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A reorganização do sistema de partidos em Angola

Nelson Pestana
Investigador- coordenador do CEIC da Universidade católica de Angola

 INTRODUÇÃO

 ORIGEM DOS PARTIDOS E DO SISTEMA POLÍTICOS

 ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE PARTIDOS

 RESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA DE PARTIDOS

 CONCLUSÃO

INTRODUÇÃO

Durante os primeiros dezasseis anos de independência o país viveu sob o império do


partido único. Em 1991, a Lei Constitucional é alterada e passa a admitir o
multipartidarismo embora o Estado continue a ser dominado exclusivamente pelo
partido de poder. Apenas em Setembro de 1992 é que o sistema multipartidário vai ser
concretizado com a realização das primeiras eleições pluralistas no país.
Desde então, o sistema de partidos, no país, aparece aparentemente como um sistema
fragmentado por uma imensa multitude de pequenas formações, embora a grande
política se fizesse em torno de uma pretendida bipolarização entre o partido de poder de
tendência hegemonia e totalitária e a oposição protagonizada pelo seu parceiro de
Bicesse (Lusaka e Luena) ou colateralmente por uma ou outra formação política
(nomeadamente, por aquelas que estavam representadas no parlamento).

Vive-se então uma espécie de partidarite que segregava a ideia de que havia partidos
políticos em excesso, de natureza parasitária, cuja função era unicamente a absorção
indevida de dinheiros públicos que tanta falta faziam em outros sectores e áreas sociais.
Por detrás disto, ressoava a ideia de que o país podia viver sem partidos ou, pelo menos,
sem a maior parte deles, resultando na desclassificação dos partidos políticos e,
particularmente, do papel destes na democracia.

Apesar da importância atribuída aos partidos políticos nas democracias modernas, onde
jogam um papel fundamental, a mera proclamação da democracia formal contrasta com
o papel que lhes é reservado no plano da economia política do poder em concreto no
país, onde deveriam representar, antes de mais, a materialização de um principio
fundamental que é o de permitir as pessoas (indivíduos ou grupos) partilharem de ideias
e objectivos similares de se aliarem para defenderem um programa comum e promover
uma acção conjunta. A constituição angolana é clara ao definir os partidos políticos
como organizações que concorrem, através de um projecto de sociedade e de um

1
programa político, “para a organização e para a expressão da vontade dos cidadãos”,
quer através da vida política, quer através do sufrágio universal (artigo 4 da Lei
Constitucional). Entendendo-se o sufrágio universal como uma das formas de expressão
da soberania popular, os partidos políticos são concebidos pela Constituição de 1992
como um dos meios dos cidadãos de participação na vida da Nação e de exercício dessa
soberania (nº 2 do artigo 3 da Lei Constitucional).

A constatação (de facto) da existência de partidos em excesso, do seu carácter


parasitário e, sobretudo, da sua condição de sorvedouros indevidos de recursos tinha
como corolário uma espécie de consenso mole na opinião pública, segundo o qual havia
que terminar com este estado de coisas e acabar com a maior parte dos partidos
políticos, fazendo com que existissem apenas aqueles que verdadeiramente tinham uma
existência real.

Apesar desta opinião geral espelhada na acção da comunicação social, uma série de
ditos partidos políticos continuavam a beneficiar do beneplácito do poder, continuavam
a multiplicar-se e a encontrar financiamento fácil sem que tivessem que dar provas da
sua utilidade política, enquanto aqueles que protagonizavam acções de verdadeira
oposição, dando sentido ao sistema democrático, viam aumentar os obstáculos ao
normal desenvolvimento da sua acção.

O propósito do poder sempre foi o de provocar a proliferação deste tipo de formações


para as poder manipular, fazendo delas instrumentos de combate da oposição e de
descrédito da democracia, empolado o sistema de partidos até a sua justificada
implosão. Com a ordem decorrente da pax romana estabelecida após a derrota militar da
Unita (2002); sinal dos tempos, a partir do pacote legislativo de preparação da retomada
da normalidade constitucional e eleitoral (entendida como o retorno da vida política ao
quadro e limites da Constituição), o poder, não tendo mais necessidade destes
instrumentos de política, vai, por um lado, estabelecer uma série de mecanismos
tendentes a alterar o quadro de proliferação de partidos que antes havia estimulado e,
sobretudo, por outro, procurar fazer desaparecer ou integrar os restantes num sistema de
controlo mais eficaz, manietando a sua capacidade de representarem uma alternativa ou
de funcionarem como marginalidade opositora em relação ao sistema de poder e de
dominação estabelecido.

