JORNAL DA ALERJ

A S S E M B L É I A L E G I S L AT I VA D O E S TA D O D O R I O D E J A N E I R O
Ano VI N° 170 – Rio de Janeiro, de 1º a 15 de abril de 2008
Rafael Wallace

O fim da
burocracia

l NESTE NÚMERO Assembléia se mobiliza para simplificar processos administrativos,

aprovando leis que modernizam a administração pública

E
Alerj cria telefone
0800 para combater
pirataria no estado mbora seja originária da união dos de campeão mundial da burocracia, segundo
PÁGINA 3 termos bureau (escritório, em fran- levantamento recente do International Business
cês) e krátos (poder, em grego), foi Report (IBR). Para reverter esta realidade, a As-
em bom português que a burocracia encontrou sembléia Legislativa do Rio vem apresentando e
Conheça os seu significado mais amplo e disseminado. aprovando normas que buscam desburocratizar
deputados que Herança dos tempos do Brasil colônia, em a administração pública, como a aprovação do
tomaram posse na que tomou força com a chegada da Família projeto, agora lei, que dá ao servidor estatu-
Assembléia em abril Real portuguesa, este sistema de divisão de tário a prerrogativa de certificar documentos,
PÁGINAS 4 e 5 responsabilidades e poderes passou a ser visto dispensando a autenticação. “Antes, os Diários
como sinônimo de regras e procedimentos Oficiais precisavam ser cedidos para auxiliar na
desnecessários ao funcionamento do sistema autenticação em cartório. Agora fazemos tudo
Jorge Babu e seus administrativo, devido às suas limitações e aqui, o que assegura o cuidado no manuseio dos
projetos em defesa soluções morosas. periódicos e facilita a vida de quem nos procura”,
da Zona Oeste Presente em todos os patamares da admi- elogia o documentarista Luis Fernando Teixeira
PÁGINA 12 nistração pública do País, esta organização faz (foto), que trabalha da Biblioteca da Alerj.
do Brasil, hoje, o detentor do desagradável título PÁGINAS 6, 7 e 8
 2 Rio de Janeiro, de 1º a 15 de abril de 2008

Frases Consulta popular Expediente

“ Não é hora de
jogar pedra no
secretário (estadual
l Gostaria de saber se a Comissão de Minas e Energia
da Alerj pode me informar o que devo fazer para evitar
abastecer o meu carro com combustível adulterado.
de Saúde, Sérgio Bruno de Souza - Rio das Ostras
Côrtes), até porque
é um caso de do posto, tais como placa da
ALERJ
Assembléia Legislativa

guerra e nosso povo ANP visível com o telefone do Estado do Rio de Janeiro

está morrendo. Deputado do Centro de Relações com

Precisamos dar Glauco o Consumidor, bandeira do
as mãos, mas Lopes posto e marca da distribuido- Presidente
Jorge Picciani
não podemos ser (PSDB) ra no caminhão que abastece
1ª Vice-presidente
enganados pela o posto igual à informada na

”
Coronel Jairo
secretaria bomba. Também é possível 2º Vice-presidente
solicitar ao posto que faça o Gilberto Palmares
José Nader (PTB), sobre a carência no
atendimento às pessoas com dengue. l Bruno, para evitar es- “teste da proveta”, um teste 3º Vice-presidente

tes abusos e não pôr em risco obrigatório que verifica o teor 4º Vice-presidente

“
o seu carro, algumas medidas de álcool na gasolina. Não Gerson Bergher
A situação da
devem ser tomadas ao esco- tenha vergonha de pedir, não. 1ª Secretária
Barcas S/A é aflitiva Graça Matos
lher um local para abastecer. Este teste é obrigatório con-
economicamente? 2º Secretário
A primeira delas é exigir sem- forme a Portaria ANP de 2000.
E a do cidadão que Zito
pre a nota fiscal para garantir Qualquer dúvida ligue para
ganha mil reais 3º Secretário
o conhecimento da origem o atendimento ao Cliente da Dica
por mês e trabalha
do combustível do seu tan- Agência Nacional do Petróleo. 4ª Secretário
todos os dias aqui, Fabio Silva
que. Além disso, podem ser Anote o número, a ligação é
na cidade do Rio de 1a Suplente
verificadas outras obrigações gratuita: 0800 900 267.
Janeiro? O mínimo 2 o Suplente
que ele paga de Armando José
passagem, se não l Gostaria de solicitar a intervenção e ajuda da Co- 3º Suplente
tiver que pegar um missão de Saúde para o seguinte caso: minha mãe tem Pedro Augusto

ônibus, são R$ 8 Alzheimer e está internada na Casa Geriátrica Sol Lar 4º Suplente
Edino Fonseca
por dia, nos dias Vivendas da 3ª idade. O principal problema é que esta
normais. Será que casa para idosos não possui uma estrutura adequada JORNAL DA ALERJ
Publicação quinzenal
a situação desse para minha mãe, que tem apresentado pioras no quadro do Departamento de
cidadão não clínico. Seria possível, encaminhá-la para algum hospital Comunicação Social da

”
Assembléia Legislativa do
é aflitiva? da rede estadual para que ela pudesse fazer os exames Estado do Rio de Janeiro

Gilberto Palmares (PT), criticando o

necessários e ter acompanhamento médico? Jornalista responsável
preço da passagem para Paquetá. Iara Paiva - Caxambi, Rio de Janeiro Fernanda Pedrosa (MT-13511)

Rafael Wallace
dimento de emergências Coordenação: Geiza Rocha

e, além disso, a rede conta Reportagem: Everton Silvalima,

Deputado com alguns institutos espe-
Átila cializados em cardiologia,
Nunes tuberculose, hanseníase e
(DEM) hemodiálise. A secretaria
espera criar, em breve, um
Luciana Ferreira, Fernanda Porto e
Marcela Maciel
Estagiários: Ana Beatriz Couto,
Camila de Paula, Carla Boechat,
Fabiano Veneza, Karina Moura,
Natalia Alves e Zô Guimarães

Instituto do Cérebro, onde Fotografia: Rafael Wallace

as demências poderão ser
“ Se pirataria é
crime, imagina
pirataria de remédio!
l Prezada Iara, enca-
minhamos seu pedido para
tratadas em clínicas-dias,
locais em que a pessoa é
Diagramação: Daniel Tiriba

