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Venezuela no rumo de ser o país mais pobre da América do Sul

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

A Venezuela era o país mais rico da América do Sul até o final do século XX e a Bolívia sempre
foi o país mais pobre do continente. Mas, surpreendentemente, a renda per capita venezuelana
pode ficar abaixo da renda per capita boliviana em 2023.

O gráfico acima, com dados do FMI, atualizados em abril de 2018, mostra que a renda per capita
da Venezuela (em poder de paridade de compra – ppp, US$ constante) está sendo reduzida em
mais da metade entre 2014 e 2023, num verdadeiro terremoto econômico.

Em 1980, a Venezuela tinha uma renda per capita de US$ 18,2 mil, o Brasil de US$ 11,1 mil, o
Chile US$ 8 mil e a Bolívia de US$ 4,9 mil. Portanto, o venezuelano médio ganhava quase 5 vezes
mais do que o boliviano médio, 80% mais que o brasileiro e mais de duas vezes o chileno.

Mas na atual década a renda da Bolívia tem crescido, enquanto a renda da Venezuela entrou
em colapso. Para 2023, as estimativas do FMI, apontam uma renda de US$ 25,3 mil no Chile (o
país mais rico do continente atualmente), de US$ 15,6 mil no Brasil, de US$ 7,8 na Bolívia e de
US$ 7,7 mil na Venezuela.

Nota-se, desta forma, que o Chile ultrapassou o Brasil na década de 1990 e aumentou a
diferença ao longo dos anos, deixando para trás, inclusive, o Uruguai e a Argentina que são
respectivamente, o segundo e o terceiro país com renda mais elevada do continente. A renda
per capita do Chile, que era a metade, já é cerca de 3 vezes a renda per capita da Venezuela.
Com o fim da ditadura de Augusto Pinochet, o Chile consolidou o regime democrático e
encontrou a rota para o crescimento e o bem-estar.
Já o desastre venezuelano não tem paralelo na história latino-americana. Nunca a renda de um
país caiu tanto em tão pouco tempo. Em parte, o início da queda começou com a abruta redução
do preço do barril de petróleo que estava em torno de US$ 100 em 2013 e caiu para US$ 40 em
2016. Junto com a queda do preço internacional do petróleo houve uma redução no volume de
óleo produzido pela PDVSA (Petróleos de Venezuela) e uma desestruturação de todo o setor
produtivo do país.

A Venezuela vive a chamada “maldição do petróleo”. O país ficou altamente dependente da


produção de commodities e não conseguir diversificar sua economia. Nem o setor agrícola
avançou e o abastecimento alimentar depende da importação de comida. A insegurança
alimentar cresce de forma exponencial e a pobreza e a fome se tornaram um fantasma presente
que assusta a maior parte da população. Nem a subida do preço do barril do petróleo, para cerca
de US$ 68, tem ajudado a aliviar as contas.

Segundo matéria do Jornal da USP, “O número de refugiados venezuelanos tem aumentado a


cada dia. Enfrentando a maior crise política e econômica de sua história, apenas em 2017 a
Venezuela viu 52 mil de seus mais de 30 milhões de habitantes pedir refúgio em outras nações.
Destes, 12.960 fugiram da grave situação de miséria e perseguição política buscando abrigo no
Brasil e estima-se que quase 30 mil estão em situação irregular no nosso país, segundo dados
publicados na semana passada pela Acnur, Agência da ONU para Refugiados” (Crevilari, 2017).

Também Eliane Rocha, no site do Projeto Colabora (19/02/2018) descreve o dia a dia de cerca
de 40 mil pessoas que, fugindo da fome na Venezuela, estavam em Boa Vista, com falta de
abrigos e tendo que morar nas ruas.

A crise econômica e a crise política fez a Venezuela perder espaço até na Cúpula das Américas
que se reuniu em 13 de abril de 2018 no Peru. A impopularidade do governo Maduro e o
isolamento político do país dificultam a saída da crise. A metade dos países pertencentes à
UNASUL - Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Paraguai - decidiu suspender sua
participação do bloco criado em 2008 pelo presidente venezuelano Hugo Chávez para contrapor
o domínio dos Estados Unidos na América Latina.

As eleições presidenciais marcadas para o mês que vem (maio de 2018) são uma incógnita e não
devem trazer alívio para a situação econômica e o sofrimento do povo venezuelano. Podem até
agravar as divisões internas e aprofundar o isolamento internacional. O sonho de Simon Bolívar
de independência, prosperidade e de união de toda a América Latina está cada vez mais
distante.

Referências:
ALVES, JED. O colapso da Venezuela e a maldição do petróleo, Ecodebate,18/07/2016
https://www.ecodebate.com.br/2016/07/18/o-colapso-da-venezuela-e-a-maldicao-do-
petroleo-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. ‘Qualquer lugar é melhor que a Venezuela’, Ecodebate,17/07/2017
https://www.ecodebate.com.br/2017/07/17/qualquer-lugar-e-melhor-que-venezuela-artigo-
de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ROCHA, Eliane. Venezuelanos chegam ao Brasil fugindo da fome, Projeto Colabora, 19/02/2018
https://projetocolabora.com.br/inclusao-social/venezuelanos-chegam-ao-brasil-fugindo-da-
fome/

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