, mas sim perante o foro perante o qual ela é atribuída,
declarada justa. O ser humano tem "justiça" ou é "justo” quando é reconhecido como tal, e isso
significa, caso seu reconhecimento seja questionável: quando ele é "justificado", é declarado
justo"333. Justificação é uma questão de imputação (computar, atribuir): a culpa do pecador é im-
putada a Cristo; a justiça deste é imputada ao pecador334, ou seja, a justificação é a justiça de
Deus sendo executada διὰ πίστεως Ἰησοῦ Χριστοῦ, nas palavras de Bavinck: “Portanto, é me-
lhor definir a justificação como a imputação da obediência de Cristo como um todo, assim como,
nos escritos de Paulo, a palavra δικαιοσύν (justificar) alterna com λογίζεσθαι εἰς δικαιοσύνη
(logizesthai eis dikaiosunên, considerar justo)”335. A justificação pode ser sintetizada nestes quatro
conceitos: aceitação por parte de Deus, imputação da justiça de Cristo, perdão dos pecados e
reconciliação com Deus336. Calvino entendia que o processo da justificação era relativo ao fato de
partir de Deus, abraçar ao pecador por sua mera e graciosa bondade, não considerando nele nada
por quê seja movido à misericórdia, “exceto a sua miséria, a quem, na verdade, vê inteiramente
desnudo e vazio de boas obras, buscando ele em si mesmo a causa pela qual lhe deva ser bené-
volo; então, ele se deixa tocar pelo senso de sua bondade para com o próprio pecador, para que,
não confiando nas próprias obras, lance à sua misericórdia toda a soma de sua salvação”337.
330
SCHNELLE, Udo. Op. Cit., p. 559
331
BRUCE, F. F. Op. Cit., 2008, p. 1833
332
LEENHARDT, Franz J. Op. Cit., p. 102
333
BULTMANN, Rudolf. Op. Cit., p. 335-336
334
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 173
335
BAVINCK, Herman. Op. Cit., vol. 4, p. 227
336
CALVINO, João. As institutas – Tratado da Religião Cristã. vol. 4. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 200
337
Idem, p. 215
Romanos 3.25 Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé,
pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, ha-
via deixado impunes os pecados anteriormente cometidos;
Ρομαιους 3.25 ὃν προέθετο ὁ Θεὸς ἱλαστήριον διὰ πίστεως ἐν τῷ αὐτοῦ αἵματι, εἰς
ἔνδειξιν τῆς δικαιοσύνης αὐτοῦ διὰ τὴν πάρεσιν τῶν προγεγονότων
ἁμαρτημάτων
338
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 136
339
hilastérion, ἱλαστήριον <http://biblehub.com/greek/2435.htm> Acesso em 23/02/2018
340
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 176
341
Sacrifício que remove a ira
342
BRUCE, F. F. Op. Cit., 2008, p. 1833
343
STERN, David H. Op. Cit., p. 383
344
BARTH, Karl. Op. Cit., p. 157
345
STERN, David H. Op. Cit., p. 384
346
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 136
347
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 176-178
348
LEENHARDT, Franz J. Op. Cit., p. 104
349
BRUCE, F. F. Op. Cit., 2008, p. 1833
Em sua tolerância
διὰ τὴν πάρεσιν
O substantivo πάρεσιν vem da raiz πάρεσις (suspensão, remissão de pu-
nição). Leenhardt entende haver duas possíveis interpretações: πάρεσις
significaria perdão, remissão da falta, deste modo, através da morte do
Cristo, Deus manifestaria a Sua “justiça” de forma dupla: I) com relação aos
pecados anteriormente cometidos, a cruz manifestaria a sentença por tanto
tempo sustada pela paciência de Deus e; II) em referência aos pecados atu-
ais, torna possível a justificação porque provê uma expiação suficiente350.
Romanos 3.26 mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e jus-
tificador daquele que tem fé em Jesus.
Ρομαιους 3.26 ἐν τῇ ἀνοχῇ τοῦ Θεοῦ, πρὸς τὴν ἔνδειξιν τῆς δικαιοσύνης αὐτοῦ ἐν
τῷ νῦν καιρῷ, εἰς τὸ εἶναι αὐτὸν δίκαιον καὶ δικαιοῦντα τὸν ἐκ
πίστεως Ἰησοῦ.
...
ἐν τῇ ἀνοχῇ τοῦ Θεοῦ
Nas versões em português, essa frase é suprimida, embora a sua tradução
seja: “na paciência de Deus”, visto que o substantivo ἀνοχῇ tem o significado
de “paciência, suspensão de uma punição”. Parece que Paulo quis muito enfa-
tizar a misericórdia divina diante da pecaminosidade humana, ao usar no v. 25
πάρεσις (suspensão, remissão de punição) e no v. 26 ἀνοχῇ (paciência, sus-
pensão de uma punição), como sinônimos.