Telefones: (21) 2588-1404/1383

a Secretaria de Estado de tratada durante o dia mas Fax: (21) 2588-1404
Então, tem que Saúde, que nos informou não é internada. Tendo em Rua Primeiro de Março s/nº sala 406
prender, condenar que, embora os hospitais vista esta resposta da se-
CEP-20010-090 – Rio de Janeiro/RJ
Email: dcs@alerj.rj.gov.br
à prisão perpétua da rede estadual possam cretaria, mesmo não sen- www.alerj.rj.gov.br
o cara que faz isso, fazer alguns exames clí- do possível um tratamento
mas ele também nicos, nenhum tem perfil, mais específico, iremos en- Impressão: Gráfica da Alerj
quer multar
”
Cidinha Campos (PDT), sobre o
tratamento, estrutura e pro-
fissionais para manejo de
caminhar sua mãe para a
realização dos exames que
Coordenação: Leandro Pinho
Montagem: Bianca Marques e
Rodrigo Graciosa
projeto de lei do deputado Dionísio Lins demências. O perfil dos hos- estão disponíveis na rede Tiragem: 2 mil exemplares
(PP), que estabelece penalidades para
a comercialização de medicamentos e pitais estaduais é de aten- estadual de saúde.
remédios pirateados.

Dúvidas, denúncias e reclamações: 0800 22 00 08

Rio de Janeiro, de 1º a 15 de abril de 2008 3

alerta

Disque contra pirataria

Zô Guimarães
Comissão lança serviço
gratuito para receber
queixas dos consumidores