As Eleições Legislativas, de 5 de Setembro de 2008, foram pois tidas como a


oportunidade de uma reconfiguração do sistema de partidos políticos, que se veio a
confirmar e que importa compreender através, primeiramente, de (I) uma visão
panorâmica da origem do sistema político actual e dos partidos políticos que sirva de
pano de fundo para falar, em segundo lugar, da sua (II) organização em sistema e,
finalmente, verificar as mudanças assinaladas através da e explicar (III) reestruturação
do sistema de partidos políticos.

I. A ORIGEM DO SISTEMA POLÍTICO E DOS PARTIDOS

Angola tem uma tradição político-partidária das mais antigas da África sub-saariana
pois, desde o inicio do século XIX que se constituem clubes políticos dos “filhos do
país” que darão corpo a outras formas de organização política, como os comités
políticos protopartidários que vão sustentar a actividade militante do nacionalismo
oitocentista, nos dois últimos quartéis desse século.

2
O nativismo dos anos 1920/30 também vai adoptar várias formas organizativas e, entre
elas, o partido político que será um antecedente aos partidos do nacionalismo moderno,
antes mesmo dos movimentos de libertação nacional se tornarem o modelo
paradigmático da luta anti-colonial.

Por altura da proclamação da independência, no contexto de uma guerra civil, entre os


três movimentos de libertação nacional, apoiados em forças estrangeiras, instala-se um
sistema de partido único, definido constitucionalmente como “a força dirigente do
Estado e da sociedade”. Este partido assume-se como partido/Estado e não admite a
participação de nenhum outro actor político ou social no “espaço público” que não
fossem as suas organizações de massas que, sendo suas próprias declinações de poder,
eram as únicas formas de intervenção cívica admitida à época, funcionando como
mediações tendentes a iluminar a ideia da “vanguarda revolucionária” que tudo
determinava ao menor pormenor, pois o partido/Estado tinha uma forte vocação
totalitária.

Nenhum espaço deveria em regra fugir ao seu controlo. No entanto, lá onde existe
poder, existe resistência (Foucault) e, por isto, contra essa vontade totalitária e a sua
acção totalizante se manifestaram várias formas de resistência, quer formas organizadas,
quer espontâneas, quer através da resistência civil, quer de luta armada, quer no plano
político e militar, quer no plano económico e moral. Toda esta reacção à política de
exclusão e violência promovida pelo poder totalizante do partido único conflui para o
cumulo de factores de mudança, traduzidos no agravamento da guerra civil, da crise
económica, da crise social e de uma forte pressão demográfica. O poder perante o
agravamento da situação vai procurar saídas para a crise através da reforma económica
e financeira, da descompressão política, da reconversão das elites (acomodando melhor
os seus interesses de riqueza) e da negociação da paz.

Entretanto, acontece a queda do Muro de Berlim e o fim da bipolarização. Instala-se


(teoricamente) a era da democratização universal (Fukayama fala no “Fim da História”).
A situação africana passa a ser vista como uma questão política e não mais como uma
simples questão económica, que seria resolvida através da aplicação de “planos de
reajustamento” e reorganização administrativa que permitiriam acabar com os
resultados económicos e sociais catastróficos até aí obtidos e fazer a integração do
continente no espaço público internacional.

Nessa altura, também os doadores internacionais fazem um deslocamento do


“económico” para o “político” e passam a ver os chefes autocratas africanos
(geralmente corruptos e excêntricos) como verdadeiros obstáculos ao desenvolvimento
dos seus países. Coloca-se então, na ordem do dia, a necessidade de modernização dos
sistemas políticos africanos, nomeadamente, dos seus sistemas de legitimação do poder.

