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Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda

Universidade: Unicamp
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Disciplina: Antropologia no Brasil


Ano: 1o semestre 2006
Professor: Luiz Henrique Passador
Resenha do livro: Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda

O momento era pós Revolução de 30, de descrença no liberalismo tradicional, quando os


ideais integralistas e socialistas estavam fortemente presentes, e em conseqüente constante
divergência.
Levado por tais tensões contemporâneas, Sérgio Buarque de Holanda procura, em Raízes do
Brasil, não apenas compreendê-las, mas também compreender e explicar o Brasil e o
brasileiro, ou seja, o modo de ser ou a estrutura social e política.
Inovador no tom ensaístico e no conteúdo, Raízes do Brasil tem respaldo teórico na História
Social dos franceses e na Sociologia da Cultura dos alemães, além de conter elementos das
teorias sociológica e etnológica ainda inéditas no Brasil, e perspectiva psicológica. Num
tempo de saudosismo patriarcalista, Sérgio Buarque sugere em Raízes do Brasil que, do ponto
de vista metodológico, o conhecimento do passado deve estar ligado aos problemas do
presente.
Dentre os intelectuais alemães mais falados na época, Sérgio Buarque encontra identificação
na obra de Max Weber, cujo exemplo mais claro de sua influência em Raízes é a metodologia
dos contrários. Utilizando o critério tipológico de Weber, Sérgio Buarque focaliza em pares
de tipos sociais, e não na pluralidade deles, explorando conceitos polares como rural/urbano,
trabalho/aventura, Estado/família patriarcal e público/privado. O esclarecimento dos conceitos
contrários não é a opção por um deles, mas sim o jogo dialético entre ambos, onde cruzando e
misturando conceitos opostos, chega-se a uma conclusão. Como explica Antônio Cândido no
prefácio que faz ao livro:
“A visão de um determinado aspecto da realidade histórica é obtida pelo enfoque simultâneo
dos dois; um suscita o outro, ambos se interpenetram e o resultado possui uma grande força
de esclarecimento” (p. XIV).

No conjunto da obra em questão, houve um capítulo que se destacou, tornando-se essencial à


compreensão da identidade brasileira. Capítulo V – O Homem Cordial aborda características
próprias do brasileiro como conseqüências dos traços do passado.
Sérgio Buarque começa o livro falando sobre nossas origens remotas, os países ibéricos –
Portugal e Espanha -, que, menos europeizados que os demais países europeus, não tiveram
uma hierarquia feudal tão enraizada, tendo como conseqüência disso uma frouxidão
organizacional trazida ao Brasil, além de uma burguesia mercantil precoce em relação aos
demais, que não gostava de trabalho físico, do trabalho regular e das atividades utilitárias, mas
sim de serem senhores.
A frouxidão das instituições abriu portas para o tradicional personalismo, para a cultura da
personalidade que, segundo Sérgio Buarque, é o traço mais decisivo na evolução dos
hispânicos:
“Pela importância particular que atribuem ao valor próprio da pessoa humana, à autonomia de
cada um dos homens em relação aos semelhantes no tempo e no espaço, devem os espanhóis e
portugueses muito de sua originalidade nacional” (p. 4).
Os ibéricos são conceituados por Sérgio Buarque como aventureiros, ou seja, aquele que
pensa diretamente no objetivo final, busca novas experiências e a mira de seu esforço tem
tanta relevância capital que chega a dispensar os processos intermediários para chegar ao
ponto final. Quer ganhar dinheiro fácil.
Ao contrário do trabalhador – que estima a segurança e o esforço, que enxerga primeiro o
obstáculo a vencer e aceita compensações em longo prazo – o português chegou ao Brasil
graças a seu espírito aventureiro. E aqui permaneceu graças a sua grande capacidade de
adaptação.
Unindo sua forte adaptabilidade e a não disposição para trabalho braçal junto à fidalguia
trazida de sua terra, o português instaurou no Brasil a lavoura de cana como ocupação da terra
e dinheiro fácil unida ao trabalho escravo que resolvia, de maneira lucrativa, a não disposição
ao trabalho, mas sim à senhoria. Antônio Cândido ainda completa:
“A lavoura de cana seria, nesse sentido, uma forma de ocupação aventureira do espaço, não
correspondendo a ‘uma civilização tipicamente agrícola’ (pág. 18), mas a uma adaptação
antes primitiva ao meio, revelando baixa capacidade técnica e docilidade às condições
naturais” (p. XVI).