A
Natalia A lves

população fluminense ganhou

este mês mais um canal pa-
ra combater a pirataria no
estado. A Comissão da Alerj criada para
prevenir e combater a pirataria lançou o
Disque-Pirataria (0800 282 6582), ser-
viço gratuito para orientação e registro
de denúncias sobre a venda de artigos
falsificados. De acordo com o presidente da
comissão, deputado Dionísio Lins (PP), o
serviço, que funciona de segunda a sexta,
das 9h às 18h, traz mais visibilidade ao tra-
balho que vem sendo realizado pela Casa.
“Antes do disque, atendíamos a popula-
ção no gabinete. Agora vamos partir das
denúncias para operar em parceria com a
Receita Federal e a polícia, que têm condi-
ções de desarticular esquema organizado
de contrabando e pirataria”, explicou o
parlamentar, acrescentando que os cam-
peões de reclamação referem-se à venda De acordo com o deputado Dionísio Lins, próximo passo da comissão será alertar os jovens
de CDs, DVDs, artigos esportivos, óculos e
remédios piratas. “O grande problema do
País é a impunidade. O Disque-Pirataria l Texto ensina a distinguir produtos falsificados
será a nossa ferramenta para combater A cartilha da Comissão da As- peças, medicamentos, CDs, DVDs,
esse mal”, afirmou o deputado. sembléia Legislativa do Rio criada softwares. A cartilha traz ainda o que
Além de atuar em conjunto com as para prevenir e combater a pirataria consta do Código de Defesa do Consu-
instituições responsáveis por reprimir informa sobre os dispositivos legais, midor. Também podem ser encontrados
a pirataria, a comissão irá trabalhar na atos e regulamentações que caracteri- nela endereços e telefones dos orga-
área da Educação. “Estamos lançando zam uma mercadoria legal. Nela estão nismos reguladores de fiscalização e
uma cartilha direcionada aos jovens para definidas técnicas de etiquetagem, combate aos produtos. Em relação aos
mostrar o que está por trás da compra de como identificar produ- tênis, um dos produtos piratas
um produto falsificado”, anuncia o presi- tos originais e piratas, mais consumidos pelos jovens,
dente da comissão. De acordo com Lins, responsabilidades sobre a cartilha apresenta um es-
o público-alvo foi escolhido com base no a fabricação e comer- tudo do laboratório de bio-
levantamento realizado pela comissão. cialização de pro- mecânica da Universida-
“Desde a sua criação, em setembro de dutos como tênis, de do Estado de Santa
2007, percebemos que os denunciantes brinquedos, pro- Catarina (Udesc), que
que entram em contato com a comissão, dutos saneantes revela prejuízos cau-
em sua maioria, possuem entre 35 e e têxteis, botijões, sados às estruturas
60 anos”, esclarece o parlamentar, que mangueiras e re- moleculares, esquelé-
realizará palestras nas escolas públicas guladores de gás, ticas e de ligamentos,
e particulares e em universidades. “Acre- táxis, gás natural podendo acarretar artro-
ditamos que educando o consumidor veicular (GNV), auto- se precoce.
de hoje, num futuro próximo, vamos
criar uma consciência coletiva, de que
a pirataria é um péssimo negócio para
todos nós”, declarou.
Disque-Pirataria 0800 282 6582
 4 Rio de Janeiro, de 1º a 15 de abril de 2008
renovação
As novas caras
Dentre os deputados que
tomaram posse na Alerj em
abril, três são veteranos e
três, estreantes no Parlamento
A
Luciana A lmeida
Assembléia Legislativa do
Estado do Rio de Janeiro
está de cara nova. No início
do mês de abril, cinco novos deputados
tomaram posse e um deputado licenciado
voltou à Casa. Os deputados Nilton Sa-
lomão (PMDB) e Iranildo Campos (PTB)
entraram, respectivamente, nas vagas
abertas após a cassação de Jane Cozzo-
lino (PTC) e Renata do Posto (PTB). Já
os suplentes José Távora (DEM), Rafael
Aloísio Freitas (DEM) e Marcus Vinícius
Deputado Nilton
Salomão (PMDB)
Natural de Teresópolis, o deputado
Nilton Salomão é bancário, foi
professor universitário e, até o
início de abril, exercia a função
de subsecretário estadual de
Habitação. O parlamentar
do PMDB, que já ocupou
uma cadeira na Assembléia
Legislativa do Estado do Rio
de Janeiro entre 1997 e 2002,
entrou para a política em 1993
através do Movimento pela Ética
e Competência na Administração
Pública (Mecap).
(PTB) ocupam as vagas dos deputados
licenciados Rodrigo Dantas (DEM), que
deixou a Alerj para ser secretário muni-
cipal de Obras do Rio de Janeiro, Pedro
Fernandes (DEM), secretário municipal
de Meio Ambiente também da capital,
e Walney Rocha (PTB), convidado para
assumir a Secretaria de Saúde do muni-
cípio de Nova Iguaçu. O suplente Antônio
Pedregal (PSC) deixou a Assembléia com
a volta do deputado Sabino (PSC), que
ocupava até março a Secretaria estadual
de Trabalho e Renda.
Nilton Salomão, Iranildo Campos e
José Távora já conhecem a Alerj de longa
data. Salomão, que passou pela Casa entre
1997 e 2002, pretende retomar a luta pelos
direitos da terceira idade nesta legislatura.
O deputado, que tomou posse em 7 de
Deputado Iranildo
Campos (PTB)
Advogado e policial
militar da reserva, o petebista
Iranildo Campos é natural do
Rio de Janeiro, mas escolheu
São João de Meriti para atuar
politicamente. No município,
foi vice-prefeito, secretário
municipal de Governo, de
Obras, de Urbanismo, de Meio
Ambiente e de Saúde. Durante
o período em que esteve na
Alerj, o deputado foi presidente
da Comissão de Assuntos da
Criança e do Adolescente.
abril, considera a Lei 2.828/97, que dá
direito a pessoas acima de 60 anos de
terem um acompanhante em internações
em casas de saúde, sua principal contri-
buição à utilidade pública fluminense. “A
expectativa é que eu possa ser o que fui
durante os seis anos que trabalhei neste
Parlamento, ou seja, um deputado que
compôs o bloco ético da Casa, que traba-
lhou questões importantes, de interesse do
estado, e que apresentou uma quantidade
extraordinária de projetos, com muitas leis
aprovadas”, afirmou.
Empossado na mesma ocasião, o
deputado Iranildo Campos, que foi
presidente da Comissão de Assuntos
da Criança e do Adolescente durante o
período em que esteve na Alerj, de 2005
a 2006, também pretende trabalhar em
Deputado Sabino
(PSC)
Bacharel em Letras e funcionário
concursado da Caixa Econômica
Federal, o deputado Alcebíades
Sabino, natural de Rio das
Ostras, na Região dos Lagos, foi
fundador da primeira associação
de moradores do município.
Eleito prefeito da cidade em
1996 e reeleito em 2000, Sabino
assumiu no Governo do estado
os cargos de subsecretário
de Meio Ambiente, em 2005,
e de secretário de Trabalho e
Renda, em 2007.
Rio de Janeiro, de 1º a 15 de abril de 2008
renovação
da Assembléia
favor da terceira idade. “Foco, especial-
mente, nas crianças e nos idosos, mas é
óbvio que todo meu mandato será pau-
tado para toda a sociedade fluminense,
sempre pensando em elaborar e aprovar
projetos que beneficiem a população de
um modo geral”, ponderou.
Com 16 anos dedicados ao Poder