O desenvolvimento é associado à democracia e, particularmente, à ideia de eleição


directa dos governantes pelo Povo. A ajuda pública internacional é condicionada à
aceitação de novas formas de legitimação do poder. E, deste modo, o chefe tradicional
(ou carismático) – tido, no dealbar das independências, como o cimento da unidade
nacional e o garante de um rápido desenvolvimento – dá lugar à representação legal e
racional do poder.

3
Após a queda sucessiva das ditaduras dos países do Leste europeu e o seu
encaminhamento para a transição para a democracia, o continente africano empreende o
mesmo caminho, sobretudo através das chamadas Conferências Nacionais Soberanas.
Em Angola, país em guerra civil, que vive uma dupla crise: de desenvolvimento
(económico e social) e de Estado (pela sua fraca legitimidade), a transição para a
democracia é associada ao processo de Paz. Deste modo, evita o modelo das
“Conferências Nacionais Soberanas”, como espaço de renegociação do contrato social e
torna a negociação da questão democrática monopólio dos dois poderes armados
autoritários, beligerantes da guerra civil. O que resulta num processo de transição para a
democracia sob hegemonia da legitimidade das armas, tendo como pano de fundo a
coexistência de três ordens conflituantes: (1) a do partido/Estado que empreende
reformas de antecipação às reivindicações da sociedade civil e as do poder guerrilheiro,
(2) a das “terras livres de Angola” (que de livre só tem o nome) que se assume como
força para-estatal, que fala em nome da “democracia” mas defende o monopólio da
política para os “dois” e não se mostra disponível para a abertura do espaço público a
outros actores políticos (e até sociais)1, e (3) a dos Acordos de Bicesse (CCPM) onde
pontifica a aliança dos dois beligerantes, apoiados nos mediadores (Estados Unidos,
Rússia e Portugal). É neste contexto que têm lugar as eleições legislativas e
presidenciais de Setembro de 1992 que vão ter como resultado a vitória do
partido/Estado e do seu presidente, embora, neste caso, houvesse a necessidade de uma
segunda volta.

Este resultado provocou - entre a sua rejeição, por acusação de fraude pela oposição
(civil e armada), validação da Nações Unidas, jogos políticos e concertações
diplomáticas - uma crise que não tendo sido debelada, levou ao retorno da guerra.

II. ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE PARTIDOS

Apesar dessa “nova” guerra pós eleitoral, mais violenta do que a anterior, o novo
Governo, “legitimado pelo voto” tomou posse, apoiado na maioria de 53% do seu
partido na novel Assembleia Nacional. Esta constituiu-se integrando o partido do poder
e mais onze partidos da oposição, entre eles, uma parte de deputados da UNITA (que na
circunstância se dividiu em UNITA-parlamentar e UNITA-militar).

Mas, em vez do país continuar na senda da transição para a democracia, a retomada da


guerra que se seguiu às eleições de 1992, é tida pelo partido-Estado como a
oportunidade de empreender uma restauração autoritária para recuperar as franjas de
poder perdidas no período da chamada “abertura democrática”. Nessa altura, o poder
tem interesse na “oposição à oposição” e na fragmentação da demanda política dos
descontentes para que ela não se concentre numa oposição civil alternativa forte,
constituída por poucos partidos de referência. Por isto, promove ou facilita a criação de
muitos partidos políticos2 para os desvalorizar e a própria ideia da democracia que
continua, no entanto, a ser um forte elemento da sua legitimação, nomeadamente junto
da comunidade internacional.

1
Basta recordar dois episódios sobre os ditos “partidecos” e sobre os “Direitos Humanos”, como bala de
ricochete.
2
Sobretudo daqueles que se mostram arrivistas e que utilizam os ditos partidos como escritórios de
negócios ou como instrumentos de pressão sobre o poder para dele retirar prebendas ou benefícios para os
seus líderes.

