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entre saúde indíge


e o programa mais médic
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e o programa mais médicos
ins: para o brasil no Tocantins:
Uma análise a partir
rtir do povo Xerente

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ROGÉRIO FERREIRA MARQUEZAN
Universidade Federal do Tocantins

ODAIR GIRALDIN
Universidade Federal do Tocantins
Marquezan, R. F. | Giraldin, Odair

A INTERFACE ENTRE SAÚDE INDÍGENA E O PROGRAMA


MAIS MÉDICOS PARA O BRASIL NO TOCANTINS: UMA
ANÁLISE A PARTIR DO POVO XERENTE
Resumo
Esse artigo descreve e analisa relações que emergem da atuação
dos profissionais do Programa Mais Médicos para o Brasil na saú-
de indígena do Tocantins, a partir do contato desses profissionais
com o povo Akwe~/Xerente. Recorreu-se aos relatos de profissio-
nais e de indígenas Xerente, coletados na área indígena onde atu-
am e nos novos espaços que surgem pela dinâmica do Programa.
Dessa zona de contato entre profissionais e indígenas emergiram
novas formas de relacionamento. Fatores como permanência dos
profissionais, formação adequada e disponibilidade foram impor-
tantes para a interação desses profissionais com a comunidade
contribuindo para uma relação mais simétrica. De outro lado, o
processo histórico de relação dos Xerente com a sociedade cir-
cundante consistiu num elemento facilitador dessa relação.
Palavras chave: Xerente, Programa Mais Médicos; Saúde indígena.

THE INTERFACE BETWEEN INDIGENOUS HEALTH AND THE


BRAZILIAN MORE DOCTORS PROGRAM IN TOCANTINS: AN
ANALYSIS FROM THE XERENTE PEOPLE
Abstract
This manuscript describes and analyzes the relationships that
emerge from the work of professionals of the Brazilian More
Doctors Program in the indigenous health of Tocantins, from the
contact of these professionals with the Akwe~/Xerente people.
It was used the reports of professionals and Xerente indigenous,
collected in the indigenous area where they work and in the new
spaces that arise due to the dynamics of the Program. From this
contact zone between professionals and indigenous, new forms
of relationship emerged. Factors such as the permanence of pro-
fessionals, adequate training and availability were important for
the interaction of these professionals with the community, contri-
buting to a more symmetrical relationship. On the other hand, the

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historical process of relationship between the Xerente and the


surrounding society was a facilitator of this relationship.
Keywords: Xerente, Brazilian More Doctors Program, indige-
nous health.

LA INTERFAZ ENTRE SALUD INDÍGENA Y EL PROGRAMA


MÁS MÉDICOS PARA BRASIL EN TOCANTINS: UN ANÁLISIS
A PARTIR DEL PUEBLO XERENTE
Resumen
Este artículo describe y analiza las relaciones emergentes de la
actuación de los profesionales del Programa Más Médicos para
Brasil en la salud indígena de Tocantins, a partir del contacto de
estos profesionales con el pueblo Akwe~/Xerente. Se utilizan los
relatos de los profesionales y de indígenas Xerente, recogidos en
el área indígena donde actúan y en los nuevos espacios que sur-
gen de la dinámica del Programa. De esta zona de contacto entre
profesionales e indígenas emergieron nuevas formas de relación.
Factores como la permanencia de los profesionales, formación
adecuada y disponibilidad fueron importantes para la interacción
de los profesionales con la comunidad, contribuyendo a una rela-
ción más simétrica. Por otro lado, el proceso histórico de relación
de los Xerente con la sociedad circundante constituyó un elemen-
to facilitador de esa relación.
Palabras clave: Xerente; Programa Más Médicos; Salud Indígena

Rogério Ferreira Marquezan


E-mail: rfm@uft.edu.br

Odair Giraldin
E-mail: giraldin@uft.edu.br

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Marquezan, R. F. | Giraldin, Odair

INTRODUÇÃO vinculados ao PMMPB em área indí-


gena constituiu um terreno fértil para
O objetivo desse trabalho é trazer à
fomentar discussões acerca da política
tona uma temática ainda pouco co-
de atenção diferenciada à população
nhecida e discutida no âmbito da saú-
indígena ao desvelar um rico espaço de
de indígena, que é a interface entre o
Programa Mais Médicos para o Brasil trocas culturais possíveis entre os pro-
(PMMPB) e o Subsistema de Atenção fissionais e os indígenas atendidos.
à Saúde Indígena, a partir do contexto Dentre os três eixos de atuação (pro-
do contato entre os profissionais do vimento emergencial, educacional
Programa e o povo Akwe~-Xerente, no e estrutural), o PMMPB ficou mais
estado do Tocantins. Implementado conhecido pelo eixo de provimento
pela Lei 12.871 de 22 de outubro de emergencial, que consistiu nas medi-
2013 como uma política de melhoria das para suprir demandas de acesso
de acesso da população aos serviços à atenção primária em saúde da po-
de atenção básica à saúde, o PMMPB pulação brasileira através da oferta de
envolve ações de provimento de médi- profissionais médicos. Historicamente,
cos para os locais onde historicamente o problema de fixação de médicos em
há carência desses profissionais, além áreas de difícil acesso afeta não só o
de ações no campo da formação médi- Brasil como vários outros países. Da-
ca, como a restruturação das diretrizes dos da Organização Mundial da Saúde
curriculares dos cursos de medicina, (OMS 2010) mostram que há uma con-
ampliação do número de vagas nos centração de profissionais nos grandes
cursos de graduação em medicina e
centros, e uma carência desses profis-
nos programas de residência médica
sionais no interior. Na saúde indígena,
de Medicina de Família e Comunida-
além da dificuldade de fixar profissio-
de (entre outras especialidades) e ain-
nais, há ainda as singularidades da aten-
da, melhoria da infraestrutura através
ção diferenciada, o que nos remete à
da alocação de recursos para reformas
de unidades de saúde nos municípios discussão aqui proposta.
que aderiram ao Programa. É necessá- Vários estudiosos têm apontado difi-
rio frisar que, no âmbito do PMMPB, a culdades de diversas ordens em relação
atuação dos médicos se dá necessaria- a efetivação da atenção diferenciada à
mente em conjunto com o restante da saúde indígena no modelo de saúde
equipe de saúde, e exclusivamente no pública vigente. Castellani (2012:21)
nível da atenção básica, corresponden- destaca as críticas dos indígenas ao
do a ações de prevenção e promoção subsistema de atenção diferenciada em
de saúde em consonância com as polí- relação à falta de materiais e recursos,
ticas de saúde vigentes. bem como a baixa resolutividade e a
Como se pode perceber, o Progra- reivindicação, por parte dos usuários
ma não nasce com foco específico na indígenas e seus apoiadores, de uma
saúde indígena. No entanto, a expe- maior participação na gestão do sub-
riência da atuação dos profissionais sistema.