Legislativo, José Távora, que foi presi-
dente da União Nacional dos Legislati-
vos Estaduais (Unale) durante a última
legislatura, voltou à Casa em 10 de abril.
“Pretendo dar continuidade aos traba-
lhos que sempre realizei na Assembléia,
priorizando os mais pobres e necessita-
dos. Farei um levantamento dos meus
projetos de lei, que não são poucos, para
analisar qual precisa ser retirado dos
arquivos”, destacou Távora.
Deputado José
Távora (DEM)
Ex-vice-presidente da Alerj, o
democrata José Cardoso Távora
é autor de 43 leis e 54 projetos
elaborados durante os 16 anos
em que foi parlamentar na Casa.
Presidente da União Nacional
dos Legislativos Estaduais
(Unale) na gestão 2005-2006,
Távora defende o fortalecimento
da capacidade de legislar
dos deputados, transferida
em grande parte, a partir da
Constituição de 1988, para o
Poder Executivo.
Deputados de primeira viagem, Mar-
cus Vinícius e Rafael Aloísio Freitas,
empossados, respectivamente, em 8 e
9 de abril, compartilham o entusiasmo
pela nova função. “Não estou assustado,
apesar de ser minha primeira experiên-
cia em um cargo público. Recebi muitos
votos em Petrópolis (região Serrana do
estado), cidade que é meu reduto eleito-
ral e onde vivo, e estou aqui para honrar
esses votos”, informou Marcus Vinícius.
“Chego a esta Casa com o principal
dever de somar e, principalmente, com
a vontade de aprender, observando os
trabalhos dos demais deputados, que
são muito mais experientes. Colocarei
o meu mandato à disposição da luta
pela defesa dos direitos do consumidor
fluminense, muito penalizado pelas
Deputado Rafael
Aloísio Freitas (DEM)
Nascido na cidade do Rio de
Janeiro, o deputado Rafael Aloísio
Freitas, 28 anos, formou-se em
odontologia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
e iniciou sua carreira política
atuando ao lado do pai, o atual
presidente da Câmara Municipal
do Rio de Janeiro, vereador
Aloísio Freitas (DEM). Em
2004, Rafael teve sua primeira
experiência em um cargo público,
quando assumiu a Subprefeitura
do Grande Méier.
11
5
arbitrariedades de certas empresas, e
pela Saúde, onde já venho atuando e
conheço bem”, revelou Freitas.
O deputado Sabino, que voltou à
Alerj em 3 de abril depois de ocupar
a Secretaria estadual de Trabalho e
Renda desde o início da legislatura,
pretende aplicar na Assembléia lições
que aprendeu neste período. “Volto
para representar nesta casa as pes-
soas que me colocaram. Trago muitas
experiências positivas da secretaria,
quero desenvolvê-las aqui também”,
afirmou, lembrando que políticas pú-
blicas de responsabilidade social,
desenvolvidas pelo Governo Sérgio
Cabral, foram fundamentais para atrair
investimentos e estimular o mercado
de trabalho no estado.
Deputado Marcus
Vinicius (PTB)
Fotos: Rafael Wallace
Natural de Barra do Piraí, mas
com atuação em Petrópolis,
na Região Serrana do Rio de
Janeiro, o deputado Marcus
Vinícius Vasconcelos Ferreira,
de 35 anos, casado e pai de
três filhos, é secretário-geral do
PTB no Rio. Corretor de imóveis
e ex-assessor da Eletronuclear,
Marcus Vinícius trabalhou,
por oito anos, com o sogro e
presidente nacional do PTB,
o ex-deputado federal
Roberto Jefferson.
12
6 Rio de Janeiro, de 1º a 15 de abril de 2008
capa
Palavra de ordem é descomplicar
Mudanças na legislação
buscam simplificar processos
e dar fim à burocracia
A
F ernanda Porto,
Camila de Paula e Carla Boechat
dona de casa Jose-
fa Maria da Silva
lembra com de-
talhes da época
em que teve que
fazer uma peregrinação para conseguir
habilitar sua pensão. “Foi em 1999,
dois anos após a morte do meu marido.
Pediram tantas provas de união estável
que eu não agüentava mais vir aqui.
Ficava sem dinheiro para vir de Niló-
polis, onde moro, e uma vez cheguei a
ter que pedir o dinheiro da passagem
para desconhecidos na rua”, relembra.
“Uma advogada chegou a me oferecer
ajuda, mas eu não podia pagar. Não
podia pagar nem as autenticações dos
documentos. Agora está mais fácil,
não preciso ficar indo até o cartório,
e o atendimento está mais rápido”,
relata, aliviada, a pensionista de 56
anos, durante a revisão do benefício
no RioPrevidência, Centro do Rio.
Histórias como a de Josefa para-
ram de se repetir a partir de julho de
2007, quando entrou em vigor a Lei
5.069/07, que estabelece a dispensa
da autenticação em cartório das cópias
de documentos exigidos por órgãos
integrantes da administração pública.
A proposta, apresentada em 2006 pela
então deputada estadual – e hoje federal
– Andréia Zito (PSDB-RJ), dá autonomia
aos servidores dos órgãos públicos para
confrontar o original e a cópia e declarar
sua autenticidade. “Mesmo agora, após
mudanças que já simplificaram o proces-
so, ainda é necessária a apresentação
da cópia de nove documentos para se
dar entrada na pensão. Imagine quando
havia a necessidade de validar todos
eles? Agora o atendimento flui melhor,
porque os pensionistas não precisam
mais voltar aqui várias vezes trazendo
autenticações e reconhecimentos de
firma”, lembra a gerente de Atendi-
mento ao Segurado do RioPrevidência,
Sureadna Reis.
A nova regra é um dos mais re-
presentativos exemplos da busca da
Assembléia Legislativa do Rio por
medidas de combate à burocracia
ainda reinante no setor público es-
tadual. São ações que, mais do que
significar um avanço no tempo e custo
dos processos, combatem a desones-
tidade propiciada pelas barreiras bu-
rocráticas. “Um dos maiores avanços
da lei foi ter reduzido a abordagem
de advogados e despachantes com
ofertas de facilitações, muitas vezes
conquistadas desonestamente. A lei
trouxe transparência ao procedimento,
e esta prática foi reduzida em muitos
setores da administração pública”,
elogia Sureadna, lembrando que boa
parte da burocracia existente no sis-
tema de pensões do estado teve fim
quando a Alerj aprovou, no final do
ano passado, o projeto de autoria do
Poder Executivo que promoveu a fu-
são do RioPrevidência com o Instituto
de Previdência do Estado do Rio de
Janeiro (Iperj). “Revisões de pensão,
que antes eram feitas através de pro-
cessos judiciais, agora são resolvidas
administrativamente”, salienta.
À fusão, soma-se outra importante
medida desburocratizante aprovada
pela Alerj no último ano: a Lei 5.147/07,
que adequa o sistema de tributação
estadual ao Simples Nacional (ou Su-
persimples), que unifica a cobrança de
tributos para micro e pequenas empre-
sas. A regra irá fomentar um ambiente
favorável aos pequenos negócios no
estado, dando descontos de até 70% no
pagamento do Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Prestação de Serviços
(ICMS) aos pequenos empresários que
optarem pelo sistema simplificado de
cobrança de tributos. De acordo com o
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas do Rio de Janeiro (Sebrae-RJ),
esta regra beneficiará cerca de 130 mil
empresas no Rio.
“Foi uma conquista, mas, além de
trabalharmos para reduzir a nossa car-