A vida rural foi um marco muito forte na formação da sociedade brasileira. A estrutura de
nossa sociedade colonial era rural, já que quem detinha o poder na época colonial eram os
senhores rurais.
Em 1850 instaura-se a lei Eusébio proibindo o tráfico de escravos. Entre 1851 e 1855 há
notável crescimento urbano por causa das construções das estradas de ferro. O progresso
chegando, o café como nova fonte de capital e os filhos de fazendeiros sendo mandados para
nas cidades estudarem. Dessa classe rica e intelectual veio um progresso social que demoliu
suas próprias bases: a escravidão. A partir daí, os capitais ociosos do tráfico foram para as
cidades, para investimentos e especulações.
Aqui nessa época Sérgio Buarque enfoca a enorme incompatibilidade entre o mundo
tradicional e o moderno, entre rural e urbano. O Brasil não tinha estrutura econômica, política
e social para desenvolver a indústria e o comércio. Os homens do campo que migravam para a
cidade eram os mais importantes, os colonos que diziam que o trabalho físico não dignificava
o homem, mas sim o intelectual. Dessa forma, é possível imaginar as dificuldades que
chegaram com a Revolução Industrial, onde o homem vira máquina.
Assim, a vida na cidade se desenvolveu de forma desorganizada e prematura, o que nos leva
ao capítulo seguinte: o estudo da importância da cidade como instrumento de dominação e
como ela foi fundada nesse sentido.
Aqui Sérgio Buarque prende-se um pouco nas colonizações portuguesa e espanhola,
identificando-os como semeador e ladrilhador. O ladrilhador seria o espanhol que coloniza
parte da América construindo cidades planejadas, com a intenção de estabelecer um
prolongamento estável na Metrópole. Suas cidades eram construídas nas regiões internas do
continente tomando conta, assim, de toda cultura local.
Os portugueses, semeadores, agarraram-se ao litoral semeando cidades irregulares, sem ordem
e sem objetivos fortes de dominar a cultura do local, norteados por uma política de feitoria,
querendo fortuna rápida para tornarem-se nobres.
A urbanização no Brasil, irregular que foi, criou um desequilíbrio social. O peso da família
tradicional dificultou a formação da sociedade urbana moderna.
No Brasil, círculo familiar e família patriarcal, muitas vezes são confundidos com Estado.
Sérgio Buarque afirma e reafirma que são completamente diferentes, explicando que um
comportamento pessoal e familiar não funciona numa burocracia democrática, pois um é
individual e o outro é coletivo, um é privado e o outro é público.
“O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos
agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo. (…)
Há nesse fato um triunfo do geral sobre o particular, do intelectual sobre o material, do
abstrato sobre o corpóreo e não uma depuração sucessiva” (p. 101).

O homem cordial é aquele que vem da família, é o homem hospitaleiro e generoso. No


entanto, sua polidez é apenas aparente, um disfarce que serve de defesa ante a sociedade,
preservando a sensibilidade e emoções do indivíduo e mantendo sua supremacia ante o social.
A manifestação de respeito, por exemplo, aqui no Brasil, concretiza-se no desejo de
estabelecer intimidade: os tratamentos pelo diminutivo ou pelo primeiro nome são exemplos
disso. Dessa forma, é possível aproximar pessoas e objetos dos sentidos e do coração,
demonstrando um certo horror à distância.
Sérgio Buarque diz que a mentalidade cordial é uma sociabilidade aparente que não se impõe
ao indivíduo e também não exerce efeito positivo na estruturação de uma ordem coletiva.
Deste fato, ocorre o individualismo do homem cordial manifestando relutância a alguma lei
que o contrarie.
Em seguida, critica a satisfação do brasileiro com um saber aparente, levantando, com isso,
dogmas que levam à confiança máxima nas idéias, mesmo quando inaplicáveis, o que traz à
tona o positivismo no Brasil. Critica o Brasil que acredita em fórmulas.
Aproveita e também afirma que a ausência de partidos políticos na época é um sintoma de
nossa inadaptação ao regime legitimamente democrático, criticando a democracia no Brasil,
numa época em que não se falava nela, dizendo que falta-nos um verdadeiro espírito
democrático.
A salvação para o Brasil, segundo Sérgio Buarque, seria uma revolução que daria fim aos
resquícios da história colonial e começar a traçar uma história brasileira, diferente, particular e
moderna. Trata-se de adotar o ritmo urbano e elevar as camadas oprimidas da população, pois
apenas estas poderão revitalizar a sociedade e propiciar novo sentido à vida política, já que
são fisicamente melhores que a classe alta e também o seriam mentalmente se as
oportunidades fossem favoráveis, como seriam no caso da “revolução”. Porém, com a
cordialidade, o brasileiro dificilmente chegará nessa revolução.

Por F

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