4
Permite então o registo de partidos políticos sem a verificação dos requisitos legais
exigidos e facilita o seu financiamento pelo erário público, o que estimulava a criação
de mais partidos. O que conduz a existência de um sistema de partidos aberto e hiper-
inflacionado, embora haja a predominância de dois partidos de peso desigual na gestão
da res publica. A vida política regista então a intervenção regular de aproximadamente
uma dezena de formações políticas (destacando-se algumas não representadas no
parlamento), enquanto outras tantas completamente desconhecidas da opinião pública
(elas e os seus lideres) pontificava de forma circunstancial e episódica, mormente para
declarar o seu apoio ao Presidente da República.

Na Assembleia Nacional regista-se a presença de doze partidos políticos que embora


com poderes muito desiguais, configura a presença de interesses ideológicos,
económicos, sociais e regionais diversos, mesmo porque a geografia eleitoral saída
dessas eleições mostram-nos que há áreas geográficas do país distribuídas por várias
forças políticas. O MPLA tem primazia em todo o país mas cede posição para a UNITA,
a FNLA e o PRS, em algumas províncias. São respectivamente, o Huambo, Bié (5
deputados), Huambo (4 deputados), Benguela (3 deputados) e Kuando-Kubango, (4
deputados), no caso da UNITA que se apresenta como primeira força nestas províncias.
Na Lunda-Sul, para o PRS (2 deputados) e no Zaire, para a FNLA (2 deputados) que se
afirma como primeira força aí, pois dos seis município em que a província está dividida
obtém maioria em três, perdendo por escassa margem em dois para o MPLA (Tomboco
e Nóqui) e em um para a UNITA (Soyo).

No entanto, esta geografia eleitoral na se traduz na vida política dessas províncias ao


longo dos dezasseis anos em que não são realizadas eleições. Esta geografia eleitoral
está também na origem da recusa do partido/Estado em implementar a democracia
municipal, pois esta viria a impor-lhe necessariamente uma distribuição do poder, ao
nível do local, coisa que nunca consentiu, mesmo formando um dito Governo de
Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), após os acordos de Lusaka.

No plano político, o MPLA, apesar das várias contradições que animam as suas
facções, encontra a sua coesão em torno da aversão e medo que a todos inspirava o líder
da guerrilha, sobretudo quando este assume claramente a atitude de conquistador
revanchista, disposto a organizar uma larga vendetta contra todos aqueles que não se
mostram solícitos em relação aos seus apetites de poder3. A criação artificial de cisões
no interior de partidos políticos foi também um dos meios utilizados pelo poder para
destabilizar, fragilizar e coarctar a acção destes no espaço público, manipulando e
disciplinando a seu favor o sistema de partidos.

III. A RESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA DE PARTIDOS

No quadro da normalização da vida política nacional e da sua reintegração na ordem


constitucional, depois de muita pressão interna e externa e de várias promessas não
cumpridas, o Presidente da República, numa reunião do Conselho da República,
convocada por ele expressamente para tratar dessa matéria, compromete-se com o país
em convocar as eleições legislativas para 2008 e as presidenciais para 20094.

3
Basta lembrar os episódios da TPA, do comboio de Malanje, dos despropósitos contra personalidades da
sociedade civil, nomeadamente como Joaquim Pinto de Andrade.
4
Por força da Constituição angolana cabe ao Presidente da República convocar as eleições.

5
Neste contexto, depois de longo adormecimento, é a oportunidade de ouvir falar dos
partidos políticos. Mesmo formações políticas que não tinha propriamente existência
pública vão apresentar a sua candidatura às eleições legislativas, junto do Tribunal
Constitucional. Apesar de ter havido cerca de 32 candidaturas, o Tribunal Constitucional
apenas valida a candidatura de 14 formações políticas (10 partidos políticos e 4
coligações que representavam um conjunto de 20 partidos).