ga tributária, que é a mais elevada do
País, temos ainda que combater a falta
de empreendedorismo causada pelos
excessivos entraves burocráticos que
impedem o crescimento das empresas de
capital privado e nos leva à atual situação
do estado, em que as 30 companhias
com maior faturamento são públicas”,
adverte o deputado Pedro Paulo (PSDB),
autor de projeto, atualmente em trami-
tação na Casa, que lista princípios para
o reconhecimento de firma na abertura
de processos na administração direta,
autárquica e fundacional do estado. “A
burocracia configura-se como um mal
que impede o desenvolvimento do Rio de
Janeiro. Ela deve ser combatida, ou não
haverá progresso econômico no estado”,
conclui o tucano.
Em tempos de expansão dos meios
de acesso à informação, a Internet tam-
bém pode ser uma importante aliada no
Rio de Janeiro, de 1º a 15 de abril de 2008
combate à burocracia, como observaram
os deputados Paulo Ramos (PDT) e o
ex-deputado Antônio Pedregal (veja
no ponto a ponto). Os dois apresenta-
ram projetos que prevêem o uso desta
ferramenta como meio de pular etapas
e agilizar procedimentos. “Neste mo-
mento, insistir em velhos formatos e
meios, além de custoso e desgastante,
é desnecessário. Não faz sentido que
não usemos um instrumento que, ao
facilitar o acesso às informações, dá
transparência à administração, além de
poupar tempo e esforço dos cidadãos.
Espero ver, em breve, a Internet sendo
utilizada como meio facilitador de todos
os serviços públicos”, torce Ramos, cuja
proposta estabelece que os motoristas
do estado possam tirar a segunda via
da Carteira Nacional de Habilitação no
site do Departamento de Trânsito do
Rio de Janeiro (Detran-RJ).
11
7
Fotos: Zô Guimarães
“
Eu não podia pagar
pelas autenticações dos
documentos. Agora está
mais fácil, não preciso
ficar indo até o cartório
e o atendimento está
”
mais rápido
Josefa Maria da Silva
“ Um dos maiores avanços
da lei foi ter reduzido a
abordagem de advogados
A dona de casa Josefa da e despachantes com
Silva sendo auxiliada no ofertas de facilitações,
posto de atendimento do muitas vezes conquistadas
”
RioPrevidência: processo
simplificado após criação de lei desonestamente
Sureadna Reis, gerente do RioPrevidência
Leis e projetos criados para facilitar a vida da população
Autonomia ao servidor – A Lei 5.069/07, de autoria da ex-deputada es-
tadual Andréia Zito, dá autonomia ao servidor público para atestar a autenti-
cidade de documentos, o que acabou com a necessidade de autenticação na
administração pública.
Preferência ampliada – O deputado Glauco Lopes (PSDB) apresentou o
projeto 1.450/08, que estabelece a prioridade na tramitação dos processos de
portadores de deficiência. O projeto amplia a lei 5.059/07, também de Lopes, que
dá preferência aos processos de maiores de 65 anos.
Autenticação – O projeto de lei 1.267/08, criado pelo deputado Pedro Paulo
(PSDB), estabelece normas para o reconhecimento de firma na abertura de pro-
cessos na administração direta, autárquica e fundacional do estado do Rio.
Habilitação – O deputado Paulo Ramos (PDT) propôs, através do projeto 930/07,
que a segunda via da Carteira Nacional de Habilitação possa ser retirada pela in-
ternet, assim como a troca da permissão temporária pelo documento definitivo.
Cancelamento de linha – A proposta 274/07, do ex-deputado Antônio Pe-
dregal, poderá permitir que os usuários de serviços de telefonia móvel cancelem
os serviços por intermédio de fax, telegrama, e-mail, carta, sedex, formulário
próprio ou qualquer outro meio de contato, independentemente de a possibilidade
constar ou não em contrato.
 12
8 Rio de Janeiro, de 1º a 15 de abril de 2008
capa
l Combate à burocracia envolve a adoção de ferramentas como a internet
“Erradicar a burocracia da
administração pública permitiria ao
estado avançar economicamente,
através do fortalecimento das
micro e pequenas empresas e,
conseqüentemente, da redução da
economia informal. E este cenário
contribuiria para a geração de
empregos. Combater a burocracia
no estado do Rio é fundamental
e urgente. Temos que pensar,
sempre, em medidas para
reverter este formato que só
causa atraso e prejuízo para
a população fluminense”
Deputado Pedro
Paulo (PSDB)
Centrais de atendimento implantadas pelo Governo orientam cidadãos
Centralizar, em muitos casos, pode
ser sinônimo de desburocratizar. Este é
o princípio do Programa de Atendimento
Integrado (PAI), implantado pelo Go-
verno do Estado do Rio de Janeiro com
o intuito de auxiliar pessoas físicas e
jurídicas na obtenção de documentos.
Vinculado à Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Econômico, Energia,
Indústria e Serviços, o PAI divide-se em
dois segmentos: Central Rio Fácil, de
atendimento empresarial, e Central Rio
Simples, de atendimento ao cidadão.
Dentre os serviços oferecidos pelo Rio
Simples estão a emissão de carteiras de
identidade, de motorista, de segunda via
de contas de gás, luz, água e telefone, além
do atendimento do Procon e da consulta
ao cadastro do Serasa. “Vinha adiando a
retirada dos meus documentos, perdidos
em um assalto há quase um ano, por
“A internet oferece conveniências
das quais temos que tirar
vantagem, sobretudo no combate
ao sistema burocrático e a todos
os desconfortos que ele oferece.
Por isto apresentei um projeto
que visa a agilizar o processo
de obtenção da Carteira de
Habilitação por pessoas que não
podem comparecer aos postos
do Detran, qualquer que seja
o motivo. Esta iniciativa já foi
implementada em Minas Gerais e
eu espero poder vê-la em prática
também no estado do Rio”
Deputado Paulo
Ramos (PDT)
não poder faltar ao trabalho. Saber deste
serviço me permitiu retirar a segunda via
de todos de uma vez, no horário de almo-
ço”, comemora a auxiliar administrativa
Elizabete Assis Martins (foto).
Com o mesmo fim, o Rio Fácil oferece
14 serviços de orientação empresarial e
contábil ao futuro empreendedor, desde a
escolha do nome da empresa até sua le-
galização. “Gasto, aqui, quase a metade
do tempo que levava anteriormente na
legalização da empresa. Isto me ajudou a
produzir mais”, afirma o contador Paulo
Gouvêa, que já abriu 25 empresas desde
que conheceu o serviço, em 2002.
Contando com duas filiais, uma na
Estação de Metrô da Carioca e outra
na Central do Brasil, o programa já
atendeu, desde sua implantação, em
2001, até março deste ano, 3.447.806
usuários. “Recebemos cerca de 3.600
Fotos: Rafael Wallace
“O sistema burocrático é muito
prejudicial para a população
em geral, mas, sobretudo, para
quem não tem como esperar
por soluções e respostas muito
demoradas. Combater uma
organização tão enraizada na
administração pública brasileira
é tarefa árdua, mas podemos, ao
menos, minimizar seus efeitos
através da aprovação de leis que
privilegiam o atendimento àqueles
que têm mais urgência na solução
de seus casos, como os idosos e os