350
LEENHARDT, Franz J. Op. Cit., p. 106
351
FRANZMANN, Martin H. Op. Cit., p. 30-31
Romanos 3.27 Onde está, então, o motivo de vanglória? É excluído. Baseado em
que princípio? No da obediência à lei? Não, mas no princípio da fé.
Ρομαιους 3.27 Ποῦ οὖν ἡ καύχησις; ἐξεκλείσθη. διὰ ποίου νόμου; τῶν ἔργων; οὐχί,
ἀλλὰ διὰ νόμου πίστεως.
o motivo de vanglória
ἡ καύχησις
O substantivo καύχησις tem o sentido de “orgulho, glória, exultação”, expri-
mindo as disposições interiores do ser humano que faz o cálculo daquilo que
lhe dá o direito de reivindicar da justiça de Deus, que lhe reconheça e recom-
pense as boas obras, a fidelidade à Lei (Torah – )תּ ָרה352. Neste versículo, não
há a palavra “motivo”, sendo a melhor tradução: “Onde está o orgulho?”
no princípio da fé
διὰ νόμου πίστεως
O substantivo νόμος geralmente é associado e traduzido como Lei (Torah –
)תּ ָרה, mas no grego, o seu significado tem a ver também com “base, norma,
padrão, princípio”353. Partindo disso, Hendriksen defende que, neste versículo,
se trata de “princípio ou base”354, entretanto, sem apresentar uma argumenta-
ção mais sólida. Desde o início, Paulo está tratando νόμος como sinônimo de
Torah ()תּ ָרה. A melhor tradução seria: “na Lei da fé”, como bem apontou Cal-
vino, ao afirmar que, quando Paulo se utilizou de νόμος ele enfatizava que a
justiça procedente das obras é de fato recomendada na Lei, mas aquela que
procede da fé tem sua própria Lei, não deixando espaço algum para a justiça
procedente das obras355. Barth apresenta uma terceira via para o entendimen-
to de διὰ νόμου πίστεως: “pela Lei da fidelidade de Deus”, onde a Sua fide-
lidade é glorificada pela justificação dos homens356.
Romanos 3.28 Pois sustentamos que o homem é justificado pela fé, independente
da obediência à lei.
Ρομαιους 3.28 λογιζόμεθα γὰρ δικαιοῦσθαι πίστει ἄνθρωπον χωρὶς ἔργων νόμου.
Pois sustentamos
λογιζόμεθα
O verbo λογιζόμεθα vem da raiz λογίζομαι (decidir), dando o significado de
afirmar, confirmar uma ideia. No caso, Paulo está concluindo que a religiosi-
dade humana é uma farsa impossível de salvar efetivamente a alguém. Lutero
traduziu assim o início deste versículo: “Portanto afirmamos”357.
352
LEENHARDT, Franz J. Op. Cit., p. 107
353
nomos, νόμος, <http://biblehub.com/greek/3551.htm> Acesso em 24/02/2018
354
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 179
355
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 141
356
BARTH, Karl. Op. Cit., p. 164-168
357
HENDRIKSEN, William. Op. Cit., p. 180
o homem é justificado358 pela fé, independente da obediência à Lei
δικαιοῦσθαι πίστει ἄνθρωπον ἄνθρωπον χωρὶς ἔργων νόμου
A justificação precede as obras, como a semente que é lançada na terra e
precede a colheita, ou como a árvore que precede o fruto; χωρὶς ἔργων
νόμου (sem as obras da lei), expressa com bastante propriedade como o
ponto central359. Para Calvino, νόμου (Lei) é equivalente a “obras meritórias”,
pois se refere à recompensa prometida pelo esforço próprio360.
Romanos 3.29 Deus é Deus apenas dos judeus? Ele não é também o Deus dos gen-
tios? Sim, dos gentios também,
Ρομαιους 3.29 ἢ Ἰουδαίων ὁ Θεὸς μόνον; οὐχὶ καὶ ἐθνῶν; ναὶ καὶ ἐθνῶν,
Quando Paulo afirma ναὶ καὶ ἐθνῶν é como se ele estivesse afirmando que,
se Deus fizesse acepção de pessoas, Ele seria alcançável por preço relativa-
mente baixo e também seria dispensável, descartável, com relativa facilida-
de361. Depois de nivelar toda a raça humana à mesma condição, qualquer dis-
tinção porventura existente entre eles deveria vir de Deus e não deles próprios;
mas, como Deus deseja fazer a todos os povos da terra coparticipantes de sua
misericórdia, então a salvação e a justiça que se faz necessária à salvação, se
estendem a todos, sem distinção362.