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Outro ponto crítico é a formação minação caso não reconheçam os valo-


dos profissionais para atuar na saúde res e formas de organização próprios
indígena. Diehl & Pellegrini (2014), dessas comunidades. Esse argumento é
apontam a deficiência na formação corroborado por Garnelo & Sampaio
profissional para atuar no contexto in- (2003:312) ao afirmar que:
terétnico e a escassez de pesquisas so- “A saúde não se constitui como
bre o tema, assim como Silva (2013:32) espaço autônomo, por isso o en-
ressalta o desafio à formação de pro- tendimento da complexidade deste
fissionais de saúde para atuar junto às campo social deve ser referido a
comunidades indígenas, uma vez que questões mais gerais da cosmolo-
esses têm que conviver com diferenças gia, da organização das sociedades
de visão de mundo, línguas e costumes. indígenas e do exercício do poder
Segundo a autora: político, entendido à luz das inte-
rações engendradas pelo processo
“As diferentes visões de mundo
colonizatório”.
encontradas em nosso país nos
tornam muito mais ricos e, a partir Welch (2014:852), a partir dos traba-
dessa compreensão, faz-se necessá- lhos apresentados por ocasião do Gru-
ria uma comunicação intercultural po de Trabalho em Saúde Indígena
mais sensível, cuidadosa e, conse- no 10o Congresso Brasileiro de Saúde
quentemente, inteligível e dialógi- Coletiva no Rio Grande do Sul, con-
ca” (Idem).
clui: “[...]fica evidente que, apesar de os
A efetiva participação nos processos princípios da equidade e da atenção di-
decisórios também constitui um de- ferenciada serem norteadores do Sub-
safio. Diehl & Langdon (2015:215) sistema de Atenção à Saúde Indígena, a
argumentam que, apesar da política de realidade da saúde dos povos indígenas
atenção diferenciada ter criado espaços no Brasil continua distante do ideal.”.
para a participação das organizações e
Bernardes (2011) amplia a discussão
comunidades indígenas, a forma que
sobre a alteridade dos povos indígenas
esses espaços foram organizados com
e o que ele denomina um “estado de
base em pressupostos diferentes do
exceção” criado a partir da inserção dos
modo de organização dos indígenas,
povos originários na categoria “índios
não deixa claro a dimensão do exercí-
do Brasil”, o que determinaria, a partir
cio pleno e autônomo dos povos in-
daí, o “fazer viver ou deixar morrer”
dígenas na garantia dos seus direitos.
de acordo com os interesses da nação.
Ainda no quesito da participação no
processo de gestão, Rodrigues & Men- A interface entre o modelo biomédi-
donça (2015) apontam que o controle co e as práticas culturais constituem
social posto como instância de par- também um dos desafios. Em relação
ticipação nas políticas públicas por si a esse aspecto, Barros (2002) discute as
só não garantiria uma efetivação dos limitações do modelo biomédico pela
direitos das comunidades indígenas, dificuldade de incluir questões psico-
sendo possível, inclusive, constituírem lógicas e socioculturais no itinerário
espaços de ampliação da relação de do- terapêutico devido à lógica cartesiana

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implícita no modelo. Garnelo & Lang- em saúde relacionadas às questões ét-


don (2005:137) enfatizam a existência nico-raciais e chamam a atenção para
de múltiplos modelos terapêuticos li- a necessidade de uma agenda que con-
gados à diferentes formas de organiza- sidere as múltiplas interfaces dos efei-
ção social que os sustentam e ressaltam tos da dimensão étnico-racial sobre a
que: saúde.
“Para participar de forma produti- Apesar das dificuldades, é importante
va dessa articulação, os profissio- lembrar que, conforme descreve Nas-
nais da saúde deveriam ser capazes cente (2010) ao analisar as transfor-
de descrever e analisar os modos
mações históricas na construção da
de existência das pessoas que aten-
identidade indígena no Brasil, a partir
dem, reconhecendo as diversas
formas de autoatenção praticadas do século XX as mudanças na esfera
na área de abrangência de seus ser- política e social ampliaram as possibili-
viços onde disputam legitimidade dades e ferramentas para que diferen-
com outros prestadores de cuida- tes grupos sociais obtivessem maiores
dos, formais e informais, de saúde.” espaços de transmissão cultural e reco-
A título de exemplo das dificuldades nhecimento social. Consideramos que
que ocorrem na relação entre os di- o PMMPB se insere nesse contexto ao
ferentes sistemas de atenção à saúde, trazer em seu escopo uma estruturação
Gadelha (2014) descreve uma situação de novos espaços institucionais com
em que uma criança indígena da etnia funções delimitadas, agregando a esses
Tukano fora atendida na rede de saúde espaços atores cuja função explicitada
após ser mordida por uma cobra, ten- é de operacionalizar as ações previstas
do sido necessária a atuação do Minis- na política de saúde.
tério Público no sentido de garantir a Alguns desses espaços, que serão des-
integração das práticas tradicionais ao critos a seguir, emergem a partir de
tratamento, demonstrando a dificulda- uma característica fundamental do
de de se aliar ainda as práticas cultu- programa, que são as ações de forta-
rais ao modelo biomédico1. Por outro lecimento da integração entre ensino
lado, como lembra Langdon (2005:10), e serviço no campo da saúde. Des-
“O fato das medicinas indígenas terem sa forma, constituem-se as seguintes
essa visão mais ampla de doença e cura “zonas de contato” (conceito que será
não implica que sua cultura e seu modo explorado adiante) criadas a partir do
de ver o mundo apresentem obstáculos PMMPB: a) Supervisão acadêmica in
para a percepção da eficácia de nossos loco; b) Encontros de supervisão locor-
tratamentos.” regionais e, especificamente no nosso
Coimbra-Jr. & Santos (2000) abordam caso, o Congresso Tocantinense do
as deficiências no campo da pesquisa Programa Mais Médicos Para o Brasil,
realizado em outubro de 2016, em Pal-
1
Nota das editoras: a esse respeito, ver ar- mas-TO, pela Universidade Federal do
tigo de João Paulo de Lima Barreto neste Tocantins; c) local de prática (aldeias
volume. ou unidades de saúde).

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A supervisão acadêmica é regulamen- colocadas a partir da prática dos mé-