portadores de deficiência”
Deputado Glauco
Lopes (PSDB)
Rafael Wallace
pessoas por dia, num total de 215 ser-
viços prestados. Mas ainda estamos em
fase de expansão, e temos a intenção
de abrir duas novas unidades ainda em
2008. Uma na Baixada Fluminense e
outra na Zona Oeste da cidade”, prevê
a coordenadora do programa, Maria da
Conceição Ribeiro.
Rio de Janeiro, de 1º a 15 de abril de 2008
cultura
Valor à experiência
Lei sancionada considera
bandas civis centenárias
Patrimônio Cultural do estado
E
Camila de Paula e K arina Moura
las animam a população ao
desfilar pelas ruas, nas apre-
sentações em praças e audi-
tórios. E agora, as bandas de música
civis centenárias poderão fazer parte
do Patrimônio Cultural do Estado do
Rio de Janeiro. Foi sancionada no dia
3 de abril, a Lei 5.215/08, de autoria
do deputado Altineu Côrtes (PT), que
permitirá às entidades que se julga-
rem aptas a receber o título requerer
o mesmo junto à Secretaria de Estado
de Cultura. O requerimento deve ser
entregue pelo representante legal da
entidade e estar acompanhado das de-
vidas comprovações documentais. “Te-
mos que dar importância e preservar
este trabalho, presente em quase todos
os municípios. Resgatar a cultura do
povo é dever do Governo. Para muitos
músicos, elas são verdadeiras escolas
profissionalizantes, responsáveis pela
formação de muitos membros de ban-
das militares e orquestras do Brasil e
exterior”, ressalta o parlamentar.
De acordo com a lei, é considerada
banda de música civil toda entidade
sem fim lucrativo que contribui para a
formação cultural e divulgação da arte
em todo território fluminense. “Estas
entidades são responsáveis pela divulga-
ção da arte e da cultura, e contribuem há
quase um século e meio para a formação
cultural do povo fluminense, ainda mais
9
no interior do estado, onde se concentra o trabalho dos músicos e incentivar
o maior número das bandas”, aposta o as pessoas a recorrer mais à música
autor da lei, que já foi procurado por como expressão artística. “As bandas
algumas entidades para saber como de músicas civis centenárias são da
será feito este registro. mais absoluta importância para a pro-
O Estado do Rio possui inúmeras pagação da arte e fomentam a cultura
corporações musicais que contribuem em nosso estado. Cada uma delas em
para a formação cultural e divulgam atividade hoje, inclusive a que faço
sua arte. Atualmente, o conjunto de parte, representa preciosa manifestação
bandas civis centenárias em atividade de nossa identidade. Exatamente por
no estado é formado por 20 corporações. isso, torná-las oficialmente patrimônio
Uma delas é a Banda de Música do cultural é um importante e justo reco-
Colégio Salesiano Santa Rosa, locali- nhecimento, além de ser um incentivo”,
zada em Niterói. Fundada em 1888, “a exalta o parlamentar.
banda colegial mais antiga do Brasil”
possui uma trajetória de sucesso na
sua longa jornada musical. Com 120
anos, 36 campeonatos disputados e
24 vezes campeã, a banda conta com “ Temos que dar importância
e preservar este trabalho,
presente em quase todos
seis títulos em sua discografia. Para
Affonso Gonçalves Reis, maestro da
banda desde 1948, através dessa lei o
os municípios
”
Deputado Altineu Côrtes (PT)
trabalho de todos os músicos vai poder
ser reconhecido e valorizado. “Vejo
esta lei como um reco-
nhecimento do nosso
trabalho. Espero que
a partir disso as ban-
das recebam mais apoio
cultural e financeiro para
continuarem sua cami-
nhada com brilhantismo”,
elogia o maestro. Rafael Wallace
Para o deputado Ol-
ney Botelho (PDT), que é
membro do Conselho Deli-
berativo da Sociedade Mu-
sical Euterpe Friburguense,
do município de Nova Fribur-
go, a nova lei vai reconhecer
Divulgação
Lei beneficiará bandas como a do Colégio
Salesiano, de Niterói, com 120 anos
10
l curtas
Celulares proibidos
Desde 14 de abril está proibido, em to-
do o estado, o uso de aparelhos celula-
res nas salas de aula das escolas públi-
cas estaduais. De acordo com o autor
da Lei 5.222/08, deputado João Pedro
(DEM), o objetivo é evitar a dispersão
causada pelo uso destes aparelhos
durante as aulas. “O uso do celular na
escola compromete o desenvolvimento
e a concentração dos alunos. A lei não
vai proibir que o celular seja levado
para as escolas, mas sim o uso do apa-
relho em sala de aula, durante o horário
escolar”, ressaltou o parlamentar.
Estímulo à leitura
Foi sancionada, no dia 11 de abril, a
Lei 5.220/08, de autoria do deputado
Olney Botelho (PDT), que cria a Sema-
na do Autor Fluminense no calendário
anual das escolas públicas estaduais.
Durante a semana, as escolas deverão
realizar exposições e debates, com a
presença dos autores. “Quero incenti-
var a produção literária e ajudar na di-
vulgação das obras fluminenses, facili-
tando o acesso dos alunos aos livros e
autores”, explica Botelho. A Secretaria
estadual de Educação deverá fixar uma
data para a realização da semana e
destinar parte das compras à obtenção
de livros de autores fluminenses.
Validade maior para cartão
A Comissão de Defesa do Consumidor
da Alerj venceu na Justiça e conseguiu
que a concessionária que administra
o Metrô, a Opportrans, amplie a vali-
dade do cartão unitário, que substitui
os bilhetes eletrônicos, de três para 15
dias. Na decisão, tomada no dia 1º de
abril, a juíza Fernanda Galiza do Ama-
ral, da 2ª Vara Empresarial do Tribunal
de Justiça do Estado do Rio concedeu
cinco dias, a contar daquela data, pa-
ra que a concessionária cumprisse a
determinação. “O parecer da Justiça
vai ao encontro dos interesses dos
usuários do Metrô. Afinal, se eles não
utilizassem o crédito no prazo de três
dias, a viagem perdia a validade. Ago-
ra, o passageiro terá tempo para fazer
uso do cartão unitário”, explica a presi-
dente da comissão, deputada Cidinha
Campos (PDT).
escola do legislativo
Aula sobre Constituição
Procurador da Alerj
explica que voto aberto em
cassações não é permitido
pela Carta de 1988
A
Natalia A lves
sobreposição da Constitui-
ção federal à estadual foi
o principal tema levantado
pelo procurador da Alerj Rodrigo Lopes
Lourenço, no dia 7 de abril, durante a aula
inaugural dos cursos técnicos do Instituto
Brasileiro de Administração Municipal
(Ibam), que serão ministrados na Esco-
la do Legislativo do Estado do Rio. “A
Constituição de 1988 não tem alterações
significativas em relação à da ditadura
militar, no que se refere ao processo le-
gislativo. Essa última Carta Magna, que
é tão elogiada como democrática, não é
nada democrática se levarmos em conta a
separação dos poderes e a questão federa-
tiva”, explicou Lopes. Para ele, o processo em parceria com o Ibam para a formação
legislativo mantido é interpretado pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) como
de obediência obrigatória à Constituição
federal pelos estados e municípios, sem
levar em consideração as distorções entre