Romanos 3.30 visto que existe um só Deus, que pela fé justificará os circuncisos e
os incircuncisos.
Ρομαιους 3.30 εἴπερ εἷς ὁ Θεός, ὃς δικαιώσει περιτομὴν ἐκ πίστεως καὶ ἀκροβυσ-
τίαν διὰ τῆς πίστεως.
358
Sobre justiça, ver Romanos 1.17 e sobre justificação, Romanos 3.24
359
LEENHARDT, Franz J. Op. Cit., p. 109
360
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 142
361
BARTH, Karl. Op. Cit., p. 171
362
CALVINO, João. Op. Cit., 2001, p. 143
363
RIENECKER, Fritz & ROGERS, Cleon. Op. Cit., p. 262
364
heis, εἷς <http://biblehub.com/greek/1520.htm> Acesso em 28/02/2018
365
LEENHARDT, Franz J. Op. Cit., p. 110
366
STERN, David H. Op. Cit., p. 387
pela fé justificará
No texto grego, a construção é: ὃς δικαιώσει περιτομὴν ἐκ πίστεως καὶ ἀκροβυστίαν διὰ
τῆς πίστεως, que em uma tradução literal seria: “que justificará pela fé os circuncisos e os incir-
cuncisos através da fé”. Não há consenso se Paulo, ao se utilizar de ἐκ πίστεως (pela fé) e διὰ
τῆς πίστεως (através da fé), tinha em mente enfatizar alguma diferenciação. Leenhardt entende
que, embora haja uma variação de estilo, não há margem para se buscar uma diferenciação entre
essas expressões367. Hendriksen concorda com esta visão, indicando que embora ἐκ πίστεως
(pela fé) indique “fonte, ou origem” e διὰ τῆς πίστεως (através da fé) indique “instrumento de in-
termediação”, a distinção deve ser considerada apenas um artifício retórico, sem maior signifi-
cado368. Entretanto, nenhum dos dois, exatamente por não se aterem à necessidade de esmiuçar
esta diferenciação, não apresentam razões mais contundentes. Stern, por sua vez, traduz este
versículo: "Por isso, consideraremos justos os circuncisos com base na confiança (ἐκ πίστεως) e
os incircuncisos com base na mesma confiança (διὰ τῆς πίστεως)”369. Calvino enxergava um es-
tilo irônico de Paulo, ao afirmar que alguns são justificados pela fé (ἐκ πίστεως), e outros, através
da fé (διὰ τῆς πίστεως), com o fim de enfatizar a mesma verdade, demonstrando a insensatez
dos judeus que imaginavam haver certa distinção onde há tão grande similaridade370. Barth enten-
de πίστις como fidelidade de Deus, ao afirmar: “Tão certo quanto Ele é um só Deus, e que justifi-
cará os circuncisos pela fidelidade e os incircuncisos mediante a fidelidade”, pois onde estiver a
fé, aí estará a fidelidade de Deus371.
Romanos 3.31 Anulamos então a lei pela fé? De maneira nenhuma! Pelo contrário,
confirmamos a lei.
Ρομαιους 3.31 νόμον οὖν καταργοῦμεν διὰ τῆς πίστεως; μὴ γένοιτο, ἀλλὰ νόμον
ἱστάνομεν.
BARTH, Karl. Carta aos Romanos. 5ª Edição. São Paulo: Fonte Editorial, 2009
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada – Espírito Santo, Igreja e Nova Criação. Vol. 4. SP:
Cultura Cristã, 2012
BRUCE, F. F. (Org.) Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Editora
Vida, 2008
BULTMANN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Editora Teológica, 2004
CALVINO, João. As institutas – Tratado da Religião Cristã. vol. 4. São Paulo: Cultura Cristã, 2003
_____. Romanos. 2ª Edição. São Paulo: Edições Parakletos, 2001
FRANZMANN, Martin H. Carta aos Romanos. Porto Alegre: Casa Publicadora Concórdia, 1972
GINGRICH, F. Wilbur & DANKER, Frederick W. Léxico do Novo Testamento Grego/Português.
São Paulo: Vida Nova. 1993
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento - Romanos. 1ª Edição. São Paulo:
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LEENHARDT, Franz J. Epístola aos Romanos – comentário exegético. São Paulo: ASTE, 1969
RIENECKER, Fritz & ROGERS, Cleon. Chave linguística do Novo Testamento grego. São Paulo:
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SCHNELLE, Udo. Paulo: vida e pensamento. Santo André (SP): Academia Cristã; São Paulo:
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STERN, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento. Belo Horizonte: Atos. 2008