tada pela portaria do Ministério da dicos no atendimento aos indígenas
Educação nº 585, de 15 de junho de passou a ser objeto de discussão no
2015 e consiste na visita mensal in loco ambiente de ensino e vice-versa.
aos profissionais médicos que atuam Os encontros de supervisão locor-
pelo programa, realizadas por super- regionais constituem outros espaços
visores que são médicos preferencial- associados ao PMMPB. Considerados
mente com experiência na Atenção uma modalidade de supervisão acadê-
Básica e que estão vinculados à uma mica, têm como diferencial constituí-
Instituição Supervisora através de um rem um espaço coletivo, no sentido de
tutor, constituindo uma rede de apoio que visam integrar os vários profissio-
ao profissional do PMMPB. As Insti- nais que estão atuando pelo programa
tuições Supervisoras em sua maioria em uma dada região, em torno de uma
são universidades, mas também podem temática comum, fomentando discus-
ser secretarias municipais de saúde, que sões e busca de soluções, com parti-
operacionalizam o processo de super- cipação de outros atores envolvidos
visão. No Tocantins, a coordenação do no campo da saúde, como gestores e
processo de supervisão está à cargo profissionais da equipe de saúde. Con-
da Universidade Federal do Tocantins. siderando o contexto da saúde indíge-
Compete à supervisão acadêmica: na, foram realizados dois encontros
“[...] por meio de um conjunto de locorregionais da saúde indígena nos
ações e dispositivos, singularizar a anos de 2015 e 2017, ambos sediados
vivência dos médicos participantes em Palmas-TO.
do Projeto, ofertando suporte para
o fortalecimento de competências
Em 2016 foi realizado o Congresso To-
necessárias para o desenvolvimen- cantinense Mais Médicos para o Brasil,
to das ações da Atenção Básica.” no qual a saúde indígena teve um papel
(Brasil 2015:11). de destaque com a realização de uma
roda de conversa em que participaram
Além do processo de supervisão pe-
gestores da saúde indígena em nível es-
dagógica, um dos diferenciais dos pro-
tadual, profissionais de saúde, médicos
fissionais que atuam na saúde indígena
atuantes pelo PMMPB, supervisores,
pelo PMMPB é o fato de que, obriga-
professores do curso de medicina e
toriamente, cursam uma especialização antropólogos. Nesse momento o pro-
em saúde indígena em modalidade se- grama estava completando três anos,
mipresencial, ofertada pela Universida- que foi o tempo inicialmente estipula-
de Federal de São Paulo (UNIFESP) do para sua duração (posteriormente
em parceria com a Secretaria Especial de prorrogado), e o objetivo no contexto
Saúde Indígena (SESAI) e o PMMPB. do Congresso foi avaliar as ações dos
Desse modo, o Programa constituiu profissionais no estado. Os discursos e
novos espaços dialógicos entre o cam- intencionalidades revelados nesse con-
po de prática e o espaço da formação texto foram bastante significativos e
profissional, pois as questões empíricas serão analisados adiante.

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Além disso, obviamente, o espaço A história do contato dos Xerente com


onde se dá de forma mais eloquente a a população circundante na região do
relações entre os atores do campo da antigo norte goiano teve início no sécu-
saúde indígena é exatamente o local de lo XVIII, com a instalação de núcleos
prática, seja nas aldeias ou nas unida- urbanos ligados a mineração (Giraldin
des de saúde. É onde se dá o encontro & Silva 2002). A principal experiência
marcado pela necessidade pungente de vivenciada na relação com os Xerente
solução dos males que afligem o corpo. naquele século foi o deslocamento de
Corpo esse, que é entendido de forma parte desse povo para o aldeamento de
diversa por aqueles que curam (seja o São José do Duro, como uma forma de
pajé ou o médico) e também pelos que garantir segurança para a prática da ga-
precisam ser curados. rimpagem na região das vilas de Monte
do Carmo e Pontal.
É diante desse cenário complexo que
procuraremos analisar aquilo que No século XIX a relação perpassou
emergiu, ou que até mesmo deixou de um período marcado pelo desejo dos
emergir, a partir das relações estabele- Xerente em preservar suas terras e seu
cidas pelo PMMPB. modo de vida, que dura até meados do
século, havendo em decorrência uma
série de conflitos armados. A partir
de então, a relação se desenrola num
~ processo de aldeamento que se desen-
OS AKWE /XERENTE FACE AOS SIS-
TEMAS DE SAÚDE volveu na segunda metade do século,
quando se deu a criação do aldeamento
Os primeiros trabalhos etnográficos Piabanhas (origem da atual cidade de
sistematizados sobre os Xerente são Tocantínia). Algumas consequências
atribuídos à Curt Nimuendajú e Da- advieram desse processo, tais como
vid Maybury-Lewis. O primeiro, data como redução populacional, relação
da década de 1940 e o segundo, da mais intensa com a cultura circundante
década de 1960. Nimuendajú reuniu e consequente incorporação de aspec-
suas observações, a partir de sua per- tos dessa cultura, incluindo a influência
manência com os Xerente em duas da religião católica e da educação es-
ocasiões durante os anos 30, na obra colar. Nesse sentido, o povo Xerente
The Serente (1942). Essa descrição que habita hoje a margem direita do
etnográfica serviu de base para com- rio Tocantins, entre os municípios de
preensão da organização social dos Tocantínia, Rio Sono e Pedro Afonso,
Xerente durante muitos anos. Ni- constitui um povo que viveu um pro-
muendajú caracterizou a organização cesso de intenso contato com os não-
social Akwe~/Xerente como marcada -indígenas. Tal processo foi doloroso,
pelo princípio da dualidade expresso e somente nas décadas de setenta e
por duas metades: Siptato e Sdakrã, noventa do século XX parte de seu ter-
cada uma composta por três clãs pa- ritório tradicional foi demarcado como
trilineares e exogâmicos. terra indígena (Figura 1). Desde então,

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o povo Akwe~/Xerente experimentou começo dos anos 2000 a Associação


um crescimento populacional, bem Indígena Xerente (AIX) assinou con-
como uma ampliação do número de al- venio com a FUNASA para gerenciar
deias. De acordo com o DSEI Tocan- os recursos da saúde indígena entre os
tins, em 2015 eram 65 aldeias e 3.180 Xerente. Em 2006 foi inaugurado o
Centro de Ensino Médio Xerente no
indígenas na região.
interior da Terra Indígena, onde foi
Ao longo desse processo, os Xeren- criado o curso de técnico em enferma-
te têm vivido diferentes experiências gem em 2010, sendo a primeira turma
com o sistema de atenção à saúde. No formada em 2013.

Figura 1. Localização da terra indígena Xerente no Tocantins (Fonte: Google Maps)

PERCURSO TEÓRICO E METODOLÓ- como também de definir quem cura e


GICO quem é o paciente, além de especificar
como ambos devem interagir em seu
Em nossa análise é importante consi- encontro terapêutico. Nesse sentido,
derar o que sugere Kleinman (1980), os conhecimentos e práticas mobili-
ao distinguir três alternativas de assis- zados individual ou coletivamente em
tência à saúde em sociedades comple- resposta aos episódios de doença, são
xas: a informal, a popular e a profis- chamados “Sistemas de atenção à Saú-
sional. Esses modelos possuem meios de”. Valemo-nos também da concei-
próprios de explicar e tratar as doenças, tuação de Langdon e Wilk (2010:179),