cada local ou região.
Procurador da Alerj Rodrigo Lopes durante aula inaugural
Como exemplo prático dessa obe-
diência, o procurador citou a anulação,
pelo STF, da cassação de um deputado
aprovada por voto aberto na Alerj, já que,
de acordo com a Constituição brasileira,
casos como esse devem ser analisados
através de voto secreto. “As assembléias
legislativas ficam obrigadas a se estrutu-
rarem como a Câmara Federal. Por isso, a
Rio de Janeiro, de 1º a 15 de abril de 2008
votação tinha que obedecer a Constituição
federal, desprezando o que diz a Constitui-
ção estadual, que estabelece o voto aber-
to”, comparou. O procurador criticou ainda
a centralização de poder acarretada pela
sobreposição das constituições. “Além de
termos um processo legislativo centrali-
zador, temos um processo de federação
falso, que não permite a autonomia dos
estados. Autonomia essa que se refletiria
no Poder Legislativo”, avaliou.
O diretor-geral da escola, Marcelo
Henrique da Costa, revelou que o objetivo
da aula inaugural é trazer para a Alerj
o debate de temas centrais que dizem
respeito à legislação e à sociedade.
“Estamos recebendo um especialista
reconhecido para tratar de um tema
que, em alguns casos, inviabiliza todo
o trabalho dos gabinetes. Queremos que
toda aula inaugural tenha essa caracte-
rística”, pontuou. O diretor frisou, ainda,
a importância da realização dos cursos
continuada dos servidores da Alerj. “Os
cursos de Processo e Técnica Legislativa,
Redação Oficial, Contabilidade Pública e
Licitação e Contrato são mais um passo
para a formação continuada dos nossos
quadros”, revelou.
O coordenador da Es-
Fabiano Veneza
cola do Legislativo, de-
putado Gilberto Palmares
(PT), falou da expectativa
em ampliar os trabalhos da
escola para além da Casa
e do município do Rio.
“Estamos com o processo
de licitação em curso pa-
ra realizarmos um sonho
antigo de oferecer o MBA
em Técnico do Legislativo,
uma iniciativa pioneira em
todo o País. Estamos fa-
zendo uma parceria com
a Secretaria de Estado de
Fazenda para habilitar nos-
sos servidores para lidar com o Sistema de
Administração Financeira para Estados e
Municípios (Siafem) e com o Sistema de
Informações Gerenciais (SIG), que são fer-
ramentas fundamentais para a fiscalização
do Executivo. Queremos expandir nossas
ações para todo o estado, promovendo
cursos técnicos para câmaras municipais
e prefeituras”, sublinhou o petista.
Rio de Janeiro, de 1º a 15 de abril de 2008
movimento
União pelo fim do exame da OAB
Frente parlamentar tem
como objetivo a extinção da
obrigatoriedade da prova para
o exercício da advocacia
C
Natalia A lves
om o objetivo de apoiar a ex-
tinção da prova da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) e
alertar a sociedade quanto a uma série de
dúvidas, falhas e injustiças que envolvem
o tema, foi lançada, no dia 11 de abril, a
Frente Parlamentar contra o Exame de
Ordem da OAB, no Plenário Barbosa Lima
Sobrinho da Assembléia Legislativa do
Rio. “A OAB está sendo responsável pelo
desemprego de quase quatro milhões de
bacharéis em Direito, que estão tendo cer-
ceada a garantia de exercer a profissão.
Esse exame não reflete, verdadeiramente,
a qualidade do profissional. Teremos um
trabalho árduo e de longo prazo”, revelou
o presidente da frente, deputado Flávio
Bolsonaro (PP). O desembargador Luiz
Eduardo Rabelo aproveitou o evento
para alertar sobre a inconstitucionali-
dade da prova. “O exame teria que ser
criado por lei e regulamentado pelo
presidente da República, não por um
deputado federal”, pontuou.
O desembargador disse ainda que
esse exame contraria diversos dispo-
sitivos constitucionais, que atribuem
competência às universidades e ao
poder público. “Além de impedir o
exercício da profissão pelo bacharel, que
é assegurado pela Constituição, esse
exame impede a realização de alguns
concursos públicos. Outra questão que
deve ser abordada é que o Governo fe-
deral criou o Prouni e o financiamento
estudantil para facilitar o acesso de
jovens a universidades. O financiamen-
to estabelece o início do pagamento
do empréstimo para seis meses após
o término do curso”, indicou Rabelo,
acrescentando que a obrigatoriedade da
aprovação no exame de Ordem impede
muitos estudantes de exercerem a pro-
fissão e, com isso, terem rendimentos
para arcar com o empréstimo. “Esse
aspecto político pode sensibilizar o
Supremo Tribunal Federal (STF) em
relação à causa”, explicou.
Para o deputado federal Jair Bolsona-
11
Fabiano Veneza
O advogado João Antônio Volante, do Rio Grande do Sul, defendeu o fim do exame de ordem
ro (PP-RJ), o interesse da OAB em rela- definir a qualificação de um profissional.
ção ao exame é puramente econômico. A sociedade precisa se conscientizar em
“Seria favorável à realização do exame relação a isso”, constatou.
se ele fosse dividido ao longo dos cinco Segundo o coordenador regional do
anos de curso, e sem qualquer tipo de Movimento Nacional dos Bacharéis em
contribuição financeira por parte do Direito, José Valadão, o grupo não é
estudante. O que a OAB quer contrário à OAB ou a
é arrecadar o valor referente profissionais do Direi-
à taxa do exame. Isso é que to em particular. “Es-
precisa ser discutido e revis-
to”, defendeu. “ A OAB está sendo
responsável pelo
Segundo Jair Bolsonaro, desemprego de
ta luta é em favor da
dignidade do bacharel
e pela democracia.
a OAB foi convidada e não quase quatro milhões Não somos contra
mandou representante. “Que de bacharéis
democratas são esses que ”
não admitem ou respeitam Deputado Flávio Bolsonaro (PP)
uma instituição a que
queremos pertencer.
Entendemos que esse
uma posição contrária a exame fere de morte
seus interesses? Se o que a OAB e, por isso,
aconteceu hoje aqui fosse uma ses- lutamos pela sua extinção”, emendou
são de julgamento, das duas uma: Valadão. O presidente nacional do
ou a OAB seria condenada à revelia Movimento Brasil dos Bacharéis em
ou, caso estivesse presente, sofreria Direito, João Antônio Volante, fez
uma derrota memorável, pois os fun- denúncias relativas à utilização da
damentos e argumentos levantados taxa paga para a realização do exame.
por esses bacharéis em direito, que “Sabemos que essa verba tem sido
a OAB julga serem incompetentes, utilizada para o financiamento de
convenceriam até os mais ignoran- campanhas”, condenou.
tes, inclusive os burocratas da OAB”, Os deputados Paulo Ramos (PDT),
provocou Bolsonaro. Natalino (DEM) e José Nader (PTB)
A promotora de Justiça Dora Beatriz participaram do evento e manifestaram
da Costa assegurou que a prova não defi- seu apoio à criação da frente, da qual
ne um bom profissional. “Ofereço inúme- também fazem parte os deputados
ras denúncias contra maus profissionais Glauco Lopes (PSDB), Marcos Abrahão
diariamente. Esse exame é inútil para (PSL) e Dionísio Lins (PP).
12 Rio de Janeiro, de 1º a 15 de abril de 2008