Este processo de candidaturas determina já um reordenamento do sistema de partidos


pois entre os vários instrumentos pensados para redefinir o sistema de partidos e para
submeter todos à “linha de comando” do Estado5, está a “representação social mínima”
para participar nas eleições que é maior que “a representa social mínima” para a
constituição de um partido. A lei ordinária estabelece três limites sobre a
“representatividade social mínima” dos partidos políticos: primeiro para a sua
“constituição”, prescrevendo a necessidade do requerimento de inscrição de um partido
político ser subscrito por um mínimo de 7500 cidadãos (artigo 14º, nº 1, da Lei 2/05, de
1 de Julho, Lei dos Partidos Políticos). Segundo para a sua “participação nas eleições”,
exigindo que a sua candidatura às eleições legislativas sejam suportadas por 14000
eleitores (5000 para o circulo nacional, 500 por cada uma das 18 províncias do país)
(artigo 62º, Lei 6/05, de 10 de Agosto, Lei Eleitoral) e terceiro para a sua “continuação”
após participação no sufrágio eleitoral, ao determinar a extinção dos partidos que não
atinjam 0,5% dos votos validamente expressos no pleito eleitoral em causa (artigo 33º,
nº 4, alínea i, da Lei 2/05, de 1 de Julho, Lei dos Partidos Políticos).

A obrigação de apresentação de um outro número de assinaturas dos cidadãos para


participar das eleições estimulou o reagrupamento dos partidos mais pequenos em
coligações que por força da lei, uma vez apresentada a candidatura, passavam a
funcionar como se de um partido se tratasse.

O Tribunal Constitucional, ao declarar que estas formações políticas não têm “apoio
social mínimo” para participar das eleições legislativas, retira legitimidade de facto a
todos eles que se vêem constrangidos a procurar outras soluções para as suas pretensões
políticas que não a de se apresentarem como partidos políticos. A concretização mais
acabada desta política de reordenamento da geografia dos partidos políticos e do seu
sistema, no país, vai ocorrer com a publicação dos resultados das eleições de 5 de
Setembro de 2008, pois outro mecanismo de reordenamento dos partidos é o “apoio
social mínimo” nas eleições. Este não é estabelecido em termos absolutos mas relativos,
pois os partidos concorrentes que não obtenham 0,5% dos votos validamente expressos
podem ser extintos, por via judicial (artigo 34º, da Lei dos Partidos Políticos).

Esta clausula-sanção, aplicada em função dos resultados outorgados nas eleições de 5 de


Setembro de 2008, resultou num claro reordenamento do sistema de partidos angolanos,
pois provocou a dissolução (própria ou judicial) de vários partidos políticos
concorrentes. Na verdade, o resultado das eleições legislativas, fortemente marcado pela
fraude, vai produzir dois efeitos imediatos: o primeiro, é a redução do número de
partidos representados na Assembleia Nacional, passando de 12 partidos (ou 11, depois
da extinção voluntária do Fórum Democrático Angolana (FDA) para 7 (convertida em 5
por força de uma distribuição de mandatos fraudulenta, consagrada reiteradamente pela
CNE e pelo Tribunal Constitucional). O segundo efeito imediato, foi a extinção de oito
5
Nos termos do Tribunal Constitucional, no seu célebre Acórdão sobre a concentração de poderes na
pessoa do Presidente da República.

6
formações políticas concorrentes que corresponde a extinção de muitos mais partidos
políticos, pois entre os concorrentes às eleições havida três coligações que
representavam – partidos políticos. Estes dois efeitos imediatos produzem outros efeitos
colaterais e exercem uma forte disciplina sobre o sistema de partidos. Basta verificar
que dos partidos extintos apenas uma formação (a FpD) empreendeu um processo de
refundação, agora designada Bloco Democrático (BD). Este reordenamento é tendente à
reafirmação da bipolarização do sistema. Assente numa bipartidarização imperfeita.
Esta bipartidarização, apesar de assente em dois partidos, é imperfeita porque ela é
construída em torno de dois pólos mas com a certeza de que num dos pólos (o do poder)
estará sempre o partido no poder e no outro pólo o eternamente “maior partido de
oposição”, substituindo assim a concorrência política por uma harmoniosa e consentida
divisão de trabalho político. Também é uma bipolarização imperfeita porque o sistema,
apesar de repousar o jogo político nessas duas forças, não está capaz de excluir
totalmente (pelo menos de momento) as demais formações políticas representadas no
parlamento (PRS e FNLA), porque elas proporcionam uma maior eficácia ao
bipartidarismo imperfeito a vários níveis. Sem esgotar as razões dessa
“impossibilidade”, direi que a FNLA é necessária por razões históricas, pelo peso que
ela representa na província do Zaire (e Cabinda) mas também porque a qualquer
momento poderá servir de força disciplinadora, força de contenção da Unita. O PRS,
assumindo-se como um partido republicano, tributário do sistema constitucional
vigente, é necessário para conjurar a reivindicação independentista no Leste. E, por isto,
se, por um lado, procura encurtar-lhe os passos para não lhe permitir que se constitua
em alternativa, para não lhe permitir que se apresente como uma força capaz de lhe
disputar a hegemonia política, por outro, não lhe retira toda a legitimidade, mesmo
porque o PRS nunca se assumiu como um partido anti-sistema, apesar da sua
reivindicação federalista. A Nova Democracia 6 justifica a sua existência como arauto
maldito do Príncipe.