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que define “sistema cultural de saúde”, tados, bem como acarreta mudanças
como a dimensão simbólica que se tem nas percepções daqueles que partici-
sobre saúde, incluindo os conhecimen- pam dessa organização social acerca
tos, percepções e cognições utilizadas do campo da saúde, seja como pro-
para definir, classificar e explicar a do- fissionais, seja como usuários do sis-
ença; e “sistema social de saúde”, com- tema.
posto pelas instituições relacionadas à
Ferreira (2013) discute o que denomina
saúde, bem como os profissionais que
“políticas das tradições”, referindo-se
nelas atuam e suas relações de poder e
às legislações que se valem do termo
regras de funcionamento.
“tradicional” para validar seu objeto.
Langdon e Wilk (2010), chamam a Uma reflexão com a qual compartilha-
atenção para o fato de que o sistema mos é a de que essas políticas acabam
de atenção à saúde, enquanto modelo por criar novos campos à medida em
conceitual e analítico, não é uma reali- que interferem nas realidades sociais e
dade em si para os grupos sociais com na intenção do Estado de exercer seu
os quais se convive ou estuda. Porém, poder simbólico-administrativo através
esse modelo auxilia a sistematização e dos símbolos oficiais.
compreensão dos diversos elementos
experimentados de forma complexa e Sahlins (1987) nos traz à luz o conceito
subjetiva, seja em nossa sociedade ou de indigenização da modernidade ao refle-
em outras que não nos são familiares. tir sobre as transformações culturais
Assim, nos utilizamos desse construto ocorridas em grupos locais através da
analítico para lançar reflexões acer- articulação com os sistemas ocidentais
ca das interfaces entre o PMMPB e a modernos. No âmbito de nossa dis-
saúde indígena, a partir da experiência cussão esse processo se dá pela incor-
com o povo Akwe~/Xerente. poração dos discursos oficiais aos in-
teresses culturalmente situados. Desse
É necessário compreender que o que
modo, num jogo dialético, o valor insti-
aqui denominamos sistema social de
tuído oficialmente passa a ser interpre-
saúde configura-se, para além dos
tado por aqueles a quem se destinam,
arranjos institucionais, um campo
a favor dos seus interesses culturais,
de constante disputas de poder en-
criando novas representações acerca
volvendo de um lado o Estado e, de
do fenômeno saúde.
outro, os povos indígenas. Aqui nos
remetemos ao conceito de campo de Por outro lado, ao discutir a emergência
Bourdieu (1989), no sentido de agen- do tradicional como objeto das políti-
tes sociais com posições em disputa cas públicas, Ferreira (2013:38) advoga
em torno dos símbolos que garan- que a relação dialética entre Estado e
tem uma determinada representação seus subordinados, no caso, os indíge-
e uma narrativa empoderadora. Isso, nas, produz o que a autora denomina
obviamente, tem implicações para a híbridos culturais que representam novas
resultante desse sistema, ou seja, os normas que emergem dessa relação
serviços de saúde efetivamente pres- passando a constituir “[...]novos locais

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de cultura, que tendem a fugir do con- políticas públicas de modo que se so-
trole administrativo governamental.” bressaia sua visão de mundo.
Nesse contexto, a despeito das estru- Temos então uma relação entre Esta-
turas de poder simbólico e administra- do-nação e seus subordinados que se
tivo do Estado que tenderiam a esta- dá no campo das políticas públicas, vi-
belecer uma ordem gnosiológica (Bourdieu sando de um lado estabelecer uma do-
1989:10), o que se verifica é um cená- minação e um homogeneização e, de
rio que possibilita o agenciamento dos outro, a prevalência dos interesses indi-
atores indígenas levando a novas for- viduais ou coletivos (nos casos das co-
mas de interação entre os sistemas. munidades indígenas e outros grupos
Assim, como assevera Ferreira não-hegemônicos) dos agentes sociais.
(2013:31), Um dado importante à essa altura é
“[...] é por meio dos discursos ofi- que todos os médicos atuantes em
ciais que o Estado exerce esse po- área indígena no período de realização
der criador e impõe sobre o mundo desse estudo eram de nacionalidade
os seus sistemas de classificação cubana. Isso se deve à própria dinâmi-
sob as aparências legítimas das ta- ca do Programa e também ao histórico
xonomias oficiais. Desse modo, o
desinteresse dos médicos brasileiros
mundo social em que os agentes in-
teragem é instituído pelas políticas em atuar junto a população indígena.
públicas.” Ressalta-se que durante a implementa-
ção do PMMPB todas as vagas foram
Se de um lado o Estado utiliza-se
ofertadas inicialmente à médicos bra-
do poder simbólico para produzir
sileiros; uma vez não preenchidas, fo-
elementos de homogeneização, por
ram oferecidas aos médicos brasileiros
outro lado há que se assegurar - ou
formados no exterior, para, somente
ao menos tentar assegurar - a ma-
então, recrutar profissionais de Cuba
nutenção desse status quo, o que se
através de um termo de cooperação
dá através do poder administrativo.
internacional firmado entre o governo
Nesse sentido o sistema administra-
brasileiro e a Organização Panameri-
tivo do estado capitalista, e dos esta-
cana de Saúde (OPAS). Findado esse
dos modernos em geral, tem que ser
processo, o resultado foi 100% das
interpretado em termos do controle
vagas referentes à atenção básica na
coordenado que ele consegue sobre
saúde indígena no estado do TO pre-
arenas territoriais delimitadas (Gid-
dens 1991:54). O desafio da manu- enchidas por profissionais intercam-
tenção do poder administrativo está bistas cooperados, denominação que
no fato de que o Estado é estrutu- recebem os profissionais de Cuba que
ralmente heterogêneo. Isso implica atuam no Brasil pelo PMMPB.
que os agentes sociais estabelecem Ao colocar sob sua égide profissionais
relações e alianças de acordo com de nacionalidade estrangeira e povos
interesses e motivações distintos, indígenas, o Estado estabelece um
buscando influenciar o campo das cenário complexo e heterogêneo, que

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tende a extrapolar seu controle sim- mento significativo da produção de


bólico e administrativo, resultando em dissertações e teses relacionadas ao
novas possibilidades advindas do pro- tema da saúde indígena. De 2000 a
cesso de indigenização da modernidade. 2010 percebe-se uma confluência dos
Abordando a questão da indigenização estudos para temáticas centradas em
da modernidade no tocante ao campo dois eixos principais:
interétnico da saúde indígena, Ferreira; “1. as reflexões sobre o processo
(2013:42) afirmou que: do adoecimento e cura, bem como
as práticas relacionadas aos itinerá-
“[...]pode-se dizer que o fenômeno rios terapêuticos, frequentemente
de indigenização da modernida- englobadas por recortes etnológi-
de, ao ser constitutivo do campo cos, dentre os quais se sobressaem
interétnico da saúde indígena, o as noções de corpo e pessoa; e 2.
transforma em uma zona de conta- as análises das relações políticas nas
to intermédica, na qual a medicina quais se inserem os conflitos na as-
científica e os sistemas sóciomédi- sistência à saúde indígena, seja por
cos indígenas interagem na prática suas ambiguidades na atribuição de
e na teoria – local fronteiriço que responsabilidades aos diferentes
propicia a emergência de medicinas atores políticos envolvidos, seja pe-
indígenas híbridas.” las análises dedicadas ao processo
Apesar de enfatizar o campo da saúde atual de distritalização com a inclu-
indígena como interétnico e constitu- são de figuras-chave do controle
tivo de medicinas indígenas híbridas, social indígena.” (Teixeira & Silva
2013:35-37)
ao considerar a medicina ociden-
tal como “científica” e os sistemas As transformações de ordem política
culturais de saúde indígenas como e administrativa do país contribuem
“sóciomédicos” a autora incorre no para a necessidade de outros olhares e
risco de que se compreendam ambos novas formas de pensar (Fontão & Pe-
os sistemas de forma hierarquizada, reira 2017:1172). Especificamente no
supervalorizando a perspectiva bio- âmbito do PMMPB alguns modelos
médica em detrimento dos sistemas analíticos devem ser acionados para se
indígenas.A compreensão das rela- compreender a realidade apresentada
ções interétnicas no campo da saúde pela pesquisa, especialmente aqueles
indígena é uma agenda relativamente que dialogam com a interação entre in-
recente da produção antropológica dígenas e serviços de saúde (Pellegrini
no Brasil. Até o início da década de 2004; Kelly, 2015)
1990 a produção etnográfica é mar- A partir dessa realidade propuse-
cada por temas clássicos da antropo- mos um estudo descritivo da relação
logia como xamanismo, ritual e cos- dos profissionais do PMMPB e os
mologia. De 1990 em diante, a partir Akwe~/Xerente, a partir de dados do-
do processo de democratização do cumentais e etnográficos coletados
país e da ampliação no número de entre os anos de 2016 e 2017. Do
pós-graduações, verifica-se um incre- ponto de vista documental as infor-