l ENTREVISTA jorge babu (Pt)

Zô Guimarães

“Meus projetos
foram criados a
partir do que vejo”

P
F ernanda Porto

ai de duas filhas adolescentes, morador orgulhoso de

Santa Cruz, zona Oeste do Rio de Janeiro, policial civil
e tricolor, o deputado Jorge Babu (PT) somou a estas
auto-intitulações a de “defensor incansável da parcela menos fa-
vorecida da população”, quando, há oito, anos, decidiu investir na
política como forma de ver resolvidos os problemas da Zona Oeste
do Rio. Afeito a associações com São Jorge e a umbanda – fé que
professa e que já se tornou uma marca – o deputado estreante é
comedido ao falar sobre o “santo guerreiro”, cujo dia foi transfor-
mado em feriado estadual a partir de projeto de sua autoria. “Ajo
movido pela certeza de que o simbolismo do santo dá garra e traz
benefícios a todos. Mas tenho o cuidado de não ter minha imagem
excessivamente associada à dele. Minha devoção é séria e meu
interesse maior é o de fazer bem o meu trabalho como legislador,
do qual me orgulho”, salienta, ladeado por cinco imagens do santo
que decoram seu gabinete.

O que levou o senhor para
a política?
Meu desejo de poder fazer
algo pelo povo da região de
Santa Cruz, que estava aban-
donado. As pessoas estavam
muito decepcionadas com os
políticos, que só nos procura-
vam em época de eleição. Foi
o desejo de atuar em defesa
do bairro que me convenceu
a trilhar este caminho. Des-
de então, está tudo correndo
melhor do que esperava. En-
trei no PT a convite de meu
irmão, fundador do partido, e
me elegi vereador na primeira
tentativa. Cumpri um manda-
to e meio como vereador na
mara deixando 111 projetos de rúrgica do Atlântico, pre- sobre um empreendimento tão
lei e 32 leis aprovadas em seis sidida pelo senhor? importante e não apresentar
anos de trabalho. Alguns deles Pedi sua prorrogação por mais nenhuma conclusão.
já apresentei aqui, como o que 30 dias porque quero apresen-
tira os caixas eletrônicos dos tar um relatório final do estudo. Há anos o senhor tem a
locais onde não há segurança O trabalho da comissão me bandeira da homenagem
24 horas. Entendo que o banco surpreendeu. Para ser fran- a São Jorge e já emplacou
não pode ser 24 horas se não co, esperava encontrar uma duas leis, uma municipal
oferece segurança durante situação bem mais definida. e outra estadual, res-
todo o tempo. É um projeto Encontramos algumas licenças paldando o 23 de abril
de que gosto, que consegui suspeitas e coisas funcionan- como dia santo. Qual o
tornar lei no município e que do aos trancos e barrancos, o significado para o senhor
espero ver estendido a todo o que é preocupante. Por isso deste tributo?
estado. Também estou finalizando Veja que citei vários projetos
aposto nas pro-
“ Foi o desejo de
postas que torna- atuar em defesa
um relatório com
tudo o que foi vis-
rão obrigatória a do bairro de Santa to para ser envia-
sem mencioná-los. Não quero
criar polêmica, eles foram
pensados enquanto devoto do
vacinação contra Cruz que me do ao Ministério santo, mas também por conta
o tétano no setor convenceu a trilhar Público. Acredito de uma preocupação com a

Câmara Municipal do Rio e
me elegi deputado estadual.
Em oito anos na política ga-
nhei três eleições. Considero-
me um vitorioso.
E a expectativa de po-
der ajudar sua região se
cumpriu?
Sim, e foi além. Além de ter
mais condição de ajudar o
lugar onde nasci, cresci e crio
minhas filhas, pude desenvol-
ver um trabalho legislativo do
qual me orgulho. Saí da Câ-
da construção este caminho
civil e o exame
de vista gratuito
para alunos da rede pública,
que muitas vezes são preju-
dicados pela limitação visual.
Não faço distinção entre meus
projetos, acredito em todos,
porque foram criados a partir
do que vejo.
Como está o trabalho da
Comissão Especial para
acompanhar a implanta-
ção da Companhia Side-
”
que esta empresa
poderá ser ruim
para a qualidade
de vida do povo de Santa Cruz.
Ela será benéfica pela movi-
mentação de capital e geração
de empregos, mas será prejudi-
cial porque está danificando o
meio ambiente ao aterrar área
de manguezal. Também acre-
dito que ela causará danos à
Baía de Sepetiba. Decidi fazer
um relatório porque não faz
sentido me colocar à disposi-
ção para presidir os trabalhos
população fluminense. Num
determinado momento, São
Jorge passou a ser o principal
santo do Rio, o mais popular.
Minha iniciativa nasceu des-
ta conclusão. As coisas não
andam bem no estado, e o
Santo Guerreiro traz em sua
história uma mensagem bo-
nita de luta, de perseverança.
Vencer a batalha representada
pelo dragão é uma analogia
ao povo do Rio, que enfrenta
batalhas diárias em busca de
uma vida mais digna.