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SÃO PAULO - Em 2016, 829 pessoas morreram por dia em hospitais do Brasil

em eventos que poderiam ter sido evitados, segundo o Anuário da Segurança


Assistencial Hospitalar no Brasil, divulgado nesta quarta-feira. Entre as
causas dessas mortes estão erros médicos, infecção hospitalar, falhas na
aplicação de medicamentos, uso incorreto de equipamentos, entre outras
causas consideráveis evitáveis. O estudo foi feito pela Faculdade de Medicina
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com o Instituto
de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).

Especialistas em saúde pública ouvidos pelo GLOBO dizem que a divulgação


dos dados é importante como um alerta de que se deve investir na prevenção
desses problemas. No entanto, segundo eles, o número de mortes por causas
evitáveis não deve ser interpretado como uma demonstração de que os
hospitais são locais perigosos.

Ao todo, em 2016, 302.610 brasileiros morreram em hospitais públicos ou


privados como consequência de um “evento adverso" que poderia ter sido
evitado. O número de mortes supera a soma diária de vítimas fatais de
acidentes de trânsito, homicídios e latrocínios (roubo seguido de morte) e
câncer. O número de falecimentos diários de pacientes diagnosticados com
câncer varia entre 480 e 520, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). A
principal causa de morte no Brasil são as doenças cardíacas, de acordo com a
Sociedade Brasileira de Cardiologia: são 950 brasileiros por dia.

Pesquisadora titular aposentada da Fiocruz, Claudia Travassos, diz que há


esforços para reduzir o índice de erros em hospitais. Segundo ela, desde 2013
existe um programa nacional de segurança do paciente, do Ministério da
Saúde. Para Claudia, os cuidados com a saúde têm se tornado mais
complexos com o advento de novos equipamentos tecnológicos.

— A discussão do erro nos serviços de saúde é importante porque eles


ocorrem com incidência alta e medidas devem ser tomadas, ainda que já haja
avanços e já existam muitos estudos na área. Hoje inclusive hospitais que são
referências na área, como Hospital das Clínicas de Porto Alegre, INTO, no Rio,
e o Sírio Libanês e Einstein, em São Paulo — disse Claudia.

A pesquisadora lembrou que é difícil conseguir estatísticas sobre esse tipo de


mortes, então é comum que estudos usem números aproximados.

— Hoje, todo hospital tem que ter um núcleo de segurança do paciente e tomar
medidas como, por exemplo, para melhorar a segurança de cirurgias e também
preventivas contra quedas dos pacientes, cuidados com medicação,
higienização, entre outros aspectos — afirmou a pesquisadora.

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Já o médico Alfredo Guarischi, membro da Câmara Técnica de Segurança do Paciente


do Cremerj, alerta para o risco de que os dados divulgados pelo estudo provoquem
alarmismo. Ele também ponderou que a pesquisa tem limitações e que foi baseada na
leitura dos prontuários hospitalares de um número limitado de hospitais (menos de 3%
das unidades brasileiras) e que representam apenas pacientes atendidos pelo sistema de
saúde complementar, sem incluir os do SUS.

— O dado mundial é de que 9% dos pacientes podem ter um evento adverso (quando
algo que não estava programado para o caso acontece). Mas uma situação dessas é
como a de voo que pode atrasar no aeroporto, por exemplo. Ou seja, a possibilidade de
um evento adverso virar um desastre completo é pequena — diz o médico.

Ele afirma ainda que o Brasil tem tomado medidas para melhorar o cuidado com
pacientes e que o conselho federal de medicina tem uma câmara técnica de segurança
para cuidar do assunto.

— É preciso esclarecer que o Brasil não é o fim do mundo. No Rio, temos hospitais
excelentes que passam por dificuldades enormes, que tem leitos fechados. São
problemas estruturais. Mas ao mesmo tempo o Brasil é o segundo país do mundo em
transplante de órgãos. E isso é em boa parte patrocinado pelo SUS.

Segundo o Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar, as vítimas mais frequentes de


falhas cometidas por médicos e enfermeiros são pacientes com menos de 28 dias de vida
ou mais de 60 anos. As infecções hospitalares respondem por 9,7% das ocorrências. As
condições mais frequentes são: lesão por pressão; infecção urinária associada ao uso de
sonda vesical; infecção de sítio cirúrgico; fraturas ou lesões decorrentes de quedas ou
traumatismos dentro do hospital; trombose venosa profunda ou embolia pulmonar; e,
infecções relacionadas ao uso de cateter venoso central.

O médico e professor da UFMG, Renato Couto, um dos responsáveis pelo anuário, diz
que não existe sistema de saúde infalível, mas alerta que o Brasil faz parte de "um
contexto global de falhas" da assistência à saúde em diversos processos hospitalares.

— A diferença é que, no caso brasileiro, apesar dos esforços, há pouca transparência


sobre essas informações e, sem termos clareza sobre o tamanho do problema, fica muito
difícil começar a enfrentá-lo — afirma Couto.

PROBLEMA MUNDIAL

Além das vidas perdidas, as falhas ainda podem deixar pacientes com sequelas variadas,
que geram custo extra aos hospitais. De acordo com o anuário, dos 19,1 milhões de
brasileiros internados em hospitais ao longo de 2016, 1,4 milhão foram “vítimas” de
pelo menos um evento adverso, o que consumiu R$ 10,9 bilhões apenas dos convênios
médicos. Os dados relacionados ao Sistema Único de Saúde (SUS) não foram apurados
por causa das variadas fontes de receita "com enorme variação em todo o Brasil".

Em todo o mundo, ocorrem anualmente 421 milhões de internações hospitalares e 42,7


milhões de falhas, um problema de saúde pública reconhecido pela Organização
Mundial da Saúde (OMS). Nos Estados Unidos, país com população de quase 325
milhões de pessoas, isso significa 400 mil óbitos por ano, ou 1.096 por dia. É terceira
causa de morte mais comum naquele país, perdendo apenas para doenças do coração e
câncer.

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— O dado mais alarmante na comparação com os Estados Unidos é que o total de
falecimentos por dia causados por eventos adversos está próximo do brasileiro. São
1.096 lá e 829 aqui. Mas a população norte americana é 55,6% maior do que a nossa.
Eles são 323,1 milhões, enquanto nós somos 207,7 milhões — alerta Luiz Augusto
Carneiro, superintendente executivo do IESS.

Carneiro ressalta que a escolha de um hospital, normalmente, é feita somente com "uma
percepção de qualidade, a recomendação de um médico ou opinião de conhecidos".

— Mas ninguém tem condições de garantir que aquele prestador realmente é


qualificado, simplesmente porque não temos indicadores de qualidade claros e
amplamente conhecidos, como acontece em outros países. Não há como saber quantas
infecções hospitalares foram registradas no último ano, qual é a média de óbitos por
diagnóstico, a média de reinternações e por aí afora — concluiu.

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