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A interface entre saúde indígena e o programa mais médicos para o Brasil no Tocantins

mações foram extraídas dos registros ETNOGRAFIA DE UMA ZONA DE


em áudio de duas reuniões de super- CONTATO
visão locorregionais conduzidas no
A discussão tecida até aqui remete ao
âmbito da Universidade Federal do
conceito de zona de contato preconizado
Tocantins e da roda de conversa so-
por Mary Louise Pratt (1992) e descri-
bre saúde indígena realizada no Con-
to por Follér (2004:6) como:
gresso Tocantinense Mais Médicos
“[...]espaço dos encontros colo-
Para o Brasil, em outubro de 2016.
niais, o espaço no qual povos antes
As informações sobre a percepção separados pela geografia e história
dos indígenas acerca do programa entram em contato e estabelecem
foram extraídas do documentário relações contínuas, sendo que estas
“Mais Médicos no Tocantins” bem geralmente envolvem condições de
como da vivência em campo do pes- coação, desigualdade radical e con-
quisador, durante o período de 2016 flito intratável”.
a 2017, na aldeia Salto Kripé, em To- Construído a partir de uma visão crítica
cantínia. sobre a perspectiva da colonização eu-
Numa perspectiva dialética, nossa des- rocêntrica, o conceito de zona de contato
crição ora perpassa a percepção de pro- nos remete ao processo de colonização
fissionais envolvidos com a saúde, ora que os povos ameríndios atravessaram
perpassa a visão indígena. A intenção ao longo dos últimos séculos. Assim
é desvelar significados e possibilidades como nos lembra Quijano (2005), toda
a lógica colonialista eurocêntrica se deu
que revelem mudanças, ainda que sutis,
no sentido de criar uma dominação
na relação entre práticas biomédicas e
sobre os corpos, que na sua visão se
tradicionais no campo da atenção dife-
dá pela criação do conceito de raça, o
renciada.
qual atendia ao interesse de expansão e
A partir das observações em campo consolidação do capitalismo europeu.
na comunidade Akwe~/Xerente e em Porém, é o próprio Quijano que apon-
cenários de práticas em saúde, buscou- ta também os movimentos de reação
-se desvendar algumas nuances e sig- contra a lógica colonizatória, demons-
nificados relacionados à interface do trando que os processos de dominação
Programa Mais Médicos no Tocantins não se dão sem que se desencadeie
e a saúde indígena, bem como desvelar uma resistência, seja por atos de vio-
o potencial ainda não explorado dessa lência, seja por mecanismos de adapta-
recente política.1 Particularmente, ana- ção e tradução cultural como meio de
lisaremos como os espaços criados a sobrevivência.
partir da implantação do PMMPB pos- Colocados em perspectiva, portanto,
sibilitaram novas formas de relaciona- os conceitos de zona de contato, hi-
mento no campo da saúde a partir do bridação cultural e indigenização da
contato entre os profissionais vincu- modernidade podem ser vistos como
lados ao Programa e os indígenas da complementares, e se aplicam ao nos-
etnia Xerente. so contexto de análise uma vez que, ao

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 9 (2): 832 - 854, 2017 845


Marquezan, R. F. | Giraldin, Odair

considerarmos os elementos criados Esse subsistema, por sua vez, está inte-
pelo PMMPB, constatamos que eles grado ao Sistema Único de Saúde que
surgem a partir de um processo histó- deve complementar os atendimentos à
rico (colonização, desenvolvimento do população indígena. Dessa forma, no
capitalismo colonial, homogeneização sentido mais amplo, a zona de contato
da visão biomédica, carência de pro- perpassa também a própria relação en-
fissionais de saúde) e culmina numa tre a política pública de atenção à saúde
resultante de traduções culturais em indígena e a visão tradicional. Delinea-
jogo no contato de indígenas e médi- do o contexto no qual se observa o de-
cos cubanos que atuam com o povo senrolar de uma nova realidade trazida
Xerente do Tocantins, no nosso nível pelo contato dos indígenas com os mé-
de análise.2 dicos do PMMPB, é possível descrever
Se considerarmos o cenário de prática e refletir sobre alguns elementos etno-
da atenção básica na saúde indígena gráficos dessa zona de contato.
podemos inicialmente imaginar a rela- A fala de uma gestora de nível estadu-
ção que ocorre na “ponta” do serviço al feita no Congresso Mais Médicos
como a zona de contato mais direta. para o Brasil no Tocantins mostrou-
Ou seja, as aldeias e unidades de saúde -se expressiva em relação ao signifi-
nas quais são realizados os atendimen- cado da presença dos profissionais
tos são onde, de fato, ocorrem os en- do PMMPB na saúde indígena. Preo-
contros entre os atores desse processo. cupada com o fim do período de per-
Porém esse cenário em particular está manência dos profissionais em área
intimamente ligado ao contexto que o após os três anos iniciais previstos,
precede. É preciso lembrar que o pro- ela indaga aos profissionais como
fissional que atua na saúde indígena eles haviam conseguido melhorar os
está ligado à um subsistema de atenção índices de mortalidade infantil3. A
diferenciada com características pró- fala nos revela um distanciamento
prias que interferem e determinam, em na relação entre quem gere e quem
parte, o seu fazer. Toda a organização cuida, ou seja, apesar de demonstrar
logística, administrativa e financeira interesse em compreender a atuação,
para a execução das ações da atenção falta a vivência na realidade do cená-
básica está vinculada aos Distritos Sa- rio de prática. Aqui entende-se um
nitários Especiais Indígenas (DSEI), processo de mudança significativo
que são responsáveis por articular não nas relações de poder. Uma relação
somente a execução, como a formação onde o gestor passa de “determinan-
dos profissionais envolvidos. Assim, te” para “determinado” uma vez que
por exemplo, para chegar à aldeia o mé- o profissional médico está empode-
dico depende do transporte agendado rado pelo seu fazer. E ainda que os
pelo DSEI. Seu tempo de permanência indígenas não estejam diretamente
nas aldeias é determinado pela organi- presentes nesse contexto a relação de
zação logística de transporte o que às poder foi modificada através do con-
vezes constitui um fator limitante. tato entre médicos e indígenas.