Este reordenamento, para ser ainda mais eficaz, como meio de garantia da reprodução
do actual sistema de dominação e de desigualdade, também procurou tornar a vida
política cada vez mais refém dos partidos políticos e dos jogos de poder no seu interior,
ejectando cada vez mais os cidadãos do espaço público e da participação na decisão das
politicas públicas e da gestão da res publica.

Estes propósitos encontram aliados nas lideranças partidárias ávidas de poder, mesmo
que apenas seja o micro poder da liderança de um micro-partido. Porque são estas
lideranças que muitas vezes defendem e propagam a ideia de que os partidos se
substituem aos cidadãos na política e de que estes são a forma de existência da política e
o único meio (verdadeiramente legítimo) de participação dos cidadãos. Os partidos
seriam assim, ao mesmo tempo, as únicas formas de canalização dos interesses dos
cidadãos, e os meios de controlo e repressão selectiva das vontades dissidentes, sendo
mais uma componente de um sistema de mediação e de aperfeiçoamento da vontade do
Príncipe que propriamente um meio de oposição, de manifestação da liberdade de
expressão, de contestação e de proposição alternativa.

6
Fundada a 18 de Novembro de 2006, a Coligação Nova Democracia é integrada pelos partidos
Movimento para a Democracia de Angola (MPDA), Partido Social Independente de Angola (PSIA) e
Partido Socialista Liberal (PSL). A coligação congrega ainda os partidos União Nacional para a
Democracia (UND), União Angolana pela Paz, Democracia e Desenvolvimento (UADPDD) e a Aliança
Nacional Independente de Angola (ANIA).

7
Esta acção disciplinadora vai ao ponto de coarctar os seus próprios apoiantes e de
remete-los para acções intramuros. Nada de rua, de praça pública para que não possa ser
tomado como exemplo, a contrario. Toda a política deve ser canalizada através das
instituições disciplinadoras, por isto, mesmo as manifestações do chamado “Movimento
Nacional Espontâneo de Apoio A Sua Excelência O Presidente da República”, mais
conhecido pela expressão abreviada: “Movimento Espontâneo” são dissuadidas. A
questão agora é de trabalho; o “mais trabalho pouco discursos”, tem também essa força
reprodutiva no campo da acção política.

IV. CONCLUSÃO

Para concluir direi, primeiro, que se as eleições de 1992 foram realizadas imbuídos de
espírito guerreiro e em ambiente de guerra latente, tendo os dois beligerantes a
significação simbólica (e real) de que as eleições eram “a continuação da guerra por
outros meios”, em 2008, as eleições legislativas vão ser tomadas como a oportunidade
de reorganização do sistema político nacional e da consolidação do poder hegemónico
do Presidente da República

O que resultou, não numa bipolarização, inspirada no modelo da guerra em que apenas
se admitem dois campos: “nós” e o inimigo, mas num bipartidarismo não competitivo
(imperfeito) quer porque afinal há mais partidos e grupos representados na Assembleia
Nacional, quer porque um dos dois partidos políticos que formam o sistema, jamais terá
a oportunidade de ser poder. Este reordenamento resulta também no afastamento do
cidadão da política e do reforço da centralização do poder no Presidente da República.

E, por isto, a eleição presidencial, prevista para 2009, passa a não ter nenhuma utilidade
para o sistema de poder e é encarada como representando um recuo em relação ao
conseguido, em termos de restauração autoritária.

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