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A interface entre saúde indígena e o programa mais médicos para o Brasil no Tocantins

Voltando à indagação de como ha- diente em que quanto maior a distância


viam conseguido melhorar os índices da aldeia em relação a cidade costuma
de mortalidade infantil, um dos mé- incorrer em um domínio menor da lín-
dicos atuantes relata a importância de gua portuguesa, sobretudo para as mu-
se compreender o modo de vida dos lheres e crianças.
povos assistidos e se integrar, para só Os relatos tanto de indígenas como de
então poder recomendar ações muitas profissionais do PMMPB dão conta
vezes simples, mas que surtem efeito. de que a língua inicialmente constituiu
Revela que no início, ao chegar na al- uma barreira para a comunicação entre
deia era comum as mulheres se escon- eles, porém essa barreira tende a ser su-
derem e não permitirem ser consulta- perada com a ajuda dos indígenas que
das, mas que com a aproximação essa
atuam na saúde como enfermeiros,
realidade mudou. Outros relatos dão
técnicos em enfermagem e os agentes
conta da disponibilidade desses profis-
indígenas de saúde.
sionais em se integrar à comunidade.
Um médico descreve que estar entre os Outro aspecto que contribuiu para que
índios exige que faça parte da vida de- as barreiras iniciais fossem transpostas
les. Como exemplo, cita uma situação é a valorização pelos médicos cubanos
onde estavam construindo uma casa do sistema cultural de atenção à saúde.
na aldeia, e ele, naquele momento, se Um relato de uma indígena Akwe~-Xe-
propôs a ajudar carregando terra e aju- rente ilustra bem isso. Ela afirma que
dando a cavar os buracos para fixação havia um indígena de seus cinquenta e
dos esteios da construção. poucos anos com problema de pressão
alta, e que já havia sido prescrito uma
A relação de proximidade entre médi-
grande quantidade de remédio para
cos e indígenas só emerge com o pas-
ele, mas não adiantara. Quando foi
sar do tempo. Conforme relata um dos
consultado pelo médico cubano, esse
médicos, no início, sentia-se assustado
o orientou que fizesse chá da casca de
com a perspectiva de trabalhar com
uma árvore (Embaúba) e que a partir
os indígenas, os quais só conhecia por
daí o paciente teve grande melhora.
meio de filmes, livros e internet. Segun-
Ainda que a embaúba seja conhecida
do ele, eram três realidades diferentes
no mesmo contexto: Ele, com a cultura na medicina popular como eficaz anti
cubana e sua língua de origem, o enfer- hipertensivo, ao valorizar e prescrever
meiro, que era indígena, mas dominava um remédio do universo tradicional
os dois idiomas (Akwe~ e Português) e Xerente, o médico estabeleceu uma
também transitava na cultura do não- relação menos assimétrica com o pa-
-índio, e os indígenas que são atendi- ciente, facilitando uma relação dialógi-
dos pela equipe, falantes de sua língua ca simétrica.
materna e também do português. Há Em relato colhido por Silva et al.
que se ressaltar, que os homens Xeren- (2015:1012) observa-se que “Segundo
te têm mais domínio do português que o médico, em seu país, é comum cursos
as mulheres, havendo ainda um gra- de atualização sobre o uso de plantas

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Marquezan, R. F. | Giraldin, Odair

em tratamentos terapêuticos e, na pró- brasileiro, anteriormente ao PMMPB


pria graduação, eles já têm um grande a atuação na saúde indígena era vista
contato com essa área do conhecimen- como “um bico” pelos médicos, o que
to.” O relato ilustra como, a partir da é evidenciado por Pereira et al (2016),
valorização da medicina tradicional, ao relatar que no período de 2013 e
esse profissional passou a ser reconhe- 2014, o PMMPB proveu cem por cen-
cido pela comunidade, possibilitando to dos médicos da saúde indígena nos
uma aproximação fundamental para o 34 Distritos Sanitários Indígenas no
desenvolvimento do seu trabalho ali. Brasil, totalizando 294 profissionais
O relato continua com a afirmação de atuantes no subsistema de atenção à
que a partir desse episódio a história saúde indígena à época. Dessa presen-
se espalhou pelas aldeias vizinhas e as ça mais próxima do profissional mé-
pessoas começaram a se interessar pela dico na comunidade indígena emerge
prática do médico. uma nova significação da sua atuação
Durante a roda de conversa sobre saú- por parte dos Xerente, que passam a
de indígena realizada no Congresso ver os médicos como integrantes do
Tocantinense Mais Médicos, o papel processo de cuidado e menos distan-
dos Agentes Indígenas de Saúde é des- te do que anteriormente, quando eram
tacado por um médico como de fun- vistos como figuras ausentes das al-
damental importância com a função deias. Isso contribui para a ressifignica-
de serem eles os detentores da cultura ção do profissional médico em relação
local e ao mesmo tempo transitarem às relações de poder estabelecidas a
nos espaços institucionais, e ainda por partir da relação mediada pelas visões
intermediar a comunicação em função distintas de saúde.
de dominar as duas línguas (português
e Akwe~). Nesse espaço, uma técnica O Contato e as Possibilidades de Cura
da secretaria de saúde destaca que o Ainda que fuja ao nosso objetivo dis-
sentimento por parte da equipe de saú- cutir conceitos de saúde, situamos em
de de que o médico efetivamente com- lados diametralmente opostos a visão
põe a equipe favorece o planejamento da cosmologia Xerente e da medicina
em conjunto que possibilita o desen- ocidental biomédica. Entre os Xerente
volvimento de ações mais efetivas no e outros ameríndios, a doença costuma
campo da atenção básica em saúde. ser entendida como a ação de um agen-
Conforme destaca Garcia (2017:285), te subjetivo que atua sobre o corpo,
“A acessibilidade, primeiro contato e tornando o sujeito doente (Viveiros de
a própria longitudinalidade do cuida- Castro 2004). Curar, então, é agir so-
do em saúde são estabelecidos como bre esse agente subjetivo causador de
elementos estruturais e processuais na doença removendo-o do corpo adoen-
modificação da relação médico-usuá- tado. Já do ponto de vista biomédico,
rio, podendo inclusive favorecer a pro- a visão usual que se apresenta é do bi-
dução de vínculos. nômio saúde x doença, situando nesse
Na fala de um profissional médico locus o corpo “biologizado”.

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A interface entre saúde indígena e o programa mais médicos para o Brasil no Tocantins

Nos relatos obtidos em campo uma Por outro lado, esse processo de objeti-
reivindicação frequente é de maior vação não ocorre de maneira passiva, o
acesso à medicação, já que ela é vista que se faz notar pela posição do pai no
como eficaz no combate aos sintomas relato acima, que ao se perceber “mal
do adoecimento, segundo a maioria atendido” passa a agir de maneira di-
dos Akwe~/Xerente. A partir de um ferente, reivindicando um “bom aten-
relato de um pai Xerente, cujo filho re- dimento”.
cém-nascido precisara passar por uma Da mesma forma, em conversa com
intervenção cirúrgica, o que acarretou um Xerente na aldeia, ao relatar sobre
a necessidade de um longo período de seu tratamento para uma hérnia com
internação, ouvimos o seguinte relato: indicação cirúrgica, reclamava que os
“no dia que eu cheguei lá tudo que eles médicos (ressalta-se que esse relato não
falavam eu concordava, depois eu fui se refere aos profissionais do PMM-
aprendendo, entendendo melhor e eu PB, mas do atendimento recebido no
vi que quando era alguma coisa errada hospital) diziam que ele precisava ser
eu tinha que falar.” Indagado sobre que operado, mas que para isso precisava
tipo de coisa errada, ele afirma: “ah... tomar os remédios para controle de
tipo o remédio já ia logo pra ele, não pressão alta. Porém, ele desejava que os
passava por mim antes. Tinha que bri- médicos receitassem um remédio que
gar pra ser bem atendido”. solucionasse o problema da hérnia sem
O bom atendimento é atribuído prin- a necessidade de intervenção cirúrgica.
cipalmente ao fornecimento adequa- Mesmo compreendendo a relação en-
do de medicamentos, já que os nexos tre a medicação como uma etapa inter-
causais das doenças os médicos nem mediária (controle da pressão arterial)
sempre alcançam, por seu desconhe- para a cura (cirurgia), ele não desejava
cimento dos seres e a diplomacia cós- ser submetido à cirurgia. Interpreta-
mica de que participam os Xerente. mos sua posição devido à perspectiva
Nesse contexto, a medicação passa a de agenciamento da doença compre-
constituir ao mesmo tempo uma re- endida como uma subjetivação atu-
presentação de acesso ao serviço de ando sobre seu corpo. O processo da
saúde, mas também a emergência de cura, portanto, passaria por uma ação
uma relação assimétrica entre aqueles intersubjetiva para a retirada do agente
que fornecem o medicamento, e os que causador da doença. Nessa perspecti-
necessitam dele. Tal compreensão vai va, o remédio poderia ser o meio pelo
ao encontro do que descreve Ferreira qual se retiraria o agente causador da
(2013:43) ao apontar que “a expansão doença, como faria um pajé Xerente.
da biomedicina afeta a relação com os Esse relato sugere que a comunicação
outros modelos de atenção vigentes, entre os atores foi prejudicada diante
subalternizando-os”. Para a autora, um das diferentes perspectivas da doença
dos efeitos dessa relação é que a medi- e da cura.
calização assume um caráter coloniza- Os relatos a seguir foram extraídos do
dor de corpos e de subjetividades. documentário “Mais Médicos no To-

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 9 (2): 832 - 854, 2017 849


Marquezan, R. F. | Giraldin, Odair

cantins” (2017) produzido em parceria histórico que antecede esse contato,


pelos cursos de medicina e jornalismo mas na relação entre os profissionais
da Universidade Federal do Tocantins. do PMMPB e os indígenas Xerente, a
Um dos médicos destaca a importância capacidade de estabelecer uma relação
do curso de especialização para a atua- menos assimétrica mostrou-se um di-
ção na saúde indígena: ferencial. Considerando a relação entre
“Ao fazermos a especialização em os sistemas de atenção à saúde como
saúde indígena, na aula de antro- uma via de mão dupla, a capacidade
pologia, foi quando de verdade eu de adaptação dos Xerente também se
conheci o que é conviver com os mostra relevante. Traduções locais e
índios, aprendi muito mais deles, incorporações singulares do discurso
a não simplesmente chegar e dar
oficial figuram processos pelos quais se
uma consulta, se você não conhe-
dá a indigenização da modernidade. Ainda
ce como mora, como vive, como
se alimenta, como é sua forma de na fala do pajé referindo-se aos médi-
interagir.” cos:
“Nós somos tudo civilizado, não
Nesse caso, o desvelar de um “novo
podemos desprezar outra pessoa,
mundo” representado pela compre-
porque de primeiro nós não tinha
ensão da organização cultural dos in- identidade, eu não tinha CPF, eu
dígenas, significou para o profissional não tinha aposentadoria, não ti-
de saúde a possibilidade de melhorar a nha nada disso. Agora, como nós
realização do seu trabalho, ao invés de somos tudo civilizado, nós somos
ser percebido como dificuldades inter- tudo irmão.”
postas pelo contexto.
Nesse relato fica evidente a presença
De outro lado, um pajé (sekwa) relata: do Estado (documentos de identidade,
“Nossa cultura que nós aprende- aposentadoria) como mote de alianças
mos de pajé não igual à do médico, (“tudo irmão”), mas também de alteri-
porque nós olhando pra pessoa e dade, apontando a externalidade desse
pro corpo a gente vê a doença e o modelo.
que faz pra curar, a gente tira. Não
é assim com o médico, nós não faz. Os relatos trazidos até aqui apontam
Aí, se eu não tô dando conta, eu já possibilidades de reflexões a partir da
falo praquele dono da pessoa4 que experiência com o PMMPB na saúde
tá doente, eu falo, não! Não tô dan- indígena. Se de um lado existe campos
do jeito, não tá dando certo. Despa- em disputa por interesses distintos, por
cho pro médico. Só isso!” outro lado, é na relação direta estabe-
Fica evidente que do contato entre lecida entre os atores que essas forças
os sistemas social e cultural de saúde podem convergir para uma resultante
emerge a possibilidade de respeito mú- menos assimétrica. Para tal, cenários
tuo e colaboração, desde que estabele- que constituem novas possibilidades
cido um processo favorável de comu- de relação, como o caso do PMMPB,
nicação. Obviamente, isso não seria o podem consistir em catalisadores de
suficiente dado todo o contexto sócio processos de mudança.

850 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 9 (2): 832 - 854, 2017


A interface entre saúde indígena e o programa mais médicos para o Brasil no Tocantins

CONSIDERAÇÕES FINAIS cerem em contato com a comunida-


de, esse contato não é tão frequente
Analisar as interfaces produzidas
quanto poderia e deveria ser, em fun-
pelo contato de profissionais do
ção do grande número de aldeias (65)
PMMPB com o povo Akwe~-Xerente
atendidas por apenas dois profissio-
nos revelou um mundo de significa-
nais médicos.
dos inacabados, ainda em constru-
ção. Trata-se de uma realidade cons- Além do tempo de permanência em
tituída historicamente a partir de um contato com a comunidade, o proces-
processo colonizatório que perpassa so de formação emerge como um fa-
por várias fases e que nos conduz até tor preponderante. O suporte teórico
a essa experiência recente do PMM- aos profissionais através da especia-
PB que ainda está se desenrolando lização em saúde indígena revelou-
no seu território. Os profissionais in- -se muito importante nesse contato.
tercambistas cooperados que atuam Através dela foi possível desmistificar
pelo Programa inicialmente perma- a imagem pré-concebida que os pro-
neceriam no Brasil por três anos. En- fissionais tinham dos índios. Somada
tretanto, pela evidente necessidade à disponibilidade desses profissionais
dos serviços desses profissionais no em abarcar a saúde indígena como
momento atual da saúde no país, esse uma missão (termo utilizado por eles
período pôde ser prorrogado pelo para designar o tempo de permanên-
mesmo tempo inicial, totalizando seis cia no Brasil), as resultantes são no-
anos de permanência. Nessas articu- vas zonas de contato, que, nesse caso,
lações institucionais, alguns médicos pareceu favorecer a ambos.
foram substituídos, mas outros per- Por fim, há que se destacar a habili-
maneceram, como no caso dos que dade política e afetiva dos Akwe~-Xe-
atuam junto ao povo Akwe~-Xerente. rente em se relacionar com o mun-
Durante nosso estudo, ficou eviden- do. Assim como fazem outros povos
te que um fator primordial para uma do tronco linguístico Macro-Jê, após
relação favorável entre profissionais manter contato estreito e perma-
e os indígenas é o tempo disponível nente com as pessoas de uma aldeia,
que esses profissionais têm para se certamente o chegante receberá um
adaptar ao novo cenário, se familia- nome indígena que o coloca como
rizar com a cultura local, melhorar membro de um dos clãs e em relação
a comunicação, enfim, se integrar à inclusiva com a vida da comunidade.
comunidade em que estão atuando. Assim, quando profissionais presta-
Apesar de permanecerem em contato dores de serviços (médicos, profes-
com a comunidade, conforme aponta sores, motoristas, enfermeiros, etc.)
Silva et al (2015:1010) “o número de se dispõem a interagir de maneira si-
médicos alocados na aldeia represen- métrica com a população, certamente
ta uma quantidade insuficiente frente será bem recebida e abre-se grande
às necessidades dos Akwe~-Xerente”. possibilidade de relação dialógica e
Isso revela que apesar de permane- frutífera entre as partes.

Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 9 (2): 832 - 854, 2017 851


Marquezan, R. F. | Giraldin, Odair

NOTAS exceção. Interface - Comunicação, Saúde, Edu-


cação 15:153–164.
1
O temo “recente” aqui se refere à imple-
mentação do Programa Mais Médicos que Bourdieu, P.1989 O poder simbólico. Lisboa:
se deu em 2013. Porém há que se ressaltar Difel.
que o mesmo se integra como estratégia Brasil. 2013. Lei 12.871 de 22 de outubro
de fortalecimento da política nacional de de 2013. Institui o Programa Mais Médi-
atenção básica (PNAB), que por sua vez cos, altera as Leis no 8.745, de 9 de dezem-
está vinculada ao Sistema Único de Saúde bro de 1993, e no 6.932, de 7 de julho de
(SUS), o qual se integra ao Subsistema de 1981, e dá outras providências. Diário Ofi-
Atenção à Saúde Indígena, que são po- cial da União 2013; 22 out.
líticas advindas dos desdobramentos da ________.2015 Ministério da Educação.
Constituição de 1988. Portaria. Nº 585, de 15 de junho de 2015.
2
O atendimento aos Xerente pelos médi- Dispõe sobre a regulamentação da Super-
cos cubanos se dá no nível da atenção bási- visão Acadêmica no âmbito do Projeto
ca, o qual será nosso recorte nesse estudo. Mais Médicos para o Brasil e dá outras
Porém, o atendimento em nível hospitalar, providências. Diário Oficial da União, 2015;
via de regra, é realizado por profissionais 16 jun.
brasileiros. Castellani, M. R.. 2012. Subsistema de Saú-
3
A gestora primeiramente relata melhoras de Indígena: Alternativa bioética de respei-
ocorridas nos indicadores de mortalidade to às diferenças. Dissertação de Mestrado,
infantil no estado do Tocantins, ressaltan- Departamento de ciências da saúde- Uni-
do que o índice havia sido “puxado” pela versidade de Brasília. Brasília.
diminuição da mortalidade infantil entre as Coimbra-Jr., C. E. A.; Santos, R. V. 2000.
crianças indígenas. Saúde, minorias e desigualdade: algumas
4
Na cultura Xerente há sempre alguém que teias de inter-relações, com ênfase nos po-
deve ser um responsável por outra pessoa. vos indígenas no Brasil. Ciência e Saúde Co-
Por exemplo, um pai será o responsável pe- letiva 5:125–132.
los filhos. Na sua falta, o filho mais velho é Diehl, E. E.; Langdon, E. J. 2015. Trans-
o responsável. Mas vale dizer que será sem- formações na Atenção à Saúde Indígena:
pre uma relação hierárquica por ordem do Tensões e Negociações em um Contexto
mais velho para o mais novo. Assim, um Indígena Brasileiro. Universitas Humanística,
irmão mais novo não pode ser responsável 80:213-236.
pelo irmão mais velho. Nem um filho ser Diehl, E. E.; Pellegrini, M. A. 2014. Saú-
responsável pelo pai. de e povos indígenas no Brasil: O desafio
da formação e educação permanente de
trabalhadores para atuação em contex-
tos interculturais. Cadernos de Saúde Pública
REFERÊNCIAS 30:867–874.
Barros, J. 2002. Pensando o processo saúde Ferreira, L. O. 2013. Medicinas Indígenas e
doença: a que responde o modelo biomé- as Políticas da Tradição: entre discursos oficiais
dico. Saúde e Sociedade 11:67–84. e vozes indígenas. Rio de Janeiro:FIOCRUZ.
Bernardes, A. G. 2011. Saúde indígena e Follér, M.L. 2004 “Intermedicalidade: a
políticas públicas: alteridade e estado de zona de contato criada por povos indíge-

852 Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 9 (2): 832 - 854, 2017


A interface entre saúde indígena e o programa mais médicos para o Brasil no Tocantins

nas e profissionais de saúde”. in: Saúde dos Giraldin, O.; Silva, C.A.Da. 2002. Ligando
povos indígenas: reflexões sobre antropologia par- Mundos: Relação Entre Xerente e a Socie-
ticipativa. Editado por Langdon EJ, Garne- dade Circundante No Século Xix. Boletim
lo L. pp. 129-148 Rio de Janeiro: Editora do Museu Paraense Emílio Goeldi. 18:1–16.
ContraCapa. Kelly Luciani J.A. 2015 Uma etnografia de
Fontão, M.A.B.; Pereira, E.L. 2017 Projeto ponta a ponta: o Ministério da Saúde e os
Mais Médicos na saúde indígena: reflexões Yanomami do Amazonas, Venezuela. In:
a partir de uma pesquisa de opinião. Inter- Saúde indígena: políticas comparadas na América
face - comunicação, saúde, educação. 21:1169- Latina. Editado por: Langdon E.J. Cardo-
1180. so; M.D. pp. 279-306. Florianópolis: Ed.
Gadelha, L. F. P. L. 2014. A Articulação dos da UFSC.
Sistemas Tradicionais e Clássicos de Medicina Kleinman, A. 1980. Patients and healers in the
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-sistemas-tradicionais-e-classicos-de-me- Paulo: Terra Virgem.
dicina-na-atencao-a-saude-dos-povos-in-
digenas-2013-uma-analise-da-atuacao-do- Langdon, E. J.; Wilk, F. B. 2010. Antropo-
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-crianca-indigena-da-etnia-tukano-2013- conceito de cultura aplicado às ciências da
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Médicos”. Porto Alegre : Rede UNIDA. disponível em <https://youtu.be/Uj1Tu-
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